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CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA POR DRX E MET DE NANOCOMPÓSITOS DA POLIAMIDA 6 E 66 COM ARGILA
BENTONITA REGIONAL
Amanda M. D. Leite1*, Vanessa da N. Medeiros1, Larissa F. Maia1, Edcleide M. Araújo, Hélio L. Lira
1* Doutoranda em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. 1 Depto. de Engenharia de Materiais da UFCG, Av. Aprígio Veloso, 882, CEP 58429-900, Campina Grande-PB
Foram produzidos nanocompósitos poliméricos de poliamida (6 e 66) e uma argila constituída de silicatos em camadas proveniente do interior da Paraíba. A argila foi modificada organicamente utilizando-se o sal quaternário de amônio Cetremide, isto para que haja uma maior interação da argila com o polímero. A argila sem tratamento (MMT) e a argila tratada (OMMT) foram avaliadas através de Difraçao de Raios-X que comprovou a inserção do sal nas camadas de argila. Foi verificado que os nanocompósitos apresentaram estrutura morfológica esfoliada e/ou parcialmente esfoliada, como comprovado por microscopia eletrônica de transmissão (MET) e DRX). Palavras-chave: Nanocompósitos, poliamida 6, poliamida 66, argila bentonita, argila organofílica.
Morphologic characterization for XRD and TEM of polyamide 6 and 66 nanocomposites with bentonite regional
clay. Polyamide 6 and 66 nanocomposites with clay consisting of silicates layer from of Paraíba were produced. The clay was modified being used the quaternary salt of ammonium Cetremide, this so there is a better interaction of the clay with polymeric matrix. The clay without treatment (MMT) and treated clay was evaluated by XRD that showed the insertion of the salt molecules into silicates layer. The nanocomposites were obtained from polyamide 6 and 66 were verified that these presented morphological structure composed of exfoliated/partially exfoliated, analyzed by XRD and TEM. Keywords: Nanocomposites, poliamide 6, poliamide 66, bentonite clay, organoclay. Introdução
A combinação entre cerâmicas e polímeros tem sido usada nas últimas duas décadas para
produzir compósitos de alto desempenho. O grande objetivo por trás desse conceito é o de fazer
uso de propriedades inerentes das entidades envolvidas, propriedades essas que estão
fundamentalmente ligadas à estrutura básica desses materiais (como ligações químicas primárias
e arranjo atômico). Assim, a associação entre os altos módulos de elasticidade e resistência
mecânica de fibras micrométricas cerâmicas com a tenacidade, baixa densidade e facilidade de
processamento de vários polímeros propiciaram a fabricação de materiais com propriedades
especiais não existentes nos materiais de origem [1,2].
Nanocompósitos poliméricos são materiais formados por partículas nanométricas
dispersas em uma matriz, onde esta pode ser única ou uma mistura de polímeros. Os
nanocompósitos poliméricos são uma nova classe de materiais que está emergindo na indústria
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[1]. Durante o processamento dos nanocompósitos, há a inserção de cadeias poliméricas entre a
estrutura lamelar dos argilominerais.
As poliamidas foram os primeiros termoplásticos de engenharia a serem sintetizados e
são materiais que podem ser processados via moldagem por injeção ou extrusão, dando origem a
produtos que apresentam resistência, dureza, rigidez e durabilidade, requeridas de peças
mecânicas [3,4].
Segundo Cho & Paul [5], a argila mais empregada na área de nanocompósitos
polímero/silicato em camada é a bentonita, do grupo das esmectitas. Uma vez que com a
utilização dos silicatos em camadas como reforço para polímeros, a interação entre
polímero/argila pode aumentar consideravelmente devido à elevada razão de aspecto dessas
argilas e características únicas de intercalação/esfoliação, maximizando a interação entre os
componentes e, ampliando o numero de superfícies e interfaces carga/matriz [1, 5].
O objetivo deste trabalho foi a preparação de nanocompósitos de poliamida 6 e 6.6 com
argila regional, proveniente da Paraíba, e assim, avaliar e comparar a estrutura morfológica dos
nanocompósitos obtidos.
Experimental
Materiais
Argila Bentonita Brasgel PA (sódica), CTC= 90meq/100g (método de adsorção de azul
de metileno), passada em peneira ABNT nº. 200 (D = 0,074mm), de cor creme, fornecida pela
Bentonit União Nordeste (BUN), localizada na cidade de Campina Grande – PB. Esta argila foi
denominada de argila sem tratamento (MMT), devido ao argilomineral predominante ser a
montmorilonita. Para torná-la compatível com a matriz polimérica, os íons de sódio presentes
entre as lamelas da argila são trocados por íons de amônio para produzir a argila organofílica.
Essa troca foi realizada na presença dos sais quaternários de amônio e Cetremide (Brometo de
hexadeciltrimetil amônio), fornecido pela Vetec/SP. Para a obtenção da argila organofílica
(OMMT) foi realizado tratamento apropriado para o sal, baseando-se na CTC da argila,
conforme trabalhos anteriormente reportados [6-10].
As matrizes poliméricas empregadas foram a poliamida 6 (Technyl C216) e a poliamida
6.6 (Technyl A216) fornecida pela Rhodia/SP, sob a forma de grânulos de coloração branca.
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Métodos
Para a produção dos nanocompósitos das poliamidas foram preparados concentrados (1:1)
em misturador interno acoplado ao Reômetro de Torque System 90 da Haake-Büchler, operando
a 240 ºC, 60 rpm por 10 minutos. Os concentrados obtidos foram triturados em moinho de facas
e, posteriormente, adicionados à matriz polimérica, em quantidades necessárias para a obtenção
de teores nominais de 3% em massa de argila. A mistura foi processada em extrusora de rosca
dupla contra-rotativa acoplada a um Reômetro de Torque System 90 da Haake-Büchler,
utilizando-se temperatura de 230 ºC na 1ª zona e 240 ºC nas demais zonas de aquecimento para
os nanocompósitos da matriz com a poliamida 6 e 250 °C na 1ª zona e 260 °C nas demais para os
nanocompósitos com a matriz de poliamida 6.6, e para as duas matrizes a velocidade de rotação
das roscas foi de 60 rpm. Para efeito de comparação, as poliamidas puras foram extrudadas sob
as mesmas condições da mistura.
Caracterizações
Os nanocompósitos foram caracterizados por DRX, para que fosse determinado o
espaçamento basal entre as camadas de argila, bem como verificar a formação do
nanocompósito. As análises de DRX foram realizadas em aparelho XRD-6000 Shimadzu,
utilizando-se radiação Kα do cobre (λ= 1,542 Å), tensão de 40KV, corrente de 30 mA, varredura
entre 2θ de 2 a 30º e velocidade de varredura de 2º/min, no Laboratório de Engenharia de
Materiais/CCT/UFCG, no pó das argilas sem tratamento e da organofílica, nos nanocompósitos
obtidos.
Os nanocompósitos foram caracterizados também por microscopia eletrônica de
transmissão (MET) que permite analisar sua morfologia. As análises foram realizadas utilizando-
se o microscópio eletrônico de transmissão da marca PHILIPS CM120, operando a uma
voltagem de aceleração de 120 Kv, pertencente ao DEMA/UFSCar. As análises foram realizadas
em filmes obtidos a partir dos grânulos dos nanocompósitos.
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Resultados e Discussão
Difração de raios X (DRX)
As Figuras (a), (b) e (c) mostram os resultados de difração de raios-X para as argilas sem
tratamento, argila tratada com o sal Cetremide e os nanocompósitos de poliamida 6 e 66.
A analise de DRX da Figura 1 mostra que houve um deslocamento do ângulo 2θ de 6,97°
(MMT, d001 = 12,74 Å para 4,15° (OMMT, d001 = 21,41 Å). O deslocamento para ângulos
menores e, consequentemente, aumento da distancia basal, indica que houve a intercalação das
moléculas do sal entre as camadas de argila.
Nas Figuras (a) e (b) mostram os difratogramas de raios-x para as poliamidas 6 e
6.6 bem como seus nanocompósitos. As poliamidas e seus nanocompósitos foram analisados
através de filmes. Pode-se observar que os picos característicos das argilas (como visto na Figura
1) não aparecem para os nanocompósitos, ou seja, todas as curvas dos nanocompósitos se
apresentam como as das poliamidas pura. Esses resultados mostram que aparentemente os
nanocompósitos obtidos apresentam uma estrutura esfoliada, conforme a literatura [1,3,5]. Isto
também será confirmado por meio da microscopia eletrônica de transmissão.
Figura 1: Difratogramas da argila sem tratamento (MMT) e da argila tratada com o sal Cetremide (OMMT-Cet).
0 5 10 15
21,41Å
Inte
nsid
ade
(u.a
)
2θ
MMT
OMMT-Cet
12,74Å
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(a) (b)
Figura 2: Difratogramas dos nanocompósitos de (a) poliamida 6 e (b) poliamida 66
Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)
As Figuras 3 e 4 mostram as fotomicrografias dos sistemas de poliamida 6 e 66 com 3%
em peso de argila sem tratamento (MMT) e de argila organofílica.
As fotomicrografias dos sistemas PA6/MMT e PA6/OMMT-CEt apresentaram uma
morfologia parcialmente esfoliada, composta de lamelas de argila e alguns aglomerados
dispersos na matriz polimérica, sendo que o sistema PA6/MMT apresenta aglomerados de
tamanhos maiores.
Já as fotomicrografias dos sistemas PA66/MMT e PA66/OMMT-Cet observa-se uma
morfologia composta predominantemente de aglomerados pequenos e grandes de lamelas de
argila, ou seja, uma estrutura com intercalação parcial, também chamada de um microcompósito.
Para o nanocompósito com argila organofílica é possível observar uma morfologia
0 5 10 15
Inte
nsid
ade
(u.a
)
2θ
PA6 Puro
PA6/MMT
PA6/OMMT-Cet
0 5 10 15
Inte
nsid
ade
(u.a
)
2θ
PA66 Puro
PA66/MMT
PA66/OMMT-Cet
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esfoliada/parcialmente esfoliada composta de lamelas de argila bem distribuídas na matriz
polimérica.
De modo geral observou-se que para o sal estudado e em diferentes matrizes poliméricas,
os nanocompósitos exibiram uma estrutura com predominância de esfoliação, podendo assim
confirmar os resultados obtidos e anteriormente exibidos de difração de raios-X, mostrando
então que se faz necessário a utilização dessas duas técnicas na caracterização e interpretação do
tipo de nanocompósito obtido.
(a) (b)
Figura 3: Fotomicrografias de MET para os filmes de nanocompósitos de (a) PA6/MMT e (b) PA6/OMMT-Cet
(a) (b)
Figura 4: Fotomicrografias de MET para os filmes de nanocompósitos de (a) PA66/MMT e (b) PA66/OMMT-Cet
Conclusões
Após obtenção dos nanocompósitos e estudos, pode-se concluir que a ocorrência do
aumento interplanar basal na argila, visto por DRX, confirmou a intercalação das moléculas do
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sal entre as lamelas da argila, favorecendo assim a melhor interação argila/polímero. Por MET
foi visto que a estrutura da amostra de poliamida 6 e 66 com a argila sem tratamento foi
parcialmente intercalada e/ou de um microcompósito. Contudo, para os nanocompósitos com a
argila tratada, essas estruturas se apresentaram esfoliadas, o que foi confirmada por DRX.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Rhodia/SP pela doação das poliamidas, Bentonit União Nordeste
pela doação da argila, LabMat – Laboratório de Engenharia de Materiais/CCT/UFCG e
DEMA/UFSCar pelas analises, ANP/PRH-25, CTPETRO/MCT/CNPQ e MCT/CNPq pelo
auxilio financeiro e a Rede de Nanotecnologia Molecular e de Interfaces (RENAMI).
Referências Bibliográficas
[1] V. da N. Medeiros, Monografia, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, 2009.
[2] Laboratório de Engenharia de Polímeros e Compósitos (LEPCom), Universidade Federal de
Minas Gerais; disponível em:
<http://www.demet.ufmg.br/docentes/rodrigo/nanocomposito.htm>.
[3] A. M. D. Leite, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba,
2008.
[4] I. M. Kohan, Nylon Plastics Hanbook, Hanser Publishers, Munich Vienna New York, 1995.
[5] J. W. Cho, D. R. Paul, Polymer. v. 42, p.1083-1094, 2001.
[6] R. Barbosa, E. M. Araújo, A. D. Oliveira, T. J. A. Melo, Revista Cerâmica, 52, p. 264 (2006).
[7] E. M. Araújo, T. J. A. Melo, L. N. L. Santana, G. A. Neves, H. C. Ferreira, H. L. Lira, L. H.
Carvalho, M. M. Á’vila Jr., M. K. G. Pontes, I. S. Araújo, Mat. Sci. and Eng. B, 112, p. 175
(2004).
[8] R. Barbosa, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba,
2005.
[9] E. M. Araújo, T. J. A. Melo, A. D. Oliveira, H. L. D. Araújo, K. D. Araújo, R. Barbosa,
Polímeros: Ciência e Tecnologia, 16, p. 38 (2006).
[10] E. M. Araújo, R. Barbosa, A. W. B. Rodrigues, E. N. Ito, Mat. Sci. and Eng. A, 445-446, p.
141 (2007).