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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FAC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JÉSSICA BRAGA UCHOA PRIMEIRO EMPREGO PARA OS JOVENS: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA JOVEM APRENDIZ NA ABEMCE – ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE AO MENOR CARENTE FORTALEZA – CEARÁ 2015

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE – FAC

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

JÉSSICA BRAGA UCHOA

PRIMEIRO EMPREGO PARA OS JOVENS: UMA ANÁLISE DO PROGRAMAJOVEM APRENDIZ NA ABEMCE – ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE AO MENOR

CARENTE

FORTALEZA – CEARÁ

2015

JÉSSICA BRAGA UCHÔA

PRIMEIRO EMPREGO PARA OS JOVENS: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA

JOVEM APRENDIZ NA ABEMCE – ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE AO MENOR

CARENTE

Monografia apresentada ao Curso deGraduação em Serviço Social do Centrode Ensino Superior do Ceará, outorgadopela Faculdade Cearense – FaC, comorequisito parcial para a obtenção de graude Bacharel em Serviço Social.

Orientador: Prof. Dr. Emanuel BrunoLopes

FORTALEZA – CEARÁ

2015

JÉSSICA BRAGA UCHÔA

PRIMEIRO EMPREGO PARA OS JOVENS: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA

JOVEM APRENDIZ NA ABEMCE – ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE AO MENOR

CARENTE

Monografia apresentada ao Curso deGraduação em Serviço Social do Centrode Ensino Superior do Ceará, outorgadopela Faculdade Cearense – FaC, comorequisito parcial para a obtenção de graude Bacharel em Serviço Social.

Orientador: Prof. Dr. Emanuel BrunoLopes

Aprovada em: ___ / ___/ ________

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Prof. Dr. Emanuel Bruno Lopes de Sousa (Orientador)

Faculdade Cearense – FaC

__________________________________________________________

Prof. Ma. Virzangela Paula Sandy Mendes (1ª Examinadora)

Faculdade Cearense – FaC

__________________________________________________________

Prof. Ma. Silvana Maria Pereira Cavalcante (2ª Examinadora)

Faculdade Cearense – FaC

Aos meus pais, Dolores e Neto...

... com todo meu amor.

AGRADECIMENTOS

Enfim, chegou o dia de escrever os agradecimentos. Protelei até onde pude para

escrevê-los. Além de importantes, são difíceis de serem escritos, pois encerram uma

etapa da vida de quem os escreve. Etapa esta que não teria sido vencida se não

fosse pela compreensão e ajuda de muitas pessoas que são importantes para mim.

Agradeço imensamente a Deus, por estar presente em todos os momentos de minha

vida, principalmente, nesse processo de formação acadêmica, concedendo-me a

graça do discernimento para superar as dificuldades que perpassaram meu caminho

durante esses quatro anos e meio, superando cada obstáculo.

Agradeço com todo meu amor à minha mãe, Dolores, que sempre me apoiou a

seguir adiante, sendo minha fortaleza e porto seguro em todos os momentos da

minha vida.

Ao meu pai, Neto, que sempre acreditou que eu fosse capaz, incentivando-me a

prosseguir nos estudos, colaborando sempre para que eu pudesse alcançar os

meus objetivos. A toda a minha família que é especial para mim.

Agradeço de forma muito especial ao moreno mais lindo de Pernambuco, Alexandre

Roseno, meu namorado, amigo e, agora, companheiro de profissão. Muito obrigada

por tudo, pois fomos essenciais um para o outro neste período de faculdade, sempre

ajudando-nos e compartilhando angústias e vitórias.

Ao meu querido e admirável orientador, Bruno, pela sua paciência e presteza que

me incentivou na construção dessa pesquisa.

Aos meus eternos e grandes amigos Jessica Pereira, Priscila Nobre, Julio Cesar,

Iana Taygla, Fernanda Michele, Juliana Santos e Márcia Araújo, pelos

conhecimentos, as brincadeiras, as conversas e, até mesmo, pelas brigas; enfim,

por sempre permanecermos juntos nessa caminhada do curso.

Agradeço com um imenso carinho a todos os companheiros de luta: Marcelo

Michiles, Tamiris Diniz, Aline Silva, Isalenny Gonçalves, Marisa Albuquerque, Emile

Kluwen, Heber Stalin, Alfredo Monteiro, Marianne Guimarães, Aritana Loiola, Ítalo

Falcão, Paula Fahd, Afonso Vieira, Carmem Lucia, Tamires Sousa, Ionara Fonseca,

Larissa Sousa, Michele Santos, Jack Aquino, Nanda Cavalcante, Ana Regina

Barbosa, Janderson Freitas, Michely Camelo, Cleyton Oliveira, Monique Vieira,

Camila Cid, Janielly Lima, Stephany Sousa, Fernanda Freitas, Paulo Henrique,

Felipe Freitas, Wanessa Brandão, Almir Filho, Emanuel Rocha, Yuri Ramos, Rafaelle

Mascaranhas, Beto Mendes, Liniane Santos, Raquel Brito, Renata Rocha, Jessica

Oliveira, Sara Leite, Sara Nicodemos, Isabella Epifânio, Alan Sampaio, Amanda

Oliveira, Larissa Silveira, Letícia Santana, Anna Clara Monteiro, Line Santana, Nika

de Oliveira, Everton Andrade, Rejane Paulina, Gal Santos, Ricardo Absalão, Alan

Rodrigues, Nisia Luiza, Priscilla Garcia, Helena Mendes, Rosângela Cavalcante,

Jean Carlos Liber, Joelma Bittencourt e seu grande marido Tiago, Ayla Viana,

Luciana Alves, Marcela Vieira, Antonio Sijones, Wescley Pinheiro, Léo Santos,

Natan Junior, Roger Garcia, Emmanuel Carneiro, Cleidevon Pinheiro, Emanuella So,

Renata Albuquerque, foi com vocês que aprendi que “sempre tem gente prachamar de nós”.

À Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO), ao Movimento

Estudantil de Serviço Social (MESS) e ao CASS FAC, gestão A LUTA NÃO PARA

que contribuíram de forma fundamental para minha formação crítica.

Aos companheiros de turma Aline Gomes, Alady Nacimento, Larissa França, Fátima

Evilene, Sara Samla, Francisca Odacilda, Irlene da Silva, Kênia Chaves, Jaqueline

de Freitas, Girlane, KellianeJorje, Maiara Kelly, Marquilene Rocha, Mikaella Lopes,

Deusirene Lima, Raimunda Nonato, Syanny Pereira, Suzanne Targino, Monica

Saraiva, Antonio Marcos, Joana Darc, Darlene Serra, Gleiciane Freitas, Inacia

Bastos,Regina Oliveira, Elisabeth Paiva, Glessa Prado, Franklen Roosten, Cris

Lobo (quem por ela passou); enfim, a todos, pelos dias de aprendizagem trocados e

compartilhados juntos.

Às minhas grandes amigas Kerven de Lima, Cecília Saraiva, Carol Borges, Emiliana

Cidade e Ayanne Sousa, por estarem sempre ao meu lado torcendo por minhas

vitórias.

A todos os docentes da Faculdade Cearense (FaC) que contribuíram nesse

processo de formação acadêmica com seus valiosos conhecimentos.

À banca examinadora composta pelas professoras Virzangela Paula e Silvana

Cavalcante, por se disponibilizarem a participar desse processo final e por

contribuírem com suas considerações para que a pesquisa se aperfeiçoasse cada

vez mais.

A todos os funcionários da Instituição ABEMCE, por colaborarem sempre e por se

mostrarem dispostos a prestar esclarecimentos a respeito dos jovens. Agradeço

também, principalmente, aos jovens da Instituição, que contribuíram diretamente

para a concretização dessa pesquisa e para minha realização pessoal.

Por fim, agradeço a todos que de alguma forma participaram da minha vida e deste

processo, colaborando para que eu pudesse alcançar a graduação, pois todo aquele

que passa por nossa vida deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.

“Há hora de somar e hora de dividir. Hátempo de esperar e tempo de decidir.Tempos de resistir. Tempos de explodir.Tempo de criar asas, romper as cascasPorque é tempo de partir. Partir partido,parir futuros, partilhar amanheceres. Hátanto tempo esquecidos. Lá no passadotínhamos um futuro. Lá no futuro tem umpresente pronto pra nascer, só esperandovocê se decidir. Porque são tempos dedecidir, dissidiar, dissuadir, tempos dedizer que não são tempos de esperar,tempos de dizer: não mais em nossonome! Se não pode se vestir com nossossonhos, não fale em nosso nome. Nãomais construir casas para que os ricosmorem. Não mais fazer o pão que oexplorador come. Não mais em nossonome! Não mais nosso suor, o teudescanso. Não mais nosso sangue, tuavida. Não mais nossa miséria, tua riqueza.Tempos de dizer que não são tempos decalar diante da injustiça e da mentira. Étempo de lutar. É tempo de festa, tempode cantar as velhas canções e as queainda vamos inventar. Tempos de criar,tempos de escolher. Tempos de plantaros tempos que iremos colher. É tempo dedar nome aos bois, de levantar a cabeçaacima da boiada, porque é tempo de tudoou nada. É tempo de rebeldia. Sãotempos de rebelião. É tempo dedissidência. Já é tempo dos coraçõespularem fora do peito. Em passeata, emmultidão, porque é tempo de dissidência.É tempo de revolução”

(Mauro Luis Iasi)

RESUMO

Esta pesquisa trata-se de um estudo qualitativo, com análise de dados, realizada

com os jovens inseridos no Programa Jovem Aprendiz da Associação Beneficente

ao Menor Carente – ABEMCE, situada no bairro Parque São José, na cidade de

Fortaleza – CE. Atualmente, o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo,

excludente e exigente por conta da lógica capitalista em que vivemos. Assim, as

exigências apontadas pelo mercado de trabalho para se conseguir o primeiro

emprego, no que se refere ao público juvenil, é um dos principais fatores que faz

com que a grande maioria se preocupe com o futuro profissional e pessoal. A

pesquisa aqui realizada teve como objetivo central analisar a inserção de Jovens

Aprendizes no mundo do trabalho, por meio das ações desenvolvidas pela entidade

ABEMCE. Logo, para atingir o objetivo central, foram traçados os seguintes objetivos

específicos: identificar quem são os jovens que participam do programa jovem

aprendiz na ABEMCE; analisar a relação da ABEMCE com o Programa Aprendiz;

analisar o posicionamento dos jovens em relação ao programa aprendiz. O trabalho

apresenta aspectos do debate atual sobre a juventude contemporânea, as visões

dominantes sobre esta faixa etária, além das diferentes concepções dos jovens em

relação ao trabalho. Destaca-se o posicionamento dos jovens em relação ao

primeiro emprego a partir do programa jovem aprendiz na ABEMCE. Para a

obtenção de dados, foi utilizado a entrevista semiestruturada e a observação direta,

sendo escolhidos como instrumentos: o roteiro, o gravador de voz e o diário de

campo, para exemplificar a experiência em curso associado à profissionalização de

jovens. Observa-se que o programa jovem aprendiz traz contribuições significativas

para a vida dos jovens, proporcionando conhecimentos, informação, amizades,

responsabilidades, maturidade, levando para o início da carreira profissional dos

mesmos; porém a qualificação recebida não garante sua permanência no mercado

de trabalho.

Palavras-chave: Programa Jovem Aprendiz. Juventude. Trabalho.

ABSTRACT

This paper discusses the analysis of exploratory research results developed with

teens entered the Programa Jovem Aprendiz da Associação Beneficente ao Menor

Carente – ABEMCE, located in Parque São José neighborhood in the city of

Fortaleza – CE, which develops the Young Apprentice Program. Currently, the labor

market is increasingly competitive, exclusive and demanding due to the capitalist

logic in which we live. Thus, the requirements identified by the labor market to get the

first job, with regard to youngsters, is a major factor that causes worry about the

professional and personal future. The research was mainly aimed to analyze the

social inclusion of young learners in the workplace, through the actions developed by

ABEMCE entity. Therefore, to achieve the main objective, the following specific

objectives were outlined: identifying the young people participating in the young

apprentice in ABEMCE program; analyzing the relationship of ABEMCE with the

Apprentice Program; examining the place of young people in relation to the

apprentice program. The paper presents aspects of the current debate on

contemporary youth, the dominant views on this age group, in addition to different

conceptions of young people towards work. From the survey, it was possible to know

the meaning of youth and work for young people; verify the difficulties encountered

by them to get to work; identify the relationship of the institution in the learning

process as well as a learner law of the analysis and the importance of the apprentice

program for the young.

Keywords: Young Apprentice Program. Youth. Labor.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABBEM – Associação Batista Beneficente e Missionária

ABEMCE – Associação Beneficente ao Menor Carente

COMDICA – Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do

Adolescente

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

FGTS – Fundo e Garantia do Trabalhador

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

OMS – As Organização Mundial de Saúde

OIT – Organizações Internacional do Trabalho

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO – PERCURSO METODOLÓGICO.......................................... 13

2 TECENDO O DEBATE SOBRE JUVENTUDE E TRABALHO ....................... 232.1 JUVENTUDE E TRABALHO..............................................................................23

2.1.1 O que é ser jovem? ........................................................................................232.1.2 Concepção sobre trabalho e sua relação com a juventude ...................... 272.1.3 Mercado de trabalho e o jovem “produtivo”............................................... 31

2.2 CARACTERIZANDO O PROGRAMA DE APRENDIZAGEM .......................... 36

2.2.1 Surgimento do Aprendiz............................................................................... 362.2.2 Lei do Aprendiz ............................................................................................. 382.2.3 Lei da aprendizagem como responsabilidade social das empresas: umaobrigação ou beneficiamento do capital?............................................................ 40

3 PROGRAMA JOVEM APRENDIZ NA ABEMCE ............................................ 493.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA ABEMCE ......................................... 49

3.2 A RELAÇÃO ABEMCE COM O PROCESSO DE APRENDIZAGEM .............. 52

3.3 POSICIONAMENTO DOS JOVENS EM RELAÇÃO AO PROGRAMA JOVEM

APRENDIZ ............................................................................................................... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 61

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 64

APÊNDICES ............................................................................................................ 68

13

1 INTRODUÇÃO – PERCURSO METODOLÓGICO

Na vida do jovem, o primeiro emprego ganha relevância como

primeiro processo de inserção no mundo do trabalho produtivo. Contudo a

entrada do jovem aprendiz no mercado de trabalho deve estar pautada num

processo educativo, por meio do qual o adolescente poderá não só

adquirir conhecimento sobre as práticas e as teorias que norteiam o cotidiano

da esfera produtiva, como também poderá ter oportunidade de escolha e

capacitação no seu processo de definição profissional.

A dificuldade para a entrada no mercado de trabalho, no que se

refere ao público juvenil, é um dos principais fatores que faz com que a grande

maioria se preocupe com o futuro profissional e pessoal. Além disso, as

exigências apontadas pelo mercado para se conseguir emprego, como altos

níveis de escolaridade e qualificação profissional, também causam

preocupação.

Isso tem exercido forte influência nos jovens que estão em busca do

primeiro emprego, principalmente, os que são pobres, negros e que estão em

situação de vulnerabilidade, deixando claro que, para este segmento

populacional, só aumentam as dificuldades para inserção no mercado,

resultando em desemprego.

Nestes segmentos da infância e juventude, orientados pela lógica da

proteção social e da garantia de direitos, vários avanços foram obtidos com a

implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os artigos do

ECA são reconhecidos universalmente, na medida que expressam direitos já

consolidados em convenções internacionais – como, por exemplo, o direito à

vida, saúde, educação, lazer, profissionalização e outros. Entretanto, na

prática, ainda enfrenta valores e ações que representam resistência ou mesmo

recuo.

No ano de 2014, o ECA completou 24 anos de existência. Nesse

período, teve conquistas importantes com relação ao direito à educação, à

saúde, à convivência familiar e comunitária; porém ainda não avançamos no

que diz respeito às várias políticas públicas, ou seja, de fato suas ações em

parte não foram implantadas, ficando claro que a efetivação desses direitos

14

não é inteiramente viabilizada pelo Estado, podendo ser evidenciada pela falta

de serviços, programas, projetos, redes das políticas públicas eficazes para

atender esse segmento juvenil.

Podemos perceber que as políticas públicas voltadas para os jovens

são vistas como insatisfatórias, pois, o que poderia melhorar no início dos anos

2000, com uma possível ruptura dos paradigmas neoliberais e uma ampliação

das políticas públicas, continuou a desejar.

Nesses 12 anos do atual partido que governa o país (partido dos

trabalhadores – PT), os paradigmas referentes às políticas públicas também

mantiveram as diretrizes de focalização, precarização e descentralização

estatal, uma vez que na gestão governamental dos anos 1990 vivia-se um

padrão neoliberalista1. Nos últimos anos, podemos considerar os governos

Lula/Dilma “pós-neoliberais”2. Nas políticas de qualificação profissional para

jovens não seria diferente, pois ainda se mantinham as mesmas diretrizes,

porém com sutis alterações.

É fato que milhares de jovens estão sendo privados de seus direitos

fundamentais pela omissão do Estado em implantar políticas públicas eficazes,

como indica o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual é orientado pela

doutrina da proteção social – visto que o processo de reconhecimento dos

direitos fundamentais da criança e do adolescente é fruto de lutas antigas,

fundadas no inconformismo com a dura realidade de injustiça e agressão a

esses sujeitos em desenvolvimento.

No Brasil, a proteção especial conferida à infância, seja na

Constituição de 1988, seja no ECA, foi resultado de pressão de vários setores

da sociedade. Porém, apesar do reconhecimento através de documentos,

ainda existem retrocessos na prática, visto que inúmeras crianças e

1 Neoliberalismo: termo que foi usado em duas épocas diferentes com dois significadossemelhantes, porém com algumas distinções: uma é que na primeira metade do sec. XX,significava a doutrina proposta por economistas Frances, alemães e norte-americanos, voltadapara adaptação dos princípios do liberalismo clássico ás exigências de um Estado regulador. Ooutro é que na década de 1970, passou a significar a doutrina econômica que defende aabsoluta liberdade de mercado e a não intervenção estatal sobre a economia.

2 Pós-neoliberais: O pós-neoliberalismo é baseado em continuidades e descontinuidades queconfiguram um novo contexto histórico que não tem nada de parecido com a forte intervençãoestatal na economia dos tempos do pós-guerra, seja do keynesianismo ou dodesenvolvimentismo, mas que reconfigura a ação estatal em relação à sociedade civil e deixade lado a retórica dos livres mercados como o único horizonte da condução das políticaseconômicas.

15

adolescentes vivem em condições precárias, sem acesso à educação, saúde,

lazer, cultura, etc.

Segundo as premissas asseguradas por lei, é dever do Estado

prover aos jovens uma educação de qualidade e de fácil acesso, incentivo à

cultura e alternativas de lazer, formação profissional adequada com

oportunidades reais e dignas de trabalho. Entretanto, a despeito do que prevê o

Estatuto, algumas ações estratégicas para os jovens são elaboradas a partir da

lógica do controle social3, com um discurso político salvacionista, de

enfrentamento dos “problemas dos jovens”, mas que, na verdade, pretende

livrar a sociedade de um problema que o jovem representa ou porta. Logo, o

olhar da sociedade para a juventude pobre ainda é marcado por mitos e

preconceitos.

Na medida em que é pertinente o debate sobre a juventude, através

de diferentes visões acerca das questões que interferem na efetividade das

políticas públicas voltadas para o primeiro emprego, considera-se este tema

relevante, levando à ampliação dos estudos que reconhecem os jovens como

cidadãos detentores de direitos e que, de fato, eles tenham acesso, visto que é

por meio de um monitoramento das ações, programas e políticas que a

sociedade pode ampliar as conquistas sociais.

É necessário que se mantenha o debate sobre a juventude de forma

democrática e com o conhecimento de que os jovens são protagonistas de

seus projetos de vida e de que devem ser considerados, pressionado o Estado

a dar respostas e a criar mecanismos que venham a atender às necessidades

dos jovens quanto ao primeiro emprego e sua colocação no mercado de

trabalho, como também na ampliação e efetivação das políticas nas esferas da

cultura, educação, saúde, lazer.

De forma geral, o ECA dispõe que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e dopoder público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dosdireitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, aoesporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

3 Segundo a constituição Federal, a participação dos setores organizados da sociedade civil,especialmente dos trabalhadores e dos segmentos populares, na elaboração e implementaçãodas políticas públicas, propondo novas relações ente o movimento social e a esfera da políticainstitucional.

16

respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária. (BRASIL,Lei Federal 8.069/1990, artigo 4°, grifo nosso).

É importante ressaltar que, além do incentivo à profissionalização do

jovem, no ECA pode-se visualizar também uma clara intenção de proteger o

trabalhador juvenil de trabalhos considerados degradantes. A legislação visa

respaldar o direito de proporcionar o acesso dos jovens à educação regular e à

profissional, pois, segundo o ECA, fica expressamente proibido o trabalho de

menores de 14 anos, salvo em condição de aprendizagem. Já ao jovem com

idade superior a 18 anos, é garantido os direitos trabalhistas e previdenciários.

Já com uma sútil perspectiva de repassar a profissionalização dos

jovens para a sociedade civil, é regulamentada, pela lei 10.0974, a participação

de instituições filantrópicas no que tange a execução dos programas de

aprendizagem profissional. Fica regulamentado que o jovem pode ser assistido

por uma entidade governamental ou não governamental, fato que demonstra

um desvio para o início da inserção do paradigma neoliberal transferindo a

responsabilidade de execução das políticas públicas para a sociedade civil

organizada.

Essas entidades governamentais e não-governamentais têm, de

acordo com o ECA, a responsabilidade de defender o desenvolvimento

profissional do aprendiz no qual educando deve ter acesso a atividades

remuneradas que possam proporcionar uma inserção profissional efetiva que

seja adequada ao mercado de trabalho.

No Estado do Ceará, especificamente na cidade de Fortaleza, são

muitas as entidades que trabalham com a aplicação do programas nos bairros

de maior vulnerabilidade, entre elas estão: a Associação Batista Beneficente e

Missionária (ABBEM); a Associação Beneficente ao Menor Carente do Parque

do Parque São José (ABEMCE); a Associação Beneficente O Pequeno

Nazareno; a Associação Comunitária Bom Samaritano (ACBS); a Associação

Curumins; o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE); o Conselho de

Integração Social (INTEGRASOL); a Fundação Cultural Oboé; a Fundação

4 Lei de nº 10.097/2000, ampliada pelo Decreto Federal nº 5.598/2005. Determina que todas asempresas de médio e grande porte contratem um número de aprendizes equivalente a ummínimo de 5%, um máximo de 15% do seu quadro de funcionários cujas funções demandemformação profissional.

17

Erico Mota Projeto Jose Henrique; o Movimento de Saúde Mental Comunitária

do Bom Jardim; o Nosso Lar; e o Vila Mar.

Assim, a partir da primeira experiência de estágio – o qual foi o não

obrigatório em uma entidade não-governamental – surgiu o interesse e se deu

a escolha pelo tema desta pesquisa, tendo como forte influência as análises

percebidas durante o exercício do estágio, através de atividades

desenvolvidas, como as visitas domiciliares e institucionais5.

O primeiro contato com os jovens aprendizes foi no ano de 2012,

como estagiária de serviço social da Faculdade Cearense, como citado

anteriormente, na entidade Associação Batista Beneficente e Missionário –

ABBEM, lotada na Comunidade da Lua, situada entre os bairros João Arruda e

Planalto Pici, na cidade de Fortaleza.

Na instituição, passamos pouco tempo, mas tivemos a oportunidade

de conhecer não somente a realidade dos jovens da instituição, como também

de outros através das reuniões do Grupo de Trabalho do Programa Jovem

Aprendiz, organizadas pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da

Criança e do Adolescente (COMDICA), grupos estes que tinha como objetivos

estimular a comunicação e a articulação das entidades que desenvolve o

programa e cujo responsável pela formação profissional metódica, além de

incentivar a inserção e o acompanhamento dos jovens no mercados de

trabalho, algo que nos deixou um desejo de querer conhecer mais ainda sobre

a temática.

Assim, ao observar e analisar o trabalho de várias instituições

deparamo-nos com a realidade da Associação Beneficente ao Menor Carente

do Parque São José – ABEMCE, localizada em uma região de muita

vulnerabilidade. A instituição trabalha com vários programas e entre eles estar

o Programa Jovem Aprendiz com intuito de incentivar os empreendedores do

Estado do Ceará a estabelecerem perspectivas para a juventude através da

inclusão de jovens aprendizes no mundo do trabalho. É uma ação promovida

para incentivar a aplicação da Lei nº. 10.097, que regulamenta o trabalho do

5 Ou seja, na empresa na qual o jovem trabalhava, ou iria trabalhar, o campo de estágioproporciona aos estudantes a experiência de vivenciar diretamente as contradições e osdilemas que a atuação profissional impele através da articulação entre a teoria e a prática.

18

adolescente entre 14 e 24 anos, e, sobretudo, qualificar a inclusão social de

jovens que estejam vivendo em condições de vulnerabilidade social.

Por ser lotada em um bairro de vulnerabilidade socioeconômica e

atender não somente aos jovens do bairro, mas toda a cidade – visto que, a

maioria já estão inseridos no mercado e, além de tudo por desenvolver várias

atividades esportivas/culturais com esses jovens – foi decidido executar a

pesquisa na instituição.

Portanto, a pesquisa teve como objetivo analisar a inserção de

Jovens Aprendizes no mundo do trabalho, por meio das ações desenvolvidas

pela entidade ABEMCE. Para alcançarmos este objetivo, foi estabelecido os

seguintes objetivos específicos: identificar quem são os jovens que participam

do programa Jovem Aprendiz na ABEMCE; analisar a relação da ABEMCE

com o programa aprendiz; analisar a importância do programa para os jovens,

ou seja, seus posicionamentos em relação ao programa jovem aprendiz.

Como referências para o estudo, foram utilizados textos de autores

que discutem o tema juventude. No que se refere à realização da pesquisa,

utilizamos a abordagem qualitativa, com análise dos dados.

O método qualitativo é útil e necessário para identificar e explorar os

significados dos fenômenos estudados e as interações que estabelecem, assim

possibilitando estimular o desenvolvimento de novas compreensões sobre a

variedade e a profundidade dos fenômenos sociais (BARTUNEK; SEO, 2002).

Na ABEMCE, encontram-se em torno de 920 jovens que fazem parte

do programa, com uma faixa etária entre 15 e 22 anos, realizando formação em

três áreas – auxiliar de escritório, turismo e hotelaria e repositor de mercadorias

– considerando que quase todos já estão inseridos no mercado de trabalho.

Desse modo, traçamos a permanência no campo por volta de um

mês, indo toda semana, aos sábados pela manhã, e comparecendo também

algumas vezes na turma de quinta e sexta-feira, tanto no turno da manhã como

no da tarde.

Fomos apresentados aos jovens do programa aprendiz por todos os

funcionários da instituição, afinal, são muitos jovens atendidos no local, mas foi

a Assistente Social que nos acompanhou no contato inicial com os jovens.

Assim, de início, convidamos alguns jovens para uma roda de conversa

durante o intervalo do curso, onde nos apresentamos e nos conhecemos um

19

pouco. Posteriormente, foi explicado sobre o objetivo da pesquisa para, assim,

obter o perfil dos entrevistados.

Apresentaremos a seguir o perfil dos adolescentes entrevistados,

com o intuito de possibilitar uma aproximação maior com o universo da

pesquisa:

Quadro 1 – Perfil dos adolescentes entrevistados

Fonte: Elaborado pela autora.

O perfil dos entrevistados foi traçado a partir de várias aproximações

com os jovens. Contudo, pelo tempo dos mesmos e pela dinâmica que é a

juventude, foi difícil a participação de muitos jovens para pesquisa; assim,

percebemos que seria melhor optar pela variação da turma e turnos do curso

profissionalizante, mas, sobretudo, defini-los pela idade e quantidade de

experiências que os mesmos já trabalharam, definindo os quatro sujeitos da

pesquisa. Vale ressaltar que os jovens entrevistados são de baixa renda.

Em relação aos nomes dos entrevistados, foi escolhido trabalhar

com os verdadeiros, tanto por parte do pesquisador como por parte dos jovens,

para uma maior visibilidade dos posicionamentos. Já as respostas das

questões foram reproduzidas na íntegra, objetivando uma melhor visualização

dos resultados obtidos na pesquisa.

Para a técnica de obtenção de dados, utilizou-se a entrevista.

Entendemos que esta técnica é uma forma de interação social, mais

especificamente, uma forma de diálogo assimétrico, em que o investigador se

apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, objetivando obter

dados que interessem à investigação. Logo, o tipo de entrevista utilizado foi a

semiestruturada. Neste formato de entrevista, o pesquisador organiza um

conjunto de questões sobre o tema que está sendo estudado, mas permite, e

Nome Idade ExperiênciaProfissional

Fabio 18 anos SegundaRoberta 22 anos Terceira

Suzi 20 anos PrimeiraJuliana 22 anos Segunda

20

às vezes até incentiva, que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que

vão surgindo como desdobramentos do tema principal (PÁDUA, 2004, p.70).

A entrevista semiestruturada realizada com os quatros adolescentes

seguiu um roteiro que conteve dez perguntas. A entrevista ocorreu nas

dependências da ABEMCE, nos períodos matutinos e vespertinos, durante o

mês de outubro de 2014. É importante ser explicado que, no decorrer das

entrevistas, foi colocado pelos jovens que é um pouco difícil expor suas

opiniões acerca de alguns assuntos para pessoas que não conhecem, sendo

isso percebido nas próprias falas ao longo da pesquisa.

Cada momento no campo com os jovens foi muito importante, pois

proporcionou uma interatividade entre todos, até mesmo entre aqueles que não

participaram de forma direta da pesquisa, importância essa logo percebida

através do imenso carinho e disposição que nos receberam, proporcionando a

conclusão da pesquisa.

Para garantir uma melhor autenticidade dos dados coletados,

utilizamos o gravador, sendo as respostas posteriormente transcritas e

analisadas, considerando-se o referencial teórico construído ao longo da

pesquisa.

Buscando, a partir desta perspectiva, além de um melhor

entendimento sobre os objetivos propostos, proporcionar a análise da prática

com a teoria no decorrer do trabalho, através dos resultados da entrevista, em

forma de quadros informativos, anexos a uma melhor interpretação fazendo

uso da qualitativa.

Foi utilizada também a observação direta e o caderno de campo

para registro das informações coletadas durante a pesquisa para uma melhor

compreensão do conhecimento da perspectiva humana, sendo nele registrado

relatos e descrições do objeto pesquisado, além de vários dados sobre a

instituição.

Para cada visita realizada utilizou-se também a pesquisa

documental, no intuito de obter uma melhor análise dos dados secundários da

instituição, ou seja, instrumental que contenha dados sobre os jovens, como:

com quem ele mora, onde mora, a renda familiar, entre outros dados. Por fim,

os documentos institucionais, que contenha informações sobre a instituição em

si, como objetivo, missão contextualização, etc.

21

Este trabalho foi um estímulo para aliar ensino, pesquisa e formação

profissional. A experiência de estágio como espaço para análise dos

fenômenos sociais foi particularmente proveitosa neste caso. O estágio se

prestou a exemplificar visões e projetos que, embora não permitam

generalizações, podem ser considerados férteis para pensar outras

experiências existentes voltadas para este segmento.

Vale ressaltar que os temas associados à juventude são de grande

importância para formação profissional do Assistente Social, visto que os

jovens sofrem de modo agudo os impactos da questão social6, dentre eles, a

precarização das relações de trabalho.

A maioria da população, que só tem na venda de sua força de

trabalho os meios para contribuir a sua sobrevivência, vivencia os reflexos do

capitalismo contemporâneo de forma particularmente aguda, seja na sua

dimensão produtiva, seja na participação da riqueza socialmente produzida. É

importante salientar as diferenças acentuadas em termos de oportunidades de

saída, no acesso a direitos, nas condições de vida entre os segmentos sociais.

Entender as causas das desigualdades e o que essas desigualdades

produzem na subjetividade dos homens é uma tarefa particularmente

importante quando se escolhe falar sobre jovens. Este segmento é

profundamente afetado pelas assimetrias que afetam as possibilidades de

consumo, as relações de poder e o status social.

O assistente social tem como um dos desafios profissionais garantir

o acesso aos direitos assegurados na Constituição Federal de 1988 e no ECA.

Por isso, a discussão do jovem e o mercado de trabalho é de grande

importância para o Serviço Social, para que possa garantir os direitos dos

jovens e a formulação e execução de políticas públicas para esse segmento de

forma que sejam eficazes e condizentes com as suas demandas.

6 Segundo Netto, a expressão da questão social começou a ser utilizada na terceira década doséculo XIX e foi divulgado até a metade deste século, por críticos da sociedade e filantroposque faziam parte do espaço político. A expressão surge para dar conta do fenômeno que aEuropa Ocidental experimentava, com a industrialização, iniciada na Inglaterra, nas últimasquatro partes do século XVIII. A questão social está diretamente ligada aos desdobramentossociopolíticos, entretanto na metade do século XIX, com manifestos contra a ordem burguesa,o pauperismo foi nomeado como questão social. Portanto, a questão social está vinculada aoconflito entre o capital e trabalho.

22

Com a apresentação deste trabalho, pretende-se contribuir para uma

prática profissional que alia o conhecimento teórico a um compromisso ético-

político com o segmento dos jovens da classe trabalhadora. Este trabalho,

embora circunscrito a uma experiência particular, é o início de processo que se

seguirá em termos de especialização profissional.

Em meio a todo esse debate abordado no primeiro capítulo,

seguimos para o capitulo dois, no qual apresentamos um amplo debate sobre

juventude contemporânea e suas diversas definições de faixa etária,

analisando sobre o ser jovem, como também as várias concepções sobre

trabalho para os jovens a partir da interlocução entre o resultado das pesquisas

e o que os autores falam acerca dela e como se configura essa juventude no

dito mercado de trabalho. Além de tudo, neste capitulo procuramos entender a

Lei do aprendiz, como surgiu o aprendiz. Ainda, realizamos uma análise da

aplicação da lei frente às empresas nesse contexto capitalista.

No capitulo três, é feita uma análise sobre a ABEMCE como seu

surgimento, missão, objetivo, etc., trazendo um pouco da sua contextualização

e de sua relação com o processo de aprendizagem, ou seja, na

profissionalização dos jovens e, por fim, o posicionamento dos jovens acerca

do programa.

23

2 TECENDO O DEBATE ENTRE JUVENTUDE E TRABALHO

“Menos do que uma etapa cronológica davida, menos do que uma potencialidaderebelde e inconformada. A juventudesintetiza uma forma possível de pronunciar-se diante do processo histórico e deconstituí-lo”.

(FORACCHI, 1965, p. 303)

Partindo dessa análise de juventude abordada acima por Foracchi

(1965), trazemos, neste segundo capitulo, um debate acerca da juventude, no

que se refere aos seus conceitos não ligando somente a uma fase cronológica

mas como a sociedade capitalista percebe essa juventude, principalmente, o

jovem pobre, que é visto como uma ameaça ou um problema para sociedade.

É abordada a concepção de trabalho já que o mesmo está entre os

principais assuntos que mais atraem o interesse da juventude ganhando

relevância como primeiro processo de inserção formal no mundo adulto. E

também os aspectos relativos ao desenvolvimento profissional da juventude,

fazendo uma análise da relação entre a juventude e o mercado de trabalho

trazendo como centro a lei do aprendiz.

2.1 JUVENTUDE E TRABALHO

2.1.1 O que é ser jovem?

Atualmente, muito se tem discutido sobre o tema juventude nos

trabalhos acadêmicos e na política. Isto ocorre devido ao protagonismo7 dos

jovens, no qual a participação nos debates acerca de suas questões se tornou

mais nítida e politizada. Apesar de ser um tema que a maioria dos indivíduos

tem algo a dizer, é um tema complexo e que envolve diferentes correntes

teóricas.

Segundo Abramo (2005), é preciso falar de juventudes, no plural, e

não de Juventude no singular, ou seja, tendo em vista a pluralidade impressa

7 Por meio desta expressão se pretende compreender as ações que tem por atores os própriosjovens.

24

no significado da juventude, temos que nos orientar por características desses

sujeitos de forma plural, observando a conjuntura histórica e as especificidades

de cada um deles

Para Singer (2005), o conceito de juventude significa um recorte na

faixa etária, uma idade definida biologicamente. “Compõem a juventude

pessoas que estão na mesma faixa etária, digamos dos 16 aos 24 anos”. A

União Europeia, por exemplo, considera jovem o indivíduo entre 15 e 29 anos.

Há ainda quem sugira (BATISTA, 2005) a ampliação dessa delimitação etária

de 15 a 24, para 16 a 34 anos levando em consideração o aumento da

expectativa de vida no Brasil (FREIXO, 2007).

Já a Organização Mundial de Saúde (OMS), também caracteriza

juventude como situada na faixa etária de 15 a 29 anos, já a definição utilizada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional

por Amostra de Domicílios (PNAD); subdivide o grupo em três: jovens

adolescentes (15 a 17 anos); jovens-jovens (18 a 24 anos) e jovens-adultos (25

a 29 anos).

Entretanto, no período da juventude, apesar de se esperar que

esses jovens construam seu futuro – como terminar a educação de Ensino

Médio, ter uma formação profissional, casar, entre outros ao mesmo tempo –

os mesmos perpassam por diferentes condições de vida e possuem diversos

valores, logo, vale analisar se o jovem urbano e um jovem rural são iguais por

terem a mesma idade.

Nessa linha, Abramo (2005) vem dizer que a delimitação de uma

faixa etária que corresponde à juventude não encontra consenso nem na

literatura nem no senso comum. Logo, a autora afirma que a juventude não é

demarcada como uma faixa etária e sim uma etapa da vida, que liga a infância

à fase adulta, é quando se torna capaz de se sustentar, ter filhos, construir

família, e participar nas decisões, visto que, esta condição varia segundo

classe, cor e condições sociais.

Podermos perceber essa afirmação no trecho seguinte: “É ter

responsabilidade, é onde você aprende o que é importante para o futuro” (Suzi,

20 anos, primeiro emprego).

25

Seguindo essa mesma perspectiva, Guimarães (2005) defende a

ideia de juventude como (assumir que), “não sendo os cortes etários estados

naturais, dados de natureza, mas construções sociais disputadas (por isso

mesmo), o resultado dessa disputa, conquanto transitório e restrito a um

campo, nunca é unívoco. Assim, num mesmo campo podem existir

“juventudes”. Sendo assim, é de se esperar diferentes representações, valores,

interesses das diferentes “juventudes”. Isso é o que as seguintes falas

expressam:

“Ser jovem é o momento de você fazer alguma coisa por você e pelasociedade e por quem você poder ajudar, ser jovem e ter vontade deviver” (Juliana, 22 anos, segundo emprego);

“[...] ah ser jovem é isso, é poder fazer o que quer... sair, namorar(risos), trabalhar, e ter maturidade né [...] ser jovem é muito bom”(Roberta, 22 anos, terceiro emprego).

Nesse sentido, podemos analisar que no mesmo espaço, por

exemplo, na própria ABEMCE, existem “juventudes” que pensam, caracterizam

e vivem a juventude de formas heterogêneas, ou seja, vários jovens, mas que

possuem interesses diferentes, algo que, muitas vezes, está ligado pelos

valores familiares, princípios que permeiam a noção de condição juvenil que

retrata Abramo (2005).

Ainda segundo Abramo (2005), esse processo de transição para a

vida adulta remete à noção de condição juvenil. A condição juvenil se

caracteriza pela relação de dependência/ independência da família de origem,

situação matrimonial, condição de maternidade/ paternidade, atividades nas

quais suas vidas estão centradas (escolas, trabalho, lazer), o qual partindo

disso, verifica os traços da vivencia juvenil no Brasil, mas não limita ao conceito

de juventude.

Fraga e Iulianelli (2003) afirmam que, do ponto de vista dos

indivíduos, a juventude seria uma condição provisória, transitória,

diferentemente de outras categorias, como classe social, o gênero, (visto que,

já existe um debate que a categoria gênero não é tão permanente), que se

apresentam como algo permanente.

Os autores acreditam que os jovens se reconhecem diferentes dos

adultos, que se autoavaliam com interesses específicos e, muitas vezes,

26

concebem a juventude nessa condição permanente. Eles aceitam a existência

em quase todas as sociedades de uma gama suficiente de expectativas e

ansiedades em torno da juventude, por vislumbrarem nos jovens certas

características associadas, paradoxalmente, a reprodução e a mudança social.

No entanto, para os autores sua conceituação é uma produção

sócio-histórica, posto que cada época e sociedade admite sua concepção

própria e lhe atribui funções específicas. Além disso, dizem que há

especificidades e diferenças entre os jovens e, que a sociedade os reconhece

como um grupo de continuidade da vida social. Por isso, existe um forte

controle social de normas e condutas deste segmento.

Por causa deste controle, foram produzidos mitos que passaram a

conceber o jovem como indivíduos mais violentos e contestadores, com

tendência a cometer atos de vandalismo e práticas ilícitas. Entretanto, muitas

vezes estas manifestações não estavam atreladas à condição etária, mas a

outras atribuições sociais e culturais.

Esses mitos estão tão fortes em nossa sociedade, que existem

autores que compartilham dessa perspectiva, como Neri (2007) que afirma que

a juventude está diretamente relacionada com os problemas da sociedade,

como a violência. Isto indica que esta faixa etária aparece no debate associada

a “disfunções”, em uma abordagem que considera o jovem como um segmento

que merece destaque por seus atos irresponsáveis e danosos para a

sociedade.

Em uma passagem de seu texto “O estado da juventude”, fica

evidente esta percepção de criminalizar o jovem: “Os problemas de violência

têm as feições dos nossos jovens”. Ainda neste texto, o autor evidencia que é

na juventude que há a maior desistência dos estudos e do trabalho. Porém,

devemos buscar os reais motivos desta desistência, seria ela por motivos

pessoais de cada jovem ou as condições de trabalho e estudo que são

oferecidos? A realidade brasileira responde esta questão.

A educação pública para os jovens não é de qualidade, sendo

abordada melhor ao longo do trabalho e a respeito das condições de trabalho,

como evidencia o autor Branco (2005), as atividades dos jovens são em sua

maioria de baixa qualidade, salários baixos e situados no setor informal. A

perspectiva do autor Neri (2007) indica a busca de responsabilizar indivíduos

27

ou contextos. Mas demandas jovens caminham, aparentemente, claras, é o

que se expressa neste trecho: “Ser jovem é lutar por seus sonhos, seu

trabalho, sua casa, seus direitos” (Fabio, 18 anos, segundo emprego).

Desta forma, os jovens vivem na buscam de seus direitos básicos:

educação de qualidade; atenção medica digna e eficiente; segurança que

contemple os direitos humanos, e claro oportunidades de sua entrada no

mercado de trabalho com remuneração condigna, mas essas demandas de

fato ainda deixa muito a desejar pois em um Pais em que confere a

característica de população jovem o qual segundo o censo 2010 do IBGE, o

Brasil possui mais de 51 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos, o

equivalente a 27% da população total; e para a faixa etária de 15 a 24 anos, o

total supera 34 milhões de pessoas, 18% da população aproximadamente,

ainda sem tem discurso de culpabilização?

Enfim, os jovens desejam viver em uma sociedade onde a

solidariedade seja possível e onde possam esperar tratamento e oportunidades

iguais, ou seja, demandam cidadania. Pois os mesmos discutem, as formas de

fazer política vigente; as condições econômicas e sociais da maioria dos jovens

como também dos serviços que lhes são básicos, além dos seus direitos como

a entrada no mercado de trabalho, como o realizar trabalho, portanto vejamos

quais as concepções de trabalho para os jovens.

2.1.2 Concepção sobre trabalho e sua relação com a juventude

Quando destaca o tema trabalho, Abramo (2005) considera a noção

de classe social, ou seja, coloca que as condições de trabalho dos jovens são

desfavoráveis, com carga horária elevada, baixos salários e informalidade. E

que isto varia com a classe social, visto que para os jovens de baixa renda, o

trabalho é visto como uma necessidade, enquanto para os de renda mais alta,

como independência.

A pesquisa “A voz dos adolescentes” (UNICEF, 2002) afirma que,

para os jovens, trabalhar ou não é uma opção, uma escolha do próprio

adolescente. Porém, logo em seguida, constata que para adolescentes de

classes sociais com menor renda, o trabalho é uma urgência e, portanto, a

legislação que proíbe o trabalho antes dos 16 anos é “extremamente

28

prejudicial” e impede o acesso desses adolescentes a uma renda importante

tanto para ele/ela quanto para a família.

No Brasil, segundo dados da Fundação Perseu Abramo (2013),

apenas 36% dos jovens entre 15 e 24 anos têm emprego, outros 22% já

trabalharam mas estão desempregados atualmente; na média, os jovens

demoram 15 meses para conseguir o primeiro emprego ou uma nova

ocupação, nas regiões metropolitanas. No total, 66% deles precisam trabalhar

porque todo o seu ganho, ou parte dele, complementa a renda familiar. Sendo

assim, a afirmação de que o trabalho é uma opção identifica os adolescentes

das classes mais favorecidas e uma necessidade para os de baixa renda.

Ao analisamos Marx (1932), percebemos que a primeira atitude

histórica dos indivíduos, em relação aos animais, não é o fato de pensar, mas o

de produzirem seus meios de sobrevivência.

Segundo Albornoz (2002), na linguagem cotidiana a palavra trabalho

tem muitos significados embora pareça compreensível, como uma das formas

elementares da ação dos homens, o seu conteúdo oscila. As vezes lembra dor,

tortura, suor do rosto, fadiga. Em outras, mais do que aflição e fardo, designa a

operação humana de transformação da matéria natural em objeto de cultura.

Já para Castel (1998), o trabalho é um elemento que dispõe de uma

centralidade na vida dos homens. E ao longo do tempo notamos que ocorreram

significativas mudanças em relação a definição de trabalho e sua finalidade.

Dessa forma, podemos relacionar o trabalho como o elo de ligação

entre o homem e o meio, entre o homem e a natureza, entre o homem e a

sociedade.

Para os adolescentes entrevistados na pesquisa, o trabalho é

concebido através de diversas definições:

“Trabalho pra mim é onde você aprende a ter responsabilidade,amadurece e adquira experiência, [...] é a oportunidade para construirum futuro” (Roberta, 22 anos, terceiro emprego)

“Eu entendo como trabalho a minha força de trabalho vendida emtroca do dinheiro para minha sobrevivência” (Juliana, 22 anos,segundo emprego)

“[...] trabalho é isso, é a busca de renda financeira boa para viver,pagar conta, comprar coisas [...] e amadurecer” (Suzi, 20 anos,primeiro emprego).

29

Podemos observar que para estes adolescentes, a definição de

trabalho está ligada a oportunidade de adquirir responsabilidade,

desenvolvimento profissional, retorno financeiro além de trazer a possibilidade

de uma nova posição na sociedade. Tais definições apresentadas pelos

adolescentes logo estão fortemente relacionadas as motivações que os

levaram a procurar trabalho. A independência financeira é o fator que, seguida

da vontade de adquirir experiência e responsabilidade (um fator importante

para o adolescente e está ligado ao começar a trabalhar), levando a maioria

dos jovens a procurar trabalho.

Para Gonçalves e Garcia (2007) é observado o grande número de

crianças e adolescentes nas grandes cidades que realizam diversas atividades,

como engraxates, vendedores, entre outras do mercado informal. Isto ocorre

devido as condições de vida precárias que essas crianças e adolescentes

enfrentam e, por isso, buscam ajudar a família no seu sustento, como exposto

no seguinte excerto: “Trabalho pra mim é o sustente né, pois lá em casa

preciso para ajudar a minha mãe” (Fabio, 18 anos, segundo emprego).

Para os adolescentes, a busca por uma inserção no mundo do

trabalho está ligada intimamente a emancipação econômica. Entretanto,

segundo alguns autores, no que se refere à lógica de produção capitalista, ela

de fato exige novas qualificações ao trabalhador, e estas novas qualificações

profissionais são indispensáveis ao ingresso do jovem no mercado de trabalho.

Porém, essa qualificação não garante a permanência, pois no

cenário de reestruturação produtiva8 que estamos vivenciando, a dificuldade

não está apenas em conseguir uma oportunidade de trabalho, mas em

desenvolver competências que possibilitem a permanência no trabalho.

Durante as entrevistas, questionamos os adolescentes sobre as

dificuldades encontradas por eles quando começaram a trabalhar. Dentre elas,

foi colocado a questão de adaptação ao trabalho, mas a respostas que

evidenciou-se foi a dificuldade de relacionamento com os demais

companheiros de trabalho:

8 A reestruturação produtiva baseia-se nas transformações no meio de produção e nastransformações proporcionadas pela emergência do Estado Neoliberal.

30

“Assim uma dificuldade que eu encontrei foi com a minha supervisora,ela reclamava de tudo que eu fazia, demonstrava que não gostava demim, sem contar que tive que aprender tudo sozinha, ela era muitoruim” (Roberta)

“No começo eu não tive dificuldade, achava ruim o tempo que ficoucorrido, aprendi tudo rápido, mas o ruim foi a convivência o pessoalda empresa” (Suzi).

“No começo foi muito dificuldade, achava muito distante e chegavaatrasado, pensei até em desisti, pois por você ser aprendiz o pessoaltrata de um jeito deferente (...) sem dar atenção sabe” (Fabio).

A partir do depoimento dos adolescentes, percebemos que as

relações estabelecidas no trabalho são de suma importância para o seu

processo de aprendizagem e formação profissional. Logo, como colocado

acima, não basta inserir o jovem no mercado mais sim desenvolver atividades

de acompanhamento nesse processo tanto da parte da empresa como da

instituição, por isso a importância das visitas institucionais que cabe as

instituições no qual esses jovens fazem parte.

Até começar a trabalhar, os adolescentes apenas estudavam e

tinham tempo livre para desenvolver outras atividades. Agora eles possuem a

responsabilidade de dividir o seu tempo entre escola e trabalho. Esta nova

rotina e o ambiente de trabalho são para os adolescentes novos espaços onde

eles irão desenvolver a capacidade de administrar melhor o tempo.

Segundo Pedro Branco (2005), podem existir diversos significados

do trabalho para os jovens, mas, como coloca o autor, “destacando- se a busca

por alternativas de ocupação em que pudessem combinar de modo mais

satisfatório e gratificante a obtenção de renda e a realização pessoal”. Isto

demonstra que os jovens além de precisar, querem trabalhar, não em qualquer

lugar, mas aquele que satisfaça também, seus desejos pessoais.

Compreendemos que o estar satisfeito, para alguns adolescentes,

configura-se primeiramente em estabelecer um bom relacionamento com os

companheiros de trabalho, além de sentirem-se respeitados por estes. Neste

sentido, percebemos novamente que para os adolescentes o trabalho é visto

em sua capacidade de proporcionar uma identidade digna e positiva

(QUIROGA, 2002, p. 36).

31

Contudo, segundo Marx (1968), o modo de produção capitalista

conseguiu construir uma ideologia positiva sobre o trabalho explorado, na qual

pessoas consideradas confiáveis e dignas são aquelas que trabalham e que

não ficam ociosas. Tal ideologia traz a ideia de que o trabalho assalariado

enobrece e que possui qualidades positivas para quem o exerce.

Neste sentido, esta ideologia faz com que o trabalhador permaneça

submetido à exploração e à alienação, perdendo o controle sobre o processo

de produção e do produto do seu trabalho, transformando em mercadoria a sua

força de trabalho.

Desta forma, o trabalhador passa a ser durante toda a sua vida

apenas força de trabalho, sendo que todo o seu tempo disponível tem que ser

empregado no próprio aumento do capital, não restando espaço para

descanso, crescimento pessoal, saúde, criatividade, etc.

De acordo com Quiroga (2002, p. 26), os jovens atualmente

representam um dos segmentos mais marcados pelas diferentes questões

vividas pelo trabalho contemporâneo. Conforme a autora, sobre eles recaem os

maiores índices do desemprego geral; as ocupações precárias; a falta de

proteção laboral; a rotatividade de emprego e as exigências crescentes de

qualificação para admissão aos novos postos de trabalho, o qual podemos

perceber no próximo tópico através dessa relação do jovem e o mercado de

trabalho.

2.1.3 Mercado de trabalho e o jovem “produtivo”

Atualmente, em um mercado cada vez mais competitivo, tanto entre

empresas como entre indivíduos que buscam um emprego estável. Assim,

nesse sentido, no mercado há pessoas empregadas com seus direitos e

deveres a cumprir, contribuindo, assim para o andamento das atividades

empresariais e fazem a economia girar. Nesse mesmo mercado, também há

pessoas em busca de uma atividade estável, em meio ao mercado cada vez

mais concorrido. O mercado de trabalho é composto por dois segmentos,

[...] o mercado formal de trabalho, o qual contempla as relaçõescontratuais de trabalho, em grande parte determinadas pelas forçasde mercado, ao mesmo tempo que são objetos de legislação

32

específica que as regula. Em contraposição, existe o chamadomercado informal de trabalho, em que prevalecem regras defuncionamento com um mínimo de interferência governamental(PINHO; VASCONCELLOS, 2004, p.381).

No mercado formal, a pessoa tem sua carteira de trabalho assinada,

desfrutando dos direitos, mas também cumprindo normas trabalhistas. Já no

mercado informal, a pessoa acaba não conseguindo um trabalho fixo, pois só

assim consegue se sustentar.

[...] esse é o caso da pressão para entrar no mercado de trabalhodevido às necessidades individuais de sobrevivência ou à lógica decomo se distribuem as responsabilidades com o sustento no interiordo grupo familiar (WILTGEN; GARCIA, 2002, p.12).

O mercado tem como principal característica a lei da oferta e da

procura, quer dizer, há aqueles que produzem um produto ou serviço e há

aqueles que procuram um produto ou serviço para satisfação de suas

necessidades. O mercado de trabalho também tem como principal

característica a lei da oferta e da procura, pois há organizações que

necessitam de pessoas para comandarem suas atividades, assim como

também há pessoas a procura de uma organização que lhes de oportunidade

de trabalho para comandarem suas atividades.

Conforme Pinho e Vasconcellos (2004), existem inúmeras

classificações que permitem enquadrar com precisão os trabalhadores

segundo a atividade econômica que cada um exerce, há a população

economicamente ativa, dividida em empregados plenamente ocupados em

tempo integral ou parcial; em subempregados que podem ser visíveis ou

invisíveis9. Há a classe dos desempregados buscando trabalho, podem ser que

já trabalharam ou não, os desempregados que estão procurando trabalho, mas

dispostos a trabalhar em condições específicas, pode ser que já trabalharam

ou nunca trabalharam.

Conforme Wiltgen e Garcia (2002, p.12),

9 O subemprego visível é aquele relacionado com o tempo de trabalho. Já osubemprego invisível relaciona-se a situações específicas de emprego inadequado.Ambos refletem subutilização dos recursos de mão-de-obra.

33

[...] o mercado de trabalho apresentou mudanças drásticas, ditadaspela retração na capacidade de geração de ocupações, pelaalteração na composição do emprego e pela precarização das formasde inserção no mercado de trabalho. Dessa forma, observou-seredução dos empregos estáveis, ampliando-se o assalariamento semcarteira de trabalho assinada, a contratação em tempo parcial e,sobretudo, o desemprego (WILTGEN E GARCIA, 2002, p.12).

É de conhecimento geral que vivemos em um mundo globalizado,

com rápidas transformações em todos os setores e, por isso mesmo, o

mercado de trabalho torna-se cada vez mais exigentes na busca por

profissionais habilitados que venham a suprir os altos padrões de exigências do

mercado. Visto que as organizações cada vez mais exigem capital humano

qualificado para realizarem suas atividades de maneira correta, pois

necessitam sobressair-se para continuarem no mercado, já que a concorrência

vem aumentando significativamente.

As organizações exigem um novo perfil de trabalhador, pois

depende das pessoas a realização de suas atividades.

O novo trabalhador deve ser polivalente, sabendo realizar de quasetudo um pouco. Não bastará ser educado. É preciso ser bem-educado. Quem for capaz de resolver problemas terá empregogarantido. Acabou a profissão de tamanho único. O desemprego emnosso país está sendo provocado menos pelo avanço tecnológico emuito mais pelo atraso educacional (CHIAVENATO, 2008, p.109).

O mercado, atualmente, exige que as pessoas que desejam ter um

trabalho estável, tenham qualificação profissional, de forma constante, que

busquem novos conhecimentos e habilidades não só em uma área, mas em

várias. Além de conhecimento, precisam ter espírito empreendedor, iniciativa,

comprometimento e capacidade para trabalho em equipe. Todas essas

características, hoje tornam-se exigências para se conseguir um espaço no

mercado de trabalho. Logo os jovens veem a inserção deles como algo quase

impossível e desestimulante levando-os muitas vezes a optar por outros

caminhos, se tratando dos jovens de baixa renda, percebemos nestas falas:

“Muito difícil né, principalmente para gente que é pobre, [...] se nãofosse o ABEMCE aqui no bairro [...]” (Roberta)

34

“Para quem procura a primeira vez é difícil, sei lá é um processodificultoso que desestimular, [...] não sei porque se isso nos ajudamuito financeiramente” (Suzi).

Atualmente, as organizações visam a eficiência de suas operações,

e para isso procuram captar no mercado de trabalho, profissionais já formados

ou com experiência na área em que atuam. Isso acaba trazendo pontos

negativos para os jovens que ainda não tiveram experiência no mercado, os

quais estão na espera de uma oportunidade de trabalho para iniciar sua

carreira profissional, mas acabam encontrando dificuldades para ingressar

nesse mercado de trabalho cada vez mais concorrido.

Conforme Soares, Rizzini e Bush (2010, p.24), “A juventude é

compreendida como um tempo de construção de identidade e de definição de

projetos de futuro”. É nessa fase, que os indivíduos começam a projetar suas

ações futuras, os objetivos que desejam alcançar e os meios pelos quais irão

buscar suas realizações; principalmente o ingresso no mercado de trabalho.

Segundo os autores Cruz, Souza e Souza (2003, p.2),

[...] a exclusão social dos jovens sobre a forma de desemprego eprecariedade das relações e condições de trabalho tem efeitosperniciosos sobre a vida futura dos indivíduos, tendo reflexos nãosomente em sua vida profissional mas também psicológica e social.

Este fator é fortemente evidenciado no cotidiano de todos os jovens,

percebendo a grande dificuldade e falta de oportunidades para a inserção dos

jovens no “mundo do trabalho”, principalmente para com a classe menos

favorecidas. Observe os depoimentos:

“Vejo como falta de oportunidade, principalmente a gente que muitasvezes não consegue terminar os estudos” (Fabio)

“É muito importante mais ao mesmo tempo é difícil, muito difícilentrar no mercado a primeira vez, [...] e pra gente então já quenecessita” (Juliana).

A dificuldade de inserção do jovem no mercado de trabalho pode

acabar trazendo sintomas emocionais e psicológicos, pois o desejo e a

ansiedade para tornarem-se independentes acaba aumentando o desejo de

35

conseguirem um espaço no mercado de trabalho, mas acabam desanimados,

frente ao cenário que está cada vez mais exigente, quanto a conhecimentos e

habilidades que as empresas requerem de seus candidatos.

Conforme ressaltam os autores Soares; Rizzini; Bush (2010, p.23),

[...] de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e aOrganização Mundial de Saúde (OMS), os jovens estão na faixaetária entre 15 e 24 anos. Este constitui um período depreparação/transição para o mundo adulto e de criação de novasformas e expressões de sociabilidade.

É nessa faixa etária, como colocado acima, que essa população

jovem é considerada onde começa a preparação para a vida adulta, inicia uma

nova etapa das suas vidas, principalmente a busca por um espaço no mercado

de trabalho.

Conforme apresenta Pochmann (2000 apud CRUZ; SOUZA;

SOUZA, 2003, p.12):

[...] o primeiro emprego representa uma situação decisiva sobre atrajetória futura do jovem no mercado de trabalho. Quanto melhoresas condições de acesso ao primeiro emprego, proporcionalmentemais favorável deve ser a sua evolução profissional. O ingressoprecário e antecipado do jovem no mundo do trabalho pode marcardesfavoravelmente o seu desempenho profissional.

Para os adolescentes, a busca por uma inserção no mundo do

trabalho está ligada intimamente com a maturidade e a emancipação

econômica. Esta emancipação está atrelada ao fato de que a maioria dos

adolescentes é proveniente de famílias de baixo poder aquisitivo. Portanto, a

conquista do próprio dinheiro traz a oportunidade destes adolescentes

satisfazerem as suas necessidades, visto que, estas estão muitas vezes

ligadas ao consumo. Tais necessidades de consumo são geradas pela lógica

do sistema capitalista, com o objetivo de manter um nível de produção

constante.

É nessa perspectiva que a lei do aprendiz vem para orienta e

assegurar esses jovens que por questões financeiras ou outras, sentem

necessidade de se inserir no mercado de trabalho, assim nos próximos tópicos

36

veremos melhor a importância dessa lei, como ela é aplicada nas empresas, e

principalmente como surgiu o aprendiz.

2.2 CARACTERIZANDO O PROGRAMA DE APRENDIZAGEM

2.2.1 Surgimento do Aprendiz

Conforme discussão anterior, a necessidade de formação

profissional para o jovem aparece ao longo da história, não só gerada pela

pobreza, mas também ligada a falta de emprego e aumento da competitividade

do mercado de trabalho, agravando a procura por aprimorar as habilidades e

elevar a competência do profissional.

O primeiro texto legislativo que trata sobre a importância da proteção

do jovem que trabalha é o código de Hamurábi, estimado em mais de 2.000

anos antes de Cristo. Segundo o texto O Contrato de Aprendizagem (Lei nº

10.097/2000), de Mauad (2005), o aparecimento dos aprendizes está associado

ao surgimento das corporações de ofício, por volta do século XII. Surgiram

após a decadência do sistema feudal, quando os colonos, fingindo ser seus

senhores, tentavam nas cidades ao lado de artesãos e operários reunir-se em

grupos da mesma profissão.

Aos poucos esse grupo passou a constituir uma corporação onde

cada uma representava uma profissão, detendo o monopólio absoluto no

território. Eram empresas dirigidas por mestres, compostas entre mestres,

companheiros e aprendizes. Os mestres ensinavam o ofício aos aprendizes. Ao

término de 5 anos, os aprendizes passavam a companheiros ou oficial. Os

companheiros recebiam salário pelo trabalho executado, mas só chegavam a

mestres quando aprovados em uma prova “obra-mestra”, que era paga. A

figura dos companheiros só surgiu a partir do século XIV.

O aprendiz era um menor entre 13 e 14 anos em que os pais,

durante o período de 5 anos, pagavam altas taxas para que o mestre

ensinasse o oficio e a profissão. Os aprendizes ficavam vinculados ao mestre,

não podendo trabalhar para outro até alcançarem a condição de companheiro.

Os filhos de mestres não ficavam subordinados a estas regras.

37

Pode-se citar, segundo Mauad (2005), a importância social da figura

do aprendiz na Roma Antiga, em que se tinha o objetivo de capacitar o menor e

para a sua tutela moral. Mas a aprendizagem culminou na França, nos séculos

XII e XIII, surgindo nas corporações de ofícios e mértier, caracterizada em um

contrato por escrito entre os mestres e os pais do menos. Contudo, o cunho do

trabalho deste jovem, que tinha entre os dez e dezoito anos, era

majoritariamente doméstico.

Depois do seu ápice na França, a aprendizagem enfrentou o seu

declínio por conta do elevado número de mulheres e crianças empregadas nas

indústrias, com salários sensivelmente inferiores ao dos homens. Junto a isso,

houve a mecanização do processo industrial: eram os impactos da Revolução

Industrial10. Neste cenário de total desproteção da criança e do adolescente,

somente em 1802, na edição do “Moral and Health Act”, a Inglaterra propôs

reações concretas, caracterizando-o como o primeiro texto legislativo que

correspondia a uma ideia contemporânea do direito do trabalho. A partir daí,

muitos outros países seguiram o modelo inglês de proteção ao menor, como a

França, Suíça, Rússia, Bélgica, Alemanha, entre outros.

Segundo a consolidação das leis trabalho, no Brasil, as conquistas

da evolução histórica da proteção trabalhista não coincidem com a do

continente europeu. A escravidão e a ausência de corporações de ofícios

causaram, em seu período colonial, a não-manifestação da aprendizagem, e os

primeiros textos legais sobre proteção ao menor só surgiram após a abolição

da escravatura. Entretanto as mudanças da legislação brasileira, o trabalho dos

menores e a sua regularização culminariam no Governo de Getúlio Vargas,

com destaque no Decreto-lei n° 5452, de 1 de maio de 1943, instituindo a

consolidação das leis do trabalho e, por conseguinte, o seu Capítulo IV,

destinado à proteção do trabalho do menor.

Desde então, diversas leis foram expedidas, salientando-se a lei

n°8059 de 13 de julho de 1990, criando o ECA (Estatuto da Criança e do

Adolescente), e a lei n° 10.097 de 19 de dezembro e 2000, tratando do novo

10 A Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nosséculos XVIII e XIX. A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalhoartesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas, vale ressaltar que a revolução teve emtrês etapas.

38

contrato de aprendizagem, alterando também a lei do FGTS. O ECA define a

aprendizagem como modalidade de formação técnica-profissional, ministrada

segundo diretrizes e bases da legislação da educação em vigor.

Já na constituição Federal da República Brasileira de 1988, a

Emenda Constitucional n°20, de 1998, alterou a idade mínima de ingresso no

mercado de trabalho para os dezesseis anos e de quatorze anos para

aprendizagem conforme a Lei n° 10.097/2000.

Atualmente, a preocupação com o tema tem cunho internacional,

onde organizações criaram diversas convenções e recomendações entre a

obrigatoriedade do empregador do menor em permiti-lo a frequentar as aulas,

fator que é dever indeclinável do aprendiz e que se encontra de fator

fundamental na Lei como veremos a mais no tópico seguinte.

2.2.2 Lei do Aprendiz

A nova Lei do Aprendiz, de 25 de setembro de 2008 que reconhece

o estágio como um vínculo educativo-profissionalizante representou um avanço

na política de emprego para os jovens no Brasil. A criação dessa lei é muito

importante, pois este é um dos segmentos que mais sofre com o desemprego e

com a baixa oferta de oportunidade que os atinge, haja vista que não possuem

a tão exigida experiência no mercado de trabalho. O que acarreta a muitos

jovens a trabalharem submetidos a longas jornadas de trabalho, baixos salários

e condições precárias. Vale questionar se a falta de experiência é o único

obstáculo que atrapalha esses jovens, visto que o desemprego atinge a todos

os segmentos da sociedade.

A lei da aprendizagem possui concepções educativas e de formação

profissional para que o aprendiz tenha uma ampla cobertura de direitos. A lei

assegura que os programas e projetos voltados para os jovens atendam a

idade mínima de 14 anos e máxima de 24 anos, em que o empregador garanta

formação técnica-profissional compatível com o desenvolvimento físico, moral e

psicológico. A jornada de trabalho deverá ser de no máximo 6 horas diárias,

podendo completar 8 horas diárias quando o jovem possuir ensino fundamental

completo e se forem incluídas as horas teóricas.

39

De acordo com dados do Ministério do Trabalho de 2004, com a

antiga lei do aprendiz, foi constatado que 25.215 adolescentes entre 14 e 18

anos foram regularizados na condição de aprendiz; foram também

regularizados 5.120 contratos entre 16 e 18 anos, totalizando 30.335 contratos

regularizados, superando a meta de 10 mil.

O já citado dispositivo legal prevê que as empresas, exceto as de

pequeno porte, são obrigadas a contratar aprendizes com número variável

entre 5% e 15% dos trabalhadores de cada um de seus estabelecimentos,

cujas funções demandem formação profissional.

É importante destacar o desafio da aplicação da lei, de que todas as

empresas possuam conhecimento sobre ela e a fiscalização na prática. Além

disso, a importância das empresas em garantirem aos aprendizes um bom

acompanhamento durante o programa. Ao contrário, quando chega o término

do contrato, o aprendiz é desligado sem qualquer perspectiva de entrada no

mercado de trabalho, pois não há uma política de continuidade.

Cabe problematizar também o que está previsto na lei sobre a

seleção dos aprendizes. Fica a cargo das empresas escolherem quais os

critérios para a seleção. Sendo assim, pode aumentar a diferença de

oportunidades entre os jovens de alta e baixa renda, visto que as empresas

poderão ter como critério o grau de escolaridade e a qualidade do ensino que o

jovem possui. Novamente, a presença do círculo vicioso, seletivo e excludente.

Pesquisas divulgadas pela Fundação Seade e pelo Dieese (2006)

revelam que a maior concentração de desempregados está nas faixas entre 15

e 17 anos e 18 e 24 anos, com 52,3% e 30,6%, respectivamente. Já na faixa

de 25 a 39 anos, o índice cai para 16,7%. Com o discurso de minimizar o

desemprego entre os jovens, são concebidos programas e projetos para a

qualificação dos jovens para entrada no mercado de trabalho.

40

2.2.3 Lei da aprendizagem como responsabilidade social das empresas:Uma obrigação ou beneficiamento do capital?

Ainda no governo de FHC foi elaborada a lei n° 10.097, de dezembro

de 2000, que altera alguns dispositivos da CLT referente à contratação de

adolescentes e jovens na condição de aprendizes.

A partir de então, ficam regulamentados quotas de contratação de

indivíduos entre 14 e 18 anos sob o regime especial de contratação de

aprendizagem profissional, bem como regulamenta critérios quanto à utilização

desta força de trabalho, pois:

[...] Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados aempregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais deAprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento,no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadoresexistentes em cada estabelecimento [...] (BRASIL, Lei 10.097, 2000.art. 429).

No intuito de normatizar e esclarecer alguns pontos que ficaram

vagos na Lei 10.097/00 surge o Decreto 5.598/05. As disposições do decreto

legislam sobre os principais pontos: a idade mínima e máxima para a inclusão

de um jovem no programa de aprendizagem, sobre como se estabelece o

contrato de aprendizagem, a formação técnica-profissional e as entidades

qualificadas a ministrar cursos de aprendizagem; a ratificação da

obrigatoriedade da contratação de aprendizes e dos direitos trabalhistas e

previdenciários assegurados.

Um fator que beneficiou a expansão da lei foi a alteração da idade,

pois a partir do decreto de 2005 a idade mínima se manteve, porém a idade

limite foi modificada para até 24 anos. Isto beneficiou permitindo que mais

jovens pudessem ser incluídos nos programas de aprendizagem profissional.

Do outro lado, as empresas têm à disposição um maior leque de indivíduos

para serem utilizados como mão-de-obra barata, assim reafirmando o padrão

toyotista11 de flexibilização da força de trabalho. Ratificando tal pensamento de

11 Toyotismo é o modo de produção caracterizado pela produção de acordo com a demanda,objetivando a não acumulação de produtos e matérias-primas.

41

Karl Marx, o qual demonstra o objetivo do capital de obter maior lucro através

da exploração do trabalhador jovem.

Vale ressaltar que a parcela de aprendizes entre 18 anos completos

e 24 anos não gozam da mesma proteção que os aprendizes com idade inferior

a 18 anos, pois o ECA, que é um importante instrumento na proteção da

criança e do adolescente contra o exercício de atividades inapropriadas

somente asseguram os aprendizes com idade abaixo de 18 anos,

possibilitando assim que o empregador repasse as atividades inapropriadas

para os aprendizes com idade superior a 18 anos.

Entre os critérios estabelecidos, a legislação reafirma duas

características fundamentais para a formação técnica-profissional dos jovens

que são: (I) característica teórica que prevê cursos de aprendizagem em

entidades qualificadoras e (II) característica prática que se fundamenta no

exercício das atividades laborais. Então, a legislação regulamenta que:

A formação técnico-profissional [...] caracteriza-se por atividadesteóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas decomplexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho.[...] (BRASIL, lei 10.097/00, Inciso IV).

Nesse sentido, a fim de ratificar a obrigatoriedade da parte teórica no

processo de aprendizagem profissional que o Mistério do Trabalho emite a

portaria de número 1.003 de dezembro de 2008 no qual estipula os parâmetros

da formação teórica e cria também o Cadastro Nacional de Aprendizagem, a

fim de cadastrar as entidades qualificadas que ministram os cursos de

aprendizagem profissional. Na visão do legislador, isso promoveria a

homogeneidade teórica, qualidade pedagógica e efetiva intervenção.

Também foi determinada a obrigatoriedade da inscrição dos

programas e dos cursos de aprendizagem nos Conselho Municipais dos

Direitos da Criança e do Adolescente (COMDICA) quando o público atendido

for de indivíduos com idade inferior de 18 anos, visto que o conselho é um

importante órgão de fiscalização e planejamento de políticas que visam a

garantia dos direitos da criança e do adolescente. Tal inscrição viabiliza ao

órgão a fiscalização, mesmo que a obrigatoriedade seja do Ministério do

Trabalho.

42

O objetivo do programa de aprendizagem profissional é que jovens

adquiram formação teórica e prática de uma atividade profissional para que

com isso possam se inserir no mercado de trabalho. A fim de tentar nortear o

conteúdo teórico praticado pelos programas aprendizagem que o MTE

estabelece que para um curso seja qualificado como apto, deve apresentar no

mínimo as seguintes temáticas:

Educação para o consumo e informações sobre o mercado e omundo do trabalho; educação para a saúde sexual reprodutiva, comenfoque nos direitos sexuais e nos direitos reprodutivos e relações degênero; política de segurança pública voltada para adolescentes ejovens e incentivos à participação individual e coletiva, permanente eresponsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,entendendo-se a defesa da qualidade ambienta com um valorinseparável do exercício da cidadania (MTE, portaria 1.003/2008).

Segundo a legislação, a parte prática pode ser desenvolvida na

entidade que administra o programa de aprendizagem profissional ou por

empresas que sejam conveniadas a elas. Assim sendo o jovem que participar

do programa de aprendizagem pode executar a parte prática em empresa em

que não tem vínculo empregatício, pois o seu vínculo está com a entidade que

realiza o programa, ou seja, “a contratação do aprendiz poderá ser efetivada

pela empresa onde se realizará a aprendizagem ou {por empresas}, caso em

que não gera vínculo de emprego com a empresa tomadora dos serviços”

(BRASIL, lei 1097/2000, art. 430).

As atividades práticas desenvolvidas na aprendizagem profissional

são de acordo com a inscrição na classificação Brasileira de ocupações, pois

os aprendizes podem ser inscritos desde a modalidade de auxiliar de práticas

administrativas até mesmo na área de hotelaria e indústria. Os indivíduos que

têm idade inferior a 18 anos não podem executar atividades em locais que

possuam atividades impróprias (tal classificação e descrita pelo decreto de lei

de número 6.481 de 2008).

A plenitude de uma formação profissional ocorre quando a teoria e a

práxis se integram de forma que o conhecimento acumulado em uma das

etapas subsidie o outro. Nota-se que frequentemente o eixo teoria e prática não

é equilibrado, sobretudo com a balança pendendo a favor da prática. Desta

43

forma, veem-se recorrentemente situações onde ora a prática é privilegiada e

ora a prática está desalinhada com a teoria.

Este desnível pode levar ao processo de subemprego, pois durante

execução das atividades no processo de aprendizagem profissional não se

prioriza a execução de práticas realmente transformadoras e que agreguem

valor emancipador ao trabalhador, ou seja, frequentemente as atividades

desempenhadas pelos jovens encontram-se fora do contexto da teoria

absorvida (dicotomia entre prática e teoria) e em discordâncias com aquilo que

o mercado de trabalho requisita.

Além da aprendizagem do conteúdo teórico e execução da prática, o

programa de aprendizagem traz em seu contexto um processo de adequação

acrítica do indivíduo à lógica da produção. O processo de educação para o

trabalho concebido por Gomez (1987) é importante, pois leva a refletir o que se

cria com a relação educação e trabalho e a relação de dependência de ambas,

pois considera que:

O processo de socialização para o trabalho veiculado na escola énecessário ter em conta que é o próprio processo de trabalho quetem lugar essa socialização imediata das diferentes expressões deresistência e de subordinação da força de trabalho [...] (GOMEZ,1987, p.43).

Ainda partindo deste mesmo marco, Gomez (1987) reflete como a

formação do trabalhador é fundamental para o capitalista, pois a execução de

atividades laborais na empresa além de formar um trabalhador jovem apto às

exigências do capital, também contribui para que a empresa se utilize dessa

força de trabalho pagando muito mesmos que deveria, ou seja, “[...] no interior

da unidade produtiva revela, além da eficiência nos aspectos práticos, a

importância para o capital da criação de uma relação de dependência entre

patrões e empregados” (GOMEZ, 1987).

Dessa forma, o educando sendo formado dentro do ambiente

produtivo proporciona maior cooptação da classe trabalhadora, pois o ambiente

da produção e, consequentemente, sua ideologia (o trabalho como pedagogia).

Mesmo existindo leis que protejam o educando da exploração, elas são

elaboras de maneira ambígua implicitamente, pois simultaneamente as leis

44

protegem o indivíduo de abusos; porém abrem brechas para que os

empresários possas flexibilizar a contratação de empregados aumentar

pressão sob o trabalhador

A política pública de formação profissional da juventude não visa

diretamente proporcionar aos jovens o acesso a profissões classificadas pelo

mercado de trabalho com nobres, mas trata sim da questão de enfrentar o

desemprego entre as classes mais empobrecidas. Gramsci (1982, p.118)

defende a tese que a escola é dicotômica, pois “a escola profissional destinava-

se ás classes instrumentais, ao passo que a clássica destinava-se ás classes

dominantes e aos intelectuais”.

Tal disparidade educacional aludida por Gramsci não ocorreu

somente na Europa, pois também foi exportada para diversos países inclusive

para o Brasil. A construção da educação do Brasil foi amplamente influenciada

pelos paramentos europeus: o “sistema educacional brasileiro configurou-se de

forma elitista e desigual” (BAPTISTA, 2008, p. 101), no qual os jovens de

classe alta têm a possibilidade de pagar por uma formação educacional de

qualidade, ao contrário dos jovens pobres que somente tem acesso ao sistema

público por vezes precarizados.

Cavalcanti (2004, p.36) também sinaliza essa ausência da ação

estatal em uma educação universal de qualidade, pois a autora disserta que a

educação foi historicamente dissociada da qualificação profissional:

A histórica dualidade do sistema educacional que apartou a educaçãogeral da educação profissional, convertendo a primeira em monopóliosocial dos ricos e a segunda dos pobres, imprimiu um novosignificado à educação profissional enquanto política conduzida peloEstado. Atuando mais no sentido de disciplinar a oferta de mão-de-obra do que de preparo para o mercado de trabalho, historicamente aeducação profissional esteve associada a um viés oraassistencialista, como alternativa à marginalidade.

O sistema de ensino e o acesso à educação são fatores

determinantes para a inclusão de um jovem no mercado de trabalho. Então, o

sistema de ensino sendo desigual, tal acesso ao mercado e ao profissional que

são ofertadas também serão diferentes. Este quadro também se reflete na

ação estatal e nas políticas públicas de emprego, pois o Estado tem que ao

45

mesmo tempo ofertar os jovens que não têm acesso à educação clássica uma

subqualificação, visto que, é dever do Estado dar a qualificação, para atender

ao mercado de trabalho. Geralmente tal subqualificação é repassada para as

camadas que são mais atingidas pelas refrações da questão social.

Apesar da lei da aprendizagem profissional não demonstrar

claramente – segundo o Ministério do Trabalho qualquer jovem pode fazer

parte do programa de aprendizagem, contudo prioriza o acesso dos jovens de

baixa renda – que a intenção é atingir as camadas mais pobres. Isto é feito de

forma implícita, pois as entidades qualificadoras no processo de seleção de

jovens incluem critérios como a renda familiar do jovem restringindo assim o

público a ser atendido. Essa modalidade de intervenção parte do pressuposto

assistencial, como já citado anteriormente a educação profissional está

geralmente associada à assistência ou a “contenção” desta parcela da

população empobrecida.

Soares (2009) disserta que, mesmo que em outro contexto, Gramsci,

já no início do século XX na Itália, dissertava sobre a qualificação profissional

de jovens pobres, no qual denomina as escolas profissionalizantes como

“incubadoras de monstrinhos”, isto porque as escolas visam tão somente à

preparação e disciplinamento da força de trabalho. Em seus escritos

denominados “Cadernos do Cárcere”, Gramsci critica severamente a dicotomia

entre o ensino para os burgueses e os operários e o autor já indica que as

escolas profissionais eram destinadas para classe operária.

Segundo Gramsci (1982), as atividades que se propunham nas

escolas profissionalizantes eram tarefas limitadas que visavam o conhecimento

parcelado e fragmentado do processo de produção, ao contrário para os filhos

dos burgueses é passada educação no sentido amplo que é o acumulo de

conhecimento filosófico, cultural, econômico e cientifico.

Atualmente, tal perspectiva de profissionalização e educação não se

alterou ao contrário, se alargou, pois no contexto atual do capitalismo e do

Estado neoliberal é reafirmada uma educação onde o jovem pobre “deve ser”

educado ligeiramente afim de atender as exigências do grande capital.

Portanto:

46

Jovens de classes populares têm que entrar precocemente nomercado de trabalho de forma a garantir a sua sobrevivência (e asvezes de sua família), enquanto os jovens de classes sociais maisaltas possuem condições para se dedicarem mais tempo aos estudosobtendo, assim, uma formação profissional mais ampla e condizentecom as exigências do mercado de trabalho (ORGANIZAÇÕES DASNAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E A CULTURA,2004. p. 94-95).

O grande diferencial da nossa época é o fato de que este molde de

profissionalização acompanhado da retração das políticas públicas se torna um

ambiente fecundo para que as empresas possam se utilizar desta mão-de-

barata, os aprendizes, e ainda lucrarem neste processo, pois o governo fornece

incentivos para as empresas que se enquadram nestes programas. A lei prevê,

por exemplo, ao empregador a alíquota de 2% a título de pagamento ao Fundo

de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para os jovens enquadrados na lei

da aprendizagem ao contrário dos 8% pagos aos demais trabalhadores.

Em conjunto com os incentivos fiscais surge outro elemento a

denominada Responsabilidade Social, em 2007, o MTE institui através da

portaria de número 618 o selo de Responsabilidade Social denominado

“Parceiros da Juventude”. Este selo atesta que uma empresa, organização

governamental ou não governamental cumpre com o disposto na lei da

aprendizagem de modo a estimular a formação e inserção profissional de

jovens.

Para que uma entidade possa adquirir tal selo é necessário que

cumpra com algumas exigências como: a contratação preferencial de jovens de

baixa renda que forem egressos de programas sociais, contratação de

adolescentes e jovens nos moldes da lei do aprendiz ou instituições que

promovam o protagonismo juvenil.

Garcia (2004) desmistifica a chamada “responsabilidade social”,

atentando para o fato de que uma empresa socialmente responsável gera em

torno de si um marketing, no qual a empresa estaria cumprindo o seu papel

social quando retorna para a sociedade benefícios, assim justificando o seu

lucro ou até mesmo estimulando que os indivíduos consumam seus serviços ou

produtos por ser uma empresa que cumpre com a sua função social, desta

forma:

47

Associação entre a marca e a ação social desenvolvida por umaempresa tem se mostrado uma estratégia de mercado muito eficazpara influenciar a escolha e a fidelidade do produto. Este se tornamais atraente, pois soma aos seus atributos de mercado (qualidade,preço e originalidade) um conteúdo valorativo que favorece a imagemda empresa, além de funcionar como um apelo de mobilização peloconsumo mais seletivo e qualificado (GARCIA, 2004, p.32)

Silva (2008) também disserta sobre a “responsabilidade social”, no

qual caracteriza como se procedeu a sua expansão no Brasil, após a ofensiva

do neoliberalismo, e como isso afeta diretamente atuação do Estado com

relação às políticas públicas.

A autora defende que atuação das empresas no âmbito social está

articulada com a premissa de redução dos gastos sociais e da valorização da

mercantilização dos serviços sociais, pois a responsabilidade social estaria

sincronizada com uma maior atuação do empresariado e do “terceiro setor” e

uma redução da atuação estatal, o prejudicial desta relação e a descaracteriza

da figura dos direitos sociais e da cidadania, pois a figura do empresariado não

tem compromisso com os cidadãos. Silva disserta então que:

O ideário neoliberal cumpre sua função político-ideológica esvaziandoa dimensão de direito universal de cidadania em relação às políticassociais estatais, criando uma cultura de auto-responsabilidade e deauto-ajuda para o enfrentamento das refrações da “Questão Social”.E gera, a partir da precarização e da focalização da intervençãoestatal e do chamado “Terceiro Setor”, uma demanda altamentelucrativa para o setor empresarial, seja pela mercantilização dessesserviços ou através do marketing social que é promovido pelaResponsabilidade Social (GARCIA, 2004, p.47).

O mesmo ponto levantado por Garcia (2004) sobre o marketing

social é resgatado por Silva (2008) que analisa como as empresas se utilizam

da filantropia como forma de sensibilizar o seu público alvo.

Uma das práticas que caracterizam a empresa socialmente

responsável é a contratação de jovens na condição de aprendizes. Como forma

de incentivo, o MTE concede um selo que certifica a boa prática da empresa.

Contudo, o que se deve refletir é se somente isto deva ser levado em

consideração, pois a empresa pode se utilizar dessa forma de contratação a

fim de reduzir os custos com mão-de-obra. A pergunta que fica para ser

48

respondia é se impositivo à empresa cumprir a lei ou isso beneficia a ela no

sentido de reduzir os custos operacionais.

Desta maneira, pode-se compreender que ao mesmo tempo em o

governo impõe ou até mesmo obriga que as empresas cumpram a legislação e

insiram em seu quadro de funcionário jovens em busca do primeiro emprego, o

Estado também flexibiliza a carga tributária e agrega valor implícito a empresa

quando institui um selo que ratifica que a instituição é socialmente responsável.

O mais perverso disto é que uma empresa por apenas estar

cumprindo uma determinação da lei torna-se um “bem-feitor”,

descaracterizando muitas vezes a exploração que é exercida sob os seus

funcionários, quando utiliza a lei a fim de justificar a lógica de obtenção de lucro

e flexibilização da força de trabalho, portanto a responsabilidade social não é

uma obrigação, mas acaba sendo um artifício utilizado pelo capital na busca de

mais lucro.

Contudo, depois desse extenso debate sobre a concepção de

juventude e trabalho colocada pelos jovens como também as obrigações da Lei

do Aprendiz, o próximo capitulo discutira a contextualização da ABEMCE e sua

relação com o processo de aprendizagem, ou seja, como a instituição age

diretamente para a profissionalização dos jovens e fechando assim com o

posicionamento dos jovens em relação ao programa, se de fato é importante

para eles.

49

3 O PROGRAMA JOVEM APRENDIZ NA ABEMCE

“É preciso propor aos jovens um grandeobjetivo, eles sofrem quando sãoconvidados apenas para o medíocre”

(Lebret, 1993)

Neste capítulo, pretende-se conhecer melhor a instituição que serviu

como campo de observação e análise deste estudo; tal instituição tem como

proposta o projeto RECOMEÇAR, o qual capacita e prepara os jovens que

residem em comunidade para ingressarem no mercado de trabalho.

Apresentamos a relação da instituição para com o processo de aprendizagem e

qual a importância agregada pelos jovens ao programa aprendiz.

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA ABEMCE

A Associação Beneficente ao Menor Carente, fica lotada na Rua

Comendador Garcia 1817, no bairro Parque São José, situada em uma área

bem periférica da cidade, ou seja, que necessita de demandas a serem

atendidas. É uma entidade que já atua há 26 anos, é registrada como pessoa

Jurídica de direito privado e com a finalidade de ser um espaço de luta dos

moradores por melhores condições de vida.

A Comunidade do Parque São José está situada na zona oeste de

Fortaleza, com uma população segundo o IBGE (2011) de trinta e cinco mil

pessoas. O Bairro faz parte da Regional V12, área geográfica da Prefeitura de

Fortaleza apresentando grandes sequelas sociais. A densidade Geográfica é

de 53,2 habitantes por hectares, que tem uma média de 63,9. A renda média

mensal dos chefes de família da regional é de 1,32 salários mínimos. A média

12 A Regional V tem como meta garantir a melhoria da qualidade de vida dos 570 mil habitantesdos 18 bairros que a SER V abrange, desenvolvendo ações nas áreas de sáude, educação,esporte e lazer entre outras. Os bairros da SER V são: Conjunto Ceará, Siqueira, Mondubim,Conjunto José Walter, Granja Lisboa, Granja Portugal, Bom Jardim, Genibaú, Canindezinho,Vila Manoel Sátiro, Parque São José, Parque Santa Rosa, Maraponga, Jardim Cearense,Conjunto Esperança, Presidente Vargas, Planalto Ayrton Senna e Novo Mondubim. Valeressaltar que, atualmente a cidade de fortaleza é coberta por seis regionais.

50

de Fortaleza é de 5,61 salários. O bairro ocupa o trigésimo lugar no índice de

Desenvolvimento Humano (IDH-ONU), indicadores sociais e educacionais

difíceis.

Segundo alguns dados documentais da instituição, a comunidade

carece de escolas de ensino fundamental e de ensino médio e o poder público

não investe em políticas de qualificação para o trabalho; além disso, um grande

número de Adolescentes e Jovens trilham pelo mundo do crime e das drogas

por falta de assistência social. Hoje constata que na comunidade há muitos

adolescentes que estão envolvidos em conflitos com a Lei, drogadição,

prostituição e violência doméstica, tornando o bairro muito violento.

Em meio a isso, a instituição formou uma parceria com o Governo do

Estado no ano de 2010 que proporcionou a primeira grande conquista ao trazer

para a comunidade uma creche com o intuito de atender 75 crianças. Logo

depois, surge a sede da Associação, preparada para diversificar os

atendimentos para o público adolescente e suas famílias.

Neste cenário, a ABEMCE iniciou um projeto chamado

RECOMEÇAR. O projeto busca oferecer novas oportunidades para crianças e

adolescentes, utilizando como estratégia pedagógica o universo da arte e o

lúdico, afastando o educando do mundo das ruas e da atividade trabalhista

informal, proporcionando-lhes novas oportunidades de vida, essencialmente na

área educacional, revitalizando o vínculo afetivo na escola formal, na direção

do seu projeto educacional, redução nos níveis de violência e no fortalecimento

dos vínculos familiares, tendo como princípio a cultura da paz e a doutrina da

proteção integral, Estatuto da criança e do Adolescente, baseada na doutrina

da Proteção Integral, Lei Federal 8069, de 13 de Julho de 1990.

A ABEMCE, mantida por doações e contribuições de pessoas físicas

e jurídicas, tem objetivos determinados, como: socioculturais, esportivos,

educacionais e beneficentes. Logo, sua missão é a, partir de um o trabalho

voltado ao desenvolvimento social, cultural, esportivo, educacional, profissional

e espiritual, proporcionar as nossas crianças, adolescentes, jovens e suas

famílias a oportunidade de se tornarem agentes de transformação da realidade

sofrida na qual estão inseridos.

As atividades realizadas pela Instituição são várias como: escola,

creche, apoio escolar, programa de incentivo à leitura, informática aplicada à

51

educação, área cultural, música (violão, teclado e bateria), sopro (clarinete,

flauta transversal, tuba e saxofone), dança, ballet. A Instituição também

proporciona atividades esportivas: futebol de areia, futsal, karatê, capoeira,

recreação coletiva e, por fim, o projeto Aprendiz Cidadão, promoção da saúde

e de atividades socioassistenciais.

As atividades pedagógicas pretendem despertar no educando a

valorização de si, uma nova forma de ver o mundo, a construção de redes de

relacionamento, movida pela harmonia e solidariedade, além do resgate da

relação com a escola formal, melhorando nos níveis de participação e vínculo,

fortalecendo seu projeto educacional, a difusão de uma cultura da paz,

utilizando como estratégia o protagonismo juvenil, tornando os aprendizes

como jovens proativos e participantes de sua comunidade nas ações

socioeducativos como voluntários (ABEMCE, 2012).

A instituição se destaca por buscar dimensionar seus atendimentos

a todas as faixas etárias, priorizando as ações que ampliam os conhecimentos,

concepção de mundo e aspectos dos direitos e deveres, baseados no Estatuto

da Criança e do Adolescente. A universalização do atendimento garante às

famílias, às crianças e aos adolescentes as informações educacionais

fundamentais no processo de aprendizagem, visto que as famílias são

acompanhadas através de reuniões educativas que as capacitam de

informações, mostrando suas responsabilidades, direitos, deveres e as

peculiaridades da Criança e do Adolescente, nos seus processos de

desenvolvimento e aprendizagem.

Atualmente, a ABEMCE assiste aproximadamente 1400 crianças,

adolescentes e seus familiares, trazendo-lhes novos horizontes e resultando na

esperança de uma perspectiva de vida e um futuro brilhante e vitorioso.

A ABEMCE busca ver seus educandos de maneira universal,

compreendendo seus anseios e peculiaridades, respeitando sua condição de

criança e adolescente em desenvolvimento, com suas características próprias,

sem discriminação de raça, cor ou credo religioso

52

3.2 A RELAÇÃO ABEMCE COM O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Conforme discutido anteriormente, a ABECE trabalha diretamente

para a execução de políticas públicas que garantam a experiência de

aprendizagem profissional para os jovens do bairro, e principalmente em

situação de vulnerabilidade social. Tal trabalho cada vez mais estar tendo

visibilidade não só na ABEMCE, como também nas organizações que

preparam os jovens para o mercado de trabalho, pois os números de jovens

inseridos no programa só aumentam a cada ano como podemos perceber no

quadro adiante.

Quadro 2 – Jovens aprendizes contratados por ano no Brasil

Aprendizes Admitidos 2005-2013 1.702.365

META 2012-2015 1.220.628

Aprendizes Contratados 2013 335.809

Aprendizes Contratados 2012 310.249Aprendizes Contratados 2011 264.764Aprendizes Contratados 2010 201.097Aprendizes Contratados 2009 150.001Aprendizes Contratados 2008 134.001Aprendizes Contratados 2007 105.959Aprendizes Contratados 2006 143.254Aprendizes Contratados 2005 57.231

Fonte: RAIS 2005-2012; Caged JAN A DEZ 2013

Com esses dados, verifica-se que, desde a publicação do Decreto

5.598/2005 até Dezembro de 2013, foram admitidos nessa modalidade de

contratação um total de 1.702.365 aprendizes no país. É notória a evolução no

número de contratos a cada ano. No Ceará, por exemplo, o número já chega a

12.948 jovens contratados. Analisando esses números percebemos o quanto é

importante o desenvolvimento do programa tanto pela iniciativa governamental

como não-governamental.

É diante desse contexto, com a execução do Projeto Jovem

Aprendiz, que atualmente a ABEMCE amplia cada vez mais suas ações,

alcançando grandes parcerias – como COMDICA, o Programa de Erradicação

53

ao Trabalho Infantil, apoiado pela Prefeitura e Governo Federal, dentre outros –

com várias empresas que hoje totalizam em torno de 35 parceiras,

proporcionando aos jovens que vivem em vulnerabilidade social a inserção de

forma mais fácil no mercado de trabalho.

O programa atende hoje a 920 jovens, onde praticamente todos já

se encontram inseridos no mercado de trabalho. No programa são ofertados os

cursos nas áreas auxiliar de escritório, turismo e hotelaria e repositor de

mercadorias. Para participar do programa é necessário que esteja estudando

na escola, logo proporciona um incentivo na educação.

Os aprendizes são capacitados com módulos exigidos pelo MTE

como: aprendizagem profissional em nível de formação inicial por Classificação

Brasileira de Ocupações (CBO) ou arco ocupacional, ou seja, em determinada

área especifica, e o outro seria a Aprendizagem profissional em nível técnico

médio, português, informática, etc. As aulas são ministradas na própria

ABEMCE contendo turmas às quintas, sextas e aos sábados, com uma carga

horária de quatro horas no dia. O jovem aprendiz trabalha durante cinco dias

na semana, sendo que, permanece quatro dias na empresa e um dia na

instituição, recebendo por esse dia. Além de tudo, as famílias dos jovens são

atendidas através de atividades como rodas de conversas, oficinas e palestras

educativas.

Com relação à aplicabilidade do curso de modo geral, é colocada de

forma satisfatória a aplicação do conteúdo exigido, no que se refere aos

aspectos do que é passado como ao comportamento, ao obedecer às normas

e regulamentos, os aprendizes destacam que o aprendizado é levado para toda

a vida, mas quando passamos à dimensão das técnicas, do conteúdo teórico,

foi colocado pelos jovens que deixa um pouco a desejar.

. A ABEMCE preza, sobretudo, pela a Educação Profissional, a

aprendizagem conduzida pela instituição implica um forte caráter social, pois se

apresenta como um caminho seguro para a inserção de milhares de jovens no

mercado de trabalho, levando assim esses jovens a construção de sua

cidadania.

No decorrer da pesquisa, podemos perceber que é de grande

importância esse trabalho que a instituição realiza com esses jovens e que de

fato existe um comprometimento muito forte com os educandos no processo de

54

aprendizagem, pois os aprendizes em sua maioria mostraram-se muito

satisfeitos como observamos na fala aqui transcrita: “O Curso contempla minha

expectativa, pois me proporciona atitudes e conhecimentos dentro da área que

atuo na empresa” (Roberta, 22 anos, terceiro emprego).

Ao termos acesso a vários documentos da instituição, nos

deparamos com uma das pesquisas, intitulada Diagnóstico sobre aconcepção dos aprendizes sobre o processo de aprendizagem, realizada

com os jovens inseridos no programa no ano de 2012. Na pesquisa, a

instituição buscou acompanhar e analisar alguns pontos que são fundamentais

para o caminhar do processo, abordando vários questionamentos como a

execução do curso, o desenvolvimento profissional, a educação e até mesmo

seus sentimentos humanos.

Vale ressaltar que, dando importância aos posicionamentos dos

jovens e isso de cara nos chamou a atenção pelo comprometimento da

instituição frente as demandas colocadas pelos jovens, em relação a

aprendizagem demonstrando que de fato o problema não está somente em

inserir o jovem mais também em se importar com a qualificação da sua

aprendizagem, como segue abaixo:

O Curso foi visto como importante no processo de inserção, masalguns aprendizes apresentaram as seguintes propostas parafortalecê-lo: Ampliação das salas de aula com melhor ventilação;Tornar as aulas mais dinâmicas; Diminuição do número de alunos porturmas; maior durabilidade dos professores por disciplina;Incorporação de conteúdos sobre drogas, violência, sexualidade,internet, namoro e gravidez durante a execução dos módulos. Valesalientar que estar quase finalizando a construção do CENTROPROFISSIONLIZANTE VIDA NOVA com salas amplas, ventiladas enovos espaços educativos que darão suporte na execução dasatividades do curso. O desenvolvimento dos módulos foi visto comosatisfatório pela maioria dos alunos, no entanto, um grupo deaprendiz observou carência de criatividade, dinamicidade e repetiçãode conteúdos. As propostas indicadas pelos alunos serão levadas emconsideração e incorporadas nos módulos dos cursos cadastrados noMinistério do Trabalho e Emprego. A relação com os professores foibem avaliada, mas os alunos sugeriram maior durabilidade dosmesmos na condução das disciplinas” (ABEMCE, 2012).

Sobretudo, pode-se perceber também o impacto que o processo

pode causar aos jovens em relação a educação pois os alunos que participam

do programa e estão inseridos na Universidade, em sua maioria escolheram

55

cursos na área que fazem sua aprendizagem: Ciências Contábeis,

Administração, Recursos Humanos, Contabilidade, Informática. Como também

outros alunos que optaram em fazer cursos técnicos ou cursinhos preparatórios

receberam do projeto estímulos nos módulos abordados e na metodologia

utilizada.

Por fim, não podemos deixar de destacar a influência desse

processo no que se refere a singularidade do jovem onde o curso colaborou na

maturidade e nas escolhas dos aprendizes:

“Decidir prestar vestibular este ano, como também estou participandode um curso de culinária para ajudar a minha mãe” (Fabio, 18 anos,segundo emprego).

“Entrei para faculdade comecei uns cursos e não gostei ai decidirfazer com o qual trabalho aqui no programa, faço Administração eestou indo muito bem” (Suzi, 20 anos, primeiro emprego).

A instituição estimula os aprendizes a expressarem suas

concepções nessa área, partindo de duas situações: 1) sentimentos em relação

à empresa (Otimismo, Medo, receio, conflito); 2) sentimentos pessoais

(Tolerância, timidez, medo).

Na visão dos jovens, a experiência de aprendizagem já proporcionou

em suas vidas: experiência, prática de cooperação, criatividade, uma nova

forma de fazer e viver, superação das situações de conflitos sem perder o

equilíbrio, como também um novo olhar para o mundo escolar. Nas situações

de conflito na empresa os alunos avaliaram: nível baixo de tolerância, rapidez

nas avaliações, ausência do gestor no acompanhamento do jovem em sua

aprendizagem prática e o desrespeito da lei e seu caráter pedagógico.

Ao analisarmos o que foi colocado acima, percebemos que as

relações sociais contribuem para esse processo de aprendizagem do jovem.

Segundo Vygotsky (2009), as palavras trazem significações construídas a partir

das relações sociais e, por isso mesmo, identifica-se que a fala dos aprendizes

se constitui a partir dos significados partilhados pelos outros sociais na

Empresa e Instituição Formadora. O autor afirma ainda que diferentes

contextos possibilitam a construção de diferentes sentidos, tendo em vista que

56

o sentido constitui-se na dinâmica dialógica, modificando-se de acordo com as

situações e com as pessoas que o atribuem.

A instituição dá tamanha importância no que se refere a esses

sentimentos, pois para ela as tais rescisões antecipadas, motivadas pelos

conflitos entre aprendizes e seus cenários de aprendizagens, demonstram que

os jovens não tiveram maturidades ou talvez a empresa não teve paciência

pedagógica, à luz da Lei 10.097.

Contudo, concluímos que o objetivo do Projeto Jovem Aprendiz é:

[...] capacitar, inserir e acompanhar os adolescentes no mercado detrabalho, proporcionando um processo de formação contínua,assegurando seus direitos trabalhistas e o exercício da cidadania(IDES/PROMENOR, art. 5º do regimento interno).

Nessa perspectiva, pode-se perceber a total relação importante da

ABEMCE nesse processo, como também frente ao acesso dos direitos dos

jovens aprendizes, tanto por sua parte como em seu acompanhamento frente

às empresas, como segue abaixo:

Quadro 3 – Características da Lei de Aprendizagem

Lei daAprendizagem

Características

A lei Lei n° 10.097/200 ampliada pelo DecretoFederal n° 5.598/2005.

O aprendiz Jovens de 14 a 24 anos de idade que estejamcursando o Ensino Fundamental ou o EnsinoMédio. No caso de pessoa com deficiência épermitida a contratação de jovens maiores de24 anos de idade.

A empresacontratante

Estabelecimentos de qualquer natureza. Éfacultativa a contratação de aprendizes pelasmicroempresas, bem como pelas Entidadessem Fins Lucrativo.

Remuneração Salário mínimo/hora.Jornada de trabalho Até 6 horas diárias para aprendizes que cursam

o Ensino Fundamental.Até 8 horas para os que estão no Ensino Médio.

Cota de aprendizesna empresa

5% a 15% das vagas do quadro de pessoal.

Direitos trabalhistas 13° salário, vale-transporte e férias.

57

Contrato Por tempo determinado, com duração de, nomáximo dois anos.

Vinculo Pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),com registro na carteira de trabalho (CTPS).

Incentivos fiscais etributários

2% de FGTS, dispensa de aviso prévio, isençãode multa rescisória.

Órgão responsávelpela fiscalização da

lei

Superintendência Regional do Trabalho.

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.3 POSICIONAMENTO DOS JOVENS EM RELAÇÃO AO PROGRAMAJOVEM APRENDIZ

Os jovens possuem uma avaliação positiva do Projeto Jovem

Aprendiz. A respeito dos aspectos favoráveis que o projeto proporciona aos

jovens são citados os seguintes elementos: o recebimento da bolsa-auxílio,

afirmam que participar do projeto é uma oportunidade de adquirir

conhecimentos, informação, fazer amizades, mudança nos seus

comportamentos e melhoria na comunicação.

Chama a atenção os jovens destacarem que o projeto os ajuda a

mudar o comportamento, tornando-se indivíduos mais responsáveis, pois

devem ser assíduos e pontuais nos dias de suas atividades e que, com isso,

aprendem participando do projeto, de forma que possam assumir um maior

grau de controle sobre seus destinos, como observado no excerto que segue:

“Depois que eu entrei no projeto, criei mais responsabilidade, aprendi a chegar

no horário, mas o melhor foi em poder ganhar o dinheiro, a bolsa, [...] é muito

importante né” (Fabio, 18 anos, primeiro emprego).

Além disso, os jovens destacam que a oportunidade de conhecer

pessoas novas, em um ambiente diferente daqueles em que estavam

habituados a frequentar, como a escola próxima às suas residências e a

convivência para além dos moradores de sua comunidade: “O programa é

maravilhoso, nos proporciona várias oportunidades, como conhecer pessoas

novas, ter maturidade e até mesmo ter uma renda” (Suzi, 20 anos, segundo

emprego).

58

Esses jovens reproduzem a ideia do trabalho vinculado à renda,

apesar de reconhecerem que tiveram outras vantagens no projeto como

também os aprendizados e conhecimentos adquiridos, fizeram novas amizades

e tiveram uma maior sociabilidade, como foi apontado anteriormente sobre a

experiência do projeto. Entretanto, a bolsa-auxílio ainda é vista como

indispensável, para a maioria deles, para permanência no projeto:

“O projeto é muito importante, [...] muda vidas, e sobretudoproporciona o jovem uma renda que ajuda nos estudos, em casa eisso é importante, principalmente quando você gosta” (Juliana, 22anos, segundo emprego).

Os jovens alegam que um trabalho bom é sobretudo aquele onde

tenham uma boa remuneração, mas também para trabalhar realizando

atividades que lhes proporcionem satisfação, o que demonstra que os jovens

buscam uma realização pessoal combinada com a obtenção da renda. Então, é

possível analisar que os jovens desejam como trabalho ideal não somente

trabalhar no que gostam, sem receber uma renda, nem ao contrário, receber o

salário sem gostarem do que fazem. Na verdade, como todos, buscam uma

combinação entre eles.

Vale ressaltar que trata-se de jovens que possuem moradia em

comunidades populares e que em sua maioria a informação sobre programa

como este não é de fácil acesso, e isso é fato real, sobretudo essas

comunidades possuem expressivos índices de desemprego, baixa renda

familiar e baixa qualificação para o mercado de trabalho dos integrantes que

compõem a família. Esta, por sua vez, é marcada, em várias ocasiões, por

episódios de violência, marginalidade e vulnerabilidade; em comunidades onde

atuam organizações ligadas ao tráfico. Estes jovens buscam, ou buscaram, no

Projeto como oportunidade de profissionalização e inclusão socioeconômica,

visando perspectivas de futuro mais promissoras.

“Há participar do projeto é maravilhoso, mudou minha vida, metrazendo novas oportunidades, e me tornando em uma pessoamelhor, mais madura, responsável, [...] o projeto ajuda a vocêrealmente pensar em um futuro, [...] coisa que antes a gente nãotinha conhecimento, se não fosse a ABEMCE” (Roberta, 22 anos,terceiro emprego).

59

Por fim, apresenta-se o desafio de enfrentar o preconceito da própria

sociedade, guiada pela lógica do capital, onde o mérito, a melhor qualificação

profissional, a melhor escola, a localização da moradia conta muito no

momento da escolha de um novo funcionário. Tendo que escolher apenas um

dentre milhares de indivíduos em condições de desemprego, outros tantos que

nem sequer conseguiram o primeiro emprego, o empresário não terá muita

dificuldade para contratar. Logo, os jovens que participam e já participaram do

projeto se encontram inseridos neste contexto de vulnerabilidade, psíquico,

social e político e acreditam que o projeto irá proporcionar-lhes uma condição e

qualificação para conseguirem um emprego.

Segundo alguns autores hoje, o profissional que já possui uma

qualificação, se destaca frente aos outros que não possui, tanto em um

processo de seleção como na realização de suas atividades, pois a tecnologia

está cada vez mais presente nas empresas e é preciso estar em constantes

aperfeiçoamentos para acompanhar essas mudanças e continuar no mercado

de trabalho. Já que,

[...] o profissional bem qualificado e que aprecia seu trabalhodesenvolve suas atividades com desembaraço e eficiência, evitadesperdícios, sabe argumentar, tomar decisões, relacionar-se bemcom sua equipe de trabalho e, por isso, quase sempre acerta (SILVA;COELHO; BARRACA, 1999, p.58).

Porém vale ressaltar que atualmente são muitos os jovens, adultos

que possui uma qualificação como cursos, diplomas, etc., mas que se

encontram fora do mercado, ou seja, levando a análise de que a” tal “

qualificação pode até inserir mais não garante a permanência no mercado

capitalista, afinal para esse mercado é necessário ter um exército de reserva,

para ter um bom funcionamento do sistema de produção capitalista e garantir

o processo de acumulação, Pois é necessário que parte da população ativa

esteja permanentemente desempregada. Esse contingente de desempregados

atua, segundo a teoria marxista, como um inibidor das reivindicações dos

trabalhadores e contribui para o abaixamento dos salários.

Dessa forma, é salutar a compreensão de que é muito grande o

número e profissionais que se forma a cada ano, entretanto, o diferencial em

questão não PE somente o conhecimento adquirido, e sim a vivencia e a busca

60

constante por qualificação. Porém, acima de tudo, torna-se notório que essa

qualificação venha pôr em prática as exigências de um mercado tão

competitivo e em constate busca por crescimento e expansão.

Sendo assim, é possível concluir que os jovens da instituição se

preocupam e tem interesses com o futuro, principalmente relacionado ao

trabalho e à família. Possuem expectativas de concluírem seus estudos e se

inserirem no mercado de trabalho apesar de sua atual estrutura, para que

assim consigam melhores condições de vida.

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta pesquisa surgiu da intenção de analisar a

importância que o jovem aprendiz atribui à sua inserção no mercado de

trabalho através do programa na ABEMCE.

Por conta desse número reduzido de participantes, é importante

ressaltar que esta pesquisa não pretende realizar generalizações. Assim, não

se espera o mesmo perfil do que foi revelado pelos jovens que participaram da

entrevista em relação aos demais jovens brasileiros.

Sobretudo os resultados foram alcançados e percebemos que o

programa aprendiz traz contribuições significativas na vida dos jovens

proporcionando qualificação e experiência profissional, contribuindo assim para

o início da carreira profissional dos mesmos, jovens estes que tiveram um

acesso negado a entrada no mercado, por não terem uma qualificação exigida,

por pertencerem a uma classe baixa ou, até mesmo, por morarem em

periferias.

O programa é visto de forma positiva, sendo as análises dos jovens,

pois atingi seu objetivo que é preparar para o mercado de trabalho, levando a

melhoria na relação familiar, na renda, e até maior visibilidade na relação com

a escola. Porém foi percebido uma grande fragilidade em relação ao

acompanhamento dos jovens iniciantes que são inseridos no mercado, com as

dificuldades enfrentadas pelos mesmos, como também ao saírem do programa

(após o término de contrato) os jovens não têm sido contemplados com um

acompanhamento para o primeiro emprego, ou seja, encontram deixados à

própria sorte.

Analisamos que, para os jovens, as significações do trabalho são

apresentadas como uma referência fundamental na construção de sua

identidade social, e que as motivações que envolvem a sua busca por uma

oportunidade de trabalho estão em grande parte concentradas no desejo de

adquirir maturidade, responsabilidade, experiência e principalmente renda

financeira.

Através da percepção dos mesmos, verificamos que a sua entrada

no mundo do trabalho envolve as mudanças e dificuldades vividas, pois não se

trata de somente inseri-los mais de acompanhar as dificuldades enfrentadas

62

pelos mesmo após começar a trabalhar. Tais dificuldades vivenciadas, como o

cumprimento de rotinas e adaptação a novas atividades e principalmente

relacionamentos com os outros funcionários. Entretanto foi colocado pelos

jovens que o trabalho possibilitou a oportunidade dos mesmos adquirirem

responsabilidade.

Sobre a questão do processo de aprendizagem, apesar dos jovens

colocarem algumas questões como infraestrutura, turmas lotadas e rotatividade

de educadores, o processo foi visto de forma muito positiva, e contributiva tanto

no desenvolvimento profissional como pessoal, decantando o

comprometimento da instituição frente às demandas dos jovens.

Referente à atuação do profissional de Serviço Social, analisamos

que no que se refere ao acompanhamento dos jovens no processo de

aprendizagem se faz no sentido de garantir que os direitos dos adolescentes

sejam minimamente cumpridos, no intuito de “proteger” o educando da

perversidade que o modo de produção capitalista impõe ao trabalhador. Por

outro lado, mesmo que haja a intenção de “proteger” os jovens aprendizes, (ou

seja, “proteger” no sentindo de impedir que o jovem seja alienado e explorado

pela lógica capitalista) existem certas limitações, pois o profissional de Serviço

Social sendo também um funcionário também está suscetível às designações

da empresa e da exploração.

Cabe ao profissional de Serviço Social saber mediar os conflitos

entre cumprir o código de ética, que defende os usuários, e os interesses dos

capitalistas, procurando manter-se com o foco que é a defesa do usuário.

Sobre a hipótese da falta de informação sobre essa política na

comunidade, foi colocado que não é fácil o acesso as informações e que a

primeira vez que souberam da existência do programa foi pela ABEMCE, fato

que mudou a vida de muitos jovens da comunidade. Logo, pode-se ressaltar

que a oferta desses programas está além da demanda dos jovens, que muitas

vezes precisam trabalhar em condições precárias e longas jornadas de

trabalho, por não serem contemplados no acesso a essas políticas públicas.

Contudo, sabemos que o desemprego é um problema estrutural na

sociedade, que vive a mercê do capital e, nesse contexto, o exército industrial

de reserva ainda é fundamental para a regulação dos salários e o controle

político e social da classe trabalhadora. A partir desse movimento do capital

63

sobre a classe trabalhadora, é possível controlar não somente os salários, mas

estabilizar a economia do país. Por isso, os jovens enfrentam uma longa

jornada em busca de emprego. O que se verifica é a reposição da correlação

de forças entre o capital/trabalho, fundamental para a manutenção do lucro e a

regulação da economia.

O mais perverso desta relação, aprendiz versus capital, é o fato de

desde sua gênese no mercado de trabalho o jovem estar exposto à alienação

do trabalhador, pois como todo trabalhador ele não possui direito sobre aquilo

que produz e fica submetido à subqualificação além do conhecimento parcelar

do processo produtivo.

Os jovens aqui apresentados são, como os demais segmentos

sociais, impelidos a participar desta lógica. A participação, contudo, não se dá

sem resistências e críticas, que acabam por revelar o quanto este modelo

produz e reproduz lógicas discricionárias e excludentes. Cabe explicitar tais

resistências e críticas, indicando alternativas mais alinhadas com o avanço das

conquistas da cidadania e dos Direitos Humanos.

Por fim, o Programa jovem aprendiz executado na ABEMCE, foi

avaliado de forma muito importante e fundamental na vida desses jovens, pois

proporcionaram as tais necessidades que os mesmos necessitavam (sejam

elas qual for) agindo diretamente nos impactos quanto à melhoria da

sociabilidade dos jovens, visto que, esse impacto na sociabilidade dos jovens

seria um dos principais méritos do programa. Logo, este pequeno trabalho tem

a pretensão de contribuir para este debate ressalvando as conquistas, mas

indicando ainda o longo curso até que os jovens deixem de ser vistos como

incômodos ou ameaças e passem a ser percebidos como protagonistas de

suas vidas.

64

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68

APÊNDICES

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com os jovens

01.O que é ser jovem?

02.Você gosta de ser jovem? Porque?

03.O que você pensa sobre o trabalho?

04.Como você vê a inserção dos jovens no mercado de trabalho?

05.Quais as dificuldades encontradas por você ao começar a trabalhar?

06.O que te motivou a participar do programa?

07.Qual importância você atribui ao programa?

08.Na sua comunidade, existem informações sobre oportunidades para

programas de primeiro emprego?

09. O projeto ajuda a ter mais chances de futuramente conseguir um emprego?

por quê?

10. Quais suas perspectivas de vida após o programa Jovem Aprendiz?

70

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido

Eu, Jéssica Braga Uchôa, sou estudante do curso de graduação em

Serviço Social na Faculdade Cearense. Estou realizando uma pesquisa com o

tema: PRIMEIRO EMPREGO PARA OS JOVENS: Uma análise do Programa

Jovem Aprendiz na ABEMCE – Associação Beneficente ao Menor Carente, sob

supervisão do(a) professor(a)/orientador(a): Emanuel Bruno Lopes de Sousa,

cujo o objetivo geral é: analisar a inclusão social de Jovens Aprendizes no

mundo do trabalho, por meio das ações desenvolvidas pela entidade ABEMCE.

Como também conhecer o significado de juventude e trabalho para os jovens;

verificar as dificuldades encontradas pelos jovens ao começar a trabalhar;

identificar a relação da instituição nesse processo de aprendizagem, e entender

a importância do programa aprendiz para o jovem.

Sua participação envolve uma entrevista, que será gravada se assim você

permitir, e que tem a duração aproximada de 15 minutos.

A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar

ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade

de fazê-lo. Mas vale ressaltar que sua participação será de grande relevância

Na publicação dos resultados desta pesquisa, gostaria de solicita-lo a

autorização para expor sua identidade, e caso não concorde será mantida no

mais rigoroso sigilo.

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você

estará contribuindo para a produção de um conhecimento efetivo e atualizado

sobre a problemática do primeiro emprego para os jovens.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo

pesquisador (a).

71

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópiadeste termo de consentimento.

Fortaleza, ____ de ______________ de 2014.

Participante:______________________________________________

____________________ ______________________

Assinatura do Participante Assinatura do Pesquisador(a)

Responsável pela Pesquisa: Jéssica Braga UchôaE-mail: [email protected] Telefone: (85) 8963-4423