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Anna Christina Miana ADENSAMENTO E FORMA URBANA: INSERÇÃO DE PARÂMETROS AMBIENTAIS NO PROCESSO DE PROJETO Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo Área de concentração: Tecnologia da Arquitetura Orientadora: Prof. Dra. Marcia Peinado Alucci Co-orientadora: Prof. Dra. Joana Carla Soares Gonçalves São Paulo 2010

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  • Anna Christina Miana

    ADENSAMENTOEFORMAURBANA:INSERODEPARMETROSAMBIENTAIS

    NOPROCESSODEPROJETO

    Tese de Doutorado apresentada Faculdade

    de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    de So Paulo para a obteno do ttulo de

    Doutor em Arquitetura e Urbanismo

    rea de concentrao: Tecnologia da

    Arquitetura

    Orientadora: Prof. Dra. Marcia Peinado Alucci

    Co-orientadora: Prof. Dra. Joana Carla Soares

    Gonalves

    So Paulo

    2010

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

    QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE

    QUE CITADA A FONTE.

    E-MAIL: [email protected]

    Miana, Anna Christina M618a Adensamento e forma urbana : insero de parmetros ambientais no processo de projeto / Anna Christina Miana. --So Paulo, 2010. 393 p. : il. Tese (Doutorado - rea de Concentrao: Tecnologia da Arquitetura) - FAUUSP. Orientadora: Marcia Peinado Alucci Co - Orientadora: Joana Carla Soares Gonalves

    1. Morfologia urbana 2. Conforto ambiental 3. Energia 4. Sustentabilidade I.Ttulo CDU 711.41

  • Dedicatria

    Dedico este trabalho aos meus queridos

    pais e ao meu marido com meu amor e

    a minha eterna gratido. deles

    tambm o mrito desta minha

    conquista.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

  • Agradecimentos

    AgradecimentosA Deus, pela oportunidade de enfrentar mais um desafio e por no permitir que eu

    estivesse sozinha nesta jornada. As pessoas que de alguma forma me ajudaram so aqui

    mencionadas com toda minha gratido.

    O meu profundo agradecimento as minhas queridas orientadoras e amigas Mrcia Alucci e

    Joana Gonalves pela confiana depositada, pelas orientaes que me guiaram durante

    toda pesquisa e por aceitarem junto comigo o desafio pela busca de como contribuir para

    a produo de espaos urbanos mais sustentveis. Obrigada Marcia, pela honra de sua

    orientao ao longo desses anos e por me ensinar o que vai alm da teoria. Obrigada Jo

    por me introduzir ao tema da pesquisa, por todo o incentivo e por fazer mais que o

    possvel para me ajudar a crescer profissionalmente.

    Em especial, meu profundo agradecimento minha famlia. Meu marido, Jos Henrique e

    meus pais, Jos Carlos e Maria Ceclia, pelo amor to essencial para o meu desempenho.

    Tambm, pela preocupao com todas as etapas e todas as dificuldades vividas nesse

    meu processo de amadurecimento profissional. Pelo interesse demonstrado para com o

    tema de pesquisa e pela intensa dedicao e participao em tudo que foi possvel. Aos

    meus irmos Thereza Rachel e Carlos Eduardo, e meus cunhados Marcelo, Carolina e Ana

    Paula, pelo amor e apoio incondicional.

    Meu carinho e agradecimento aos pesquisadores do LABAUT Laboratrio de Conforto

    Ambiental e Eficincia Energtica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

    Universidade de So Paulo, pelo contnuo aprendizado nestes oito anos de convivncia.

    Em especial aos professores Ansia Frota, Fernando Cremonesi, Roberta Kronka e Denise

    Duarte pela disponibilidade em transmitir o conhecimento e a experincia adquirida. Aos

    colegas, hoje grandes amigos, Rafael Brando, Alessandra Prata Shimomura, Leonardo

    Monteiro e Norberto Moura, pelas discusses e fundamental ajuda durante esta pesquisa,

    e por compartilharam comigo tantos momentos de incertezas e tambm de conquistas. E

    as companheiras Bruna Luz, Luciana Ferreira, Erica Mitie, Paula Shinzato, Monica

    Marcondes, Rita Buoro, Andrea Vosgueritchian e Carolina Leite e companheiros Jos

    Ovdio, Rodrigo Cavalcanti e Alex Uzueli, pela amizade e pelo aprendizado durante o

    desenvolvimento de trabalhos conjuntos. Sem vocs, com certeza, tudo seria mais difcil.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    A todos os pesquisadores que participaram junto ao LABAUT FAUUSP do exerccio de

    projeto apresentado no Urban Age, pelas horas de trabalho em grupo, em busca de

    parmetros, mtodos e solues fundamentais para a realizao desta pesquisa.

    A supervisora desse trabalho no exterior, Ester Higueras, a quem agradeo pela

    receptividade e ateno dispensada no estgio realizado no exterior, pela credibilidade

    que depositou no meu potencial de pesquisadora, e pela fundamental contribuio para o

    desenvolvimento deste trabalho.

    Ainda no que diz respeito aos trabalhos dessa investigao no exterior, meus sinceros

    agradecimentos a todos que me receberam para entrevista, por acreditarem no tema da

    pesquisa e por colaborarem para o sucesso desses estudos. Os nomes desses

    profissionais e as respectivas empresas s quais esses representam esto presentes na

    lista. Em Madrid, Andres Ortega, da E.T.S.A da Politcnica de Madrid e do Andrs Perea

    Ortega Arquitecto; Ana Iglesia, da Empresa Municipal de la vivienda , Prefeitura de

    Madrid; Michael Moradiellos, do Ecossistema Urbano e Juan Arana, do Equipo Bloque

    arquitectos. Em Barcelona Cyntia Echave Martinez, da Agencia de Ecologa Urbana de

    Barcelona (BCN). Em Londres John Worthington e Steven Smith, do DEGW architects

    and consultants; Raul Moura e Sandro Tubertini, do BDSP Partnership Consulting

    Engineers, Alessandra da Fieno Cobian, Kohn Pedersen Fox Associates (KPF); Guy Battle,

    do Battle McCarthy Consulting Engineers and Landscape Architects e Peter Sharratt, do

    WSP. Sue Riddlestone, BioRegional, pelo envio de material para pesquisa via email.

    Com respeito s entrevistas realizadas no Brasil, vale destacar a grande contribuio de

    Pedro Sales, da Secretaria Municipal de Planejamento da Cidade de So Paulo (SEMPLA),

    de Regina Meyer, da FAUUSP e de Candido Malta, do escritrio de Planejamento,

    Urbanismo e Arquitetura URBE. Obrigada por seus depoimentos experientes na rea da

    pesquisa, tambm por sua ateno e conversas que estimularam muitas reflexes sobre o

    tema.

    Novamente agradeo aos Professores Pedro Sales e Norberto Moura pelas crticas e

    orientaes que auxiliaram o prosseguimento e finalizao desse trabalho, na ocasio do

    exame de qualificao.

    Sou ainda profundamente grata Liza Andrade, pelo exemplo de profissional e por me

    ajudar sempre, desde a poca de graduao.

  • Agradecimentos

    Por me introduzir na rea do Conforto Ambiental e me orientar sempre que solicitada,

    Eleonora Sad de Assis.

    s amigas e tambm colegas de profisso Cintia Mara Figueiredo e Maria Tereza Diniz,

    por estarem sempre presentes. Obrigada pelas palavras de fora e incentivo nos

    momentos que mais precisei.

    As colegas e amigas da Anab Regina Nogueira e Silvia Manfredi pela confiana e pelos

    momentos que trabalhamos juntas.

    Durante as etapas de trabalho no exterior, gostaria de agradecer Tereza Bruzzi, Andrea

    Vosgueritchian e aos amigos da USP do programa Santander Banespa pelo apoio,

    companhia e pelos bons momentos.

    Aos meus padrinhos, Eduardo e Anna Lucia, por me acolherem com tanto carinho e por

    serem muitas vezes meu suporte aqui em So Paulo.

    minha av Elza, aos meus tios e primos que de longe acompanham os meus passos e

    torcem por mim.

    As secretrias da Ps Graduao, em especial a Regina, Isa, Ivani e Maria Ins e as

    secretrias do Departamento de Tecnologias, Silvana e Viviane, pela dedicao e ateno

    com que me auxiliaram ao longo do percurso.

    Aos bibliotecrios da FAU e da FAU Maranho, em especial a Regina, Maria Jos, Estelita

    e Paola pela ajuda e simpatia sempre.

    Novamente, agradeo aos amigos Leo, Ale, Rafa, Eriquinha e Lu, pelo o carinho e

    dedicao durante a reviso do texto da tese e pela ajuda e todo apoio, principalmente,

    nessa fase final.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), por ter

    financiado esta pesquisa e a Prreitoria da Ps-Graduao da Universidade de So Paulo

    (PRPG/USP) e ao Santander Banespa pelo auxlio para realizao das atividades dessa

    pesquisa no exterior.

    Por fim, com carinho especial, agradeo ao meu filho Tiago, meu grande companheiro na

    difcil fase de concluso da Tese. Novamente agradeo a ele, meus afilhados, Mariana e

    Pedro e meus sobrinhos, por ser uma fonte de inspirao para a construo de cidades

    melhores e mais sustentveis.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    queles que acreditaram em mim e na pesquisa e que de alguma maneira contriburam

    para sua realizao, MUITO OBRIGADA!

  • Resumo

    ResumoA presente pesquisa parte do problema que o crescimento e o adensamento urbano so

    inevitveis e que vm causando diversos danos ao meio natural e qualidade ambiental

    das cidades. Diante disso, visando minimizar os impactos gerados pelo processo de

    urbanizao, com base na idia de que o adensamento urbano pode ser positivo para a

    construo de cidades mais sustentveis, o trabalho parte da necessidade da insero da

    camada meio ambiente no processo de projeto urbano. Alm disso, todas as outras

    camadas (usos, estoque construdo, redes de infraestrutura, etc) tambm devem ser

    analisadas sob o enfoque ambiental. Para isso, o trabalho apresenta como objetivo geral

    a elaborao de um mtodo para insero de fatores ambientais relacionados ao

    adensamento e a forma urbana no processo de projeto. Esta pesquisa foi desenvolvida

    em trs distintos momentos: um primeiro de fundamentao terica e construo de

    conceitos; um segundo momento de anlise e avaliao de projetos urbanos

    contemporneos sob os aspectos da sustentabilidade ambiental e; um terceiro momento

    de sntese e proposio da incorporao de parte da camada meio ambiente no processo

    de projeto urbano. Durante o desenvolvimento da pesquisa, verificou-se que, de fato, os

    projetos que apresentaram uma preocupao explcita com as questes ambientais, por

    parte dos projetistas, obtiveram melhores resultados, na avaliao com relao

    sustentabilidade urbana, como, por exemplo, os ecobairros presentes na Europa. Alm

    disso, foi concludo que no existem solues nicas, cada sitio e cada projeto necessita

    de medidas especficas relacionadas s suas caractersticas prprias. Da mesma maneira

    que no existe um mtodo de projeto universal, j que esse definido diante dos

    problemas e potencialidades apresentados. Porm so necessrias a definio e adoo

    de parmetros e regras que orientem o processo de projeto que visa sustentabilidade

    ambiental, atendimento s exigncias humanas e produzindo espaos urbanos de

    qualidade com o mnimo impacto ao meio natural.

    Palavras-chave: morfologia urbana, conforto ambiental, energia, sustentabilidade.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

  • Abstract

    AbstractThis research is based on the assumption that urban growth and densification are

    inevitable and have been causing damage to the natural environment and the

    environmental quality of cities. With the objective of minimize the impacts caused by the

    urbanization processes and assuming that urban densification can be positive to the

    achievement of more sustainable cities, the research introduces the environmental layer

    in the process of developing urban projects. Furthermore, all the other fundamental layers

    (use, building stock, infrastructure, etc) should also be accessed through the

    environmental perspective. In order to do that, the general objective of this work is the

    definition of a method for the insertion of environmental factors related to the

    densification and urban form in the design process of the built environment. This research

    was carried out in three phases: the first one is about the formulation of the theoretical

    background including the definition of key concepts; a second phase of analysis of

    contemporary urban projects approaching environmental and sustainable aspects and; the

    third phase of synthesis and proposition to include a key part of the environmental layer

    in the design process of the built environment. During the development of the research, it

    was verified that the case study projects which express a clear concern with

    environmental issues from the designers perspective got better overall results in the

    assessment of urban sustainability, such as the eco-neighborhoods in Europe. Besides, it

    was concluded that there are no unique solutions, each place and project needs specific

    measures related to its own features. In the same token, there is not one unique method

    or universal project, once this is defined by the local problems, challenges and

    potentialities. However, it is necessary the definition and adoption of design rules which

    can direct the design process towards environmental sustainability, peoples expectations

    and urban spaces with quality and the reduced environmental impact.

    Key-words: urban form, environmental comfort, energy, sustainability

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

  • Listas

    ListadeFigurasFigura1:Consumoenergticodesagregadosetorresidencial.................................................................32Figura2:Consumoenergticodesagregadosetorresidencial.................................................................33Figura3:reacompotencialdeadensamento,RegiodaLuz,SoPaulo................................................37Figura4:reacompotencialdeadensamento,BarraFunda,SoPaulo..................................................37Figura5:Esquemailustrativodascamadasdoprojetourbanocomosenfoquesqueestasdevemser

    trabalhadas...................................................................................................................................38Figura6:PlantadacidadedeGranada....................................................................................................50Figura7:CidadedeGranada..................................................................................................................50Figura8:PlantadacidadedeToledo......................................................................................................50Figura9:CidadedeToledo.....................................................................................................................50Figura10:CidadedeToledoruaestreita.................................................................................................50Figura11:CidadedeToledoruaestreita.................................................................................................50Figura12:CidadedeGranadaruaestreita..............................................................................................50Figura13:PlanodeMileto.....................................................................................................................52Figura14:PlanodeTimgad....................................................................................................................52Figura15:DesenhodavilamodelodeOwen..........................................................................................55Figura16:VilamodelodeOwen.............................................................................................................55Figura17:NewLanark,gravuradosculoXIX.........................................................................................55Figura18:OFalanstriodeCharlesFourier.............................................................................................55Figura19:CidadeLineardeSoriaeMata................................................................................................57Figura20:Diagr.deHowardPlanejamento............................................................................................63Figura21:Diagr.deHowardDistritoeCentro.........................................................................................63Figura22:Diagr.deHowardConstelaodeCidades..............................................................................63Figura23:VistaareadeLetchworth,1904............................................................................................63Figura24:Welwyn.................................................................................................................................63Figura25:Letchworth............................................................................................................................63Figura26:ProjetodeWelwyn,1920.......................................................................................................63Figura27:ImagempropostaBroadAcreCitydeFrankLloydWright.......................................................66Figura28:ImagempropostaBroadAcreCitydeFrankLloydWright.......................................................66Figura29:CidadeIndustrialdeTonyGarnier(1904)Plantaparcialdobairroresidencial.......................68Figura30:CidadeIndustrialdeTonyGarnier(1904)habitaesunifamiliares......................................68Figura31:SiedlungWesthausendeErnstMayPlanta...........................................................................69

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    Figura32:Plantadadivisodobosqueparaojardimprivado.Figura33:corteFigura34:imagemdasfachadas........................................................................................................................................69

    Figura35:DesenhodeLeCorbusierparaasCidadesTorresPlanta.......................................................76Figura36:DesenhodeLeCorbusierparaasCidadesTorresPerspectiva...............................................76Figura37:LaVilleRadieuse:plantadeimplantaocomasfaixasdezoneamento.................................76Figura38:ImagensCidadeContemporneade3milhesdehabitantes.................................................76Figura39:FotoArizona,modelodifuso..................................................................................................80Figura40:FotoHongKong,cidadecompacta.........................................................................................80Figura41:BlocopermetrodaquadraBarcelona....................................................................................84Figura42:BlocopermetrodaquadraBarcelona....................................................................................84Figura43:EdifcioLminaMinistriodaEducao,RiodeJaneiro,1940FachadaNorte......................85Figura44:EdifcioLminaBancoSulAmericano(atualBancoIta),SoPaulo,1965............................85Figura45:EdifcioTorreNewYork.......................................................................................................85Figura46:EdifcioTorreMontagemcomvriosedifciosaltos..............................................................85Figura47:Metabolismolinear.............................................................................................................103Figura48:Metabolismocircular...........................................................................................................103Figura49:Ciclodagua.......................................................................................................................106Figura50:Impactosnociclodaguaapsaconstruoemreasurbanas...........................................106Figura51:Diferenanoamortecimentodohidrogramadeenchenteemfunodamodificaono

    percursodasguas......................................................................................................................107Figura52:Grficodevazoxtempo,ilustrandooimpactodaretificaodosriosnohidrogramadecheia.

    ...................................................................................................................................................107Figura53:Cicloenergticomodeloatual..............................................................................................108Figura54:Cicloenergticomodelopropostoparafuturo.....................................................................108Figura55:Estudodensidadepopulacionalxocupaodosolourbano..................................................111Figura56:EstudodeRogerssobrearelaoentredensidadeeformaurbana......................................119Figura57:EstudodeVargassobrearelaoentredensidadeeformaurbana......................................119Figura58:ImagemareaprojetoExpoSevilha.....................................................................................171Figura59:ImagemareadareadaExpoSevilha................................................................................171Figura60:PlantadaExpoSevilha.........................................................................................................171Figura61:EspaodetransioExpo.....................................................................................................171Figura62:Torrespararesfriamentodoar............................................................................................171Figura63:ImagemprojetoExpoSevilha...............................................................................................171Figura64:reaantesdaintervenourbana,Lisboa............................................................................177Figura65:reaapsaintervenourbana,Lisboa...............................................................................177

  • Listas

    Figura66:ImagemdareadaExpoLisboa,atualmente........................................................................177Figura67:ImagemdareadaExpoLisboa,atualmente........................................................................177Figura68:ImagemareaprojetoExpo.................................................................................................184Figura69:ImagemdaExpoKronsberg..................................................................................................184Figura70:Imagemprojetoecobairro....................................................................................................184Figura71:ExpoPlantaProjetoKronsberg.............................................................................................184Figura72:ImagemprojetoecobairroKronsberg...................................................................................184Figura73:ImagemprojetoecobairroKronsberg...................................................................................184Figura74:Maquetedoprojeto.............................................................................................................191Figura75:Imagemreadoprojeto.......................................................................................................191Figura76:readoporto......................................................................................................................191Figura77:Orlamartima......................................................................................................................191Figura78:Orlamartimacomedifciosaltos.........................................................................................191Figura79:rearesidencialVilaOlmpica............................................................................................191Figura80:ImagemareaPotzdamerPlatz............................................................................................200Figura81:PlantaprojetoPotzdamerPlatz............................................................................................200Figura82:FotoPotzdamerPlatz...........................................................................................................200Figura83:FotoPotzdamerPlatz...........................................................................................................200Figura84:FotoPotzdamerPlatz............................................................................................................200Figura85:FotoPotzdamerPlatz...........................................................................................................200Figura86:FotoareaGreenwichpennsula..........................................................................................205Figura87:PlantaGreenwichpennsula.................................................................................................205Figura88:ProjetoGreenwichpennsula...............................................................................................205Figura89:ProjetoGreenwichpennsula...............................................................................................205Figura90:GreenwichVillage................................................................................................................205Figura91:GreenwichVillage................................................................................................................205Figura92:ProjetoElephantandCastle.................................................................................................212Figura93:ProjetoElephantandCastle.................................................................................................212Figura94:Estudodeinsolao.............................................................................................................212Figura95:Estudoconfortoambiental...................................................................................................212Figura96:FotodobairroElephant&Castle..........................................................................................212Figura97:FotodobairroElephant&Castle..........................................................................................212Figura98:PlantaprojetoShangai.........................................................................................................217Figura99:MaqueteProjetoShangai.....................................................................................................217Figura100:Estudodosfluxos,projetoShangai.....................................................................................217Figura101:MisturadeusosprojetoShangai........................................................................................217Figura102:ImagenShangai..................................................................................................................217

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    Figura103:MaqueteShangai...............................................................................................................217Figura104:FotoareaEcolonia...........................................................................................................227Figura105:Plantadoecobairroecolonia..............................................................................................227Figura106:FotoEcolonia.....................................................................................................................227Figura107:FotoEcolonia.....................................................................................................................227Figura108:FotoareaprojetoGWL.....................................................................................................233Figura109:PlantaecobairroGWL........................................................................................................233Figura110:ProjetoecobairroGWL.......................................................................................................233Figura111:Inserodoecobairronoentorno......................................................................................233Figura112:Fotodareadeconvivncia...............................................................................................233Figura113:interiordoecobairroGWL..................................................................................................233Figura114:ImagemareaEcobairroViikki...........................................................................................240Figura115:PlantaEcobairroViikki.......................................................................................................240Figura116:FotoareadoprojetoecobairroViikki..............................................................................240Figura117:FotodoecobairroViikki.....................................................................................................240Figura118:ImagemareaecobairroSolarcity......................................................................................246Figura119:Plantaprojetosolarcity......................................................................................................246Figura120:Estudodeinsolaodosedifciosdoecobairrosolarcity.....................................................246Figura121:Estudodeinsolaodosedifciosdoecobairrosolarcity.....................................................246Figura122:ImagensdoecobairroSolarcity..........................................................................................246Figura123:EsquemacomparandoBedzedaummodelodebairroconvencional..................................249Figura124:PlantaecobairroBedzed....................................................................................................253Figura125:FotoecobairroBedzed.......................................................................................................253Figura126:Estudodeinsolaoparadefinirformaedistnciasentreedificaes................................253Figura127:CortedosedifciosBedzed.................................................................................................253Figura128:ImagemecobairroBedzed..................................................................................................253Figura129:ImagemecobairroBedzed..................................................................................................253Figura130:ImagemprojetoBulevarVallecas.......................................................................................266Figura131:ImagemprojetocanalizaodorioTria............................................................................266Figura132:ImagemprojetoBarbican...................................................................................................266Figura133:ImagemprojetoBarbican...................................................................................................266Figura134:ImagemIlhadeJava...........................................................................................................267Figura135:ImagemIlhadeJava...........................................................................................................267Figura136:ImagemDocklands.............................................................................................................267Figura137:ImagemDocklands.............................................................................................................267

  • Listas

    Figura138:ImagemCETHS...................................................................................................................267Figura139:ImagemCETHS...................................................................................................................267Figura140:ProjetoDongtan.................................................................................................................274Figura141:ProjetoDongtan.................................................................................................................274Figura142:ProjetoMasdar..................................................................................................................274Figura143:ProjetoMasdar..................................................................................................................274Figura144:PlantaprojetoSocipolis....................................................................................................274Figura145:ProjetoSocipolis..............................................................................................................274Figura146:MapadareadeinteressePRIHdoBairrodaLuz,SoPaulo..............................................292Figura147:FotodareadeinteressePRIHdoBairrodaLuz,SoPaulo................................................292Figura148:MapasDensidadesdeocupaoparaSoPauloDensidadeconstrutivapordistritodeSo

    PauloeDensidadePopulacionalpordistritodeSoPaulo............................................................293Figura149:MapadeusodosolodareadeestudoPRIHnobairrodaLuz,SoPaulo...........................295Figura150:Mapadefluxos..................................................................................................................295Figura151:Mapadegabaritodosedifciosdareadeestudo,PRIHdobairrodaLuz,SoPaulo...........297Figura152:Mapadecheiosevaziosdareadeestudo,PRIHdobairrodaLuz,SoPaulo.....................297Figura153AvaliaobioclimticadacidadedeSoPaulopelosmtodosdeMahoneyeGivoni.........299Figura154AvaliaobioclimticadacidadedeSoPaulopelosmtodosdeMahoneyeGivoni.........299Figura155:DiagnsticoClimticodacidadedeSoPaulo,baseadoemdadosdetemperaturaeumidade

    doarplotadossobreacartapsicromtrica,comadelimitaodaszonasbioclimticas................300Figura156:FrequnciadeocorrnciadailuminncianoplanohorizontalparaSoPaulo.....................302Figura157:AnlisedasobstruesmximasquepermitissemumahoradesolnasfachadasNorte,

    Nordeste,LesteeSudeste............................................................................................................307Figura158:ngulosdeobstruo(mximo)paracadaorientaoparalatitude24.............................309Figura159:Aplicaoeverificaodosngulosdeobstruodaquadraadotadaparaestudo,visandoa

    garantiadoacessoaosol.............................................................................................................309Figura160:Estudodesombraas10hsnosolstciodeinvernoCenrio01quadrasperimetrais...........310Figura161:Estudodesombraas10hsnosolstciodeveroCenrio01quadrasperimetrais..............310Figura162:Estudodaqualidadedoarquadrasperimetrais,nveltrreo..............................................311Figura163:Estudodaqualidadedoarquadrasabertas,nveltrreo....................................................311Figura164:Variveiseestudostcnicosparaavaliaodoconfortotrmiconosespaosabertos........313Figura165:DesempenhodoconfortotrmiconosespaosabertosCenrio01quadrasperimetrais...313Figura166:DesempenhodoconfortotrmiconosespaosabertosCenrio02quadrasabertas.........313Figura167Imagemdareadeestudo...............................................................................................315Figura168Imagemdareadeestudo...............................................................................................315Figura169:bacoparaadeterminaodadistnciamnimaentreedificaes.....................................332Figura170:Modelodeenvelopecomrecuosprogressivos....................................................................332

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    Figura171:Clculodongulodeobstruo.........................................................................................332Figura172:CartaSolarLatitude24Sul.............................................................................................333Figura173:GrficoAuxiliar..................................................................................................................333Figura174:Quadrantesolaruniversal..................................................................................................334Figura175:RelgiodesolmontadocomaslminasdolivrodoRivero.................................................334Figura176:MaquetedoHeliodondergua..........................................................................................335Figura177:MaquetedoHeliodoncomumarco...................................................................................335Figura178:Avaliaodondicedepermeabilidadedosolo..................................................................343Figura179:Esquemadaestruturadomtododeinserodeparmetrosambientaisnoprocessode

    projeto........................................................................................................................................349Figura180:ClassificaoclimticaAnstrahler.......................................................................................392Figura181:ClassificaoclimticaKoppenGeiger................................................................................392

  • Sumrio

    SumrioAGRADECIMENTOS ........................................................................................................... 5RESUMO ............................................................................................................................ 9ABSTRACT ....................................................................................................................... 11LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... 13SUMRIO ........................................................................................................................ 19INTRODUO ................................................................................................................. 251. A QUESTO AMBIENTAL NAS REFERNCIAS HISTRICAS DO PROJETO URBANO ... 47

    1.1 TRAADO ORGNICO E TRAADO GEOMTRICO .................................................................. 491.2 AS PRINCIPAIS UTOPIAS E PROPOSTAS URBANAS DOS SCULOS XIX E XX .................................. 53

    1.2.1 New Lanark e Falanstrio - Robert Owen e Charles Fourier ................................... 54

    1.2.2 Stubben, Camillo Sitte e Unwin ........................................................................... 56

    1.2.3 Cidade Linear - Soria e Mata ............................................................................... 57

    1.2.4 Cidade Jardim - Ebenezer Howard ....................................................................... 58

    1.2.5 Plano de extenso de Barcelona - Ildefonso Cerd ............................................... 64

    1.2.6 Cidades Modernistas F. L. W., Tony Garnier, Walter Groupis e Le Corbusier ......... 65

    1.3 CIDADE COMPACTA X CIDADE DIFUSA .............................................................................. 771.4 TIPOLOGIAS DE ADENSAMENTO ..................................................................................... 80

    CAPTULO 2 REAS URBANAS E QUALIDADE AMBIENTAL: CONCEITOS E DEFINIES

    ........................................................................................................................................ 892.1 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA ......................................................................... 91

    2.1.1 Cidade Sustentvel ............................................................................................ 94

    2.1.2 A cidade como ecossistema .............................................................................. 101

    2.2 ADENSAMENTO URBANO E QUALIDADE AMBIENTAL ............................................................ 1082.2.1 Aspectos favorveis e desfavorveis do adensamento urbano .............................. 109

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    2.2.2 Estudos sobre a densidade urbana e os aspectos ambientais ............................... 115

    2.3 CRITRIOS E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA .................................. 1202.3.1 Requisitos, critrios e indicadores existentes ...................................................... 125

    2.3.2 Indicadores para a avaliao dos projetos contemporneos ................................ 141

    CAPTULO 3 ASPECTOS DA SUSTENTABILIDADE URBANA NOS PROJETOS

    CONTEMPORNEOS ..................................................................................................... 1553.1 PROJETOS DE EXPOSIES INTERNACIONAIS E EVENTOS ESPORTIVOS .................................... 165

    3.1.1 Expo Sevilha ................................................................................................... 166

    3.1.2 Expo Lisboa .................................................................................................... 172

    3.1.3 Kronsberg, Hannover Alemanha ..................................................................... 178

    3.1.4 Vila olmpica em Barcelona ............................................................................... 185

    3.1.5 Quadros projetos de exposies internacionais e eventos esportivos .................... 192

    3.2 PROJETOS DE RECUPERAO DE BAIRROS DEGRADADO ...................................................... 1943.2.1 Potsdamer Platz, Berlin .................................................................................... 195

    3.2.2 Greenwich Pennsula, Londres .......................................................................... 201

    3.2.3 Elephant and Castle, Londres ........................................................................... 206

    3.2.4 Distrito de Lu Zia Sui, Shangai, ......................................................................... 213

    3.2.5 Quadro de avaliao qualitativa dos projetos de bairros degradados .................... 218

    3.3 ECOBAIRROS ......................................................................................................... 2203.3.1 Ecolonia, Alphen, Holanda ................................................................................ 222

    3.3.2 GWL, Amsterdam, Holanda .............................................................................. 228

    3.3.3 Viikie, Helsinki, Finlndia .................................................................................. 234

    3.3.4 Solar City, Austria ............................................................................................ 241

  • Sumrio

    3.3.5 Bedzed, Londres, Reino Unido .......................................................................... 247

    3.3.6 Quadro de avaliao qualitativa dos ecobairros .................................................. 253

    3.4 OUTRAS REFERNCIAS .............................................................................................. 2563.4.1 Projetos escala de bairro .................................................................................. 256

    3.4.2 Projetos Escala de Cidades: Ecotowns??? .......................................................... 268

    CAPTULO 4 PROPOSTA DE INSERO DE PARMETROS AMBIENTAIS NO PROCESSO

    DO PROJETO URBANO .................................................................................................. 2774.1 CONTEXTUALIZAO DO MTODO PROPOSTO ................................................................... 277

    4.1.1 Metodologia Dimenses morfolgicas do Processo de Urbanizao ....................... 279

    4.1.2 Mtodo Andrade .............................................................................................. 281

    4.1.3 Mtodo Higueras: Urbanismo bioclimtico .......................................................... 283

    4.1.4 Pesquisas LABAUT FAUUSP .............................................................................. 286

    4.2 ESTUDO DE CASO: EXERCCIOS DE PROJETO LABAUT FAUUSP .......................................... 2914.3 DESCRIO DA PROPOSTA ......................................................................................... 3194.4 RESUMO DO MTODO PROPOSTO ................................................................................. 349

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 353REFERNCIAS ............................................................................................................... 361ANEXOS ........................................................................................................................ 391

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

  • Introduo 23

    Todos ns sabemos que h algo errado com nossas cidades, e

    que esse algo pode piorar se no aspirarmos a um modelo

    diferente de cidade no futuro. Se as formigas podem solucionar

    questes como tamanho, carter e funo correta de suas

    cidades, devemos ser capazes de fazer o mesmo com as nossas.

    (ROGERS, 2001, p.vii).

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

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    24

  • Introduo 25

    INTRODUOColocaoeJustificativadoProblemaA presente pesquisa parte do problema que o crescimento e o adensamento urbano so

    inevitveis e que vm causando diversos danos ao meio natural e qualidade ambiental

    das cidades.

    Porm, deve-se destacar que a urbanizao no um mal em si, o problema como

    construir e adensar as cidades. O homem sempre busca alterar o meio ambiente em

    funo das suas necessidades socialmente definidas, e essas alteraes mal conduzidas

    so a causa de muitos problemas no meio urbano (DUARTE, 2000).

    Diante disso, visando minimizar os impactos gerados pelo processo de urbanizao, com

    base na idia de que o adensamento urbano pode ser positivo para a construo de

    cidades mais sustentveis, o trabalho parte da necessidade da insero do layer1 meio

    ambiente no processo de projeto urbano, ou seja, alm das outras camadas do projeto

    como usos, estoque construdo e redes de infra-estrutura, as varireis ligadas ao meio

    natural (relevo, vegetao, gua, energia e clima) devem ser incorporadas ao projeto.

    Alm disso, as outras camadas tambm devem ser analisadas sob o enfoque ambiental.2

    No incio da revoluo industrial, a populao mundial era de um bilho de habitantes. At

    1930, atingiu-se dois bilhes, e atualmente este nmero gira em torno de 6,0 bilhes.

    Estima-se que at 2025 a populao mundial ser em torno de 8,5 bilhes, e em 2050 10

    bilhes de habitantes (ROGERS, 2001).

    Junto com este crescimento populacional, a porcentagem de habitantes que vivem nas

    cidades e nas zonas rurais tambm vem modificando. Em 1900 apenas 10% da populao

    mundial vivia em cidades, e 90% vivia no campo. Em 2000, esse nmero aumentou para

    50%. Segundo previses do World Bank Group (2002), em 2050 a populao mundial

    ser de 10 bilhes de habitantes e 75% desse total viver em centros urbanos.

    1 Expresso usada no meio, que pode ser traduzida como camada. 2 Um esquema ilustrando esta idia das camadas e enfoques do projeto urbano apresentado no prximo

    item desta introduo.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

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    26

    A Tabela 01 apresenta alguns dados do crescimento da populao mundial e da

    porcentagem de populao urbana, com sua distribuio pelos continentes. Pode ser

    verificado como esta distribuio populacional desigual. Por exemplo, a sia tem mais

    da metade da populao do planeta, e sua populao urbana em 2000 era de apenas

    37,7%. Os dados mostram que a sia e a frica so os dois continentes que ainda

    apresentam uma populao rural maior que uma populao urbana. Porm, previsto

    que at 2025 a populao urbana nestes continentes ultrapasse os 50%, como j

    aconteceu nos demais continentes desde 1975. Europa, Amrica do Norte, Oceania e

    Amrica Latina apresentavam em 2000 uma populao urbana de 75,1%, 77,4%, 70,2%

    e 76,6%, respectivamente, sendo previsto para 2025 um crescimento significativo destas

    taxas.

    Tabela 1: Dados de populao e de populao urbana3

    Fonte: ABIKO,2006 notas de aula

    POPULAO (X1000) / POPULAO URBANA (%) ANO 1975 2000 2025

    MUNDO 4 076 985 37.7 6 158 051 47.5

    8 294 341 61.0

    FRICA 413 988 25.1 831 596 37.3

    1 495 772 53.8

    SIA 2 405 987 24.6 3 735 846 37.7

    4 959 987 54.8

    EUROPA 676 389 67.1 729 803 75.1

    718 203 83.2

    AMRICA DO NORTE 239 289 73.8 306 280 77.4

    369 566 84.8

    OCEANIA 21 438 71.8 30 651 70.2

    41 027 74.9

    AMRICA DO SUL 319 893 61.3 523 875 76.6

    709 785 84.7

    BRASIL 108 032 61.1 174 825 81.2

    230 250 88.9

    Com relao ao Brasil, o pas apresentava uma populao urbana de mais de 80%, sendo

    previsto para 2025 que este nmero chegue a quase 90%. Pode-se dizer que a regio

    metropolitana de So Paulo a grande contribuidora deste nmero, j que a sua

    populao praticamente dobrou nos ltimos 45 anos (GONALVES, 2007).

    3 Notas de aula, disciplina PCC5100, oferecida pelo departamento de engenharia de construo civil da Escola

    Politcnica da USP, pelo professor Alex Abiko, realizada no dia 05 de abril de 2006.

  • Introduo 27

    Dados apresentados na exposio Global Cities realizada na Tate Modern, em Londres,

    de 20 de junho a 27 de agosto de 2007, mostram que, atualmente, existem mais de vinte

    megacidades com mais de dez milhes de habitantes, alm de aproximadamente 450

    regies metropolitanas com mais de um milho de habitantes. Somadas, essas reas

    representam mais de um bilho de habitantes sobre uma poro relativamente pequena

    da superfcie do planeta.

    O problema que o crescimento e adensamento dessas cidades, normalmente, resultam

    em impactos sobre o clima, os ecossistemas e a qualidade de vida no ambiente urbano.

    As cidades so vistas como uma das principais responsveis por grande parte do impacto

    ambiental gerado no mundo.

    A ao humana, por meio do processo de urbanizao, atinge o clima em todas as

    escalas, com resultados quase sempre negativos.

    A capacidade das cidades de alterar o clima local foi primeiramente identificada por Luke

    Howard em 1833 em seus estudos para a cidade de Londres (OKE, 1982). No decorrer

    dos anos, diversos estudos comprovaram estas alteraes e identificaram um fenmeno

    que ficou conhecido como ilha de calor, definido por um aumento da temperatura

    medida que se deixa a rea rural adjacente cidade e se caminha em direo ao centro

    adensado. Estudos climatolgicos da dcada de 70 estabeleceram correlaes entre este

    aumento de temperatura e a populao da cidade (OKE, 1973).

    Alm do aumento da temperatura, a urbanizao diminui a umidade, modifica a direo

    dos ventos, aumenta o ndice de pluviosidade e altera a composio qumica da

    atmosfera. Com isto, previsto, que o clima pode se tornar mais rigoroso, prejudicando o

    conforto trmico dos habitantes das cidades, alm de ocasionar diversas catstrofes

    ambientais, como o surgimento de tempestades, ressacas, tufes, e outros problemas

    decorrentes tambm destas mudanas climticas.

    O aumento do ndice pluviomtrico ocasiona uma alterao do nvel do mar, que vem

    subindo algo em torno de 1,5 a 2,0 milmetros por ano. Este problema se agrava com o

    derretimento das calotas polares, intensificando o aumento do nvel do mar, podendo

    chegar at meio metro antes do fim do sculo (ROGERS, 2001, p.4).

    A elevao do nvel do mar pode levar ao desaparecimento de diversas ilhas e pedaos de

    terra, alm de destruir a vida de imensas populaes ao longo da costa.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

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    28

    Alm do impacto causado ao clima, o desenvolvimento das cidades vem acompanhado de

    diversos outros problemas ambientais, decorrentes em maior ou menor grau do

    crescimento urbano e do aumento da populao mundial.

    O mais evidente a transformao do solo natural em solo urbano. Isto pode causar uma

    degradao e contaminao dos solos, sobretudo em zonas industriais. De acordo com os

    dados ambientais das Naes Unidas de 1993 e 1994, 17% dos solos em todo o mundo

    foram atingidos desde 1945.

    Essa transformao do solo tambm prejudica o ciclo natural da gua, que interrompido

    pela sua impermeabilizao, aumentando o escoamento e a velocidade da gua

    superficial. Alm disto, pode ocasionar a poluio e o assoreamento dos rios e lagos,

    causados pelo transporte de detritos lanados nas ruas4.

    Isso implica, entre outros problemas, na reduo da disponibilidade de gua, que se

    agrava com o aumento da demanda causado pelo processo de urbanizao e

    adensamento urbano.

    Segundo Andrade (2006), a devastao ambiental ocorrida ao longo do sculo passado,

    bem como a contaminao e o uso indiscriminado desse recurso natural, provocaram a

    reduo considervel dos mananciais.

    O recurso gua difcil de esgotar, porm o acesso a gua potvel dramtico em

    muitas ocasies. A escassez de gua potvel um dos mais graves indicadores dos

    impactos da atividade humana sobre os recursos naturais. A demanda mundial por gua

    duplica a cada 20 anos, e maior do que o crescimento da oferta de gua potvel. Alm

    disso, as cidades tm que buscar seus recursos hdricos em locais cada vez mais

    distantes. Atualmente, um tero da populao mundial sofre com a carncia de gua e

    dois teros da populao tero dificuldades em obter gua no ano 2025 (PNUMA apud

    ANDRADE, 2005).

    Alm da poluio dos solos e da gua, talvez a mais sentida pela populao seja a

    poluio do ar, que entre outras conseqncias, afeta diretamente a sade pblica.

    4 O ciclo ecolgico urbano da gua ser explicado no captulo 2 da Tese.

  • Introduo 29

    A qualidade do ar significa a capacidade do meio ambiente em receber e diluir poluentes

    emitidos para atmosfera. possvel afirmar que em reas urbanas h um maior risco de

    contaminao do ar decorrente do aumento de fontes poluidoras, indstrias e veculos,

    assim como uma maior dificuldade disperso de poluentes.

    Dados mostram que, atualmente, dois trilhes de metros cbicos de vapores de fumaa

    so emitidos por ano pelos veculos e, provavelmente, o nmero de automveis ir dobrar

    at o ano de 2030, aumentando este nmero (MEGALE, 2002, p.35).

    Os transportes nas cidades so responsveis por mais de 50% das emisses

    contaminantes, e em muitas cidades este valor superado, como em Barcelona, 60%,

    Paris, 70% e na Cidade do Mxico, considerada a maior e a mais poluda cidade do

    mundo, 80%. Nesta ltima, circulam mais de quatro milhes de automveis. Dados

    mostram que a poluio dessa cidade seis vezes mais txica do que os ndices

    aceitveis pela Organizao Mundial de sade, sendo que quantidade de oznio excede o

    nvel de alerta mais de 300 dias do ano (SERVANT, 2001, p.35).

    A situao na cidade ainda agravada pela reduo e m distribuio da rea verde. A

    vegetao reduz a poluio do ar por meio da reteno e filtragem de partculas de poeira

    nas superfcies das folhas e das trocas gasosas, liberando o oxignio e absorvendo o

    dixido de carbono, dixido de nitrognio e dixido de enxofre.

    Em muitos pases, a contaminao do ar tambm est diretamente relacionada ao

    consumo de energia eltrica, atravs de matrizes poluidoras de gerao de energia. Sobre

    isso, verificou-se que nos ltimos 20 anos o consumo mundial de energia aumentou em

    cerca de 50 %, de uma forma geral, sendo que parte significativa dessa energia gerada

    a partir de combustveis fsseis, cuja queima produz gases geradores do chamado efeito

    estufa, principalmente o CO2 (IEA, 2002). 5 As emisses deste gs na atmosfera so

    responsveis por um aumento considervel da temperatura no planeta e

    conseqentemente, por uma elevao das reas desrticas e do nvel dos oceanos, entre

    outros impactos ambientais. Alm disso, a qualidade do ar tambm pode prejudicar a vida

    5 Durante a Conferncia de Kyoto, em dezembro de 1997, foi aprovado um protocolo destinado a limitar as

    emisses de seis gases (CO2, CH4, N20, HFCS, PFCS e SF6) que so os principais causadores do efeito estufa. A

    Unio Europia, por exemplo, se comprometeu a reduzir em 8% as emisses desses at 2010, dividindo

    proporcionalmente essa responsabilidade centre os 15 pases que a integram. Atualmente quase todos os

    pases no cumpriram a meta ou nem sequer assinaram esse protocolo (HIGUERAS, 2009).

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    30

    animal e vegetal e provocar precipitao cida na atmosfera, dependendo do seu grau de

    poluio.

    De acordo com Rogers (1997), atualmente, as cidades consomem trs quartos de toda a

    energia do mundo e causam pelo menos a mesma parcela da poluio global. Ele ainda

    completa:

    As cidades so o centro da produo e do consumo de grande parte dos bens industriais

    e acabaram se transformando em parasitas da paisagem, em enormes organismos

    drenando o mundo para seu sustento e energia: inexorveis consumidores e causadores

    de poluio. (ROGERS, 1997, p.27).

    No Brasil, embora o consumo de energia no resulte necessariamente na emisso de CO2,

    devido composio da matriz energtica, ele no est desvinculado da questo

    ambiental. Pelo contrrio, a grande participao das hidroeltricas torna o impacto social

    e ambiental das represas e reservatrios uma importante preocupao.6 Somado a isso,

    as previses para pases em desenvolvimento demonstram que esses sofrem algumas

    restries de abastecimento energtico que esto ocultas pelas desigualdades sociais, ou

    seja, se toda a massa empobrecida desses pases utilizasse o mnimo de energia eltrica

    necessrio para ter uma vida digna, a energia eltrica gerada nos mesmos no seria

    suficiente (MEADOWS et. al., 2004).

    Vale destacar a desigualdade com que estes recursos so consumidos. O hemisfrio norte

    representa 20% da populao mais rica do mundo a que consome aproximadamente

    80% dos recursos naturais disponveis de todo o planeta, produzindo uma contaminao

    global equivalente (PNUD, 1998).

    Essa desigualdade de consumo de recursos e poluio entre os pases, pode ser

    observada nas tabelas. A Tabela 2 apresenta dados sobre as matrizes geradoras de

    energia em sete pases, o quanto cada um destes pases emite de CO2. E a Tabela 3

    apresenta uma comparao da emisso de CO2 por continente.

    6 Bermann, Celio. Notas de aula, disciplina POE - Polticas Energticas Ensino e Pesquisa na rea de Energia.

    Curso de Especializao em Conforto Ambiental e Conservao de Energia, CECACE, FAUUSP. Realizado em

    fevereiro de 2001.

  • Introduo 31

    Tabela 2: Dados matriz energtica

    Fonte: Dados - elaborada por BRANDAO, 2009

    Tabela 3: Dados Emisso de co2 por pessoas/ano

    Fonte: elaborada por BRANDAO, 2009

    Previses apontam que a emisso de CO2 devido ao uso das edificaes pode chegar a

    30% do total em 2030 (LEVINE et. al., 2007). Atualmente, as edificaes so

    responsveis por 8% da emisso de CO2 em termos de energia primria, somada a 13%

    em usos indiretos. Uma distribuio regional mostra que a maioria dessas emisses

    ocorre em pases desenvolvidos, sendo a Amrica do Norte a que mais emite

    Com relao ao consumo mundial de energia eltrica, aproximadamente 33% desse

    usado pelos edifcios (IEA, 2009). Sendo que a energia consumida nos setores

    residenciais e comerciais de 23 % do consumo mundial. A energia utilizada varia

    consideravelmente dependendo da regio e dos pais em decorrncia da geografia,

    localizao e clima. Vale destacar que existe uma diferena na natureza da demanda de

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

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    32

    energia e no desempenho de edifcios entre os pases pertencentes ao OECD

    (Organization for Economic Co-operation and Development) e os no pertencentes

    (maioria dos pases em desenvolvimento) (LEVINE M. et al, 2007). Nos pases

    pertencentes ao OECD, maioria localizada em regies frias, o consumo de energia com

    calefao representa 60%, seguida de aquecimento de gua com 18% (WBSD, 2007). J

    os pases no pertencentes ao OECD no necessitam tanto de aquecimento artificial,

    sendo a iluminao e os equipamentos de ar condicionado os grandes consumidores no

    setor comercial e os sistemas de refrigerao e aquecimento de gua, no setor

    residencial.

    Segundo Goldemberg (2001), no Brasil o parque edificado responsvel por 46% do

    consumo energtico nacional, sendo que o setor residencial (22,6%) e comercial (14,2%)

    so os principais responsveis pelos altos ndices de crescimento do consumo.

    De acordo com Almeida et al (2001) no setor residencial os sistemas refrigerao so

    responsveis por 34% do consumo de energia eltrica da edificao, os sistemas de

    iluminao 12% e de aquecimento de gua 21%. No setor comercial os sistemas de

    condicionamento artificial so responsveis por 36% e os sistemas de iluminao 52%.

    Os grficos apresentados nas Figuras 1 e 2 mostram essa diferena entre o Brasil, EUA e

    Reino Unido com relao ao consumo energtico desagregado por setor.

    Figura 1: Consumo energtico desagregado setor residencial

    Fonte: ALMEIDA et al (2001) (Dados Brasil); e GREEN building bible (2006) (Dados Reino Unido) UNITED STATES (2008) (Dados EUA) elaborado por BRANDO

  • Introduo 33

    Figura 2: Consumo energtico desagregado setor residencial

    Fonte: ALMEIDA et al (2001) (Dados Brasil); e GREEN building bible (2006) (Dados Reino Unido) UNITED STATES (2008) (Dados EUA) elaborado por BRANDO

    Apesar disso, McKinsey (2009) identificou atravs de estudos realizados em 36 pases que

    o setor das edificaes o que tem o maior potencial para reduo de parcela

    significativa do consumo de energia eltrica, e conseqentemente, da emisso de CO2 em

    todos os pases e em todos os nveis de custos (LEVINE et al., 2007).

    Observa-se que os sistemas que mais consomem energia eltrica esto tambm

    relacionados ao acesso aos recursos naturais. No basta projetar o edifcio corretamente

    e com as mais avanadas tecnologias, se no est garantido que esse ter acesso ao sol,

    luz natural e ao vento.

    Por outro lado, em pases quentes a necessidade pode ser outra. Brando (2004)

    demonstrou, por exemplo, que a obstruo e sombreamentos provocados por edifcios

    urbanos resultam em alteraes significativas no seu consumo energtico. A tecnologia

    atual permite adequar ambientes confinados a qualquer condio desejada, atravs de

    sistemas artificiais de iluminao e climatizao. Isso, porm, demanda gastos

    energticos, determinados pela incapacidade da edificao de atingir estas condies de

    maneira natural.

    Sendo assim, os projetos das edificaes devem ser adequados ao clima e ao contexto

    local, da mesma forma que devem ser analisados os impactos ambientais dessas sobre as

    construes vizinhas e os espaos externos localizados no entorno imediato.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    34

    O impacto ambiental, positivo ou negativo, que qualquer construo vai causar ao meio

    urbano inclui, em resumo: a ventilao ao redor das edificaes e a disperso de

    poluentes, que est relacionada ao conforto do pedestre e a qualidade do ar; a ventilao

    natural das edificaes, o acesso ao sol e a disponibilidade de luz natural, que est

    relacionada ao conforto trmico e luminoso e a demanda de energia eltrica; a

    acumulao de calor pela radiao e atividades dentro dos edifcios, que esto

    relacionadas ao desempenho trmico das edificaes, conforto dos pedestres; e a

    propagao de rudo urbano.

    Vale destacar tambm os parmetros projetuais do ambiente construdo e as tipologias

    edificatrias, que so relacionados com as condies microclimticas locais (e

    basicamente ao desempenho ambiental das edificaes e dos espaos externos): a forma

    das edificaes ou tipologia, a orientao e altura das edificaes, a rea construda, a

    distncia entre as edificaes, a forma, dimensionamento e orientao dos espaos

    externos, os materiais aplicados nas superfcies, a insero de vegetao e gua e suas

    relaes com a forma construda.

    Com base nestas consideraes, um dos principais desafios correntes para o projeto

    urbano na tentativa de contribuir para a eficincia energtica das edificaes e uma

    cidade mais sustentvel demonstrar as possibilidades de introduzir alta densidade em

    reas construdas dentro dos limites da infra-estrutura local e da qualidade ambiental,

    buscando os benefcios sociais e econmicos. A questo da densidade e da forma urbana

    vem acompanhada de uma srie de possibilidades projetuais, determinadas pelas

    particularidades do ambiente e do contexto urbano. Em reas consolidadas, por exemplo,

    as metas para adensamento populacional so determinadas pela infra-estrutura local,

    alm da ligao desenvolvida entre o ambiente construdo, a capacidade da infra-

    estrutura e o potencial de desempenho e sustentabilidade ambiental.

    Oportunidades de melhoria da qualidade ambiental nas cidades tambm surgem em

    vazios urbanos e reas da periferia, onde pode ser desenvolvida uma nova morfologia

    configurativa, com o suporte de novas tecnologias, alm de alcanar altos nveis de

    sustentabilidade ambiental urbana. Nestes casos, a meta de densidade determinada e

    limitada pelos requisitos e critrios relacionados s questes de qualidade ambiental,

    como acesso ao sol, qualidade do ar, conforto do pedestre, desempenho energtico das

    edificaes e potencial de gerao de energia na rea das edificaes.

  • Introduo 35

    Meyer aponta o pensamento e a ao urbanstica num momento atual de descrdito, que

    alimenta o desafio do projeto urbano a criar novas estratgias de ao e novos modelos

    de reflexo. Segundo Meyer, o dilema est entre promover a continuidade ou estimular a

    ruptura do pensamento e da prtica oriundas dos princpios modernistas no nosso pas,

    do qual somos herdeiros em linha direta. Ela ainda afirma:

    A meta no apenas construir uma pauta de questes capazes de conduzir o

    projeto urbano cujo ponto de partida no mais circunscrever reas, criar

    permetros de ao baseados em tipologias ou morfologias que apontam

    homogeneidade ou continuidade urbana. Mas, sobretudo, criar novos

    parmetros para um trabalho de projeto urbano. (MEYER, 2004, p.)

    Algumas questes contemporneas relacionadas ao projeto urbano no momento atual,

    lanadas durante a exposio Global Cities, realizada na Tate Modern, em Londres, de 20

    de junho a 27 de agosto de 2007, so consideradas e servem de inspirao para esta

    pesquisa (GONALVES, 2007, p.19).

    Que cidades queremos construir?

    A forma urbana das nossas cidades afeta o futuro do planeta e a sua

    sustentabilidade?

    Como as cidades podero acomodar bilhes de pessoas com qualidade e dignidade?

    possvel que a qualidade de vida nas cidades seja melhorada e os seus impactos

    ambientais reduzidos por meio de estratgias de projeto, envolvendo aspectos da

    arquitetura, projeto urbano e planejamento?

    Neste contexto, pode-se afirmar que os assentamentos urbanos adequados ao meio

    ambiente, reduzem o consumo de gua, de energia e a contaminao, proporcionam um

    melhor microclima local e um bem estar para a populao, decorrente de uma melhora na

    qualidade de vida. Atualmente existem alguns exemplos, que sero apresentados no

    captulo 03 dessa Tese, de ecocidades, ecobairros e urbanizaes ambientais, que

    comprovam isso (HIGUERAS, 2007, p.17).7

    7 Alguns destes exemplos podem ser encontrados no captulo 03 da Tese e nas referncias: Ruano (2000),

    Gauzin-Mller (2001), Rogers (2001), Beatley (1999) e EMVS (2005).

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    36

    Segundo Andrade (2007, p.x) os procedimentos de projeto necessitam incluir a dimenso

    ecolgica8 baseados em valores da relao entre o homem e a natureza que considerem

    a espcie humana como parte dos ecossistemas naturais.

    Enfim, esta pesquisa parte da premissa que o adensamento urbano pode ser positivo,

    desde que a sustentabilidade ambiental seja um princpio orientador do processo de

    produo do espao urbano.

    Atravs de uma anlise destes projetos esta pesquisa tem como premissa, demonstrar

    que o projeto urbano baseado em critrios de sustentabilidade, pode gerar cidades com

    qualidade ambiental, resultando menos impacto ao meio natural. Alm disso, estes

    projetos podem apresentar grande coeso conceitual, servindo como novo paradigma

    para as intervenes urbanas contemporneas.

    ObjetodaPesquisaO objeto da pesquisa o processo de projeto urbano visando o adensamento com

    qualidade ambiental com nfase nas exigncias humanas, nos requisitos, critrios e

    solues.

    A definio de qualidade ambiental est baseada principalmente em: consumo eficiente

    de recursos (gua e energia); ambientes urbanos menos poludos; conforto ambiental

    satisfatrio em edifcios e espaos urbanos; transporte eficiente para pessoas e produtos

    em termos de consumo de energia, impacto ambiental e mobilidade, e presena de nichos

    ecolgicos.

    A partir do objeto terico da pesquisa, ou seja, do estudo do processo de projeto urbano,

    visando ao adensamento com qualidade ambiental, foi introduzido um objeto concreto,

    que so reas com potencial de adensamento, ou seja, reas urbanas com infra-

    estrutura instalada e baixa densidade construtiva, como por exemplo, a rea da luz, em

    So Paulo (Figura 3) ou os vazios urbanos presentes na regio da Barra Funda, tambm

    em So Paulo (Figura 4).

    8 Ser explicado no capitulo 02 da tese.

  • Introduo 37

    Figura 3: rea com potencial de adensamento, Regio da Luz, So Paulo

    Fonte: Renata Sandoli, cedida para autora

    Figura 4: rea com potencial de adensamento, Barra Funda, So Paulo

    Fonte: Renata Sandoli, cedida para autora

    HipteseeObjetivosdaPesquisaEssa pesquisa tem por hiptese, que o adensamento urbano e a qualidade ambiental so

    compatveis desde que as questes ambientais sejam consideradas no processo de

    projeto. Ou seja, possvel adensar reas urbanas garantindo o acesso ao sol, a

    disponibilidade da luz natural, a qualidade do ar, o conforto acstico, a eficincia

    energtica das edificaes, a ventilao urbana, a coleta e reuso de gua da chuva, etc.

    Para comprovar esta hiptese a pesquisa parte da premissa que para o adensamento

    urbano causar menos impactos ao meio natural ou at mesmo impactos positivos, e ainda

    gerar cidades com mais qualidade ambiental, os projetos urbanos devem incluir a camada

    meio ambiente no processo de projeto, que no escopo desta pesquisa inclui: solo, gua,

    energia, vegetao e clima. Alm disso, todas as demais camadas do projeto e suas

    interrelaes devem ser analisadas tambm sob o enfoque ambiental.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    38

    A Figura 03 apresenta um esquema desta idia, do que seria o projeto urbano no

    momento atual com suas camadas (usos, estoque construdo, redes e meio ambiente) e

    os enfoques com que cada uma destas camadas deve ser analisada (ambiental,

    econmico, social, esttico e cultural). Como j foi dito a camada meio ambiente

    formada pelas seguintes variveis ambientais: relevo, vegetao, gua, energia e clima.

    Figura 5: Esquema ilustrativo das camadas do projeto urbano com os enfoques que estas devem ser trabalhadas

    Fonte: elaborado pela autora

    Diante disto, o objetivo geral deste trabalho a elaborao de um mtodo para insero

    de parmetros ambientais relacionados ao adensamento e a forma urbana9 no processo

    de projeto.

    9 A forma urbana uma composio de trs subformas: a forma do reparcelamento do solo, a forma do

    traado virio e; a forma do estoque construdo. Lamas (2004) faz uma reflexo sobre a forma urbana

    enquanto objeto do urbanismo, ou melhor, enquanto corpo da materializao da cidade capaz de determinar

    a vida humana em comunidade. Segundo a autora: A forma fsica do espao uma realidade para a qual

    contribui um conjunto de fatores socioeconmicos, polticos e culturais. Sem dvida que a economia, ou as

    condies socioeconmicas de produo do espao, se refletem profundamente na sua forma. Mas a forma

    urbana tambm, ou dever ser, o resultado da produo voluntria do espao. As formas no tm apenas a

    ver com concepes estticas, ideolgicas, culturais ou arquitetnicas, mas encontram-se indissociavelmente

  • Introduo 39

    Para alcanar o objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especficos:

    1- Definio do conceito de cidade sustentvel com base nos princpios da

    sustentabilidade e nos ciclos ecolgicos urbanos;

    2- Definio do conceito de qualidade ambiental;

    3- Seleo de requisitos, critrios e indicadores de qualidade ambiental relacionados ao

    adensamento e a forma urbana;

    4- Compreenso da camada meio ambiente de maneira ampla e identificao das

    variveis ambientais que so afetadas pelo adensamento e forma urbana e que devem

    ser inseridas no processo de projeto;

    5- Resgate de teorias e solues projetuais adequadas do ponto de vista da

    sustentabilidade ambiental, nas referncias histricas do desenho urbano;

    6- Avaliao da sustentabilidade ambiental de projetos urbanos contemporneos

    identificando solues de sucesso e deficincias na insero de princpios bsicos do

    urbanismo comprometido com o meio natural;

    7- Realizao do exerccio de projeto urbano para o bairro da Luz em So Paulo, junto

    com o grupo de pesquisa do LABAUT FAUUSP, no qual a autora est inserida.10

    MetodologiadePesquisaEsta pesquisa foi realizada em trs distintos momentos: um primeiro de fundamentao

    terica e construo de conceitos, um segundo momento de anlise e avaliao e um

    terceiro momento de sntese e proposio.

    No primeiro momento, de fundamentao terica e construo de conceitos, foi realizada

    uma ampla reviso bibliogrfica, tanto dos aspectos histricos quanto de conceitos de

    definies relacionados ao tema da pesquisa.

    Primeiramente foi realizado um estudo histrico dos projetos e utopias urbanas, que

    influenciaram e ainda influenciam o desenvolvimento das cidades, buscando identificar os

    ligadas a comportamentos, apropriao e utilizao do espao, e vida comunitria dos cidados. (LAMAS,

    2004). 10 LABAUT FAU USP Laboratrio de Conforto Ambiental e Eficincia Energtica da Faculdade de Arquitetura

    e Urbanismo da Universidade de So Paulo.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    40

    aspectos relacionados sustentabilidade ambiental considerados em cada proposta

    urbana.

    Depois foi abordando vrios aspectos relacionados sustentabilidade e a qualidade

    ambiental de forma a compreender a camada meio ambiente que deve ser considerado

    dentro do processo de projeto.

    Para isso, so definidos conceitos importantes para a compreenso do trabalho, entre eles

    a caracterizao de cidade sustentvel, qualidade ambiental, os ciclos ecolgicos urbanos

    e os principais indicadores e critrios de sustentabilidade urbana.

    O segundo momento da pesquisa consiste no estudo de intervenes urbanas recentes de

    referncia internacional. Para conhecimento dos projetos contemporneos foram

    realizados estudos nas referncias bibliogrficas mais recentes, alm de entrevistas com

    arquitetos, engenheiros e profissionais da rea e visitas tcnicas no Brasil e no exterior.

    Com base nos conceitos apresentados na segunda fase da pesquisa e na seleo de

    indicadores, alguns projetos urbanos foram avaliados qualitativamente com relao sua

    sustentabilidade ambiental.

    No terceiro momento da pesquisa foi proposta a incorporao de parte da camada do

    meio ambiente no processo de projeto urbano. Ou seja, diante das variveis relacionadas

    sustentabilidade ambiental urbana abordadas nas duas primeiras fases da pesquisa, so

    definidos exigncias, requisitos e critrios relacionados diretamente ao adensamento

    populacional e a forma urbana e proposto um mtodo de como inseri-los no projeto.

    Para isto foi realizada uma anlise dos projetos pilotos elaborados pelo grupo de

    pesquisadores do LABAUT FAUUSP, grupo este no qual a autora est inserida. Esses

    exerccios de projeto foram: o primeiro, Sustainable urban spaces: a case study in So

    Paulo, Brazil, realizado durante os anos de 2005 e 2006, em parceria com o Profs. Dr.

    Koen Steemers da University of Cambridge e a Profa. Dra. Susannah Hagan da University

    of East London; o segundo, Desenho Urbano para o Desempenho Ambiental com

  • Introduo 41

    Benefcios Scio-Econmicos, foi desenvolvido em 2008, com a cooperao internacional

    London School of Economics, Urban Age.11

    Alm disto, foram realizados estudos das ferramentas computacionais, para simulaes e

    avaliaes de aspectos especficos do projeto.

    EstruturadaTeseA tese foi estruturada em trs partes: uma primeira parte de construo de conceitos,

    uma segunda parte de anlise e avaliao e uma terceira de sntese e proposio.

    Esta tese apresenta cinco captulos. A primeira parte est dividida nos captulo 01 e 02, a

    segunda nos captulos 03 e a terceira parte est inserida no captulo 04.

    O captulo 01 da tese consiste em um estudo histrico das principais propostas

    urbansticas desde a revoluo industrial at a arquitetura moderna. O objetivo resgatar

    as principais utopias urbanas que tiveram relevncia e influenciaram o processo de

    constituio das cidades atuais, identificando as conseqncias da aplicao destas,

    principalmente sob ponto de vista da sustentabilidade ambiental.

    Neste mesmo captulo apresentada uma breve discusso de modelos de ocupao

    compacto e modelos difusos e, por fim, as tipologias de adensamento urbano.

    No captulo 02 da tese so apresentados conceitos relevantes e pertinentes discusso

    do tema de maneira contextualizada. So caracterizados alguns termos como cidade

    sustentvel e qualidade ambiental, necessrios para o entendimento da metodologia

    proposta e para a incorporao do tema nas discusses de projeto urbano.

    Neste captulo so descritos o funcionamento dos ciclos ecolgicos urbanos, ciclo da gua

    e da energia, buscando entender como estes recursos devem ser considerados no

    processo de projeto urbano para a produo de cidades mais sustentveis.

    Ainda no captulo 02 apresentada uma sntese relacionado o adensamento urbano

    qualidade ambiental, ou seja, quais so as variveis ambientais que so afetadas direta

    ou indiretamente pelo adensamento urbano.

    11 Este projeto foi apresentado na Conferncia Internacional Urban Age - So Paulo, em dezembro de 2008, e

    pode ser encontrado no site da mesma.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    42

    Por fim, apresenta uma reviso da literatura nacional e internacional sobre os

    indicadores de sustentabilidade mais usados, desde o surgimento das agendas 21 at o

    desenvolvimento dos sistemas de certificao.

    Com o objetivo de identificar solues arquitetnicas de sucesso e realizar uma reviso

    crtica, apontando para as falhas na insero de princpios da sustentabilidade ambiental

    de alguns projetos recentes que so considerados paradigmticos, no captulo 03 so

    apresentadas intervenes urbanas contemporneas de referncia internacional e uma

    avaliao qualitativa destes, com base na reviso e seleo de indicadores de

    sustentabilidade urbana estabelecidos por Rueda12.

    Alm dos aspectos ambientais, so verificados os resultados econmicos e sociais das

    intervenes urbana, abordando questes como, por exemplo, a diversidade de usos e

    rendas, mobilidade e eficincia do sistema de transporte, proximidade e socializao do

    espao pblico, entre outros.

    Durante a conferncia internacional Urban Age, realizada em So Paulo, em 2008, foi

    levanta uma questo sobre a necessidade de rigor nas decises de projeto.

    Com relao macro dimenso ecolgica, possvel dizer que, muitas questes

    relacionadas sustentabilidade so subjetivas. Porm, quando abordada a dimenso

    bioclimtica, possvel definir regras, estabelecer indicadores e parmetros, que orientem

    o processo de projeto, para que este alcance o objetivo de reduzir os impactos ambientais

    gerados pelo adensamento urbano, construindo espaos de qualidade.

    Diante disto, o captulo 04 da tese apresenta uma proposta de mtodo de insero de

    parte da camada meio ambiente no processo de projeto urbano.

    Por fim, so apresentas as concluses do trabalho com base no estudo histrico, na

    fundamentao terica sobre o tema, na anlise das experincias de projetos urbanos

    contemporneos e na aplicao prtica.

    Ainda nas consideraes finais, apresentado um resumo do mtodo proposto e as

    possibilidades de futuras pesquisas e trabalhos prticos relacionados ao tema da tese.

    12 RUEDA, Salvador. Plan especial de indicadores de Sostenibilidad de la Actividad Urbanstica de Sevilla.

    Barcelona, 2006. Disponvel em Acesso em mar. de 2008.

  • Introduo 43

    importante destacar que esta tese tem como objetivo construir um referencial e sua

    qualidade est na abrangncia. Sendo assim, ela apresenta um carter informativo e

    amplo, sem perder a perspectiva critica e propositiva.

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

    AnnaChristinaMiana

    44

  • Captulo1Aquestoambientalnasrefernciashistricasdodesenhourbano 45

    Cada uma dessas cidades um sonho lgico: a cidade no to

    m quanto seu inferno, nem vai ser to boa quanto utopia. At

    aqui tudo bem. Cada cincia trabalha com conceitos ideais, como

    o zero e o infinito do matemtico, como as direes norte, sul,

    leste e oeste do gegrafo, e no podem viver sem esses conceitos.

    verdade, o avano do matemtico para o infinito nunca atinge o

    seu alvo, nem as exploraes do gegrafo, nem a pesquisa do

    astrnomo. Contudo, sem essas direes intangveis, esses pontos

    cardeais, quem poderia se movimentar, sem acabar caindo em um

    buraco? Assim, antes que nos percamos, ou na escurido do

    inferno paleotcnico, ou diante da Eutopia Neotcnica da cidade

    do futuro, esses extremos nos permitem medir e criticar a cidade

    do presente, e promover sua melhoria, sua renovao essencial.

    (GEDDES, 1994, p.79).

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

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    46

  • Captulo1Aquestoambientalnasrefernciashistricasdodesenhourbano 47

    1.AQUESTOAMBIENTALNASREFERNCIASHISTRICASDO

    PROJETOURBANOApresenta um histrico da abordagem do desenho urbano focando na incluso das

    questes ambientais desde a revoluo industrial at a arquitetura moderna. Neste

    resgate histrico so analisadas as principais utopias e propostas urbanas do fim do

    sculo XIX e sculo XX que tiveram relevncia e influenciaram o processo de constituio

    das cidades atuais.

    fundamental aprender com a histria da arquitetura e do urbanismo. Um olhar para a

    histria pode ser til e indicar paradigmas a serem aprimorados para atender s

    necessidades presentes e futuras. Com isto, so identificadas as boas solues

    arquitetnicas do ponto de vista da sustentabilidade urbana.

    Segundo Sandoli (2008) o estudo das cidades idealizadas mostra aspectos de

    contraposio realidade existente, formando um embasamento terico. Enquanto que o

    estudo das cidades existentes ou planos implementados mostra as conseqncias de

    algumas decises projetuais e a relao entre os aspectos fsicos e outras questes como

    o clima, a sociedade, a economia, a tecnologia e etc.

    Sobre a construo das cidades Le Corbusier define:

    (...) a estrutura das cidades nos revela duas espcies de acontecimentos: o

    ajuntamento progressivo, aleatrio, com seu fenmeno de estratificao lenta, de

    formao escalonada e depois sua fora de atrao adquirida, crescente, fora

    centrfuga, seduo violenta, investida, balbrdia. Foi assim Roma, como Paris,

    Londres, ou Berlim. Ou ento: a construo da cidade, nascida de um programa, de

    uma vontade, de uma cincia adquirida; assim Pequim ou so as cidades fortes do

    Renascimento, ou so as cidades colonizadoras dos romanos erigidas no mago dos

    pases brbaros. (CORBUSIER, 1992, p.83)

    Desde o renascimento at o modernismo, diversas utopias foram elaboradas e muitas

    cidades idealizadas. O sculo XX foi um perodo de grandes transformaes e incertezas,

  • Adensamentoeformaurbana:inserodeparmetrosambientaisnoprocessodeprojeto

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    48

    uma poca propicia para o aparecimento de novas teorias urbanas, uma vez que, a

    industrializao promovia o deslocamento das pessoas do campo para as cidades,

    acelerando o crescimento dessas (PESSOA, 2006).

    O crescimento acelerado das cidades vinha acompanhado de problemas ambientais e

    sociais. Segundo Gonalves (2003), o debate sobre as direes que deveriam tomar o

    crescimento das cidades tratava das condies de degradao social e ambiental do meio

    urbano, que dominavam as primeiras cidades industriais do mundo. Em Paris, por

    exemplo, as populaes urbanas, reunidas pelo propsito de expandir as atividades

    econmicas, viviam um processo de crescimento demogrfico contnuo, sem o

    acompanhamento compatvel de uma infraestrutura urbana, incluindo projetos

    residenciais e de espaos pblicos. Alm dos registros da explorao econmica do

    trabalho humano, as classes mais pobres encontravam-se submetidas a cidades marcadas

    por uma pssima qualidade do ar, falta de reas verdes, falta de saneamento pblico, e

    unidades habitacionais insalubres.

    Outros acontecimentos tambm foram importantes na formao das cidades, como as

    guerras e os avanos tecnolgicos. As guerras permitiram que certas idias se

    fortificassem e desta maneira atuassem como catalisadores no processo de transformao

    das cidades. J os avanos tecnolgicos geraram, muitas vezes, a necessidade de rever

    os conceitos das cidades como, por exemplo, o surgimento e uso dos automveis.

    Abordando estas questes refletidas no desenho da cidade e nas principais utopias e

    propostas urbansticas o captulo abrange trs diferentes perodos da histria.

    O primeiro aborda o desenho urbano nas cidades histricas, desde a antiguidade at a

    Idade mdia. O segundo abrange o perodo aps a revoluo industrial, abordando sobre

    os principais utopistas e suas propostas de cidade, destacando o modelo de Cidade

    Jardim de Howard. O ltimo consiste no perodo do movimento moderno, na qual so

    analisadas as idias de Le Corbusier para a construo da ci