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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação em Educação e Linguagem Mestrado Acadêmico WALTER ZAVATÁRIO A LINGUAGEM DOS JOVENS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA E SUA INFLUÊNCIA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA. CARATINGA 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA

Programa de Pós-Graduação em Educação e Linguagem

Mestrado Acadêmico

WALTER ZAVATÁRIO

A LINGUAGEM DOS JOVENS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA E SUA INFLUÊNCIA

NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA.

CARATINGA

2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E LINGUAGEM

MESTRADO ACADÊMICO

WALTER ZAVATÁRIO

A LINGUAGEM DOS JOVENS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA E SUA INFLUÊNCIA

NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Dissertação apresentada ao Centro Universitário

de Caratinga, como parte das exigências do

Programa de Pós-Graduação em Educação e

Linguagem, para obtenção do título de Mestre.

CARATINGA

2010

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Sistema de Bibliotecas - UNEC

Ficha Catalográfica

004.678

Z394l

2010

ZAVATÁRIO, Walter.

A linguagem dos jovens na mídia contemporânea e sua

influência na aquisição da língua portuguesa. Walter

Zavatário. Centro Universitário de Caratinga – UNEC: Mestrado

Acadêmico em Educação e Linguagem. 2010.

.....p; 29,7 cm.

Dissertação (Mestrado – UNEC – Área: Mestrado Acadêmico em

Educação e Linguagem).

Orientador: Prof. DSc. Amédis Germano dos Santos.

1. Ciberespaço.

2. Inclusão digital.

3. Interatividade – Internet.

4. Linguagem .

I. Título II. Prof. DSc. Amédis Germano dos Santos..

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“Muitas palavras que já morreram terão um segundo nascimento, e cairão muitas das que

agora gozam das honras, se assim o quiser o uso, em cujas mãos está o arbítrio, o direito e a

lei da fala”.

QUINTUS HORATIUS FLACCUS

(Filósofo e Poeta lírico e satírico romano - 65 a.C. a 8 a.C.)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me fortalecer, por me sustentar nas horas incertas e me suprir em todas as

minhas necessidades;

À minha esposa Mônica e aos meus filhos Ítalo Augusto e Isa Letícia pelo apoio, pelo

incentivo e pela paciência, pois, sem eles, não seria possível realizar essa pesquisa;

Ao meu Orientador, Professor Dr. Amédis Germano dos Santos, por apontar o

caminho da ciência, com paciência e dedicação, como contribuição fundamental para a

concretização desse trabalho;

Aos Professores Dr. Antônio de Pádua Magalhães e Dr. Hélio Soares do Amaral, pelas

valiosas orientações e sugestões que muito contribuíram para o desenvolvimento da

pesquisa;

Aos Professores Dra. Francis Paulina Lopes da Silva, Dra. Maria Lúcia Jannuzzi

Machado e Dr. Eduardo Vitor Miranda Carrão, pelos preciosos ensinamentos e

atenção durante o curso;

À colega e amiga Professora Gilsane da Silva Teixeira Alves, pela sua atenção e

paciência na realização da pesquisa de campo com seus alunos.

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RESUMO

Este trabalho pretende abordar a influência da mídia contemporânea na aquisição da Língua

Portuguesa pelos jovens. Parte da origem da linguagem oral e escrita, apontando a leitura

como um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, como um aprendizado

da arte de pensar e a procura do significado. Aborda as diferenças básicas entre interação e

interatividade, indicando o papel da interatividade na educação, bem como perspectivas para a

educação no mundo globalizado. Mostra que, com o surgimento do ciberespaço e o

desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) estabeleceram-se

formas de comunicação mediadas por computador, que têm sido amplamente exploradas

como recursos educacionais. Indica que a ciência e a tecnologia não são simples instrumentos

de leitura, mas, responsáveis pela redefinição do mundo contemporâneo, abordando a

inclusão digital como um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, sendo

indispensável para melhorar as condições de vida de uma comunidade, com a ajuda da

tecnologia. Discute a linguagem do jovem na mídia contemporânea, apontando que se torna

necessário que os jovens saibam distinguir, exatamente, os momentos em que precisam usar a

norma culta, daqueles em que podem usar uma linguagem mais informal, na mídia ou em seu

relacionamento social, fazendo uso das gírias, dos dialetos, dos “internetês”, ou de qualquer

outra forma de comunicação, tornando o seu discurso inteligível, interpretável e

compreensível. Por fim, os dados da pesquisa apontam a necessidade de orientação aos alunos

sobre o uso adequado e racional da Internet, bem como da linguagem.

Palavras-chave: Ciberespaço. Inclusão digital. Internet. Interatividade. Linguagem.

“Internetês”.

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ABSTRACT

This work intends to approach the influence of the contemporary media in the acquisition of

Portuguese Language by the youths. It starts from the origin of the oral language and writing,

pointing the reading as one of the most important means of acquisition of the knowledge, as a

learning of the art of thinking and the search of the meaning. It approaches the basic

differences between interaction and interactivity, indicating the paper of the interactivity in

the education, as well as perspectives for the education in the world globalized. It shows that,

with the appearance of the cyberspace and the development of the Information and

Communication Technologies (TIC) they settled down communication forms mediated by

computer, that have been thoroughly explored as education resources. It indicates that science

and technology are not simple reading instruments, but responsible for the redefinition of the

contemporary world, approaching the digital inclusion as one of the most important means of

acquisition of the knowledge, being indispensable to improve the conditions of a community's

life, with the help of the technology. It discusses the youth's language in the contemporary

media, appearing that if it turns necessary that the youths know how to distinguish, exactly,

the moments in that they need to use the educated norm, of those in that they can use a more

informal language, in the media or in their social relationship, making use of the slangs, of the

dialects, of the "internetês", or in any other communication way, turning their speech

intelligible, interpretável and comprehensible. Finally, the data of the research point out the

orientation need to the students on the appropriate and rational use of the internet, as well as

of the language.

Keywords: Cyberspace. Digital Inclusion. Internet. Interactivity. Language. “Internetês”.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 6

RESUMO ................................................................................................................................... 7

ABSTRACT .............................................................................................................................. 8

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1 A LINGUAGEM, A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E A COMUNICAÇÃO DO

TEXTO POÉTICO: ............................................................................................................... 13

2 A HORA E A VEZ DA INTERATIVIDADE ................................................................... 23

3 POLÍTICAS PÚBLICAS: INCLUSÃO DIGITAL .......................................................... 34

4 A LINGUAGEM DO JOVEM NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA ................................ 46

5 A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM DA MÍDIA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA

PORTUGUESA ...................................................................................................................... 57

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................ 72

6.1 Análise das redações realizadas pelos alunos pesquisados...................................... 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 87

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 92

ANEXO................................................................................................................................... 98

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INTRODUÇÃO

O objetivo proposto nesta dissertação é abordar, de forma sucinta, como é usada a

linguagem dos jovens de hoje, no dia-a-dia, sendo ela composta por abreviaturas e gírias de

uma forma geral, o que facilita a comunicação, mas, não o entendimento do leitor. O fato dos

jovens usarem esse tipo de linguagem é devido ao uso da Internet, que facilita a comunicação

através dos sites de relacionamento, tais como os bate-papos no MSN, Orkut, Facebook

e e-mails.

A Dissertação tem como foco pesquisar se os jovens sabem distinguir, exatamente, os

momentos em que precisam usar a norma culta, daqueles em que podem usar a linguagem da

Internet e de que forma a linguagem utilizada por eles tem influenciado na escrita e na fala da

Língua Portuguesa na 8ª série do Ensino Fundamental de uma escola da rede particular de

ensino de Caratinga, obtendo-se, então, uma amostra da intensidade do tipo de língua

utilizada pelos jovens, podendo a escola desenvolver uma prática para aprimorar a linguagem

formal, mostrando aos alunos as consequências no futuro, se não souberem adequar a

linguagem nas mais diversas situações e ambientes onde a sua comunicação é realizada.

O objetivo principal da metodologia é fazer uma análise criteriosa para identificar os

motivos que levam os jovens a se comunicarem através de gírias e abreviações e compreender

a relação existente entre o vocabulário dos jovens que frequentam a escola e a linguagem

expressa de maneira correta.

De acordo com Sylvia Constant Vergara (2000), há várias taxionomias de tipos de

pesquisa. Vergara propõe dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto

aos fins, a pesquisa será descritiva e explicativa. Como esta pesquisa pretende descrever o

perfil dos alunos que cursam a 8ª série do ensino fundamental, classificaremos como

descritiva. A pesquisa é explicativa porque “visa esclarecer algo, justificar-lhe os motivos.”

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Portanto, esta pesquisa é também explicativa, porque visa esclarecer quais os motivos que

levam os jovens a se comunicarem através de gírias e abreviações.

Quanto aos meios, segundo Vergara (2000), a pesquisa é bibliográfica e de campo.

Bibliográfica, porque para fundamentação teórico-metodológica, com a busca de conceitos,

origem, tipos e definições de linguagem, em artigos científicos, livros, dissertações de

mestrado, de doutorado e em Internet. A investigação é também de campo porque coletou

dados primários entre alunos de uma escola da rede particular de ensino de Caratinga.

Vergara (2000) define como um estudo de caso “aquele que é circunscrito a uma ou

poucas unidades, entendidas essas como uma pessoa, uma empresa...”. Como este trabalho foi

especificamente com alunos de uma escola da rede particular de ensino, pode-se afirmar,

então, que se trata de um estudo de caso. E, sendo assim, podemos chegar a uma conclusão

adequada, conforme o objetivo apresentado.

Inicialmente, abordaremos a origem da linguagem oral e escrita, destacando a leitura

como um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento. Em seguida, trataremos

das diferenças básicas entre interação e interatividade, indicando o papel da interatividade na

educação, bem como perspectivas para a educação no mundo globalizado, considerando-se

que a inclusão digital é um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, pois,

conforme André Lemos (2000), interatividade é um caso específico de interação, a

interatividade digital, compreendida como um diálogo entre homem e máquina, através de

interfaces gráficas, em tempo real, embora Pierre Lévy (1999) considere que a interatividade

apresenta a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos

modos de comunicação do que uma característica simples e unívoca, atribuível a um sistema

específico, não se limitando, portanto, às tecnologias digitais. Discutiremos a linguagem do

jovem na mídia contemporânea com o uso das gírias, dos dialetos, dos “internetês” e outras

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formas de comunicação, bem como a influência da linguagem da mídia na aquisição da

Língua Portuguesa.

Finalmente, apresentaremos os resultados da análise dos dados da pesquisa de campo

realizada com o questionário, além das redações feitas pelos alunos sobre a influência do

“Internetês” nos trabalhos escolares.

Com esta pesquisa pretendemos contribuir para o aprofundamento da questão proposta,

visando a uma melhor compreensão dos pressupostos destacados.

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1 A LINGUAGEM, A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E A COMUNICAÇÃO DO

TEXTO POÉTICO:

Dentre as grandes questões que têm atravessado os séculos e desafiado a inteligência

humana encontramos a busca da compreensão da origem da linguagem. Como justificar a

coexistência dos indivíduos das mais diferentes etnias, culturas, línguas e religiões, habitando

nas mais diferentes regiões desse mundo, numa diversidade climática, social e alimentar, cada

vez mais acentuada e sem precedentes na História da Humanidade?

Segundo Victória Fromkin; Robert Rodman, (1993), a posse da linguagem é o atributo

que mais distingue os seres humanos dos animais, sendo que, para compreendermos a nossa

humanidade, teremos que compreender a linguagem que nos torna humanos.

De acordo com a filosofia expressa nos mitos e religiões de muitos povos, é a

linguagem que constitui a fonte da vida humana e do poder. Por exemplo, para

alguns africanos, um recém-nascido é um kuntu, uma„coisa‟, não sendo ainda um

muntu, uma “pessoa”. É apenas ao aprender a linguagem que a criança se transforma

em um ser humano (FROMKIN; RODMAN, 1993).

Para se entender os limites da linguagem e a sua interação na sociedade moderna, outras

questões têm sido levantadas, tais como: Qual a importância da leitura para o homem

moderno? Como se realiza o processo da leitura? O que significa ler? Qual é o leitor ideal?

Como entender o fenômeno poético? Desta forma, este trabalho visa conhecer alguns aspectos

referentes à leitura, apontando caminhos para a compreensão do texto poético.

Em seus estudos sobre o homem diante da linguagem, José G. Herculano de Carvalho

(1974), com suas manifestações lingüísticas extremamente variadas, considera ser

praticamente impossível de se enumerar as línguas faladas no mundo, devido às grandes

diferenças existentes entre os idiomas, não existindo um critério definido para se estabelecer

as diferenças entre língua e dialeto. Ismael de Lima Coutinho (2002) entende que a linguagem

exerce um papel muito importante em todas as manifestações da vida humana e que o instinto

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de sociabilidade na espécie humana não encontraria expressão adequada, ou mesmo, se

anularia se não existisse a linguagem, não sendo sem razão que se tem atribuído uma origem

divina à palavra.

José Roberto Whitaker Penteado (1969) esclarece que desde a antiguidade, segundo os

relatos bíblicos, acreditou-se em uma linguagem natural, por intermédio de Adão, que

nomeou os seres viventes, segundo a determinação do Criador. Para Santo Agostinho, acredita

o autor, essa língua comum, possivelmente era o hebraico, o qual se diversificou por ocasião

do episódio da Torre de Babel.

Os estudos sobre as origens da Linguagem nos tempos modernos começaram com a

procura de uma localização cerebral para a Linguagem. Admite-se, atualmente, a Linguagem

como função de todo o organismo, pois, falamos com a voz, com as mãos, com os olhos, e

com os movimentos de todo o corpo. Assim, a Linguagem é considerada como uma atividade

cerebral ligada ao desenvolvimento psíquico e condicionada pelo meio social (PENTEADO,

1969). Portanto, a língua escrita, de modo similar à língua oral, é uma invenção social.

Paulo Freire (1993)1 salienta que a compreensão crítica do ato de ler não se esgota na

decodificação pura da palavra ou da linguagem escrita, mas se completa na inteligência do

mundo. “A leitura do mundo vem antes da leitura da palavra, e a nova leitura da palavra

necessita da leitura do mundo”, diz ele. Essa leitura do seu mundo sempre foi um elemento

decisivo para a compreensão da sua importância e recriada através de uma prática consciente

no seu dia-a-dia.

Assim, ler não é, simplesmente, um ato mecânico, mas, institui territórios privilegiados

para os indivíduos de uma mesma comunidade. Ler é ter percepção crítica, interpretação e

recriação da escrita. Ler é um ato de libertação. Em um de seus pronunciamentos, Rui

Barbosa (1923), adverte que “vós os que vos tendes entregado às artes, às letras, às ciências,

1 Trabalho apresentado por Paulo Freire na abertura do Congresso Brasileiro de Leitura, realizado em Campinas, em

novembro de 1981.

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não esqueçais que de todas elas a mãe é a liberdade, e que sem esta o desenvolvimento

daquelas é uma quimera fatal”.

Os movimentos libertários mundiais têm demonstrado que, à medida que aumenta o

desejo de liberdade, maior se torna o interesse pela leitura, proporcionando-se o

aprimoramento da linguagem. Como consequência, os leitores passam a ter acesso aos bens

culturais produzidos e registrados pela escrita, a despeito da variedade de outras formas de

linguagem e veículos para a divulgação da cultura.

Segundo Umberto Eco (2004), um texto distingue-se de outros tipos de expressão

devido à sua maior complexidade, devendo-se atentar para o “Não-dito”, ou seja, o que não

foi manifestado e expresso, devendo merecer a atenção especial do leitor, no sentido de

reconstruir o texto.

A própria noção de leitor, conforme afirma Dominique Maingueneau (1996) está longe

de ser estável. “O leitor ora é o público efetivo de um texto, ora o suporte de estratégias de

decifração. Os dois aspectos interpenetram-se, mas não tentam captar a mesma coisa. São

pontos de vista diferentes sobre a posição da leitura” (MAINGUENEAU, 1996). E aponta

quatro tipos de leitores: o “leitor invocado”, o leitor privilegiado feliz, chamado de “happy

few”; o “leitor instituído”, o leitor detetive, disposto a perscrutar o enredo e descobrir o

desenlace; o “leitor genérico”, disposto e sempre pronto para as mais diversas surpresas e

frustrações da obra; o “leitor atestado”, o qual concentra a sua atenção no estilo dependendo

de um aparato crítico para saber quem está com a razão. Para ser decifrado, o texto exige que

o leitor instituído se mostre cooperativo, seja capaz de construir o universo de ficção a partir

das indicações que lhe são fornecidas. Umberto Eco chama esse leitor cooperativo de “Leitor-

Modelo”.

A diferença entre um leitor capaz e um que não o é, ou um principiante, não reside no

processo pelo qual é obtido significado a partir do texto, não existindo, assim, um modo

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diferente, através do qual os maus leitores, em comparação com os bons leitores, obtêm

significado a partir de um texto. A diferença reside na maneira como cada leitor utiliza este

processo único.

Ainda que seja necessário existir flexibilidade na leitura, o processo tem características

essenciais que não podem variar: deve começar com um texto, com alguma forma gráfica; o

texto deve ser produzido como linguagem, e o processo deve terminar com a construção de

significado. Sem significado não há leitura e os leitores não podem obter significado sem

utilizar o processo.

Para compreendermos como a leitura se processa, precisamos compreender,

primeiramente, de que maneira o leitor, o escritor e o texto contribuem para esse processo.

Uma vez que a leitura implica em uma interação entre o leitor e o texto, as características do

leitor são tão importantes para a leitura, como as características do texto. Para Eni Puccinelli

Orlandi (2001), “o mesmo leitor não lê o texto da mesma maneira, em diferentes momentos e

em condições distintas de produção de leitura, e o mesmo texto é lido de maneiras diferentes

em diferentes épocas, por diferentes leitores”. Diferentes pessoas lendo o mesmo texto

apresentarão variações no que se refere à compreensão do mesmo, segundo a natureza de suas

atribuições pessoais ao significado, podendo interpretar, somente, de acordo com a base do

que conhecem.

Deve-se destacar a sensibilidade do escritor em relação ao público ao compor o seu

texto, considerando-se ausência do leitor nesse processo da comunicação, enquanto o leitor

deve construir o significado a partir do texto, na ausência do escritor. Portanto, não podemos

nos voltar para o escritor como o fazemos com um orador e perguntar-lhe: “o que quis dizer?”

Trata-se de uma interação a longa distância entre o leitor e o escritor. O leitor deve depender

unicamente do texto para construir o significado.

A leitura, segundo Eurípedes Garcia Batista (2001) é um processo cíclico, que aconte-

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ce em quatro ciclos distintos: o ciclo ótico, perceptual, sintático e o de semântico. O leitor está

sempre voltado para obter sentido do texto e sua atenção está sempre voltada para o

significado e não para certas letras, palavras ou mesmo para os aspectos gramaticais

envolvidos no processo. Dentre os tipos de textos encontram-se os seguintes: notícia,

prospecto, folhetim, carta pessoal, carta comercial, cartaz, cartões, texto opinativo, revista em

quadrinhos, outdoors, propaganda, folders, classificados, bula, conta telefônica, contas de

água e luz, texto literário em prosa e poesia, e outros.

Quanto à estratégia da leitura podemos citar algumas das principais razões para se ler:

localizar informações, recompor um texto, identificar componente textual, fazer inferência,

emitir opiniões, levantar pistas, avaliar personagens, fazer julgamentos, interpretar metáforas

e analogias, fazer opções, orientar-se, identificar intenções, estabelecer comparações, deleitar-

se levantar questões, analisar idéias, resumir, identificar, fazer predições, tirar conclusões,

fazer consulta, verificar material utilizado, além de outras finalidades específicas.

Como explicar esse sentimento que surge dentro de nós ao lermos um poema de Carlos

Drummond de Andrade, de Cecília Meireles ou de Clarice Lispector? Como a poesia age

dentro de nós, despertando encanto e aquecendo a frieza do dia-a-dia, conseguindo nos revelar

uma vida ideal, cheia de detalhes, através de uma lente especial, chamada “sensibilidade”? A

poesia nos conduz por caminhos não trilhados e por momentos inimagináveis, revelando-nos

situações e lugares apenas sonhados, fazendo-nos sentir a “aventura da imaginação”.

A sensação provocada por um acontecimento, pela presença de alguém, ou pela própria

natureza, adquire uma experiência diferente para cada um de nós. Com certeza, jamais dois

indivíduos usariam as mesmas palavras em seus poemas para expressarem a mesma realidade

que estivessem vivenciando.

Trata-se da marca individual, personalizada, que caracteriza a poesia. Decifrar um tex-

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to, segundo Maingueneau (1996) é mobilizar um conjunto diversificado de competências para

percorrer, de modo coerente, uma superfície discursiva, orientada temporalmente. De igual

modo, no texto poético, segundo Alba Olmi e Norberto Perkoski, (2005), o conceito de

conhecimento abre-se em um leque de significações, vinculado ao do pensamento,

entrelaçado aos conceitos de percepção, definição, análise e sensação, associados à ação do

pensamento humano, estabelecendo as articulações entre fruição e cognição. O ato de ler o

poema deflagra uma inter-relação intensa entre o sujeito e o objeto e os ultrapassa, dando

lugar à fruição e cognição do texto

Segundo Gaston Bachelard (1989), a imagem poética alcança uma transubjetividade que

ultrapassa a racionalidade e a reflexão, surgindo na consciência do poeta e do leitor “como um

produto direto do coração, da alma, do ser do homem tomado em sua atualidade”, avalia

Bachelard. Para que se perceba a ação psicológica de um poema, acentua, devem-se seguir

dois eixos de análise fenomenológica: “um que leva às exuberâncias do espírito, outro que

conduz às profundezas da alma” (BACHELARD, 1989). Assim, na leitura de um texto

poético, segundo Bachelard, o leitor pode recriar o percurso criativo do poeta, acrescentando

ao poema e às imagens desenvolvidas pelo escritor a sua tradução inventiva.

A linguagem poética não comunica uma informação didática ou doutrinária, mas revela

uma percepção subjetiva. Porém, o poeta não assume uma atitude passiva diante do mundo,

mas, usando a palavra como arma, ele procura passar uma visão diferente sobre aquilo que o

cerca. A expressão “eu te amo”, por exemplo, que tantas vezes se apresenta de uma forma

desgastada, ao ser utilizado nas mais diversas culturas, é feita de maneira única e particular.

Compulsando os textos bíblicos, encontramos na literatura hebraica, no livro do Profeta

Jeremias, por volta do ano 622 a.C., o registro de uma declaração atribuída ao próprio Deus:

“De longe Iahweh me apareceu e disse: Eu te amei com um amor eterno, por isso conservei

para ti o amor” (JEREMIAS 31, v. 3). Dois verbos distintos são usados pelo Profeta Jeremias:

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o verbo hebraico “Ahab”, para expressar o amor na forma mais pura, o amor eterno. O outro

verbo utilizado no mesmo versículo é “Hésed”, expressando o amor leal, que estabelece um

pacto com o seu povo. Fazendo-se uma releitura do texto, poderia ser traduzido como: de

longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: com amor eterno eu te amei; por isso, com

benignidade e com amor leal te atraí.

Na literatura sapiencial hebraica, encontramos a forma que o poeta utilizou para

expressar “eu te amo”, em 250 a.C., quando diz:

Põe-me como um selo em teu coração, como um selo no teu braço. Porque o amor é

forte como a morte, o amor único mais forte que a eternidade dos mortos. E as

muitas águas não puderam extinguir o amor. (SALOMÃO, em Cântico dos

Cânticos, cap.8, v.6).

Conforme Federico Carlos Eiselen et al (1949), em nenhuma outra composição literária

foi descrito este amor divino de maneira tão encantadora como as palavras da noiva quando

entra no lagar, completando, assim, os laços matrimoniais. Os poemas que fazem parte dessa

coletânea dos Cânticos foram considerados e lidos pelos judeus desde a sua origem, como um

cântico de amor de Deus para como o seu povo. E, o amor humano constituía-se um

verdadeiro símbolo da Aliança de Deus com o seu povo. Na literatura bíblica “joanina grega”2

encontramos o seguinte diálogo entre Cristo e Pedro:

...Simão, filho de João, amas-me (agapâs me) mais do que estes outros? ...Sim

Senhor, tu sabes que te amo (filô te); ...Simão, filho de João, tu me amas (agapâs

me)?; ...Sim, Senhor, tu sabes que te amo (filô te); ...Simão, filho de João, tu me

amas (filô me)?; ...Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que te amo (filô te)

(JOÃO 21:15-17).

Na passagem em questão dois vocábulos diferentes, no original grego, são usados para

traduzir a palavra “amar”. Cristo usou o termo grego “agapao”, nas duas primeiras

indagações, e o vocábulo grego “fileo”, na terceira inquirição. Pedro usou sempre o termo

2 Evangelho de João, segundo a Septuaginta - versão grega do Novo Testamento.

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grego “fileo” em suas três respostas. No grego, “agapâs” é traduzido como um amor

profundo, utilizado com respeito ao amor divino, bem como sobre o amor exigido pela lei. E o

verbo “fileo”, no grego, é utilizado com o sentido de “ter simpatia”, como um grau inferior de

amor, em relação ao “agapâs”.

Por outro lado, segundo Russell Norman Champlin (1983), muitos intérpretes e

comentaristas modernos consideram que ambos os termos são sinônimos e que podem

expressar todas as formas de emoções, desde o “ter simpatia” até ao amor mais intenso.

Assim, o autor do Quarto Evangelho tendia a usar livremente palavras sinônimas, até mesmo

numa única passagem, sem que, com isso, quisesse dar a entender qualquer diferença de

sentido. E completa Champlin:

O uso das duas palavras, como sinônimos, passou de modo completo para as páginas

do Novo Testamento, apesar de que, no grego helenístico, ou, pelo menos, no grego

“koiné”, utilizado no Novo Testamento, “agapao” fosse a palavra mais

freqüentemente usada, figurando 142 vezes em sua forma verbal e 116 vezes em

sua forma substantivada (CHAMPLIN, 1983).

Em seus estudos sobre a análise do discurso, Orlandi (2001) avalia que, considerando a

linguagem como mediação necessária entre o homem e a sua realidade natural e social, a

análise do discurso articula o lingüístico ao sócio-histórico e ao ideológico, colocando a

linguagem na relação com os modos de produção social.

Não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. Há, entre os diferentes

modos de produção social, um modo específico que é o simbólico. E, existem

práticas simbólicas produzindo o social. O discurso é a materialização do simbólico

(ORLANDI, 2002).

No poema de Walter Zavatário (2003)3, pode-se constatar o simbolismo produzindo o

social, materializando-se no discurso que expressa uma maneira típica, idealizada, de dizer

“eu te amo”. Fazendo-se mensageiro da música ímpar de seu ritmo, passando pela sutileza das

idéias sugeridas, revela os momentos inesquecíveis pelos quais todos nós passamos, quando o

3 Poema “Foi Assim”, de Walter Zavatário, in: Amanhecer, Caratinga: Caratinga, 2003.

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sentimento amoroso se nos bate às portas. O poeta canta a doçura de um amor que se entrega

por inteiro, numa procura constante, expressando um amor que inflama, que se apaixona,

embora tendo passado uma vida inteira sem conhecimento desse amor predestinado.

Foi assim

Nasci pra te amar.

Vivi sem saber.

Cresci sem te ter.

Parti sem falar.

Sofri sem te ver.

Morri ao chegar.

(ZAVATÁRIO, 2003)

Utilizando uma forma de degraus, o poeta diz “eu te amo” expressando-se com verbos

que descrevem um ciclo que se completa nas duas direções: descendente, com verbos da

segunda e terceira conjugações e, ascendente, com verbos da primeira e segunda conjugações.

Afirma que, simbolicamente, descendo e subindo os degraus de sua sofrida existência, nasceu,

viveu, cresceu, partiu, sofreu e morreu, quando mais esperava encontrar a sua amada.

Entretanto, embora tenha “morrido ao chegar”, expressando uma ambigüidade, talvez um

amor não correspondido, ou mesmo impossível, podemos ler nessa simbologia que o poeta

viu, falou, teve, soube e amou como nunca. Portanto, os extremos se tocam. E a vida continua

com seus degraus e seus altos e baixos.

A leitura é um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, como um

aprendizado da arte de pensar. A linguagem exerce um papel muito importante em todas as

manifestações da vida humana, sendo que o instinto de sociabilidade na espécie humana não

encontraria expressão adequada, ou mesmo, se anularia se não existisse a linguagem. A

Linguagem é considerada como uma atividade cerebral ligada ao desenvolvimento psíquico e

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condicionada pelo meio social. Ler é ter percepção crítica, interpretação e recriação da escrita.

Ler é um ato de libertação. A diferença entre um leitor capaz e um que não o é, ou um

principiante, não reside no processo pelo qual é obtido significado a partir do texto, mas, na

maneira como cada leitor utiliza este processo único.

A leitura é um processo que acontece em quatro ciclos distintos: ótico, perceptual,

gramatical e o de significado. O ato de ler o poema deflagra uma inter-relação intensa entre o

sujeito e o objeto e os ultrapassa, dando lugar à fruição e cognição do texto, pois, a poesia nos

conduz por caminhos não trilhados e por momentos inimagináveis, revelando-nos situações e

lugares apenas sonhados, fazendo-nos sentir a “aventura da imaginação”. A imagem poética é

transubjetiva, ultrapassando os limites da razão e da reflexão, surgindo na consciência do

poeta e do leitor produzido pelo coração e pela alma humana, proporcionando ao leitor a

recriação do texto, elaborando sua própria tradução criativa.

Finalmente, ressaltamos que a linguagem poética não comunica uma informação

didática ou doutrinária, mas revela uma percepção subjetiva, conforme destacada nas diversas

maneiras de se dizer “eu te amo”, ao longo dos séculos, em diferentes línguas e culturas. O

poeta traz consigo essa marca pessoal e intransferível da subjetividade que caracteriza a

poesia, envolta na sensibilidade e na imaginação.

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2 A HORA E A VEZ DA INTERATIVIDADE

Interatividade é um termo novo, pouco encontrado em dicionários. Entretanto, é

definido, como “possibilidade ou capacidade de ação mútua e possibilidade de comunicação

de duas vias entre o computador e seu usuário” 4

. Conceitua-se, também, como a relação entre

duas ou mais pessoas que, em determinada situação, adaptam seus comportamentos e ações

uns aos outros.

Atualmente, o computador está deixando de ser apenas um instrumento de trabalho,

para se transformar em meio de relacionamento social, nas mais diversas situações e nas

diferentes classes sociais, em ambientes diversificados, onde os limites de tempo e espaço não

são mais considerados. As novas tecnologias dominaram o espaço doméstico, profissional e

de lazer do indivíduo, influindo e modificando relacionamentos, transformando sua rotina

diária.

É o chamado Ciberespaço5, onde a comunicação se processa através dos computadores,

estabelecendo contatos e ações interativas entre seus usuários, onde a distância já não mais

significa absolutamente nada. Assim, a interatividade se processa por intermédio das mais

diversas tecnologias. E, na educação, já podemos observar a grande preocupação com o

ensino e os eventos de interfaces de disciplinas diversas.

O que significa interatividade e ser interativo nos dias atuais? Qual a importância e a

influência da interatividade no processo educacional contemporâneo?

Interatividade resume-se em diversas formas criativas de se trabalhar, usando-se várias

maneiras de se interagir em uma comunicação, onde o emissor consegue transmitir a

mensagem para o receptor. Para se desenvolver qualquer tipo de interatividade é necessário

4 Definição dada pelo Chambers English Dictionary (1989).

5 Termo criado por William Gibson, em seu romance “Neuromancer”, usado para descrever o mundo coletivo de

computadores em rede. Atualmente, utilizado para se referir ao universo formado pelas redes de computadores,

acessadas pelas tecnologias de comunicação.

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utilizar-se de tecnologias avançadas, existindo a possibilidade de um maior controle do

receptor pelo emissor, proporcionando um conhecimento maior do tema abordado, fazendo

com que a interatividade seja benéfica.

Segundo Marco Silva (2000), o termo interatividade teve início na década de 70, antes

interpretado como sinônimo de interação, e, com o tempo, passou a ser visto como uma

“troca”, o que julgamos ser, ainda, insuficiente para defini-lo, haja vista a abrangência de

significados que o termo envolve.

O termo interação é utilizado nas mais variadas ciências, como “as relações e

influências mútuas entre dois ou mais fatores. Isto é, cada fator altera o outro, a si próprio e,

também, a relação existente entre eles” (PRIMO; CASSOL, 2000).

Essas influências podem ser notadas de diversas maneiras, como a difusão unilateral ou

na forma de diálogo ou reciprocidade, no caso em que as mensagens não podem ser alteradas

no mesmo instante. Essas relações e influências acontecem em todos os momentos em sala de

aula, nas relações professor-aluno. Assim, a interação que acontece é bastante significativa,

pois todos têm oportunidade para expressar suas opiniões, sentimentos e argumentos de forma

organizada.

Há duas maneiras de se separar “interação” de “interatividade”, mostrando-se o seu

funcionamento, como a Interação Reativa: padrões preestabelecidos de interatividade,

seguindo determinadas regras existentes no programa. Exemplo disso é o vídeo game. A

comunicação através da interação reativa torna-se simbólica e há pouca liberdade criativa. A

Interação mútua funciona exatamente ao contrário da interação reativa. Proporciona uma

comunicação com trocas reais e criatividade aberta. Nela a influência e as interferências

influentes agem como um todo, como exemplo, os “chats” (salas de bate-papo) e

“formulários”.

As redes de comunicação disponibilizam informações de forma não sequencial, sendo

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que essa tecnologia permite ampla liberdade para se “navegar”, fazer permutas ou conexões

em tempo real, podendo o usuário transitar de um ponto a outro, instantaneamente, sem

necessidade de passar por pontos intermediários, de seguir trajetórias predefinidas. O caminho

a ser trilhado e as conexões a serem estabelecidas são definidos pelo usuário.

O processo interativo deve ser mútuo e simultâneo, cada participante deve ter a

possibilidade de atuar quando bem entender, utilizando as tecnologias hipertextuais6,

que permitem ao usuário apenas fazer uma leitura linear do que está ali disponível, e, com

isso, o processo é interrompido, a dimensão criativa e libertária é bloqueada e a interatividade

não se instaura.

Para André Lemos (2000), interatividade é um caso específico de interação, a

interatividade digital, compreendida como um tipo de relação tecnosocial, ou seja, como um

diálogo entre o homem e a máquina, através de interfaces gráficas, em tempo real.

Entretanto, para Pierre Lévy (1999), a interatividade assinala muito mais um

problema, não se limitando às tecnologias digitais, pois, “se trata da necessidade de um novo

trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos modos de comunicação, do que uma

característica simples e unívoca, atribuível a um sistema específico”.

A interatividade vai além de interação digital e está na “disposição ou na predisposição

para mais interação, para uma hiperinteração, não sendo apenas um ato, uma ação, e sim, um

processo, inclusive instável, uma abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas,

e mais participação. Enquanto interação nos leva a uma atualização, a um acontecimento. O

professor facilita o acesso do aluno às tecnologias para que, então, na relação com elas,

individualmente, o aluno construa o seu conhecimento.

Na escola interativa, o Professor disponibiliza múltiplas experimentações, múltiplas

6 O termo refere-se ao espaço de interação na Internet, onde a mensagem pode ser alterada, transformada,

personalizada, de acordo com a intencionalidade do usuário, interagindo como participante da mensagem. Trata-

se de “um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou

partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos” (LEVY,

1993).

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expressões, além de uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas ocorrências.

Ele é formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos e mobilizador

da experiência do conhecimento. No processo interativo de aprendizagem utiliza-se a

hipermídia7, ao invés do aprendizado seriado, linear e sequencial.

Ao invés de absorver a matéria o aluno aprende a aprender. No aprendizado transmitido

a escola tem a mesma dimensão para todos, enquanto a escola interativa é feita sob medida,

sendo centralizada no aluno, e não no professor. E, a escola deixa de ser considerada como

uma tortura, passando a ser vista como uma diversão.

Segundo Alessandra de Assis Picanço et al (2008), o avanço das novas tecnologias

representa para a educação uma inversão dos papéis desempenhados por professores e alunos

em sala de aula. E, contextualizada em Marco Silva (1999), avalia que o professor

contemporâneo precisa mudar sua atitude pedagógica tradicional de discursar, ditar e escrever

no quadro de giz, não mais se identificando com o tradicional “contador de histórias”. “Ele

necessita construir um conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibilizar

co-autoria e múltiplas conexões, permitindo que o aluno também faça por si mesmo”, diz

Picanço (2008).

Para tanto, é necessário pensarmos em “território” para além da noção espacial. É

necessário pensarmos, também, em “territórios existenciais” (Guattari, 1995) como

relacionados às maneiras de ser, ao corpo, ao meio ambiente, às etnias, às nações.

Esses territórios, que o professor oportuniza a seus alunos explorarem têm uma

organização, um significado dado a eles pelo professor. Entretanto, à medida que os

alunos passam a explorá-los, eles se desterritorializam fogem da organização dada

pelo professor, abrem-se a outros significados. No entanto, no trabalho conjunto de

professor/aluno deve voltar a ocorrer uma reterritorialização, que, por sua vez,

levará a novas desterritorializações e assim sucessivamente. Com isso, o ato

pedagógico passa a ser o de construção de um mapa (PICANÇO, 2008).

De acordo com Giles Deleuze e Félix Guattari (1995), o mapa é aberto, é conectável

7 Refere-se ao termo criado na década de 60, pelo filósofo e sociólogo americano, Theodor Nelson, para definir a

reunião de várias mídias em um suporte computacional, sustentado por sistemas eletrônicos de comunicação.

Hipermídia, diferentemente de multimídia, não é a mera reunião dos meios existentes, e sim, a fusão desses

meios a partir de elementos não-lineares.

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em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações

constantemente. O mapa pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer

natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social (DELEUZE;

GUATARI,1995).

Portanto, o papel do professor, segundo os estudos de Picanço (2008), deve ir muito

além do que simplesmente ser “um conselheiro, uma ponte entre a informação e o

entendimento, (...) um estimulador de curiosidade e fonte de dicas para que o aluno viaje

sozinho no conhecimento obtido nos livros e nas redes de computador” (SILVA, 2000). E, o

professor não é mais o “transmissor”, nem o “facilitador”, como geralmente é denominado na

maioria dos projetos de uso de Novas Tecnologias em Educação.

Segundo Marco Silva (2000), o termo interatividade é utilizado das formas mais

diversas e desencontradas, “abrangendo um campo semântico dos mais vastos, que

compreende desde salas de cinema em que as cadeiras se movem, até novelas de televisão em

que os espectadores escolhem, por telefone, o final da história” (SILVA, 2000).

É preciso atentar para o sentido depurado do termo e, aí, verificar a perspectiva de

libertação da comunicação da lógica da transmissão.

Interatividade é um conceito de comunicação e não de informática. Pode ser

empregado para significar a comunicação entre interlocutores humanos, entre

humanos e máquinas e entre usuário e serviço. No entanto, para que haja

interatividade é preciso garantir duas disposições basicamente: 1. A dialógica que

associa emissão e recepção como pólos antagônicos e complementares na co-criação

da comunicação; 2. A intervenção do usuário ou receptor no conteúdo da mensagem

ou do programa, abertos a manipulações e modificações (SILVA, 2000).

Segundo Silva (2000) essas disposições implicam numa mudança fundamental no

esquema clássico da comunicação, resultando numa mudança paradigmática na teoria e

pragmática comunicacionais:

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o emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente. Ele não propõe

uma mensagem fechada, ao contrário, oferece um leque de possibilidades. O

receptor não está mais em situação de recepção clássica. A mensagem só toma todo

o seu significado sob a sua intervenção. Ele se torna, de certa maneira, criador.

Enfim, a mensagem que agora pode ser recomposta, reorganizada, modificada em

permanência sob o impacto das intervenções do receptor dos ditames do sistema,

perde seu estatuto de mensagem „emitida‟. Assim, parece claramente que o esquema

clássico da informação, que se baseava numa ligação unilateral emissor-mensagem-

receptor, se acha mal colocado em situação de interatividade (SILVA, 2000).

Silva (2000) aponta em seus estudos que, para promover a sala de aula interativa, o

professor precisa desenvolver pelo menos cinco habilidades, entre outras:

pressupor a participação-intervenção dos alunos, sabendo que participar é muito

mais que responder "sim" ou "não", é muito mais que escolher uma opção dada.

Participar é atuar na construção do conhecimento e da comunicação; garantir a

bidirecionalidade da emissão e recepção, sabendo que a comunicação e a

aprendizagem são produzidas pela ação conjunta do professor e dos alunos;

disponibilizar múltiplas redes articulatórias, sabendo que não se propõe uma

mensagem fechada, ao contrário, se oferece informações em redes de conexões,

permitindo ao receptor ampla liberdade de associações, de significações; engendrar a

cooperação, sabendo que a comunicação e o conhecimento se constroem entre

alunos e professor como co-criação e não no trabalho solitário; suscitar a expressão

e a confrontação das subjetividades, sabendo que a fala livre e plural supõe lidar

com as diferenças na construção da tolerância e da democracia. (SILVA, 2000).

Afirma Silva (2000) que “o essencial não é a tecnologia, mas um novo estilo de

pedagogia, sustentado por uma modalidade “comunicacional” que supõe interatividade, isto é,

participação, cooperação, “bidirecionalidade” e multiplicidade de conexões entre informações

e atores envolvidos” (SILVA, 2000).

Agora, mais do que nunca, o professor é desafiado a modificar a sua comunicação em

sala de aula e inventar um novo modelo de educação. Como diz Edgard Morin, "hoje, é

preciso inventar um novo modelo de educação, já que estamos numa época que favorece a

oportunidade de disseminar outro modo de pensamento" (MORIN, 1998).

O futuro já se fez presente. Estamos em plena era digital, da sociedade em rede, da

sociedade de informação, da interatividade, da cibercultura. A educação reconhece que a

interatividade facilita a aprendizagem e os diversos recursos tecnológicos como as interfaces,

a multimídia, e a web têm facilitado, cada vez mais, as práticas interativas.

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Entretanto, é necessário observar, conforme avalia Rosana de Fátima Dias (2008) em

seus estudos, que “os processos interativos só apresentarão resultados positivos se estiverem

integrados em um contexto estrutural de mudanças diante da vida, do mundo, dos indivíduos

de forma aberta e participativa” (DIAS, 2008).

Lévy (2000) afirma que a melhor tecnologia é a nossa mente, muito mais complexa que

o melhor computador, considerando-se que ela pensa, relaciona, sente, intui e pode nos

surpreender. As tecnologias mais avançadas terão, com certeza, o mesmo tratamento que

damos à nossa vida.

Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir

melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de

forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as

tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O “poder de interação não

está fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas mentes (LÉVY, 2000).

Segundo as conclusões de Ludmila Sacramento et al (2008), contextualizadas em Silva

(2000), a sala de aula interativa seria o ambiente ideal para a eliminação dos obstáculos com o

tradicional falar e ditar do professor tradicional, onde ele disponibilizaria novas oportunidades

para os alunos, permitindo a escolha, a busca e construção do próprio conhecimento pelo

aluno.

Dessa forma o aluno deixaria de ser um mero receptor de informações, e passaria a ser

um co-autor, contando com a oportunidade de produzir seu próprio conhecimento, ao invés de

simplesmente reproduzi-lo.

Torna-se necessário, cada vez mais, acompanharmos de perto as novas tecnologias que

surgem a cada momento, se quisermos continuar inseridos no nosso ambiente de trabalho e

continuar estabelecendo o diálogo com nossos alunos, comunicando-nos cada vez mais e

interagindo de forma aberta e participativa.

Afirma Sacramento (2008) que “toda essa busca de transformação do ensino escolar é

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muito importante nos dias de hoje, já que as novas tecnologias de comunicação e informação

estão se tornando peças-chaves no nosso dia-a-dia” (SACRAMENTO, 2008).

para estarmos inseridos no mundo daqui algum tempo, possivelmente, precisaremos

estar andando lado a lado com essas invenções tecnológicas. É interessante res-

saltarmos que a interatividade nada mais é que um meio de todos se comunicarem

com o todo. E, dentro do ambiente escolar, ela se torna cada vez mais fundamental

por causa do futuro (acredito que não tão longe). Precisamos, desde já, tentar inserir

na cabeça das pessoas que elas também têm o direito de se comunicar, e acima de

tudo, de produzir o seu próprio conhecimento. Afinal, é como diz Marco Silva: “A

interatividade é o pão cada vez mais cotidiano de uma sociedade inteira.”

(SACRAMENTO, 2008).

Conforme os estudos de Simone de Lucena Ferreira et al (2004), contextualizados em

Nelson de Lucca Pretto (1996), as tecnologias na educação podem ser utilizadas como

“instrumentalidade” e como “fundamento”. Como instrumentalidade é utilizá-las como

recursos didáticos, servindo para animar a aula, motivar o aluno ou, simplesmente, prender a

atenção dos estudantes. “A educação continua como está, só que com novos e avançados

recursos tecnológicos. Ou seja, o futuro está no equipamento e não na escola”, avalia Pretto

(1996).

Ao utilizar a tecnologia, seja um video ou um software educativo, de forma instrumental

para substituir a aula, que poderia ser uma comunicação interativa, entre alunos e professores

no debate de diferentes aspectos e iniciando investigações, o próprio professor estará

iniciando seu processo de desintermediação.

A outra possibilidade apontada por Pretto (1996), nas pesquisas de Ferreira (2004),

consiste em utilizar as TIC como fundamento, ou seja, como elemento estruturante, carregado

de conteúdo e possibilitador de uma nova forma de ser, pensar e agir. Na perspectiva do

fundamento, é possível, também, incorporar o uso instrumental, que poderá ajudar a realizar

atividades construtivas. Mas o inverso, que seria usar as TIC como instrumentalidade e, a

partir, daí como fundamento, não é possível de acontecer.

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Pretto (1996) considera que:

a utilização como instrumentalidade esvazia esses recursos de suas características

fundamentais, transformando-os apenas num animador da velha educação, que se

desfaz velozmente, uma vez que o encanto da novidade também deixa de existir

(PRETTO, 1996).

O progresso das ciências e das tecnologias, no mundo atual, tem se desenvolvido em

uma velocidade tal, que tem causado espanto e, ao mesmo tempo, admiração a todos,

apresentando a clara impressão de que a vida está mesmo, cada vez mais, à mercê do efêmero

e do imprevisível.

Estamos convivendo com a transição de formas diferentes de compreensão da própria

vida, do mundo, da sociedade e do homem. Assim, os eventos se processam,

simultaneamente, dando nova perspectiva de vida aos indivíduos. As novas tecnologias na

comunicação informatizada projetam o indivíduo, através da Internet, em um espaço virtual

ilimitado, democrático e globalizado.

Ser interativo nos dias atuais significa buscar o conhecimento através do computador,

utilizando as novas tecnologias da comunicação, sendo capaz de receber e enviar mensagens,

acessar páginas e navegar pelo mundo fascinante da Internet. Significa expandir o espaço

ilimitado e flexível, realizando as interfaces e estabelecendo os pontos de parada, segundo os

próprios interesses do usuário. Significa navegar pelo Ciberespaço, sem se preocupar com os

limites e as fronteiras territoriais, econômicas e culturais desse mundo.

A importância e a influência da interatividade no processo educacional contemporâneo

podem ser avaliadas pelo avanço das novas tecnologias, exigindo uma inversão dos papéis

desempenhados por professores e alunos em sala de aula. O professor contemporâneo precisa

mudar sua atitude pedagógica tradicional de discursar, ditar e escrever no quadro de giz, não

mais se identificando com o tradicional “contador de histórias”, necessitando construir um

conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibilizando co-autoria e múlti-

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e múltiplas conexões, permitindo que o aluno, também, produza o seu próprio conhecimento.

Portanto, na escola interativa, o professor deve disponibilizar as múltiplas

experimentações, porque ele é o formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto

de percursos e mobilizador da experiência do conhecimento. O professor contemporâneo é

desafiado a modificar a sua metodologia em sala de aula e inventar um novo modelo de

educação. A educação reconhece que a interatividade facilita a aprendizagem e os diversos

recursos tecnológicos como as interfaces, a multimídia, e a web, têm facilitado, cada vez mais,

as práticas interativas.

Entretanto, reconhecemos que a força da interação não está basicamente nas

tecnologias, mas nas nossas mentes. Ela é muito mais complexa que o melhor computador,

considerando-se que ela pensa, relaciona, sente, intui e pode nos surpreender. Assim, devemos

dar o mesmo tratamento às novas tecnologias que damos à nossa vida. Devemos estar de

mentes abertas para que possamos utilizar as novas tecnologias, a fim de se estabelecer uma

comunicação à altura do desenvolvimento tecnológico, para maior interação na busca do

conhecimento.

Eis que desponta um novo tempo para a interatividade. Os avanços da ciência e da

tecnologia estão cada vez mais em ritmo acelerado, indicando que é muito mais tarde do que

pensamos. É hora de se acabar com a rivalidade entre o homem e as máquinas, achando que

existe uma aparente inocência das novas tecnologias, e que elas estão prestes a dominar o

homem e, então, devorá-lo.

Precisamos acordar para a realidade digital, que se estende por todas as atividades

humanas, em todo o mundo, possibilitando-nos, mais do que nunca, a realização de interfaces

autênticas, com a prática constante de trocas rápidas e seguras, de informações e de

conhecimentos, constituindo-se na verdadeira alavanca do progresso.

Com o advento do Ciberespaço e o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e

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Comunicação-TIC, estabeleceram-se novas formas de comunicação mediadas por

computador, as quais têm sido amplamente exploradas, como recursos educacionais, e como

solução para os anseios de conhecimento do homem contemporâneo.

Estamos em plena era digital, da sociedade em rede, da sociedade de informação, da

interatividade, da cibercultura. É como diz Silva (2000): “A interatividade é o pão cada vez

mais cotidiano de uma sociedade inteira.” Compete a cada um de nós apropriarmos desse pão

e fazermos uso dele, diariamente, segundo as nossas necessidades, alimentando-nos do

conhecimento e produzindo o nosso próprio alimento, pois, é chegada a hora e a vez da

interatividade.

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS: INCLUSÃO DIGITAL

Segundo Luiz Fernando Ballin Ortolani (2003), o termo Política Pública deriva do

inglês "public policy", sendo que a palavra "policy" relaciona-se com as iniciativas

governamentais, diretrizes, ações, planos e interesses sociais, enquanto a palavra "politics"

refere-se à política partidária, políticos, interesses partidários e interesses particulares. Uma

das conotações da expressão “Política Pública” refere-se a uma atividade, como política

industrial, política econômica, ou refere-se a uma política progressista, ou a uma política de

um sindicato, como decisão do governo de invadir um determinado território ou país, como

gastos em setores específicos, como programas de concessão de créditos, além de várias

outras conotações.

Ortolani (2002) considera que o processo de formulação e gestão de políticas públicas -

"public policymaking" - consiste, segundo as conclusões de Yehezkel Dror (1968)8, num

processo dinâmico, muito complexo.

Esse processo envolve vários componentes que aportam contribuições distintas,

decidindo sobre a adoção de diretrizes gerais, visando à ação e direcionadas para o

futuro, cuja responsabilidade é predominantemente de órgãos governamentais, os

quais agem almejando formalmente o alcance do interesse público pelos melhores

meios possíveis (DROR,1968).

Comentando essa afirmativa, Ortolani (2003), afirma que o processo é “dinâmico”,

porque ocorre dentro de uma estrutura que exige fontes contínuas de recursos e motivação. A

“complexidade” existe porque a gestão de políticas públicas envolve muitos componentes que

se comunicam e interagem de maneiras diferentes, de forma explícita ou por canais ocultos.

Os canais de representação dos diferentes grupos de interesses originam as “contribuições

distintas”.

8 Public policymaking re-examined. Yehezkel Dror. - San Francisco, California, Chandler, 1968.

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As “diretrizes” são de caráter geral, ao invés de instruções detalhadas, como linhas de

ação a serem seguidas, significando, segundo Ortolani, a necessidade de mudança do próprio

administrador público, da sociedade e seus grupos afetados pela política, representando uma

das mais importantes características do processo tendo em vista introduzir o elemento

incerteza com relação à política.

No que diz respeito aos órgãos governamentais, diz Ortolani, “indica que a mudança de

comportamento desejada se inicia em maior escala nos órgãos públicos, mas não com

exclusividade nestes, podendo partir de pessoas ou estruturas não governamentais” (Ortolani,

2003).

Almejando formalmente o interesse público, embora, em alguns casos, possa

representar interesses de oligarquias ou ditaduras, os formuladores de políticas

públicas buscam o apoio dos cidadãos para dar legitimidade à política, reforçando

que a forma idealizada é a melhor possível (ORTOLANI, 2003).

Inclusão Digital, segundo Paulo Rebêlo (2005), consiste em melhorar as condições de

vida de uma determinada região ou comunidade, com ajuda da tecnologia. Assim, incluir

digitalmente não é apenas “alfabetizar” a pessoa em informática, mas, também, melhorar os

quadros sociais, a partir do manuseio dos computadores.

Muitos consideram que “incluir digitalmente é, simplesmente, colocar computadores na

frente das pessoas e ensiná–las a usar Windows e pacotes de escritório”, diz Rebêlo.

Além disso, temos presenciado muitas comunidades ou escolas que recebem

computadores novos, mas nunca são utilizados, ou mesmo retirados da caixa, porque não

existe linha telefônica para se conectar à Internet ou mesmo a inexistência de sinal de Internet

na região.

Em muitos casos faltam professores qualificados para repassarem o conhecimento

necessário de informática, bem como o total despreparo de muitos educadores para orientarem

e incentivarem o uso da Internet nas pesquisas escolares, nos seus respectivos conteúdos.

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O termo “inclusão digital”, de tão usado, já se tornou um jargão. É comum ver

empresas e governos falando em democratização do acesso e inclusão digital sem

critérios e sem prestar atenção se a tal inclusão promove os efeitos desejados. O

problema é que virou moda falar do assunto, ainda mais no Brasil, com tantas

dificuldades - impostos, burocracia, educação - para facilitar o acesso aos

computadores. É que inclusão digital significa, antes de tudo, melhorar as condições

de vida de uma determinada região ou comunidade com ajuda da tecnologia. A

expressão nasceu do termo “digital divide”, que em inglês significa algo como

“divisória digital”. Hoje, a depender do contexto, é comum ler expressões similares

como democratização da informação, universalização da tecnologia e outras

variantes parecidas e politicamente corretas (REBÊLO, 2005).

Eduardo Oscar de Campos Chaves, (2008) considera como Inclusão Digital o processo,

mediante o qual, as pessoas obtêm acesso à tecnologia digital e se capacitam para utilizá-la,

de modo a promover seus interesses e desenvolver competências que resultem na melhoria da

qualidade de vida. Em suas conclusões, segundo Lisa J. Servon (2002)9, Chaves (2008)

observa que a Inclusão Digital envolve, basicamente, três componentes: acesso à tecnologia

digital, capacidade de manejar essa tecnologia do ponto de vista técnico e capacidade de

integrar essa tecnologia nos afazeres diários. Isso significa, segundo Chaves (2008) “que a

velha visão da Inclusão Digital, segundo a qual, para promovê-la, bastava dar aos

digitalmente excluídos acesso à tecnologia, fornecendo-lhes computadores, software e

conexão com a Internet, não é mais adequada”.

Também não basta complementar o acesso com treinamento técnico em Windows,

Office e Internet ou softwares equivalentes, para que as pessoas aprendam a manejar

tecnicamente a tecnologia, embora esse domínio técnico da tecnologia também seja

uma condição necessária para a Inclusão Digital. Esses dois componentes, acesso e

manejo técnico da tecnologia, são condições necessárias para a Inclusão Digital –

mas, nem mesmo conjuntamente se tornam condições suficientes. Para que as

pessoas não sejam excluídas dos benefícios da tecnologia digital, é preciso, além

desses dois componentes, que elas adquiram a capacidade de, efetivamente, integrar

a tecnologia em sua vida e em seus afazeres diários, de modo a desenvolver

competências, que resultem na melhoria da qualidade de sua vida (SERVON, 2002).

Segundo os estudos de Chaves (2008), do ano 1000 a.C. até o ano 1500 d.C., num

período de dois mil e quinhentos anos, a maioria absoluta das pessoas era excluída da

tecnologia da escrita. A despeito da importância que a escrita rapidamente adquiriu como

9 Bridging the digital divide: technology, community and public policy-series the information age. Lisa J.

Servon. Oxford: Blackwell, 2002.

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veículo para a produção literária, filosófica e científica, como ferramenta educacional, mesmo

a partir de 1500 d.C. essa tecnologia tem encontrado sérias dificuldades para alcançar a

inclusão universal.

No Brasil, avalia Chaves, com a chegada dos europeus em 1500, quase ao mesmo

tempo em que a imprensa era inventada, e com a Reforma Protestante do século XVI, quando

os reformadores proporcionaram uma significativa contribuição à causa do aprendizado da

leitura e da escrita, ao criar escolas e defender a tese de que todos deveriam aprender a ler e a

escrever para que pudessem ler e interpretar as Sagradas Escrituras, inspirados pelo Espírito

Santo, ainda temos, cerca de 70% de "analfabetos funcionais"10

, excluídos dos enormes

benefícios de uma tecnologia inventada há 3.000 anos.

Paulo Augusto de Podestá Botelho (2009) considera o analfabetismo funcional como

“um problema silencioso e perverso que afeta as empresas”.

Não se trata de pessoas que nunca foram à escola. Elas sabem ler, escrever e contar;

chegam a ocupar cargos administrativos, mas não conseguem compreender a palavra

escrita. Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar! Computadores provocam

calafrios e manuais de procedimentos são ignorados; mesmo aqueles que ensinam

uma nova tarefa ou a operar uma máquina. Elas preferem ouvir explicações da boca

de colegas. Entretanto, diante do chefe - isso quando ele é mesmo um chefe - fingem

entender tudo, para depois sair perguntando aos outros o que e como deve ser

realizado tal serviço. E quase sempre agem por tentativa e erro (BOTELHO, 2009).

Conclui Botelho (2009) que a única saída para se erradicar o analfabetismo funcional é

“educar e treinar para a qualidade. E qualidade não tem custo; é investimento. O custo da

qualidade é a despesa do trabalho errado, mal feito, incompleto, sem profissionalismo. É o

custo do analfabetismo funcional!”

Na pesquisa de Maria Viviane Monteiro Delgado e Maria Nezildai Culti (2004), a

importância da Inclusão Digital, passou a ser percebida pelos órgãos governamentais, graças à

10

Segundo Paulo Augusto de Podestá Botelho, Professor e Consultor de Empresas para Programas de

Engenharia da Qualidade, Antropologia e Empresarial e Gestão Ambiental, Membro da SBPC – Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência.

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iniciativa privada, com a criação de uma ONG, em 1995, do Comitê para Democratização da

Informática-CDI, promovendo a Inclusão Digital em comunidades carentes, utilizando-se das

TIC, como instrumento para a construção e o exercício da cidadania, graças à ajuda de várias

empresas privadas nacionais, multinacionais e órgãos multilaterais, tais como o Banco

Interamericano de Desenvolvimento-BID e o Banco Mundial-BM.

A característica principal da política pública é a sua resposta aos problemas da

sociedade, envolvida por uma atuação consistente e continuada, substituindo um paradigma

disciplinar por outro, o reflexo dos traços da estrutura governamental e a coalizão social,

como, por exemplo, a política do menor.

Assim, dentre as principais Políticas Públicas no Brasil, citamos a década de 30, com a

questão de Polícia, como uma abordagem repressora. Nas décadas de 60 e 70, com o aspecto

da carência, uma abordagem assistencial. Nas décadas de 80 e 90, com o aspecto da

cidadania, abordando o problema do menor como um imbuído de direitos.

De acordo com Maria Paula Dallari Bucci (2008)11

, as Políticas Públicas têm a

finalidade de assegurar a plenitude da liberdade a todos, indistintamente, sendo que podem ser

consideradas, ao mesmo tempo, política social, tais como a política industrial, a política

energética e outras.

E, também, existe uma estreita relação entre os temas das políticas públicas e dos

direitos humanos. Pois, uma das características do movimento de ampliação do conteúdo

jurídico da dignidade humana é a multiplicação das demandas por direitos, demandas

diversificadas e pulverizadas na titularidade de indivíduos.

As políticas públicas, de acordo com Bucci (2008) “funcionam como instrumentos de

aglutinação de interesses em torno de objetivos comuns, que passam a estruturar uma coletivi-

11

Doutora em Direito do Estado pela USP. Professora do Curso de Mestrado em Direito da Universidade

Católica de Santos, Procuradora da Universidade de São Paulo.

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dade de interesses”.

Segundo uma definição estipulativa, toda política pública é um instrumento de

planejamento, racionalização e participação popular. Os elementos das políticas

públicas são o fim da ação governamental, as metas nas quais se desdobra esse fim,

os meios alocados para a realização das metas e, finalmente, os processos de sua

realização (BUCCI, 2008).

Segundo Renato Cruz (2004), o CDI, em fevereiro de 2004, contava com uma rede de

837 Escolas de Informática e Cidadania-EIC, sendo 751 no País e 86 no exterior, atuando no

combate às desigualdades sociais no Brasil. A exclusão digital no Brasil alcança índices

elevados, pois, de acordo com Delgado e Culti (2004) a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílio-PNAD (2001), aponta que 12,46% da população brasileira possuem acesso ao

computador, sendo que desse percentual, 8,31% têm acesso à Internet, 97% dos Incluídos

Digitais vivem nos centros urbanos.

Os descendentes de orientais são o grupo de maior acesso proporcional: 41,66%;

seguidos pelos brancos: 15,14%; pardos: 4,06%. Considerando-se não apenas os hardwares e

os softwares, mas, também, o capital humano, com a capacitação e a educação, visando,

assim, o desenvolvimento social.

Gustavo Gindre Monteiro Soares (2007) aponta índices alarmantes da exclusão digital

no Brasil, segundo a Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação

realizada em 2006 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil-CGI.br.

55% da população brasileira jamais usaram um computador e 66% nunca acessaram

a Internet. Apenas 19% das residências possuem computadores de mesa e 1%

dispõem de notebooks. A concentração também se aplica ao plano regional. O

percentual de casas com desktops é de 24,2% no sudeste, 24,6% no sul, 18,9% no

centro-oeste, 8,5% no nordeste e 10,4% no norte. Apenas 14,5% dos domicílios

possuem acesso à Internet. E conforme aumenta a escolaridade e a renda do

respondente aumenta a proporção de domicílios com acesso à Internet. O mesmo

ocorre em relação à classe social, quanto mais alta a classe social do respondente,

maior o acesso à rede. Das residências conectadas, 49,1% utilizam acesso dial-up

via telefone, 40,35% algum tipo de conexão em banda larga e, 9,2% não souberam

responder. Fazendo uma simples regra de três podemos concluir que, do total de

domicílios brasileiros, somente 6% possuem algum tipo de acesso dedicado à

Internet (SOARES, 2007).

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Isso significa, considera Soares (2007), que “a comunicação é um direito humano

inalienável e que privar o homem da sua capacidade de se comunicar é privá-lo da sua própria

humanidade”. Portanto, precisamos ser capazes de reverter este cenário de exclusão, para que

possamos utilizar a Internet como uma ferramenta para garantir e ampliar o direito de todos à

comunicação.

A reversão se dará pela associação de uma série de políticas, como a diminuição da

taxa de juros (e do spread bancário), aumento da capacidade de investimentos por

parte do Estado e uma vigorosa política industrial que vise diminuir nossa

dependência tecnológica (SOARES, 2007).

Segundo o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) os resultados

da 5ª Pesquisa Sobre Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil-TIC

Domicílios 200912

, conduzido pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e

da Comunicação (CETIC.br), mostram um crescimento recorde de posse e uso do

computador, registrando, também, um maior acesso à Internet nas residências brasileiras.

As pesquisas apontam que a posse de computador teve o seu maior crescimento nos

últimos 5 anos: 36% dos domicílios possuem computador, enquanto apenas 28% tinham o

equipamento em 2008. O mesmo ocorreu com o uso da Internet, passando de 20% dos

domicílios com acesso à Internet em 2008, para 27% em 2009, representando um crescimento

de 35% no período.

O estudo apontou crescimento significativo no percentual de acessos à Internet nos

domicílios em comparação aos centros públicos pagos, conhecidos popularmente como

Lanhouses. Pela primeira vez, desde 2007, o acesso residencial, com 48%, ficou à frente das

12Conforme “Análise dos Resultados da TIC Domicílios 2009”. Disponível em:

<http://www.cetic.br/usuarios/tic/2009/analise-tic-domicilios2009.pdf>. Acesso em 14 Abr. 2010.

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Lanhouses, citadas por 45% dos respondentes. As pesquisas apontam que a televisão continua

sendo o equipamento mais presente nos lares urbanos, mantendo o índice de 98%, seguido

pelo rádio, com 86%. O telefone celular caminha para a universalização nos domicílios

brasileiros, presente em 82% das residências nas áreas urbanas e em 78% no total do país.

Entre 2007 e 2008 a posse do computador portátil cresceu 70%, passando de 3% para 5%.

As pesquisas salientam que houve um aumento na proporção de domicílios com

computador, mas sem acesso à Internet, demonstrando que o custo do acesso à rede ainda é

elevado.

O tipo de conexão à Internet mais utilizada nos domicílios é a conexão dedicada em

banda larga, presente em 66% dos lares que possuem acesso à Internet. Apesar de se

concentrar nos domicílios economicamente mais favorecidos, a taxa de crescimento anual

mostra que a população com menor renda possui cada vez mais esse tipo de conexão.

As iniciativas governamentais para as Políticas Públicas visando à Inclusão Digital

devem ser direcionadas para a redução da distância entre os ricos e os pobres, como foi muito

bem colocado no artigo “Os Três Pilares da Inclusão Digital” o qual, considera que, para se

alcançar a Inclusão Digital são necessárias Tecnologias de Informação e Comunicação-TIC,

Renda e Educação.

É preciso que os formuladores de política pública do governo percebam que a

exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital ao mesmo tempo em que a

exclusão digital aprofunda a exclusão socioeconômica (SILVA, 2004).

O Programa Nacional de Banda Larga, lançado no dia 8 de abril de 2008 pelo Governo

Federal13

visa assegurar o acesso à Internet de alta velocidade, a 56.685 escolas em áreas

urbanas dos 5.664 municípios brasileiros até 2010, beneficiando 37,1 milhões de alunos.

De acordo com o Senador Casagrande, 40% das localidades deveriam ser alcançadas

13

Segundo o Senador Renato Casagrande, em seu pronunciamento em 11 de abril de 2008, sobre Programa

Nacional de Banda Larga.

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ainda no ano de 2008, chegando a 80% em 2009 e a 100% no ano seguinte. A velocidade de

acesso seria de um megabyte (MB).

Confiado no sucesso do programa de Inclusão Digital o Senador Casagrande considera

que se trata de um enorme salto na universalização do acesso à Internet no Brasil, sendo que a

“viabilização dessa ferramenta, absolutamente necessária no ensino atual, nas escolas

públicas, inverte a lógica de exclusão de várias regiões urbanas” (CASAGRANDE, 2008).

Segundo a Agência Senado, o programa é resultado de uma permuta do governo com as

concessionárias de telefonia, que vão possibilitar o acesso à banda larga em troca da

obrigatoriedade de criação de 8.461 postos de serviços telefônicos no país.

O Senador Renato Casagrande avaliou que o problema da permuta, no entanto, é que as

concessionárias de telefonia estão propensas a operar nos pequenos municípios com uma

política de preços, para acabar com provedores locais, aos quais cobrariam preços muito

elevados para utilização dos cabos que transmitem a banda larga.

Segundo Marcela Rebelo (2007), uma Portaria do Ministério da Ciência e Tecnologia

(MCT), publicada em 14 de maio de 2007, no Diário Oficial da União, inclui os notebooks no

programa do Governo, “Computador Para Todos”, lançado em setembro de 2005, fazendo

com que a população possa adquirir seus computadores portáteis, haja vista que antes, o

programa de inclusão digital do governo federal só permitia a compra de computador de

mesa, o desktop.

A portaria traz, ainda, outras mudanças, como a diminuição do crédito oferecido à

população para a compra do computador de mesa de R$ 1.400,00 para até R$ 1.200,00, sendo

o financiamento oferecido pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, com juros

de 2% ao mês e pagamento em 24 meses. O financiamento dos notebooks poderá ser de até

R$ 1.800,00 permitindo, assim, a inclusão digital de famílias de baixa renda.

O programa “Computador para Todos” estabelecido pela Presidência da República,

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Ministério do Desenvolvimento, Ministério da Ciência e Tecnologia e Serpro voltado

para a classe C, permite à indústria e ao varejo a oferta de computador e acesso à Internet a

preços subsidiados, e com linha de financiamento específica, além da isenção de impostos

PIS/COFINS. PCs de até R$ 1.200 que obedeçam à configuração mínima podem ser

parcelados em prestações de R$ 50. O equipamento deve utilizar obrigatoriamente software

livre e contar com um processador de 1,4 GHz, disco rígido de 40 GB, memória RAM de 256

MB, monitor de 15 polegadas, unidade de disco flexível, unidade de CD-ROM (RW)/DVD-

ROM, modem de 56 K, placas de vídeo, áudio e rede on-board, mouse, teclado e porta USB e

26 programas. Os Notebooks de até R$ 1.800, que atendam a configurações mínimas descritas

no portal do programa, também possuem isenção de impostos e têm financiamento facilitado.

Luiz Queiroz (2009), afirma que o programa "Computador Portátil para Professores",

lançado no dia 7 de julho de 2008 pelo Governo Federal, tinha como meta facilitar a compra

de notebooks para 3,4 milhões de profissionais do Ensino Básico, a um custo mais em conta.

No entanto, 10 meses de execução do programa não havia informações oficiais quanto

ao número de professores beneficiados pela iniciativa do Governo Federal. Posteriormente, o

valor fixado em R$ 1.000,00, para garantir a compra pelos professores foi corrigido em 40%

pelo governo.

A elevação do preço é justificada, de acordo com a portaria, pela crise financeira

mundial que fez o câmbio oscilar fortemente, aumentando, assim, os custos dos equipamentos

de informática, desestimulando a muitos professores a adquirirem seus computadores, não

somente devido ao preço, mas, também, pelas configurações daquelas máquinas.

[...] Os números, na época, acabaram mostrando-se discrepantes quanto à meta de

vendas estabelecidas pelo Poder Executivo. Isso porque se estimava vender um

milhão de máquinas com preços abaixo de R$ 1,4 mil num período de um ano, e a

marca ficou bem aquém da previsão inicial. Em resumo, o próprio mercado, apoiado

pelo governo, quando este funciona como indutor e não como gestor, chegou à

universalização dos equipamentos de informática de uma forma bem mais agradável

ao consumidor, do que o notebook que foi estudado pelos coordenadores do

programa, cujas configurações deixam a desejar (QUEIROZ, 2009).

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Para se alcançar, realmente, um índice desejável, nesse processo de inclusão digital,

torna-se necessário elevar as condições de vida do nosso povo, melhorando a sua renda,

realizando políticas públicas que garantam uma educação de qualidade, com o uso adequado e

consciente da informática, e tendo conhecimento dos benefícios e o quanto podem melhorar

suas atividades diárias.

Segundo Eduardo Vitor Miranda Carrão et al (2005), atualmente, o mundo vem

passando por profundas transformações, o que impõe a necessidade de se estabelecer novos

significados para muitos dos valores e dos costumes formulados e desenvolvidos.

O encurtamento das distâncias e a velocidade cada vez maior da ocorrência dos fatos

implicam numa maior agilidade na tomada de decisão e na ação das pessoas. Neste

cenário, as chamadas “novas tecnologias” assumem um papel estratégico na

reconfiguração das relações homens-homens e homens-mundo (CARRÃO, 2005).

Esse novo modo de ser e de se conceber a vida colocam a ciência e a tecnologia em uma

posição de destaque, sendo mesmo fatores essenciais à sobrevivência humana, haja vista a

complexidade das atividades exercidas pelo homem na sociedade.

Para Freire (1998), segundo os estudos de Carrão et al (2005), as condições de exclusão

a que são submetidas as classes populares, os oprimidos, são denominadas de “situações-

limites”, ou seja, obstáculos ou barreiras que precisam ser vencidos, mas se encontram

vinculados à vida pessoal e social do indivíduo.

O enfrentamento dessas situações é percebido de formas diferentes pelos envolvidos

nesse processo: ou eles as percebem como um obstáculo que não podem ou não

querem transpor, ou ainda como algo que sabem que existe e que precisa ser

rompido e então se empenham na sua superação (CARRÃO et al, 2005).

Neidson Rodrigues (1993) referindo-se à educação e sua relação com as novas

tecnologias salienta o papel da educação e a relevância da informática no contexto da

sociedade moderna.

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A educação escolar é o conjunto das atividades levadas a efeito pela instituição

escolar, com o objetivo de preparar a população jovem para a vida plena da

cidadania. Deve-se entender que ela possibilite a todos [...] a posse da cultura letrada

e dos instrumentos mínimos para o acesso às formas modernas do trabalho na

sociedade industrial. A informática, sendo imprescindível para a vida moderna,

como, então, poderemos mantê-la fora da escola e da formação de nossos jovens?

(RODRIGUES, 1993, p. 81).

Nesse contexto, Marques (2001) afirma que

a Ciência hoje é mais do que um instrumento de leitura e descoberta do mundo; ela

é, juntamente com a Tecnologia, uma responsável direta pela redefinição do mundo

no qual vivemos; ou seja, ela é um elemento fundador e, por isso, estratégico em

todo contexto sócio-político, econômico e cultural dos nossos dias (MARQUES,

2001).

Salientando o papel da ciência e da tecnologia na modernidade, avalia Carrão (2005)

quanto à utilização consciente dos recursos disponíveis aos seres humanos no mundo

contemporâneo:

O lugar ocupado pela ciência e pela tecnologia neste mundo de mudanças tão

profundas não poderá ser outro se não o de ampliar os horizontes de realização do

ser humano, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida, através da

equiparação de oportunidades e da facilitação do seu acesso à informação, assim

como a todos os bens sociais. Reconhecer e respeitar a diversidade é dar força ao

conjunto da vida. [...] Cabe a cada um de nós utilizarmos os recursos disponíveis de

forma a garantir a sobrevivência do planeta com dignidade e com valorização da

vida (CARRÃO et al 2005).

Portanto, as políticas públicas de inclusão digital só serão bem sucedidas em nosso país,

na medida em que os órgãos governamentais se disponham a proporcionar à sociedade uma

educação de qualidade, salários justos e acesso aos conhecimentos das novas tecnologias de

comunicação e informação.

Desta forma, o esforço não terá sido em vão, pois, estaremos constatando um

crescimento significativo da economia brasileira, e uma real melhoria da qualidade de vida,

construindo-se uma sociedade mais justa, onde todos possam usufruir das mesmas

oportunidades e direitos.

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4 A LINGUAGEM DO JOVEM NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA

Segundo Roger Fowler (1985), a maior descoberta da dialetologia e da sociolinguística

é que as línguas não são unitárias: grupos diferentes e situações diferentes de fala empregam

diferentes variedades da língua. “A língua de grupos diferentes e de indivíduos em diferentes

papéis articula, caracteristicamente, diferentes significados sociais” (FOWLER, 1985).

Certamente, esse é o caso em que grupos diferentes precisam afirmar conceitos diferentes e

prática linguística da maneira mais forte de articular experiência, crenças e valores.

Assim, também, acontece com a linguagem usada pela juventude, surgindo a gíria, que,

segundo Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1969) é uma linguagem fundamentada em um

“vocabulário parasita, que empregam os membros de um grupo ou categoria social, com a

preocupação de se distinguirem da massa dos sujeitos falantes” (CÂMARA,1969).

A gíria apresenta uma tendência de um maior desenvolvimento nos centros urbanos,

contrastando-se com a língua comum. “Caracteriza-se por uma atitude estilística de

desrespeito intencional à norma estabelecida. É uma revolta e, como se trata de expressão

pessoal, é efêmera e inconstante” (CÂMARA, 1969).

Desde sua infância, o homem adquire um tesouro inestimável, que é a linguagem.

Através da expressão oral da palavra, manifesta todas as suas idéias, seus desejos e suas

inquietações.

A linguagem é, antes de tudo, expressão, apelação e representação. As palavras nascem

por acaso e se desenvolvem, nos mais variados sentidos. Do mesmo modo desaparecem.

A verdade é que nascem na rua, nos afazeres cotidianos, nesse vai-e-vem, que se

transforma num nervosismo criador e, como surgem por acaso, nem todas chegam à

maturidade. Muitas morrem antes de adquirir força que lhes permita sobreviver por sua

própria conta.

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As línguas estão sofrendo mudanças a todo o momento. A ortografia, como

manifestação estática e conservadora, não acompanha a evolução da fala. Baseia-se na língua

oficial e literária e sua transformação é tão lenta que sempre está atrasada com relação às

inovações.

O dicionário, que foi organizado num determinado momento, já não corresponde mais à

realidade. Exatamente o mesmo acontece no caso da gíria. Um estudo feito agora poderá não

refletir a realidade dentro de dez ou vinte anos e uma série de comportamentos linguísticos,

que nos parecem normais e habituais agora, poderão ser diferentes num futuro próximo.

A gíria caracteriza-se por possuir um léxico próprio, alteração fonética das palavras. As

modificações morfológicas são mais raras e as sintáticas, quase inexistentes. A gíria existe,

conforme Câmara (1969), como parasita da língua, da qual usa os elementos que lhe

interessam, adotando-os para suas necessidades, por meio de modificações intencionais que,

por sua vez, exigem um esforço criador, ao passo que no dialeto, as modificações são

espontâneas e surgem, geralmente, em consequência de uma fragmentação histórica.

Sabemos que até Carlos Drummond de Andrade (1972) utilizou a gíria em uma de

suas crônicas, enfatizando a importância e a necessidade da leitura:

Leia um pouco, rapaz. Abra de vez em quando um livro de contos do velho

Machado, garota. Não dá pé? A praia não deixa? E você cochila na primeira página?

Tente outra vez. Insista. Se por acaso sua cuca estiver fundindo, se você estiver na

fossa, devido a um grilo fortuito, acabará encontrando lenitivo ao descobrir nos

escritos do velho, a magia de certas palavras exprimindo coisas sutis, inclusive a

razão do seu grilo (ANDRADE, 1972).

Da pesquisa geo-sociolinguística sobre a linguagem dos jovens, realizada a partir de

dados de 1969, dos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, elaborada por Mônica Rector

(1975), concluímos que a gíria é uma atitude linguística de desrespeito intencional à norma

estabelecida, mas não foge ao sistema; está marcada pela vivacidade, pela ironia, por certo ar

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de petulância, quase de desafio ao sistema; a vivacidade provém da espontaneidade e

irreverência. O espontâneo não é conservável, logo, a gíria é rápida e passageira.

Segundo Mônica Rector (1975), os termos morrem, em geral, na flor da idade e alguns

há que duram apenas uma temporada. Mas, algumas palavras acabam incorporadas à língua

comum e dicionarizadas, caracterizando-se pela tonalidade afetiva, com a predominância dos

sentimentos. Por isso, imperam os "palavrões", que constituem uma "válvula de descarga"

emotiva.

Trata-se de uma linguagem de iniciados, com uma linguagem quase secreta, de

decodificação inacessível aos membros de outros grupos. Essa linguagem fornece

compensadores para os sentimentos de inferioridade ou de insegurança. Por isso, é usada

frequentemente, para exprimir maturidade ou masculinidade. Serve para chamar a atenção,

chocar ou surpreender. É usada, ainda, para confundir e ridicularizar os outros, com o intuito

de exercer uma função social protetora da coesão grupal.

Notamos, também, que características gerais da gíria dos jovens, apresentada nos artigos

de jornais estão bastante generalizadas e os fenômenos linguísticos estudados são

praticamente nulos, uma vez que os artigos são de divulgação e não de pesquisa.

Rector (1975) considera que "são observações sem finalidade específica ou científica,

mas que servem para abrir urna brecha num caminho ainda inexplorado” (RECTOR, 1975).

Segundo Amadeu Amaral (1955), a gíria é “a linguagem popular no seu caminho

mais expressivo e é também a linguagem nova, na sua fase mais rudimentar. A gíria é uma

onda que vai e volta renovada (AMARAL, 1955).

A gíria surge em uma determinada comunidade ou grupo social, especificando um

acontecimento que marcou a vida daquele grupo e, com a comunicação e os contatos

estabelecidos com outros grupos, em outras regiões, a gíria vai se difundindo como uma

onda, onde muitas vezes é modificada, retornando ao seu lugar de origem, muitas vezes

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modificada. Como exemplo, citamos a expressão “pão duro”, como pessoa avarenta,

sovina. Inicialmente foi o apelido de um indivíduo que morava na Rua Visconde de Rio

Branco 311, e que se alimentava somente de pão velho, pão duro obtido na padaria ao lado.

Quando morreu deixou uma fortuna invejável. Hoje essa expressão é amplamente

conhecida e empregada nos diversos grupos sociais em nosso país.

Outro exemplo é a expressão “baderna”, que vem do teatro, por meio de uma bailarina

de nome Maria Baderna, a qual, por volta de 1850 agitou a cidade do Rio de Janeiro,

causando um verdadeiro furor. Seus fãs agitadíssimos tornaram-se violentos, sendo chamados

de “os badernas”, sendo modernamente denominados “baderneiros” os que praticam atos de

violência nas ruas.

Segundo as pesquisas de Rector (1994) a criação linguística das gírias se processa

através de desvios da norma, pois, considerando que a gíria é periférica com relação à língua,

ela faz questão de ocupar um lugar por meio da diferença, valendo-se da criatividade no

vocabulário, sofrendo menores variações fonéticas, morfológicas e sintáticas.

Uma grande característica da gíria é que ela “utiliza formas preexistentes não só da

língua como da cultura como um todo. Televisão, música popular, empréstimos de línguas

estrangeiras são fontes que alimentam a criação” (RECTOR, 1994).

Os seguintes procedimentos predominam na elaboração dos novos vocábulos:

invenção direta de lexias usando como pano de fundo a língua portuguesa, invenção

de significados por analogia, invenção de acepções por derivação, invenção de

grafias e invenção de alterações por contração ou adição (RECTOR,1994).

Para Rector (1994), a gíria jovem brasileira é considerada a gíria propriamente dita, ou

seja, a variante expressiva da língua falada, composta de jargões, palavras e expressões de

áreas específicas de cada grupo social, tendo sofrido influência de diversas culturas ao longo

dos séculos.

Sobre as influências que a gíria brasileira tem recebido Rector (1994) cita as seguintes:

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A gíria brasileira sofreu e vem sofrendo as mais diversas influências desde o século

XVI. Citamos, entre outras, as seguintes: 1) africano: bamba, xingar, tutu, mixe,

mixado, mixuruca, buginganga; 2) francês: bem (bien), chique (chic); 3) norte-

americano: quente (hot), por dentro (in), por fora (out), quadrado (square), som

(sound), ligado (turned on); 4) italiano: estrilar (strillare), bacana (genovês bacan);

5) japonês: banzé (banzai); 6) espanhol: sacar (sacar), embromar (bromear)

(RECTOR, 1994).

A linguagem dos jovens, no dia-a-dia, é composta por abreviaturas e gírias de uma

forma geral, o que facilita a comunicação, mas, não o entendimento do leitor. O fato dos

jovens usarem esse tipo de linguagem é o uso da Internet, que facilita a comunicação através

dos mais diversos meios de comunicação e sites de relacionamento.

Dentre os serviços e sites oferecidos gratuitamente em todo o mundo citamos os

seguintes: Chat`s (salas de conversa ou bate-papos); MSN (Microsoft Service Network é uma

coleção de serviços oferecidos pela empresa Microsoft em suas estratégias, envolvendo

tecnologias de Internet para comunicação instantânea escrita ou com áudio e vídeo, contando

atualmente com 45 milhões de pessoas cadastradas no Brasil14

); ICQ (da pronúncia individual

das letras em inglês, significando “I seek you”, “eu procuro você”; Facebook (“livro de

fotografias e perfis”, uma das redes sociais mais populares dos Estados Unidos, lançado em

2004, com o objetivo de ajudar alunos de escolas e faculdades dos EUA a trocarem

informações e manterem contato com amigos. Conta atualmente com um milhão de usuários

no Brasil15

); Orkut (site de relacionamento preferido no Brasil, contando com mais de 27

milhões de usuários no Brasil16

); Myspace (“meu espaço”, site de relacionamento rival do

Facebook, embora com 127 milhões de usuários no mundo, acaba de encerrar suas atividades

no Brasil17

); Blog (forma abreviada de Web Log, criado em 1989, contando hoje com mais de

14

Fonte: IT News. Disponível em: <http://blogs.msdn.com/itnews/archive/2009/09/03/live-messenger-completa-

10-anos-com-330-milh-es-de-usu-rios-em-76-pa-ses.aspx>. Acesso em: 30 Dez. 2009. 15

Fonte: Bobnews. Disponível em: <http://brasil.bobnews.com.br/noticias/facebook-dobra-a-quantidade-de-

usuarios-e-ja-passa-de-1-milhao-5502.html>. Acesso em: 30 Dez. 2009. 16

Fonte: idem. 17

Fonte: Popup. Disponível em: <http://www.popup.mus.br/2009/06/25/myspace-encerra-atividades-no-

brasil/comment-page-1/>. Acesso em: 30 Dez. 2009.

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112,8 milhões de Blogs na Internet18

); Twitter (diário virtual, ponto de encontro de

amigos.Trata-se de uma rede social e servidor, que permite o envio e acompanhamento de

mensagens de texto de até 140 caracteres, chamados “tweets”, significando “balbucio de uma

criança” ou “trinado de um pequeno pássaro”, formando microblogs). Conta com 7 milhões

de usuários no Brasil.19

e E-mails (correios eletrônicos), embora com um número de pessoas

com acesso à Internet em casa ou no trabalho da ordem de 44,5 milhões, somos cerca de 36,4

milhões de usuários ativos da Internet no Brasil20

.

Principalmente os jovens utilizam as seguintes expressões em seus “bate-papos” na

Internet: “Pq vc naum xego na hr q eu t flei?” Cuja tradução seria: “Por que você não chegou

na hora em que eu te falei?". E também palavras como: “fds, tbm, tc, xau, abçs, bjs, naum” e

outras, significando: fim-de-semana, também, conversar, abraços, beijos, não.

Muitas outras expressões surgem nos “bate-papos” pela Internet e se estendem até as

salas de aula, nos encontros dos jovens, onde quer que estejam. São expressões como: “Td blz

com vc? espero q sim.... pq naum rspd minha msg? ta td blz? tb naum tc + cmg : ( !!!!!!! bom,

nd de 9dades... e c vc? rspd qdo puder, flw? t+... bjs : )”.

A tradução seria: “Tudo bem com você? Espero que sim! Por que não respondeu minha

mensagem? Está tudo bem? Também você não conversou mais comigo? Bem, nada de

novidades. E com você? Responda quando puder, falou? Até Mais. Beijos.

Surgem, também, mensagens como estas:

Hey gnt..td bom?!?!? UAHAuAUahuUHauaHUA! to postando pra bestaa...Ela ta

ocupada aki e pediu preu posta, inTaum to aki!! hihihih...Pois eh, nem sempre si tem

dias iguais ao dia q foi hj... mas nós passamos por cima di td isso...pq a união faz a

força!kkkkkk.. =) Aiaiaiai...num vo escrever mto naum... to xeia d sono!... vo

mimir... aki na ksa da malaaaaa... hauahauauauha... Eh isso... Bjo pra

tds!...(UNIVERSIA, 2007).

18

Segundo Clayton Melo, São Paulo: Gazeta Mercantil, 30 Mar. 2009. 19

Fonte: SismoWeb/blog. <http://blog.sismoweb.com.br/2009/03/>. Acesso em: 29 Dez. 2009. 20

O Globo: tecnologia. < http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/08/20/numero-de-usuarios-ativos-da-

internet-no-brasil-cresceu-10-em-julho-757490363.asp>. Acesso em: 30 Dez. 2009.

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Traduzindo a mensagem acima temos: ei pessoal, tudo bem? (risos!) Estou escrevendo

para minha colega. Ela está ocupada aqui e pediu para eu escrever. Por isso estou aqui. Pois é,

nem sempre se tem dias iguais aos de hoje. Mas nós passamos por cima de tudo isso... Porque

a união faz a força (risos!). Ai, ai, não vou escrever muito não. Estou com muito sono! Vou

dormir aqui na casa de minha colega (risos!). É só por enquanto. Beijos para todos.

A mídia21

tem procurado traduzir algumas expressões e gírias usadas pelos internautas,

considerando-as como um código utilizado para fazer segredo, humor ou para distinguir um

grupo dos demais.

Além das conversas do dia-a-dia, as gírias - e principalmente abreviaturas - também

invadem as mensagens virtuais.

Algumas abreviaturas da web também são usadas no ambiente “real”. Por exemplo:

- Oi, tudo bem? – Tô rox (muito bem/legal). Na Net encontramos: abs-abraços;

add/adc/ad2-adicionar; amg-amiga; amr/amrzn-amor/amorzinho;

apoaskapoask/auhsauhsuahus-risada; bjo/smack-beijo; blz-beleza; ctg-contigo; dcp-

desculpa; dfçl-difícil; dlç-delícia; dms-demais; fçl-fácil; fds-fim de semana; flw-

falou; kd-cadê; mlq/Milk-moleque; msg-mensagem; mto-muito; naum/Ñ-não;

OMG-oh my god (ô meu Deus); pdc-pode crê; prfv-por favor; putz-pô; qd-quando;

rlx-relaxar; snt-santo(a); sux-muito ruim; Tb/tbm-também; tc-teclar;td-tudo; vc/VS-

você; vlw-valeu; Vo6-vocês; xau-tchau (A Gazeta, 2009).

Essa seria a linguagem típica, usada para se comunicar na Internet, para os jovens

acostumados com esse linguajar, e o mais interessante para eles é que estão se comunicando e

se e se entendendo de maneira mais rápida. Mas, essa linguagem não é utilizada somente no

mundo virtual, é uma comunicação feita em relações sociais também. Então, acostumam-se

com esse linguajar e quando são cobrados por um português correto nas escolas e

universidades têm suas dificuldades.

Outra questão que toma conta do português contemporâneo é o uso do gerúndio, o

chamado "gerundismo". É importante lembrar que o termo não está registrado nos nossos

dicionários da língua portuguesa. Assim, imaginamos que “gerundismo” seria o uso

21

Jornal A Gazeta, Vitória, 11 out. 2009, p. 11.

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exagerado do gerúndio ou, especificamente, o uso do gerúndio, em praticamente todos o

setores de atividade humana, em frases como: “Vou estar enviando um e-mail esta tarde”;

“Agora vamos estar cantando o Hino nº 137 e, em seguida, vamos estar orando”; “Sinto

muito, mas, nesse horário não posso, porque vou estar fazendo unhas”.

Luiz Fernando Veríssimo questiona sobre o emprego do gerúndio e do gerundismo

no Brasil. “Um dos grandes mistérios da nossa história e da história da nossa língua em

comum é: porque é que o gerúndio (forma nominal do verbo caracterizada pelo sufixo

"ndo"), que quase não é usado em Portugal, é tão usado no Brasil? (VERÍSSIMO, 2008).

Falando sobre a proliferação do gerúndio no português brasileiro Veríssimo (2008)

acrescenta que a diferença entre o português brasileiro e o português português é uma

questão de tempo e de espaço:

Os portugueses falariam como falam, correndo (ou a correr), comendo (ou a comer)

sílabas, trocando o gordo "o" pelo menos expansivo "u", porque lhes falta o espaço e o

tempo, que encontraram nas colônias, para palavras inteiras e dicção pausada. Seria

uma língua apertada. Mas isto não esclarece o mistério do gerúndio. "Estar a fazer" dá

mais a ideia de uma ação contínua e ponderada do que o rápido "fazendo". O gerúndio

é que denunciaria uma língua oprimida pelo pouco tempo e pela falta de espaço. Mais

uma tese demolida. Atribui-se a proliferação do gerúndio no português brasileiro à

influência do inglês, que teria provocado o gerundismo, ou o hábito de empregar o

gerúndio, mesmo quando não cabe ou não se deve. Existe até um nome para o uso

excessivo do gerúndio: endorreia. Uma palavra suficientemente horrível para fazer os

portugueses se sentirem vingados por tudo o que fizemos com a língua do Cabral.

Digam o que disserem, de endorreia eles nunca sofreram (VERÍSSIMO, 2008).

No Brasil, os grandes disseminadores do “gerundismo” são os atendentes de

telemarketing. Cada vez se torna mais comum o uso de frases como: "Vamos estar passando a

sua ligação para o outro setor" ou "vamos estar enviando o seu produto amanhã pela tarde".

Sua utilização tem se proliferado, pois, a perífrase com o gerúndio tem um valor progressivo,

dá a idéia de uma ação que continua. Mas, será necessária a construção de frases dessa

maneira? O uso exagerado de qualquer construção é problemático. A repetição constante de

gírias, palavrões, e até mesmo o "né", doem nos ouvidos, sem dúvida. É importante observar

que o gerúndio é parte integrante do sistema verbal do português.

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Muitos gramáticos e linguistas acreditam que o “gerundismo” surgiu da tradução literal

do inglês. Na língua inglesa existe o tempo que diz “eu vou estar fazendo”, que é o “I will be

doing”. Esse tempo foi traduzido, literalmente, para a Língua Portuguesa e, de repente,

tornou-se uma forma popular. Quem trabalha com a Língua Portuguesa e Inglesa percebe que

é uma tradução indevida, porque em Português há construções semelhantes e melhores do que

essa com o gerúndio. Não se trata aqui de uso indevido do gerúndio, mas é uma extensão do

uso comum, que é inadequada e, além disso, mais difícil do que a forma adequada.

No período da década de 80 houve uma interpretação equivocada por parte de quem

estava aplicando as políticas públicas de Educação, pois, achava que os alunos deveriam ficar

à vontade na escrita e que não deveriam ser corrigidos, pois, se fossem chamados a atenção,

correriam o risco de serem reprimidos. Em consequência, os estudantes vieram a ter

dificuldades em se adequar à norma padrão, ortograficamente correta. Dessa forma, torna-se

necessário que os jovens saibam distinguir exatamente os momentos em que precisam usar a

norma culta, daqueles em que podem usar uma linguagem mais informal.

A função principal da linguagem, tanto escrita quanto falada, é a comunicação entre

duas ou mais pessoas, mas pode chegar a uma forma tão condensada e complexa, que

acaba sendo obscura e secreta e aí ela perde a função comunicativa, gerando a

incompletude no sujeito, no sentido e no discurso.

Pode-se pensar que os que usam “internetês” jamais terão capacidade para construir

um discurso complexo. Existe, atualmente, um uso indiscriminado do idioma português,

principalmente, dentro da sala de aula, nas redações e nos trabalhos escolares, pois, no

momento em que se inicia esse método de linguagem, é aceito de forma natural, onde cada

um usa a linguagem do jeito que quer, na condição de que se faça entender. Além de

usarem gírias e “internetês” na informalidade e com amigos, muitos acabam levando esses

vícios para toda a comunicação.

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Por outro lado, muitos jovens, ainda, desempenham bem a escrita, com originalidade

e criatividade. São várias as formas de comunicação pela escrita, e cada uma delas usa um

tipo diferente de linguagem, cada um com sua finalidade. Um requerimento e um trabalho

em revista científica devem obedecer às regras da norma culta, enquanto que em outro

documento é possível usar a linguagem formal ou cultural.

A língua é algo dinâmico e, então, não podemos impedir o seu desenvolvimento,

estabelecendo normas para evitar o seu crescimento. Os linguistas e gramáticos como

Carlos Alberto Faraco, Domício Proença Filho, Celso Cunha, Domingos Paschoal Cegalla,

Celso Pedro Luft, Antônio Houaiss, e tantos outros são unânimes em afirmar que a língua

está em constante evolução e mudança. Por exemplo, a forma comum de tratamento,

"você", surgiu de uma expressão bem maior, que era "Vossa Mercê", um tratamento mais

respeitoso. Posteriormente, transformou-se em “Vosmecê”, “você” e, finalmente, “cê”.

Um dos maiores poetas e filósofo da Roma Antiga, Quinto Horácio Flaco22

(65 a 8

a.C.) assim se expressou: “Muitas palavras que já morreram terão um segundo nascimento,

e cairão muitas das que agora gozam das honras, se assim o quiser o uso, em cujas mãos

está o arbítrio, o direito e a lei da fala”.

A linguagem é uma capacidade nata ao ser humano, usada para a comunicação. Essa

habilidade se manifesta por meio de sistemas linguísticos ou língua. A língua é o sistema

que cada comunidade usa. Esse sistema vigente nas comunidades precisa ter um

determinado equilíbrio ou as pessoas acabam não se entendendo. Mas, esse equilíbrio é

naturalmente instável, pois a língua está sempre em movimento, visto que as pessoas estão

sempre falando. E a língua vai sempre mudar e se movimentar, não só no aspecto fonético,

mas, também, no seu significado, no tempo e no espaço.

22

HORÁCIO, Ars poética, VV. 70 et. seqq. apud: HOUAISS, 2004, p. 8.

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Segundo os estudos de Rector (1994), “o jovem, principalmente o da cidade grande,

caracteriza-se por uma necessidade de auto-afirmação e por seu espírito contestador. Isto

ocorre intencionalmente ou não, motivado por diversos estímulos (RECTOR, 1994). Fato

semelhante acontece com a linguagem, pois, a fala dos jovens oscila entre a chamada

norma culta e inculta, assumindo feição própria.

Trata-se de uma norma jovem, compatível com a moda jovem. Em face de outras

normas, funciona como instrumento de agressão e de auto-afirmação, sendo a gíria o

seu aspecto mais marcante. De gírico tem a transitoriedade, uma mutação constante

proveniente da perda de novidade; o que era original passa a ser „déjà vu’

(RECTOR, 1994).

Portanto, consideramos que se torna necessário que os jovens saibam distinguir,

exatamente, os momentos em que precisam usar a norma culta, daqueles em que podem usar

uma linguagem mais informal, na mídia ou em seu relacionamento social, fazendo uso das

gírias, dos dialetos, dos “internetês”, ou de qualquer outra forma de comunicação, tornando o

seu discurso inteligível, interpretável e compreensível.

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5 A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM DA MÍDIA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA

PORTUGUESA

Cada vez mais a tecnologia está presente na vida das crianças, dos adolescentes, dos

jovens e dos adultos, quer seja para a comunicação, diversão ou como fonte de pesquisa. As

diversões muito comuns no passado, tais como jogar bola, soltar pipa, brincadeiras com

bolinhas de gude, jogar peteca, brincadeira de “esconde-esconde”, pular corda e tantas outras

já estão ficando no esquecimento, sendo substituídas pelo computador. Essas brincadeiras e

jogos dependiam de contato físico, o que proporcionava o estabelecimento rápido e seguro de

relacionamentos e novas amizades, as quais davam a oportunidade de saírem à noite para um

passeio ou visitas às casas dos amigos.

Com o lançamento dos videogames essas brincadeiras foram sendo substituídas pela

diversão em ambiente fechado das residências dos pais ou em locais apropriados para esses

jogos, com participação individual ou restrita a duas pessoas.

Com os brinquedos eletrônicos e, principalmente, com a utilização cada vez maior do

telefone celular, o contato físico entre os participantes foi rapidamente sendo substituído.

Segundo Ana Paula Previtale (2006) “as crianças já não sabem mais falar de seus

sentimentos, suas aflições, seus desejos e nem fazem mais amizades, se escondem dentro de

casa, parece até que a tecnologia as satisfaz”.

Hoje, as crianças começaram a viver na era da modernização, onde não

brincam mais nas ruas, com os vizinhos, nos campos de grama ou parques,

porque vivem presas em quatro paredes, devido à violência. Elas ficam na

frente da televisão, no computador ou jogando vídeo-game a maior parte do

dia e com isto, não sabem brincar, não conversam com os pais, irmãos ou

com os próprios vizinhos do prédio, apenas sabem imitar gestos, falas de

super-heróis brigando com os monstros, demonstrando assim um

comportamento agressivo e as meninas querem ser adultas logo, pois se

vestem como as modelos que aparecem na televisão, desde cedo sendo

vaidosas e obrigando os pais a comprarem sempre as roupas e sapatos da

moda, desenvolvendo assim nelas o desejo de sempre consumir e gastar em

excesso (PREVITALE, 2006).

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Nos dias atuais a maior parte das crianças, dos adolescentes e dos jovens prefere ficar

em suas casas ou em uma Lan House23

, divertindo-se com os jogos eletrônicos, com os sites

de relacionamentos virtuais, como Orkut, Face Book e MSN, substituindo as ligações

telefônicas demoradas, com as contas mensais cada vez maiores, acompanhadas das

reclamações dos pais.

Além disso, os contatos e as trocas de mensagens escritas pelo telefone celular ou pelo

MSN custam pouco, são realizadas rapidamente e em silêncio, não correndo o risco de serem

surpreendidos por alguém escutando a conversa numa extensão ou mesmo nas proximidades.

Walter Rossignoli (2007), como observador do emprego dos sinais de pontuação por

parte da mídia, analisa matérias de diversas revistas e jornais, verificando o que parece

destoar do que recomendam as gramáticas da língua portuguesa.

Depois de um exame acurado Rossignoli leva alguns textos para a sala de aula, onde

discute com os alunos, procurando salientar o dinamismo da língua, enfatizando que os

desvios de hoje poderão fazer parte de futuras recomendações gramaticais.

Como exemplo de desvirtuamento da língua portuguesa pela mídia, Rossignoli (2007)

aponta que “as gramáticas afirmam que se separa o adjunto adverbial quando tem certa

extensão e está deslocado do final do período. Quando são antepostos ou intercalados, os

adjuntos adverbais devem ser obrigatoriamente separados por vírgulas".

Entretanto, segundo os exemplos de Rossignoli (2007) a tendência da língua da mídia é

bem diferente, como nos exemplos seguintes, extraídos da Folha de São Paulo e da Revista

Veja: “Cinco meses antes ela dera à luz seu primeiro filho”. (Veja); “Em Pirapora as romarias

não são novidade”. (Folha de S. Paulo); “A cada semana a lista mudava um pouco”. (Veja);

“Em pouco mais de dez meses ele leu alguns livros...” (Veja). Assim, Rossignoli (2007)

apresenta sua conclusão sobre o assunto:

23

Significa Local Area Network, ou seja, rede local de computadores. Trata-se de um estabelecimento comercial

onde as pessoas pagam para utilizar um computador com acesso à Internet e a uma rede local, com acesso à

informação rápida pela rede e entretenimento por meio dos jogos em rede ou online.

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Observe o leitor que os adjuntos destacados têm certa extensão, estão

deslocados para o início do período e não foram virgulados. O que fazer?

Corrigir Veja e Folha ? Penso que não. Trata-se de uma tendência da língua

midiática escrita que encontrará ressonância nas descrições gramaticais do

futuro. É esperar para ver! (ROSSIGNOLI, 2007).

Segundo Luiz Carlos Schwindt24

(1996) a Linguística, que estuda a linguagem

cientificamente, reconhece que não existe isomorfismo perfeito entre fala e escrita. A razão

disso é que, do ponto de vista científico, a fala tem prioridade sobre a escrita. Observa,

também, que John Lyons (1981) apresenta quatro prioridades da língua falada sobre a língua

escrita: histórica, estrutural, funcional e biológica.

Quanto à prioridade histórica Lyons (1981) observa que não se conhece nenhuma

sociedade humana que tenha existido sem a capacidade da fala, predominando o

analfabetismo em grande parte da sociedade humana até recentemente. Segundo os dados da

UNESCO25

no mundo 875 milhões de pessoas são analfabetas sendo que 580 milhões são

mulheres e em 2010, os analfabetos deveriam diminuir para 830 milhões.

Na prioridade estrutural a combinação entre as letras é determinada pela fala e as letras

servem para codificar os sons da fala. Entretanto, possuem algumas restrições, como, por

exemplo, não temos palavras na língua portuguesa com a sequência das letras “pv”, o que

pode acontecer em outras línguas.

Na prioridade funcional verifica-se que a escrita é utilizada nas sociedades modernas

somente quando as comunicações vocais e auditivas não são possíveis, dando prioridade à

fala. Com a invenção do telefone e do gravador, por exemplo, a tecnologia criou meios de se

empregar a língua falada no lugar da escrita, como a humanidade fazia no passado, passando a

ocupar a maior parte da comunicação humana.

24

Em “A teoria da variação e o suposto caos da língua falada”. La Salle. Revista Educação, Ciência e Cultura,

v.1 n.2, p.77 a 87. Primavera, 1996. 25

Revista "MUNDO e MISSÃO". Disponível em <http://www.pime.org.br/mundoemissao/dadosanalfab.htm>.

Acesso em: 19 Jan. 2010.

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A prioridade biológica envolve o fato de que o homem é pré-programado para falar e o

ser humano normal pode falar e nunca aprender a escrever, devido a localização das diferentes

áreas da linguagem no cérebro.

Schwindt (1996) conclui que “a partir dessas prioridades podemos afirmar com

segurança que a fala não é instrumento da escrita, mas, ao contrário, a escrita foi criada com o

objetivo de codificação da fala”. E acrescenta:

Em vista da necessidade de uniformizar a escrita, criou-se a gramática

normativa. [...] a gramática normativa traz informações de como a língua

deve ser, enquanto a gramática descritiva está preocupada em entender como

a língua é de fato. [...] é evidente que do ponto de vista da fala, não há o

correto ou o errado, o que existem são formas diferentes de se dizer a mesma

coisa, ou variações lingüísticas. A língua deve comunicar e ser eficaz na

comunicação, isso significa adequação do falante à situação de fala

(SCHWINDT, 1996).

Quanto à mídia escrita nota-se que ela tem exercido grande influência nas escolas

atualmente, devido à inserção de fragmentos do discurso jornalístico nos livros didáticos em

detrimento de outros gêneros.

Graça Caldas26

(2006) discute a qualidade da narrativa jornalística e os riscos que ela

encerra se não houver uma leitura crítica da mídia, assim como defende a necessidade de um

trabalho integrado entre educadores e jornalistas para a real compreensão do processo de

produção da imprensa, construção da linguagem e da linha editorial dos veículos de

comunicação.

Não são poucas as falhas presentes nas estruturas narrativas da imprensa.

Além dos problemas de conteúdo, da falta de contextualização da

informação, pecam, em grande parte, pela pobreza vocabular, pela imprecisão

lingüística, pela falta de lógica e de clareza na exposição das idéias. Como a

velocidade é parte integrante do processo de captação da informação e de sua

produção, principalmente nos jornais diários, sejam eles impressos ou on-

line, as estruturas narrativas da imprensa carregam consigo todos os

problemas decorrentes da impossibilidade prática de revisão estilística e de

conteúdo (CALDAS, 2006).

26

Em seu artigo “Mídia, escola e leitura crítica do mundo”. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 117-130,

jan./abr. 2006.

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Portanto, conforme exposto, Caldas (2006) conclui que a utilização da mídia na escola é o

primeiro passo para a leitura do mundo, não se limitando à leitura de jornais, revistas ou dos veículos

eletrônicos, mas por meio da construção de suas próprias narrativas, pela aquisição do pensamento

crítico.

Questiona-se, também, o fato de que os adolescentes e os jovens estão adquirindo mais

conhecimento por meio da televisão e da Internet do que de seus pais e professores, além da

falta de leitura, revelando um baixíssimo nível de compreensão, interpretação e reflexão por parte da

maioria dos alunos do Ensino Fundamental e Médio em todo o país.

O baixo índice de leitura no país, associado à inexistência de bibliotecas

públicas em 21,3% dos 5.559 municípios brasileiros (Bertoletti, 2004, p. 86),

atesta a falta de investimento das autoridades para tornar disponível o acesso

ao livro no país. A recente pesquisa Retrato da Leitura do Brasil, realizada

por Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional dos Editores de

Livros (SNEL), Associação Brasileira de Editores de Livros

(ABRELIVROS) e Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA),

traz um perfil preocupante do leitor brasileiro. Com um universo de 5.503

entrevistas de 40 cidades brasileiras, representando uma população estimada

em 86 milhões de pessoas (correspondente a cerca de 40% da população do

Brasil), os resultados revelam que 61% dos brasileiros adultos alfabetizados

têm pouco ou nenhum contato com os livros. Além disso, de acordo com os

dados divulgados pela revista Carta Capital (9/11/2005, p. 22), na Região

Sudeste apenas 7% dos estudantes alcançaram níveis adequados de leitura

(CALDAS, 2006).

Segundo Pedro Demo27

(2008) os maiores desafios que professores e alunos enfrentam,

envolvendo a linguagem da mídia moderna, a chamada linguagem do século XXI é que a

escola está distante desses desafios e os alunos não gostam muito da escola e se desenvolvem

hoje de uma maneira diferente, achando que aprendem melhor na Internet, onde os alunos

trocam informações entre si, o que é bem diferente do que acontece na escola.

27 Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). PhD em Sociologia pela

Universidade de Saarbrücken, Alemanha, e Pós-Doutor pela University of California at Los Angeles (UCLA),

possui 76 livros publicados, envolvendo Sociologia e Educação.

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“O Brasil não está dando muita importância a isso – estamos encalhados no processo do

ler, escrever e contar. Na escola, a criança escreve porque tem que copiar do quadro. Na

Internet, escreve porque quer interagir com o mundo” (DEMO, 2008).

Demo (2008) considera que a escola precisa mudar para acompanhar o ritmo dos

alunos, não que a escola esteja em risco de extinção, mas nós temos que restaurar a escola

para ela se situar nas habilidades do século XXI que aparecem em casa, no computador, na

Internet, na Lan House, mas não aparecem na escola, porque ela continua usando a linguagem

de Gutenberg, de 600 anos atrás. “Essa grande mudança começa com o professor, pois é a

figura fundamental. Não há como substituir o professor. Ele é a tecnologia das tecnologias, e

deve se portar como tal” (DEMO, 2008).

No que diz respeito à influência do “Internetês” Demo (2008) esclarece que existem as

línguas concorrentes, sendo mesmo impossível imaginar a existência de uma única língua

mundial. E a unificação das sociedades se realiza pela interatividade, pelos interesses comuns

e não pela língua que falam. E a Internet procede dessa maneira, utilizando a língua inglesa,

porém admite a tradução em todas as línguas do mundo, de todas as culturas.

Eu não acho errado que a criança que usa a internet invente sua maneira de

falar. No fundo, a gramática rígida também é apenas uma maneira de falar. A

questão é que pensamos que o português gramaticalmente correto é o único

aceitável, e isso é bobagem. Não existe uma única maneira de falar, existem

várias. Mas com a liberdade da internet as pessoas cometem abusos. As

crianças, às vezes, sequer aprendem bem o português porque só ficam

falando o internetês. Acho que eles devem usar cada linguagem, isso no

ambiente certo – e isso implica também aprender bem o português correto

(DEMO, 2008).

Olavo de Carvalho28

(2001) explica que não existe uma língua comum a todo o mundo,

porém, existem as línguas de determinadas sociedades, famílias, grupos diversos e de regiões

28

Em seu artigo “Aprendendo a escrever”. O Globo, 03 Fev. 2001. Disponível em:

<http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/ap-esc.htm>. Acesso em: 14 Jan. 2010.

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diferentes, onde são realizadas as codificações, as abreviaturas e a síntese das palavras e

expressões empregadas pelos diferentes grupos. “Uma dessas codificações é a linguagem da

mídia. Ela procede mediante redução estatística e estabelecimento de giros padronizados que,

pela repetição, adquirem funcionalidade automática” (Carvalho, 2001).

A linguagem da mídia ou da praça pública repete da maneira mais rápida e

funcional, o que todo mundo já sabe. A língua dos escritores torna dizível

algo que, sem eles, mal poderia ser percebido. Aquela delimita um horizonte

coletivo de percepção dentro do qual todos, por perceberem simultaneamente

as mesmas coisas do mesmo modo e sem o menor esforço de atenção,

acreditam que percebem tudo. Esta abre, para os indivíduos atentos, o

conhecimento de coisas que foram percebidas, antes deles, só por quem

prestou muita atenção (CARVALHO, 2001).

Com a popularização da Internet na década de 1990 os hábitos de escrita e da

comunicação mundial sofreram profundas transformações, especialmente com o surgimento

do e-mail, das salas virtuais, dos instrumentos de comunicação instantânea como o ICQ e o

MSN, dotadas de recursos áudio, vídeo, além da forma escrita. Ultimamente, surgiram os

Blogs e as redes de relacionamento social como o Orkut, Facebook, as quais também

aderiram à comunicação instantânea de forma escrita, além do Skype que se tornou um dos

maiores e melhores instrumentos de comunicação escrita, com áudio e vídeo, realizando

contatos telefônicos fixos ou móveis nacionais e internacionais, com custo reduzido e com

elevado índice de qualidade e rapidez.

Como resultado dessa tecnologia surge uma nova forma de escrita abreviada – o

“Internetês”, criada pelos usuários dos recursos e das ferramentas de comunicação,

consolidando-se por todo o mundo. Popularmente conhecido como MSN, é no Brasil que o

programa denominado Windows Live Messenger tem sua maior base de usuários mundial.

Segundo dados da Microsoft29

, são mais de 40 milhões de usuários no Brasil, o que

29

Fonte: Portalms. Disponível em: http://www.portalms.com.br/noticias/Microsoft-libera-atualizacoes-do-MSN-

/Mundo/Tecnologia/28338.html. Acesso em: 20 Jan.2010.

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corresponde à fatia de 12,5% de contas, em um total de 320 milhões de usuários no planeta,

que trocam em torno de 8,22 bilhões de mensagens diárias no MSN, resgatando a importância

do texto escrito, o que nenhuma outra forma de comunicação realizou na história da

humanidade.

A mais nova versão desse software de comunicação tem como objetivo, segundo a

empresa Microsoft, funcionar como uma plataforma ampla de rede social e integração de

usuários. É possível criar um sistema de armazenamento remoto de arquivos, e compartilhá-lo

com um grupo específico. Agora, é possível criar grupos de até 20 pessoas, e cada usuário

pode participar de um total de 20 comunidades. Cada grupo possui um site para comunicação

e compartilhamento de imagens, vídeos e arquivos.

Segundo a Microsoft é muito mais do que um simples programa de conversa. É um

espaço para compartilhar arquivos, falar mais, ver o que está acontecendo em outros grupos

sociais. Não é apenas um e-mail, mas uma rede social, com vários blogs e informações,

suscetíveis à organização e atualização.

Muitos pais, educadores e estudiosos da língua consideram o “Internetês” como um

inimigo que está prestes a corromper e a dominar completamente a língua portuguesa e a

transformar-se em linguagem padrão.

No entanto, outros compreendem que os jovens e mesmo os adultos que receberam ou

que estão recebendo uma formação educacional de qualidade, voltada para o progresso e o

desenvolvimento das novas tecnologias da informação, aliada a uma boa formação da língua

portuguesa, não estarão sujeitos a cometer erros na elaboração de seus textos. “A Web não

tem culpa de nada. Pessoas com boa formação educacional sempre conseguirão separar a

linguagem coloquial da formal. Elas sabem dispensar os acentos e quando pingar os “is”

afirma Arlete Salvador30

(2009).

30

Jornalista, autora de “A arte de escrever bem”. Fonte: MURANO, Edgard. “A maturidade do internetês”.

Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, Fev. 2009.

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Segundo João Luís de Almeida Machado31

(2009) no caso de adultos já terminaram os

seus cursos, portanto, com capacidade de produzirem seus textos e com maturidade suficiente

para empregar a linguagem coloquial e a linguagem formal adequadamente.

Entretanto, no que diz respeito aos adolescentes e jovens em formação escolar, o mesmo

não acontece.

No que se refere às novas gerações, ainda em formação, é grande a confusão

que se estabelece entre a norma culta da língua portuguesa e a linguagem

coloquial da Web. Isso se explica ao levarmos em conta a exposição demasiada

dessa garotada à Internet e os baixos índices de leitura auferidos no país

(MACHADO, 2009).

Para Adalton Ozaki32

(2009) como bom conhecedor dessa nova geração de jovens

chamada de “Geração Alt + Tab” (referência ao comando do teclado que permite ao usuário

de computador gerenciar várias tarefas simultaneamente) os jovens hoje são considerados

impacientes, pois escrevem um e-mail, baixam vídeo, ouvem música MP3, conversam no

MSN com dois ou mais contatos, visitam o Orkut e ainda escrevem no Word (programa de

textos).

Raquel Nogueira33

(2009) não considera o fenômeno lingüístico como uma mudança

para pior, mas chama a atenção para o contexto em que é empregada, salientando que essa

linguagem dos jovens deve ser restrita à comunicação e às mensagens realizadas pelos jovens

na Internet.

“Assim como uma tribo, com suas próprias gírias e seu próprio modo de falar que a

identifica, o mesmo se dá com o “Internetês”, que é usado apenas no espaço que lhe cabe, isto

é, na internet e nos torpedos SMS” (NOGUEIRA, 2009).

31

Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Editor do portal Planeta

Educação. Fonte: MURANO, Edgard. “A maturidade do internetês”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40,

Fev. 2009. 32

Professor, Coordenador dos Cursos de Graduação da Faculdade de Informática e Administração Paulista

(Fiap). Fonte: MURANO, Edgard. “A maturidade do internetês”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, Fev.

2009. 33

Professora de Língua Portuguesa do Colégio Módulo, em São Paulo. Fonte: MURANO, Edgard. “A

maturidade do internetês”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, p. 26, Fev. 2009.

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Nogueira (2009) reconhece que a grande responsabilidade de orientação sobre os

diversos níveis e contextos para a utilização da linguagem cabe aos professores:

Mas onde e quando se deve usar o internetês, cabe ao professor orientar seus

alunos e mostrar que existem vários níveis de linguagem, vários contextos de

uso e vários níveis de formalidade na comunicação. O aluno pode expressar-se

utilizando abreviações, neologismos, caricaturas e até não usando acentos, mas

fora desse ambiente virtual, em outras situações escritas, isso não é bem aceito

ainda (NOGUEIRA, 2009).

Segundo Nogueira (2009) a língua é viva e dinâmica, sendo que toda mudança que

acontece é produzida pela fala, pelos usuários da língua, o que pode demorar a acontecer mas,

com certeza, acontecerá. “Assim como aconteceu com “vossa mercê”, que virou “você” e que

se transformou em “cê”, quem sabe o “Internetês” não seja um precursor de outras mudanças

na grafia das palavras, já que ninguém falaria “vc” em vez de “você” ou “cê” (Nogueira,

2009).

Ozaki (2009) aponta outra modalidade utilizada nas comunicações pela Internet que são

os emoticons (fusão das palavras inglesas emotion, emoção, com icon, ícone), utilizados pelos

internautas para expressar sentimentos e humor nas mensagens enviadas. São produzidos por

meio de uma sequência de caracteres tipográficos, simulando expressões faciais, podendo ser

acrescentado vários movimentos, transmitindo o estado de espírito de quem está enviando a

mensagem.

Atualmente os emoticons constituem presença obrigatória no “Internetês”, assumindo

as mais diversas formas, com figuras coloridas em movimento e com som característico da

figura representada.

Segundo Edgard Murano (2009) o “Internetês” acelerou e ampliou a comunicação

mundial, criando vários neologismos e expressões que já fazem parte da linguagem popular,

tais como “postar” uma mensagem ou, até mesmo, uma carta nos serviços de correios da

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67

cidade. A expressão “deletar” (em inglês “delete”) significando cancelar, anular, já pode ser

encontrada até na música popular brasileira.

Como exemplo dessa influência da Internet que se faz presente no Brasil, selecionamos

uma música sertaneja dos cantores Edson e Hudson, de autoria de Ewerton Assunção34

(2006):

“Vou te deletar do meu Orkut”

Sei que as horas vão passando e eu amando mais você

Dedicando sempre um amor sem fim

Nos momentos de paixão e de felicidade

Eu sempre acreditei que o seu amor era verdade

Você sempre jurou a mim eterno amor

Que um dia casaria comigo e seria feliz

Mas você mentiu e vi que estava errado

Um dia vi você sair com o Ex-namorado

Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut

Eu vou te bloquear no MSN

Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...

Me exclua também e adicione ele

Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut

Eu vou te bloquear no MSN

Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...

Me exclua também e adicione ele

Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut

Eu vou te bloquear no MSN

Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...

Me exclua também e adicione ele

Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut

Eu vou te bloquear no MSN

Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...

Me exclua também e adicione ele

Como resposta surgiu outra música sertaneja, de autoria de Willian Santos e Maercio

Navarro35

(2007), intitulada: “Não vou te excluir do meu Orkut”, cantada pela dupla sertaneja

Willian e Renan:

34

Fonte: Letras.com. br. Disponível em: <http://www.letras.com.br/edson-e-hudson/vou-te-deletar-do-meu-

orkut>. Acesso em 20 Jan. 2010.

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68

Não Vou te excluir do Meu Orkut

Não vou te excluir do meu orkut

Não vou , não vou

Não vou te deletar da minha rede

Não vou te bloquear no msn

Seus scraps seus e-mails

Fazem parte dessa historia

Se eu te deletar

Se eu te bloquear

Se eu te excluir não vou conseguir sorrir

Desconectado desse amor

Pela webcan quero ver seu rosto

Ler suas mensagens

Desfrutar o gosto

Desconectar a minha dor

Vou adicionar ponto com você

@ amor no coração

Deletando a solidão

É amor na rede pro mundo vê

Pois no meu orkut só da você

Www ponto amor e paixão

Se eu te deletar

Se eu te bloquear

Se eu te excluir não vou conseguir sorrir

Desconectado desse amor

Pela webcan quero ver seu rosto

Ler suas mensagens

Desfrutar o gosto

Desconectar a minha dor

Vou adicionar ponto com você

Arroba amor no coração

Deletando a solidão

É amor na rede pro mundo vê

Pois no meu orkut só da você

Www ponto amor e paixão

É amor na rede pro mundo vê

Pois no meu orkut só da você

Www ponto amor e paixão

Não vou te excluir do meu orkut

Não vou , não vou , não vou...

Outra expressão muito empregada ultimamente, por influência da Internet é “printar”,

significando imprimir. Surgiram, também, trocadilhos utilizados pelos usuários da Internet,

cujas expressões, ao mesmo tempo em que são estrangeirismos, caíram rapidamente no gosto

35

Fonte: Letras.com. br. Disponível em: <http://www.letras.com.br/willian-e-renan/nao-vou-te-excluir-do-meu-

orkut>. Acesso em 20 Jan. 2010.

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popular e são amplamente empregadas, como “googlar”, querendo dizer que vai fazer uma

pesquisa no site de busca Google e “orkuticídio”, significando a realização de sua própria

exclusão de seu perfil da rede do Orkut.

Murano (2009) adverte quanto ao uso do “Internetês” e a atenção e a importância que

os pais, professores e educadores devem dar à continuidade da produção de textos pelos

jovens internautas em qualquer situação que se encontrem:

Já que o avanço tecnológico é um processo irreversível, assim como as marcas

que o progresso vai deixando na linguagem, é necessário admitir essas

aquisições como expressões legítimas, sem nunca perder a chance de usar a

forma culta da língua portuguesa quando for necessário. Também cabe a pais,

professores e educadores orientar seus alunos para que tal interesse reverta-se

em produção escrita, não importando se os textos produzidos forem à tinta ou

digitados no computador (MURANO, 2009).

Grande tem sido a influência da linguagem da mídia na aquisição da Língua Portuguesa.

O princípio básico do “Internetês”36

(2005) é retirar o essencial das palavras, descartar o

supérfluo e escolher os melhores efeitos fonéticos, como, por exemplo, dispensar as vogais,

como nas palavras “ctza” (certeza), “tbm” (também), “dpnd” (depende).

Outra forma de abreviar é com a substituição de qu, ch, e ss por k, x e c, como nas

palavras “eskecer” (esquecer), “xegar” (chegar) e “ece” (esse). É muito usada a palavra “vx”

(você), nas expressões de carinho. A indicação de acento agudo é a letra “h”, como nas

palavras “ahi”, “jah”, “eh”. O til transforma-se em “aum” como nas palavras “naum” (não),

“entaum” (então). Observa-se, também, que essas expressões e tantas outras do “Internetês”

variam em cada região do país.

Segundo os entrevistados em nossa pesquisa, uma das mais fortes razões apresentadas

pelos jovens internautas para se escrever de maneira abreviada é exatamente devido ao fato de

se estabelecer um contato com um amigo e outros vão chamando no MSN e, de repente, o

36

Fonte: “Naum tow ntndndu nd” (Não estou entendendo nada). Revista Veja, p. 128, 25 Mai. 2005.

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bate-papo se estende, falando-se com 20 pessoas ao mesmo tempo. Daí a necessidade de se

abreviar para dar tempo de responder a todos simultaneamente.

Bruno Dallari37

(2005) afirma que “quem teme pelo futuro do idioma pode se acalmar:

“segundo especialistas, “Internetês”, como acne, é fase. Há quem aponte, inclusive, benesses.

A Internet reabilitou a escrita, a qual estava em desuso pelos jovens “(DALLARI, 2005).

Por meio da Internet houve um desenvolvimento acelerado do conhecimento em todo o

mundo, fazendo com que todos pudessem compartilhar suas experiências de uma maneira

cada vez mais rápida, ligando as pessoas localizadas nos locais mais longínquos da terra.

Como consequência dessa interação entre as diversas culturas, o homem passou a ter a

oportunidade de refletir sobre sua existência, seus usos e costumes e, até mesmo, mudar o seu

comportamento.

Fabiano Rampazzo38 (2009) analisando a influência do “Internetês” na escola conclui

que, apesar da preocupação dos pais e professores e a crítica constante dos profissionais da

educação contra a forma dessa nova escrita dos jovens, a ocorrência dessa linguagem em

provas e concursos é quase nula. “Ainda que a maioria dos professores e educadores se

preocupe com essa linguagem, alertando os alunos em sala, a ocorrência do “Internetês” nas

provas escolares, vestibulares e em concurso público é insignificante” (RAMPAZZO, 2009).

Mônica Domingos39

(2009) segundo sua experiência em sala de aula esclarece sobre a

influência do “Internetês” nos trabalhos escolares:

nos simulados de redação que passo e corrijo não identifico a presença do

Internetês. É bem verdade que tenho o cuidado de orientar os alunos a não

trazer esse dialeto para as provas. Em cada ambiente você usa uma roupa,

não dá pra ir a uma recepção com a mesma roupa utilizada na praia

(DOMINGOS, 2009).

37

Professor de Linguística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Fonte: “Naum tow ntndndu

nd” (Não estou entendendo nada). Revista Veja, p. 128, 25 Mai 2005. 38

Fonte: “O internetês na escola”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, p. 28, Fev. 2009. 39

Professora de Português da Escola Progresso. Ministra cursos preparatórios para as provas de concurso

público das polícias militar e civil, e para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Revista Língua Portuguesa.

Ano 3, n. 40, p. 28, Fev. 2009.

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71

Segundo Luiza Ricotta40

(2009) também acontece o mesmo nas redações de seus

alunos, não apresentando influências do “Internetês”:

Nos simulados que fazemos aqui não aparece Internetês. Os alunsos sabem

que as provas exigem o português em sua forma culta. As abreviações de

palavras aparecem, sim, nas anotações deles em sala de aula, mas na hora da

prova eles sabem diferenciar. Aliás, aí está a questão: saber a hora em que

podemos escrever de “qqjto”, da hora em que não podemos escrever de

“qualquer jeito” (RICOTTA, 2009).

Portanto, segundo todos os educadores apresentados em nossa pesquisa, esse mito do

“Internetês” como “um monstro devorador de gramáticas e dicionários” já não existe mais.

É dever das escolas realizarem um trabalho crítico com os alunos, no que diz respeito às

novas tecnologias da comunicação, proporcionando a todos uma educação de qualidade.

As escolas precisam orientar os alunos quanto ao uso adequado da linguagem formal e

da linguagem coloquial, especificando quando e onde empregar tais linguagens, incentivando

a pesquisa orientada nos laboratórios de informática das próprias escolas, interagindo no

contexto social, preparando, assim, os jovens para os desafios de uma nova sociedade em

construção.

40

Psicóloga e Professora no curso FMB, em São Paulo, preparando alunos para provas de concursos públicos da

área jurídica. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, p. 28, Fev. 2009.

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6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

A pesquisa de campo sobre “A Linguagem do Jovem na Mídia Contemporânea e sua

Influência na Aquisição da Língua Portuguesa” foi realizada com 71 alunos da oitava série do

Curso Fundamental de uma escola da rede particular de ensino da cidade de Caratinga, Minas

Gerais.

Após o consentimento livre e esclarecido dos alunos e de seus pais para a realização da

pesquisa foi aplicado um questionário, o qual foi devidamente respondido pelos alunos na sala

de aula, com o nosso acompanhamento como pesquisador e da professora de Português da

referida turma de alunos.

Em uma segunda etapa os alunos fizeram uma redação sobre a influência do

“Internetês” nos trabalhos escolares, tendo sido avaliada pela professora da turma e entregue

ao pesquisador para análise sobre a influência, na Língua Portuguesa, da linguagem utilizada

pelos jovens na Internet.

Os gráficos dos resultados apurados da pesquisa encontram-se em anexo, cuja análise

passamos a demonstrar:

Gráfico 1 – Dados pessoais: sexo.

O grupo pesquisado de alunos está constituído de uma maneira equilibrada, constituído

por participantes do sexo feminino (51%) e os participantes do sexo masculino representam

49%.

Gráfico 2 – Dados pessoais: idade.

A maioria absoluta dos alunos pesquisados tem 14 anos de idade, representando 72%.

Quanto aos demais participantes apresentam 21% com 13 anos de idade, 5% com 15 anos de

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idade e 2% com 18 anos de idade.

Gráfico 3 – Escolaridade do pai.

Verifica-se que a maioria dos pais dos alunos pesquisados apresenta bom nível de

escolaridade, com 38% tendo cursado o Ensino Médio e 37% o Curso Superior.

Apenas 10% se apresentam com o Ensino Fundamental, 8% não declarado e 7% com

Pós-Graduação.

Gráfico 4 – Escolaridade da mãe.

A escolaridade das mães dos alunos pesquisados é bem maior que a dos pais,

apresentando, em sua maioria absoluta, o nível Superior, com 56%.

Em seguida, destacam-se as mães no Ensino Médio (18%) e na Pós-Graduação

apresentam um percentual maior que o dos pais (11%).

Embora a escolaridade não declarada represente 7% verifica-se que apenas 6% das mães

estão no Ensino Fundamental.

Entretanto, com 2% das mães no Mestrado confirma-se a afirmativa inicial de um nível

de escolaridade maior que o dos pais.

Gráfico 5 – Profissão do pai.

Verifica-se que a maioria dos pais dos alunos pesquisados é constituída de comerciantes

(24%) e empresários (10%), engenheiros (7%) e professores (6%). Os demais estão

distribuídos nas diversas profissões com percentuais que variam de 1% a 4%, incluindo as

seguintes: bancário, aposentado, desenhista projetista, pintor, mecânico, agricultor,

funcionário público, delegado de polícia, balconista, representante comercial, policial, taxista,

médico, cafeicultor, advogado, tabelião, corretor de seguros, contador, vendedor, construtor e

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não declarado, totalizando 25 profissões.

Gráfico 6 – Profissão da mãe.

A maioria das mães é constituída por professoras (25%), donas de casa (13%),

comerciantes (13%), empresárias (6%) e pedagogas (6%).

As demais profissões apresentam índices que variam de 1% a 4%, incluindo as

seguintes: funcionária pública, Oficial do Ministério Público, secretária, contadora, estudante,

enfermeira, psicóloga, balconista, personal trainer, pedagoga, gerente comercial, advogada,

procuradora municipal, cabeleireira, bancária, supervisora escolar, escrivã, diretora de escola,

totalizando 22 profissões.

Gráfico 7 - Meios tecnológicos de comunicação encontrados nas residências dos

71 entrevistados.

O meio tecnológico de comunicação mais encontrado nas residências dos alunos

entrevistados continua sendo o televisor, com 66%, seguidos pelo telefone celular, com 62%,

computador, com 60%, Internet com 62% e computador portátil com 33%.

Observa-se que o número de videogames é relativamente expressivo, com 42% como

meio de entretenimento.

Destaca-se o fato de que apesar do elevado nível social dos pais, nem todos os alunos

possuem computador ou Internet em suas residências, o que torna difícil a realização das

pesquisas escolares por grande parte dos alunos, com o acompanhamento e a atualização dos

fatos e das informações diariamente.

Gráfico 8 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação

existente em casa – Televisor.

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Dos alunos entrevistados apenas 40% consideram que o Televisor contribui para a

aprendizagem, enquanto 32% o consideram imprescindível. Os demais consideram o

Televisor desejável (21%) e dispensável (7%).

Assim, o Televisor continua sendo considerado de pouca utilidade para o

desenvolvimento da aprendizagem.

Gráfico 9 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação

existente em casa – Computador.

Verifica-se nessa questão um fator importante. Conforme o Gráfico 7 demonstrou,

embora um número elevado de alunos possua videogames em suas residências, 61% dos

entrevistados consideram o videogame dispensável.

Entretanto, 27% consideram o videogame desejável, 10% o consideram imprescindível,

enquanto 2% consideram que o mesmo contribui para a aprendizagem.

Gráfico 10 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação

existente em casa – Computador.

Quanto à contribuição do computador para a aprendizagem 44% dos entrevistados

opinaram favoravelmente. Em seguida, 37% consideram o computador imprescindível, 17% o

consideram desejável, enquanto 2% dos alunos ainda não descobriram a importância do

mesmo.

Gráfico 11 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação

existente em casa – computador portátil.

Observa-se um percentual maior atribuído à importância do computador portátil, com

41%. Observamos que, enquanto 29% o consideram desejável, 27% o consideram dispensável

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e apenas 3% o consideram que contribui para a aprendizagem.

Gráfico 12 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação

existente em casa – Internet.

As opiniões dos alunos recaíram principalmente em 47% declarando que a Internet

contribui para a aprendizagem, 38% afirmam que a Internet é imprescindível, 14% que ela é

desejável e 1% considera dispensável. Isto é, nem todos consideram a Internet como essencial

para as pesquisas.

Gráfico 13 – Indique o grau de importância do modo tecnológico de comunicação

existente em casa – Celular.

Observa-se neste gráfico maior importância dado ao celular, sendo considerado

imprescindível por 59% dos entrevistados.

O celular é considerado dispensável por 23% dos alunos, desejável por 14% e 4%

consideram que o celular contribui para a aprendizagem.

Gráfico 14 – Quando navega na Internet, em casa, costuma acessar:

O acesso individual da Internet é comprovado aqui por 90% dos alunos. O acesso

realizado com amigos ou com os pais ainda se realiza por 4% dos alunos e 2% com outras

pessoas.

Gráfico 15 – Em média, quanto tempo utiliza o computador diariamente?

Nota-se que 37% dos entrevistados utilizam o computador entre 1 a 3 horas diariamente

e 28% o utilizam entre 3 a 5 horas.

Cerca de 10% dos alunos o utilizam menos de 1 hora e 25% dos alunos não utilizam o

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computador diariamente.

Gráfico 16 – Desse tempo, quanto é utilizado para navegar na Internet? (Mesmo

para quem não tem acesso em casa).

Durante o tempo que estão com o computador ligado em casa ou em outro lugar, 41%

dos alunos estão sempre conectados na Internet, 10% estão conectados menos de 1 hora, 34%

estão conectados entre 1 a 3 horas.

Cerca de 12% ficam conectados mais de 3 horas, enquanto 3% raramente se conectam à

Internet, significando que a maioria dispõe de tempo e de condições de realizarem pesquisas

escolares se o desejarem, embora alguns alunos ainda não descobriram a sua utilidade.

Gráfico 17 – Como aprendeu a utilizar a Internet?

É bastante expressiva a constatação de que 72% dos alunos pesquisados aprenderam a

utilizar a Internet sozinhos, 20% com a família e e7% com amigos que sabiam.

Os cursos de informática exerceram pouca influência no aprendizado, contribuindo

apenas com 1% e absolutamente nenhuma contribuição da escola, com 0% nas aulas.

Gráfico 18 – De que forma acha que ter Internet em casa melhora a

aprendizagem escolar?

Os resultados mostram que os alunos demonstram falta de confiança ou

desconhecimento das possibilidades da Internet, pois, 58% declararam que a Internet melhora

medianamente a aprendizagem escolar.

Apenas 24% declararam que melhora muito, 16% disseram que melhora pouco e 2%

afirmam que não melhora nada.

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Gráfico 19 – Indique as principais atividades da Internet fora da escola.

Verifica-se neste gráfico que a maior parte do tempo dos alunos não é dedicado às

pesquisas escolares e acompanhamento dos fatos e atualização cultural, mas é gasto nos sites

de relacionamento social, com 26% no MSN/ Messenger (ferramenta de comunicação

instantânea escrita ou com áudio e vídeo, amplamente utilizado pelos jovens e adultos no

Brasil) e 24% no Orkut (site de relacionamento preferido no Brasil, com álbum de fotos e

vídeos, também com comunicação instantânea escrita).

Os trabalhos escolares com 13%, praticamente ocupam um tempo semelhante ao

utilizado com os jogos, com 12%, seguido de downloads diversos, que podem ser de músicas,

jogos ou aplicativos.

As pesquisas aparecem apenas com 8%, pouca utilização dos e-mails (mensagens pelo

correio eletrônico), com 5% e os bate-papos com 1% nos sites especializados perderam lugar

para o MSN e o Orkut.

Gráfico 20 – Dos seguintes meios indique os que você considera mais úteis para as

aprendizagens escolares.

É interessante notar que 31% dos entrevistados ainda confiam mais nos livros para a

realização das pesquisas escolares, talvez pela facilidade de manuseio, ficando 29% para a

Internet.

A televisão ocupa o terceiro lugar, com 19%, provavelmente devido aos noticiários e

aos programas especiais da TV a cabo, para aqueles alunos que residem em Caratinga.

Em seguida estão os vídeos, com 12% e os programas de multimídia, com 9%. Caso os

alunos tivessem maior domínio da informática esses números, certamente seriam maiores com

downloads de vídeos especializados na Internet, diminuindo o tempo de busca e o custo com

aluguel ou compra de vídeos para pesquisa.

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Gráfico 21 – A linguagem que você utiliza nos bate-papos e e-mails interfere nos

trabalhos escolares, tais como redação, comunicação e outros?

Apesar de 48% dos alunos afirmarem que a linguagem utilizada nos bate-papos e e-

mails não interfere nos trabalhos escolares, na redação e em outros, 46% reconhecem que às

vezes essa linguagem da Internet interfere nos trabalhos e 6% afirmam positivamente essa

interferência.

Gráfico 22 – Em suas conversas em bate-papos e e-mails você usa gírias e abreviaturas?

A grande maioria de 80% reconhece que usa gírias e abreviaturas em suas conversas em

bate-papos. Apenas 3% declaram que não usam e 17% às vezes usam.

Gráfico 23 – Em que locais utiliza habitualmente a Internet?

Exatamente 50% declaram utilizar a Internet em casa. A outra metade está distribuída

em vários locais como: 18% na casa de amigos, 16% na casa de familiares, 10% em Lan

Houses, 4% na escola e 2% no emprego dos pais.

Conclui-se, então, que 50% dos alunos encontram dificuldades para acessar a Internet

em suas próprias casas, por estar sendo utilizada por outros da família ou por não disporem de

Internet conectada, inviabilizando a realização das pesquisas escolares.

Entretanto, o Gráfico 16 demonstrou que os alunos ficam conectados na Internet numa

média de 3 horas diariamente, sendo que a metade dos alunos entrevistados está fora de casa,

longe dos pais, utilizando a Internet e, como vemos no Gráfico 19, apenas 22% dos alunos

estão realizando trabalhos escolares e pesquisas na Internet durante esse tempo.

Gráfico 24 – Fora da sala de aula costuma utilizar a Internet por indicação dos

professores?

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A maioria absoluta (83%) dos alunos declaram nunca utilizarem a Internet fora da sala

de aula por indicação dos professores. Apenas 8% reconhecem que a utilizam, 5% afirma que

raramente utiliza e 4% declara que utiliza muitas vezes.

Parece-nos que a orientação dos professores está direcionada apenas para alguns alunos,

pois se trata de duas turmas de 8ª série da mesma escola pesquisada.

Isso significa que a maioria dos alunos não está recebendo nenhum tipo de orientação

pelos professores no que diz respeito ao uso da Internet para a realização de trabalhos

escolares e pesquisas diversas.

Gráfico 25 – Indique o seu grau de concordância: os benefícios da Internet são maiores

que os riscos.

As respostas dadas pelos alunos pesquisados revelam uma grande desconfiança em

relação aos benefícios da Internet visto que 37% declaram que não concordam nem

discordam, 31% discordam apenas 24% concordam e 8% concordam totalmente.

Gráfico 26 – Indique o seu grau de concordância: utilizo a Internet de forma segura.

Os alunos pesquisados declaram que se sentem seguros na utilização da Internet, com

48% declarando que concordam, 39% concordam totalmente, 10% permanecem indiferentes

com a situação afirmando que não concordam nem discordam e 3% discordam. É importante

lembrar que a metade dos alunos está sempre conectada fora de suas residências.

Gráfico 27 – Indique o seu grau de concordância: fui ensinado na Escola.

Praticamente o mesmo número de alunos que declarou no gráfico anterior que utiliza a

Internet de forma segura, agora 49% dos alunos declaram que não foram ensinados na Escola

a utilizar a Internet de forma segura.

O percentual dos alunos que não concordam nem discordam agora aumenta para 18%,

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enquanto 20% concordam que foram ensinados na Escola, juntamente com 13% que

concordam plenamente.

Portanto, o percentual dos que receberam indicação dos professores para o uso da

Internet que totalizava 17%, no Gráfico 24, agora aumenta para 33%, significando a

existência de uma orientação feita nessa Escola pelos professores, apenas para uma parte dos

alunos, deixando a metade dos alunos sem orientação.

Gráfico 28 – Indique o seu grau de concordância: é mais perigoso andar na rua sozinho

do que frequentar a Internet sozinho.

Os alunos pesquisados agora se apresentam divididos com declaração feita nessa

questão, sendo que 37% concordam que é mais perigoso andar na rua sozinho do que

frequentar a Internet sozinho. Entretanto, 32% discordam dessa afirmativa, enquanto 19% não

se importam com o assunto, dizendo que nem concordam nem discordam e 12% concordam

plenamente.

Portanto, 49% afirmam que a Internet não oferece tanto perigo quanto andar sozinho na

rua.

Gráfico 29 – Indique o seu grau de concordância: os jovens que não têm Internet em

casa sentem-se excluídos.

Os alunos que discordam da afirmativa de exclusão por não terem Internet em casa

apresentam-se com 30%. Os alunos que concordam com essa afirmativa estão representados

por 26%, juntamente com 16% que concordam totalmente.

Entretanto, 28% não se preocupam com a situação, dizendo que não concordam nem

discordam. Portanto, 42% declaram positivamente que os jovens que não têm Internet em

casa sentem-se excluídos. Esse percentual representa, aproximadamente, a metade dos alunos

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entrevistados.

Gráfico 30 – Indique o seu grau de concordância: a Internet facilita a aprendizagem

escolar.

A maioria absoluta dos entrevistados, perfazendo 59% concordam que a Internet facilita

a aprendizagem escolar, acrescido dos 30% que concordam totalmente com essa afirmativa,

totalizando 89%.

No entanto, cerca de 10% nem concordam nem discordam e 1% discordam dessa

afirmativa.

Gráfico 31 – Indique o seu grau de concordância: a Internet facilita as relações sociais e

a comunicação entre jovens.

Quase a totalidade dos alunos concorda totalmente que a Internet facilita as relações

sociais e a comunicação entre os jovens, perfazendo 54%, acrescido dos 37% que concordam

com a afirmação, totalizando 91%.

Existem, ainda, 8% que nem concordam nem discordam e 1% que discorda da

afirmação.

6.1 Análise das redações realizadas pelos alunos pesquisados

Após a realização da pesquisa de campo sobre “A Linguagem do Jovem na Mídia

Contemporânea e sua Influência na Aquisição da Língua Portuguesa”, com 71 alunos da

oitava série do Curso Fundamental de uma escola da rede particular de ensino da cidade de

Caratinga, Minas Gerais, solicitamos, por intermédio da Professora Gilsane da Silva Teixeira

Alves, que os alunos realizassem uma redação versando sobre a influência do “Internetês”

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nos trabalhos escolares. As redações foram feitas, as quais muito contribuíram para a

verificação e constatação da pesquisa realizada, sendo as redações utilizadas, também, como

atividade normal do bimestre escolar.

Examinando as redações verificamos a mesma preocupação por parte dos alunos quanto

ao uso indiscriminado da linguagem da Internet e das gírias, em todos os lugares e situações,

sem se verificar com que pessoas, em qual lugar e em qual situação os alunos estão usando

essa linguagem.

Os alunos são unânimes em afirmar que a maioria dos jovens está se comunicando por

meio de uma linguagem diferente, com muita gíria e abreviações. Segundo os alunos

pesquisados isso se deve ao fato de desejarem uma comunicação mais rápida e direta, sendo,

muitas vezes, influenciados pela mídia, especialmente o rádio e a televisão, o que vem

causando influências na escrita e na pronúncia da Língua Portuguesa. Além disso, essa

linguagem não depende de regras, como acontece na gramática da Língua Portuguesa,

bastando entender e aceitar as gírias e utilizá-las no dia-a-dia.

Muitos jovens pesquisados consideram que essa atitude dos jovens se deve ao desejo de

estarem na moda, falando e agindo de um modo diferente dos demais e ganhando uma

liberdade que não possuíam, tendo em vista que, segundo alguns jovens, o computador nas

mãos de um jovem é literalmente a liberdade com a qual ele sonhava.

Outros jovens pesquisados consideram que o uso de abreviações e gírias na Internet é

simplesmente pelo desejo e a necessidade de se comunicar com maior velocidade,

considerando-se o rápido avanço da tecnologia e a agitação dos tempos atuais.

Consideram alguns alunos pesquisados que nem sempre é tarefa fácil interagir com

adolescentes ou, menos ainda, decifrar o que eles conversam. Isso acontece pelo fato de terem

um vocabulário repleto de gírias e expressões inusitadas. Assim, concordam que na

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adolescência sintam uma necessidade de chamar atenção para que todos se voltem para eles.

Daí vem a rebeldia apresentada por alguns adolescentes que encontram nessa forma de agir

um jeito de atrair a atenção das pessoas. Como nessa fase da vida os adolescentes estão

formando sua personalidade para sentirem-se mais confiantes e seguros, criam seus códigos

como se quisessem ser entendidos apenas pelo grupo do qual faz parte.

Consideram outros pesquisados que a gíria é uma nova linguagem, uma forma usual,

uma regeneração da língua. Os jovens, em sua maioria não gostam de estudar e se desanimam

ainda mais quando a matéria é cheia de regras, detalhes e exceções, como a Língua

Portuguesa e isso contribui para que eles façam, cada vez mais, a utilização de gírias.

Vários alunos pesquisados afirmam que os sites de relacionamento, principalmente o

Orkut e MSN transformaram-se na “febre do momento”, não deixando os adolescentes

estudar, pesquisar e realizar suas tarefas diárias e quem não tem Orkut nem MSN atualmente

é, na verdade, uma minoria. Os alunos reconhecem que a maior parte fica no “bate-papo” com

colegas no computador dia e noite, conhecendo pessoas, fazendo novas amizades,

comentando os fatos, enviando mensagens, ouvindo ou realizando o download, isto é,

baixando uma música nova, além de outras atividades.

Segundo os pesquisados a mídia contribui muito para esse crescente aumento das gírias

e abreviações o que tem dificultado o aprendizado de vários alunos que preferem escre-

ver usando a linguagem própria dos jovens.

Alguns alunos afirmam que eles têm consciência de que quando estão na escola seu

vocabulário não pode ser o mesmo usado na Internet e que raramente poderá afetar nas

atividades escolares dos jovens. Explicam que as abreviações de palavras só existem para

agilizar a conversa no computador e que o modo dos adolescentes e jovens falarem

atualmente é muito diferente daqueles que seus pais falavam quando eram adolescentes e,

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com certeza, será diferente do linguajar de seus filhos futuramente, pois a linguagem dos

jovens está sempre sofrendo modificações.

Outros alunos garantem que, na realidade o “Internetês”, essa linguagem utilizada na

Internet pode interferir na escrita em geral e na fala. Esses alunos são favoráveis à realização

de um trabalho de orientação aos jovens internautas, futuros profissionais, criando algum

método para incentivá-los a escrever corretamente, sem abreviações e com acentos nos seus

devidos lugares.

Alguns alunos estão preocupados com o futuro dos jovens que não fazem mais

pesquisas em livros, não lêem mais nada, têm preguiça de escrever e têm sido mal sucedidos

nos estudos. Assim, eles têm sido prejudicados cada vez mais, podem resultar em sérias

conseqüências na formação dos futuros profissionais.

Como solução apontam a necessidade de um trabalho escolar com orientações aos

jovens sobre a necessidade de separar as atividade no computador das atividades na vida real,

formando uma nova geração onde a preguiça e a dependência pelas máquinas não os alcance.

Segundo os alunos os professores devem incentivar e cobrar dos alunos que escrevam

textos dos mais diversos tipos e que leiam, cada vez mais, para aprenderem palavras novas e

diversificar seu vocabulário.

Outro aspecto que nos chama a atenção nas redações realizadas é quanto à televisão e ao

seu uso. A maioria pesquisada considera que a televisão é um meio de comunicação que

apresenta várias vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens apontadas pelos alunos

pesquisados estão as informações, diversão e cultura geral. Por meio dos programas

jornalísticos tomamos conhecimento rapidamente do que está acontecendo no Brasil e no

mundo, bem como da linguagem das diversas regiões do país.

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Como desvantagens apontam várias situações, dentre as quais está a falta de

relacionamento da família e a violência. Apontam a televisão, também, como prejudicial ao

relacionamento social, pelo fato de prender as pessoas em casa, concentrando a atenção

contínua no aparelho de televisão, além de falta de leitura de livros e revistas, incluindo-se a

criação e a rápida propagação das gírias e termos empregados indiscriminadamente nas

novelas e programas humorísticos.

Entretanto, a televisão faz parte da nossa vida, enfatizam os alunos pesquisados. A

televisão mudou completamente o nosso modo de comunicação, maneira de pensar, de agir,

tornando completamente impossível viver sem a televisão nos dias atuais, constituindo-se na

nossa maior fonte de informação, conhecimento e de diversão.

Após a análise cuidadosa das redações realizadas pelos alunos pesquisados, onde

encontramos opiniões diversas sobre a influência da linguagem dos jovens na aquisição da

Língua Portuguesa constatamos que em nenhuma das 71 redações foram encontradas

expressões, gírias, abreviações, a não ser quando citadas como exemplos, nem qualquer outra

forma que indicasse influência do “Internetês”.

Assim, apesar da preocupação de muitos alunos sobre essa influência do “Internetês”

nas redações, nos trabalhos escolares e no futuro como profissionais, dos jovens que não

fazem mais pesquisas em livros, e que têm preguiça de escrever, concluímos que os alunos da

escola pesquisada, embora não recebendo orientações adequadas dos professores sobre o

assunto em questão, embora predominando dificuldades com a ortografia, apresentam um

bom conhecimento das regras gramaticais básicas da Língua Portuguesa, sabendo utilizá-las

nos devidos contextos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O foco dessa pesquisa concentrou-se na investigação para verificar se os jovens sabem

distinguir, exatamente, os momentos em que precisam usar a norma culta, daqueles em que

podem usar a linguagem da Internet e de que forma a linguagem utilizada por eles tem

influenciado na escrita e na fala da Língua Portuguesa na 8ª série do Ensino Fundamental de

uma escola da rede particular de ensino de Caratinga.

Segundo as pesquisas bibliográficas realizadas constatamos a unanimidade nos pontos

de vista apresentados quanto à influência do “Internetês” nos trabalhos escolares e,

principalmente, nas avaliações e nas redações. Afirmam os educadores pesquisados que os

alunos que têm recebido orientação dos professores quanto ao uso racional da Internet,

mostrando aos alunos os diversos níveis de linguagem, não apresentam problema algum na

elaboração de suas redações. Esses alunos são orientados a usarem o “Internetês” apenas no

espaço apropriado para esse fim, ou seja, nos sites de relacionamento na Internet, tais como

MSN, Orkut e torpedos SMS, enviados pelo telefone celular. Além disso, enfatizam que a

escrita já estava em desuso pelos jovens da década de 1990 e a Internet reabilitou essa prática.

O objetivo principal da metodologia utilizada nessa Dissertação foi fazer uma análise

criteriosa, para identificar os motivos que levam os jovens a se comunicarem através de gírias

e abreviações e compreender a relação existente entre o vocabulário dos jovens que

frequentam a escola e a linguagem expressa de maneira correta.

Constatamos que os jovens se comunicam através de gírias e, principalmente, de

maneira abreviada, além de servir para identificar um determinado grupo, deve-se, também, à

necessidade de conseguirem tempo suficiente para atenderem a muitos contatos simultâneos,

nos sites de relacionamento, considerando-se o fato de se encontrarem exercendo outras

tarefas simultaneamente, como ouvir música, baixar algum arquivo, visitar o Orkut, falar no

Skype e, ainda, digitar algum texto no Word.

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Comprovamos, também, que os alunos que possuem uma boa formação educacional,

especialmente na Língua Portuguesa, sabem distinguir muito bem a linguagem coloquial e a

linguagem formal, empregando-as no local apropriado e no momento oportuno. Entretanto, os

jovens em formação escolar e adultos que não receberam ou não estão recebendo uma

educação de qualidade, que não são orientados pelos professores quanto à utilização do

computador, nem realizam pesquisas orientadas na Internet em suas escolas, com certeza,

estão encontrando muitas dificuldades em seus trabalhos escritos, por não conseguirem

distinguir a norma culta da linguagem coloquial.

Foi obtida uma amostra da intensidade do tipo de língua utilizado pelos jovens

entrevistados, por meio da qual verificamos, especialmente pela análise das redações

realizadas, que não foi encontrada nenhuma expressão de “Internetês” em todas as redações

por nós corrigidas. E, como professor e revisor de textos e redações nos vestibulares no

Centro Universitário de Caratinga - UNEC afirmamos, também, que não temos encontrado

influência alguma da linguagem coloquial nas redações e trabalhos escolares dos alunos no

curso de Letras nem dos vestibulandos durante o período dessa pesquisa.

Por meio das pesquisas realizadas na escola observamos uma preocupação dos próprios

alunos quanto ao uso indiscriminado da linguagem da Internet e das gírias, em todos os

lugares e situações, sem se verificar com que pessoas, em qual lugar e em qual situação os

alunos estão usando essa linguagem. Os alunos demonstram falta de confiança ou

desconhecimento das possibilidades da Internet, pois, 58% declararam que a Internet melhora

medianamente a aprendizagem escolar. Verificamos que a maior parte do tempo dos alunos

não é dedicada às pesquisas escolares e acompanhamento dos fatos e atualização cultural, mas

é gasto nos sites de relacionamento social, com 26% no MSN/ Messenger e 24% no Orkut. Os

trabalhos escolares com 13%, praticamente ocupam um tempo semelhante ao utilizado com os

jogos, com 12%, seguido de downloads diversos, que podem ser de músicas, jogos ou

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aplicativos. É interessante notar que 31% dos entrevistados ainda confiam mais nos livros

para a realização das pesquisas escolares, talvez pela facilidade de manuseio, ficando 29%

para a Internet.

Apesar de 48% dos alunos afirmarem que a linguagem utilizada nos bate-papos e e-

mails não interfere nos trabalhos escolares, na redação e em outros, 46% reconhecem que às

vezes essa linguagem da Internet interfere nos trabalhos e 6% afirmam positivamente essa

interferência. A grande maioria (80%) reconhece que usa gírias e abreviaturas em suas

conversas e em bate-papos. Apenas 3% declaram que não a usam e 17% às vezes a usam. A

maioria absoluta (83%) dos alunos declara nunca utilizarem a Internet fora da sala de aula por

indicação dos professores. Apenas 8% reconhecem que a utilizam, 5% afirmam que raramente

a utilizam e 4% declaram que utilizam muitas vezes, indicando que a orientação dos

professores está direcionada apenas para alguns alunos, pois se trata de duas turmas de 8ª

série da mesma escola pesquisada. Isso significa que a maioria dos alunos não está recebendo

nenhum tipo de orientação pelos professores, no que diz respeito ao uso da Internet para a

realização de trabalhos escolares e pesquisas diversas.

Os alunos são unânimes em afirmar que a maioria dos jovens está se comunicando por

meio de uma linguagem diferente, com muita gíria e abreviações. Segundo os alunos

pesquisados isso se deve ao fato de desejarem uma comunicação mais rápida e direta, sendo,

muitas vezes, influenciados pela mídia, especialmente o rádio e a televisão, o que vem

causando influências na escrita e na pronúncia da Língua Portuguesa. Além disso, essa

linguagem não depende de regras, como acontece na gramática da Língua Portuguesa,

bastando entender e aceitar as gírias e utilizá-las no dia-a-dia.

A maioria dos jovens pesquisados considera que essa atitude se deve ao desejo de

estarem na moda, falando e agindo de um modo diferente dos demais e ganhando uma

liberdade que não possuíam, tendo em vista que, segundo alguns entrevistados, o computador

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nas mãos de um jovem é literalmente a liberdade com a qual ele sonhava. Segundo os alunos

pesquisados a mídia contribui muito para esse crescente aumento das gírias e abreviações e

isso tem dificultado o aprendizado de vários alunos que preferem escrever usando a

linguagem própria dos jovens.

A pesquisa apontou que 48% dos alunos afirmam que eles têm consciência de que

quando estão na escola seu vocabulário não pode ser o mesmo usado na Internet e que

raramente poderá afetar nas atividades escolares dos jovens. Entretanto, 52% dos alunos

garantem que, na realidade o “Internetês”, essa linguagem utilizada na Internet pode interferir

na escrita em geral e na fala, caso continuem sem receber uma educação de qualidade

envolvendo a criação de textos utilizando o computador. Esses alunos são favoráveis à

realização de um trabalho de orientação aos jovens internautas, futuros profissionais, criando

algum método para incentivá-los a escrever corretamente, sem abreviações e com acentos nos

seus devidos lugares.

Apesar da preocupação de muitos alunos sobre essa influência do “Internetês” nas

redações, nos trabalhos escolares e no futuro como profissionais, dos jovens que não fazem

mais pesquisas em livros, e que têm preguiça de escrever, concluímos que os alunos da escola

pesquisada, embora não recebendo orientações adequadas dos professores sobre o assunto em

questão, embora predominando dificuldades com a ortografia, apresentam um bom

conhecimento das regras gramaticais básicas da Língua Portuguesa, sabendo utilizá-las nos

devidos contextos, considerando-se que, em nenhuma das 71 redações foram encontradas

expressões, gírias, abreviações, a não ser quando citadas como exemplos, nem qualquer outra

forma que indicasse influência do “Internetês”.

Desta forma, comprovamos que os jovens que receberam ou que estão recebendo uma

formação educacional de qualidade, voltada para o progresso e o desenvolvimento das novas

tecnologias da informação, aliada a uma boa formação da Língua Portuguesa estarão menos

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sujeitos a cometer erros na elaboração de seus textos.

Portanto, concluímos que é papel primordial da escola proporcionar uma educação de

qualidade, devendo desenvolver projetos de incentivo à leitura, pois é lendo que se aprende a

escrever. A escola precisa desenvolver uma prática de aprimoramento da linguagem formal,

mostrando aos alunos as consequências no futuro, se não souberem adequar a linguagem nas

mais diversas situações e ambientes onde a sua comunicação é realizada, especificando

quando e onde empregar tais linguagens, incentivando a pesquisa orientada nos laboratórios

de informática das próprias escolas, interagindo no contexto social, preparando, assim, os

jovens para os desafios de uma nova sociedade em construção.

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ANEXO

Análise da Pesquisa “A Linguagem do Jovem na Mídia Contemporânea e sua influência na

aquisição da Língua Portuguesa, na 8ª série do Ensino Fundamental, de uma escola da rede

particular de ensino de Caratinga.

Masculino

49%Feminino

51%

Dados Pessoais: sexo

Gráfico 1

13 anos

21%

14 anos

72%

15 anos

6%

18 anos

1%

Dados Pessoais: idade

Gráfico 2

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Gráfico 3

Gráfico 4

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100

Gráfico 5

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101

1%

13%

13%

6%

25%

1%1%

3%3%

1%

3%

3%

3%

6%

3%4%

1%3% 1% 3% 1% 1%

Profissão da Mãe

Funcionária Pública

Dona de casa

Comerciante

Empresária

Professora

Oficial Min. Público

Secretária

Contadora

Estudante

Enfermeira

Psicóloga

Balconista

Personal Trainer

Pedagoga

Gerente comercial

Advogada

Procuradora Municipal

Cabelereira

Bancária

Supervisora escolar

Escrivã

Diretora de escola

Gráfico 6

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102

Gráfico 7

Gráfico 8

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Gráfico 9

Gráfico 10

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Gráfico 11

Gráfico 12

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Gráfico 13

Gráfico 14

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106

Gráfico 15

Gráfico 16

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Gráfico 17

Gráfico 18

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Gráfico 19

Gráfico 20

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Gráfico 31