centro de ensino superior do cearÁ faculdade … insercao de... · que sempre me enche de amor,...

77
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE BACHAREL EM SERVIÇO SOCIAL A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE O TEMA. AURICELIA CORREIA DA SILVA FORTALEZA 2014

Upload: doanxuyen

Post on 30-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE BACHAREL EM SERVIÇO SOCIAL

A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA:

REFLEXÕES SOBRE O TEMA.

AURICELIA CORREIA DA SILVA

FORTALEZA

2014

AURICELIA CORREIA DA SILVA

A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇAO DE LONGA PERMANÊNCIA:

REFLEXÕES SOBRE O TEMA.

Monografia submetida à aprovação do Curso

de Serviço Social do Centro de Ensino

Superior do Ceará Faculdade Cearense - FaC,

como requisito parcial para obtenção do grau

de Graduação.

Orientadora: Prof.ª Esp. Talitta Cavalcante

Albuquerque Vasconcelos

FORTALEZA

2014

AURICELIA CORREIA DA SILVA

A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA:

REFLEXÕES SOBRE O TEMA.

Monografia apresentada como pré-requisito

para obtenção do título de Bacharelado em

Serviço Social, outorgado pela Faculdade

Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela

banca examinadora composta pelos

professores.

Data de aprovação: ____/ ____/____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Profª. Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

(Orientadora) – Faculdade Cearense

___________________________________________________________

Profº. MS. Daniel Rogers de Souza Ferreira

(1ª examinador) - Faculdade Cearense

____________________________________________________________

Profª. MS. Ivna de Oliveira Nunes

(2ª examinadora) - Faculdade Cearense

Dedico este trabalho aos meus queridos filhos

Letícia Almeida e Célio Patrício, dádivas

concedidas por Deus, que são e sempre serão a

razão do meu viver, o impulso para que eu

sempre busque o melhor para as nossas vidas.

A minha queridíssima sobrinha Maria Clara

Correia Carneiro que é por demais especial em

minha vida. E a todos os idosos do Brasil, em

especial os que sentem na pele o processo de

institucionalização.

AGRADECIMENTOS

Obrigada a Deus primeiramente, por guiar meus caminhos, iluminar e abençoar a

minha vida. Agradeço imensamente por essa conquista e por ter me dado forças e coragem

para enfrentar essa nova etapa da minha vida.

A minha família.

Ao meu querido e amado pai Alcides Soares Castro e Silva (in memorian), por ter

sido um apoio tão maravilhoso em minha vida. Pai, eu sei que não estás mais aqui comigo,

mas é incrível como sinto sua presença, até escuto o som do seu assobio, sua marca registrada

ao anunciar a chegada em casa e o brilho do seu olhar que refletia juntamente com a sua

felicidade sempre que eu alcançava uma conquista. Pai você se foi, mas me deixou grandes

marcas e uma saudade interminável. Faço questão de lembrar todos os momentos que

estivemos juntos e só não consigo me perdoar pelo fato de eu ter sido sempre tão presente em

sua vida e exatamente no dia em que o senhor se foi, eu não estava ao seu lado. Ah como eu

queria poder voltar no tempo e me fazer presente naquele momento! Essa vitória é dedicada a

você. Só tenho a agradecer pelo senhor ter sido Meu Querido Pai. Obrigada por tudo!

A minha querida mãezinha, por ser uma pessoa tão maravilhosa e que apesar de

ter tido uma vida marcada por grandes desafios e dificuldades, soube transmitir o melhor para

nossas vidas. Mãezinha, você é um exemplo de mulher batalhadora e que não desiste de

alcançar seus objetivos. Agradeço também pelo amor incondicional dedicado aos meus filhos

que representam muito para senhora. Por todas as vezes que precisei e a senhora esteve

disposta a me ajudar, demonstrando amor e dedicação. Mãezinha eu agradeço a Deus por sua

existência e saiba que te amo muito!

A minha querida irmã Alcione Correia da Silva, muito especial em minha vida e

por sempre ter demonstrado amor e carinho em nossa relação. Saiba que você sempre ocupará

um lugar especial na minha vida e no meu coração. Mana, sou muito grata por tudo e

principalmente por ter me dado uma sobrinha tão maravilhosa como a Maria Clara.

À minha queridíssima sobrinha Maria Clara Correia Carneiro, presente lindo de

Deus, uma criança sábia e encantadora que a cada dia me surpreende com a sua capacidade e

dedicação nos estudos. Maria Clara saiba que sempre poderá contar comigo e sempre estarei

de braços abertos para te receber. Peço que sempre coloque os estudos em primeiro lugar, pois

o conhecimento que adquirimos ao longo dos anos nunca poderá ser tirado por ninguém, ele

só irá acrescentar benefícios em sua vida. Amo você, minha sobrinha querida.

Ao meu querido sobrinho Ian Vítor Maciel Silva, por quem tenho muito carinho e

desejo toda felicidade do mundo!

A minha querida filha Letícia Karen Correia de Almeida, dádiva que o Senhor

colocou em minha vida dando a oportunidade de vivenciar comigo essa conquista. Agradeço

pelos momentos de dedicação e saiba que o mais importante da vida não é a situação em que

estamos e sim a direção pela qual nos movemos. Somos do tamanho da nossa conquista. Filha

te amo!

Ao meu querido filho Célio Patrício Correia de Almeida, presente lindo de Deus,

que sempre me enche de amor, carinho e se fazendo tão presente em minha vida. Saiba que as

mudanças podem ser assustadoras, mas faz parte do crescimento. É assim que descobrimos

como somos e o que vamos ser! Acreditar é essencial para termos uma vida feliz, mas ter

atitude é o que fará a diferença. Filho te amo!

Ao meu querido marido Claudio Patrício de Almeida, que durante esses vinte

anos que compartilhamos juntos, sempre se mostrou um ser humano prestativo e

compreensível, um pai maravilhoso e dedicado. Agradeço por estar sempre ao meu lado

durante o período da faculdade e o processo de construção da monografia. Peço a Deus que

ilumine seus caminhos e que possamos ainda compartilhar muitas felicidades juntos.

Obrigada por tudo!

A querida orientadora Talitta Albuquerque, professora determinada que serve de

exemplo para muitos, por sua humildade e competência, por quem tenho grande admiração!

Por ter me acolhido como orientanda e por comprometer-se a vivenciar comigo esse desafio,

fazendo com que os momentos mais difíceis fossem superados através do seu

profissionalismo e cumplicidade. Obrigada por tudo!

A banca examinadora composta pela Prof. Ms. Daniel Rogers e Profª. Ms. Ivna

Nunes, os meus sinceros agradecimentos pela disponibilidade e dedicação em contribuírem

para o processo de concretização de um sonho.

Aos queridíssimos e competentes professores com os quais tenho o imenso

orgulho de ter construído juntamente essa conquista. Em especial: Daniel Rogers, Cristiane

Porfírio, Denise Furtado, Eliane Nunes, Hamilton Teixeira, Herbert Pimentel, Ivna Nunes,

Priscila Notthinghan, Márcia Mourão, Talitta Albuquerque, Silvana Cavalcanti, Verbena

Sandy e Vivian Matias.

Em especial a minha querida supervisora de campo e assistente social do HMJBO

(Frotinha da Parangaba) – Aila Maria Morais dos Santos, exemplo ímpar de assistente social a

quem tenho muito carinho e admiração, obrigada pelo acolhimento e ensinamentos, você

sempre será uma inspiração para minha vida profissional. Obrigada por tudo!

A todos da turma CSS 082, a nós que partilhamos quatro anos de vida, seguindo

uma trajetória de risos, alegrias, tristezas, angústias e também de muito carinho e

companheirismo e que com certeza ficarão guardados para sempre. Em especial, agradeço aos

queridos (as) e inesquecíveis: Alinda Oliveira, Ana Cristina Rosa, Ana Lúcia de Jesus, Ana

Paula Fahd, Ana Paula Sousa, Claúdia Mendes, Ellen Cristina, Erivaldo Diniz, Giovanna

Carvalho, Herlene Silva, Juaniza Abreu, Kamylla Lima, Luciana Kelly, Maria Danielle

Figueiredo, Nádia Maria, Raquel Abreu, Rotseana Bezerra, Tácyla Sousa e Tânia Rocha.

A todas da comissão de formatura, foi um prazer estar com vocês, ter feito parte

dessa equipe.

Aos idosos, sujeitos da pesquisa, pela contribuição na concretização deste

trabalho. E a todos os profissionais da Unidade de Abrigo Olavo Bilac pela disponibilidade e

contribuição dada para que a pesquisa fosse realizada.

E por fim, aos demais familiares, amigos e a todas as pessoas que contribuíram,

direta ou indiretamente, na realização desta conquista!

Ser idoso

Ser idoso

é ter a coragem de olhar para frente

E dizer que traz consigo

um mundo de conhecimento.

Ser idoso é ser gente.

Ser idoso

É poder dizer que tem a dádiva da vida

E o poder da mente

Que possui uma vasta experiência

E carrega em sua guarida

A realização e a gratidão da existência.

Ser idoso,

É ser alguém consciente

Pedindo a Deus sempre mais anos de vida

Para viver com os seus

e ser uma pessoa querida.

Ser idoso,

é guardar o que sente

Do lado bom e ruim das coisas

Dos momentos que viveu

E, um dia, tristemente

Sofreu.

E num outro dia, alegremente

Viveu...

E foi feliz

Como um sábio aprendiz.

Ser idoso

É aprender, do ontem, a lição

Hoje, guardada nas eternas lembranças

Bem no fundo do coração.

Ser idoso

é ter no rosto

A marca da sabedoria

A experiência de muitos momentos

Vividos com alegria.

O que mais lhe entristece

É a falta de respeito, carinho e atenção

Dê ao nosso idoso o que ele merece

E o que queres para ti.

Não o maltrate, abrace-o de coração

Porque o que estás hoje a pedir

Num futuro tão próximo podes conseguir.

Por isso, tratar bem o idoso

É meu, é teu, é nosso dever

Não esqueça que o idoso de hoje

Amanhã pode ser você,

Basta ter vida em abundância

E nem tão cedo morrer.

(Maria Dionésia Santos da Silva)

RESUMO

A presente pesquisa intitulada “A inserção de idosos em uma Instituição de Longa

Permanência: Reflexões sobre o tema” objetivou desvelar e compreender os fatores que

culminam com a fragilização e/ou rompimento dos vínculos familiares da pessoa idosa e

consequentemente sua institucionalização, através da Unidade de Abrigo do Idoso do Estado

do Ceará, tendo ainda como objetivos específicos observar a dinâmica da Instituição,

conhecer a percepção dos idosos entrevistados sobre a velhice e identificar os principais

motivos que os levaram para uma Instituição de Longa Permanência. Desta forma, esta

pesquisa teve abordagem qualitativa, realizando pesquisas bibliográficas, documental e de

campo, utilizou-se como técnica de coleta de dados visitas institucionais, observação simples,

entrevista semiestruturada, realizadas no mês de setembro de 2014. Os sujeitos da pesquisa

foram seis idosos usuários da Unidade de Abrigo da STDS Ceará. A estrutura desta

investigação está disposta em três capítulos. O primeiro aborda os aspectos metodológicos da

pesquisa. No segundo capítulo é apontado os idosos na sociedade contemporânea e no terceiro

e último capítulo é discutido sobre a institucionalização dos idosos. Como considerações

finais, foi observada a importância de se ampliar o diálogo sobre a institucionalização de

idosos, realizado na Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, ao perceber esse

processo na vida das pessoas como uma busca pela possibilidade de novas socializações,

contribuindo para que a unidade possa criar oportunidades para que os idosos

institucionalizados vençam barreiras impostas pela sociedade do capital, como o

fortalecimento de seus vínculos comunitários.

Palavras-chave: Idoso, Institucionalização e Família.

ABSTRACT

This study, entitled "The integration of the elderly in a Long Term Care Institutions:

Reflections on" aimed to unveil and understand the factors that culminate with the weakening

and / or breaking of family ties of the elderly and consequently its institutionalization through

unit of the State of Ceará Senior Haven, also taking specific objectives observe the dynamics

of the institution know the perception of the elderly respondents about old age and identify

the main reasons that led them to an institution of long-stay. Thus, this research was

qualitative approach, performing literature searches, documentary and field was used as a

technique for data collection institutional visits, simple observation, semi-structured

interview, conducted in September 2014. The research subjects were six seniors who are

members of the STDS Ceará Shelter Unit. The structure of this research is arranged in three

chapters. The first addresses the methodological aspects of research. In the second chapter, we

point the elderly in contemporary society and in the third, and finally the last chapter, we

discussed the institutionalization of the elderly. Lastly, we noted the importance of broaden a

dialogue on the institutionalization of the elderly, held in the Unit of the State of Ceará Senior

Haven, to realize this process in people's lives as a search for the possibility of further

socialization, contributing to the unit can create opportunities for institutionalized elderly

overcome barriers imposed by capitalist society, such as strengthening their community ties.

Keywords: elderly, Institutionalization and Family.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACEPI – Associação Cearense de Proteção ao Idoso

ABG – Associação Brasileira de Gerontologia

AD – Atividade Diária

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CAGES – Coordenadoria de Assistência á Grupos Especiais

CAPS – Caixa de Aposentadoria e Pensões

CEJA – Centro de Educação de Jovens e Adultos

CEME – Central de Medicamentos

COBAP - Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas

CRAS – Centro de Referência e Assistência Social

CREAS – Centro de Referência e Assistência Social

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CPSE - Coordenadoria da Proteção Social Especial

DATAPREV – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social

EI – Estatuto do Estado

EJA – Ensino de Jovens e Adultos

FAC – Faculdade Cearense

IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social

IAPS – Instituto de Aposentadoria e Pensões

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILPI – Instituições de Longa Permanência

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LBA – Legião Brasileira de Assistência

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

OMS – Organização Mundial de Saúde

MDS – Ministério de Desenvolvimento Social

MPE – Ministério Público Estadual

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostras em Domicílio

PNI – Política Nacional do Idoso

PNSI – Política Nacional de Saúde do Idoso

PSB – Proteção Social Básica

PSE – Proteção Social Especial

SEDUC – Secretária de Educação

SINPAS – Sistema Nacional de Assistência Social

SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

SCFV – Sistema de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

STDS – Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

RDC – Resolução Diretoria Colegiada

RMV – Renda Mensal Vitalícia

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ........................................................ 19

2.1 Aproximações com o objeto investigado e delimitação do campo de pesquisa ................. 19

2.2 Especificidades da pesquisa................................................................................................ 23

2.3. Breve perfil dos sujeitos da pesquisa ................................................................................. 27

3 OS IDOSOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ................................................... 32

3.1 Breve reflexões sobre os estereótipos atribuídos a velhice ................................................ 32

3.2 Os idosos no Brasil: marcos legais de defesa de sua cidadania.......................................... 35

3.3 Os idosos nas políticas públicas brasileiras: breve retrospectiva histórica ........................ 40

4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS .................................................................... 48

4.1 Pensando na relação família – Idoso na atualidade ............................................................ 48

4.2 A institucionalização de pessoa idosa ................................................................................ 51

4.3 A pesquisa de campo: o olhar do idoso institucionalizado na unidade de abrigo .............. 55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 66

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 70

APÊNDICES ........................................................................................................................... 76

14

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa, intitulada “A inserção de idosos em uma instituição de

longa permanência” busca conhecer os principais motivos que contribuem para o rompimento

de vínculos familiares e a institucionalização do idoso.

Diversas pesquisas apontam que o crescimento populacional do idoso, tornou-se

um fenômeno mundial, registrando mudanças em diversos âmbitos: sociais, culturais,

econômicos, institucionais, no sistema de valores e principalmente na configuração dos

arranjos familiares, segundo Camarano e Kanso (2010).

Conforme demonstra os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio

(PNAD), realizada no ano de 2011, a população cearense foi estimada em 8,671 milhões de

pessoas, tendo tido aumento de 1,91% em relação à mesma pesquisa realizada em 2009, que

estimou a mesma população em 8,503 milhões de habitantes. Diante desse crescimento, a

pesquisa aponta que o maior destaque ficou por conta da população de idosos representada

por 1,089 milhão de pessoas, ou seja, 12,6% da população do Estado, que coloca o Ceará na

5ª unidade da federação com maior percentual de pessoas com 60 anos ou mais.

De acordo com Ministério Público Estadual (MPE), a partir do Censo de 2010 a

população de idosos com 60 anos ou mais nos últimos dez anos aumentou 61% no Ceará.

Para o MPE o número de entidades de longa permanência existentes no Estado não é

compatível com a demanda da população, o que resulta em fragilização desse serviço e

superlotação. (IBGE, 2010).

Segundo o Seminário “Um olhar positivo para o envelhecimento” realizado no

Complexo das Comissões Técnicas da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará no dia

27/02/11, juntamente com a pesquisa diagnóstica sobre a situação do idoso no Estado do

Ceará que buscou traçar o perfil do idoso no estado, foi constatado que apesar do crescimento

dessa população seguir a tendência nacional o último estudo do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) que avalia as “Condições de funcionamento e estrutura das

Instituições de Longa Permanência para idosos (ILPIs) no Brasil”, elaborado nos anos de

2007 e 2008, constatou que no Ceará só havia 30 instituições de longa permanência para

idosos. Ressaltamos que nessa época havia 929 idosos institucionalizados, quando a

capacidade total dessas instituições era de no máximo 816 pessoas institucionalizadas.

(DIÁRIO DO NORDESTE, 27.05.2011).

15

Ainda conforme o IBGE (2010), essas 929 pessoas institucionalizadas

representavam 0,5% da população idosa estimada em 2007, que equivalia a 733mil pessoas.

Quatro anos depois, essa camada da população cresceu 45%, passando para 1,063 milhão de

pessoas institucionalizadas e a quantidade de instituições de longa permanência continua a

mesma. (DIÁRIO DO NORDESTE, 27.05.2011).

Como é possível perceber nas primeiras linhas dessa produção, a velhice é o tema

que se procura compreender. Busca-se entender como se dá tal processo na vida das pessoas e

de que forma estas lidam com essa etapa do ciclo vital. O interesse em conhecer as relações

existentes entre a velhice e os vínculos familiares que são travados no decorrer da existência

de cada um, foi o motivo para tomar a decisão em produzir esse trabalho acadêmico.

Pode-se dizer que a aproximação com o objeto da pesquisa se deu no sexto

semestre do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, a partir do momento de início da

disciplina de Gerontologia, que é uma disciplina que se debruça sobre este assunto. A

gerontologia “é a ciência que estuda de maneira multi e interdisciplinar o processo de

envelhecimento em suas dimensões biológica, psicológica e social”. (site: abgeronto, 2014).

Também se pode destacar que o contato maior com o objeto da pesquisa foi

através de uma visita proposta pela professora da disciplina supracitada (Mariana Aderaldo1)

a uma instituição de longa permanência localizada na cidade de Fortaleza-Ceará, na qual a

equipe deveria construir um artigo voltado para realidade vivida por esses idosos na

instituição. Esse primeiro contato se deu de forma encantadora, uma sensação maravilhosa ao

entrevistá-los, principalmente por ter a oportunidade de conhecer a trajetória de vida desses

sujeitos, mesmo que a narrativa não fosse marcada somente por alegrias, mas também pelo

abandono, violência doméstica, dentre outras amarguras.

Os idosos entrevistados durante essa visita foram os que fizeram questão de nos

receber e de partilhar conosco suas experiências de vida, alegrias e tristezas. Na fala de cada

um foi possível perceber um contraste de emoções, alguns calejados pela vida, sentiam prazer

em passar o resto de suas vidas ali, e ao serem perguntados por seus familiares ou entes

queridos, sempre achavam uma desculpa para justificar a ausência dos mesmos e a

1 Possui graduação em Assistente Social pela Universidade Estadual do Ceará (1980), especialização em Terapia

Familiar pela Universidade Federal do Ceará (1988) e mestrado em Saúde Pública pela Universidade Federal do

Ceará (2003). Atualmente é Assistente Social da Secretária de Saúde do Estado do Ceará. Tem experiência na

área de Serviço Social, com ênfase em Serviço Social Aplicado. Pesquisado em http://www.cnpq.br/web/lattes.

acessado em 30 de novembro de 2014.

16

permanência deles na instituição, enquanto outros sofriam com o abandono por parte de seus

familiares. Então, foi a partir desses relatos que foi despertado o interesse para a investigação.

As instituições de longa permanência são locais que acolhem pessoas idosas de

forma integral, podendo ser governamentais ou não governamentais. São determinadas pelo

caráter residencial, sendo destinadas as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, tendo

ou não amparo por parte de familiares. Essas instituições surgiram historicamente ligadas aos

abrigos, com propósito de atender pessoas em situação de pobreza, vulnerabilidade social,

problemas de saúde e os que vivem sem nenhum apoio por parte da família e da sociedade.

(Camarano e Kanso, 2004).

Percebe-se que o crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e no

Brasil as modificações ocorrem de forma radical e bastante acelerada. Estima-se que em 2020

o Brasil se torne o sexto país do mundo em número de idosos com um quantitativo superior a

30 milhões de pessoas. (VERAS, 2007), fato que gera novos desafios a serem enfrentados, a

exemplo da construção de políticas públicas que atendam a suas necessidades. Entre os novos

desafios acarretados pelo envelhecimento, pode-se perceber a dificuldade em garantir a

convivência dos idosos junto a seus familiares e a de manter sua integração junto à

comunidade. Segundo Carvalho (2003 apud Barbosa, 2012), o aspecto da individualidade

encontra-se no cerne da família moderna. Para a autora:

O problema da nossa época é, então, o de compatibilizar a individualidade e a

reciprocidade familiares. As pessoas querem ao mesmo tempo, a serem sós e a

“serem juntas”. Para isso tem que enfrentar a questão de que ao abrir espaço para a

individualidade, necessariamente se insinua uma ou outra concepção das relações

familiares (CARVALHO, 2003, p.43).

Assim, Simões (2009 apud Barbosa, 2012) reflete que essas mudanças podem

acarretar a fragilidade dos vínculos familiares e a consequente vulnerabilidade da família no

contexto social, gerando conflitos das mais diversas ordens.

As complicações que surgem em virtude da velhice, como as limitações físicas e

dependência para realizar algumas tarefas, culminam muitas vezes com a impossibilidade da

tomada de decisões provocando a dependência do idoso com seus familiares; esta

dependência muitas vezes não é compreendida nem aceita e que pode se transformar em

rejeição do idoso por parte de sua família, fragilização e/ou rompimento de seus vínculos

familiares e a consequente institucionalização. Seguindo o pensamento de Oliveira (2006)

Barbosa (2012), o autor aponta que “os principais motivos de admissão de idosos em asilos

17

são a falta de respaldo familiar relacionado a dificuldades financeiras, distúrbios de

comportamento e precariedade nas condições de saúde”.

Ainda, de acordo com Caldas (2002) “A família e os amigos são a primeira fonte

de cuidados. O maior indicador para o asilamento e outras formas de institucionalização de

longa duração entre os idosos é a falta de suporte familiar”. (CALDAS, 2002, p.51).

Esses motivos favorecem a institucionalização da pessoa idosa, contribuindo para

o afastamento do convívio com os seus e das relações historicamente construídas e acaba

forçado pela circunstância imposta a ter que construir novos vínculos, aprender a conviver em

outro espaço que não lhe pertence, ou seja, quando institucionalizado o idoso passa a ter que

reconstruir o seu cotidiano e essa construção nem sempre é fácil de ser realizada.

Para Bazo (1996) a velhice é uma construção social e sendo assim é invertida de

valores que muitas vezes a associam aos aspectos negativos como a incapacidade, a perda da

capacidade produtiva, da dificuldade da convivência familiar e comunitária; aspectos

utilizados como “justificativa” para que esses sujeitos sejam institucionalizados.

Dessa maneira a pesquisa teve como objetivo geral conhecer os fatores que

culminam na fragilização e/ou rompimento dos vínculos familiares da pessoa idosa e

consequentemente sua institucionalização, tendo como objetivos específicos observar a

dinâmica de uma instituição de longa permanência para idosos; conhecer a percepção dos

idosos entrevistados sobre a velhice e identificar os principais motivos que os levaram para

uma instituição de longa permanência.

A investigação foi realizada na Unidade de Abrigo do Idoso, localizada na rua

Olavo Bilac, n° 1280, no bairro São Gerardo, em Fortaleza-Ceará, que se constitui do único

abrigo público do referido Estado. Os sujeitos da pesquisa foram seis idosos, do sexo

masculino e feminino, residentes na instituição.

Inicialmente o propósito era entrevistar dez idosos, mas a partir de visita realizada

na instituição com o intuito de observar a rotina da instituição e de seus usuários e a partir da

conversa com duas assistentes sociais que trabalham no abrigo, fui informada que a

quantidade pretendida de usuários para conceder a entrevista (10 idosos) não seria viável, pelo

fato de muitos idosos que lá residem se encontrarem em condições de agravamento da saúde.

Assim, a assistente social sugeriu que fossem entrevistados seis usuários, sendo ela quem

escolheria os entrevistados, considerando o fato de conhecer o cotidiano dos idosos, o que

facilitaria a seleção daqueles com capacidade física e psicológica para participar da pesquisa.

18

A metodologia utilizada para a realização do trabalho foi de abordagem

qualitativa, através desta foi possível obter dados que permitiram uma compreensão maior

acerca do processo de institucionalização vivido por cada idoso, com isso houve a

oportunidade de conhecer as experiências de vida e os motivos que levaram estes idosos a

residirem em uma instituição de longa permanência. Também foi realizada a pesquisa

bibliográfica, documental e de campo. Como instrumentos para obtenção de dados foram

utilizados visitas institucionais, observação simples, técnica de gravação, roteiro de entrevista

previamente elaborado e entrevista semiestruturada.

Para tanto, esta produção acadêmica está estruturada em três capítulos, tratando o

primeiro dos aspectos metodológicos da pesquisa, no qual é apresentada a aproximação inicial

com o objeto de estudo, o campo estratégico da pesquisa, demonstrando brevemente o

histórico da Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará. Ainda nesse capítulo, são

abordadas as especificidades desta pesquisa e apresentado um breve perfil dos sujeitos da

pesquisa.

No segundo capítulo é feito o diálogo com autores que abordam sobre o tema

proposto, onde são apontados os idosos na sociedade contemporânea, são discutidas algumas

reflexões sobre os estereótipos atribuídos à velhice, em seguida é pontuada uma breve

retrospectiva histórica das políticas brasileiras relacionadas aos idosos ao longo dos anos, uma

exposição breve sobre os marcos legais de defesa de cidadania dos idosos no Brasil.

No terceiro capítulo, discute-se sobre a institucionalização de idosos, as principais

transformações que ocorreram na relação idoso x família na atualidade, é apontado de forma

sucinta, dados sobre inserção de idosos em uma instituição de longa permanência e, por fim,

apresentadas as percepções dos sujeitos da pesquisa, mediante o olhar dos mesmos na

Unidade de Abrigo do Estado do Ceará.

Espera-se que a presente investigação propicie reflexões sobre a

institucionalização de idosos, podendo trazer significativas contribuições como fonte de

informações para profissionais das mais diversas áreas, como também para os próprios idosos,

que possam se reconhecer como sujeitos de direitos a partir das leituras dessa produção

monográfica.

19

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Este capítulo fará uma aproximação do leitor com a trajetória metodológica

percorrida para concretização desta pesquisa. São apresentados os fatores que levaram a

delimitar o objeto dessa pesquisa, as especificidades que a envolvem e por fim é traçado um

breve perfil dos sujeitos dessa investigação acadêmica.

2.1 Aproximações com o objeto investigado e delimitação do campo de pesquisa

Estudos envolvendo o idoso sempre me despertaram atenção pelo fato de eu ter

um olhar sensível sobre a questão do envelhecimento, entendendo que esse não é um processo

novo para o indivíduo, mas sim um processo iniciado desde quando nascemos e que têm sua

“culminância” na velhice, fase ainda estigmatizada desse processo próprio aos seres humanos

e que muitas vezes esbarra-se no rompimento dos vínculos familiares desses sujeitos – que os

leva a serem institucionalizados.

A partir desta reflexão comecei a delimitar meu objeto de investigação,

pretendendo compreender os motivos que levaram alguns idosos a estarem em uma instituição

de longa permanência. Para tanto, formulei alguns questionamentos sobre a questão, que

foram: Será que idosos se encontram em uma instituição de longa permanência por escolha

própria ou será escolha de seus familiares? Os idosos institucionalizados se encontram

abandonados por seus familiares? Que fatores levam a institucionalização dos idosos em

instituições de longa permanência? Por querer entender como se dá esse processo na vida

desses sujeitos, é que me interessei em aprofundar meus conhecimentos em relação ao

universo da pessoa idosa institucionalizada.

Durante as visitas realizadas, por meio dos relatos dos idosos entrevistados pude

caminhar (mesmo que em pensamento) pelos degraus do envelhecimento que percorreram e

percebi trajetórias marcadas por conquistas, mas também por perdas, muitas ainda não

superadas por alguns. Dessa forma, escolhi a Unidade de Abrigo do Idoso, do Estado do

Ceará, para ser o meu campo de pesquisa, por também ter sido esse o campo que tive o

primeiro contato com a temática da investigação.

A entrada no campo da pesquisa ocorreu por meio de um ofício destinado a

Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), por se tratar de uma instituição

20

pública do governo do estado do Ceará, vinculada diretamente a Coordenadoria da Proteção

Social Especial (CPSE). O ofício foi entregue diretamente em mãos, ao coordenador do

Laboratório de Inclusão, Sr João Monteiro que foi informado a respeito do tema pretendido na

pesquisa, o objeto que seria estudado e também sobre o objetivo geral e os objetivos

específicos deste trabalho, sendo assim concedida a autorização para iniciar a pesquisa na

Unidade de Abrigo do Idoso. Logo em seguida entrei em contato por telefone com uma das

assistentes sociais da unidade, confirmando a autorização para iniciar a investigação.

Na primeira visita realizada como pesquisadora, fui bem recebida na instituição

pela Assistente Social e por outros funcionários da unidade, realizei uma breve apresentação

do tema proposto e dos objetivos que pretendia alcançar. A assistente social fez um relato

sobre a instituição, a rotina dos institucionalizados e os profissionais.

Meu primeiro contato com os idosos da instituição foi bem marcante, se deu com

os idosos que estavam em um espaço ao ar livre destinado as atividades educativas, local em

que ficam sob a responsabilidade de uma pedagoga e instrutores, realizando atividades como

desenhos e pinturas, há também visitas voluntárias de alguns estagiários da área da saúde que

interagem realizando pintura de unhas, corte e tintura de cabelo. Todas as atividades

desenvolvidas ao som de músicas, momento em que alguns interagem cantando e dançando.

Os idosos se mostraram bem receptivos a pesquisa. Alguns se dirigiam a mim

com abraços e elogios. Uma das idosas me abraçou forte e não queria mais me soltar, foi

exatamente nesse momento que pude perceber que mesmo cercada de várias pessoas que

fazem parte do seu cotidiano, a carência afetiva vivenciada por ela pedindo para que eu não

fosse embora logo e que ficasse ali com ela conversando. Fiquei bastante comovida com esse

gesto e senti um contraste de emoções, por anteriormente ter tido realizado visitas voluntárias

em outra instituição e por ter conhecido uma realidade diferente dessa que passei a conhecer

por meio de minha monografia.

Em uma conversa com uma Assistente social da Unidade de Abrigo, perguntei os

motivos que contribuem para que os idosos cheguem à instituição e como se dá o processo

para a sua integração na unidade. Nesse momento pude desconstruir a ideia que tinha em

relação à outra instituição e aos outros idosos que conheço, fiquei comovida com os relatos da

assistente social ao informar que muitos dos idosos institucionalizados chegaram ali por

motivos graves: abandono familiar, violência doméstica, idosos sem vínculo familiar, idosos

em situação de vulnerabilidade social, em situação de risco pessoal ou social e que a entrada

21

dos idosos na unidade é determinada por ordem judicial depois de denúncias feitas geralmente

por vizinhos, pessoas desconhecidas e/ou anônimas e ao Conselho do Idoso, um dos órgãos

responsáveis pela notificação da violência e pelo envio da denúncia ao Ministério Público.

Depois de todo o processo, a determinação da vaga para o idoso que sofreu algum

tipo de violência chega à instituição e mesmo com a determinação enviada pelo Ministério

Público, o Serviço Social inicia o processo de averiguação do caso, ou seja, realiza a

confirmação do histórico do idoso através de visitas, tentando identificar a possibilidade de o

idoso possuir algum familiar ou alguém conhecido que conheça a sua trajetória de vida com a

finalidade de que seja possível manter um entendimento melhor com a família ou responsável

e ser iniciado o processo de institucionalização e/ou reintegração desse idoso ao seio familiar.

Sobre a pesquisa de campo como já citado, foi realizada na Unidade de Abrigo do

Idoso localizada na Rua Olavo Bilac, nº 1280, no Bairro São Gerardo, Fortaleza - Ceará, é

uma unidade mantida pelo Governo do Estado e coordenada pela Secretaria de Trabalho e

Desenvolvimento Social (STDS).

A instituição foi criada em 10 de janeiro de 1936, atualmente a unidade de abrigo

do idoso do Estado do Ceará, oferece proteção integral em regime de abrigo provisório e/ou

permanente, desenvolvendo trabalho em consonância com a Resolução da Diretoria Colegiada

(RDC), emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e em conformidade

com o que preconiza o Estatuto do Idoso. A instituição funciona 24 horas e é vinculada

diretamente a Coordenadoria da Proteção Social Especial (CPSE), da STDS. (Unidade de

Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).

A Unidade de Abrigo tem em sua estrutura física duas alas destinadas aos idosos,

sendo uma das alas ocupada pelos idosos “dependentes”, que possuem capacidade física e

psicológica comprometida e a outra composta por idosos “independentes”, que possuem

algumas limitações, mas que são capazes de exercer suas atividades diárias (AD), como:

tomar banho, se alimentarem sozinhos, participar de atividades, dentre outras.

Atualmente a Unidade de Abrigo, acolhe exclusivamente pessoas idosas

abandonadas, sem vínculo familiar, em situação de risco ou vítimas de violência, prestando-

lhes atendimento integral sistemático, multiprofissional, com vistas ao seu desenvolvimento

biopsicossocial. A Unidade de Abrigo oferece proteção integral e cuidados para a preservação

da saúde física e emocional e seus direitos e garantias em locais adequados, visando garantir

vida e saúde a pessoas idosas em situação de vulnerabilidade social, de ambos os sexos,

22

permitindo um envelhecimento saudável e em condições de dignidade considerando os

dispositivos constitucionais, a Lei 8.742, de 07 de Dezembro de 1993, a Lei Orgânica de

Assistência Social (LOAS) e o Estatuto do Idoso, regulamentado pela Lei nº 10.741 de 01 de

Outubro de 2003. (Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).

Enquanto sua política geral parte do princípio de que é dever da família, da

sociedade e do Estado amparar idosos, assegurar sua participação na sociedade, defender a

dignidade e o bem-estar e garantir o direito à vida (conforme art. 230 da Constituição Federal,

88), cabendo à família do idoso prestar todo o cuidado necessário por ele demandado, como

previsto no Art. 299 da Constituição Brasileira “de que os filhos têm o dever de ajudar e

amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” e ao Estado cabe como previsto no

Estatuto do Idoso “garantir a pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação

de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável em condições de

dignidade”. (Art. 9º EI). (Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).

Além dos serviços prestados na instituição, é desenvolvido o Grupo de

Convivência São Judas Tadeu, integrante do projeto social voltado para idosos de baixa renda,

coordenado e executado pelo governo do estado, denominado “Projeto Convive”. A

instituição ainda mantém convênios com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará

(SEDUC) através da Educação de Jovens e Adultos (EJA), uma modalidade da educação

básica destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos no

tempo previsto. Dois idosos frequentam as aulas no período noturno, no Centro de Educação

de Jovens e Adultos (CEJA) – PAULO FREIRE, que fica ao lado da unidade de abrigo

(Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).

O acolhimento de idosos na instituição é mantido de acordo a Tipificação

Nacional de Serviços Socioassistenciais, ou seja, é previsto para idosos que não dispõem de

condições para permanecer com a família, com vivência de situações de violência e

negligência, em situação de rua e de abandono familiar, com vínculos fragilizados ou

rompidos. (Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).

Durante visita na instituição e ao buscar dados sobre a estrutura física da mesma,

foi informado pela assistente social que a parte administrativa está acomodada em três salas

(administração, serviço social e apoio administrativo), de forma improvisada, ocupando

espaço dos cômodos reservados aos idosos institucionalizados. O local reservado aos idosos é

divido em duas alas, a dos idosos “dependentes” (idosos com capacidade física e psicológica

23

comprometida) e a dos idosos “independentes” (possuem limitações, mas exercem suas

atividades diárias) somando ao total 24 quartos, dois desses destinados à fisioterapia e

enfermagem. Possuem ainda duas cozinhas, uma lavanderia, um roupeiro e um espaço ao ar

livre para realização de festas. No tocante aos recursos humanos a unidade é composta por

137 profissionais: 89 terceirizados e 48 funcionários públicos. Os idosos são atendidos por

uma equipe multidisciplinar composta por seis assistentes sociais, seis fisioterapeutas, três

médicos, um dentista, oito enfermeiros, três pedagogas e 23 instrutores educacionais.

De acordo com a coordenação da instituição, o Serviço Social é responsável pela

admissão do idoso na instituição, realizando atendimento individual aos usuários e aos seus

familiares e amigos. Na unidade de Abrigo encontram-se atualmente 110 idosos, 48 mulheres

e 52 homens, porém sua capacidade de atendimento é de 99 idosos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG):

As ILPIs são estabelecimentos para atendimento integral institucional, cujo público

alvo são as pessoas de 60anos ou mais, dependentes ou independentes, que não

dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicílio. Essas

instituições, conhecidas por denominações diversas – abrigo, asilo, lar, casa de

repouso, clínica geriátrica e ancionato – devem proporcionar serviços na área social,

médica, de psicologia, de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia

e em outras áreas conforme necessidade desse segmento etário.

As Instituições de Longa Permanência são situadas de acordo com a Tipificação

Nacional de Serviços Socioassistências na alta complexidade. As políticas de cuidados de

longa duração para idosos no Brasil são situadas na Proteção Social Especial (PSE),

determinando o atendimento aos idosos e as famílias que se estão em situação de risco social,

desabrigados ou com seus direitos básicos ameaçados, inclusive vida e moradia. (MDS, 2009)

No Brasil, segundo Camarano e Leitão (2010, p.71) “As políticas de cuidados de

longa duração são de responsabilidade do órgão da Assistência Social, cabendo à vigilância

sanitária, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o papel de

fiscalizar as entidades que cuidam de idosos”, ou seja, mesmo ofertando um serviço da

política de assistência social situado na alta complexidade, as instituições de longa

permanência precisam seguir as orientações da Vigilância Sanitária a quem também compete

a sua fiscalização.

24

2.2 Especificidades da pesquisa

Para concretização desta pesquisa foi utilizada a abordagem qualitativa, com a

pretensão de partir da subjetividade dos sujeitos entrevistados, realizar uma reflexão sobre o

cotidiano dos idosos que se encontram institucionalizados na Unidade de Abrigo da STDS

Ceará, campo dessa investigação.

A escolha por essa abordagem surgiu pelo fato de facilitar a compreensão do

processo pelo qual as pessoas constroem e descrevem significados para suas vidas. Para

Minayo (2010, p.22) “a abordagem qualitativa se aprofunda no mundo dos significados. Esse

nível de realidade não é visível, precisa ser exposta e interpretada, em primeira instância,

pelos próprios pesquisados”. Segundo a autora, a pesquisa qualitativa propicia ao pesquisador

a interpretação da realidade social, pelo fato de:

A pesquisa qualitativa responde á questões muito particulares. Ela se ocupa, nas

ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser

quantificado. Ou, seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos,

das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos

humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se

distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações

dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (Minayo,

2010, p.24)

Seguindo a abordagem qualitativa, foram utilizadas as pesquisas: bibliográfica,

documental e de campo. Para obtenção de dados: visitas institucionais, observação simples,

roteiro de entrevista previamente elaborado, entrevista semiestruturada e técnica de gravação;

autorizadas pelos sujeitos da pesquisa por meio do termo de consentimento livre e

esclarecido.

Como passo inicial para construção e desenvolvimento da investigação, foi

utilizada a pesquisa bibliográfica, compreendida não como mera repetição do que já foi dito

ou escrito sobre certo assunto, mas como pesquisa que proporciona exame de um tema sob

novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras (MARCONI & LAKATOS, 1993).

Segundo Gil (2007, p.44), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de

material já elaborado, principalmente de livros e artigos científicos. Por meio dessa pesquisa

tenta-se explicar um problema a partir de referências teóricas, possibilitando a análise através

de comparações de várias posições acerca do problema. A pesquisa bibliográfica possibilitou

o acerco a bibliografias relacionadas à discussão da velhice e institucionalização de idosos no

25

Brasil, que subsidiaram teoricamente as discussões contidas nessa produção. Vale ressaltar

que o material da disciplina de Gerontologia cursada no 6º semestre foi importante fonte para

referências, por isso é importante registrar a relevância dessa disciplina para a formação do

aluno do Curso de Serviço Social.

De acordo com Gil (2008), a pesquisa documental guarda estreitas semelhanças

com a pesquisa bibliográfica. A principal diferença é a natureza das fontes: na pesquisa

bibliográfica os assuntos abordados recebem contribuições de diversos autores; na pesquisa

documental, os materiais utilizados geralmente não receberam ainda um tratamento analítico

(por exemplo, documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e privados: cartas

pessoais, fotografias, filmes, gravações, diários, memorandos, ofícios, atas de reunião,

boletins, etc). Assim, as principais fontes documentais utilizadas nesse trabalho foram: o

Histórico da Unidade de Abrigo, um guia de análise institucional elaborado por uma ex-

estagiária, dentre outros.

Além da pesquisa bibliográfica e documental, utilizou-se a pesquisa de campo,

realizada na Unidade de Abrigo da STDS, situada no bairro São Gerardo, em Fortaleza-Ceará,

conforme anteriormente mencionado. Na pesquisa de campo, buscou-se uma aproximação

gradual com pessoas que contribuíram com a problemática estudada, com isso foi possível

que a proposta de estudo fosse efetivada partindo da realidade existente no campo, não

conseguindo apenas uma aproximação com o objeto estudado, mas construindo um

conhecimento específico do objeto estudado, tendo sempre consciência que nem tudo o que

foi encontrado serviu para confirmar um conhecimento predefinido, pelo contrário, o campo

de pesquisa foi utilizado como espaço de possibilidade para novas revelações. Para Minayo

(2010) o trabalho de campo é fruto de um momento relacional e prático: as inquietações que

levam ao desenvolvimento de uma pesquisa nascem no universo do cotidiano.

Para realização da pesquisa de campo inicialmente foi realizado o envio do ofício

da Faculdade Cearense à STDS Ceará, para autorização da pesquisa, as visitas institucionais

foram iniciadas após autorização. As visitas tiveram o intuito de manter um contato melhor

não só com os entrevistados, mas também com os profissionais. Objetivando conhecer a

rotina geral da instituição foi criado um ambiente favorável com os institucionalizados e

assim obter um melhor desenvolvimento nas entrevistas. Ao todo foram realizadas dez visitas,

entre os meses de setembro a novembro de 2014.

26

Durante as visitas foi aplicada a técnica da observação simples, tendo a

possibilidade de procurar apreender a individualidade dos idosos, obtendo elementos que

colaboraram para retratar a visão que eles tinham de si mesmos, contribuindo também para a

definição dos problemas da pesquisa que facilitam na obtenção de dados do cotidiano dos

sujeitos envolvidos e através deste tipo de observação foi possível obter informações sobre o

dia-a-dia dos idosos, como eles se relacionam e qual a sua rotina na instituição. A utilização

da técnica pode ser justificada pelo fato do pesquisador “identificar e obter provas a respeito

de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu

comportamento” (MARCONI; LAKATOS, 1996, p.79). A observação proporcionou a

vivência que somente o pesquisador poderá ter, tornando o momento da pesquisa único.

Além da observação simples ocorrida durante as visitas institucionais aplicou-se a

entrevista semiestruturada, utilizando um roteiro composto por questões abertas e fechadas,

possibilitando maior flexibilidade na operacionalização da técnica. Segundo Minayo (2010), a

entrevista “é uma conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer

informações pertinentes a um objeto de pesquisa”. Por meio da entrevista semiestruturada

surgiu a oportunidade de conhecer melhor a realidade vivida por cada entrevistado, criando

possibilidades de uma interação maior com os mesmos e assim ter um resultado melhor do

tema proposto. Ainda segundo a autora, a entrevista semiestruturada é o procedimento mais

usual no trabalho de campo, pois com sua aplicação o pesquisador procura obter informações

pertinentes aos atores sociais e estes fatos que reforçam a escolha por tal abordagem.

As entrevistas foram aplicadas com seis idosos da Unidade de Abrigo no período

de 22 a 29 de setembro de 2014.

As falas dos entrevistados foram gravadas, as gravações foram autorizadas pelos

mesmos. Como critério de seleção para a entrevista foram escolhidos idosos com faixa etária

menor e maior, com condições físicas e psicológicas para participar e idosos que tivessem

menor e maior tempo de institucionalização. Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido para autorização das entrevistas, conforme já informado. No tópico seguinte, será

apresentado um breve perfil dos sujeitos envolvidos na pesquisa, com destaque para análise

realizada a partir das entrevistas.

27

2.3 Breve perfil dos sujeitos da pesquisa

Para que as entrevistas fossem iniciadas foi realizada uma breve apresentação

sobre o tema proposto aos possíveis entrevistados dando ênfase aos objetivos pretendidos.

Após a explanação alguns aceitaram participar e outros demonstraram desconfiança por

acharem que a entrevista iria comprometê-los de alguma forma. Por esta razão foi explicado

mais uma vez, detalhadamente, que se tratava de uma pesquisa acadêmica e haveria total

sigilo sobre as informações, suas identidades seriam preservadas, os relatos obtidos seriam

utilizados para fins científicos e a qualquer momento em que não se sentissem confortáveis

poderiam deixar de participar.

Depois dos devidos esclarecimentos, foi percebida a confiança dos participantes

em relação à pesquisa, podendo notar o quanto isso faz diferença ao tentar realizar uma

entrevista. Foi lido aos sujeitos da pesquisa o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(em anexo) e perguntado aos mesmos sobre a possibilidade das entrevistas serem gravadas.

Cientes dos procedimentos científicos, todos concordaram com as condições expostas, alguns

assinaram o termo e outros concederam verbalmente por não serem alfabetizados. Como

instrumento para coleta de informações foi utilizada uma entrevista semiestruturada

possibilitando uma melhor abordagem do tema proposto, foi utilizado também um roteiro de

entrevista previamente elaborado com perguntas abertas e fechadas.

As entrevistas foram realizadas em dois momentos, nos dias 22 e 29 de setembro

de 2014, sendo selecionados três mulheres e três homens, com idade entre 60 e 85 anos. As

informações foram todas coletadas no período da tarde por perceber que nesse turno havia

uma maior disponibilidade de comunicação por parte dos idosos. As visitas na instituição

foram realizadas pela manhã para ampliar a visão sobre a rotina dos usuários. Foi observado

que neste período é realizada a limpeza e a arrumação do quarto dos idosos pelos funcionários

da instituição, momento esse em que os idosos realizam suas atividades diárias: banho, café

da manhã, uso das medicações, fisioterapia e atividades educativas como desenho e pinturas.

As idas ao campo foram realizadas com uma maior intensidade, depois da

construção inicial do primeiro capitulo, entre duas e três vezes por semana. À medida que os

dados eram obtidos, através das observações e entrevistas, sobrava um tempo maior para que

fossem realizadas as transcrições das entrevistas e suas análises.

28

Através das entrevistas e do roteiro de perguntas foi possível construir o perfil dos

sujeitos da pesquisa. Este momento foi muito gratificante, estar ao lado dos idosos mesmo que

por alguns minutos poder adentrar seu universo e vivenciar através de seus relatos um pouco

das histórias vivenciadas por cada um dos entrevistados foi compensador.

Em cada relato dado pelos idosos, a sensação era a de voltar no tempo juntamente

com eles, pois eram feitos com tanto sentimento e tanta emoção, que apesar de estarem

dividindo momentos bons e ruins vividos ao longo da vida, era um privilégio poder fazer

parte destas histórias, mesmo que por alguns minutos. As histórias contadas por cada um

oscilavam entre risos e choros, transbordavam emoções: alegria, medo, raiva, solidão,

impotência em relação à condição atual e o sentimento de abandono e saudades foram os mais

evidenciados nas entrevistas.

A cada entrevistado recebeu um nome, porém não foi uma escolha aleatória, pois

não era a intenção identificá-los com algo que não os representasse ou não tivesse algum

significado. Através do perfil traçado de cada um em relação à sua história de vida, a decisão

foi identificá-los por nomes de pedras preciosas, dada a sua importância, raridade, riqueza e

valor, podendo a pessoa idosa ser identificada também através destas qualidades, através do

conhecimento construído por eles em toda a sua vida, a riqueza de sabedoria que é passada a

cada geração, através da cultura e costumes, a raridade por viver um momento único em suas

vidas e, por último, o sentimento captado durante as entrevistas e o que deixaram

transparecer, o devido valor que essas pessoas deveriam ter na sociedade e que não tem.

Diante do exposto, a escolha por investigar o universo do idoso institucionalizado

foi delicadamente pensada, de forma que pudesse contribuir para o processo de valorização

das mesmas por se tratar de pessoas que viveram tanto, construíram vínculos e que atualmente

encontram-se institucionalizadas, vivendo alegrias e angústias do passado.

Os codinomes de acordo com os entrevistados, três homens e três mulheres, são

os seguintes: Ônix, Diamante, Rubi, Esmeralda, Pérola e Safira.

O primeiro dos entrevistados foi Ônix, de 65 anos, sexo masculino, solteiro,

ensino fundamental em conclusão (ele é um dos idosos que frequenta o CEJA), natural do

interior do Estado, mas já morava em Fortaleza antes de ir para o abrigo, têm dois filhos,

trabalhava como vendedor ambulante, mas atualmente recebe o Benefício de Prestação

Continuada (BPC) e foi encaminhado ao abrigo por meio do Ministério Público. Segundo ele:

“eu trabalhava por conta própria era vendedor ambulante, adoeci num tive condição de

29

trabalhar, então eu fui no Ministério Público consegui uma vaga aqui pra mim vim ficar aqui,

eu mesmo fui no Ministério Público”. Ao ser perguntado se recebia visitas, Ônix comenta:

“nunca recebi até hoje, nem quando eu morei oito anos no Lar Torres de Melo nunca recebi

visita de ninguém da minha família”.

O segundo entrevistado foi Diamante, de 60 anos, sexo masculino, solteiro, não

alfabetizado, natural do interior do Estado, porém mora em Fortaleza desde sua infância, não

possui filhos e nunca exerceu atividade remunerada, recebe o Benefício de Prestação

Continuada (BPC). O senhor Diamante, afirma que:

Me trouxeram pra cá, porque perdi meu pai, perdi minha mãe, [...] Desde 08 de abril

de 1970, todo mundo se admira, eu sou o mais velho aqui (refere-se ao tempo de

institucionalização) eu tava no outro setor, é porque aqui tá em reforma. Recebi

visita dos irmãos que moram em Sobral.

Rubi foi o terceiro entrevistado, 74 anos, também natural do interior do Estado,

sexo masculino, viúvo, não concluiu o ensino fundamental, têm quatro filhos, sempre

trabalhou como caminhoneiro, está na Instituição há quatro anos e também recebe o Benefício

de Prestação Continuada (BPC). Conforme sua narrativa afirma da seguinte maneira o motivo

que o trouxe a instituição: “É porque eu fiquei acidentado e não trabalhava mais, vivia só na

rua só no que não prestava, jogando carteado e fumando”. Ao ser indagado se recebia visitas,

ele fez a seguinte afirmação: “Rapaz, receber num recebo não! As visita é vocês!”.

Esmeralda, quarta entrevistada, 85 anos, dois filhos já falecidos, viúva, sempre

trabalhou como auxiliar de produção, aposentada por tempo de serviço, não alfabetizada,

quatro meses de instituição. Ao relatar o motivo que a trouxe à instituição, ela comenta:

Doença, eu adoeci porque meu filho morreu [...] morava sozinha mais Deus”. “As

vizinha mim ajudaram, foi que um dia eu fiquei sem nada, ai eu contei pra elas, ai

foi eu mais tudim lá! Troxeram pra cá. Mais eu num queria ficar aqui não, queria

ficar na minha casa”.

Sobre as visitas recebidas, deu a seguinte afirmação: “Recebo das minha sobrinha,

das minha cumadre, pouco porque minha família já morreram quase tudo”. (As sobrinhas e

comadres referidas são vizinhas que a ajudavam quando ela morava sozinha - grifo do autor)

A quinta entrevistada foi a senhora Pérola, 60 anos, natural de Fortaleza, sem

filhos, ensino fundamental incompleto, não exerceu atividade remunerada, atualmente recebe

o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Relatando sobre sua vinda a instituição

demonstrou certa desmotivação: “Vim pra cá porque era o jeito, não tinha ninguém, não tinha

30

outro canto pra eu ir”. Perguntada por visitas, demonstrou tristeza e falou: “Às vezes eu tenho

visitas, tenho companhia da Dona A, S e M” (moradoras da unidade de abrigo).

A última entrevistada foi a senhora Safira, tem 78 anos, natural do interior do

Estado, veio com a família morar em Fortaleza desde a infância, viúva, têm dois filhos, não

alfabetizada, nunca teve vínculos empregatícios, recebe o Benefício de Prestação Continuada

(BPC). Ela relata sua vinda à instituição:

Ele queria que eu fosse tirar dinheiro pra ele (refere-se a um dos netos) se eu não

fosse ele mim mataria [...] Ai eu tomei o conselho da mulher, quando a polícia

chegou, ela disse olha: essa senhora tá perdida num sabe onde ir, num sabe a casa

dela, ai eu disse que queria vi pra cá, ai me troxeram.

Em relação às visitas ela diz: “Recebo dos meu neto, dos meus fí e dos meus

familiares, né! Eles vem me visitar por quinzena”.

Diante de todas as informações pode-se concluir que os idosos participantes da

pesquisa possuem entre 60 e 85 anos, sendo três mulheres e três homens, somando o total de

seis idosos, todos viviam em situação de vulnerabilidade social, com baixo nível de

escolaridade, dos seis entrevistados, apenas metade recebe visitas, cinco recebem o BPC e

apenas um teve vínculo empregatício e recebe aposentadoria.

31

3 OS IDOSOS NA SOCIEDADE CONTEMPORANEA

Este capítulo tem como propósito apresentar algumas discussões sobre os idosos

na atualidade, ou seja, refletir sobre o conceito de velhice e como ocorre a garantia dos

direitos da pessoa idosa na atualidade.

3.1 Breve reflexão sobre os estereótipos atribuídos a velhice

Ao pensar em velhice, logo vem à mente aquela etapa repleta de limitações

físicas, sociais e econômicas, ou seja, a fase final na vida de uma pessoa. No entanto, faz-se

de suma importância fazermos uma reflexão a respeito do processo de envelhecimento e suas

consequências, principalmente pelo aumento considerável da população idosa no Brasil e no

mundo, conforme dados apontados no capítulo anterior.

Segundo Ramos (2002) a velhice é um direito do ser humano. Para o autor:

A longevidade foi uma conquista e uma vitória do ser humano. Mas o surpreendente

é que depois de alcançar a possibilidade de uma vida longa (os homens viverão

100,120 anos) a sociedade não sabe o que fazer com os velhos. A velhice parece que

pode ser considerada uma vitória com sabor de fracasso. Todos querem viver muito,

ninguém quer ser velho. [...] Por que rejeitamos essa etapa da vida? Uma das

explicações, entre tantas outras que podem ser dadas, é que a velhice é excludente, e

portanto, sem significado, sem lugar. [...] Os velhos são sábios ou são um peso? São

eles um peso ou é a sociedade que torna pesada a vida dos que envelhecem? A

velhice tornou-se um problema social (RAMOS, 2002, p.7)

A velhice por vezes é percebida apenas pelo ponto de vista biológico e sob essa

ótica está associada ao desgaste natural do organismo, a exemplo das limitações físicas

(Caldas, 2002). Porém é importante mencionar que não podemos compreender a velhice

apenas relacionada ao aspecto biológico, mas também estando associada à aspectos

cronológicos, psicológicos e sociais.

Para Uchôa (2002) o envelhecimento é vivido de modo diferente de um indivíduo

para o outro e de uma sociedade para outra. Não se pode homogeneizar o envelhecimento,

pois cada pessoa o vivenciará de forma diferenciada, a depender da relação entre os aspectos

mencionados acima, embora historicamente não seja a visão da velhice que fora construída ao

longo dos tempos.

Pensando assim e analisando como a velhice vem sendo percebida ao longo dos

períodos históricos, pode-se reportar ao pensamento de Debert (1999 apud Schneider e

32

Irigaray, 2008) quando este afirma que a velhice foi tratada a partir da segunda metade do

século XIX como uma etapa da vida caracterizada pela dependência e pela ausência de papéis

sociais. É fato que o século XIX foi o período da história marcado pela ascensão do

capitalismo, regime caracterizado pela exploração do trabalho, que por sua vez demanda

indivíduos capazes de gerar lucro para o capital e assim a velhice passa a ser relacionada à

condição de incapacidade para produzir e gerar lucro. Essa ascensão do capital, seguindo a

visão liberal, prega indivíduos que por si devem garantir sua própria sobrevivência sendo

amparados pelo Estado, via políticas sociais, apenas nos casos de incapacidade, ou seja,

apenas para aqueles excluídos socialmente – os velhos, as crianças e as pessoas com

deficiência (Behring e Boschetti, 2011).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o termo idoso para países em

desenvolvimento, a exemplo do Brasil, como o indivíduo com 60 anos ou mais; nos países

desenvolvidos como o indivíduo com 65 anos ou mais. Este ser idoso resulta do processo de

desenvolvimento individual durante o percurso de sua vida, passando a ser considerado um

ser de espaço e tempo, o que leva a refletir que nessa idade cronológica são levadas em

consideração as condições socioeconômicas e ambientais que os sujeitos estão inseridos e por

isso não há idade padrão estabelecido a nível mundial, cada país adota/estabelece seu

parâmetro; fatos que levam a sociedade contemporânea a ter diferenciadas formas de perceber

o conceito de velho.

Para Zimerman (2000, p.19), “Velho é aquele que tem diversas idades: a idade do

seu corpo, da sua história genética, da sua parte psicológica e da sua ligação com a

sociedade”. Analisando a sociedade brasileira, Oliveira (1999 apud Scortegagna e Oliveira,

2012) reflete que grande parte da população idosa sofre com estereótipos da velhice

associados aos problemas sociais, pois é considerável a parcela da população brasileira que é

vitimada pelo desemprego, pela ausência ou precariedade das condições de saúde, sendo tais

fatos associados a estereótipos da velhice que agravam ainda mais a visão dos idosos na

sociedade, mais ainda se esses forem oriundos das camadas mais vulnerabilizadas da

sociedade uma vez que o “estatuto da velhice é imposto ao ser humano pela sociedade à qual

pertence, sendo influenciado pelos valores culturais, sociais, econômicos e psicológicos de

uma sociedade que determina o papel e o status ‟ que o velho terá” (SILVA, 2003, p. 96).

Se a sociedade capitalista atual for observada, antes de sermos considerados

sujeitos, somos tidos como consumidores. E consumir trás consigo sempre a busca pelo novo,

33

pelo atual, pelo que está na moda. Essa visão de que o novo é aquilo que faz na sociedade

capitalista também se aplica a relações humanas, incluindo as relações intergeracionais.

Segundo Mascaro (2004), as representações sociais da velhice surgem na ordem

do capital associadas à dependência, doença, improdutividade e solidão, características que

contribuem para resistências e rejeições da velhice por parte dos idosos, muitos passam a não

querer ser tratados ou chamados de velhos por ser um conceito associado à exclusão, uma vez

que essas estão recheadas de preconceito.

Isso representa que em uma sociedade capitalista, que busca sempre a produção e

o lucro, a pessoa idosa passa a ser excluída por não produzir mais com a mesma eficácia de

antes, esta diminui ou perde sua capacidade de gerar lucro para o capital, e como afirma

Negreiros [...] A marginalidade e o desprezo estão vinculados à não produtividade de um

regime capitalista cruel, que vê os aposentados como inúteis e um fardo para a sociedade.

(NEGREIROS, 2003, p. 215).

No caso dos idosos pertencentes aos extratos mais vulnerabilizados da sociedade

o fato agrava-se se observado que grande parcela destes não é beneficiária da Previdência

Social (aposentados), requerendo auxílio financeiro da política de assistência social para

garantir a sua sobrevivência, como é o caso do Benefício de Prestação Continuada – BPC.

Com isso a aposentadoria ou o BPC, no caso dos segmentos mais vulnerabilizados

da sociedade, passa a ser a única fonte renda para grande parcela de idosos, sendo eles, em

algumas das vezes, os principais provedores de seus lares dados à situação conjuntural de

desemprego, ou seja, os idosos passam, em muitos casos a serem aqueles que sustentam suas

famílias, o que não significa dizer que isso resulta em esses terem seu lugar garantido nas

decisões familiares, pois muitas vezes suas decisões e opiniões não são levadas em

consideração, embora sejam esses os mantenedores financeiros de muitos lares.

Para Ramos (2002):

Ao se identificar a velhice como fenômeno social associou-se imediatamente a ela a

noção de decadência. Em razão disso, o Estado, a sociedade e a família não foram

capazes de tratá-la como questão social relevante [...] fundada na ideia somente de

filantropia e piedade. Tal percepção decorreu, dentre outros fatores, da visão

consoante a qual os velhos tinham pouco ou nenhuma utilidade na produção e

reprodução de riqueza. [...] pode-se afirmar que nenhuma sociedade tem a

capacidade de pensar além das gerações que a compõem. [...] a velhice como etapa

última da existência tem dificuldade de ser vista de forma positiva. [...] Superada a

fase da utilidade, o homem ficava à mercê da própria sorte. Essa condição só poderia

atrair para si signos negativos, portanto desvalor. (RAMOS, 2002, p.17-19)

34

Na sociedade capitalista os papéis sociais vivenciados pelos idosos são apagados

ou desconsiderados. Pode-se dizer que na maioria das vezes, já não importa o lugar que

ocuparam no mercado de trabalho (se foram operários da construção civil, comerciários,

médicos ou engenheiros), os papéis que desempenharam nas relações familiares (sejam esses

considerados padrões para a sociedade ou não) são por vezes colocados de lado (Scortegagna

e Oliveira, 2012), fatores esses que acabam contribuindo para a fragilização e/ou rompimento

dos vínculos familiares.

Ao idoso já não cabem às decisões familiares e pessoais, passando alguém a

desempenhar esse papel. Todos esses fatores e outros tantos mais que aqui não serão

elencados, validam e fortalecem a visão excludente do idoso, recheada de discriminações,

motivadas principalmente por fatores econômicos pelo fato dessas pessoas não serem

considerados capazes de garantir o seu próprio sustento ou mesmo gestar suas rendas.

Tentar entender e delimitar a velhice através de conceitos é algo complicado de

descrever, ao abordar esse conceito é legítimo deparar com uma diversidade de definições

relacionadas ao termo. Assim pode-se concluir que o envelhecimento é um conceito com

várias dimensões, podendo ser determinado dentro de diversos aspectos, sejam eles:

biológicos, cronológicos, econômicos ou sociais - uma vez que esse processo inicia a partir do

momento do nascimento, ou seja, a cada dia, a cada minuto somos mais velhos. Entretanto, a

visão da sociedade capitalista sobre a velhice como parte desse processo de envelhecimento

carrega consigo estereótipos e preconceitos por estarem associadas à perda ou diminuição da

capacidade laboral, que por sua vez não gera mais lucro para o capital e essa é visão

reproduzida nas relações de trabalho e nas relações humanas, o que é velho deve dar espaço

para o novo considerado o oxigênio motivador da sociedade do capital.

No próximo tópico, um breve histórico dos marcos de defesa de cidadania do

idoso no Brasil.

3.2 Os idosos no Brasil: Marcos legais de defesa de sua cidadania.

A Constituição de 1988, como Carta Magna do país, inaugura uma série de

direitos de cidadania e abre caminho para que marcos legais específicos, a partir de então,

serem elaborados, levando em consideração a diversidade e especificidade dos segmentos

35

sociais e com a população idosa não foi diferente, sendo considerada um divisor de águas,

conforme reflete Camarano e Pasinato (2004)

Anterior a atual Carta Magna (1988) do Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980,

percebe-se a presença de movimentos dos idosos na luta pela cidadania e efetivação de

direitos que começaram a se multiplicar em todo o Brasil, sendo destaque a presença de

representações da sociedade civil organizada, dentre elas a Associação Nacional de

Gerontologia, a Sociedade Brasileira de Gerontologia e Geriatria (SBGG) e a Associação

Cearense de Proteção ao Idoso (ACEPI). Para Camarano (2004), a incorporação das questões

relacionadas ao envelhecimento da população nas políticas do Brasil não foi dada

gratuitamente para a população, sendo fruto de pressões dessa sociedade civil organizada, a

exemplo das instituições citadas.

Saindo de um período de repressões e desconstrução dos direitos representados

pela Ditadura Militar (1964-1985), o Brasil passa a construir uma agenda de direitos,

consolidados pela Constituição Federal de 1988, porém entra contraditoriamente a partir da

década de 1990, um cenário marcado por nova desconstrução, a partir da adoção das medidas

neoliberais defendidas pelos Governos Collor (1990-1992) e de Fernando Henrique Cardoso

(1995-2002). (Behring e Boschetti, 2011).

Mesmo envolto ao cenário neoliberal, na década de 1990, existem importantes

marcos legais de garantia dos direitos, onde destaca-se inicialmente a Lei Orgânica da

Assistência (LOAS) - lei nº 8.742/1993, que regulamentou os artigos 203 e 204 da

Constituição Federal, estabelecendo normas e critérios para a organização da política de

Assistência Social, passando a ser direito do cidadão e dever do Estado. Conforme a LOAS:

assistência é direito do cidadão e dever do Estado, é política de Seguridade Social

não contributiva, que prevê mínimos sociais, realizada por meio de um conjunto

integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento

às necessidades básicas (BRASIL, 2003).

O direito a assistência social é garantido pelo conjunto integral de ações de

iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, que também são destinadas a assistência social

segurar outros direitos, como a saúde e a previdência social com a criação de instituições

responsáveis pelo atendimento à população (PNAS, 2004), prevendo a lei 8.742/93 “a

garantia de um salário mínimo de benefício mensal, à pessoa portadora de deficiência e ao

idoso que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida

36

para sua família”, que é conhecido como Benefício de Prestação Continuada - BPC.

(BRASIL, 2001)

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) foi regulamentado pela Lei Orgânica

da Assistência Social (LOAS), sendo um benefício individual, não vitalício e intransferível,

integrando a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social

(SUAS), sendo um direito de cidadania assegurado pela proteção social não contributiva da

Seguridade Social, garantindo a transferência mensal de um salário mínimo ao idoso que para

ter acesso ao benefício não é necessário que o mesmo já tenha contribuído para a Previdência

Social (MDS, 2009). Ainda de acordo com Ministério de Desenvolvimento Social, o

benefício é destinado aos cidadãos que se enquadrarem nos seguintes critérios: possuir 65

anos ou mais e as pessoas com deficiência incapacitadas de realizar atividades laborais. Sendo

de competência do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e ao Instituto Nacional do

Seguro Social (INSS), a sua operacionalização.

Sobre o BPC, Gomes (2011), reflete que esse benefício iniciou a adoção do

padrão de acesso a assistência social como direito previsto pela Constituição Federal,

rompendo com a perspectiva que essa trazia quando o acesso a benefícios não possuía regras

claras sobre seu acesso. Mas é preciso pensar que se por um lado o BPC se alicerça em

critérios para sua concessão e que foram pontuados acima, por outro esses critérios são

restritos a variáveis como incapacidade, idade e miséria, não possuindo assim caráter

universal, alcançando apenas aqueles que vivem abaixo da linha de indigência, ou seja,

apenas quem os acessam são os mais pobres dentre os pobres e que precisam provar para o

Estado que necessitam desse como fonte de sobrevivência. Por tudo isso, concorda-se com a

autora quando ela pontua que o BPC “é um direito que, na sua materialização, apresenta-se

aprisionado, contido, encerrado pelos imperativos do comando da ideologia neoliberal”.

(Gomes, 2001, p. 216)

Contemplando essa reflexão, Silva (2006) apud Rocha (2008) diz que o grau de

seletividade existente na LOAS faz com que muitos idosos não sejam incluídos nesse

benefício, seja por estarem fora do patamar da pobreza ou da faixa etária estipulados pelos

critérios da lei (65 anos), influenciados por fatores, como: falta de acesso aos documentos

exigidos ou por não se encontrarem na condição de “incapazes para o trabalho.”

Em tempos neoliberais de políticas seletivas e focalizadas uma questão importante

a ser mencionada é que o BPC acaba sendo a única fonte de renda de muitas famílias

37

brasileiras, que vitimadas pelo desemprego, pelas condições de miséria, acabam tendo o idoso

como o chefe da família e sendo esse benefício muitas vezes à única fonte de renda fixa da

família, motivos esses que também corroboram com o perfil dos idosos entrevistados,

distorcendo assim seu objetivo que é garantir as condições de sobrevivência do idoso e da

pessoa com deficiência; distorção essa pensada por Pereira (1998, p. 65).

[...] o rigoroso critério de elegibilidade associado à inexistência de articulação com

outros programas e serviços, acaba por privilegiar o seu caráter emergencial,

constituindo-se numa “armadilha da pobreza” e, perversamente, reforço das

desigualdades sociais, haja vista que ser beneficiário do BPC parece implicar a

reafirmação da condição de “dependente”, pois romper com os critérios exigidos

para a concessão do mesmo, referentes à renda e a incapacidade poderia significar a

exclusão do beneficiário e, portanto, a perda de sua principal fonte de sobrevivência.

(PEREIRA, 1998,p.65).

Feitas algumas colocações sobre a LOAS e o BPC e dando continuidade a

apresentação dos marcos legais de defesa da pessoa idosa no Brasil, cita-se ainda como

importante a regulamentação voltada especificamente para a população idosa a Política

Nacional do Idoso (PNI), pela Lei nº 8.842/1994, considerada a primeira política voltada

especificamente aos idosos no Brasil, que traz a responsabilidade da família, da sociedade e

do Estado, percebendo o idoso como um sujeito de direitos e deveres. A PNI busca “assegurar

aos idosos em relação aos seus direitos sociais e contribuir para a sua inclusão na sociedade,

ao mesmo tempo cria condições que promovem sua autonomia, integração e participação

efetiva na sociedade”. (Ministério da Saúde, 2014) A partir dessa, temos como

desdobramentos outras legislações que irão assegurar os direitos e deveres desse segmento, a

exemplo do Estatuto do Idoso.

Apenas em 2003 que foi aprovado no Brasil o principal marco legal de defesa dos

direitos da pessoa idosa que foi a lei de nº 10.741/2003. O Estatuto do Idoso é considerado

uma das maiores conquistas sociais da população idosa em nosso país ampliando assim, a

resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa. (BRASIL, 2003).

Sobre o histórico do surgimento do Estatuto do Idoso Camarano e Pasinato (2004)

apud Ottoni (2012) explicitam que antes de ser sancionado o Estatuto do Idoso no ano de

2003, a legislação referente aos idosos era fragmentada e assim sua aprovação representou a

incorporação de ações relacionadas às mais diversas políticas públicas, como saúde,

assistência social, dentre outras, percebendo o sujeito idoso como cidadão de direito. Como

38

instrumento legal a Lei 10.741/2003 estrutura-se em 118 artigos dispostos em sete títulos, que

são:

Título I – Disposições preliminares;

Título II - Dos Direitos Fundamentais: Do Direito à Vida, Do Direito à Liberdade, ao

Respeito e à Dignidade, Dos Alimentos, Do Direito à Saúde, Da Educação, Cultura, Esporte e

Lazer, Da Profissionalização e do Trabalho, Da Previdência Social, Da Assistência Social, Da

Habitação e Do Transporte;

TÍTULO III - Das Medidas de Proteção: Das Disposições Gerais e Das Medidas

Específicas de Proteção;

TÍTULO IV - Da Política de Atendimento ao Idoso: Disposições Gerais, Das Entidades

de Atendimento ao Idoso, Da Fiscalização das Entidades de Atendimento, Das Infrações

Administrativas, Da Apuração Administrativa de Infração às

Normas de Proteção ao Idoso e da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de

Atendimento;

TÍTULO V - Do Acesso à Justiça: Disposições Gerais, Do Ministério Público, Da

Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis ou

Homogêneos;

TÍTULO VI - Dos Crimes: Disposições Gerais e Dos Crimes em Espécie;

TÍTULO VII - Disposições Finais e Transitórias

O objetivo não é discutir todos os títulos e capítulos da lei, apenas registrar como

esta se estrutura de forma que o leitor desse trabalho monográfico perceba como esse marco

legal engloba a articulação entre as diversas políticas públicas para que sejam assegurados os

direitos dos idosos no país, embora se saiba que o documento por si só não os garante sendo

necessário haver uma sensibilização da sociedade da efetivação de seus artigos, bem como a

incorporação de sua responsabilidade, em conjunto como a família e o Estado para a defesa da

população idosa, conforme prevê o Estatuto, considerando que no Brasil, é notável a grande

diferença que existe entre a lei e a realidade vivida pelos idosos, isso é possível a partir do

grande número de discursos que tentam dar prioridade a esse fato, mas que na realidade não o

efetivam.

No entanto, embora seja necessária e indispensável a efetivação dos artigos do

Estatuto do Idoso, vivemos tempos neoliberais de desarticulação dos direitos, privatização

serviços públicos e desresponsabilização do Estado com as políticas públicas, fatos que

39

mascaram e boicotam os direitos constitucionais da população, dificultando sua efetivação.

Cada vez mais cresce o abismo entre ricos e pobres, aqueles que podem e os que não podem

“pagar por seus direitos”, embora sejam iguais perante a Carta Magna brasileira.

Outro importante marco de defesa da pessoa idosa foi alcançado em relação à area

da saúde, trata-se da portaria nº 2.528 do Ministério da Saúde, assinada em 19 de outubro de

2006 aprovando a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, tendo “como finalidade

primordial a recuperação, manutenção e promoção da autonomia e da independência da

pessoa idosa, ao direcionar medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, estando

em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, tendo como

principais alvos dessa política todos os cidadãos brasileiros a partir de 60 anos”. Através dessa

Portaria foi possível trazer novos paradigmas para a discussão da situação de saúde dos

idosos. Além disso, faz parte das diretrizes dessa política a promoção do Envelhecimento

Ativo e Saudável, de acordo com as recomendações da Organização das Nações Unidas, em

2002. (MS, 2010)

É importante mencionar outros marcos que não são específicos da população

idosa, mas que preveem direitos desse segmento. Destacamos nessa fala a Política Nacional

de Assistência Social (PNAS, 2004), que contribuiu para o fortalecimento dos direitos

voltados para os idosos no âmbito da promoção da Assistência Social e também a Tipificação

Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009) que estabeleceu os parâmetros de definição

dos serviços, da proteção social básica e especial, essa última onde estão inseridas as

instituições de longa permanência para idosos.

O próximo tópico abordará os idosos nas políticas públicas brasileiras, onde será

discutido melhor sobre este tema.

3.3 Os idosos nas políticas públicas brasileiras: breve retrospectiva histórica

De acordo com Silva (2003, p.110):

A condição de velho na atualidade tem revelado grandes alterações do tempo,

remota [...] a urbanização e a industrialização acentuam a desigualdade, que,

associados aos preconceitos e estigmas, vêm demonstrando que as experiências

acumuladas durante a vida não estão sendo aceitos pelos mais jovens. (SILVA,

2003, p.110)

40

O que significa dizer esses significativos avanços na esfera da ciência e tecnologia

não necessariamente significaram rompimento dos estigmas e preconceitos atrelados à velhice

na ordem do capital; fatos que refletem a constituição das políticas públicas voltadas aos

idosos;

2 Destinadas para algumas categorias de estratégicas de trabalhadores, a exemplo de ferroviários e marítimos,

dentre outros. (Behring e Boschetti, 2008, p.80).

3 Período marcado pela queda da República Oligárquica com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder,

inaugurando a chamada Era Vargas, dividida em Governo Provisório (1930-1934), Governo Constituinte (1934-

1937) e Estado Novo (1937-1945).

Para se entender melhor como esse processo aconteceu, relata-se um pouco da

história do surgimento das políticas públicas. Conforme afirma Camarano (2004):

A incorporação das questões referentes ao envelhecimento populacional nas

políticas públicas brasileiras foi fruto de pressões e influência da sociedade civil,

com destaque para SBGG, que tinha como um dos principais objetivos “estimular

iniciativas e obras sociais de amparo á velhice e cooperar com outras organizações

interessadas em atividades educacionais, assistenciais e de pesquisa relacionadas

com a Geriatria e Gerontologia” (CAMARANO, 2004, p.264).

As primeiras políticas previdenciárias no país datam do século XX, sendo

destinados aos trabalhadores do setor privado, onde pode-se destacar a criação do seguro de

acidentes do trabalho em 1919 e a promulgação da Lei Eloy Chaves (1923). Era então

instituída a Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAPs)2 do qual o decreto tinha por alvo os

trabalhadores operários urbanos como os ferroviários.

Que segundo Sposati (2008), afirma que:

[...] em 1923, a Lei Elói Chaves (Lei nº. 4682 de 24-1-1923) criava a Caixa de

Aposentadoria e Pensões para os funcionários. Antes de 1930, duas outras

categorias já recebiam o beneficio do seguro social: portuários e marítimos, pela

Lei nº. 5.109(20-12-1926) e telegráficos e radiotelegráficos, pela Lei nº. 5.485 (30-

6-1928)“ (Sposati, 2008 p.42).

Ainda de acordo com a mesma autora, esses funcionários pagavam uma

pequena contribuição mensal e tinham o direito de se aposentar caso não tivesse em

condições de saúde por motivos de idade avançada, doenças incapacitantes, dentre outras.

A partir da chamada Revolução de 19303, são iniciadas no Brasil as

regulamentações trabalhistas que tanto “definem” o Governo de Vargas e que por isso o

41

mesmo recebeu o pseudônimo de “pai dos pobres”, embora se saiba que essas

regulamentações mais favoreciam o capital, que à época buscava se alicerçar no país, do que

o próprio trabalhador. As ações propostas por Vargas destinadas aos trabalhadores estavam

relacionadas à previdência, a educação, a saúde e a habitação, sendo no mesmo período

criado o Ministério do Trabalho, e em 1932, a Carteira de Trabalho, que segundo Behring e

Boschetti (2008):

[...] passa a ser o documento de cidadania no Brasil: eram portadores de alguns

direitos aqueles que dispunham de emprego registrado em carteira. Essa é uma

característica do desenvolvimento do Estado social brasileiro: seu caráter

corporativo e fragmentado, distante da perspectiva da universalização de inspiração

beveridgiana. (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, P. 106).

Pode-se afirmar que foi nesse mesmo período que o cenário político e de

desenvolvimento do Estado social favoreceu o surgimento do sistema público de previdência,

com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que tinham entre seus

propósitos a cobertura de riscos ligados à perda da capacidade laborativa entre elas: velhice,

morte, invalidez e doenças. (BEHRING & BOSCHETTI, 2008).

No ano de 1966 foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que

agregou todos os outros institutos, com a unificação, uniformização e centralização da

previdência social, momento esse em que os trabalhadores foram retirados da gestão da

previdência social, passando essa questão ser tratada como técnica e atuarial. (Behring e

Boschetti, 2008). As autoras comentam que houve uma ampliação na Previdência em relação

aos trabalhadores rurais e, assim a política assume caráter mais redistributivo, alcançando

também outros segmentos da sociedade, ou seja, foi a partir da criação do INPS que o

sistema previdenciário se originou no Brasil para os trabalhadores que estivessem inseridos

no mercado de trabalho.

Nesse mesmo ano o Governo Federal implanta as aposentadorias rurais e o

Benefício de Renda Mensal Vitalícia (RMV), instituído pela Lei nº 6.119/74, criando

benefícios não contributivos para os idosos carentes e trabalhadores rurais ou urbanos.

(Camarano e Pasinato, 2004).

No contexto de Ditadura Militar foi aprovada a Lei n° 6.036 de 1° de maio de

1974, que criou o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), sendo

desmembrado do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Pode-se ressaltar também que

42

de acordo com as reflexões de Camarano e Pasinato (2004) foi:

A primeira iniciativa do governo federal na prestação de assistência ao idoso

ocorreu em 1974 e consistiu em ações preventivas realizadas em centros sociais do

Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e da sociedade civil, bem como de

internação custodial dos aposentados e pensionistas do INPS a partir de 60 anos. A

admissão em instituições era feita considerando o desgaste físico e mental dos

idosos, a insuficiência de recursos próprios e familiares e a inexistência de família

ou abandono por ela. (CAMARANO & PASINATO, 2004. P.264).

Segundo Behring e Boschetti (2008), no ano de 1977 foi criado o Sistema

Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), abrangendo os seguintes órgãos:

INPS, IAPAS, INAMPS, FUNABEM, LBA, CEME e DATAPREV, que visavam

reestruturar “a Previdência Social e as formas de manutenção e concessão dos benefícios e

serviços, além de reorganizar a gestão administrativa e patrimonial”. (site: Prefeitura de Porto

Alegre, 2014).

No tocante às instituições da sociedade civil que historicamente vem lutando para

a garantia e o reconhecimento dos direitos dos idosos no Brasil, é mencionado que nesse

período:

A sociedade brasileira já vinha se organizando para se estabelecer como um ator

social de expressão das reivindicações da população idosa. Em 1977, uma primeira

organização social já havia sido criada: a Associação Cearense Pró-idosos (Acepi).

Esta tem por objetivo reivindicar os direitos dos idosos, estabelecer trabalhos

conjuntos com o governo federal, assim como organizar entidades de atenção a

eles. Uma outra manifestação da sociedade civil foi a criação da Confederação

Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) em 1984. Na verdade, esse não

foi um movimento novo. Teve sua origem na década de 1960 com a criação da

União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil. (CAMARANO & PASINATO,

2004, p. 266).

Outra importante instituição da sociedade civil que também contribuiu para a

garantia e o reconhecimento de direitos da pessoa idosa, criada em 1985 foi:

Associação Nacional de Geriatria (ANG), entidade de natureza técnico-científica de

âmbito nacional, voltada para investigação e prática científica em ações de atenção

ao idoso. O seu primeiro objetivo é o de “desenvolver constante ação política e

técnica junto aos órgãos públicos, as entidades privadas e à comunidade em geral,

reivindicando sua atenção e audiência para que os idosos possam expressar com

dignidade suas reais necessidades e reivindicando, ainda, a adoção de medidas

minimizadoras de seus problemas”, (CAMARANO & PASINATO, 2004, p. 266).

Todas essas questões contribuíram para que o idoso tivesse uma visibilidade

maior perante os demais membros da sociedade e assim colaborando para que o papel antes

construído de uma pessoa marginalizada fosse aos poucos se desconstruindo. (Santos, 2003),

43

mas é preciso dizer que embora alguns avanços tenham sido alcançados, ainda há muito que

debater e cobrar do Estado, da família e da sociedade a atenção integral ao idoso, que é

cidadão e sujeito de direito.

No Brasil, a Constituição de 1988, rompe com a perspectiva da caridade e do

clientelismo que marcaram as ações do Estado junto aos segmentos mais vulnerabilizados da

sociedade, introduzindo a perspectiva de direito e estabelecendo uma rede de proteção social

para a população, alicerçada no tripé da Seguridade Social composta pelas políticas de Saúde,

Previdência e Assistência Social.

No âmbito da Assistência Social, que neste trabalho é demarcado para

aprofundamento, pode-se dizer que sua regulamentação pela LOAS, que já brevemente foi

apresentada, tendo outros avanços sido construídos no ano de 2004 com a instituição da

Política Nacional de Assistência Social que se efetiva ao integrar-se às políticas setoriais,

visando seu enfrentamento à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para

atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais, sob essa perspectiva,

tendo como principais objetivos:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e,

ou especial para famílias, indivíduos e grupos que desses necessitarem;

Contribuir com a inclusão e a equidade de usuários e grupos específicos,

ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básico e especial, em

áreas urbana e rural;

Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade

na família e, que garantam a convivência familiar e comunitária. (PNAS, 2004, p.

33)

Avançando legalmente para a consolidação da política de assistencial social, a

elaboração da Tipificação de Serviços Socioassistenciais a Assistência Social de 2009, é

outro marco importante da assistência social brasileiros, onde os serviços estão estruturados e

organizados em dois níveis de proteção, que são a Proteção Social Básica (PSB) e Proteção

Social Especial (PSE) - dividia em Proteção de Média e de Alta Complexidade. Seguindo a

inspiração do Sistema Único de Saúde (SUS) a Proteção Social da Assistência Social está

organizada de forma hierarquizada de acordo com a complexidade apresentada por cada

serviço e público atendido. (MDS, 2009)

A Proteção Básica busca o desenvolver ações voltadas ao fortalecimento dos

vínculos familiares e comunitários, sendo sua porta de entrada os Centros de Referência da

Assistência Social (CRAS), onde são desenvolvidos diversos serviços, dentre eles, o Serviço

44

de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos. Já a Proteção Social Especial que

se volta a indivíduos que tiverem seus direitos violados e cujos vínculos familiares e

comunitários estão fragilizados e/ ou rompidos, sendo os equipamentos de referencia de

atendimento os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS),

equipamentos de caráter público. A média complexidade da PSE destina-se ao atendimento

aos indivíduos cujos vínculos não foram rompidos e a alta complexidade, quando há

rompimento deste e onde estão situadas as Instituições de Longa Permanência para Idosos.

(PNAS, 2004)

Ainda a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS

nº 109/2009) delimita o Serviço de Fortalecimento de Vínculos para Idosos executados nos

CRAS, que busca o “desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de

envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no

fortalecimento de vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações

de risco social.” (MDS, 2009, p. 11).

São usuários desses serviços, os idosos com idade igual ou superior a 60 anos,

que estejam em situação de vulnerabilidade social, em especial (MDS, 2009):

- Os Idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada;

- Idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda;

- Idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a serviços e

oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e

disponibilidade indiquem a inclusão do serviço. (MDS, 2009, p.12)

Ainda de acordo com a Tipificação, é definido como objetivos específicos do

SCFV para idosos:

- Contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo;

- Assegurar a sua convivência familiar e comunitária;

- Detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e capacidades

para novos projetos de vida;

- Propiciar vivências que valorizam as experiências e que estimulem e

potencializem a condição de escolher e decidir. Isso contribuirá para o

desenvolvimento da autonomia social dos usuários. (MDS, 2009, p. 13)

Além do serviço acima citado, a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais também prevê o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para

Pessoas com Deficiência e Idosas, que tem como finalidade a “prevenção de agravos que

possam provocar o rompimento de vínculos familiares e sociais dos usuários; visando a

45

garantia de direitos, o desenvolvimento de mecanismos para a inclusão social, a igualdade de

oportunidades e a participação e o desenvolvimento da autonomia das pessoas com

deficiência e idosas, a partir de suas necessidades, prevenindo situações de risco, exclusão e

isolamento”. (MDS, 2009, p.16)

Este serviço deve contribuir com a promoção do acesso de serviços de outras

políticas públicas, entre elas a educação, trabalho, saúde, transporte especial e programas de

desenvolvimento de acessibilidades, serviços setoriais e de defesa de direitos e programas

especializados de habitação e reabilitação (MDS, 2009). É importante destacar que observa-

se que esse serviço da PSB não existe no Estado do Ceará, pelo menos até a concretizar dessa

pesquisa (final ano 2014).

Com relação a serviços da Proteção Social Especial da Média Complexidade para

pessoas com deficiência, idosos e suas famílias esses ofertam:

Um conjunto variado de atividades, organizadas a partir de um Plano Individual ou

Familiar de Atendimento, com o objetivo de ampliar aquisições para o

enfrentamento das situações de risco por violação de direitos em decorrência da

dependência e de outros agravos, como a convivência com a extrema pobreza, o

isolamento social, a precariedade dos cuidados familiares, exploração da imagem,

atitudes discriminatórias e preconceituosas no seio da família, alto grau de estresse

do cuidador, dentre outras, que agravam a dependência e comprometem o

desenvolvimento da autonomia. (MDS, 2014)

Na Proteção Social Especial de Alta Complexidade encontramos serviços que

estão voltados para as famílias e indivíduos que se encontram em situação de abandono,

ameaça ou violação de direitos, os que necessitam de acolhimento provisório, fora do seu

núcleo familiar de origem. (MDS, 2014). Conforme a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais, os serviços que são: Serviço de Acolhimento Institucional (podendo ser

desenvolvido nas modalidades de abrigo institucional, casa-lar, casa de passagem ou

residência inclusiva); Serviço de Acolhimento em Republica; Serviço de Acolhimento em

Família Acolhedora; e Serviço de Proteção em situações de Calamidade Pública e de

Emergência.

A Tipificação de Serviços Socioassistenciais prevê serviços de acolhimento para

a população idosa, no caso as Instituições de Longa Permanência que são parte integrante da

Proteção Social Especial de Alta Complexidade, destinando-se para idosos com 60 anos ou

mais de ambos os sexos, independente e/ou com diversos graus de dependência, sendo esse

Acolhimento Institucional desenvolvido nas seguintes modalidades:

46

- Atendimento em unidades residenciais onde o grupo de até 10 idosos é acolhido,

devendo contar com pessoal habilitado, treinado e supervisionado por equipe

técnica capacitada para auxiliar nas atividades da vida diária. (MDS, 2009, P.46)

- Atendimento em unidade institucional com caráter domiciliar quando acolher

idosos com diferentes necessidades e graus de dependência. Deve assegurar a

convivência com familiares, amigos e pessoas de referencia de forma contínua, bem

como o acesso as atividades culturais, educativas, lúdicas e de lazer na comunidade.

A capacidade de atendimento das unidades deve seguir normas da Vigilância

Sanitária, devendo ser assegurado o atendimento de qualidade, personalizado, com

até 04 idosos por quarto. (MDS, 2009, P.46)

Ainda de acordo com o MDS (2009)

A natureza do acolhimento deverá ser provisória e, excepcionalmente, de longa

permanência quando esgotadas as possibilidades de auto sustento e convívio com

familiares. Sendo destinado aos idosos que não dispõem de condições para

permanecer com a família, com vivência de situações de violência e negligência,

em situação de rua e de abandono, com vínculos fragilizados ou rompidos. (MDS,

2009, P.45)

Mas, sabe-se que no cotidiano dos idosos institucionalizados não é isso que

acontece, ou seja, o acolhimento acaba não possuindo caráter provisório, pois muitos são tem

seus vínculos familiares totalmente rompidos e são abandonados por seus familiares, cabendo

ao Estado assumir a responsabilidade de ser seu cuidador, o que por sua vez não esgota a

responsabilidade da família e da sociedade em zelar pelo cumprimento dos direitos dos

idosos.

No capítulo a seguir é apresentada a questão da institucionalização sofrida pelos

idosos na sociedade do capital, a relação existente entre o idoso, família e o cenário das

relações intergeracionais.

47

4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS

Nesse capítulo pretende-se refletir sobre os aspectos que permeiam a

institucionalização dos idosos, refletindo sobre a relação família-idoso na atualidade e

discutindo sobre os principais aspectos da institucionalização desses sujeitos, onde será

trazida a pesquisa de campo realizada na Unidade de Abrigo da STDS Ceará.

4.1 Pensando na relação família – idoso na atualidade

Conforme o discutido nos capítulos anteriores, é fato que o desenvolvimento da

ciência e da tecnologia trouxeram a sociedade avanços significativos que abriram espaço para

a melhoria da qualidade de vida e possibilidade de crescimento da expectativa de vida da

população; no entanto, é importante ser mencionado que esse desenvolvimento não significou

necessariamente que essa qualidade e expectativa aconteçam, sobretudo, quando se fala dos

segmentos sociais e economicamente mais vulnerabilizados da sociedade e que no caso

específico do Brasil, ainda possuem dificuldades de acesso a serviços básicos como

alimentação, saúde, habitação, educação, dentre outros.

Diante disso pode-se dizer que o envelhecimento surge nesse contexto como

problema social, como aponta Teixeira (2008):

O envelhecimento constitui-se um problema social, principalmente, para as classes

destituídas de propriedade (exceto de sua força de trabalho) e de controle do seu

tempo de vida, em função das contradições e determinações da sociedade capitalista

que engendram desigualdades, vulnerabilidade social em massa, degradações,

desvalorizações, para essa classe social, especialmente com o avanço da idade

cronológica, com o desgaste da força de trabalho (TEIXEIRA, 2008, p. 2).

Para completar esse pensamento, as reflexões de Zimerman, (2000) contribuem

para um melhor entendimento desta problemática, ao afirma que:

Em uma sociedade consumista como a nossa, o velho tornou-se um ser descartável.

A Revolução Industrial no século XIX, pode se considerada um marco na situação

do velho. Foi nessa época que a mulher, historicamente a responsável pelo cuidado

doméstico e com os velhos, passou a produzir tudo em escala cada vez maior. O

humano e artesanal foi substituído pelo mecânico e descartável. (ZIMERMAN, 2000

p. 41).

48

Coelho (2002) ressalta que no início dos anos 1990 a mulher conquistou uma

redefinição de papéis e identidades masculina e feminina e que essas mudanças e conquistas

ocorreram devido ao trabalho e a modernização do mundo.

Nesse panorama a sociedade moderna carrega mudanças na estrutura familiar

brasileira, cheia de “novos valores, atitudes, condutas ligadas à industrialização, à cidade e ao

prestígio de estranhos” (Nogueira, 2004, p.134 apud Carvalho, 2011). É fato que a família

tradicional nuclear burguesa – composta de pai, mãe e filhos não é mais o padrão único

existente e aceito. Hoje, tem-se uma diversidade de arranjos familiares que incluem famílias

homoafetivas, famílias monoparentais (cujo chefe é o pai ou a mãe), famílias cujos avós criam

os netos, dentre outras. Em meio a essas reconfigurações, o desafio é pensar estratégias de

fortalecimento dos laços entre as gerações, de forma que o idoso possa ser percebido como

sujeito e, portanto, membro da família que também deve desempenhar um papel dentro dessa

instituição.

Sobre isso, Zimerman (2000) ressalta que, “se a casa tem muita importância para

a maioria das pessoas, para o velho assume um papel ainda mais relevante, pois é dentro dela

que ele vai passar a maior parte do seu tempo, morando sozinho ou com outras pessoas”.

(p.36)

Segundo Osterne (2004) família pode ser pensada como:

Algum lugar, seja o lar, a casa, o domicílio, o ponto focal onde se pode desfrutar do

sentido de pertencer, onde se possa experimentar a sensação de segurança afetiva e

emocional, onde se possa ser alguém para o outro, apesar das condições adversas mesmo

independente das relações de parentesco e consanguinidade. Algo que pode ser pensado

como o local de retorno, o destino mais certo. Local para refazer-se das humilhações

sofridas no mundo externo, expandir a agressividade reprimida, exercitar o autocontrole,

repreender, vencer o outro, enfim, sentir-se parte integrante. (OSTERNE, 2004, p. 65).

Entretanto, o que se percebe é que muitos idosos parecem não encontrar lugar em

sua família, mantendo por vezes seu papel de provedor financeiro, mas não mais participando

das decisões como chefe ou membro da família, gerando assim processo de repressão e

exclusão desses sujeitos. Zimerman (2000) destaca que :

À medida que vão envelhecendo, vemos a família se alterando e, em especial, a

posição de cada membro dentro dela. Os papéis vão se modificando e a relação de

dependência torna-se diferente. [...] A família deve ajudar o velho a viver não só

mais com o melhor, de forma a não se tornar um peso para si e para os que o

cercam, e sim uma pessoa integrada no sistema familiar (ZIMERMAN, 2000, p. 51).

Ainda para a autora:

49

[...] o velho não tem um espaço psicológico, moral e existencial na família atual e,

consequentemente, na sociedade. Em um mundo no qual o avanço tecnológico é

cada vez mais rápido, torna-se difícil os mais jovens aceitarem que o velho tem um

ritmo diferente, que deve ser respeitado [...]. As mudanças são muito rápidas e

demoram para ser internalizadas e realizadas. Além de ser naturalmente mais lento,

ele é alguém do lápis vivendo no mundo do computador. O velho acaba sempre

sobrando e não conseguindo acompanhar a realidade que o cerca, até porque, como

as pessoas não têm paciência para ouvi-lo e familiarizá-lo com as novidades e não

há quem o estimule, ele se torna, então, alguém sem objetivo, sem o que fazer.

(ZIMERMAN, 2000, p. 33)

Essas mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais impactam o

desempenho dos papéis dos membros da família, incluindo os idosos. Segundo Camarano e

Melo (2010):

[...] a legislação brasileira estabelece que os idosos sejam cuidados

preferencialmente nos seus lares. Isto se deve aos altos custos do cuidado formal,

especialmente o institucional, e à crença de que o idoso é mais bem cuidado na sua

família sugere que tal justificativa está baseada na percepção de que os cuidadores,

em especial as mulheres, não incorrem em custos financeiros e/ou emocionais ao

prover cuidado aos idosos nas famílias. (Camarano e Melo, 2010 p.16).

Essas mudanças requisitam do Estado brasileiro a construção de estratégias para

refletir sobre esses papéis, bem como demandam condições para que esses possam ser

desempenhados, inclusive quando se pensa nas relações entre idosos e os demais membros de

suas famílias, para que dessa forma os vínculos entre eles não sejam fragilizados e na pior das

hipóteses cheguem a ser rompidos, devendo o Estado promover ações que fomentem as

relações intergeracionais.

É indispensável que o Estado e a sociedade estimulem o contato e as atividades

entre as gerações, pois se para Both (2000):

A criança é estimulada através do processo de ensino a organizar seus interesses,

pensamentos, conceitos de acordo com a linguagem socializada no seu universo

circundante. Esse processo de transformação de conceitos é mais estimulado com as

crianças do que com o velho. O velho ao contrário, é forçado a perder o interesse

porque se lhe retiram os objetos, a ações e a palavra, empobrecendo-lhe as

mediações sociais pela retirada das instituições e porque essas já não oferecem

estimulantes objetivos em torno dos quais se formam o pensamento, a linguagem e

os sentimentos. (BOTH, 2000, p. 38)

Na sociedade do capital o velho é algo ultrapassado, é algo que não serve mais e

que deve ser substituído pelo novo. Ao pensar na relação de consumo pode-se ver que essa é a

lógica. É preciso consumir, é preciso ter o produto da moda, a tecnologia mais avançada e

essa lógica se refletem nas relações sociais (Alonso, 2005), desde o mercado de trabalho ao

50

seio da família – instituição que ainda desempenha papel central na sociedade. Teixeira

(2008) aponta que:

As relações de produção, o trabalho abstrato e as condições de degradação social,

que sofrem a classe trabalhadora durante toda a trajetória de sua vida, reproduzida

na velhice pobre, desprotegida, desprovida dos meios de sobrevivência e

desvalorizada socialmente, tudo isso é ocultado para ressaltar um problema de

ordem cultural e genericamente atribuído ao grupo etário como um todo...”

(TEIXEIRA, 2008, p.224).

Sendo o idoso um dos mais afetados nesse contexto, por encontrar-se inserido

junto a limitações que surgem cercados de desafios, entre eles podemos destacar:

O maior desafio na atenção à pessoa idosa é conseguir contribuir para que, apesar

das progressivas limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir

possibilidades de viver sua própria vida com a máxima qualidade possível. Essa

possibilidade aumenta na medida em que a sociedade considera o contexto familiar e

social e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas idosas.

Portanto, parte das dificuldades das pessoas idosas está mais relacionada a uma

cultura que as desvaloriza e limita. (MS, 2007)

No entanto esse desafio vem seguido de limitações, barreiras, rompimentos de

vínculos, abandono e pela falta de implementação de programas que auxiliem os cuidados da

vida diária da pessoa idosa, todos esses fatores contribuem para que as famílias busquem

apoio formal, como as Instituições de Longa Permanência para as pessoas idosas, sendo essas

formas de moradia para a pessoa idosa que acabam por causar diferentes expectativas na vida

do idoso, através do processo de institucionalização que será o tema abordado no tópico

subsequente.

4.2 A institucionalização da pessoa idosa

Conforme preconiza a Constituição Federal de 1988, que em seu capítulo VII,

artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,

assegurando a participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e

garantindo-lhes a vida”.

Responsabilidades que demarcam a necessária construção de políticas públicas

que possibilitem que essas sejam cumpridas sejam por parte da família, da sociedade ou

mesmo do Estado.

51

Por sua vez, as famílias nem sempre tem condições de manter essa

responsabilidade, pois diversos fatores externos (como o desemprego, as precárias condições

de habitalidades) e internos (conflitos intergeracionais), impactam em sua rotina, contribuindo

para que haja uma diminuição nas condições econômicas, físicas e emocionais para o cuidado

com o idoso, agravadas ainda mais pela escassez ou ações de políticas públicas que lhe

proporcionem condições para exercer essa responsabilidade.

Ressalta-se que diante da ausência de políticas de proteção social a população em

geral sofre com a desresponsabilização do Estado, sendo a família “chamada a responder por

esta consequência sem receber condições para tanto. Com isso o Estado reduz suas

intervenções na área social e deposita na família uma sobrecarrega que ela não consegue

suportar tendo em vista sua situação de vulnerabilidade socioeconômica” (Gomes e Pereira,

2006, p. 361). Compartilhando ainda do pensamento das citadas autoras, pode-se perceber que

a questão que norteia esse processo se debruça na necessidade de efetivar ações de promoção

e apoio às famílias vulneráveis através de políticas sociais mais abrangentes e com foco maior

nesse segmento.

Goldman, (2004) reflete que as transformações tecnológicas e no mundo do

trabalho trouxeram impactos para toda a sociedade, incluindo, sobretudo para os idosos.

Outras questões presentes no cotidiano que afetam a população idosa podem ser expressas

pelo:

[...] declínio da fecundidade, as mudanças nos padrões de nupcialidade, os

movimentos migratórios, entre outros fatores, estão aumentando a demanda por

modelos alternativos de cuidado dos idosos em situação de dependência.

(CAMARANO; MELLO, 2010, p. 20).

Nesses cenários as Instituições de Longa Permanência surgem como alternativa

para inserção de idosos, com a justificativa de que a família não pode ser a principal

cuidadora. É importante refletir que a atualidade carece da ampliação dos debates e políticas

públicas que tratem das relações intergeracionais, de forma que os vínculos familiares e os

que os papeis de seus membros sejam fortalecidos, sugerindo estratégias para que não haja

isolamento do idoso ou mesmo sua institucionalização.

Sobre essa fragilização dos vínculos familiares e institucionalização do idoso

Araújo (2007) reflete seu aspecto negativo:

52

Considerando que a transferência do idoso de sua casa para uma instituição tem um

grande potencial para produzir quadros depressivos, confusão, perda de contato com

a realidade despersonalização e um senso de isolamento e separação da sociedade

faz-se fundamental um acompanhamento a este idoso (ARAÚJO. 2007).

A afirmação corrobora o pensamento de que é imprescindível serem pensadas

estratégias para que não haja o rompimento dos vínculos familiares da pessoa idosa, pois mais

do que a perda de contato com a família, este rompimento pode provocar quadros por vezes

irreparáveis para os sujeitos. “Por serem praticamente formadas só por velhos, com a exceção

das pessoas que lá trabalham, criam uma situação muito diferente da que existe no mundo

real. Com o tempo, o velho perde o contato com crianças e com pessoas do sexo oposto”.

(Zimerman, 2000, p.97)

Deste modo, a ANVISA define Instituição de longa permanência como sendo:

“Instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas a

domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte

familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania”. (BRASIL, 2005).

De acordo com o Estatuto do Idoso essas instituições devem ser fiscalizadas pelo

Conselho do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária, entre outros. Ainda de acordo

com Christophe (2009)

Atualmente, o órgão responsável pela execução da Política Nacional do Idoso é o

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A fiscalização e o

controle de sua execução são atribuídos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) e a suas congêneres locais. A fiscalização do respeito aos direitos dos

idosos é atribuída conjuntamente aos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais

do Idoso e ao Ministério Público Federal (CHRISTOPHE, 2009, p. 40).

De acordo com a RDC 283/2005 da ANVISA, as ILPIs devem contar com um

Responsável Técnico (RT) pelo serviço, que responderá pela instituição junto à autoridade

sanitária local; devendo possuir formação em nível superior, com carga horária mínima de 20

horas por semana. (ANVISA, 2005). Além do responsável técnica a resolução também

menciona a necessidade de outros profissionais com vínculo formal de trabalho, que são:

4.6.1.2 Para os cuidados aos residentes:

a) Grau de Dependência I: um cuidador para cada 20 idosos, ou fração, com carga

horária de 8 horas/dia;

b) Grau de Dependência II: um cuidador para cada 10 idosos, ou fração, por turno;

c) Grau de Dependência III: um cuidador para cada 6 idosos, ou fração, por turno.

4.6.1.3 - Para as atividades de lazer: um profissional com formação de nível superior

para cada 40 idosos, com carga horária de 12 horas por semana.

53

4.6.1.4 - Para serviços de limpeza: um profissional para cada 100m2 de área interna

ou fração por turno diariamente.

4.6.1.5 - Para o serviço de alimentação: um profissional para cada 20 idosos,

garantindo a cobertura de dois turnos de 8 horas.

4.6.1.6 - Para o serviço de lavanderia: um profissional para cada 30 idosos, ou

fração, diariamente.

4.6.2 - A instituição que possuir profissional de saúde vinculado à sua equipe de

trabalho, deve exigir registro desse profissional no seu respectivo Conselho de Classe.

(RDC ANVISA 283/2005)

4.6.3 - A Instituição deve realizar atividades de educação permanente na área de

gerontologia, com objetivo de aprimorar tecnicamente os recursos humanos

envolvidos na prestação de serviços aos idosos. (RDC ANVISA 283/2005)

No tocante a sua estrutura física, ainda nos diz a Resolução as necessidades da

Instituição de Longa Permanência dispor dos seguintes espaços:

4.7.7.1 - Dormitórios separados por sexos, para no máximo 4 pessoas, dotados de

banheiro.

a) Os dormitórios de 01 pessoa devem possuir área mínima de 7,50 m2, incluindo

área para guarda de roupas e pertences do residente.

b) Os dormitórios de 02 a 04 pessoas devem possuir área mínima de 5,50m2 por

cama, incluindo área para guarda de roupas e pertences dos residentes.

c) Devem ser dotados de luz de vigília e campainha de alarme.

d) Deve ser prevista uma distância mínima de 0,80 m entre duas camas e 0,50m

entre a lateral da cama e a parede paralela.

e) O banheiro deve possuir área mínima de 3,60 m2, com 1 bacia, 1 lavatório e 1

chuveiro, não sendo permitido qualquer desnível em forma de degrau para conter a

água, nem o uso de revestimentos que produzam brilhos e reflexos.

4.7.7.2 Áreas para o desenvolvimento das atividades voltadas aos residentes com

graus de dependência I, II e que atendam ao seguinte padrão:

a) Sala para atividades coletivas para no máximo 15 residentes, com área mínima de

1,0 m2 por pessoa

b) Sala de convivência com área mínima de 1,3 m2 por pessoa

4.7.7.3 Sala para atividades de apoio individual e sócio-familiar com área mínima de

9,0 m2

4.7.7.4 - Banheiros Coletivos, separados por sexo, com no mínimo, um box para

vaso sanitário que permita a transferência frontal e lateral de uma pessoa em cadeira

de rodas, conforme especificações da NBR9050/ABNT.

a) As portas dos compartimentos internos dos sanitários coletivos devem ter vãos

livres de 0,20m na parte inferior.

4.7.7.5 - Espaço ecumênico e/ou para meditação

4.7.7.6 - Sala administrativa/reunião

4.7.7.7 - Refeitório com área mínima de 1m2 por usuário, acrescido de local para

guarda de lanches, de lavatório para higienização das mãos e luz de vigília.

4.7.7.8 - Cozinha e despensa

4.7.7.9 - Lavanderia

4.7.7.10 - Local para guarda de roupas de uso coletivo

4.7.7.11 - Local para guarda de material de limpeza

4.7.7.12 - Almoxarifado indiferenciado com área mínima de 10,0 m2.

4.7.7.13 - Vestiário e banheiro para funcionários, separados por sexo.

a) Banheiro com área mínima de 3,6 m2, contendo 1 bacia, 1 lavatório e 1 chuveiro

para cada 10 funcionários ou fração.

b) Área de vestiário com área mínima de 0,5 m2 por funcionário/turno.

4.7.7.14 -Lixeira ou abrigo externo à edificação para armazenamento de resíduos até

o momento da coleta.

54

4.7.7.15 - Área externa descoberta para convivência e desenvolvimento de

atividades ao ar livre (solarium com bancos, vegetação e outros)

4.7.7.16 - A exigência de um ambiente, depende da execução da atividade

correspondente. (RDC 283/2005 ANVISA).

Ao citar sobre a quantidade de idosos que se deve esta acomodada nos quartos, foi

possível perceber que através da realização das visitas na instituição, essa realidade torna-se

contraditória pelo fato de ter presenciado ate cinco camas em alguns quartos, sendo que todas

estavam ocupadas, comprovando assim o desrespeito quanto às determinações. (Diário de

Campo da Pesquisadora, 2014).

A seguir, os olhares dos idosos institucionalizados na Unidade de Abrigo da

STDS Ceará - sujeitos desta pesquisa.

4.3 A pesquisa de campo: o olhar do idoso institucionalizado na unidade de abrigo

A pesquisa de campo, como já relatado no tópico 2.3 foi realizada com a

participação de seis idosos entrevistados, lembrando que foram três do sexo feminino e três do

sexo masculino e foram usados codinomes: Ônix, Diamante, Rubi, Esmeralda, Pérola e

Safira.

Ressalta-se que a entrada no campo foi de grande valor para se entender o

universo do idoso institucionalizado, juntamente com os relatos acerca de como eles

chegaram à instituição e os motivos que contribuíram para a institucionalização, com isso foi

possível perceber o real sentimento que eles deixaram transparecer que foi de abandono,

causado pela perda de vínculos familiares.

Ainda, a partir dos relatos vivenciados pelos idosos foi possível resgatar relatos de

suas vidas, contribuindo para que eles pudessem relembrar as trajetórias vividas ao longo de

sua caminhada até o momento atual, passando por diversos momentos marcados por alegrias,

dificuldades e tristezas. Com isso foi possível construir o olhar do idoso institucionalizado na

Unidade de Abrigo. Esses idosos apresentarem diferentes percepções em relação à família e a

velhice ao se depararem com a institucionalização.

A institucionalização e o processo da velhice contribuíram para que eles criassem

sentimentos diversificados nada mais compreensível visto que a velhice é um processo que

surge seguido de diversas maneiras de ser sentida e tem a figura do idoso como um ser único,

dotado de particularidades.

55

Diante dos relatos apontados pelos idosos e que é pertinente ao processo de

institucionalização, incorporamos na pesquisa o significado que os idosos demonstraram em

relação à família.

De acordo com Zimerman (2000)

À medida que vamos envelhecendo, vemos a família se alterando e, em especial, a

posição de cada membro dentro dela. Os papéis vão se modificando e a relação de

dependência torna-se diferente. [...] A família deve ajudar o velho a viver não só

mais como melhor, de forma a não se tornar um peso para si e para os que o cercam,

e sim uma pessoa integrada no sistema familiar (ZIMERMAN, 2000, p. 51).

Enquanto o senhor Diamante e a senhora Esmeralda incorporam na família

significados positivos, mesmo tendo consciência que foi o abandono por parte de seus

familiares que os trouxeram a instituição expressam em suas falas que:

Pra mim família é bom! Bom demais! Tenho minha saúde, num devo nada a

ninguém, sou aposentado, pronto! (Diamante).

É uma alegria pra mim [...] família grande num é bom, pra num deixar minino por

ai. (Esmeralda).

Foi observado que Senhor Diamante é dos poucos que recebe visita de um dos

seus familiares, no caso um irmão que não reside no interior do Estado, mas que algumas

vezes ao ano vem lhe visitar. Ele coloca muita expectativa nas visitas e nas palavras do irmão

que lhe prometeu o levar embora do abrigo, é isso que lhe motiva. No entanto ao ser

perguntado sobre quando isso iria acontecer, respondeu que o irmão lhe prometeu mais não

tem data certa para acontecer.

Já a Esmeralda fala também com alegria, pois é a outra idosa que tem o privilegio

de receber visitas, mas no decorrer da entrevista, foi sabido que a família que ela considera

são suas antigas vizinhas que a ajudavam quando ela morara sozinha. E quando ela faz

referência ao falar que família grande não é boa, está fazendo referência a si própria por já ter

tido uma família grande e agora na velhice se encontra sozinha.

Já para outros idosos, o significado de família era desconhecido, não tinha

importância ou demonstraram até certa indiferença.

Na entrevista com o Senhor Ônix, observa-se um pouco de frieza em seu relato,

por não receber visitas e por ser mais um dos idosos na instituição que chegou por conta do

abandono familiar e conflitos causados pelo rompimento de vínculos familiares, pois a

referência que ele tinha de família era apenas de pai e mãe na narrativa ele falou que a última

56

vez que tinha visto seus pais foi no ano de 1975, depois desse ano não os procurou mais, teve

noticias que a mãe havia falecido, mas o pai até os dias de hoje não sabe se ainda está vivo.

A seguir, um relato que expressa esta questão: “Rapaz família não tem significado

pra mim! O significado mermo da minha família mermo eu posso dizer, afirmar que eu não

tenho família, porque [...] Eu entro nessas casas como abandono de família, tem na minha

ficha”. (Ônix)

O Senhor ônix ao relatar que entra nessas casas entra como abandono familiar é

porque esse é a segunda vez em que ele encontra-se institucionalizado, pois já viveu em outra

unidade aqui na cidade de Fortaleza.

Ao perguntar ao Senhor Rubi sobre a sua percepção de família os sentimentos

demonstrados foram de saudades e tristeza. Por ter relatado que já tinha tido uma família e

que não soube valorizar, pois por ter sido caminhoneiro não parava em casa e nem sentia falta

da família. Apesar de ter quatro filhos nenhum desses filhos o visita, ele também chegou ao

abrigo por causa de conflitos que acabaram por contribuir para o rompimento e/ou

fragilização dos vínculos familiares, motivos esses que acabaram por culminar no abandono

familiar e na sua ida a instituição, já que diante de tudo isso ele vivia abandonado pelas ruas.

Ele relatou que com o passar dos anos foi que ele começou a sentir falta de seus familiares:

“Ah se eu tivesse pelo menos um, eu tinha uma alegria muito grande! Rapaz pra minha mente

significa que eu penso que já morreu”. (Rubi)

A Senhora Pérola, mesmo não tendo conhecido sua família e não recebendo

visitas de nenhum conhecido na instituição, chegou à instituição por encontrar-se jogada nas

ruas da cidade. Apesar de tudo ela relata que o sentimento que ela teria se tivesse uma família.

Em seu relato ela percebe a família como necessidade e cooperação: “O significado de família

é que a pessoa tem carinho, que a pessoa tá precisando de alguma coisa a pessoa pergunta,

você quer isto?” (Pérola)

Já a Senhora Safira que apesar de ter dois filhos, vivia abandonada pelos dois e

sofrendo maus tratos por parte de um neto, motivo esse que contribuiu para sua vinda a

instituição, não demonstrou nenhuma emoção ao falar de família percebe mesmo nem

sabendo que a definição que ela tem é a da família nuclear: “Entendo que é filho, mãe, pai aí

se torna uma família”. (Safira)

Para Mascaro (2004, p. 09) “o processo de envelhecimento e a fase da velhice

fazem parte de nossas experiências de ser vivo”, então a velhice não é menos importante do

57

que qualquer outra fase da vida, devendo, portanto, ser alvo da atenção da família, da

sociedade e do Estado.

Em relação à percepção que eles têm sobre a velhice, é pontuado:

Nesse momento aí eu sinto falta da minha família, nesse momento deu tá

envelhecendo, porque eu não tenho família. (Ônix)

A velhice pra mim é um sofrimento, eu vivo cheia de dor nas perna”. (Esmeralda)

A pessoa já tá velhinha sem puder fazer mais nada e outros pode. (Pérola)

É observado que os entrevistados acima percebem a velhice como algo negativo,

como a fase da vida relacionada ao abandono, a solidão e as limitações físicas. Outro

entrevistado que não consegue percebê-la ou que pela situação acabam incorporando o

processo de negação da velhice, afirmando que: “Bem chegar a velhice aqui dentro eu num

quero não [...] não pretendo passar o resto da velhice aqui”. (Diamante)

O Senhor Diamante ao falar sobre a velhice não se percebe como velho ao fazer as

narrativas foi sentido em sua fala que para ele a velhice ainda não chegou, pois faz planos

para quando ela chegar não pretende mais estar na instituição como ele mesmo relatou acima.

Rubi percebe a velhice de forma totalmente positiva, pois de acordo com suas

narrativas ele já viveu tanto e já teve tantas experiências na vida boas e ruins que se admira

em ainda está vivo. “Foi à felicidade maior que eu já encontrei na minha vida. Eu fico

admirado eu já tá numa idade dessa e ainda tá vivo, vida de veio é assim mesmo o resultado é

essas casas”. (Rubi).

A senhora Safira além de relacionar o processo da velhice com uma fase marcada

por doenças, traz com ela também estereótipos atribuídos anteriormente à pessoa idosa e que

hoje devido transformações sofridas pelo processo de globalização e industrialização

passaram a ser desconstruídos, pois de acordo com seu pensamento: “Num tem mais velho,

num tem mais velhinho hoje! Tudo é de bermuda, é pintado, toda maquiada, num tem mais

velhinho hoje!”(Safira)

Ainda completa dizendo que: “Eu num tava sentindo nada, mais agora eu to,

devido essa doença que eu já peguei”. (Safira)

A senhora Safira ao narrar que antes não sentia nada estava falando na sua fase da

vida antes da velhice chegar e assimila a velhice como uma fase constituída de limitações

físicas e de doenças.

58

Sobre as principais mudanças sentidas pelos idosos o olhar dos

institucionalizados, aponta:

Para o Senhor Ônix as principais mudanças encontram-se que ligadas às relações

familiares. “Quando eu era mais novo pra mim eu num sentia falta de família, quando eu vim

ficar mais velho, foi que eu vim sentir mais falta da minha família, aí aquilo mudou”. (ônix)

Corroborando com as falas dos entrevistados em relação à velhice, alguns a

assimilam como um período marcado por limitações e doenças. Este processo pode limitar,

com fragilidade ou invalidez, o bem estar biológico e psicológico dos indivíduos, com a

diminuição da velocidade dos processos mentais, e comportamental, com isolamento social

(MOREIRA, 1996).

O Senhor Diamante relata que a principal mudança foi sentida com a

aposentadoria (BPC): “Na minha vida! Que muito mudou, custou muito, mas chegou era a

minha aposentadoria”. (Diamante)

Esmeralda relata que a principal mudança foi sentida em relação à velhice do

corpo, foi muito emocionante ouvir suas narrativas, pois a cada pergunta feita a idosa antes de

responder ela expressava sempre que queria voltar para casa e que não queria ficar no abrigo,

mas de acordo com sua entrevista e com dados colhidos com uma das Assistentes Sociais da

unidade, não havia a menor possibilidade de ela voltar para casa, pois a mesma morava

sozinha e não tinha mais condições de prover o autocuidado e sustento. “Sinto muita dor, eu

queria mermo era ir pra minha casinha”. (Esmeralda)

A Senhora Safira aponta como principal mudança às limitações causadas pelo

envelhecimento do corpo: “Eu num sentia nada, mais agora eu to, devido essa doença que eu

peguei”. (Safira)

Pérola em relação a principal mudança diz: “A mudança é que depois que em vim

pra cá, eu to melhor, mais eu me sinto aperriada”. (Pérola).

Na narrativa de Pérola foi possível perceber angústias sofridas e sentidas por ela

na unidade e o quanto é difícil para ela aceitar a institucionalização, mesmo já estando há

mais de vinte anos na instituição. A unidade de abrigo surgiu na sua vida como única opção,

pois como não tem família e não tem outro local para ir o jeito foi ir para a unidade de abrigo,

a mesma ao falar da sua ida para o abrigo passou certa desmotivação, tristeza e sentimento de

impotência por situações hostis vividas no abrigo e que ao buscar soluções para o que estava

acontecendo com ela não pode contar com o apoio de ninguém.

59

Segundo seu relato sente-se preocupada, por achar que a instituição não oferece

segurança: “Tenho vontade de ir simbora daqui, aqui é tão pirigoso, tem um matagal medonho

aqui, tenho medo”. (Perola).

Pérola foi bem verdadeira ao narrar que nunca conviveu em um ambiente familiar

e a própria disse que sempre sofreu as amarguras da vida, vivia jogada pelas ruas da cidade e

às vezes por motivos de saúde em alguns hospitais, ressalta ao falar que já sofreu vários tipos

de violência, inclusive na unidade, fato este que a deixa “aperriada” como a mesmo falou.

Para ela a unidade oferece alguns perigos sentidos por ela nas ruas. Percebi a vontade imensa

que ela sente em deixar a instituição o problema é que ela não tem outra escolha a fazer, então

é isso que o incomoda.

Para o Senhor Rubi o que a velhice lhe trouxe de bom foi poder estar na

instituição: “Foi à felicidade maior que eu já encontrei na minha vida. Eu fico admirado eu já

tá numa idade dessa e ainda tá vivo, vida de veio é assim mesmo o resultado é essas casas”.

(Rubi).

Sua afirmação se deve ao fato de ter vivido uma trajetória marcada por uma vida

inconstante, pois como o mesmo relatou que sempre preferiu viver de boêmia, mesmo quando

era casado nunca deu valor à esposa e nem aos filhos, por ter sido caminhoneiro não tinha

parada certa, conheceu muitas cidades e muitas mulheres. Passava de anos sem vir em casa e,

quando ficou viúvo a situação torno-se mais frequente, chegando à velhice ele se encontrou

abandonado por todos e para ele a unidade de abrigo foi tida como salvação por tudo que fez e

ainda ter um local para ficar na velhice.

Já ao perceber a velhice ele a ver como um sentimento de finitude: “O que eu

espero da minha velhice é daqui lá pra quele lugarzinho dos pés juntos”. (Rubi)

Diante do que já foi relatado e da forma com que ele conduzia sua vida, é como se

ele não tivesse mais direito a nada, como ele mesmo narrou, disse que já tinha vivido de tudo

na vida e não esperava mais nada do mundo. Senti em suas narrativas que para ele é como ele

se sentisse culpado por ter tido a vida que teve e que agora na velhice não tinha mais direito

de viver nada, a única coisa que ele espera agora é a morte.

Em relação aos vínculos de amizade com outros idosos da instituição e sobre os

profissionais e a instituição, eles apontam:

Sobre os vínculos com os outros usuários:

60

O Senhor ônix ao falar sobre os vínculos, demonstrou que a vida na instituição

também é constituída por conflitos existentes entre eles próprios. Acaba por entender e aceitar

a individualidade exposta por cada um.

Eu se fosse por mim eu tinha amizade com tudim, mas tem alguns que não querem

conversa com a gente, como tem o ditado: “que nem os dedos da mão são iguais”, se

na família da gente mesmo tem gente que não gosta da gente. Todo mundo é

diferente dos outros né? Mais é assim mesmo, se fosse por mim eu gostaria de todos.

(Ônix)

Como foi possível perceber através da palavra e da narrativa do Senhor Diamante

é que ele se dar bem com todos, respeitando assim as individualidades de cada um.

Converso com tudim aqui, não tenho inimigo graças a Deus. Tudo são meus amigos

e minhas amiga, quando eu num quero ir pra lá (espaço de lazer que existe na

instituição) elas vem tudo pra cá, ai a gente vai brincar de dama, se divertir.

(Diamante)

O Senhor Rubi ao falar sobre os vínculos com os outros usuários, não demonstrou

nenhuma emoção, pude perceber até certo distanciamento em relação aos outros usuários e

quando ele disse que aqui todo mundo é amigo ai foi que ficou evidenciado a sua falta de

sentimento em relação aos outros, pois como é possível refletir através de suas palavras e

como ele mesmo relata ele pactua da política da boa vizinhança.

Tenho! Aqui todo mundo é amigo, tem uns que diz umas besteiras, uns fuxico, umas

coisa, mais aqui agente faz de conta que não tá vendo, nem liga tem de viver numa

casa dessa é como uma irmandade, quem vivi numa casa dessa, todo mundo que é

desconhecido lá fora e que não tem quase aderente, tem que viver como uma

irmandade, como um bucado de irmão, ser tudo amigo dos outros. (Rubi)

A Senhora Esmeralda ao referir-se aos vínculos de amizades com os outros

usuários diferencia os tipos de amizade percebidos por ela na instituição, como ela mesma

relata umas são boazinhas e outras não. Através de sua narrativa podemos confirmar ainda

mais o quanto a velhice e, consequentemente as relações construídas nessa fase de vida

chegam de formas diferenciadas para cada pessoa. “Tem umas que é bem boazinha e têm

outras que passam tanto carão em mim, eu acho que é bom ficar lá na minha cozinha”.

(Esmeralda).

Para a Senhora Pérola os vínculos de amizade construídos na instituição e a

relação mantida por ela com os outros usuários tem haver com suas condições de saúde e

humor, conforme relatos da entrevista os dias que ela não acorda bem de saúde ela prefere se

61

isolar e não quer conversar com ninguém. “É de dá bom dia! Perguntar como é que tá, mas

tem dia que to com dor [...]”. (Pérola).

A senhora Safira no momento da entrevista demonstrou ser uma pessoa bem

fechada de poucos amigos, relatou que não gostava muito de ficar conversando com os outros

usuários, mas que falava com todos e gostava de ficar no seu cantinho (Refere-se ao quarto,

onde passa a maior parte do tempo). “Tem! Amizade assim, né! Com todo mundo, num tenho

queixa de ninguém, me dou bem com todos”. (Safira).

Sobre os profissionais diz:

O Senhor Ônix ao falar dos profissionais demonstrou certa satisfação, mas ao

mesmo tempo percebemos que ao elogiá-los, ele também consegue perceber a indiferença

existente na forma de tratá-los e ainda evidencia que o motivo deles algumas vezes serem

tratados assim, tem como base o número de idosos que dão trabalho (dependentes) como ele

mesmo relatou e podemos conferir no seguinte trecho relacionado à sua fala.

Eu num tenho o que dizer de nenhum, pra mim tudo são umas ótimas pessoas, que

realmente ás vezes tem uns que num tão muito bem comportado, aqui eles lutam

com 110 idosos, aí eles ficam diferente com a gente, mas é por causa do trabalho dos

outros. (Ônix)

Já a opinião do Senhor Diamante em relação aos profissionais foi demonstrada

através do sentimento de indiferença e expressa com poucas palavras: “São bons!”.

(Diamante).

O Senhor Rubi ao relatar que não tem nada a dizer está referindo-se que não tem

nenhuma queixa e que para ele os profissionais são os melhores “Eu num tenho nada a dizer

não, pra mim é boa ! São as melhores”. (Rubi).

O sentimento percebido através da entrevista com o Senhor Rubi foi de

reconhecimento por ser bem tratado por eles e pelos serviços prestados: “ Eu acho bom, esses

home aí são muito trabalhador, trata os velho bem, porque eu num vó dizer que eles tratam

mal”. (Esmeralda).

A Senhora Pérola demonstrou em seu relato que o sentimento que a guia e que

colabora para que ela tenha uma boa relação com os profissionais é o de amizade, como a

própria relata: “É eu gosto! Por amizade, né! Tudo é amizade”. (Pérola).

O Senhor vê que a instituição exerce papel importante e positivo em sua vida,

pelo fato de ter sido abandonado pela família e ter encontrado apoio na instituição. “A

instituição é muito boa, eles cuidam bem da gente, isso é muito importante para mim! pra

62

mim que não tenho família, não tenho contato com ninguém da família isso é muito

importante!”. (Ònix).

Por ser um dos institucionalizados que se encontra na instituição há mais tempo, o

Senhor Diamante demonstrou uma relação de intimidade e autonomia, onde ele tem suas

necessidades atendidas de imediato. Como ele mesmo relata: “È bom! Bem organizada, não

falta nada aqui, na hora que quer tomar banho, toma! Tem nosso banheiro, tem nosso

sabonete”. (Diamante).

Para o Senhor Rubi, a instituição foi o que melhor aconteceu nessa sua fase de

vida (velhice), pois como ele vivia abandonado por seus familiares e doente perambulando

pelas ruas, a instituição foi sua tabula de salvação e a percebe como o local que o abrigou e

tratou suas doenças. “Foi à felicidade maior que eu encontrei na minha vida, se num fosse

essas casas de abrigo eu já tinha murrido, mas num era de outra coisa não! Era de doença!”.

(Rubi).

Já a senhora Esmeralda no momento da entrevista não expressou que para ela

existisse diferença entre os profissionais e a instituição, sua preocupação maior era em querer

ir para casa, e por mais que soubesse que não havia a menor possibilidade de voltar para casa

(morava sozinha e abandonada por familiares) ela expressava insistentemente que não queria

ficar na instituição. Percebemos que a idosa não aceita bem o processo de institucionalização.

“A casa é a mesma coisa é boa, mas eu queria mesmo era ir pra minha casinha!”.

(Esmeralda).

Através de suas narrativas descritas anteriormente sobre a instituição ao relatar

que se sente “aperriada” por a instituição não ofertar segurança, a senhora Pérola apesar de ter

expressado esse sentimento ela procura vivenciar normalmente o processo de

institucionalização, no seu relato ela até demonstrou está habituada a cumprir as regras e

normas impostas pela institucionalização, mesmo não aceitando esse processo normalmente.

“Gosto da instituição, gosto! Eu gosto de tudim, o que é pra fazer eu faço! Se for pra dançar

agente dança, participo da pintura, escrever eu escrevo”. (Pérola).

Para senhora Safira tanto os profissionais como a instituição tem a mesma

representação para ela, como aponta: “São boas pessoas tratam a gente bem! São ótimas! A

instituição é a mesma coisa”. (Safira).

63

Ao serem perguntados se costumam frequentar espaços fora da instituição, todos

foram bem enfáticos em responder que não podem sair sozinhos, só acompanhados com os

responsáveis pelos passeios e que o dia do passeio é aguardado por muitos.

O Senhor Rubi completa dizendo que: “Se eu tivesse saindo só, como em outras

unidades de abrigo que eu morei, talvez eu tivesse bebendo e fumando por ai como eu fazia”.

(Rubi).

Em relação aos passeios:

Algumas das entrevistas foram realizadas no mesmo dia em que houve um

passeio, pude perceber claramente o sentimento de felicidade exposto ao falarem do passeio.

Ao entrevistar o Senhor Ônix ficou bem evidenciado em sua narrativa o quanto os

passeios são importantes para os usuários, ele deixou transbordar a felicidade sentida por ele

ao ir para o passeio. Falou o quanto senti-se bem em ir para outros ambientes diferentes do

ambiente da instituição e falou que aproveita ao máximo cada dia que participa dos passeios

(Os passeios são realizados geralmente entre duas vezes ao mês). “A gente vai pra praia, pro

North Shopping pra asssitir filme, pra esses canto assim, pra todos esses passei que a gente

vai é acompanhado pra qualquer passei pros restaurante, pra hospital. Tudo é acompanhado”.

(Rubi).

O Senhor Diamante demonstra muita satisfação em participar dos passeios e

relatou que é um momento bem prazeroso para ele poder ver outras pessoas diferentes das do

abrigo. E que só não vai quando está indisposto, como o mesmo relata: “Só saio daqui pros

passeio que é muito bom! Hoje teve um passeio perguntaram se eu queria ir, eu num vou hoje

não! Eu queria ir mais eu tava indisposto, num vou não, vou ficar aqui mermo! (Diamante)

Como relato dos outros usuários o Senhor Rubi ressalta também que a saída da

instituição só e permitida com a presença de profissionais da instituição. Ao falar sobre os

passeios respondeu com satisfação em está na instituição e ainda poder sair para passear,

conversar e ver outras pessoas. “eles num dão liberdade de sair sozinho naquele portão não!

Só saímos para os passeio e, é acompanhado pelas mininas (profissionais responsáveis pelo

passeio). È muito bom sair pra passear e poder ter contato com outras pessoas”. (Rubi).

A senhora Esmeralda relatou com felicidade e emoção que tinha ido passear para

um almoço na praia e que tinha gostado muito e o seu dia tinha sido maravilhoso por causa do

passeio. “Hoje eu fui pro passeio! Foi muito bom me carregaram pra um negócio de almoço

fora, um almoço tão bom! Eu dancei com outras pessoas me diverti!”. (Esmeralda).

64

Ao falar sobre os passeios a Senhora Pérola demonstrou grande satisfação em

participar e em poder sair mesmo que por poucas horas da instituição. “Eu gosto muito de sair

(refere-se aos passeios - Grifo nosso) é muito bom quando agente sai daqui! Às vezes eu fico

cansada de tá todo dia aqui. Eu acho muito bom sair. Só que hoje eu fui e peguei muito sol, tô

morrendo de dor de cabeça!”. (Pérola).

A senhora Safira faz questão de ir para todos os passeios promovidos pela

instituição. Percebemos que os passeios lhe trazem felicidade e ao relatar que quando não

pode ir demonstrou expressão de tristeza, mas logo em seguida ao falar novamente sobre os

passeios transmitiu sensação de liberdade ao sair do abrigo e satisfação em poder ver as coisas

como ela falou (lojas, casas, prédios, entre outros). “Eu vou pra todos os passeios, só não vou

quando estou indisposta! Apesar de ainda ir fazer dois anos que eu to aqui, só perdi um! É

bom demais!”. (Safira).

De acordo com todos os relatos, percebe-se que a situação atual do idoso

institucionalizado ainda deve trilhar um longo processo de ações e políticas públicas que

visem à garantia da efetivação de direitos e Beauvoir (1990) nos alerta sobre a condição atual

do idoso onde a sociedade por vezes não quer enxergar os abusos, dramas e escândalos que

ocorrem com essa população. Surge, portanto, a necessidade de se repensar tal postura.

65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa foi bastante significativa, pois através da investigação foi possível

conhecermos um pouco melhor sobre o universo da pessoa idosa institucionalizada, momento

esse que trouxe grandes contribuições para produção acadêmica, através do acréscimo de

conhecimentos sobre o tema proposto e também para a construção dos possíveis resultados,

que foram alcançados em parte e, ainda contribuindo para gerar novos questionamentos sobre

essa realidade vivenciada por muitos idosos no país e especificamente no Ceará.

O primeiro impacto desta pesquisa foi saber que no Ceará só existe um único

abrigo de idosos público no Estado, ou seja, a Unidade de Abrigo da STDS para atender a 184

municípios, fato que nos leva a refletir a necessidade de se repensar as políticas de defesa e

garantia dos direitos do idoso, pois como vimos, a população brasileira envelhece a cada dia,

e o Brasil já não é um país de jovens; portanto, as políticas públicas precisam seguir essa

lógica.

Investigar o universo do idoso foi bastante desafiador, principalmente por se tratar

de uma realidade complexa movida por angústias, limitações e relatos de vida nem sempre

marcadas por sentimentos agradáveis. Com as visitas e através de observações realizadas na

Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará foi possível conhecer um pouco da dinâmica

da instituição, percebendo-se que apesar do empenho desenvolvido pelos profissionais,

existem limitações que dificultam a efetivação na garantia de direitos dessas pessoas, mesmo

sabendo que a legislação visa garantir a integridade moral e pessoal desses idosos, a exemplo

do espaço físico que carece de melhorias.

Entretanto, de acordo com os relatos dos entrevistados, mesmo sabendo que a

unidade de abrigo realiza acolhimento destinado a essas pessoas ela não representa o local

ideal para esses idosos, analisamos que ainda existem desafios de forma geral a serem

superados, a exemplo de idosos que se encontram em situação de vulnerabilidade social,

abandono, violência doméstica, violação de direitos, entre outras. Para alguns idosos que

conseguem ser inseridos na unidade, ela aparece não só como opção, mas também como única

saída para que essas pessoas possam usufruir de uma velhice com dignidade.

A partir das entrevistas, passamos a conhecer essas pessoas mesmo que por alguns

minutos intimamente, foi um grande aprendizado. Apesar de relatos de vida complexos, eles

conseguiram definir com simples palavras as experiências vividas e com isso refletiram os

66

significados de suas vidas. Com base nos depoimentos coletados o sentimento de abandono,

causado pela perda de vínculos familiares foi um dos mais evidenciados nas entrevistas, não

deixando também de demonstrarem sentimento de saudades em relação à vida que tinham

anteriormente ao lado de seus familiares, amigos e parentes que constituíam antes seus

vínculos familiares. São na maioria das vezes as lembranças positivas que colaboram para que

esses idosos sintam ainda certa sensação de conforto, mesmo que estejam vivenciando a

institucionalização, contribuindo para que esses idosos se prendam as lembranças vividas no

passado e apresentem dificuldades em enfrentar as relações sociais do presente.

Entre as percepções sentidas na unidade, a mais impactante entre as experiências

vivenciadas ao lado dos idosos, foi ter conhecido os reais motivos que contribuíram para que

esses idosos fossem institucionalizados. O que nos levou a refletir em relação aos idosos que

se encontram abandonados nas ruas da nossa cidade e, que nem se quer nos questionamos em

querer saber os motivos que levam esses idosos chegarem nessa fase da vida e encontrarem-se

na condição de abandono e exclusão social, pois na maioria das vezes nem são percebidos,

tornando-se pessoas invisíveis para a sociedade.

No entanto, a institucionalização passa a ser uma consequência de situações

impostas pela sociedade, pela vida ou até mesmo por algumas situações criadas pela própria

pessoa institucionalizada.

Como exemplo sobre as consequências de situações imposta pela sociedade

podemos citar o caso de um dos idosos que durante toda a sua vida viveu sem conhecer a

família e por esse motivo sofreu muito, não podendo ter encontrado apoio em mais ninguém e

passando a viver abandonada pelas ruas da cidade, pois diante a situação vivida não tinha

local de referência e nem como arranjar emprego para prover o seu próprio sustento, acabando

por entrar no processo de institucionalização.

Outro exemplo que podemos citar quando o processo de institucionalização passa

a ser vivenciado por situações causadas pela própria pessoa institucionalizada, tivemos a

história de vida relatada por outro idoso que durante toda a sua vida viveu desprezando a

esposa e filhos (04), pois como ele mesmo relatou que quando era mais novo não os

valorizava e nem sentia falta da família e, que por trabalhar como caminhoneiro passava anos

sem voltar para casa e que foi somente com o passar dos anos que percebeu os danos que

havia causado na família começou a sentir o desprezo e abandono causado por ele mesmo

67

através do rompimento e/ou fragilização de vínculos familiares que culminaram em abandono

familiar e que até a data dessa entrevista ele relatou que não recebi visitas de ninguém.

Com isso, destacamos que cada idoso possui sua particularidade e que o

envelhecimento é sentido de formas variadas e que muitos idosos ao entrarem em uma

instituição de longa permanência se deparam com a necessidade de se adaptarem as regras

institucionais, a conviver com outros idosos institucionalizados e sabemos que essas novas

adaptações nem sempre são tranquilas e facilmente aceitadas por parte dos usuários, ou seja, a

partir de sua institucionalização terão que construir novos vínculos de amizade, que muitas

vezes se “transformam”, ou melhor, dizendo são confundidos e/ou percebidos como

familiares.

Outra questão destaque são as estratégias adotadas pelo abrigo para fortalecimento

dos vínculos comunitários, expressos nos passeios sistematicamente realizados. Urge a

necessidade de para além desses passeios, ser articular outras ações na unidade de abrigo que

possam garantir a efetivação de direitos, podendo citar como exemplos: a interação com

outros abrigos e as ações desenvolvidas pelo CRAS, através do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para idosos, que por sua vez, poderiam fortalecer essas estratégias

atualmente adotadas. Analisamos que os passeios devem ser repensados como um

instrumento potencial que proporcionem uma interação maior com a sociedade, pois ao

analisarmos o relato dos idosos sobre a saída da unidade para outros lugares, todos foram

enfáticos em responder que o passeio por muitas vezes torna-se um dos momentos mais

esperados por eles. Sendo percebido claramente que a questão não estava centrada no passeio

pelo passeio, mas sim deles de alguma forma se sentirem mais vivos tendo contato com o

mundo exterior, mesmo que por algumas horas deixarem de lado um pouco do cotidiano

vivenciado na unidade, com suas angústias e rotinas recorrentes, tendo a possibilidade de

conhecer, manter conversa e interagir com outras pessoas que não fazem parte do universo da

instituição.

Percebemos o quanto é relevante para esses idosos o contato com o mundo

exterior, é preciso que a possibilidade de saída dos idosos da unidade possa proporcionar aos

idosos a socialização e interação com outras instituições e com outros centros de convivência,

pois seria uma experiência de grande valor a interação com outros idosos que vivenciam

também o processo de institucionalização.

68

Esperamos que essa pesquisa contribua para a melhoria das ações desenvolvidas

pela Unidade de Abrigo, tendo a certeza de que os resultados aqui obtidos não se encerram

com a conclusão desse trabalho, desejando que novas investigações acadêmicas brotem sobre

esse tema.

69

REFERÊNCIAS

Alonso, Fábio Roberto Bárbolo. Envelhecendo com Dignidade: O Direito dos Idosos como o

Caminho para a Construção de uma Sociedade para Todas as Idades/ Alonso, Fábio Roberto

Bárbolo,UFF/ Programa de Pós-Graduação em sociologia e Direito.Niterói, 2005.172 f.

Disponível em: http://www.uff.br/ppgsd/dissertacoes/fabio_alonso2005.pdf

ANVISA. RDC 283/2005 Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis

/anvisa/2005/res0283_26_09_2005.html

ARAÚJO, M. O. P. H.; CEOLIM, M. F. A avaliação do grau de independência de idosos

residentes em instituições de longa permanência. Rev Esc Enferm USP. São Paulo, v. 41, n.

3, p. 378-385, set., 2007.

BARBOSA, José Aécio Alves. O idoso, a crise familiar e as instituições de longa

permanência – uma análise sócio-crítica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 100, Maio

de 2012. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_

artigos_leitura&artigo_id=11615&revista_caderno=24>. Acesso em 09. dez. 2014.

BAZO, M. T. Aportaciones de las personas mayores a la sociedad: analisis sociológico.

REIS, Madri, n. 73, 1996, p. 209-222.

BEAUVOIR, S. de. A velhice. Trad. De Maria Helena Franco Martins. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1990.

BESSA, M. E. P.; SILVA, M. J. Motivações para o ingresso dos idosos em instituições de

longa permanência e processos adaptativos: um estudo de caso. Texto contexto – enferm.

V. 17 n.2 Florianópolis abr./jun. 2008.

BOTH, Agostinho. (1999). Gerontagogia: educação e longevidade. Passo Fundo: Imperial.

BRASIL.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado

Federal, Subsecretária de Edições Técnicas, 2011.

BRASIL, Estatuto do Idoso: Lei nº 10741, de 1º de outubro de 2003, dispõe sobre o Estatuto

do Idoso e dá outras providências. Brasília: Câmara dos Deputados: Edições Câmara, 2003.

BRASIL. Lei n°8.742 de 7 de dezembro de 1993: Lei Orgânica da Assistência Social

(LOAS). Brasília/DF: Poder Legislativo. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742.htm> Acessado em 10. set.2014.

BRASIL. Lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994: Política Nacional do Idoso. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm> acessado em 10. set.2014.

BRASIL. SM. ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária RDC n º 283, de 26 de

setembro de 2005. Regulamento técnico para o funcionamento das instituições de longa

70

permanência para o idoso, Brasília: ANVISA, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações

Programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde da pessoa idosa e envelhecimento / Ministério

da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e

Estratégicas, Área Técnica Saúde do Idoso. – Brasília, 2010. 44 p.: il. – (Série B. Textos

Básicos de Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006, v. 12)

BRASIL. Tipificação nacional de serviços socioassistenciais. Resolução n. 109, de 11 de

novembro de 2009. Brasília: MDS/CNAS, 2009b.

BEHRING, Elaine Rosseti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história.

9ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Biblioteca básica do Serviço Social, v. 2).

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história.

São Paulo: Cortez, 2008. (Biblioteca Básica de Serviço Social, 2).

CALDAS, C. P., O Idoso Em Processo Demencial: O Impacto na Família. In: Antropologia,

Saúde e Envelhecimento (M. C. S. Minayo & C. Coimbra Jr., org.), pp. 51-71, Rio de Janeiro:

Editora Fiocruz. Rio de Janeiro RJ, 2002.

CAMARANO, Ana Amélia, Kanso, Solange. As instituições de longa permanência para

idosos no Brasil. Rio de Janeiro, v, 27, n.1. 2004

CAMARANO, A.M; Mello, J. L. CUIDADOS DE LONGA DURAÇÃO NO BRASIL: o

arcabouço legal e as ações governamentais. In. Camarano, A. M. (Organizadora) Cuidados de

longa duração para a população idosa: um novo risco social a ser assumido?– Rio de Janeiro:

Ipea, 2010.

CAMARANO, A. A., PAISANATO, M. T. introdução. In: CAMARANO, A. A. (org). Os

Novos Idosos Brasileiros muito além dos 60. Rio de Janeiro, IPEA, p.235-292. 2004.

CARVALHO, Rosângela Rodrigues de. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa

[manuscrito]: competência dos cuidadores de pessoas dependentes / Rosângela Rodrigues de

Carvalho. – 2011. 122 f. Monografia (especialização) -- Curso em Legislativo e Políticas

Públicas, Câmara dos Deputados, Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento

(Cefor), 2011.

CARVALHO, M. C. Velhos ou idosos. A terceira idade. São Paulo, v. 14, n. 26, p.94-111.

Jan. 2003

CHRISTOPHE, Michelin. Instituições de longa permanência para idosos no Brasil: uma

opção de cuidados de longa duração? Tese de Mestrado. IBGE. Rio de Janeiro: 2009 p.178.

CNAS. Política Nacional de Assistência Social – PNAS, Brasília: MDS, 2004.

COELHO, Virginia Paes. O trabalho da mulher, relações familiares e qualidade de vida. In:

Revista Social & Sociedade, nº 71, ano XXIII, setembro 2002, p. 63-79

71

DEBERT, G. G. A reinvenção da velhice. São Paulo: Edusp, 1999.

DIÁRIO DO NORDESTE. População de idosos cresce 61% no Ceará. 27/05/2011. Disponível em

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/populacao-de-idosos-cresce-61-no-ceara-

1.397883

ESTATUTO DO IDOSO (2003). Lei nº 10.741 de 01 de outubro de 2003. Brasília – DF:

Senado Federal.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4º. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

______. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GOFFMAN, Erving. Manicônios, Prisões e Conventos, São Paulo: Perspectiva, 1974.

HAHNE, Rosana. SOCIEDADE, ENVELHECIMENTO HUMANO E CIDADANIA, 2003

Disponível em:<http://www.ibgeron.org.br/documentos/26_rosana_sociedade_

envelhecimento.pdf>. Acesso em: 21 Nov, 2014.

GOLDMAN, Sara Nigri. As dimensões sócio políticas do envelhecimento. In: PY, Ligia et al.

(Org.). Tempo de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. Rio de Janeiro: Nau

2004. p. 61-76.

GOLDANI, Ana Maria. Relações intergeracionais e reconstrução do Estado de bem-estar

social. Por que se deve pensar esta relação para o Brasil In Camarano, A.A (org.). Os novos

idosos brasileiros: muito além dos 60. Rio de janeiro: IPEA, p. 211-250, 2004.

GOMES, A. L. O Benefício de Prestação Continuada: uma trajetória de retrocessos e limites –

construindo possibilidades e avanços? In: Sposati Aldaíza. Proteção Social de Cidadania:

inclusão de idosos e pessoas com deficiência no Brasil, França e Portugal. São Paulo:

Cortez, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Censo 2010. Disponível

em: www.ibge.gov.br< acessado em 12 de setembro de 2014>.

IBGE – Síntese de Indicadores Sociais divulgada em 18.09.2010, principal fonte de

informações a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009.

LAKATOS, E.M; Marconi, M. A. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas,

1993. de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação

de dados. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1996.

MARCONI, M. D. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução

de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de

dados. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

MASCARO, S. A. O que é velhice. São Paulo: Brasiliense, 2004.

72

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29ª

Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. http://www.saudeidoso.icict.fiocruz.br/index.php?pag=polit

MOREIRA, M. Mavan. O envelhecimento da população brasileira: intensidade,

feminização e dependência. In: Revista Brasileira de Estudos Populacionais. 15(1). Brasília,

ABEP, 1996.

MOREIRA, A. H. Anotações sobre o Direito do Idoso no Brasil. Disponível em:<

htpp://jus.com.br/revista/texto/20634/anotações-sobre-o-direito-do-idoso-no-brasil>. Acesso

em: 13/10/2014.

NEGREIROS, T. C. G. M. A Nova Velhice: Uma Visão Multidisciplinar. Rio de Janeiro:

Revinter, 2003.

NOGUEIRA, Marco Aurélio. Os direitos de cidadania como causa cívica: o desafio de

construir e consolidar direitos no mundo globalizado. Texto didático. XI Congresso Brasileiro

de Assistentes Sociais. Fortaleza, 2004.

OLIVEIRA, M. C. T. Benefício de prestação continuada e serviço social: direito social ou

assistencialização do direito? 2006. Disponível em: <http://www.ess.ufrj.br/monografias/

103108793.pdf>. Acesso em: 20 set. 2011.

OLIVEIRA, C. R. M.; SOUZA, C. S.; FREITAS, T. M.; RIBEIRO, C. Idosos e família: Asilo

ou casa. Portal Psicologia, 1999. In: OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira. Família, gênero

e geração: Temas Transversais. Fortaleza: EDUECE, 2004.

OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira. Família, gênero e geração: Temas Transversais.

Fortaleza: EDUECE, 2004.

ONU. Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.

Disponível em: <http//www.onu-brasil/.org.br/documentosdireitoshumanos.php>. Acesso em

10/10/2014.

PEREIRA, P. A. (1998). A política social no contexto da seguridade social e do Welfare

State: a particularidade da assistência social. Revista Serviço Social & Sociedade, São

Paulo, n.56.

POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO (1998). Programa Nacional de Direitos Humanos.

Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. Poder Executivo. Ministério da Justiça.

Brasília, DF.

RAMOS, L. R. Envelhecimento populacional: um desafio para o planejamento em saúde.

Anais da I Oficina de Trabalho sobre Desigualdades Sociais e de Gênero em Saúde do

Idoso. Ouro Preto, MG, 2002, p. 85-88.

73

SANTOS, S. M. A. O cuidador familiar de idosos com demências: Um estudo qualitativo

em famílias de origem nipo-brasileiro e brasileira [doutorado]. Campinas UEC Faculdade de

Educação, 2003.

SCORTEGAGNA, Paola Andressa; OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Idoso: um novo ator

social. In: IX ANPED SUL Seminário de Pesquisa e Educação da Região Sul 2012.

Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/

viewFile/1886/73

SCHNEIDER, Rodolfo Herberto and IRIGARAY, Tatiana Quarti.O envelhecimento na

atualidade: aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Estud. psicol.

(Campinas)[online]. 2008, vol.25, n.4, pp. 585-593. Acesso em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2008000400013

SILVA, J. C. Velhos ou idosos. A terceira idade. São Paulo, v. 14, n. 26, p.94-111. Jan. 2003

SIMÕES, C. Curso de direito do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2009. (Biblioteca

Básica do Serviço Social; v. 3).

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA. Mitos. Disponível

em:<http://www.sbgg.org.br/profissional/artigos/pdf/mitos.ppt>. Acesso em 15. out.2014.

SPOSATI, Aldaíza. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: Uma

questão de debate. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

___________. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: Uma questão em

análise. 10. ed. São Paulo, Cortez: 2008.

TEIXEIRA, Solange Maria. Envelhecimento e trabalho no tempo de capital: implicações

para a proteção social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008.

TEIXEIRA, Solange Maria. As condições de vida dos velhos trabalhadores aposentados no

Brasil. I jornada internacional de políticas públicas São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007.

http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIII/html/Trabalhos/EixoTematicoD/049ff0a4836f6

44bfd89SOLANGE%20MARIA_TEIXEIRA.pdf

UCHÔA. E, Firmo J. D. A, LIMA, Costa M. F. F. O envelhecimento e saúde: experiência e

construção cultural. In: Minayo M. C. S, Coimbra Jr. CEA, organizadores: Antropologia,

Saúde e envelhecimento. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002. p.25-35

UCHÔA, E.; FIRMO, J. O. A. antropologia, saúde e envelhecimento. In: MINAYO, M. C.

S.; Prefeitura de Porto Alegre. http://www1.prefpoa.com.br/pwcidadao/default.php?reg=

10&p_secao=133

VERAS, R. P. Pais Jovem com Cabelos Brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de

Janeiro: Relume Dumará/UERJ, 1994.

VERAS, R. (2007) Fórum envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD:

74

demandas e desafios contemporâneos. Introdução. Cad. Saúde Pública, n.° 23, v. 10, out., p.

2463-6.

ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed 2000.

www.abgeronto.blogspot.com

75

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o Sr (a) a participar da pesquisa “A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA

INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE O TEMA”, sob a

responsabilidade da pesquisadora AURICELIA CORREIA DA SILVA, que tem por objetivo

geral, compreender os motivos que culminam com a fragilização e/ou rompimentos dos

vínculos familiares da pessoa idosa e consequentemente sua institucionalização.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, com roteiro de perguntas pré-

definidas e será gravada se assim você permitir e que tem duração aproximada de quinze a

vinte minutos.

Os resultados desta pesquisa serão publicados nos meios científicos e em nenhum momento o

Sr (a) será identificado (a). O Sr (a) não terá nenhum gasto ou ganho financeiro por participar

desta pesquisa.

Se depois de consentir em sua participação o Sr (a) pode desistir de continuar participando,

tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja

antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua

pessoa.

Para qualquer outra informação, o Sr (a) poderá entrar em contato com a pesquisadora no

endereço Avenida João Pessoa, 3884, Bairro Damas e telefone de contato (85) 3201-7000.

Eu,_____________________________________________________________________ , fui

devidamente informada sobre o teor da pesquisa e a importância desta. Sendo assim concordo

com minha participação, assinando as duas vias de igual teor.

_____________________________________ Data: ___/ ____/ _____

Assinatura do participante

_____________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

76

APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Nome:

Sexo: ( ) F ( ) M Idade: Naturalidade:

Estado Civil:

Escolaridade:

Profissão:

Você tem renda mensal? ( ) Sim ( ) Não .

De onde vem essa renda?

Possui filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?

1. Há quanto tempo o Sr (a) reside na Instituição e o que lhe trouxe aqui?

2. O Sr (a) recebe visitas? De quem? Qual a periodicidade dessas visitas?

3. O que é família para o Sr (a) e qual o significado dela para você?

4. O Sr (a) já sofreu algum tipo de violência? Qual? Quem a praticou? Caso afirmativo,

como procedeu quando sofreu violência (ficou calado, denunciou?)

5. Qual a sua percepção sobre a velhice e de que forma você a percebe, vivendo em uma

instituição de longa permanência?

6. Você possui vínculos de amizade com outros idosos da instituição? Como?

7. Você costuma frequentar espaços fora da instituição – exemplo ir ao centro da cidade,

passear pelos parques? Se a sua resposta for sim, com quem vai?

8. Qual a principal mudança sentida por você na velhice?

9. Qual a sua opinião sobre os profissionais e a instituição?