caserna nº 21

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Abril de 2012 Director: José Rachado Adjunto: António Gomes Subdirectores: Tiago Rachado, Élia Felício Grafismo: Mário Pinto Propriedade: União Desportiva de Felgar Redacção: Felgar Fundadores: Dinis Teixeira, Olinda Sá, José Rachado - 1994 CASERNA DO CIMO DO LUGAR Reabertura das Minas de Ferro Pág. 4 Actividades da U.D.F. Pág. 5 A Origem de uma Alcunha Pág. 8 Feliz Páscoa Pág. 10 Farrapos de Memória Pág. 11 Passatempos Pág. 12 Em destaque na reportagem fotográfica as Actividades da União Desportiva MAIS UM DIA… MAIS UMA(S) ÁRVORES Nº 21

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Jornal do Felgar

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Page 1: Caserna nº 21

Dezembro de 2011

União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000

1

Abril de 2012

Director: José Rachado

Adjunto: António Gomes

Subdirectores: Tiago Rachado, Élia Felício

Grafismo: Mário Pinto

Propriedade: União Desportiva de

Felgar Redacção: Felgar

Fundadores: Dinis Teixeira, Olinda

Sá, José Rachado - 1994

CASERNA A

DO CIMO DO LUGAR

Reabertura das Minas de Ferro

Pág. 4

Actividades da U.D.F. Pág. 5

A Origem de uma Alcunha

Pág. 8

Feliz Páscoa Pág. 10

Farrapos de Memória Pág. 11

Passatempos Pág. 12

Em destaque na

reportagem fotográfica as

Actividades da União

Desportiva

MAIS UM DIA… MAIS UMA(S) ÁRVORES

Nº 21

Page 2: Caserna nº 21

2

Um Alento à Crise

Numa altura em que atravessamos tempos de crise

considero interessante poder abordar este tema na

generalidade.

O ano 2012 é de especial importância para o nosso país e

para todos os que dele dependem e que dele gostam.

Herdamos uma penosa herança de um acordo assinado

em desespero com a Troika, acordo que face a muitos

interesses económicos, honra e também necessidade, terá

de ser cumprido.

A questão que pode ser colocada é de como chegamos a

tal situação, de quem será a culpa e quem tem

responsabilidades para nos tirar dela. A forma mais fácil

de responder é atirarmos a culpa para quem nos dirige,

ou então para quem nos dirigiu, mas difícil é culparmo-

nos a nós próprios.

Actualmente vivo num país impossível de comparar com

Portugal, um país que viveu uma guerra de mais de 20

anos. Um país que começa agora a dar os passos no

sentido de um desenvolvimento que ser pretende

sustentado para todos os seus cidadãos. Um país que

além do petróleo, diamantes e muitas outras matérias-

primas de elevado valor, tem um potencial de pesca,

agricultura e turismo muito superior ao nosso, pese o

facto da sua extensão ser também ela muito superior à

nossa.

Foco este país, Angola, porque acho importante avaliar o

modo e nível de vida a que nós portugueses chegámos e

achamos impossível abdicar. Aqui, onde todos os bens

são mais caros que em Portugal, o ordenado mínimo

equivale a 110 €/mês, valor esse que, em muitos casos,

serve para alimentar uma família inteira. Para qualquer

português isto parece ser impossível, porque qualquer

família se habituou a ter viatura própria, quando mesmo

ter 3 e 4 por família. Também a televisão é um bem

indispensável, uma numa casa em Portugal é coisa rara.

Computador, uma roupa de marca, refeições abonadas,

telemóveis para todos, muitas vezes mais que uma rede

para se poder trocar mensagens com todos os amigos,

entre tantas outras coisas que não consideramos luxo,

pelo contrário, achamos banal e indispensável para

sermos aceites e reconhecidos na sociedade. Tudo isto é

claramente viver acima das possibilidades de um país.

Este nível não foi atingido graças à liberdade trazida pela

revolução de Abril, como alguns querem fazer pensar,

mas sim pelos milhões que nos foram emprestados

aquando da entrada na Comunidade Económica

Europeia (actual União Europeia) e também por todo o

dinheiro que foi “injectado” no nosso país pelos nossos

emigrantes que saíram na esperança de uma vida melhor

e de criar condições para um dia regressar, tentando

assim poupar o máximo para poderem levar para

Portugal.

Ao contrário do que um ex-governante diz, todo o

empréstimo tem de ser pago, como terão de ser pagos

todos os que neste momento estão a entrar para segurar a

dita “crise económica” e garantir o cumprimento do

acordo que alguém assinou com a Troika.

É duro para todos, sobretudo para quem tem de procurar

vida fora do país que o viu nascer e que adormece

diariamente com a vontade de ver as coisas melhorar

para poder regressar.

Como é sabido grade partes dos fundos foram aplicados,

não no desenvolvimento da agricultura e pescas, não no

desenvolvimento da indústria produtiva, mas sim na

“indústria” da construção civil. Fundos esses aplicados

sem o devido controlo, mas que era a maneira mais fácil

de justificar despesas. Mas será que tanto investimento

neste ramo trouxe alguma vantagem para o país?

Vejamos o caso do ramo imobiliário. Fazendo uma

análise de médio/longo prazo desde o “boom” de final

dos anos 80, vemos hoje um país que conta com 7 casas

disponíveis para cada família. Como se não bastasse,

passámos das casas com 30 e 40 m2 dos anos 60,

habitadas por famílias com 8 e 9 pessoas, quando por

vezes mais, para apartamentos e vivendas com mais de

100 m2 e com todas as condições de acomodação,

fazendo o Inverno parecer Primavera e a sala de estar um

autêntico cinema. Também os empréstimos contraídos a

30 e 40 anos, onde o valor pedido inclui já a compra de

um carro novo e quiçá umas férias de sonho, leva a que,

no final, a casa seja paga duas vezes e meia.

Fazendo novamente a ponte para este imenso país, que

tão bem me acolheu, vejo os chamados quimbos com

pouco mais de 25 m2 onde habitam famílias com mais de

10 pessoas, onde as crianças andam na rua descalças,

onde o luxo para eles é o facto de terem um pequeno

ordenado para poderem dar uma refeição diária aos seus

filhos e uns chinelos de dedo que evite o andarem

Editorial

Page 3: Caserna nº 21

Dezembro de 2011

União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000

3

descalços por entre montanhas de lixo que se acumulam

na periferia do seu bairro. Os meus olhos brilham ao ver

como é possível, com tanta miséria, ver a felicidade

espalhada no rosto daquelas crianças quando correm

atrás de um farrapo como se de uma bola se tratasse

(algo que qualquer português também passou e que

parece já ter esquecido) ou simplesmente quando paro

junto delas e lhes levanto o polegar.

Logicamente não quero com isto dizer que devemos

pensar em regredir e voltar a viver desta forma, mas sim

avaliar o que realmente é indispensável, perceber que

não são as aparências que nos farão contribuir para o

desenvolvimento quer pessoal quer colectivo.

Doenças como stress, depressão e outras do foro

psicológico surgem com a crescente exigência da

sociedade em que vivemos. Aos jovens são criadas

expectativas e abertas portas para poderem tirar cursos

superiores destinados maioritariamente ao desemprego.

A educação, onde o cada vez maior facilitismo na

obtenção de escolaridade elevada, prepara cada vez

menos os jovens para os desafios profissionais que, a

competição inerente dos mercados de trabalho actuais

assim o exige. A necessidade de ser reconhecido

socialmente somado às próprias perspectivas que o seu

nível de ensino cria, leva ao desacreditar das capacidades

dos jovens que não conseguem depois converter todo o

seu potencial no apoio ao crescimento do nosso país.

Casos há em que a desilusão é tal que leva mesmo ao

isolamento de muitos que pode mesmo acabar em

suicídio.

Por outro lado existem também questões de índole

política que, sobretudo em meios pequenos, levam a que

sejam fechadas portas a quem tem realmente vontade de

contribuir para o desenvolvimento, quer económico,

quer social do meio em que nasceu, ou se pretende fixar.

Em contrapartida abre as portas a outros que, para além

de profissionalmente pouco dinâmicos em pouco ou

nada contribuem para a evolução da sociedade, pelo

contrário, convertem todas as suas energias na tentativa

de “derrubar” os que têm um pensamento divergente do

seu e tentam criar dinâmicas sociais cada vez mais

importantes na manutenção da identidade dos povos e na

motivação de quem neles habita.

Mantendo a questão política, sabemos desde logo que a

organização social depende de um líder. Por isso

qualquer sociedade necessita de uma organização

política realmente democrática. Disse-me em tempos um

elemento do Governo Angolano que “se há 2 homens

sozinhos a trabalhar um tem que ser chefe”. Uma frase

que rapidamente assimilei e facilmente, pode ser

comprovada. Se não houver um líder que medie os

conflitos eles começarão a suceder-se o que tornará a

vivência em sociedade insustentável. No entanto quando

falamos em crise e em necessidade de repensar as nossas

mordomias, os líderes e sobretudo quem os rodeia deve

ter a noção que também terão de fazer essa introspecção

e contribuir para o esforço global. A posse de viaturas de

elevada cilindrada, vários ordenados e/ou reformas,

refeições de elevado custo, viagens em 1ª classe,

combustível à descrição, ajudas de custo, entre tantos

outros valores saídos do esforço de todos, não contribui

em nada para a imagem que se transmite de esforços. Se

quem ganha 100 tem de conseguir viver com 10, quem

ganha 1000 tem de aprender a viver com 200, ou seja o

esforço tem de ser pensado de forma exponencial e não

percentual conforme o tipo de ordenados e mordomias

de cada um.

A crise vence-se com o esforço e dedicação de todos. A

união, a manutenção dos valores e tradições, são sem

dúvida caminhos a ter em conta nesta luta que necessita

do engajamento de todos. Por outro lado a lamentação, o

pessimismo, a crítica destrutiva e o desinteresse social

em nada abonam a favor da superação da crise.

É preciso ir à luta, reviver os tempos de batalhas e

conquistas sucessivas, mesmo em situações adversas.

Quem não se recorda de estudar a Batalha de Aljubarrota

em que os portugueses, comandados por D. Nuno

Álvares Pereira, tinham ao todo 6500 homens. Por seu

turno, os castelhanos tinham 30000 homens e milhares

de animais carregando munições.

Não é com mensagens de esperança nem com os brandos

costumes como somos conhecidos que a crise se vai

embora. Temos de confiar nas nossas capacidades,

levantar do sofá e contribuir, tornarmo-nos realmente

úteis e produtivos para a sociedade. Superarmo-nos a

cada dia e não baixarmos os braços depois de algo bem-

sucedido (refiro mesmo bem-sucedido), mantermos o

ritmo e a motivação diária, lutarmos com honestidade e

não nos preocuparmos com o que o outro tem ou

aparenta ter a mais.

Quanto à Caserna do Cimo do Lugar, continua o seu

percurso cada vez mais alicerçado e com vontade de dar

voz a todos os que têm a nossa Freguesia no coração e

ajudar os mais distantes a amenizar um pouco a dor de

quem parte e anseia o momento do regresso.

Por: José Rachado

Page 4: Caserna nº 21

4

Reabertura das Minas de Ferro!

Diz-se nesta vila

de Torre de

Moncorvo “Onde

o Ferro é a Alma

da Terra”!

Eu digo que as

Minas já foram a

grande entidade

empregadora do concelho, no tempo

em que estavam a funcionar, nos

anos 50, altura em que o Bairro

designado de Ferrominas era quase

uma cidade, com famílias inteiras

que dependiam do trabalho das

minas. O trabalho era duro, na

mina, agora ficaram os vestígios,

paredes destruídas e as memórias…

O material era desmontado a céu

aberto, nessas operações havia

“centenas e centenas” de pessoas

porque o trabalho desenvolvido era

essencialmente manual! Nessa

altura muitas pessoas abandonaram

a agricultura para trabalhar nas

minas. Dedicavam-se à agricultura

apenas no fim-de-semana, porque a

forma de ganhar dinheiro, terem um

salário, “o ganha pão” era

trabalhando nas minas durante a

semana.

Já não é da minha lembrança ver as

minas a funcionar, mas ouço contar

às gerações mais velhas que eram

uma grande potência e graças a elas

esta região teve algum

desenvolvimento.

Nessa altura as minas receberam

muitas pessoas dos vários pontos do

país e mesmo do estrangeiro, de

onde vinha a maior parte da mão-

de-obra qualificada. A rentabilidade

do minério começou

a baixar na década

de 80, tendo sido

nessa altura que as

mesmas foram

encerradas, mas,

parte das pessoas

que lá trabalhavam,

acabaram por se fixar no Concelho,

na Localidade do Carvalhal,

Freguesia do Felgar.

Sei que nos anos 80 foram

elaborados alguns projetos para

salvar as jazidas, mas nenhum saiu

do papel! Tudo indicava, como

indica actualmente, que há muito

minério na Serra do Reboredo e no

Cabeço da Mua, considerada a

maior Jazida de Hematite do

Mundo, só que a baixa cotação do

ferro no mercado mundial fez com

que as minas fossem deixadas ao

abandono…

Em Outubro de 2011 surgiu na

comunicação social a grande

notícia, que as

minas de Torre

de Moncorvo vão

voltar a abrir,

mais

precisamente, que

a Gigante

Mineira Rio

Tinto está a ultimar com o Governo

um Projecto Milionário para

explorar minério de ferro na região

de Trás-os-Montes, e que pelo

menos 500 postos de trabalho serão

criados. Dizem que o investimento

rondará os 3,5 mil milhões de euros,

«“será” o maior projecto de

investimento que já existiu em

Portugal»!

As atenções dirigiram-se para Torre

de Moncorvo, uma vila no distrito

de Bragança, com cerca de 8583

(dados preliminares dos últimos

censos 2011) habitantes com uma

área de 531,6 Km2. Os mais idosos

ouviram a notícia, mas com alguma

“cautela”, como diz o ditado

“Quando a esmola é muita, o pobre

desconfia”.

O país mergulhado numa crise

avassaladora! Onde as pessoas mal

ganham para conseguirem

sobreviver o dia-a-dia. No concelho,

temos actualmente em curso uma

grande Obra, com muito impacto

para o país e concelho, estou a

referir-me à construção da

Barragem do Baixo Sabor, que para

alguns também era um sonho, uma

ilusão, mas que… está a tornar-se

realidade! E está a dar emprego a

muitos habitantes do concelho. A

grande questão que

já se coloca, quando

as obras da

barragem

terminarem, o que

vai acontecer aos

habitantes do

concelho que lá

trabalham? Vão para o desemprego?

Desemprego que não dá

rendimentos eternos!...

Os Moncorvenses estão expectantes

quanto à suposta reabertura das

minas de ferro, porque quando foi

anunciada a sua reabertura, deram a

informação da criação de tantos

Opinião

Page 5: Caserna nº 21

Dezembro de 2011

União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000

5

postos de trabalho, será excelente

para o concelho e para o país!

Nos últimos anos temos visto a

maioria dos Moncorvenses terem

que abandonar o concelho que os

viu nascer, porque não tem trabalho

para todos!

Todos os anos entram jovens no

ensino superior, para fora do distrito

de Bragança e são muito poucos os

que regressam, porque não há

empresas que lhes possam

assegurar/garantir trabalho. Para

não falar nos que têm que

abandonar o país, ano após ano!

Nos últimos censos, o concelho tem

8583 habitantes, a taxa de

natalidade tem vindo a diminuir ano

após ano e a de mortalidade a

aumentar desproporcionadamente,

ou seja nos últimos 3 anos nasceram

cerca de 110 crianças e morreram

aproximadamente 360 pessoas, é

muito preocupante!....

Com a exploração das minas a

paisagem vai sofrer um grande

impacto, mas temos que ver o

investimento/exploração do ponto

de vista positivo, o

desenvolvimento do concelho,

maior empregabilidade, melhor

economia local, desenvolvimento

do concelho a nível de vias

rodoviárias, (já muitas obras em

curso actualmente, IP2, IC5 e A4)

ferroviárias e ou fluviais para o

transporte do minério.

Acredito que a exploração das

minas, no seu projecto de

exploração/extracção, à semelhança

da Barragem do Baixo Sabor vai

aplicar as medidas compensatórias a

nível de impacte ambiental. E temos

“as forças políticas locais” a

reivindicar uma percentagem dos

lucros para o concelho, atrevo-me a

dizer que 1% é pouco, deverá ir até

aos 4 ou 5%, somos um

concelho/região com potencial para

que a economia do país melhore,

mas temos (no nosso concelho) que

ficar a ganhar com este

investimento.

Para que os Moncorvenses que

andam espalhados pelo país e

estrangeiro, muitos atualmente já

desempregados, que possam voltar

às suas origens!

A nossa terra é para ser explorada

com gente que tem Alma de Ferro,

aroma a Amendoeira em Flor e a

força da corrente do nosso querido

Rio Sabor!

Por: Altina da Glória Lopes Pinto

Actividades da U.D.F. Terminou, no passado mês de Março

mais um campeonato Distrital de

Séniores Masculinos na modalidade

de Futsal. Mais uma veze como foi

relatado no ultimo número a União

Desportiva de Felgar, fez-se

representar. Uma presença que não

podemos apelidar de coberta de

êxitos, face à classificação obtida e

aos golos sofridos, mas uma

presença que pode ser considerada

digna, face a ter logrado atingir o

final do campeonato sem qualquer

falta de comparência.

Foram muitas as dificuldades

sentidas ao longo da época, isso

mesmo encontra-se espelhado nos

zero pontos obtidos em 14 jornadas,

no entanto o orgulho de defender as

cores da terra acompanhou a cada

jogo os nossos conterrâneos que

defenderam a camisola que vestiram

durante toda a prova.

É de louvar o esforço de quem,

semana após semana, trabalhou para

que o atingir do final da época fosse

uma realidade e espero que no

próximo ano possa continuar a ver

do nome da U.D.F. nas tabelas

classificativas desta ou outra

modalidade.

Por: José Rachado

Page 6: Caserna nº 21

6

Jantar de Natal da U.D.F.

Reportagem Fotográfica

Fotografias de Filipa Lopes

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7

Dia da Árvore

Fotografias de Filipa Lopes

Page 8: Caserna nº 21

8

A origem de uma alcunha: O Terrível

1. A nível geral, todos nós

conhecemos situações em que a

alcunha atribuída a um indivíduo

assenta como uma luva à

personalidade ou ás particularidades

físicas ou morais do retratado. Por

exemplo, toda a gente já ouviu falar

do czar Ivan o Terrível [1530 –

1584] o maior tirano da história da

Rússia, homem cruel e mentalmente

insano e que melhor do que

ninguém fez jus à sua alcunha.

Também na nossa História, o grande

Afonso de Albuquerque [1453 –

1515] fidalgo militar e a figura mais

emblemática da expansão

portuguesa, entre as muitas alcunhas

que teve – O Grande, César do

Oriente, Leão dos Mares, Marte

Português … - também foi apodado

de o Terrível pelos nativos, quiçá

respeitadores, temerosos ou

receosos da bravura deste lusitano, o

qual foi um génio estratégico,

conquistador das Índias e incansável

batalhador.

2. Localmente, a história de uma

aldeia, além dos factos históricos

dignos de nota e que devemos

sempre realçar para a posteridade,

também se faz ou se revela em

pequenas coisas e situações mais

comezinhas do dia a dia, resultantes

do trato, da conflituosidade latente

ou do convívio entre os naturais.

Assim, as alcunhas, quantas vezes

ganham carta de alforria,

entranham-se de um modo tão

profundo que obtêm uma

independência ou uma perfeita

autonomia e adquirem, perante o

meio circundante, até mais peso que

os próprios apelidos, porque, muitas

vezes, e em regra, a alcunha

identifica na perfeição o visado e as

pessoas ficam doravante a serem

mais conhecidas pela alcunha do

que pelo próprio nome de baptismo.

Vale por dizer, que, com a alcunha,

o visado é, desde logo e em 1ª mão,

retratado para o bem ou para o mal

por toda a comunidade, qual

carimbo, graça, labéu, estigma ou

ferrete, que indissociavelmente lhe

fica assacado dando-nos a conhecer

o ser e o ter da pessoa. Mas, há

excepções. É de uma excepção que

vamos agora tratar. Vejamos:

3. Adolfo Aníbal Bento [1879 –

1946] meu bisavô materno, nado e

felgarense dos sete costados, era um

remediado lavrador com casa

agrícola na Rua da Calçada. Era

uma pessoa socialmente bem aceite

pelos seus conterrâneos, por força

de desfrutar em pleno da sua

condição sócio-económica de

lavrador, cantador de solfa e demais

endechas, mordomo de N. Sª. do

Amparo, dirimador requisitado na

resolução de conflitos com partilhas

ou na distribuição de águas e pessoa

até com alguma visão do mundo

exterior, assacada da sua qualidade

de emigrante com estadia na

América, nos inícios da implantação

da República Portuguesa.

Legenda: Emigrantes Felgarenses na

América por 1914. O Adolfo Aníbal Bento é

o 1º na esquerda, na 2ª fila a contar de cima

de pé.

4. Já após ter regressado da América

e deixando a sua costela de

emigrante, veio a continuar a viver

para o Felgar e aí, à altura, a vida e

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Dezembro de 2011

União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000

9

o dia a dia era muito difícil, com

dificuldades e carências de toda a

ordem e em que os teres e os

haveres se mediam pela posse da

terra e pela semeadura dos alqueires

do pão. Mas, pelo Felgar também

havia outros ofícios, as mais

variadas profissões, muitos jeireiros

e até um comerciante, um então

pseudo-rico, com prosápias de

galanteador e atrevimento altivo, o

qual, se fartava de fazer filhos em

mulher alheia, quase sempre na

pobre da criada, sustentada a troco

de algumas coroas e alimentação,

que ficava sempre mãe solteira de

uma rebanhada de filhos, os quais,

por não serem descendentes da

respectiva legitima consorte, eram

conhecidos como zorros.

5. E nos idos da década de 20 do

século passado, havia, na realidade,

um comerciante conhecido, entre

outros aspectos, por ser homem com

uma vasta prole de zorros. A mãe

destes, pobre coitada e criada para

todo o serviço, via-se à nora para

sustentar os seus filhos que aquele

lhe ia arranjando. Chegada a altura

em que os zorros, fartos de

passarem necessidades e com a

barriga a dar horas, e uma vez que

em casa pouco ou nada havia,

começaram a matar a larica indo a

roubar as uvas na vinha do pai. E

tantas vezes lá foram a abastecer-se

e porque, como sói dizer-se, o que é

demais é moléstia, o pai achou-se no

legítimo direito de participar deles

criminalmente. E se melhor o

pensou, mais depressa o fez e,

passado pouco tempo, eram os

zorros intimados para irem a

Tribunal responder pelo crime de

roubo de que eram acusados pelo

próprio pai.

Sabedora e temerosa da situação,

talvez porque já imaginava ver os

seus filhos condenados, presos e, se

calhar, até postos em degredo, visto

o carácter gravoso da Justiça de

então e para quem não era atenuante

a situação de serem filhos ( zorros )

do queixoso, a pobre mãe depressa

se apressou a ir pedir ao meu bisavô

que lhe fizesse o favor de ir como

testemunha de defesa dos seus

filhos, abonando o comportamento e

a situação pessoal deles e até

relembrar o facto de serem filhos de

tal pai que tinham.

6. E no dia marcado para a

audiência de julgamento em Torre

de Moncorvo, o meu bisavô lá se

apresentou como testemunha

abonatória e nessa qualidade

começou a ser inquirido. Depois, de

ter enaltecido e feito a apologia das

qualidades pessoais dos infelizes

filhos, enaltecendo a sua extrema

necessidade, pobreza e imberbe

idade, como era seu dever, o Juiz, se

calhar farto de ouvir o encomiasta a

pregar loas, atira-lhe de chofre a

seguinte pergunta :

- Então, o Sr. acha bem que tenham

ido roubar as uvas ao pai ?

- Acho, retorquiu lesto o meu

bisavô.

- Acha??… já vociferava espantado

o Juiz.

- Acho, sempre é melhor irem a

roubarem as uvas ao pai para

matarem a fome que irem roubar as

minhas uvas que nada lhes sou,

disse calmamente o meu bisavô.

- Você é um homem valente,

acrescentou em tom irónico o Juiz.

- Eu Sr. Dr. Juiz, sou um homem …

TERRÍVEL !

7. É claro que na sala de audiências

estava, além dos habituais mirones e

curiosos, mais algum felgarense

que, não vai de modas, logo se

prestou a, nessa tarde, trazer a

novidade do julgamento e a espalhá-

la pela aldeia, destacando o facto do

Ti Adolfo ter tido a ousadia de,

perante o Juiz, se ter declarado um

homem TERRÍVEL. E tanta

propaganda fez com que, de facto, a

alcunha pegasse de estaca e

TERRÍVEL ficou, apesar do visado

e sua prole não serem, em nada,

pessoas dadas à violência física ou

verbal.

8. E foi através deste verdadeiro

episódio que a alcunha de o Terrível

nasceu no Felgar. Apraz-me registar

que nasceu até por uma boa causa

ou acção, através de um episódio

verídico e de forte ensinamento

bíblico, pela carga moral e de justiça

que lhe subjaz. Curiosamente, o seu

único filho, e meu saudoso Avô

materno, Manuel “ Adolfo” [1906 –

1989], nunca foi conhecido ou

apodado pelos seus conterrâneos

como o Terrível. Já o mesmo não

pode dizer o seu filho, e meu tio

António Bento, o qual, sem nada

fazer por isso, recebeu directamente

da herança de seu avô Adolfo

também o epíteto de o Terrível.

Rico legado.

Por Carlos Seixas

Felgar, no Entrudo de 2012

Page 10: Caserna nº 21

10

Desejos de Boa Páscoa

Paz e bem

A todos os Felgarenses.

Como nossos atletas alados encontram-se em seu

merecido descanso para muda de penas, não há o que

falar de pombos.

Estamos no Inicio da quaresma, e é disso que vamos

falar.

Após o carnaval, vem a 4.ª feira de cinzas, quando

iniciamos a quaresma, isto é; 40 dias nos separam da

grande festa da Páscoa. Vamos trilhar o caminho da

conversão proposto pela Igreja Católica Apostólica

Romana, e que todos nós conhecemos, pois é a fé que

nossos antepassados nos ensinaram.

No Brasil à 40 anos que a CNBB (Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil), lançam a campanha da

Fraternidade com um slogan, cuja finalidade é abrir a

consciência de todo o povo para uma das necessidades

maiores que o povo tenha.

O Slogan de 2012 é: Fraternidade e Saúde Pública.

Saúde pública, vida para todos.

Deus nos deixa livres para escolher entre as coisas que

promovem a vida, e as que a destroem. Quando

optamos por escolher o caminho da vida que Cristo nos

ensinou, e o seguimos, tudo se torna mais fácil.

Assumamos com coragem neste tempo de quaresma, o

compromisso com a saúde publica e com a vida, não só

nestes quarenta dias que nos separam do Domingo de

Páscoa, mas sim por todo a

no de 2012, 13 etc. etc. só assim poderemos ter certeza

de sermos merecedores de um Domingo de Páscoa com

nosso dever cumprido.

Oração da Campanha da Fraternidade. Iluminai,

senhor, a Igreja na vivência e no anúncio de vossos

mandamentos / Fortalecei-nos no empenho pela

promoção da vida, / Dai-nos coragem no seguimento

de Jesus Cristo, / Auxiliai-nos na busca da saúde para

todos, / Recompensai os que se dedicam ao bem estar

do povo. Senhor, conduzi-nos no caminha da vida.

Que estes quarenta dias sejam um tempo, de reflexão

para todos nós, que façamos nosso jejum consciente,

não de fome, pois não esse jejum que deus quer de nós,

mas o jejum da maldade, da perversidade, da

ignorância, da humilhação da vida, principalmente de

nossos idosos portugueses que morrem sem amparo

familiar, e quantas vezes só são encontrados quando a

matéria o denuncia, e nem sempre.

Que este tempo de quaresma sirva sim para Revestir-

nos de humildade, fraternidade, bondade, igualdade,

paz, amor e sobre tudo perdão. Lembro-me desde

pequeno, que na quaresma era tempo de confissão.

Ainda hoje aqui em nossas paróquias conservamos os

mesmos costumes, embora hoje seja com mais

freqüência o costume da confissão, Graças a Deus!....

É com este espírito cristão, que eu desejo aos amigos

felgarenses, e aos leitores do Jornal Caserna do Cimo

do Lugar uma feliz e Santa Páscoa. Que o Cristo

ressuscite em cada um de nós, não só na Páscoa, mas

em todos os dias da vida de cada um de nós.

FELIZ PÁSCOA.

Grande abraço a todos

Por: Serafim Camilo

Felgarenses pelo Mundo

Page 11: Caserna nº 21

Dezembro de 2011

União Desportiva de Felgar Fundada em 24 de Julho de 2000

11

Farrapos de Memória

XXIX – FELGAR (S. Miguel, concelho de Torre de

Moncorvo, visita da Primeira Parte da Torre de

Moncorvo).

45 – Inquérito de 1775 – Esta igreja de São Miguel

do Felgar, anexa à abadia de Santa Maria de Mós, do

padroado real, é vigairaria colada, pertencente a sua

apresentação ao rev.º abade de Santa Maria de Mós

como padroeiro das anexas filiais, e não tem estas

anexas algumas.

Tem de côngrua 12$600 (réis), dos quais paga ao

rev.º abade de Santa Maria de Mós 4$30 réis e o

comendador da comenda de Torre de Moncorvo 8$300

(réis); paga mais o ver.º abade um alqueire de trigo e

um almude de vinho, que valerão pelo comum preço de

$600 réis, e ouro tanto o mesmo comendador; (o) que

soma tudo 13$800 réis cada ano.

Tem mais de pé-de-altar de cada morador meio

alqueire de trigo; são 125 € somam 112 alqueires e

meio, que pelo comum preço poderá valer cada

alqueire 300 réis e somam por este preço em 33$750

réis, e este é o rendimento que tem anualmente certo...

01.01.569 Datam desta época as notícias escritas mais

antigas sobre terras trasmontanas, nomeadamente

as Terras de Ledra e de Panoias. São documentos

do concílio de Lugo.

01.01.1868 Data da entrada em vigor da lei do imposto

de consumo. Tal não aconteceu porque, de norte a sul

de Portugal, os povos se levantaram em protestos,

obrigando o governo a demitir-se e o rei a anular a lei.

Esta revolta ficou conhecida pelo nome de Janeirinha.

Vamos contar como as coisas se passaram em Torre

de Moncorvo. No fim da missa, os sinos tocaram a

rebate e o povo juntou-se no largo do Rossio, frente à

igreja, dispondo-se a assaltar a repartição de Finanças e

a queimar os papéis da cobrança do imposto. O

administrador conseguiu dissuadi-los, prometendo que

o imposto não seria cobrado na área do concelho. Pelas

7 horas da tarde, a vila foi invadida por cento e tal

homens do Larinho, que acabaram também por se

acalmar e retirar, sem distúrbios de maior.

No dia seguinte, pelo meio dia, soube-se que uma

multidão superior a 600 homens, do Felgar, Carviçais,

Mós e Souto da Velha vinha a caminho de Moncorvo.

Entraram na vila, armados de paus, roçadouras, facas,

espingardas… mas acabaram por deixar-se convencer

pelos argumentos do administrador José Maria Pimenta

de Sousa (de Urros) e do juiz de direito Tomás Inácio

de Meireles Guerra, limitando-se a mandar vir uma

mesa para a praça e ali foi redigida uma proclamação,

por um habitante do Felgar e assinada por quantos

sabiam e quiseram, dando-se vivas ao rei e morras ao

governo.

À noite, a vila seria ainda invadida por populares

vindos de Peredo, Urros, Maçores e Felgueiras,

nada de grave acontecendo também. Em outras terras

trasmontanas os movimentos populares foram bem

mais violentos e prolongados. Assim aconteceu

em Macedo de Cavaleiros, cuja vila foi invadida no

dia 14 por gente das aldeias que assaltou a repartição

de Finanças e queimou a mobília e os papéis.

Page 12: Caserna nº 21

12

Horizontais: 1- A mulher de cabelo

colorido; 2- A velha; 3- O homem

da loiraça; 4- A mulher de cabelo

preto; 5- O velho. 6- O Homem do

1º Par; 7- A mulher do cabelo

verde.

Verticais: 1- A loiraça; 2- O

homem da morena; 3- O homem do

3º par (inv).

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