saiba+ nº 106

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Ano 10 - Nº 106 - Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas - 20 de março a 5 de abril de 2013 60% dos jovens não se identificam com partidos políticos, diz pesquisa MORADIA Aluguel tem alta maior que inflação e afeta principalmente estudantes que chegam à cidade. Pág. 3 COMÉRCIO Ruas que concentram lojas de um mesmo setor facilitam a vida dos consumidores. Pág. 6 CULTURA Em pleno centro da cidade, Museu de Arte Contemporânea de Campinas (Macc) vive às moscas. Pág. 8 EDUCAÇÃO Antecipar a entrada dos filhos na escola é problema ou solução? Pág. 7 Cinema para todos O curador Ricardo Pereira, em entrevista, aborda como o projeto do MIS promove inclusão. Pág. 4 Levantamento realizado pela agência Box 1824, em parceria com o instituto Datafolha, indica que 60% dos jovens brasileiros, entre 16 e 24 anos, não se identificam com partidos políticos. A maioria disse estar descrente e, por isso, prefere atuar em movimentos apartidários ou como voluntários. Pág. 5 TRANSPORTE Dependendo do total de quilômetros pelo qual uma pessoa transita todos os dias, não compensa ter um carro. Andar de táxi é mais rentável para quem circula até 17 km por dia. Pág. 7

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20 de março a 05 de abril

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Page 1: Saiba+  nº 106

Ano 10 - Nº 106 - Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas - 20 de março a 5 de abril de 2013

60% dos jovens não se identifi cam com partidos políticos, diz pesquisa

MORADIAAluguel tem alta maior que infl ação e afeta principalmente estudantes que chegam à cidade. Pág. 3

COMÉRCIO Ruas que concentram lojas de um mesmo setor facilitam a vida dos consumidores. Pág. 6

CULTURAEm pleno centro da cidade, Museu de Arte Contemporânea de Campinas (Macc) vive às moscas. Pág. 8

EDUCAÇÃOAntecipar a entrada dos fi lhos na escola é problema ou solução? Pág. 7

Cinema para todos O curador Ricardo Pereira, em entrevista, aborda como o projeto do MIS promove inclusão. Pág. 4

Levantamento realizado pela agência Box 1824, em parceria com o instituto Datafolha, indica que 60% dos jovens brasileiros, entre 16 e 24 anos, não se identifi cam com partidos políticos. A maioria disse estar descrente

e, por isso, prefere atuar em movimentos apartidários ou como voluntários. Pág. 5

TRANSPORTEDependendo do total de quilômetros pelo qual uma pessoa transita todos os dias, não compensa ter um carro. Andar de táxi é mais rentável para quem circula até 17 km por dia. Pág. 7

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220 de março a 5 de abril de 2013

Jornal-laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC--Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Prof. Rogério Bazi; Diretora Adjunta: Profa. Maura Padula; Diretor da Faculdade: Prof. Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2.000. Impressão: RAC.

Editor-chefe e Professor Resp.: Prof. Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375)Capa: Lucas IsraelEditores: Heloíse Lima e Lucas IsraelDiagramação: Alyne Martinez e Giulianna CamposEndereço: CLC - Campus I - Rod. D. Pedro, Km 136 Cep: 13086-900

CARTA AO LEITOR

CRÔNICA

O jovem quer ter voz

Cartas e e-mails

Matrículas abertas para cursos de extensão no CLC

NotasSOFIA FUCCHI

Obras raras estão disponíveis na internet

HC da Unicamp recebe doação de ovos de Páscoa

CPFL exibe documentários nacionais

O espaço CPFL Cultura faz neste mês uma retrospectiva de do-cumentários nacionais. Na programação, que acontece de 13 a 27 de março, estão reunidos 12 trabalhos lançados em 2011 e 2012. Entre os títulos estão “Raul Seixas – O início, o fi m e o meio”, do diretor Walter Carvalho, “Tropicália”, de Marcelo Machado e “Rock Brasília”, de Vla-dmir Carvalho. Para abrir o ciclo, no dia 13, às 19h, ocorreu um bate--papo entre o curador da mostra e diretor do Festival É Tudo Verdade, Amir Labaki, e a produtora e roteirista Daniela Capelato, responsável pelo curta “Viajo porque preciso, volto porque te amo”. As exibições ocorrem às 19h e às 21h, na CPFL Cultura, na Chácara Primavera. A entrada é gratuita, com entrada limitada de convites por ordem de chegada.

A Biblioteca Digital da Uni-versidade Estadual de Campinas (Unicamp) disponibilizou 43 tí-tulos da Coleção de Obras Ra-ras da Biblioteca Central Cesar Lattes. O livro mais antigo é de 1559. Outra obra rara é a Cole-ção Brasiliana, formada por vo-lumes escritos por viajantes dos séculos 18 e 19. O acervo foi di-gitalizado por meio da parceria da Unicamp com a Universidade de São Paulo (USP), a Estadual Paulista (Unesp) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta-do de São Paulo (Fapesp).

Ateliê recebe exposição de fotos da Índia

O Ateliê Revestimentos, no Cambuí, recebe de 8 de março a 7 de maio a exposição “Impressões”. O trabalho da artista plástica Vera Figueiredo reúne fotografi as feitas em uma viagem da artista à Índia, além de gravuras inspiradas no uni-verso feminino indiano. No dia 4 de abril, será realizado um bate--papo com Vera, das 19h às 21h. A exposição fi ca aberta ao público de segunda a sexta, das 9h às 18h e aos sábados, das 9h às 14h. A entrada é gratuita. Para outras informações, o telefone para contato é (19) 2139-3550.

O Centro de Linguagem e Comunicação (CLC) da PUC-Campinas está com as inscrições abertas para os cursos de extensão nas áreas de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. Algumas das opções são Marketing Eleitoral, Jornalismo Literário e Etiqueta Pessoal e Profi ssional. Os interessados podem fazer inscrição no site da PUC (www.puc-campinas.edu.br). As taxas variam de R$ 158 a R$ 291. Outras informações: (19) 3343-7663.

A Enfermaria de Pediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Univer-sidade Estadual de Campinas (Unicamp) recebe até o dia 22 de março doações de ovos de páscoa. As doações serão destinadas às crianças o internadas na unidade e serão entregues no dia 26, durante a festa de comemoração da Páscoa do HC. Os ovos devem ser nº 12 e conter um brinquedo como brinde. As entregas podem ser feitas no 4º andar do hospital. Para outras informações ligue: (19) 3521-7458.

GABRIELA ROSSI

Talvez me achem antiquada, mas sou avessa à ideia de crianças usan-do tablets para escrever nas escolas. Não sou contra a tecnologia e acho ótimo que tenham contato com tec-nologias que facilitem o acesso a in-formações. Mas, certo dia, chego do trabalho e um sobrinho com seus 7 anos recentemente completados, está sentado à mesa da cozinha com a criação de Steve Jobs nas mãos:

- Tia, preciso terminar uma carta para meu amigo, mas estou sem idéia.

- Como assim, uma carta? - Pergunta atônita a tia.

Claro que eu sei o que é uma car-ta. A pergunta se referia ao fato de a educadora ter pedido aos alunos recém-alfabetizados para digitarem um e-mail com “padrão” de carta e mandassem via e-mail. Não consigo entender. Que me achem um dinos-sauro, mas para mim ou é e-mail ou é carta.

O romantismo de uma carta está justamente no fato de ela não ser um texto enlatado, simples de ser feito com um número determinado de caracteres e enviados na forma “fast food” de um e-mail. Cartas me chamam muito a atenção, pois, quando redigidas a punho por um amigo, é como se decifrássemos em cada letra desenhada, um pouco mais daquela pessoa.

O papel escolhido, o formato, o estilo e a estética são escolhas pes-soais que já guardam uma história do remetente: cartas mais grosseiras de papel sulfi te escritas com caneti-nha e com letras de forma – tenho

um amigo que já passou dos 50 e só as escreve desse modo – e cartas re-digidas com um capricho inconfun-dível em papel de carta– daquelas que nem é preciso ler o remetente, bastando ver a beleza da caligrafi a que, com certeza, identifi ca-se uma carta da vovó paterna.

Coisas a serem valorizadas só por aqueles que já receberam dife-rentes cartas. Estes, sim, sabem que, na hora de ler ou escrever uma car-ta, a pressa é inimiga da perfeição. É preciso de tempo para se identifi car com o papel. Tudo de forma praze-rosa, mesmo sabendo que a respos-ta não virá no dia seguinte.

Como argumentar com o pobre-zinho que nunca recebera uma car-ta e que, agora, teria a sua primeira “carta virtual” enviada e respondida via e-mail?

- Mas, querido, uma carta não é isso. A essência da carta é justa-mente essa coisa de ela ser menos moderna. Escrever no papel, enve-lopar, colocar selo, ir aos correios, escrever o endereço do amigo...

- Por isso que a ‘tia da escola’ pediu para enviar por e-mail, para não ter todo esse trabalhão. Enten-deu, tia?

Fiz que entendi. Se queria faci-litar, então por que não pedir para que os garotos escrevessem as cartas e trocassem pessoalmente na escola, então? Mas, resolvi não aprofundar meu sentimento de dis-córdia, com medo de ouvir que a caligrafi a já deixara de existir. Aliás, e quanto aos chatos livros de cali-grafi a? Será que ainda existem ou já foram substituídos por aulas refor-çadas de digitação?

FOTO: SOFIA FUCCHI

As doações podem ser entregues até dia 22/03 no 4ºandar do HC

LUCAS ISRAEL

Eu não sou o mudo/ Balbucian-do, querendo falar/ sou a voz do outros/ querendo falar dentro de mim. A letra escrita por Roberto Frejat e Jorge Salomão não poderia descrever melhor o que se passa na mente dos jovens entrevistados pela reportagem do Saiba + para a edi-ção 106, a primeira de 2013. Se, em períodos mais conturbados da his-tória do Brasil, a juventude não fu-giu ao front e sempre esteve ligada a movimentos importantes, como a redemocratização, nos anos 80 e o impeachment de Fernando Collor, nos anos 90, não seria hoje que a indignação com os descalabros da política nacional afastaria os menos calejados na vida, da luta contra os desmandos dos supostos represen-tantes do povo.

Entretanto, o que não se vê nas ruas, no âmbito das iniciativas, se vê nas redes sociais. E, de maneira silenciosa, os jovens se organizam, alheios às carcomidas estruturas partidárias, abrindo espaço para uma política renovada, mais próxi-ma às comunidades e mais distantes da velha política recheada de empá-fi a das assembleias legislativas e câ-maras, inundadas por lobistas e seus

interesses obscuros. Além disso, esta edição do Saiba

+, também traz o estado vegetativo de duas casas importantes da cultu-ra em Campinas. O Museu da Ima-gem e do Som (Mis) e o Museu de Arte Contemporânea (Macc) são a personifi cação mais óbvia de como a gerência dos principais palcos de cultura da cidade é falha.

Foi quando chegamos ao ponto de um curador de cinema dizer que “se o público não ocupa, o poder público desocupa”, é hora de não só abrirmos os olhos para o modo com o qual se administra a máquina pú-blica, mas também nos atentarmos para como a população lida com os postos de cultura. Aí chegamos a uma questão ainda mais profunda: o trato do estado com a educação.

Ainda nesta edição, temos o au-mento dos aluguéis, que, neste iní-cio de ano, subiram mais que a in-fl ação e o IGP-M e acertaram em cheio o bolso de todos, mas ainda mais dos estudantes, que procuram um novo lugar para morar.

Falando em bolso, outra matéria de economia mostra as ruas com comércio segmentado que tanto fa-cilitam a vida do consumidor e tam-bém dão as caras nesta edição.

Boa Leitura!

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Elas passam frio, fome e humilhação para viver uma união que ultrapassa os limites dos muros do “Carandiru Caipira”

20 de março a 5 de abril de 2013

Aluguéis em Campinas estão quase 8,3% mais caros

ISABELLA TOGNIOLLI

Um reajuste de 8,29% vai atingir os contratos de aluguel com data de aniver-sário em março de 2013, de acordo com Índice Geral de Preços do Mercado (IGP--M), calculado pela Funda-ção Getúlio Vargas (FGV). Esse índice, divulgado men-salmente, é o principal uti-lizado para a atualização dos preços nos contratos de locação. Apesar de uma leve variação de 0,29% no mês de fevereiro, o índice acumulado do último ano já atinge as imobiliárias de Campinas.

Isso signifi ca que um aluguel de R$1.000,00, mé-dia paga por estudantes em kitnets e quartos próximos à Pontifícia Universidade Ca-tólica de Campinas (PUC--Campinas) e da Universi-dade Estadual de Campinas (Unicamp), passará a valer R$ 1.082,87. “Quando te-mos um aumento na de-manda, ou seja, na procura por kitnets, e a oferta con-tinua a mesma, é normal que haja um aumento na variação de preços no mer-cado”, afi rma o economista e professor da PUC-Cam-pinas, Dimas Gonçalves.

No entanto, esse au-mento na alta temporada de 2013 – período em que co-meçam as aulas e a cidade recebe muitos estudantes de várias regiões do Brasil e até do Exterior – não inibiu a grande procura dos estu-dantes por um local para morar perto das faculdades. Giovanna Guidelli, de 22 anos, levou duas semanas para encontrar um local. “Tive que fi car na casa de uma amiga enquanto pro-curava. Estava tudo lotado, mas tive que recusar uma kitnet em frente à Unicamp porque estava muito cara”, disse.

A estudante de pós-gra-duação começou a busca em imobiliárias, onde que-ria encontrar um quarto para morar, mas acabou

alugando um apartamento para dividir com outras es-tudantes, o que sairia mais barato. “Consegui encon-trar as meninas em um site de moradias para universi-tários”, contou. “Divulguei as vagas do meu aparta-mento e várias meninas vie-ram olhar. Consegui achar rapidinho duas pessoas”, afi rmou.

Com 90% dos imóveis próximos à PUC-Campinas e a Unicamp, uma imobili-ária de Barão Geraldo diz ter ajustado os preços de acordo com o IGP-M. “Fi-zemos um reajuste de 5%. Esse reajuste signifi ca só o aumento do índice”, con-tou o corretor de imóveis Danilo Ávila. “Mesmo com o reajuste, a busca continua a mesma ou até um pouqui-nho superior a do ano pas-sado. Apesar do preço da energia elétrica ter diminu-ído, isso não interferiu em nada nos preços” diz.

Mas nem sempre esses valores são respeitados. Apesar de o índice do IGP--M acumulado do ano de

2012 ter sido de 7,82%, a Associação Regional da Habitação de Campinas (Habicamp) divulga outro dado. De acordo com a ins-tituição, a alta no valor de contratos de locação soma 10,3% no último ano. Essa diferença em relação ao IGP-M se dá também por-que muitos contratos são fi rmados entre particulares, sem a mediação de uma imobiliária, com valores acertados sem levar em con-sideração qualquer índice.

DÚVIDAS

Para orientar os novos inquilinos da cidade, a Fun-dação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) lançou uma cartilha com 20 páginas orientativas para o consumidor, incluindo a ex-plicação de como são feitos os cálculos do reajuste. Ape-sar de o reajuste do aluguel ser um livre acordo entre locador e locatário, o índice de atualização deve ser apli-cado anualmente e sempre na data do aniversário do

contrato. De acordo com o órgão, a intenção da car-tilha é a orientação e não a punição, e por isso recebem muitos pedidos de informa-ções para o esclarecimento de dúvidas.

“Até agora, o Procon não tem registro de recla-mações em relação a alu-guel. Quando o contrato de aluguel é feito entre pessoas

físicas, não cabe registro de reclamação porque não se trata de relação de consu-mo. Quando é imobiliária, o consumidor que se sentir prejudicado pode procurar o Procon, porque imobiliá-ria é uma empresa prestado-ra de serviços”, informou a a assessoria de imprensa do órgão.

Preços atingem, principalmente, estudantes que chegam à cidade nesta época

A estudante universitária Giovanna Guidelli, de Santa Rosa do Viterbo, busca por apartamento em Campinas

FOTO: SOFIA FUCCHI

Morar no Centro ou próximo à faculdade? O economista Dimas Gonçalves, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) lembra que “estudar fora não é só a mensalidade. Há custos que devem ser leva-dos em consideração”. É por isso que alguns es-tudantes pagam mais caro por uma moradia, em bair-ros como o Parque das Uni-versidades ou no distrito de Barão Geraldo, para morar sozinhos, fi car próximos à faculdade e não gastar com transporte. Já outros, bus-cam um apartamento mais longe, como no Centro ou

no Cambuí, para dividir com colegas, mas têm o gas-to da locomoção. “É possível dizer que o custo de um universitário que mora em Barão Geral-do e come fora de casa pelo menos uma vez ao dia, fi ca entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil. Já quando ele divide um apartamento, o gasto é de R$ 1.000”, explica o econo-mista. “Esse cálculos levam em consideração gastos bá-sicos como aluguel, alimen-tação, transporte, o lazer, como festas, viagens para casa e até mesmo xérox” completa.

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AMOR ENTRE GRADES20 de março a 5 de abril de 2013

servado. O problema, muitas vezes, é que não é exatamente o autor quem lucra com o que produz, mas terceiros, e são esses terceiros, mais do que o autor, quem trabalham para endurecer essas leis de forma a favorecer a eles não aos au-tores. Muitos não entendem que o MIS, uma sala de aula ou uma universidade não podem obedecer às mesmas regras que uma sala comercial, por-que são espaços de formação, são educativos. Uma obra de arte só se concretiza na rela-ção com o público. Privar o público dessa relação parece--me estar, portanto, na contra-mão.

O que é mais gratifi can-te para você nesse projeto?

Sinto como se estives-se pagando uma dívida para com o MIS, além do que, ao longo da minha vida profi s-sional, acumulei uma quanti-dade grande de fi lmes que só têm sentido tê-los se exibi-los, não deixá-los empoeirando na minha estante. Foi assim que se iniciou minha parceria com o MIS. Eu queria um espaço onde pudesse exibir os fi lmes que tenho, então minha gra-tifi cação em si já é exibi-los. Um exemplo que me tocou bastante foi há algumas sema-nas, quando descobri que uma senhora que veio ao MIS e as-sistiu aos dois fi lmes naquele dia era uma moradora de rua. Tocou-me, obviamente, pri-meiro pela condição em que

O Museu de Imagem e Som (MIS), existe desde 1975. A ideia da criação foi de fotó-grafos, cineastas e cineclubis-tas que conseguiram, duran-te anos, divulgar e criar um acervo sobre a memória au-diovisual da cidade. Hoje, os curadores do museu passam por uma série de difi culda-des que vão desde problemas com a estrutura do prédio até a conturbada relação com as distribuidoras de cinema, no caso de sessões de exibição. Um dos que tentam fazer com que o MIS resista a tudo isso é Ricardo Pereira, professor, jornalista e curador que exi-be fi lmes no museu “pagando uma dívida”com o MIS, já que foi lá que ele desenvolveu par-te do seu interesse pela arte. Pereira concedeu uma entre-vista ao Saiba+:

Qual a intenção das ses-sões de cinema exibidas no MIS? Há um público ou um tipo de fi lme específi co a ser valorizado?

É uma junção de diversos fatores. Entendo que modi-fi car a forma como tradicio-nalmente se assiste a um fi lme responde melhor à pergunta. Mais do que levar o público a conhecer um tipo de fi lme específi co, pretende-se levar o público a uma experiência es-pecífi ca de assistir a um fi lme e que adota o modelo consa-grado pelo cineclubismo. Di-ferente do que muitos pen-sam, o MIS programa fi lmes que podem ser exibidos em salas comerciais. Se não o são, o problema está nestas salas que passaram a reduzir o uni-verso de suas exibições a um tipo muito particular de cine-ma – prioritariamente, aquele produzido em Hollywood. O papel do MIS acaba sendo o de ampliar esse universo, fa-zer com que o público co-nheça os fi lmes dos quais foi desapropriado. Os fi lmes são explorados para além da sua reprodução, uma experiência que nas salas comerciais ine-xiste, até porque muitos fi lmes não resistiriam a um debate sobre sua forma e seu conteú-do, seriam desmascarados por serem muitas vezes produtos vazios, ocos – seria como dis-cutir o valor nutricional de um hambúrger do McDonald’s. A partir do momento em que debatemos um fi lme, amplia-mos esse diálogo. No debate, ampliamos nosso diálogo com os outros, os demais especta-dores. No MIS, têm todos a mesma voz. O que não ocorre também nas salas comerciais porque nestas nem há debate nem há diversidade de grupos sociais uma vez que as salas de

cinema estão em espaços que se distanciam economicamen-te de uma parcela grande da nossa população. Isso faz do MIS, ou de qualquer espaço com características iguais, um espaço de formação de públi-co, não um espaço de forma-ção de consumidores como nas salas comerciais.

Quais são os principais problemas e difi culdades enfrentados para as exibi-ções de fi lmes no MIS?

Problemas e difi culdades existem, porque como espa-ços públicos dependem da atuação dos agentes públicos e, embora haja por parte dos funcionários do MIS uma boa vontade enorme, e que mere-ce ser reconhecida, essa mes-ma boa vontade nem sempre é recíproca nas esferas de maior responsabilidade. Por isso, é importante que o público ocupe o espaço - porque se o público não ocupa o poder público desocupa.

Como é a relação das distribuidoras dos fi lmes e as sessessões públicas de exibição? Costuma haver problemas?

O papel do MIS é formar um público, portanto, não visa ao lucro com nenhum dos fi l-mes que são lá exibidos, isto é, não se explora comercial-mente os fi lmes. Não vou dis-cutir aqui se as distribuidoras têm razões legais ou não para proibir este ou aquele fi lme de

ser exibido... Estamos numa sociedade que funciona desse modo e, enquanto ela não se modifi ca, parece-me que es-tas questões sempre vão estar presentes. Para mim, a questão é bem mais simples: como o MIS não explora comercial-mente o fi lme, não lucra com as exibições que realiza, por-tanto não pode cobrar nem ser cobrado quando exibe um fi lme. Por outro lado, os fi l-mes exibidos no MIS, mesmo aqueles mais novos, já foram exibidos comercialmente, isto é, já foram exibidos nos cine-mas da cidade e nós sabemos que depois que um fi lme sai de cartaz ele não volta um ano depois para ser exibido. Portanto, ao ser mostrado no MIS, ele não está tirando o lucro que a distribuidora po-deria ter sobre aquele fi lme. Recentemente, exibi no MIS um fi lme que sequer foi exi-bido nos cinemas brasileiros, nenhuma distribuidora se in-teressou por ele, embora fosse um fi lme premiado num dos mais importantes festivais do mundo, o de Veneza. Seria um fi lme que, se não fosse exibido no MIS, ninguém teria a opor-tunidade de vê-lo em outro lugar.

Como você avalia a atu-al lei de direito autoral no Brasil que, teoricamente, proíbe esse tipo de exibição pública de um fi lme?

É importante dizer que o direito do autor deve ser pre-

ela se encontra, mais do que tudo, e, segundo, pelo MIS ter permitido a ela realizar algo tão simples e cotidiano para a maioria de nós, que podemos assistir a um fi lme no cinema.

Como você acha que o investimento em arte pode ajudar problemas sociais?

O investimento em cultu-ra, em arte, pode ajudar desde que seja acompanhado de in-vestimentos em outras esferas. O que nós temos hoje são solu-ções paliativas que buscam dar conta de problemas imediatos. Por outro lado, essas soluções paliativas contribuem no ime-diato para amortizar algumas defi ciências que existem em nosso País. Para fi car no cam-po da cultura pensemos neste novo programa do Governo Federal, o Vale-Cultura, do qual sou um entusiasta, por-que é o tipo do programa que nós sabemos o que pretende, mas não o que pode desen-cadear. A intenção é simples: destinar, a priori, R$ 50,00 para que o trabalhador gaste com algum produto cultural, um fi lme, um livro, um DVD, etc. Estamos falando de uma classe que encontra-se distan-te desses produtos ou mesmo dos espaços onde circulam pos produtos artísticos. O Va-le-Cultura pode fazer com que uma parcela grande da nossa população que nunca tenha entrado num cinema, numa li-vraria, passe a fazê-lo e precisa ser comemorado.

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Fotos: LUCAS ISRAEL

Para Pereira, o cinema pode contribuir para a democratização, o debate de ideias e para a melhoria da educação

MARÍLIA FITTIPALDI

“Se o público não ocupar,o poder público desocupa”

Ricardo Pereira, curador de cinema, acredita na participação popular para revitalizar Museu de Imagem e Som

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AMOR ENTRE GRADES20 de março a 5 de abril de 2013

Jovens brasileiros não se sentem representados por siglas partidárias

número de agremiados do Brasil. Mas, diferentemente do nacional, São Paulo conta com apenas 200 jovens fi liados, se-gundo o presidente estadual da juventude da sigla, Devanir Cavalcante.

ATRATIVOS

Uma das provas de que o número de jovens que vai para um partido político por afi -nidade ideológica é pequeno é a forma como muitas siglas costumam buscar seus novos fi liados. Nada, por exemplo, de

PATRÍCIA BIGARDI

Uma pesquisa realizada pela agência Box1824, em parceria com o instituto Da-tafolha, comprovou que quase 60% dos jovens brasileiros, en-tre 16 e 24 anos, não se iden-tifi cam com partidos políticos, principalmente, por estarem descrentes nas propostas das siglas.

Mas, pensando que a atu-ação política não necessaria-mente precise estar associada a um partido, um grupo de jovens de São Paulo (SP), orga-nizou, em 2009, a plataforma de colaboração, com acesso via internet, “Cidade Democráti-ca”, cujo objetivo é abrir espa-ço para que os cidadãos criem propostas, indiquem proble-mas e façam com que elas che-guem ao poder público para que entrem em discussão. Com a plataforma, o diálogo entre população e gestores cria mais chances de essas ideias saírem do papel.

Essas questões são apresen-tadas por meio de concursos, que passam por cinco etapas, que vão desde a “Inspiração”, na qual os usuários são convi-dados e enviam imagens para inspirar os participantes, até a fase “Ganhadores”, quando são anunciados os vencedores das categorias. Ao fi m de cada concurso, a plataforma indica na página de ganhadores quais as ideias (proposta ou proble-ma) e os quem os criou para que a notícia chegue a quem venceu.

Cada manifestação fi ca dis-ponível no site (http://www.cidadedemocratica.org.br/) e pode receber apoios e co-mentários de outros usuários, e assim aproximar pessoas e entidades com os mesmos in-teresses. Para o grupo, a parti-cipação e a cidadania seriam os atores centrais de uma demo-cracia participativa e mais dire-ta e, segundo Henrique Parra Parra Filho, coordenador da plataforma, essa é a motivação do trabalho da Cidade Demo-crática.

RESPONSABILIDADE

Parra Parra ainda afi rma que a entidade deixa o que é público, ou seja, as responsabi-lidades públicas, aos governan-tes e partidos que, se sozinhos, para ele, não conseguem resol-ver todos os problemas.

O coordenador também conclui, sem entrar no debate sobre os problemas que alguns políticos ou até mesmo siglas podem causar, como desvios ou quebra de confi ança, que, ao Cidade Democrática “inte-

ressa entender que o fortale-cimento da democracia passa pela participação e uma cultura de que a responsabilidade pelo que é público é da Sociedade, além do Estado”.

O surgimento da entidade refl ete outro dado da pesqui-sa do Datafolha, que concluiu também que 92% dos jovens acreditam que simples ações podem chegar ao resultado es-perado e, dessa maneira, cola-borar com a transformação da sociedade. Para eles, ações em que possam atuar diretamente, sem os trâmites impostos pelos partidos políticos e suas hierar-quias, são as mais efi cazes.

FILIADOS

Embora as pesquisas indi-quem o pouco interesse dos jovens pelos partidos políticos, já houve momentos na história em que os mais novos foram responsáveis pela sustentação de vários movimentos políti-cos, principalmente, de esquer-da. É essa memória do que representaram os partidos que, ainda hoje, atraem muitos fi lia-dos jovens.

Esse é o caso de Narrinam Lima, de 18 anos. Filiada ao PCdoB, ela afi rma que sem-pre quis ter o próprio espaço e a vontade de fazer algo que interferisse na vida das pesso-as. “Desde criança sempre tive a mania de questionar tudo e querer fazer parte desse tudo. Eu queria ser alguém”.

Caso parecido é o de Evan-dro Silva, de 28 anos. Ele, que é fi liado ao PMDB, entrou na política por acreditar que seu município, Jundiaí, mere-cia mais atenção. “O governo priorizava uma minoria e nun-ca realizava promessas e planos apresentados nos anos de elei-ção”, afi rma. Silva ainda acre-dita que, estando nesta condi-ção, pode exigir compromissos políticos voltados para a defesa de seus direitos.

IDEALISMO

Tanto Narrinam, quan-to Silva, hoje, não pretendem concorrer a cargos públicos. Para ela, fazer parte da União da Juventude Socialista (UJS), faz com que alcance seus obje-tivos, já que o que a atraiu “fo-ram os ideais e a rotina de co-nhecer gente e ideias novas”. Já o peemedebista, hoje com mais experiência e convívio com a política, vê que “é preciso mui-to mais para se lançar como representante dos cidadãos” e, por isso, não pensa no assunto.

Mais uma coincidência en-tre os fi liados: ambos afi rmam que, em partes, existiu um ide-alismo na hora de escolher o partido pelo qual militariam. Mas, o que prevaleceu foi o que, como Narrinam mesmo defi niu, uma “afi nidade de ide-ais”.

Silva faz parte dos mais de dois milhões de fi liados ao PMDB, o partido com maior

manifestações populares. No caso do PMDB, por exemplo, de acordo com Cavalcante, são realizadas ações esportivas, cul-turais, de lazer e voluntariado para atrair novos adeptos.

“Sem entrar no debate so-bre os problemas que alguns políticos e grupos partidários causam - desvios, quebra de confi ança etc - nos interessa entender que o fortalecimento da democracia passa pela par-ticipação e uma cultura de que a responsabilidade pelo que é público é da Sociedade, além do Estado”, defende Cavalcan-te.

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FOTOS: PATRÍCIA BIGARDI

Jovens durante protesto em Jundiaí: apesar de não serem fi liados, eles acreditam que fazem sua parte a partir de ONGs

Devanir Cavalcante, presidente do PMDB jovem: ações para atair novos fi liados em São Paulo

Dado é conclusão de pesquisa do Datafolha; envolvimento, no entanto, se dá em movimentos apartidários

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AMOR ENTRE GRADES20 de março a 5 de abril de 2013

suposto defeito inexiste. “Nos-sa pretensão é ir a todas as lo-jas da rua. Para nós, consumi-dores, é ótima essa variedade de lojas”, diz Adriana da Silva que procurava, junto com seu marido, Rogério Costa, por um colchão na Avenida Nossa Se-nhora de Fátima.

“É muito melhor do que comprar em algum shopping, por exemplo, que não tem tan-tos lugares que possamos ir

A tematização de ruas é um fenômeno cada vez mais fre-quente em Campinas. São vias que possuem, em sua extensão, lojas especializadas na comer-cialização dos mesmos itens. Alguns exemplos famosos são a José Paulino, no Centro, co-nhecida pelo comércio de ar-tigos para noivas, a Nossa Se-nhora de Fátima, no Taquaral, “especializada” em colchões, a Bento de Arruda Camargo, no Jardim Santana, que tem alta concentração de lojas movelei-ras e a Avenida José Bonifácio, no Jardim Flamboyant, conhe-cida como a “avenida dos bu-ffets”.

Nos últimos anos, Cam-pinas é destaque no interior paulista, em termos de desen-volvimento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Ge-ografi a e Estatística (IBGE) atualmente a cidade é a terceira que mais se desenvolve fora da região metropolitana de São Paulo, e muito disto se deve muito ao comércio da região, já que sua principal fonte eco-nômica está centrada em diver-sos segmentos comerciais e de prestação de serviços em várias áreas, especialmente educação e saúde. Além disso, Campinas possui dez shopping centers, além de outros tipos de centros comerciais.

A região central de Campi-nas concentra uma parcela bas-tante expressiva do comércio e dos serviços, destacando-se pelo comércio popular, sendo que há cabeleireiros, comércio varejista de vestuário e acessó-

rios, lojas de variedades e for-necimento de alimentos para consumo domiciliar.

Para os gerentes e vendedo-res das lojas, o fato de, numa cidade com tanta concorrência comercial, a tematização das ruas pode ser vista com pontos positivos e negativos.

O vendedor Éder Leite, vê que a situação traz mais pontos positivos do que negativos. “O fato dessa avenida (Nossa Se-

nhora de Fátima) possuir mui-tas lojas de colchões é ruim pela concorrência, mas por outro lado, o cliente, quando está bus-cando estes itens para comprar, já tem esta avenida como foco, então ele vem diretamente para cá. As lojas também podem es-tabelecer uma base de preços, levando em consideração os dos outros estabelecimentos”, afi rma Leite.

Já para os consumidores, o

para comparar as opções”, diz Costa. O benefício que as ruas “temáticas” trazem aos clientes também é um atrativo para a gerente do Buffet Fuá, Raís-sa Nascimento. Ela disse que não existe concorrência entre as empresas que fi cam na Rua José Bonifácio, já que, com fre-quência, ela indica outras lojas aos clientes, para que eles pos-sam ser atendidos de acordo com o perfi l.

Uma difi culdade que jovens estudantes enfrentam quando terminam o Ensino Superior é entrar no competitivo merca-do de trabalho. Muitos, então, acabam abrindo seus próprios negócios.

É o caso da jornalista Lu-ciana Barros, que abriu sua própria empresa de assesso-ria de imprensa e já está no mercado há seis anos. Luciana montou a sua empresa um ano após terminar a faculdade de Jornalismo, na Pontifícia Uni-versidade Católica de Campi-nas (PUC-Campinas)

“Eu me formei, trabalhei durante um ano, em um dos maiores escritórios de assesso-ria da cidade e montei a Ko-munica no ano seguinte, em 2007.” Antes de criar a empre-sa, Luciana fez também vários trabalhos como free-lancer na área de assessoria de imprensa. “Clientes maiores começaram a me procurar e precisavam de nota fi scal para os serviços. Por isso, decidi abrir a em-presa”, conta. Segundo Ciça, o jovem que quer arriscar no seu empreendimento e obter sucesso futuramente deve co-nhecer muito bem o negócio que pretende abrir, o mercado

em que quer atuar e os ser-viços que pretende oferecer. Além disso, ele precisa pesqui-sar e conhecer a concorrência desse mercado em que irá atu-ar antes de apostar no empre-endedorismo.

Luciana teve sorte neste mercado e está feliz com a de-cisão. “Desde o começo, sem-pre consegui pagar as contas e ter algum lucro. Mas existem períodos do ano que os tra-balhos aumentam e consigo elevar os ganhos. O que faço é aproveitar estes períodos para guardar dinheiro e investir em alguma melhoria para o escri-tório”, revela a jornalista.

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FOTO: LUCAS ISRAEL

Ruas “temáticas” facilitam pechincha para o consumidor

Movidas pela segmentação comercial, vias que concentram lojas dos mesmos produtos estimulam concorrência

NATÁLIA ALTOMARINATÁLIA ALBERTI

Rua Bento de Arruda Camargo, no Santana, concentra lojas moveleiras em Campinas para todos os perfi s

Recém-formados viram empreendedores

GIOVANNA DÉCOURT

É cada vez maior o número de jornalistas empresários

A jornalista Luciana Correa, dona da Komunica

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AMOR ENTRE GRADES20 de março a 5 de abril de 2013

Estudo compara custos de táxi e carro

coletivo para chegar à uni-versidade, por uma questão econômica. Mesmo assim costuma pegar táxi para ir a determinados lugares, e afi rma que “é desconfortá-vel entrar em um táxi com um motorista que você não conhece. Às vezes, é preci-so até mudar de assunto”. E acrescenta ainda que “se eu pudesse escolher, com certeza escolheria o confor-to do carro, pela intimidade que se tem lá dentro”.

O economista Vitor Na-gata, profi ssional da área de investimentos, e editor do Blog do Investidor, acres-centa ainda mais um quesito comparativo, e o considera

Para quem anda até 17km por dia, não compensa ter automóvel, conclui pesquisa

RAUL PEREIRA

Segundo pesquisa de Samy Dana, especialista em fi nanças e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é mais barato andar de táxi que manter um car-ro, quando o trajeto diário é de até 17km, considerando um carro popular no valor de R$ 30 mil.

O estudo é baseado em cálculos que consideram todos os gastos dos dois meios de locomoção no pe-ríodo de um ano, como va-lores médios de seguro, es-tacionamento, combustível (álcool ou gasolina), manu-tenção, e até pequenos im-previstos, como um danos eventuais à pintura, ou uma multa. Entretanto, o aumen-to no preço da gasolina de aproximadamente 5% nos postos de abastecimento neste ano não foi incluído no cálculo. No caso de um carro médio de R$ 50 mil, ou de um carro grande, de R$ 70 mil, o estudo aponta que compensa andar de táxi quando se roda até 25 km e 35 km, respectivamente.

Quando se considera o uso do Transporte Públi-co Coletivo, é preciso levar em consideração não só os custos de locomoção, mas também as diferenças nas facilidades. Com o ônibus,

por exemplo, deve-se calcu-lar o tempo de caminhada até o ponto de parada mais próximo, o tempo de espera e de viagem, o desconforto de transitar em pé, por falta de bancos, a segurança, se é necessário trocar de linha, entre outros. Por isso, este tipo de transporte não entra na comparação do especia-lista.

Para os alunos da Ponti-fícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campi-nas), principalmente, para quem mora nas proximida-des da universidade, o uso do táxi pode ser mais vanta-joso do que manter um car-ro. Karen Sorgi, estudante do sétimo semestre de En-genharia Ambiental, mora no bairro Mansões Santo Antônio desde o ingresso na universidade.

Ao longo dos dois pri-meiros anos, seu meio de transporte para a faculdade era o ônibus, ou as caronas com amigos, e quando pre-cisava se deslocar para al-gum outro lugar, utilizava o serviço de táxi. o ganhar um carro de seus pais, no ano passado, Karen afi rma que, agora, gasta bem menos com transporte. Mas isso só acontece porque ela não precisou desembolsar o va-lor do carro. Caso contrário, ela continuaria andando de

táxi. “Pelo tanto que eu uso, eu conseguiria viver usando o táxi sem precisar comprar um carro”, conta. Karen diz que prefere o táxi ao volan-te. Segundo ela, mesmo com o carro na garagem, acaba optando pelo táxi quando decide sair à noite para ba-res e casas noturnas, por se-gurança. “O maior proble-ma de usar o táxi é que você tem que se programar pra usar: ligar, esperar o taxista chegar. Não é só sair na rua e esticar o braço”, justifi ca.

Já Beatriz Rodrigues, que cursa Relações Públicas na PUC-Campinas e mora pró-ximo ao centro da cidade, utiliza o transporte público

importante na hora da de-cisão de comprar um carro ou andar de táxi: o chamado “custo de oportunidade”.

Ele explica esse custo como sendo uma oportuni-dade de se investir o mon-tante do valor do automóvel em algum negócio, ou até mesmo deixá-lo para render na poupança. Por exemplo, para se comprar um carro popular novo, é necessário desembolsar cerca de R$ 30 mil. No caso de andar de taxi, por exemplo, esse va-lor poderia ser investido em ações em uma empresa, em um banco de investimentos ou até mesmo em algum ne-gócio próprio.

Quanto mais cedo melhor?Levantamento mostra que ir para escola antes dos 5 anos

traz resultados positivos

CLEBSON MOURA LEAL

ANA LETICIA AZEVEDO

Uma pesquisa feita na Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, acom-panhou por 25 anos cerca de 1,4 mil norte-americanos em bairros de baixa renda e descobriu que ter contato desde cedo com um am-biente escolar de qualidade pode ter impactos positivos na saúde, na qualidade de vida e no mercado de traba-lho, entre outros aspectos. Com a antecipação da idade escolar, uma questão pode ser levantada: qual é a ida-

de certa para se colocar os fi lhos na escola? De acordo com a pesquisa americana, quanto mais cedo, melhor: ir para a escola menor não é prejudicial às crianças e ainda costuma ter consequ-ências positivas no aprendi-zado em longo prazo.

Por outro lado, uma pes-quisa realizada pela Orga-nização das Nações Unidas para a Ciência, a Cultura e a Educação (Unesco) revela que o número de crianças fora da pré-escola é elevado em vários países, inclusive no Brasil, onde chega aos 45%. Na maioria dos casos

isso acontece por escolha dos pais. Adriana Marques optou por colocar a fi lha aos 5 anos de idade na es-cola, e acredita que o conví-vio integral entre a mãe e a criança seja a melhor saída para o aprendizado e edu-cação. “Me vejo responsá-vel pela educação da minha fi lha, creio que quanto mais tempo ela passar ao meu lado, vou poder ensinar li-ções que a escola não abor-da”, explica a mãe.

A programadora Raquel Brehm precisou colocar o fi lho de pouco mais de um ano de idade na creche.

“Antes nossa ideia era só colocar ele quando tivesse 3 anos ou mais e já falasse bastante, porque tínhamos medo dele não se adaptar, medo que não cuidassem tão bem como a gente e

várias outras coisas”, relata. Raquel conta que a mudan-ça de opinião sobre a idade em que o fi lho iria para a escola ocorreu porque ela começou a trabalhar. “A creche foi ótima”, diz.

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FOTO: RAUL PEREIRA

Para muitos estudantes, principalmente, próximo às universidades, compensa andar de táxi

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20 de março a 5 de abril de 2013

Próximo a completar meia década de fundação, o Museu de Arte Contempo-rânea de Campinas José Pan-cetti (Macc) sobrevive, atu-almente, dos olhos curiosos que passam diariamente pelo centro da cidade. Localiza-do ao lado da Prefeitura, no mesmo prédio da Biblioteca Municipal, diariamente, mi-lhares de pessoas passam em frente ao museu, mas mui-ta gente sequer sabe de sua existência.

Apesar de passar todos os dias em frente ao Macc, o cobrador de ônibus Márcio Fernando revela-se surpreso ao ser questionado sobre a existência do museu. “Achei que ele fi cava em outro en-dereço”, disse. Nascido em Campinas, ele conta que não tem o costume de visitar ex-posições frequentemente. “Só visitei um museu na cida-de duas vezes”, completou.

O movimento do museu é composto, principalmente, por grupos específi cos que agendam visitas, geralmente durante a semana. Grupos escolares, estudantes de turis-mo e professores são alguns dos exemplos. Segundo Fer-nando de Bittencourt, cura-dor do Macc, foi registrado aumento no número de visi-tantes do local por causa des-sas visitas agendadas. “Nos últimos três anos, houve au-mento do público, de aproxi-madamente 200%”, relatou.

As aposentadas Shirley Silva e Luzia Souza conversa-vam num domingo pela ma-

nhã em frente ao Macc. Mes-mo com a entrada gratuita no museu, elas disseram que não têm interesse em visitá--lo e elas se mostraram insa-tisfeitas e desmotivadas com as opções culturais da cidade. “Com tantos locais tomba-dos, a cultura na cidade está perdendo espaço”, contou Shirley.

Para o primeiro semes-tre de 2013, a Secretaria de Cultura de Campinas planeja

atividades e investimentos no Macc. O diretor de cultura, Gabriel Rapassi, adianta que está prevista uma reforma elétrica no valor de R$ 130 mil, ainda em processo de li-citação.

O objetivo é “manter a iluminação adequada e mo-derna”. Em relação a eventos culturais, ele revela que, ain-da neste mês, será publicado um edital no site da prefei-tura (www.campinas.sp.gov.

br) para a seleção de novas exposições. Segundo Rapas-si, os eventos anteriores care-ciam de critérios de seleção. “O edital tem o objetivo de garantir que as exposições estejam na vanguarda da arte contemporânea. Temos que ser zelosos com a coerência curatorial”, disse.

O Macc foi fundado no ano de 1965, pela Secreta-ria de Educação e Cultura da Prefeitura. Na época, foi

o espaço encontrado pelos artistas campineiros para a exposição de suas criações. Atualmente, eles estão imor-talizados no acervo, compos-to por 660 obras. Foi a partir do aspecto histórico que o artista plástico Valdir Rocha foi motivado a uma visita ao museu. Ele relata a surpre-sa da dimensão do espaço. “Vim de São Paulo para um evento e decidi conhecer o lugar”, disse.

Macc, um desconhecido no CentroMilhares de pessoas passam diariamente em frente ao museu, mas visitas são raras

REBECCA VICENTE

Fundado em 1965, o Macc tem acervo de cerca de 650 obras no acervo fi xo e exposições temporárias

FOTOS: REBECCA VICENTE

Neste mês, o Museus de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti (Macc) abriu expo-sição com acervo de 60 artistas. As obras são provenientes de do-ações, salões e editais de arte con-temporânea da cidade. A mostra “Acervo Macc 2013” é composta por artistas de Campinas a exem-plo de nomes como Francisco Biojone, Egas Francisco, Marcelo Moscheta, Geraldo Porto e Marco do Valle.

Na mostra, são reunidos tra-balhos de diferentes técnicas, dentre elas a fotografi a, a pintura, desenhos, gravuras e esculturas.

O evento é um resgate à me-mória dos trabalhos que já foram expostos no local desde os anos 60, quando aconteciam os Salões de Arte Contemporânea, nos quais artistas de diferentes loca-lidades do Brasil expunham seus trabalhos para a apreciação e a premiação de críticos e curadores da época.

Com entrada gratuita, o even-to é aberto ao público de terça a sexta-feira, das 9h às 19h e aos sábados, das 9h às 16h. Já aos domingos e feriados, das 9h às 13h. O Macc fi ca na Rua Benja-min Constant, 1.633, Centro.

Exposição reúne obras de artistas campineiros

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