avaliaÇÃo das condiÇÕes de saÚde e...

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade Mestrado Profissionalizante AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SOCIOAMBIENTAIS DAS FAMÍLIAS, ASSISTIDAS PELO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA NOS BAIRROS SANTA TEREZINHA, PORTO E AEROPORTO, NO MUNICÍPIO DE MURIAÉ/MG. SORAYA LÚCIA DO CARMO DA SILVA LOURES Caratinga – Minas Gerais – Brasil Agosto de 2008

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade

Mestrado Profissionalizante

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SOCIOAMBIENTAIS

DAS FAMÍLIAS, ASSISTIDAS PELO PROGRAMA SAÚDE DA

FAMÍLIA NOS BAIRROS SANTA TEREZINHA, PORTO E

AEROPORTO, NO MUNICÍPIO DE MURIAÉ/MG.

SORAYA LÚCIA DO CARMO DA SILVA LOURES

Caratinga – Minas Gerais – Brasil Agosto de 2008

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade

Mestrado Profissionalizante

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SOCIOAMBIENTAIS

DAS FAMÍLIAS, ASSISTIDAS PELO PROGRAMA SAÚDE DA

FAMÍLIA NOS BAIRROS SANTA TEREZINHA, PORTO E

AEROPORTO, NO MUNICÍPIO DE MURIAÉ/MG.

SORAYA LÚCIA DO CARMO DA SILVA LOURES

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Magister Science

Caratinga – Minas Gerais – Brasil

Agosto de 2008

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iii

SORAYA LÚCIA DO CARMO DA SILVA LOURES

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SOCIOAMBIENTAIS

DAS FAMÍLIAS, ASSISTIDAS PELO PROGRAMA SAÚDE DA

FAMÍLIA NOS BAIRROS SANTA TEREZINHA, PORTO E

AEROPORTO, NO MUNICÍPIO DE MURIAÉ/MG.

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Magister Science.

Aprovado: 01 de agosto de 2008. _________________________________ _________________________________ Prof. D.Sc. Jorge Luiz de Góes Pereira Prof. D.Sc Marcos Alves Magalhães Orientador Co-Orientador _________________________________ __________________________________ Prof. D.Sc.Valéria Ruschid Tolentino Prof. D.Sc.Meubles Borges Júnior

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O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.

Albert Einstein

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v

DEDICATÓRIA

À minha mãe, Ana Lúcia do Carmo. Seus ensinamentos, de idéias simples, mas sábias, de sentimento puro, mas firme, sua luta árdua e segura, sua retidão e honestidade de vida, dentro de seu contexto humano. Por tudo isso, dedico este trabalho a você, minha mãe, minha amiga, minha companheira de sempre, presença constante. Sem você, certamente não estaria onde estou e não teria conquistado meu espaço no mundo.

Ao meu marido Almiro Loures Filho. Seria pouco o muito que tenho a te dizer. Meu eterno companheiro, meu amigo, meu amor. Homem sério de pensamentos determinantes, senhor de seus atos e decisões. Orgulho-me de tê-lo ao meu lado. Por isso, dedico este trabalho a você.

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vi

AGRADECIMENTOS

À Deus, por ter me permitido alcançar meus objetivos de vida.

Ao meu orientador Prof. Dr. Jorge Luiz Goes Pereira, pela dedicação,

profissionalismo, e principalmente por ter me ensinado muito mais, além do

aprendizado acadêmico.

Ao meu co-orientador Prof. Dr. Marcos Magalhães, que desde o primeiro momento se

prontificou em co-orientar deste trabalho.

A todos os mestres e doutores da UNEC – Centro Universitário de Caratinga.

Ao Dr. Marcos Guarino de Oliveira, Secretário Municipal de Saúde de Muriaé-MG,

pelo seu apoio, por ter permitido e viabilizado a realização da pesquisa nos PSFs.

Ao José Luciano, Coordenador Geral do Programa Saúde da Família de Muriaé, pelas

informações a mim cedidas para a pesquisa.

Ao Prof. Dr. Roberto Santos Barbieri por ter acreditado em mim.

À Prof. Ms. Maria Alice Abranches, por sua amizade e confiança em mim depositada.

Ao DEMSUR – Departamento Municipal de Saneamento do Município de Muriaé

pela atenção dispensada e colaboração.

Ao meu marido pelo apoio incondicional, para que eu pudesse concluir mais essa

etapa da minha vida profissional.

À minha amiga incondicional, Ana Maria Luciano Ligeiro da Matta, pela sua

amizade, pelo seu apoio de sempre.

À minha mãe, presença constante e inabalável na minha vida.

A todos muito obrigada. Você foram peças indispensáveis para elaboração e

conclusão deste trabalho.

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vii

-BIOGRAFIA

SORAYA LÚCIA DO CARMO DA SILVA LOURES, filha de Ana Lúcia do

Carmo, nasceu no dia 04 de julho de 1977, em Muriaé-MG.

Graduada em Enfermagem pela Universidade Iguaçu – UNIG, em Itaperuna-RJ, em

Julho de 2002.

Pós-Graduação Latu Sensu em Administração Hospitalar pela Faculdade de Minas –

FAMINAS, Muriaé-MG, em Janeiro de 2003..

É professora nas disciplinas: Semiologia e Semioténica, Estágio Supervisionado I e

II (2005), Socorros e Urgências (2006), Saúde Comunitária e Cidadania, Saúde Mental e

Estágio Supervisionado IV, Saúde Mental (2007); História e Teorias de Enfermagem,

Enfermagem Psiquiátrica, Estágio Supervisionado III, Tópicos Especiais I, Exercício da

Enfermagem I, Concepções Teóricas e o Cuidar em Enfermagem (2008), na Faculdade de

Minas – FAMINAS, Muriaé-MG.

É Professora das disciplinas Introdução em Enfermagem e Enfermagem na Urgência

e Emergência e Enfermagem Cirúrgica, no CECAP – Centro de Capacitação Profissional em

Enfermagem, desde 2000 até a presente data.

É Coordenadora do Programa de DST/Aids do Centro de Epidemiologia da Secretaria

Municipal de Saúde de Muriaé-MG, desde janeiro de 2006..

É Coordenadora da Pós-Graduação Latu Sensu em Saúde Pública, Saúde da Família,

Saúde do Trabalhador da Faculdade de Minas – FAMINAS, Muriaé-MG, desde setembro de

2007.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Quantidade de rebanho (cabeças) em Muriaé-MG

Tabela 2: Bairros e doenças prevalentes/faixa etária

Tabela 3: Doenças diarréicas agudas Tabela 4: Número de casos notificados de leptospirose em Muriaé no período das enchentes (dezembro 2006 a fevereiro de 2007).

Tabela 5: Leptospirose no Brasil - Casos confirmados, por local de transmissão: 1996 - 2005

Tabela 6: População dos bairros pesquisados

Tabela 7: Número de alunos matriculados nas redes pública e privada em todos os níveis da

educação, Muriaé-MG.

Tabela 8: Grau de cobertura: percentual de beneficiários em relação à população cadastrada

Tabela 9: Grau de cobertura: percentual de beneficiário em relação à população cadastrada no

estado de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Tabela 10: PSFs em Muriaé

Tabela 11: Óbitos

Tabela 12: Nascimento por residência (mãe por microrregião)

Tabela 13: Famílias Assistidas pelo PSF

Tabela 14: Condições socioeconômicas da equipe do PSF – Bairro Aeroporto

Tabela 15: Famílias Assistidas pelo PSF

Tabela 16: Condições socioeconômicas da equipe do PSF do bairro do Porto

Tabela 17: Famílias Assistidas pelo PSF (parte baixa do bairro)

Tabela 18: Condições socioeconômicas da equipe do PSF do Bairro Aeroporto

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Consolidado das famílias cadastradas de 2007 da zona geral do modelo geral

Quadro 2: Doenças Referidas

Quadro 3: Tratamento de Água no Domicílio

Quadro 4: Tipo de Casa

Quadro 5: Número de Famílias

Quadro 6: Destino de Lixo

Quadro 7: Destino Fezes/Urina

Quadro 8: Energia Elétrica

Quadro 9: Abastecimento de Água

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização Geográfica da cidade de Muriaé no estado de Minas Gerais

Figura 2: Número de equipes nos PSFs do Estado de Minas Gerais

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACS Agente Comunitário da Saúde

AMAS Assistência Médica Supletiva

APAE Associação Pais e Amigos dos Excepcionais

CAIC Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos

CEPAL Comissão Econômica para América Latina

CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados

COEA Coordenação Geral de Educação Ambiental

COMVIDA Comunidade Terapêutica Fazenda Nova

DEMSUR Departamento Municipal de Saneamento do Município de Muriaé

DST Doença Sexualmente Transmissível

DO Declaração de óbito

EA Educação Ambiental

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EPI Equipamento de Proteção Individual

ESF Equipe Saúde da Família

FEBEM Fundação Municipal de Atendimento ao Menor

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

MS Ministério da Saúde

NOBs Normas Operacionais Básicas

OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Pan America da Saúde

PAB Piso Assistencial Básico

PACS Programa dos Agentes Comunitários da Saúde

PDR Plano Diretor de Regionalização

PDR Plano de Desenvolvimento Regional

PIB Produto Interno Bruto

PSF Programa Saúde da Família

PSD Partido de Social Democrático

SAI Sistema de Informação Ambulatorial

SIAB Sistema de Informação de Atenção Básica

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SUS Sistema Único de Saúde

SUSEP Superintendência de Seguros Privados

UBS Unidade Básica de Saúde

UDN União Democrática Nacional

UTI Unidade de Terapia Intensiva

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RESUMO

LOURES, Soraya Lúcia do Carmo da Silva. Centro Universitário de Caratinga-MG, agosto de 2008. AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SOCIOAMBIENTAIS DAS FAMÍLIAS, ASSISTIDAS PELOS PSFS NOS BAIRROS SANTA TEREZINHA, PORTO E AEROPORTO, NO MUNICÍPIO DE MURIAÉ/MG. Orientador: Prof. D.Sc. Jorge Luiz Góes Pereira. Co-orientador Prof. D.Sc . Marcos Alves de Magalhães.

O Brasil, como país emergente, mostra um nível bastante elevado de desigualdades sociais.

As políticas públicas voltadas ao social são audaciosas, mas paradoxalmente, são ineficazes e

inoperantes, considerando a concentração de pessoas que vivem na pobreza e abaixo dela. É

preciso estabelecer metas e ações que gerem resultados e que possam de fato atender essa

camada populacional, que vivem em condições ambientais, saúde e educação, desfavoráveis.

Nesse contexto, desenvolveu-se este trabalho, com foco na atenção básica à saúde, no

município de Muriaé-MG, situada na Zona da Mata Mineira, com economia centrada na área

agrícola e comércio de veículos, é pólo confeccionista da região, com população de 95.850

habitantes/residentes, com rede pública e privada de ensino fundamental, médio e superior,

com hospitais da rede de saúde pública municipal e privada. A metodologia utilizada foi a

pesquisa qualitativa exploratória, com população amostral de 10 famílias assistidas pelo

Programa Saúde da Família – PSF, em três bairros da cidade, Porto, Aeroporto e Santa

Terezinha, com objetivo de avaliar as condições de saúde e socioambientais dessas famílias,

com foco na educação, saúde e meio ambiente. Constatou-se ao final da pesquisa através de

evidências científicas, que a saúde está intrinsecamente relacionada com o meio ambiente. A

própria pesquisa mostrou que o modo de vida das famílias, seus hábitos e costumes, a falta de

higiene nas residências, higiene corporal, higiene na preparação da alimentação e o descaso

das próprias famílias, em relação às informações passadas pelos ACSs, enfermeiras e médicos

dos PSFs, são os fatores responsáveis pela má qualidade de vida dos bairros objeto desse

estudo.

Palavra-chaves: saúde, educação, meio ambiente.

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ABSTRACT

LOURES, Soraya Lucia do Carmo da Silva. University Center of Caratinga-MG, august 2008. EVALUATION OF TERMS OF SOCIOENVIRONMENTAL HEALTH AND HOUSEHOLDS, ASSISTIDAS BY PSFS IN BAIRROS SANTA TEREZINHA, PORT AND AIRPORT, THE TOWN OF MURIAÉ / MG. Advisor: D.Sc. Jorge Luiz Góes. Co-leader DSc. Marcos Alves de Magalhães. Brazil, emerging as a country, shows a fairly high level of social inequality. Public policies

are geared to social daring, but paradoxically, are inefficient and ineffective, considering the

concentration of people living in poverty and below it. We must set targets and actions that

generate results and that may in fact take this layer population, who live in environmental

conditions, health and education, unfavorable. In this context, it has developed this work,

focusing on basic health care, in the municipality of Muriaé-MG, located in the Zone ad Mata

Mineira, with economy centered in agriculture and trade of vehicles, is constructed pole

region's population of 95,850 inhabitants / residents, with public and private elementary

schools, middle and higher, with hospitals in the network of public health and municipal

facilities. The methodology used was the exploratory qualitative research, with a population

sample of 10 families assisted by the Family Health Program - FHP in three districts of the

city, Harbor, Airport and Santa Terezinha, to evaluate the health and socio these families,

focusing on education, health and the environment. It was the end of research through

scientific evidence, that health is intrinsically related to the environment. Even the research

showed that the livelihood of families, their customs and habits, lack of hygiene in homes,

health care, hygiene in the preparation of food and neglect of their families, in relation to

information passed by ACSs, nurses and doctors of PSFs, are the factors responsible for poor

quality of life of neighborhoods object of this study.

Key words: health, education, environment.

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CONTEÚDO

DEDICATÓRIA ............................................................................................................. v

AGRADECIMENTOS .................................................................................................. vi

BIOGRAFIA .................................................................................................................. vii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................. viii

LISTA DE QUADROS .................................................................................................. ix

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... ix

LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... x

RESUMO ........................................................................................................................ xii

ABSTRACT ..................................................................................................................... xii

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

CAPÍTULO I ................................................................................................................... 4

CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE MURIAÉ ........................................... 4

1.1 Características geográficas ..................................................................................... 4

1.2 Histórico sobre o município ................................................................................... 5

1.3 Características socioeconômicas ............................................................................. 8

1.3.1 População ............................................................................................................. 8

1.3.2 Economia ............................................................................................................. 8

1.3.3 Saúde ................................................................................................................... 9

1.4 Caracterização dos bairros objeto deste estudo .................................................... 16

1.5 Educação em Muriaé ............................................................................................... 20

CAPÍTULO II ............................................................................................................... 22

HISTÓRICO SOBRE PSF .......................................................................................... 22

2.1 Origem do PSF ......................................................................................................... 24

2.2 Reforma Sanitária brasileira .................................................................................. 26

2.3 Princípios doutrinários e organizativos do Sistema Único de Saúde .................. 29

2.3.1 Eqüidade ........................................................................................................... 29

2.3.2 Integralidade da ação ......................................................................................... 29

2.3.3 Regionalização e a hierarquização ..................................................................... 30

2.3.3 Controle social .................................................................................................... 30

2.3.4 Universalidade da atenção ................................................................................... 31

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xvii

2.3.5 Descentralização .................................................................................................. 31

2.4 Princípios Básicos do PSF ........................................................................................ 32

2.5 Programa Saúde da Família de Minas Gerais ....................................................... 33

CAPÍTULO III ................................................................................................................ 37

PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA EM MURIAÉ:

DA PROPOSTA A PRÁTICA ....................................................................................... 37

3.1 Programa Saúde da Família em Muriaé-MG ......................................................... 39

3.1.1 Equipes de saúde no município de Muriaé .......................................................... 40

3.1.2 Agentes Comunitários de Saúde ......................................................................... 42

3.1.3 Panorama da saúde em Muriaé ........................................................................... 42

3.2 Análise dos dados nos PSFs pesquisados ............................................................... 48

3.2.1 Características socioeconômicas do bairro do Aeroporto .................................. 49

3.2.2 Equipe do PSF do bairro Aeroporto .................................................................... 50

3.2.3 Características socioeconômicas do Bairro do Porto ......................................... 52

3.2.4 Equipes de Saúde dos PSFs do bairro do Porto .................................................. 53

3.2.5 Características socioeconômicas do bairro Santa Terezinha ............................... 55

3.2.6 Equipe do bairro Santa Terezinha....................................................................... 55

CAPÍTULO IV .............................................................................................................. 59

EDUCAÇÃO E SAÚDE NOS BAIRROS PESQUISADOS ..................................... 59

4.1 Educação, cultura e saberes populares .................................................................. 59

4.2 Práticas de educação e educação ambiental em Muriaé ...................................... 63

4.3 Saúde e ambiente sustentável ................................................................................. 68

4.4 Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental .................................................. 71

4.5 Uma proposta participativa para a melhoria da qualidade de vida dos

moradores dos bairros ............................................................................................ 77

4.5.1 A importância da participação popular na elaboração das políticas públicas ..... 77

4.5.2 Uma proposta para o Programa Saúde da Família em Muriaé .......................... 80

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 87

ANEXOS ........................................................................................................................

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1

INTRODUÇÃO

Países como o Brasil que ainda não têm uma atenção primária bem organizada em

relação à saúde, acabam desperdiçando preciosos recursos de toda ordem, como por exemplo,

financeiros, humanos e técnicos – o que, inevitavelmente, leva à iniqüidade e falência do

sistema político-social. Muitos países desenvolvidos vêm investindo recursos financeiros e

humanos cada vez mais na atenção primária à saúde, pois os recursos são finitos em qualquer

local do mundo, mas, a eqüidade e a universalidade são questões fundamentais em alguns

lugares.

Países como Portugal, Canadá, Inglaterra e Holanda, adotam o médico de Família e

Comunidade (com diferentes denominações) como único profissional de primeiro contato,

com excelentes resultados. Na Inglaterra, por exemplo, 51% de todos os médicos são clínicos

gerais (general practitioners); no Canadá, já somam 55%. No Brasil, apesar dessa

especialidade existir desde 1976 e ter sido oficializada pela Comissão Nacional de Residência

Médica em 1981 (com nome de Medicina Geral Comunitária, modificado para o atual em

2001 – Medicina de Família e Comunidade), ficou muito tempo em posição marginal e apenas

ganhou visibilidade após a expansão do Programa Saúde da Família – PSF (GONÇALVES,

2004).

A Conferência de Alma-Ata, ocorrida em 1978, na cidade de mesmo nome, na

Rússia, é um marco dessa reflexão. Nessa Conferência, a Atenção Primária à Saúde foi

proclamada como estratégica para se atingir a eqüidade e a universalidade necessárias para

qualquer sistema de saúde. O termo “primária” é muito discutido, mas carrega em si ao menos

um princípio, talvez o mais importante: a atenção de primeiro contato (ALMA-ATA, 1978).

Na saúde, em especial na saúde pública, os profissionais, por estarem em íntima

interação com a comunidade, deparam-se com inúmeras situações nas quais o conhecimento

popular é utilizado na cura e reabilitação da saúde.

No PSF evidencia-se que as famílias assistidas pelo programa, ainda necessitam de

mais e maior atenção no que se refere à saúde do meio ambiente, seja nas residências, nas ruas

ou nos bairros onde moram, do que se pode entender que essa população requer efetivas

políticas públicas que possibilitem melhorar a qualidade de vida nessas comunidades.

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2

Diante disso, é necessário o desenvolvimento de projetos de atividades e pesquisas

relacionados ao tema Saúde e Ambiente, no intuito de melhorar a qualidade de vida das

famílias que vivem à margem dos processos de desenvolvimento econômico, ao mesmo

tempo, melhorar os serviços de saúde prestados à população, como a Atenção Primária à

Saúde, pois, são as camadas populares que mais sofrem a falta de investimentos na área de

saúde.

Muriaé, município localizado na região denominada Zona da Mata Mineira, é um

centro regional que atende as demandas na área de saúde da população local e dos municípios

circunvizinhos. No município, existem 24 equipes de PSF, 05 unidades hospitalares; em geral

os atendimentos ambulatoriais são feitos em Postos de Saúde, Policlínicas e grande parte da

população é atendida nos PSF’s, que contam com 222 profissionais, com aproximadamente

20.578 atendimentos/mês (Secretaria Municipal da Saúde, 2007). Contudo, entende-se ser

necessário e oportuno um estudo mais detalhado sobre as condições socioambientais e de

saúde da população assistida pelos PSFs dos bairros Santa Terezinha, Porto e Aeroporto, pois

esses bairros são mais carentes, e necessitam, além da assistência à saúde, da assistência

socioambiental.

Do ponto de vista do ambiente como determinante da saúde, a moradia se constitui

em um espaço de construção da saúde e consolidação do seu desenvolvimento. Pressupõe-se

que a família tem seu porto seguro, sua referência, na sua moradia, e com isso, este espaço

passa a ser – o espaço essencial, o núcleo para o desenvolvimento dos indivíduos saudáveis,

ali residentes, ou seja, a saúde da família.

Para enfrentar tal desafio – consolidação da intervenção sobre os fatores e causas

determinantes da saúde no espaço construído (moradia), se faz necessário compreender como

as pessoas representam suas condições de vida, que tipos de práticas utilizam na manutenção

de sua saúde nos PSF, a articulação das políticas públicas, de habitação, saúde, meio ambiente

e infra-estrutura urbana. Isso demandará uma participação multidisciplinar, na qual, a

intervenção da assistência da enfermagem, a participação dos componentes das equipes dos

PSF’s e a comunidade terão papel fundamental para enfrentar as questões locais que

envolvem as relações: saúde, meio ambiente e o homem em seu habitat.

Nesse estudo foram analisadas experiências dos serviços de saúde a partir dos

trabalhos desenvolvidos pelas equipes do PSF nos bairros de Santa Terezinha, Porto e

Aeroporto no município de Muriaé. Para tanto, foram avaliadas as políticas e estratégias

adotadas e, a capacidade técnica dos profissionais de saúde e os conhecimentos adquiridos

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pelos responsáveis pelo grupo familiar, através de questionários e entrevistas semi-

estruturadas, para saber como esses sujeitos entendem o significado de saúde e ambiente, e

como essas compreensões influenciam nas suas práticas e a qualidade dos serviços prestados

pelos PSFs a essas comunidades.

Portanto, pretende-se, especificamente, caracterizar as condições sociodemográficas,

econômicas, urbanísticas e ambientais dos bairros onde está localizado cada Posto de Saúde;

descrever e analisar as práticas (ou procedimentos) de enfermagem na unidade básica de

saúde, no domicílio e a forma de execução das ações de orientação sanitária; descrever e

analisar os impasses com os quais os profissionais de saúde se defrontam no trabalho de

promoção da saúde da família; analisar a relação existente entre meio ambiente e saúde na

percepção e nas práticas dos profissionais de saúde e das famílias assistidas pelo PSF; propor

mudanças ou adequações nas atividades desenvolvidas pelos PSF nos bairros Santa

Terezinha, Porto e Aeroporto de forma a melhorar a relação dos profissionais com os

moradores.

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CAPÍTULO I

CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE MURIAÉ

1.3 Características geográficas

Muriaé está situada no entroncamento das rodovias BR-116, BR-135 e BR-482. A

distância da cidade dos principais centros é: Belo Horizonte, 385 km, do Rio de Janeiro, 304

km, de São Paulo 647 km e de Vitória 340 km, está localizada na Zona da Mata Mineira,

próximo às divisas dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.1 Sua altitude é de 209

metros acima do nível do mar e seu clima é tropical, semi-úmido e quente. No verão quente,

úmido e chuvoso e no inverno é seco. A temperatura média no município está entre 23 e

25ºC.2

A localização geográfica da cidade de Muriaé no contexto do estado de Minas Gerais

está apresentada na figura 1.

Figura 1: Localização Geográfica da cidade de Muriaé no estado de Minas Gerais Fonte: Guianet Brasil, 2007.

1 Sindicato dos bancários de Muriaé-MG e região, 2007. 2 Ver Arquivo Público Municipal de Muriaé (2007).

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1.4 Histórico sobre o município

Assim como a grande maioria das cidades, Muriaé também nasceu às margens de um

rio, o qual acabou recebendo seu nome. Nas inúmeras versões sobre o surgimento desta

nomeação, há sempre uma ligação com os mosquitos que infestavam a região onde surgiria o

município.

De acordo com os registros históricos, no início de seu povoamento, era uma região

palustre, que apresentava, até finais do século XIX, altíssima incidência de febre amarela, é de

se supor que as opções etimológicas ligadas ao mosquito, sejam as mais plausíveis

(BARBOSA, 2004).

Em uma das mais antigas menções ao Vale do Muriaé, datada de 1785, Couto Reis

descreveu a região, realçando-lhe as condições “horrorosas e pestíferas de suas entranhas”,

cuja colonização só foi possível graças à coragem dos primeiros desbravadores que, “fazendo

fogos, descortinando matas e purificando ares, tornaram os sertões menos rigorosos”

(BARBOSA, idem).

Mas foi nos idos de 1819, que Constantino José Pinto - nomeado pelo oficial da

Diretoria Geral dos Índios da Província de Minas Gerais, Guido Tomaz Marlière, chegou à

região. Sua missão: civilizar e preparar as condições para a catequização dos índios purís que

aqui habitavam. O desbravador desceu pela confluência dos ribeirões Robinson Crusoé e João

do Monte (formadores do rio Muriaé), dirigindo-se até o local onde hoje encontramos a Igreja

do Rosário. Ali foi fundado o aldeamento dos índios, com demarcação das terras destinadas

ao plantio para o sustento dos silvícolas. Nascia São Paulo do Manoel Burgo (BARBOSA,

idem).

Nessa época, começaram a aportar extratores de madeiras-de-lei e, principalmente,

de plantas medicinais, em busca de raízes de ipecacoanha, chamada vulgarmente de poaia3,

denominação dada aos pessedistas, partidários do partido PSD – Partido Social Democrático,

partido do governo, nos anos de 1945-1947 seguidores de Artur Bernardes, como Duque de

Mesquita, Xenofonte Mercadante e Amilcar Alves de Souza, em reunião para aprovar uma

proposta de Benedito Valadares, quando então, foi organizado o PSD. Na época, o partido de

oposição era a UDN – União Democrática Nacional (BARBOSA, 2004).

Em Muriaé, a grande maioria dos eleitores cadastrados, eram pessedistas, chamados

de eleitores de cabresto, pois, os coronéis eram quem decidiam em quem se votaria, era o

3 Pessoa sem graça, desenxabida, enjoada (FERREIRA, 2004, p. 1583).

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chefe a quem se prestava apoio incondicional. Era ele quem traçava rotas, decidia e

manobrava a região, não apenas política, mas economicamente também. O poder dos coronéis

na Zona da Mata Mineira era tão forte que seu comando era total, alcançando inclusive,

intimidade com governos distantes como estaduais e federal (MERCADANTE, 1990).

O povoado cresceu rapidamente, a princípio, com uma só rua ao longo do rio - dando

origem ao Porto, à Barra e à Armação, em razão do rio que margeavam - e, depois,

disseminando o seu casario em todas as direções. Em 1841, já era Distrito do município de

São João Batista do Presídio, atual Visconde do Rio Branco, e subordinado,

eclesiasticamente, à Santa Rita do Glória, atual Miradouro.

Em 16 de maio de 1855, pela Lei nº 724, com o nome de São Paulo do Muriaé,

desmembra-se de São João Batista do Presídio; entretanto, a Vila de São Paulo do Muriaé

seria elevada à condição de cidade, somente em de 25 de novembro de 1865, pela Lei nº.

1257 e a denominação Muriaé só viria com a Lei nº. 843, de 7 de setembro de 1923

(BARBOSA, 2004).

Segundo Paulo Mercadante (1990, p.49), para o nome Muriaé, apesar de diferentes

etimologias dadas por Antenor Nascentes, consideradas inseguras, há uma criada por Von

Martins, que faz o nome derivar de mur, nutrimento, e iá, fruto, com a significação de lugar

que espontaneamente produz frutos comestíveis.

Assim, Muriaé seria o local onde havia frutos em quantidade e comestíveis. Em

Muriaé, existiam remanescentes de índios Guarulhos, eram tão vorazes que a tradição os

apelidou de comilões (MERCADANTE, 1990).

Nas últimas décadas do séc. XIX, Muriaé já era grande produtor de café, condição

que manteve até meados do século XX. A monocultura cafeeira foi a primeira grande

responsável pelo desenvolvimento econômico do município. Os coronéis, proprietários das

grandes fazendas produtoras, representavam não só a elite econômica da região, como

também sua expressão política, com forte influência junto ao estado e ao país.

É importante ressaltar que por volta de 1901 o estado de Minas Gerais, a partir da

República, tinha duas linhas de ação política. Uma se caracterizava pelo espírito

predominantemente ruralista, enquanto que a outra sofria influência do bacharelismo4, que

seria a progressista (MERCADANTE, 1990). Nessa época, havia o arbítrio e a violência,

instalada nos municípios da Zona da Mata Mineira, com relação às eleições. Cédulas eram

4 Havia o desempenho do doutor, seja ele médico ou advogado que influenciaram bastante nos aspectos culturais quanto à evolução da comunidade, bem como de outros centros na região da Zona da Mata mineira (MERCADANTE, 1990, p.88).

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entregues fechadas ao eleitor, e próximos às mesas os observadores, que espreitavam a

conduta do votante. Após o término das eleições, outras práticas eram postas em movimento.

Vinha a apuração, muitas vezes adulterada. Como havia apenas dois partidos – o PSD e a

UDN, ambos eram liderados por fazendeiros, donos dos votos de cabresto. Eram coronéis e

impunham sua vontade junto ao eleitor e mandavam com “mão de ferro”.

Com evolução da região, os diplomados eram indispensáveis ao poder em razão das

condições intelectuais que facilitavam a redação de normas, memória de reivindicações ao

governo da província, bem como da tratativa de assuntos eleitoreiros, além de facilitar o

relacionamento com os líderes da oligarquia estadual e federal. No plano social, a atividade

dos doutores era pedagógica e civilizatória, uma vez que a atuação desses diplomados dava

novo sentido à vida da região, por meio de linguagem e hábitos (MERCADANTE, 1990).

Em outras palavras, os doutores traziam novos hábitos de conduta das capitais, novos

sentidos à vida, o que levava a população a ter uma conduta social mais apropriada, inclusive,

a evasão dos votos de cabrestos impostos pelos coronéis.

Assim, começaram a surgir os primeiros ginásios com curso de segundo grau e

magistério. Nos anos vinte, a região ganha nítido contorno de paisagem social. O café

fortaleceu a lavoura, e o trem facilitava o contato com o progresso litorâneo; chega o telégrafo

e pelo correio, as pessoas mais interessadas, se atualizavam (MERCADANTE, idem).

Em 1929, começa a se instalar um movimento político, firmado no Hotel Glória no

Rio de Janeiro, pactuado entre os estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em julho

deste mesmo ano, verifica-se a grande baixa nas cotações do café e rapidamente o mercado

perde o controle, as bolsas de valores despencam nos pregões internacionais. A saca do café

passa de 200 para 100 mil réis (SILVA, 1967), o que seria então a crise de 19295 que afetou

profundamente o município, mas a economia voltaria a crescer durante a fase getulista,

principalmente após a abertura da estrada Rio-Bahia, inaugurada por Getúlio Vargas, em

visita à cidade em 1939.

Segundo Barbosa (2004), o grande fluxo de veículos trazido pela nova rodovia

inseriu Muriaé entre as cidades de maior progresso da região. A monocultura cafeeira passou

a ceder espaço para outras atividades econômicas. Embora a boa produção cafeeira

continuasse, a produção leiteira intensificou-se, mantendo a cidade, durante muitos anos, no

5 A Crise de 1929 foi a ampla e universal, atingindo todas as bolsas de valores do mundo todo, começando pela bolsa dos EUA - Wall Street - pois a economia capitalista estava em alto grau de interdependência. Esta crise não foi teve fatos isolados, pois foi produto de uma crise agrária, financeira e industrial ao mesmo tempo e se arrastou até 1933. Seus efeitos foram sentidos até às vésperas da Segunda Guerra Mundial. O mundo capitalista, porquanto a URSS não fora atingida, só sobreviveu transformando-se profundamente.

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segundo lugar no ranking nacional, em virtude, principalmente, da apuração do rebanho com

seleção de matrizes e avanços técnicos no manejo.

Na década de 60, a mecânica automotiva começou a atingir grande expressão, graças

ao asfaltamento da rodovia Rio-Bahia, e o município passou a ser referência nacional no ramo

da retífica de motores. Era a diversificação econômica chegando ao município (BARBOSA,

2004).

1.3 Características socioeconômicas

1.3.1 População

De acordo com o senso demográfico (IBGE, 2000/2002), o município conta hoje

com população residente de 95.449, renda per capita de 4.702 reais6. Muriaé tem hoje 57

bairros, com população média de 7.386 aproximadamente.

1.3.2 Economia

Uma nova atividade surgiu na década de 80 no município: a indústria de confecções.

Ousando em investimento nessa área, empresários muriaeenses acompanharam o avanço

tecnológico do ramo, o que permitiu dotar as indústrias de confecções dos mais modernos

processos de fabricação, facilitando as exportações, inclusive, para países do Mercosul. O

setor confeccionista de Muriaé emprega atualmente 4.423 pessoas em 245 unidades de

indústria de transformação (confecção); no serviço de saúde pública e particular emprega

5.296 pessoas assalariadas; bancos e instituições financeiras empregam 6.113 pessoas entre

empregos diretos e indiretos; comércio de veículos e conveniências (lojas) 8.623 pessoas entre

empregos diretos e indiretos; nos setores domésticos, rurais, comunicação e transportes

27.151 pessoas entre empregos diretos e terceirização7, com PIB 459.081 milhões de reais.

Economicamente o município conta com um rebanho cujo número de cabeças está

disponível na Tabela 1.

6 Fonte: IBGE, Coordenação de Contas Nacionais, 2005. 7 Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Senso 2000/2002.

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Tabela 1: Quantidade de rebanho (cabeças) em Muriaé-MG Rebanhos Quantidade/100 hectares Produção de leite em L dia Bovinos 53.902 28.376 Suínos 5.807 --- Aves 13.469 --- Cabra 3.798 3.153

Fonte: Secretaria Municipal da Agricultura, 2007.

Tanto por sua localização às margens da BR 116 (Rio-Bahia) rodovia de grande

fluxo de veículos, Muriaé sempre teve um comércio bastante diversificado e foi esta força de

sua economia que o levou à posição de pólo de grande importância na região da Zona da Mata

Mineira. Hoje, com três unidades de ensino superior, o município transformou-se também em

um pólo educacional da região, atendendo a alunos de várias cidades, que buscam, sua

formação para o ingresso no mercado de trabalho.

1.3.3 Saúde

Na área da Saúde, como Pólo Regional e dentro do PDR (Plano Diretor de

Regionalização da Saúde) definido pela Secretaria de Estado da Saúde na busca do

fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde), o município de Muriaé integra a

macrorregião de Juiz de Fora, que conta com 94 municípios, população de 1.541.964 (um

milhão e quinhentos e quarenta e um mil e novecentos e sessenta e quatro) habitantes, e se

define como uma base territorial de planejamento da atenção terciária à saúde que engloba

microrregiões de saúde em função da possibilidade de oferta e acesso a serviços de saúde,

ambulatoriais e hospitalares de maior tecnologia. Para a efetivação de um Pólo

macrorregional, no caso de Juiz de Fora, pólos microrregionais foram criados e Muriaé

alcançou esse status devido a sua capacidade instalada e de resolutividade na área da saúde

(SECRETARIA DE PLANEJAMENTO, 2006).

O pólo microrregional é definido no município pelo seu nível de resolutividade,

capacidade de oferta de serviços, acessibilidade e situação geográfica e polariza os municípios

da microrregião, com nível de complexidade nos serviços oferecidos na área da saúde.

Condições até mesmo superadas na área da saúde no município de Muriaé por já contar com

serviços de AC (Alta Complexidade), como especificado adiante. Muriaé faz parte de uma

microrregião integrada por vários municípios, Miraí, São Sebastião da Vargem Alegre,

Rosário da Limeira, Miradouro, São Francisco do Glória, Vieiras, Eugenópolis, Antonio

Prado de Minas, Patrocínio do Muriaé e Barão de Monte Alto, com uma população

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aproximada de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes, dentro do Plano de

Desenvolvimento Regional (PDR) (SECRETARIA DE PLANEJAMENTO, 2006).

O município de Muriaé na sua condição de microrregião de saúde, atende sua base

territorial de planejamento da atenção básica e da atenção secundária à saúde, com capacidade

de oferta de serviços ambulatórias e hospitalares de MC (Média Complexidade).

De acordo com o último senso do IBGE (2002), Muriaé conta com um total de 67

estabelecimentos de Saúde, sendo que 35 desses estabelecimentos pertencem à rede pública

estadual e municipal e 32 estabelecimentos de saúde do setor privado, com 455 leitos para

internação8.

A diversificação e qualidade dos serviços de média complexidade e alta

complexidade estão distribuídos atualmente nos 5 (cinco) hospitais do município, num total

de 455 leitos, assim divididos9:

Fundação Cristiano Varella - Hospital do Câncer - 124 leitos;

Hospital São Paulo - 197 leitos;

Hospital Prontocor – 73 leitos;

Casa de Saúde Santa Lúcia – 33 leitos;

Amiu – Assistência Médica Infantil de Urgência – 28 leitos.

Devido ao arrojado processo de investimentos privados na saúde, as instituições

hospitalares de Muriaé oferecem também serviços de AC, contanto com 40 leitos de UTI

(Unidades de Terapia Intensiva), distribuídos nas diversas áreas de clínicas médicas e

especializadas como os 14 leitos de UTI Cardiológica, 9 leitos de UTI do Hospital do Câncer,

17 leitos de UTI para cirurgias e outras enfermidades, além dos serviços de diagnóstico por

imagem de última geração para diagnóstico e tratamento de neoplasias malignas, serviços de

Hemodinâmica e Cirurgias Cardíacas.

Vale destacar que a Fundação Cristiano Varella, através do Hospital do Câncer de

Muriaé, tem garantido um processo de oferta de serviços terciários especializados que

ultrapassam os limites do PDR em vigor, pois, o Hospital do Câncer de Muriaé recebe

pacientes vindos de mais de 100 municípios de Minas, além de pacientes de municípios dos

estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Com pessoal qualificado e equipamentos de

última geração, o Hospital do Câncer de Muriaé é um dos poucos Hospitais de Minas

credenciados como Centro de AC em Oncologia - CACON I.

8 Fonte: IBGE, Assistência Médica Sanitária 2005. 9 Secretaria Municipal da Saúde de Muriaé-MG, Jan/fev., 2007.

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Na atenção básica, o município de Muriaé conta com 24 equipes da estratégia de

saúde da família, 21 equipes de saúde bucal, 122 ACS distribuídos pelos bairros e nos 6 (seis)

distritos que compõem a estrutura administrativa local, efetivando uma cobertura de 73,3% da

população. No bairro Aeroporto, são 912 famílias cadastradas com 3.360 (4,2%) pessoas

assistidas, numa população de 4.322; no bairro do Porto, são 832 famílias cadastradas, com

2.584 (2,2%) pessoas assistidas, numa população de 3.202; no bairro Santa Terezinha tem

duas equipes do PSF (Santa Terezinha 1 e Santa Terezinha 2), sendo que apenas uma foi

pesquisada (Santa Terezinha 1), com 934 famílias cadastradas e, 3.282 (3,8%) pessoas

assistidas. Esse bairro é considerado um dos mais populosos do município com 5.705

habitantes. Somados os percentuais dos três bairros pesquisados, totalizam 10,2% da

população assistida, em relação à cobertura total do município (73,3%), o que presume-se que

63,1% da população ficam sob a responsabilidade dos demais PSFs do município.

Muriaé conta ainda com postos de saúde e policlínicas em seus bairros, e

recentemente foram instalados o Centro de Epidemiologia e o Centro de Especialidades. Este

com ofertas de serviços clínicos especializados nas áreas de clínicas médicas e na área de

psicologia.

Conta ainda com um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) nível II10 e se prepara

para a estruturação do seu Centro de Convivência, com oficinas de trabalhos manuais,

psicoterapias, recreação, tratamento medicamentoso, quando necessários, terapias de grupo,

serviços estes conforme preconizado pelo Fórum Nacional de Luta Antimanicomial e seus

instrumentos legais.

Na perspectiva de atuação em uma rede assistencial, o município de Muriaé conta

hoje com uma estrutura assistencial de instituições que se dedicam a esse fim, dentre as quais

podem ser destacadas11:

Centro Municipal de Atendimento ao Menor (ex-FEBEM);

Serviço Social Irmã Maria Ana Sala;

Casa da Criança – Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Muriaé;

Casa da Menina;

Comunidade Terapêutica El Shaday;

10 Os níveis dos CAPSs são definidos por ordem crescente de porte, complexidade e abrangência populacional. Como Muriaé é considerado um município de médio porte, com população de 94.368 habitantes, o MS autoriza o funcionamento da unidade no município, obedecendo às regulamentações contidas na NOAS-SUS 01/2001, com classificação Nível II, podendo atender apenas 220 pacientes, divididos em três regimes de tratamento: intensivos, semi-intensivos e não intensivos. 11 Secretaria Municipal de Ação Social de Muriaé-MG. Jan/fev., 2007.

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Comunidade Terapêutica Projeto Reviver;

Comunidade Terapêutica Fazenda Nova – Projeto COMVIDA;

Sociedade Humana Renascer;

Associação dos Deficientes Físicos;

Lar Ozanan – Sociedade São Vicente de Paula;

Procidadania – Projeto Esperança; e

União Espírita Bezerra de Menezes, entre outras.

Considerando a população do município, segundo informações do Boletim de Saúde

da Secretaria Municipal de Saúde (2008), essa rede de assistência é satisfatória. Estas

instituições assistenciais trabalham com dependentes químicos, crianças órfãs e/ou vítimas de

maus tratos domésticos, adolescentes em gravidez de risco, idosos, portadores de deficiências

físicas e excluídos psicossociais. No entanto, os profissionais da área de saúde, como

atendentes e auxiliares de enfermagem, que trabalham nessas instituições são voluntários,

muitos sem curso de capacitação, o que compromete a qualidade de vida, principalmente dos

asilados.

Para atender as crianças com necessidades especiais, Muriaé conta com uma unidade

da APAE, que, muitas vezes, nas cidades do interior, é a única possibilidade de atenção e

atendimento clínico ao portador de necessidades especiais. Vale ressaltar que essa unidade

atende também crianças dos bairros: Aeroporto, Porto e Santa Terezinha. Nas famílias

pesquisadas desses bairros, geralmente as crianças ficam em casa sem assistência e

atendimento especializado, sendo assistidas pelos médicos e enfermeiros dos PSFs.

Na complexa e resolutiva rede assistencial de saúde de Muriaé é importante

evidenciar os serviços prestados pelo 8º Pelotão do Corpo de Bombeiros Militar que, com

suas ações junto aos acidentados nas rodovias federais que cortam o município, tem garantido

o salvamento de vidas.

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Tabela 2: Bairros e doenças prevalentes/faixa etária

Bairros ALC DEF DIA MAL HA HAN TB Faixa etária 1 PSF Aeroporto 12 32 51 0 285 1 0 0-20 + 2 PSF Belizário*12 24 55 44 0 343 1 0 0-20+ 3 PSF Barra I**13 8 34 114 0 532 1 0 0-20+ 4 PSF Barra II** 14 14 88 0 464 1 0 0-20+ 5 PSF Boa Família* 52 46 46 0 273 1 0 0-20+ 6 PSF Cardoso de Melo**

20 40 34 0 127 2 0 0-20 +

7 PSF Dornelas** 2 29 62 0 391 0 0 0-20+ 8 PSF Gaspar 73 50 80 0 435 1 1 0-20+ 9 PSF Itamurí* 17 36 31 0 241 1 0 0-20+ 10PSF Joanópolis** 18 56 30 0 220 0 2 0-20+ 11 PSF Marambaia 18 33 45 0 298 1 2 0-20 + 12 PSF Primavera 4 11 60 0 333 2 0 0-20+ 13 PSF Planalto 10 42 100 ? 440 0 0 0-20+ 14 PSF Porto 40 25 68 0 449 1 0 0-20+ 15 PSF Safira 11 47 77 0 425 2 2 0-20+

16 PSF José Cirilo (Policlínica)**

4 2 72 0 180 0 0 0-20 +

17 Policlínica do Caic**14

35 3 94 0 220 0 0 0-20+

18 PSF São Pedro 9 36 56 0 336 0 0 0-20+ 19 PSF Safira 11 47 77 0 425 2 2 0-20+

20 PSF Sto. Antonio 21 65 108 0 477 1 1 0-20+

21 PSF S. José 21 28 68 0 346 3 0 0-20 + 22 PSF Sta. Terezinha

37 122 115 0 709 3 0 0-20+

23 PSF Santana** 14 34 64 0 387 1 0 0-20+

25 PSF S. Cristóvão 14 51 99 0 503 0 1 0-20+ 26 PSF Vermelho* 20 31 52 0 366 1 1 0-20+ Fonte: Centro de Epidemiologia Dr. Augusto Alves Pequeno, ano 2007.

12 Todos os PSFs marcados com (*) pertencem à Zona Rural. 13 Todos os PSFs e Policlínicas marcados com (**) são bairros atingidos pelas enchentes de dezembro de 2006 e janeiro e fevereiro 2007. 14 OBS: Na Policlínica do Caic, somente 4 casos foram notificados. Os demais presumidamente, por informações colhidas no próprio bairro, por moradores, tiveram mais de 40 casos entre crianças, jovens, adolescentes e idosos, durante os meses de janeiro e fevereiro, meses das enchentes.

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Tabela 3: Doenças diarréicas agudas

Doenças diarréicas agudas nº de casos Faixa etária Notificação A (21) B (9) C (2) 32 1-19 Todos 0 0 0 0 A (30); B (5); C (1) 36 1-39 Todos A (34); B (6); C (6) 46 1-39 Todos A (6) 6 1-49 Todos A (34); B(12); C (4) 50 1-60+ Todos A (18); B (5); C (7) 30 1-60+ Todos A (34); B(7); C (9) 42 1-49 Todos A (8); B(3); C (1) 12 1-59 Todos A (29); B(5); C(4) 38 1-39 Todos A (15) 15 1-60+ Todos A (22); B(4); C (2) 28 1-29 Todos A (12); C(3) 15 1-39 Todos A (40); B(8); C(4) 51 1-60+ Todos A (17) 17 1-19 Todos A (31); B(12); C(9) 52 1-60+ Todos A (4) 4 1-19 Todos A (28); B(2); C(2) 32 1-39 Todos A (32); B(9) 41 A (20); B(3) 23 1-49 Todos A (37); B(8); C(9) 54 1-60* Todos A (22); B(3); C(1) 26 1-60+ Todos A (9); B(9) 18 1-39 Todos A (21); B(18); C(4) 43 1-60+ Todos A (19); B(12); C(7) 38 1-49 Todos A (10) 10 1-19 Todos Fonte: Centro de Epidemiologia Dr. Augusto Alves Pequeno, ano 2007. Legenda: A) Hidratação oral; B) Hidratação oral + soro de hidratação oral; C) Hidratação oral e venosa.

1.3.3.1 Formas de tratamento para notificação de doenças diarréicas crônicas

A) Hidratação oral: Destina-se a paciente com diarréia, sem sinais de desidrato. A grande

maioria das diarréias não apresenta desidratação. Para prevenção da desidratação bastará, após

o exame clínico do paciente, orientar sobre a evolução natural da doença, o risco de

complicações e condutas no domicílio. Um segundo procedimento é orientar o paciente ou

responsável sobre a importância do aumento da ingestão de líquidos e da manutenção da

alimentação. Ainda, ensinar o paciente ou responsável a reconhecer os sinais de desidratação

e recomendar que, em caso de piora, inicie a administração de SRO (Soro) e procurar

novamente o serviço de saúde mais próximo (BRASIL, 2003).

B) Hidratação oral + soro de hidratação oral: Destina-se a pacientes com diarréia e com

sinais de desidratação. Todos os pacientes desidratados, mas com capacidade de ingerir

líquidos, devem ser tratados com solução de sais de reidratação oral. Não é necessário

determinar o volume exato a ser administrado, mas se recomenda que seja contínuo, conforme

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a sede do paciente, até a completa recuperação do estado de hidratação. Para crianças, a

orientação é de 100 ml/kg, administrados num período não superior a 4 horas. Se o paciente

vomitar, pode-se reduzir o volume e aumentar a freqüência das tomadas. Os vômitos

geralmente cessam após 2 a 3 horas do início da reidratação. A febre causada pela

desidratação geralmente cede na medida em que o paciente se reidrata. O paciente com

desidratação deverá permanecer na unidade de saúde até a reidratação completa e retornar ao

serviço para reavaliação, após 24 a 48 horas ou imediatamente, em caso de piora (BRASIL,

2003).

C) Hidratação oral e venosa (nesses casos os pacientes ficam hospitalizados): destina-se a

pacientes com diarréia e desidratação grave. Uso de reidratação venosa, associada à

reidratação oral logo que seja possível. Vale lembrar que inicialmente o aumento da ingestão

de líquidos e do SRO poderá até aumentar a diarréia, mas não permitirá que ocorra a

desidratação (BRASIL, 2003).

Essas são as recomendações da Secretaria Municipal de Vigilância em Saúde, editadas

no Manual do Monitor (2003), em casos de paciente com doenças diarréicas. É importante

destacar que tais orientações foram passadas à população ribeirinha, a do bairro do Porto

atingida pelas enchentes em Muriaé no período de (dezembro de 2006 a fevereiro de 2007) e,

em áreas de risco (encostas), onde estão localizados o bairro do Aeroporto e Santa Terezinha,

quando foram notificados os casos de diarréias.

A tabela 4 apresenta o número de casos notificados, o número de coleta na primeira e

segunda amostragem e o número de óbitos.

Tabela 4: Número de casos notificados de leptospirose em Muriaé no período das enchentes (dezembro 2006 a fevereiro de 2007). Nº de casos notificados Nº de coleta na 1ª

amostragem Nº de coleta na 2ª

amostragem Nº de óbitos

31 25 13 1 Fonte: SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – seção Muriaé e Secretaria Municipal do Meio Ambiente, 2007.

Segundo técnicos do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação),

seção Muriaé, as notificações confirmadas de leptospirose ocorrem quando os casos já estão

agravados. Por isso, geralmente o número de notificações nem sempre corresponde à

realidade e um dos motivos para isso é exatamente a semelhança nos diagnósticos, ou seja, a

leptospirose tem os mesmos sintomas da dengue, da hepatite A e B e a febre tifóide.

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Esses números referem-se apenas a unidades de Muriaé não estando incluídos os

distritos deste município. A título de comparação, a tabela 2 apresenta os casos notificados e

confirmados no período de 1996 a 2005, divulgada pelo Ministério da Saúde (2005) referente

a leptospirose no Brasil. Se comparadas a tabela 1 e a tabela 2, entende-se que o número de

notificações em Muriaé foi bastante elevado em relação ao período de 1996-2005 em todo o

território nacional, se comparado ao curto período (dezembro de 2006 a fevereiro 2007) em

que aconteceram as enchentes, no bairro do Porto, o que demonstra o auto índice de

contaminação por leptospirose, em função do acumulo de lixo nas ruas, nas encostas do rio.

Nesse bairro, existem centenas de casas cujos muros fazem divisas muito próximas

ao leito do rio. Com as enchentes (dezembro de 2006 a fevereiro 2007), o leito do rio subiu

mais de 8 metros além do nível normal, o que arrastou muita lama contaminada, vinda da

mineradora, lixo (móveis, tubulação de banheiros de casas derrubadas pelas águas etc.).

Tabela 5: Leptospirose no Brasil - Casos confirmados, por local de transmissão: 1996 - 2005

Região 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005* Total Norte 689 484 584 340 391 142 230 248 202 181 3.491 Nordeste 1.002 847 514 194 1.006 643 598 501 801 600 6.706

Sudeste 3.350 944 1.242 1.102 948 1.188 901 986 1.305 1.029 12.995 Sul 502 863 1.084 782 1.094 1.617 851 1.158 656 838 9.445 Centro-Oeste 36 160 25 15 48 44 38 54 68 49 537

Total 5.579 3.298 3.449 2.433 3.487 3.634 2.618 2.947 3.032 2.697 33.174 Fonte: Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde, 2006.

Segundo o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Vigilância Sanitária (2005)

no Brasil, neste período, os 33.174 casos de leptospirose, notificados, referem-se apenas aos

casos mais graves (ictéricos) que são, geralmente, diagnosticados e, eventualmente,

notificados. A leptospirose sem icterícia é, freqüentemente, confundida com outras doenças

como a dengue e a gripe, o que leva a população a não procurar assistência médica. Ressalta-

se ainda que os casos notificados, provavelmente, representam apenas uma pequena parcela

(cerca de 10%) do número real de casos no Brasil, segundo informações da Secretaria

Municipal de Saúde de Muriaé.

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1.4 Caracterização dos bairros objeto deste estudo

As condições sociodemográficas, econômicas, urbanísticas e ambientais dos 26

(vinte e seis) bairros onde está localizado cada posto de saúde, são bairros periféricos, com

grande concentração populacional. A grande maioria da população dos bairros pesquisados

enfrenta problemas como, por exemplo, a precariedade habitacional (Tabela 6). Essa

população representa 14,01% da população total de Muriaé.

Tabela 6: População dos bairros pesquisados

Bairros Estimativa Populacional

Aeroporto* 4.322

Porto* 3.202

Santa Terezinha* 5.705

Total 13.229 Fonte: Departamento Municipal de Saneamento Urbano (DEMSUR), 2008.

Vale dizer que as famílias pesquisadas apresentaram baixa qualidade de vida, em

função dos baixos salários, desempregos e/ou subempregos, escolas da rede estadual

precárias, ruas sem calçamento, algumas em localidades ainda mais afastadas, com esgoto a

“céu aberto” o impacto na saúde por ambientes insalubres e o distanciamento das autoridades

municipais da realidade de cada um deles. Há necessidade de aumentar a eficácia e eficiência

das políticas públicas de saúde para essa população.

Além disso, considera-se a relevância do tema devido a carência de pesquisas nesta

área, no município de Muriaé-MG, cidade que, recentemente, sofreu com duas grandes

enchentes e por conseqüência, 10.000 pessoas ficaram desabrigadas e/ou desalojadas, sendo

que, desse total, 2.000 pessoas aproximadamente do bairro do Porto, sofreram essas

conseqüências e do bairro Santa Terezinha (parte baixa), 1.500 aproximadamente, também

ficaram desabrigadas, principalmente as que moram próximo ao bairro do Porto, um dos

bairros mais atingidos. Essa população foi atingida, também por doenças, como difteria,

leptospirose, dengue, alergias por picadas de mosquitos e doenças diarréicas crônicas,

seguidas de náuseas, vômitos, desidratação, com alimentos contaminados pelas águas

poluídas pelas enchentes.

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Doenças que podem ressurgir rapidamente, favorecidas pelos ambientes ainda não

sanitizados, ou seja, contaminados pelas águas, lixo acumulado, pelo ar poluído e assim,

sucessivamente ou por práticas inadequadas de proteção á saúde.

Ao contrário, seriam necessárias medidas, tais como, despoluição das margens do

rio, retiradas dos resíduos (lixo), dedetização das áreas contaminadas, informações sobre

higienização das casas, pela equipe do PSF, mais especificamente dos bairros do Aeroporto,

Porto e Santa Terezinha, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), principalmente

pelos catadores de lixo, como também pelas donas de casa, assistidas pelo PSF, pois elas não

usam luvas, máscaras etc.

Nesses bairros, bem como em outros e nem mesmo no centro da cidade, não há

coleta seletiva de lixo, salvo em algumas escolas, como a do bairro do Porto. Lá esse tipo de

coleta é feita, em tambores coloridos, verde para coleta de vidro, amarelo para coleta de papel

e azul para lixo de plásticos, como garrafas pet de refrigerantes, mas ainda é muito reduzida.

Em síntese, os bairros pesquisados são similares em condições sociais, culturais,

econômicas e educacionais. O bairro Santa Terezinha está dividido em duas áreas, parte

baixa e parte alta. A parte alta é habitada por pessoas com renda aproximadamente de 2

a 3 salários mínimos e a outra área (parte baixa) que é dividida em micro áreas (ruas,

ruelas, becos) as quais são atendidas pelo PSF, é uma área de baixa renda, com média

salarial de 1 a 2 salários por família, que convive com sérios problemas sociais de todos

os tipos, por exemplo, alcoolismo, prostituição, drogas e a grande maioria é

desempregada, de acordo com as informações coletadas por questionários (em anexo)

aplicados durante a pesquisa (Tabela 6). Nessa segunda área, as pessoas empregadas

não ganham mais do que um salário mínimo. São esses empregos que mantêm a

subsistência dessas pessoas, seja homem ou mulher.

O bairro do Aeroporto é considerado hoje, o mais violento da cidade. Lá vivem

famílias pobres que convivem com sérios problemas sociais. Em uma parte do bairro

falta infra-estrutura básica, como esgoto, água encanada, pavimentação. O bairro leva

esse nome porque há muitos anos, lá havia um campo de aviação. Por isso ficou

conhecido como bairro do aeroporto. Como o bairro Santa Terezinha, este também é

dividido em duas partes, sendo parte baixa e parte alta.

Essa divisão existe na maioria dos bairros periféricos de Muriaé-MG. Deve-se

ao fato de a cidade está localizada em uma região montanhosa. Como esses bairros são

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periféricos, geralmente estão localizados em áreas de grande elevação. Então, existe a

parte alta e a parte baixa.

O bairro do Porto é o bairro mais antigo de Muriaé. Praticamente a cidade

começou ali. É um bairro com infra-estrutura, com uma Igreja Católica, hoje Matriz

Nova Senhora Aparecida. É um bairro com economia mais sólida em função do

comércio ali existente, confecções de roupas masculina e feminina, supermercados,

padarias, lojas de móveis, agência dos correios, escolas públicas de 1º e 2º graus, postos

de saúde. Contudo, existe uma parte do bairro que faz confluência com o bairro Santa

Terezinha. Esta parte do bairro também é bastante carente de condições

socioeconômicas e da mesma forma, convive com sérios problemas sociais como já

mencionado anteriormente.

Diante do exposto, entende-se ser de fundamental importância conhecer a realidade

das famílias assistidas pelo PSF, através do cadastramento e do diagnóstico de suas

características sociais, demográficas e epidemiológicas, bem como, identificar os problemas

de saúde prevalentes e fatores de risco aos quais essa população está exposta.

É importante, também, que se desenvolva um modelo de gestão de saúde ambiental,

que envolva as questões de saúde, meio ambiente e economia, levando sempre em conta os

fatores sociais, para que se possam avaliar os fatores de riscos em relação à saúde e o meio

ambiente.

Segundo Fernandes e Veiga (2002, p. 75), “o objetivo de regulamentação ambiental

baseado na Avaliação de Risco é o de balancear o nível de risco aceitável em razão do custo

na redução do risco, em contraposição a outros riscos ou contra-riscos geralmente aceitos pelo

público”.

A avaliação de risco, no sentido de risco ambiental, deixa de configurar uma visão

única de avaliação de probabilidade para incluir outros aspectos de risco, como a natureza e a

severidade das conseqüências prejudiciais. A percepção do público é comparada à exposição

ao asbesto, que é tido como uma sustância não-natural e ao radônio, que é um gás nobre, na

medida em que os cientistas encaram a determinação do risco como um processo técnico.

Nessa relação, o público se posiciona de forma a tratar o problema como um processo de

decisão pessoal. Por exemplo, trabalhadores que manipulam o asbesto, estão,

comprovadamente, sujeitos ao desenvolvimento de câncer, com casos já comprovados,

enquanto que ao contrário do radônio, não foi, até hoje, nenhum caso documentado, por

câncer contraído por trabalhadores que o manipulam (FERNANDES; VEIGA, 2002).

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Esse é um tema polêmico que se insere no fundo de todas as decisões tomadas,

referente ao valor da vida humana, pois ao se atribuir um valor incalculável à vida, qualquer

empreendimento que pudesse causar a perda de uma única vida seria considerado inviável do

ponto de vista econômico. Contudo, várias são as práticas que agregam um agravamento de

acidentes que culminam em morte, mesmo assim, são aceitas pela sociedade. Sendo assim,

com essa postura da sociedade, rompem-se as barreiras morais que inviabilizam o projeto de

gestão e avaliação dos fatores de risco (BELLIA, 1991).

Do que a autora explica, pode se entender que, a sociedade (ou parte dela) aceita

esses fatores de riscos, muitas vezes pela própria necessidade pessoal, a exemplo dos

trabalhadores expostos a produtos químicos (asbesto e radônio), que trabalham diretamente

com esses produtos, até mesmo para manter seus empregos, garantir o sustento de suas

famílias, mesmo sabendo o quanto é prejudicial à saúde.

Não diferente, são as condições de aceitação dessa população em morar nas áreas de

risco nos bairros pesquisados, principalmente a do bairro Aeroporto, que demonstra ser o

mais carente de saneamento básico (água encanada, rede de esgoto, pavimentação nas ruas

etc). Essa população reside nessas áreas, pois, sem emprego, sem educação, sem saúde

adequada, com pouca assistência por parte dos profissionais do PSF, por exemplo, não tem

opção, a não “montar seus barracos” em áreas sem a menor condição de moradia.

Observou-se durante a pesquisa que os ACS e os auxiliares de enfermagem, têm

dificuldade de orientar essa população, pois, os cursos e palestras ministrados pelos

enfermeiros dos PSFs não são realizados periodicamente (com certa regularidade), para

apreenderem e repassar conhecimento e informações básicas de saúde e meio ambiente, uma

vez que o meio ambiente interfere diretamente na saúde da população.

1.5 Educação em Muriaé

A educação em Muriaé vem evoluindo e criando campos os mais variados possíveis,

principalmente no ensino superior. Os dados apresentados pela Secretaria de Estado de

Educação de Minas Gerais15, em relação ao número de estabelecimento de ensino, o

município dispõe de um total de 86 escolas, distribuídas da seguinte forma: 27 Estaduais, 48

Municipais e 11 Privadas (Tabela 7).

15 Dados da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, publicados pela Diretoria de Produção e Difusão de Informações Educacionais em 2006/2007.

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Tabela 7: Número de alunos matriculados nas redes pública e privada em todos os níveis da educação, Muriaé-MG. Na rede estadual: (Número de alunos)16

1ª. a 4ª. Série do Ensino Fundamental 15.326 5ª. a 8ª. Série do Ensino Fundamental 8.709 Ensino Médio rede particular 4.247 Ensino Médio rede pública 3.570 Educação Especial 287

Na rede municipal: (Número de alunos) Creches e Pré-Escolas 2.693 1ª. a 4ª. do Ensino Fundamental 3.824 5ª. a 8ª. do Ensino Fundamental 1.859 Educação de Jovens e Adultos (presencial) 44

Na rede privada: (Número de alunos) Creches e Pré-Escolas 427 1ª. a 4ª. do Ensino Fundamental 451 5ª. a 8ª. do Ensino Fundamental 736 Ensino Médio 768 Educação Profissional Nível Técnico 353

Na rede privada ensino superior: (Número de alunos) Ensino superior 2005

Fonte: Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, 2006/2007.

Quanto ao número de docentes, são 717 que atuam na rede pública e na rede privada

de acordo com o IBGE (2007)17.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, hoje em Muriaé existem 7.123

famílias cadastradas no Programa Bolsa Família, o que contribuiu bastante para a redução da

evasão escolar de 18% a 22%, aproximadamente, acumulado com a zona rural do município.

Quanto à evasão escolar na rede estadual, na zona urbana e rural, os índices não são

tão diferentes, estima-se que entre 12% a 16%, segundo informações da Delegacia Regional

de Ensino da rede estadual, sendo maior concentração nos bairros pesquisados, Santa

Terezinha e Aeroporto, responsáveis por quase 40% desse total, ou seja, de 4,8% a 6,4% de

estudantes na faixa etária entre 12 e 16 anos (escolas públicas da rede municipal e estadual).

De acordo com a Secretaria Regional da Educação (2007), estes números são

bastante elevados para um município com menos de 103.00 habitantes, somados zona urbana

e zona rural. Acredita-se que falta empenho dos órgãos competentes da educação.

16 Fontes: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP , Censo Educacional 2006. 17 Fontes: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP , Censo Educacional 2006.

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CAPÍTULO II

HISTÓRICO SOBRE PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

Iniciando este capítulo, entende-se ser necessário abordar sobre o período que

antecedeu à criação e implantação do PSF. Segundo o Ministério da Saúde, a década de 90

tem início com a epidemia da cólera e agravamento da mortalidade por causas externas, com

destaque aos homicídios de mortes no tráfico de entorpecentes, principalmente nos grandes

centros. A composição da mortalidade por grupos de patologias apresenta em primeiro lugar

as doenças cardiovasculares, seguidas das causas externas e das neoplasias (BARRETO e

CARMO, 2000).

De acordo com senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005),

o Brasil inicia o século XXI com uma população de 169.799.170 habitantes, uma taxa de

crescimento anual de 1,4%. Quanto à expectativa de vida, a média estimada está em 68,4

anos, sendo 65 para os homens e 75 para as mulheres. A taxa de mortalidade infantil

corresponde a 34,8% óbitos de menores de um ano por 1.000, nascidos vivos. Apresenta um

Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$5.861,00 e uma das maiores concentrações de

renda do mundo18.

Paim (2002) observa que no momento em que era promulgada a “Constituição

Cidadã” (1988), aprofundava-se a instabilidade econômica com hiperinflação e crise fiscal do

Estado, enquanto a Reforma Sanitária encontrava sérios obstáculos para a sua implementação.

O recuo dos movimentos sociais, a disseminação da ideologia neoliberal e a perda de poder

aquisitivo dos trabalhadores da saúde ensejaram o aparecimento de uma operação descrédito

contra o Sistema Único de Saúde (SUS), seja por parte das classes dirigentes, seja pelas ações

políticas predominantemente corporativas dos trabalhadores da Saúde.

Mesmo assim, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde (Lei

8080/90). Esta Lei dispõe sobre as condições para a promoção e recuperação da saúde, bem

como a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Regula, em todo o

território nacional, as ações e serviços de saúde executados, isolada ou conjuntamente, em

18 Índice de Gini da ordem de 0,567.

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caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou

privado.

Essa Lei foi complementada pela Lei 8142/90 que regula a participação da

comunidade no SUS, assegurando a existência de instâncias colegiadas como conferências e

conselhos de saúde nos três níveis de governo, além de orientar as transferências

intergovernamentais de recursos financeiros da área de saúde e de exigir a formulação de

planos de saúde e a criação de fundos de saúde.

Pereira (2003, p.33) entende que a lógica organizativa e doutrinária do SUS aponta

para um modelo de assistência à saúde em que sua pedra de toque é o resgate da cidadania.

Desse modo, objetivando esse detalhamento, foram implementadas, a partir de 1991, as

Normas Operacionais Básicas (NOBs) que, em tese, “refletem a intenção do Estado em

cumprir a Constituição Federal de 1988”.

A primeira Norma Operacional (NOB 01/91) foi editada ainda no âmbito do Instituto

Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), que instituiu o pagamento

por produção. Dessa forma, de acordo com os procedimentos relacionados à saúde, realizados

no município, era feito o repasse da verba para cobrir as despesas. Em 1993, o Ministério da

Saúde editou a NOB 01/93 por meio da Portaria 545, de 20 de maio de 1993, na qual já

aconteceram mudanças, particularmente no estabelecimento das modalidades de gestão

municipal (incipiente, parcial e semiplena). Assim, de acordo com a capacidade do município,

ele poderia assumir determinadas ações de complexidade variável em função da sua estrutura

de serviços, indicando relativo avanço quanto à maneira mais democrática de gerenciar o

programa.

Em novembro de 1996, é editada a NOB 01/96, após a sua publicação, passaram a

existir duas modalidades de gestão municipal, a plena de atenção básica e a plena do sistema,

mas as principais características da nova Norma Operacional foram o incremento do repasse

fundo a fundo (direto do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Municipais de Saúde) e a

criação da modalidade de pagamento com base populacional, com a criação do Piso

Assistencial Básico (PAB).

Assim, dependendo da série histórica dos custos ambulatoriais do município e de

determinados incentivos (por exemplo, cobertura do Programa Saúde da Família), esse valor

poderia ser aumentado. Os procedimentos ambulatoriais de média e de alta complexidade,

bem como a assistência hospitalar, continuariam a ser remunerados por procedimento, embora

com um sistema mais rigoroso (BRASIL, 1996).

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Radis (1997) observa que, não obstante a crise do financiamento setorial, o Governo

Fernando Henrique Cardoso, nessa época, estabelece que 1997 foi o ano da saúde no Brasil,

comprometendo-se com a mudança do modelo de atenção através do PSF, e apresentando a

proposta de ampliação de 847 para 3.500 Equipes de Saúde da Família (ESF). Foi implantado

o PAB, isto é, um valor per capita, que somado às transferências estaduais e aos recursos

próprios dos Municípios deverá financiar a atenção básica da saúde, acrescido de uma parte

variável destinada ao incentivo de Ações Básicas de Vigilância Sanitária, PACS (Programa de

Agentes Comunitários de Saúde), PSF e Programa de Combate às Carências Nutricionais.

Singer (2002) comenta que, durante a gestão do Ministro José Serra, foi estabelecida

a meta de implantação de 20.000 ESF até 2002, devendo chegar a alcançar 17.000 equipes e

uma cobertura de cerca de 50 milhões de usuários do SUS. Nesse período, afirma ele, foi

aprovada a Lei 9.656 de 03 de junho de 1998 que dispõe sobre os planos e seguros privados

de assistência à saúde. Esta lei, que passou a regular a Assistência Médica Supletiva (AMS),

possibilitava, originalmente, as seguintes providências: abertura da participação de grupos

estrangeiros no mercado nacional; atribuição da regulamentação dos planos privados de

assistência à saúde ao Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP); definição da

Superintendência de Seguros Privados (Susep) como ente regulatório; criação de um pacote

mínimo na assistência à saúde e mecanismos para controlar a seleção de risco pelas

operadoras; proibição de exclusão por idade, deficiência física; limites para exclusão de

doenças e lesões preexistentes; garantia do usufruto.

2.1 Origem do Programa Saúde da Família

A história do PSF tem início quando o MS formula o PACS em 1991. A partir daí

começou-se a enfocar a família como unidade de ação programática de saúde e não mais (tão

somente) o indivíduo (VIANA e DAL POZ, 1998).

Por volta de 1993, o MS (gestão Henrique Santillo) iniciou a implantação do PSF no

Brasil, através da Portaria n° 692. A referida Portaria veio como resposta e normalização ao

documento elaborado pelo MS no qual se observa:

o Programa Saúde da Família (PSF), tem como propósito, colaborar decisivamente na organização do Sistema Único de Saúde e na Municipalização, na Integralidade e participação da comunidade. Atenderá prioritariamente os 32 milhões de brasileiros incluídos no Mapa da Fome do IPEA, expostos a maior risco de adoecer e morrer e, na sua maioria, sem acesso permanente aos serviços de saúde (VASCONCELLOS, 1998, p.35).

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O Ministério da Saúde criou, em 1994, o PSF. Seu principal propósito: reorganizar a

prática da atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional, levando a saúde

para mais perto da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros (BRASIL,

2000a,b).

Em janeiro de 1994, formaram-se as primeiras equipes de Saúde da Família,

incorporando e ampliando a atuação dos ACS (BRASIL, 2000b). Tal processo se consolidou

em março de 1994, quando o mecanismo de financiamento do PACS se inseriu no pagamento

por procedimentos operados pelo SUS, ou seja, a tabela do Sistema de Informação

Ambulatorial (SAI/SUS).

Cabe assinalar que o êxito do PACS impulsionou a formação do PSF, levando ao

primeiro documento do programa, com a data de setembro de 1994 (VIANA e DAL POZ,

1998).

Campos (1989), ao descrever o SUS, aponta que nesta alternativa de modelo

assistencial, o mercado não seria o principal critério para organizar e distribuir serviços, mas o

planejamento, realizado não a partir do poder aquisitivo das pessoas mas de suas necessidades

demandadas. Dessa forma, o atendimento seria universal.

A estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da

saúde das pessoas, de forma integral e contínua. O atendimento é prestado na unidade básica

de saúde ou no domicílio, pelos profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares de

enfermagem e ACS) que compõem as equipes de Saúde da Família. Assim, esses

profissionais e a população acompanhada deveriam criar vínculos de co-responsabilidade, o

que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde da comunidade.

O Ministério da Saúde (2000d) vem estimulando a ampliação do número de equipes

de Saúde da Família no Brasil. E, para isso, é fundamental a mobilização das comunidades e

dos prefeitos, pois só assim, os municípios poderão oferecer um atendimento à saúde, com

mais qualidade e conseqüentemente, as políticas públicas municipais serão mais eficazes.

O objetivo do Programa é reverter o modelo assistencial hegemônico

predominantemente curativo, hospitalocêntrico voltado para a doença para um modelo que

trabalha a saúde como um indicador de qualidade de vida. Propõe, portanto, organizar a

Atenção Básica a partir das ações de promoção, prevenção de agravos sem, contudo, deixar de

prestar assistência às pessoas que adoecem. Preconiza o acesso universal garantindo o fluxo

dos usuários pelos diferentes níveis de atenção, através de um sistema de referência e contra-

referência estabelecido e pactuado no Plano Diretor Regionalizado (PDR) estadual.

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O PSF veio reforçar os princípios estabelecidos na Constituição Brasileira de 1988 e

contribuir na consolidação do SUS, quais sejam: integralidade, eqüidade, universalidade e a

participação popular. São ainda princípios operacionais do Programa: a descrição da clientela,

a territorialização, o trabalho em equipe multiprofissional, intersetorialidade, planejamento

local e situacional das atividades a serem realizadas pelas equipes que integram o PSF.

2.2 Reforma Sanitária brasileira

Fazendo uma retrospectiva na história da reforma sanitária, tem-se que o nascimento

da saúde pública no Brasil tem seu início na transição do século XIX para o século XX, no

período compreendido entre o fim da monarquia e o início da República Velha.

Nesta época, os governantes desencadearam um processo de elaboração de normas e

organizações sanitárias e de mudança nas práticas dominantes até então. Ficou conhecido

como sanitarismo campanhista, foi marcante nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo, visou

principalmente sanear os espaços de circulação das mercadorias exportáveis e predominou até

meados dos anos 60 (ANDRADE, 2000).

Na década de 20 surgem, em meio ao início do período da industrialização, no Brasil,

as Caixas de Aposentadoria e Pensões, que foram substituídas pelos Institutos de

Aposentadoria e Pensões, na década de 30, e, mais tarde, na década de 60, foram unificados

para criar o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social. Esta situação é

considerada um marco administrativo nas políticas de saúde pública no Brasil de 1923 a 1975,

período em que é possível evidenciar a duplicidade assistência/previdência, caracterizada pelo

privilégio exercido pela prática médica curativa, individual, assistencialista e especializada,

em detrimento da saúde pública, bem como “o desenvolvimento de um sistema que priorizava

a capitalização da medicina e a sua produção privada” (MARTINS JÚNIOR et. al., 2000, p.

1). Já na década de 70, mais precisamente em 1975, foi editada a Lei 6.229/75 com a

finalidade de organizar o Sistema Nacional de Saúde e estabelecer competências nas distintas

esferas de governo. Com essas mudanças, o governo federal passou a centralizar as ações

coletivas de saúde que passou a ser competência exclusiva do Ministério da Saúde e sob a

competência, ou seja, sob a responsabilidade do Ministério da Previdência e Assistência

Social as ações individuais na área de assistência social e previdenciária. Alguns setores da

sociedade civil e da comunidade acadêmica desfecharam críticas a essa nova política de saúde

pública, que centralizava e concentrava poder de decisão no governo federal.

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Ao analisar essa nova concepção de políticas voltadas ao setor de saúde no Brasil, no

período de 1974 a 1975, Luz (1991, p. 81) explica que: “a centralização e a concentração do

poder institucional deram a tônica dessa síntese, que aliou campanhismo e curativismo numa estratégia

de medicalização sem precedentes na história do país.”

Já na década de 80, principalmente a partir de 1985, no interior do processo de

redemocratização do país, deu-se o nascimento de um considerável movimento de múltiplos

atores políticos, denominado Movimento da Reforma Sanitária.

O grande marco histórico nesse processo foi, sem dúvida alguma, a VIII Conferência

Nacional de Saúde, em março de 1986, que contou com a participação de diversos setores

organizados da sociedade e na qual houve um consenso de que para o setor da saúde no Brasil

não era suficiente uma mera reforma administrativa e financeira, mas sim uma mudança em

todo o arcabouço jurídico-institucional vigente, que contemplasse a ampliação do conceito de

saúde segundo os preceitos da reforma sanitária. Nesta Conferência, foi formulado e editado

um relatório sobre atenção básica à saúde que serviu de embasamento para os constituintes

elaborarem o texto constitucional sobre “direitos e garantias coletivas e individuais (educação,

saúde, lazer, trabalho, moradia, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à

infância) explícitos19 na Constituição de 1988” (ANDRADE et. al., 2000, p. 3).

Após a VIII Conferência Nacional da Saúde, foram criados vários mecanismos para

fortalecer iniciativas locais (municipais e distritais) com a finalidade de aprimorar o modelo

assistencial do SUS. No entanto, o mecanismo que obteve maior sucesso e efetividade na sua

aplicação foi o PSF que funciona como estratégia da organização da atenção básica à saúde,

articulando, através das equipes multiprofissional, nas comunidades os preceitos de ação local

e integral com os princípios básicos do SUS (BRASIL, 1996).

Outro ponto considerado importante na Norma Operacional Básica – NOB 01/96 é o

novo conceito de saúde, o qual é mais abrangente inscrito no texto constitucional. A partir

desse novo conceito de saúde, o debate sobre promoção da saúde tem sido promovido com

mais freqüência nos Congressos, Conferências e Seminários sobre saúde (promoção e

prevenção) voltados à atenção básica.

De acordo com Ministério da Saúde (2003), 156 milhões de habitantes estão sob a

responsabilidade do SUS. Desse número, 41 milhões de pessoas são beneficiárias, ou por

seguro saúde, pensões e aposentadorias. Paralelo a isso, o SUS responde diretamente por 80%

da rede de atenção primária e secundária de saúde no Brasil. Nesse percentual, inclui-se o PSF

19 Art. 6º da Constituição Federal de 1988.

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o que torna a rede de atenção à saúde no Brasil, bastante complexa ao promover um

alargamento do Estado ao invés da tendência de construção do Estado mínimo observada em

outros setores (ANDRADE et. al, 2000).

Dentro dessa complexidade administrativa estão vários desafios a serem enfrentados,

mas, o maior de todos eles é a desigualdade social brasileira com 50 milhões de pessoas

vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo a Fundação Getúlio Vargas (2005), o que

representa 29,3% da população que ganha (e sobrevive) com menos de R$80,00/per capta,

como renda mensal (FGV, 2005).

Com a descentralização do sistema de saúde no Brasil e com a implantação do PSF,

que gerou a municipalização da atenção básica, evidenciou-se um grave problema de ordem

qualitativa e quantitativa relacionado com os recursos humanos do setor da saúde,

principalmente no que se refere à falta de capacitação e formação de profissionais de saúde

(ANDRADE et. al., 2000). Isso pôde ser constatado durante a pesquisa para este trabalho.

Não existem cursos específicos que capacitem os profissionais da saúde que atuam nos PSFs.

Contudo, vale destacar que pesquisas no setor de saúde vêm sinalizando que o Brasil

vive um dos mais importantes processos de descentralização e municipalização no setor de

saúde, mesmo convivendo com deficiências no atendimento primário e secundário da atenção

básica evidenciado por vários fatores, tais como a falta de capacitação dos profissionais da

saúde em geral, recursos com má administração, são fatores que detectamos durante a

pesquisa nos PSFs objetos deste estudo. Os princípios basilares do SUS e os princípios

doutrinários do PSF, que por sua vez estão implícitos no texto Constitucional, ainda carecem

de efetiva aplicabilidade.

2.3 Princípios doutrinários e organizativos do Sistema Único de Saúde

2.3.1 Eqüidade

 

Cordeiro (2001) ressalta que o princípio da eqüidade assegura que a disponibilidade

dos serviços de saúde considere as diferenças entre os diversos grupos de indivíduos. Em

linhas gerais, eqüidade significa “tratar desigualmente os desiguais”, ou seja, alocar recursos

onde as necessidades são maiores.

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2.3.2 Integralidade da ação

 

De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 1990c, p.3), “o homem é um ser

integral, biopsicosocial, e deverá ser atendido com esta visão integral por um sistema de saúde

também integral, voltado a promover, proteger e recuperar sua saúde”.

Sobre integralidade, Pinheiro e Mattos (2001, p.39) observam que,

[...] numa primeira aproximação, que é uma das diretrizes básicas do SUS, instituído pela Constituição de 1988. De fato, diz ele, o texto constitucional não utiliza a expressão integralidade; ele fala em ‘atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.20 Mas, o termo integralidade tem sido utilizado para designar exatamente essa diretriz.

É importante destacar que, dentro desse contexto de integralidade, de acordo com o

texto constitucional, entende-se que deveria caber ao Estado a tarefa e o dever de garantir a

todos, a saúde, através de políticas públicas efetivas e eficazes, com base nas divergências

sociais e econômicas do Brasil, políticas essas voltadas para “a redução do risco doença e de

outros agravos, quanto ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação” (PEREIRA, 2003, p. 35).

É nessa perspectiva que a Lei Maior Brasileira de 1988 reconhece a relevância

pública das ações e serviços de saúde, e traça as diretrizes básicas para a saúde, delineando,

por conseguinte, o Sistema Único de Saúde, no qual, sem nenhum tipo de problema,

instituições privadas também podem participar, e, que acredita-se ser de extrema importância,

como fonte de tecnologia, conhecimentos, que poderiam ser agregados ao SUS,

conseqüentemente ao PSF. O que falta hoje no Brasil é essencialmente a integralização de

todos.

2.3.3 Regionalização e a hierarquização

 

Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 1990c), o princípio da regionalização

estabelece sua operacionalização a partir de uma lógica organizativa centrada nos distritos

sanitários.

20 Constituição Federal de 1988, art. 198.

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De acordo com o parágrafo 2o. do art. 10, da Lei 8080/90, “no nível municipal, o

Sistema Único de Saúde poderá organizar-se em distritos de forma a integrar e articular

recursos, técnicas e práticas voltadas para a cobertura total de saúde”.

Com referência à hierarquização, de acordo com Botazzo (1999), tem como base a

concepção da unidade básica de saúde (UBS) como “porta de entrada” do sistema. Segundo

ele, para a maior parte dos pesquisadores da área de Saúde Coletiva, a rede básica responderia

pela resolução de 80% dos problemas a ela demandados, sendo o restante referido ao sistema

de atenção secundária e terciária.

2.3.4 Controle social

O Ministério da Saúde (1990c) afirma que o controle social, outro dos princípios

fundantes do SUS, foi, sem dúvida, a corporificação do processo de redemocratização

brasileira dentro das políticas públicas. A participação popular foi um dos princípios

constitucionais mais combatidos após a aprovação da Constituição Federal de 1988, uma vez

que os artigos relativos aos seus detalhamentos na Lei 8080 (arts. 11 e 42) foram vetados pela

Presidência da República, cujo Presidente era José Sarney.

De acordo com Ramos (1996), o SUS, de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro

de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do poder legislativo,

com as seguintes instâncias colegiadas:

I – a Conferência de Saúde ;

II – o Conselho de Saúde.

Os Conselhos de Saúde, estabelecidos em níveis federal, estadual e municipal, com

participação paritária de usuários, tornaram-se instâncias de participação popular de caráter

deliberativo sobre os rumos das políticas de saúde nas três esferas de governo.

2.3.5 Universalidade da atenção

 

Paim (1986) defende a idéia de saúde como um direito de cidadania, sendo esse

direito resgatado como noção básica para formulação de políticas. Esta se justifica na medida

em que não se confunda o direito à saúde, com o direito aos serviços de saúde, ou mesmo,

com o direito à assistência médica.

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O reconhecimento da saúde como um direito de cidadania, que expressa a qualidade

de vida, implica mudanças nos serviços de saúde e na atuação do profissional de saúde. Este

precisa incluir, em sua rotina de trabalho, ações que estreitem a relação entre a equipe de

saúde e a comunidade. É preciso intervir sobre os fatores de risco a que a população está

exposta. Tal empenho demanda ações em interação com os recursos que a comunidade dispõe

e os serviços públicos locais. Esse trabalho precisa ser organizado passo a passo. Na primeira

etapa deverá ser avaliada a necessidade de atenção de grupos específicos; a segunda é

estabelecer prioridades de saúde e a terceira é elaborar intervenções para promoção, proteção

ou recuperação da saúde (GONÇALVES, 2004).

O perfil de saúde de uma coletividade depende de condições vinculadas à própria

estrutura da sociedade, e a manutenção do estado de saúde requer a ação articulada de um

conjunto de políticas sociais mais amplas, relativas a emprego, salário, previdência, educação,

alimentação, ambiente, lazer e etc.

2.3.6 Descentralização

A descentralização, outro princípio básico do SUS, uma vez que garantiria a

participação e controle social de forma mais efetiva, e romperia com a centralização das

políticas governamentais, característica marcante do período da ditadura militar no período de

1964 a 1985 (SILVA e RODRIGUES, 2000, p. 2-3).

Segundo Cordeiro (2001, p. 34), a descentralização da saúde nada mais é do que uma

redistribuição das responsabilidades quanto às ações e aos serviços de saúde entre os vários

níveis de governo, federal, estadual e municipal. Dessa forma, a estratégia fundamentação da

descentralização passa a ser a municipalização da assistência à saúde.

2.4 Princípios Básicos do Programa Saúde da Família

De acordo com o Ministério da Saúde (1994), a estratégia do PSF incorpora e

reafirma os princípios básicos do SUS - universalização, descentralização, integralidade e

participação da comunidade - e está estruturada a partir da Unidade Básica de Saúde da

Família, que trabalha com base nos seguintes princípios:

a) Caráter substitutivo

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O PSF não significa criação de novas unidades de saúde, exceto em áreas totalmente

desprovidas das mesmas. Implantá-lo significa substituir as práticas tradicionais de

assistência, com foco nas doenças, por um novo processo de trabalho comprometido com a

solução dos problemas de saúde, a prevenção de doenças e a promoção da qualidade de vida

da população.

b) Integralidade e hierarquização

A Unidade de Saúde da Família está inserida no primeiro nível de ações e serviços do

sistema local de assistência, denominado atenção básica. Deve estar vinculada à rede de

serviços, de forma que se garanta atenção integral aos indivíduos e famílias e que sejam

asseguradas a referência e a contra-referência para clínicas e serviços de maior complexidade,

sempre que o estado de saúde da pessoa assim exigir.

c) Territorialização e cadastramento da clientela

A Unidade de Saúde da Família trabalha com território de abrangência definido e é

responsável pelo cadastramento e o acompanhamento da população vinculada (adstrita) a esta

área. É preconizado pelo MS (1994) que uma equipe seja responsável por, no máximo, 4.500

pessoas, entorno de 1.000 famílias por área; sendo que cada ACS fica responsável por uma

microárea constituída por 250 famílias, aproximadamente 750 pessoas, considerando a média

familiar de 3 componentes. Cada família cadastrada deve ser visitada mensalmente pelo ACS

responsável, salvo se, em casos previamente agendados, para fazer curativos diários, fazer

controle mais freqüentes dos hipertensos e diabéticos considerados mais crônicos e, outros

casos que necessitem de visita diária, geralmente recomendada pelo médico da equipe.

Para tanto, existe o cadastramento, que, ocorre na primeira visita dos ACS às famílias

de cada microárea, da seguinte maneira: num primeiro momento identifica-se o grupo familiar

– número de pessoas adultas, número de crianças e número de idosos; verifica-se se existe

algum dos componentes da família portador de alguma doença, como hanseníase, tuberculose,

DST (Doença Sexualmente Transmissível), hipertensos ou diabéticos; verifica-se o grau de

escolaridade dos membros da família; renda familiar; condições de moradia (se existe água

potável na casa, se casa é própria), enfim, são verificadas as condições de moradia; se as

crianças vão à escola. No entanto, para que essa família seja cadastrada é preciso ter anuência,

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isto é, o consentimento dos principais membros da família, que potencialmente será assistida

pelo PSF.

d) Equipe multiprofissional

Cada equipe do PSF é composta, no mínimo, por um médico, um enfermeiro, um

auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde (ACS). Outros

profissionais - a exemplo de dentistas, assistentes sociais e psicólogos - poderão ser

incorporados às equipes ou formar equipes de apoio, de acordo com as necessidades e

possibilidades locais. A Unidade de Saúde da Família pode atuar com uma ou mais equipes,

dependendo da concentração de famílias no território sob sua responsabilidade.

2.5 Programa Saúde da Família de Minas Gerais

No estado de Minas Gerais, a cobertura do PSF já atinge quase a sua totalidade, a

partir de 1994, quando da implantação do programa no Brasil. Vale dizer que Minas Gerais

foi um dos primeiros estados da federação a implantar o programa, conforme demonstrado na

Figura 2. Figura 2: Número de equipes nos PSFs do Estado de Minas Gerais

0

5000

10000

15000

20000

25000

nº de

equip

es

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2004 2005

Período

Fonte: DATASUS – Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, 2005.

 

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Observa-se no gráfico que o número de equipes evoluiu quase que em 50% a cada

ano, tendo sido levemente retração entre 2002 e 2005. Mesmo assim, é crescente o número de

equipes, o que conseqüentemente aumenta o número de PSFs. Mas, vale registrar que os

atendimentos nessas unidades básicas de saúde apresentam certa precariedade em relação a

profissionais, medicamentos básicos, material de curativos essenciais.

Minas Gerais possui 853 (oitocentos e cinqüenta e três) municípios com

aproximadamente 19,2 milhões de habitantes situando-se na região sudeste do país,

considerado o terceiro estado mais rico do país, concentrando suas atividades econômicas,

predominantemente no cultivo do café, algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, soja,

milho, trigo, cana de açúcar e tomate e na produção animal, o bovino, a cultura leiteira, a

pecuária de corte, o suíno e a avicultura de corte. A produção de indústrias de transformação

se refere a material elétrico, comunicação, produtos alimentares, perfumarias, sabões e velas,

minerais não metálicos, vestuário, calçados, couros, peles, mobiliário, fumo, metalurgia

química, produtos de materiais plásticos, bebidas, têxtil, papel, papelão e celulose.

O estado de Minas Gerais é o terceiro estado mais rico da Federação, atrás de São

Paulo e Rio de Janeiro, com um Produto Interno Bruto (PIB) de 166,6 bilhões de reais de

acordo com IBGE (2004). A estrutura econômica do Estado apresenta um equilíbrio entre os

setores industrial e de serviços, responsáveis respectivamente por 45,4% e 46,3% do PIB de

Minas Gerais, enquanto a agropecuária contribui com apenas 8,3%. (IBGE, 2004)

O PSF foi implantado em Minas Gerais assim como no Brasil no ano de 1994, por

definição do Governo Federal e adesão do Governo Estadual. Minas Gerais iniciou,

primeiramente com 12 municípios e 54 equipes. Em 1995, o PSF passou a fazer parte da

política oficial do Governo do Estado de Minas Gerais como uma estratégia para a

organização da Atenção Básica.

O PSF é financiado com recursos dos três níveis de Governo: Ministério da Saúde,

do Estado e do Município. Minas Gerais foi o primeiro Estado da Federação a instituir por Lei

o Incentivo Financeiro para a implantação de equipes do Programa, a chamada Lei Robin

Hood, de nº 12040/95, alterada pela Lei nº 122.428/96.

Atualmente no estado de Minas Gerais, o PSF já está presente em 823 municípios

(96%) e conta com uma abrangência de atendimento de 63% da população.21

21 Todos os dados acima foram extraídos do site www.amn-mg.org.br, acesso em 23 de janeiro de 2008.

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A tabela 8 mostra o grau de cobertura, por regiões do Brasil, em relação à população,

com número de beneficiários, população e o índice de cobertura, em destaque a região sudeste

abrangendo o estado de Minas Gerais.

Tabela 8: Grau de cobertura: percentual de beneficiários em relação à população cadastrada

Região Beneficiários População Grau de cobertura (%) Sudeste 27.513.236 79.633.696 39,0 Sul 12.249.664 27.357.275 50,9 Centro Oeste 6.202.459 13.501.615 59,1 Nordeste 35.127.207 52.121.727 80,5 Norte 6.610.998 15.591.792 77,3 UFs não identificadas

215 - -

Total 188.206.105 56,8 Fonte: Ministério da Saúde – Departamento de Atenção Básica / SAS, novembro/2007.

A tabela 8 demonstra o número de pessoas beneficiadas pelos PSF e a população

cadastrada no período de janeiro a novembro de 2007, dando uma visão geral da atuação do

PSF em todo território nacional. Já a tabela 9 abaixo demonstra os dados apenas do estado de

Minas Gerais.

Tabela 9: Grau de cobertura: percentual de beneficiário em relação à população cadastrada no estado de Minas

Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Estados Visitas

domiciliares realizadas pelos

ACS

Beneficiários População Grau de cobertura (%)

Minas Gerais

12.306.298

11.631.011

19.520.171

59,6

São Paulo 11.546.820 9.903.810 41.074.072 24,1

Rio de Janeiro

4.784.101 4.377.805 15.567.373 28,1

Espírito Santo

2.407.006 1.600.610 3.472.080 46,1

Total 31.044.225 27.513.236 79.633.696 34,5

Fonte: Ministério da Saúde – Departamento de Atenção Básica / SAS, novembro/2007.

Observa-se que nos dados extraídos da Secretaria de Estado da Saúde de Minas

Gerai, o percentual de cobertura divulgado é de 63% da população contra 59,6% de cobertura,

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dados extraídos do DATASUS (2007). Os 63% referem-se ao período de 2007 a janeiro de

2008 e os 63% referem-se somente até novembro de 2007. Acredita-se que esta diferença

(3,4%) está nos períodos analisados pelas diferentes instituições.

No capítulo III, serão apresentados dados sobre o PSF em Muriaé. Nesses dados,

constarão números de equipes, número de famílias atendidas, condições de moradia entre

outros. Ainda serão demonstradas as representações e práticas dos profissionais de saúde em

relação à saúde das comunidades assistidas.

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CAPÍTULO III

PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA EM MURIAÉ: DA PROPOSTA A PRÁTICA

O Departamento de Atenção Básica (DAB) descreve o PSF como sendo uma

estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS (BRASIL, 2002, p.3).

Essa estratégia é referida a partir de um projeto dinamizador do SUS, condicionada

pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. Iniciado em 1994, o PSF

tem cada vez mais alcançado mais municípios por todo o território nacional nos últimos anos.

Para que o programa e sua operacionalização tenham êxito e cumpra com suas metas

e objetivos, é preciso que tenha suas bases sustentadas por um processo que permita a

substituição efetiva da rede básica de serviços tradicionais, antes implantados nos municípios

brasileiros pela capacidade de produção de resultados positivos na saúde e na qualidade de

vida da população assistida (BRASIL, 2006).

A Saúde da Família como estratégia dos sistemas municipais de saúde tem, de certa

forma, reordenado o modelo de atenção no SUS, buscando maior racionalidade na utilização

dos demais níveis assistenciais e, com isso, tem sido alcançados resultados positivos nos

principais indicadores de saúde das populações assistidas às equipes saúde da família,

segundo o próprio Ministério da Saúde – Departamento de Atenção Básica (2002).

Em outras palavras, quanto ao PSF, o objetivo principal era descentralizar a saúde,

ou seja, desafogar os hospitais da rede estadual e municipal, principalmente, nos atendimentos

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assistenciais a nível ambulatorial. O dia-a-dia mostra que o programa em Muriaé tem sido

bastante atuante através de suas equipes de saúde. Entretanto, tem-se observado que o

crescimento populacional do município, a deficiência de profissionais qualificados e a

burocracia na contratação desses profissionais têm dificultado um pouco os resultados

esperados.

O PSF no município de Muriaé cumpre um atendimento unificado, determinado pelo

Ministério da Saúde, o que significa dizer que todas as equipes do programa de Norte a Sul do

país têm responsabilidades respeitando uma hierarquia, uma vez que toda a verba do

programa é gerado pelo governo federal. Essas responsabilidades estão determinadas da

seguinte maneira: em âmbito federal: o governo federal através de seus gestores de saúde

coletiva – atenção básica à saúde é responsável por: elaborar as diretrizes da política nacional

de atenção básica; co-financiar o sistema de atenção básica; ordenar a formação de recursos

humanos; propor mecanismos para a programação, controle, regulação e avaliação da atenção

básica; manter as bases de dados nacionais através do DATASUS que engloba todas as bases

de dados federais, estaduais e municipais em relação à atenção básica à saúde. Em âmbito

estadual, os governos estaduais são responsáveis pelo acompanhamento da implantação e

execução das ações de atenção básica em seu território; regulamentação das relações inter-

municipais; coordenação da execução das políticas de qualificação de recursos humanos em

seu território; co-financiar as ações de atenção básica e no auxilio da execução das estratégias

de avaliação da atenção básica em seu território. Em âmbito municipal, todos os municípios

são responsáveis pela definição e implantação do modelo de atenção básica em seu território;

contratar os trabalhos em atenção básica, ou seja, profissionais, laboratórios e outros serviços

necessários ao bom funcionamento dos postos de saúde que abrigam os PSFs; manter a rede

de unidades básicas de saúde em funcionamento (gestão e gerência); co-financiar as ações de

atenção básica; alimentar os sistemas de informação e avaliar o desempenho das equipes de

atenção básica sob sua supervisão (BRASIL, 1994a).

É importante explicar a expressão co-financiar. As verbas são geradas e distribuídas

pelo governo federal que envia para os governos estaduais e que por sua vez repassa para os

municípios e esses têm a responsabilidade de gerenciar essas verbas destinando-as apenas

para o setor de saúde no município. No entanto, os governos estaduais e municipais também

têm que destinar um percentual de suas receitas para o PSF, cumprindo assim parte de suas

responsabilidades determinadas pelo Ministério da Saúde. Por isso a expressão co-financiar

(BRASIL, 1994).

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3.1 Programa Saúde da Família em Muriaé-MG

A operacionalização do PSF, segundo sua regulamentação, mais especificamente a

partir da NOB 01/96, é editada. Em novembro de 1996, após a sua publicação, passaram a

existir duas modalidades de gestão municipal, a plena de atenção básica e a plena do sistema,

mas as principais características da nova Norma Operacional foram o incremento do repasse

fundo a fundo (direto do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Municipais de Saúde) e a

criação da modalidade de pagamento com base populacional, com a criação do Piso

Assistencial Básico (PAB) (GONÇALVES, 2004).

Ressalta-se a operacionalidade do programa, antes de sua implantação, atentando

para duas preocupações: a) adequar às diversidades sociais, econômicas e políticas locais,

mantendo os seus princípios e diretrizes fundamentais; b) o impacto nas condições de saúde

da população mais carente deve ser tratado de maneira que seja favorável à essa população,

uma vez que cada comunidade tem seus hábitos e costumes locais. É dessa forma que o

programa constitui em uma estratégia que,

prioriza as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, do recém nascido ao idoso, sadios ou doentes, de forma integral e contínua. Tendo como objetivo a reorganização da prática assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência, orientado para a cura de doenças e no hospital. A atenção está centrada na família, entendida e percebida a partir do seu ambiente físico e social, o que vem possibilitando às equipes de saúde uma compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que vão além de práticas curativas (BRASIL, 2000c, p. 3).

Com base nessa disposição legal que a implantação do programa deve centrar-se em

conhecer e reconhecer a realidade das famílias que serão assistidas e, por conseguinte, estarão

sob a responsabilidade do PSF. Essa realidade será identificada por meio do cadastramento

dessas famílias e do diagnóstico de suas características sociais, demográficas e

epidemiológicas. Outro ponto que deverá ser considerado é a identificação dos problemas de

saúde prevalentes na comunidade e situações de risco às quais a população está exposta. Esse

ponto é de extrema importância, pois, durante as pesquisas realizadas nos bairros do Porto,

Aeroporto e Santa Terezinha, puderam-se observar os riscos a que essas comunidades estão

expostas, como por exemplo, o alto grau de alcoolismo, prostituição (inclusive infantil), alto

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nível de desemprego e drogas. Essas comunidades convivem diariamente com a grande

violência que se instalou nesses bairros.

Dentro dessas perspectivas, é oportuno apresentar neste trabalho os dados que

mostram a realidade da saúde da população do município de Muriaé, tendo o PSF, como

objeto deste trabalho, sendo que, foram pesquisados os PSFs previamente escolhidos, na zona

urbana. Vale ressaltar que num primeiro momento, houve a intenção de pesquisar também

dois PSFs na zona rural, mas não foi possível, por problemas meramente administrativos.

3.1.1 Equipes de saúde no município de Muriaé

Como colocado anteriormente, é determinação do PSF que as equipes sejam

compostas por (1) um médico, (1) enfermeira, (1) auxiliar de enfermagem e (5) ACS,

formando uma equipe multiprofissional. Atualmente as equipes vêm sendo gradativamente

ampliadas com dentista22, um técnico em higiene bucal, um fisioterapeuta, um assistente

social e em alguns casos, com um nutricionista.

A tabela 10 mostra o número de equipes do PSF existentes no município, número de

agentes comunitários da saúde, o número referente à população assistida, índice de cobertura,

número de famílias e pessoas assistidas pelos PSFs.

Tabela 10: PSFs em Muriaé

1 Número de equipes 24 2 Número de ACS 122 3 População 94.368 4 Cobertura 73,3% 5 Número de pessoas atendidas 58.944 6 Número de famílias cadastradas 16.773

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Muriaé, janeiro de 2007.

Acredita-se que o número de equipes revelado pela pesquisa é baixo em relação à

população do município (94.368 habitantes/residentes) e a quantidade de bairros que abrigam

populações de baixa renda, inclusive em situação de risco, ou seja, famílias que moram em

áreas de encostas, às margens de córregos contaminados e áreas alagadiças.

22 Os serviços odontológicos foram inseridos no PSF pelas Portarias Ministeriais 1.444, de 28/12/2000, e 267 de 29/09/2001.

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Nesse cenário, atuam os ACS “tem se revelado o ator mais intrigante no que se refere

à relação de trocas estabelecidas entre saberes populares de saúde e saberes médicos-

científicos”. Um dos requisitos básicos para sua contratação do ACS é que seja residente na

comunidade para facilitar o relacionamento médico-comunidade, além de representar um

“elo” indispensável nesta relação. O ACS conhece a realidade da comunidade, detém a

mesma linguagem, conhece os hábitos e costumes de sua comunidade, o que facilita essa

relação. Assim, “ele conquista um status, pois é ele que vincula as contradições e, ao mesmo

tempo, a possibilidade de um diálogo entre esses dois saberes e práticas” (GONÇALVES,

2004, p.63).

Em Muriaé, como em todos os municípios, cada equipe se responsabiliza pelo

acompanhamento de cerca de 3 mil a 4.500 mil pessoas ou de mil famílias, divididas por área

e micro áreas, mapeadas dentro da comunidade. Cada ACS faz 10 visitas domiciliares por dia

de trabalho. Em média, cada ACS é responsável por 250 famílias nas micro-áreas por eles

assistidas.

A atuação das equipes não se prende apenas às unidades básicas de saúde (PSF), mas

também nas residências, o que lhes dá várias características: como porta de entrada de um

sistema hierarquizado e regionalizado de saúde; por ter território mapeado, com uma

população delimitada, sob a sua responsabilidade; por intervir sobre os fatores de risco aos

quais a comunidade está exposta; por prestar assistência integral, permanente e de qualidade;

por realizar atividades de educação, prevenção e promoção da saúde.

Além dessas características, as equipes estabelecem vínculos de compromisso com a

população; estimula a organização das comunidades para exercer o controle social das ações e

serviços de saúde; utiliza sistemas de informação para o monitoramento e a tomada de

decisões23; atua de forma intersetorial, por meio de parcerias24 estabelecidas com diferentes

segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situações que transcendem a

especificidade do setor saúde e que têm efeitos determinantes sobre as condições de vida e

saúde dos indivíduos-famílias-comunidade.

23 Esse monitoramento é feito diariamente através de dados compilados no sistema do SIAB (Sistema de Informação de Atenção Básica do Ministério da Saúde), através de preenchimento do consolidado, que é um relatório detalhado de todas as ocorrências do dia tanto no PSF (interno) como nas visitas domiciliares. Por este documento, é possível monitoras todas as famílias assistidas, bem como seus membros. 24 Essas parcerias geralmente são feitas com empresários do setor farmacêutico, laboratórios de análises clinicas, hospitais particulares, clínicas de fisioterapias, clínicas odontológicas, instituições asilares até mesmo com médias e grandes redes de supermercados. Esclarecendo que estes últimos contribuem com leite em pó para crianças desnutridas, cestas básicas e em sua maioria com materiais de higienização das residências.

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3.1.2 Agentes Comunitários de Saúde

O Programa de Agentes Comunitários de Saúde é hoje considerado parte da Saúde da

Família. Nos municípios onde há somente o PACS, este pode ser considerado um programa

de transição para a Saúde da Família. No PACS, as ações dos ACS são acompanhadas e

orientadas por um enfermeiro/supervisor lotado em uma unidade básica de saúde.

Vale ressaltar que a população assistida pelo PSF nos bairros objetos deste estudo,

inscreve-se num quadro de carências e precariedade, seguindo a tendência já, por vezes,

constatada, em estudos extensivos de avaliação do PACS. Isso porque, a formação do agente

comunitário de saúde não pode prescindir da combinação de conteúdos que os habilitem para

o reconhecimento da “dinâmica social da comunidade, suas disponibilidades e necessidades –

que podem ser considerados pontos cegos” (NUNES et. al., 2002, p. 3).

Os agentes comunitários de saúde podem estar inseridos em duas situações distintas

em relação à rede do SUS: a) ligados a uma unidade básica de saúde ainda não organizada na

lógica da Saúde da Família, e b) ligados a uma unidade básica de Saúde da Família como

membro da equipe multiprofissional. Atualmente, encontram-se em atividade no país 204 mil

ACS acompanhando cerca de 85 milhões de pessoas, em 5 mil municípios, ou seja, a cada 2,5

brasileiros, um recebe a visita periódica de uma ACS (Brasil, 2006), estando presentes tanto

em comunidades rurais e periferias urbanas quanto em municípios altamente urbanizados e

industrializados.

3.1.3 Panorama da saúde em Muriaé

Como se trata neste estudo sobre saúde e meio ambiente, acredita-se ser pertinente a

demonstração de dados sobre saúde no município para que se pudesse ter um “retrato” do

município, bem como as doenças e da real condição de moradia das famílias assistidas pelos

PSFs locais. Para tanto, utilizaram-se dados do Ministério da Saúde, extraídos na base de

dados do Datasus-MS. Ressalta-se que esses dados podem demonstrar algumas distorções,

pois, eles não são atualizados em tempo real. Aliás, esta é uma falha do sistema. Neste

trabalho, pôde-se observar a dificuldade em conseguir dados próximos à realidade atual, no

que se refere à saúde, não só do município pesquisado, como no país.

É importante dizer que os dados sobre óbitos, observados no município de Muriaé,

no período de janeiro a dezembro de 2007, constatam uma incidência de 19,70% em relação

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aos óbitos por causas mal definidas, que estão em nível considerado elevado em relação à

média do estado de Minas Gerais 39,4% e a média nacional (53,3%) (BRASIL, 2003).25

Segundo o Ministério da Saúde, existe uma meta determinada para se atingir um

percentual de óbitos cada vez menor em todo o território nacional, por causas mal definidas,

que é de no máximo 10%. Vale informar que existe um protocolo, “Manual de Preenchimento

da Declaração de Óbito (DO) do MS e do Conselho Federal de Medicina, no qual são

divulgados índices de morbi-mortalidade do país” (Jornal do CFM, 2004/2005, p. 3). Este

protocolo, geralmente, traz os óbitos sem identificação de causa. Atualmente, isso tem-se

modificado. Os óbitos que engrossam os percentuais já têm sido mais bem trabalhados, ou

seja, as causas já estão sendo identificadas. No Hospital São Paulo de Muriaé, já existe, em

andamento, para o período de 2008, esse protocolo em que já começam a ser notificadas as

causas de mortes, principalmente de crianças, recém-nascidas, mães em período gestacional.

Esses dados são enviados para o Ministério da Saúde, os quais entram na estatística do

Manual de Preenchimento da Declaração de Óbitos.26 Tabela 11: Óbitos Óbitos Gravidez, parto e puerpério 3 Óbitos Afecções originadas no período

perinatal

5 Outros óbitos Sem causa identificada 184 Total 197 Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Tabela 12: Nascimento por residência. mãe por Microrregião

No quadro 1, conforme demonstrado, constataram-se 360 nascimentos por residência

no período de 2007.

25 Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, período de 2003. 26 Informação dada por enfermeira chefe do Hospital São Paulo.

Município: Muriaé

Período: Janeiro a dezembro de 2007

TOTAL 360

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

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Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Quadro 2 Doenças Referidas Cond. Referidas

Faixa Etária (anos) CHA ALC DEF DIA EPI HÁ HAN MAL TB Faixa GES (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) Etária (%) (anos)

0 a 14 0 3 66 9 21 5 0 0 2 10 a 19 40 0 0,02 0,41 0,66 0,13 0,03 0 0 0,01 0,58

15 anos a mais 1 418 897 1.617 205 9.003 27 0 13 20 a mais 302 0,00 0,67 1,45 2,61 0,33 14,52 0,04 0 0,02 1,04

Total 1 421 963 1.626 226 9.008 27 0 15 Total 342 Total (%) 0,01 0,54 1,23 2,08 0,29 11,53 0,03 0 0,02 Total (%) 0,95

Legenda CHA Doença de Chagas DEF Deficiências (gerais) DIA Diabetes EPI Epilepsia HÁ Hipertensão

HAN Hanseníase MAL Malária TB Tuberculose

GES Gestante Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Quadro 1: Consolidado das famílias cadastradas de 2007 da zona geral do modelo geral PSF - PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

MUNICIPIO DE MURIAÉ / MG Faixa Etária (anos)

Sexo < 1 1 a 4 5 a 6 7 a 9

10 a

14

15 a

19

20 a

39

40 a

49

50 a

59 >60 Total Masc 0 38 57 89 167 188 564 191 138 181 1.613 Fem 0 36 60 113 174 168 581 236 167 212 1.747 Nº de pessoas 0 74 117 202 341 356 1.145 427 305 393 3.360

Quadro 3: Tratamento de Água no Domicílio Número (%)

Filtração 19.652 85,85

Fervura 57 0,25

Cloração 885 3,87

Sem tratamento 2.291 10,01

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Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Fonte: SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica, período de janeiro a dezembro de 2007.

Os quadros (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9) são indicadores apresentados pelos ACS que

compõem o Relatório Anual do SIAB, denominado consolidado do PSF. Esses números são

levantados pelos ACS quando fazem visitas domiciliares para cadastrar as famílias e, nesse

cadastramento, todos esses dados são obtidos. A partir desse relatório, fica mais fácil

Quadro 4: Tipo de Casa Número (%) Tijolo/adobe 22.552 98,51 Taipa revestida 222 0,97 Taipa não revestida 102 0,45 Madeira 5 0,02 Material aproveitado 1 0,00 Outros 3 0,01

Quadro 5: Número de Famílias (%)

Número de famílias estimadas 22.967 -

Número de famílias cadastradas 22.892 99,67

7 a 14 anos na escola 8.780 82,50

15 anos e mais alfabetizados 56.487 91,09

Pessoas cobertas c/ plano de saúde 5.172 6,62

Quadro 6: Destino de Lixo Número (%) Coleta pública 21.228 92,73 Queimado/enterrado 1.189 5,19 Céu aberto 467 2,04

Quadro 7: Destino Fezes/Urina Número (%) Sistema de Esgoto 21.737 94,95

Fossa 401 1,75 Céu aberto 747 3,26

Quadro 8: Energia Elétrica Número (%)

22.741 99,34

Quadro 9: Abastecimento de Água Número (%) Rede Pública 21.248 92,82 Poço Artesiano 1.580 6,90 Outros 57 0,25

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identificar o ambiente residencial de cada família cadastrada e, conseqüentemente, seus

modos de vida, seus hábitos, seus saberes e assim por diante.

No quadro 2 foram relacionadas as principais doenças referidas no PSF – Muriaé, no

qual foi constatada a principal causa de morbidade: a hipertensão arterial (11,53%), seguida

pela diabetes (2,08%) e problemas relacionados com o alcoolismo (0,54%).

Com relação aos quadros 3, 4, 6, 7, 8, os números apresentados diferem da realidade,

pois, quando da pesquisa, nas residências das famílias cadastradas pelos PSFs pesquisados.

Observou-se que em 10,01% das residências, quando perguntado se tinham água encanada,

disseram que sim. No entanto, a água encanada vem somente até a porta da cozinha, ou nem

chega até lá. Eles puxam um cano da rede externa até um ponto no quintal e falam que tem

água encanada, mas a realidade é bem outra, ou seja, foi observado no interior dessas

residências que não tem rede hidráulica, no máximo um tanque nos fundos da casa que serve

toda a família.

Crianças pequenas tomam banho no mesmo lugar que um adulto, neste mesmo lugar

a dona da casa lava arroz, roupa e assim por diante. Não existe rede de esgoto, pois toda água

e resíduos que escoam deste tanque, corre a “céu aberto” pelo quintal, causando mau cheiro,

água suja fica represada, crianças brincam ali, põem a mão na boca, enfim, sem condições

adequadas de higiene. Observou-se que o meio ambiente daquela residência está totalmente

comprometido. Nesses casos, os ACS “fazem o que pode”, dentro do que lhes são informado

em palestras e cursos e curta duração no próprio PSF, o que os ACS chamam de “educação

continuada”.

Sobre isso Vasconcelos (2001, p. 30) diz que:

a partir de posturas como esta, tem-se assistido, em alguns locais, a emergência de novos padrões de enfrentamento dos problemas de saúde [...]. Nesse sentido, a educação em saúde deixa de ser uma atividade a mais realizada nos serviços para ser algo que atinge a diversidade de práticas aí realizadas. Passa a ser um instrumento de construção da participação popular nos serviços de saúde e, ao mesmo tempo, de aprofundamento da intervenção da ciência na vida cotidiana das famílias e da sociedade.

Apesar de ser uma das propostas do PSF a educação continuada para a equipe toda e

principalmente para os ACS que trabalham diretamente e diariamente com as famílias

assistidas, isso ainda é pouco realizado, ou seja, as palestras são esporadicamente realizadas,

os cursos de capacitação acontecem raramente o que traz certa dificuldade aos ACS em (re)

construir novos hábitos e costumes nessas famílias. Por outro lado, segundo relatos da grande

maioria dos ACS, “algumas famílias são muito resistentes a mudanças”. “Essa é uma de

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nossas grandes dificuldades em levar informações às famílias e principalmente fazer com eles

mudem seus hábitos, principalmente no cuidado com a casa, a alimentação, a coleta seletiva

de lixo, até mesmo a higiene corporal”.

Quanto ao destino das fezes/urina, o relatório (consolidado) do PSF mostra que a

maioria das residências tem sistema de esgoto. Entretanto, a rede de esgoto (com captação)

existe nas ruas mais centrais dos bairros – Aeroporto, Porto e Santa Terezinha. As partes mais

periféricas desses bairros, geralmente são encostas e a rede de esgoto, geralmente, não chega

até as casas. Vale dizer que muitas casas, localizadas nas partes periféricas desses bairros, não

têm banheiro. As necessidades fisiológicas são feitas em qualquer lugar próximo às casas, o

que tem causado doenças como difteria, doenças diarréicas crônicas, acometendo em maior

número, as crianças.

Quanto à energia elétrica, a cobertura demonstrada no consolidado, existe quase em

100% das residências (99,34%). Alguns contrastes foram observados durante a pesquisa. Por

exemplo, casas que não possuem banheiros, onde crianças e adultos dormem “amontoados”,

que a higienização do ambiente é quase que totalmente inexistente, nessas mesmas casas tem

TV, DVD, Sons, aparelho de celulares.

No quadro 2, observa-se a ausência de informações sobre os problemas de saúde das

gestantes, crianças, adolescentes e idosos. Demonstram apenas percentuais e a faixa etária das

pessoas acometidas, sem, contudo discriminar as doenças. Acredita-se que essa ausência de

informações se deve a falhas no cadastramento /ou no acompanhamento das pessoas assistidas

no núcleo dos PSFs, por parte dos profissionais que compõem as equipes, apesar de no

discurso do programa dar maior enfoque às crianças, adolescentes, gestantes e idosos, como

merecedores de atenção básica.

Além dos aspectos referentes às condições de habitação, saneamento, saúde e

doença, pôde-se observar que o agente também identifica situações-problema relativas à

educação como, por exemplo: crianças na faixa etária escolar e que não estão freqüentando a

escola ou que foram matriculadas e evadiram por motivos diversos, sendo que um desses

motivos, o mais alegado pelas próprias famílias é “o menino parou de estudar para trabalhar

e ajudar na casa.” Mas, nem sempre essa é uma situação real. Muitas dessas crianças param

de estudar ou nem mesmo começam o ano letivo para ficar nas ruas acompanhando

adolescentes e jovens já marginalizados. Nesses casos, o ACS identifica a causa do abandono

da escola e parte para uma ação mais efetiva conversando com as famílias, orientando sobre a

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importância da escola na formação integral das crianças, uma vez que, todos esses fatores,

estão co-relacionados com a saúde.

Feitas as considerações gerais sobre os PSFs em Muriaé, passa-se para análise dos

dados coletados nos bairros Aeroporto, Porto e Santa Terezinha, objeto deste estudo.

3.2 Análise dos dados nos Programas Saúde da Família pesquisados

Os dados foram coletados em três bairros periféricos do município de Muriaé-MG,

Porto, Santa Terezinha e Aeroporto. Para coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos

de pesquisa: entrevista semi-estruturada (Anexo 1) e questionários aplicados aos profissionais

dos PSFs (Anexo 2) dos bairros mencionados, como médicos, enfermeiros, auxiliar de

enfermagem e agentes comunitários de saúde.

Segundo Quivy (1992, p. 192), as entrevistas semi-estruturadas, “a entrevista semi-

diretiva ou semi dirigida, são certamente utilizadas em investigação social. É semi-diretiva no

sentido em que não é inteiramente aberta nem encaminhada por grande número de perguntas

precisas.”

O interessante deste tipo de entrevista é que procura-se identificar a reflexão e o

entendimento dos entrevistados sobre a realidade do dia a dia, bem como suas atividades

diárias, suas experiências de vida, o que de certa forma culmina em representação social.

Ainda sobre entrevista semi-estruturada vale citar Thiollent (1982, p. 86) quando diz

que “no decorrer da entrevista, o entrevistador permanece numa situação de ‘atenção

flutuante’ que permite estimular o entrevistado a explorar seu universo cultural sem

questionamento forçado.”

Com isso, entende-se que cada analista ou entrevistador descobre e relaciona os

elementos significativos que irão permitir a construção progressiva dos elementos culturais

“dando conta do vivido pelas pessoas”, de acordo com entendimento de Thiollent (1982).

Quanto à análise da vida cotidiana dos sujeitos dessa pesquisa, mais precisamente do

conhecimento que dirige a conduta profissional na vida diária dos mesmos, engrena-se com a

compreensão de uma realidade que constitui a matéria da ciência empírica da sociologia bem

como o mundo da vida cotidiana que se apresenta como uma realidade interpretada pelos

homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo

coerente (BERGER e LUCKMANN, 1966).

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É assim que se construiu o entendimento para a análise dos dados coletados,

interagindo as falas, os saberes e as representações dos sujeitos da pesquisa, ou seja, os

profissionais dos PSFs e as famílias assistidas por este programa.

3.2.1 Características socioeconômicas do bairro do Aeroporto

Tabela 13: Famílias Assistidas pelo PSF

Sexo Cor Idade Escol. Renda Ind.

Renda famil.

Casa própria

Pessoas residentes

Menores Maiores Profissão

F1 M N 35 1º grau

1 sal. 1 sal. sim 5 3 2 Pedreiro

F2 F P. 40 1º grau

1 sal. 0 Alug. 6 3 3 Desempregada

F3 F P. 30 Analf. 1 sal. 1 sim 4 2 2 Desempregada

F4 M N. 44 1º grau

1 sal. 1 sal. sim 6 1 5 Desempregado

Fonte: Famílias assistidas pelo PSF, 2007/2008

Essas famílias residem na parte alta do bairro onde fica uma unidade do PSF; essas

famílias geralmente não têm renda fixa. Neste ponto do bairro, existe muito desemprego,

alcoolismo, droga e prostituição.

Em regra, com raríssimas exceções as pessoas são analfabetas ou com grau de

escolaridade muito baixo. As casas são populosas, ou seja, sempre moram mais de 6 pessoas.

Não existe água encanada, não tem luz elétrica, não há coleta de lixo, existe esgoto a “céu

aberto”, muitos animais doentes soltos pelo bairro, cavalos, principalmente cachorros e gatos.

É possível ver ratos pelas ruas, nos amontoados de lixo nas encostas. As crianças convivem

com esse ambiente naturalmente, sem nenhum cuidado pelas famílias.

A equipe do PSF, deste bairro, em geral, não faz orientação sobre prevenção e

promoção à saúde. Sobre meio ambiente relacionado com a saúde, ainda é mais difícil passar

informações, pois, as famílias não têm interesse nesse tipo de informação. Três dessas

famílias tratam suas crianças, quando têm doenças infantis, com chás caseiros, sem nenhuma

orientação sobre o risco à saúde, sobre higienização das plantas ou ervas. São resistentes a

medicamentos prescritos pelos médicos do PSF.

Esta parte do bairro Aeroporto é atípica, face às condições socioeconômicas e

culturais dos moradores e, além disso, a parte de baixa do bairro Aeroporto tem saneamento

básico, coleta de lixo todos os dias, água encanada, luz elétrica e rede de esgoto.

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Na parte alta, onde foi feita a pesquisa, as casas, geralmente, não têm janelas nem

portas, são tapagens feitas com folhas maderite, que sobram das construções. Foi observado,

ainda, que a alimentação das pessoas é bastante precária, principalmente para as crianças.

Existe um grande número de pessoas portadoras de leptospirose, devido ao grande

contingente de ratos em função do acúmulo de lixo nas ruas, nas encostas, esgoto a “céu

aberto” e assim por diante.

3.2.2 Equipe do Programa Saúde da Família do bairro Aeroporto

Como este bairro tem duas equipes de PSF, a equipe da parte alta consta de um

médico, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde.

Na verdade, esta equipe está incompleta, pois falta um ACS. Segundo informações da

enfermeira chefe da equipe, falta um ACS, pois a prefeitura tinha contrato por tempo

determinado com os ACSs e esses contratos venceram. A não contratação imediata ou

renovação desses contratos foi em função de concurso público realizado pela prefeitura

municipal para área de saúde com vagas para ACS. O concurso já foi realizado, mas ainda

não houve as contratações.

É importante destacar que os ACSs são pessoas residentes no bairro, o que facilita o

convívio entre PSF e famílias assistidas. Os ACSs atuam como intermediários entre as

famílias, o médico e a enfermeira chefe. São sujeitos da própria comunidade, conhecem a

realidade local, tem uma boa convivência com todos. Eles fazem em média de 150 a 180

visitas domiciliares por mês.

Cada ACS tem sua área de atuação. Essa área é dividida em micro-áreas. Essas

micro-áreas são ruas, ruelas e becos. Como esse bairro fica em região com elevações

acentuadas, existem muitos becos e o acesso é bastante difícil. Mesmo assim, o ACS tem que

cumprir seu cronograma de trabalho pré-determinado pelo PSF no início de cada mês.

Nesta parte do bairro, o único serviço oferecido pelo poder político local é o posto de

saúde onde funciona o PSF. Já na parte baixa, existe uma creche, uma escola municipal e um

posto de saúde onde funciona outra equipe do PSF e dependências do Centro Comunitário.

Nesta parte do bairro, existe saneamento básico, luz elétrica, coleta de lixo diariamente,

calçamento, rede de esgoto. As casas são bem construídas, todas de alvenaria há comércio

local, padaria, pequenos supermercados, farmácia com medicamentos básicos e um posto da

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polícia militar, geralmente vazio, ou seja, dificilmente se encontra um policial no local,

mesmo sabendo da periculosidade do bairro como todo.

A Tabela 14 mostra as condições socioeconômicas da equipe do PSF no bairro

Aeroporto.

Tabela 14: Condições socioeconômicas da equipe do PSF – Bairro Aeroporto Prof Idade Sexo Escola

ridade Tempo trabalha no PSF

Atividade desenvolvida

no PSF

Pessoas Residentes

< Idad

e

> Idade

Renda ind.

Renda fam.

Méd 37 F Sup Comp

1 ano Consultas 2 0 2 4 sal. Não respond

eu Enf 26 F Sup

Comp 10 meses Assistência 4 0 4 3 sal. 8 ½

sal. Aux. Enf.

46 F 2º.Grau 2 anos Auxiliar 1 0 1 1 ½ sal. 2 ½ sal.

ACS 23 F 2º grau 1 ano Visitas domiciliares

3 0 3 1 sal. 1 ½ sal.

ACS 29 F 2º grau 2 anos Visitas domiciliares

3 0 3 1 sal. 2 sal.

ACS 34 F 2º grau 3 anos Visitas domiciliares

2 0 2 1 sal. 2 sal.

ACS 21 M 2º grau incomp

.

2 anos Visitas domiciliares

4 0 4 1 sal. 1 sal.

Fonte: PSF – Bairro Aeroporto – Parte alta, 2007/2008.

Neste bairro, a equipe do PSF está completa de acordo com a tabela acima. Todos

são concursados e, segundo a enfermeira responsável (26 anos, M.C.S.) o cronograma pré-

estabelecido por esta unidade básica de saúde é cumprido sistematicamente. Neste

cronograma, segundo ela, consta o número de visitas domiciliares que todos os ACS deve

cumprir durante o mês, uma previsão de atendimento domiciliares que as auxiliares de

enfermagem devem cumprir em residências de pessoas idosas com diabetes, hipertensão,

curativos, acompanhamento nutricional de crianças entre outras ocorrências. Durante a

pesquisa, em algumas residências, identificaram-se pessoas idosas com úlcera varicosa que

dependem das auxiliares de enfermagem para fazer assepsia e curativo todos os dias. Por mais

que as enfermeiras e auxiliares de enfermagem ensinem os cuidados que devem ter com esse

tipo de ferida, dificilmente os doentes conseguem manter a higiene.

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3.2.3 Características socioeconômicas do Bairro do Porto

Tabela 15: Famílias Assistidas pelo PSF Sexo Cor Idade Escol. Ren

da Ind.

Renda famil.

Casa própria

Pessoas residentes

Menores Maiores Profissão

F1 M B. 35 Sup. Incomp

.

1 a 3

sal.

4 a 7 sal.

sim 4 0 4 Aux. de enfermagem

F2 M B. 44 Sup. Incomp

.

1 a 3

sal.

4 a 7 sal.

sim 3 1 2 Promotor de vendas

F2 F P. 43 1º grau incomp

1 sal.

4 a 7 sal.

sim 3 1 2 Secretária do lar

F3 M N. 70 1º grau 1 a 3

sal.

1 a 3 sal.

sim 2 0 2 Aposentado

F3 F P. 60 1º grau incomp

1 sal.

1 a 3 sal.

sim 2 0 2 Costureira

Fonte: Famílias assistidas pelo PSF, 2007/2008

Pelos dados apurados na tabela 15, pode-se ser ver que, neste bairro, as condições

socioeconômicas das famílias assistidas pelo PSF são superiores em relação à anterior (Bairro

Aeroporto). Esse bairro fica localizado próximo ao centro da cidade, aproximadamente 1 km.

Talvez pela proximidade da região central, a renda individual e familiar seja maior do que

verificado no bairro analisado anteriormente (Aeroporto). Esclarecendo, o aeroporto fica

distante do centro da cidade aproximadamente 10 km.

Outra característica que contribui para que essas famílias tenham uma melhor

qualidade de vida e renda per capita se deve ao fato de no bairro ter uma concentração

bastante expressiva de confecções e facções de confecções27.

O bairro tem vida própria. Tem dois supermercados de médio porte, dois postos de

saúde que abrigam duas equipes do PSF, tem matriz da igreja católica – “Matriz Nossa

Senhora Aparecida”, uma agência dos Correios, duas grandes padarias, três “hortifrutis”

(comércio de verduras e legumes), quatro açougues de pequeno porte, três farmácias, duas

27 São famílias que costuram para as grandes confecções do município. Tem residências que todos os membros, de alguma maneira prestam serviços para os grandes confeccionistas. Em algumas residências o marido, já aposentado, corta até 300 peças por dia. Filhos do sexo masculino também. Outros trabalham com máquinas de bordados compradas e financiadas pelo Banco do Brasil. O preço varia de acordo com o tecido, número de peças. Mas em média, seja no corte, no bordado ou na costura, o preço fica no caso dos centavos. A diferença está na quantidade. Quanto maior o número de peças, e o número de pessoas da família que trabalham nessa atividade, maior a renda da familiar.

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lojas de material de construção (de pequeno e médio porte), uma loja de móveis e

eletrodomésticos de pequeno porte.

No entanto, há uma parte que é bastante precária em termos de saneamento básico.

No bairro do Porto, as famílias se assemelham às famílias do bairro do Aeroporto em relação

à renda e às condições ambientais. Esta parte do bairro faz divisa com outro bairro chamado

Encoberta, sendo que este último é considerado um dos bairros mais violentos do município,

onde existem gangs do narcotráfico nas quais, crianças, adolescentes e jovens estão

envolvidos. Durante a pesquisa no bairro do Porto, foi possível fazer uma breve observação a

crescente “onda” de marginalização neste bairro.

O bairro é bastante populoso (tabela anexa). Infelizmente, não foi possível conseguir

dados oficiais sobre o número de habitantes/bairros28, pois o município não dispõe desses

dados. No entanto, estima-se ser este o segundo maior bairro do município, ficando atrás do

bairro Planalto que segundo informações do DEMSUR – Departamento Municipal de

Saneamento do Município de Muriaé, este é o bairro de maior concentração populacional do

município. Vale ressaltar que os números constantes da tabela anexa foram informados pelo

DEMSUR, por amostragem, ou seja, foi feito um cálculo por número de hidrômetros

existentes em cada bairro/residência e feito uma média de 3,5 moradores/residência. Assim,

foi possível estimar o número de moradores por bairro.

3.2.4 Equipes de Saúde dos Programas Saúde da Família do bairro do Porto

Como o bairro Porto é populoso, existem duas equipes do PSF. Portanto, existem

dois médicos, duas auxiliares de enfermagem, duas enfermeiras, dez ACS, um dentista e

uma assistente social que atendem as duas unidades básicas de saúde. A inserção da

profissional do serviço social neste bairro se deve à grande diversidade socioeconômica e

sociocultural que lá foi identificada.

Vale ressaltar que a pesquisa se concentrou na parte central do bairro. Inicialmente,

era intenção de pesquisar todo o bairro, mesmo considerando sua extensão geográfica. Não

foi possível, devido às chuvas no período da pesquisa. Alguns pontos deste bairro são de

difícil acesso, ficam em áreas de encostas.

28 Justificada a ausência desses dados, pois, segundo informações do Departamento de Cadastro do DEMSUR, o município tem determinado que todos os serviços urbanísticos, tais como, medições de água e energia elétrica, dedetização urbana, cadastramento para fins fiscais, são feitos por rota e não por bairro o que, segundo este departamento, inviabiliza a cadastramento (nº de residências por bairro).

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De acordo com o ACS (25 anos, J.S.A.) entrevistado, existe “muita dificuldade em

orientar essas famílias”. Muitas não aceitam orientações em relação à higienização da

residência, higiene pessoal. “Eles acham que a gente está invadindo a sua privacidade”.

Um dos ACSs (29 anos, J.P.) disse que “na minha família recebemos orientações

sobre água parada, coleta seletiva de lixo. Só isso.” Mesmo ele sendo ACS, a sua residência

é atendida por outros ACS por pertencer a outra micro-área. Segundo relato deste mesmo

ACS, neste bairro tem muito “problema de mosquito”. Essa informação procede, pois no

ano de 2006 e 2007 houve um surto de dengue. Nesta época, a Secretaria Municipal de

Vigilância Sanitária e a Secretaria Municipal da Saúde mobilizaram ACSs e servidores

públicos no combate à doença. Foram registrados três casos de dengue hemorrágica. Com

as enchentes de dezembro de 2006 a fevereiro de 2007, outros casos foram notificados, mas

nenhum caso da doença em estágio mais grave.

Outro ACS (20 anos, J.S.H.) relatou, em entrevista, que além dos mosquitos na parte

baixa do bairro do Porto, tem “problemas com escorpião, rato (muito) e barata.” Que lá “a

coleta de lixo é esporádica porque os caminhões não conseguem chegar até lá, por causa

dos morros.”

Tabela 16: Condições socioeconômicas da equipe do PSF do bairro do Porto Profiss

ão Idade

Sexo

Escola ridade

Tempo trabalha no PSF

Atividade desenvolvida

no PSF

Pessoas Residentes

< Idade

> Idade

Renda ind.

Renda fam.

Méd. 39 F Sup Comp

1 mês Consultas 2 0 2 4 sal. Não resp.

Enf. 30 F Sup Comp

3 anos Assistência 4 0 4 4 sal. Não resp.

Aux. Enf.

48 F 2º.Grau 4 anos e 2 meses

Auxiliar 2 0 2 1 ½ sal. 2 ½ sal.

ACS 29 F 2º grau 2 anos Visitas domiciliares

5 0 5 1 sal. 3 ½ sal.

ACS 44 F 2º grau 3 anos Visitas domiciliares

3 1 3 1 sal. 2 ½ sal.

Fonte: PSF – Bairro Porto, 2007/2008.

Nesta equipe constam apenas 2 (dois) ACSs, pois, 3 (três) eram contratados e, em

função do concurso público realizado para o setor de saúde, estes foram dispensados para

novas contratações daqueles que foram classificados. Segundo a Secretaria de Planejamento

do município de Muriaé, essas contratações devem ser concretizadas no mais tardar até 30 de

maio de 2008. Vale ressaltar que com esse déficit de ACS algumas micro-áreas ficam sem

assistência, mesmo com o remanejamento feito com os 2 (dois) ACS em serviço, eles não

conseguem atender a todas as famílias assistidas. Nesse período em que faltam ACS, as partes

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de difícil acesso ficam praticamente sem atendimento o que eleva o número de atendimento

ambulatorial no Hospital São Paulo, que é o Hospital Municipal credenciado para atender

casos emergenciais e consultas ambulatoriais. Entende-se que este é um complicador na

atenção básica da saúde. Eleva-se o número de pessoas desassistidas pelo PSF, como

conseqüência aumenta o número de atendimentos ambulatoriais no hospital mencionado, as

consultas ficam deficitárias e, com isso, cresce o risco de surtos e doenças diarréicas, dengue

e doenças infectocontagiosas, por falta de assistência adequada.

3.2.5 Características socioeconômicas do bairro Santa Terezinha

No bairro Santa Terezinha, os problemas sociais são ainda mais difíceis de solução,

pelo menos a médio prazo, pois, a violência local envolve uma série de problemas de

responsabilidade do poder público. Em duas partes deste bairro, famílias vivem na mais

completa miséria, em situações de risco, como por exemplo, barracos construídos em encostas

já condenadas pela defesa civil, outras construções margeando o rio Muriaé, onde qualquer

chuva já traz conseqüências ambientais para essas famílias. Assim, o problema de moradia

também é uma questão séria, quase insolúvel.

3.2.6 Equipe do bairro Santa Terezinha

Este bairro também é um dos mais populosos do município. Várias contradições

foram detectadas pela pesquisa. Uma delas é a desigualdade social. Na parte central do bairro,

existem famílias que podemos classificá-las de classe média B e C, pois, são micro

empresários no setor de confecção, têm casa própria de boa qualidade, têm carros de modelos

mais novos, empregados nas confecções, planos de saúde para os membros da família. Alí,

bem próximo, está outro lado dessa população, aqueles que podem classificados de pobres ou

miseráveis, pois, não têm nem uma casa com o mínimo de conforto para abrigar seus

familiares, as condições de higiene são as piores, a grande maioria dos “chefes de família” ou

são desempregados ou sobrevivem de subempregos. São minoria aqueles que não são

alcoólatras ou dependentes químicos.

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Tabela 17: Famílias Assistidas pelo PSF (parte baixa do bairro) Sexo Cor Idade Escol. Renda

Ind. Renda famil.

Casa própria

Pessoas residentes

Menores Maiores Profissão

F1 M N 40 1º grau

2 sal. 1 sal. Alug. 5 2 3 Pedreiro

F2 F N. 46 1º grau

1 sal. 1 sal. Sim 6 2 4 Desempregada

F3 M N. 48 Analf. 1 sal. 1sal. sim 5 3 2 Desempregado

F4 F N. 44 1º grau

1 sal. 1 sal. sim 5 3 2 Aux. De costureira

Fonte: Famílias assistidas pelo PSF – Bairro Santa Terezinha, 2007/2008

Neste cenário , atuam os ACSs vivendo diariamente desafios e expectativas para

desempenharem suas funções da melhor maneira possível. Para enfrentar essas situações,

entende-se que todos os membros das equipes dos PSFs deveriam participar periodicamente

de cursos de capacitação que lhes permita enfrentar essas e outras situações sociais.

Segundo Mendes-Gonçalves (1994, p.32), o saber científico que orienta a Medicina e

as áreas correlatas, ao ser aplicado a situações concretas desdobra-se em “saber operante, uma

vez que deve dar conta de outras necessidades não recobertas pela ciência”, como os valores,

as condições de vida, as relações afetivas.

Vale destacar que, na atenção primária, existe um campo extenso de atividades

educativas e de aconselhamento que demandam uma habilitação adequada (GONÇALVES,

2004). No entanto, o que se pôde observar, nas entrevistas realizadas, é a carência na parte

educativa, dos profissionais atuantes no PSF, principalmente no que diz respeito à educação

continuada do ACS. Por exemplo, o agente participa (quando elas acontecem) de discussões

temáticas (meio ambiente, educação continuada, cuidados especiais aos idosos, gestantes e

crianças) que são conduzidas por médicos e enfermeiros das unidades básicas.

Nesse sentido, foi feita uma pergunta à enfermeira responsável pela unidade 1 do

bairro Santa Terezinha, enfocando a área de educação em saúde e ela respondeu dizendo:

Até onde eu sei, não existe um curso específico para os profissionais de saúde que atuam nos PSFs. O que temos são palestras, rodas de discussões nas quais, geralmente, são abordados temas como higiene, coleta seletiva de lixo. E quando o número de gestantes é considerável, montamos numa sala um ambiente propício para que possamos orientar essas gestantes quanto aos cuidados com o recém nascido, aleitamento materno e sua importância, a importância do pré-natal. Nada muito específico. Essas palestras são direcionadas, muitas vezes ao ACS, pois são eles que estão em contato direto e diário com as famílias cadastradas. (ENF3)

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Acredita-se que as equipes dos PSFs carecem muito de orientação sobre educação e

saúde ou, educação em saúde.

Para Vasconcelos (2001, p. 30),

a educação não é um mero componente da Atenção Primária à Saúde. Antes disso, ela é, em sua totalidade, um processo eminentemente educativo, uma vez que, na perspectiva defendida pela Conferência de Alma Ata, se baseia no encorajamento e apoio para que as pessoas e grupos sociais assumam maior controle sobre sua saúde e suas vidas.

Tabela 18: Condições socioeconômicas da equipe do PSF do Bairro Santa Terezinha

Fonte: PSF – Bairro Santa Terezinha, 2007/2008.

Diante dessa afirmativa, acredita-se na importância da educação em saúde para

aqueles profissionais que atuam diretamente e diariamente com a saúde da população de baixa

renda, principalmente. Aí, nessa camada da população, necessário se faz, cada vez mais, o

empenho das autoridades do setor de saúde, seja federal, estadual e municipal, para prepará-

los para o enfrentamento de situações diversas. Prepará-los não apenas com o objetivo

curativo, mas principalmente para orientar essa população quanto à prevenção e à promoção

da saúde individual e coletivamente.

A situação desta equipe do PSF do bairro Santa Terezinha se assemelha à situação do

bairro do Porto em relação ao número de ACS. De acordo com o Ministério da Saúde

(1994a), a equipe do PSF é multiprofissional e tem que ser composta com 1 médico, 1

enfermeira, 1 auxiliar de enfermagem e 5 agentes comunitários de saúde. Observa-se, no

entanto, que os PSFs não contam com esse número de ACS. Já explicado anteriormente que

as vagas eram preenchidas por ACS contratados, com o concurso público realizado em 2007,

esses tiveram seus contratos extintos para a efetivação daqueles que foram aprovados no

referido concurso.

Prof Idade

Sexo Escola ridade

Tempo trabalha no PSF

Atividade desenvolvida

no PSF

Pessoas Reside

ntes

< idade

> idade

Renda ind.

Renda fam.

Méd. 36 F Sup Comp

2 anos Consultas 4 0 2 4 sal. Não respondeu

Enf. 38 F Sup Comp

1 ano Assistência 5 2 3 3 sal. Não respondeu.

Aux. Enf.

50 F 2º.Grau ± 3 anos Auxiliar 2 0 2 1 ½ sal. ± 2 ½ sal.

ACS 37 F 2º grau 1 ano Visitas domiciliares

4 2 2 1 sal. ± 2 ½ sal.

ACS 20 F 1º grau 2 anos Visitas domiciliares

6 0 6 1 ½ sal. 3 sal.

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Entretanto, cabe aqui uma ressalva. A lei deve ser cumprida, pois a Responsabilidade

Fiscal dos gestores públicos atualmente, em qualquer das esferas – federal, estadual e

municipal, são monitoradas e fiscalizadas. Acontece, porém, que falta pessoal nas unidades

básicas de saúde por questões legais. Por outro lado, os hospitais ficam superlotados devido

ao grande número de atendimento ambulatorial, começam a faltar medicamentos nas

farmácias atendidas e abastecidas pelo programa e, assim, começam acarretar uma série de

situações complicadas na saúde do município, em área que merecem de fato, atenção especial.

Observa-se que as situações dos bairros pesquisados são muito semelhantes.

Tudo leva a crer que esses números apenas confirmam e reforçam a idéia de que a

saúde é parte integrante e inseparável do indivíduo e está relacionada diretamente com as

condições de vida, que implicam em condições de saneamento, de moradia, trabalho,

educação, renda, transporte, informações e serviços de saúde. Para tanto, deve ser feito um

planejamento nos serviços públicos, buscando-se a construção de estratégias que levem à

melhoria das condições de vida e a saúde das populações assistidas e, essencialmente, à

formação dos profissionais de saúde que atuam no PSF, em especial, a educação continuada

dos ACSs, pois esses têm importância fundamental no desenvolvimento do programa. No

próximo capítulo, será tratado mais especificamente do trabalho dos ACSs.

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CAPÍTULO IV

EDUCAÇÃO E SAÚDE NOS BAIRROS PESQUISADOS

Nos capítulos anteriores, foram abordados aspectos geográficos e socioeconômicos

do município de Muriaé, como também foram relatadas as condições de saúde do município

mais especificamente sobre os bairros do Porto, Aeroporto e Santa Terezinha nos PSFs e

famílias assistidas pelo programa, respectivamente.

Falou-se também sobre as condições da educação e do meio ambiente desses bairros,

de maneira genérica. Assim, neste capítulo serão tratados temas como educação, cultura e

saberes populares estabelecendo relação com as práticas educativas dos profissionais de saúde

nesses bairros, como também sobre saúde e ambiente sustentável e gestão e avaliação de risco

em saúde ambiental.

4.1 Educação, cultura e saberes populares

Foi dito no capítulo III, deste trabalho, que a “educação não é um mero componente

de Atenção Primária à Saúde. Ela é, em sua totalidade, um processo eminentemente

educativo”, de acordo com o que preleciona a Conferência de Alma Ata (VASCONCELOS,

2001, p.75). No entanto, vale ressaltar que a educação à que se refere o texto dessa

Conferência, aponta para a educação em saúde. Acontece que, quando se trata de saúde, existe

uma gama de fatores que torna essa temática bastante complexa.

Primeiramente há que se considerar a educação popular, a educação transmitida de

pai para filho, aquela “educação” de sucessões que transformam em práticas culturais de

determinada comunidade.

Assim foi nos bairros pesquisados. Sempre que se falava em educação em saúde, ou

mesmo, em educação e saúde, inclusive os profissionais da área de saúde do PSFs, era visível

o desconhecimento, a desinformação. Inclusive, uma enfermeira (Enf1) disse: “não sei o que

isso tem a ver. Educação, saúde, práticas e cultura popular”.

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De pronto a resposta foi que tudo se relaciona. Todos os temas estão intrinsecamente

ligados às condições de saúde das famílias assistidas pelo PSF, inclusive àquelas que não

dependem do programa.

Pode-se ver então que o despreparo desses profissionais é notório. Remete-se essa

‘ausência’ de informação à falta de cursos de capacitação. Não só os cursos técnicos de

enfermagem, de atendimento domiciliar, como é o mais comum, mas os cursos que capacitem

e habilitem esses profissionais, principalmente os auxiliares de enfermagem e os agentes

comunitários de saúde, que são os que têm contato direto e diário com essa camada da

população.

Mesmo porque, há de se registrar que as auxiliares de enfermagem e o ACS são os

profissionais de linha de frente nos conflitos entre o serviço e a população assistida pelo PSF.

As auxiliares de enfermagem são responsáveis, no PSF, pelo momento mais tenso da rotina

do Centro de Saúde onde funcionam as unidades do PSF, como por exemplo, a distribuição de

fichas que dão acesso ao atendimento médico, no início da manhã, momentos em que são

comuns as manifestações de revolta, ou pela demora no atendimento, ou por não ter, naquele

momento, a medicação prescrita pelos médicos ou por motivos outros, de pequena relevância.

Esse é um ponto que merece atenção, pois, partindo da premissa que essa população

é bastante carente pelas condições socioambientais do bairro, da moradia, pelas condições

socioeconômicas que geralmente são precárias, baixos salários, subempregos e até mesmo o

desemprego, isso já eleva o grau de insatisfação dessa população. Em síntese, a desigualdade

social imperativa nessas comunidades é o que mais pode ser percebido e que contribui

significativamente para as manifestações de insatisfação presenciadas nos PSFs.

Já aos médicos e às enfermeiras, cabe o atendimento de pacientes já selecionados e

ordenados de acordo com a distribuição das fichas de atendimento os quais oferecem “um

curto, mas valorizado, espaço para os pacientes expressarem seus sofrimentos com algum

grau de intimidade”.

Entretanto, por viverem mais intensamente as tensões do serviço de forma bastante

vigiada pelos profissionais de nível superior e, ao mesmo tempo, serem as profissionais com

menor preparo profissional, é usual encontrar também entre as auxiliares de enfermagem os

discursos mais agressivos em relação à população (VASCONCELOS, 2001).

Dentre as entrevistas realizadas, um depoimento de uma auxiliar de enfermagem

demonstra o que foi mencionado acima:

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Aux1: Sabe, a gente não tem valor nenhum. Quanto mais a gente faz, mais o povo desvaloriza a gente. Já vi e presenciei casos de homens ficarem tão bravos e revoltados que chegam a quebrar até as vidraças do posto. A gente tenta explicar, por exemplo, porque não tem mais fichas, porque elas são contadas – tem um número certo de fichas por dia. Mesmo assim, eles não entendem – eles querem porque querem ser atendidos. E tem muita mulher que faz escândalo também.

A fala da auxiliar de enfermagem foi de pura indignação pela reação agressiva

presenciada inúmeras vezes no posto, como ela mesma disse. Nesse clima de embate criado,

não só para a auxiliar de enfermagem, mas para todos que trabalham todos os dias nos PSFs, é

difícil perceber que a qualidade do serviço prestado vai muito além da sua “boa intenção”.

Esses profissionais de linha de frente, na hora desses conflitos, não conseguem aproximar-se

das razões do paciente que reclama e ajudá-lo a sanar suas dúvidas e mesmo fazê-lo entender

a complexidade dos serviços. Na verdade, cada um dos usuários se sente como se fosse o

único.

Expressões como “se vira”, “cair na luta”, “correr atrás” são usuais nos postos de

saúde (PSF), se repetem no cotidiano. Mas, ao mesmo tempo, elas experimentam

continuamente os obstáculos quase intransponíveis, para mudar de vida. A revolta, o

desânimo e a amargura passam então a fazer parte de sua maneira de existir (ZALUAR,

1985).

Atribui esses conflitos a vários fatores. Os que estão diretamente ligados à população

(já mencionados anteriormente) e à cultura de cada um deles, seus hábitos e os que estão

associados aos profissionais de saúde, em geral aos auxiliares de enfermagem e aos ACS, a

falta de preparo, a ausência de treinamento, capacitação e habilitação para enfrentar essas

situações.

Historicamente, mais precisamente entre os anos 70 e 80, segundo Gonçalves (2004,

p. 18), “as práticas e as ações no campo da educação em saúde basearam-se

fundamentalmente no repasse de conhecimentos médicos, científicos para as classes

populares, sem levar em consideração os saberes e práticas acumulados por esses grupos no

campo da saúde.”

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Vasconcelos (2001, p. 30) coloca que:

grande parte do que ensina Paulo Freire sobre processo educativo, é diretamente aplicável à Atenção Primária à Saúde. Nós afirmamos ainda mais: a metodologia educativa de Paulo Freire é uma sólida base para atingir uma Atenção Primária a Saúde Integral.

Em outras palavras, o significado do discurso de Paulo Freire, era a libertação, ou

seja, uma concepção libertadora de educação que evidenciava o papel da educação na

construção de um novo projeto histórico, fundamenta-se numa teoria do conhecimento que

parte da prática concreta na construção do saber e o educando como sujeito do conhecimento,

o que compreende a alfabetização não apenas como um processo lógico, intelectual, mas

também como um processo profundamente afetivo e social, pois sem educação a população

permanece na ignorância. Às vezes, coisas básicas do cotidiano de fácil entendimento passam

ser nebulosas, sem sentido, sem direção. Assim, é a educação em saúde e suas práticas. Sem

informação e conhecimento científico adequados, a linha limítrofe da cultura e da educação

popular se perde entre os saberes científicos e populares.

Paulo Freire (1979, p. 27) entende a educação como sendo “uma reflexão sobre a

realidade existencial. Articular com essa realidade nas causas mais profundas dos

acontecimentos vividos”, procurando inserir sempre os fatos particulares na globalidade das

ocorrências da situação. A educação, vista por essa ótica tem que ser inserida no contexto real

da população. É preciso que cada comunidade tenha desenvolvido em seu núcleo a efetiva

educação dos sujeitos. Só assim, pode-se alcançar a autonomia individual intelectualmente.

Só assim, os sujeitos atingirão a real cidadania, que possibilita lutar pelos seus direitos e ter

entendimento e responsabilidade sobre seus deveres.

No contexto das comunidades assistidas pelo PSF, há que ser respeitada a cultura

popular, aquela transferida ou adquirida, geralmente no seio familiar. São práticas

corriqueiras, cotidianas, mas que muitas vezes, trazem conhecimentos até então

desconhecidos pelos profissionais de saúde.

Segundo Gonçalves (2004, p. 28), quando se fala em práticas de educação popular

nos serviços de saúde,

é preciso falar em atenção primária à saúde e no cotidiano das doenças infecciosas e parasitárias no meio popular, bem como nos problemas sociais que envolvem as comunidades assistidas nos centros de saúde, que são espaços privilegiados de enfrentamento dos problemas de saúde; é preciso falar nas transformações da educação em saúde e do relacionamento entre serviços de saúde e a população, e mais, é entender que a educação popular e saúde, é uma nova concepção de

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educação popular em saúde. É preciso atentar para uma visão geral, amplificada dos serviços de saúde prestados a uma comunidade periférica urbana.

Na verdade, se se pensar em saberes populares e sobre educação popular ambas vêm

ao encontro da saúde e, se articulam em busca da cura, de maneira simples. É interessante

esse entendimento, mesmo quando se identifica, nesses saberes, a limitação das informações

sobre as doenças. Isso porque, nem todos de uma comunidade ou até mesmo de uma família

detêm um conhecimento sobre ervas, por exemplo. É preciso que se tenha o mínimo de

conhecimento da erva, do seu preparo e as formas de utilização, para que possa ser indicada

no trato de uma possível doença (GONÇALVES, 2004).

Fantin (1997, pp.5-8) ressalta que dentro dessa complexidade, muitos desafios são

tecidos. Na verdade, são desafios pertinentes à educação popular e saúde que, partindo das

experiências locais, buscam a produção de conhecimento e de intervenção por saúde de

qualidade. O que pode ser extraído dessa teia complexa, de multiplicidade de saberes, é que, é

percebido um espaço-reflexão-movimento se formando, se constituindo e, desse modo, é

possível perceber um novo tecer de um novo pano feito a muitas mãos e um “entrecruzar de

passos dos diferentes grupos que compõem esse universo de teorias e ações concretas na luta

por educação popular e saúde”.

Mas, para que isso seja possível, é preciso que haja, de maneira continua uma

aprendizagem focada na saúde, melhor ainda, na prevenção e na promoção da saúde através

de práticas educativas. Por outro lado, essas práticas devem ser ampliadas, ao ambiente de

trabalho, ao ambiente das residências das famílias usuárias do PSF. Por isso é uma “teia de

complexidade”, pois, não se limitam às práticas médicas, mas num universo bem maior.

4.2 Práticas de educação e educação ambiental em Muriaé

Num primeiro momento, é necessário entender o conceito de ambiente o qual está

relacionado à necessidade de ter saneamento básico, espaços físicos limpos e estruturalmente

adequados e redes de apoio para se conseguir hábitos psicossociais sãos e seguros, isentos de

violência, como por exemplo, agressões físicas, verbais e emocionais (COHEN, 2003).

É importante também, entender sobre habitabilidade conceituada por Cohen et. al.

(2003) como sendo:

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a adoção de tipologias em correspondência aos requisitos mínimos que garantam o morar com desfrute de saúde e bem-estar e propiciem a dignidade humana. Nesse sentido, promove o pleno exercício do ato de morar, ampliando e melhorando, respectivamente, a qualidade do espaço e da vida. Padrões que propiciem o convívio harmônico através da reflexão e do aprimoramento do lugar/objeto/habitação (COHEN et. al., 2003, p.809).

Falar sobre meio ambiente e educação não é tarefa das mais fáceis, partindo da

premissa que a educação formal no Brasil está cada vez mais fragmentada, principalmente no

que diz respeito às escolas públicas, sejam elas, da esfera federal, estadual ou municipal. Os

governos têm deixado muito a desejar quanto à qualidade do ensino-aprendizagem de modo

geral.

Nesse cenário, inserir atividades complementares, nas disciplinas, ou mesmo inserir

conteúdos em disciplinas já existentes, requer muita habilidade do professor e boa vontade da

direção das escolas. Assim, mesmo entendendo que a educação ambiental (EA) é hoje uma

necessidade precípua em qualquer currículo escolar, a começar dos níveis fundamentais, sabe-

se que esta educação não é tão valorizada no meio docente.

Se partirmos do princípio dessa necessidade, por outro lado muito se tem visto na

mídia sobre meio ambiente, sobre a importância de sua preservação, sobre o desmatamento

irracional das florestas brasileiras, de contaminação de águas (rios, mares, nascentes etc), o

que nos remete a situação ambiental no Brasil, que está em contínuo processo de degradação,

ocorrendo a transição epidemiológica marcada pela prevalência das condições de morbi-

mortalidade, verificadas em alguns setores; a permanência de certas doenças infecto-

parasitárias devido a sucessivas contaminações das águas que abastecem os municípios

(COHEN et. al, 2004).

É preciso que a sociedade tenha consciência, que os problemas ambientais existentes,

provocados, por exemplo, pelo desmatamento agressivo, poluição das grandes cidades, dos

rios, dos mares, assoreamento dos rios, produtos químicos, tais como conservantes,

agrotóxicos, herbicidas nos alimentos, sejam eles de origem animal ou vegetal, expansão de

áreas desérticas, que antes eram áreas verdes e tinham água com fluência, foram, sem sombra

de dúvida, provocados pelo homem, no afã de buscar o desenvolvimento econômico e, por

causa disso, hoje, tem-se a preocupação em deter e reverter esses processos levando os

ambientalistas, à criação de propostas, análises, programas e previsões que levam a

organização social humana a repensar sobre como reverter esse quadro (HOGAN, 1981).

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O Estado brasileiro por sua extensão geográfica, pelos seus recursos naturais

abundantes, e por que não dizer, pela facilidade de adaptação de seu povo a circunstâncias

político-econômico diversas, deveria ser um Estado com condições de propiciar a todos

melhores condições de vida, bem-estar social, como determina a Constituição Federal de

1988. No entanto, o que se tem visto é um Estado que se apresenta bastante dividido por

setores e fragmentado em suas ações político-governamentais, principalmente no setor social,

desvinculando, notoriamente, o social do econômico.

Sobre a vida social e a inserção de “cultura” nessa vida, deve-se partir do princípio

de que:

para que haja verdadeiramente cultura, não basta ser ator de práticas sociais, é preciso que essas práticas sociais tenham significado para aquele que as realiza, pois cultura não consiste em receber, mas em realizar o ato pelo qual cada um marca aquilo que outros lhe dão para viver e pensar (CERTEAU, 1993, p. 10).

O autor faz uma observação e mostra uma lacuna existente entre uma cultura letrada

a ser difundida e uma cultura popular a ser comentada. Para ele, toda cultura requer uma

atividade, uma apropriação, uma adoção e uma transformação pessoais, um intercâmbio

instaurado em um grupo social.

Sobre isso, Freire (1996, p. 38) afirma que “não há educação fora das sociedades

humanas e que a educação é possível para o homem, porque este é inacabado e sabe-se

inacabado”. Segundo ele, a prática política deve superar a compreensão mecanicista da

história, permitindo a construção de possibilidades para o futuro através da ampliação da

capacidade do ser humano de refletir e decidir.

Esta perspectiva da história, como tempo de possibilidades, transforma indivíduos e

coletivos em sujeitos sociais. Os sujeitos sociais, identificados através de suas relações no

mundo e com o mundo, constroem a História e a Cultura. A educação distingue o modo

histórico e cultural de existir dos seres humanos do modo natural de existir dos outros seres

vivos.

Gadotti (1998, p. 46) defende que a educação, “enquanto prática fundamental da

existência histórico-cultural dos homens precisa ser pensada e politizada, em vista de sua

importância para os destinos das sociedades”. Mais especificamente, o autor coloca que o

caráter filosófico da educação está carregado de certo otimismo crítico, uma vez que acredita

ter a educação um papel importante no próprio processo de humanização do homem e de

transformação social.

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Inicialmente, far-se-á o delineamento de alguns conceitos de função social do meio

ambiente e desenvolvimento sustentável, os quais darão fundamentação e sustentação ao tema

proposto para presente pesquisa.

Segundo Dias (1992, pp. 36-37), as “idéias ligadas à temática ambiental não

surgiram de um dia para outro”. Fatos ocorridos em âmbito internacional foram delineando o

que se conhece atualmente por Educação Ambiental (EA).

Podem-se citar alguns dos instrumentos internacionais referentes à EA, a saber: a

Carta de Belgrado (1975) que preconizou que as fundações de um programa mundial de

Educação Ambiental fossem lançadas; a Declaração da Conferência Intergovernamental de

Tbilisi sobre Educação Ambiental (1977) a qual alertou, em seu texto, para o fato de que, “o

homem, nas últimas décadas, vem utilizando o poder de transformar o meio ambiente, o que

modificou rapidamente o equilíbrio da natureza e aponta como resultado” (Dias, 1992, p.38),

as espécies – da fauna e flora – as quais ficaram expostas a perigos que poderiam ser

irreversíveis, o que de fato, tem se concretizado, haja vista a quantidade de espécies da fauna

brasileira já extintas e em extinção. Notadamente, no Congresso de Moscou (1987), chegou-se

à concordância de que a EA deveria objetivar modificações comportamentais nos campos

cognitivos e afetivos (DIAS, 1992).

A EA é, por definição, apontada como sendo:

Portadora de processos individuais e coletivos que contribuem com a redefinição do ser humano como ser da natureza, sem que este perca o senso de identidade e pertencimento a uma espécie que possui especificidade histórica; o estabelecimento, pela práxis, de uma ética que repense o sentido da vida e da existência humana; a potencialização das ações que resultem em patamares distintos de consciência e de atuação política, buscando superar e romper com o capitalismo globalizado; a reorganização das estruturas escolares e dos currículos em todos os níveis do ensino formal e, a vinculação das ações educativas formais29 e informais30 em processos permanentes de aprendizagem, atuação e construção de conhecimentos adequados à compreensão do ambiente e problemas associados (LOUREIRO, 2004, p. 30).

Em outras palavras, o que o autor traz na sua colocação, é que, a EA não deve ser

entendida apenas como uma práxis educativa, mas também como uma práxis cultural e 29 Formal é um processo institucionalizado que ocorre nas unidades de ensino. 30 Informal se caracteriza por sua realização fora da escola, envolvendo flexibilidade de métodos e de conteúdos e um público alvo muito variável em suas características (faixa etária, nível de escolaridade, nível de conhecimento da problemática ambiental, etc.).

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informativa e, fundamentalmente política, formativa e emancipatória. Portanto, a EA deve ser

entendida, como “transformadora das relações sociais existentes” (LOUREIRO, 2004, p. 31).

Diante disso, pode-se indicar o conceito central para a EA, como sendo “um processo

amplo, vinculado às esferas social, cultural, histórica, política e econômica e, para entender

que ela sozinha não transforma o mundo, e que tampouco pode-se imaginar transformações

societárias sem que esta se realize” (LOUREIRO, 2004, p. 31).

Existem grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na

implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já

existentes.

Fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição

destes professores em passar por um processo de treinamento, vontade da diretoria de

realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc, além de

fatores resultantes da integração dos acima citados e ainda outros, podem servir como

obstáculos à implementação da Educação Ambiental (ANDRADE, 2000).

Dado que a EA não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma mudança de

paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, as

dificuldades enfrentadas assumem características ainda mais contundentes. A Conferência de

Tbilisi (1977) já demonstrava as preocupações existentes a esse respeito, mencionando, em

um dos pontos da Recomendação nº 21, que deveriam ser efetuadas pesquisas sobre os

obstáculos, inerentes ao comportamento ambiental, que se opõem às modificações dos

conceitos, valores e atitudes das pessoas (DIAS, 1992).

Diante disso, para uma se consiga a implementação efetiva da EA nas escolas,

evidentemente,

posicionamo-nos por um processo de implementação que não seja hierárquico, agressivo, competitivo e exclusivista, mas que seja levado adiante fundamentado pela cooperação, participação e pela geração de autonomia dos atores envolvidos (ANDRADE, 2000, p. 55).

Vale destacar que os projetos apresentados em atividades isoladas, gerenciadas por

apenas alguns indivíduos da comunidade escolar não são capazes de produzir a mudança de

mentalidade necessária para que a atitude de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar resíduos

sólidos se estabeleça e transcenda para além do ambiente escolar.

Portanto, devem-se buscar alternativas que promovam uma contínua reflexão que

culmine na mudança de mentalidade, pois, apenas dessa forma, será possível implementar,

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nas escolas brasileiras, a verdadeira EA, com atividades e projetos não meramente

ilustrativos, mas fruto da ânsia de toda a comunidade escolar em construir um futuro no qual

se possa viver em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres

vivos e com os semelhantes.

4.3 Saúde e ambiente sustentável

Quanto ao desenvolvimento sustentável, há o princípio descrito por Leff (2001,

p.32), para quem “o princípio da sustentabilidade surge no contexto da globalização como

marca de um limite e o sinal que reorienta o processo civilizatório da humanidade” e, destaca

ainda que

o homem pré-moderno via seu destino atrelado a forças desconhecidas e incontroláveis. O homem moderno, no afã de controlar a natureza através da ciência e da tecnologia, ficou preso por uma racionalidade e por processos que hoje, dominam suas vidas, mas ultrapassam sua capacidade de decisão e entendimento (LEFF, 2001, p. 418).

As catástrofes que têm ocorrido com freqüência, são aquilo que exatamente afirma o

autor: processos que se desencadeiam a partir da (ir)racionalidade do próprio homem, dos

quais são exemplos as águas contaminadas; a poluição do ar causada pela emissão de gases

tóxicos; os desmatamentos desenfreados com propósitos puramente econômicos. Diante

desses fatos, percebe-se que o homem desconhece suas conseqüências ou, se conhece, se

mantém na neutralidade. Neste contexto, o discurso do desenvolvimento sustentável “inscreve

as políticas ambientais aos ajustes da economia neoliberal para dar solução aos processos de

degradação ambiental”, impondo a legitimação do mercado capitalista (LEFF, 2001, p.33).

No que se refere à sustentabilidade, Leff (2001) diz que há sinalização para um

futuro de solidariedade e consciência econômica dos capitalistas; é um compromisso a ser

firmado com as gerações futuras, que garanta a sobrevivência e à conservação do meio

ambiente. No entanto, hoje, o “desenvolvimento sustentável” é uma maneira de mascarar e

legitimar os reais propósitos e interesses de diversos setores econômicos e atores sociais, pois,

não garante um meio ambiente saudável às futuras gerações.

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A sustentabilidade anuncia o nascimento do que ainda não é, a partir do potencial do real, da canalização do possível e da forja da utopia. A sustentabilidade encontra sua razão e sua motivação não nas leis objetivas da natureza e do mercado, mas no pensamento e no saber; em identidades e sentidos que mobilizam a reconstrução do mundo (LEFF, 2001, pp. 236-238).

Um ponto que vale destacar é sobre a preservação das matas ciliares, pois, estas são

de suma importância uma vez que preservam naturalmente as nascentes o que vital para o ser

humano e, sem as matas ciliares as nascentes secam e como conseqüência deixam de existir.

O Brasil é o país possuidor da maior biodiversidade do planeta; suas florestas têm a

maior quantidade de espécies de plantas e de animais. Quanto às bacias hidrográficas, nelas

existem inúmeras espécies de peixes e de répteis, muitos dos quais não são encontrados em

outro lugar. Tudo isso deve ser preservado com intuito de abrigar e perpetuar todas as

espécies da flora e da fauna. Entretanto, vale destacar que o processo de ocupação do

território brasileiro caracterizou-se pela falta de planejamento e conseqüente destruição dos

recursos naturais, particularmente das florestas nativas representadas pelos diferentes biomas

(MARTINS, 2001; BORGHI et al, 2004).

O que se tem percebido no dia-a-dia da população brasileira, de maneira geral, é a

falta de consciência coletiva, sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, que

persiste o desrespeito ao meio ambiente, principalmente em relação à flora que é devastada

pelas queimadas, pelo corte seletivo de árvores, pela expansão das fronteiras agropecuárias,

entre outras questões, dentre elas, a aniquilação das matas ciliares, pois essas são de extrema

importância e por isso, deveriam ser impostas algumas ações prioritárias, com o

estabelecimento de uma legislação que as proteja de forma efetiva, visando conter a

exploração indiscriminada das florestas e demais formas de vegetação, principalmente no

meio rural.

Essa questão da preservação das matas ciliares é tão importante que em Muriaé e

Miradouro, cidades próximas uma da outra, as Secretarias Municipais de Educação

promoveram em 2004 uma semana de palestras com engenheiros florestais estaduais e da

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural e desenvolveram um projeto

sobre meio ambiente sustentável nas escolas municipais e, o local escolhido foi a Serra do

Brigadeiro, local onde existem várias nascentes e por conta a expansão agrícola, cultivo de

café, criação de gado leiteiro, as matas ciliares foram sendo destruídas, como também as

matas de preservação nas propriedades rurais.

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Esse projeto envolveu não só o corpo docente como também e principalmente o

corpo discente das escolas envolvidas, comunidades locais tanto da área urbana como e,

principalmente, da área rural, mas especificamente, fazendeiros que têm em suas terras,

nascentes que vertem água para fazendeiros ao longo da Serra do Brigadeiro.

O objetivo maior desse projeto foi conscientizar as populações rurais ao longo da

Serra do Brigadeiro quanto à importância da preservação e manutenção das matas ciliares e

das reservas de matas nativas existentes nas propriedades e levar também a consciência de

ambiente sustentável aos alunos das escolas envolvidas. Dessa forma, os alunos de 4ª a 8ª

séries puderam ir aos locais das nascentes com ou sem mata ciliar e ver quanto é importante a

preservação do meio em que vivem, o porquê das matas ciliares, pois dos alunos, nenhum

sabia o que era mata ciliar. Diante dessa falta de informação, os engenheiros florestais

explicaram que sem matas ciliares que circundam as nascentes, essas ficam comprometidas e

aos poucos esgota a água, comprometendo o abastecimento de água nas fazendas, o gado fica

sem água, a lavoura fica comprometida, pois uma vez sem água para irrigar a terra,

seguramente as lavouras não produzem.

Essa situação pôde ser presenciada numa microrregião, mas, em função do processo

acelerado de degradação e fragmentação das florestas tropicais e a busca de alternativas para

o seu manejo e recuperação, há a necessidade de utilização de métodos que avaliem o estado

de conservação destas florestas. Um método diagnóstico utilizado para inferir sobre o estado

de conservação de florestas naturais é aquele baseado em usos de indicadores, dentre eles, a

análise estrutural da floresta, através da sua composição florística e índices fornecidos pela

combinação de parâmetros fitossociológicos (BORGHI et al, 2004).

É preciso promover campanhas para que todos os proprietários de imóveis rurais se

convençam do papel social de suas terras. A necessidade de conservação de matas nativas e

até de matas recuperadas, de nascentes e de corpos de água e de suas matas ciliares não é só

para o bem do proprietário do imóvel. Dele depende a intensidade da produção de água para a

bacia a que pertence a propriedade, lembrando que este mineral líquido é um dos bens mais

preciosos da natureza, sendo indispensável à existência e manutenção da vida.

Vale ressaltar que, em Muriaé, as escolas não têm disciplinas específicas sobre meio

ambiente, ecologia ou matérias específicas. São professores de Ciências ou Biologia que

trabalham, superficialmente com essa temática.

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Algumas escolas da rede municipal, para cumprir o plano pedagógico, eventualmente

incluem, em suas disciplinas, tópicos sobre ecologia, meio ambiente e dificilmente trabalham

sustentabilidade.

Conversando com uma diretora da rede municipal, ela apresentou uma ementa com a

disciplina meio ambiente e disse que a escola desenvolve periodicamente alguma atividade

sobre a matéria. No entanto, ao conversar, de maneira informal, com alguns alunos dessa

escola, muitos não sabem dizer o que é, por exemplo, desenvolvimento sustentável. Esses

alunos são da faixa etária de 09 a 12 anos31.

Quanto às atividades desenvolvidas, são bastante primárias, ou seja, o conteúdo é

muito superficial. Não se pôde constatar que as escolas desenvolvam práticas efetivas sobre

essa disciplina ou tema. Para os alunos, meio ambiente se resume em floresta, rios, matas que

circundam o município.

A falta de informação não se limita às escolas. Quando desenvolveu-se a pesquisa

nos bairros, Aeroporto, Porto e Santa Terezinha, as famílias pesquisadas e assistidas pelo

PSF, não têm a menor idéia de meio ambiente saudável, por exemplo. Sobre isso, veja no

tópico 4.5, sobre propostas, sobre práticas para melhoria do meio ambiente. Antes, porém,

entendeu-se a necessidade de abordar sobre a gestão e avaliação de risco em saúde ambiental,

para depois, trabalhar sobre as práticas e propostas.

4.4 Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental

São vários os conceitos de risco. Mas entre eles existe um ponto em comum que é a

“inclusão da noção de probabilidade”. Assim, risco pode ser entendido como “a medida da

probabilidade e da severidade de efeitos adversos; ou, como “a probabilidade de ocorrer

acidentes e doenças, resultando em ferimentos ou mortes” (BRILHANTE, 1999. p.29).

O conceito de ‘risco’ sobre transformações ao longo da história antes de atingir sua

conotação contemporânea. Se na pré-modernidade a palavra ‘risco’ teve uma conotação

neutra, entendida como alguma coisa entre ‘perda’ e ‘ganho, atualmente significa ‘perigo’,

recebendo nitidamente uma conotação de negatividade (BRILHANTE, 1999).

Por exemplo, quando se fala que determinada população vive na linha de risco, ou

seja, vive na linha abaixo da pobreza – na miséria.

31 Informações dadas pela Secretária de Educação Municipal de Muriaé-MG.

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No século XIX até o início do século XX, segundo Rossi (2000, p.96), “foram os

anos de segurança”, aqueles que antecederam o início do questionamento sobre as

possibilidades da ciência, anos em que foram observados a partir da segunda metade do

século, a “cultura de segurança”, cujos resultados práticos, obtidos na época, foram revistos e

discutidos, em várias áreas da ciência moderna.

Já a partir do século XX em diante, as ‘regras’ e ‘leis’ científicas começaram a ser

discutidas em diversos setores da sociedade, a exemplo do uso do DDT e dos antibióticos,

questionados pela área médica. Mais além, segundo Minayo e Miranda (2002, p. 76), outros

conceitos como o de ‘causa’ de doenças, “herdados da bacteriologia, começaram a ser

insuficientes para explicar determinadas causas de doenças não transmissíveis e muitos outros

casos, como por exemplo, atribuição de ‘ato inseguro’ às vitimas de acidente de trabalho” (p.

ex., um ajudante de pedreiro subiu um andaime de 20 metros sem equipamentos de

segurança).

É importante destacar, que o estudo das doenças não transmissíveis, como risco,

trouxe um conjunto mais amplo de ‘causas’ à ‘multicausalidade’, ao ponto de se acrescer mais

um nível de intervenção voltado ao controle de ‘modelos’ e ‘padrões de vida’ impostos pela

própria condição social, econômica ou cultural das populações (LIEBER e ROMANO-

LIEBER, 2002).

O ‘estilo de vida’ do indivíduo passou a ser alvo de prevenção e um ‘estilo’ admite

vários fatores passíveis de correção, como os epidemiologistas foram capazes de separar estes

aspectos como condições de determinantes de causas específicas de doenças, o que num

contexto geral de risco, ganhou relevância o uso do termo “fatores de risco”, noção esta, que

já estava em uso na área da epidemiologia, principalmente para estudar fatores que

condicionam a ocorrência e a evolução de doenças crônicas (LIEBER e ROMANO-LIEBER,

2002).

De fato isso pôde ser percebido na pesquisa realizada para este estudo nos bairros

pesquisados. Num mesmo bairro, podem-se ver estilos de vida completamente diferentes.

Algumas famílias têm casa própria, grande, bem arejada, com nível de escolaridade e cultural

maior, em relação a outras famílias que moram de 10 a 12 pessoas num único cômodo, sem a

menor condição de habitação, as casas nem janelas têm, as condições ambientais são as

piores. Não têm higiene, no mesmo tanque que higienizam o vasilhame da cozinha, tomam

banho, dão banho nas crianças. Esgotos a “céu aberto” e assim por diante.

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Por isso, nos dias de hoje, o conceito de ‘risco’ atinge praticamente todas as

dimensões da vida. Nas ciências sociais, por exemplo, o termo ‘risco’ alcança mais de 10.000

registros nos últimos 15 anos, crescendo 10 vezes em relação ao período anterior (Lieber e

Romano-Lieber, 2002, p. 77), já na literatura médica, este número já ultrapassou 500.000

citações, nos últimos 20 anos.

Com a evolução conceitual, dotada de leis e regras determinantes (de risco), ganham

força as proposições que enfatizavam o contexto, onde fatores de risco estariam contribuindo

para este fenômeno – o risco (MINAYO e MIRANDA, 2002).

Na área das ciências médicas, o termo ‘risco’ na atualidade tem sido bastante

utilizado quando se trata de saúde pública, principalmente quando refere-se às doenças

sexualmente transmissíveis – DSTs, como é o caso das mulheres portadores de HIV/Aids,

insistirem em ter seus filhos, mesmo sabendo dos riscos, enquanto mães saudáveis evitam ter

filhos e restringem o tempo de amamentação, mesmo conhecendo os ‘riscos’ dessa prática aos

lactentes. Ao mesmo tempo, adolescentes e jovens recusam-se ao uso de preservativo,

alegando “a perda da espontaneidade e o custo do seu porte ou a redução da satisfação sexual

(LIEBER e ROMANO-LIEBER, 2002). Tudo isso são fatores de risco.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS (2000), fatores de

risco são,

os espectros de causalidades que têm a possibilidade de interferir nos sistemas vivos, psicossociais e do ser humano em seu funcionamento, com prejuízo às condições individuais ou coletivas de saúde. Na análise de fatores de risco são considerados os aspectos: físicos, químicos, psicossociais, biológicos, socioeconômicos e sindrômicos (OPAS, 2000 apud COHEN, 2003, p.809).

É possível que o Estado fomente ações e condutas cuja finalidade será a produção de

determinado resultado econômico e social concreto que são o direito ao meio ambiente, o

direito sobre o meio ambiente e o direito do meio ambiente.

A Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, traz o

conceito legal de meio ambiente em seu artigo 3º, inciso I, como sendo: “conjunto de

condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,

abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981).

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Para Medina e Santos (2000, p. 66),

o meio ambiente é o resultado das recíprocas relações entre sociedade e natureza num espaço e tempo concretos. O ambiente se gera e se constrói ao longo do processo histórico de ocupação e transformação do espaço por parte de uma sociedade.

Segundo parecer da Organização Pan-Americana de Saúde, Machado (2004, p. 45)

destaca que “o meio ambiente abrange a vida em todas as suas formas, inclusive a vida

humana e, a saúde é uma das condições que permite, abriga e rege a vida humana”.

Brilhante (1999, p. 19) informa que “as correlações entre o meio ambiente e outros

fatores começaram a ser estabelecidas no final do século passado”. Anterior a essa época

existia uma política relativa ao meio ambiente, muito limitada, ou seja, estava longe da saúde

pública. Era uma política ambiental afastada a saúde pública, dizia respeito a áreas de

preservação, aos rios e mares. Somente há pouco tempo, seu campo de atuação foi ampliado,

mas mesmo assim, era voltado para preservação e o controle de doenças infecciosas.

Mais recentemente, nos anos 90, a OMS tomando por base a expansão e evolução da

tecnologia, através de especialistas dos mais variados campos da ciência, deu maior enfoque à

proteção da saúde humana, através de políticas públicas voltadas à saúde, fazendo com que,

hoje, se combinem conceitos da interdependência da saúde com os fatores ambientais, ou seja,

saúde ambiental (OMS, 1990), levando ao entendimento e reconhecimento pelas diversas

áreas da ciência, que quase todos os aspectos do meio ambiente afetam potencialmente a

saúde.

Essa afirmativa é reconhecida por Brilhante (1999, p. 19) quando coloca,

Isto é verdadeiro não só para agentes específicos, como microorganismos ou outras entidades biológicas, forças ou agentes físicos e químicos, mas também para elementos dos meios urbano e rural: casas, locais de trabalho, áreas de lazer, infra-estruturas, indústrias; e os principais componentes do mundo natural, como a atmosfera, o solo, a água e as muitas partes da biosfera.

Tudo se deve ao grande avanço tecnológico que impõe essa complexidade e

multidisciplinaridade na questão da saúde e meio ambiente, o que levou a humanidade ao

aumento na utilização dos recursos naturais e na fabricação de novas substâncias químicas.

Por isso, é necessário que a questão da saúde seja tratada de forma integrada com os fatores

ambientais e as questões econômicas, pois, a melhora da qualidade da saúde ambiental estará

ligada ao desenvolvimento de processos ecologicamente sustentáveis (BRILHANTE, 1999).

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Diante disso, é importante que se desenvolva um modelo de gestão de saúde

ambiental, que envolva as questões de saúde, meio ambiente e economia, levando sempre em

conta os fatores sociais, para que se possam avaliar os fatores de riscos em relação à saúde e o

meio ambiente.

Segundo Fernandes e Veiga (2002, p. 75) “o objetivo de regulamentação ambiental

baseado na Avaliação de Risco é o de balancear o nível de risco aceitável em razão do custo

na redução do risco, em contraposição a outros riscos ou contra-riscos geralmente aceitos pelo

público”.

A avaliação de risco, no sentido de risco ambiental, deixa de configurar uma visão

única de avaliação de probabilidade para incluir outros aspectos de risco, como a natureza e a

severidade das conseqüências prejudiciais. A percepção do público é comparada à exposição

ao asbesto, que é tido como uma sustância não-natural e ao radônio, que é um gás nobre, na

medida em que os cientistas encaram a determinação do risco como um processo técnico.

Nessa relação o público se posiciona de forma a tratar o problema como um processo de

decisão pessoal. Por exemplo, trabalhadores que manipulam o asbesto, estão,

comprovadamente, sujeitos ao desenvolvimento de câncer, com casos já comprovados,

enquanto que ao contrário do radônio, não foi, até hoje, nenhum caso documentado, por

câncer contraído por trabalhadores que o manipulam (FERNANDES e VEIGA, 2002).

Esse é um tema polêmico que se insere no fundo de todas as decisões tomadas,

referente ao valor da vida humana, pois ao se atribuir um valor incalculável à vida, qualquer

empreendimento que pudesse causar a perda de uma única vida seria considerado inviável do

ponto de vista econômico. Contudo, várias as práticas que agregam um agravamento de

acidentes que culminam em morte, mesmo assim, são aceitas pela sociedade. Sendo assim,

com essa postura da sociedade, “rompem-se as barreiras morais que inviabilizam o projeto de

gestão e avaliação dos fatores de risco (BELLIA, 1991).

Do que a autora explica, pode-se entender que a sociedade (ou parte dela) aceita

esses fatores de riscos, muitas vezes pela própria necessidade pessoal, a exemplo dos

trabalhadores expostos a produtos químicos (asbesto e radônio), que trabalham com esses

produtos, até mesmo para manter seus empregos, garantir o sustento de suas famílias, mesmo

sabendo o quanto é prejudicial à saúde.

O mesmo acontece com os trabalhadores de minas subterrâneas ou a “céu aberto”, a

exemplo das minas de carvão, muito comuns nos estados da região Sul do Brasil, como em

Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Esses trabalhadores estão diariamente expostos a

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gases, fumaças tóxicas e poeira fina no interior das minas. Inclusive, o Fundo das Nações

Unidas para a Infância (UNICEF), organização das Nações Unidas, relatou que no Brasil,

inclusive no estado de Minas Gerais, empregam crianças e adolescentes para trabalhar em

minas de carvão, representando 55% da força de trabalho nessa atividade, alerta a UNICEF,

desde 1999.

Em Minas Gerais, na região metropolitana de Belo Horizonte e em cidades próximas

como Sete Lagoas, depredaram e ainda depredam grande parte do cerrado, fazendo

derrubadas da vegetação nativa para a queima e a produção de carvão em grandes fornos.

Grande parte desses fornos é ilegal, o que freqüentemente a mídia tem noticiado.

Muito se tem discutido sobre gestão de risco e meio ambiente e sobre a avaliação dos

impactos resultantes do desenvolvimento sobre os recursos naturais, o que não é uma prática

factível, ou seja, não é uma prática possível. Por isso, segundo Bellia (1991), pode-se dizer

que o objetivo básico da Gestão é a busca pela otimização do uso dos recursos que o homem

tem a sua disposição, sejam de ordem financeira, material ou humana. Para tal, devem ser

cumpridos alguns objetivos, tais como:

manter saudável o meio ambiente, na medida do possível, para atender às necessidades humanas atuais, sem comprometer o atendimento das necessidades de gerações futuras; disponibilizar meios para atuar sobre as modificações causadas no meio ambiente, pelo uso e/ou descarte dos bens e detritos gerados pelas atividades humanas, a partir de um plano de ação visível técnica e economicamente, com prioridades perfeitamente definidas; ter instrumentos para monitoramente, controles, taxações, imposições, subsídios, divulgação, obras e ações mitigadoras etc; e finalmente, ter bases de atuação, que possibilite o diagnóstico ambiental da área de atuação, a partir de estudos e pesquisas dirigidos à busca de soluções para os problemas que forem detectados (BELLIA, 1991 apud FERNANDES e VEIGA, 1998, p.79).

Para que se cumpra essa metodologia indicada por Bellia (1991), é preciso que o

poder público das instâncias federal, estadual, distrital e municipal tenha consciência da

importância de se preservar o meio ambiente como um todo, por exemplo, preservar as matas

ciliares, pois, são elas as responsáveis pela qualidade da água das nascentes, preservação dos

percentuais de matas nas zonas rurais (20%), desenvolver programas que possibilitem a

melhora da qualidade de vida urbana e rural. Além disso, a sociedade em geral deve ter

consciência que ela é responsável também. Não se pode esperar que os poderes públicos se

responsabilizem por tudo. A sociedade deve desenvolver práticas e ações que contribuam para

a saúde ambiental, como por exemplo, limpezas de suas ruas, lares, áreas de lazer, escolas da

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comunidade em que vive, evitar enchentes e outras catástrofes que afetam diretamente a vida

das populações mais carentes, entre outras ações.

4.5 Uma proposta participativa para a melhoria da qualidade de vida dos

moradores dos bairros

Durante a pesquisa, foi sugerido à coordenação dos PSFs nos bairros pesquisa, Porto,

Aeroporto e Santa Terezinha que fossem desenvolvidos alguns projetos que tivessem como

tema a sustentabilidade do desenvolvimento do meio ambiente, com foco no ambiente

familiar. Nestes projetos potenciais, seriam feitas, num primeiro momento, palestras

mostrando o que é meio ambiente, o que é sustentabilidade, o que é saúde e meio ambiente e

toda temática que envolve o assunto.

Mas, de pronto, muitos profissionais disseram: “... eh, seria bom. O problema é que

ninguém quer saber disso” (ENF1). Insistiu-se com a proposta que foi levada à coordenação

do PSF de Muriaé e, até o presente momento, aguarda-se a resposta.

Dessa imediata recusa por parte das enfermeiras, percebeu-se não houve boa

vontade. Talvez isso seja devido às condições até subumana de algumas famílias,

principalmente no que refere às moradias. São casas construídas sem nenhuma infra-estrutura.

São casas que não têm ventilação, moram de 12 a 13 pessoas em locais que, se muito,

caberiam apenas 3 pessoas. Foram visitadas algumas casas que crianças brincam com água de

esgoto a céu aberto. Não existe higiene, nem dentro e nem tão pouco dentro das casas. Essas

condições foram mais freqüentes no bairro do Aeroporto, na parte de cima. Esse bairro, por

estar localizado em terreno de elevação, é dividido em duas partes, ou seja, parte de cima e

parte de baixo. Por isso, entende-se ser, de fundamental importância a participação popular

na elabora de políticas públicas, principalmente nas esferas municipais.

4.5.1 A importância da participação popular na elaboração das políticas públicas

A importância da participação popular na elaboração de políticas públicas foi

observada quando do desenvolvimento da pesquisa no município de Muriaé, nos bairros

Aeroporto, Porto e Santa Terezinha. A população local não tem informação nenhuma sobre o

que meio ambiente como já dito anteriormente.

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Entende-se que é emergencial o desenvolvimento da prática efetiva de políticas

públicas no município, principalmente no que tange à saúde e ao meio ambiente. Acredita-se

que essa ausência de informação se deve à falta de educação, mas uma educação básica. A

educação que começa nas escolas e de preferência nas séries do ensino fundamental, pois, a

criança em idade de desenvolvimento está aberta a receber qualquer tipo de informação, seja

ela voltada para o bem ou para o mal. É nessa fase, que as escolas deveriam investir em

programas e práticas de educação ambiental, pois, é de início que se constrói a consciência do

homem.

É importante destacar que muito se fala em ausência de políticas públicas, mas na

verdade, não é que não existam, mas sim a falta de comprometimento das autoridades

federais, estaduais e municipais em sua aplicação prática e efetiva.

Em 1999, a EA passou a ser responsabilidade do Ministério da Educação, no âmbito

da Secretaria de Educação Fundamental e sob a coordenação da Coordenação-Geral de

Educação Ambiental (COEA), para a criação e implementação de políticas públicas

educacionais sobre meio ambiente, com tom de obrigatoriedade, que foi o ponto de partida

das ações da COEA (VIANA et al., 2001).

A partir dessa data, foi iniciado um processo de estruturação e definição de diretrizes,

políticas e priorização de ações, partindo do princípio de que o objetivo e finalidade, desse

processo, seria a implementação de políticas públicas nos sistemas de ensino que

completassem a Educação Ambiental no ensino fundamental, que contribuísse para a

melhoria e equalização da qualidade do ensino (VIANA et. al., 2001).

Segundo Medina (1998, p.18) (ONDE COMEÇAM E TERMINAM AS ASPAS DA

CITAÇÃO DIRETA?), a EA“é um processo que consiste em oferecer às pessoas uma melhor

compreensão, crítica e global do ambiente, possibilitando o esclarecimento de adoção-

consciente-participativa” a respeito das questões relacionadas com a conservação e a

adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação

da pobreza extrema e do consumismo desenfreado.

Para Medina (1998, p. 20), de nada adianta ter no currículo escolar, em qualquer dos

níveis escolares (fundamental, médio e superior), “a disciplina Educação Ambiental - EA,

sem que se tenha inicialmente, a formação dos professores, com conseqüente capacitação”,

pois, somente a formação dos professores não possibilita o exercício da mesma no ensino

formal, uma vez que a EA visa à construção de relações sociais, econômicas e culturais

capazes de respeitar e incorporar as diferenças existentes na sociedade, que são as minorias

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étnicas, populações tradicionais, para decidir caminhos alternativos de desenvolvimento

sustentável, respeitando os limites dos ecossistemas, substrato da possibilidade de

sobrevivência futura da própria raça humana.

No entanto, ressalta a autora que de nada adianta capacitar professores se a direção

da escola não entende “o que eles querem fazer e por que querem aquilo”. Isso ocorre

principalmente no ensino fundamental, na perspectiva educacional do Brasil, “implica

principalmente fazer com que eles vivam, no próprio curso de capacitação, uma experiência

de EA”. Ou seja, dar-lhes os instrumentos necessários para serem os agentes de sua própria

formação futura (MEDINA, 1997, pp. 20-21).

Quando se trata de capacitação de professores, implica em proporcionar meios e

oferecer instrumentos que permitam aos professores-educadores desenvolver uma visão

crítica da realidade em que vive, focando o meio ambiente, atitudes ecologicamente corretas,

uma visão sociopolítica e cultura, para que possa levar aos alunos, principalmente alunos do

ensino fundamental, a idéia de que a preservação do meio ambiente é muito mais ampla do

que aquilo que se restringe às matas, rios e mares. Assim, capacitar em EA significa dar aos

professores condições para fazer ligações, interconexões e buscar a visão do todo. Segundo

Loureiro (2004, p. 28),

a EA não atua somente no plano das idéias e no da transmissão de informações, mas no da existência, em que o processo de conscientização se caracteriza pela ação com conhecimento, pela capacidade de fazermos opções, por se ter compromisso com o outro e com a vida.

Para que isso seja possível, é necessário programar o curso de tal forma que, além

dos conhecimentos teóricos a serem ministrados, das discussões dos conceitos complexos que

compõem o arsenal teórico da EA e dos debates éticos, desde que o próprio curso permita a

discussão e a assimilação prática de metodologias participativas que, posteriormente, poderão

aplicadas na escola (MEDINA, 1997).

Reforçando esse entendimento Loureiro (2004, p. 29) afirma que;

EA promove a conscientização e esta se dá na relação entre o “eu” e o “outro”, pela prática social reflexiva e fundamentada teoricamente. A ação conscientizadora é mútua, envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes saberes, e a transformação ativa da realidade e das condições de vida.

Com base nesse entendimento, tudo leva a crer que a população precisa ter

participação ativa na sua comunidade, pois é através da realidade local que se começa a (re)

construção de saberes, hábitos e posições políticas.

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No entanto, vale ressaltar que existe a necessidade de articular as políticas da

Secretaria Municipal de Educação de Muriaé com a população local, para talvez, elaborar

planos educacionais para as escolas públicas municipais, que envolvam projetos voltados ao

meio ambiente, à sustentabilidade, utilizando a interdisciplinaridade. Talvez assim, seja

possível a troca de saberes entre governo local e comunidade. Nessa perspectiva, é possível

almejar uma cidade mais limpa, mais estruturada, mas ecologicamente perfeita, uma

população mais saudável, além da conscientização da população sobre preservação do meio

ambiente e o desenvolvimento sustentável, começando nas práticas de pequenas ações e que,

preservar o meio ambiente começa em casa e, mais, possibilitará geração de conhecimentos,

configurando uma nova lógica organizacional urbana e rural.

4.5.2 Uma proposta para o Programa Saúde da Família em Muriaé

Para fazermos uma proposta para o PSF em Muriaé-MG, necessário se faz, num

primeiro momento, traçar um panorama socioeconômico do Brasil, depois do estado de Minas

Gerais, para finalmente chegarmos ao município ora em estudo, pois essa analogia é de

fundamental importância.

De acordo com relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe –

CEPAL (2005), a população urbana no Brasil chega a 89,0% da população total, sendo que

32,8% vivem em áreas urbanas, predominantemente em favelas e, 53,2% vivem na zona rural,

mais longínquas e áreas limítrofes com perímetro urbano. Na linha de indigência, mostra o

relatório que 30,3% da população estão abaixo da linha da pobreza, ou seja, na mais plena

miséria (moradores de rua, na grande maioria). Isso mostra que apenas em 11% da população

brasileira estão concentradas na faixa populacional mais rica do Brasil, números esses

coincidentes com o MS (2004), que aponta 40% da população brasileira mais pobre não têm

nenhum tipo de benefício em relação à saúde.

São números alarmantes em âmbito nacional. No entanto, essa é uma realidade que

reflete nos estados e municípios brasileiros. Em Minas Gerais, segundo o Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística – IBGE, senso de 2002, é de 63%. Para analisar a dimensão da

pobreza no estado de Minas Gerais, segundo senso demográfico do IBGE (2002), foi

considerado e relacionado o estado de saúde da população e utilizaram-se dados de

mortalidade infantil.

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Outro dado que foi utilizado para medir o índice de pobreza no estado de Minas

Gerais é ostentado pela região da Zona da Mata Mineira, é considerado elevado, ocasionado

pelo êxodo rural para os grandes centros urbanos e um esvaziamento demográfico persistente.

Segundo o senso do IBGE (2002), é importante ressaltar que a zona rural é

denominada “região deprimida”, pois com mais de dois terços da população vivendo em áreas

rurais, os índices de pobreza, miséria, desnutrição, mortalidade, analfabetismo, desemprego e

infra-estrutura socioeconômica são considerados fatores desfavoráveis em grande parte dos

municípios mineiros, principalmente no Norte e extremo Norte do estado de Minas Gerais. Há

vários diagnósticos feitos na região, por especialistas e pesquisadores, apontam as regiões

hídricas e as secas periódicas, prolongadas, como fatores relevantes para o baixo desempenho

da agricultura que, mesmo considerando as condições climáticas desfavoráveis, ainda são

responsáveis por 30% do PIB nesta região.

Todos esses fatores, somados à carência de investimentos públicos e privados, a falta

de políticas públicas efetivas, contribuem sensivelmente e reforçam a tese de que a região é

expulsora de grande parte da população, a qual migra para os grandes centros do estado e

deparam com condições muitas vezes piores do que as que deixaram na área rural (CEPAL,

2005).

Na zona da Mata Mineira, região onde está localizado o município de Muriaé, as

condições não são tão diferentes, muito embora, o fator climático seja bastante favorável. De

acordo com o senso do IBGE (2002), o índice de pobreza medido no município é de 73,93%,

estando dentro desse índice, famílias da zona urbana e rural, o que se considera um índice

bastante elevado, considerando a população residente de 95.850 pessoas.

Contudo, as áreas rurais, atendidas pelo PSF, deixam muito a desejar, muitas vezes

justificado pelas famílias usuárias e assistidas pelo programa que, “viver na roça, doutora, é

muito difícil... tudo é muito caro... a gente não tem condições de comprar “criação” e nem

sementes... por isso a gente vai procurar serviço na rua32” (US1). Esse usuário é assistido,

juntamente com sua família, pelo PSF do bairro do Porto, que é o primeiro bairro da cidade e

é bem próximo de áreas rurais.

Geralmente, essas famílias residentes nas áreas rurais mais próximas da zona urbana

do município têm grande dificuldade de sobrevivência. Muitas delas sobrevivem com cartões

Bolsa Família, Bolsa Escola fornecidos pelo governo federal, que fazem parte do Programa

Fome Zero, instituído pelo atual governo em sua primeira gestão.

32 Na cidade.

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Quanto à prevenção e à promoção de saúde dessas famílias como tantas outras, ficam

relegadas a um plano inferior, bem como o ambiente em que vivem. São casas, como já dito

anteriormente, com condições mínimas de higiene, e às vezes, sem condições nenhuma de

moradia. Residências onde deveriam habitar apenas uma ou duas pessoas, habitam dez –

doze, incluindo crianças recém-nascidas e menores de 5 anos.

De acordo com ACS4, participante da pesquisa, que atende micro áreas no PSF do

bairro Aeroporto, “não adianta a gente tentar falar com essa gente que elas têm que limpar a

casa, ferver a água para beber e cozinhar, até para dar banho nos recém-nascidos... eles

falam pra gente que é tudo bobagem... a gente já criou 6, 7, 8 e ninguém morreu.” .

No entanto, a política estabelecida pelo MS (1994) quando da criação do PSF, segue

as diretrizes estabelecidas pela Carta de Ottawa que define promoção de saúde, como sendo

“um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida

e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” (OMS, 1986), o que

em outras palavras, significa dizer que a “habitação é o espaço principal da saúde na

comunidade” (BUSS, 2000, p. 165).

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS (2000), a habitação

como um espaço onde a função principal é ter qualidade para ser habitável, leva a um

entendimento de que essa definição seja analisada sob várias dimensões que compõem a

habitação quais sejam: cultural, econômica, ecológica e de saúde humana, incluindo os estilos

de vida e condutas de risco. Esta é, portanto, uma concepção sociológica, “devendo o conceito

habitação saudável incluir o seu entorno33, como ambiente, e agenda da saúde de seus

moradores”.

Quanto ao conceito de ambiente e entorno saudável, incorpora a necessidade de ter,

na comunidade, mecanismos e instrumentos de políticas públicas locais, para saneamento

básico, que possibilite a existência de espaços físicos limpos, com estruturas locais adequadas

e redes de apoio para se conseguir hábitos psicossociais sãos e seguros, isentos de violência,

como abuso físico, verbal e emocional (COHEN et al., 2004).

Mas para que isso seja possível, é preciso ter inicialmente a conscientização do poder

público local em relação à qualidade de vida do município, o que implica diretamente em

políticas públicas voltadas à habitação, saúde, educação e EA, efetivas respeitando a realidade

do município, ou seja, que bairros da cidade, como Porto, Aeroporto e Santa Terezinha, os

quais fazem parte de um espaço territorial urbano, tenham habitalibilidade com segurança,

33 Ao redor, em volta.

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saneamento básico, como canalização de esgoto, água potável, luz elétrica, enfim, condições

mínimas para que as famílias residam com dignidade.

Em contra partida, é preciso também que os PSFs capacitem sua equipe e

conscientizem os profissionais de saúde, fazendo com que possam gerir e executar suas

atividades, promovendo e prevenindo doenças, mostrando que um ambiente limpo, como as

residências, evitam doenças as mais diversas, como dengue, difteria, doenças diarréicas

crônicas e tantas outras e geralmente, originam de ambiente sem higiene, sem condições

normais de habitação.

Seria interessante que as famílias usuárias e assistidas pelo PSF funcionassem como

células multiplicadoras, ou seja, uma passasse para outra, o que aprendeu com os profissionais

de saúde do PSF de sua comunidade, desde que os profissionais de saúde, principalmente os

ACSs, fossem capacitados para levar todo tipo de orientação sobre higiene, tratamento e

coleta de lixo etc, o que como conseqüência, levaria a promoção, prevenção e recuperação da

saúde dessas famílias.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente vale ressaltar que o trabalho que ora se encerra foi bastante prazeroso e

importante, pois, permitiu conhecer a grande diversidade existente nos postos de saúde

municipais, onde funcionam unidades básicas de saúde assistidas pelo PSF.

Os bairros pesquisados, Porto, Aeroporto e Santa Terezinha, como já descritos em

capítulos anteriores, são bairros com aspectos socioeconômicos, culturais e étnicos bastante

diversificados. No entanto, genericamente falando, esses bairros abrigam uma população

bastante concentrada de pessoas que têm subempregos ou estão desempregadas, convivem

com um alto nível de criminalidade, prostituição e drogas.

As características socioambientais dessas localidades são diversificadas, ou seja, no

bairro Aeroporto é maior a concentração de pessoas pobres ou abaixo da linha da pobreza,

mas tem posto de saúde e escola da rede pública municipal, o qual se assemelha ao bairro

Santa Terezinha, que também tem essas características. Ambos são divididos em parte alta e

baixa, sendo que no Aeroporto, a parte alta é a mais precária em termos de saneamento básico

– esgoto a “céu aberto”, casas sem condições ambientais propícias para serem habitadas,

algumas casas sem luz elétrica; já o bairro Santa Terezinha, a parte baixa tem as mesmas

condições precárias similares ao bairro Aeroporto – parte alta. O bairro do Porto também é

dividido em duas partes, mas difere dos demais, pois tem uma infra-estrutura bem melhor,

com um bom comércio, agência da Empresa de Correios e Telégrafo, três postos de saúde,

sendo que um deles abriga duas unidades do PSF. No entanto, uma parte desse bairro que

divisa com outro bairro com alto índice de periculosidade, bairro Encoberta, também convive

com precariedades e meio ambiente bastante deteriorado, ou seja, esgoto a “céu aberto”, casas

construídas em encostas oferecendo perigo para os moradores, mato nas encostas, em algumas

residências ribeirinhas, as condições ambientais são bastante desfavoráveis.

Durante a pesquisa, pôde-se observar que a realidade da maioria dos moradores

desses bairros é bastante comprometida pelas condições ambientais, haja vista que em 2006 e

2007, quando houve um surto de dengue e meningite, o foco foi no bairro do Porto. Acredita-

se que a vulnerabilidade desse bairro se deve ao fato de ser um bairro ribeirinho, pois, na linha

ribeirinha, antes do bairro, estão duas unidades de saúde, hospitais de médio porte que

despejam partes de seus resíduos no leito do rio, o qual passa pelo bairro do Porto.

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Aliás, vale dizer que já sendo feita a despoluição e drenagem do rio Muriaé,

começando pelo bairro do Dornelas, e continuando rio abaixo, passando por toda a extensão

da cidade, pois, o rio Muriaé, corta toda a cidade. Esse projeto está sendo desenvolvido em

virtude do assoreamento causado pela Mineradora Miraí, no final de 2006 e início de 2007,

quando rompeu a barragem da empresa, em Miraí, e causou uma grande enchente nos

municípios de Muriaé, Patrocínio do Muriaé, Carangola entre outros até o estado do Rio de

Janeiro, atingindo os municípios de Itauva, São Fidélis, Porciúncula, Campos dos Goitacazes

entre outros. Com o rompimento da barragem, a lama acumulada na barragem desceu

comprometendo a qualidade de vida desses e outros municípios, inclusive na captação de

água, uma vez que tanto a água quanto a lama, continha minerais sólidos nocivos à saúde

humana.

Diante desse cenário de destruição e degradação do meio ambiente e, pautada em

evidências científicas, acredita-se, cada vez mais, que a saúde está intrinsecamente

relacionada com o meio ambiente. A própria pesquisa mostrou essa verdade, pois a habitação

se destaca como um lócus, base de promoção da saúde familiar.

Constatou-se também que o modo de vida das famílias participantes da pesquisa,

seus hábitos e costumes, a falta de higiene nas residências, de higiene corporal, de higiene na

preparação da alimentação e o descaso das próprias famílias, em relação às informações

passadas pelos ACSs, enfermeiras e médicos dos PSFs, são os fatores responsáveis pela má

qualidade de vida dos bairros objeto desse estudo.

Identificou-se ainda que os profissionais de saúde que atuam nos PSFs necessitam de

treinamentos específicos, capacitação sobre o meio ambiente. Acontece que para eles, em

grande maioria, meio ambiente se restringe a matas, rios e mares, quando na verdade, a

conclusão da pesquisa mostra que a saúde e meio ambiente caminham juntas, de mãos dadas.

É preciso que esses profissionais se conscientizem de que as residências, as ruas, as vielas, as

encostas, o bairro e o município, fazem parte de todo um contexto urbanístico e, tudo isso,

somado ou isoladamente, compõe o meio ambiente.

É preciso que esses profissionais tenham consciência de que a habitação saudável é

ponto central no processo gradual de melhoria da qualidade de vida.

Diante disso, o grande desafio está em consolidar a intervenção nos fatores

determinantes da saúde no espaço construído, entendendo-os como biologia humana, meio

ambiente, hábitos, costumes e estilos de vida, uma vez que esses fatores, na habitação, são as

principais causas de enfermidade e morte, principalmente em morte de recém-nascidos, ou

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melhor, de crianças de 0 a 6 meses de idade. Geralmente, os recém-nascidos, são acometidos

por infecções gastrointestinais que culminam em óbitos, ou ainda, mortes causadas pela

desnutrição, pela má alimentação da gestante, pela falta de cuidados corporais e pela falta de

acompanhamento pré-natal.

Interessante ainda reiterar que os institutos e fundações de pesquisas como IBGE e

FVG, ao medirem o índice de pobreza no Brasil, tomam por base fatores como, mortalidade

infantil, criminalidade e violência. De fato, se se pensar bem, é por esse caminho que se pode

medir a pobreza, a miséria no Brasil.

Assim, para enfrentar esse desafio é necessário articular as políticas públicas de

habitação, de saúde, de ambiente e de infra-estrutura urbana e formar alianças inter-setoriais,

ampliando seu alcance e vislumbrando uma política setorial, destinada, prioritariamente, aos

bairros com características desfavoráveis. É importante ainda que se desenvolva integração

entre público e privado, comunidade e lideranças locais, usando a multidisciplinaridade e o

multiprofissionalismo e as diretrizes básicas do PSF, como estratégia de prevenção e

promoção da saúde em nível local.

Dessa forma, o poder público deverá ser o ponto de intervenção e início de

articulação entre as duas metodologias básicas, simples e assertivas para a melhoria da

qualidade de vida: o Programa Saúde da Família e habitação saudável, inserindo nesse

contexto a educação, saúde, qualidade de vida para todos, como bem determina o texto

Constitucional, “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”.

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ANEXOS

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO I

BLOCO 1: Dados Socioeconômicos

1) Nome completo: ...........................................................................................................

2) Sexo: Masculino Feminino

3) Cor: Branca Negra Parda

4) Idade: ................. anos

5) Profissão: ...........................................................................................

6) Escolaridade: 1º Grau completo 2º grau completo

1º Grau incompleto 2º grau incompleto

Superior completo Superior incompleto

7) Renda individual:

a) de 1 a 3 salários

b) de 4 a 7 salários

c) de 8 a 10 salários

d) mais de 10 salários

8) Renda familiar:

a) de 1 a 3 salários

b) de 4 a 7 salários

c) de 8 a 10 salários

d) mais de 10 salários

9) Endereço:

...........................................................................................................................................

...........................................................................................................................................

10) Casa Própria: Sim Não

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11) Casa alugada: Sim Não

12) Casa emprestada: Sim Não

13) Quantas pessoas residem na casa? ...........................................................

14) Quantos menores de idade? .....................................................................

15) Quantos maiores de idade? ......................................................................

16) Tem água encanada? Sim Não

17) Tem rede de esgoto? Sim Não

18) Tem instalações sanitárias? (banheiro) Sim Não

BLOCO 2: Assistência do serviço de saúde

19) Tem acesso ao serviço de saúde no PSF? Sim Não

20) Recebe visita domiciliar? Em caso positivo marque uma das alternativas abaixo:

enfermeira

médico

agente comunitário

auxiliar de enfermagem

21) Quantas vezes?

Por mês? ..............................................

Por semana? .........................................

Por quinzena? .......................................

22) Como é a sua relação com os agentes comunitários?

Boa Ruim Regular

23) Você e sua família recebem alguma orientação sobre a higiene de sua casa, higiene

pessoal dos enfermeiros do PSF? Em caso afirmativo, diga que tipo de orientação.

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.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

a) E dos agentes comunitários? Como?

...........................................................................................................................................

..........................................................................................................................................

b) E dos médicos? Como?

...........................................................................................................................................

..........................................................................................................................................

24) Você e sua família recebem algum tipo de informação sobre saúde e meio ambiente da

equipe do PSF?

Sim Não

25) Onde vocês depositam o lixo doméstico?

no quintal em latões em terrenos baldios em sacos plásticos

26) Na sua rua tem coleta de lixo?

Sim Não

27) A coleta é feita:

1 vez por semana 2 vezes por semana todos os dias

28) Existe na sua família algum caso de doenças infecciosas?

Malária

Dengue

feco-orais

Doença do sono

Leptospirose

28) Algum membro de sua família sobre de alguma doenças? Qual?

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.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

29) Na sua casa tem janelas, portas que favoreçam a ventilação? Descreva.

.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

30) Na sua casa tem luz elétrica? Descreva.

.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

31) Como é a alimentação da sua família? Descreva.

.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

32) Neste bairro tem problema com insetos, barata, ratos ou outro bicho, inseto ou animal

que proliferam doenças? Caso afirmativo, citá-los.

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

32) Você e sua família se preocupam com a limpeza de sua casa, sua rua e do seu bairro?

Como?

.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

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ANEXO II

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1) Nome completo:

2) Idade:

3) Profissão:

4) Endereço:

5) Você e sua família já ouviram falar sobre saúde e meio ambiente? Como?

6) O que você entende sobre meio ambiente?

7) Você acha que o meio ambiente interfere na saúde? Por que?

8) Você gostaria de ter uma educação ambiental? Por que?

9) Você e sua família recebem algum tipo de orientação sobre meio ambiente e saúde?

De que tipo?

10) O PSF promove reuniões periódicas sobre promoção de saúde? Como são essas

reuniões?

11) O PSF orienta como prevenir doenças? Como?

12) Nessas reuniões ou palestras a equipe do PSF fala sobre higiene da casa e higiene

pessoal? Fala como tratar as crianças?

13) As enfermeiras-chefe dão assistência domiciliar? Fazem visitas periódicas?

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ANEXO III

QUESTIONÁRIO II Para os Profissionais do PSF

BLOCO 1: Dados Socioeconômicos

1) Nome completo: ...........................................................................................................

2) Sexo: Masculino Feminino

3) Idade: ................. a Anos

4) Profissão: ...........................................................................................

5) Há quanto tempo trabalha no PSF? 1 ano 2 anos acima de 3 anos

6) Atividade desenvolvida no PSF: .....................................................

7) Escolaridade: 1º Grau completo 2º grau completo

1º Grau incompleto 2º grau incompleto

Superior completo Superior incompleto

8) Quantas pessoas, geralmente, residem na casa? ......................................

9) Quantos menores de idade? .....................................................................

10) Quantos maiores de idade? ......................................................................

11) As casas visitas têm água encanada? Sim Não

12) Tem rede de esgoto? Sim Não

13) Tem instalações sanitárias? (banheiro) Sim Não

BLOCO 2: Assistência do serviço de saúde

14) Para trabalhar no PSF existe algum curso de capacitação? Sim Não

15) Faz visita domiciliar? Em caso positivo marque uma das alternativas abaixo:

enfermeira

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médico

agente comunitário

auxiliar de enfermagem

16) Quantas vezes?

Por mês: ..............................................

Por semana: .........................................

Por quinzena: .......................................

17) Como é a relação com as famílias assistidas pelo programa?

Boa Ruim Regular

18) Você dá algum tipo de orientação sobre a higiene em relação à casa, higiene pessoal e

dos demais membros da família assistida? Em caso afirmativo, como é essa

orientação?

.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

.....................................................................................................................................

a. Os enfermeiros responsáveis pela equipe dão algum tipo de treinamento para os agentes comunitários e para os técnicos de enfermagem sobre saúde e meio ambiente? Como?

...........................................................................................................................................

.......................................................................................................................

b. E os médicos? Como?

...........................................................................................................................................

.......................................................................................................................

19) Sobre o lixo doméstico? Existe alguma orientação?

sim não

20) Você sabe se tem coleta de lixo na sua área ou micro área atendida por você?

sim não

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21) A coleta é feita:

1 vez por semana 2 vezes por semana todos os dias

28) Existe algum caso de doenças infecciosas mais comum na sua área ou micro área?

Malária

Dengue

feco-orais

Doença do sono

Leptospirose

22) A equipe promove algum tipo de reunião com a comunidade? Qual?

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

23) As famílias e/ou pessoas assistidas pelo PSF recebem as informações passadas a elas

corretamente?

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

23) Neste bairro tem problema com insetos, barata, ratos ou outro bicho ou animal que

proliferam doenças? Caso afirmativo, citá-los.

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

24) Existe programa específico sobre promoção e prevenção de saúde neste PSF?

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

25) Em caso afirmativo, como é desenvolvido?

.................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

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26) Você, como profissional da saúde, entende que existe relação entre meio ambiente e

saúde? Por que? Descreva de maneira sucinta.

.................................................................................................................................................

.................................................................................................................................................

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ANEXO IV

TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO

Eu,...........................................................................................................................,

abaixo assinado(a) concordo em participar voluntariamente do estudo sobre saúde e meio

ambiente e qualidade de vida a partir do Programa Saúde da Família a ser realizado nos

Bairros, Santa Terezinha, Porto e Aeroporto, que será desenvolvido pela Enfermeira Soraya

Lúcia do Carmo da Silva Loures, na cidade de Muriaé-MG.

Estou ciente que minha participação constará de questionários e entrevistas gravadas

que serão depois transcritas. Terei acesso às fitas e ao material escrito. Caso não concorde ou

queira fazer alguma alteração, será permitido. Eventualmente alguns trechos das conversas

poderão ser reproduzidos no trabalho final (Dissertação de Mestrado), sendo garantido o

anonimato. As conversas serão dirigidas somente com enfoque à saúde e meio ambiente

domiciliar, como forma de promoção de saúde e prevenção de doenças, no período estudado.

É garantido o sigilo. O dia e a hora das entrevistas serão marcados de comum acordo entre

pesquisador e participante da pesquisa.

Muriaé (MG), ...............de.......................de 2007

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ANEXO V

AUTORIZAÇÃO

Eu, ......................................................, Coordenador do Programa de Saúde da Família

Muriaé-MG, autorizo a Mestranda da UNEC – Centro Universitário de Caratinga-MG, do

Curso de Pós-Graduação, Mestrado Profissional em Meio Ambiente e Sustentabilidade,

Soraya Lúcia do Carmo da Silva Loures, a desenvolver sua pesquisa acadêmica nos

PSFs dos bairros, Porto, Aeroporto e Santa Terezinha, com o tema: Avaliação das

condições de saúde e socioambientais das famílias, assistidas pelos PSFS nos bairros Santa

Terezinha, Porto e Aeroporto, no município de Muriaé/MG. Por ser verdade, firmo a

presente em duas vias de igual teor e forma.

Muriaé, 12 de setembro de 2007

_____________________________________________________

Coordenador Geral do Programa Saúde da Família de Muriaé-MG

_______________________________________________

Ciente: Secretário Municipal da Saúde de Muriaé-MG

CRM/MG

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ANEXO VI

Quadro de estimativa populacional dos bairros de Muriaé-MG

Bairros Quantidade de economias Estimativa populacional Aeroporto 1.235 4.322 Alterosa 71 2.485 Augusto de Abreu 23 805 Barra 3.763 13.170,50 Barra II 24 84 Boa Esperança 8 28 Boa Vista 1 3,5 Bom Pastor 93 325,5 Cardoso de Melo 427 1.494,50 Cardoso de Melo II 173 605,5 Centro 3.682 1.288,70 Cerâmica 593 2.075,50 Chácara Dr. Brum 54 189,00 Chácara São Pedro 18 63,00 Colety 378 1.323,00 Coronel Izalino 108 378,00 Distrito Industrial 6 21,00 Dornelas 1.273 4.455,50 Dornelas II 144 665,00 Edgar Miranda 252 882,00 Educardo Corrêia* 1 3,50 Encoberta 444 1.554 Florestal 34 119,00 Franco Suiço 120 420,00 Gávea 153 535,50 Inconfidência I 201 703,50 Inconfidência II 182 637,00 Joanópolis 332 1.127,00 João XXIII 999 3.497 Loteamento Vicentino* 1 3,50 Gaspar 679 2.376,50 José Cirilo 431 1.508,50 Total 15.903 47.149

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Bairros Quantidade de economias Estimativa Populacional Marambaia 322 1.127 Napoleão 284 994 Napoleão II 21 73,5 Nova Barra 2 7 Patr. São José 402 1.407 Planalto 590 2.065 Porto 915 3.202,50 Pref. Hélio Araújo 789 2.761,50 Primavera 307 1.074,50 Quinta das Flores 43 1.505 Recanto Verde 139 486,50 Safira 2.141 7.493,50 Santa Helena 3 10,50 Santa Terezinha 1.630 5.705 Santana 567 1.984,50 Santo Antônio 971 3.398,50 Santo Antônio II 73 255,50 São Cristóvão 1.010 3.535 São Francisco 981 3.433,50 São Gotardo 322 1.127 São Joaquim 729 725,50 São Paulo 9 32 São Pedro 691 2.418,50 Sofocó 56 196 União 306 1.071 Vale do Castelo 63 2.205 Vale dos Ipês 12 42 Vale Verde 143 501 Vila Leite 97 340 Total 13.618 49.176

Fonte: DEMSUR, 2008.