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Centro Universitário de Caratinga - UNEC Mestrado Profissionalizante em Meio Ambiente e Sustentabilidade PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA POPULAÇÃO DO ENTORNO DA MATA DA EAFSJE-MG. SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Mestre. CARATINGA Minas Gerais - Brasil Junho de 2006

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Centro Universitário de Caratinga - UNEC Mestrado Profissionalizante em Meio Ambiente e Sustentabilidade

PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA POPULAÇÃO DO ENTORNO DA

MATA DA EAFSJE-MG.

SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Mestre.

CARATINGA Minas Gerais - Brasil

Junho de 2006

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ii

SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES

PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA POPULAÇÃO DO ENTORNO DA

MATA DA EAFSJE-MG.

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Mestre.

Aprovada em: 09 de junho de 2006. _______________________________________ ______________________________ Profª. D. Sc. Maria das Dores Saraiva de Loreto Profª: D. Sc. Pierina German Castelli _________________________________ ___________________________________ Prof. D. Sc. Antônio José Dias Vieira Prof. D. Sc. Leopoldo Loreto Charmelo

(Orientador)

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iii

“O ambiente é o homem e o seu lugar. Mais do que isso, é o homem no seu

lugar, no seu entorno e a integração sistêmica que se dá entre o homem e o restante

interativo, com as suas devidas funções orgânicas de auto regulação”

(Oliveira, 1999).

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iv

Dedico àqueles que me fazem ver as cores, flores e amores nos encantos e

nas dores da vida, e que juntos estamos construindo dia-a-dia o futuro que não

é amanhã, e sim agora. Meus filhos - Ângelo Augusto e Luan Caio.

Àquele que acreditou que eu era capaz, me deu força, carinho e amor, é meu

refúgio, meu porto seguro. Meu marido e companheiro pelos caminhos do

mestrado – Nildimar Gonçalves.

Aos meus pais que demonstrando seu amor depositaram em mim confiança e

respeito, com alegria compartilharam minhas conquistas e com apoio

encorajaram-me nas derrotas. Meus pais - Juquita e Aparecida.

Aos meus irmãos pelo apoio, compreensão e incentivo, especialmente à minha

irmã Sidinéia pelas vezes que em minha ausência acalentou e cuidou de meus

filhos.

Aos amigos “mais que demais”, que com companheirismo e força contribuíram

para que essa etapa fosse vencida – Celma, Edmar e Cláudio.

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v

AGRADECIMENTOS

A Deus, criador de todas as coisas e detentor de toda verdade, agradeço pelas oportunidades de buscar o meu crescimento humano e espiritual; pela

força, paciência e coragem necessárias nesta caminhada.

À minha família pela compreensão e apoio, sem os quais não seria possível caminhar.

Aos amigos Joaquim, Alba e Isadora que com carinho e muita dedicação nos acolherem em seu lar e nos proporcionaram momentos de conforto,

atenção e muita alegria.

Às amigas e colegas de trabalho, Alcione, Eloísia, Margarida e Rita que por vezes se desdobraram e permitiu-me alcançar os objetivos. Em especial a

Eliane pela contribuição na redação deste trabalho.

A todos os funcionários da EAFSJE-MG, que de uma forma ou de outra participaram dessa etapa de minha vida. A equipe da direção pelo apoio e

incentivo.

A todos aqueles que nas pesquisas contribuíram com suas preciosas informações e apoio.

Aos professores Leopoldo e Jorge Luiz por orientar-me com paciência e

dedicação. Aos demais professores e servidores da Coordenação do Mestrado em Meio Ambiente e Sustentabilidade do Centro Universitário de Caratinga,

pela grande contribuição à minha formação profissional.

À aluna do Curso Técnico em Meio Ambiente, Elizabeth pela força no trabalho de campo.

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vi

BIOGRAFIA

SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES, filha de José Oliveira da

Silva e Maria Aparecida de Almeida Silva, nascida em São João Evangelista,

Minas Gerais em 18 de maio de 1970.

Concluiu o ensino fundamental na Escola Estadual “Josefina Pimenta” e o

2ª grau na Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista-MG e Escola

Estadual “Josefina Pimenta”, São João Evangelista-MG, em 1987. Graduou-se

em Licenciatura em Economia Doméstica no ano de 1993, pela Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro.

Prestou concurso em 1993 para professor contratado na Escola

Agrotécnica Federal de São João Evangelista, atuando até dezembro de 1994.

No final de 1994 prestou concurso público federal para a referida Escola, tendo

sua efetivação ocorrida em janeiro de 1995, desde então, atua como

Professora.

Concluiu os cursos de Especialização - O Processo Ensino Aprendizagem

“LATO SENSU” na Faculdade Clarentianas, Batatais, SP em 1994, e Nutrição

Humana e Saúde na Universidade Federal de Lavras, MG em 2000.

Submeteu-se à defesa de dissertação para obtenção do título de “Mestre”,

no Centro Universitário de Caratinga, MG, em 09 de junho de 2006.

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vii

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Ações de degradação na Mata da EAFSJE-MG................................. 4

Figura 2: Ações de degradação na mata da EAFSJE-MG................................. 5

Figura 3: Mapa de Localização do Município ..................................................... 8

Figura 4: O Bairro Engenho de Serra e parte da mata da EAFSJE-MG ............ 9

Figura 5: Planta Planimétrica da EAFSJE-MG................................................. 11

Figura 6: Evolução da população rural-urbano no Brasil ................................. 21

Figura 7: Mapa da área de Domínio da Mata Atlântica .................................... 44

Figura 8: Remanescente da Mata Atlântica. .................................................... 47

Figura 9: Área Atual de Mata Atlântica em Minas Gerais................................. 49

Figura 10: Imagem da atual vegetação remanescente de Mata Atlântica no

município de São João Evangelista. ................................................51

Figura 11: Tempo de residência no Bairro Engenho de Serra, São João

Evangelista, 2006.............................................................................56

Figura 12: Aspectos Positivos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção

dos Entrevistados, São João Evangelista, 2006. .............................57

Figura 13: Aspectos Negativos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção do

Entrevistados, São João Evangelista, 2006. ....................................58

Figura 14: Representação da “Mata” pelos moradores do Bairro Engenho de

Serra, São João Evangelista, 2006..................................................60

Figura 15: A Educação Ambiental, na percepção dos moradores do bairro

Engenho de Serra, São João Evangelista, 2006..............................62

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viii

LISTA DE QUADROS Quadro 1 : Uma diversidade de correntes em educação ambiental................. 35

Quadro 2 : Matriz 1- Identificação de problemas sociambientais ..................... 67

Quadro 3: Matriz 2 - Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento

sustentável ....................................................................... 69

Quadro 4: Matriz 3 - Inter-relações entre problemas e potencialidades........... 70

Quadro 5: Matriz 4 - Seleção de problemas e possíveis soluções................... 71

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ix

LISTA DE TABELAS Tabela 1– Área de Domínio da Mata Atlântica................................................. 44

Tabela 2- Remanescente da Mata Atlântica. ................................................... 48

Tabela 3: Faixa etária dos moradores entrevistados, São João Evangelista,

2006. ................................................................................................55

Tabela 4: Nível de escolaridade dos entrevistados, São João Evangelista,

2006. ................................................................................................55

Tabela 5: Ocupação de mulheres e homens, São João Evangelista, 2006. .... 55

Tabela 6: Renda média das famílias do Bairro Engenho de Serra, ................. 57

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x

LISTA DE ABREVIATURAS

CEASA Central de Abastecimento

CNUMAD Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CODEMA Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio

Ambiente

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

EA Educação Ambiental

EAFSJE-MG Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista – Minas Gerais

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

ISA Instituto Socioambiental

MMA Ministério do Meio Ambiente

ONG Organização Não-Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais

PDA Projetos Demonstrativos

PIEA Programa Internacional sobre Educação Ambiental

Pnad Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

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PROPACC Proposta de Participação-Ação para a Construção do Conhecimento

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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RESUMO GONÇALVES, SIDILENE A. SILVA. M. S., Centro Universitário de Caratinga, Junho de 2006. Avaliação dos impactos sociais das populações do entorno de áreas de matas nativas. Professor Orientador: Leopoldo Loreto Charmello. Co-orientador: Jorge Luiz de Góes Pereira.

Diante das perspectivas cada vez maiores de extrair da natureza matéria

prima necessária ao desenvolvimento das localidades, têm se verificado que as

reservas florestais, assim como tantos outros ecossistemas, têm sofrido

constantes interferências, provocando a sua degradação. Diante desse fato,

esse estudo procurou diagnosticar os motivos e as formas que levam as

populações localizadas no entorno de matas nativas a utilizarem

inadequadamente os recursos produzidos por elas, especificamente aquelas do

Bairro Engenho de Serra, localizado às margens da mata do campus da Escola

Agrotécnica Federal de São Evangelista-MG. Esta pesquisa teve como objetivo

central à análise dos impactos sociais das populações em relação à

interferência do homem no entorno da mata nativa, visando abordar o papel da

Educação Ambiental na conservação da natureza. Para tanto, procurou-se

construir uma discussão sobre a temática ambiental dentro das Ciências

Sociais em relação sociedade/natureza sob a ótica dos fenômenos

socioculturais. Dessa forma, considerou-se a necessidade de se efetivar um

processo de sensibilização, envolvimento e conscientização dos atores sociais,

optando pela utilização do método PROPACC, um método de capacitação de

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recursos humanos para a Educação Ambiental fundamentado numa concepção

construtivista da aprendizagem, que considera o conhecimento prévio dos

atores e suas experiências. Esse método proporcionou a construção do perfil

desta população, mostrando uma estrutura com características próprias e

autônomas. Após a aplicação do método, constatou-se que no caso específico

do Bairro Engenho de Serra na cidade de São João Evangelista, MG, a

população expressa uma carência no que se refere aos aspectos

socioeconômicos não sendo a falta de formação educacional, a causa da

retirada de recursos naturais da mata, como se imaginava no início desse

estudo, visto que os moradores apresentaram um nível de escolaridade acima

do esperado. Em relação à falta de informação sobre os impactos da não

conservação do ambiente, pôde-se perceber que após orientações sobre a

importância de se preservar a mata nativa e o ambiente ao seu entorno, houve

um despertar dessas pessoas em relação aos seus deveres diante dos

problemas ambientais do bairro e do município, reforçando a necessidade de

se fazer da Educação Ambiental um instrumento de promoção da cidadania

para a preservação dos recursos naturais e do desenvolvimento econômico

com sustentabilidade no município. Sob essa perspectiva aferiu-se que o

caminho está na educação das novas gerações tendo como princípio básico o

que mais se compatibiliza com a realidade da localidade, instituição ou

município.

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ABSTRACT GONÇALVES, SIDILENE A. SILVA. M. S., University Center of Caratinga, June 2006. Evaluation of the social impacts of the populations of the spill of areas of native woodses. Adviser: Prof. DSc Leopoldo Loreto Charmello. Comittee Member: Prof. DSc Jorge Luiz de Góes Pereira.

In front of the every time larger perspectives of extract of the necessary

raw material nature to the development of the places, they have if verified that

the forest reserves, as well as so many other ecosystems, they have been

suffering constant interferences, provoking your degradation. Ahead of this fact,

that study tried to diagnose the reasons and the forms that carry the populations

located in the spill of native woodses use her inadequately the resources

produced by them, specifically those of the Engenho Serra's District, located to

the margins of the woods of the campus of Escola Agrotécnica Federal of São

João Evangelista-MG. This research had as central goal to the analysis of the

social impacts of the populations regarding the man's interference in the spill of

the native woods, aiming board the paper of the Environmental Education in the

preservation of nature. For so much, it tried build a discussion about the

environmental thematic inside the Social Sciences in relation society/nature

under the optics of the sociocultural phenomena. Thus, it considered the need

to if it effect a sensibilizacion process, involvement and actors' social

understanding, opting by the utilization of the method PROPACC, a human

resources training method for the Environmental Education based in a

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conception construtivist of the learning, which considers actors' previous

knowledge and her experiences. That method provided the construction of the

profile of this population, showing a structure with own and autonomous

characteristics. After the application of the method, it verified that in the specific

case of the Engenho Serra's District in the city of São João Evangelista, MG,

the population expresses a lack with regard to the aspects socioeconomic not

being the lack of educational formation, the cause of the retreat of natural

resources of the woods, as if it imagined at the beginning of this study, since the

inhabitants introduced an education level above of the waited. Regarding the

information lack on the impacts of the not preservation of the environment, it

could realize that after orientations on the importance of if preserve the native

woods and the environment to your spill, there was one awake of these people

regarding their duties in front of the environmental problems of the district and

of the municipal district, reinforcing the need to if you do of the Environmental

Education a promotion instrument of the citizenship for the preservation of the

natural resources and of the economic development with sustainable in the

municipal district. Under this perspective it checked that the way is in the

education of the new generations having as basic principle that more if

harmonious with the reality of the place, institution or municipal district.

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INDICE

Página LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... vii

LISTA DE QUADROS ........................................................................................ viii

LISTA DE TABELAS ............................................................................................ ix

LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................x

RESUMO ............................................................................................................ xii

ABSTRACT ........................................................................................................ xiv

INTRODUÇÃO ......................................................................................................1

1.1. Contextualização do Problema...................................................................1

1.2. Objetivos ....................................................................................................6

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................7

2.1. Caracterização da Área de Estudo.............................................................7

2.2. Delineamento da Pesquisa.......................................................................11

2.3. Metodologia de Análise: o Método PROPACC.........................................14

REVISÃO DE LITERATURA ...............................................................................16

3.1 Degradação Ambiental e Ação Antrópica.................................................16

3.2 O debate sobre a Sustentabilidade na questão ambiental .......................23

3.2.1 Cidadania, Educação e Desenvolvimento Sustentável. ...........................27

3.3 Educação Ambiental e Consciência Ecológica: O Trabalho Voluntário e

o Meio Ambiente.......................................................................................30

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3.4 Mata Atlântica: um Patrimônio da Humanidade........................................41

3.4.1 Minas Gerais e a Mata Atlântica...............................................................48

RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................54

3.5 Caracterização do Perfil Socioeconômico dos moradores do Bairro

Engenho de Serra ....................................................................................54

3.6 Percepção sobre o Ambiente dos Moradores do Bairro Engenho de

Serra.........................................................................................................57

3.7 Percepção da Liderança Local .................................................................63

3.8 Matrizes do Diagnóstico Participativo: Os encontros dos “Domingos

Ecológicos” ...............................................................................................65

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................75

RECOMENDAÇÕES...........................................................................................78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................81

ANEXOS .............................................................................................................85

APENDICE..........................................................................................................89

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INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização do Problema

Desde a chegada das caravelas portuguesas ao Brasil até os dias atuais,

enormes riquezas foram construídas e o desenvolvimento vem, desde então,

acontecendo de maneira progressiva. Entretanto, para isso, o país vem

pagando ambientalmente um preço alto. Um dos principais danos recaiu

principalmente sobre a Mata Atlântica, explorada desde o início da colonização,

através da extração insustentável do pau-brasil no século XVI. Um século mais

tarde esta mesma mata sofre com o desmatamento para dar lugar aos

canaviais. Século após século a Mata Atlântica continuou sendo destruída com

a busca do ouro, a mineração, a agricultura, a pecuária e o extrativismo da

borracha; causando, assim, o desequilíbrio e quase extinção desse

ecossistema1.

Segundo Rocha (2001), as matas representam o mais completo êxito da

biodiversidade e uma exuberante manifestação da biosfera em função de seu

potencial nutritivo bem como pelo volume e diversidade dos habitat’s que

oferece. As matas representam, ainda, elemento regulador essencial ao

equilíbrio ecológico ao desempenhar diversas funções tais como: aumentar a

1 Hoje, se questiona se não estamos vivendo o ciclo da soja, visto as grandes extensões de terra que ela ocupa no serrado brasileiro e no Paraná.

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capacidade de infiltração do solo e, com isso, garantir a manutenção dos

lençóis freáticos; diminuir as enxurradas e proteger o solo de erosões; servir de

abrigo de animais e plantas que, por sua vez, são materiais da riqueza do

banco de germosplasma do país para a evolução; ajudar a regular o clima;

além de armazenar carbono, reduzindo, assim, o efeito estufa.

Além das funções anteriormente apresentadas, as matas nativas podem

fornecer às populações do entorno, muitas vezes carentes2, recursos naturais

que, na maioria das vezes, se transformam em recursos econômicos.

Entretanto, a maneira como estas populações extraem os recursos naturais

nem sempre é ambientalmente mais correta. Verifica-se, assim, a importância

de que haja uma relação harmônica entre a população e seu meio ambiente,

por meio do desenvolvimento de uma cultura de utilização sustentável dos

recursos naturais. Ou seja, torna-se necessário a formação de um pensamento

ético, social e educacional com relação ao uso que se faz dos recursos que as

matas proporcionam. Recursos estes, chamados renováveis, mas não

inesgotáveis.

Entretanto, para buscar uma relação sustentável e uma mudança de

comportamentos faz-se necessário conhecer os aspectos que condicionam

essa relação. Percebe-se, por exemplo, um grau de subjetividade na maneira

como a problemática ambiental é tratada, tendo os atores envolvidos no

processo, interesses e pensamentos conflitantes, que devem ser considerados,

trabalhados e também negociados, para que possam ser criados criar políticas

e ações coesas e concretas que sejam realmente aceitas pela sociedade

interessada. As mudanças só se tornam realidade quando os atores sociais

tornam-se pró-ativos na busca de bem estar e qualidade de vida para o

ecossistema local.

Dessa forma, analisar as implicações sociais das aglomerações urbanas,

que são estabelecidas no entorno de matas nativas, assume interesse em

função dos impactos causados ao meio ambiente após a criação de um

2 É importante esclarecer que a degradação ambiental não está diretamente ligada à pobreza, numa relação de causa e efeito, mas a forma como determinados grupos sociais se apropriam do meio ambiente. Vários condomínios de luxo em cidades litorâneas têm representado degradação ambiental por estarem em áreas de Mata Atlântica ou reservas florestais. Entretanto, na Reunião da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Rio 92) enfatizou-se a questão de que a ”principal degradação ambiental é a miséria”, tanto econômica como cultural.

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conjunto habitacional circundante. Para realizar este estudo tomou-se como

base o caso específico da mata do campus da Escola Agrotécnica Federal de

São João Evangelista-MG (EAFSJE-MG). Evidências sobre a realidade do

objeto de estudo mostraram que, após vinte anos da implantação do Conjunto

Habitacional Engenho de Serra, na cidade de São João Evangelista (localizado

no entorno da mata do campus da EAFSJE-MG) a existência de práticas

inadequadas à sustentabilidade das matas nativas, em termos de: a abertura

de caminhos de acesso a seu interior, clareiras provocadas pela retirada de

árvores, desaparecimento de animais nativos, lixo urbano-industrial (sacolas

plásticas e latas de bebidas) jogado em seu interior; além de outros sinais que

demonstram uma relação desconexa entre o homem e o meio ambiente. Uma

confirmação de comportamentos passados de pai para filho, com normalidade

e naturalidade, onde o papel da natureza é servir às necessidades humanas

como a madeira para construir a casa, a lenha no fogão, animais caçados para

servir à mesa, entre outras.

A Figura 1 mostra algumas das ações provocadas pela exploração dos

recursos naturais da mata da Escola, onde as fotos 1A e 1B apresentam a

destruição da cerca e o caminho feito para se ter acesso à mata; enquanto que

a foto 1C trás o corte de árvores, que acabaram abandonadas à margem da

mata; e a foto 1D mostra uma das várias aberturas de clareiras no interior da

mesma.

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Figura 1: Ações de degradação na Mata da EAFSJE-MG

A Figura 2 trás outras fotos que reafirmam a existência de ações

predatórias no interior e arredores da mata, como por exemplo, na foto 2ª, o

corte de uma árvore e a presença de lixo doméstico em seu interior; na foto 2B,

uma trilha aberta no interior da mata; na foto 2C, retirada de lenha; e na foto

2D, o acúmulo de lixo às margens da mata.

1A 1B

1C 1D

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Figura 2: Ações de degradação na mata da EAFSJE-MG

Diante desse cenário, observa-se uma necessidade eminente de se

promover ações que levem aos moradores do entorno da mata, a adotarem

comportamentos de mudança em relação à preservação do meio ambiente.

Para tanto, é necessário que se tenha uma nova visão da realidade,

pensamentos, percepções e valores; enfim, uma mudança do pensamento

cartesiano para o pensamento sistêmico. Apesar da sensibilização das

questões ambientais e da criação de políticas de incentivo a preservação do

meio ambiente, ainda há muito que se fazer para produzir mudanças de

mentalidade, condição necessária para a sobrevivência de todos os povos, a

preservação e conservação do meio ambiente (DIAS, 2002).

Nesse contexto, assume função importante a Educação Ambiental, vista

como um processo contínuo que busca sensibilizar as pessoas sobre sua

responsabilidade na preservação do meio ambiente para o pleno exercício de

sua cidadania. Na percepção de Dias (2002: 221),

2A 2B

2C 2D

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“A Educação Ambiental por ser renovadora induz novas formas de conduta nos indivíduos e na sociedade, por lidar com as realidades locais, por adotar uma abordagem que considera todos os aspectos que compõem a questão ambiental – aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos, ecológicos, científicos e tecnológicos -, por ser catalisadora de uma educação para o exercício pleno e responsável de cidadania, pode e deve ser o agente otimizador de novos processos educativos que conduzam as pessoas por caminhos onde se vislumbre a possibilidade da sua experiência humana”.

A pesquisa teve como pressuposto inicial que a falta de informação, a

baixa escolaridade e o fácil acesso à mata pelos moradores do entorno sejam a

principal razão da relação desconexa entre a comunidade e o meio ambiente, o

que leva as pessoas a adotarem uma conduta ecologicamente incorreta, por

meio de uma relação de posse dos recursos naturais, sendo essa relação

cultural, passada de pai para filho. A hipótese foi estabelecida ao se analisar a

problemática ambiental na mata da Escola, com a implantação do Conjunto

Habitacional Engenho de Serra em seu entorno.

1.2. Objetivos

O presente trabalho objetivou analisar as percepções sobre as relações

que permeiam a interferência do homem do entorno de matas nativas, no uso

dos recursos da mesma, buscando abordar o papel da Educação Ambiental na

conservação da natureza. Especificamente, pretendeu-se: caracterizar o perfil

socioeconômico e examinar as percepções sobre ambiente dos moradores do

entorno da mata do campus da EAFSJE-MG; examinar as percepções da

liderança que detêm o poder de mudança, investimento e promoção de ações

educacionais da localidade; realizar um diagnóstico participativo com os

moradores, em relação às potencialidades e problemas socioambientais da

localidade; elaborar propostas de atividades que dê subsídio à produção de

conhecimentos e realização de ações de Educação Ambiental junto aos

moradores do entorno da mata do campus da EAFSJE-MG.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O plano metodológico acerca da problemática ambiental permite agrupar

esforços de várias áreas do conhecimento, por meio da análise e reflexão da

realidade. Assim, como salienta Moraes (1997), a visão do objeto de pesquisa

e das formas de apreendê-lo derivam do equacionamento mais amplo da

realidade onde o mesmo está inserido; bem como da concepção que se

assume acerca dos movimentos e mudanças dessa realidade.

No estudo em questão procurou-se construir uma discussão sobre a

temática ambiental por dentro das Ciências Sociais; implicando abordar a

relação sociedade/natureza na ótica dos fenômenos socioculturais.

Para tanto, procurou-se caracterizar a área de estudo, delinear a forma de

coleta dos dados; bem como a metodologia de análise.

2.1. Caracterização da Área de Estudo

A área de estudo compreendeu o município de São João Evangelista, que

possui uma extensão de 478,29 km2, com uma população de aproximadamente

15.000 habitantes. Como pode ser evidenciado na Figura 3, o município

localiza-se no Vale do Rio Doce, mais especificamente na Bacia do Rio Suaçuí,

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próximo aos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, estando a 280 km de Belo

Horizonte e a 140 km de Governador Valadares.

Figura 3: Mapa de Localização do Município

A região da bacia do Rio Suaçuí é de topografia montanhosa, com solos

degradados e de baixa fertilidade na grande maioria das áreas exploradas;

sendo sua estrutura fundiária predominante de pequenas e médias

propriedades.

A principal atividade econômica é a agropecuária, em sua maioria

marcada pela organização de natureza familiar, que é caracterizada pelo baixo

emprego de tecnologia e utilização de insumos, segue-se o setor de serviços,

especialmente o comércio e, em terceiro lugar aparece a indústria,

principalmente a de transformação de produtos oriundos da agropecuária

(especialmente leite).

A mata do campus da EAFSJE-MG constitui um remanescente da Mata

Atlântica, possuindo hoje, aproximadamente 78,17 hactares de mata nativa

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fechada e de outras pequenas matas, que se encontram entremeadas por

pastagens e áreas utilizadas com cultivos, totalizando aproximadamente 144

hactares. A área da mata faz divisa ao Norte com a Rodovia BR 120

(BH/Capelinha), casas de morada e comerciais e o Bairro Engenho de Serra;

ao sul e ao leste com fazendas, a oeste com loteamento em fase de

implantação, ruas e fazendas.

O foco do estudo está centrado especificamente sobre a mata fechada,

que faz divisa, ao norte com o Bairro Engenho de Serra3, separada apenas

pelo Córrego São João e a leste com uma fazenda, separada pelo Córrego São

Domingos. A Figura 4 evidencia a aproximação do bairro em relação à mata e

à BR 120 (Bh/Capelinha), onde as fotos 4A e 4B mostram a parte mais antiga

do bairro que concentram as casas do Conjunto Habitacional (casas

populares). A foto 4C mostra uma extensão de casas não pertencentes ao

Conjunto Habitacional, mas que hoje integram o Bairro Engenho de Serra; a

foto 4D trás a imagem de parte da mata contornada pela BR 120.

Figura 4: O Bairro Engenho de Serra e parte da mata da EAFSJE-MG

3 O Bairro Engenho de Serra recebeu esse nome por estar situado em terras da Fazenda São João, construída pelos anos de 1835 por Capitão Idelfonso (um dos desbravadores da “Mata do Peçanha”), em cujo local funcionava um engenho que fazia funcionar uma serra.

4A

4C

4B

4D

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O conjunto habitacional, localizado ao norte da mata, teve sua construção

iniciada em 1982 e povoamento inicial a partir de 1984, numa área doada pela

Prefeitura Municipal que, através de seus representantes, objetivou dar

melhores condições de moradia e qualidade de vida aos futuros moradores do

local. O projeto inicial constituía-se de 120 moradias, destinadas à população

de baixa renda, que não tinham residências próprias ou ocupavam os morros

da cidade, em situações irregulares e com risco de desabamento. Aos poucos

os então moradores do conjunto foram ampliando suas casas, enquanto o

bairro passava por melhorias, como canalização do esgoto sanitário,

iluminação, abastecimento de água tratada, telefone, criação de uma escola de

ensino fundamental, calçamento das ruas, dentre outras. A partir destas

benfeitorias, outros habitantes migraram para o Bairro Engenho de Serra

aumentando de 120 para mais de 300 casas construídas em novos lotes

circundantes à mata que, a exemplo do Conjunto Habitacional, não foram

pautadas em um prévio estudo e avaliação dos impactos ao ambiente.

A Figura 5 mostra a planta planimétrica do campus da EAFSJE-MG com

destaque para as áreas que ainda preservam remanescentes de Mata Atlântica

(cor verde).

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Figura 5: Planta Planimétrica da EAFSJE-MG

2.2. Delineamento da Pesquisa

Segundo Gil (1991), o delineamento refere-se ao planejamento da

pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua diagramação

quanto à previsão de análise.

Baseando-se nas proposições de Santos (1999), o presente estudo

procurou estabelecer três critérios a serem utilizados para identificar a natureza

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metodológica dos trabalhos de pesquisa, em termos de: objetivos, coleta de

dados e fontes de informações.

Quanto aos objetivos, optou-se pela pesquisa descritiva, pois a mesma

visa descrever as características de determinada população ou fenômeno, ou

mesmo o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de

técnicas padronizadas de coleta de dados, assumindo em geral a forma de

levantamento (GIL,1991).

Quanto à coleta de dados, foram utilizadas técnicas de levantamento

como o diagnóstico participativo e estudo de caso. O diagnóstico participativo,

segundo Gutiérrez (1993), “é um processo contínuo que gera um conhecimento

que enriquece na medida em que a realidade se transforma”. Segundo Gil

(1991), a técnica de levantamento consiste na interrogação das pessoas cujo

comportamento se deseja conhecer. Para Tachizawa & Mendes (1999, p. 49) o

estudo de caso “é uma análise específica da relação entre um caso real e

hipóteses, modelos e teorias”. O que permite uma análise profunda do objeto

em estudo, visando o exame detalhado do problema.

Para Ludke & André apud Nogueira (2003), o procedimento do estudo de

caso é caracterizado por três fases:

A primeira fase (aberta ou exploratória) é baseada em questões ou pontos

críticos iniciais; que podem ter origem na literatura; ser fruto de observações e

depoimentos feitos por especialistas sobre o problema; do contato inicial com

pessoas ligadas ao fenômeno estudado; ou da especulação baseada na

experiência pessoal do pesquisador. Nesse estudo, a primeira fase está

baseada na observação direta simples e contato com a área em estudo, na

qual pôde se observar um aumento da problemática de extração ilegal dos

recursos naturais na mata; procurou-se, ainda, fazer um registro fotográfico das

“marcas” deixadas pela ação do homem no interior da mata.

A segunda fase tem uma preocupação mais voltada para as

características próprias do objeto de estudo. Os instrumentos usados podem

ser mais ou menos estruturados, as técnicas mais ou menos variadas, embora

a coleta deva ser sistemática.

Na segunda fase do estudo de caso foram aplicadas entrevistas

estruturadas, utilizando-se de questionário (Anexo I) com questões abertas e

fechadas. A amostra correspondente a 35% da população total foi aleatória,

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buscando-se representantes de 100 moradias circundantes à mata, mais

especificamente, moradores do Bairro Engenho de Serra, com o objetivo de

traçar um perfil dos residentes, sua relação com a mata, como também seu

conhecimento a respeito das questões ambientais. Outra técnica de coleta de

dados foi a entrevista semi-estruturada, cujo roteiro pode ser evidenciado no

Anexo II. Nesse caso, buscou se uma amostra intencional, objetivando ter o

depoimento de liderança local, mais ligada ao assunto em ponto (Diretor da

EAFSJEMG, Prefeito Municipal e Promotor(a) de Justiça); sendo o objetivo

examinar o interesse das partes em buscar projetos que visem à preservação

da mata.

Outro momento da pesquisa, nessa mesma fase, foi a realização de um

diagnóstico participativo, que consistiu de um levantamento da realidade local

feito com um grupo voluntário de moradores do bairro, com o objetivo de

caracterizar os principais problemas da localidade nas áreas social, econômica,

cultural, ambiental e política. Para realização de tal diagnóstico, optou-se por

uma adaptação bem simplificada da metodologia denominada Proposta de

Participação-Ação para a Construção do Conhecimento – PROPACC4, mais

detalhado a seguir, que foi concebida por Medina e Santos (2003).

A terceira fase do estudo de caso compreende a análise e interpretação

sistemática dos dados e suas conclusões. É importante ressaltar que essas

três fases se superpõem em diversos momentos sendo difícil precisar as linhas

que as separam.

De acordo com Santos (1999) as fontes de informações são lugares ou

situações de onde se extraem os dados que se precisa, podendo ser em três

grupos: Campo, laboratório e bibliografia. Nesse trabalho foi usada a pesquisa

de campo, caracterizada pela coleta de dados no local, através da observação

direta simples, além das entrevistas, por serem técnicas adequadas aos

estudos sobre a questão ambiental. 4 Metodologia de caráter participativo para a formação de multiplicadores em Educação Ambiental, formal e não formal.

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2.3. Metodologia de Análise: o Método PROPACC

Segundo Medina e Santos (2003), o PROPACC é um método de

capacitação de recursos humanos para a Educação Ambiental fundamentado

numa concepção construtivista da aprendizagem, que considera o

conhecimento prévio dos atores, pautado em suas experiências. Na concepção

das autoras, o desenho do método é flexível e a ordem de aplicação das

matrizes pode ser modificada e adequada. O método consiste em uma

reelaboração teórico-prática à luz de três grandes perspectivas teóricas

emergentes em que se baseia a EA, a saber:

• O construtivismo num sentido amplo de construção do conhecimento e dos

processos de aprendizagem individuais e sociais;

• A concepção de uma perspectiva complexa da realidade, do conhecimento

e dos processos de ensino aprendizagem;

• A teoria crítica que supera a visão técnica e instrumental na busca pela

construção de novas formas de racionalidade.

Considerando a necessidade de se efetivar um processo de

sensibilização, envolvimento e conscientização dos atores sociais

caracterizados como objeto de estudo, optou-se pela utilização do método

PROPACC, sendo necessário adaptá-lo ao objetivo proposto de analisar sobre

o conhecimento e expectativas dos moradores do Bairro Engenho de Serra na

cidade de São João Evangelista-MG.

O método consiste na elaboração e reelaboração coletiva de doze

matrizes, onde as seis primeiras compõem o módulo I e as demais o módulo II.

Entretanto, diante da adaptação realizada, foram utilizadas apenas as quatro

primeiras matrizes, e as mesmas foram resumidas visando focar apenas o

município e o bairro em estudo.

As matrizes (sem modificações), utilizadas para o diagnóstico proposto,

são apresentadas a seguir:

• Matriz 1 – Identificação de problemas socioambientais: permite a análise e o diagnóstico sobre os problemas ambientais causados pelo modelo de desenvolvimento adotado pela atual sociedade, nos níveis: global, nacional, regional e local.

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Matriz 1- Identificação de problemas socioambientais GLOBAIS NACIONAIS REGIONAIS LOCAIS

• Matriz 2 – Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento

sustentável: permite a identificação das potencialidades de desenvolvimento

sustentável nos diversos níveis, não ficando a questão ambiental

exclusivamente como problema.

Matriz 2: Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável GLOBAIS NACIONAIS REGIONAIS LOCAIS

• Matriz 3 – Matriz de inter-relações: consiste em uma primeira

síntese onde se estabelece as inter-relações dos problemas e/ou

potencialidades, em busca de suas causas reais, a fim de construir uma visão

ampliada e crítica da assunto.

Matriz 3: Inter-relações

• Matriz 4: Seleção de problemas e possíveis soluções: é a segunda

síntese que possibilita a priorização e seleção de problemas socioambientais e

o exercício de identificação de possíveis soluções, além de suas inter-relações

verticais e horizontais.

Matriz 4: Seleção de problemas e possíveis soluções Seleção de

cinco problemas regionais

Possíveis soluções

Identificação de dez

problemas estaduais

Possíveis soluções

Inter-relações entre eles

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REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura foi estruturada em função dos objetivos propostos,

em termos de: degradação ambiental e ação antrópica; o debate sobre a

sustentabilidade na problemática ambiental e sua associação com a educação

e cidadania; a Educação Ambiental e conscientização ecológica; e a questão

da Mata Atlântica.

3.1 Degradação Ambiental e Ação Antrópica

Segundo Lucci et al. (2003), o homem primitivo para sobreviver em nosso

planeta precisou aprender a superar grandes desafios, afinal era pequeno

demais para enfrentar a força de grandes caçadores como o tigre e o leão.

Assim, a saída encontrada pela espécie humana foi viver em sociedade. A vida

em grupo proporcionou-lhe condições de realizar grandes caçadas e então

sobreviver e evoluir até se tornar dominante. Entretanto, os problemas não

terminaram com o crescimento do grupo, pois os alimentos eram cada vez

mais escassos. Esses foram apenas os primeiros problemas ligados às

questões ambientais, o homem evoluiu dominando o fogo, as técnicas de

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plantio e inventou máquinas explorando a natureza e disseminando a poluição

e a exploração irracional dos recursos naturais.

Entre os principais problemas ambientais causados pela ação humana,

Rocha (2001) destaca:

a) A água potável está cada vez mais rara. A ausência de mecanismos de

conservação do solo deteriora os grandes mananciais e o desmatamento leva

a seca às nascentes. Além do assoreamento e da erosão, os rios transformam-

se em gigantescos esgotos a céu aberto;

b) A fauna brasileira com características endêmicas sofre os efeitos do

desmatamento, o que reduz cada vez mais seu “habitat” natural para dar lugar

à pecuária, agricultura, áreas urbanas, extração de madeira entre outros; o

ambiente aquático também é afetado pela drenagem das áreas pantanosas,

assoreamento de rios e córregos, disposição de efluentes industriais e

domésticos em corpos hídricos. Outro problema enfrentado pela fauna

brasileira é a caça predatória que, apesar de proibida, ainda está sendo

realizada e o comércio de animais silvestres praticado clandestinamente.

c) A flora assim como a fauna está intensamente afetada com as

alterações de seu ecossistema, causadas pelas atividades humanas que

resultam em poluição do solo, da água e do ar, além do comércio ilegal.

Ainda Rocha (2001) afirma que a pior deterioração com relação aos

vegetais é encontrada no desmatamento indiscriminado (vegetações arbustivas

e arbóreas) em várias partes do mundo, especialmente no Brasil, que segundo

dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação -

FAO (1993), no período de 1981 e 1990, foi o país mais afetado pelo

desmatamento perdendo nesse período 3,6 milhões de hectares de florestas.

Outro sério problema ambiental em relação à ação humana tem sido o

crescimento urbano, muitas vezes sem planejamento se dá de maneira

desordenada. Em todo planeta, segundo Franco (1999), a humanidade migrou

para as cidades, passando de menos de 5% de urbanos existentes no início do

século XVIII para metade da humanidade localizada nas pequenas e grandes

cidades no início do século XX. Segundo dados do IBGE (2001), mais de 80%

da população brasileira reside em zonas urbanas, que, por sua vez, não se

estruturaram para recebê-la, formando assim as periferias das cidades

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grandes, que não oferecem acesso ao mínimo de condições de vida, trazendo

conseqüências negativas aos biomas naturais. Os problemas ambientais

resultantes da aglomeração humana são interligados e interdependentes e

afetam as condições de sustentabilidade do planeta. A urbanização

desordenada há muito vem fazendo parte das pautas de diversos encontros ou

reuniões internacionais sobre meio ambiente e sustentabilidade, como na

Conferência de Estocolmo (1972), na Comissão de Brundtland (1983), na Rio

92 (1992), na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e

a Habitat II (1996). Entretanto o problema continua assolando cidades de vários

países. A realidade é que as cidades continuam crescendo e com elas o

aumento do consumo dos recursos naturais. Segundo Dias (2002) as grandes

cidades consomem 75% dos recursos naturais do planeta. Como conseqüência

contribui com a perda significativa da qualidade ambiental, principalmente

relacionado aos recursos hídricos, uma vez que o crescimento das cidades vai

“espremendo” os cursos d’água, poluindo e desprotegendo as nascentes com o

corte das árvores.

A urbanização desordenada se tornou um dos grandes problemas das

grandes cidades. Entretanto, nas pequenas cidades problemas semelhantes

são também comuns, tais como o crescimento desordenado, ocupação de

espaços sem planejamento ou avaliação dos possíveis impactos, empurrando

as classes menos favorecidas para áreas sem infra-estrutura adequada,

acentuando cada vez mais as diferentes camadas sociais. A falta de

planejamento e avaliação na criação de áreas urbanas coloca em risco áreas

naturais, aguçando o desequilíbrio da relação homem-natureza.

Para Franco (1999), conflitos como estes em pequenas aglomerações ou

em megalópoles que se expandem cada vez mais, vão levar à necessidade de

pensar, conceber e operar sistemas de gestão ambiental dos espaços urbanos,

para que cada cidadão tenha seus direitos respeitados, como descrito no Art.

225 da Constituição Federal (1988):

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

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As cidades representam uma forma de organização socioespacial

complexa, diferentes em todas as partes do mundo, que guardam em sua

“fisionomia” a arquitetura, a história e o modo de ser de seus habitantes.

Contudo, todas possuem a mesma característica de desenvolver atividades

diferentes das que são realizadas no campo. A cidade teve seu surgimento

com as primeiras civilizações da Antiguidade, entretanto foi a partir da

Revolução Industrial, ocorrida no século XIX, que se deu mais

significativamente o desenvolvimento urbano em todo mundo. A partir de então

as cidades assumiram o papel de comando na economia e no desenvolvimento

(Lucci, et al. 2003). No Brasil, as cidades nascem como produto de

monoculturas, reflexo da forma de colonização caracterizada por uma estrutura

de economia fundamentada na exploração de produtos agrícolas para

exportação (açúcar, algodão, tabaco e café) centralizando o poder econômico

no campo. As cidades se apresentavam como centros administrativos “vazios”.

A vida econômica e política partiram do campo para a cidade, diferentemente

dos paises europeus (MELLO, 2002).

Como fenômeno urbano, as cidades sofreram intensas mudanças no

decorrer da história. Na Antiguidade exerciam função comercial, militar, política

e religiosa. Na Antiguidade Clássica (século V a.C), as cidades localizadas no

continente europeu deixaram um legado cultural muito rico para a cultura

ocidental contemporânea. Do século V ao século XV (feudalismo) as cidades

passaram a ter importância secundária, uma vez que a exploração da

propriedade rural determinava seu caráter especialmente agrário. No século

XIV, a atividade comercial faz ressurgir a vida urbana em áreas pertencentes

aos senhores feudais. No período capitalista comercial (do século XV ao XVII),

uma reorganização da economia atraiu o excedente da mão-de-obra do campo

para as cidades, que já exerciam atividades próprias como o artesanato e a

monocultura (ALMEIDA e RIGOLIN, 2005).

Na segunda metade do século XIX, a industrialização e a urbanização se

consolidaram como um fenômeno mundial, intensificando a partir de então, os

debates sobre os problemas urbanos nos países industrializados que

constataram o fato de que o crescimento econômico conquistado com a

industrialização não levou à melhoria da qualidade de vida a população urbana.

Ao contrário, a miséria e as condições precárias de moradia das classes

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urbanas menos favorecidas, representavam ameaças constantes de crises

sociais e revoltas populares. No século XX, o urbanismo utilizou-se dos

progressos tecnológicos da Segunda Revolução Industrial - concreto armado,

ferro, vidro, aço, alumínio e outros materiais foram incorporados às obras

arquitetônicas, criando novas possibilidades de instalações e moradias

urbanas. Em sua primeira metade, o século XX é marcado pelo funcionalismo

e racionalismo, em que o planejamento urbano e o projeto arquitetônico

passam a ser visto com finalidade de tornar o espaço urbano funcional e

racional. O mais importante exemplo da influência do urbanismo racionalista no

Brasil foi a construção da cidade de Brasília, projetada pelo urbanista Lúcio

Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer no final da década de 1950 (LUCCI,

2003).

Santos et al. (2002) afirmam que os problemas ambientais urbanos no

Brasil são mais acentuados por se tratar de um processo de urbanização

rápido e desigual, levando as populações de baixa renda a ocupar terras

periféricas, geralmente desprovidas de infra-estrutura ou a se instalar em áreas

ambientalmente frágeis.

Para Lucci et al. (2003), a urbanização no Brasil, de modo geral apresenta

semelhanças aos processos de urbanização dos demais países em

desenvolvimento, tais como: ser uma urbanização marcada pela formação de

grandes cidades com concentração expressiva das riquezas; chamada

“urbanização terciária”, ou seja, com crescimento de atividades terciárias pouco

especializadas e de baixo valor agregado; teve um ritmo acelerado de

crescimento entre os anos de 1950 e 1990 com intenso êxodo rural; o padrão

de crescimento é periférico, formação de amplas manchas urbanas com a

população de baixa renda se deslocando para áreas bem distantes do centro.

Este processo teve seu início na década de 1940 com a expansão das

atividades industriais nos grandes centros que atraiu trabalhadores das áreas

rurais vislumbrados pela possibilidade de maiores rendimentos e melhores

recursos nas áreas de saúde e educação. As atividades industriais

contribuíram com a dinamização de atividades econômicas ligadas ao comércio

e aos serviços, entretanto não houve geração de empregos suficientes para o

elevado número de migrantes do meio rural. O processo de urbanização

brasileiro emanou da modernização da sociedade e da economia, porém

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muitos benefícios dessa modernização não chegaram à maior parte da

população, uma realidade que se agrava com a ineficácia das políticas

públicas, que freqüentemente são voltadas para as camadas sociais mais

privilegiadas, resultando em aumento da informalidade, surgimento de grandes

favelas, cortiços e moradores de rua (LUCCI, et al. 2003).

Países como o Brasil, têm suas cidades crescendo mais e rápido em

virtude de problemas enfrentados pela população rural como: concentração de

terra, desemprego, secas e falta de política adequada. A grande maioria da

população brasileira, ou seja, 79,7% dos habitantes residem em áreas urbanas

segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 1999. Sendo

as regiões Sudeste, Sul e Nordeste as que apresentam o maior índice de

crescimento, 88,7%, 78,4% e 63,6% de moradores urbanos, respectivamente.

O Brasil deixa de ser um país essencialmente agrícola no final da década de 60

graças à mecanização nas atividades de plantio e colheita que acaba por

expulsar os trabalhadores rurais que partem em busca de oportunidades de

emprego e melhores condições de vida nas cidades grandes. A Figura 6

apresenta dados comparativos do crescimento populacional urbano e rural no

Brasil nos últimos 60 anos, onde se vê que o crescimento rural que nas

décadas de 1970 a 1990 esteve à frente do crescimento urbano tem uma

acentuada queda no ano 2000.

200019961990198019701960195019400

20

4060

80

100

Brasil - Evolução da população rural-urbana entre 1940 e 2000

RuralUrbano

Figura 6: Evolução da população rural-urbano no Brasil Fonte: IBGE. Anuários Estatísticos do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997. IBGE.

Censo Demográfico, 2000.

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Lucci, et al. (2003) apresenta tendências atuais da urbanização brasileira

que vêm se delineando principalmente a partir dos anos 1990, com o

surgimento de novos postos de serviços desvinculados da agricultura nas

áreas rurais, que se caracterizam com:

• Diminuição do êxodo rural;

• Aumento do número de trabalhadores e proprietários rurais com

residência em cidades;

• Aumento dos locais de lazer rural, freqüentados por pessoas do

espaço urbano;

• Aumento de trabalhadores rurais realizando atividades não-agrícolas

como na construção civil e no comércio;

• Alteração no ritmo de crescimento das cidades – cidades médias5

apresentam maior crescimento (4,8% em média nos anos 1990) se

comparados a cidades com mais de 1 milhão de habitantes (no

mesmo período, cresceram 0,9%).

De acordo com Lucci, et al. (2003) geógrafos, economistas e urbanistas

apontam alguns fatores para explicar essa nova tendência de crescimento

urbano no Brasil como o elevado custo de vida nas grandes cidades

(especialmente os aluguéis), redução de postos de trabalho, crescimento do

trabalho informal (precarização), direcionamento de investimentos privados

para as cidades médias.

Na visão de Santos, apud Lucci, et al. (2003:280) tem-se que:

Ao longo do século, mas, sobretudo nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com a pobreza cujo locus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos. A indústria se desenvolve com a criação de pequeno número de empregados e o terciário associa formas modernas a formas primitivas que remuneram mal e não garantem a ocupação.

5 Segundo Lucci, et al.(2003), entende-se por cidades médias as que possuem entre 100 mil e 500 mil habitantes.

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O fato é que a falta de planejamento e políticas adequadas de

urbanização no Brasil e no mundo, ao longo da história, fez surgir,

principalmente nos grandes centros, gigantescas aglomerações desprovidas de

infra-estrutura, com loteamentos clandestinos, muitos implantados em áreas de

risco, refletindo negativamente no meio ambiente e na qualidade de vida de

toda população, resultantes de um desenvolvimento insustentável.

3.2 O debate sobre a Sustentabilidade na questão ambiental

O debate sobre sustentabilidade se formalizou entre os governos com a

realização da 1ª Conferência da ONU em 1972, que discutiu principalmente o

conflito entre desenvolvimento econômico e preservação dos recursos naturais.

Tais discussões buscavam unificar o conceito dos termos sustentabilidade e

desenvolvimento sustentável.

Capra (2002) esclarece que o conceito de sustentabilidade foi criado por

Lester Brown no início da década de 1980, que definiu como sociedade

sustentável aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem colocar

em risco a sobrevivência das futuras gerações. Afirma ainda, que esse conceito

foi posteriormente utilizado pela Comissão para Desenvolvimento do Meio

Ambiente da ONU, que em 1987 publicou o relatório chamado de “Nosso

Futuro Comum”, que posteriormente ficou conhecido por Relatório Brundtland,

que se tornou referência mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Tal

relatório parte de uma visão complexa das causas dos problemas

socioeconômicos e ecológicos da sociedade global; enfatiza a interligação

entre tecnologia, economia, sociedade e política; apresenta medidas a serem

tomadas no nível estado nacional, como a busca pelo desenvolvimento

sustentável e define metas a serem realizadas a nível internacional, em que as

organizações devem adotar estratégias de sustentabilidade. Assim, define

desenvolvimento sustentável como “aquele que atende as necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem

as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p.46).

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As soluções para o desenvolvimento compatível com a proteção

ambiental, segundo o Relatório Bruntland, são baseadas no desenvolvimento

sustentável, sendo seu principal objetivo satisfazer as necessidades e

aspirações humanas. Em outros termos significa utilizar os recursos naturais de

maneira responsável, empregando processos e tecnologias que não gerem

poluições com taxas acima das que permitem a regeneração natural do meio

ambiente, promovendo a valorização dos recursos, fomentando suas condições

de renovação, evitando desperdícios e mau uso dos recursos naturais, bem

como, preservar e conservar habitats e ecossistemas frágeis e limitados.

A partir desse relatório, o mundo começa a perceber os problemas

ambientais de maneira diferente, pois o mesmo mostra que as possibilidades

de um estilo de desenvolvimento que atenda as necessidades presentes sem

comprometer as gerações futuras estão intrinsecamente ligadas aos problemas

de eliminação da pobreza, à satisfação das necessidades básicas de

alimentação, saúde e habitação, além da busca por um modelo energético que

privilegie as fontes renováveis e a inovação tecnológica.

Ainda segundo o Relatório de Bruntland, o cerne do desenvolvimento

sustentável está num processo de transformação onde a exploração dos

recursos, o norte dos investimentos, a direção do desenvolvimento tecnológico

e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e

futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações humanas. Entretanto

Brügger (2004) lembra que muitos obstáculos deverão ser rompidos para que

se possa atingir o desenvolvimento sustentável de forma satisfatória em uma

determinada região ou do planeta como um todo, dizendo:

A economia não está isolada dos demais processos sociais e, assim, será preciso uma profunda revisão dos valores que compõem a nossa sociedade industrial. Do contrário, surgirão falsas alternativas como um Livre Comércio ‘maquiado de verde’ que continuará a reproduzir o sistema econômico que degradou a qualidade de vida no planeta (BRÜGGER, 2004, p.25).

Almeida (1997) e Leff (2001) indicam duas correntes adversas que

versam sobre desenvolvimento sustentável, assim, por um lado políticas

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neoliberais6 agem capitalizando a natureza, a ética e a cultura; é a concepção

econômica que aponta novos mecanismos de mercado como solução para

condicionar a produção à capacidade de suporte dos recursos. Nessa corrente,

os potenciais da natureza são reduzidos à sua valorização de mercado como

capital natural; as potencialidades do homem e sua capacidade inventiva são

convertidas em formas de capital humano e tudo pode ser reduzido a um valor

de mercado. A outra corrente apontada pelos autores se contrapõe à idéia “[...]

da expansão desmesurada da esfera econômica” (ALMEIDA, 1997, p.50) e

propõe um desenvolvimento sustentável que garanta a diversidade

democrática dentro de uma ética ambiental de revalorização da vida, onde:

Os recursos ambientais se convertem em potenciais capazes de reconstruir o processo econômico dentro de uma nova racionalidade produtiva, propondo um projeto social baseado na produtividade da natureza, nas autonomias culturais e na democracia participativa (LEFF, 2001, p.31).

Segundo Leff (2001), os princípios ecológicos não impedem o progresso e

o desenvolvimento tecnológico, o mesmo deve ser dirigido e orientado de

maneira a criar condições harmônicas de existência em um espaço que

compatibiliza o crescimento econômico, a conservação ambiental, a eqüidade

social, a qualidade de vida e o compromisso com as gerações futuras. Assim

viabilizar projetos sustentáveis implica mudanças de comportamento no plano

pessoal e social, transformando os modos de produção e de consumo a partir

da discussão e do comprometimento da sociedade rumo a ações sociais e

educativas em relação ao uso sustentável dos recursos naturais com

consciência e responsabilidade.

Sobre o padrão de consumo, Dias (2002, p.33) faz referência a um

“modelo de desenvolvimento que produz a exclusão social e a miséria por um

lado; consumismo, opulência e desperdício, por outro”. Argumenta que este

modelo gera degradação ambiental e conseqüentemente a perda da qualidade

de vida, são padrões de consumo insustentáveis, afirmando que para manter

os padrões de consumo e absorver os resíduos gerados por tal prática é

atualmente necessário um planeta 30% maior. Entretanto, acredita que a

6 Políticas que favorecem uma redução do papel do Estado na esfera econômica.

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solução para os graves problemas ambientais depende de cada um de nós,

que “quando cada um internalizar a necessidade de mudança, e fizer sua

parte, poderemos alcançar as mudanças de percepção em nossas relações

com o ambiente, e com nós mesmos” (DIAS, 2002, p.89).

Na atualidade, os diversos meios de comunicação vêem informando as

diversas catástrofes, ou seja, a “fúria” da natureza em toda parte do mundo, e

que marcou o ano de 2005 de maneira bastante assustadora. São tempestades

violentas, furacões furiosos como o Wilma, Rita e Katrina, fenômenos que

fazem com que o mar avance sobre a terra, secas capazes de fazer com que

lugares como a Amazônia perca suas características naturais. Segundo a

revista ISTOÉ (2005)7 tais acontecimentos são reflexos do aquecimento global

e do mau uso da natureza, um cenário de oscilações climáticas que os

cientistas alertavam que viessem acontecer bem mais tarde, num horizonte de

50 a 100 anos, entretanto o ano de 2005 é antecipadamente marcado por tal

cenário. A todo instante se fala do efeito estufa causado pela emissão de

gases; da devastação das matas que são responsáveis pelo controle da

temperatura do planeta; das enxurradas de produtos químicos despejados

sobre os leitos dos rios. E o que o homem tem a fazer senão mudar sua

relação com o meio ambiente? É o que acredita Dias (2002), ao mencionar

como solução para os problemas ambientais, a necessidade de mudança na

relação do homem com a natureza internalizada em cada um de nós.

Através da iniciativa do Poder Público, privado e das Organizações não-

Governamentais (ONGs) muitos são os projetos que vem sendo realizados no

sentido de fomentar atividades econômicas sustentáveis no uso dos recursos

naturais, como a madeira, as plantas medicinais, os frutos e animais nativos,

entre outros. A exemplo, os Programas SOS – Sustentabilidade realizados pela

Fundação SOS Mata Atlântica, vem desenvolvendo modelos de

desenvolvimento sustentável que visam garantir a conservação dos

ecossistemas e remanescentes florestais; proteger a biodiversidade; valorizar a

identidade física e cultural, o desenvolvimento da cidadania e bem estar das

comunidades humanas locais. O desenvolvimento da cidadania se vê com o

processo participativo na gestão ambiental dos recursos que prevê a

7 ISTOÉ nº 1880 de 26/10/2005, páginas 92 a 97; caderno: Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente; matéria de Darlene Menconi e Francisco Alves Filho.

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integração dos proprietários de terras, condomínios, pontos turísticos e

comunidades tradicionais locais, iniciativas privadas, Poder Público e ONGs.

3.2.1 Cidadania, Educação e Desenvolvimento Sustentável.

Baseado na definição de desenvolvimento sustentável apresentado pelo

Relatório de Bruntland pode-se considerar sustentável o desenvolvimento que

trata de forma interligada e interdependente as variáveis econômica, social e

ambiental de maneira estável e equilibrada garantindo melhor qualidade de

vida para as gerações presentes e futuras. Certo é que a implementação desse

desenvolvimento passa necessariamente por um processo que requer de toda

a sociedade uma discussão e um comprometimento, uma vez que o mesmo

implica em mudanças de comportamentos dos agentes sociais. Nesse

processo a Educação Ambiental torna-se um instrumento fundamental.

Por ocasião da Rio-92, aprovou-se um documento denominado Agenda

21, com o consenso de mais de uma centena de países que estabeleceram um

pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o século

seguinte. Os países assumiram o desafio de incorporar, em suas políticas,

metas que os coloquem a caminho do desenvolvimento sustentável,

consolidando a idéia de que desenvolvimento e conservação do meio ambiente

devem constituir um binômio indissolúvel, compatibilizando o direito ao

desenvolvimento e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas

atuais e futuras gerações. Foi ainda proposto que cada país adaptasse a

Agenda 21 à sua realidade, ordenando prioridades e maneiras de implementá-

la nas diversas áreas propostas. Tal documento representou um marco rumo à

unificação na visão do que seja o desenvolvimento sustentável por tratar de

temas como pobreza, crescimento econômico, industrialização e degradação

ambiental e propor ações, objetivos, atividades e meios de implementação

onde os diversos atores em nível mundial são convocados a buscar o

desenvolvimento sustentável.

O sucesso das ações que devem conduzir ao desenvolvimento

sustentável dependerá da influência da opinião pública, do comportamento das

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pessoas e de suas decisões individuais, considerando que apesar de existir

interesse pela questão ambiental, há ainda falta de informação e conhecimento

dos problemas ambientais. Logo, a Educação Ambiental terá o objetivo de

informar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas ambientais existentes

em sua localidade e as possíveis soluções, buscando transformar essas

pessoas em agentes participativos das decisões sobre seu futuro, exercendo

assim a cidadania e se tornando um instrumento indispensável no processo do

desenvolvimento sustentável. A cidadania se apresenta como um agente

transformador da sociedade, uma nova sociedade com autonomia sobre si

mesma, sua moradia e seu ambiente. Entretanto, para que a sociedade

transforme-se através da cidadania, é necessário que sejam criadas e

praticadas, políticas públicas de combate à pobreza e desigualdade social,

caso contrário, será utopia querer que as pessoas se sensibilize com os

problemas ambientais.

Segundo Leff (1999) para exercer a cidadania, não é suficiente conhecer

seus direitos e deveres, é necessário reivindicá-los no momento oportuno,

cobrar e exigir medidas a quem compete implementá-las, sendo assim um

cidadão ativo e participante nas decisões do coletivo. Uma das formas de levar

a Educação Ambiental às pessoas é promover discussões junto à sociedade na

busca da concepção e ou incremento de hábitos e atitudes sadios de

conservação e respeito à natureza, buscando transformá-las em cidadãos

conscientes e comprometidos com o futuro da humanidade.

Com o início do movimento ecológico na década de 80, surge a

necessidade de pensar a problemática ambiental dando assim, início ao

processo de conscientização da humanidade em relação ao caos em que se

encontra(va) o ambiente, numa tentativa de minimizar os danos cotidianos na

natureza, causados por práticas econômicas predatórias que colocam em risco

a sustentabilidade do planeta. A questão ambiental se torna então, assunto de

interesse público, debatido e estudado pela sociedade que vem buscando uma

nova civilidade e uma representação política integrada que possa fazer frente

ao capitalismo já estabelecido, sendo assim, a principal tarefa rumo a um futuro

de participação consciente dos indivíduos na vida pública, através da

construção de práticas concretas de sustentabilidade do meio e,

conseqüentemente, da vida.

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É evidente a necessidade de um pacto entre a sociedade e governo em

busca da qualidade de vida e sustentabilidade do planeta, num entendimento

de que a natureza é vida e segurança para a humanidade. A participação da

sociedade nas discussões e práticas ecológicas é uma alternativa para

legitimar este pacto. Cabe a sociedade cobrar de seus governantes (em todas

as esferas – federal, estadual e municipal) a efetivação das políticas ambientais

e sociais e cumprir seu papel de cidadão consciente de sua responsabilidade

em relação à minimização do seu impacto causado ao meio ambiente. Sobre

essa evidência Gutierrez (1999) diz que a questão ambiental se tornou uma

causa social que convoca grupos voluntários em todos os níveis - local,

nacional, regional e global – e esses grupos com força política conseguirão

interessar outros atores sociais relevantes, como autoridades locais,

parlamentares, camponeses, trabalhadores, industriais, jovens e mulheres,

entre outros.

Promover a compreensão dos direitos e responsabilidades do cidadão no

que se refere ao meio ambiente e mobilizar ações voluntárias em todos os

níveis da sociedade é papel fundamental para a prática da cidadania. É

necessário então, como propõe Gutierrez (1999), entender o sentido de

cidadania como aquele em que o indivíduo comprometido com uma verdadeira

mudança de mentalidade, conceitos e valores, participa de forma crítica e

consciente da vida coletiva, reclama e exige seus direitos e exerce seus

deveres. O cidadão deve reaver o controle de sua vida cotidiana, recuperando

assim, os destinos econômico, social e ambiental de seu país. O autor ainda

diz que cidadania ambiental compreende as obrigações éticas que nos

vinculam tanto à sociedade quanto aos recursos naturais do planeta, em

conformidade com nosso papel social e na perspectiva do desenvolvimento

sustentável.

No Brasil, assim como em outros países, a problemática ambiental ganha

como resposta uma legislação avançada, entretanto, pouco sólida uma vez que

tais questões estão muito atreladas ao campo intelectual e pouco ligadas às

ações do dia-a-dia na sociedade. A conscientização dos problemas ambientais

precisa mais de mudança de valores em toda sociedade do que legislações

severas e discursos acalorados. Para Viola et al.(1995:136),

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As políticas públicas estão hoje a meio caminho entre um discurso-legislação bastante ambientalizados e um comportamento individual-social bastante predatório, sendo que, por um lado, as políticas públicas têm contribuído para estabelecer um sistema de proteção ambiental no país, mas, por outro, o poder político é incapaz de fazer os indivíduos e as empresas cumprirem uma proporção importante da legislação vigente.

Assim, o que se percebe é uma contradição entre valores defendidos e

comportamentos diários e que pouco sucesso tem-se conseguido com as

campanhas de conscientização e de Educação Ambiental. O que não quer

dizer que essas campanhas não sejam necessárias, apenas que as mesmas

precisam se aproximar mais da sociedade, integrando a participação de

indivíduos que estabeleçam relações sociais e ações efetivas, numa busca

constante do exercício da cidadania que para Gadotti (2000:133), “é

necessariamente a consciência de direitos e deveres, que se manifesta pela

mobilização da sociedade para a conquista dos direitos sociais, políticos e

civis” e Leff (2001, p.29) declara que a cidadania “emerge da democracia

representativa que conclama o cidadão a assumir suas funções sociais”.

3.3 Educação Ambiental e Consciência Ecológica: O Trabalho Voluntário e o Meio Ambiente

Na década de 1980 enquanto a ONU procurava colocar em debate a

problemática ambiental, criando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (1983), os movimentos ecológicos cresciam pelo mundo

reunindo pessoas das mais variadas áreas profissionais com o intuito de

conscientizar e denunciar problemas ambientais e seus agentes causadores.

Surgem então, várias entidades de apoio e proteção ao meio ambiente, das

quais pode-se citar tanto em âmbito nacional como internacional o

Greenpeace, WWF (Fundo Mundial para a Natureza), o Instituto

Socioambiental e a Fundação SOS Mata Atlântica, todas denominadas ONGs.

Muitas delas, além de atuarem nas questões ambientais, apresentam uma

linha de trabalho direcionada à melhoria das condições sociais, visto que o

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homem é parte da natureza e não se pode ignorá-lo quando se quer preservar

essa natureza. Leff (2000) ao dizer que a questão ambiental é um assunto que

diz respeito não somente aos órgãos administrativos, mas à ampla sociedade

civil que deve participar redefinindo estilos de vida, relações de poder e modos

de produção, reforça a importância dos grupos sociais organizados em prol de

melhores condições de vida no planeta.

Essas entidades vêm desenvolvendo importantes trabalhos e obtendo

resultados expressivos como na ampliação das discussões acerca das

questões ambientais e até mesmo conseguindo mudanças de postura de

empresas, instituições, governos e pessoas em relação ao meio ambiente e ao

ser humano. São pessoas anônimas ou grandes empresas que em prol de um

objetivo comum, a educação, seja ela formal ou informal, unem forças e lutam

por seus ideais.

Muitos são os projetos desenvolvidos por essas pessoas ou empresas

como é o caso do Centro de Voluntariado de São Paulo que tem como objetivo

incentivar e criar a cultura do trabalho voluntário na cidade de São Paulo,

promovendo a educação para o exercício consciente da solidariedade e

cidadania; a Fundação Roberto Marinho que desenvolve projetos educacionais

que visam à preservação e revitalização do patrimônio histórico, cultural e

natural nos vários pontos do país; o Instituto Supereco que tem como missão o

uso da Educação Ambiental como ferramenta para a conservação do meio

ambiente, juntamente com o desenvolvimento do ser humano; o Greenpeace,

entidade que busca soluções para a crise ambiental mundial com a certeza de

que só a mobilização de cidadãos de todas as nacionalidades poder-se-á impor

uma política ambiental coerente para todo planeta; e a Fundação SOS Mata

Atlântica que através de seu voluntariado tem a missão de participar como

agentes multiplicadores, mobilizando e sensibilizando a sociedade sobre a importância

da preservação do meio ambiente, despertando-a para a mudança de valores e

fortalecendo o exercício da cidadania. Assim, acreditando que a educação é transformadora, percebe-se que

muitas são as experiências que vem sucedendo e demonstrando a

necessidade de um elo de ligação entre a educação formal e a informal,

principalmente quando o assunto é o meio ambiente e o homem nele inserido.

Ambas contribuem para a formação do cidadão mais consciente em relação

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aos ideais de conservação e de valores ambientais. Mais que informações a

educação formal e informal precisa propor trabalhos que gerem atitudes,

formação de valores, ensino e aprendizagem de habilidade e procedimentos,

ficando evidente a necessidade de se educar as crianças e os jovens para que

no futuro ajam com responsabilidade e sensibilidade, conservando o ambiente

no hoje para o amanhã.

A Educação Ambiental (EA) iniciou-se com os primórdios da civilização,

quando os seres humanos começaram a interagir com o meio ambiente,

mesmo tendo naquela época, conotação de educação de uma forma geral.

Para Dias (1994), a expressão environmental education foi utilizada pela

primeira vez na Grã-Bretanha, em 1965 por ocasião da Conferência em

Educação, onde concluíram que a Educação Ambiental deveria se tornar parte

essencial da educação de todos os cidadãos.

No ano de 1968 surge o Conselho para Educação Ambiental, no Reino

Unido e o Clube de Roma que produziria mais tarde (1972) o relatório dos

“Limites do Crescimento Econômico”. Em 1972 aconteceu o grande marco

mundial da Educação Ambiental por ocasião da Conferência Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo na Suécia, onde

compareceram 113 países, incluindo o Brasil. Levando a Organização das

Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e o Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a lançarem o Programa

Internacional sobre Educação Ambiental (PIEA) em 1975, reconhecendo que o

seu desenvolvimento era fundamental para minimizar a crise ambiental do

mundo (DIAS, 1994).

Seguindo a recomendação da Conferência de Estocolmo, realizou-se em

1975 na então Iugoslávia, o Encontro de Belgrado promovido pela UNESCO,

onde foram formulados os princípios e orientações para o programa de EA

mundial, tendo ao final da Conferência a elaboração da Carta de Belgrado.

Dias (1994) afirma que o reconhecimento em âmbito mundial sobre a

necessidade de se realizar programas de EA se deu em 1977 em Tbilisi

(Geórgia), por ocasião da Primeira Conferência Intergovernamental sobre

Educação Ambiental, promovida pela UNESCO e PNUMA, resultando na

definição de seus objetivos, características, estratégias e recomendações.

Sendo essas recomendações reforçadas na Conferência das Nações Unidas

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sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92, no capítulo 36 da Agenda

21. Em 1979 foi realizado na Costa Rica o Seminário de Educação Ambiental

para América Latina, também promovido pela UNESCO e PNUMA.

No Brasil, a Educação Ambiental ganha espaço nas discussões a partir da

década de 70, quando as condições de sua ambiência tomavam rumos cada

vez mais precários, colocando o País no ranking dos países com deterioração

mais acelerada do mundo. Como movimento social, a questão ambiental teve

uma acentuada popularização a partir da década de 80 iniciando o processo de

mudanças no cenário sociopolítico do País. A promulgação da nova

Constituição Federal8 em 1988 marca o grande momento desse processo,

dedicando o Capitulo VI ao Meio Ambiente, determinando no Art. 225, Inciso VI

que “Cabe ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os

níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio

Ambiente”. Entretanto, já era percebida uma tendência de valorização do meio

ambiente através da Lei 6.9389, de 31 de agosto de 1981 que instituiu a

Política Nacional do Meio Ambiente e o Sistema Nacional do Meio Ambiente.

A década de noventa é marcada pela realização da Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92 ou Rio-92,

que reforçava as recomendações de Tbilisi, sendo considerada a mais

importante reunião mundial do final do século XX. Cinco anos depois houve a

Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e

Consciência Pública para a Sustentabilidade, que levou ao reconhecimento de

que o desenvolvimento da EA nos cinco anos pós-Rio 92 foi insuficiente. No

Brasil, a década de 90 também foi marcada pelo desfecho dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) que consolidaram a posição do Conselho

Federal de Educação em 1987, dando à Educação Ambiental o caráter de tema

transversal10. Entretanto, no final da década de 90 e início do novo século a

Educação Ambiental é reintroduzida nos currículos escolares com novo

8 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. 9 BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicações e dá outras providências. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1981. 10 Tema Transversal – processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos em relação à intervenção no âmbito social e nas atitudes pessoais.

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enfoque, sendo então integrante de uma parte diversificada e flexibilizada do

currículo escolar.

Atualmente, graças a iniciativas de ONGs, governo, escolas e pessoas

anônimas vários programas vêm sendo realizados, leis foram criadas e são, em

parte, cumpridas. É na formação da consciência que se deve calcar a busca do

desenvolvimento em um ambiente de qualidade, visto que a Educação

Ambiental toma um caráter preventivo e não a salvação de ambientes

degenerados por uma humanidade que em busca do desenvolvimento

econômico vem desde os primórdios usando os recursos naturais para

conseguir seu objetivo.

Muito se tem falado e investido na Educação Ambiental, e ao que parece

é a grande saída para a formação do cidadão ecologicamente consciente,

capaz de olhar o meio ambiente como a fonte de energia essencial à vida. Não

se constrói uma sociedade consciente sem educação, seja essa educação

formal adquirida em processo institucionalizado nas unidades de ensino, ou

informal caracterizada pela realização fora da escola, o que importa, entretanto,

é fazer da educação o caminho para formação de uma sociedade consciente

de seu papel em relação aos problemas ambientais.

Entretanto existem dúvidas se a Educação Ambiental dos bancos

escolares está sendo trabalhada de maneira eficaz. Ruscheinsky (2002) chama

a atenção para o fato de acreditar ser muito extenso o conteúdo envolvido na

Educação Ambiental, afirma ainda que a Educação Ambiental luta contra o

rigor academicista e o ensino livresco, propondo um ensino vivo e ativo.

Na abordagem da Educação Ambiental, os diferentes autores adotam

diferentes discursos e propõem maneiras de conceber e praticar a ação

educativa no campo ambiental. Trata-se das diferentes “correntes” em

Educação Ambiental que embora cada uma apresente um conjunto de

características específicas, certas correntes compartilham características

comuns. Sauvé (2005) sintetiza 15 correntes de Educação Ambiental em dois

grupos: as correntes que têm longa tradição e as correntes mais recentes;

ambas apresentadas em função dos seguintes parâmetros:

• Concepção dominante do meio ambiente;

• Intenção central da Educação Ambiental;

• Enfoques privilegiados;

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• Exemplo(s) de estratégia(s) ou modelo(s) que ilustra(m) a corrente.

O Quatro 1 apresenta de forma resumida as características das correntes

sintetizadas por Sauvé no que se refere as suas concepções, objetivos,

enfoques e estratégias usadas. Quadro 1 : Uma diversidade de correntes em educação ambiental

C

orre

ntes

Concepções do meio

ambiente

Objetivos da EA Enfoques dominantes

Exemplos de estratégia

Cor

rent

e N

atur

alis

ta

Natureza Reconstruir uma ligação com a natureza

Sensorial, Experiencial, Afetivo, Cognitivo e Criativo/Estético.

Imersão, Interpretação, Jogos sensoriais, Atividades de descoberta.

Cor

rent

e C

onse

rvac

ioni

sta

/recu

rsis

ta

Recursos Adotar comportamentos de conservação. Desenvolver atividades relativas à gestão ambiental

Cognitivo Pragmático

Guia ou código de comportamentos; “Auditoria” ambiental; Projeto de getão/conservação.

Cor

rent

e re

solu

tiva

Problema Desenvolver habilidades de resolução de problemas (RP): do diagnóstico à ação.

Cognitivo Pragmático

Estudos de casos: análise de situações problema.Experiência de RP associada a um projeto.

Cor

rent

e si

stêm

ica

Sistema Desenvolver o pensamento sistêmico: análise e síntese para uma visão global. Compreender as realidades ambientais, tendo em vista decisões apropriadas.

Cognitivo Estudo de casos: análise de sistemas ambientais.

Cor

rent

e ci

entíf

ica Objeto de

estudos Adquirir conhecimentos em ciências ambientais. Desenvolver habilidades relativas à experiência científica.

Cognitivo Experimental

Estudo de fenômenos Observação, Demonstração, Experimentação, Atividade de pesquisa hipotético-dedutiva.

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36

Continuação – Quadro 1

Cor

rent

e hu

man

ista

Meio de vida Conhecer seu meio de vida e conhecer-se melhor em relação a ele. Desenvolver um sentimento de pertença.

Sensorial, Cognitivo, Afetivo, Experimental, Cariativo/Estético.

Estudo do meio Itinerário ambiental Leitura de paisagem

Cor

rent

e m

oral

/ ét

ica

Objeto de valores

Dar prova de ecocivismo. Desenvolver um sistema ético.

Cognitivo Afetivo Moral

Análise de valores Definição de valores Crítica de valores sociais.

Cor

rent

e ho

lístic

a

Total Todo O ser

Desenvolver as múltiplas dimensões de seu ser em interação com o conjunto de dimensões do meio ambiente. Desenvolver um conhecimento “orgânico” do mundo e um atuar participativo em e com o meio ambiente.

Holístico, Orgânico, Intuitivo, Criativo

Exploração livre Visualização Oficinas de criação Interação de estratégias complementares

Cor

rent

e bi

orre

gio-

nalis

ta

Lugar de pertença Projeto comunitário

Desenvolver competências em ecodesenvolvi-mento comunitá-rio, local e regional.

Cognitivo, Afetivo, Experiencial, Programático, Criativo

Exploração do meio Projeto comunitário Criação de ecoempresas.

Cor

rent

e pr

áxic

a

Cadinho de ação/ reflexão

Aprender em, para e pela ação. Desenvolver competências de reflexão

Práxico Pesquisa-ação

Cor

rent

e cr

ítica

Objeto de transforma-ção, Lugar de emancipação

Desconstruir as realidades socioambientais visando transfor-mar o que causa problemas.

Práxico Reflexivo Dialogístico

Análise de discurso Estudo de casos Debates Pesquisa-ação

Cor

rent

e fe

min

ista

Objeto de solicitude

Integrar os valores feministas à relação com o meio ambiente

Intuitivo, Afetivo, Simbólico, Espiritual, Criativo/Estético

Estudos de casos; Imersão Oficinas de criação Intercâmbio, de comunicação.

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37

Continuação – Quadro 1

Cor

rent

e et

nogr

áfic

a Território Lugar de identidade Natureza/ Cultura

Reconhecer a estreita ligação entre natureza e cultura. Aclamar sua pró-pria cosmologia. Valorizar a dimensão cultural de sua relação com o meio ambiente.

Experiencial, Intuitivo, afetivo, Simbólico, Espiritual, Criativo/Estético

Contos, narrações e lendas. Estudos de casos; Imersão Modelização.

Cor

rent

e da

ec

oedu

caçã

o

Pólo de interação para a formação pessoal Cadinho de identidade

Experimentar o meio ambiente para experimentar-se e formar-se em e pelo meio ambiente. Construir uma melhor relação com o mundo

Experiencial, Sensorial, Intuitivo, Afetivo, Simbólico, Criativo.

Relato de vida Imersão; Exploração Introspecção; Escuta sensível Alternância subjetiva objetiva Brincadeiras

Cor

rent

e de

de

senv

olvi

men

to

sust

enta

vel

Recursos para o desenvolvi-mento econômico Recursos compartilha-dos

Promover um desenvolvimento econômico respeitoso dos aspectos sociais e do meio ambiente. Contribuir para esse desenvolvimento

Pragmático Cognitivo

Estudo de casos Experiência de resolução de problemas Projeto de desenvolvimento de sustentação e sustentável.

Fonte: Sauvé (in Sato, Carvalho e Cols, 2005).

Brügger em seu livro Educação ou Adestramento Ambiental (2004) faz

uma reflexão sobre a indissociabilidade do binômio sociedade-educação que

questiona os pressupostos filosóficos da educação tradicional, fortemente

influenciada por conceitos que estruturam material e ideologicamente as

sociedades industriais. Adotando uma concepção característica da “corrente

crítica”, ela diz que a escola deve proporcionar ao aluno ocasiões que o leve a

tomar decisões, atuar de fato e exercer posturas que demonstrem o exercício

de valores relativos à proteção ambiental; promover uma educação crítica e

transformadora da realidade. O que significa que a escola deve incluir em seu

planejamento ações educativas que levem seus alunos a reconhecer e a evitar

a degradação, promovendo ao mesmo tempo a concretização de hábitos de

proteção, preservação, conservação e recuperação do meio ambiente.

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Numa síntese provisória, Brügger (2004, p.164-166) descreve o que

chamou de os 10 princípios necessários à construção de uma educação

merecedora dos adjetivos “ambiental” e “crítica” como sendo:

1. A EA deve se fundamentar num conjunto de valores que formem uma

racionalidade contra-hegemônica podendo-se dizer que a EA deve ser um

campo epistêmico e que não deve estar separada da educação formal,

como vem ocorrendo.

2. A EA deve abandonar valores antropocêntricos e especistas,

promovendo abordagens e valores mais biocêntricos, ecocêntricos e

zoocêntricos, ou seja, deve ensinar a abrir mão de exercer domínio sobre

o outro.

3. Reconhecer a ausência de neutralidade axiológica tanto no sentido

epistemológico, quanto político, ético, etc.

4. Mover num campo inter ou transdisciplinar do conhecimento.

5. Estar alicerçada em visões de mundo e paradigmas sistêmicos,

ecológicos, reconhecendo a interdependência inerente aos processos,

naturais e sociais.

6. Reconhecer os limites da racionalidade instrumental dominante em

nossa cultura e valorizar os conhecimentos filosóficos, bem como os

conhecimentos e racionalidades de outros povos e culturas.

7. Incorporar a dimensão do conflito, ou seja, reconhecer o caráter não

consensual do conhecimento, bem como o caráter dialético da própria

realidade.

8. Estimular o florescimento de atributos pessoais e individuais, e ao

mesmo tempo, orientar a ética no que tange ao bem estar coletivo.

9. Procurar desenvolver um corpo de conhecimentos no qual haja

equilíbrio entre conhecimento quantitativo e qualitativo, e entre razão e

emoção.

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10. Promover ideários e atitudes altruístas ou eco-ações, bem como uma

reaproximação entre homens e natureza.

Assim, a EA que se espera, tem importante papel a desempenhar, o de

propiciar à sociedade uma compreensão crítica e global do meio ambiente,

desenvolvendo nela a consciência ecológica que lhe permita fazer a correlação

entre qualidade de vida e a qualidade ambiental e com isso buscar as

mudanças que se fazem necessárias. Para Lucci et al. (2003), vive-se hoje

numa sociedade consumista que valoriza as pessoas pelos objetos que possui,

confundindo qualidade de vida com padrão de vida, onde os bens são a

demonstração de sucesso, uma vez que a desigualdade que caracteriza essa

sociedade não permite que todos possuam os mesmos bens. Na busca desses

objetos o Homem, visando somente à satisfação de seus desejos de consumo

extrapola sua condição de observador e avaliador da natureza, e passa a ser

visto como explorador acintoso que aumenta cada vez mais sua ganância,

pensando apenas no presente e no capitalismo do lucro imediato.

A sociedade urbana de formação consumista, com suas idéias voltadas

para um mundo virtual, ainda não se sente sensibilizada para o mundo natural

que, a cada ano diminui mais e mais, sendo invadido pela expansão urbana,

ficando quase impossível diferenciar as características que representam o rural

daquelas que representam o urbano. Dias (1994, p. 20) comenta: “Redescobrir!

Esta deverá ser a atividade mais sensata quando estivermos buscando

alternativas de soluções para os nossos problemas ambientais”. Em um trecho

da Carta de Belgrado, essa necessidade de mudança se confirma nos dizeres

“é absolutamente vital que os cidadãos de todo mundo insistam a favor de

medidas que darão suporte ao tipo de crescimento econômico que não traga

repercussões prejudiciais às pessoas...”. A sociedade de maneira geral precisa

ver a mudança no padrão de consumo e produção como o caminho rumo à

diminuição dos problemas ambientais do planeta.

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A Educação Ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em um contexto social e histórico... Deve capacitar as pessoas a trabalhar conflitos e integrar conhecimentos, valores, atitudes e ações, buscando a transformação de hábitos consumistas e condutas ambientais inadequadas. É uma educação para a mudança (CNUMAD, 1997).

É eminente a necessidade de se cumprir a importante missão de

redirecionar os hábitos consumistas da atual geração com vistas a conseguir

minimizar os danos que o capitalismo e muitas vezes a falta de informação

provocam ao meio ambiente. Como recomendação da Conferência de Tbilisi

(1977), um objetivo fundamental da EA é conseguir que os indivíduos e a

sociedade compreendam a natureza do meio ambiente natural e do meio

ambiente criado pelo homem e adquiram conhecimentos, valores,

comportamentos e habilidades práticas para participar de maneira responsável

e eficaz da preservação e solução dos problemas ambientais, bem como da

gestão da qualidade do meio ambiente (DIAS, 1994).

Glória (2005) relata que a incorporação da Educação Ambiental na

EAFSJE-MG se deu a partir da década de 90 através de informações advindas

de conferências sobre Meio Ambiente. Após a ampla divulgação da ECO-92 é

que se percebeu uma mudança na abordagem feita nas escolas agrotécnicas,

inclusive a EAFSJE-MG, no sentido de proporcionar um ensino mais voltado

para tecnologias que permitissem um aumento na produtividade, focando

principalmente o cuidado com o meio ambiente, minimizando assim os

impactos ambientais no sistema produtivo. A partir de 1996 a EAFSJE-MG em

parceria com a EMATER, IEF-MG e a CENIBRA passa a realizar anualmente o

Seminário Ambiental, intensificando a partir de então as discussões e os

projetos voltados à preservação do meio ambiente, visando propiciar aos

alunos uma Educação Ambiental espelhada na corrente da sustentabilidade

procurando demonstrar a necessidade de se buscar o desenvolvimento

econômico de maneira sustentável, respeitando o meio ambiente e o indivíduo

nele inserido.

Sendo a degradação da flora brasileira um dos principais problemas que

ações humanas vêm causando em busca do desenvolvimento e satisfação das

necessidades de consumo, muitas são as entidades que se apóiam nas

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diversas correntes da Educação Ambiental promovendo ações numa tentativa

de mitigar os efeitos dessa degradação e salvar os remanescentes das

florestas existentes em todo o país, como é o caso da Mata Atlântica que teve

seu território de domínio quase todo derrubado, tendo essas entidades travado

uma luta árdua para manter seus remanescentes em 8% do que era

originalmente.

3.4 Mata Atlântica: um Patrimônio da Humanidade

“Quando e como surgiu a Mata Atlântica ... Há mais de 400 milhões de anos, plantas vasculares fotossintetizadoras e multicelulares começaram a aderir às margens dos continentes. Logo esses organismos cobriram as costas rochosas, desaceleraram o fluxo da águas, formaram solos e avançaram para o interior. Formaram-se radículas absorventes de nutrientes, estames se achataram em folículos que captavam a luz solar e sementes substituíram esporos como agentes de dispersão” (DEAN, 2002. pág. 34).

Para Dean (2002), é extremamente antiga a linhagem das florestas

tropicais e subtropicais, de evolução rápida e multiforme sendo impossível

imaginar como era a Mata Atlântica antes da chegada dos primeiros homens.

As evidências da presença de coletores-caçadores na região da Mata Atlântica

datam de cerca de 11 mil anos, quando começou a interação entre o homem e

a natureza na América e a conseqüente intervenção na floresta. Evidência

essa, marcada por implementos de pedra dessa era, espalhados no extremo

sul da floresta onde a vegetação era caracterizada por campos abertos;

também foram encontrados fósseis humanos datados de 10 mil anos em

cavernas ao norte de onde hoje se encontra a cidade de Belo Horizonte, onde

também havia vegetação de campos abertos. O que se leva a acreditar que os

primeiros imigrantes humanos atraídos para o sul do continente tinham pouco

interesse pela Mata Atlântica e estavam mesmo a procura de caça

característica dos cerrados, sombra e água doce. Primeiro foram os caçadores-

coletores, depois vieram os agricultores itinerantes, entretanto, foi com a

chegada dos portugueses que o processo de exploração se intensificou. Aos

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22 de abril de 1500 os marinheiros portugueses que alcançaram a costa da

floresta do continente sul-americano, dão início à destruição da Mata Atlântica

ao derrubarem a golpes de machado uma árvore e com seu tronco ergueram

uma cruz que para eles simbolizava a salvação da humanidade. Atônitos com a

grandeza da Mata Atlântica, por inúmeras vezes penetraram-na e dela traziam

relatos apenas sobre as pedras preciosas e o ouro.

Antes da chegada dos portugueses a paisagem que predominava na

costa brasileira era de densa e exuberante floresta atlântica com gigantescas

árvores que se estendia do litoral, passando pelo continente em direção ao

interior. Apesar de densa a floresta não era intocada, pois estima-se que antes

dos europeus já haviam cerca de 5 milhões de índios no Brasil, seus primeiros

habitantes, que utilizavam da floresta materiais para construção de seus

abrigos, alimentos, remédios e cultivos principalmente de milho e mandioca,

sendo necessário para tais atividades a abertura de clareiras na floresta densa

(VESENTINI, 2004).

De 1500 a 1530 os europeus não se preocuparam com um projeto de

colonização do Brasil, apenas extraíram o pau-brasil, como pagamento de

impostos a coroa portuguesa e uso de mão-de-obra indígena, o que resultou

até 1850 em enormes áreas de mata devastadas de maneira desordenada, às

custas da mão de obra escrava (índios e africanos). A colonização do Brasil

teve um caráter de “colônia de exploração”, significando sua inserção na

“política mercantilista”11 da época, baseado na exploração do pau-brasil.

Juntamente com a extração comercial do pau-brasil, as florestas sofreram com

a destruição para a implantação da monocultura da cana-de-açúcar, que

representou a principal atividade econômica nos séculos XVI e XVII, plantada

em latifúndios que ocupavam imensas áreas para conseguir suprir o mercado

europeu. O traço marcante da colonização brasileira foi a de servir para o

enriquecimento das metrópoles (as nações européias), organizada para

fornecer ao comércio europeu açúcar, tabaco e outros gêneros; mais tarde

ouro e diamante; depois algodão e, em seguida, café. Isso acarretou em

11 Política mercantilista ou mercantilismo foi a doutrina econômica dos reinos europeus durante a época moderna (séculos XVI a XVIII), que propunha uma balança comercial favorável, exportando bens manufaturados a preços elevados e importando matérias-primas a baixos preços.

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algumas marcas à economia e à sociedade brasileira que em alguns casos

podem ser vistas até hoje:

• Povoamento intenso na faixa atlântica, onde estão os portos;

• Utilização dos melhores solos para a produção de gêneros destinados

à exportação;

• Formação de uma sociedade constituída principalmente por uma

minoria de altíssima renda (mantém relações econômicas com o

exterior) e uma maioria de baixa renda, que serve de força de trabalho

barata;

• Dependência econômica em relação aos centros mundiais do

capitalismo.

O latifúndio monocultor, apoiado no trabalho escravo, formou a base do

Antigo Sistema Colonial. Apesar de definidas as atividades economicamente

rentáveis da época, o desenvolvimento do engenho exigiu atividades

complementares, ou seja, secundárias, entretanto foram fundamentais para a

produção açucareira, destacando a agricultura de subsistência e a pecuária.

Assim como a cana de açúcar, as atividades pecuárias se concentraram no

nordeste brasileiro, porém em terras do interior, cumprindo um duplo papel de

complementar a economia do açúcar e o de iniciar a conquista e o povoamento

do interior do Brasil. A partir do século XVII a atividade pecuária se expandiu,

ocupando cada vez mais as terras no interior com áreas de pastagens.

Quando os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil, a Mata

Atlântica se estendia por toda a costa, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande

do Sul e cobria centenas de quilômetros pelo continente chegando à Argentina

e ao Paraguai. Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, a Mata

Atlântica ocupava originalmente uma área de 1,3 milhão de km2, ou seja, 15%

do território brasileiro, abrangendo 17 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito

Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí,

Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, Sergipe e São Paulo (Figura 7 e Tabela 1).

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Figura 7: Mapa da área de Domínio da Mata Atlântica Fonte: IBGE (1993).

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Tabela 1– Área original da Mata Atlântica segundo definição do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA

Área UF Área Original (DMA) UF Km2 (1) Km2 (2) %(3) AL 27.933 14.529 52,01 BA 567.295 177.924 31,36 CE 146.348 4.878 3,33 ES 46.184 46.184 100,00 GO 341.290 10.687 3,13 MS 358.159 51.536 14,39 MG 588.384 281.311 47,81 PB 56.585 6.743 11,92 PE 98.938 17.811 18,00 PI 252.379 22.907 9,08 PR 199.709 193.011 96,65 RJ 43.910 43.291 98,59 RN 53.307 3.298 6,19 RS 282.062 132.070 46,82 SC 95.443 95.265 99,81 SE 22.050 7.155 32,45 SP 248.809 197.823 79,51

TOTAL 3.428.783 1.306.421 38,10 (1) IBGE, 1999; (2) ISA, 1999; (3) Sobre a área da UF; DMA- Domínio da Mata Atlântica (CONAMA, 1992) Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica.

Mesmo reduzida a Mata Atlântica é de grande importância

socioambiental, considerada pela UNESCO em 1999 Patrimônio da

Humanidade (DIAS, 2002). Atualmente é um dos mais ricos conjuntos de

ecossistemas em diversidade biológico, rico em espécies endêmicas do

Planeta. Situada na região mais povoada e industrializada do país é a quinta

área mais ameaçada do mundo. Representa grande valor, pois exerce

influência direta na vida de mais de 100 milhões de brasileiros que vivem na

área de seu domínio, regulando o fluxo dos mananciais hídricos que

abastecem cidades e metrópoles brasileiras, além de milhares de pequenos

cursos d’água que afloram em seus remanescentes; assegurando a fertilidade

do solo; regulando clima, temperatura, umidade e chuvas; além de preservar

um imenso patrimônio histórico e cultural. Segundo dados da Fundação SOS

Mata Atlântica, devido às ações devastadoras do desenvolvimento capitalista, a

área original da MA foi reduzida a aproximadamente 99 mil km2, ou seja,

menos de 7% de sua extensão original, restando remanescentes altamente

fragmentados e espalhados ao longo da costa brasileira como mostra a Figura

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8 e Tabela 2. Dias (1994) ainda afirma que as áreas restantes, muitas

transformadas em unidades de conservação, continuam sofrendo com ações

do homem principalmente com o corte das árvores e com os incêndios que

provocam a perda de grandes áreas, além de sua fragilização e fragmentação.

Após mais de 500 anos de exploração ininterrupta da Mata Atlântica os

poucos remanescentes continuam e continuarão sofrendo impactos em direção

a quase extinção total, sendo que entre os principais motivos estão: a política

desenvolvimentista da década de 197012, a poluição ambiental, o crescimento

desordenado das principais capitais brasileiras, a reforma agrária praticada na

década de 198013, a falta de política florestal nacional, a prática de queimadas

para criação de áreas de pastagens, entre outros.

O desmatamento, segundo Leff (2000), pode representar o rompimento

dos mecanismos protetores e perturbações do funcionamento dos ciclos

naturais da floresta original como solos esgotados rapidamente pelo

escoamento de seus nutrientes e exposição direta à radiação do sol que pode

provocar o endurecimento do mesmo de maneira irreversível, impedindo a

recuperação do ecossistema original. A Mata Atlântica é um forte exemplo da

redução desse capital florestal que vem sofrendo interferência de fatores como

impactos dos ciclos de exploração e da alta densidade demográfica, fazendo

com que sua vegetação natural fosse drasticamente reduzida.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto

Socioambiental (ISA), através de monitoramento realizado em parceria com a

12 A política desenvolvimentista da década de 1970 caracteriza-se pela retomada do crescimento econômico através da chegada das empresas internacionais fornecedoras de máquinas, sementes, fertilizantes e defensivos. Foi o surgimento dos chamados “complexos agroindustriais (CAI)”, por meio da prática de tecnologias agropecuária para a padronização e homogeneização dos produtos agrícolas; o incentivo à pesquisa com a criação da “Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária” (EMBRAPA), responsável pela política de ciência e tecnologia agropecuária e a construção das Centrais de Abastecimentos (CEASA). levando a um repensar da tecnologia e um incentivo ao uso racional de insumos por meio dos pacotes tecnológicos (MELLO, 2003). 13 Nos anos 80, com a recessão econômica, foi necessária a adequação das técnicas às condições naturais e sociais de situações específicas, na utilização racional e na preservação dos recursos naturais, incentivando as tecnologias alternativas. Nos períodos compreendidos entre 1985 e 1989 o Estado visava: adaptar os pequenos e médios produtores às tecnologias com o objetivo de aumentar a produção de alimentos básicos através de tecnologias de preservação do meio ambiente; incentivar as pesquisas sobre biotecnologia e microbiologia do solo e estimular maior articulação entre pesquisa, extensão e organizações de produtores (MELLO, 2003).

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Fundação SOS Mata Atlântica, mostrou que em apenas cinco anos, de 1990 a

1995, mais de um milhão de hectares de florestas foram destruídos nas regiões

Sul, Sudeste e Centro Oeste, o que representa uma velocidade de derrubada

equivalente a um campo de futebol derrubado a cada 4 minutos. Tal derrubada

estaria atrelada à grande importância econômica que as árvores representam

através de suas propriedades. Segundo Bertoni & Lombardi Neto (apud

ROCHA, 2001) foi classificada pelo Serviço Florestal dos EUA uma relação de

4500 diferentes usos da madeira. Não se tendo nenhum outro material capaz

de fornecer tanta variedade de emprego: fibras, alimentos, combustíveis,

derivados químicos, estruturas, construções entre outros.

Figura 8: Remanescente da Mata Atlântica. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2003).

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Tabela 2- Remanescentes florestais no Domínio de Mata Atlântica (DMA)

UF Área DMA (1) Remanescentes florestais Km2 Km2 %DMA % Área da UF

AL 14.529 877(2) 6,04 3,14 BA 177.924 12.674(3) 5,44 1,17 CE 4.878 2.743(2) 56,23 1,87 ES 46.184 3.873(4) 8,39 8,39 GO 10.687 65(4) 0,61 0,02 MS 51.536 396(4) 0,77 0,11 MG 281.311 11.251(4) 4,00 1,91 PB 6.743 584(2) 8,66 1,03 PE 17.811 1.524(2) 8,56 1,54 PI 22.907 24(2) 0,10 0,01 PR 193.011 17.305(4) 8,97 8,67 RJ 43.291 9.289(4) 21,46 21,15 RN 3.298 840(2) 25,46 1,58 RS 132.070 5.065(4) 3,83 1,80 SC 95.265 16.662(4) 17,49 17,46 SE 7.155 1.367(2) 19,11 6,20 SP 197.823 17.916(4) 9,06 7,20

TOTAL 1.306.421 102.455 7,84 2,90 (1) ISA, 1999 (2) Sociedade Nordestina de Ecologia (3) Fundação SOS Mata Atlântica e Inpe (dados de 1990) (4) Fundação SOS Mata Atlântica, Inpe e ISA (dados de 1995) DMA – Domínio de Mata Atlântica (CONAMA, 1992)

Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica

3.4.1 Minas Gerais e a Mata Atlântica

Minas Gerais responde por 10% da população brasileira com seus 853

municípios e cerca de 18 milhões de habitantes. É um estado possuidor de

uma paisagem bastante acidentada, com diferentes formas de relevo,

características específicas de solo, clima e recursos hídricos que proporcionam

ao estado, uma cobertura vegetativa extremamente rica e diversificada,

agrupada em três biomas: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Segundo dados

da Fundação SOS Mata Atlântica e do INPE (2000), 49,2% do território mineiro

é caracterizado como de domínio da Mata Atlântica, entretanto, restam apenas

14,65% (FIGURA 9) desse percentual com remanescentes pequenos e de

valor ambiental reduzido, sobrando poucas áreas contínuas de floresta, sendo

um dos estados que mais sofreram com a devastação da Mata Atlântica no

País, contando hoje com grandes extensões de terra ocupadas pela agricultura.

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Figura 9: Área Atual de Mata Atlântica em Minas Gerais Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2003).

Na história de Minas, o impacto sobre seus ecossistemas florestais passa

pelo ciclo de extração do pau-brasil, da introdução da cultura do café e da

utilização do capital florestal como insumo energético, sendo parte considerável

dessa energia baseada na exploração de recursos florestais nativos. No

entanto, ainda existem no estado ricos remanescentes de Mata Atlântica a

serem conservados, como o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e o

Parque Nacional do Caparaó, entre outros.

De acordo com Pimenta (1966), os problemas ambientais relacionados

com a região de inserção do município de São João Evangelista tiveram seu

início em longa data. Até a metade do século XVII a Região da Bacia do Rio

Doce era inacessível aos colonizadores, pois habitavam nela os ferozes índios

Aimorés e Botocudos. Nos anos de 1573 a 1600 acontecem as primeiras

interferências dos homens “civilizados”, com as expedições de Fernando

Legenda Limites Interestaduais Ferrovias Drenagem Principal Limites Municipais Flor. Ombrófila Mista Flor. Ombrófila Aberta Domínio da Mata Atlântica Brasil

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Tourinho e de Marcos de Azeredo que entraram pelo litoral a procura da Serra

das Esmeraldas, subindo o Rio Doce até alcançar suas nascentes na Serra

Geral, transpuseram-na e atingiram a região das esmeraldas. Pelos anos de

1758 uma expedição chefiada pelo Guarda-Mor João Peçanha Falcão chega à

região dos afluentes do Rio Doce, extensa área de matas virgens, com a

missão de catequizar tribos indígenas; início da conquista e colonização do

nordeste de MG. Ao alcançar o Rio Suaçuí Grande, a expedição seguiu rio

abaixo até o Rio Doce, atingindo o Rio Suaçuí Pequeno e encontrando

vestígios de ouro, a expedição estabeleceu pousada e o local passou a se

chamar “Descoberto do Peçanha”, originando mais tarde o povoado de Santo

Antônio do Peçanha, hoje a cidade de Peçanha. Em pouco tempo, a fama das

matas deste descoberto de terras de extraordinária fertilidade, da abundância

de suas águas e da beleza de suas florestas correu toda a Província, iniciando

assim a colonização da região da então, “Mata do Peçanha”.

São João Evangelista teve seu povoamento iniciado nos primeiros anos

do século XIX, quando 200 indígenas da Tribo dos Monoxós, fundaram uma

aldeia nas margens do Ribeirão São Nicolau Grande, a quatro léguas (5 km) de

onde, em 1875, nasceu o Arraial de São João Evangelista, com a fixação da

primeira família “civilizada” no território do município. Advindos de 1817, vários

portugueses e moradores de regiões em decadência, afluíram para a região da

“Mata do Peçanha”, então tranqüila e de uma beleza natural esplêndida,

instalando suas fazendas de cultivo da cana-de-açúcar, ao longo do Ribeirão

São Nicolau em São João Evangelista.

Pode-se assim, constatar que para acontecer todo processo de

colonização e desenvolvimento da região da “Mata do Peçanha”, atual Vale do

Rio Doce, remanescente de Mata Atlântica, suas densas florestas virgens aos

poucos foram sendo destruídas para dar lugar aos canaviais, pastos, cafezais e

moradias, a exemplo do que ocorreu em grande parte do Brasil.

Atualmente, na região de São João Evangelista, os principais problemas

que ameaçam os remanescentes da Mata Atlântica são: a criação de bairros,

loteamentos rurais e urbanos de maneira desordenada e sem avaliação; as

práticas de desmatamento e queimadas para plantio de pastagem; além da

falta de ação da política florestal. Política essa que em 1988 através da

Constituição Federal declara a Mata Atlântica patrimônio nacional, e em 1993

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através do decreto 750, define legalmente o seu domínio e a proteção de seus

remanescentes florestais. Porém o decreto que deveria ter sido transformado

em lei complementar para consolidar a proteção federal à Mata Atlântica não o

foi, ficando enquanto isso a definição das regras para contenção do

desmatamento a cargo dos estados que nem sempre se mostram capazes. A

Figura 10 mostra como está fragmentada a área de Mata Atlântica no município

de São João Evangelista, que outrora era densa e quase impenetrável.

Legenda Limite municipal

Estradas Principais

Drenagem Principal

Limites Municipais

Formações Pioneiras

Flor. Ombrófila Aberta

Flor. Estacional Semidecidual

Domínio da Mata Atlântica Figura 10: Imagem da atual vegetação remanescente de Mata Atlântica no

município de São João Evangelista. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2003).

O Poder Público, através do Ministério do Meio Ambiente (MMA) vem em

parcerias com ONGs, governos estaduais e municipais, instituições privadas e

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pessoas anônimas travando uma árdua batalha em busca da preservação dos

remanescentes da Mata Atlântica. Em 2004 o MMA lançou uma publicação

avaliando alguns projetos do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA)

voltados exclusivamente para a Mata Atlântica, com o objetivo de ressaltar a

importância da organização, da união, da vontade política e do voluntariado. A

publicação aborda erros e acertos que esses projetos enfrentaram e enfrentam,

para que sirvam de exemplos e incentivos, concluindo assim que valeu a pena

investir: “Os benefícios que permaneceram para as comunidades, famílias e

para o meio ambiente são evidentes” (BRASIL, 2004:6).

Entre os projetos apoiados pelo PDA em áreas de Mata Atlântica, foi

avaliada uma amostra representativa de recuperação da mata e que em seu

conjunto, propõe modelos de uso e conservação do bioma Mata Atlântica; uma

amostra de localidades que lutam para melhorar sua qualidade de vida,

mudando a dura realidade do meio em que vivem, entendendo a importância

da preservação ambiental para o presente e principalmente para o futuro.

Dentre os projetos avaliados na publicação em questão, destaca-se aqui

alguns da região sudeste:

Espírito Santo - ES: Projeto Conservação e Recuperação de

Ecossistemas Costeiros, seu foco principal está na recuperação ambiental da

restinga na área continental e insular do litoral sul do ES; teve como principais

benefícios a consolidação do Parque Estadual Paulo César Vinha e o estado

de conservação das ilhas.

Minas Gerais – MG: Foram dois projetos avaliados: a) Projeto de

Desenvolvimento Rural Sustentável e Conservação dos Remanescentes de

Mata Atlântica no entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)

Mata do Sossego, que segundo opinião dos agricultores o maior benefício

conseguido foi a redução de 40% nas despesas com a mão-de-obra nas

culturas do café consorciado e orgânico. b) Projeto Educação e Recuperação

Ambiental da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce: nasceu da necessidade de

aumentar as áreas de conservação e uso sustentável do município de Aimorés;

tem como principais atividades, a recuperação de áreas degradadas e a

realização de cursos de EA por meio da implantação e consolidação do Centro

de Educação e Recuperação Ambiental; seus principais benefícios têm sido

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mostrar a viabilidade de reflorestar uma área degradada, formar massa crítica

na população e um bom resultado na captação de recursos.

São Paulo – SP: Entre os três projetos avaliados no estado de SP

destaca-se aqui: Projeto Gestão Ambiental Participativa e Desenvolvimento

Econômico do Quilombo de Ivaporunduva: visa promover a melhoria da

qualidade vida e a conservação ambiental dessa área; seu grande avanço está

em buscar opções para a monocultura da banana (uma atividade de forte vetor

de desmatamento), incluindo a diversificação como o palmito Jussara (BRASIL,

2004).

Percebe-se em todo País a existência de vários projetos que visam a

melhoria da qualidade ambiental e conseqüentemente da qualidade de vida do

cidadão presente e futuro. Entretanto a exemplo dos projetos citados acima,

vê-se que apenas com vontade, organização e união entre sociedade, poder

público e privado se faz possível a realização de projetos ambientais que

geram benefícios para o meio ambiente e para a sociedade como um todo.

Percebe-se também que é crescente em todo o mundo o trabalho

desempenhado por voluntários que trabalham em prol de um ambiente menos

deteriorado, como exemplo, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA)

(2001), nos Estados Unidos uma a cada três pessoas prestam serviço

voluntário, sendo que seis em cada dez são jovens. No Brasil, a ação

voluntária ainda é pequena, entretanto percebida como essencial pelo MMA

que em 1998 regulariza o trabalho voluntário pela Lei 9608/98 e em 2001, Ano

Internacional do Voluntariado, iniciou várias ações voltadas para o incentivo ao

trabalho voluntário com objetivo de criar no País a tradição que existe em

outros países, que é o estímulo ao envolvimento da sociedade com as

unidades de conservação por meio de trabalhos voluntários. Essas são ações

fundamentais tanto para a preservação da Mata Atlântica como para a natureza

de maneira geral.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram discutidos em conformidade com os objetivo da

presente proposta em termos: caracterização do perfil socioeconômico dos

moradores do entorno da mata e suas percepções sobre o ambiente; além

disso, procurou-se examinar as percepções da liderança local, envolvida com a

temática em questão.

3.5 Caracterização do Perfil Socioeconômico dos moradores do Bairro Engenho de Serra

No que concerne ao perfil dos entrevistados, os resultados mostraram

conforme exposto na Tabela 03, que relaciona os grupos por faixa etária, que a

maioria dos entrevistados não ultrapassa a faixa etária de 45 anos (80%),

sendo a idade média de 35 anos. Desses, 64% é do sexo feminino e 36% do

sexo masculino; a representação familiar correspondeu a 58% mães, 32% pais

e 10% filhos.

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Tabela 3: Faixa etária dos moradores entrevistados, São João Evangelista, 2006.

Grupos de Idade Percentual (%) 17 a 25 anos 30,0 26 a 35 anos 20,0 36 a 45 anos 30,0 46 a 55 anos 10,0 56 a 64 anos 10,0

Total 100,0

A escolaridade média da amostra foi de 9 anos, onde a maioria (78%)

tem pelo menos o ensino fundamental completo (cursou até a 8a série). O que

demonstra não ser a baixa escolaridade um fator que conduza os moradores a

interferir nos recursos naturais da mata de maneira insustentável (Tabela 4). Tabela 4: Nível de escolaridade dos entrevistados, São João Evangelista,

2006. Nível de Escolaridade % Mulheres % Homens Total (%) Analfabeto 0 0 0 Fundamental Incompleto (até 4a série)

4 7 11

Fundamental Completo 23 12 35 Médio Incompleto 21 11 32 Médio Completo 10 5 15 Superior Incompleto 6 1 7 Superior Completo 0 0 0

Total 64 36 100

A ocupação principal do seguimento feminino foi de donas de casa, o que

pode ser reflexo da falta de oportunidades de emprego para as mulheres no

município; visto que a ocupação seguinte era de costureira, uma vez que o

município conta com 6 pequenas empresas de confecção. Quanto aos homens,

mais da metade dos mesmos (61%) trabalhava na construção civil ou no

comércio, funções essas que não exigem muita escolaridade e que é reflexo da

pouca oferta de emprego no município (Tabela 5).

Tabela 5: Ocupação de mulheres e homens, São João Evangelista, 2006.

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MULHERES HOMENS Ocupação Total em

percentagem Ocupação Total em

percentagemDona de casa 42 Trabalhador na

construção civil 31

Costureira 17 Trabalhador no comércio 30 Empregada doméstica

16 Motorista 19

Professora 13 Comerciante 11 Trabalhadora no comércio

6 Estudante 6

Estudante 6 Carpinteiro 3 Total 100% de 64

mulheres Total 100% de 36

homens

No que concerne ao tempo de residência dos moradores percebeu-se,

conforme Figura 11, que a maioria já está no bairro a mais de 10 anos. Dos

100 entrevistados 53% são nativos de São João Evangelista e 47% são de

cidades vizinhas ou vindos de “grandes centros” como São Paulo e Belo

Horizonte.

11%

21%

34%

24%

10%

Até 5 anos

6 a 10 anos

11 a 15 anos

16 a 20 anos

> 20 anos

Figura 11: Tempo de residência no Bairro Engenho de Serra, São João Evangelista, 2006.

No que diz respeito ao padrão econômico dos moradores entrevistados,

constatou-se, conforme Tabela 6, que no bairro ainda reside uma população

com características semelhantes às descritas quando de seu projeto de criação

que se destinava a uma população de baixa renda, uma vez que a média

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salarial de 77% dos moradores era 2 salários mínimos por família. Ainda, de

acordo com o projeto de criação, 74% dos entrevistados declararam ter casa

própria dos quais 90% adquiriram-na através de financiamento. Tabela 6: Renda média das famílias do Bairro Engenho de Serra, Renda Familiar Total em percentagem Entre -1 e 3 salários 77,0 Entre 3 e 5 salários 18,0 Mais de 5 salários 5,0

Total 100,0

3.6 Percepção sobre o Ambiente dos Moradores do Bairro Engenho de Serra

A percepção que os moradores têm do bairro é demonstrada na Figura

12. Para eles o bairro é bom por ser um lugar tranqüilo e seguro, destacando a

proximidade à mata e a convivência com os vizinhos, como algo que lhes

proporcionam prazer.

4427

2

85

020406080

100

Tranquilidade eSegurança

Proximidade com aNatureza

Relação entreVizinhos

Outros

Aspectos Positivos

Nº d

e Vo

tos

Figura 12: Aspectos Positivos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção dos

Entrevistados, São João Evangelista, 2006.

É provável que a tendência em ver o bairro como um lugar tranqüilo e

seguro, esteja relacionado ao fato de que 47% dos entrevistados vieram de

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outras localidades, como cidades vizinhas e “grandes centros”. Para Moreira

(2003) essa visão assemelha-se a uma forma histórica de campo e cidade,

marcada pela presença de uma economia e sociedade de base rural, onde os

indivíduos se limitam a um horizonte geográfico de vida local.

Ao apontarem o que menos gostam no bairro, conforme retratado na

Figura 13, a grande maioria declarou não gostar da distância que separa o

bairro do centro da cidade, uma vez que na mesma não tem nenhum tipo de

transporte público; e, em segundo lugar, a escassez de serviços públicos, com

destaque para a falta de calçamento em algumas ruas.

55

35

5

71

01020304050607080

Distância docentro

Faltamserviçospúblicos

Falta áreade lazer

Insegurança

Aspectos Negativos

Nº d

e Vo

tos

Figura 13: Aspectos Negativos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção do

Entrevistados, São João Evangelista, 2006.

Existe nesse sentido uma ambigüidade de sentimentos quando os

moradores apontam a distância do centro e a dificuldade de acesso como

pontos negativos, uma vez que, ao mesmo tempo, a maioria dos entrevistados

destaca a tranqüilidade e o sossego, como pontos positivos no bairro.

O gosto pela vida no bairro é salientado, quando 67% dos moradores

dizem considerar a vida que levam no bairro boa, 26 % consideram ótima e

apenas 7% disseram levar uma vida regular. O prazer de morar no bairro é

nitidamente percebido pelos moradores mais velhos que, ao contrário dos

jovens, gostam de uma vida sossegada, sem barulhos ou perturbações, visto

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que o bairro guarda ares de rural na sua formação, tendo casas, na maioria,

sem muros, com pomares, hortas e jardins.

Sendo o foco de estudo a mata, as questões relacionadas ao meio

ambiente foram direcionadas para a percepção e relação que os moradores

tinham com a mesma. Quando questionados sobre o que a mata representa

para eles, verificou-se conforme Figura 14, que a mata na percepção dos

moradores é um bem valioso que oferece: ar puro (55%), saúde (42%), belezas

(40%), qualidade de vida (20%) e fonte de recursos (9%).

A representação da mata para os moradores está focada na oferta de

“bens”, numa visão de que ela está lá para “servir”, seja por meio de recursos

intangíveis como sua beleza ou como o oxigênio que nos proporciona saúde e

o bem estar, como também pelos seus recursos palpáveis, como a lenha e a

madeira. Brandão em sua obra “O Afeto da Terra” (1999) relata que ao indagar

a um velho morador da localidade em estudo, o porque de ele mesmo

aposentado (do FUNRURAL), continuava trabalhando no quintal com a enxada,

obteve a seguinte resposta: ‘é que eu sou muito amoroso com terra, eu tenho

um grande afeto por ela’. O valor que os moradores do Bairro Engenho de

Serra deram à mata, assemelha-se à visão desse senhor que diz amar a terra,

entretanto não condiciona esse afeto ao que ela pode oferecer.

Brandão (1999:64) aborda essa questão, da seguinte forma:

“Há um prazer fecundante que torna parceiros de uma relação amorosa o lavrador e a terra. Eu reconheço que neste enlace de afeto está o desejo de tornar ”culturalmente” culto o inculto, civilizado o selvagem, socializado e útil aquilo que, dado pela natureza ao homem, somente parece completar o ciclo de seu valor quando transformado de floresta em campo, de campo em terra de lavoura, de terra de lavoura em lavoura plantada e colhida”. BRANDÃO

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60

47 44

2312

59

010203040506070

Ar Puro Saúde Beleza Qualidade deVida

Fonte deRecursos

Representação da "Mata"

Nº d

e Vo

tos

Figura 14: Representação da “Mata” pelos moradores do Bairro Engenho de

Serra, São João Evangelista, 2006.

Entretanto, pode-se afirmar que apesar da representação da Mata

conferida pelos moradores, a relação da maioria dos moradores é de respeito à

mata, onde 59% disseram nunca ter entrado na mata e dos 41% que declaram

ter entrado, 88% foram com o objetivo de conhecer ou passear, apenas 12%

moradores assumiram ter buscado lenha na mata; apesar de reconhecerem

que ela é particular, justificando o ato com o alto custo do gás de cozinha.

Com relação a ver outras pessoas entrarem na mata 50%, disseram já

terem visto outras pessoas, a maioria não residentes do bairro, que entravam

na mata para extrair dela lenha, madeira ou animais. A maioria dos moradores

(83%) não acha correto que se entre na mata e extraia qualquer de seus

recursos, enquanto que o restante(17%) afirmou que não vêem mal algum em

retirar apenas lenha da mata, já que são árvores ou galhos mortos. Contudo, a

informação que se teve com moradores informalmente, é que as pessoas que

extraem lenha muitas vezes cortam galhos ou pequenas árvores e deixam

secar para depois buscar. Ou seja, existe a extração de madeira para uso

principalmente na construção de telhados e cercas.

Essa prática é destacada por Silva (2001), afirmando que sendo o homem

um ser que busca saciar suas curiosidades, tentando ampliar seus

conhecimentos, nem sempre suas ações com relação ao meio em que vive ou

do qual está próximo, são corretas e adequadas. No caso da mata as pessoas

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que nela entram nem sempre estão ali para apreciar sua beleza, por vezes

abusam e a exploram de maneira indevida, outras vezes deixam suas marcas

através do lixo largado no caminho por onde passam.

Os moradores, em sua maioria absoluta, vêem a mata como um bem

importante tanto para a saúde da população do bairro, como da cidade como

um todo. Consideram que é a maior beleza da cidade de São João Evangelista,

sendo muito importante que a Escola continue vigiando e cuidando para que

ela não acabe nunca. Essa percepção de que é a Escola que deve vigiar e

cuidar da mata é reflexo da maneira como a própria Escola se coloca diante da

situação, alegando ser a mata uma propriedade particular, delimitando seu

espaço e proibindo a entrada de “estranhos” em seu interior. Fica evidente que

os instrumentos até então usados pela Escola, afastam cada vez mais a

possibilidade de a população local unir forças para a conservação e uso

sustentável da mata, vislumbra-se a eminente necessidade das pessoas

responsáveis pelos projetos de integração entre a Escola e a Comunidade

buscarem mecanismos de conscientização e de apoio não só dos moradores

como de todo a sociedade evangelistana para o uso sustentável da mata.

Enfim, sanar a curiosidade e desenvolver o espírito de que a natureza não é de

ninguém e é de todos ao mesmo tempo; de que é necessário a prática da

cidadania, no uso dos diretos e dos deveres.

Outro aspecto trabalhado foi o da coleta seletiva do lixo, constatando que

95 % dos entrevistados disseram saber o que era lixo reciclável. Entretanto

apenas 20% desses disseram separá-lo para facilitar a coleta. Como na cidade

não se realiza coleta seletiva, acredita-se que esses 20% separam garrafas,

vidros e latas que os mesmos reutilizam ou comercializam. Evidencia-se assim,

a necessidade de implantação da coleta seletiva na cidade, uma vez que

mesmo ela não acontecendo já se conta com a vontade de alguns moradores

em realizá-la, o poderá resultar numa adesão significativa ao instituí-la no

município, se a mesma for calcada na oferta de informações aos moradores a

respeito da importância da seleção do lixo, tanto para o ambiente que será

menos agredido, quanto para a sociedade, uma vez que a coleta seletiva

mantém a cidade limpa e pode gerar emprego e melhor qualidade de vida, a

exemplo de muitas associações de catadores organizadas em todo país.

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Sobre os conhecimentos dos moradores em relação à Educação

Ambiental pôde-se constatar, conforme Figura 15, que apenas 39 % dos

entrevistados disseram ter um conhecimento básico sobre Educação

Ambiental, dos quais 64% disseram tê-lo construído através da mídia, mais

especificamente em programas de televisão; 23% obtiveram as informações na

escola e outros 12% no trabalho. Em função do nível de escolaridade dos

entrevistados, evidencia-se a necessidade de se avaliar como se pode

trabalhar melhor a Educação Ambiental informal, uma vez que o conhecimento

que ficou marcado para os poucos moradores que disseram conhecer sobre

EA estava concentrado no aporte da mídia, aproveitando-se do grande alcance

oferecido pelos meios de comunicação, empregá-los mais efetivamente em

projetos de formação de cidadãos conscientes de seus deveres, inclusive no

que se refere ao meio ambiente em que vive.

Mesmo a maioria tendo declarado não ter conhecimento sobre EA, ao ser

solicitado a todos que dissessem com que a EA se relaciona, as opções mais

marcadas demonstraram a existência de um conhecimento básico sobre EA

quando fazem relação dela com itens de grande importância, como a da

preservação da natureza.

49 4839 37

25

3

81

0102030405060708090

Preservaçãoda Natureza

Poluição Lixo Animais Reciclagem Saúde Outros

Percepção de Educação Ambiental

Nº d

e Vo

tos

Figura 15: A Educação Ambiental, na percepção dos moradores do bairro

Engenho de Serra, São João Evangelista, 2006.

A maioria dos entrevistados elegeu as escolas como o local mais

apropriado para se ensinar sobre EA, seguidos da casa e da comunidade. Ver

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a escola como o local mais adequado para se ensinar EA reforça, ainda mais, a

responsabilidade que a EAFSJE-MG tem de levar à localidade a informação

que os moradores necessitam e, assim, conseguir deles o apoio na

preservação da mata, através de parcerias que visem oferecer às escolas do

município um suporte técnico, para que através do ensino formal, apontado

como melhor maneira de se ensinar EA, possa-se levar mais conhecimento aos

moradores tanto do bairro em estudo como a toda a cidade.

3.7 Percepção da Liderança Local

Buscando complementar e enriquecer os depoimentos dos moradores,

procurou-se examinar as percepções das pessoas que detêm o poder de

mudança, investimento e, principalmente, de promoção de ações educacionais,

especificamente o Diretor da EAFSJE-MG e a Secretária Municipal da

Educação, representando o Prefeito Municipal. Os resultados mostraram que é

atribuída uma significativa importância da mata para a vida das pessoas, tanto

a nível nacional e mundial, em função do decréscimo que as áreas verdes têm

sofrido em todas partes do mundo, causando diversos problemas ambientais,

como por exemplo, a diminuição da biodiversidade e a destruição da camada

de ozônio. A nível local consideram que a mata, com uma dimensão superior a

100 hectares, é de fundamental importância para o município, tendo em vista

que é a maior área verde que circula o mesmo; além de ser um gigantesco

laboratório natural para trabalhos voltados às questões ambientais, tanto para

pesquisas científicas in loco, como apenas para exemplo de preservação.

Destacaram, também, que a mata é um patrimônio de valor inestimável, tanto

pelo aspecto ecológico pelas questões de exuberância e raridade, levando-se

em conta o desmatamento descontrolado na região, com reflexos negativos

sobre os poucos remanescentes de Mata Atlântica.

No que concerne ao grau de conhecimento da liderança local sobre a

relação dos moradores do Bairro Engenho de Serra com a mata da Escola,

destacou-se ser esta relação, de certa forma, conflituosa, tendo em vista

denúncias feitas por alguns moradores do Bairro Engenho de Serra,

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especificamente em termos do desmatamento da mata. Ressaltou-se,

entretanto, que deve ser levado em consideração fatores socioeconômicos, já

que por questões de sobrevivência esses moradores utilizam produtos dessa

mata (lenha e madeira) como uma fonte de renda. Salientaram que a culpa não

é apenas dos moradores; mas, principalmente, das desigualdades

socioeconômicas no município, a exemplo do que acontece no país, além do

baixo nível educacional da população local, principalmente no que se refere às

questões da área ambiental.

Portanto, não é desconhecido pelos representantes do poder local, a

existência do problema, o que talvez ainda não seja claro são as reais causas

da interferência dos moradores na mata, como os mesmos apontaram a baixa

escolaridade da população local, hipótese essa que não foi comprovada ao

traçar o perfil socioeconômico dos moradores do bairro Engenho de Serra.

Em termos das ações, que têm sido realizadas no sentido de promover a

consciência ecológica junto aos moradores do Bairro Engenho de Serra,

reconheceu-se que é de suma necessidade um trabalho mais efetivo nessa

área; ressaltando-se a importância da criação do Curso Técnico em Meio

Ambiente na EAFSJE-MG. Desconhece-se a existência de ações de vulto

nessa área, em termos de projetos de conservação e preservação do meio

ambiente.

Apesar dessa realidade, constata-se a existência de propostas de

trabalho de conservação e preservação do meio ambiente, no âmbito do

município, como por exemplo, as Áreas de Proteção Ambiental - APAs,

Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente - CODEMA e

trabalho de ONGs. Ou seja, as ações específicas com respeito à mata são

mais para resolver problemas como é o caso da parceria com a Polícia

Florestal.

Enfim, reconhece-se a interferência dos moradores na mata como um

problema; embora não houveram ações mais efetivas envolvendo a sociedade,

em especial os moradores do Bairro Engenho de Serra.

Acredita-se que a formação de parcerias entre a Escola e a sociedade,

com participação direta da própria comunidade, seja de grande utilidade para a

minimização dos problemas existentes, por meio da conscientização da

população sobre a importância da mata e de toda a natureza.

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Como se percebeu as instituições representadas são receptivas à

realização de projetos no sentido de buscar um maior equilíbrio entre o homem

e a natureza e estão dispostas a fazer com que os mesmos aconteçam,

deixando de ser apenas propostas passando a ser ações.

3.8 Matrizes do Diagnóstico Participativo: Os encontros dos “Domingos Ecológicos”

Diferentemente do objetivo a que foi criada a metodologia PROPACC

(capacitação de recursos humanos para Educação Ambiental), neste trabalho

valeu-se da metodologia pelo desenho de suas matrizes visando a obtenção de

um diagnóstico participativo que levasse os moradores a vislumbrar as

potencialidades do local onde residem, bem como os principais problemas

socioambientais, muitas vezes despercebidos por eles ou até mesmo não

sentidos como problemas. Formalmente não se buscou capacitar recursos

humanos, entretanto sabe-se que o conhecimento adquirido na vida é sempre

compartilhado com as pessoas mais próximas, podendo assim, esperar que os

mesmos sejam multiplicados informalmente.

A primeira tentativa, obviamente fracassada14, foi a realização de um

encontro com convite feito informalmente. Entretanto, nesse encontro contou-

se apenas com a presença de um morador conhecido da pesquisadora e sua

esposa que muito sincera disse: “não quero te desanimar, mas o povo daqui

não participa de nada, pois têm medo de ser questões políticas”.

A estratégia foi mudada e buscou-se então, um contato mais direto e o

apoio de pessoas mais influentes entre os moradores que se dispuseram a

incentivá-los e orientá-los a participar dos encontros. Assim, fizeram-se

convites pessoais com esclarecimentos quanto ao objetivo do encontro e sua

programação prévia. Foi então possível arrebanhar mais moradores, que

movidos pela curiosidade compareceram ao segundo encontro. O mesmo teve

como objetivo principal motivar e apresentar a proposta da pesquisa, 14 O fracasso se deu em função de não se ter divulgado previamente o objetivo a que se propunha o encontro. Os moradores do Bairro Engenho de Serra sentiram receio de estarem sendo usados para questões políticas.

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organizado da seguinte maneira: primeiro a realização de dinâmica de quebra-

gelo para entrosamento dos moradores com a pesquisadora, demonstrando

que o trabalho era particular sem nenhum cunho político; segundo foi feito a

exibição de um vídeo (Ecossistemas Brasileiros – Juréia: O último resíduo

verde de São Paulo. SBJ Produções - 1995) e leitura de textos relacionados

aos problemas socioambientais a que o planeta está passando (textos extraído

de revistas, jornais e Internet); e no terceiro momento realizou-se uma

discussão dirigida sobre o conteúdo do vídeo e dos textos, onde todos tiveram

a oportunidade de se expressar, ora espontaneamente, ora respondendo

questionamentos feitos pela pesquisadora/coordenadora . Para o levantamento

das potencialidades e os problemas do bairro, foram desenvolvidos encontros

apelidados pelos próprios participantes de “domingos ecológicos”. No primeiro

encontro foi apresentado a proposta e, no segundo encontro foram montadas

as matrizes 1 e 2 que se referem aos problemas socioambientais e as

potencialidades ambientais da cidade e do bairro ora estudado, contando com

a participação do mesmos 36 do encontro anterior. No entanto, para se chegar

a primeira matriz não foi fácil, uma vez que os participantes tiveram grande

dificuldade em identificar os problemas socioambientais, visto que os mesmos

viam no bairro um ótimo lugar para se morar. Para tanto, precisou-se usar de

metodologias simples e bem objetivas para que os mesmos encontrassem os

problemas e as potencialidades da localidade.

Na busca por informações teóricas que proporcionassem aos moradores

subsídios que os levassem a compreender as questões socioambientais da

localidade em que vivem. O segundo encontro foi iniciado com leituras de texto

e reportagem, seguido da exibição de vídeo que abordavam temas de

relevância ao estudo e que foram buscados nos veículos de comunicação

como jornal, revistas e programas de televisão que apresentaram reportagens

como o desmatamento da Amazônia, a desigualdade social, modelos de

desenvolvimento sustentável, entre outros, que depois de apresentados foram

comentados por todos.

Só então, passou-se ao objetivo principal do encontro que foi a

construção das matrizes. Para a construção das matrizes 1 e 2 o grupo foi, no

primeiro momento, dividido em dois subgrupos para que os mesmos

apontassem os problemas socioambientais e as potencialidades do bairro e da

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cidade em que vivem, rumo ao desenvolvimento sustentável. A palavra

problema, no entanto, levou a princípio a um resultado não esperado, pois para

29 dos 36 moradores ali presentes, o bairro não tinha problemas. Assim, ao

invés de pedir que citassem os problemas (inexistentes para a maioria) foram

feitas duas perguntas: O que falta ao Bairro Engenho de Serra para que o

mesmo se torne para você um local ideal de se viver? O que gostariam que

melhorasse na cidade de São João Evangelista? Assim os problemas

apareceram e deu origem a primeira matriz. Quadro 2 : Matriz 1- Identificação de problemas sociambientais

MUNICIPAIS LOCAIS 1. Desemprego; 2. Saúde (atendimento não satisfatório); 3. Educação (não ter ensino superior); 4. Infra-estrutura (algumas ruas sem calçamento, iluminação e água tratada; crescimento desordenado, imóveis caros) 5. Não ter agência do Banco do Brasil; 6. Divisão política (as pessoas que apóiam o partido que perde não colaboram para o crescimento da cidade); 7. Falta opção de lazer, quadra poliesportiva; 8. Visão pública pouco voltada para os problemas ambientais. 9. Desenvolvimento é lento; 10. Falta de segurança; 11. Desigualdade social, baixa qualidade de vida; 12. Não tem tratamento de esgoto e reciclagem de lixo.

1. Ausência de assistência médica e social no bairro 2. Ruas sem calçamento, muita poeira, ausência de transporte coletivo, iluminação pública não satisfatória; 3. Córrego poluído e exalando mal cheiro; 4. Ausência de supermercado, padaria, farmácia, e outros; 5. Distância do bairro em relação ao centro da cidade; 6. Ausência de policiamento, segurança pública. 7. Degradação da mata; 8. Falta escola de 5ª a 8ª séries. 9. Instalação de uma fábrica de tijolo (degradação ambiental); 10. Crescimento urbano local sem planejamento; 11. Poucos telefones públicos; 12. Falta de emprego; 13. Falta de áreas de lazer.

Na síntese dessa matriz (Quadro 2) considera-se que os participantes

tiveram uma identificação significativa dos problemas locais e boa percepção

da questão ambiental a nível municipal, acredita-se que as discussões e relatos

realizados anteriormente serviram para começar a despertar a visão crítica e a

percepção de seu meio. Vale destacar que o problema em estudo (a

degradação da mata) não foi a princípio apontado pela maioria dos

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participantes como um problema do bairro. Consideravam sim um problema,

mas para eles muito mais da Escola do que dos moradores. O que na verdade,

é essa a imagem que muitas vezes a Escola deixa passar colocando-se como

proprietária e guardiã da mata. Entretanto, quando se procedeu ao debate e a

análise das matrizes elaboradas pelos grupos menores, para integrar numa

visão de grupo, aqueles que haviam apontado-na como problema para o bairro

a mata, foram tão convincentes em suas colocações que o grupo entendeu que

a situação deveria ser adicionada como um problema e ao mesmo tempo uma

potencialidade do Bairro.

Como metodologia de trabalho para a elaboração da matriz 2 (Quadro 3),

o grupo foi novamente dividido no primeiro momento e depois juntos

construíram uma só matriz, como na anterior. A segunda matriz pareceu mais

fácil de ser determinada, visto que os moradores presentes foram unânimes em

dizer que “o bairro é um local bom de se viver”, ainda considerado “muito

tranqüilo” e “seguro”. Em relação à cidade os participantes também

concordaram em muitos pontos levantados como potencialidades,

principalmente a existência da Escola Agrotécnica Federal de São João

Evangelista que colabora em muito com o desenvolvimento da cidade, além do

ponto de inserção da cidade que é cortada pela estrada que liga várias cidades

da região a Belo Horizonte ou Governador Valares que são cidades de

referência especialmente na busca de saúde e educação. Vale ressaltar que o

grupo acredita muito no potencial do município em se desenvolver

principalmente em relação à educação. Quanto ao bairro, o grupo aponta em

especial o ambiente bem próximo à natureza que faz do bairro um local

tranqüilo e bom de se viver com qualidade de vida, apesar das carências

apontadas na matriz anterior.

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Quadro 3: Matriz 2 - Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento

sustentável

MUNICIPAIS LOCAIS 1. A Escola Agrotécnica Federal; 2. Fábricas (cerâmica e confecção) que são fontes de empregos; 3. A localização da cidade em relação à região de inserção; 4. Investimentos do poder público em ações de proteção ao meio ambiente; 5. Tem estrutura física que possibilita o funcionamento de faculdades e áreas para instalação de indústria, comércio e escolas; 6. A cidade é bonita, bem cuidada, de clima agradável, povo acolhedor e tranqüilo; 7. Há investimento crescente na agropecuária; 8. Região de ricos recursos naturais (solo, água, fauna e flora) 9. Uma bela mata às suas margens; 10. Boas escolas de ensino fundamental e de segundo grau; 11. Cidade calma e segura (pouca violência); 12. Proporciona qualidade de vida; 13. Atendimento á saúde é bom e tem como melhorar;

1. Lugar tranqüilo e bom de se viver; 2. Uma mata nativa bem próxima que proporciona ar puro, saúde e qualidade de vida aos moradores, uma beleza natural inigualável; 3. Aluguel barato; 4. Boa convivência entre vizinhos, poderá gerar grupos de trabalho; 5. Fábrica de tijolos próxima ao bairro (gera empregos); 6. Água tratada, luz e telefone; 7. Tem área disponível para construção de área de lazer (quadra e praças); 8. Os moradores gostam do bairro.

O terceiro encontro, e último teve como objetivo a construção das

matrizes 3 e 4, seguido da conclusão e avaliação dos trabalhos. No primeiro

momento juntos fizeram uma síntese dos problemas locais em 5 áreas:

educação, desemprego, planejamento urbano, saneamento básico e saúde; só

então, em grupos menores buscaram a relação das possíveis causas, gerando

a matriz 3.

Para a matriz 4 de seleção dos problemas e possíveis soluções, o grupo

foi dividido em 3 grupos onde cada um escolheu 3 problemas que julgaram de

maior relevância, estabelecendo possíveis soluções. Em seguida o resultado

dos 3 grupos foram fundidos em um só, concretizando a matriz 4 com a

seleção de 5 problemas municipais e 8 locais com suas prováveis soluções.

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Para Medina (2003), a matriz 3 objetiva o estabelecimento das inter-

relações entre os problemas ambientais identificados, procurando as causas

reais e possibilitando a compreensão dos sistemas ambientais, suas relações e

determinações, construído num modelo de fluxograma (Quadro 4). Entretanto,

o grupo com o qual estava-se trabalhando não conseguiu estabelecer as inter-

relações através de fluxogramas. Para que não houvesse interferências

induzindo o grupo, permitiu-se que os mesmos construíssem-na da maneira

que entenderam, dando resultado a um quadro que relata a relação do que

poderia estar sendo a(s) causa(s) dos problemas locais estabelecidos na matriz

1 de forma horizontal e com nítida dificuldade em fazê-la. Quadro 4: Matriz 3 - Inter-relações entre problemas e potencialidades Matriz 3: Inter-relações

Educação

• Os representantes públicos não preocupam em buscar projetos de criação de uma escola pública que ofereça até o ensino médio em local mais próximo do bairro. • Não se realiza projeto de EA no local.

Desemprego

• A falta de qualificação da mão de obra; pouco acesso a cursos técnicos e de qualificação de mão de obra; falta incentivo a criação de empresas ou comércio local. • Faltam linhas de financiamento (ou informações) para abertura de micro e pequenas empresas.

Planejamento urbano, infra-estrutura.

• Falta de organização dos moradores (Associação de Bairro) para se fazerem representar junto ao poder público, buscando investimento quanto ao calçamento, projetos adequados de loteamento, rede de esgoto, iluminação, construção de áreas de lazer e outros.

Saneamento básico (córrego poluído)

• O descuidado dos moradores que jogam no córrego lixo, dejetos de animais e outros, associado à falta de manutenção (limpeza) do mesmo, assoreamento do córrego e falta tratamento do esgoto. • Ausência de palestras informativas e preventivas (Educação Ambiental).

Saúde (falta atendimento médico local)

• A inexistência de um PSF no bairro, uma vez que sua localização é distante do hospital. • Ausência de informações sobre saúde preventiva.

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Na etapa final de construção das matrizes adaptadas da metodologia

PROPACC, o grupo procurou através da matriz 4 apresentar possíveis

soluções para os problemas mais relevantes, abordados anteriormente. Com a

construção da matriz 4 fica evidente a necessidade de se caminhar para

discussões populares em relação a ações de desenvolvimento sustentável do

município, uma vez que ficou evidenciado um importante crescimento do grupo

no que se refere a preocupação e conscientização ambiental. Quadro 5: Matriz 4 - Seleção de problemas e possíveis soluções Seleção de 5 problemas Municipais

Possíveis soluções Identificação de 8

problemas Locais

Possíveis soluções

1- Desemprego

* Criação de frentes de trabalho, incentivando o desenvolvimento da agricultura e pecuária familiar; incentivo fiscal para implantação de pequenas empresas agroindustriais.

1- Falta mais infra-estrutura no bairro

* Incentivar investimentos (privados) para melhorar a oferta de serviços, amenizando assim o fato do bairro ser distante do centro. * Priorizar investimentos em calçamentos, escolas, telefones públicos, posto de saúde, rede de esgoto, e outros.

2- Ausência do ensino superior na cidade.

* Buscar parcerias entre Universidades, Prefeitura e as Escolas locais para criação de cursos superiores que ainda não têm na região. * Facilitar o acesso a cursos profissionalizantes e superiores através de bolsas de estudo.

2- Degradação da mata

* Que a Escola busque o apoio do poder público para realização de projetos em Educação Ambiental para os moradores do bairro, visando sua preservação. * Buscar junto ao poder público um aumento na distribuição de vale gás.

3- Falta opção de lazer

* Buscar junto ao governo verba para construção de um centro esportivo; incentivar a criação de grupos musicais, de teatro, de dança e outros, divulgando-os através de apresentações na Semana da Cultura (festa tradicional da Cidade).

3- Córrego poluído.

* Criar um Centro de Educação Ambiental no bairro. * Promover discussões sobre os perigos que as águas poluídas podem causar, buscando consci-entizar os moradores quanto à mudança de hábitos não ecológicos. * Implantação de coleta seletiva.

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Continuação – Quadro 5 4- Não tem tratamento de lixo e esgoto; gestão pública15 pouco voltada para proble-mas ambien-tais.

* Construção de uma usina de reciclagem de lixo e estação de trata-mento de esgoto. * Promoção de eventos direcionados a popula-ção local sobre o meio ambiente, refloresta-mento, proteção de nascentes, coleta sele-tiva, saúde preventiva, produção orgânica, outros. * Criação de projetos de Educação Ambiental em escolas urbanas e rurais. * Realizar campanhas de conscientização ambiental. * Mais fiscalização sobre as irregularidades que atingem o meio ambiente.

4- Falta de atendimento médico e assistência social.

* Implantação de um PSF no bairro. *Realização de campanhas sobre cuidados com a saúde para todas as faixas etárias.

5- Desigual-dade social

* Implantação de programas sociais de financiamento a criação de micro e pequenas empresas, à agricultura familiar, a obtenção da casa própria; e à qualificação de mão de obra.

5- Instalação da fábrica de tijolos (degradação ambiental).

* Aumentar a fiscalização sobre a retirada de recursos naturais que servem de matéria-prima. * Exigir um projeto ambiental dos proprietários em cumprimento a legislação ambiental.

6- Falta de emprego

* Promover cursos de qualificação para os moradores do bairro. * Incentivar investimentos em pequenas empresas através de linhas de crédito.

7- Crescimento desordenado.

* Promover a fiscalização quanto à abertura de novas ruas e loteamentos no bairro; autuando quando se fizer

15 Por ocasião da realização do diagnóstico, esse era um problema, no entanto, ao final do ano de 2005 foram iniciadas obras de construção de uma usina de reciclagem e da estação de tratamento de esgoto.

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necessário.

8- Falta área de lazer

* Construir uma praça bem arborizada e uma quadra de esportes no bairro.

Os problemas aqui apresentados são na sua maioria de caráter

socioeconômico e requer do poder público juntamente com instituições de

expressiva influência na cidade unir forças e buscar maior investimento na área

social e educacional. Uma população educada e informada de seus direitos e

deveres estará mais propícia a fazer de sua cidade uma cidade sustentável,

que acima de tudo proporcione a sua população a qualidade de vida e um

ambiente saudável a que tem direito e necessidade.

Pode-se destacar a nível local e municipal problemas que caracterizam a

falta de integração entre planejamento local e preservação ambiental. São

bairros sendo formados sem um estudo prévio dos possíveis impactos tanto

sociais quanto ambientais; a cidade desprovida de desenvolvimento

tecnológico e industrial deixa a desejar no que se refere à qualidade de vida da

população, falta oferta de serviços, saúde, educação e emprego; a assistência

médica é, na maioria das vezes, procurada nas cidades vizinhas e/ou na

capital, o que faz com que um tratamento fique dispendioso quando fora do

Sistema Único de Saúde - SUS. Outro item que se destaca negativamente é a

Educação, pois o município conta apenas com duas escolas de segundo grau,

uma estadual de ensino médio e uma federal de ensino profissionalizante que

não pode garantir a inserção dos jovens nativos, uma vez que se faz um

processo seletivo com igualdade de critérios para os candidatos de toda a

região. Este item é ainda mais frágil quando se refere ao ensino superior, pois

até então a cidade não conta com nenhuma escola que ofereça este nível de

graduação. Aos que têm condições, a saída é buscá-la em outros municípios,

principalmente a capital onde se formam médicos, engenheiros, advogados,

professores, entre outros. Uma experiência que muitas vezes leva os jovens

nativos de São João Evangelista a se acostumarem com o ritmo e as

vantagens da cidade grande e não mais retornarem à sua cidade para trabalhar

e investir seu capital intelectual em prol do desenvolvimento do município.

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Em relação às condições de saneamento do bairro, o lixo doméstico e a

qualidade da água (córrego São João) são até então, realidades não

satisfatórias, mas que merecem destaque especial no cotidiano social, onde

ações são necessárias na busca de propostas coletivas para a solução de tais

problemas. No transcorrer da pesquisa, algumas ações que ora eram

apontadas como problema local, passaram a ser uma potencialidade do

município rumo a sustentabilidade ambiental. O poder público municipal em

parceria como a COPASA, deu início à construção de uma Estação de

Tratamento de Esgoto o que com certeza estará futuramente resolvendo não

só o mau cheiro do córrego São João apontado como problema do Bairro

Engenho de Serra, mas de toda a cidade que terá seu esgoto canalizado e

tratado para depois ser jogado em curso d’água. Também no final do ano de

2005 o poder público municipal deu início às obras de uma usina de reciclagem

de lixo, o que acredita-se que com a conscientização da população, tornará a

qualidade do ambiente local bem melhor e conseqüentemente uma melhoria na

qualidade de vida de seus moradores. Com a implantação da usina de

reciclagem, a população também poderá vislumbrar a criação de frentes de

trabalho que poderão fazer do lixo uma fonte de renda através da coleta e

reciclagem.

Quanto à questão ambiental, percebe-se uma fragilidade muito grande em

relação à promoção da Educação Ambiental tanto formal quanto informal, com

pouca ou nenhuma orientação nas ações ou políticas claras de preservação

ambiental como leis e programas municipais de Educação Ambiental. Ao que

parece, a EA é trabalhada nas escolas do município de maneira pouco

expressiva, ficando muitas vezes presa entre as paredes das mesmas, quando

deveriam se estender a toda localidade, chegando principalmente aos lares dos

alunos. Segundo informações de professoras do ensino fundamental, a maioria

das atividades de EA trabalhadas nas escolas do município (quando

trabalhadas) tem características e concepções voltadas para a corrente

naturalista (SAUVÉ, in SATO, CARVALHO e cols, 2005), onde os projetos em

sua maioria buscam revigorar uma ligação dos alunos com a natureza,

utilizando-se de jogos pedagógicos sensoriais e atividades de interpretação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do propósito de compreender os impactos sociais das populações

em relação à interferência do homem no entorno da mata nativa e o papel da

Educação Ambiental na conservação da natureza, diante da aplicação do

método PROPACC, ressalta-se que este possibilitou uma visão sistemática

dessa população, reforçado pela composição de um referencial teórico

apropriado ao tipo de estudo.

Desta forma, destaca-se a importância da preparação para mudanças e

os desafios que o mundo moderno nos impõe. Portanto, necessita-se buscar

formas de integração e reorganização na maneira de conduzir a Educação

Ambiental para essa população. Para tanto, deve haver mudanças internas e

externas nos valores e padrões da localidade para uma conscientização da

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importância do equilíbrio entre a preservação dos recursos naturais e a

sustentabilidade.

Além destas colocações, o estudo constatou o interesse das lideranças

locais para uma prática de gestão mais integral e participativa para o

crescimento da população analisada, permitindo à pesquisadora a liberdade de

analisar os resultados obtidos de acordo com cada objetivo proposto para esse

estudo.

Num primeiro momento, pretendeu-se caracterizar o perfil

socioeconômico e examinar as percepções sobre ambiente dos moradores do

entorno da mata do campus da EAFSJE-MG. O que permitiu constar que na

localidade não é a falta de escolaridade que afetou o uso indevido da mata,

mas provavelmente a renda familiar que está em torno de 1 a 3 salários

mínimos, necessitando utilizar de alguns recursos da mata. Além desses

aspectos, acredita-se que a falta de informação sobre o uso e preservação da

mata contribuiu para a degradação da mesma ao longo de 20 anos com o início

da urbanização do local.

Um ponto relevante percebido nas pessoas entrevistadas foi o interesse

pela orientação e implantação de projetos voltados para a Educação Ambiental

no bairro.

Ao examinar as percepções da liderança que detêm o poder de

mudança, investimento e promoção de ações educacionais da localidade,

percebeu-se o interesse e preocupação na preservação e conservação desses

recursos naturais para o crescimento e desenvolvimento sustentável do

município.

Na aplicação do diagnóstico participativo com os moradores, em relação

às potencialidades e problemas socioambientais da localidade, verificou-se que

a mata representa para os moradores oferta de “bens de consumo”, beleza e

saúde, tanto para o bairro quanto para o município.

Outro ponto interessante constado nesse estudo é a preocupação

dessas lideranças em se unirem como parceiros empenhados na busca de

ações concisas para o equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais e o

desenvolvimento sustentável.

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Diante desse contexto, notou-se que essa percepção reforçou a

importância de se produzir ações imediatas sobre as questões ambientais e o

efetivo papel do homem e sua responsabilidade frente aos mesmos, levando

informações e incentivo a todas as classes, deixando-as perceber que podem

e devem fazer algo por seu planeta. Para Gadotti (2000), uma das maneiras

de se possibilitar a preservação do meio ambiente é reunir pessoas e

instituição para discutir e opinar sobre o papel de cada cidadão no cuidado

com a Terra, haja vista a importância das decisões coletivas relacionadas a

esta questão, pois apesar do aumento de conhecimento ambiental, muitas

vezes promovido pela mídia, existe ainda uma dificuldade em determinar e

responsabilizar as reais causas, conseqüências e impactos decorrentes das

relações socioambientais de uma localidade.

Capra (1996) alerta quanto a essas discussões, referindo-se ao fato de

que podem se comprometer a fazer determinadas modificações que já são

consideradas tardias em relação aos problemas ambientais enfrentados. Além

disso, atuar nos limites das relações socioambientais é mais difícil, pois

dependerá da disponibilidade de tecnologias apropriadas, consenso social e

novo sistema de valores baseado em critérios de qualidade que sejam

ambientalmente sustentáveis, socialmente aceitáveis e culturalmente

valorizados. Portanto o caminho está na educação das novas gerações tendo

como princípio básico o que mais se compatibiliza com a realidade da

localidade, instituição ou município. Seja qual for à forma de implantação

escolhida pela sociedade para realizar a EA, seu objetivo maior é se colocar

frente aos atores sociais, comprometendo-se com os anseios do

desenvolvimento sustentável. Sendo assim, devem-se buscar objetivos como

redução de geração de resíduos e efluentes prejudiciais, produtos e processos

menos poluentes, dentre outros. E ainda se comprometer com um processo de

melhoria contínua deste sistema estratégico.

O brasileiro de maneira geral, acostumou-se com as ações paternalistas,

ficando muitas vezes dependente do poder público e capaz de pouca ou

nenhuma iniciativa. Cabe então, ao poder público e as instituições de

expressiva influência no município fazer sua parte dando o exemplo que todo

cidadão espera, convocando e estimulando a todos para prática da boa

relação com a natureza e do uso sustentável de seus recursos através de

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mudanças estruturais na sociedade local, afinal a integridade social está

diretamente relacionada à capacidade de reconhecimento de que as escolhas

feitas trazem conseqüências diretas e que não se pode escapar da

responsabilidade que se tem sobre elas.

RECOMENDAÇÕES

É importante para sociedade que queira buscar sua sustentabilidade se

articular de maneira a organizar-se, mobilizar-se e conscientizar-se de que

cidadania se faz com o cumprimento dos direitos e também dos deveres, num

entendimento de que é direito do cidadão um ambiente saudável e com

qualidade de vida, mas é dever de todos dedicar-se em prol da consecução

desse direito. Cabe então o exercício da cidadania na realização de projetos

fundamentados na busca pela sustentabilidade e promoção da conscientização

através da EA para todos, projetos estes de responsabilidade do poder público,

instituições de ensino e de toda a sociedade.

Visando provocar reflexões no domínio da sociedade evangelistana,

especialmente no espaço do Bairro Engenho de Serra, ampliando as

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discussões sobre os problemas e potencialidades de promoção da

sustentabilidade local, após realização de diagnóstico participativo com os

moradores do referido bairro e entrevistas com pessoas-chave da sociedade

evangelistana, propõem-se ações diretas para a prática da Educação

Ambiental com vistas na preservação de matas nativas.

Parcerias com Secretarias de Educação: Através de parcerias com as

Secretarias Municipais de Educação local e das cidades vizinhas, viabilizar a

realização de projetos interdisciplinares que visem solucionar problemas

ambientais locais como a preservação do ambiente, reciclagem do lixo,

arborização urbana, melhoria da qualidade de vida das localidades menos

favorecidas, recuperação e preservação das nascentes, entre outros.

Competência: Alunos, professores e funcionários das escolas da rede

federal, estadual e municipal.

Passeios em trilhas ecológicas: Criar e/ou implementar trilhas

ecológicas interpretativas no interior da mata, como estímulos para a

percepção ambiental e o respeito ao meio ambiente a serem trabalhados com

crianças em várias faixas etárias, de diversas escolas da região.

Competência: Ação em que a EAFSJE-MG, através da coordenação do

Curso Técnico em Meio Ambiente envolveria os alunos, num trabalho de

organização e manutenção de trilhas.

Publicações periódicas: Criação de um veículo de comunicação (ex. um

informativo técnico) que faça abordagens de assuntos relativos à preservação

dos recursos naturais da região, em especial a utilização de matas nativas, uso

dos recursos hídricos, preservação e recuperação de nascentes, coleta seletiva

do lixo, risco e conseqüências das queimadas para meio ambiente e qualidade

de vida, entre outros; utilizando uma linguagem simples e acessível a todos os

níveis de conhecimento.

Competência: Ação em conjunta da EAFSJE-MG; Secretarias Municipais

de Educação e de Agricultura, EMATER, IMA, Comerciantes e outros.

Educação Ambiental para funcionários: Oferecer treinamento para os

funcionários das instituições/empresas (Escolas, Prefeituras, outros) sobre a

preservação do meio ambiente – Educação Ambiental – orientado-os quanto

aos procedimentos ambientalmente corretos no exercício de suas funções,

fazendo com que eles se tornem responsáveis pelas práticas conservacionistas

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em seu ambiente de trabalho, de maneira que possa chegar ao seu lar e à sua

família.

Competência: EAFSJE-MG em parceria com prefeitura, escolas

estaduais e municipais e outras instituições afins.

Atividades educativas para a comunidade e campanhas de conscientização ambiental: Incrementar a participação da comunidade nos

aspectos relativos ao conhecimento e melhoria de seu próprio ambiente

propõe-se a organização e incentivo de atividades que envolvam a comunidade

local por ocasião do Seminário sobre Meio Ambiente; evento que já faz parte

do calendário escolar da EAFSJE-MG.

Competência: Organizadores do Seminário sobre Meio Ambiente.

Associação de Guardas Voluntários: Fomentar a formação de uma

associação de voluntários para a realização de atividades voltadas à

conservação e preservação da mata, além da produção de conhecimentos

sobre Educação Ambiental. Incentivar a criação de ONGs de proteção ao meio

ambiente local.

Competência: Poder Público, EAFSJE-MG e Sociedade.

Construção da Agenda 21 Local: Promover atividades de Educação

Ambiental visando o envolvimento de todos os seguimentos da sociedade para

a discussão e proposta de implementação da Agenda 21 Local; estabelecer

parcerias com os diversos atores sociais para aprimoramento das ações

necessárias para a prática da mesma.

Competência: Prefeitura Municipal e seguimentos da sociedade.

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ANEXOS Anexo I Entrevista aos Moradores do Bairro Engenho de Serra

1. Morador: 01

2. Idade: ________

3. Sexo: ( ) F ( ) M

4. Representação Familiar: ( ) Pai ( ) Mãe ( ) Filho(a) Outro: __________________

5. Grau de Instrução:

( ) Ensino Fundamental - ( ) Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Médio - ( ) Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Superior - ( ) Completo ( ) Incompleto

6. Profissão / Ocupação: ___________________________________

7. Origem:

( ) Nativo ( ) Não Nativo

8. Há quanto tempo mora nesse bairro: _____________

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9. Sua casa é: ( ) Própria ( ) Alugada Outro: _______________

10. Renda Familiar:

( ) -1 a 3 salários mínimos ( ) 3 a 5 salários mínimos ( ) Mais de 5 salários mínimos

11. O que você mais gosta nesse bairro? ( ) Tranqüilidade / Segurança ( ) Proximidade com a natureza (mata) ( ) Acesso aos serviços público ( ) O relacionamento entre vizinhos ( ) Outro(s) _________________________________________________

12. O que você menos gosta nesse bairro?

( ) Insegurança ( ) Distância do centro da cidade ( ) Falta de serviços públicos – Qual(is)? _________________________ ( ) Falta área de lazer ( ) Outro (s) ________________________________________________

13. Como você considera sua vida nesse bairro?

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima ( ) Não sei

14. O que a mata representa para você?

( ) Ar puro ( ) Saúde ( ) Qualidade de vida ( ) Beleza ( ) Fornecimento de recursos (madeira, lenha, etc). ( ) Outro(s) _________________________________________________

15. Você já entrou dentro da mata? ( ) Sim ( ) Não

16. Se sim, o que foi fazer?

( ) Conhecer ( ) Passear ( ) Buscar lenha ( ) Caçar ( ) Buscar madeira ( ) Outro (s) ________________________________________________

17. Você já viu outras pessoas saírem da mata? ( ) Sim ( ) Não

18. Se sim, o que foram fazer?

( ) Passear ( ) Buscar lenha ( ) Caçar ( ) Buscar madeira ( ) Não sabe

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( ) Não quer responder ( ) Outro (s) ________________________________________________

19. Você acha correto entrar na mata para extrair algum de seus recursos

naturais (árvores, animais, plantas decorativas)? ( ) Sim ( ) Não

20. Como você vê a mata para a cidade de São João Evangelista? ( ) Importante para saúde da população ( ) A maior beleza da cidade ( ) Sem importância ( ) Importante só para a Escola Agrotécnica

Por quê? ______________________________________________________

21. Você possui algum conhecimento sobre Educação Ambiental? ( ) Sim ( ) Não

22. Em caso afirmativo, onde obteve esse conhecimento?

( ) Na escola ( ) Em casa ( ) Na comunidade ( ) Pela televisão /rádio ( ) Outro (s) _______ _________________________________________

23. Na sua opinião a Educação Ambiental relaciona-se com:

( ) Preservação ambiental ( ) Trilhas ecológicas ( ) Poluição ( ) Desemprego ( ) Lixo ( ) Escola ( ) Reciclagem ( ) Esgoto ( ) Desenvolvimento ( ) Água ( ) Política ( ) Animais ( ) Saúde ( ) Outro (s) ________________________________________________

24. Onde você acha que é o local(is) mais adequado(s) para se ensinar sobre

Educação Ambiental? ( ) Em casa ( ) Na escola ( ) Na igreja ( ) Na comunidade ( ) Outro(s). Qual(is) _________________________________________

25. Você costuma conversar com outras pessoas sobre questões ambientais?

( ) Sim ( ) Não

26. Na sua opinião, o que se deve fazer para que a população se sensibilize com as questões ambientais? ( ) Palestras

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( ) Passeatas ( ) Criar grupos de discussão sobre o tema ( ) Cartazes, panfletos e folderes ( ) Discutir os temas no convívio social ( ) Trabalhar o tema somente em datas comemorativas ( ) Deixar para que os políticos cuidem do assunto ( ) Trabalhar o tema nas escolas de ensino fundamental. ( ) Outra: _________________________________________________

27. Você tem conhecimento de algum animal típico de nossa região que esteja em extinção ou extinto? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? ________________________________________________

28. Você sabe o que é lixo reciclável? ( ) Sim ( ) Não

29. Se sim, você costuma separá-lo para a coleta seletiva? ( ) Sim ( ) Não Porquê? _______________________________________

30. Sua família recebe o benefício do governo VALE GÁS? ( ) Sim ( ) Não

Anexo II Roteiro da Entrevista para a Liderança Local 1) O que a mata da escola representa para você e para o município na sua

opinião?

2) Como você vê a relação dos moradores do Bairro Engenho de Serra

com a mata da Escola?

3) Você tem conhecimento de ações sendo realizadas no sentido de

promover a consciência ecológica junto aos moradores do citado bairro?

4) A instituição que você representa tem alguma proposta de trabalho para

conservação e preservação do meio ambiente, em especial a mata? Se sim,

qual seria?

5) Você acredita em uma parceria entre a Escola e a sociedade

evangelistana no sentido de realizar projetos educativos de uso sustentável da

mata?

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APENDICE Apêndice I MATRIZES DA MÉTODO PROPACC Modulo I – Matriz 1: Identificação de problemas socioambientais; Matriz 2:

Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável; Matriz 3:

Matriz de inter-relações; Matriz 4: Seleção de problemas e possíveis soluções;

Matriz 5: Matriz de currículo 1; e Matriz 6: Matriz de currículo 2. Modulo II – Matriz 7: Análise das propostas pedagógicas das secretarias de

educação; Matriz 8: Análise da inserção da EA nos currículos; Matriz 9:

Identificação de dificuldades e recomendações para inserção de EA nos

currículos; Matriz 10: Identificação e seleção de temas transversais; Matriz 11:

Orientações pedagógicas gerais para a inserção da EA, através dos temas

transversais; Matriz 12: Elaboração de uma atividade transversal de EA no

currículo.