insercao controle social nas escolas criminologicas -2006

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A INSERÇÃO DO CONTROLE SOCIAL NAS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: DO MONISMO SOCIAL À CRIMINOLOGIA CRÍTICA Antonio Henrique Graciano Suxberger 1 I. Origem e evolução histórica da expressão controle social. II. Análise histórica das posições teóricas fundamentais ao controle social. 1. A visão da criminologia positivista 2. As vertentes doutrinárias das teorias do processo social. 2.1. Teorias da aprendizagem social. 2.2. Teorias do controle social. 2.3. O paradigma do controle: o labelling approach. 2.3.1. A criminalização primária. 2.3.2. A criminalização secundária. 3. A criminologia crítica. III. Conclusão. I. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EXPRESSÃO CONTROLE SOCIAL O uso originário da expressão controle social remonta à segunda metade do século XIX nos Estados Unidos. Encontra-se associado à necessidade de integrar em um mesmo marco social as grandes massas de imigrantes que, como força de trabalho, acudiram à convocação migratória decorrente do processo de industrialização da então emergente potência norte-americana. A demanda organizativa desse acúmulo populacional migratório, caracterizada por sua variada cosmovisão cultural, religiosa etc., acabou por provocar a necessidade de refinar os instrumentos sociológicos de integração, de sorte a superar essas diferenças culturais e, a partir de normas comportamentais, garantir uma convivência social organizada. Nesse contexto a constatação e o estudo dos instrumentos de controle social assim considerados. 2 A primeira utilização dessa expressão é creditada a Edward Ross, 1 Mestre em “Direito, Estado e Constituição” pela Universidade de Brasília e Promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O presente artigo é fruto das reflexões surgidas na disciplina Criminologia II, ministrado pela Professora Ela Wiecko Volkmer de Castilho, do Programa de Mestrado da Universidade de Brasília, que contou com a participação dos integrantes do Grupo de Pesquisa “Sociedade, Controle Penal e Sistema de Justiça” da mesma Universidade, a quem o autor rende seus agradecimentos.

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Nesta obra, Suxberger fala sobre o controle social nas escolas criminológicas.

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Page 1: Insercao Controle Social Nas Escolas Criminologicas -2006

A INSERÇÃO DO CONTROLE SOCIAL NAS ESCOLAS

CRIMINOLÓGICAS: DO MONISMO SOCIAL À

CRIMINOLOGIA CRÍTICA

Antonio Henrique Graciano Suxberger1

I. Origem e evolução histórica da expressão controle social.

II. Análise histórica das posições teóricas fundamentais ao controle social. 1.

A visão da criminologia positivista 2. As vertentes doutrinárias das teorias do

processo social. 2.1. Teorias da aprendizagem social. 2.2. Teorias do controle

social. 2.3. O paradigma do controle: o labelling approach. 2.3.1. A

criminalização primária. 2.3.2. A criminalização secundária. 3. A

criminologia crítica.

III. Conclusão.

I. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EXPRESSÃO CONTROLE SOCIAL

O uso originário da expressão controle social remonta à segunda metade do

século XIX nos Estados Unidos. Encontra-se associado à necessidade de integrar em um

mesmo marco social as grandes massas de imigrantes que, como força de trabalho,

acudiram à convocação migratória decorrente do processo de industrialização da então

emergente potência norte-americana. A demanda organizativa desse acúmulo

populacional migratório, caracterizada por sua variada cosmovisão cultural, religiosa

etc., acabou por provocar a necessidade de refinar os instrumentos sociológicos de

integração, de sorte a superar essas diferenças culturais e, a partir de normas

comportamentais, garantir uma convivência social organizada.

Nesse contexto a constatação e o estudo dos instrumentos de controle social

assim considerados.2 A primeira utilização dessa expressão é creditada a Edward Ross,

1 Mestre em “Direito, Estado e Constituição” pela Universidade de Brasília e Promotor de Justiça do

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O presente artigo é fruto das reflexões surgidas na

disciplina Criminologia II, ministrado pela Professora Ela Wiecko Volkmer de Castilho, do Programa de

Mestrado da Universidade de Brasília, que contou com a participação dos integrantes do Grupo de

Pesquisa “Sociedade, Controle Penal e Sistema de Justiça” da mesma Universidade, a quem o autor rende

seus agradecimentos.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

2

quem primeiro se referiu ao controle social como categoria voltada aos problemas de

ordem e organização sociais, em busca de uma estabilidade social integrativa resultante

da aceitação de valores únicos e uniformes de um conglomerado humano inserido em

suas raízes étnicas e culturais. A pretendida coincidência axiológica propugnada na obra

de Ross em torno do conceito de Controle Social motivou a classificação de sua posição

científica, criticamente, inserida dentro do “monismo social”.

O sentido outorgado por Ross a esse novo conceito excluía de certo modo os

controles estatais, tanto legais como políticos, que, na prática, demonstraram sua

inoperância para construir a necessária harmonia social. Nessa perspectiva, a essência

controladora seria assumida pela sociedade por meio da interação social persuasiva, da

qual derivaria o embasamento da consciência individual às necessidades a sua volta,

produzindo-se então um processo de assimilação e internalização individual das normas

culturais. O enfoque monista desse autor lastreou-se na identificação única das

“necessidades culturais”; conceito excludente baseado na conhecida cultura do

W.A.S.P. (white-angloxan-protestant), constituída por sua vez pelos princípios do

american way of life.3

A evolução seguinte da categoria controle social associa-se ao

desenvolvimento da sociologia acadêmica norte-americana e mais concretamente à

influência da conhecida Escola de Chicago, donde surgiram autores como Park, Mead,

Dewey, Burgess, Shaw etc. Esses sociólogos fizeram referência ao processo de

interação como base da comunicação social, outorgando a esta última capacidade de

coesão e estruturação do consenso nas grandes cidades dos Estados Unidos. Tal

perspectiva apóia-se no pragmatismo da psicologia social de George H. Mead e na

filosofia política de John Dewey, de sorte a permitir que os representantes desse

pensamento distanciassem o conceito de controle social daquilo que chamaram de

controle público, ou seja, das estratégias de disciplina social que afloraram desde o

2 Carlos Alberto Elbert lembra que, embora hoje se preocupe em discutir até onde é razoável chegar, a

criminologia nasceu ocupando-se do produto do controle social, exercido mediante o direito penal e

deixando de lado a análise crítica desse direito e sua práxis (Criminologia latino-americana: teoria e

propostas sobre o Controle Social do Terceiro Milênio. São Paulo: LTr, 2000, p. 97). 3 Nesse sentido, RODRÍGUEZ, Marta González. Análisis del control social desde una perspectiva

histórica. Disponível em <http://www.monografias.com/trabajos15/control-social/control-social.shtml>.

Acesso em 3 dez 2004.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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surgimento do Estado. Com isso, a idéia de controle social desenvolve-se sem

confundir-se com as formas organizativas que o direito estatal poderia impor.4

A posição anterior, que sustentava a exclusão estatal do controle social,

restou superada pelos objetivos traçados por ocasião da imperiosa necessidade surgida a

partir das conseqüências da grande depressão norte-americana dos anos de 1929 e 1930.

Por esse motivo o Estado norte-americano começou a assumir o papel de centralizador

estratégico do controle da sociedade, principalmente por meio do Direito, alçado a

instrumento regulador por excelência. Produziu-se assim uma ruptura entre a teoria

sociológica e a práxis do Controle Social na sociedade norte-americana. Essa

reorientação possibilitou ao Estado a capacidade organizativa do conglomerado social;

critério que se explica e se consolida por meio da corrente estrutural-funcionalista.

Os representantes da corrente estrutural-funcionalista que maior relevância

tiveram a respeito do tema ora proposto foram Émile Durkheim, Talcott Parsons e

Robert Merton. Todos de uma forma ou de outra atribuíram à organização estatal uma

alta carga de representatividade no controle social da conduta desviada. O sociólogo

francês Émile Durkheim5 destacou-se no âmbito do estudo do delito com a sua tese

sobre a normalidade da criminalidade e o importante papel que exerce esta última na

manutenção da coesão e da solidariedade social. O delito, para Durkheim, representa

um “fator de saúde pública” na medida em que garante a mobilidade e a alternância do

4 A Escola de Chicago surgiu nas primeiras décadas do século XX e desenvolveu trabalho pioneiro e

fundamental sobre as cidades. Destaca-se a ecologia humana, que teve como principais expoentes Robert

Park e Ernest Burgess, precursores da exploração da relação entre organização do espaço urbano e

criminalidade. O mesmo tema foi desenvolvido por Clifford Shaw e Haney McKay, cujos estudos se

debruçaram sobre a hipótese de desorganização social das áreas pobres ser a principal causa de

criminalidade ocorrente na cidade. A primeira fase da Escola de Chicago vai de 1915 a 1940, ao passo

que a segunda fase vai de 1945 a 1960. A primeira fase da Escola de Chicago espelha uma tradição

marcada pelo pragmatismo filosófico, pela observação direta da experiência e pela análise de processos

sociais urbanos. Sua obra é marcada por três vertentes: (i) o trabalho de campo e o estudo empírico; (ii) o

estudo da cidade (problemas relativos a imigração, delinqüência, crime e problemas sociais, o que se

relaciona diretamente com a teoria ecológica); e (iii) uma forma característica de psicologia social

(interacionismo simbólico). Uma marca da Escola de Chicago foi a reunião de dados estatísticos e

qualitativos que evidenciavam que o crime era um produto social do urbanismo (o que, na época,

representou um novo enfoque teórico). A Escola de Chicago, importante para o estudo da criminalidade

urbana e as teorias dali estabelecidas, caracterizou-se pelo pragmatismo. Entre as inovações que

preconizou, destacam-se o método de observação participante e o conceito de ecologia humana. Sobre a

importância da Escola de Chicago, cf. FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço Urbano e

Criminalidade: lições da Escola de Chicago. São Paulo: IBCCrim, 2002. 5 Duas obras merecem destaque sobre o assunto ora abordado: Da divisão do trabalho social. Tradução

de Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, e O suicídio: estudo de sociologia.

Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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caráter geral das normas sociais, incluídas as que o Estado promulga por meio do

Direito. Um dos principais méritos científicos desse autor consistiu no desenvolvimento

do conceito de “anomia”, entendida como a ausência ou carência de efetividade das

normas sociais de todo tipo, o que, a seu modo de ver, gera uma especial

desorganização coletiva pela perda da capacidade reguladora do controle social

normativo.6

Idêntica tônica funcionalista caracteriza a obra de Talcott Parsons, autor

que, seguindo a linha de Durkheim, reconhece neste último a profundidade do

tratamento a respeito do controle social e seu significado de conformismo moral.

Parsons enfoca o conceito a partir da ótica psico-sociológica e estabelece uma relação

de congruência entre o desvio e a falta de controle. Sua principal nota reside no

profundo reconhecimento do Direito como manifestação do controle social, destinado

como toda variante controladora a garantir a ordem social. Com isso, a abordagem de

Parsons discrepa da pretendida dicotomia, ou mesmo abandono, entre a função de

controle e a gestão estatal, sustentada originariamente pelos representantes da Escola de

Chicago.

Roberto Bergalli, reconhecido estudioso da evolução histórica do uso do

termo controle social, atribui relevância à abordagem realizada por outro representante

da corrente estrutural-funcionalista, Robert Merton, discípulo de Parsons que

desenvolveu o conceito de anomia elaborado por Durkheim. As principais idéias

teóricas de Merton derivaram do estudo da sociedade norte-americana, qualificada por

ele como uma sociedade anômica. Sua obra tratou de demonstrar que algumas estruturas

sociais são claramente criminógenas ao propiciar que as pessoas decidam pelo

comportamento desviante. Merton procurou elaborar um sofisticado conceito de

6 Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e Allana Campos Marques bem sintetizam a importância de

Durkheim nessa mudança de compreensão do fenômeno delituoso: “O momento marcante da releitura do

fenômeno criminal, que modifica o enfoque tradicional do criminoso, outrora concebido como um mal à

sociedade, ou como uma verdadeira patologia social, contra o qual faz-se [sic] necessário um efetivo

controle, é o desenvolvimento do pensamento de Durkheim no final do século XIX. As teses

durkheiminianas da funcionalidade e da anomia, além de marcarem a virada sociológica na criminologia

contemporânea, possibilitaram o deslocamento dos estudos para os Estados Unidos do início do século

XX, marcando um momento de eclipsamento, quiçá pela estagnação do pensamento criminológico na

Europa” (Baratta: Aldilà do sistema penal. In: ANDRADE, Vera Regina Pereira de (org.). Verso e

reverso do Controle Penal: (Des)Aprisionando a Sociedade da Cultura Punitiva. Florianópolis:

Fundação Boiteux, 2002, p. 106).

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

5

controle social que combinasse a manifestação interna ou individual com a institucional

ou social.7

Embora os funcionalistas bem expliquem a conduta desviada a partir da

contradição entre os valores culturais e os valores instrumentais, não esclarecem as

razões essenciais que produzem essa dicotomia. Nesse sentido é que se reputa a teoria

funcionalista como uma teoria de médio alcance, como um modelo teórico suficiente

para fundamentar somente algumas investigações empíricas limitadas e de um certo

tipo, a exemplo daquelas que contemplam a criminalidade contra a propriedade por

parte das classes subalternas em uma sociedade como a norte-americana. Outras

posições críticas foram assumidas pelos principais teóricos do controle, que

questionaram as possibilidades de confirmação empírica do enfoque estrutural-

funcionalista.

Segundo Bergalli, uma radiografia crítica do uso do termo controle social

revela que a origem sociológica de seu conceito nada teve de revolucionário. Visualiza

ele um cariz reformista no desenvolvimento do conceito de controle social a partir de

uma política de controle destinada a apaziguar ou diminuir os abusos sociais derivados

do desenvolvimento do capitalismo industrial. Com isso, o controle social, segundo

Bergalli, contribuiu no seu início para operações sociais “cosméticas” que acabaram por

suportar os fenômenos estruturais e residuais – tais como a violência, marginalidade,

exploração etc. - da sociedade capitalista.8

II. ANÁLISE HISTÓRICA DAS POSIÇÕES TEÓRICAS FUNDAMENTAIS AO

CONTROLE SOCIAL

A história do pensamento criminológico no século XX caracterizou-se pela

evolução de vários paradigmas criminológicos, que, sem solução de continuidade,

desenvolveram-se até as posições científicas contemporâneas. Alessando Baratta

7 MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Vol. II. Tradução de J. F. Faria Costa e M. Costa

Andrade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 767-775. Igualmente, cf. FERRO, Ana Luiza

Almeida. Robert Merton e o Funcionalismo. Belo Horizonte: Mandamentos Editora, 2004. 8 ¿De cuál derecho y de qué control social se habla? Disponível em:

<http://www.ub.es/penal/control.htm>. Acesso em 3 dez 2004.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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vislumbra três etapas criminológicas no século passado: a velha criminologia

positivista, a criminologia liberal e a criminologia crítica.9

Convém traçar um breve exame dos três modelos criminológicos

mencionados, de modo a detalhar com especial referência o labelling approach (ou

teoria do etiquetamento), por sua reconhecida relevância como ponto de convergência

entre a criminologia liberal e a criminologia crítica, bem assim por sua transcendência

conceitual para o estudo do controle social da criminalidade.

1. A VISÃO DA CRIMINOLOGIA POSITIVISTA

A determinação biológica da conduta criminosa constitui a essência

explicativa da criminologia positivista ou criminologia etiológica. Os estudos

criminológicos positivistas dirigiram sua atenção ao criminoso em detrimento da

abordagem do próprio crime ou mesmo da possível definição territorial do delito a partir

da ação defensiva-reativa da sociedade. Essa ótica explicativa move-se do campo do

determinismo (biológico) até alcançar a periculosidade social do indivíduo, de modo a

localizar as “causas” do fenômeno no sujeito ativo do delito. Tal enfoque considera que

as razões ensejadoras do crime são preexistentes à reação social repressiva que se

desenvolve com a consumação delitiva.

O modelo etiológico dedicou sua atenção ao delinqüente, obviando as

questões pertinentes ao controle social, por força da função legitimadora pretendida por

tal corrente criminológica. Sua teoria da criminalidade configura-se a partir de uma

explicação tendenciosa que observa uma pequena parcela da realidade delitiva - o

sujeito delinqüente -, com a exclusão valorativa de significativo setor restante dos

fenômenos sociais relativos à ocorrência do crime.10

9 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à Sociologia

do Direito Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999. 10 A concepção do crime e do criminoso, a partir da criminologia etiológica, permite que conflitos sociais

sejam criminalizados e reduzidos ao código crime-pena, de forma a legitimar uma resposta meramente

repressiva e eficientista. Nesse sentido, são oportunas as considerações tecidas por Camila Cardoso de

Mello Prando e Felipe Cardoso de Mello Prando sobre o processo de criminalização que constitui as

relações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e as agências estatais e midiáticas

(Criminalização da exclusão social: análise a partir da repressão aos trabalhadores rurais sem-terra no

estado do Paraná. In: ANDRADE, Vera Regina Pereira de (org.). Verso e reverso do Controle Penal:

(Des)Aprisionando a Sociedade da Cultura Punitiva. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2002, v. 2, p.

151-167).

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

7

A criminologia positivista tradicional, a toda evidência, não contemplou

análises mais detidas dos mecanismos sociais controladores tampouco a própria

apreciação crítica do sistema penal, pois sua missão histórico-científica consistiu em

justificar e racionalizar o sistema social em que se desenvolveu. A essência do modelo

etiológico clássico de explicação do delito converteu a criminologia numa ciência

auxiliar do sistema penal e da política criminal oficial.

A contribuição determinante do positivismo criminológico, que balizou-se

pelas instâncias de controle social presentes na sociedade da época, consistiu em

valorar, por um lado, uma concepção abstrata e historicamente descontextualizada da

sociedade e, por outro lado, interpretar esta como realidade orgânica que se funda no

consenso em torno de valores e interesses assumidos como gerais. Com isso, propôs a

sociedade como um bem e a conduta criminalmente desviada como um mal, de sorte a

fixar a política criminal como legítima e necessária reação da sociedade para a tutela e a

afirmação dos valores sobre os quais se funda o consenso da maioria.

2. AS VERTENTES DOUTRINÁRIAS DAS TEORIAS DO PROCESSO SOCIAL

O desenvolvimento histórico da criminologia liberal caracterizou-se por sua

permeabilidade em face dos enfoques sociológicos do fenômeno delitivo. A partir da

análise ora desenvolvida, que parte da corrente estrutural-funcionalista à etiologia e à

evolução do conceito de controle social, cumpre mencionar outro dos núcleos teóricos

que, dentro da sociologia criminal, patenteia marcada importância para o tema em

estudo: as teorias do processo social.

As teorias do processo social surgem como reação científica frente às

limitações do enfoque estrutural-funcionalista. Demonstram um déficit explicativo

dessa abordagem estrutural-funcionalsita lastreada na inegável criminalidade presente

nas classes média e alta. Rechaçam a propalada afirmação estruturalista de que o crime

é apenas um comportamento das classes baixas. Passam da análise do funcionamento

das estruturas macrossociais, própria do pensamento estrutural-funcionalista, à

valoração dos efeitos psicossociais dos processos interativos individuais. Segundo essa

última visão analítica, potencialmente qualquer pessoa poderia figurar como agente

criminoso e isso transpareceria como resultado de estados sócio-psicológicos derivados

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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de alterações negativas na saudável interação do sujeito com os grupos a que pertence e

que o cercam.

Entre as teorias do processo social não existe uniformidade explicativa

relativamente à etiologia delitiva. García-Pablos de Molina reconhece a existência de

três vertentes doutrinárias nesse grupo de teorias: as teorias da aprendizagem social

(social learning), as teorias do controle social e as teorias da reação social ou labelling

approach (interacionismo simbólico e construtivismo social).11

2.1. Teorias da aprendizagem social

As teorias da aprendizagem social sustentam que a prática de delitos revela-

se como conduta apreendida da interação social própria de grupos pequenos; realiza-se

por meio de um processo socializador no qual se transmitem os elementos culturais

próprios de setores criminais. No dizer de García-Pablos de Molina, essas teorias

“sustentam que o comportamento delituoso se aprende do mesmo modo que o indivíduo

aprende também outras condutas e atividades lícitas, em sua interação com pessoas e

grupos e mediante um complexo processo de comunicação. O indivíduo aprende assim

não só a conduta delitiva, senão também os próprios valores criminais, as técnicas

comissivas e os mecanismos subjetivos de racionalização (justificação ou

autojustificação) do comportamento desviado”.12

2.2. Teorias do controle social

No que toca às teorias do controle social, quadra gizar que seu marco

temporal data do final da década de 1960 e do início da década de 1970. A

peculiaridade teórica que caracteriza os autores das teorias do controle social refere-se

ao questionamento invertido da problemática criminal. Uma vez que dão por evidente a

explicação lógico-racional da conduta desviada, centram seus esforços científicos em

fundamentar as razões do comportamento não delitivo ou do conformismo social.

A razão subjacente a essas posições decorre da suposta obviedade benéfica

que, num plano material, proporciona o atuar delitivo, pois este assegura o acesso às

11 MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus

fundamentos teóricos. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 372-389. 12 Idem, p. 373.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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metas perseguidas de uma forma expedita. Com isso, afirmam os teóricos do controle

que, por derivação lógica, o comportamento mais racional seria a prática de crimes para

obter os benefícios desejados.

Assim, as teorias do controle social ocupam-se de explicar os motivos que

dominam o comportamento que respeita à lei e responder ao questionamento “por que

todas as pessoas não cometem delitos?”. As principais manifestações doutrinárias

dentro das teorias do controle social podem ser resumidas da seguinte maneira: (i) teoria

do enraizamento social; (ii) teoria da conformidade diferencial; (iii) teoria da contenção;

(iv) teoria do controle interior; (v) teoria da antecipação diferencial etc. Convém

esboçar somente os principais elementos constitutivos das variantes teóricas

mencionadas.

A teoria do enraizamento social, conhecida também como teoria dos

vínculos sociais, foi desenvolvida por Travis Hirschi.13 Parte da idéia de que o controle

necessário para que o indivíduo não atue de modo delinqüente assenta-se nos nexos que

esse indivíduo estabelece com a sociedade. A ruptura desses laços significaria uma

sensível perda para a pessoa. Quando lhe falta esses vínculos ou estes se debilitam,

desaparece para o indivíduo o enraizamento social que atua como um verdadeiro muro

detentor do atuar de modo criminoso. A necessidade de perceber-se e ser reconhecido

como integrante pleno e respeitado dos diversos grupos sociais com que guarda

pertinência atua, segundo essa vertente teórica, como elemento formador de uma pauta

de conduta.

Já os defensores da teoria da conformidade diferencial – nomes como Briar

e Piliavin - salientam seu pensamento em duas premissas fundamentais: a possibilidade

de influência do indivíduo por estímulos passageiros e o diferenciado grau de

compromisso da pessoa com valores socialmente aceitos. O resultado da interação de

ambas as variáveis sempre resultará diferente em dois seres humanos submetidos a

condições estimulantes análogas, haja vista que esses indivíduos possuem graus não

equivalentes de conformidade com os valores sociais. Em situações equiparáveis, é

menos provável que uma pessoa com elevado grau de compromisso ou conformidade

13 DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinqüente e a

sociedade criminógena. 2. reimp. Coimbra: Coimbra Editora, 1997, p. 222-228.

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face os valores convencionais se envolva em comportamentos delitivos que outro

indivíduo com nível inferior de conformismo.

A nota distintiva da teoria da contenção, por seu turno, evidencia-se na

valorização dos elementos de índole individual no contexto de um enfoque de tendência

sociológica. O principal autor dessa variante teórica, Reckless, prende-se ao papel

determinante que têm as qualidades pessoais, aquelas que em alguns casos funcionam

como fatores imunizantes dentro de um microambiente estritamente delitivo e

constituem os chamados mecanismos de contenção. Tais mecanismos podem possuir

índole interna ou externa. No caso dos primeiros (mecanismos internos), referem-se eles

aos mecanismos subjetivos próprios da personalidade, tais como: bom conceito, projetos

de vida bem definidos, adequada tolerância à frustração etc. Já os mecanismos de

contenção externa são aqueles relacionados ao controle normativo social, dos quais

servem como exemplos: códigos morais sólidos, papéis sociais bem estruturados,

disciplina social efetiva etc.

Aos adeptos da teoria do controle interior o atuar delitivo surge em virtude

da inconsistência controladora dos grupos primários que conseguiram que seus

membros internalizassem as regras e papéis necessários. Com isso, do controle social

não decorreria, convenientemente, um controle pessoal interno. Este último é

compreendido como a transcendência funcional efetiva à esfera volitiva, dos valores e

normas socialmente prevalentes. Para Reiss, representante dessa corrente de

pensamento, a criminalidade aparece como derivação da disfuncionalidade de controles

sociais ineficientes e da conseqüente debilidade do controle pessoal ou interior.

A teoria da antecipação diferencial pressupõe um trabalho intelectivo

detalhado do indivíduo, que pondera os custos e benefícios que podem resultar do

delito. Formulada por D. Glaser, trata de conciliar os pressupostos da teoria do controle

social e os conceitos básicos da associação diferencial14. Seu postulado é muito simples:

a decisão de cometer ou não o delito ampara-se nas conseqüências que o autor antecipa.

O núcleo essencial da análise repousa na inclinação vantajosa ou desvantajosa das

14 Sobre a associação diferencial, cf. SANTOS, Juarez Cirino dos. Raízes do Crime: um estudo sobre as

estruturas e as instituições da violência. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 38.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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expectativas, grau de benefícios que se relativiza a partir da profundidade do contato de

cada pessoa com os modelos criminais.

Conclusivamente, pode-se afirmar que as teorias do controle social superam

a visão macrossociológica da corrente estrutural-funcionalista, valoram o controle social

com lastro em uma posição dicotômica relacionada com o caráter externo ou interno do

controle, bem assim prestam especial relevância à função dos pequenos grupos a que

pertence o indivíduo. Nesse sentido, as teorias do controle costumam ser vistas de modo

equivocado como teorias das quais deriva uma demanda de maior controle penal.

Todavia, isso mostra-se incorreto, pois a ênfase das teorias do controle reside no

controle social, isto é, no aumento do vínculo da pessoa com as instituições sociais que

efetivamente prevenirão que a pessoa se volte à prática criminosa.

As teorias do controle social são questionadas por diversas razões, dentre as

quais se destaca a renúncia em localizar o fator positivo que gera a prática de crimes.

Por conseqüência, reconhecem a existência de um fator negativo ensejador do ato

criminoso, a saber, presumem que a ausência de controle basta para provocar

inevitavelmente, por si só, a realização de atos delitivos.

2.3. O paradigma do controle: o labelling approach

Sem a pretensão de reconhecimento como um modelo explicativo da

criminalidade, surgiu nos Estados Unidos um novo paradigma criminológico conhecido

indistintamente como teoria da reação social, modelo do etiquetamento, labelling

approach, paradigma do controle etc.15 Com um claro substrato interacionista, esse

novo enfoque superou largamente a valoração linear e simplista que caracterizava a

criminologia positivista clássica. Para os representantes do labelling approach –

Lemert, Chapman, Becker e Payne -, a determinação causal do delito configura

processo problemático e relativo, haja vista que o fenômeno criminoso constrói-se

socialmente com base nos processos de definição e seleção.

A raiz dessa teoria da interdependência dos fenômenos do desvio social e da

reação social sofreu um verdadeiro giro de perspectiva na sua interpretação, que

15 Para o desenvolvimento deste ponto, foram preciosas as considerações expendidas por Roberto Bergalli

(Crítica a la Crimonología. Bogotá: Temis, 1982, p. 191-216.

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cluminou na inversão da relação de determinação da delinqüência aceita até então. O

modelo etiológico de explicação do delito presumia que a existência do desvio gerava a

reação controladora desse desvio; a teoria do etiquetamento, no entanto, sinalizou

justamente o contrário: o controle social cria a criminalidade. Produziu-se, assim, uma

correlação configurativa na qual a reação social atua como fator preexistente e

constituinte do desvio. O controle social – seus agentes e mecanismos – não se limita a

detectar a criminalidade e a identificar o infrator, mas cria ou configura a própria

criminalidade: realiza uma função verdadeiramente constitutiva.16

Assim, o interesse do paradigma do controle centrou-se nos processos de

criminalização interpretados como criadores da criminalidade, reconhecendo dentro

deles duas variantes fundamentais: (i) a etapa de definição legislativa, de criação da lei

penal, conhecido como processo de criminalização primária; (ii) e os mecanismos de

seleção atuantes no período de aplicação da norma que derivam na designação a

determinada pessoa da etiqueta de criminoso, etapa identificada comumente como

processo de criminalização secundária.

2.3.1. A criminalização primária

A criminalização primária é interpretada como um processo de definição, no

que de pronto nega a natureza ontológica do crime, para se sustentar na premissa de que

o crime é um fenômeno eminentemente normativo. Essa seleção realiza-se no nível dos

comportamentos criminalizáveis tendo por lastro a decantação político-criminal dos

bens jurídicos que reclamam proteção. Um aspecto importante a esclarecer consiste em

quem possui a capacidade potestativa ou poder de criminalizar. Decerto, o jus puniendi

é uma atribuição da organização político-estatal, que em representação da sociedade

decide as condutas instituídas como tipos penais. O poder legislativo do Estado arroga-

16 Angela de Quadros Mongruel assinala com precisão que “ (…) de qualquer modo que se pretenda tratar

a questão da criminalidade, é certo que é um assunto polêmico, pois, de acordo com os planos expostos

por Baratta, estaremos sempre diante de um problema. Seja no caso de se saber se realmente os

comportamentos criminalizados são os que verdadeiramente deveriam ser definidos como crime, ou se

saber se as pessoas criminalizadas e penalizadas são as que deveriam receber tal definição. Ou ainda, se o

grupo de pessoas que têm o ‘poder’ para definir quais as atitudes que deverão ser consideradas como

criminosas, sinceramente, é o mais adequado para esta função. Esses indivíduos foram escolhidos ou

designados da melhor maneira para este trabalho? Realizam-no com qualidade e eficiência? Podemos

confiar no que fazem? É a forma mais correta de definição?” (Criminalidade: um problema socialmente

construído. In: ANDRADE, Vera Regina Pereira de (org.). Verso e reverso do Controle Penal:

(Des)Aprisionando a Sociedade da Cultura Punitiva. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2002, v. 2, p.

170).

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

13

se na definição legal do comportamento lesivo que será merecedor de uma resposta

punitiva. A criminalização primária desnuda-se, assim, como um processo de seleção

dos atos penalmente hábeis a serem perseguidos.

2.3.2. A criminalização secundária

A atuação profissional das agências executivas do sistema penal põe em

funcionamento o segundo processo seletivo: a criminalização secundária, processo

caracterizado pela designação criminalizante a um indivíduo de uma conduta prevista

como tipo penal na lei. O delito, então, não se configura (aos efeitos do sistema penal)

no momento do cometimento do crime, mas quando esse atuar delitivo é detectado e

interpretado como tal pelo aparato de justiça criminal.

Para o labelling approach, a seleção de qual indivíduo específico deve ser

processado (etiquetamento) não se rege por critérios técnico-jurídicos, mas conforme

estereótipos criminais que se estruturam no imaginário dos operadores do direito penal.

O mandamento abstrato da norma desvia-se substancialmente ao passar por certos

“filtros” altamente seletivos e discriminatórios que atuam segundo critérios de status

social do infrator. Se no processo de definição da criminalização primária escolhem-se

condutas, no de criminalização secundária concretiza-se individualmente a seqüência

seletiva, definindo-se as pessoas delinqüentes.

As vertentes do paradigma da reação social dedicaram especial atenção aos

efeitos criminógenos da atribuição do status de delinqüente (criminalização secundária),

para concluir que o etiquetamento do indivíduo e sua conseqüente estigmatização

produzem um fenômeno identificado como “desviação secundária”17, consistente na

potencialização do desvio caracterizado. A pessoa etiquetada rompe definitivamente seu

liame com a ordem social normativa, de modo a reforçar sua “fidelidade” ao desvio e

produzir uma troca de identidade ou “reconstrução” adaptativa da personalidade (ajuste

17 Edwin M. Lemert registra: “While class structure may be considered an important variable in deviation,

equally important are technology, group interaction, socio-biological limits and psychic processes.

Discussion of the latter two variables leads to the conclusion that secondary deviations, arising from the

societal and subjective reactions to primary, or original, deviation, is one of the more important problems

for analysis in modern society” (Human deviance, Social Problems & Social Control. New Jersey:

Prentice Hall, p. 26).

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

14

de imagem), na qual o indivíduo assume coerentemente as estereotipadas expectativas

sociais que se lhe atribuem e se comporta de maneira correspondente.

O paradigma do labelling approach, segundo García-Pablos de Molina,

destacou três elementos básicos do controle social penal: seu comportamento seletivo e

diferenciador, sua função criadora da criminalidade e a seqüela danosa e estigmatizante

que deriva da ação do sistema penal.18

A necessária apreciação crítica das bases do paradigma do controle repousa

em dois momentos de análise: de um lado, as contribuições e os acertos do modelo e, de

outro lado, os eventuais equívocos e insuficiências. No primeiro desses momentos,

quadra reconhecer o evidente dinamismo que o labelling approach proporcionou aos

estudos criminológicos, além de uma sofisticação na visão valorativa do fenômeno

criminoso, haja vista que a partir de seus postulados já não se afigura admissível o único

e simplista enfoque causalista clássico. Merece relevo a inegável (ainda que não

totalitária) significação que devem guardar os processos de criminalização na

configuração de alguns setores da delinqüência.

Um acerto que merece destaque refere-se aos estudos sobre os efeitos

estigmatizantes da ação do sistema penal. O questionamento dirigido ao impacto

criminógeno da própria reação social contribuiu para pavimentar uma consciência a

respeito da conveniência do uso discreto e ponderado do direito penal, a ser tomado

como ultima ratio na medida em que substancia remédio violento e traumatizante para o

próprio seio social.19

A análise dos desacertos do modelo da reação social mostra que não se

cuida de uma teoria da criminalidade, mas sim de um modelo de criminalização, para o

qual o crime propriamente dito parece não interessar. O ponto central dessa vertente

teórica, vale repetir, reside no efeito criminógeno e estigmatizador do controle social

18 Idem. p. 385-389. 19 Sobre a implementabilidade de princípios minimalistas da intervenção penal como instrumento de

contração da intervenção punitiva e, por conseqüência, da contenção da violência estatal, cf. SANCHES,

Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini. Os direitos humanos como fundamento do Minimalismo penal de

Alessandro Baratta. In: ANDRADE, Vera Regina Pereira de (org.). Verso e reverso do Controle Penal:

(Des)Aprisionando a Sociedade da Cultura Punitiva. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2002, v. 2,

p.15-31.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

15

formal. Diz-se que esse modelo padece de vício metodológico consistente em um

fundamentalismo antideterminista, que evita ou deixa de lado a existência dos fatores

etiológicos do delito. Parte, desse modo, da fundamentação errônea de que a

criminalidade constitui-se unicamente pela interdependência condicionante entre as

agências do sistema penal e um setor da sociedade.

Pavarini, citado por Marta González Rodríguez, chega a sustentar que esse

modelo pretendeu ignorar o desvio como um fenômeno social, visualizando-o apenas

como um produto interacionista do controle penal.20 Tal posição explicativa conduziria

a uma paralisia de uma política social em busca de soluções para as contradições sócio-

econômicas. Passa-se, pois, a pugnar apenas pela redução do controle, o que reclamaria

uma intensificação e aprofundamento dos mecanismos de valoração e limitação do jus

puniendi, bem assim de apontamento funcional das agências que estruturam o sistema

penal. Para o enfoque da reação social, a orientação principal dirigir-se-ia à redução ao

mínimo de presença do controle social formal, em vez de buscar a racionalidade

funcional desse mesmo controle.

Com o advento da criminologia crítica, aparece outro dos questionamentos

ao enfoque seletivo consistente na carência de perspectiva política desse modelo de

criminalização: ele não se propôs a explicar as razões políticas que propiciam que certas

condutas sejam tipificadas legalmente como delitos e outras, não. Demais disso, o

modelo da reação social deixa sem respostas perguntas como: quais são os interesses

defendidos pelas instituições penais e por que certos setores populacionais apresentam

índices mais altos de criminalização secundária que outros? É oportuno, portanto, tecer

algumas considerações sobre os postulados da corrente crítica em relação ao controle

social.

20 RODRÍGUEZ, Marta González. Análisis del control social desde una perspectiva histórica. Disponível

em <http://www.monografias.com/trabajos15/control-social/control-social.shtml>. Acesso em 3 dez

2004.

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16

3. A CRIMINOLOGIA CRÍTICA

O movimento da criminologia crítica21 substancia, pode-se dizer, uma

radicalização política da plataforma teórica do labelling approach, cujas posições num

processo de amadurecimento ideológico deram origem à nova criminologia. A

criminologia crítica alcança uma abordagem macrossociológica dos delineamentos da

teoria da reação social, contextualizando-os política e historicamente em relações de

poder concentradas no pequeno grupo social dos mais poderosos.

No dizer de Ela Wiecko Volkmer de Castilho, a contribuição mais

importante da criminologia crítica foi a de demonstrar que o sistema penal reproduz a

desigualdade própria da sociedade capitalista. Na criminalização primária, na

criminalização secundária e na execução da pena ou das medidas de segurança, a

criminalidade é distribuída desigualmente segundo a hierarquia dos interesses

estabelecida no sistema sócio-econômico e conforme a desigualdade social entre os

indivíduos.22

Os postulados básicos do modelo radical podem ser sintetizados numa dupla

contraposição: seu choque com a criminologia clássica, dada a condição desta de

mantenedora do status quo, e seu questionamento dos esquemas explicativos baseados

no etiologismo do delito, em face dos quais contrapõe a análise científica dos

mecanismos criminalizadores e estimagtizantes do controle social. A criminologia

crítica situa historicamente a realidade do comportamento desviado e põe em evidência

sua relação funcional, ou disfuncional, com as estruturas sociais, por meio do

desenvolvimento das relações de produção e de distribuição.

Merecem atenção as fortes críticas traçadas pela criminologia radical contra

as estruturas de poder capitalista e a ordem legal que as sustentam, pois por intermédio

da criminalização – que se ampara na propriedade e na estrutura de poder de uma

sociedade – mantêm-se a estrutura classista e a submissão da classe trabalhadora às

classes dominantes que ostentam a propriedade dos meios de produção.

21 Cf. TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; e YOUNG, Jock (org.). Criminologia Crítica. Tradução de

Juarez Cirino dos Santos e Sérgio Tancredo. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1980.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

17

Há quem reconheça uma segunda fase do paradigma da libertação, etapa

caracterizada pela estruturação de uma revisão autocrítica de suas posições primárias

mais radicais, entre as quais vale destacar a negação do determinismo econômico do

delito que marcou o início do movimento. Conseqüentemente, reduziu-se a exacerbação

primeira da função instrumental do direito, de sorte a rechaçar a visão extrema do

criminoso como um rebelde político mal enfocado.

O qualificativo “crítico” que caracteriza esse modelo criminológico centrou-

se no questionamento acerca do funcionamento do controle social, fenômeno a que se

reconhece natureza política. Bustos Ramírez assevera que a criminologia deixa de ser o

estudo etiológico do delinqüente para passar a ser o estudo do poder político concreto

(controle) que representa o direito penal do Estado moderno.

Essa perspectiva crítica do controle social não deve ignorar os apontamentos

de Aniyar de Castro, para quem a função constitutiva ou criadora do controle social

manifesta-se em três planos principais: na criação do delito, na criação do delinqüente e

na criação da delinqüência. Afirma ela que a agência legislativa cria o delito ao definir

determinadas condutas como tipos penais, ao passo que a ação policial-judicial

(criminalização secundária) determina seletivamente a que indivíduo aplica-se a

etiqueta de delinqüente e configura o fenômeno da criminalidade ao estruturar

funcionalmente a ação interdependente do plano normativo e do plano prático do

sistema penal, como instância formalizada do controle social.

A criminologia da libertação, portanto, revisa de certo modo o controle

social e, principalmente, aponta o direito penal como manifestação particular do poder

político, considerando-o como o subsistema mais reacionário de controle. As críticas

nesse sentido lastreiam-se na destruição dos mitos existentes sobre as garantias formais

da intervenção punitiva. Ao demonstrar as falácias da dogmática penal relativamente ao

cumprimento dos diferentes princípios básicos do direito penal, qualificados como

simples axiomas de lógica abstrata, a criminologia da libertação sublinha o princípio da

igualdade perante a lei e o princípio garantista da culpabilidade, baseados na suposta

22 Criminologia Crítica e a crítica do Direito Penal econômico. In: ANDRADE, Vera Regina Pereira de

(org.). Verso e reverso do Controle Penal: (Des)Aprisionando a Sociedade da Cultura Punitiva.

Florianópolis: Fundação Boiteux, 2002, p. 61.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

18

liberdade dos sujeitos, como pilares básicos que sustentam o direito penal em suas

funções controladoras da criminalidade.

Louk Hulsman, reconhecido abolicionista, assevera que a criminologia

crítica questionou e criticou muitas das concepções “normais” sobre o delito. Essa

forma de desprestígio, segundo ele, varia segundo as correntes inseridas na criminologia

crítica. Durante certo tempo, os criminólogos marxistas, predominantemente,

consideraram o delito como um produto do sistema capitalista, que desapareceria com o

nascimento de uma nova sociedade. Nesse sentido enxergava-se o desaparecimento do

delito como o desaparecimento das “situações problemáticas” que o causavam. Em

outras palavras, não se tratava de um desaparecimento do problema da criminalização

como uma resposta a situações problemáticas. Numa etapa posterior, a criminologia

crítica questionou os aspectos irracionais e classistas dos processos de criminalização

primários e secundários. Com isso, desmistificou a funcionalidade e o princípio da

igualdade legal que muitas vezes legitimam os processos de criminalização primária.

Sobre a base dessa desmistificação, a criminologia crítica apoiou a descriminalização

parcial, uma política mais restritiva sobre o uso do direito penal e a não intervenção em

certos delitos e contra certos delinqüentes. Atribuiu maior importância aos delitos

cometidos pelos poderosos e pleiteou que as atividades da justiça penal se dirigissem

mais aos crimes de colarinho branco (white collar crimes) que aos desprotegidos e à

classe trabalhadora. A guerra contra o crime substancia uma derivação da própria luta

de classes, que no melhor dos casos servia para vender notícias e, no pior, para

converter os pobres em verdadeiros títeres expiatórios. Houlsman salienta o maior

equívoco da criminologia crítica na quase completa ausência de questionamentos acerca

do conceito de delito.23

23 La Criminologia Critica y el concepto del delito. In: Abolicionismo penal. Traducción de Mariano

Alberto Ciafardini y Mirta Lilián Bondanza. Buenos Aires: Ediar, 1989, p. 87-107. Aponta Houlsman, no

entanto, a existência de uma tendência mais recente – na qual se incluiria ele próprio, além de nomes

como Baratta, Normandeau e outros - que começa a questionar o conceito de delito e negar sua realidade

ontológica. A partir desse ponto, cuidaria de reorganizar o debate dentro da criminologia e da política

criminal, numa postura tendente à abolição da justiça penal, ao argumento de que o delito como realidade

ontológica é a pedra angular desse tipo de justiça penal. Sem a pretensão de aprofundamento a respeito do

viés abolicionista, é de ver que a assertiva de Houlsman parece não atentar para a advertência que

Zaffaroni bem giza acerca da resposta neokantista à neutralização da macrossociologia. Aponta o jurista

argentino que, no plano de uma pretensa integração da criminologia com o direito penal, resulta que o

Direito Penal atuaria como uma programação de valores cujos cultores apenas se ocupam de delimitar os

alcances do programa de criminalização, guiando-se pela pura lógica interna do programa (“dever ser”),

ao passo que a criminologia ocupar-se-ia de explicar as “causas” – etiologia – das ações humanas que

deveriam ser criminalizadas conforme o programa jurídico-penal. Na realidade, porém, o modelo de

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

19

O questionamento ao paradigma crítico guarda suas formulações na

excessiva carga especulativa que contém seu aparato teórico, nas suas desmedidas

pretensões generalizadoras e no inevitável déficit empírico de toda concepção

macrossociológica. García-Pablos de Molina24 registra que o método histórico-analítico

usado pela criminologia crítica gera uma abstração político-filosófica insuscetível de

verificação prática e, por conseqüência, uma carência de concreção de políticas

criminais viáveis. Nada obstante, por outra ótica valorativa menos radical, pode-se dizer

que o legado da criminologia crítica é recordar que o delito, o sistema penal e as

decisões de política criminal produzem-se dentro de uma estrutural social, política e

econômica.

III. CONCLUSÃO

Assim, a pretexto de uma síntese conclusiva, a época primária de

desenvolvimento da categoria “controle social” caracterizou-se por tendências

oscilatórias opostas quanto a estatizar ou não a função controladora da sociedade. No

surgimento do conceito sociológico de controle social, predominou a idéia da completa

separação entre o controle social e a intervenção estatal (Ross e a Escola de Chicago).

Todavia, as condições econômico-sociais dos Estados Unidos na década de 1930

levaram a uma mudança radical na interpretação da categoria “controle social” e suas

relações com o aparato estatal, modificação esta caracterizada pelo reconhecimento da

capacidade organizativa do Estado por meio do Direito, este último alçado a elemento

controlador por excelência (corrente estrutural-funcionalista). Apesar das tendências

divergentes expostas, sempre se reconheceu ao controle social sua centralidade

conceitual e operativa na necessária consolidação da ordem social.

Para sedimentar conclusivamente o que se mencionou acerca das posições

teórico-criminológicas fundamentais acerca do controle social, é possível asseverar que

criminologia neokantiana apresenta-se como de impossível realização, porque não pode estudar

etiologicamente todas as condutas cuja programação criminalizante ocupa o direito penal, haja vista que

há previsões penais que jamais provocam reações punitivas (como o adultério, por exemplo), outras nas

quais a reação é substancialmente problemática (rebelião, verbi gratia), outras que não têm vigência

alguma (o duelo) e, em geral, porque na imensa maioria dos casos a programação criminalizante não se

efetua. Esta última hipótese refere-se à chamada cifra negra, que não pode ocultar a realidade de que o

sistema penal reage somente num número extremamente reduzido de casos em comparação com o imenso

número de hipóteses em que a criminalização se programa (ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Criminologia:

aproximación desde um margen. Bogotá: Temis, 1998, p. 189-190).

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

20

a criminologia tradicional, desde sua posição idílica de consenso social, passou ao largo

do estudo do controle social. Porém, a criminologia mais liberal, por meio das teorias do

processo social e, mais concretamente, por meio das teorias do controle social,

promoveu maior aproximação entre a abordagem do controle social e os grupos

controladores. Já a corrente do labelling approach proporcionou ao controle social

inegável protagonismo, ao elevá-lo a fator constitutivo da própria criminalidade. Como

derivação politizada da teoria da reação social surgiu o modelo da criminologia crítica,

que contextualiza historicamente a função controladora do Estado, dotando-a de alta

carga ideológica e classista.

O âmbito do controle social é amplíssimo, alerta Zaffaroni, dada sua

protéica configuração e a imersão do investigador, e nem sempre evidente. O fenômeno

de ocultamento do controle social é mais pronunciado nos países centrais do que nos

periféricos, onde os conflitos são mais manifestos. Ainda assim, mesmo nos países

periféricos, o controle social tende a ser mais anestésico entre as camadas sociais mais

privilegiadas e que adotam os padrões de consumo dos países centrais. A enorme

extensão e complexidade do fenômeno do controle social evidencia que uma sociedade

é mais ou menos autoritária ou mais ou menos democrática segundo se oriente em um

ou outro sentido a totalidade do fenômeno e não unicamente a parte do controle social

institucionalizado ou explícito. Logo, para avaliar o controle social, o observador não

deve ater-se ao sistema penal, e menos ainda na mera letra da lei penal. Ao revés, deve

analisar a estrutura familiar (autoritária ou não), a educação (escola, métodos

pedagógicos, controle ideológico dos textos, universidade, liberdade de cátedra etc.), a

medicina (orientação anestesiante ou puramente organicista, ou mais antropológica de

sua ideologia e prática) e muitos outros aspectos que tornam complicadíssimo o tecido

social. A pretensão de formar uma idéia do modelo de sociedade com que se depara,

esquecendo a pluridimensionalidade do fenômeno do controle social, redundará num

simplismo ilusório.25

Por derradeiro, a par de qualquer consideração qualificativa ou mesmo

valorativa acerca desse desenvolvimento científico do enfoque criminológico do

24 Ob. cit. p. 562-585. 25 ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal brasileiro:

parte geral. 4. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 61-62.

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

21

controle social, a compreensão aqui desenvolvida volta-se precipuamente à

oportunidade de apreender e tirar proveito dela, a fim de melhor formar e orientar as

propostas a serem tomadas ante o delito e à violência.26 O enfoque criminológico tem

demonstrado com clareza que uma política que pretenda tratar de forma adequada a

violência presente no seio social não pode simplificar nem dramatizar seu objeto, mas

sim compreendê-lo em toda a sua complexidade (incluídas as condições comunicativas

de aparição e modificação27), para a longo prazo permitir a assertiva de que esse objeto

não pode ser manejado com força e repressão.

26 A perspectiva do Controle Social inserido no contexto globalizado é precisamente abordada por

Roberto Bergalli (Relaciones entre Control Social y globalización: Fordismo y disciplina - Post-fordismo

y control punitivo. Disponível em: <http://www.ub.es/penal/control.htm>. Acesso em 3 dez 2004). 27 A advertência é de Winfried Hassemer (Crítica al derecho penal de hoy. Traducción de Patricia S.

Ziffer. Bogotá: Centro de Investigaciones de Derecho Penal y Filosofía del Derecho da Universidad

Externado de Colombia, 1998, p. 52). No mesmo sentido é precisa a lição de Jorge de Figueiredo Dias,

quando afirma que “(…) somente uma política criminal concebida nos termos expostos pode – no

contexto de uma ciência conjunta do direito penal – desempenhar a função de intermediário entre a

criminologia ea dogmática jurídico-penal, tal como estas devem ser compreendidas no momento presente.

Pelo contrário, uma relacionação imediata da criminologia com a dogmática jurídico-penal desde sempre

se revelou não só problemática, como pouco útil, nessa dificuldade residindo a razão do divórcio – que

até os anos 60 se revelou praticamente total – entre as duas ciências. Desde o momento, porém, em que se

quebrou a ‘assepsia’ científica e metódica em que durante décadas viveu a ciência criminológica e em que

se pôde reconhecer que esta se devia transformar, de ciência puramente explicativa, em ciência crítica,

também ela passou a se deixar penetrar por pressupostos básicos e, em definitivo, por valorações jurídico-

criminais. O que, por um lado, determinou um sensível alargamento do seu objeto, que, do crime (e

eventualmente também da personalidade criminosa), na sua vertente puramente etiológica (ou causal),

passou a ser o inteiro sistema da justiça penal; e assim permitiu, por outro lado, a sua inclusão, sem

contradições, em uma ciência conjunta do direito penal por via do entreposto constituído pela política

criminal” (Questões fundamentais do Direito Penal revisitadas. São Paulo: RT, 1999, p. 44-45, ênfases

do original).

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A inserção do Controle Social nas Escolas Criminológicas: do monismo social à Criminologia Crítica

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