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CATADORES DE LIXO: RENDA FAMILIAR, CONSUMO E TRABALHO PRECOCE Nildo Viana A utilização de trabalho precoce, isto é, da força de trabalho de menores de dezoito anos, pelas famílias de catadores de lixo, tem como causa fundamental a necessidade de complemento da renda familiar, elemento indispensável para se realizar o consumo de bens necessários para a sobrevivência da família. O trabalho precoce é necessário devido ao fato de que na relação despesa-consumo se cria a necessidade de aumentar a renda para compensar a despesa representada pelos indivíduos menores de idade. Isto tem entre outras conseqüências, como veremos mais adiante, um uso elevado de trabalho precoce. Mas existem diversas outras conseqüências, tal como o caso da desescolarização dos menores de dezoito anos que vivem nestas famílias. Unidade Doméstica, Proletarização e Lumpemproletarização Por qual motivo determinadas famílias se tornam coletoras de lixo? O que engendra essa forma de buscar adquirir os meios de sobrevivência? Isto ocorre devido ao fato de que em nossa sociedade, desde a Revolução Industrial, criou-se uma separação entre trabalhadores e meios de produção. Sem meios de produção, ou seja, sem ter como produzir os seus meios de sobrevivência, não resta outra saída a não ser vender sua força de trabalho em troca de um salário. Porém, o mercado de trabalho não absorve toda a força de trabalho disponível. Desta forma surge ao lado do proletariado (força de trabalho efetivamente empregada e submetida ao salariato), o lumpemproletariado (força de trabalho potencial, sub-utilizada ou não- utilizada) 1 . O lumpemproletariado precisa, então, criar estratégias de sobrevivência. Isto decorre do fato de que na sociedade capitalista ocorre uma “mercantilização de tudo” (Wallerstein), inclusive dos meios de consumo 2 . A alimentação, o vestuário etc., se transformam em 1 A definição de lumpemproletariado não é consensual. O conceito surgiu com Marx e ganhou diversas significações posteriores. Tal conceito vem sendo retomado na França, principalmente a partir do final da década de 80 (cf. MOREAU DE BELLAING, Louis. La Misère Blanche. Paris, L’ Harmattan, 1988). Aqui o significado deste conceito é equivalente ao de exército industrial de reserva, tal como este último termo foi definido por Marx (cf. MARX, Karl. O Capital. Vol. 2, 3 a edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988; cf. também discussão sobre este termo apresentada por NUN, José. Superpopulação Relativa, Exército Industrial de Reserva e Massa Marginal. In: PEREIRA, Luiz (org.). Populações Marginais. São Paulo, Duas Cidades, 1978). 2 Cf. WALLERSTEIN, Imannuel. O Capitalismo Histórico. São Paulo, Brasiliense, 1984.

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Page 1: Catadores de lixo_renda_familiar_consumo_e_trabalho_precoce

CATADORES DE LIXO:

RENDA FAMILIAR, CONSUMO E TRABALHO PRECOCE

Nildo Viana

A utilização de trabalho precoce, isto é, da força de trabalho de menores de dezoito

anos, pelas famílias de catadores de lixo, tem como causa fundamental a necessidade de

complemento da renda familiar, elemento indispensável para se realizar o consumo de bens

necessários para a sobrevivência da família. O trabalho precoce é necessário devido ao fato de

que na relação despesa-consumo se cria a necessidade de aumentar a renda para compensar a

despesa representada pelos indivíduos menores de idade. Isto tem entre outras conseqüências,

como veremos mais adiante, um uso elevado de trabalho precoce. Mas existem diversas

outras conseqüências, tal como o caso da desescolarização dos menores de dezoito anos que

vivem nestas famílias.

Unidade Doméstica, Proletarização e Lumpemproletarização

Por qual motivo determinadas famílias se tornam coletoras de lixo? O que engendra

essa forma de buscar adquirir os meios de sobrevivência? Isto ocorre devido ao fato de que

em nossa sociedade, desde a Revolução Industrial, criou-se uma separação entre trabalhadores

e meios de produção. Sem meios de produção, ou seja, sem ter como produzir os seus meios

de sobrevivência, não resta outra saída a não ser vender sua força de trabalho em troca de um

salário. Porém, o mercado de trabalho não absorve toda a força de trabalho disponível. Desta

forma surge ao lado do proletariado (força de trabalho efetivamente empregada e submetida

ao salariato), o lumpemproletariado (força de trabalho potencial, sub-utilizada ou não-

utilizada)1.

O lumpemproletariado precisa, então, criar estratégias de sobrevivência. Isto decorre do

fato de que na sociedade capitalista ocorre uma “mercantilização de tudo” (Wallerstein),

inclusive dos meios de consumo2. A alimentação, o vestuário etc., se transformam em

1A definição de lumpemproletariado não é consensual. O conceito surgiu com Marx e ganhou diversas significações

posteriores. Tal conceito vem sendo retomado na França, principalmente a partir do final da década de 80 (cf. MOREAU DE BELLAING, Louis. La Misère Blanche. Paris, L’ Harmattan, 1988). Aqui o significado deste conceito é equivalente ao de exército industrial de reserva, tal como este último termo foi definido por Marx (cf. MARX, Karl. O Capital. Vol. 2, 3a edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988; cf. também discussão sobre este termo apresentada por NUN, José. Superpopulação Relativa, Exército Industrial de Reserva e Massa Marginal. In: PEREIRA, Luiz (org.). Populações Marginais. São Paulo, Duas Cidades, 1978).

2Cf. WALLERSTEIN, Imannuel. O Capitalismo Histórico. São Paulo, Brasiliense, 1984.

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mercadorias e a única forma (dentro dos padrões convencionais, ou seja, excetuando-se o caso

do roubo) de adquiri-las é através da compra efetivada por intermédio do dinheiro. Esta é uma

lógica bem diferente da existente nas sociedades pré-capitalistas, principalmente as de caráter

rural. Nestas sociedades, a unidade doméstica era simultaneamente unidade de produção e

unidade de consumo, ou seja, se fundamentava na produção de valores de uso, na auto-

subsistência.

Esta identidade entre unidade de produção e unidade de consumo na unidade doméstica

rompe-se com a ascensão do modo de produção capitalista. A produção mercantil exige não

só a separação entre trabalhador e meios de produção como também entre unidade de

produção e unidade de consumo3.

A produção mercantil capitalista possui a seguinte lógica: D-M-D (dinheiro-

mercadoria-dinheiro), onde se usa o dinheiro para comprar mercadoria e vendê-la por um

valor superior ao que foi gasto. Desta forma, a produção capitalista visa a reprodução

ampliada do capital4. Ao lado da produção mercantil capitalista persiste existindo a produção

mercantil simples, que, por sua vez, possui outra lógica: M-D-M (mercadoria-dinheiro-

mercadoria), onde se produz uma mercadoria para adquirir dinheiro para comprar outra

mercadoria (que não é produzida nesta unidade doméstica). Isto quer dizer que a produção

mercantil simples também precisa de garantir uma renda monetária para possibilitar a compra

de mercadorias não produzidas na sua própria esfera. Porém, esta unidade doméstica é, ainda,

unidade de consumo e unidade de produção, embora não seja auto-suficiente, ou seja, não

produz tudo que necessita para consumir e por isso precisa produzir um excedente para

adquirir dinheiro com sua venda e assim comprar as mercadorias que necessita.

Assim, com exceção da produção mercantil simples subordinada à produção mercantil

capitalista, a distinção entre unidade de consumo e unidade de produção se generaliza em toda

a sociedade capitalista. Mas tanto a produção mercantil simples quanto a produção mercantil

capitalista já foram objetos de extensas análises e estudos. Curiosamente, o mesmo não

aconteceu com a unidade de consumo separada da unidade de produção, separação esta

instituída pela produção mercantil capitalista. Poucos autores se dedicaram ao problema do

3 Mas é necessário dizer que isto não ocorreu de forma imediata, pois foi um produto da paulatina constituição do

capitalismo (cf. MOTTA, Fernando P. O Que é Burocracia. São Paulo, Brasiliense, 1985). 4Cf. MARX, Karl. O Capital. Vol. 1, 3a edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988.

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consumo em si mesmo5 e menos ainda se dedicaram ao que denominamos unidade de

consumo6. Se a lógica da unidade de produção capitalista é D-M-D, resta saber qual é a lógica

da unidade de consumo.

Alguns aspectos da unidade de consumo são fáceis de se delimitar. A unidade

doméstica deixou de ser uma unidade de produção para os agentes envolvidos na produção

mercantil capitalista a classe capitalista e a classe operária , para o conjunto dos

trabalhadores assalariados improdutivos e para aqueles que só possuem sua força de trabalho

mas que não conseguem vendê-la no mercado de trabalho formal. Porém, a unidade doméstica

continuou sendo uma unidade de consumo. Ora, se não é unidade de produção e é unidade de

consumo, então sua lógica é D-M (dinheiro-mercadoria). Em outras palavras, as unidades

domésticas são apenas unidades de consumo e para o consumo se efetivar é necessário uma

renda monetária. Este caso é mais grave no que diz respeito àqueles que possuem como única

propriedade a sua força de trabalho e são constrangidos a buscar adquirir uma renda

monetária para garantir sua sobrevivência. Numa sociedade onde tudo (ou quase tudo) se

transformou em mercadoria e que, por conseguinte, possui um valor de troca, então torna-se

necessário para adquiri-las ter acesso ao meio de troca universal, ou seja, ao dinheiro.

Neste sentido, a sobrevivência da unidade doméstica — que se transformou em uma

unidade exclusivamente de consumo — depende da renda familiar. A renda familiar é o que

permite o funcionamento da unidade doméstica enquanto unidade de consumo. A renda

familiar é o total em dinheiro adquirido pelo conjunto dos membros da família, embora ela

também possa ser adquirida por apenas um membro ou por uma parte deles. Porém, esta renda

monetária adquirida é revertida para o conjunto da família, independentemente de quantos

participam da sua formação.

Os membros da família que não participam da formação da renda familiar

desempenham outras atividades delimitadas por uma divisão social do trabalho na qual os que

se dedicam à tarefa de adquirir renda monetária geralmente não participam (com exceção de

algumas funções tais como consertos, construção e reforma de casa etc.). Estas atividades

5Um dos raros autores que se dedicou ao problema específico do consumo foi o economista norte-americano Thorstein

Veblen (Cf. VEBLEN, Thorstein. A Teoria da Classe Ociosa. Col. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1980) e tal tema vem recebendo atenção dos que se dedicam à questão da sociedade de consumo.

6Uma das raras exceções encontra-se em textos orientados por uma preocupação feminista sobre o trabalho feminino nas famílias proletárias (cf. HARRISON, John; SECCOMBE, Wally; GARDINER, Jean. El Ama de Casa Bajo el Capitalismo. Barcelona, Anagrama, 1975).

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consistem principalmente em processamento de meios de consumo e de criação de condições

para a realização do consumo e para liberar membros para a busca da renda monetária. Esta

divisão social do trabalho ocorre principalmente entre homens e mulheres, sendo que

geralmente, mas nem sempre, os homens se dedicam a busca de renda monetária e as

mulheres cuidam da unidade doméstica, que inclui atividades como limpeza, preparação de

comida etc. Em muitos casos as mulheres fazem estas atividades e ajudam na busca da renda

monetária e em casos mais raros os homens colaboram em tais atividades consideradas

“domésticas”7.

A formação da renda familiar ocorre de forma diferente em unidades domésticas

diferentes. Nas famílias proletárias, o principal meio (embora não seja o único, pois outros

membros da família podem utilizar outros meios para complementar a renda) para a formação

da renda monetária é o trabalho assalariado. Nas famílias lumpemproletárias existem diversos

meios utilizados para se adquirir renda monetária: trabalho assalariado temporário, trabalho

independente (também chamado de “trabalho autônomo” ou “por conta própria”), roubo,

mendicância etc.8.

Resta saber quais são os membros da família que são os responsáveis pela aquisição da

renda monetária. Isto depende do período histórico e do contexto cultural mas podemos dizer

que nas famílias proletárias com níveis salariais mais altos cabe ao indivíduo adulto do sexo

masculino a tarefa de adquirir renda monetária. As mudanças históricas e culturais podem

alterar este quadro. Durante a Revolução Industrial, por exemplo, mulheres e crianças foram

jogadas no trabalho assalariado enquanto muitos homens eram vítimas do desemprego, tal

como ocorre hoje, no caso das crianças, em muitos países do chamado “terceiro mundo” e que

volta a ocorrer nos países da Europa Ocidental.

Nas famílias proletárias com níveis salariais baixos a situação é diferente. A renda

monetária proporcionada pelo trabalhador adulto pode ser e geralmente é insuficiente

para manter a unidade doméstica com suas necessidades de consumo. Isto pode provocar

tanto a desagregação desta unidade doméstica como a viabilização de alternativas para

aumentar a renda familiar, tal como o uso do trabalho precoce e/ou do trabalho feminino.

7 Aliás, é este um dos motivos da desvalorização das atividades domésticas e, por conseguinte, das atividades femininas

desempenhadas em tal lugar: a unidade doméstica passou a ser o locus do consumo e por conseguinte do que é “improdutivo”, ao contrário, por exemplo, da unidade doméstica no modo de produção escravista, que era o oikos e no modo de produção feudal, o feudo, onde não se limitava apenas ao consumo mas também à produção de bens.

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Portanto, a renda monetária insuficiente adquirida pelo trabalhador assalariado adulto cria a

necessidade de uso do trabalho precoce e/ou feminino.

Nas famílias lumpemproletárias a renda monetária adquirida é geralmente insuficiente.

Em determinados casos e momentos históricos de uma família, esta renda pode ficar aquém

da necessidades de sobrevivência e em casos raros pode permitir uma relativa tranqüilidade

na aquisição dos meios de sobrevivência. É claro que isto depende de qual segmento do

lumpemproletariado se faz parte, pois na maioria dos casos a fome, a desnutrição, entre outros

aspectos que demonstram as suas condições precárias de vida, é o que predomina. Os

responsáveis pela aquisição da renda monetária e de recursos adicionais, são todos os

membros com condições de desenvolver estas atividades, ou seja, apenas as crianças

pequenas (cuja idade varia dependendo da família ou do segmento do lumpemproletariado)

estão em geral livres destas tarefas.

Na sociedade capitalista, uma sociedade mercantil par excellence, a generalização da

mercantilização e, por conseguinte, do uso da moeda, cria o chamado “cálculo econômico”

ou cálculo financeiro como forma de organizar a relação entre despesas e renda9. Este

cálculo financeiro também é utilizado em unidades domésticas lumpemproletárias, embora de

forma semiconsciente e assistemática. A relação despesas-renda varia de acordo com o

tamanho da família. O cálculo é simples: a renda deve ser superior às despesas e o equilíbrio

orçamentário depende ou da diminuição das despesas ou de aumento da renda. Além disso,

quanto maior a família, maiores serão as despesas, e, por conseguinte, maior é a necessidade

de aumentar a renda familiar. O aumento das despesas leva à necessidade de aumentar a

renda.

De que forma se pode aumentar a renda e/ou os recursos adicionais? Há duas formas

principais para se conseguir isto: sobrecarregando os membros ativos da família, quando isto

é possível, ou incorporando mais membros nas atividades que geram renda ou recursos

adicionais. Esta sobrecarga de atividades sobre os membros ativos geralmente ocorre quando

as crianças ainda estão demasiadamente pequenas para trabalharem e a incorporação de mais

membros geralmente ocorre quando tais crianças já possuem condições de executarem tais

atividades. Tendo em vista que geralmente a renda familiar das famílias lumpemproletárias

8 OFFE, Claus. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984.

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mal consegue satisfazer a necessidade do que o antropólogo Eric Wolf chamou de “mínimo

calórico”10, então vê-se que, para estas famílias, o uso do trabalho precoce é indispensável.

Neste sentido, podemos dizer que o aumento do tamanho da família — no caso de

crescimento vegetativo — provoca um aumento de despesas que, à curto prazo, gera uma

intensificação do trabalho dos membros ativos e, à longo prazo, a utilização do trabalho

precoce.

Mas, antes de continuarmos, devemos esclarecer por qual motivo utilizamos a

expressão lumpemproletarização ao invés de exclusão social11, termo que vem sendo

amplamente utilizado. Ao nosso ver, o termo exclusão social apresenta limitações que não

ocorrem com o conceito de lumpemproletarização. A mais grave limitação que observamos

no termo exclusão social é de caráter teórico-metodológico. A idéia de exclusão não tem

como pano de fundo uma teoria da totalidade da vida social enquanto unidade dinâmica e

contraditória e sim uma visão dualista12: a sociedade estaria dividida em duas esferas: a dos

“incluídos” e a dos “excluídos”, como se fossem duas unidades sociais que existissem

independentemente uma da outra.

Podemos observar outros problemas teórico-metodológicos em torno da idéia da

exclusão social. Em primeiro lugar, tal concepção nos fornece uma falsa impressão que não

há uma divisão interna entre os considerados “incluídos” e também entre os considerados

“excluídos”. Em segundo lugar, não disfarça a sua preferência pelo mundo dos “incluídos”

(seja ele qual for, se lembrarmos que este não é homogêneo), que passa a ser visto

acriticamente e julgado como um mundo desejável pelos “excluídos” (o problema passa a

9 “As pessoas que querem sobreviver contam todas as rendas que podem receber, não importa a fonte, e as calculam em

termos das despesas reais que precisam fazer” (WALLERSTEIN, Imannuel. Ob. cit., p. 19). 10 “Esse mínimo pode ser definido com bastante rigor, em termos fisiológicos, como o consumo diário de calorias

alimentares exigido para compensar o desgaste de energia que o homem despende em seu rendimento diário de trabalho. Esse montante pode ser avaliado, aproximadamente, entre 2.000 a 3.000 calorias por pessoa em cada dia de trabalho. Não será errado afirmar que este mínimo ainda não se alcançou na maior parte do mundo. Cerca da metade da população mundial tem, em média, uma ração per capta diária de menos de 2.250 calorias. Essa faixa inclui a Indonésia (com 1.750 calorias), a China (com 1.800 calorias) e a Índia (com 1.800 calorias). Dois décimos da população mundial incluem-se na categoria que recebe, em média, uma ração de 2.250 a 2.750 calorias per capita; esse grupo inclui a Europa Mediterrânea e os países balcânicos. Somente três décimos da população mundial os Estados Unidos, os domínios britânicos, a Europa Ocidental e a União Soviética conseguem ficar acima de 2.750 calorias” (WOLF, Eric. Sociedades Camponesas. 2a edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1976, p. 17).

11 Sobre exclusão social, consulte-se: NASCIMENTO, Elimar. A Exclusão Social no Brasil: Algumas Hipóteses de Trabalho e Quatro Sugestões Práticas. In: Cadernos CEAS. No 152, Jul/Ago. de 1994; JUNCÁ, Denise. Ilhas de Exclusão: O Cotidiano dos Catadores de Lixo de Campos. Ano XVII, no 52, 1996.

12 Tal crítica também foi endereçada à chamada “teoria da marginalidade” (em suas diversas versões), que também teria uma visão dualista da sociedade (cf. BERLINCK, Manoel. Marginalidade Social e Relações de Classe em São Paulo. Petrópolis,

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girar em como “incluir” os “excluídos”). Em terceiro lugar, não trabalha de forma suficiente a

razão de ser da chamada exclusão social, demonstrando, na maioria das abordagens sobre este

tema, que é um processo sem agentes e sem contradição, sendo produto não se sabe do que,

ou, em outras palavras, a idéia de exclusão social assume um caráter descritivo e não

explicativo.

A idéia de lumpemproletarização, ao contrário, surge no interior de uma teoria das

classes sociais e o lumpemproletariado não é um segmento social totalmente excluído se

houvesse tal possibilidade pois ele pode estar momentaneamente afastado do mercado de

trabalho, dos direitos sociais (da cidadania) e marginalizado no mercado de consumo, mas

não está definitivamente excluído de nenhum destes aspectos da vida social, pois existe tanto

mudanças que alteram sua situação quanto uma mobilidade entre lumpemproletariado e

proletariado, entre segmentos do lumpemproletariado etc. Por conseguinte, consideramos

como mais adequado o uso da teoria do lumpemproletariado ao invés do uso da concepção da

exclusão social e por isso lançaremos mão dela no presente trabalho.

Catadores de Lixo: Renda Familiar, Consumo e Trabalho Precoce

O lumpemproletariado cria diversas estratégias de sobrevivência, tal como já havíamos

colocado. Aqui nos interessa a forma específica representada pela coleta de lixo. As famílias

lumpemproletárias que se dedicam à coleta de lixo e vivem desta coleta será o nosso foco de

análise daqui em diante.

Os coletores de lixo (também chamados de “catadores de lixo” e “trabalhadores do

lixo”) atuam em diversas cidades brasileiras. O que permite sua existência é a indústria da

reciclagem do lixo que transforma os coletores em fornecedores de matérias-primas. O tipo de

produto que extraem do lixo é variado, sendo principalmente papel, garrafas, plásticos, latas e

cobre. Segundo Bursztyn e Araújo, “o processamento industrial do papel coletado pelos

catadores de Brasília é um bom negócio. Estima-se que para cada tonelada adquirida a

empresa gasta igual valor no processamento, para depois vender a matéria-prima por 2,5

vezes mais do que os custos”13.

Vozes, 1975). Consideramos que tais críticas se aplicam também à concepção de exclusão social, tendo em vista suas características semelhantes.

13BURSZTYN, Marcel & ARAÚJO, Carlos Henrique. Da Utopia à Exclusão: Vivendo nas Ruas em Brasília. Rio de Janeiro/Brasília, Garamond/Codeplan, 1997, p. 39.

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O comércio do lixo entre os catadores de lixo e as empresas de reciclagem geralmente

passa pela mediação dos “atravessadores”: “boa parte das compras não é feita diretamente

pelas empresas. Também nesse setor a terceirização chegou, de forma que há intermediários

entre os catadores e a indústria: são os ‘atravessadores’ do papel”14. A existência de

atravessadores pode ser explicada por dois motivos principais. Em primeiro lugar, o fato de

que existe dificuldade de locomoção dos catadores de lixo para entregar o material nas

empresas compradoras15. Em segundo lugar, porque é mais vantajoso para as empresas

utilizar o trabalho dos catadores de lixo já que os catadores selecionam o material

(separando os vários tipos de papel, que possuem preços diferentes, e outros materiais, tais

como vidros, latas etc.) do que recolherem diretamente o lixo e os atravessadores ocupam

um papel importante neste caso, pois ao mesmo tempo que provocam um aumento do preço

também diminuem as despesas das empresas com transporte e funcionários, o que não altera

muita coisa para elas.

Portanto, é a indústria de reciclagem de lixo que permite a existência dos catadores de

lixo que comercializam o produto de sua coleta, ou seja, somente existindo aquele que

compra é que pode existir aquele que vende. É o lucro proporcionado pelo lixo que cria o

comércio do lixo e a relação mercantil e, consequentemente, é o que permite às famílias de

catadores de lixo adquirir renda monetária.

Qual é a origem dos catadores de lixo? Tal como é comum para uma grande parte do

lumpemproletariado, a principal forma de produção de coletores de lixo é a migração, ou seja,

o deslocamento da força de trabalho de um lugar para outro, seja do campo para a cidade ou

de uma localidade urbana (cidade, região ou país) para outra. Segundo Peliano, “se o

capitalismo, de um lado, ao separar o trabalho de suas condições de realização (pois as tornam

propriedades de alguns), gera historicamente os contínuos e específicos deslocamentos

populacionais em busca de recomposição de novas condições de trabalho, de outro lado, ao

separar trabalho necessário e o trabalho excedente (pois vital à perpetuação do capital), gera

progressivamente trabalhadores excedentes ao processo imediato de produção e, em

conseqüência, produz igualmente novos migrantes. Nessa perspectiva, é insuspeito afirmar

14BURSZTYN, Marcel & ARAÚJO, Carlos Henrique. Ob. cit., p. 38. 15 “Por não dispor das condições mínimas para buscarem opções de venda desse material no mercado, em função dos limites

de locomoção, a troca é estabelecida no próprio local de trabalho, via ‘atravessadores’. Estes encostam seus veículos e

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9

que, sob o capitalismo, ou a partir da evolução das formações econômicas no caminho

capitalista, ocorrem o aumento e a intensidade dos deslocamentos populacionais no espaço

econômico das sociedades, seja de forma absoluta (campo-cidade), seja de forma relativa

(cidade-cidade ou cidade-campo). Assim, as migrações, enquanto deslocamentos naturais de

população, se tornam deslocamentos determinados (provocados) de população, na medida em

que se intensificam e aceleram no capitalismo quando, então, passam a ser produtos

necessários à forma capitalista de produção”16.

A destruição de relações de produção pré-capitalistas e não-capitalistas, o que significa,

ao mesmo tempo, a instauração de relações de produção capitalistas que não absorve toda a

força de trabalho liberada pelas formas não-capitalistas de produção, é uma das principais

causas da migração, isto é, do deslocamento da força de trabalho na sociedade. Além disso, o

processo de proletarização e lumpemproletarização que decorre daí é reforçado pela

necessidade do capital de diminuir os gastos com a força de trabalho, o que é realizado

através do aumento de produtividade e desenvolvimento tecnológico que provoca desemprego

(lumpemproletarização) e redução dos gastos com salários através da implantação de

indústrias em regiões onde o movimento operário é mais fraco, a força de trabalho inativa é

grande e os níveis salariais são baixos.

A migração é, portanto, o deslocamento da força de trabalho provocada pela destruição

de relações de produção pré-capitalistas e não-capitalistas (campo-cidade) ou pela

lumpemproletarização e baixos salários existentes em determinadas regiões ou países, cujo

principal exemplo é o deslocamento de força de trabalho do “terceiro mundo” para a Europa

Ocidental17.

Os catadores de lixo são produtos deste deslocamento da força de trabalho. Os coletores

de lixo de Campos/RJ, por exemplo, “já residiram em diversas cidades do país, e retornaram

para Campos por dispensa ou término dos contratos de trabalho, por salários insuficientes,

pela desilusão com as contradições entre ganhos e gastos ou, ainda, em menor escala, por

aguardam o que cada um tem a oferecer, impondo um processo de seleção, separando o que é ou não aproveitável e determinando o valor a ser pago” (JUNCÁ, Denise. Ob. cit., p. 110).

16PELIANO, José Carlos. Acumulação de Trabalho e Mobilidade do Capital. Brasília, UNB, 1990, p. 124. 17Exemplos deste tipo de migração se encontra em: MOREAU DE BELLAING, Louis. Ob. cit.

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motivos pessoais ligados a casamentos, separações, doenças ou desejo de ficar perto da

família18”.

Podemos dizer que a razão da migração se deve a diversos fatores mas todos derivados

do desemprego (lumpemproletarização) e de condições precárias de vida e, por conseguinte,

da expectativa de conseguir melhores condições de vida e/ou emprego. Porém, depósitos de

lixo e grandes quantidades de restos consumidos pela população existem em diversas cidades,

principalmente nas grandes, onde se destacam as capitais, e em menor grau, nas cidades

médias. Por qual motivo, então, se escolhe determinada cidade? Que motivo há para escolher

Campos/RJ, Goiânia/GO, São Paulo/SP, Brasília/DF e não qualquer outra cidade? Em outras

palavras, resta saber por qual motivo se escolhe determinado local para ir. A escolha pode ser

motivada por informações, conhecimento prévio do local, proximidade entre moradia de

origem e o local escolhido, existência de parentes residindo no local escolhido etc.

A “opção” que é, na verdade, uma falta de opção por ser catador de lixo decorre

de condições sociais específicas. Muitos indivíduos passam por diversas atividades antes de

se tornar catador de lixo enquanto que outros já chegam à cidade e adotam imediatamente esta

atividade, como é o caso daqueles que possuem parentes trabalhando com o lixo. Aliás,

existem resistências a este tipo de atividade, que é rejeitada por muitos. Mas a falta de

alternativa e a existência de condições de sobrevivência através do trabalho com o lixo

proporciona tal decisão. Para haver esta decisão é preciso que haja uma indústria de

reciclagem que atue no local, empresas e/ou atravessadores que comprem o lixo coletado, um

quantum razoável de lixo na cidade (o que pressupõe uma cidade no mínimo de médio porte),

ou seja, é preciso haver certas condições externas que possibilitem e viabilizem a coleta do

lixo. As condições internas são a lumpemproletarização, a falta de alternativas e uma

trajetória individual e/ou familiar que torne conhecida esta possibilidade de adotar a coleta de

lixo como estratégia de sobrevivência. Além disso, determinadas alternativas ou “opções” são

rejeitadas por parecerem mais humilhantes ou desonestas. É comum ouvir, por exemplo, que

coletar lixo é “melhor que roubar”, onde se mistura vergonha e justificativa para a opção pela

coleta de lixo.

A mendicância, embora seja praticada de forma subsidiária em alguns poucos casos,

também é rejeitada como forma alternativa de sobrevivência, o que demonstra que os 18JUNCÁ, Denise. Ob. cit., p. 114.

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coletores de lixo possuem uma mentalidade onde se mescla vergonha (da atividade

desenvolvida) e orgulho ferido, o que cria determinados “mecanismos de defesa”, para

utilizar linguagem psicanalítica, que lhe fornece uma justificativa e conforto psíquico.

Para explicar a questão específica do uso do trabalho precoce devemos considerar

também a questão da renda monetária que pode ser adquirida com a coleta de lixo. Sem

dúvida, a atividade de coleta de lixo proporciona uma renda monetária familiar insuficiente

para atender as necessidades do mínimo calórico. Embora, em determinados casos, ela

proporcione recursos adicionais, principalmente para aqueles que desenvolvem suas

atividades em depósitos de lixo, tal como os restos de alimentos. Segundo Juncá, “a

alimentação e saúde ganham, porém, novos contornos no lixão. Os restos de alimentos

encontrados, ou mesmo as verduras, leite, carnes e frangos, em processo de deterioração, com

prazos de validade vencidos ou embalagens violadas, que são regularmente trazidos para o

lixão, determinam a única possibilidade de variação e ‘enriquecimento’ de sua ‘dieta’

básica”19.

Desta forma observamos que a renda familiar é insuficiente e a necessidade do uso do

trabalho precoce se torna evidente, principalmente para as famílias que possuem crianças, o

que aumenta suas despesas. Mas o uso do trabalho precoce já era uma realidade antes da

coleta de lixo para a maioria das famílias20. Nas famílias de catadores de lixo, as crianças em

torno dos dez anos passam a se dedicar a esta atividade. Sem o trabalho precoce o cálculo

financeiro apontaria para um volume de despesas elevado em contraste com uma renda

familiar baixa.

O caso dos catadores de lixo em Brasília, em muitos aspectos, não difere muito dos de

outras cidades. A renda familiar é baixa e o trabalho precoce é amplamente utilizado. A renda

monetária adquirida com a venda do lixo varia de um mês para outro, pois depende da

19JUNCÁ, Denise. Ob. cit., p 113. Porém, o trabalho precoce no lixo não é um problema só no Brasil e sim mundial, tal como

ocorre na Etiópia, Zaire, Peru, Índia, Filipinas, Camboja etc. (cf. UNICEF. Situação Mundial da Infância, 1997. Brasília, 1997).

20 “Descendentes de famílias oriundas de diferentes municípios do estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, os atuais catadores de lixo desde cedo começaram a conviver com o cotidiano de negatividade de possibilidades. Em função da necessidade de ajudar no sustento da família, por volta dos dez anos ingressaram no mundo do trabalho. Alguns executando tarefas auxiliares aos pais, predominantemente na zona rural, cuidando do gado, tirando leite, ou exercendo atividades de plantio e capina, principalmente na lavoura da cana de açúcar. Outros buscaram a área do trabalho doméstico, iniciando como babás, e encontrando uma vantagem adicional: a moradia e a alimentação. Mas nas duas situações não havia qualquer salário ou rendimento individual. Ajudando os pais, estes é que recebiam de seus patrões, e como domésticas tinha de retorno roupas, remédios ou pequenos objetos de higiene pessoal” (JUNCÁ, Denise. Ob. cit., p.110).

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composição e do quantum de lixo que é coletado. Isto decorre do fato de que o preço varia

dependendo do quantum e do tipo do material.

Segundo Bursztyn e Araújo, os produtos extraídos do lixo possuem preços variados, tal

como observamos em nosso trabalho de campo. Segundo estes autores, “cada um destes

produtos é objeto de uma operação diferente de comercialização. O que dá maior volume e

renda é o papel. O branco é o mais valorizado, sendo vendido a R$ 0,08 o quilo. O ‘misto’,

vale bem menos: R$ 0,02. O alumínio e o plástico rendem R$ 0,30 o quilo. Pelo papelão

pode-se obter R$ 0,05 por quilo”21.

A renda familiar adquirida geralmente é suficiente apenas para a sobrevivência,

estando, pois, abaixo do mínimo calórico. A atividade com o lixo também é apresentada como

um “mal necessário”, devido a falta de opção. Em Brasília, tal como em qualquer outro lugar

do país, a atividade de coleta de lixo é retratada pelos seus praticantes de forma auto-

justificadora.

O seguinte discurso, apresentado por uma catadora de lixo de Brasília, nos apresenta

uma visão que se tem desta atividade:

“Se não fosse o papel a gente não tinha nada (...). A gente vai

ajuntando de pouquinho. O papel não dá (...). O papel só dá prá

comer e é mal. Tem dia que a gente come, tem dia que a gente não

tem nada. Precisa esperar vender esse papelzinho para ganhar um

dinheirinho pouco, pra gente fazer uma feirinha pra poder comer. E

não dá. Por que o recurso que a gente tem aqui mesmo é só o papel

velho. Se não fosse esse papel aqui a gente já teria até morrido de

fome, senão estava com uma cuia na cabeça pedindo esmola”.

A coleta de lixo é vista como uma atividade vital, como único meio de sobrevivência,

que, porém, é insuficiente. Ele é apresentado como o único recurso possível e assim se vê

justificado, pois não há outra alternativa. Também é desqualificado pelos próprios catadores,

pois no trecho acima vemos algumas expressões no diminutivo (“papelzinho”, “dinheirinho”,

“feirinha”) que retratam esta desqualificação (desvalorização). Mas, independentemente de

ser uma atividade desqualificada, ela é necessária e única alternativa, sob pena de ter que

21BURSZTYN, Marcel & ARAÚJO, Carlos Henrique. Ob. cit., p. 39.

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13

optar por uma atividade ainda mais desqualificada e vergonhosa: pedir esmola (ou, como

colocou o marido desta catadora, catar papel “é melhor do que roubar”). Desta forma, a coleta

de lixo é vista como necessária, porém não é motivo de orgulho e ainda por cima é visto como

insuficiente. Como disse outro catador, “a renda é pouca, só dá prá gente passar mesmo na

marra”.

As despesas com alimentação, vestuário e remédios formam os gastos básicos da

família, embora, como veremos mais adiante, também existam outros gastos com bens de

consumo duráveis. Neste contexto de renda familiar limitada, o uso do trabalho precoce se

torna uma necessidade. As crianças com mais de dez anos geralmente trabalham e contribuem

com a formação da renda familiar, embora existam muitos casos em que os trabalhadores

precoces com menos de dez anos também trabalhem, mas em outras atividades, tais como a de

engraxate, vigia de carros etc.

Estimamos que a contribuição dos trabalhadores precoces para a formação da renda

familiar gira em torno de 25 a 60% do seu total. Esta contribuição e seu quantum dependem

do tamanho da família, do número de trabalhadores precoces, bem como de sua idade e sexo.

As famílias grandes podem adquirir uma renda monetária per capita maior desde que o

número de não-trabalhadores (geralmente crianças menores de dez anos) seja pequeno ou não

exista e que os trabalhadores precoces tenham um bom desempenho.

O número de trabalhadores precoces também interfere na formação da renda familiar,

embora também interfira nas despesas. Podemos supor também que a idade dos trabalhadores

precoces também interfere na formação da renda. Por exemplo, uma família com três

trabalhadores precoces de 10, 12 e 13 anos tem uma renda inferior em aproximadamente 40%

em relação a uma família com três trabalhadores precoces de 11, 14 e 17 anos. Alguns casos

reforçam esta hipótese, que, no entanto, é apenas uma hipótese que somente com uma

pesquisa mais abrangente poderá ser confirmada ou não.

O sexo dos trabalhadores precoces também interfere na formação da renda, já que a

parte do trabalho dedicada à coleta do lixo é mais importante para a formação da renda e

geralmente fica a cargo dos trabalhadores precoces do sexo masculino, enquanto que o

trabalho de seleção do lixo é desenvolvido geralmente pelos trabalhadores não-precoces e

pelos trabalhadores precoces do sexo feminino. A contribuição do trabalho precoce de sexo

feminino, devido a isto, é inferior. Algumas meninas menores de dezoito anos se dedicam aos

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14

trabalhos “domésticos”, no sentido estrito do termo, além de contribuir com o trabalho de

seleção do lixo.

As despesas das famílias grandes também é maior. O cálculo financeiro que podemos

extrair destas informações é o seguinte: as famílias grandes com poucos (ou nenhum) não-

trabalhador e com um número superior de trabalhadores precoces e não-precoces possuem

uma renda per capita superior à das famílias na mesma situação só que com um número

maior de não-trabalhadores, embora, desde que estes não-trabalhadores sejam menores de dez

anos, a tendência, com o passar do tempo, é esta última elevar o seu nível de renda e a outra

estagnar. As famílias com um número maior de trabalhadores do sexo masculino (precoces ou

não) tendem (pois isto também depende do número e idade dos trabalhadores ativos) a ter

uma renda familiar per capita mais elevada. Enfim, podemos dizer que a formação da renda

familiar depende do tamanho da família, da idade, sexo e número de trabalhadores ativos e

dos inativos. As despesas são maiores quanto maior for a família e, portanto, o aumento da

renda pode apenas acompanhar o aumento das despesas. A renda per capita somente aumenta

nas condições anteriormente citadas.

Os trabalhadores precoces (do sexo masculino) desempenham a atividade mais

importante para o processo de coleta de lixo, que é a própria coleta. As outras atividades, tais

como a seleção e a venda, são dependentes desta. É a atividade de coleta que determina o

quantum e a qualidade do material coletado e, portanto, é o que determina o valor a ser

arrecadado, ou seja, é a atividade que determina a formação da renda familiar.

A renda familiar se reverte principalmente para a satisfação das necessidades básicas,

porém, o consumismo muitas vezes provoca a substituição (e, por conseguinte, devido ao

baixo nível de renda dos catadores de lixo, a precarização) do consumo vital pelo consumo

conspícuo22. O consumismo é um produto simultaneamente cultural e psíquico da sociedade

capitalista mercantil, onde se produz uma forte insatisfação dos indivíduos frente à vida

alienada e, conseqüentemente, a busca de sublimação (Freud) e, ao mesmo tempo, cria-se

uma cultura que vê no consumo o caminho para a felicidade. O modo de produção capitalista

realiza uma constante ampliação da produção (reprodução ampliada do capital) que gera a

necessidade de constante ampliação do mercado consumidor. As empresas criam várias

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15

estratégias para ampliar este mercado (obsolescência planejada das mercadorias, produtos

descartáveis, redução do tempo de vida útil dos produtos, as sucessivas modas etc.) mas se

destaca a estratégia de criar necessidades fabricadas, principalmente através da publicidade.

As mercadorias são apresentadas como símbolos de status e de estilos de vida e o

indivíduo passa a ser valorizado pelo que tem e não pelo que é. Assim, o consumo conspícuo,

que é o consumo ligado à aparência, ao supérfluo, se torna uma “necessidade” e o consumo

vital (alimentação, remédios etc.) se torna secundário, ocorrendo assim uma transubstanciação

do consumo conspícuo em consumo vital. A maioria das famílias de catadores de lixo

possuem televisão e aparelho de som, comprados à prestação e retirando da renda familiar

uma parte que deveria ser revertida para o consumo vital (melhor alimentação, por exemplo).

O nível da alimentação de 20 famílias pesquisadas que possuem trabalhadores precoces

é, na maioria dos casos, abaixo do mínimo calórico. A dieta básica é constituída por arroz e

feijão para 30%; arroz, feijão e mais um alimento (carne, frango ou verdura) constitui a dieta

básica de 45%; apenas 25% tem como dieta básica arroz, feijão e mais dois alimentos. O

consumo conspícuo ocorre em outro sentido: 52% possuem aparelho de som; 51% possuem

televisão; e 50% possuem ambos.

Constatamos que a compra de bens supérfluos tem uma demanda incentivada pelos

trabalhadores precoces, pois estes estão mais envolvidos pela cultura dominante, de caráter

urbano, mercantil ao contrário da cultura rústica dos pais, que também buscam o consumo

de bens supérfluos mas de forma menos intensa. Em muitas casas se vê aparelhos de som e

televisão, entre outros eletrodomésticos e outros bens de consumo supérfluos, e não se vê

condições de moradia e alimentação adequadas, só para citar o contraste entre a substituição

do consumo vital pelo consumo conspícuo.

Portanto, a renda familiar precisa da contribuição do trabalho precoce sob pena de não

conseguir garantir a reprodução da família. As famílias lumpemproletárias dos catadores de

lixo são constrangidas a usarem o trabalho precoce e este é de fundamental importância para a

formação da renda familiar e reprodução das condições de existência da família.

22Sobre consumismo e substituição do consumo vital pelo consumo conspícuo, veja-se: PIETROCOLLA, L. Ob. cit.; FROMM,

Erich. Ter ou Ser? 4a edição, Rio de Janeiro, Guanabara, 1987; veja-se também sobre consumo conspícuo: VEBLEN, Thorstein. Ob. cit.

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16

Os pais reconhecem o valor da contribuição dos trabalhadores precoces, tal como se

pode depreender da seguintes afirmações:

“Aqui nós todos trabalha. Eles [os 03 trabalhadores precoces]

contribuem talvez com a metade, pois são eles que puxam o papel.

São o meu braço direito; eles me ajudam demais”.

“A minha renda com a minha família está na faixa de 250 reais

por mês. Nessa renda ele [o filho, que é trabalhador precoce] vai

ficar com essa faixa de 100, porque ele trabalha mais que nós, pois se

trabalha na rua faz mais que nós. Se fosse para dividir, então a maior

parte era dele”.

Destas afirmações pode se ver que o trabalho precoce é reconhecido pela família e não

só isto como também se observa uma certa divisão social do trabalho que confere aos

trabalhadores precoces a parte mais importante da coleta de lixo, que é a própria coleta do

lixo na rua, ou seja, a atividade que define o quantum e a qualidade do lixo coletado, e,

portanto, o seu valor. Esta divisão social do trabalho privilegia a atividade de coleta do lixo na

rua para os trabalhadores precoces de sexo masculino devido a facilidade que eles possuem de

circular na cidade. Os pais e as filhas trabalhadoras (inclusive as trabalhadoras precoces, ou

seja, menores de dezoito anos) trabalham principalmente com a seleção do lixo. Isto deixa

entrever que o trabalho precoce é fundamental para as famílias catadoras de lixo.

Muitas famílias irão utilizar o trabalho precoce sob outra forma, ou seja, irão utilizar o

trabalho precoce não na coleta de lixo e sim em outras atividades, tais como as de engraxate,

vigia de carro etc. Estes trabalhadores precoces também irão contribuir de forma bastante

significativa com a formação da renda familiar, tornando-se uma contribuição também

necessária.

No entanto, isto traz diversas conseqüências para os trabalhadores e trabalhadoras

precoces. Em primeiro lugar, tal como ocorre em diversas outras famílias tanto proletárias

quanto lumpemproletárias, se promove uma desescolarização das crianças e adolescentes que

se dedicam ao trabalho, devido a diversos fatores relacionados a ele, tal como o tempo de

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17

trabalho, o cansaço derivado dele, baixa renda familiar etc.23. Mas além disso, as famílias de

catadores de lixo, que não atuam no lixão, possuem um problema adicional: as constantes

mudanças e a distância das escolas. Algumas afirmações colocam as dificuldades envolvidas

em qualquer tentativa de fornecer escolarização para os trabalhadores precoces:

“Não estão [os três filhos, todos trabalhadores precoces]

estudando. Eles não estudam por que escola aqui é difícil. A gente

não sossega num canto que vem eles, o povo da Terracap, chegam e

arrancam a gente do lugar. Eles não deixam a gente quieto num

lugar. A gente muda muito. Vai de um lugar para o outro. Aí fica

difícil manter os meninos na escola”.

“Ela [a filha, trabalhadora precoce] tava estudando, ela tava

estudando aqui, passou uns três anos estudando. Três anos aqui

estudando. Aí, depois, a Terracap tirou nóis daqui, jogava nóis prá

outro lado, jogava prá acolá. Aí não consegui mais continuar ela na

escola porque prá deixar ela ir de noite, por causa das horas, ela saía

depois das onze da noite, aí não dava. É longe, lá na Vila [Planalto].

O senhor sabe, né? Tem gente boa e tem gente ruim. A gente não

sabe. As estradas é tudo perigosa, tudo cheio de mato. Aí ele [o pai]

saía daqui dez horas prá chegar onze horas aqui com ela. Aí não

conseguimos mais. Tava ela e um menino de dez anos na escola. O

menino estudava até as seis horas. Aí ela ia buscar ele, quando

chegava aqui já era dela voltar prá escola. O pai ia buscar de noite.

Aí não continuou. Eu não botei eles mais na escola. Mas ela estudou

muito, estudou até bastante. Ela tem memória boa, sabe? Sabe fazer

quase tudo. Ela estudou até a terceira [série]. Estudou um

bocadozinho. Se ela tivesse lá esse tempo todinho que eu tô aqui [em

Brasília], se não tivesse a Terracap, se eles não tivessem tirado nóis,

jogado aí prá debaixo dos pés de paus, minha filha estava bem

estudada. Mas por causa deles, por causa que eles não quer deixar

23Cf. CAMPOS, Maria Machado. Infância Abandonada O Piedoso Disfarce do Trabalho Precoce. In: MARTINS, José de

Sousa (org.). O Massacre dos Inocentes. A Criança sem Infância no Brasil. 2a edição, São Paulo, Hucitec, 1993.

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nóis em paz aqui. A gente botava os meninos no estudo e eles

chegavam aqui, derrubavam o barraco, tocava fogo, tocava fogo no

papel, tocava fogo no barraco, jogava a gente prá debaixo desses pés

de pau. Sofrendo aqui direto, durante o tempo que eu moro aqui

dentro de Brasília, é sofrendo direto, direto, por causa da Terracap”.

O fato de morarem em locais públicos cria confrontos constantes com a Terracap, órgão

do governo responsável por estes locais, que ao retirá-los dos locais onde se estabelecem,

provoca mudanças permanentes de moradia, o que cria uma dificuldade adicional para o

processo de escolarização dos trabalhadores e trabalhadoras precoces. Isto, obviamente

reforça a tendência de reprodução de pertencimento de classe e de segmento social destes

indivíduos. Neste sentido, a falta de escolarização é extremamente grave do ponto de vista do

desenvolvimento individual, pois dificulta a inserção dos indivíduos que são trabalhadores

precoces em outro segmento social.

Mas o discurso acima traz mais alguns elementos interessantes. Em primeiro lugar, a

incompreensão do papel da escola como um dos meios de manutenção ou alteração do

pertencimento de classe ou segmento social. Isto se vê quando se considera que ter estudado

até a terceira série é “estudar muito”, “bastante” e que “sabe quase tudo”, pois “tem boa

memória”, o significa que a percepção da escola é a de uma instituição que fornece ensino útil

(ler, escrever, fazer conta) e não um meio de ascensão social (concepção dominante, que,

muitas vezes se revela ilusória). Assim, a visão da escola é a de que ela tem um caráter

utilitário. Em segundo lugar, vê-se uma valorização da escolarização, o que já apresenta um

indício de transformação cultural, na qual a cultura rústica perde espaço para a cultura urbana.

Isto se pode ver no grau de emoção (que não pode ser transmitido pela via escrita mas que

está presente na fala) quando ela se refere ao sofrimento provocado pelas constantes

expulsões realizadas pela Terracap, que, embora não se deva apenas ao problema criado para

o acesso à escola pelos filhos, como também pela destruição de sua moradia. Mas, de

qualquer forma, existe um dose de emotividade também relacionada ao fato de não poder ter

garantido a escolarização dos filhos.

Neste caso, o problema criado pela existência do trabalho precoce para a escolarização

é reforçado por estas constantes mudanças. Também se pode dizer que tal baixo nível de

escolarização se deve ao elevado grau de analfabetismo dos pais. Sem dúvida, o grau de

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19

analfabetismo dos pais é elevado. Nas vinte famílias pesquisadas que possuem trabalhadores

precoces observamos que há 70% de pais analfabetos e apenas 30% alfabetizados. Também

constatamos que 75% dos trabalhadores precoces de 7 a 14 anos não estão na escola e apenas

25% freqüentam a escola. Por conseguinte, o número de pais analfabetos e o número de

crianças de 7 a 14 anos sem acesso à escola parece reforçar esta hipótese.

Porém, outros números refutam tal conclusão. Em primeiro lugar, devemos considerar

que a influência da educação e valorização da escolarização deve levar em conta não apenas o

pai mas também a mãe e em muitos casos esta possui escolarização enquanto que o marido

não. Nestas famílias, os pais e mães que são simultaneamente analfabetos são 45% e não

70%. Em segundo lugar, os casos em que o pai e a mãe são ambos alfabetizados é bastante

restrito, chegando a 20%. Em terceiro lugar, a diferença entre os filhos de pais analfabetos e

pais alfabetizados que estudam é pequena, sendo que no primeiro caso se conta 10% e no

segundo 0,5%. No caso dos que não freqüentam a escola os números são os seguintes: 40%

para os analfabetos e 15% para os alfabetizados. Porém, como os pais analfabetos são quase o

dobro dos alfabetizados, esta diferença é pequena. Se contarmos apenas as famílias de pais

alfabetizados teremos 25% dos trabalhadores precoces freqüentando a escola e 75% sem

acesso à escola e nas famílias de pais analfabetos teremos 20% freqüentando a escola e 80%

sem acesso a ela. Diferença que é praticamente irrelevante.

O fator mais importante, além dos específicos derivados do trabalho precoce (questão

da jornada de trabalho, cansaço, renda insuficiente etc.), é representado pelas constantes

mudanças que os catadores de lixo são geralmente obrigados a fazer. 20% destas famílias

tiveram que mudar mais de 10 vezes (há casos em que se fala de 20 e de até 50 mudanças,

embora este último caso parece ser mais força de expressão do que afirmação literal) e 25%

mais de 5 vezes desde que se mudaram para Brasília. As famílias que mudaram menos de 5

vezes formam um total de 55% (sendo que dentre estas a maioria teve que mudar três vezes).

O gráfico abaixo relaciona o número de mudanças com o número de filhos na escola e fora

dela.

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20

O que se pode ver no gráfico acima é que as famílias que mudam mais possuem menos

condições de manter os filhos na escola. Apenas uma destas famílias consegue ter filhos na

escola (10%) enquanto que nove (90%) não conseguem manter os filhos na escola. Entre os

que mudaram menos de cinco vezes a situação é diferente, pois quatro famílias conseguem ter

os filhos na escola (40%) enquanto que seis não conseguem (60%). Neste sentido, as

constantes mudanças que as famílias catadoras de lixo são forçadas a fazer é uma dificuldade

adicional que torna bastante difícil a escolarização dos menores de idade. Isto aumenta mais

ainda a dificuldade dos trabalhadores precoces em ter acesso à educação formal.

Por fim, podemos colocar que as famílias de catadores de lixo vivem em condições

precárias de vida e que possuem uma renda familiar baixa, o que provoca o uso do trabalho

precoce uso necessário, pois sem ele a renda familiar per capita não seria nem próximo ao

mínimo calórico e cria toda uma situação de vida desfavorável para os trabalhadores

precoces não só no presente como também no seu futuro, tal como no caso dos obstáculos

criados à escolarização, o que dificulta mais ainda suas possibilidades de passagem para um

segmento social ou classe com melhores condições de vida.

Artigo publicado originalmente na Revista Estudos (Goiânia), Goiânia, v. 27, n. 3, p. 509-537, 2000.

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Relação entre Mudança e Escolarização de Trabalhadores Precoces em 20 Famílias de Catadores de Lixo em Brasília

Com Acesso à Escola Sem Acesso à Escola

Com Acesso à Escola 1 4

Sem Acesso à Escola 9 6

Famílias com 5 Mudanças ou mais Famílias com 4 Mudanças ou Menos

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Bibliografia

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