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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE MESTRADO PROFISSIONAL USO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA NA MICROBACIA DO CANDIDÓPOLIS, ITABIRA-MG JAQUELINE ELOISA SANTOS CARATINGA MINAS GERAIS - BRASIL DEZEMBRO – 2008

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MEIO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE MESTRADO PROFISSIONAL

USO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA NA MICROBACIA DO CANDIDÓPOLIS, ITABIRA-MG

JAQUELINE ELOISA SANTOS

CARATINGA MINAS GERAIS - BRASIL

DEZEMBRO – 2008

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MEIO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE MESTRADO PROFISSIONAL

USO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA NA MICROBACIA DO CANDIDÓPOLIS, ITABIRA-MG

JAQUELINE ELOISA SANTOS

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.

CARATINGA MINAS GERAIS - BRASIL

DEZEMBRO - 2008

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JAQUELINE ELOISA SANTOS

USO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA NA MICROBACIA DO CANDIDÓPOLIS, ITABIRA-MG

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.

APROVADA EM: 15 DE DEZEMBRO DE 2008 _______________________________ _______________________________ Profª M.Sc. Adriana B. S. de Magalhães Prof. D.Sc. Marcos Alves de Magalhães (Examinadora) (Examinador) _______________________________ _______________________________ Prof. D.Sc. Felipe Nogueira Bello Simas Prof. Ph.D. Mirian Abreu Alburqueque (Co- orientador) (Examinadora)

_____________________________ Prof. D.Sc. Meubles Borges Júnior

(Orientador)

ii

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“A água faz parte do patrimônio do

planeta. Cada continente cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão, é plenamente responsável aos olhos de todos.” Artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos da Água

Fonte:Organização das Nações Unidas(ONU)),1992.

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“Levo a grandeza de minha vida aos obstáculos que tive que vencer. Hoje

me sinto mais forte, mais feliz porque acreditei. Cada ser carrega em si o dom

de ser capaz, levo este sorriso porque já chorei demais.” (Almir Sater, adaptado

por Jaqueline Eloisa Santos)

Aos meus pais que me ensinaram a persistir!

Ao meu irmão Walef, fotógrafo amador!

Ao meu irmão Wagner pela força!

Ao meu esposo a paciência!

A Deus, pois precisei ter fé e esperança!

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BIOGRAFIA

JAQUELINE ELOISA SANTOS, nasceu em 11 de maio de 1979, na cidade de

Itabira – MG.

Graduou-se em Estudos Sociais no ano de 2002 pela Fundação

Comunitária de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI).

Especialista em Gestão Ambiental pela Faculdade da Região dos Lagos

(FERLAGOS) obtendo o título no ano de 2004.

Em julho de 2006, iniciou o Programa de Mestrado Profissional em Meio

Ambiente e Sustentabilidade no Centro Universitário de Caratinga – UNEC, na

linha de pesquisa em Gestão Ambiental.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Meubles pela orientação

Ao professor Felipe pela colaboração

Ao professor Antônio pela confiança

Ao professor Marcos pelo carinho

Aos funcionários do SAAE pelo apoio e execução de análises

A UFV pela execução de análises de metais

A Liliane pela formatação e apoio

Aos meus alunos do CERP pela assessoria em campo

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RESUMO

SANTOS, JAQUELINE ELOISA. Centro Universitário de Caratinga, dezembro de 2008. Avaliação da qualidade da água da microbacia do Candidópolis e sua relação com o uso e ocupação do solo em Itabira-MG. Orientador: D.Sc. Meubles Borges Júnior. Co-orientador: Prof. D.Sc. Felipe Nogueira Belo Simas.

A microbacia do Candidópolis localizada no município de Itabira evidencia

múltiplos usos e ocupação do solo, gerando degradação ambiental que afeta a

qualidade das águas necessitando uma avaliação para que os impactos

negativos venham a ser minimizados. O presente trabalho teve como objetivo

avaliar a relação entre a qualidade da água e o uso e ocupação dos solos da

microbacia do Candidópolis, caracterizando os diferentes usuários de água e

avaliar sua percepção com relação aos recursos hídricos, avaliar a qualidade

físico-química e microbiológica dos principais cursos d’água da microbacia e

relacionar a qualidade da água da microbacia Candidópolis com o uso e

ocupação do solo. Para isso, foi realizada visita ao local com escolhas de

pontos estratégicos e coletas de amostras de água onde foram analisados

parâmetros físico-químicos e bacteriológicos. Para análise de qualidade de

água, tornou-se como base a Resolução no 357/2005 do CONAMA. O trabalho

tornou-se patente o comprometimento da qualidade da água, uma vez que os

coliformes termotolerantes e fecais, cor, turbidez, ferro apresentaram valores

superiores ao estabelecido pela resolução. Os resultados mostram uma

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contaminação de caráter antropogênico, associado aos esgotos domésticos

lançados nos cursos d’agua.

Palavras chaves: Qualidade da água, microbacia, uso e ocupação do solo.

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ABSTRACT

SANTOS, JAQUELINE ELOISA. Centro Universitário de Caratinga, December 2008. Land use and water quality in the Candidópolis watershed, Itabira-MG. Adviser: D.Sc. Meubles Borges Júnior. Co-adviser: Prof. D.Sc. Felipe Nogueira Belo Simas.

Multiple land uses and occupation of the Candidópolis watershed, in Itabira–

MG, resulted in serious environmental degradation that affects the water quality,

requiring, thus, an assessment to reduce their negative impacts. This study

aimed to evaluate the relationship between water quality and land use and

occupation in the Candidópolis watershed, characterizing the different water

users and assessing their perceptions of water resources, evaluating the

physico-chemical and microbiological quality of the major water streams in the

watershed and relating water quality to land use and occupation. For this

purpose, we visited the site and defined strategic points to collect water

samples for physico-chemical and bacteriological analyses. Water quality

analysis was based on the CONAMA resolution 357/2005. Results showed that

46% of households throw waste directly into waterways without prior treatment

and the main sources of water for the residents in the area are wells and

springs. Nevertheless, only 34.7% of households carry out measures to

preserve water resources, prevent waste and avoid cutting trees. Phosphorus

was found the main contributor to eutrophication in the watershed, with the

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sampled area no. 12 with a mean level of 0.45 mg L-1, only fitting into class 4 of

the CONAMA Resolution 357/2005, which can be destined to navigation and

landscape harmony. Thermotolerant coliforms counts indicate that even the

spring waters are contaminated and require treatment before consumption.

However, waters from the areas nos. 11 (Vista Alegre Stream) and 12 (pond to

capture water to supply the city of Itabira) are not even listed for recreational

use of primary contact (direct and prolonged contact with water - such as

swimming, diving, water-skiing; in which the probability of swimmers ingesting

water is high. Results of physico-chemical characteristics indicated that the

change in water quality of the watershed was caused by geological

characteristics of the site, an iron-ore area, since it does not have problems with

turbidity, but shows change in color. There is no evidence of degradation by

anthropogenic organic matter and sediments, since the indicators turbidity and

BOD comply with the limits established by the CONAMA Resolution 357/2005

for Class 1. There is evidence of contamination by agricultural chemicals, as

copper levels in the watershed waters are above the limits established by

CONAMA for Class 1.

Keywords: Water quality, watershed, land use and occupation.

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SUMÁRIO

pg.

BIOGRAFIA.................................................................................................... ...v

AGRADECIMENTOS...................................................................................... ...vi

RESUMO........................................................................................................ ..vii

ABSTRACT.................................................................................................... ...ix

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. ..13

2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... ..17

2.1. Bacia hidrográfica................................................................................. ..17

2.2. Usos e impactos em uma bacia hidrográfica........................................ ..18

2.2.1. Pastagem,agricultura e queimada............................................... ..20

2.2.2. Desmatamento, mata ciliar e assoreamento............................... ..23

2.2.3. Uso da água no contexto da urbanização................................... ..25

2.2.4. Uso da água no contexto industrial............................................. ..27

2.3. Gestão integrada em bacias hidrográficas........................................... ..29

2.4. Avaliação da qualidade da água........................................................... ..31

2.4.1. Parâmetros bacteriológicos de qualidade da água.....................

.

..35

2.4.2. Parâmetros físico-químicos de qualidade da água..................... ..26

3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ ..46

3.1. Caracterização da área de estudo........................................................ ..48

xi

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xii

3.1.1.Escolha das áreas amostradas .........................................................

3.2. Análise do perfil dos usuários de água na microbacia do Candidópolis

e sua relação com o meio ambiente.............................................................

..48

..52

3.3. Coleta e análises físicas, químicas e biológicas das amostras de

água....................................................................................................

..53

3.4. Análise de dados................................................................................. ..54

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... ..55

4.1. Perfil dos usuários de água da microbacia do Candidópolis...................55

4.1.1. Setor industrial...............................................................................55

4.1.2. População residente na microbacia do Candidópolis....................57

4.1. Avaliação das propriedades físico-químicas e microbiológicas da

água.......................................................................................................

..61

4.2.1. Condições de eutrofização.......................................................... ..64

4.2.2. Condições de suporte biológico.....................................................64

4.2.3. Indicadores microbiológicos........................................................ ..66

4.2.4. Características físicas....................................................................69

4.2.5. Indicador de decomposição da matéria orgânica........................ ..71

4.2.6. Metais pesados.......................................................................... ..73

5 CONCLUSÃO............................................................................................ ..78

6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.............................................................. ..80

ANEXO 1................................................................................................... ..87

ANEXO 2................................................................................................... ..88

ANEXO 3................................................................................................... ..89

ANEXO 4................................................................................................... ..90

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1 INTRODUÇÃO

Os problemas relativos à gestão de recursos hídricos ultrapassam os

limites do interesse estrito das companhias de abastecimento de água e de

especialistas no assunto, na medida em que a escassez de água emerge como

uma das questões socioeconômicas e ambientais mais graves do novo milênio

(Noronha, 2001). O desgaste imposto pelas atividades humanas sobre os

recursos hídricos vem causando a deterioração de sua qualidade e escassez.

A descarga de poluentes tem sido uma das causas do agravamento da falta de

água potável. Essas descargas têm nos recursos hídricos os grandes

receptores de vários tipos de substâncias como esgoto urbano e metais

pesados a exemplo de cádmio, chumbo, cromo, dentre outros elementos

químicos, que acabam por afetar a saúde dos que utilizam a água sem um

tratamento adequado.

A qualidade das águas de uma microbacia está diretamente relacionada

às características de uso e ocupação do solo, assim como à disponibilidade de

infra-estrutura sanitária e seu nível de eficiência operacional. Alterações do uso

do solo podem resultar em impactos significativos sobre a qualidade ambiental.

O processo de ocupação do território, determinado por condicionantes naturais

e sociais e as suas conseqüências sobre os sistemas ecológicos produzem

efeitos na paisagem, razão pela qual é de fundamental importância que seja

compreendido para que possam ser oferecidas alternativas para a presente

geração sem comprometer as futuras, e enfocando a sustentabilidade.

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O uso e a ocupação do solo para fins de atividades econômicas

(industrial, agrícola, entre outras) também podem afetar a qualidade das águas.

Segundo Branco (1993), as descargas de efluentes industriais e de esgotos

urbanos, sem tratamento, são considerados uns dos maiores problemas

relacionados com a poluição hídrica. Phillipi Junior (1999), enfatiza a questão

do combate das doenças relacionadas aos recursos hídricos, já que estas

causam um terço de todas as mortes nos países em desenvolvimento.

Para Philippi Júnior (1999), a qualidade ambiental das cidades no Brasil é

marcada por eventos de poluição hídrica, que evidenciam a incapacidade de

enfrentamento da problemática do uso e ocupação do solo, além da falta de

saneamento. O autor destaca a necessidade de garantir suprimentos

adequados de água de boa qualidade para toda a população e que as

atividades humanas necessitam de adaptações aos limites da capacidade da

natureza de absorver seu impacto. Por outro lado, para Galindo e Furtado

(2005), houve um crescimento da preocupação mundial em torno da gestão

adequada dos recursos hídricos, pelo fato de a água constituir-se em um bem

fundamental para a continuidade da vida e por estar escassa em praticamente

todas as regiões do planeta.

A preocupação com a qualidade da água já era uma questão de interesse

para a saúde pública desde o final do século 19 e início do século 20 (Galindo,

2005). Anteriormente, a qualidade da água era avaliada, essencialmente, por

meio das características organolépticas que deveria apresentar: cor límpida,

gosto agradável ao paladar e não apresentar cheiro desagradável (BOM,

2002).

No início do século XXI, a preocupação com a degradação ambiental e a

conseqüente escassez e deterioração dos recursos hídricos passaram a

representar juntamente com a qualidade da água, um sério problema de saúde

pública (Moraes e Jordão, 2002).

A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei das Águas no

9.433 de 8 de janeiro de 1977, configurou-se como importante marco para o

exercício da gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos

(Brasil, 2004b). Com a aprovação desta Lei, que complementou o Código de

Águas de 1934, foram estipulados mecanismos que possibilitaram tornar a

água um recurso natural disponível em quantidade e qualidade nos seus

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múltiplos e variados usos pela sociedade, sendo considerada um bem de

interesse público, finito e vulnerável, devendo ser preservada para as futuras

gerações (Assis, 1998).

A microbacia hidrográfica do Candidópolis está localizada integralmente

no município de Itabira na região do Centro Leste mineiro. A microbacia é o

manancial mais próximo do centro de consumo de água na área urbana de

Itabira, sendo de grande importância para o abastecimento de,

aproximadamente 55% da população urbana. De acordo com o IBGE (2007), o

município de Itabira possui uma população de aproximadamente 105.000

habitantes.

Um dos principais sistemas naturais da região de Itabira, a microbacia do

Candidópolis, tem um histórico de uso e ocupação marcado pela extensa

remoção da cobertura florestal nativa para implantação de atividades

agropecuárias, crescimento urbano e instalação de indústrias. Torna-se

necessária a articulação entre as diversas entidades gestoras e intervenientes

no processo de uso e ocupação do espaço físico. A descarga de efluentes

domésticos e industriais nos cursos d’água pode levar à alteração de aspectos

físicos, químicos e microbiológicos. Segundo Tucci (2000), a ação do homem

no planejamento e desenvolvimento da ocupação do espaço requer visão

sobre a necessidade da população, os recursos disponíveis e o comportamento

dos processos naturais.

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O presente trabalho tem por objetivo avaliar a relação entre a qualidade

da água e o uso e ocupação dos solos da microbacia do Candidópolis. Como

objetivos específicos, têm-se:

- Caracterizar os diferentes usuários de água da microbacia e avaliar sua

percepção com relação aos recursos hídricos. - Avaliar a qualidade físico-química e microbiológica dos principais cursos

d’água da microbacia. - Relacionar a qualidade da água da microbacia Candidópolis com o uso e

ocupação do solo.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Bacia hidrográfica

Segundo Guerra (2001), bacia hidrográfica pode ser conceituada como

um sistema terrestre e aquático geograficamente definido e composto por

sistemas físicos, biológicos e sociais. Ainda de acordo com Guerra (2001), a

hidrografia pode ser entendida como “o conjunto de toda drenagem de uma

dada região, formada por ribeirões e riachos e que reúne a água colhida por

eles em um determinado corpo d’água’’. Por outro lado, Tucci (2000) apresenta

um conceito mais restrito de bacia hidrográfica como sendo uma seção de um

rio, sendo essa seção definida pela topografia em que a chuva contribui com o

escoamento pela secção que a define.

A bacia hidrográfica integra o conjunto de corpos d’água e uma

diversidade de ambientes físicos, sócioeconômicos e culturais, onde se

desenvolve diferentes atividades, as quais interferem na vegetação, solo, na

biodiversidade e na qualidade das águas.

A bacia hidrográfica pode ser avaliada como um todo ou quanto a um

sistema em particular, como um reservatório. No primeiro caso, existe a

necessidade do conhecimento da disponibilidade de recursos a fim de atender

a demanda e conservar o meio. Já no segundo caso, tem visão de detalhe,

envolve a utilização hídrica e sua operação (Tucci, 2000).

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Apesar da definição de bacia hidrográfica proposta por Guerra (2001)

contemplar aspectos físicos, biológicos e sociais, o conceito dado por Barrella

(2001), dá uma visão mais ampla do aspecto físico, pois define bacia

hidrográfica como um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes,

formados nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde as

águas das chuvas escoam superficialmente formando os riachos e rios, ou

infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático. As águas

superficiais escoam para as partes mais baixas do terreno, formando riachos e

rios. Os riachos que brotam em terrenos íngremes das serras e montanhas

formam as cabeceiras e à medida que as águas descem, juntam-se a outros

riachos, aumentando o volume e formando os primeiros rios, esses pequenos

rios continuam seus trajetos recebendo água de outros tributários, formando

rios maiores até desembocarem no oceano.

Geralmente, a demanda urbana pode ser atendida por pequenas bacias.

As cidades que utilizam intensamente a água como fonte de vida e

desenvolvimento, devem ter um plano de controle e procurar preservar os

mananciais (Beneti e Bidone, 2000). Para estes autores os recursos hídricos

são bens de relevante valor para promover o bem estar da população,

destacando a água como um bem de consumo final nas atividades.

A divisão adotada pela Secretaria Nacional de Recursos Hídricos (SNRH)

do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal estabelece oito grandes

bacias hidrográficas no Brasil: Amazonas, Tocantins, Atlântico Sul (subdivida

em três trechos: Norte e Nordeste, Sudeste e Leste), São Francisco, Paraná e

Paraguai (Tucci, et al., 2001).

2.2. Usos e impactos em uma bacia hidrográfica

O século XXI se inicia com problemas ambientais, a exemplo da

disposição inadequada de resíduos sólidos, devastação das florestas,

degradação dos solos, contaminação da água, que afetam a vida de milhões

de pessoas. A escassez de água apresenta destaque especial, já que se

coloca como ameaça imediata e é fundamental para a manutenção da vida.

O uso dos recursos hídricos, segundo Tucci (2000), tem se intensificado

com o desenvolvimento econômico, tanto no aumento da demanda para uso

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quanto na variedade de utilização. Assim sendo, a utilização e posse dos

recursos hídricos vêm sendo motivo de controvérsias, despontando como o

grande tema de debate do século XXI, principalmente, pelo aumento de

consumo da água e deteriorização dos mananciais.

As fontes disponíveis de água, nas quais a população pode ser

abastecida, devem possuir quantidade e qualidade adequada ao seu uso. O

desenvolvimento urbano envolve, necessariamente, o aumento da demanda de

consumo de água que se não for planejado pode comprometer os recursos

hídricos, com problemas relacionados à degradação do solo e contaminação

causada pelos lançamentos de resíduos de várias origens (agrícola, industrial e

residencial). Essa realidade exige maior atenção por parte do governo e da

sociedade para o estabelecimento de estratégias de gestão, de forma a reduzir

riscos de conflito pelo uso da água. Santos e Ruffino (2003), destacam o

estudo de bacias hidrográficas como uma estratégia para a educação

ambiental. Tomando por base a importância dos recursos hídricos, a utilização

múltipla da água requer um adequado gerenciamento e condições apropriadas

de saneamento, já que a poluição das águas restringe seu uso. É neste

contexto que será avaliada a situação da utilização dos recursos naturais na

microbacia do Candidópolis.

Em se tratando de atividades em uma bacia hodrográfica, um dos

principais conflitos existentes relaciona-se com a imposição de idéias,

condutas, ações e práticas de modo geral quanto ao uso da água. Moldam e

Cermy (1994), citado por Lima e Zakia (2000b), destacam que o conflito pelo

uso da água resulta das atividades materiais, das relações de produção, enfim,

da prática social. Assim sendo, os conflitos podem surgir como conseqüência

do gerenciamento da demanda de água, em vista das necessidades de

mudanças de hábitos de consumo. Para Vieira et al., (2006), os principais

motivos que levam aos conflitos existentes em uma bacia hidrográfica são:

1) Desconsideração das características de cada região para a

implementação dos processos de gestão das águas;

2) Participação ainda muito pequena da sociedade na gestão dos

recursos hídricos e no cumprimento das leis ambientais;

3) Necessidade de melhor estruturação dos órgãos ambientais para

cooperação e cumprimento de suas funções, como a fiscalização;

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4) Poucos investimentos voltados à prevenção da poluição da água, como

sistemas de tratamento e esgotamento sanitário e programas de educação

ambiental;

5) Ausência de monitoramento da qualidade das águas subterrâneas e de

seus processos de exploração, fundamentais para o abastecimento de água,

principalmente no semi-árido;

6) Degradação dos ecossistemas aquáticos e obras que alteraram os

ciclos hidrológicos;

7) Disposição inadequada dos resíduos sólidos, provocando a

contaminação do solo e da água;

8) Enchentes periódicas nos centros urbanos, agravadas pelo

crescimento desordenado, ocupação de áreas de alto risco ambiental, como

encostas de morros, várzeas e áreas de mananciais;

9) Agricultura mal planejada, com o uso abusivo de agrotóxicos,

resultando na contaminação e desmatamento das bacias hidrográficas,

processos erosivos, no empobrecimento do solo e redução das reservas de

água do solo;

10) Inexistência de práticas efetivas de gestão integrada dos múltiplos

usos dos recursos hídricos.

2.2.1. Pastagens, agricultura e queimada.

Segundo Lanna (2000), os usos de água na agricultura e pecuária

ocorrem em estabelecimentos, muitas vezes, sem nenhum sistema de

tratamento.

A busca constante de aumento da produção agrícola tem levado os

agricultores a utilizarem fertilizantes e agrotóxicos de forma exagerada e sem

critério. Esses produtos podem gerar problemas na qualidade da água,

afetando negativamente a saúde humana, rios e lagos localizados próximos a

áreas onde se desenvolvem culturas agrícolas. Em muitas regiões, na busca

de novas áreas de plantio, as matas ciliares são invadidas comprometendo os

corpos d’água da região. A irrigação também representa um grande impacto

causado pela agricultura, pois além de consumir muita água, altera

significativamente o seu ciclo, considerando que a retirada ocorre numa

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velocidade muito maior que a reposição natural pode prover (Telles, 1999).

Segundo Vieira et al., (2006), no Brasil, os maiores desperdícios de água vêm

da fruticultura, do cultivo de grãos irrigados e da pecuária de corte. A Tabela 1

apresenta quanto se consome de água para produzir alguns produtos.

TABELA 1: Consumo médio de água para a produção de uma unidade de alguns produtos

Produto Produção por

Unidade

Consumo médio de água (L)

Açúcar Kg 100 Gasolina L 10

Papel Kg 250 Alumínio Kg 100.000

Carne Kg 15.000 Frango Kg 6.000 Cereais Kg 1.500

Frutas cítricas Kg 1.000 Raízes e tubérculos Kg 1.000

Fonte: Adaptado de Vieira, et al. (2006).

Segundo Telles (1999), o gado bovino absorve cerca de 93% do total de

água de dessedentação de animais do Brasil, e a região Centro-Oeste é

responsável por um terço do total. Na Tabela 2, são apresentados as

quantidades demandadas por água para dessedentação do rebanho nas

bacias hidrográficas brasileiras.

TABELA 2: Consumo de água para dessedentação animal nas bacias hidrográficas brasileira em (106 m3 ano¯ ¹ )

Bacia Dessedentação Amazonas 225,8 Tocantins 211,3

Atlântico N/NE 277,2 São Francisco 220,5 Atlântico Leste 13,3 Atlântico Sul 204,9

Paraná 1.379,2 Paraguai 325,2 Uruguai 282,0

Fonte: Adaptado de /FGV (1998).

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Observa-se que a maior demanda ocorre na bacia do rio Paraná, seguida

pela bacia do rio Paraguai, que englobam boa parte da região Centro-Oeste,

com área de rebanho importante também em Minas Gerais e São Paulo (Tucci

et al., 2001).

No que diz respeito à agricultura, a irrigação no Brasil se desenvolve a

partir de diferentes modelos de exploração. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-

Oeste predominam a irrigação privada com ênfase no arroz irrigado (no Rio

Grande do Sul) e em cereais (no Sudeste). Já no Nordeste do Brasil, existe

maior investimento em empreendimentos públicos, com objetivo de promover o

desenvolvimento regional. Investimento em culturas tradicionais, como feijão e

milho, não apresentaram resultado econômico, o que levou ao

desenvolvimento de projetos voltados para a fruticultura irrigada, que assegura

maior valor agregado ao produto com maior rentabilidade econômica. Esse

processo alterou as características da demanda hídrica tanto na demanda

sazonal quanto no seu total anual. (Tucci et al., 2001). Segundo Hirata (2001), o uso de irrigação em pequenas e grandes

propriedades visa garantir a regularização no suprimento de água a culturas

agrícolas em épocas de seca. Carrera e Garrido (2002), entendem o processo

de irrigação como redutor das incertezas prevenindo contra a irregularidade

das chuvas. Para os autores a agricultura irrigada pode intensificar a produção

agrícola.

As atividades agrícolas e pastoris são responsáveis pela transformação

da paisagem, a começar pela substituição da cobertura vegetal nativa por

espécies exóticas. A falta de informação leva proprietários rurais a uma prática

de agricultura de baixa produtividade e uso rotineiro de fogo (Cristofoletti,

1998).

Em muitas regiões, a prática da queimada é usada tradicionalmente como

uma alternativa para limpeza de pastos e aberturas de novas áreas para

agricultura e pecuária. Para Guerra (2001), a queimada é uma prática

prejudicial ao solo, com sérios prejuízos a longo prazo, reduzindo a atividade

dos microorganismos e pequenos animais que vivem no solo promovendo a

perda de matéria orgânica e fertilidade dos solos.

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A pecuária também exerce forte pressão em relação ao uso dos recursos

hídricos. Carrera e Garrido (2002), mencionam a alta demanda por água para a

dessedentação de animais.

2.2.2. Desmatamento, mata ciliar e assoreamento

A vegetação tem importância fundamental na distribuição de água no

planeta, atuando no regime das chuvas, na umidade do solo, na

evapotranspiração, no volume dos rios e vazão final. Ao cair a chuva em uma

região arborizada, esta escoa lateralmente pelos troncos e folhas das árvores e

alcança o solo de forma suavizada, diminuindo o impacto da gota ao cair no

chão. Uma parte desta água é evaporada ou absorvida antes de chegar ao

solo. Além desses fatores, a vegetação também abastece o solo de matéria

orgânica, produz oxigênio, absorve gás carbônico, amortece o impacto das

águas de chuva sobre o solo e reduz o escoamento superficial. Entretanto, na

busca de uma alternativa de sobrevivência, o homem vem derrubando as

floresta e matas ciliares, expandindo áreas de pastagem e criando uma

paisagem extensa, com baixa biodiversidade.

Segundo Vieira et al., (2006, p:36):

“A transpiração das plantas ajuda a controlar a circulação de quase metade de toda a chuva que cai sobre a terra. A camada orgânica da superfície do solo que funciona como uma esponja retém a outra parte da água e isso contribui para que ela mantenha a sua umidade. Assim, a água superficial que será levada para os rios é lançada aos poucos, evitando as enchentes durante as estações úmidas. Durante as secas, a água armazenada será fornecida ao meio ambiente através do seu fluxo natural. A capacidade das plantas de reter água e de restituí-la à atmosfera condiciona o regime hídrico em escala regional e global”.

Portanto ao se retirar a cobertura vegetal de uma área, o solo fica

desprotegido. A capacidade do terreno de reter a água da chuva é reduzida e

esta passa a escorrer com maior velocidade, arrastando a camada superficial

do solo. Dessa forma inicia-se um processo de erosão e de perda da fertilidade

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do solo, os materiais arrastados com a água vão se acumulando no fundo de

rios, lagos e fontes, deixando o leito do rio cada vez mais raso, o que se

denomina assoreamento.

Para Guerra (2001), o desmatamento no Brasil é quase sempre feito de

forma ilegal, em áreas de preservação permanente, como topos de morro,

encosta com inclinação maior que 45° e nas margens de cursos d’água,

ocasionando a erosão e a perda da fertilidade do solo, bem como

assoreamento dos rios. Cabe ressaltar que as conseqüências do

desmatamento sobre os recursos têm repercutido na qualidade da vida da

população, pois afetam o equilíbrio do meio ambiente.

No que diz respeito à mata ciliar, Ab’Saber (2001), define as florestas

ciliares como sendo todas as vegetações arbóreas vinculadas á beira dos rios,

conceito que se confunde com matas beiraduras ou beira-rios, tratando da

vegetação florestal às margens de cursos d’água. Dentro desse conceito,

essas formações apresentam imensas variações em sua composição, estrutura

e dinâmica, mais relacionadas com características da área como relevo, local,

largura da faixa ciliar.

Segundo Vieira et al., (2006, p:16):

“Assim como os cílios protegem os olhos, a mata ciliar protege as nascentes, córregos e rios. O termo Mata Ciliar significa qualquer formação florestal na margem de cursos d’água. As matas ciliares foram reduzidas drasticamente e, quando presentes, normalmente são vestígios”.

Segundo o Código Florestal (Lei no 4.771 de 15 de setembro de 1965), é

obrigatória a conservação de pelo menos 30 m de mata para cursos d’água

com até 10 m de largura. A importância de se preservar as matas ciliares deve-

se ao fato de contribuírem para: o escoamento das águas da chuva; diminuição

do pico dos períodos de cheia; estabilidade das margens e barrancos de

cursos d’água; ciclo de nutrientes existentes na água, entre outros (Brasil,

1965).

Bren (1993), citado por Lima e Zakia (2000a), aponta os diferentes

interesses de uso relacionados às matas ciliares: para o pecuarista apresenta-

se como obstáculo ao livre acesso do gado à água e como produção florestal

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de valor comercial; para o abastecimento de água representam zonas de

proteção dos recursos hídricos e, portanto, a recuperação dessa vegetação

contribui com aumento da capacidade de armazenamento de água e,

conseqüentemente para regularizar a vazão no período de seca. Neste sentido

nota-se um conflito de uso onde a exploração econômica se contrapõe à

questão da preservação dos recursos naturais.

Segundo Vieira et al. (2006), no Brasil, devido ao planejamento agrícola

inadequado aliada à prática de monocultura extensiva, queimadas e

desmatamentos, ocorre a perda de toneladas de solos férteis por ano,

acarretando também na perda qualitativa e quantitativa da água, uma vez que

a erosão carrega os sedimentos, causando o assoreamento dos cursos d´água.

2.2.3 Uso da água no contexto da urbanização

A demanda da água para consumo humano está relacionada com as

atividades domésticas que exigem fornecimento em quantidade e qualidade

adequadas para o abastecimento domiciliar. Nas antigas civilizações, a água

exerceu um papel fundamental na aglutinação e organização da vida social. As

cidades eram organizadas, de modo geral, em áreas próximas aos mananciais

onde, a partir deles, se desenvolviam técnicas de irrigação, canalizações

superficiais e subterrâneas, construção de diques e outras obras relevantes

para a economia de sobrevivência. As águas eram conduzidas dos mananciais

até as metrópoles imperiais por meio de canais de alvenaria ou de madeira

(Pontes, 2003).

Durante a fase inicial da colonização do Brasil, os colonizadores além de

utilizarem os rios para atividades domésticas, fizeram deles verdadeiras trilhas

de orientação. O acesso ao interior do país foi facilitado pela navegação,

permitido a fixação de moradias em novas áreas. O povoamento no Nordeste

foi se dando ao longo de rios e córregos com o aproveitamento das águas para

a produção de cana e açúcar para exportação. Na região sudeste, mais

precisamente no Estado de Minas Gerais, o Regimento das Águas concedia

aos garimpeiros o uso das águas para trabalhar na mineração. As lavouras de

café e pastos verdejantes para a criação do gado leiteiro, no interior de São

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Paulo e no Vale do Paraíba, garantiam boas safras com as águas da Mata

Atlântica (Vieira et al., 2006).

Desde o início da urbanização, o Brasil foi se desenvolvendo, construindo

vilas, povoados e cidades, geralmente, construídas em áreas com os fundos

das casas voltados aos rios, despejando neles lixo e esgoto. Posteriormente,

as necessidades básicas passaram a ganhar outras proporções. A água

tornou-se via de transporte, força motriz de moinhos e energia e, portanto, uma

grande ferramenta econômica para a urbanização e a industrialização. Porém,

nesse mesmo caminho do progresso foram brotando as raízes da degradação

ambiental do Brasil.

No final da Idade Média, o surgimento de atividades econômicas pré-

industriais, como a tecelagem, moagem de grãos, tinturaria e curtume, fez com

que a água passasse a exercer papel fundamental para o desenvolvimento

econômico. Posteriormente, com a revolução industrial, a água passou a ser

utilizada em novas técnicas de engenharia hidráulica permitindo o fornecimento

de água para consumo humano e para atividades econômicas, propiciando um

rápido crescimento de aglomerações humanas. Nessa época, a tubulação de

ferro fundido e a utilização da máquina a vapor no acionamento das bombas

hidráulicas começam a ser empregadas em sistemas de distribuição de água.

Essa nova tecnologia permitiu a captação de água em mananciais próximos

aos centros urbanos (Lima, citado por Pontes, 2003).

Carrera e Garrido (2002), cita a prioridade da água para abastecimento

humano sobre qualquer tipo de uso. O abastecimento humano é considerado

pela Lei das Águas no 9.433, de 8 de Janeiro de 1997 que institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos como prioritário, adicionalmente como uso

prioritário em situação de escassez, a dessedentação de animais. (Brasil,1997)

Segundo Braga e Carvalho (2003), o parcelamento indiscriminado do solo

nas periferias urbanas é uma das principais fontes de problemas ambientais

das cidades. O autor acredita que de todas as indústrias urbanas poluentes, a

“indústria do lote” talvez seja a mais perniciosa de todas, pois, além de ser de

fácil disseminação, a demanda por seu produto é virtualmente inesgotável e

seus efeitos são dificilmente reversíveis.

A partir da segunda metade da década de 90, começaram a surgir outros

empreendimentos imobiliários na área da microbacia do Candidópolis, como o

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chacreamento Retiro da Serra e o chacreamento realizado pela VALE que

colocou algumas de suas áreas preservadas em leilão imobiliário. Segundo o

coordenador do projeto Mãe d’água, Itabira 2007, em 2006 ocorreu outro

chacreamento no córrego Vista Alegre, constando ainda o Parque de

Exposições Agropecuária e Industrial. Os problemas ambientais associados

aos loteamentos colocam a questão dos recursos hídricos no centro do debate

atual sobre a qualidade de vida urbana.

Observou-se que o processo de urbanização da microbacia do

Candidópolis está modificando todos os elementos da paisagem: o solo, a

geomorfologia, a vegetação, a fauna, a hidrografia, até mesmo o ar. Desse

modo, a urbanização cria, não só novas paisagens, mas novos ecossistemas.

Para Vieira et al., (2006), a urbanização traz uma série de efeitos em cascata,

ocasionam o aumento da demanda por impermeabilização do solo; o despejo

ilegal e acúmulo de lixo e efluentes domésticos nos córregos, causando mau

cheiro e problemas de saúde pública; a modificação da forma dos rios para

perderem suas curvas e ganharem a forma reta que vemos hoje, geralmente

com ruas ou avenidas marginais, para facilitar o transporte, e o colapso das

frágeis estruturas de saneamento e fornecimento de água de boa qualidade.

Para esconder ou tampar os córregos que viraram canais de esgoto a céu

aberto, alguns cursos d’água foram canalizados, modificando o seu fluxo e o

entorno. A impermeabilização do solo com camada artificial, como o asfalto,

reduz a capacidade de infiltração da água. Em ambos os casos, tem-se no final

um aumento da quantidade e da velocidade do escoamento da água das

chuvas. Agravado pelo lixo que impede o escoamento das águas nos bueiros,

as águas chegam com maior rapidez às calhas dos rios e como resultado, as

freqüentes enchentes.

2.2.4 Uso da água no contexto industrial

A água é de grande importância para as indústrias que a utilizam para

diferentes propósitos seja como a matéria prima, metais pesados, solvente,

veículo de despejos de efluentes ou mesmo como agente de limpeza. As

demandas industriais para a água evoluem com o grau de desenvolvimento no

setor.

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Os metais pesados diferem do outros agentes tóxicos porque não são

sintetizados nem destruídos pelo homem. Sua presença, muitas vezes, está

associada à localização geográfica, na água ou no solo, e pode ser controlada

limitando-se o uso de produtos agrícolas e eliminando-os dos efluentes líquidos

de despejos industriais. Todas as formas de vida são afetadas pelos metais,

dependendo da dose e da forma química. Alguns metais são essenciais para o

crescimento dos organismos, das bactérias ao ser humano, mas sempre em

baixas concentrações (mg L-1), em concentrações elevadas podem danificar os

sistemas biológicos. Segundo Vieira et al., (2006), muitas indústrias têm se comprometido com

a qualidade de água antes de despejarem seus afluentes nos rios, em parte

devido à consciência de que a água é um recurso limitado e uma das principais

matérias-primas na produção industrial, e em parte devido à legislação

ambiental mais rígida e mais aplicada. Entretanto, ainda existem várias

indústrias que se esquecem da importância dos cuidados com a água, sendo

responsáveis por acidentes ou lançando diretamente poluentes nos ambientes

aquáticos. Exemplos desse descaso para com a qualidade da água são os

vazamentos de óleos, lançamentos de metais pesados, etc. Em 2003 o rio

Paraíba do Sul foi vítima da contaminação por resíduos tóxicos de uma

indústria de papel localizada em Minas Gerais e várias cidades do Estado do

Rio de Janeiro ficaram sem água, além dos pescadores, da região atingida

terem suas atividades prejudicadas pela contaminação dos peixes (Gonçalves,

2003). No que se refere á atividade industrial, Hirata (2001), reconhece a

contaminação dos aqüíferos pelas atividades industriais quando seus efluentes

sólidos e líquidos são incorretamente depositados, e destaca a contaminação

do solo até mesmo pelo armazenamento de matérias primas.

Vale ressaltar que 43 indústrias do município de Itabira estão localizadas

nos distritos industriais, concentrados a montante dos mananciais do

Candidópolis. As atividades industriais implicam em consumo de água e

lançamento de efluentes.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Itabira, procurando maneiras

factíveis de reduzir os impactos derivados das atividades industriais

(correspondentes à indústria metalúrgica, mecânica, alimentícia, madeireira

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entre outras), na década de 80, adotou como estratégia, o lançamento dos

efluentes no emissário de esgoto encontrado após a estação de tratamento,

diminuindo a contaminação da água captada para tratamento. A totalidade da

água captada nos distritos para abastecimento público é efetuada pelo SAAE

de Itabira.

2.3. Gestão integrada em bacias hidrográficas

Durante anos, o ser humano considerou a água como um recurso

inesgotável, e a utilizou de forma insustentável e predatória. Galindo e Furtado

(2005), evidencia a crise da água como um problema de gerenciamento, um

caso de alocação e de distribuição, e não simples problema de suprimento.

Neste contexto, os problemas relacionados ao uso da água evidenciam a

necessidade de articulação interinstitucional para a adoção de uma política de

gestão integrada de recursos hídricos. Os autores acreditam que nos últimos

anos, o desafio da gestão dos recursos hídricos relacionados à conservação,

aproveitamento racional e a garantia dos usos múltiplos dos recursos hídricos

têm sido objeto central de preocupação de administradores públicos,

pesquisadores, entidades da sociedade civil e movimentos sociais. O artigo 9

da Declaração Universal dos Direitos da Água nos diz que “a gestão da água

impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de

ordem econômica, sanitária e social”. (Ambiente Brasil, 2009)

Para Galindo e Furtado (2005), a questão da água vem se destacando no

debate sobre as grandes questões de interesse mundial, tornando-se um tema

constante nos meios acadêmicos, científicos e técnicos e no meio político,

sendo o tema principal de diversas conferências e fóruns mundiais. Os autores

destacam a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (CNUMAD), ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro, que

aprovou o documento denominado “Agenda 21”, sendo este um instrumento

legal que contribui para mobilizar as populações em torno de mudanças que

visem a sustentabilidade do planeta e favorecendo a evolução das práticas de

gestão.

Vários órgãos nacionais e internacionais vêm discutindo a problemática

da água e formulando pressupostos baseados na conservação integrada e

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sustentabilidade ambiental para nortear as diversas práticas de gestão. Apesar

disso observa-se que existem dificuldades em definir de forma planejada as

ações gerenciais no sentido de garantir para as atuais e futuras gerações a

disponibilidade dos recursos hídricos. A escassez de água tem sido realmente

uma preocupação em escala global, pois o crescimento explosivo da população

humana demanda um crescimento por água (Silva, 2007).

Para Fleischfresser (1999), o Brasil tem demonstrando preocupação com

a questão dos recursos hídricos pois vem adotando medidas voltadas para o

gerenciamento, como forma de racionalização do uso da água e solução de

problemas de escassez, considerando, tanto a questão da quantidade quanto

da qualidade. Enfatiza que a degradação ambiental, devido ao mau uso dos

recursos hídricos naturais, é um dos principais temas para os formuladores de

políticas públicas. Afirma ainda que o manejo integrado em microbacias está

sendo difundido em nível internacional, e que no Brasil vários governos

estaduais vem realizando contratos de empréstimos com o Banco Internacional

para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), a fim de implementar

programas que conciliem conservação ambiental com aumento da produção

agropecuária.

Silva (2007), destaca que a partir de 1990 houve uma ampliação do papel

das esferas públicas locais em relação à gestão desses recursos hídricos.

Nesse sentido, enfatiza que os problemas de escassez nem sempre serão

solucionados pela ampliação da oferta de água, mas por um conjunto de

medidas criteriosas para seu uso. Destaca a outorga de direito de uso da água,

um instrumento de regulação do sistema de gestão dos recursos hídricos, que

poderia ser utilizado para uma melhor compatibilização entre os usos da água,

proporcionando maior racionalidade na forma de sua utilização e distribuição

de seu usuário nas bacias hidrográficas. Daí a importância da outorga da água,

que garante o uso do recurso hídrico desde que sejam respeitadas as leis

(federais estaduais e municipais).

No que se refere aos diferentes usos da água, predomina hoje, no Brasil,

o princípio de “bem coletivo”. A Constituição de 1988 estabelece que,

praticamente, todas as águas são públicas, sendo que, em função da

localização do manancial, elas são consideradas bens de domínio da União ou

dos estados. Deixam de existir, desse modo, as águas comuns, municipais e

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particulares, cuja existência era prevista no Código de Águas de 1934 (Brasil

2004b).

A Lei das Águas de 1934 marcou a gestão de recursos hídricos no Brasil.

Apesar de alguns princípios estarem estabelecidos desde então, muitos de

seus dispositivos só foram regulamentados pela Constituição Federal de 1988.

A Lei nº. 9.433/97, promulgada em 08 de janeiro de 1997, regulamenta o inciso

XIX do art. 21 da Constituição Federal, instituindo a Política Nacional de

Recursos Hídricos (PNRH). Essa política se fundamenta na água como um

bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor

econômico. A Bacia Hidrográfica é a unidade territorial para implementação da

Política Nacional de Recursos Hídricos, e a sua gestão deve sempre

proporcionar o uso múltiplo, ser descentralizada e contar com a participação do

poder público, dos usuários e da comunidade. Contudo, apesar de todos os

avanços alcançados, ainda verifica-se a necessidade de se desenvolverem

ações mais concretas que de fato garantam uma gestão eficiente, eficaz e

efetiva dos recursos hídricos, o que passa necessariamente pela gestão do

lugar, de modo a garantir a sustentabilidade ambiental (Brasil, 2004b). Uma

gestão integrada deve levar em conta todos os tipos de uso do recurso, quem

será beneficiado e em que quantidade e qualidade a água será utilizada.

2.4. Avaliação da qualidade da água

Segundo Tucci et al. (2001), a qualidade das águas depende das

condições geológicas e geomorfológicas e de cobertura vegetal da bacia de

drenagem, do comportamento dos ecossistemas terrestres e de águas doces e

das ações do homem. Entretanto, as ações do homem que mais podem

influenciar a qualidade da água são: (a) lançamento de cargas nos sistemas

hídricos; (b) alteração do uso do solo rural e urbano; (c) modificações no

sistema fluvial.

A grande maioria dos rios que atravessam as cidades brasileiras não

apresenta qualidade dentro dos padrões de consumo, sendo esse o maior

problema ambiental do Brasil. Isto se deve porque a maioria das cidades

brasileiras não possui coleta e tratamento de esgotos domésticos, jogando in

natura o esgoto nos rios. Em alguns casos existe rede coletora, porém não há

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estação de tratamento de esgotos, fato este que agrava ainda mais as

condições do curso d’água, pois se concentra a carga em uma seção. Por outro

lado, a depuração dos esgotos industriais tem-se processado de forma mais

sistemática no país, já que os programas de controle de efluentes industriais

nas entidades de controle ambiental dispõem de instrumentos para

pressionarem as empresas no sentido de adotarem sistemas de tratamento de

seus efluentes (Tucci et al., 2001).

Grande parte das cidades brasileiras convive com a poluição causada

pelos esgotos pluviais, além do esgoto cloacal que ainda é o problema maior.

Porém, durante uma cheia urbana, a carga poluente do pluvial pode chegar até

a 80% da carga do esgoto doméstico. As águas que entram em contato com o

lixo, em conjunto com sedimentos e a lavagem das ruas, exige procedimentos

de controle para se evitar que, no início do período chuvoso, estas águas

deteriorem a qualidade dos cursos d’água (Tucci et al., 2001).

As principais cargas poluidoras dos afluentes podem ser pontuais ou

difusas. As cargas pontuais se devem a efluentes da indústria, esgoto cloacal e

pluvial. Já as cargas difusas se devem ao escoamento rural e urbano,

distribuídos ao longo das bacias hidrográficas. Essas cargas poluidoras podem

ser de origem orgânica ou inorgânica. As orgânicas têm origem nos restos e

dejetos humanos e animais, na matéria orgânica vegetal e no uso de

pesticidas. Já as inorgânicas têm origem nas atividades humanas, nos

efluentes industriais e na lavagem pelo escoamento de superfícies

contaminadas, como áreas urbanas (Mendes, 1994).

Segundo Tucci et al. (2001), a região Sudeste contribui com 43% da

carga poluidora total seguida da região Sul com 23%, sendo que o setor com

maior carga poluidora é a pecuária com 35%. Afirmam ainda que, das cargas

orgânicas pontuais, 47% foram removidas, sendo que a indústria contribui com

a maior parte da redução (73%), enquanto que os esgotos urbanos

contribuíram apenas com 15% de redução. Com relação à contribuição por

substâncias inorgânicas, os autores dizem que existem poucas informações.

No entanto, pesticidas provenientes da agricultura e metais associados ao

escoamento urbano são conhecidas fontes de poluição hídrica. Quanto à

produção de cargas de metais pesados da indústria, Mendes (1994) quantificou

que o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, na região Sudeste,

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contribuem com aproximadamente 81% da carga potencial e 75% da carga

remanescente, afluente aos cursos d’águas.

Na década de 1970, o Decreto Federal no 79.367 de 9 de março de 1977,

estabeleceu a competência sobre a definição do padrão de potabilidade da

água para consumo humano, o Brasil inicia a normatização da qualidade da

água para consumo humano a ser observado em todo território nacional (Brasil,

1977a). Normas e padrão de potabilidade da água para fins de consumo

humano foram aprovadas pela Portaria no 56, publicada em 14 de março de

1977, constituindo-se a primeira legislação federal sobre potabilidade de água

para consumo humano editada pelo Ministério da Saúde (Brasil, 1977b). Na

década de 80, foram aprovadas as primeiras legislações sobre controle

ambiental e iniciada a pressão sobre as indústrias privadas, no que se refere

ao controle de seus efluentes. No entanto, continuou sendo muito difícil o

controle sobre o efluente doméstico, responsabilidade do setor público.

Em 1986 foi editada pelo CONAMA a Resolução no 020/86 (que tem como

base técnica e legal da gestão das águas, três pontos importantes

(Brasil,1986). O primeiro refere-se ao controle da qualidade das águas que

deve ser realizado de modo a garantir a saúde e o bem estar humano, bem

como o equilíbrio ecológico da vida aquática. O segundo refere-se ao

enquadramento das águas que deve propiciar referência técnica para o

monitoramento das águas e para o controle das fontes de poluição. O terceiro

ponto desta Resolução refere-se ao ordenamento do uso das águas como meio

de minimizar os conflitos entre os usuários (Brasil, 1986). Essa legislação

proíbe em bacias atividades como: a) Indústrias: fecularia de mandioca ou

álcool, metalúrgicas, galvanoplastia, químicas em geral, matadouros, artefatos

de amianto, processadoras de material radioativo; b) Hospitais, sanatórios e

leprosários; c) Depósitos de lixo; d) Parcelamento do solo de alta densidade:

lotes, desmembramento, conjuntos habitacionais.

Em 1990, foi iniciada a revisão da Portaria no 56/1977 (Brasil, 1997b),

envolvendo, além de setores governamentais de saúde e de companhias

estaduais de abastecimento de água e órgãos estaduais de controle ambiental,

outros segmentos da sociedade na discussão. Essa revisão forneceu subsídios

à nova portaria, a 36 GM, publicada em 19 de janeiro de 1990 (Brasil, 1990).

Uma segunda revisão foi realizada em 1999, pelo Ministério da Saúde em

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parceria com a representação da Organização Pan-Americana de Saúde

(OPAS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), dando origem à proposta

de Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano (Brasil, 2000). O

resultado foi a publicação, em 29 de dezembro de 2000, da Portaria MS no

1.469/2000, que estabelece procedimentos e responsabilidades relativos ao

controle e a vigilância da qualidade da água para o consumo humano e seu

padrão de potabilidade(Brasil, 2000), a qual foi substituída pela Portaria MS no

518 de 25 de março de 2004 do Ministério da Saúde, que reproduziu

inteiramente o seu conteúdo. As alterações processadas foram apenas

relacionadas à transferência de competições da FUNASA para a Secretaria de

Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SUS) e a prorrogação no prazo

para que as instituições ou os órgãos aos quais a Portaria se aplica,

promovessem as adequações necessárias ao seu cumprimento em alguns

quesitos. (Brasil, 2005a).

Em 2005, entrou em vigor a Resolução no 357, de 17 de março de 2005

que dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais

para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de

lançamento de efluentes, revogando a Resolução no 020, de 18 de junho de

1986 do CONAMA (Brasil, 2005b).

Essa nova resolução considera os termos da Convenção de Estocolmo,

que trata dos Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), ratificada pelo Decreto

Legislativo no 204, de 7 de maio de 2004; classifica as águas doces, salobras

e salinas essencial à defesa de seus níveis de qualidade, avaliados por

condições e padrões específicos, de modo a assegurar seus usos

preponderantes; e enquadra os corpos de água baseado, não necessariamente

no seu estado atual, mas nos níveis de qualidade que deveriam possuir para

atender às necessidades da comunidade (Brasil, 2004a). Esta resolução

considera ainda que a saúde e o bem-estar humano, bem como o equilíbrio

ecológico aquático, não devem ser afetados pela deterioração da qualidade

das águas; a necessidade de se criar instrumentos para avaliar a evolução da

qualidade das águas, em relação às classes estabelecidas no enquadramento,

de forma a facilitar a fixação e controle de metas visando atingir

gradativamente os objetivos propostos; a necessidade de se reformular a

classificação existente, para melhor distribuir os usos das águas, melhor

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especificar as condições e padrões de qualidade requeridos, sem prejuízo de

posterior aperfeiçoamento; e que o controle da poluição está diretamente

relacionado com a proteção da saúde, garantia do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e a melhoria da qualidade de vida, levando em

conta os usos prioritários e classes de qualidade ambiental exigidos para um

determinado corpo de água; resolve: em seu art. 1o Esta Resolução dispõe

sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos

de água superficiais, bem como estabelece as condições e padrões de

lançamento de efluentes (Brasil, 2005b).

Somente a água potável, isto é, a que não contém agentes patogênicos

nem substâncias químicas, além dos limites de tolerância, é própria para

consumo humano; por isso o seu uso deve ser entendido fundamentalmente

como fator contributivo no controle de doenças, no aumento de vida média e,

sobretudo na diminuição da mortalidade infantil (Andrade e Torres, 1996).

De acordo com informações dos agentes do Programa de Saúde da

Família (PSF) de Itabira, situado no Candidópolis, são muitas as doenças

veiculadas pela água destacando as verminoses e diarréias.

Macedo (2004a) afirma que a combinação de água potável e saneamento

com a educação sanitária reduz em 25% os casos dessas doenças. Descreve

em seu texto a água como veículo de transmissão de doenças causadas por

microrganismos, resultante da ingestão de águas contaminadas ou pelo seu

emprego na irrigação e pesca. Destaca ainda os dejetos oriundos do homem e

animais como as principais fontes de contaminação dos recursos hídricos,

desenvolvendo microorganismos transmissores de doenças.

Segundo Moraes e Jordão (2002), as primeiras ameaças antropogênicas

aos recursos aquáticos foram freqüentemente associadas à doenças humanas.

Regiões de grande densidade populacional foram as primeiras áreas de risco,

mas águas de áreas isoladas também sofrem degradação.

2.4.1. Parâmetros bacteriológicos de qualidade da água

De todos os aspectos da poluição da água, o de maior interesse para

saúde pública é o que se relaciona com presença de bactérias e organismos

patogênicos (Azevedo e Hess, 1970). A presença de “coliformes” em águas é

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um indicativo de contaminação do sistema de abastecimento de água. Os

coliformes são um grupo de bactérias pertencente à família

Enterobacteriaceae, sendo a maior e mais heterogênea coleção de bacilos

gram-negativos de importância clínica e considerados os principais

microrganismos anaeróbicos presentes no intestino grosso. O gênero

Escherichia consiste de cinco espécies e a Escherichia coli é a mais comum e

clinicamente importante, de origem exclusivamente fecal, utilizada como um

indicador de contaminação da água por fezes de animais e do homem

(Veronesi e Focacia, 2005). Em laboratório, a diferença entre coliformes totais

e fecais é feita através da temperatura (os coliformes fecais continuam vivos

mesmo a 44ºC, enquanto os coliformes totais têm crescimento a 35ºC). Sua

identificação na água permite afirmar que houve presença de matéria fecal,

embora não exclusivamente humana

A partir da descoberta da teoria microbiana a desinfecção da água para

eliminação desses agentes passou a ser utilizada, tendo como função, eliminar

microrganismos que podem ser patogênicos. O tratamento mais utilizado é a

aplicação de compostos clorados que penetram a célula, ocasionando reações

químicas no sistema enzimático, comprometendo sua atividade metabólica.

2.4.2. Parâmetros físico-químicos de qualidade da água

a) Temperatura

A temperatura é um fator determinante em processo biológicos e

importante em processos fisco-químicos, além de influenciar na solubilidade de

gases em corpos d’água. É influenciada pela latitude, altitude e época do ano.

Um aumento na temperatura acarreta aumento na atividade biológica dos

organismos presentes na água e na solubilidade de sais e decréscimo da

solubilidade dos gases (Macedo, 2004a).

A temperatura influencia a qualidade química da água. Altas temperaturas

diminuem a quantidade de oxigênio que pode ser dissolvido na água, o que

pode provocar situações de risco, caso as águas recebam descargas de

dejetos orgânicos. A quantidade de oxigênio presente na água depende da

temperatura, da quantidade de sais e da pressão atmosférica. Águas mais frias

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retêm maior quantidade de oxigênio e, portanto, aumenta a solubilidade dos

gases (von Sperling, citado por Roma 2008).

b) pH

O pH determina a capacidade agressora da água para solubilizar

precipitados (minerais) lixiviando seus constituintes ou precipitar sais que se

depositam nos sedimentos. Em baixos valores de pH ocorre a solubilização de

metais, podendo causar a toxidez das águas e em altos valores ocorre a

precipitação dos mesmos e dependendo das condições oxi-redutoras ocorre a

autodepuração das águas (Mestrinho, 1999). Controla, também, a especiação

de várias substâncias, influencia na dissolução e precipitação e determina se a

água poderá suportar a vida aquática, por isto, é um determinante crítico na

qualidade da água e como tal, a Resolução CONAMA 20/86 estabelece que as

águas classes 1, 2 e 3 devem apresentar pH entre 6 e 9 (Brasil, 1986).

É uma medida do equilíbrio entre as cargas de hidroxila (OH-) e de íons

de hidrogênio (H+). É usado para identificar se determinada água é ácida,

neutra ou básica. Segundo Mucelin et al. (2002), o pH em abastecimento de

água é significativo, pois afeta o processo de tratamento de água, contribuindo

com a corrosão das estruturas hidráulicas. McCutcheon et al. (1993), definem

matematicamente o pH definido como o logarítmo negativo da concentração de

íons H+, sendo uma medida adimensional do equilíbrio entre os íons H+ e OH-

expresso em termos de íons de H+ (Santos, 1997). Para o autor, O pH da água

pode variar conforme a hora do dia.

c) Cor

O termo cor é usado para representar a cor verdadeira da água quando a

turbidez for removida. A cor é resultado principalmente de processos de

decomposição que ocorrem no meio ambiente. É causada por colóides e

substâncias dissolvidas, sendo que as substâncias que mais adicionam cor a

água são: os ácidos húmicos e a presença de alguns íons metálicos como ferro

e manganês, plânctons, macrofitas e despejos industriais. Já a cor aparente,

inclui substâncias dissolvidas, mas também aquela que envolve a matéria

orgânica suspensa (Porto et al., citado por Macedo, 2004b).

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d) Turbidez

Usada para descrever o grau de transparência da água, a turbidez refere-

se à alteração da penetração da luz, pelas partículas em suspensão. Quanto

maior o material em suspensão, mais turva ela estará. As maiores fontes

causadoras de turbidez são os resíduos orgânicos, material mineral, detritos e

plânctons. A turbidez é uma variável importante em monitoramento das

microbacias, atuando como indicador de programas de conservação dos solos

(Hermes e Silva, 2004).

As mudanças causadas pela turbidez na água alteram o sistema aquático.

Se houver grande volume de material suspenso na água, ocorre diminuição de

penetração dos raios solares e alteração da atividade fotossintética de algas

subsuperficiais. Se a população for basicamente de algas, a luz não penetrará

nas camadas mais profundas e a produção será limitada às camadas

superiores da água, favorecendo a proliferação de cianobactérias produtoras

de toxinas (Hermes e Silva, 2004).

e) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

A DBO é uma medida da quantidade de oxigênio necessária para a

oxidação da matéria orgânica biodegradável, por ação de bactérias aeróbicas.

Afeta, portanto, o nível de oxigênio dissolvido na água. Quanto maior a DBO

maior quantidade de oxigênio se faz necessário. Assim sendo a DBO quantifica

a poluição orgânica que causará a depressão do oxigênio, podendo conferir

condição anaeróbica ao sistema aquático (Macedo, 2004b).

Sua determinação é realizada em laboratórios observando-se o oxigênio

consumido em amostras de água durante cinco (5) dias, à temperatura de 20 oC, por isso denominada de DBO5. Segundo Ribeiro (2006) é um dos principais

indicadores da qualidade da água.

f) Nitrato

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As águas naturais, de modo geral, apresentam nitratos em solução. A

própria água da chuva, contém pequenas quantidades de amônia, ou de ácido

nítrico proveniente de descargas elétricas, que ao atravessar o solo é

transformada em nitrito e nitrato por bactérias nitrificantes que ali se encontram.

A conseqüência do ponto de vista ambiental é a de que seu incremento em

qualquer água traz como conseqüência o aumento da proliferação de

microorganismos e a eutrofização das águas. Altas concentrações devem ser

atribuídas a lançamentos de esgotos domésticos, despejo industrial de

natureza orgânica e carreamento de fertilizantes (Branco, 1986).

g) Fosfato

O fósforo presente nas águas naturais encontra-se na forma de fosfato,

seja complexado ou na forma iônica, podendo ser classificados em fosfatos

solúveis e insolúveis, principalmente na forma orgânica (Stumm e Morgan,

1981). No Quadro 1 apresentam-se as principais formas de fosfatos solúveis e

insolúveis.

QUADRO 1: Principais formas de fosfatos solúveis e insolúveis Fosfato Formas Solúveis Formas Insolúveis Inorgânico Orgânico

H2PO4

-, HPO42-, PO4

3- (ortofosfatos) FeHPO4

+ (monohidrogenofosfato férrico) CaH2PO4

+ (dihidrogenofosfato de cálcio) Compostos orgânicos dissolvidos: fosfatases, fosfolipídios, inositol, fosfoproteínas, etc.

Complexo fosfato-argilas Complexos metal-hidróxidos Minerais, ex: apatita [Ca10(OH)2(PO4)6] Fósforo complexado à matéria orgânica

Fonte: Stumm e Morgan (1981).

Assim como o nitrato, o fósforo é indispensável no crescimento de algas e

em grande quantidade leva ao processo de eutrofização de um recurso hídrico.

È também o nutriente essencial para crescimento de bactérias responsável

pela estabilização da matéria orgânica (Farias, 2006).

h) Metais Pesados

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Acredita-se que os metais talvez sejam os agentes tóxicos mais

conhecidos pelo homem. Há aproximadamente 2.000 anos a.C., grandes

quantidades de chumbo eram obtidas de minérios, como subproduto da fusão

da prata e isso provavelmente tenha sido o início da utilização desse metal pelo

homem (Fergusson,1990). Os metais pesados diferem de outros agentes

tóxicos porque não são sintetizados nem destruídos pelo homem. A expressão

“metal pesado”, normalmente está associada com poluição e toxicidade, e

aplica-se a elementos químicos com peso específico maior que 6 g cm-3 e

engloba metais, semi-metais e mesmo ametais como o selênio (Ferreira et al.,

2001).

Os metais pesados podem afetar todas as formas de vida dependendo da

concentração e forma química. Alguns metais são essenciais para o

crescimento de todos os organismos vivos, porém em baixas concentrações;

em concentrações mais elevadas do que as requeridas podem danificar

sistemas biológicos.

No presente trabalho, adota-se o termo “metal pesado” por ser mais

amplamente reconhecido para designar metais poluentes do ar, água e solo.

Malavolta (1994a), lista os metais pesados citados com maior freqüência,

sendo eles os seguintes elementos: alumínio, cádmio, chumbo, cobalto, cobre,

cromo, ferro, manganês, mercúrio, molibdênio, níquel, prata, vanádio e zinco.

O cádmio é encontrado em água de superfícies ou subterrâneas como o

íon Cd²+ hidratado ou como um complexo iônico com outras substâncias

inorgânicas ou orgânicas. De modo geral, é o metal pesado mais móvel em

ambientes aquáticos. As formas solúveis podem migrar na água, enquanto em

complexos insolúveis ou adsorvidos em sedimentos é relativamente estável

(Bridgen et al., 2000). Efluentes de processos industriais, metalurgia do zinco e

de mineração são os principais responsáveis pelo aumento dos teores de

Cádmio nas águas, que em condições naturais é somente detectado em traços

mínimos (Ribeiro, 2006). Apresenta vida biológica longa (10 a 30 anos) e lenta

excreção pelo organismo humano. A longo prazo, o órgão alvo primário nas

exposições ao cádmio é o rim, sendo que sua acumulação excessiva no

homem resulta na doença de “Itai-Itai”, que produz problemas de metabolismo

do cálcio, acompanhado de descalcificação, reumatismos, nevralgias e

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problemas cardiovasculares. Segundo Baptista (1999) altas concentrações no

organismo destroem o tecido testicular e as hemáceas sanguíneas e podem

levar a efeitos mutagênicos e teratogênicos. Em condições naturais o cádmio é

encontrado nas águas em níveis de traços. A ocorrência de concentrações

mais elevadas nas águas está relacionada ao contato com recipientes e

canalizações que contenham este elemento, ao uso de fertilizantes e ao

lançamento de despejos industriais de galvanoplastia etc (Baumgarten &

Pozza, 2001).

O cobre é um metal avermelhado, dúctil e maleável, bom condutor elétrico

e de calor; e densidade de 8,96 g cm-3 (Harris, 2001). Ocorre como um metal

natural em várias formas minerais, principalmente cuprita e malaquita (Alloway,

1993). O estado de valência mais comum é o Cu2+, podendo também existir

nas formas iônicas Cu0 e Cu+ (Malavolta, 1994b; Figueiredo, 2000). É

indispensável para o desenvolvimento de plantas superiores, sendo

classificado como micronutriente e atua praticamente em todas as suas vias

metabólicas. Dentre os casos sobre os efeitos agudos do cobre existentes

pode-se citar: queimação gástrica, náuseas, vômitos, diarréia, lesões no trato

grastrointestinal e anemia hemolítica. Enquanto efeito crônico é raramente

reportado, com exceção do Mal de Wilson, responsável pelo acúmulo de cobre

no fígado, cérebro e rim (CETESB, 2001). As principais fontes de compostos

de cobre solúvel na água são as aplicações na agricultura, mineração,

produção de metal e fertilizantes fosfatados (Ribeiro, 2006).

O cromo é um metal de coloração cinza-azulado, e densidade de 7,19 g

cm-3 a 300 K (Harris, 2001). Embora muitos estados de oxidação do cromo

sejam encontrados na natureza, apenas as formas trivalente Cr (III) e

hexavalente Cr (VI) são consideradas de importância biológica. Segundo

Alloway (1993), em ambientes aquáticos, o Cr (VI) está presente

predominantemente em forma solúvel. Em contraste, o Cr (VI) é altamente

instável e móvel, visto que não é facilmente adsorvido nos solos em condições

naturais. A solubilidade do Cr (III) decresce com valores de pH próximo a 4,0 e,

ocorre completa precipitação em forma de hidróxidos quando o pH se eleva a

5,5 (Ross,1994). Dependendo do tipo de composto, da concentração e do

tempo de contato pode ocorrer a absorção do cromo por via cutânea. O cromo

absorvido permanece por longo tempo retido na junção dermo-epidérmica e no

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estrato superior da mesoderme. A maior parte do cromo é eliminada através da

urina, excretada após as primeiras horas de exposição. Os compostos de

cromo produzem efeitos cutâneos, nasais, bronco-pulmonares, renais,

gastrointestinais e carcinogênicos (WHO, 1994). Principais fontes de poluição

são curtumes e as galvanoplastias (Ribeiro, 2006).

O zinco apresenta densidade de 7,14 g cm -3, estando presente em

grande quantidade nas rochas magmáticas em concentrações que variam de

40 mg kg-1 nas rochas ácidas (granitos) e 100 mg kg-1 em basaltos. Em xistos

argilosos e sedimentos argilosos as concentrações podem variar de 80 a 120

mg kg-1, em arenitos calcários e dolomitos geralmente as concentrações são

baixas (10 a 30 mg kg-1) (Alloway, 1993). Sua solubilidade aumenta com a

diminuição do pH em condições aeróbias e nas condições anaeróbias forma

ZnS na faixa de pH 1 a 14. Este metal se adere rapidamente a muitos ligantes

orgânicos, principalmente na presença de compostos de nitrogênio e enxofre

doadores de elétrons (Quináglia, 2001). É elemento essencial ao metabolismo

humano, de animais e plantas superiores, sendo considerado um metal de

baixa toxicidade por não provocar deficiências profundas, entretanto, sua

ingestão excessiva pode provocar distúrbios gastrointestinais e diarréia

(Alloway, 1993). Em altas concentrações torna–se tóxico para a vida aquática.

As principais fontes de lançamentos são despejos de indústria de

galvanoplastias, metalurgia, fábrica de papel e tinta (Ribeiro, 2006).

O chumbo apresenta densidade de 11,4 g cm-3. Encontra-se em dois

estados de oxidação (Pb2+ e Pb4+), sendo o íon P2+ a espécie estável e pouco

móvel no solo (Harris, 2001). As formas orgânicas como Pb-tetraetila, trietila e

dietila são extremamente móveis no solo e, portanto mais tóxicas (Baird, 2002).

Os valores de pH influenciam as diversas formas de Pb nos solos. Segundo

Kabata-Pendias e Pendias (1992), as características geoquímicas do Pb

algumas vezes se assemelha ao grupo dos metais alcalinos terrosos, o que faz

com que o chumbo tenha habilidade para substituir K, Ba, Sr e mesmo o Ca em

minerais e sítios de adsorção. As principais fontes poluidoras de chumbo no

ambiente são constituídas pelo chumbo residual presente nas imediações das

estradas na forma de partículas de aerossóis e pó; cinzas de processo de

fundição; fabricação, reciclagem e venda de baterias e fumaça de cigarros.

Além dessas fontes o Pb está presente no pigmento amarelo usado nas tintas

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empregadas nos ônibus escolares e nas faixas das estradas é o cromato de

chumbo (PbCrO4) e o pigmento vermelho brilhante de óxido duplo de chumbo

(Pb3O4) é usado em tintas resistentes à corrosão. Os pigmentos de chumbo

são usados para produzir as cores nas ilustrações das revistas, nas

embalagens de alimentos (Baird, 2002). O Pb pode causar uma variedade

muito grande de efeitos no homem, tais como: mal funcionamento geral do

corpo, inibição de enzimas, mudanças morfológicas e morte. Os primeiros

sintomas são a fadiga, anemia e desordens neurológicas, e os efeitos crônicos

produzem: perda de apetite; constipação; anemia; fraqueza; cólicas e dores

musculares e nas juntas; hipertensão; disfunção renal; mal formações

congênitas; danos ao sistema nervoso periférico (Moreira e Moreira, 2004).

Segundo Harris (2001), o níquel apresenta densidade de 8, 90 g cm-3 a

300K, tendo como principal origem geoquímica as rochas magmáticas (máficas

e ultramáficas) que contém até 3.600 mg kg-1 do elemento, enquanto as rochas

alcalinas e sedimentares apresentam baixos teores do metal. O pH do solo é o

fator mais importante na distribuição de níquel na fase sólida e solução do solo.

Em valor de pH igual ou superior a 6,0, prevalecem as formas insolúveis de

níquel. Em condições aeróbias e pH inferiores a 9 o níquel se complexa com

hidróxidos, carbonatos, sulfatos e ligantes orgânicos e, em ambientes

reduzidos forma sulfitos insolúveis (Alloway, 1993). O níquel está normalmente

presente em tecidos humanos, entretanto, sob condições de exposição aguda

e crônica torna-se altamente tóxico, podendo provocar irritações na pele e

olhos, dermatite, sinusite, renite, perfurações no septo nasal e asma. O contato

com a pele ocasiona sensações de queimação e coceira nas mãos seguida de

vermelhidão e erupções nos dedos, punhos e antebraços. Absorvido e retido

pelo trato respiratório na forma de pó ou fumos, com baixa remoção, provoca

edema pulmonar ou pneumonite. A exposição prolongada aos fumos e ao pó

de níquel e seus compostos provocam alergia. Os compostos de níquel estão

entre as causas mais comuns de dermatites alérgicas. A sensibilização do

organismo ao níquel também causa conjuntivite, pneumonite e asma (Cassaret

& Doulli’s, 1986). Estudos epidemiológicos demonstram a carcinogenese de

certos compostos do níquel. Cânceres pulmonar, nasal, renal, de laringe e de

estômago foram observados em trabalhadores no refino do níquel (CDC,

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1991). Maiores concentrações provêm de efluentes de fábricas de tintas e de

processos de galvanoplastia.

A principal forma de zinco no meio ambiente é no estado de oxidação

Zn²+, seja como íon hidratado ou como complexo e compostos dissolvidos e

insolúveis. No ambiente aquático ele encontra-se ligado predominantemente ao

material suspenso antes de se acumular no sedimento (Brigden et al., 2000).

Os sais de zinco apresentam toxidade muito baixa (acima de 5mg L-1) podendo

levar à alteração no sabor da água. Essencial para a nutrição, apresenta

importante papel enzimático, estrutural e regulatório em muitos sistemas

biológicos. Sua deficiência em humanos tem conseqüências sérias, como

crescimento retardado, anorexia, dermatite, depressão e sintomas

neuropsiquiátricos, por outro lado, seu excesso causa distúrbio gastrointestinal

e diarréia, dano pancreático e anemia (USPHS, 1997), sendo que, a maior

parte dos efeitos tóxicos relaciona-se à sua combinação com outros metais

pesados e contaminação durante os processos de extração e concentração de

zinco. Suas cinzas não são completamente puras, podendo estar misturadas a

outros metais como cádmio e mercúrio (Greenpace, 2002).

O ferro e o manganês apresentam diversos problemas para o

abastecimento público de água, pois confere cor e sabor à água, provocando

manchas em roupas e utensílios sanitários. Também traz o problema do

desenvolvimento de depósitos em canalizações e de ferro-bactérias,

provocando a contaminação biológica da água na própria rede de distribuição.

Por estes motivos, o ferro constitui-se em padrão de potabilidade, tendo sido

estabelecida a concentração limite de 0,3 mg L-1a Portaria 1469 do Ministério

da Saúde (Brasil, 2000). É também padrão de emissão de esgotos e de

classificação das águas naturais. As águas que contêm ferro caracterizam-se

por apresentar cor elevada e turbidez baixa (CETESB, 2008). O ferro e o

manganês fazem parte da composição dos sedimentos liminicos, encontrados

em corpos d’água mesmo em pequenas concentrações (Esteves, citado por

Lopes, 2007).

O carbonato ferroso é solúvel e freqüentemente é encontrado em águas

de poços contendo elevados níveis de concentração de ferro. Nas águas

superficiais, o nível de ferro aumenta nas estações chuvosas devido ao

carreamento de solos ocasionado pela ocorrência de processos de erosão das

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margens. Sua contribuição deve-se também devida à efluentes industriais, pois

muitas indústrias metalúrgicas desenvolvem atividades de remoção da camada

oxidada (ferrugem) das peças, processo conhecido por decapagem, que

normalmente é procedida através da passagem da peça em banho ácido

(CETESB, 2008).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Caracterização da área de estudo Segundo informações obtidas através da Secretaria Municipal de Meio

Ambiente de Itabira, em 2007, a área de estudo localizada no município de

Itabira, centro leste mineiro, situa-se a 19º37’00” latitude S, 43°13’37” longitude

O. O município compreende uma área de 1.256,496 Km2 e está situado à cerca

de 104 quilômetros da capital (Belo Horizonte), com altitude de 826,5m. O

relevo é bastante variado, com vales amplos e profundos, onde 10% do seu

território são áreas planas, 20% ondulados e 70% montanhoso. A economia do

município passou a ser fortemente dependente das operações de mineração

da empresa VALE e das atividades a elas relacionadas.

Aproximadamente 55% do abastecimento de água para o consumo

humano é realizado através do SAAE, onde o usuário final se beneficia da

água para bebida, higiene pessoal, preparo de alimentos e disposição sanitária,

cujas águas são de origens dos cinco córregos que compõe a rede hidrográfica

da microbacia do Candidópolis. Segundo o Secretário Municipal de Meio

Ambiente de Itabira o consumo de água da população urbana é da ordem de

200 m3 por segundo.

O presente trabalho foi realizado na microbacia do Candidópolis.

Segundo informações obtidas em 2007 no escritório do Sistema Autônomo de

Água e Esgoto (SAAE) de Itabira através do coordenador do Projeto Mãe

d’água 2007, a área compreende cerca de 226,177 hectares. A rede

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hidrográfica principal da microbacia é constituída por cinco córregos:

Candidópolis, Contendas, Vista Alegre, Barreiro e Córrego do Meio, sendo seu

curso principal o Rio Candidópolis. Em termos pedológicos, a microbacia

apresenta solos Latossolos (48%), Cambissolos (38%) e Neossolos Flúvicos

(14%). A microbacia do Candidópolis apresenta dois períodos bem distintos em

relação às chuvas: um seco e outro chuvoso. O regime fluvial caracteriza-se

por chuva no verão e estiagem no inverno onde as precipitações pluviométricas

ultrapassam os 1300 mm ano-1.

De acordo com o coordenador do projeto Mãe d’água, o avanço

desordenado na urbanização da microbacia do Candidópolis sobre o meio

ambiente tem causado a degradação progressiva das áreas de mananciais,

inclusive com a implantação de loteamentos irregulares. Em meados dos anos

80, evidenciou o crescimento do núcleo do Barreiro, induzido pelas instalações

industriais da região.

A escolha desta microbacia para a avaliação da qualidade da água e sua

relação com o uso e ocupação do solo se deu em razão de se tratar de uma

das mais importantes fontes de captação para abastecimento público do

município de Itabira, bem como por serem suas águas objeto de demanda para

exploração agrícola e pecuária.

A ocupação da microbacia se deu de forma progressiva. As primeiras

transformações ocorreram quando a cobertura vegetal deu lugar a pastagem e

agricultura, em seguida, substituídas por indústrias e assentamentos urbanos.

O avanço tecnológico associado à criação de dois distritos industriais, que

produzem desde produtos alimentícios a metalúrgicos, tem sido acompanhado

de mudanças significativas na paisagem natural, gerando preocupações

relacionadas à qualidade ambiental. A partir da década de oitenta, a construção

dos dois distritos industriais deu um novo direcionamento nas atividades locais.

Observa-se dessa forma, que a microbacia apresenta diversos usuários com os

mais diversos usos, tais como: abastecimento humano, industrial e animal,

diluição de esgotamento sanitário e uso na agricultura. A instalação desse

distrito permitiu acelerar o processo de industrialização da região que foi

acompanhado por significantes impactos ambientais, como aumento na

demanda de recursos naturais inspirando preocupações em relação ao futuro

socioeconômico e ambiental. A área sofre, ainda, a influência de atividades

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agropecuárias (plantação de eucalipto, pastagem e outros) e diversos

aglomerados urbanos, recebendo em seu percurso, águas residenciais.

Segundo informações obtidas em 2007 no escritório do SAAE de Itabira,

através do coordenador do Projeto Mãe d’água, na década de 1980, a VALE,

em convênio com a Prefeitura Municipal de Itabira, realizou um projeto

alocando recursos financeiros para implantação da infraestrutura de dois

distritos industriais, além de colocar em leilão no mercado imobiliário várias

chácaras, na microbacia, a montante da área de captação para abastecimento

da cidade. Na época, técnicos alertaram para a necessidade de se realizar

obras a fim de proteger o manancial, pressupondo que as indústrias ali

instaladas poderiam vir a ser potencialmente impactantes. Foram feitos os

estudos, porém em termos de execução somente o emissário de esgoto foi

implantado.

Em relação ao setor imobiliário, as condições topográficas favoráveis da

microbacia e a proximidade da malha urbana, favorecem a implantação de

empreendimentos imobiliários.

Na referida área encontram-se basicamente culturas de subsistência. A

pastagem é a cobertura vegetal do solo predominante na maioria das

propriedades agrícolas. O rebanho bovino é estimado em três mil cabeças.

Em relação à vegetação nativa, as transformações econômicas e sociais

que acompanham a industrialização e a urbanização, via de regra, ocasionam

sua eliminação ou fragmentação em pequenas áreas residuais, na maioria das

vezes, isoladas umas das outras.

Portanto, a microbacia hoje se constitui num mosaico de problemas

ambientais, cujos efeitos se acumulam principalmente nos recursos hídricos. A

proteção de suas águas constitui uma questão fundamental na sua

viabilização, uma vez que esse manancial é de extrema importância para o

abastecimento do município.

As águas da microbacia abastecem o município itabirano, sendo

coletadas e tratadas pelo SAAE através de um sistema de captação.

3.1.1 Escolha das áreas amostradas

Foram escolhidas 12 áreas de amostragens considerando os diferentes

usos observados, tendo como base o mapa esquemático de uso e cobertura do

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solo fornecido pelo SAAE/Itabira (Figura 1), interpretação de imagem de

satélite obtida no Google Earth (Anexo 1) e visita na área da microbacia, sendo

as áreas distribuídas entre nascentes e áreas a jusante sobre a influências de

variados uso e ocupação do solo. O mapa esquemático da microbacia contém

as áreas amostradas e as atividades consideradas de relevância ambiental.

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O quadro 2 apresenta as principais características das áreas amostradas

na microbacia do Candidópolis e suas respectivas coordenadas geográficas.

QUADRO 2: Caracterização dos pontos amostrados e suas coordenadas

geográficas Ponto Localização Características Coordenadas

Geográficas 1 Nascente do

Córrego do Meio Nascente onde a água foi retirada da loca de pedra. Presença de mata ciliar, e gramínea. Presença de animais em suas proximidades. Não sofre influência dos demais pontos.

686851,86E 7818814,59N

2 Foz do Córrego do meio.

Jusante da nascente referente ao ponto 1, área plana, próximo a residências, ocorrência de pastagens e inexistência de mata ciliar.

687383,58E 7822519,53N

3 Córrego Candidópolis antes do encontro do Córrego Contendas.

Ponto localizado a jusante dos pontos 7(nascente) e 8, sofrendo influência dos mesmos. No local a mata ciliar encontra-se escassa, área com forte presença de gados que utilizam a água para dessedentação.

687196,02E 7821770,65N

4 Foz do Contendas

Jusante dos pontos 1(nascente) e 2, sofrendo influência dos mesmos. A mata ciliar encontra-se escassa, área de pastagem, dessedentação de animais e assoreamento.

687334,32E 7821906,28N

5 Foz do Barreiro

Ponto receptor das águas dos córregos Candidópolis, Contendas e Barreiro (pontos 1, 2, 3, 4, 7 e 8). Área destinada a pastagem, área intensivamente assoreada com deslizamento de barrancos e mata ciliar escassa.

687606,89E 7820549,65N

6 Encontro do córrego Vista Alegre com Candidópolis

Inexistência de mata ciliar, assoreamento, pastagem com presença de animais. Ponto de captação de águas, onde sofre influência de todas as águas com exceção ao ponto 12.

688218,00E 7823390,87N

7 Nascente do Córrego Candidópolis

Nascente, montante da vila, presença de mata ciliar e animais nas proximidades.

685799,62E 7818709,32N

8 Córrego Candidópolis

Jusante da nascente do ponto 7, localizado a jusante da vila Candidópolis, inexistência de mata ciliar, proximidade a residência.

686212,61E 7820840,28N

9 Nascente do Barreiro Nascente, com presença de animais, e mata ciliar escassa.

685079,56E 7820919,19N

10 Córrego Candidópolis encontro com Lavoura

Ponto localizado a jusante dos pontos 1,2,3,4,5,7,8 e 9. Água apresenta coloração escura, presença de gado, lixo, extração de areia, inexistência de mata ciliar.

687650,11E 7822736,66N

11 Final do Córrego Lavoura

Ponto que não sofre influência das demais áreas. Área de brejo, proximidade de residência, mata ciliar escassa e pastagem.

687965,20E 7822814,84N

12 Represa da Estação de Tratamento de Água. (ETA)

Lagoa de captação de água para abastecimento, ponto de junção de águas dos demais pontos listados, sofrendo influência de águas de todos os córregos que compõe a microbacia Candidópolis.

688652,30E 7824674,62N

Fuso UTM Itabira 7830000E 686000N

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3.2. Análise do perfil dos usuários de água na microbacia do candidópolis e sua relação com o meio ambiente

Visando delinear os problemas relacionados aos recursos hídricos na

microbacia do Candidópolis, foram realizadas entrevistas com os gerentes das

industrias, o coordenador do projeto “Mãe D’água” vinculado ao SAAE e o

Secretário de Meio Ambiente de Itabira.

O perfil das atividades industriais foi obtido por meio de entrevista semi-

estruturada (Anexo 2) junto aos gerentes das industrias localizadas na

microbacia, que apresentam as seguintes atividades: siderurgia, madeireira,

serraria, alimentícios, relaminação de aço, esquadrias metálicas e Indústria

metal mecânica. Foram realizadas entrevistas com dez gerentes para

levantamento de dados quanto aos problemas relativos ao papel da água, com

questões referentes ao tipo de atividade, o papel da água no processo

produtivo, o conhecimento sobre a legislação vigente da política de gestão de

recursos hídricos, efluentes gerados no processo produtivo da “empresa”,

tratamento de efluentes, técnicas de reuso da água e outorga para consumo de

água. Além da obtenção de dados de doenças de veiculação hídrica na região,

junto Programa de Saúde da Família (PSF).

A entrevista junto ao Secretário de Meio Ambiente de Itabira (Anexo 3),

visou obter informações sobre a existência de um sistema de gerenciamento

dos recursos hídricos, os principais problemas ambientais existentes e

programas de redução de água na microbacia do Candidópolis. Já a entrevista

com o coordenador do projeto “Mãe D’água” não teve um roteiro

predeterminado, buscou-se apenas obter informações gerais relativas à

microbacia do Candidópolis.

Foram aplicados questionário (Anexo 4) com 7 questões fechadas,

envolvendo homens e mulheres de faixa etária diversificada que sejam

funcionários das indústrias, e a população residente nas proximidades. O

questionário foi empregado como um processo de avaliação da população

buscando sistematizar informações relacionadas ao perfil do usuário de água

da microbacia Candidópolis, no que diz respeito à população residente, com

questões referentes à renda familiar; atividades realizadas na microbacia,

conhecimento sobre a legislação relacionada aos recursos hídricos,

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lançamento de efluentes produzidos, existência de sistema de tratamento de

efluentes e sobre o impacto criado pela condição de vida da população

residente na microbacia.

Para aplicação do questionário foi avaliado o tamanho da população da

microbacia estudada equivalente a 244 famílias e considerado o nível de 5% de

probabilidade e margem de erro de 3%. Para determinação do tamanho da

amostra a ser estudada foi levantado o número total de famílias da área e

aplicada a tabela apresentada por Bartlett et al. (2001), que considera o

tamanho da população, margem de erro e nível de significância para a

estimativa do tamanho mínimo de amostra para uma dada população.

Inicialmente foi apresentado o Projeto aos entrevistados (setores

produtivos e população residente na microbacia), para consentimento da

entrevista juntamente com uma carta de sensibilização. Em seguida foi

realizada a operacionalização do questionário com 75 pessoas de forma

simples e direta.

3.3. Coleta e análises físicas, químicas e biológicas das amostras de

água

As amostras foram coletadas nos córregos do Meio, Candidópolis,

Contendas, Barreiro, Vista Alegre e Lavoura. As coordenadas geográficas de

todos os locais foram determinadas com o auxílio de GPS (Sistema de

Posicionamento Global). As coletas foram realizadas em triplicata, em duas

épocas do ano (período seco e chuvoso).

Para a análise de metais as amostras foram preservadas com ácido

nítrico concentrado. Todas as amostras foram armazenadas em caixa de isopor

resfriada com gelo até a entrega no laboratório.

A qualidade da água foi analisada no laboratório do SAAE e da

Universidade Federal de Viçosa (UFV), segundo os principais parâmetros

físico-químicos e microbiológicos tais como: temperatura, pH, cor, turbidez, OD,

DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), DQO (Demanda Química de

Oxigênio), nitrato e fósforo, coliformes totais e termos tolerantes, alcalinidade e

metais pesados (Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni e Zn). Para análise de metais a

metodologia adotada na preparação das amostras foi a proposta pela American

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Public Health Organization - APHA (1995) modificada. A metodologia para a

determinação dos parâmetros encontra-se no Quadro 3.

QUADRO 3: Metodologia utilizada para a determinação dos parâmetros analisados

PARÂMETRO METODOLOGIA EMPREGADA PH Método Potenciométrico ( pHmetro ).

Cor (Pt L-1) Método Platino-Cobalto com leitura colorimétrica em espectrofotometro a 455 nm.

Turbidez (UNT) Método Colorimétrico, com leitura em espectrofotometro a 450 nm.

DBO (mg L-1) Método Winkler por diferença de oxigênio dissolvido, no intervalo de 5 dias de incubação à 20o C.

Nitrato (mg L-1) Método Colorimétrico com desenvolvimento de cor com redução de cádmio e leitura espectrofotométrica em 507 nm.

Fósforo (mg L-1) Método Colorimétrico com desenvolvimento de cor através de técnica ortofosfato-ácido ascórbico e leitura espectrofotométrica a 890 nm.

Coliformes Totais (UFC/100 mL) Método Incubação em meio de cultura específico (tubos múltiplos) ou membrana filtrante ou determinação pela técnica de substrato cromofluorogenico.

Coliformes Termotolerantes (UFC/ 100 mL )

Método Incubação em meio de cultura específico (tubos múltiplos) ou membrana filtrante ou determinação pela técnica de substrato cromofluorogênico.

Temperatura (ºC) Medida em campo, utilizando–se termômetro eletrônico, com precisão de 0,01°C.

Metais pesados: Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni e Zn (mg L-1)

Método Espectrofotométrico de Emissão Atômica

Fonte; APHA (1995)

***Pt= Unidade de cor, equivalente a mg L-1 de platino-Cobalto.

3.4. Análise dos dados

Foram realizadas análises de média e desvio padrão para cada

parâmetro. Os valores médios de cada área amostrada foram comparados com

a resolução no 357/2005 do CONAMA. Foram realizadas análises de variância, considerando as duas épocas de

amostragem, ou seja, época de chuva e seca. Para cada tratamento foram

considerados três repetições. O teste F foi realizado ao nível de 5% de

probabilidade e em seguida foi aplicado o teste Tukey a 5% de probabilidade,

utilizado para comparar as medias quando o fator interação foi significativo.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Perfil dos usuários de água da microbacia do Candidópolis 4.1.1 Setor Industrial

De acordo com as entrevistas realizadas, constatou-se que apenas 40%

das indústrias utilizam a água como insumo relevante na operação do produto

e 30% como insumo que se agrega diretamente ao produto. Porém 100% das

empresas afirmaram utilizar a água para higiene pessoal e limpeza.

Dentre os processos produtivos que utilizam água destacam-se:

resfriamento de peças, refrigeração e lubrificação de cilindros e lavagem de

gases de alto-forno. Salienta-se que as empresas utilizam água provinda da

estação de tratamento.

No que se refere aos efluentes gerados no processo produtivo, 70% das

indústrias informaram gerar efluentes. Segundo a Secretário Municipal de Meio

Ambiente, uma forma encontrada para a redução da carga poluidora das

indústrias foi implantar a captação dos efluentes industriais de modo a diminuir

a produção de despejos e eliminar ou minimizar a quantidade de poluentes até

a ETA. Os efluentes das indústrias da região são lançados no emissário

localizado a juzante da ETA, não influenciando na qualidade e no tratamento

da água para abastecimento público.

Apesar da preocupação com a água para abastecimento público, com a

descarga dos efluentes após a ETA o problema é apenas transferido rio abaixo,

uma vez que 50% das indústrias entrevistadas afirmaram não possuir

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programas de tratamento de seus efluentes. As indústrias que fazem o

tratamento (50 %) afirmam que com a implantação de programas de tratamento

de efluentes industriais houve a redução da concentração dos poluentes na

água residuária, contribuindo para a melhoria da qualidade da água da

microbacia. Uma pequena parcela das indústrias (20%), afirmaram utilizar seus

resíduos como subprodutos para outras indústrias como pó de madeiras, papel,

limalha de ferro.

Apesar dos programas de reutilização da água serem considerados como

medida de controle da poluição e diminuir o lançamento de esgotos nos corpos

d’água, apenas 20% dos entrevistados afirmaram utilizar programas de reuso.

Segundo (Macedo, 2004), a reciclagem e a reutilização aparecem como uma

alternativa para o uso racional dos recursos hídricos. As indústrias que não

utilizam técnicas de reuso, afirmaram que apenas racionalizam o consumo

evitando vazamentos e lavagem de pátios.

A não reutilização da água é justificada pelas indústrias em função do

baixo consumo, ou da racionalização, evitando vazamentos e lavagem de

pátios, e, ou, do processo estar em fase de estudo. Estas técnicas são mais

utilizadas pelas empresas que utilizam a água como insumo relevante na fase

da produção. Entretanto, mesmo as empresas que utilizam a água apenas para

higienização, que correspondem a 30%, não possuem métodos de reutilização.

Segundo Carrera e Garrido (2002), a outorga é considerado, instrumento

de gestão que objetiva a garantia do controle quantitativo dos recursos

hídricos, ao mesmo tempo ela garante o direito do usuário ao acesso aos

recursos hídricos e tem como finalidade disciplinar e racionalizar seu uso.

Através da outorga o setor público conhece e controla a quantidade de água

utilizada, permite o conhecimento e controle por parte do administrador público

da quantidade de água utilizada pelos usuários.

Outro dado importante é que 70% das indústrias entrevistadas

desconhecem a legislação vigente sobre a política de gestão de recursos

hídricos, o que implica na necessidade de implementação de campanha de

esclarecimento sobre as diretrizes e instrumentos estabelecidos da política

nacional e estadual para recursos hídricos, dificultando o seu cumprimento e

tendo como conseqüência direta o desconhecimento da outorga. A outorga

possibilita o registro do uso da água no Estado subsidiando o planejamento da

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política estadual de recursos hídricos, garantindo o uso múltiplo e o acesso de

todos os usuários.

Segundo Carrera e Garrido (2002), as indústrias que usam água

exclusivamente via concessionária não necessitam de outorga. Apesar de

100% das empresas entrevistadas declararem usar água da companhia de

abastecimento, uma empresa declarou possuir documento de outorga da água,

sendo a única a evidenciar, também conhecimento sobre a legislação.

4.1.2 População residente na microbacia do Candidópolis

De acordo com informações obtidas junto a agricultores da microbacia do

Candidópolis, o incremento do uso da irrigação está associado ao aumento da

produção agrícola com vista a se obter uma safra boa e segura. Detectou-se,

entretanto a existência de poucas áreas irrigada dentro da microbacia, pois

predomina a agricultura de subsistência.

Em visita realizada no mês de junho de 2007 ao escritório do SAAE de

Itabira, o coordenador do projeto Mãe d’água informou que, a alteração da

paisagem natural foi causada principalmente pela instalação da atividade

pecuária sem prévio planejamento. Essa atividade também contribui com a

contaminação de corpos d’ água, pois os rebanhos muitas vezes têm acesso

livre a córregos e nascentes. Além disso, o excessivo pisoteio do gado,

contribui para a compactação do solo, reduzindo a infiltração de água e,

conseqüentemente, reduzindo a recarga dos aqüíferos, além de favorecendo a

ocorrência de focos erosivos nas áreas mais declivosas.

Os resultados revelaram que 88% das famílias possuem renda familiar

menor que dois salários mínimos e 68% atuam em atividades (agricultura,

pecuária, hortas para subsistência).

Com base nos resultados obtidos, 76% da população residente revelaram

desconhecer a legislação relacionada aos recursos hídricos, o que dificulta a

eficácia desse instrumento de preservação e conservação dos mananciais, pois

se pressupõe que a sociedade assuma a responsabilidade pela conduta da

gestão destes recursos.

Como conseqüência do desconhecimento da legislação verifica-se o uso

inadequado dos recursos da microbacia, por meio de eliminação da mata ciliar,

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queimadas, lixo a céu aberto, presença de animais nas margens dos córregos

e nascentes, lançamento de efluentes (Figuras 2, 3, 4 e 5). As áreas

encontram- se degradadas, deixando o solo descoberto e sem proteção contra

a ação erosiva.

FIGURA 2: Vista parcial de uma das margens do córrego Candidópolis desprovido de mata ciliar.

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FIGURA 3: Vista parcial da microbacia do Candidópolis com presença de queimada.

FIGURA 4: Vista do descarte de lixo a céu aberto na área da microbacia do Candidópolis.

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FIGURA 5: Vista de presença de animais nas margens do córrego Candidópolis.

A microbacia do Candidópolis, nas últimas décadas, sofreu um intenso

processo de supressão de sua vegetação original desmatada para a formação

de pastagem e de chacreamento.

Cabe salientar a importância da educação ambiental no processo de

conscientização dos atores sociais, no que diz respeito a práticas que

garantam a sustentabilidade da microbacia.

Quanto aos efluentes residenciais, 46,6% das residências lançam seus

efluentes diretamente nos cursos d’água sem qualquer tipo de tratamento. A

outra parte possui fossa séptica ou é atendida pelo sistema de saneamento

púbico. Segundo Hirata (2000), o sistema de esgotamento sanitário é

adequado para disposição de efluentes domésticos.

Na microbacia, os poços e as nascentes são as principais fontes de

abastecimento de água. O consumo de água, segundo os padrões de

potabilidade adequado é fundamental para a saúde humana. Segundo a

gerente do PSF da microbacia do Candidópolis, as doenças mais susceptíveis

da população ribeirinha são veiculadas pela água. Consequentemente, o PSF

exerce um papel importante no debate sobre a qualidade da água e a

degradação ambiental na microbacia.

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No Brasil, a vigência da qualidade da água para consumo humano e seu

padrão de potabilidade é normatizada pela Portaria no. 518 de 25 de março de

2004 do Ministério da Saúde (Brasil, 2004c). Esta estabelece os valores

máximos permitidos para contaminantes bacteriológicos e para características

físico-químicas que representam risco à saúde e a resolução no. 357 de 17 de

março de 2005 do CONAMA que define as condições dos mananciais para

atendimento do abastecimento, que classifica as águas doces, salobras e

salinas do País. (Brasil, 2005a)

Avaliando o conhecimento sobre mata ciliar e sua importância em

conservar a água, 74,6% das famílias entrevistadas mostraram-se

desinformadas sobre o assunto. Apenas 25,4%, afirmaram ter conhecimento da

importância desta na conservação da água e evitando erosão.

Apesar da preocupação com a escassez de água, apenas 34,7% das

famílias entrevistadas afirmaram praticar alguma medida de preservação dos

recursos hídricos, como evitar corte de árvores e desperdício de água.

4.2 Avaliação das propriedades físico-químicas e microbiológicas da água

4.2.1 Condições de eutrofização

Apesar de a ocorrência de fósforo em águas naturais se da

exclusivamente na forma de fosfato, sendo indicador do estado trófico da

águas, a Resolução no 357/2005 do CONAMA adota este parâmetro de padrão

de qualidade de água expresso na forma de fósforo (mg L-1), assim sendo os

resultados foram analisados e expressos nessa forma (Tabela 3).

A área 12 (junção das águas de todos os pontos amostrados e de todos

os córregos que compõe a microbacia Candidópolis) apresentou o maior teor

médio de fósforo (0,45 mg L-1), enquanto a área 1, que representa uma das

três nascente, apresentou o menor teor(0,09 mg L-1) (Tabela 3). Conforme

pode-se observar na Figura 1, margeando o córrego próximo à área 12, existe

a presença de um canavial e no lado oposto um chacreamento, o que implica

em poluição da água por emissão de esgoto e agrotóxico usado no processo

de preparação do solo para a cultura da cana. Em função desses resultados,

apenas as águas da área 1, enquadradam-se na classe 1, destinada ao

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abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado. As áreas

amostradas 2, 5, 10, 11 e 12 (referente à lagoa de captação de água para

abastecimento e local de junção de águas de todos os pontos amostrados e de

todos os córregos que compõe a microbacia Candidópolis), enquadram-se

apenas na classe 4, destinada à navegação e à harmonia paisagística.

TABELA 3: Teores médios de fósforo e nitrato com seus respectivos desvios padrão nas áreas amostradas da microbacia do Candidópolis, Itabira e concentrações máximas permitidas pela Resolução n° 357/2005 do CONAMA.

Teores Médios Áreas Amostradas mg L-1

P NO3-

1 0,09 ± 0,04 0,88±0,36 2 0,19 ± 0,17 0,85±0,35 3 0,11 ± 0,05 1,00±0,32 4 0,13 ± 0,08 0,95±0,18 5 0,20 ± 0,13 1,02±0,18 6 0,15 ± 0,10 1,22±0,57 7 0,11 ± 0,04 0,93±0,25 8 0,11± 0,05 1,32±0,13 9 0,14 ± 0,04 1,02±0,27

10 0,18 ± 0,08 1,32±0,34 11 0,17 ± 0,07 1,40±0,31 12 0,45 ± 0,28 1,32±0,12

Classe 1 ≤ 0,10 ≤ 10 CONAMA Classe 2 ≤ 0,10 ≤ 10

Classe 3 ≤ 0,15 ≤ 10

Segundo von Sperling (1998) as principais contribuições de fósforo nos

cursos d’água, no Brasil são: a dieta humana/esgoto doméstico (25%),

excreção animal (22%), lixo domiciliar (18), erosão (17%), fertilizantes (10%) e

detergentes (8%). As demais áreas amostradas enquadram-se na classe 3,

destinada entre outras coisas ao abastecimento para consumo humano, após

tratamento convencional ou avançado.

A água bruta captada para o tratamento para o consumo humano na

cidade de Itabira encontra-se fora dos padrões estabelecidos pela Resolução

n°357/05 do CONAMA (Brasil, 2005a) para fósforo, sendo o valor médio de sua

concentração um somatório de características e alterações ao longo do canal.

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Com relação ao nitrato apesar de se observar diferença entre os teores

nas diversas áreas, segundo a Resolução no 357/2005 do CONAMA, todas as

áreas amostradas enquadram-se na classe 1, destinada ao abastecimento para

consumo humano, após tratamento simplificado (Brasil, 2005a). Segundo

Esteves, citado por Lopes (2007), o nitrato é a principal forma de nitrogênio

encontrada nas águas. Em geral as águas naturais contêm nitratos, devido a

fixação de nitrogênio molecular no próprio ambiente aquático, matéria orgânica

e inorgânica. As águas que recebem esgotos domésticos, fertilizantes e

excrementos de animais podem conter também quantidades maiores desse

elemento (Branco, citado por Lopes, 2007).

Analisando o efeito da sazonalidade, observa-se na Tabela 4, que para o

fósforo não houve diferença significativa, a nível de 5%, nos diferentes

períodos (chuva e seca). Segundo Stumm e Morgan (1981), o fósforo presente

nas águas naturais encontra-se na forma de fosfatos solúveis e insolúveis,

principalmente na forma orgânica. Assim sendo acredita-se que o efeito de

diluição da precipitação pluviométrica seja compensado pelo araste das formas

solúveis de fósforo orgânico. No caso do nitrato (Tabela 4), observa-se que

ouve diferença significativa, com o período das chuvas apresentando maior

teor.

TABELA 4: Teores médios de fósforo e nitrato em duas épocas do ano (chuva e seca) considerando amostras colhidas em doze áreas distintas da microbacia do Candidópolis, entre os anos de 2007/2008, Itabira - Minas Gerais, Brasil

Parâmetros Teores Médios

Chuva Seca Fósforo 0,19±0,18ª 0,15±0,10ª Nitrato 1,27±0,28ª 0,93±0,32b

*Os valores seguidos pela mesma letra, para um mesmo elemento químico, não apresentam diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade; os valores seguidos por letras diferentes, para um mesmo elemento químico, apresentam significância ao nível de 5% de probabilidade.

Segundo Branco, citado por Lopes (2007), no período de chuva facilita a

proliferação de bactérias que transformam amônia em nitrito ou nitrato,

trazendo como conseqüência um aumento ainda maior da proliferação de

microorganismos. Também deve-se considerar que o nitrato apresenta alta

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mobilidade, portanto, no período chuvoso esses ânions são carreados para os

cursos d’água.

4.2.2 Condição de Suporte Biológico

No caso da temperatura, as amostras das áreas 1 e 7 apresentaram os

menores valores, possivelmente por se tratar de duas áreas de nascentes,

com algum tipo de cobertura vegetal (Tabela 5). Por outro lado, nas áreas em

que se obteve as maiores temperaturas observou-se a falta de vegetação, o

que facilita maior incidência da energia solar. A cobertura vegetal tende a

diminuir a penetração dos raios solares. Além disso, as áreas de nascente não

sofrem influência dos esgotos domésticos e demais efluentes. Observa-se que

na área amostrada 12, a temperatura foi superior as demais, possivelmente

pelo fato de se tratar do ultimo ponto a ser coletado e portanto, sofrendo

influência do período do dia, e ser o ponto receptor de todo o esgoto da

microbacia. Segundo Roma (2008), a temperatura é influenciada por fatores

tais como estação do ano, período do dia, recebimento de esgotos em suas

águas e pela cobertura vegetal.

TABELA 5: Valores médios de temperatura, pH e oxigênio dissolvido (OD) com seus respectivos desvios padrão nos pontos amostrados da microbacia do Candidópolis, Itabira e concentrações máximas permitidas pela Resolução n°357/2005 do CONAMA

Áreas Amostradas Valores Médios Temperatura

(oC) pH

OD

mg L-1 1 20,41±1,68 7,62±0,85 8,31±1,30 2 21,91±1,28 6,85±0,27 7,66±0,74 3 22,91±2,53 7,13±0,27 7,90±1,64 4 21,50±1,67 6,88±0,45 7,50±0,86 5 22,25±1,08 7,26±0,34 7,58±0,70 6 23,00±1,37 7,05±0,42 8,01±0,93 7 19,33±1,32 7,15±0,30 8,16±1,43 8 21,66 ±1,72 6,55±0,52 7,73±1,71 9 23,33±3,40 6,38±0,72 7,60±0,80

10 22,66 ±1,75 7,08±0,34 7,63±1,18 11 21,66±0,61 6,91±0,22 7,20±0,31 12 25,25±3,86 6,77±0,30 7,03±1,27

Classe 1 Não especificado 6 a 9 ≥ 6,00 CONAMA Classe 2 Não especificado 6 a 9 ≥ 6,00

Classe 3 Não especificado 6 a 9 ≥ 4,00

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Em relação ao pH, observa-se que as águas de todas as áreas

pesquisadas encontram-se próximo da neutralidade, com pouca variação em

relação às áreas das nascentes. Ressalta-se, ainda, que nenhuma área

excedeu os valores limites para pH (entre 6 e 9) considerado pela Resolução no

357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a), estando também de acordo com a OMS

(< 8,0). O pH é utilizado para expressar o caráter ácido (pH <7), básico (pH >7)

ou neutro (pH = 7) de uma solução. Para Ayres Swestcot (1991), citado por

Farias (2006), o parâmetro pode ser influenciado pela quantidade de matéria

morta a ser decomposta, pois quanto maior a quantidade de matéria orgânica

disponível, menor o pH, pois pode haver decomposição de materiais

compostos de ácidos orgânicos. O valor da variável pode ainda ser modificado

no decorrer do dia, devido aos processos bioquímicos que ocorrerão em função

da temperatura e da atividade de microorganismos (Hermes e Silva, 2004).

Para o OD os maiores valores foram encontrados nas águas das

nascentes áreas 1 e 7 (8,31 e 8,16, respectivamente) e os menor teor nas

águas das área 12 (Tabela 5). Esse resultado espelha a contribuição de toda a

matéria orgânica recebida após as nascentes culminando no ponto de junção

de todas as águas que é a área 12, ocasionando a redução do oxigênio

dissolvido. Segundo Hermes e Silva (2004), o oxigênio está envolvido

praticamente em todos os processos químicos e biológicos. O processo de

fotossíntese é a principal fonte de oxigênio dissolvido nos corpos d’água. Além

desse processo, o OD pode ser incorporado diretamente do ar. Apesar da

diferença dos teores, todos os pontos amostrados enquadram-se na classe 1

da Resolução no 357/2005 do CONAMA.

Na Tabela 6, observa-se que para os valores de temperatura e pH, não

houve diferenças significativas em nível de probabilidade de 5% nas diferentes

épocas do ano. Entretanto, houve diferença para oxigênio dissolvido,

apresentando valor superior na época de chuva (7,59 mg L-1). O aumento do

volume de água devido à precipitação pluviométrica e conseqüentemente sua

maior agitação favorecem a dissolução do oxigênio nas águas, além de reduzir

a concentração de matéria orgânica dissolvida.

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TABELA 6: Valores médios de temperatura, pH e OD em duas épocas do ano (chuva e seca) considerando amostras colhidas em doze áreas distintas da microbacia do Candidópolis, entre os anos de 2007/2008, Itabira - Minas Gerais, Brasil

Parâmetros Valores Médios Chuva Seca

Temperatura (oC) 22,40± 1,60ª 21,92±2,98ª pH 6,92±0,51ª 7,01±0,54ª

Oxigênio Dissolvido (mg L-1) 7,59±1,15ª 0,93±0,32b *Os valores seguidos pela mesma letra, para um mesmo elemento químico, não apresentam diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade; os valores seguidos por letras diferentes, para um mesmo elemento químico, apresentam significância ao nível de 5% de probabilidade.

Apesar de no presente estudo não termos encontrado diferença

significativa em função das épocas de chuva e seca para a temperatura,

segundo Hermes e Silva (2004), a temperatura varia conforme as flutuações

sazonais, latitude, altitude, hora do dia e pela profundidade. No caso do

presente estudo acredita-se que por não ter havido uma padronização da hora

de coleta e obtenção de dados em campo, isso possa ter sido um fator a

influenciar na ausência de significância estatística, uma vez que a flutuação

nos horários de ida a campo ocasionou medidas tanto no início da manhã

(horário de temperaturas mais amenas), quanto no início da tarde, horário

geralmente com temperaturas mais elevadas.

A temperatura é um fator importante, pois afeta os processos físicos,

químicos e biológicos, acarretando também no aumento das atividades

biológicas dos organismos vivos presentes na água (Hermes e Silva, 2004).

4.2.3. Indicadores microbiológicos

Analisando a presença de coliformes termotolerantes e total, observa-se

na Tabela 7, que as nascentes (áreas 1, 7 e 9) apresentaram valores inferiores

as demais áreas amostradas. Para os coliformes termotolerantes, todas as

amostras apresentaram valores superiores ao padrão exigido para a classe 1

da Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a). Entretanto, as áreas

amostradas 1, 7 e 9 apresentaram valores inferiores a 1000 (UFC/100 mL),

podendo ser enquadrada na classe 2, e as amostras 2, 3, 5, 6 e 8

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apresentaram valores inferiores a 2500 (UFC/100 mL), podendo ser

enquadrada na classe 3. Entretanto, os valores estabelecidos pela Resolução

no 357/2005 apresentados na tabela 11, não são indicados para uso de

recreação de contato primário1, devendo neste caso ser obedecida a

Resolução no 274/2000 do CONAMA (Brasil, 2005a). Neste caso a água é

considerada imprópria para o contato primário quando no trecho avaliado for

verificado valor superior a 2.500 coliformes termotolerantes e dessa forma

estariam descartadas as áreas amostradas 4, 10, 11 e 12.

Segundo a Resolução no 274/2000 do CONAMA (Brasil, 2005a), as águas

consideradas próprias poderão ser subdivididas nas seguintes categorias: i)

Excelente: quando houver, no máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes)

por l00 mL; ii) Muito Boa: quando houver, no máximo, 500 coliformes fecais

(termotolerantes) por 100 mL; iii) Satisfatória: quando houver, no máximo 1.000

coliformes fecais (termotolerantes) por 100 mL Em todas as três categorias

deve-se considerar os resultados em 80% ou mais de um conjunto de amostras

obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local.

Dessa forma apenas as nascentes são consideradas próprias para o contato

primário, enquadrando-se na categoria satisfatória.

TABELA 7: Valores médios de coliforme termotolerante e total com seus respectivos desvios padrão nas áreas amostradas da microbacia do Candidópolis em Itabira e concentrações máximas permitidas pela Resolução 274/2000 do CONAMA

Valores Médios Áreas Amostradas UFC/100 mL*

Coliforme Termotolerante Coliforme Total 1 270,83±334,70 1.496,67±800,17 2 1.890,83±3.118,19 2.888,33±3.555,11 3 2.267,50±3.046,76 11.812,50±21.222,97 4 8.679,17±8.654,43 9.112,50±8.273,78 5 2.091,67±1.687,87 3.658,33±1.348,49 6 1.118,33±870,69 2.436,67±1.194,35 7 270,00±429,88 661,67±797,96 8 1.290,83±1.781,49 1.809,171±.582,53 9 668,33±758,22 1.503,33±1.065,49

10 7.583,33±4.511,95 22.450,00±18.882,98 1Recreação de contato primário: contato direto e prolongado com a água (tais como natação, mergulho, esqui-aquático) na qual a possibilidade do banhista ingerir água é elevada (Brasil, 2005a).

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11 23.380,00±31.937,18 23.550,00±31.792,29 12 21.221,67±28.750,19 26.276,67±42.503,73

Classe 1 ≤ 200 Não definido CONAMA Classe 2 ≤ 1.000 Não definido

Classe 3 ≤ 2.500 Não definido *Unidades Formadoras de Colônia por 100 mL de amostra.

Segundo Oga, citado por Roma (2008), a presença de poluição fecal está

associada a organismos que ocorrem em grande número na flora intestinal

humana e animal. Segundo Hermes e Silva (2004), coliformes e Streptococos

fecais são usados como indicadores de uma possível contaminação por

esgoto, uma vez que são encontrados em fezes de animais e humanas. Observa-se, ainda, que os pontos 1, 7 e 9, mesmo sendo locais de

nascentes, apresentaram coliformes termotolerantes, que pode ser explicado

pela presença de animais no local. Observou- se no período das coletas que na

microbacia do Candidópolis, de modo geral, encontraram-se animais nos leitos

dos córregos e as residências localizadas próximas lançam efluentes

domésticos nos cursos d’água.

Para coliformes totais, a Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil,

2005a) não apresenta valor máximo permitido. Entretanto, o Ministério da

Saúde lançou a Portaria no 518, de 25 de março de 2004, que estabelece

padrões de potabilidade para o consumo humano, determinando que para

coliformes totais e termotolerantes o valor máximo permitido é a ausência em

100 mL. Portanto, observou-se que em todas as áreas amostradas a água

encontrou-se imprópria para o consumo sem tratamento prévio.

Na Tabela 8, observa-se que houve diferença estatística significativa, ao

nível de 5%, para coliforme termotolerantes e totais em relação à sazonalidade,

obtendo-se maior valor na época de chuva. Acredita-se que essa diferença

deva-se principalmente ao fato das águas da chuva poderem transportar as

fezes dos animais que pastoreiam as margens dos córregos.

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TABELA 8: Valores médios de coliforme termotolerante e total em duas épocas do ano (chuva e seca) considerando amostras colhidas em doze áreas distintas da microbacia do Candidópolis, entre os anos de 2007/2008, Itabira - Minas Gerais, Brasil

Parâmetros Valores Médios Chuva Seca

Coliforme Termotolerante 9.482,78±18.865,83ª 2.305,97±4.884,49b Coliforme Total 15.011,11±24.770,60ª 2.931,53±4.523,22b

*Os valores seguidos pela mesma letra, para um mesmo elemento químico, não apresentam diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade; os valores seguidos por letras diferentes, para um mesmo elemento químico, apresentam significância ao nível de 5% de probabilidade.

4.2.4. Características físicas

Para turbidez, as áreas amostradas de nascente (1 e 7) apresentaram os

menores valores (4,28 e 4,66 UNT, respectivamente), enquanto as áreas

amostradas 11 e 12 apresentaram os maiores valores (27,01 e 19,53,

respectivamente) (Tabela 9). A área amostrada 12, ponto de junção de águas

de todos os pontos amostrados e de todos os córregos que compõe a

microbacia Candidópolis representa, portanto, a contribuição de partículas em

suspensão de cada córrego da microbacia. Já a área amostrada 11 representa

o córrego Lavoura e seus afluentes.

TABELA 9: Valores médios de turbidez e cor verdadeira com seus respectivos desvios padrão nas áreas amostradas da microbacia do Candidópolis, Itabira e concentrações máximas permitidas pela Resolução no 357/2005 do CONAMA

Valores Médios Áreas Amostradas Turbidez

(UNT)* Cor

(Pt L-1)** 1 4,28±0,61 33,50±2,94 2 7,40±3,60 76,16±27,85 3 11,51±5,77 124,33±61,86 4 7,29±1,10 93,00±26,84 5 17,91±5,64 136,00±22,95 6 16,11±8,80 117,50±24,22 7 4,66±2,96 44,00±25,32 8 15,73±9,14 157,50±80,05 9 10,62±6,62 97,50±44,62

10 12,34±4,14 131,66±66,85 11 19,53±13,61 176,83±84,71

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12 27,01±9,90 157,33±61,96

Classe 1 ≤ 40 Nível de cor verdadeira do corpo de

água CONAMA Classe 2 ≤ 100 ≤ 75

Classe 3 ≤ 100 ≤ 75 * Unidades nefelométricas de turbidez **Unidade de cor, equivalente a mg L-1 de platino-Cobalto.

Uma vez que a turbidez revela presença de partículas em suspensão, as

áreas que apresentaram os maiores valores provavelmente são áreas mais

antropizadas e degradadas em relação à erosão do solo. Por outro lado, os

resultados de turbidez indicam que as áreas de nascentes, apresentam solos

menos expostos a erosão. Apesar dessa variação, todas as amostras

apresentaram valores inferiores ao padrão exigido para a classe 1 da

Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a) (Tabela 9).

Para Macedo (2002), o que diferencia a cor aparente da cor verdadeira, é

que no primeiro caso esta é o resultado da reflexão e dispersão da luz nas

partículas em suspensão responsáveis pela turbidez, enquanto que a cor

verdadeira ou real é devida a materiais dissolvidos e colóides. Segundo Porto

et al., citado por Macedo (2002), os ácidos húmicos são as substâncias que

mais ocasionam cor às águas.

No caso da cor aparente, as amostras 1 (nascente do córrego do Meio) e

7 (nascente do córrego Candidópolis) apresentaram os menores valores,

enquadrando-se na classe 1 da Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil,

2005a), enquanto todas as demais enquadram-se na classe 4, com as

amostras 8, 11 e 12 apresentando os maiores valores (Tabela 9). Segundo Von

Sperling (2004), resultados obtidos para cor podem ser indícios de uma

presença de colóides dispersos na água ou materiais decorrentes de origem

orgânica. Dessa forma, altos valores podem ser devido a erosão em função

das atividades antrópicas como agricultura e chacreamento, além de efluentes

derivados de esgoto doméstico.

Observa-se na tabela 10 que os valores de turbidez e cor apresentaram

diferença estatística significativa, ao nível de 5%, em relação aos períodos de

chuva e seca. Segundo von Sperling (2004), os valores mais elevados para

turbidez são registrados nos períodos chuvoso em comparação a época de

seca. A turbidez tende a se elevar quando a vazão aumenta. As chuvas que

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causam vazões maiores podem ser muito variáveis, com diferentes graus de

erosividade, afetando os terrenos das encostas e margens. Os valores

encontrados mais altos em época de chuva se devem possivelmente a

quantidades de partículas erodidas do solo em período chuvoso e materiais de

origem doméstica carreados para os cursos d’água.

TABELA 10: Valores médios de turbidez e cor verdadeira em duas épocas do ano (chuva e seca) considerando amostras colhidas em doze áreas distintas da microbacia do Candidópolis, entre os anos de 2007/2008, Itabira - Minas Gerais, Brasil

Parâmetros Valores Médios* Chuva Seca

Turbidez (UNT**) 16,69±9,93ª 9,06±6,46b Cor aparente (Pt L-1)*** 141,64±70,08ª 82,58±38,87b

*Os valores seguidos pela mesma letra, para um mesmo elemento químico, não apresentam diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade; os valores seguidos por letras diferentes, para um mesmo elemento químico, apresentam significância ao nível de 5% de probabilidade. ** unidades nefelométrica de turbidez. ***Unidade de cor, equivalente a mg L-1 de platino-Cobalto.

Uma vez que a cor aparente está relacionada com o material em

suspensão, colóides argilosos e orgânica, as chuvas favorecem o carreamento

dessas partículas principalmente em áreas degradadas (Macedo, 2002).

.

4.2.5 Indicador de decomposição da matéria orgânica

Os valores médios de DBO, encontrados nas áreas amostradas

demonstram que as águas da microbacia não apresentam contaminação por

matéria orgânica facilmente oxidável, uma vez que o valor máximo encontrado

foi de 0,91 mg L-1 e a Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a)

preconiza um valor de até 5 mg L-1 para a classe 1 (Tabela 11).

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TABELA 11: Valores médios de DBO e seus respectivos desvios padrão nas áreas amostrados da microbacia do Candidópolis, Itabira-MG e concentrações máximas permitidas pela Resolução no 357/2000 CONAMA (Brasil, 2005a)

CONAMA Valores Médios Classe 1 Classe 2 Classe 3

Áreas Amostradas

mg L-1 1 0,66±0,44 2 0,86±0,70 3 0,75±0,50 4 0,48±0,27 5 0,91±0,40 6 0,53±0,43 7 0,51±0,29 8 0,61±0,39 9 0,53±0,32

10 0,50±0,34 11 0,41±0,26 12 0,98±0,29

≤ 3,0

≤ 5,0

≤ 10,0

A DBO é uma medida da quantidade de oxigênio consumido por

microorganismos na decomposição da matéria orgânica. Segundo Hermes e

Silva (2004), sistemas aquáticos que não estão poluídos têm valores até 2,0

mg L-1. Isso demonstra que as áreas antropizadas com atividades agrícolas e

de chacreamento, entre outras, não estão contribuindo de forma significativa

para o incremento de matéria orgânica nos córregos de sua influência com

relação às áreas de nascentes amostradas.

Não houve diferença estatística significativa entre os teores de médios de

DBO, com relação à sazonalidade (Tabela 12). Apesar da época de chuva

poder ocasionar um efeito diluídor na concentração da matéria orgânica das

amostras, esse efeito pode ser compensado pelo arraste de material orgânico

pelas enxurradas ocasionadas pelas chuvas.

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TABELA 12: Teores médios de DBO em duas épocas do ano (chuva e seca) considerando amostras colhidas em doze áreas distintas da microbacia do Candidópolis, entre os anos de 2007/2008, Itabira

Período Teores Médios* (mg L-1)

Chuva 0,66±0,48ª Seca 0,64±0,34ª

* Os valores seguidos por letras diferentes apresentam significância ao nível de 5% de probabilidade.

4.2.6 Metais pesados

Na Tabela 13 pode-se observar os teores médios de metais pesados e

seus respectivos desvios padrão nos pontos amostrados da microbacia do

Candidópolis, Itabira-MG e as concentrações máximas permitidas pela

Resolução no 357/2000 do CONAMA. No caso do ferro, os menores teores

foram encontrados na nascente 7. Já as áreas amostradas 2 (foz do córrego do

Meio), 10 (encontro dos córregos Candidópolis e Lavoura) e 11 (final do

córrego da Lavoura) apresentaram os maiores teores médios. Apesar dessa

diferença, todas as áreas encontram-se acima dos limites de tolerância para o

enquadramento na classe 1 (destinadas ao abastecimento para consumo

humano, após tratamento simplificado, entre outras atividades), segundo a

Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a). Além disso, todas as

amostras se enquadram na classe 3 (destinadas ao abastecimento para

consumo humano, após tratamento convencional ou avançado, entre outra

atividades).

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TABELA 13: Teores médios de metais pesados e seus respectivos desvios padrão nos pontos amostrados da microbacia do Candidópolis, Itabira-MG e concentrações máximas permitidas pela Resolução no 357/2000 do CONAMA.

Teores Médios de Metais (mg L-1)

Áreas Amostradas

Cd Cu Cr Fe Mn Ni Pb Zn 1 0,005±0,004 0,047±0,052 0,03±0,04 1,20±0,18 0,06±0,06 0,024±0,033 0,033±0,044 0,06± 0,07 2 0,003±0,003 0,035±0,038 0,04±0,04 2,47±0,88 0,08±0,09 0,009±0,010 0,031±0,013 0,01±0,01 3 0,003±0,003 0,039±0,043 0,04±0,05 1,55±0,32 0,08±0,08 0,010±0,049 0,017±0,002 0,02±0,02 4 0,003±0,003 0,040±0,044 0,04±0,04 1,67±0,24 0,10±0,10 0,009±0,010 0,019±0,010 0,02±0,02 5 0,002±0,002 0,041±0,045 0,04±0,04 1,68±0,32 0,06±0,07 0,017±0,022 0,015±0,015 0,03±0,03 6 0,003±0,003 0,033±0,036 0,03±0,04 1,40±0,36 0,07±0,07 0,012±0,014 0,034±0,013 0,02±0,02 7 0,003±0,003 0,034±0,038 0,01±0,01 0,68±0,38 0,05±0,05 0,011±0,013 0,014±0,006 0,01±0,01 8 0,003±0,003 0,017±0,020 ND* 1,25±0,85 0,03±0,03 0,010±0,011 0,022±0,009 ND 9 0,003±0,003 0,024±0,026 ND 1,65±0,58 0,07±0,07 0,010±0,011 0,013±0,005 ND 10 0,009±0,016 0,021±0,023 ND 2,15±0,83 0,06±0,07 0,009±0,010 0,017±0,014 0,00±0,01 11 0,003±0,003 0,015±0,016 0,01±0,01 2,26±0,59 0,04±0,04 0,012±0,013 0,009±0,008 0,01±0,03 12 0,003±0,003 0,018±0,020 0,01±0,01 1,85±0,23 0,08±0,08 0,015±0,019 0,014±0,008 ND

Classe

1 ≤ 0,001 ≤ 0,009 ≤ 0,05 ≤ 0,3 ≤ 0,1 ≤ 0,025 ≤ 0,01 ≤ 0,18

CONAMAClasse

2 ≤ 0,01 ≤ 0,009 ≤ 0,05 ≤ 0,3 ≤ 0,1 ≤ 0,025 ≤ 0,01 ≤ 0,18

Classe

3 ≤ 0,01 ≤ 0,013 ≤ 0,05 ≤ 5,0 ≤ 0,5 ≤ 0,025 ≤ 0,033 ≤ 5,0

*Não detectado.

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Apesar desses teores relativamente altos, eles correspondem à influência

da geologia da área, uma vez que na região encontram-se depósitos de

minério de ferro explorado pela empresa VALE. Independente da origem, esses

teores de ferro podem ocasionar diversos problemas para o abastecimento

público de água, pois confere cor e sabor à água, provocando manchas em

roupas e utensílios sanitários, além de depósitos em canalizações e de ferro-

bactérias, provocando a contaminação biológica da água na própria rede de

distribuição.

Segundo a CETESB (2008), as águas que contêm ferro caracterizam-se

por apresentar cor elevada e turbidez baixa, o que pode ser constatado no

presente estudo, onde de modo geral todas as amostras apresentaram baixos

valores de turbidez e cor elevada (Tabela 9).

No caso do zinco, de modo geral, os teores são muito baixos ficando 10 a

30 vezes abaixo do limite de tolerância para a classe 1, de acordo com a

Resolução no 357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a).

Observa-se na Tabela 13 que para o cobre todas as áreas amostradas

encontram-se acima do valor máximo permitido pela Resolução no 357/2005 do

CONAMA (Brasil, 2005a), mesmo para a classe 3. Acredita-se que

possivelmente o uso de agroquímicos, utilizado pelos agricultores da

microbacia do Candidópolis seja o principal fator a contribuir com os altos

teores de cobre na microbacia. O cobre está presente na formulação de

fungicidas e caldas de micronutrientes aplicadas na lavoura pelos agricultores.

O cádmio e o chumbo apresentam, também, valores relativamente altos,

uma vez que, de modo geral, as áreas amostradas enquadram-se na classe 3

(destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento

simplificado, entre outras atividades) segundo a Resolução no 357/2005 do

CONAMA (Brasil, 2005a). Em relação ao chumbo, apenas a área amostrada 11

se enquadrou na classe 1 (destinadas ao abastecimento para consumo

humano, após tratamento simplificado, entre outras atividades). Pode-se

observar na Figura 1 que a área amostrada 11 (final do Córrego Lavoura) não é

influenciada pelas demais áreas.

Deve-se ter atenção ao cádmio, uma vez que esse metal é o mais móvel

em ambientes aquáticos, sendo considerado potencialmente carcinogênico e

fator de desenvolvimento de hipertensão e doenças do coração. Sua

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acumulação excessiva no homem causa problemas de metabolismo do cálcio,

descalcificação, reumatismos nevralgias e problemas cardiovasculares

(Macedo, 2002). O chumbo, segundo Klein, citado por Macedo (2002), é

considerado um metal tóxico para os seres humanos, com níveis de 0,005 mg

L-1 no sangue e, ou, 0,008 mg L-1 na urina, indício de envenenamento grave,

constituindo um grupo de risco especial para os bebês e crianças. Crianças

excessivamente expostas ao chumbo podem apresentar coma e convulsões

podendo chegar à morte (Macedo, 2002).

Cromo e níquel, também não apresentaram problemas apresentando

teores dentro classe 1 (destinadas ao abastecimento para consumo humano,

após tratamento simplificado, entre outras atividades), segundo a Resolução no

357/2005 do CONAMA (Brasil, 2005a).

Para Philippi Júnior, citado por Farias (2006), a presença de cromo, na

maioria das vezes deve-se ao uso de pesticidas e fungicidas usados para

tratamento de solo e também devido à precipitação atmosférica de fontes

industriais. O níquel, apesar de ser micronutriente para plantas e animais, sob

condições de alta exposição humana aguda e crônica, torna-se tóxico, podendo

provocar irritações na pele e olhos, dermatite, sinusite, rinite, perfurações no

septo nasal e asma (Cassaret & Doulli’s, 1986). Maiores concentrações são

esperadas em regiões com a presença de efluentes de fábricas de tintas e de

processos de galvanoplastia.

Com relação ao efeito da sazonalidade observa-se na Tabela 14, que

para cádmio, chumbo e ferro não houve diferença significativa, ao nível de 5%,

entre os teores médios e as épocas de seca e chuva, ao contrário do que foi

observado para cobre, cromo, manganês, níquel e zinco.

TABELA 14: Teores médios metais pesados em duas épocas do ano (chuva e seca) considerando amostras colhidas em doze áreas distintas da microbacia do Candidópolis, entre os anos de 2007/2008, Itabira - Minas Gerais, Brasil.

Metais Pesados Teores Médios Chuva Seca

Cádmio 0,006±0,006ª 0,000±0,002ª Cobre 0,060±0,022ª 0,000±0,000b Cromo 0,00±0,00b 0,05±0,03ª

Chumbo 0,020±0,025ª 0,019±0,011ª Ferro 1,79±0,56ª 1,51±0,78ª

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Manganês 0,000±0,00b 0,12±0,04ª Níquel 0,000±0,000b 0,037±0,021ª Zinco 0,04±0,03ª 0,00±0,002b

*Os valores seguidos pela mesma letra, para um mesmo elemento químico, não apresentam diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade; os valores seguidos por letras diferentes, para um mesmo elemento químico, apresentam significância ao nível de 5% de probabilidade.

O cromo, manganês e o níquel apresentaram teores médios maiores na

época de seca. Acredita-se que nos três casos a época da chuva ocasionou

um efeito de diluição, fazendo com que a concentração das amostras ficassem

abaixo do limite de detecção do método (0,01 mg L-1 para o manganês e 0,04

mg L-1 para o níquel). Supõe-se que a presença do manganês nas águas deva-

se à sua associação ao ferro e, portanto, influenciado pela geologia da região.

No caso do níquel, observa-se ainda que a média desses teores na época de

seca encontra-se fora do limite estabelecido pelo CONAMA. Para o níquel essa

resolução estabelece o mesmo limite de tolerância para as três classes 1, 2 e 3

de água doce. Fica um alerta para um monitoramento mais rigoroso nessa

época para melhor avaliação desse fato.

Ao contrário do que aconteceu com cromo, manganês e níquel com a

chuva contribuindo com efeito diluídor, no caso do cobre observa-se que na

época de seca este elemento não foi detectado, sendo o teor médio de cada

área amostrada o resultado das coletas durante a época de chuva. Este fato

ajuda ainda mais na suposição de que esses altos teores de cobre sejam

devidos aos agroquímicos utilizado pelos agricultores, que uma vez aplicados

seriam transportados das áreas agrícolas para os córregos, contaminando

assim os cursos d’água.

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5 CONCLUSÃO

- A microbacia do Candidópolis vem sofrendo degradação ambiental, como

exemplo o desmatamento da mata ciliar, despejo de poluentes gerados pelas

atividades humanas, ocupação e uso irregular do solo, introdução de atividades

agropastoris.

- Os efluentes líquidos das indústrias não influenciam na qualidade e no

tratamento da água para abastecimento público, uma vez que são lançados

após a estação de tratamento de água.

- No que se refere às condições de eutrofização das águas da microbacia o

fósforo é o principal contribuinte, com a área amostrada 12 (referente à lagoa

de captação de água para abastecimento do município de Itabira, junção de

águas de todos os pontos amostrados e de todos os córregos que compõe a

microbacia Candidópolis) apresentando teor médio de 0,45 mg L-1,

enquadrando-se apenas na classe 4, da Resolução no 357/2005 do CONAMA,

destinada à navegação e à harmonia paisagística. Por outro lado, o teor de

nitrato não apresenta risco à eutrofização, apresentando o maior teor médio

(1,32 mg L-1), aproximadamente, sete vezes menor que o valor máximo

permitido pelo CONAMA para a classe 1 (10 mg L-1).

- O nitrato apresentou maior teor na época de chuva, confirmando a sua alta

mobilidade no meio ambiente.

- Para os indicadores de condições de suporte biológico, em se tratando de OD

e pH todas as áreas amostradas apresentam-se de acordo com a classe 1 da

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Resolução no 357/2005 do CONAMA. No caso da temperatura da água os

maiores valores foram obtidos em locais com algum tipo de coberturra vegetal,

não havendo valor de referência para as classes de água da resolução

CONAMA.

- Os valores de coliformes termotolerante encontrados indicam que mesmo as

águas das nascentes encontram-se contaminadas, necessitando de tratamento

antes de serem consumidas. Já as águas das áreas 11 (córrego Vista Alegre) e

12 (referente à lagoa de captação de água para abastecimento do município de

Itabira, junção de águas de todos os pontos amostrados e de todos os córregos

que compõe a microbacia Candidópolis) não são indicados nem para uso de

recreação de contato primário (contato direto e prolongado com a água - tais

como natação, mergulho, esqui-aquático - na qual a possibilidade do banhista

ingerir água é elevada).

- Os resultados das características físicas indicam que a alteração da qualidade

das águas da microbacia deve-se à geologia do local, área de minério de ferro,

uma vez que não apresentam problemas com relação à turbidez, mas

apresenta alteração quanto à cor.

- Não há indícios de degradação antrópica da microbacia por materia orgânica

e sedimentos uma vez que os indicadores turbidez e DBO encontram-se dentro

dos limites estabelecidos pela Resolução no 357/2005 do CONAMA para a

classe 1.

- Há indício de contaminação por agroquímicos uma vez que os teores de

cobre nas águas da microbacia encontram-se acima dos limites estabelecidos

pelo CONAMA para classe 1.

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ANEXO 1: Imagem de satélite da microbacia do Candidopólis

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ANEXO 2: Entrevista realizada com os setores produtivos (agropecuária, agrícola, extração mineral, industrial, etc.) localizadas na região da microbacia. Razão Social: Endereço: 1-Tipo de atividade: 2- Qual é o papel da água no processo produtivo da atividade? 3- Qual é o conhecimento da “empresa” em relação à legislação vigente sobre a política de gestão de recursos hídricos? 4- Quais são os efluentes gerados no processo produtivo da “empresa”? 5- A “empresa” desenvolve tratamento de efluentes?

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ANEXO 3: Roteiro de entrevista destinada ao Secretário Municipal de Meio Ambiente. Nome: 1- Existe algum sistema de gerenciamento dos recursos hídricos na microbacia do Candidopólis? 2- Quais os principais problemas ambientais existentes na microbacia do candidopólis? 3- Existe algum programa ou técnica redutora de consumo de água? Se não, quais são os motivos da não utilização de programas? 4- Qual sua percepção em relação á cobrança pelo direito de uso da água bruta? 5- Qual a sua percepção relativos à escassez da água? 6- Existe algum programa de tratamento de efluentes na microbacia do Candidópolis por parte do poder público?

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ANEXO 4: Questionário destinado à população residente na microbacia do Candidópolis. Nome: idade: sexo: 1- Renda familiar ( ) Menos de 1 salário mínimo ( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) 4 a 6 salários mínimos ( ) Mais de 7 2- Você trabalha? Onde Trabalha? ( ) Sim onde:...................................... ( ) Não 3- Que atividades você realiza dentro da microbacia? ( ) Agropecuária ( ) Extração mineral ( ) Recreação ( ) Outras ( ) Agricultura 4- Conhece sobre a legislação relacionada aos recursos hídricos? ( ) Sim ( ) Não 5- Onde são lançados os efluentes produzidos pela sua residência? ( ) Nos cursos d’água ( )Rede de esgoto ( ) Fossa séptica ( ) Outros 6- Possui algum tratamento de efluentes? Quais? ( ) Sim ( ) Não 7- Sabe o que é mata ciliar e sua importância? ( ) Sim ( ) Não