diário insular - nº 249 - 13.01

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CHÁS E MEZINHAS ANTóNIO NUNES 249 # 13.01.2008 WWW. DIARIOINSULAR .COM Jornal Diário | Ano LX I | Nº18952 | 0,55 e Fundado em 1946 | Terceira | Açores

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Chás e mezinhasAntónio nunes

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2Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 �Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

nOTa De aBeRTURaJosé Lourenço

04 António nunes [REPORTAGEM]

10 Bárbara Moniz [REPORTAGEM]

12 Francisco Coelho e reis Leite [PERSPECTIVAS]

14 Maduro-Dias [VELA DE ESTAI]

18 Luiz Fagundes Duarte [FOLHETIM]

22 AMI na Terceira [REPORTAGEM]

24 Guilherme Marinho [OPINIÃO]

25 Arnaldo ourique [OPINIÃO]

26 Fábio silva [DESPORTO]

28 sugestões [AGENDA]

29 Cartoon [TIRO&QUEDA]

20 D. Duarte de Bragança [ENTREVISTA]

o poder dos chástema de capa: existem chás que

curam a febre e as dores de cabeça, acalmam os nervos, desinflamam a gar-ganta, param a tosse, afastam os males de intestinos e de estômago, são anti-cancerosas, purificam o sangue... Aos 90 anos, António nunes detém a sabedo-ria das ervas. tem mais de 150 espécies de plantas curativas no quintal e, aos 90 anos, ainda recebe clientes na casa an-tiga no Chafariz Velho, em santa Luzia. “sofro da próstata há 25 anos e nunca fui ao médico. tomo um chazinho to-dos os dias e lá vou indo. Até hoje!” – confessa à reportagem de Di-Revista.entrevista: D. Duarte de Bragança pas-sou recentemente pela ilha terceira, por ocasião da inauguração do Centro Porta Amiga da AMi, em Angra do He-roísmo. o chefe da Casa Real portugue-sa propõe a constituição de um reino unido com Açores, Madeira e continen-te, que, segundo diz, preservaria as au-tonomias.Reportagem: A cidade de Angra do He-roísmo dispõe, desde Dezembro, de um Centro Porta Amiga da AMi. As mu-lheres em risco de exclusão social, a po-pulação imigrante e os cidadãos repa-triados são o público-alvo.outra reportagem: Bárbara Moniz é uma das mais recentes e promissoras vozes açorianas do fado. natural da ilha de são Miguel, a estudante de enfer-magem realizou o seu primeiro grande concerto nas sanjoaninas 2007, granje-ando rasgados elogios do público.uma história santa: em sua home-nagem, o rei D. Pedro ii dedicou uma imensa festa, na corte, em Lisboa, e sua esposa, D. Maria, terá mesmo que-rido ficar com a imagem. no entanto, os praienses não abdicaram do seu Me-nino Deus. Lenda, história ou, simples-mente, um acto de fé, ainda hoje é ce-lebrado a 6 de Janeiro. o desporto: Produto dos escalões de formação do Clube de Karaté-do sho-tokan da Praia da Vitória, Fábio silva respira karaté por todos os poros. Re-presentar a selecção das quinas é um dos objectivos.

FotoGRAFiA António ARAúJo

BaLança anaLíTiCa

Museu ABeRto 058

BALAnçA AnALíTICA.PaUL BUnge. séC. XX. 20X14X�� Cm. mah.R.2007.270

Balança analítica de braço curto, suspensão superior e pra-tos idênticos, de grande precisão. Construído em latão, o exemplar aqui documentado é representativo dos mode-los fabricados no período entre as duas grandes guerras do século passado. Paul Bunge, engenheiro alemão (1839-

1888), foi o inventor da balança analítica de braço curto.As balanças analíticas mecânicas deste tipo têm, normal-mente, um alcance de 200 gramas e permitem uma apro-ximação até 0.1 de miligrama, sendo utilizadas em labora-tórios de química, farmácias e ourivesarias.

esta balança pode ser observada na exposição Balanças Antigas nas

Colecções do Museu de Angra do Heroísmo, até 27 de Janeiro.

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5Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

saBeDORiaFeiTa De eRvas

ANTóNIO NUNES

existeM CHás que CuRAM A FeBRe e As DoRes De CABeçA, ACALMAM

os neRVos, DesinFLAMAM A GARGAntA, PARAM A tosse, AFAstAM

os MALes De intestinos e De estôMAGo, têM PRoPRieDADes Anti-

CAnCeRosAs, PuRiFiCAM o sAnGue... Aos 90 Anos, António nunes

DetéM A sABeDoRiA DAs eRVAs. »

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6Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 7Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

Chá de macela para a febre, má digestão e cólicas. tomilho para as infecções da garganta. salva para as constipações e catarro. Cidreira para as doenças can-cerosas, nódulos, caroços, leucemia, problemas renais e intestinais, do fígado e da bexiga, doenças da boca e da garganta. Há décadas que António nunes, com 90 anos, domi-na a sabedoria das ervas. têm mais de 150 espécies de plantas cultivadas nas terras que lhe rodeiam a ca-sa antiga, no Chafariz Velho, número 18, em santa Lu-zia de Angra.

quem passa a porta de entrada percebe logo que es-sa é uma grande parte da sua vida. o cheiro a diversas ervas enche o ar. quando se entra numa das divisões, à esquerda, percebe-se porquê. os grandes sacos de plástico com plantas secas estão dispostos pelo chão e sobre a mesa de madeira áspera. Com as mãos gas-tas António puxa um banco e ajeita o boné de pano escuro. explica que é ali que passa muitas das horas dos seus dias. “tenho um quintal com algumas ervas e um pomar em cima. também há plantas que apa-nho em outros sítios, mas vou fazendo isso cada vez

menos. quando posso trabalho nas minhas terras, o resto do tempo passo-o aqui”. e o letreiro no exterior confirma. Recebe os clientes das 12 às 14h e das 18 às 22h. todos se lhe dirigem com um problema. e An-tónio estende-lhes os pequenos pacotinhos de plásti-co com as plantas milagrosas.tudo começou com a abertura de uma mercearia. Du-rante 41 anos, dirigiu o negócio na Rua da sé e só o deixou quando a Junta Geral quis comprar edifício. na mercearia, António nunes também vendia ervas. Con-

ta que tem mais de 70 anos dedicados ao estudo das plantas medicinais. o discurso vai saindo aos poucos. António interrompe as perguntas com pequenas informações sobre as er-vas que estão presentes em todo o quarto. Pega numa mão de tomilho, uma espécie granulosa e escura, e con-ta que “há gente que vem de longe à procura disto”, pa-ra curar a tosse convulsa. Agarra também numa mão de perpétuas roxas. explica que servem para desinflamar a garganta. “e são muito bonitas, uma coisa linda. tenho lá no meu quintal, mostro-lhe já daqui a bocadinho”.

Desde os 19 anos que toma chás. Começou porque so-fria de azia e lhe “receitaram” a salva. Hoje, acredita no poder da medicina natural. A erva de são Roberto e a urze – diz - são anti-cancerosas. Mas há limites. “se for um cancro que apenas se está adivinhar, uma coisa pa-ra durar muitos anos, há solução. Mas se for uma coisa muito séria, já enraizada, morre-se. os chás só podem servir para melhorar um bocadinho a vida da criatura”. Mesmo assim, diz que “deve muito às ervas”. “sofro da próstata há 25 anos e nunca fui ao médico. tomo um chazinho todos os dias e lá vou indo. Até hoje”.As pessoas que procuram os chás de António têm, na sua maioria, mais de 50 anos. “é de tudo um pouco, mas sobretudo dos 50 para cima. é aí que as pessoas começam a pensar na sua vida e a aperceber-se que vale a pena virarem-se para as ervas”. Ao longo dos anos, guarda as muitas histórias de pes-soas que ajudou. “Vem cá muita gente. uma senho-ra dos Biscoitos veio por causa do avô, que sofria da próstata. Já lá vão cinco anos e ela ainda me agrade-ce, porque ele ficou mesmo curado, a viver muito me-lhor e sem dores. e outras pessoas...Muitas”. Mas dei-xa bem claro: “é preciso conhecer estas plantas, por-que existem algumas venenosas. é preciso ser-se sé-rio”, diz, acenando a cabeça com convicção.Mesmo apesar de ainda ter “clientes”- guarda a palavra dos tempos de mercearia - confessa que o negócio está a diminuir. sobretudo porque actualmente se multipli-cam as ervanárias e os chás se vendem até nas pratelei-ras dos super e hipermercados. “As pessoas vão lá, pen-sam que perdem menos tempo... Algumas ervanárias são boas, mas também existe muita coisa que não se sabe como é cultivada e, acima de tudo, como é que é secada. A secagem das plantas é muito importante por-que, se apanharem chuva, perdem as propriedades”. e António dá mais um exemplo da sua sabedoria de mais de 70 anos de estudo das ervas. Pega num livro de ca-pa gasta e páginas soltas, que comprou pelas “selec-ções”, sobre plantas medicinais. Folheia e lê um pará-grafo que fala da malva, com propriedades emolientes, para usar em cataplasmas, lavagens e irrigações. Boa parar curar doenças do estômago, abcessos na pele e como desinfectante para gastrites, colites cistites, tosse, catarro. Pode-se ainda lavar com ela feridas, furúnculos e úlceras. Há mais de 2000 mil anos que é usada com fins medicinais. “não tem novidade nenhuma. são coi-sas que sempre estiveram entre nós”.

Vida de trabalhoAntónio nunes guia-nos pela casa grande, de muitos quartos. A mobília é antiga e as paredes finas. Passa-ram por ali muitas vidas. Foi onde António nasceu e cresceu com os irmãos, hoje todos falecidos. Foi tam-bém onde criou os cinco filhos e dividiu as “horas boas e más” com a mulher. “Viveu aqui muita gente”, diz.Abre a porta para o quintal. seguimos pela terra ba-tida onde nos aponta a macela, a salva, as perpétuas roxas, a laranjeira, a erva-babosa, que se aplica sobre a pele para acabar com comichões e irritações. tapa-da por um pequeno barril está uma erva que “purifica

RePoRtAGeM HeLenA FAGunDes FotoGRAFiA AnTónIo ArAúJo teM MAis De 150 esPéCies De PLAn-

tAs CuRAtiVAs no quintAL e, Aos 90 Anos, AinDA ReCeBe CLientes. An-

tónio nunes ConHeCe BeM o PoDeR Dos CHás e MezinHAs: “soFRo DA

PRóstAtA Há 25 Anos e nunCA Fui Ao MéDiCo. toMo uM CHAzinHo to-

Dos os DiAs e Lá Vou inDo. Até HoJe”.

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8Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 9Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

o sangue”. Para lá do pomar, estão os pastos que An-tónio trabalhou ao longo de toda uma vida. Desde cedo que aprendeu o valor do trabalho. Come-çou aos sete anos, a dar água às vacas, numa altura em que a estrada era de terra. quando chovia o ca-minho era duro. Mas o trabalho a sério começou aos nove anos. Passou por uma loja de fazendas, por uma farmácia e por uma loja de ferragens, até quando foi chamado para a tropa, durante a ii Guerra Mundial, onde permaneceu durante três anos. Depois, acabou por abrir a mercearia na Rua da sé. Mas não deixou de acordar cedo para ir para os pastos. Levantava-se pela madrugada. Havia que ganhar dinheiro para sus-tentar a família.Ainda hoje, dá valor ao trabalho. tem a noção de que é o facto de não parar que contribuiu para a sua lon-gevidade. “Há uns anos esteve um médico cá em casa que me disse isso mesmo, que eu não parasse, que era o pior que podia fazer. eu acredito nisso, a minha experiência diz-me que está certo”. Acorda todos os dias por volta das seis horas da ma-nhã, quando a maioria das pessoas ainda está a dor-mir. no inverno, quando se levanta ainda é noite es-cura e o mundo está em silêncio, ficando só o baru-lho do vento e da chuva. trata da sua vida e pensa ne-la. talvez pense nos filhos, em que tem tanto orgu-lho. sentado num banco de madeira, ainda na divisão onde seca, ensaca e vende as suas preciosas plantas, não consegue impedir os olhos de se encherem de lá-grimas quando lembra o dia em que o filho António chegou a casa e lhe disse que não valia a pena estu-dar. De qualquer forma, nunca iria passar do liceu e ultrapassar a fronteira da ilha. estava limitado aos tra-balhos menores que pagavam pouco, não era? “ele chegou a ter 20 valores a Matemática e chegou-me a casa a dizer aquilo, que não precisava de estudar tan-to. eu disse-lhe que trabalhava o que fosse preciso, que vendia os pastos, mas que os meus filhos iam es-

tudar e ser alguém. estudem, que eu nunca mais lar-go vocês. e não larguei”. Já não há tristeza na sua voz. Apenas orgulho e dignidade.os filhos estudaram e tiveram sucesso. Hoje, um dos carros caros, grandes e pesados de António, que se tornou engenheiro químico e trabalha para uma gran-de empresa, no Continente, está do lado de fora da casa de santa Luzia. Além disso, o “mais moço” é mé-dico nas Caldas da Rainha, mas António nunes diz que não há qualquer discussão acerca de plantas me-dicinais. “ele diz que estudou para médico e que per-cebe de medicamentos, não de ervas. são duas coisas diferentes, cada qual com a sua utilidade”.uma vez mais, António nunes interrompe a conversa para dar mais alguns exemplos dessa utilidade. Passa-nos uma página antiga do “Diário insular”, com uma entrevista sua que deu quando tinha 83 anos, onde estão descritas as propriedades de algumas plantas. existe a tília, que serve como calmante e que, antiga-mente, era muito usada pelos estudantes em perío-do de exames. Há ainda a losna, designada cientifi-camente como Artemísia absinthium L., que pode ser tomada em gemadas. é um bom fortificante e o seu chá acaba com o fastio. Já a erva limão é famosa pelo agradável aroma a limão e a arruda é boa para o tra-tamento das amenoreias provocadas pela atonia do útero. o poejo é um poderoso diurético, sendo reco-mendada a ingestão diária de um litro do seu chá.Rodeado pelo seu mundo de calma, trabalho e ervas curativas, António nunes não perde, porém, a capa-cidade de analisar o mundo que o rodeia. Já tem um certo receio de receber pessoas durante a noite. Me-do dos assaltos e da insegurança. Revolta-o também a “falta de respeito”. especialmente por parte dos mais jovens. “ Faz-me impressão ver como certos filhos fa-lam com os pais, com uma falta de respeito tremenda. quando eu era rapaz, havia um grande respeito dos filhos aos pais. o meu pai nunca me tocou, mas eu nunca lhe disse nada que o ofendesse. não sei por-quê, mas era um amor tão grande que eu lhes tinha. Ainda hoje, quando estou sozinho, penso neles”. os olhos ficam molhados de saudade. existem muitas coisas que lhe deixam saudades. o tempo mais feliz da sua vida, quando casou e criou os filhos, o tempo da mercearia de portas abertas na zo-na nobre da cidade, em plena Rua da sé. outras dei-xam menos, como a época em que dois dos seus fi-lhos estiveram na guerra do ultramar e o coração se apertava de medo sem notícias. Com o corpo ainda enérgico e o pensamento rápido, António nunes sente que a idade lhe começa a pe-sar, mas afasta o medo da morte com uma gargalha-da. Com a ajuda dos chás, vai superando as dores de coluna, o mal dos rins e da próstata. Faz 91 anos em Abril e ainda gosta de cuidar das suas árvores de fru-to, das galinhas que se esgueiram entre os nossos pés no quintal de terra batida, de olhar os pastos onde tra-balhou toda uma vida. Resume tudo numa frase: “Vou bem, sem grandes dores e com a ajuda das minhas ervas. Ainda dá para gostar do mundo”.

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10Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 11Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

BáRBARA Moniz é uMA DAs MAis Re-

Centes e PRoMissoRAs Vozes Aço-

RiAnAs Do FADo. nAtuRAL DA iLHA

De são MiGueL, A estuDAnte De en-

FeRMAGeM ReALizou o seu PRiMeiRo

GRAnDe ConCeRto nAs sAnJoAninAs

2007, GRAnJeAnDo RAsGADos eLo-

Gios Do PúBLiCo.

Foi na Pousada de são sebastião, em Angra do He-roísmo, que, por um “feliz acaso”, a ilha terceira des-cobriu o seu talento de fadista. “Fui visitar o espaço com uns amigos e, quando passámos por um peque-no túnel, cantei dois ou três fados e comentei que ti-nha uma boa acústica”, conta a jovem de 25 anos, natural da ilha de são Miguel. Mas a “brincadeira” atraiu a atenção dos empregados e de alguns hós-pedes, que não resistiram a aplaudir no final do con-certo improvisado. Alguns dias mais tarde, a estudante de enfermagem volta ao local, onde, por coincidência, se encontrava também Bruno Walter Ferreira. incitado pelos empre-gados, o músico convida-a a cantar e acompanha-a na guitarra. nascia assim a amizade entre os dois e

JOvem FaDisTa

todo um leque de oportunidades para Bárbara Mo-niz. “os presentes gostaram muito, acharam fantásti-co…”, recorda, com um brilho nos olhos.Através de Bruno Walter Ferreira, a jovem conhece Carlos Baptista (guitarra portuguesa), Liberal Louren-ço (violão) e Alberto toste (viola baixo). “Fizemos um ou outro ensaio e eles ficaram entusiasmados com a possibilidade de darmos alguns concertos juntos”. no espaço de cerca de um ano, a fadista e o trio de violas realizam uma série de espectáculos em restau-rantes, na Carmina - Galeria de Arte Contemporânea e nas Festas sanjoaninas 2007, merecendo sempre

rasgados elogios do público pela forma como inter-preta alguns dos maiores clássicos do fado.“sinto-me muito acarinhada, elogiada e valorizada pelos terceirenses, o que não acontecia em são Mi-guel, talvez porque ninguém é perfeito na sua terra”, diz, reconhecendo, no entanto, que os conterrâne-os não se esqueceram de si: “Convidam-me sempre para actuar no natal dos Hospitais, mas como geral-mente coincide com o período de aulas não tenho podido aceitar”. Contudo, no seu entender, “as pes-soas aqui na terceira estão mais sensibilizadas pa-ra o fado”.

“Paixão Pelo cuidar”Apesar da maior atenção de que tem sido alvo recen-

temente, Bárbara Moniz estreou-se no fado com ape-nas 14 anos de idade, por influência dos discos de vinil do pai. “em miúda, comecei a ouvir e a cantarolar, até que alguém disse que eu tinha jeito e um bom timbre e, por brincadeira, comecei a cantar”. inscreve-se então num concurso de jovens talentos, ao qual concorre com um fado. os músicos que a acompanham gostam da sua voz e, a partir daí, con-vidam-na para cantar com eles, sobretudo, em noi-tes de fado organizadas por restaurantes da ilha. Ainda em são Miguel, frequenta, durante cinco anos, o Curso de técnica Vocal no Conservatório Regional de Ponta Delgada. “Poderia ter continua-do o Conservatório aqui, mas o curso de enferma-gem é tão intensivo que preferi não me dedicar às duas coisas ao mesmo tempo e acabar por não fa-zer nada bem”, explica.Mas é na ilha terceira, onde frequenta actualmen-te o último ano do curso de enfermagem, que a sua vocação de fadista ganha “maior ênfase”. “inscrevi-me na tuna da escola, onde sou solista, e já aí isso começou a fazer-se notar”, refere. “o sonho de se-guir uma carreira artística não está posto de parte”, mas é algo que reconhece ser “difícil no meio onde nos encontramos”. “quero ter os pés bem assentes na terra”, afirma.Por agora, a prioridade vai para a conclusão do cur-so e para a carreira, que constitui outra das suas paixões. “sempre tive paixão pelo cuidar, pelo con-tacto com as pessoas, e penso que a melhor forma de expressar esse sentimento é estar junto dos do-entes e, com a minha alegria e a minha espontanei-dade, ajudá-los a ter um dia melhor”, diz, com um sorriso no rosto moreno e simpático.

disco é metaPara o futuro, Bárbara Moniz deseja ter “trabalho como enfermeira nos Açores e ir cantando”. “sem-pre que possa, pretendo conciliar as duas coisas”, garante. Dentro de seis meses, a jovem fadista deverá re-gressar à ilha que a viu nascer, mas promete vol-tar sempre que o público a reclame: “quando hou-ver oportunidade para vir aqui cantar, estarei dis-ponível”. Para além do fado, a jovem gostaria igualmente de explorar a canção e o jazz. “tenho também essas fa-cetas, mas, para já, onde me sinto bem é a cantar o fado”, sublinha.Gravar um disco é outro dos seus sonhos. “estive recentemente na Madeira, onde gravei três canções em dueto com Bruno Walter Ferreira para o seu úl-timo disco”, conta. “A experiência de gravar num es-túdio e de todo o ambiente foi tão boa que pensei, futuramente, em gravar um disco a solo”.“é uma meta a atingir”, revela. “talvez para o ano, porque trata-se de um trabalho que envolve muita coisa”. Até lá, pretende sobretudo, “trabalhar mui-to” e, sempre que possível, aliar as suas “duas pai-xões”.

BáRBARA Moniz

RePoRtAGeM vAnDA MenDonçA

FotoGRAFiA AnTónIo ArAúJo

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12Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 1�Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

FrAnCIsCo CoeLHo reIs LeITe

o Primeiro-Minis-tro anunciou, na últi-ma quarta-feira, no Par-lamento, que o Governo iria propor a ratificação do tratado de Lisboa por via parlamentar.A decisão tem boas ra-zões políticas a seu fa-vor, que se prendem com uma “ética de responsa-bilidade”.Desde logo, não é ver-dade que o Programa eleitoral do Ps fixasse o compromisso de referen-dar este tratado – mas sim o já defunto e enter-rado “tratado Constitu-cional”, que pretendia ser a nova Constituição eu-ropeia, refundando-a, le-gitimando-a e revogando formalmente os tratados anteriores.o Governo e o Partido socialista estavam e es-tão livres para escolher qualquer uma das for-mas possíveis de ratifi-cação, todas elas demo-cráticas – a representati-va (por via parlamentar) ou a referendária.A história dos nossos re-ferendos, por razões que aqui e agora não cabe escalpelizar, tem conta-do sempre com relativa-mente fraca participação, ficando aquém do exigí-vel para os mesmo se-rem legalmente vincula-tivos.

se tal voltasse a aconte-cer, haveriam concerteza interpretações “salazaris-tas”, contando as absten-ções como votos a favor e lançando dúvidas de legitimidade sobre algo de fundamental para o nosso país.De resto, não deve ser Lisboa a criar um prece-dente que pudesse, ain-da que minimamente, fa-zer perigar a ratificação, pelos 27 estados, do tra-tado de Lisboa!Pois em termos políti-cos, o governo e o Ps só

ganhariam em poten-ciar um dos principais frutos do sucesso, por todos reconhecido, que foi a Presidência Portu-guesa!Mas valores mais altos se alevantam. neste ca-so, aliás, a maioria das forças políticas que são contra a ratificação par-lamentar… também são contra o tratado.e se é certo que há que prosseguir e ampliar a pedagogia sobre a euro-pa, é vagamente ingénuo pensar-se que, e de for-

ma automática, seria a simples marcação de um Referendo que, num pas-se de mágica, despertaria um inusitado e inespera-do apetite por conhecer todos os meandros do tratado e da união euro-peia.Por tudo isto bem anda-ram o Governo, o maior partido da oposição e o Presidente da Repúbli-ca sintonizados num am-plo consenso institucio-nal que suporta esta de-cisão de ratificação parla-mentar.

a RaTiFiCaçÃO…

no início da semana que terminou, o nosso primeiro, Primeiro Minis-tro, evidentemente, re-solveu revelar o segredo que guardava no seu ín-timo sobre a forma que escolhera para a ratifi-cação do tratado de Lis-boa.Foi a surpresa, mas a sur-presa da Marianinha ou seja, já todos sabíamos

qual era o segredo e as-sim, sem surpresa, ape-sar de tudo, ficámos sa-bendo que o tratado de Lisboa será ratificado, precisamente em Lisboa, por via parlamentar, sem incómodo para os cida-dãos dispensados de vo-tarem num referendo e até, de preferência, dis-pensados de lerem ou se preocuparem com o seu conteúdo.Para o comum dos mor-tais basta que saibam que o tratado é uma es-pécie de oitava maravi-lha e fruto da superior capacidade diplomática do nosso inefável Primei-ro Ministro e da sua ex-traordinária equipa, ape-sar de dizer, no fundo, o mesmo que dizia a de-cantada constituição eu-ropeia e apesar da pru-dência alemã, que prece-deu a portuguesa, tendo já conseguido os consen-sos necessários.Contudo, é bom frisar que, em certos momen-tos, o tratado, dito de Lisboa, é uma inovação completa e um porten-to de equilíbrios que sal-varam a europa. noutros momentos, como es-

te agora da ratificação, é um documento secundá-rio que se limita a insti-tuir os mecanismos para governar a europa a 27 e por isso não merece as honras de uma ratifica-ção por referendo.ora, como tudo isto acontece no início do Carnaval, até me parece que está muito bem es-ta espécie de ópera bufa ou comédia de enganos em que se preparam pa-ra desempenhar os seus papéis os ministros, os deputados e o Presiden-te da República.Mas há uma questão que, apesar de tudo, muito di-ficilmente se pode es-conder debaixo dos ata-vios mais ou menos ful-gurantes de uma fantasia de bal masque. é que ci-dadãos europeus, exer-cendo o seu direito de soberania, já disseram que rejeitavam muitos dos preceitos que ago-ra estão de novo trans-critos no tratado de Lis-boa e se os governos eu-ropeus quisessem (que não querem, é evidente) respeitar os princípios da Democracia não teriam outro remédio senão ra-

tificarem este tratado por referendo.só assim a europa renas-ceria de umas bases se-guras, límpidas e demo-cráticas e se livraria desta corrida para a frente ao arrepio da vontade dos cidadãos.Realmente do que pre-cisa a europa neste mo-mento não é de tratados ou de constituições. Do que precisa a europa é de varrer com esta mediocri-dade dos seus líderes pa-ra encontrar outros com carisma suficiente para transformarem a europa nalguma crise credível, com dinâmica e capaz então de passar desta fa-se ridícula e carnavales-ca para uma fase adulta.talvez, por fim, nasça uma europa democráti-ca, capaz de eleger uma Assembleia Constituin-te que faça ela e não os burocratas de Bruxelas, uma Constituição euro-peia.Para já os portugueses, querendo, podem come-çar a contribuir para es-sa nova europa. Basta-lhes mandar às malvas o nosso primeiro, nas pró-ximas eleições.

O segReDO Da maRianinha

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14Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 15Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

FrAnCIsCo [email protected]

VeLA De estAi

Paradigmado Lat. paradigma < Gr. parádeigma, modelo s. m., modelo; norma; exemplo; padrão.

Portugal é um país centralista e centralizador!Vários o dizem e a experiência o demonstra.não o terá sido sempre mas, pelo menos desde o Marquês de Pombal em diante, as coisas foram avan-çando quase sistematicamente no sentido do “quero, posso e mando” de um centro, em detrimento de pe-riferias cada vez maiores, extensas e longínquas.

Diria, por outro lado e certamente também por isso, que Portugal se dá mal com ilhas.

também não é uma coisa tão antiga como o País já que, por exemplo, ao invés de dominar os territórios na América do sul como espanha o fez, a par e pas-so, no nosso caso o controlo das zonas de oiro e pe-dras preciosas do Brasil foi realizado por manchas – quais ilhas no interior do sertão – separadas por quilómetros e quilómetros quadrados de uma rea-lidade de mata completamente diferente. Apenas a estrada e uma estreita faixa de ambos os lados liga-vam essas “ilhas” formando aquilo que hoje consti-tui um excelente exemplo de arquitectura, urbanis-mo e arte barrocas: As cidades, vilas e povoados em Minas Gerais.

o problema tem a sua raiz numa simples coisa: o mo-do como se vê o Mundo!À romana, onde todos os caminhos do império iam dar à Cidade eterna, ou às suas cópias provinciais; ou à grega, onde cada cidade estado se via como igual às outras, cada ilha do mar helénico se entendia como igual às companheiras.

o facto é que raramente as ilhas são olhadas como um modelo de território – um paradigma – a trabalhar e a desenvolver em si mesmo, diferente doutro, o da terra continuada ou continental.

Deveria ser simples perceber que, se o chão é dife-rente, as soluções terão de o ser também, mas não acontece assim!

Assim e embora pareça estranho, há como que um esforço permanente em se referir o carácter insular destas ilhas como “mal incurável” e bloqueio ao de-senvolvimento.

sem dúvida que a questão provém do paradigma de partida.

em vez de se pensar em comunicações de terceira ge-ração, continua a pensar-se em estradas; em vez das decisões acordadas serem aplicadas e vi-giadas localmente, todos os dias se reduz a capacida-de decisória em cada ilha; em vez do sistema político reproduzir a realidade fí-sica, geológica, climática, cultural das ilhas, insiste-se em querer projectar sobre estes pequenos mundos insulares não a rede que lhes falta para saírem do seu olhar sobre o umbigo mas a sombra do continente e da continuidade territorial que não existe.

é assim a modos como querer tirar goiabas de uma macieira, e depois queixam-se dos custos e da inefi-ciência.

o que a gente precisa é do que nos faz efectivamen-te falta: de condições fiáveis, boas e baratas de comu-nicar.

O PaRaDigmaCOnTinenTaL

foTo

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no Convento de Jesus, na Praia da Vitória, no local onde se encontra hoje instalado o BCA, eram as freiras as principais devotas de Jesus, já que os Franciscanos, em outros locais, tinham outras devoções mais predi-lectas, destacando-se como é óbvio, o seu patrono são Francisco de Assis.na Praia da Vitória dos séculos xVi e xVii, reza uma len-da com diversas proveniências e formas de contar, uma das quais a de Gervásio Lima (a que agora se regista), que apareceu um dia no Convento de Jesus, uma ve-lhinha a pedir esmola e que foi atendida de forma mui-to carinhosa por uma tal de irmã terezinha, que era a mais nova que ali habitava. nessa altura, as freiras adoptavam nomes de santas, o que era recorrente até há bem pouco tempo, sendo que só nas últimas duas ou três décadas esse hábito deixou de ser obrigatório, apesar de ainda hoje existi-rem casos de mudança de nome nas entradas para os conventos.A irmã terezinha, por muito bondosa, abriu de par em par as portas do Convento de Jesus e depois de pe-dir autorização à Madre superiora, a velhinha acabou por ali pernoitar, tendo recebido uma refeição confec-cionada a capricho e depois sido convidada para dor-mir numa das celas, precisamente a da irmã que a re-cebera à porta.Chegado o alvorecer, quando terezinha se dirigiu à sua cela para acordar a velhinha, já não a encontrou, no en-tanto, reparou que na sua cama fora deixada uma ima-gem do Menino Jesus, precisamente a mesma que, de acordo com a lenda, ainda hoje se encontra na igreja Matriz da Praia da Vitória e que é disponibilizada no dia 6 de Janeiro, Dia de Reis, de todos os anos, para o tra-dicional beija-pé.esta mesma lenda, contada pela professora Regina, di-verge um pouco, mantendo-se a velhinha, mas acres-centando-se que quando esta entrou no convento, passou por uma cruz de prata que teria olhado demo-radamente, em reflexão, sendo que a maior diferença se prende com a oferta da imagem em vez de esta ter aparecido em lugar da velhinha.

da Praia À corteAs freiras permaneciam pouco tempo nos mesmos conventos e a irmã terezinha acabou por viajar até Lis-boa, e aconteceu ficar num convento franciscano que tinha a particularidade de ceder freiras para o Paço Re-

al, onde terezinha acabou por ir parar.Por essa altura, a rainha D. Maria, esposa de D. Pedro ii, estava grávida em parto com algumas complicações e foi então que a irmã terezinha lhe contou a história do Menino Deus da Praia e aproveitou para sugerir que tu-do poderia correr melhor se o reino fizesse uma enco-mendação daquele parto ao Menino, na sua fé de que a rainha teria um parto mais fácil.A rainha aceitou a ideia de terezinha e, a partir desse momento e até à hora do parto, elevou as suas preces ao Menino Deus da Praia. o parto correu muito bem, ao contrário do que se esperava.Foi essa ocorrência que levou a que D. Pedro ii, não ca-bendo em si de tanta satisfação, pediu para que a ima-gem que um dia aparecera no centro da Praia da Vitória, fosse recebido e alvo de grandes festividades, na corte. (A filha de D. Pedro ii e D. Maria, acabou por fazer-se mulher e casar com um imperador austríaco).Para que as honrarias fossem de grande monta, as que os reis portugueses julgaram por bem, fizeram deslocar à Praia a esquadra Real, que em meio de grandes feste-jos, levou o Menino Deus da Praia até Lisboa, onde, a 6 de Janeiro, decorreram as grandes celebrações que en-volveram toda a Corte, e que na altura foram das maio-res que ali decorreram, no que se refere a actos de fé.A imagem foi alvo de muitas ofertas, uma das quais é ma caixa de prata, onde ainda hoje o Menino Deus da Praia é colocado e se mantém no museu da igreja Ma-triz da Praia da Vitória.Por ocasião do regresso da imagem do Menino à Praia, os reis decretaram que as alfândegas de Angra e de Ponta Delgada, criassem um imposto com a finalidade de realizarem todos os anos, no dia 6 de Janeiro, a fes-ta em honra do Menino Deus.Por conta dessa lei, a festa do Menino Deus da Praia durou até ao ano de 1909, tendo deixado de se realizar com o fim da monarquia em Portugal.Anteriormente, o grande terramoto de 1614, que aba-lou e praticamente destruiu a Praia, levou a que as frei-ras dos conventos ali existentes mudaram-se para a cidade de Angra, temporariamente, apesar de que se fosse por vontade delas, o regresso teria sido mais di-fícil. Com elas, levaram o Menino Deus da Praia, o que irritou sobremaneira os praienses e as coisas estiveram feias durante algum tempo, gerando-se uma grande confusão entre Angra e Praia.o que é certo, é que o Conde da Praia, teotónio de or-

O meninO Da PRaia

nelas, prometeu aos praienses que se estes votassem nele, nas eleições de 1831, que o Menino regressaria à Praia, e não lhe faltaram os votos. Depois de eleito, teotónio de ornelas cumpriu e o Menino regressou à Praia.Algum tempo depois os conventos foram extintos, no período das lutas liberais, mas a verdade é que a ima-gem do Menino Deus da Praia, não voltou a abando-nar a sua morada no Ramo Grande, onde ainda hoje permanece.é por essa altura que foram criados os mordomos, em mesa administrativa com provedor, que se fizeram substituir ao município e outras autoridades, na realiza-ção da festa de 6 de Janeiro.segundo ornelas do Rego, que deixou esta parte da história contada a Francisco Jorge Ferreira, actualmente provedor da santa Casa da Misericórdia da Praia, e his-toriador da capital do Ramo Grande, a família de João de ornelas, padre Cândido ornelas e Aniceto de orne-las, presidente do município em tempos muito idos, gente de grande poder na Praia da Vitória, e por is-so recebem das mãos do conde da Praia, a imagem do Menino Deus, e foram eles que realizaram a festa até 1909, ainda sob os desígnios da Coroa. A partir de 1910 a festa deixou de se realizar, de forma oficial, ten-do sido, no entanto, abraçada e continuada pelos cató-licos que frequentavam a igreja Matriz.

crise de 1919no entanto, uma enorme crise religiosa ocorrida na Praia da Vitória, que teve início no ano de 1919, com a chegada de um homem de grande valor e saber, que tinha sido governador de Goa, mas que trouxe a acom-panhar a família, uma criada de nome Lucindinha, que, de um momento para o outro, se armou em santa e o Menino Deus da Praia desapareceu, tendo sido subs-

tituído por uma outra imagem de dimensões maiores, que a tal de Lucindinha usava como sendo o verdadei-ro, porque, segundo foram contando testemunhas, era um Menino Jesus que chorava, fazia chichi, tal e qual como se fosse de carne e osso.o problema foi que muitas pessoas, quase todas as pessoas da Praia e do resto da ilha acreditaram nas ar-timanhas da Lucindinha, e se é verdade que se conse-guiu acabar com aquela fantochada, a verdade é que muita luta a coisa deu. essa imagem usada pela Lucindinha já não existe, mas sim outra grande, mas em louça, que se encontra tam-bém na igreja Matriz, sendo ainda usada, por vezes, pa-ra as noites de natal na missa do Galo.quanto à imagem, em madeira, usada pela Lucindinha para os seus truques de charlatanice, foi queimada numa cerimónia em que esteve presente o bispo de então.Alguns padres olharam a situação com muita suspei-ta e outros acreditaram. entre esses, o vigário da Ma-triz, dr. Patrício, um homem tido como muito culto, foi o primeiro a cair na esparrela e a acreditar, como diz Francisco Ferreira, “naquela macacada toda”, tudo is-to contado por pessoas antigas que viveram esses mo-mentos. tido como pessoa de grande bondade, crê-se que o dr. Patrício, terá sido mais ingénuo do que tolo. era irmão do padre Menezes, que se tornou famoso por exercer o sacerdócio e ao mesmo tempo ser pai biológico de várias filhas e filhos, ao contrário de um seu outro irmão, que era juiz e tido como um homem tão santo, tão santo, que chegou mesmo a casar com voto de castidade… no seu segundo casamento.Com toda a confusão que se gerou, acabou-se em 1919, a festa ao Menino Deus da Praia, e a imagem ori-ginal mantém-se na igreja Matriz, dentro da sua caixa de prata, que terá sido oferta de D. Pedro ii e da rainha sua esposa.

RePoRtAGeM . FotoGRAFiA HenrIque DéDALo

Fé CoM PeRCALços

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18Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 19Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

LuIz FAGunDes DuArTe

Diz-se que os açorianos têm uma especial apetência pelas viagens, e que o espírito de aventura seria ineren-te à nossa condição de ilhéus… Bem, talvez. Mas con-vém que ponhamos as coisas no seu devido lugar: o espírito de aventura e a necessidade de conhecer ou-tros locais – ou seja, o impulso para a viagem – são fac-tores inerentes ao ser humano. o que podemos dizer é que o açoriano, porque vive em ilhas, e por isso es-tá naturalmente limitado nos seus movimentos, sentirá de uma maneira mais premente a necessidade de via-jar, não tanto talvez por espírito de aventura, mas sim-plesmente pela necessidade “de sair”, de esticar as per-nas. A isso soma-se, é claro, a memória da História do último meio milénio, em que os açorianos se habitua-ram a conviver com os viajantes de longo curso, vindos das Índias e das Américas e narrando histórias de gen-tes estranhas e lugares desconhecidos, a sentir as nos-sas ilhas como verdadeiros faróis de orientação e por-tos de apoio aos viajantes no meio do mar oceano. nas nossas ilhas, tradicionalmente, as pessoas tinham du-as opções em matéria de bens de consumo: ou se con-tentavam com o que a terra dava, e era pouco e pouco variado, ou usavam, se o podiam, aquilo que vinha nos navios de longe e que seria, naturalmente, mais apete-cível; mas aquilo que aqui chegava a bordo dos navios não vinha para ficar, estava de passagem, e assim a ca-minho de outro destino longínquo, que era o Conti-nente, e o pouco que ficava seria, provavelmente, mais por acaso ou por acidente do que por necessidades de consumo locais… nós trazemos connosco esta memória de chegadas e partidas, e sobretudo esta memória de ver chegar e partir: primeiro a memória histórica, dos tempos das grandes navegações. Depois a memória do abasteci-mento, que em muitos casos ainda perdura como re-alidade incontornável, e que nos demonstra como es-tamos sempre dependentes da chegada do navio pa-

ra termos acesso aos muitos bens que por cá se não produzem; e mesmo a Base das Lajes, paradoxalmen-te, se encontra dependente dos petroleiros que a vêm abastecer, para por sua vez poder abastecer os aviões, estando assim também dependente das condições do mar que nos limita. e finalmente, a memória da emi-gração, que desde o século xix, e sobretudo por me-ados do século xx, desauriu as nossas ilhas de gen-te que, para fugir às duras necessidades que por cá se sentiam, foi contribuir para enriquecer países alheios, onde acabaria por edificar novas ilhas a que, hoje, po-deríamos chamar açorianas… A história humana é uma história de viagens. e todas as culturas humanas têm, entre os seus mitos fundadores, ou nas suas narrativas de consolidação de identidade, uma viagem: temos Adão e eva a iniciarem uma eter-na viagem de expiação após a sua expulsão do éden, e temos a Arca de noé, a Barca de osíris, os Judeus atra-vessando mares e desertos em busca da terra Prometi-da, e até a viagem de José e Maria que fez com que Je-sus nascesse fora de casa… temos as grandes viagens narradas nos textos homéricos, sobretudo a odisseia… temos a Hégira de Maomé, que foi a sua viagem de fu-ga de Meca para Medina, onde fundou o islão… temos as sagas dos povos nórdicos, especialmente dos vikin-gs; as viagens de Marco Pólo, Colombo, Vasco da Ga-ma, Cabral ou Magalhães; temos a epopeia fundadora do Brasil que foram as viagens dos Bandeirantes para o interior desconhecido, e as viagens dos exploradores em áfrica, onde o nosso Roberto ivens desempenhou o seu papel, e dos americanos a caminho do far west… e como se não houvesse mais coisas para descobrir cá na terra, ainda se foi à Lua, pensa-se ir a Marte… Ah: foi depois de ter vivido no Faial que Martim da Bo-émia, genro de Josse van Hurter, o fundador da Horta, construiu em 1492, em nuremberg, o primeiro globo terrestre – o “erdapel”…

Uma hisTóRiaDe viagens –e O “eRDaPeL”

FoLHetiM 355

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20Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 21Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

D. DuARte De BRAGAnçA PAssou Re-

CenteMente PeLA iLHA teRCeiRA, PoR

oCAsião DA inAuGuRAção Do CentRo

PoRtA AMiGA DA AMi, eM AnGRA Do

HeRoÍsMo. o CHeFe DA CAsA ReAL PoR-

tuGuesA PRoPõe A Constituição De

uM Reino uniDo CoM AçoRes, MADei-

RA e Continente, que, seGunDo Diz,

PReseRVARiA As AutonoMiAs.

Como surge a sua ligação à ami?Há muitos anos que sou amigo e tenho colaborado com o Dr. Fernando nobre em algumas iniciativas. sa-bendo que eu gosto muito da terceira, em particular, e dos Açores, em geral, era uma boa ocasião para vir cá inaugurar a sede da AMi. o facto de a construção ser bonita e respeitar a arquitectura tradicional de An-gra do Heroísmo é um óptimo exemplo também para todo o país. infelizmente, por vezes, o estado quando faz liceus, pousadas, bancos ou outras coisas é o pri-meiro a demonstrar o desrespeito pela nossa identida-de e a deixar os arquitectos à solta para fazerem os cai-xotes que eles gostam de fazer. isso não pode ser. se destruirmos a paisagem das belas aldeias, vilas e cida-des dos Açores deixa de haver razão para vir fazer tu-rismo aqui. e mais: os nossos netos vão ficar infelizes e vão perguntar como é possível que uma geração de vaidosos e de irresponsáveis tenha dado cabo do nos-so património arquitectónico, da nossa memória…

essa é uma das suas grandes preocupações?é. Porque é um mal irremediável. quando se destrói, destrói-se. se não soubermos música, se não souber-

mos escrever ou se fizermos muitas coisas erradas, podemos corrigi-lo. quando se destruiu a paisagem e a arquitectura é muito difícil fazê-lo. é um mamarra-cho que está aqui durante dezenas de anos ou mais. o que vale é que essa construção modernista é de muito má qualidade e provavelmente vai cair mais ce-do do que as antigas.

vivendo nós numa república, as causas sociais são o último reduto para a sua actuação?tenho colaborado com o Governo da República em assuntos de interesse diplomático. Por exemplo, nas relações com a indonésia durante a ocupação de ti-mor, nas relações com o mundo árabe, com os países lusófonos… Geralmente, tenho tinha uma boa cola-boração com os ministros dos negócios estrangeiros e com outros ministros. A minha posição de chefe da Casa Real portuguesa pode servir para servir o país e os portugueses, mesmo num regime republicano.

Que mais-valia é que a Casa Real pode trazer para essas questões?sou independente. não recebo salário nem subsídios de ninguém. Portanto, posso dar as minhas opiniões, posso ajudar a esclarecer e a lançar o debate junto da opinião pública. Por isso o instituto para a Democra-cia que foi criado agora. Porque se fosse empregado do Governo teria de ter cuidado com o que digo ou poderia ser despedido. não é o caso. Há tantos portu-gueses competentes, capazes e cheios de boas ideias que não são ouvidos e têm soluções muito boas para os nossos problemas.

a opinião pública em geral está receptiva às suas ideias?em geral, sim. Mas também há pessoas que ficam in-comodadas. no outro dia, a mulher do saramago fi-cou muito zangada comigo por eu ter dito que não admitia que se pusesse em causa a independência nacional. Poderei ter usado talvez uma expressão for-te demais, mas foi espontânea. ninguém nunca nos protegerá tão bem como a nossa pátria. A pátria pre-cisa de nós e nós precisamos dela. isto de resolver os problemas dizendo ‘venham os outros e tomem conta

ReinO PROTege aUTOnOmia

de nós’ além de uma traição é um disparate.

Uma eventual união ibérica está então fora de questão, na sua opinião?A aliança ibérica é muito importante. uma profunda, íntima e fraterna aliança entre Portugal e espanha é fundamental, assim como com inglaterra e outros pa-íses. Agora, integrarmo-nos num país muito maior e mais forte representaria, obviamente, a perda com-pleta da nossa independência. os outros povos, co-mo os bascos, os catalães e até os galegos, que não conseguiram a sua independência, têm imensa inve-ja nossa, porque gostariam de ser como nós. é pre-ciso ser particularmente estúpido para pôr em cau-sa um valor que custou tanto a conservar. tanta gente deu a vida para preservamos a nossa liberdade e inde-pendência, para agora nos entregarmos por interesses momentâneos e comerciais. isso só interessa às mul-tinacionais. Como este pacto, esta constituição euro-peia… isto interessa às multinacionais, porque é mais fácil controlar um governo europeu do que ter de tra-tar com 25 governos europeus. Penso que é a única explicação…

Considera que os portugueses deveriam ser chamados a pronunciar-se sobre este Tratado?Devidamente informados e elucidados, sim. é uma grave falha da democracia que uma decisão destas seja tomada à revelia de um povo. Com todas as des-culpas disparatadas de que as pessoas não sabem, são ignorantes, não percebem o que é que iriam vo-tar… se não sabem e não percebem, mais vale acabar com a democracia. não faz sentido isto.

sente-se bem acolhido nos açores?tenho vindo às vezes no Verão, com a família. Gosto imenso de cá vir. tenho uma solução política que con-sidero interessante e que tenho proposto na Madei-

ra e nos Açores há muitos anos: os Açores deveriam ter um estatuto de reino unido com Portugal e com a Madeira e até com outros países lusófonos que se quisessem juntar a esse reino unido, à semelhança do Reino unido de inglaterra, escócia e ilhas do canal ou da Holanda com as Antilhas ou dos estados unidos com Porto Rico. este estatuto de reino unido resolve o problema da autonomia, sem haver esta permanente aflição de que a autonomia pode levar a desaparecer a unidade nacional. só numa república é que estamos aflitos com essa dicotomia. nas monarquias esse pro-blema não existe.

Como é que esse reino unido funcionaria na prática?toda a gente sabe como funciona o Reino unido in-glês, por exemplo. Com governos totalmente autóno-mos, com moeda, selos e finanças locais e legislação própria, mas com o mesmo chefe de estado, que é a rainha, e forças armadas e negócios estrangeiros em comum. o que é nacional é comum e o que é lo-cal é separado. Actualmente, temos leis laborais extre-mamente fortes, uma fiscalidade muito alta e somos quase o último país europeu ao nível do desenvolvi-mento humano, enquanto antes de 1910, antes da re-pública, estávamos muito mais avançados em relação ao resto da europa.

a população em geral estaria aberta a uma solução des-te tipo?tudo depende da informação que as pessoas têm. se as pessoas têm informação, têm inteligência suficien-te para comparar realidades e ver o que é que funcio-na melhor. não se pode continuar a ver a política em termos do século xix ou do século xViii ou em ter-mos de fantasias pessoais de cada um. Hoje, os paí-ses mais ricos e desenvolvidos da europa são os que têm reis e rainhas e Portugal atrasou-se muito em re-lação a esses países, desde 1910.

entReVistA vAnDA MenDonçA

FotoGRAFiA AnTónIo ArAúJo

D. DuARte De BRAGAnçA

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22Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 2�Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

A CiDADe De AnGRA Do HeRoÍsMo

DisPõe, DesDe DezeMBRo, De uM Cen-

tRo PoRtA AMiGA DA AMi. As MuLHe-

Res eM RisCo De exCLusão soCiAL, A

PoPuLAção iMiGRAnte e os CiDADãos

RePAtRiADos são o PúBLiCo-ALVo.

A Fundação AMi – Assistência Médica internacio-nal inaugurou recentemente, em Angra do Heroísmo, o seu primeiro equipamento social nos Açores e 11.º no país. trata-se de um Centro Porta Amiga destinado a apoiar a população mais carenciada.os Centros Porta Amiga têm como principal objectivo criar os meios necessários para a (re)inserção social, colocando à disposição dos seus utentes todas as va-lências habituais nestes centros de apoio social. Assim, e para além de refeitório (que fornecerá 50 re-feições diariamente) e balneário, estarão também dis-

PORTa amiga

poníveis serviços de apoio social, psicológico, jurídico, médico e de enfermagem, Clube de emprego e apoio à inserção sócio-profissional e actividades de anima-ção sócio-cultural.será também facultada neste espaço a distribuição de géneros alimentares e de peças de vestuáriono caso da Porta Amiga de Angra, será dada uma es-pecial atenção, por um lado, aos casos de mulheres que estejam a vivenciar problemas relacionados com a pobreza, violência doméstica e o crescente fenóme-no das famílias monoparentais femininas, e, por outro lado, à população imigrante e ao crescente número de cidadãos repatriados que, para além de desenrai-zados do seu meio, estão em situação ilegal.As instalações da AMi em Angra do Heroísmo encon-tram-se num edifício de três pisos na Rua Pêro de Bar-celos, junto à Marina de Angra, adquirido em 2004 com fundos próprios da fundação e recuperado atra-vés de diversos apoios, nomeadamente do co-finan-ciamento do Governo Regional e de donativos de em-presas como a Desejo sem Limites/Mecenato net, através das receitas do Leilão das vacas da Cow Para-de, e da natura selection.o custo total do projecto (aquisição e recuperação) atingiu os 810 mil euros. neste primeiro ano de acti-vidade, entre despesas de funcionamento, de estru-tura e de pessoal, a AMi estima despender mais 281 mil euros, parcialmente financiados pela segurança social.em 2008, a fundação espera ainda inaugurar o Centro Porta Amiga de Ponta Delgada, cujo projecto se en-contra já em fase de aprovação.

desafio À democraciao combate à pobreza e à exclusão social é o mais im-portante desafio que a democracia terá de vencer. A ideia foi defendida por Fernando nobre, presidente da AMi, na inauguração do primeiro equipamento social da fundação no arquipélago.na ocasião, Fernando nobre considerou que “só com um empenho total, fazendo do combate à pobreza uma causa verdadeiramente nacional, que envolva não só os governos, mas também as empresas e os cidadãos, será possível fazer com que essa vergonha seja vencida”, sublinhando que “não há nenhum ata-vismo lusitano que nos condene aos piores índices de bem-estar e qualidade de vida da europa”.o responsável sustentou, por outro lado, que o Centro Porta Amiga agora inaugurado “dignifica a cidade de Angra, a AMi e as pessoas que a ele recorrerão, pois as pessoas mais necessitadas devem ser assistidas em espaços condignos”.Fernando nobre destacou ainda que a fundação pre-tende “integrar no concelho e na ilha a rede solidária que já existe”. “Perante os desafios que se avizinham para o país, não tenho dúvidas de que todos somos indispensá-veis, úteis e necessários”, afirmou.Por seu lado, a directora regional da solidariedade e segurança social manifestou a disponibilidade do

executivo açoriano para trabalhar com a AMi, anun-ciando, para o início do próximo ano, a assinatura de um acordo de colaboração entre as duas entidades. “A pobreza e a exclusão social são um problema que cumpre a todos tentar resolver”, defendeu, salientando que, neste contexto, “o Governo Regional tem privilegia-do a realização de parcerias e o trabalho em rede” com as instituições particulares de solidariedade social.Andreia Cardoso manifestou ainda a sua “grande sa-tisfação” com a abertura desta nova valência na ilha terceira, considerando que “os Açores terão muito a beneficiar com a experiência da AMi”.também o presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, José Pedro Cardoso, exprimiu a dispo-nibilidade da autarquia em colaborar com a fundação

no “alerta contra a intolerância e a indiferença e no combate à pobreza, à exclusão social, ao subdesen-volvimento e à fome”.A AMi é uma organização não Governamental com estatuto jurídico de fundação, privada, apolítica e sem fins lucrativos.Desde a sua fundação por Fernando nobre, a 5 de De-zembro de 1984, assumiu-se como uma organização humanitária inovadora em Portugal, destinada a inter-vir rapidamente em situações de crise e emergência, tendo o Homem como centro de todas as suas preo-cupações.o seu objectivo é lutar contra a pobreza, a exclusão social, o subdesenvolvimento, a fome e as sequelas da guerra, em qualquer parte do mundo.Contando já com mais de 20 anos de experiência no combate à intolerância e à indiferença, a AMi continua a transmitir ao mundo a sua mensagem de solidarie-dade e humanismo, sobretudo através das suas mis-sões e do desenvolvimento de técnicas e métodos de intervenção em situações de crise evolutivas.

RePoRtAGeM vAnDA MenDonçA

FotoGRAFiA AnTónIo ArAúJo

FunDAção AMi

FeRnanDO nOBRe | PResiDente DA AMi

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24Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 25Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

A propósito das declarações do Deputado nuno Amaral (*), sobre as potencialidades financeiras da vi-deoconferência, face aos custos das deslocações in-ter-ilhas dos Deputados regionais - “a videoconferên-cia, com excepção dos plenários parlamentares, re-solvia perfeitamente a situação e evitava gastos des-necessários” -, perante o perigo da mistificação dema-gógica, julgo ser de fazer os seguintes sublinhados:

a)os Deputados com assento na Assembleia Le-gislativa são representantes de toda a Região e não dos círculos por que foram eleitos (artigo 21.º do estatuto Político-Administrativo);b)As comissões parlamentares são órgãos políti-cos, nascidas de outro órgão político, às quais in-cumbe, não só, a análise técnica de documentos e questões pendentes mas, sobretudo, a constru-ção da antecâmara do debate político a ter lugar em plenário da Assembleia (só assim se explica a obrigação de representatividade proporcional das diferentes forças políticas nas comissões - artigo 42.º daquele estatuto).

Como tal, a virtuosa adesão a meios tecnológicos, aliada a, eventuais, necessidades contabilísticas, ain-da que possa justificar, casuisticamente, o uso da vi-deoconferência, pelo parlamento açoriano, em caso algum poderá condicionar:

a)A obrigação de todos os Deputados conhece-rem, in loco, a realidade do arquipélago que se conjuga com o, necessário e efectivo, exercício do mandato de Deputado em todas as ilhas (em cau-sa está o que de melhor há no sistema político açoriano, tal seja, a democracia de proximidade. só assim se contribui para a construção de uma unidade regional, só assim se aceita que na pro-posta do revisão do estatuto conste, como futuro dever dos Deputados, uma visita a “cada uma das ilhas da Região, pelo menos, uma vez em cada le-gislatura”);b)o eficaz cumprimento, no âmbito das comis-sões parlamentares, do mandato político de fis-calização, debate, contradição e aclaramento das questões regionais, desenvolvido entre as diferen-

tes representações políticas, ou perante o Gover-no Regional.

ou seja, esta é a defesa da Assembleia Legislativa en-quanto órgão político. Assim, é meu entender que os benefícios da videoconferência serão, exclusivos, no âmbito do trabalho parlamentar, de: a) subcomissões; b) questões técnicas que as comissões queiram escla-recer; c) audições de entidades externas ao sistema político regional, nas quais o parlamento tenha inte-resse, ou obrigação, considerando o âmbito das suas competências.questão conexa, a ser avaliada, no âmbito dos traba-lhos da Comissão para a Reforma do Parlamento, é a do absentismo, ou não, dos Deputados, às reuniões das comissões, especialmente, as que se realizam em ilhas diversas das da sua residência. Para esse proble-ma urge estipular um regime de faltas transparente e fiável (com repercussão directa nos direitos e regalias dos Deputados e no exercício do seu mandato), que permita que o princípio da representatividade regio-nal, enquanto pedra angular do sistema democrático açoriano, esteja, convenientemente, acautelado.A actividade política na Região tem custos inerentes à sua condição arquipelágica. tal, não obsta a que a ava-liação desses custos possa ser feita, de modo transpa-rente e esclarecido, pelo eleitorado, ao qual é devido um esforço de informação e justificação de todos os gastos. Do, eventual, excesso, na equação gastos/re-sultados, caberá, sempre, reclamação para as entida-des competentes no âmbito da hierarquia política ou judicial e, em última análise, para o sufrágio quadrie-nal (eleições). Concluindo, qualquer reforma parlamentar na forja não pode esquecer os fundamentos da arquitectura política regional e, sobretudo, que o primeiro benefi-ciário dessa mudança deve ser o cidadão-eleitor. sen-do assim, em matéria de custos [como o (de)uso da videoconferência, ou outros] parametrizar a Assem-bleia Legislativa com uma empresa, ou um serviço pú-blico, é um caminho, demasiado, arenoso para ser tri-lhado com ligeireza. Mais vale morder a língua… (*) http://www.da.online.pt/news.php?id=132058

mORDeR a LíngUa…

GuILHerMe MArInHohttp://chaverde.blogspot.com/

oPinião

este é o primeiro de uma série de textos que aqui va-mos continuar a publicar. o título genérico Sala da Autonomia (já não Autonómicas constitucionalida-des) merece uma explicação que também serve de informação.

Há já alguns anos, desde 1990, que temos a ideia de construir uma associação para o estudo da temá-tica das autonomias políticas portuguesas. entretan-to, existe já, desde 1999, uma designação provisó-ria, primeiro Associação Jurídica dos Açores (online em 2000), depois, em 2005, Centro de Ciência Jurí-dica dos Açores, incluindo a planificação de uma Re-vista de Direito Regional dos Açores. uma associação que tem já um conjunto significativo de interessados, mas que não foi ainda constituída formalmente por-que são necessárias condições que… quase que es-tão reunidas. em geral, aquela associação é um espa-ço de reflexão acerca da dinâmica do Direito no or-denamento jurídico português e com incidência nas Regiões Autónomas. Para o efeito pretende desenvol-ver, entre outros projectos, além da antedita revista, inicialmente na forma digital, colóquios, conferências, estudos, e cooperação técnica e científica com outras instituições para o desenvolvimento da autonomia.

um dos projectos daquela associação é a criação de uma sala numa biblioteca da ilha, intitulada Sala da Autonomia. é uma sala dedicada exclusivamente às questões autonómicas, em todas as áreas do conheci-mento, mas sobretudo concentrada na área do Direito e da Filosofia. Sala da Autonomia, um acervo organi-zado com documentação, física e virtual, sobre auto-nomia, incluindo a organização de documentação so-bre e dos Açores, realização de colecções com todos os estudos conhecidos e dispersos, textos legais e ju-risprudenciais, trabalhos preparatórios das leis e ou-tros, bem como base informática de pesquisa e dis-ponibilidades.

Faço a mim próprio um empréstimo daquele título pa-ra esta rubrica aqui na Revista do Diário insular, cuja cópia, bem entendido, abrange apenas o título e a te-mática, não os objectivos.

Feita esta entrada informativa peço ao amigo leitor que me acompanhe nesta sorte nos próximos textos e que, se estiver interessado nestes assuntos e os qui-ser comentar, nos escreva para [email protected].

saLa DaaUTOnOmia

ArnALDo ourIquePoLiteiAsala da Autonomia

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26Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008 27Di DoMinGo 13.JANeIrO.2008

58kg de peso, aderiu ao karaté aos seis anos de ida-de, por influência directa de um cunhado. Foi, po-de-se dizer, amor à primeira vista. “encantei-me pe-la modalidade logo no primeiro treino e, presente-mente, dedico, em média, cinco/seis horas por se-mana ao karaté”, informa. Ciente das suas qualidades, Fábio silva admite que pode vingar neste desporto bastante peculiar, con-quanto reconheça dificuldades. “Já estive muito per-to de representar a selecção nacional, o que só não aconteceu por excesso de peso. no entanto, a pré-selecção representou uma experiência sobremanei-

ra positiva, atendendo a que convivi e aprendi com atletas de categoria internacional”.“Desejo vestir a camisola da selecção, embora, com as alterações regulamentares previstas, suba direc-tamente dos cadetes para os seniores, sem passar pelos juniores. Deste modo, terei como adversários atletas mais experientes e de nível mundial. Por ou-tro lado, como na Região estamos limitados em ter-mos competitivos, é natural que aqueles que com-petem praticamente todos os fins-de-semana te-nham uma evolução diferente”, acrescenta. enquanto sonha em ser guarda prisional ou, então, ficar ligado a alguma actividade relacionada com o desporto, Fábio silva lamenta o facto do quadro competitivo regional ser diminuto, daí que refor-

ce a importância da presença dos atletas locais em eventos nacionais e internacionais como modo de adquirir a necessária rodagem e maturidade.“Pessoalmente, tive sorte, levando em linha de con-ta que comecei na modalidade numa boa altura. Ganhei experiência com a prática do kumite, o que me possibilitou a conquista de diversos títulos re-gionais e a consequente participação nos campeo-natos nacionais. também é justo reconhecer a qua-lidade dos treinadores açorianos, algo que tem si-do decisivo no crescimento do karaté por estas pa-ragens”.

Fábio silva assegura que não pretende abandonar a modalidade. “o karaté significa disciplina, confian-ça, controlo, defesa e saúde. Depois, é um despor-to para todas as idades e que nos permite conhecer imensos lugares. no meu caso concreto, até porque sou uma pessoa algo reservada e caseira, é um óp-timo meio de convívio. Fiz imensas amizades graças à modalidade”. “Ao contrário do que algumas pessoas julgam, kara-té não é sinónimo de violência. é, sim, uma activida-de que nos transmite serenidade e paz de espírito. Basta dizer que, regra geral, os praticantes de karaté não criam confusões com ninguém e têm uma pos-tura muito positiva em relação à vida”, afirma, em jeito de conclusão, antes de regressar ao treino.

ResPiRa kaRaTéFáBio siLVA

RePoRtAGeM MATeus roCHA

FotoGRAFiA AnTónIo ArAúJo

Fábio silva, de 17 anos, estudante do 11º ano de escolaridade, é uma das grandes esperanças do karaté açoriano. Atleta do Clube de Karaté-do sho-tokan da Praia da Vitória, o nosso entrevistado é campeão regional de kata e kumite há vários anos consecutivos e “Atleta do Ano” da Associação de Ka-raté dos Açores (AKA) desde o escalão de pré-in-fantil. Para além do karaté, Fábio silva também praticou o chamado desporto-rei, mas depressa se dedicou em exclusivo à popular modalidade com raízes na cultura oriental. “Percebi que seria difícil conciliar as duas actividades e, como pretendia alcançar pódios nacionais no karaté, abandonei o futebol”, diz.o jovem cinto negro, de 1.70 metros de altura e

PRoDuto Dos esCALões De FoRMAção

Do CLuBe De KARAté-Do sHotoKAn DA

PRAiA DA VitóRiA, FáBio siLVA ResPiRA

KARAté PoR toDos os PoRos. RePRe-

sentAR A seLeCção DAs quinAs é uM

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LADos Custos DA insuLARiDADe.

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LivROs

secretum Monaldi e SortiBertrand Editora862 Páginas

Roma, Julho de 1700. no ano do Jubileu, o carde-al spada celebra fausto-samente na sua mansão romana o casamento do sobrinho. os convidados são ilustres - entre eles fi-guram as mais nobres fa-mílias italianas, um gran-de número de prelados e representantes desta-cados das cortes euro-peias.Mas a festa é pano de fundo de intrigas e cons-pirações... Atto Melani, castrato e espião de Lu-ís xiV, tem como missão, juntamente com o seu fiel ajudante, influenciar a eleição do próximo Pa-pa e a sucessão ao trono de espanha.os luxuosos salões ro-manos, repletos de obras de arte esplêndidas, tes-temunham as engenho-sas tramas e os subtis jo-gos de poder. neste am-biente de festins e refina-das diversões, é a sorte de toda a europa que es-tá em jogo.Monaldi e sorti criaram um enorme furor em to-do o mundo com os seus livros e apaixonaram os críticos. As três primeiras obras dos autores estão publicadas em 45 países, tendo atingido os primei-ros lugares dos tops de vendas na maior parte deles.

eXPOsiçÕes

uma exposição de foto-grafia intitulada “Mirada Panorâmica” está paten-

te na sala dos Canhões da Pousada de são se-bastião e na sala do Ca-pítulo do Museu de An-gra, até 13 de Janeiro.

uma mostra de fotogra-fia sobre o Vulcão de santa Bárbara, da autoria de Paulo Henrique silva, está patente na Galeria do iAC, em Angra.“Loop” é o título de uma exposição de pintura, da autoria de Paula Mota, patente na sala Dacosta do Museu de Angra, até 13 de Janeiro.“As Armas que Mudaram o Mundo” é o título de uma exposição patente na sala de oportunida-des do Museu de Angra, até 13 de Janeiro.uma mostra de balan-ças antigas está patente na sala de Destaques do Museu de Angra, até 13 de Janeiro.uma exposição de co-nhas de Augusto Veiga está patente no Museu da Graciosa, até 31 de Janeiro.

Cinema

“Gangster Americano” é o filme em exibição no Centro Cultural de Angra, até quinta-feira, dia 17, pelas 21h00. Hoje, do-mingo, o filme é exibido às 18h00 e às 21h00.o Centro Cultural de Angra estreia sexta-fei-ra, dia 18, pelas 21h00, “shoot’em up- Atirar a Matar”.

músiCa

um Concerto de Ano novo tem lugar hoje, domingo, a partir das 21h00, no Centro Cultu-ral da Graciosa.

PUBL

ICID

ADe

sUgesTÕes TiRO&QUeDaruI MessIAs

DIÁrIO INSULAr - Ficha Técnica: Propriedade: Sociedade Terceirense de Publicidade, Lda., nº. Pessoa Colectiva: 512002746 nº. registo título 101105 Jornal diário de manhã Composição

e Impressão: Oficinas gráficas da Sociedade Terceirense de Publicidade, Lda. Sede: Administração e redacção - Avenida Infante D. Henrique, n.º 1, 9701-098 Angra do Heroísmo Terceira

- Açores - Portugal Telefone: 295401050 Telefax: 295214246 [email protected] | www.diarioinsular.com Director: José Lourenço Chefe de redacção: Armando Mendes redacção:

Hélio Jorge Vieira, Fátima Martins, Vanda Mendonça, Henrique Dédalo, rui Messias e Helena Fagundes Desporto: Mateus rocha (coordenador), Luís Almeida, Daniel Costa, José eliseu

Costa, Jorge Cipriano e Carlos do Carmo. Artes e Letras: Álamo Oliveira (coordenador) Colaboradores: Francisco dos reis Maduro Dias, ramiro Carrola, Claudia Cardoso, Luís rafael do

Carmo, Luiz Fagundes Duarte, Gustavo Moura, Francisco Coelho, José Guilherme reis Leite, Ferreira Moreno, António Vallacorba, Diniz Borges, Bento Barcelos, Jorge Moreira, Duarte Frei-

tas, Guilherme Marinho, Daniel de Sá, Soares de Barcelos, Cristóvão de Aguiar, Vitor Toste, Luis Filipe Miranda, Paulo Melo e Fábio Vieira Fotografia: António Araújo, rodrigo Bento, João

Costa e Fausto Costa Design gráfico: António Araújo. Agência e Serviços: Lusa edição electrónica: Isabel Silva Sócios-Gerentes, com mais de 10% de capital: Paula Cristina Lourenço,

José Lourenço, Carlos raulino, Manuel raulino e Paulo raulino. Tiragem desta edição: 3.500 exemplares,; Tiragem média do mês anterior: 3.500 exemplares; Assinatura mensal: 11 euros

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