carcinicultura marinha no litoral da bahia: … ana cristina... · ao meu querido esposo, josé...

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CARCINICULTURA MARINHA NO LITORAL DA BAHIA: LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO PARA A SUSTENTABILIDADE Ana Cristina Farias Lima Orientador: Dr. Antonio Cesar Pinho Brasil Junior Dissertação de Mestrado Brasília-DF: Julho/2004

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Page 1: CARCINICULTURA MARINHA NO LITORAL DA BAHIA: … Ana Cristina... · Ao meu querido esposo, José Jorge, que fez “tudo” acontecer, é necessário que seja dito, antes de qualquer

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CARCINICULTURA MARINHA NO LITORAL DA BAHIA:

LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO

PARA A SUSTENTABILIDADE

Ana Cristina Farias Lima

Orientador: Dr. Antonio Cesar Pinho Brasil Junior

Dissertação de Mestrado

Brasília-DF: Julho/2004

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CARCINICULTURA MARINHA NO LITORAL DA BAHIA:

LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO

PARA A SUSTENTABILIDADE

Ana Cristina Farias Lima

Dissertação de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Mestre em Desenvolvimento Sustentável, área de concentração em Política e Gestão Ambiental, opção Profissionalizante.

Aprovada por:

Antonio Cesar Pinho Brasil Junior, Dr. (CDS/UnB) (Orientador)

João Nildo de Souza Vianna, Dr. (CDS/UnB) (Examinador Interno)

Teresa Lúcia Muricy de Abreu, Dra. (CRA/BA) (Examinador Externo)

Brasília-DF, 28 de julho de 2004

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LIMA, Ana Cristina Farias Carcinicultura marinha no litoral da Bahia: licenciamento ambiental como instrumentopara a sustentabilidade. 160 p., 297mm, (UnB-CDS, Mestre, Política e Gestão Ambiental,2004). Dissertação de Mestrado - Universidade de Brasília. Centro de DesenvolvimentoSustentável. 1. Carcinicultura marinha 2. Impactos ambientais 3. Sustentabilidade 4. Licenciamento ambiental 5. Estado da Bahia I. UnB – CDS II. Título (série)

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

Ana Cristina Farias Lima

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À Deus, por ter-me em seus

desígnios e conceder-me mais esta vitória

Ao meu

inesquecível pai, Silvio Roberto (In Memoriam),

meu adorado cantor, grande exemplo de humildade,

caridade e amor.

À minha querida mãe, Noelinda (Linda), sempre tão generosa, acolhedora

amorosa e amiga.

Ao meu marido, José Jorge (Zéu), pelo seu companheirismo e

dedicação à minha vida, e pelo mais importante,

seu amor.

Aos queridos filhos nascidos dos nossos sonhos, Gustavo, Caroline, Camilla e Jamille,

que tanto têm motivado a nossa incessante

caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Durante a elaboração deste trabalho, especialmente naqueles momentos em que me senti desestimulada, recebi o apoio de muitos amigos, carinhosamente agradeço a todos. Agradeço, primeiramente, à minha Estrela Maior, Deus, e à Virgem Maria, que iluminaram meu caminho e minha mente, me carregando no colo nos momentos mais difíceis, e me concederem paciência e determinação para vencer a este e tantos outros desafios que se fizeram presentes em minha vida; Ao Dr. Fausto Azevedo, por proporcionar aos técnicos do Centro de Recurso Ambientais (CRA) o aprimoramento científico em prol do desenvolvimento sustentável; À Dra. Maria Lucia Cardoso de Souza, Diretora-geral do CRA, pela continuidade do processo de capacitação técnica e pelas sugestões; Ao Dr. Ney Maron, Diretor de Controle Ambiental do CRA, e aos coordenadores Letícia Neves e Luiz César Gil, pela colaboração e grande demonstração de amizade; Ao meu orientador, Dr. Antonio Cesar Brasil Junior, por ter acreditado no meu potencial e por ter me feito ver que, quando confiamos em Deus e realmente queremos, somos capazes de vencer a todos os obstáculos que surgem em nossas vidas; Aos mestres do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, pelos conhecimentos transmitidos; Em especial, gostaria de registrar os meus eternos agradecimentos a Dra. Teresa Lúcia Muricy de Abreu, minha grande companheira nesta jornada, que com a sua inquestionável competência muito contribuiu para a concretização deste trabalho e incentivou-me a seguir em frente. “Teresa, jamais esquecerei o seu apoio”; À Dra. Iracema Andrade Nascimento, pelo carinho com que recebeu-me sempre e pelas ricas contribuições, os meus sinceros agradecimentos; À Conceição Silva, que se mostrou sempre tão disposta a contribuir, pela paz transmitida nos momentos mais difíceis; À todos os entrevistados, pela gentileza de terem concedido as valiosas informações que subsidiaram este trabalho; Ao professor Luis Vinatea, por ter se mostrado sempre tão atencioso e pelo material fornecido; A Júlia Salomão, Rita Góes, Gustavo Urpia, Joselita Higino, Aline França, Jaqueline de Jesus, Karla Camacam, Cristiano Copello, Maria Paixão e Mêre Barreto, pelo suporte técnico;

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Aos colegas do CRA, pelas palavras motivadoras e orações dedicadas ao meu sucesso, e aos colegas do curso de mestrado pela solidariedade, convívio e amizade; Ao Senador Motta e a José Maria Abreu Júnior, por terem me proporcionado a oportunidade de um maior conhecimento científico; À grande amiga Ana Maria Fragoso, que jamais poderá compreender o quanto o seu espírito solidário contribuiu para a realização deste sonho, a minha eterna gratidão; À minha querida prima Helena Ruth Laranjal Farias Rigolon, pelo constante apoio e carinho com que me recebeu em sua casa nas minhas idas à Brasília para a orientação desta dissertação; À minha prima “Ritinha” e aos amigos Marcos Henrique e Rafael Carvalho, por terem se mostrado sempre tão solícitos quando se fez necessário; A Isabel (Bel) por ter cuidado de minha casa e dos meus filhotes durante estes dois longos anos de “sufoco”; Aos meus familiares e amigos, especialmente ao meu primo Alex (In Memoriam), peço desculpas e agradeço pela compreensão por todos os momentos em que estive ausente; Ao meu pai, Silvio Roberto (In Memoriam), meu grande mestre, que com suas sábias lições de vida muito me ensinou a ir a busca dos meus ideais, os meus eternos agradecimentos. “Pai, com certeza, você estará sempre presente nas minhas caminhadas”; À minha mãe, Linda, que sempre esteve presente na minha vida, sofrendo com as minhas dificuldades e vibrando com as minhas alegrias, agradeço por todas as orações e por ter-me ensinado a amar a Deus acima de todas as coisas, o que, com certeza, tem sido o grande suporte da minha vida. “Mãe, te amo muito. Obrigada por ser minha mãe”; Aos meus irmãos, Luiz, Jorge, Silvia, Kátia, Antônio, Magali, e suas famílias, pela nossa imensa união e por terem se preocupado e torcido tanto pelo meu sucesso; Ao meu querido esposo, José Jorge, que fez “tudo” acontecer, é necessário que seja dito, antes de qualquer coisa, que esta vitória não é apenas minha, é nossa, pois sem o seu incentivo e desmedido amor jamais conseguiria trilhar esta caminhada. “Obrigada, Zéu, pelo seu apoio sem limites e pela compreensão, que só os que amam incondicionalmente possuem”; Por fim, agradeço e peço muitas desculpas aos meus filhos, Gustavo, Caroline, Camilla e Jamille, pelas longas horas passadas em frente ao computador, pelo stress e pela perda de tantos momentos maravilhosos que poderíamos ter vivido juntos. “Gostaria que tivessem sempre a certeza do meu imenso amor por vocês”; Recebam o meu reconhecimento e sintam-se também presentes em meu coração todos aqueles que direta ou indiretamente tenham me apoiado, mas não se fizeram presentes nestas páginas;

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RESUMO

A carcinicultura marinha é o segmento aqüícola que mais cresce no cenário mundial, com grandes perspectivas de ampliação de mercado. Como qualquer outro setor produtivo que utiliza recursos naturais, o cultivo de camarão marinho apresenta um grande potencial de comprometimento ambiental. Neste trabalho se discute a sustentabilidade da atividade, analisando as principais questões referentes ao seu licenciamento ambiental, por ser esse um dos instrumentos por meio do qual se promovem condições necessárias para o alcance de uma produção sustentável. A presente pesquisa teve como foco principal o Estado da Bahia, em virtude de apresentar um enorme potencial para essa forma de cultivo e pela identificação de conflitos no processo de licenciamento ambiental. A regularização de fazendas de camarão consolidadas em áreas de manguezais e a instalação desses empreendimentos em apicuns provocam grandes polêmicas no órgão estadual de meio ambiente. Visando a analisar esses aspectos, bem como discutir a sustentabilidade da atividade optou-se pela pesquisa descritiva de cunho qualitativo, envolvendo a realização de entrevistas semiestruturadas com dirigentes e técnicos de órgãos públicos, empreendedores, especialistas na área, representantes de organizações não-governamentais e de comunidades locais, além da observação participante. Ainda sob esta perspectiva, realizou-se uma análise comparativa dos procedimentos de licenciamento ambiental adotados pelos órgãos estaduais de meio ambiente dos quatro principais estados brasileiros produtores de camarão (Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Bahia). Como resultado da pesquisa, evidenciou-se não ser possível a regularização de fazendas de camarão implantadas em áreas de manguezais nem a autorização para essa ocupação em apicuns, por ser essa última feição parte integrante do ecossistema manguezal. Concluiu-se, ainda, que o cultivo do camarão marinho, muitas vezes, não atende aos princípios da sustentabilidade e que um eficaz processo de licenciamento ambiental, em que sejam estabelecidas condições para que as tecnologias adotadas considerem, além da dimensão ambiental, a dimensão socioeconômica, espacial e cultural, contribuirá, significativamente, para a reversão deste cenário.

Palavras Chave: carcinicultura marinha; impactos ambientais; sustentabilidade; licenciamento ambiental; Estado da Bahia.

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ABSTRACT

The sea shrimp culture is the aquaculture segment that more grows in the world-wide scene, with great perspectives of market increasing. As any another productive sector that uses natural resources, marine shrimp culture presents a great potential of environmental compromising. In this work is argued the sustainability of the activity, analyzing the main questions involving its environmental licensing, for being it one of the instruments by how the necessary conditions for achieving a sustainable production are promoted. The present research main focus was Bahia’s state, by virtue of presents a great potential for this kind of culture and for the identification of conflicts in the environmental licensing process. The regularization of shrimp culture’s farms already consolidated in mangal areas and the installation of these enterprises in “apicuns” provoke great controversies in the environment state agency. Aiming at to analyze these aspects, as well as arguing the sustainability of the activity, descriptive research of qualitative matrix was choosed, that involved the accomplishment of interviews half-structuralized with controllers and technicians of public agencies, enterprisers, area specialists, NGO agents and local community, beyond the observing note. Still under this perspective, was realized a comparative analysis of the environmental licensing procedures used by environment state agencies by the fourth main Brazilian states shrimp producers (Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco and Bahia). After research, became evident that legal regularization of shrimp farms implanted in mangal areas isn’t possible nor the authorization for this occupation in “apicuns”, for being this last feature mangal ecosystem belonging. It was still concluded, that the culture of the marine shrimp, many times, does not take care of the sustainability principles and that an efficient environmental process licensing, where conditions are established so that the adopted technologies consider, beyond the environmental dimension, socioeconomic, space and cultural dimension, will contribute, significantly, for this scene reversion.

Key Words: sea shrimp culture; environmental impacts; sustainability; environmental licensing; Bahia’s state.

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SUMÁRIO RESUMO

ABSTRAT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE QUADROS

LISTA DE ABREVEVIATURAS E SIGLAS

INTRODUÇÃO

1. PANORAMA DA CARCINICULTURA NO MUNDO ..................................... 21

1.1 A CARCINICULTURA NO BRASIL ................................................................... 26

1.2 A CARCINICULTURA NO LITORAL DO ESTADO DA BAHIA .................... 33

2. O CULTIVO DO Litopenaeus vannamei ............................................................ 37

2.1 CULTIVO MARINHO CONVENCIONAL ......................................................... 37

2.1.1 O processo produtivo do Litopenaeus vannamei ................................................... 37

2.1.2 Impactos da carcinicultura marinha tradicional ..................................................... 44

2.2 O CULTIVO CAMARÃO MARINHO EM VIVEIROS FLUTUANTES ........... 59

3. PRODUÇÃO, MEIO AMBIENTE E COMUNIDADES COSTEIRAS: UM

DESAFIO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ..................... 63

3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................................................... 65

3.2 SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS PRODUTIVOS ................................... 68

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E COMUNIDADES COSTEIRAS .. 70

3.4 CARCINICULTURA MARINHA E MEIO AMBIENTE: O IMPERATIVO DA

SUSTENTABILIDADE ......................................................................................... 72

3.4.1 Por uma carcinicultura ambientalmente não degradadora ..................................... 73

3.4.2 Por uma carcinicultura tecnologicamente adequada .............................................. 75

3.4.3 Por uma carcinicultura economicamente viável e socialmente aceitável .............. 77

4. LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO PARA A

SUSTENTABILIDADE DA CARCINICULTURA MARINHA ..................... 81

4.1 ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS ............................................................. 81

4.2 LICENCIAMENTO AMBIENTAL E ATIVIDADES DE CARCINICULTURA

NO LITORAL DA BAHIA .................................................................................... 87

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4.3 CARCINICULTURA: É POSSÍVEL LICENCIAR? ............................................ 89

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................... 106

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 109

ANEX ANEXOS OS:

A - Lista de Entrevistados

B - Resolução CONAMA nº 312, de 10 de outubro de 2002

C - Parecer nº 139/2003 da Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE)

D - Despacho do Procurador Geral do Estado da Bahia

E - Resolução CEPRAM nº 2.110, de 05 de outubro de 1999 (NT–001/99)

F - Resolução COEMA nº 02, de 27 de março de 2002

G - Resolução CONSEMA nº 02/02, de 15 de outubro de 2002

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA – 1.1 Evolução da produção de camarão marinho cultivado no mundo .......

21

FIGURA – 1.2 Participação relativa das diferentes regiões brasileiras na produção de camarão marinho cultivado ..................................................................

32

FIGURA – 1.3 Principais pólos camaroneiros no Estado da Bahia ..............................

34

FIGURA – 2.1 Vista aérea de uma fazenda de camarão (cultivo convencional), localizada no município de Ituberá/Bahia ............................................

37

FIGURA – 2.2 Processo produtivo do Litopenaeus vannamei .....................................

39

FIGURA – 2.3 Arraçoamento mediante o uso de bandeja de alimentação ..................

41

FIGURA – 2.4 Geração de resíduos em uma fazenda de cultivo de camarão ..............

46

FIGURA – 2.5 Indicadores de pressão-estado-resposta ...............................................

56

FIGURA – 2.6 Viveiros flutuantes, Guarapuá-BA .......................................................

60

FIGURA – 3.1 Bases para uma carcinicultura marinha sustentável .............................

79

FIGURA – 4.1 Viveiro de camarão em área de manguezal ..........................................

91

FIGURA – 4.2 Abertura de canal para abastecimento de criadouros de camarão em área de manguezal ................................................................................

92

FIGURA – 4.3 Apicum com a presença de Spartina sp. ..............................................

103

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LISTA DE TABELAS

TABELA – 1.1 Produção mundial de camarão, 2001/2002 ...........................................

26

TABELA – 1.2 Evolução do cultivo de camarão marinho no Brasil, 1996/2001 ..........

30

TABELA – 1.3 Quadro geral da carcinicultura marinha nos estados do Brasil, 2002 ..

31

TABELA – 1.4 Produção de camarão marinho por regiões brasileiras, 2002 ...............

31

TABELA – 1.5 Participação do Estado da Bahia no cenário nacional, 2003 ................

35

TABELA – 1.6 Distribuição do número e tamanho de fazendas no Estado da Bahia, 2003 ......................................................................................................

35

TABELA – 2.1 Comparação entre os métodos de arraçoamento por bandeja e a lanço

40

TABELA – 4.1 Classificação de empreendimentos de carcinicultura segundo a Resolução CONAMA nº 312/02 ..........................................................

85

TABELA – 4.2 Classificação de empreendimentos de carcinicultura segundo a Norma Técnica NT - 001/99 .................................................................... 88

TABELA – 4.3 Distribuição do número e área de fazendas licenciadas no Estado da Bahia, até junho de 2004, em operação e não instaladas ..................... 90

LISTA DE QUADROS

QUADRO – 2.1 Síntese dos principais impactos potenciais negativos da carcinicultura marinha tradicional ............................................................................... 57

QUADRO – 4.1 Síntese do processo de licenciamento ambiental nos quatro maiores estados brasileiros produtores de camarão ........................................... 98

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCC – Associação Brasileira de Criadores de Camarão

APP – Área de Preservação Permanente

ATEND – Coordenação de Atendimento ao Público e Documentação Técnica do CRA

CDS – Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília

CEFET - Centro de Educação Tecnológica do Estado da Bahia

CEPRAM – Conselho Estadual de Meio Ambiente/Bahia

CIDA – Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional

CIRM – Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

CMMAD – Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

COEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente/Ceará

COLIAM – Coordenação de Licenciamento Ambiental do CRA

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco

CPRH – Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos/Pernambuco

CRA – Centro de Recursos Ambientais/Bahia

DIRCO – Diretoria de Controle

EIA – Estudo de Impacto Ambiental

ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

FTC – Faculdade de Tecnologia e Ciência

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente/Rio Grande do Norte

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FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente

IFREMER – Instituto Francês de Pesquisas para Exploração do Mar

LA – Licença de Alteração

LI – Licença de Implantação

LL – Licença de Localização

LO – Licença de Operação

LOA – Licença de Operação da Alteração

LS – Licença Simplificada

MPF – Ministério Público Federal

NT – Norma Técnica

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OEMA – Órgão Estadual de Meio Ambiente

PGE – Procuradoria Geral do Estado da Bahia

PROJUR – Procuradoria Jurídica/CRA

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

SEAP – Secretaria Especial de Pesca e Aqüicultura

SEARA – Sistema Estadual de Administração de Recursos Ambientais

SEMA – Secretaria Especial de Meio Ambiente

SEMACE – Superintendência Estadual do Meio Ambiente/Ceará

SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente

SPU – Serviço do Patrimônio da União

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

TAC – Termo de Ajustamento de Conduta

ZEE – Zoneamento Ecológico-econômico

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INTRODUÇÃO

A aqüicultura, entendida como um conjunto de atividades que vão desde o tradicional

gerenciamento extensivo de pescado de água doce, em lagoas e reservatórios, à cultura semi-

intensiva e intensiva de organismos aquáticos em pequenos tanques, lagoas de água doce e

áreas salobras, fazendas marítimas e maricultura, é o segmento de produção animal que mais

cresce no cenário mundial. Na década de 1990, o crescimento mundial anual médio foi cinco

vezes superior ao apresentado pela bovinocultura, suinocultura e avicultura, surpreendendo a

maioria das projeções traçadas pelos especialistas. Em 1995, a FAO realizou algumas

projeções de produção mundial a serem atingidas até 2010. Tais metas, entretanto, foram

alcançadas em 1998, ou seja, em apenas três anos, em vez dos quinze anos inicialmente

projetados (BORGHETTI; OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003). De acordo com Holloway

(2003), a aqüicultura, um empreendimento global de 52 bilhões de dólares ao ano, engloba o

cultivo de mais de 220 espécies de peixes e mariscos, cujo crescimento vem ocorrendo mais

rapidamente do que o de qualquer outro de setor de produção alimentícia.

Os recentes avanços produzidos pela biotecnologia a partir da década de 1990

promoveram um aumento da produtividade na aqüicultura mundial, ocasionando um processo

de expansão da atividade cada vez mais acelerado. Para Levy (2003), esta década será

lembrada como o começo da revolução azul.

No Brasil, o ritmo de crescimento da aqüicultura tem ocorrido em maior escala que a

mundial; calcula-se que a aqüicultura brasileira nos últimos cinco anos tenha crescido

aproximadamente 139,5%, equivalendo a uma taxa anual média de 29,7% (BORGHETTI;

OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003).

Dentre as atividades de cultivo de organismos marinhos (maricultura) merece destaque

a carcinicultura, cujo termo é geralmente atribuído à criação de crustáceos (caranguejos,

camarões, lagostas ou crustáceos microscópicos). Esse termo, porém, é mais comumente

empregado para se referir ao cultivo de camarões.

A carcinicultura marinha é uma atividade que se encontra em franca expansão, sendo,

atualmente, o segmento da aqüicultura que mais cresce no cenário mundial, com grandes

perspectivas de ampliação de mercado.

Sob o ponto de vista econômico, é um dos segmentos aqüícolas mais rentáveis,

permitindo um retorno do capital investido em menos de três anos (ASSAD, 2002). Por outro

lado, há controvérsias sobre os benefícios proporcionados pela atividade. A experiência

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internacional traz fortes indícios de que, apesar da sua grande importância econômica, a

carcinicultura pode ocasionar efeitos sócio ambientais adversos, em virtude de transformar

recursos naturais e produzir efluentes, que em diversas partes do mundo alcançaram índices

alarmantes, acarretando prejuízos para a própria atividade.

O Brasil, que tem como principal espécie cultivada o Litopenaeus vannamei, não escapa

da tendência internacional de expansão da atividade, especialmente a região Nordeste, onde,

pelas condições naturais do ambiente, a atividade se mostra bastante promissora, apresentando

um enorme potencial de desenvolvimento.

Na Bahia, a atividade apresenta enormes perspectivas de crescimento, por possuir as

condições ideais para o cultivo, fato este associado a potenciais impactos no meio ambiente,

sejam eles relacionados aos aspectos operacionais ou à ocupação desses empreendimentos.

Neste Estado, muitos dos empreendimentos encontram-se implantados em áreas de

preservação permanente (APPs), principalmente em manguezais.

A carcinicultura marinha encontra-se perante o grande desafio de adequar-se ao

conceito de sustentabilidade em todas as suas dimensões. Ou seja, é preciso, para o

desenvolvimento da atividade, que sejam consideradas, além da dimensão econômica, as

dimensões social, ambiental, espacial e cultural. Neste sentido, torna-se imprescindível o

papel regulador do poder público, pois ele é o responsável pelo estabelecimento de requisitos

necessários para o alcance de uma produção sustentável.

No que tange ao licenciamento ambiental da carcinicultura na Bahia, a regularização de

empreendimentos já consolidados em áreas de manguezais provoca grandes polêmicas no

órgão estadual de meio ambiente. Um outro fato ainda muito discutido é a possibilidade de

permissão para a ocupação em áreas de apicuns. De um lado, estão os empresários da

carcinicultura e os fomentadores, que ressaltam a importância econômica da atividade,

alegando que essa, ao longo da cadeia produtiva, tem gerado inúmeros empregos e renda. Por

outro lado, os técnicos responsáveis pela análise ambiental se manifestam intensamente

preocupados com a sustentabilidade da atividade e com o cumprimento da legislação: o que

fazer com estes empreendimentos? Que medidas deverão ser adotadas? É possível licenciá-

los? A legislação oferece respaldo para licenciar empreendimentos nestas circunstâncias?

Essas questões são analisadas no quarto capítulo deste estudo.

Neste contexto, os objetivos deste trabalho são:

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OBJETIVO GERAL

♦ Discutir a sustentabilidade da carcinicultura marinha convencional, analisando os

principais aspectos referentes ao licenciamento ambiental da atividade, por ser este

um dos instrumentos responsáveis pelo alcance de uma produção sustentável.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

♦ Identificar os principais impactos inerentes ao cultivo convencional do camarão

marinho;

♦ Apresentar bases para uma carcinicultura marinha sustentável;

♦ Avaliar os principais problemas do licenciamento ambiental de atividades de

carcinicultura no Estado da Bahia;

♦ Sugerir procedimentos que possam contribuir para a sustentabilidade da atividade.

MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

A metodologia utilizada teve como suporte a pesquisa descritiva de cunho qualitativo,

utilizando-se as fontes de informações primárias e secundárias.

FONTES PRIMÁRIAS

As informações primárias foram coletadas por meio de observação participante e

entrevistas semi-estruturadas.

Observação participante:

Um suporte fundamental para a aplicação deste método foi a experiência acumulada

como técnica na área de controle ambiental do Centro de Recursos Ambientais (CRA) durante

oito anos, estando há quatro anos na análise de projetos de licenciamento ambiental de

atividades de carcinicultura no Estado da Bahia. A importância desta técnica, segundo

Minayo (2001, p. 59-60), “reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou

fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente

na própria realidade, transmitem o que há de mais importante e evasivo na vida real”.

Com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre a prática da carcinicultura marinha,

notadamente no que se refere a sua ocupação, foram realizadas visitas de campo em oito

fazendas, além de conversas informais com diversos criadores de camarão.

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Entrevistas semi-estruturadas:

As entrevistas foram realizadas com 79 pessoas, das quais 42 permitiram a listagem de

seus nomes (ANEXO A). Dentre esses atores, incluíram-se especialistas na área, consultores,

criadores de camarão, representantes de organizações não-governamentais, representantes de

comunidades locais, além de representantes de diversos órgãos públicos nos âmbitos estadual

e federal, a exemplo de:

Ministério de Meio Ambiente (MMA);

Bahia Pesca S/A, órgão vinculado ao governo do Estado da Bahia;

Ministérios Públicos Federal e Estadual;

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA);

Secretaria de Pesca e Aqüicultura (SEAP) do Distrito Federal;

Centro de Recursos Ambientais (CRA) do Estado da Bahia;

Agência Nacional de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) do Estado

Pernambuco;

Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) do Estado do Ceará;

Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (IDEMA) do Estado do

Rio Grande do Norte;

Bahia Pesca S/A, órgão vinculado ao governo do Estado da Bahia;

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN);

Universidade Federal da Bahia (UFBA);

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC);

Universidade Federal de São Paulo (USP).

As entrevistas realizadas com os representantes dos órgãos ambientais dos principais

estados produtores de camarão (Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Bahia)

permitiram a identificação dos procedimentos de licenciamento ambiental adotados em cada

estado.

FONTES SECUNDÁRIAS

Para a obtenção dos dados secundários, foram realizadas duas pesquisas distintas: a

bibliográfica e a documental.

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19

Pesquisa bibliográfica:

O levantamento bibliográfico contemplou as publicações nacionais e internacionais

(livros, revistas, artigos, internet, teses e dissertações) atualizadas e consagradas sobre a

carcinicultura marinha, buscando-se na literatura especializada o referencial teórico sobre o

tema em investigação, com vistas a subsidiar discussão a respeito da sustentabilidade e

fornecer elementos para orientar o processo de licenciamento ambiental da atividade. No caso

da carcinicultura marinha brasileira, a pesquisa foi aprofundada de modo a identificar

publicações contendo informações específicas sobre a sua evolução histórica, questões

ambientais, aspectos legais e principais conflitos existentes no processo de licenciamento

ambiental.

Pesquisa documental:

A pesquisa documental contemplou o levantamento de normas que fundamentaram uma

análise comparativa sobre o licenciamento ambiental da carcinicultura nos quatro principais

estados brasileiros produtores de camarão; legislações e resoluções; além da análise de

documentos oficiais (processos, pareceres técnicos e jurídicos).

No caso específico da Bahia, procedeu-se a um levantamento de todos os processos (29)

de licenciamento da atividade, visando à verificação do número e porte de empreendimentos

licenciados implantados e não implantados.

ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação está estruturada em quatro capítulos:

No primeiro capítulo, apresenta-se o panorama da carcinicultura no âmbito mundial,

destacando-se os principais países produtores de camarão; oferece uma visão sobre a

carcinicultura marinha no Brasil, enfocando o Estado da Bahia.

No segundo capítulo, é contemplada uma ampla revisão bibliográfica sobre o sistema

de cultivo do Litopenaeus vannamei e são apresentados os principais impactos inerentes ao

cultivo desenvolvido tradicionalmente.

No terceiro capítulo, discute-se a sustentabilidade da carcinicultura, e propõem-se

bases para uma carcinicultura marinha sustentável. Neste capítulo, foi realizada uma revisão

bibliográfica, oportunidade em que se evidenciaram aspectos teóricos sobre a sustentabilidade

de sistemas produtivos e de comunidades costeiras.

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No quarto capítulo, se discute o licenciamento ambiental da carcinicultura como

instrumento para a sua sustentabilidade, analisando-se os principais conflitos existentes na

esfera nacional, tendo como foco principal o Estado da Bahia. Neste capítulo, apresenta-se

uma análise comparativa dos procedimentos de licenciamento ambiental adotados pelos

órgãos estaduais de meio ambiente dos quatro principais estados brasileiros produtores de

camarão (Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Pernambuco).

A última seção é dedicada às conclusões sobre o tema discutido e à algumas

recomendações que poderão contribuir para que o licenciamento ambiental da atividade

produza resultados sustentáveis.

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1. PANORAMA DA CARCINICULTURA NO MUNDO

Na última década, a carcinicultura marinha se consagrou como a atividade da

aqüicultura que mais tem crescido em termos mundiais. Países como a Indonésia, Tailândia,

Filipinas e Equador têm contribuído bastante para o desenvolvimento dessa forma de cultivo.

O cultivo de camarão marinho tem-se tornado um investimento cada vez mais atrativo em

muitos países de clima tropical que possuem ecossistemas estuarinos planos, os quais

proporcionam condições ideais para o desenvolvimento da atividade.

Dentre os organismos marinhos cultivados, os camarões são os que têm apresentado o

maior aumento de produção desde a década de 1975, passando de cinqüenta mil toneladas

para 1.319.128 em 2002 (FIGURA 1.1). Um dos fatores que ajudam a explicar a escalada da

atividade de carcinicultura é a redução das reservas pesqueiras, devido à sobrexploração, o

que torna a aqüicultura uma opção econômica cada vez mais crescente.

Os estudos

entretanto a carc

investidores, sur

definitivamente

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Prod

ução

(mil

ton)

1975 1980 1990 2000 2001 2002Ano

Figura 1.1. Evolução da produção de camarão marinhocultivado no mundo. Fonte: Dados fornecidos pela Assessoria Técnica da Bahia Pesca(comunicação pessoal, 2003).

que serviram de base ao desenvolvimento da carcinicultura datam de 1930;

inicultura, com potencial de rentabilidade capaz de atrair a atenção de

giu entre 1975 e 1985, quando o novo agronegócio foi consolidado

a partir da produção de pós-larvas em laboratórios comerciais. Essas

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inovações tecnológicas conduziram a aumentos dramáticos e substanciais da produção de

camarão marinho cultivado em viveiros durante o ano de 1980 (FAST; MENASVETA,

2000).

O crescimento da produção foi significativo na Ásia, particularmente em países como

Taiwan, China, Indonésia, Filipinas e Tailândia. Na América Latina, aproveitando as

condições favoráveis do amplo estuário formado pelo rio Guayas e trabalhando com o

Litopenaeus vannamei, originário de sua costa, o Equador tornou-se o principal país produtor

do Ocidente. Nessa época, surgiram os primeiros esforços no Brasil no sentido de demonstrar

a viabilidade técnica e econômica de um sistema produtivo para o cultivo de camarão

nacional.

Entre 1985 e 1995, o aparecimento de doenças virais associadas à poluição conduziu

uma série de indústrias de camarão cultivado ao colapso em muitos países, a exemplo de

Taiwan, China, Tailândia e Equador (FAST; MENASVETA, 2000). A deterioração da

qualidade da água em virtude da elevada densidade de fazendas e da grande quantidade de

lodo no fundo dos tanques de cultivo, entre outros fatores, resultou no aparecimento de

viroses, devido ao estresse provocado nos camarões.

No Brasil, o desenvolvimento dos processos tecnológicos, associados a progressivos

aumentos da produtividade, aliado à menor competitividade dos países asiáticos e do

Equador, devido à queda da produção, tornou possível o rápido desenvolvimento da atividade,

sobretudo na década de 1990.

Uma visão geral do panorama da carcinicultura no mundo é apresentada por Rocha e

Rodrigues (2002), apoiando-se no quadro panorâmico da estatística mundial de produção de

camarões marinhos, apresentado na Global Shrimp Outlook-2002, em Bali, Indonésia.

Segundo esses autores, na América Central e no México, o cultivo de camarões

apresenta um crescimento moderado, devido à limitação de recursos para investimentos, à

incidência de doenças viróticas ou a fatores climáticos adversos na região. A produtividade

média fica em torno de 1000 kg/ha/ano.

Na América do Sul, o Equador, após quase três anos do ataque do vírus da Mancha

Branca, ainda continua esforçando-se para a recuperação de seus efeitos na carcinicultura. A

produção de 135 mil toneladas de camarão, alcançada em 1998, sofreu significativa redução,

atingindo em 2002 cerca de 57 mil toneladas, apresentando, portanto, uma redução de 60%.

Dos 180 mil hectares de viveiros em produção, em apenas noventa mil hectares se está

produzindo, mesmo assim com densidades baixas de povoamento e produtividade em torno de

633 kg/ha/ano.

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O Peru, que, da mesma forma, foi afetado pelo vírus, sofrendo sérios prejuízos na

carcinicultura marinha, demonstra tentativas dispersas na recuperação da atividade. Os quatro

mil hectares de viveiros alcançados nacionalmente foram reduzidos a menos de mil hectares.

As operações de larvicultura em todo o país foram paralisadas e todos os laboratórios,

fechados, levando os produtores a se abastecerem de pós-larvas importadas da Colômbia e do

Equador. Investimentos em tecnologia de ponta estão sendo realizados pela iniciativa privada,

tanto no Equador quanto no Peru, na tentativa de solucionar o problema.

Em se tratando da Colômbia, apesar de a zona camaroneira do Pacífico ter sido atingida

pelo vírus da Mancha Branca, este não provocou grandes danos. A zona do Atlântico não foi

afetada pelas viroses, e a produção total em 2001 alcançou dez mil toneladas de camarões. A

Colômbia possui quatro mil hectares de viveiros, sendo 1.200 na costa do Pacífico e 2.800 na

Atlântica. No país, há um predomínio de grandes fazendas com produtividade total em torno

de 2.500 kg/ha/ano.

Quanto à Venezuela, os autores afirmam que os comentários sobre a carcinicultura

ficaram prejudicados por falta de dados. Colocam, porém, que, no ano de 2001, o país

exportou, para o mercado dos Estados Unidos, 8.700 toneladas de camarões descabeçados

(equivalente a 13.400 toneladas de camarões inteiros), provenientes de cultivo, sugerindo que

a carcinicultura marinha tem bases estabelecidas no país.

No que se refere ao Brasil, há um firme crescimento da produção, saindo de 7.260

toneladas produzidas em 1998 para quarenta mil toneladas em 2001. A carcinicultura marinha

brasileira tem como uma das principais características o seu excepcional desempenho em

termos de rendimento por unidade de área, tendo alcançado 4.706 kg/ha/ano em 2001,

colocando o País como líder mundial em produtividade. Em 2002, o Brasil produziu sessenta

mil toneladas em uma área de 11.016 hectares de viveiros, resultando em uma produtividade

de 5.458 kg/ha/ano.

No continente africano, onde os recursos marinhos indicam potencial para a

maricultura, o desenvolvimento da atividade do ponto de vista comercial foi efetivamente

implementado em apenas três países: Madagascar, com quatro fazendas e uma produção de

seis mil toneladas/ano; Moçambique, com duas grandes fazendas; e África do Sul, que, apesar

de possuir um modelo de pequenas fazendas, conta com uma produção de duzentas mil

toneladas/ano. Na África, a ausência de infra-estrutura básica, aliada à falta de estabilidade

política e social, condiciona, de forma geral, uma forte limitação para os investimentos em

carcinicultura marinha.

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Já no Oriente Médio, os dados são otimistas em termos comerciais apenas em dois

países: no Irã, onde o cultivo de camarão é usado dentro de um modelo de distribuição de

riquezas, produzindo sete mil toneladas/ano provenientes de pequenos produtores; e na Arábia

Saudita, que produz duas mil toneladas/ano da espécie Litopenaeus indicus, resultantes de seis

grandes fazendas que totalizam 2.500 hectares de viveiros.

O continente asiático destaca-se como o maior produtor de camarão marinho cultivado

do mundo. Os três maiores produtores são Tailândia, Vietnã e China.

A Tailândia assume uma posição de destaque tanto em termos de produção, quanto em

produtividade no continente asiático. No ano de 2002, conforme evidenciado por Rocha e

Rodrigues (2003), a produção anual deste país foi de 260 mil toneladas, das quais cerca de

duzentas mil toneladas foram exportadas. A produtividade ficou em torno de 3.421 kg/ha/ano,

sendo a mais elevada de toda a Ásia.

Com relação à China, segundo lugar na produção mundial de camarões em 2001, os

prejuízos ocasionados pelas doenças virais foram superados, e as perspectivas de produção

para 2002 foram de 310 mil toneladas. Essa previsão ficou confirmada em 2002, e a China

reassumiu a liderança mundial ocupada em 1993, com uma produção de 310.750 toneladas,

superando, assim, a Tailândia. A produção foi alcançada em uma área total de 268.400

hectares de viveiros, o que resultou em uma produtividade de 1.158 kg/ha/ano (ROCHA;

RODRIGUES, 2003).

O Vietnã, que somente na década de 1990 ingressou no rol de grande produtor, atingiu

em 2001 uma produção de 155 mil toneladas. No ano de 2002, o país obteve uma produção de

178 mil toneladas. A área total de viveiros foi de setecentos mil hectares e a produtividade de

apenas 254 kg/ha/ano, sendo a mais baixa de toda a Ásia (ROCHA; RODRIGUES, 2003).

No que se refere à Indonésia, Malásia e Filipinas, são países que possuem tradição no

cultivo de camarão marinho.

Na Indonésia, a atividade de carcinicultura é desenvolvida com base em milhares de

pequenas unidades produtivas, perfazendo um total de 380 mil hectares de viveiros. A

produção alcançada em 2002 foi de 102 mil toneladas. O nível de produtividade é baixo,

ficando em torno de 268 kg/ha/ano. A Indonésia possui um grande potencial para a

carcinicultura; estima-se que o país possui quinhentos mil hectares de áreas propícias para o

desenvolvimento da atividade.

A Malásia também possui um bom potencial em área para cultivos. Com sete mil

hectares de viveiros, o país alcançou uma produção de, aproximadamente, vinte mil toneladas

de camarões em 2002.

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Nas Filipinas, devido a doenças, houve uma significativa queda na produção. Em 1993,

a produção nacional alcançou 95.816 toneladas, colocando o país em terceiro lugar em nível

mundial. No ano de 2001, a produção caiu para quarenta mil toneladas.

Já a Índia e Bangladesh produzem camarão cultivado em grande escala, basicamente

para exportação. Na Índia, 25% da produção do camarão são provenientes de água doce.

Desde o seu início em 1980, embora apresente uma baixa produtividade, a carcinicultura

demonstra um crescimento contínuo no país, provavelmente pela ausência de alternativas de

renda na área rural. Em 2002, o país produziu 102.940 toneladas de camarão em uma área de

157 mil hectares, apresentando uma produtividade de 656 kg/ha/ano (ROCHA;

RODRIGUES, 2003).

No caso de Bangladesh, a área total de viveiros em 2001 era de 144 mil hectares,

estimando-se uma produção em torno de 64 mil toneladas e uma produtividade de 438

kg/ha/ano para 2002. Este país alcançou em 2002 uma produção de 63.164 toneladas, em uma

área de 144.202 hectares de viveiros, o que resultou em uma produtividade de 438 kg/ha/ano.

Na TABELA 1.1, apresentam-se cifras de produção dos principais países produtores de

camarão no mundo, nos anos de 2001 e 2002. A primeira observação importante repousa na

significativa inserção da economia de países em desenvolvimento neste mercado

internacional. Neste quadro, pode-se verificar que a carcinicultura é um importante

componente na balança comercial de vários destes países, que mobiliza um razoável potencial

humano, gerando renda local e proporcionando um viés de produção com alto valor agregado.

Segundo Neiland e outros (2001), países como a Tailândia, Indonésia, Equador, dentre outros,

possuem um forte percentual de suas exportações baseado na produção de camarão, o que

constitui um grande vetor para reduzir as obrigações da dívida externa desses países.

Em particular, nos países asiáticos, o grande investimento em tecnologias de produção e

o suporte de políticas públicas locais proporcionaram uma proliferação de fazendas privadas,

que são responsáveis pelo grande volume de produção nas regiões costeiras. Esta indução

governamental, associada ao excelente valor de mercado do camarão, estabelece o potencial

diferenciado deste setor produtivo, particularmente para países em desenvolvimento, com

condições edafo-climáticas e hidrobiológicas favoráveis. O mercado internacional encontra-se

em franca expansão. Os principais mercados importadores de camarão são os Estados Unidos,

a União Européia, o Japão e a Ásia, que importaram, conjuntamente, um milhão e trezentas

mil toneladas de um total de um milhão e quinhentas mil toneladas, no ano de 2002.

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TABELA 1.1. Produção mundial de camarão, 2001/2002

2001 2002 Principais Países

Produtores Produção

(t)

Área em Produção

(ha)

Produtividade (kg/ha/ano)

Produção (t)

Área em Produção

(ha)

Produtividade (kg/ha/ano)

China 263.203 219.399 1.200 310.750 268.400 1.158 Tailândia 320.000 86.000 3.695 260.000 76.000 3.421

Vietnã 155.000 478.800 324 178.000 699.613 254

Índia 100.000 150.000 667 102.940 157.000 656

Indonésia 99.000 380.000 260 102.000 380.000 268

Bangladesh 63.000 140.000 450 63.164 144.202 438

Brasil 40.000 8.500 4.706 60.128 11.106 5.458

Equador 58.736 90.000 653 57.000 90.000 633

México 40.000 35.000 1.143 38.000 35.000 1.086

Honduras 15.000 14.000 1.071 18.000 16.000 1.125

Outros 109.797 150.000 732 129.146 172.195 900

Total 1.263.736 1.751.699 721 1.319.128 2.049.426 644

.

Fonte: GAA-SHRIMP Outlook’ 2002 (apud Rocha e Rodrigues, 2003), modificada

1.1 A CARCINICULTURA NO BRASIL

O Brasil iniciou o cultivo de camarões marinhos entre os anos de 1972 e 1974, quando,

na Ilha de Itamaracá, a empresa Ralston Purina, junto com um grupo de pesquisadores da

Universidade Federal de Pernambuco, realizou estudos com várias espécies de camarões

pertencentes à família Penaeidae. Dentre as espécies experimentadas, a que apresentou melhor

adaptabilidade foi a L. vannamei. Todavia, por ser essa uma espécie exótica∗, não sendo

possível extrair reprodutores da natureza, a empresa iniciou programas comerciais de

produção no Panamá, onde foi instituída a Agromarina do Panamá. Em virtude da

disponibilidade de pós-larvas no ambiente natural ou cultivada em laboratório, aliada ao clima

favorável, foi evidenciada a viabilidade do cultivo comercial do L. vannamei naquele país.

O desenvolvimento da carcinicultura no Brasil teve um atraso de cerca de vinte anos,

em decorrência da transferência das pesquisas de Pernambuco para o Panamá e do sigilo

∗ Espécie de origem e ocorrência natural em águas de outros países, quer tenha ou não já sido introduzida em águas brasileiras.

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comercial exigido pela empresa em relação às informações de valor comercial. Esses fatos

impediram que os pesquisadores e as instituições públicas e privadas brasileiras tivessem

acesso aos resultados do cultivo obtidos no Panamá (BORGHETTI; OSTRENSKY;

BORGHETTI, 2003).

Na década de 1970, o Governo do Rio Grande do Norte instituiu o “Projeto Camarão”, a

fim de estudar a viabilidade do cultivo desse crustáceo em substituição à extração de sal,

atividade desenvolvida tradicionalmente no Estado, que nesse período atravessava

significativa crise de preço e mercado, resultando em total desemprego nas áreas salineiras.

Paralelamente, foram realizados experimentos de reprodução, larvicultura e engorda do

camarão cultivado pelo Estado de Santa Catarina, resultando na produção das primeiras pós-

larvas em laboratório da América Latina. Somente na década seguinte, a carcinicultura em

termos empresariais foi iniciada, com a importação do Marsupenaeus japonicus1 por

iniciativa do governo do Rio Grande do Norte. Nessa época, houve o predomínio de um

sistema de produção bastante extensivo (baixa densidade de estocagem, com 0,5 a 1,0

camarão/m2) e pouco tecnificado. Nenhum tipo de dieta artificial era utilizado e os camarões

dependiam apenas de alimentos naturais existentes no próprio viveiro de cultivo.

Em meados dos anos 80, devido à falta de adaptação desta espécie às baixas

salinidades2 e à ausência de estudos que conduzissem ao alcance de uma produtividade

economicamente viável, substituiu-se o Penaeus japonicus pelas espécies nativas Penaeus

paulensis, Penaeus brasiliensis, Penaeus subtilis e Penaeus schmitti, as quais, no entanto,

também não apresentaram produtividade e lucratividade satisfatórias, ocasionando a

transformação de várias fazendas em salinas.

Entre 1982 e 1984, o governo federal financiou em torno de US$ 22 milhões em

projetos de carcinicultura, a custos bastante subsidiados, despertando o interesse de um

elevado número de pessoas físicas e jurídicas em obter financiamento (BORGHETTI;

OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003). A fim de instruir o processo de seleção dos

beneficiários, o governo estabeleceu critérios técnicos para a escolha dos interessados. Dentre

os requisitos estabelecidos, estava o uso obrigatório da espécie M. japonicus nos cultivos a

serem desenvolvidos e a instalação, em cada um dos 16 projetos financiados, de um

laboratório de pós-larvas. O insucesso da maioria desses projetos foi devido, sobretudo, ao

1 Denominado cientificamente naquela época de Penaeus japonicus (BORGHETTI; OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003). 2 O Marsupenaeus japonicus, durante praticamente todo o seu ciclo de vida, mais particularmente durante a fase de reprodução, necessita de águas marinhas extremamente limpas e de elevada salinidade para se desenvolver (BORGHETTI; OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003).

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uso da espécie M. japonicus, que revelou uma reduzida adaptabilidade às condições de cultivo

no País.

Dos projetos financiados, apenas um, a Fazenda Maricultura da Bahia, situada no

município de Valença, no Estado da Bahia, teve autorização para a utilização de outras

espécies. Visando a obter um nível de produção constante durante todo o ano, a empresa

experimentou cinco espécies (Litopenaeus vannamei, Litopenaeus stylirostris,

Farfantepenaeus penicillatus, Litopenaeus shimitti e Penaeus monodon), centrando,

posteriormente, sua produção exclusivamente no L. vannamei, por ter sido evidenciada a

viabilidade de cultivo. Na década de 1980, a Maricultua da Bahia foi consagrada a mais

produtiva fazenda brasileira. Merece salientar que, atualmente, este é o único dos 16 projetos

financiados que ainda se encontra em funcionamento.

Do ponto de vista comercial (mas não obrigatoriamente do ambiental), o início dos anos

90 foi um marco decisivo para o cultivo do camarão marinho no Brasil, quando se optou pela

introdução do L. vannamei em cultivos comerciais. A escolha desta espécie foi fundamentada

no fato de já ter sido cultivada com sucesso no Panamá e Equador e haver apresentado grande

capacidade de adaptação aos mais variados ecossistemas. O L. vannamei, que não é nativo, e

sim originário da costa do Pacífico, se tornou a principal espécie da carcinicultura brasileira.

Essa espécie se popularizou no país, consagrando a carcinicultura como a forma de cultivo

mais lucrativa da aqüicultura nacional.

Na primeira metade da década de 1990, quando os laboratórios brasileiros apresentaram

domínio quanto ao ciclo reprodutivo e de larvicultura do L. vannamei e começaram a

distribuição comercial de pós-larvas, os empreendimentos em operação e os que se

encontravam praticamente paralisados optaram pelo cultivo da nova espécie, adquirindo

índices de produtividade e rentabilidade superiores aos das espécies nativas. Naquela época,

as validações tecnológicas foram consolidadas, relegando-se ao passado a dependência de

importações, que constituíam vetores de doenças (BRASIL, 2001). Vale ressaltar que, no

Brasil, por questões sanitárias, desde 1997, não tem havido qualquer introdução de novos

plantéis dessa espécie. As gerações sucessivas, formadas a partir das matrizes importadas há

anos para o país, têm demonstrado excelentes desempenhos, tanto na fase de reprodução,

como de larvicultura e engorda, sendo válido afirmar que a partir dessa década, ficou

confirmada a viabilidade comercial da produção do L. vannamei no país (ROCHA, 2000).

Mais da metade da costa brasileira, cuja extensão é de aproximadamente nove mil

quilômetros, apresenta condições propícias para o cultivo de camarão marinho confinado, o

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que confere ao País um notável potencial para o desenvolvimento da atividade. Por este

motivo, a carcinicultura é uma atividade produtiva em plena expansão.

Dentre os vários aspectos que colocam a carcinicultura marinha brasileira em posição de

destaque no mundo, encontram-se (ROCHA, 2000):

♦ O domínio completo do ciclo reprodutivo do L. vannamei e a considerável

disponibilidade de pós-larvas;

♦ A disponibilidade de alimentos balanceados capazes de suportar a obtenção de

produtividades superiores a cinco ton/ha/ano;

♦ A progressiva demanda pelo camarão confinado, tanto nacionalmente quanto

internacionalmente;

♦ O aperfeiçoamento e desenvolvimento de uma tecnologia de manejo operacional,

envolvendo desde a utilização de berçários intensivos; comedouros fixos; aeração

artificial, especialmente, a sistematização do processo de manejo e correção do

solo e a adoção de medidas sanitárias com vistas à prevenção de doenças.

A adoção do L. vannamei em cultivos comerciais provocou uma grande revolução na

carcinicultura marinha brasileira; apesar de ocupar atualmente a sétima posição do ranking

mundial dos produtores de camarão cultivado, o Brasil já se destaca pelos altos índices de

desempenho técnico, econômico e social (ROCHA, 2003).

No ano de 2001, a mão-de-obra utilizada na cadeia produtiva da carcinicultura brasileira

beneficiou aproximadamente sessenta mil pessoas; a produção nacional ficou em torno de

quarenta mil toneladas; a área cultivada, em 8.500 hectares; e a produtividade média, em

4.700 kg/ha/ano (TABELA 1.1), conferindo ao Brasil a liderança mundial em termos

produtividade (BORGHETTI; OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003).

Já em 2002, a produtividade média nacional alcançada foi de 5.458 kg/ha/ano e a

produção de camarão cultivado, de 60.128 toneladas. Esse volume, embora pareça pouco

expressivo quando comparado à produção alcançada pela China (310.750 toneladas) e pela

Tailândia (260 mil toneladas), consagrou o Brasil como o maior produtor de camarão

cultivado do Hemisfério Ocidental, posição ocupada tradicionalmente pelo Equador, que foi

drasticamente atingido pelo vírus da Mancha Branca em 1999, e que, desde então, vem

tentando recuperar seu desempenho anterior (ROCHA; RODRIGUES, 2002).

Na TABELA 1.2, evidencia-se a evolução dos principais indicadores desse setor no País,

com destaque para o crescimento da produtividade média nacional, que passou de 900 mil

kg/ha/ano em 1996 para 5.458 kg/ha/ano em 2002.

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TABELA 1.2. Evolução do cultivo de camarão marinho no Brasil, 1996/2001

CAMARÕES MARINHOS 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

ÁREA (ha) 3.200 3.548 4.320 5.200 6.250 8.500 11.016

PRODUÇÃO (t) 2.880 3.600 7.250 15.000 25.000 40.000 60.128

PRODUTIVIDADE (kg/ha/ano) 900 1.015 1.680 2.885 4.000 4.705 5.458

Fonte: ABCC (2002 apud BRASIL, 2003), modificada.

Em 2001, o Estado do Ceará foi o principal produtor nacional, alcançando uma

produção de 11.333 toneladas. Em segundo lugar ficou o Rio Grande do Norte, com 9.061

toneladas e em terceiro lugar, o Estado da Bahia, com 6.840 toneladas produzidas. Nesse ano,

a região Nordeste foi responsável por 93,9% da produção brasileira de camarões cultivados.

No ano de 2002 (TABELA 1.3), houve uma predominância do Rio Grande do Norte no

que se refere a número de produtores (280), área explorada (3.591ha), produção (18.500

toneladas) e participação relativa (30,77%). Em seguida, por ordem decrescente de produção,

vêm os Estados do Ceará com 16.383 toneladas (27,25%); Bahia com 7.904 toneladas

(13,15%); Pernambuco com 6.792 toneladas (11,30%); Paraíba com 3.018 toneladas (5,02%);

Piauí com 2.818 toneladas (4,69%); Sergipe com 1.768 toneladas (2,94%) e Santa Catarina

com 1.650 toneladas (2,74%), considerando-se exclusivamente produções superiores a mil

toneladas.

Em se tratando da produtividade obtida em 2002, pode-se evidenciar que foram

conservados pelo Ceará o desempenho e a liderança reportada para 2001. Esse Estado

alcançou uma produtividade∗ média de 7.249 kg/ha/ano, superior em 32,8% à média nacional

(5.458 kg/ha/ano). Do ponto de vista das cifras atingidas pelo Rio Grande do Norte (5.152

kg/ha/ano) e pela Bahia (4.622 kg/ha/ano), a do Ceará foi superior, respectivamente, em

40,7% e 56,8%. Analisando-se o desempenho dos estados produtores, pode-se concluir que há

uma grande possibilidade de crescimento vertical da produção brasileira.

∗ As diferenças de produtividade nos estados brasileiros devem-se, principalmente, às tecnologias adotadas, a exemplo de aeração mecânica e controle de qualidade de água. Um outro fator que contribui para estas diferenças são as variações climáticas, uma vez que o L. vannamei apresenta maior produtividade em temperaturas mais elevadas. A temperatura ideal para o cultivo fica em torno de 25 a 30º.

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TABELA 1.3. Quadro geral da carcinicultura marinha nos estados do Brasil, 2002

ESTADOS N º DE FAZENDAS ÁREA (ha) PRODUÇÃO

(T) PRODUTIVIDADE

(kg/ha/ano) PARTICIPAÇÃO

POR ESTADO (%)RN 280 3.591 18.500 5.152 30,77

CE 126 2.260 16.383 7.249 27,25

BA 36 1.710 7.904 4.622 13,15

PE 74 1.031 6.792 6.588 11,30

PB 50 582 3.018 5.186 5,02

PI 12 590 2.818 4.776 4,69

SE 40 352 1.768 5.023 2,94

SC 41 560 1.650 2.946 2,74

MA 5 155 727 4.690 1,21

ES 10 97 250 2.577 0,42

PR 1 50 140 2.800 0,23

AL 2 16 100 6.116 0,17

PA 3 22 78 3.545 0,13

TOTAL 680 11.016 60.128 5.458 100,00

Fonte: Rocha e Rodrigues (2003), modificada.

Observa-se que, apesar de outros estados brasileiros contribuírem com o volume de

produção do país, os maiores responsáveis pela produção nacional são os estados do Nordeste.

Do ponto de vista macroregional esta região consolidou, no ano de 2002, a posição de maior

produtora do Brasil, com 58.010 toneladas (TABELA 1.4), implicando uma participação

relativa de 96,5% (FIGURA 1.2). Nesta região, o camarão está se tornando o principal produto

marinho. Isso se justifica pelo fato de o litoral nordestino apresentar condições ideais para o

cultivo do L. vannamei, geralmente utilizado no País.

TABELA 1.4. Produção de camarão marinho por regiões brasileiras, 2002

REGIÃO ÁREA (ha) PRODUÇÃO (ton)

NORTE 22 78

NORDESTE 10.287 58.010

SUDESTE 97 250

SUL 610 1.790

TOTAL 11.016 60.128

Fonte: Brasil (2003).

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O Nordeste

litorânea extensa

permite o cultivo

têm estimulado a

de tudo isso, esta

produção de pesc

Isso demonstra a

públicas que perm

96,50

Vale ressal

Brasil, 37.799.27

camarão exportad

e Itália (ROCHA

Nesse mesm

alcançando um v

se os Estados do

toneladas; e a Bah

Segundo

empreendimentos

total de fazendas

tem sido escolhido para sediar projetos dessa natureza por possuir faixa

, além de condições edafoclimáticas e hidrobiológicas favoráveis, o que

de espécies tropicais durante todo o ano. Além disso, os estados da região

implantação de criatórios por meio da redução de tributos. Em decorrência

região pode vir a transformar-se em um dos pólos de maior importância na

ado cultivado e ocupar uma posição de destaque no setor aqüícola mundial.

necessidade de uma intervenção decisiva do governo na adoção de políticas

itam o desenvolvimento sustentável da atividade.

3,00 0,40 0,10

0,0010,0020,00

30,0040,0050,0060,0070,00

80,0090,00

100,00

%

Norte Nordeste Sudeste Sul

Regiões Produtoras

Figura 1.2. Participação relativa das diferentes regiõesbrasileiras na produção de camarão marinho cultivado.Fonte: Brasil, 2003.

tar que, em 2002 das 60.128 toneladas de camarão cultivado produzidas no

0 foram exportadas, ficando no País apenas 22.328.730 toneladas. O

o foi destinado, principalmente, para os Estados Unidos, a Espanha, França

; RODRIGUES, 2002).

o ano, o Ceará assumiu posição de destaque em termos de exportação,

olume de 13.585 toneladas. Em seguida, por ordem decrescente, colocaram-

Rio Grande do Norte, com 11.377 toneladas; Pernambuco, com 5.413

ia, com 4.567 toneladas.

Rocha e Rodrigues (2003), há no País uma predominância de

de pequeno porte, que correspondem a 513 unidades, perfazendo 75% do

instaladas, apesar de ocuparem apenas 18,64% (2.053ha) da área total. Em

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seguida, estão colocados os de médio porte, em número de 130, representando 19,12% do

total de unidades, em uma área de 25,88% (2.053ha). Já os grandes produtores, apesar de

serem apenas 37, representando 5,44% do total, ocupam 55,48% de área (6.112ha). Merece

salientar que os limites utilizados pela ABCC para o enquadramento dos empreendimentos

quanto ao porte tiveram como base a Resolução CONAMA nº 312/2002.

1.2 A CARCINICULTURA NO LITORAL DO ESTADO DA BAHIA

As perspectivas para a carcinicultura na Bahia são muito semelhantes às do Brasil, uma

vez que o Estado, além de possuir as condições ideais para o cultivo de camarões, conta com a

infra-estrutura necessária para o desenvolvimento da atividade, como rodovias, portos e

aeroportos ao longo de seu litoral, o que oferece aos investidores melhores condições para a

implantação e operação de seus empreendimentos. Aliado a isso, o Estado conta com o

incentivo do governo, por meio da redução de tributos, devido à grande importância que a

atividade significa para a economia da região.

De acordo com o Macrodiagnóstico do Potencial da Bahia para a Carcinicultura

Marinha (BAHIA, 2003), realizado pela Bahia Pesca*, a Bahia, com o maior litoral do País,

cerca de 1.180 quilômetros, possui um potencial da ordem de cem mil hectares para a

implantação de projetos de carcinicultura. Até o ano de 2003, foram ocupados por viveiros de

camarão, 1.737 hectares (ROCHA; RODRIGUES; AMORIM, 2004), havendo uma

perspectiva, segundo informações da Bahia Pesca, de chegar a dois mil hectares em 2004, o

que se constitui em um número bastante irrisório quando comparado ao potencial que o

Estado possui para a produção de camarão.

Na Bahia, os principais pólos camaroneiros são os municípios de Jandaíra, Santo

Amaro, Valença, Maraú, Canavieiras e Caravelas (FIGURA 1.3).

O cultivo de camarão marinho no Estado tem alcançado resultados positivos, tanto no

que se refere à qualidade quanto à produtividade, o que o coloca entre os três maiores

produtores nacionais. As grandes responsáveis pela produção estadual são a Valença

Maricultura da Bahia (maior fazenda de criação de camarão do Brasil), localizada no

município de Valença, região do Baixo-Sul, e a Lusomar Maricultura, instalada no município

* Órgão setorial do SEARA, vinculado à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia, que tem como competência promover, executar e fomentar a política do desenvolvimento no setor pesqueiro e aquícola, no âmbito estadual.

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de Jandaíra, Litoral Norte. Juntas, essas duas empresas são responsáveis por,

aproximadamente, 90% de todo o camarão produzido na Bahia.

Figura 1.3. Principais pólos camaroneiros no Estado da Bahia. Fonte: Mapa elaborado com dados fornecidos pela Assessoria Técnica daBahia Pesca (comunicação pessoal, 2003).

Em 2003, a Bahia manteve o terceiro lugar em termos de produção nacional (9,10%),

quantificada em 8.211 toneladas, das quais 5.536 foram exportadas, gerando uma receita de

US$ 20.085.000. Essa produção foi alcançada nos 42 empreendimentos instalados no Estado,

os quais ocupam, conjuntamente, uma área de 1.737 hectares. Em termos de produtividade, a

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média estadual foi de 4.728 kg/ha/ano (ROCHA; RODRIGUES; AMORIM, 2004). Na

TABELA 1.5 evidencia-se a participação da Bahia no cenário nacional.

TABELA 1.5. Participação do Estado da Bahia no cenário nacional, 2003

BRASIL BAHIA PARTICIPAÇÃO

BA/BRASIL (%)

Nº DE FAZENDAS 905 42 4,64

ÁREA OCUPADA (ha) 14.824 1.737 11,71

PRODUÇÃO (T) 90.190 8.211 9,10

EXPORTAÇÃO (T) 60.846 5.536 9,09

EXPORTAÇÃO (US$ MIL) 244.560 20.085 8,21

Fonte: Elaborada com dados de Rocha; Rodrigues e Amorim (2004).

Com relação ao número e tamanho das fazendas implantadas no Estado (TABELA 1.6),

houve em 2003 uma predominância dos empreendimentos de pequeno porte, cujo número

correspondente foi de 29 unidades, representando 74,92% do número total de fazendas

instaladas. Apesar de somarem a maioria, esses empreendimentos ocuparam apenas 121

hectares. Já as propriedades de médio porte, apenas sete (19,56%), ocuparam uma área 147

hectares. Quanto aos de grande porte, embora correspondam a apenas seis unidades (5,52%),

ocuparam 1.469 hectares do total de 1.737 hectares de áreas de viveiros existentes no Estado.

TABELA 1.6. Distribuição do número e tamanho de fazendas no Estado da Bahia*, 2003 Pequenas < 10 ha

Médias > 10 < 50 ha

Grandes > 50 ha Total

Quant. Área Quant. Área Quant. Área Quant. Área

FAZENDAS 29 121 7 147 6 1.469 42 1.737 PARTICIPAÇÃO

(%) 74,92 18,84 19,56 27,88 5,52 53,28 100 100

Fonte: Rocha; Rodrigues; Amorim (2004).

* Os limites utilizados na tabela para o enquadramento das propriedades tiveram como base a Resolução CONAMA nº 312/02 (ANEXO B)

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Neste Estado, assim como em grande parte dos países produtores mundiais, o cultivo do

L. vannamei é realizado, tradicionalmente, em viveiros escavados. De acordo com a literatura,

esta forma de cultivo, da maneira como vem sendo desenvolvida, tem ocasionado

significativos impactos ao meio ambiente, a exemplo de destruição de áreas costeiras e,

conseqüentemente, eliminação e/ou redução da fauna e flora nativa; e poluição de corpos

hídricos.

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2. O CULTIVO DO Litopenaeus vannamei

2.1 CULTIVO MARINHO CONVENCIONAL

A carcinicultura marinha geralmente praticada no mundo refere-se à criação de

camarões em ambientes controlados, os quais, convencionalmente, são formados por tanques

de terra (FIGURA 2.1). Os principais sistemas de produção convencional de camarões

mundialmente utilizados podem ser classificados em: intensivo (30-120 camarões/m2,

alimentados exclusivamente com ração balanceada), semi-intensivo (5-30 camarões/m2, com

suplementação alimentar) e extensivo (1-4 camarões/m2, caracterizado por alimentação

natural). Os sistemas semi-intensivo e extensivo são os mais difundidos na maioria dos países

de Terceiro Mundo (ARANA, 1999). No Brasil, o sistema produtivo mais empregado é o

semi-intensivo.

2.1.1 O processo

O processo

reprodutores (adq

3 De acordo com Ar(Equador, México e

Figura 2.1. Vista aérea de uma fazenda de camarão (cultivoconvencional), localizada no município de Ituberá/Bahia. Fonte: (Bahia Pesca, 2003).

produtivo do Litopenaeus vannamei

produtivo do L. vannamei (FIGURA 2.2) se inicia com a introdução de

uiridos principalmente de fazendas litorâneas dedicadas ao seu cultivo)3 em

ana (1999), os reprodutores são comprados de países produtores situados na orla do Pacífico Panamá) e transportados por via aérea para o Brasil. Rocha (2000) afirma, porém, que desde

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laboratórios de larvicultura, onde são postos em um setor denominado de “maturação”. De

forma geral, os laboratórios de produção de larvas se dividem em dois setores distintos:

maturação e larvicultura.

No setor de maturação, fêmeas e machos são postos juntos em reservatórios de concreto

ou de fibra de vidro, com água em temperatura constante e alimento enriquecido em proteínas

e ácidos graxos. Nesse setor, ocorre o processo de maturação das fêmeas, as quais copulam

com os machos e produzem cerca de cem a duzentos mil ovos por desova. Após 24 horas, os

náuplios (primeira fase do desenvolvimento larval) eclosionam e são transferidos para o setor

de larvicultura, onde são colocados em tanques com densidade superior a cem animais por

litro. Na larvicultura, os naúplios sofrem transformações radicais na forma e no

comportamento, passando para as fases de protozóeia e misis, até atingirem a fase de pós-

larvas∗, o que ocorre em aproximadamente vinte dias. Durante os estágios larvais, é oferecido

alimento específico para cada fase, o qual consiste basicamente em microalgas, naúplios de

Artemia4 e ração microencapsulada (ARANA,1999).

Após esses estágios, as pós-larvas são, então, encaminhadas para o setor de preparação,

denominado de pré-berçário, ou seguem diretamente para os viveiros de engorda, onde são

estocadas em densidades que variam a depender do sistema de cultivo utilizado. O período de

engorda do L.vannamei dura em média três a quatro meses, e os animais são geralmente

despescados quando atingem 14 a 16 gramas.

Em se tratando da região nordestina, onde está localizada a maioria das fazendas

brasileiras de camarão, Paiva e Arraias (1997) citam densidades de camarões de 15

indivíduos/m2; tempo de cultivo de cem dias, resultando em três cultivos ao ano;

sobrevivência de 70%; e peso final de 12 gramas.

Ao longo do período de engorda, a alimentação dos camarões é feita com base em

rações balanceadas comerciais, compostas por 25 a 30% de proteína (DOTE SÁ, 2003), em

taxas diárias que variam de 25 a 5% da biomassa total. Essas taxas são maiores no início do

cultivo (ARANA, 1999).

1997 não há qualquer introdução de novos plantéis do L. vannamei no Brasil, uma vez que o país já apresenta o completo domínio do ciclo reprodutivo da espécie. ∗ Cada uma dessas fases é marcada por transformações anatômicas e fisiológicas que as caracteriza. 4 Também conhecida como “camarão de salmoura” e, internacionalmente, “Brine Shrimp” a Artêmia é um crustáceo que se constitui em um excelente alimento para o camarão em qualquer que seja seu estágio de vida. (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2002).

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REPRODUTORES MACHOS

OVOS

SETOR DE MATURAÇÃO

REPRODUTORES FÊMEAS

BERÇÁRIO

PROCESSAMCOMERCIA

PROTOZÓEIA MI

SETORLARVICU

Figura 2.2. Processo produtivo do Litope

COPULAÇÃO

NÁUPLIUS

DE LTURA

TRANSFORMAÇÃO

COMERCIALIZAÇÃO

CAMARÃO ADULTO

ENTO E LIZAÇÃO

VIVEIROS DE ENGORDA

SIS PÓS-LARVAS

naeus vannamei

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Existem duas formas de oferta de ração ao camarão, a lanço ou por meio de

comedouros5 fixos (bandejas de alimentação). O fornecimento de alimento a lanço pode ser

executado manual ou mecanicamente. Embora esse tipo de oferta de alimento seja menos

dispendioso, o uso de comedouros fixos oferece um maior retorno econômico, além de ser

ambientalmente mais favorável. Na TABELA 2.1 apresenta-se uma comparação entre os

métodos de arraçoamento a lanço e por meio de bandejas.

TABELA 2.1 Comparação entre os métodos de arraçoamento por bandeja e a lanço

ASPECTOS CONSIDERADOS BANDEJAS LANÇO

DISTRIBUIÇÃO DA RAÇÃO HOMOGÊNEA HETEROGÊNEA

PERDAS DE RAÇÃO PEQUENA GRANDE

POLUIÇÃO AMBIENTAL BAIXA ALTA

ACESSO DOS CAMARÕES À RAÇÃO MENOR MAIOR

COMPETIÇÃO PELO ALIMENTO MAIOR MENOR

PERMITE A AVALIAÇÃO DAS TAXAS DE ALIMENTAÇÃO SIM NÃO

TEMPO DE ARRAÇOAMENTO LONGO CURTO

CUSTOS OPERACIONAIS ALTOS BAIXOS

TAXA DE CONVERSÃO ALIMENTAR BAIXA ALTA

RELAÇÃO CUSTO/BENEFÍCIO FAVORÁVEL DESFAVORÁVEL

Fonte: Barbieri Júnior e Ostrensky Neto (2002), modificada.

O uso de bandejas de alimentação e o aumento na freqüência da alimentação

contribuem para a melhoria da qualidade da água e para o desempenho no desenvolvimento

dos camarões. Dentre os benefícios identificados pela utilização de bandejas fixas, estão

(DOTE SÁ, 2003):

♦ Minimização do processo de desintegração e perdas dos alimentos ofertados,

comuns no sistema convencional por lanço;

♦ Possibilidade de correção imediata do alimento fornecido a cada arraçoamento;

♦ Proporciona a observação intensiva e freqüente das condições gerais dos

camarões, devido à presença constante dos animais nos comedouros;

5 Os comedouros “são confeccionados com ‘virolas’ (arco de metal e borracha) de pneus, onde são fixadas telas de náilon de 1mm, utilizando-se, para isso, pregos de latão ou de ferro galvanizado. A elevada densidade da bandeja faz com que ela naturalmente afunde, sem a necessidade de qualquer outro sistema complementar de lastro. A bandeja é presa por cordas de náilon e afixada em estacas colocadas nos viveiros” (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2002, p. 219).

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♦ Avaliação mais efetiva da biomassa em cultura e maior eficiência na aplicação de

medicamentos e vitaminas, caso se façam necessários;

♦ Promoção da efetiva minimização da poluição da água e do solo em função da

retirada das sobras de alimento nos comedouros;

♦ Redução substancial da necessidade das trocas d’água, dado ao estado de boa

qualidade da água nos viveiros.

Os comedouros (FIGURA 2.3) são distribuídos uniformemente nos viveiros, em

proporção que varia de 20 a 50 unidades/ha, a depender da densidade de estocagem dos

camarões. O número de bandejas aumenta à medida que aumenta a densidade dos animais

(BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2002). A freqüência de fornecimento de ração

também depende da densidade de estocagem dos camarões, podendo variar de três a cinco

vezes ao dia. Ou seja, quanto maior a densidade de estocagem, maior é a freqüência de

arraçoamento. No caso do sistema semi-intensivo, a ração é fornecida três vezes ao dia.

2004/05/29

Com o obje

taxa de oxigênio

proporções de 2

oxigênio dissolvi

6 Os aeradores têm adifusão (o oxigênio ade oxigênio dissolvid

Figura 2.3. Arraçoamento mediante o uso de bandeja dealimentação.

tivo de eliminar o acúmulo de resíduos orgânicos e promover uma melhor

dissolvido, são, geralmente, realizadas nos viveiros trocas diárias de água em

a 5%. Ainda com a finalidade de promover o aumento da concentração de

do na água, os viveiros podem estar equipados com aeradores6.

função de incrementar o oxigênio dissolvido no período da noite, por meio do aumento da tmosférico entra na água) e de eliminar, também por meio do processo de difusão, o excesso o presente na água durante o período do dia.

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Kubtiza (2003) destaca três vantagens oferecidas pelo uso de aeradores artificiais nos

viveiros de cultivo, quais sejam:

♦ Condiciona aos camarões um melhor aproveitamento dos alimentos naturais;

♦ Garante uma melhor sobrevivência e desempenho dos crustáceos;

♦ Possibilita uma maior intensificação dos cultivos e, conseqüentemente, uma maior

produtividade.

Um outro benefício promovido pela utilização desses equipamentos é a redução da taxa

de renovação d’água nos viveiros, o que favorece o equilíbrio com o meio aquático adjacente.

A utilização de aeradores é uma prática bastante difundida nos cultivos realizados no

Hemisfério Oriental, particularmente na Tailândia, Índia, Taiwan, Japão e Malásia, onde os

sistemas utilizados são prioritariamente o semi-intensivo e o intensivo. No Ocidente, onde

predomina o sistema semi-intensivo, não é comum o uso de aeradores. Entretanto, no Brasil, a

utilização desses equipamentos, adotada em meados da década de 1990, está-se difundindo

muito rapidamente (ROCHA, 2000).

No Brasil, o emprego de aeradores artificiais tem promovido uma série de benefícios,

especialmente no que se refere ao aumento da produtividade e rentabilidade do cultivo.

Todavia o aumento de taxas de estocagem nos diversos sistemas produtivos e, aliado a isso, a

intensificação das taxas de arraçoamento podem ocasionar a deterioração da qualidade da

água utilizada nos viveiros e, conseqüentemente, da sanidade dos organismos cultivados,

comprometendo o próprio sistema de produção.

MANEJO DOS VIVEIROS

Para a prática do sistema de produção semi-intensivo, é necessária a adoção de critérios

rígidos quanto ao manejo do solo dos viveiros, principalmente no que se refere à minimização

de matéria orgânica e à eliminação de organismos predadores, competidores e elementos

patógenos. Por esse motivo, a maioria dos criadores adota entre as colheitas alguns

procedimentos nos viveiros, tais como:

♦ Revirada da camada superficial do solo;

♦ Mapeamento do pH do solo;

♦ Utilização de óxido de cálcio (CaO), na proporção de 500 kg/ha nas áreas úmidas

dos viveiros, sendo 50% antes e 50% depois da revirada do solo;

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♦ Utilização de calcário dolomítico, na proporção de 50% antes e 50% depois do

processo de revolvimento do solo.

Após cada despesca, os tanques drenados permanecem em repouso, por um período

mínimo de sete dias, para posteriormente serem realizados o revolvimento do solo de fundo e

a aplicação de calcário dolomítico na razão de mil a três mil kg/ha, a depender do pH do solo

(ROCHA, 2000).

Para a preparação dos viveiros de engorda, devem ser seguidas as seguintes etapas

(MUKHI e outros, 2001):

♦ Secagem → depois de cada ciclo, o fundo do viveiro deve ser devidamente

secado de modo a contribuir para a decomposição e mineralização de matéria orgânica,

oxidação de elementos tóxicos, como amônia, nitrato, sulfito de hidrogênio, metano e íons

ferrosos, e eliminação de algas filamentosas indesejáveis.

♦ Calagem → contribui para a oxidação de matéria orgânica em compostos mais

simples e aumenta o pH do solo. O pH do solo ideal para o cultivo de camarão está em trono

de 7.5 a 8.5. A adição da cal é executada com o solo ainda um pouco úmido.

♦ Aração → quando completamente seco, o fundo do viveiro é arado a uma

profundidade de 5-15cm e nivelado em direção à comporta de despesca. Realizado esse

procedimento, o viveiro está pronto para receber a água para o novo cultivo.

PROCESSO DE DESPESCA

No que se refere ao processo de despesca dos camarões, é comumente realizado por

meio da drenagem gradativa dos viveiros e utilização de malha apropriada. Dessa forma,

pode-se realizar mais freqüentemente o monitoramento do oxigênio dissolvido e da

temperatura.

Quando capturados, os camarões são removidos da rede e transferidos imediatamente

para caixas mergulhadas em tanques de resfriamento, contendo água a uma temperatura em

torno de 3 a 5ºC, para receberem choque térmico (ROCHA, 2000). O imediato resfriamento é

importante para a manutenção da alta qualidade do produto e diminuir a incidência do

fenômeno da “cabeça vermelha” e a aparição de melanose∗.

Depois de cheias todas as caixas no banho de gelo, são, imediatamente, encaminhadas

para um banho antioxidante. O produto utilizado com maior freqüência para esse tratamento é

∗ Pigmentação escura causada pelo depósito abundante de melanina (pigmento escuro das células animais).

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o metabissulfito de sódio. Muitas são as formas de uso do metabissulfito, entretanto a mais

comumente utilizada consiste em mergulhar o camarão resfriado numa solução de 7 a 8% do

produto por 7 a 10 minutos. A concentração e o tempo de imersão do metabissulfito variam

em função do tamanho do camarão. Um camarão pequeno, por exemplo, irá absorver o

produto com maior rapidez do que um grande, fazendo-se necessário, portanto, que o

tratamento seja adaptado às condições de cada caso (LUCIEN, 2003). O uso do metabissulfito

de sódio é comumente utilizado no processamento de camarão, pois com esse produto se evita

a propagação de bactérias e retarda o aparecimento de necroses (black spot), garantindo uma

melhor qualidade da carne e melhor conservação do produto (BARBIERI JÚNIOR;

OSTRENSKY NETO, 2002).

Depois de realizado o tratamento, os camarões são pesados, colocados em caixas,

cobertos com gelo e transferidos para o setor de beneficiamento ou comercializados. As

caixas onde os camarões são armazenados para transferência devem permitir a drenagem da

água, pois a manutenção dos animais em meio líquido provoca o enfraquecimento deles,

principalmente na região da conexão do cefalotórax ao abdome, resultando no amolecimento

do crustáceo, em virtude da absorção da água.

No intuito de reduzir o estresse dos camarões, o processo de despesca é executado

geralmente à noite, por ser esse o período de maior movimento dos animais e por possuir

temperaturas mais brandas.

2.1.2 Impactos da carcinicultura marinha tradicional

A carcinicultura marinha, como qualquer outra atividade que passa por rápido processo

de desenvolvimento, tem se expandido em várias partes do mundo, muitas vezes de maneira

desordenada, provocando grandes preocupações com relação aos impactos que pode causar ao

meio ambiente.

Diferentes tecnologias para o cultivo de camarão resultam em diferentes impactos

ambientais: os sistemas extensivos, por requererem grandes áreas de terra, contribuem para os

desmatamentos de extensas áreas de manguezais; enquanto isso, os sistemas intensivos têm

contribuído mais com os problemas da poluição causados pelas densidades de estoque e dos

inputs elevados de alimentação e de produtos químicos. As fazendas intensivas de camarão

poluem corpos d’água naturais pela descarga de efluentes das lagoas (NEILAND e outros,

2001).

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Embora a produção e o desempenho econômico da indústria de camarão cultivado se

tenham mostrado extraordinários, este acelerado crescimento tem ocasionado uma série de

efeitos ambientais e socioeconômicos adversos (ARANA; LANDESMAN; NEILAND e

outros, 1999, 1994, 2001), os quais têm sido bastante abordados na literatura internacional.

Em geral, as principais questões abordadas no que se refere ao cultivo de camarão

marinho estão relacionadas com as descargas de nutrientes e de matéria orgânica pelos

efluentes de viveiros, o uso de agroquímicos, a remoção de manguezais e conversão do uso da

terra. Todavia o meio ambiente biológico não deve ser o único a ser considerado, pois os

impactos são provenientes dos efeitos das atividades antrópicas sobre os meios físico,

biológico e socioeconômico, os quais se encontram profundamente associados.

EFEITOS NO MEIO NATURAL

• Descargas de nutrientes e de matéria orgânica pelos efluentes de viveiros

O impacto causado pelos efluentes oriundos da carcinicultura nos ecossistemas

aquáticos merece especial atenção. A eutrofização e a sedimentação provocadas por esses

efluentes podem resultar em modificações no meio ambiente e perda da fauna mais sensível

(CHAMBERLAIN, 2002).

A qualidade de água nos tanques de cultivo intensivo sofre processo de deterioração à

medida que aumentam a biomassa e os restos de alimentos ao longo do ciclo do cultivo. Da

mesma forma, deterioram-se as águas receptoras, caso seja ultrapassada a capacidade de

assimilação do ambiente (PRIMAVERA, 1998).

A quantidade de resíduos gerados em viveiros de camarão tem uma relação direta com a

ração oferecida e com o sistema de cultivo utilizado (MUKHI e outros, 2001). A ração não

consumida e o material fecal dos camarões oferecem uma contribuição direta para a poluição

dos viveiros sob a forma de matéria orgânica. Segundo Primavera (1998), do volume total de

alimento ofertado ao camarão, somente 16,7% (peso seco) são convertidos em biomassa

(assimilado); o restante volta para o ambiente sob forma de matéria orgânica ou fezes.

Os nutrientes oriundos da degradação dos restos alimentares, mudas e excrementos dos

camarões estimulam a produção adicional de matéria orgânica sob a forma de fitoplâncton

(BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2002; BOYD, 1992). Assim, o aumento da

densidade de estocagem conduz a um incremento alimentar, podendo resultar na deterioração

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da qualidade da água. Na FIGURA 2.4 sintetiza-se a geração de resíduos em uma fazenda de

cultivo de camarão.

oxig

oxig

entre

disso

1999

ALIMENTOS NÃO CONSUMIDOS

FEZES MUDAS

CAMARÃO

MATÉRIA ORGÂNICA EM DECOMPOSIÇÃO

NUTRIENTES

AUMENTO DO FITOPLÂNCTON

DETERIORAÇÃO DA ÁGUA

PERDA PARA O AMBIENTE

FORNECIMENTO DE ALIMENTO (RAÇÃO)

Figura 2.4. Geração de resíduos em uma fazenda de cultivo de camarão.

Quando presente em abundância, o fitoplâncton abala significativamente a dinâmica do

ênio dissolvido. Nesse caso, a excessiva fotossíntese, durante o dia, faz com que o

ênio dissolvido ultrapasse consideravelmente o limite de saturação; durante a noite,

tanto, o excesso de respiração do fitoplâncton leva ao completo esgotamento do oxigênio

lvido. A ausência de oxigênio conduz, inevitavelmente, os camarões à morte (ARANA,

).

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Embora diversos nutrientes promovam o aumento do fitoplâncton em tanques de cultivo

de camarões, nitrogênio e fósforo são os elementos mais importantes, em virtude de serem

adicionados em grandes quantidades à ração (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO,

2002). Assim, a superalimentação, a ração solúvel e instável na água e a ração com fraca

absorção e capacidade de retenção de nitrogênio são os fatores responsáveis pela elevada

carga de nitrogênio e fósforo nas águas residuais. Cerca de 30-40% da poluição por nitrogênio

são oriundos da ração não consumida. Presume-se que entre 63-78% do nitrogênio e 76-80%

do fósforo contidos no alimento oferecido ao camarão são perdidos no meio ambiente. O

nitrogênio é ingerido pelo crustáceo na forma de proteína e excretado na forma de amônia. De

forma geral, a quantidade total de fósforo e nitrogênio produzida em uma fazenda de cultivo

intensivo é 7-31 vezes a quantidade produzida em um sistema semi-intensivo (MUKHI e

outros, 2001).

Junto com a água que abastece os tanques de cultivo, são introduzidas outras fontes de

resíduos orgânicos, como algas filamentosas ou restos de fitoplâncton e o sedimento ou

material orgânico suspenso/solúvel. Resíduos provenientes do cultivo do camarão podem

conter ainda frações residuais de hormônios, antibióticos e outras substâncias terapêuticas.

Este assunto será objeto de maior abordagem quando se tratar adiante do uso de

quimioterapêuticos e biocidas.

Arana (1999), apoiando-se em Wang (1990), cita que a superprodução de algas e a

presença de sólidos em suspensão (resíduos não filtráveis) são os dois fatores que mais

agravam a qualidade da água de um tanque de cultivo de camarões. Embora a elevada

densidade de algas possa ser controlada por meio de contínuas renovações da água, um sério

problema pela descarga de efluentes é originado por esse processo.

Os efluentes resultantes dos viveiros de cultivo estão intimamente relacionados à

poluição do recurso hídrico que irá recebê-los. Como as águas receptoras desses efluentes,

muitas vezes, servem de fonte de abastecimento para fazendas de camarão vizinhas, outros

usuários (incluindo fazendas extensivas de camarão) sofrerão os efeitos adversos da poluição

dessas águas (NEILAND e outros, 2001). Neste contexto, torna-se evidente que a utilização e

reutilização da água se constituem em um meio para a disseminação de poluição e de

enfermidades de uma fazenda a outra.

Grande parte dos problemas atribuídos à carcinicultura sugere uma relação com o

número e intensidade de fazendas numa determinada área costeira. Segundo Macintosh e

Phillips (1992 apud ARANA, 1999), existem diversos exemplos em que o número de

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fazendas parece ter ultrapassado a capacidade de assimilação da área onde estão inseridas,

principalmente na Tailândia e em Taiwan.

• Uso de quimioterapêuticos e de biocidas

Além de ocasionar o aporte de nutrientes e de matéria orgânica no meio ambiente, a

produção de camarões em cativeiro origina o surgimento de outros resíduos, a exemplo de

substâncias químicas e antibióticos (freqüentemente adicionados ao alimento), os quais

podem interferir adversamente na qualidade da água e causar problemas ao homem ou ao

próprio cultivo.

Segundo Mukhi e outros (2001), o uso de produtos químicos terapêuticos e de drogas

promove um impacto negativo no bentos e necton naturais, em decorrência dos efeitos

ecologicamente tóxicos. Primavera (1998) enfatiza que o uso excessivo de substâncias

químicas resulta em efeitos tóxicos para a biota nativa e consumidores humanos, além do

desenvolvimento de resistências, no caso dos antibióticos.

Devido ao surgimento de um elevado número de enfermidades, tanto na larvicultura

quanto no período de engorda do camarão, os antibióticos passaram a ser utilizados

habitualmente em diversas partes do mundo, acarretando sérias conseqüências tanto

ambientais quanto econômicas, a exemplo da mortalidade de camarões, em virtude de

superinfecções, alterações morfológicas e desenvolvimento de resistência a essas substâncias.

O maior perigo do uso sem controle de antibióticos reside no fato de se criar resistência a

determinados patógenos (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2001).

Até a década de 1990, diversos quimioterapêuticos e biocidas eram utilizados de forma

indiscriminada. Atualmente, o uso de antibióticos vem sofrendo um cuidadoso controle. No

caso do Brasil, por recomendação da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC)

a todos os produtores industriais, o uso de antibióticos vem sendo evitado no processo de

engorda. O manejo adequado contribui, significativamente, para reduzir a necessidade de uso

dessas substâncias.

Uma forma de minimizar o uso de antibióticos nos laboratórios de camarão

(larviculturas) tem sido a utilização de probióticos, que se tornou, mais recentemente, uma

técnica extensamente difundida em todo o mundo. Na realidade, o que se faz é estimular o

desenvolvimento de bactérias benéficas ou, pelo menos, não patogênicas, para que elas

colonizem os tanques de cultivo e não deixem espaço disponível para a proliferação de

bactérias nocivas aos camarões (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2001).

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• Introdução de espécies exóticas no ambiente natural

Um aspecto da carcinicultura que merece ser considerado é a introdução de espécies

exóticas (como é o caso do L. vannamei) no ambiente natural, uma vez que, por mais

criteriosa que seja a forma de cultivo, há sempre a possibilidade de essas espécies

ultrapassarem as barreiras da área de criação e se reproduzirem em ambientes dos quais elas

não fazem parte.

Primavera (1998), apoiando-se em Lightner e outros (1992), cita que a condução de

estoques de camarão entre áreas de produção e/ou diferentes regiões geográficas propiciou a

introdução de cinco ou seis vírus de camarão em locais onde estes não existiam anteriormente.

Grande índice de mortalidade, resultando no colapso da produção nativa do Penaeus chinensis

na China no ano de 1993, pode ter sido provocada pela introdução de vírus transmitidos por

P. monodon, P. vannamei e P. japonicus.

Além dos patógenos e doenças, não se pode deixar de considerar que, a depender da

capacidade adaptativa dos organismos invasores e sua agressividade em termos de

concorrência com as espécies nativas, podem ocorrer uma dominância da espécie introduzida

e, conseqüentemente, uma redução da densidade populacional de algumas espécies que não

consigam competir com a exótica (MARQUES; JEFFMAN, 2004). A aclimatação da espécie

invasora pode promover sua reprodução, podendo resultar na eliminação de espécies

autóctones7 por competição ou predação, e ainda na modificação do habitat (DORST, 1977.

Primack e Rodrigues (2001) observam que a introdução de espécies exóticas é uma das

grandes ameaças à diversidade biológica. Enquanto os danos causados pela poluição,

fragmentação e degradação do habitat podem ser revertidos e reparados em um determinado

espaço de tempo, a remoção de espécies exóticas bem-estabelecidas pode ser inexeqüível

(PRIMACK, 1995 apud MARQUES; JEFFMAN, 2004).

• Ocupação de manguezais

Um outro aspecto bastante abordado com relação à atividade, além da poluição

provocada pelo lançamento de efluentes no meio ambiente, é a substituição de ecossistemas

terrestres por aquáticos. Um grave exemplo disso é a ocupação de áreas de manguezais por

viveiros de cultivo, o que resulta em efeitos tanto ambientais quanto sociais adversos.

7 Espécie originária do próprio lugar onde habita atualmente (MOREIRA, 1992).

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Os manguezais são ecossistemas de grande relevância ambiental e social, pois oferecem

contribuição para regulação do clima, abastecimento dos mananciais hídricos, proteção do

solo, preservação da paisagem, da estabilidade geológica, da biodiversidade, do fluxo gênico

da fauna e flora, além de favorecer qualidade de vida às populações humanas (MARQUES;

JEFFMAN, 2004).

Embora essas áreas sejam financeiramente mais atraentes, não são adequadas para o

desenvolvimento da atividade. A escolha desses locais pelos aqüicultores se baseia

simplesmente nos aspectos econômicos, relacionados à implantação e operação dos

empreendimentos, não considerando o grande valor ecológico e o socioeconômico, que, por si

só, justificam a preservação desses ambientes (NASCIMENTO, 2002).

Estudos qualitativos mostraram que os desmatamentos ou perdas de cobertura vegetal nos manguezais determinam erosão costeira pela perda de estabilidade da linha da costa, afetam a exportação de nutrientes e as espécies que dependem destas áreas para acasalamento, reprodução, crescimento dos filhotes e engorda, embora relações precisas ainda não tenham sido determinadas (BEVERIDGE e outros, 1994 apud NASCIMENTO, 1998, p. 47).

Apesar de diversos fatores (ocupação humana, agricultura, extração de madeira e

salinas) contribuírem para a destruição das florestas de manguezais no mundo, a conversão

dessas áreas em viveiros de camarão tem sido a maior causa da destruição desde a década de

1980 (PRIMAVERA, 1998), embora esse não seja o caso do Brasil.

Em termos globais, a devastação de manguezais para a instalação de fazendas de

camarões se constitui no mais criticado impacto ambiental causado pela carcinicultura.

No Equador, em 1987, aproximadamente 20% de áreas de mangue foram substituídos

por viveiros para criação de camarões. Na Tailândia, uma área superior a 100 mil hectares

também se transformou em viveiros para esse tipo de cultivo; resultando em graves efeitos

socioeconômicos, uma vez que, com a retirada destes ecossistemas, um potencial de pesca de

800 mil toneladas foi substituído por uma produção de apenas 120 mil toneladas de camarão,

cujo destino passou a ser quase que exclusivamente a exportação (WILKS, 1995). Na

Indonésia, dos 250 mil hectares de manguezais anteriormente existente, 112 mil foram

destruídos, sendo grande parte desta área ocupada por viveiros de camarões (NASCIMENTO,

1998). Em Bangladesh, de um total de 7.500 hectares existentes em 1967, restaram apenas

973 em 1988 (CHOUGHURY e outros, 1994 apud PRIMAVERA, 1998). Assim como esses

países, a China e Taiwan têm igualmente sofrido violento impacto ambiental, em decorrência

dos desmatamentos de florestas de manguezais (WILKS, 1995).

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No Brasil, conflitos característicos de usos de ecossistemas costeiros por fazendas de

camarão ainda não se revelam trágicos. Supõe-se que apenas 1% dos um milhão e

quatrocentos mil hectares estimados de florestas de manguezais foi destruído para a ocupação

por esses empreendimentos8 (SCHAEFFER-NOVELLI, 1989). Contudo a maioria dos

viveiros de cultivo encontra-se instalada em áreas de apicuns9 e antigas salinas (onde foi

realizado o desmatamento de mangues). Os demais viveiros estão implantados em áreas

supratidais∗, porém, mesmo assim, apresentam relação direta com os manguezais, em virtude

das escavações para aberturas de canais de condução de água (para abastecimento dos

tanques) e das descargas de efluentes (NASCIMENTO, 1998).

EFEITOS SOCIOECONÔMICOS

No que se refere aos aspectos socioeconômicos, a literatura internacional reflete uma

série de vantagens e desvantagens impostas pela carcinicultura marinha tradicional, dentre

elas se encontram: a conversão de ecossistemas e a conseqüente depauperação das

comunidades que dependem dessas áreas para a sobrevivência; a insegurança alimentar; e a

geração de ocupação e renda.

Segundo afirma Bailey (1988 apud ARANA, 1999, p. 82):

[...] o conflito pelo espaço adota proporções dramáticas quando os recursos naturais “multiuso” de propriedade comum (isto é, mangue ou floresta nativa) são transformados em recursos de uso único (apenas para a aqüicultura), por meio da apropriação privada do ecossistema em questão.

• Conversão de ecossistemas

A instalação de fazendas de camarão em áreas costeiras, principalmente em

manguezais, ocasiona sérios conflitos de uso com comunidades costeiras tradicionais.

Algumas comunidades ribeirinhas mantêm ampla relação de dependência com os recursos

proporcionados pelos manguezais, uma vez que deles provém boa parte das proteínas

(mariscos e peixes), tão essenciais à subsistência. Além disso, curandeiras utilizam diferentes

8 No Brasil, provavelmente, 25% dos um milhão e quatrocentos mil hectares da área total de manguezais foram destruídos devido à expansão de áreas urbanas para uso industrial, turístico, portuário, de habitação e exploração (NASCIMENTO, 2003). 9 Planície hipersalina, sem cobertura vegetal vascular, porém rica em algas e cianobactérias, que são fontes de carbono e de alimentos para crustáceos e aves (SCHAEFFER-NOVELLI, 2002 ). ∗ Zonas supratidais são as áreas que localizam-se acima das marés vivas ou de sizígias (marés de maior amplitude que ocorrem no Oceano Atlântico).

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produtos vegetais do mangue, fazendo uso de suas propriedades bactericidas e adstringentes,

na cura de diversas enfermidades comuns ao ambiente. O tanino, produto adquirido da casca

das árvores, é empregado para proteger as redes e as velas das embarcações. As áreas dos

manguezais são, portanto, de extrema importância para essas populações (GRASSO;

TOGNELLA, 1995).

Singh (1987 apud ARANA, 1999) resume diversos outros benefícios proporcionados

pelos manguezais tanto ao meio ambiente quanto à sociedade, dentre os quais muitos já foram

mencionados:

♦ Ajudam a prevenir enchentes;

♦ Funcionam como importantes sítios de procriação e crescimento de muitas

espécies de peixes e camarões;

♦ Oferecem diversos produtos tais como madeira, material combustível, material

para construção e alimentos à base de crustáceos, moluscos e peixes;

♦ Servem de base de sustentação para a pesca costeira por meio da exportação de

detritos e nutrientes, os quais constituem a base alimentar de todo um complexo

de organismos marinhos;

♦ Proporcionam uma inestimável oportunidade para a educação, estudos científicos

e turismo, devido à fauna e flora muito especiais;

♦ Funcionam como barreira a tormentas e ventos fortes, reduzindo dessa forma a

erosão da faixa costeira e ribeirinha;

No que refere a esse último ponto, há evidências sugestivas de que o desmatamento do

mangue da costa da província de Leyte (Filipinas) foi responsável pela morte de mais de sete

mil pessoas em 1991, devido à ação dos tufões (ARANA, 1999).

O Equador é citado como exemplo da lucratividade do cultivo de camarões em áreas de

manguezais, pela maioria dos empresários brasileiros, os quais afirmam ter aquele país

lucrado milhões de dólares exportando para outras nações. Entretanto o Equador enfrenta um

sério conflito econômico no setor pesqueiro, uma vez que, além de terem extinguido mais de

oitenta mil hectares de florestas de manguezais, superexploraram os estuários coletando larvas

e juvenis, tendo como conseqüência o abandono de viveiros em virtude da salinização dos

tanques e da ausência de larvas de camarão (MACIEL, 1991).

Embora fique evidente a exacerbada utilização de áreas de manguezais para a

construção de viveiros de camarão, Chamberlain (2002, p. 78) contra-argumenta as

afirmações feitas pela comunidade ambientalista de que grande parte da perda desse

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ecossistema é resultante de tais instalações. As justificativas dele baseiam-se no fato de que

“mesmo assumindo que ‘todos’ os 1.372.800 hectares de fazendas de camarão tivessem sido

construídos em áreas de mangues, apenas aproximadamente 3% dos manguezais históricos

teriam sido perdidos”.

Um fato que não se pode negar é que, embora o rendimento comercial das populações

de camarões por hectares de manguezais seja menor que o obtido nos tanques de cultivo de

camarões, deve-se levar em conta outras espécies de valor comercial, já que há uma

estimativa de que 60 a 70% do pescado da costa brasileira utilizam esses ambientes em, no

mínimo, uma fase do seu desenvolvimento (TURNER, 1977 apud COELHO JÚNIOR;

SCHAEFFER-NOVELLI, 2004).

Um outro conflito de uso gerado pela carcinicultura é a conversão de terras agricultáveis

em viveiros de cultivo. Iniciada a produção de camarão numa determinada área, pequenos

proprietários, principalmente os que se encontram endividados e sem perspectiva de investir

na atividade, são induzidos a vender as terras deles estimulados pela valorização.

Paralelamente a essa valorização, a salinização das terras agrícolas pela água dos viveiros de

cultivo adjacentes torna a venda a única opção. Dessa forma, caso não haja a absorção de

mão-de-obra local, o cultivo do camarão em determinadas áreas pode resultar no

deslocamento social, em vez de na melhoria dos padrões de vida (PRIMAVERA, 1998).

• Insegurança alimentar

Segundo relatam Landesman e Primavera (1994, 1998), o fato de terem as atividades

tradicionais substituídas por uma pequena oferta de emprego, aliado à exportação do camarão

produzido (que normalmente acontece)10, quando há uma necessidade local de proteínas, gera

conflitos com as populações tradicionais. Além do declínio de peixes, moluscos e crustáceos,

devido à perda de habitats de manguezais, a situação pode ainda ser mais agravada pelo fato

de serem retiradas do mar grandes quantidades de peixes pelágicos para serem utilizadas

como fonte de proteína do camarão cultivado na formulação da ração balanceada.

No que tange a essa última afirmação, Chamberlain (2002) esclarece que de forma

geral, para a fabricação da farinha de peixe, não são usadas espécies que servem para o

consumo humano, e que a farinha de peixe tem sido, tradicionalmente, utilizada como

alimentação para animais terrestres. Mesmo sendo suprimida totalmente da ração produzida

10 Grande quantidade do camarão cultivado mundialmente é destinada à exportação, sendo consumido localmente apenas cerca de 5-20% do total produzido (ROSENBERRY, 1991 apud PRIMAVERA, 1998).

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para a aqüicultura, a farinha de peixe teria que ser ininterruptamente fabricada a taxas

semelhantes para prover as necessidades alimentares dos animais terrestres. Diante do

crescimento da população e da carência de proteína animal no mundo, seria um desperdício a

não utilização das referidas espécies para a fabricação de ração.

Por outro lado, Primavera (1998) ressalta que os incentivos ao desenvolvimento da

aqüicultura, oferecidos por agências financeiras e internacionais, com a justificativa de

atender-se à demanda alimentar global, não se aplicam à carcinicultura, visto que a produção

dos crustáceos é direcionada, prioritariamente, “aos mercados exportadores de bens de luxo”.

• Geração de emprego e renda

A maioria dos benefícios gerados pelo cultivo de camarão marinho industrial fica

confinada a um número limitado de empresas privadas (LANDESMAN, 1994).

Quanto à oferta de emprego, Arana (1999) expõe a desvantagem social apresentada pela

carcinicultura marinha praticada em muitos países latino-americanos, visto que essa oferta é

limitada em função do sistema de cultivo que esteja sendo utilizado. De forma geral, quanto

mais intensivo é o cultivo, ou seja, quanto maior é o número de camarões por metro quadrado,

menor é o número de empregos disponíveis. De acordo com o mesmo autor, na maioria dos

casos, uma fazenda que pratica o cultivo semi-intensivo emprega, em média, um trabalhador a

cada dois hectares. No caso brasileiro, cada três hectares gera um emprego. Assim, a

carcinicultura proporciona reduzidas oportunidades de emprego para as populações costeiras e

rurais. Os empregos, quando existem, são direcionados para atividades temporárias, de baixa

remuneração e, na maioria das vezes, não oferecem segurança ao trabalhador (BATISTA;

TUPINAMBÁ, 2003).

Todavia, apesar de a oferta de emprego gerada pela carcinicultura marinha ser tratada

por muitos autores como uma desvantagem social, não se pode desconsiderar o número de

empregos totais gerados pela atividade. A geração de emprego aqui considerada refere-se à

cadeia produtiva do camarão marinho cultivado, a qual envolve, além dos principais elos

(larvicultura, viveiros de engorda e centros de processamento), também as indústrias

produtoras de rações, de insumos para preparo dos viveiros, de equipamentos e o segmento de

serviços (energia e transporte, incluindo os serviços portuários). Considerando apenas os

empregos provenientes da larvicultura, engorda e centros de processamentos, é gerado em

média 1,89 emprego direto por hectare e 1,86 emprego indireto (supridores de insumos e

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serviços), totalizando, assim, 3,75 empregos por hectare de viveiro em produção11

(SAMPAIO; COSTA, 2003).

É importante destacar que a ocupação gerada nos três principais elos da cadeia

produtiva do camarão apresenta características próprias. As fazendas de engorda contratam

mão-de-obra de caráter permanente e também sazonal, pois os empreendimentos de pequeno

porte absorvem trabalho extra durante os períodos de despesca e preparos dos viveiros para o

reinício do cultivo. Já as fazendas de portes mais elevados, em virtude do grande número de

viveiros em produção, conservam a mão-de-obra responsável pela despesca e preparação dos

viveiros. No caso dos laboratórios, o emprego sazonal é mínimo, e nos setores de

processamento praticamente inexiste.

Verifica-se que a distribuição de benefícios gerados pela carcinicultura marinha fica na

dependência do contexto socioeconômico e do modelo institucional. Isso significa dizer que a

atividade, a depender da escala de desenvolvimento, pode não gerar ocupação e renda

significativas para uma área que possua alta densidade populacional e onde forem fortes a

pesca artesanal ou agricultura (PRIMAVERA, 1998). No entanto é capaz de oferecer

oportunidades de emprego e renda para regiões de baixa produtividade econômica.

A carcinicultura marinha pode promover ainda outro efeito positivo. O fato de cultivar

camarões pode reduzir a captura desse crustáceo no meio ambiente, de forma a contribuir para

resguardar os estoques naturais contra a exaustão provocada pela pesca predatória. Essa

realidade, entretanto, encontra-se desacreditada pelas contradições observadas nessa forma de

cultivo, a qual se comporta, muitas vezes, de forma antiecológica.

No QUADRO 2.1 se resumem os principais impactos potenciais da carcinicultura

marinha tradicional. Os impactos foram sintetizados na forma de indicadores de pressão-

estado (situação)-resposta (PSR), conforme metodologia proposta pela Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

A estrutura PSR (FIGURA 2.5) considera as pressões exercidas pelas atividades

humanas (a exemplo de emissões poluentes ou mudanças na forma de uso do solo) sobre o

ambiente, as quais podem induzir a mudanças na situação do ambiente (tais como,

mudança nos níveis de poluentes no ambiente, diversidade do habitat, e cursos d’água). A

sociedade responde então às modificações das pressões ou situações com políticas

11 De acordo com Costa e Sampaio (2003), estes resultados foram obtidos por meio de dados coletados em estudos de casos e dados auxiliares fornecidos pelo Ministério da Agricultura (TEIXEIRA, 2003), pelo Censo de 2002, realizado pela ABCC (ROCHA; RODRIGUES, 2003) e pelo IBGE (por meio da Matriz de Insumos-produtos, publicada pelo Banco do Nordeste, AZZONI e outros, 2001).

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ambientais e econômicas e programas para prevenir, reduzir ou regular as pressões e/ou os

danos ambientais (OECD, 1994).

Sintetizando, a estrutura PSR apresenta as relações entre:

ESTADO (SITUAÇÃO)

MUDANÇAS

• Ambiente • Recursos naturais

Figura 2.5. Indicadores de pressão-estado-resposta.

PRESSÃO

ATIVIDADES HUMANAS

• Emissão de poluentes, • Desmatamentos, etc.

RESPOSTA (SOCIEDADE)

POLÍTICAS E AÇÕES

• Novas tecnologias • Legislação, etc.

As pressões que a atividade humana exerce sobre o ambiente;

A situação resultante ou a condição do ambiente;

A resposta da sociedade a essas condições para minimizar ou prevenir os impactos

negativos resultantes das pressões.

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QUADRO 2.1. Síntese dos principais impactos potenciais negativos da carcinicultura marinha tradicional

PRESSÃO ESTADO RESPOSTA

• Geração de resíduos resultantes de alimentos

não consumidos, de fezes e do metabolismo

de nutrientes.

• Deterioração da qualidade de água dos

viveiros e, conseqüentemente, de

ecossistemas adjacentes.

• Executar o adequado manejo alimentar;

• Utilizar bandejas de alimentação;

• Utilizar rações de alta qualidade, que sejam

mais atrativas e eficientes, ou seja, que

apresentem maior eficiência das taxas de

conversão alimentar.

• Lançamento de efluentes poluentes nos

ecossistemas naturais.

• Poluição por compostos orgânicos e

sedimentos;

• Executar o tratamento dos efluentes para a

remoção de poluentes, antes do seu

lançamento no ambiente natural; • Toxidade para a biota nativa e consumidores

humanos, por substâncias químicas; e

desenvolvimento de resistências a

antibióticos.

• Realizar o adequado manejo dos viveiros, a

fim de reduzir/evitar o uso de

quimioterapêuticos.

• Infiltração no solo pela água salgada dos

viveiros de cultivo.

• Salinização do solo e, conseqüentemente, do

lençol freático.

• Compactação do solo e revestimento dos

viveiros e dos canais de abastecimento e

drenagem.

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QUADRO 2.1. Síntese dos principais impactos potenciais negativos da carcinicultura marinha tradicional

PRESSÃO ESTADO RESPOSTA

• Fuga da espécie exótica para o ambiente

natural.

• Redução ou extinção de espécies autóctones

(naturais) por predação ou competição;

• Risco de dominância da espécie introduzida;

• Interações genéticas com as populações

nativas;

• Risco de disseminação de doenças.

• Utilizar mecanismos de proteção, com vistas

a impedir/reduzir a fuga dos indivíduos sob

cultivo para o ambiente natural.

• Ocupação e destruição de áreas costeiras de

interesse ambiental, principalmente de

manguezais.

• Eliminação e/ou redução da fauna e flora

nativas;

• Perda de produtos e serviços (material

combustível, material para construção,

remédios e alimentos, como crustáceos

moluscos e peixes).

• Recuperar as áreas degradadas ou compensá-

las, nos casos em que já não haja a

possibilidade de recuperação.

• Impedir a ocupação e degradação destas

áreas, observando-se a legislação ambiental

pertinente;

• Instalação de fazendas de camarão em áreas

de exploração de populações tradicionais,

sem ou com reduzida absorção de mão-de-

obra.

• Possível marginalização, desemprego rural e

migração das comunidades tradicionais de

suas áreas.

• Priorizar a ocupação em áreas estagnadas ou

em decadência econômica;

• Capacitar e absorver a mão-de-obra local.

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2.2 O CULTIVO CAMARÃO MARINHO EM VIVEIROS FLUTUANTES

Apenas como ilustração, tratar-se-á a seguir de outras formas de cultivo, contudo não

haverá maior aprofundamento quanto a essa questão, por ser o cultivo marinho convencional

o objeto central de estudo.

Conforme ficou evidenciado, o cultivo marinho convencional tem sido considerado

impactante ao meio ambiente, visto ser esse muitas vezes desenvolvido mediante tecnologias

inadequadas e/ou tradicionalmente realizado em áreas consideradas como de preservação

permanente ou contíguas a essas, resultando em sérios conflitos de uso com atividades

pesqueiras de populações tradicionais.

Estudos têm sido realizados por várias instituições do Brasil e do mundo sobre formas

“não convencionais” de cultivo como alternativa para a redução dos impactos sócioambientais

provocados pela indústria camaroneira. A carcinicultura em tanques-rede ou gaiolas flutuantes

tem-se apresentado como uma forma de minorar tais pressões.

A denominação de tanques-rede refere-se às unidades de cultivo formadas por materiais

que, na hora da colheita, se comportam como uma rede. Essas estruturas são, normalmente,

formadas por redes de multifilamento de poliamida, podendo a malha possuir ou não nós. Já

as gaiolas, na maioria das vezes, são formadas por material de contenção rígido, geralmente

telas de aço, ou com todo o perímetro da estrutura rígido, apresentando material flexível para

o fechamento das laterais e do fundo. O uso de tanques-rede é mais comumente empregado,

devido à facilidade de manejo, principalmente durante a colheita e a movimentação para a

manutenção e limpeza (ONO; KUBITZA, 2003).

A carcinicultura em viveiros flutuantes (FIGURA 2.6) tem-se revelado uma alternativa

bastante adequada para regiões litorâneas abrigadas (baías, estuários e enseadas), em que haja

restrições para a construção de viveiros tradicionais, quer por questões topográficas ou

ambientais (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2002, p. 303).

Nessa modalidade de cultivo, os camarões são confinados nas estruturas para a engorda

desde a fase juvenil até atingirem o tamanho comercial, em volume de água que não se limita

às dimensões do viveiro, uma vez que a circulação é garantida pelas paredes formadas por

tela. A esses animais são oferecidas rações nutricionalmente completas e balanceadas.

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A prática d

sido iniciada na

(CASTAGNOLL

continentes. No B

1995; ACCIOLY

No Brasil,

1980, no Estado

contou com o en

Instituto Francês

O primeiro

povoada por deze

econômica, socia

A tecnologi

devido, principal

Entretanto essa te

escala (LOMBAR

e o Paraná, têm-s

No Estado

forma de cultivo,

fase experimenta

direcionados no

artesanais.

Figura 2.6. Viveiros flutuantes, Guarapuá-BA.

o cultivo de animais aquáticos em viveiros flutuantes é muito antiga, tendo

Ásia, antes da década de 1950, com a finalidade de engorda de peixes

I, 2000), passando posteriormente por processo de expansão para todos os

rasil, entretanto, essa modalidade de cultivo é ainda incipiente (IFREMER,

; TOSTA; CÔRREA, 1999).

a carcinicultura marinha em viveiros flutuante foi iniciada na década de

do Rio de Janeiro, pelo pesquisador carioca Eduardo Lemos. A pesquisa

volvimento de organizações não governamentais, instituições privadas e do

de Pesquisas para Exploração do Mar (IFREMER).

projeto experimental foi executado em Barra do Serinhaém/Bahia (região

nas de pescadores artesanais), onde ficou constatada a viabilidade técnica,

l e ambiental da nova forma de cultivo.

a para o cultivo em viveiros flutuantes tem sido continuamente aperfeiçoada,

mente, à dedicação de instituições de pesquisa e da iniciativa privada.

cnologia parece ser viável somente para produções comerciais em pequena

DI; MARQUES, 2003). Alguns estados brasileiros, particularmente a Bahia

e destacado por estarem na linha de frente de projetos dessa natureza.

da Bahia, merece salientar a realização de dois projetos referentes a essa

um em Barra dos Carvalhos e outro na Vila de Garapuá, ambos ainda em

l. Esses projetos são coordenados pela Universidade Federal da Bahia, sendo

sentido de aperfeiçoar as atividades e adequá-las à prática dos pescadores

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O experimento desenvolvido em Barra dos Carvalhos é financiado pela Agência

Canadense de Desenvolvimento Internacional (CIDA). Já o desenvolvido na Vila de Garapuá

faz parte do “Projeto de Gestão dos Recursos Ambientais do Baixo Sul”, sendo executado

pela Fundação OndAzul e financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). Esse

último projeto conta com a parceria da Associação dos Moradores e Amigos de Garapuá,

Prefeitura Municipal de Cairu, CRA e Bahia Pesca.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CARCINICULTURA MARINHA EM VIVEIROS FLUTUANTES

Como toda atividade que utiliza recursos naturais, a carcinicultura marinha em viveiros

flutuantes apresenta vantagens e desvantagens. Baseado no modelo do projeto aqüícola

testado no Baixo Sul da Bahia, podem ser citados alguns benefícios produzidos pela atividade,

tais como: parceria entre o poder público, a iniciativa privada e pescadores regionais,

integrando as estruturas política, econômica e social; incentivo a mudanças de comportamento

dos pescadores; e estímulo à formação de associações.

No que se refere à mudança de comportamento, merece salientar que a atividade pode

incrementar o faturamento de pescadores artesanais, particularmente durante o período do

“defeso”12 dos camarões, resultando na diminuição da pressão sobre os estoques naturais e,

consequentemente, em sua proteção.

O cultivo não convencional de camarões caracteriza-se, basicamente, por ser uma atividade economicamente viável para as comunidades de pescadores artesanais, por não alterar quase nada da paisagem original das regiões costeiras e por ter um baixo impacto ambiental, já que justamente utiliza os ambientes naturais previamente gerados e posteriormente reciclados pela própria natureza (ARANA, 1999, p. 231).

Quanto à produtividade apontada para essa modalidade de cultivo, gira em torno de 25 a

30 toneladas de camarões/ha/ano. Embora esses valores excedam cerca de dez vezes as

produtividades alcançadas pelo sistema tradicional de produção, a carcinicultura em viveiros

flutuantes, quando comparada a esse sistema de cultivo, promove menores volumes totais de

produção. Isso acontece em virtude de ser o cultivo em viveiros flutuantes desenvolvido em

menor escala comercial que o convencionalmente adotado (LOMBARDI; MARQUES, 2003).

O grande problema do cultivo de camarões em viveiros flutuantes, apesar da elevada

produtividade, situa-se no fato de que, para se obter uma produção que seja competitiva

12 Período de reprodução, em que a captura dos animais é proibida por lei.

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comercialmente com a carcinicultura convencional, é necessária a utilização de grandes áreas

estuarinas. Isso implica sérias conseqüências na paisagem, navegação, ocupação de espaços

tradicionalmente utilizados pela mariscagem e pesca tradicional e, sobretudo, no risco do

acúmulo de metabólitos nas áreas imediatamente contíguas aos cultivos.

Não se pode, portanto, esperar que os cultivos de camarões em viveiros flutuantes

possam substituir a carcinicultura desenvolvida tradicionalmente. Conforme já foi dito,

existem grandes diferenças entre essas duas modalidades de cultivo, principalmente no que se

refere à escala de produção e ao perfil dos produtores. A finalidade dessa nova alternativa de

cultivo, conforme ressaltam Barbieri Júnior e Ostrensky Neto (2002, p. 303), não é “competir

com o sistema tradicional” e sim “ocupar um novo espaço”.

Por outro lado, embora não possam ser ignorados os benefícios econômicos produzidos

pela carcinicultura marinha tradicional, não devem ser igualmente esquecidos os potenciais

efeitos de suas demandas sobre os recursos naturais e as conseqüências sociais de suas ações.

Na verdade, o que deve ser considerado é que em qualquer ação produtiva têm que se

ponderar os potenciais impactos da atividade, procurando-se mitigar os efeitos negativos e

maximizar os positivos, de forma a atingir uma produção sustentável. Esse assunto será

abordado mais amplamente quando forem discutidas as questões de sustentabilidade do

processo no capítulo 3.

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3. PRODUÇÃO, MEIO AMBIENTE E COMUNIDADES COSTEIRAS:

UM DESAFIO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Do início da Revolução Industrial, no século XVIII, até o final do século passado, a

população mundial aumentou oito vezes. Cinco bilhões e meio de pessoas já habitavam a

Terra até esse período. A produção industrial aumentou mais de 100 vezes. A utilização da

água passou de 100 quilômetros cúbicos por ano para 3.600 nos últimos duzentos anos. A

diversidade das espécies está mais ameaçada do que nunca (KRANZ, 1997).

O aumento do número de seres humanos e de suas atividades tem provocado um grande

impacto no meio ambiente. Em menos de duzentos anos, o planeta perdeu cerca de seis

milhões de quilômetros quadrados de florestas. O volume de sedimentos triplicou nos

principais rios, em decorrência do volume de terra desgastada pelos processos erosivos. Os

gases de efeito estufa acumulam-se na atmosfera, elevando a temperatura planetária. A

camada de ozônio estratosférico está reduzida, e a chuva ácida causa danos tanto aos

ecossistemas aquáticos quanto aos terrestres. Vive-se numa época em que:

[...] parece ter encontrado uma palavra-chave para afirmar sua identidade, a globalização, um processo que se vincula a uma retórica apologética que pretende explicá-lo, justificá-lo, ou legitimá-lo. Um ponto focal dessa retórica é a tese de que o processo de globalização dos mercados é um imperativo tecnológico que há de se impor no mundo todo, independentemente da política seguida pelos países particulares. A globalização emerge então como uma verdadeira força do destino, a mais moderna das esfinges, que impõe aos periféricos, retardatários náufragos de um tempo perdido seu: ‘decifra-me ou te devoro’ (BARTHOLO, 2001, p. 1, grifo do autor).

Em proporções planetária, a tão falada globalização contemporânea caminha junto com

as crescentes concentrações de renda e exclusão social. Apesar de todas as “conquistas”

adquiridas pelo homem, milhões de pessoas ainda padecem na miséria e morrem por fome e

desnutrição. A injustiça e desigualdade social ameaçam a paz e a estabilidade mundial.

A Terra assemelha-se a uma espaçonave onde nem todos os povos ocupam as mesmas posições. Uma minoria da população do planeta ocupa a primeira classe da nave e consome 70% das reservas disponíveis. A imensa maioria dos passageiros ocupa os compartimentos de carga da nave. Mais de um terço destes padece de fome ou desnutrição e três quartos não têm acesso à água e acomodações dignas. Cada passageiro da primeira classe, a qual é quase totalmente proveniente dos países do mundo ‘desenvolvido’, produz um impacto nas reservas de recursos 25 vezes superior ao dos ocupantes dos compartimentos de carga (apud ARANA, 1999, p.102).

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De acordo com a opinião de muitos teóricos organizacionais radicais, apesar de se ter

avançado uma longa caminhada desde a exploração nua que marcou a escravidão e os anos

iniciais da revolução industrial, o mesmo padrão de exploração continua a existir hoje em dia,

embora de forma mais sutil.

A incapacidade do mercado em resolver a questão da justa distribuição de riquezas

produzidas é amplamente reconhecida. Entretanto, pouco discutida é sua igual inabilidade de

solucionar o problema de uma escala sustentável da economia. Quando se trata de distribuição

de riquezas, deve-se considerar não apenas a distribuição entre os diversos atores sociais, mas

também quanto sobra para as gerações futuras e para as outras espécies que também vivem

neste planeta. E isso requer uma política específica que conduza ao reconhecimento da

existência do capital natural13, de forma a alcançar a sustentabilidade da economia em relação

ao ambiente natural.

A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL NATURAL NA ECONOMIA

A ação imprudente e inconseqüente do homem, movida pelo atual paradigma, que

estabelece a busca avassaladora do crescimento econômico como principal estratégia para

alcançar o tão sonhado desenvolvimento, vem relegando o capital natural a segundo plano,

ocasionando, conseqüentemente, o desequilíbrio do meio ambiente por meio dos impactos

negativos a ele atribuídos.

A necessidade de se reconhecer a importância do capital natural, assim como a

valoração correta do ambiente natural e a inclusão desses valores na análise econômica

tornou-se imperativa, visto ser essa uma forma de tentar corrigir as tendências do livre

mercado. Na economia, o que torna relevante o reconhecimento do capital natural é que esse,

em virtude de sua crescente escassez, é atualmente o fator limitante do desenvolvimento

econômico, anteriormente controlado pelo capital manufaturado13 (MERICO, 1996).

Merico (1996) ressalta ainda que o pensamento econômico tradicional, em que se

considera a idéia de que o avanço tecnológico e o acúmulo de capital monetário são

substitutos do capital natural, não mais pode ser aceito, pois não há dinheiro ou tecnologia que

possam substituir os serviços ambientais prestados pela natureza. O capital natural e o capital

13 Estoque que permite o fluxo de recursos naturais (DALY, 1991). São os bens e serviços proporcionados pela natureza (MERICO, 1996). 13 Recursos materiais produzidos pelas atividades humanas (DENARDIN; MAY, 2004).

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manufaturado não são substituíveis um pelo outro, e sim complementares. Desaparecendo o

capital natural, o capital manufaturado perde seu sentido, pois perde seu fator complementar.

O atual contexto leva a crer na fundamental importância de se analisar o fluxo

energético dentro da economia, pois o acelerado crescimento entrópico14 que vem ocorrendo

no planeta nas últimas décadas pode ser reduzido por meio do controle de captação e uso de

mais energia que é necessária para sobrevivência da humanidade, já que o objetivo primário

da economia é atender às necessidades básicas, ou seja, a auto-preservação da espécie

humana.

O real objetivo do desenvolvimento deve ser a melhoria da qualidade de vida humana, e

para que isso ocorra é imprescindível que o homem reexamine seus valores e mude de atitude

com relação ao uso dos recursos naturais. Urge serem criadas estratégias que possibilitem aos

países transformarem suas atuais formas de crescimento, comumente destrutivas, em fonte de

desenvolvimento sustentável (CMMAD∗, 1988).

É preciso, portanto, desenvolver um novo conjunto de significados, um novo senso de

valores, capaz de redefinir nossas prioridades, rumo a um futuro justo, eqüitativo, solidário e

ambientalmente sustentável (JARA, 1988).

3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

“Dificilmente um princípio ou uma causa terá adquirido tanta adesão e consenso, em

escala planetária, quanto a necessidade de que o desenvolvimento se dê de forma sustentável”

(ASSAD, 2002, p. 10).

Desde o final do século XVIII, a necessidade de equilíbrio entre crescimento

demográfico e limites naturais à oferta de alimentos já havia sido expressada por Malthus

(1798). A preocupação com o desenvolvimento e direitos humanos, em termos amplos, tomou

dimensão em todo o planeta, entretanto, a partir da metade do século XX, quando a

consciência dos riscos ambientais impostos pelo nosso estilo de crescimento econômico já

servia de alerta a alguns cientistas (BURSZTYN, 2001).

Nas décadas de 1960 e 1970, os questionamentos sobre o meio ambiente começaram a

ter repercussão tanto no meio científico, quanto no meio institucional, o que culminou com a

14 Entropia é a quantidade de energia perdida na natureza, resultante da transformação de energia disponível em energia latente (dispersa), que não poderá ser utilizada para trabalho futuro (MERICO, 1996). ∗ Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

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realização da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano, em Estocolmo (1972), em

que foram assinados protocolos de intenções e compromissos de conservação e preservação

ambiental. Uma nova perspectiva de desenvolvimento surge a partir de então, considerando-se

como prioridade o equilíbrio entre o econômico, social e ambiental, fazendo emergir o

conceito de ecodesenvolvimento, definido por Sachs (apud ARANA, 1999, p. 132) como

“desenvolvimento endógeno e dependente de suas próprias forças, submetido à lógica das

necessidades do conjunto da população, consciente de sua dimensão ecológica e buscando

uma relação de harmonia entre o homem e a natureza”.

Baseado praticamente no paradigma do ecodesenvolvimento, nasce o conceito de

desenvolvimento sustentável, o qual, segundo o documento Nosso Futuro Comum, também

conhecido como Relatório Brundtland (CMMAD, 1988, p. 46), “é aquele que atende às

necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras

atendenderem as suas próprias necessidades”. O conceito de desenvolvimento sustentável

passou, a partir de então, a ser aplicado em substituição à expressão ecodesenvolvimento e

tornou-se o alicerce para as discussões e reorientação das políticas de desenvolvimento

(DUARTE; WEHRMANN, 2004).

Os antecedentes históricos indicam que o conceito de desenvolvimento sustentável não é apenas mais um modismo ou uma idéia brilhante das Nações Unidas, mas uma construção teórica para organizar uma nova postura da sociedade diante dos desafios do presente e do futuro e consistente com o novo paradigma de desenvolvimento (BUARQUE, 2002, p. 57).

A concepção de sustentável denota algo possível de ser suportável, conservável e

duradouro, dando uma idéia de continuidade. De acordo com o Relatório Brundtland (1988)

um passo inicial para se garantir a preservação do planeta e, conseqüentemente, a

sobrevivência dos seres humanos, seria eliminar a idéia desenvolvimentista neoliberal, na qual

são considerados apenas os lucros de uma minoria em detrimento da natureza e da sociedade.

O dever de se cuidar das outras pessoas e das outras formas de vida, no momento atual e

no futuro, é um princípio ético. Os bens e serviços, assim como os custos do uso dos recursos

naturais e da conservação ambiental, devem ser compartilhados entre as diferentes

comunidades e grupos de interesse. A justiça com as pessoas que vivem agora deve caminhar

ao lado da preocupação com as gerações futuras, visto que a solidariedade é um dos princípios

essenciais do desenvolvimento sustentável.

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Levando-se em consideração o panorama dos países pobres, a definição de

desenvolvimento sustentável é de difícil aplicação, uma vez que a variável social não está

sendo devidamente considerada:

A pobreza em si polui o meio ambiente. Os pobres e excluídos, forçados pelas carências e pela falta de acesso às condições adequadas de subsistência com freqüência destroem os ecossistemas imediatos e seu ambiente local. A exaustão dos nutrientes do solo, o desmatamento das florestas, o uso exagerado das terras marginalizadas são evidencias de comportamentos condicionados pela miséria. As comunidades camponesas mais pobres defrontam-se com um ambiente que se deteriora drasticamente. Na tensão entre sobreviver e preservar o meio ambiente opta-se pela destruição (JARA, 1988, p. 15).

Sachs (2000) chama a atenção para o fato de muitas vezes o termo sustentabilidade ser

empregado apenas para exprimir a sustentabilidade ambiental, uma vez que essa expressão

apresenta diversas outras dimensões. Para que o desenvolvimento seja efetivamente

sustentável, é necessário que considere pelo menos cinco dimensões, as quais serão aqui

apresentadas individualmente, embora estejam fortemente associadas:

A primeira delas, a sustentabilidade social, objetiva um desenvolvimento

socialmente justo, em que haja uma distribuição mais eqüitativa de renda,

contribuindo, dessa maneira, para a diminuição das desigualdades e eliminação

das injustiças sociais;

A sustentabilidade cultural deve vislumbrar o equilíbrio entre tradição e

inovação, buscando harmonizar as mudanças com a preservação das

características de cada grupo social;

A sustentabilidade ecológica deve ser contemplada para que a degradação dos

ecossistemas e a perda da qualidade ambiental, causadas pelo crescimento

econômico, não sejam o preço a ser pago pelas gerações presentes e,

conseqüentemente, pelas futuras gerações;

Uma outra dimensão a ser observada é a sustentabilidade espacial, cujo alcance

depende da distribuição territorial equilibrada de assentamentos humanos e

atividades, e de estratégias de crescimento ambientalmente seguras para áreas

ecologicamente frágeis;

A sustentabilidade econômica surge como uma necessidade, mas em hipótese

alguma se sobrepõe às demais, já que uma desordem econômica gera uma

desordem social, que por sua vez conduz a uma insustentabilidade ambiental;

Paralelamente a esses cinco postulados apresentados por Sachs (2000), existe uma outra

dimensão a qual não pode ser negligenciada: a político-institucional. Essa antecede as

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demais, uma vez que, por meio de normas, programas e políticas específicas, promove

condições necessárias para que o desenvolvimento de sistemas produtivos seja sustentável

(BURSZTYN, 2004).

Apesar da importância dessa dimensão, o atual contexto político-institucional se

apresenta como um amplo desafio à construção do desenvolvimento sustentável, uma vez que

o Estado se vê limitado pela ausência de condições de executar o seu papel regulador.

Isto é mais evidente em países que, como o Brasil, vivem um processo de desmantelamento da capacidade operativa do setor público, tanto na esfera da regulação (que pode se dar mediante ação executiva direta), quanto na da regulamentação (que significa o arcabouço de regras e normas públicas, disciplinadoras das ações privadas) (ASSAD, 2002, p. 12).

A instituição de políticas públicas que conduzam a procedimentos harmônicos com a

indispensável qualidade ambiental se configura como uma importante ferramenta de apoio à

promoção da sustentabilidade. Neste sentido, o Estado deve agir por meio de instrumentos

econômicos e normativos/legais. Necessita, ainda, utilizar-se de mecanismos contratuais, em

que o papel do poder público seja de mediador, garantindo, contudo, a legitimidade de

acordos, como ocorre com os processos de certificação validados pela credibilidade. “É o caso

também da instituição de um pacto ético, onde a produção de conhecimentos e de tecnologias

deixe de se orientar principalmente pela razão instrumental e pela lógica de mercado, para se

preocupar, acima de tudo, com o bem estar e a perenidade da vida” (BURSZTYN, 2001, p.

74).

3.2 SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS PRODUTIVOS

Na maioria dos países latino-americanos, o modelo de desenvolvimento predominante

traduz a sua insustentabilidade. Os sistemas produtivos em vigor refletem a intensa utilização

dos recursos naturais renováveis, provocando sua degradação. “O modelo supõe a introdução

progressiva do conhecimento tecnológico, mas não prioriza o manejo sustentável dos recursos

naturais, gerando contaminação, destruindo o meio ambiente” (JARA, 1988, p. 31).

Exercer o controle dos prejuízos causados pelos desperdícios resultantes dos sistemas

produtivos se constitui em um grande desafio na atualidade. Os desperdícios aqui

considerados referem-se a todos os resíduos, sejam eles sólidos, efluentes líquidos ou

emissões de gases, provenientes de matérias-primas que são perdidas nas fases de produção e

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que ocasionam, além de prejuízos econômicos, resultados catastróficos, muitas vezes

irremediáveis, ao meio ambiente.

No momento em que é reconhecida a iminente necessidade de se adotar um novo

paradigma de desenvolvimento, e considerando os potenciais efeitos adversos de sistemas

produtivos, torna-se imperativa a adoção de práticas responsáveis, do ponto de vista ambiental

e social, para que as atividades possam ocorrer em consonância com a conservação do meio

ambiente.

Essa necessidade aponta para o emprego da produção mais limpa, cuja finalidade é

atender às demandas de produção de forma sustentável. Ou seja: fazer uso eficiente de

materiais e energias renováveis, não danosas, considerando-se ao mesmo tempo a

conservação da biodiversidade. No sistema de produção limpa, é empregado um menor

número de materiais, menos água e menos energia. Nos processos de produção limpa,

questiona-se a real necessidade do produto ou se buscam outras formas de satisfazer ou

minimizar essa necessidade (GREENPEACE, 2004).

Barbier (1987 apud NASCIMENTO, 1998) define como tecnologias limpas para o

alcance da sustentabilidade os seguintes critérios:

Uso mínimo de recursos não renováveis;

Eficiência máxima de utilização dos recursos no processo industrial;

Exploração do recurso renovável a uma taxa natural de regeneração;

Redução dos níveis de geração de resíduos, adequando-os à capacidade

assimilativa do ambiente;

Alta prioridade nas ações preventivas ou minimizadoras dos possíveis efeitos de

uso dos recursos e acúmulo de resíduos nos ecossistemas local ou regional.

Por meio da produção mais limpa pode-se analisar de que maneira um processo

produtivo está sendo desenvolvido e identificar nas várias fases desse processo se há perda de

matérias-primas, o que facilita a melhoria do seu aproveitamento e a redução ou não geração

do resíduo. A produção mais limpa se constitui, portanto, em uma valiosa ferramenta para o

alcance do desenvolvimento sustentável.

Perante a conscientização da crise ambiental, é imperativo que, além de serem revistas

as formas de produção, sejam igualmente transformadas as atitudes da coletividade frente a

essas, pois:

[...] no centro do problema do desenvolvimento sustentável está o homem, que age conforme a capacidade própria de influir no seu destino e em função do meio em que vive. Se ele não possui capacidade crítica para decidir de forma a melhorar a sua qualidade de vida sem destruir o meio ambiente, o

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desenvolvimento será alcançado, mas não será sustentável (STREB e outros, 2000 apud CAMPOS, 2001, p. 10).

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E COMUNIDADES COSTEIRAS

Devido ao crescimento demográfico, o aumento da demanda alimentar nos países

subdesenvolvidos está cada vez mais evidente. Em decorrência da necessidade de expansão

do volume de produção de alimentos para satisfazer a essa nova configuração do mercado, o

fortalecimento dos setores de pesca e aqüicultura passou a ser uma meta fundamental a ser

atingida para a garantia da segurança alimentar da humanidade. Isso é proveniente do fato de

ambas, pesca e aqüicultura, serem consideradas tanto uma extraordinária fonte de proteínas,

quanto uma promissora alternativa de geração de ocupação e renda nas zonas costeiras

(VINATEA; VIEIRA, 2000).

Embora seja a pesca de incontestável importância para a garantia alimentar global, um

sério problema do esgotamento dos estoques pesqueiros vigora no mundo. Dentre as diversas

causas identificadas como responsáveis por esse conflito, Dias Neto (2002) cita o excesso de

esforço de pesca, o avanço tecnológico e os subsídios. Atualmente, é reconhecido pela

comunidade universal que o excesso de capacidade de pesca e de investimentos interfere de

forma negativa nos empenhos de conservação e ordenamento dessa atividade e ameaça a

sustentabilidade no longo prazo, inviabilizando, dessa maneira, uma maior contribuição para a

segurança alimentar.

O conflito planetário do setor pesqueiro tem interferido significativamente na qualidade

de vida dos povos litorâneos, em particular dos pescadores artesanais. Os estilos social e

ecologicamente predatório de expansão urbana, industrial e portuária também têm promovido

uma série de efeitos adversos nas regiões costeiras brasileiras, resultando na desestruturação

socioeconômica e político-cultural dessas comunidades (VINATEA; VIEIRA, 2000).

A aqüicultura é uma importante atividade econômica, com grande potencial para

contribuir com a oferta de alimentos (de alto teor protéico), geração de empregos, redução dos

níveis de pobreza e diminuição da superexploração de recursos naturais nas zonas costeiras

onde existem baixas opções de subsistência para as comunidades locais.

A produção em ampla escala de peixes e crustáceos em fazendas artificiais, poderia

ajudar a resolver o grande problema da desnutrição crônica mundial, por meio da oferta de

alimento para 1 bilhão de pessoas que carecem de proteínas. Além disso, salvaguardaria o

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pescado silvestre pela redução da pressão da pesca comercial (HOLLOWAY, 2003).

Entretanto há controvérsias sobre essas benesses, desde que essa prática está destruindo a

terra ao longo das costas e causando a poluição das águas, o que, em vez de ajudar a preservar

o peixe silvestre, pode promover a redução dos estoques.

Como qualquer outra atividade econômica transformadora de recursos naturais em

produtos de valor para a sociedade, a aqüicultura gera resíduos, os quais são destinados ao

meio ambiente. Se, por um lado, a aqüicultura é citada por alguns autores como uma atividade

com grande potencial para a imediata solução dos problemas vividos pelas comunidades

costeiras, por outro, esse tipo de produção, em particular a carcinicultura marinha tradicional,

tem provocado debates acirrados nos últimos anos sobre os custos e benefícios sociais e

ambientais gerados para as regiões litorâneas (ver capítulo 2). Além disso, merece lembrar

que, em vários países do mundo, a degradação dos ecossistemas estuarinos, provocada pelo

lançamento de efluentes de fazendas camaroneiras, contribuiu para a propagação de doenças,

prejudicando a própria atividade.

Evidentemente, os problemas ambientais que ocorrem hoje nas zonas costeiras e

litorâneas têm as mais variadas origens, não sendo resultantes apenas da carcinicultura. Com

isso não se pretende, porém, justificar que em decorrência de já existirem diversas pressões

nessas regiões, as fazendas de camarões não devam ser alvo de um rigoroso controle e

compromisso com uma produção sustentável, por meio da qual se garanta qualidade do meio

ambiente.

O que se deseja é chamar a atenção para a necessidade de estratégias efetivas de manejo

e gerenciamento, com vistas a tornar a atividade sustentável. Essas estratégias são necessárias

tanto para maximizar as contribuições positivas que o cultivo de camarão (ou outras

atividades desenvolvidas) possa oferecer para o crescimento econômico e a redução dos

níveis de pobreza em áreas costeiras, quanto para conter os efeitos sócio-ambientais negativos

que, eventualmente, possam acompanhar projetos mal planejados e regulamentados. Na

realidade, o objetivo a ser atingido deve ser a harmonização das carências humanas com a

conservação dos ecossistemas produtivos. O adequado manejo e gerenciamento desses

recursos possibilita uma exploração contínua e duradoura, beneficiando, sobretudo, as

comunidades costeiras menos privilegiadas, que vivem em condições econômicas precárias.

Sob esta perspectiva, o grande desafio é exatamente “buscar meios, propor alternativas

viáveis, implementar programas, que conciliem a exploração ambiental sustentável com o

mundo real e não tratar de descaracterizar as comunidades litorâneas, auxiliando-as por meio

do resgate de suas tradições” (BARBIERI JÚNIOR; OSTRENSKY NETO, 2002, p. 322).

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3.4 CARCINICULTURA MARINHA E MEIO AMBIENTE: O IMPERATIVO DA

SUSTENTABILIDADE

Conforme citado anteriormente, o rápido crescimento da carcinicultura marinha em

importantes áreas dos países costeiros tropicais tem provocado grandes preocupações no que

se refere à sustentabilidade ambiental. Embora seja uma atividade de grande importância

econômica, principalmente para regiões tropicais em desenvolvimento, os potenciais impactos

negativos, tanto de natureza ambiental quanto socioeconômica, traduzem a sua

insustentabilidade. Ao relacionarmos os efeitos ambientais e socioeconômicos da

carcinicultura marinha, os negativos parecem exceder os positivos. Apesar disso, não se pode

afirmar que essa modalidade de cultivo não possa ocorrer dentro dos padrões de

sustentabilidade.

A Food and Agriculture Organization (FAO) conceituou desenvolvimento sustentável

como:

[...] o manejo e conservação da base de recursos naturais e a orientação de uma mudança tecnológica e institucional, de tal forma que se assegure a satisfação continuada das necessidades humanas presentes e das futuras gerações. Tal desenvolvimento (na agricultura, floresta e setor pesqueiro), deve conservar a terra, a água, os recursos genéticos animais e vegetais, ser ambientalmente não degradador, tecnologicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável (FAO, 1988).

De acordo com essa definição, pode-se concluir que as práticas de cultivo de camarão

marinho, na maioria das vezes, não atendem aos princípios básicos da sustentabilidade.

Persistir, portanto, no atual modelo de desenvolvimento da atividade, no qual não são

consideradas as dimensões do desenvolvimento sustentável, significa estimular a exclusão

social, favorecer uma minoria economicamente privilegiada e impor ao meio ambiente a

perda da qualidade ambiental e a degradação dos ecossistemas.

Mas, o que fazer para que a carcinicultura seja

desenvolvida de forma sustentável?

Tomando-se como base os diversos impactos relacionados no capítulo 2 deste trabalho,

e considerando-se os critérios de sustentabilidade apresentados pela FAO (1988), serão aqui

discutidas algumas medidas necessárias para que a carcinicultura marinha possa ocorrer de

forma mais harmônica com o meio ambiente e a sociedade.

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3.4.1 Por uma carcinicultura ambientalmente não degradadora

A sustentabilidade ambiental está atrelada à conservação dos sistemas ecológicos. A

seleção de áreas para a instalação da carcinicultura deve levar em consideração a dimensão

ecológica, não devendo ser esquecido que a sustentabilidade da atividade, assim como de

qualquer outra do setor produtivo, também está subordinada à proteção dos recursos naturais.

As condições do ambiente natural devem ser observadas quando da concepção de

qualquer projeto de carcinicultura que pretenda ser sustentável. A intervenção em

manguezais, por exemplo, constitui-se, atualmente, como a maior barreira à sustentabilidade

ambiental da atividade, devido à grande importância ecológica e socioeconômica que esses

ecossistemas representam (vide capítulo 2), e por serem imprescindíveis à manutenção da

produtividade dos recursos naturais marinhos e ecossistemas associados.

As áreas a serem utilizadas para a instalação dos viveiros de camarão devem ser

cuidadosamente selecionadas, uma vez que, mesmo estando localizados em zonas supratidais,

podem acarretar efeitos danosos aos manguezais (ou mesmo a outros ecossistemas costeiros).

Este fato pode ser evidenciado, sobretudo, pela construção de canais para abastecimento e

drenagem dos viveiros nesses ecossistemas, embora a extensão dos possíveis impactos e os

limites de tais intervenções sobre essas áreas ainda não representem um consenso no meio

científico (ASSAD; BURSZTYN, 2000).

Dentre as estratégias para o alcance de uma carcinicultura ambientalmente sustentável,

deve-se abranger o planejamento do uso do solo, de forma a permitir uma ocupação ordenada.

Isso minimiza a probabilidade de efeitos danosos ao meio ambiente, permitindo a conservação

dos ecossistemas e outras formas de ocupação. Para tal, é preciso utilizar-se de ferramentas

como os estudos de impacto ambiental (EIA) e o zoneamento ecológico-econômico (ZEE).

O EIA é o melhor instrumento para avaliar projetos de carcinicultura e outros, ainda na

etapa de planejamento. Por meio desse, podem-se prever os potenciais efeitos ambientais de

atividades, encontrar formas de evitar ou minimizar impactos adversos e reestruturar os

projetos de forma que possam ajustar-se às condições do ambiente local.

O ZEE é uma ferramenta essencial para subsidiar o planejamento e a gestão da

exploração dos recursos naturais e, conseqüentemente, manter a conservação da

biodiversidade. Por meio desse instrumento, são identificadas as potencialidades regionais e

orientados os investimentos para que sejam realizados conforme a capacidade natural de cada

região. Com esse instrumento se deve buscar:

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[...] a sustentabilidade ecológica, econômica e social, com vistas a compatibilizar o crescimento econômico e a proteção dos recursos naturais, em favor das presentes e futuras gerações, em decorrência do reconhecimento de valor intrínseco à biodiversidade e a seus componentes (BRASIL, 2004a).

Outro aspecto da carcinicultura que merece aqui ser considerado é a questão da

biossegurança15, uma vez que a introdução de espécies exóticas, como é o caso do L.

vannamei, representa potenciais riscos para ambientes dos quais elas não fazem parte. Deve-

se ressaltar, entretanto, que no Brasil, embora se tenha ciência da introdução dessas espécies

em ecossistemas naturais, não foram registrados danos à biodiversidade e ao meio ambiente

(NASCIMENTO; SCHAFFER-NOVELLI, 2002, 2002). Todavia, fora do país, apesar de não

se ter conhecimento da completa dominância da espécie introduzida sobre espécies nativas, há

sinais sugestivos de efeitos negativos, tais como: destruição de habitats, afugentamento de

espécies locais por competição ou predação e degradação genética das comunidades locais, o

que, direta ou indiretamente, compromete a biodiversidade local (BEVERIDGE e outros,

1994, apud NASCIMENTO, 2002). Assim, ainda que as conseqüências deste fato sejam

pouco conhecidas, pelo princípio da precaução, torna-se necessária a adoção de medidas

preventivas, a fim de se evitar a fuga dos indivíduos sob cultivo para o ambiente natural.

Na busca da sustentabilidade ambiental da carcinicultura, outros problemas que

precisam ser evitados são a salinização de solos e a sedimentação de corpos d’água por

erosão. Para tal, é necessário que se tomem os devidos cuidados principalmente no que se

refere à compactação dos viveiros e dos seus canais de abastecimento e drenagem. Segundo

Dierberg e Kiattisimkul; Stroethoff e Hovers (1996 apud PRIMAVERA, 1998), o

revestimento de viveiros seria uma outra forma de mitigar esses efeitos, uma vez que pode

conter a erosão do solo e, conseqüentemente, a acumulação de sedimentos; facilitar a retenção

de sólidos e a sua remoção; reduzir a lixiviação de sulfatos ácidos; além de possibilitar a

localização de viveiros em terrenos arenosos improdutivos.

15 “Biossegurança é um conjunto de medidas sistematizadas, tomadas para prevenir o ingresso ou a disseminação de uma enfermidade em determinado território. Incluem boas práticas de manejo, métodos de diagnóstico, tratamento em caso de epidemia e técnicas que evitem a sua disseminação” (PEREIRA e outros, 2004, p. 55).

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3.4.2 Por uma carcinicultura tecnologicamente adequada

O passivo ambiental dos projetos de carcinicultura depende da tecnologia de cultivo

adotada. A ausência de uma tecnologia apropriada leva à propagação desordenada da

atividade, ultrapassando, muitas vezes, a capacidade de carga ambiental.

A capacidade de suporte do meio ambiente é um conceito essencial para o

desenvolvimento sustentável. É definida como a propriedade do ambiente e sua habilidade em

adequar uma atividade ou o seu grau de intensidade em particular sem ultrapassar os níveis

aceitáveis (GESAMP, 1996).

Segundo Macintosh e Phillips (1992 apud ARANA, 1999), modelos por meio dos quais

se possa avaliar a capacidade de suporte das regiões costeiras precisam ser desenvolvidos,

com a finalidade de se determinar a sustentabilidade em longo prazo das áreas a serem

utilizadas pelas fazendas de camarão e, conseqüentemente, disciplinar a atividade. Sobre esse

aspecto, é importante lembrar que o bom desempenho da carcinicultura está subordinado à

preservação dos ecossistemas costeiros, visto que a atividade só pode ser desenvolvida

mediante condições hidrobiológicas favoráveis.

O lançamento direto de efluentes, oriundos dos viveiros de cultivo, para os ecossistemas

de entorno tem sido também bastante questionado no que se refere à sustentabilidade da

carcinicultura. Tais efluentes, a depender da capacidade assimilativa do corpo receptor,

podem provocar redução das concentrações de oxigênio dissolvido, hipernutrificação,

eutrofização, aumento das taxas de sedimentação e alteração da estrutura das comunidades

bentônicas (OSTRENSKY, 2004).

No Brasil, problemas de deterioração do meio ambiente pelo lançamento de efluentes de

fazendas de camarão não foram evidenciados (NASCIMENTO, 1998). Contudo, pelo

princípio da precaução, torna-se necessário que se adote um diferente modelo de

desenvolvimento, o qual pode ser alcançado mediante práticas de tecnologias limpas, cujos

critérios de sustentabilidade foram definidos por Barbier (vide sub-item 3.2, deste capítulo).

Segundo Nascimento (1998), apesar de esses critérios poderem ser alcançadas em

qualquer sistema de cultivo (extensivo, semi-intensivo ou intensivo) empregado, eles serão

mais facilmente atingidos nos sistemas utilizados que estiverem mais próximos dos processos

naturais. Os sistemas extensivos (onde são utilizados alimento natural), por exemplo,

demandam menores incrementos de recursos processados externamente e não exigem o uso

de quimioterapêuticos na produção. Nesse método de cultivo, há uma redução de subsídios

energéticos e de custos. Já os sistemas intensivos necessitam de grandes inversões (a exemplo

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de ração e energia externa) e, geralmente, utilizam os recursos naturais de forma inadequada.

O cultivo praticado em regime extensivo é censurado por requerer grandes áreas para a sua

execução. Por outro lado, o cultivo intensivo é recriminado pelos problemas relativos ao

aumento das cargas poluidoras, o que faz com que a sustentabilidade, diretamente relacionada

com a conservação da qualidade ambiental, tenda ao declínio. Esse sistema de cultivo, na Ásia

e em alguns países do Centro Sul e da América, foi responsável por verdadeiros desastres

ambientais (CURRIE, 1994).

Fundamentando-se em análise, na qual a variável econômica também é considerada, e

desde que os problemas referidos anteriormente sejam mitigados, Primavera (1991 apud

NASCIMENTO, 1998) conclui que o sistema mais apropriado para o alcance da

sustentabilidade da carcinicultura é o semi-intensivo.

A partir da década de 1990, houve um progresso na tecnologia da carcinicultura em

viveiros escavados no que se refere à instalação das fazendas, ao design dos tanques e à

mitigação dos efeitos ecológicos dos efluentes. Esse último ponto tem sido alcançado,

principalmente, devido ao emprego de aeradores artificiais; de sistemas que tornam possível a

recirculação da água após filtração e retenção de partículas orgânicas em suspensão; e pela

melhoria da qualidade e oferta de alimentos em bandejas (NASCIMENTO, 1998).

Apesar de todos esses cuidados técnicos, a carcinicultura ainda apresenta um grande

potencial de impacto no meio ambiente, sobretudo quando se trata do cultivo intensivo.

Todavia a adoção de técnicas alternativas pode tornar esse tipo de cultivo mais sustentável. Os

efeitos negativos causados pelos efluentes oriundos dos viveiros nos ecossistemas de entorno

podem ser, consideravelmente, minimizados por meio do tratamento dos efluentes, que pode

ser realizado por meio físico (lagoas de tratamento) e biológico (uso de biofiltros).

Por serem ricos em nutrientes e microorganismos, esses efluentes possuem grande

potencial para o cultivo de moluscos e microalgas. O cultivo de ostras nativas nas fazendas

que utilizam o sistema semi-intensivo é economicamente viável para o produtor de camarão,

uma vez que o seu custo pode ser considerado baixo, além de proporcionar um rápido retorno

econômico. Apesar de os lucros obtidos pelo cultivo de ostras não poderem ser comparados

com os resultantes do cultivo de camarão, essa atividade, em contrapartida, repercute

favoravelmente nos aspectos sociais (por meio do incremento de mão-de-obra) e ambientais,

contribuindo, dessa forma, para que o desenvolvimento da atividade possa ocorrer de forma

mais sustentável (OLIVEIRA, 2002).

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3.4.3 Por uma carcinicultura economicamente viável e socialmente aceitável

O potencial de desenvolvimento econômico da carcinicultura marinha é indiscutível.

Todavia a sustentabilidade socioeconômica da atividade está sujeita ao atendimento das

necessidades essenciais dos seres humanos, que inclui maior oferta de emprego, melhores

salários e melhoria da qualidade de trabalho (acesso dos trabalhadores aos serviços

essenciais), além da conservação dos valores culturais.

Do ponto de vista social, a carcinicultura apresenta grandes perspectivas de

desenvolvimento para comunidades costeiras (particularmente para as que sofrem as

conseqüências da pesca extrativa), uma vez que apresenta expressiva possibilidade de

ampliação de mercado e por ser um setor da economia gerador de postos de trabalho. Num

momento em que a geração de ocupação e renda se constitui no grande desafio para qualquer

região brasileira, principalmente a nordestina, o cultivo do camarão marinho pode ser uma

alternativa bastante viável para o crescimento econômico dessas regiões, desde que, é claro,

seja absorvida a mão-de-obra local e que as fazendas sejam implantadas, prioritariamente, em

áreas de baixa produtividade econômica.

Uma carcinicultura socialmente justa deve contribuir o máximo possível para a geração

de emprego e renda. Uma das formas de alcançar esse objetivo é utilizar o mínimo possível a

mecanização tecnológica, uma vez que os procedimentos mecânicos, apesar de demandarem

menor utilização de tempo, limitam a oferta de emprego.

Atualmente, uma das técnicas que tem contribuído bastante para a oferta de emprego em

fazendas de camarão, é a adoção do sistema de comedouros fixos. Essa tecnologia requer

mais mão-de-obra, devido à necessidade de serem abastecidas todas as bandejas em

determinados horários (três a quatro vezes ao dia). Apesar de incrementar um maior custo

operacional, pela demanda intensiva de mão-de-obra, esse procedimento tem sido

amplamente difundido por diminuir expressivamente o desperdício de alimento e reduzir os

riscos de poluição pelo acúmulo de matéria orgânica. (ARANA, 1999). Assim, além de

contribuir para a conservação ambiental, a utilização desses equipamentos colabora para

tornar essa forma de cultivo mais socialmente sustentável.

O impacto positivo, em termos de oferta de emprego, pela carcinicultura merece ser

considerado. Entretanto, para que seja socioeconomicamente viável, é preciso que os

empregos gerados pela atividade apresentem um nível de produtividade que possibilite às

comunidades carentes viverem dentro dos moldes mínimos de consumo. Faz-se imperioso

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ainda que o alimento produzido pela atividade seja distribuído de forma eqüitativa. Ou seja:

que também seja direcionado para atender às demandas de comunidades carentes.

O cultivo de camarão marinho deve também considerar os valores culturais das regiões

costeiras, buscando-se harmonizar a nova forma de desenvolvimento com a conservação das

peculiaridades dos grupos sociais que vivem nesses locais.

Nesse contexto, a avaliação econômica do processo produtivo da carcinicultura marinha

deve contabilizar não apenas os retornos econômicos, mas também os ganhos ambientais,

sociais e culturais, os quais são de grande relevância para o alcance da sustentabilidade num

longo prazo.

A carcinicultura sustentável deve, portanto, ser entendida como a produção viável de

crustáceos ao longo do tempo, a qual se encontra apoiada em três princípios fundamentais:

prudência ecológica, eficiência econômica e eqüidade social. Assim sendo, a sustentabilidade

desse processo produtivo está atrelada à busca de soluções técnicas de cultivo, associada ao

contexto de produção mais limpa. Busca-se, ainda, a implantação de projetos compatíveis

com a conservação dos ecossistemas nos quais estão inseridos, por meio da minimização das

emissões potencialmente poluidoras e dos demais impactos ambientais. Desse modo,

resguarda-se o caráter de suporte dessa atividade para a indução de desenvolvimento local

sustentável, permitindo compartilhar os benefícios dos empreendimentos com gerações atuais

e futuras. Na FIGURA 3.1 apresentam-se as bases para a carcinicultura marinha sustentável.

Em busca de um conceito que sintetize a sustentabilidade dessa atividade, e tomando-se

como base os aspectos aqui analisados, chegou-se a seguinte definição:

Carcinicultura marinha sustentável é a produção eficiente de

crustáceos, compatibilizando a localização dos empreendimentos e seus

métodos de cultivo com a conservação dos ecossistemas costeiros,

aliados à promoção do desenvolvimento sustentável das comunidades

locais.

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PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

BUSCA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA

3. REDUÇÃO DE EMISSÃO DE POLUENTES; 4. MINIMIZAÇÃO DE INSUMOS (ENERGIA,

ÁGUA, RAÇÕES, ETC);

1. CONSERVAÇÃO DAS ÁREAS COSTEIROS; 2. COMPATIBILIZAÇÃO DA INTENSIFICAÇÃO

DA PRODUÇÃO COM A CAPACIDADE DE SUPORTE DOS ECOSSISTEMAS COSTEIROS;

5. GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA; 6. COMPATIBILIZAÇÃO DA PRODUÇÃO LOCAL

COM ATIVIDADES TRADICIONAIS; 7. REDUÇÃO DE IMPACTOS SÓCIO-CULTURAIS

SOBRE AS COMUNIDADES LOCAIS; 8. INSERÇÃO DE UNIDADES PRODUTIVAS

COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL LOCAL.

Figura 3.1. Bases para uma carcinicultura marinha sustentável.

CARCINICULTURAMARINHA

SUSTENTÁVEL

INDUÇÃO AO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL LOCAL

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Com base no exposto, pode-se concluir que a carcinicultura marinha convencional pode

ser desenvolvida de forma sustentável. O que se observa é que, geralmente, os impactos

negativos atribuídos ao cultivo de camarão decorrem tanto do manejo quanto da gestão

inadequada dos projetos.

Apresentar questões sobre manejo, apenas, como se fosse um problema ambiental, não é

uma atitude coerente. Na verdade, os problemas relacionados ao cultivo do camarão não se

constituem simplesmente em um problema de manejo, mas também de gestão ambiental16.

Em termos ambientais, os possíveis impactos causados pela atividade podem perfeitamente

ser controlados. Obviamente, para que isso aconteça, será necessário um maior investimento

por parte dos produtores.

A sustentabilidade da carcinicultura deve ser vista antes de tudo como uma solução

técnica, por meio da qual o processo tecnológico possa conciliar produção e conservação dos

recursos naturais costeiros. É evidente que essa sustentabilidade não está sujeita somente às

práticas desenvolvidas nos empreendimentos, mas também ao manejo integrado da região

costeira e de ações do poder público com vistas a prevenir ou compensar danos ambientais e

sociais (PRIMAVERA, 1998). Dessa forma, é imprescindível um maior conhecimento sobre a

estrutura e dinâmica dos ecossistemas costeiros, com vistas a se atingir um adequado

planejamento e o aproveitamento desses recursos de forma mais sustentável. Quando o

ambiente não é considerado como parâmetro para o planejamento das atividades, o processo

pode resultar em significativas alterações da estrutura e dinâmica do ecossistema interferido.

Nesse contexto, não se pode condenar essa ou qualquer outra atividade do setor

produtivo em virtude da possibilidade de um manejo ou gestão inadequada. O que é preciso,

pois, é que a atividade seja efetivamente controlada.

Um dos instrumentos de gestão ambiental mais importantes para o controle de

empreendimentos dessa natureza é o licenciamento ambiental, uma vez que estabelece as

condições necessárias ao alcance da sustentabilidade dos sistemas produtivos. A fim de

contribuir para o disciplinamento da carcinicultura, serão abordados no capítulo seguinte

alguns aspectos intrínsecos ao processo de licenciamento ambiental da atividade,

considerando-se como área principal de estudo o Estado da Bahia.

16 A gestão ambiental visa ordenar as atividades humanas para que estas originem o menor impacto possível sobre o meio. Esta organização vai desde a escolha das melhores técnicas até o cumprimento da legislação e a alocação correta de recursos humanos e financeiros (BRUNS, 2004).

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4. LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO PARA A

SUSTENTABILIDADE DA CARCINICULTURA MARINHA

Conforme abordado no capítulo anterior, para o alcance de uma produção sustentável, a

dimensão politico-institucional não deve ser negligenciada, uma vez que apenas o mercado

não conduz à sustentabilidade, carecendo de mediação reguladora do poder público. Essa é,

portanto, imprescindível para conjugar as lógicas individuais com as necessidades do bem

comum. Para regular, o Estado precisa estar amparado em políticas públicas, que se

manifestam por meio de leis, normas e instrumentos econômicos (ASSAD; BURSZTYN,

2000).

O Estado da Bahia vem consolidando e aprimorando o seu sistema de licenciamento

ambiental, o qual atingiu um patamar tecnológico que o credencia como altamente eficiente.

No que tange ao licenciamento de empreendimentos de carcinicultura, vem ocorrendo um

aceleramento da demanda, aliado a um panorama nacional de conflitos de competências e

multiplicidade de interpretações das normas legais.

Neste capítulo se discute o licenciamento ambiental da carcinicultura marinha

convencional como instrumento para a sustentabilidade, tendo como foco principal o Estado

da Bahia.

4.1 ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS

Devido ao rápido desenvolvimento dos países industrializados, sérios danos ambientais

e/ou sociais tornaram-se evidentes. Em contrapartida,

[...] as crescentes pressões da sociedade e o avanço da consciência ambiental que floresceram em virtude dos impactos ecológicos, econômicos e sociais, decorrentes da implantação dos mais diferentes tipos de empreendimentos, constituíram-se, em determinados países, em fatores fundamentais para a adoção de práticas adequadas de gerenciamento ambiental (ROSADO, 2000, p. 18).

Melhores padrões de qualidade de vida têm sido almejados, em decorrência do aumento

da conscientização pública, sendo incorporado, de forma geral, pelos governos, inclusive o

brasileiro, traduzido-se, na “[...] crescente preocupação quanto a materialização de ações

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preventivas, corretivas e propostas de alternativas de modelos de desenvolvimento”

(ROSADO, 2000, p. 18).

A partir da primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente, realizada em Estocolmo

(1972), nas ações desenvolvimentistas no Brasil foi-se, gradativamente, incorporando a

variável ambiental por força da criação de instituições públicas de proteção ambiental, a

exemplo da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) e de Órgãos Estaduais de Meio

Ambiente (OEMAs), e da crescente mobilização da sociedade, representada pelo movimento

ambientalista.

Na década seguinte, mais precisamente em 1981, foram estabelecidos objetivos e

instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81). Dentre os

instrumentos dessa Política, foi instituído (art. 9, inciso IV) o licenciamento ambiental18, cujo

objetivo (art. 10) é promover o prévio controle à “[...] construção, instalação, ampliação e

funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,

considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer

forma, de causar degradação ambiental [...]” (BRASIL, 1998a). Ao se exigir o licenciamento

ambiental para determinadas atividades ou empreendimentos, busca-se estabelecer

mecanismos de controle ambiental para as intervenções capazes de causar dano ao meio

ambiente. Licenciamento ambiental é, portanto:

O procedimento administrativo pelo qual a administração pública, por intermédio do órgão

ambiental competente, analisa a proposta apresentada para o empreendimento e o legitima,

considerando as disposições legais e regulamentares aplicáveis e sua interdependência com o meio

ambiente, emitindo a respectiva licença (SOUZA, 2002, p. 11).

O licenciamento ambiental é um instrumento de gestão ambiental que deve atuar

preventivamente no controle da qualidade do meio ambiente e na conservação dos recursos

naturais.

Licenciar uma atividade significa avaliar os processos tecnológicos em conjunto com os parâmetros ambientais e socioeconômicos, fixando medidas de controle, levando-se em conta os objetivos, critérios e normas para a conservação, defesa e melhoria do ambiente e, especialmente, as diretrizes de planejamento e ordenamento territorial do estado (SOUZA, 2002, p. 12).

Na Lei nº 6.938/81, no art. 10, estabeleceu-se caber o licenciamento ambiental aos

órgãos estaduais competentes, integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente

18 Apesar de só ter sido instituído nacionalmente em 1981, o licenciamento ambiental já vigorava em alguns estados desde o início da década de 1970 (ROSADO, 2000).

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(SISNAMA), e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA),

“em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis”17.

O SISNAMA encontra-se assim estruturado:

I - Órgão Superior: o Conselho de Governo;

II - Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional de Meio Ambiente –

CONAMA;

III - Órgão Central: o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da

Amazônia Legal;

IV - Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA);

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de

programas, projetos e pelo controle e fiscalização das atividades capazes de provocar

degradação ambiental;

VI – Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e

fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições.

Visando ao aprimoramento do licenciamento ambiental das atividades poluidoras, o

CONAMA aprovou a Resolução nº 237, de 19 de dezembro de 1997 (BRASIL, 2004b),

proposta por um grupo de trabalho formado no âmbito da Câmara Técnica de Controle

Ambiental desse mesmo Conselho, contanto com a representatividade de todas as esferas

envolvidas no sistema de licenciamento ambiental. Nesta Resolução se estabelecem as

competências privativas do licenciamento ambiental nos âmbitos federal, estadual e

municipal, quais sejam:

Ao órgão federal de meio ambiente compete, privativamente, o licenciamento de

“empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou

regional, conforme disposto no art. 4º, a saber”:

I - localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em países limítrofes, no mar territorial, na plataforma continental, na zona econômica exclusiva, em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União; II - localizados ou desenvolvidos em dois ou mais estados; III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais estados; IV - os destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEM;

17 Lei 7.804/89 (BRASIL, 2004c).

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V - bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.

Ao órgão de meio ambiente estadual ou do Distrito Federal, conforme o art. 5º da

mesma Resolução, cabe o licenciamento dos empreendimentos e atividades:

I - localizados ou desenvolvidos em mais de um município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente relacionadas no art. 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem consideradas por normas federais estaduais ou municipais; III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais municípios; IV - delegados pela União aos Estados ou Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio.

Ao órgão ambiental municipal cabe, desde que “ouvidos os órgãos competentes da

União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de

empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daqueles que lhe forem

delegados pelo Estado por instrumento legal ou convênio”.

Em fevereiro de 1998, foi criada a Lei nº 9.605, Lei de Crimes Ambientais (BRASIL,

1998b), em que se dispõe sobre as sansões aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio

ambiente. Esta lei fortaleceu a Política Nacional de Meio Ambiente, na medida em que

resolveu, no art. 60, apenar criminalmente o empreendedor que não licencie as suas

atividades. Na referida lei são contempladas, dentre outras, normas de proteção ambiental já

definidas em inúmeras leis anteriores, a exemplo da Lei nº 4.771/65, Código Florestal

(BRASIL, 1998c), Lei nº 6.938/81 (Política Nacional de Meio Ambiente) e Lei nº 7.661/88,

Gerenciamento Costeiro (BRASIL, 2004d).

Anteriormente aplicado apenas às indústrias de transformação, o licenciamento

ambiental passou, a partir da década de 1980, a envolver uma vasta gama de projetos, cuja

implantação possa, efetiva ou potencialmente, causar degradação ambiental (ROSADO,

2000); dentre eles se encontram os empreendimentos de aqüicultura.

Embora a aqüicultura venha sendo praticada há muitos anos, o regime legal que a

administra só recentemente tem sido objeto de maior detalhamento.

No caso específico da carcinicultura, o que há de mais recente, no âmbito federal, sobre

normas incidentes, são as Resoluções CONAMA nº 302, de 20 de março de 2002 (BRASIL,

2004e), em que se dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação

Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno; a de nº 303, de 20 de

março de 2002 (BRASIL, 2004f), em que se trata de parâmetros, definições e limites de Áreas

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de Preservação Permanente; e a de nº 312, de 10 de outubro de 2002 (ANEXO B), em que se

dispõe sobre o licenciamento ambiental de empreendimentos de carcinicultura na zona

costeira.

Segundo a Resolução CONAMA nº 312/02 (art. 4º), a classificação dos

empreendimentos individuais de carcinicultura em áreas costeiras se faz em categorias,

conforme a efetiva dimensão da área inundada (TABELA 4.1). Os empreendimentos com área

menor ou igual a dez hectares poderão ser licenciados por meio de licenciamento ambiental

simplificado, desde que esse procedimento tenha sido aprovado pelo Conselho Ambiental

(parágrafo 1º). Os demais empreendimentos ficam sujeitos ao processo de licenciamento

ambiental ordinário (parágrafo 3º).

TABELA 4.1. Classificação de empreendimentos de carcinicultura segundo a Resolução CONAMA nº 312/02

PORTE ÁREA EFETIVAMENTE INUNDADA (ha)

PEQUENO MENOR OU IGUAL A 10,0

MÉDIO MAIOR QUE 10,0 E MENOR OU IGUAL A 50,0

GRANDE MAIOR QUE 50,0

Nessa Resolução, em uma das considerações feitas para subsidiar a aprovação, em que

se lê:

Considerando a fragilidade dos ambientes costeiros, em especial do ecossistema manguezal, área de preservação permanente nos termos da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, com a definição especificada no inciso IX, Art. 2º da Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, e a necessidade de um sistema ordenado de planejamento e controle para preservá-los;

não ficam dúvidas quanto à intenção do CONAMA de preservar, sistematicamente, os

ecossistemas costeiros dos impactos negativos provenientes da atividade de carcinicultura.

Todavia, apesar da reconhecida importância, essa Resolução tem sido objeto de uma série de

discussões, particularmente quanto à aplicabilidade.

Dentre os aspectos mais abordados nacionalmente, com relação à aplicabilidade dessa

Resolução, podem ser citados:

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A inexistência de definição das áreas propícias para o desenvolvimento da atividade, a

serem determinadas por meio do Zoneamento Ecológico-econômico (art. 6º)18;

As dificuldades dos órgãos ambientais em licenciarem novos empreendimentos e

reverem, ao mesmo tempo, os já licenciados nos prazos estabelecidos (art. 13)19;

A omissão no que se refere à consideração dos apicuns como ecossistema manguezal;

Conflito de competências, federal e estadual, para o licenciamento desses

empreendimentos.

Apesar de se encontrar o licenciamento ambiental amparado na Resolução CONAMA

nº 237/97, esse último questionamento provocou uma grande polêmica nas regiões produtoras

de camarão. Alguns defendem que a competência para o licenciamento ambiental de

empreendimentos de carcinicultura nas zonas costeiras é da União. Outros entendem caber

aos Estados tal atribuição.

Mas, afinal, a quem compete o licenciamento ambiental desses empreendimentos? Aos

Estados ou à União?

No Estado da Bahia, as discussões sobre essa matéria não têm sido diferentes das

ocorridas nos demais estados produtores. Entretanto, sobre esse tema, se posicionou a

Procuradoria Geral do Estado (PGE), por meio do Parecer nº PA – 139/2003 (ANEXO C), de

11 de dezembro de 2003, entendendo ser de competência do órgão estadual integrante do

SISNAMA tal imputação, cabendo ao IBAMA atuar de forma supletiva nesse assunto,

conforme se versa no art. 10 da Lei de nº 6.938.

Conforme se aborda no referido parecer:

[...] em se tratando de licenciamento ambiental, o dispositivo da Lei nº 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, reserva ao órgão federal competência privativa para licenciar tão-somente aqueles empreendimentos ou atividades de grande impacto, cuja repercussão seja de âmbito nacional ou regional, sem nenhuma derivação para outros aspectos tais como a localização, característica ou natureza do

Ressalta ainda essa Procuradoria, no que se refere à instalação desses empreendimentos

na zona costeira, considerada patrimônio nacional, por meio do art. 225, parágrafo 4º da

Constituição Federal (BRASIL, 1988), que não ocorre qualquer interferência na competência

18 Art. 6º As áreas propícias à atividade de carcinicultura serão definidas no Zoneamento Ecológico-econômico, ouvidos os Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e em conformidade com os Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Gerenciamento Costeiro (Resolução CONAMA nº 312). 19 Art. 13 Esta Resolução aplica-se também aos empreendimentos já licenciados, que a ela deverão se ajustar. Parágrafo único. Os empreendimentos em operação na data de publicação desta Resolução deverão requerer a adequação do licenciamento ambiental, no prazo de noventa dias, a partir da data de publicação desta Resolução, e ajustar-se no prazo máximo de trezentos e sessenta dias contados a partir do referido requerimento (Resolução CONAMA nº 312).

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licenciatória. A norma constitucional não converteu em bens da União as áreas

compreendidas na zona costeira. Os bens da União são apenas aqueles enumerados nos

incisos I a XI do art. 20 da Carta Federal. Assim, não sendo a zona costeira área de domínio

exclusivo da União, e sim patrimônio nacional, não há em que se falar no deslocamento da

competência licenciatória do âmbito do Estado para a União.

Cabe ainda salientar que esse entendimento foi referendado, em 28 de janeiro de 2004,

pelo Procurador Geral do Estado da Bahia, no despacho do processo de nº 2600030088730

(ANEXO D).

4.2 LICENCIAMENTO AMBIENTAL E ATIVIDADES DE CARCINICULTURA NO

LITORAL DA BAHIA

No Estado da Bahia, o licenciamento ambiental está sob a responsabilidade do Centro

de Recursos Ambientais (CRA) e do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM)20.

O CRA ou o CEPRAM delibera sobre a expedição da licença ambiental requerida, a

depender do porte do empreendimento. De acordo com o previsto na Lei Estadual nº 7.799, de

07 de fevereiro de 2001, regulamentada por meio do Decreto nº 7.967, de 05 de junho de 2001

(BAHIA, 2001), o sistema de licenciamento ambiental nesse Estado está vinculado à

classificação do porte do empreendimento em cinco níveis (micro, pequeno, médio, grande e

excepcional), compondo-se das seguintes licenças:

Licença Simplificada (LS) concedida pelo CRA para empreendimentos e

atividades de micro ou pequeno porte. Contempla em uma só licença a análise quanto à

localização, implantação e operação do empreendimento. Esse procedimento, além de menos

oneroso, tornou mais rápido o processo de licenciamento, sem perda da qualidade técnica.

Licença de Localização (LL) - concedida pelo CEPRAM, na fase preliminar do

planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua localização e concepção,

atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a se

atender nas próximas fases da implementação. A concessão não autoriza a realização de

qualquer obra destinada à implantação do empreendimento. É na fase da LL que se decide

sobre a necessidade da exigência ou não de realização do Estudo de Impacto Ambiental e

respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA);

20 O CEPRAM é composto por representantes do Poder Público, de entidades ambientalistas e da Sociedade Civil. Criado em 1973, este foi o primeiro Conselho de Meio Ambiente do país.

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Licença de Implantação (LI) - concedida pelo CRA (ou pelo CEPRAM, no caso

de irregularidade do empreendimento, sendo essa a primeira licença) para a instalação do

empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos,

programas e projetos aprovados. Com a concessão dessa licença se autoriza o início da

implantação do empreendimento.

As Licenças de Localização e de Implantação equivalem, no âmbito federal, às Licenças

Prévia e de Instalação, respectivamente.

Licença de Operação (LO) - concedida pelo CRA (ou pelo CEPRAM, no caso de

irregularidade do empreendimento, sendo essa a primeira licença) para a operação do

empreendimento ou atividade, após a verificação do cumprimento das exigências constantes

das licenças anteriores e o estabelecimento das medidas de controle ambiental e

condicionantes a serem observadas para essa operação.

Licença de Alteração (LA) - concedida pelo CRA para a ampliação, diversificação,

alteração ou modificação de empreendimento, atividade ou processo regularmente existente.

Concluída a alteração da operação, é necessário que o interessado solicite ao CRA a

competente Licença de Operação da Alteração (LOA), a qual deverá ser incorporada na

próxima Renovação da Licença de Operação da atividade.

No Estado da Bahia, os critérios e procedimentos para subsidiar a análise do processo

de licenciamento ambiental de atividades de aqüicultura estão estabelecidos na Norma Técnica

NT - 001/99, aprovada pelo CEPRAM por meio da Resolução nº 2.110/99 (ANEXO E). De

acordo com essa Norma, a classificação dos empreendimentos de carcinicultura se faz

conforme os parâmetros estabelecidos na TABELA 4.2.

TABELA 4.2. Classificação de empreendimentos de carcinicultura segundo a Norma Técnica NT - 001/99

PORTE ÁREA (ha)

MICRO < 10

PEQUENO ≥ 10 < 50

MÉDIO ≥ 50 < 200

GRANDE ≥ 200 < 500

EXCEPCIONAL ≥ 500

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Com a edição da Nova Lei Ambiental (Lei estadual nº 7.799), alguns aspectos∗

previstos na Norma Técnica NT – 001/99 não foram recepcionados, estando, portanto,

inaplicáveis atualmente, motivo pelo qual essa norma encontra-se em processo de

reformulação. Contudo os parâmetros de enquadramento da nova lei são os mesmos da

Norma Técnica. Merece ressaltar que, no Estado, os empreendimentos com área menor que

cinqüenta hectares ficam sujeitos ao licenciamento ambiental simplificado, enquanto os

demais se submetem ao licenciamento convencional.

Note-se que os critérios estabelecidos para a classificação dos empreendimentos

contidos na NT - 001/99 não são compatíveis com os estabelecidos na Resolução CONAMA

nº 312/02. De acordo com o enquadramento estabelecido nessa última Resolução,

empreendimentos acima de dez hectares são classificados como de médio porte, necessitando,

portanto, do processo de licenciamento ambiental convencional. Esse foi um fato que

inquietou bastante os pequenos produtores de camarão, pois, caso houvesse a obrigatoriedade

de acatar as determinações do CONAMA, boa parte das pequenas propriedades teria seus

projetos inviabilizados, em virtude do maior custo com o processo de licenciamento.

Em relação a essa questão, a Procuradoria Geral do Estado da Bahia também

manifestou-se, indicando ser aplicável o enquadramento estabelecido no Anexo V do

Regulamento da Lei Estadual nº 7.799/01. Essa Procuradoria entende não ser o Estado

obrigado a seguir as determinações da Resolução CONAMA nº 312/2002. A justificativa é

que existe no Estado, uma Resolução do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM),

amparada por Lei Estadual, coerente com o disposto na Constituição Federal em que se

estabelece ser o meio ambiente matéria concorrente, podendo dessa forma o Estado legislar

sobre carcinicultura, desde que respeite os limites estabelecidos pela Lei Federal.

4.3 CARCINICULTURA: É POSSÍVEL LICENCIAR?

Devido às enormes perspectivas de crescimento que a carcinicultura marinha apresenta

na Bahia, e por ser o licenciamento ambiental uma das mais importantes ferramentas de que a

sociedade dispõe para orientar atividades dessa natureza, foram abordados os principais

∗ Como exemplo, pode ser citada a autorização ambiental, atualmente só admissível para a realização de atividades e serviços de caráter temporários, em prazo não superior a um ano.

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pontos que geram polêmica no órgão estadual, CRA, a fim de contribuir para esclarecer o

debate sobre o disciplinamento da atividade.

No que tange ao licenciamento ambiental de empreendimentos de carcinicultura,

existem no Estado da Bahia 29 propriedades licenciadas, classificadas em: micro (4); pequeno

(20); médio (2); grande (2); e uma de porte excepcional. Na TABELA 4.3 evidencia-se a

distribuição do número e tamanho das fazendas de camarão licenciadas no Estado até junho

de 2004.

Observa-se que do número total de empreendimentos licenciados (29) apenas oito

encontram-se em operação. Isso leva a inferir que, das 42 fazendas (vide TABELA 1.5, página

35) em funcionamento, registradas por Rocha; Rodrigues e Amorim (2004), trinta e quatro

encontram-se em funcionamento sem a devida regularização ambiental.

TABELA 4.3. Distribuição do número e área de fazendas licenciadas no Estado da Bahia, até junho de 2004, em operação e não instaladas

PORTE MICRO

< 10 ha

PEQUENO

≥ 10< 50 ha

MÉDIO

≥ 50< 200 ha

GRANDE

≥ 200<500 ha

EXCEPCIONAL

≥ 500 ha

TOTAL

Fazendas Nº Área Nº Área Nº Área Nº Área Nº Área Nº Área

Em

Operação 1 10,0 4 121,6 1 150,0 1 400,0 1 515,0 8 1.196,6

Não

Instaladas 3 14,5 16 408,5 1 133,6 1 200,0 - - 21 756,0

Total 4 24,5 20 530,1 2 283,6 2 600,0 1 515,0 29 1.953,2

Fonte: Dados obtidos por meio de levantamento em processos junto à Coordenação de Atendimento ao Público eDocumentação Técnica (ATEND) do CRA, 2004.

É importante salientar que existem processos de licenciamento no CRA cujas licenças

não foram deliberadas por não serem ambientalmente viáveis. Na maioria dos casos, são

empreendimentos que pretendem instalar-se ou já estão instalados em Áreas de Preservação

Permanente (APPs), contrariando, assim, as normas legais existentes.

Dentre os principais pontos identificados no CRA, no que diz respeito à não-deliberação

das licenças pretendidas, os mais expressivos são as instalações de viveiros de cultivo e

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aberturas de canais para a condução de água e abastecimento dos criadouros, em áreas de

manguezais (FIGURAS 4.1 e 4.2, respectivamente). Vários empreendimentos existentes no

estado encontram-se implantados nestes ecossistemas, não tendo sido levada em

consideração, pelos investidores, a sua grande importância e fragilidade ambiental. Embora se

evidencie atualmente uma maior conscientização, por parte de alguns criadores de camarão,

sobre a necessidade de proteção ao meio ambiente e de que sem a observância de

determinados critérios o próprio cultivo tende a ser prejudicado, essa conscientização ainda é

muito frágil.

Um exemplo disso é o que vem ocorrendo em Salinas da Margarida. Neste município é

bastante comum a ocupação por viveiros de camarão em áreas de manguezal ou muito

próximos a essas. Os criadores alegam que se trata de antigos viveiros de peixes, que foram

(ou estão sendo) adaptados à carcinicultura. Na região, existem em torno de 15 pequenas

fazendas implantadas nessas áreas. Dessas, um número superior a dez encontra-se autuadas e

embargadas por ação do Ministério Público Federal (MPF), sendo que seis delas estão

também sob ação civil pública. Merece ressaltar que dois desses últimos empreendimentos

tiveram suas licenças concedidas pelo CRA, sendo uma em 2003 e a outra em março de

200421. Esse último dado foi constatado por meio do levantamento, no CRA, das portarias

emitidas, referentes a esses empreendimentos.

21 Informações obtid

Figura 4.1. Viveiro de camarão em área de manguezal.

as na gerência executiva do IBAMA/Salvador-BA.

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Figura 4.2. Abertura de canal para abastecimento decriadouros de camarão em área de manguezal.

É importante salientar que muitas dessas fazendas foram instaladas há vários anos, em

áreas anteriormente ocupadas por salinas ou viveiros de peixes. Registre-se que na época da

implantação de alguns desses empreendimentos não havia dispositivo legal exigindo-se o

licenciamento ambiental. Vale lembrar, ainda, que entre 1982 e 1984 houve incentivo

econômico, por parte do governo federal, para o desenvolvimento da atividade de

carcinicultura no País, sendo, inclusive, permitida a ocupação em áreas de manguezais.

Ocorre que grande parte destas fazendas é de propriedade de pequenos investidores, que

têm nelas o único meio de sobrevivência, e ainda que outras, de maior porte, são fontes de

emprego e renda locais.

Esses fatos têm preocupado, consideravelmente, os técnicos responsáveis pela análise

dos projetos, que questionam:

As fazendas implantadas em áreas de preservação permanente, a exemplo de

manguezais, devem ser licenciadas?

A abertura de canais em áreas de manguezais pode ser permitida? Em que medida?

Ou sob que parâmetros?

O que fazer com estes empreendimentos? Que medidas deverão ser adotadas? É

possível licenciá-los? De que maneira?

Além dessas preocupações, outras foram manifestadas pelos técnicos do CRA.

Pontuaram-se, pois, as questões abordadas e que também carecem de imediata resposta:

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A licença ambiental deve permitir a implantação de empreendimentos em áreas de

apicuns? Apicum é parte do ecossistema manguezal?

No intuito de responder a essas questões, buscou-se, então, coletar informações na

literatura e nos órgãos ambientais dos quatro principais estados produtores de camarão

(IDEMA22/Rio Grande do Norte, SEMACE23/Ceará, CRA/Bahia e CPRH24/Pernambuco),

como forma de contribuir para a análise dos aspectos identificados, considerando se existem

nos estados:

a) Normas estaduais específicas para a carcinicultura;

b) Licenciamento para empreendimentos de carcinicultura já consolidados em áreas de

manguezais;

c) Autorização para aberturas de canais de abastecimento de viveiros em áreas de

manguezais;

d) Permissão para a instalação de viveiros de cultivo em áreas de apicuns;

e) Zoneamento ecológico-econômico (ZEE) das zonas costeiras.

Deve-se salientar que o ZEE foi considerado na pesquisa realizada por ser uma

ferramenta essencial para subsidiar o planejamento e a gestão da exploração dos recursos

naturais e, conseqüentemente, manter a conservação da biodiversidade. Assim como o

licenciamento ambiental, o ZEE é um dos principais instrumentos da Política Nacional de

Meio Ambiente, encontrando-se legalmente determinado tanto pela Constituição Federal

quanto pelas disposições da Lei nº 6.938/81, do Decreto nº 99.540/90 (BRASIL, 2004g) e do

Decreto Federal nº 4.297/02 (BRASIL, 2004a).

Na pesquisa realizada apresentam-se as seguintes situações nos estados:

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

No Rio Grande do Norte não existe uma resolução própria para subsidiar o

licenciamento ambiental da carcinicultura. O Estado segue a Resolução CONAMA nº 312/02.

Os empreendimentos de carcinicultura já instalados em salinas abandonadas ou em

antigos viveiros de peixes são licenciados nesse Estado, desde que não seja evidenciada a

regeneração da vegetação de mangue nessas áreas. No caso da implantação em áreas

adjacentes aos manguezais, é exigido pelo Estado que se mantenha um recuo mínimo de vinte

22 Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente. 23 Superintendência Estadual de Meio Ambiente. 24 Agência Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

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metros do mangue para os taludes dos viveiros. Para os empreendimentos já instalados não é

exigido o recuo. Em se tratando de áreas onde não existam manguezais, mesmo para os

empreendimentos já em funcionamento, o recuo exigido depende da largura do rio, conforme

se estabelece no art. 2º da Lei Federal nº 4.771(Código Florestal).

A abertura de canais em manguezais para o abastecimento dos viveiros é admitida,

desde que não haja vegetação nessas áreas; e, caso haja, o órgão licenciador exige a

apresentação de autorização de desmate fornecida pelo IBAMA.

O Estado autoriza a instalação de empreendimento em áreas de apicuns, exigindo

entretanto, que sejam preservadas, no mínimo, 20% dessas áreas.

O zoneamento ecológico-econômico do Rio Grande do Norte encontra-se em fase

final de elaboração.

ESTADO DO CEARÁ

No Estado do Ceará as atividades de carcinicultura são licenciadas com base na

Resolução COEMA nº 02/02 (ANEXO F).

Nesse Estado as fazendas de camarão localizadas em áreas de salinas desativadas ou

de antigos viveiros de peixes, são licenciadas, desde que essas áreas não apresentem sinais de

regeneração do mangue e que não estejam localizadas no interior do manguezal.

No caso dos empreendimentos localizados em zonas de influência flúvio-marinha e em

que haja a presença de formação de vegetação de mangue, o órgão estadual estabelece a

manutenção de um corredor de reserva de, no mínimo, dez metros entre a parte posterior da

formação vegetal e as instalações dos empreendimentos.

A abertura de canais em áreas de preservação permanente não é permitida. O

abastecimento e drenagem dos viveiros são realizados por meio de tubulações, que tanto

podem ser aéreas quanto enterradas no solo. Os equipamentos de abastecimento e drenagem

limitam-se a uma ocupação de, no máximo, 5% de cada faixa, no trânsito pela área de

preservação permanente. Para cálculo da limitação, considera-se o total do ecossistema

localizado defronte da propriedade, ao longo do recurso hídrico onde se fizer o abastecimento

ou se lançar à drenagem.

A utilização desses equipamentos em APPs só é autorizada se essas áreas não estiverem

colonizadas por formações vegetais, não sendo, portanto, admitido o desmatamento nesses

ecossistemas.

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Nos casos em que já existem aberturas de canais nessas áreas (canais a céu aberto), é

exigida a adequação do empreendimento, conforme as normas estaduais (uso de tubulações) e

a recuperação da área utilizada.

Com relação aos apicuns, as licenças são concedidas nesses ecossistemas desde que

se preserve, no mínimo, 20% dessas áreas, cuja localização é definida pela SEMACE. Quando

existem empreendimentos circunvizinhos, as áreas definidas para preservação são,

preferencialmente, contíguas. Esse percentual de 20% não é incorporado ao de reserva legal

da propriedade.

Para os empreendimentos já implantados no estado e que ocupam toda a área de

apicum, é exigido, como medida compensatória, o acréscimo do dobro da área que seria

preservada como reserva legal do empreendimento.

Quanto ao zoneamento ecológico-econômico das zonas costeiras, já se encontra em

execução no Estado, com previsão de conclusão até o final de 2004.

ESTADO DE PERNAMBUCO

O Estado de Pernambuco possui seu próprio regulamento (Resolução CONSEMA nº

02/02, ANEXO G) para o licenciamento da carcinicultura nas zonas costeiras, o qual se baseia

na Resolução CONAMA nº 312/02.

Nesse Estado, às antigas fazendas já instaladas em áreas de manguezais, ainda que

anteriormente ocupadas por salinas ou antigos viveiros de peixes, não são licenciadas pela

CPRH. Os processos referentes ao licenciamento desses empreendimentos são remetidos ao

IBAMA para análise, por serem essas áreas bens da União.

Quanto às solicitações para a instalação de novos empreendimentos em áreas de

preservação permanente, evidentemente, não são acatadas.

No que se refere aos empreendimentos localizados em áreas onde ocorre a presença de

manguezais, é exigido pelo Estado um afastamento mínimo de trinta metros, entre a parte

posterior da vegetação e o empreendimento, considerado pelo limite da base externa dos

taludes.

A instalação de equipamentos (tubulações) para abastecimento e drenagem das

fazendas de camarão em APPs é permitida, desde que não impliquem desmatamentos. A área

máxima permitida a ser ocupada por esses equipamentos é 5%. Para cálculo da limitação,

considera-se o total do ecossistema localizado defronte da propriedade, ao longo do recurso

hídrico onde se fizer a captação ou se lançar a drenagem.

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Nesse Estado, é permitida a ocupação para atividades de carcinicultura em 30% das

áreas de apicuns existentes nas bordas continentais voltadas para áreas estuarinas, podendo

chegar a 50% por meio de compensação de área de reserva legal suplementar na propriedade,

mediante termos de compromisso. No caso de os apicuns estarem localizados no interior de

manguezais, são totalmente preservados.

O zoneamento ecológico-econômico das zonas costeiras já foi realizado no Estado.

ESTADO DA BAHIA

Na Bahia, os empreendimentos e as atividades de carcinicultura são licenciados com

base na NT – 001/99 (Resolução CEPRAM nº 2.110/99).

Em se tratando dos empreendimentos já instalados em manguezais (ou em outras

áreas de preservação permanente), é importante salientar que alguns foram licenciados neste

Estado, não havendo um consenso sobre esse aspecto no órgão ambiental. Os novos

empreendimentos não são licenciados nessas áreas.

No caso de ocupações em áreas adjacentes aos manguezais, é exigido pelo órgão

estadual que se mantenha um recuo mínimo de 33 metros entre o mangue e as instalações das

fazendas. Para a instalação em áreas onde não existam manguezais, o recuo mínimo exigido

depende da largura do rio, conforme se estabelece no art. 2º do Código Florestal (Lei Federal

nº 4.771).

No que se refere à autorização para aberturas de canais em APPs, para a condução

de água e abastecimento de viveiros, também não há uma padronização no Estado, sendo

concedidas algumas licenças contemplando esse procedimento, a depender da interpretação

do técnico responsável pela análise dos projetos.

Com relação aos apicuns, a permissão para a ocupação por fazendas de camarão fica

também na dependência da análise técnica, não havendo procedimento preestabelecido no

Estado.

Quanto ao zoneamento ecológico-econômico das zonas costeiras da Bahia, ainda

não foi realizado. Todavia já foi decretada pelo Governo do Estado, por meio do Decreto nº

9.091, de 04 de maio de 2004 (BAHIA, 2004a), alterado pelo Decreto nº 9.109, de 03 de

junho de 2004 (BAHIA, 2004b), a instituição de Comissão Especial para a Definição de

Estratégias e Implementação do Zoneamento Estadual, sendo, inclusive, nomeados os

membros que irão compor tal Comissão.

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O macrodiagnóstico do potencial da Bahia para a carcinicultura marinha (BAHIA, 2003),

realizado pela Bahia Pesca em 2003, abrangendo todo o litoral baiano, é um importante

subsídio para a elaboração do referido zoneamento. Merece salientar que, em 2004, foi

elaborada proposta de macrozoneamento do Litoral Norte, em escala de 1:100.000 – Projeto de

Gerenciamento Costeiro (GERCO), componente do Programa Nacional de Meio Ambiente

(PNMA II) – documento em que se reconhecem as potencialidades de uso dos diferentes

trechos deste litoral.

No QUADRO 4.1 se apresenta uma síntese das principais variáveis identificadas no

processo de licenciamento ambiental dos quatro maiores produtores nacionais de camarão.

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QUADRO 4.1. Síntese do processo de licenciamento ambiental nos quatro principais estados brasileiros produtores de camarão

ÓRGÃOS STADUAIS

PARÂMETROS

IDEMA/RN

SEMACE/CE

CPRH/PE

CRA/BA

Possui norma estadual

específica para a carcinicultura.

NÃO. Licencia com base na

Resolução CONAMA nº

312/02.

SIM. Resolução COEMA nº

2/02.

SIM. Resolução CONSEMA nº

02/02.

SIM. Resolução CEPRAM nº

2.110/99 (NT – 001/99)

Licencia empreendimentos

consolidados em áreas de

manguezais.

SIM. Desde que estas áreas não

apresentem sinais de

regeneração.

SIM. Desde que estas áreas não

apresentem sinais de

regeneração.

NÃO. Remete os processos

para o IBAMA.

DEPENDE da análise técnica.

Não há procedimento pré-

estabelecido no Estado.

Autoriza aberturas de canais

para abastecimento de viveiros

em manguezais.

SIM, quando não há vegetação.

Se há, solicita autorização do

IBAMA.

NÃO. Autoriza a utilização de

tubulações em, no máximo, 5%

da área. Exige a recuperação da

área.

NÃO. Autoriza a utilização de

tubulações, em no máximo, 5%

da área.

DEPENDE da análise técnica.

Não há procedimento pré-

estabelecido no Estado.

Permite a instalação de

fazendas de camarão em áreas

de apicuns.

SIM. Desde que se preserve, no

mínimo, 20% dessas áreas.

SIM. Desde que se preserve, no

mínimo, 20% dessas áreas.

SIM. Em 30% das áreas de

borda continental, podendo

chegar a 50% com medidas

compensatórias.

DEPENDE da análise técnica.

Não há procedimento pré-

estabelecido no Estado.

O estado possui ZEE.

ZEE em fase de conclusão. ZEE em fase de conclusão. SIM. NÃO.

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Com base nos dados coletados, observa-se que, de maneira geral, os problemas

identificados na Bahia com relação à carcinicultura não são diferentes dos existentes nos

demais estados pesquisados. Conforme evidenciado no QUADRO 4.1, foram, entretanto,

adotados nesses estados critérios próprios para o licenciamento ambiental da atividade.

No caso específico da Bahia, na Norma Técnica (NT – 001/99) não se definem critérios

a serem seguidos no que tange aos empreendimentos de carcinicultura já consolidados em

APPs, à abertura de canais nessas áreas para adução de água para abastecimento dos viveiros

de cultivo e à ocupação em áreas de apicuns. A inexistência dessas regras provoca

ambigüidade quando da análise ambiental destes empreendimentos, gerando avaliações que

variam de acordo com o entendimento do técnico responsável pela análise ambiental dos

projetos, resultando em decisões contraditórias em situações semelhantes.

Constata-se, assim, uma diversidade muito grande dos procedimentos adotados para o

licenciamento ambiental da carcinicultura.

CARCINICULTURA EM ÁREAS DE MANGUEZAIS

Segundo se versa no art. 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), “Todos têm o

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial

à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo

e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Porém os estados pesquisados não

refletem esta realidade no que se refere à proteção dos manguezais.

Importante se faz lembrar que o Brasil antecipou-se a todos os países do mundo quanto

à preocupação em proteger a esses ecossistemas (MACIEL, 1991). No Código Florestal (Lei

Federal nº 4.771), ao declarar, aos 15 de setembro de 1965 (art. 2º, alínea f), as restingas

estabilizadoras de mangue como de preservação permanente, buscou-se resguardar o

ecossistema manguezal contra qualquer tipo de uso que envolvesse a supressão vegetal. Já

com a alteração da mesma Lei, Medida Provisória nº 2.166-66, de 26 de julho de 2001

(BRASIL, 2004h), reforça-se a intenção de se protegerem integralmente essas áreas, quando

se insere no art.1º:

II - área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (grifo nosso).

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Na Bahia, os manguezais encontram ainda amparo especial no art. 215, inciso I, da

Constituição Estadual (BAHIA, 1998a) e no art. 4º, inciso X do Regulamento da Lei nº

6.569/94, aprovado pelo Decreto nº 6.785/97 (BAHIA, 1998b), em que se dispõe sobre a

Política Florestal do Estado.

É necessário acentuar que, de acordo com o Código Florestal, a única alternativa

admissível para o licenciamento de empreendimentos ou atividades em áreas de manguezais,

bem como em qualquer outra considerada como de preservação permanente, seria por meio da

observância do disposto no art. 3º, parágrafo 1º, in verbis: “A supressão total ou parcial de

florestas de preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder

Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos

de utilidade pública ou interesse social”.

Conforme o art. 4º da Medida Provisória nº 2.166-66, a supressão vegetal em APPs só

poderá ser permitida em caso de utilidade pública ou interesse social, devidamente

caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, mediante a inexistência

de alternativa tecnológica ou locacional ao empreendimento proposto. Isto, até o momento,

não se aplica ao caso da carcinicultura, uma vez que no art. 1º da mesma Medida Provisória se

define:

IV - utilidade pública:

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos previstos em Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA); V - interesse social:

a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme Resolução do CONAMA; b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em Resolução do CONAMA;

Fica então evidente que somente na forma da lei pode ser permitida qualquer

intervenção em APPs. Ou seja: nem a prefeitura municipal, nem o governo estadual (por meio

das secretarias ou órgãos e conselhos ambientais), nem o governo federal (por meio do

Serviço do Patrimônio da União - SPU ou do IBAMA) podem licenciar atividades nessas

áreas sem que estejam amparados pela lei. No Código Florestal, isso é bem claro quando se

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diz que somente por meio da lei pode ser permitida qualquer interferência em APPs. Desse

modo, como os manguezais são de preservação permanente, só pelo efeito da lei, e não por

ato administrativo, podem ser alterados.

Em síntese, a ocupação em áreas de manguezais por fazendas de camarão, bem como a

abertura de canais para o abastecimento de viveiros de cultivo, não pode ser autorizada pelo

órgão ambiental, a não ser que haja uma lei prévia em que isso seja permitido. Os interessados

por esses empreendimentos devem buscar alternativas locacionais e tecnológicas, a fim de

cumprir as normas ambientais pertinentes e evitar efeitos danosos a esses ecossistemas.

Uma forma de se resolver a questão do uso dos manguezais para a condução de água

para abastecimento de viveiros, caso não existam alternativas locacionais, seria por meio da

utilização das técnicas adotadas pelos Estados do Ceará e Pernambuco (uso de tubulações

enterradas ou aéreas), as quais são menos impactantes. Admitindo-se o uso dessa tecnologia,

alguns critérios necessitam ser considerados, além da regularização desse procedimento. Ou

seja: deve-se estabelecer um percentual máximo para utilização dessas áreas; o uso dos

equipamentos não deve implicar desmatamentos; deve-se exigir a recuperação da área de

interferência; o requerente deverá apresentar medidas compensatórias para as áreas utilizadas.

No que tange a empreendimentos consolidados há longo tempo em APPs,

particularmente no caso dos instalados em áreas de manguezais anteriormente ocupadas por

salinas, não parece muito adequado, entretanto, que tenham as atividades simplesmente

cessadas, sem se levar em consideração o contexto socioeconômico de cada região, bem como

a distribuição de benefícios gerados por eles para as comunidades locais. Uma solução para

esses impasses poderia vir do poder público, buscando uma forma de regularizar esses

empreendimentos, desde que, comprovadamente, os impactos que poderiam causar sobre o

ecossistema já tenham ocorrido e não mais seja possível revertê-los. Para esses casos,

imperioso seria que fossem exigidas medidas compensatórias para as áreas ocupadas. Tais

iniciativas devem ser embasadas em estudos científicos para a verificação da capacidade de

regeneração do ecossistema. Merece salientar que alguns especialistas na área já se

pronunciaram a esse respeito.

Segundo afirma Maciel (1991), apesar de a experiência internacional revelar que as

salinas desativadas nem sempre são recolonizadas por vegetação típica de mangue, em

decorrência das alterações físico-químicas do sedimento, que prejudicam a disseminação dos

propágulos (sementes de mangue), aqui no Brasil, os tanques de diversas salinas abandonadas

em curto período de tempo apresentam recomposição da cobertura vegetal. Conforme o

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mesmo autor, “É provável que a estrutura de argila que impermeabiliza os taludes faça com

que a água doce acumulada no período das chuvas vá escoando e arrastando o excesso de

cloretos”, propiciando novamente condições adequadas para a regeneração da área.

Nascimento (2002) ressalta que, na maioria dos casos, ao se retirarem os taludes de

contenção dos tanques de antigas salinas, de forma a permitir as condições prévias de fluxo e

refluxo das marés, a tendência é que o manguezal se regenere.

CARCINICULTURA EM ÁREAS DE APICUNS

No que se refere à questão dos apicuns, apesar de ter sido matéria exaustivamente

discutida na Câmara Técnica do CONAMA, não foi feita nenhuma consideração sobre a sua

importância na Resolução de nº 312/02. É importante esclarecer, todavia, que há consenso

científico de que o apicum é parte integrante do ecossistema manguezal.

Crepani e Medeiros (2004) relatam que amostras de sedimentos coletadas por

Nascimento (1993) indicam que as camadas inferiores do sedimento do apicum são

tipicamente de manguezal, composta, inclusive, por restos de material botânico e valvas de

ostras, denotando nitidamente sua origem a partir de uma floresta de mangue assoreada

naturalmente.

De acordo com Nascimento (2002), os apicuns são formados em áreas de manguezal,

em decorrência da deposição de sedimentos arenosos, originados a partir da erosão de terras

altas adjacentes, que elevam as cotas dessas áreas. Por serem terrenos mais elevados, em

relação ao manguezal, há uma predominância nesses ambientes (apicuns) de altos níveis de

evaporação e menor influência das marés, resultando em um aumento da salinidade, o qual é

responsável pela menor densidade e distribuição das espécies vegetais.

Durante a estação seca, a salinidade na água intersticial dessas regiões pode ser 100%

ou mais. Níveis de salinidade superiores a 90% bloqueiam o crescimento de árvores de

mangue (CINTRÓN; GOENAGA, 1979 apud NASCIMENTO, 2002). Aliado a esse fato, a

vegetação de mangue é bastante sensível também à sedimentação. Na medida em que os

apicuns sofrem maior assoreamento e são menos “lavados” pelo fluxo e refluxo das marés, as

árvores de mangue se tornam cada vez mais escassas (FIGURA 4.3). Isso não denota, contudo,

que esse espaço sucessional não seja parte do ecossistema manguezal (NASCIMENTO,

2002).

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A literatura

que muitos pens

formação vegetal

do domínio desse

fases de ciclos b

indispensáveis à s

Coelho Jun

manguezal, consi

pois, além de pos

em resposta à ele

Nos apicun

spp.) alimentando

por servirem de

importantes elos

Os apicuns

(alimentando-se,

sobretudo entre a

às longínquas

NASCIMENTO,

Figura 4.3. Apicum com a presença de Spartina sp. Fonte: Dados de campo, 2003.

científica internacional chama a atenção para o fato de que, ao contrário do

am, a feição apicum é extremamente dinâmica. Embora não apresente

composta por espécies características de florestas de manguezais, faz parte

ecossistema, exercendo a função de reservatório de nutrientes e de base para

iológicos de espécies da fauna do manguezal, além de diversas funções

ustentação da própria zona costeira (SCHAEFFER-NOVELLI, 2002).

ior (2002) ressalta a importância de os apicuns serem tratados como parte do

derando definição aceita pela comunidade científica nacional e internacional,

suírem grande valor ecológico, são áreas de refúgio dos bosques de mangue,

vação do nível médio relativo dos oceanos.

s são comumente vistos caranguejos (Sesarma sp., Chasmagnatus sp., Uca

-se de microorganismos após inundações pelas preamares. Esses crustáceos,

alimentos para diversas espécies de peixes, aves e mamíferos, representam

da cadeia alimentar (SCHAEFFER-NOVELLI, 2002).

são também utilizados por aves migratórias como áreas de pouso

principalmente, dos pequenos caranguejos encontrados nesses ambientes,

gosto e setembro), onde trocam as suas penas e ganham peso para regressar

áreas de reprodução (AZEVEDO JR; LARRAZABAL, 2000 apud

2002). “O uso de apicuns para atividades de carcinicultura inviabiliza

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também esta função ecológica, que transcende os limites nacionais e evidencia a importância

desses ambientes a nível global” (NASCIMENTO, 2002, p. 5).

De acordo com Cintrón (2002 apud SCHAEFFER-NOVELLI, 2002, p. 7):

[...] a postura de não considerar manguezais e apicuns como feições de um mesmo sistema, ou sem inter-relações, reflete falta de familiaridade com a extensa literatura sobre o assunto, ou pode ser, ainda, resultado de visão equivocada ou míope, desconsiderando as perspectivas dinâmicas do sistema.

Poder-se-ia aqui fazer menção a diversas outras considerações técnicas consultadas em

que se evidencia a ligação ambiental entre apicum e manguezal. Considerou-se, entretanto,

que o conhecimento científico dos pesquisadores aqui citados não deixa dúvidas sobre os

vínculos existentes entre as feições mangue e apicum como partes de um único ecossistema.

Neste sentido, devido às importantes funções que os apicuns desempenham e por serem

parte do ecossistema manguezal, é imperativo que sejam, também, integralmente protegidos.

É importante mencionar que pesquisas vêm sendo desenvolvidas no Brasil no sentido de

chegar-se a valores aproximados do real valor econômico dos manguezais. Tognella (1995,

p.13) enfatiza que “somente os números conseguem sensibilizar nossos legisladores e

administradores públicos da importância de nossos recursos naturais e não os valores

intrínsecos de cada um deles”, e que “o manguezal brasileiro deve ser preservado com todo o

rigor da lei, pois é fonte econômica e protéica para as populações tradicionais”, distribuídas

ao longo do litoral.

Tognella (2000, p. 7) afirma ainda que:

[...] somente tornando-se significativo perante o sistema econômico o ecossistema manguezal poderá sobreviver perante uma ‘sociedade capitalista’, dando oportunidade para que as gerações futuras possam usufruir de suas funções e benefícios recreacionais, culturais, de pesquisa e principalmente ecológicos.

Com relação à questão inicialmente formulada, “Carcinicultura: é possível

licenciar?”, no caso dos empreendimentos instalados em áreas de preservação permanente,

particularmente nos manguezais, ou dos que contemplem a abertura de canais nestas áreas,

não é possível licenciá-los, pois, aliado ao fato de não haver o devido amparo legal para a

permissão dessa forma de ocupação, esses ecossistemas, conforme já discutido

exaustivamente ao longo deste trabalho, precisam, efetivamente, ser protegidos em virtude do

grande valor ecológico e socioeconômico que representam. No que se refere ao apicum,

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apesar de não estar explicitado em nenhum dispositivo legal como sendo de preservação, sua

ocupação não deve ser autorizada pelo órgão ambiental, por ser essa feição parte integrante

dos manguezais. Importante se faz lembrar que a ocupação em áreas de manguezais se

apresenta, até o momento, como o maior entrave a que a carcinicultura marinha seja

considerada uma atividade sustentável. Em se tratando dos novos empreendimentos, deverão

ser licenciados respeitando-se as áreas protegidas e com adoção de técnicas operacionais

compatíveis com as normas de controle da poluição e preservação dos ecossistemas.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A carcinicultura marinha é a atividade do setor aqüícola que mais tem crescido em

termos mundial, desde a década de 1990.

O Brasil, que tem como principal espécie cultivada o L. vannamei, é líder mundial em

produtividade e ocupa o 7º lugar em termos de produção. A principal região produtora

nacional é a Nordeste, que contribui com 96,5% do camarão produzido no País.

No Brasil, assim como no mundo, o camarão marinho é cultivado, convencionalmente,

em tanques de terra (viveiros escavados). Outras alternativas vêm sendo experimentadas, a

exemplo do cultivo em viveiros flutuantes. Contudo, essa modalidade é ainda muito

incipiente.

O retorno econômico induz à expansão da carcinicultura marinha convencional.

Todavia, como qualquer outra atividade que passa por acelerado processo de

desenvolvimento, essa expansão tem ocorrido, muitas vezes, de forma desordenada e sem a

devida regulação social.

O crescimento desordenado de fazendas de camarão tem produzido um passivo

ambiental, em virtude de transformar recursos naturais e gerar efluentes, os quais podem,

além de acarretar prejuízos para a própria atividade, comprometer o meio ambiente costeiro,

ocasionando impactos negativos sobre o meio natural e socioeconômico.

A instalação de fazendas de camarão em áreas de manguezais ocasiona sérios conflitos

de uso com as comunidades tradicionais, uma vez que essas mantêm ampla relação de

dependência com os recursos proporcionados por esses ecossistemas, fontes prioritárias de

sobrevivência e renda nessas regiões.

O manejo inadequado da carcinicultura pode acarretar, além da degradação da qualidade

ambiental nos viveiros, efeitos ambientais adversos sobre os ecossistemas de entorno, nos

casos de intensificação do cultivo e de descargas de efluentes sem o prévio tratamento.

A carcinicultura marinha também é capaz de produzir efeitos positivos, os quais

merecem ser maximizados, uma vez que pode contribuir para o desenvolvimento de regiões

com baixa produtividade econômica, por meio da oferta de ocupação e renda.

Em geral, os efeitos negativos atribuídos a esse sistema de cultivo são oriundos do

manejo e da gestão inadequada dos empreendimentos. Em termos ambientais, exceto a

modificação da paisagem natural, os potenciais impactos da atividade podem ser controlados.

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Para que a carcinicultura possa ocorrer em harmonia com as diretrizes de proteção do

meio ambiente e os anseios da sociedade, é preciso que seja adotado um novo paradigma de

desenvolvimento da atividade, por meio da adoção de práticas responsáveis, em que sejam

considerados os potenciais efeitos negativos.

Conscientizar o carcinicultor das vantagens do adequado manejo desse sistema

produtivo e oferecer diretrizes para o desenvolvimento da atividade é o caminho mais eficaz

para o alcance de uma produção sustentável. Ações devem ser desenvolvidas, no sentido de

orientar os criadores de camarão a adequarem os empreendimentos deles à nova realidade. Ou

seja: implantar projetos sustentáveis.

Adotar práticas responsáveis para o cultivo de camarão marinho significa acolher o

princípio da sustentabilidade em todas as dimensões. É preciso, pois, que as tecnologias

aplicadas para o desenvolvimento da atividade considerem, além da dimensão econômica, as

dimensões social, ambiental, espacial e cultural.

O licenciamento ambiental é uma das mais importantes ferramentas de que a sociedade

dispõe para que o cultivo de camarão marinho seja desenvolvido sustentavelmente.

Os conflitos decorrentes da multiplicidade de interpretação das normas legais se

apresentam como grandes obstáculos para que esse instrumento de controle, efetivamente,

contribua para a sustentabilidade da atividade, pois remete a uma diversidade muito grande de

procedimentos, muitos dos quais poderão resultar no comprometimento de áreas de relevante

interesse ambiental.

Nos estados pesquisados, constatou-se uma grande variedade de critérios adotados para

a regularização de fazendas de camarão, possibilitando a ocupação em áreas inadequadas,

como os manguezais e apicuns.

Na Bahia, a ambigüidade quando da análise ambiental desses empreendimentos gera

avaliações que variam de acordo com o entendimento do técnico responsável pela análise

ambiental dos projetos, resultando em decisões contraditórias em situações semelhantes.

A permanência de fazendas de camarão, bem como a abertura de canais para o

abastecimento e drenagem de viveiros de cultivo, em áreas de manguezais não pode ser

autorizada pelo órgão ambiental. Na legislação atual não se oferece respaldo para o

licenciamento de empreendimentos nessas circunstâncias.

A utilização de tubulações (enterradas ou aéreas) em áreas de manguezais, para o

abastecimento de viveiros de cultivo, mostra-se menos impactante do que os canais a céu

aberto. Acatando-se esse procedimento, alguns critérios devem ser considerados, quais sejam:

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a instalação dos equipamentos só deve ser permitida caso não existam alternativas

locacionais; deve ser estabelecido um percentual máximo para a utilização das áreas de

manguezais; o uso dos equipamentos não deve implicar desmatamentos; deve ser exigida a

recuperação da área de interferência; deverão ser exigidas medidas compensatórias para as

áreas utilizadas. Para a adoção dessa tecnologia se necessita de normatização pela autoridade

competente.

Para a regularização ambiental dos antigos empreendimentos de carcinicultura, já

consolidados em APPs, é necessário que se disponha de legislação amparando as decisões

quanto à permanência deles nessas áreas.

Os novos empreendimentos de carcinicultura deverão ser licenciados respeitando-se as

áreas protegidas.

Os apicuns, embora não estejam explicitados em nenhum dispositivo legal como áreas

de preservação permanente, devem ser integralmente protegidos, por serem parte do

ecossistema manguezal.

Na reformulação da Norma Técnica para empreendimentos de carcinicultura, no Estado

da Bahia, é necessário que sejam prescritos critérios norteando o licenciamento ambiental da

atividade e contemplando exigências operacionais compatíveis com as normas de controle da

poluição e preservação dos ecossistemas costeiros, de forma a evitar decisões díspares.

O licenciamento, enquanto dimensão político-institucional, colabora para a

sustentabilidade da carcinicultura na medida em que por meio dele se estabeleçam condições

para que no uso das tecnologias adotadas se considerem, além da dimensão ambiental, as

dimensões socioeconômica, espacial e cultural, quando da emissão das licenças ambientais

requeridas.

A eficácia do licenciamento depende também de outros instrumentos de gestão

ambiental, a exemplo do zoneamento ecológico-econômico, uma necessidade para que no

planejamento das políticas públicas direcionadas para carcinicultura no litoral da Bahia se

considerem, tanto os aspectos sócio-econômicos, quanto os ambientais, de forma a evitar os

conflitos no momento da análise ambiental dos empreendimentos. No caso específico do

cultivo do camarão marinho, o planejamento eficaz da ocupação espacial, contribuirá

significativamente para a prática do desenvolvimento sustentável.

A fim de que o licenciamento ambiental possa contribuir para a sustentabilidade da

carcinicultura, elaboraram-se algumas recomendações a serem consideradas quando da

emissão das respectivas licenças ambientais:

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que sejam utilizados mecanismos de proteção contra a fuga dos indivíduos sob

cultivo para o ambiente natural;

que a drenagem dos efluentes dos viveiros de cultivo seja procedida de modo a

evitar a velocidade excessiva da água nos canais e nas comportas de saídas, a fim

de minimizar a suspensão de sedimentos e o afogamento/retirada da vegetação de

entorno;

que seja executado o tratamento dos efluentes provenientes dos viveiros, para a

remoção de poluentes, como resíduos de rações e substâncias químicas, antes do

lançamento no ambiente natural;

que as empresas realizem, periodicamente, o automonitoramento dos parâmetros

físico-químicos dos efluentes provenientes dos tanques de cultivo;

que sejam adotadas técnicas de manejo que permitam a redução das taxas de

renovação de água, observando-se os cuidados necessários para evitar a

diminuição das taxas de crescimento dos camarões ou o aparecimento de

enfermidades;

que seja adotado um programa eficiente e correto de arraçoamento, por meio da

utilização de rações que apresentem maior eficiência das taxas de conversão

alimentar e da utilização de comedouros fixos, a fim de manter uma melhor

qualidade de água;

que a implantação e operação dos empreendimentos sejam executadas de forma

que não interfiram negativamente nas atividades das comunidades tradicionais,

especialmente no que se refere ao acesso à pesca e à mariscagem;

que se utilize, prioritariamente, mão-de-obra local;

que as áreas degradadas pela implantação e/ou operação dos empreendimentos de

carcinicultura sejam objeto de recuperação; exigindo-se medidas compensatórias

para os casos em que não haja a possibilidade de recuperação.

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ROCHA, I. P.; RODRIGUES, J.; AMORIM, L. A carcinicultura brasileira em 2003. Revista da ABCC, Recife, ano 6, n.1, p. 30-36, mar. 2004. ROSADO, D. L. Licenciamento ambiental federal: procedimentos, problemas e avanços. 2000. 115 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável, área de concentração Gestão e Política Ambiental)-Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2000. SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000. 96 p. SAMPAIO, Y.; COSTA, E. Geração de empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva do camarão cultivado no Brasil. Revista da ABCC, Recife, ano 5, n.1, p. 60-64, mar. 2003. SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Perfil dos ecossistemas litorâneos brasileiros com especial ênfase sobre o ecossistema manguezal. Edição especial do Instituto Oceanográfico de São Paulo, n. 7 p. 1-16. 1989. SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Relatório final – Pirinópolis. Propostas de diretrizes de atuação: estudo técnico de caracterização do ecossistema manguezal. In: IV ENCONTRO NACIONAL, GRUPO DE TRABALHO: OCUPAÇÃO DA ZONA COSTEIRA, 4. – Licenciamento de atividades e obras na zona costeira, 2001, Goiás. MPF-PARECER-manguezal, São Paulo, mai. 2002. 26 p. SOUZA, M. L. C. 2002. Licenciamento ambiental passo a passo no Estado da Bahia: normas e procedimentos. Cadernos de referência ambiental v.10 Bahia: Centro de Recursos Ambientais, 2002. 136 p. TOGNELLA, M. M. P. Valoração econômica: estudo de caso para o ecossistema manguezal – Bertioga e Cananéia. 1995. Dissertação (Mestrado em Oceanografia Biológica)-Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995. TOGNELLA, M. M. P. Manguezais catarinense, baía Babitonga e Rio Tavares: uma abordagem ecológica e econômica. 2002. 272 f. Tese (Doutorado em Oceanografia Biológica, área de Ciências)-Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. VINATEA, L.; VIEIRA P. H. F. Modos de apropriação e gestão patrimonial de recursos costeiros: o caso do cultivo de moluscos na Baía de Florianópolis, Santa Catarina In: Mangrove 2000, Recife. Mangrove 2000. Trabalhos completos, CD-ROM. Recife, 2000. WILKS, A. Prawns, profit and protein: aquaculture and food production. The Ecologist, Dorset, v. 25, n. 2/3, p.120-125, mar./apr., maio/jun. 1995.

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ANEXO – A

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LISTA DE ENTREVISTADOS

1. ASSIS LUIS DE LACERDA FILHO – Engenheiro de Pesca. Mestre em oceanografia

biológica pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Técnico da Agência

Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH).

2. BRUNO CLÁUDIO SILVA PINHO – Médico Veterinário. Consultor da Serra Encantada

Aqüicultura/Bahia.

3. CARLOS EDUARDO M. DE PROENÇA – Zootecnista, M. Sc. em Aqüicultura. Assessor

Técnico da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP)/Brasília;

4. CARLOS EGBERTO RODRIGUES JUNIOR – Analista Ambiental da Coordenação Geral de

Licenciamento Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA)/Brasília;

5. CARLOS CEZAR CERQUEIRA PINHA – Biólogo. Especialista em Fiscalização do Centro de

Recursos Ambientais (CRA)/Bahia;

6. CLAUDIA CAMPRA DE QUADROS – Bióloga. Especialista em Fiscalização do CRA/Bahia;

7. CLÁUDIO SANDES ARAÚJO – Médico Veterinário. Sócio-gerente da Atlântico

Aquacultura/Bahia.

8. DOMINIQUE M. J. LOUETTE – Engenheira Agrônoma. Doutora em agronomia pela Escola

Nacional Superior de Agronomia de Montpellier – França. Assessora técnica do

Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA);

9. ELIANA MARIA PALMA SIMAS – Bióloga. Analista Ambiental do IBAMA/Bahia;

10. ENOX DE PAIVA MAIA – Consultor da Associação Brasileira de Criadores de Camarão

(ABCC). Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente (COEMA)/Ceará;

11. ERIC ARTHUR BASTOS ROUTLEDGE – Assessor Técnico da Diretoria de

Desenvolvimento da Aqüicultura da SEAP/Brasília;

12. EUDES DE SOUZA CORREIA – Professor do Departamento de Engenharia de Pesca da

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE);

13. FABIO OLIVEIRA – Biólogo. Técnico do Ministério Público Federal da Bahia

14. FARIDA XIMENES – Comunicadora Social. Assessora técnica do CONAMA;

15. FÁTIMA GURGEL – Engenheira de Pesca. Técnica da Coordenadoria de Proteção

Ambiental/Núcleo de Controle e Proteção Ambiental da Superintendência Estadual do

Meio Ambiente - SEMACE/Ceará;

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16. FERNANDO KUBITZA – Engenheiro Agrônomo. Mestre em nutrição animal pela Escola

Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) e Doutor em Aqüicultura pela

Aubum University, Department of Fisheries and Allied Aquacultures, Aubum, Alabama,

EUA;

17. GITONILSON TOSTA – Biólogo. Assessor técnico da Bahia Pesca S.A./Secretaria da

Agricultura Irrigação e Reforma Agrária /Bahia;

18. GRACO AURÉLIO CÂMARA DE MELO VIANA – Coordenador do Laboratório de

Tecnologia em Aqüicultura do Departamento de Oceanografia e Limnologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN);

19. HAROLDO MARQUES – Oceanógrafo. M. Sc. Engenharia de Pesca. Funcionário da

NORTHEARST STAR;

20. IRACEMA NASCIMENTO – Bióloga. Pós-doutorada em Aqüicultura (Texas A&M) e Meio

Ambiente (University of North Texas, USA), Coordenadora de pesquisa da Faculdade de

Tecnologia e Ciência (FTC) e Pesquisadora do CNPQ/Universidade Federal da Bahia

(UFBA);

21. ITAMAR DE PAIVA ROCHA – Engenheiro de Pesca. Presidente da Associação Brasileira de

Criadores de Camarão (ABCC) e da Comissão Nacional da Carcinicultura (CNA);

22. ITAN CUNHA DE MEDEIROS – Engenheiro agrônomo. Técnico em licenciamento

ambiental do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (IDEMA)/Rio

Grande do Norte;

23. IVANOSCA ROCHA MIRANDA – Bióloga. Coordenadora de Meio Ambiente do

IDEMA/Rio Grande do Norte;

24. LEONARDO DELL’ORTO – Engenheiro de pesca. Gerente de Produção da Bahia Pesca

S.A;

25. LETÍCIA NEVES GOMES VIEIRA – Engenheira química. Coordenadora de Licenciamento

Ambiental do CRA/Bahia;

26. LUÍS TADEU ASSAD – Engenheiro de Pesca. Mestre em Engenharia de Pesca e Doutor em

Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal de Brasília (UnB). Diretor de

Gestão Estratégica e Articulação Institucional da SEAP/Brasília;

27. MARCEL GRADVOHI – Professor Pesquisador em Aqüicultura da Coordenação de Pesca –

Unidade de Ensino Descentralizada de Valença do Centro de Educação Tecnológica do

Estado da Bahia – CEFET/Bahia;

28. MARCELO PALMA – Advogado. Assessor Jurídico da Bahia Pesca S.A /Bahia;

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29. MARIA DE FÁTIMA VINHAS DE ALMEIDA – Bióloga. Coordenadora do gerenciamento

costeiro do Estado da Bahia;

30. MARY SORAGE PRAXEDES DA SILVA – Sub-coordenadora de Licenciamento e Controle

Ambiental do IDEMA/Rio Grande do Norte;

31. MAX MAGALHÃES STERN – Médico Veterinário. Diretor Presidente da Bahia Pesca;

32. MIGUEL ACCIOLY – Biólogo. Professor Dr. do Instituto de Biologia da UFBA;

33. NEY MARON DE FREITAS – Engenheiro Químico. Diretor da DIRCO – Diretoria de

Controle do CRA/Bahia;

34. PAULO DE TARSO DE CASTRO MIRANDA – Engenheiro de Pesca. Técnico da

SEMACE/Ceará

35. RICARDO AMAURY – Assessor da Diretoria da Potiporã Aquacultura Ltda;

36. ROBERTO C. BARBIERI JUNIOR – Biólogo Marinho. Sócio-Diretor da Camarão Vitória

Ltda;

37. RODRIGO CASSOLA – Analista Ambiental da Coordenação Geral do Licenciamento

Ambiental do IBAMA/Brasília;

38. RONAN REBOUÇAS CAIRES DE BRITO – Biólogo. Mestre em ecotoxicologia pela

University College of North Wales. Professor do Instituto de Biologia da UFBA;

39. TADEU DOTE SÁ – M. Sc. Geologia de Aplicação. Especialista em Engenharia Urbana

(UNIFOR). Doutor em Planificação Territorial e Desenvolvimento Regional (UB.

Espanha). Diretor Técnico e de Planejamento da Consultoria Geologia e Meio Ambiente

Ltda. (GEOCONSULT);

40. UIRÁ CAVALCANTE OLIVEIRA – Analista Ambiental da Coordenação Geral do

Licenciamento Ambiental do IBAMA/Brasília;

41. WANDERLEI REINECKE – Analista ambiental da Coordenação Geral do Licenciamento

Ambiental do IBAMA/Brasília;

42. YARA SCHAEFER-NOVELLI – Bióloga, naturalista. Especialista em Oceanografia

biológica: bioecologia de manguezais. Doutora em Zoologia pela Universidade de São

Paulo (USP). Professora do Instituto Oceanográfico da USP.

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ANEXO - B

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RESOLUÇÃO CONAMA Nº 312, DE 10 DE OUTUBRO DE 2002

(D.O.U. de 18/10/02) Dispõe sobre o procedimento licenciamento ambiental dos empreendimentos de carcinicultura na zona costeira. O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, tendo em vista as competências que lhe foram conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, alterado pelo Decreto nº 3.942, de 27 de setembro de 2001, e tendo em vista o disposto nas Resoluções CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997, e nº 001, de 23 de janeiro de 1986 e em seu Regimento Interno, e Considerando que a Zona Costeira, nos termos do § 4º, art. 225 da Constituição Federal, é patrimônio nacional e que sua utilização deve se dar de modo sustentável e em consonância com os critérios previstos na Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988; Considerando a fragilidade dos ambientes costeiros, em especial do ecossistema manguezal, área de preservação permanente nos termos da Lei nº 4.771, de 15 de setembro 1965, com a definição especificada no inciso IX, art. 2º da Resolução do CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, e a necessidade de um sistema ordenado de planejamento e controle para preservá-los; Considerando a função sócio-ambiental da propriedade, prevista nos artigos 5º, inciso XXIII, 170, inciso VI, 182, §2º, 186, inciso II e 225 da Constituição Federal; Considerando os Princípios da Precaução, da Prevenção, Usuário-Pagador e do Poluidor-Pagador; Considerando a necessidade de serem editadas normas específicas para o licenciamento ambiental de empreendimentos de cultivo de camarões na zona costeira; Considerando que a atividade de carcinicultura pode ocasionar impactos ambientais nos ecossistemas costeiros; Considerando a importância dos manguezais como ecossistemas exportadores de matéria orgânica para águas costeiras o que faz com que tenham papel fundamental na manutenção da produtividade biológica; Considerando que as áreas de manguezais, já degradadas por projetos de carcinicultura, são passíveis de recuperação; Considerando as disposições do Código Florestal, instituído pela Lei nº 4.771 de 1965, do Decreto Federal nº 2.869, de 9 de dezembro de 1998, do Zoneamento Ecológico-Econômico, dos Planos de Gerenciamento Costeiro, e da Resolução CONAMA nº 303, de 2002, resolve: Art. 1º O procedimento de licenciamento ambiental dos empreendimentos de carcinicultura na zona costeira obedecerá o disposto nesta Resolução, sem prejuízo de outras exigências estabelecidas em normas federais, estaduais e municipais.

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Art. 2º É vedada a atividade de carcinicultura em manguezal. Art. 3º A construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de empreendimentos de carcinicultura na zona costeira, definida pela Lei nº 7.661, de 1988, e pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, nos termos desta Resolução, dependem de licenciamento ambiental. Parágrafo único. A instalação e a operação de empreendimentos de carcinicultura não prejudicarão as atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais. Art. 4º Para efeito desta Resolução, os empreendimentos individuais de carcinicultura em áreas costeiras serão classificados em categorias, de acordo com a dimensão efetiva de área inundada, conforme tabela a seguir:

PORTE ÁREA EFETIVAMENTE INUNDADA (ha)

Pequeno Menor ou igual a 10,0 Médio Maior que 10,0 e menor ou igual a 50,0 Grande Maior que 50,0

§ 1º Os empreendimentos com área menor ou igual a 10,0 (dez) ha poderão ser licenciados por meio de procedimento de licenciamento ambiental simplificado, desde que este procedimento tenha sido aprovado pelo Conselho Ambiental. § 2º No processo de licenciamento será considerado o potencial de produção ecologicamente sustentável do estuário ou da bacia hidrográfica, definida e limitada pelo ZEE. § 3º Os empreendimentos com área maior que 10,0 (dez) ha, ficam sujeitos ao processo de licenciamento ambiental ordinário. § 4º Os empreendimentos localizados em um mesmo estuário poderão efetuar o EPIA/RIMA conjuntamente. § 5º Na ampliação dos projetos de carcinicultura os estudos ambientais solicitados serão referentes ao novo porte em que será classificado o empreendimento. Art. 5º Ficam sujeitos à exigência de apresentação de EPIA/RIMA, tecnicamente justificado no processo de licenciamento, aqueles empreendimentos: I - com área maior que 50,0 (cinqüenta) ha; II - com área menor que 50,0 (cinqüenta) ha, quando potencialmente causadores de significativa degradação do meio ambiente; III - a serem localizados em áreas onde se verifique o efeito de adensamento pela existência de empreendimentos cujos impactos afetem áreas comuns.

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Art. 6º As áreas propícias à atividade de carcinicultura serão definidas no Zoneamento Ecológico-Econômico, ouvidos os Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e em conformidade com os Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Gerenciamento Costeiro. Art. 7º Nos processos de licenciamento ambiental, o órgão licenciador deverá exigir do empreendedor, obrigatoriamente, a destinação de área correspondente a, no mínimo, 20% da área total do empreendimento, para preservação integral. Art. 8º O empreendedor ao solicitar a Licença Prévia - LP, Licença de Instalação - LI e Licença de Operação - LO para empreendimentos de carcinicultura deverá apresentar no mínimo os documentos especificados no Anexo I. Art. 9º O órgão licenciador deverá exigir obrigatoriamente no licenciamento ou regularização de empreendimentos de carcinicultura as outorgas de direito de uso dos recursos hídricos. Parágrafo único. Fica vedada a instalação de empreendimentos em áreas de domínio da União nas quais não exista registro de ocupação ou aforamento anterior a fevereiro de 1997, nos termos do artigo 9º da Lei nº 9.636, de 15 de maio de 1998. Art. 10 O Órgão Ambiental licenciador deverá comunicar ao respectivo Conselho Ambiental, no prazo máximo de trinta dias, as Licenças Ambientais expedidas para carcinicultura. Art. 11 Quando da etapa de Licença de Instalação - LI será exigido Plano de Controle Ambiental - PCA, contendo no mínimo o que consta do Anexo II desta Resolução. Art. 12 Quando da etapa de Licença de Operação será exigido Plano de Monitoramento Ambiental - PMA, contendo no mínimo o que consta do Anexo III desta Resolução. Art. 13 Esta Resolução aplica-se também aos empreendimentos já licenciados, que a ela deverão se ajustar. Parágrafo único. Os empreendimentos em operação na data de publicação desta Resolução deverão requerer a adequação do licenciamento ambiental, no prazo de noventa dias, a partir da data de publicação desta Resolução, e ajustar-se no prazo máximo de trezentos e sessenta dias contados a partir do referido requerimento. Art. 14 Os projetos de carcinicultura, a critério do órgão licenciador, deverão observar, dentre outras medidas de tratamento e controle dos efluentes, a utilização das bacias de sedimentação como etapas intermediárias entre a circulação ou o deságüe das águas servidas ou, quando necessário, a utilização da água em regime de recirculação. Parágrafo único. A água utilizada pelos empreendimentos da carcinicultura deverá retornar ao corpo d’água de qualquer classe atendendo as condições definidas pela Resolução do CONAMA nº 20, de 18 de junho de 1986. Art. 15 O descumprimento das disposições desta Resolução sujeitará o infrator às penalidades previstas na Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e outros dispositivos legais pertinentes.

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Art. 16 Sem prejuízo das sanções penais e administrativas cabíveis, o órgão licenciador competente, mediante decisão motivada, poderá alterar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, inclusive suspendendo cautelarmente a licença expedida, dentre outras providências necessárias, quando ocorrer: I - descumprimento ou cumprimento inadequado das medidas condicionantes previstas no licenciamento, ou desobediência das normas legais aplicáveis, por parte do detentor da licença; II - fornecimento de informação falsa, dúbia ou enganosa, inclusive por omissão, em qualquer fase do procedimento de licenciamento ou no período de validade da licença; III - superveniência de informações adicionais sobre riscos ao meio ambiente, à saúde, e ao patrimônio sócio-econômico e cultural, que tenham relação direta ou indireta com o objeto do licenciamento. Art. 17 A licença ambiental para atividades ou empreendimentos de carcinicultura será concedida sem prejuízo da exigência de autorizações, registros, cadastros, entre outros, em atendimento às disposições legais vigentes. Art. 18 No processo de licenciamento ambiental, os subscritores de estudos, documentos pareceres e avaliações técnicas são considerados peritos, para todos os fins legais. Art. 19 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. JOSÉ CARLOS CARVALHO Publicada DOU 18/10/2002

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ANEXO – C

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PROCESSO nº2600030088730

INTERESSADO: SECRETARIA DA AGRICULTURA, IRRIGAÇÃO E REFIORMA AGRÁRIA

ASSUNTO: LEGISLAÇÃO CONSULTA

PARECER nº PA-139/2003

CONSULTA. Resolução nº 312, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, que dispõe sobre licenciamento ambiental de carcinicultura na zona costeira. A Zona Costeira como patrimônio nacional e a necessidade de um sistema ordenado de planejamento e controle dos ambientes costeiros. Ratificação das premissas e conclusões firmadas no Parecer nº PA-22/2003. Respostas a questionamentos específicos.

Após o Parecer nº PA-22/2003, que emiti, a Secretaria da

Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária volveu o presente processo para definição

de alguns aspectos acerca da aplicação, em nível estadual, da Resolução nº 312/2002,

do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que disciplina o licenciamento ambiental

em projetos de carcinicultura.

Menciona a autoridade consulente que “quando o CEPRAM

se preparava para aprovar a norma estadual sobre o tema, surge uma nova discussão, no

âmbito do Centro de Recursos Ambientais – CRA, sobre a competência para licenciar projetos

de camarão, bem assim quanto a outros assuntos que levou o Conselho a retirar de pauta a

proposta de Resolução até que as dúvidas sejam esclarecidas.”

Os questionamentos expostos em documento de fls. 02 a 04,

anexo à missiva inicial, reportam-se aos seguintes itens:

01 – “Surgiu no CRA uma discussão acerca da competência para

licenciamento de empreendimentos de carcinicultura no Estado, em face do contido da

resolução nº 05/97, da CIRM, onde se cogitou ser do IBAMA tal competência. A Lei 6938/81

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estabeleceu, no artigo 10, que a competência para licenciamento é dos órgãos ambientais,

cabendo ao IBAMA atuar, neste assunto, de forma supletiva. Posteriormente, a Lei 7804/89

acresceu ao referido artigo, o § 4º, que estabeleceu que no caso de empreendimento com

significativo impacto ambiental, compete ao IBAMA licenciar, o que, ao nosso ver, deixa

margem para interpretações dúbias, pois o caput do artigo afirma que a competência é do órgão

estadual, mas o parágrafo 4º diz que a competência é do IBAMA.

PERGUNTA-SE: Deve prevalecer a regra contida no caput do

artigo ou no parágrafo 4º?”

Respondo:

É inegável que se aplica a norma do caput do art. 10 da Lei

nº 6.938/81, que prevê a competência de o órgão estadual, integrante do Sistema

Nacional do Meio Ambiente, licenciar a construção, instalação, ampliação e

funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes

de causar degradação ambiental.

A norma do § 4º do artigo 10 da referida Lei nº 6.938/81

prevê a competência reservada ao IBAMA apenas para o licenciamento ambiental

para as atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional

ou regional, o que não é o caso.

Ou seja: em se tratando de licenciamento, o dispositivo da

Lei nº 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, reserva ao órgão

federal competência privativa para licenciar tão-somente aqueles empreendimentos

ou atividades de grande impacto, cuja repercussão seja de âmbito nacional ou

regional, sem nenhuma derivação para outros aspectos tais como a localização,

característica ou natureza do empreendimento.

A propósito, devo consignar que a Resolução CONAMA

nº 237, de 1997, inspirada no art. 10 da Lei nº 6.938/81, fixou as matérias de

competência privativa do órgão federal do meio ambiente, quais sejam: os

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empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental, localizados

ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial;

na plataforma continental; em zona econômica exclusiva; em terras indígenas; em

unidades de conservação federais; em empreendimentos localizados ou

desenvolvidos em dois ou mais Estados; aqueles cujos impactos diretos

ultrapassem os limites territoriais do país ou de um ou mais estados, os

destinados á pesquisa, lavra, produção, beneficiamento, transporte,

armazenamento e disposição de material radioativo, em qualquer estágio ou que

utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações; e por fim os

localizados em bases militares.

O critério utilizado pela lei para efeito de fixação das

competências administrativas em matéria ambiental é o da extensão do dano –

impacto local, regional ou nacional, conforme se depreende da norma explícita do

art. 10 da Lei n. 6.938/81 e é repartida entre a União, Estados e Municípios.

Para arrematar, é necessário acentuar que a norma do artigo

225, § 4º, da Constituição Federal, ao dispor que “a Floresta Amazônica brasileira, a

Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são

patrimônio nacional”, não causa qualquer interferência na competência conferida aos

órgãos integrantes do SISNAMA para o licenciamento ambiental. Melhor dizendo:

quer parecer que é um equívoco utilizar a norma do art. 225, par. 4º da CF, para efeito

de identificar e distinguir competência no âmbito dos órgãos de licenciamento nos três níveis

da Federação, em desapreço ao que preceitua o art. 10 da Lei nº 6.938/81, que institui

a Política Nacional do Meio Ambiente.

2 – “Entretanto, importante salientar que zona costeira não é área

de domínio exclusivo da União, pois o artigo 225, par. 4º da Constituição Federal, afirma que

esta é patrimônio nacional, estando nela inseridos imóveis públicos e privados, zona esta que,

no Estado da Bahia, compreende toda extensão territorial de 54 municípios, municípios estes

situados todos os empreendimentos de carcinicultura e as áreas propícias para esta atividade.

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Pergunta-se: Em face disso, permanece o entendimento anterior

desta Procuradoria sobre a incidência da Resolução 312 do CONAMA?”

A norma do artigo 225, par. 4º da Constituição Federal deve

ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico, consagrado pelo

ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art.

5º , XXII, do mesmo texto, garante e assegura o direito de propriedade em todas as

suas projeções. O preceito consubstanciado no art. 225, par. 4º da Carta da

República, ao expressar que “a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do

Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional e sua

utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio

ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”, além de não haver convertido

em bens públicos os imóveis particulares, abrangidos naqueles limites, também

não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes

naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, contanto que observadas

as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental.

Nesses termos, pode-se compreender que aquela previsão

constitucional teve o condão de conferir especial proteção a determinados

ecossistemas, como ocorre na zona costeira, a ponto de considerá-la “patrimônio

nacional”.

Sobre a matéria, ao intérprete menos avisado poderia

parecer que a declaração de patrimônio nacional teria afetado o próprio direito de

propriedade dos imóveis ali incluídos.

Muito pelo contrário. A norma constitucional não converteu

em bens de domínio da União as áreas compreendidas na Floresta Amazônica

brasileira, na Mata Atlântica, na Serra do Mar, no Pantanal Mato-Grossense,

tampouco na Zona Costeira.

Os bens da União continuam sendo os enumerados,

taxativamente, nos incisos I a XI do artigo 20 da Carta Federal.

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Explica o prof. Vicente Gomes da Silva que “a idéia de

patrimônio nacional deve ser concebida em contexto lato sensu e não em sentido

estritamente jurídico. De fato, o legislador conferiu àquelas florestas um plus

jurídico para significar que representam uma riqueza de todo o povo, as quais

devem ser utilizadas de forma racional e sustentável. Isto é, conferiu-lhes uma

especial proteção e, como tal, devem ser utilizadas segundo regras específicas e de

proteção em toda sua plenitude.” (Legislação Ambiental Comentada, Belo

Horizonte, 2002, pág. 128)

Em conclusão, confere a norma do art. 225, par. 4º da CF

apenas um regime especial a tais bens – inclusive a zona costeira - de forma a

assegurar condições de preservação do meio ambiente, assim como o uso dos

recursos naturais, enquanto patrimônio e riqueza nacional.

III – “Ao delegar ao CONAMA a competência para exigir, quando

julgar necessário, o EIA/RIMA, não estaria a Lei 8020/90 delegando ao CONAMA

competência para editar normas gerais, delegação esta vedada pela Constituição Federal?”

Não é preciso nenhum esforço de exegese da legislação

ambiental para se verificar que, dentre as competências outorgadas pela Lei nº

6.938/81 ao CONAMA, está a de estabelecer normas e critérios para o licenciamento

de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados,

bem assim a de determinar, quando necessário, a realização de estudos das

alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou

privados, requisitando as informações indispensáveis para apreciação dos estudos

de impacto ambiental e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de

significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas

patrimônio nacional. (art. 8º, incisos I e II da Lei nº 6.938/81).

É inegável que a Constituição Federal estabeleceu a

competência material de o Poder Público “exigir, na forma da lei, para instalação de obra

ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, estudo prévio de

impacto ambiental.”

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Ora bem. Não se nega que o art. 24 da CF e seus parágrafos

circunscrevem o campo de atuação normativa de cada ente político sobre toda a

temática ambiental. Infere-se ainda do mesmo dispositivo que cabe à União editar

normas gerais sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do

solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição,

ficando com os Estados e o Distrito Federal a possibilidade de exercer a competência

legislativa suplementar ou complementar, no exato sentido de pormenorizar

aquelas diretrizes gerais e estabelecer as condições para a sua aplicação (confira art.

24, par. 2º).

Não se nega, ainda, inexistindo lei federal sobre normas

gerais, que não tenha sido editada pela União, os Estados e o Distrito Federal

possuam a competência para legislar plenamente sobre a matéria, para atender suas

peculiaridades, justamente para suprir a necessidade de prover determinado

assunto. É o exercício da competência supletiva, prevista e autorizada pela norma

contida no § 3º do citado art. 24 da Constituição Federal.

Assentadas estas premissas, deve-se esclarecer que a lei

federal, de caráter nacional, que disciplina a matéria relativa a licenciamento

ambiental e, mais especificamente, ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental, é a

própria Lei nº 6.938/81, a qual, institui normas gerais sobre a matéria ambiental, ao

tratar da Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação e prevê como instrumentos desta política nacional a

avaliação de impactos ambientais e o licenciamento de atividades efetiva ou

potencialmente poluidoras. (confira art. 9º, incisos III e IV, combinado com os art.

10).

Demais disso, é a mesma Lei nº 6.938/81 – norma geral

editada pela União e de aplicação nacional – que estabelece a competência de o

CONAMA “determinar, quando necessário, a realização de estudos das alternativas e das

possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos

federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações

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indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no

caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas

consideradas patrimônio nacional” (art. 8º, inciso II, com a redação dada pela Lei nº

8.028, de 12.04.90)

Em face disso, reafirmo a premissa já assentada de que,

sendo a zona costeira considerada patrimônio nacional, a sua utilização deve ocorrer

de forma sustentável, ou seja, pela utilização racional dos seus recursos naturais. Este

o suporte para a previsão consignada no art. 6º, § 2º da Lei nº 7.661/88, ao

estabelecer que“para o licenciamento, o órgão competente solicitará ao responsável

pela atividade a elaboração do estudo de impacto ambiental e a apresentação do

respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, devidamente aprovado, na

forma da lei.”

Ou seja: a mera estipulação dos critérios para o

licenciamento e para o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, por resolução do

CONAMA, não me parece desbordar dos estritos limites previstos em lei

especificamente em relação às áreas incluídas em zona costeira.

IV – “PERGUNTA-SE:

Se, porventura, chegar ao entendimento que somente lei federal

pode estabelecer quando é necessário ou não o Estudo de Impacto Ambiental, não seria ela que

deveria, de igual sorte, dizer quais as atividades são efetiva ou potencialmente poluidoras, bem

assim definir, também, o tamanho dos empreendimentos, requisito indispensável para se saber

a real necessidade do EIA/RIMA?

PERGUNTA-SE: A prevalecer o raciocínio esposado

anteriormente, ou seja, que o EIA/RIMA só pode ser exigido por Lei, no silencio do legislador

federal, prevalecessem, portanto, a lei Estadual 7.799/2001 e Decreto nº .... que disciplinam

quais atividades devem ser precedidas de Estudo de Impacto Ambiental e definem o tamanho

dos portes dos empreendimentos ou a Resolução nº 312, em face da competência concorrente

dos Estados para legislar sobre meio ambiente, no silêncio da Lei Federal, prevista no inciso IV

e par. 1ºs. 1º, 2º e 3º do artigo 24 da Constituição Federal?

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PERGUNTA-SE: Não seria inconstitucional o artigo 13 da

Resolução 312, que exige dos empreendimentos já implantados submissão à dita norma,

obrigando-os, inclusive, a realizar EIA/RIMA, considerando que deve este Estudo preceder a

implantação da atividade ou empreendimento, bem assim porque fere princípio constitucional

que afirma que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa

julgada?

PERGUNTA-SE: Se realmente ficar constatado que a Resolução

nº 312 tenha incidência sobre os projetos de carcinicultura do Estado da Bahia, como ficam os

pedidos de licença ambiental protocolados junto ao CRA antes da vigência da Resolução nº

312/2002, devem ser aprovados sob a égide deste regulamento ou da norma existente á época

do pedido de licenciamento?”

Quanto às indagações que estão proximamente alinhadas,

as duas primeiras resultam prejudicadas à conta de tudo quanto foi antes exposto e

no Parecer nº PA-22/2003.

Em relação às duas últimas indagações, sobreleva asseverar

que a Resolução nº 312 deve ser aplicada a todos os procedimentos de licenciamento

ambiental inaugurados a partir da sua vigência, não havendo, como não há, “direito

adquirido” se este somente se adquire em consonância com as normas legais que

tratam da matéria.

À consideração do Exmo. Senhor Procurador Geral do

Estado.

GABINETE DO PROCURADOR GERAL DO

ESTADO, em 11 de dezembro de 2003.

Jussara Maria Salgado Lobo

Procuradora Assessora Especial

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ANEXO - D

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Proc.: 2600030088730

Interessado: Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma

Agrária.

Ref.: Legislação.

D E S P A C H O

Manifesto plena concordância ao Parecer nº PA-

139/2003, na parte em que assinala ser da “competência de órgão

estadual integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente, licenciar

a construção, instalação, ampliação e funcionamento dos

estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,

consideradas efetiva e potencialmente poluidores, bem como os

capazes de causar degradação ambiental”, em face do disposto no

caput do art. 10, da Lei nº 6.938/81, cabendo ao IBAMA competência

apenas para “o licenciamento ambiental para atividades e obras com

significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional...”,

de acordo com o § 4º, do referido dispositivo.

Ocorrem-me pertinentes, também, as

considerações sobre as conseqüências da declaração de área costeira

como sendo “patrimônio nacional”, circunstância esta, porém, que

não afeta o direito de propriedade dos imóveis aí incluídos.

Quanto à definição das hipóteses que autorizam a

exigência do EIA/RIMA, por ser matéria da reserva da lei, não pode

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ser disciplinada através de Resolução. Aliás, a delegação conferida

pela Lei nº 6.938/91 ao CONAMA, no particular, não se harmoniza

com as competências que, para tanto, consagrou a Constituição

Federal.

Por outro lado, se não há lei federal estabelecendo

quando é necessário o Estudo do Impacto Ambiental, nem

relacionando as atividades que são efetiva ou potencialmente

poluidoras e indicando a dimensão do empreendimento para esse

fim, é de ser aplicada a legislação estadual (Lei nº 7.799/2001) nesse

ponto e não a Resolução nº 312 do CONAMA.

Nessa parte, portanto, não me alinho às conclusões

que foram alcançadas no referido Parecer.

Destaco, ainda, que foi lançado o Parecer nº PA-

103/2003, pela ilustre Procuradora Assessora Especial Maria

Hermínia Angeli de Almeida que, secundando o entendimento

manifestado pela Procuradoria Jurídica do Centro de Recursos

Ambientais – CRA, conclui no sentido de que “é defeso ao

CONAMA a criação de normas que já não tenham uma genérica

previsão em dispositivo de lei, ... e exorbitou a competência que lhe é

deferida pela lei, na medida que inovou a ordem jurídica”, - através

da Resolução nº 303, de 20 de março de 2002!

A esse respeito destaquei que a competência da

União para legislar sobre floresta, caça, pesca, conservação da

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natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio

ambiente e controle da poluição e, também, sobre proteção ao

patrimônio turístico, paisagístico, artístico, histórico e cultural,

limita-se à edição de normas gerais que não exclui a dos Estados de

caráter suplementar, que podem exercer a competência legislativa

plena para atender as suas peculiaridades, na omissão do legislador

federal (cf. art. 24, inciso VI e §1º, 2º e 3º da Constituição Federal).

Retorne o Processo à Secretaria da Agricultura,

Irrigação e Reforma Agrária para o fim indicado.

GABINETE DO PROCURADOR GERAL DO

ESTADO, 28 de janeiro 2004.

RAIMUNDO VIANA

Procurador Geral do Estado

CSAC

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ANEXO - E

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RESOLUÇÃO Nº 2110 DE 05 DE OUTUBRO DE 1999 “Aprova a Norma Técnica NT-001/99 e seu Anexo I, que dispõe sobre a Análise do Processo de Licenciamento das Atividades de Aqüicultura no estado da Bahia.” O CONSELHO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE – CEPRAM, no uso das atribuições que lhe são conferidas, e tendo em vista o que consta no Processo nº 990001766/8, RESOLVE: Art. 1º. Aprovar a Norma Técnica NT – 001/99 e seu Anexo I, que dispõe sobre a Análise do Processo de Licenciamento das Atividades de Aqüicultura, cuja redação com essa se publica. Art. 2º. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Art. 3º. Os casos omissos nesta Norma serão resolvidos pelo CEPRAM. CONSELHO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE – CEPRAM, em 05 de outubro de 1999. LUIZ CARREIRA – Presidente

NORMA TÉCNICA NT- 001/99 (D.O de 07/10/99)

LICENCIAMENTO DAS ATIVIDADES DE AQUICULTURA

1.0 OBJETIVO Esta Norma estabelece os critérios e procedimentos para subsidiar a análise do processo de Licenciamento das Atividades de Aqüicultura, no Estado da Bahia. 2.0 APLICAÇÃO Aplica-se às atividades econômicas que cultivem e produzam organismos que tenham na água o seu normal ou mais freqüente meio de vida. 3.0 SUPORTE LEGAL Esta Norma tem como suporte legal o § 2º do Art. 100 e o Art. 114 do Decreto nº 7.639 de 28/07/99, que regulamenta a Lei Estadual 3.858/80. 4.0 LEGISLAÇÃO FUNDAMENTAL Deverão ser cumpridas as legislações a seguir, bem como as demais pertinentes ao assunto: 4.1 Decreto-Lei nº 221, de 28/06/67; 4.2 Decreto nº 2.869, de 09/12/98; 4.3 Portaria IBAMA nº 145-N, de 29/10/98; 4.4 Portaria IBAMA nº 136, de 14/10/98; 4.5 Resolução CONAMA nº 20, de 18/06/86; 5.0 DEFINIÇÕES Os termos utilizados nesta Norma descritos a seguir, significam: 5.1 Sistema Estadual de Administração dos Recursos Ambientais - SEARA: Sistema Estadual destinado a promover, dentro da política de desenvolvimento integral do Estado, a conservação, defesa e melhoria do ambiente, em benefício da qualidade de vida. 5.2 Conselho Estadual de Meio Ambiente - CEPRAM: Órgão de caráter normativo e deliberativo do SEARA. 5.3 Centro de Recursos Ambientais - CRA: Órgão executor do SEARA. 5.4 Órgão Setorial: Todos os órgãos centralizados e entidades descentralizada da

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administração estadual, cujas atividades estejam, total ou parcialmente, associadas às de conservação, defesa e melhoria do ambiente. 5.5 BAHIA PESCA S.A.: Órgão setorial do SEARA, vinculada à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, que tem como competência promover e executar e fomentar a política do desenvolvimento no setor pesqueiro e aqüícola no âmbito do Estado. 5.6 Aquicultor: Pessoa física ou jurídica que se dedique ao cultivo de organismos cujo ciclo de vida ocorre inteiramente em meio aquático. 5.7 Pesque-pague: Pessoa física ou jurídica que mantém estabelecimento constituído de tanques, ou viveiros com peixes para exploração da pesca amadora. 5.8 Aqüicultura: o cultivo de organismos que tenham na água o seu normal ou mais freqüente meio de vida. 5.9 Sementes: formas jovens de organismos aquáticos destinados a cultivo, tais como "'spats", pós-larvas, alunos e ovos. 5.10 Piscicultura: cultivo de peixes. 5.11 Carcinicultura: cultivo de crustáceos, a exemplo de camarões. 5.12 Ranicullura: cultivo de rãs. 5.13 Algacultura: cultivo de micro e macroalgas. 5.14 Mitilicultura: cultivo de mexilhões. 5.15 Ostreicultura: cultivo de ostras. 5.16 Licença Ambiental: Ato administrativo pelo qual o CEPRAM estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, implantar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidora, ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. 5.17 Autorização Ambiental: Ato administrativo pelo qual o CRA autoriza a localização, implantação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, enquadradas como de porte micro ou outros, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. 5.18 Parecer Técnico: Documento elaborado pelo CRA ou pelo órgão Setorial, para concluir sobre o potencial de impacto ambiental da atividade em análise devendo ser considerando tanto a análise de toda a documentação apresentada pela empresa; verificações durante as inspeções realizadas á atividade; análise dos sistemas de controle ambiental propostos; conclusões do diagnóstico ambiental da área de influência do empreendimento. 5.19 Impacto significativo: Potenciais alterações, adversas ou benéficas, de relevância ambiental, identificadas durante o processo de análise. 5.20 Nível de Poluição: Indica o potencial de poluição que é atribuído á atividade: (p) pequeno, (m) médio ou (a) alto. 5.21 Atividades de Aqüicultura: As atividades de aqüicultura classificam-se em extensiva, semi-intensiva, intensiva ou super intensiva, a depender das estruturas, manejo e técnicas utilizadas para o cultivo, conforme descrito a seguir: ATIVIDADES DE AQUICULTURA NÍVEL DE

POLUIÇÃOPiscicultura extensiva - caracterizada pela não utilização de formas de incremento da produtividade primária.

p

Piscicultura semi-intensiva - caracterizada pela utilização de produtos para incrementar a produtividade primária, a exemplo de adubação e/ou alimentação suplementar.

m

Piscicultura intensiva - caracterizada pelo uso de aeração, rações balanceadas e incremento da produtividade primária.

m

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Piscicultura super intensiva - caracterizada pelo uso de estruturas tais como: raceway e/ou tanques-rede, rações balanceadas como única fonte de alimentação.

m

Carcinicultura extensiva - caracterizada pelo não uso de rações balanceadas.

P

Carcinicultura semi-intensiva - caracterizada pelo uso de rações balanceadas e incremento da produtividade primária.

m

Carcinicultura Intensiva - caracterizada pelo uso de aeração, rações balanceadas e incremento da produtividade primária.

m

Carcinicultura super-intensiva - caracterizada pelo uso de estruturas tais como: raceway e/ou tanques-rede, rações balanceadas como única fonte de alimentação.

m

Produção de sementes – produção de formas jovens de organismos aquáticos destinados ao cultivo, tais como "spats", larvas, pós-larvas, alevinos, girinos e ovos.

m

Produção de matrizes - produção de reprodutores selecionados para formação de planteis nas unidades de produção sementes.

P

Ranicultura- cultivo de rãs para abate. P Ostreicultura - cultivo de ostras. P Mitilicultura - cultivo de mexilhões para abate. P Algacultura - cultivo de algas para consumo humano, animal, industrial P 6.0 DISPOSIÇÕES GERAIS 6.1 As atividades de aqüicultura ficam classificadas segundo o porte, de acordo com os parâmetros estabelecidos seguir: QUADRO 01 - Classificação de empreendimentos de piscicultura extensiva, semi-intensiva e intensiva. PORTE ÁREA (ha) MICRO < 2 PEQUENO ≥ 2

< 10 MÉDIO ≥ 10

< 50 GRANDE ≥ 50

< 100 EXCEPCIONAL ≥ 100 QUADRO 02 - Classificação de empreendimentos de piscicultura super-intensiva. PORTE VOLUME{m3) MICRO < 500 PEQUENO ≥ 500

< 1000 MÉDIO ≥ 1000

> 2000 GRANDE ≥ 2000

< 5000 EXCEPCIONAL ≥ 5.000

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QUADRO 03 - Classificação de empreendimentos de Carcinicultura extensiva, semi-intensiva e intensiva. PORTE ÁREA (ha) MICRO < 10 PEQUENO ≥10

< 50 MÉDIO ≥50

< 200 GRANDE ≥200

< 500 EXCEPCIONAL ≥ 500 QUADRO 04 - Classificação de empreendimentos de Carcinicultura super-intensiva. PORTE ÁREA (ha) MICRO < 600 PEQUENO ≥ 600

< 3000 MÉDIO ≥ 3000

< 6000 GRANDE ≥ 6000

< 12000 EXCEPCIONAL ≥ 12000 QUADRO 05 - Classificação de empreendimentos de ranicultura PORTE ÁREA (m2) MICRO < 50 PEQUENO ≥ 50

< 300 MÉDIO ≥ 300

< 1000 GRANDE ≥ 1000

< 5000 EXCEPCIONAL ≥ 5000 QUADRO 06 - Classificação de empreendimentos de ostreicultura. PORTE ÁREA (m2) MICRO < 2000 PEQUENO ≥ 2000

< 5000 MÉDIO ≥ 5000

< 20.000 GRANDE ≥ 20.000

< 50.000 EXCEPCIONAL ≥ 50.000 6.2 A BAHIA PESCA S.A., como Órgão Setorial do SEARA, emitirá o Parecer Técnico, conforme previsto no Art. 94 e no § 6º do Art. 100, do Decreto nº 7.639/99 /99, para a expedição de Autorização Ambiental paia Atividades de Aqüicultura nos projetos elaborados e ou assistidos pela Empresa. Nos demais projetos caberá ao CRA a emissão do respectivo Parecer Técnico. 6.3 O empreendedor requererá junto à BAHIA PESCA S.A., a emissão do Parecer Técnico para a sua atividade, mediante apresentação do Roteiro de Caracterização do Empreendimento

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RCE, especificado no Anexo I desta Norma. 6.4 A BAHIA PESCA S.A. expedirá o Parecer Técnico, após a inspeção no local para a análise do empreendimento, considerando a sustentabilidade ambiental, social e econômica. 7.0 DISPOSIÇÕES ESPECÍFICAS 7.1 As Atividades de Aqüicultura que se desdobrem em: produção de sementes; produção de matrizes e produção para abate, classificadas como de micro ou pequeno porte, de acordo com o estabelecido nesta Norma, serão objeto de procedimento de Autorização Ambiental emitida pelo CRA com base no Parecer Técnico expedido pela BAHIA PESCA S. A ou pelo próprio CRA no caso dos Projetos não assistidos pela BAHIA PESCA. 7.2 O Parecer Técnico, emitido pela BAHIA PESCA S.A., constitui pré-requisito para o Requerimento de Autorização Ambiental, junto ao CRA. 7.3 Para o Requerimento da Autorização Ambiental, o interessado apresentará ao CRA: I. requerimento, através de formulário próprio do CRA, devidamente preenchido e assinado pelo representante legal da Empresa; II. Parecer Técnico, expedido pela BAHIA PESCA S.A.; III. certidão da Prefeitura Municipal Local, declarando que a atividade está em conformidade com a legislação municipal; IV. anuência prévia do Gestor da APA, quando couber V. outorga de uso da água expedida pelo órgão competente, quando for o caso; VI. anuência prévia de órgãos e entidades federais estaduais e municipais pertinentes, quando for o caso; VII. Roteiro de Caracterização do Empreendimento - RCE, conforme Anexo I, desta Norma. VIII. comprovante do pagamento de remuneração de análise; IX. outras informações e ou memoriais complementares exigidos pelo CRA, quando for o caso. 7.4 As Atividades de Aqüicultura que se desdobrem em produção de sementes, produção de matrizes e produção para abate, classificadas como de médio, grande ou excepcional porte, serão objeto de procedimento de Licença Ambiental expedida pelo CEPRAM, com base no Parecer Técnico emitido pelo CRA. 7.5 As atividades enquadradas como de porte grande ou excepcional serão submetidas ao procedimento de Avaliação de Impacto Ambiental - AIA, obedecendo ao disposto no Capitulo I do Decreto nº 7.639/99 e as Resoluções Normativas do CONAMA e do CEPRAM. 7.6 Para o requerimento da Licença Ambiental, o interessado apresentará ao CRA: I. Requerimento, através de formulário próprio CRA, devidamente preenchido e assinado pelo representante legal da empresa; II. certidão da Prefeitura Municipal, declarando que a atividade está em conformidade com a legislação municipal pertinente; III. anuência prévia do Gestor da APA, quando couber; IV. outorga de uso da água expedida pelo órgão competente, quando for o caso; V. anuência prévia de órgãos e entidades federais* estaduais e municipais pertinentes, quando for o caso; VI. original da publicação do Pedido da Licença em jornal de grande circulação, conforme modelo aprovado pelo CRA; VII. Roteiro de Caracterização do Empreendimento - RCE; conforme Anexo I, desta Norma. VIII. comprovante do pagamento de remuneração de análise; IX. Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental EIA/RIMA, quando couber.

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X. outras Informações c ou memoriais complementares, exigidos pelo CRA. 7.7 O CRA , com base nas informações constantes do Roteiro de Caracterização do Empreendimento - RCE, estabelecido no ANEXO I desta Norma e na inspeção local, realizará o Parecer Técnico, que subsidiará a deliberação da Licença Ambiental, através do CEPRAM.

ANEXO I

ROTEIRO DE CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO - RCE ATIVIDADES DE AQUICULTURA

1.0 INFORMAÇÕES GERAIS DO EMPREENDIMENTO 1.1 Razão Social ou Nome completo, no caso de pessoa física. 1.2 Atividade do empreendimento de acordo com a classificação da NT - 001/99. 1.3 Classificação do empreendimento segundo o Porte (micro, pequeno, médio, grande ou excepcional). 1.4 Autorização Ambiental ou Licença anterior, em caso de renovação. 1.5 Endereço (logradouro, bairro, cidade, CEP), telefone, fax e e-mail. 1.6 CNP J - Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. 1.7 Inscrição Estadual. 1.8 Inscrição Municipal. 1.9 Registro do IBAMA. 1.10 Acesso - descrever as vias de acesso a partir da sede municipal e rodovias mais próximas (por exemplo, BR-116, BA-093), indicando quilometragem, estado de conservação, tipo de pavimentação e facilidade de acesso. 2.0 REPRESENTANTE LEGAL 2.1 Nome 2.2 CPF 2.3 Endereço completo (rua, bairro, cidade, CEP, tel/fax e e-mail) 3.0 OBJETIVO DO EMPREENDIMENTO Explicar todas as etapas do empreendimento, tais como: obtenção de matrizes, produção de sementes (larvas, pós-larvas, alevinos, outros.), cultivo, formas de armazenamento do produto e formas de comercialização. 4.0 CONCEPÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO: Descrever o tipo de sistema utilizado (extensivo, semi-intensivo, intensivo, superintensivo). 5.0 AVALIAÇÃO DO MEIO FÍSICO 5.1 ÁGUA 5.1.1 Os itens abaixo deverão ser realizados pelo empreendedor, nos casos de atividades de porte Médio, Grande ou Excepcional • Especificar a fonte (água superficial, subterrânea, vazão): • Indicadores de qualidade da água da fonte: presença de organismos aquáticos, temperatura, transparência, pH, DBO, DQO, fosfatos, alcalinidade total, dureza total, nitrato, nitrito, condutividade, ferro e sulfato. • Vazão aduzida para o Projeto. • Sistema de controle da descarga dos efluentes do Projeto (pré-tratamento , qualidade do efluente, vazão e o destino final). 5.1.2 Os itens abaixo deverão ser realizados pelo empreendedor, nos casos de atividades de porte Micro ou Pequeno: • Especificar a fonte (água superficial, subterrânea, vazão): • Indicadores de qualidade da fonte de água: presença de organismos aquáticos, temperatura, transparência, pH, alcalinidade total, dureza total, condutividade, ferro e sulfatos.

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• Vazão aduzida para o Projeto: 5.2 SOLO 5.2.1 Os itens abaixo deverão ser realizados pelo empreendedor; nos casos de atividades de porte Médio, Grande ou Excepcional • Levantamento da área: estudo planialtimétrico; • Resultados das análises físico-químicas do solo: pH, iminentes, granulometria, plasticidade e permeabilidade; • Informações gerais sobre as condições climáticas; • Descrever a vegetação natural (citando os tipos de ecossistemas); • Técnicas utilizadas para o controle de erosão na área do Projeto; • Recursos a serem preservados; 5.2.2 Os itens abaixo deverão ser realizados pelo empreendedor, nos casos de atividades de porte Micro ou Pequeno: • Levantamento da área: estudo planialtimétrico; • Resultados das análises físico-químicas. do solo: pH, nutrientes, granulometria, plasticidade e permeabilidade; 6.0 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO 6.1 Tipo de instalação (viveiros de barragem, de derivação, alvenaria, tanques-rede, etc.); 6.2 Dimensionamento das instalações; 6.3 Área total ocupada pelo empreendimento (m2); 6.4 Área total de viveiros (m2) e/ou volume de tanque-rede/raceway (m2); 6.5 Investimento total (R$); 6.6 Pessoal - identificar o número de empregados próprios e de terceiros discriminando os envolvidos direta e indiretamente no empreendimento; 6.7 Número e área dos viveiros e/ou número e volume de tanques-rede/raceway; 6.8 Sistema de abastecimento: tomada da água da fonte: gravidade, bombeamento; 6.9 Sistema de drenagem; 6.0 Prédio e instalações; 6.11 Arborização; 6.12 Cronograma de execução das obras; 6.13 Manejo do sistema. 7.0 CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES CULTIVADAS Descrever sucintamente a biologia das espécies a serem cultivadas. 7.1 ALIMENTAÇÃO Níveis de arraçoamento: projeção do fornecimento de alimento por dia e por período (ciclo). 7.2 ACOMPANHAMENTO DO CULTIVO Monitoramento da qualidade de água: parâmetros físico-químicos: pH, temperatura, transparência, oxigênio e amônia. 7.3 PARÂMETROS DE CULTIVO • densidade de estocagem; taxa de mortalidade; número de ciclos/ano; produção anual; • tempo de cultivo; cronograma de cultivo. 8.0 ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS Os itens descritos abaixo deverão ser realizados pelo empreendedor nos casos de atividades de porte Médio, Grande ou Excepcional. Para as atividades de porte Micro ou Pequeno os itens abaixo serão verificados pelo técnico responsável pela inspeção. Descrever os possíveis impactos causados no meio físico na área do empreendimento c no seu entorno. 8.1 IMPACTOS NO SOLO Descrever os impactos no solo caracterizando: • As áreas afofadas pela atividade;

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• Descrever a fisiografia e quantificar em hectares; • As modificações do relevo e da paisagem; • Descrever os impactos paisagísticos notáveis e as áreas sujeitas a erosão e assoreamento em conseqüência da atividade, se for o caso. • Avaliar o local escolhido para a disposição final dos resíduos. 8.2 IMPACTOS NOS RECURSOS HÍDRICOS Caracterizar os impactos no meio hídrico causados pelos seguintes agentes: • lançamento de efluentes; caracterizar e quantificar; • Assoreamento de drenagens; • Desvio de drenagens. 9.0 SOLUÇÕES PROPOSTAS Listar as medidas de controle e respectivos prazos para o cumprimento. 10. ANEXAR OS SEGUINTES DOCUMENTOS: 10.1 Laudo de análise de água e solo; 10.2 Laudo de análise de solo; 10.3 Pranchas descritivas do empreendimento; • Lay-out geral; • Detalhes (viveiros, estruturas de abastecimento e drenagem); • Prédios e instalações (arquitetônica, elétrica e hidráulica).

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ANEXO - F

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RESOLUÇÃO COEMA Nº02, DE 27 DE MARÇO DE 2002 (DOE 10/04/02) O CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE-COEMA, no uso de suas atribuições que lhe conferem os arts. Art. 2º, itens 2 e 7, da Lei nº 11.411, de 28.12.87, Art. 2º, VII, do Decreto nº 23.157, de 08.04.94, fundamentado no Parecer da Câmara Técnica sobre Carcinicultura e Proteção do Meio Ambiente, criada pela Resolução nº 17, de 13 de dezembro de 2001 do COEMA, apresentado na 99ª Reunião Ordinária, realizada em 27 de março de 2002, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, e Considerando a necessidade de proteger a formação vegetal de mangue além das áreas de preservação permanente; Considerando a necessidade de ordenar o cultivo de camarão fora das áreas de preservação permanente; Considerando a necessidade do abastecimento e drenagem das fazendas de cultivo de camarão em corpos d’água fluviais e flúvio-marinhos; Considerando a necessidade de serem editadas normas específicas e eficazes para o licenciamento ambiental de empreendimentos de cultivo de camarões; Considerando a ausência de legislação ou norma federal específica; Considerando as características ambientais diferenciadas entre o Estado do Ceará e os demais Estados da Federação; Considerando que a Resolução COEMA nº 16, de 28 de dezembro de 2.000 não contempla todos os aspectos de proteção ambiental desejados à implantação das atividades de carcinicultura; Considerando o cultivo de camarão como uma atividade econômica legal, sendo necessário para tanto estabelecer normas regularmentadoras aos procedimentos de licenciamento ambiental para empreendimentos de carcinicultura terrestre, nos termos desta Resolução RESOLVE: Art. 1º Para efeito desta resolução são adotadas as seguintes definições: I- Marés de sizígias: são as marés astronômicas de maior amplitude que ocorrem no Oceano Atlântico, durante o período compreendido por dois dias antes e dois dias depois da lua nova e lua cheia. II- Marés equinociais: são as sizígias que ocorrem nos equinócios, quando há alinhamento aparente do plano solar com o equador terrestre em março e setembro. III- Marés de quadratura: são as marés astronômicas de menor amplitude que ocorrem no Oceano Atlântico, durante o período compreendido por dois dias antes e dois dias depois da lua de quarto crescente e quarto minguante.

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IV- Médio-litoral: é a faixa de terra delimitada pelos níveis extremos das preamares e baixa-mares de sizígia. Também conhecida como região intertidal ou intermaré. V- Médio-litoral inferior: é a faixa de terra delimitada pelos níveis extremos das baixa-mares equinociais de sizígia e nível médio das baixa-mares de quadratura, somente exposta em intervalos de quinze dias e o permanece sendo por períodos contínuos de aproximadamente cinco dias. VI- Médio-litoral médio: é a faixa de terra delimitada pelos níveis médios das baixa-mares e preamares de quadratura. Essa faixa de terra é inundada e exposta para todos os dias. VII- Médio-litoral superior: é a faixa de terra delimitada pelo nível médio das preamares de quadratura e nível extremo das preamares de sizígia equinociais, somente inundada em intervalos de quinze dias e o permanece sendo por períodos contínuos de aproximadamente cinco dias. VIII- Nível médio de maré: é a cota representando a média de todas as preamares e baixa-mares de sizígia e quadratura. Em termos topográficos, o nível médio está situado na zona de médio-litoral inferior, não se devendo confundir com o nível zero de maré. IX- Manguezal: é o ecossistema litorâneo, com influência flúvio-marinha, que ocorre em terrenos sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas ou arenosas recentes, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, e cuja importância ecológica concentra-se na exportação significativa de matéria orgânica particulada e dissolvida para os ecossistemas estuarino e marinho e na proteção contra a erosão da linha de costa. X- Salgado: é o ecossistema desprovido de vegetação vascular desenvolvendo-se entre o nível médio das preamares de quadratura e o nível das preamares de sizígia equinociais, em faixa de terra hipersalina com valores da água intersticial acima de 100 ppm (partes por milhar), normalmente situado em médio-litoral superior. XI- Apicum: é o ecossistema de estágio sucessional tanto do manguezal como do salgado, onde predomina solo arenoso e relevo elevado que impede a cobertura dos solos pelas marés, sendo colonizado por espécies vegetais de caatinga e/ou mata de tabuleiro. XII- Salinas: são áreas antropizadas que geram ecossistemas apresentando hipersalinidade residual de solo, e consequentemente baixa capacidade de regeneração natural por vegetação de mague. XIII- Classes de água: são aquelas definidas pela Resolução CONAMA nº 20 de 18 de junho de 1986. XIV- Áreas de Preservação Permanente: são aquelas definidas pela Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965 (Código Florestal) e pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2.001. XV- Reservas Legais: são aquelas definidas pela Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965 (Código Florestal) e pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2.001.

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Art. 2º - A localização, instalação, modificação, ampliação e operação de empreendimentos de carcinicultura dependerá de prévio licenciamento ambiental pela SEMACE, sem prejuízo de outras licenças exigidas legalmente. § 1º-Nos Terrenos da União, a SEMACE quando da análise do licenciamento ambiental, deverá solicitar a anuência prévia do IBAMA. § 2º-Não será permitida a instalação de empreendimento em faixa de médio-litoral inferior, até o limite do nível médio de maré. Art. 3º-Para efeito desta Resolução, os empreendimentos individuais de carcinicultura serão classificados em categorias, de acordo com a dimensão máxima efetiva de área ocupada. §1º- Os empreendimentos de pequeno porte são aqueles com áreas ocupadas inferiores ou iguais a 02 (dois) hectares, que poderão, a critério da SEMACE, ter os seus processos de licenciamento simplificados, de acordo com a Resolução CONAMA nº 237 de 19 de dezembro de 2001. §2º- Os empreendimentos de médio porte são aqueles com áreas ocupadas maiores que 02 (dois) e menores ou iguais a 50 (cinqüenta) hectares, devendo comprovar sua viabilidade ambiental no processo de licenciamento. §3º-Os empreendimentos de grande porte são aqueles com áreas ocupadas maiores que 50 (cinqüenta) hectares, devendo apresentar obrigatoriamente Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental no processo de licenciamento. §4º- Na ampliação dos projetos de carcinicultura os estudos ambientais solicitados serão referentes ao novo porte em que será classificado o empreendimento. §5º- A SEMACE poderá determinar a elaboração de estudos ambientais mais restritivos dependendo da fragilidade da área onde serão implantados os empreendimentos de carcinicultura. Art. 4º - Será permitido a instalação de equipamentos de captação, adução e drenagem dos empreendimentos de carcinicultura nas margens dos rios e demais recursos hídricos, desde que não provoquem desmatamento. §1º-Na área de preservação permanente (APP), colonizada por formações vegetais não será admitida a introdução de equipamentos de captação, adução e drenagem. §2º-Os equipamentos de captação, adução e drenagem se limitarão a ocupar no máximo 5% (cinco por cento) de cada faixa de ecossistema no trânsito pela APP. §3º-O total do ecossistema a ser considerado para cálculo da limitação será sempre aquele defronte à propriedade, ao longo do recurso hídrico onde se fizer o abastecimento ou se lançar à drenagem. Art. 5º - Os empreendimentos situados em zona de influência flúvio-marinha, cujo abastecimento se dê em captações de águas classe 7, e em presença de formação vegetal de mangue na APP ou além dela, manterão um corredor de reserva, de no mínimo, 10 (dez)

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metros, entre a parte posterior da vegetação de mangue e o empreendimento, em toda a área de médio litoral aonde ocorra esta condição. Art. 6º Os empreendimentos de carcinicultura a serem implantados tanto em ecossistemas de apicuns quanto de salgados, deverão preservar, no mínimo 20% (vinte por cento) dessas áreas, cuja localização será definida pela SEMACE. §1º-No caso de empreendimentos circunvizinhos às áreas definidas para preservação deverão ser, preferencialmente, contíguas. §2º- Este percentual de 20% (vinte por cento) não poderá ser incorporado ao de Reserva Legal da propriedade. Art. 7º- Áreas de salina localizadas na faixa de médio-litoral médio, poderão ser ocupadas por empreendimentos de carcinicultura, desde que se adeqüem ao disposto nesta Resolução. Art. 8º- A SEMACE, no exercício de sua competência e controle, expedirá Licença Prévia - LP, Licença de Instalação-LI e Licença de Operação-LO, para os empreendimentos de carcinicultura, sendo: § 1º- A Licença Prévia será concedida pela SEMACE na fase preliminar do empreendimento, aprovando sua concepção e localização, em parecer técnico que estabelecerá os condicionantes e requisitos básicos a serem atendidos nas próximas fases do licenciamento, através de termo de referência. § 2º- A Licença de Instalação será concedida pela SEMACE mediante a apresentação do projeto e de sua aprovação, consubstanciada em parecer técnico. §3º- A Licença de Operação será concedida pela SEMACE mediante a implantação do projeto aprovado através da Licença de Instalação, desde que tenham sido cumpridos todos os condicionantes previamente estabelecidos, e será embasada em parecer técnico. §4º- As licenças ambientais poderão ser expedidas isoladas ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento. §5º - Os termos de referência serão emitidos pela SEMACE de acordo com as características de cada projeto e dos ecossistemas onde pleiteiam se instalar, atendida a legislação pertinente. § 6º- Poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental para pequenos empreendimentos similares e vizinhos, ou para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pela SEMACE, desde que definida responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos. Art. 9º- Os responsáveis pelos empreendimentos de carcinicultura em operação, na data da expedição desta Resolução, deverão regularizar sua situação, em consonância com a SEMACE, mediante a obtenção de Licença de Operação, nos termos da legislação em vigor, para a qual será exigida a apresentação de estudos ambientais pertinentes, na forma de um Programa de Controle e Monitoramento Ambiental- PCMA, conforme termo de referência a ser emitido pela SEMACE.

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§ 1º- os empreendimentos em operação, na data de publicação desta Resolução, deverão adequar-se a ela no prazo máximo de 2 anos. § 2º- Estes empreendimentos não poderão solicitar a Licença de Operação até que recuperem todo seu passivo ambiental, caso exista, seja este também na forma de pendências administrativas e/ou judiciais. § 3º- A SEMACE emitirá em procedimento administrativo próprio, por solicitação do empreendedor, um atestado sobre a existência ou não do passivo ambiental de cada empreendimento. § 4º- O passivo ambiental poderá ser compensado mediante a adoção de medidas compensatórias ao meio ambiente, nos termos da legislação vigente. Art. 10- Todos os empreendimentos com lançamento das águas de despesca em corpos hídricos de qualquer classe, deverão atender aos padrões definidos nas legislações vigentes. PARÁGRAFO ÚNICO - A SEMACE após análise do projeto e do meio onde se insere determinará as medidas de tratamento e controle desses lançamentos, através da emissão de termo de referência. Art. 11- Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando as disposições em contrário, especialmente a Resolução COEMA nº 16 de 28 de dezembro de 2000. SECRETARIA DA OUVIDORIA-GERAL E DO MEIO AMBIENTE, em Fortaleza, 1º de abril de 2002. JOSÉ KLEBER CALOU FILHO Presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente

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ANEXO - G

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CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE PERNAMBUCO – CONSEMA

Resolução CONSEMA n° 02/2002, de 15 de outubro de 2002.

O CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE PERNAMBUCO – CONSEMA, no uso das atribuições conferidas pelos Arts. 2° e 3°, incisos I, II, III, IV e VII, com fundamento em indicações da Câmara Técnica de Pesca e Aqüicultura, apresentadas na XIV Reunião Extraordinária, realizada no dia 15 de outubro e, tendo em vista o disposto em seu Regimento interno, e, CONSIDERANDO a necessidade de proteção das áreas de Preservação Permanente; CONSIDERANDO a existência de determinação constitucional de proteção das áreas de preservação permanente, entre as quais se incluem os manguezais e seus estágios sucessionais, além das determinações das legislações federal, estadual e municipal atinentes à proteção do meio ambiente; CONSIDERANDO a necessidade do desenvolvimento de estudos atinentes ao zoneamento ecológico-econômico das áreas estuarinas de todo o Estado de Pernambuco a serem realizados pelo Órgão Ambiental competente; CONSIDERANDO a necessidade de ordenar o cultivo de camarão fora das áreas de preservação permanente; CONSIDERANDO a necessidade do abastecimento e drenagem das fazendas de cultivo de camarão em corpos d’água fluviais e flúvio-marinhos; CONSIDERANDO a necessidade de serem editadas normas específicas e eficazes para o licenciamento ambiental de empreendimentos de cultivo de camarões; CONSIDERANDO, por fim, o cultivo de camarão uma atividade econômica, sem regulamentação específica no Estado, a qual necessita do estabelecimento de normas regulamentadoras dos procedimentos de licenciamento, controle, acompanhamento e fiscalização ambiental, nos termos desta Resolução; RESOLVE: Art. 1° - O procedimento de licenciamento ambiental dos empreendimentos de carcinicultura na zona costeira obedecerá o disposto nesta Resolução, sem prejuízo de outras exigências estabelecidas em normas federais, estaduais e municipais. Parágrafo Único: Para efeito desta Resolução são adotados os termos técnicos, parâmetros e definições, bem como a legislação fundamental constantes dos Anexos. Art. 2º - A localização, instalação, modificação, ampliação e operação de empreendimento de carcinicultura dependerão de prévio licenciamento ambiental pelo Órgão Ambiental competente.

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§ 1° - Não será permitida a instalação de empreendimento de carcinicultura em áreas de manguezal. § 2° - Nos Terrenos da União, o Órgão Ambiental competente, quando da análise do licenciamento ambiental, deverá exigir do empreendedor anuência prévia do IBAMA e autorização da Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU) sobre o uso e ocupação da área. Art. 3° - O Órgão Ambiental competente expedirá, mediante o requerimento do carcinicultor a Licença Prévia (LP), a Licença de Instalação (LI) e a Licença de Operação (LO), para os empreendimentos de carcinicultura, a apresentação da documentação especificada no Anexo I desta resolução. § 1° - A Licença Prévia será concedida na fase preliminar, mediante análise do memorial descritivo do empreendimento e inspeção no local, para análise da viabilidade ambiental de implantação do empreendimento, aprovando, ou não, sua concepção e localização, e estabelecerá os condicionantes e requisitos básicos a serem atendidos nas próximas fases do licenciamento, através de Termo de Referência; § 2° - A Licença de Instalação será concedida mediante a análise do Projeto Técnico Executivo e do plano de controle ambiental (PCA), com sua aprovação consolidada em parecer técnico, no qual estarão estabelecidos os condicionantes e requisitos básicos a serem atendidos até a próxima fase do licenciamento, conforme o Termo de Referência; § 3° - A Licença de Operação será concedida mediante a comprovação da implantação de acordo com o Projeto aprovado através da LI, o fiel cumprimento das condicionantes pré-estabelecidas e a análise do plano de monitoramento ambiental (PMA), e será embasada em parecer técnico; § 4° - Poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental, nos termos desta resolução para empreendimentos cooperados, similares e vizinhos, ou para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento previamente aprovados pelo Órgão Ambiental competente, desde que definida a responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos; § 5° - O Órgão Ambiental competente terá um prazo máximo de 60 dias para a conclusão de cada etapa do licenciamento ambiental; Art. 4º - Para efeito desta Resolução, os empreendimentos individuais de carcinicultura serão enquadrados em categorias, de acordo com a dimensão efetiva de área inundada, conforme tabela a seguir:

PORTE ÁREA EFETIVAMENTE INUNDADA

(hectares)

Pequeno Menor ou igual a 10,0

Médio Maior que 10,0 e menor ou igual a 50,0

Grande Maior que 50,0

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§ 1° Os empreendimentos enquadrados como de pequeno porte poderão atender a um procedimento simplificado de licenciamento ambiental, desde que este procedimento tenha sido aprovado pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente; § 2° - Os empreendimentos enquadrados como de médio porte ficam sujeitos ao processo de licenciamento ambiental regulamentar; § 3° - Ficam sujeitos à exigência de apresentação de Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA, os empreendimentos enquadrados como de grande porte. Art. 5° - O Órgão Ambiental poderá determinar a elaboração de estudos ambientais mais restritivos, dependendo da fragilidade da área ou do potencial de impacto da tecnologia adotada onde serão implantados os empreendimentos de carcinicultura; § 1° - Ficam sujeitos à exigência de apresentação de EIA/RIMA, os empreendimentos localizados em áreas onde se verifique o efeito de adensamento pela existência de empreendimentos contínuos, podendo o referido estudo ser realizado de forma cooperativa pelo grupo dos empreendedores envolvidos; § 2° - Na ampliação e justaposição dos projetos de carcinicultura, as exigências documentais e estudos ambientais solicitadas serão referentes ao novo enquadramento do empreendimento; Art. 6º - Atendido ao disposto nesta Resolução e feita análise da localização de cada projeto, será permitida a utilização, para as atividades relacionadas a carcinicultura, até de 30%, das áreas de salgados e apicuns existentes na borda continental voltada para a zona estuarina, podendo chegar 50% (cinqüenta) por cento por meio de compensação de área de reserva legal suplementar na propriedade, mediante Termos de Compromisso. § 1° - O total do ecossistema a ser considerado para cálculo da limitação será sempre aquele adjacente à propriedade, na faixa compreendida entre a Borda continental e o limite da formação vegetal de mangue da Área de Preservação Permanente (APP). § 2° - Serão considerados como Área de Preservação Permanente (APP), os salgados e apicuns circundados por manguezais ou completamente no interior dos mesmos, sem prejuízo das definições do Código Florestal. Art. 7° - Será permitida a instalação de equipamentos de captação, adução e drenagem dos empreendimentos de carcinicultura, nas margens dos rios e demais recursos hídricos, desde que não provoquem desmatamento. § 1° - Os equipamentos de captação, adução e drenagem se limitarão a ocupar, no máximo, 5% (cinco por cento) de cada faixa de ecossistema, no trânsito pela Área de Preservação Permanente - APP. § 2° - O total do ecossistema a ser considerado para cálculo da limitação será sempre aquele defronte à propriedade, ao longo do recurso hídrico onde se fizer o abastecimento ou se lançar a drenagem.

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Art. 8º - Os empreendimentos situados em zona de influência flúvio-marinha, onde ocorra a presença de formação vegetal de mangue, manterão um afastamento de, no mínimo, 30 (trinta) metros, entre a parte posterior da vegetação e o empreendimento, considerado pelo limite da base externa dos diques, por toda a área de confrontamento onde ocorra esta situação, não inferior a Área de Preservação Permanente. Art. 9º - As áreas propícias à atividade de carcinicultura serão definidas no Zoneamento Ecológico-Econômico, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente e em conformidade com os Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Gerenciamento Costeiro. Parágrafo Único: No processo referido no caput será considerado o potencial de produção ecologicamente sustentável do estuário ou da bacia hidrográfica. Art. 10° - As Áreas de Reserva Legal previstas na legislação ambiental, correspondentes a 20% (vinte por cento) da área da propriedade a ser utilizada para carcinicultura, com localização definida pelo Órgão Ambiental competente e devidamente averbada em cartório, ficam sujeitas às restrições de uso estabelecidas para Áreas de Preservação Permanente. Art. 11° - O Órgão Ambiental competente deverá emitir Termo de Referência padrão aprovados pelo CONSEMA, estabelecendo condicionantes e requisitos para os projetos com pedido de licenciamento, contemplando todas as fases de atividade prevista no empreendimento, inclusive tratamento de efluentes e seu lançamento em corpos hídricos. § 1° - O Órgão Ambiental competente criará um grupo de monitoramento e fiscalização, preferencialmente direcionado à atividade de carcinicultura do Estado de Pernambuco, visando à adequação dos empreendimentos aos parâmetros legais e medidas indicadas nos estudos e relatórios de impactos ambientais exigidos, apresentando relatório anual ao CONSEMA. § 2° - Todos os empreendimentos com lançamento das águas de drenagem em corpos hídricos, de qualquer classe, deverão atender aos padrões definidos na legislação vigente, com a preferencial possibilidade de reuso do recurso hídrico previsto no Projeto Técnico. Art. 12° - Os responsáveis pelos empreendimentos de carcinicultura em operação deverão regularizar a situação a partir da data da publicação da presente Resolução, em consonância com seus termos, mediante a obtenção de Licença de Operação perante o Órgão Ambiental competente; no prazo máximo de 90 (noventa) dias para iniciar o processo e ajustar-se no prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias contados a partir do referido requerimento. § 1° - Os empreendimentos mencionados no caput deste artigo, terão como condicionante para a obtenção da Licença de Operação, a recuperação de todo seu passivo ambiental, caso exista, além da solução das pendências administrativas. § 2° - Medidas compensatórias poderão ser adotadas para satisfazer o passivo ambiental, nos termos da legislação vigente. § 3° - O Órgão Ambiental competente emitirá, em procedimento administrativo próprio, quando da solicitação da Licença de Operação conforme o caput deste artigo, um atestado sobre a existência, ou não, de passivo ambiental para cada empreendimento.

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Art. 13° - O Órgão Ambiental competente terá 60 (sessenta) dias para ajustar-se a essa Resolução, período em que não deverá conceder novas Licenças Prévias. Art 14 º- Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Recife, 15 de outubro de 2002. CLÁUDIO JOSÉ MARINHO LÚCIO Presidente do Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONSEMA