caserna nº 21
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Jornal do FelgarTRANSCRIPT
Dezembro de 2011
União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000
1
Abril de 2012
Director: José Rachado
Adjunto: António Gomes
Subdirectores: Tiago Rachado, Élia Felício
Grafismo: Mário Pinto
Propriedade: União Desportiva de
Felgar Redacção: Felgar
Fundadores: Dinis Teixeira, Olinda
Sá, José Rachado - 1994
CASERNA A
DO CIMO DO LUGAR
Reabertura das Minas de Ferro
Pág. 4
Actividades da U.D.F. Pág. 5
A Origem de uma Alcunha
Pág. 8
Feliz Páscoa Pág. 10
Farrapos de Memória Pág. 11
Passatempos Pág. 12
Em destaque na
reportagem fotográfica as
Actividades da União
Desportiva
MAIS UM DIA… MAIS UMA(S) ÁRVORES
Nº 21
2
Um Alento à Crise
Numa altura em que atravessamos tempos de crise
considero interessante poder abordar este tema na
generalidade.
O ano 2012 é de especial importância para o nosso país e
para todos os que dele dependem e que dele gostam.
Herdamos uma penosa herança de um acordo assinado
em desespero com a Troika, acordo que face a muitos
interesses económicos, honra e também necessidade, terá
de ser cumprido.
A questão que pode ser colocada é de como chegamos a
tal situação, de quem será a culpa e quem tem
responsabilidades para nos tirar dela. A forma mais fácil
de responder é atirarmos a culpa para quem nos dirige,
ou então para quem nos dirigiu, mas difícil é culparmo-
nos a nós próprios.
Actualmente vivo num país impossível de comparar com
Portugal, um país que viveu uma guerra de mais de 20
anos. Um país que começa agora a dar os passos no
sentido de um desenvolvimento que ser pretende
sustentado para todos os seus cidadãos. Um país que
além do petróleo, diamantes e muitas outras matérias-
primas de elevado valor, tem um potencial de pesca,
agricultura e turismo muito superior ao nosso, pese o
facto da sua extensão ser também ela muito superior à
nossa.
Foco este país, Angola, porque acho importante avaliar o
modo e nível de vida a que nós portugueses chegámos e
achamos impossível abdicar. Aqui, onde todos os bens
são mais caros que em Portugal, o ordenado mínimo
equivale a 110 €/mês, valor esse que, em muitos casos,
serve para alimentar uma família inteira. Para qualquer
português isto parece ser impossível, porque qualquer
família se habituou a ter viatura própria, quando mesmo
ter 3 e 4 por família. Também a televisão é um bem
indispensável, uma numa casa em Portugal é coisa rara.
Computador, uma roupa de marca, refeições abonadas,
telemóveis para todos, muitas vezes mais que uma rede
para se poder trocar mensagens com todos os amigos,
entre tantas outras coisas que não consideramos luxo,
pelo contrário, achamos banal e indispensável para
sermos aceites e reconhecidos na sociedade. Tudo isto é
claramente viver acima das possibilidades de um país.
Este nível não foi atingido graças à liberdade trazida pela
revolução de Abril, como alguns querem fazer pensar,
mas sim pelos milhões que nos foram emprestados
aquando da entrada na Comunidade Económica
Europeia (actual União Europeia) e também por todo o
dinheiro que foi “injectado” no nosso país pelos nossos
emigrantes que saíram na esperança de uma vida melhor
e de criar condições para um dia regressar, tentando
assim poupar o máximo para poderem levar para
Portugal.
Ao contrário do que um ex-governante diz, todo o
empréstimo tem de ser pago, como terão de ser pagos
todos os que neste momento estão a entrar para segurar a
dita “crise económica” e garantir o cumprimento do
acordo que alguém assinou com a Troika.
É duro para todos, sobretudo para quem tem de procurar
vida fora do país que o viu nascer e que adormece
diariamente com a vontade de ver as coisas melhorar
para poder regressar.
Como é sabido grade partes dos fundos foram aplicados,
não no desenvolvimento da agricultura e pescas, não no
desenvolvimento da indústria produtiva, mas sim na
“indústria” da construção civil. Fundos esses aplicados
sem o devido controlo, mas que era a maneira mais fácil
de justificar despesas. Mas será que tanto investimento
neste ramo trouxe alguma vantagem para o país?
Vejamos o caso do ramo imobiliário. Fazendo uma
análise de médio/longo prazo desde o “boom” de final
dos anos 80, vemos hoje um país que conta com 7 casas
disponíveis para cada família. Como se não bastasse,
passámos das casas com 30 e 40 m2 dos anos 60,
habitadas por famílias com 8 e 9 pessoas, quando por
vezes mais, para apartamentos e vivendas com mais de
100 m2 e com todas as condições de acomodação,
fazendo o Inverno parecer Primavera e a sala de estar um
autêntico cinema. Também os empréstimos contraídos a
30 e 40 anos, onde o valor pedido inclui já a compra de
um carro novo e quiçá umas férias de sonho, leva a que,
no final, a casa seja paga duas vezes e meia.
Fazendo novamente a ponte para este imenso país, que
tão bem me acolheu, vejo os chamados quimbos com
pouco mais de 25 m2 onde habitam famílias com mais de
10 pessoas, onde as crianças andam na rua descalças,
onde o luxo para eles é o facto de terem um pequeno
ordenado para poderem dar uma refeição diária aos seus
filhos e uns chinelos de dedo que evite o andarem
Editorial
Dezembro de 2011
União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000
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descalços por entre montanhas de lixo que se acumulam
na periferia do seu bairro. Os meus olhos brilham ao ver
como é possível, com tanta miséria, ver a felicidade
espalhada no rosto daquelas crianças quando correm
atrás de um farrapo como se de uma bola se tratasse
(algo que qualquer português também passou e que
parece já ter esquecido) ou simplesmente quando paro
junto delas e lhes levanto o polegar.
Logicamente não quero com isto dizer que devemos
pensar em regredir e voltar a viver desta forma, mas sim
avaliar o que realmente é indispensável, perceber que
não são as aparências que nos farão contribuir para o
desenvolvimento quer pessoal quer colectivo.
Doenças como stress, depressão e outras do foro
psicológico surgem com a crescente exigência da
sociedade em que vivemos. Aos jovens são criadas
expectativas e abertas portas para poderem tirar cursos
superiores destinados maioritariamente ao desemprego.
A educação, onde o cada vez maior facilitismo na
obtenção de escolaridade elevada, prepara cada vez
menos os jovens para os desafios profissionais que, a
competição inerente dos mercados de trabalho actuais
assim o exige. A necessidade de ser reconhecido
socialmente somado às próprias perspectivas que o seu
nível de ensino cria, leva ao desacreditar das capacidades
dos jovens que não conseguem depois converter todo o
seu potencial no apoio ao crescimento do nosso país.
Casos há em que a desilusão é tal que leva mesmo ao
isolamento de muitos que pode mesmo acabar em
suicídio.
Por outro lado existem também questões de índole
política que, sobretudo em meios pequenos, levam a que
sejam fechadas portas a quem tem realmente vontade de
contribuir para o desenvolvimento, quer económico,
quer social do meio em que nasceu, ou se pretende fixar.
Em contrapartida abre as portas a outros que, para além
de profissionalmente pouco dinâmicos em pouco ou
nada contribuem para a evolução da sociedade, pelo
contrário, convertem todas as suas energias na tentativa
de “derrubar” os que têm um pensamento divergente do
seu e tentam criar dinâmicas sociais cada vez mais
importantes na manutenção da identidade dos povos e na
motivação de quem neles habita.
Mantendo a questão política, sabemos desde logo que a
organização social depende de um líder. Por isso
qualquer sociedade necessita de uma organização
política realmente democrática. Disse-me em tempos um
elemento do Governo Angolano que “se há 2 homens
sozinhos a trabalhar um tem que ser chefe”. Uma frase
que rapidamente assimilei e facilmente, pode ser
comprovada. Se não houver um líder que medie os
conflitos eles começarão a suceder-se o que tornará a
vivência em sociedade insustentável. No entanto quando
falamos em crise e em necessidade de repensar as nossas
mordomias, os líderes e sobretudo quem os rodeia deve
ter a noção que também terão de fazer essa introspecção
e contribuir para o esforço global. A posse de viaturas de
elevada cilindrada, vários ordenados e/ou reformas,
refeições de elevado custo, viagens em 1ª classe,
combustível à descrição, ajudas de custo, entre tantos
outros valores saídos do esforço de todos, não contribui
em nada para a imagem que se transmite de esforços. Se
quem ganha 100 tem de conseguir viver com 10, quem
ganha 1000 tem de aprender a viver com 200, ou seja o
esforço tem de ser pensado de forma exponencial e não
percentual conforme o tipo de ordenados e mordomias
de cada um.
A crise vence-se com o esforço e dedicação de todos. A
união, a manutenção dos valores e tradições, são sem
dúvida caminhos a ter em conta nesta luta que necessita
do engajamento de todos. Por outro lado a lamentação, o
pessimismo, a crítica destrutiva e o desinteresse social
em nada abonam a favor da superação da crise.
É preciso ir à luta, reviver os tempos de batalhas e
conquistas sucessivas, mesmo em situações adversas.
Quem não se recorda de estudar a Batalha de Aljubarrota
em que os portugueses, comandados por D. Nuno
Álvares Pereira, tinham ao todo 6500 homens. Por seu
turno, os castelhanos tinham 30000 homens e milhares
de animais carregando munições.
Não é com mensagens de esperança nem com os brandos
costumes como somos conhecidos que a crise se vai
embora. Temos de confiar nas nossas capacidades,
levantar do sofá e contribuir, tornarmo-nos realmente
úteis e produtivos para a sociedade. Superarmo-nos a
cada dia e não baixarmos os braços depois de algo bem-
sucedido (refiro mesmo bem-sucedido), mantermos o
ritmo e a motivação diária, lutarmos com honestidade e
não nos preocuparmos com o que o outro tem ou
aparenta ter a mais.
Quanto à Caserna do Cimo do Lugar, continua o seu
percurso cada vez mais alicerçado e com vontade de dar
voz a todos os que têm a nossa Freguesia no coração e
ajudar os mais distantes a amenizar um pouco a dor de
quem parte e anseia o momento do regresso.
Por: José Rachado
4
Reabertura das Minas de Ferro!
Diz-se nesta vila
de Torre de
Moncorvo “Onde
o Ferro é a Alma
da Terra”!
Eu digo que as
Minas já foram a
grande entidade
empregadora do concelho, no tempo
em que estavam a funcionar, nos
anos 50, altura em que o Bairro
designado de Ferrominas era quase
uma cidade, com famílias inteiras
que dependiam do trabalho das
minas. O trabalho era duro, na
mina, agora ficaram os vestígios,
paredes destruídas e as memórias…
O material era desmontado a céu
aberto, nessas operações havia
“centenas e centenas” de pessoas
porque o trabalho desenvolvido era
essencialmente manual! Nessa
altura muitas pessoas abandonaram
a agricultura para trabalhar nas
minas. Dedicavam-se à agricultura
apenas no fim-de-semana, porque a
forma de ganhar dinheiro, terem um
salário, “o ganha pão” era
trabalhando nas minas durante a
semana.
Já não é da minha lembrança ver as
minas a funcionar, mas ouço contar
às gerações mais velhas que eram
uma grande potência e graças a elas
esta região teve algum
desenvolvimento.
Nessa altura as minas receberam
muitas pessoas dos vários pontos do
país e mesmo do estrangeiro, de
onde vinha a maior parte da mão-
de-obra qualificada. A rentabilidade
do minério começou
a baixar na década
de 80, tendo sido
nessa altura que as
mesmas foram
encerradas, mas,
parte das pessoas
que lá trabalhavam,
acabaram por se fixar no Concelho,
na Localidade do Carvalhal,
Freguesia do Felgar.
Sei que nos anos 80 foram
elaborados alguns projetos para
salvar as jazidas, mas nenhum saiu
do papel! Tudo indicava, como
indica actualmente, que há muito
minério na Serra do Reboredo e no
Cabeço da Mua, considerada a
maior Jazida de Hematite do
Mundo, só que a baixa cotação do
ferro no mercado mundial fez com
que as minas fossem deixadas ao
abandono…
Em Outubro de 2011 surgiu na
comunicação social a grande
notícia, que as
minas de Torre
de Moncorvo vão
voltar a abrir,
mais
precisamente, que
a Gigante
Mineira Rio
Tinto está a ultimar com o Governo
um Projecto Milionário para
explorar minério de ferro na região
de Trás-os-Montes, e que pelo
menos 500 postos de trabalho serão
criados. Dizem que o investimento
rondará os 3,5 mil milhões de euros,
«“será” o maior projecto de
investimento que já existiu em
Portugal»!
As atenções dirigiram-se para Torre
de Moncorvo, uma vila no distrito
de Bragança, com cerca de 8583
(dados preliminares dos últimos
censos 2011) habitantes com uma
área de 531,6 Km2. Os mais idosos
ouviram a notícia, mas com alguma
“cautela”, como diz o ditado
“Quando a esmola é muita, o pobre
desconfia”.
O país mergulhado numa crise
avassaladora! Onde as pessoas mal
ganham para conseguirem
sobreviver o dia-a-dia. No concelho,
temos actualmente em curso uma
grande Obra, com muito impacto
para o país e concelho, estou a
referir-me à construção da
Barragem do Baixo Sabor, que para
alguns também era um sonho, uma
ilusão, mas que… está a tornar-se
realidade! E está a dar emprego a
muitos habitantes do concelho. A
grande questão que
já se coloca, quando
as obras da
barragem
terminarem, o que
vai acontecer aos
habitantes do
concelho que lá
trabalham? Vão para o desemprego?
Desemprego que não dá
rendimentos eternos!...
Os Moncorvenses estão expectantes
quanto à suposta reabertura das
minas de ferro, porque quando foi
anunciada a sua reabertura, deram a
informação da criação de tantos
Opinião
Dezembro de 2011
União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000
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postos de trabalho, será excelente
para o concelho e para o país!
Nos últimos anos temos visto a
maioria dos Moncorvenses terem
que abandonar o concelho que os
viu nascer, porque não tem trabalho
para todos!
Todos os anos entram jovens no
ensino superior, para fora do distrito
de Bragança e são muito poucos os
que regressam, porque não há
empresas que lhes possam
assegurar/garantir trabalho. Para
não falar nos que têm que
abandonar o país, ano após ano!
Nos últimos censos, o concelho tem
8583 habitantes, a taxa de
natalidade tem vindo a diminuir ano
após ano e a de mortalidade a
aumentar desproporcionadamente,
ou seja nos últimos 3 anos nasceram
cerca de 110 crianças e morreram
aproximadamente 360 pessoas, é
muito preocupante!....
Com a exploração das minas a
paisagem vai sofrer um grande
impacto, mas temos que ver o
investimento/exploração do ponto
de vista positivo, o
desenvolvimento do concelho,
maior empregabilidade, melhor
economia local, desenvolvimento
do concelho a nível de vias
rodoviárias, (já muitas obras em
curso actualmente, IP2, IC5 e A4)
ferroviárias e ou fluviais para o
transporte do minério.
Acredito que a exploração das
minas, no seu projecto de
exploração/extracção, à semelhança
da Barragem do Baixo Sabor vai
aplicar as medidas compensatórias a
nível de impacte ambiental. E temos
“as forças políticas locais” a
reivindicar uma percentagem dos
lucros para o concelho, atrevo-me a
dizer que 1% é pouco, deverá ir até
aos 4 ou 5%, somos um
concelho/região com potencial para
que a economia do país melhore,
mas temos (no nosso concelho) que
ficar a ganhar com este
investimento.
Para que os Moncorvenses que
andam espalhados pelo país e
estrangeiro, muitos atualmente já
desempregados, que possam voltar
às suas origens!
A nossa terra é para ser explorada
com gente que tem Alma de Ferro,
aroma a Amendoeira em Flor e a
força da corrente do nosso querido
Rio Sabor!
Por: Altina da Glória Lopes Pinto
Actividades da U.D.F. Terminou, no passado mês de Março
mais um campeonato Distrital de
Séniores Masculinos na modalidade
de Futsal. Mais uma veze como foi
relatado no ultimo número a União
Desportiva de Felgar, fez-se
representar. Uma presença que não
podemos apelidar de coberta de
êxitos, face à classificação obtida e
aos golos sofridos, mas uma
presença que pode ser considerada
digna, face a ter logrado atingir o
final do campeonato sem qualquer
falta de comparência.
Foram muitas as dificuldades
sentidas ao longo da época, isso
mesmo encontra-se espelhado nos
zero pontos obtidos em 14 jornadas,
no entanto o orgulho de defender as
cores da terra acompanhou a cada
jogo os nossos conterrâneos que
defenderam a camisola que vestiram
durante toda a prova.
É de louvar o esforço de quem,
semana após semana, trabalhou para
que o atingir do final da época fosse
uma realidade e espero que no
próximo ano possa continuar a ver
do nome da U.D.F. nas tabelas
classificativas desta ou outra
modalidade.
Por: José Rachado
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Jantar de Natal da U.D.F.
Reportagem Fotográfica
Fotografias de Filipa Lopes
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Dia da Árvore
Fotografias de Filipa Lopes
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A origem de uma alcunha: O Terrível
1. A nível geral, todos nós
conhecemos situações em que a
alcunha atribuída a um indivíduo
assenta como uma luva à
personalidade ou ás particularidades
físicas ou morais do retratado. Por
exemplo, toda a gente já ouviu falar
do czar Ivan o Terrível [1530 –
1584] o maior tirano da história da
Rússia, homem cruel e mentalmente
insano e que melhor do que
ninguém fez jus à sua alcunha.
Também na nossa História, o grande
Afonso de Albuquerque [1453 –
1515] fidalgo militar e a figura mais
emblemática da expansão
portuguesa, entre as muitas alcunhas
que teve – O Grande, César do
Oriente, Leão dos Mares, Marte
Português … - também foi apodado
de o Terrível pelos nativos, quiçá
respeitadores, temerosos ou
receosos da bravura deste lusitano, o
qual foi um génio estratégico,
conquistador das Índias e incansável
batalhador.
2. Localmente, a história de uma
aldeia, além dos factos históricos
dignos de nota e que devemos
sempre realçar para a posteridade,
também se faz ou se revela em
pequenas coisas e situações mais
comezinhas do dia a dia, resultantes
do trato, da conflituosidade latente
ou do convívio entre os naturais.
Assim, as alcunhas, quantas vezes
ganham carta de alforria,
entranham-se de um modo tão
profundo que obtêm uma
independência ou uma perfeita
autonomia e adquirem, perante o
meio circundante, até mais peso que
os próprios apelidos, porque, muitas
vezes, e em regra, a alcunha
identifica na perfeição o visado e as
pessoas ficam doravante a serem
mais conhecidas pela alcunha do
que pelo próprio nome de baptismo.
Vale por dizer, que, com a alcunha,
o visado é, desde logo e em 1ª mão,
retratado para o bem ou para o mal
por toda a comunidade, qual
carimbo, graça, labéu, estigma ou
ferrete, que indissociavelmente lhe
fica assacado dando-nos a conhecer
o ser e o ter da pessoa. Mas, há
excepções. É de uma excepção que
vamos agora tratar. Vejamos:
3. Adolfo Aníbal Bento [1879 –
1946] meu bisavô materno, nado e
felgarense dos sete costados, era um
remediado lavrador com casa
agrícola na Rua da Calçada. Era
uma pessoa socialmente bem aceite
pelos seus conterrâneos, por força
de desfrutar em pleno da sua
condição sócio-económica de
lavrador, cantador de solfa e demais
endechas, mordomo de N. Sª. do
Amparo, dirimador requisitado na
resolução de conflitos com partilhas
ou na distribuição de águas e pessoa
até com alguma visão do mundo
exterior, assacada da sua qualidade
de emigrante com estadia na
América, nos inícios da implantação
da República Portuguesa.
Legenda: Emigrantes Felgarenses na
América por 1914. O Adolfo Aníbal Bento é
o 1º na esquerda, na 2ª fila a contar de cima
de pé.
4. Já após ter regressado da América
e deixando a sua costela de
emigrante, veio a continuar a viver
para o Felgar e aí, à altura, a vida e
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o dia a dia era muito difícil, com
dificuldades e carências de toda a
ordem e em que os teres e os
haveres se mediam pela posse da
terra e pela semeadura dos alqueires
do pão. Mas, pelo Felgar também
havia outros ofícios, as mais
variadas profissões, muitos jeireiros
e até um comerciante, um então
pseudo-rico, com prosápias de
galanteador e atrevimento altivo, o
qual, se fartava de fazer filhos em
mulher alheia, quase sempre na
pobre da criada, sustentada a troco
de algumas coroas e alimentação,
que ficava sempre mãe solteira de
uma rebanhada de filhos, os quais,
por não serem descendentes da
respectiva legitima consorte, eram
conhecidos como zorros.
5. E nos idos da década de 20 do
século passado, havia, na realidade,
um comerciante conhecido, entre
outros aspectos, por ser homem com
uma vasta prole de zorros. A mãe
destes, pobre coitada e criada para
todo o serviço, via-se à nora para
sustentar os seus filhos que aquele
lhe ia arranjando. Chegada a altura
em que os zorros, fartos de
passarem necessidades e com a
barriga a dar horas, e uma vez que
em casa pouco ou nada havia,
começaram a matar a larica indo a
roubar as uvas na vinha do pai. E
tantas vezes lá foram a abastecer-se
e porque, como sói dizer-se, o que é
demais é moléstia, o pai achou-se no
legítimo direito de participar deles
criminalmente. E se melhor o
pensou, mais depressa o fez e,
passado pouco tempo, eram os
zorros intimados para irem a
Tribunal responder pelo crime de
roubo de que eram acusados pelo
próprio pai.
Sabedora e temerosa da situação,
talvez porque já imaginava ver os
seus filhos condenados, presos e, se
calhar, até postos em degredo, visto
o carácter gravoso da Justiça de
então e para quem não era atenuante
a situação de serem filhos ( zorros )
do queixoso, a pobre mãe depressa
se apressou a ir pedir ao meu bisavô
que lhe fizesse o favor de ir como
testemunha de defesa dos seus
filhos, abonando o comportamento e
a situação pessoal deles e até
relembrar o facto de serem filhos de
tal pai que tinham.
6. E no dia marcado para a
audiência de julgamento em Torre
de Moncorvo, o meu bisavô lá se
apresentou como testemunha
abonatória e nessa qualidade
começou a ser inquirido. Depois, de
ter enaltecido e feito a apologia das
qualidades pessoais dos infelizes
filhos, enaltecendo a sua extrema
necessidade, pobreza e imberbe
idade, como era seu dever, o Juiz, se
calhar farto de ouvir o encomiasta a
pregar loas, atira-lhe de chofre a
seguinte pergunta :
- Então, o Sr. acha bem que tenham
ido roubar as uvas ao pai ?
- Acho, retorquiu lesto o meu
bisavô.
- Acha??… já vociferava espantado
o Juiz.
- Acho, sempre é melhor irem a
roubarem as uvas ao pai para
matarem a fome que irem roubar as
minhas uvas que nada lhes sou,
disse calmamente o meu bisavô.
- Você é um homem valente,
acrescentou em tom irónico o Juiz.
- Eu Sr. Dr. Juiz, sou um homem …
TERRÍVEL !
7. É claro que na sala de audiências
estava, além dos habituais mirones e
curiosos, mais algum felgarense
que, não vai de modas, logo se
prestou a, nessa tarde, trazer a
novidade do julgamento e a espalhá-
la pela aldeia, destacando o facto do
Ti Adolfo ter tido a ousadia de,
perante o Juiz, se ter declarado um
homem TERRÍVEL. E tanta
propaganda fez com que, de facto, a
alcunha pegasse de estaca e
TERRÍVEL ficou, apesar do visado
e sua prole não serem, em nada,
pessoas dadas à violência física ou
verbal.
8. E foi através deste verdadeiro
episódio que a alcunha de o Terrível
nasceu no Felgar. Apraz-me registar
que nasceu até por uma boa causa
ou acção, através de um episódio
verídico e de forte ensinamento
bíblico, pela carga moral e de justiça
que lhe subjaz. Curiosamente, o seu
único filho, e meu saudoso Avô
materno, Manuel “ Adolfo” [1906 –
1989], nunca foi conhecido ou
apodado pelos seus conterrâneos
como o Terrível. Já o mesmo não
pode dizer o seu filho, e meu tio
António Bento, o qual, sem nada
fazer por isso, recebeu directamente
da herança de seu avô Adolfo
também o epíteto de o Terrível.
Rico legado.
Por Carlos Seixas
Felgar, no Entrudo de 2012
10
Desejos de Boa Páscoa
Paz e bem
A todos os Felgarenses.
Como nossos atletas alados encontram-se em seu
merecido descanso para muda de penas, não há o que
falar de pombos.
Estamos no Inicio da quaresma, e é disso que vamos
falar.
Após o carnaval, vem a 4.ª feira de cinzas, quando
iniciamos a quaresma, isto é; 40 dias nos separam da
grande festa da Páscoa. Vamos trilhar o caminho da
conversão proposto pela Igreja Católica Apostólica
Romana, e que todos nós conhecemos, pois é a fé que
nossos antepassados nos ensinaram.
No Brasil à 40 anos que a CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), lançam a campanha da
Fraternidade com um slogan, cuja finalidade é abrir a
consciência de todo o povo para uma das necessidades
maiores que o povo tenha.
O Slogan de 2012 é: Fraternidade e Saúde Pública.
Saúde pública, vida para todos.
Deus nos deixa livres para escolher entre as coisas que
promovem a vida, e as que a destroem. Quando
optamos por escolher o caminho da vida que Cristo nos
ensinou, e o seguimos, tudo se torna mais fácil.
Assumamos com coragem neste tempo de quaresma, o
compromisso com a saúde publica e com a vida, não só
nestes quarenta dias que nos separam do Domingo de
Páscoa, mas sim por todo a
no de 2012, 13 etc. etc. só assim poderemos ter certeza
de sermos merecedores de um Domingo de Páscoa com
nosso dever cumprido.
Oração da Campanha da Fraternidade. Iluminai,
senhor, a Igreja na vivência e no anúncio de vossos
mandamentos / Fortalecei-nos no empenho pela
promoção da vida, / Dai-nos coragem no seguimento
de Jesus Cristo, / Auxiliai-nos na busca da saúde para
todos, / Recompensai os que se dedicam ao bem estar
do povo. Senhor, conduzi-nos no caminha da vida.
Que estes quarenta dias sejam um tempo, de reflexão
para todos nós, que façamos nosso jejum consciente,
não de fome, pois não esse jejum que deus quer de nós,
mas o jejum da maldade, da perversidade, da
ignorância, da humilhação da vida, principalmente de
nossos idosos portugueses que morrem sem amparo
familiar, e quantas vezes só são encontrados quando a
matéria o denuncia, e nem sempre.
Que este tempo de quaresma sirva sim para Revestir-
nos de humildade, fraternidade, bondade, igualdade,
paz, amor e sobre tudo perdão. Lembro-me desde
pequeno, que na quaresma era tempo de confissão.
Ainda hoje aqui em nossas paróquias conservamos os
mesmos costumes, embora hoje seja com mais
freqüência o costume da confissão, Graças a Deus!....
É com este espírito cristão, que eu desejo aos amigos
felgarenses, e aos leitores do Jornal Caserna do Cimo
do Lugar uma feliz e Santa Páscoa. Que o Cristo
ressuscite em cada um de nós, não só na Páscoa, mas
em todos os dias da vida de cada um de nós.
FELIZ PÁSCOA.
Grande abraço a todos
Por: Serafim Camilo
Felgarenses pelo Mundo
Dezembro de 2011
União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000
11
Farrapos de Memória
XXIX – FELGAR (S. Miguel, concelho de Torre de
Moncorvo, visita da Primeira Parte da Torre de
Moncorvo).
45 – Inquérito de 1775 – Esta igreja de São Miguel
do Felgar, anexa à abadia de Santa Maria de Mós, do
padroado real, é vigairaria colada, pertencente a sua
apresentação ao rev.º abade de Santa Maria de Mós
como padroeiro das anexas filiais, e não tem estas
anexas algumas.
Tem de côngrua 12$600 (réis), dos quais paga ao
rev.º abade de Santa Maria de Mós 4$30 réis e o
comendador da comenda de Torre de Moncorvo 8$300
(réis); paga mais o ver.º abade um alqueire de trigo e
um almude de vinho, que valerão pelo comum preço de
$600 réis, e ouro tanto o mesmo comendador; (o) que
soma tudo 13$800 réis cada ano.
Tem mais de pé-de-altar de cada morador meio
alqueire de trigo; são 125 € somam 112 alqueires e
meio, que pelo comum preço poderá valer cada
alqueire 300 réis e somam por este preço em 33$750
réis, e este é o rendimento que tem anualmente certo...
01.01.569 Datam desta época as notícias escritas mais
antigas sobre terras trasmontanas, nomeadamente
as Terras de Ledra e de Panoias. São documentos
do concílio de Lugo.
01.01.1868 Data da entrada em vigor da lei do imposto
de consumo. Tal não aconteceu porque, de norte a sul
de Portugal, os povos se levantaram em protestos,
obrigando o governo a demitir-se e o rei a anular a lei.
Esta revolta ficou conhecida pelo nome de Janeirinha.
Vamos contar como as coisas se passaram em Torre
de Moncorvo. No fim da missa, os sinos tocaram a
rebate e o povo juntou-se no largo do Rossio, frente à
igreja, dispondo-se a assaltar a repartição de Finanças e
a queimar os papéis da cobrança do imposto. O
administrador conseguiu dissuadi-los, prometendo que
o imposto não seria cobrado na área do concelho. Pelas
7 horas da tarde, a vila foi invadida por cento e tal
homens do Larinho, que acabaram também por se
acalmar e retirar, sem distúrbios de maior.
No dia seguinte, pelo meio dia, soube-se que uma
multidão superior a 600 homens, do Felgar, Carviçais,
Mós e Souto da Velha vinha a caminho de Moncorvo.
Entraram na vila, armados de paus, roçadouras, facas,
espingardas… mas acabaram por deixar-se convencer
pelos argumentos do administrador José Maria Pimenta
de Sousa (de Urros) e do juiz de direito Tomás Inácio
de Meireles Guerra, limitando-se a mandar vir uma
mesa para a praça e ali foi redigida uma proclamação,
por um habitante do Felgar e assinada por quantos
sabiam e quiseram, dando-se vivas ao rei e morras ao
governo.
À noite, a vila seria ainda invadida por populares
vindos de Peredo, Urros, Maçores e Felgueiras,
nada de grave acontecendo também. Em outras terras
trasmontanas os movimentos populares foram bem
mais violentos e prolongados. Assim aconteceu
em Macedo de Cavaleiros, cuja vila foi invadida no
dia 14 por gente das aldeias que assaltou a repartição
de Finanças e queimou a mobília e os papéis.
12
Horizontais: 1- A mulher de cabelo
colorido; 2- A velha; 3- O homem
da loiraça; 4- A mulher de cabelo
preto; 5- O velho. 6- O Homem do
1º Par; 7- A mulher do cabelo
verde.
Verticais: 1- A loiraça; 2- O
homem da morena; 3- O homem do
3º par (inv).
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