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COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

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COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Ficha TécnicaTitulo: COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICAEditor: Gabinete de Estudos da Presidência da República

Coordenação: Arlete MatolaGravação: Gabinete de Imprensa

Composição e Revisão: Johane ZonjoDesign Gráfico: Luis Jussa

Produção: PACTO Imagem, LdaTiragem: 2500

Licença no: 170/LLINLD

Indice

NOTA DO EDITOR............................................................................................7“CULTURA DE TRABALHO”: E OS DESAFIOS DA(RE)PRODUÇÃO DE RIQUEZA EM MOÇAMBQUE Cristiano matsinhe Introdução...........................................................................................9i. Problematização do tema..............................................................11ii. Noção de trabalho ao longo da História.......................................14ii.1. Concepções Greco-Filosóficas sobre o trabalho.........................19ii.2. Concepções Bíblicas e Religiosas sobre o trabalho.....................23ii.3. Concepções Humanistas e Economicistas do trabalho..............27ii.4. Concepções ideológicas Marxistas sobre o trabalho...................31iii. Ancorando no contexto moçambicano........................................33iii.1. Concepções sobre o trabalho no período colonial.....................35iii.2. Concepções sobre o trabalho no período pós independência....39iv. Concepções de trabalho e desafios de Geração de Riqueza..........42Episódio 1 e 2:..............................................................................................43Episódio 3:....................................................................................................44

À GUISA DE CONCLUSÃO...................................................................44

POBREZA EM MOÇAMBIQUE: PORQUÊ ACEITAR EM DEMASIA A TIRANIA DOS NÚMEROS?Gil Lauriciano(Comentário ao texto de Cristiano Matsinhe)..............................................46

PALAVRAS DE ORDEM: HISTÓRIA E UTOPIALourenço do Rosário....................................................................................52

O SONHO COMANDA A VIDA? PONTO DE INTERROGAÇÃOJosé Óscar Monteiro(Comentário ao texto de Lourenço do Rosário)...........................................63

INTEGRAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS NA BOLSA DE VALORES DE MOÇAMBIQUE E SUA CONTRIBUIÇÃO NO COMBATE À POBREZA ABSOLUTAOsvaldo NhanalaIntrodução....................................................................................................71Pequenas e Médias Empresas em Moçambique............................................721. Perfil Actual das PMEs em Moçambique.................................................73

Importância das PME´s em Moçambique.....................................................742. O envolvimento e regime da Bolsa de Valores de Moçambique..................76Vantagens da Bolsa de Valores......................................................................773. Categorias de Títulos Cotados.....................................................................784. Objecto da Bolsa de Valores de Moçambique............................................79Requisitos para admissão à Cotações oficiais na BVM..................................80Revolução Verde.............................................................................................85Investimentos em curso na área de energia.....................................................86Conclusão.......................................................................................................87 Propostas.......................................................................................................88 Recomendações.............................................................................................89Referências Bibliográficas..............................................................................89O SECTOR FINANCEIRO NO DESENVOLVIMENTO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESASYolanda Arcelina(Comentário ao texto de Osvaldo Nhanala) .................................................902. Importância dos Mercados Financeiros ....................................................913. Pressupostos da Apresentação.....................................................................934. Promoção das Pequenas e Médias Empresas..............................................94Desafios futuros e importância do tema........................................................95Conclusão.......................................................................................................96PRESIDÊNCIA ABERTA E INCLUSIVA: DIVERSIFICANDO OS CANAIS COM OS NOSSOS COMPATRIOTAS.......................................................................................97

NOTA DO EDITOR A presente colectânea constitui o meio pelo qual o Gabinete de Estudos da Presidência da República pretende levar a cabo a divulgação das comunicações apresentadas nos seminários por si organizados, os quais têm como finalidade promover debates à volta de alguns assuntos relacionados com a Governação do País.

Diferentemente do que aconteceu na primeira colectânea referente às comunicações dos seminários realizados em 2005 e 2006, que apresentava somente o tema principal, esta, apresenta também os comentários que foram elaborados pelos comentadores de cada tema.

Nestes seminários são convidados diversos intervenientes da sociedade moçambicana desde Profissionais, Académicos, Políticos e membros da Sociedade Civil, numa clara demonstração de que o Gabinete do Presidente, não é só um espaço de trabalho de Sua Excelência, o Presidente da República, mas sim, de todos os moçambicanos.

Na verdade, o que se pretende é atingir um cada vez maior número de moçambicanos, que não tendo oportunidade de presenciar, os eventos, através das colectâneas das comunicações, possa ter acesso a informação sobre os debates promovidos nesta augusta casa e, por conseguinte, se sentirem parte no processo de luta contra a pobreza que exige o empenho de cada um de nós.

Importa lembrar aqui a Comunicação de Sua Excelência o Presidente da República, por ocasião do encerramento do ciclo 2007 dos Seminários, quando considerou que “foi neste ambiente de debate e interacção frutuosa que logramos levar diferentes gerações de painelistas e de participantes, diferentes pontos de vista, de experiências e de saberes, a partilharem visões e sensibilidades e sobretudo, a sentirem que estão fazendo a sua

parte na implementação da nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza”.

Na presente edição ao lhe trazermos o tema “Cultura de Trabalho” e os desafios da (re)produção de riqueza em Moçambique pela mão de Cristiano Matsinhe e o comentário de Gil Lauriciano sobre o texto “Pobreza em Moçambique”: Porque aceitar a tirania dos números? encontramos o propósito de análise dos contextos socio-culturais, políticos e económicos que determinam ou encorajam a cultura de trabalho, busca do conceito do trabalho em si e como ao longo do tempo e dos contextos o trabalho é percebido e definido.

Ainda lhe apresentamos a dissertação de Lourenço do Rosário sobre “Palavras de Ordem: História e Utopia” o qual considera no seu texto que é a Filosofia que move o Homem, levando a que Óscar Monteiro questione: Se o sonho comanda a vida. Ambos, poeticamente, filosoficamente e pragmaticamente, nos apresentam os desafios do debate da história contemporânea moçambicana, oferecendo com mestria, a complexa relação entre a realidade e o sonho, o concreto e o imaginário.

Porque a abordagem de Presidência Aberta e Inclusiva, requer a criação de um espaço para, que todas as gerações se sintam representadas e ouvidas, nas suas simplicidades e complexidades, o jovem Osvaldo Nhanala apresenta o tema: Integração de Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e a sua contribuição no combate a pobreza absoluta, como um desafio para que do tema e da abordagem apresentada, mais pesquisa seja elaborada e mais debates surjam.

Yolanda Arcelina propõe-nos o texto “O sector Financeiro no Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas” como forma de comentar o texto do Jovem Nhanala. Ao discorrer pelas páginas desta colectânea, esperamos proporcionar-lhe uma oportunidade de interagir e tornar-se parte deste multifacetado processo no combate a pobreza absoluta, pelo que lhe desejamos uma boa leitura!

INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, e lugares, os actores sociais conseguiram, colectivamente, elaborar arcabouços identitários com os quais engendraram rotinas, modelos e até sistemas de valores atitudinais face ao trabalho.

O pensamento cristão, apoiando-se em leituras de textos bíblicos, desenvolveu múltiplos argumentos para fundamentar a relevância do trabalho para o homem, espírito humano e sua elevação e distinção de outros seres. De igual modo advogou a corrente humanista de pensamento, ao realçar a centralidade do trabalho, assim como o fez o pensamento marxista, que de várias formas se esmerou em sublinhar a dimensão dignificante do trabalho, em oposição ao “ócio” e “comodismo burguês”.

“CULTURA DE TRABALHO”E OS DESAFIOS DA (RE)PRODUÇÃO DE

RIQUEZA EM MOÇAMBIQUE Cristiano Matsinhe1

“Todo o trabalho dos pensadores, dos grandes construtores de sistemas, não significava

outra coisa senão o empenho em disfarçar, quanto possível, esse antagonismo entre o

Espírito e a Vida” Sérgio Buarque de Holanda2

1Antropólogo, docente na Faculdade de Letras e Ciências Sociàs - UEM2Holanda, Sérgio Buarque de -1982- Raizes do Brasil,

José Olimpio Editora, São Paulo

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Cientistas sociais, historiadores e líderes políticos de diversas matizes também viram na noção de trabalho, e capacidade para a sua materialização, a razão de sucesso e fracasso de sistemas sociais e políticos, analisados sob o prisma das realizações no campo da economia e do desenvolvimento como hoje semanticamente consideramos essas noções. Ao longo da história, indivíduos, povos e nações inteiras foram escrutinadas em busca de traços que revelassem o seu grau de adesão e predisposição ao trabalho, o que permitiu acumular um repertório vasto, e quase folclórico, de estereótipos que qualificaram grupos sociais e étnicos como “preguiçosos”, “comodistas”, “inertes” ou “fatalistas”, assim como outros foram qualificados como “laboriosos”, “empreendedores”, “dedicados” ou afeitos ao trabalho e à produtividade.

A noção de trabalho que os estereótipos evocam, os valores a ela atrelados, e acima de tudo, a predisposição para a sua materialização são elementos chave para compreender as dinâmicas de transformação sócio-económica e material que caracterizam o país, muito além das respostas que os modelos desenvolvimentistas contemporâneos oferecem quando analisam as razões de sucessos e fracassos de empreendimentos que visam gerar riqueza e promover o desenvolvimento.

Analisando o processo de cristalização da noção de trabalho como valor, assim como os processos de exaltação das identidades nacionais em associação ao trabalho, este texto prenuncia a relevância de uma reflexão sistemática sobre o rol de estereótipos e percepções que povoam o imaginário social moçambicano em torno da noção de trabalho e sua eficácia na dinamização de processos pragmáticos de promoção do desenvolvimento.

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I. PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA

A noção de trabalho se converteu, ao longo do tempo, numa categoria fundante das relações sociais e uma das principais bases de articulação estruturante dos estatutos dos indivíduos em diversas sociedades, incluindo a Moçambicana contemporânea.

Enclausurado na categoria trabalho, múltiplos códigos e sistemas completos, e por vezes complexos, de significação, representação social e construção do imaginário, mas também das identidades são veiculados.

Sob a rubrica “trabalho”, concepções teológicas, filosóficas, ideológicas e políticas do “mundo” foram e continuam a ser costuradas, em formatos que assumem uma dimensão fenomenológica e prescritiva, onde o que se define como real se torna real em suas consequências.

Participantes do seminario

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De tão inculcada que hoje essa noção está no nosso imaginário, a tomamos como dada, naturalizada e universalmente homogénea nas suas significações e, mais vulgarmente, na interpretação semântica dos conteúdos que essa noção, aparentemente, mas só aparentemente, veicula. Porque a realidade social se expressa pela força da vida, e não por movimentos supra conscientes de reflexividade, assumimos essa categoria como absolutamente familiar, clara e até operacional no nosso quotidiano, bem na linha do que Clifford Geertz nos ensinou que eram os conceitos próximos da experiência3, ou, se quisermos, poderemos recorrer a Marcel Mauss, para assumirmos que, trabalho é daquelas categorias sociais que assume a força e a forma do que este autor sintetizou na expressão “fato social total ”4.Entretanto, a proximidade perceptiva, interpretativa e até vivencial que temos da noção de trabalho, tende a erudir e até obliterar a importância de mantermos um constante questionamento epistemológico sobre o significado do trabalho, suas formas de manifestação, valor atribuído ou que assume no mundo contemporâneo, ou no nosso contexto multi-étinico e cultural, se quisermos ser mais etnocêntricos, no melhor sentido desse termo. É claro!

Assim enunciado, este texto parece ser um convite às, hoje estereotipadas, “divagações filosóficas”, consideradas sem muito sentido pragmático, numa sociedade como a nossa, que tem pressa. Pressa, de resolver problemas estruturais e existenciais básicos, como o acesso à água e ao pão de cada dia e, se der tempo, à saúde e educação.

Se acrescentarmos à essa pressa, a hegemonia do modelo positivista lógico, que queria reservar o apanágio de ciência

4Mauss, Marcel. – 1974 [1950] – Uma Categoria do Espírito Humano. A Noção de Pessoa, a Noção do « Eu ». In : Marcel Mauss – Sociologia e Antropologia. V. I, pp; 207-241. Edusp, São Paulo.

3Geertz, Clifford - 1973 - The Interpzn of Cultures. New York: Basic Books.

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às abordagens de raciocínio hipotético-dedutivo, passíveis de verificação e de falsificação, em oposição aos rasgos de reflexão produzidas numa perspectiva mais generalista, que dificilmente evidencia a exactidão das suas afirmações, ou delimita a sua demarcação de um discurso ideológico, podemos entender porque os cientistas sociais tendem a se eximir de produzir reflexões que ousem revisitar aqueles conceitos ou noções, já naturalizados, ainda que o sejam pela força da história, do tempo e do tráfico de ideologias e valores, como acontece com a categoria trabalho. Com esta afirmação, não tenho vergonha de admitir que fica demasiado óbvia a minha pretensão de incitar o diálogo, em torno de conceitos e noções que representam domínios caros de significação e de entendimento, das nossas sociedades, mesmo que possamos incorrer em imprecisões, e eventuais omissões.

Se decidirmos suster a relevância de se manter uma postura de vigilância epistemológica e constante reflexividade sobre os conceitos e práticas embebidas nas nossas rotinas, nos nossos modus operandus, enquanto indivíduos e sobretudo como colectividades, irei tirar proveito desta oportunidade para, antropológicamente, “estranhar” a noção de trabalho.

Na verdade, não tive que fazer muito esforço para aperceber-me que a categoria “trabalho” encerra, em si mesma, uma variada gama de conteúdos que aludem à uma multiplicidade de assuntos e temas, com conotações economicistas, desenvolvimentistas, éticas e morais, teológicas, políticas e ideológicas, que permeiam, informam e/ou constituem verdadeiras panaceias de explicação das disparidades de desenvolvimento económico e social de indivíduos e nações.

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Se a noção de trabalho é assim tão rica e multifacetada, como aqui se presume, e muitos irão concordar, como compreender então, os significados que essa noção emana no nosso contexto? Que papel as nossas percepções e atitudes face aos valores atrelados à categoria trabalho jogam no espectro geral da promoção do tão almejado desenvolvimento? Além dos modelos desenvolvementistas e economicistas de análise dos nossos sucessos e fracassos nos investimentos voltados para a geração de riqueza, qual é a quota à parte que atribuímos à dimensão trabalho, ou atitude face ao trabalho?Nos permitirmos a uma interrogação genealógica sobre a categoria trabalho, e o processo de cristalização do primado das sociedades baseadas no trabalho, pode abrir janelas de oportunidade para uma actuação política melhor informada e mais consciente dos limites e alcances dos discursos que visam, de alguma forma, intervir nos rítmos e dinâmicas de transformação de indivíduos e colectividades, com recurso ou apelo às múltiplas noções e convicções sobre o trabalho.

II. NOÇÃO DE TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA

Para muitos de nós, o “trabalho” é uma categoria homogénea e raramente sentimos a necessidade de analisar as suas múltiplas significações. Intuitivamente, basta-nos o facto de nos lembrarmos que essa noção equivale a qualquer coisa como: aplicação do esforço (de preferência físico); a ideia de sacrifício; satisfação das necessidades; a ideia de produção, transformação; a ideia de troca; a ideia de remuneração; e, poucas outras. Mas como essas noções ganharam força no nosso imaginário, não nos tem interessado muito saber.

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Entretanto, ou felizmente, um considerável número de autores, como Dominique Méda5, Keith Grint6, entre outros, mostraram-nos que é possível rastear uma estrutura de argumentos discursivos erigidos no âmbito do processo de legitimação das sociedades baseadas no trabalho. Efectuar essa empreitada permite-nos visualizar a natureza ambígua desse conceito, o seu carácter construído, o que, evidentemente, nos remete para a necessidade de nos esforçarmos por investir na compreensão das acções perpétuas de legitimação e reprodução, dinamizadas por actores e agentes sociais específicos. O mundo do trabalho é activamente construído através dos actos interpretativos e (re)activos dos agentes sociais. Nessa lógica, como bem recomenda Grint:

“...deviamos deixar o mundo da análise ‘objectiva’, da certeza, da previsibilidade e substituí-lo por um construído pela indeterminação, pela contingência e por pontos de vista alternativos. O que é importante na tentativa de explicar o mundo do trabalho, não é o que esse mundo é, mas o modo como o vêem aqueles que nele estão envolvidos. Em suma, o que conta como ‘trabalho’, o que conta como ‘inevitável ’ e o que conta como ‘comportamento racional’, não é da responsabilidade do objecto ou do próprio fenómeno, mas dos processos interpretativos e de relações sociais que o sustem” 7.

Na perspectiva de procurar compreender, não os conceitos objetificados, mas as dinâmicas de sua elaboração e instrumentalização, sinto-me confortável para advertir aos meus interlocutores, em relação ao facto de não ser particularmente afeito às definições, por acreditar que muitas 5Méda, Dominique – 1999 – O Trabalho: Um valor em vias de extinção. Fim de Século Edições, Lisboa (pp. 20).6Grint, Keith – 1998 – Sociologia do Trabalho. Instituto Piaget, Lisboa.

7Ibdem, pp.13.

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vezes elas tem funcionado mais como camisa-de-força que limita o carácter abrangente e difuso das expressões, do que propriamente funcionarem como recursos heurísticos com algum rendimento analítico.

Mas para o bem do método e, para a tranquilidade dos que eventualmente já têm nas mentes a fervilhar a noção de trabalho e a de emprego, que algumas vezes têm sido adoptadas uma como sinónimo da outra, passarei a uma rápida revista desses termos, visando elaborar uma breve distinção provisória dessas categorias. Digo provisória, porque esse não é o objectivo central deste texto e porque ao longo da análise essas categorias se diluem, em função dos agentes sociais e do tempo histórico em que são accionadas.

Feitas as ressalvas, podemos, por ora, assumir que não existe uma definição objectiva e não ambígua da noção de trabalho. De modo geral, ela tende a ser definida como uma actividade que transforma a natureza e é geralmente empreendida em situações sociais, mas o que conta como trabalho é condicionado por circunstâncias sociais específicas, sob as quais actividades como essas são empreendidas e interpretadas por aquelas que as constroem. Grint vai mais longe ao realçar que:

“ O facto de qualquer actividade particular ser sentida como trabalho, ou lazer, ou ambos, ou nenhum, está intimamente relacionado com as condições temporais, especiais e culturais existentes” 8.

8Ibdem, pp. 17.

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Isso não significa que a busca do significado da expressão trabalho seja uma tarefa quimérica e, tão pouco, que esse conceito seja demasiado relativo a ponto de qualquer uma definição individual de trabalho ter o mesmo peso ou força de eficácia que qualquer outra.

Longe disso. Devemos considerar as definições de trabalho, seja do passado quanto do presente, como parte de um sistema de símbolos e significados que só fazem sentido quando inseridos em contextos culturais específicos, e sobretudo como instâncias icónicas de manifestação e exercício de poder. Isto é, a forma selectiva, muitas vezes fundada em pares de oposição que glorificam ou menosprezam algumas actividades, que atribuem identidades de género a essa noção, que elegem alguns significados e não outros, é reflexo de conjunturas específicas de configuração de poder social e político mais amplo.

A palavra trabalho, não encerra em si mesma um significado transcendente, senão uma carga de representações simbólicas através das quais os significados e os interesses sociais são construídos, mediados e colocados à disposição. O “significado de trabalho não é inerente às práticas dos participantes, mas são criados, contestados, alterados e continuados através de discursos contraditórios: se as formas particulares de actividades são representadas através do discurso como tendo ou não valor, então as próprias actividades aceitam essas características para aqueles que se apropriam de um tal discurso. Por exemplo, quando alguém vê as actividades domésticas como “trabalho” ou “lazer” ou escravidão ou outra coisa qualquer, não depende inteiramente das actividades mas de como lemos tais actividades através do léxico apropriado”. Na prática, nós não vemos as mesmas actividades.

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Para ser mais específico, por ora bastará mencionar que a noção de trabalho circulante no período colonial em Moçambique, e a carga de significações e representações a ela associados é diferente daquela assumida, ou re-elaborada no período pós independência e, certamente que também difere do que hoje, na nossa conjuntura democrática e da hegemonia da economia de mercado, é pensado como “trabalho.”

A noção de emprego é, igualmente, uma categoria situada no tempo e espaço, e foi amplamente associada ao processo de definição do prestígio do indivíduo. Mais do que isso, sobre esta noção importa referir que é geralmente adoptada para referir ao trabalho que assume o complemento da remuneração, geralmente em sectores estatais, industriais, comerciais que assumem a característica da formalidade, ou do vínculo contratual. Os autores que se vinculam à uma sociologia do trabalho, com G.Brown9; Moorhouse10, apontam nessa direcção.

Segundo Méda11, o emprego é o trabalho considerado como uma estrutura social, como um conjunto articulado de lugares aos quais se associam vantagens e como grelha de distribuição de rendimentos. O emprego é o trabalho assalariado em que o salário já não é apenas a estrita contrapartida da prestação do trabalho, mas também o canal de acesso, dos assalariados, à formação, a segurança, aos bens sociais.

9Brown, G. – 1973 – “Sources of objectives in Work and Employment”. In Child, J (ed.), Man and --Organization. Allen & Unwin. London. 10Moorhouse, H. F. – 1987 – “The Work Etic and Leisure Activity: The Hot Rod in Post-War America”. In Joyce, P. (ed.), The Historical Meaning of Work. University Press, Cambridge.11Méda, ibidem, pp.141.

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O essencial é, portanto, que cada um tenha um emprego, mas a garantia do pleno emprego e do aumento indefinido da riqueza não é óbvia. Quando se desenvolve a produtividade acaba-se por se precisar cada vez menos trabalho humano e por ter que se inventar cada vez mais trabalho. Actualmente, os estados submetidos aos processos de mundialização da troca já nem sempre são capazes de assegurar uma tal função.

Chegado a este ponto, creio que já é tempo de nos remetermos para uma reflexão em torno dos trajectos genealógicos de alguns significados embutidos na noção de trabalho, e como essas noções foram atravessando o tempo, navegando em algumas correntes hegemónicas de pensamento e de produção de representações, perpassando algumas fontes de onde herdamos algumas, senão muitas, das convicções que hoje temos sobre a noção de trabalho.

Para sintetizar essa visita às fontes e origem dos nossos conceitos e preconceitos actuais sobre o trabalho, dividi as partes que se seguem em pequenas secções, com propósitos meramente heurísticos, pois, na prática, os trajectos da sedimentação dos significados do trabalho são demasiados maleáveis, interpenetrantes e mesclam diferentes fontes e valores, pelo que, a sua leitura não deve ser feita de maneira estanque e nem linear.

II.1. CONCEPÇÕES GRECO-FILOSÓFICAS SOBRE O TRABALHO

Os filósofos gregos, que nos legaram um espólio científico, político e cultural que até hoje influencia as nossas condutas institucionais, também investiram muito do seu tempo a

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divagar em torno da noção de trabalho.Num rápido mapeamento podemos constatar que, os filósofos gregos, partilhavam de uma mesma concepção sobre o trabalho. Este, estava associado à tarefas consideradas degradantes e estava longe de ser objecto de valoração. Em contraposição às épocas pré-industriais e outras que se seguiram, a época grega representa uma antípoda às sociedades que glorificam o trabalho.

Não se trata sem dúvida de regressarmos a esse modelo, mas estamos persuadidos de que é necessário aprendermos sobre as suas implicações e consequências, para melhor compreendermos a nossa época. Em outros termos, não basta nos desenvencilharmos do modelo grego alegando a incomparabilidade e a intransponibilidade, sob o risco de perdermos de vista as múltiplas fontes dos fundamentos estruturantes das representações sobre o trabalho.

Guiados por Méda, podemos lembrar que o mundo grego era um mundo fechado e descontínuo: constituído por um conjunto fixo (os astros) e pelo mundo sublunar, submetido à geração e a corrupção, isto é, à mobilidade, à transformação e à morte. O conjunto do mundo submetido à mortalidade, tende a assemelhar-se à aquilo que é imortal, o que Aristóteles exprime da seguinte maneira: Deus, primeiro motor, move por amor. As actividades humanas são valorizadas em função da maior ou menor semelhança que podem ter com a imobilidade e a eternidade. Daí, a valorização do pensamento, da Teoria, da contemplação ou, mais geralmente, da ciência, seja esta matemática ou filosófica, na medida em que tem por objecto essências ou figuras imutáveis, que escapam ao movimento perpétuo12.

12Ibdem, pp. 42 -43.

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Os gregos, portanto, valorizaram aquele conjunto de actividades que estavam associadas à ideia de alma e razão, não as que se materializavam pelo uso do corpo. No rol de actividades valorizadas pelo gregos inclui-se a ética e a política. A primeira (ética), também referida como práxis, designa as actividades que tem um fim em si mesmo, e que são tão mais valorizadas quando escapam à necessidade. A segunda (política), permitiria ao homem exercer a sua humanidade, quer dizer, a razão e a palavra, e se “consagraria a tornar cada vez melhor aquilo que, sem o qual, o homem só, nada é: a cidade a pólis”: A estas actividades de cunho mental valorizadas pelos gregos, porque estariam a revelar a esfera da liberdade, opõem-se às actividades que nos ligam à necessidade e que constituem, em graus diversos, o polo não valorizado das actividades humanas, que abarcam todo o conjunto de ofícios produtivos. Os expoentes máximos e defensores deste modelo filosófico eram Aristóteles13 e Platão14.

Toda a filosofia grega baseia-se na convicção de que a verdadeira liberdade, começaria para além das necessidades materiais. Sem alimento, sem roupa, sem conforto não há filosofia; mas na simples actividade de satisfação das necessidades não há, também, filosofia e nem, por conseguinte, sabedoria, vida em conformidade com a razão. No extremo do desprezo pelo trabalho braçal e na contingência de satisfazer necessidades materiais, se legitimou a escravidão (que des-humaniza o escravo) e estabelece diferentes extractos de classes de cidadão na polis platónica.

13Aristóteles, Metafísica, A, 2, 982b (métaphysique, Vrin, 1986, citado por Méda (ibdem).14Platão, a República, citado por Méda (ibdem

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É também o caso de observarmos, que neste tipo de sociedade, o laço social, não está necessariamente fundado no trabalho, mas na theoria e na política, voltada para o aprimoramento da pólis. “O laço político une iguais e quase-amigos”. O laço material obriga indivíduos dotados de capacidades diferentes a inserirem-se em relações de serviço e de dependência que são antípodas do laço político”15.

O cerne da concepção grega de trabalho, está na ideia de que o homem é concebido como um animal racional e, portanto, a sua tarefa seria desenvolver essa razão que faz o homem e o torna semelhante aos deuses. Exercer a razão é, na ordem teórica, fazer filosofia ou ciências, na ordem prática, agir segundo a virtude, e na ordem política, ser excelente cidadão. Méda, acrescenta ainda que para os gregos, a verdadeira vida seria a vida de ócio e o fim da educação seria tornar os cidadãos capazes de levar uma vida assim. Não há, nesta filosofia nem ascetismo nem preguiça, porque o ócio grego nada tem, evidentemente, a ver com aquilo que hoje entendemos pelo mesmo termo.

“Como para os gregos, a oposição essencial passa, para os romanos, entre labor e otium. O otium é o contrário do trabalho mas não consiste em repouso ou em jogo; é a actividade primeira. Opõe-se-lhe o negotium, o não ócio. Daí a condenação dos que são pagos para trabalhar. Olham-se como ignóbeis e desprezíveis os ganhos mercenários e de todos aqueles aos quais são o trabalho e não os talentos a ser pagos, porque para esses o salário é o preço da servidão”16.

15Méda, ibdem, pp 49.16Cícero, di officiis.citado por Meda, ibidem, pp 52

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Na Grécia, assim como ao longo de todo o império romano e até ao fim da idade média, nas sociedades ocidentais o trabalho não ocupa o núcleo das relações sociais. A divisão da sociedade em duas partes, uma submetida à necessidade de trabalhar e a outra vivendo da primeira, indica a exactidão desse facto. O que estrutura as relações sociais são as lógicas de consanguinidade e da condição social que permitem reproduzir a lógica de uns viverem com base no trabalho dos outros e o trabalho nem sequer ser pensado como um pressuposto que possa ser evocado para derrubar a lógica da diferenciação social.

I.2. CONCEPÇÕES BÍBLICAS E RELIGIOSAS SOBRE O TRABALHO

Na perspectiva cristã, o trabalho é visto como uma actividade fundamental do homem, que acrescenta valor ao mundo e ao próprio. No auge do império romano difunde-se o cristianismo, que apregoava uma outra imagem do que seja o homem. O pensamento cristão decorrente, ao mesmo tempo, do antigo e do novo testamento apropria-se, de certa maneira, do quadro projectado pelo pensamento grego no qual se primava pela superioridade do espírito em relação ao corpo e privilegiando a vocação celestial do homem sob a forma da imortalidade, “manifesta-se a oposição forte entre o tempo deste mundo e o da eternidade que é a eternidade de Deus”; nesta época, o homem deve acima de tudo consagrar-se a Deus e a sua passagem pela terra deve prioritariamente servir-lhe para garantir a salvação através dos meios essenciais de oração e da fé.

É, nestes termos, que o texto do Génesis deve ser estritamente entendido: o trabalho é de facto uma maldição,

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uma punição. Na sequência do pecado de Adão a condenação divina é assim formulada “o chão será maldito por tua causa. Será, à força de dor que tirarás todos os dias da tua vida o teu alimento, que produzirás espinhos e abrolhos, e terás para comer a erva dos campos. Será com suor do teu rosto que comerás o teu pão, até que voltes a terra, da qual foste tomado; porque és pó e ao pó hás-de tornar”17.

Adicionalmente, podemos lembrar do mito bíblico da criação do mundo especialmente no aspecto que realça o facto de Deus ter descansado no sétimo dia. Esse repouso divino do sétimo dia remete-nos para a ideia de que Deus trabalhou, o que, igualmente, contribui para sustentar, na doutrina cristã, a forte valorização da ideia de trabalho: se Deus trabalhou durante 6 dias, arrancando de si próprio aquilo com que produzia o mundo num esforço criador esse exemplo de dedicação deveria passar a constituir, para o homem, um modelo de referência. Mas, evidentemente, o Génesis não foi interpretado do mesmo modo durante os primeiros séculos da era cristã: Os próprios termos da bíblia mostram bem que, de resto, Deus não age pessoalmente, mas ordena as coisas que se ponham no seu lugar segundo a sua fórmula: “Deus disse... e assim se fez”.

O acto divino passa por inteiro pela palavra, a compreensão deste acto em termos de trabalho é o resultado de vários séculos de reinterpretações. Além disso também não se pode argumentar como na famosa declaração Paulina “quem não quiser trabalhar, também não coma18”. A exortação de São Paulo inscrevia-se na luta contra as eventuais desordens decorrentes da preguiça e numa óptica de definição das boas ordens de vida em sociedade conforme a continuação do texto indica:

18São Paulo, II Epístola aos Tessalonicenses, 3, 10. Citado por Méda ibidem pp54

17Génesis, 13, 19 (tradução francesa de L.Segond, Sóciété Biblique Française), Citado por Méda ibidem pp. 53.

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“soubemos, no entanto, que há alguns entre vós que vivem na desordem, que não trabalham mas se ocupam de futilidades. Convidamos a esses, exortámo-los (...) a comerem do seu próprio pão, trabalhando em paz”. Desses episódios até ao fim da Idade Média várias teorias e práticas se seguiram a ponto de permitirem a inclusão de uma concepção de uma modernidade centrada no trabalho.

O modo de proceder Agostiniano é um bom exemplo desta interacção entre a necessidade de vida prática e o ordenamento da teoria. Santo Agostinho, expõe durante os primeiros séculos do cristianismo a sua concepção do trabalho monástico e a sua interpretação da criação divina. Com isso, entrelaçam-se, nos próprios textos, os dois actos, divino e humano; o pobre trabalho monástico e a obra divina. Segundo Santo Agostinho opõem-se radicalmente, por um lado, ao Optium que se tornou sinónimo de preguiça e, por outro, o trabalho que refere utilizando os termos labor e opus. As noções de obra e de trabalho começam a confundir-se e a noção de ócio se vê condenada. Santo Agostinho usa o mesmo termo para designar trabalho humano e actividade de Deus – Opus Dei – a obra por excelência na qual os homens se devem inspirar. Com isso a criação do Génesis começa a ser reinterpretrada no sentido de uma obra divina.

Deus é, então, compreendido como o grande artesão que impõe forma a uma matéria19.

Com isso o vocabulário lança, doravante, uma ponte entre os dois sujeitos tão diferentes de um acto que deve ter uma mesma natureza. Na sequência desses desdobramentos culmina-se com Santo Agostinho a distinguir entre as profissões infames

19Santo Agostinho, Confissões, Livro XII, Cap VIII, citado em Méda, ibdem, pp. 56.

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(ladrão, gladiador, actor,) as profissões pouco honrosas como a dos negociantes e por fim as profissões consideradas honestas correspondentes a categoria de camponeses e artesãos. Segundo Santo Agostinho, o trabalho das mãos permite que o espírito permaneça inteiramente ocupado com Deus, ainda que o trabalho intelectual “ler e escrever” continue a ser o mais importante.

São Bento posteriormente concedeu um lugar menor ao trabalho intelectual em contraposição ao trabalho manual porque, do seu ponto de vista, este último seria o melhor remédio contra a ociosidade. “A preguiça é inimiga da alma por isso é que é necessário que durante certas horas os irmãos se ocupem do trabalho manual e que durante outras certas horas se ocupem da meditação das coisas de Deus20.

Com estas linhas de pensamento está, de certo modo, instalado o quadro que tornará possível uma valorização do trabalho e, sem dúvida, também a fusão das duas significações, a de obra e de esforço. Nesta incursão aos primórdios do cristianismo importa reter que além da mudança na classificação e definição do valor de trabalho, se inscreve um novo sistema de interdição no qual se estabeleceu uma longa lista de profissões interditas ou desprezadas. Todos os ofícios que não se podem exercer sem risco de incorrer num dos sete pecados capitais são proscritos e em particular as profissões lucrativas. Os únicos trabalhos autorizados são os que se assemelham a ordem divina, quer dizer que transformam o objecto sob o qual agem; trabalho dos artesãos ou dos camponeses. A ideologia medieval cristã é materialista no sentido estrito; Só a matéria tem valor de produção.

20Regras de São Bento. Cap XLV111. In: Journal de Psycology Normal e Patologic, 1948, citado por Méda pp. 47.

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O processo de flexibilização do sistema de condenação ou eleição das profissões ilícitas ou lícitas com o tempo passou a incorporar outras profissões como as do tecelão ou as do costureiro consideradas importantes para responder as necessidades comuns. São Tomás iconiza esta etapa21. Esta ideia de utilidade comum caminha em direcção a ideia de valor. “O valor do bem não resulta da necessidade do comprador ou do vendedor, mas da necessidade da comunidade inteira. O preço das coisas é avaliado não segundo o sentimento ou a utilidade dos indivíduos, mas de maneira comum”.

O resultado disso é uma nova consideração atribuída ao valor do trabalho que permite uma ascensão social de um certo número de classes que se desenvolvem e querem obter reconhecimento: artesãos, mercadores, tecelões e outros.

II.3. CONCEPÇÕES HUMANISTAS E ECONOMICISTAS DO TRABALHO

No final da Idade Média, a tolerância cristã às múltiplas formas de trabalho, incluindo o comércio, permitiram que este se consagrasse como uma das formas legítimas de trabalho. A obra de Adam Smith22 A Riqueza das Nações, estabeleceu uma ruptura relativamente ao contexto intelectual que prevalecia até então em torno da ideia de trabalho.

Adam Smith e seus sucessores como Malthus, e Jean Baptiste Say, consideraram a busca da riqueza e a própria riqueza como um postulado cuja demonstração não era preciso fazer. Essa obsessão pela riqueza, também chamada opulência, abundância, bem estar geral, prosperidade não explica por si 21São Tomás suma teleológica questão 77. citado por Méda pg 6022Recherches sur les causes de la richesse des nations (an inquire into de nature and causes of the wealth of the nations), gf-flammarion, 1991.

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só a emergência do trabalho na cena da economia política. Faltava, além disso, poder se conceber o trabalho humano como uma força susceptível de criar e de acrescentar valor, coisa que os fisiocratas, por exemplo, apesar de investigarem igualmente a natureza da riqueza não o faziam, reservando à natureza, e só a ela, a força capaz de criar qualquer coisa de novo.

Com Adam Smith, o trabalho humano invade a cena da economia política e é ele quem introduz a ideia de que a riqueza de uma nação depende exclusivamente de dois factores, a habilidade do trabalho, e a proporção entre o número de trabalhadores úteis e inúteis. O seu primeiro livro é consagrado às causas que aperfeiçoam as faculdades produtivas do trabalho incluindo a ideia da divisão do trabalho. De acordo com Méda é, precisamente, a faculdade que o trabalho humano tem de ser correctamente organizado, de criar valor de modo exponencial que fascina Smith. O primeiro capítulo em causa é um hino a produtividade do trabalho que permite, como demonstra o célebre exemplo da manufactura de alfinetes fabricar cada vez mais num tempo dado como se houvesse no trabalho uma potência mágica. Embora Smith não explicite convenientemente o que chama de potência produtiva o facto de ser o trabalho o principal meio de aumento das riquezas é, efectivamente, o único aspecto que interessa a este autor e se quisermos uma definição smithiana de trabalho este o tem numa perspectiva puramente instrumental. O trabalho: é a força humana e/ou mecânica que permite criar valor. Para Smith o trabalho do indivíduo é visto como um dispêndio físico que tem por consequência o esforço, a fadiga e a dificuldade e que admite como tradução completa uma transformação material do objecto; e isso seria extensivo a todos os objectos que tocamos.

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Assim, o trabalho passa a ser uma unidade de valor. Para Smith quantidades iguais de trabalho devem ser, em todos os tempos e em todos os lugares, de um valor igual para o trabalhador. As mercadorias conteriam verdadeiramente o valor de uma certa quantidade de trabalho. É isso que permitira considerar a potência produtiva da nação. Com Smith, o trabalho surge como um instrumento de cálculo e de medida tendo por qualidade essencial fundar a troca. São, de facto, os economistas que inventam o conceito de trabalho pela primeira vez e dão-lhe uma significação homogénea. Mas, o trabalho continua abstracto construído e instrumental; a sua essência é o tempo.

Esta linha de análise é retomada pelos sucessores de Smith, como Malthus, que propõe em seguida que deixemos de chamar de trabalho as actividades das pessoas que não exercem um trabalho produtivo e chamemos antes serviços. Assim, conserva-se o termo trabalho apenas para pessoas que de algum modo correspondem ao conceito que foi criado em associação ao trabalho produtivo, material, vector de trocas. A maior parte das obras da época mostram como a definição de trabalho não é, senão, uma consequência da definição que os autores dão da riqueza. O trabalho não é senão aquilo que produz a riqueza; ou as características do trabalho são deduzidas daquilo que os autores entendem por riqueza, uma concepção extremamente restritiva da riqueza. Todavia, não há dúvida que estes economistas inventaram e unificaram o termo trabalho, englobando uma categoria de actividades que até então eram vividas como simplesmente fatigantes, mas que até então eram percebidas e classificadas em registros muito diferentes.

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Mas, a razão da sua reunião num mesmo conceito não é nem o grau de fatiga engendrado pelo esforço, nem o objecto sob o qual se exerce a actividade, nem tão pouco a maneira como esta se efectua. A razão é puramente externa. Releva da categoria de trabalho toda a actividade que esteja na origem de um aumento da riqueza ou daquilo que é definido como tal; qualquer actividade capaz de acrescentar valor a um objecto material. Após Smith, os autores deixarão de se referir a noção de esforço ou de fatiga, o trabalho passa a ser uma categoria económica dissociada de seus referentes concretos. Estamos atentos a ideia de que o trabalho ao longo do tempo revestiu-se de manifestações e concepções diversas, como uma manifestação de liberdade do indivíduo, como parte do processo de penitência junto a Deus e como parte da actividade humana capaz de se converter em objecto de uma troca mercantil.

Com essa noção de valor proposta por Smith, o trabalho surge como uma coisa da qual o trabalhador dispõe e da qual pode usar mediante um pagamento. Uma coisa que, sendo embora esse mesmo trabalhador lhe é todavia estranha, uma vez que se pode falar dela e dela usar sem tocar na natureza do sujeito que é seu portador. É igualmente essa concepção que confirmam com evidência os textos da Revolução Francesa que reconheceram o trabalho como coisa separável susceptível de ser comprada e vendida e consideraram compradores e vendedores como indivíduos no momento em que celebram o seu contrato são perfeitamente livres e iguais.

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Tudo se passa como se o trabalho tivesse se tornado a razão da nova sociedade. É ao mesmo tempo terrivelmente concreto (a sua essência é a fatiga, o esforço, a dor e é a esse preço que se compra a participação na vida social), e eminentemente abstracto. O trabalho é o instrumento de comparabilidade de todas as coisas. Tudo se passa como se o laço social se construísse graças a venda dessa substância individual que é o esforço. Deste modo, o indivíduo está ligado aos outros não só pelo exercício do seu trabalho, mas também no que se refere à aquisição dos produtos dos quais necessita. As necessidades recíprocas formam a base de uma ordem social. E, em seguida, as leis da economia determinam o que valem os esforços dos indivíduos, o modo como a sua contribuição interfere na prosperidade da nação. A mecânica social se constrói assim, inteiramente, em torno do imperativo da abundância e decorre estritamente da maneira como cada indivíduo participa do grande dever social.

II.4. CONCEPÇÕES IDEOLÓGICAS MARXISTAS SOBRE O TRABALHO

Na época de Smith assim como na da Revolução Francesa o trabalho é concebido como um artifício e não exactamente a essência do homem, como viria a ser, posteriormente, categorizado pelas correntes alemãs de pensamento. A filosofia idealista de Hegel é que funda a ideia segundo a qual o trabalho é a essência do homem. Não se trata sem dúvida de dizer que o idealismo alemão determinou por si só um novo conceito de trabalho, mas antes que as profundas transformações ocorridas nas condições reais do trabalho (o desenvolvimento da indústria e da produtividade do trabalho) foram acompanhadas por um

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discurso filosófico que permite compreender melhor como foram vividas e representadas essas transformações. Sem nos atermos à filosofia Hegeliana, que privilegia o espírito, podemos sublinhar que o trabalho é visto por Hegel como mediador entre a natureza e o espírito. Por meio do trabalho o homem destrói o natural e faz-se cada vez mais humano. O conceito de trabalho é, portanto, consideravelmente enriquecido e transformado uma vez que designa, doravante, a própria actividade espiritual que é actividade criadora e a expressão de si. Sob este aspecto, podemos dizer que Hegel pôs em evidência a contribuição específica do Séc. XIX que aponta para a ideia de que o trabalho é a essência do homem, quer dizer de um ideal de construção e de realização em si.

Marx e uma parte dos socialistas identificaram este ideal com a verdadeira essência do trabalho e possibilitaram o surgimento do esquema utópico do trabalho. Com Marx o sujeito do desenvolvimento já não é o espírito mas a própria humanidade. O trabalho, já não é o trabalho do espírito, mas o trabalho quotidiano do homem; o trabalho real, efectuado com ferramentas, suor, dor e invenção. A partir destas bases, Marx constrói uma vasta oposição entre o verdadeiro trabalho – a essência do homem – e a realidade do trabalho – a que observa nas fábricas de Manchester, não é senão uma forma alienada.

Para Marx, o trabalho é a essência do homem porque a história nos teria mostrado que o homem tornou-se aquilo que é por meio do trabalho. A chamada história universal não seria mais que a geração do homem pelo trabalho, não é mais que o dever da natureza para o homem. Devemos compreender a afirmação de Marx como a construção de uma verdadeira identidade: A essência do homem é o trabalho. O homem não pode existir de outro modo que não trabalhando, imprimindo em todas as coisas a marca da sua humanidade. Para Marx o fim da história já não é um espírito

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que se conhece a si próprio mas um homem tendo humanizado totalmente o natural, aquilo que chama a humanização da natureza ou naturalização do homem. Marx herdou de Hegel um conceito de trabalho cujo modelo é profundamente artesanal e técnico. O homem trabalhador é o homo faber que, criando descobre-se a si próprio. Mas do que o objecto transformado é ao mesmo tempo a ocasião de o homem expressar a sua personalidade. Na sequência desse raciocínio Marx observou que a essência dessa humanidade era passível de ser alienada. Uma das formas de alienação seria referente a relação do operário com o seu produto na medida em que o operário encontra-se diante de um produto do seu trabalho na mesma relação com um objecto estranho. Trabalha para receber um salário que nem sempre lhe permite viver; produz para um outro que o pagará. Marx acrescenta os aspectos da falta de voluntariedade nessa relação de trabalho como um dos factores de alienação.

É assim que Marx depois de definir a essência do trabalho investe numa crítica feroz sobre o estado das coisas existentes começando pela distinção do trabalho existente do ideal. Para Marx, só uma revolução profunda no que se refere ao mesmo tempo a propriedade dos meios de produção, as modalidades de determinação da produção social, ao avanço dos progressos tecnológicos poderia permitir desalienar o trabalho. Até lá é a redução do tempo do trabalho que deve ser visada. O ideal de um trabalho que é a realização de si impregna toda a obra de Marx.

Participantes dos Seminarios

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III. ANCORANDO NO CONTEXTO MOÇAMBICANO

Vários séculos de herança não re-trabalhadas desembocaram em representações equívocas. Que representações predominam entre todas as que nos foram transmitidas. Será o trabalho factor de produção? Será o trabalho liberdade criadora? Será o trabalho um mecanismo de diferenciação de classes? Será o trabalho emprego; sistema de distribuição da riqueza e dos lugares?

Imprimir uma reflexão sobre estas representações mais focadas para o nosso contexto pode permitir entendermos melhor aquilo que desejamos para a nossa sociedade. Se o trabalho é, antes de mais, um factor de produção e o seu carácter de liberdade criadora é um mito, então poderíamos colectivamente decidir reduzir o seu lugar, a menos que preferíssemos tomar a letra tal representação e fazer do mercado de trabalho um mercado idêntico aos outros, de maneira a fabricar ainda mais riquezas.

Se continuarmos, pelo contrário, a crer que o trabalho pode ser realizador não temos que numerar as condições de sua transformação nesse sentido? Se fôr antes de mais um sistema de re-distribuição das riquezas, talvez o próprio desemprego seja apenas sinal de uma inadaptação do sistema.

Hoje, vivemos esmagados por uma herança demasiado pesada e confusa cujas diferentes camadas históricas não conseguimos distinguir bem. Confundimos essência e fenómenos históricos, fingimos acreditar que o exercício de cada um de uma actividade remunerada é uma constante das sociedades humanas e que a ausência de

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trabalho é em si própria uma punição. Continuamos a falar de trabalho realizador sem empreender uma reflexão sobre aquilo a que o termo se aplica.

O trabalho tornou-se na nossa sociedade uma necessidade tal que estamos dispostos a tudo para lhe conservar o seu lugar sem nos interrogarmos sobre as consequências desse apego a nossa vida social. Olharmos mais de perto a nossa historicidade imaginativa sobre o trabalho pode ser um víeis para re-equacionarmos essa noção que nos é tão cara.

III.1. CONCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO NO PERÍODO COLONIAL

Sem apregoar a um atavismo que nos prende ao período colonial, é importante aquilatar as concepções de trabalho que emanam desse contexto e que ainda ecoam na actual conjuntura. A ideologia colonial Portuguesa tinha uma concepção peculiar de trabalho traduzida em várias linhas de incrustação ideológica que assentava na ideia de uma aventura salvacionista assente em dois eixos: (1) no qual se viam na tarefa de rentabilizar a sua presença nas colónias e (2) dois, para materializar o primeiro, investir num discurso messiânico de salvação dos nativos por via do trabalho. Como bem mostra Brazão Mazula23, a obtenção de braços indígenas e sua re-orientação para o trabalho, apregoada por Oliveira Martins, representava um imperativo de acumulação de capital. Além de todo processo de inferiorização do negro, de infantilização do negro e até da sua desumanização que 23Mazula, Brazão – 1995 – Educação, Cultura e Ideologia em Moçambique: 1975 – 1985. Edições Afrontamento, Lisboa.

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já é amplamente conhecida por todos nós o colonialismo português incumbiu-se também da missão de “domesticar” a capacidade produtiva do negro, seja através do uso da força, como pela educação precária; orientada para actividades produtivas.

Paralelamente aos pressupostos ideológicos que legitimaram a empreitada colonial, a pressão e a competição entre as nações colonizadoras em torno do direito de ocupação de um determinado território obrigavam os colonialistas portugueses a terem que provar a sua capacidade efectiva de ocupação de um território e colonização de povos, ao que Portugal respondeu com a intensificação do trabalho escravo.

A multiplicidade de decretos e códigos emitidos pela administração colonial portuguesa onde se realçava a obrigatoriedade, dita moral, do negro ao trabalho, é indicativa desse intuito de estabelecer mecanismos formais administrativos de expropriação da força de trabalho dos nativos.

A meio dos subterfúgios relativamente suaves, mas igualmente prescritivos, de induzir os nativos de Moçambique a rotinas de trabalho escravo não se pode escamotear a visão que o colonialismo português tinha dos negros e sua relação com o trabalho. Oliveira Martins24, aponta inequivocamente para este facto, ao ressaltar que a empreitada portuguesa estava convencida de que (i) seria absurdo imaginar-se uma educação dos negros, seres classificados como de capacidade e mentalidades inferiores e, (ii) uma ilusão tentar civilizar os negros com a bíblia, educação e panos de algodão se a história 24Martinhs, J. P. de Oliveira – 1920. O Brasil e as colônias portuguesas. Livraria editora, Lisboa. Citado por Mazula Ibidem pp. 73.25Citado em Mazula, 1995, op. cit.

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já teria mostrado que aos povos bárbaros só seria possível educar ou disciplinar com recurso a força. Governadores como Freire de Andrade acrescentavam que se houvesse algum objectivo em educar os negros, que fosse para fazer deles trabalhadores25.

Mesmo após a abolição formal da escravidão (sobretudo na sua componente de tráfico de pessoas, mas não necessariamente na forma de exploração da força de trabalho dos nativos) a administração colonial portuguesa estabeleceu mecanismos para assegurar a continuação das várias formas de expropriação da força de trabalho dos nativos. Para os teóricos da empreitada colonial portuguesa como, Oliveira Martins, Mouzinho de Alburquerque e António Eanes, o fim da escravatura não significava o direito dos negros a não trabalhar. Para assegurar que o staus quo se mantinha, eles inventaram uma série de mecanismos e artifícios para manter os negros atolados no trabalho que assumia a forma de escravidão, como o xibalo, assim como a obrigação de pagar, progressivamente, vários impostos, cujos recursos só seriam obtidos através do trabalho remunerado.

Como parte das estratégias adoptadas para salvaguardar o crescimento das economias de outras potências colonizadoras circunvizinhas, os portugueses defendiam que havia uma grande necessidade de aumentar a produtividade das suas colónias, o que só seria conseguido, forçando os negros ao trabalho, assumindo-se também que ao trabalhar, o negro estaria a entrar num processo civilizatório. Para António Eanes, o processo de abolição da escravatura representava um benefício para toda a sociedade, mas que, “deixar transformar um trabalhador em um vadio, depreciava esse benefício.”26

26Citado por Mazula, ibdem, pp. 72.

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A ideologia assimilacionista apregoada pelos colonizadores portugueses, tinha um grande foco para a dimensão do trabalho, na medida em que todo o aparato montado em torno dessa ideologia, visava estabelecer padrões hierarquizados de reprodução da mão-de-obra negra para prestar serviços, nas diferentes escalas das necessidades dos colonizadores, ao nível da indústria, do comércio, e de outras actividades que demandavam uma relativa especialização e domínios dos códigos elementares de conduta da classe dominante.

O discurso missionário apontava na mesma direcção, sem distinções de relevo em relação ao discurso político e administrativo com o qual se complementava por mútuas concessões, mas igualmente vincando, o cárter inferior dos negros, e o papel civilizador e dignificante que a empreita trabalhista portuguesa poderia ter sobre o negro.

Aos povos de Moçambique, a ideologia colonial portuguesa negava-lhes o reconhecimento de qualquer traço de cultura, qualquer concepção de trabalho que fosse além das acções consideradas de natureza instintivas, voltadas para a busca de formas de subsistência, como a caça e a recolecção.As pequenas distinções internas, que progressivamente foram sendo estabelecidas dentro do sistema colonial portuguesa, nos vagos sistemas de classificação por eles instituídos, que passaram mais tarde a distinguir entre os “indígenas primitivos tribais”, “indígenas em evolução”, distribalizados, assimilados, entre outras categorias, não

27Zanlorenzii, já mostrou com algures na Bahia, se construiu a identidade preguiçosa dos negros. Segundo esta autora, a A famosa Ladeira da Preguiça, em Salvador, ganhou este nome por ter sido a via de acesso de mercadorias vindas do porto para a cidade, levadas em carretões puxados a boi e empurrados por escravos. Do alto de seus casarões, ao verem os escravos tomando fôlego para subir com sacos de 60 quilos nas costas, as elites gritavam: “sobe, preguiça! sobe, preguiça!”. Este extracto é útil para lembrarmos o caracter construído e não intrínseco das representações. Cf. Zanlorenzi, Elisete - 2007 – Mito ou identidade cultural da preguiça. USP, SP.

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permitiram escamotear o facto de que os indígenas eram vistos pelos colonizadores, no prisma das lentes que realçam a dimensão do trabalho, como: animal de carga; um ser irracional, mão-de-obra barata; um ser preguiçosos27, e desprovido de qualquer grau de consciência voluntariosa face ao trabalho e face às coisas.

O discurso de superação deste estado das coisas na vida dos indígenas legitimou a empreitada colonial, as relações de exploração económica, implantou o germe da subordinação fundada em argumentos ligados à ideia da superioridade racial. Mas também, não é anódino que o discurso revolucionário que mobilizou a insurreição armada contra o regime colonial, se tenha também baseado na defesa da antípoda desse discurso.

III.2. CONCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO NO PERÍODO PÓS INDEPENDÊNCIA

Se olharmos na minúcia, podemos constatar que a concepção de trabalho que veio a predominar nas narrativas engajadoras de construção da nação que se seguiram ao triunfo revolucionário da FRELIMO, com o seu movimento independentista, tem o seu germe incutido no próprio movimento revolucionário, que desde os seus primórdios era contrário ao tribalismo, regionalismo e promovia uma nova noção de dignidade do homem vinculada à ideia de “novo tipo de relações sociais e de trabalho”.Todavia, é nas zonas libertadas que se ensaia a nova concepção de trabalho proposta pela FRELIMO, ainda durante o 28Cfr. Mazula, op cit. pp. 105-106.29Ibdem, pp. 106.

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período da luta armada28. Nas zonas libertadas começa a consolidar-se o discurso da necessidade de destruição das estruturas de dominação e opressão do povo para se edificar novas formas de poder, atentas à noção de “servir o povo”, trabalhar para o povo, se analisarmos atentamente a expressão “servir”.

A noção de trabalho que se forjava nas zonas libertadas, de acordo com Mazula29, estabelecia a distinção entre a dimensão físico-económica do trabalho e a dimensão antropológica do termo.

O objectivo do trabalho (sobretudo o agrícola) realizado nas zonas libertadas foi conceptualizado para ser um trabalho que contribuísse para responder às necessidades das populações libertas e dos guerrilheiros, ao mesmo tempo que servisse de mecanismos de des-alienação do processo de exploração colonial e embarque, na ideologia marxista sobre o trabalho, acima descrita, como meio de realização do homem.A ideologia educacional vincada nas zonas libertadas, realçava a premissa de necessidade de:

“Formar o homem novo com plena consciência do poder da sua inteligência e da força transformadora do seu trabalho na sociedade e na Natureza (...) criar uma consciência de responsabilidade e solidariedade colectiva (...) fazer assumir a necessidade de servir o povo, de participar na produção, de respeitar o trabalho manual, de libertar a capacidade de iniciativa, desenvolver sentido de responsabilidade”30 (grifos meus).

Este enunciado, é suficientemente elucidativo para compreendermos o pano de fundo da racionalidade que 30Ibdem, pp. 110.

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acompanhou a concepção de trabalho vincada no período pós independência. Neste período triunfalista, mas também acompanhado por muitos desafios (incluindo guerra civil, seca e cheias) manteve-se a premissa de que o trabalho estava voltado para servir o povo, combinando a concepção cristã com a concepção marxista, retendo a ideia de trabalho como uma abnegação; sacrifício por uma causa; entrega total ao trabalho de reconstrução da nação; também constituiu uma das linhas do discurso circulante sobre o trabalho como valor.

Esta abordagem era acompanhada pela visão idílica de um estágio de abundância generalizada, que beneficiaria a todos, num tempo que estaria por vir. Poucas mudanças e acréscimos de ênfase no arquétipo foram incorporadas ao longo do tempo.

Não é preciso mencionar que as concepções de trabalho que valorizavam a perspectiva de acúmulo individual de riqueza, realização pessoal, satisfação das necessidade, para além daquelas definidas pela colectividade, como aceitáveis, eram profundamente vigiadas, e repreendidas. A figura cartoonista do Xiconhoca, pode ser lembrada como um bom exemplo de visualização da ideologia, na prática.

O processo de construção da imaginação social, de forma activa.

A abordagem manequeísta que se veicula sobre a noção de trabalho nesta altura é extremamente ciosa da necessidade de conferir um novo valor, uma nova cultura de trabalho aos moçambicanos, que tinham que se despir dos vícios adquiridos no período colonial, como a revolta, rebeldia, face ao trabalho, e até a preguiça, que se manifestava como um artifício de resistência ao trabalho explorador associado

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ao colonialismo.

Nesta perspectiva de análise, todo o discurso e representações elaboradas em torno do homem novo, portanto, carente de valores, dos quais o partido estava predisposto a suprir, também pode ser lido como um desiderato modernista que, de certa forma, continuava a acreditar que era necessário transformar o moçambicano, ou, pelo menos, a sua cultura de trabalho, como também acreditaram os colonizadores portugueses.

As “campanhas de produção”, a “operação produção” e as inúmeras ofensivas radicavam na necessidade de gerar riqueza da nação, a lá Smith, responder ao agravamento das múltiplas crises que assolavam o país, mas também, porque não imaginar, a ideia de que esse povo não estava a merecer a nação que tinha?

IV. CONCEPÇÕES DE TRABALHO E DESAFIOS DE GERAÇÃO DE RIQUEZA

Todo esse investimento, que agora pode ser analisado à posterior, teria surtido algum efeito na introdução, modificação da cultura de trabalho dos moçambicanos? Teríamos ficado, a meio destes ciclos de exposição à ideologias e filosofias sobre o trabalho, um povo mais afeito ao labor? As nossas consciências individuais e colectivas se teriam aberto para incorporar o valor que remete ao trabalho como um processo de realização da consciência da nossa humanidade face à natureza?

O advento da democracia liberal e da economia de mercado 31Margareth Mead; Ruth Benedict (…)

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nos anos recentes, teria ou estará a vincar uma outra ênfase na conceitualização do trabalho?

Se nós inclinássemos a adoptar o modelo da escolas americanas de cultura e personalidade31, que investiu na identificação de traços considerados de carácter nacional de povos e sociedades, que elementos, ou bases iríamos invocar ou apegar-nos para nos classificarmos como povo em relação ao trabalho?

Antes de, colectivamente, iniciarmos o processo de busca de respostas e posicionamento sobre estas e muitas outras questões que podem emergir, quando nos desafiamos a compreender as nossas atitudes face ao trabalho, permitam-me narrar, como a antropologia, manda, três episódios:

Episódio 1:

No ano 2002, no âmbito da realização de um trabalho de consultoria, tive a oportunidade de trabalhar em áreas de mineração artesanal, nas províncias de Manica e Zambézia.

A mini-etnografia realizada nesses sites de pesquisa, permitiu-me observar e interagir, na província de Manica, com pessoas provenientes de vários pontos do país (Sofala, Manica e Tete e até do Zimbabwe). Todos os dias, centenas de jovens e adultos galgavam a montanha e desapareciam do outro lado da montanha. A montanha que aqui me refiro é, efectivamente, uma formação rochosa que tinha sofrido um corte transversal, causado pelos golpes persistentes e incansáveis das picaretas e pás, manejadas por essas centenas de homens de várias etnias que vem de longe, para aquilo que chamaram de “tentar a sorte na montanha”. Estes mineradores trabalham horas a fio, sem nenhuma garantia de sucesso, nas escavações do que consideram uma “mina ouro”. As únicas garantias e explicações que me davam para a minha pergunta que insistia em querer

“Cultura de Tabalho” E os Desafios da (Re)produçao de Riqueza em Moçambique

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saber o que é que os motivava, a resposta remetia-me sempre para o mesmo lugar e conceito: Podemos trabalhar dias, até meses e até anos sem apanhar nada. E o meu amigo aqui ao lado apanhar. É sorte dele. A minha, chegará um dia, porque o que é meu...está guardado”.

Neste episódio, um misto de abnegação, dedicação e convicção e destino parece ser o mote da labuta.

Episódio 2:

Em trabalho de campo num dos distritos da província de Tete, após longas rondas de entrevistas e facilitação de acções comunitárias, encontrei-me em conversa privada com um cidadão. Tendo observado que a pessoa parecia ter condições materiais mínimas para alterar as suas condições de habitação, perguntei-lhe porque é que não reabilitava a casa, ou a reconstruía, com blocos de barro queimado, relativamente acessíveis naquela localidade. A resposta foi “construir e melhorar para quê, se logo depois que eu fizer isso, vão me enfeitiçar”.

Episódio 3:

Tomei conhecimento deste episódio em segunda mão. Um camião de uma Organização não Governamental chega à uma localidade e despeja uma grande quantidade de estacas de mandioca resistente à seca, na sequência de concertações prévias que haviam sido feitas com essa mesma comunidade. A primeira reacção de algumas pessoas aglomeradas, presumíveis beneficiários das estacas foi: “Quanto é que nos vão pagar para semearmos isto”. Os episódios que conheço não se limitam a estes e certamente que, cada um dos que estão nesta sala, conhecem episódios de natureza similar ou até muito mais emblemáticos. Todos estes episódios dizem-nos muito sobre as nossas múltiplas atitudes individuais e colectivas face ao trabalho. Que ilações

“Cultura de Tabalho” E os Desafios da (Re)produçao de Riqueza em Moçambique

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podemos tirar?

À GUISA DE CONCLUSÃO

Os arquétipos que definem as concepções dos indivíduos e colectividades face ao trabalho diferem ao longo do tempo, contexto, conjunturas e até circunstâncias particulares. Os actores sociais (indivíduos, colectividades e instituições) são dinâmicos guardiões dos elementos que constituem essas narrativas.

As concepções de trabalho, as ênfases que pomos em determinados aspectos e não noutros, vão sofrendo metamorfoses, intencionalmente orientadas ou não, o que por vezes tem implicações numa falta de correspondência de expectativas entre os diversos grupos de pessoas e instituições engajadas na busca de soluções para as demandas de produção e da produtividade.

O esforço de estimular modelos endógenos de compromisso individual e colectivo aos múltiplos dilemas relativos ao desenvolvimento nacional, passa por estabelecer mecanismos e canais de diálogo com o leque de estereótipos e preconceitos que povoam o nosso imaginário sobre a esfera do trabalho, da produção e da produtividade.

Participantes dos Seminarios

POBREZA EM MOÇAMBIQUE: PORQUÊ ACEITAR EM DEMASIA A TIRANIA DOS

NÚMEROS?Gil Lauriciano32

(Comentário ao texto de Cristiano Matsinhe)

Bem, com permissão de Sua Excelência o Presidente da República, passo, mais ou menos, a ler os meus comentários sobre a apresentação que foi feita aqui pelo Doutor Cristiano. Eu acho que o ponto de partida dele é uma suspeita na forma geral como nós temos tentado debater várias questões associadas com desenvolvimento e com o combate a pobreza – todos os caminhos que estamos tentando seguir. Mas a parte que me encoraja é que ele parece sugerir que há uma situação em que se nós podermos adoptar um propósito – quando digo nós, a Sociedade ou o Estado podem adoptar um propósito. Esse propósito seria criar contextos sociais, políticos, económicos, culturais, que podem encorajar de facto uma cultura de trabalho ao nível daquilo que nós desejamos. É mais ou menos isso que eu entendi. Agora, como vamos a isso?

O interessante que senti também aqui é que – não o disse directamente – mas acho que é o sentimento da maior parte das pessoas que está nas ciências sociais, de que tanto desde a era da Independência como agora em que estamos na economia neo-liberal, de facto, o economicismo dominou o debate sobre a agenda em Moçambique. Moçambique produz muitos números e por excelência. E parece que chegou o momento agora de as pessoas começarem a aceitar que o consenso está a aparecer em que temos que começar a suspeitar da veneração que desenvolvemos sobre os números. Veneramos os números em demasiado. E venerando esses números em demasiado, acabamos produzindo uma série de pequenas falácias, que somadas acabam produzindo... Vou mencionar só duas falácias principais:A primeira é que a veneração exagerada aos números leva-nos a uma visão aritmética das coisas e consequentemente a crença, 32Antropólogo Social com “expertise” em Mídia, Questões Ambientais e Populacionais.Docente e pesquisador sénior em matéria de sócio-desenvolvimento e de políticas.Mestrado em Antropologia de Desenvolvimento pela School of Oriental and African Studies (SOAS) – University of London .

Pobreza em Moçambique: porquê aceitar em demasia a tirania dos números?

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por exemplo, de que as políticas nunca estão erradas, o que está errado é a implementação. Então, passamos o tempo a corrigir um pouco, ou a mudar os jargões, ou a maneira como apresentamos os nossos planos. Mas depois ficamos frustrados como agora que, por exemplo, estamos a discutir Cultura de Trabalho. Acho que o sentimento é, de facto, porque é que não podemos trabalhar um pouco mais para podermos sairmos desta pobreza absoluta o mais rápido possível? Mas eu acho que é uma frustação porque de facto a nossa visão aritmética não nos levou a desmarcarmo-nos assim tanto do ponto de partida.

A segunda falácia é sermos conduzidos a abandonar as nossas políticas de forma precipitada. Porquê? Porque os números por si só, não conseguem ou ainda não conseguem, não são capazes de quantificar todos os efeitos positivos que essas políticas produzem. Os números também têm as suas limitações, então quando veneramos esses números em demasiado, também corremos o risco de abandonarmos políticas que até estão a produzir efeitos positivos. Mas porque os números não fazem transparecer isso – e nós estamos obcecados com os números que nos aparecem – então abandonamos essas políticas de forma precipitada.

Então, para dizer que os números – o que eu também deduzo da suspeita do Doutor Cristiano – nos são apresentados todos Gil Lauriciano

Pobreza em Moçambique: porquê aceitar em demasia a tirania dos números?

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os dias em Moçambique, precisam de ganhar uma faceta social, para serem mais informativos. E isso tem de acontecer, ou na fase de produção destes números ou se isso não é possível, temos que fazer esforço para que isso aconteça na fase da sua interpretação, que é para chegarmos a esse, chegarmos a esse consenso aqui sobre exactamente como é que vamos medir a nossa aderência ao trabalho; como é que vamos medir os resultados desse trabalho e como é que vamos criar estes contextos políticos, sociais no qual aquilo que nós pretendemos que seja o trabalho apareça.

Isso tudo, para dizer que bem, como pessoas de ciências sociais - eu sou parte delas - e devo reconhecer que é um grande privilégio ser-nos dado este espaço aqui, na Presidência da Republica, esta oportunidade para contribuir e se possível influenciar. E digo que é encorajador e privilegiante ter aqui o Presidente da República a querer ouvir em primeira pessoa o que nós temos a dizer. E é encorajador também ter a oportunidade de falar aqui para os decisores políticos que estão aqui dentro desta sala. Se eu fosse, por exemplo, a contar aos outros – as pessoas que trabalham nas ciências sociais de outros países – acho que a reacção deles seria de querer estar no nosso lugar aqui. Porquê? Nós sabemos que em muitos países onde o economicismo produzido por estes modelos neo-liberais é predominante, os cientistas sociais são tratados por confusos, por uma razão muito simples: dizem que eles levantam questões onde as respostas são tão óbvias.

Mas o princípio de facto que rege toda a ciência é que tudo o que parece demasiado óbvio é suspeito. E aqui, neste caso, tudo o que nós podermos dizer sobre o trabalho é bom sermos sempre um pouco críticos; Tudo o que possa sugerir que os números convencem ou trazem a verdade absoluta também deve ser suspeito. Às vezes não se trata de escolher entre esta política que está errada e aquela outra que está certa. É uma questão de tentar

Pobreza em Moçambique: porquê aceitar em demasia a tirania dos números?

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se encorajar que se encontre vantagens comparativas das nossas prioridades, daquilo que nós fazemos.

Um outro problema que também nos chama a atenção aqui é o problema das relações de poder. E o Doutor Cristiano recusa-se a fazer definições de trabalho exactamente porque sempre há várias definições de trabalho e temos que saber que a definição que prevalece reflecte um pouco a distribuição de poder pelos diferentes actores que estão a debater a questão. Então, uma actividade que hoje é trabalho, amanhã pode ser apenas uma actividade de lazer dependendo de como é que o poder está distribuído e como é que se deslocou.

Costuma se dizer também que a ideologia são ideias a favor do desejo. Então, isso significa que por mais científicas que as nossas escolhas possam parecer, não estão completamente isentas de instintos ideológicos. Daí a necessidade de manter sempre uma atitude crítica mesmo sobre aquilo que parecer grande ideia. A outra coisa é que se a ideologia é uma espécie de apelo a acção, a apresentação que acabamos de ouvir sugere que há que saber que as ideologias são moldáveis em contextos culturais, sociais, políticos, económicos diversos. Falou-se aqui do passado, por exemplo, que no Cristianismo, em que se acreditava que havia um caminho através do qual todo o ser humano tinha que evoluir. E quando houve as Cruzadas a justificação era que é um dever divino ir encontrar aqueles que ainda estão na selva e tentar civilizá-los o mais depressa possível. Hoje isso foi substituído: ao invés de ser a Cruz e a Espada, hoje temos a tecnologia, o capital, o expertise que dizem que são os condimentos que devem ser levados para ajudar-nos a evoluir nesta linha. Então, o diálogo as vezes fica nisso. Ou somos nós a dizermos bem que nós só temos que copiar tudo daqueles que já estão quase no fim da linha do progresso, porque eles melhor do que nós sabem; Eles já fizeram a caminhada; Ou são eles que viram-se para nós e dizem: olha, vocês tem que fazer assim e aquilo porque nós já percorremos isso; nós sabemos quanto é que

Pobreza em Moçambique: porquê aceitar em demasia a tirania dos números?

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custa e sabemos como é que isso se faz. Então, é um pouco o diálogo que nos impõe aqui.

Agora, a outra coisa que também está associada com a apresentação, que eu acho importante é este debate sobre como é que nós medimos por exemplo o nosso Estado? Nós vamos medir o nosso Estado olhando para o tamanho ou olhando para o propósito que o Estado persegue? Isto tem sido... não tem sido um debate em que nós temos... tem sido um debate em que nós com um pouco de renitência entramos nele. Mas, muitos de nós nos seminários temos tendência de defacto sermos dito que o nosso Estado é demasiado grande, é demasiado pesado. Mas é demasiado pesado para quê? É grande para quê? Então, a sugestão que eu também encontro na apresentação é que talvez nós devíamos começar pelo lado inverso. Nós devíamos olhar qual o propósito que queremos perseguir, para talvez determinarmos qual é o tamanho que o nosso Estado deve ter; quais são as suas fragilidades e qual é a sua vulnerabilidade.

Então, se nós começarmos pelo propósito, voltamos ao essencial daquilo que a apresentação do Doutor Cristiano nos sugere, que é acreditarmos que nós podemos de facto estabelecer uma agenda de trabalho e trabalharmos em prol dela. E se essa agenda for de facto melhorar, criar uma cultura de trabalho, criar uma atitude em relação ao trabalho, melhorada à situação em que nós estamos agora ou capaz de ir ao encontro daquilo que nós queremos alcançar, então o nosso debate será: como é que o Estado pode propiciar isso? E há exemplos que mostram claramente que esta coisa de atitude ao trabalho não é uma coisa associada a nossa natureza biológica, como ele disse. O trabalho é social. Significa que nenhum de nós pode reclamar o facto de por biologicamente ser assim ou por raça, que por natureza é mais trabalhadora que outra. Não. O trabalho é social, nós encontramo-lo depois de nascer e não tem nada a ver com a nossa natureza biológica.

Pobreza em Moçambique: porquê aceitar em demasia a tirania dos números?

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Então é possível nós de facto acreditarmos nisso e tentarmos criar esses contextos políticos, culturais onde a atitude em relação ao trabalho seja diferente daquela que talvez apreciamos hoje. E podemos dar alguns exemplos. Eu acho que, por exemplo, dizem que a Fábrica Mozal foi construída em tempo recorde, mas os números que estão lá mostram claramente que a maior parte dos trabalhadores que estavam lá eram moçambicanos. Então, significa que há qualquer coisa mesmo aqui dentro de nós que diz que nós trabalhamos. Também as histórias dos mais velhos que emigraram para a África do Sul, dão conta da boa apreciação que sempre se fez nas minas sul-africanas sobre a entrega do moçambicano ao trabalho. Aqui também temos vários casos em que moçambicanos que estão nas agências parceiras, cooperação e tudo o mais, são elogiados. Então, significa que o básico está lá. O básico está lá. Nós só temos que tentar reflectir porque é que, por exemplo, o mesmo moçambicano quando está deste lado apresenta uma atitude e quando passa para outro tem uma outra atitude. Mas como dizia, estou encorajado porque parece que sugere-se aqui que podemos de facto criar um propósito que é desenvolvermos mais a nossa cultura de trabalho. Muito obrigado.

PALAVRAS DE ORDEM: HISTÓRIA E UTOPIA

Lourenço do Rosário33

Vou tentar de uma forma introdutória justificar por que razão integro as palavras de ordem na categoria dos subgéneros literários de natureza apelativa, imperativa e militante, tais como as canções guerreiras, as canções de incitamento em situação de trabalho forçado em que se despende grande esforço físico ou em manifestações de carácter político ou laboral. Este subgénero inscreve-se num grupo mais vasto que na literatura se chama de géneros curtos, os quais encontramos quer na literatura escrita como na oral, tais como os ditos, as anedotas, as adivinhas, os provérbios, os fragmentos, as piadas, as evocações, as preces, as precatórias e outros.

As palavras de ordem, dada a sua natureza, incluem-se também no leque dos géneros épicos e de exaltação, de texto mais vasto, de características narrativas, tais como a epopéia, a saga, a lenda, o mito, a gesta , o romance heróico, a tragédia e o conto heróico.

A razão da abordagem desta questão por via da literatura visa fazer entender a importância que a literatura como arte tem para a vida individual e colectiva do Homem enquanto ser dependente do espaço e do tempo, vivendo um espaço intervalar da vida e da morte.

O Homem, encarado nesta óptica, vive uma pulsão simultaneamente centrípeta e centrífuga, entre o real, isto é, o seu dia a dia e o ideal, isto é, aquilo que poderá ser, mas que não é nem aqui nem agora, quer dizer – o presente, o único termo que transporta em si as marcas do tempo e espaço simultaneamente. Assim, dizer presente é dizer aqui e

33Professor Universitário, Gestor, Reitor da Universidade A Politécnica, Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa.

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Palavras de Ordem: História e Utopia

agora, tempo e espaço cruzados.

Nesta luta constante entre a realidade e a ideia de uma outra realidade constrói-se um mundo de interrogações. Estas múltiplas interrogações fazem parte intrínseca da natureza do Homem. E a procura de resposta funciona como o combustível que lhe dá energia para acreditar na validade da vida no presente e na busca do futuro. Sem esta dinâmica, o Homem desiste da vida, porque a mesma se torna absurda e insuportável. Quer isto dizer que o Homem (indivíduo e colectivo) vive num espaço de luta constante entre o real e o ideal. É através desta constante que a vida se torna num movimento, movimento esse que dinamiza o Homem e a sociedade, fazendo a História avançar.

O espaço em que ele encontra o método de que necessita para organizar essa busca de respostas é a filosofia. E nesse exercício, a recolha de respostas faz-se através dos vértices de um espaço triangular:

1º . pela religião, 2º .pela arte, em particular pela literatura, e

Podio do Seminario

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Palavras de Ordem: História e Utopia

3º .pela ciência.

É a Filosofia que move o Homem. Desde tenra idade que as interrogações sobre a vida e o mundo que nos rodeia inquietam-no. É só ver como as crianças tentam abrir tudo, destruindo até o que lhes cai à mão. E depois quando começam a falar, a forma como bombardeiam os adultos com perguntas incessantes, “o que é isto” e “porque é aquilo”? E quando as crianças desistem de fazer perguntas não é porque a inquietação desapareceu, mas sim porque descobriram que os adultos ou não têm paciência e despacham-nos ou pior, os adultos mentem e elas ficam desencantadas. Aí então, interiorizam a sua inquietação. Mas tomando ainda o espaço infantil como ponto de partida, havemos de verificar que a tentativa de respostas que as crianças procuram leva-nos para os princípios básicos dos vértices do triângulo que referi atrás, a religião, a arte, com especial realce para a literatura e a ciência. O imaginário das crianças na sua relação com a vida não difere em natureza com aquilo que os adultos constrõem.

Nas sociedades de tradição oral, a educação das crianças faz-se de uma forma integrada. Com base no manancial literário, através de revelações passo a passo, a criança vai tendo acesso ao mundo real, físico e ao mundo ideal, o metafísico. Vai tendo igualmente acesso ao conhecimento de como lidar com a natureza. Já adolescente e até jovem, passa do espaço privado, o familiar, para o espaço social, o público. Aqui, vai aprender a integrar-se no processo do domínio da natureza, participando em actividades que lhe competem na produção de alimentos ou na defesa do grupo ou mesmo na organização da cidade, isto é na política, sendo-lhe ministrados os conhecimentos necessários para cada fase. A literatura

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Palavras de Ordem: História e Utopia

funciona como veículo privilegiado na transmissão desses saberes, com os quais se confronta no mundo ou na busca daqueles que podem conduzi-lo ao mundo ideal.

A sociedade com escrita afastou do seio dos seus membros esta tarefa, construindo escolas, igrejas e laboratórios, tornando-os objectos de aprendizagem fora do seio da própria sociedade, embora a ela ligada, através de profissionais aos quais é derrogada a missão de habilitar as gerações para a continuidade da identidade do grupo social. Assim, aqueles actos que eram realizados no convívio de todos os membros da comunidade, passaram para um plano elitizado, onde pode ocorrer a reprodução de modelos de saberes que, às vezes, só dizem respeito às próprias elites.

Contudo, a profissionalização de actores na busca de resposta para uma vida ideal como uma forma de derrogação de responsabilidade colectiva funciona como uma forma de optimização para o processo de aprendizagem e capacitação. Quer isto dizer que, aquilo que na sociedade de aprendizagem directa no espaço privado e público levava a vida inteira, fase a fase, a acumular, no espaço da escrita, a acumulação é mais sistémica e o tempo de aprendizagem reduz. Esta longa introdução visa, no essencial, demonstrar que a história do Homem tem paradigmas universais e que os denominadores comuns são em tão grande quantidade que a história de cada indivíduo ou de cada sociedade não passa de uma metonímia bem simples da história da Humanidade.

Assim, voltando à questão das palavras de ordem, a sua história começa com o próprio processo de hominização e colectivização do Homem. As várias fases da história gregária do primata recolector que fomos constituiu-se de episódios

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Palavras de Ordem: História e Utopia

de uma verdadeira epopéia. E a primeira palavra de ordem que seguramente foi adoptada terá sido o grito de ataque brandindo as armas de que se dispunha, ou na ausência das mesmas, o gesto típico dos primatas de bater o peito com os punhos, soltando ao mesmo tempo sons ameaçadores. A palavra de ordem funciona como um elixir que aumenta a fé na vitória e encoraja a acometer o inimigo, quer seja um inimigo real ou simbólico.

Quando o homem começou a sentir a necessidade de organizar a cidade, de modo a melhor responder às necessidades comuns, isto é, começou a pensar politicamente, a metaforização da luta levou a transferir-se das simples acções para as palavras que passou a fazer parte da história e das utopias da própria sociedade, quer isto dizer que o termo lutar não se ficou apenas ao nível da peleja física. As palavras passaram a ter fundamental importância no tempo e no espaço.

Começando pela história de cada um de nós, verificamos que a nossa inserção familiar carece de um percurso histórico. Assim, a nossa história é a história heróica dos nossos próprios antepassados, que ao nível da biografia individual, incluindo-se aqui também os vulgares curricula vitae, ou a genealogia, se a história diz respeito à origem de um ramo familiar. Qualquer que seja a incidência que queiramos ver, a nossa história, se biográfica, se genealógica, o percurso é sempre épico, através de episódios heróicos, narrados na vertente lendária, de gesta ou até de epopéia. Muitas vezes a história de um indivíduo ou de uma família transforma-se num verdadeiro mito de origem, no tempo e no espaço.

Se cruzarmos todas as biografias e as genealogias dos membros de um determinado grupo social, teremos a história

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Palavras de Ordem: História e Utopia

desse grupo. A história das sociedades, à semelhança do universo ficcional literário, é constituída por personagens, algumas heróicas, outras não heróicas, uns venceram dragões e ultrapassaram barreiras intransponíveis, outras soçobraram em algum momento por uma multiplicidade de razões, constituindo – se em vilões dessa mesma história. A História é uma narrativa de um percurso em que várias utopias foram alcançadas e ultrapassadas por aqueles que souberam desempenhar positivamente o papel de personagens da gesta. Os hinos de todas as nações, por exemplo, sintetizam através de referências metonímicas, o percurso histórico dos heróis fundadores que acreditaram na utopia da criação e construção de uma nação. Contudo, os hinos reconhecem igualmente que mil perigos se interpõem no caminho a percorrer rumo à sociedade ideal. Novas utopias devem ser identificadas e outras gerações de personagens heróis devem perfilar-se para prosseguir a missão. No fundo, os hinos nacionais são a história heróica que expande o que se encontra nas palavras de ordem de cada etapa da História da sociedade a que diz respeito, criando assim uma utopia recorrente a prosseguir. Cada geração deve reter e sistematizar as utopias que a história do grupo acumulou. Deve igualmente identificar a sua própria utopia e persegui-la, a exemplo dos antepassados.

Tal como a bandeira simboliza a identificação de um grupo com uma causa, a palavra de ordem é um chamamento do grupo de modo a cerrar fileiras por uma causa. A bandeira reúne-nos, a palavra de ordem manda avançar rumo à conquista de novas etapas rumo ao mundo ideal.

Nos últimos tempos, no nosso País, alguns cidadãos que participaram na Luta Armada de Libertação Nacional

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Palavras de Ordem: História e Utopia

do nosso País, têm vindo a publicar as suas biografias e ou memórias. São aparentemente histórias da vida de cada um deles. Porém, se formos a lançar um olhar à história do nosso País para o mesmo período, verificaremos que os actos de cada um daqueles que se apresentam em biografia, constituem um pedaço metonímico daquilo que é narrado na história pátria. Quer isto dizer que o conjunto das utopias que os jovens daquela geração perseguiam se sintetizam na saga heróica dos personagens fundadores da nação. Mesmo aqueles que jamais vão aparecer com biografias individuais, mas que participaram nessa luta, hão de ver reflectidos, quer nas biografias quer na história colectiva, também os seus actos. Ler a biografia de Hélder Martins, Jacinto Veloso, Armando Guebuza ou ouvir as memórias de Marcelino dos Santos, Alberto Chipande e outros, mesmo as evocações circunstanciais de muitos antigos combatentes desse período histórico, é como se cada um deles fosse metonímia de muitos outros jovens que na mesma altura protagonizaram exactamente o mesmo que aparece expresso como história individual. O homem é um animal gregário e o que faz em sociedade é em prol do seu agregado, por isso, os actos individuais são segmentos que adicionados a variados outros segmentos vão construir o todo. Neste caso, foi a luta pela independência. Poderia ser a labuta na caça, na pesca, no campo, na construção de casas ou na defesa contra os predadores.

Referi atrás que as palavras de ordem funcionam como o gerador de energias que alimentam o movimento de busca de soluções para as inquietações de cada momento histórico nesta tensão constante entre o real e o ideal, criando utopias para as quais as gerações são chamadas a perseguir.Tomemos, por isso, como objecto de análise, algumas das palavras de ordem que a nossa história recente consagrou:

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Palavras de Ordem: História e Utopia

comecemos com a palavra de ordem “Independência ou morte! Venceremos!”. Podemos socorrer-nos das narrativas dos próprios protagonistas da história do nacionalismo moçambicano para perceber que a utopia de libertação do país do jugo colonial transmitia neles três vectores: o objecto, o perigo e a certeza.

O objecto era a perseguição da ideia da independência, contra a realidade que se vivia, o perigo era a morte que certamente iria visitar alguns daqueles jovens e a certeza era a vitória.

Objectivamente sabia-se que o sistema colonial não ia facilitar o caminho a percorrer e que a hipótese de alguns ficarem pelo caminho era perfeitamente realizável, tal como veio a verificar-se. Mas como vem nos livros, a relação vida e morte faz parte das utopias da história das nações.

Se quisermos confirmar o que venho referindo sobre a interação entre a história e a utopia nas palavras de ordem, podemos pegar umas quantas que fazem parte da nossa própria história e compará-las com algumas outras que fizeram parte da história das outras nações. Exemplos são vários, na Revolução Francesa, no Movimento Comunista Internacional, nos movimentos sindicais ou nas lutas das minorias. Até as ditaduras recorrem às palavras de ordem para legitimar-se.

Na nossa própria história, algumas palavras de ordem ficaram na nossa memória porque surgiram em momentos marcantes da nossa vida colectiva. Após o II Congresso da Frelimo, no culminar de uma crise inevitável na dinâmica do processo da luta de libertação e da evolução das concepções

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Palavras de Ordem: História e Utopia

ideológicas e estratégicas sobre a mesma, apareceu como natural a palavra de ordem “A luta continua’. Que marcas históricas e qual a utopia que esta palavra de ordem quer transmitir-nos? Penso que este exercício encontra resposta na própria história da Frelimo da Luta Armada de Libertação Nacional e na História de Moçambique. A Luta Continua tornou-se no emblema de libertação de toda a África Austral. Na tomada de posse do Governo de Transição, o presidente da Frelimo, Samora Machel, lançou uma palavra de ordem que a República Popular de Moçambique vai consagrar na Administração Pública e em todo o sistema de comunicação oficial, “Unidade, Trabalho e Vigilância”. Todas as vicissitudes históricas da República Popular de Moçambique e o movimento revolucionário que lhe era subjacente testemunham a adequação desta palavra de ordem no contexto em que foi produzida. Por fim, debrucemo-nos um pouco mais na polêmica que se instalou à volta da palavra de ordem “Decisão Tomada, Decisão Cumprida” que nada tem a ver com a legitimidade da mesma, no contexto em que surgiu. As incidências históricas demonstram que nós, em Moçambique, neste momento, atingimos um grau de abstração com alguma relevância e que isso nos permite, com alguma facilidade, elaborar análises situacionais, diagnosticar factores que emperram o nosso progresso e até delinear eventuais vias de superação para o que de negativo está identificado. Somos até capazes de tomar decisões a nível vertical, a partir das chefias ou no plano horizontal, nos colectivos de decisão, planificando as etapas da sua execução e cronometrando o início e o fim dessa execução. Esta constatação traz consigo uma perplexidade. É que infelizmente, a maior parte das decisões saídas desse exercício, raramente se transformam em actos exequidos, gerando resultados esperados. Esta

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Palavras de Ordem: História e Utopia

constatação legitima a palavra de ordem “Decisão Tomada, Decisão cumprida”. Pode parecer uma redundância, pois é lógico que todas as decisões tomadas, quer sejam verticais, quer horizontais são para serem cumpridas por quem, na equipa, deve fazê-lo. Mas, tal como na palavra de ordem anterior Unidade, Trabalho e Vigilância, esta actual coloca a fasquia da utopia que lhe subjaz, num plano hipoteticamente muito alto e aqueles que era suposto deverem agir ficam-se na repetição da própria palavra de ordem. As gerações que historicamente deveriam receber o testemunho para prosseguir a história da construção desse País, são capazes de ter consciência dos problemas do real actual, sabem que o ideal existe, por isso mesmo reconhecem a legitimidade desta palavra de ordem, mas não são capazes de construir o itinerário que nos pode levar desta realidade não querida para o ideal desejado.

A palavra de ordem Decisão Tomada, Decisão Cumprida ficou hipotecada exactamente nas teias formais daquilo que ela pretendia combater como um dos males deste mundo real, o burocratismo. Por outro lado, a geração de A Luta Continua – Independência ou Morte Venceremos! continua a ser o modelo de uma geração bem sucedida na utopia que perseguiu. As gerações subsequentes, incluindo a de 8 de Março, foram construídas com base no modelo daquela geração. Por isso, Decisão Tomada Decisão Cumprida pode querer significar também um apelo para que todos nós lancemos um olhar sobre o sucesso daquela geração que tomou a decisão de expulsar o colonialista e cumpriu. Voltemos a falar do combate contra a pobreza, o burocratismo, o espírito do deixa-andar, a corrupção e não apontemos o dedo a ninguém como o responsável, mas sim olhemo-nos a nós próprios que convivemos com esses males

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Palavras de Ordem: História e Utopia

e não encontramos a melhor via de nos livrarmos deles. Quer isto dizer que a decisão está tomada, mas ainda não está definido como vamos cumpri-la.

Os episódios à volta desta palavra de ordem, incluindo os que envolvem o Conselho Constitucional e a Autoridade da Função Pública são marginais à sua essência. Uma coisa é a questão burocrática, outra é a visão filosófica. Não deixa de ser irónico que tenham sido os contornos burocráticos quem abalou a pujança com que esta palavra de ordem surgiu. Muito poucos entenderam que o fenómeno da resistência à mudança pode buscar argumentos até dentro do próprio espaço de quem propõe a mudança. Considero que agiu de boa fé o Conselho Constitucional e que provavelmente houve imprudência por parte da Autoridade da Função Pública, contudo, o mais grave é que com este episódio se desviou o olhar daquilo que era fundamental e se enfraqueceu uma das armas com a qual se pretendia utilizar para o combate contra os males acima anunciados. Acredito que tenha sido apenas um ferimento e não a morte desta palavra de ordem e que ainda se pode retomar a marcha com a qual a geração actual buscará a energia de que necessita para perseguir a utopia do desenvolvimento.

Dr, Lorenco do Roszario

O SONHO COMANDA A VIDA? PONTO DE INTERROGAÇÃO

José Óscar Monteiro34

(Comentário ao texto de Lourenço do Rosário)

Os homens políticos precisam de espaço para poder mover os braços, senão, senão como não falo tão pausadamente, tão serenamente... E na minha recente vida académica felizmente eu tive este impulso de fazer coisas... Eu acho que é isso tudo... O debate de alguma maneira retoma os dois pontos evocados pelo Professor Lourenço do Rosário que é a realidade e a utopia; o concreto e o sonho.

Intervencao do Dr. Jose Oscar Monteiro

A história do homem é a história da superação das suas condições, de si próprio e do seu meio. E o homem fá-lo, diz-nos Lourenço do Rosário, porque o homem sempre viveu e sempre pensou – a tal filosofia primordial de pensar que ele evoca no texto. E ao pensar ele sonhou, sonhou para além daquilo que 34Consultor Jurídico Sénior na área Pública, Administrativa e Constitucional; Advogado e Professor Universitário;Mestrado em Estudos Africanos pela Universidade Paris I (Panthéon-Sorbonne)

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O sonho comanda a vida? ponto de interrogação

é real. Por isso é que dizia uma bela expressão do Lourenço do Rosário que ele vive no espaço intervalar entre o real e o ideal. Eu acho que compreendermos isto, dá-nos uma potência de desenvolvimento. Releva uma condição que por vezes nós reprimimos: de pensar mais, mais forte. De ter um sentido. Eu acho que é importante saber que, sim temos os pés no real, mas temos a cabeça mais acima. Por alguma razão o Homem não é feito com a cabeça em baixo e os pés em cima. É que os pés é para andar, para sentir o real, tem as palmas dos pés, mas tem a cabeça para poder andar a ver e os olhos estão aqui para poder ver.

E dá ele, Lourenço, o exemplo da criança que questiona, que deseja o melhor até que as peias das convenções a conduzem à acomodação. Todos nós vivemos por isso uma tensão permanente entre o que está com a sua poderosa inércia, a que se chama cientificamente a força de gravidade (ela é que nos puxa para estarmos sempre colados a terra) - e também as Palavras de Ordem dessa inércia. Nós encontramos aqui, a minha geração encontrou – falo por mim: “não vale a pena, o colonialismo já cá está, não vais tentar mudar, deixa-te disso!”; “és um romântico”; “há-de cair de podre!”; E aqui se dizia o meu pai: “há-de cair de podre” – quando ele soube que o seu filho, que o filho já tinha se preparado para ser advogado com uma placa dourada no Prédio Continental e afinal estava a seguir um outro caminho, então ele comentou “há-de cair de podre!”.

Mas dentro de nós há também um outro, o que acha que é possível, o sonhador acordado. Nascida do ”management” essencialmente privado e essencialmente anglo-saxónico, de resto sempre adepta e perita em recuperar os mitos descartados pelos revolucionários, nós em certo momento dizemos que nos envergonhamos, dos nossos, digamos assim, já se falou, da Visão, do “Mission Statement!”, o

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objectivo da instituição. O que acontece com os Homens acontece com as instituições. Porém, uma regra de conduta, um objectivo ou sonho individual, não dão lugar a uma palavra de ordem, dão lugar a um “motto”, a um “ex-libris”. A pessoa escreve e as vezes até ainda diz, esta é a minha divisa pessoal.

Palavra de Ordem, eu vou usar muitas vezes a expressão “palavra de ordem” no sentido simbólico de todo este debate sobre a expressão do futuro, a tal expressão que o Rosário dizia que é uma expressão curta que sintetiza uma série de objectivos. Palavra de Ordem comporta necessariamente uma dimensão colectiva. Isso quer dizer o quê? Que ela se dirige a outros; que ela visa de forma sintética condensar e fácil de rememorar; apresentar uma espécie de mnemónica de um programa mais vasto. Duas ou três palavras dizem mil coisas, nem sempre iguais para todos. Mas é a convergência dos pontos, a mais importante.

Mas, então, qualquer directiva condensada em poucas palavras é uma Palavra de Ordem? Isto é, acho uma frase bonita e ele fica uma Palavra de Ordem? Eu creio que a dimensão colectiva não deve ser vista apenas como referindo-se aos destinatários – portanto, eu faço uma Palavra de Ordem para os destinatários. Assim, por eloquente e acertado que eu fosse eventualmente nas minhas reflexões individuais – eu uma pessoa – não poderia elaborar, produzir aqui uma Palavra de Ordem. Porque Palavras de Ordem só existem quando elas são capazes de captar uma vontade de transformação imanente num grupo social ou no pulsar colectivo de uma nação.

Lourenço do Rosário acentuou, acentuou no seu texto que o “Independência ou Morte” tinha como acento tónico a vontade da Independência até as últimas consequências. Estava lá tudo. Até por conta das armas. Palavra muito bem referida – eu estava

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a ler tudo isso, todas estas palavras. Estamos prontos, sim.

“A Luta Continua” tem acento tónico o “Continua”, naquele momento preciso em que houve um certo desfalecimento: o Primeiro Presidente morria! Houve de facto um abalo na organização. Queria dizer que não desistimos. “Unidade, Trabalho, Vigilância!”: Queria dizer que com Unidade, trabalhando arduamente – porque estamos a trabalhar para nós; Vigilantes para não destruir a Unidade e para preservar a Independência, seriamos capazes de assumir a governação, apesar de não estarmos preparados em todos os aspectos. Estávamos preparados em alguns, mas não estávamos preparados em todos. Mas foi essa dinâmica que nos permitiu aproveitar a oportunidade que se nos oferecia. Permitiu-nos vencer o desenvolvimento e esta palavra que o Camarada Presidente tem referido muitas vezes, da Auto-Estima e da Auto-Confiança, estavam muito presentes naquele tempo: quer dizer, somos capazes! Somos capazes de estudar. As pessoas iam estudar a escola... Eu conheço assim uma história assim muito comovente da minha sogra que matou uma galinha no dia em que aprendeu a ler e a escrever já depois da Independência! Das pessoas que eram capazes de ensinar e de tantas coisas que fomos capazes de fazer. Eu estou a dizer isso de facto, menos para falar de nós, mas para falar de vós, vocês os mais novos, e porque há essa ideia de que houve uma geração excepcional e que nós temos um pouco aqui, vamos seguir.... Eu penso que vocês são uma geração enquanto tal....

Mas muitas outras Palavras de Ordem ficaram nos muros ou pelo menos nos papéis, embora bem articuladas porque não souberam captar o sentimento, a vontade e o sonho!

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Uma dimensão social e colectiva também quer dizer método de auscultação, que tem que ser aberto, popular, a experiência do método de conhecer a sociedade em que a experiência moçambicana é exemplar. Eu tenho dito em outros momentos, a FRELIMO merece um estudo como organização: as suas práticas, a sua maneira de trabalhar. Isto que nós sabemos hoje, ser facilitador, a FRELIMO aprendeu a ser um facilitador, cabendo a cada um dos seus membros aprender. Eu estou aqui a falar na presença de Sua Excelência o Presidente da República – isto não é uma reunião que toca a todos os partidos políticos – mas estou a falar de um património histórico.

E estou a falar de um património histórico, de crescimento organizacional, de pensamento de gestão e de fazer política. E isso é importante manter.

O Lourenço do Rosário chamou-nos aqui a atenção com uma coisa, e a expressão dizia “a reprodução de modelos de saberes que só dizem respeito às próprias elites”. É fácil e também a nossa experiência em certo momento nós nos fechamos dentro de nós próprios. Há poucos dias eu comentava sobre a questão do Zimbabwe e a experiência de Moçambique. Nós também tivemos um período de crise. Mas acho que a nossa grandeza foi num certo momento dizer “nós entre nós pensamos que temos razão”. É verdade. Se calhar até tínhamos. Mas os resultados daquilo que nós de bom queríamos não se materializaram, e nós não podemos manter refém a população das ideias correctas e generosas que nós próprios tínhamos. Foi preciso sair do nosso psique comum, bem intencionado por mais que isso sejamos.

Os encontros a todos os níveis, ouvir e aprofundar, que a vida política moderna moçambicana soube desenvolver autonomamente no próprio processo da libertação e depois da Independência foi

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ir beber nas melhores fontes da governação tradicional. Para mim, esta prática de reuniões que eu encontrei na FRELIMO quando me juntei a ela já em Nachingweya, é uma prática muito generalizada. Não foi aprendida nos campos de treino da Argélia porque eu também por lá passei – mais tarde, não na primeira geração – e não a encontrei lá. Eu acho que foi uma forma, uma recuperação de uma prática tradicional que foi desenvolvida, foi adoptada e integrada nos grupos jovens que participaram na guerrilha. Mas é algo que foi bebido da governação tradicional. São assim, eu direi, válidas e perduráveis as Palavras de Ordem e Utopias que captam pelos mecanismos adequados algo de imanente na sociedade, algo pronto a desabrochar. Mas a boa palavra de ordem tem a potencialidade criativa de mobilizar forças dormentes, trazer à tona talentos escondidos. Aconteceu isso aqui também. Por isso, a Palavra de Ordem tem que ser acolhedora e abrangente. Isto é, tem que ser aberta. Tem que ser convidativa, apelativa – uma palavra usada aqui também pelo Professor Lourenço no princípio.

Eu agradeço este convite Camarada Presidente de eu estar aqui perante a nova geração. Eu vou falar de alguma coisa que já tinha aqui escrito, que o Camarada Presidente disse nas suas primeiras palavras: pediu aos jovens para se levantarem – os jovens que foram aos distritos. Assinalei que, para mim, considero Camarada Presidente, que o momento mais importante da sua Governação – e eu vou acrescentar – aquele que vai marcar a sua governação, é este trabalho sobre os distritos. Mas antes de falar sobre a questão do distrito e pôr algumas interrogações a fazer, suscitar alguma questão, quero falar desta geração que aqui levantou o braço e outros que não levantaram o braço porque não foram aos distritos mas que estão moralmente nesta mesma demarche. Dizer que – retomando um bocado o que disse o Lourenço: um pouco a perguntar se é tão correcto. Ele disse que

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a Geração de 8 de Março retomou o trabalho, aprofundou-o. Eu penso que nós estamos à beira aí também de uma mudança de paradigma. Esta geração que vai surgir já não vai apenas continuar. Ela vai ter novas ideias. Vai ter que dar o salto. Houve um momento em que era preciso ter continuadores. Agora é preciso ter continuadores-inovadores, porque o simples continuador vai cair numa curva descendente. Portanto, é um novo pensamento. Nós estamos à beira de uma nova fase, por razões históricas, por razões até genealógicas: nós temos uma certa idade e as coisas vão passar e é preciso... Vocês têm a ousadia deste momento! Eu acho que não há melhor lugar para falar da ousadia que neste lugar que é a Presidência da República, que em princípio é de novo uma contradição: o Presidente da República é um instrumento de estabilidade, um símbolo, mas é neste lugar onde essas novas ideias, essa nova coragem, se devem manifestar, e é assim com a Presidência da República. Digamos, é a Presidência da República, que é a coisa pública.

O Governo - já explicou o Lourenço o que é o paradigma – o Governo passa a estar na base. Sei que o pensamento dirigente, sem dizer quem estou citar, é ir para os distritos. Vou dizer que o Camarada Presidente há poucos dias me disse isso num pequeno grupo – se me autorizar a dizer isso. Porque acho que eu vou para os distritos, Camarada Presidente, para tornar claro que o que é importante é o que se passa lá. Tudo o resto deve convergir para isso. Fazer as coisas a outro nível é interessante, mas é lá que as coisas se passam. Se houve mudanças, então estamos a trabalhar bem. Então este “se”, que eu através da minha experiência da administração pública, vou ligar ao modelo que está-se a adoptar muito, da organização que aprende e da visão das organizações diferentes: porque dantes a gente tinha as organizações e via-se assim... É verdade que elas tinham sido piramidais: disciplina, ter regra, mas nas mudanças a regra é a gente virar e pôr a

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base em cima e aquilo que consideramos o topo em baixo. Nós passamos a ter uma superfície de contacto muito mais ampla com a sociedade e todas essas coisas vão fluir. E quem está teoricamente em baixo vai estar realmente em cima. Porque estar em cima isolado, é estar em parte nenhuma. Portanto, esta mudança, é uma mudança histórica num Estado que nasceu forte – estou a falar do Estado Moderno, estou a falar das formas de organização do Estado – e é provavelmente a questão mais importante.

Mas tenho umas perguntas, para saber se esta transformação tranquila mas fundamental, está a ser acompanhada suficientemente pela mensagem de sonho, não próprio dos jovens, mas se toda a sociedade está a ser envolvida nisso. Não. Não sinto que esteja a ser suficientemente envolvida. Isto... e pergunto se estamos a conseguir pôr muitos portadores deste diálogo, para que eles tenham voz e a capacidade de criativamente desenvolver esse processo, porque o país é grande, é diverso e é preciso ter muita capacidade de transformação; é preciso um grande movimento nacional e, eu diria, os hinos e as bandeiras deste movimento dos distritos; Os benefícios concretos, por exemplo o reconhecimento dos DUATs das comunidades locais. Eu diria, bandeiras e acções, que são sonhos para que – retomando o que disse o Lourenço do Rosário –esta decisão seja cumprida.

De novo, e retomando o orador na sua parte inicial, temos que voltar a ser a criança de que fala o Lourenço do Rosário na sua parte inicial, aquela criança que questiona cheio de ideais, ou talvez mais simplesmente, recuperar aquele adulto puro em que a criança se estava a transformar e que existe dentro de nós. O sonho comanda a vida? Ponto de interrogação.Obrigado.

INTEGRAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS NA BOLSA DE VALORES DE MOÇAMBIQUE E A SUA CONTRIBUIÇÃO NO COMBATE À POBREZA ABSOLUTA

Osvaldo Nhanala35

Introdução

O presente trabalho, visa abordar a Integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e sua contribuição no combate à pobreza absoluta, pois a Bolsa de Valores de Moçambique ( BVM), tem exercido importante papel no que tange a “medição ” da vida económica, a transacção e intermediação financeira, protecção dos investidores, acessibilidade e maior abertura ao mercado de intermediação em valores mobiliários.

Actualmente no mundo globalizado as Bolsas de Valores imprimem uma maior dinâmica, competitividade, flexibilização e inovação financeira nas economias, tendo em conta os factores políticos, económicos, naturais e sociais que possibilitam a compra, venda e a troca de valores mobiliários a um ritmo acelerado, contribuindo assim, para que os agentes económicos concorram lealmente identificando boas oportunidades de investimento em valores mobiliários.

O tema a que nos propomos a apresentar, relata aquilo que são os esforços do Governo em desenvolver Moçambique, tendo como pólo o distrito, bem como o papel das pequenas e médias empresas no crescimento da economia nacional.O trabalho abordará aquilo que são as pequenas e médias

35Consultor Jurídico na Larma Service, Advogados e Associados.Membro do Instituto de Patrocínio e Apoio Jurídico (IPAJ)

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empresas e a sua actual situação em Moçambique, bem como algumas soluções para criar, estimular e fortalecer o crescimento das PME´s, o regime e o envolvimento da Bolsa de Valores de Moçambique, alguns investimentos existentes em Moçambique para criação de áreas de geração de rendimentos e emprego, bem como a aplicabilidade de algumas estratégias do Governo para o combate à pobreza absoluta, sendo que findaremos com alguns comentários.Para realizar o presente trabalho, usamos consultas bibliográficas, observação participante e entrevistas.

Relativamente a BVM, questionámo-nos se o capital social bolsista que é de 17.000.000,00 MT previsível das acções que são objecto do pedido de admissão à cotação oficial, ou na sua falta, os capitais próprios da sociedade, incluindo os resultados não distribuídos do último exercício, como um dos requisitos para admissão à cotação oficial, não é um factor limitativo ao envolvimento do empresariado nacional no desenvolvimento e consolidação da economia no país, visto que a maior parte do empresariado existente é constituída por pequenas e médias empresas?

Não deverá o Estado criar o mercado de valores mobiliários para as PME´s, como incentivo destinado a proporcionar Intervencao de Osvaldo Nhanala

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o crescimento do empresariado nacional em todo o país e aumento das receitas fiscais para o mesmo Estado?

Pequenas e médias empresas em Moçambique

Para efeitos do nº 1, do artº 34 da Lei nº 23/ 2007 de 1 de Agosto ( Lei do Trabalho ), considera-se :

• Pequena empresa: a que emprega até 10 trabalhadores;

• Média empresa: a que emprega mais de 10 até ao máximo de 100 trabalhadores; e

• Grande empresa: a que emprega mais de 100 trabalhadores.

A População Economicamente Activa (PEA) em Moçambique é de cerca de 5.9 milhões de pessoas, constituída maioritariamente por trabalhadores por conta própria (52%) e trabalhadores familiares não remunerados (33.7%). Apenas 11.1% são assalariados, dos quais 4.1% são absorvidos pelo Governo e Sector Público e 6.9% pelo sector privado36. Estima-se que anualmente ingressem no mercado de emprego cerca de 300.000 jovens, os quais exercem uma grande pressão sobre o mercado de emprego, que é incapaz de gerar postos de trabalho suficientes para os absorver.

O censo às empresas de 200237 revela que as pequenas e médias empresas constituem 99% do sector privado (90% pequenas e 9% médias) em Moçambique. Este grupo absorve mais de 80% da força de trabalho do sector privado, pelo que deve merecer uma atenção redobrada, em virtude da sua real contribuição para o crescimento económico e para o alívio à pobreza absoluta. Contudo, uma parte significativa da PEA, ao não conseguir inserção no sector formal, exerce uma

36Censo Populacional de 1997 (INE)37Censo as Empresas 2002 (INE)

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actividade geradora de rendimento na economia informal.

1. Perfil Actual das PMEs em Moçambique

Tabela 1: Distribuição das Indústrias Transformadoras ao nível das PMEs, 1998-2002

Categorias das 2002 1998Empresas (a) (b) (a)-(b)Pequenas 2.310 1.200 +1.11Médias 518 165 +353Total 2.828 1.365 +1.463

Fonte: INE, World Bank (dados originais da INE);

Nota: Os números baseiam-se na Secção D do CAE. Os anos representam pontos actuais no tempo, aquando da colecta dos dados pela INE.

Grande

Media

Pequena

Importância das PME´s em Moçambique

89.5%

1.4% 9.1%

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As PME´s desempenham um papel vital na economia nacional. A importância das PME´s para a economia tem as seguintes dimensões:

1. Geram o emprego. Partindo do princípio que uma grande empresa e uma pequena empresa produzem o mesmo artigo ao mesmo valor, a grande empresa tem geralmente a característica de ser de capital intensivo, enquanto a pequena é de mão-de-obra intensiva. Isto implica que as PME´s oferecem maiores oportunidades de emprego à força de trabalho de um país, ao contrário das grandes empresas.

2. As PME´s são cruciais para a competitividade de um país, pois elas encorajam a concorrência e a produção e inspiram inovações e o empreendedorismo através do melhoramento da qualidade dos produtos, e do aumento da produtividade. A natureza ágil da estrutura decisória incentiva a concorrência a qual, por sua vez, promove a competitividade das PME´s.

3. As PME’s diversificam as actividades económicas oferecendo produtos e serviços que o mercado procura num determinado momento, disponibilizando assim novas linhas de produtos e serviços que ainda não foram introduzidos no mercado, estimulando deste modo, a inovação e a criatividade.

4. A relativa facilidade de entrada para o mercado também faz com que as PME´s contribuam para corrigir as assimetrias económicas regionais.

5. As PMEs são os agentes sociais que mobilizam recursos sociais e económicos nacionais que ainda

38Refere-se as pessoas registadas nos Centros de Emprego do INEFP.

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não tenham sido explorados. Relativamente aos níveis de qualificação e educação, 57% da população moçambicana é analfabeta e mais de 80% da mão-de-obra não possui nenhuma formação1. As estatísticas do INEFP, relativas ao desemprego registado38 em 2004, indicam que a procura de emprego tem as seguintes características: baixo nível académico (90% tem menos de 9ª classe e apenas 1.3% tem o nível secundário); baixa qualificação profissional (62% não tem nenhuma qualificação) e pouca ou nenhuma experiência profissional, o que aliado à reduzida oferta de formação profissional resulta numa fraca empregabilidade. Com efeito, existe no País cerca de uma centena de centros de formação profissional, entre públicos e privados, dos quais aproximadamente 10% fornecem formação para o ramo industrial, sendo que os outros, na sua grande maioria, realizam formação para o sector terciário ou de serviços.

2. O envolvimento e regime da Bolsa de Valores de Moçambique

Para a solução dos problemas fundamentais do povo e para promoção do desenvolvimento equilibrado da economia nacional, o Estado promove, coordena, fiscaliza e regulamenta a actividade económica.

Neste contexto, o Governo aprovou o regulamento do Mercado de Valores Mobiliários e a criação da Bolsa de Valores de Moçambique, bem como a aprovação do respectivo Regulamento Interno, que tem por objecto estabelecer os princípios e disposições fundamentais por que se rege a organização, o funcionamento e as operações dos mercados de valores mobiliários e as actividades que nesses mercados

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exerçam todos os agentes que neles intervêm.

Considera-se, portanto, bolsa de valores o local onde se negociam títulos emitidos por entidades privadas ou estatais. É a praça ou mercado onde se transaccionam valores mobiliários. É o local físico onde os intermediários financeiros (corretores), fazem o encontro das ordens de compra com a venda dos investidores.

Valores Mobiliários - as acções, obrigações e quaisquer outros valores, seja qual for a sua natureza ou forma de representação, ainda que meramente escritural, emitidos por quaisquer pessoas ou entidades, públicas ou privadas, em conjuntos homogéneos que confiram aos seus titulares direitos idênticos, e que sejam legalmente susceptíveis de organização num mercado organizado39.Mercado de valores mobiliários - o conjunto dos mercados organizados ou controlados pelas autoridades competentes e onde esses valores se transaccionam.

Vantagens da Bolsa de Valores

As Bolsas de Valores apresentam alguns aspectos que se mostram idênticos a concorrência, em particular no mercado globalizado que são:

1. A rapidez de informação e circulação de investimentos ( compra e venda de valores mobiliários );

2. Profissionalização das entidades envolvidas, no que se refere a qualidade, pois na concorrência, a agressividade do mercado, mostra-se necessária que o agente económico profissionalize o seu capital

39Art º 2, do nº 1 da al. a) do Decreto nº 48/ 98 de 22 de Setembro (Regulamento do Mercado de Valores Mobiliários).

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humano, os seus recursos humanos para uma maior e melhor prestação de serviços, visto que o mundo globalizado enfrenta hoje, não uma competitividade em termos de recursos naturais, de potencial energético, mas sim de conhecimento, de ‘know how’;

3. Facilitação a mobilização de capitais;4. Criação de poupanças, levando assim o investimento

nacional e menor dependência estrangeira;5. Captação de recursos dos quais as entidades ( públicas e privadas ), não dispõem.6. Contabilidade organizada, visto que há obrigação

por parte das entidades com valores mobiliários admitidos à cotação de comunicar à BVM, relatórios, balanço e contas do Conselho de Administração, acompanhados de parecer do Conselho Fiscal e de certificação por auditores independentes autorizados pelo Ministério das Finanças;

7. Imperatividade de as sociedades apresentarem uma adequada situação económico-financeira;

8. Taxas de juros baixas comparativamente ao mercado bancário; e

9. Custos mais baixos de financiamentos.

3. Categorias de Títulos Cotados

A intermediação financeira nas Bolsas de Valores é feita em várias áreas:

1. Transportes por água;2. Tecnologia e internet (via fibra óptica);3. Seguros;

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4. Produção e distribuição de electricidade e gás;5. Correios e telecomunicações;6. Fabricação de produtos químicos e minerais;7. Indústrias alimentares e bebidas;8. Construção;9. Comércio a grosso; e 10. Banca.

4. Objecto da Bolsa de Valores de Moçambique

“ Bolsa de Valores de Moçambique é uma pessoa colectiva de direito público, com a natureza de instituto público dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial”.40

A Bolsa de Valores de Moçambique tem por objecto:

1. Manter o local e sistemas dotados de meios necessários ao funcionamento, em condições adequadas de eficiência, continuidade e liquidez, com vista à salvaguarda do interesse público e à protecção dos interesses dos investidores, de um mercado livre e aberto para a realização, através de intermediários autorizados, de operações de compra e venda de valores mobiliários;

2. Assegurar, por si própria ou através de terceiros, serviços apropriados de registo, compensação e liquidação dessas operações;

3. Divulgar informação suficiente e oportuna sobre as transacções realizadas como dispõe as als. a), b) e c) do art.° 27 do Decreto n.° 48/ 98 de 22 de Setembro; e

4. Organizar a emissão de títulos.

40Art º 2, do nº 1 do Decreto nº 49/ 98 de 22 de Setembro (Criação da Bolsa de Valores).

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Notar que os valores mobiliários que podem ser admitidos à cotação são:

1. Os fundos públicos nacionais e estrangeiros e os valores mobiliários a eles equiparados; e

2. As acções e obrigações emitidas por sociedades ou entidades nacionais ou estrangeiras e quaisquer outros valores mobiliários que, por diploma do Ministro das Finanças, possam ser admitidos à cotação como refere as als. a) , b) e c), do nº 1, do art.° 34 do Decreto n.° 48/ 98 de 22 de Setembro.

A população não está vedada o acesso ao mercado bolsista, visto que, por um lado, temos o público investidor que deve ser protegido contra potenciais fraudes e, por outro, as sociedades emitentes que devem provar ser capazes de honrar os seus compromissos para com os investidores, a título de exemplo, pagamento de dividendos, juros entre outros.

Requisitos para admissão à Cotações oficiais na BVM

Tendo em conta o arto 36 do Decreto no 48/98 de 22 de Setembro que aprova o Regulamento do Mercado de Valores Mobiliários, a admissão à cotação de acções depende cumulativamente dos seguintes requisitos:

1. A sociedade emitente encontre-se constituída e a funcionar de acordo com os seus estatutos e demais disposições legais aplicáveis;

2. Situação jurídica dos valores mobiliários ( acções e obrigações ), esteja em conformidade com as disposições legais aplicáveis;

3. O capital bolsista previsível das acções que são objecto do pedido de admissão à cotação oficial,

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ou na sua falta, os capitais próprios da sociedade, incluindo os resultados não distribuídos do último exercício, não sejam inferiores a 17.000.000,00 MT;

4. Publicação por parte da sociedade, relativo aos dois exercícios anteriores ao pedido de admissão, seus relatórios de gestão e contas anuais;

5. As acções serem livremente negociáveis;6. Se verifique, até ao momento da admissão, um

grau adequado de dispersão pelo público, isto é, as acções até ao momento da admissão à cotação,

devem estar a sua dispersão assegurada pelo público;

7. As acções que se encontram emitidas aquando do pedido de admissão à cotação devem ser todas da mesma categoria ; e

8. A sociedade apresentar uma adequada situação económica-financeira.

Visto que o capital bolsista previsível das acções que são objecto do pedido de admissão à cotação oficial, ou na

Participantes do Seminário

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Integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e a sua contribuição no combate à pobreza absoluta

sua falta, os capitais próprios da sociedade, incluindo os resultados não distribuídos do último exercício, não devem ser inferiores a 17.000.000, 00 MT e que as PME´s desempenham um papel vital na economia nacional, constituindo 99% do sector privado (90% pequenas e 9% médias) em Moçambique, como estimular e fortalecer o seu crescimento?

1. Criação de um mercado de Valores mobiliários para a intermediação de PME´s, facilitando a mobilização de capitais, rapidez de informação e circulação de investimentos.

2. Industrialização rural, cujo objectivo é permitir uma maior facilidade na aquisição e instalação de pequenas unidades industriais na zona rural, para viabilizar o processamento local dos produtos do campo. Esta unidade deverá trabalhar em parceria com as comunidades locais, por forma a trazer uma mais valia na qualidade dos produtos, o que poderá também melhorar os preços;

Exemplo: as províncias de Zambézia, Inhambane

e Manica são as que apresentam resultados positivos nas experiências de processamento local dos produtos, tais como milho, arroz e fruta;

3. Impulsionar a Revolução Verde, como instrumento para o combate à insegurança alimentar, através:

•Da produção de sementes melhoradas e sua

disponibilização aos camponeses.

41In Jornal Domingo de 14 de Outubro de 2007.42Ibdem.

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Exemplo: novas culturas alimentares como grão de bico, trigo, cevada e novos tipos de feijões (produtos com alto valor nutritivo), num trabalho de equipes combinadas de investigadores do Centro Internacional de Investigação de Culturas para os trópicos Semi-Áridos, Instituto Superior Poliotécnico de Gaza e o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique41 em Chókwé;

Da melhoria dos sistemas de irrigação, através da formação técnico profissional na hidráulica mecânica auto e electricidade; e

Da transformação do camponês de subsistência em agricultor comercial, como agricultores de Chókwé recebem plántulas de tomate42.

4. O estabelecimento de uma política 43 de concor- rência vai também:i) Estimular a concorrência no mercado nacional;ii) Promover o desenvolvimento das empresas num

ambiente competitivo;iii) Prevenir e reprimir práticas restritivas e contrárias

à concorrência por parte das empresas;iv) Controlar as concentrações e reprimir as práticas

anti-concorrenciais;

5. Gestão da qualidade, que é uma forma de conseguir motivar os trabalhadores e fazer com que se interessem mais pelo que estão a fazer;

43A Política de Concorrência é um conjunto de instrumentos, medidas e princípios orientadores de or-dem pública que constituem a base de uma economia de mercado, permitindo uma afectação eficiente dos recursos. A Política de Concorrência não se limita apenas à legislação sobre práticas comerciais, abrange também medidas especificamente vocacionadas para a promoção da concorrência e outras com efeito indirecto, com vista a estimular a produção e consumo de bens e serviços, criação de emprego, assim como potenciar a inovação tecnológica.44Cursos Ministrados nos Centros de Formação Profissional do INEFP

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6. Formação Técnico Profissional e Criação de emprego44 nas seguintes áreas:

i) • Gestão de pequenos Negócios (tempo de formação

12 semanas);

ii) •Administração de recursos Humanos (8 semanas);iii) •Gestão Financeira (14 semanas)iv) •Artesanato, com particular enfoque ao uso de: v) •Materiais locais (20 semanas);vi) •Electricidade (39 semanas);vii) •Mecânica Auto (39 semanas);viii) •Instrumentação (39 semanas);ix) •Serralharia Civil (18 semanas); x) •Construção Civil (19 semanas);xi) •Carpintaria (5 semanas);xii) •Pedreiro (5 semanas);xiii) •Operador de Computador (8 semanas);xiv) •Pintor de Construção Civil (363 horas/ 61 dias); exv) •Reparador de Bicicletas (300 horas)

A formação técnico profissional e criação de emprego através da aplicabilidade dos 7 000, 000, 00 MT e de grande investimentos vai:

1. “Promover oportunidades para homens e mulheres obterem um trabalho produtivo em condições de liberdade, igualdade, segurança e dignidade humanas, através de um emprego decente”45;

2. Melhoria da produtividade e competitividade dos 45Definição da OIT.

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sectores económicos, por forma a que Moçambique possa competir com sucesso no mercado global;

3. Reforço dos instrumentos que favoreçam os investimentos e o melhoramento da capacidade competitiva das empresas;

4. Integrar a formação profissional na valorização dos recursos humanos, nos programas de desenvolvimento económico e nos de luta contra a pobreza absoluta;

5. Promover a cultura de trabalho, evidenciando nas acções de formação a cidadania, a auto-estima e valores morais nomeadamente, amor ao trabalho, dedicação, zelo, honestidade entre outros;

6. Autoridades e líderes locais formados em abordagens participatórias de uso intensivo de mão-de-obra, em programas de desenvolvimento local; e

7. Utilização intensiva de mão-de-obra, a nível sectorial e local;

Projectos de Agricultura, com enfoque para construção de Valas de Irrigação, actividade comercial, piscicultura e pequenos negócios no distrito de Tsangamo.

Como fortificar e criar as PME’s

Revolução Verde

Moçambique possui uma área de cerca de 78.6 milhões de hectares de terra, dos quais 36.6 milhões de hectares possuem características de solo com aptidão para agricultura e destes apenas 5 milhões de hectares são actualmente cultivados. A industrialização, toma como uma grande oportunidade

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Integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e a sua contribuição no combate à pobreza absoluta

do pequeno agricultor ser elemento central neste processo onde o desenvolvimento rural é chave do sucesso, pelo que o sector familiar é a ferramenta motor que alimentará o sector comercial.

Exemplos: Angónia produz batata que é vendida (1 kg a 5.00 MT) em Malawi, Beira e Quelimane, no entanto em Maputo consome-se a batata sul-africana;

Maringué, em que dos 615 mil hectares do distrito, estima-se em 120 mil hectares de potencial de terra arável para agricultura mais 12 mil hectares são explorados pelo sector familiar (2% do distrito), produção de algodão, para além de mapira, mexoeira, milho e feijão para consumo local.A produção de biocombustíveis - copra e jatropha curcas - leva a que se assegure a disponibilidade de fertilizantes e produtos químicos para pequenos agricultores em particular para que possam produzir matérias-primas, fontes de biocombustíveis.

Investimentos em curso na área de energia

Em Moçambique, o potencial energético é composto por 12.500 MW de energia hidroelétrica, dos quais apenas 2.300 MW estão em exploração, cerca de 160 milhões de Gigajoules de gás natural, dos quais apenas 120 estão em uso e 2.4 biliões de toneladas de carvão mineral.

Temos infra-estruturas como portos de águas profundas, caminhos-de-ferro, estradas e pontes, pipelines e factores de produção relativamente baixos (água, terra, energia, mão-de-obra, entre outros). O investimento no sector de energia com as hidroeléctricas

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de Cahora Bassa (com potencial de 3075 MW), Mphanda Nkuwa (2, 400 MW), Lúrio (120 MW), Majaua (37 MW) e Massingir (27 MW), bem como as centrais térmoeléctricas a carvão de Moatize (1000 MW) e Temane (750 MW), envolvendo investimento de mais de 2 biliões de dólares, vão permitir a criação e promoção da economia rural, com o surgimento e fortificação de PME’s, através do desenvolvimento bioenergético e agro-industrial, bem como a criação de numerosos empregos de boa qualidade desde a produção agrícola, comercialização e exportação dos produtos, resultando na gradual elevação do nível de vida. Finalmente o aproveitamento da localização privilegiada de Moçambique.

Conclusão

A abertura da Bolsa e a concorrência é um sinal muito positivo pois, além de constituir um instrumento de mercado típico de uma economia modernizada, julgo que vai permitir que as empresas consigam captar recursos, em particular capitais com custos mais baixos de financiamento para o desenvolvimento da sua actividade, apelando a intervenção de protagonistas ou agentes de mercado que de outra forma poderiam não concretizar.

A criação de mercado de valores mobiliários para as PME’s, mostra-se vital, pois as PME’s diversificam as actividades económicas oferecendo produtos e serviços que o mercado procura num determinado momento, encorajando e inspirando a concorrência e a produção de inovações e o empreendedorismo, através da rapidez de informação e circulação de investimentos, bem como profissionalização das actividades e gestão profissionalizada das empresas, no que concerne a gestão de qualidade do seu capital humano,

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Integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e a sua contribuição no combate à pobreza absoluta

de mão-de-obra e a consequente actividade exercida por este capital humano.

As PME’s constituem a maioria do sector privado, aliando aquilo que é a salvaguarda do interesse público e à protecção dos interesses dos investidores, conjugado a natureza ágil da estrutura decisória nas PME’s e aos investimentos realizados em Moçambique, levando ao surgimento de novas áreas de exploração empresarial.

A entrada das PME’s na BVM dará maior estrutura, organização e disciplina as PME’s, contribuindo para que os agentes económicos possam honrar com os seus objectivos. A Bolsa de Valores lida com expectativas futuras da economia, ela funciona com termómetro da economia.

Propostas

1. Criar um mercado de Valores mobiliários onde o capital seja reduzido, isto é, que os 17.000.000,00 não devem estar aqui inclusos , mas sim, um volume de negócios de 1.500.000,00 MT para que as PME’s possam ser estáveis e sólidas, levando deste modo a sua entrada no mercado de valores mobiliários para as PME’s, e

2. Instituto de apoio e auditoria as PME’s;

3. Direccionar a formação técnico profissional para PME’s; e

4. O facto de a BVM, necessitar de contabilidade organizada, leva a que se incentive a formação técnica dando oportunidade de empregar jovens na área

Integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e a sua contribuição no combate à pobreza absoluta

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contabilística e de auditoria. Assim sendo, dever-se-ia incentivar a criação de empresas de auditoria por moçambicanos para maior empregabilidade de técnicos saídos das escolas técnicas (Instituto Comercial).

RECOMENDAÇÕES

1. Estabelecimento de uma política de concorrência ;

2. Gestão da qualidade, que é uma forma de conseguir motivar os trabalhadores e fazer com que se interessem mais pelo que fazem ; Ex: no caso em que uma máquina ficou absoleta, uma qualidade maior teria impedido a absolência, isto é, set-up ou retreinamento de mão de obra em novas tecnologias;

3. Reforma jurídico legal, com aprovação de um Código

de Valores Mobiliários (AR ou Conselho de Ministros), e um regulamento interno para as operações bolsistas.

Referências Bibliográficas • CASTRO, Carlos Osório de Castro, Valores Mobiliários:

conceito e espécies, UCP, 1996, pp. 61 ss.• FERREIRA, Amadeu, Direito dos Valores Mobiliários,

Sumários, AAFDL, 1997, pp. 161-212• FERREIRA, Eduardo Paz, “Títulos de Dívida Pública e

valores mobiliários”, in Direito dos Valores Mobiliários, II, Coimbra Editora, 2000, pp. 31 ss.

O SECTOR FINANCEIRO NO DESENVOLVIMENTO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

Yolanda Arcelina46

(Comentário ao texto de Osvaldo Nhanala)

Fui convidada para comentar a apresentação do Osvaldo Nhanala do tema “Integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de Valores de Moçambique e sua contribuição no combate contra a pobreza absoluta”. Contudo, deparei-me logo a partida com algumas dificuldades, nomeadamente:

1. Por não ser especialista na área financeira, a minha contribuição será sem dúvida muito limitada deste ponto de vista. Por outro lado, tive pouco tempo para me preparar e desta forma aprofundar o meu conhecimento e assim poder contribuir mais para esta apresentação.

2. Muitas vezes não me foi possível, da leitura feita ao documento, encontrar uma ligação muito lógica entre as questões que foram apresentadas, parecendo existir alguma dispersão, uma certa falta de focus e principalmente de propostas concretas ou então de elementos para sustentar a defesa.

Assim, tentei primeiro perceber as principais vertentes da apresentação aqui feita e a partir daí encontrar algumas questões chaves, nomeadamente: Bolsa de Valores + Desenvolvimento de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) = Acesso a Recursos e Combate a Pobreza. Outras questões também que foram apresentadas aqui pelo Osvaldo referem-se a formação técnico-profissional, ao desenvolvimento dos distritos e a questão dos

46Especialista do Sector Social responsável pelos Programas de Educação, Saúde, Género e Redução da Pobreza no African Development Bank (ADB);Master of Economic and Social Studies in Development Policy and Planning, (UK);

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mega-projectos.

A minha percepção do trabalho é que o mesmo pretende olhar para a concorrência da Bolsa de Valores como factor de desenvolvimento das pequenas e médias empresas, isto é, como é que no caso concreto do nosso país a Bolsa de Valores pode servir de instrumento de mobilização de capitais para as PMEs e deste modo complementar o Programa do Governo na promoção das mesmas. Contudo, penso que o ponto de partida deveria ter sido a análise do estado actual da Bolsa de Valores de Moçambique, nomeadamente:

1. a aderência e operações; 2. a quem está ou não a servir; mas principalmente 3. se está ou não a atingir os objectivos para a qual foi criada.

O economista Magid Osman, por exemplo, afirma que “a criação da Bolsa de Valores e de mercado de capitais, no futuro certamente será um instrumento valioso para a mobilização de capitais para o sector privado em alternativa aos empréstimos da banca, foi precedida de uma grande expectativa cuja materialização dependia da solução de outros constrangimentos mais urgentes, 47Osman, Abdul Magid (2006) , “Que Banco de Desenvolvimento para Moçambique ?” [email protected]

Intervencao da Dra.Yolanda Arcelina

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isto é, foi criada sem tomar em consideração e atenção a outros problemas críticos de desenvolvimento”. 47 Uma opinião crítica em relação a pertinência deste instrumento nas actuais condições.

2. Importância dos Mercados Financeiros

Olhando para a importância dos mercados financeiros, pesquisas recentes e uma vasta gama de literatura que fazem a ligação entre o desenvolvimento financeiro e o crescimento afirmam que, apesar de algumas reservas metodológicas, existem evidências empíricas que levam a concluir que o desenvolvimento do sector financeiro promove o crescimento económico. Os mercados financeiros são vistos como importantes instrumentos para acelerar o crescimento e a produtividade devido ao seu papel na mobilização de poupanças, selecção e monitoria de projectos de investimento, diversificação de riscos, e pelo facto de permitirem que o investimento e a produção sejam efectuados segundo a escala e a duração mais produtiva. Noutra vertente é também reconhecido que os constrangimentos financeiros são um dos principais impedimentos para o crescimento principalmente no meio rural.

No nosso país, o acesso a recursos financeiros é sem dúvida uma das questões que se levanta com muita frequência nos fóruns empresariais ou quando se fala, por exemplo, de impulsionar o desenvolvimento agrícola ou promover o desenvolvimento rural. Num sistema financeiro como o nosso, com um mercado de capitais pouco desenvolvido, dominado pelo sector bancário, o sector privado praticamente não pode recorrer a outro tipo de produtos financeiros para além dos empréstimos bancários.

Assim, a falta de instrumentos que facilitem o acesso a recursos financeiros é pois de extrema importância. São variadas as propostas na mesa ou em discussão no sentido de se criar ou desenvolver

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instrumentos, instituições ou produtos que facilitem o acesso a recursos financeiros, o que tem levantado muitos argumentos, a favor e contra. Destaco alguns como: (1) a criação de bancos de desenvolvimento, (2) a criação de fundos de garantia ao crédito, (3) sociedade de capitais de risco, fundos de compensação, (4) estabelecimento de linhas de crédito especiais para actividades que não são elegíveis pelo sistema bancário e considerados actualmente de risco. Nesta óptica, será que a Bolsa de Valores pode ser mais um instrumento a ser considerado, segundo a proposta aqui apresentada pelo Osvaldo?

3. Pressupostos da Apresentação Olhando para aquilo que é a minha interpretação dos pressupostos desta apresentação, o orador alistou o quadro das iniciativas governamentais e privadas em curso ou que podem ser desenvolvidas nos próximos anos, que vão desde os mega-projectos, aos recursos disponibilizados aos distritos para a promoção de actividades económicas, a reforma do ensino técnico, enfim, iniciativas que segundo a sua óptica podem dinamizar ou contribuir para o desenvolvimento das PMEs nacionais.

O apresentador tenta anteceder-se assim, às possíveis necessidades criadas por esse possível impacto e, de forma a que essas empresas possam continuar a crescer e atinjam outros níveis. Deste modo, quando estas empresas precisarem de dinheiro para expandir os negócios, desenvolver uma nova linha de produtos, ou por qualquer outra razão, poderiam então abrir seu capital. Para tal o orador propõe a alteração das actuais condições de acessibilidade à Bolsa de Valores.

A apresentação aqui feita peca por analisar e, basicamente, propôr apenas a alteração de um único ou o considerado principal factor limitativo: o requisito referente aos capitais próprios incluindo os

O sector financeiro no Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas

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resultados não distribuídos no valor de 17 milhões de meticais.

Na Bolsa de Valores ocorre a procura e a oferta de capitais ligando as empresas que precisam de fundos para a expansão, as pessoas que possuem recursos para investir. Um instrumento altamente especializado com um processo altamente organizado e rigoroso. O princípio que foi aqui apresentado pode ser correcto, mas quem investe na Bolsa está consciente que existe uma relativa margem de risco, mas também vai querer garantir o retorno do seu investimento. A credibilidade das empresas é portanto um factor muito importante.

Talvez o grande desafio ou o mais importante, ultrapassando todas as questões de gestão que as nossas empresas possam ter, não é a capacidade de chegar lá, mas sim, a capacidade de manter-se e principalmente de ir para a frente. É importante pois ter algum realismo. Nesta óptica, algumas questões que posso colocar são as seguintes:

1. se essas pequenas empresas conseguirem cumprir com os outros requisitos e ter assim acesso a Bolsa de Valores, se efectivamente ganhariam com isso tendo em conta a dinâmica de uma Bolsa de Valores?

2. como olhar para esta proposta e para a oportunidade da Bolsa de Valores se transformar numa alternativa de investimento, atracção e aplicação da poupança dos moçambicanos?

4. Promoção das pequenas e médias empresas

A apresentação faz referência ao papel das PMEs no mundo, em Moçambique em particular e da extrema importância para o desenvolvimento do país. Não vou pois desenvolver mais este

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assunto, cingindo-me a questão do acesso aos capitais.

De entre os vários factores impeditivos do crescimento das PMEs a falta de capital, como já foi referido, tem sido sem dúvida o factor principal. Mas isto é só uma parte da solução da questão. Especialistas afirmam que o problema não está na oferta mas na procura do dinheiro, fazendo uma distinção clara entre a procura e necessidade, pois na maioria dos casos depara-se com empresários ou empreendedores que necessitam de recursos financeiros, mas que não possuem condições para acederem ao mesmo, nomeadamente não possuem contrapartidas, não possuem um plano de negócios, falta de capacidade de gestão, resumindo... não são bancáveis. Existem várias questões que vão desde os conhecimentos técnicos, acesso à informação, à inovação tecnológica, e há questões macro-económicas e políticas que precisam também de ser consideradas. A matriz do sector privado tem avançado propostas concretas para melhorar, desenvolver e consolidar o ambiente de negócios. Factores críticos do nosso processo de desenvolvimento que não podem ser relegados na análise desta questão e que podem concorrer para complementar ou não a proposta.

5. Desafios futuros e importância do tema

Não gostaria de deixar de referir – embora de certa forma possa sair um pouco da sequência da minha apresentação – ao papel dos grandes projectos no desenvolvimento das PMEs e do distrito em particular.

É amplamente reconhecido que os grandes projectos não criam muitos empregos. Contudo, bebendo das experiências de outros países, torna-se importante olhar para a inserção do capital moçambicano na exploração de recursos estratégicos e envolvimento directo nesses projectos. E aqui não estou a falar apenas dos

empresários ou dos reconhecidos empresários mas também das comunidades instaladas à volta desses projectos (recursos).

Por outro lado, tendo em vista os desenvolvimentos actuais onde o distrito é o ponto de partida, a actuação das grandes empresas deveria ir para além das actividades de responsabilidade social (construção de poços, escolas, postos de saúde, etc.), passando também a complementar os recursos disponíveis a este nível, isto é, alinhando e apoiando os Planos de Desenvolvimento Distritais, estimulando as actividades de desenvolvimento económico e de criação de PME’s a este nível.

...em jeito de conclusão

Muitas vozes aqui presentes, possivelmente se irão levantar contra ou questionar a autoridade ou o conhecimento do tema por parte do apresentador. Penso que, acima de tudo, é de destacar a audácia – uma das características de jovens – de preparar e trazer este tema a debate mesmo com as lacunas que possam existir ou que tenham aparecido.

Este é sem dúvida um tema pertinente existindo a necessidade de o trazer a mesa e aprofundar a sua discussão. Em função das necessidades e possibilidades específicas de Moçambique, é importante que se identifiquem instituições, que se especializem, que se criem mecanismos que efectivamente levem ao desenvolvimento das PMEs, que as ajudem a crescer e atinjam outros níveis e que seja feita com uma relativa antecedência, complementaridade e coerência conforme nos foi aqui colocado pelo Osvaldo.

Muito obrigada!

PRESIDÊNCIA ABERTA E INCLUSIVA: DIVERSIFICANDO OS CANAIS COM OS

NOSSOS COMPATRIOTAS

Comunicação de Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião do encerramento do ciclo 2007 dos Seminários do Gabinete de Estudos da Presidência da República

Senhores Membros do Conselho de Ministros;

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Presidência Aberta e Inclusiva: Diversifi cando os Canais com os nossos Compatriotas

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Distintos Convidados;

Minhas Senhoras e Meus senhores.

O evento de hoje, encerra o ciclo 2007 dos seminários que esta outra casa do Povo Moçambicano tem estado a promover desde 2005. São eventos que têm facilitado a recolha de sensibilidades, saberes e experiências dos vários actores sociais e a nossa interacção, de forma directa, com os nossos compatriotas. Os resultados das apresentações que têm sido feitas nestes seminários, não só nos sensibilizam, mais ainda, sobre os contornos e confi gurações dos desafi os que a nossa Pátria Amada enfrenta no quotidiano. Eles também nos providenciam subsídios substantivos, úteis à nossa governação, uma governação caracterizada pela abertura e inclusão.

• Quando acompanhamos as dissertações dos nossos compatriotas sobre as temáticas que têm estado a desfi lar nestes seminários;

• Quando vemos o alto nível da moderação dos debates e a qualidade das intervenções dos participantes nestes eventos, sentimo-nos não só orgulhosos deste crescimento na nossa intelectualidade como também nos congratulamos pelo facto de, nesta área de actividade, estarmos igualmente a vencer a pobreza.

É importante recordar que a existência de um único especialista em determinada área do saber não deve ser fonte de orgulho para o detentor desse conhecimento. Deve, pelo

contrário, nele gerar repulsa e induzi-lo à determinação de contribuir para que mais compatriotas se especializem nessa

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Presidência Aberta e Inclusiva: Diversifi cando os Canais com os nossos Compatriotas

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área do saber. Na verdade, a vitória contra a pobreza passa pela multiplicação de especialistas e de estudiosos de determinados fenómenos e processos. Passa igualmente pela disponibilidade e partilha dos resultados desses estudos com outros interessados. Passa ainda pela transformação dos resultados desses exercícios académicos em instrumentos de mudança, mudanças com impacto na vida dos moçambicanos e da Humanidade. A expansão do ensino superior pelas províncias, o encorajamento da pesquisa aplicada e o lançamento do Programa Integrado de Reforma da Educação Profi ssional têm em vista responder a estes desafi os. A criação de condições para a retenção e atracção de graduados para os distritos do nosso belo Moçambique deve também ser vista neste prisma.

Terminamos este ciclo de seminários com um sentimento de que crescemos e construímos um colectivo baseado na partilha do conhecimento e de experiências diversas. Apraz-nos notar, neste sentido, o elevado interesse que estes eventos têm despertado nos nossos convidados, facto explicado, em parte, pela sua presença assídua e participação activa. Foi neste ambiente de debate e de interacção frutuosa que lográmos levar as diferentes gerações de painelistas e de participantes, diferentes pontos de vista, de experiências e de saberes, a partilharem visões e sensibilidades e, sobretudo, a sentirem que estão fazendo a sua parte na implementação da nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza.

Minhas Senhoras e Meus SenhoresO tema “A integração das Pequenas e Médias Empresas na Bolsa de

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Valores de Moçambique e Sua Contribuição no Combate à Pobreza” veio em boa hora. Na verdade, e sem nos querermos antecipar às conclusões deste seminário, este é um tema de grande relevância e actualidade em Moçambique. Já no

sreferimos,

em diferentes ocasiões, ao papel das pequenas e médias empresas na luta contra a pobreza no nosso Moçambique. Também já nos referimos à sua interacção simbiótica com os grandes projectos e como juntos promovem a imagem desta Pérola do Índico e o seu desenvolvimento social e económico. Acreditamos que os debates que se vão seguir irão enriquecer a nossa apreciação sobre o tema.

Reiteramos, uma vez mais, a nossa expressão de apreço pelas contribuições de todos. Saudamos, em particular, as contribuições dos painelistas que introduziram os debates ao longo do ano de 2007. Referimo-nos aos compatriotas:

• Luís Cezerilo;• Lourenço do Rosário;• Eduardo Sitoe;• Cristiano Matsinhe;• Gil Lauriciano;• Almiro Lobo;• Narciso Matos;• Óscar Monteiro;

E hoje • Osvaldo Nhanala;• Yolanda Arcelina; e• Jerónimo Mahoque.

Muito obrigado pela vossa atenção!