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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
Ácidos orgânicos como aditivos nutricionais para ruminantes
Guarapuava-PR 2011
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
Ácidos orgânicos como aditivos nutricionais para ruminantes
Organic acids as feed additive for ruminants
Revisão apresentada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Produção de Bovinos de Corte da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Mikael Neumann
Guarapuava-PR
2011
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Título: Revisão Bibliográfica – Ácidos orgânicos como aditivos nutricionais para ruminantes
Instituição Executora: Universidade Tuiuti do Paraná
Órgão Executor: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão- PROPPE
Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Produção de Leite
Duração: 2 meses
Município: Guarapuava - Pr
Equipe: Fabiano Marafon
João Artêmio Marin Beltrame
Orientador: Prof. Dr. Mikael Neumann
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SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................... 4
ABSTRACT.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 6
1 ÁCIDOS ORGÂNICOS COMO ADITIVOS NUTRICIONAIS.......................................... 8
2 OS ÁCIDOS ORGÂNICOS E A DIMINUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE METANO........... 9
3 OS ÁCIDOS ORGÂNICOS E A CAPTAÇÃO DE LACTATO........................................ 13
CONCLUSÃO............................................................................................................................ 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................ 18
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RESUMO
Há muitos anos que os nutricionistas vêm buscando alternativas para a manipulação
ruminal, com o intuito de diminuir os problemas relacionados com a produção de
ruminantes, como a poluição ambiental pela eliminação de metano, e os distúrbios
metabólicos causados pela grande inclusão de concentrado nas dietas. Porém nos
últimos 30 anos os estudos têm se concentrado na utilização de ionóforos e antibióticos
promotores de crescimento. Atualmente, a utilização dessas substâncias está sendo vista
com desdenho pelos consumidores, devido a problemas relacionados com resistência a
antibióticos, fazendo com que a busca por possíveis substitutos seja crescente.
Os ácidos orgânicos são substancias potenciais para a utilização como aditivos
nutricionais para ruminantes, visando melhoras na utilização de nutrientes, e nos
parâmetros ruminais. Existem resultados em testes in vitro bastante favoráveis para a
utilização do ácido málico com o intuito de aumentar a transformação do lactato em
propionato, diminuindo assim a queda abrupta do pH ruminal, e para o ácido fumárico,
aumentando a competição com as bactérias metanogênicas pelo H2, reduzindo a
produção de metano, e aumentando a produção de ácidos graxos voláteis.
Ao que parece a utilização do ácido fumárico como redutor da produção de metano
in vivo, é limitada pela necessidade de adição de grandes quantidades dessa substância
para que ocorra resultados satisfatórios.
A adição de ácido málico visando uma maior utilização do lactato e diminuição na
queda abrupta do pH ruminal, parece ser bastante promissora, porém esbarra em
questões econômicas, devido ao alto custo para a utilização dessa tecnologia.
Palavras Chave: Ácidos orgânicos, Acidose ruminal, Aditivos nutricionais, Fumarato, Malato, Metano.
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ABSTRACT
For many years, nutritionists have sought alternatives to the manipulation of
rumen in order to reduce the problems associated with the production of ruminants,
such as environmental pollution by the elimination of methane, and metabolic
disturbances caused by high concentrate inclusion in diets. But in the last 30 years
studies have focused on the use of ionophores, antibiotics and growth
promoters. Currently, the use of these substances is being viewed with disdain by
consumers due to problems with antibiotic resistance, making the search for
possible replacements is increasing.
The organic acids are potential substances for use as nutritional additives for
ruminants, seeking improvements in nutrient use, and ruminal parameters. There are
in vitro results in very favorable for the use of malic acid in order to increase the
conversion of lactate into propionate, thus reducing the abrupt decline of Ph, and
fumaric acid, increasing competition with methanogenic bacteria for H2, reducing
methane production, and increasing the production of volatile fatty acids.
It seems that the use of fumaric acid as reducing methane production in vivo is
limited by the necessity of adding large quantities of this substance satisfactory to
occur.
The addition of malic acid towards greater use of lactate and decrease in the
sharp drop in rumen pH, looks quite promising, but stumbles on economic issues,
given the high cost for using this technology.
Keywords: Organic acids, ruminal acidosis, feed additives, malate, fumarate, methane.
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INTRODUÇÃO
A produção animal baseada na exploração de ruminantes tem grande importância
social e econômica, pois é uma das principais fontes de carne e leite para a alimentação
humana, além de gerar grandes divisas financeiras.
O Brasil possui atualmente um rebanho de 1,15 milhões de bubalinos, 14 milhões de
caprinos e 16,8 milhões de ovinos, porém a criação que se destaca é a bovinocultura,
que possui um rebanho de aproximadamente 205 milhões de cabeças sendo esse o maior
rebanho comercial do mundo (MAPA, 2010), com uma produção de 29.480 mil
toneladas de leite fluido (USDA, 2009), e 9.180 mil toneladas de equivalente carcaça
(ABIEC, 2010), juntas, a produção de leite e a de carne bovina do Brasil geraram uma
receita bruta de R$ 67 bilhões no ano de 2009.
Porém, mesmo possuindo o maior rebanho comercial, o Brasil ocupa a segunda
posição no ranking mundial de produtores de carne bovina, e a quinta posição mundial
entre os produtores de leite (USDA, 2009), com índices zootécnicos muito aquém do
real potencial das atividades, como a taxa de lotação das pastagens, que é de apenas
1,08 UA/ha. (IBGE, 2006).
Parte dessa ineficiência se deve ao fato de que 2 a 15% dos nutrientes ingeridos
pelos bovinos podem ser perdidos na forma de CH4 (metano) (VAN NEVEL &
DEMEYER, 1996). Durante a fermentação anaeróbia dos carboidratos no rúmen ocorre
a liberação de hidrogênio, este hidrogênio liberado pode ser utilizado na síntese de
ácidos graxos voláteis e da matéria orgânica microbiana. O excesso de hidrogênio é
eliminado, principalmente na forma de metano (BEAUCHEMIN, 2006).
O metano, além de ser causa de ineficiência na produção, é ainda considerado o
vilão da pecuária, pois é um importante gás do efeito estufa, participando com cerca de
15% do total de gases que causam esse efeito, e os ruminantes respondem por
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aproximadamente 22% da emissão deste gás (USEPA, 2000), portanto são responsáveis
por 3,3% do aquecimento global.
Outro fator que faz com que os índices zootécnicos da pecuária brasileira sejam
baixos é a forma extensiva com que os bovinos aqui são criados, sendo assim uma das
formas de melhorar a produtividade é intensificando a produção, utilizando melhor os
recursos disponíveis. Porém muitas das vezes para essa intensificação é necessário
lançar mão de recursos para elevar o consumo de nutrientes como, por exemplo, dietas
ricas em concentrados, que juntamente com a melhoria dos índices, podem levar a
alguns distúrbios metabólicos, como a acidose ruminal (CASTILHO et al., 2004).
A acidose ruminal acontece quando o pH ruminal fica inferior a 5,5, na maioria das
vezes isso acontece devido ao acúmulo de ácido lático ou ácidos graxos voláteis no
rúmen, principalmente após a ingestão de grandes quantidades de carboidratos
rapidamente fermentáveis (NAGAJARA & TITGEMEYER, 2007).
A acidose pode ocorrer de forma clínica ou o mais comum na forma de acidose
subclínica, ou seja, sem sinais clínicos aparentes, o que é um grande problema, pois
apesar de ser silenciosa, gera grandes perdas produtivas, principalmente no que diz
respeito à diminuição da digestibilidade da matéria seca ingerida e consequentemente
um menor aporte de nutrientes ao animal (CASTILHO et al., 2004).
A melhora do ambiente ruminal através da utilização de aditivos nutricionais tem
concentrando esforços dos pesquisadores mundiais, principalmente com o objetivo de
diminuir a emissão de poluentes e aumentar a eficiência de conversão de nutrientes
pelos animais, diminuindo assim o impacto da produção de bovinos ao ambiente.
Durante os últimos 30 anos os estudos de manipulação ruminal tem se concentrado
em torno da utilização de ionóforos e antibióticos promotores de crescimento, porém a
utilização dessas substâncias para fins nutricionais está sendo proibida em alguns locais
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como, por exemplo, a união européia (CASTILLO et al., 2004). Por esse motivo nos
últimos anos acentuou-se a busca por possíveis substitutos a esses compostos
(MCGINN et al., 2004).
O objetivo desta revisão é descrever os mecanismos de ação e os possíveis efeitos da
utilização de ácidos orgânicos como aditivos nutricionais, no desempenho e saúde dos
ruminantes.
1. ÁCIDOS ORGÂNICOS COMO ADITIVOS NUTRICIONAIS
Existem alguns ácidos orgânicos que podem ser considerados como alternativas aos
ionóforos e antibióticos promotores de crescimento utilizados como aditivos na nutrição
de ruminantes. Alguns dos ácidos orgânicos com potencial para essa utilização são o
aspartato, cítrico, succínico, pirúvico, málico e fumárico (MARTIN, 1998).
O primeiro estudo nesta área foi realizado in vitro, por Lineahn et al. utilizando a
adição de malato e fumarato, à meios de cultura pura de Selenomonas ruminantium,
onde observaram que a inclusão desses aditivos auxiliavam propiciava um maior
crescimento bacteriano.
Essas substâncias são consideradas seguras, uma vez que não apresentam resíduos
na carcaça (MARTIN, 1998), pois se tratam de elementos que participam do ciclo
natural de produção de ácidos graxos voláteis no processo fermentativo ruminal.
O uso dos ácidos orgânicos como aditivos na nutrição de ruminantes pode levar a
benefícios semelhantes aos encontrados com a utilização dos ionóforos e antibióticos
promotores de crescimento (CASTILHO et al., 2004), por exemplo, prevenindo a
queda acentuada do pH ruminal (MONTANO et al., 1999), e reduzindo a produção e
emissão de metano (ASANUMA et al., 1999).
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A maior parte dos estudos realizados com ácidos orgânicos como aditivos
nutricionais concentram-se na utilização do ácido málico e/ou o ácido fumárico.
Os ácidos málico e fumárico são dicarboxílicos tetracarbonados, presentes nos
tecidos biológicos intermediários do ciclo do ácido cítrico (KHAMPA & WANAPAT,
2007).
O ácido málico promove a utilização de lactato pelas bactérias Selenomonas
ruminantium, que são as bactérias anaeróbias predominantes no rúmen com até 51% do
total de bactérias, levando a um crescimento in vitro desses microorganismos (NISBET
& MARTIN, 1993b), além da diminuição na concentração de ácido lático e por
consequência elevação do pH (MARTIN et al., 2000).
O ácido fumárico é considerado um dreno ativo de hidrogênio, pois os
microorganismos utilizadores de fumarato, competem com as bactérias metanogênicas
pelo H2, diminuindo, portanto a produção de metano (ASANUMA et al., 1999),
juntamente com a diminuição da metanogênese, ocorre um aumento na produção de
propionato e acetato (LÓPEZ et al., 1999).
2 OS ÁCIDOS ORGÂNICOS E A DIMINUIÇÃO DA
PRODUÇÃO DE METANO
As bactérias metanogênicas, promovem no ambiente ruminal a incorporação de
quatro moléculas de hidrogênio a uma de CO2, resultando na fomação de uma molécula
de metano e duas de água (CO2 + 4H2 = CH4 + 2 H2O) (CASTILLO et al., 2004). Esta é
a principal forma de eliminação do H2 produzido no rúmen durante os processos
fermentativos (ASANUMA et al., 1999).
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Portanto uma forma de reduzir a produção de metano seria aumentando a utilização
de H2 por bactérias não metanogênicas (ASANUMA et al., 1999). Para que isso ocorra,
deve estar disponível às bactérias não metanogênicas substratos que dependam da
incorporação de H2 para sua metabolização (UNGERFELD et al., 2007)..
Essa redução na produção de CH4, além de diminuir os impactos ambientais da
produção de ruminantes, resulta em um acréscimo de energia disponível aos animais,
através do aumento na produção de Ácidos Graxos Voltáteis, principalmente o
propionato (CARRO & RANILLA, 2003a).
Vários elementos foram testados como aditivos nutricionais com o intuito de
diminuir a metanogênese ruminal, principalmente os precursores propionato (Figura 1),
como: piruvato sódio, L-lactato (sal de sódio), acrilato (sal de sódio), DL-aspartato (sal
de potássio), DL-fumarato (sal dissódico), DL-malato (sal dissódico), citrato (sal
trissódico), 2-oxoglutarato, L-tartarato e propionato (NEWBOLD et al., 2005).
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Figura 1 Vias de formação de propionato e seus precursores (adaptado de: NEWBOLD, et al., 2005)
A Figura 1, mostra as principais vias de formação de propionato no rúmen, sendo
elas a via do acrilato, que faz a fermentação do lactato, e a via succinato-propionato,
onde estão presentes os ácidos orgânicos testados como aditivos nutricionais. Nota-se
que durante a transformação de fumarato à succinato ocorre a incorporação de H2 do
meio ruminal.
Dentre os ácidos orgânicos já testados com o intuito de diminuir a produção de
metano, o mais promissor parece ser o ácido fumárico, ou fumarato (MARTIN, 1998).
Existem resultados variados para a utilização do ácido fumárico como aditivo
nutricional (in vitro), porém todos demonstraram haver redução significativa na
diminuição da produção de CH4 (CARRO et al. 1999; LÓPEZ et al. 1999; CARRO &
RANILLA, 2003a).
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Esta variação nos resultados para a diminuição de CH4 com a adição de fumarato,
provavelmente se deve a variação existente também no tipo de cultura realizada (pura,
mista, contínua) bem como quanto aos substratos utilizados (GARCÍA-MARTÍNEZ et
al., 2005).
García-Martínez et al. (2005) utilizando três diferentes níveis de concentrado,
provou haver interação entre o tipo de substrato e a eficiência da adição do fumarato em
culturas in vitro, sendo que os melhores resultados foram encontrados nas dietas com
maior nível de inclusão de concentrado.
Gómez et al. (2005) realizou a incubação in vitro de duas dietas, uma de média outra
de alta inclusão de concentrado, adicionado de malato dissódico, encontrou resultados
favoráveis para ambas as dietas tanto para elevação do pH, quanto para produção de
ácidos graxos voláteis.
Levando em consideração que 1 mol de fumarato convertido em propionato requer
a incorporação de 1 mol do equivalente redutor (H2), então para cada mol de fumarato
convertido em propionato deveria ocorrer uma diminuição de 0,25 mols de CH4 (CO2 +
4H2 = CH4 + 2 H2O) (CASTILLO et al., 2004).
Newbold et al.(2005) mostraram que 1 mol de fumarato convertido para propionato
teria estequiometricamente que diminuir a produção de CH4 em 5,6 L (1 mol de gás ~
22,4 L em condições normais de temperatura e pressão), para uma vaca leiteira, com
produção de 500 L/d de CH4. No entanto, para obter 10% de redução na produção de
metano exigiria que o animal ingerisse um mínimo de 1,45 kg de fumarato dissódico
(8,92 mol) por dia, isso se 100% do fumarato fosse convertido em propionato.
Newbold et al. (2005) e Ungerfeld et al. (2007), encontraram valores de 50% e 48%
para a taxa de fumarato que é convertido em propionato, portanto, para o mesmo
exemplo, seria necessário o dobro da ingestão de fumarato dissódico. Em 2 kg desse sal
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contém 550g de Na, o que é bem mais que os valores de ingestão de Na recomendado
peçp NRC (2001), e que certamente induziria a toxicidade (NEWBOLD et al., 2005).
Ungerfeld et al. (2007) mostraram que concomitantemente com o a produção de
propionato, há um aumento de 0,2 mol de acetato por mol de fumarato adicionado.
Sabe-se que para cada mol de acetato produzido a partir do fumarato há a produção de 2
mol de equivalentes redutores (H2), um na transformação de malato em oxaloacetato, e
outro na transformação de piruvato em acetato (Figura 1).
Se para cada mol de fumarato adicionado, apenas 48% é convertido em propionato,
e ocorre um acréscimo de 0,2 mol de acetato, então há a redução de 0,48 mol de H2 pela
produção de propionato, porém há a produção de 0,4 mol de H2 pela produção de
acetato, sendo assim apenas 0,08 mols de H2 deixarão de ser convertidos em metano,
ocorrendo então uma redução teórica de apenas 0,02 mols de CH4/mol de fumarato
adicionado.
Portanto a redução real da produção de metano é ainda menor que o esperado
estequiométricamente de 0,25 mol/mol de fumarato adicionado.
3 OS ÁCIDOS ORGÂNICOS E A CAPTAÇÃO DE LACTATO
Apesar dos ruminantes possuírem a capacidade de digestão de alimentos fibrosos,
muitos animais são alimentados com grandes quantidades de concentrados na dieta,
com o intuito de melhorar o desempenho, através de um maior aporte de energia.
Os concentrados em geral, são rapidamente fermentáveis, e servem como substratos
para a proliferação de bactérias como a Streptococcus bovis, que produzem grandes
quantidades de lactato. As altas produções de lactato levam a uma redução no pH
ruminal, a acumulação de ácido lático no rúmen está associada a acidose ruminal
(NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007).
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No rúmen existem bactérias capazes de utilizar o lactato como fonte de carbono e
energia por exemplo, a Selenomona ruminantium (LINEHAN et al., 1978). O mesmo
autor citou que durante o processo de fermentação do lactato para a gliconeogênese, as
bactérias necessitam de outros substratos, como ,por exemplo, o oxaloacetato.
De acordo com Linehan et al. (1978) a ausência de oxaloacetato pode ser superada
com a inclusão de precursores do propionato, como o malato e fumarato, pois estes
poderiam seguir o ciclo reverso da via succinato-propionato e fornecer o oxaloacetato
necessário, ou ainda poupar parte da quantidade de oxaloacetato presente já presente no
rúmen.
Segundo Martin (1998), há muito tempo que o bicarbonato de sódio é utilizado
como tamponante em dietas de ruminantes, e seu efeito consiste em parte, pelo aumento
do CO2 no líquido ruminal. López et al. (1999) e Asanuma et al. (1999) encontraram
aumentos no nível de CO2 em ensaios de digestibilidade in vitro utilizando ácidos
orgânicos.
A fermentação de lactato no rúmen tem como resíduos finais também os ácidos
graxos voláteis, principalmente o ácido propiônico (JALC et al., 2002), resultando
assim em melhoras na utilização dos nutrientes ingeridos, além de elevação no pH, tanto
pela redução da quantidade de lactato, quanto pela produção de CO2.
Nisbet & Martin, (1990) testaram a inclusão de aspartato, malato e fumarato em
meios de cultura pura de Selenomonas ruminantium, em substratos de lactato, e
encontraram maiores resultados para a captação de lactato com adição de malato,
comparativamente ao fumarato e aspartato, conforme ilustrado na Figura 2.
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Figura 2 Captação de lactato em efeito a inclusão de Aspartato, Fumarato e Malato (adaptado de: NISBET & MARTIN, 1990)
Desde então, os estudos tem se concentrado na utilização do malato como aditivo
nutricional, visando o aumento na resistência a redução do pH em dietas com alto
potencial de fermentação.
Em meio de cultura pura de Selenomonas ruminantium, com pH de 6,8, diferentes
concentrações de lactato e sem adição de malato, ocorreu a fermentação do lactato e
consequentemente a produção de acetato e propionato, e quanto maior era a
concentração de lactato, maior foi o crescimento microbiano. Quando o pH foi reduzido
para 5,5, com concentrações semelhantes de lactato e sem adição de malato, houve
pouca produção de acetato e propionato, porém não houve aumento no crescimento
bacteriano. Com a adição de malato aos meios de cultura com pH de 5,5, ocorreu uma
absorção de até 80% do lactato, e houve produção de propionato, lactato e succinato,
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além do crescimento bacteriano da Selenomonas ruminantium.(EVANS & MARTIN,
1997).
Isso indica que a S.ruminantium é capaz de crescer em meios com pH semelhante ao
encontrado na acidose ruminal, e reduzir a concetração de lactato aumentando o pH.
Carro & Ranilla (2003) realizaram testes de digestibilidade in vitro com quatro
cereais sendo: milho, trigo, cevada e sorgo adicionados de malato dissódico;
encontraram aumento no pH, aumento na produção de acetato e propionato, diminuição
na relação acetato:propionato, além de diminuição na concentração de lactato, para os
quatro substratos testados.
Callaway & Martin (1996), testaram a utilização conjunta entre monensina sódica e
ácidos orgânicos em ensaios de digestibilidade in vitro de milho quebrado, e
encontraram resultados melhores no uso conjunto que na utilização isolada da
monensina ou dos ácidos orgânicos para aumento do propionato, diminuição
do lactato e aumento do pH final. Os autores explicaram que a melhora se deve pela
soma dos efeitos, da diminuição da produção de lactato pelo Streptococcus bovis e do
aumento da utilização de lactato pelas Selenomonas ruminantium.
Em estudo in vivo utilizando vacas leiteiras Sniffen et al. (2006), encontraram
um aumento significativo (p>0,05) para o aumento na produção de leite, com os
resultados indo de 36,8 para 38,3 litros/dia para os tratamentos sem a adição de
malato, ou com 50g de malato dissódico por animal dia, respectivamente, sem
que houvesse grandes alterações na composição do leite.
Montaño et al. (1999) relataram que o efeito da suplementação com malato em
novilhos confinados recebendo dietas de alto concentrado, pode ser benéfica, pois
promove um aumento no pH ruminal, nos horários que coincide com a maior produção
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de ácidos (uma a duas horas após a alimentação), sem que haja quaisquer prejuízos na
digestibilidade do material ingerido.
Ao que tudo indica, o uso do malato como aditivo nutricional para ruminantes
parece ser favorável pelos benefícios que pode trazer, porém mais estudos in vivo são
necessários para que isso possa ser afirmado.
Porém, o custo parece ser um fator limitante ao uso do malato como aditivo
nutricional, este gira em torno de 0,11 dólares por animal dia, inviabilizando sua
utilização (SNIFEN, et al. 2006).
Uma alternativa para utilizar o malato nas dietas de ruminantes, seria incorporar nas
dietas forrageiras ricas em malato, como por exemplo algumas variedades de alfafa,
coastcross, tifton “78” e tifton “85”, com concentrações variando de 2,9 a 4,5% dessa
substância (CALLAWAY et al, 1997). O mesmo autor citou ainda que a concentração
de malato nas forrageiras varia de acordo com o estádio de maturação, e que quanto
mais velha a planta, menor a concentração.
CONCLUSÃO
A utilização de ácidos orgânicos como aditivos nutricionais para ruminantes parece
ser promissora, porém, a grande maioria dos estudos realizados na área foi in vitro e
com resultados favoráveis, porém bastante variáveis, que talvez não se repitam in vivo.
Portanto mais estudos são necessários para a utilização de ácidos orgânicos como
aditivos nutricionais em ruminantes.
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