comercio inter-insular

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Rua das Mercês, 8 9000-224– Funchal Telef (+351291)214970 Fax (+351291)223002 Email: [email protected] [email protected] http://www.madeira-edu.pt/ceha/ VIEIRA, Alberto (1998) Comercio inter-insular. Séculos XV e XVI (Madeira,Açores e Canárias) COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: VIEIRA, Alberto (1987), Comercio inter-insular. Séculos XV e XVI(Madeira,Açores e Canárias), Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira 1987- avieira-comerciointerinsular.pdf, data da visita: / / RECOMENDAÇÕES O utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias obras, usando a norma de referência acima apresentada, assumindo as responsabilidades inerentes ao rigoroso respeito pelas normas do Direito de Autor. O utilizador obriga-se, ainda, a cumprir escrupulosamente a legislação aplicável, nomeadamente, em matéria de criminalidade informática, de direitos de propriedade intelectual e de direitos de propriedade industrial, sendo exclusivamente responsável pela infracção aos comandos aplicáveis.

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relações entre arquipélagos atlânticos

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Rua das Mercês, 89000-224– Funchal

Telef (+351291)214970Fax (+351291)223002

Email: [email protected]@madeira-edu.pt

http://www.madeira-edu.pt/ceha/

VIEIRA, Alberto (1998)

Comercio inter-insular. Séculos XV e XVI(Madeira,Açores e Canárias)

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (1987), Comercio inter-insular. Séculos XV e XVI(Madeira,Açores e Canárias), Funchal,CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira 1987-avieira-comerciointerinsular.pdf, data da visita: / /

RECOMENDAÇÕESO utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias obras, usando

a norma de referência acima apresentada, assumindo as responsabilidades inerentes ao rigorosorespeito pelas normas do Direito de Autor. O utilizador obriga-se, ainda, a cumprir escrupulosamente

a legislação aplicável, nomeadamente, em matéria de criminalidade informática, de direitos depropriedade intelectual e de direitos de propriedade industrial, sendo exclusivamente responsável pela

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o COMERCIO INTER-INSULAR

NOS SÉCULOS XV E XVI

MADEIRA, AÇORES E CANÁRIAS

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

o COMERCIOI N T ER- lN S U LA R

NOS SÉCULOS XV E XVI

MADEIRA, AÇORES E CANÁRIAS

(ALGUNS ELEMENTOS PARA O SEU ESTUDO)

ALBERTO VIEIRA

SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA

CENTRO· DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO

1 987

Capa, gráficos e mapas: VIRGfLIO GOMES

Fotografia: Esc. MANUELA ARANHA

ABREVIATURAS

A.A.P.D. Arquivo da Alfândega de Ponta Delgada.

A.C.M.R.G. Arquivo da Câmara Municipal da Ribeira Grand.e.

A.C.M.V. Arquivo da Câmara Municipal das Velas (5. Jorge).

A.E.A. Anuário de Estudos Atlânticos.

A.H.M. Arquivo Histórico da Madeira.

A.H.P.L.P. Arquivo Histórico e Provincial de Las Palmas.

A.N.T.T. Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

A.R.M. Arquivo Regional da Madeira.

B.C.R.C.A. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores.

B.I.H.I.T. Boletim do Instituto Histórico da Ilha· Terceira.

B.P.A.A.H. Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo.

B .P.A.P.D. Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada.

C.C. Corpo Cronológico.

C.H.C.A. Colóquio de História Canário-Americana.

J.R.C. Julgado de Resíduos e Capelas.

Ma Misericórdia.

N.A. Núcleo Antigo.

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pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

INTRODUÇÃO

A abordagem e conhecimento das sociedades insulares tem sido, em certa medida, umdomínio de investigação histórica muito solicitado nas últimas décadas. Desde FernandBraudel, Pierre Chaunu, A. Rumeu de Armas, Frédéric Mauro, T. Bentley Duncan eMagalhães Godinho reconheceu-se a necessidade de um estudo atento da história insular,como componente basilar do conhecimento do processo histórico atlântico-europeu. Daí avalorização dos fundos arquivísticos regionais e o seu aproveitamento para a explicitação daanálise da expansão atlântica.

Os autores supracitados exerceram uma acção muito importante na análise global oucomparativa deste restrito mundo insular, como forma de clarificar os vectores dominantesdo seu processo histórico. Assim as ilhas atlânticas que até então mereciam, apenas,monografias delimitadas espacio-temporalmente, passam a ser encaradas no contexto maisamplo do Atlântico, destacando-se aí como principal área da influência nos séculos XV eXVI. Neste contexto valoriza-se o seu inter-relacionamento com o litoral africano, americanoe europeu, passando a ser consideradas corno pontos-chave para a afirmação da hegemoniano Atlântico.

Em síntese, a historiografia insular ou pró-insular ultrapassou a fase introspectiva,mediante o impulso teórico-metodológico externo, mantendo-se até ao momento, em partearreigada a essas perspectivas de análise impostas pela historiografia europeia. Tal cir­cunstância terá condicionado a proliferação de títulos bem como uma maior atenção por estedomínio historiográfico. Aí valoriza-se quer o desenvolvimentó do processo histórico, numâmbito restrito, quer, num campo mais vasto, o seu inter-relacionamento com o Velho e oNovo Mundo. Pouca ou nenhuma atenção foi dada às conexões internas do mundo das ilhasque deveras marcaram a vivência destas sociedades insulares. Só muito recentemente comos trabalhos de Artur Teodoro de Matos e Manuel Lobo Cabrera foi posta em destaque estanova e importante faceta da História Insulana. e)

Gaspar Frutuoso (1522-1591), pela sua importante obra sobre a História dos arquipé­lagos atlânticos (Canárias, Cabo Verde, Madeira e Açores), poderá ser considerado o

et) Artur Teodoro de Matos, "Las relaciones entre Azares, Canarias y America Espaiiola en los siglas XVIy XVII .., in V C.H.C.A .. Las Palmas, 1982 (no prelo); Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y los contactos comlas islas portuguesas atlanticas: Azores Madera, Cabo Verde y Santo Tomé .., in Congresso Internacional deHistoria Maritima, Las Palmas, 1982 (no prelo) Manuel Lobo Cabrera. Elisa Torres Santana, -Aproximaclón 'delas relaciones entre Canarias y Azares em los siglas XVI y XVII .., in Os Açores e o Atlantico (séculos XVI-XVII).Angra do Heroísmo, 1984,352-375. Manuel Lobo Cabrera e Margarida I. Martín Socas. «Emigracion y comercioentre Madeira y Canarias en el siglo XV)", in ibidem, 678-700.

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pioneiro desta inovadora perspectivação da realidade histórica insular. Ele terá sido ainda opioneiro a evidenciar e delinear os traços comuns destas sociedades nascentes, tanto ao nívelgeográfico, como ao administrativo e económico (2). Na realidade não estava equivocadoquando tentou essa abordagem, pois os referidos arquipélagos pertencem à Macaronésia aomesmo tempo que fazem parte de um conjunto, que é o Atlântico.

A perspicácia e pormenor das suas descrições atestam, por um lado, o conhecimentoprofundo que havia destas ilhas em finais do século XVI e, por outro, as possibilidades ouassiduidade dos contactos entre as diversas ilhas. Para escrever os referidos relatos GasparFrutuoso terá percorrido algumas delas, apoiando-se, ainda, no testemunho oral do viajantee do mercador que frequentavam a ilha de S. Miguel e). Talvez o facto de ser filho domercador Frutuoso Dias, natural de Ponta Delgada, tenha contribuído para essa familia­rização com os arquipélagos vizinhos, com que os açorianos mantinham contactos assíduos (4).

Para além desta tentativa de análise comparada e de conjunto dos arquipélagosatlânticos, o texto frutuosiano poderá ser considerado ainda como a primeira memória atentaque preserva o cotejo do inter-relacionamento destes arquipélagos, dando conta do movi­mento migratório e comercial entre a Madeira, os Açores e as Canárias.

Todavia o seu apelo para a fundamentação da sociedade e economia insulares e dosistema de inter-conexões manteve-se no esquecimento por várias gerações, sendo apro­veitado, apenas, no nosso século.

Partindo das tentativas já referenciadas e cientes da importância desse tipo de abordagemlançamos mãos, em 1982, de um projecto de estudo do Mediterrâneo Atlântico nas suaspeculiaridades, fazendo-o incidir nas relações entre estes três arquipélagos, situados. àsportas do Atlântico Sul. Aqui conclui-se a primeira fase desse plano, cujo objectivoprimordial é o conhecimento da realidade histórica insular. Assim, esta monografia define­-se pelo seu carácter introdutório ao tratamento do tema.

As lacunas da documentação nos três arquipélagos são imensas, pelo que fomosimpossibilitados de estabelecer as séries cronológicas necessárias para um estudo destaíndole. Deste modo o tratamento do comércio inter-insular ficou muito limitado em termosdocumentais e expositivos, não pela sua importância no contexto económico insular, massim pelas referidas lacunas. Todavia, a informação respigada nessa documentação, aindaque diminuta em termos numéricos, é suficientemente elucidativa para podermos afirmar asua importância na economia insular. .

Além disso os reflexos da compartimentação geográfica, aliados à dificuldade decontactos com as ilhas fizeram-se sentir, de modo evidente, neste primeiro resultado dainvestigação em curso. Assim, a dispersão geográfica da documentação açoriana, emconsonância com a impossibilidade material de uma adequada permanência no arquipélagocanário, impossíbitaram-nos de um maior aprofundamento destes arquipélagos. Se nasCanárias essa lacuna foi colmatada parcialmente pela riquíssima produção historiográficadeste século, nomeadamente da Universidade de La Laguna e da Casa Colón (Las Palmas),nos Açores apenas podemos ficar agradecidos ao brilhante e minucioso trabalho de recolhade Ernesto do Canto, reproduzido parcialmente no Arquivo dos Açores.

Uma maior familiarização com o riquíssimo acervo documental madeirense, aliada àimportância deste arquipélago no sistema de inter-conexões insulares, levaram-nos a apostarnessa documentação e partir dela para a análise pretendida. Além disso, porque reconhecemoster sido a Madeira a ilha onde se lançou a primeira experiência de ocupação atlântica, com

e) Rodrigo Rodrigues. «Notícia biográfica do Dr. Gaspar Frutoso.., in Saudades do da Terra, L.0 I, PontaDelgada, 1984, XV-CVX; Manuel Lobo Cabrera «Aproximacion a las relaciones entre Canarias y Azores ... ",

354-356.(3) Rodrigo Rodrigues, art, cit., XL-XLI, LXIV.(4) Idem, Ibidem, XXVI, LXVII.

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implicações nas ilhas vizinhas, estruturámos a nossa expOSlçao a partir daí. associando depois os Açores e as Canárias. Aliás, a Madeira contribuiu em muito para o arranque da ocupação e valorização sócio-económica desses arquipélagos vizinhos. Este impacto madei­rense terá condicionado o desenvolvimento das suas sociedades, evidenciando a similitude de processos, técnicas e produtos. Neste sentido poderá considerar-se o colono madeirense como o principal obreiro desta sociedade e economia insulares.

A concretização deste estudo não seria possível sem a prestimosa colaboração de instituições, amigos e mestres a quem agradecemos vivamente. De entre estes distinguimos o contributo do Professor Doutor Manuel Lobo Cabrera, que nos encaminhou pelas sendas da investigação arquivística e bibliográfica canária, e o Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, timoneiro deste cruzeiro atlântico, pela orientação e impulsionamento dado a este trabalho.

Para a presente edição deste nosso trabalho estamos gratos a todos os elementos da Comissão Instaladora do Centro de Estudos de História do Atlântico por nos confiarem a honra da primeira edição desta instituição. Ao Professor Doutor Luís de Albuquerque o nosso especial agradecimento pelos sábios conselhos dados, quando da preparação do texto para edição, e pelo empenho e acompanhamento da impressão.

Ponta Delgada, Janeiro-Maio de 1985

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pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

PRIMEIRA PARTE

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

o ATLÂNTICO E AS ÁREAS INSULARES

1. A ECONOMIA INSULAR

O processo de ocupação do mundo insular atlântico surge, nos séculos XV e XVI,como um movimento ímpar da expansão e da colonização do Ocidente. A expectativa doNovo Mundo aliada aos incentivos da nova economia de mercado condicionaram avalorização, não só destas ilhas, mas do Atlântico em geral. Os arquipélagos da Madeira,Açores e Canárias, porque próximos da Europa e posicionados estratégicamente nos rumosda navegação atlântica, surgem desde muito cedo como pólos importantes para o domíniodo Atlântico. Talvez por isso mesmo Frédéric Mauro não hesite em afirmar: «iles sansdoute, mais iles aussi important que des continents» e).

A sua ocupação e valorização sócio-económica faz parte de uma estratégia doOcidente, marcada pela paulatina desvalorização do mercado mediterrânico em favor donovo mercado atlântico. Esta transmutação de centros de influência foi responsável pelavalorização dos arquipélagos atlânticos. Talvez por isso mesmo certa historiografia ocidentalnão hesitou em denominar este Novo Mundo insular de Mediterrâneo Atlântico. PierreChaunu vai mais longe e divide o Atlântico em duas áreas de influência perfeitamentedefinidas: o Mediterrâneo Atlântico e o Americano CZ).

A imagem do Mediterrâneo como centro dominante das trocas comerciais, exóticas ounão, domina o imaginário dos ocidentais na expansão do litoral insular, africano eamericano e). A tudo isso vem juntar-se a constante presença de gentes ribeirinhas da baciamediterrânica, interessadas em impôr as suas técnicas de negócio, o seu capital, os seusprodutos (4). ,

As ilhas dos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias situadas às portas do NovoMundo e, porque próximas do velho centro de comércio surgem, nos séculos XV e XVI,como o último resquício mediterrânico e a esperança de novo centro atlântico. Daí oreferido epíteto que sintetiza as aspirações dos europeus na alvorada de uma nova era.

Esta premência e constância do Mediterrâneo nos primórdios da expansão atlânticapoderá ser corresponsabilizada pela dominante mercantil das novas experiências de arrotea­mento nesta área inexplorada. Certamente os povos peninsulares e ribeirinhos da bacia

e) Des produits et des hommes, Paris. 1972. 53(2) Sevilla y América. Siglos XVI y XVII. Sevilha. 1982, 43(3) Frédéric Mauro. La XVI". siécle européen. Aspects économiques, Paris. 1970. 103; Femand Braudel ,

La Mediterranée et le monde Mediterranéen ( ... ), vol. I, Paris, 1976, 141-142.(4) Manuel Nunes Dias. O capitalismo monárquico português. vol. II. Coimbra, 1964, 171, 179. 182,

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mediterrânica, ao comprometerem-se com o processo de expansão atlântica, não puseram departe a sua tradição agrícola, incentivadora das trocas comerciais. Por isso na bagagem dosprimeiros cabouqueiros insulares eram imprescindíveis as cepas, as socas de cana, algunsgrãos do precioso cereal, de mistura com os artefactos de uso corrente.

O processo de ocupação e domínio do Atlântico foi, deste modo, definido por umatransplantação material e mental de que os colonos peninsulares foram os principaisobreiros. Mais do que uma tentativa de recriação do velho rincão natal, este processo foi aprimeira experiência de ajustamento das arroteias às directrizes da nova economia demercado (5). Assim, a aposta preferencial de cultura irá incidir nos produtos em falta naEuropa e naqueles mais valorizados nessa economia nascente, como o açúcar e o pastel.

A sociedade e economia insulares surgem na confluência destes vectores externos emconsonância com as condições mesológicas do multifacetado mundo insular. Todavia, a suadistribuição e a sua valorização não foram simultâneas nem obedeceram aos mesmosprincípios organizativos, mercê da sua repartição pelas coroas peninsulares e senhoriosilhéus. Na Madeira e nos Açores o arranque sócio-económico dependeu, de modo uniforme,da intervenção da coroa e senhorio (1433-1497), enquanto nas Canárias os mesmos agentestiveram uma acção diversificada e localizada em ilhas. Nesta última situação o processo deintegração do arquipélago foi muito moroso e variou de ilha para ilha, sendo comumdistinguir as ilhas realengas das senhoriais. Não obstante esta forma diversificada dedirecção e domínio, é notória a dominância dos princípios definidores da nova economia demercado, visível na selecção das culturas e no incentivo que lhes foi dado.

As Canárias, pela riqueza dos seus recursos humanos e naturais surgiu, desde o séculoXIV, como primeiro alvo preferencial dos povos peninsulares e mediterrânicos. Todavia oseu processo de conquista e ocupação foi retardado pela disputa entre Portugal e Castela,bem como, pelo afrontamento da população guanche. Deste modo, a Madeira e o PortoSanto irão assumir a posição dianteira neste processo, surgindo, desde princípios do séculoXV, como importantes focos de recepção e materialização das necessidades e dos anseiossociais, políticos e económicos do Ocidente. O arquipélago açoriano, colocado numaposição excêntrica em relação ao principal pólo de atracção atlântica nas primeiras décadasdo século XV e, mercê da premência dos fenómenos sísmicos e vulcânicos, não seapresentava muito favorável a esse desenvolvimento inicial. Apenas na segunda metade doséculo este espaço multifacetado atrairá as atenções dos peninsulares e até dos descontentescom a situação madeirense. Assim, a partir da década de 70 as ilhas açorianas surgem comouma concorrente da Madeira, galvanizando as atenções de madeirenses e peninsulares. Aexperiência adquirida pelos colonos imigrantes da Madeira foi importante para a valorizaçãosócio-económica deste arquipélago bem como do canário.

A Madeira, que se encontrava a pouco mais de meio século da sua existência comosociedade insular, estava já em condições de oferecer contingentes de colonos preparadospara o lançamento de novas arroteias e culturas nas ilhas vizinhas. Assim terá sucedido coma transplantação da cana-de-açúcar para as ilhas de Santa Maria, S. Miguel, Terceira, GranCanaria e Tenerife. Deste modo o arquipélago madeirense, posicionado estrategicamentenesse mundo de ilhas, dominará todas as conexões atlântico-insulares; será um intermediárioentre os dois arquipélagos do extremo ocidental e oriental e um importante veículo queassegurará a unidade e a vizinhança, e aproximará as parcelas deste Novo Mundo; pelo seulado, ambos os arquipélagos vizinhos integrarão a Madeira nos circuitos comerciais dolitoral africano e americano.

A aproximação e vizinhança das ilhas que compõem o Mediterrâneo 'Atlântico serão

(5) José V. Torres, Introdução à História Económica e Social da Europa. Coimbra, 1983, 83-85; MariaOlímpia da Rocha Gil, ..Os Açores e a nova economia de mercado (séculos XVI-XVII)>>, in Arquipélago, sérieCiências Humanas, vol. III, 1981, 371-375; Pierre Chaunu, Sévil/e et l'Atlantique, vol. VIII. 79.

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corresponsabilizadas por esta identidade, bem como pelas assimetrias e complementaridadesdo seu desenvolvimento económico. Estas características dominantes do mundo insular sãoo único meio estabilizador dos mecanismos sócio-económicos insulares, uma vez quecriaram as condições necessárias à resolução dos problemas quotidianos e à valorização daspotencialidades locais. Foi, certamente, a única possibilidade da economia insular seafirmar em face da premência e dominância da Europa Ocidental; assim sucedeu com oscereais que, produzidos apenas em algumas ilhas, foram suficientes, em condições normais,para satisfazer as necessidades da dieta local. Esta conjugação de interesses marcará, portodo o século XVI, as linhas complicadas das conexões insulares.

O afrontamento das economias das ilhas aparece apenas no domínio das culturascoloniais - pastel, açúcar, vinho - impostas pelo Ocidente com a única finalidade desuprir as suas carências; tal imposição externa, dominante em todo esse mundo, conduziu aum afrontamento e a uma crítica desarticulação da economia insular. Todos estes produtossão o suporte mais poderoso do domínio europeu na economia das ilhas (6).

O açúcar na Madeira, Gran Canaria , Tenerife, La Palma e o pastel, em S. Miguel,Terceira, exerceram uma acção devastadora do equilíbrio da exploração económica local,retirando o espaço agricultado às culturas similares. Tal circunstancionalismo culminousempre numa situação de forte dependência em relação ao mercado externo que, para alémde consumidor exclusivo destes produtos, surge como o principal fornecedor dos produtosou artefactos que os povos das ilhas carecem. Qualquer eventualidade que pusesse em causaa produção dessas culturas era o prelúdio da estagnação do comércio e da fome. Assimsucedeu em 15]3 na ilha de Tenerife com a acção do bicho da cana que destruiu grandeparte das fazendas de açúcar que, segundo reclamação dos seus vizinhos, «es lo principal dela isla- (). De igual modo se poderá definir a situação madeirense, na segunda metade doséculo XVI, mercê da concorrência do açúcar brasileiro que abateu o comércio do «da ilhaque he o fruito e comercio principal dclla e remedio dos lavradores» (8).

Terá sido com base nesta ambiência que Fernand Braudel defendeu, em 1949, paraestas ilhas um regime produtivo de monocultura e). No entanto nesse mesmo ano OrlandoRibeiro esclarecia o carácter de não monocultura do regime de exploração agrícolamadeirense eo). E, volvidos vinte anos, Elias Serra Rafols respondia a Francisco MaralesLezcano , enunciando que nas Canárias nunca existiu um regime de monocultura, uma vezque a economia canária foi dominada por uma variedade de culturas, cuja actuação não éuniforme no tempo e no espaço r!"). Mais tarde, Frédéric Mauro, secundado por VitorinoMagalhães Godinho, retomam a questão, enunciando que a economia insular se definiuapenas por um regime de produtos dominantes e não de monocultura (12).

(6) Femand Braudel , ibidem. I, 182, Pierre Chaunu , ibidem, vol. VIII, 79.ç7) Acuerdos dei Cabildo de Teneri]e, III. 277-283, n.? 42, ..Capitulaciones que presenta ai Rey la isla de

Tenerife por mano de mensagero ...(8) A. R. M., C. M.F., Tombo Velho, fi. 178, 5 de Dezembro de 1598.(9) Ob. cit .• ed. de 1949, 123.

eo) L'fie de Madêre ( ... ), Lisboa, 1949, 67.(11) « EI gofio nuestro de cada dia .., in Estudios Canarios, XIV-XV, 1969-1970,97-99; corroborado por

M. A. Ladero Quesada (Espana en 1492, Madrid, 1978, 205-218), Eduardo Aznar Vallejo (La lntegracián de lasislas Canarias en la corona da -Castilla, La Laguna, t983, 455) e Fernando Clavijo Hernandez « Los documentosde tletamentos ( .. .}» in IV C. H. C. A.. vol. 1,36. A tese de Victor Morales Lezcano, baseada em F. Braudelsurgiu pela primeira vez em Slntesis de la historia economicá de Canarias , Tenerife , 1966. sendo depois reforçadaem Las relaciones mercantiles entre Inglaterra y los archipélagos atlantico ibéricos ( ... ) La Laguna, 1970 e em..Cultivos dominantes y ciclos agrícolas en la historia Modema de las islas Canarias .., in Historia General de las

Islas Canarias, IV, 11-22.e2 ) Frédéric Mauro, Le Portugal et l'Atlantique au Xvt!«, siõclet.... ), Paris, 1960 50 I; Idem, ..,conjonctureéconomique et structure sociale en Amérique latine depu is I'époque coloniale .., in Conjoncture Economique.Structure Sociales, Hommage à Ernest Labrousse, Paris, 1974,237-251; Vitorino Magalhães Godinho, ..A divisãoda história de Portugal em períodos .., in Ensaios !l, 2." ed., Lisboa, 1978. t2-14.

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Deste modo, e em face de uma análise aturada da economia insular, parece-nos que a mesma não se rege por princípios exclusivistas, de acordo com a premência das solicitações externas. Antes pelo contrário, o seu desenvolvimento sócio-económico processou-se de forma variada, sendo a exploração económica dominada por esses vectores dominadores, confrontados com as condições e recursos do meio, com solicitações da economia de subsistência. É difícil, senão impossível, conseguir definir um ciclo em que impere a monocultura de exportação, num espaço amplo e multifacetado como é o mundo insular, ou em cada arquipélago em particular. O espírito de inter-ajuda atrás enunciado é a prova cabal disso. Os modelos, embora perfeitamente delineados, não se ajustam à realidade sócio­-económica, que é extremamente variada e enriquecida de múltiplas matrizes. Embora alguns produtos, como o trigo, o açúcar, o vinho e o pastel, surjam em épocas e ilhas diferenciadas como os mais importantes e definidores das trocas externas, não são os únicos na economia insular. A análise dos produtos na exploração agrícola comercial do mundo insular comprovará esse facto.

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2. AS ÁREAS INSULARES A EXPANSÃO E O COMÉRCIO NO ATLÂNTICO: ASROTAS DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO

A valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a um intrincado liame derotas de navegação e de comércio que ligavam o Velho Continente ao litoral atlântico e).Esta multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e de formas deexploração adoptadas. Se é certo que esses vectores geraram as referidas rotas, não é menoscerto que as condições mesológicas deste oceano, dominadas pelas correntes, ventos etempestades, delinearam o seu rumo e). As mais importantes e duradouras de todas astraçadas neste mar foram sem dúvida a da Índia e a das Índias, que galvanizaram asatenções dos monarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. e).

No traçado de ambas situava-se o Mediterrâneo Atlântico com uma actuação primordialna manutenção e apoio à navegação atlântica. As ilhas da Madeira e das Canárias surgemnos séculos XV e XVI como entrepostos para o comércio no litoral africano, americano easiático. Os portos principais das ilhas da Madeira, Gran Canaria, La Gomera, Hierro,Tenerife e Lanzarote animam-se de forma diversa com o apoio a essa navegação c comércionas rotas da ida, enquanto os Açores, com as ilhas de Flores, Corvo, Terceira e S. Miguel,surgem como a escala necessária e fundamental da rota de retomo.

Segundo Pierre Chaunu a rota das Índias de Castela assentou em quatro vérticesfundamentais: Sevilha, Canárias, Antilhas, Açores (4). Nesse traçado, portanto, a Madeiramantinha-se numa posição excêntrica, pois apenas servia as rotas portuguesas do Brasil e dacosta africana.

As dificuldades do espaço entre as Canárias e Castela, devido ao golfo de las Yéguas(ou golfo das Éguas), em consonância com o prolongado percurso até às Antilhas, fizeramdas Canárias uma escala obrigatória e imprescindível para a carreira das Índias (5). Aí as

e) Avelino Teixeira da Mota, «As rotas marítimas portuguesas no Atlântico de meados do século XV aopenúltimo quartel do século XVJ.>, in Do Tempo e da História, III, 1970, 18-19: Frédéric Mauro, «Les routesocéaniques et la domination de I' Atlantique», in Études SUl' /' expansion portugaise 1500-1900, Paris, 1970,98, 106,

(2) Pierre et Hughette Chaunu, Séville et l'Atlantlque , t. VII, 18-21; t. VIII, 349; Joaquim Navarro yMorgado, Navegacián dei oceano Atlantlco( , , ,), Madrid, 1876: Derrotero de las islas Canárias y orchipiélagode la Modera, Madrid. 1864; Glyn Daniel, The Atlantic Seaways (as rotas do Atlântico), Lisboa, 1961, sep. do«Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa". Julho-Setembro de 1961: Ed. le Danais, L' Atlantique. Histoire etvie d'un océan, Paris, 1939, 150-184,

e) São múltiplas as obras e estudos sobre as carreiras da Índia e Índias. Sobre a carreira da Índia e rotasportuguesas no atlântico citaremos: Gabriel Pereira, Roteiros portugueses de Lisboa fi índia /lOS séculos XVI eXVII. Lisboa. 1898: Frazão de Vasconcellos, Subsídios para a história da carreira da lndia ao tempo dos Filipes.Lisboa, 1960. António da Silva Rego, "Viagens portuguesas à Índia no século XVI», in , Aliais da Acad;mlllPortuguesa de História, " série. vol. V. 1951. \09-242; Virgínia Rau , «Les escates de la carreira de India(XVo-XVIIIo siécle) ... in X Colloque Maritime, Bruxelas. 1968; Avelino Teixeira da Mota, Jorge Borges deMacedo c Frédéric Mauro. -Les routes portugaises de l'Atlantique , in Anuario de Estudos Americanos XXV, 1968.129-151: José Roberto do Amaral Lapa. "Variação triangular da rota do Cabo (séculos XVI, XVII, XVIII). inlbidem , XXV. 1968.507-513: Luís de Albuquerque. "Escalas da carreira da Índia .., in Revista da Universidade deCoimbra. XXV\, 1978. 137-144, Sobre a Correra de las índias veja-se: Pierre Chaunu, art . cit.; FranciscoMorales Padrón ... Sevillu, Canarias y América". in Historia General de las islas Cal/ar/as, Il , 225-240: AugustinGuimerá Ravina. «Canarias en la Carrera de Índias 1564-1778 .., in ibidem, II, 169-174, Uma primeira análisecomparativa das duas rotas foi feita por Artur Teodoro de Matos. "As carreiras da Índia e Índias no século XVI.Esboço de estudo comparativo ... in VI Coloquio de Historia Canario-Americanu, Las Palmas, 1984 (no prelo),

(4) Sevltlav América, Siglos XVI -" XVI!. 43-48,(5) Ibldem.'43-54: Francisco Mora1es Padrón , "Canárias en los cronistas de Índias .., ln A.E,A .. X. 1964.

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naus faziam aguada, procediam aos necessários reparos e se reabasteciam de lenha e génerosimprescindíveis para a longa caminhada de um a dois meses. As ilhas de Tenerife, GranCanaria, Hierro, La Gomera e Lanzarote eram favorecidas com essa escala técnica, poispara além de poderem escoar os seus produtos no abastecimento das naus, estava facilitada asua intervenção no comércio americano (6).

O arquipélago canário, nomeadamente a ilha de Tenerife, mereceu também a preferênciados navegadores portugueses nas suas viagens ao Brasil, à costa africana e à Indiat").Assim terá sucedido, por várias vezes, no século XVI, sendo de referir em 1530, a escala daarmada de Martim Afonso de Sousa em Tenerife e, em 1563, a viagem do jesuíta Sebastiãode Pinat").

As ilhas Canárias surgem, pois como uma importante base de aprovisionamento para asnaus portuguesas com destino ao Brasil, Cabo Verde, Guiné e Angola e, mesmo, comorelevantes entrepostos do comércio ilegal de escravos na costa africana (9).

Os ingleses serviram-se igualmente das Canárias como o ponto de apoio para as suasnavegações de comércio e corso nas costas africana e americana. Entre 1524 e 1600contam-se treze viagens em que aportaram a este arquipélago, sendo de salientar a de JohnHawkins em 1564 e a de Francis Drake em 1581 eo).

A escala da rota de retorno das principais carreiras oceânicas passava obrigatoriamentepelos Açores. Este arquipélago surge, desde princípios do século XVI, como o principalponto de apoio para essa navegação, sendo para os espanhóis as «Canárias de losretomas» (11).

Ambas as escalas são imprescindíveis à navegação e comércio atlântico. As dificuldadese delongas da viagem de retorno implicavam uma paragem retemperadora em pleno oceano,onde fosse possível reparar os danos das embarcações, fazer o aprovisionamento de víverese de água. Por vezes os portos açorianos apresentavam-se como o reduto seguro para aprotecção e defesa de qualquer assalto corsário. Tudo isso oferecerá a praça de Angra, ondea coroa portuguesa centralizou serviços e infraestruturas de apoio, como a Provedoria dasArmas, a partir de 1527et2

) .

Segundo o testemunho de viajantes, na segunda metade do século XVI a cidade deAngra, mercê de uma forte rede de fortificações e de bom porto de abrigo, era o principalentreposto comercial do tráfego oceânico na rota de retorno. Pompeo Arditi, em 1567,refere que "à ilha afluem muitos navios por ser mais cómodo à navegação do que qualquerdas outras; por isso nela tocam todos os vindos das Índias orientais e ocidentais, do Brasil,São Tomé, Mina e Cabo Verde, a abastecer-se de mantimentos, parecendo que Deus põemilagrosamente esta ilha no meio de tão grande oceano para salvação dos míseros

211-213; Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y Indias ( ...h in IV C.H.C.A., vol. I, 111-128; Clarence H.Haring, Comercio y navegación entre Espana y las Índias, México, 1979, 23.

(6) Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L;" I. 87) refere que o comércio, do vinho em Las Palmas sedesenvolveu pela necessidade que havia dele para abastecer os navios da carreira de Indias; veja-se infra II. a parte,cap. II, sobre o comércio canário-americano.

n Pierre Chaunu, Séville et I'Atlantique, T. VIII, 378-380.(8) J. G. Salvador, Os cristãos novos e o comércio atlântico meridional. S. Paulo, 1978, 241-242.(9) Enriqueta Vila Vilar, "Las Canarias como base de aprovisionamento de navios portuguêses», in II

C.H.C.A .. vol, I. 1977, 287, 293; Idem, Hispanoamerica y el comercio de esclavos, Sevilha, 1977.eo) Richard Hakluyt, The Principal navegations ( ... ), 12 vols., Glasgow, 1903-1905 (reedição de 1982),

t. VIII, 160, 297, 310, 407; t. IX, 361, t. X, 11-12,98, 184,204,452; t. XI, 44, 278, 384; J. W. Blake,Europeans in West Africa, 1450-1560. voI. II, Londres, 1946, 250; Antonio Rume~ de Armas, Pirater~as yataques navales contra las islas Concrias, 5 vols., Madrid, 1947-1950; Idem, Los viages de John Hawkins aCanarias, Sevilha, 1947.

(11) Pierre Chaunu, Sevilla y America. Siglos XVI y XVII. 44, 55-58.(12) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas da Ilha Terceira e a carreira da Índia no

século XVI, in /I Seminario Internacional de Historia Indo-Portuguesa (no prelo).

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navegantes, que muitas vezes lá chegam sem mastros nem velas, ou sem mantimentos e aíse fornecem de tudo» e3

) . Vinte anos volvidos Mosquera de Figueiroa corrobora essemovimento do porto de Angra, dizendo que «es mucho el comercio com las ÍndiasOrientales y Ocidentalis, por ser escala importantissima para el refresco y refugio de susarmadas, por tener en si agua en abundancia muy delgada y saludable» e4 ) .

A participação madeirense na carreira das Índias foi esporádica. justificando-se estaausência pela posição marginal em relação à sua rota. Todavia a Madeira representa umporto de escala muito importante para as navegações portuguesas para o Brasil, Golfo daGuiné e Índia es). Desde o século XV que ficou demarcada essa posição da escalamadeirense para as explorações geográficas e comerciais dos portugueses na costa ocidentalafricana. Esta opção pela Madeira adveio dos conflitos latentes com Castela pela posse dasCanárias. A expansão comercial de finais do século XV, com a abertura da rota do Cabo,veio valorizar mais uma vez esta escala aquém equador, surgindo inúmeras referências, emroteiros e relatos de viagens. à escala madeirense e6

) . Os mesmos ingleses que utilizaram asCanárias tocavam com assiduidade a Madeira, onde se proviam de vinho para a viagemt").

A Madeira, como as Canárias, muito raramente foi escolhida como escala de retorno- uma vez que essa missão estava, por condicionalismos geográficos, reservada aosAçores. Todavia verificou-se ocasionalmente a escala das embarcações vindas da Mina.Índia e Índias na Madeira. Em 1520 o monarca determinava o modo de transporte de cargada nau de D .. Diogo de Lima, originário da Índia, para o reino, enquanto em 1528 AndréSoares. capitão de uma nau oriunda de Mina, reclamava ao provedor da fazenda . Aíatacavam não só as naus do comércio americano e índico, mas também as embarcações docomércio insular 1581, mas de acordo com a opinião de Filipe II essa prática era assíduanestas últimas décadas do séculor!").

A posição demarcada do Mediterrâneo Atlântico no comércio e na navegação atlânticafez com que as coroas peninsulares investissem aí todas as tarefas de apoio, defesa econtrole do trato comercial. As ilhas eram os bastiões avançados, suportes e símbolos dahegemonia peninsular no Atlântico. A disputa pela riqueza em movimento neste oceano seráfeita na área definida por elas, pois para aí incidiam piratas e corsários ingleses, franceses eholandeses, ávidos das riquezas em circulação nas rotas americanas e índicas. Uma dasmaiores preocupações das coroas peninsulares terá sido a defesa das embarcações quesulcavam o Atlântico em relação às investidas dos corsários europeus. A área definida pela

e3) "Viagem de Pompeo Arditi ... », in B./B./.T., VI, 1968, 179.

e4 ) "Conquista da Ilha Terceira em 1583», in Arquivo dos Açores. IV, 281. Idêntica é a opinião de J. H.Linschoot cm 1589 ("História da Navegação ( ... )>>, in B.l.H./.T.. I, 1943, 154) de Gaspar Frutuoso (Ob. ctt ..lo" VI, 1963, 13) c do Pe. Manuel Luis Maldonado (Phoenix Angrense, cit. por Hélder Lima, Os Açores naeconomia atlântica ( ... ), Angra do Heroísmo, 1978, 125-127). Veja-se ainda Marcelino Lima, Anais doMunicípio da Horta, Famalicão, 1940, 629; Ccsareo Fernandez Duro, La conquista de los Açores en /583,Madrid, 1886, p. 9; Maria Olímpia da Rochu Gil, «O porto de Ponta Delgada e o comércio açoreano noséculo XVII ( ... )>>, in Do Tempo I' da Histária, III, 1970, 67-70.es ) Pierre Chaunu, Séville et l'Atlantique, t. VIII. 442-448; José Gonçalves Salvador, ob, clt .. 242.

e6 ) Em 1508 a armada de Jorge de Aguiar com destino il Índill pllSSOU pelu Madeira (José Ramos Coelho,Alguns documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das Navegações dos Portuguêses, Lisboa,1892. 197), Veja-se Luis de Albuquerque, art. cit., 142; António da Silva Rego. art, cit.. 81; Frédéric Mauro. LePortugal et l'Atlantique ali XVlle siêclc, 490-491.

(17) J, W. Blake. Europeans in West A/rica. /450-/560, vol. II, Londres, 1942,250,327-328,361,398;Richard Hakluyt, ob, cit.. l. VIII, 424, t. X, 11-12, 93, 266.

es) A.N.T.T .. C.C .. II. 89-137. carta régia de 26 de Abril de 1520, Ibidem, II, 153-26, auto derequerimento de 17 de Dezembro de 1528.

(19) Joel Serrão, "Holandeses e ingleses em portos de Portugal no domínio filipino». in D.A.H.M.,n.O 3, 9-13.

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Península Ibérica, Canárias e Açores era o principal foco de intervenção do corsoeuropeu eo) sobre os navios que transportavam açúcar ou pastel ao velho continente e1

) ,

Sendo o ouro, a prata e as especiarias orientais os principais alvos da cobiça doscorsários, lógico será admitir que a intervenção destes se fizesse em particular entre osAçores e o Cabo de S, Vicente (22), Foi tendo em conta essa insegurança das embarcações edas ilhas açorianas que, em 1543, Bartolomeu Ferraz traçou um plano de fortificação dessearquipélago, justificado, segundo ele, "porque as ilhas Terceiras importarão muito assv peloque per ssy valem como por serem o velhacoute e socorro muy principal das naos da Índia eos franceses sserem tão dessarrozoados que justo vel injusto tomão tudo que podem» e3

) .

Outra e não menos importante preocupação das referidas coroas incidia sobre o comércioilegal que aí se fazia com as mercadorias do Novo Mundo rê"). Deste modo as necessidadesda defesa e da vigilância, bem como da guarda e da protecção das armadas ou frotasimplicaram a criação de estruturas capazes de manter com segurança e vantagem omonopólio comercial ibérico.

Desde o início da escala das rotas que esta situação de insegurança se evidenciará, peloque ambas as coroas delinearam, em separado, um plano de defesa e apoio às suasembarcações. Da parte portuguesa promulgara-se em 1520 o regimento para as naus dalndia nos Açores, no qual se estabelecem as formas de intervenção à chegada das naus daÍndia ao arquipélago. Define-se nesse diploma o modo de segurar a mercadoria das mãos docontrabando e corso, o abastecimento necessário para a viagem até Lisboaes). A insu­ficiência destas prerrogativas tornou necessária e urgente a Provedoria das Armadas daÍndia, Brasil e Guiné, sendo seu provedor, desde 1527, Pera Anes do Canto. Depois, apartir da década de 30, procurou-se delinear um plano de defesa das principais ilhas doarquipélago, com particular incidência para os portos de apoio de Angra, Ponta Delgada eHorta.

Ao provedor competia a superintendência de toda a acção de defesa e abastecimentodas embarcações em escala ou em passagem pelos mares açorianos e6

) . Além disso a suaacção de apoio alargava-se à Armada das Ilhas, criada expressamente para comboiar, desdeo Corvo até Lisboa, as embarcações vindas do Brasil, Índia e Mina, e a fiscalização do mardos Açores. No período de 1536 a 1556 há notícia de pelo menos doze armadas terem sido

eo) Avelino Teixeira da Mota, "As rotas marítimas portuguesas ... »,28.el ) Só em meados do século XVI os corsários franceses tomaram 30 navios espanhóis e portugueses

carregados com açúcar para Flandres; M. Mollat, Le commerce maritime normand ( ... ), 502. Veja-se AntónioRumeu de Armas, oh. cit., Frédéric Mauro, oh. cit., 447; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores110 século XVII ( ... ), 307-352; Elias Serra Rafols, «Introduclón», in Acuerdos dei Cablldo de Tenerife, IV,pp. IV-V; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutierrez, 11-12; "Defesa da navegação de Portugal contra osFranceses 1552» , in Arquivo Histórico Português, VI, 1908, 161-168; v. Fernandez Asis, Epistolario de Filipe /I,Madrid, 1943, passim; Antónia Haredia Herrera, Catálogo de las consultas dei Consejo de Indias, 2 vols.,Madrid, 1972.

(22) Há notícia da presença francesa ao largo dos Açores em 1543, 1551, 1552, 1553, 1557-1561, 1571,1577, 1581, 1583, 1587, 1590-1591. Veja-se nota 21 e A.G.I. Real Ratronato-gobierno, leg. 268, fls. 283-90«Archivo General de Índias .., in Boletim de Fi/moteca Ultramarina Portuguesa, n.? 26, 1964, 68-70; A.G.I..Secretaria de Estado leg. 371. doe. 84, Ibidem, n.? 45, 1971,260,

e3 ) A.N.T.T., Cartas Missivas, maço 3, n.? 205, s.d., earta de Bartolomeu Ferraz, pubI. in Arquivo dosAçores, V, 364-367.

e4 ) Eufemio Lorenzo Sanz. oh. cit., voI. II, 123, 127. 330-342.es) A.N.T.T., Leis, maço 2, n.? 167, publ. in Arquivo dos Açores, II, 29-33.e6

) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas da ilha Terceira ( ... )>>

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enviadas nessa missãot"). E, entre 1531-1535, Duarte Coelho era capitão-mar da armadano Atlântico, tendo-se deslocado em Abril de 1535 com os seus navios aos Açores, ondepermaneceu até Julho r'"),

Por vezes essa armada não chegava atempadamente aos Açores ou os poucos naviosque aí chegavam eram insuficientes para a defesa das frotas, pelo que o provedor eraforçado a armar ou fretar embarcações para a referida missão. Assim sucedeu entre 1532 e1555 por onze vezes e9

) . Esta incerteza da vinda da armada das ilhas e a presença constantedos corsários franceses levaram o provedor, em 1537, a apresentar ao monarca um plano deconstrução de caravelas para a referida armada nas ilhas eo). Aliando a este projecto decriação de uma armada insular surge, em 1543, o plano de defesa dos Açores, traçado porBartolomeu Ferraz, como forma de dissuasão aos corsários franceses C"). Todavia só muitomais tarde, em face do agravamemto da acção dos corsários nórdicos e franceses, se tornoupossível a concretização desse plano de fortificação das ilhas, com a construção dos castelode S. Brás (1553) no porto de Ponta Delgada, do Castelo de S. Sebastião (1572) na baía doPorto Pipas (Angra) e de um baluarte (1572) na baía da Horta (32).

Sendo a Terceira o mais importante porto de escala da Carreira das Índias, os monarcasespanhóis viram-se, por diversas vezes, na necessidade de solicitar o apoio do provedor dasarmadas às embarcações espanholas que por aí passavam r'"). Mas o menosprezo portuguêsou a necessidade de uma guarda e uma defesa mais eficazes das armadas da Américaexigiram uma reorganização do sistema de frotas da Carreira de las Indias. Assim desde1521 estas passaram a representar uma nova estrutura organizativa e defensiva, primeirocom a criação do sistema de frotas anuais armadas ou ocasionalmente escoltadas por umaarmada protectora, depois, a partir de 1555, com o estabelecimento de duas frotas anuaispara o tráfico americano: Nueva Espãna e Tierra Fiermee4

) . Para além desta regulamentaçãorigorosa das frotas definira-se, desde 1521, a necessidade da sua escolta na área definidapelo Cabo de São Vicente, Canárias e Açores. A partir de então as armadas espanholaspassaram a surgir com frequência nos Açores, a aguardar as naus da ÍndiaeS

) .

(27) Ibidem: conhecem-se os regimentos dados em 1572 e 1575 a Pedro Correia de Lacerda, veja-se ArturTeodoro de Matos. Os Açores e a carreira das Índias no século XVI, 965.

Para o conhecimento da acção desta armada confronte-se Gaspar Frutuoso, oh. cit .. 1.0 IV, cap. XXI; MariaOlímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XXVII, 350-352.

es) Avelino Teixeira da Mota, "Duarte Coelho, capitão mor de armadas no Atlântico (1531-1535)", in/I Colóquio Luso-Brasileiro de História do Brasil, publ. in Revista das Ciências do Homem, vol. IV, série A,Lourenço Marques, 1972, 301-352.

(29) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das armadas da ilha Tereeira( ... )"eo) A.N.T.T., C.C., 1-49-91, carta régia de 1 de Setembro de 1532, publ. in Arquivo dos Açores, I,

120-121.et ) Documento já citado na nota 24.e2 ) A.N.T.T., C.C. rV-37-12, 23-III-155I, carta de Manuel Nunes Ribeiro ao rei, publ. in Arquivo dos

Açores, III, 18; B.A.P.D. Fundo Ernesto do Canto, ms 10, "Extractos de documentos michaelenses», vol. VIII,n." 219, carta régia de II de Julho de 1572; Francisco Ferreira Drumond, Anais da Ilha Terceira, 1,649; GasparFrutuoso, oh. cit., 1.° Vl, 23; G. Perbellini, «Fortificazioni delle isole di Sâo Miguel e Terceira nell'archipé1agodelle Açores", in R. Castellum, n.? 13, Roma, 1971.

C3 ) Assim sucedeu em 1518, 1547, 1548 e 1571; veja-se Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreiradas índias no século XVI, 100-101. No período de 1518 a 1598 há notícia da escala e assistência, por quarentavezes, à armada da América na Terceira, tendo-se guardado em terra, por dezoito vezes, ouro e prata. Veja-seainda Manuel Gonçalves da Costa, "Mártires jesuítas nas águas das Canárias (1570-157]) .., in A.E.A., V, 1959,445-482.

e4 ) Eufemio Lorenzo Sanz, oh. cit .. vol. II, 275-282.CS ) Há notícia da presença de uma armada real nos Açores em 1530-1532, 1537, 1539, 1552, 1554-1557,

1559.1561,1571,1572,1579-1581,1583,1587, 1590-1598; veja-se Antónia Heredia Herrera, oh, cit., vol , I,

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A escolta das frotas das Índias espanholas mereceu maior atenção da coroa peninsularnas duas últimas décadas do século XVI, mercê do reforço das investidas dos corsáriosfranceses, holandeses e ingleses. Depois da invasão de Portugal pelas tropas de Filipe II,importantes almirantes da armada espanhola passaram a surgir com assiduidade no maraçoreano a capitanear armadas de defesa e protecção das referidas frotas. Assim, foramincumbidos dessa missão Don Álvaro Bazan (1580, 1590-1591), D. Pedro de Valdés (1581)e o Marquês de Santa Cruz (1587)(36).

Conhecida e sistematizada a importância destes arquipélagos na navegação e comércioAtlântico, importa discernir qual o impacto deste movimento na sociedade insular e qual aparicipação dos insulares nesse trato de mercadorias, sob a forma de contrabando ou não.Muitos estudiosos têm afirmado o reduzido proveito de algumas ilhas que desempenharamum papel de relevo neste trato, como sejam as ilhas açorianas. Todavia as principaiscontrapartidas económicas da intervenção destas ilhas assentam, fundamentalmente, naprestação de serviço a essas rotas. Se a partir da Madeira e das Canárias estava facilitada aactuação dos insulares com o Novo Mundo, por meio da produção local do vinho, cereais equeijo, nos Açores apenas se verificava uma intervenção de apoio ou então uma intromissãono contrabando das especiarias, açúcar, ouro e pratar"). As possibilidades de comérciodirecto esbarravam com um apertado sistema de vigilância e limitação criadas pelas coroaspeninsulares, que impossibilitava seu desenvolvimento. Deste modo para o ilhéu o maiorbenefício terá resultado de uma remuneração indirecta por meio do abastecimento dasembarcações em escala, da faina de apoio e reparo das mesmas. Pelo menos esta era asituação que se vivia na ilha Terceira, como nos retrata Pedro Frias em finais doséculo XVI: «a gente desta Ylhas eram inclinadas a seu jnteresse do qual vjvjam e sesostentavão êj era vemderem has armadas de Castela e de Portugal, as crjações, os frutos,que Recolhjam e os oficjaes suas obras que tjnham p.to pera o tempo das frotas e nampodjam vjver sem esta comunjcaram» es).

O aprovisionamento das naus das diversas frotas que sulcavam o Atlântico era umapreocupação constante das coroas peninsulares, pelo que nos diversos regimentos para asreferidas frotas e para as estruturas de apoio nestas criadas nos arquipélagos era dada aespecial importância a esse serviço r'").

Os arquipélagos madeirense e canário tiveram uma acção muito influente no aprovi­sionamento das naus da Índia em vinho, legumes frescos, carne, água e lenha. No caso dasCanárias essa situação é-nos descrita, de modo exemplar, por Gonzalo Fernándes de Oviedo

103, 141, 323-326; vol. II, passims; V. Fernandez Asis, oh. cit., pp. 34-35, 59-60, 63-64, 148, 349; ArturTeodoro de Matos, ibidem, pp. 100-102.

e6 ) V. Fernandez, oh. cit., /z.o673,686,704, 1802, 136, 142; Antónia Heredia Herrera, ob. cit .. vol. I,n.? 870, 872-873 (23 a 24 de Maio de 1581); Archivo General de Simaneas, Guerra Antigua, Legajo 104, doe.13,17,18,25,148,241 (Junho a Julho de 1580); lbidem, legajo 250, doe. 10,23-27 (Julho a Agosto de 1589). Aarmada que saíu a 8 de Abril de 1581 era composta de sete navios. dirigindo-se cinco para São Miguel, um para aTerceira e o outro à Madeira ("Archivo General de Sirnancas» in Boletim da Filmotcca Ultramarina Portuguesa,n.? 38 a 40, 1969, 29-31).

e7 ) Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias 110 século XVI, 105-106; Idem. "AProvedoria das Armadas da ilha Terceira ..... ; Maria Olímpia da Rocha Gil. ibidem 339-364.

eH) Pedro Frias, Crónica dei-Rei D. António. Coimbra, 1955, 31.e9 ) Tenha-se em consideração o regimento para as naus da Índia nos Açores de 1520, bem como o

regimento da armada capitaneada por Fernão Soares (A.N.T.T. Gavetas, 15-20-1. cit, por José Ramos Coelho,ob. cit .• 1160-1183). Segundo Luis de Figueiredo Falcão (Livro em que contem toda a fazenda ( ... ), Lisboa,1859, 200 e 205) o mantimento e apetrechos de uma nau de quinhentas e cinquenta toneladas com duzentos ecinquenta soldados e cento c doze tripulantes orçava em trezentos e cinquenta e quatro mil reis. Sobre aalimentação a bordo veja-se: Moreira Braga, "Perspectiva sobre a alimentação a bordo de uma caravela portuguesano século XVI», in Aliais do Clube Militar Naval. n.? 113, 1983.381-390; Jean Merrien, A vida quotidiana dosMarinheiros no tempo do Rei-Sol. Lisboa, s.d., 87-90.

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em 1534: «Tornando el viaje deste camino de muestro Índias, digo pues que de una destassiete islas en especial de Gran Canaria, o la Gomera, o la Palma (porque estan en masderecha derrota y alproposito, e som fertiles a abundan de abastimentos y de lo queconviene a los que esta larga navegación haccen tomam alli los navios refresco agua e lena epau fresco e gallinas, e pescados sallados e pagos que las naos saean de Espana» (40).

Na Madeira habitualmente faziam escala as naus portuguesas da rota da Mina, Brasil eÍndia, que aí se abasteciam de vinho e lenha; por vezes, muitas embarcações espanholastambém apartavam à ilha antes do habitual refresco das Canárias. Assim sucedeu em 1498com a expedição de Colombo (41). Esse serviço de apoio às embarcações portuguesas eraassegurado e pago pelo provedor da Fazenda da Ilha (42). Dele apenas se referencia, em1517, a entrega de oitenta arrobas de lenha a uma nau que se dirigia à Índia e do envio aoreino, em 1531, de duzentas pipas de vinho para a frota da Índia (43). Por vezes asembarcações escalavam a ilha para tomar o vinho necessário para a viagem. Aliás não foramsó os portugueses que utilizaram o vinho madeirense na ementa das naus que sulcavam oAtlântico, pois também os ingleses o fizeram por diversas vezes; é o caso, em 1533, daescala de Richard Eraen na sua viagem à Guiné, que tomou algumas pipas de vinho noFunchal (44). A Madeira também provia as embarcações de retomo que por aí passavam;assim sucedeu em 1528 com uma nau régia capitaneada por André Soares, procedente deMina, que recebeu do provedor da fazenda biscoito, pescado, azeite e vinho para sustentodos dezoito tripulantes, no período de vinte dias de viagem até Lisboa (45).

As embarcações régias que iam à Madeira carregar açúcar para o reino ou principaispraças italianas e flamengas eram igualmente abastecidas pelo almoxarifado dos quartos equintos conforme a duração da viagem e número de tripulantes (46). De acordo com oregimento de 1520 o almoxarifado do Funchal deveria assegurar o reparo e abastecimentodos navios. Esse aprovisionamento era atribuído de acordo com a demora do percurso;assim, os que se dirigiam ao reino recebiam mantimentos para vinte dias, sendo de quarentadias para poente e sessenta para o levante (47); esses mantimentos consistiam em carne,peixe, biscoito e vinho e eram distribuídos em rações individuais à tripulação. Em 1508 háinformação da ração completa da nau «S. Martinho» com quarenta e cinco tripulantes que sedirigia para o levante; cada tripulante recebeu duas arrobas de biscoitos, dois almudes emeio de vinho, duas pescadas e meia e uma arroba de carne (48).

Nos Açores, desde 1520 que o referido abastecimento às naus da Índia, Brasil, Mina eGuiné fora regulamentado, ficando essa missão a cargo do provedor das armadas. O dinheiropara essas despesas era retirado das receitas do almoxarifado de Angra, tendo-se fixado em1539 no valor de quarenta mil reais o quantitativo máximo a despender nesse serviço (49).

(40) G. Fernandez de Oviedo, I, lib. 2, cap. 9, p. 36, cit. por Pierre Chaunu, Sévllle et 'Atlantique, t. VIII,vol. I, 354(4).

(41) Bartolomeu de Las Casas, História de Las índias, vol. I, México. 1981, 496-497.(42) A.N.T.T., C.C .. 11-87-162. 20 de Fevereiro de 1520. treslado do regimento do almoxarife e oficiais

dos contos.(43) lbidem, II, 69-71, 25-IV-1517; ibidem, 11-166-13. 9-XII-1530.(44) J. W. Blake, ob. cit.. vol. II. 314.(45) A.N.T.T., C.C .. II-I 53-26, 17-XII-1528.(46) Idem. NA .. n." 903, foI. 12; Idem, C.C., II-72-Il. 20-VII-1508; Ibidem, II-15-52, 30-VIII-1508;

lbidem, II-159-28, 7-X-1529.(47) Ibidem, II-87-162, 20-II-1520.(48) lbidem, I1-15-52, 30-VIII-1508.(49) B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms 78, t. I. l ." parte. fls. 2-2 v." e I. I, 2.a parte, fls. 42-43,

provisões de II de Agosto de 1539 e 19 de Maio de 1548. Por vezes há até grandes dificuldades no pagamento.Veja-se Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas na ilha Terceira ... »

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Em 1523 o refresco da caravela "Santo António», capitaneada por Pedro Camelo, custouquatro mil e seiscentos reais, tendo o dito recebido seis carneiros, duas dúzias de galinhas,uma arroba de azeite, pão fresco, madeira e lenha (50).

A assiduidade da escala terceirense, a partir do fim do segundo quartel do século XVI,aliada à conjuntura difícil da produção cerealífera terceirense, vieram causar dificuldades àacção de reabastecimento das naus. As insuficiências de gado, pescado e trigo na Terceiraobrigavam o provedor das armadas a adquirir estes produtos nas ilhas vizinhas, designa­damente em S. Miguel, S. Jorge, Faial e Pico(51).

Em certa me-dida, e de acordo com a opinião do Pe. Manuel Luis Maldonado, estaescala apresentava-se proveitosa para o burgo angrense, uma vez que com ela se adquirirammoeda e metais preciosos a troco de carne, panos, fruta, pão, vinho, legumes e peixe (52).Todavia, a imposição da obrigatoriedade do fornecimento das naus em escala da armada dasilhas apresentava-se como um pesado encargo para os açorianos.

(50) A.N.T.T" C.C., III-7-111, 27 de. Julho de 1523, carta de Pero Camello Pereira ao contador, comrecibo, publ. Arquivo dos Açores, II, 42.

(51) Gaspar Frutuoso, oh. cit., L." VI, 13,57-59, Artur Teodoro de Matos, «A Provedoria das Armadas dailha Terceira ..... ; Alberto Vieira, «A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII (,. ')", in Arquipélago,série História e Filosofia, vol. VII, 1985, 135-136, 142-143.

(52) B.P.A.A.H., Fenix Angrense, alento 3.0, fl. 96, cit por Artur Teodoro de Matos, Os Açores e acarreira das índias no século XVI, 104; B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 29, fls. 7-21, 28-II-1574,carta do colégio de Angra para as mais províncias.

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SEGUNDA PARTE

4

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

o COMÉRCIO INTER-INSULAR

I. FACTORES

O comércio no mercado insular depende da intervenção de múltiplos factores, activa­dores ou não do sistema de trocas. Assim, se os produtos surgem como o elemento justificativo e vitalizador das trocas comerciais, não são por si só suficientes para a sua manutenção. Torna-se, pois, necessário a criação de condições que as favoreçam, como os meios e vias de comunicação adequados, agentes habilitados para os diversos serviços e instrumentos de pagamento ajustados ao volume e duração de trocas.

O comércio surge neste contexto como uma consequência lógica de todos esses condicionalismos e o seu nível de desenvolvimento dependerá em muito do estádio atingido por esses factores. Nesse sentido o comércio é, ao mesmo tempo, consequência e causa do desenvolvimento da sociedade e economia insulares, pois resulta de um determinado estádio de desenvolvimento dos factores assinalados e, simultaneamente, influencia estes, bem como a sociedade insular, em geral. Terá sido o surto do comércio açucareiro que, na Madeira e nas Canárias, condicionou o desenvolvimento de infraestruturas portuárias e a valorização patrimonial dos principais centros urbanos. O mesmo sucedeu na ilha de S. Miguel com o surto do pastel.

Esta actividade, que mereceu a adesão dos ilhéus e encontrou os mecanismos adequados a um elevado nível de desenvolvimento, não era alheia às venalidades da economia atlântica, bem como aos obstáculos naturais e humanos. O europeu impõe e domina os circuitos de troca, fazendo desta área uma região periférica definida como um mercado de reserva para as suas necessidades mercantis. Além disso as coroas peninsulares, empe­nhadas num comércio monopolista, intervêm, com assiduidade, por meio da regulamentação exaustiva das actividades económicas, delimitando o campo de manobra dos agentes aí intervenientes. Esse excessivo intervencionismo, as intempéries, as tempestades marítimas, a peste, a pirataria e o corso foram os principais responsáveis pelo bloqueamento dos circuitos comerciais em determinadas épocas das centúrias em análise.

I. I Regulamentação das actividades económicas

O comércio, bem como as mais actividades económicas estavam sujeitos a um controle e regulamentação por parte das coroas de Portugal e Castela. Para isso contribuiu, em primeiro lugar, a necessidade de preservar o monopólio real do comércio de determinados produtos em áreas definidas. Em segundo e, em termos restritos das novas áreas de ocupação atlântica, essa intervenção constante da coroa e dos municípios tinha como meta o abastecimento local, bem como a definição dos produtos adequados que merecessem uma troca valio$a no mercado atlântico-mediterrânico. Aí, a coroa, por meio de repartições

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adequadas (almoxarifado, provedoria da fazenda) e com a colaboração das instituiçõeslocais (a vereação) exercia esse controle e ditava as medidas necessárias ao cumprimento emanutenção da sua política económica.

Tendo em conta que a primeira situação mereceu já tratamento adequado por especia­listas de renome, apenas nos deteremos sobre a segunda, encarada, é certo, ao nível domercado insulare).

A economia insular, como vimos, estrutura-se na consonância dos vectores marcantesda política expansionista europeia, com as diferenças ou as assimetrias resultantes daestrutura do solo, do clima e do seu posicionamento geográfico. Todo este conjunto defactores definirá um processo peculiar de cada grupo destas ilhas. De acordo com essedimensionamento teremos a definição e regulamentação das actividades económicas dasociedade insular. Há necessidade, por parte das administrações central e insular, de exercerum estrito controle destas actividades nos seus múltiplos aspectos, no sentido de assegurar ocumprimento de uma dada política, acima referida.

Esta preocupação é constante e abrange todos os sectores de actividade. As autoridadesmunicipais e régias intervêm na produção, no processo transformador das matérias-primas,na distribuição e no comércio dos produtos locais e estrangeiros. O município legisla sobrea forma de postura e de acórdão, regulamentando com minúcia todas as actividadessectoriais acima enunciadas; a coroa, por sua vez, através das instituições próprias, intervémpor meio de regimentos e alvarás. Deste modo os produtos e as actividades que definem aeconomia de subsistência e de mercado sujeitavam-se ao intervencionismo municipal erégio; esta actuação regia-se pelos princípios básicos da comunidade insular de provisão,qualidade, preço, peso e medida adequados desses produtos.

As repartições régias surgem, muitas vezes, como mecanismos coarctivos, tendo comofinalidade básica a defesa do património real. A sua acção tem como princípio impedir avigência e generalização de práticas fraudulentas e lesivas desse património. O contrabandosurge, neste circuito, ao mesmo tempo como causa e consequência deste apertado sistemade controle de produtos no mercado insular, pois, como é bem sabido, a excessivaregulamentação dos mecanismos de troca, para além de entorpecer e de retardar esta, cria 0'1

toma inevitável o aparecimento de circuitos paralelos. Ao mercador insular e europeu nãosatisfazem estas medidas intervencionistas da coroa e do município, pois limitam o seurestrito campo de manobra e oneram a sua acção; daí que ele actue de modo a poder ter umaintervenção activa na formulação das normas, ao mesmo tempo que se serve de subterfúgiospara contrariar as leis e normas vigentes.

Como atrás enunciamos, este intervencionismo é geral, uma vez que atinge os váriossectores de actividade: produção, actividade artesanal ou transformadora e comércio. Deseguida daremos conta dessa intervenção, de modo separado, de acordo com os referidossectores de actividade e com os produtos, ou seja, com as componentes da economiainsular.

Produção

A intervenção das autoridades inicia-se com a distribuição das terras para arrotear, emque se define não só o proprietário, a forma de sucessão e os limites das arroteias, mastambém os produtos adequados para o seu cultivo e). Esta última situação resultava, em

e) Para Portugal veja-se Fernando Navais, Estrutura e Dinâmica do Sistema Colonial (séculos XVI-XV/lJ.Lisboa, 1978; Manuel Nunes Dias, O capitalismo monárquico português, 2 vols, Coimbra, 1964. Para Espanhatemos: C. H. Haring, Comercio y navegacián entre Espana y las Índias. 2." edicão. México, 1979; FranciscoMorales Padron, EI comercio canario americano (siglas XVI. XVlI Y XVlIl) , Sevilha, 1955: Idem. SevilhaCanarias y America, Gran Cariaria, 1970, Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana com America en la épocade Filipe 1/, 2 vols. Valladolid, 1979-1980.

e) Acerca da repartição das terras veja-se Fernando Jasmins Pereira, A ilha da Madeira no período

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primeiro lugar, de política expansionista europeia e, em segundo, da necessidade deassegurar a subsistência das ilhas. No primeiro caso salienta-se o lançamento de produtoscoloniais, componentes fundamentais do comércio atlântico: o açúcar e o pastel. O mesmosucede no segundo, com a transplantação dos componentes fundamentais da dieta europeia­-mediterrânica: a vinha e os cereais.

De acordo com estes dados temos conhecimento de algumas situações bem claras.Assim, na Madeira, em 1492, recomendava-se o plantio das terras aráveis com trigo oucevada enquanto, em 1508, se ordenava que «se nam rompa em toda essa ylha terra pera seem ella se ave r de lavrar e semear pam nem pera outra alguüa cousa somente pera sefazerem canaveaes pera açuquares» e). Na ilha de S. Miguel definira-se, em 1532, que asterras de cultura estavam reservadas para o trigo e pastel, principais produtos da economiamicaelense (4). No que respeita às Canárias é significativa a actuação dos governadores deTenerife e Gran Cariaria, o primeiro apostado na cultura da cana do açúcar e o segundo numconjunto de culturas capazes de assegurarem a subsistência e um comércio rendoso (5).

O incentivo à produção açucareira, na Madeira e nas Canárias, derivava das facilidadesdo seu rápido escoamento e, igualmente, da criação de condições para o normal andamentodas tarefas agrícolas e da laboração dos engenhos; por isso se regulamentou o uso das águas,a construção de levadas, o corte e o transporte da lenha e o reparo dos engenhos (6).

Definido o proprietário, o regime de exploração e o produto adequado ao solo e àsnecessidades do momento, não estava ainda concluída a intervenção das autoridades, uma

henriquino. Lisboa. 1959. Sep. de Ultramar; Id .. Alguns elementos para (1 estudo da Histária económica daMadeira (capitanin do Funchul, século XV). Coimbra. 1959, pp. 87-115; Eduardo Aznar Vallejo , La integraciánde las islas Canarias en la <'01'0110 de Castllla (/478-1526), La Laguna, 1983; Elias Serra Rafais, Las datas deTencri]e, La Laguna. 1974, Elias Rafols e Leopoldo de La Rosa, Reformacián deI repartimiento em Teneri]e em1506. La Laguna de Tenerife, 1963; Scbasuin Jiménez Sanchez, Primeros repartimientos de tierras y aguas enGrun Canaria, Las Palmas, 1940.

e) A.R.M. C.M.F" Registo geral, t. I, fls , v." ; 291. Regimento sobre a lenha dado à Madeira em J8 deAgosto de 1508, publ, iII A,H.M" Vol. XVIII, 1974, p. 508.

(4) B.r.A.p.D., C.P.A" L.0 3 de registo, fi. 98 -». Note-se que em 1576 o elevado preço de carne emPonta Delgada era justificado por seu termo ser «caje toda a terra delle aproveitada de pastes e terras de parn»,(Id., ibidem, L."4 11. 83 v.", «capítulo de uma carta régia àcerca do talbo da carne", publ. in Arquivo dos Açores,vol. III, p. 55).

(5) Veja-se Emma González Yancs, -Irnportación y exportación en Tenerife, durante los primeros anos de laconquista (l497-1503)", in Revista de Histário, n." 101-104. pp. 79-91; Leopoldo de La Rosa «EI repoblamientodo los Reinos de lcod y Dautc», in Estudios Cunarios XIV-XV, 1968-1970, 35-43 Manuela Marrero, «Losl1amengos en los cornienzos hispânicos de Tcnerifc». in Studi ln memoria di Frederigo Melis, t. 1II,1978, pp.587-588; idem, «Algunas consideracloncs sobre Tcncrife cn el primer tercio dei siglo XV]", in A.E.A" n." 231977, pp. 373-374.

As datas de terra em Tenerife documentam de modo esclarecedor essa situação. Veja-se Elias Serra Rafols,Las datas de Tencri]e, La Laguna, 1974.

(6) Na Madeira a regulamentação do corte de árvores foi estabelecida pelos regimentos de 15 de Janeiro de1515,27 de Agosto 1562 (Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações" in Saudades da Terra. Funchal,1873, 436-471). As posturas da câmara do Funchal de 1587 apresenta um título sobre os engenhos cm que sercgulumenta o transporte de lenha e madeiras para os engenhos (A.R.M., C.M.F" Livro de Posturas, 11. 68-71).O mesmo sucede em Tenerife e Gran Cunaria. Veja-se Miguel Angel Ladero Quesada, «Ordenanzas municipalesy regulacion de la actividade ccónomica en Andalucia y Canarias. Siglos XIV-XVII", in II C.H.C.A" vol. II,pp. 142-156. Quanto às águas, na Madeira e regulamentação da sua distribuição e aproveitamento fez-se desde osinícios do povoamento com o Infante D. Fernando, em 1461, seguindo-se outras medidas legislativas no mesmosentido. Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, ob clt., p, 673; Fernando Augusto da Silva, «Águas» inElucidario Madeirense, vol. I, 1940, pp. 24-25; lei" "Levadas" in oh cit, vol. II, 1945,242-243. Nas Canáriasestas mereceram igual atenção das autoridades locais, tendo-se regulamentado a sua distribuição por posturas.Veja-se Marcos Guimcrá Pcraza, Reglmen jurídico de Las aguas en Canarias, La Laguna de Tenerife, 1960;Francisco Morales Padron , Ordenanzas del conccjo de Gran Canaria (l53/), Las Palmas, 1974, 30; José Perazade Ayala, Las Ordenanzas de Tenerife ( ... ), Santa Cruz de Tenerife, 1976, V, 12, VII, VIII, 6; X 1 a 27. EmTenerife , o cablldo definira em 1508 não só o modo de funcionamento dos engenhos, por meio de ordenança, mastambém a forma de apanhar II cana de açucar. (Acuerdos dei cabildo de Tenerife, II, 1952, n.? 1, p. 1, acórdão de27 de Maio de 1508; ibld., 13, p. 9, acórdão de II de Agosto de 1508).

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vez que estas pretendiam não só assegurar a sua manutenção, mas também a qualidade epreços condignos.

A defesa e manutenção da qualidade do produto colhido no solo insular é uma dasconstantes da actuação das autoridades régias e locais, atingindo especialmente os produtosda exportação: o vinho, o pastel e o açúcar. A todos se definiam, por regimentosespecíficos, as tarefas de cultivo, do cuidado e da laboração final do produto, de modo aque este se apresentasse nas condições e quantidades necessárias para a sua comercialização.Assim, para o pastel aparece nos Açores o regimento de 1536, em que se estabeleciamnormas para a sua cultura e laboração, ao mesmo tempo que se criavam cargos dealdeadores para assegurar o seu cumprimento e). Idêntica é a situação na Madeira e nasCanárias com o açúcar, que é alvo de constantes regulamentações e de um controle assíduodos aldeadores para o efeito eleitos em vereação (8). Deste modo, o monarca D. Manuel,para garantir a boa qualidade do açúcar madeirense de exportação e assegurar o seu créditono mercado europeu, ordenara, em 1485, que todo o mestre de açúcar deveria serexaminado e aprovado por três homens bons, ao mesmo tempo que estipulava a obrigato­riedade de uma vistoria qualitativa ao açúcar, após a sua laboração, por oficiais competen­tes: os aldeadorest").

O engenho, estrutura industrial complexa e fundamental para a laboração do açúcar,era o centro de toda a actividade açucareira e mantinha-se activo os doze meses do ano.Enquanto durava a safra, de Janeiro a Junho, tinha intensa actividade com a laboração doaçúcar; nos restantes meses aproveitava-se a disponibilidade para as necessárias reparações,abastecimento de lenha e víveres para a safra seguinte. Uma mão de obra especializadaassegurava as principais tarefas da sua laboração: mestre de açúcar, caldeireiro, purgador,espumeiro, refinador, caixeiro, etc.; entretanto um grupo numeroso de almocreves garanttaa referida laboração, fornecendo as canas e lenha eo).

Deste grupo numeroso de assalariados dependia o funcionamento do engenho e bemassim a qualidade do produto laborado. Daí que as autoridades municipais tenham acauteladoesta situação ao regulamentarem exaustivamente, por postura, as principais tarefas. Aomesmo tempo exigia-se que os ofícios empenhados nessas actividades fossem examinados eaprovados pelas autoridades competentes (11). Francisco Morales Padron refere, a propósito,que nas ordenanças de Gran Canaria (1531) tudo gira em torno do açúcare2

) .

(7) L. 0 de registo, 1568-1603, fls. 191-195, 13 de Outubro de 1536, «Regimento sobre o beneficiar dopastel e enleição dos lealdeadores», publ. por Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a IIOW/ economia demercado (séculos XVI-XVl/) , in Arquipélago, III, 1981, Série Ciências Humanas, pp. 393-400. Veja-se aindaFrancisco Carreiro da Costa, A cultura do pastel nos Açores. Subsídios para a sua história, Ponta Delgada, 1966,Sep. do B.C.R.C.A .. n.? 4 (1966).

(8) Para a Madeira veja-se Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para a História Económica daMadeira ( ... ), pp. 107-115, 129-138; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, O açucar na ilha da Madeira(século XV/), Lisboa, 1964, pp. 38-46. Para as Canárias temos; Maria Luisa Fabrellas, "La produción de açzucaren Tenerife .. in Revista de História, n.? 100 (1952),468-469; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, "EI cultivo dela cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) .. in A.E.A .. n.? 7, 1961, 37-38.

(9) A.P.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fi. 219, 17 de Dezembro de 1485, Regimento sobre aldeamento doaçucar, publ. in A.H.M.. XV, pp. 192-195. Para o conhecimento da orgânica de funcionamento desta práticaveja-se Fernando Jasmins Pereira, ibid., 134-137; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, ob, cit., pp. 40-46.A negligência dos aldeadores e da população em geral obrigaram D. Manuel I a recomendar com assiduidade estaprática e enviar novo regimento em 1501 (A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I. fls., 185 v.0-187, publ. inA.H.M., XV, pp. 416-417. Ao mesmo tempo impunham-se pesadas penas aos infractores, que iam até à perda doaçúcar.

eo)' Veja-se Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ob cit., 35-39; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 392-401.(11) Para a Madeira foi regulamentado por postura de 1587 (A.R.M, C.M.F.. L.0 de Posturas, fls. 68-71).

Nas Canárias temos idênticas posturas em Gran Canaria (Francisco Morales Padron, ibid .. 27 e 40) e Tenerife(José Peraza de Ayala, ibid., XVI).

(12) Ibidem,pp. 26-27.

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As actividades artesanais

As actividades artesanais estavam organizadas em ofícios, sendo estes regulamentadospor leis e pragmáticas régias e ordenanças concelhias (13). Esta intervenção das autoridades,e especialmente a das concelhias, tinha como finalidade assegurar a qualidade de matéria­-prima, dos ingredientes e dos métodos usados na sua laboração, de modo a que o artefactose apresentasse no mercado com a qualidade desejável; ao mesmo tempo a vereação actuavano sentido de evitar a especulação, definindo uma tabela de preços para os serviços a prestaraos artefactosr!"). Além disso, todo o oficial mecânico deveria ser examinado por um juízdo referido ofício sendo, depois, obrigado a apresentar anualmente fiança e juramentoperante a vereação et5

) .

O município, mercê deste apertado sistema de regulamentação, exarado nas posturas,tinha sob controle todos os ofícios, bem como todas as actividades artesanais e transfor­madoras. Destas algumas houve que, pela sua importância para a vida do burgo, mereceramuma constante vigilância por parte dos almotacés: o moleiro, as padeiras, os vendeiros, asregateiras, os carniceiros sujeitavam-se ao rigoroso controle destes oficiais concelhios et6

) ;

esta era uma forma de assegurar o fornecimento dos produtos essenciais para a vida doburgo.

(13) Miguel Angel Ladero Quesada, ob. cit .. 153-154; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit .. 357-360. Leopoldode La Rosa Oliveira, "Los orígines de la vida municipal en Canárias», in História General de las islas Canarias.m, pp. 155-172.

et 4) Para a Madeira temos nas posturas de 1587 um título de "Sapateiros. tauxa; alfaytes; boieiros;

ferradores; oleiros; barbeiros; carniceiros», (A.R.M., C.M.F.. L,0 de Posturas, fls. 60 v.u-68). Nos Açores essasactividades mereciam idêntica atenção do município, veja-se Urbano de Mendonça Dias, A vida de nossos avós.vol. VIII. Vila Franca do Campo, 1948. 21-133; António dos Santos Pereira, "A administração municipal na Viladas Velas na segunda metade do século XVI". in Os Açores e o Atlântico, séculos XIV-XVlf, pp. 714, 725-726;A,C,M.R.G" L," 4 de Acôrdãos, /599, fi. 45-46 v.", 24 de Novembro.

et5) Na Madeira temos um "Título das examinaçôes fianças. juramentos». A.R.M.• C.M.F., L.0 de

Posturas, fls. 31-32 v:", Nos registos das vereações deparamos com uma referência à eleição em vereação dosexaminadores dos mestres de açúcar. A.R.M,. C.M.F.. n.? 1302, 1497, fi. 98-100 v.", vereação de 18 de Janeirode 1497. O juiz para o exame dos ofícios era eleito entre os membros de cada corporação ou então pelos oficiais decâmara. A 31 de Dezembro de 1596. na Ribeira Grande procedeu-se à eleição do juiz dos sapateiros (A.C.M.G.R.L,°2 dos Acárdãos, /596, fi. 34). Além disso a aprendizagem do ofício era igualmente autorizada pelo município(A.C.M.R.G.• L,0 3 de Acárdãos, /578, fls, 139 v.", 18 de Outubro). Veja-se ainda. Urbano de Mendonça Dias.ob, cit., vol. VIII, pp, 40, 47-48, A questão da cxamínação dos ofícios na Ribeira Grande deu azo a acesapolémica a respeito dos moleiros; o litígio surgiu em 1578 em face das reclamações da população e dos moleiroscontra Manuel Afonso; a vereação tomou primeiro a iniciativa de sugerir ao dito Manuel Afonso que solicitasse aojuiz dos moleiros, Afonso Luis. os necessários ensinamentos, e depois, de acordo com as posturas, passou aprover os moleiros para os vários moinhos da vila (A.C.M.R.G.• L, o 3 de Acôrdãos, /578, fls., 101-106. 28 deJulho; lbid. fls. 119 v,o 122. 3 de Setembro); para impedir qualquer desvio recomenda ainda ao juiz examinadorque o exame se faça na presença de vereação (lbid, fi, 122 v.", 13 de Setembro). Saliente-se que os moleirosconstituiam um estrato sócio-profissional muito importante no município da Ribeira Grande, pois esta era uma dasprincipais zonas de produção de trigo e aí estavam sediados a maior parte dos moinhos da ilha, Sobre as fiançasveja-se A,R,M., C.M.F.. n.? 1297, fls. 44 v.o-45, 20 de Abril de 1482; lbidem, n.? 1298, fls. 154 v.o-156;Ibidem, n.? 1299, fls. 124-128; lbidem, n.? \300. fls. 234-247; A.C.M.R.G .• L,o 3 de Acórdãos. fls. 12 v.o-14.

19-28 v .", Idem, L," 2 de Acárdãos, fls. 40-60; Idem, L.O 4 de Acôrdãos, fls. 74-139.et6) Na Madeira temos uma postura para os moleiros e outra para as padeiras. A.R.M.• C.M.F.. L.0 de

Posturas. fls. 25-30 v.", 16 v.o-25. Nos Açores há igualmente referência a essa actuação, nomeadamente na vilada Ribeira Grande, A.C.M.R.G., L,0 3 de Acôrdãos, /578, fls. 101-106.28 de Julho; lbid., fls. 119 v.o-I21, 3 deSetembro. O mesmo sucede na Vila elo Topo em S. Jorge; A. Santos Pereira, ob, cit., p. 714. Para as Canáriasveja-se Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit., pp. 389-391.

31

o comércio

As coroas de Portugal e Castela exerceram um rigoroso controle sobre o comércio comas s~as colónias no AtI~ntico. Através de Lisboa e Sevilha os dois impérios atlânticosmantinham um regular sistema de controle das rotas e do comércio. As ilhas atlânticasposicionadas estrategicamente nesse trama de relações económicas, viram assim toda aeconomia condicionada por uma política intervencionista e proibitivat!").

Deste modo nas Canárias, área charneira para o relacionamento com as Índias deCastela, a coroa, por intermédio da Casa de Contratacción de Sevilha, exercía um assíduo erigoroso controle nas ligações entre este arquipélago e o novo continente. O seu objectivoera impedir a quebra do monopólio andaluz e evitar o contrabando de nacionais eestrangeiros, com o ouro, prata e açúcar das Índias. Até 1564, altura em que foi criado olugar de juiz de registo, o comércio feito a partir das Canárias estava sujeito a autorizaçõesespeciais, por um determinado períodor "). Idêntica é a situação relativamente à Madeira eaos Açores, em relação ao comércio no litoral atlântico e, nomeadamente, com o Brasil apartir do século XVII. No período da união das duas coroas tornou-se possível nos trêsarquipélagos uma política concertada de defesa do exclusivo comercial hispânico et9

) .

O mercado insular, pela sua importância no contexto da economia europeia-atlântica,mereceu igualmente a intervenção da coroa: esta, por meio das diversas repartições régiasexistentes nas ilhas, exerceu um rigoroso controle sobre o movimento de troca entre opróspero mercado destas e o da Europa mediterrânica e atlântica; tal intervenção não derivasó da necessidade de assegurar a arrecadação dos direitos reais, mas também do exercício dodomínio exclusivo do comércio insular. Assim a fiscalidade e a tendência monopolista­-intervencionista ditaram o aparecimento de instituições próprias: o almoxarifado e aalfândega, o primeiro com a superintendência de arrecadação dos direitos reais e a segundacom a finalidade de regular as entradas e saídas e de arrecadar os respectivos direitostê'').A alfândega surge como a mais importante instituição para regular e controlar as actividadesde troca, sendo uma das vias mais adequadas para o controle do comércio insular. NaMadeira a alfândega surge, desde 1477, como uma necessidade de organizar a actividadefiscal e de regular o trânsito de mercadorias e1

) . A infanta Dona Beatriz organizou naqueleano os serviços de fisco, criando duas alfândegas, uma na capitania do Funchal e outra na

e7) Fréderic Mauro, Le portugal et l'Atlantique ali XV/Je siêcle ( ... ), Paris, 1960, 433-448; Victor

Morales Lezcano, Relaciones Mercantiles entre Inglaterra y los archipélagos dele Atlantico ( ... ), La Laguna,1970.

es) A primeira autorização data de 1535, tendo-se permitido a carga dos produtos locais por um período dedois anos (Reales Cédulas, 2, n.? 52, 1535) sumariado por Leopoldo de la Rosa, «Catálogo dei ArchivoMunicipal de La Laguna» , in Revista de História, n.' 101-40 3 115-116; Fransisco Morales Padron, «FundosCanarios en el Archivo de Índia», in A.E.A., n.? 24-25; Idem, Cedulario de Canarias, 3 vais. Sevilha, 1970;Eduardo Aznar Val1ejo, ob. cit., pp. 315-317; Francisco Morales Padron «Las relaciones comerciales canario­-americanas», in Historia General de las islas Canarias, III, pp. 317-329. As referidas ordenanças, leis eregimentos foram condenadas no livro VIII título XXXXI «Dei comercio, y navegacion de las íslas de Canária»,in Reconpilación de leya de los regnos de las Indias, UI!. Madrid. 1943, 498-508. .

(19) Veja-se Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias no século XVI: Lisboa, 1983, Sep.de Estudos de História de Portugal, vol. Il, séculos XVI-XX. Note-se que em 1595, 1598 e 1629 o monarcaproibira a descarga das naus das Índias no Funchal (A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. III, fls. 216 e 253; t. VI,fls. 22 v. °-23).

e9 ) Urbano Medonça Dias, A vida de nossos avós, vol. II, Vila Franca do Campo, 1964, 57-110; EduardoAznar Val1ejo, ob, cit., pp. 121- 141. O primeiro foral e regimento doalmoxarifado da Madeira data de 4 de Julhode 1499, a que se seguiu o foral novo de 1515. Veja-se Utbano de Mendonça.Dias, Ibidem, pp. 11-44.el

) Femando Jasmins Pereira, ob. cit., pp. 183-193; Álvaro Rodrigues da Azevedo, ob. cit., pp. 596-601.

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de Machico; entre esta data e 1483 estes serviços adquirem uma orgânica adequada aovolume das trocas madeirensese2

) .

Em finais do século XV e princípios do seguinte o desenvolvimento do comércio doaçúcar implicou a criação de novas alfândegas na Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calhetae3 ) .

Com a alfândega nova no Funchal, a partir de 1508, todo o serviço de exportação do açúcarpassará a fazer-se por aíe4

) . O monarca, ao estipular esta medida, em 1512, aduzia em seufavor a perda que a coroa tinha com a arrecadação dos direitos em diversas localidades es).

Até princípio do último quartel do século XV o movimento de carga e descarga, nocalhau do Funchal, fazia-se na presença dos oficiais do duque ou dos seus rendeiros; desdeentão o juíz da alfândega, com os almoxarifes e os escrivães, passará a controlar toda essaactividade, lançando os direitos de acordo com o regimento; a partir de 1497 o despacho dosnavios era supervisionado por um juíz e vereador da câmara do Funchal e6 ) .

Se os alvarás e os forais concediam aos naturais o privilégio de isenção da dízima dasmercadorias de e para o reino, o mesmo já não sucedia com os estrangeiros que, para alémde estarem sujeitos ao pagamento desse direito, viam limitada a sua acção com as medidasproibitivas da coroar?"). Assim, para além da interdição de vizinhança, estes viramrestringidas as suas possibilidades de comércio pelos contingentes de 1483 e 1485; de facto,os referidos mestres ou mercadores eram obrigados a descarregar a sua mercadoria numprazo de três e, depois, cinco dias, pagando a respectiva dízima; caso contrário perdiam amercadoria; esteve-lhes também vedada até 1508 a carga na ilha, pois apenas o podiamfazer os naturais es).

Nos Açores a arrecadação dos direitos reais fazia-se do mesmo modo que na Madeira,regendo-se as referidas repartições pelos regimentos das suas similares do Funchal e9 ) . Noentanto aí elas adquiriram nesse caso uma estrutura mais complexa, e não só também maisadequada à realidade geo-humana como igualmente ajustada à sua importância no contextoda economia açoreana e atlântica.

Nas Canárias a fazenda real, transplantada de Castela, organizou-se de acordo com ascircunstâncias das ilhas após a conquista e o seu posicionamento no traçado das rotas

e2 ) A.R.M., Registo Geral, l. I, 11. 231-238 v.", Beja, de 15 de Março de 1477, ..Apontamentos da InfantaD. Biatriz», pubI. in A.H.M., vol. XV, pp. 79-88.e3 ) A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, T. I, fi. 8, Beja, 23 de Julho de 1481, «carta do principe sobre apensam que levam hos esprivães quando despacham os açuquares na alfândega», publ. in A.H.M., vol. XV,p. 116; ibidem, t. I, fls. 238 v.o-249, Tomar, 12 de Novembro de 1483, «Resposta do Duque e alguüsapomtamentos sobre hos Dereytos», publ. in A.H.M., vol. XV, pp. 147-156; lbidem, t. I. fls. 270-256, /20 deMarço de 1485/, « Apontamentos dei Rey dom Manuell semdo Duque pera esta ylha Da madeyra» pub. inA.H.M., vol. XV, 147-156, lbidem, l. I, I1s. 270-256 v.o /20 de Março de 1485/, ..Apontamentos deI Rey domManuell semdo Duque pera esta ylha Da madeyra», publ. in A.H.M., vol. XVIII. pp, 495-497.

(24) Sobre a construção da alfândega do Funchal veja-se José Pereira da Costa, A construção da alfandeganova do Funchal, Lisboa, 1978, Sep. da ..Revista da Universidade de Coimbra»; António Aragão, Para a Históriado Funchal. Pequenos Passos para a sua História, Funchal, 1979, 103-112.

(25) Fernando Augusto da Silva, ..Alfândega», inElucidário Madeirense, vaI. I, p. 38. Não obstante já em3 de Abril de 1509 o monarca em carta ao provedor ordenara a proibição de descarga em Machico, passando estaa fazer-se apenas no Funchal (A.R.M., C.M.F .. Registo Geral, t. I, 66 v."). Salienta-se que a alfândega dacapitania de Machico tinha assento em Santa Cruz e manteve-se em funcionamento todo o século XVI. Nãosabemos, é certo, qual a sua forma de organização e actuação após estas medidas centralizadoras.

e6) A.R.M., C.M.F., n.? 1302, fl. 108 v.", vereação de 15 de Fevereiro de 1497.(27) Jerónimo Dias Leite, Descobrimento da ilha da Madeira ( ...), Coimbra. 1947, 30; Álvaro Rodrigues

de Azevedo, ob. cit., notas XX-XXI. Por carta régia de 1 de Junho de 1439 o monarca concedera a isenção dopagamento da dízima, (Chancelaria de D. Afonso V, L.0 19, fi. 77 v.", publ. J. M. Silva Marques, Osdescobrimentos portuguêses, I, n.o 314, p, 400).

es) A.R.M., D.A .. ex. I, doe. 92.e9 ) Urbano Mendonça Dias, ob. cit.. 11, pp. 9-10; Francisco Ferreira Drumond, Anais da ilha Terceira, 1,481-90 e 550-551; Arquivo dos Açores, VI, 271-280; Maria Olímpia da Rocha Gil, O Porto de Ponta Delgada e ocomércio açoriano no século XVll ( ... ), pp. 58-60 e 72-73.

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comerciais do Atlântico. Assim, o regime fiscal não se apresentou gravoso, pois a coroaconcedera ao arquipélago um regime idêntico ao que se fizera na Madeira e nos Açores,várias isenções e privilégios incentivadores da sua ocupação e do seu desenvolvimentoeconómico eo). Todavia a grande preocupação do legislador castelhano neste arquipélagoincidia mais sobre o comércio canário-americano do que sobre o comércio canário em geral.Disto resultaram as constantes ordenanças e instruções da Casa de Contrataccián de Sevilhaaos oficiais régios das ilhas deste arquipélago (31).

Legislação

A regulamentação do comércio no mercado insular e deste com as restantes áreas doAtlântico era uma das competências que os municípios não descuravam na sua acçãogovernativa. Esta intervenção resultava da necessidade de assegurar o abastecimento domercado local dos produtos essenciais para o quotidiano da comunidade insular; para isso osoficiais eleitos definiam medidas, exaradas ou não sob a forma de posturas, que vão desde aproibição de exportação de produtos locais ao reajustamento e à regulamentação doscircuitos de distribuição e venda, e, mesmo, à proibição de entrada de produtos lesivos daeconomia concelhia têê). Em síntese, a sua intervenção incidia, fundamentalmente, nosseguintes domínios:

- definição dos locais de compra e venda: a praça pública com o' seu numeroso grupode lojas e tendas;

- controle dos preços, por meio do tabelamento do preço de venda dos produtosagrícolas, dos artefactos e dos serviços prestados pelos vários oficiais mecânicos;

- controle de pesos e medidas por intermédio de vistorias assíduas dos almotacés;- proibição de saída dos produtos considerados essenciais para subsistência da

comunidade insular: trigo, gado e derivados, presunto, azeite, cera, cebo, fruta secae verde, madeiras, pipas vazias, tecidos e artefactos de importação C'").

A venda de qualquer produto deveria fazer-se em praça pública, nas lojas e tendas,sendo proibida a venda em casa ou de porta em porta, como era hábito dos bufarinheirose4

) .

Os vinhos e a comida no Funchal, em 1541, apenas poderiam ser vendidos nas ruas do

eo) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., pp. 121-122 e 144; Eduardo Aznar Vallejo e Miguel Angel LaderoQuesada, «La Hacienda Real en CanariasI ... )>>, in IV, C.H.C.A., I, Las Palmas, 1980,79·108; Pedro Cullen deiCastillo, Incorporacion de la islas y fuero y privilegio concedidos a Gran Canaria, Las Palmas, 1978.

(31) Em 1573 enviado à ilha de La Palma um oficial real com as necessárias instruções para a carga demercadorias para as Índias (F. Morales Padron, « Fondos Canarios en el Archivo de Indias», A.E.A., n.? 28, doe.n.? 8, p. 424). Veja-se Idem, Cedulario de Canaris, 3 vols., Sevilha, 1970.e2

) Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit.. 51 e 313-317.(33) Cf. Elias Serra Ráfols e Leopoldo de La Rosa, Acuerdos dei cabildo de Tenerife, 3 vols., La Laguna,

1949, 1952, 1970: Eduardo Aznar Vallejo, ob.cit., 108,313-317 e 323; José Peraza de Ayala, ob. cit.; FranciscoMorales Padron, Ordenanzas del concejo de Gran Canaria, Las Palmas, 1974; A.R.M., C.M.F., L.0 de Posturas;Urbano Mendonça Dias, A vida de nossos avós. VaI. III, Vila Franca do Campo, 1944.

e4) Em 6 de Junho de 1489 a vereação Funchalense proibe os bufarinheiros de venderem a retalho pelas

casas, só o permitindo em lugares e lojas públicas (A.R.M., C.M.F.• n.? 1299, fi. 103 v."), Ao mesmo tempo otalhare vender da carne só era permitido no talho (ibidem, n.? 1300, fi. 82, vereação de 12 de Maio de 1492),mas apenas ao sábado e domingo, pois a sua venda nos restantes dias da semana estava sujeita a uma licençaespecial, (ibtdem, n.? 1306, fls. 37 v.o·38 v.", vereação de 28 de Abril de 1531). Em Tenerife a venda demantimentos por miudo fazia-se apenas nas tendas montadas nas praças públicas dei Adelantado e de LaConcepcion. Veja-se Acuerdos dei cabildo de Tenerife, III, n.? 277, pp. 154-155,24 de Janeiro de 1522; Ibidem,I, n.? 108, p. 216, 14 de Agosto de 1523;Leopoldo de La Rosa, «Catalogo deI Archivo Municipal de La Laguna»,in Revista de História, n.? 101-104, pp. 249 e 251, cédulas de 1530 e 1533; Ibidem, n.? 115-116, p. 110, cédulade 1564; Eduardo Aznar VaIlejo, ob. cit .. p. 313.

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Matoso, dos Peixes e Direita CS) . Idêntica é a situação dos artífices que vêem reduzida a sua

disseminação no burgo com a obrigatoriedade de assentarem a sua tenda num arruamentodeterminado pela vereação. Esta situação facilitava a actividade do município na fiscalidade,inspecção e controle das lojas e tendas.

O controle sobre os agentes do mercado local mais se amplia com a obrigatoriedade depagamento de fiança por todos os oficiais mecânicos e intervenientes nas actividades dapraça pública: vendeiros, regatões, carniceiros, etc. Muitas vezes o município vedava oacesso a estas actividades como forma de evitar o roubo. Assim, no Funchal, os escravos emoços solteiros que viviam de sua soldada não podiam exercer o ofício de vendeiro ouregatão eÓ

) .

A venda dos produtos de importação estava sujeita a uma regulamentação especial, demodo a evitar-se o açambarcamento e a especulação r"). Assim, só era permitida a suavenda a retalho nove ou quinze dias após a sua entrada, respectivamente em Tenerife e noFunchal; além disso a sua venda só se poderia efectuar após vistoria dos deputados e suasubsequente licença, ficando o infractor sujeito a pesadas penas es) .

Nas Canárias duas particularidades evidenciam uma similar orgânica do mercadointerno. Assim, entre 1521-1522, funcionou em Tenerife um mercado franco, uma vez porsemana, que foi encerrado pelo dano que acarretava às rendas do concelho r"). Ao mesmonível funcionaram no século XVI feiras locais com carácter sazonal. Além disso em GranCanaria, Tenerife e La Palma a venda de determinados produtos de consumo em áreasdefinidas era muitas vezes entregue, em regime de monopólio, a determinados moradores;as casas de venda eram conhecidas por bodegones Ç't),

O controle das entradas fazia-se de acordo com as carências locais, tendo-se em vista anecessidade de evitar a concorrência dos produtos do estrangeiro ou das ilhas vizinhas, bemcomo a sua utilização como represália para com as nações inimigas; no primeiro caso temoscomo exemplo a actuação do cabildo de Tenerife ao proibir a entrada de vinhos de fora e aoincentivar a cultura da vinhat'"); no segundo temos as represálias mútuas entre Portugal eCastela, na década de 70, que surgem nas Canárias em ordens de 1476 e 1480 e na Madeiraem 1471 (42). Além disso há referência a represálias nas Canárias em 1592 contra a França e

es) A.R.M, C.M.F., n.? 1308, fls. 5-6 v.". Vereação de ( ... ) Janeiro de 1547.eÓ) Assim o determinavam as posturas de 1497 e 1596. A.R.M., C.M.F., n.? 1302, f1s. 54 v.", vereação

de 18 de Outubro de 1497; Ibidem, fi. 69, vereação de 31 de Outubro de 1497; Ibidem, n.? 1312, f1s. 41 v.0-42,vereação de I de Junho de 1596. Para Tenerife essa interdição abrangia apenas os escravos; Leopoldo de La Rosa.Ibidem, n." 101-104. doe. n.? 24, p. 262, cédula de 1560.e7 ) Esta é uma das preocupações constantes da vereação Funchalense e do Cabildo de Tenerife quedeliberam com assiduidade sobre isso. As penas impostas denunciam o empenho do município e a gravidade comque estes encaravam estas situações. Veja-se A.R.M .. C.M.F.• n." 1297, f1s. 44 v.0-45, 20 de Abril de 1482;lbidcm, o." 1385. fls. 42, 27 de Fevereiro de 1527; Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV, n.? 373, p. 184,20 deFevereiro de 1523; lbidem, n." 374 p. 209. I de Julho de 1523.

es) Nas Canárias esta prática estava definida nas posturas de Tenerife e Oran Canaria; Francisco Mora1esPadron, ob. cit.. p. 16; Jose Peraza de Ayala, ob. cit.: Acuerdos dei cabildo de Tenerife I, n.? 707, p. 151. 12de Fevereiro de 1507. O mesmo sucede na Madeira a partir de 1482; A.R.M., C.M.F., n.? 1297, f1s. 45 v:", de26 de Abril de 1482; lbidem, n.° 1301, fls. 195 v.", II de Maio de 1492.e9 ) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV. 0.° 261, p. 112, de 15 de Novembro de 1521; Ibidem, n.° 263,pp. 113-115, 18 de Novembro de 1521; Ibidem, n.? 276, pp. 122-123, 10 de Janeiro de 1522; n.? 282, lb idem ,p. 127, 21 de Fevereiro de 1522. Elias Serra Rafols comenta, a propósito desta criação efémera: "se dita unaamplia ordenanza que nos deja atónitos por su franquia y libertad tan contrarias ai habitual y minuciosoordenancismo de la época .. (" Introducción» in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV. p. XI).

(40) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., p. 108.(41) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, 111, 0.° 179, p. 181,22 de Dezembro de 1516; lbidem, Ill , n.? 201,

p. 199,4 de Setembro de 1517; lbidem, IV, n.? 44, p. 21, 18 de Maio de 1519; lbidem, IV, n.? 65, p. 30,15 deAbril de 1519; Ibidem, IV, n.? 66, p. 30, 18 de Abril de 1519; lbidem, IV, n.? 153, p. 58, 1 de Junho de 1520;Ibidem, IV, n." 332, p. 160. 18 de Agosto de 1522; José Peraza de Ayala, ob. cit.; p. 108.

(42) Eduardo Azanar Vallejo, Documentos Canarios ( ... ). La Laguna, 1981, pp. 1-11 does. n. o 1, 6, 24.

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em 1596 contra a Inglaterra, o mesmo sucedendo na Madeira em 1485 contra a Escócia eBruges (43).

Mas se os produtos de fora não deparavam com grandes entraves à entrada, o mesmo jánão sucedia à saída; nesse caso o concelho exercia um controle rigoroso sobre essemovimento, no sentido de coibir a saída dos produtos proibidos, porque necessários aoburgo; deste modo para todo o produto cuja exportação fosse autorizada, o mercador deveriasolicitar ao concelho a necessária licença de saída. O trigo, as madeiras, a carne e asverduras faziam parte desse grupo de produtos prescritos. A sua exportação só se fazia emcondições específicas e mediante licença dos oficiais do concelho (44); e, muitas vezes, sóem condições muito especiais era facultada a sua saída (45).

Na Madeira nos séculos XV e XVI, o açúcar galvanizou as atenções das autoridadesmadeirenses e régias. Este produto era, então, uma componente importante dos réditos dailha e da coroa e, como tal, estava sob vigilância constante do senhorio, da coroa, doalmoxarifado e da vereação. Segundo Vitorino Magalhães Godinho «o regime do comércio[do açúcar] vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida pela intervenção quer dacoroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro,posteriormente um conjunto de monopólios cada qual em relação com uma escápula deoutra banda» (46). Assim, desde 1469 e até princípios do século XVI, o comércio do açúcarmadeirense fazia-se num apertado circuito sob controle da coroa e de um reduzido grupo demercadores estrangeiros.

As tentativas levadas a efeito pelo Infante D. Fernando para fazer vigorar o contrato demonopólio mereceram a oposição declarada e firme dos vizinhos do Funchal (47); somenteconseguiu vigorar, a partir de 1487, o monopólio régio de exportação deste produto para olevante, um dos principais mercados do açúcar madeirense (48); e, finalmente, em 1498,D. Manuel I, em face da difícil situação de crise comercial, limita esse comércio,estabelecendo um máximo de produção e os contingentes para as diversas escápulas (49).Esta situação foi revogada em 1503, mas o comércio deste produto não obteve a necessárialiberalização, pois o escoamento passou a fazer-se sob o regime de contrato entregue, na suamaioria, a estrangeiros ou seus agentes (50).

Ao invés, nas Canárias, e mesmo nos Açores, o comércio do açúcar não suscitou amesma atenção e intervenção da coroa, pois que esse trato foi aí deixado à iniciativa dogrupo de mercadores nacionais ou estrangeiros; no caso das Canárias o seu comércio eraquase exclusivo dos mercadores genoveses e flamengos.

Mais do que o açúcar, o trigo e outros cereais serão o alvo primordial da intervenção

34, 47; A. Cioranescu, História de Santa Cruz. I. p. 376 (nota 44); Victor Morales Lezcano, Sintesls de laHistória economlca de Canarias, Tenerife, 1966, pp. 23-24.

(43) A.R.M, C.M.F .. n.? 1296,fls. 24-24 v;", s.d., (1471); Ibidem, n.? 1298, fls. I-I v.", 23 de Junho de1485.

(44) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, I n." 529, pp. 100-101, 20 de Julho de 1506.(45) É o caso do fornecimento das naus e armadas das rotas das índias, Índia e Brasil nos três arquipélagos.

Veja-se 1. a parte.(46) Os Descobrimentos e a economia mundial, IV, p. 87.(41) Ernesto Gonçalves, «João Afonso do Estreito", in D.A.H.M.. n.? 17, 1954, pp. 4-8; Fernando Jasmins

Pereira, Alguns elementos para o estudo da história económica da Madeira, pp. 144-162; Maria do CarmoJasmins Pereira Rodrigues, O açucar na ilha da Madeira, pp. 91-101.

(48) Vitorino Magalhães Godinho, ob, cit.. IV, p, 87; A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. I, fls. 65 v.0-75

v .", Saragoça, 21 de Agosto de 1698. Apontamentos do Rei sobre o açucar, pubI. in A.H.M., XVII, pp. 372-380;lbidem, fi. 293 v.0-294, Lisboa, 18 de Janeiro de 1499, carta régia, pubI. in A.H.M" XVII, pp. 382-383.

(49) Fernando Jasmins Pereira, O açucar madeirense ( ... ), pp. 56-57.(50) A.R.M.. C.M.F., Registo Geral, t. I, fls. 288-288 v,", Lisboa, 28 de Agosto de 1503, alvará régio

sobre a carga do açucar para Portugal, publ, in A.H.M., XVII, pp. 445-446; Fernando Jasmins Pereira, Ibidem;Virginia Rau e Jorge de Macedo, O açucar da Madeira no fim do século XV ( ... ), Funchal, 1962, pp. 25-33.

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assídua do município. Sendo produtos básicos da dieta alimentar insular, lógico será admitirque os vereadores, tendo a seu cargo o regimento da terra, estivessem preocupados e atentosao fornecimento do cereal no mercado local (51). Numa breve passagem pelas vereações dosséculos XV e XVI existentes para os três arquipélagos verifica-se que esta questãoatemorizava e preocupava constantemente os oficiais da Câmara quando se reuniam emvereação duas vezes por semana (52).

A actuação de cada concelho será feita de acordo com as peculiaridades e a conjunturaespecífica da área a que se circunscreve. Podemos considerar para os três arquipélagos umalinha de conduta que, na globalidade, apresenta muitos pontos comuns. Assim, teremos paraa Madeira e Açores a sua inspiração na administração de Lisboa e, para as Canárias, atransplantação e adaptação do modelo andaluz (53). Embora com raíz diferente essa actuaçãodos municípios insulares poderá definir-se do seguinte modo:

- controle da produção e dos circuitos de abastecimento e conservação de cereal.- controle/regulamentação/proibição do comércio e transporte do cereal no mercado

interno e externo.

Isto é, toda a acção concelhia é orientada no sentido da regulamentação e do controleda produção e do comércio do cereal, por meio dos exames na Madeira e nos Açores e datazmia ou cala y cata nas Canárias, das medidas limitativas ou proibitivas da suaexportação. A sua aplicação variava de concelho para concelho consoante a prioridade fossedada à produção ou à importação; assim nos concelhos de Ponta Delgada, Vila Franca doCampo, Ribeira Grande, Angra, São Sebastião, do arquipélago dos Açores, e em SantaCruz de Tenerife e de La Palma e certamente nos cabildos de Lanzarote e Fuerteventura,predominam as ordenanças e posturas regulamentadoras da produção do referido cereal,assentes no princípio básico de assegurar as necessidades do consumo local. No Funchal,Las Palmas de Gran Canaria dominam as ordenações facultativas da importação do preciosogrão, quer por meio da abertura do mercado a todo o que a ele concorresse, quer por meiode medidas aliciadoras (como sejam, no Funchal, o pagamento da descarga, dos sacos e daloja), quer ainda por meio de medidas proibitivas à sua saída.

A concretização da primeira medida da referida política definia-se nos Açores pelotrigo dos exames, isto é, o trigo resultante do exame da produção e dos stocks deabastecimento dos granéis concelhios ou particulares, necessário para o fornecimento àpopulação em momentos de penúria. Segundo o regimento régio de 26 de Junho de 1507 a

(51) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., p. 253, A. Cioranescu, ob. cit.. I, p. 318, Frédéric Mauro, lbidem,pp. 300 e 306. Saliente-se que esta ambiência não é típica das ilhas, pois as mesmas preocupações dominam emCoimbra e Algarve; veja-se António Oliveira, A vida económica e social em Coimbra ( ... ). II, 1972,pp. 122-130 e 162; Joaquim Antero Romero Magalhães, Para o estudo do Algarve económico durante oséculo XVI. Lisboa, 1970, pp. 66-70.

(52) Fizemos um largo tratamento da questão cerealífera em alguns trabalhos já publicados. ,,0 comércio decereais dos Açores para a Madeira no século XVII», in Os Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVII), Angra doHeroísmo, 1984, sep. do B.I.H.I.T.. vol. XLI, (1983), pp. 651-677; "A questão cerealífera nos Açores nosséculos XV-XVII (elementos para o seu estudo)» in Arquipélago. História e Filosofia. vol. VII, n.? 1, 1984,pp. l23-201; ,,0 comércio de cereiais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI-XVII, in VI C,H.CA., LasPalmas, 1984 (no prelo).

(53) Veja-se Urbano de Mendonça Dias, A vida de nossos avós, vol. III, Vila Franca do Campo, 1944,idem, A Vila, Vila Franca do Campo, 1927, vol. VI; Maria Teresa Campos Rodrigues, A administração domunicípio de Lisboa no século XV. separata dos n.OS 101-9 da Revista Municipal. pp. 83-110; Miguel AngelLadero Quesada, «Ordenanzas municipales y regulacion de la actividad em Andalucia y Canárias siglasXIV-XVII», in II Colóquio Canario-Americano, 1977, Orã Canária, II, pp. 143-56, Eduardo Aznar Vallejo,Integracion de las islas Canarias en la carona de Castilla (1478-1526), Sevilha, La Laguna, 1983; EmmaConzalez Yanes, «Irnportación y exportacíón en Tenerife durante los primeros anos de la conquista (1497­-1503)>>, in Revista de História. La Laguna, n.? 101-4, pp. 70-9i.

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vereação tinha a incumbência de fazer, no início do Verão, por altura das colheitas, oorçamento do trigo necessário ao consumo e à sementeira até à nova colheita, armazenando-odepois em granéis à sua guarda, de modo a poder distribui-lo na altura da carência. A partir de1561 juntar-se-à um quarto dos valores exportados. Para dar cumprimento a estas medidas avereação ordenará que toda a exportação só deveria ser feita mediante licença sua apósvistoria dos granéis a cargo do oficial dos exames (54).

Nas Canárias, e mais propriamente em Tenerife, encontramos definida a mesmaorientação sob a designação do tazmia ou cala y cata. O cabildo em momento de penúria,antes de autorizar a saída do cereal, procedia ao exame dos granéis e ao arrolamento dapopulação, de modo a avaliar o trigo necessário ao consumo concelhio e assegurar a reservasatisfatória (55). Esta prática derivava das primeiras medidas proibitivas exaradas em finaisdo século XV e do correcto dimensionamento da política cerealífera pelo cabildo emprincípios do século XVI (56). Enquanto no primeiro período apenas se estipulava aproibição de saída, no segundo, ao pressentir-se a ineficácia dessa actuação, alarga-se o seuâmbito. Assim, em 1505, em face da falta de pão, ordena-se a vistoria às principais casas dailha para, no ano imediato, se promulgar a ordenança sobre o pão, onde se definia o modode actuar (57). A partir de então esta prática institucionaliza-se, tomando-se um hábitocorrente na vida municipal (58).

Não obstante as medidas proibitivas terem maior força de lei em momentos de maiorpenúria, o certo é que em anos de abundância estas apresentavam-se como prejudiciais aosvizinhos das ilhas produtoras: Tenerife, La Palma e Fuerteventura. Pior era, no entanto, asituação dos mercadores, obrigados à troca das suas mercadorias por trigo. Daí a reivindi­cação dos moradores do direito de exportar metade da sua colheita, no que a coroa apenasconcordou com um terço (59). Mesmo assim o cabildo passou a exercer um controle rigorososobre esta parte, ao definir como obrigatória a solicitação de licença para exportar e,mesmo, revogando essa regalia em momentos de penúria, como sucedeu em 1522 (60).

O cabildo de Tenerife perante a contingência da conjuntura de crise e do movimentodemográfico conclui que os dois terços não são suficientes para o sustento da população,

(54) Esta questão foi tratada em estudo que elaborámos sobre ..A questão cerealífera nos Açores ( ... )>>,

pp. 144-158. Veja-se Urbano Mendonça Dias, A vida de nossos avós, voI. III, pp, 32-8, 489, 62-63.(55) Conhece-se uma tazmia de 1552,publicada por F. Moreno Fuentes, «Tazmia de la isla de Tenerife em

1552 .., in Anuario de Estudios Atlanticos. n.? 25, pp. 411-92.(56) Eduardo Aznar Vallejo, Documentos Canarios ( ... ), La Laguna, 1981, does. n." 156,440,568, 652,

727, 883. 892, 916. 986. 1193; Acuerdos dei cabildo de Tenerife, I, n.o 270, p. 48, 28 de Junho de 1502.(57) Ibidem, I. n.? 436-437, p. 81. 10 de Dezembro de 1505; lbidem, n." 540. pp. 103-108.8 de Novembro

de 1506; Ibidem, n.? 600-601. pp. 116-117; 12 de Fevereiro de 1507.(58) A primeira referência à cala y cata de 1511 (lbidem, 0.° II, n.° 185, p. 134. 5 de Dezembro)

seguindo-se esta prática em 1514 (lbidem, III, n.? 12, p. 5, 28 de Abril; lbidem, III. n.? 21, p. 18, 16 de Junho;lbidem, III, n." 22, p. 18, 21 de Julho) e em 1522 (lbidem. IV, n." 276, p. 123, 17 de Janeiro).

(59) A primeira reclamação foi exarada em reunião de Tenerifc em I de Setembro de 1508 (Ibidem, II,n.? 15. p. 12) mas só em 28 de Fevereiro de 1512 é atendida (Ibidem, II, n." 33, pp. 264-265). Não obstante nãosatisfaz as pretensões dos tenerifenhos (Ibidem, n.? 42, pp. 277-283, «capitulaciones que presenta ai rey la isla deTenerife por mano de mensagero-), Veja-se Manuel Marrero, «Algunas viages atlanticos de los veeinos deTenerife en el primer tereio deI siglo XVI", II, C.H.C.A .. vol. I, 1977, pp. 64-65. Veja-se, Pierre e HuguetteChaunu , Seville et l'Atlantlque, Paris, 1959. t. VIII, vol. I, p. 370; Sebastian Jimenez Sanchez, «EI trigo uno delos alimentos de Gran Canarios prehispanicos», in Revista de História, La Laguna, n.° I, p. 213; J. Perez Vidal,«Aportacion portuguesa a la poblacion de Canarias», in Anilaria de Estudios Atlanticos, n.? 14, pp. 65-6:E. Gonzalez Yanes, ob. cit .. p. 85; Leopoldo de La Rosa, «Catálogo dei Archivo Municipal de La Laguna", inRevista de História, La Laguna. n.? 101-104. pp. 256. 261; idem. ibidem, n." 113-4, assim; Manuela Marrero,«Algunos viages atlanticos de los vecinos de Tenerife en el primer tereio dei siglo XVI", in II Colóquio deHistória Canario-Americana, Las Palmas, 1977. vol. I, pp. 64-5;. Idem. «Algunas consideraciones sobreTenerife » , in Anilaria de estudios Atlanticos, n.? 23. p. 379.

(60) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV, n.? 314, p. 150, II de Julho de 1518; Ibldem, n.? 335, p. 161.29 de Agosto de 1522. Ibidem, n.? 337. p. 161.5 de Setembro de 1522; Ibidem, n.? 343, p. 165,26 de Setembrode 1522, Ibidem, n." 380. p. 189. 26 de Março de 1523.

38

pelo que ordena, a partir de Julho de 1522, que de todo o trigo a exportar deveria ficar umareserva de dez por cento às ordens da câmara, a fim de ocorrer aos momentos de falta (61).De modo a controlar-se o cumprimento desta ordenação regulamentara-se a obrigatoriedadedo registo do cereal a exportar e a solicitação da respectiva licença ao cabildo, ao mesmotempo que se estabeleciam guardas de vigia nos portos (62).

Quer em S. Miguel, quer em Tenerife, os produtores e mercadores, entre os quais secolocavam o capitão donatário, o senhorio e alguns funcionários concelhios e régios,usavam de todos os subterfúgios para fazer sair o seu trigo, agravando deste modo asituação de penúria cerealífera (63).

No mercado consumidor carente toda a política cerealífera incidia a dois níveis no seucomércio: primeiro procurando assegurar o normal abastecimento de trigo, por meio deincentivos à sua introdução; depois através do controle dos circuitos de fornecimento demercado local, evitando a sua saída, sob a forma de grão ou de biscoito. Ao nível daMadeira define-se a actuação da vereação funchalense; primeiro, com o estabelecimento decontratos com alguns mercadores para meterem anualmente o trigo necessário ao provimentodela, pagando-se a descarga, os sacos e a loja; depois, com a abertura total do mercado àsua introdução, por meio da isenção da dízima de entrada (64). Caso estas medidas nãofossem suficientes, então a vereação punha em prática o seu plano de emergência, queconsistia na actuação junto dos mercadores e mestres de navios, obrigando-os a descarregaro trigo que conduziam ao reino ou às Canárias, ou então forçando-os a irem buscar o trigoaos Açores ou outras partes (65). A esta orientação aliavam-se as ordenações régias de 1508a 1521, que tomavam obrigatória a rota de fornecimento de trigo açoriano ao mercadomadeirense (66).

Assegurados os circuitos de abastecimento do mercado funchalense, tomava-se neces­sário controlar e regulamentar os circuitos internos de distribuição e venda, de' modo aevitar-se o açambarcamento e a especulacão. Neste caso a vereação actuava com medidasdrásticas, quer por meio do exame das lojas pelos almotacés, quer lançando pesadas multasaos infractores (67). Ao mesmo tempo, desde 1496 proibira-se a saída deste cereal, atémesmo para o fornecimento de naus que escalavam a ilha pois, segundo se dizia, estasdeveriam vir devidamente providas de Lisboa (68).

Idêntica situação encontra-se definida no arquipélago canário nas ilhas da GranCanaria, La Gomera, onde estava regulamentada a proibição de saída, e medidas de apoioaos circuitos e rotas abastecedoras com origem em Lanzarote, Tenerife ou Fuerteventura (69).

(61) Ibidem, n.o 317, p. 15\, 18 de Junho de 1522.(62) Leopoldo de La Rosa, ob. cit., n.? 101-4, p, 261 (n.? 1-3); 264 (n.? 18); E. Gonzalez Yanes, oh. cit ..

p. 88.(63) E. Gonza1ez Yanes, ibidem, p. 87; e o nosso estudo supracitado.(64) A.R.M., C.M.F., n.? 1297, fls. 17 v.0-8, vereação de 4 de Março de 1481; idem lbidem, fls.

23-23 v.", vereação de 8 de Junho de 1481; idem, lbidem, fls. 27-27 v.", vereação de 4 de Agosto de 1481; idem,ibidem. fls, 49 v.", vereação de 21 de Janeiro de 1486; idem, Ibidem, fi. 62, vereação de 11 de Fevereiro de 1486;idem, Ibidem, fi. 78, vereação de 20 de Março de 1486; idem, Ibidem, fi. 130, vereação de 14 de Maio de 1486;idem, ibidem, fls. 138-141, vereação de 5 de Julho de 1486; idem, ibidem , n.? 1301, fi. 48 v.", vereação de 10 deAgosto de 1496. A referida despesa era assegurada por 2/3 da renda da imposição do vinho, Ibidem, fi. 141, cartade 5 de Dezembro de 1581.

(65) A.R.M., C.M.F., n.? 1302, fi. 23, vereação de 31 de Agosto de 1496; idem, lbidem, fi. 27, vereaçãode 7 de Setembro de 1496; idem, ibidem, fls. 111-2, vereação de 21 de Fevereiro de 1497.

(66) Veja-se o nosso estudo "O comércio de cereais ... », já citado.(67) A.R.M., C.M.F.. n.? 1298, fi. 38 v.", vereação de 28 de Dezembro de 1485; idem, ibidem, n.? 1301,

fi. 48 v.", vereação de 17 de Outubro de 1495; idem, ibidem 1308, fi. 8, vereação de (7) de Janeiro de 1547;idem, ibidem, n.? 1309, fls. 26 v.", vereação de 13 de Abril de 1550.

(68) Idem, ibidem, n.? 1302, fls. 46-46 v.", vereação de 26 de Setembro de 1496; idem, ibidem, n.? 1313,fls. 43 v.", vereação de 20 de Setembro de 1597; idem, ibidem, n.? 1313, fIs. 47 v.0-48, vereação de 8 de Outubrode 1597.

(69) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., pp. 51, 251-2, 313.

39

A ilha de Gran Canaria tinha em Tenerife o celeiro de abastecimento anual, mas tal comosucedia na Madeira em relação aos Açores, esse provimento despoletou vários litígios entreas duas ilhas no período de 1531-1603, devido à segunda se negar a esse fornecimento t?");pelo que respeita a La Gomera, o trato foi assegurado por cédula de 1521 (71).

Se é certo que as medidas atrás enunciadas atestam o interesse do concelho emassegurar o normal funcionamento dos circuitos de abastecimento de modo a evitar-sequalquer situação de penúria ou de fome, também é verdade que as mesmas documentam,de modo evidente, a prernência da crise, resultante do esgotamento do solo e, acima detudo, do aumento da população insular. Assim, ao nível das áreas produtoras, as medidasregulamentadoras do comércio do cereal surgem com maior acuidade, apontando para umanítida tendência da sua proibição. Tal como sucede nos Açores, desde a década de 30 doséculo XVII e, em Tenerife, a partir de 1564-65, evidenciando-se nesta última a partir deprincípios do século XVII. Deste modo se as crises de 1502, 1506, 1521 e 1546 surgemcomo fenómenos isolados, articulando-se com as más colheitas, ocasionadas por factoressazonais, o mesmo já não se poderá dizer em 1574, 1604, 1616, 1625, em que se nota umamarca evidente da crise estrutural, cujo agravamento se salienta de modo periódico emciclos decenais (2). Esta situação da economia cerealífera das Canárias repercutir-se-á demodo evidente no mercado madeirense, que tinha nesse arquipélago uma fonte importantede abastecimento, em 1589 e 1596(3).

(0) Leopoldo de la Rosa, ob. cit., Revista de História, n.? 113-4; p. 84 (n.? 41) 85 (n.? 72); Ibidem,n.? 101-104, p. 251 (n.? 12), 253 (n.? 3); Ibidem, n.? 115-6 (1958), p. III (n.? 108).

(71) Ibidem, n.o 101-4, p. 246 (n.o 5).(72) Veja-se nosso estudo, ,,0 comércio de cereais ... >l, já citado; P. Chaunu ob. cit., pp. 371-373.(3) A.R.M., C.M.F., n.? 1311,!l. 142 v.", vereação de 20 de Fevereiro de 1596, idem, ibidem, n.? 1311,

fls. 16-17 v.". vereação de 4 de Fevereiro de 1589.

40

1.2 Técnicas

A NAVEGAÇÃO

A navegação no mundo insular deriva não só de factores implicítos ao próprio meiogeográfico, mas de igual modo da premência de vectores e solicitações externas, resultantesdo posicionamento desta área no mercado colonial e do estádio de desenvolvimento dosmeios e técnicas de navegação. Os acidentes mesológicos serão perfeitamente ultrapassáveismediante o avanço da tecnologia naval.

Sendo esta vasta área insular dominada pelo oceano Atlântico, seria inevitável que avivência ribeirinha incidisse fortemente no ilhéu e, ao mesmo tempo se verificasse umdomínio das vias de comunicação marítimas, inclusive contactos internos. O mar será assimo elo de ligação e separação. O ilhéu viverá sob o fascínio desta enorme massa de água.

Vias de comunicação e meios de transporte

As vias de comunicação e os meios de transporte são factores determinantes dodesenvolvimento sócio-económico de uma dada região; tais factores são, de certo modo, osaferidores do estádio da sua evolução. É, por outro lado, evidente a interconexão entre elese as actividades económicas, pois o valor mercantil implica a existência de meios e circuitosadequados para o seu escoamento; além disso, a facilidade de contacto ou de transportepoderá condicionar de modo positivo o nível e desenvolvimento da economia de áreasdeterminadas. A este propósito é muito esclarecedora a análise comparativa que GasparFrutuoso faz das ilhas açorianas e das Canárias: «A ilha de Tenerife dizem que foi a quartaconquistada e é logo a segunda ilha depois de Gran Canária, principal de todas as outras,ainda que a Palma o seja nas armadas e navegações, como, entre estas ilhas dos Açores, amais rica e principal é esta ilha de S. Miguel, pois ela rende só mais que todas as outrasjuntas, mas a ilha Terceira, além de ser mais principal por ser a cabeça do bispado, o étambém por a razão das escalas, armadas e navegações que ali vão ter em diversostempos» e).

Para o mundo insular o mar é o elo de ligacão e meio de comunicação mais importante.No caso do Mediterrâneo Atlântico esta permissa toma-se mais clara em virtude dadescontinuidade e heterogeneidade do solo e costa. Num parco espaço terreste disseminadopor dezoito ilhas com um solo acidentado e uma costa alta e escarpada, não é difícil decompreender a dificuldade que aí se depararam nas comunicações internas e externas e).Elias Serra Rafols, a propósito desta realidade, enuncia de modo esclarecedor: "Paracompreender esta vida insular, hay que tener siempre presente esto: que se trata de islas

e) Saudades da Terra, L,0 I, Ponta Delgada, 1984, p. 91.(2) Fernando Augusto da Silva (Pela Historia da Madeira, Funchal, 1947, p. 83) conduz-nos a esta

realidade ao falar da sociedade madeirense nos seus primórdios: ,,- A torturante nostalgia dos mais antigospovoadores e as suas constantes preocupações no árduo trabalho das explorações agrícolas seriam bastantementeagravadas com a falta de notícias de tudo o que saudosamente tinham deixado nos limites do seu sempre tãolembrado rincão natal. Dizem as velhas crónicas que somente de ano a ano havia notícias pela queda de estio,porque então não se navegava no Inverno. E assim devera ser".

41

6

( ... ) todo tiene que venir de fuera o ha de salir pera fora. El camino del mar lo es todo,vida material espiritual, riqueza y saber; en eI tiene todo su origen y su fin» e).

Sendo certa a importância primordial do Oceano Atlântico nas comunicações insularese deste com o litoral afro-europeu-americano, não menos o serão em termos restritos dasvias de comunicação terrestres, pois é por seu intermédio que se escoam os produtos para osmercados ou postos do litoral, a partir dos quais entram nos circuitos comerciais locais einternacionais. Não obstante o interesse das autoridades municipais na abertura e preservaçãodos caminhos, nota-se em todo o mundo insular a insuficiência de vias de comunicaçãoterreste e a ineficácia das referidas ordenações (4)

A importância das comunicações por terra no espaço insular relaciona-se com aformação orográfica de cada ilha. Assim, enquanto na Madeira elas são relativizadas, emS. Miguel, Terceira, Tenerife e Gran Canaria apresentar-se-ão como fundamentais para aeconomia local. Na Madeira os meios e vias de comunicação terrestres apenas ganhamimportância a partir de finais do século XVIII, sendo assim relativa a actuação doscarreteiros, dos boieiros e, mesmo, de bestas de carga na vida local (5). Toda a economiamadeirense é dominada pelo mar e define-se pela litoralidade da sua implantação sócio­-geográfica.

O mesmo não sucede nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife, onde há a preocupação detraçar uma rede viária que ligue os canaviais aos engenhos e estes aos portos de cabotagemou de exportação (6). Assim, deparamo-nos nestas ilhas com uma elevada valorização dosagentes de transporte, sendo numeroso o grupo de carreteiros, de almocreves, de cameleiros,bem como de bestas de carga C). Estas profissões e actividades mereceram uma regu­lamentação constante por parte dos cabildos (8). Pelas mesmas razões é elevado o número dereclamações dos carregadores da ilha de S. Miguel pela abertura e pela reparação decaminhos (9). Aliás estes eram um importante meio de contacto entre o principal porto decomércio com o exterior - Ponta Delgada - e as áreas produtoras' de pastel e trigo. Oscontactos com a Ribeira Grande faziam-se por via terrestre e eram assíduos, havendo para oefeito um numeroso grupo de carreiras eo).

e) «Introducción», in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, II, P. IV.(4) Maria Luisa Fabrelas.., "La producion de azúcar em Tenerife», Revista de Histária, n.? roo,

pp. 473-474; Eduardo Aznar Vallejo, La integracián de las islas Cana rias en la Corona de Custilhu, p. 333-334;Luis Ribeiro "influência das Sesmarias no povoamento da Terceira » , in Açoreana. IV, 1946-1949, p. 93, UrbanoMendonça Dias, A Vila, IV, 1927, pp. 54, 59-60 e 66-67; Iolanda Silva, "Resenha Histórica .., in Transportes //lI

Madeira, Funchal, 1983, pp. 25-46.(5) Nos testamentos da Misericórdia do Funchal e do Julgado de Resíduos e Capelas há inúmeras

referências ao número de bestas de carga.(6) Maria Luísa Fabrellas, Ibidem, 474-474; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, ob, cit., 22-24; Eduardo

Aznar ValIejo, ob. cit., 333-334.(') Nos protocolos de Gran Canaria e Tenerife, econtram-se inúmeras referências. Veja-se Maria [sidra

Coelho Gomez, Margarita Rodriguez Gonzalez e Avelino Parrilla Lopes, Protocolos de Afonso Gutierrez(/522-1525), Santa Cruz de Tenerije, 1980; Fernando Clavijo Hernandez; Protocolos de Hermân Guerra(1510-1511), Santa Cruz de Tenerife, 1980: Manuela Marrero Rodriguez e Emma González Yanes, Protocolos deiesa/bano Hérman Guerra, La Laguna, 150S-1510, La Laguna, 1958, Protocolos de Afonso Gutierrez (/520­-1521), Tenerife, 1979; Idem, Indices y extractos de los protocolos de Hérman Gonzale: y de Luis FernandezRasco, escrbiano de Las Palmas (1550-1552), Las Palmas, 1980; Manuels Marrero Rodriguez, Protocolo deiescribano Juan Ruiz de Berlanga, La Laguna, 1507-150S, Tenerife, 1974.

(8) Miguel Angel Ladero Quesada, ob. cito(9) Urbano de Mendonça Dias, A Vila, VI. 54, 58-60.

eo) A Câmara da Ribeira Grande zelava pelos interesses económicos do município ao investir na definição eno regulamento deste circuito. Em 1599 a câmara concederá licença a 60 almocreves no transporte de farinha etrigo para Ponta Delgada (A.C.M.R.G.• L.0 4 de acârdãos, fl. 41, 13 de Novembro). A necessidade da reparaçãodos caminhos era exarada na vereação que ordenava e orientava o serviço, executado por todos os moradores.A.C.M.R.G., L,? I de acórdãos. fi. 25 v.0-26. 26 de Março de 1555; lbidem, p. 38, 23 de Abril de 1555: Ibldem,fi. 80 v :", 9 de Novembro de 1555; Idem, L.0 2 de acórdãos. fi. 17-18,6 de Junho de 1596; Idem, L,? 4 deacórdãos. fi. 31 v.", 29 de Julho de 1599.

42

~lH

8 Portos de exponac áo

• Portos de cabotagem

Rotas de cabotagem

Caminhos

VIAS DE COMUNICAÇÃO E PORTOS NA MADEIRA. Século XVI

~01\O sa.\'\\.O

A insuficiência das comunicações terrestres evidencia a importância de actuação dasvias marítimas materializadas numa teia complicada de rotas de cabotagem. A sua prefe­rência é muitas vezes relativizada em face dos acidentes e adversidades da costa e do mar,pois os ventos e as correntes maritimas dificultam a sua utilização (11). A Madeira, devidoaos condicionalismos de ordem geográfica e climática, apresentava reduzidas possibilidadespara o desenvolvimento das vias e meios de comunicação terrestres e marítimase2

) . Estacondição limitou as possibilidades de desenvolvimento económico, fazendo restringir essaactuação à faixa litoral sul entre Machico e a Calheta, espaço recheado de enseadas ecalhetas para o necessário movimento de cabotagem. Assim surgem portos em Machico,Santa Cruz, Funchal, Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta (13). O transporte da produçãode açúcar da Calheta do ano de 1509 para o Funchal fez-se por barqueiros, em conjunto ouindividualmente; executava-se ao longo de todo o ano, mas habitualmente no periodo dasafra e de maior exportação, entre Março e Julho.

Até 1508 todo o movimento de contactos com o exterior era feito a partir do Funchal.Daí que existisse um contínuo movimento de cabotagem, entre este porto e os restantes dailha, para o escoamento do açúcar t '"). A partir de então, ao ser permitida a carga e

Transporte do açúcar de Calheta para o Funchal

BARQUEIRO

Agostinho FernandesGonçalo RodriguesAfonso LuísPero Lourenço

João Gonçalves

Joana AiresJoão de AmorimPedro MartinsDiogo GonçalvesDomingos FernandesPedro FarinhaGil AfonsoNuno GonçalvesGalegoBatel de FerreiraCamtanhedeFrancisco HomemManuel FrancaGil Pi risBarocasFrancisco Fernandes

DATA

1509-V a XII1509-V a XII1509-VI a XII1509-III a XII1510-1-281509-VI a XII1510-1-91509-III a Xl1509-V a XI1509-VI a XI1509-IV a X1509-IV a XI1509-VIII a XI1509-X-41509-V-251509-VI a IX1509-VI-5-231509-VII a X1509-V-141509-VII-261509-VIII-31l509-XI-71509-VII-18

ARROBASDE AÇÚCAR

5077 145,51 399,55202,5

6518,5

7963,51 8202092,5J 962

719854

16,56

234145,5129,5

81213

1006

Fonte: A.N.T.T., N.A., n.? 903'B

(11) Carmen G. Galero Martin, Las comunicaciones maritimas interinsulares, Las Palmas, 1979, pp. 8-9.Veja-se supra, primeira parte.

(12) Veja-se em Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L.0 II, 1979, caps. XV-XVII) a descrição da costa dailha da Madeira. O porto do Funchal era considerado, no século XVI, muito perigoso para a navegação; ValentimFernandes em 1506 dizia a esse propósito: «em o Funchal nenhum navio não pode estar no tempo que começa deventar até sudeeste por banda do sul. Por isso é mandado do capitão que quantos navios estejam abertos com suasvelas e vergas altas para partir quando quer que aqueles ventos ventem" (Manuscrito de Valentim Fernandes.Lisboa, 1940, p. 110). Idêntica é a opinião de Giulio Landi em 1534 e de Hans Sloane em 1687. (António Aragão,A Madeira vista por estrangeiros,Funchal, 1981, pp. 83. 168).

(13) A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fls, 272-272, Almeirim, 21 de Janeiro de 1511, carta régia sobrea carga pelos mercadores estrangeiros, pubI. in A.H.M. XVIII, 531-532.

e4) Ibidem, fi. 260-261 v."; [8 de Setembro de 1507] Regimento sobre a arrecadação dos quintos, pubI.

in A.H.M., XVIII, 395-396; Idem, C.M.F., Foral da cidade (1515-1736), fIs. 25 v.o-26.

44

.j>.UI

Vila Franca

VIAS DE COMUNICAÇÃO EM S. MIGUEL

• Porto de Cabotagem

@ Porto de Exportação

Rotas de Cabotagem

---- Caminhos

descarga para a exportação do açúcar, contribuiu-se para a valorização dos portos das p~rtes

do fundo em detrimento do Funchales). Esta situação manteve-se por pouco tempo, pOIS noano imediato a medida foi revogada t '").

O porto do Funchal surge no dealbar do século XVI como o principal entrepostomadeirense do comércio atlântico e7 ) . A zona ribeirinha do burgo funchalense, em redor daalfândega nova, era o principal pólo de animação. Aí convergiam mercadores, carreteiros,barqueiros, mareantes e curiosos. No calhau havia-se instalado em 1488 o cabrestante, cujaexploração foi concedida em regime de monopólio a João Fernando Mauzinho, com o foroanual de cem reais ets). Desde 1568 a sua exploração seria entregue a uma sociedade,passando em finais do século a ser explorado por diversos mareantes que aí construíram umnúmero variado de cabrestantes.

O município aforava não só a instalação do cabrestante, mas também as casas e oschãos necessários para a actividade desses mareantes e barqueiros. O foro de um cabrestantevariava entre duzentos a trezentos reais, enquanto o de um chão ou casa se cifrava emtrezentos reais.

Cabrestantes do porto do Funchal(19)

CABRESTANTES

PROPRIETÁRIO 1583 1585 1587 1592 1595 1597·1598

N." PREÇO N." PREÇO N." PREÇO N.O PREÇO N." PREÇO N." PREÇO

Miguel Fernandes I 300 I 300António Lourenço 2 500 2 500Um Barqueiro (?) I 200 250Afonso. do Vale 200 250 250 250Gonçalo Fernandes 200 200Vicente Fernandes 200 300 I 300 I 300Amador Fernandes 2 500 2 500 2 500Fernão Dinis I 300Simão Fernandes 300João Leitão 300

O arquipélago açoriano, compartimentado por novas ilhas, define-se por diversasassimetrias, evidenciadas pelo relevo, pela estrutura e pelo clima, que conduziram a umdesenvolvimento sócio-económico desarticulado e variado. A diversidade bem como acomplementaridade da estrutura sócio-económica açoriana conduziram à definição de umarede complicada de rotas de cabotagem nas ilhas e entre elas. Deste modo as comunicaçõesmarítimas serão de uma importância primordial na sua econorniaj'ê"). Aliás,

es) A.R.M., C.M.F .. Registo Geral, t. I, fl. 193 v.o, Sintra, 17 de Agosto de 1508, carta régia, publ. inA .H.M.. XVIII, p. 541.

e6) Ibidem, fls. 201-201 v.", Lisboa, 15 de Janeiro de 1512, carta régia sobre a carga as naus; publ. in

A.H.M., XVlll, p. 543.e7

) Gaspar Frutuoso (ob. cit .. p. 109), em finais do século XVI, referia a propósito: " ... há pela costacalhau miúdo e areia, o qual é o porto da cidade, onde ancoram naus e navios, que ali decarregam, tão povoado ecrusado sempre deles, com tanto tráfego de carregações e descarregas, que parece outra Lisboa...

eB) A.R.M., C.M.Foo n.? 1299, fls. 13 v. 0-14, vereação de 31 de Julho de 1498. Veja-se Álvaro Manso deSousa.vos Cabrestantes » , in D.A.H.Moo Supl. ,,0 Jornal», n.? 5029, 17 de Abril de 1969 pp. 183-184

e9) A.R.M., C.M.F., n.? 698-720, 866-868. " .

(~O) Não o~stante, a costa açoriana não se apresentava muito propícia a essa navegação de cabotagem, poisera muito alta e dispunha de poucas enseadas ou baías. Veja-se sobre isto a descrição,feita por Gaspar Frutuoso emas Saudades da Terra. L.0 III, IV e VI, da costa açoriana. Cf. com Sarmento Rodrigues, Ancoradouros das ilhasdos Açores. Lisboa, 1970. Em 1589 Linschot dava conta dessa situação, anotando quanto ao porto de Angra: "Mastem o inconveniente de não ter quaisquer portos de abrigo e sendo necessário que os navios, em caso de

46

o próprio arrumar das culturas nas ilhas foi comandado por esta importante via de cornu­nicaçâo t"),

O desenvolvimento das infraestruturas portuárias do arquipélago fez-se de acordo coma importância das ilhas na economia insular e atlântica. Por estas razões vemos desenvolver­-se no século XVI dois portos importantes: Ponta Delgada e Angra, o primeiro para servir ocomércio do pastel e dos cereais de S. Miguel e o segundo para o apoio à navegaçãoatlântica. Além disso, em ambos existe uma clara intervenção nos circuitos de redistribuição eescoamento do mercado açoriano e2

)

Tal como na Madeira, no arquipélago das Canárias o movimento de cabotagam estádificultado pelas condições geo-climáticas da área e3

) ; não obstante este meio era preferidoao terrestre, pois o transporte de produtos dentro das diversas ilhas fazia-se habitualmentepor mar e4)~ por isso o cabildo de Gran Canaria e Tenerife apostavam mais na construção ereparo dos portos locais de cabotagem do que nos caminhos de penetração.

Lobo Cabrera refere que o mundo do mar galvanizou os canários e que essa navegaçãomarítima surgiu e se alicerçou nas pescarias, no comércio de cabotagem e de longadistância es). O mesmo autor define ao nível das infraestruturas portuárias dois tipos deportos, de acordo com o seu vocacionamento: portos de destino e de despacho; aliás,adquiriram variadas designações, de acordo com a dominância de determinados sectores deactividade e das áreas geográficas com que se relacionavam.

A existência desta variedade de portos nas Canárias não implica uma acção descentra­lizadora dos circuitos comerciais, pois tanto em Tenerife, como em Gran Canaria surge umporto que se afirma com entreposto ou área charneira, para onde convergem os rotas decabotagem e donde divergem os circuitos dos principais produtos, como o açúcar ecereais e6

) . Assim em Gran Canaria o Puerto de Las Isletas e de la Luz..em Tenerife oPuerto de Santa Cruz e Garachicojj"). Nos registos de fretamento do século XVI (1507-

tempestade, se afastam da costa e se metam ao mar para evitarem o perigo, o que não se poder fazer na Terceira, epor causa disso os navios de frequência vão à ilha de S. Miguel .. (..História da navegação do Holandes 1. H.Linschot .. , B.l.H.l.T.. I. 1943, 154-155). Gonzalo de Murga (Derrotem dei arquipélago de las Azares oTerceras, Madrid, 1866) refere que «los Azares son tierras de serrania muy alta, cuya configuración es varia eraral ... I las costas terminam en general por bananas ó fontones cortados a pique y de rnucha elevación, a cuyopié rara vez aparece playa de arena. Además todo el archipélago carece de puertos y fondeadores abrigados, lomal prejudica mucho a su comercio. Para levasse generalmente es preciso aprovechar [os terreles ... Por sua parteLuis Bernardo d'Athayde (Reminiscências da vida antiga em S. Miguel. Ponta Delgada, 1921, 168-176) refere queo mar influencia a definição e vivência do ilhéu sendo « para o açoriano, motivo de maior encanto e a maisdeslumbrante das maravilhas .. (p. 171).

e1) Em 1565 justificava-se o concerto do cais de Ponta Delgada "por ser hum dos principais portos dasilhas dos Açores e onde concorrem muitas armadas e navios asy de meus reinos como de fora deles .. (L. o deregistos de alfandega de Ponta Delgada, 1568-1603, fi. 242 v. o, cit. por Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto dePonta Delgada e o comércio açoriano no século XVJl ( ... ), p. 77)

(22) Veja-se Alberto Vieira, A questão cerealífera fIOS Açores I ...1, 167-168; Maria Olímpia da Rocha Gil,O arquipélago dos Açores no século XVII. p. 252.e3 ) Pierra Chaunu (Séville et l'Atlantique, t. VIII, vol. I, p, 358) comenta a propósito: "Mais d'ile, de porlcn port, de cabotage est aussi malaise. Les Canaries - c'est le sont souvent des archipels à la cohésion médiocre_ cornmuniquement mieaux ave c I'Espanhe ou les Indes, qu'elles communiquement entre elles ... Veja-se MariaLuisa Fabrel1as, "Naves y marinas en los comienzos hispanicos de Tenerife», in Revista de História, n.? 105-108(\954),38-39; Manuel Lobo Cabrera, «El mundo de! mar en Gran Canaria I ... 1», in A.E.A., n." 26 (1982),322-327; Alejandro Cioranescu, História de Santa Cruz, I (1977), 218-223; Carmen Calero Martin, ob. cit.,pp. 7-10.

(24) Fernando Clavijo Hemandez ccLos documentos de fretamentos/ .. .1», in C.H.C.A" vol. I, 1980, p. 44.es) ob, cit.. 322-327.e6 ) Ibidem; Pierre Chaunu ob. cit., t. VIII, vol. I, p. 360, nota I.(27) Ibidem; t. VIII, vaI. i, p. 361, nota 4 a 7; Maria Luisa Fabrellas, ob. cit., p. 38-39; Alejandro

Cioranescu. oh. clt., I, p. 218-223. Este último refere que ..el puerto de Santa Cruz es la obra politica dei cabildo,en lucha mas bian en la colaboración con el1a.. (Ibidem. p. 220),

47

AI. Porto de exportação

Rotas de Comércio inter-ilhas

Rotas de cabotagem

Porto de cabotagem

Graciosa

ROTAS E PORTOS DE COMÉRCIO NOS AÇORES

~puerto de La Estaca

~

La

Lisboa, Cádiz, Anvers, Génova, Funchal, Faial AI. 1 I I

I /

I)~~:::::::::;a~s:i-... Lisboa, Cádiz, Barcelona, Génova, Flandres, Funchal ~ I

I I

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Portos Cabotagem

@ Portos exportação

Rotas exportação

ROTAS E PORTOS DE COMÉRCIO NAS CANÀRIAS Rotas cabotagem

-1551), já publicados, esta situação surge com certa evidência: No global temos 64% comorigem em Santa Cruz e 26% em Las Isletas, sendo apenas 10% dos restantes portos deGran Canaria e Tenerife es).

A partir dos principais portos processa-se todo o movimento comercial da ilha, pois osportos secundários apenas surgem como escalas intermédias para se proceder à carga; elasaparecem em 33 % dos fretamentos em causa, circunscrevendo-se aos portos de Taganana,Sardina, Agaete , Garachico, Abona, La Orotava e Taoro.

Por vezes as embarcações de cereal ou de açúcar para exportação faziam o circuito decabotagem para carregarem o produto, voltando depois aos portos de Las Isletas ou SantaCruz donde seguiam o rumo definido. Em Tenerife , das quarenta e sete embarcações saídasde Santa Cruz, entre 1507 e 1520, seis fizeram esta escala nos portos de Taoro, Abona,Garachico e Taganana. Em Gran Canaria apenas se verifica a escala na rota nos portos deAgaete e La Orotava, mas sem o retomo ao ponto de partida. De um modo geral nesta ilhaas referidas embarcações não fazem qualquer escala de carga, pois ao porto de Las Isletasvinham parar todos ou quase todos os quantitativos de açúcar de exportação.

Nas restantes ilhas do arquipélago os portos existentes serviam apenas o movimento decabotagem, fazendo escoar os seus produtos para os principais centros de comércio em LasPalmas e Santa Cruz. Apenas as ilhas de La Palma e Gomera contrariam esta tendência,mercê da sua actuação como portos de escala para as naus das rotas atlânticas e9

) .

A construção naval

Sendo o mar o meio de comunicação mais usual e importante da comunidade insular,teremos de admitir que a construção naval tenha aí adquirido grande relevo; ela surge nãoapenas com a finalidade de assegurar o fornecimento de embarcações de cabotagem, mastambém para dar apoio à navegação atlântica, no reparo das embarcações fustigadas pelosacidentes ou pelas tempestades oceânicas.

Os estaleiros de construção e reparação naval proliferavam nas principais ilhas do meioinsular, sendo esta actividade transformadora regulamentada e apoiada pelas autoridadeslocais e centrais, que, por exemplo, asseguravam as licenças necessárias para o corte dasmadeiras e definiam as dimensões e capacidade das embarcações a construir.

As madeiras da ilha da Madeira foram muito apreciadas no século XV na construçãonaval, no reino e na ilha eo). O seu uso imoderado nestas e noutras actividades conduziu àpaulatina desarborização da ilha, pelo que as autoridades concelhias actuaram no sentido dadefesa do parque florestal madeirense, restringindo o uso das madeiras a sectores essenciaisda vida local e1

) . Deste modo proibiu-se a exportação de tabuado e limitou-se a construçãonaval à construção de caravelões a barcas «pera serviço e maneo das cousas e negocias daylha ... » (32). Em 1515 especificava-se que a madeira apenas deveria satisfazer as necessi­dades da pesca e carreto, sendo interdita a sua venda para forae3

) . Por esta razão em 1541

CZB) Vejam-se quadros n. os 12 e 13.(29) P. Chaunu, oh. cir., VIII, voI. I, p. 364, nota 295; A. Cioranescu, Thomas Nichols / ... l , La Laguna,

1963, p. 118. Thomas Nichols, em 1583, referia a propósito que «Esta isla tíenc uma ciudad propria lIamadaGomera, que tiene un puerto a obra muy para navios endonde muchas veces las armadas que von a las Indiastoman refrescos para su viaje".

eo) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, Ponta Delgada, 1968, p. 84; A. Sarmento, A Madeira e aspraças de África. Funchal, 1932, pp. 39-41.

e1) Fernando Augusto da Silva, «Madeiras", in Elucidaria Madeirense, II, 1949. pp. 323-324.

(32) A.R.M.• C.M.F" Registo Geral. t. I, fls. 299 v.0-300. Lisboa, 4 de Maio de 15403, publ. in A.H.M"XVIII. 440-44 I.

e3) Ibidem, t. I, fls. 123-126, Almeirim, 5 de Março de 1515, «Regimento dei Rey nosso Sefior açerqua de

cortar madeyra e lenha e outras cousas". publ. in AR.M., XVIII, pp. 563-564.

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é incriminado André Lourenço, mestre de moinhos de açúcar em Santa Cruz, por terconstruído uma embarcação de maiores dimensões do que as permitidas no regimento C4

) .

OS estaleiros de reparação e construção naval da Madeira situar-se-iam no Funchal,principal porto da ilha e em Machico sede da capitania norte, onde as madeiras eramabundantes CS).

Nos Açores promovera-se, desde o início da sua ocupação, a construção naval C6) .

Esta actividade ganhou importância nos séculos XV e XVI, nomeadamente nas ilhas deS. Miguel e Terceira r'"). Gaspar Frutuoso na sua crónica das ilhas refere-nos a existênciade vários estaleiros de construção naval em S. Miguel: Fenais da Luz, Porto Formoso,Lagoa, Porto dos Bateis, Ponta Delgada e Povoação C'"). Para a Terceira alude apenas aosestaleiros de Porto de Pipas e Prainha, dizendo que na cidade de Angra eram cinquenta oscarpinteiros de ribeira C9

) .

Este numeroso grupo de estaleiros, apenas nas duas ilhas, atesta a importância que estaactividade assumiu nos Açores no século XVI. No entanto as dificuldades no fornecimentode madeiras conduziram à sua delimitação em 1594, altura em que se restringiu a suaconstrução apenas a embarcações até 40 toneladas e, ao mesmo tempo, se interditava a suavenda para fora (40).

Nas Canárias a construção naval teve idêntico relevo nas actividades transforma­doras (41). A riqueza de madeiras e as necessidades da navegação de cabotagem e das rotasatlânticas fortaleceram esta arte. Mas num segundo momento as dificuldades no abaste­cimento de madeiras e pez, em consonância com os problemas de desarborização, conduziramà sua limitação. Os cabildos de Tenerife e Gran Canaria passam a controlar o corte demadeiras mediante a passagem de licenças (42).

As limitações impostas à construção naval nesta ilhas conduziram à aquisição deembarcações nos estaleiros navais da Península. Assim, no caso das Canárias, maispropriamente em Tenerife, há notícia da compra de vinte e sete embarcações, na sua maioria~ Portugal. O preço destas variava de acordo com o tipo, a tonelagem e a capacidade daembarcação (43).

e4 ) Carta de perdão de D. João III de 27 de Junho referenciada por A. Sarmento, ibidem, p. 41.(35) Gaspar Frutuoso (ob. cit .. p. 204) refere-nos a construção. em finais do século XVI, de uma galé com

17 remos por bordo, em Machico. por ordem de Tristão Vaz de Veiga para uso na defesa da costa.e6 ) O almoxarífado dos Açores de 2 de Julho de 1437 dizia: «Quem nessa ilha fizer algum navio ou navios

a mim me praz de lhe quitar a dízima do taboado, e madeira que por eles fizeram. e isto enquanto a mimaprouver .. (F. F. Drummond, Anuis da ilha Terceira, .1. pp. 167-168). Veja-se Luis Bernardo Leite d' Athayde,Notas sobre arte, 1915, pp. 176-178); Francisco Carreiro da Costa, «Antigos estaleiros navais dos Açores » , in AIlha. n.? 1600,6 de Outubro de 1962; Miguel de Figueiredo Corte Real, A construção naval da Ilha de S. Miguelnomeadamente na Ribeira da Povoação fIOS séculos XVI e XVIl. Ponta Delgada, 1982, pp. 7-19; José Augusto doAmaral Frazão de Vasconcelos. Leandro Raiz. construtor naval micaelense dos séculos XVI e XVIl. Lisboa. 1962.

(37) Luis Bernardo Leite d'Atahyde, ibldem; Idem, Reminlscencias da vida antiga em S. Miguel, PontaDelgada, 1929. pp. 61-79; Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica do povo dos Açores.., in Obras de História,Angra do Heroísmo, 1983, p. 75.

eB) Saudades da Terra, L.0 IV, caps. XXXI. XXXIX, XLIV, XLVII, LXXVII.e9 ) lbidem, L.0 VI, (1963), pp. 23-24; Urbano de Mendonça Dias. História dos Açores. p. 172.(40) 1..03 da alfandega de Ponta Delgada, fls. 9 v.P-If). 28 de Abril de 1594, publ , por Luis Bernardo Leite

d'Athayde, Notas sobre arte, pp. 178-179.(41) P. Chaunu, lbidem, VIII, vol, i, 367-369 e 355; E. Aznar Vallejo , ob. cit .. 331-332; Manuel Lobo

Cabrera, El mundo dei mar en Gran Canaria / ... l , 318-322; A. Cioranescu, oh. cit.. I, 244-245.(42) Em I de Julho de 1623 o juiz Gallinato solicitou licença ao cabildo para o corte de maneira de pinho e

pau branco a fim de mandar construir uma caravela e um barco de pesca (Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV,n.O 399. p. 210).

(43) Manuel Lobo Cabrera, ob . cit., pp. 310-313.

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Preço das embarcações século XVI

LOCALIDADE DATA TIPO DE EMBARCAÇÃO PREÇO

Tenerife 1507 Caravela 46 ducados1509 Caravelâo 22,5 ducados1510 Caravela 240 fanegas de trigo

chalupa 300 fanegas de trigo1/2 caravela 110 ducadosnavio 190 ducadosnavio 40 ducadoscaravela 80 ducados

1518 1/2 caravela latina de 60 tonel. 60 ducados de ouro1519 navio redondo de 60 toneladas 520 dobras

Funchal 1520 batel 277 ducadosTenerife 1526 navio português 145 dobras

1529 1/2 caravela 90 dobras1553 1/2 navio português 80 ducados1546 nau 3500 ducados1553 caravela de 30 toneladas 180 ducados

1/2 navio de 70 toneladas 200 dobras1/2 caravela de 35 toneladas 150 ducados

1554 2/3 navio com aparelhos 115 dobras de ouro2/3 caravelão 60 ducados

1555 navio de 55 toneladas 550 ducadoscaravela 450navio de 35 toneladas 300

1556 naveta 140caravela 400caravela latina de 60 toneladas 800caravela de 55 toneladas 350.. 1592 navio de 40 toneladas 1100navio de 40 toneladas 1100

1596 barco de 75 toneladas 3500

o frete

o contrato de frete, lavrado junto do notário sob a forma de carta de fretamento ouconhecimento, definia as formalidades do contrato, a capacidade e o volume da mercadoriaa carregar, os portos de destino e de escala, o tempo de demora e a forma e o local depagamento, O seu preço era estabelecido de duas formas: no global ou de acordo com atonelada, pipa, caixa ou carga. Variava de acordo com uma diversidade de factores:finalidade e destino da viagem, tonelagem da embarcação e a carga a transportar (44);juntavam-se-lhes variações sazonais e anuais (45). O pagamento fazia-se à altura do embarquena moeda da terra, ou no porto de destino.

Nas Canárias os contratos de frete, com o objectivo de resgate e comércio na costaocidental africana adquiriram outra forma. Assim, a embarcação era fretada na totalidadepor períodos de um mês, ficando o fretador sujeito ao pagamento das averias, da soldada e

(44) Fernando Clavijo Hernandez, -Los documentos de fletamentos / ... l , IV C.H.C.A" 1,45-46 e 51;Idem. Protocolos dei escrlbano Hermán Guerra, Tenerife, 1980, pp. 21-23 Manuel Lobo Cabrera, EI mundo deimar en Ta Gran Canaria / .. .l , 307, 310: Idem, Protocolos de Alonso Gutiérrez, Tenerife, 1979. p. 37: MariaOlímpia da Rocha Gil, ..Açores. Comércio e Comunicações nos séculos XVI e XVIf". in Arquipélago, sérieCiências Humanas, IV. ([983) 349-415.

(45) O preço de frete variava consoante a estação do ano e com o decorrer dos anos. No percurso de SantaCruz de Tenerige e Cádiz o frete custava. em 1509. 300 maravedis por tonelada, passando em [522 para o dobro(F. Clavijo Hernández, ibidem, 45-46).

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do mantimento da tripulação. O frete variava entre os cinco mil setecentos e sessenta e ostrinta e cinco mil trezentos e setenta maravedis.

Ao nível do movimento de cabotagem o custo do transporte dos produtos variava deacordo com a distância, a mercadoria e o período do ano em que se assentava. Na Madeira,em 1503, o frete de um batel para ir aos lugares de baixo (Calheta-Ponta de Sol-RibeiraBrava) orçava os trezentos e cinquenta reais, passando em 1516 para quatrocentos reais (46).E em 1505 o transporte de passageiros entre a Ribeira Brava ou Calheta orçava os cento ecinquenta reais cada (47). O aumento significativo do seu custo só se fazia sentir nas ligaçõescom a costa norte, mercê da demora e das dificuldades do percurso. Em 1517, por exemplo,o transporte de um mastro de barbusano ao Funchal ficou por dois mil e quinhentosreais (48).

Toma-se possível em 1591 a comparação do tarifário dos serviços de cabotagem naMadeira e nos Açores, mercê do registo de despesa da visita do inquisidor do Santo Ofícioàs Ilhas:

Preço do transporte do inquisidor cm 1591

ITINERÁRIO

Funchal - MachicoMachico - Santa CruzCalheta - Câmara de LobosSanta Cruz - FunchalFunchal - CalhetaCalheta - Porta de SolPonta de Sol - Ribeira BravaFunchal - do Calhau ao NavioFunchal - Ribeira GrandePonta Delgada - Vila FrancaS. Miguel - TerceiraTerceira - Lisboa

Fonte: A.N.T.T., Inquisição de Lisboa. 146-6-287. fls. 63-74 v.O

PREÇO

800 reais360 reais1000 rs600 rs1570 rs1000 rs500 rs300 rs70000 rs600 rs25 680 rs70000 rs

Saliente-se que os trezentos reais que em 1505 davam para uma viagem do Funchal àCalheta, em 1591 apenas dão para despesas de transbordo no calhau do porto do Funchal.Esse percurso ficará então por cinco vezes mais (49).

Nas Canárias há, igualmente, conhecimento do custo do frete no comércio de cabotagementre as diversas ilhas do arquipélago, nos anos de 1509 e 1523:

Preço do frete nas Canárias

DATA

15D9-XI-161511-IX-41517-1II-141521-VII-21523- V-3D

1523-Vi-301523-XII-26

PERCURSO

Santa Cruz - IsletasSanta Cruz - GomeraAgando - La PalmaSanta Cruz-Tangana-TeldeSanta Cruz - Lanzarote

Jerez - Gran CanariaIsletas-Orotava-Gáldar

FRETE

1 1/2 real/caixa6000 rnrs10 250 mrs500 mrs/pauI 1/2 real fanega35 mrs/quintal47 dobras ouro24 dobras ouro

MERCADORIA

1000 caixas500 fs de trigo2 barcas pedra e cal200 xaprões madeira300 fs de trigo e300 t. biscoito47 bolas de vinhomadeiras

Fonte: F. Calavijo Hemandez, "Los documentos de fletamentos ..... , 56-75.

(46) A.N.T.T.• C.C .. 1I-7-16. 18 de Janeiro de 1503, mandado do contador da fazenda para o recebedor soalmoxarifado da alfândega; Idem, Ibidem, 1I-66-66, 30 de Setembro de 1516. mandado do provedor de fazenda.

(47) Idem. N.A, n.? 903 B, fis. 13-16.(48) Idem. C.C .. 1I-69-144, mandado de 12 de Maio de 1517.(49) lbidem, II-69-71, 25 de Abril de 1517.

53

As relações entre os três arquipélagos eram assíduas, mercê dos contactos estabelecidospara o transporte de produtos e passageiros. Entre as Canárias e a Madeira mantem-se umarota de fornecimento de pez e trigo. Os custos de transporte de pez variavam entrequinhentos e setecentos maravedis a tonelada e do trigo entre trinta e três e quarenta e cincomaravedis o quintal. No global o frete do navio oscilava entre os doze mil e os dezassete mile quinhentos maravedis. Note-se que em 1511 se mantinha o mesmo preço por tonelada decevada a exportar para o Funchal e Faial. O trigo açoriano com destineao Funchal eraonerado entre mil e mil e seiscentos e cinquenta reais por tonelada.

Preço do freie na Madeira

DATA

1509-XI-15151O-II-261511-VI-71511-VII-71520-VII-31I523-I1I-2 1

1524- VIII-161552- VI-201552- VI-211552-VII-II1591

ROTA

Santa Cruz (Tenerife) - FunchalSanta Cruz (Tenerife) - FunchalSanta Cruz (Tenerife) - FaialSanta Cruz (Tenerife) - FunchalSanta Cruz (Tenerife) - FunchalSanta Cruz (Tenerife) - Funchal

Angra-FunchalAngra-FunchalAngra-FunchalAngra-FunchalFunchal-Ribeira Grande

FRETE

12000 mrs33 mrs/fs., qt.500 mrs/tonelada500 mrs/tone1ada271/2 ducados700 mrs fanegas e45 ao quintal700 mrs toneladaI 000 reaisI 450 reais1 650 reais70000 rs.

MERCADORIA

Pez300 qts pez e 40 gts de trigo200 fs. trigo e 100 de cevada1000 fs. cevadatrigo e passageiros130 fs trigo e400 fs. dc pez600 fs. de trigotrigotrigotrigoInquisidor

Fonte: F. CaIavijo Hernandez, Ibldem; Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidem, A.N.T.T., Inquislção de Lisboa.ms 146-6-287.

Nos contactos com o exterior o preço do frete variava de acordo com o porto do destinoe o número de escalas intermédias. Assim, da Madeira e dos Açores ao reino o frete custavaem 1591 setenta mil reais. Das Canárias para o mesmo destino ele poderia oscilar, em1520-1521, entre os quatrocentos e sessenta maravedis por tonelada para Lisboa e Setúbal eos quinhentos para Aveiro (50). De Tenerife para Castela, em 1510-1511, o frete variava entreos seiscentos e cinquenta maravedis para Galiza e os quinhentos e cinquenta e quatro paraCádiz (51). O açúcar transportado desde Las Isletas até Cádiz era contabilizado a quatro reaisde prata em 1511,e seis e meio em 1572, à caixa. Para Génova ficava em um ducado deouro a caixa (em 1519), chegando a atingirem 1531 a quantia de quinze reais de prata. ParaAnvers o seu preço cifrava-se, em 1533-1534, em cinco ducados ouro.

Meios de pagamento

A:J moeda e os usuais meios de pagamento são um factor importante e activador domovimento de troca. Aliás o progresso da actividade comercial depende, em últimainstância, de situação monetária e das condições de crédito C"). No caso concreto das ilhas

(50) Manuel Lobo, Protocolo de Alonso Gutiérrez, p. 37.(51) F. C1avijo Hemández, Protocolo dei escribano Herman Guerra. p. 21-23.(52) CF. Kristof. Glamann, «El comercio europeo (1500-1750)" in Historia Economica da Europa (2) siglos

XVI Y Vil. Barcelona, 1981, 397-409: Frédéric Mauro, ob.. cit.. pp. 395-432: Eduardo Aznar Vallejo, oIJ. cit ..334-337; Miguel Angel Ladero, Espana em 1492. Madrid, 1979,215; Enrique Otte, «Canárias: plaza bancariaeuropea 1 .. .1, ln IV C.H.C.A., I, 159-165; A. Cioranescu, 'História de Santa Cruz, 1,273-277; José Gentil daSilva, ..As ilhas dos Açores e os metais preciosos e a s\jculação monetária I . . . I" in Os Açores e o Atlântico(séculos XIV-XVI/), Angra do Heroísmo. 1984, p. 596-61j.,

54

atlânticas, onde se afirmará uma economia colonial, o instrumento de troca tem uma acçãoprimordial na estrutura económica insular.

A moeda e seus substitutos são necessários para a compra de manufacturas deimportação e aquisição dos bens essenciais de que a sociedade insular carece, pois osprodutos dominantes não perfazem nem contrabalançam essa entrada, A situação monetáriadas ilhas não se apresentava diferente. pois que em todas é dominante a falta do metalamoedável e da sua circulação. Esta é. assim, a característica dominante da sociedadeinsular, que condiciona de modo vincado as operações financeiras e contribui para oentorpecimento das relações de troca,

Esta falta crónica de moeda tornou necessária a criação de novas formas de pagamentoe condicionou o aparecimento de novos instrumentos de troca, Assim, ter-se-ia generalizadonestas ilhas o pagamento em géneros, a troca produto a produto e, em circuitos maisamplos, o crédito, a letra de câmbio e o trespasse de dívidas,

Como medida padrão do sistema de troca produto a produto vigora em cada área e emcada época o produto ou produtos dominantes e mais importantes em termos sócio­-económicos, Este câmbio-vertical da moeda apresentava-se muito prejudicial aos insulares,uma vez que os mercadores nacionais e estrangeiros. que detinham o controle dos circuitosde importação, apresentavam os seus produtos a um preço mais favorável em relação aosprodutos de troca locais: pastel, trigo e açúcar. A dominância desta tendência monoculturale a dependência dela decorrente em relação ao mercado externo contribuiram para o reforçoda posição estrangeira, o aumento especulativo dos produtos e Ifas suas transacções, e oagravar da situação financeira.

A moeda corrente nas ilhas era a mesma do mercado hispânico continental. As coroasde Portugal e Castela mantiveram sempre como privilégio seu a cunhagem da moeda (53).Esta situação não invalida a existência de cunhagens especiais com destino às ilhas, bemcomo a circulação uniforme de moeda portuguesa e castelhana nos três arquipélagos. A,primeira situação surge apenas nas Canárias em 1511 e 1513 com a cunhagem da moeda emSevilhat'"); a segunda aparece desde os primórdios destas sociedades como resultado dasinterconexões sócio-políticas e económicas dos três arquipélagos. A moeda de pratacastelhana, porque se apresentava como a moeda forte, alastrará a todo o mundo atlântico,dominando todas as relações de troca; circulou com abundância no mercado madeirensedesde princípios do século XVI (55). As autoridades locais tendo em atenção essa situaçãoregulamentaram desde meados do século o seu valor corrente. que passaria a ser de trinta eseis reais (56). Nas Canárias, ao invés, circulavam os ceutis portugueses, que invadiam omercado financeiro canário em face da valorização da moeda de ouro e prata espanhola (57);as transacções do mercado interno implicavam a existência de uma moeda fraca e o ceutilportuguês era a mais indicada. .

As questões e soluções adequadas para o sistema financeiro insular não er~ um~or­mes; pelo contrário, entre as ilhas portuguesas e espanholas apresentavam-se assímetnas.Assim, enquanto nas Canárias se procedia à valorização da moeda (1500-1509, 1521), comoforma de assegurar a estabilidade do mercado financeiro, na Madeira e nos Açores,

(53) O donatário das ilhas portuguesas não tinha o direito de cunhar moeda, pois D. Duarte, na doação de 26de Setembro de 1433, o reservara para a coroa. Fernando Augusto de Silva «Moeda» in Elucidaria Madeirense. /I

(1945), 377; Bernardino José de Sena Freitas, "Memória Histórica sobre a moeda nos Açores .. , in Arquivo dosAçores. IX (1887),292-413. A moeda castelhana vinha de Sevilha; veja-se Eduardo Aznar, Documentos Canarios/ ... / n.? 962, p. 193, Valaladolid, la de Maio de 1513.

(54) Eduardo Aznar Vallejo, La integraclán de las islas Canarls en la corona de Castilho f . ,./. 334.(55) José Madurell Marimón, «Los Seguros rnaritimos y el comercio en las islas de la Madera y Canarias ..,

in A.E.A .. n.? 5, 507-509, II de Abril de t500, seguro marítimo para transporte de moeda de Andaluzia àMadeira a troco de açúcar.

(56) A.R.M., C.M.F.. n.? 1309, fls. 85 v.0-86 v.", 30 de Dezembro de 1500.(57) Eduardo Aznar Vallejo, ibidem, 335; A. Cioranescu, Ibidem, I, 275.

55

mercê de política financeira portuguesa, actuava-se no sentido inverso, com consecutivasdesvalorizações (58).

A incidência da questão financeira no mercado insular foi igualmente preocupação dosmunicípios, que intervinham no sentido de assegurar a estabilidade do mercado monetáriolocal, procurando colmatar os problemas derivados da urgente falta de moeda. Em Tenerife,desde finais do século XV, o respectivo cabildo , definiu a sua política financeira, queassentava nas seguintes directrizes:

(li Açúcar mercadoria de troca na Madeira1508-1509

MERCADOR DATA AÇÚCAR/DINHEIRO MERCADORIA

João Francisco Affaitati 1508

I 326 arrobas e 22 arrateis

II 470 arrobas e 19 arrateis

1I 470 arrobas e 19 arrateis

8 282 arrobas e 27,5 arrateis10 000 arrobas

143 arrobas e 14 arrateis40 000 arrobas

659 524,5 reais de açúcar273 908 reais de açúcar979 818 reais de açúcar988 arrobas e II arrateis6000 arrobas

454 quintais, 2 arrobas e 6 arrateisde pimenta

454 quintais, 2 arrobas e 6 arrateisde pimenta

dívidas diversas198 quintais, 17 arrobas e 4 arrateis

de pimentamercadoriamercadoriamercadoria de latão e cobremercadoria de latão e cobre240 quintais, 3 arrobas, 19 arrateis

e 3 onças de pimenta47 340 reais de pimenta2 636 quintais, 2 arrobas, 6 arra-

teis e 2 onças de pimenta12 000 arrobas trato de tenças e casamentos12 000 arrobas trato de tenças e casamentos7 936,5 arrobas trato de tenças e casamentos12000 arrobas e a dízima de saída476 quintais, 2 arrobas, 6 arrateis

e 2 onças de pimenta199 moios de trigo

15081508-1509

1509-1510

1509

15071506150815091509

1508150915101508

1505Hutra Deli Rio

Lucas Rem

Rui FreireMarchionni

Tristão da Cunha

Claaes

'Álvaro Pimentel

- aumento da produção da riqueza local por meio do incentivo à produção com valormercantil,

- incentivo à fixação de artesãos como forma de contrabalançar o movimento de trocacom o exterior, considerado a principal causa de sangria monetária,

- dinamização e institucionalização do sistema de trocas por produtos (cereais,açúcar) de acordo com um tabelamento de preços pré-estabelecidos nas posturas eacórdãos,

- obrigatoriedade dos mercadores efectuarem os seus pagamentos em moeda e dearrecadarem as dívidas locais em produtos, de acordo com o preço estabelecido,

- proibição de saída da moeda (59).

Em finais do século XV e princípios do século XVI o cabildo ordena que os cereais e ogado sejam considerados como moeda de troca, tendo os mercadores de os aceitar a troco

(58) Eduardo Aznar Vallejo,La integración de las lslas Canarias en la carona de Castilla, 335-336: MariaJosé Ferro Tavares, "A moeda de D, João II aos Filipes (1481-1640)" in História de Portugal, IV. 1984.273-290.Na Madeira em 1568, segundo ordenação régia, o real sofreu uma quebra de 70%: veja-se A.R.M., C.M.F.,Registo Geral, 1. m. fls, 133 v.o-134 V.O

(59) Eduardo Aznar Vallejo, Ibidem, pp. 52, 315 e 33-337: A. Cioranescu, Ibidem, I. 273-277: EnriqueOtte, Ib idem , 159-160; Elias Serra Rafais «Introduccion» in Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, II, pp. XV-XVI.

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dos seus produtos (60). A valorização sócio-económica do açúcar obrigou a uma novareformulação do sistema de trocas, passando este produto a actuar como medida, a partir de1508 (61). Nesse sentido poderá considerar-se que os cereais e o açúcar se mantiveram portodo o século XVI como os principais produtos e instrumentos de troca(62). Na Madeira enos Açores a situação financeira é idêntica e, de igual modo, os produtos dominantes terãouma acção fundamental na organização do sistema de troca. Os cereais, o pastel, o açúcar eo vinho surgirão em cada época como moeda de troca (63).

Na Madeira, a dominância de cultura da canasacarina até a primeira metade doséculo XVI, fará com que o açúcar seja utilizado como meio de pagamento no mercadolocal e internacional; o açúcar era usado não só no pagamento de soldadas e dos serviços delavra e safra açucareira, mas também para pagar o trigo e cevada importados dos Açores.A coroa, por vezes, servia-se dos seus réditos para fazer os pagamentos, em pimenta dacasa da Índia, das despesas da coroa e das comendas (64).

O lavrador e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do produto da sua safrapara o pagamento da mão de obra assalariada de que necessitavam. Entre 1509 e 1537 há

Pagamentos em açúcar na Madeira, 1509·1537

AlbardeiroAlfaiateAlmocreveBarbeiroBoticárioCaixeiroCaldeireiroCanavieiroFeitorFerreiroMestreMoleiroOrtelâoPedreiroPescadorPurgadorRefinadorSapateiroTacheiroTanoeiroTrabalhador

ASSALARIADOS NÚMERO

267[

1122171113I21612

15

ARROBAS

104,5

32,5463,5462

93,58319,52

11,5[

105,548

54,5

AÇÚCAR

MÉDIA

130,754,6446

3,5232

1383I365,75I17,5443,6

Fonte: A. N. T. Too Núcleo Antigo. Livros do quarto e quinto do açúear da Madeira. 1509-1537

(60) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, t. I, n.? 49,52,62,74, 112, 189,325,462,464, de 15 de Maio de1498 a 24 de Julho de 1503.

(61) lbidem, n." 685, 688, 713, 8 a 10 de Janeiro e I de Março de .1507.(62) O pagamento em espécie institucionalizou-se, sendo a prática eorrente e dominante em Tenerife e Gran

Cariaria. Segundo Gentil da Silva, entre 1509-1510, em Tenerife 32,5 % dos pagamentos foram feitos em moeda e68,5 % em espécie, sendo, destes últimos, 59.6 % em açúcar, 6,9 % em cereais, 0.6% em gado. (José Gentil daSilva. «Échanges et troe; l'exemple des Canaries au début do XVI" siécle», Annales, Economiques. Sociétés ,CivilisatÍons . .n." 5, 1691. 1003-1011. Clavijo Hernández (los documentos de fletamentos I ... 1, 33-41)., aoestudar as obrigações de pagamentos entre 1507-1511 e 1520-1523. conclui pela dominância destes produtos, com

especial saliência para os cereais.(OJ) José Gentil da Silva, As ilhas dos Açores e os metais preciosos I .. .1. 602-603; Veja-se Gaspar

Frutuoso, Saudades da Terra, L." IV, II, 18-23.(64) Fernando Jasmins Pereira, O a~'lÍcar madeirense I ... 1, pp. 61-91.

57

8

referência a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na lavoura e nalaboração do engenho e, mesmo, na compra de qualquer manufactura ou prestação deserviço artesanal.

Os pagamentos aos serviços da safra do açúcar atingem 31%, sendo 17% no cultivo eapanha da cana e o restante nos serviços, sendo dominados pelos sapateiros (28%) eferreiros (25%).

As obrigações do pagamento do trigo açoriano com açúcar surgem apenas entre 1509 e1519. No global temos 43% em moeda e 57% em açúcar(65). Neste curto período de dezanos movimentaram-se 946,5 arrobas de açúcar em troca de 235,5 moias de trigo, o que dáem média quatro arrobas de açúcar por maio de trigo, avaliado em cerca de mil reais.

Obrigações de pagamento do trigo dos Açores

AÇÚCAR DINHEIRO

NÚMERO REAISANOS

NÚMERO ARROBAS

1509 I 42151O 22 618 e 81511 22 288 e 241512 13 24 e 30151315141519 2

I40

I

35200

150001995459

65000

Esta característica da economia e das finanças das ilhas não era a mais convenientepara odesenvolvimento do comércio externo do mercado insular; para além de entorpecer oscircuitos de troca e de prejudicar os habitantes das ilhas e os estrangeiros, conduziu àpaulatina subordinação da economia ao mercado europeu que aí surgia em condiçõesvantajosas com as suas manufacturas. O ilhéu, não dispondo destas e perante a penúria damoeda, via-se obrigado a recorrer à venda antecipada e às hipotecas ou empréstimos. Destaforma os mercadores adquiriam as manufacturas a preços elevados e sujeitavam-se aentregar os cereais e o açúcar a preços inferiores.

Perante tal exorbitância dos mercadores estrangeiros, os municípios actuaram nosentido de regularizar a situação, traçando normas de conduta mais convenientes. Primeiroestabeleceram o preço porque deviam ser vendidos os produtos, depois coibiram osmercadores de tais práticas fraudulentas (66).

As dificuldades do sistema monetário não implicaram apenas os recurso à troca produtoa produto, mas de igual modo a procura de outras formas de pagamento substitutivas damoeda, então em voga na Europa: a carta ou letra de câmbio e o trespasse de dívidas emdinheiro ou produtos (67).

Segundo Enrique OUe, Las Palmas surge no século XVI como uma importante praçabancária, situando-se ao nível das de Medina dei Campo e Valência (68). Os genovesesdetinham aí a maior parte do movimento de cédulas.

(65) A.N.T.T., C.C .. II, Maços 5, 21-29, 33, 36-8, 41-43, 46, 79, 185.(66) Acuerdos dei cabildo de Tenerife I, n.? 356, pp, 33-34, 25 de Maio de 1509; Ibidem, IV, n.? 396,

p. 206, 15 de Junho de 1523: Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos paro o estudo da História económicada Madeira, pp. 149-151.

(67) Eduardo Aznar Vallejo, Ibidem, 336-337; A. Guimerá Ravina, "La financiacion del comércio deGarachico con las Indias (1566-1612).., in II C.H.C.A, I., 1977, pp. 266 e 274.

(68) Enrique oue, ob, cit., pp. 157-173.

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Na Madeira, como nos Açores, a letra de câmbio teve igual importância nas transacçõescomerciais com o exterior. Este meio de pagamento activou o trato do açúcar, sendo usualnas trocas com o reino, nomeadamente Lisboa (69). A existência de uma importantecomunidade de italianos e de flamengos, ligados ao comércio do açúcar com as principaispraças europeias, contribuiu para a generalização desta forma de pagamento. Os florentinos,experientes nas transacções financeiras, surgiram também com grande evidência, sendoparticularmente importante a acção de Feducho Lamoroto e de Francisco Lape(0).

Companhias e Sociedades Comerciais

A empresa comercial no atlântico, pelo investimento do capital que implicava, pelasdificuldades e longas viagens entre as principais praças, pelo risco constante a que sujeitavahomens e haveres, não poderia ser uma iniciativa isolada dos interessados. Apenas com umaredistribuição equitativa de capital investido, perdas e lucros, se toma possível a manuten­ção desta rede de negócios. Assim, especializam-se as tarefas e surgem os tratantes, ostransportistas, os seguradores e o societário. Ao mesmo tempo adaptaram-se a estemovimento as estruturas que fundamentam o comércio mediterrâneo-europeu. Surgem,assim,as sociedades comerciais, os contratos de frete e o sistema de seguros, a darcobertura a essa aspiração de segurança, estabilidade e expansão da burguesia comercial emarítima europeia (1).

A sua divulgação e institucionalização ficaram a dever-se aos mercadores italianos ealemães que chegavam às ilhas atraídos pelo comércio do açúcar, do pastel e da urzela. Jáinstalados nas praças de Lisboa, Sevilha e Cádiz, alargavam a sua acção às principaiscidades portuárias insulares: Funchal, Ponta Delgada, Angra, Las Palmas, Santa Cruz(Tenerife) e Garachico. Subestabeleciam as tarefas a desempenhar em familiares ouconcidadãos com o estatuto de societários, de agentes ou de procuradores. Os Welsers, porexemplo, tinham um feitor em Lisboa (Lucas Rem) e vários agentes subestabelecidos noFunchal e em La Palma (72).

A forma mais divulgada de associação e de aiargamento da rede de negócios foi acompanhia ou sociedade comercial, nas suas diversas modalidades. Estas definiam-se, deum modo geral, pelo seu carácter familiar, pela eventualidade da sua acção e por umacomposição variada de intervenientes, que investiam o seu capital ou o seu trabalho.

Geralmente são empresas familiares, servindo-se os seus componentes dos laços deparentesco para assegurar a permanência da sua acção, a solidariedade e comunhão de

(69) A.R.M .• Misericórdia do Funchal, L.? 710. fls. 234-236 v.", 26 de Junho de 1547, testamento deFernão Raiz mercador; Ibldem, L.°41, fls. 280-284, 24 de Outubro de 1559, procuração de Brás Pires a BaltasarGonçalves mercador; Idem L.0 de notas de João Tavira, fls. 43.45 v.", 6 de Setembro de 1597, auto de venda de

foros,eo) Feducho Larnoroto, mercador florentino. vizinho do Funchal, entregou em 1512 três letras suas novalor de 403 DOO reais a João Saraiva (A.N.T.T., C.C. 11-41-120); e em 1517 enviou sob a mesma forma., 10 000 rs. a André da Silveira (Iii idem• 11-71-131). Francisco Lape, igualmente florentino, passou uma letra de300 000 rs. a João Francisco Affaitati, que lhe foi entregue por Francisco Pessoa, tesoureiro do dinheiro do reino emoradias Ubidem, 11-7-77: 8-96). Temos, ainda em 1512. referência a duas operações de igual índole. a primeirade João Dias, mercador flamengo, residente no Funchal. que passou uma letra no valor de 100000 reais e asegunda de Nicolosso Justinhom, genovês, no valor de 106900 reais (lbidem, 11-41-120),

e') Kristo Glamunn, "E! comercio europeo (1500-1750)0. in Historia Económica da Europa (2) siglos XV/I' XVI/o Barcelona. 1981, 387-409 Valentim Vasqucz Prada, História ecollómicamundial l, Porto, 1977,302-312:'Maria Olímpia da Rocha Gil, ..Açores-Comércio e comunicações nos séculos XVI e XVII.., in Arquipélago. série

Ciências Humanas. IV. 1982, 351-357,(72) Maria Thereza Schorer, ..Notas para a história das relações dos banqueiros alemães, .. ". in Revista da

História, XV, S, Paulo, 1977, 277-355.

59

interesses (73). Quando tal se tomava impossível recorria-se aos compatrícios avizinhadosnas principais praças. Esta última forma surgiu com assiduidade na Madeira.

Não obstante as companhias familiares terem à partida uma tendência perdurável, demodo geral a associação de mercadores assume um carácter temporário ou eventual. Todasas companhias são formadas por um período determinado, e surgem com frequência nastransacções comerciais entre as Canárias a Andaluzia e as Índias (4): na Madeira assumem amesma condição definidas para a compra do açúcar das escápulas, dos direitos reais etambém para o arrendamento desses direitos por períodos determinados.

O relacionamento dos intervenientes nestas sociedades fazia-se de acordo com oinvestimento na empresa: capital e trabalho. Quando um dos societários apenas intervémcom o seu trabalho poderá ser definido como agente ou feitor (s). Por vezes esses laços sãode menor dimensão surgindo assim o procurador que, mediante documento notarial, actuasobre a fazenda do seu parceiro no mercado local, cobrando por isso uma determinadapercentagem (6). Ambas as situações aparecem com grande evidência na praça funchalense,enquanto nas Canárias se afirma com muita acuidade a segunda.

A rede de negócios funchalense, em tomo do trato do açúcar, foi criada e incentivadapelo mercador estrangeiro, alemão ou italiano, que aí apartou depois da reconfortante evantajosa escala em Lisboa; ele dominou as principais sociedades intervenientes no comércioaçucareiro, não obstante ter morada fixa em Lisboa, Flandres ou Génova (7); o seu domínioatingiu não só as sociedades criadas no exterior com intervenção na ilha, mas também ogrupo de agentes ou feitores e procuradores subestabelecidos no Funchal. A escolha destes écriteriosa; primeiro os familiares, depois os compatrícios enraízados na sociedade e, sódepois, os madeirenses ou nacionais.

Sociedades comerciais no Funchal. 1500-1540

SÓCIOS MERCADOAGENTES TOTAL

ORIGEMPROCURADORES

~_.'--_.- ..~"~"--

N.ll 'I, N,o C/r N." '7, N.Q 1J,

'--'-~-~-'-~--~-""-"-

Nacionais 22 42 12 44 3 13 37 36Estrangeiros 30 58 15 66 21 87 66 64Total 52 51 27 26 24 23 103

As principais casas intervenientes no trato açucareiro madeirense sob esta forma,podem ser definidas de acordo com o número de representantes, salientando-se entre elesBaptista Morelli, B. Marchioni,Welser, Claaes, Charles Correa, Pero de Ayala e Pero deMimença (vejam os quadros anexos).

Os Welsers e Claaes intervêm na praça do Funchal por intermédio de agentesestabelecidos em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasmo Esquet, que na ilhasubestabelecem feitores. O primeiro tinha como seus interlocutores no Funchal, em

(73) Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana con America en la época de Filipe II. I, Valladolid, 1979,159.

(4) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y lndias I., ,I» IV C,H,C,A" l, 134-135; Francisco MoralesPadron, «Cariarias en el Archivo de Protocolos de Sevilha» A.E.A .. n.? lO (1961), 253; Veja-se documenton.? 176 e 216; Eduardo Aznar Vallejo, ob. ri!" 337-338.

(5) Manuel Lobo Cabrera, lbidem. 134-136.(6) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII, Castelo Branco, 1979,

357-360.(7) Virgínia Rau e Jorge de Macedo, O açúcar da Madeira 1, .. 1, 29.

60

princípios do século XVI, João de Augusta, Bono Broxone , Jorge Emdorfor, Jácome!10lzbuck, Leo Ravenspurger e Hans Schonid. Os produtores e feitores, na sua condição demterlocut~res dos mercados europeus, não se ligam a uma única sociedade, mas distribuema sua acçao por um grupo numeroso de societários; e estes, por sua vez, não se prendem

30

25

20

15

10

O

iii Nacionais-

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~ Estrangeiros:'liI:~ ..~;'J :

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Sócios Mercadores Agente/Procurador

SOCIEDADES COMERCIAIS NO FUNCHAL. 1500-1540

apenas a um representante, pois fazem distribuir os seus poderes por um grupo razoável defeitores e procuradores. Na primeira situação distingue-se Benoco Amatori que representavaB. Marchionni, B. Morelli, Álvaro Pimentel e Jerónimo Sernigi, e, na segunda JoãoFrancisco Affaitati que, entre 1500-1529, estava representado por Gabriel Affaitati, LucaAntonio, Cristóvão BocoIlo, Capella e Capellani, João Dias, João Gonçalves, MatiaManardi, Mafei RogeIl e Lucas Giraldi (vejam-se os mesmos quadros).

61

Sociedades para o comércio do açúcar

DATA

1471-1473

1502

1520-1521152415261527

1530

153415351537

MERCADORIA

açúcar da produção local

escápulas mediterrânicas

direitosdireitosdireitosdireitos

direitos

direitosdireitosdireitos

SOCIEDADE

Martim Anes Boa Viagem, Fernão Nunes Boa Viagem, Fernão Pires,VicenteGil, Pedro Botelho, Álvaro Esteves, Batista Lomelim, FranciscoCalvo e Micer LeãoAntónio Salvago, João Francisco Affaitati, Jerónimo Sernigi, JoãoGrande Francisco CorvinelliJoão Francisco Affaitati e Jerónimo BicudoJorge Lopes Bixorda e Pedro de MinençaCharles Correa e Pedro de MinençaPedro de Ayala, João de Miranda, João de Odom, Diogo de Torres eNuno HenriquesBernardim de Medina. João Coquet, João Rodrigues Castelhano,João de Quintana e Afonso de SevilhaManuel Mendes e Gabriel FernandesTobias de Marim e Henrique NunesAfonso de São Victor e Henrique Nunes

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, O açúcar Madeirense ... 68-93

Sociedades para arrendamento dos direitos

DATA

1506-1508

1506-1508

1516-1518

MERCADORIA

quartos

alfandega

todos

SOCIEDADE

Martim de Almeida, Fernão Alvares, Benoco Amador, QuirinoCatanho, Alvaro Dias, Feducho Lamoroto, João Lombarda,Henrique VamduraMartim de Almeida. Benoco Amador, Onésimo Castanho, AlvaroDias. João Lombardo, Francisco Viola MarotoSimão Acciaioli, Lopo de Azevedo. Luis Doria, Benedito Morelli,Antonio Spinola, Duarte Fernandes, Gonçalo Pires Gregório Alvares

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, O açúcar Madeirense .... 68-93

Fora do âmbito do trato açucareiro formam-se companhias com objectivos definidos nocomércio ou transporte. Assim em 1597 Rodrigo Fernandes Saía de Veloso, mercador,morador no Funchal, contrata com Afonso Antunes, mercador, morador em Cabo Verde, ocomércio de chacina (B). Na mesma data surge uma nova sociedade entre Manuel VieiraJardim e António Gonçalves d'Araújo, para o transporte e venda de trigo da ilha de SãoMiguel (9). No sector dos transportes, área onde o risco era maior, existiam tambémcompanhias, em que intervinham mercadores e mareantes. Em 1597 referencia-se a vendade uma caravela pertença de uma sociedade composta por António Rodrigues Torzilho,Domingos António e Diogo Gonçalvez, a uma outra, composta pelos mercadores AntónioLopes de Vila Real e Manuel Gomes e pelo mareante Pero Vaz (BO).

O arquipélago açoriano, área privilegiada do comércio transatlântico, foi igualmenteatraído pelas sociedades europeias, portuguesas ou não, .que tinham os seus interessesnessa área; elas surgem aí, com muita frequência, interessadas nas riquezas locais ou nasque por aí passavam; estabeleciam contactos com a burguesia e aristocracia locais, que selhes associavam com o estatuto de agente ou procurador (Sl).

es) A.R.M., L.0 de Notas de João Tavira, fi. 2 v,o, 31 de Maio de 1597.e9

) Ibidem, fls. 18 v.0-22, 2 de Agosto de 1597.(so) Ibidem, fls. 24 v.0-25 v.", 24 de Julho de 1597.(81) Maria Olímpia da Rocha Gil, Ibidem, 557-560.

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Na praça de Angra fomos encontrar um mercador inglês, Thomaz Barnes, associado aum compatrício seu, com interesses nas Canárias (82). E, em Ponta Delgada, Afonso Armesde Chaves surge associado, em sistema de parceria, com Afonso Pires, vizinho e moradorno Porto (83); o primeiro comprometia-se a enviar ao Porto vinhos, vinagres, castanhas esardinhas, enquanto este lhe enviaria couro de cordovão e toalhas de mãos.

Nas Canárias as companhias não surgem apenas no sector comercial, pois esta forma deassociação alarga-se também ao sector produtivo e aos transportes (84); é de referir emespecial, no sector produtivo, a aquisição,em 1513, pelos Welsers, de importantes canaviaisem Tazacorte (La Palma), que depois trespassaram aos seus agentes, Juan Bissan e Jácomede Monteverde r"). Em Gran Canaria são frequentes os contratos de companhia entre oslavradores de açúcar e os mercadores ou mesmo entre os primeiros e os canavieiros (86).

As sociedades comerciais canárias actuam de modo diverso em três partes distintas ­mercado europeu nórdico e mediterrânico, no litoral africano e no litoral americano. Naspraças de Las Palmas, Santa Cruz e Garachico formam-se sociedades, compostas pormercadores locais e forasteiros, com o objectivo de comerciar nessas três partes. Geral­mente chegam aí a partir de Sevilha e Cadiz, as principais sociedades europeias quesubestabelecem o tratamento dos seus interesses em feitores ou procuradores (87).

Em 1518 forma-se em Cádiz uma sociedade para comerciar entre Castela e Tenerife,sendo composta por dois mercadores residentes nesta ilha, Juan Pacho e Gaspar Jorba, eoutro em Castela, mas com larga experiência no comércio canário, Lorenzo Garcia C").Quando ela termina, em 1520, dois dos seus intervenientes, Juan Pacho e Lorenzo Garcia,criam nova sociedade por quatro anos (89). O êxito destas iniciativas, bem como apossibilidade de alargamento da rede de negócios à Flandres e Berberia, fê-los fundar em1533 uma nova companhia, conjuntamente com Lucas deI Burgos e Diego Rodrigues eo).

Com os mesmos objectivos surgiu em 1536 outra companhia, fundada por trêsmercadores de Barcelonar'"); pretendiam comerciar o açúcar das Canárias e escravos, tendoCádiz como centro de redistribuição. A estes seguiu-se, em 1574, nova iniciativa demercadores de Barcelona com idêntico objectivo (92).

Nesta trama de relações comerciais entre a Andaluzia e as ilhas Canárias dominam,acima de tudo, as companhias de familiares, em que se conjugam os laços de parentescocom os comerciais. As principais famílias italianas, flamengas e andaluzas, organizadas ounão em sociedade, subestabelecem familiares seus nas principais praças destas ilhas,nomeadamente em Las Palmas, Garachico e Santa Cruz. Aí encontramos os Sopranis,Coronas, Veintinigla, etc. (93).

(82) B.P.A.P.D., Livraria Ernesto do Canto, Extractos de Documentos Micaelenses, vol. IV, p. 28, 26 deAgosto de 1549, testamento de Thomaz Bames.

(83) Idem, Escrituras 1518-1599, n." 9, Porto, 16 de Abril de 1518, carta de quitação.(84) Eduardo Aznar Vallejo, ibldem, 338.(85) Ihidem, 351, nota 177; José Peraza de Ayala, "Historia de la casa de Monteverde», in Nobiliario de

Canárias, II, La Laguna, 1959, 491-579; Manuel Lobo Cabrera, "Los Vecinos de Las Palmas y sus viages depesque ria 1...1" III C.H.C.A., II, 1978, 471.

(86) Guilherme Camacho y Perez Galdós, «El cultivo de la cana de açúcar I ... I" in A.E.A., n.°7 (1961) -33-34.

(87) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y Indias I .. ./», IV C.H.C.A" I, 143; Manuela MarreroRodrigues, "Una sociedad para comerciar en Castilla, Canarias y Flandres en la primera mitad deI siglo XVI". IIIC.H.C.A., I, 1978, 161.

(88) Manuel Lobo, Ibidem, 161-173.(89) Ihidem, 172.(90) Ibidem, 163-164.(91) J. M. Madurell Marimon, «Notas sobre el antiguo comercio / .. ./ » A.E.A., n.? 3, (1957), 563-592;

Idem, "E1 antiguo comercio / ... l», A.E.A., n.? 7 (1961), 71-74.(92) Idem, «Miscellanea de documentos historicos Atlânticos», A.E.A .. n.? 25 (1979) 224-225, 235-238.(93) Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ibldem, 52; Eufemio Lorenzo Sanz , ibidem, I, 105-423.

63

1.3 Agentes

Os agentes poderão considerar-se como elemento fundamental e activador de todo o sistema de trocas. São eles que executam as principais tarefas inerentes ao movimento de circulação dos produtos.

Numa sociedade nascente, a preocupação primordial dos seus vizinhos assenta na necessidade de assegurar a subsistência. A criação de excedentes e o recurso aos produtos com valor mercantil surgem num segundo momento. Só então se fazem sentir as necessidades decorrentes do sistema de troca, tornando-se necessário viabilizar e institucionalizar uma estrutura de mercado adequada às dimensões das permutas internas e externas; as autoridades régias e locais terão nessa fase uma actuação importante.

Numa sociedade essencialmente agricola, em que a maioria da população se dedica quase em exclusivo à faina do aproveitamento da terra e a actividades artesanais subsidiárias, torna-se difícil o recrutamento desses novos agentes económicos. A juntar-se a tudo isto verifica-se o domínio de uma mentalidade ruralizada, a insuficiência de meios e de bens disponíveis para uma actividade de tal índole.

A sociedade insular define-se pelo seu carácter agrário. A agricultura ocupa a quase totalidade da sua população. O sector artesanal alia-se, muitas vezes, ao agrário, enquanto o sector comercial, embora ligado a essa realidade, mantém um certo distanciamento. O grupo de agentes de transporte e do comércio fixa a morada no burgo ribeirinho, afirmando-se nesse ,meio como um estrato sócio-económico importante e animador do quotidiano das vilas e cidades. Não obstante, a sua representatividade na população insular é muito reduzido, isto é 3 a 4%. Na Madeira essa percentagem atinge os 7%, enquanto nas Canárias não ultrapassa 3 % e ficando-se nos Açores apenas em 0,5 %. Estes dados comprovam o carácter marcadamente rural da sociedade açoriana, em contraste com uma tendência mercantilizadora das sociedades madeirense e canáriact). A posição dominante da Madeira resulta do desenvolvimento da estrutura sócio-económica, ao longo do séc. XVI, em que se denota a constância e a afirmação do sector mercantil. Aliás, toda a exploração agricola, desde meados do séc. XV, estava subordinada a este sector. Recolher-se-iam produtos, como o açúcar e o vinho, cujo fim primordial é o fornecimento do mercado externo europeu ou o americano e o asiático; daí a forte implantação dos agentes de transporte e comércio. O mesmo não sucederá nos Açores, onde predominará uma agricultura de subsistência, em aliança com uma produção com valor mercantil: trigo, pastel e). As Canárias, por seu turno, debater-se-ão entre uma exploração de subsistência e outra de mercado, sendo a actuação das autoridades régias e locais no sentido de manter um equilíbrio adequado entre o cereal e o açúcar.

el Convém salientar que a informação encontrada na documentação disponível é muito heterogénea e desproporcionada, no que concerne aos três arquipélagos. pelo que o resultado poderá surgir muito viciado, estando muito aquém da realidade. Para a Madeira a existência dos registos paroquiais da freguesia da Sé, desde 1539. e dos testamentos da Misericórdia do Funchal e Julgado de Resíduos e Capelas. facultou um levantamento exaustivo deste e outros grupos de gentes. Nos Açores a insuficiência de documentação dos séculos XV-XVI não permitiu uma análise da mesma índole. Nas Canárias. não obstante o valioso acervo documental dos arquivos provinciais de Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife. essa pesquisa foi limitada. Aí privilegiamos a importante colecção de documentos já publicados. nomeadamente os protocolos que abrangem apenas a primeira metade do século XVI.

el Veja-se o nosso estudo A questão cerealífera nos Açores / ' .. / .

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-CJ Agentes de Comércio

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Madeira Açores Canárias

AGENTES DE TRANSPORTE E COMÉRCIO NAS ILHAS. Sécs. xva XVI

Esta inadequação ou inapetência do insular para actividades que o desliguem da terra,aliada à intensificação das relações de troca, conduziram a uma solicitação exterior dosprincipais agentes de comércio, e mesmo de transporte. A sociedade insular recebeu nosséculos XV e XVI 29,8 % dos seus agentes do exterior, sendo 12,1 % no sector dostransportes e 36,7% no comércio.

65

9

As ilhas da Madeira e Canárias exerceram maior atracção, pois totalizam isoladamente48 % enquanto os Açores atingem apenas 3%. Esta situação por si só denuncia a importânciaque os dois sectores tiveram na Madeira e nas Canárias, importantes entrepostos docomércio atlântico.

A presença forasteira é mais clara no sector comercial do que no de transporte, pois noprimeiro atinge 88,5% e no segundo não ultrapassa os 11,5%. Esta presença é justificadapelo comércio dos produtos de exportação. Além disso ela varia nos três arquipélagos, poisnos Açores é apenas de 3,4% enquanto na Madeira é de 48,1 % e nas Canárias de 50,5%.A situação aludida, para além de reforçar a ideia da importante actuação da classe mercantilforasteira na Madeira e nas Canárias, nos contactos com o exterior, denuncia a suapredominante intervenção no mercado e comércio local. O açúcar e, depois, o vinhoatraíram mais facilmente a cobiça do mercado europeu do que o pastel ou os cereais. Nestegrupo de estrangeiros evidenciam-se os oriundos do mercado hispânico que representam naMadeira 47,7% e nas Canárias 44,4%. Verificamos assim que a burguesia comercial emarítima hispânica mantém uma posição dominante no mercado insular, que desde osinícios do povoamento atraiu as suas atenções.

A activação dos circuitos de troca no mercado insular deriva da acção dos agentes detransporte e de comércio. Os primeiros subdividem-se em agentes de transporte terrestre(carreteiro, boieiro, cocheiro, cameleiro, almocreve) e marítimo (barqueiro, mareante,piloto e mestre de navio). Os segundos ramificam-se de acordo com a incidência da suaactividade no mercado local e externo; assim, teremos o mercador propriamente dito, que sededicava ao trato por grosso de mercadorias de exportação e importação, e um gruponumeroso de agentes retalhistas, que asseguram a actividade do mercado local - regatão,vendeiro, estalajadeiro, peixeira, especiero, carniceiro e vinhateiro.

Numa área onde a economia se define pela litoralidade, em que portanto o transportedominante é o marítimo, e onde a troca directa ou indirecta da produção é devida à acçãodos agentes comerciais, esta fica logicamentevalorizada; representam71,7%, predominando asua actuação nos três arquipélagos. De acordo com essa situação, o transporte marítimo teráuma posição primordial, representando os seus agentes dois terços do global do grupo detransporte.

Transporte marítimo e terrestre

Definida a importância das vias e meios de comunicação na economia insular esublinhada a dominância do mar nesse relacionamento, apenas nos interessaremos aqui pelaactuação dos vários agentes de transporte no mercado insular.

Os meios, vias e agentes de transporte terrestre terão a sua acção limitada pelaorografia insular e/ou pela facilidade das comunicações marítimas. Não obstante, terão umaimportância primordial nos contactos entre as áreas produtoras e os portos de exportação,como acontece em S. Miguel e Gran Canaria.

De entre os agentes sobressaem os almocreves, que já na Europa medieval tinham umaacção muito importante no transporte e na comunicação entre as várias regiões dointerior e); serão igualmente importantes na economia insular, sendo os principais agentesde transporte na safra do açúcar. O almocreve tanto transporta a lenha e as canas aoengenho, como o açúcar aos principais portos de cabotagem ou exportação (4).

e) A. Barquero Moreno, ..A acção dos almocreves / .. '/", in Papel das Àreas Regionais na História dePortugal. Lisboa, 1975, 185-215; J. Borges de Macedo, « Almocreve » , in Dicionário de História de Portugal.vol. I, Lisboa, 1975, 119-120.

(4) A.R.M., C.M.F.• n.? 1313, fIs. 14-14 v.", vereação de 5 de Maio de 1597; R. Diaz Hernandez, EI

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150

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50

oMadeira Açores Canárias

AGENTES DE TRANSPORTE. Séculos XV e XVI

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Na Madeira surgem com maior incidência no século XVI (82,1%), sendo os principaisagentes de transporte na safra do açúcar, onde as condições orográficas o permitiam. A áreado Funchal e arredores, onde se concentravam todas as actividades comerciais, torna-se oseu principal pólo de acção, seguindo-se a parte ocidental da vertente sul, entre a RibeiraBrava e Calheta, região onde se situava a maior produção açucareira.

Nos Açores, não obstante a importância que tiveram nas ligações entre Ponta Delgada eRibeira Grande e de Angra com a Praia, apenas há notícia de um almocreve (5). Aliás, noscontactos entre a Ribeira Grande e Ponta Delgada, o transporte terrestre, para além de sermais rápido, estava facilitado pelas condições orográficas. Assim no século XVI osalmocreves micaelenses deram um importante contributo à economia cerealífera local,sendo os principais agentes de transporte de cereais e farinhas da Ribeira Grande e áreaslimítrofes para Ponta Delgada. A câmara da Ribeira Grande preocupa-se com a sua acção,quer por meio do regimento da sua actividade, quer pela acção de reparo dos caminhos. Em1599 era autorizada a circulação de 60 almocreves nesse circuito, que deveriam apresentaranualmente fiança na câmara (6).

Almocreves na Madeira

MORADA

FunchalSanta CruzCaniçoRibeira BravaPonta do SolCalheta

N." '"131 93,57

I 0,71I 0,714 2,862 1,43I 0,71

Nas Canárias, tal como na Madeira, a sua actividade será justificada pela safra doaçúcar.' Deste modo teremos nas ilhas produtoras de açúcar - Gran Canaria e Tenerife ­um numeroso grupo de almocreves. Todavia, apenas são referenciados 52, sendo 13,5% emGran Canaria e 86,5% em Tenerife. Destes, quatro são portugueses.

Quanto aos restantes agentes de transporte apenas há a salientar os cameleiros ecarreteiros nas Canárias e os cocheiros e boieiros na Madeira C). Estes últimos surgem nadécada de 50, certamente dedicados ao transporte de passageiros. Em Vila Franca doCampo e S. Miguel existiam, em 1566, 14 carreteiros dedicados ao transporte de produtosno município e deste com Ponta Delgada e Ribeira Grande (8).

O predomínio dos agentes de transporte marítimo denuncia a cambiante marítima dasociedade e economia insulanas. As vias e meios de transporte desse tipo são um dos

azucar en Canarias, Las Palmas, 1982, p. 27; G. Camacho y Pérez Galdós, ob. cir., 56-58; Eduardo AznarVallejo , oh. cit., 324-326.

(5) B.P.A.P.D., Ernesto do Canto, ms, 20, Tombo de escrituras de compras e de cartas de sesmarias,1482-1515, fi. 32 v.", Angra, 4 de Junho de 1511, escritura de compra de metade de um chão e casa na RuaDireita por Pero Anes do Canto e Pero Álvares Andrade, almocreve.

(6) A.C.M.R.G., L.0 de Acórdãos. fls. 31 v.? c 41, vereações de 29 de Junho e 13 de Novembro de 1593.n Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit .. 325-326: A.R.M., Paroquiais. Baptizados da Sé, fi. 85 v.", 8 dc

Setembro de 1553, Gimena filha de João Martins, cocheiro; ibidem, n.? 10, fl. 14, 17 de Setembro de 1575, Ana,filha de Gonçaleanes, boieiro; Idem, óbitos-sé; n.° 68, 25 de Outubro de 1552, Maria Fernandez, Carreira.

(8) A. Teodoro de Matos e Maria de Jesus dos Mártires Lopes, "Subsídios para a História económica esocial do concelho de Vila Franca do Campo no ano de 1566 / ... /0>, in Os Açores e o Atlântico (séculosXlV~XVll), Angra do Heroísmo, 1984, 550.

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e· ·

69

sustentáculos da economia dessa sociedade. A vivência ribeirinha fez do ilhéu um mari­nheiro nato, ele surge como pescador, barqueiro, mareante e, muito raramente, como pilotoou mestre de navio.

Agentes de transporte marítimo nas Ilhas

BARQUEIRO MAREANTE MESTRE CALAFATE

N." 'il: N." '* N." '* N." 'il:

Madeira 56 95 248 91 2 10 3 60Açores 12 4 5 4 1 20Canárias 3 5 13 5 126 95 1 20

Na Madeira dominam os barqueiros (90,8%) enquanto nas Canárias essa posiçao éocupada pelos mestre de navio (96,9%); entretanto os mareantes, como os pilotos e osmestres de navio, surgem com maior evidência. Não obstante, há informação maisesclarecedora sobre arquipélago dos Açores, que aponta uma marcada actuação dosbarqueiros, pois só na Vila Franca do Campo, em 1566, existiam 23 barqueiros (9).

Estes dados indicam que o movimento comercial da Madeira e Açores estava entreguea um grupo de agentes de transporte forasteiros que, muitas vezes, associavam essaactividade ao comércio. As ilhas portuguesas não dispunham de uma frota adequada aocomércio externo, pois as poucas embarcações existentes estavam ocupadas no comércio decabotagem; ao visitante do reino ou estrangeiro estava reservada essa actividade. A situaçãoé de tal modo precária que, ao longo dos séculos XVI e XVII, e vereação funchalense temde recorrer às embarcações visitantes para se abastecer de trigo nos Açores eo).

O facto de se documentar uma elevada percentagem de mareantes no Funchal (9%),não é sinónimo do desenvolvimento da navegação a longa distância nestas paragens, massim da assiduidade desses contactos e do apelo constante à mão de obra assalariada,necessária a essa actividade. Em termos globais nota-se que os marinheiros surgem, nos trêsarquipélagos, na razão inversa dos mestres e pilotos de navios.

Agentes de transporte marítimo na Madeira

FunchalSanta CruzMachicoCampanárioRibeira BravaPonta de SolCalhetaPorto SantoReinoCanárias

ORIGEMBARQUEIRO

N."

MARINHEIRO

N."

Na Madeira, o principal centro de incidência dos homens do mar situava-se na zonaribeirinha do Funchal. Aí deparamo-nos com 82, I % dos barqueiros e 97,9% dos mareantes.

(9) Ibidem, p. 550. . .et0 ) Veja-se o nosso estudo - O comércio de cereais dos Açores para a Madeira no século XVIl. 659.

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71

Muitos destes encontravam-se lá temporariamente ao serviço de embarcações que aportavamao Funchal. Desses 12,2% são do reino, nomeadamente de Tavira, Faro, Lagos, AIcacer doSal, Santarém, Buarcos, Porto, Esposende, Sesimbra, Gaia, Viana, Barcelos e Vila doConde. Sendo assim, o movimento de embarcações entre a Madeira e os Açores e o reinoera intenso, salientando-se neste último o litoral algarvio, a região de Lisboa e a costa norte.A existência de mareantes fora do Funchal - Calheta, Santa Cruz, Machico (3,2%) ­evidencia também a existência de contactos dessas embarcações de comércio a longadistância nestas zonas costeiras.

O mareante e o barqueiro, tal como o pescador, assentaram morada na zona ribeirinhapelo apego ao mar, junto do burburinho do calhau, onde poderiam ouvir o marulhar dasondas. A zona do calhau, hoje Corpo Santo, acolhia o maior número de marinheiros,barqueiros e pescadores. A sua influência foi dominante nesta área citadina, pois aíconstruiu no século XV uma capela para o seu padroeiro S. Pedro Gonçalves Telmo, comuma confraria para defesa e apoio dos mesmos mareantes (11). Em Machico, Santa Cruz,Ribeira Brava, Calheta e na ilha do Porto Santo havia igualmente uma diminuta comunidadede homens do mar com morada fixa junto ao calhau ou aos ancoradouros.

Nos Açores o barqueiro ou mareante surge em todas as ilhas nas áreas costeiras demaior movimento. Em Vila Franca do Campo, por exemplo, em 1566 a comunidade marítimarepresentava 5% do grupo, sendo 23 barqueiros, 10 marinheirose 13pescadores(12).

A comunidade marítima nas Canárias, embora espalhada por todo o arquipélago, temem Gran Canária e Tenerife os principais focos de fixação, e surge anexa aos principaisportos destas ilhas: Las Isletas, Santa Cruz e Garachico. Nestes lugares, onde domina otráfico a longa distância nota-se a afirmação dos marinheiros, pilotos e mestres de navio; osprimeiros representam 88% e os últimos apenas 9%.

A maioria dos mestres de navio referenciados actua a partir de Tenerife (80%),surgindo com maior frequência o porto de Santa Cruz; eram na sua maioria forasteiros. Nototal de 125 aduzidos apenas 49 têm a indicação de procedência, sendo 78% estantes e 22%vizinhos. Nos primeiros sobressaem os portugueses com 13%, seguidos dos castelhanos(6%) e genoveses (3%)(13). No grupo dos portugueses encontramos dois oriundos daMadeira e um do Faial, facto demonstrativo das ligações entre as Canárias e os arquipélagosde Portugal.

Comércio interno e externo

O mercado interno estava sob o domínio do município que delimitava os locais e aforma de venda a retalho dos diversos produtos, concedendo as necessárias licenças aos seusagentes, de modo a poder fiscalizar a sua actividade; o tabelamento dos preços, verificaçãodos pesos e medidas pelos almotacés estavam ainda no seu campo de intervenção.

Os principais agentes desta actividade sectorial poderão definir-se em duas categorias:revendedores, isto é, bufarinheiros, regatões, vendeiros que procedem à revenda a retalhode fruta, hortaliça, queijo, pão, caça, de acordo com as normas elaboradas em postura; evendedores, ou sejam, os carniceiros, peixeiras, vinhateiros, especieiros, que vendiam acarne, peixe e espécies em locais estabelecidos pela vereação.

O município não acolhia de bom grado a actividade dos revendedores, em virtude dasua apetência para a especulação e acções lesivas do bem comum. Assim, para além da

(11) Fernando Augusto da Silva. "Capela do Porto Santo», in Elucidário Madeirense, I (1940). 316-317.

e2 ) A. Teodoro de Matos, ibidem, 550. . . _e3) Eduardo Aznar Vallejo (ob. cit.. 327-328) dá conta apenas de trinta e quatro com a 1n~ICaçao de

procedência. Ao nível local dominam os portugueses seguidos dos andaluzes e _bascos e, nas relações com oexterior, surgem em primeiro lugar os vizinhos e os genoveses. ambos com tres.

72

rigorosa fiscalização exercida sobre eles, através da obrigatoriedade do uso da licença, osvereadores exararam em postura a faculdade dos vizinhos poderem comprar os seusprodutos directamente ao mercador visitante. Para isso, ordenaram que todo o produtodeveria ficar retido nove ou quinze dias, respectivamente, em Tenerife e na Madeira, paraos vizinhos poderem adquiri-los ao preço de compra; só após esse prazo se procederia arevenda de acordo com as posturas e4

) .

No Funchal há notícia de quarenta e oito vendeiros que se dedicavam a esse comércio aretalho, dos quais vinte e cinco são de finais do século XV e vinte e três do século XVI. Emfinais do século XV os vendeiros são na totalidade do sexo feminino, pois só na última dataaparecem os do sexo masculino que representam cerca de 70% (quadro n.? 11).

O açougue, a peixaria, a taberna mereceram maior incentivo por parte do município,que regulamentava com rigor a venda nestes recintos de modo a dissuadir os seus agentes daespeculação eda fraude, e com o fim de garantir as devidas condições de higiene. A vendados produtos estabelecidos para essas lojas, considerados essenciais para o quotidiano doburgo, fazia-se de acordo com as normas e tabelamento de preços, estabelecidos emvereação. Esta vigilância não derivava apenas da necessidade de assegurar o abastecimentoda população e de evitar as práticas fraudulentas, mas tinha de igual modo o fim deassegurar o lançamento e arrecadação dos direitos reais e concelhios, como sucedia com ovinho da Madeira. Aqui a vereação, por intermédio do juíz da referida imposição, auxiliadopor arrieiros e um escrivão, verificava o transporte, a abertura das pipas e a venda do vinho,lançando, de acordo com o varejo, os direitos a pagart'").

A venda de carne era feita nos açougues municipais que detinham o monopólio doabate e da venda. Eram arrendados pelo concelho a carniceiros que procediam ao abate evenda de acordo com as posturas e6

) .

O comércio externo do espaço insular, pela amplitude e importância que adquiriu nomercado atlântico-europeu, pelo investimento e organização que implicava, condicionou oaparecimento de agentes forasteiros, ligados aos circuitos comerciais europeus no Atlânticoe Mediterrâneo. A intervenção destes agentes de comércio neste domínio far-se-á de mododiverso, adquirindo uma dimensão ou posição de acordo com a amplitude da sua actividade.Poderemos assim diferenciar três tipos de mercadores: 1. mercador, especializado nocomércio de determinados produtos de importação e exportação; 2. mercador transportista,que intervem no comércio marítimo internacional, dispondo de meios financeiros e técnicospara isso; e 3. mercador banqueiro, que se dedica a operações de finanças nos principaismercados de dinheiro da Europa, tendo uma rede de negócios organizada em todas asmelhores praças europeias, por intermédio de familiares e agentese1).

Ao nível insular a presença destes três grupos de mercadores não é uniforme, pois variade ilha para ilha de acordo com a importância sócio-económica das praças insulares. Os doisúltimos tipos, na sua maioria estrangeiros, têm uma presença temporária, surgindo apenasem momentos de exportação dos produtos mais importantes do mercado - vinho, açúcar,pastel- a fim de estabelecer a sua troca com as manufacturas europeias. Por vezes fazem-no demodo indirecto, por meio de familiares ou agentes, que se apresentam como filiais das casas

e4 ) Veja-se supra 2. n parte, cap, l.1.es) Problemática abordada em estudo que fizemos sobre O vtnho da Madeira fIOS séculos XVIl-XIX. em

vias de publicação.(16) A.C.M.R.G., L.0 de Acordãos. 1578.11.64 v.0-66 v.", Vereação de 16 de Abril de 1578; ibidcm; fls.

67-68, Vereação de 19 ele Abril de 1578; Idem L.0 de Acórdãos, 1599,11. 14 v.", \O ele Abril de 1599; Ibidem, fi.18,8 de Maio de 1599; Ibidem, fi. 27, 12 de Junho de 1599; Vereações de Velas (5. Jorge) 1559-1570-1571,1984, pp. 28-29: A.R.M., C.M.F., 0.° 1296, fl. 3020 de Outubro de 1470: Ibidem, 0.° 1297, fls. 24; 8 de Junhode 1481: ibidem, fi. 27-27 v.", 28 de Julho de 1481; lbidem, fl. 39-39 v.", 3 de Dezembro de 1481; pussirn.

[17) Frédéric Mauro, Marchand et marchands Banquiers portugais {/li XVI/eme siêcle. Coimbra. 1961.Separata di! Revista Portuguesa de História. vo1. IX (1961).19-20, Maria Valcntina Cotta do Amaral, Mercadoresestrangeiros em Portugal no reinado de D. João 11/, Lisboa, 1967 (lese de licenciatura, policoplada), 19-20 e

72-74.

73

lO

europeias. Além disso, o último tipo só surgirá com grande relevo em Las Palmas, onde aalta finança europeia monta uma praça bancária especializada no comércio atlânticoes). NosAçores e na Madeira não há qualquer informação que aponte para a sua existência; aí tudonos indica a presença e o domínio exercido pela praça de Lisboa.

O primeiro grupo será aquele que terá maior representatividade no mercado insular. Elesurge muitas vezes numa posição subalterna, como agente subestabelecido ou representantede mercador transportista ou barqueiro; os que nele se inserem, definem a burguesiacomercial com assento nas ilhas, que detém uma posição privilegiada no comérciointer-insular e nos contactos com a mãe pátria.

A maior parte das operações financeiras, comerciais e, mesmo, de transporte eramdominadas por estrangeiros, a partir de Génova, Veneza, Anvers e Antuérpia. Uma rede denegócios e circuitos comerciais assegurava esse domínio. Italianos e flamengos, seusprincipais detentores, surgem desde cedo nas praças de Lisboa, Sevilha e Cádiz; a partir daítomam a direcção das operações financeiras e comerciais do Mediterrâneo Atlântico,adquirindo e reforçando essa posição com as regalias e os privilégios concedidos pelascoroas hispânicase9

) .

Factores internos e externos condicionaram essa intervenção de mercadores nacionais eestrangeiros no mercado insular; em primeiro lugar, o desenvolvimento de culturas, como ovinho, o açúcar, o pastel, componentes importantes das trocas europeias e americanas; emsegundo, a posição privilegiada dos três arquipélagos e, nomeadamente, das Canárias e dosAçores, no traçado das rotas do comércio atlântico eo). Alemães, genoveses, venezianos ejudeus disputam entre si o domínio deste mercadoe1

) .

O arruamento dos ofícios e dos locais de venda de artefactos e produtos agrícolasderiva não só da necessidade de fiscalizar e defender os interesses dos diversos artesãos evendedores, mas também da necessária aproximação da alfândega e calhau, de modo afacilitar as operações de transporte. Por isso nas principais cidades e vilas do mundo insularexistia, sempre uma Rua dos Mercadores, arruamento onde se centrava a maioria destegrupo, para proceder às suas transacções locais e externase2

) .

Na Madeira, de acordo com a informação de Gaspar Frutuoso, toda a actividadecomercial estava centralizada em três ruas anexas à alfândega e calhau: Rua Direita dosMercadores, Rua do Poço Novo e Rua do Sabão r"). A primeira é definida pelo autor como a

e8) Enrique Otte, ob. cito

e9) Maria Valentina Cotta do Amaral, ibidem; Virgínia Rau, "Privilégios e legislação portuguesa referente

a mercadores estrangeiros (séculos XV e XV!)" in Estudos de História, Lisboa, 1968, [31-158; H. Gama Barros,História da Administração Pública em Portugal, Lisboa, vol. X, [71-205 e 221-280; M. B. Azmalak, Mercadoscomerciais, Lisboa, 1932, 96-98; Hermann Kellenberz, "Os mercadores alemães de Lisboa por volta de 1530», inRevista Portuguesa de História. vol. IX, Coimbra, 1960, 124.140; Enrique Stols, "Os mercadores flamengos emPortugal / ... l », in Anais de História, S. Paulo, 1973, 11-54; Charles Verlinden, Les origines de la civilizationatlantique / .. .l , Neuchatel, 1966, 10; Jacques Heers, Gênes au XV e siêcle, Paris, 1971, 328-331; Maria Olímpiada Rocha Gil, "OS Açores e a rede de negócios no atlântico seiscentista" in Açores e o Atlântico (SéculosXIV-XVII), Angra do Heroísmo, 1984. 555-573.

ell) Enrique Otte, ibidem, 28-29.

e1) Sobre os mercadores judeus veja-se Meyer Kayserling, História dos judeus em Portugal, São Paulo,

1971; José Gonçalves Salvador, Cristãos-novos e o comércio no Atlântico Meridional, Lisboa, 1978, Maria JoséFerro Tavares, Os Judeus em Portugal no século XV, Lisboa, 1982; Idem, «Os Judeus em Portugal», in Históriade Portugal (direcção de José Hermano Saraiva), vol. IV, Lisboa, 1982, 259-272.

e2) Em Tenerife existia em 1520, a Calle Real de Santo Espírito de los mercadores (Acuerdos dei cabildo

de Tenerife , IV. n.? 183, p. 69, 22 de Outubro de 1520). Na Madeira esta Está documentada desde 1469; Veja-seA.R.M., C.M.F. Registo Geral. t. I, fls. 1 v.0-2 v.", 25 de Setembro de 1469, carta dos mercadores sobre omonopólio do comércio do açúcar, pubI. in A.H.M.. xvn, 47-49.e3

) Saudades da Terra, L.0 Il, Ponta Delgada, 1968, 111-112; mas surgem também nas ruas das Pretas(Miguel Lopo), Tanoeiros (Diogo de Medina, João Tavira, João Gago, Bartolomeu Pereira), Ponte Cidrão, Nova,Netos, Pelourinho (João Esmeraldo), Ribeirinho, Ferreiros, Santa Maria, Matoso, do Peixe, Cotijo, Carreira,Ponte, Conceição, S. Sebastião, Alfândega. do Frias, Marmeleiros, Pinhos e Beco do Baluarte.

74

1000

sec, xv

500

Dmm

séc. XVI - 1= metade

séc. XVI - 2~ metade

sem data

oMadeira Açores Canárias

MERCADORES NO MUNDO INSULAR. Séculos XV a XVI

rua «dos mercadores e franqueiras, ingleses e flamengos e outros forasteiros, e de homensricos e de grosso trato ...•• ; a segunda estava reservada a «outros de menor trato, com afruta, pano de linho e coisas de fancaria, que vêm de fora ... »; a última servia de «logeas egraneis de trigo».

Esta informação é concordante com a realidade emanente da documentação compulsada.Assim, em 1469, a Rua Direita é definida como a principal rua, onde residiam os

75

mercadores do trato do açúcar r'"); no século XVI estava-lhes reservada, em consequênciada obrigatoriedade de os mercadores com casa de aluguer residerem apenas aí, o quemereceu o protesto dos visados e o pedido da revogação dessa postura es ). Não obstante,pela sua localização e costume da actividade comercial, esta rua manteve-se como oprincipal arruamento de residência e actividade do mercador, quer local quer estrangeiro.No século XVI dos oitenta e um mercadores com referência da morada temos 31% com lojanessa rua e os restantes nas ruas circumvizinhas da alfândega.

Lojas de Comércio no Funchal

RUA

DireitaPoço NovoSanta MariaTanoeirosJoão TaviraJoão EsmeraldoDiogo de MedinaOutros

Total

N." %

31 38,38 9,97 8,63 3,73 3,72 2,52 2,5

25 30,8--81 100

o grupo de mercadores identificados no mercado insular para os séculos XV e XVIatinge o total de 1612, sendo a sua maioria oriundos da praça do Funchal; situam-semaioritariamente no século XVI (88%) e, nomeadamente, na segunda metade do século(63%), momento de grande movimento comercial no mundo ínsularr"). No século XVapenas a praça do Funchal apresentava um avultado número de mercadores, que aumenta,de modo espectacular, no período subsequente, pois triplica na primeira metade do séculoXVI.

Mercadores nas Ilhas

MORADA N." %

Madeira 957 59,2Açores 546 33,8Canárias 118 7,0

Mercadores nas Ilhas

sác, xv 1500-1550 1551-1600 S;.D.MORADA

N." * N." * N.' % N.' %

Madeira 139 10,9 459 35,9 679 53,2 7 O,IAçores I 0,8 180 15,0 1 002 83,3 1 0,8Canárias 7 1,2 380 67,3 142 25,1 36 5,8

e4) Dizia-se nesse documento que ..esta rua dos mercadores que he junto com ho mar esta povoada destes

mercadores do trauto do açúcar e outros que a esta pertencem ... " (A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fi. Iv.0-2 v.o, já cit.). Veja-se Ernesto Gonçalves, «João Gomes da ilha» , in A.H.M.. XI, 44, 46; Manuel Juvenal dePita Ferreira, "o Infante D. Fernando, terceiro senhor do arquipélago da Madeira, 1460-1470.., in D.A.H.M.. n.?39 (1963), 21; Álvaro Manso de Sousa, ..Ruas do Funchal (notas para o estudo da toponímia citadina)", inD.A.H.M.. n.? 5094, 10 de Julho de 1949, 268-269.

es) A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. I, fls. 324 v.0-325 v.o, in A.H.M.. xvm, 536-537.

es) . A diminuição de 15% resulta única e exclusivamente de a nossa recolha ter incidido na primeira metade

do século, período para o qual abundam publicações de documentos.

76

150

100

50

li~Espanha Itália Portugal

:~~~~~~~~~~~~~:

Flandres França

f~i~i~i~i~i~D Canárias

~ ado~ M erra

D Açores

Inglaterra

-..l-..l

MERCADORES: ÁREAS DE PROVENTI::NClA

A razão da sua importância no século XV e do aumento espectacular na primeirametade do século seguinte deriva da conjuntura sócio-económica madeirense. A Madeira foide todas as ilhas do Atlântico a primeira a ser ocupada e a apresentar uma exploraçãoagrícola com valor mercantil, que despertou a cobiça do mercador nacional e estrangeiro.Nos Açores e nas Canárias o processo arrastou-se por algumas décadas, e esses arquipélagossó assumiram idêntica posição no século XVI.

Na Madeira, o açúcar fez atrair desde meados do século XV um numeroso grupo destesagentes, que se dedicaram quase em exclusivo ao seu comércio. A quebra desta produção naprimeira metade do século XVI não provocou o desaparecimento deste mercador, pois eleirá adaptar-se às novas realidades e cambiantes da economia madeirense: primeiro substi­tuindo o açúcar pelo vinho e, depois, por meio da ligação deste mercado às áreas produtorasbrasileiras, o que viabilizava a sua actividade comercial em torno do ouro branco. As ilhasdas Canárias e dos Açores só poderão apresentar essa multidão de agentes económicosquando usarem do essencial para a sua actividade, isto é, de um mercado vantajoso para asmanufacturas e um conjunto adequado de produtos com valor mercantil. Tal só veio asuceder para as Canárias no início do século XVI com o açúcar, o pastel e os cereais; nosAçores essa situação só se definirá na segunda metade do século XVI, exactamente quandose atinge o maior número de agentes (83%); isso resultará da estabilidade adquirida pelomercado açoriano e da sua valorização na economia atlântica, como um porto importante deescala e').

Como vimos, o mercado insular, pelo seu posicionamento e importância na rede detrocas no Atlântico e pelas suas potencialidades sócio-económicas, fez atrair as atenções daburguesia comercial e marítima do velho continente que, por intermédio de Lisboa, Cádizou Sevilha, aí fixa morada ou se faz representar por agentes.

Mercadores, estantes e vizinhos

ESTANTES VIZINHOSLOCAL

N." % N." %

Madeira 91 9,5 585 61Açores 6 5,1 15 12Canárias 196 36 310 56

--- ---Total 293 24,4 910 75,6

No global nota-se a posição privilegiada do mercador forasteiro ou estrangeiro quequase sempre repudia o seu carácter nómada para aí se fixar sempre como vizinho,penetrando e actuando activamente nas estruturas institucionais e económicas do mundoinsular.

As ilhas da Madeira e das Canárias ofereceram maiores garantias à intervenção dogrupo de forasteiros sob o estatuto de vizinho ou de estante. No entanto os forasteirostemporários surgem com maior frequência nas Canárias; esta situação resulta da sua eficazactuação, a partir de Sevilha, Cádiz e Medina deI Campo, por meio de agentes ou defamiliares, o que inviabiliza a necessidade de permanência no arquipélago; além dissodefine de modo cabal uma situação peculiar da economia canária, isto é, a sua subordinaçãoaos interesses e intervenção da burguesia comercial e marítima da região de Andaluzia.Aliás, entre forasteiros é importante a presença dos agentes com morada fixa no reino:Castela e Portugal.

e7) Veja-se Maria Olímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XVll / ... l , Castelo Branco,

1979.

78

o grupo de mercadores estrangeiros oriundos das principais praças europeias édominante nos três arquipélagos, atingindo 14% na Madeira, 9% nos Açores e 31% nasCanárias. Nesse grupo sobressaem, na Madeira e nas Canárias, os italianos e os flamengos,e nos Açores os ingleses.

Mercadores estrangeiros

MADEIRA AÇORES CANÁRIASORIGEM

N," % N," % N," %

França 32 3,3 5 0,9Itália 50 5,2 I 0,9 92 16,9Flandres 36 1,0 3 2,5 53 9,7Inglaterra 10 1,0 5 4,2 3 0,6Reino 105 11 5 4,2 139 25,5Outros 724 75,7 104 88,1 252 46,2

o aparecimento da burguesia comercial e marítima estrangeira na sociedade insularprende-se com a actuação de determinados factores de ordem conjuntural e estrutural. Umamultiplicidade de solicitações e de condições de fixação conduziram à sua valorização naeconomia e na sociedade insulares.

O conhecimento e a ocupação do vasto espaço atlântico, não obstante a direcção dascoroas de Castela e Portugal, não ficou isento da presença estrangeira. nomeadamenteitaliana. Os italianos comprometidos com as navegações atlânticas, aparecem desde oséculo XV como o grupo estrangeiro mais influente no Mediterrâneo Atlântico, ligando­-se às actividades administrativas, produtiva e comercial. Será no seguimento desta vagainicial que teremos, em finais do século XVI, a sua implantação em força na Madeira e nasCanárias, de que resultou a sua posição dominante no grupo de mercadores.

Atraídos pelos lucros do açúcar e do pastel surgem, no século XVI, novas levas demercadores oriundos das praças europeias do norte, como os flamengos e ingleses que, aocontrário dos italianos, se apresentam apenas com o estatuto de mercador-transportista­banqueiro, e só muito raramente como mercador proprietário.

A Madeira atraíu a primeira vaga destes mercadores forasteiros, mercê da prioridade naocupação e exploração do açúcar. Só o impediam as ordenanças limitativas à sua residênciana ilha, resultantes da sua tendência para a rápida fixação e para controle dos circuitoscomerciais madeirenses. .

Em meados do século XV a coroa facultava a entrada e fixação de italianos, flamengos,franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercadoeuropeu para o açúcares). Mas a presença e a influência desses homens foram lesivas paraos mercadores nacionais e para a coroa, pelo que se tornou necessário impedir que elespudessem «asy soltamente trautar todos» e9

) ; deste modo o senhorio ordena a proibição dasua permanência na ilha como vizinhos eo). A questão foi levada às cortes de Coimbra de1472-1473 e de Évora em 1481, reclamando a burguesia do reino contra o monopólio defacto dos mercadores genoveses e judeus no comércio do açúcar; para isso propunha a suaexploração nesse regime a partir de Lisboa e1

) ,

(2B) Veja-se nota 19; Alberto Artur Sarmento, A Madeira e as praças de África. Funchal, 1939, 9.(29) A.R,M., C.M.F., Registo Geral, l. I, fis. 5 v,o·6. Lisboa, 6 de Outubro de 1471. carta régia sobre o

trauto do açúcar, in A,H,M., XV, 57; lbidem, fls. 148-148 v.", Beja, 5 de Março de 1473, carta da infantaD. Beatriz acerca dos estrangeiros, in A,FI,M" XV. 68,

eu) lbitlem,e1) Esta situação surge no senhorio do infante D. Fernando. Veja-se Manuel Juvenal de Pita Ferreira,tbldem, 22; Joel Serrão, "O Infante D, Fernando e a Madeira (1461-1470) I" .1 .., in D,A.FI.M" n." 4 (1950).

79

o monarca, comprometido com essa posiçao vantajosa dos estrangeiros, mercê dosprivilégios concedidos, actua de modo ambíguo, procurando salvaguardar os compromissosanteriormente assumidos e atender às solicitações dos moradores do reino; por issoestabelece limitações à residência dos estrangeiros no reino, fazendo-a depender de licençasespeciais ez); quanto à Madeira define a impossibilidade da sua vizinhança sem licença sua,ao mesmo tempo que os interdita de revenda no mercado locale3

) ; a câmara, por seu turno,baseada nestas ordenações e no desejo expresso dos seus moradores, ordena a sua saída atéSetembro de 1480, no que foi impedida pelo senhorioe4

) ; somente em 1489 se reconhece autilidade da sua presença na ilha, ordenando D. João II a D. Manuel, então Duque de Beja,que os estrangeiros fossem considerados como «naturaes e vizinhos de nossos regnos» es).

Os problemas do mercado açucareiro da década de 90 conduziram ao ressurgimentodesta política xenófoba. Os estrangeiros passam a dispor de três ou quatro meses, entreAbril e meados de Setembro, para comerciar os seus produtos, não podendo dispôr de loja efeitorr'"); em 1493 D. Manuel reconhece o prejuízo que as referidas medidas causavam àeconomia madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revoga as interdições anterior­mente impostas e7

) . As facilidades concedidas à estada destes agentes forasteiros conduzi­rão à assiduidade da sua frequência nesta praça, bem como à sua fixação e à sua intervençãode modo acentuado na estrutura fundiária e adrnínístratíva r").

A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira estava dominada pela presençaitaliana, seguida da dos flamengos e dos franceses; todos surgem aí atraídos pelo tãosolicitado ouro branco.

Mercadores Estrangeiros na Madeira

ORIGEM

FlandresFrança.InglaterraItáliaCastelaAlemanhaHolanda

Total

N." %

36 3,832 3,310 1,050 5,217 1,811 1,1

1 0,1---

157 14,3

15-17; Maria José Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no século XV, Lisboa, 1982,279-80; V. Rau,O açúcar na Madeira / .. .l , 29-30; Idem, The Setlement of Madeira and the sugar cane plantations, W., 1964,8-9; H. Gama Barros, História de Administração Pública em Portugal, X, 149-155; Fernando Augusto da Silva,«Estrangeiros» in Elucidaria Madeirense, I (1940), 419-421; Charles Verlinden, «Les débuts de la production etexportation du sucre à Madêre. Quel rôle y jouêrent les italiens», in Studi iII Memoria de Luigi dei Palie, Roma,1982, 301-310.

(3Z) H. Gama Barros, ibidem, X, 152-153; ibidem, vol. 330; V. Rau, O açúcar na Madeira / ... l . p. 26.nota 27; Monumenta Henricina, XV, Coimbra, 1974, 87-89.

(33) A.R.M., C.M.F.. n." 1298, fi. 37, 22 de Dezembro de 1485; ibldem, fi. 68 v.", 15 de Abril de 1486;lbidem, fi. 87 v.", 7 de Junho de 1486.

e4) A.R.M" C.M.F., Registo Geral. t. I, fIs. 292-293, Lisboa. 7 de Agosto de 1486.

es) A.N.T.T., Gavetas, XV-5-8, Évora, 22 de Dezembro de 1489, sumariado in As Gavetas da Torre do

Tombo, IV. Lisboa. 1964. 169-170.(36) H. Gama Barros ibidem, X. 155; Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da

História económica da Madeira / , .. /139-162; A.R.M., C.M.F.. Registo Geral. t. I, fls. 262 v. 0-269 v.", TorresVedras, 12 de Outubro de 1496. in A.H,M.. XVII, 350-358; lbidem, n.? 1302. fIs. 83-83 v.", 26 de Novembro de1496.

e7) A.R.M., C.M.F" Registo Geral, t. I, fls. 291 v.0-292, Lisboa, 22 de Março de 1498 in A.H.M.. XVII.

369. Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações", in Saudades da Terra. Funchal, 1873. 681-682.(38) Alberto Vieira. O regime de propriedade na Madeira. O caso do açúcar (1509-1532) (em vias de

publicação).

80

Os italianos, em especial os florentinos e os genoveses, conseguiram implantar-se naMadeira, desde meados do século XV, como os principais agentes do comércio do açúcar,alargando depois a sua actuação ao domínio fundiário, por meio da compra e laçosmatrimoniais e9

) . Na década de 70, mediante o contrato estabelecido com o senhorio dailha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o efeito, sendorepresentados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer Leão (40). No último quarteldo século vêm juntar-se a estes Critóvão Colombo, João António Cesare, BartolomeuMarchioni, Jerónimo Sernigi e Luis Doria. A este grupo inicial seguiu-se, em princípios doséculo XVI, outro grupo mais numeroso, que alicerçou a comunidade italiana residente;entravam nele Lourenço Cattaneo, João Rodrigues Castigliano, Chirio Cattaneo, SebastiãoCenturione, Luca Salvago, Giovanni e Lucano Spinola.

Os mercadores-banqueiros de Florença evidenciaram-se nas transacções comerciais efinanceiras do açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de Lisboa, onde adquiremuma posição privilegiada junto da coroa, mantêm e orientam uma extensa rede de negóciosque abrange a Madeira e as principais praças europeias. Primeiro conseguem da fazenda realo quase exclusivo do comércio do açúcar resultante dos direitos reais por meio do contrato;depois apoderam-se do açúcar em comércio, tomando o exclusivo dos contingentes estabe­lecidos pela coroa, em 1498 (41). Assim teremos Bartolomeu Marchioni, Lucas Giraldi eBenedito Morelli com uma clara intervenção no trato do açúcar, na primeira metade doséculo XVI (42). A manutenção dessa rede de negócios fazia-se por meio da intervençãodirecta destes mercadores e por meio de procuradores ou de agentes subestabelecidos.Benedito Morelli, em 1509-1510, tinha na ilha como seus agentes para o recebimento doaçúcar dos quartos Simão Acciaiuolli, João de Augusta, Benoco Amador, Cristóvão Bocolloe António Leonardo r'"). Marchioni, em 1507-1509, fazia-se representar em operações deidêntica índole por Feducho Lamaroto (44). João Francisco Affaitati, cremonês, agente emLisboa de uma das mais importantes companhias comerciais da época, teve uma participa­ção muito activa nesse comércio entre 1502 e 1526, por meio de contratos de compra evenda dos açúcares dos direitos reais (1516-1518, 1520-1521 e 1529) e pagamentos emaçúcar a troco da pimenta (45); este mercador actua quer em sociedade com JerónimoSernigi, João Jaconde, Francisco Corvinelli e Janim Bicudo, quer isoladamente, tendo parao efeito como feitores e procuradores na ilha Gabriel Affaitati, Luca António, CristóvãoBocollo, Capela de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi e Maffei Rogell.

e9) Virginia Rau comenta, a propósito: "E uma vez que os italianos se aferraram 110 comércio de exportação

do açúcar da Madeira. servidos por uma vasta rede comercial e financeira disponta sobre toda a Europa, fácil lhesfoi também penetrarem com o tempo na posse de terras e transformarem-se então em produtos e proprietário dailha da Madeira I , "/ a Madeira terá sido para os italianos, em grande parteva ilha de grande comércio deexportação do açúcar durante a segunda metade do século XV e primeira metade do século XVI, até ao advento etempo da grande exportação do açúcar do Brasil em meados deste último século » (ibidem, 32).

Sobre a presença italiana na Madeira veja-se Charles Verlinden, ob. cit.; M. do Rosario: Genoveses naHistória de Portugal, Lisboa, 1977; Prospero Peragallo, Cenni in torno alia colonia italiana in Portogallo neiSecoli XIV, XV e XVI, Génova, 1882; Domenico Geoffré, «Le relazionl fra genova e Madera nel I decenio deIsecolo XVIo>, in Studi Colombiani, III, Génova, 1952, 435-483; Carlos Passos «Relações históricas luso­-italianas » , in Anais da Academia Portuguesa de História, 2.a série, VII, Lisboa, 1856, 143-240 «Italianos naMadeira" in A.H.M, V (1937), 63-67; Jacques Heers, Gênes au XVe slêcle, Paris, 1977, 335; Virgínia Rau, "Umafamilia de mercadores italianos em Portugal no século XV: os Comelllni» in Estudos de História, I, Lisboa, 1968,33-36,

(40) Virginia Rau, O açúcar na Madeira 1... l , 29.(41) Fernando Jasmins Pereira, O açLÍcar madeirense de 1500 e 1537 / .. .l , 61-65.(42) Ibidem, 61-91; Idem, Os estrangeiros na Madeira. 88, 115-117 e 125-128.(43) Idem, Os estrangeiros na Madeira, 19, 27, 60, 105, passim,(44) Ibidem, 115-118.(45) Ibidem, 22-26,

81

11

Venda do açúcar dos direitos na Madeira 1502-1534

MERCADOR

João Francisco Affaitati

Pedro de Ayala

Jerónimo BicudoJorge Lopes Bixorda

Charles CorreaJoão CoquetFrancisco CorvinelliJoão JacondeNunes HenriquesGabriel FernandesJoão de FreitasBach. Bartolomeu LopesMarchionni

Tobias MarimBernardim de MedinaManuel MendesBraz Teles de Menezes

Pedro de MimençaJoão .de MirandaLuiz Vaz di NegroHenrique Nunes

João de OdomJoão de QuintanaJoão Rodrigues CastelhanoAntónio Sal vagoJoão SaraivaAfonso de São VictorJerónimo Serinigi, com J. F. AffaitatiAfonso de Sevilha

DATA

150215041587151615171520-21 (')1527e)15281527 (')1524e)15311526 (4)1530 (5)1502 (6)1502 (6)

1527e)1534 (')1512(8)1520150715121535(g)1530 ('0)1534 (')152415361524 e)1527 e)15241535 (g)1537 ('0)

1527 e)1530 (5)1530 (5)15021512 (8)1537 ('0)15021530

AÇÚCAR

18000 arrobas de escápulas com Jerónimo Semigi35 000 arrobas6000 arrobasdireitos do açúcar brancodireitos do açúcar branco e meldireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcar10 000 e 12 000 arrobas de açúcar12 000 arrobas de açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcar3 000 arrobas de açúcar3 000 arrobas de açúcardireitos do açúcardireitos do açúcar12 000 arrobas de açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcardireitos do açúcar18 000 de escápulasdireitos do açúcardireitos do açúcar18 000 de escápulasdireitos do açúcar

Fonte: Fernando Jasmins Pereira. O açúcar madeirense... 80-92

I) Janim Bicudo e J. F. Affaitati2) Pedro Ayala, Nuno Henriques, João de Miranda e João de Odom3) Jorge Lopes Bixorda e Pedro de Mimença4) Charles Correa e Pedro de Mimença5) João Coquet, Bemardim Medina, João Rodrigues Castelhano. Afonso de Sevilha e João de Quintana6) João Jaconde e Francisco Corvinelli7) Gabriel Fernandes e Manuel Mendes8) João de Freitas e João Saraiva9) Tobias Marim e Henrique Nunes

lO) Henrique Nunes e Afonso de São Victor

A tRenetração deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi muito acen­tuada (4 ). O usufruto de privilégios reais e o interrelacionamento familiar conduziram à suaplena inserção na aristocracia terratenente e administrativa; na sua maioria, apresentam-se

(46) Ibidem, 23.

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como proprietários e mercadores de açúcar, instalam-se nas terras de melhor e maiorprodução; e, por meio de compra e laços matrimoniais, tomam-se nos mais importantesproprietários de canaviais. Assim sucede com Rafael Cattano, Luis Doria, João Esmeraldo,João e Jorge Lomelino, João Rodrigues Castelhano, Lucas Salvago, Giovanni Spinola, JoãoAntão, João Florença, Simão Acciaiolli e Benoco Amatori.

A sua intervenção na estrutura administrativa madeirense abrange os domínios maiselementares do governo, como a vereação e repartições da fazenda, que incidiam sobre aeconomia açucareira. Surgem, assim, como almoxarifes e provedores da fazenda; e têm umaintervenção forte na arrecadação dos direitos reais, aparecendo ainda como rendeiros.

Arrendamento dos direitos reais na Madeira

RENDEIRO

Jerónimo Rodrigues e Quirino Catanho e)Benoeo Amatori e)Martim de Almeida, Benoeo Arnatori, Arrnão Alvares e), Quirio

Catanho, Alvaro Dias, Feducho Lamoroto (4), João Lombardo (5),Henrique Vandura (6)

Martim de Almeida, Benoeo Amatori, Quirio Catanho, Atanho , AlvaroDias, João Lombardo , Francisco Vio-Viola Lamoroto

Rafael Catanho e)Benedito MorelJi (8)Simão Acciaiolli (9), Lopo de Azevedo, Luis Dória eo), Benedito

Morelli, Antonio Spinola et1) Gregório Alvares (12), Duarte Fernan­des et 2

), Gonçalo Pires e2)

DATA

1503-15061503

1506-1508

1506-150815061509-1511

15161518

RENDA

alfândegaquartos

quartos

alfândegarniunças de Machicoquartos e aifândega

quartos e alfândega

Fonte, Fernando Jasmins Pereira, O açúcar madeirense ... 61-65

I) Genovês, fixou-se na madeira c. de 15002) Florentino, tio de Simão Acciaiolli, casou com Petronila Gonçalves e em 1509 possuía casa em Santa

Cruz e lavoura no Funchal, faleceu em 15173) Alemão, mestre em açúcar, estabelecido na Madeira desde o século XV4) Mercador florentino, residente na ilha desde 15045) Mercador residente na Ilha com canaviais na Ponta de Sol6) Mercador flamengo7) Irmão de Quirio Catanho , mercador genovês8) Mercador florentino residente em Lisboa9) Florentino de família nobre, residente na ilha

10) Genovês, residente na ilha desde 1480II) Genovês. residente na ilha desde 150512) Mercadores de Ponte Lima

Tal como os italianos, os franceses e flamengos surgem na ilha, desde finais doséculo XV, atraídos pelo rendoso comércio do açúcar; mas já não se enraizam na sociedadeinsular, mantendo a sua condição errante; na verdade, o seu interesse é única e exclusi­vamente a aquisição do açúcar a troco dos seus artefactos, alheando-se da realidadeprodutiva e administrativa locais. Os franceses distinguem-se pelas suas operações de trocaem tomo do açúcar (20%), enquanto os flamengos mantêm uma posição subalterna, mesmocomo grupo interveniente no mercado madeirense; no entanto, aliam a Madeira a rede denegócios das Canárias, que surge como ramificação das praças nórdicas e andaluzas; a suacondição de estantes limitou o seu aparecimento e rastro na sociedade madeirense, pelo quese torna impossível avaliar da sua importância.

Os mercadores franceses têm uma presença muito activa no comércio do açúcar daMadeira na primeira metade do século XVI; aparecem com frequência nas comarcas doFunchal, Ponta de Sol, Ribeira Brava e Calheta, onde adquirem grandes quantidades de

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açúcar que transportam em embarcações suas. Nesse trato evidenciaram-se mestre António,Archelem, António Coyros, António Caradas e Francisco Lido (47).

Nos Açores a inexistência de uma forte rede de negócios em tomo do açúcar, bemcomo a sua desvalorização em favor do pastel e dos cereais, limitaram as possibilidades deintervenção da burguesia italiana e castelhana, e abriram as portas à intervenção deflamengos e ingleses, interessados no comércio do pastel. Linschoot, em 1589, refere que ocomércio do pastel era feito por franceses, ingleses e escoceses (48); quanto a PontaDelgada, diz-nos que aí «vão mercadores franceses, ingleses e escoceses buscar o pastelmais do que vão à Terceira, e que lá levam mais de duzentos _quintais todos os anos" (49).

Esta assídua frequência de mercadores estrangeiros nos portos de Ponta Delgada e deAngra era considerada pelos seus vizinhos como ruinosa, pelo que solicitaram ao monarca,em 1557, medidas limitativas da sua actuação Ç'"). No entanto, estas pretensões só foramatendidas na década de 80, já sob o domínio filipino'; através de uma guerra de represáliasinterditou-se o mercado açoriano à sua intervenção, primeiro com a proibição de venda dassuas mercadorias, depois, proibindo a sua actividade nas ilhas (51); todavia, esta proibiçãonão surtiu o efeito desejado, uma vez que os por ela visados se mantiveram activos,servindo-se da intervenção de outros mercadores, pelo que em 1590 e 1596 o governoespanhol reforçou a represália (52).

As Canárias estiveram, ao longo dos séculos XV-XVI, sujeitas à investida de merca­dores forasteiros, que participaram activamente na conquista e ocupação, relançamento dasbases da estrutura sócio-económica, e também na activação e manutenção dos circuitoscomerciais; primeiro os portugueses e genoveses, depois, os flamengos e franceses.

Os genoveses, fortemente implantados na Andaluzia, tiveram no século XV umaparticipação muito activa no comércio da urzela e escravos deste arquipélago. (53). O seuinteresse pelo comércio nesta área comprometeu-os com o processo de conquista, e esteconduziu ao reforço das suas actividades comerciais no arquipélago e na sociedadenascente (54); desalojados das suas feitorias e cidades no Mediterrâneo, impedidos de aícomerciar pelos árabes e pelas rivalidades políticas dos seus irmãos, procuraram noMediterrâneo Atlântico o lugar ideal para a sua morada; a Madeira, Gran Canaria e Tenerifeserão, assim, nos séculos XV e XVI, a sua pátria atlântica, onde se fixam como vizinhos,tomando-se em poderosos proprietários, mercadores e prestamistas.

(47) Ibidem, 82-83.(4

8) «História da navegação de J. H. Linschoot.., in B.l.H.l.T., n.? I (1943), 152-154.(49) Ibidem, 154.(50) Francisco Ferreira Drumond, Anais da /lha Terceira, I, 36; Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica

do povo açoriano» in Obras /I, Angra do Heroísmo, 1983, 58-59. .(51) B.P.A.P.D., Ernesto do Canto, Extractos de documentos rnicaelenses. vol. IV; L.0 I da Câmara de

Ponta Delgada, fi. 125. provisão régia de 22 de Junho de 1586; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de PontaDelgada e o comércio açoriano no século XV/I / ... l , 87.

(52) lbldem, p. 87; Idem, Os Açores e a rede de negócios no Atlântico seiscentista / .. .l , 558-559.(53) A diáspora genovesa em direcção ao Atlântico resulta de causas político-económicas subjacentes às

cidades e feitorias mediterrânicas; veja-se Hipolito Sancho de Sopranis, «Los Sopranis en Canarias I49?-1620», inRevista de História, XVII (1951), 319-323; Miguel Angel Ladero Quesada, «Ia economia de las islas canarias acomienzos dei siglo XVI», in Historia General de las islas Canarias, III, 124-138; Charles Verlinden, «modalitéset methodes de Commerce colonial dans I'empire espagnol au Xvl e síêcle... in Revista de Índias, n.? 48 (1952).256-257; Francisco Morales Padron, Sevilha, Canarias y America, Gran Cariaria, 1977, 183-187.

(54) Manuela Marrero Rodrigues, «Los genoveses en la colonización de Tenerife (1496-1509) » , in Revistada História, XVI (1950), 52-65; Idem, «Los Italianos en la fundación de Tenerife», in Studi in onore di AmintoreFanfani, vol. V, Milano, 1962,331-337; Manuel Lobo Cabrera, Protocolos de Alonso Gutiérez, Tenerife, 1929,19-20; Hipolito Sancho de Sopranis, ibidem; Antonio Rumeu de Armas, Alonso de Lugo en la corte de los Reyescatólicos (/496-/497) Madrid, 1954; Idem, La conquista de Tenerife, Tenerife, 1975, Leopoldo de la RosaOliveira, "Francisco de Riberol y la colonia genovesa en Canarías», in A.E.A., n.? 18 (1972), 61-198; Idem, "Lavaria Fortuna de los Rivarola», in A.E,A., n.? 12 (1966), 167-200; Charles Verlinden, «GIi italiani nell'economiadeiie êanarle alI'inizio delIa colonizazione spagnola», in Economia e Storia, VII, n.? 2 (1960), 140-172; Idem,«Le influenze italiane nelIa colonizazione iberica (Uomini e metodi)» in Nuova Rivista Storica, XXXVI (1952).

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Destes mercadores genoveses poderemos identificar três tipos, de acordo com o seumodo de fixação: 1. Conquistadores, que tomam parte activa nas conquistas das Canárias,como guerreiros e financiadores das expedições; 2. Povoadores, que surgem após aconquista, usufruindo dos incentivos inerentes ao processo de ocupação; e 3. Mercadores,solicitados pelo desenvolvimento das relações de troca locais, que surgem temporariamente,dedicando-se ao comércio de manufacturas e açúcar, apoiados pela intervenção dos seuscompatrícios aí residentes.

Conquistadores e povoadores adquirem importância na sociedade nascente, em Tene­rife e Gran Canaria, tornando-se nos mais importantes hacendados, com uma intervençãodirecta e activa na administração, comércio e finança; neste grupo, incluem-se Mateo Vifia,Cristóbal Ponte e Tomás Justiniano, que surgem em Tenerife como os mais ricos dailha (55).

Em Gran Canaria a sua implantação é mais clara e dominadora da economia açucareiralocal, pois aí representam 70%, enquanto em Tenerife não ultrapassam os 28%; apesardisso, Clavijo Hemandez considera que a ilha de Tenerife foi o centro mercantil dosgenoveses (56). A razão dessa implantação em Gran Canaria deriva da sua acção naconquista, povoamento e lançamento das principais arroteias para os canaviais; de financia­dores da conquista passam a financiadores de plantação e safra dos canaviais. Incluem-seneste grupo Francisco Riberol, António Manuel MayueIlo, Bautista Riberol e JacomeSopranis (57). A sua importância fica revelada pela posse do patronato de capela maior doconvento de S. Francisco e pela designação de uma rua - calle de los genoveses (58).

Tal como na Madeira, eles intervêm na vida administrativa local, como funcionários ourendeiros dos direitos reais; é o caso de Juan Leandro e Luis de Couto, que em 1524 surgemcomo arrendatários das terças reais (59).

Sendo certa a fixação de muitos genoveses na sociedade canária, surgindo aí comocomponentes importantes da aristocracia fundiária, não é menos certa a sua presença comcarácter temporário; aliás o número de mercadores genoveses referenciados em GranCanaria sob o título de estantes, de acordo com a enumeração de Guilherme Camacho yPérez Galdos, é quatro vezes superior ao dos vizinhos (60); ao invés, em Tenerife osvizinhos representam 57%. A primeira situação explica-se pelo facto de a maioria destesagentes se dedicar ao comércio de exportação de açúcar e de importação de manufacturas, oque implicava um movimento assíduo nas ilhas e entre estas e a Buropat'"): além disso,esses homens tinham, na sua maioria, as suas casas instaladas na costa andaluza, mantendouma rede de negócios em todo o mundo atlântico, com familiares, feitores ou procura­dores (62); Francisco Riberol, por exemplo, um dos mais importantes mercadores genoveses,residia ora em Sevilha, ora em Gran Canaria, tendo, aliás, nesta ilha grandes interesses naeconomia açucareira (63).

(55) Manuel Lobo, Ibidem, 19; Manuela Marrcro Rodrigues, Los gelloveses en la organlzatíon de Tene~ife/ ... / 57; Eduardo Aznar, ob, cit .. 196; Augustín Guimerá Ravina, «El repartlrniento de Daute (Tenerife:

1498-1529), in III C.H.C.A .. I, 1978, 127-128, 133-134,(56) Fernando Clavijo Hernandez, Protocolos dei escribano Hernân guerra, 39-40,(57) Guílhermo Camacho y Pérez Guldós, ob, cit, 41-42, 49-50, 52-54.(5B) lbidem, 52. . .(59) A.H.P.L,P., A. S. Clemente, n.o 2316, n. 436, Galdar, 22 de Janeiro de 1524, dívida aos arrendatanos

das terças reais. . . h N(60) Ob, cit .. 524, Este autor referencia oitenta e oito mercadores genoveses, sendo 81,82% VIZI~ ?s, a

nossa recolha das fontes impressas apenas encontrámos cinquenta e quatro sendo 70% estante 29% VIZinhos.(61) R. Diaz Hernandez, EI aztlcar en Canarla, Las Palmas, 1982, 41.(62) A. Cioranescu, História de San/a Cruz / ... l , t. I, 1977, 102. Manuel Lobo Cabre~a refere que ..los

mercadores agentes como los capitalistas, residen indiferentemente tanto en el lugar de produccion como en el decomercialización , anque lo corriente es que los agentes residan en los primeros y los capitalistas en los segundos..(EI comercio entre Gran Canaria y Flandres hasta 1558 / .. .l , 47).

(63) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 196; Fernando Clavijo Hernandez, ibidem, 38-40.

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Em síntese pode-se dizer que o mercador genovês teve uma actuação primordial naeconomia canária, dominando quer a exploração dos recursos com valor mercantil (urzela),quer a produção para troca no mercado europeu (açúcar), quer ainda, a venda de manufac­turas de importação (64).

Os genoveses surgem na sociedade canária como os mais representativos (91 %) dacomunidade italiana, não obstante a presença activa dos lombardos e dos florentinos nasoperações financeiras; entre estes sobressaem Juanoto Berudo, florentino e conquistador deLa Palma e Jacome de Carminátis, lombarda, que aliava o comércio à agricultura e àactividade artesanal (65).

A comunidade flamenga será uma componente de quase igual importância na economiae sociedade canária. Não obstante a intervenção isolada de um ou outro como mercador ouconquistador no século XV, os flamengos só chegam ao arquipélago nos começos do séculoXVI, adquirindo notoriedade a partir da década de 20(66); atraídos pelo comércio do açúcare das plantas tintureiras (pastel, urzela), estabelecem uma rota importante para a exportaçãodesses produtos e de importação da rapa. A sua actividade alargava-se a todos os sectoresdo mercado, desde a venda em tenda à concessão de empréstimos em dinheiro e mercadoria,ao comércio externo das ilhas; estabeleceram deste modo uma importante rede de negóciosno arquipélago, a partir das ilhas de Gran Canaria, La Palma e Tenerife(67). Esta últimaatraiu maior número de mercadores dos países baixos, tendo-se afirmado como principalpólo de fixação e manobra; aí apartaram 57% dos mercadores flamengos, enquanto a GranCanaria apenas chegaram 32% e La Palma um reduzido grupo de 8%.

O mercador flamengo que aparece nas ilhas de Tenerife e Gran Canaria é na suamaioria visitante, sendo reduzido o número com morada fixa (15%); na primeira temos 87%como estantes e na segunda 76%. As suas operações, por que se circunscreviam ao domíniocomercial-financeiro e de transporte, não implicavam uma permanência constante noarquipélago; a sua estada é temporária, limitando-se ao tempo necessário para a venda darapa e' a compra ou troca do açúcar para a viagem de retorno; apenas quando as dificuldadese as delongas das suas operações lhe impossibilitavam o retomo rápido o mercador se via

(64) O comércio de manufacturas en Gran Canaria estava sob controle dos mercadores genoveses eflamengos, salientando-se, nos primeiros, Sebastián Burón, Jerónimo de Franquez. Juan Batista Vijia e, nossegundos, Larnberto Broque; Veja-se A.H.P.L.P., Roque de Couto, n.? 857, passim; Manuel Lobo Cabrera.Indices y extractos / .. .l , 16.

(65) Manuela Marrero Rodrigues define de modo exemplar esta predomináncia e trifuncionalidade dosgenoveses: ..Los mercadores que no desdénan modalidad alguna de negocio y ai miesmo tiempo forrcn suscapitales tento en operaciones muy lucrativas como en otras menos brillantes y de menos rendimiento.

Los genoveses, vecinos de Tenerife, son empresarios agrícolas con capital y haciendo que demonstram'saber valorizar la tierra más ingrata que les he tocado en repartimiento. Además sou mercadores venden losproductos de su plantación y traten de ampliar 5U actividad comercial, sin oluidar su condición de pustamistas perala actividad de los genoveses es doble. Unos participan tanto de la producción corno de la distribuicción, miutrosotros se dedicam como actividad única a Ia prestación de servicios-, (Protocolos del escribano Juan Roiz deBerlanga. Tenerife, 1974, 40-41; Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., 197-198.

(66) Para o conhecimento de colónia flamenga nas Canárias veja-se Manuela Marrero Rodrigues, «merca­dores flamengos / ... / ", IV C.H.C.A .. 1(1980), 599-614; Idem «los flamengos en los comienzos hispánicos deTenerife», in Studi in memoria Frederigo Mellis, UI, 1978,587-593; Enrique Stols, «Les Canaries et l'expansionColoniale / .. .t ; in IV C.H.C.A .. II (1980). E também: F. Donnet, Histoire de I' établissement des Anversois lll/X

Canaries llU XVI siêcle, Anvers, 1895; Joseph Van Cappellen, «Los Van de Valle des Flandres", in Revista deHis/o.ria Canaria 141-148 (1963-1964), 45-55; J. A. Van Hontte e E. Stols, ..Les Pays-Bas et la Mediterranéatlantique au XVI siêcle- , in Melanges en I'honneur de Fernand Braudel; I, Paris, 645-660: Manuela MarreroRodrigues, ..Los mercadores flamencos en los cornienzos hispánicos de Tenerife», in Studi in memori FredrigoMolis, III, 1978, 587-593; Idem, « Mercadores flamengos / .. .] » in IV C.H.C.A .. I, 599-614: E. Stols, .. LesCanaries et l'expanslon coloniale / .. '/'" in IV C.H.C.A., II.

(67) Manuela Marrero, Los mercadores flamengos / ... /,601-609, refere que « los ftamencos son conocidoscomo tales. En esta primera mitad des siglo XVI venden los productos más solicitados en los centros mercantiles ytratan de ampliar actividad comercial. Pero la actividad de los flamencos es doble. Unos participan tanto de laproducción corno de la distribuicción mientros otros prestan sus servicios por cuenta ajena- (lbidem, 609).

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forçado a assentar morada; em alternativa, e a prática era corrente, fazia-se substituir pormeio de procuração, por feitores ou agentes. '

Apenas em La Palma nos deparamos com uma pequena comunidade fixa com forteimplantação no meio sócio-económico da ilha. Em primeiro lugar tivemos a intervenção dosWelsers na economia canária por intermédio de Juan Bisen e Jácome de Monteverdeinvestindo capitais no sector produtivo com a compra de importantes terrenos em Tazacortee los Danos; Jácome de Monteverde, ao adquirir a titularidade deste património fundiário,tornou-se um dos principais proprietários do arquipélago (68). A ele juntaram-se em 1562 os:van de WaIle ~ue aí fixam morada e adquiriram terrenos (69); esta família, como componenteinfluente da Cidade de Bruges, conduziu à valorização das rotas comerciais das Canáriascom a Flandres. O mercador flamengo, coma mesma facilidade que o genovês, penetra nasoci~~ade insular. adquirindo o estatuto de vizinho, relacionando-se com as principaisfamílias desta SOCiedade nova e comandando os activos circuitos comerciais com as cidadesde origem - Bruges e AnversCo).

Os mercadores oriundos dos reinos peninsulares surgem como o grupo mais numerosodos forasteiros na Madeira (13%), Açores (5%) e Canárias (28%); são geralmente origináriosdas regiões costeiras da península com tradição marítimo-comercial; assim na Canáriasdominarão as regiões andaluza e a catalã, enquanto que na Madeira e nos Açores pertenceráa região de Entre-Douro-e-Minho.

Para a Madeira surgem três áreas perfeitamente delineadas dos mercadores oriundos doreino: Algarve (9%), Lisboa (13 %) e norte do Douro(7l %), sendo as mesmas dominads poralgumas vilas e cidades costeiras importantes, como Lagos, Tavira, Lisboa, Ponte Lima,Caminha, Vila Real e Vila do Conde. Os contactos com a região de entre Douro e Minhoiniciaram-se muito cedo, pois desde 1477 que há referência a um comércio assíduo de panose outros produtos desta área a troco de açucar da ilha (71).

Ao invés, nas Canárias a maior participação surge da região andaluza (35%), dominadapelas principais cidades da bética: Sevilha (9%) e Cádiz (4%). A vinculação comercial daregião andaluza é anterior à conquista das Canárias, reforçando-se com esta (72). Aosandaluzes seguem-se os catalães (12 %), cuja comunidade nas Canárias, ao contrário daandaluza e galega, se dedicava em exclusivo ao comércio, com uma intensa actividade emTenerife, Gran Canaria e na zona de Cádiz e Sevilha; os poucos que fixam morada nasCanárias, como Rafael Fonte e Pedro Benavente, não renegaram a sua ascendência e a suaactividade, mantendo contactos assíduos com a sua região de origem e activando um sistemade trocas entre si ('3).

(68) Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit .. 198, M. A. Ladero Quesada, La economia de las islas Canarias/ .. .l , já citado, 129.

(69) E. Stols, ibidem, 906, 9% 9, 914; M. A. Ladero Quesada, ibldem, 129.eo) Giles Hana, mercador flamengo, vizinho de Daute (Tenerife) casou-se com Francisca de Canninatis

filha do mercador lombarda, Juan Jácome de Carminatis que por sua vez era casado com Juana Joven, filha deJaime Joven, mercador catalão, vizinho de Tenerife; Juan de Xembrens, mercador flamengo, vizinho de Tenerife,casou-se com Ana de Betencor, filha de Guillén de Betencor. Veja-se Manuela Marrero, Los mercadoresflamengos / ... / 611-614.

('1) Joel Serrão, "Em torno das condições económicas de 1640", in Vértice, X-XI, 1951, 6: ErnestoGonçalves, "João Gomes da ilha», A.H.M., XI, 46. Gaspar Frutuoso (ob, cit., L. 0 II, 358-359) refere que em1566, no momento de assalto francês ao Funchal, residiam na Rua do Sabão dois mercadores de Guimarães com"suas logeas de mercadorias de pano de linho e de burriés-. Luis de Sousa e Melo ("Emigração na Madeira », inHistória e Sociedade, n.? 6, 1979,49-52) em estudo sobre a imigração madeirense, entre 1539-1600. refere que osindivíduos oriundos da região de Entre Douro e Minho represen!avam 50%.

(72) Eduardo Aznar ValIejo, ob. cit ., 16, Idem, "Relaciones comerciales entre Andalucia y Canarias a finisdeI siglo XV y comienzos deI siglo XVI», in Coloquio de Historia Medieval Andaluzia, Sevilha, 1982.

('3) Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez; 16; Idem, Los galejos en canarias I .. ./ 213: ManuelaMarrero Rodrigues, Protocolos dei escribanoJuan Ruiz de Berlanga, 42; Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit., 197;Elias Serra Rafaels, «Introducclon-, in Acuerdos Cabildo de Tenerife, II, 1952, p. X; F. Mauro Fuentes, «Tazrniade la lsla de Tenerife de 1552», A.E.A .. n.? 25; 1416.

87

aoao

ORIGEM N.· %

Porto 12 11,43Guimarães 15 14,28Ponte Lima 17 16,19Viana 11 10,48Lisboa 10 9,52Tavira 4 3,81Lagos 2 1,90Algarve 3 2,86Vila Real 5 4,76Vila do Conde 4 3,81Covilhã 3 2,86Aveiro I 0,95Canaveses 2 1,90Abrantes 1 0,95Guarda 1 0,95Braga 3 2,86Lamego 1 0,95Chaves 2 1,90Barcelos 1 0,95Olivença 1 0,95

.15-20Torres Novas 1 0,95Sinfães 1 0,95Gouveia 1 0,95 eOutros 3 2,86 6-12

Total 105 12,75 • 3-5

• 1-2

MERCADORES DO REINO NA MADEIRA. Séculos XV e XVI

ORIGEM 1'1." \f

Catalunha 16 IUISevilha 12 8.63Cádiz 5 3.97Barcelona 3 2.16Moguer I 0.72Biscaia 2 1,44

Burgos 2 1.44Outros 98 28.26

e l().20

• 1·2

12

MERCADORES ESPANHOlS NAS CANÁRIAS. Século XVI

89

A influência e acção da comunidade castelhana e portuguesa no espaço insular não éuniforme, pois varia de ilha para ilha e de época para época. Esta alteração espacio­-ternporal resulta da conjuntura político-sócia-económica do Mediterrâneo Atlântico emparicular, e da Europa atlântica, no geral.

Nas ilhas portuguesas a acção dos mercadores de Castela é reduzida e, apenas ganhaimportância no período filipino (1580-1640). Mas se no caso dos Açores poderá considerar­-se nula, na Madeira terá alguma representatividade (2 %), resultante da posição dessa ilhaem relação às rotas peninsulares de ligação às Canárias e do necessário comércio de cereaisentre as Canárias, a Madeira e Lisboa. Daí deriva essa intervenção castelhana com caráctertemporário ou fixo. Os Açores, alheios a estes circunstancialismos, surgiram apenas comosustentáculo da rota de retomo das Índias, facto que atraíu as atenções dos agentescomprometidos nesse trato, mas apenas no intuito de assegurar a chegada dos seus produtosa porto seguro, intervindo raras vezes no mercado local.

As Canárias, pelo contrário atraíram as atenções de mercadores, marinheiros e agentesde Portugal e ilhas (4). As diversas províncias do reino associaram-se ao processo deconstrução da sociedade canária: do Minho e Beiras vieram agricultores e artesãos: do litoralalgarvio os marinheiros e pilotos de navios. Da comunidade portuguesa faz parte um gruponumeroso de mercadores (32 %), interessado no comércio dos cereais, de escravos e da tãosolicitada oportunidade de uma saída até às Índias (5). A importância da comunidadelusíada é de tal modo significativa em Tenerife e Gran Canaria que justificou a existência deuma rua em Las Plamas e na vila de San Cristóval (Tenerife) (6).

O mercador insular, com parcos recursos financeiros, não poderia usufruir das mesmasvantagens que o mercador hispânico e europeu, pelo que estava limitado o seu campo demanobra; encontrava-se, muitas vezes reduzido à posição subalterna de feitor ou procuradordo mercador do reino, dos flamengos e dos italianos. Perante esta circunstância hipera­trofiadora, ele aspira, apenas, a reduzidos contactos com o reino e ilhas próximas ou, então,algumas aventuras esporádicas nos arquipélagos vizinhos. O carácter temporário com queexecutam essas actividades comerciais não permitiu, muitas vezes, a sua referenciaçãodocumental.

(4) A emigração de portugueses para as Canárias filia-se nas pretensões à sua posse e na necessidade da suautilização nas viagens de exploração geográfica e comercial ao longo da costa ocidental africana. As pretensõesportuguesas à posse deste arquipélago remontam ao século XIV e só foram definitivamente abandonadas em 1479.Veja-se Florentino Perez Emibld, Los descobrimentos en el Atlântico y la rivalidad castel/ano-portuguesa hasta eltratado de Tordesilhas, Sevilha, 1948; Elias Serra Rafols, "Portugal en las islas Canarias», in Congresso doMundo portugues-memorias, III, Lisboa, 1940; Antonio Rumeu de Armas, Espana en el Africa Atlântica, 2 vols.Madrid, 1956; Charles Verlinden, «la découverte portugaise des Canaries», in Revue Belge de Philosofie etHistoire, XXXVI, 1958, 1173-1209; Luis Suárez Fernández, Relaciones entre Portugal y castilha enla época deiinfante D. Henrique, Valladolid, 1960; Jose Perez Vidal, «Aportación portuguesa a la poblacion de Canárias» inA.E.A .. 14 (1968), 41-42; Pierre Chaunu, Seville et l'Atlantique, T. VIII, vol. I, 382-384.

(5) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit.. 194-195; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez. 17-18; F.Clavijo Hernandez, Protocolos dei escribano Hernán Guerra, 36-37; A. Cioranescu, ob. cit.. I, 421; M. A.Ladero Quesada, ob. cit.. III, 128; Manuel Lobo Cabrera, "EI mundo dei mar en la Gran Cariaria» in A.E.A., n.?26, 342. Segundo Leopoldo de la Rosa "EI repoblamiento de los reinos de Icod y Daute», in Estudios Canarios,XIV-XV, 1968-1970, 37.

Charles Verlinden ("Le Role des portugais dans l'economie canarienne au début du XVle sieclc», inHomenaje a Elias Serra Râfols, III, La Laguna, 1970,423) refere-nos a propósito: "II s'agit donc avanttout d'unvéritable prolétariat colonial parmi lequeI la pauvreté n'est pas rare 1.. ./.

A Tenerife, au début du XV!" siêcle, presque tous les Portugais sont des ouvriers ou des Ires modestesagriculteurs. Aucun comparaison n'est possible avec les autres groupes étrangers, italiens ou fIamends, ou lesmarchands dominenl. Ce qu'aportent ces derriers ce sont des capitaux et des relacions comerciales. Les Portugais,à quelques rares exceptions prês fournissent surtout leur bras. II est intérressant de noter ce contraste, tant pourl'éconornie que pour la sculture sociale des Canaries au début de la colonization espagnole».

(6) A.H.P.L.P., Diego de San Clemente. n.? 733, fi. 274; Manuel Lobo, lbldem, 18 Maria Isidra CoelhoGomez, Protocolos de Alonso Gutiérrez, 686.

90

I

e·· ·

91

Sabemos da existência e assiduidade desses contactos, mas pouco ou quase nada dosnomes dos intervenientes; lacunas da documentação insular impossibilitam um conhecimentoaprofundado dessa situação; assim, nos Açores há apenas referência a um mercador canário,enquanto nas Canárias apenas se noticia um mercador madeirense (7).

No entanto, na Madeira encontramos uma importante comunidade de açorianos (2 %),resultante da assiduidade de contactos entre os dois arquipélagos em torno do comércio oufornecimento de cereais; aliás, se tivermos em conta a sua origem, verificaremos que elesprevêm, na sua maioria (75 %), das ilhas de maior comércio e contactos com a Madeira, ouseja, S. Miguel e Terceira.

Definida a componente forasteira dos agentes comerciais da sociedade insular, torna-senecessário referenciar o seu comportamente em conjunto com os naturais ou residentes, noespaço amplo e heterogéneo que é o mundo insular hispânico.

Mercadores nas ilhas: distribuição geográfica

MADEIRA sÃO MIGUEL TERCEIRA CANÁRIAS

LOCALIDADE N." % LOCALIDADE N." % LOCALIDADE N." % LOCALIDADE N." %

Funchal 857 89,55 Ponta Delgada 30 68,18 Angra 23 79,31 Gran Canaria 281 51,94Calheta 42 4,39 V. Franca do Campo 7 15,91 Praia 3 10,34 Tenerife 246 45,47Santa Cruz 16 1,67 Ribeira Grande 5 11,36 La Gomera 1 0,18Ribeira Brava 23 2,40 Agua d'Alto 2 4,56 La Palma 11 2,03Ponta de Sol 4 0,42 Lanzarote 1 0,18Machico 2 0,21 Fuerteventura 1 0,18Caniço 2 0,21Faial 1 0,10

Total 947 98,95 Total 44 59,46 Total 26 89,65 Total 541 99,27

A sua implantação nesta área é evidenciada por uma tendência concentracionista,comandada pelas principais ilhas e cidades portuárias. Nos Açores as ilhas de S. Miguel eTerceira absorvem a quase totalidade do grupo de mercadores aí radicados e, nas Canárias,as de Tenerife e Gran Canaria 97 %. Além disso esta tendência toma-se radical quandoencaramos as duas ilhas isoladamente, pois, no primeiro caso, a ilha de S. Miguel apresenta72 % enquanto a Terceira fica reduzida a menos de metade; no segundo, a comunidade deGran Canaria (52 %) mais .numerosa que a de Tenerife (45%).

A esta predominância das cinco ilhas, em termos económicos, associa-se a dasprincipais praças comerciais - Funchal, Ponta Delgada, Angra, Santa Cruz (Tenerife),Garachico, Las Palmas. Na Madeira a cidade do Funchal acolhe 90% dos mercadores e nosAçores a cidade de Ponta Delgada 68 % e Angra 79 %.

As regiões periféricas subordinam-se assim aos interesses da burguesia concentrada nasprincipais cidades portuárias, que intervem de modo activo no comércio, quer por meio dasua acção directa, quer por meio de agentes, procuradores e familiares.

Mercadores nos Açores, século XVI

Proveniência N." %

S. Miguel 9 45Terceira 6 30Graciosa 3 15S. Jorge 1 5Santa Maria 1 5

Total 20 100

(7) Diego Afonso, mercador, natural da ilha do Faial, encontrava-se em 1511 em Tencrife (quadro n.? 2);Juan Porras, mercador, natural da Madeira, estava em 1521 em Gran Canaria (quadro n.? 3).

92

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Corvo

DFlores

oF"al

<:.30

• 6-10

• J-5

Graciosa

C)

MERCADORES NOS AÇORES. Século XVI

Terceira

S.ta Marla

w

A predominância da cultura sacarina. aliada a esta tendência, actuará de modo explícitona concentração dos agentes económicos. As áreas de maior produção na vertente sul.dominada pelo porto do Funchal, atrairão as suas atenções e condicionarão a sua vizinhançaalém do Funchal. Assim se explica a importância que eles adquiriram na Calheta e Ribeira

m:::m .~ Estrangeiros

~ Funcionários- ~. l .. r,~

O Proprietários

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750

250

500

Madeira Açores Canárias

MERCADORES NO MUNDO INSULAR. Sécs. XV a XVI

Brava, ao invés do que sucede em Santa Cruz e Machico; estas povoações situavam-se nacapitania de Machico com pouca importância na economia açucareira.

Na ilha de S. Miguel, a cidade de Ponta Delgada, como o seu porto e alfândegaprincipal de ilha, desde princípios do século XVI, domina a actividade de troca e aconcentração dos seus agentes. A importância de Vila Franca do Campo e da RibeiraGrande é justificada pelo seu peso na economia micaelense, pois nas suas proximidadessituavam-se as áreas de maior produção de pastel e de cereais. Na Terceira a vivência

94

ribeirinha do burgo angrense fez concentrar aí o grosso destes agentes, não obstante a vilada Praia se localizar numa das áreas mais importantes de economia agrícola terceirense. Talsituação deve-se ao facto da proximidade desta vila em relação a Angra e da facilidade dascomunicações por via marítima e terrestre. Se tivermos em conta a que na Praia eS. Sebastião existiam portos 'aptos ao comércio das produções da área, seremos levados acompreender o reforço da posição macrocéfala da praça angrense que domina toda a ilha ealgumas vizinhas, como S. Jorge e Graciosa.

O mercador vizinho ou estante procura, assim, o acolhimento das principais praçascomerciais do mundo das ilhas definidas com áreas de convergência da produção insular ede redistribuição das manufacturas europeias.

A actividade comercial não o absorve por completo, poís subdivide a sua acçãoquotidiana entre o comércio, o transporte, a banca, a produção e a administração local erégiaes); as primeiras actividades completam-se e garantem-lhe um pecúlio vantajoso,enquanto a última assegura as condições e meios privilegiados da sua acção.

Atraídos, primeiro, pela produção local, esses mercadores acabam por investir os seuscapitais em bens fundiários, tomando-se importantes proprietários; eles representam naMadeira 7% do total e nos Açores, 26%. Na primeira destas ilhas, mercê do desenvolvimentoe importância da cultura do açúcar, surgem como proprietários de canaviais, representando,na primeira metade do século XVI, 24% do total dos proprietários, com 30% da produção ('9).

A estrutura administrativa da sociedade insular, desde princípios do século XVI,organiza-se de acordo com as realidades sócio-económicas, procurando ajustar-se àsnecessidades da fiscalidade e da intervenção e regulamentação das actividades económicasdominantes.

Ao mercador, como interveniente comprometido com as realidades sócio-económicas,interessava uma posição de domínio nessa complexa estrutura administrativa, como formade fazer valer os seus interesses nas ordenanças, posturas, leis e regimentos. De entre osmercadores intervenientes nessa estrutura temos 10% na Madeira e 3% nas Canárias.

Na Madeira, dos referenciados, 52 % são funcionários da fazenda real, do almoxarifadoe alfândega e 48 % têm participação activa na administração municipal. Saliente-se queneste grupo de mercadores funcionários estrangeiros há dois estrangeiros na Madeira equatro nas Canárias (80).

(8) A. Guimerá Ravina, «Canárias en La Carrera das Indias- ([564-1778)>>, in Historia General de lasislas Canarias, IV, [73. Este Autor destaca a simbiose entre o proprietário agrícola-comerciante, produtor.

industrial e prestamista.(9) Veja-se Alberto Vieira, O regime de propriedade lia Madeira. O caso do açúcar (1509·1537).(80) Em Gran Canaria, Antonio Mayuello e Bautista Riberol , genoveses, foram regedores do cabildo e em

Tenerife, Arnaldo Vaudela, flamengo, foi administrador da fazenda e Michel Vasol, igualmente flamengo. foimayordomo deI Adelantado. Para a Madeira surgem Cristóvão Esmeralda, que foi contador e juiz da alfandega. eAntónio Dias, flamengo, recebedor dos quintos.

95

1.4 Emigração inter-insular

A elevada mobilidade social é uma das características da sociedade insular. Ofenómeno imigratório lançou as bases dessa sociedade, e a emigração ramificou-a eprojectou-a além Atlântico. As ilhas são, assim, num primeiro momento, pólos de atracção,passando, depois, a actuar como áreas centrífugas. A novidade aliada à ambiência, quedefiniram o processo de ocupação, activaram o primeiro movimento; a desilus~o, asescassas e limitadas possibilidades económicas e a atracção pelas riquezas das Indias,definiram o segundo surto (1).

Primeiro, foi a Madeira, depois, os Açores e, finalmente, nos alvores do século XVI,as Canárias. Desiludido com a Madeira, o colono procura melhor fortuna nos Açores, mas,gorada também essa iniciativa, procura refúgio nas Canárias, aliando-se, em finais doséculo XV, ao processo da conquista e ocupação deste grupo de ilhas. A Madeira terá,assim, um papel primordial no movimento migratório insular no século XV, actuando Comopólo de atracção e redistribuição no mundo das ilhas do Norte Atlântico.

Esta extrema modalidade do ilhéu levou os monarcas a restringir o movimentoemigratório em favor da fixação do colono à terra, de modo a evitar-se o despovoamento,Nas Canárias, em 1484, proibia-se a saída dos vizinhos de Fuerteventura, Lanzarote,Gomera e Ferro para Las Palmas e); nos Açores nas décadas de 60 e 70 dão-se incentivos àfixação de colonos e).

No século XVI desvanece-se o interesse pelas ilhas. Todas as atenções convergem parao continente americano, a nova esperança do europeu e do insular. O posicionamento doarquipélago canário no traçado das rotas das Índias Ocidentais e Orientais coloca-o nasituação de foco irradiador de colonos e aventureiros para o Novo Mundo. Aí se concentravaminsulares e europeus à espera da almejada partida para as Índias. Indo ao encontro dessaânsia de fuga do ilhéu, o monarca castelhano passou autorização especial, em 1511, para aemigração canária para as Índias, tendo-se mesmo organizado, em 1537, 'expedições comgente recrutada nestas ilhas (4); os cabouqueiros do atlântico-insular projectavam a suaexperiência além-atlântico. Mas o perigo eminente do despovoamento do arquipélago, bemcomo a utilização desmesurada desta via por estrangeiros, nomeadamente portugueses,conduziram ao cancelamento de autorizações de viagens com tal destino, em 1574 (5).

e) Segundo Juan F. Martin Ruiz (EI N. W. de Gran Canarias / .. .l , Las Palmas, 1978) «La ernigracion queuna constante en la sociedad canaria. Esta hecho esté, un primer lugar, en relación con unas bases estruturalesprecarias: una economia de monocultivo comercial en la costa, e de subsistencia em medianias y cumbres. Junto aesta estructura economica precaria, como ya hemos seiialado, un crecimiento natural vertiginoso. Casi todos losperíodos intercensales arrojon soldos migratorios negativos, favorables, portanto a los emigrantes. El numero deemigrantes parece que aumenta justamente en los ciclos de crises agraria » ilbidem, p. 12).

e) A.G.S., Registro general dei sello. t. III. fi. 6, cédula real de 5 de Janeiro de 1484, referenciado porEmilia Sanchez Falcón, ..Evolucion demografico de las Palmas... in A.E.A., X (1964), 312.

e) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores /lO século XVl/ 1 ... l , 11-43.(4) Analola Borges, ..Emigracion canaria e americana.., in A.E.A .. .n." 23 (1977) 244-245. A mesma refere a

propósito: - ..EI transplante humanc es lo más transcendental de los factores determinantes de las relacionescanario-indianas y la más preciosa aportación a la empresa del XVI. Desde principias del siglo comienzan a partirfamílias procedentes de Lanzarote, Hierro y Gornera; posteriormente el contingente mayor de emigración lo darán lasislas recientemente conquistadas e. incorporadas a la carona de Castilla, que, además son también las islas mayores:Gran Canaria, Tenerife, La Palma. La ernigracion se extiende a toda la centuria y se hará aún más patente en lossiglas seguíentes» (lbidem, p. 243).

(5) Ibidem, p. 247.

96

Francisco Morales Padron transmite-nos de forma modelar essa realidade da sociedadecanária do século XVI: «Las islas fueron primero, como una espera de lo desconocido:luego una previa experiencia; después se transforrnaron en camino para las Índias, y mástarde se convierten en vivero conformador dei Nuevo Mundo» (6).

As ilhas portuguesas não se dissociaram do processo expansionista português doAtlântico e do Índico. A aristocracia insular, imbuida das ideias de conquista e dedescobrimentos, participou activamente nas viagens de exploração para Ocidente e nasdiversas expedições a África e Brasil C). Além disso muitos dos seus vizinhos, ambicionandomaior riqueza ou impelidos pelas circunstâncias, saíram para o Brasil e Índia (8).

As ilhas, pela sua proximidade e similar forma de vida, aliadas às necessidades decontactos comerciais assíduos, mercê da complementaridade sócio-económica, exerceramigualmente forte atracção entre si. Madeirenses, açorianos e canários não ignoram a suacondição de insulares e, por isso mesmo, sentiram necessidade de um estreitamento doscontactos e relações, com especial relevo para os comerciais (9). Nesta comunhão de ideias eneste espírito de entre-ajuda teremos a solicitação de colonos experimentados da Madeirapara a cultura e safra do açúcar nas Canárias e Açores et°).

A Madeira mercê da sua posição charneira entre os Açores e as Canárias e daprioridade da sua ocupação, foi desde meados do século XV um importante fornecedor decolonos a estes arquipélagos. Foram os madeirenses que deram o arranque definitivo àocupação da terra açoriana e, nomeadamente, à ilha de S. Miguel. Os filhos segundos daaristocracia madeirense, sem direito a uma parcela de terreno do seu torrão natal por forçado direito sucessório, procuram adquirir nos Açores e, depois, nas restantes áreas deocupação portuguesa, aquilo que lhes foi negado na Madeira. Assim o conseguiram RuiGonçalves da Câmara ao trocar, em 1474, as suas parcas fazendas na Ponta de Sol pelaCapitania de S. Miguel. O mesmo sucedeu com Álvaro de Ornelas ao adquirir a capitania dailha do Pico. Com estes vieram outros membros de aristocracia madeirense na esperança deadquirir maior número de dadas de terras; assim sucedeu com alguns membros da família

(6) Canarias y America, Las Palmas, 1982, p. 9.(') Francisco Carreiro da Costa, Esboço Histórico dos Açores, Ponta Delgada. 1978. 90-100; Alberto Artur

Sarmento, A Madeira nas praças de África I ... 1, Funchal. [932.(8) Fernando Augusto da Silva. "Emigração.., in Elucldario Madeirense, III, (1960), 391·392; Sónia A.

Siqueira, A inquisição portuguesa e a sociedade colonial, S. Paulo, 1978; José Gonçalves Salvador, Cristãos-novos.Povoamento e conquista do solo brasileiro (1530-/680), S. Paulo, 1976.

(9) José Perez Vidal, «Esbozo de un estudio de la influencia portuguesa en la cultura tradicional cariaria... inHomenaje a Elias Serra Rafais, I; La Laguna. 1970. 369-390; Idem. «Aportacion portuguesa a la poblacion deCanarias, Datos para su estúdio... in A.E.A .. n.? 14 (1968). 41·106; Margarita I. Martin Socas e Manuel LoboCabrera, -Emigracion y comercio entre Madeira y Canarias en el siglo XVI», in Os Açores e o Atlântico (séculosXIV-XVJJlJ, Angra do Heroísmo, 1984.678-700, Manuel Lobo Cabrera e Maria Elisa Torres Santana ..Aproxirnaciona las relaciones entre Canarias y Azares en los siglas XVI y XVII .. , in ibidem, 352-375; Charles Verlinden, « Le rôledes portugais dans l'economie canarienne au début du XVI siécle ... in Homenage a Elias Rafais, Ill, La Laguna.1970. 411-426.

eo) Foram os colonos madeirenses. conduzidos pelo governador Pedro de Vera. que lançaram os alicerces daeconomia açucareira; levaram consigo a técnica do regadio, de cultura e transformação do açúcar. Veja-se J. Vieira yClavíjo, Noticias de la Historia General de las islas Canárias, Santa Cruz de Tencrife, 1967. I. 550; GuilhermoCamacho y Pérez Galdós, "EI cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) .., lnA.E.A., n.? 7 (1961). 13; Maria Luísa Fabrellas, «La produccion de azúcar en Tenerife» , in Revista de Historia,n,o 100 (1952), 471. O mesmo sucedeu com os Açores, tendo os madeirenses levado a cana e as técnicas do cultivo elaboração; a esta situação não será estranha a presença de Diogo de Teive na Terceira, na segunda metade do séculoXV. uma vez que havia sido o primeiro a solicitar. em 1452. licença para a construção de um engenho na Madeira(Gaspar Frutuoso. Saudades da Terra, L,0 VI, 64).Além disso mestre António Catalão teria vindo para Santa Mariacom o intuito de ensinar a plantar cana (Urbano de Mendonça Dias. História dos Açores. Ponta Delgada, [924. 132).Frutuoso refere-nos ainda a vinda de um mestre de açúcar das Canárias para Vila Franca do Campo (lbldem, L,0 IV,vol. II, p, 60).

97

Betancor, os descedndentes de Gonçalo Aires Ferreira, dos Furtados de Mendonça de Castela,dos Martim Mendes de Vasconcellos, dos Tavares, dos Cantos e dos Barcelos (11). Todoseles receberam dadas de terra em S. Miguel, Terceira e Santa Maria, tornando-se influentesnos locais de fixação ez). Essa posição adveio das vantagens iniciais na aquisição de terras,do seu espírito empreendedor e do seu rápido relacionamento matrimonial com as principaisfamílias açorianas (13).

Aliada a esta vaga de povoamento teremos, ao longo do século XVI, novas levas deemigrantes, provocadas quer pelo movimento comercial, quer por causa da peste queassolou a Madeira, na primeira metade desse século e4

) .

Dos madeirenses emigrados para os Açores, nos séculos XV e XVI, 62 % destinaram­-se aS. Miguel, l7 % à Terceira e os restantes distribuiram-se por Santa Maria, Graciosa, S.Jorge, Pico e Faial. Esta situação denota o interesse sócio-económico dos madeirenses pelasduas ilhas mais importantes do arquipélago com as quais a Madeira mantinha estreitasrelações comerciais.

As Canárias não ofereciam aos madeirenses as mesmas possibilidades que os Açores.No entanto, a situação deste arquipélago, associada às esperanças postas no mito açoriano,atrairão o madeirense que num ou noutro arquipélago busca uma libertação das peias daaristocracia fundiária local ou uma solução para a crise açucareira. Para os mais ambiciososa mira será S. Tomé ou o Brasil, mas a maioria prefere as propostas aliciantes dosgovernadores de Gran Canaria e Tenerife à aventura tropical. Assim, um grupo numeroso delavradores, mestres de açúcar, carpinteiros, caldeireiros e refinadores trocou as agruras dacultura e safra do açúcar madeirense pela promissora faina açucareira de Gran Canaria eTenerifees). Da contabilização estabelecida para este surto emigratório há referência a 56 %relacionados com a safra do açúcar, enquanto os restantes se distribuem de modo uniformepelas diversas actividades agrícolas e artesanais. O primeiro grupo surge com maiorincidência em Gran Canaria, enquanto o segundo se circunscreve a Tenerife e6

) .

As áreas de maior afluxo desta vaga emigratória são, naturalmente, as ilhas de GranCanaria e Tenerife, onde teremos, respectivamente, 37% e 60%; das restantes apenas sãoreferenciadas as ilhas de Palma e Hierro.

Açorianos e canários, atentos e cobiçando as riquezas das Índias, ignoravam a realidadesócio-económica madeirense; toda a sua atenção estava virada para o promissor NovoMundo; eram as embarcações que chegavam de Andaluzia e nas Canárias procuravam onecessário reparo e refresco para o moroso percurso que os esperava até às Antilhas; eramos mercadores naturais e estrangeiros que cobiçavam e disputavam as necessárias licenças

(11) Gaspar Frutuoso, ibidem, L.0 rr, 404; lbidem, L.0 IV, 267, 260, 278, 318, 324; lbidem, L.0 IV, vol. n,100-110; Henrique Henriques de Noronha, Nobiliario genealogico / ... l , Rio de Janeiro, 1947, 437-41, 194.519-521; Manuel Monteiro Velho Arruda, Colecção de documentos relativos ao descobrimento e povoamento dosAçores. Ponta Delgada, 1932, 166-172; Francisco de Atayde M. de Faira e Maia, Subsídios para a História deS. Miguel e Capitães Donatários (1439-1766). Ponta Delgada, 1942, 18-22, 25-26.

(12) Urbano de Mendonça Dias, ibidem, 132, 147 e 164.et3

) Pedro Álvares da Camara, irmão do capitão donatário da Madeira, casou a sua filha Branca com DiogoPaim e Isabel de Lamelas com Antão Martins Homem filho do donatário da Praia (Terceira). Em 1483 Pero Correia,primeiro capitão da Graciosa, casou com Iseu Perestrelo, filha do primeiro capitão donatário do Porto Santo. João deameias de Savedra casou na Terceira com Catarina de Teive Gusmão, filha de Diogo de Teive, tendo recebido terrasno lugar das Fontainhas, onde instituiu o morgado ameias. Gonçalo Mendes de VasconceIlos, filho de Martim deVasconceIlos, casou com Bartolesa Rodrigues Cameiro, filha de Álvaro Martim Correia, morador em S. Miguel esenhor dos lugares da Povoação, Mosteiros e Ponta Garça.

et4) Em 1515 refere-se que Lianora Lopes saiu para as ilhas de baixo no ano em que houve a primeira peste

(A.R.M.. Misericórdia do Funchal. n.? 710, fi. 41, 23 de Setembro, instrumento de doação). O mesmo sucedeu comJoão Gonçalves Pereira, de Serra de Água que se mudou para S. Miguel (Gaspar Frutuoso, ibidem, L. 0 IV,cap. XXXIII).

(15) Maria Luisa Fabrellas, ibidem, 471. Veja-se nota 10.(16) Margarita I. Martin Socas, ibidem. 684-687.

98

para um comercio rendoso com essa área; eram, ainda, os vizinhos, que aguardavam ascaravelas ou a almejada oportunidade de embarcarem para as Índias. Nos Açores, pelocontrário, vivia-se a expectativa da chegada das naus na esperança de adquirir algumasmigalhas do reluzente e precioso metal.

A Madeira só era recordada quando todas estas expectativas se goravam ou quando amanutenção do comércio inter-insular o justificava. As rotas açoriana e canária do forne­cimento dos cereais à Madeira implicaram essa necessidade; por isso depararemos, ao longodos séculos XVI e XVII, com a permanência temporária de açorianos e canários naMadeira; eram na sua maioria originários das ilhas que mantinham contactos mais assíduoscom o Funchal.

Açorianos e canários na Madeira no sec. XVI

S. MiguelTerceiraFaialTenerifeGran CanariaLanzarotePalmaHierro

ORIGEM N."

634642II

43212943291477

No período de 1539 a 1600 os açorianos representam 9% da imigração madeirense;surgem só a partir da década de 50 e atingem nas décadas imediatas percentagem elevada,surgindo em finais do século em lugar de muito relevot"); esta situação evidencia aimportância do contingente açoriano na constituição da população da freguesia da Sé doFunchal. A componente canária, ao invés, é reduzidíssima, e surge com maior incidêncianas duas últimas décadas do século XVI, como resultado da ocupação da ilha, em 1582, porAugustin Herrera él").

Das famílias ilustres que trocaram as Canárias pela Madeira salientam-se os Betten­courts, que, desiludidos com a conquista e ocupação castelhana das Canárias, preferiram acalma da Ribeira Brava, onde se fixaram, aí se relacionaram com os principais terratenentesadquirindo terras na Banda d' Alem e9

) .

As Canárias forneceram ainda grandes contingentes de mão-de-obra escrava para opastoreio e safra do açúcar; a afluência dos aborígenes canários à Madeira deriva, assim, dosurto da cultura açucareira em meados do século XV e das necessidades daí decorrentes emmão-de-obra r'''). As Canárias, porque próximas e povoadas por guanches, ofereciam saquefácil e contingentes adequados.

e') Luis Francisco Cardoso de Sousa Melo, «A imigração na Madeira», in História e Sociedade. 0,0 6.1979. 51-53.es) Lothar Siemens Hemandez, «La expedicion a la Madera dei Conde de Lanzarote desde la perspectiva delas fuentes madeirenses», in A.E.A .. n.? 25. (1979) 289-305: J. de Abreu Gallndo, História de la ronquista de lassiete is/as Canarias, Sant~ Cruz de Tenerife, 1977,245: Sergio Bonnet, «La expedieion dei Marques de Lanzarotea la isla de la Madera», in EI Museo Canario , X, 1984, 59-68.e9 ) J. de Abreu Galindo, ibidem, 104 e 134: Henrique Henriques de Noronha, ibidem, J. 51-74.

(20) Lothar Siemens e Liliana Barreto, "Los esclavos aborigenes canarios en la isla de la Madera (1455­-1505) .., in A.E.A .. n.? 20 (1974). 111-143.

99

o conhecimento das correntes migratórias entre os Açores e as Canárias está dificultadopela falta de fontes; no entanto, as poucas disponíveis elucidam-nos sobre a existência destescontactos humanos e comerciais e1

) . Esta corrente migratória afirmou-se mais no sentidoAçores-Canárias que no inverso; neste último sentido apenas há notícia da vinda de um mestrede açúcar para Vila Franca do Campo e de Pedro Alves, de Tenerife, que serviu a JoãoAlvares do Sal na Lagoa (S. Miguel) como guardador de cabrase2

) .

Os emigrantes açorianos nas Canárias são, na sua maioria, oriundos das ilhas Terceira eS. Miguel; fixam-se nas ilhas de Tenerife, Gran Canaria e Lanzarote, dedicando-se à culturados cereais, vinha e cana sacarina. Em Lanzarote surge um grupo importante que de dedica àcultura cerealíferaf"). Os açorianos teriam contribuído para o arranque da cultura do pastelem Tenerifet?").

et) Manuel Lobo Cabrera, ibidem, José Perez Vidal, Aportacion Portuguesa á la poblacián de Canarias

I ... /, 102.e2

) Gaspar Frutuoso, ib idem , L.o IV, VaI. II (1926), 60.(23) Manuel Lobo Cabrera, ibldem, 359-360.e4

) Ibidem, 363-364.

100

1.5 Os produtos

As ilhas atlânticas dos três arquipélagos a que nos temos referido, definidas por F.Braudel e P. Chaunu como o Mediterrâneo Atlântico, caracterizam-se por uma política dedesenvolvimento económico na dependência dos interesses do tráfico europeu interna­cional e). A selecção e transplante dos produtos para as novas arroteias far-se-á, assim, emconsonância destes vectores do dirigismo económico europeu,' com as diferenças e assimetriasderivadas da estrutura do solo e do clima. Esses impulsos, em conjunto, actuam comomecanismos virtuais de distribuição das culturas europeio-mediterrânicas, componentes dadieta alimentar (cereais, vinho) ou resultantes das solicitações das principais praças europeias(açúcar e pastel) e).

Tal situação materializar-se-á numa nítida tendência destas áreas para uma exploraçãoeconómica baseada na monocultura ou dominância de um produto. Contra isso surgirá aheterogeneidade do espaço insular que condicionará a distribuição das culturas, dando lugara uma política distributiva ou de arrumação dos principais produtos agrícolas; surgem destemodo áreas de produção para a subsistência e troca, procurando definir-se as condiçõesnecessárias à estabilidade das actividades sócio-económicas. Assim, o alargamento da áreado cultivo do açúcar na Madeira implica a criação de novas áreas de produção cerealífera.

De igual modo, a heterogeneidade e descontinuidade do espaço arável dos arquipélagosdas Canárias e dos Açores condicionarão a distribuição dos produtos e sectores deactividade nas diversas ilhas, definida pela sua importância em relação às necessidadesinternas e externas. As ilhas de Fuerteventura, Lanzarote e Tenerife serão vocacionadas paraatender as necessidades da sua própria subsistência e das ilhas vizinhas, enquanto as ilhas deS. Miguel, Graciosa, S. Jorge suprirão as carências de Angra, praças africanas e Madeira.Nas ilhas de Tenerife e S. Miguel, mercê da actuação hábil dos governantes ou dadisponibilidade de áreas de arroteias, foi possível conciliar as necessidades de subsistênciacom a voracidade das solicitações do mercado externo. Aí os cereais medravam, lado a ladocom o pastel ou o açúcar.

Esta situação de interdependência activa uma complicada teia de circuitos comerciaisinter-insulares, necessários à manutenção desta tendência monocultural,

O povoamento e exploração do espaço insular vai ao encontro das solicitações queregeram o processo e a economia insulares. O carácter agrário destas sociedades nascentes écompatível com as necessidades derivadas da subsistência e das solicitações externas.Ambos os sectores alicerçaram o rumo desta economia, definindo, por um lado, a apostanuma agricultura de subsistência, assente nos componentes da dieta alimentar europeia e,por outro, a imposição de produtos estranhos capazes de activarem o sistema de trocas e).

e) Fernand Braudel , La Medlterranée erle monde méditerranéen / .. .l , I. 141-142; Pierre Chaunu, ob.cit.. t. VTIl , I. 76-79, 369-370.

(2) Maria Olímpia da Rocha Gil. O arquipélago dos Açores no século XVII, / ... t , 421; idem, o porto dePonta Delgada comércio açoriano no século XVII. 107. Joel Serrão "A exploração económica da Madeira(1425-1470)>> in D. A. H. M., n.? 31 (1961), 4) refere que a "A História agrária da Madeira caracteriza-se pois. apartir dos seus inícios, por um regime de policultura - cereais, açúcar e vinho -, mas com tendência para opredomínio de uma dessas produções com efeito, no decorrer dos séculos XV, XVI e XVII, sobre este fundoinicial de policultura. desenha-se sempre uma tendência para a monocultura - princípio. o trigo; e, posterior esucessivamente. o açúcar e o vinho".

çJ) Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit., 455; Vitorino Magalhães Godinho, Os descoblmentos e li economiamundial. III. 232-233; A Guimerá Ravina, «Porqué Comercia Canarias com Indias en el siglo XVI?/ ... / ". in IIC. H. C. A .• 90.104.

101

A estrutura do sector produtivo adaptar-se-á a esta situação, podendo definir-se emcomponentes de dieta alimentar - cereais, vinha, hortas, fruteiras, gado e derivados - ede troca colonial - pastel, cana de açúcar. Em consonância com a actividade agrícolaverificar-se-á a valorização dos recursos do meio insular, que irão integrar a dieta alimentar- pesca, silvicultura - e as trocas comerciais - urzela, sumagre, madeiras e derivados,como o pez.

Uma informação sobre a importância de todos esses componentes na economia agrícolainsular apenas se torna possível para as Canárias; aí, em finais do século XVI, as deduçõesdo diezmo permitem essa análise (4).

Dízimo das Canárias (5)

PRODUTO

MiunçasAçúcarTrigoCevadaCenteioTocinho, sebo, courosQueijosUrze1aMarca de gado

1575 1584

56.62% 39,34%7,64% 8,9%

24,65% 31,18%5,82 8.27

3,53% 7.17%0,11%

1,01% 0,30%0,14%

0,50% 0,50%

Os cereais representam 34% em 1575 e 47% em 1584, enquanto o açúcar apenasrepresenta 1/4 na primeira data e II 5 na segunda; esta situação favorável dos cereais éexplicável, como veremos, pela crise da indústria e comércio açucareiro, a partir de meadosdo século. São estes os principais produtos da economia canária, variando a sua importânciade ilha para ilha. O açúcar, que surge apenas nas ilhas da Gran Canaria, Tenerife, La Palmae La Gemera, adquire maior importância em Gran Canaria (48%) e La Palma (34%). Oscereais, ao invés, dominam na ilha de Tenerife (37%). No global, as ilhas, de Gran Canaria(28%). Tenerife (44%) e La Palma (27%), surgem com as principais áreas produtivas doarquipélago.

Dízimo nas Canárias (6)

PRODUTO CANARIA TENERlFE LA PALMA LA GOMERA EL HIERRO LANZAROTE FUERTE- TOTALVENTURA «k)

Miunças 542760 mrs 14 156351 mrs 720664 mrs 87 223 mrs 175 060 mrs 63842 mrs 84714mrs 44Açúcar 241 162 mrs 85612 mrs 173544 rnrs 5 275 rnrs 8Trigo 767 fanegas I 270 fanegas 685 fanegas 226 fanegas 59 fanegas 35Cevada 628 fanegas 581 fanegas 417 fanegas 159 fanegas 176 fanegas 6Centeio 548 fanegns 550 fanegas 402 fanegas 7

(4) José Sanchez Herrero, «Aspectos de la organización eclesiástica y administracion economica de ladiocesis de Canarias a finales deI siglo XVI (1575-1585) ... in Revista da Historia Canaria, XXXV (1973-1976).71-90: Leoncio Afonso, «EI modelo cerealista en I~ agricultura Canaria», in Instituto de Estudos canários, 50aniversario (/932-/982), T. 1/, Humanidades. Tenerife, 1982, 8-42.

. (5) José Sanchez Herrero, «Aspectos de la organization eclesiástica. , ,". 73, O dízimo do açúcar é apenasdas ilhas de Gran Canária, La Palma, Tenerife e la Gomera: o trigo e a cevada de todas excepto Hierro e LaGornera: o centeio apenas de Tenerife, Gran Cariaria e La Palma: o toucinho. sebo, couros e marca de gadoFuerteventura: o queijo e a urzela de Fuerteventura e Lanzarote.

(6) José Sanchez Herrero, ibidem, 73-90,

102

Os cereais e o vinho

Oriundos de uma área em que a componente fundamental da alimentação era definidapelos cereais (trigo, cevada, centeio), os colonos europeus que povoaram estas ilhas nãomenosprezaram o quantitativo de grão necessário para a sementeira nestas novas frentes dearroteamento e). O fenómeno de ocupação e povoamento das ilhas atlânticas é, assim,caracterizado pela transplantação de homens, técnicas, produtos e formas de domínio epoder; tudo será moldado à imagem e semelhança das terras de origem dos colonos. Assim,surgem as searas, os vinhedos, as hortas e fruteiras dominadas pela casa da palha e, maistarde, pelas luxuosas vivendas senhoriais.

Na Madeira, até à década de 70, a paisagem agrícola será dominada pelas searas,decoradas de parreiras e canaviais. A cultura cerealífera dominava, então, a economiamadeirense, referindo Fernando Jasmins Pereira, a este propósito, que no período henriquinoos cereais constituíram a base da colonização da ilha (8).

A fertilidade do solo, resultante das queimadas, fez com que esta cultura atingisseníveis de produção espectaculares, que a historiografia quatrocentista e quinhentista anunciacom assiduidade, notando que o cereal se exportava para o reino e praças africanas (9). Emmeados do século, segundo Cadamosto, a ilha produzia 3000 moios de trigo, que excediaem mais de 65 % as necessidades da parca população (10). Esse excedente, avaliado emcerca de 2/3 da produção, era exportado para o reino e, segundo os cronistas, vendia-se aopreço de quatro reais e1); desde 1461, 1000 moios de cada safra destinavam-se ao saco daGuinéez).

Nao obstante, a partir da década de 60, com a valorização da produção açucareira, assearas diminuiram em superfície e a produção cerealífera passou a ser deficitária. Ou seja: apartir de 1466, a ilha precisava de importar trigo para sustento dos seus vizinhos, sendo,portanto, impossível manter as escápulas estabelecídasj '"): aliás, em 1479, referia-se queessa produção dava apenas para quatro mesest "'). Esta última situação derivou da acçãodominadora dos canaviais, aliada ao rápido esgotamento do solo e inadequação da cultura,resultante de uma exploração intensiva, sem recurso a qualquer técnica de arroteamentoes).

(') Joel Serrão, « Sobre o trigo das ilhas», in D. A. H. M .• n.? 2, (1950), 2: Vitorino Magalhães Godinho,Ibidem, III, 217; Oliveira Marques, Introdução à História da Agricultura em Portugal, Lisboa, 1978,269-254.

(B) Esta questão foi já amplamente tratada por nós, pelo que apenas damos aqui conta dos aspectos maissalientes, remetendo a sua precisa elucidação para os seguintes estudos: "O Comércio de Cereais dos Açores paraa Madeira no século XVII», in Açores e Atlântico, (séculos XIV-XV!), Angra do Heroísmo, 1984 651-676:,,0 Comércio de cereais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI-XVII .., in VI C. H. C. A. (1984), no prelo;"A questão cerealífera nos Açores 1., .1 » in Arquipélago, VI Série, História e Filosofia, n.? I, 1984, 123-201.Veja-se ainda para as Canárias; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cii., 251-256; Guilherme Camacho y Perez Galdós,"Cultivos de cereales viíia y huerta en Gran Canaria (1510-1537) » , in A. E. A., n." 12 (1966), 233-279. FemandoJasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da História Económica da Madeira, 99.

(9) Segundo Francisco Alcoforado (1420), Gomes Eanes de Zurara (1453), Cadamosto (1445). DiogoGomes (1482), Valentim Fernandes (1506) e Gaspar Frutuoso (1580-1590); veja-se António Aragão, A Madeiravista por estrangeiros, Funchal, 1981; Alberto Iria, O Algarve e a Madeira no século XV, Sep. da Studia n.? 38:Joel Serrão, ibidem,

eo) Segundo Vitorino Magalhães Godinho (ibidem, 233). °consumo rondava entre os 930 e 1100 moiaspelo que sobravam 1900 a 2000 moias.

(11) "Relação de Diogo Gomes», in Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.? 5. 291-292:Jerónimo Dias Leite, O Descobrimento da ilha da Madeira I .. .1, Coimbra, 1947, 180-181.

e2 ) A. R.M., C. M. F" Registo Geral, T.I, fi. 204-205, 3 de Agosto de 1461, ..Apontamentos e capitolosdo Ynfante don Fernando pera ylha», in A. H. M., vol. XV, 11-20.

(13) Idem. lbidem, 226-299 v.", 7 de Novembro de 1466, in A. H. M., XV, 36-40.e4 ) Referenciado por António Aragão, A Madeira vista por estrangeiros, 215 (nota 9).es) Cadamosto, em meados do século XV, refere que de uma produção inicial de I:60 se havia passado

para I :30 ou I :40 (..Navegações de Luis de Cadarnosto», ln A. Aragão, A Madeira vista por estrangeiros). Giulio

103

o agravamento do défice cerealífero nas décadas de 70 e 80, que conduziu aoalastramento da fome em 1485, surgirá como a principal preocupação das autoridades locaise centrais. Primeiro procurou-se colmatar a falta com o recurso à Berberia, Porto, Setúbal,Salónica; depois foi necessário definir uma área externa produtora, capaz de suprir asnecessidades dos madeirenses. Assim sucedeu, desde 1508, com a definição dos Açorescomo principal área cerealífera do Atlântico português; as ilhas açorianas actuariam como oceleiro de provimento da Madeira e substitutivo desta no fornecimento às praças africanas e6

) .

A Madeira, que se havia afirmado, no período henriquino, como um importantemercado de fornecimento de trigo passará, no governo fernandino, à situação de comprador,adquirindo mais de 1/2 do seu consumo nas ilhas vizinhas: Açores, Canárias e7

) .

A crise cerealífera surge simultaneamente com a afirmação da mesma cultura no soloaçoriano, havendo correlação entre a crise, de um lado, e o surto, do outro; Joel Serrãorefere-nos que a valorização dos cereais na agricultura resulta dessa situação es). O rápidoincentivo do povoamento deste arquipélago nas décadas de 60 e 70, conduziu ao igualdesenvolvimento da cultura cerealífera, de modo que esta se afirmava, em finais do século,como a principal área produtora de trigo do Novo Mundo e9

) .

A historiografia quinhentista é unânime em afirmar a elevada fertilidade do soloaçoriano; o mais demonstrativo desses textos é o de Gaspar Frutuoso, que nos dá conta, demodo exaustivo, das diversas formas de actividade económica do arquipélago, tendo emconta a actuação dos factores de produção eo); na descrição que faz das nove ilhas salientaque o solo açoriano, de um modo geral, se apresenta apto para a cultura do trigo, quer pelasua estrutura geográfica, quer pela fertilidade, que tornava desnecessário o recurso aosistema de afolhamento e1

) .

A intensificação dessa cultura e a falta de uma correcta política de arroteamentocondicionaram a produção cerealífera açoriana a partir de meados do século XVI. Asituação de crise, que então surgiu, resultava, por um lado, do esgotamento e inadequaçãodas sementes ao solo e, por outro, de acção da alforra. Esta situação condicionará eprovocará profundas alterações na economia agrária açoriana, sendo o factor preponderantepara o alargamento da área arroteada e das alterações na estrutura económicae2

) .

Os problemas cerealíferos que surgirão com maior acuidade a partir desta data,agravando-se nas últimas décadas do século, pautavam toda a acção dos municípios e coroaque procuram, de modo desenfreado, as soluções adequadas para a carestia e para afomer"),

A partir de finais do século XV as Ilhas de Tenerife, Lanzárote, Fuerteventura, LaPalma e Gran Canaria juntar-se-âo ao grupo das áreas produtoras de cereal no Atlântico,apresentando-se como celeiro local e de fornecimento da Madeira e, até de Castela, em

Landi ("Descrição da ilha da Madeira». ibidem. 84). em cerca de 1530. dá conta dessa situação de modo explícito:"A ilha produziria em maior quantidade se semeasse. Mas a ambição das riquezas fez com que os habitantes.descuidando-se de semear trigo, se dediquem apenas ao fabrico do açúcar, pois deste tiram maiores proventos, oque explica não se colher na ilha trigo para mais de seis meses, por isso há uma carestia de trigo pois em grandeabundância é importado das ilhas vizinhas». .

(16) Alberto Vieira, O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira no século XVIl, 652.(17) Giulio Landi em 1530 refere a sua importação das ilhas vizinhas (Ibidem) e Pompeo Arditi em 1567

refere que o «trigo que aí se colhe é muito bom. mas tão pouco que não chega para a terça parte da ilha; por issosão obrigados a importá-los das Canárias e das ilhas dos Açores» "Viagem à ilha da Madeira e aos Açores». inibidem, 130). Gaspar Frutuoso (ob, clt., L.0 II, (14) em finais do século, elucida que a ilha precisa de importaranualmente doze mil moios de trigo.

cta) os. cit., 5-6.ct9

) Veja-se o nosso estudo, A Questão cerealífera /lOS Açores / .. .l , 123-136.eo) Saudades da Terra. L.0 IV (2 vols.), L.o VI.e1

) Ibidem, L.0 III, 98, 66; L.0 IV, vol. II, 17.23. 25; L.0 VI. 4. 227.e2

) Alberto Vieira, A questão cerealífera /lOS Açores / .. .l , 132-133.eJ

) Ibidem, 133-139.

104

momentos de penúriae4) ; segundo Eduardo Aznar a cultura cerealífera desempenhou um

papel preponderante na economia insular, suplantando mesmo o açúcares). Da análise dasrendas das ilhas realengas verifica-se que os cereais surgem como uma componenteimportante da economia insular. variando, é certo, de ilha para ilha. Assim. para todo oséculo XVI, nas ilhas de Tenerife e La Palma teremos a dominância desta cultura; de 1507 a1508 ela representava 47%, na primeira, e 36%, na segunda; em 1510 estas duas ilhasapresentavam 49 % em cereais e 45 % em açúcar.

Dízimos eclesiásticos em 1585e6 )

VIZINHOS TRIGO CEVADA E CENTEIOILHAS

N." c/c FANEGAS Çf MÉDIA FANEGAS Çf MÉDIA.

Tenerife 4070 53 I 270 42 3.2 1 131 30 3,6Gran Canaria 1 709 22 167 25 2.2 1 176 32 1,4La Palma 1 170 15 685 23 1.7 819 22 1,4La Gornera 253 3Hierro 200 3Lanzarote 120 I 226 8 0.5 385 10 0,3Fuerteventura 219 3 599 2 3.7 235 6 0.9

Tolal 7741 3007 2.5 3746 2

Em 1522, no conjunto das ilhas realengas, salienta-se com maior acuidade a dominânciadesta cultura na produção canária; assim as referidas ilhas representavam 55 % enquanto oaçúcar surge com 16%, isto é, menos de um terço. Esta situação resulta, fundamentalmente,da ilha de Tenerife, uma vez que em Gran Canaria, e desde 1498, o açúcar adquiriu umaposição privilegiada (52%) em relação aos cereais (38%).

A produção cerealífera canária circunscrevia-se às ilhas de Tenerife, Gran Canaria, LaPalma, Lanzarote e Fuerteventura. A primeira adquire posição cimeira, desde os inícios daconquista. mantendo-se até finais do século XVI (1585); entre 1507 e 1522, a média deprodução orçava as 85 000 fanegas de cereais, sendo 60% de trigo e 40% de cevada. Noano de 1522 das 100000 fanegas de produção, cerca de 30000 foram consumidaslocalmente e as restantes exportadas para as ilhas vizinhas e para a Madeira e7

) .

A ilha de Tenerife mantém-se, até princípios do século XVII, como o principal celeirocanário, capaz de suprir as necessidades do seu consumo e das ilhas vizinhas, como GranCanaria, La Palma e Madeira. Aliás, em 1585, Thomas Nichols referia que «esta isla es lamás fértil de todas encuanto ai trigo, y desde este punto de vista es una madre o una nodrizapara todas las demás en tiempo de necessidad» es) .

A conjuntura cerealífera deste arquipélago, em meados do século XVI, é idêntica à dasrestantes áreas produtoras (5. Miguel, Terceira), definindo-se pela acuidade dos problemas

(24) Guilhermo Camacho y Perez Galdós, ibidem, 224-50: Pierre Chaunu, ibldem, VIII, Vol. I, 366-372:Leoncio Afonso. ibidem, 7-42.

es) Ob. cit.• 252.(26) José Sanchez Herrero, ibidem, 74-90.(27) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, TV, n.? 343, 26 de Setembro de 1522: Eduardo Aznar Vallejo , ob,

clt., 252: Leoncio Afonso, ibidem, 30-33.eR

) «Descripction de las islas afortunadas .. in Alejandro Cíoranescu, Thomas Nlchols mercador de azúcar.hispanista y herege. La Laguna, 1963, 114.

105

106

e· ·

UI

e 44

• 6-10

• 3-5

I • 1-2

.-O-:J VINIIAS E LATADAS liA MADE[RA. Século XVI

,

de abastecimento local, que surgem como o resultado da deterioração do solo e do aumentodesproporcionado da população; a esta situação de crise, generalizada a todo o mundoinsular, corresponde uma intervenção assídua da coroa e dos municípios, entravando a livrecirculação do produto e o seu consequente comércio.

Relação consumo - produção de cereais nas Canárias século XVIe9)

POPULAÇÃOPRODUÇÃO

ILHAS ------------ CONSUMO SALDOTRIGO CEVADA/CENTEIO

Gran Canaria 7690 7670 II 310 26995 - 8015Tenerife 18315 12700 II 7ffJ 45787 -21 327La Palma 5265 6850 8 190 18428 - 3388La Gomera I 138 3983 - 3983EI Hierro 900 3 150 -3 150Lanzarote 540 22ffJ 3850 1890 + 4220Fuerteventura 985 590 2350 3448 508

Total 34834 30070 374ffJ 121919 -81 389

A produção em 1585 evidencia essa situação, demarcando a necessidade de recurso aoutros produtos alimentares ou à sua importação; a produção de trigo dava apenas para umquarto das necessidades; daí o recurso a outros cereais, como o centeio e a cevada, produtosimportantes na dieta das camadas sociais mais humildes. No entanto, como essa produçãoapenas surge com metade do quantitativo necessário, somos levados a concluir que aalimentação deveria ser variada, sendo os seus componentes extraídos da rúbrica miunças ,que representa valor superior em todas as ilhas, e um total de 50% do global nas Canárias.Apenas as ilhas de Lanzarote e Fuerteventura poderiam manter um importante comércio deexportação, alheio a qualquer impedimento à sua livre circulação.

Os cabouqueiros peninsulares transportam conjuntamente com os poucos grãos decereal alguns bacelas das boas cepas existentes no reino, de modo a poderem dispor doprecioso rubinéctar para o ritual cristão e alimento diário. A videira adaptou-se comfacilidade ao solo insular e conquistou uma posição importante na economia insular.

Cadamosto, que em ~eados do século XV visitou a Madeira, ficou deslumbrado com orápido crescimento desta cultura, aduzindo que a ilha «tem vinhos, muitissimo bons; se seconsiderar que ( ... ) é habitada há pouco tempo são em tanta quantidade, que chegam paraos da ilha e se exportam muitos deles" eo).

A cultura da vinha na Madeira absorvia, já por esse tempo, uma porção considerável daárea arroteada da ilha e, de modo especial, a zona ribeirinha do Funchal, onde deparamoscom doze vinhas e treze latadas. Além Funchal, na área entre a Ribeira Brava e Ponta deSol encontramos apenas oito latadas e1

) . Na primeira metade do século seguinte esta culturaaumenta em extensão e importância, alargando-se a novas áreas como Câmara dos Lobos,Caniço e Ribeira. Brava; a partir de meados do mesmo século a vinha conquista emdefinitivo o solo madeirense, substituindo os canaviais e alargando-se às clareiras vertentenorte, e de tal modo que em finais do século existia com abundância em todas os núcleos depovoamento. (32)

e9) José Sanchez Herrero, ibidem, 74-90.

eo) «Navegação 1... .]» in António Aragão, ob. cir., 37.e1} Virginia Rau, O açúcar da Madeira / ... /,66-74; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n." 40, 43,694.

710.(n) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 II, passim.

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Os trigais e os canaviais davam, assim, lugar às latadas e balseiras, a vinha tornava-sea cultura exclusiva do colono madeirense, à qual passa a dedicar toda a sua acção eengenho. O vinho adquire o primeiro lugar na economia madeirense, mantendo-se nessasituação por cerca de três séculos.

A evolução da situação viti-vinícola madeirense é apresentada de modo exemplar poralguns visitantes da ilha nesse século. Assim, em 1547 Hans Standen definia a economia dailha pelo binómio vinho/açúcar, enquanto, em Maio desse ano a vereação funchalensedecidia o preço do vinho, urna vez que «nesta ilha as mais pessoas deIla vivem devinhos» e3

) . Esta última situação surge reforçada em meados do século, e de tal modo que,na década de 70, o vinho viria a apresentar-se como o primeiro e principal produto deexportação e4

) . Em 1583 T. Nichols referia que «la producción principal de este pais es unagran cantidad de vino excepcionalmente bueno, que se lleva a muchos lugares» es). E, em1590, Torriani dava conta da abundância de vinhos na ilha, referindo "que superou emmucho lo que en su tiempo habia visto Alvise da Mosto» e6

) .

Nos Açores o vinho não terá adquirido, nos séculos XV e XVI, a importância que tevena Madeira e, mesmo, nas Canárias; só assumirá uma posição de relevo na economiaaçoriana a partir de finais do século XVI, com as escápulas vantajosas para o Brasil eAntilhas e7

) . Os condicionalismos de ordem geográfica e climática terão contribuído, emparte, para o escasso desenvolvimento da cultura da vinha; se excluirmos a ilha do Pico eSanta Maria, é forçoso concluir que o arquipélago não apresentava as condições mesológicasadequadas aos vinhedos; aliás, no reinado de D. João II, o alemão Münzer queixava-se dafraca qualidade do vinho dos Açores es); e, em finais do século tanto Linschoot comoMosquera de Figueiroa apontaram que o vinho terceirense era de muita má qualidade; oprimeiro salienta, a esse propósito, que na ilha «onde se dá também grande abundância devinho, mas muito fraco e que não pode guardar-se nem ser transportado para fora; é,contudo, utilizado pela gente pobre, pois que os mais ricos usam ordinariamente dos vinhosda Madeira e da Canárias» e9

) .

O incentivo desta cultura no século XV, a partir das décadas de 60 e 70, deverá resultardas correntes imigratórias de madeirenses que participaram activamente na ocupação eexploração do solo açoriano; de resto a tradição anota que teria sido frei Pedro Gigantequem, cerca de 1460, introduziu os primeiros bacelas oriundos da Madeira na ilha doPico (40). A cultura de vinha espalhou-se a quase todo o arquipélago, adquirindo importânciana ilha do Pico e em S. Jorge, Santa Maria e S. Miguel, ocupando aí todas as terras debiscoito (41).

Na ilha de S. Miguel a produção em finais do século oscilava entre duas mil e cincomil pipas anuais, das quais 70% provinham das vinhas de Ponta Delgada e Lagoa, 20% daRibeira Grande e apenas 10% das restantes partes da ilha(42). Nade S. Jorge colhiamanualmente três mil pipas de que se exportava metade para a Graciosa e Faial, referindoGaspar Frutuoso que em S. Jorge existiam trezentas adegas (43). Na ilha do Pico, só em

e3 ) A.R.M., C.M.F" n.? 1308. fi. 44. 14 de Maio de 1547.(34) Segundo Duarte Lopes em 1578, Vitorino Magalhães Godinho, ob, clt.. lll, 244.(35) Alejandro Cioranescu , ob. cit .. 122.e6 ) Descripclon e Historia de las istasCanarios / ... l , Santa Cruz de Tenerife. 1978. 266.

e7 ) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem, III, 244.es) Ibidem, 244. .e9) "História da Navegação l . ./», B.l.H.f.r.. I, 151; C. Mosquera de Figueiroa ..Conquista de la isla

Terceira en 1583» in Arquivo dos Açores. IV, 281.(40) Ernesto Rebello, «Notas açorianas » ,in Arquivo dos Açores. VII. 65, 75.(41) Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L." III, IV. VI) dá-nos conta da situação da economia

viti-vinícola açoriana em finais do século.(42) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. Livro IV, vol. II, 5, 46-47.(43) lbidem. L. 0 VI, 246-247.

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S. Roque e Santa Bárbara produziam-se mil e novecentas pipas, havendo aí importanteslavradores de vinha, como Belchior Homem, que produzia de cem a cento e trinta pipas debom vinho (44).

Nas Canárias o impulso viti-vinícola deu-se logo após a conquista destas ilhas, tendo ovinho assumido uma posição de relevo na economia canária, na segunda metade doséculo XVI. O rápido arranque desta cultura na ilha de Tenerife resulta do incentivo docabildo à plantação de videiras, aliado à proibição dos vinhos de fora, como forma decolmatar a sua falta no mercado local (45). Nas ilhas de La Palma e Gomera esse avançoresulta da existência de um mercado comprador nas Índias Ocidentais, cujo transporte erafacilitado pela posição das duas ilhas no traçado rotas comerciais de ida (46).

A insuficiência da produção cerealífera insular, acompanhada da incidência de agudascrises de produção, conduziram à valorização da componente leguminosa e frutícola naalimentação insular. Assim, a fruticultura e horticultura apresentar-se-ão como componentesimportantíssimas na economia de subsistência. Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI,alude com frequência às hortas e quintais, que ornamentavam a paisagem humanizada domundo insular, onde se produzia um conjunto variado de legumes e frutas (47); estes, paraalém do uso na dieta alimentar, eram também valorizados pela utilização para provimentodas naus que apartavam com assiduidade a estas paragens.

A dieta insular completava-se com o aproveitamento dos recursos do meio com valoralimentar, como seja a caça e pesca, e dos derivados da actividade pecuária, corno a carne,o queijo e o leite. A pesca, mercê de condições do meio, será uma actividade importante daspopulações ribeirinhas, que usufruem de grande variedade de mariscos e peixe, junto à costae no mar alto (48).

O gado terá igualmente importância na economia insular, não só pela sua utilizaçãocorno força de tracção nos transportes e na lavoura, mas também pela valorização dos seusderivados na alimentação (carne, queijo) e nas indústrias artesanais (couro, sebo). Tendo emconta esta múltipla utilização, os municípios procuram valorizar e regulamentar a compo­nente pecuária da economia local, ao mesmo tempo que intervêm na distribuição e vendados seus derivados e do seu uso quotidiano, como força motriz (49).

(44) lbidem, 288-293.(45) Elias Serra Rafols, «introducción», in Acuerdos de! cabildo de Tenerife, IV, p. XI. A 13 de Janeiro de

1500 o cabildo ordenara que cada vizinho deveria plantar oitocentas sementes (Acuerâos dei cabildo de Tenerife,I, n.? 143, p. 26) e a 5 de Novembro de 1507 proibia-se a saída de vinho da ilha (ibidem, n.? 248, p. 28), E,finalmente a IS de Abril de 1519 atinge-se o número de pipas necessárias ao consumo local, pois proíbe-se a suaintrodução de fora (ibidem, IV. n." 65 p. 30), sendo levantado. excepcionalmente, a 3 de Junho (ibldem, n.? 77,p. 341) mantendo-se com força da lei, como forma de incentivar esta cultura na Ilha (lbidem, n.? 153, p. 38, I deJulho de 1520); veja-se Andres Lorenzo Caceres, Malvasia y Falstaff o Los vinos de Canarias, La Laguna, 1941,

(46) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 I, (1966) 74. 104-106, 137-8; E, Marco Dorta, «Descripcionde las islas Canárias», in Revista de história, IX (1943), 1201-1204.

(47) Saudades da Terra, L.0 I. caps. XII-XX; L.o II, caps. IX, XV-XIX, L.0 III, caps. LVI-LVIII; L,o VI,caps. III-VI, XXXII-XXXIII, XXXVII, XLI, XLVII.

(48) Ibidem,

(49) Em 1506-1508 Valentim Fernandes (Ob. cit.) refere quanto à ilha Terceira que há "grande criação devacas e porcos e ovelhas de que faze muita carne que levã para Portugal e muyto sevo», Gaspar Frutuoso, emfinais do século XVI, dá-nos conta das terras de pasto da criação de gado e dos animais da lavoura, nas ilhas emestudo: confronte-se nota 47. Veja-se ainda José Perez Vidal, "La ganaderia canaria. Notas historico-gcográficas»,in A.E.A., n.? 9 (1963), 237-286; Maria Olímpia da Rocha Gil. "Pastagens e criação de gado na economiaaçoriana nos séculos XVI e XVII (elementos para o seu estudo)», in B.I.H.l,T., XL (1982), 503-549.

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o açúcar e o pastel

Enquanto os produtos anteriormente referenciados surgem como uma necessidadeemergente da dieta alimentar dos colonos europeus que tomaram estas ilhas por morada, osprodutos coloniais aparecem como uma imposição da Europa Atlântica, ou seja, com afinalidade de suprir as necessidades do mercado europeu.

A Europa distribui os produtos de cultivo pelas áreas adequadas e assegura ascondições necessárias à sua implantação e ao seu escoamento e comércio. Nestas circuns­tâncias surgem a cana-de-açúcar e o pastel, que se alargam a todo o espaço insular atlântico.Os incentivos da coroa e munícipios, aliados à sua elevada valoração pelos agenteseuropeus, actuaram como mecanismo de desenvolvimento e expansão destas culturas nomundo insular.

A cana-de-açúcar, pelo seu alto valor económico no mercado europeu-mediterrânico,foi um dos primeiros e principais produtos que a Europa legou e impôs às novas áreas deocupação; primeiro chegou à Madeira e daí passou para os Açores e Canárias (50).

A cana-de-açúcar, na sua primeira experiência além-Europa, evidenciou as suaspossibilidades de desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Esta evidência catalizouas atenções do capital estrangeiro e nacional, que apostou no crescimento e promoção destacultura na ilha: só assim se poderá compreender o seu arranque rápido; se nos primórdios daocupação do solo insular se apresentava como uma cultura subsidiária, a partir das últimasdécadas do século XV aparece como o produto dominante, situação que se manterá até àprimeira metade do século XVI.

A cana sacarina, usufruindo do apoio e protecção do senhorio e da coroa, conquista oespaço arroteado das searas, expandindo-se a todo o solo arável da ilha. Aí poderemosdistinguir duas áreas: a) a vertente meridional (de Machico à Calheta), com um clima quentee abrigada dos alíseos, onde os canaviais atingem os 400 m de altitude; b) o nordeste,dominado pelas plantações da capitania de Machico (Porto da Cruz e Faial até Santana),solo em que as condições mesológicas não permitem a sua cultura além dos 200 m, nemuma produção idêntica à primeira área (51).

A capitania do Funchal agregava no seu perímetro as melhores terras para a produçãodo açúcar, ocupando a quase totalidade do espaço da vertente meridional. À capitania deMachico restava apenas uma ínfima parcela dessa área e todo um vasto espaço acidentadoimpróprio para a cultura. Assim, em 1494, do açúcar produzido na ilha, apenas 20% advémda capitania de Machico e o sobrante da capitania do Funchal; em 1520 a primeira atinge25 % e a segunda os 75 % (52). .

Fernando Jasmins Pereira, num estudo comparativo da produção das duas capitaniasentre 1498 e 1537, discorda da relação até então estabelecida, pois, de acordo com a suaanálise, a razão situa-se em 4: I para os primeiros decénios do século XVI, descendo entre1521-1524 para 3:1 e recuperando na segunda metade do decénio para a anterior relação(53).

(50) Frédéric Mauro, ob. cit., 116-190; Henrique Gomes de Amorim Parreir~, "História do Açúcar emPortugal » in Anais da Junta das Missões geográficas ~o Ultramar, vol, ~II, t. II; Lisboa: 1952: Eduar~o Az~ar

V II ' b·'1 260-263' Charles Verlinden, «Les de.buts de la production et I explotation du sucre a Maderea ejo, o . (I " , . I ib d/., '/'" in Studi in onori de Luigi dei Pane, Roma, 1982,301-310; José Perez Vidal , :Las con.servas a mi.,era asde los Azores y las Canarias » , in B.l.H.I.T., XIV (1956), 18-19; Vitorino Magalhaes Godinho, ob. cit., IV,

69-99(51) Veja-se Orlando Ribeiro, L'iie de Madêre. Élude géografique. Lisbonne, 1949 pp. 60-62; Vitorino

Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a economia mundial. IV, pp. 80-81. . , _(52) Veja-se V. Rau, ibidem, p. 15; V. M. Godinho, ibidem, p. 80; Fernando Jasmins Pereira, O açucllr

madeirense /"'/' p, 95, . A . d J d(53) O autor refere-se a H. G, de Amorim Parreira, "História do Açúcar em Portugal:>, ln nats a unta. e

lnvestigação do Ultramar, vol, VII (1952)., T. I, pp. 31-32: V. Rau, ibidem, p. 14; Veja-se Fernando Jasmins

Pereira, ibidem, p. 100-101.

111

Na capitania do Funchal os canaviais distribuem-se de modo irregular, de acordo comas condições mesológicas da área. Em 1494 a maior safra situava-se nas partes do fundo,englobando as comarcas da Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta com 64% da produção,enquanto o Funchal e Câmara dos Lobos tinham apenas 16%(54). Em 1520, não obstanteuma ligeira alteração, a diferença mantém-se, pois a primeira área surge com 50%,enquanto a segunda apresenta 25 %, valor igual ao total da capitania de Machico (55).

Numa análise em separado das diversas comarcas da capitania do Funchal verifica-seque a comarca do Funchal domina essa produção com 33 %, seguindo-se a Calheta com27 %; as comarcas de Ribeira Brava e Ponta de Sol surgem numa posição secundária, ambascom 20% (56).

Referida a situação da geografia açucareira madeirense, vejamos a sua evolução atémeados do século XVI. Criadas as condições a nível interno por meio do incentivo aoinvestimento de capitais na cultura da cana-de-açúcar e comércio de seus derivados, doapoio do senhorio, da coroa e da administração, a cana estava em condições de prosperar ede se afirmar, por algum tempo, como o produto dominante da economia madeirense.O incentivo externo do mercado mediterrâneo e nórdico aceleraram este processo expan­sionista, e a sua detenção só foi possível pela conferência de vários factores endógenos eexógenos; assim se explica o rápido movimento ascendente bem como o percurso inverso,pois ao atingir-se o zénite não houve um lapso de estabilidade.

A fase ascendente, que poderá situar-se entre 1450 e 1506, não obstante. a situaçãodeprecionária de 1497-1499, é marcada por um crescimento acelerado que, entre 1454­-1472, se situava na ordem dos 240% e no período subsequente, até 1493, em 1430%, istoé, uma média anual de 13,3 % no primeiro caso e de 68 % no segundo. No período seguinte,após o colapso de 1497-1499, a recuperação é de tal modo rápida que em 1500-1501 ocrescimento é de 110% e, entre 1502-1503, de 205%. Esta forte aceleração do ritmo decrescimento nos primeiros anos do século XVI irá marcar o máximo, atingido em 1506, aque se' sucede um rápido declínio nos anos imediatos, de tal modo acelerado que em quatroanos se atinge um valor inferior ao do início do século. A situação agrava-se nas duasdécadas seguintes, baixando a produção na capitania do Funchal, entre 1516-1537, em60 %; na capitania de Machico a quebra é lenta, sendo sinónimo do depauperamento do soloe da crescente desafeição do mesmo à cultura. Todavia a partir de 1521 a tendênciadescendente é global e acentuada, e de tal modo que a produção do fim do primeiro quarteldo século se situava a um nível pouco superior ao registado em 1470(57).

Na década de 30 consumava-se em pleno a crise da economia açucareira, e o ilhéuviu-se na necessidade de abandonar os canaviais ou de os substituir pelos vinhedos, o quesucedeu de modo evidente a partir de meados do século XVI.

A historiografia tradicional vem apresentando múltiplas explicações para esta crise,assentes fundamentalmente na actuação de factores externos. No entanto Fernando JasminsPereira com o seu estudo sobre o açúcar madeirense, contraria essa opinião fazendo assentara crise em determinantes condições ecológicas e sócio-económicas da ilha, definindo comoprimordial o primeiro factor: « •.• a decadência da produção madeirense é primordialmentemotivada por um empobrecimento dos solos que, dada a limitação da superfície aproveitávelna cultura, vai reduzindo inexoravelmente a capacidade produtiva" (58).

Deste modo a crise da economia açucareira madeirense não se explica apenas pelaconcorrência do açúcar das Canárias, Brasil, Antilhas e S. Tomé mas, acima de tudo, pelaconjugação de vários factores de ordem interna: a carência de adubagem, a desafeição dosolo à cultura e as alterações climáticas. A concorrência do açúcar das restantes áreas

(54) V. Rau, ibidem; p. 15; V. M. Godinho, ibidem, p. 80.(55) Fernando Jasmins Pereira, ibtdcm. pp. 95 e 155.(56) lbidem, p. 95, segundo razão do Bach. Bartolomeu Lopes de 1520 (A.N,T.T., C.C., II, 86, 171).(57) Seguimos o texto de Fernando Jasmins Pereira, ibidem, pp. 103-158).(58) Ibidem, p. 150.

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produtoras do Atlântico, bem como a peste (em 1526) e a falta de mão-de-obra vieramagravar a situação de crise do açúcar madeirense.

As socas de cana não foram esquecidas na bagagem dos primeiros caboqueirosaçorianos, pois esta cultura surge nas primeiras frentes de arroteamento nas ilhas de SantaMaria e S. Miguel e, mais tarde, na Terceira e no Faial. A cana trazida por colonosoriundos do reino, da Madeira ou da Flandres, não encontrou aí as condições adequadas aoseu rápido desenvolvimento. As condições mesológicas aliadas à inexistência ou reduzidapresença de capitais nacionais e estrangeiros travaram o seu desenvolvimento. Não bastaramas iniciativas madeirenses, a partir da década de 70, e flamengas, em 1490, para que estacultura tomasse rumo idêntico ao da Madeira (59). No que se refere a Santa Maria, GasparFrutuoso afirma que essa situação resultou da falta de regalias, da insuficiência de cabedaise da pouca curiosidade dos seus homens (60). Não obstante esta situação desfavorável, emfinais do século XV e princípios do seguinte este produto ganhou importância de relevo nasilhas de Santa Maria, S. Miguel e Faial, isto se atendermos ao rendimento das rendas entre1502 e 1510(61), Nesta última data o açúcar açoriano representaria apenas um terço daprodução madeirense (62).

A falta de informação adequada para o período imediato e a indicação no textofrutuosiano de uma nova fase de arranque da cultura na década de 40 levam-nos a concluirque a primeira metade do século não se apresentava favorável ao seu cultivo, mercê dorápido surto da cultura dos cereais e pastel.

Esta segunda tentativa de implementação da cultura surge em Vila Franca do Campo,por iniciativa de micaelenses com o apoio técnico e financeiro de madeirenses (63); emboracertamente mais bem sucedida do que a primeira, manteve-se por pouco tempo, pois desde1563 que surgem os primeiros sinais de crise que condicionarão o momento seguinte, e detal modo que na década de 80 havià apenas um engenho na Ribeira Seca.

A situação favorável das décadas de 40 e 50 é retratada na documentação oficial.Assim, em 1551 o ouvidor justificava a necessidade de construção de um porto em PontaDelgada pelo «grande crescimento em que vai a ilha com os açúcares que agora se prantão equerem fazer» (64). Além disso, desde 1552 que era justificada a existência, em Vila Francado Campo, de um escrivão e recebedor de açúcar (65).

A crise de 1583 foi atribuída pelos mercadores deste trato à fraca qualidade do produto,derivado das condições mesológicas e das técnicas de fabrico (66). A tudo isto juntar-se-á,em finais do século XVI, a oneração do fabrico da arroba de açúcar, em contraste com o seuvalor reduzido e com a pouca competitividade com o da Antilhas e do Brasil; esteorçamento dos custos de produção derivava do elevado preço de construção dos engenhos(600 000 reais) e da falta e dificuldade de transporte de lenha para a sua laboração; o bichoda cana viria completar a fase decrescente desta cultura e pôr termo a esta efémeraaventura (67).

(59) Vitorino Magalhães Godinho, ibldem, IV, 94-95; Carreiro da Costa, «A cultura da cana de açúcar nosAçores. Algumas notas para a sua história», in a.C.R.C.A .• n.? 10 (1949), 15-31; H. Amorim Parreira, ibidem,51-52.

(60) Ob. cit., L.° III, 14.(61) Vitorino Magalhães Godinho, lbidem, IV. 94.(62) A.N.T.T., L.0 3 de D. Manuel, fl, 28, alvará régio de 10 de Julho de 1510, in Arquivo dos Açores, III,

200-201.(63) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 IV, vol. II, 59, 209-212; Francisco Carreiro da Costa,

ibidem. Sebastião Gonçalvez associa-se a Baltasar Pardo, proprietário importante de Canaviais no Funchal, e trazconsigo um mestre de engenho.

(64) A.N.T.T., C.C .. 1-85-87, Ponta Delgada, 23 de Março de 1551, in Arquivo dos Açores, II, 18-19.(65) Livro de Registo da Alfândega de Ponta Delgada. 1568-/603, fi. 82 v.", referenciado por Maria

Olímpia da Rocha Gil, O Porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVII r. . .l , 75.(66) lbidem, fl, 340 v.o; citado por Idem, lbidem, 76.(67) os. cit., L.0 IV, vol. II, 58-59.

114

Em síntese poderemos afirmar que o açúcar nos Açores não se apresentou com amesma importância que assumiu na Madeira e nas Canárias, pois nunca constituiu um«elemento predominante na economia insular», no dizer de Maria Olímpia da RochaOil(68).

Nas Canárias, na mesma medida da Madeira, o açúcar surge como o componente maisimportante do comércio durante o século XVI; o desenvolvimento desta cultura nas ilhasCanárias ficou a dever-se em muito à intervenção genovesa, quer por meio do investimentodo seu capital em canaviais e engenhos, quer pela sua acção no trato deste produto (69);enquanto os genoveses intervêm com o capital e prática comercial, os portugueses surgemcom a sua experiência no delineamento do sistema de regadio, construção e laboração dosengenhos CD).

As primeiras socas de cana e mão-de-obra especializada foram conduzidas da Madeirapelo governador de Gran Canaria, D. Pedro de Vera. A partir daí a cultura expande-se paraas ilhas de Tenerife, La Palma e La Gomera, áreas onde existiam as condições necessáriaspara a manutenção desta cultura, ou seja, ilhas em que se tornava possível introduzir odevido sistema de regadio e encontrar a lenha necessária à laboração dos engenhos.

Deste modo o açúcar surgirá, na vida canária da primeira metade do século XVI, comoo principal produto activador das actividades económicas. Segundo M. A. Ladero Quesada«el azúcar fue, en efecto, el principal producto de exportación, que permitia obtener encontrapartida las manufacturas y otros productos que las islas necessitaban. EI azúcar atrajolas inversiones de capital más importantes, estimulá las relaciones mercantiles, la cons­trucción de puertos y varaderos» (71).

Na segunda metade do século XVI assistir-se-á à diminuição paulatina desta cultura,mercê da concorrência do açúcar das Antilhas e costa ocidental africana e, de igual modo,do incremento da produção vitícola (72).

Tal como o açúcar, o pastel surge no mercado da Europa nórdica e mediterrânica comoum produto importante; era um dos principais corantes utilizados na indústria têxtileuropeia (73). A abundância de urzela e sangue de drago no mercado insular condicionou oaparecimento dos mercadores italianos e flamengos que, na procura desses materiais.corantes, trouxeram consigo o pastel.

Não obstante estar referida a sua existência na Madeira, no século XV, e nas ilhas deHierro, La Palma e Tenerife, o pastel só ganhou importância nas ilhas açorianas; encon­tramos esta cultura em todas as ilhas dos Açores, com especial incidência em S. Miguel,Terceira e Faial C4

) .

Esta planta cultivou-se inicialmente na Madeira, sendo o seu produto enviado ao reinoe Itália; em 1460, ainda em vida do Infante D. Henrique, recomendava-se o seu envio ao

(68) Ibldem, 75.(69) Confronte-se Charles Verlinden, ibidem; Ramon Diaz Hernandez, El azúcar en Canarias (século

XVi-XVll) , Las Palmas, 1982,32-33,41-42, Guilhermo Camacho y Perez Galdés, "EI cultivo de la cana de azúcary la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535)", in A.E.A., n.? 7, (1961), 17-19, 52; Maria LuisaFabrellas, "La producción de azucar en Tenerife», Revista de História n.? 100, 1952, 454-475.

(0) Maria Luisa Fabrellas, ibidem, 269-470; Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ibidem, 35-38; FranciscoMorales Padron, El comercio canario-americano, 22.

(71) "La economia de las islas Canarias /"'/'" in Historia General de las islas Canarias, III, 135.(72) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 260·261; Ramón Diaz Hernández, ibidem, 39-40, 43·48.('3) Veja-se M. Postan e E. E. Rich, "EI comercio y la industria en la edad Media» in Historia Económica

da Europa, vol, II, Madrid, 1967, 450-540; Guy Fourquin, História Económica da Europa Medieval, Lisboa,1981, 377-398; Domenico Sella, «Las industrias europeas (1500-1700)>> in Historia Economica da Europa (2)siglas XVi y xvtt. , Barcelona, 1981, 277-332.'-

(4) Francisco Carreiro da Costa, «A cultura do pastel nos Açores», in B.R.C.A., n. 04 (1946), 1-37; Idem,«Tinturaria Vegetal nalgumas ilhas dos Açores», in ibidem, n.? 25 (1957), 133-137; Urbano de Mendonça Dias,A vida de /lOSSOS avós, IV, Vila Franca do Campo, 1944; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta Delgadae o comércio açoriano no século XVll / .. .l , pp. 91·106.

115

reino t?"). Jacques Heers corrobora esta situação ao afirmar que, por volta de 1460, osgenoveses vinham frequentemente buscar este produto à ilha, e que esta era conhecida comoa ilha do pastel('6); não obstante, a documentação madeirense apenas referencia a existênciae o comércio de outras plantas tintureiras, como o dragoeiro e a urzela. Mas se dermoscrédito à lembrança do Infante D. Henrique, corroborada pela notícia de Jacques Heers, e setivermos em conta a referência feita por Virginia Rau, acerca da sua exportação em 1537para Antuérpia, somos levados a concluir que este produto era um componente importantedas trocas madeirenses nos séculos XV e XVI e7

) . O seu esquecimento na documentaçãooficial será resultado da inexistência de qualquer circunstância que nos escapa ou da suasecundarização a favor de produtos, como o vinho e o açúcar, dominantes e granjeadores deum valioso lucro.

O mesmo se poderá dizer em relação às Canárias, onde deparamos apenas comreferências muito lacónicas ácerca do cultivo e comércio deste produto; a planta surge nasilhas de Hierro, La Palma e Tenerífer"): Gaspar Frutuoso em finais do século XVI,refere-nos que em La Palma «houve muito pastel que deixaram de os fazer por haver maisproveito nos vinhos e trigo e por os da escala das Indias, de que é frequentada aquela ilha,não pedirem senão vinhos» ('9).

O pastel foi certamente introduzido nas Canárias pelos portugueses oriundos dosAçores, uma vez que estes surgem em Tenerife associados à sua cultura e transformação (BD).No arquipélago açoriano esta cultura alcançou um lugar similar ao ocupado pela cana-de­-açúcar na Madeira e nas Canárias, sendo o principal produto de troca com o exterior e umchamariz para os mercadores italianos, flamengos e ingleses.

A historiografia, baseada no texto de Gaspar Frutuoso (L.os III, IV, VI) refere-nos queo pastel foi introduzido pelos flamengos que estiveram ligados ao povoamento das ilhas daTerceira e Faial (Bl); no entanto parece-nos ser de outra precedência a sua origem em soloaçoriano. Em primeiro lugar, convém esclarecer que o facto de os flamengos estaremligados aos primórdios do seu cultivo e comércio não poderá ser prova cabal da suatransplantação da Flandres e de que a sua produção se destinava em exclusivo a estemercado. O seu interesse pelo pastel deriva da necessidade do seu uso na indústria têxtil,procurando evitar os contratempos e dificuldades do mercado abastecedor francês, pois aFlandres não era um mercado produtor, mas sim um potencial comprador do pastel deToulouse (82). Deste modo, se tivermos em conta a sua existência na Madeira no século XV,considerado na década de 60 como um produto importante, poderemos referenciar apossibilidade da sua introdução por colonos madeirenses, que invadiram as ilhas daTerceira, Faial e S. Miguel a partir de meados do século XVI. Saliente-se que Guilherme daSilveira, apontado como um dos introdutores do pastel no Faial, na sua expedição para estailha apartou à Madeira, onde se deteve por algum tempo (B3). De igual modo Jácome de

t s) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L." II, 95; Fernando Augusto da Silva, «pastel.., in ElucldarioMadeirense. II (1946), .54.

t 6 ) Gênes au XV slécle, Paris, 1971, ;317.t 7

) A 6 de Março de 1537 o navio «Santa Maria das Areias» de Diogo Gonçalves, entrou em Antuérpiacom pastel de Madeira. Veja-se Virginia Rau, A exploração e o comércio de sal de Setúbal, Lisboa, 1952.

t 8) Dacio Victoriano Darias y Padron, Noticias generales hlstorlcas sobre la isla dei Hierro, Santa Cruz de

Tenerife, 1980, 208; Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 I, 132; Manuel Lobo Cabrera e Elisa TorresSantana, «Aproxímacción a las relaciones entre Canarias y Azores en los siglas XVI y XVII" in Os Açores e oAtlântico (XV-XVII), 1984, 363-364.

(79) Oh. cit., L.0 1, 132.(80) Manuel Lobo Cabrera, tbidem, 132-133; Elias Serra Rafols, Las datas de Tenerife, La Laguna, 1978,

data n.? 32, 53, 65,462, 516, 590, 762, 1249, 1462, 1470, 1487, 1521, 1526.(81) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 VI, cap. XXXVI; António da Silveira Macedo, História das

quatro ilhas I .. ./, I, 17; Carreiro da Costa, A cultura do pastel nos Açores. já citado.(82) Veja-se nota 73.(83) Saudades da Terra, L.? VI, 257,278.

116

Bruges, outro flamengo relacionado com o povoamento da Terceira, esteve na Madeira nadécada de 50, tendo trazido consigo Diogo de Teive (84). Em síntese é legítimo concluir queo pastel foi introduzido pelos flamengos que na Madeira estiveram ligados ao seu comércioou então pelos colonos madeirenses que emigraram para os Açores, a partir da década de50 (85) ..

De acordo com Gaspar Frutuoso, os flamengos corresponsabilizaram-se pela introduçãoe distribuição do pastel, a partir do Faial, pelas ilhas S. Jorge, Graciosa e S. Miguel,alargando-se depois às restantes ilhas.

A ilha de S. Miguel, pela sua extensão e disponibilidade do solo arável, tornou-se aprincipal área de produção e comércio deste produto. A aristocracia fundiária micaelense fezincidir as suas arroteias na cultura dos cereais e desta planta tintureira; Gaspar Frutuoso dáconta desses elementos influentes da produção de pastel, citando em especial Jorge Botelhoe Francisco Arruda da Costa(86).

Os incentivos da coroa a esta cultura, bem como a elevada valorização do seu produtono mercado têxtil europeu, conduziram à sua rápida afirmação no solo açoriano; assim, em1592, Gonçalo Vaz Coutinho, governador da ilha de S. Miguel, atribuia a falta de pão nailha à ocupação quase exclusiva do pastel C"): e, conforme referia J. H. Linschoot, em1589, «o negócio mais frequente destas ilhas é o pastel para uso de tinturar» de que «oscamponeses fazem seu principal mister», sendo o seu comércio «o principal proveito dosinsulares» (88); o autor holandês adianta a predominância desta cultura na agriculturaaçoriana, nomeadamente em S. Miguel e na Terceira, referindo no entanto que a produção ecomércio da primeira é muito superior à da segunda.

Recolecção, Silvicultura e Pesca

Mercê da sua instalação ribeirinha, os insulares foram exímios marinheiros e pesca­dores, extraindo do mar um grande número de recursos com valor alimentar. A actividadepiscatória, nos principais portos e ancoradouros destas ilhas, deveria absorver grandequantidade de vizinhos, pois a costa e o mar alto eram ricos em peixe e mariscos (89).

A área marítima definida pela costa ocidental africana, entre o cabo Aguer e a entradado golfo de Guiné, era muito abundante em peixe, sendo frequentada pelos vizinhos dasCanárias e da Madeira e pelos pescadores algarvios e andaluzes. Não obstante o monopólioda coroa castelhana e a sua exploração em regime de sociedade, actuavam aí comassiduidade pescadores portugueses, e particularmente os madeirenses e algarvios (90). Só

($4) Ibidem, 64.(85) António Cordeiro (História lnsulana / ... /. 2." ed., 278) refere, a propósito, que "o pastel é yma erva

vinda de Tolosa»:(86) Saudades da Terra, L,0 IV, voI. n, 8-9, 97. 116, 158, 164, 178, 185, 248-249, 277. 311, Maria,

Olímpia da Rocha Gil, ibidem, 98. '. ,(87) Arquivo dos Açores. II, 310. O mesmo dizia que "outra razão acho também nesta ilha haver falta de pão

centendo cada vez irá em crescymento que he fazerem-se as mais e melhores terras de pastel por o qual já hámuitos anos entendendo os reis passados ... mandarão ... que nynguem semeasse mais,que a terça parte do pasteldas sementeyras que fizesse; mas este regimento se não guarda porque como os ofyciais que devião de o fazerguardar são mercadores que tem o trato do pastel e dos mantymentos que vem de fora vem-lhe bem haver muitopastel e pouquo triguo».

(88) "História da Navegação do holandês J. H. Linschoot», in B.I.H.I.T.. I (1943) 152 e 154.(89) Veja-se L,0 I, II, III. IV e VI. Confronte-se nota 47.(90) Antonio Rumeu de Armas, Espaiia en el Africa Atlantlca, 2 vols., Madrid. 1956-1957; Idem!

«Pesquerias espafiolas en Africa (siglos XV e XVI)>>, in A.E.A." n.? 23, 370; Manuel Lobo Cabrera, "LosVencinos de Las Palmas y sus viajes de pesqueria / ... /», in IV C.H.C.A., II, 1978,406-429; Maria LuisaFabrellas, "Naves y marinos en los comiezos hispánicos de Teneri fe» , inRevista de..Histôria n.? 105-108 (1954);Manuel Lobo Cabrera, "EI mundo deI mar en Gran Canaria deI siglo XVI; navios marinos, viajes» in A.E,A., n.?26 (1980), 333-341.

117

em 1564 encontravam-se a sul do Cabo Branco cerca de quarenta embarcações castelhanas eportuguesas (91).

Todavia, o balanço das capturas feitas pelos insulares não se apresentava habitualmentefavorável, sendo insuficientes para cobrir as necessidades do mercado local, pelo que osmunicípios se viam na obrigação de regulamentar a pesca e o comércio do pescado (92).Além disso estas áreas recebiam muito pescado em salga e fumado de outras áreaspiscatórias europeias ou vizinhas, conforme veremos mais adiante.

A actividade recolectora adquiriu igual importância na actividade dos insulares, mercêda elevada valorização no mercado europeu, dos seus produtos, como a urze1a, aparecendoesta com abundância nas ilhas da Madeira, Porto Santo, Desertas, S. Jorge, Corvo, Flores,Santa Maria e La Gornerat?"). Nas Canárias, onde se encontrava também em Gran Canariae Tenerife, a sua colheita e comércio faziam-se já à altura da conquista; após estaconcedeu-se exclusivo da sua apanha aos vizinhos e o do comércio aos genoveses, sendo,em Gran Canaria, o seu promotor Francisco Lercar?").

No âmbito da silvicultura sobressai o aproveitamento das madeiras na construção deembarcações, engenhos, casas, meios de transporte; da lenha como combustível caseiro,industrial (nos engenhos e forjas), do pez para calafetagem de embarcações. Esta constantesolicitação das madeiras, lenhas e derivados para o quotidiano e para o comércio externo,conduziu à rápida desarborização do solo insular; até mesma a ilha da Madeira, que mereceutal epíteto pela abundância e esplendor do seu arvoredo, não deixou de sofrer com talsituação (95).

As queimadas para a abertura das frentes de arroteamento, o constante uso nasindústrias e a construção, pela destruição que causaram no parque florestal, forçaram asautoridades municipais a actuarem de modo rigoroso, limitando o corte de lenhas e madeirasàs necessidades locais (96).

(91) Antonio Rumeu de Armas, Pesquerias espaiiolas en Africa f .. .l , 371.(92) O peixe fresco ou salgado surge com frequência nas deliberações dos municípios insulares; definem o

local e venda, o preço e a sua distribuição no mercado interno. Veja-se Francisco Morales Padron, Ordenanzas deiconcejo de Gran Canaria, Título «de pescado y pescadores»; «Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, I, n.? 24, 26 dejaneiro de 1498; ibidem, II, n.? 28, 9 de Outubro de 1508; ibidem, n.? 21,22 de Setembro de 1508; ibldem, IV,n.? 295, 20 de Abril de 1522; A.R.M., C.M.F., n.? 1307, fi. 54-54 v.o, 5de Maio de 1546; ibidem, n.? 1311,fls. 24 v.0-25, 25 de Fevereiro de 1589. Nas vereações da Camara da Ribeira Grande (S. Miguel) 1555-1600 nãoencontramos qualquer referência ao peixe.

(93) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, 1.0 I, 74, 163, 170; L.0 II, L.0 III, 42, 55, L.0 VI (confrontenota 44). Fernando Augusto da Silva, « urzela», in Elucidaria Madeirense, III (1946),382-383; Carreiro da Costa..Tinturaria vegetal nalgumas ilhas dos Açores», in H.C.R.C.A .. n.? 25, p. 12.

(94) Vitorino Magalhães Godinho, "A economia das Cariarias nos séculos XIV e XV», in Revista deHistória (S. Paulo), 1952, 313-348; Ignacio Gomez Galtier, «EI genovés Francisco de Lerca prestamista ycomerciante de orchila en Las Palmas de Gran Canaria en el decenio 1517-1526», in Revista de Historia Canaria,n.? 141-148 (1963-1969), 70-76; Emma Gonzalez Yanes, ..Importación e exportacíón en Tenerife», in Revista deHistoria Canaria, n.? 101-I04; Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit., 419-420.

(95) Veja-se Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, 84, 137-138; António Aragão, A Madeira vistapor estrangeiros. Funchal, 1981, nota 41, pp. 42-46.

(96) Veja-se cap, I; Álvaro Rodrigues Azevedo, «Anotações... in Saudades da Terra Funchal, 1873,400-471; Elias Serra Rafols , «introducción», in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV, p. IX; Eduardo AznarVallejo, ob. cit .. 423-425.

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2. COMÉRCIO

O comércio surge como resultado de todos os circunstancialismos acabados de referir,incentivadores do sistema de trocas e activadores das comunicações inter-insulares e inter­-continentais, e ainda motivadores do desenvolvimento das actividades económicas.

As trocas comerciais no mercado inter-ilhas só poderão ser entendidas mediante umcorrecto dimensionamento deste mercado e do seu enquadramento num âmbito mais vastono mercado atlântico; e este compõe-se de uma intrincada teia de rotas comerciais que ligamo mercado europeu ao Novo Mundo.

O desenvolvimento sócio-económico do mundo insular articula-se de modo directo,com as solicitações da economia europeia-atlântica. Primeiro, como região periférica docentro de negócios europeus, ajusta o seu desenvolvimento económico às necessidades domercado europeu e às carências alimentares europeias: depois, actua como mercadoconsumidor das manufacturas de produção continental, em condições vantajosas de trocapara o velho continente; e, finalmente, intervém como intermediário nas ligações entre oNovo e Velho Mundo. A partir de princípios do século XVI, o Mediterrâneo Atlânticodefine-se como o centro de contacto e apoio ao comércio africano, índico e americano.

Partindo desta situação subalternizadora do mercado insular é comum definir-se aeconomia das ilhas pelo seu carácter periférico e posição estratégia, bases da afirmação dosinteresses hegemónicos europeus além-atlântico. Deste modo, é um mercado sem umaidentidade própria, e sem estruturas ou meios adequados que lhe possibilitem suplantar estaposição e). Todavia, uma análise aturada dos mecanismos sócio-económios insulares mostraque nessas sociedades se desenvolveram actividades económicas fora da alçada dos vectoresdominadores na economia no mercado europeu e atlântico.

A função de apoio à navegação resulta apenas do posicionamento geográfico dealgumas ilhas, influenciando nelas o desenvolvimento económico. Para a maioria, o eloeuropeu será mais forte que o americano ou asiático, dinamizando o seu desenvolvimentosócio-económico. A tipologia das conexões do mundo insular com a Europa é definida pelocarácter colonial, imposto pelo velho continente.

A estrutura comercial dos arquipélagos esboça-se de modo complicado, definindo-sepela sua heterogeneidade. Não existe uma linearidade na sua definição, mas sim umavariância de áreas, produtos, circuitos comerciais e intervenção de agentes nacionais eestrangeiros. Será dentro deste contexto que se articulará o comércio insular, assumindo trêsformas, de acordo com as classificações e cambiantes do mundo atlântico:

I. O comércio de cabotagem inter-insular, abarcando as comunicações e contactoscomerciais no mercado interno, ao nível local, regional e inter-regional, definidoeste último o contacto entre as ilhas de cada arquipélago;

2. O comércio intcr-insular, definindo as conexões do mercado insular atlânticorestrito, no nosso caso aos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias;

3. O comércio atlântico-europeu, abarcando ligações a longa distância com o mercadoeuropeu, africano e americano.

(1) A tendência da historiografia, até ao momento, foi para a valorização das ilhas atlânticas no conte~to

do comércio europeu-americano, alheando-se os textos das suas ligações europeias. Es~a situ~çã,o surge COm~al?racuidade na historiografia canária c açoriana, mercê da posição de evidência destes do!s ~rqUlpela~os, ~o comer:lOamericano. A reforçar essa situação surgiu, em Las Palmas, desde 1976, «Colóquio d~ Hls~ona, Cana~o­-Arnericana» e desde 1980 as «Jornadas de Estudos Canárias-América•. Veja-se Augustín Guirnerá Ravina,

, . C ,. A ,. 1980 201-219'«Canárias en la' carrera de Indias (1564-1518)., tn I Jornadas de Estudos anartas- mertca, , . 'Idem, «Los protocolos notariales y el comercio canario-americano en la edad modema», in EI Muse~ Canario,XXXVI-XXXVII, 1915-1916, 169-188. O tratamento do comércio canario-americano mereceuestu?os Importante~

de António Rumeu de Armas (1941, 1950); Pierre Chaunu (1951-1960); Francisco Morales Padron (1955); JosePeraza de Ayala (1052) e Analola Borges (1969); veja-se a bibliografia.

119

2.1 Mercados e produtos insulares

Os interesses da burguesia e aristocracia dirigente peninsular entrecruzaram-se noprocesso de ocupação e valorização económica das novas sociedades e economias insulares.Esta componente peninsular é reforçada com a participação da burguesia mediterrânica queacorre aos reinos da Península, atraída por novos mercados e uma fácil e rápida expansãodos seus negócios. Um grupo de italianos, mais ou menos ligados às grandes sociedadescomerciais mediterrânicas, participa activamente no processo de reconhecimento, conquistae ocupação do novo espaço atlântico e). Com efeito, eles interessavam-se pelo processo deconquista do arquipélago canário, pelas expedições portuguesas de exploração geográfica epelo comércio ao longo da costa ocidental africana; deste modo, a sua penetração no mundoinsular é de tal maneira fácil que eles acabarão por alcançar uma posição muito importantena sociedade e economia insulares, nomeadamente na Madeira e nas Canárias.

O impacto mediterrânico no mundo insular foi de tal modo forte que certos historiadoreseuropeus, como Fernand Braudel e Pierre Chaunu, definiram estas ilhas como o MediterrâneoAtlântico, designação que reflecte a penetração de técnicas e homens mediterrânicos nestenovo espaço.

O investimento de capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro, só surgiránuma óptica de nova economia de mercado europeia, salientando-se como gerador de novasriquezas capazes de um aproveitamento comerciale). Assim, o comércio será o denominadorcomum para os produtos a explorar e a introduzir no solo. Nesse processo são valorizadosos produtos activadores da nova economia de mercado, ou seja, as madeiras, a urzela, osangue de drago, o pastel, os cereais, a cana de .açúcar e o vinho; a valorização dessesprodutos resultará das solicitações da economia de mercado e das condições mesológicas docomplexo espaço insular.

Esta aposta incial do processo de ocupação das novas áreas atlânticas irá marcar aevolução sócio-económica da sociedade insular nos séculos XV e XVI, condicionando a suaposição na nova economia de mercado atlântico-europeia. Primeiro, orientadas para asatisfação das necessidades e solicitações do mercado europeu, as ilhas assumem umaposição de subordinação aos interesses hegemónicos do Velho Continente; depois com oalargamento do mundo atlântico, irão servir de bastião para o comércio europeu na áreacosteira atlântica; finalmente, estabelecida e reforçada a posição da burguesia europeia noNovo Mundo, resta-lhes o aproveitamenmto das vias abertas, tentando usufruir o máximodos réditos das rotas em direcção à Europa, à África, à América e à Ásia.

A manutenção e a conservação deste movimento comercial implicavam a criação deapoios adequados e uma reserva de capital disponível. Tudo isso delinearam os primeirospeninsulares e estrangeiros que iniciaram a exploração económica do solo insular, pois empoucos anos as ilhas atlânticas inseriram-se com a maior facilidade nos circuitos comerciaisdo Atlântico, activando uma intricada rede de rotas.

Na Madeira, desde meados do século XV, manteve-se um trato assíduo com o reino,activado de início com as madeiras, urzela, trigo e, depois, com o açúcar e o vinho e). Essemovimento alarga-se depois às cidàdes nórdicas e mediterrânicas, com o aparecimento deestrangeiros interessados no comércio do açúcar. A sua evolução é de tal modo rápida e

(1) Charles Verlinden, Les origines de ta civilisation Atlantique, Neuchatel, 1966.e) Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a nova economia de Mercado (séculos XVI-XVrn, in

Arquipelago, Série Ciências Humanas, III, 1981, 371-372.e) Já em meados do século XV Cadamostó referia' o comércio desta ilha com o reino e outros países.

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lucrativa que em 1493 a fazenda real lança uma imposição sobre o movimento do porto dacidade para a despesa de construção da cerca e muros (4). De acordo com a dedução feita aimposição de um vintém sobre a tonelagem renderia cem mil reais e a de 1% sobre asmercadorias duzentos e cinquenta reais.

O açúcar deveria ser o principal responsável por tão elevada quantia. Aliás o mesmoproduto contribuiu para o arranque decisivo da economia madeirense, e para a suaconsequente inserção na economia europeia. O acelerado ritmo de crescimento da ilhacondicionou a atracção de diversas correntes imigratórias. Tal situação é definida em 1508pelo monarca D. Manuel ao justificar a elevação do Funchal a cidade: «teem creçido emmui gramde povoraçam e como nella vivem muytos fidalgos cavaleyros e pessoaeshomrradas e de gramdes fazendas polIas quaaes e pelIo grande trauto da dyta ylha ... » (5).

A tendência para a monocultura condicionou a economia madeirense, marcando-a comuma forte dependência em relação ao mercado externo, uma vez que a ilha necessitava dessemercado para a colocação do açúcar e para se abastecer de produtos alimentares (carne,pescado, legumes, cereais, azeite, sal) e artefactos (ferro, telha, barro, panos, linho,etc.ir") .

Guilio Landi, cerca de 1530, retrata com grande acuidade essa ambiência no burgofunchalense: «Aqui chegam frequentemente mercadores de países muito distantes: de Italia,França, Flandres, Inglaterra e da Península Ibérica, que para lá levam aquelas coisas quefabricam panos da ilha e dela transportam aquelas de que a ilha é produtora, tais comoaçúcar e vinho, por lá haver em grande abundância C).

O mesmo autor refere que a Madeira se abastece de cereais nas ilhas vizinhas e que ovinho é vendido «a mercadores que o levam à Península Ibérica e para outros paísessetentrionais» (8).

Em 1567 Pompeo Arditi na passagem pelo Funchal, observa que o comércio baseadono açúcar, conservas e vinhos era abundante, e que a ilha tinha de assegurar a suasubsistência em cereais nas Canárias e nos Açores (9)

Estas descrições de viagem, distanciadas no tempo em trinta e sete anos, atestam que acrise açucareira da primeira metade do século não provocou o colapso da economiamadeirense. Primeiro porque o açúcar local, não obstante a quebra sofrida, continuará a sermais valorizado e procurado no mercado europeu; e segundo porque o vinho veio preenchera lacuna deixando em aberto com essa quebra.

Todavia, o momento de explendor de finais do século, conforme descrições deFrutuoso e Torriani, deverá resultar certamente do comércio do vinho que, desde a décadade 70, vinha conquistando mercados na Europa e na América. O primeiro destes cronistasexalta a opulência madeirense do seguinte modo: «A ilha da Madeira / ... / tão afamada eguerreira com seus ilustres e cavaleiros capitães, e tão magnânimos, e com generosos egrandiosos moradores; rica com seus frutos; celebrada com seu comércio que Deus põe nomar oceano ocidental por escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes que de Portugale de outro reynos vão, e de outros portos e navegações vêm para que diversas partes, alémdos que de força ela somente navegam, levando-lhe mercadorias estrangeiras e muitodinheiro para se aproveitar do retomo que dela lutam para suas terras, / ... /com seu licor edoçura, como um néctar e ambrosioprovê as Índias ambas, a Oriental aromática e a

(4) A.R.M., C.M.F .. registo geral. T.I, fi, 172-179,21 de Junho de 1493, «carta do duque em que mandaque se faça cerca e muros nesta Villa do Funchal», publ. in A.H.M., XVI, 287.

(5) Ibidem, fi, 278 v.o-279, Sintra, 21 de Agosto de 1508, «carta dei Rey noso Seiior em que faz cidade aeste Funchal, publ. in A.H.M., XVIII, 512-513,..

(6) Ibidem, fls. 337-340, 10 de Janeiro de 1512, regimento sobre a guarda do mar, in A.H.M., XVIII,539-542.

c') «Descrição da ilha da Madeira". in A Madeira vista por estrangeiros, 1981, 83.(8) Ibldem, 86.(9) «Viagem à ilha da Madeira e aos Açores / .. .l», in Ibidem, 130.

121

16

Ocidental dourada, chegando e adoçando seus frutos de extremo a extremo quase o mundo todo» eo).

O segundo põe a tónica na intensa actividade comercial do porto funchalense com a África e a Europa: «EI comercio es muy importante, y se hace navios que vienen a esta ciudad de Funchal de todas las partes dei África Cristiana, de Italia, Espana, França, Alemana y Escocia, de modo que se le ha apodado de «pequena Lisboa» e1

).

Esta piccola lixbona inseria-se de modo evidente na economia europeia e atlântica, comparticipando do trato com Velho e Novo Mundo, servindo de entreposto de comércio para as suas riquezas e das áreas vizinhas.

Não obstante Vitorino Magalhães Godinho referir, baseado no texto de Diogo Gomes (1450), que em meados do século os Açores apresentavam um comércio activo de cereais e gado com o reino, parece-nos que o arranque, em termos sócio-económico do arquipélago açoriano só se processou, com maior acuidade, a partir do último quartel do século XV. Aliás, a infanta D. Beatriz, em 1474, ao confirmar a compra da capitania da ilha de S. Miguel por Rui Gonçalves da Câmara, refere que a mesma estava «mal aproveitada e pouco povoada», sendo necessário o «serviço e proveitos dos seus súbditos» para a «dita ilha ser melhor aproveitada e povoada pelas muitas mercadorias que dela poderão vir» e2

).

As isenções fiscais (1443-1444) no comércio com o reino, para aléin de surgirem como aliciante à fixação de colonos, contribuiram igualmente para o reforço das ligações com o continente e para a afirmação da burguesia metropolitana nessa rota. Aliás nas cortes de Coimbra (1472) e de Évora (1481-1482) é bem expressa essa aspiraçãoe3

).

Tal como na Madeira, as preocupações do sector dirigente açoriano orientavam-se para as possibilidades abertas pelo desenvolvimento da economia de mercado. Assim cultivaram as culturas mais valorizadas nas trocas comerciais europeias (cana de açúcar e pastel); apenas o pastel conseguiu adaptar-se bem ao solo açoriano, surgindo, desde princípio do século XVI, como um dos principais produtos do comércio dos Açores; desde 1501 que, segundo Valentim Fernandes, a ilha de S. Miguel exportava pastel para Flandres e outras partes e4

).

A exploração do pastel teve uma evolução de tal modo favorável, que, em 1536, o monarca O.João UI manifesta o seu apoio à sua cultura por meio de um regime de defesa da sua qualidade e da sua capacidade concorrencial no mercado europeu; refere que o trato do pastel «era grãde e podia ser muito major» es ). Na realidade; assim sucedeu, pois, a 'partir da década de 60, o comércio do pastel açoriano veio a intensificar"se mercê do apoio e da vigilância da coroa e da sua valorização no mercado· europeu do norte (16).

Em 1589 Linschoot refere que «o negocio mais frequente destas ilhas é o pastel para uso· da tinturaria com o. qual negoceiam os ingleses, escoceses,. franceses, levando ,para lá fazenda e outras mercadorias em troca» (17); acrescenta que o comércio desse produto estava centralizado no porto de Ponta Delgada e Angra, sendo aí «o principal proveito dos inS,ulares» es).

No século XVI o porto de Angra apresentava-se como o principal entrep0sto comercial açoriano, com uma intervenção importante no comércio do pastel e em outrOs produtos do arquipélago, e COITlO um importante porto de escaladas embarcações das Índias Orientais e

eo) Saudades da Terra, L.0 11,1968,99.100. (11) Descripcion e Historia de/ Reino de las is/as Callarias. 266. ('2) Carta de confirmação da compra da ilha de S, Miguel por Rui Gonçalves da Câmara, dada por

D. Beatriz cm 10 de Março de 1474, pUbl. in Arquivo dos Açores, I. 103. ('3) Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidem, 372-375. (14) Manuel Monteiro Velho ArrÚda, Colecçâo de documentos relativos ao descobrimell/o epovoameilto dos

Açores. P. Delgada, 1932, p. 161. ('5) Arquivo da Alfândega de Ponta Delgada, L. o de registo de Alfandega de Pontll Delgada, 568-1603,

fi. 191 c segs., publ. por Maria Olímpia da Rocha Gil, ibidem, 393-400, [16) Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidenl, 393-400.

122

(17) "História de Navegação do holandês J, H. Linschoot", B.I,H,I,T,. n.O I (1943), 152. ('8) Ibidem. 154.

Ocidentais, Brasil, Mina, S. Tomé e Cabo Verde. Assim, em 1578, D. Sebastião não hesita em classificá-lo como um dos mais importantes do reino e9

). Segundo o Pe. Maldonado este movimento do porto de Angra animava o comércio do burgo, contribuindo para a circulação do metal amoedável e para a riqueza dos terceirenses (20).

Na mesma época a cidade de Ponta Delgada anima-se, não só com o apoio às naus das rotas atlânticas, mas também como o comércio das riquezas da ilha: o pastel e o trigo. Gaspar Frutuoso, cronista das ilhas, enaltec.e as qualidades da população de Ponta Delgada no comércio e evidencia o elevado trato comercial do burgo: «A nobre e populosa cidade de Ponta Delgada, tão célebre com generosos e poderosos moradores; tão rica, provida e abastada com diversos comércios e grossos tratos de mercadores riquissímos, / .. ./ quasi tão sempre frequentada de navios infinita gente forasteira, / ... / finalmente n'ela está o corpo dos negócios, riqueza, habitações e comunicações de todo o trato e contratos de toda a ilha; e residem os mercadores mais ricos / ... /, que têm comércio em Portugal, Castela, ilha da Madeira, Canárias, Flandres e outras partidas, e se negociam os negócios d'esta ilha por um lado tão bem, chão e verdadeiro, que seguro nas partes estrangeiras não ha nenhuma de seu qual lhe peça vantagem» CZl).

O arquipélago canário, tardiamente associado ao domínio europeu, manteve desde o século XVI um comércio activo com a Península, baseado em escravos, carnagem e plantas tintureiras (sangue de drago, urzela). Neste tráfico intervêm penínsulares e os italianos recém-chegados à península. Após a conquista, castelhanos, portugueses e italianos repartem entre si o comércio nestas ilhas; só mais tarde surgem os flamengos e ingleses, que delinearão as rotas de ligação ao mercado nórdico.

O desenvolvimento da nova economia de mercado nas Canárias advem da exploração dos recursos do meio e também do posicionamento deste arquipélago em face das áreas de comércio do litoral africano e americano; as duas situações concorreram para o aparecimento de agentes e representantes das principais sociedade comerciais europeias e2

). Em relação à costa ocidental africana, o arquipélago canário surge como um «mercado receptor y exportador de escIavos», centralizando o comércio destes com a América, Europa e Mundo Insular e3

).

Múltiplas descrições, de finais do século XVI, evidenciam a posição dominante das Ilhas de Tenerife e Gran Canaria, ao mesmo tempo que enunciam as diversas cambiantes do mercado. Um texto anónimo de cerca de 1585 diz que em Tenerife "es el trato ... mucho, porque ay anos que se cargam más de 30 navios para Yndias con vinos, y quando el ano es abondoso de pan / ... /» e4

); o mesmo texto refere ainda que esta ilha mantem um trato importante com as praças de Flandres, França e Inglaterra, baseado no açúcar e vinho. Torriani, na década de 90, após referenciar que a população canária «se diríge bajo el de los oficios y deI tráfico de mercancias» ,corrobora as afirmações do texto anterior dizendo: «Es com· mucho la más rica de todas en azúcar y en vinos excelentes que se transporta a diferentes partes deI mundo, / ... /. Tiene mucho comercio, porque está mais problada de que Canaria, y dos veces más que la Palma» es)

e") Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica do povo dos Açores» in Obras /I História, Angra do Heroísmo, 1983, 74; "Uma antiga carta da ilha Terceira .. in BI.I.H.l.T .. n.o 5 (1947),285.

eo) Phenix Angrense (ms. inédito da Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroismo), citado por Helder de Sousa Lima, Os Açores e a economia Atlâmica (subsídios) séculos XV, XVI e XVIll, Angra do Heroismo, 1978, 125-127, Sep. do B.I.H.l.T, n.O 34 (1978).

(21) Saudades da terra, L.0 IV, vaI. II, 1981, pp. 70-79. (22) É extensa a Bibliografia sobre o comércio canário-americano e canário-africano, sendo de salientar os

estudos de Antonio Rumeu de Armas, Pierre Chaunu, Francisco Morales Padrón, José Peraza de Ayala, Manuel Lobo Cabrera; Veja-se a bibliografia. F. Clavijo Hcrnandez, «Los documentos de fletamentos ... " IV X.H.C.A., I, 45,58; Manuel Lobo Cabrera, Proc%s de AlollSo GUlierez, 27 e 35-37; F. Clavijo Hernandez, Protocolos dei escribano Hernán Guerra, 21-22.

e3 ) Veja-se Manuel Lobo Cabrera, La esclavitad en las Canarias Orientales en el siglo XVI. 1982, 161-165, passim. e4 ) E. Marco Dorta, «Descripción de las islas Canárias», in Revista de História. IX (1943), 203.

es) L. Torriani, Descripción e História dei Reino de las Islas Canarias, 171.

123

Ainda na mesma época, Frutuoso refere «haver nestas ilhas um continuo trato ecomércio de diversas nações, por causa dos bons açúcares e vinhos, breu, lãs, queijos eoutros frutos que com todas as mais delas há»e6

) ; em relação às ilhas de Tenerife e LaPalma aduz que a importância da vinha na exploração agrícola adveio da constantesolicitação das naus e do comércio da rota das Índias e7

) .

O comércio do mundo insular baseava-se, essencialmente, na troca de produçãoagrícola por artefactos europeus; a produção das ilhas deveria fornecer os produtosadequados à activação da economia de troca, capaz de suprir as necessidades locais.A economia insular alicerçou-se no confronto dessas solicitações da economia de subsis­tência e de mercado; assim, os vectores da primeira condicionaram a valorização doscomponentes da dieta alimentar (o vinho, os cereais), enquanto os da segunda implicaram ainserção da economia insular na economia colonial europeia através da exploração deprodutos, como o açúcar e o pastel. Os produtos referenciados, pelas razões apontadasimpuseram-se no mercado insular, galvanizando todo o sistema de trocas; entre eles ovinho, o trigo e o açúcar adquiriram uma importância vital no comércio local externo.

Partindo desta valorização dos produtos de comércio do mundo insular analisemos, demodo sumário, o mercado e comércio de cereal, vinho e açúcar para depois definirmos asáreas e as formas desse comércio.

Nos três arquipélagos o cereal e o vinho adquiriram, em épocas diversas, posiçãodominante no comércio local e externo. Quanto ao açúcar, ele teve um lugar de relevo naMadeira e nas Canárias, mas foi substituído nos Açores por o equivalente, o pastel. Estaaliança entre os vectores dominantes da economia de subsistência e mercado tem a sua maisperfeita concretização nos Açores e nas Canárias. Na Madeira a estreiteza do espaçoarroteável impediu essa simbiose, a partir de meados do século XV, pelo que a ilha supriaessa carência com a aposta num produto com elevado valor mercantil, capaz de fornecer aoilhéu o açúcar para a troca pelo cereal e manufacturas, ou para aumento dos seus réditos.

Em condições normais de produção o mundo insular apresentava-se como auto-suficiente,produzindo o cereal e mais componentes da alimentação insular. Apenas em momentos depenúria havia necessidade de recurso ao mercado europeu ou à Berberia. As ilhas deTenerife, La Palma, Lanzarote, Fuerteventura. S. Miguel, Santa Maria, Flores, Graciosaproduziam o cereal suficiente para o consumo corrente, bem como elevados excedentes parao abastecimento das ilhas vizinhas (Gran Canaria, Terceira, Faial, S. Jorge e Madeira) emesmo para exportação para o litoral peninsular e marroquino.

Esta dinâmica de interajuda definia-se por diversas contrapartidas. Assim, a Madeiraoferecia ao açoriano vinho, açúcar e produtos de que esta carecia e ao canário algum vinho,fruta, manufacturas de importação, a troco do precioso cereal. Nos três arquipélagos ovinho e o cereal surgem como os principais animadores das trocas de cabotagem, inter­-insular atlântico-europeia, enquanto o açúcar apenas activará a rota europeia.

A Madeira até à afirmação da economia açucareira, a partir de meados do século XV,evidenciou-se como o principal celeiro atlântico, fornecedor das praças e das áreas carecidasdo litoral português. Para isso a coroa traçou uma política cerealífera, definida pela aberturadas duas rotas de escoamento: primeira, orientada no sentido dos portos do reino (Lisboa,Porto, Lagos), foi incentivada em 1439 por meio de isenções fiscais es); a segunda foiimposta pela coroa, em tempos de D. Afonso V, e tinha como finalidade o abastecimentodas praças do litoral africano e guineense e9

) . Esta última solução definia-se pelo monopólioou direito preferencial por meio de contrato firmado com os mercadores; assim, em 1466,todo o trigo dos direitos do infante estava entregue a um mercador catalão, enquanto em

e6) Saudades da Terra, L.0 I, Ponta Delgada, 1966, 87.

(27) lbidem, 97, 132.es) A. H. de Oliveira Marques, Introdução à História da Agricultura em Portugal, 248-249; Alberto Iria,

O Algarve e a Madeira no século XV. 198-201.(29) Vitorino de Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a Economia Mundial. III, 233-234

124

1473 se estabelece um contrato com Baptista Lomelim para que "todo ho trigo que hihouver o possa tirar para fora dela ilha» eo).

As dificuldades sentidas, a partir de 1461, agravadas na década seguinte, ditaram asprofundas alterações da economia madeirense que conduziriam a uma inversão do comérciodo cereal. As tentativas do infante D. Fernando, em 1461 e 1466, para manter a dominantecerealífera na economia madeirense e as consequentes rotas de escoamento esbarram com aalta rentabilidade e valorização da cultura do açúcart?"). Deste modo, o impulso da safraaçucareira e o aumento populacional implicaram uma insuficiência da produção cerealífera ea necessidade de definição de um mercado fornecedor; e desde logo o recurso aos mercadosonde o cereal se encontra disponível - na Berberíar'"). Em 1479, os moradores da ilhadiziam que "somos este ano postos em outra mayor que nesta ylha nam a pan para sepoderem mãter meses pello qual a nos he necessareo prover e buscar maneyras de fora doreyno apenas triguo segundo Vasa Senfioria sabe" e3

) . Esta evidência implicava a tomadade medidas no sentido de estabelecer uma área capaz de fornecer, com relativa regularidade,o cereal de que a ilha carecia; assim sucedeu a partir de 1483, com a definição das ilhasvizinhas como fornecedoras da saca do trigo necessário ao consumo madeirensee4

) . Paraatrair esse produto estipulava-se em 1508 a isenção da dízima de entrada; desde 1527 forammesmo custeados os encargos com a descarga, sacos e armazenamento es).

A coroa, ao mesmo tempo que procurava definir um celeiro de abastecimento daMadeira, actuava no sentido de preencher a lacuna deixada em aberto pela quebra daprodução madeirense. Deste modo, esse celeiro deveria cobrir as necessidades do reino, daMadeira e das praças marroquinas. A sua concretização só se efectuará mediante umaconstante e rigorosa intervenção régia por meio de ordenações e regimentos e6

) . Saliente-seque em 1473 e 1490 a população de Lisboa reclamara junto do monarca contra o envio decereal para África, no sentido de colmatar as carências do reinoe7

) ; estas reclamaçõesatestam a apreensão dos reclamantes pela quebra da produção madeirense, ao mesmo tempoque comprovam a importância do mercado açoriano e madeirense no fornecimento' docontinente português. Aliás nessa década e na seguinte intensificou-se o comércio do trigoaçoriano com o reíno; tal nota assume maior importância no século XVI favorecida pelasisenções fiscais nos portos importadores e pela falta de novas áreas produtoras. O aumentodo movimento de cereal para o reino resultava, não só desse activo comércio, mas tambémdas transferências das rendas dos senhorios e direitos reais.

O comércio de trigo açoriano para as praças marroquinas fazia-se, desde 1488, pormeio de assentistas que em Lisboa recebiam o contrato de fornecimento. A partir daqui

eo) Ibidem, 234.(31) Fernando Jasmins Pereira, Elementos para o Estudo da História Econômica da Madeira. 102-3; Joel

Serrão , Sobre o trigo das ilhas /lOS séculos XV e XVI. 4.(32) Joel Serrâo , art, clt. 4, V. M, Godinho, lbide m , IV, 235. A,R,M. C.M.F" registo geral, T.L, fls.

239-256, 22 de Março de 1485, "Apontamentos deI Rey dom Manuell sendo Duque pera esta ylha de Madeyra»,

in A.H,M., XV, 155.e3 ) A.R.M., C.M,F., registo geral, T.!., fls. 14-15,24 de Agosto de 1479, «carta dos sefiores desta villasopre peyta pera a senhora ynfarnta», in A.H.M" XV, 97-100. •e4 ) Documento de 10 de Dezembro transcrito por A. A. Sarmento, A Madeira e as Praças de Africa,

Funchal, 1932, 43,45. .es ) A.R.M., C,M.F., registo geral. T.I., fi. 196 v.", 17 de Agosto de 1508, "carta de meryces que el Reynoso Seiior fez a esta Villa do Funchall » , A.H.M.• XVIII, 506-508; lbidem, n.? 1305, fl. 273, Vereação de 28 de

Junho de 1527.e6 ) Alberto Vieira, O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira. 652-657, Idem, A questãocerealífera /lOS Açores /lOS séculos xv-xvm. 281-283; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores /10

século Xvll , 282-283; no Arquivo dos Açores publicaram-se alguns regimentos do século XVI. Vej.am-seos vol~.

V, 122-123; II, 327-334; I, 228-231; Francisco Carreiro da Costa, "Os Açores e o problema cerealífero portuguesno século XV", in B.C.R.C.A., n.? 1 (1945), 23-28.

e7 ) A. H. de Oliveira Marques, lbidem, 254,

125

preparavam o embarque com auxílio de procuradores residentes nas praças de PontaDelgada e Angra, ou deslocavam-se ao arquipélago para dar execução ao contrato es).

Em síntese o comércio do cereal alicerçou-se no provimento do reino, da Madeira epraças marroquinas. A rota do reino surgiu como uma necessidade decorrente da promoçãodo seu cultivo em solo insular, enquanto as duas últimas foram definidas por intervençãorégia, de acordo com a política desenvolvimentista do mundo atlântico.

É praticamente impossível contabilizar e estabelecer séries do trigo no comércioinsular, uma vez que faltam os registos das alfândegas. Também a insuficiente informaçãodas poucas vereações existentes para o século XVI impossibilita uma análise quantitativadesse tipo. Todavia, alguns dados avulsos elucidam-nos que a exportação do cereal açorianopara as praças marroquinas no século XVI oscilava entre os mil e quinhentos a três milmaios, e era na sua maioria, oriundo da ilha de S. Miguel r"). Para o reino o quantitativoera muito superior pois em 1524 só a cidade de Lisboa recebeu dois mil moias (40), e, em1535, apenas um mercador, António Borges, conduziu ao reino mil oitocentos e cinquenta enove moias e quarenta e dois alqueires de trigo (41). Quanto ao trigo saído das diversasalfândegas açorianas há apenas notícia do embarque na vila da Praia (na ilha Terceira) em1533 e 1562; no primeiro ano a vila exportou quatro mil maios e, no segundo, cinco milmaios, além de setecentos moias para Angra (42).

Comércio de cereais em Tenerife no século XVI O

EMBARCAÇÕES TRIGODESTINO

NÚMERO MOIOS %

Madeira 20 712,5 26Portugal 19 755 24Espanha 4 1 152 42Gran Canarial Gomera 133 5

Total 38 2752,5

o arquipélago canano, afirmou-se desde princípios do século XVI, como um novoceleiro do Atlântico, fornecendo o excedente necessário ao abastecimento do litoralafricano, da costa peninsular e da ilha da Madeira. Do trigo saído no século XVI da ilha deTenerife, cerca de 53 % destinou-se a Portugal e à Madeira, o restante ao mercado insularcanário e castelhano. O mercado peninsular totaliza 69 % desse cereal, ficando apenas aparte sobrante para as ilhas. O cereal exportado para o litoral peninsular orientava-se nosentido das principais praças comerciais: Lisboa, Sevilha e Cádiz. Note-se que no caso deCastela são as cidades gaditanas os principais consumidores do cereal canário destinado aEspanha (39%). Quanto ao comércio da cevada, o maior número de moias é canalizado paraPortugal, nomeadamente para o porto de Lisboa, sendo de salientar um único embarque desessenta e seis moias e meio de cevada para o arquipélago açoriano em 1511.

es) Ibidem, 254; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta Delgada e o comercio açoriano no séculoXVII 1 ... 1.111-113.

e9) Helder de Sousa Lima, Ihidem, 254.

(40) Libra das Posturas Antigas. Lisboa. 1974, 309.(41) A.N.T.T., Chancelaria de D. João Ill, L.0 10, fl. 118, Évora, 22 de Junho de 1535, in Arquivo

Histórico Português. IX, 454, n.? 7, n.? 720.(42) Maria Olimpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII. 284-285.(43) F. C. Hemandez, Protocolos de Hermân Guerra. Santa Cruz de Tenerife, 1980 Manuel Lobo Cabrera

Protocolos de Alonso Gutierrez, Santa Cruz de Tenerife, 1979, Emma Gonzalez Yannes, Protocolos dei escribanoHermân Guerra. La Laguna, 1958.

126

Faial (Açores)GalizaPortugal

Total

Comércio de cevada em Tenerife século XVI (44)

DESTINO MOIOS

66,56,5

636,5

709,5

%

91

90

100

o problema cerealífero no mercado surge com maior acuidade apenas na Madeira, umavez que esta ilha se apresenta a partir das três últimas décadas do século XV, como umaárea carecida de cereal. A produção local, circunscrita às partes do fundo e ilha do PortoSanto era muito insuficiente e dava apenas para um terço ou metade do consumo anual; aparte em falta deveria ser colmatada com a importação do cereal das ilhas vizinhas; mas aconstância dos problemas cerealíferos no mercado insular, em conjunção com os impedi­mentos impostos a esse trato, obrigaram os madeirenses a socorrer-se do cereal do reino,nomeadamente em Lisboa, Setúbal e Porto e no mercado europeu, como a Bretanha,Salónica e Jerez, a troco de açúcar (45)

No século XVI, definido de modo rigoroso o celeiro de provimento nas ilhas vizinhas,a questão cerealífera atenuar-se-á, agravando-se apenas com as crises sazonais das áreasprodutoras. A premência deste insuficiente aprovisionamento obrigou o ilhéu a socorrer-sedo velho continente, com que manteve um comércio activo a troco do açúcar. Durante oséculo em causa a Madeira recebeu 42% de cereal da Europa e 40% das Canárias, enquantona Europa domina o mercado flamengo com 32 %.

A cultura da vinha alastrou a todo o espaço insular, mas apenas na Madeira e nasCanárias o vinho adquiriu um lugar de valor nas trocas externas, nomeadamente no mercadoafro-americano; os dois arquipélagos disputaram o domínio desse mercado consumidor devinho. Até à união das duas coroas a Madeira detinha o monopólio do comércio de vinhocom os portos afro-brasileiros, enquanto as Canárias disputavam com a Andaluzia omercado das Índias. A partir de 1598, com a proibição do comércio da ilha da Madeira como Brasil, corno forma de evitar o contrabando do açúcar brasileiro, a Madeira perde aposição favorável, que detinha neste mercado em favor da ilha de La Palma C'").

Desde meados do século XV exportava-se o vinho madeirense para as diversas partesdo mundo; sendo muito apreciado pelo europeu, conjuntamente com o açúcar, chegava àsprincipais praças nórdicas, como Ruão, Orleans, Flandres e Londres (47); além disso era

(44) Veja-se nota anterior.(4s)A.R.M.. C.M,F. fi. 139 v.", 21 de Janeiro de 1483, Carta do Duque sobre o despacho de 'caravela de

Rodrigo Afonso de Setúbal, com trigo, A.H.M" 119-120; Documentos do. Arquivo Histórico da Câmara­Municipal de Lisboa. Livros de Reis III. Lisboa, 1959, p. 240, n.? 63, Santarém, 25 de Fevereiro de 1486;A.R.M., C.M.F .. n." 1298, fi. 62,20 de Março de 1486, pagamento de sele mil e oito cruzados de frete a umnavio que veio de Bristol COm trigo; Ibldem.w." 1298, fi .. 12.8 v." (1486), AlvaroVaz , mercador, pagou dois pipasde vinho pOr trigo que o bretão trouxe. Em 1486 o conde de.Vila Real expediu com moios e Pera da.Cunha vinte ecinto (Vitorino de Magalhães Godinho • Os descobrimentos e.aeconomia Mundial, Hl , 255). A l-de Fevereiro de1496 é feito seguro em Barcelona para o transporte de trigo do Jerez OIJ Andaluzia. à Madeira (1. M .. MadurellMarimón.jzrr. cit .. 494-496), Em 1498 foi enviado um barco a Salónica trocar açúcar por trigo (Oliveira Marques,ob. cit, .250, nota 20. Veja-se Victor Mora1es Lezcano, Relaciones Mercantllesentre Inglaterra ylos Archipié-:

lagos I.,. t. La Laguna, 1970, 53-55.(46) José Gonçalves- Salvador, Çristãos Novos e o Comércio no Atlântico Meridional, ·S. Paulo, 1978,

263-266.(47) Em Julho de 1532 Orleães recebeu oito pipas de vinho da Madeira (M. MollatLe Commerce. Maritime

Normand, 121,289,298,412) e a 25 deOutubroBartolomeu Machadorefere ter.vendido ao mercadorflamengoCornellas quarenta e sete pipas de vinho (J.R.C. Funchal; fls. 300-301, v.").

127

Registo de Trigo no porto do Funchal Século XVI

(em moios)

Dala Canárias Castela Escócia Flandres França Portugal PonoOutrosAçores Santo

1485 1251509 71510 99,5 2,5 e 10 al.1511 4 e 201512 24,51513 103 e 181514 6,5 e 1815181523 821524 13 e 201527 20,5 e 101535 201536 5 1001546 204 e 51547 30 151550 I1552 90 I e 415741580 3,5 aI.1589 301596 259 504,5 e 10 6,5 e 197,5 e 101597 243,5 e IS 57 e 24 674,5 1213,S e 201599 68 17,5 e 10 33 e 20 25 588 70 J3

Total 1187 e 8 712,5 e 8 33 e 20 25 1262,5 170 145 7,5 e I 342,5

Fonte: A.R.M., Vereações de 1474-1500; Alberto Vieira, O Comércio de Cereais das Canárias para a Madeiranos séculos XVI e XVII, já citado; Idem, A questão Cerealífera nos Açores nos séculos XV-XV/I, já citado.

fornecido às naus da rota da Índia e Brasil e enviava-se às praças marroquinas e às feitoriasda área do Golfo da Guiné (4B).

As Canárias surgem, entre meados do século XV e XVI, no mercado viti-vinícolaatlântico, como um importante consumidor do vinho europeu e madeirense (49); mas avalorização da cultura da vinha na economia local, nomeadamente em Tenerife e La Palma,inverteram a situação, passando o vinho destas ilhas a afirmar-se como um potencialconcorrente ao da Madeira e ao da Andaluzia (50). A sua exportação ter-se-ia iniciado nadécada de 40, surgindo na década seguinte como grande abundância no mercado brasileiro e

(48) J. W. Blake, Europeans in West Africa, 1450-1560, vol II, Londres, 1942, 314, 320-324. Em 1508foram remetidas de Machico vinte e uma pipas de vinho para Diogo de Azambuja em Safirn (A.N.T.T., C.C .. II- 15-44, 25-VIII·1508) e, em 1589 Simão Pires enviou doze pipas de vinho a Cabo Verde (A.R,M., l.C.R. ­Funchal. fls. 381 v.0-385 v.", 3 de Abril).

(49) M. A. Ladero Quesada, ..Seiiores de Canarias e Sevilha», in A.E.A.; n.? 23, 161; E. Gonzales Yanes,..Importación y exportación en Tenerife { ... l , in Revista de Historia, n.? 101-104,77. Em 1523 importou vintepipas de vinho do Funchal (A.N.T.T., N.A., N." 541).

(50) Pierre Chaunu, Seville el I'Atlantique, r. VIII, vol I, 374; Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espanacom America en la epoca de Filipe /I. vol. I Valladolid, 1979, 464-469. Gaspar Frutuoso refere a produção ecomércio do vinho das Ilhas de Tenerife e La Palma, salientando quanto a La Palma que o maior proveito do vinhoé "por os da escala das Índias, de que é frequentada aquela ilha não pedirem senão vinho». (Ob. cit., L.0 I (1966),97, 104, 132); A. Cioranescu, ob. cit.. I, 321-323.

128

americano (51). Em 1551 a ilha de La Palma exportou mil trezentas oitenta e seis pipas de vinho para S. Domingos, Porto Rico e Nome de Deus; dezasseis anos depois a ilha de Tenerife conduziu mil duzentas trinta e sete pipas para Nueva Espana (52).

Esse comércio com o Novo Mundo foi regulamentado, a partir de 1559, com a concessão de licença para o seu embarque, ficando todo o movimento, desde a segunda metade do século, sujeito às autorizações temporárias da Casa da Contratação, que coordenava todo o comércio com as índias (53).

O comércio do açúcar do mercado insular, circunscrito às ilhas de Gran Canaria, Tenerife, La Palma e Madeira, é o principal activador das trocas com o mercado europeu. Na Madeira ele assume uma posição dominante na produção e comércio entre 1450 e 1550, enquanto que nas restantes praças surge apenas em princípios do século XVI, tendo assumido uma posição de evidência a partir da terceira década.

O regime do comércio do a~úcar madeirense nos séculos XV e XVI, segundo opinião de Vitorino Magalhães Godinho, «vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida peia intervenção quer da coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de monopólio cada qual em relação com uma escápula de outra banda» (54). Deste modo o comércio apenas se manteve em regime livre até 1469, altura em que a baixa do preço veio condicionar a intervenção do senhorio, que estipulou o exclusivo do seu comércio aos mercadores de Lisboa (55). O madeirense, habituado a negociar com os estrangeiros, reage veementemente contra essa decisão, pelo que o Infante D: Fernando, restringidas as suas possibilidades, arremata em 1471 todo o açúcar a uma companhia formada por Vicente Gil, Álvaro Esteves, Baptista Lomelim, Francisco Calvo e Martim Anes Boa Viagem (56). Dessa decisão resultou um conflito aceso entre a vereação e os referidos contratadores (57).

Passados vinte e um anos a ilha debate-se ainda com uma conjuntura difícil no comércio açucareiro, pelo que a coroa retoma em 1488 e 1495 a pretensão do monopólio do seu comércio, mas apenas consegue impor um conjunto de medidas regulamentadoras da cultura, safra e comércio, que ocorrem em 1490 e 1496. Esta política, definida no sentido da defesa do rendimento do açúcar, irá saldar-se mais uma vez num fracasso, pelo que em 1498 é tentada uma nova solução, com o estabelecimento de um contingente de cento e vinte mil arrobas para exportação, distribui das por diversas escápulas europeias (58).

Estabilizada a produção e definidos os mercados de comércio do açúcar, a economia madeirense não necessitava dessa rigorosa regulamentação, pelo que em 1499 o monarca revoga algumas das prerrogativas estipuladas no ano anterior, mantendo-se, no entanto, até 1508 o regime de contrato para a sua venda; só nessa data é revogada toda a legislação anterior, activando-se o regime de liberdade comercial (59). Assim o definia o foral da

(51) Leopoldo de la Rosa, "Catálogo deI Archivo Municipal de La Laguna», in Revista de História,

n. à 101-104, pp. 256-8. (52) Francisco Morales Padrón, El comercio canario-americano, 320-376. (53) Leopoldo de La Rosa, arf. cit., 262, n.O 19; Francisco Marales Padrón, El CedI/lá rio de Canárias,

yol. I, pp. 127-351, nos 87, 152, 174-175, 182-183, 199,200,228,269; Idem, "Inventário de Fondos existentes en el Archivo de Indias», in A. E. A., n.o 25, 523.

(54) Oh. cit, IV, 87. (55) A. R. M., C. M. F., registo geral. T. I, fIs. I-Iv.o, Alcochete, 14 de Julho de 1469, carta do infante

sobre o trato do açúcar, in A. H. M., XV, 45-47; [hidem, fIs. lv.o-2 v.o, 25 de Setembro de 1469, carta dos regedores do Funchal in A. H. M., XV, 47-49; !h/dem, fIs. 5 v. o-6, Lisboa, 16 de Outubro de 1478, carta régia sobre trato do açúcar, in A. H. M., XV, 57; Ernesto Gonçalves, "João Gomes da Ilha», in A. H. M., XV, 40·47; Idem "João Afonso do Estreito», in D. A. H. M., n.o 17 (1954), 4-8.

(56) A. R. M., C. M. F., n.O 1296, fls. 30 v.0-31 v.o, 11 e 28 de Outubro de 1471; !b/dem, n.o 1296, fi. 41, 12 de Fevereiro de 1472, [hidem, n.2 1296, fIs. 52 v.0-53, 17 de Agosto de 1472.

(57) Fernando Jasmins Pereira, oh. cit., 144-152. (58) !hidem, 152-159. (59) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. 308 v. o-309, Sintra, 7 e 8 de Agosto de 1508, alvará

régio, pubI. A. H. M., XVIII, 503-504.

129

17

capitania do Funchal, em 1515, ao enunciar que: «Os ditos açúcares se poderão carregarpara o Lavante e Poente e pera todas outras partes que os mercadores e pessoas que oscarregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum» (60).

O estabelecimento das escápulas em 1498 definia de modo preciso o mercadoconsumidor do açúcar madeirense, que se circunscrevia a três áreas distintas: o reino, aEuropa nórdica e a mediterrânica. As praças do Mar do Norte dominavam esse comércio,recebendo mais de metade das referidas escápulas; entre elas evidenciavam-se as praçascircunscritas à Flandres, enquanto no Mediterrâneo a posição cimeira é atribuída a Veneza,conjuntamente com as três levantinas de Chios e Constantinopla.

Escápulas do açúcar na Madeira em 1498

ZONA PRAÇAS ARROBAS %

Reino 7000 5,83Flandres 40000 33,83

Inglaterra 7000 5,83Ruão 6000 5

Europa do Norte Rochela 2000 1,67Águas Mortas 1000 0,83Bretanha 6000 5

Génova 13000 10,83Liame 6000 5

Europa Roma 2000 1,67Mediterrânica Veneza 15000 12,5

Chio,Constantinopla 15000 12,5

Se compararmos as escápulas com o açúcar consignado às diversas praças europeias noperíodo de 1490 e 1550, verifica-se que o roteiro não estava muito aquém da realidade; asúnicas diferenças relevantes na equivalência surgem nas Praças da Turquia, França e Itália,sendo de salientar nesta última um reforço acentuado na posição. Todavia esta diferença(quase 22 %) poderá resultar da actuação das cidades italianas como centros de redistribuiçãono mercado levantino e francês.

Comércio de açúcar da Madeira - 1490-1550

EscApULAS MERCADO MERCADORES

DESTINO 149~ 1490-1550 1490-1550

ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS %

Flandres 40000 33,33 105 896,5 38,78 11 375,5 2,23França 9000 12,5 500 0,18 8469,5 1,66Inglaterra 7000 5,83 1 438 0,52 1072 0,21Itália 21000 30 140626 51,50 407 530,5 79,91Portugal 7000 5,83 20657 9,56 23798 4,67Turquia IS 000 12,5 2372,5 0,87Outros 32 0,01 68 185 13,37

(60) Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações» in Saudades da Terra, Funchal, 1873, 501.

130

Contingente de 1498

Total de açúcar exportado~

'Si? <:(?~

® Viana

fi

o MADEIRA

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-c,

140 000 arrobas

30-40000

7-J5000

1-3000

500

185000

oOOOOO

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COMERCIO DE AÇúCAR DA MADEIRA. 1490-1550

Comércio do açúcar da Madeira 1490-1550(61)

TOTAL

DESTINO 1490-1500 1501-1510 1511 1520 1521-1530 1531-1540 1541-1550ARROBAS %

Açores 4,7 4 8-7

Flandres 7526 76484 9031,5 8810 4045 105 896,5 38,78

Itália 2909 149968 646 12 140626 51,50

Levante 2372,5 2372,5 0,87

Lisboa 3445 3463 2646 9554 3,50

Londres 1438 1438 0,52

Rochela 500 0,18

Porto Santo 16 16

Viana 12 11093 19 103 4,06

Total 10 435 220352 9 043,5-7 27021,5 4049 12 273044,5

Os dados disponíveis para o comércio do açúcar na Madeira, nesse período, evidenciama constância dos mercados flamengo e italiano. O reino, circunscrito aos portos de Lisboa eViana do Castela surge em terceiro lugar apenas com 10%. Observe-se que o porto de Vianado Castelo adquiriu, desde 1511, grande importância no comércio do açúcar com o reino edaí em Castela e Europa nórdica; no período de 1581 a 1587 Viana é o único porto do reinomencionado nas exportações de açúcar, mantendo aí uma posição inferior a 1490-1550(62).

Exportação do açúcar para Viana do Castelo

ANOS

1581158215831584158515861587

VIANA

ARROBAS %

630 21420 4

940 21 110 3

550 2150

Essa função redistribuidora dos portos a norte do Douro fica evidenciada entre 1535 e1550, pois das cinquenta e seis embarcações entradas no porto de Antuérpia com açúcar daMadeira, dezasseis são do norte e apenas uma de Lisboa. Na primeira 50% são provenientesde Vila do Conde, 3 I % do Porto e 19% de Viana do Castelo (63); aliás em 1505 o monarcaconsiderava que os naturais 'dessa região tinham muito proveito no comércio do açúcar dailha (64). Em 1538 esse comércio era assegurado por um numeroso grupo de grupos demercadores dessa proveniência, entre eles Aires Dias, Baltasar Raiz, Dioguo AlvaresMoutinho e Joham de Azevedo (65).

(61) Vejam -se os quadros n.o 4 e 5 em anexo.(62) Joel Serrão, «Nota sobre o comércio do açúcar entre Viana do Castelo e o Funchal ... ", in Revista de

Economia, III, 209-212.(63) Virginia Rau, A Exploração e o comércio de sal em Setúbal, Lisboa, 1951, mapas I a IV.(64) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. 301-301 v.o, Lisboa, 15 de Março de 1505, carta régia,

pubI. in A. H. M., XVII, 453-454.(65) Cândido A. O. Santos, O Censual da Mitra do Porto, ( ... ), Porto, 1973, 345-350.

132

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133

Nas transacções com o mundo mediterrânico existiam igualmente alguns entrepostos,em especial Cádiz e Barcelona. Estas cidades surgem no período de 1493 a 1537 com osportos de apoio ·ao comércio com Génova, Constantinopla, Chios e Águas Mortas (66).

Compra de açúcar na Madeira 1500-1540

1501-1501 1511-1520 1521-1530 1531-1540 Tolal

ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS %

Italianos 266288,5 90,04 65751,5 64,20 58 181,5 63,70 5344 53,49 395 565,5 78,40Ingleses 212 0,07 402 0,39 458 0,50 1072 0,21Franceses 2 568,5 0,87 1536 1,50 4365 4,78 8469,5 1,68Flamengos 9649 3,26 I 726,5 1,69 II 375,5 2,25Alemães 11642,5 3,94 11642,5 2,31Castelhanos 248 0,08 702,5 0,69 14562,5 15,94 15513 3,07Portugueses 5 147 1,74 6042,5 5,90 5535 6,06 7073,5 46,97 23798 4,72Outros 26249,5 25,63 8233 9,01 2641 17,54 41 029,5 8,13

A ordenança de 1498 não determinava apenas o contingente das diversas escápulas mastambém a forma da sua comercialização. A coroa, para dar maior facilidade no seuescoamento, monopoliza as escápulas de Roma e Veneza, vinte mil arrobas das de Flandrese três mil das de Inglaterra, num total de quarenta mil arrobas, o equivalente a 33% do total;a este açúcar juntava-se o quantitativo do quinto ou quarto e da dízima de exportação, que orei carregava por meio de contrato estabelecido com as grandes companhias nacionais einternacionais. O rendimento dos direitos era exportado para Flandres e Veneza, tendo estasrecebido, entre 1495 e 1526, respectivamente cento e sessenta mil e vinte e seis milarrobas (67).

As escápulas, até 1504, e o produto dos direitos reais eram canalizados para o mercadoeuropeu, quer por carregação directa, quer por negócio livre ou a troco de pimenta (68). Esseaçúcar era arrendado por mercadores ou sociedades comerciais, sediados em Lisboa, sendode salientar a actuação dos mercados italianos, como João Francisco Affaitati e LucasSalvago (69).

As operações comerciais em torno do açúcar, no período de 1501 e 1504, estavamcentralizadas em mercadores ou sociedades comerciais que, a partir de Lisboa, controlavamesse trato por meio de um sistema complicado de feitores' ou procuradores. A suaintervenção, que se apresentava dominante nos três primeiros decénios do século, sofreu umdecréscimo acentuado na última década. Esta situação atesta que os mercadores estrangeiros,em face da instabilidade do mercado açucareiro madeirense nos primeiros trinta anos,abandonaram o seu comércio fazendo-o substituir pelo canário ou americano.

A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar com asprincipais praças europeias, seguida da portuguesa e da castelhana. Os mercadores nórdicos,não obstante a sua posição privilegiada, não apresentam uma posição de relevo nestasoperações, pois quedam-se por cerca de 5%. Tal situação mostra, mais uma vez, que essa

(66) Domenico Geoffré, Documenti sulle relazioni ira Genova ed ii Portogallo dei 1493 ai 1539, Roma,1961,18-20,266-265,268-270,277-279,284-285, 290-292, 309-310, José Maria Madurell Marimón, art, cit.,486-487, 493-494, 497-499, 501-502, 521-522, 563-564.

(67) Fernando Jasmins Pereira, O Açúcar madeirense.l .. ./, 78-92; Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit.,vol. IV, 84-93.

(68) Ibidem, 80.(69) Idem, 78-92.

134

rota se mantinha sob o controle dos portugueses, nomeadamente os oriundos do litoralnorte, e que esse comércio estava organizado pela feitoria portuguesa da Flandres.

Nos quatro decénios em análise verifica-se que os italianos detêm o exclusivo docomércio na primeira década e uma posição dominante nas duas seguintes, sendo substituídospelos portugueses na década de 30, e também por castelhanos e franceses.

Compra de açúcar na Madeira 1500-1540 ('D)

1501-1510 1511·1520 1521.1530 1531.1540 TOTALMERCADORES

ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS %

Nacionais 5 147 1,74 6042,5 5,90 5 535 6,06 7073,5 46,97 23798 4,72Estrangeiros 290608,5 98,26 96368 94,10 85800 94,94 7985 53,03 480761,5 95,28

Total 295 755,5 58,62 102410 20,30 91 335 18,10 15 058,5 2,98 504 559,5

No grupo dos mercadores estrangeiros nota-se uma tendência concentracionista, poisapenas os cinco principais detêm 71% do açúcar transacionado. Além disso todos elesapresentam valores superiores a dez mil arrobas, enquanto nos nacionais apenas um temmais de 1080 arrobas. Aliás a média de ambos os grupos é esclarecedora:

Os Mercadores e o comércio do açúcar

ORIGEM

EstrangeirosNacionais

NÚMERO AÇÚCAR

118 480761,5177 23798

Principais mercadores estrangeiros

MERCADOR

MÉDIA

4074,25141,9

AÇÚCAR

ARROBAS %

João Francisco AffaitatiFeducho LamarotoBartolomeu MarchioniBenedito MorelliMatia ManardiAntonio Boto

Total

177 907,532039,5

5123850348

13 423,514512,5

339469

377

111033

71

João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da sucursal emLisboa da companhia Affaitati, urna das principais dessa praça, surge no período de 1502 a1529 como o principal activador do comércio do açúcar madeirense, tendo transacionadosete vezes mais açúcar que todos os portugueses. Durante esse longo período, arrematou,em 1502, as escápulas de Águas Mortas, Liome, Roma e Veneza. Conjuntamente comJerónimo Sernigi, João Jaconde e Francisco CorvineIli arrematou a venda do açúcar dosdireitos (1512-1518, 1520-1521, 1529) e actuou em operações diversas de compra directa deaçúcar e de troca deste por pimenta ou dívidas (1).

CO) Vejam-se quadros n." 4 e 5 em anexo.('1) A. N. T. T., C. C, II. maços 7, 12, 13, 18,68,84,88,92, 133, 162; III, 2 e 7; Fernando Jasmins

Pereira, Ibidem, 83-86.

135

Para manter esta amplitude das operações comerciais na ilha contava com um gruponumeroso de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristovão Bocollo,Matia Minardi, CapelJa e CapelJani, João Dias, João Gonçalves e Mafei Rogel!. Por outrolado aceitou procuração de Garcia Pimentel, Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues deNoronha. Note-se que o grupo inicial é, na sua maioria, formado por italianos, ligados aocomércio do açúcar, e que os segundos pertencem a algumas famílias mais influentes da ilha.

O açúcar canário oriundo de Tenerife, Gran Canaria e La Palma, surge no mercadoeuropeu a partir de princípios do século XVI. A comunidade italiana, residente em Cádiz eSevilha e com intervenção activa no arquipélago, traçou as rotas desse comércio com o mardo Norte e o Mediterrâneo. A activação desse trato comercial nas primeiras décadas doséculo XVI condicionou a presença de mercadores peninsulares e estrangeiros, que seinstalaram em Tenerife, Gran Canaria e La Palma (2).

O porto de Cádiz, importante praça comercial peninsular, funcionava como centro deredistribuição e comércio no Mediterrâneo. A conquista do mercado nórdico é muiposterior, mercê do forte enraizamento desse mercado no comércio e consumo do açúcarmadeirense. A primeira carga de melaço canário enviada a Antuérpia, em 1508, não foi doagrado dos eventuais clientes (3). Somente a partir da década de trinta o açúcar canárioconsegue agradar ao gosto flamengo, beneficiando para isso da quebra do açúcar madeirensee da presença da comunidade flamenga no arquipélago. O trato com as praças nórdicas éassegurado, em parte, pelos portugueses de Vila do Conde, Lisboa e Algarve, que fazemvaler a sua mestria e experiência, adquiridas no trato do açúcar da Madeira (4).

Em síntese, a colónia italico-flamenga, residente ou estante nas ilhas de Gran Canaria eTenerife, era o principal elo de ligação aos mercados de comércio e consumo do açúcar.Aqui, como na Madeira, ambas as comunidades esquecem os antagonismos religiosos parase unirem em prol duma causa comum, o comércio do açúcar, repartindo entre si o domíniodo mercado açucareiro (5).

Preço do açúcar no mercado europeu ('6)

RUÃO(77) ANVERS(78) FLORENÇAPROVENIÊNCIA

SETEMBRO SETEMBRO1565 1570 1571 1581

1581 15811582-1585

Madeira 45 I. ('9) 14 lib. 14 lib. 14 lib. 24 20 14 a 21 (80)

Canárias 45 lib. e 1 10 s. 141ib. 12 1/2 23 21 e 1/2São Tomé 12 lib. 6 e 1/2 6e 1/4 6 e 1/2Antilhas 32 lib. 8 a 10 7 a 9Lisboa 40 a 50 lib.Berberia 38 a 50 lib.

('2) Maria Luisa Fabrellas, "La produción de azúcar en Tenerife», in Revista de Historia, n.? 119-120,176-177; Victor Morales Lezcano, ob. cit., 52; G. Camacho y Perez Galdos, "EI cultivo de la caiiade azúcar y laindustria azucarera en Gran Canaria (1510-1535)>>, in A. E. A., n.o 7, 48-56; R. Díaz Hernández, EI azlÍcar enCanarias, Las Palmas, 1982, 38.

('3) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem, IV, 98.('4) Idem, 98-99.('5) Jacques Heers, Gênes au XVe siêcle, Paris, 1971, 337.(76) H. La Peyre, Une famille de marchands: Les Ruiz; Paris, 1955, 621-624; Valentim Vazquez Prada,

Lettres Marchands d'Anvers, voI. III, 385-386; F. Ruiz Martin, Lettres marchands échangées entre Florence etMedina dei Campo, Paris, 1965, n.? 141, 159, 199, 440.

('7) Ao cento em libras.('8) Em gruesos,('9) Em ducados.(80) Em 1582 o açúcar a 213/4, o retame e outros a 14 eiS ducados, e em 1585 o retame a 16 1/2 e o

açúcar de primeira sorte a 20.

136

o comércio do açúcar diversifica-se a partir de princípios do século XVI. A Madeira,que no século XV surgira como o único mercado de produção, debater-se-á, a partir definais desse século, com a concorrência do açúcar das Canárias, de Berberia, de S. Tomé emais tarde do Brasil e das Antilhas. Esta diversificação das possibilidades de escolha, porparte de mercadores e compradores, condicionará a evolução do comércio açucareiro.Todavia, o açúcar madeirense manterá a sua situação preferencial no mercado europeu(Florença, Anvers, Ruão), sendo o mais caro. Talvez devido a esse favoritismo encontramoscom frequência referências à escala na Madeira de embarcações que fazem o comércio doaçúcar nas Canárias, Berberia e São Tomé t'"). Esta situação deveria, de igual modo,explicar a venda de açúcar madeirense em Tenerife, no ano de 1505 (82).

O comércio açucareiro na primeira metade do século XVI era dominado na Europa doNorte pelas ilhas e litoral do Atlântico, nomeadamente, entre as primeiras, a Madeira,Tenerife, Gran Canaria e La Palma. Assim, na década de 30 os navios normandos ocupadosnesse comércio dirigiam-se preferencialmente a esta área. Convém anotar que a maioria dasembarcações que rumava a Marrocos e escalava na Madeira à ida e no regresso, o quevalorizou a Madeira no comércio com a Normandia.

Destino dos navios normandos 1530-1540(83)

DESTINO

AçoresCanáriasMadeiraMarrocos

NÚMERO %

1 93 271 26 55

A situação relevante do mercado madeirense perdurará nas décadas seguintes, nãoobstante a forte concorrência da ilha de S. Tomé que se afirmará, entre 1536 e 1550, com_oprincipal fornecedores de acúcar à Flandres. Todavia esta posição cimeira da ilha de SaoTomé surge só a partir de 1539.

Navios portugueses com açúcar para Antuérpia 1536-1550(84)

AÇÚCAR CARGA MIXTA TOTALPROVENIÊNCIA

N.· %N.· % N." %

Brasil (por Lisboa) 1 1,05 1 0,47Cabo Guer 1 0,85 I 1,05 1 0,47Canárias 1 0,85 5 5,26 6 2,82Cabo Verde 1 0,85 7 7,37 8 3,76Madeira 28 23,73 28 29,47 56 26,29São Tomé 88 74,57 38 40 126 59,15Não discriminada (por Lisboa) 15 ~ 15 7,04--- ---

Total 118 55,40 95 44,60 213

(81) É o que sucedeu com a embarcações da Normandia entre 1530 e 1540, veja-se M. Mollat, La commercemaritime normand . . . , 247-248.

(82) Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, I, p. 83, n." 447, 26 de Março de 1505.(83) M. Mollat, oh. cit., pp. 247.248.(84) Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit., IV, 98-99.

137

18

2.2 Comércio de Cabotagem

o comércio de cabotagem, nas suas variantes, define-se em primeiro lugar, pelanecessidade de escoamento dos produtos locais para os principais centros de comércio como exterior e, na inversa, pela redistribuição dos produtos de importação. A esta últimafunção junta-se o fornecimento ou redistribuição dos produtos locais de que carecemalgumas ilhas. As assimetrias do meio insular, evidenciadas pela estrutura dos terrenos,relevo e clima, que condicionaram o aproveitamento desigual do solo e a arrumação dasculturas, são responsáveis pela intensificação desta última forma de cabotagem inter-ilhas,

Na Madeira o comércio com o exterior estava centrado em dois portos da vertente sul,que dominam todo o tráfego da capitania em que se circunscrevem: o porto do Funchal, paraa capitania do mesmo nome, dominando as melhores áreas de cultura; e o porto de SantaCruz, para a Capitania de Machico, área pouco rica em termos agrícolas.

A posição dominante dos dois portos conduziu à intensificação do comércio decabotagem na costa sul e norte. Todavia o porto do Funchal, bem servido de infraestruturasde apoio e de uma forte rede de negócios, centralizará, a partir do século XVI, todo ocomércio com o exterior. Aí chegarão as caixas de açúcar das partes do fundo, que depoisserão canalizadas para as principais praças europeias e); o mesmo sucederá com o trigodesta área, quando escasseia na praça funchalense e). Os contactos com a vertente nortefaziam-se com maior assiduidade a partir de Santa Cruz, alargando-se ao porto do Funchalpara o transporte de lenha e madeira e).

A partir do Funchal delinerar-se-ão novas rotas de redistribuição dos produtos impor­tados pela área da capitania denominada partes do fundo. Assim, em 1521, João deCanisales, mercador, foi à Ribeira Brava vender duas mil setecentas e setenta e cinco peçasde louça do reino (4).

A ilha do Porto Santo mantinha-se na dependência do Funchal para os contactos com oexterior, não obstante as relações e abordagens esporádicas com o exterior. Por outro ladosendo esta ilha definida por importantes áreas de cultura dos cereais, mantém-se, em finaisdo século XVI, uma rota de escoamentos dos excedentes da produção do trigo, centeio ecevada e).

Nos Açores e nas Canárias, mercê da existência de um grupo numeroso de ilhas compotencialidades diversas, o comércio de cabotagem inter-ilhas organizar-se-á de mododiferente. Assim, nos dois arquipélagos todo esse movimento será centralizado nas duasilhas mais importantes: os Açores na Terceira e S. Miguel, nas Canárias em Tenerife e OranCanaria.

A manutenção em cada uma destas ilhas de uma praça comercial importante noscontactos com o exterior conduzirá' à formação de uma rede de negócios complicada em queas ilhas vizinhas actuarão como satélites destas praças. As cidades de Ponta Delgada,Angra, Las Palmas e Sra. Cruz de Tenerife centralizam o comércio externo de ambos os

e) A. N. T. T., N. A., n.? 9038.e) A. R. M., C. M. F., n.o 1298, fls. 4 v.o-44, 9 de Janeiro de 1486.e) Veja-se quadro n.? 16, em anexo.(4) A. N. T. T., c, C., II, 97-60.(5) A. R. M., C. M. F., n.o 1312, fls. 37 v.", 38 v.", 39, 43, 49, vereações de 15,18,25 de Maio e 5,8

de Junho de 1597; ibidem, n.? 1313, fls. 31-31 v.? vereações de 4 de Janeiro de 1597.

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arquipélagos, actuando corno receptores dos excedentes da produção local e redistribuidoresdos produtos vindos de fora.

Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, dá conta dessa situação, escrevendo, apropósito, que o porto de Angra era o principal porto de cabotagem inter-ilhas no grupocentral e ocidental (6). A dominância da praça de Angra é então de tal modo clara que ocronista açoriano não hesita em afirmar «que todas as outras ilhas são suas escravas, poisquanto nelas se cria vem pera ela» concluindo, que «as outras ilhas ao redor são quintas dailha Terceira» C).

A Terceira fornecia às ilhas vizinhas os produtos de importação, corno o vinho e açúcarda Madeira, manufacturas diversas, recebendo em troca os cereais, gado e carne, vinho,madeiras e lenha, fruta e barro (8).

Entre as restantes ilhas o comércio e os contactos eram assíduos. Assim no grupocentral, a ilha de S. Jorge exportava para o Faial e Graciosa os excedentes de vinho ecereais, enquanto o Pico comerciava as suas madeiras, gado e vinho (9). Todavia a ilhade S. Jorge, que segundo informação de Frutuoso exportava cereais em 1576, em faceda crise de produção cerealífera vê-se obrigada a importá-lo da Graciosa, Terceira eFaial eo).

A Ocidente as ilhas de Flores e Corvo estão em permanente contacto, surgindo a uttnnacomo uma verdadeira quinta das Flores. Assim o Corvo comunica com o exterior a partirdas Flores, recebendo daí os produtos de fora e canalizando até lá as madeiras, o linho,panos e outros produtos para venda nas ilhas do arquípélago t!").

No grupo Oriental o comércio estava centralizado na praça de Ponta Delgada querecebe as produções da ilha e o barro e telha mariense, ao mesmo tempo que procede àredistribuição dos produtos de importação e2

) .

A ilha de S. Miguel ao apresentar-se, no século XVI, como o principal celeiroaçoriano, condicionará uma rede de cabotagem inter-ilhas para fornecimento das ilhascarecidas procedendo-se o seu escoamento a partir de Vila Franca, Porto Formoso eLagoatP). Em finais do século XVI esta ilha, conjuntamente com a Graciosa, tem oencargo de assegurar o fornecimento de trigo à tropa do presídio, sediada em Angraj '").

De igual modo nas Canárias, as ilhas maiores (Tenerife e Gran Canaria) detêm oexclusivo do comércio das manufacturas de importação, no mercado canário, enquanto asilhas menores se limitam ao comércio dos produtos básicos: madeiras, cereais, gado es).

(6) Gaspar Frutuoso, ob. cit., \.0 VI, 57-59.C) Ibidem, \.0 VI, 59.(8) Ibidem, 1.0 VI, 30, 57-59; ibidem, ].0 IV, VaI. II, 52.(9) Ibidem, 1.0 IV, vol. II, 242, 290-291, 294.

eo) António dos Santos Pereira, «Administração municipal da vila das Velas ... », 715.e1) Gaspar Frutuoso, ob. cit., \.0 Vi, 58-59, 347, 352.(12) lbidem, L. 0 III, 96.e3 ) Linschoot (ob. cit., 154) em 1595 refere que «ela produz igualmente o trigo do qual provê muitas vezes

as outras ilhas em caso de necessidade».et4) A. N. T. T., C. C., 1-191-125 A, Angra, 9 de Agosto de 1585, memorial da Câmara de Angra, publ.

in Arquivo dos Açores, II, 107; Alberto Vieira, "A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII», inArquipélago, VII, 195, 143 e 149.

ets) Carmen G. Galera Martin (ob. cit., 27-28) refere de maneira modelar essa situação; «Las noticiashistoricas nos hablan de que hacia 1700, Gran Canaria exportaba aI resto de las islas, principalmente a Tenerife,produetos básicos: aves judias, algo de grano, losas de piedra, además de ciertas manufacturas: deda hilada,mantas, etc. Hierro y Gomerra exportaban a las otras íslas ganado de todo o tipo, La Palma estaba especializada enla producción de dulces , algo de azúcar, madera y seda. Lanzarote y Fuerteventura enviaban aI resto deiarchipiélago, grano (trigo y cebada) y grano mayor. Por último, Tenerife exportaba a las otras islas vino y granquantidad de praductos manufacturados». Veja-se George Glas, Descrtpciôn de las islas Canarias, 1764, LaLaguna, 1976; F. Clavijo Hernandez, Los documentos de fletamento ... in IV C. H. C. A., vol, I, 35-37, 54; A.Cioranescu, Historia de Santa Cruz, Vol. II, 20.

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o porto de Santa Cruz de Tenerife evidencia-se como um dos mais importantes nocomércio inter-ilhas, estabelecendo rotas comerciais com as ilhas de Gran Canaria, Lanzarotee Fuerteventura e6) . A partir daí exportava-se o trigo para Gran Canaria, La Gornera, LaPalma e as' madeiras e carneiros para Gran Canaria t?").

As ilhas de Fuerteventura, Lanzarote e La Palma salientam-se no comércio de cereais,gado e carne, fornecendo as principais praças de Tenerife e Gran Canariaé!").

O comércio de cabotagem interna era intenso nos dois arquipélagos (Açores, Canárias)sendo orientado para a distribuição dos produtos estrangeiros ou das ilhas vizinhas e dacanalização da produção local para as principais praças do comércio externo. Assim éreforçada essa situação nas ilhas de Gran Canaria, Tenerife, S. Miguel e Terceira.

et6) A. Cioranescu, ibidem, vol, II, 20, 446, nota 80.

et7) Idem, lbidem, VaI. II 20, 446, nota 80; F. Clavijo Hemandez, Protocolos de Hérman GuerraTenerife, 1980,408 (n.o 1530), 367 (n.o 1351); Idem, "los documentos de fletamento .. ,", in IV C. H. C. A.:vol, I, 41; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez ; Tenerife, 1979,80 (n.? 106),292 (n.? 934); Acuerdosdei ~a.bildo de Tenerife , IV, n.? 812, p. 86,26 de Março de 1521; Leopoldo de la Rosa, "Catalogo deI ArchivoMunicipal de ~a Laguna» , in Re.v!sta de História, n.? 101-104, p. 252 (n.? 38), 264 (n.020); G, Gamacho y PerezGaldosis"Cul.tlvos de cereales vma. y huerta en Gran Canaria (1510-1537)» in A, E. A., n.? 12, 1966,242-243.

( ) Ibidem, 242-243; A.. Cioranescu, ob, cit., vol. II, 446 nota 80; Acuerdos dei Cabildo de Tenerife,vol, I, p. 28, 26-IV-1500; Ibidem, vol, I. n.? 449, p. 26-III-1505; Ibidem, vol, I, n.? 533, p. 101-102,24-VIII-1506; lbidem, vol. I, n.? 310, pp. 145-147, 23-VI-1522.

140

2.3 Comércio Inter-Insular

o comércio entre as ilhas dos três arquipélagos atlânticos resulta não só da comple­mentaridade da sua exploração económica, mas também da proximidade e da assiduidade decontactos; o intercâmbio de homens, produtos e técnicas dominou o sistema de relaçõesentre eles. A historiografia insulana tem ignorado esta componente do comércio uma vezque apenas tem valorizado as relações com o Novo e o Velho Mundos.

A Madeira, mercê da sua posição privilegiada entre os arquipélagos dos Açores e dasCanárias e do seu parcial alheamento das rotas índicas e americanas, apresentava condiçõesfavoráveis para o estabelecimento de contactos assíduos com as ilhas vizinhas; os contactoscom os Açores, em especial, resultam da intervenção madeirense na ocupação e exploraçãodo solo açoriano e da necessidade de abastecimento em cereais de que o arquipélagoaçoriano era um dos principais produtores.

Com as Canárias, não obstante a sua conquista e a sua integração na coroa de Castela,os contactos são muito mais assíduos e importantes; tal situação resulta da proximidade dosdois arquipélagos, da atracção exercida pela terra canária nos madeirenses e, ainda, pelahostilização açoriana ao estabelecimento da rota de comércio de cereais e).

Os contactos permanentes entre a Madeira e as Canárias, evidenciados por umaconstante corrente emigratória marcam uma constante da História destes dois arquipélagos eevidenciam as afinidades existentes, consequência de um idêntico posicionamento dosmonarcas ibéricos na política expansionista. Em reforço dessa comunhão de interesses e donecessário relacionamento está a posição privilegiada do porto do Funchal nas ligações entrea Europa e as Canárias, surgindo como um porto de escala dessas rotas e).

Se é certo que a maioria dos contactos entre os arquipélagos advem da posiçãoprivilegiada da Madeira em relação às Canárias e o Velho Continente, não é menos certoque o trato comercial resulta de necessidades e solicitações internas, que impelem para umaaproximação. Ela aparece, por outro lado, pela necessidade de recurso a um novo celeiro deprovimento de cereais, mediante a recusa dos açorianos a esse fornecimento; e por outro,pelas solicitações da comunidade portuguesa residente nas Canárias, de que fazia parte umgrupo numeroso de madeirenses que ansiavam por contactos com os locais de origem.

O trigo foi, sem dúvida, o principal móbil do comércio canario-madeirense, Aliás,segundo testemunho de Giulio Landi (1530) e Pompeo Arditi (1567) os cereais actuaramcomo os principais activadores e suportes do sistema de trocas entre a Madeira e estas ilhasvizinhas, quer do arquipélago canário, quer do açoriano e). Esta rota de abastecimento decereais é definida em princípios do século XVI, mantendo-se com toda pujança até meadosdo século seguinte. 'As primeiras referências ao envio de trigo canário para a Madeirasurgem em 1504 para o trigo remetido de La Palma e, em 1506, para o de Tenerife (4).Quanto ao trigo açoriano, não obstante se apontar o seu início em finais do século XV,apenas em 1508 temos uma referência a esse comércio, com a definição por parte da coroa

ct) José Pérez Vidal, «Aportación portuguesa a la población de Canarias. Datas para su estudio», inA.E,A .. n." 14, 1968, 41-106; Margarita Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera, art, cito

e) No século XVI das 14 embarcações saídas das Canárias com destino à Europa 4 fazem escala noFunchal, veja-se Margarita Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera, art, cit.

e) "Descrição da ilha da Madeira» , in A Madeira vista por estrangeiros. Funchal, 1981,84; "Viagem àilha da Madeira e aos Açores ... », in ibidem, 226; L. Torriani em 1590 refere o comércio de cereal de Lanzarotecom a Madeira (ob.cit., 45-46).

(4) «Reforrnación dei repartimiento de Tenerife em 1506», in Colleción de documentos sobre el Adelantado ySlI gobiemo, Santa Cruz de Tenerife, 1953,90-91; Manuela Marrero Rodrigues, «Algunas consideraciones sobreTenerife .. ,» in A.E.A., n." 23, 1977,380.

141

dessa rota de fornecimento de cereais à Madeira, que se estrutura de forma idêntica à rota decomércio com as praças africanas (5).

A abertura e permanência desta rota dificultava a intervenção das autoridades dos doisarquipélagos próximos, uma vez que irá provocar acesa contestação e permanente boicote devizinhos e funcionários régios e locais. Esta contestação aumenta em momentos de penúria,dificultando o abastecimento de cereais na Madeira. Nos Açores, proprietários e mercadores,com intervenção activa nos municípios, boicotam a rota, procurando furtar-se a esseencargo. Perante isso a coroa teve de intervir por diversas vezes, apelando para asautoridades açorianas, a fim de que não pusessem qualquer impedimento ao envio de cereaispara a Madeira, uma vez «que los triguos desas ylhas se gastam mays na ylha da Madeyraque em nehüa outra parte de nosos reygnos- (6). Em Canárias o cabildo catedral de OranCanaria queixava-se de receber a sua parte dos dízimos, que se escoava para a Madeira,ordenando-se em 1532 o seu embargo t). Por outro lado o conflito antigo entre as duascoroas criava, por vezes, atropelos a esse comércio. Todavia a rota canária impõe-se peladominância dos contactos assíduos entre os dois arquipélagos, não o impedindo as crises deprodução, nem as limitações impostas pelo cabildo de Tenerife. Nos Açores, ao invés, omonarca teve de impor à força esta rota, pois a posição dos municípios e produtores era deconstante recusa (8); esta situação de afrontamento dos açorianos resultava do desinteresseda burguesia açoriana, pois estava apostada no comércio especulativo com o reino e noscontratos de fornecimento às praças africanas.

As dificuldades sentidas no abastecimento de cereais na Madeira na primeira metade doséculo XVI, bem como a incessante recusa dos açorianos em participar nesse comércio,levaram o monarca a intervir, em 1521, no sentido de manter a prioridade na exportação docereal para a Madeira. Mediante a acção especulativa dos grandes produtores, o rei estipulaa obrigatoriedade de todo o carregamento se fazer mediante procuração da comarca doFunchal e com preço estabelecido em auto e). Em todas as recomendações e ordenações omonarca fundamenta a sua intervenção no facto de a ilha não ter «outro pão salvo o quemandão comprar às ditas ilhas» eo).

A Madeira de acordo com a informação em 1546, consumia anualmente doze milmaios de pão, dos quais oito mil vinham de fora.

A ilha, apenas poderia contar com 32 % da sua produção que chegaria apenas para trêsa quatro meses (11). O cereal de importação provinha, de modo variado, das ilhas vizinhas eda Europa, serido muito importante a posição das ilhas com 49 %. No caso dos Açores otrigo entrado no porto do Funchal é na sua maioria oriundo do Faial, Santa Maria eS. Miguelvilhas que dispunham de' um excedente vantajoso para esse comércio. Quanto àsCanárias são as ilhas de Lanzarote e Tenerife que surgem como os principais graneros.

A permanência desta rota de abastecimento de cereais implicou um incentivo e umalargamento das trocas comerciais entre os três arquipélagos; assim, ao cereal vieramjuntar-se outros produtos, como contrapartida favorável a essas trocas. Pelo que respeita aos

(5) A.R.M., C.M.F.. registo geral, t. I, fls. 310-311 v.", alvará régio de 20 de Agosto de [508, inA.H.M., XVIII, 512.

(6) Ibidem, registo geral, t. I, fi. 341, alvará régio de 31 de Dezembro de 1516, in A.H.M.. XVIII, 586.e) G. Camacho y Perez Galdós, art, cit., 246; José Pérez Vidal, art . cit., 61.(8) Assim sucederá em 1521, 1535, 1546, 1563-1564, 1569, 1572, 1587. Veja-se Alberto Vieira ,,0

comércio dos Açores para a Madeira no século XVII», 652-654; Idem «A questão cerealífera nos Açores nosséculos XV-XVII", 167; Idem ,,0 comércio de 'cereais das Canárias para a Madeira nos séc. XVI-XVII», in VIC.H.C.A., Las Palmas, 1984, no prelo.

(9) A.R.M., D.A., cxa. I, 133, carta régia de 6 de Novembro de 1521; Ibidem, cxa, II, 195, ordenação de!O de Dezembro do Cardeal D. Henrique à jurisdição dos Açores; ibidem, cxa. II, 198, ordenação de 13 deNovembro de 1565; Veja-se Joel Serrão, "Sobre o trigo das ilhas nos séculos XV a XVI», in D.A.H.M., n.? 2,[950.

eo) A.R.M., DA., cxa. tt, 198. já citado.(11) lbldem, cxa, I, 171, Almeirim, 29 de Março de 1546, carta de D. João II à câmara de Lisboa.

142

o Comércio de cereal das ilhas dos Açores e Canárias no Séc. XVI (12)

IlhasAÇORES CANÁRIAS

Moios % Ilha Moios %

Terceira 60 5,05 Fuerteventura 6,5 0,91Graciosa 117,5 9,90 Lanzarotc 493 69,19Faial 155 13,06 Tenerife 111 15,58Santa Maria 156 13,6São Miguel 125 10,53

Total 613,5 46,33 Total 710,5 53,67

Açores, a Madeira tinha para oferecer o seu afamado vinho, açúcar, conservas, queijos,peles, sebo e chacina et3

) ; neste grupo destaca-se o vinho que era muito apreciado pelosaçorianos; Linschoot, em finais do século XVI, refere que o vinho madeirense, conjunta­mente com o canário era o preferido dos «mais ricos» da terrarl"); além disso este afamadorubinéctar era o vinho de uso corrente na celebração eucarístícat").

A fama do vinho da Madeira deveria ser tão grande na sociedade açoriana que o seuconsumo era sinónimo de importância social; por isso os trabalhadores de soldada, em 1574,rejeitam na joma o vinho da terra em favor do da Madeira (16); e, ao mesmo tempo, aprincipal nobreza do arquipélago preferia a sua oferta nos encargos de missa por morte(17).

O vinho da Madeira surge assim no mercado açoriano por imposição do gosto« apurado» da sua população e como moeda de troca para a aquisição do cereal et8) . Destemodo podemos dizer que a rota do cereal trouxe consigo o comércio do vinho madeirense.Aliás, a primeira referência ao seu comércio nos Açores surge nos inícios do século XVI, naaltura em que era vendido na Ribeira Grande a oito reais a canada. O tabelamento do seupreço de venda ao público pelas vereações de Angra, Ribeira Grande e Velas (S. Jorge)atesta a importância que o vinho adquiriu no mercado local.

Preço de venda ao público do vinho da Madeira (em reis) et9)

MUNlciPIO

AngraRibeira GrandeVelas

1510

8

1520 1559

1336

1571

4432

1578 1589

44

1590

40

ez) Veja-se nota 8.e3

) Saudades da Terra, 1.0 VI, 1963,57; 1.0 IV, 1981, 48;,:\.N,T.T., H.A.. n.O 724,41.e4

) "História da navegação do holandês / ... l », in B.I.H.I.T.• n.? 1, 1943, 151.es) Arquivo da Paróquia da Matriz da Ribeira Grande, Livro primeiro das visitas da Ribeira Grande, L"visita, cap. 13, t1. 19, aí refere-se que o tesoureiro «seráobriguado a dar vinho bom da ilha da Madeira». Estaafirmação é corroborada por Gaspar Frutuoso (ob. cit .. 1.0 IV, vol. II, 198).

e6 ) Gaspar Frutuoso, ob. cit. 1.0 IV, vol. II, 47.e7 ) B.r.A.p.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 26, fls. 7-7 v.", 13 de Outubro de 1595, testamento deManuel Martins Soares e mulher Maria Jácome Raposo: um almude de vinho da Madeira ao enterramento. Na Vilada Ribeira Grande, em finais do século XVI, deparamos com a mesma situação em 18 registos de óbito daMatriz(Arquivo Paroquial da Matriz da Ribeira Grande), L.0 2 de registos de óbitos, fls. 30,31,33-36,40; 44-45, 54,56, 59, 61-62, 66, 73, 75.e8 ) « Viagem de Pompeo Arditi / . , .l , in B.I.H.I. T., VI, 1948, 178; Antonio Cordeiro, História Insulana/ ... l , Angra do Heroísmo; 1982, 302.

e9 ) Gaspar Frutuoso, ob, cit., 1.0 IV, vol. II, 1981, 177-178, 197-198; Vereação de Velas) .. ./, s. 1.1984, 397-398; Frei Agostinho de Montalveme, Crónicas da Província de S. João Evangelista, vol, II, 17;

143

Em 1574 o vinho da Madeira representava 42% do vinho entrado no porto de PontaDelgada, enquanto o vinho do reino ficava apenas por 8 % e o vinho da Terceira e mais ilhasem 50%eo).

A primeira referência ao envio do vinho da Madeira para os Açores surge tombada em1544 no testamento do mercador Afonso Alvarez, em que se refere ter ele enviado ao Faialseis pipas de vinho (!1). O Faial parece ter sido um porto importante de destino do vinhomadeirense, dedicando-se a isso alguns importantes mercadores corno Francisco João,falecido em 1620e2

) . O comércio do vinho nesta praça tão próxima das ilhas produtoras dobom vinho açoriano (Pico e S. Jorge) resultará, sem dúvida, da contrapartida favorável aocomércio dos cereais.

Na praça de Angra o vinho da Madeira é transaccionado com muita frequência, querpara consumo local, quer para redistribuição pelas ilhas vizinhas de Graciosa e S. Jorge; asúnicas notícias do seu comércio nesta cidade surgem em 1552, 1561 e 1594e3

) . Saliente­-se, por outro lado, que em 1564 António Pires do Canto entregara a Pedro Ribeirodezassete pipas de vinho para vender nas ilhas de Baixo, comprometendo-se este último aentregar ao primeiro, em troca, vinte pipas de vinho da Madeirae4

) .

Também nas relações com as ilhas Canárias o vinho surge, muitas vezes, aliado aoutros produtos corno moeda de troca dos cereais. Assim, em 1521 o mercador Juan Pomar,vizinho da Madeira, enviou a Juan Garcia de Lós, mercador vizinho de Gran Canaria,algumas pipas de vinho es). E em 1525 enviou urna pipa e um quarto de vinho e um quartode vinagree6

) . Entretanto em 1523 sai do Funchal o navio de Lourenço Morais com vintepipas de vinho para o mesmo destino e7

) ; e, finalmente, em 1563 o mercador João Nunesenvia ao seu cunhado, residente nas Canárias, três pipas de vinho para que este lhe enviassetrigo r").

O comércio entre a Madeira e as Canárias remontava a meados do século XV, altura apartir da qual a Madeira passou a receber escravos canários, carne, queijo e sebo. Todaviaesse trato não era do agrado do Infante D. Fernando, senhorio da ilha, uma vez que elerecusou a solicitação dos seus naturais para isenção da dízima dos produtos que daí vinham,dizendo a propósito, «que tam bõo trauto e das minhas ylhas dos Açores e tam bõo retornoaverem e milhar que de Canaria se em elle quiserem emtrar» e9

) . Não obstante, os vizinhosdo Funchal teimaram em manter os seus contactos com as Canárias; assim, em 1477, NunoCayado, mercador madeirense, há mais de quinze anos ocupado nesse comércio, recebeu

A.C.M.R.G., L.0 3 de acórdãos. fls, 40-41 v.". 21 de Fevereiro de 1578; Francisco Ferreira Drumond, Anais dailha Terceira, vol. I, 381.

eo) Saudades da Terra, 1.° IV, vol. II, 198.e1

) A.R.M. ,Misericórdia do Funchal. n.o 684, fi. 286, 1 de Agosto de 1544.e2

) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no séculoXV/l, 187. Em 19 de Abril de 1574na câmara da Horta o vinho da Madeira é referenciado em separado do outro vinho de fora (António Lourenço daSilveira Macedo, História das Quatro ilhas ... , Angra do Heroísmo, 1981, 78).

eJ) Em auto de veraçâo de 3 de Março de 1552 refere-se que cinco navios franceses roubaram uma caravela

da Madeira com vinho e mercadorias (As gavetas da Torre do Tombo, X, Lisboa, 1974, 674-675). A 15 deNovembro de 1561, Diogo de Amorim refere ter enviado à Terceira quatro pipas de vinho a Baltasar Gonçalves,seu cunhado (A.R.M., I.R.C. -Funchal, tombo, fi. 354 v."). E em 28 de Outubro de 1594 Pero Gonçalves, deSanta Cruz, refere ter enviado a seu irmão Antonio Anes, morador na Terceira, duas pipas de vinho (lbtdem,Santa Cruz, t. II, fi. 52 v.").

e4) B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 20 A, n.? lO, 1 de Novembro de 1564, caderno de

lembranças de António Pires do Canto.es) A.R.M., Misericórdia do Funchal. n.o 684, fi. 303.e6

) Q. Camacho y Perez Galdós, art, cit., 278-279.e7) A.N.T.T., N.A., n.o 541, registo de 30 de Outubro.

es) lbidem, n." 541, registo de saída de 12 de Janeiro de 1525 do navio de João Gago com um quarto devinho ~9 um quarto de vinagre da mulher de Antonio Leme, uma pipa de vinho de Diogo Martins.

( ) A.R.M., C.M.F., registo geral, t. I, fls. 226-229 v.", Beja, 7 de Novembro de 1466, apontamentos doInfante D. Fernando, pubI. in A.H.M. XVI, 36-40.

144

um salvo conduto dos reis católicos para comerciar nessas ilhas eo); e, em 1513, ao serapresada em Gran Canaria uma caravela portuguesa que levava a bordo um malfeitor, oregedor local receia represálias por parte dos madeirenses e 1 ) .

A Madeira receberá, por intermédio dos portos do Funchal e Santa Cruz, cereais, gado,pez, pipas vazias e em troca fornecerá o seu vinho, canas, fruta verde, liaças de vime,sumagre, pano de estopa, burel e liteiroe2

) .

Um dos mais importantes produtos fornecidos pelo mercado madeirense e -que tinhasaída fácil nas Canárias era o sumagre, que terá contribuído para o desenvolvimento daindustria de curtumes em Gran Canaria; uma primeira remessa é solicitada em 1569,seguindo-se, a partir de 1570, a intromissão em força da classe mercantil neste tratoe3 ) ; porexemplo, em 1571 Anton Solis e Juan de Cabrejas, vizinhos de Gran Canaria, criam umacompanhia para comerciar o sumagre da Madeira; e, ainda nesta década, surgiram outrascompanhias com a mesma finalidade, o que atesta a importância deste produto no comérciocom Gran Canariae4

) .

Em síntese, as Canárias ofereciam à Madeira os produtos alimentares de que estacarecia e em troca recebiam, para além do vinho e sumagre, uma série de artefactos deprodução local ou de importação. A Madeira tinha neste arquipélago vizinho não s6 o seuceleiro, mas também o açougue, fornecedor de gado e seus derivados, como a carne, sebo,queijo. Note-se que em 1527 Joana Falcão veio declarar em vereação que o seu marido,Joam Novo, que detinha o exclusivo da venda de carne no açougue municipal, estavaausente nas ilhas Canárias, onde fora buscar carnes, como era hábitoes). Esse gado e carneeram adquiridos, habitualmente, nas ilhas de Fuerteventura e Lanzarote e6

) .

O comércio entre os Açores e as Canárias não assume a mesma importância queapresenta na Madeira, pois a dificuldade nas comunicações e a distância entre os doisarquipélagos, em convergência com um diverso posicionamento destas ilhas na economiaatlântica, bloquearam o desenvolvimento e estreitamento desses laçose7

) . Não obstante,desde muito cedo surgem referências avulsas sobre esse comércio; em 1508 ao serinterditada a entrada de navios em Tenerife por causa da peste, são referidos entre muitos,homens oriundos dos Açores r"); e em 1511 surge em Santa Cruz de Tenerife um DiegoAfonso, mercador, vizinho da ilha do Faial, para carregar desse porto de Garachico e outrosportos da ilha mil fanegas de cevada r"').

eo) Eduardo Aznar, Documentos Canários / ... /, La Laguna, 1981, p. 129, n.O 958, Valladolid, 13 de

Abril de 1513.e1 ) lbidem, p. 4, n." 16, Sevilha, 30 de Novembro de 1477. .(32) A.N.T.T., N.A., n.? 541, registo de saída de 27 de Maio de 1523, em Santa C~z, navio com duzentas

e quarenta varas de estopa, setenta de burel, duzentas deyteiro ~ cento e vinte,e. oito de liaças de LeoneloPonte.Por postura de 19 de Março de 1547 estava proibida a sal~a.de 1Ja5aspara_Ca~anas (A.R.M., C:M.F.,~. 1:08,fi. 33). E em 12 de Maio de 1584 Gaspar Rodrigues solicitava a vereaçao licença para levar as refendas Ilhasduzentos feixes de arcos (Idem, D.A .. cxa. IV, n.? 500). A. Rumeu de Armas (Piraterias y ataques navales e~trelas islas Canarias, t. I, 269) dá-nos conta que em 1581 se carregava lã e queijo em Lanzarote para a Madel~a.Veja-se Manuel Lobo Cabrera, «EI mundo dei mar en la Gran Canaria ... ", in A.E.A., n.? 26, 328; MargantaMartin Soca e Manuel Lobo Cabrera, art . clt .. 679 e 695.e3) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y los contactos con las islas portuguesas atlanticas ... »

e4 ) Veja-se ibidem.es) A.R.M., C.M.F., n." 1305, fi. 22 v.", 26 de Março de 1527. Gaspar Frutuoso refere que o gado era

abundante nesta ilha (Ob. cito L. 0 I, 82-85).(36) A.H.P.L.P., Protocolos de Cristobal de San Clemente, n.? 736, fIs. 522-523, 9 de O~tubro de 1526,

fretamento do navio de Anton Diaz e Lorenzo Yanes a Lope Diaz e Niculoso Bordego, genoves, estante, paracarregar queijo e gado em Lanzarote e conduzi-lo ao Funchal. e Santa Cruz. . .,

e7) A primeira abordagem foi feita por Manuel Lobo Cab~er~ e Eli~a Torres Santana, «Aproxlmaclon, a lasrelaciones entre Canarias y Azores ... », in Os Açores e o Atlântico (seculos XIV·XVII), Angra do Heroísmo,

1984.es) Ihidem , 364.e9) F. Clavijo Hemandez, Protocolos de Hernán Guerra, n.? 1048, p. 294, 7 de Maio de 1511.

145

A partir da segunda metade do século XVI as trocas entre os dois arquipélagos são maisassíduas, facilitadas pela fixação temporária ou permanente de açorianos no territóriocanário; estas trocas assentam ou no vinho canário e/ou no trigo açoriano (40).

O aparecimento do trigo açoriano em território canário não é permanente, mas simsazonal e resultado, muitas vezes, do desvio da rota das embarcações que transportavam ocereal à Madeira; a primeira situação documenta-se em 1563 com o envio de cereal para ailha de La Palma, mercê da carestia que aí havia(41); a segunda surge em 1535 com o trigode Nuno Alvarez, mercador de Guimarães, que aportou a Las Palmas, onde lhe foramretirados trinta moios (42); em 1563, Gonçalo Dinis, mercador da Ribeira Grande, trans­portando trigo e toucinho para a Madeira, sofre um desvio na sua rota indo aportar a LaPalma (43); a situação repete-se em 1582 com duas embarcações de S. Miguel e daTerceira (44).

Só em 1535 surge em Las Palmas uma companhia formada entre Andrés PérezGuitarte, mercador nos Açores e Jerónimo Mecia, mercador genovês estante em GranCanaria, para o comércio de trigo, couros e outras mercadorias dos Açores (45). Estapermuta de cereais testemunha a dinâmica de inter-ajuda dominante nestes três arquipélagos,patente, aliás, em 1521 e 1573, com a solicitação do cereal por parte do cabildo de GranCanaria à respectiva edilidade funchalense. A Madeira, que habitualmente consumia ocereal canário, poderá, por vezes, auxiliar estes vizinhos em momentos de penúria,socorrendo-se para isso do cereal importado dos Açores ou da Europa (46).

Os açorianos recebiam das Canárias, em troca do cereal, apenas vinho e breu.O primeiro produto, segundo Pompeo Arditi, era conjuntamente com o da Madeira muitoapreciado no mercado açoriano (47); no entanto, apenas há notícia em 1565 do envio de umacarga de cinquenta e cinco botas de vinho de Gran Canaria e, em 1570, de quarenta pipas devinho de Tenerife para a Terceira (48).

A manutenção e estreitamento das relações entre os dois arquipélagos portugueses comas ilhas Canárias resultam de vários factores. Em, primeiro lugar, e quanto à Madeira, danecessidade de abastecimento de cereais que se encontravam ali tão perto da ilha e, emsegundo, da intervenção dos portugueses avizinhados na sociedade canária, que facilitarame asseguraram esse intercâmbio comercial (49).

(40) A. Cioranescu, ob. cit.• II, 446, nota 93.(41) Gaspar Frutuoso, ob. cit., L.0 I, 122.(42) A.H.P.L.P., Pr~tocolos de Cristobal de San Clemente. n.? 742, fi. 158, 5 de Julho de 1535; Idem,

Hernando e Padilla, n.? 749, fi. 104 v.", 27 de Agosto de 1535; H. Camacho yPerez Galdós, art . cit .. 246-247.(43) Saudades da Terra. L.0 I, 106.(44) A.H.P.L.P., Protocolos de Luis de Balboa, n.? 866, fls. 382-383; Idem, Protocolos de Luis de Loreto,

n.? 872, fl. ·187; Veja-se- Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana; art, cit., 366.(45) A.H.P.L.P., Protocolos de Cristóbal de San Clemente. fi. 77 v.", 13 de Maio de 1535; G. Camacho y

Perez Galdós, art. cit .. 245; Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana, art, cit .• p. 365 referem outracompanhia familiar para (J comércio de trigo, carne e mais mercadorias.

(46) A.R.M., C.M.F.• n.? 1304, fls. 82 v:" 84, 23 de Novembro de 1521; Manuel Lobo Cabrera, «GranCanaria y los contactos con las islas portuguesas atlânticas ... »

(47) «A viagem de Pompeo Arditi. .. ", 176.(48) A.H.P.L.P., Protocolos de Andrés Rosalez.m," 947, fls. 24 v,? 26 v."; A. Cioranescu, ob. cit .. Il, 446

nota 93.(49) F. Clavijo Hernandez, "Los documentos de fletamentos ... » 46..

146

2.4. Comércio Atlântico-Europeu

A situação periférica do mundo insular condicionou a subjugação do comercio doMediterrâneo Atlântico aos interesses hegemónicos do velho continente. Foram os europeusos primeiros cabouqueiros das ilhas, trazendo consigo produtos e sementes lançadas nasnovas culturas. E foram, igualmente, europeus os primeiros a apreciar a qualidade dosprodutos insulares e a amealhar elevados réditos com o seu comércio.

Esta subordinação das ilhas aos interesses dominadores do Velho Continente no Atlânticoe às solicitações e necessidades desse mercado levou .a uma situação peculiar; na verdadedefiniu a economia insular pelo seu carácter marcadamente colonial, isto é, importador demanufacturas europeias a troco dos produtos agrícolas. Esta troca, marcadamente desigual,condicionou o desenvolvimento da vida económica das ilhas nos séculos XV e XVI, sendoresponsável pela sua constante instabilidade.

O comércio e a assiduidade de contactos entre as ilhas e os reinos peninsulares resultamou são impostos por essa vinculação ou subordinação. Deste modo, as rotas comerciais quelhe servem de suporte são definidas, desde o século XV ,mantendo-se por todo oséculo XVI como as mais importantes e valorizadas da economia insular; as rotas africanase americanas resultam apenas de um aproveitamento vantajoso da posição geográfica dasilhas, ou apenas de uma tentativa de extensão da sempre presente rota europeia.

O arquipélago canário, mercê da sua posição e das condições específicas, criadas apósa conquista, foi dos três '0 que tirou maior usufruto do comércio com o Novo Mundo. A suaproximidade do continente africano, bem como o seu entroncamento nas rotas atlânticas,permitiram-lhe a intromissão nesse trato, ainda que constantemente regulamentado pelacoroa e monopolizado pelas cidades de Lisboa e de Sevilhae).

Os Açores posicionados no traçado das rotas de regresso, procuram igualmentevalorizar a sua posição privilegiada intrometendo-se no comércio ilegal dos poucos produtosdo Índico, África e América, que escapavam à apertada vigilância da Provedoria dasArmadas. Todavia, esse benefício foi muito diminuto, talvez a sua mais importanteimplicação tenha sido o aparecimento de um grupo numeroso de mercadores castelhanos,franceses e ingleses interessados no comércio transatlântico que, por vezes, não esquecemas potencialidades económicas açorianas e).

A Madeira, mercê da sua posição excêntrica alheia-se dessa realidade, apostando nocomércio com a Europa. Só muito mais tarde os madeirenses terão uma intervenção activano comércio do Novo Mundo, por meio do vinho. A sua experiência, durante o século XV,no comércio da costa africana foi fugaz, regendo-se pelo objectivo de canalizar, do golfo daGuiné, os escravos necessários à lavoura e à safra do açúcar.

O comércio insular com a Europa definia-se por uma multiplicidade de produtos,agentes, rotas e mercados. A península, mercê da sua intervenção no reconhecimento,ocupação e valorização económica das ilhas, apresentar-se-á como o principal mercado; seráo elo de ligação entre elas e as principais praças europeias no mar do norte e doMediterrâneo; assim, a partir de Lisboa, Cádiz e Sevilha activar-se..á um assíduo comércio,secundado pelos outros portos atlânticos e Mediterrânicos do litoral peninsular. A essasimportantes praças peninsulares afluiu um grupo numeroso de mercadores italianos, fran-

e) Francisco Morales Padron, Canarias y América. Las Palmas, 1982;. Pierre Chaunu, Seville etl'Atlantique, T. VIII, VoI. I, 359-365; Manuel Lobo" Cabrera, «Gran Canaria e Indias ... », 111-128.

e) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no séc, XVII/o 337-352.

147

ceses, flamengos e ingleses interessados no comercio, altântico e apostados nesta novaeconomia de mercado; se, numa primeira fase, a sua intervenção estava limitada àpenínsula, num segundo momento, facilitada a sua intervenção nas ilhas, actuam a partirdelas, onde se afirmam como os principais homens de negócio; a partir daí estabelecemcontactos e rotas directas com as principais praças do Mediterrânico e do Norte.

A Madeira, de todas a primeira a merecer uma ocupação efectiva, alicerçou o seucomércio europeu nas relações com as zonas costeiras de proveniência dos seus colonos ecom as principais praças de origem dos mercados forasteiros. Se no início os contactos eramsazonais e se justificavam apenas pelas necessidades do povoamento e governo da terra,num segundo momento, vão ser feitos com assiduidade e mercê do comércio activo com aEuropa Ocidental.

Os cronistas do século XV e XVI referem com frequência a abundância de madeiras nailha que, em face da abertura de diversas frentes de arroteamento, condicionou um rendosocomércio com o reino e outras partes e). De acordo com mesma informação a exploraçãodas madeiras fazia-se em regime industrial com o objectivo de fabrico de embarcações,mobiliário para a exportação e das caixas de açúcar para a embalagem do produto.O impacte da exportação de madeiras foi de tal ordem que conduziu a alteração na técnicade construção naval e civil do reino (4).

O comércio das madeiras foi, sem dúvida, a primeira actividade que constituiu umafonte de riqueza para os colonos e senhores da ilha, conforme se depreende do indeferimentodado, em 1461, pelo Infante D. Fernando, ao pedido de isenção da dízima da suaexportação (5).

O desgaste do parque florestal madeirense, provocado por este comércio lucrativo epelo uso da lenha na laboração dos engenhos, veio a condicionar os corte de madeiras e oseu consequente comércio. Em 1503 tomava-se imperiosa a proibição do seu comércio pornaturais ou estrangeiros, restringindo-se o seu uso ao estritamente necessário (6); todavia,quando havia grande necessidade, esta medida proibitiva era esquecida; assim sucedeu em1508 com a saída de tabuado vinhático, paus, traves e chaprões para a fortificação daspraças portuguesas de Safim e Mcgador ("). Além disso o alto valor de algumas madeirascomo o cedro, condicionava a sua saída para algumas partes, como para Ruão (8). Essa faltade madeiras resultante de anárquica exploração da floresta explica, em parte, a importaçãoda Flandres de madeira de cedro, em 1525, para a construção da Igreja de Machico (9).

Os contactos entre a Madeira e o reino, ao longo dos séculos XV e XVI, eramconstantes e faziam-se com maior frequência com os portos de Lisboa, Viana e Caminha; osmarinheiros e mercadores dos portos do norte, nomeadamente da região costeira e entreDouro-e-Minho, frequentavam com assiduidade o porto do Funchal, para comerciar oaçúcar a troco de panos e carne eo). Aliás em 1505 o monarca, ao conceder aos madeirenses

e) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, 1968, 137-138, 84-85; Jerónimo Dias Leite, Descobri­mentos da ilha da Madeira . . ., 20; Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações.., in Saudades da Terra, Funchal,1873, 400-471; Fernando Augusto da Silva. Pela História da Madeira, Funchal, 1497, 60-65.

(4) «Regímen Florestal», in Elucidário madeirense, voI. III, 181-184.(5) A.R.M., C.M.F., registo geral, t. I, fls. 204-209, 3 de Agosto de 1641, «Apontamentos e capitolos do

ymfante dom Fernando para esta ylha.., pubI. in A.H.M" XV, 11-20.(6) Ibidem, fls. 299-300 v.o, 4 de Maio de 1503, «carta dei Rey noso Sefiorsobre ha madeira e fazirnêto de

navios e canareos desta ylha.., pubI. in A.H.M.. n.? 1307, fls. 54-54 v.", 56, vereação de 5 e 8 de Maio de 1546.C) A.N.T.T., C.C., II-13-73, Il-14-144; II-15-37, 55, 56, II-16-5, documentos de 3 de Junho de I de

Setembro de 1508.(8) Ob. Cit., pubI. in A Madeira vista por .estrangeiros, 86.(9) A.N.T.T., C.C.. III 14-135, 27 de Abril de 1525.

eo) Em 19 de Fevereiro de 1498 o monarca ordenou que o comércio de panos de Entre-Douro-e-Minho paraa Madeira se fizesse apenas pelo porto de Caminha, (J.M. da Silva Marques, Os descobrimentos portugueses, III,n.? 318, 482-483). O comércio das ilhas da Madeira e dos Açores com Aveiro era muito apreciável em princípiosdo século, XV, veja-se «Foral de Aveiro de 1515.. in Milenário de Aveiro, t. I, 297. Em 1551 refere-se o

148

a mercê da importação de carne dessa região, refere que «os meercadores e pessoas dessacomarca têm e hão-de trauto dos açúcares que na dita ilha há ... », sendo um grupo bemdefinido no comércio desse produto com o reino e com o Mar Norte ctt). Note-se que em1523-1524 esse destino é referenciado com o merecido relevo e, em 1581-1584, Viana é oúnico porto metropolitano referenciado no comércio do açúcartP).

O Porto do Funchal actuava muitas vezes como intermediário entre o porto de Lisboa, ea ilhas portuguesas do golfo da Guiné, nomeadamente para o comércio de peles de CaboVerde; isso se deduz do envio em 1523 de mil e duzentas peles de Cabo Verde páraLisboa et3

) .

A Madeira ofereceu ao mercador do reino, num primeiro momento, as suas madeiras eo excedente de cereais; todavia, o principal comércio com o reino foi o açúcar, solicitadodesde o início pelos mercadores nacionais, que procuravam firmar o monopólio da rotalisboeta. A ilha recebia em troca um grupo variado de produtos necessários a uso e consumoquotidianos, como ferramentas, panos, tecidos, telha, louça, barro, ferro, carne, peixe, sal,azeite et4

) ; tudo isto a troco de açúcar e de reexportação de alguns produtos, como peles,escravos, breu, algodão cts).

A importação de louça fazia-se com assiduidade dos principais portos do reino comoSetúbal, Lisboa e Porto e6

) ; de igual modo, as formas para o fabrico do açúcar deveria serproveniente do reino, nomeadamente da região do Barreiro, tendo em conta a escassez debarro na ilha e o fraco desenvolvimento da olaria local.

O comércio açoriano com os portos do reino regia-se pelos mesmos princípios esolicitações que o madeirense, apenas se alterando os produtos de troca. De facto enquantoa Madeira oferecia o seu precioso açúcar, os Açores apresentavam um mercado maisavantajado com os cereais, o pastel, o gado e a esperança do contrabando com as naus dasIndias de Castela e Portugal. Não obstante a posição dominadora do porto de Lisboa, adocumentação disponível aponta para a valorização do comércio com os portos de Entre­-Douro-e-Minho, Buarcos, Aveiro e Tavira e7).

Entre 1508 e 1538 nas embarcações assaltadas ao largo dos Açores surgem seisoriundas do reino, sendo três de Buarcos, duas de Vila do Conde e uma de Tavira; asprimeiras transportam linho, estopa, couro, vinho e roupa do norte do país para os portos dePonta Delgada e Angra, enquanto a última vinha apenas para carregar trigoets); em 1551

aprestamento no Cabo de S. Vicente do navio de Pero Rodrigues, oriundo dessa área, que conduzia açúcar daMadeira para Flandres (Joaquim Veríssimo Serão, A embaixada em França de Brás de Alvide, 25). E, em 1533,segundo Gaspar Frutuoso (Ob. Cit., L.0 II, 411), um Penteado de Vila do Conde estivera ocupado no comércio deaçúcar com a Flandres.

(11) A.R.M., C.M.F.. registo geral, t. I, fls. 303 v.0-304, Lisboa, 15 de Março de 1505, carta régia, publ.in A.H.M., XVII, 452-453.

(12) A.N.T.T., N.A., n.? 541, 724; Joel Serrão, «Notas sobre o comércio de açúcar entre Viana do Castelo eo Funchal>. , Revista de Economia. III, 209

e3) A.N.T.T., NA .. n. o . 541.

(14) A.R.M., C.M.F .. registo geral, t. I, fls. 303 v.o 304, 2 de Novembro de 1483 «carta régia sobre ocomércio das carnes do norte», publ. in A.H.M.. XVII, 453-454; lbidem, t. I, fls. 204-209, 3 de Agosto de 1641,« Apontamentos e capitolos do ymfante dom Fernando pera esta ylha», publ. in A.H.M.• XV, 14; Ibldem, fls, 238v. 0-249, 12 de Novembro de 1483, « Resposta do duque a alguüs apontamentos sobre hos dereytos» , publ.in A.H.M.• XV, 124; lbidem, fls. 118-118 v. o, 5 de Setembro de 1498, «carta deI Rey noso Seiior em que mandalamçar gibonetes aos moradores desta ylha», publ. in A.H.M.• XVII, 381, Ibidem, fls. 337-340, 10 de Janeiro de1512, regimento da guarda do mar, publ. in A.H.M. XVIII, 542.

es ) A.N.T.T., N,A" n.o 541, 724.eÓ) A.R.M., C.M.F., n.? 1298, fls. 6 v.0-7, I de Julho de 1485; Ibidem, n." 1298, fls. 113-117.

(17) Veja-se ..Foral de Aveiro de 1515», in Milenário de Aveiro, t. I, 297; Maria Olímpia da Rocha Gil, «OsAçores e a nova economia de mercado (séculos XVI-XVII)>> in Arquipélago, III, 1981, 373; Joaquim VeríssimoSerrão, oh. cit., 25, 36; Ana Maria Pereira Ferreira, «Os Açores e o corso Francês na primeira metade do séculoXVI ... », in Os Açores e o Atlântico (séculos X/V-XV/l) , Angra do Heroísmo, 1984, 290-292.

eB) Ana Maria Pereira Ferreira, art .cit. 25.

149

outras seis embarcações oriundas de Entre-Douro-e-Minho são apresadas por corsáriosfranceses.

Em síntese, o comércio de Entre-Douro-e-Minho com os Açores era muito importante,activando uma rede complicada de rotas de fornecimento de panos e mais artefactos a trocode trigo, carne e couros e9

) . De acordo com informação do monarca de 1517, o comérciodos portos do norte do país assentava, fundamentalmente, no comércio de panos, que estaárea produzia e importava dos principais centros têxteis do norte da Europa eo).

Sendo tal região caracterizada por uma importante produção de linho, estopa, e seda,fornecida de importantes centros têxteis, lógico seria admitir a necessidade de activação docomércio das plantas tintureiras de produção açoriana, mas escasseiam as notícias acerca detal comércio, pois ele é referenciado apenas por duas vezes; a primeira surge no Censual daMitra do Porto de 1541, em que é mencionado «o pastel que vinha das ilhas»; a outra estáexarada nos registos de entrada de navios na barra do Douro onde em 1597 se apontou onavio ,,5. João», propriedade de Pero de Coresma, mercador de S. Miguel, que aí apartoucom pastel da mesma ilhae1

) .

O comércio canário com a a península desenrolava-se em quatro frentes: Andaluzia,Galiza, Catalunha e Portugal. No entanto a área atlântica andaluza, circunscrita às praças deCádiz e Sevilha, dominava esse trato comercial com as ilhas de Tenerife e Gran Canariae2

) .

O comércio com estas áreas peninsulares incidia, fundamentalmente, em produtosalimentares (cereais, açúcar, queijo), matérias-primas (madeiras, couros, pez) e escravosque os insulares trocavam por panos, azeite carne' salgada e manufacturas diversas.

Segundo Manuel Lobo Cabrera o principal móbil do comércio com Portugal, naprimeira metade do século XVI, era o cereale3

) . Desde 1504 que se activou o comércio apartir de Tenerife com os portos de Tavira, Faro, Lagos, Lisboa, Viana. Aos cereaisjuntaram-se, a partir de 1569, os vinhos de Gran Canaria, que terão importância primordialnas trocas do reino (Lisboa, Setúbal), para a Guiné, Cabo Verde e São Tomée4

) . A estesprodutos, que activaram as trocas entre as Canárias e Portugal, 'vieram juntar-se outroscomo o pez, açúcar, escravos.

A contrapartida portuguesa à oferta canária baseava-se num grupo variado de produtose artefactos necessários ao consumo e produção insular. Saliente-se que no século XVI, emface da escassez de cereais nas Canárias, a ilha de Gran Canaria procurou o seu abasteci­mento nos portos de Lisboa e Aveiro es).

e9) Valentim Fernandes (1506-1508) refere que na Terceira exportava muita carne e sebo para o reino

(Viriato Campos, Sobre o descobrimento e povoamento dos Açores. Lisboa, 1983, 35). Aliás em 1512 há notíciado comércio de couros das Ilhas em Lisboa (Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa.Livro de Reis, IV, Lisboa, 1859, p, 231, n. o 100, alvará de 8 de Maio.) E em 1551 é referido o apresamento em~ilrita Maria de uma embarcação com gado (J.M. Serrão, oh. cit .. 25). °comércio de linho do reino deveria serigualmente importante, pois Gaspar Frutuoso tob. cit., I. o IV, vol. II, 199) refere esse comércio, sendocorroborado pelas presas de navios em 1508 e 1538.

eo) Maria Olímpia da Rocha Gil. "Os Açores e a nova economia de mercado ... ".375; Sobre o comérciode tecidos do norte de ,Portugal; veja-se Ana Maria Ferreira, A importação e o comércio textil em Portugal noséculo XV (1385-148/). Lisboa, 1983; João Cordeiro Pereira, Para a História das alfândegas em Portugal/ .. . l ,Lisboa. 1983. e1)Candido A.O. Santos. corno o pez, açúcar, escravos.

(21) Candido A.O. Santos. O Censual da Mitra do Porto/ ... l , Porto, 1973, 347; LA. Pinto Ferreira,Visitas de saída às embarcações entradas na barra do Douro nos séculos XVI e XVIl. Porto, 1977, 94-95.e2

) A. Cioranescu, ob. cit., I, 318-319; II, 20; Francisco Moralles Padron, «Canárias en el Archivo deProtocolos de Sevilha", in A.E.A, n." 10. 1961,252; Manuel Lobo Cabrera, Protocolos de Alonso Gutiérrez,35-37; F. Clavijo Hernandez, "Los documentos de fletamentos ... ", 45; José Maria Madurell Marinón, "Losseguros y el comercio en las islas de la Madera y Canárias», in A.E,A, n.? 5. 488; Eduardo Aznar Vallejo,ob. cit.« 339-342.

e3) Manuel Lobo Cabrera, «El comercio entre Portugal y Canarias en el quinientos ... ", in Congresso

Internacional. Os descobrimentos e II Europa do Renascentismo, Lisboa, 1983 (no prelo).e4) Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud en Las Canarias orientales em el siglo XVI. Las Palmas, 1982; A.

Cioranescu, ob. cit .• II, 21.es) A.H.P.L.P., Protocolos Bernardino de Pedro de Cabrejas, n.? 856, fl: 43; Idem, Protocolos de

150

A manutenção e incentivo do comércio das Canárias em Portugal dependeu, em grandemedida, da forte presença da comunidade portuguesa nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife;de um modo geral o comércio e o transporte eram assegurados por portugueses, quesurgiram nestas ilhas sob a condição de estantese6

) .

Se no caso das relações das ilhas com os reinos peninsulares os laços e imperativos desoberania destes territórios, aliados á tendência monopolizadora da burguesia metropolitana,impuseram um estreitamento de contactos e de comércio com a Península, no que respeitaaos mercados nórdico e mediterrânico as ilhas afirmaram-se pelos seus produtos, impostospela nova economia de mercado, o açúcar e pastel. Para além disso, as insuficiências daindústria peninsular traduziam-se muma procura de novos mercados capazes de satisfazer ogosto, cada vez mais apurado da nova aristocracia e da nova burguesia; se é certo que osartefactos de uso diário poderão ser encontrados na península, outros há que escasseiam nassuas praças, havendo necessidade de os importar de Itália, Flandres e Inglaterra. Para estanova classe dirigente a ostentação da riqueza surge como uma forma de afirmação social epolítica, sendo exteriorizada por meio do uso de produtos flamengos e italianos; deste modo.os panos peninsulares são preteridos em favores dos riquíssimos tecidos de Ypres, Ruão eLondres.

Na Madeira esta ostentação traduz-se na compra de uma campa em Flandres ou naaquisição de valiosas pinturas flamengas que depois ornamentavam as capelas dos morgadosmais importantes da ilhae7

) . Em 1546, João Lourenço Leitão refere ter comprado oretábulo de Nossa Senhora da Piedade do Mosteiro de S. Francisco em Flandres por trinta esete mil reais es). E, em 1566, quando do assalto francês à cidade do Funchal, Frutuosorefere o saque de valiosos móveis, «porque pela maior parte, pelo trato dali, a mais e maiorriqueza daquela terra eram jóias e ricas peças de móveis ricos, que mandavam fazer deFlandres e outras partes pelos constantes e forasteiros, a troca de mercadorias da terra e desuas novidades, sem estimarem nem sentirem a compra e custo de semelhantes coisas, aindaque custosas ... » e9

) .

Gaspar Frutuoso referindo-se a S. Miguel, dá conta que Diogo Nunes Botelho, um dosprincipais proprietários da ilha, mandava vir de Flandres, Inglaterra e Sevilha alfaias evestidos a troco do pastel eo).

Para a burguesia ou para a aristocracia insulares, enriquecidas com o comércio doaçúcar ou do pastel, os créditos arrecadados serviam apenas para a sua ostentação eafirmação no acanhado meio em que viviam. As restrições impostas pelo meio geográficoimpelem-nas para essa forma de investimento do capital, pondo de 'parte a sua possívelrevalorização na actividade de troca.

O pastel, o açúcar e o vinho atraíram os mercados europeus que invadiram o mercadoinsular com os vários artefactos e produtos alimentares.

Nas ilhas dos arquipélagos da Madeira e Canárias as relações com o mercado italiano elevantino surgem, desde o século XVI, sedimentadas pelos mercadores e agentes das

Bernardino Rosales, n.? 889, fi. 149, idem, ibidem, 888, fi. 599 v.", citados por Manuel Lobo Cabrera, "EIcomercio entre Portugal y Canarias ... ".

("6) Manuel Lobo Cabrera (lbidem) refere que 70 % das transacções com Portugal foram feitas porportugueses e destes cerca de 54 % são originários dos portos do destino, entre os quais Lisboa, Porto, Lagos eTavira. Veja-se ainda Manuel Lobo Cabrera, Grupos humanos en la sociedad cana ria dei siglo XV/o Las Palmas,1979; Elias Serra Rafols, Los Portugueses en Canarias, La Laguna, 1942.

(27) No testamentode Rui Mendes de Vasconcellos de 16 de Abril de 1519refere-se que este mandara vir deFlandres uma campa para a sua sepultura (A.R.M. Misericórdia do Funchal. n.? 684, fls. 54-54 v."). Sobre acompra de pintura flamenga ii troco de açúcar pela a aristocracia fundiária madeirense, veja-se Manuel C. deAlmeida Cayolla Zagallo, A pintura dos séculos XV e XVI da ilha da Madeira, Lisboa, 1943; João Couto, Ospainéis flamengos da ilha da Madeira, Funchal, 1955.

("8) A.R.M.• J.R:C .• fls. 359 v.o-365, testamento de 16 de Março de 1546.e9 ) Saudades da Terra, L. 0 II, 333.eo) Ibidem, L.0 IV, vol. II, 65-67.

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principais sociedades italianas, que participaram activamente no lançamento dos fundamen­tos desta sociedade insular.

Desde meados do século XVI que a Madeira penetrara com o açúcar nos mercadosnórdico e mediterrânico e estabelecera rotas de comércio com as principais praças dessasáreas; o açúcar madeirense passou, desde então, a circular com abundância no mercadoeuropeu, concorrendo com o da Sicília e Medinat'").

A importância do comércio com as praças da Eucrásia, Bruges, Flandres e Meldeburgotoma-se bem clara, já em 1485, em face da interdição desse trato e suspensão dosprivilégios aos mercadores flamengos aí residentes (32). Esta era a forma de represália maisadequada contra a guerra nestas paragens.

Para os portos nórdicos exportava-se quer açúcar, pastel e urzela, quer algodão eescravos e3

) ; em troca, a ilha recebia os panos (Londres, Escócia, Ruão) , cereais e peixeseco ou salgadoe4

) .

Nos contactos com o mundo mediterrânico distinguem-se três áreas: as praças espanho­las de Sevilha, Valência e Barcelona, as cidades italianas (Génova, Veneza, Livorno) e oLevante. As primeiras funcionaram como mercado de consumo do açúcar, e centros deredistribuição deste produto no mercado levantinoes ). Para a última região bem como paraas cidades italianas, além do açúcar, exportavam-se escravos, tábuas de cedro e vinháticourzela, pastel e couro, a troco de panos, trigo e objectos de luxo r"). Dos portos deBarcelona e Valência recebiam-se habitualmente os panos de Castela, que surgem commuita frequência no mercado madeirensee7

) . Muito antes de 1417 os panos castelhanos, deimportação directa ou indirecta, vendiam-se no mercado madeirense, pelo que o monarcadefiniu como forma de represália, em face de guerra com Castela, a queima dos queestivessem à venda es). Nesta última década quatrocentista está documentado o comérciodesses panos e de cereais a partir da costa da Catalunha, Valência, Cádiz, a troco deaçúcarr").

C1 ) A.R.M., C.M.F., t. I, fls. I-I v.", 14 de Julho de 1469, carta do infante D. Fernando sobre o trato doaçucar, aí refere a concorrência do açúcar da Sicilia e Medina, publ. in AB.M., XV, 45-47.

(32) Ibidem, fls. 21-22 v:", 22 e 23 de Junho de 1485, alvarás régios sobre o comércio de açúcar, publ. inA.H.M.,XVI, 187-188.

C3) A 7 de Julho e 1524 Pero Anes despachou em Santa Cruz para Londres no navio de Francisco Lopes

trinta quintais de urze1a; a 12 de Julho, Manuel de Brito despachou para Flandres no navio de Vasco Dominguesduas sacas de algodão; a 9 de Setembro o rendeiro João Gonçalves Ferreira e Diogo Lopes despacharam, cada um,uma escrava para Londres no navio de João Esteves (A.M:T.T., N.A. n.? 724). A única exportação de pastel quese conhece na Madeira doi feita em Março de 1537 por Diogo Gonçalves no navio Santa Maria das Areias, paraFlandres (V. Rau, A exploração e o comércio de sal em Setúbal, Lisboa, 1961).

C4 ) Em 26 de Fevereiro de 1596 Joam de Berberage e Garcês (?), alemão, declarou em vereação cento ecincoenta caixas de sardinha e trinta varas de pano da Escócia (A.R.M., C.M.F., n.? 1312, fl. 22). Em diversostestamentos da Misericórdia do Funchal surgem algumas referências a panos dessas proveniencias; Veja-seA.R.M., Misericórdia do Funchal, n.o,712, fl. 52 v.", 19 de Agosto de 1511, pano de Londres; Ibidem, n.? 684,fl. 153 v.", 27 de Novembro de 1560, pano de França; lbidem, n.? 684, fls. 640-642, 26 de Novembro de 1589,pano de Ruão; ibidem, n.? 710, fi. 17-21, 13 de Maio de 1490, pano de Ypres. Em 1531 Álvaro Pardo de Ruãoenvia três navios bretões com trigo e panos de Ruâo para carregar açúcar e especiarias em Sevilha ou Lisboa (M.MolIat, Le comerce maritime normand ... , Lisboa, 1925, 163.

CS) Domenico Gioffré, Documenti sulle relazioni fra Genova ed ii Portogallo dei 1493 ai 1539. Roma,1961, 180-182; José Maria MadurelI Marinón, art. cit .. does. n.? 3 e "46.

(36) Virginia Rau, Portugal e o Mediterrâneo no século XV ... , Lisboa, 1973, 15, Jacques Heers, Genes auXV- siécle, Paris, 1971, 317. A 10 de Janeiro de 1524 Esteano Romano despachou em Santa Cruz na nau deSimão Vaz .para Livorno, vinte tábuas de vinháticos e cedro, três escravos e uma escrava e noventa couros de JoamNovo (A.N.T.T., N.A .. n.? 724).

C7) Nos testamentos da Misericórdia do Funchal surgem algumas referencias a panos de Castela: A.R.M.,Misericórdia do Funchal, n.? 684, fi. 336, 25 de Março de 1507; lbidem, n.? 684, fi. 326 v.P, 28 de Abril de1541; Ibidem, n.? 684, fi. 153 v ,", 27 de Novembro de 1560.

CS) A.R.M., C.M.F.. n.? 1296, fl. 24 v.", vereação de 7 de Agosto de 1471.C9) José Maria MadurelI Marinón, art. cit., 489, 502-507.

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o comércio canário, baseado nos mesmos produtos que o madeirense, será um forteconcorrente na disputa dos mercados nórdico e mediterrânico (40). Os produtos dos doisarquipélagos surgem, lado a lado, nas praças de Londres, Anvers, Ruão e Génova. A únicavantagem do madeirense resultava deste arquipélago ter sido o primeiro a penetrar com oaçúcar e o vinho no mercado europeu, ganhando a preferência de vendedores e consumidores.

O comércio deste arquipélago com as principais praças europeias fazia-se com assi­duidade a partir das ilhas de Gran Canária e Tenerife; este movimento comercial teráadquirido uma importância primordial nas trocas externas do arquipélago uma vez que noperíodo de 1549 a 1555 há notícia de cinquenta e oito partidas ou chegadas de navios nopercurso de Anvers às Canárias (41).

Segundo A. Cioranescu o comércio da ilha de Tenerife fazia-se com maior assiduidadecom os Países Baixos, sendo apenas limitado pelas guerras e pelos conflitos religiosos(42);contudo o tráfico mais importante do porto de Santa Cruz orientava-se no sentido daInglaterra, baseando-se na oferta de vinho e urzela r'"): esse. comércio deveria ser resultadoda abertura do porto de Bristol ao tráfico com as Canárias, proposta em 1538 por Carlos V(44).

Na ilha de Gran Canaria o comércio nórdico, nomeadamente com a Flandres, estavaem função do açúcar; no entanto os flamengos só surgem aí a partir de 1532 e, com toda apujança, na década de 50 (45); esta ilha recebia uma variedade de produtos manufacturadosde que sobressaem os tecidos de diversas qualidades, oriundos dos mercados de Anvers,Ruão, Holanda e Gante (46); estes produtos eram transaccionados com dinheiro e açúcar pormercadores genoveses e flamengos, distinguindo-se neste grupo Bernardino Anehesi,Jerónimo Lerca, Lamberto Broque, Sébastian Búron e Jerónimo Fránquez.

No arquipélago açoriano o comércio europeu orientava-se fundamentalmente, para aspraças nórdicas (Inglaterra, Flandres, Holanda), com uma indústria textil importante, umavez que este arquipélago era um dos principais produtores de pastel de mercado insular noséculo XVI (47).

O comércio das ilhas com o litoral africano fazia-se com maior assiduidade a partir dasCanárias do que da Madeira ou dos Açores; mas a Madeira, no século XV, manteve umaacção muito importante nesse comércio, quer como porto de escala, quer como entrepostode comércio. Os madeirenses tiveram uma participação activa nas viagens de exploraçãogeográfica e no comércio no litoral africano, surgindo o Funchal, nas últimas décadas doséculo XV, como um importante entreposto de comércio de dentes de elefante(48).

(40) F. Clavijo Hernandez, «Los documentos de fIetamentos .. ,,,,48; E. Marco Dorte, «Descriptión de ~asyslas Canárias", in Revista de História. IX, 1943, 203; Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud em las Canarias

orientales en el siglo XVI, 161-162. • . . .(41) E. Stols, «Les Canaries et l'expansion coloniales des Pays-Bas rnérídionaux ... » ln IV .C.H.c..~"

vol. I, 908; J.A. Goris, (Ob. cit., 157, 165, 167) refere o envio de três naus de Anvers (1508-1540) as Canárias

para comprar açúcar.(42) Ob, cit., II, 21-23. • . . . .(43) A. Cioranescu, ob. cit .. II, 23; Francisco Morales Padron, Cedul~:'o de Canar~~s. vol. I, ~evllh~,

1970, o. 368, n.? 285, 4 de Maio de 1583; E. Conzález Yanes, «lmportaclOn y exportacion en Tenerife», ln

Revista de História. n.? 101-104, 82. Em 1557 Thomas Nichols (ob, cit., 85) teria exportado para Inglaterra peles

de. cabrito.(44) Clarence H. Haring, oh. cit .. 23.(45) Manuel Lobo Cabrera, «EI comercio entre Gran Canaria y Flandes hasta 1558... 32-33.(46) Idem, Indices y Estractos . . . 16, 45; 1. A. Goris, ob. cit .• 295-306.(47) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 IV, vol. II, 16; Carreiro da Costa, «A cultura do pastel nos

Açores ... ", 16-17. Em 1571 Fernão Jacques, mercador flamengo, despachou fazendas em Ponta Delgada ~aracomprar pastel (B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto . ..Extractos de Documentos Michaelenses", vol. V. L. , 1

do registo da alfandega de Ponta Delgada, fi. 248). . . .(48) A.R.M., C.M.F .. registo geral, t. I, fi. 146-146 v", 25 de Junho de 1470, carta regia, pubI. ln A.H.M.

XV, 51-52; Ibidem,fIs. 274-274 v", 24 de Maio de 1497, carta régia, publ. in A.H.M., 366-367; A. A. Sarmento,

A Madeira e as praças de África. Lisboa, 1932, 46-47.

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20

As facilidades concedidas pela coroa portuguesa ao comércio com as praças marroquinase do golfo da Guiné conduziram à intensificação do comércio madeirense no litoralafricano (49); tomava-se necessária a abertura do comércio naquele golfo da Guiné comoforma da Madeira adquirir a mão-de-obra escrava necessária à laboração do açúcar.Saliente-se que na segunda metade do século XVI a crise açucareira é atribuída pelosmadeirenses à falta de escravos africanos, pelo que em 1562 a coroa autoriza os produtoresde açúcar a enviarem, por prazo de dois anos, duas embarcações para os adquirir à Guiné eCabo Verde (50). Cinco anos volvidos nova autorização faculta a aquisição de escravos,anualmente, em Cabo Verde ou outras partes (51).

Em resumo, o comércio madeirense na costa ocidental africana desenrolava-se em maisde uma frente: praças marroquinas, Cabo Verde e Golfo da Guiné. Para a primeira a ilhafornecia vinho, vinagre, trigo a troco de gado vacum e miúdo (52); na segunda e na terceiratrocava o vinho por couros finos, peixe salgado,chacina e escravos (53). O açorianoalheara-se, quase por completo, do comércio com o litoral africano, pois o seu distan­ciamento em relação a esta área, e a sua forma de exploração económica, não o favo­reciam (54); os contactos e a permuta, que se restringiam à costa marroquina, estabeleceram­-se por imposição régia, tendo como finalidade o abastecimento em cereal das praçasportuguesas (55); tal comércio ter-se-ia iniciado no terceiro quartel do século XV, altura emque a Madeira se achava impossibilitada de o fazer, não obstante a referência do primeiroenvio de cereal surgir em 1516(56); a rota de abastecimentos orientava-se na direcção daspraças do sul (Azamor, Mazagão, Santa Cruz, Safim). A partir do século XVI a coroacoloca nela o seu empenho, definindo-a como prioritária no escoamento do cereal açoriano;a sua arrecadação e envio fazia-se por meio de regimento real, entregue aos contratadores deLisboa que tinham nas praças de Angra e Ponta Delgada os seus representantes (57). Destemodo esta rota, para além de ser imposta pela coroa, tinha o seu ponto de origem em Lisboae nos Açores apenas a escala de carga, (nos portos de Ponta Delgada e Angra); por vezes oporto dó Funchal servia-lhe de escala de apoio ou de redistribuição do cereal para as praçasmarroquinas.

O comércio canário na costa africana era muito activo, actuando os vizinhos destearquipélago, quer na Berberia, quer na Guiné e em Cabo Verde; na primeira área todo omovimento comercial girava em tomo da Torre de Santa Cruz de Mar Pequena, tendo como

(49) lbidem, fls. 274-274 v.", já cotado; idem, DA., cxa. II, 189, 1 de Agosto de 1561, carta deD. Catarina autorizando o envio por dois anos de duas embarcações a Safim e Cabo Gué a comerciar; Ibidem,cxa. II, 181, 6 de Novembro de 1567, sobre o mesmo do anterior.

(50) Robert Ricard, «Les places luso-marocaines et les iles ... ", in Anais da Academia Portuguesa deHistória, rn, Lisboa, 1949, 402-410.

(51) A.R.M., D.A., cxa. II, 193, Lisboa, 16 e 30 de Outubro de 1562, autorização para o resgate deescravos na Guiné e Cabo Verde por dois anos.

(51) A. A. Sarmento, ob. cit.. 47. Em ·1551 Jerónimo Fernandes de Lisboa importou trinta mil chacinas deCabo Verde (A.R.M., C.M.F., n.? 1309, fls. 102 v:", 23 de Janeiro) e em 1596 João Gonçalves vendeu trezentaschacinas de Cabo Verde a reis o arratel (Idem. n.o 1312, fi. 34, 27 de Abril).

(53) Idem, C.M.F., registo geral, t. III, fls. 137 v.o-138, Lisboa, 15 de Setembro de 1567, licença para oresgate de escravos em Cabo Verde por cinco anos. Veja-se A. A. Sarmento, Os escravos na Madeira, Funchal,1938; Frédéric Mauro Le Portugal et I'Atlantique au Xlll» siécle ... 185; Vitorino Magalhães Godinho, Osdescobrimentos e a economia mundial, vol. IV, 171.

(54) Gaspar Frutuoso (ob. cit., L.? Ill , 1971, 178) refere que em 1572 apartou à ilha de Santa Maria umpatacho de Arguim com cação.

(55) Helder de Sousa Lima, Os Açores e a economia atlântica . . . , 173-178; Alberto Vieira, «A questãocerealífera nos Açores nos séculos XV-XVI. .. ", 16-167, 174-176, 179; Maria Augusta Limá Cruz, ,,0 trigoacoriano em Marrocos (século XV!)", in Os Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVI!), Angra do Heroísmo, 1984,625-648.

(56) Alberto Vieira, ibidem, 164-167, 174-176, 198-199.(57) Ibidem, 164-167.

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objectivo fundamental o comércio de escravos negros (58). A intervenção canária assumia otriplo aspecto de comércio. assalto e resgate (59).

O tráfico com as praças portuguesas baseava-se no abastecimento de cereais sendo oarquipélago utilizado apenas como escala para as embarcações que partiam de Lisboa ouSevilha (60).

Segundo Teixeira da Mota «as Canárias constituíam o principal foco das navegaçõesclandestinas dos castelhanos para a Guiné», envolvendo nesse tráfico ilegal pilotos portu­gueses ao serviço dos mercadores castelhanos ou nacionais (61). O principal móbil dessa rotaera o comércio de escravos, que se intensifica a partir de meados do século XVI. O porto deLas Palmas surge nesse contexto não só como importante mercado de comércio de escravoscom a Europa, mas também como centro de despacho de escravos para as Índias ou deexpedições a Cabo Verde e à Guiné, com a finalidade de transportar escravos ao litoralamericano (62).

Este comércio organizado a partir das Canárias ou de Cádiz, era de um modo geralilegal, sendo feito à margem da casa de Guiné. Perante isso o monarca português reclamaem 1516, junto da coroa castelhana, contra os assaltos canários em Arxiel e Guiné, aomesmo tempo que, em 1549, envia Aires Cardoso a residir nas Canárias com a duplafinalidade de adquirir vinho para as armadas da India e «de vigiar e olhar os que daly armaomuytas pesoas para a Mina e Costa da Guiné e levam mercadorias defesas com quetratam» (63).

O comércio canário-americano no .século XVI aparece como uma grande esperançade fonte de riqueza para a população peninsular avizinhada no arquipélago (64). Aimplementação desta rota de comércio transatlântico resulta de uma multiplicidade defactores que a favoreceram e intensificaram; ao factor geográfico alia-se oeconórnico eo político, pois a manutenção da rota não resulta exclusivamente da posição do arqui­pélago no traçado das linhas marítimas que ligam Sevilha à América, mas tambémporque uma série de condicionantes favorece esses laços; nela, são de realçar a disponibi­lidade de recursos humanos, técnicos, materiais e a relativa liberdade comercial até1564(65).

A criação da Casa de la Contractacián em Sevilha (15'03) veio dificultar o comérciodas Canárias, fazendo-o depender de um regime de licenças anuais. Todavia os canáriosescapavam-se com facilidade ao olhar atento do juíz oficial, pelo que a coroa, penalizada

(58) Pierre Chaunu, Séville et l'Atlantique, t. VIII, vol, I, 351-353; A. Rumeu de Armas, «La Torre deSanta Cruz de Mar Pequena, em segunda fundación», inA.E.A .. n.? 1 1955,397-477; Idem, Espana em el AfricaAtlantica, 2 vols., 1956-1957, 530-533, 556; Idem, Piraterias y ataques navales contra las islas Canarias, vol, I,Madrid, 1947,348; Idem, Las Viajes de John Hawkins a América (1562.]565). Sevilha, 1947, 80-86.

(59) Gaspar Frutuoso (ob. cit., L. ° I, 82) alude que o comércio com a Berberia fazia-se a partir deFuerteventura. Veja-se Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., 338; Avelino Teixeira da Mota, «Viagens das Canárias àGuiné no século XVI.. .», in III C.H.C.A .. vol. II, 223.

(60) Maria Augusta Lima Cruz, art, ctt., 639-645; Manuel Henrique Corte Real, A feitoria portuguesa naAndaluzia (/500-1522), Lisboa, 1967.

(61) Oh. cit., 231-233.(62) Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud en las Canarias orientales en el siglo XVI, Las Palmas, 1980;

Idem, «Relaciones entre Gran Canaria y Índias ... ", 132-133; Francisco Morales Padrón, «Fondos canários en elArchivo de Índias» in A.E.A., n.? 24-25; 464, 523.

(63) Archivo General de Simancas, Registo General deI Sello, 27 de Agosto de 1516; A.N.T.T., Colecçãode S. Vicente, livro 5, fls, 366-367 v:", cito por A. Teixeira da Mota, art. cit., 225.

(64) Sobre o comércio com a América vejam-se os estudos de Francisco Morales Padrón, José Peraza deAyala, António Rumeu de Armas, Augustin Guimera Ravina e Manuel Lobo Cabrera, na Bibliografia.

(65) A. Guimera Ravina, «Canárias en la carrera de Índias (1564-1778)", in Historia General de las islasCanarlas, IV, 170; Idem, "La financiación dei comercio de Garachico con las islas (1566-1612).. in II C.H.C.A ..vol, 1,261-282; Francisco Morales Padrón, «Las relacíonescanario-arnericenas-. in Historia General delas islas

canarias, m, 322-323.

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nos seus interesses e monopólio, procurou coibir os insulares dessa prática, criando, a partirde 1564, juízes de registo para ilhas, nomeadamente em La Palma, Tenerife e GranCanaria (66). Esta necessidade de regulamentação rigorosa do trato comercial resultava dointenso contrabando feito a partir das ilhas, por castelhanos e portugueses aí residentes ouestantes.

O principal móbil de tal comércio era, sem dúvida, o vinho canário, as manufac­turas europeias e os escravos; estes eram transaccionados por portugueses e caste­lhanos, num circuito de triangulação que envolvia as Canárias, Cabo Verde e o litoralamericano (67).

Para a Madeira e os Açores o destino e mercado americano surgia de modo muitodiferente; não há referência a um comércio assíduo com ele; os vizinhos de ambos osarquipélagos situam-se numa posição excêntrica e só muito mais tarde se aperceberam daspossibilidades da troca nesses domínios; de facto apenas a partir de finais do século XVIaçorianos e madeirenses penetrarão em força com o seu vinho no mercado americano; atélá restava-lhes aguardar a chegada das naus da Índia e Índias e aspirar por um lucro fácilcom o contrabando (68); mas os monarcas peninsulares fizeram gorar essas aspirações pormeio de um apertado sistema de vigilância às naus das rotas, a partir das ilhas das Florese Corvo.

O porto do Funchal, não obstante a sua posição marginal em relação ao traçado dasrotas de retorno, manteve uma acção importante nesse comércio ilegal. Em 1520 o monarcaportuguês recomendava à Fazenda Real na ilha o maior cuidado no envio ao reino demercadoria da nau de D. Diogo de Lima, que aportara ao Funchal com mercadorias daÍndia (69); e em 1581, Filipe I de Portugal solicitava o maior zelo e ligeireza na descarga deuma nau que aí chegara com ouro, prata e mercadorias das Índias COlo

Em face destas eventualidades, Filipe I proibiu terminantemente qualquer aportagem edescarga das naus oriundas das Índias no porto do Funchal, mandando proceder contra ostransgressores; segundo diz, era usual «alguns navios, caravelas cabreas, urcas e patachosderrotados e em outra maneira, de alguns puertos e partes de las Índias deI Mar Oceano comoro, plata, mercadorias y todas cosas contra las ordenanças de la dita casa de la contrataciónda ciudad de Sevilha" (71).

As ligações entre a Madeira e o litoral americano incentivaram-se, após a quebra deprodução açucareira, com o crescimento do comércio do vinho madeirense; um e outroproduto estão, de resto, ligados. A falta de açúcar no mercado madeirense e a sua incessanteprocura levou os mercadores, ligados ao seu tráfico nesta praça, a especular com o açúcarbrasileiro, fazendo-o passar como da Madeira; em 1596, por exemplo, João Gomes deCastro, fidalgo, e António Francisco, mercador, fretam um navio para transportar do Brasilquinhentas arrobas de açúcar a fim de ser baldeado numa nau francesa de Gran Canaria comdestino a Sevilha ou San Lúcar(72).

(66) Idem, Canárias y América . . . , 37-38; A. Cioranescu, ob. cit.. II, 42-43.(67) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Cariaria y Índias ... », 130-131; A. Cioranescu, ob. cit., 59; Francisco

Morales Padrón, «Canárias en los cronistas de Índias», in A.E.A., n.? lO, 1964, 222-225.(68) Eufemio Lorenzo Sanz, ob. cit., voI. II, 27; Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias

no século XVI, Lisboa, 1983 (sep.); Helder de Sousa Lima, ob. cit., 241,264 Antonia Heredia Herrera, Catálogode las consultas dei Consejo de Indias, vol I, 169. Em 1578 o provedor das armadas mandara proceder contra anau de Pantaleão Saavedra Domingos (B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, «Extractos de DocumentosMichaelenses-, vol. VIII, n.? 219, 19 de Junho de 1578).

(69) A.N.T.T., c.e., II-89-137, 26 de Abril de 1520.('0) A.R.M., D.A., cxa. II, 215, Sintra, 3 de Outubro de 1581; V. Fernandes Asis, Epistolario de Filipe

Ill, Madrid, 1943, p. 223, n.? 1114, Lisboa, 13 de Janeiro de 1582.(71) Idem, C.M.F., registo geral, t. I, fi. 216, referenciado por Joel Serrão, "Holandeses e ingleses em

portos de Portugal no domínio filipino» , in D.A.H.M., n.? 3, 1950. 9-13.('2) José Gonçalves Salvador, Cristãos novos e o comércio no Atlântico meridional, S. Paulo, 1978,

253-257.

156

Conhecido esse comércio fraudulento o monarca exarou a sua proibição em 1591(73).No entanto os mercadores naturais ou estantes na ilha teimavam em manter esse comércioespeculativo com o açúcar brasileiro, pelo que os vereadores e procurador do concelhoreclamam junto da coroa, referindo o prejuízo causado por essa prática aos lavradores deaçúcar e à Fazenda Real (4); em resposta, Filipe I dá força à provisão de 1591, ordenando«que nenhum navjo que vier asuquares ou quoaisquer outras fazemdas das partes doBrazil. .. não possa descarregar em outro allgum senão nos portos deste rejno omdepresentarão certidam dos portos domde partirem ... não possam yr descarregar aos portosda dita ilha da Madeira ... » (5).

(3) A.R.M., C.M.F.,.registo geral, t. III, fi. 44 v.", carta régia sobre a descarga de açucar do Brasil.(4) A.R.M., D.A., cxa, IV, 504, vereação de 17 de Outubro de 1596.(5) Ibldem, t. III, fls. 12 v.o-14 v:", Lisboa, 3 de Dezembro de 1598, petição da camara do Funchal sobre o

açúcar do Brasi!.

157

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

CONCLUSÃO

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

Nesta análise comparativa dos três arquipélagos atlânticos (Canárias, Madeira e Açores) evidenciamos a similitude do processo de desenvolvimento sócio-económico, diferenciado apenas nas assimetrias naturais e na diversa política das coroas peninsulares. Tal circunstancialismo salientou-se como um mecanismo propiciador de uma constante aproximação destas dezoito ilhas, sendo concordante com o epíteto comum de Mediterrâneo Atlântico, criado e consagrado pela historiografia ocidental.

Este Novo Mundo insular, colocado às portas do Atlântico Sul, não foi apenas ponto de lançamento para a afirmação da hegemonia peninsular no Atlântico. Mais do que isso, evidencia-se nestes dois séculos como uma área adequada às necessidades e solicitações da nova economia de mercado. As palpitações do ilhéu surgem nesse rumo, que traçou uma selecção criteriosa dos produtos e técnicas. As coroas e as gentes peninsulares intervêm constantemente neste mercado, que criaram e lançaram nas praças europeias.

À permanente e sempre actuante comunidade peninsular associam-se desde o início os elementos mais proeminentes do tráfico internacional nórdico e mediterrânico. Na Madeira e nas Canárias as colónias italiana e flamenga, esquecem os conflitos religiosos e unem-se em prol de uma causa comum: o comércio. Italianos e flamengos aparecem nesses arquipélagos atraídos pelo comércio do açúcar, tal como os ingleses aparecem nos Açores impelidos pelo trato do pastel.

As rotas de ligação do mundo insular às suas origens europeias foram, sem dúvida, as mais importantes do comércio externo das ilhas nos séculos XV e XVI. A sua manutenção e intensificação resultaram da existência de produtos e mercados adequados às troCas europeias. Ao europeu ~s ilhas surgem, como um novo mercado capaz de suprir as suas necessidades ou solicitações e, ao mesmo tempo, de consumir os seus artefactos. A situação salienta-se pela troca desigual, em muito favorável ao europeu, e pela excessiva dependência do mercado insular ao Velho Mundo.

O desmesurado peso da acção europeia, africana e americana condicionou uma acentuada desvalorização das não menos importantes formas de contacto e comércio no mercado insular. As trocas e relações inter-insulares, porque fora desse âmbito tradic~onal ou pela sua propalada pouca importância, não mereciam aí qualquer referência de relevo. No entanto, como tivemos oportunidade de afirmar, essas conexões insulares marcaram profun­damente a vivência da sociedade e da economia insulares. A vizinhança, as facilidades, aliadas à complementaridade e similar nível.de desenvolvimento do processo sócio-econó­mico dos três arquipélagos, sedimentaram uma rede de inter-relações; nela a Madeira, mercê da sua posição charneira entre os dois arquipélagos do extremo ocidental e oriental, deteve uma acção importantíssima, sendo um elo significativo para a manutenção desses contactos.

161

21

o Novo Mundo atlântico dominado pelo litoral americano, surge para os insulares mais como o sonho do que como uma realidade; ou, se quisermos: uma esperança, cuja concretização é travada pela hegemonia e monopólio das principais praças peninsulares. E a sua realização, quando surge, não é uniforme nos três arquipélagos, antes se afirma de modo desigual, de acordo com o posicionamento de cada grupo de ilhas no traçado das rotas transatlânticas.

Alguns dos objectivos, inicialmente definidos, não puderam ter neste livro desen­volvimento, em consequência da falta de documentação disponível para o período em estudo. Assim, por exemplo, a análise do comércio inter-insular, que pela pouca informação existente já se mostra como importante na economia insular, não mereceu o ambicionado desenvolvimento por falta de seriações exaustivas de documentação nos três arquipélagos. Por outro lado essas lacunas impossibilitaram-nos de proceder a uma indagação alargada da componente social; apenas nos foi possível fazer uma quantificação aproximada dos principais grupos de agentes e das comunidades locais ou forasteiras que os formam. Esperamos que as maiores disponibilidades documentais do século XVII nos permitam, num futuro muito próximo, colmatar essas lacunas e aprofundar os domínios aqui abordados.

162

ANEXO

QUADROS

ABREVIATURAS E SIGLAS

C. Novo Cristão Novo Est. Estante R. Rua V.o Vizinho (+) Óbito

164

QUADRO N.o IMERCADORES NA MADEIRA SÉCULOS xv A XVI

Mercador Data Proveniência Morada

João de Abrantes 1517Brás de Abreu 1551(+) FunchalManuel Abreu 1697Francisco Acciaiuoli -1596 Florença FunchalSimão Acciaiuoli 1509-1544(+} Florenca FunchalZenófio Acciaíuoli 1580 Aorença FunchalJosé Adorno 1528-1567('1) Génova FunchalPaulo Dias Adorno 1528-1567 Génova FunchalGabriel Affaitati 1509 FunchalJoão Francisco Affaitati 1502-1529 Cremonês LisboaFrancisco Afonseca 1599 FunchalAndré Afonso 1509-1566 FunchalAntão Afonso 1511-1524 FunchalAntónio Afonso 1517-1597 Castela CalhetaCaíres Afonso 1550 FunchalDinis Afonso 1558(+} FunchalDomingos Afonso 1552-1607 FunchalFrancisco Afonso 1526-1591 (+) FunchalGonçalo Afonso 1509-1553 FunchalJoão Afonso Correia 1419-1490 FunchalJoão Afonso do Estreito 1494-1558 Calheta-FunchalManuel Afonso 1491-1571 FunchalMateus Afonso 1517 Ribeira Brava(1)Nuno Afonso 1524-1544 FunchalPedro Afonso 1530-1569 FunchalPedro Afonso 1566 P. Delgada-S. Miguel FunchalPedro Afonso 1563-1583 Ponte Lima FunchalRodrigo Afonso 1483-1517 FunchalSebastião Afonso 1580-1599 FunchalTomé Afonso 1522 FunchalTristão Afonso 1517-1539 FunchalVicente Afonso 1569-1591 FunchalJoão de Agusta 1508-1510 Alemanha Ribeira BravaGonçalo Aires 1494-1513 FunchalGonçalo Aires 1483-1494 Porto FunchalPedro Lopes Albuquerque 1569 FunchalAnrique Alfardin 1595-1606 Flandres FunchalJoão Agno 1558 FunchalAfonso Almeida 1595 FunchalAfonso Álvares 1509-1544 FunchalAntónio Álvares 1588-1596 FunchalAntónio Álvares Pupa 1556-1599(+) FunchalBelchior Álvares 1599 FunchalCristóvão Álvares 1521·1547 Santa CruzDiogo Álvares 1509-1565(+ ) FunchalDiogo. Álvares, o moço 1563-1582 FunchalFernão Álvares 1482-1544(+) FunchalFernão Álvares 1555-1566 Olivença FunchalFernão Álvares 1570-1594 FunchalFrancisco Álvares 1494-1526(+} Ribeira Brava FunchalFrancisco Álvares 1530-1553 FunchalGaspar ÁI,vares de Pupa 1560 Guimarães FunchalGonçalo Alvares 1509-1558 Guimarães FunchalGregório Álvares 1519·1530 Ponte Lima FunchalJoão Álvares 1489-1560 Funchal

Lourenço Álvares 1555(+} Graciosa FunchalLuís Álvares 1517 Flandres Ribeira BravaLuís Álvares 1591 Santa CruzMateus Álvares 1593-1596 FunchalNuno Álvares 1500-1537 FunchalPedro Álvares de Tramo 1470-1531 Lagos Funchal

Pedro ÁI~llres d 'Almada 1511-1590 FunchalRodrigo Alvares 1494-1552 FunchalSalvador Álvares 1554-1594 Funchal5 imiio Álvares 1570-1596 FunchalTomé Álvares 1564 FunchalDomingos Alves 1552(+} porto FunchalGaspar Amado 1596-1597 FunchalBenoco Amatori 1503-1517(+} Florença Santa CruzDiogo de Amorim 1561 FunchalManuel Andrade 1597 FunchalBaltasar André 1551 FunchalJoão André 1517-1524 FunchalJorge Andrefiz 1509-1513 Alemanha CalhetaAnequim 1513 Génova CalhetaAfonso Anes 1494-1564 Funchal

Álvaro Anes 1494-1537 Vianês FunchalAntónio Anes 1494-1538(+) FunchalAntónio Anes, o Pupa 1523-1559 FunchalBrás Anes 1508 FunchalFernão Anes 1481-1545 Funchal

Observações

Filho de SimãoAlmoxarlfe, Rua DireitaFilho de SimãoFixa-se no Brasil antes 1567Fixa-se no Brasil antes 1567Esl.Com feitores na ilha

Rua Direita

Poço NovoRua Sabão e Rua DireitaRua 'das Pretas

Vereador

Homem Bom

Rua Miguel LopoEsl.V."V,o, Hom-em Bom, proprietário

Cristão NovoProcurador e agenteV,o I sapateiroV,o, escrivâo

Rua João EsmeraldoAlmoxarife de Machi-coV, o. Ribeirinho

Escrivão quintos CP. Sol)Rua Mercadores, rendeiro do vinho

Proprietário. escrivão -e recebedorCristão Novov»Contador e provedor Fazenda

v»V, o, Porteiro de AlfândegaRendeiro direitos do açúcarHomem Bom, alcaide do mar (Machico)

ProprietárioEst.

V.G, Cristão Novo

Rua Direita, Homem Bom, VereadorRua Ferreiros, proprietário, Homem

Bom, Juiz da Câmara

Homem Bom, proprietárioV.O

Arrendatário, procurador

Carreira' dos cavalos, Homem Bom,escrivão. proprietário

ProprietárioHomem Bom

Homem Bom, proprietário

165

Mercador Data Proveniência Morada Observações

Francisco Anes 11523-1527(+) FunchalFrancisco Anes 1580 FunchalGaspar Anes 1530-1565 FunchalGonçalo Anes 1494-1576(+) Funchal ProprietárioJoão Anes 1494-1579 Funchal Homem Bom, Rua DireitaJo-ão Afies 1573 Flandres FunchalJoane Anes -1544(+) Funchal Rua St." Maria. proprietárioJoão Anes 1560 Terceiro Funchal Esl.Lopo Anes 1518-1523 Funchal Esl.Pedro Anes 1494-1552( +) Funchal ProprietárioPedro Anes 1553 Graciosa Funchal EsT.Pedro Anes 1558-1571(+) Ponte de Lima FunchalPedro Afies 1558- Vila de Canavezes FunchalPedro ADes 1565(+) Barcelos FunchalRodrigo Anes 1490-1554 Funchal ProprietárioMartim Anes Boa Viagem 1470-1486 FunchalPedro Ango 1549 FunchalBartolomeu Anriques 1547-1583(+) Funchal Rua MatosoMestre António 1509 França CalhetaPedro António 1596 FunchalViviam António 1530 Bretanha FunchalAntónio Antunes 1567-1571 FunchalAntónio d'Aragão 1618 em São Salvador-BrasilHenrique de Aragão 1511-1518 Funchal Rua Direita. VereadorInácio Aranha 1599 Porto FunchalAntónio Araújo 1574 FunchalFrancisco Reis Araujo 1591 FunchalGonçalo Reis Araujo 1536-1592 FunchalManuel Afonso Araújo -1613 CalhetaPallus de Araújo 1534 CalhetaRodrigo de Araújo 1556 FunchalArchelem 1530 França FunchalGonçalo Are. 1570 FunchalPedro de Aveiro 1485 FunchalManuel d'Ávila 1591 FunchalAndré de Azevedo 1570 FunchalLançarote d'Azevedo 1560 FunchalLopo d'Azevedo 1519-1527 FunchalJoão Azuardo 1524 PunchalSimão Azuardo 1593-1596 Flandres FunchalPedro de Ayala 1527-1528 Castela Lisboa Procurador João ValdevessoPedro Vaz Baça 1555(+) FunchalMenchude de Balo 1534 CalhetaPero dos Banhos 1509 CalhetaJoão Gonçalves Barros 1583 Ponte Lima FunchalAlouso de Barredo 1517 Ribeira BravaGaspar Lopes de Barros 1590-1591 FunchalGonçalo de Barros 1573-1597 FunchalGonçalo Barroco 1511-1576 FunchalGravill Barros 1524 Funchal ProcuradorManuel Gomes Barros 1581-1582 FunchalJoão Basco 1557 FunchalMartim de Bellocus 1530 França FunchalJoão Beberage 1595-1596 Alemanha FunchalGarcês Beberage 1596 Alemanha FunchalDiogo Nunes Belmonte 1599 FunchalJoão Bello 1490 FunchalZelym Benoquo 1505 Flandres. Funchal Esl.Manuel Anrique Bernaldes 1593 Flandres. FunchalMarim. Berre 1530-1566 FunchalDuarte Betancor 1599 FunchalSimão (7) Berancor 1596 FunchalJanirn Bicudo 1505-1529 FunchalJorge Lopes Bixorda 1524-1532 FunchalAmbrosio Bocarra 1572 FunchalJorge Bocarra 1531-1539 FunchalManuel Bocarro 1530-1590 FunchalCristóvão Bocolho 1508-1510 Cremonês Fuochal ProcuradorAntónio Boffy 1520 Maiorca FunchalEstevão Boguo 1509 Cremonês Funchal Est.Leonardo Bondinar 1509-1517 CalhelJlPedro Borges 1599 FunchalPedro Botelho 1472-1492 Funchal Juiz de AlfandegaAntónio Boro 1527 Funchal Criado de João OdomJoão- Bragança 1570-1580(+ ) FunchalGuilherme Branco 1574-1576 França FunchalArim Branco 1530 França FunchalFrancisco Brás 1576 Portugal Funchal E,1.João Brás 1564 FunchalVicente Brás 151l Funchal Rua DireitaBernaldo Biresten 1594-1596 Flandres FunchalAntônio de Brito 1530-1560 FunchalBano Broncone 1502-1508 Cremcnês Funchal ProcuradorFrancisca Broncone 1512 Cremcnês Funchal E,1.Guilherme de Brurn 1517 Flandres Ribeira BravaEstevão de Bueca 1509 CalhetaÁlvaro Coção 1524-1584 FunchalVicente Caçiio 1561 FunchalPedro Caires 1508-1564 Funchal Homem Bom

166

Mercador Data Pruvenlêncta Morada Observações

Aleixo de Caldeira 1573·1582(+) FunchalEstevão Caldeira 1599·1563 Coimbra FunchalJoão Gonçalves Caldeira 1504·1517 Funchal Rua DireitaJoão Calvino 1509 CalheiaFrancisco Calvo 1471·1509 Génova FunchalGermão Calvo 1573 Génova Funchal Esr.. Procurador de CapellaniJosé Camacho 1596 FunchalPedro Camacho 1571-1589 FunchalCalisto Camelo 1573·1592(+) Guimarães Funchal Rua Poço NovoCosmo Camelo 1598·1611 FunchalFrancisco Camelo 1528·1534 FunchalGonçalo Cosmo 1529 FunchalCapella de Capellani 1509·1530 FunchalJoão Caos 1580-1637 França Funchal Ru. Direita e TanoeirosAntónio Careçam 1517 Ribeira Brava Esc.Anrén!o Caradas 1509-1526 França Calhela' P. Sol. EstPedro Carneiro 1537 Ponta Sol EstJoão Carvalho 1511-1517 Ribeira Brava ESLManuel Carvalho 1517·1596 FunchalMateus Caos 1592·1594 França FunchalCristóvão de Cardenes 1543·1545(+) Funchal V."Fraucisco Cardoso 1564 FunchalJoão Cardoso 1562 S. Jorge (Açores) Funchal Es1.Gaspar Carneiro 1547·1552(+) Porto Funchal Est.Pedro Carneiro 1537-1564 FunchalFrancisco Caro 1554-1598(+ ) Salamanca Funchal Rua MercadoresLuís Caro 1552 FunchalJorge Cums 1591-1596(+) Flandres FunchalFrancisco Carreira 1555 FunchalJoão de Castilho 1509 CalhetaFernão de Castro 1597 FunchalDiogo Carvalho 1565 Guimarães Funchal Est.Mnrtim Carvalho 1591 Madeiro Bala-BrasilPedro Gonçalves Carvalho 1590·1594 FunchalDiogo Fernandes Castanheira 1581-1600 Torres Novas FunchalJoão de Castel 1589 FunchalPedro Lopes de Castela 1591-1593 FunchalBnís de Castro 1571-1592 FunchalFrancisco de Castro 1557·1590 FunchalLourenço Castanho 1500 Génova FunchalQuírio Castanho 1500·1504 Génova Funchal Rendeiro AlfândegaRafael Castanho 1500-1537 Génova Santa Cruz Proprietário, rendeiro miunçasFrancisco Fernandes de Cea 1591 Funchal Rua Mercadores. C. NovoSebastião Centurião 1554 Génova FunchalFrancisco de Cerveira 1551 FunchalLucas César FunchalJoão Antônio Cesare 1480 Génova FunchalRodrigo Chanceler 1564 FunchalCristóvão Chaves 1566 FunchalLourenço Classe 1592-1594 Flandres FunchalDiogo Codcssa 1571-1583 FunchalJoão Cogüo 158g FunchalCristóvão Colombo 1478 Itália FunchalNiculuu Corurlm 150g Calhem Est.João Coplans 15g4-1596(+) Bruges FunchalJoão Coquei 1513-1517 França Calhela-Ribeira Brava Est.Estevão Cordovil 1596 FunchalHenrique Cornualha 1530 Inglaterra Machico ESI.António Correa 1509·1577 Funchal V, o. ContadorCharles Correu 1509·1530 França Funchal Esc. V.o LisboaFrancisco Correu 1568·1607 S. Miguel (Açores) Funchal Esl.Gonçalo Correu 1575·1579(+) FunchalJoão Correu 1507·1567 Funchal Homem Bom, Vereador. TesoureiroSimão Correu 1563 Viana FunchalDamião Cosme 1565 FunchalAgostlnho da Costa 1599 FunchalAlvaro da Costa 1552·159g Funchal VereadorGaspar da Cosia 1509·1582 FunchalJoão da Cosia 159gLançarote du Costa 1559 FunchalLuis Fernandes Coutinho 1580 FunchalAntónio Coyros 1509 Fmnça CalhCla Esr.Lourenço de Cras 1592 Flandres FunchalFrancisco da Cruz 1599 França FunchalDaniel 1530 França FunchalFrancisco Dans L482·1524 Flandres FunchalFadrique Duns 1596-1597 Flandres FunchalRodrigo Dans 1595 Flandres FunchalVilSCO Delgado 1592 FunchalAfonso Di•• 1483-1542 Porto Funchal E,1.Álvaro Dias 1494·1530 Funchal Rua Direita, Homem Bom, proprietá-

rio. recebedorAntónio Dias 1542-1600 Flnndres Funchal Recebedor do QuintoBaltasar Dias 1536 Ribeira Brava ESI.Busüum Dias 1511-1574 FunchalBrás Dias 1565 FunchalCristóvão Dias 1502·1547(+) FunchalDiogo Dias 1483·1554 Porto Funchal Porteiro Alfandega

167

Mercador Data Provenjêncla Morada Observações

Diogo Dias 1572-1584 Santa Cruz VOFrancisco Dias 1511-1551(+) FunchalFrancisco Dias 1564-1623 Funchal Rua DireitaGaspar Dias 1509-1552 FunchalGiraldo Dias 1564-1566 Guimarães FunchalGonçalo Dias 1494-1574 Calheta-FunchalHorto Dias. 1592 FunchalJácome Dias 1524 FunchalJoão Dias, o Branco 1494-1553(+) Viana Funchal Rua Direita, ProprietárioJoão Dias 1511-1591 Flandres Funchal v»Jorge Dias 1509-1511 Funchal Rua Direita, Homem do alm.

de AlfandegaLopo Dias 1515-1546 Funchal JudeuLucas Dias 1568 FunchalManuel Dias 1541-1558(+) Funchal R. BaluarteManuel Dias 1558-1574 FunchalPedro Dias 1494-1597 Braga FunchalPedro Dias 1509 Galiza Calheta Esl.Rodrigo Dias 1539 FunchalRodrigues Dias 1556-1590 FunchalRui Dias 1510-1584 Funchal R. Diogo de MedeirosSalvador Dias 1583 FunchalSimão Dias 1552 FunchalVasco Dias 1510 FunchalVicente Dias 1554 FunchalNicolau Dizee 1513 França Calheta Esl.Afonso Dinis 1483-1536 Porto FunchalAntónio Dinis 1517 Ribeira Brava Est.Bastiam Dinis 1541 "Ilhas de Baixo..Cristóvão Dinis 1547(+) FunchalDiogo Dinis 1483-1578 Porto Funchal Est.Fernão Dinis 1517 Ribeira Brava Esl.Francisco Dinis 1517-1542 FunchalGaspar Dinis 1550 FunchalGonçalo Dinis 1524-1550 FunchalJoão Dinis 1517-1572 Funchal R. do PeixeLopo Dinis 1517 Ribeira Brava EscRui Dinis 1552 FunchalNicolau Dizee 1513 França Calheta Est.Diogo Dinis 1552-1557 FunchalGonçalo Domingos 1552 FunchalLopo Domingos 1551-1559 Lamego FunchalManuel Domingos 1550 FunchalPedro Domingos 1565 FunchalBastião Domingos 1553 FunchalJoão DoIera 1509 Calheta Est.António Doria 1480 Gênova FunchalGiovanni Dori{ 1480 Génova FunchalLuis Dona 1480-1530 Génova Funchal Rendeiro miunçus, proprietárioBartolomeu Duarte 1559 FunchalJerónimo Duarte 1566 Lisboa Funchal Est.Manuel Duarte 1558 FunchalPedro Duram 1517 França- Ribeira Brava Est.Mai Duque 1545 FunchalGonçalo Duravia 1590 FunchalDomingo Eanes 1589 FunchalLuis Eanes 1470-1494 Funchal Vereador, proprietárioLuis Eanes 1585 FunchalZendo Eanes 1485 FunchalJorge Endorfor 1507-1508 Alemanha Funchal Esl.João Guilherme Emersen 1597 FunchalJoan Escelhe 1583(+) Flandres FunchalGuilherme Escorces 1599 Inglaterra FunchalAleixos Escorc:io 1573 FunchalCristóvão Esmeralda 1482-1555 Picardia Funchal Contador e Juiz das AlfandegasJoão Esmeralda, o Velho 1473-1533 (+) Picardia Funchal Homem Bom, proprietárioJoão Esmeralda, o Filho -1537 Picardia FunchalÁlvaro Esteves 1469-1590(7) Funchal Homem Bom, VereadorFrancisco Esteves 1524-1590(+) FunchalPedro Esteves 1498-1509 FunchalRichard EstoquedalI 1513 Inglaterra Calheta Est.João de Estrincam 1582-1594 Inglaterra FunchalGaspar d'Évora 1550 FunchalBach-João d'Évora 1509-1566 FunchalAntónio Gonçalves Fafe 1582 FunchalGaspar Fernandes Fafe 1570(+) Guimarães FunchalAlvaro Fernandes Fagundes 1557 Viana Funchal Esl.Jorge Fancide 1592 Escócia FunchalJoão Faria 1589-1625 FunchalÁlvaro Fernandes 1494-1520(+) Ponte Lima Funchal Proprietário, almoxarifeÁlvaro Fernandes 1531 1596 Chaves FunchalÁlvaro Fernandes 1576-1577(+) Terceira (Açores) Funchal Esl.André Fernandes 1509-1569 Funchal Escrivão Quintos (Calheta)António Fernandes 1509-1599 FunchalArtur Fernandes 1539 FunchalBaltasar Fernandes 1509-1593 Lisboa FunchalBento Fernandes 1553-1564 FunchalBrãs Fernandes 1526-1551(+) Funchal

168

Mercador Data Prnveniêncía Morada Observações

Brás Fernandes -1546(+) Lisboa Funchal Est.Brás Fernandes -1553(+ ) FunchalBrás Fernandes (Serveíra) 1559-1586 FunchalCristóvão Fernandes 1510-1526 Castela FunchalCristóvão Fernandes 1565 TaviraFunchalDiogo Fernandes. 1494-1550 Funchal Proprietário, feiror alfândega escrivão

Diogo Fernandesdos quinros

1540-1578 S. Miguel (Açores) FunchalDiogo Fernandes 1552-1566 FunchalDiogo Fernandes (filho) 1559-1595 Funchal R. João TaveiraDomingos Fernandes 1523-1579 FunchalDomingos Fernandes -1583 FunchalDuarte Fernandes 1513-1519 Ponte Lima Funchal RendeiroFrancisco Fernandes 1505- Porto Funchal Est.Francisco Fernandes 1509-1552(+) Guimarães FunchalFrancisco Fernandes 1557-1559 Guimarães Funchal Est.Francisco Fernandes 1562-1593 Ponte Lima FunchalFrancisco Fernandes 1592-1593 Algarve Funchal Esl.Francisco Fernandes 1561-1623 S. Miguel (Açores) FunchalGaspar Fernandes 1509-1594(+} Funchal Cristão NovoGaspar Fernandes -1597 FunchalGil Fernandes 1482- FunchalGonçalo Fernandes 1509-1584 Funchal ProprietárioGonçalo Fernandes 1584-1640 Ponte Lima FunchalGraviel Fernandes 1552-1556 FunchalGuilherme Fernandes 1571-1593 Flandres FunchalJerónimo Fernandes 1510-1599 FunchalJoão Fernandes do Arco 1400-1598 Funchal Homem Bom, Juiz, proprietárioJorge Fernandes 1509-1550 Viana Funchal Recebedor do almoxarifedo. arrendatárioLopo Fernandes 1537-1565 Ponta do Sol Est.Luís Fernandes 1509-1595(+) Algarve FunchalLuís Fernandes -1597 FunchalManuel Fernandes 1537-1620 FunchalMarcos Fernandes 1593-1595 FunchalMiguel Fernandes 1537 1571 FunchalNuno Fernandes 1482-1555 FunchalPaulo Fernandes 1582- Funchal.Pedro Fernandes 1494-1537 Ponta Sol Homem do almoxarifado, proprietárioPedro Fernandes 1549-1555(+) Vila Real FunchalPedro Fernandes 1555-1566 FunchalRodrigo Fernandes 1571 Lisboa Funchal v»Roque Fernandes 1592(+) FunchalRui Fernandes 1524-1552 Funchal Homem BomSalvador Fernandes 1577-1582 Terceira Funchal EsI.Bustiarn Fernandes 1509·1524 FunchalBastiam Fernandes 1555-1598 Sta Cruz/FunchalSimão Fernandes 1526-1544(+) FunchalSimão Fernandes 1552-1564 FunchalVasco Fernandes 1494-1541 Funchal Tabelião, Homem Bom. recebedor.

proprietárioVicente Fernandes 1557-1617 Funchal R. João Gago, proprietârioBartolomeu Ferreira 1582 FunchalBrás de Ferreira 1560 FunchalCosta Ferreira 1560 FunchalJoão Ferreira 1517-1548 FunchalGomes Ferreira 1541-1545 FunchalLuís Ferreira 1597 FunchalPedro Ferreira 1596-1625 FunchalPedro Freire 1593 FunchalAfonso Fidalgo 1539-1553(+) Funchal R. MercadoresAfonso Fidalgo 1588-1591 FunchalAntônio Mendes Fidalgo 1567-1582 FunchalRodrigo Fidalgo 1553·1569 FunchalBento Figueira 1590 FunchalManuel Filipe 1564-1576 FunchalJoão de Florença 1454-1521 Florença Funchal Homem Bom, proprietárioBartolomeu Florentino 1498 FunchalAndré Foquet 1530 Fl1U1ça FunchalAlvaro França 1517 França Ribeira Brava . Est.Pedro de Fl1U1ça 1517 França Ribeira Brava Est.Fernando Francisco 1585(+) FunchalAndré Franco -1573 Funchal BrasilAmbrôsio de Freitas 1588 FunchalAntónio de Freitas 1526 Ponta de Sol Esl.Fernão de Freitas 1554 FunchalJoão Freitas 1510-1530 Santa Cruz Proprietário, recebedorJoão Frol 1509 Inglaterra Calheta Esl.Pedro Gante 1509 Flandres Calheta Est.Gonçalo Garcia 1496 FunchalJoão Garcia 1542H576(+) FunchalJoão Garcia 1580-1594 FunchalPedro Garcia 1592 FunchalAntónio Garses 1589 FunchalLuís Gastão 1555 FunchalDiogo Gavião 1562 FunchalGaspar Gentil 1524 Santa Cruz Esl.João Batista Gentil 1517 Ribeira Brava Est.Gonçalo Gentil 1511-1592(+) Funchal

16922

Mercador Data Proveniência Morada Observações

Lugnote Gentil 1524 Santa CruzPallus Gil 1534-1536 Calheta-R. II Brava E>t.Vicente Gil 1471-1474 FunchalJoão de Góis 1526-15R9 FunchalAndré Golias 1559-1562 FunchalGarcia Golias 1562 FunchalÁlvaro Gomes 1517·1556 FunchalAntónio Gomes 1537 FunchalBartolomeu Gomes 1553 Graciosa Funchal EsLCastilho Gomes 1596 FunchalDiogo Gomes 1556 FunchalFernão Gomes da Mina 1477-1494 Funchal ProprietárioFructuoso Gomes 1596-1597 FunchalGaspar Gomes 1596 FunchalGonçalo Gomes 1517-1555 CarriçoGregório Gomes 1554-1555 FunchalJoão Gomes 1472-1501 Funchal Homem Bom, proprietárioManuel Gomes 1548 FunchalMateus Gomes 1596 FunchalPedro Gomes 1494-1592( +) Funchal Homem Bom, proprietárioPedro Gomes 1596-1620 FunchalSimão Gomes 1564-1596 Santa CruzAntónio Gonçalo 1561 FunchalJoão Fernandes Gondim 15R7-1596 FunchalGaspar Fernandes Gondim 1596 Funchal~fonso Gonçalves 1488-1568 Funchal Homem Bom. proprietárioAlvaro Gonçalves 1509-1556 FunchalAmador Gonçalves 1546·1592 FunchalAndré Gonçalves 1494-1595 Funchal R. Poço Novo, proprietárioAntonio Gonçalves 1497-1597 Funchal Homem Bom, R. Santa MariaBaltasar Fernandes 1489-1596 Funchal Homem Bom, Vereador, Homem do

almoxarifado. proprietárioBartolomeu Gonçalves 1554-1580 FunchalBelchior Gonçalves 1502·1595 Funchal Homem BomBrás Gonçalves 1544 FunchalCosme Gonçalves 1560 FunchalCristóvão Gonçalves 1552-1554 FunchalCustódio Gonçalves 1527(+) FunchalCustódio Gonçalves 1584-1618 FunchalDiogo Gonçalves 1517-1567(+) Funchal R. Direita, recebedorDomingos Gonçalves 1595 FunchalEstevão Gonçalves 1530-1553 FunchalFernão Gonçalves 1509·1586 Funchal R. do CatojoFrancisco Gonçalves 1517-1637 Guimarães Funchal Esc, Homem do almoxarifadoFrancisco Gonçalves 1556-1637 S. Julião de Barra FunchalFructuoso Gonçalves 1561-1595 FunchalGaspar Gonçalves 1494-1555 Funchal Proprietário. Homem BomGaspar Gonçalves 1558-1620 Ponte Lima FunchalGasparGonçalves 1579 Vila do Conde Funchal ESI.Gonçalo Gonçalves 1509-1551(+) FunchalGonçalo Gonçalves 1552-1606 FunchalGravill Gonçalves 1517-1579 FunchalJácome Gonçalves 1553-1562 FunchalJoane Gonçalves 1509-1569 FunchalJoão Gonçalves 1494-1551 Funchal Proprietário, escrivão dos quintos,

contador, rendeiroJoão Gonçalves 1552-1611 Gouveia FunchalJoão Gonçalves 1565-1611 Guimarães FunchalJorge Gonçalves 1509'1586 Funchal ProprietárioLuís Gonçalves 1571-1611 Vila Real FunchalManuel Gonçalves 1517-1550(+1 Funchal R. MercadoresManuel Gonçalves 1554-1570 Guimarães Funchal C. NovoManuel Gonçalves 1584-1628 Algarve FunchalMartim Gonçalves 1509-1608 Funchal R. DireitaPedro Gonçalves 1482-1531 Funchal Proprietário, Homem Bom, rendeiroPedro Gonçalves 1580-1611 Funchal R. Carreira, escrivão dos quintosPedro Gonçalves 1580-1611 Funchal S. Bartolomeu PereiraRui Gonçalves 1472-1544 Funchal Vereador, escrivãoquartos, proprietárioSebastião Gonçalves 1513·1533 Funchal Rendeiro miunças, Homemdo almoxa-

rifado, feitorSebastião Gonçalves 1539·1557 Sinfões FunchalSimão Gonçalves 1496-1597 Funchal ProprietárioTomé Gonçalves 1494-1551 Funchal ProprietárioVicente Gonçalves 1494-1581 (+) Funchal ProprietárioGaspar Fernandes Gondim 1596 FunchalGOnçalo Fernandes Gondim 1596 FunchalJoão Fernandes Gondim 1587-1596 FunchalJoão GOle 1509 Inglaterra Calheta Est.António Gouveia 1524-1577 Santa CruzBento arall 1597 FunchalJoão Granja 1553 FunchalGregório 1509 Alemanha Calheta E!it.Cario Grillo 1512 FunchalLucano Grillo 1506 Génova FunchalFrancisco Guerreiro 1536-1557 FunchalGuilherme 1509-1530 França FunchalJoão Guilherme 1597 FunchalDiogo de Hanaa 1509 Flandres Calheta Esl.

170

Mercador Data Provenlêncta Morada Observações

Hans 1512 Alemanha FunchalHenrique 1530 França MachicoJácome Holzbock 1508 Alemanha Funchal Procurador de Lucas PernBelchior Imperial 1512-1534 Genovês Calhela Esl.João Jácome 1488-1556 Funchal R. Poço, Jufz. Proprietário, Homem

BomManuel Jácome 1575-1590 FunchalDiogo Jacques 1589 Flandres Funchal R. EsmeraldaRafael Jacques 1591-1595 Inglaterra CaniçoManuel Vieira Jardim 1597 FunchalPity Joan 1509 França Calhcla Est.Franciscu Jodão 1594-1611 FunchalÁlvaro Jorge 1574 FunchalAntónio Jorge 1597 FunchalFrancisco Jorge 1571-1573 FunchalManuel Jorge 1539-1573 FunchalMartim Jorge 1574 FunchalPedro Jorge 1512-1596 FunchalPedro Justinham 1509 Calheta Esl.Nicolosso lustinhom 1512-1513 Génova Calhela Esl.Simão Juslinhom 1513 Génova Calhela Esl.Feducho de Lamarote 1504-1517 Florença Funchal RendeiroPedro de Lamnrote 1520-1523 Florença FunchalJoão de Lanoy 1594 Flandres FunchalFrancisco Lupe 1524 Florença FunchalJerónimo Larqua 1517 Génova Ribeira Brava Est.Antônio da Costa Lavado 1595 FunchalJoão Ledo 1509-1526 Funchal ProprietárioJoão Legreyn 1585-1586 Flandres Funchal Feitor de Otovoguel , AlemãoAntónio Leonardo 1508-1510 Flandres Funchal FeitorFernandes Leone 1470 Funchal PropríetârioGuilherme Leinarte 1584-1594(+) Flandres FunchalMicer Liam 1472 Funchal FeitorCristóvão Liam 1554-1566 FaialGuilherme de Liam 1511 Funchal R. DireitaEstevão de Lião 1573 FunchalFrancisco Lido 1509-1513 França Calheta Esl.Martim Leme 1480-1483 Flandres FunchalFrancisco de Lima 1553-1626 FunchalSebastião de Lima 1575 FunchnlFernão Lopes Lobo 1581 FunchalJoão Afonso de Lomba 1546-1548 FunchalJoão Lombarda 1500-1526 Itália Ponta Sol Proprietário, rendeiroAnchino Lomelino 1513 Génova FunchalBaptista Lomelino 1470-1483 Génova Santa CruzFrancisco Lomelino 1566 Génova FunchalJoão Batista Lomelino 1476-1513 Génova FunchalLeonardo Lomelino 1496 Génova FunchalMarco Lomelino 1512 Génova FunchalSisto Lomelino 1496 Génova FunchalUrbano Lomelino 1476-1518(+) Santa CruzUrbano Lomelino 1582 Santa Cruz ProprietárioAfonso Lopes 1591 Funchal~ lvaro Lopes 1509·1551(+) Covilhã FunchalAIV~trO Lopes 1553-1597 FunchalAnriquc Lopes 1550 Funchal Escrivão de ahnotaçaria e alcaldariaAntónio Lopes 1524-1597 Vila Real!?) FunchalBaltasar Lopes 1517-1562 FunchalBastião Lopes 1552-1626 FunchalBelchior Lopes 1597 FunchalCristóvão Lopes 1526-1566(+) Funchal R. João TaviraDamião Lopes 1564 FunchalDiogo Lopes 1494-1522(+) Funchal Proprietário, porteiroDiogo Lopes 1533-1554(+) Castelhano FunchalDiogo Lopes 1558-1595 Chaves Funchal R. da PonteDomingos Lopes 1571 FunchalDuarte Lopes 1565 Tavira Funchal Esl.Estevão Lopes 1553 FunchalFernão Lopes 1494-1596 Funchal Homem Bom, proprietárioFernão Lopes 1509 Vila Real Funchal Est.Francisco Lopes 1523-1591 FunchalGaspar Lopes Homem 1560-1592 Ponte Lima Cristão NovoGil Lopes 1551-1552 FunchalGomes Lopes 1551(+) Covilhã Funchal Es!.Gonçalo Lopes 1509-1596 Ponte Lima FunchalGravil Lopes 1517-1524 FunchalJoão Lopes 1494-1551 Castela Funchal R. Direita, proprietário, Homem BomJoão Lopes 1556-1581 Vila Rcal FunchalLuís Lopes 1544.1552 FunchalLuís Lopes 1552-1581 FunchalManuel Lopes 1549·1609 FunchalMarcos Lopes 1479-1526 (+) Funchal Escrivão contos, proprietárioMateus Lopes 1560 FunchalMiguel Lopes 1539-1553 FunchalPedro Lopes 1482-1546( +) R. N.a Sr." Calhau, escrivão, alfândegaPedro Lopes 1524-1592 Castela Santa Cruz E,1.Rui Lopes 1544-1546 FunchalSimão Lopes 1494-1524 Funchal Proprietário

171

Mercador Data Proveniência Morada Observações

-------

Simão Lopes 1589 S. Miguel Funchal Est.Tomás Lopes 1559-1571 Machico Funchal R. se' MariaTomé Lopes 1566-1569 FunchalFrancisco Loureiro 1554 FunchalFernão Lourenço 1526-1568(+) FunchalFrancisco Lourenço 1530 FunchalGomes Lourenço 151I Funchal R. Direita, VereadorJoão Lourenço 1486-1558 Funchal Homem Bom, proprietárioPedre Lourenço 1461-1513 Funchal Homem BomAlvaro de luco 1517 Ribeira Brava E,1.Âlvaro Luis 1486-1536 FunchalAnríque Luís 1538 Faial (Açores) FunchalAntónio Luís 1534-1541 FunchalCustódio Luis 1561-1579 FunchalDiogo Luís 1517-1590 Funchal Juiz de alfândegaFernam Luís 1469 FunchalFrancisco Luis 1563-1575 FunchalJoão Luís 1485-1553 Funchal R. Direita, Homem Bom, Vereador,

proprietário, estimadorPedro Luís 1482-1583 FunchalDiogo de Lymosora 1541 FunchalSimão de Liscano 1557 FunchalDiogo Rabello Machado 1595 FunchalFrancisco Machado 1565-1583(+) Guimarães FunchalPaulo Machado 1597 FunchalFernão Magalhães 1583 FunchalFrancisco Reis Magalhães 1596 FunchalGastão dc Magalhães 1535 FunchalPedro Marim Magalhães 1590 FunchalJoão Gonçalves Melacarne Séc. XVI Flandres FunchalDomingos de Maia 1597 FunchalMaxirnilano Mais 1593 Flandres FunchalAntônio Dias Malheiro 1531 FunchalMatias Manardi 1517-1520 Funchal Provedor e feitor J.F. AffaitatiGaspar Manuel 1597 FunchalCosmo Maguel 1596 FunchalDiogo de Marchena 1523-1581(+) Lisboa FunchalGonçalo de Marchena 1534-1536 Calheta-R. a Brava Esl.Bartolomeu Marchioni 1498-1508 Florença FunchalPedro Gonçalves Marino 1588-1595 FunchalJoão Baptista de Marim 1535 Génova Santa Cruz Est.Tobias de Marim 1535 Génova FunchalPedro de Mame 1524-1530 Romano FunchalMartim Manei 1589 FunchalMartim Francês 1530 França FunchalMartinho 1509 Flandres Calheta Est.Afonso martins 1509-1554 FunchalÁIvaro Martins 1494-1596 Funchal ProprietárioAntõnlo Martins 1536-1570 FunchalBastião Marfins 1558 FunchalDiogo Martins 1494-1574 Funchal Vendedor açúcar, proprietárioFernão Martins 1472-1563 FunchalFrancisco Martins 1509-1596 FunchalGaspar Martins 1550-1552 FunchalGomes Martins 1489·1494 Funchal Homem Bom, proprietárioJoão Martins 1485-1538(+) Funchal Proprietário, escrivãoJoão Martins 1509 Castela Calheta E,1.João Martins -1539(+) Funchal R. Poço NovoJoão Martins -1575 FunchalJorge Martins 1554.1581(+) FunchalManuel Martins 1550-1542 FunchalPedro Martins 1559-1572 S. Miguel R. João GagoSalvador Martins 1558 FunchalValéria Máximo 1524 FunchalBemardim de Medina 1530 Bengalia FunchalDiogo de Medina 1523 FunchalFrancisco de Medina 1591 Funchal Ponte do CidrãoÁlvaro Meireles 1530-1534 FunchalJorge de Meireles 1530 Funchallama de Melgar 1509·1513 Calheta Est.António Mendes 1511-1582(+) Funchal R. MercadoresAntónio Mendes t576-1594(+) Lisboa Funchal ProprietárioBastião Mendes 1560 FunchalCristóvão Mendes 1566-1571 FunchalDiogo Mendes Parede 1580-1594 Sevilha Funchal Est.Estevão Mendes 1552-1580(+) Funchal R. Poço NovoFernão Mendes 1536-1560 FunchalFrancisco Mendes 1539-1560 Funchal R. DireitaGaspar Mendes 1552 FunchalGonçalo Mendes 1560- FunchalJoão Mendes 1494-1576 Funchal Homem Bom. proprietário, recebedor,

almcxarifelorge Mendes 1538-1562( +) FunchalLuís Mendes 1494-1568( +) Funchal Homem Bom, Poço NovoManuel Mendes 1536-1546 FunchalRui Mendes Tacon 1486-1530 Funchal Homem Bom, proprietárioLuís de Mercado 1593 FunchalPedro de Meza 1596 Funchal

172

Mercador Data Proventêncía Monda Observações

Fernão ele Mezais ('?) 1597 FunchalMiguel 1524-1530 França FunchalJoão Mínyxam 1509 França Calheta Esl.Aymad Mirec 1592(+) França FunchalAntónio Moniz 1536-1597 FunchalGaspar Moniz 1540-1564(+1 Funchal R. ConceiçãoSirnâo Moniz 1540-1544 FunchalBelchior da Cosia Monteiro 1591 Cabo Verde Funchal Esl.Bartol-omeu Moreira 1573 FunchalDiogo Moreira 1553-1560Benedito More IIi 1509-1510 Florença Funchal EscAntónio Morim 1567-1569 FunchalDiogo de Morim 1554-1561(+) FunchalDiogo de Morim 1576-1582 FunchalGonçalo de Morim 1531 FunchalPedro de Morim 1530-1591 Ponte de Lima FunchalAntónio de Mota 1546-1558(+) Ponte de Lima Funchal R. NovaFrancisco de Motiloa 1536 Ribeira Brava Est.João Fernandes da Mota 1461-1511 Funchal Homem BomManuel Mot.a 1558 FunchalFrancisco Narde 1509-1563{+) Florença Funchal R. São SebastiãoPedro Gonçalvez Narvais 1589 FunchalAntónio Nyro 14.. -1530 Génc ....a FunchalGabriel de Nyro 1524 Génova FunchalManuel Rodrigues de Nyro 1560-1561(+) Génova Funchal R. MercadoresAntónio Rodrigues Neto 1583-1589 FunchalJoão Neto 1482 FunchalGonçalo Rodrigues Neto 1536 Ribeira Brava Est.Manuel Rodrigues 1561-1577 FunchalPedro Rodrigues (filho) 1550-1577(+) Funchal R. dos NetosNicuJao Flamengo 1537 Flandres Ponla do Sol Est.Niculao Frances 1517-1530 França R.a Brava-Funchal EscPedro Nobet 1509 França Calheta Esl.Diogo de Nogueira 1547 FunchalDiogo de Nojoza 1550 FunchalPedro Vaz Nosa(7) 1583 FunchalBelchior de Vila Nova 1533 FunchalGaspar de Nova 1556 Funchal V."Francisco Navais 1555 Terceira Funchal Esl.Álvaro Nunes 1594-1617(+) Funchal C. NO"/OAntónio Nunes 1509-1569 FunchalBastiarn Nunes 1561 FunchalBartolomeu Nunes 1592-1595 Porto Santo FunchalDiogo Nunes 1494-1556 ProprietárioFernão Nunes de Boa Viagem 1470-1472 FunchalGaspar Nunes 1526·1605 Funchal ProprietárioJoão Nunes 1552-1563(+) Funchal R. AlfandegaJorge Nunes 1517-1565 Viana FunchalManuel Nunes 1591 FunchalNiculao Nunes 1594 Funchal Cristão NovoSimão Nunes 1530·1623 Funchal R. MercadoresPedro Nuno 1552 FunchalIsaque Oberim 1536 Ribeira BravaAndré Ocana 1482 FunchalMarcos de Oliva 1536-1560(+) FunchalLuís Olival 1597 FunchalPereira O) Oliveira 1556 FunchalOliveira Francês 1530 França FunchalFernão Dias Paes -159. Abrantes Funchal No Brasil (fins séc. XVI)Gravill Paes 1553-1564 FunchalLuís Paes 1526-1583 FunchalManuel Paes 1533-1572 FunchalBaltasar Pardo 1539-1577 Burgos FunchalFernão Pardo 1512 Burgos FunchalJoão Pardo 1530-1532 Burgos Funchal ProcuradorFrancisco Pairn 1536-157. Viana CalhetaManuel Rios Pedreira 1595-1596 FunchalAntónio Mendes Peixoto 1576 FunchalPedro Lopes Peixoto 1572·1573 FunchalJuan Pelenquim 1509 FunchalDiogo Gonçalves Penteado 1564 FunchalAntónio Pereira 1530-1586 Braga Funchal C. novo, feitor de alfandega. rendeiroBrás Peru ira 1560 FunchalDiogo Lopes Pereira 1585-1594 Funchal C. Novo, N." Sr.! CalhauDomingos Pereira 1596 FunchalGonçalo Pereira 1517-1556 FunchalSebastião Pereira 1580 FunchalPedro Peres 1552·1559 FunchalRuberte Peres 1595· Escócia FunchalÁlvaro Pimentel 1509-1524 FunchalAfonso Pinto 1530-1547(+) FunchalDiogl) Róis Pinto 1530 FunchalF. Rois Pinto FunchalGaspar Pinto 1571-1577 S. Miguel FunchalLuís Pinto 1560-1580(7) FunchalSimão Pinto 1582·1584 FunchalAfonso Pires 1494-1573(+) Funchal Proprietário, R. FriasÁlvaro Pires 1494-1556 Funchal Proprietário

173

Mercador Data Proveniênda Morada Observações

António Pires 1523-1583 FunchalBaltasar Pires 1518-1590 Lisboa FunchalBelchior Pires 1577 FunchalBrás Pires 1558 FunchalCristóvão Pires 1558-" Guimarães FunchalCristóvão Pires 1560-? Ponte Lima FunchalCristóvão Pires 1564-? Faial (Madeira) FunchalDiogo Pires 1523-1582 FunchalDomingos Pires 1517-1551(+) Guimarães FunchalFrancisco Pires 1536 Ribeira Brava Esl.Gil Mendes Pires 1569 FunchalGiraldo Pires 1536-1551 FunchalGonçalo Pires 1477-1545(+) Ponte Lima Funchal RendeiroGonçalo Pires 1557 FunchalJoão Pires 1454-1508(?) Funchal Homem BomJoão Pires 1512-1593 Vila do Conde FunchalJoão Pires D'Angra 1530 Angra(?) Funchal ESI.Luís Pires 1526-1543 FunchalManuel Pires 1530-1564(+) FunchalMarcos Pires 1545(+) Vila do Conde FunchalMartim Pires 1558 FunchalMateus Pires 1552-1576(+) FunchalMendes Pires 1557 FunchalPedro Pires 1562 FunchalRui Pires 1494-1552 Funchal ProprietárioSebastião Pires 1553-1575(+) Funchal R. das MedinasSimiio Pires 1530-1572 FunchalTristarn Pires 1572 FunchalBaltasar Pila 1558-1574 Caminha FunchalGonçalo Pita 1551- Viana FunchalGonçalo Pita 1551- Ponte Lima FunchalJoam Pontes 1556 CalhetaNiculao Pontes 1590 FunchalFernando de Puga 1582-1589 Flandres FunchalManuel de Puga 1582 Flandres FunchalFrancisco Quaso 1559-1572 FunchalBastião de Quintal 1596 FunchalMarcos do Quintal 1597 FunchalDamião Rangel 1596 FunchalMafeu Recel 1509-1511 Funchal R. DireitaAntónio Rabello 1544Diogo Rabello 1530-1611 FunchalAntónio Gonçalves Ramalho 1581 FunchalLeo Ravenspuger 1509 Alemanha FunchalLucas Rem 1503-1509 Alemanha FunchalJoão Rem 1509 FunchalMartim Regei 1583 FunchalDuarte Ribeira 1559-1562 FunchalMarcos Ribeiro 1561 FunchalPedro Ribeiro 1510-1579 Funchal Almoxarife de AlfândegaJaques Rimão 1599- FunchalPero de Rocha 1536 Ribeira Brava Est,Tristão de Rocha 1560-1569 FunchalJoão Rode 1540 FunchalAfonso Rodrigues 1516-1571 Lisboa Funchal Homem BomAmaro Rodrigues 1596 FunchalAmbrósio Rodrigues 1536-1596 FunchalAntónio Rodrigues 1540- FunchalAntónio Rodrigues 1552 Calheta Funchal Est.António Rodrigues 1559-1606 Tavira FunchalAntônio Rodrigues 1569- S. Miguel FunchalAntônio Rois Trozilho 1596-1597 FunchalAnríque Rodrigues 1521-1546(+) FunchalBartolomeu Rodrigues 1530-1597 Santa Maria FunchalBento Rodrigues 1552-1555(+) Funchal R. MercadoresBento Rodrigues 1597 FunchalCristóvão Rodrigues 1557-1558 FunchalDiogo Rodrigues 1484-1569 Funchal Homem Bom, proprietárioDiogo Rodrigues, O Velho -16 .. Funchal C. NovoDomingos Rodrigues 1540-1599 FunchalDuarte Rodrigues 1509-1594 Funchal Pelourinho. C, NovoEstevão Rodrigues 1488-1545 Funchal Homem BomFernão Rodrigues 1539-1550(+) Funchal RendeiroPernão Rodrigues 1556-1572 Ponte Lima Funchal R. dos TanoeirosFernão Rodrigues 1566-1575 Funchal R. N.' Sr.' do CalhauFilipe Rodrigues 1558-1592 FunchalFrancisco Rodrigues 1509-1561 (+) Funchal R. dos Marmeleiros(?)Prancisco Rodrigues 1571-1637 Flandres FunchalFructuoso Rodrigues 1564-1583 Funchal R, dos PinhasGaspar Rodrigues 1494-1583 Funchal R. ValverdeGaspar Rodrigues 1555-1591 Porto FunchalGaspar Rodrigues 1583- S. Miguel FunchalGonçalo Rodrigues 1509-1562 FunchalGui1hermo Rodrigues 1500(+) Flandres FunchalJaques Rodrigues 1593-1596(+) Flandres FunchalJaques Rodrigues 1597 FunchalJerónimo Rodrigues 1524 Lisboa FunchalJoiio Rodrigues Parada 1485-151 I Funchal Proprietário. Homem Bom

174

Mercador Data Proveniência Morada Observações

João Rodrigues 1509-1511 Pente Lima Calheta Esl.João Rodrigues Castelhano 1495- L535 Génova Calheta V.OJoão Rodrigues 1536 Braga Ribeira Brava: Esl.João Rodrigues 155301577(+) Vlena de Caminha Funchal R. SLa MariaJoão Rodrigues 1591-1623 Flandres FunchalJoão Rodrigues Cauces('!) 1593 Flandres FunchalLopo Rodrigues 1536-1572(+) Funchal R. João TaviraLuís Rodrigues 1550 Guarda Funchal Es.cMeLchior Rodrigues 1577 FunchalManuel Rodrigues 1540-1551 FunchalManuel Rodrigues L551-1562 FunchalManuel Rodrigues 1568- Lagos FunchalManuel Rodrigues 1594 Funchal C. NovoMarcos Rodrigues L594 Funchal.Nuno Rodrigues 1571 FunchalPedro Rodrigues 1494-1553 Funchal Recebedor, almoxarife, escrivão,

Homem BomSebastião Rodrigues 1530-1557 Ponte Lima FunchalSebastião Rodrigues 1555-1583 Pano Santo FunchalSimão Rodrigues L517-1575 Funchal Recebedor quintosSimão Rodrigues Vila Real 1590-L6L I FunchalVasco Rodrigues 1501-1550 FunchalVicente Rodrigues 1550-1563 FunchalPedro Rodrigo L556 FunchalJulyam Romano 1509- Calheta Esl.Vicente Rodrigo 1565 Tavira FunchalFrancisco Roque 1576 FunchalFrancisco de Sá 1558 FunchalFrancisco Salamanca 1567-1569 Burgos FunchalLuís Jacome Salvago 1523 Génova FunchalJoão Batista Salvagu Génova Funchal V.OLucas Sal vago 1502-1520 Génova Funchal V.o, procurador de A. SawagoRodrigo Sanches 1565-1573(+ ) Funchal R. DireitaJoão Saraiva 1499-1526(+ ) Funchal Escrivão alfandegaHans Schmid 1509 hália FunchalJoão Seahante (?) L544 FunchalLuis de Semana 1597 FunchalAndré de Sepulveda 1581-1586 Lisboa Funchal Esl.Amador Sequeira 1534-L561 Guimarães FunchalFrancisco Sequeira 1564 FunchalFrancisco Afonso Sequeira 1580 Louve ., FunchalGregório Sequeira 1586 FunchalPedro de Sequeira 1564 FunchalDinis Semigi Séc. XV Florença Funchal Procurador mercadores judeusJerónimo Sernigi 1498-1508 Ptcrenca FunchalAntónio Sevar 1592-1597 França FunchalManuel Sevarte 1554 França FunchalBartolomeu da Silva L587 FunchalMatias Silva 1563 FunchalBrás Fernandes Silveira 1583 FunchalAntónio Simões 1584 FunchalBaltasar Simões 1592-1617 FunchalJoão Soares 1582 FunchalJorge Soares 1593 Flandres FunchalMartim Soares 1565 FunchalRui Soeiro 1490- FunchalÁlvaro de Sousa 1558-1563Francisco de Sousa 1558-1581 FunchalMartim Sousa 1565-1581 FunchalRodrigo Sousa 1568 FunchalÁlvaro Spínoln 1503 Génova FunchalAntónio Spínoln 1472-1519 Génova FunchalAntónio Spínola 1596 Génova FunchalUazuardo Tarluem(?) 1552 Alemanha FunchalManuel Tavares L571 Guimarães FunchalSimão Tavares 1567 Santa CruzFrancisco Rois Tavira 1576-1626 Funchal C. NovoJoão Rciz Tavira 1568-1626 Funchal C. NovoManuel Tavira 1581 FunchalPedro Tavira 1544 FunchalFrancisco Temprais(?) 1597 FunchalFrancisco de Teves 1569-1591 Guimarães FunchalCustódio Teixeira 1597 FunchalGaspar Teixeira 1564(+) Funchal R. DireitaHenrique Moniz Teles -1591 Madeira Salvador (Brasil)Jorge Thomas 1570-1576 Vila do Conde Funchal Vindo da Ribeira Grande em 1570Jorge Trovão 1511 Funchal R. DireitaFrancisco Tomás 1579 FunchalAntónio Tomé 1596 Aveiro FunchalJoão Tomé 1559 FunchalManuel Tristão 1599 FunchalBaptista Uzadamar (Micer-Baptlsta) 1440- MachicoGravill Vallnez(?) 1574 Bretanha FunchalJoão Valdavesso 1510-1565 Castela FunchalPero Valdavesso 1567-1588(+) Castela FunchalHenrique Vai 1582 FunchalFernão Valenes 1572 (?) FunchalJoão de Vara 1570 Funchal

175

Mercador Data Proveniência Morada Observações

Diogo Vasco 1572 Funchal~ljuar Vaz 1565 Porto FunchalAlvaro Vaz 1485- 1509 FunchalAmónio Vaz 1509-1569 FunchalBartolomeu Vaz 1572 FunchalDiogo Vaz 1494-1556 Funchal ProprietárioEgas Vaz 1511-1512 FunchalFernão Vaz 1517-1567 FunchalFrancisco Vaz 1494-15521+) Funchal Homem do ulmoxarlfado quintosFrancisco Vaz 1570- I597 FunchalGaspar Vaz 1550-1555 FunchalGil Vaz 1482 FunchalGonçalo Vaz 1494-1555 FunchalJácome Vaz 1508-1569 Funchal 1508 eslava na ÍndiaJoão Vaz 1498-155. Funchal Homem Bom, proprietárioJoão Vaz 1551-1574 Canaveses FunchalLourenço Vaz 1497- 1569 Funchal Homem Bom. vereador. recebedor,

quartosLuís Vaz 1510-1540 FunchalManuel Vaz 15I7-1594 FunchalPedro Vaz 1485-15471+) Homem Bom, proprietário. escrivão

contosPedro Vaz 1552-1606 Funchal ESI.Salvador Vaz 1563- FunchalSebastião Vaz 1554 FunchalVicente Vaz 1494-1991 Funchal ProprietárioRodrigo da Veiga 1594(1) Madeira Lisboa C. NovoGonçalo Veloso 1574 FunchalRoberto Velovit 1580-1653(+) Inglaterra FunchalJoão Verrnim 1570 Holanda FunchalAntónio Vicente 1562-1570 FunchalDiogo Vicente 1561- FunchalFernão Vicente 1482 rn FunchalFrancisco Raiz Vitória 1591 Funchal JudeuAntónio Vieira 1519-1554 FunchalFrancisco Vieira 1519-1554 Funchal Escrivão contos e quintosManuel Vieira 1582-1593 FunchalPedro Vieira 1549 FunchalAntónio Viviam 1530 Funchal

Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; A.N.T.T., N.A., n.? 744-745, 747, 724, 902, 589; A.R.M.,Misericórdia do Funchal, n.? 684,710-711; A.R.M., C.M.F., vereações de 1473-1600; A.R.M., L.o deNotas de Ião Tavira, 1592; A.R.M., I.R.C., 1.0 do Tombo; Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, 1.0 II,Ponta Delgada, 1968; Fernando Jasmins Pereira, O açúcar madeirense . . . , Lisboa, 1969; Virginia Rau eJorge Macedo, '0 açúcar da Madeira . . . , Funchal, 1962; M. do Rosário, Genoveses na História dePortugal, 1977; A.H.M., vols. XV-XVII_

176

QUADRO N.o 2MERCADORES NOS AÇORES SÉCULO XVI

Mercador Data Provenlêncta Morada Observações

Diego Afonso 1511 Faial Tenerife estrangeiroDiego Alvares 1575-1593 AngraManoeI Alvares 1575 Ponta DelgadaPedro Alvares 1583 Ponta DelgadaSebastião Álvares 1590 AngraFrancisco Vaz de Andrade 1580-1592 Ponta Delgada R. Gaspar Rodrigo, c. novo, proprietárioAfonso Annes de Chaves 1518·1575(+) Chavesf'r) Ponta Delgada R. dos Pellames, proprietárioFernando Anes 1511-1518 R.a .GrandeGonçalo Anes 1540 Ponta DelgadaJoão Anes 1580·1590 Agua d'A11o proprietárioThomce Bares 1575 Inglaterra AngraJoão Fernandes Barros 1580-1590 S. Miguel proprietárioFrancisco Martins Barros 1580-1590 S. Miguel proprietárioFrancisco Barbosa 1590-1620 S. Miguel Olinda (bras ii) estrangeiroLudolph Bcrmans 1575 Flandres S. Miguel,André Fernandes Caldeira Terceira Brasil estrangeiro-Lucas de Carcena 1530·1538 Italia TerceiraJoão Lopes Cardoso 1532- S. Miguel prçprictáricAntónio Carvnlhais 1546 Ponta Delgada rendeiroAntónio Castro 1580·1590 Porto S. Miguel proprietárioJoão de Castro á552 Porto S. Miguel R. DireitaPero Charles 1591 Inglaterra AçoresCiprião Coelho 1583 S. MiguelCarlos Coronel 1541 Angra estrangeiroCristóvão Borges da Costa 1582 Angra proprietárioÁlvaro da Cunhn 1580-1590 S. Miguel proprietárioManoel Jorge Cunha 1580-16 S. Miguel proprietário, judeu

Luís Delfos IS -16 Flandres Ponta DelgadaAntónio Dias 1592 Vila FrancaCristóvão Dias 1580-1590 Ponta Delgada proprietárioDuarte Dias 1593-1606 S. Miguel judeuFernão Dias 1555 Ribeira GrandeGaspar Dias 1580·1505 Ponta Delgada proprietário. judeu

Gonçalo Dias 1561 Ribeira GrandeJorge Dias 1550- Ribeira Grande rendeiro pastel

José Dias 1641 (+) AngraLucas Dias 1580-1590 S. Miguel proprietário

Manuel Dias 1547-1550 Ponta Delgada estrangeireMarcos Dias 1553(+) AngraAfonso Enes 1589(+) Ponta Delgada proprietário

Joham Escor 1575 Vila da PRaiaPedro Gonçalves Faria 1591Alvaro Fernandes 1593 Angra

António Fernandes 1575 AngraBaltasar Fernandes 1575-1591 Angra Brasil desde 1591

Belchior Fernandes 1593- AngraFrancisco Fernandes 1549-1575 Angra R. Direita. C. Novo

Gonçalo Fernandes 1544-1550 Vila Franca rendeiro miunça

João Fernandes 1585 S. MiguelPantaliam Fernandes 1575 Angra R. Direita, C. Novo

Sebastiam Fernandes 1552-1575(+) Ponta Delgada R. Direita, proprietário

Jorge Gonçalves Figueiredo 1580-1590 Ponta Delgada proprietário

Pantaleâo Fognçu 1580-1590 S. Miguel

Pedro Rodrigues de Galanço 1593 Angra R. Dinis Afonso. C. Novo

Francisco Giberliam 1534·1544(+) AngraManuel Gomes 1578 Ribeira GrandeAndré Gonçalves 1580-1590 S. Miguel proprietário

Antônio Gonçalves 1592(+) Castela Ponta Delgada R. do Aljube

Diogo Gonçalves 1555-1580 Castela Agua d'A11o rendeiro, proprietário

Pera Gonçalves 1593 Vila Franca

Pedro Gonçalves 1593 Angra R. Direita, C. Novo

Rui Vaz Gago Vila Franca proprietário

Gaspar Gonçalves -1570 Ponta DelgadaMelchior Gonçul....es 1537-1591 s. Miguel proprletário

Silvestre Gonçalves 1576- Ponta Delgada R. dos Mercadores

Jorge Gago 1575 Vila de Raia C. Novo

Jçâo Lopes Henriques 1580-1590 S. MiguelBras Henriques 1593 Angra R. Direita, C. NovaMarcos Lopes Henriques 1580-1590 S. MiguelFernão Jaques 1571 Flandres Ponta DelgadaFernão Garcia Jaques -1581 (+) AngraAntónio Jorge 1550-1565 Ponta Delgada R. Direita, proprietário

Manuel Jorge 1592 Ponta Delgada R. Fonte, C. Novo

Luís Lopes 1547-1550João Luis 1532{+) S, Miguel

João Luís 1593' AngraJoão Luís Teixeira 1530-1540 Vila da PraiaFrancisco Machado 1592 Ponta Delgada R. do Mestre Gaspar

Francisco Martins 1598 Ponta Delgada proprietário

Gaspar Martins 1593 Angra

Manuel Martins 1575 AngraDiogo de Mello 1527-1583 Ponta DelgadaDiogo de Mello 1576-1592 Ponta Delgada Cristão Novo

António Mendes 1575(+) Ponta Delgada Cristão, proprietário

177

23

Mercador Data Proveniência Morado Observações

Digo Mendes 1580-1590 S. Miguel proprietárioPemam Mendes 1575 Ponta Delgada R. Mercadores, C. NovoFrancisco Mendes 1576(+) AngraLuís Mendes 1592-1606 Ribeira Grande C. NovoManuel Mendes 1592-1606 Ribeira Grande C. NovoJoão Martins Merens 1531-1555 TerceiraAntónio Monforte 1592 Inglaterra Ponta DelgadaJoam Monforte 1592 Inglaterra Ponla DeIgadaPedro Fernandes Moreira 1580-1590 S. Miguel proprietárioBastiâo Pass a 1593 Angra R. do BecoAntónio Mendes Pereira 1580-1590 S. Miguel proprietárioFrancisco Mendes Pereira 1580-1590 S. Miguel proprietárioGabriel Pinheiro 1592 Algarve Ponta Delgada R. do Contador, C. NovoGaspar Pinto 1571 S. Miguel Funchal estrangeiroGonçalo Piris 1593 C. NovoSebastião Piris 15 Guimarães Vila FrancaJácome de Póvoas 1550 Ponta DelgadaManuel Rodrigues do Rego 1591 Açores C. NovoAntónio Ribeiro 1593 Angra C. NovoAndré Rodrigues 1590-1620 S. Miguel Olinda (Brasil) estrangeiroAntónio Rodrigues 1592(+) Vila Franca C. NovoGonçalo Rodrigues 1552-1586 Ponta DelgadaJoão Álvares Rodovalho 1580-1590 S. Miguel proprietárioJerónimo Rodrigues 1575-1593 Angra R. Direita. C. NovoJoão Rodrigues 1580-159a S. Miguel proprietárioManuel Rodrigues 1592 Ponta DelgadaMiguel Rodovalho 1598 Vila FrancaBastiam Álvares Senra 1525-1583 S. MiguelAdão Silva 1580-1586 S. Miguel proprietárioManuel da Silva 1592- Ponta Delgada R. Manuel GarciaManuel Martins Soares 1580-159a S. Miguel proprietárioBaltasar Sousa 1580-1590 S. Miguel proprietárioDuarte Vaz 1559-1560 S. Miguel proprietárioPedro Uchales 1589 Inglaterra Ponta Delgada

Fonte: Gaspar Frutuoso, ob. cit., 1.0, II, III e IV (2 vols.); A.N.T.T., Inquisição de Lisboa, ms. 141-1-6,141-6-13, 141-7-17, 141-6-11, 144-6-13, 144-7-17; B.P.A.P.O., Fundo Ernesto do Canto; ms, 20, 52,56, 107; A.C.M.R.G., /.0 I de acordãos; Arquivo dos Açores, 15 vols.; Maria Olimpia de Rocha Gil, Oarquipélago dos Açores no século XVI! . . . , Castelo Branco, 1979.

178

QUADRO N.o 3MERCADORES NAS CANÁRIAS SÉCULO XVI

Mercador Data Proveniência Morada

Juan Absolbi 1561 França Gran CanáriaJácome Adorno 1531 Génova Gran CanariaRafael Adorno 1540 Génova Oroo CanáriaMiguel Afonso 1581 Castela TenerifeNicolas Afonso 1522·1525 Castela TenerifeJuan Agana 1520 Génova Tenerife

Antón de Águeda 1522·1530 Castela TenerifeFernando Aguilar 1539-1530 Castela Gran CanáriaFrancisco Aguiniga 1550 Orno' CanáriaJuan de Alarcón 1583-1583 Castela Gran CanariaGiovanni Alberto Geraldini 1509-1525 Florença TenerifeAlouso de Alcalá 1531-1534 Gran CanariaFernando Alcour 1512 Catalunha La PalmaJuan Alemán 1509-1513 Oran CanarlaBernardo Alirall 1529 Barcelona Gran CanariaAlonso Almonte 1511 Mogucr TenerifeFernanda Almonte 1501-1508 TenerifeAlonso Alvarez PortugalAntónio AIvarez 1599 Canarius FunchalNuno Alvarez 1520-1521 TeguestePedro Alvarez 1570 Castela Grün CanariaRodrigo Alvarcz 1593-1598 Oran CanariaLuis de Amaya 1511 TenerífeBernardino Anehsi 1550 Génova Oran CanariaGiles de Ano 1539 Flandres La GemeraHonorato Angelén de Mangue (séc. XVI) França Oran CeneríaNicolús de Aramburo 1520 TenerífeEsteban de Aruno 1520 TenerifeOchoa de Arbolancha 1521 TenerifeGaspar de Arguijo 1532-1594(+) TenerifeMiguel Armant 1522-1525 Catalunha TenerífeMarco de Armas -1590(+) TenerifeJuan de Arras 1538-1539 TenerifeBautista Ascanio 1498-1506 Cádiz TenerifeSebastian Alonso 1599 Fuerteventurali\igo Martinez de Aspetia 1500-1522(+) Gran CanáriaCristõbul Atano 1552 Génova Gran CanariaJuan de Ávil. 1567 Custeia Gran CanariaBurtolomé de Ayala 1578 Castelo TenerifeJorge de Ayala -1558? Gran CanariaPedro Ayaln 1593-1598 Castela Gran CanariaVentura Ayala 1556 Ambues Gran CanariaJuan de Ayumonte 1549 Caslela ara" CanariaAntón Axcaxa 1510-1511 Flandres TenerifeLuís Axcaxn 1510-1511 Flandres TenerifeFrancisco de Baena 1527 Castelo Gran CanáriaJuan de Baenu 1555 Castela Gran CanariaAndrés Baéz 1578 Gran CanáriaAlonsn Baéz 1552 Gran CanariaAntón, Buéz 1550 Gran Canaria.Herrmn Baéz 1522·1525 Sevilha TenerifePedro Baéz 1520 Lisboa TenerifeDiego de Bacza 1522·1525 TenenteBuptlsta Balrola 1510-1511 Génova TenerifeAlouso de Balhoa 1554 Gran CanariaLuís de Bulhou -1558(?) Orao CanadaRodrigo de Bnlhoa 1572·1590 Castela Gran CanariaJdcome de B.uquianu 1522-1525 Génova TcnerifuJuan Bardón 150R TenerifePedro de Barreto 1554 Canela Gran CanáriaAlvaro Barreto 1549 Castela Gran CanáriaMícael Barrona 1529 Flandres Oran CanarlaJuan Baptista Amonte 1550·1552 Génova Gran CanariaJuan Büutistu Coroou (séc, XVI) Gênova Gran CariariaJuan Bautista Franques 1521 TenerifeJuan Bautlstn Lornelirn 1565 Génova Gran CanariaJuun Bnutista Reto 1590·J591 Génova Grnn CanarlaCristébat de Bedoya 1563 Oran CnneriaNugr« Belbuy l.í20 Catalunha TenerifeAlouso Bellu 1522 Portugal Grau CanariaGuillén de Ayaln 1592 Castela Gren CanáriaDiego Bello 1510 TenerifePedro Balrran 150R TcnerifeGonzalo Benavente 1550 Sevilha TcnerifePedro Benavente 1501 Cádil, Gran CariariaJuan Bcnltez 1508 TenerifeMlcer Henito 1521 (+) TenerifeJuan Bemnl 1508·1511 TencrifeTnmás Remavelt 1526 Flandres TenerifeJunn de Berres 1501·1510 Biscaia TcnerifeSanchu de Bi1ba" 1501-1509 Biscaia TenerifeGuilhermo de Dlanco 1494 Italia Gran CanllfillPedro flInneo 1595 Flandres renerife

O.........ções

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est.est. e v.v, mayor domo do concelhoV,,V,,v»V.'V,,est.est.est.V.'

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V,Ov.o, escrivão público e mayor dei cabUdov»V,Oest,est.V.O

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179

Mercador Data Proveniincia Morada Observeçôes

Lucas Bondennau 1545 Flandres TenerifeBautista Borneugo (séc. XVI) Génova Gran Canaria esr.Lorcnzo Bcrneugo 1507-1508 Génova Tenerife est.Rafael Bomeugo 1522 Génova Gran Canaria est,Juan Botiller 1534-1538 Flandres Tenerife est.Jacopo Both -1562(+}Gabriel Box 1550-1552 Génova Oran Canaria V.OTomás Bnx (séx. XVI) Génova Gran CanariaGuilhame de Brato 1508 TenerifeGiraldo Brinzeles 1558 Flandres Gran Cariaria est., agenteLemberto Broque 1550-1552 Flandres Gran Canaria est.Luís de Burgos 1520-1525 Tenerife est.Leonardo Burôn 1522 Génova Gran Canaria est.Sebastiân Burôn 1550-1552 Génova Oran Canaria est.Guilherme de Brus ( .. .) (séc. XVI) Ámbores Tenerife est.• CádizSimon Buzine 1533 Flandres Tent:rife est., CádizLamberto Buren 1545 Flandres TenerifeJácome de Caçaiia 1507-1525 Génova Tenerife V.OMatco Cairasco séc. XVI Gran Canaria V.OAntônio Cagero 1552 Génova Gran Canaria V.OEsteban Calderôn 1591 Génova Gran Canária V.OJeranimo Calderón 1552 Génova Gran Canaria v»Barnabé 1592 Gran CanáriaTeodoro Calderón 1528-1565 Génova Gran Canária est.Romau de Caletote 1569-1575 França Gran Canaria v»Anlónio Campos 1565 Gran Canaria v.o, administrador rendasFrancisco de Campos 1559 Castela Gran Canada yoJean de Campos 1511 TenerifePedro de Campos 1500 Tenerife V.OJaime Cancer 1508 Tenerlfe v»Bernazdino Canino de Veinlenllha 1561 Oran Canaria v,", regedorHernando Cannona 1522-1525 Gran CanariaJuan de Carmona 1520-1525 Tenerife est.Pedro de Cannona 1553 Catalunha Gran Canaria v»Jacome Corona 1522 Génova Gran Canaria V.OFrancisco Casaiia 1523 Génova Gran Canaria V.OJuan Batista Casales 1550-1552 Génova Gran Canaria est., v.oJâcome de Casanis Génova Gran Canária esr.Juan António Casanova 1550-1552 Gênova Gran Canaria V.OPolo Casanova 1534 Génova Gran CanáriaAnton de Cascaja 1509Jácome Catano 1508-1510 Gran Canária escJacome Casteleyn 1508-1509 FlandresJames Casteleyn 1509 Inglaterra Tenerife v»Jaques Casteleyn 1508-1510 Flandres Tenerife est.Juan Martinez de Castelleja 1509-1510 Flandres Tenerife v»Andrés de Calillaria 1564 Gran Canaria v»Cabrián Cabrance 1552 F1andresDiego Chabot França Gran CariariaDiego Chagojan 1539 Castela Gran Canada est.Augustin Chav;ga 1522-25 Génova TenerifeGiraldo Chavega 1524 Gênova Gran Canária est.Bartolomé Chlprana 1522-1525 Cádiz Tenerife est.Hanes Clas 1530 Flandres Gran CanáriaFranciscQ..Codína 1533-1583 Catalunha Gran Canária v»Juan Codina 1552-1583 Caralunha Gran Canaria v. D

, regedorGonzaío de Coimbra 1522 Gran Canaria v»Andrés de Cantillana 1563 Castela Gran Canaria v»António Colombo 1532-1535 Génova Oran Cariaria V.OAntónio deI Consistorio 1503 TenerifeRodrigo de Contreras Montalbol 1597 Castela Gran CanadaGonzalo de Cordoba 1508-1522 Tenerife V.OLuis de Lo.reto 1524 Génova Gran Canaria v .0. arrendador rendasJuan de la Cunha Flandres Tenerife est.Diego Curtidor 1517 CastelaGullhenno Dapinln 1513 Flandres Tenerife esr.Rodrigo Delfo 1510-1511 Tenerife est,ConeHo Despas 1512 Flandres Tenerife est.Francisco Deza 1535 Castela Oran Canaria v»Alondo Diaz 1522-1565 Sevilha TenerifeAnton Diu 1522-1565 Sevilha Tenerife V.ODiego Diaz 1571 Castela Gran Canarta est.Francisco Díaz 1520-1521 Tenerife v»Melehor Díaz 1509 TenerifeRuy Diaz 1522-1525 Sevilha TenerifeSebastian Diu 1579-1591 Castela Oran Canaria V.OMartin Dobcotin 1520 Sevilha TenerifePedra Donningo Jorge 1571 Oran Canaria v»Alonso Donaine 1508-1509 Tenerife V.OJácome Donis 1520 Flandres Oran Canária est.Pedro Dorador 1508 Grau Canada V.OAntonio Dorantes 1522-1525 Génova TenerifeLuis Dores (-.-l Ambeas Tenerife esr.Gonzalo de Ecrija 1510-1525 Tenerife est.Bartolomé Enzio 1535 Castela Gran Canaria est.Pedra de Escalona Gran Canada v»Bernardo Escarlati 1512-1519 Florença Tenerife v»Pedro Escobar Gran Cariaria v.c, escrivão público e do CabildoRoberto Espachaforte Inglaterra Oran Canaria V.O

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Mercador Dala Proveniência Morada Observações

Francisco Espindola 1515 InglaterraJuan de Espinosa -1558(1) Olanez Oran Canaria est,Pedro de Esp-inosa 1520 CádizMartin de Espinosa 1530 TenerifcLorenzo Esquier 1596-1598 Gren Canaria V.·Lerenzo Estrela 1522-1525 Génova TenerifeMartin de Évora 1501 Gran Canária V.·gartolomé Fava 1522-1525 Tenerife V.·Andrés Febres 1562 Flandres Gran Cariaria est.Andres Fernandez 1509-1510 Tenerife est.Antón Fernandez 1520 Tenerife V,·Diego Fernandez Portugal Gran Cariaria V,·Francisco Fernandez 1520-1591 Castela Gran Caneria V,·Gaspar Fernandez 1520-1546 Portugal Oran Canaria V,·Gonçalo Fernandez 1530-1531 Sevilha Gran CanariaJuan Fernandez 1511 Sevilha Gean CanáriaPedro Fernandez 1511-1525 Tenerife est.Fernando Fernandez de Coya Gran Canaría V,·Anrique Ferrer Barcelona Gran CanariaFrancisca Florença 1501 Tenerife est.Antôo Fonte 1520-1529 Catalunha Tenerife v.s , regedorAntico Fonte 1528 Gran Canária v»Rafael Fonte 1418-1523(+ ) Barcelona Tenerife v. I}, regedorLucas Forte 1552 Génova Barcelona esr. Gran CanariaMarcos Francisco 1522-1525 Tenerífe est,Marcos Franco 1522-1525 TenerifeAntónio Franqueá 1521-1525 TenerífeDiego Franques 1528-1566 Gran Canária V."Melchor Franques 1519-1552 Itália Gran Canária V."Marcos Franques Gran Caneria V."Nicolao Franques 1591 Génova Gran CanáriaSimon Franques 1531 Oran CanariaMarcos Franco 1511-1520 Tenerife v»Alonso de [a Fuente 1546-1552 Cestete Gran Canaria est., v.oJuan de la Fuente 1520 Tenerífe V."Alonso Galiano 1529-1534 Castela Oran Canaria V."Antón Garcia 1510 Castela Gran Canaria est,Francisco Garcia 1522-1525 Gran Canada V."Gonzalo Garcia 1509-1510 Tenerife v»Gregório Garcia 1519-1599 Castela Gran Canaría V."Lorenzc Garcia 1520-1521 TenerifePero Garcia 1501-1524 Tenerife v.", est,Tomasín Gardon 1501 Génova La Palma V."Bartolomé Gayardo 1505 Génova Tenerife est.Juan de Gunbreux 1525-1526 Tenerife V."Diego Gil 1522-1525 Tencrire V."Andrea Giraldin 1522-1525 Tenerife est.Francisco de Godina 1550 Gênova Gran Canaria est,Alouso Gomez 1546 Castela Oran Canária V."Diego Gomez 1508 TenerifeAdan González 1584-1598 Castela Gran Canarla V."Alonso González 1546 Castela Gran Cariaria est.Diego González 1511-1521 Tenerife est.Esteban González 15Z0 Lisboa Tenerife est,Femân González TenerifeGaspar González 1550 Portugal Gran Canarla V."Jorge González 1569 Castela Oran Canariu V."Juan González 1510-1586 Portugal Gran Canarie V."Juan González Sevilha Gran Canária est,Manuel González 1522-1535 Portugal Tenerife est.Pedro González 1552-1583 Portugal Oran Canarla est.Ruy González 1520 Portugal Tenerife est.Sebnstfún González 1521 Gran Cariaria est,Cario Grillo 1522 Gênova Oran Canaria est,Bartolorné de Grinaldo Gran Canária est.Garcia de Guisla Gran Canaria V."Alonso Gutiérez 1508-1518 Sevilhn Tenerife est,Diego Gutlérez 1522-1525 Tenerife est.Francisco Gutlérez 1565 Castela Oran Canária V."Luís Gomez Trapero 1531-1583 Sevilha Gran Canaria est,Gil Guriérez 1520-21 Tenerife v»Fructuoso Hernández 1581 Portugal Gran Canarla V,oLuís Hemández 1523-1552 Caralunha Gran Canária V,oLuís Hemández Rasco 1550-1552 Gran Cannria V,oA lonso de Herrera 1508-1511 Tenerife v.", est. Oran CanarlaDiego de Herrera 1501 Tenerife V."Francisco de Herrera 1531 Grun Canária est,Gonzal-o de Herrera 1510-1511 Tenerife est •• v.oJuan de Herrera 1517 Castela Gran CanariaPedro Hunelfn 1518 Castela Tenerife V."Rodrigo Hurtado 1536 Castela Gran CanariaMelchior Imperial 1590 Génova Gran Canaria V."Juan Jácome de Canninatis 1506-1539(+) Lombnrdia Tenerife est .• v,oAlonso de Jaén 1501-1525 Tenerife V."Diego de Jaén 1520 TenerlfeFrancisco Jaén 1520-1525 'Tenerífe 1523 est, Gran CanariaGarcia de Jnén Castela Gran Canaria est,Gonzalo de Jaén 1549 Sevilha Oran CanariaRodrigo Jans 1550-1559

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Mercador Data Provenlêncja Morada Observações-----_._------

Nicolás Jans 1550-1559 Flandres Gran Canária est., v..oGuisbec Jaquelot 1509 TenerifcJuan Jaques 1525-1565 Flandres La Palma v.o, esr. em TenerifeFernandi Jayan 1511 La Gemera V."Alonso Jerez 1508 Tenerife V.OR. de Jerez 1552 Gran CanáriaDiego de Jerez 1550-1552 Gran Canada est.Francisco de Jerez 1527 Castela Gran CariariaJuan de Jerez 1510-1521 Tenerífe est.Rodrigo de Jerez 150g-1511 Tenerife V."Fernando li menez 1524 Sevilha Gran Canária V."Marcos Jimenez 1525 Flandres Oran Canária est.Gaspar Jarbe 1520-1563 Sevilha Gran Canada est.Luis Jorba 1520-1525 TenerifeAmón Jóvem 1510-1531 Catalunha Tenerife V."Jaime Jovem 1500-1524 Tenerife V."Juan de Juambruz 1510-1511 Flandres Tenerife est,Mateo Juan de Carbon 1507-1509 Tenerifc V_"Bernardino Justiniano 1520-1525 Génova Tenerife V."Tomás Justiniano 1504-1525 Génova Tenerife est.. -»Luís de luva 1520 Tenerife V."Diego Labrador 1516 Gran CanáriaMartin de Lanaja 1507 TenerifeJuan de L1antadillo 1522-1525 Burgos TenerifePedro de L1antadillo 1522-1525 Burgos TenerifeGonzalo de Lara -1558 Castela Gran CanariaAguslin Leardo 1510-1511 Génova Tenerlfe est.Pedro Juan Leardo 1516-1555 Génova Tenerife est., v."Tomás Leardo 153g Génova Gran Canaria est.Segundo Labrôn 1531 Castela Oran Canária est.Garcia de Leôn 1511 Tenerífe est.Juan de Léon 1510 Tenerife v.oMarcos de Lé-on 1574-1592 Castela Gran Canaria V."Juan de Lope 1521 Tenerífe v»Francisco Lerca 1558 Génova Gran CanariaJeronimo Leres 1550 Gênova Grao Cariaria esr.Jácome Lercaro Génova Gran Canaria V."Juan de Llerena 1521 Tenerife C:5t., v.oJuan de Lygrave 1597 Gran Canaria V."Jâcome Liberal 1572 Génova Gran CanariaFrancisco Lices 1550 Flandres Gran Canaria V."Afonso Lôpez 1550-1552 Gren Canaria V."Diego Lépez de Portíllo 1531 Castela Gran Cariaria est.Francisco Lôpez 1508-1522 Castela Tenerife v»Juan Lõpez Portugal TenerifeJuan López de I. Fuente 1510 TenerifeOehoa López Gran Cariaria V."Pedro Lopez 1520-J599 Cádiz Tenerife V.oPedro Losada 1520·J521 Tenerife V."Fernando de Lugo 1502-1527(+) Castela Tenerife v.", alguacil e alcalde mayorFrancisco de Lugo 1508 Gran Canaria ese.Esteban Lois 1522-1525 TenerifeAndrés de Luna 1511 TenerifeIuanoto Luna 1509 TenerifePero de Luna 1510 TenerifeJuan Lutiano 1546 Castela Gran Canaria est,Jeronimo Macia 1535 Génova Gran Canária est.David Mallllete 1520-1526 Flandres Gran CanariaCornielles Manasc 1568-1578 Flandres Gran Cariaria esl. . v.oFrancisco Mauríque 1556-1557 Castela Gran CariariaJuan Marcel 1522-1525 Gran Canaria v»Juan de Marchena 1531 Castela Gran Canerla est,Niculoso a Marin J529 Génova Gran CunariaDiego de la Marina J522-1525 Gran Canária V."Jaime Marsanz 1531 Catalunha Oran Canaria est.Diego Manin 1520 Tenerife cst.Francisco Martin 1521 Tenerife V.I)Pero Martin 1507 TenerifeAndrés Martin Barbadllho 1520 TenerifeJuan Martin de Casrilleja 1507-1525 Sevilha Tenerife est.Alonso Martinez 1575-1582 Sevilha Gran Canária V."Francisco Martinez 1531 Castela Grau Canaria est,Alouso Mérquez 1576 Gran Canária V.OFrancisco de la Mata séc. XVI Gran Canária v»Gaspar Mateo 1523 Catalunha Gran Canaria est,Antonio de Mayuello 1530-1532 Gênova Gran Canária v.c, regedorCabildoJerónimo Mayuello -1558 Génova Gran Canaria V."Lázaro de Mayuello 1550-1552 Génova Gran Cena-la V."Pedro de Mena 1508 Oran Caneria v.v. est. TenerlfeAntonio de Medina 1550 Gran CenarteBartolorné de Medina 15J6-1520 Castela Gran Canaria est., v.OBautista de Medina Gran Canária est.Juen de Medina 1569 Oran Canada V.OJuan Méndez 1520 Tenerlfe cst.ESleban Mobtón 1507-1511 Génova Tcnerife est.. v.OPedro de Mérida 1522-1530 Castela Grau Canaria est.B.nolomé de Milan 1507-1511 Génova Tenerife est.Alon.o de Miranda 1522-1525 Castela TenerifeFrancisco Mirôn 1508-1510 Tenerife es!.

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Mercador Data Proveniência Morada O~rvações

Antonio de Montesa 1553-1563 Castela Gran Canana est., regedorMonloya 1510 Tenerife v»Juan de Mont Serrat 1519 Catalunha Oran Canaría est.Baltasar de Morales 1521 TenerifeFrancisco Morares 1522-1525 TenerifeGuilherme Morall 1520-1521 TenerifeCristôbal Moreno 1507 Tenerife est.Juan Moreno 1522-1525 TenerifeFrancisco de Morillo 1520-1525 Tenerife esr., V,·Nicolás Movan 1578 Flandres Grao Canaria est.Juan Baptista de Negro 1501 Génova Orao Canaria esr., V.O de SevilhaFrancisco Neymn 1491-521 Génova Tenerire v»Tomás Nichols 1556-1560 Inglaterra TenerifeAntonio Nomelín 1507 Gran CanáriaPedro de la Nuez 1522-1525 Génova TenerifeFrancisco NuJiez 1530 Castela Gran CanariaHemán NUDez 1531 Portugal Lauzarote V,·Juan Nuiiez 1522-25 Sevilha TenerifeMelcchor Nufiez 1535 Gran Canária est,Jácome Nuremberque La Palma V,·Elias Obin 1537 Gran Cariaria v»Juan Obrebal 1525-1526 Tenerife est.. v_oJuan de Ochoa TenerifeFrancisco Orne 1554 Castela Gran Canaria v»Sancho Ordena 1520 Grao Canaria est,Jerónimo Orerio 1500-1507(+} Génova Oran Canaria V.oAlonso Ortiz 1511 TenerifeJuan Ortiz 1571 Castela GranCanaria V.oJuan de Medina 1569 Castela Orao Canaria V.oFernando Ortiz 1531-1533 Castela Oran Canaria est,Nicolás Ortiz 1598 Castela Gran Canária v.oRodrigo Ortiz 1550 Oran Canaria est.Benito Oselo 1508 Génova Tenerife esr.Diego de Oviedo 1522-1525 Tenerife est,Marcos Franco y Oviedo 1522 TenerifeBenito Oxelc 1510-1511 Génova 'Tenerife est.Juan Pacho 1511-1525 Tenerife v.oFrancisco Paéz Gran Canaria v.oJans Pafrate 1522-1525 Alemanha. Tenerife est,Francisco de Palencía Castela Oran Canaria V.oFrancisco Pulomar 1496 Génova Gran Canaria v.oPlerígo Caniguerola 1529 Génova Gran Canária CiL, v.oJaques de Papa Flandres Tenerife est,Jusepe de Paz 1596-1598 Castela Gran Canária v.oGarcia de la Pena 1545-1552 Castela Gran Canaria eu.Luis de Pefialosa 1546 Castela Gran Canaria est.Alonso Pérez 1520-1525 Tenerife V.oAnton Pérez Cabeza 1510-1534 Catalunha Oran CaD atia v.oBartolomé Pérez 1520 Tenerife V.oBarnabé Pérez 1596 Castela Gran Canaria V.oGonzalo Pérez 1524 Castela Oran Canaria est,Hemân Pérez Grau Canaria est.Juan Pérez Cabeza 1534 Castela Gran eanaria v.oLorenzo Pérez 1530-1538 Génova GranCanaria V.oJuan Pérez Ooitiner 1550 Oran Canária est.Fernán Pérez de Loya 1529-1552 Castela Gran Canaria est., v.oJuan Pérez Returbic 1556-1559 Castela Grau Canaria est,Juan Pérez de Zorroza 1503-1511 Biscaia Tenerife V.oMarcos Pérez 1510-1511 TenerifeNicolás Pérez 1594 Castela. Oran Canária V.ORodrigo Pérez 1552 Oran Canaria V.oRodrigo Pérez 1552 Gren Canaria est,Silvestre Pínclo 1520 Génova Tenerife V,OTomás Pinelo 1587 Génova Gran eanariaFelipe Piresen 1592 Gran Canaría v.oJuan Ortega 1599 Castela Oran Canária v.oDie go de Palanco 1551-1553 Castela Oran CanariaAntón Pons 1521 Oran Cenaria est.Cristóbal Ponte -1525 Génova Tenerife v.oLope de Portilho 1520-1528 Tenerife est., v.oJuan de Porras 1521 Madeira Gran Canaria est,William Prall. 1518 Inglaterra TencrifeHans Prefate 1525-1526 Alemanha Tcncrife est., v»Alonso Prieto 1522-1525 La Gemera vsJuan Prieto 1508 Tenerife est.Rodrigo Prieto 1511 TenerifeFrancisco Provenzal França Gran CanariaCristóbal de la Puebra 1502 Grao Caoaria v.oJuan Puente 1522-1525 Tenerife V.oLuis de Quesada 1552-1556 Castela Gran Canaria V.oRodrigo Quesada 1535 Castela Gran Can8.TÜtJuan de Quesada Molina 1555-1557 Oran CanáriaFrancisco Rebelo 1510-1511 Tenerife est,Marcos Raberto 1520 Catalunha Tenerife est,Luca Rego 1510 Tenerire est,Pablos Reinaldos 1582 França Gran Canaría v.oDiego Ribero 1520 Portugal Tenerife est.Bautista Riberol 1487-1509 Génova Gran Canária v;", regedorCosme Riberol 1506-1509 Génova Gran Canarla est.

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Mercador Data Proveniência Morada Observações

Francisco Riberol 1488-1514 (+) Génova Gran Cariaria est.Lorenzc Riberol 1533 Génova Gran CanariaDomenigo Rizo 1522-1525 Génova Tenerifeatiber Rj,o 1571 França Gran Canaría v»Alonso Rodriguez Castilhc 1555-1589 Castela Gran Canaria V."Antón Rodriguez 1520-1521 Tenerife V."Cristóbal Rodriguez 1563 Castela Gran Canaria V."Gonzalo Rodriguez 1522-1525 TenerifeJorge Rodriguez 1520-1525 Tenerife V."Juan Rodríguez 1530-1582 Castela Palma V."Pedro Rodriguez 1522-1560 Castela Gran Cariaria est.Vasco Rodríguez 1522-1525 Sevilha Tenerife est.Afonso Rodríguez de Palenzuela 1506 Sevilha Gran Canária V."Blasino Romano 1510 F1oren", Tenerife est.JU2.n Romano 1510-1511 Florença Tenerife est.Juan Remara 1539 Tenerife est.Juan Rondinel 1506 Florença Tenerife est .. v.o de SevilhaPiero Rondinelli 1509 Florença Palma est., v.v de SevilhaPedro Roquero 1508 Génova Tenerife esc. v.? de CádizGabriel de la Rosa França Gran Canaria V."Afonso Ruiz 1511-1541 Tenerife V."Antón Ruiz 1507-1522 Caslela Tenerife V."Cristóbal Ruiz 1507-1510 Castela Tenerife est., v.oGonzalo Ruiz 1520-1525 Tenerife est., -»Miguel Ruiz 1508·1509 TenerifeJuan Ruiz de 8erlanga 1507-1515 Tenerife La Palma v.o. escrivão Tenerife La PalmaJuan Ruiz de Requera 1510-1536(+) Castela Tenerife v.", regedor (1514)Juan de Sagasta 1576 Castela Gran Canaria V.OJuan de Salamanca Gran Cenaría V."Luis Salucio 1527 Itália Gran Canarta V."André. Sal vago 1522-1525 Tcncrife est.Domenego Sal vago 1506-1513 Génova TenerifeAlonso Sánchez 1509·1534 Castela Gran Canaria est.Juan San Marnn 1522-1530 Tenerife V."Diego de San Martin 1541 Tenerlfe V."Diego Sánchez 1510-1525 Sevilha Tenerife :51., v."Francisco Sânchez 1522·1525 Tenerife V."Juan Sánchez 1520 TenerifeMartin Sánehez 1511-1525 Tenerife sst., V.O

Fero Sánchez 1508 TenerifeDiego Sânchez de Jerez 1527-1530 Castela Gran Canaria est.Pero Sânchez 1532-1537 Gran Canaria est.Jaime Santa Fé 1510 Castela Tenerife est.Gon:z:alo Santa Finia 15!1 TenerifeLuis de Santiago 1550 Gran Canária V."Antón Seagle 1522 Flandres Tenerife est.Luis Seagle 1522 Flandres Tenerife est,Alvaro de Segura 1531 Gran Canaríe V"Gonzalo de Segura Gran Canaria V."Fernando Sepúlveda 1510 TenerifeFrancisco Sepúlveda 1510 TenerlfeGabriel Socarrás 1512 Catalunha TenerifePedro Soler 1522-1525 Catalunha Tenerife V."Jâcome Sopranis 1500-1524(+) Génova Gran CanariaBernardino Soria 1532-1537 Castela Oran Canarla est.Gaspar Soria 1586-1587 Castela Gran Canaria v»Hernando de Seria 1553 Castela Gran CanáriaJuan Baptista Soria Génova Oran CanariaPedro de Seria 1550-1552 Tenerife v.", esr, Gran Canária (1550)Guilherme Sorin 1526 Flandres Tenerlfe est. e v.oHernán Suárez 1507-1511 Tenerífe V."Fernão Tabarco 1510-1511 Tenerífe V."Alonso de Toledo 1532 Castela Oran Canaria est,Juan Tomás de Mont 1522-1525 Gênova La Gomem v»Bernardino de la: Torre 1538 Castela Gran CariariaAntonio Tosode 15S2 Génova Tenerire V."Luis Trapero 1537 Sevilha Gran Canária est.Fernando Triana 1522-1525 Tenerife V."Jácome de Trígueros 1552 Gran Canaria V."Juan Tuyn 1500-1550 Flandres Tenerife est., v.o de MadeiraJuan de Valladolid 1532 Castela Oran CanariaJuan de VaIverde 1546 Castela Gran Canária est.Johan Vau Halrnade 1533 Anvers Gran CanáriaTilman Vau Kessel 1526-1540 Anvera Gran Canarla est, TenerifeJan Vau Trille 1561 Flandres La Palma v»Joris Vau de Walle 1531-1565 Flandres La Palma V."Luis Van de Walle -1587(+) Flandres La Palma V."Arnaldo Vandala 1569-1572 Flandres La Palma v.v ado de fazendaJorge Vaadala 1526· Flandres Tenerife est,Luis Vandala Flandres Tenerífe est.Franscisco Sobranls 1530 Génova Gran Canaria est.Daniel Vandana 1588-1595 Flandres Gran Canaria V."HeImau Vendeu Marraquer Flandres Gran CanariaPedro Vandevela Flandres Gran Cariaria est.Bartolomé de Varea 1510 Tenerife est.Martin de Vargas 1537 Gran Canaria est.Michel Vasol 1525-1526 Flandres Tenerife est., mayordomo dei AdelantadoFrancisco Vazquez 1590-1593 Castela Oran Canária V."

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Mercador Data Proveniêocia Morada O_.1lÇÔ<lI

Diego Vazquez Botelho 1585 Castela Gran Canaria v»Francisco veinremila Génova Gran CanariaAlouso Velez 1552 Oran CanariaPedro Vellnis 1550 Flandres Gran CanariaAntonio Velzer 1513 Alemanha Palrnaj'TenerifeMartim Vicente 1508-1509 Tenente escJuan Videl 1522-1525 TenertfePedro Villarreal 1510 TenerifeMateo Vifia 14'l4. I506 Gênova Tenerife V.OGrinalda Virlin 1517 Flandres Tenerife est.Joesl Yogalrs 1526 Flandres Tenerífe est.Alonso de Xéres 1511 Flandres Tenerife v»Lanzarote de Xebres Flandres TencrifcRodrigo Xerez 1511-1513 Tenerife v»Juan Xumbreux 1511-1513 Flandres TenerifeAlyandro Yanes 1511 TenerifeAIonso Yanea 1522-1525 TenerifePedro Yanes Portugal Lauzarote v»Juan de Zamora 1511 Tenerífe est,Alejos velandla 1542 Castela Gran Canaría v»

Fonte: Os dados foram elaborados a partir da informação dada nos protocolos já publicados e dos estudos deManuel Lobo Cabrera, Manuela Marrero Rodrigues, C. Camacho y Pérez Galdón, E. Otta, A. Cioranescu,Maria Luís FabreIles; veja-se a BIBLIOGRAFIA.

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QUADRO N.o 4MERCADORES NACIONAIS E O COMÉRCIO DE AÇÚCAR NA MADEIRA

1500-1540

DécadasMercador Total

1501-1510 1511-1526 1521-1530 1531·1540

João de Abrantes 264 264André Afonso 27 36António Afonso 45,5 47,5Francisco Afonso 46 245 291Gonçalo Afonso 84 31 116 231João Afonso 10 II 64 33,5 118,5Manuel Afonso 6 34 40Mateus Afonso 63,5 63,5Pero Afonso 394 394Rodrigo Afonso 19 19Tristão Afonso 4 4Afonso Álvares 62 14 2 78António Álvares 253.5 2M 457,5Diogo Á.lvares 50 3 53Pernão Alvares zn 211Francisco Álvares 15 56 71Gonçalo Álvares II 8 21 40João Álvares 18 657 37 6 718Nuno Álvares 8 8Pera Álvares 34 71 105Rodrigo Álvares 302,5 14,5 I 318Álvaro Anes 4 35 39João André 2 2Afonso Anes 102,5 20 1M 4,5 231António Anes 98 527 625Fernando Anes 43,5 173 216,5Francisco Anes 29 29Gaspar Anes 12 12Gonçalo Anes 176 91 10 277João Anes Z- 25 5 30Pero Anes III 12 6 129Rodrigo Anes 52 52Gonçalo Raiz Araújo 2 2Pallus de Araújo 25 25Jorge Bocarra 2 2Manuel Bocarra IAntónia Ile Brita 4João Gonçalves Caldeira 17,5 114 131,5Pedra Carneira 169 169João Carvalho 10 10Manuel Carvalho 4 4António Correa 4João Correa 7Gaspar da Costa 6Baltasar Dias 103 103Gaspar Dias 152 152Jorge Dias 63 63Afonso Dinis 4 4António Dinis 63 63Diogo Dinis 16 20 36Fernão Dinis 170,5 170,5Francisco Dinis 20 99 119João Dinis 721 80 801Lapa Dinis 503 503Pero Esteves 20 20João D'Évora 20 14 34André Fernandes 36 36Antônio Fernandes 134 2 383 386 905Álvaro Fernandes 22 22Baltasar Fernandes 124 124Brás Fernandes 3,5 86 89,SDiogo Fernandes 20 40,S 61,5Domingos Fernandes 4 4Francisco Femandes 14 110 59 189Gaspar Fernandes 233 7 240Gonçalo Fernandes I 127 21 149João Fernandes 345,5 184 202 21 752,5Jorge Fernandes 178 18,5 28 224,5Lapa Fernandes 12 12Luis Fernandes 535 535Manuel Fernandes 1,5 1,5Miguel Fernandes 4 4Pero Fernandes 33 39 20 101 193Sebastião Fernandes 255 255Simão Fernandes 860,5 866,5

186

DécadasMercador Tolal

1501·1510 1511·1520 1521·1530 1531·1540------------------_._--João Ferreira 26 ]f) 55António de Freitas 66 66Gonçalo Gil 23,5 23,SJoão de Góis 36 36Álvaro Gomes 52,5 52,SAntónio Gomes 80 80Gonçalo Gomes 62 63Pedro Gomes 225 230Afonso Gonçalves 40 40Álvaro Gonçalves 102 12 114André Gonçalves 6 49 55Antônio Gonçalves 52 13 66Baltasar Gonçal ves I IBartolomeu Gonçalves 329,5 329,5Diogo Gonçalves 76,S 10 77,SDomingos Gonçalves 136,5 136,5Bsrevüo Gonçalves 7 7Fernão Gonçalves 67 30 97Francisco Gonçalves 100,5 II 111,5Gonçalo Gonçalves 49 50Graviel Gonçalves 18 239 257João Gonçalves 299.5 84 43 632 1058,5Jorge Gonçalves 21 167 8 196Murtim Gonçalves 38 144 I 183Pedro Gonçalves 81 14,5 5,5 101Rui Gonçalves 60 60Sebastião Gonçalves 164,5 37 202,5Vicente Gonçalves 1 IFrancisco Guerreiro 50 50João Jácorne 93,5 93,5Pedro Jorge 24 24António Lopes 126 126Álvaro Lopes 5,5 18 23,5Baltasar Lopes 4 4Crlstôvão Lopes 123,5 123,5Diogo Lopes 4,5 4,5Fernão Lopes 5 5Gravlel Lopes 660 660Gonçalo Lopes 30 30João Lopes 9,5 40 49,5

Pero Lopes 3 3Sebastião Lopes 79 79Simão Lopes 12 12Fernão Lourenço 20 20Francisco Lourenço 145 145João Lourenço 159,5 159,5

Álvaro Luís 5 5

António Luís 295 295Diogo Luís 4 5 9João Luís 25,S 28,S

Afonso Martins 8

António Martins 15 96 IIIFrancisco Martins 2 2

João Martins 88 32,5 123,5

Fernão Mendes 31 31

Luís Mendes 17 17

Manuel Mendes 144 144

Rui Mendes 41,5 41,5

António Moniz 66 66

Gonçalo Fernandes Neto 181 181

António Nunes 74 74

Jorge Nunes 20 20

Simão Nunes 85 85

Marcos de Oliva 2

Luis Paes 55 55

Amónio Pereira 847 847

Gonçalo Perelro 412 412

Afonso Pinto 15 15

Afonso Pires 5 I 6

Álvaro Pires 16 13 29

António Pires 6 I 7

Domingos Pires 24 24Geraldo Pires 8 8

Gonçalo Pires 168 87 0,5 0,5

João Pires 117,5 122 111 350,5

João Pires D'Angra 388 388

Luís Pires 11 11Manuel Pires 657 6S1

Rui Pires 14 40 54Simão Pires 22 22

Diogo Rebelo 30 170 2 202

Pedro da Rocha 27 27Afonso Rodrigues 15,5 15,5

Ambrósio Rodrigues 1,5 1,5

Bartolomeu Rodrigues a 8

Diogo Rodrigues 154 3,5 157,5

187

DéeadasMercador Total

1501·1510 1511·1520 1511·1530 1531·1540

Duarte Rodrigues 90 68 158

Francisco Rodrigues 7 2 541 5SOGonçalo Rodrigues 12 17,5 45 74,5Lopo Rodrigues 6 6Pedro Rodrigues 17 26Amador Sequeira 4 4~ntónio Espindola 37 37Alvaro Vaz 7 7António Vaz 2 2Fernão Vaz II IIFrancisco Vaz IS 4 19Gonçalo Vaz 2 3João Vaz 19 20Manuel Vaz 7Pedro Vaz 49 51Simão Vaz lOS 105

TOTAL: 5 147 6042,5 5535 7 073,5 23798

Fonte: A.N.T.T., N,A., n.? 541, 723.

188

QUADRO N.o 5OS MERCADORES ESTRANGEIROS E O COMÉRCIO DO AÇÚCAR NA MADEIRA

1500-1540

Décad..Mercador TotAl

1501-1510 1511·1520 15Z1-153O 1531-1540

Simão Acciaiuolli 334 334Gabriel Affaltati 3930 (1) (2) 3930João Francisco Affaitati 77441 62077 38389,5 177 907,5João de Augusta 4251 4251Luís Alvares 321 321Jorge Andefiz 24,S 24,SAneguim 310 310Mestre Antônio 130 130Viviam António 92 92Pallus de Araújo 53 53Archellem 327 327Pero de Ayala 318 (2) 9 063,5 318Menchude de Bailo IPero de Banches 50 50Alonso de Barreda 3Martim de Belloens 218 218Marim Berre 428 428Janim Bicudo I 151 1 151Cristóvão Bocollo 31596 31 596Estevão Boguo 3930 3930Leonardo Bondinar 100 100António Boto 16512,5- 14512,5Marim Branco 481 481Bano Brocone 6600 6600Pe. Ioão de Bruges 39,S 39,SGuilherme de Brum 70 70Estevão de Bueca 58 58João Calvino 18 18Francisco Calvo 1409 oU} 1549João Calvo 3000 3000Capella de Capellani 28 1444 1472António de Caraç-am 400 0100António Curadas 300 20 320João Rodrigues Castelhano 526 1 132 1658João de Castilho 225 225Francisco Catanho 1222 1222Claaes 5426 5426Nicolau Contrim 16 16João Coquet 262 262Henrique Comualha 366 366Charles Correa (3) 3 094 3094António de Coyros 274,5 274,5]ácome Curelo 38 38João Cymza 2 2Daniel IJoão Dias 68,5 68,SPedro Dias 6Niculau Dizee 214 214João Dolua 6Pedro Duram 360 360Jorge Emdorfor 1789 1789João de Esmeraldo 202 202Richard Estoquedall 152 152Cristóvão Fernandes 23 23André Foquet 8Álvaro França 454 454Pero de França 8 8Franceses 247 927 I 174João Froll 212 212Pedro Gamte 6 6Gaspar Gentil 740 740João Baptista Gentil 253 253Pallus GiIl 277 277Lucas G irald 273 273João Gote 250 250Gregário 152 152Lucano Grillo 2377 2377Guilherme 1 201 28 1229Diogo de Henna 50 50Henrique 219 219Belchior Imperial 337 41 378Pity Joam 24,5 24,5Julião 10 10Pedro Justinham 6Nicolasso Justinhorn 573 573Simão Justinhom 535 535Pedro Justiniano 60 60Feducho de Lamoroto 26039,5 6000 32039,5Pedro de Lamoroto 50 50Jeronimo Larqua 50 50João Ledo 50 50

189

DécadasMercador --"-----_._---------------- Total

1501-1510 1511-1520 1521-1530 1531·1540

António Leonardo 7476 7476Francisco Lido 50 700 75rlJoão Lombarda 4 349 4,·19João Lomelím 5672 3075 ;1 979.5Alvaro de Lugo 102.5 102.5Matia Maoardi 13423.5 13 4235Diogo de Marchena 2lKIO 2000Gonçalo de Marchena 207.5 207.5Bartolomeu Marchioni 45238 (, [XXI 51 238Tobias de Marim (4) 5 344 5344Pedro de Mama 4 :W2 4392Martinho 116 116Valeria Máximo 4 4Alvoro Meireles 495 500Jorge Meireles 91 91Joana de Melgar 33 710 743João de Mesa 600 600Miguel 763 763Pera de Mimença (5) 6 3%.5 6 396.5João Mini'ljIn 5885 588.5Miralles 10 10João de Miranda (6)Benedito Morelli 50348 50348Francisco de Montiloa 187 187Afonso Mufioz 50 50Francisco Narde 3 172 17 192António de Nagra 353 5 180 538Nicolao (Francês) 388 8 396Nicolao (Flamengo) 58 58Pedro Noblet 301 301Isaque Oberim 59 59Oliveira Francês 108 108Francisco Paris 40 40Joam Palamquim 600 600Mafeu Rogel 1697 186.5 1 883.5Julyam Romano 270 270Lucas Salvaga 3D 3DJoão Valdavesso 99 707.5 806.5

TOTAL: 290 608,5 96368 85800 7985 480761.5

Fonte: A.N.T.T., N.A., n. o 541, 723.

(I) O açúcar e os direitos de 1620 (1282.5 a) com Janim Bicudo.(2) O açúcar dos direitos de 1521 (23233).(3) Apenas é conhecido o montante para a capitania de Machico com Pera de Mimença.(4) Apenas é conhecido o montante para a capitania de Machico com 7/12 da sociedade que adquiriu os direitos desse ano conjuntamente com

Henrique Nunes.(5) Apenas os direitos da capitania de Machico. faltando os do Funchal e os restos de 1524 a sociedade com Jorge Lopes Bicudo.(6) Com 3/8 na sociedade que comprou os direitos. conjuntamente com Pero de Ayala,(7) Como procurador.

190

QUADRO N.o 6AGENTES DE TRANSPORTES MARíTIMOS NA MADEIRA

Barqueiro Data Pro.enJênda Morada Observações

Tenerifc Funchal Esl.FunchalFunehal CI cabrestanteFunchal

Porto Santo FunchalFuoehldFunchal C/ cabrestante

Funchal

Est.

CI cabrestante

FunchalFunchalFunchal

Funchal

Funchal

Funchal

Funchal

FunehalFunchalFunchalFunchal

Fuuchal

Ponta do SolFunchal

Puncbal

Arrifana de Sousa

R,a Brava

1560-1564(+}15811559-15601591-159315601591-159315531557-1558156415521553-1557

15911550 - Funchal1525151215951571151115761554-1558155715501578-15981574156615951555-15831545-15651593155715631545-159515931578R.a Brava Funchal15401559-1574 R.' Brava1551-15841557 Campanário1555159315511580-15961566157015501593155J.l555(+ }1581 Calheta1590-159515961570156415681582 La Palma

Bastião AfgonsoDiogo AfgonsoRodrigo AlvaresAfonso AnesManuel CabralManuel CastanhoJoão DiasJulião DiasManuel DiasCristóvam de ÉvoraAntónio FernandesAmador FernandesBrás FernandesDomingos FernandesGaspar FernandesGonçalo FernandesJoão FernandesLuis FernandesManuel FernandesBartolomeu FernandesSebastião FernandesManuel GarciaBartolomeu GonçalvesBrás GonçalvesFrancisco GonçalvesGaspar GonçalvesJoão GonçalvesPedro GonçalvesAntônio LourençoLuís LopesVicente LopesCristóvão LuísAntónio MartinsFrancisco NunesGaspar NunesSebastião NunesJorge PereiraAfonso PiresManuel PiresAntónio RodriguesDiogo RodriguesDuarte RodriguesFrancisco RodriguesGaspar RodriguesJoão RodriguesTomé RodriguesManuel RibeiroManuel RodriguesSimão RodriguesTomé RodriguesVicente RodriguesAndré TeixeiraAfonso do ValeAntónio VascoFrancisco VazJoão Vaz

Calofate

João AfonsoFrancisco DiasGaspar DiasMiguel Fernandes

-1672(+}155715921568-1579(+)

Fajã de OvelhaFunchalFunchalFunchal

Morinhelro

Pedro AnesNuno FernandesJoão LuísAntônio LourençoAfonso PiresAntónio RodriguesTomé Rodrigues

1517155015291546154315401524

FunchalRibeira BravaFunchal

Santa Cruz

Esl.

Est.

Homem do mar

Rodrigo ÁlvaresJoão Domingues

15951576

FunchalFunehal

191

Homem do mar Data Proveniência Morada

Roque Fernandes 1594 FunchalAmónio Gonçalves 1596 Funchal

Piloto

Afonso Anes 1536 Funchal

Mestre navio

João Fernandes do Arco 1496 Calheta

Observações

Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n.? 710, 689; A.R.M., l.R.C.;A.R.M., C.M.F., n.? 699, 700, 868.

192

QUADRO N.o 7MAREANTES NA MADEIRA SÉCULO XVI

Mareante Dalll Provenleocla Morada Observações

Álvaro fonso 1551(+) FunchalFrancisco Afonso 1569-1582 FunchalGaspar Afonso 1542 FunchalLuís Dias Afonso 1557 FunchalManuel Afonso 1558-1567 FunchalPedro Afonso 1529 FunchalDiogo Afonso 1529 Calheta Funchal Esl.Francisco Afonso 1554-1583 FunchalGonçalo Afonso 1553(+) Santarém FunchalJoão Afonso 1552-1564 FunchalRodrigo Afonso 1559-1564 FunchalVicente Afonso 1582 FunchalFrancisco Amaro 1583 FunchalAfonso Anes 1591 Algarve FunchalAntónio Anes ã580-1582 FunchalFrancisco Anes 1552(+) FunchalLourenço Anes 1549-1592 FunchalLuís Anes 1592 FunchalPedreanes 1527 FunchalRodrigo Anes 1578-1580 FunchalVasco Anes 1542-1557 FunchalVicenteI Ane- 1563-1566 Lagos FunchalDomingos Barbosa 1578 Funchal Cabo do CalhauNuno Barbudo 1562 FunchalManuel Borges 1578 FunchalLuís Belo 1561 FunchalDomingos Brás 1565 Terceira FunchalJoão Cardim 1562 FunchalPero Cardoso 1535 FunchalDomingos de Cea 1576 Buarcos FunchalManuel Coelho 1598 FunchalAfonso Cordovil 1592 FunchalEstevão CordoviJ 1548 FunchalBrás Correia 1570 FunchalManuel Cnrreia 1557-1580 FunchalAntónio Carva,lho 1565-1593(+) Terceira FunchalPedro Delgado 1554·1555 FunchalÁlvaro Dias 1594 FunchalBartolomeu Dias 1547 FunchalBelchior Dias 1573-1574 FunchalBrás Dias 1574 FunchalDomingos Dias 1581-1584(+) FunchalFrancisco Dias 1554-1576(+) Terceira FunchalGonçalo Dias 1583593 FunchalJerónimo Dias 1596 FunchalManuel Dias 1560 FunchalPedro Dias 1554-1591 FunchalRui Dias Porto FunchalSebastião Dias 1551-1584(+) FunchalVicente Dias 1596 FunchalFernam Dinis 1595 FunchalFrancisco Dinis 1572 FunchalJoão Domingos 1558 Lajes FunchalAntónio Duarte 1571-1590 FunchalBastião Afonso Duarte 1563-1573 Terceira FunchalPedro Duarte 1591 FunchalJoanne Enes 1555Luís Enes 1591Rodrigueanes 1573-1595Vicente Enes 1582Afonso Fernandes 1593André Fernandes 1543·1582António Fernandes 1554-1574(+)António Fernandes 1556-1598 Porto Santo Funchal R, St.a MariaBastião Fernandes 1592 Funchal Cabo do CalhauBelchior Fernandes 1539-1590 FunchalBrás Fernandes 1565-1581 FunchalCristóvão Fernandes 1551·1560 FunchalDomingos Fernandes 1568·1599 Calheta Funchal Esl.Francisco Fernandes 1553-1596 FunchalFrancisco Fernandes 1584 Porto FunchalFrancisco Fernandes 1591 Calheta FunchalGaspar Fernandes 1555-1585 Ãlcacer do Sal FunchalGiraldo Fernandes 1545 FunchalGomes Fernandes 1569 FunchalGonçalo Fernandes 1544-1549 FunchalHieránimo Fernandes 1545 FunchalJoane Fernandes 1529-1565(+) Funchal R. João GagoJoão Fernandes 1590João Fernandes 1557 S. MiguelLourenço Fernandes 1563Manuel Fernandes 1543·1573 PortoManuel Fernandes -1575(+)Manuel Fernandes 1582 R.a Brava Funchal

193

25

Mareante DalJl Proveníêncla Morada Observações

Manuel Fernandes 1595 Funchal Beco Mateus Pires, C. NovoManuel Fernandes 1593 FunchalManuel Fernandes 1594 FunchalMiguel Fernandes 1558-1596 Funchal Cabo do CalhauMiguel Fernandes 1597Pedro Fernandes 1546-1596(?) FunchalPedro Fernandes 1598 FunchalSalvador Fernandes 1554-1560 FunchalSebastião Fernandes 1556-1595 FunchalSimão Fernandes 1581-1598 FunchalTomás Fernandes 1554-1590(+) Porto Santo FunchalTolllé Fernandes 1560 FunchalVicente Fernandes 1546-1597(+) Tavira FunchalJoão Ferreira 1559-1592 FunchalBrás de Fiuza 1584

João Gago 1557 FunchalManuel Garcia 1594 FunchalPedro Gil 1556 FunchalBelchior Gomes 1596 FunchalCristóvão Gomes 1553-1574 FunchalFrancisco Gomes 1580(+) Lisboa FunchalFrancisco Gomes 1599 Setúbal FunchalPedro Gomes 1541 FunchalManuel Gonçalo 1553 FunchalÁlvaro Gonçalves 1571 FunchalAmador Gonçalves 1545 FunchalAntónio Gonçalves 1558-1593 FunchalBaltasar Gonçalves 1556 FunchalBelchior Gonçalves 1559-1595 FunchalBelchior Gonçalves 1563 S. Miguel FunchalCristóvão Gonçalves 1555 FunchalDomingos Gonçalves 1580-1582 FunchalFernam Gonçalves 1574-1591 Barcelos FunchalFrancisco Gonçalves 1563-1592 FunchalGaspar Gonçalves 1578 FunchalGil Gonçalves 1547 FunchalGonçalo Gonçalves 1544 FunchalJoão Gonçalves 1541-1591 FunchalManuel Gonçalves 1560-1591 FunchalMateus Gonçalves 1555-1586 FunchalPedro Gonçalves 1574-1590 FunchalPedro Gonçalves 1576(+) FunchalRui Gonçalves 1553 Tavira Funchal Est.Sebastião Gonçalves 1583-1597 FunchalSimão Gonçalves 1552-1597 Funchal Cabo do CalhauTomé Gonçalves 1561-1569 FunchalVicente Gonçalves 1589 FunchalLansarole de Gu1)a 1555 FunchalÁlvaro Jorge 1574 FunchalAntónio Lopes 1588-1595 Algarve FunchalBelchior Lopes 1582-1593 FunchalDio80 Lopes 1562.1590(+) FunchalJoão Lopes 1540(+)João Lopes 1579-1581Marcos Lopes 1533Manuel Lopes 1565Melchior Lopes 1581Pedro Lopes 1540-1558Sebastiam Lopes 1546(+)Dio80 Lourenço -1574Fernão Lopes 1554João Lopes 1570 TaviraRodrigo Lopes 1583Vicente Lopes 1574Diogo Luís 1586-1588Francisco Luís 1552-1572(+)Gaspar Luis 1549-1554 FunchalGaspar Luis 1560-1566 Santa Maria FunchalGonçalo Luis 1553João Luís 1554-1597 TaviraTomé Luís 1583-1584Antónia Martins 1551(+) Tavira FunchalBaltasar Martins 1567João Martins 1556 Funchal R. Miguel LopesManuel Martins 1595 Faro FunchalNiculao Martins 1558 Algarve FunchalManuel Marques 1573-1574 Terceira FunchalRoque Marques 1558Afonso Mendes 1548António Mendes 1578-António Mendes 1578-1598Antônio Mendes 1589-1616(+) Machico C. NovoFrancisco Mendes 1556-1598 FunchalFrancisco Martins 1569 FunchalGomes Martins 1539Jo Morais 1551 FunchalFrancisco Moreira 1589-1591 Funchal

194

Mareante Data Proveniência Morads. Obse rvações

André de Mola 1579 FunchalBento de Mujaige ? 1549 FunchalJerónin\o Nunes 1582 FunchalManuel Nunes 1594·1597 FunehalNicolau Nunes 1557·1579 FunchalPedro Nunes 1586Sebastião Nunes 1593António de Paiva 1548Bartolomeu Pereira 1548-1591 (+) Lagos Funchal R, João GagoJoão Pinto 1590 Sesimbra FunchalÁlvaro Pires 1541António Pires 1576·1582Baltasar Pires 1572·1582Diogo Pires 1575Fernão Pires 1535-1586 Funchal R. Vasco PiresFernão Pires 1551 (+) Funchal Cabo do CalhauFrancisco Pires 1538-1540 FunchalGonçalo Pires 1554-1599 Viana FunchalGonçalo Pires 1554-1559(+) Barcelos Funchal Poço NovoManuel Pires 1565 FunchalMiguel Pires 1556 Palma FunchalPedro Pires 1557 FunchalJoão Rebelo 1547Manuel Ribeiro 1577-1584 SesimbraManuel Roches 1552António Rodrigues 1542-1582António Rodrigues 1558António Rodrigues 1589·1593Baltasar Rodrigues 1572 FunchalBelchior Rodrigues 1544Fernão Rodrigues 1544·1575Gnspar Rodrigues 1558·1589Gil Rodrigues 1572·1594 FunchalJoão Rodrigues 1540 FunchalJoão Rodrigues 1543·1594(+) FunchalJoão Rodrigues 1583 Funchal Filho de J, Rodrigues e Isabel Pinto

João Rodrigues 1589 FunchalJosé Rodrigues 1583-1587 FunchalManuel Rodrigues -1596(+) Calheta R. de Baixo

Manuel Rodrigues 1564·1589 FunchalManuel Rodrigues 1579-1587 FunchalTomé Rodrigues 1583 FunchalVasco Rodrigues 1592-1597 FunchalVicente Rodrigues 1592-1596 FunchalSebastião 1563 Esposende FunchalBelchior Simões 1552 FunchalBento Simões 1579·1594 CoimbraManuel Silveira 1580 FunchalTomé Silveira 1571·1591 FunchalDiogo Soares 1577 Funchal R, Belmonte

Gonçalo Soares 1580·1584 FunchalJoão Soares 1583 Funchal

João de Soares 1597 FunchalAntônio do Vale 1570·1573 FunchalPedro Valdavesso 1560 Gala FunchalAfonso Valema(?) 1589 Funchal

André Vaz 1553-1572 Funchal

António Vaz 1577-1580 Funchal

Diogo Vaz 1580·1582 Funchal

Francisco Vaz 1585-1591 Funchal Ponte Nova

Gaspar Vaz 1587· Funchal

João Vaz 1556-1561(+) Lagos Funchal

Manuel Vaz 1548·1578 Funchal

Pedro Vaz 1555·1597 Funchal

João Velha 1554 Funchal

Belchior Gonçalves Viana 1590António Vicente 1598 Calheta

João de Villes 1560-1564 Funchal

Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; Idem, Misericórdia do Funchal, n.? 684, 710-711; Idem, l.R.C.;

Idem, C.M.F., n.? 866, 699-700.

195

QUADRO N.O 8 MESTRE DE NAVIO NAS CANÁRIAS

SÉCULO XVI

M .. I .... d. navio Data Proveniência Morada Observações

Cosme de Abreu 1586 Garachico (Tenerife) V.O António Afonso 1511 Faial Tenerife Est. Português BI .. Afonso 1513 Tenenfe Femand Afonso 1506 Tenerifc Pantal.am Afonso 1511-1539 Tenente Português Juan d. Agullar 1540 Tenerife GraR Cannria Est. Diogo Alooso de Palas 1509 Tenerife Est. Juan Aiie. 1552 Grao eanana Pedro Aotóo 1511 António Genovês 1509 Génova Tenenfe Nicolao Az.redo 1546 Génova Oran Canaria Alonso Baez 1527 Portugal Oran Conaria António Baez 1527 Gran eanaria E.t. Jorge Bae. 1510 Portugal Tenerife Est. Manuel Bacz 15:17 Madeira Orao Canaria E.t. Cpstóbal Balbo 1510 GeRova Tenerife E.1.

_Toribio d. Baõo. 1510-1513 Tenerife Esl. Alonso Bemoejo 1508 Hu.lvo Tenerife Pera Bernal 1510 Tenerite Alonso Bivas 1510 Tenerife Seb .. tian de Cales Tenerife Pedro d. Los Caiíaval .. 1509 Teoerife Tomé Cano 1589 Teoerife Diego Perez de Castro 1562 Palma Orao Canaria Francisco Carreiio 1509 Tenenfe Juan Carreiio 1511 Tenerife Rodrigo d. Cates 1512 Tenerife Juan Colunga 1512 Tenerifc Luis Correa 1584 Tenenfe Juao Cota 1508 Teoerife Bartolomé Delgado 1522-1525 TeneriCe Luc.. Delgado 1594 Tenenfe V.o Pedro Delgado 1508 Tenerife Pedro Diniz 1552 Gran Canana Oonzalo Oi .. 1551 Gran Canaria Esl. Juan Oi.. Ambroto Tencrife Gonzalo Domingue. 1509 Tenenfe Juan Ourango 1506 Tenerife Ooozalo Femand •• 1510 Tenerlfe Pero Fernandez 1509 Tenerife Mm"el Ferreira 1572 Portugal Gran Canaria Esl. Juan de Fina 1513 Génova Tenerife Juan Gdlego 1520 Tenerife Juan Gareia 1520 Tenerife Simon Gareia 1507 Tenerife André Oenovés 1510 Tenenfe Álvaro Oomes 1565 Orao Canaria V.O Juan Gomez 1522-1525 Teoerife Alonso Gonzole. 1514-1552 Austrias TeneriCe Anton Gonzalez 1512 Teoenfe Anton Gonzalez 1517 Portugal Grao Canana Est. Diego Gonzalez 1520 Tenerlfe Francisco ·Oonzalez 1596 Hierro Tenerife Luis Gonzalez 1512 Tenerife Luís Gonzolez 1588 Portugal Gran Cnnaria Est. Pedro Gonzole. 1559 Grao Canaria V.o Pedro Gonzalez de Nojar 1508 TeneriCe Rodrigo de Grajoda 1506 Teoerife Ruy Gutiérrcz 1512 Tenenfe Juan de Heredia 1588 Se.vilba GraR Canaria Esl. Diego Hemande. 1550-1560 Orao Canaria Est. Pedro de H.rrera 1510-1525 Tenerife V.o Diego Lopez 1510-1511 Tenerife Esl. Hemán Lopez 1506 Portugal TencriCe Esl. Sebastiam Lopez 1509 Tenerife Juan Lorenzo Flandres Tcnerife Est. Diego Lui. 1510 Tavira Tenenfe Simon Luís 1507 Tenerife Rodrigo Mallerón 1511 Tenerife Pedro de la Marina 1508-1511 Tenerife Esl. Martim 1508 Tenenfe Antón Martim 1507 Tenerife Diego Martim Tencrifc Francisco Martim 1511 Tenerife V.o Gaspar Martim 1592 Gran ennaria Alonso Martim d. Lucena 1508 Tenerife António Martinez 1507 Tenerife Alon.o Medel 1511 Tenerife Esl. Pero Montero 1522-1525 Portugal Tcncrife E.I. Diego de Montemayor Tenerife Alon5o de Moralos d. Santo 1507 Tenerife Diego Moralos 1508 Tencrife Martin Nufiez 1513 Tenerife

196

Metitre de navio

Amador de PaivaPedro OrtegaDiego OrtizAlonso PerezJuan PerezJuan PerezMartin PerezMartin Perez dei OlmoJuan de PlaceCristóbaJ PonteJuan do PortoAlonso RamosAntónio QuiteroJuan de QuiteroBernardo RodriguezFrancisco Rodrigues ZarcoJuan RodriguesFrancisco RodriguesJuan Rodrigues CarreroTomé RodriguesFrancisco SalamancaJuan de SalamancaMarcos SalvagoJuan SanchezPera SanchezFrancisco SepulvedaJerónimo BeBo de SottomayorJuan de ÚbedaPedro UriarteJorge VaezBastian ValeraFrutuoso VicenteGregório VicenteAlonso VieiraJuan VizcainoPedro YanesEsteban Yanes

Data

1548-155015061510150915201579155215521509

1508-151015111513151J

1508-151 I1513159615131511154915061509J50715071501578J508-1509150815101522-15251522-152515991521150715521510

Provenlêncla

Sevilha

PortugalPalma

Cádiz

Galiza

PortugalPortugalPnrtugal

BiscaiaPortugal

PortimãoMadeira

Lisboa

Morada

TenerifcTenerífeTenerifeTenerifeTencrifcGran CanariaOran CanariaGran CanariaTenerife.TenerifcTenerifeTenerifeTenerifeTenerifeGran eanariaTenerifeTenerifeGran CanariaTenerifaTenerifeTenerifeTenerifeTenerifeTenerifcTenerife

TenerifeTenerifeTenerífeTenerifeTenerifcTenerifeGranCanariaTenerifeTenerifeOran CanariaTenerife

Esl.

Esl.Esl.EsI.Esl.EsI.

V.·EsI.

Esl.

Esl.

Es!.

Es!.

Tenerife

Esl.

V.·Est.Esl.Est.

ObRrnÇÕ<ll

Fonte: F. Clavijo Hernandez, oh. cit.; Manuela Marrero Rodriguez e E. Gonzalez Yannes, oh. cit.; M. IsidraCoelho, oh. cit.; A. Cioranescu, oh. cit.; Manuela Lobo Cabrera, Indices y Extractos . . .; Idem, Laesc/avitud en las Canarias orientales . . .

197

QUADRO N.O 9ALMOCREVES NAS CANÁRIAS

SÉCULO XVI

Almecreve

André AfonsoGarcia AfonsoJuan AfonsoAnton ÁlvarezJuan ÃlvarezPedro AlvarezÁlv.roDiego ArenasGonzalo de ArochaJuan de BragaDiego DrazFrancisco DrazDiegoBaltasar FernandesGonzalo FrancoMaouel FeyleAlonso Sanchez de la FuentePedro GaUegoAfonso GarciaFernando GarciaGonzalo GarciaMarcos GarciaAlonso GonzálezAntan GonzalezEsteban GonzalezFernan GonzálezFrancisco GonzalezJuan GonzalezLauzarote GonzálezLuís GonzatezPedro GonzalezVicente GonzálezGonzaloBIas HemandesFrancisco HernandezHerrnandoJorgeJuanFernando de LamegoJuan LopezVasco MachadoPedroÁlvaro Perez ;Fernando PerezOonzalo PerezManuel 'PerezBeníto SanchezMmim SanchezJuan de SevilhaAfonso YanesGonzalo YanesPedro Yanes

Data Proveniência Murada Observações

152l Tenerife Esc1550 Oran Canária Est.150&·1511 Tencrife v»1522-1525(?) Tenerife1522-1525 Tenerife Esl.150&-1511 Tenerife ESI.1522·1525 Tenerife1509 Tenenfe Esl.150& Tenerífe1520·1521 Tenerife Português, v»1520 Tenerífe Esl.1522·1525 Tenertfe1510 Tenerife1522-1525 Tenerife Esl.1520 Gran Canária V."1522-1525 Tenertfe1520 Gran Canária V.O1509-1510 Tenerife V.O1509-1510 Tenerífe Esl.1511-1520 Tenerife V."1509 Tenerife ESL. Português1507 Tenerífe1522-1525 Teoerife Esl.1522 Tenerife1522 Tenerife1550-1559 Oran Oanaria V,o1552 Gran Canaria V,o150&-1525 Tenerife Est., Português1522-1525 Tenerife1511 Tenerife1522-1525 Tenerífe1522 Tenerífe Es!.1508 TenerifeSéc. XVI Tenerife1552 Tenerífe v» de Guia150&-1525 Tenerife ES!.1521-1525 Tenerífe Es.r.1511 Tenerife1522-1525 Tenerife1510-1511 Tenerife E,l.1520 Tenerife1507·1525 Tenerife E,I. Português1520 Tenerife1509 Tenerife V."1509 Tenerife1550 Gran Canaria1511 Tenerife ESI.1522 Tenerife1520 Tcnerife1522-1525 Tenerire1520-1525 Tenerife1510 Tenerife

Fonte: Manuel Lobo Cabrera, lndices y extractos ... ; Idem, Protocolos del escribano Alonso Gutiérrez; F.C.Hernandez, ob. cit.; M. Isidra Coelho, ob. cit.; Manuela Marrem Rodriguez e E. Gonzalez Yannes, ob.cito

198

QUADRO N.o 10ALMOCREVES NA MADEIRA

SÉCULO XVI

Almocreve Data Provenlência Morada Observações

Álvaro Afonso 1559 FunchalAntónio Afonso 1540-1548Daniel Afonso 1554Domingos Afonso 1554(+)Jorge Afonso 1538Manuel Afonso 1549(+)Pedro Afonso 1547-1569Pedro Afonso 1547-1569Bastiam Álvares 1517 Ribeira Brava Esl.Gonçalo Álvares 1586 FunchalRodrigo Álvares 1540 FunchalAfonso Anes 1547(+) FunchalGonçalo ARes 1525-1582 Funchal Homem BomJoão Alies 1579Pedro Anes 1517-1577 FuachalDomingos de Braga 1595 FunchalCustódio Brás 1560(+) Funchal Beco João TaviraGonçalo Borges 1581-1598 FunchalJoão de Canha 1481 FunchalAndré Correa 1560 FuachalGonçalo Dias 1546 FuachalJoão Dias 1550-1572(+) Funchal de Ambrósio RaizGonçalo Dinis 1546 FunchalJoão Dinis 1569(+) FunchalPedro Dinis 1507 Arrifana FunchalJoão Dorla 1507 FunchalAntónio Esteves 1547 FunchalEstevam Eanes 1571 FunchalGonçaleanes 1582-1592(+) FunchalJoaneanes 1568-1574 Guimarães FuachalPedrianes 1592 FunchalJoão Farinha 1509 FunchalAgostinho Fernandes 1540-1585 Calhem FunchalBento Fernandes 1517 Ribeira Brava EsC.Diogo Fernandes 1534 Funchal Beco de Simão AchioliDomingues Fernandes 1580 Funchal R. das PretasFrancisco Fernandes 1570-1575 FunchalGaspar Fernandes 1552-1570João Fernandes 1582-1595Pedro Fernandes 1507-1598 Lamego Funchi1lManuel de Freitas 1597-1598 FunchalGalego 1509 Calhem Est.João Gomes 1555-1571 Poiares FunchalAfonso Gonçalves 1594(+) Santa CruzÁlvaro Gonçalves 1554·1595Amador Gonçalves 1554-1577António Gonçalves 1560-1595 H. Baço, de Martim Mendes de CarvalhoAntónio Gonçalves 1566 BarcelosBartolomeu Gonçalves 1595Brás Gonçalves 1544·1573 Santa Cruz Das «moças do Caniço.Domingos Afonso 1595-1597Catarina Afonso 1586Madalena Afonso 1495ManueI Afonso 1582Marta Afonso 1495Joana de Almeida 1495Pedro Alves 1495Afonso Anes ISSOFilipe Correa 1593Catarina Dias 1495Diogo Dias 1593lsabel Dinis 1511(+)Beatriz Enes 1495Catarina Fernandes 1495Luís Fernandes 1588Luís Fernandes 1495-1578 (+)Manuel Fernandes 1572Maria Fernandes 1495Joana Fernandes 1495 Ponta de SolCatarina Gomes 1495 FunchalPedro Godinho 1553 FunchalÁlvaro Gonçalves 1594 FunchalElena Gonçalves 1495Catarina Gonçalves 1495Francisco Gonçalves 1581-1595Isabel Gonçalves 1593João Gonçalves 1553-1573Maria Gonçalves 1495Pedro Gonçalves 1595Sebastião Gonçalves 1554Maria Lopes 1574·1588Maria Lourenço 1495Catarina Luís 1589

199

Almocreve Data Proveniência Morada Observações

Bárbaro Martins 1495Gonçalo Martios 1502Inês Martins 1495Isabel Martios 1571(+) Funchal Poço NovoLeanor Mota 1552Leanor Pereira 1495Ambrósia Nunes 1590Afonso Pires 1572Isabel Pires 1495Catarina Pires 1495Isabel Rodrigues 1495Maria Rodrigues 1495Catarina Moreira 1495Ãlvaro Vaz -1586Catarina Vaz 1495-1586Domingos Gonçalves 1551-1562 Calheta Santa CruzDiogo Gonçalves 1583 Santa CruzFrancisco Gonçalves 1573(+) Santa CruzFrancisco Gonçalves 1598 Santa Cruz F. de Ant. GonçalvesGaspar Gonçalves 1582-1583 BragaGonçalo Gonçalves 1545-1598Luis Gonçalves 1577Matias Gonçalves 1597Martinho Gonçalves 1551Pedro Gonçalves (I) 1552-1569(+)Pedro Gonçalves 1565- BastoPedro Gonçalves 1559-1593 PombeiroPedro Gonçalves 1588 Arco Calheta Santa Cruz Esl.Salvador Gonçalves 1579-1593. Portugal Santa CruzAntónio Jorge 1596João Jorge 1559Simão Jorge 1567Afonso de Lima 1586-1595(+)Domingos Lopes 1560(+) Santa Cruz Beco dos MestresJoão Lopes 1536 Ribeira BravaMateus Luís 1552-1559 CaniçoPedro Machado 1558 FunchalAfonso Martins 1552 FunchalAntónio Martins 1552 FunchalAntónio Martins 1560 Carvalho ... FunchalDiogo Martins 1593·1595 FunchalPedro Moura 1509 CalhetaJoão de Medeiros 1558 TábuaAntónio Pinto 1576 Funchal Por soldada a Gonçalo ÁlvaresAfonso Pires 1547 FunchalAndré Pires 1554 Giar? FunchalAmónio Pires 1559 FunchalDiogo Pires 1580-1585 FunchalDomingos PitÓ 1571 Barcelos FunchalGonçalo Pires 1555·1569 FunchalPedro Pinte 1581-1583 FunchalPedro Pires 1553 Viana de Caminha FunchalRodrigues Pires 1556 FunchalSimão Pires 1551(+) FunchalJoão Rodrigues 1509-1542 FunchalPascoal Simão 1559(+) FunchalGonçalo Vaz 1574 Funchal

Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; Idem, Misericórdia do Funchal, n.? 710-711,684; A.N.T.T., N.A.,n.? 744-745, 902; A.R.M., C.M.F., n.? 1297, 700; Idem, l.R.C.; Idem, L,0 de notas de loão Tavira,1597.

200

QUADRO N.o 11VENDEIROS NA MADEIRA

SÉCULO XVI

Nome

Catarina AfonsoMadalena AfonsoMarta AfonsoJoana AlmeidaBeatriz AnezCatarina DiasBeatriz EnesCatarina FernandesLuís FernandesJoana FernandesCatarina GonçalvesCatarina GomesConstância GomesElena GonçalvesMaria GonçalvesMêcia LourençoBarbara MartinsCatarina MoreiraLeanor PereiraCatarina PiresIsabel PiresIsabel RodriguesMaria RodriguesMycea RodriguesCatarina Vaz

1488149514951495148914951495149514951495149514951495149514951489149514951495149514951495149514951495

Data Nome

Catarina AfonsoDomingos AfonsoAfonso AnesFilipa CorroaIsabel DinisLuís FernandesManuel FernandesPedro Godinho

Isabel GonçalvesInês GonçalvesJoão GonçalvesPedro GonçalvesSebastião GonçalvesMaria LopesCatarina LufsGonçalo MartinsIsabel MartinsLeancr MotaAfonso NunesAfonso PiresMaria Se;(BSÁlvaro VazCatarina Vaz

Data

15861595-1597155015931511158815721553

159315781553-1573159515541574-1588158915021571155215901572159215861586

Fonte: A.R.M., C.M.F., n.? 1298-1299, 1301; Idem, Misericórdia do Funchal, n.? 684, 710-719; Idem, J.R.C.,Tombo; Idem, Paroquiais-Sé.

201

QUADRO N.O 12OBRIGAÇÕES EM TRIGO DOS AÇORES

1509-1519

Trigo Açúear DinheiroDevedor Credor Data (molos) (arrobas) (reais)

Leanor Afonso Duarte Rodrigues Pinto 1509-VlIl-22 42Leanor Afonso Duarte Rodrigues Pinto 151O-X-6 6 7António Teixeira rendeiros dos Açores 151O-IV-12 8 52Heitor Lopes Sebastião Morais 151D-IY-19 I 7Leanor Afonso Sebastião Morais 151O-IV-20 I 7Simão Lopes Duarte Rodrigues Pinto 151O-IV-27 I 6Pedro de Brito Sebastião Morais 1510-IV-19 2 12Leanor Afonso Duarte Rodrigues Pinto 151O-V-6 2 13João Álvares de Arco Sebastião Morais 151O-VII-15 I 6Manuel Pestana Luís Mendes de vascon. 151O-X-27 6 42Pedro de Brito Sebastião de Morais 151O-X-7 4 26Elias Gonçalves rendeiro Jorge Dias 151O-X-16 3 21Nuno Fernandes rendeiro Jorge Dias 151O·X-16 3 21Jerónimo Fernandes rendeiro Jorge Dias 151O-X-16 3 21Rui Dias Luís M. de Vasconcelos 151O-X-30 1,5 12Baltasar Nicolau Duarte Rodrigues Pinto 1510-X-30 I 8João Favila Duarte Rodrigues Pinto 151O-XI-2 112 3João Álvares Jorge Dias 151O-XI-15 20 140Pedro do Quintal Jorge Dias 1510-XII-10 2 3S2ooAntão de Lordelo Jorge Dias 151O-X-23 2 14Jorge Lourenço Jorge Dias 1510-YI-1O 112 3 e 8 arra,João Rodrigues Luís M. de Vasconcelos 1510-X-9 20 140João Rodrigues Luís M. de Vasconcelos 151O-X-28 10 70Pedro Vaz Duarte Rodrigues Pinto 1511-1-2 I 4Pedro Vaz Duarte Rodrigues Pinto 15ll-II-lI 30 alqueir, 4Antão Lordelo Luís M. de Vasconcelos 151H-lI 30 alqueir. 4Antão Lordelo Luis M. de Vasconcelos 1511-1-21Y I 4Antão Lordelo Luis M. de Vasconcelos 1511-X-23 2 14Jorge Lourenço Sebastião Morais 1511-1-13 I 7Simão Lopes Sebastião Morais 1511-1-29 1 6João do Rego Sebastião Morais 1511-11-1 1,5 9Branca Fernandes Sebastião Morais 1511-11-1 20 alqueir. 2João Fernandes Jorge Dias 1511-I1-1I I 7João da Rosa Sebastião Moreis 1511-11-11 3 21João da Rosa e Henrique Ousei Sebastião Morais 1511-XII-28 8 56João Rodrigues Luis Mendes de Vasconc. 1511-IY-I I 7,5João Rodrigues Luis M. de Vasconcelos 1511-Y-23 2 16João Martins '(Tábua) Sebastião Morais 1511-I1I-1O 8 56Gonçalo Álvares Luís M. de Vasconcelos 1511-Y-lI 30 alqueir, 3 e 24 ar.João Martins Sebastião de Morais 1511-YI-16-27 4 18Vicente Álvares Namorante Vaz (rendei.) !511-X-6 1,5 9Gonçalo Vaz Luis Vaz de Negro (ren.) 1511-XI-25 2 10Gonçalo Vaz Luis Vaz de Negro (ren.) 1511-XII-22 30 alqueir. 2,5Álvaro Afonso Luis Vaz de Negro (ren.) 1511-XII·5 4 24Antão Dias Luis Vaz de Negro (ren.) 1512-1-12 30 alqueiro 2,5João Dias da Ribeira Luis Vaz de Negro (ren.) 1512-1-30 30 alqueir. lSOOOGomes Fernandes Luís Vaz de Negro (ren.) 1512-I1I-1 30 alqueir. 2Manuel de Florença Luís Vaz de Negro (ren.) 1512-IY-2 I IS800Pedro Anes Preto Luís Vaz de Negro (ren.) 1512-IV-6 4 7S2OOPedro Anes Preto Luis Vaz de Negro (ren.) 1512-VI-3 I 1$000Jerónimo Fernandez Namoranle Vaz 1512-IX-23 2 ISOOOMartinho Anes Luís Vaz de Negro 1512-X-12 8 12S000Simão Acciolli Fernão Pardo 1512-IX-3 I IS300Pedro Anes Namorante Vaz 1512-XI-17 2 3S2OOPedro Anes Preto Namorante Vaz 1512-XI·27 30 alqueir. S750Lourenço Pires Namorante Vaz 1512-XII-6 30 alqueir. S800D. JOana M.V. Martin M. Namorante Vaz 1512-XII-6 I S900Pedro Homem Namorante Vaz 1512-XII-16 2 3S2OOMartim Vaz Namorante Vaz 1513-1-4 I IS600Gaspar Fernandes Namorante Vaz 1513-1-9 I IS600André Fernandes dízimo dos Açores 1513-1-12 30 alqueir.Diogo Lopes d ízirna dos Açores 1513-1-26 2 3S000Álvaro Fernandes Gonçalo Rodrigues (dizim.) 1513-1-9 2 3S2OOAntónio Dias Gonçalo Rodrigues (dizlm.) 1513-11-22 30 alqueiro S800Pedro Anes Gonçalo Rodrigues (dizim.) 1513-11-25 I IS600Pedro Anes de Castro Luís Vaz 1513-11-26 30 alqueir. S700Diogo Gonçalves Luís Vaz 1513-111-4 30 alquelr. S800Diogo Homem Luís Vaz 1513- 40 alqueir. IS066João Fernandez da Casa Luís Vaz 1513-IY-2 30 alqueir. S750João Rodrigues 1513-IY-2 5 5S000João Rodrigues 15i3-1X-1 5 2S000Gonçalo Fernandes dízimo 1513-Y-12 I IS200João Sebastião da Rosa João de Freitas 1513-YIII-28 3 S960Mês de Rosa viúva J. Vaz João de Freitas 1513-YIII-28 4 6S050Jerónimo Fernandes Namorante Vaz 1513-1X·17 2 3S000Gonçalo Fernandes João R .• feitor da Terça 1513-IJ{-20 5 6S000Pedro Ornelas João de Freitas 1513-IX-20 5 6S5OOGonçalo Caldeira Namürante Vaz 1513-IX-20 lOe 16 aI. 14S000Duarte Fernandes Namo-rante Vaz 1513-IX-22 5 7S000Álvaro Gonçalves Calha Luís Vaz de Negro 1513-1X-24 I IS600Nuno da Costa Luís Vaz de Negro 1513-1X-24 2 3S000

202

UinheiroIreals!

Açúcar(arrobas)

DalaCredorDevedor Trigo(moios)

--------------- c c _

IS600IS600IS6(X)IS(,(X)9S000IS600IS600IS600S800

IS600S533

IIS950IS51XJS300

IS11XJ19S5OO6S000

IIII6III

30 alqueir.I

20 alqueir.IIIII

156 e 40 alq,

1513-IX-241513-IX-241513-IX-241513-IX-241513-IX-241513-IX-251513-IX-261513-IX-261513-IX-261513-IX-211513-IX-JO1513-X-121513-IX-5I513-IX-241513-XIl-18J513-XIl·191514-IV-261519-11-1

Luís Vaz de NegroLuis Vaz de NegroLuís Vaz de NegroLuis Vaz de NegroLuis Vaz de NegroLuis Vaz de NegroLuís Vaz de NegroLuís Vaz de NegroLuís Vaz de NegroLuis Vaz de NegroLuis Vaz de Negro

Benoco Amador Luís Vaz de NegroLuis Vaz de NegroJoão RodriguesNamorante VazLuís Vaz de NegroLuis Vaz de NegroDuarte Rodrigues (ren.)

Estevão SanchesSebastião GonçalvesMarte Teixeira m. Diogo de NoyaGonçalo FernandesPedro GonçalvesGonçalo FernandesJoão FernandesAfonso AnesJoão EscórcioAfonso LendeíroPedro LourençoPatrónia Gonçalves. m.Gonçalo FernandesHeitor NunesJerónimo FernandesGonçalo AiresBenoco AmadorDiogo Gil

Fonte: A.N.T.T., C.C., I1-21 a 27,5,99,30 e 31, 33, 104,35 a 38, 41 a 43,185,50,56,60,63,70,88,143.20, 83, 79, 46.

203

QUADRO N.o 13MERCADORES E SEUS AGENTES/PROCURADORES

Mercador

João Francisco Affaitati

Diogo Afonso de AguiarPedro Afonso de AguiarPedro de AyaIla

João Vaz de AlmadaJanim BicudoJorge Lopes BixordaRui de CastanhedaFrancisco CastanhoClaaesJoão CoquetCharles CorreaCristóvão GodinhoRui GilB. MarchioniTohias de MarimBemardim de MedeirosPera de Mimença

B. MoreIli

Leonardo NardlJoão OdomGarcia PimentelÁlvaro PimentelJoão Álvares PereiraJerónimo SemigiWelsers

Data

-1539

1504153015281529150615201525-1526150515041507-15101530\526150615061507-15131535153015241526\528150815091509-15\01504-150515271509

\50615061507-1510

Feitor ou procurador

Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão Bocollo, CapeIla de Capellaoi, João Dias, João Gonçal-ves, Matia Manardi, Maffei Rogell, Lucas Giraldi

Bano BroconeCapella de CapellaniJoão ValdavessoJoão Rodrigues Castelhano, Simão Fernandes, João do ValeFeducho LamarotoMatia ManardiJoão Rodrigues CastelhanoJanim BicudoQuirio CatanhoJorge Erndorfor, António LeonardoCharles CorroaJoão Pardo. João Valdavesso, João Rodrigues CastelhanoLucano GriIloLucano GriIloFeducho Lamoroto, Benoco AmadorJoão Gonçalves, João RodriguesJoão Rodrigues CastelhanoJoão Mendes, João Rodrigues CastelhanoJoão de ValdevessoJoão de EscalanteFeducho Lamaroto e Benoco AmadorBenoco AmadorCristóvão Bocollo, B. Marchionnl, António Leonardo, João AugustaFeducho LamarotaAntónio BotoEstevão Bogno, Gabriel Affaitati, Jorge LomelimBenoco AmatoriFeducho LamarotoBona Brocone, Benoco ArnatoriJoãoAugusta, BonaBrocone, JorgeErndorfor, Jácome Holzbock, Leo Rovenspergere HansSchonid

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, Os estrangeiros na Madeira entre 1500-1537

204

ProcuradorIAgente

Simão AcciaiuolliGabriel AffaitatiJoão Francisco AffaitatiJoão de AgustaBenoco AmatoriJamin BicudoCristóvão BocclloAntónio BotoBona BroconeCapella CapoUaniJoão Rodrigues CastelhanoQuinio CatanhoCharles CorreaJoão DiasJorge EmdorforJoão EscalanteJoão Esmeralda, O VelhoFranceslindo FrancesSimas FernandesLucas GiraldiJoão GonçalvesLucano GriUoJácome HolzhockFeducho LamarotoAntónio LeonardoJ. LomellinAntónio LucaMaria ManardiB. MarchionniJoão PardoJoão RodriguesJoão ValdavessoJoão da Vale

QUADRO N.o 14PROCURADORES E AGENTES·PRAÇA DO FUNCHAL

1500·1537

Mercador

B. Morelli, Lapo de AzevedoCristóvão Bocollo, Garcia PimentelGarcia Pimentel, Pedra Afonso de Aguiar e João Rodrigues de NoronhaWelsers, B. MorelliB. Marchlonni. B. MoreIli, Álvaro Pimentel, Jerónimo Sernigi, Francisco GarduchoRui de CastanhedaJoão Francisco Affaitati, Bt MorelliJoão de OdomJerónimo de Sernigl, João Francisco Affaitati, Welsers. Diogo Afonso de AguiarPedra Afonso de AguiarJorge Lopes Bixorda, Pera Mlmença, Pero de Ayala, Charles CorreaFrancisco CatanhoJoão CoquetJoão Francisco Affaitati, Janim BicudoWelsersPera de MimençaD. Pedra de MouraSantoguedaPera de AyalaJoão Francisco AffaitatiJoão Francisca Affaitati, Janim Bicudo, Tobias MarimCristóvão Godinho, Rui GilWelsersLeonardo Nardl, João Álvares Pereira, João Vaz de Almada, B. Marchionni, B. MoremClaves, Garcia Pímentel, B. MoreIliGarcia PlmentelJoão Francisco AffnitatiJoão Francisco Affaitati, Janim BicudoFeducho Lamaroto, B. MoreIliJorge Lopes, Bixorda, Pera de Mlrnença, Charles CarreaTobias de Marim, Bernardlrn de MEdina, Peru de MimençaJorge Lnpes Bixorda, Pera de Mimença, Charles Correa. Pera de AyalaPera de Ayala

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, ibidem.

205

QUADRO N.o 15FRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES NAS CANÁRIAS

SÉCULO XVI

Data Percurso Custo Mercadoria

1000 fanegas de cevada

cevada2S toneladas de cebotrigo200 fanegas de trigo e 100 de eevadatrigo

130 ex.· de açúcar2 barcas de pedra e cal

140 cx.s açúcaraçúcarmadeiras

500 fanegas de trigo

trigo e passageiros200 xeprôes de madeira

trigo e pez

trigo e cevada em 2 viagens300 fanegas de trigo e 30 qulruais de

biscoito600 fanegas de cevada e 471 de trigo47 botas de vinho e 6 serenesde Castelanmadeira

400 quintais de pez e 130 fanegas detrigo

4 eixos para- engenhocevadatrigo ou cevadacevada800 fanegas de cevada

45 mrs/qulntel700 mrs/lonelada20 dobras de ouro750 mrs%quintal35 mrs/tonelada18 rnrs de Ianega15 mrs de fanegaI 1/2 reais fanega35 mrs/quíntal600 mrs fanega47 dobras de ouro24 dobras de ouro42 dobras de ouro50 ducados ouro

11 000 rnrs por mês buscar escravos185 mrs/cax.- 70 ex.as de açúcar15000 mrs. moeda Castela420 quintais de pez, 15 cx.s açúcar125 mrs/caixa 50 ou 60 ex.li. de açúcar300 ou 350 mrs/ Ianega 500 ou 600 fanegas de cevada18 rnrs/fanega cevada4 reais/caixa 80 cx.ss açúcar38 mrs/qulnlal 450 quintais de pez de Abona e 130

de St.- Cruz12 000 mrs moeda ilha Pez190 mrs/caíxa 70 ex.as açúcar1/2 dobra a bota 20 botas de vinho15000 mrs 420 quintaisde pez e 15 ex." de açúcar112 real caixa 100 cx.ss33 mrs. fanega e quintal 300 quintais de pez e 40 fanegas de trigo27 000 mrs moeda Portugal Pez100 dueados moeda ouro Pez570 mrs/tonelada cevada e outros12 000 mrs ao mês554 mrs de Castela/tonelada25 toneladas de trigo650 mrs + averias 350 fanegas de trigo3S dobras ouro/mês11 333 mrs/mês200 mrs da Castela/dúzia 80 dúzias de tábuas700 mrs/quintal urzela e açúcar130 mrs ex.­500 mrs/toneladaII 770 mrs de Castela600 mrs/lonelada250 mrs/tonelada530 mrs/tonelada500 mrs/tonelada400 rnrs/ tonelada16 000 mrs de Porto6000 mrs1000 mrs/tonelada4 reais prata/caixa10250 mrs35 dobras ao mês4 reais prata/mêsI ducado ouro/caixa9000 mrs35 dobras ouro/mês45 dobras de ouro425 mrs/tonelada480 mrs/tonelada480 mrs/tnnelada500 mrs/tonclada27 1/2 ducados de

Portugal500 mrs per pau48 dobras/mês20 cruzados de oiro tabuado, madeiras20 cruzados de ouro 20 duzias de tabuado e 100 queijos7 coroas de ouro/tonelada açúcar e remei60 ducados arrobas 60 ex.a açúcar4 1/2 reais prata a cx.s 18 cx.s de açúcar35 dobras/mês45 dobras/mês6 reais prata nova6 reais prata nova7 castelhanos de ouro mari­

nheiros 3 dobras mestre15

St. ll Cruz-Taganana-TeldaSt.' Cruz-BerberiaSI.' Cruz-Cabo de AguerSI.' Cruz-SafiIsletas-AmberesIsletas-SevilhaIsletas-Agaeta-CádizSt.ll Cruz-BerberíaSI.' Cruz-BêrberiaIslestas-CádlzAgaete-CádlzIsletas-St, o Domingo

St.a Cruz-FuerteventuraSI.' Cruz-Aveiro-Vila do Conde

Tenerife-Cabo AguerTenerife-CádizAbona-St.' Cruz-Sevilha-LisboaSt.· Cruz-CâdízIsletas-Cádiz ou CâdizTenerife-GomeraTenerife-CádizAbona-St.' Cruz-Cádiz

St.' Cruz-Pavro-St.a Cruz-FunchalSt.· Ceua-Teoro-St.v Cruz-CádizTenerifeTenerife-Lisboa ou SevilhaSI.' Cruz-IsletasSt.:I Cruz-MadeiraSt." Cruz-Abona-St." Cruz-Setúbal ou LisboaSt.· Cruz-Abona-Sr." Cruz-Gran Canária-LisboaSI.' Cruz-Hoyos-Castela51.' Cruz-Gran Canaria-St." Cruz-BerbériaSI.' Cruz-CédiaSI.' Cruz-GalizaSI.' Cruz-BerbériaSt.· Cruz-BerbériaSt.· Cruz%Sanlúcar ou 51.a Maria5t.· Cruz-Garachico-St." Cruz-Sardina-Isletas

SI.' Cruz-Melenara (Oran Canaria)

St.· .Cruz-Lanzarote

St,- Cruz-Garachico-FaiaJSt.' Cruz-CádizSI.' Cruz-La Palma-CádizSt.· Cruz ou Orotava-GalizaSI.' Cruz-Castela. Ayamonte ou LepeSt.· Cruz-Orotava-Madeira-Raiona ou VigoSt.· Cruz-Lanzarote-Galiza5t.· Cruz-Orotava-LísboaS1.· Cruz-GemeraSI.' Cruz-GalizaIsletas-CádizAgando-La PalmaIsletas-BerbériaIsletas-CádizIsletas-GénovaHlerro-SevilhaIsletas BerbériaSt.' Cruz-Taganana-St.' Cruz-Yslelas-San Lazaro-TeldaSr.li. Cruz-Garachico-Orotava-SaílSt,a Cruz-LisboaSt,a Cruz-Buenavista-Lisboa ou SetúbalSt.lI. Cruz-AveiroSt.li Cruz-Madeira

SI.' Cruz-Cabo AguerJerez-Gran CanariaIsletas-Orotava-CaldarSI.' Cruz-BerberiaSr.· Cruz-Indias

Caleta-San Telmo-BerberiaSLll Cruz-Madeira-Tavira-Cádiz

1522-XII-261523-IlI-21

I523-lV-2II523-YII-1O

1523-IX-22

1523-X-30

1523-YII-I1523-YI-231523-XII-26I524-Y-SI524-YlII-I 5

1507-X-71507-XI·151508-XI-121508-XI-131509-1-51509-1-81509-lV-91509·Y-30

1509·YI-151509-YII-151509·XI·31509-XI·121509·XI-261510-11-26l51Ó-III-?151O-In-181510-III-20I51O·II1-27151O-YIII·241510·IX-131511·1I·J31511·I1-16151I·In-311511·IY-5

1511-Y-71511-Y·91511-Y·151511-Y-201511·YII-21511-YII·31511-VlI-16151I-IX-I1511-IX-41511·X·I1516·X-291517·1II-141518-X·231518·X-291519-Y-91519·YI·91519·XI·31520-IY-17I520-IY-309I520-Y-51520-Y-281520-YI-9I520-VII·3I

1521·VJI·21521·YIlI-71522-1·18I522-I1-24I522-lV-22I522-YI·22I522-YII·30I522-VlII-1II522-YIlI-I 3I522-X-25

1522-XII-IO

206

Data Percurso Custo Mercadoria

600 fanegas de trigo800 quintais de pez

1524-VIlI-16I524-IX-241524-XI-18I526-X-91527-VIIl-14I528-V-SI530-VII-27

1531-VIlI-21532-V-21533-V-301534-IV-7I534-V-201534-VII-16

SI.a Cruz-MadeiraSI.' Cruz-Abona-BaynnaSt," Cruz-Berberia

Isletas-CádizSe a Cruz--Orotava-Garachico-Lanzarote-SetúbalIsletas-Fuerteventura-Berberia

Isletas-Câdíz-GénovaIsletas-La Palma-CádizIsletas-Serdlna ou Agate-Am6eresIsletas-Ambereslsletas-AmberesMelenara-Isletas-Arnberes

700 mrs/fanega500 mrs/quinrat50 dobras ouro/mês100 dueados ouro gado, queijo ...6 1/2 reais prata/ex." 210 ex.a de açúcar550 mrs/tonelada 2400 fanegas de cevada28 dobras/mês mestre3 ma-

rinheiros 2 1/2 quintal15 reais pratafcx.- açúcar1/2 ducado ourorcx." 1100 a 120c.x.a açúcar5 ducados ouroüonelade 35 toneladas de açúcar e remei5 dueados ouro (tonelada) açúcar e remei5 ducado. ouro (tonelada) 30 pipas de mel e açúcar5 ducados ouro (tonelada] açúcar e mel

Fonte: Emma Gonzalez Yanes, Protocolos dei escribano Hernan Guerra, La Laguna, 1958; Manuela MarreroRodriguez, Protocolo dei escribano Juan Raiz de Berlanga, Tenerife, 1977; Manuel Lobo, Protocolos deAlonso Gutiérrez, Tenerife, 1979; Fernando Calvijo Hemandez, Protocolos de Hernan Guerra, Tenerife,1980; Idem, «Los documentos de fletamentos ...", in IV Coloquio de História Canario Americana, I,56-75; A.H.P.L.P., Protocolos de Cristobal de San Clemente, n.? 733-741.

207

QUADRO N.o 16FRETAMENTO DE NAVIOS NA MADEIRA

SÉCULO XVI

Data Percurso Custo Mercadoria

1503-1-181507-IX-251509-X-41509-X-41512-IV-151516-IX-301517-IV-251517-V-121520-V-231529-VIJ-301583-IX- I 2159115911591

1591

1591

1591159115911591159115911591150515051505150515051505150515051505

Funchal-Lugares de BaixoFunchal-LisboaFunchal-SafimFunchal-SafimFunchal-SafirnFunchal-Lugares de BaixoFunchal (do Calhau à nau)Nane da Ilha-FunchalLisboa-FunchalLisboa-FunchalFunchal-LisboaFunchal-Macbíco-St." Cruz-Calheta-Ponta DelgadaFunchal-MachicoMachico-Santa CruzFunchal-CalhetaCalheta-C. dos LobosCalheta-Ponta de SolSanta Cruz-FunchalPonta de Sol-Ribeira Bravado Calhau ao navio (Funchal)Funchal-Ribeira GrandeSaída do Nordeste (S. Miguel)Ponta Delgada-Vila FrancaVila Franca-Ponta DelgadaS. Miguel-Angra (Terceira)Terceira-LisboaFunchal-LísboaFunchal-LisboaMadalena-FunchalMadalena-FunchalCalheta-FunchalRibeira Brava-FunchalFunchal;CalhetaRibeira Brava-FunchalFunchal-Lisboa

350 rs,I 170 rs.5 755 rs.

14 000 rs.5 700 rs.

400 rs.200 rs.

2 500 rs.6 800 rs.3 500 rs.

340 rs.500 rs.2 cruzados

360 rs.I 570I 000i 000

6005 tostões

30070000

280 rs.600 rs.780 rs,

25 680 cs.70000 rs.

I 671 rs.1206

330352300ISO300300

2010

Passageiros: contador e recebedor34 barris de conservaArma de socorro e SafimArma de socorro e SafimArma de socorro e SafunPassageiros: contador e recebedorLenhaMastro de BarbusanoCarta régiaAnilhariaPassageiros: 10 soldados

Passageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: Q inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidoro fato do inquisidorPaJi.sageiro: o inquisidorPassageiro: o inquisidorAçúcarAçúcar16 arrobas de açúcar16 arrobas de açúcarPassageiros. escrivão e Diogo Fernandespassageiro: recebedor e escrivãoPassageiro: contador e escrivãoContador e escrivãoCaixas e barris

Fonte: A.N.T.T., Inquisição de Lisboa, ms. de 148-6-287; Idem, N.A., n.? 903B; Idem, Corpo Cronológico II,7, 16; 66-66; 13-89; 89-137; 157-68; 256-80; 18-151; 19-36; 31-130.

208

FONTES E BIBLIOGRAFIA

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

I - FONTES MANUSCRITAS

ARQUIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DA RlBElRA GRANDE

Livros de acórdãos, 1555, 1578-1579, 1596 e 1599.

ARQUIVO HISTÓRICO PROVINCIAL DE LAS PALMAS

Protocolos Notariais (Gran Canaria)

Diego de Alarcón, 1546-1556; Pedro de Cabrejas, 1565-1575; Alonso de Cisneros, 1573-1574; Pero Hennandez Clerves, 1588-1589; Pedro de Escobar, 1555-1563; Heman Gonzalez, 1550; Alonso Hennandez, 1557-1560; Roque de Loreto, 1571-1574; Alonso de Mendonça, 1594-1596; Hemando Padilha, 1516-1539; Bemardini Palenzuela, 1590-1591; Francisco Ponce, 1596-1599; Cristobal de San Clemente, 1514-1536; Diego de San Clemente, 1516;

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO

Corpo Cronológico

II parte 1501-1600, maços 4-274.

Inquisição de Lisboa

Livro de Denunciações das ilhas, Alentejo e Beira, /575-1576; Livro das Denúncias da visitação das ilhas dos Açores, 1592-1593; Livro da Reconciliação das ilhas, Alentejo e Beira, 1575-1576,-Livro das Rectificações da visita à ilha da Madeira !t!ita por Jerónimo Teixeira' no ano de 1591; Livro das Rectificações da visita à ilha S. Miguel, 1592; Livro de registo dos Culpados Resultantes da visita à ilha da Madeira I em 1591.

Núcleo Antigo

Entrada e saída da alfandega do Funchal, dízima das mercadorias, 1523; Livro de contas da alfandega do Funchal de 1505-1506; Livro da Alfândega de Santa Cruz, 1524; Livro da despesa do açúcar, ano de 1522-1523, Santa Cruz;

211

Livro dos Direitos do açúcar de Machico do ano de 1530; Livro dos Direitos do açúcar da Ribeira Brava de 1517; Livro dos Direitos do açúcar da Ribeira Brava de 1536; Livro dos quartos da comarca da Calheta, ano de 1509; Livro dos Quartos do Funchal, 1504-1505; Livro dos quartos do Funchal, Machico, Ribeira Brava, Calheta, 1509-1511; Livro dos quintos do açúcar, ano de 1537, da comarca da Ponta de Sol; Livro dos quintos do assúcar da Alfândega da Cakheta, ano de 1534; Livro dos quintos do Funchal, 1509; Livro da receita e despesa oe João Tavares, recebedor da ilha de S. Miguel, anno de 1526; Livro de Registo de Leis e Regimentos, 1516-1520; Livro da sayda dos asuquares de varias pessoas da Alfandega de Ponta de Sol; anno de 1526;

ARQUIVO REGIONAL DA MADEIRA

Camara Municipal do Funchal

Livro de Posturas desta câmara da cidade do Funchal aprovadas e feitas conforme a ordenaçam deI Rey Nosso Senhor, 1587;

Registo Geral, tomos I a 4 Tomo Velho; Vereações, 1470-1599;

Misericórdia do Funchal

Livro do Tombo, n. O 684, 710-711;

Julgado de Resíduos e Capelas

Livro do Tombo; Processos de Capelas, ex.as 3, 4, 8, 10-11, 15, 20-21, 24, 26-27, 29, 34, 37, 43, 48, 51, 53-54, 60.

Paroquiais (Funchal)

Baptizados, 1538-1600; Casamentos, 1539-1600; Óbitos, IS38-1600;

BIDLIOTECA DEL MUSEO CANARIO

Agustin Millares

Anales de las Islas Canárias; Coleción de documentos para la história de las Islas Canárias; Extractos e apuntes. y copias deI Archivo de la inquisición de Canárias; Indice geral de todas las personas que han sido quemadas acconciliadas penitenciadas absultas y suspensas sim

causas por el tribunal de la Inquisicion de las islas canarias / ... /, 1875.

BffiLIOTECA PÚBLICA E ARQUIVO DE PONTA DELGADA

Fundo Ernesto do Canto

Cartas, n.O 29; Casa Miguel Canto e Castro, n. O 3-9; Collecção de papeis de Pera Anes do Canto e seu filho António Pires do Canto, 1503, n. O 20-A; Documentos Antigos, n. o 26; Documentos avulsos, 1521-1609; Documentos dos livros da Câmara de Ponta Delgada, 1447-1806, n.O 168; Escripturas, 1518-1599, n.o 56; Extractos de Documentos Michaelenses, vaI. II-VIII; Tombo da Alfandega de Ponta Delgada: autos de arrematação 1540-1550, n. O 52; Tombo de Escripturas de compras e de cartas de Sesmarias, 1482, 1515, n.O 20.

212

II - FONTES IMPRESSAS

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1977. Indices de los protocolos pertencientes a las escribanias de la. ista de Hierro, La Laguna, 1974. LAS CASAS, Bartolomé de, História de las Indias, 3 tomos, México, 1981. Edição de Agustin Millares CarIo e

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221

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

ÍNDICES

pÁml'olA [f'1 BIlAI'oICO

ÍNDICE DOS MAPAS E GRÁFICOS

Vias de comunicação e portos na Madeira, Século XVI .............. . Vias de comunicação de S. Miguel ......... . ..... . . . .............. . Rotas e portos de comércio nas Canárias e Açores .... . ............. . Sociedades Comerciais no Funchal, Século XVI .. .. . . . .. ..... . . . .. . . . Agentes de Transporte e comércio ......... .. . .. ...... ... .... .. .. .. . Agentes de transporte , século XV e XVI . .. ..... .. . ............... . Almocreves na Madeira, séculó XVI ...... . . . .... . . ... .. .. ..... . ... . Marinheiros e barqueiros na Madeira, século XVI .. .. .. . . . . ....... . . . Mercadores no mundo insular ... .. ... . ................. . .......... . Mercadores, áreas de proveniência ................. ... ... .. ........ . Mercadores do reino na . Madeira, séculos XV e XVI ................ . Mercadores espanhóis nas Canárias, século XVI ....... .. ............ . Mercadores nos Açores, século XVI ............ ... .. . ... . ......... . Mercadores no Mundo Insular, séculos XV e XVI ... . . ............. . Vinhas e latadas na Madeira, século XVI ...... . . . .. ...... . . .... .. . . Produção de açúcar na Madeira ....................... .. . . ........ . Comércio de açúcar da Madeira, 1490-1550 .. .... .... .... . ... . . ... . . Rotas e principais mercados do comércio de açúcar da Madeira ... . ... .

43 45

48-49 61 65 67 69 71 75 77 88 89 92 93 94

106-107-113 131 133

225

ÍNDICE DOS QUADROS

Transporte do açúcar da Calheta para o Funchal .................... . Cabrestantes do porto do Funchal ................................. . Preço das embarcações, século XVI ............................... . Preço do frete nas Canárias ...................................... . Preço do transporte do Inquisidor em 1591 ......................... . Preço do frete na Madeira .............................. . ......... . O acúcar mercadoria de troca na Madeira, 1508-1509 ............... . Pagamentos em açúcar na madeira, 1509-1537 ...................... . Obrigações de pagamento do trigo dos Açores ...................... . Sociedades comerciais no Funchal século XVI ...................... . Sociedades para o comércio do açúcar ............................. . Sociedades para o arrendamento dos direitos ................ : ....... . Almocreves na Madeira ....................... ' ................... . Agentes de transporte marítimo nas ilhas ........................... . Agentes de transporte marítimo na Madeira ......................... . Lojas de comércio no Funchal .................................... . Mercadores nas ilhas .................... . ....................... . Mercadores nas ilhas ............................................ . Mercadores estantes e vizinhos .................................... . Mercadores estrangeiros .......................................... . Mercadores estrangeiros na Madeira ............................... . Venda do açúcar dos direitos na Madeira, 1502-1534 ................ . Arrendamento dos direitos reais na Madeira ........................ . Mercadores do reino na Madeira, séculos XV e XVI ................ . Mercadores espanhóis nas Canárias, século XVI ..................... . Mercadores na Madeira .......................................... . Açoreanos e canários na Madeira, século XVI ...................... . Dízimos nas Canárias ............................................ . Dízimos eclesiásticos em 1585 .................................... . Relação consumo-produção de cereais nas Canárias no século XVI .... . Comércio de cereais em Tenerife no século XVI .................... . Comércio de cevada em Tenerife no século XVI .................... . Registo de trigo entrado no porto do Funchal, século XVI ........... . Escápulas de açúcar na Madeira em 1498 .......................... . Comércio do açúcar na Madeira em 1498 .......................... . Comércio do açúcar na Madeira 1490-1550 ......................... . Exportação de açúcar na Madeira, 1500-1540 ....................... . Compra de açúcar na Madeira, 1500-1540 .......................... . Exportação de açúcar para Viana do Castelo ........................ . Os mercadores e o comércio do açúcar ............................ . Principais mercadores estrangeiros ................................. . Preço do açúcar no mercado europeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .......... . Destino dos navios normandos, 1530-1540 .......................... . Navios portugueses com açúcar para Antuérpia 1536-1550 ............ . Comércio de Cereal das Ilhas ..................................... . Preço de venda ao público do vinho da Madeira .................... .

226

44 46 52 53 53 54 56 57 58 60 62 62 68 70 70 76 76 76 78 79 80 82 83 88 89 91 99

102 105 108 126 127 128 130 130 132 134 135 132 135 135 136 137 137 143 143

ANEXOS QUADROS

Quadro n. O 1 - Mercadores na Madeira, séculos XV a XVI ......... . Quadro n. o 2 - Mercadores nos Açores, séculos XVI ............... . Quadro n o 3 - Mercadores nas Canárias, século XVI ............... . Quadra n. o 4 - Mercadores nacionais e o comércio de açúcar na Madeira

1500-1540 .................................. ' ................. . Quadro n. o 5 - Os mercadores estrangeiros e o comércio do açúcar na

Madeira 1500-1540 ............................................ . Quadro n. o 6 - Agentes de transporte marítimo na Madeira .......... . Quadro n. o 7 - Mareantes na Madeira, século XVI ................. . Quadro n. o 8 - Mestres de navio nas Canárias, século XVI ......... . Quadro n.O 9 - Almocreves nas Canárias, século XVI .............. . Quadro n. o 10 - Almocreves na Madeira, século XVI ............... . Quadro n.o 11 - Vendeiros na Madeira, séculos XV e XVI ......... . Quadro n. o 12 - Obrigações em trigo dos Açores, 1509-1519 ..... , .. . Quadro n. ° 13 - Mercadores e seus agentes/procuradores ............ . Quadro n.O 14 - Procuradores e agentes praça do Funchal, 1500-1537 . Quadro n.o 15 - Fretamento de embarcações nas Canárias, século XVI Quadro n. o 16 - Fretamento de navios na Madeira, século XVI ...... .

165-176 177-178 179-185

186-188

189-190 191-192 193-195 196-197

198 199-200

201 202-203

204 205

206-207 208

227

ABREVIATURAS

INTRODUÇÃO

I PARTE

ÍNDICE GERAL

O ATLÂNTICO E AS ÁREAS INSULARES

5

7-9

1. A ECONOMIA INSULAR ......................... ' ........ " 13-16 2. AS ÁREAS INSULARES A EXPANSÃO E O COMÉRCIO NO

ATLÂNTICO: AS ROTAS DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO..... 17-24

II PARTE

O COMÉRCIO INTER-INSULAR

1. FACTORES .............................................. . . . 1.1 Regulamentação das actividades económicas ................. . 1.2 Técnicas ................................................ .

1.3 Agentes ................................................ .

1.4 Emigração inter-insular '" ................................ .

1.5 Os produtos ............................................. .

2. COMÉRCIO ............................................... .

2.1 Mercados e produtos insulares ............................. . 2.2. Comércio de cabotagem ................................. . 2.3. Comércio Inter-insular '" ............... : ................ . 2.4. Comércio atlântico-europeu ............................... .

CONCLUSÃO

ANEXO: QUADROS ............................................ .

FONTES E BIBLIOGRAFIA ..................................... .

ÍNDICES ....................................................... .

Indíces dos mapas e gráficos ................................... . Índice dos quadros ............................................ .

27-157 27-40 41-63 64-95

96-100

101-118

119-158

120-137 138-140 141-146 147-158

159-161

163-205

209-221

223

225 226

IMPRENSA DE COIMBRA, LIMITADA

Largo de S. Salvador, 1-3 - Coimbra