núcleo atômico

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1 CAPÍTULO V O NÚCLEO ATÔMICO (V.S. Bagnato) 5.1- CONSIDERAÇÕES GERAIS No modelo atômico tratado até então, o núcleo atômico foi considerado como uma massa pontual de carga positiva. Na realidade o núcleo é muito mais complexo. Ele é tão complexo que mesmo nos dias atuais ainda existem propriedades a serem entendidas. Nesta parte do curso, vamos considerar algumas propriedades fundamentais do núcleo e apresentar os principais modelos para explicá-las. Vamos iniciar o tema apresentando algumas grandezas típicas que nos permitem ter um quadro representativo do núcleo atômico. Ao redor de 1932, a composição nuclear foi determinada por Bothe e Becker. Eles observaram que ao bombardear matéria com partículas alfa uma radiação misteriosa era emitida do núcleo. Experimentos realizados por James Chadwick mostraram que esta misteriosa radiação era constituída por partículas neutras cuja massa era igual à do próton. Por ser uma partícula eletricamente neutra, esta recebeu o nome de nêutron. O nêutron é um elemento fundamental na composição nuclear, porém é uma partícula que só é estável no interior do núcleo. Ao ser colocado livremente, o nêutron torna-se instável e decai espontaneamente segundo a sequência de reações abaixo:

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Page 1: Núcleo Atômico

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CAPÍTULO V

O NÚCLEO ATÔMICO

(V.S. Bagnato)

5.1- CONSIDERAÇÕES GERAIS

No modelo atômico tratado até então, o núcleo atômico foi considerado como uma massa

pontual de carga positiva. Na realidade o núcleo é muito mais complexo. Ele é tão complexo

que mesmo nos dias atuais ainda existem propriedades a serem entendidas.

Nesta parte do curso, vamos considerar algumas propriedades fundamentais do núcleo e

apresentar os principais modelos para explicá-las. Vamos iniciar o tema apresentando

algumas grandezas típicas que nos permitem ter um quadro representativo do núcleo

atômico.

Ao redor de 1932, a composição nuclear foi determinada por Bothe e Becker. Eles

observaram que ao bombardear matéria com partículas alfa uma radiação misteriosa era

emitida do núcleo. Experimentos realizados por James Chadwick mostraram que esta

misteriosa radiação era constituída por partículas neutras cuja massa era igual à do próton.

Por ser uma partícula eletricamente neutra, esta recebeu o nome de nêutron. O nêutron é

um elemento fundamental na composição nuclear, porém é uma partícula que só é estável

no interior do núcleo. Ao ser colocado livremente, o nêutron torna-se instável e decai

espontaneamente segundo a sequência de reações abaixo:

Page 2: Núcleo Atômico

2

Nêutron → próton + elétron + antineutrino

Este processo de decaimento demora tempo da ordem de 1000 sec.

Logo após a descoberta do nêutron, observou-se que ele é um ingrediente necessário na

estrutura nuclear. Junto com o próton, outro constituinte fundamental do núcleo atômico,

determina em linhas gerais a massa total do átomo. As partículas que compõem o núcleo

são chamadas de núcleons. Dessa forma, tanto os prótons como os nêutrons são

denominados núcleons. Utiliza-se a seguinte notação para designar os núcleons:

Z = número atômico = número prótons

N = número nêutrons

A = Z + N = número massa

Para descrever uma determinada espécie química X, usamos normalmente a notação, ZXA.

Como exemplo, a representação do arsênico de número de massa 75 e número atômico 33 é

33As75.

Da composição nuclear, surge espontaneamente a idéia de isótopo. Os isótopos são átomos

com mesmo número de prótons e diferentes números de nêutrons e, portanto, diferentes

números de massa. Como as propriedades químicas dos elementos são predominantemente

determinadas pelos elétrons, os isótopos são elementos quimicamente equivalentes.

Com respeito ao tamanho nuclear, os experimentos de Rutherford forneceram as primeiras

evidências do tamanho finito do núcleo. Como foi visto anteriormente, através do

experimento de espalhamento de partículas alfa, determinou-se o limite de 10-4 Å para o

tamanho nuclear. Através dos cuidadosos experimentos de espalhamento de partículas,

determinou-se que o volume do núcleo é diretamente proporcional ao número de núcleons

nele contidos. Assim, se R é o raio nuclear, o volume correspondente é 3

34 R . Esse volume

é proporcional a A, número de massa, de modo que

31

0 ARR (5.1)

O valor de Ro foi obtido experimentalmente e é dado por

cmxR 13

0 102.1 (5.2)

O valor de R0 apresenta uma incerteza, devido à variação dos resultados obtidos de acordo

com o método utilizado na sua determinação. Ao fazer experimentos com espalhamento de

Page 3: Núcleo Atômico

3

nêutrons, estes interagem com o núcleo somente através de forças nucleares, enquanto

num experimento de espalhamento de elétrons a interação é essencialmente devida às

interações elétricas geradas pelas cargas nucleares. Um fato curioso é que o R0 determinado

a partir do espalhamento de elétrons ou partículas α é menor que o determinado pelo

espalhamento de nêutrons, revelando desta forma um importante resultado: a distribuição

de massa no núcleo e a distribuição de cargas não são iguais.

Conhecendo - se o tamanho dos núcleos, calcula-se a densidade de massa contida nestes

centros:

3

16

313

23

3

0

10023,0

102,13

4

106

1

3

4

1

cmg

Rnuclear

(5.3)

314103,2

cmg

nuclear (5.4)

A densidade nuclear mostra que o núcleo é cerca de 1014 mais denso do que a matéria

macroscópica a que estamos acostumados, ou seja, a matéria é praticamente oca. Em

determinadas estrelas, denominadas "anãs brancas", os elétrons dos átomos colapsam

devido à grande pressão entre os átomos, de modo que tais estrelas são basicamente

constituídas de matéria nuclear, apresentando densidades como as mostradas acima.

Ao analisarmos um núcleo estável, vemos que sua massa é ligeiramente menor do que a

soma das massas de seus constituintes isolados. Como exemplo, vemos que o núcleo de 3Li6

tem massa 6,01697 u.a. enquanto que somando as massas dos três prótons e três nêutrons

que compõem o núcleo, encontramos 6,0514 u.a. A quantidade de massa que está faltando,

Δm= 0,03443 u.a. é equivalente a 32,1 MeV. A equivalência entre massa e energia é dada

pela equação de Einstein,

2mcE (5.5)

Para um corpo de 1kg com velocidade da luz, c =2,997 x 108 m/s, a energia correspondente a

é E = 9x1016J. Lembramos que uma unidade de energia muito utilizada na física de partículas

subatômicas é o elétron-volt cujo valor é 1eV = 1,6 x 10-19J. Assim, 1 Joule = 0,6 x 1019eV e a

energia correspondente a uma massa de 1 Kg é E = 9x1016 x 0,6 x 1019 = 5,58 x 1035eV. Como

uma unidade de massa atômica é 1,66 x 10-27kg, podemos escrever 1kg = 0,6 x 1027u.a. =

5,58 x 1035eV, ou 1 eV = 9,3 x 108 eV = 930MeV. Dessa forma, Δm = 0,03443 u.a. ou 32,1

MeV. Isto significa que, para quebrar o núcleo de 3Li6 e obter os vários núcleons

Page 4: Núcleo Atômico

4

individualmente, é necessário fornecer ao sistema esta quantidade de energia. Tal energia,

contida na ligação entre os vários núcleons, é denominada de Energia de Ligação. Quanto

mais fortemente ligados estiverem os núcleons, mais estável será o núcleo. Dessa forma, a

energia de ligação mede a estabilidade dos núcleos.

A energia de ligação tem sua origem nas forças que mantêm os núcleons unidos, as quais

são um pouco diferentes dos tipos de força que estamos acostumados até o momento. Se

dividir a energia de ligação de cada núcleo pelo número de núcleons, obtém a energia por

núcleons. A energia / núcleon mostrada como função do número de massa do núcleo está

apresentada na figura 5.1.

Figura 5.1: Energia por núcleon em núcleos como função do número de massa.

O máximo da energia / núcleon está em torno de A = 56 (para o núcleo de Ferro), após o

qual há um vagaroso decréscimo. Como maior energia/núcleon representa maior

estabilidade, o gráfico acima sugere que núcleos pesados apresentam tendência em dividir-

se em núcleos mais leves, enquanto núcleos muito leves demonstram tendência em unir-se,

formando núcleos mais pesados e estáveis. De fato, em condições apropriadas isto ocorre,

sendo o caso de divisão nuclear denominado de fissão nuclear e o caso de combinação

denominado fusões nucleares. Ambos ocorrem com as corretas análises energéticas, ou

seja, sempre há um balanço entre as energias necessárias para quebrar e/ou reorganizar os

respectivos núcleos. Se forçar a fusão nuclear, pode-se em muitos casos liberar energia e

esse fenômeno, portanto, é uma fonte de energia.

Page 5: Núcleo Atômico

5

5.2 – MODELO NUCLEAR

Vamos estudar alguns modelos para forças nucleares. As forças que mantém os núcleons

juntos no interior do núcleo constituem, sem dúvida, as forças mais fortes que conhecemos

e, por isto, são comumente denominadas de interações fortes. Essa interação não pertence

a nenhuma das classes de forças com as quais estamos acostumados a lidar no nosso dia-a-

dia.

Existem vários modelos para explicar a natureza desta interação e, mesmo atualmente,

muito é feito para estudar-las. Vamos, brevemente, descrever os melhores modelos

propostos. Começaremos estudando a teoria dos mésons para forcas nucleares. Formulada

pelo físico japonês H. Yukawa, em 1935, esta teoria explica que as forças nucleares são o

resultado de um constante intercâmbio, de partículas entre os núcleons próximos. As

partículas que participam da troca são denominadas mésons. O processo seria, em alguns

aspectos, semelhante àquele no qual dois núcleos atômicos são mantidos juntos, formando

moléculas através do intercambio de “quanta” (unidade de energia) eletromagnéticos,

através da circulação eletrônica ao redor de ambos os núcleos.

De acordo com a teoria do méson para forças nucleares, todos os núcleons consistem de

centros idênticos, circundados por uma nuvem de um ou mais mésons. Estes mésons podem

ser neutros ou possuírem cargas. Neste contexto, a grande diferença entre nêutrons e

prótons reside na composição de suas nuvens mesônicas.

As forças existentes entre nêutrons ou entre prótons é o resultado de mésons neutros,

designados por π0. Por outro lado, as forças fortes existentes entre nêutrons e prótons

resultam do intercâmbio de mésons carregados designados por π+ ou π-, cujas cargas são

exatamente a carga eletrônica. Assim, um nêutron emitindo um méson π- converte-se num

próton,

pn (5.6)

enquanto que a absorção de um méson π- por um próton leva a formação de um nêutron.

np (5.7)

No processo inverso,

np (5.8)

Page 6: Núcleo Atômico

6

Embora o conceito seja intuitivo, infelizmente não há uma forma simples de demonstrar

matematicamente como intercâmbio de mésons leva a forças atrativas ou repulsivas. Vamos

utilizar um exemplo bastante simples para ilustrar o fato. Imagine dois garotos, cada um com

uma bola de basquete. A idéia é que eles deverão trocar as bolas. Quando o jogador A

arremessa sua bola para o jogador B e vice-versa, no ato da emissão eles sofrem recuo de

momentum em direções opostas. O mesmo ocorre quando eles recebem as bolas jogadas

um contra o outro. Dessa forma, este método de trocar as bolas leva a repulsão entre os

dois meninos A e B como mostra a figura 5.2;

Figura 5.2: Repulsão causada pelo intercâmbio de bolas jogadas.

Figura 5.3: Atração causada pelo intercâmbio de bolas cedidas.

Se ao invés de arremessar as bolas um contra o outro os meninos resolvem trocar as bolas,

um tentando tirar a bola do outro, é fácil de imaginar que nesta nova situação de troca eles

tentarão se unir. Portanto, fisicamente, esta situação leva a uma força de atração entre os

meninos A e B como ilustrado na figura 5.3. A teoria dos mésons para forças nucleares,

apesar de fazer previsões importantes, ainda não consegue descrever em detalhes a

estrutura nuclear, mas aparentemente mostra a correta direção para o pensamento que

levará a este entendimento.

Page 7: Núcleo Atômico

7

As forças nucleares são extremamente fortes, porém de muito curto alcance, de modo que

cada núcleon basicamente interage somente com seus vizinhos mais próximos, numa

situação semelhante aquela das moléculas num líquido – em que a única interação

importante é aquela da molécula com as moléculas que a rodeiam. Esta analogia das

interações de um líquido (numa gota) com forças nucleares leva ao chamado modelo da gota

líquida para o núcleo, prevendo propriedades bastante importantes.

Vamos apresentar este modelo simples, chamado “de gota líquida”, para entender as

propriedades mais importantes do núcleo. Considere que a energia associada com cada par

núcleon-núcleon tenha o valor U (evidentemente, trata-se de uma força atrativa, portanto

U é negativa, mas vamos considerá-la positiva por conveniência). Cada ligação mesônica é

partilhada por dois núcleons, cada um deles possui energia de ligação ½ U. Quando fazemos

um empacotamento de esferas, representando os núcleons, cada um é circundado por no

máximo 12 outros núcleons, numa estrutura chamada de “empacotada”, e que contém o

maior número de esferas próximas possíveis como mostra a figura 5.4.

Figura 5.4: Estrutura empacotada dos núcleons.

Desta forma, cada núcleon terá associado a ele uma energia,

UU 62

112 (5.9)

Assim, se todos núcleons estiverem rodeados por 12 outros núcleons, a energia de um

determinado núcleo seria AdAUEv 16 . A energia Ev é chamada de energia de volume. Ela

é verdadeira para os núcleons no interior do volume do núcleo, mas certamente não é

verdade para aqueles núcleons localizados na superfície do núcleo – os quais não são

circundados por 12 núcleons, mas por um número inferior deles. O número de núcleons

superficiais depende da superfície do núcleo dada por

Page 8: Núcleo Atômico

8

32

0

2 44 ARR (5.10)

Assim, o número de núcleons superficial é proporcional à 32

A e a energia de ligação de tais

núcleons é Es,

32

2 AaEs (5.11)

A energia Es é chamada de energia superficial do núcleo. Ela leva o sinal negativo, pois

corresponde à diminuição em Ev. Para os núcleos, levar esta forma energética é importante,

já que neste caso a fração de núcleons superficiais é elevada. O núcleo tentará uma

formação que permita maximizar a energia de ligação, o que significa que ele estará mais

estável. Desta forma, o a forma do núcleo é a mais próxima possível de uma esfera,

maximizando a energia de ligação, pois esta é a forma com menor área de superfície para

um determinado volume, semelhante à gota de um líquido.

Além da energia entre núcleons, a repulsão eletrostática entre prótons no núcleo também é

importante pois contribui para diminuir a energia de ligação, desestabilizando o equilíbrio do

núcleo. A energia Coulombiana Ec do núcleo é equivalente ao trabalho necessário para trazer

do infinito os Z prótons e mantê-los juntos, numa distribuição volumétrica que é a do

núcleo. Dado Z núcleons, o número de pares que temos é Z(Z-1). Isto é, cada próton interage

com Z-1 prótons, sendo a separação média entre eles da ordem de 31

0 AR , de modo que a

energia de repulsão elétrica entre os prótons do núcleo pode ser expressa como:

3

13

1

A

ZZaEc

(5.12)

O sinal negativo em Ec na energia Coulombiana significa apenas que essa interação

desestabiliza o núcleo e contrabalanceia a energia de ligação entre os núcleons.

Desta forma, a energia total de ligação do núcleo é,

csvb EEEE (5.13)

Ou seja,

3

133

2

21

1

A

ZZaAaAaEb

(5.14)

e, assim, a energia de ligação por núcleon é

3

4

3

31

21

1

A

zza

A

aa

A

Eb (5.15)

Page 9: Núcleo Atômico

9

A figura 5.5 ilustra o gráfico deste resultado.

Figura 5.5: Cálculo da energia Eb de coesão dos núcleons.

É importante notar que Eb obtida com o que foi discutida anteriormente concorda com os

resultados experimentais. Dessa forma, este modelo pode ser útil para uma série de

estudos, principalmente em reações nucleares, como veremos adiante. O modelo da gota

líquida para o núcleo atômico tem sua base no fato que cada núcleo interage primeiramente

com seus vizinhos mais próximos, como num líquido. Existem, no entanto evidências

experimentais de que isto não é completamente verdade, o que sugere uma interação mais

generalizada ao invés de apenas interações entre pares. Porém no espírito introdutório

desta discussão essa aproximações é bastante conveniente para nós introduzirmos a

questão da estabilidade nuclear e motivar os mecanismos de decaimento discutidos a seguir.

5.3 – DECAIMENTO NUCLEAR

Um dos fenômenos mais significantes no desenvolvimento da física atômica e da física

nuclear é a radioatividade. Neste processo, um núcleo emite partículas alfas (núcleo Hélio) e

elétrons (partículas betas) e fótons (raios gamas), adquirindo configurações mais estáveis.

Nesta parte do curso, iremos discutir um pouco este fenômeno que normalmente

chamamos de decaimento nuclear.

Page 10: Núcleo Atômico

10

Imagine uma amostra de elementos radiativos que, num determinado instante, apresenta N

núcleos. Definimos a atividade R como a quantidade de núcleos que decaem por unidade de

tempo. Em linguagem de derivadas:

dt

dNR (5.16)

O sinal (-) é colocado para fazer R positivo. R é expresso em desintegrações por segundo.

Algumas vezes expressamos R em termos da unidade Curie.

1 curie = 3.7 x 1010 desintegração / segundo (5.17)

Todas as determinações experimentais de R mostram que a atividade apresenta um

decaimento exponencial com o tempo. Define-se a meia vida do elemento, T1/2, como o

tempo para sua atividade cair a metade (50%) do valor no início da medida.

É importante salientar que, após cada período T1/2, a atividade da amostra é reduzida à

metade, ou seja:

...8

1

4

1

2

10000

21

21

21

RRRR

TTT

(5.18)

O comportamento mostrado acima permite escrever a relação empírica

teRRdt

dNNR 0

(5.19)

onde λ é chamada de constante de decaimento e tem valor diferente, dependendo do

elemento radiativo considerado. A relação entre λ e T1/2 pode ser determinada por

teRR 0 (5.20)

21

0021

T

eRR

(5.21)

693.02

21

21 TnT (5.22)

Da dependência exponencial colocada acima, há uma forte evidência de que o fenômeno de

decaimento radiativo tem natureza estatística, isto é, cada núcleo radiativo apresenta certa

probabilidade de decair. No entanto, não há meios de saber quais núcleos decairão num

Page 11: Núcleo Atômico

11

certo instante de tempo. Se a amostra é grande o suficiente, a fração que decai num

determinado instante corresponde razoavelmente bem à probabilidade de decaimento de

um único núcleo. Assim a probabilidade de um núcleo decair num período de tempo T1/2 é

0,5. Vamos supor que a probabilidade por unidade de tempo para um núcleo decair é

constante e igual a . Logo, a probabilidade de decaimento num intervalo dt é dt. Se

tivermos a amostra com N núcleos que ainda não decaíram, a quantidade dN que decairá

num intervalo dt é

dtN

dN (5.23)

Por meio da integração da equação (5.23), obtemos

teNN 0 (5.24)

Esta última equação mostra a evolução temporal do número de núcleos que ainda não

decaíram, com 0N o número de núcleos em t = 0. A partir desta lei obtém-se a atividade

radiativa como,

tt eReNdt

dNR 00 (5.25)

com

00 NR (5.26)

Podemos ainda escrever

NR (5.27)

Outra constante de tempo importante é o tempo de vida médio,

1T (5.28)

O tempo de vida médio é diferente do tempo de meia vida 2/1T . Normalmente,

2/1TT (5.29)

A maioria dos elementos radiativos encontrados na natureza são membros de quatro grupos

denominados de séries radiativas. Estas séries são elementos que se originam basicamente

do mesmo elemento, através de emissões radiativas ( e ). Existem exatamente quatro

séries de elementos radioativos uma vez que o decaimento a reduz a massa atômica em 4

Page 12: Núcleo Atômico

12

unidades. Cada decaimento α ou β proporciona um passo na série. Assim, todos os

elementos radiativos cujas massas são:

nA 4 (5.30)

onde n é um inteiro, podem decair uns nos outros em ordem descendente do número de

massa. Os núcleos radiativos cujo número massa é da forma (5.30) são denominados de

membros da série 4n. Temos ainda três outras séries,

34

24

14

nA

nA

nA

(5.31)

Em cada série radiativa, os membros transformam-se uns nos outros através do decaimento.

Cada série tem um elemento denominado “pai” da série, e um elemento estável final que

interrompe o processo de decaimento.

Número massa Série "pai" T1/2 (anos) Estável final

4n Tório 90Th232 1,39 x 1010 82Pb208

4n + 1 Neptúnio 93Np237 2,25 x 106 83Bi209

4n + 2 Urânio 92U238 4,51 x 109 82Pb206

4n + 3 Actínio 92U235 7,07 x 108 82Pb207

A série do Neptúnio tem um tempo de meia-vida bastante curto comparado com a idade do

universo (~1010 anos), de modo que os membros desta série quase não são encontrados nos

dias atuais. No entanto, estes elementos podem ser obtidos através do bombardeamento de

núcleos mais pesados feitos em laboratório. Estas séries podem ser representadas

graficamente como ilustra a figura 5.6.

Page 13: Núcleo Atômico

13

Figura 5.6: Séries de decaimento radioativo.

Os núcleos radiativos decaem de diferentes formas através de emissão α ou β. Podemos

citar o caso do 83Bi2212, membro da série do tório, e apresenta 66% probabilidade de emitir

uma partícula beta e decair em 84Po212 e 34% de chances de emitir alfa e decair em 81Ti

208.

Quando um núcleo zXA emite x partículas α e y particular β, temos

1

1

0

1

4

2

A

z

A

z YyxX (5.32)

E o núcleo zXA transforma-se no núcleo Z

1 YA1. A conservação do número de massa é como

segue:

xAAxA 44 ´ (5.33)

e a do número atômico:

yxZZyxZ 22 ´ (5.34)

Page 14: Núcleo Atômico

14

A emissão de partículas α altera o número massa em 4 unidades e o número atômico em 2

unidades. A emissão de partículas β não altera o número de massa e o numero atômico

aumenta em uma unidade. Desta forma, podemos acompanhar as séries anteriores. A

seguir, vamos apresentar brevemente os produtos de cada um dos decaimentos.

5.3.1 - Decaimento alfa:

Como as forças fortes de atração entre os núcleons manifesta-se apenas a curto alcance, isto

é, quando eles estão próximos, a energia total de ligação entre os núcleons é proporcional

ao número de massa A. Por outro lado, a força de repulsão coulombiana age mesmo a

médias distâncias. Esta repulsão Coulombiana tenta separar os prótons, e o total desta

tendência de ruptura do núcleo é aproximadamente proporcional à Z2. Assim, núcleos muito

grandes (normalmente com mais de 210 núcleons) apresentam a força de curto alcance que

os mantém unidos, quase que totalmente contrabalançada pela repulsão entre prótons.

Portanto, se o núcleo é grande, há baixa estabilidade nuclear. O decaimento nuclear por

emissão de partículas α é uma alternativa natural para estes núcleos diminuírem seu

tamanho, aumentando a estabilidade. Uma pergunta natural que fazemos nesta altura é:

porque ao invés de emitir partículas α, o núcleo não emite somente prótons ou núcleos de

2He3 para aumentar sua estabilidade? A resposta para isto está no fato que a partícula alfa

possui alta energia de ligação e sua massa é muito menor que a de seus constituintes. Dessa

forma há a necessidade de liberar parte da energia na forma de energia cinética necessária

para que ocorra a emissão da partícula em si.

5.3.2 - Decaimento Beta

Da mesma forma que no decaimento α, o decaimento β no núcleo procura uma forma de

atingir maior estabilidade. Ele consiste na emissão de um elétron pelo núcleo. Este elétron é

originário do decaimento de um nêutron em um próton mais um elétron, sendo que o

próton continua, evidentemente, no núcleo.

n p + e

Page 15: Núcleo Atômico

15

A partir medida do momentum do elétron é possível calcular sua energia cinética:

2

0

4242

0 cmcpcmK (5.35)

Normalmente, a energia cinética no decaimento β varia de zero até um valor máximo

MeVK 17.1max , que deve ser igual à máxima variação de massa no núcleo. No entanto, isto

nem sempre é verdade e causa a impressão de que a energia está sendo criada, violando um

dos importantes conceitos da Física. Além disso, ao medir com relativa precisão o recuo

sofrido pelo núcleo após o decaimento beta e, comparando seu valor com o momentum de

recuo sofrido pelo elétron, também há uma aparente violação da conservação de

momentum. A explicação deste fenômeno deu origem à suposição da existência do

neutrino, uma partícula importante no entendimento do mundo subatômico, cuja existência

explicaria estas aparentes violações.

5.3.3 - Decaimento Gama

No núcleo atômico existem estados de energias bem definidos, da mesma forma que os

estados eletrônicos na camada eletrônica. Estes estados estão associados à distribuição dos

núcleons. Um núcleo excitado N* pode retornar ao seu estado fundamental emitindo fótons,

cuja energia corresponde à diferença entre os níveis envolvidos. Os fótons emitidos pelo

núcleo têm energia que podem atingir vários MeV e são denominados de raios gama.

Normalmente o tempo de vida dos estados nucleares é bastante curto, mas em alguns

poucos casos o tempo de vida do decaimento gama, como é chamada esta emissão, chega a

atingir horas.