caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de...

100
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS DE DEFORMAÇÃO NAS TECTONOSSEQUÊNCIAS PALEOZÓICA, PRÉ- E SIN-RIFTE DA BACIA DO ARARIPE, NORDESTE DO BRASIL AUTOR JOÃO MARCULINO DE ARAÚJO NETTO ORIENTADOR Dr. FERNANDO CÉSAR ALVES DA SILVA (PPGG/UFRN) Dissertação Nº 107/PPGG Natal RN, outubro de 2011

Upload: nguyenliem

Post on 25-Sep-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS

DE DEFORMAÇÃO NAS TECTONOSSEQUÊNCIAS

PALEOZÓICA, PRÉ- E SIN-RIFTE DA BACIA DO

ARARIPE, NORDESTE DO BRASIL

AUTOR

JOÃO MARCULINO DE ARAÚJO NETTO

ORIENTADOR

Dr. FERNANDO CÉSAR ALVES DA SILVA (PPGG/UFRN)

Dissertação Nº 107/PPGG

Natal RN, outubro de 2011

Page 2: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS DE DEFORMAÇÃO NAS

TECTONOSSEQUÊNCIAS PALEOZÓICA, PRÉ- E SIN-RIFTE DA BACIA DO

ARARIPE, NORDESTE DO BRASIL

AUTOR

JOÃO MARCULINO DE ARAÚJO NETTO

Dissertação apresentada em vinte e um de

outubro de dois mil e onze ao Programa de

Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica

da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (PPGG/UFRN) como requisito à

obtenção do Título de Mestre em

Geodinâmica e Geofísica, com área de

concentração em Geodinâmica.

BANCA EXAMINADORA

Dr. FERNANDO CÉSAR ALVES DA SILVA (PPGG/UFRN)

Dr. EMANUEL FERRAZ JARDIM DE SÁ (PPGG/UFRN)

Dr. JOÃO BATISTA DE LELLIS FRANÇOLIN (HRT OIL & GAS)

Natal RN, outubro de 2011

Page 3: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

Os tolos morrem porque rejeitam a

sabedoria; os que não têm juízo são

destruídos por estarem satisfeitos consigo

mesmos. Mas quem me ouvir terá

segurança, viverá tranquilo e não terá

motivo para ter medo de nada.

Provérbios 1.32-33

Page 4: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

Dedico cada um dos 187.472 caracteres à

minha noiva, Ana Cristina.

Page 5: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela saúde e amor que o Senhor tem sempre

deixado ao meu alcance.

Agradeço especialmente aos meus pais, Marluce e Genilson, que forneceram -

incontestavelmente - toda base necessária à nossa (minha e dos meus irmãos) formação

física, mental, pessoal e profissional. E agradeço também aos meus irmãos (Zé, Geni,

Carol e Juninho) por todo respeito, atenção, carinho, compreensão e união permanentes

que nossos pais tanto nos ensinaram. Agradeço a meus avôs, Chica, por toda dedicação,

Mercês e Manoel, pela atenção especial para conosco. Agradeço a todos meus familiares,

tios e primos, pelo respeito e amizade.

Agradeço integralmente à minha linda noiva, Cris, por todo amor, carinho,

respeito e apoio depositado em mim, além da imensa compreensão de minhas ausências

“pelo bem da ciência”. Obrigado, meu anjo.

Aos meus geo-colegas (Téo, Mari, Willa, Juinin, Anderson, et al.) por todas as

discussões e conclusões dos mais variados temas. Em destaque aos colegas Dalton (o

multiferramental) e Arthur (o superconsultor) que, junto a mim, sobreviveram

bravamente na turma de 2009.2 desta pós-graduação. Agradeço a todos os amigos pelo

companheirismo e compreensão pela minha ausência nos encontros diversos.

Ao pessoal do LGGP, Aléx, Bárbara, Débora, Emanuel, Fátima, FLins, Valéria e

Vinícius por toda convivência extremamente pacífica, em especial, Ana e Seu Manú.

Agradeço ao professor Fernando César, pelos valiosos ensinamentos, discussões,

observações, apontamentos, conselhos e também por acreditar em mim desde a

graduação, muito obrigado.

Agradeço muito ao conjunto PPGG/UFRN-CAPES por priorizar e valorizar seus

bolsistas, fornecendo todo o suporte necessário participar de eventos, bem como pela

bolsa de iniciação científica. Especialmente à Nilda pela imensa eficiência e alegria

manifestada a todos os pós-graduandos.

Agradeço também aos projetos “Falhas e Fraturas Naturais: Aplicação a

Reservatórios” (FINEP-PETROBRAS) e “Bacias Interiores do Nordeste do Brasil”

(UFRN-PPGG-PETROBRAS) pelos dados partilhados e apoio financeiro.

Page 6: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

LISTA DE FIGURAS

|Figura 1.1| Mapa de localização e vias de acesso da área estudada, porção leste da Bacia do

Araripe (Vale do Cariri). ____________________________________________ 3

|Figura 2.1| Localização da bacia estudada dentro do contexto das Bacias Interiores do

Nordeste da Brasil. _________________________________________________ 4

|Figura 2.2| Arcabouço estrutural da Bacia do Araripe representado por falhamentos

predominantemente NE-SW em... _____________________________________ 6

|Figura 2.3| Mapa Geológico simplificado da porção leste da Bacia do Araripe exibindo as

tectonossequências... _______________________________________________ 9

|Figura 2.4| Coluna estratigráfica simplificada, ilustrando as principais discordâncias e

tectonossequências da Bacia do Araripe... _______________________________ 9

|Figura 3.1| Esquematização dos principais elementos arquiteturais de falhas (núcleo e zona

de dano), mostrando... ______________________________________________ 11

|Figura 3.2| Representação esquemática (sem escala) de estruturas com caráter descontínuo:

a) plano de partição com abertura perpendicular __________________________ 13

|Figura 3.3| Alguns cenários geológicos nas quais as bandas de deformação podem estar

associadas: a) soerguimentos verticais ou... ______________________________ 14

|Figura 3.4| Ilustração esquemática mostrando o desenvolvimento seqüencial da deformação

em arenitos porosos partindo de um... __________________________________ 15

|Figura 3.5| Classificação cinemática das bandas de deformação quando arenitos porosos são

submetidos à contração, cisalhamento e dilatação... ______________________ 16

|Figura 3.6| Classificação das principais estruturas frágeis, desenvolvidas por cisalhamento,

encurtamento e estiramento... ________________________________________ 18

|Figura 3.7| Comparação entre o padrão de estruturas de Riedel desenvolvido em: a) rochas

não porosas, exibindo as fraturas cisalhantes... __________________________ 21

|Figura 3.8| Ilustração esquemática mostrando arranjo típico de bandas de deformação

(cataclásticas) em zona de dano de falha e a anisotropia... __________________ 23

|Figura 4.1| Afloramentos de bandas de deformação em zonas de dano de falhas (ZDN).

Pode-se observar que: a) a quantidade de bandas... ________________________ 25

|Figura 4.2| Principais critérios usados para discernir/verificar o caráter cisalhante das

bandas de deformação em afloramentos da área estudada... _________________ 26

|Figura 4.3| Características microscópicas das bandas de deformação estudadas: a) fabric

oblíquo (matriz) e reorientação... ______________________________________ 27

|Figura 4.4| Arranjos geométrico-espaciais das bandas de deformação da área estudada. Estas

podem se exibir em tramas simples, como estruturas ______________________ 28

|Figura 5.1| Mapa geológico simplificado da porção leste da Bacia do Araripe. Estão

representadas no mapa as tectonossequências... __________________________ 30

Page 7: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

|Figura 5.2| Aspectos de campo das principais formações estudadas: a) Formação Maurití

(arenitos médios com estratificação cruzada tabular... _____________________ 31

|Figura 5.3| Ilustração do caráter deformacional descontínuo de estruturas frágeis que

correspondem: a) planos de partição sem rejeito... ________________________ 32

|Figura 5.4| Bandas de deformação: a) individuais „singles‟ e b) agrupamento de bandas de

deformação formando um „cluster‟... __________________________________ 33

|Figura 5.5| Fotomicrografia e representação esquemática da zonação microscópica de uma

banda de deformação cataclástica... ____________________________________ 34

|Figura 5.6| Aspectos mesoscópicos e orientação espacial das bandas de deformação da área

estudada: a) Bandas de deformação... __________________________________ 35

|Figura 5.7| Fotomicrografias mostrando os aspectos petrográficos e texturais: a) do arenito

da Formação Abaiara... _____________________________________________ 36

|Figura 5.8| Relações gráficas entre cataclase, granulometria e porosidade ao longo de um

perfil perpendicular à banda... ________________________________________ 37

|Figura 5.9| Análise semi-quantitativa sobre o comportamento conduto/barreira das bandas

de deformação através do índice Fa... __________________________________ 38

|Figura 5.10| Ilustração de critérios cinemáticos em bandas de deformação da área estudada:

a) representação esquemática... _______________________________________ 39

|Figura 5.11| Situação hipotética ilustrando zona de dano de falha em sequências

siliciclásticas com potencial para armazenamento... _______________________ 40

|Figura 5.12| Representação esquemática da relação entre os mecanismos deformacionais

atuantes na banda de deformação e o estágio... ___________________________ 41

|Figura 5.13| Figura esquemática com as tectonossequências e redes estereográficas para os

três conjuntos principais de bandas... ___________________________________ 42

|Figura 5.14| Alguns parâmetros relevantes que podem determinar a influência das bandas de

deformação ao fluxo de fluidos... ______________________________________ 43

|Figura 6.1| Mapas de localização e geológico simplificado da porção leste da Bacia do

Araripe (Vale do Cariri)... ___________________________________________ 49

|Figura 6.2| Aspectos gerais das bandas de deformação existentes na área estudada: bandas

individuais a) deslocando milimetricamente...____________________________ 50

|Figura 6.3| Aspectos microestruturais das bandas de deformação. a) Microzoneamento das

bandas cataclásticas: zona não... ______________________________________ 52

|Figura 6.4| Esquematização dos a) três conjuntos de bandas de deformação e suas relações

de corte com o acamamento... ________________________________________ 53

|Figura 6.5| Representação esquemática da interação entre o campo de tensão local (TL) e a

disposição espacial dos planos de... ____________________________________ 54

|Figura 6.6| Bandas de deformação paralelas ao acamamento (BPA) associadas a bandas

normais de mergulho moderado (BAM)... ________________________________ 55

Page 8: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

|Figura 6.7| Evolução esquemática das bandas de deformação paralelas ao acamamento

associadas a movimentos normais... ___________________________________ 57

|Figura 6.8| Bandas de deformação de paralelas ao acamamento (BPA) associadas a bandas

transcorrentes de alto ângulo (BAA)... __________________________________ 58

|Figura 6.9| Evolução esquemática das bandas de deformação paralelas ao acamamento

(BPA) associadas a bandas... __________________________________________ 59

|Figura 6.10| Representação esquemática da formação de bandas de deformação paralelas ao

acamamento (S0)... _________________________________________________ 60

|Figura 7.1| Quadro ilustrando a classificação de bandas de deformação em arenitos porosos

e suas principais características...______________________________________ 66

|Figura 7.2| Figura esquemática mostrando a anisotropia causada pelos três principais

conjuntos de bandas... ______________________________________________ 68

Page 9: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

RESUMO

As bandas de deformação são estruturas, desenvolvidas em arenitos porosos, que

mostram pequenos rejeitos e não são imageáveis em secções sísmica. As bandas de

deformação dos arenitos pré e sinrifte da Bacia do Araripe foram estudadas em escalas de

afloramento, amostra de mão e seção delgada. As características, tais como hierárquica,

cinemática e geométrico-espacial, além dos mecanismos deformacionais atuantes durante

o seu desenvolvimento estrutural, foram estabelecidas. De modo geral, a observação em

escala mesoscópica permitiu diferenciar as bandas de deformação em estruturas

individuais ou agrupadas dispostas em três conjuntos principais: NNE-SSW dextrais;

NE-SW normais (por vezes com componente direcional); e E-W sinistrais; e um conjunto

peculiar, de caráter local, (sub-) paralelo aos planos de acamamento. A caracterização em

micro-escala, por sua vez, possibilitou reconhecer o caráter cataclástico dessas estruturas,

bem como observar seus critérios cinemáticos. Através do estudo multi-escalar realizado

neste trabalho, verificou-se que as bandas de deformação desenvolveram-se,

preferencialmente em arenitos em avançado estágio de litificação. Inferiu-se também que

a complexidade geométrico-espacial das bandas, aliada à presença de matriz cataclástica,

pode dificultar a migração de fluidos em rochas-reservatório, levando à sua

compartimentação. O estudo de bandas de deformação pode subsidiar pesquisas sobre a

evolução estrutural de bacias sedimentares, bem como para compreender o

comportamento hidrodinâmico de reservatórios compartimentados por essas estruturas

deformacionais.

Palavras-chave: bandas de deformação, multi-escala, Bacia do Araripe.

Page 10: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

ABSTRACT

Deformation bands are structures, developed in porous sandstones, that has small offsets

and they are not shown on seismic section. The deformation bands of the pre and synrift

sandstones of Araripe Basin were studied in outcrop, macroscopic and microscopic

scales. The hierarchical, cinematic and spatial-geometric characteristics, and also the

deformational mechanisms acting during its structural evolution were established too. In

general, the mesoscopic scale observation allowed to discriminate deformation bands as

singles or clusters in three main sets: NNE-SSW dextral; NE-SW normal (sometimes

with strike-slip offset); and E-W sinistral; further a bed-parallel deformation bands as a

local set. The microscopic characterization allowed to recognize the shearing and

cataclastic character of such structures. Through the multi-scale study done in this work

we verified that deformation bands analyzed were preferentially developed when

sandstones under advanced stage of lithification. We also infer that the geometrical-

spatial complexity of these bands, together with the presence of cataclastic matrix, can

difficult the migration of fluids in reservoir rocks, resulting on their

compartmentalization. Therefore, the study of deformation bands can aid researches

about the structural evolution of sedimentary basin, as well as collaborate to understand

the hydrodynamic behavior of reservoirs compartmented by these deformational

structures.

Key-words: deformation bands, multi-scale, Araripe Basin.

Page 11: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ________________________________________________________ 1

1.1 Apresentação _________________________________________________ 1

1.2 Temática e justificativas ________________________________________ 1

1.3 Objetivos _____________________________________________________ 1

1.4 Localização e vias de acesso _____________________________________ 2

2. GEOLOGIA REGIONAL ________________________________________________ 4

2.1 Introdução ____________________________________________________ 4

2.2 Arquitetura geral e evolução tectônica ____________________________ 5

2.3 Estratigrafia __________________________________________________ 6

2.3.1 Tectonossequência Sinéclise Paleozóica _______________________ 6

2.3.2 Tectonossequência Pré-rifte _________________________________ 7

2.3.3 Tectonossequência Sin-rifte _________________________________ 8

2.3.4 Tectonossequência Pós-rifte _________________________________ 8

3 ESTADO DA ARTE: BANDAS DE DEFORMAÇÃO EM ARENITOS POROSOS ________ 10

3.1 Introdução ____________________________________________________ 10

3.2 Deformação frágil em zona de dano de falhas _______________________ 10

3.3 Bandas de deformação em arenitos porosos ________________________ 11

3.3.1 Classificação hierárquica ___________________________________ 14

3.3.2 Classificação cinemática ___________________________________ 15

3.3.3 Classificação reológica _____________________________________ 17

3.4 Características geométrico-espaciais ______________________________ 20

3.5 Implicações ao fluxo de fluidos ___________________________________ 22

4 CLASSIFICAÇÃO DAS ESTRUTURAS NA ÁREA DE ESTUDO ____________________ 24

4.1 Introdução ____________________________________________________ 24

4.2 Hierarquia, cinemática e mecanismos deformacionais das bandas de

deformação ______________________________________________________ 24

4.3 Dados geométrico-espaciais das bandas de deformação ______________ 27

Page 12: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

5 ARTIGO CIENTÍFICO* _________________________________________________ 29

Resumo _________________________________________________________ 29

Abstract _________________________________________________________ 29

5.1 Introdução ____________________________________________________ 29

5.2 Contextualização geológica ______________________________________ 30

5.3 Bandas de deformação: fundamentação teórica _____________________ 32

5.3.1 Classificação e aspectos reológicos ___________________________ 32

5.3.2 Disposição geométrico-espacial ______________________________ 34

5.4 Metodologia __________________________________________________ 34

5.5 Análise mesoscópica das bandas de deformação _____________________ 34

5.5.1 Hierarquia _______________________________________________ 34

5.5.2 Análise estrutural _________________________________________ 34

5.6 Análise microscópica das bandas de deformação ____________________ 36

5.6.1 Petrografia ______________________________________________ 36

5.6.2 Microtectônica ___________________________________________ 38

5.7 Implicação na exploração de fluidos ______________________________ 39

5.8 Discussões e conclusões _________________________________________ 40

Agradecimentos __________________________________________________ 43

Referências ______________________________________________________ 43

6 ARTIGO CIENTÍFICO** ________________________________________________ 47

Resumo _________________________________________________________ 47

Abstract _________________________________________________________ 47

6.1 Introdução ____________________________________________________ 47

6.2 Contextualização geológica ______________________________________ 48

6.3 Caracterização e classificação das bandas de deformação ____________ 50

6.3.1 Atributos mesoscópicos ____________________________________ 50

6.3.2 Atributos microscópicos ____________________________________ 51

6.4 Análise geométrico-espacial das bandas de deformação ______________ 51

6.4.1 Bandas em alto ângulo com o acamamento (BAA) ________________ 51

Page 13: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

6.4.2 Bandas em ângulo moderado com o acamamento (BAM) ___________ 52

6.4.3 Bandas (sub)paralelas ao acamamento (BPA) ____________________ 52

6.5 Interpretação genética das bandas paralelas ao acamamento __________ 54

6.5.1 Bandas de deformação cisalhantes no Arenito Abaiara ____________ 54

6.5.2 Bandas de deformação cisalhantes no Arenito Maurití ____________ 56

6.6 Discussões e Conclusões _________________________________________ 56

Agradecimentos __________________________________________________ 61

Referências ______________________________________________________ 61

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________________ 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 69

Page 14: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

Page 15: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

Capítulo 1: Introdução

1 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

A presente dissertação é o produto final de uma série de estudos realizados durante

o curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica

(PPGG) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O referido trabalho,

de caráter obrigatório, é um dos requisitos exigidos pelo programa de pós-graduação

citado para a obtenção do título de Mestre em Geodinâmica e Geofísica. A sua

elaboração contou com a orientação do professor Dr. Fernando César Alves da Silva e

contribuições dos professores Dr. Emanuel Ferraz Jardim de Sá e Dr. Alex Francisco

Antunes.

1.2 Temática e justificativas

O tema central desta dissertação de mestrado é a deformação frágil em arenitos

porosos, onde as bandas de deformação são as estruturas alvo. Essas estruturas

deformacionais foram descritas pioneiramente por Aydin (1978) no Arenito Navajo, em

Utah, Estados Unidos, e desde então tem sido publicados diversos estudos buscando

entender suas características geométrico-espaciais, cinemáticas, genéticas e, inclusive,

hidrodinâmicas. O aumento de interesse nessas estruturas deve-se ao fato de sua

capacidade em afetar significativamente as propriedades intrínsecas (porosidade e

permeabilidade) das rochas porosas, podendo influenciar direta ou indiretamente o fluxo

de fluidos em escala de reservatório. As bandas de deformação também podem, em

alguns casos, auxiliar estudos sobre a evolução geológica local e regional de

determinadas bacias sedimentares.

1.3 Objetivos

O objetivo central deste trabalho é o estudo mesoescalar de bandas de deformação

em arenitos (relativamente) porosos da Bacia do Araripe com o intuito de definir suas

características geométrico-espaciais, cinemáticas, reconhecer os mecanismos

deformacionais atuantes durante seu desenvolvimento e classificá-las conforme a

literatura internacional. Adicionalmente, através dessas observações, é possível utilizar as

bandas de deformação para subsidiar pesquisas a respeito da evolução

Page 16: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

Capítulo 1: Introdução

2 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

tectonossedimentar da bacia estudada, bem como fazer considerações sobre a influência

dessa estruturas ao fluxo de fluidos em escala de reservatório. Ssatisfazendo um dos

requisitos estabelecidos neste programa de pós-graduação, a presente dissertação é

integrada a dois artigos científicos. O primeiro de cunho regional, apresentando diversas

características das bandas de deformação contidas nas seções pré e sinrifte da Bacia do

Araripe. Com o intuito de contribuir para estudos, ainda escassos, na literatura nacional

pretende-se publicá-lo na Revista de Geologia da USP: Série Científica. O outro artigo

apresenta aspectos geométrico-espaciais e cinemáticos a respeito das bandas de

deformação; sendo este de conteúdo mais específico que o primeiro artigo, almeja-se

divulgá-lo em periódico internacional.

1.4 Localização e vias de acesso

A área de estudo (figura 1.1) está localizada no extremo sul do estado Ceará, ao

leste da Chapada do Araripe, na região denominada Vale do Cariri. As principais cidades

inseridas nesta área são Abaiara, Barro, Brejo Santo, Maurití, Milagres e Missão Velha.

As principais vias de acesso são a rodovia federal BR-116 (Santos Dummont), que liga

Brejo Santo à Fortaleza, e as estaduais CE-060, CE-293 e CE-196, além de diversas

estradas carroçáveis.

Page 17: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

Capítulo 1: Introdução

3 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

|Figura 1.1| Mapa de localização e vias de acesso da área estudada, porção leste da Bacia do

Araripe (Vale do Cariri).

Page 18: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 2 GEOLOGIA REGIONAL

Page 19: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

4 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 2: Geologia Regional

2 GEOLOGIA REGIONAL

2.1 Introdução

A Bacia do Araripe, com área de aproximadamente 9.000 km², corresponde ao

mais extenso remanescente sedimentar inserido no contexto das Bacias Interiores do

Nordeste do Brasil, e está situada entre os lineamentos Patos, a norte, e Pernambuco, a

sul (figura 2.1). As coberturas sedimentares dessa bacia foram depositadas sobre os

terrenos pré-cambrianos da Zona Transversal da Província Borborema em eventos

geológicos regionais desde o Eopaleozóico ao Eocretáceo, as quais também podem ser

capeadas por depósitos cenozóicos.

|Figura 2.1| Localização da bacia estudada dentro do contexto das Bacias Interiores do Nordeste

da Brasil.

Page 20: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

5 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 2: Geologia Regional

2.2 Arquitetura geral e evolução tectônica

De modo geral, a arquitetura da Bacia do Araripe pode ser descrita em dois níveis

estruturais superpostos, sendo o inferior constituído por uma zona de rifte e o superior

são estratos tabulares que constituem a Chapada do Araripe, uma feição geomorfológica

E-W com forte relevo positivo. A zona de rifte (figura 2.2) é compartimentada em duas

sub-bacias, chamadas de Feitoria (a oeste) e Cariri (a leste), separadas pelo horst de Dom

Leme (Ponte & Ponte Filho 1996), inseridas em um arcabouço tectônico constituído por

horsts e grabens (e semi-grabens), assimétricos e colaterais, os quais são controlados por

conjuntos de falhamentos NE-SW preferencialmente normais, às vezes, limitados por

conjuntos E-W e NNE-SSW transcorrentes.

A evolução tectônica dessa bacia pode ser estabelecida, de modo simplificado, em

estágios tectônicos pré-, sin- e pós-rifte cronologicamente bem definidos. No estágio pré-

rifte, a Bacia do Araripe exibia comportamento de sinéclise em dois intervalos de tempos

distintos, o primeiro durante o Paleozóico e o segundo durante o Mesozóico (Ponte Filho

1996). Segundo diversos trabalhos anteriores (Françolin & Szatmari 1987, Sénant &

Popoff 1991, Matos 1992, Ponte Filho 1996, Silva Júnior 1997, Matos 2000, Jardim de

Sá et al. 2007, Aquino 2009, Cardoso et al. 2009, Cardoso 2010), o estágio sin-rifte da

bacia estudada (e demais bacias interiores) está relacionado à abertura do Oceano

Atlântico durante o Eocretáceo, onde eventos distensivos predominantemente NW-SE e a

reativação transcorrente de lineamentos pretéritos originaram a zona de rifte citada

anteriormente. O estágio pós-rifte encerra a evolução tectônica da Bacia do Araripe,

durante o Neocretáceo, em uma fase de bacia marginal materializada por um ciclo

transgressivo-regressivo fruto de subsidência térmica e eventos eustáticos globais (Assine

2007).

Page 21: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

6 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 2: Geologia Regional

|Figura 2.2| Arcabouço estrutural da Bacia do Araripe representado por falhamentos

predominantemente NE-SW em conjunto com dados gravimétricos (Bouguer) que revelam as

sub-bacias de Feitoria e Cariri (baseado em Ponte & Ponte Filho 1996 e Colares et al. 2007). Na

seção A-F pode ser visualizada a estruturação em horsts e grabens da zona de rifte do Vale do

Cariri, onde se encontram as sequências pré e sinrifteamento (modificado de Assine 1992).

2.3 Estratigrafia

A estratigrafia da Bacia do Araripe foi estabelecida pioneiramente pelos trabalhos

de Ponte & Appi (1990) e Assine (1992) os quais definiram quatro importantes

tectonossequências, representadas por sucessões estratigráficas limitadas na base e no

topo por discordâncias regionais expressivas. As rochas aflorantes nas regiões da

Chapada do Araripe e do Vale do Cariri (figura 2.3) foram agrupadas, segundo Ponte &

Appi (1990), em quatro tectonossequências: Sinéclise Paleozóica, Pré-rifte, Sin-Rifte e

Pós-rifte (figura 2.4); da mesma forma Assine (1992, 1994) também enquadrou as rochas

da Bacia do Araripe em quatro sequências tectono-estratigráficas distintas: Paleozóica,

Juro-Neocomiana, Aptiana-Albiana e Albiana-Cenomaniana; as quais não apresentam

correspondência direta com as tectonossequências anteriormente citadas.

2.3.1 Tectonossequência Sinéclise Paleozóica

Na Bacia do Araripe, essa tectonossequência (também denominada Paleozóica)

corresponde exclusivamente à Formação Maurití (ou Cariri), que se encontra aflorante

Page 22: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

7 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 2: Geologia Regional

somente na porção leste da área estudada, definindo os contornos do Vale do Cariri. Essa

tectonossequência é limitada por duas discordâncias regionais (Medeiros et al. 2001):

Pré-fanerozóica, na base, que a separa do embasamento cristalino, e Pré-mesozóica, no

topo, que a destaca das sequências sobrejacentes.

A Formação Maurití é correlata às formações Ipu (base do Grupo Serra Grande da

Bacia do Parnaíba) e Tacaratu (Bacia de Jatobá), o que pode indicar a presença de uma

sinéclise de grande extensão durante o Paleozóico, que foi posteriormente erodida no

intervalo pré-Juro-Triássico (Cardoso 2010). Litologicamente, essa formação é

constituída por arenitos quartzosos e/ou feldspáticos de média a grossa granulometria

(por vezes, intercalados a níveis conglomeráticos), interpretados como depósitos de

ambientes fluviais entrelaçados com sistemas de paleocorrentes dominantemente NW

(Assine 1994, 2007, Cardoso 2010).

2.3.2 Tectonossequência Pré-rifte

Essa tectonossequência, limitada pelas discordâncias Pré-mesozóica (na base) e

Pré-neocomiana (no topo), é interpretada como o registro sedimentar da fase precursora

ao episódio de rifteamento que originou a margem continental brasileira (Medeiros et al.

2001). Na bacia estudada, a tectonossequência Pré-rifte é constituída por duas formações:

Brejo Santo e Missão Velha (Inferior). A Formação Brejo Santo é composta por

folhelhos cinza-esverdeados; argilitos avermelhados; e siltitos, entre os quais ocorrem

camadas decimétricas a métricas de arenitos finos a médios, e lâminas de calcário

argiloso, rico em ostracodes (Assine 1992, 2007). Garcia (2009) e Cardoso (2010)

interpretaram que o cenário deposicional dessa formação pode ser representado por

sistemas de planícies de inundações distais alimentados por canais fluviais efêmeros.

Chagas (2006) observou uma possível discordância na Formação Missão Velha, que foi

posteriormente reconhecida e caracterizada por Aquino (2009) e Jardim de Sá et al.

(2009) como um limite erosivo (marcado por níveis conglomeráticos), no qual permitiu a

estes últimos autores separar a Formação Missão Velha em duas unidades: inferior e

superior, sendo a primeira incluída na Tectonossequência Pré-rifte e a segunda na Sin-

rifte (figura 2.4). A Formação Missão Velha Inferior é constituída por quartzoarenitos

finos a grossos, moderadamente a bem selecionados, os quais, por vezes, podem

apresentar intercalações de pelitos e alguns níveis conglomeráticos. Uma característica

Page 23: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

8 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 2: Geologia Regional

marcante desta formação é a presença de abundantes troncos de madeira silicificados,

atribuídos à conífera Dadoxilon benderi (Brito 1987 apud Assine 1992).

2.3.3 Tectonossequência Sin-rifte

A Tectonossequência Sin-rifte é interpretada como o registro estratigráfico do

estágio de rifteamento que culminou na separação do Gondwana e consequente formação

da margem continental brasileira. Na Bacia do Araripe, essa tectonossequência limitada,

na base, pela Discordância Pré-neocominana e, no topo, pela Pré-aptiana. É composta

pelas formações Missão Velha Superior e Abaiara. Segundo Aquino (2009) e Cardoso

(2010), a Formação Missão Velha Superior é composta por pacotes de arenitos mais

grossos e com razão pelito/arenito muito menor que sua seção inferior. A Formação

Abaiara é constituída por arenitos médios a finos (cinza, amarelos a avermelhados), por

vezes micáceos, frequentemente intercalados com níveis pelíticos (verde-oliva, cinza,

amarelo e vermelho). Além das estruturas sedimentares (gretas de ressecamento,

laminações plano-paralelas, estratificações cruzadas), dobramentos convolutos e

fluidização, clastos argilosos deformados podem estar presentes e, nesse caso,

evidenciam deformação/tectonismo contemporâneo à deposição.

Segundo Cardoso (2010), a deposição das rochas da Formação Missão Velha

Superior é interpretada como tendo ocorrido em sistemas fluviais entrelaçados, enquanto

as da Formação Abaiara, representa associações de fácies de sistemas deltaicos (planície

deltaíca, canais distributários, frente deltaica e prodelta) e sistemas fluviais associados.

2.3.4 Tectonossequência Pós-rifte

De acordo com Medeiros et al. (2001), na Bacia do Araripe, essa

tectonossequência, limitada na base pela Discordância Pré-aptiana e no topo pela Pré-

turoniana, é relativa a um ciclo deposicional completo, transgressivo-regressivo, do qual

compreende três sistemas deposicionais diferentes (Medeiros et al. 2001b): flúvio-

lacustre carbonático, lagunar evaporítico-marinho e fluvial entrelaçado a meandrante, os

quais estão incluídos no Grupo Araripe (formações Rio da Batateira, Santana, Arajara e

Exu, da base para o topo)

Page 24: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

9 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 2: Geologia Regional

|Figura 2.3| Mapa geológico simplificado da porção leste da Bacia do Araripe exibindo as

tectonossequências Sinéclise Paleozóica, Pré-rifte, Sin-rifte e Pós-rifte, bem como as coberturas

cenozóicas. Baseado em Ponte & Appi (1990) e Projeto Bacias Interiores do Nordeste Brasileiro

(UFRN/PETROBRAS/FUNPEC).

|Figura 2.4| Coluna estratigráfica simplificada, ilustrando as principais discordâncias e

tectonossequências da Bacia do Araripe. Para efeito comparativo, é exibido o empilhamento

estratigráfico simplificado segundo os autores Ponte & Appi (1990) e Aquino (2009).

Page 25: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 3 ESTADO DA ARTE:

BANDAS DE DEFORMAÇÃO

EM ARENITOS POROSOS

Page 26: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

10 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

3 ESTADO DA ARTE: BANDAS DE DEFORMAÇÃO EM ARENITOS POROSOS

3.1 Introdução

Este capítulo tem o objetivo apresentar alguns conceitos básicos sobre as

estruturas deformacionais desenvolvidas em arenitos porosos, denominadas bandas de

deformação. As considerações apresentadas aqui estão relacionadas aos aspectos

genéticos, tipológicos, geométrico-espaciais e hidrodinâmicos. Ressalta-se que estas

informações se encontram difundidas na literatura geológica (internacional) tanto sob a

forma de artigos científicos quanto livros de geologia estrutural e geotectônica. Dentre os

diversos artigos científicos pesquisados, usou-se como base a classificação

deformacional proposta por Aydin et al. (2006) e revisão estrutural realizada por Fossen

et al. (2007) para as bandas de deformação em arenitos porosos.

3.2 Deformação frágil em zona de dano de falhas

A porção rasa da crosta, denominada crosta superior (~10 km de profundidade,

Davis & Reynolds 1996), encontra-se sob condições termobarométricas que favorecem a

atuação efetiva dos mecanismos de deformação frágeis, ou seja, a deformação frágil é o

processo deformacional dominante nesse nível crustal. Esse tipo de deformação ocorre

quando um material sólido muda permanentemente de forma devido ao desenvolvimento

de fraturamentos (Pluijm & Marshak 2004). Geologicamente, as principais estruturas são

fraturas de distensão, fraturas cisalhantes e falhas. Dessa maneira, a deformação frágil,

também referida aqui como descontínua1, se propaga sob a forma de descontinuidades

preferencialmente desenvolvidas em rochas rígidas (ou não-porosas).

Como exemplo de descontinuidades, as falhas, sensu stricto, são estruturas

planares que acomodam movimento paralelo à sua superfície. Contudo, em termos gerais,

falha refere-se a qualquer zona estreita ou superfície representada por uma

descontinuidade na qual há movimento relativo (visível). Dentre os elementos

arquiteturais de uma falha (figura 3.1a), o principal elemento é o núcleo da falha, que é

1 A deformação pode ser caracterizada como descontínua se os pontos materiais através de um corpo deformado não

permanecerem conectados (Blenkinsop 2002).

Page 27: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

11 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

definido, relativamente, como uma estreita faixa, deformada em diversos graus de

intensidade, onde a maioria do rejeito é acumulada; contornando-a, há a zona de dano de

falha a qual representa a zona de transição entre o núcleo da falha e a rocha hospedeira

(protólito); nessa zona a deformação é acomodada por uma série de estruturas frágeis

(fraturas de distensão e/ou cisalhantes). O estilo e a intensidade da deformação, tanto no

núcleo quanto na zona de dano, dependem diretamente da competência ou reologia do

material deformado. Em alguns casos, o núcleo de falha pode se apresentar como uma

estrutura complexa formada por múltiplas faixas de material intensamente cominuído

imbricadas com lentes de zonas de dano (figura 3.1b).

|Figura 3.1| Esquematização dos principais elementos arquiteturais de falhas (núcleo e zona de

dano), mostrando: a) núcleo simples (formado por uma única faixa de material cominuído); e

núcleos complexos, compostos por várias faixas de cominuição imbricadas com lentes de zonas

de dano. Adaptado de Faulkner et al. (2003).

3.3 Bandas de deformação em arenitos porosos

Os processos de formação e propagação de falhas, em rochas frágeis de baixa

porosidade, têm sido relacionados à interação/conexão e reativação de fraturamentos (ou

outras descontinuidades). Entretanto, em rochas de alta porosidade, a tensão não é

acomodada inicialmente por fraturas de distensão ou superfícies de deslizamento. Em

lugar disso, a deformação produz estruturas deformacionais peculiares, referidas como

bandas de deformação, as quais são um tipo especial de fratura cisalhante (Fossen 2011),

Page 28: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

12 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

caracterizada por uma deformação localizada, que se desenvolve exclusivamente em

materiais porosos, como arenitos (com porosidade superior a 15%, Antonellini & Aydin

1994, Devatzes & Aydin 2003, Fossen & Bale 2007). Estes estreitos volumes tabulares,

com frações centimétricas de espessura, podem apresentar desde poucos milímetros a

vários metros de comprimento, embora essencialmente mostrem rejeitos de ordem

milimétrica a centimétrica.

Entre as décadas de 70 e 80, trabalhos precursores apresentavam descrições de

falhas com características correspondentes a bandas de deformação (Engelder 1974,

House & Gray 1982, Jamison & Stearns 1982). Essas estruturas foram descritas

inicialmente pelos trabalhos de Aydin (1978), Aydin & Johnson (1978, 1983) e, mais

detalhadamente, por Antonellini et al. (1994), que classificaram as bandas de deformação

através de análises cinemáticas e microtexturais. A terminologia banda de deformação

(estruturas-alvo deste estudo) foi usada pioneiramente por Aydin (1978) para descrever

estreitas zonas tabulares produzidas por deformação localizada (concentrada) em arenitos

porosos. O autor citado fez alusão ao termo deformation band2, originário da literatura de

engenharia, que está diretamente relacionado a estreitas zonas de deformação produzidas

em alguns materiais tensionados (Argon 1975 apud Aydin et al. 2006).

Dentre as diversas características que permitem distinguir as bandas de

deformação de simples fraturas (de distensão ou cisalhamento), é possível mencionar que

as primeiras são mais espessas e possuem rejeitos menores que aqueles dessas fraturas,

mesmo quando possuem comprimentos semelhantes. Devido a isto, as bandas de

deformação não compartilham todas as características das estruturas frágeis usuais. Por

exemplo, não necessariamente, as bandas de deformação representam estruturas

mecanicamente frágeis ou zonas de redução/perda de coesão, pois são comumente

encontradas como porções mais resistentes e coesas que sua rocha hospedeira, ou seja,

onde a cimentação é mais intensa. Além disso, geralmente elas tendem a estar

relacionadas com decréscimos de porosidade e permeabilidade, enquanto fraturas e falhas

envolvem aumento dessas propriedades petrofísicas. Outro ponto ponderável que leva ao

discernimento entre fraturas de distensão, falhas e bandas de deformação é o caráter

contínuo/descontínuo de cada estrutura (figura 3.2); por exemplo, fraturas de distensão e

2 Também denominado Lüder band (Reed-Hill 1982), é referente a regiões de deformação plástica localizada, cuja

nucleação e propagação produzem o chamado escoamento descontínuo (ou efeito Piorbet), observado em alguns

materiais metálicos durante a transição elástico-plástica (associado a deformações em nível atômico).

Page 29: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

13 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

fraturas cisalhantes (e falhas) são representadas por planos de partição descontínuos; em

contraste, bandas de deformação são caracterizadas por volumes tabulares com gradiente

de deslocamento interno contínuo (semelhante a zonas de cisalhamento dúcteis).

|Figura 3.2| Representação esquemática (sem escala) de estruturas com caráter descontínuo: a)

plano de partição com abertura perpendicular ao mesmo (D, fraturas de distensão); e b) plano

com deslocamento relativo de blocos (F, fraturas cisalhantes e falhas). Com caráter contínuo: c)

volume tabular com gradiente de deslocamento interno contínuo (BD, bandas de deformação).

Recentemente, o interesse nessas estruturas vem crescendo devido ao fato de suas

propriedades hidrodinâmicas, em muitos casos, proibir ou restringir o fluxo de fluidos

(Johansen & Fossen 2008). Por esse motivo, entender a orientação, dimensões,

geometria, distribuição espacial e propriedades das bandas de deformação na zona de

dano de falhas são de grande interesse, principalmente para a indústria do petróleo. Do

ponto de vista acadêmico, a atenção nas bandas de deformação, pois pode fornecer

informações relevantes sobre a deformação progressiva de arenitos porosos e o

consequente desenvolvimento de falhas nestes. Além disso, as bandas de deformação

podem ocorrer em diversos contextos geológicos (figura 3.3), por exemplo, geólogos do

Quaternário podem encontrar bandas de deformação, em areia deformada por processos

glaciais ou gravitacionais, possibilitando rever informações sobre eventos locais;

sedimentólogos encontram-nas frequentemente em arenitos, onde elas podem ter sido

Page 30: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

14 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

desenvolvidas durante a deformação de sedimentos (protólitos); e geólogos de petróleo e

hidrogeólogos devem buscar compreender a influência das bandas de deformação em

reservatórios e aquíferos clásticos (Antonellini & Aydin 1994, Gibson 1994, Beach et al.

1999, Hasthammer & Fossen 2000, Shipton et al. 2002, Fossen & Bale 2007, Rotevatn et

al. 2009, Medeiros et al. 2010).

|Figura 3.3| Alguns cenários geológicos nos quais as bandas de deformação podem estar

associadas: a) soerguimentos verticais ou dobras de arrasto em monoclinais; b) rifteamento; c)

falhas de empurrão/inversas; d) halocinese; e) lutocinese; f) cenários glaciotectônicos e/ou áreas

de ocorrência de colapso gravitacional. Retirada de Fossen et al. (2007).

3.3.1 Classificação hierárquica

Em arenitos as bandas de deformação podem ocorrer como estruturas solitárias ou

como agrupamentos. As primeiras, denominadas bandas de deformação individuais, ou

singles como difundido na literatura geológica, podem ser reconhecidas uma estrutura

solitária com espessura milimétrica exibindo rejeitos da ordem de alguns centímetros. O

agrupamento de bandas de deformação individuais produz uma estrutura visivelmente

mais larga, denominada aglomerado (ou cluster), que por sua vez apresenta rejeitos

decimétricos (devido ao acúmulo do rejeito de cada single que o compõe), além de

algumas vezes possuírem pequenas fraturas cisalhantes em seu núcleo. Este modo de

ocorrência sugere que as bandas de deformação possam evoluir progressivamente para

falhas (Aydin & Johnson 1978) ou fraturas cisalhantes com comprimento considerável,

nesse caso as bandas de deformação são as estruturas precursoras em arenitos porosos.

As falhas seriam formadas a partir do desenvolvimento e ligação de discretas

superfícies descontínuas nos aglomerados de bandas de deformação (Antonellini et al.

Page 31: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

15 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

1994, Mollema & Antonellini 1996, Hesthammer et al. 2000, Devatzes & Aydin 2003,

Fossen et al. 2005, Fossen & Bale 2007, Johansen & Fossen 2008). Esses modestos

planos de descontinuidade, nucleados em porções menos porosas dos aglomerados de

bandas de deformação (Shipton & Cowie 2003), apresentam movimentação efetiva,

podendo exibir, inclusive, estrias de deslizamento (Blekinson 2002). Então,

hierarquicamente, a deformação em arenitos porosos (figura 3.4) inicia-se por bandas de

deformação individuais, aglomerados de bandas de deformação e superfícies de

deslizamento (discretas), sendo estas últimas caracterizadas por descontinuidades que se

conectam para desenvolver as falhas.

|Figura 3.4| Ilustração esquemática mostrando o desenvolvimento seqüencial da deformação em

arenitos porosos partindo de um estado não-deformado (ESTÁGIO 0), seguido a nucleação de

bandas de deformação individuais (ESTÁGIO 1, rejeitos milimétricos) que evoluem para

aglomerados de bandas de deformação (ESTÁGIO 2, rejeitos centimétricos), os quais, por fim,

podem desenvolver, internamente, superfícies de deslizamento (ESTÁGIO 3, rejeitos métricos).

3.3.2 Classificação cinemática

A classificação de bandas de deformação, do ponto de vista cinemático, é baseada,

grosso modo, em conceitos de deformação por cisalhamento puro e/ou simples. Aydin et

al. (2006) exibiram uma comparação entre as principais estruturas frágeis desenvolvidas

em rochas porosas e não-porosas deformadas. Estes autores classificaram as estruturas

frágeis, de acordo com o estilo de deformação, em duas categorias que eles denominaram

Page 32: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

16 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

de: tabular deformation e sharpen descontinuities. As bandas de deformação estão

incluídas na primeira categoria, enquanto fraturas de distensão, estilolíticas e cisalhantes

encontram-se inseridas na outra. De acordo com os seus atributos cinemáticos, as bandas

de deformação podem ser classificadas como estruturas formadas por deformação

cisalhante ou por deformação volumétrica (contração ou dilatação). Fossen et al. (2007),

em um artigo de revisão sobre as bandas de deformação, classificaram-nas, do ponto de

vista cinemático, em três end-members (figura 3.5): bandas de cisalhamento (shear

bands), bandas de contração (compaction bands) e bandas de dilatação (dilation bands),

assumindo que estes podem de combinar para formar tipos híbridos.

|Figura 3.5| Classificação cinemática das bandas de deformação quando arenitos porosos são

submetidos à contração, cisalhamento e dilatação produzindo, respectivamente, bandas de

deformação contracionais, cisalhantes e dilatacionais.

As bandas cisalhantes podem ser individualizadas em bandas (puramente) de

cisalhamento, bandas de cisalhamento contracionais e bandas de cisalhamento

dilatacionais. No caso das duas últimas, a deformação apresenta componentes de

cisalhamento simples e puro. Segundo Fossen et al. (2007), a maioria das bandas de

deformação descritas na literatura geológica são do tipo cisalhante com contribuições de

contração (no caso, bandas de cisalhamento contracionais) geradas por

reorganização/rearranjo granular com ou sem processos de cataclase.

As bandas de deformação volumétrica podem ser subdivididas em bandas de

contração (ou compaction bands, Mollema & Antonellini 1996, Aydin & Ahmadov

2009, Schultz et al. 2010) e bandas de dilatação (dilation bands, Du Bernard et al. 2002,

Aydin et al. 2006) sendo as primeiras geradas por processos de variação volumétrica

negativa, nesse caso, processos puramente contracionais, enquanto as outras estão

Page 33: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

17 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

associadas somente à variação positiva, ou seja, estritamente dilatacionais. Ressalta-se

que dilatação e contração de volumes de rocha podem estar associadas a algum tipo de

cisalhamento simples, ou seja, na prática, as bandas de deformação com variação

volumétrica podem exibir quantidades não perceptíveis de movimentação paralela a

estrutura.

3.3.3 Classificação reológica

Esse tópico diz respeito à classificação usual das bandas de deformação em termos

dos mecanismos deformacionais atuantes durante a formação/desenvolvimento dessas

estruturas. Nesse caso, o termo reológico, usado aqui, faz referência ao comportamento

mecânico do arenito poroso quando submetido à deformação progressiva. Os

mecanismos de deformação atuantes em determinada rocha dependem de diversas

condições geológicas, tais como mineralogia, tamanho, forma, e selecionamento dos

grãos, além do grau de cimentação/litificação e estado da tensão. Segundo Fossen et al.

(2007), os mecanismos deformacionais dominantes, relacionados à formação de bandas

de deformação, são: fluxo granular; fluxo cataclástico; “lubrificação” filossilicática

(phyllosilicate smearing); dissolução e cimentação. Para estes autores, tais fatores

produzem, respectivamente, bandas “desagregadas” (disaggregation band); bandas

cataclásticas (cataclastic band), bandas filossilicáticas (phyllosilicate band); e bandas de

cimentação (solution and cimentation band). Apesar desta classificação, a presente

dissertação dará ênfase somente às disaggregation bands e às cataclastic bands, ou seja,

as bandas de deformação dominadas respectivamente por fluxo granular e por fluxo

cataclástico (figura 3.6), uma vez que os outros dois tipos estão mais ligados a fatores

composicionais/diagenéticos.

Page 34: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

18 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

|Figura 3.6| Classificação das principais estruturas frágeis, desenvolvidas por cisalhamento,

contração e dilatação, em arenitos, segundo o estilo da deformação. As estruturas inseridas no

campo tabular deformation são representadas pelas bandas de deformação, estruturas dominadas

por mecanismos de fluxo granular ou de fluxo cataclástico. As feições coletivamente agrupadas

sob a denominação de sharpen descontinuities fazem referência a falhas/fraturas cisalhantes

(cisalhamento), juntas estilolíticas (encurtamento) e fraturas de distensão (estiramento). Figura

baseada em diversos autores.

As disaggretation bands, aqui referidas como bandas não-cataclásticas, (ou ainda,

hidroplásticas/hidrodúcteis) são desenvolvidas por processos deformacionais cisalhantes

relacionados ao mecanismo de fluxo granular (Rawling & Goodwin 2003), ou fluxo

particular independente (Twiss & Moores 2007), que causam rotação/reorientação e

deslizamento dos grãos do arcabouço sedimentar. Devido ao processo deformacional

descrito, neste tipo de banda de deformação não há fraturamento efetivo dos grãos,

somente um alinhamento preferencial dos mesmos devido à direção e tipo de

cisalhamento (simples ou puro).

Page 35: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

19 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

As condições favoráveis para formação das bandas de deformação não-

cataclásticas são encontradas em sedimentos arenosos ou arenitos pobremente litificados

(Du Berbard et al. 2002, Bense et al. 2003) e são exemplificadas pelas “falhas”

produzidas em experimentos de caixa de areia. Por estes motivos, essas bandas de

deformação podem ser invisíveis em areias quartzosas ou arenitos inconsolidados puros

e, nesse caso, são estruturas que apresentam baixo potencial de preservação no tempo

geológico.

Quando materiais consolidados são submetidos a esforços efetivos, o principal

mecanismo de deformação atuante é o fluxo cataclástico. Este mecanismo, através de

estudos experimentais, pode ser caracterizado por um conjunto de microestruturas

(fraturas/quebramentos e fragmentos de grãos deslocados) as quais exibem, em

mesoescala, uma feição contínua (Blenkinsop 2002). Arenitos consolidados, dependendo

de alguns parâmetros petrofísicos (porosidade, granulometria, selecionamento), também

podem se deformar por fluxo cataclástico produzindo as bandas de deformação

cataclásticas. Esse tipo de banda de deformação é produzido por deformação frágil-

dúctil, pois embora exibam (micro) fraturamentos as mesmas deformam-se, em escala

mesoscópica, como estruturas contínuas, dúcteis (Blenkinsop 2002, Draganits et al.

2005).

Aydin (1978), através de observações microscópicas, observou que as bandas de

deformação cataclásticas consistem de um núcleo cataclástico central, normalmente

envolto por um volume de grãos compactados e fraturados (denominado zona externa).

Além da zona externa, tem-se a rocha hospedeira, na qual seus grãos encontram-se

totalmente preservados da deformação.

O núcleo cataclástico é caracterizado por uma zona de ampla variedade

granulométrica, pois apresenta quantidade considerável de grãos/fragmentos dispersos

em uma matriz cataclástica (fruto da cominuição granular). As principais microestruturas

encontradas neste núcleo estão relacionadas ao mecanismo de deformação por

microquebramentos, no caso fraturas intra e transgranulares, e ao mecanismo de fluxo

cataclástico, que pode produzir, perante movimentos cisalhantes, fraturas T,

cisalhamentos R-R‟, cisalhamento Y e foliações P (marcada por fragmentos clásticos

alinhados obliquamente aos limites do núcleo da banda de deformação, Blenkinsop

2002).

Page 36: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

20 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

3.4 Características geométrico-espaciais

As bandas de deformação podem ser encontradas, sob o ponto de vista

geométrico-cinemático, como as fraturas cisalhantes do modelo de Riedel, onde a

disposição do eixo de máxima tensão (local ou regional) compressiva produzirá um

conjunto de estruturas sintéticas e antitéticas de caráter principal ou secundário.

Geometrica e cinematicamente o padrão de Riedel é definido por uma série de planos

orientados em ângulos específicos segundo uma zona de cisalhamento principal (figura

3.7a).

De modo geral, o sistema de Riedel compreende, a partir da zona de cisalhamento

principal (Y), as fraturas de cisalhamento conjugadas sintética (R) e antitética (R‟), que

fazem respectivos ângulos agudos de 15° e 75° com Y; a fratura de distensão (T) é

bissetriz aguda entre R e R‟, normalmente formando ângulo agudo de 45° com Y. Outros

tipos de fraturas também podem ocorrer, como as de cisalhamento secundária sintética

(P) e antitética (X) que são simétricas, respectivamente a R e R‟. Quando desenvolvido

em materiais solúveis (por exemplo, calcários), é possível o aparecimento de uma

superfície de dissolução, denominada junta estilolítica (E).

Apesar do desenvolvimento das estruturas frágeis estar diretamente relacionado ao

padrão de Riedel, a evolução seqüencial das bandas de deformação, nesse padrão, ainda

não é bem compreendida devido à complexidade geométrico-espacial dessas estruturas,

pois o seu desenvolvimento é controlado por diversos fatores petrofísicos (granulometria,

selecionamento, porosidade). Dessa maneira, um determinado arenito poroso,

dependendo das condições geomecânicas, pode apresentar bandas de deformação com

características geométricas, cinemáticas e (micro) estruturais distintas, quando submetido

a uma mesma tensão (local ou regional). Por exemplo, Ahlgren (2001), mostrou que as

bandas de deformação se desenvolvem seguindo o modelo antitético, no qual as primeiras

bandas as se formarem, seriam as antitéticas (R‟), enquanto Katz et al. (2004) mostraram

que estas estruturas seriam desenvolvidas pelo modelo sintético, onde bandas nas

posições R e P são as primeiras a se nuclear. Em trabalhos recentes, Aydin & Ahmadov

(2009) e Eichhulbl et al. (2010) descreveram bandas de deformação desenvolvidas

peralelamente aos planos de acamamento sedimentar devido à interação da tensão

cisalhante com os mesmos.

Page 37: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

21 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

Analisando a geometria e cinemática das estruturas de Riedel com a ocorrência de

bandas de deformação em zonas de dano de falhas, é possível comparar um núcleo de

uma falha (pré-existente) com a estrutura Y. Tomando como base essa estrutura principal

(figura 3.7b), as bandas de deformação nas posições R, R‟, P e X se desenvolveriam

como bandas cisalhantes, enquanto àquelas nucleadas paralela e perpendicularmente ao

eixo de maior tensão compressiva corresponderiam, pelo menos teoricamente, a bandas

dilatacionais e bandas contracionais respectivamente. Porém a complexidade

geométrico-espacial das bandas de deformação e os mecanismos de deformação

envolvidos dificultam, na prática, essas observações. Isso leva a sugerir que, nesse

arranjo, as bandas de deformação nas posições T e E iniciem, respectivamente, como

estruturas puramente contracionais e dilatacionais, porém a natureza dos mecanismos de

deformação envolvidos (fluxos granular e cataclástico) é responsável por rotacioná-las

para outras posições cisalhantes (assim como verificado por Katz et al. 2004).

|Figura 3.7| Comparação entre o padrão de estruturas de Riedel desenvolvido em: a) rochas não

porosas, exibindo as fraturas cisalhantes (R, R‟, P e X), a fratura de distensão (T) e a junta

estilolítica (E) a partir da estrutura cisalhante principal (Y); b) arenitos porosos, mostrando que

bandas de deformação cisalhantes (Ci) ocupam a posição das fraturas cisalhantes, enquanto as

bandas de contração (Co) e de dilatação (Di) ocupam, respectivamente, as posições E e T.

Também está sendo mostrado na figura que possivelmente as bandas de dilatação (e talvez as de

contração) podem rotacionar no sentido do cisalhamento, perdendo sua característica puramente

dilatacional.

Page 38: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

22 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

3.5 Implicações ao fluxo de fluidos

Os Sistemas Petrolíferos (Magoon & Dow 1994) são compostos por diversos

componentes geológicos, dentre eles as rochas-reservatório, que normalmente são

litologias constituídas por material detrítico de fração granulométrica areia a seixo,

depositados em ambientes sedimentares de alta energia, portadores de espaços porosos

(Milani et al. 2000) que permitam a migração (fluxo) e armazenamento de fluidos

petrolíferos.

O fluxo de fluidos em arenitos-reservatório é controlado principalmente pela

porosidade intergranular, que favorece de modo efetivo a formação de bandas de

deformação, principalmente em zonas de dano de falhas, as quais constituem um volume

tabular de rocha deformada com propriedades geomecânicas diferentes de sua rocha

hospedeira, ou seja, podem ser consideradas anisotropias hidrodinâmicas (Caine et al.

1996, Cello et al. 2001, Braathen et al. 2009, Rotevatn et al. 2009) onde a

permeabilidade teria valores diferentes dependendo da direção com as estruturas

deformacionais (figura 3.8).

Quando o desenvolvimento das bandas de deformação é dominado pelo fluxo

cataclástico, essas estruturas podem perturbar potencialmente o fluxo de fluidos,

comportando-se como barreiras, devido ao processo de cataclase granular. O conceito de

barreira para as bandas de deformação, em especial as cataclásticas, é amplamente

difundido na comunidade geológica, pois essas estruturas exibem porosidade

notavelmente menor que suas rochas hospedeiras (Antonelinni & Aydin 1994, Fisher &

Knipe 2001, Shipton et al. 2002, Johansen et al. 2005) e podem atuar até mesmo como

selantes para acumulações de hidrocarbonetos (Oglivie & Glover 2001). Apesar disso,

outros trabalhos mostram que, na prática, as bandas de deformação não influenciam tanto

o fluxo de fluidos (Fossen & Bale 2007, Medeiros et al. 2010), uma vez que elas podem

se apresentar como estruturas de espessura milimétrica e ou ainda como volumes

tabulares segmentados, o que pode permitir, mesmo que anisotropicamente, a passagem

de fluidos (Alves da Silva et al. 2007). Alguns autores sugerem que as bandas de

deformação possam se comportar, pelo menos em algum estágio de seu desenvolvimento,

como condutos (Parry et al. 2004, Parnell et al. 2004), devido à presença de cimentos

carbonáticos (Labaume 2001), concentração de óxidos e hidróxidos (Fowles & Burley

Page 39: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

23 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 3: Estado da Arte: Bandas de Deformação em Arenitos Porosos

1994) e, até mesmo, inclusões de hidrocarbonetos (Parnell et al. 2004) em sua porção

interna.

Nos últimos anos os estudos sobre as características geométrico-espaciais,

estruturais, genéticas e hidrodinâmicas a respeito das bandas de deformação vêm

crescendo uma vez que essas estruturas são subsísmicas e podem compartimentar

reservatórios. Como as bandas de deformação ocorrem em arenitos porosos, alvo da

indústria do petróleo, modelos matemáticos e computacionais tem sido amplamente

utilizados com o intuito de simular o fluxo de fluidos ao longo de zonas de dano de falhas

em rochas reservatório (Jourde et al. 2002, Odling et al. 2004, Fossen & Bale 2007,

Torabi & Fossen 2009). Esses modelos, normalmente, levam em consideração critérios

geométrico-espacial (Kolyukhin et al. 2010), tais como espessura, comprimento,

espaçamento, continuidade lateral e orientação.

|Figura 3.8| Ilustração esquemática mostrando arranjo típico de bandas de deformação

(cataclásticas) em zona de dano de falha e a anisotropia causada por elas. Teoricamente um fluxo

de fluidos apresentaria menor dificuldade de transitar no sentido paralelo ao núcleo de falha,

horizontalmente, onde a permeabilidade é máxima (Kmax) ou verticalmente, onde ela é

intermediária (Kint). Em contraste, a permeabilidade é mínima (Kmin), na horizontal, com o

fluxo perpendicular às estruturas representadas. Baseado em Fossen & Bale (2007) e Ferril et al.

(2009).

Page 40: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 4 CLASSIFICAÇÃO DAS

ESTRUTURAS NA ÁREA DE

ESTUDO

Page 41: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

24 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 4: Classificação das Estruturas na Área de Estudo

4 CLASSIFICAÇÃO DAS ESTRUTURAS NA ÁREA DE ESTUDO

4.1 Introdução

O presente capítulo tem como objetivo mostrar a classificação das bandas de

deformação estudadas segundo critérios hierárquicos, cinemáticos, reológicos

(mecanismos de deformação) e geométrico-espaciais, bem como realizar a integração

contextual entre os artigos científicos Caracterização meso e microscópica de bandas de

deformação em arenitos porosos: um exemplo nas tectonossequências Paleozóica, Pré- e

Sin-rifte da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil e Bandas de deformação cisalhantes

paralelas ao acamamento sedimentar na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil, inseridos

nos capítulos 5 e 6 respectivamente. Nesse caso, serão apresentadas aqui descrições

estruturais sobre as bandas de deformação presente nos arenitos pré e sinrifte na região

do Vale do Cariri.

4.2 Hierarquia, cinemática e mecanismos deformacionais das bandas de deformação

As bandas de deformação concentram-se nas zonas de dano de falhas (figura 4.1),

quando estas últimas cortam arenitos relativamente porosos das formações Maurití,

Missão Velha (Inferior/Superior) e Abaiara. Apesar disso, a grande densidade de bandas

de deformação em afloramentos nem sempre significa a presença de falhas nos mesmos,

pois as falhas podem estar presentes em estratos adjacentes, ou mesmo, não estarem

aflorantes.

Sob o ponto de vista hierárquico, as bandas de deformação da área estudada

apresentam-se principalmente como estruturas individuais com 0,5 a 2,0 centímetros de

espessura e rejeitos milimétricos, nem sempre notáveis em escala mesoscópica. Em

alguns afloramentos, principalmente próximo a falhas, ou na zona de dano destas, as

bandas de deformação também podem ocorrer como feixes de espessura centimétrica

(muitas vezes superiores a 3,0 centímetros), os quais exibem rejeitos da ordem de poucos

centímetros que, na maioria das vezes, permitem confirmar a cinemática dos mesmos. O

rejeito desses aglomerados pode atingir vários centímetros de deslocamento quando eles

estão diretamente associados a superfícies de deslizamento, que são falhas/fraturas

Page 42: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

25 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 4: Classificação das Estruturas na Área de Estudo

cisalhantes discretas. Essas pequenas superfícies deslizantes podem se conectar e, dessa

maneira, desenvolver falhas/fraturas cisalhantes de maior expressão, o principal elemento

arquitetural das falhas, o núcleo de falha. Isso sugere que, hierarquicamente, as bandas de

deformação antecedem os falhamentos em arenitos porosos deformados.

|Figura 4.1| Afloramentos de bandas de deformação em zonas de dano de falhas (ZDN). Pode-se

observar que: a) a quantidade de bandas de deformação (qBD) é maior na proximidade do núcleo

(plano) de falha (NF), diminuindo ao se afastar do mesmo, contudo; b) nem sempre esse padrão

é respeitado, pois as bandas de deformação podem se concentrar em porções relativamente

afastadas dos núcleos de falha.

A inferência da cinemática, bem como a identificação do caráter cisalhante dessas

bandas de deformação, foi possível através da observação de: relações de

corte/deslocamento de marcadores (figura 4.2a); padrões geométrico-cinemáticos, tais

como estruturas em olho/ponte, padrões de escalonamento (figura 4.2b); feições “S/C”

(figura 4.2c), bem como estria em superfícies de deslizamento (figura 4.3d).

Apesar de tais feições serem utilizadas como critérios cinemáticos, algumas vezes,

somente observações de fabrics oblíquos, rotação/reorientação granular, fragmentos

deslocados e fraturamentos intragranulares, através de seções delgadas, permitem

confirmar o estilo cisalhante dessas estruturas (figuras 4.3a e 4.3b). Ressalta-se que a

observação desses critérios cinemáticos, quando possível, foi realizada na seção X/Z dos

arenitos deformados, uma vez que outras seções podiam não fornecer informações

precisas a respeito do estilo cinemático (contracional, dilatacional ou cisalhante) das

bandas de deformação observadas.

Page 43: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

26 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 4: Classificação das Estruturas na Área de Estudo

|Figura 4.2| Principais critérios usados para discernir/verificar o caráter cisalhante das bandas de

deformação em afloramentos da área estudada: a) deslocamentos/rejeitos de marcadores; b)

padrões de escalonamentos (aglomerados de bandas de deformação); c) feições “tipo S/C”, nesse

caso com cinemática sinistral e d) estria (baixo rake) em superfície de deslizamento.

As seções delgadas também permitiram verificar nas bandas de deformação

estudadas o (micro) zoneamento característico de bandas de deformação cataclásticas, no

caso o núcleo e a zona externa (figura 4.3c). O núcleo é constituído predominantemente

por matriz cataclástica, onde se encontram dispersos alguns clastos sobreviventes e seus

fragmentos intensamente deformados. Enquanto isso, a zona externa, que envelopa o

núcleo, é caracterizada por uma série de grãos com diversas fraturas intragranulares,

frutos do mecanismo de deformação atuante, ou seja, por deformação por fluxo

cataclástico (assim como, deslizamento friccional, indentação e cominuíção granular,

figura 4.3d). Esses dados permitem afirmar que as bandas de deformação estudadas

podem ser classificadas como bandas cataclásticas produzidas por deformação

cisalhante localizada em arenitos porosos.

Page 44: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

27 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 4: Classificação das Estruturas na Área de Estudo

|Figura 4.3| Características microscópicas das bandas de deformação estudadas: a) exemplo de

fabric oblíquo marcado pela matriz a alinhamento de clastos em cisalhamento dextral; b) detalhe

do (micro) deslocamento de fragmentos granulares, também dextral. c) zoneamento

característico de bandas de deformação cataclásticas onde pode se observar o núcleo (vermelho)

sendo contornado pela zona externa; d) fotomicrografia de indentação (e cominuição) granular,

que evidencia deformação por mecanismo de fluxo cataclástico.

4.3 Dados geométrico-espaciais das bandas de deformação

Sob o ponto de vista geométrico-espacial, as bandas de deformação da área de

estudo, normalmente podem se apresentar exibindo tramas simples. Os padrões de bandas

de deformação simples ocorrem como estruturas solitárias, retilíneas ou curvadas (figuras

4.4a e 4.4b), por vezes bastante espaçadas, que compõem pares conjugados cisalhantes.

As bandas de deformação arranjadas em tramas complexas, frequentemente mostram-se

como uma teia de estruturas individuais ou aglomeradas, retilíneos (figura 4.4c) a

anastomosados com diversas orientações espaciais e pequenos espaçamentos entre si

(figura 4.4d). Estes padrões complexos são comumente encontrados em proximidade aos

núcleos de falhas/superfícies de deslizamento.

Page 45: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

28 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 4: Classificação das Estruturas na Área de Estudo

|Figura 4.4| Arranjos geométrico-espaciais das bandas de deformação da área estudada. Estas

podem se exibir em tramas simples, como estruturas individuais sob a forma de pares conjugados

tanto com a) ângulos de interseção relativamente espaçados quanto com b) ângulos de

intersecção mais fechados; ou em tramas complexas, mostrando c) pares conjugados sucessivos

sistematicamente espaçados ou d) conjuntos de bandas de deformação, individuais/agrupadas,

com espaçamento e espessura variáveis.

Apesar da complexidade espacial que as bandas podem exibir, de modo geral, seu

arranjo geométrico-espacial pode ser dividido em três conjuntos principais:

(sub)verticais, (com mergulho) intermediário e (sub)horizontais. As bandas de

deformação dispostas verticalmente apresentam-se sob a forma de pares conjugados E-W

e NNE-SSW transcorrentes (sinistrais e dextrais respectivamente), enquanto o conjunto

de bandas de deformação com mergulho intermediário ocorre como estruturas NE-SW

predominantemente normais. Estes dois conjuntos podem ser encontrados como

estruturas cisalhantes principais e secundárias compatíveis ao padrão de Riedel, ou seja,

ocorrem como bandas de cisalhamento sintéticas (R e P) e antitéticas (R‟ e X) a bandas

cisalhantes, ou superfícies de deslizamento, principais (Y). O terceiro, e último, conjunto

de bandas de deformação apresenta baixos ângulos de mergulho, frequentemente

paralelos aos planos de acamamento sedimentar, e será mais bem descrito no capítulo 6.

Page 46: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 5 ARTIGO CIENTÍFICO*

Page 47: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

29 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

5 ARTIGO CIENTÍFICO*

Caracterização meso e microscópica de bandas de deformação em arenitos

porosos: um exemplo nas tectonossequências Paleozóica, Pré- e Sin-rifte da Bacia

do Araripe, Nordeste do Brasil.

João Marculino de Araújo Netto¹ & Fernando César Alves da Silva²

1:Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]; 2: Departamento de Geologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil,

[email protected]

Resumo Bandas de deformação são estreitos volumes tabulares desenvolvidos em arenitos porosos.

Apesar de produzidas em condições de deformação frágil, internamente elas podem apresentar gradiente

de deslocamento contínuo. Quando o mecanismo de deformação dominante durante a nucleação dessas

bandas é a cataclase granular, elas podem alterar significativamente as propriedades originais de suas

rochas hospedeiras, tais como porosidade e permeabilidade. Bandas de deformação, presentes nos

arenitos pré- e sin-rifte da Bacia do Araripe, foram estudadas em meso e micro escala com o intuito de

classificá-las e entender os mecanismos deformacionais envolvidos durante sua nucleação e

desenvolvimento. Critérios geométrico-espaciais, cinemáticos e reológicos permitiram estabelecer as

relações entre a gênese das bandas de deformação e a litificação dos arenitos protólitos. A luz desses

dados é discutida o impacto dessas estruturas no fluxo de fluido, na escala de reservatório. Além disso, o

estudo das bandas de deformação auxiliou no entendimento da evolução geotectônica da bacia sedimentar

estudada. Dessa maneira, o estudo das bandas de deformação pode subsidiar pesquisas sobre a evolução

tectonossedimentar local e regional de bacias sedimentares.

Palavras-chave: Bandas de deformação, Bacia do Araripe, cataclase granular.

Abstract MESO AND MICROSCOPIC CHARACTERIZATION OF DEFORMATION BANDS IN

POROUS SANDSTONE: AN EXEMPLE ON THE PALEOZOIC, PRE- AND SIN-RIFT

TECTONOSSEQUENCES OF THE ARARIPE BASIN, NORTHEST OF BRAZIL. Deformation bands are

narrow tabular volumes developed in porous sandstones. When granular cataclasis is the dominant

mechanism of deformation the initial properties of their host rocks (i.e., porosity and permeability) can

change significantly. The deformation bands in sandstones from the pre- and syn-rift of the Araripe Basin

were studied in meso and micro scale in order to classifying them and understand the deformation

mechanisms involved during their nucleation and development, as well as their local and regional

meaning. Their geometric-spatial, kinematic and rheological features allowed establish links between

their origin and lithification of their host rocks. Moreover, the study of deformation bands contributed to

the understanding of the tectonic evolution of the studied basin. Additionally, some inferences on their

influence to the fluid flow in the reservoir-scale is outline. Accordingly, the study of deformation bands

can support research on local and regional aspects of the tectonosedimentary evolution of sedimentary

basins.

Keywords: Deformation bands, Araripe Basin, granular cataclasis.

5.1 INTRODUÇÃO Bandas de deformação (Aydin 1978) são estruturas planares que ocorrem

comumente em arenitos porosos. Essas estreitas faixas deformacionais são capazes de modificar

localmente as propriedades petrofísicas intrínsecas de rochas reservatório (porosidade e permeabilidade).

A diminuição da porosidade e permeabilidade das bandas de deformação, em comparação com o arenito

hospedeiro, é comumente interpretada como barreira (Antonellini & Aydin 1994, Antonellini & Aydin

* Submetido à Revista de Geologia da USP: Série Científica.

Page 48: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

30 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

1995, Holcomb et al. 2007, Faulkner et al. 2010) para a passagem ou migração de fluidos (água, óleo ou

gás) no interior das bacias sedimentares, embora alguns autores (Fossen & Bale 2007, Alves da Silva et

al. 2007, Medeiros et al. 2010) minimizem tal influência. Uma vez que as bandas de deformação não são

imageadas por métodos sísmicos, trabalhos sobre a caracterização geométrico-espacial e petrofísica

dessas estruturas têm sido cada vez mais publicados com o intuito de compreender o possível impacto que

elas produzem em arenitos reservatórios. Paralelamente, estudos acerca da evolução estrutural

(mecanismos de deformação), cinemática e a relação das bandas de deformação com aspectos

diagenéticos, por exemplo, podem fornecer subsídio para interpretações sobre a história tectono-estrutural

de determinada bacia sedimentar. Nesse contexto, a presença de bandas de deformação nas

tectonossequências pré e sin-rifte da Bacia do Araripe, possibilitou, através de análises meso e

microscópicas, estudá-las com a finalidade de contribuir para um melhor entendimento da geologia da

bacia, além de especular sobre o comportamento barreira/conduto delas ao fluxo de fluidos em escala de

reservatório.

5.2 CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLÓGICA A Bacia do Araripe é uma das maiores e mais completas

bacias interiores do nordeste brasileiro. Ela é constituída por quatro tectonossequências principais (Ponte

& Appi 1990): Paleozóica (Formação Maurití); Pré-rifte (formações Brejo Santo e Missão Velha); Sin-

rifte (Formação Abaiara) e Pós-rifte (formações Rio da Batateira, Santana, Arajara e Exu). Essa bacia, e

demais bacias interiores, vem sendo palco de diversos estudos da equipe da UFRN enfocando seus

aspectos tectono-estratigráficos e estruturais (Almeida et al. 2009, Aquino 2009, Araújo Netto 2009,

Araújo Netto & Alves da Silva 2009, Cardoso et al. 2009, Jardim de Sá et al. 2009, Melo & Alves da

Silva 2009, Cardoso 2010, Costa 2010, Araújo Netto & Alves da Silva 2011, entre outros). O presente

estudo é desenvolvido na porção leste da bacia (figura 5.1), às vezes referida na literatura como Sub-bacia

do Cariri.

Figura 5.1 - Mapa geológico simplificado da porção leste da Bacia do Araripe. Estão representadas no

mapa as tectonossequências Paleozóica, Pré-rifte, Sin-rifte e Pós-rifte. Baseado em Ponte & Appi (1990)

e Projeto Bacias Interiores do Nordeste Brasileiro (UFRN/PETROBRAS/FUNPEC).

As tectonossequências estudadas nesse trabalho são representadas pelas formações Maurití, Brejo

Santo, Missão Velha e Abaiara. A Formação Maurití é constituída por rochas siliciclásticas, como orto e

Page 49: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

31 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

paraconglomerados, arcóseos e quartzoarenitos médios a grossos. Comumente possuem estratificações

cruzadas tabulares (figura 5.2a) e acanaladas de médio porte com sentido de paleocorrente dominante

para NW. A Formação Brejo Santo é composta por folhelhos cinza-esverdeados, argilitos avermelhados

(figura 5.2b) e siltitos, entre os quais ocorrem camadas decimétricas a métricas de arenitos finos a médios

e delgadas lâminas de calcário argiloso, rico em ostracodes, às vezes formando bancos de ostracoditos

(Assine, 1992, 2007). A Formação Missão Velha é formada por quartzoarenitos bem selecionados e

arcóseos finos a médios, brancos a avermelhados, por vezes intercalados a camadas pelíticas. Os arenitos

podem exibir estratificações cruzadas tabulares de médio porte, e têm como principal característica a

presença de troncos de madeira silicificados (figura. 5.2c). A Formação Abaiara é composta por arenitos

finos a médios e conglomerados intercalados a pelitos (siltitos, argilitos e folhelhos). As principais

estruturas sedimentares reconhecidas são laminações plano-paralelas, estratificações cruzadas tabular e

acanalada de médio porte, gretas de contração e estruturas produzidas por deformação sindeposicional,

tais como clastos argilosos parcialmente litificados (figura 5.2d), fluidilização e dobras de

escorregamento. Os estratos dessas formações normalmente exibem mergulhos suaves (entre 2 e 10°),

contudo podem apresentar mergulhos da ordem de 45° quando fortemente basculados por falhas normais.

Figura 5.2 - Aspectos de campo das principais formações estudadas: a) Formação Maurití (arenitos

médios com estratificação cruzada tabular de médio porte). b) Formação Brejo Santo (folhelhos cinza-

esverdeados e argilitos avermelhados). c) Tronco de madeira silicificado em arenito fino a médio da

Formação Missão Velha. d) Clastos argilosos deformados em arenito médio da Formação Abaiara

(reforçando deformação sindeposicional).

A Bacia do Araripe está tectonicamente compartimentada por sistemas de falhas normais NE-SW,

delimitando horsts e grabens e, subordinadamente, transcorrentes NNE-SSW e E-W, respectivamente

dextrais e sinistrais. As sequências areníticas estudadas exibem, com certa frequência, bandas de

Page 50: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

32 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

deformação relacionadas a zonas de danos de falhas normais, transcorrentes, que geralmente estão

dispostas em pares conjugados (dextrais e sinistrais), e mais raramente falhas inversas.

5.3 BANDAS DE DEFORMAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Dada a escassez desse tema na

literatura nacional faremos a seguir, uma breve explanação sobre os tipos de bandas de deformação,

mecanismos de deformação envolvidos na sua formação e seu arranjo geométrico-espacial.

A deformação frágil em rochas de baixa porosidade ocorre primariamente por fraturamentos,

gerando os principais tipos de estruturas frágeis (juntas e falhas). Entretanto, quando rochas de alta

porosidade são submetidas à deformação, a tensão se concentra em estreitas zonas, ou faixas, produzindo

as denominadas bandas de deformação.

A distinção entre bandas de deformação, juntas de distensão e falhas está relacionada ao caráter

deformacional peculiar que cada uma dessas estruturas apresenta. Juntas de distensão representam

simples planos de partição sem deslocamento ou rejeito (salvo quando são híbridas); falhas (e fraturas

cisalhantes) são planos com deslocamento relativo de blocos, enquanto as bandas de deformação são

volumes tabulares que possuem gradiente de deslocamento interno com caráter contínuo (Antonellini et

al. 1994, Draganits et al. 2005, figura 5.3), comportando-se analogamente a zonas de cisalhamento

dúcteis, embora produzidas nas mesmas condições externas de deformação frágil.

Figura 5.3 - Ilustração do caráter deformacional descontínuo de estruturas frágeis que correspondem: a)

planos de partição sem rejeito (juntas de distensão no arenito Missão Velha); b) superfícies bem

definidas com deslocamento relativo de blocos (falhas/fraturas cisalhantes, exemplo na Formação

Maurití). Ao contrário das anteriores, c) ilustra um volume tabular com deslocamento interno contínuo

(“zonas de cisalhamento”; em arenitos porosos essas estruturas são representadas por bandas de

deformação, aqui desenvolvidas no arenito Abaiara).

A notável associação entre bandas de deformação e arenitos porosos está intrinsecamente

relacionada ao comportamento mecânico destes quando submetidos a esforços (Antonellini & Pollard

1995, Menéndez et al. 1995, Mair et al. 2000). O desenvolvimento das bandas de deformação envolve

diversos processos de efetiva interação granular, nos quais podem se incluir rotação/reorientação,

deslizamento friccional, esmagamento e indentação granular. Tais processos ocorrem (e são favorecidos)

quando se aplica tensão em materiais granulares (arenosos) com quantidades significativas de espaços

entre seus grãos (porosidade intergranular). Dessa forma, arenitos porosos são as rochas que apresentam

condições petrofísicas e geomecânicas mais adequadas a nuclear e desenvolver bandas de deformação.

5.3.1 Classificação e aspectos reológicos Embora haja diversos critérios de classificação de bandas de

deformação (Antonellini et al. 1994, Mollema & Antonellini 1996, Aydin et al. 2006, Fossen et al. 2007),

neste trabalho procurou-se simplificar, fazendo-se uso somente de classificações hierárquica, cinemática e

reológica.

Page 51: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

33 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Hierarquicamente, as bandas de deformação ocorrem tanto individuais (denominadas singles)

quanto em aglomerados (denominados clusters), como mostrados na figura 5.4. Singles apresentam

espessura variando de alguns milímetros a poucos centímetros (inferiores a 2,0 cm) e, mesmo atingindo

alguns metros de comprimento, têm rejeitos milimétricos (raramente centimétricos). Em contraste, os

clusters são mais espessos (entre 3,0 e 10,0 cm) e possuem rejeitos maiores, pois acumulam o rejeito de

cada single que o compõe. Algumas bandas de deformação podem apresentar, em sua porção interna,

superfícies de deslizamento bem definidos, inclusive com lineações de estria. A evolução dessas

superfícies, com progressivo aumento (cumulativo) de rejeito, pode levar a geração de falhas, com

rejeitos bem mais expressivos (Hesthammer et al. 2000).

Figura 5.4 - Bandas de deformação: a) individuais „singles‟ e b) agrupamento de bandas de deformação

formando um „cluster‟, em arenitos da Formação Missão Velha.

Do ponto de vista cinemático, as bandas de deformação são classificadas em três end-members:

bandas dilatacionais (dilation bands), bandas contração (compaction bands) e bandas cisalhantes (shear

bands). Esses três tipos principais também podem se combinar formando tipos híbridos (Aydin et al.

2006). Em tese, as bandas dilatacionais e contracionais estão associadas somente à deformação por

cisalhamento puro com variação volumétrica (respectivamente aumento e diminuição de volume),

enquanto as cisalhantes estão relacionadas à deformação por cisalhamento simples.

Quanto ao comportamento reológico as bandas de deformação são referidas como: não-

cataclásticas (disaggregation bands de Fossen et al. 2007, a falta de nomenclatura mais apropriada nos

leva a adotar os termos hidrodúctil ou hidroplástica) e cataclásticas (cataclastic bands). As bandas não-

cataclásticas são caracterizadas por apresentarem pouca ou nenhuma evidência de quebramento granular,

nesse caso, o mecanismo de deformação atuante é o fluxo granular (ou fluxo particular, onde os grãos

rotacionam e deslizam uns contra os outros sem se quebrar). Este mecanismo deformacional é típico de

materiais pobre/parcialmente consolidados.

A deformação, no contexto arenitos totalmente litificados, produz bandas cataclásticas, onde o

mecanismo de deformação dominante é o fluxo cataclástico, no qual está diretamente relacionado ao

mecanismo de cataclase granular. Este, por sua vez, ocorre quando a interação granular é suficiente para

promover o quebramento dos grãos, produzindo matriz cataclástica. Dependendo da intensidade da

deformação, as bandas cataclásticas podem apresentar uma zonação microscópica (figura 5.5) relacionada

à variação no grau de cataclase, identificada por Aydin (1978) em núcleo (ou zona interna), zona externa

e zona não-deformada (ou rocha hospedeira). Nesse arranjo, o núcleo da banda constitui-se praticamente

por matriz cataclástica (ou tectônica), a qual é produzida pelo intenso mecanismo de cataclase granular

(esmagamento, moagem e cominuição dos grãos). Notavelmente, a quantidade de grãos cominuídos

diminui do núcleo para a zona externa indicando que a deformação também diminua nesse sentido.

Page 52: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

34 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Figura 5.5 - Fotomicrografia e representação esquemática da zonação microscópica de uma banda de

deformação cataclástica, desenvolvida em arenito da Formação Maurití.

5.3.2 Disposição geométrico-espacial Geometricamente as bandas de deformação podem se desenvolver

em pares conjugados, e/ou apresentando-se como diversas estruturas planares orientadas em ângulos

específicos segundo uma zona de cisalhamento principal a exemplo das fraturas cisalhantes de Riedel

(sendo assim bandas em posições Y, R, R´, P e X). Algumas vezes, o arranjo geométrico-espacial das

bandas de deformação pode ser bastante complexo, principalmente quando estas ocorrem em zona de

dano de falhas (fault damage zone, Shipton & Cowie 2003, Kim et al. 2003, Kim et al. 2004), que

envolve uma falha principal e contém diversas estruturas subsidiárias (juntas, fraturas cisalhantes, etc).

5.4 METODOLOGIA A abordagem das bandas de deformação da área de estudo foi feita em duas

etapas: (i) macroscópica, referente ao trabalho em afloramentos, onde a disposição geométrica e, quando

possível, cinemática dessas estruturas foram observadas; e (ii) microscópica, na qual buscou-se

evidências sobre os mecanismos de deformação (comportamento reológico) atuantes na formação das

bandas de deformação, relação textural entre suas porções internas e externas, bem como a sua

cinemática. A relação geométrico-estrutural, mecanismo de deformação e suas relações com o estágio de

litificação da rocha também foram estudados.

5.5 ANÁLISE MESOSCÓPICA DAS BANDAS DE DEFORMAÇÃO Esta parte do estudo foi

desenvolvida em afloramentos de arenitos das formações Maurití, Missão Velha e Abaiara da Bacia do

Araripe, que representam respectivamente suas tectonossequências Paleozóica, Pré-rifte e Sin-rifte.

Ressalta-se que a Formação Brejo Santo foi excluída desse estudo por apresentar litologias

essencialmente pelíticas. Em escala mais regional, essas estruturas estão associadas a falhamentos

normais e transcorrentes que compõem o arranjo estrutural da bacia em questão.

5.5.1 Hierarquia Nos afloramentos estudados, as bandas de deformação podem ocorrer sob a forma de

faixas individuais (singles) ou clusters. As bandas individuais são comumente retilíneas e descontínuas,

com espessura variando de 1,5 mm a 3,0 cm (excepcionalmente) e podendo não ultrapassar poucos

metros de comprimento. Os clusters podem ser retilíneos, curvos ou anastomosados, com 10 a 20

centímetros de espessura e atingir vários metros de comprimentos. Foram observados rejeitos

milimétricos (quando single) a decimétricos (quando cluster).

5.5.2 Análise estrutural As macrofeições diagnósticas de cisalhamento das bandas de deformação são o

deslocamento de marcadores (figura 5.6a, nem sempre de fácil visualização, quando se trata de bandas

Page 53: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

35 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

simples, devido os rejeitos muito pequenos), superfícies de deslizamento (figura 5.6b) e estruturas “tipo

S/C” (aqui referidas como estruturas análogas a zonas de cisalhamento miloníticas, figura 5.6c), as quais

também podem apresentar estrias de deslizamento (figura 5.6d). Esse tipo de arranjo “S/C”, encontrado

nos clusters, ainda é pouco difundido na literatura alusiva às bandas de deformação e pode,

alternativamente, ser considerada como a combinação geométrica entre estrutura cisalhante principal (Y)

e sintética secundária (P) do arranjo de Riedel e, nesse caso, formariam uma estrutura “P/Y” e não “S/C”.

Embora, a distinção, caracterização ou gênese dessas estruturas não tenha sido objetivo deste estudo, o

encurvamento das bandas S (ou P), tendendo a um paralelismo com C (ou Y) nos leva a preferir a essa

disposição como análoga a “S/C”, desenvolvidas em cisalhamento dúctil. A discussão desse assunto não

será abordada neste artigo.

A disposição geométrico-espacial das bandas de deformação analisadas permitiu separá-las em

três grandes grupos principais: NE-SW; NNE-SSW e E-W (estereogramas). As bandas NE-SW

apresentam caimento variando entre 45 e 60° e exibem movimento normal, e estão comumente associadas

à zona de dano de falhas de mesma cinemática. Essa zona encontra-se em torno de falhas, sendo

caracterizada pelo aumento significativo na quantidade de bandas de deformação. As bandas NNE-SSW e

E-W apresentam mergulhos fortes (da ordem de 70°), por vezes subverticais, e podem ocorrer sob a

forma de pares conjugados transcorrentes, respectivamente dextrais e sinistrais.

Figura 5.6 - Aspectos mesoscópicos e orientação espacial das bandas de deformação da área estudada:

a) Bandas de deformação „singles‟ deslocando „cluster‟ de banda de deformação na Formação Maurití;

b) superfície de deslizamento (apresenta estria de alto „rake‟ indicando movimentação vertical). c)

„Cluster‟ com geometria análoga a estruturas “S/C” (“ou P/Y”) exibindo d) estria de baixo „rake‟,

evidenciando transcorrência sinistral. Os arenitos mostrados em, „b‟ e „c‟ e „d‟ pertencem à Formação

Abaiara.

Page 54: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

36 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

5.6 ANÁLISE MICROSCÓPICA DAS BANDAS DE DEFORMAÇÃO Essa etapa do trabalho foi

feita através de seções delgadas confeccionadas a partir de amostradas orientadas. A análise consistiu na

caracterização de aspectos composicionais, texturais (orientação dos grãos e grau de compactação) e

deformacionais (microfraturamentos, cominuição granular, matriz cataclástica e deslocamentos relativos).

Desses aspectos, os deformacionais são os mais relevantes para classificar as bandas de deformação,

como discutido na seção classificação e aspectos reológicos, tanto em critérios cinemáticos (dilatação,

contração ou cisalhamento) quanto em reológicos (ausência ou presença de cataclase). Além disso,

também foram realizadas medições da porosidade e granulometria relativas em porções de interesse das

seções delgadas (dentro, no limite e fora da banda de deformação) com o intuito de verificar possíveis

relações entre porosidade e grau de cataclase, e possibilitar inferências sobre o comportamento

hidrodinâmico das bandas de deformação.

5.6.1 Petrografia Os arenitos estudados (Maurití, Missão Velha e Abaiara) podem ser classificados, do

ponto de vista petrográfico, como arenitos quartzosos médios, bem selecionados e com considerável

porososidade intergranular (figura 5.7a). Além dos grãos de quartzo, foi possível identificar a presença de

dois tipos distintos de matriz, uma de caráter deposicional e a outra de caráter tectônico. A matriz

deposicional, quando presente, perfaz menos de 5% da composição modal das lâminas observadas,

podendo ser encontrada tanto dispersa quanto ligeiramente alinhadas (marcando possíveis estratificações

sedimentares). A matriz tectônica, ou matriz cataclástica, é composta por pequenos fragmentos (de grãos)

inequidimensionais e angulosos (a subangulosos), formados devido ao mecanismo de cataclase granular

(que envolve rotação, deslizamento friccional, esmagamento e indentação). Sendo, a matriz tectônica

produzida exclusivamente pela deformação cataclástica, sua ocorrência é totalmente restrita à área da

banda de deformação em seção delgada (figura 5.7b).

Figura 5.7 - Fotomicrografias mostrando os aspectos petrográficos e texturais: a) do arenito da

Formação Abaiara (bem selecionado com aproximadamente 30% de porosidade) com suas propriedades

originais e em b) cortado por banda de deformação cataclástica.

Apesar do mecanismo genético da matriz tectônica ser a cataclase granular, o termo gouge

(“farinha de rocha”) não se aplica ao contexto das bandas de deformação, uma vez que esse termo é

relativo a um material incoeso produzido por deformação cataclástica em zonas de falha. Pois, no caso de

bandas de deformação, a matriz cataclástica comporta-se, pelo menos em tese, como um material

(relativamente) coeso, o qual permite gradiente de deslocamento interno contínuo. Sendo assim evitamos

o termo gouge na descrição da matriz cataclástica.

Os aspectos texturais considerados neste trabalho são referentes a duas porções importantes das

seções delgadas: zona não-deformada, que representa a rocha hospedeira; e a zona deformada, que é a

própria banda de deformação, compartimentada em zonas externa e núcleo (ou zona interna). A zona não-

deformada apresenta granulometria de areia fina a grossa, variando entre 0,35 e 0,50 mm com porosidade

Page 55: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

37 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

média de 14%. Na zona externa o tamanho dos fragmentos pode variar de 0,25 a 0,15 mm, ou seja, areia

fina a muito fina com porosidade inferior a 5%; por fim, o núcleo da banda de deformação é constituído

essencialmente por matriz cataclástica, formando uma massa muito fina aparentemente sem porosidade.

Contudo, apesar dessa zonação microscópica estar bem definida em várias bandas de deformação, nem

sempre ela é constante, podendo, em alguns casos, estar ausente alguma zona (a externa, por exemplo).

Analisando-se um perfil transversal à banda de deformação é possível observar que há uma

relação notável entre grau de cataclase, granulometria e porosidade em sua zona externa e núcleo que

difere totalmente da encontrada na zona não deformada, ou rocha hospedeira, (figura 5.8). Essa relação

pode ser estabelecida da seguinte maneira: a intensa deformação cataclástica submetida aos grãos causa

quebramentos e moagem destes, reduzindo efetivamente a granulometria (podendo, inclusive, produzir

matriz cataclástica); a redução granulométrica acarreta a compactação do arcabouço sedimentar que

resulta em fechamento do espaço intergranular, reduzindo assim a porosidade inicial do arenito

deformado.

Figura 5.8 - Relações gráficas entre cataclase, granulometria e porosidade ao longo de um perfil

perpendicular à banda de deformação em arenito da Formação Maurití. A fotomicrografia mostra as

zonas não-deformada, externa e o núcleo; o gráfico ilustra as curvas da porosidade (%) e de

granulometria (mm) em relação à distância do núcleo da banda. Notar que tanto granulometria quanto

porosidade decresce no sentido do núcleo cataclástico. Os valores de porosidade e granulometria

presentes no gráfico correspondem a médias destes parâmetros nas lâminas observadas.

A estimativa do comportamento barreira/conduto dessas bandas de deformação pode ser

estabelecida através da relação da largura da zona externa (Lze) ao núcleo cataclástico em relação à

largura da banda de deformação (Lbd) em seção delgada. Essa relação, denominada (Fa) foi estabelecida

inicialmente por Cello et al. (2001), baseado no trabalho de Caine et al. (1996), para zonas de falhas em

afloramento, que posteriormente foi utilizado por Alves da Silva et al. (2005), para bandas de

deformação. Nesse contexto, medições nas bandas de deformação da área de estudo (figura 5.9), foram

realizadas com o intuito de discriminar o possível comportamento hidrodinâmico dessas estruturas. A

análise permitiu identificar que as bandas de deformação das formações Maurití e Missão Velha têm,

estatisticamente, um caráter barreira a barreira-conduto combinado, pois apresentam quantidade de

matriz cataclástica, em relação à largura total da banda, bastante variável. Nesse caso, o impacto ao fluxo

de fluidos pode depender de outros fatores, tais como a cimentação. As bandas de deformação dos

arenitos da Formação Abaiara são enquadradas no campo barreira, pois, a maioria de suas estruturas

apresenta quantidade considerável de matriz cataclástica constituindo, por vezes, completamente a largura

total da banda de deformação em seção delgada. Dessa maneira, comparativamente, as bandas

cataclásticas da Formação Abaiara apresentam, por esse parâmetro, condições mais favoráveis a

compartimentar rochas reservatório que as bandas das duas outras formações citadas.

Page 56: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

38 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Figura 5.9 - Análise semi-quantitativa sobre o comportamento conduto/barreira das bandas de

deformação através do índice Fa (Cello et al. 2001). Para estabelecer a relação gráfica é necessário

conhecer os parâmetros Largura do núcleo cataclástico (Lnc), Largura da zona externa (Lze) e a

Largura da banda de deformação (Lbd) em seção delgada.

5.6.2 Microtectônica As principais microestruturas (figura 5.10a) observadas nas bandas de deformação

são fraturas intra e transgranulares, e o deslocamento/reorientação de grãos (ou fragmentos deles) na

matriz cataclástica. Nesse contexto, as bandas de deformação exibem, na matriz cataclástica, feições

indicativas de cinemática, como microfoliações tectônicas (marcadas pelo alinhamento de fragmentos

granulares inequidimensionais, figura 5.10b), grãos tipo-sigma (figura 5.10c) e deslocamento de grãos ao

longo de fraturas intergranulares. A foliação tectônica, aqui referida, corresponde a um fabric oblíquo

(sigmoidal) presente nas porções mais cominuídas do núcleo das bandas de deformação analisadas. Esse

fabric também pode ser correlacionado a um arranjo “S/C” (ou “P/Y”), correspondendo, por analogia

geométrica, a uma microfoliação tectônica dúctil, a qual também não foi objeto deste estudo, contudo sua

presença indica que essas bandas de deformação foram desenvolvidas por cisalhamento (simples). Os

grãos tipo-sigma, geralmente são grãos de quartzo, dispersos na matriz cataclástica, que apresentam

porções intensamente fragmentadas, a ponto de, às vezes, exibir/formar uma cauda de concentração de

fragmentos (visualmente semelhante a caudas de recristalização) que acompanha o movimento no núcleo

da banda de deformação.

A análise das seções delgadas revela que o comportamento reológico das bandas de deformação

estudadas é relacionado ao processo de cataclase granular. Isso permite inferir que essas bandas de

deformação foram desenvolvidas quando os arenitos hospedeiros estavam em estágio de completa (ou

quase) litificação. Entretanto, em algumas bandas analisadas, a coexistência de fraturamento e foliação

tectônica (fabric oblíquo) exibindo cinemática idêntica (figura 5.10d) indicam que elas podem ter

experimentado condições de deformação progressiva, iniciado em período pré- ou sin-litificação e

prosseguindo até a completa litificação dos arenitos (estudos mais detalhados, entretanto, seriam

necessários para comprovar essa idéia).

Page 57: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

39 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Figura 5.10 - Ilustração de critérios cinemáticos em bandas de deformação da área estudada: a)

representação esquemática para cisalhamento com topo para a direita. b) Microfoliação tectônica

(„fabric‟ oblíquo) marcada pela reorientação de fragmentos de grãos inequidimensionais e da própria

matriz cataclástica; c) Grão tipo-„sigma‟ (centro da foto) em núcleo cataclástico, notar as „caudas de

concentração de fragmentos‟ indicando cinemática dextral. d) Correlação cinemática entre „fabric‟

oblíquo (na matriz cataclástica) e fraturamentos dos grãos podendo indicar deformação progressiva (ver

texto para mais detalhes).

5.7 IMPLICAÇÃO NA EXPLORAÇÃO DE FLUIDOS Os arenitos podem ser excelentes rochas

reservatórios de água e hidrocarbonetos quando possuem interstícios capazes de armazenar e transmitir

quantidades significativas de fluidos, ou seja, apresentem boas porosidade e permeabilidade. Porém, essas

mesmas características petrofísicas também favorecem o desenvolvimento de bandas de deformação, as

quais podem afetar diretamente a porosidade original dessas rochas, e, consequentemente, impactos no

fluxo de fluidos.

Apesar das bandas de deformação serem estruturas relativamente finas com rejeito e

comprimento reduzidos, a disposição geométrico-espacial, os mecanismos envolvidos na sua formação,

bem como sua relação temporal com processos diagenéticos/litificação pode influenciar

significativamente as propriedades porosas originais dos arenitos. Dessa maneira, a presença de bandas de

deformação cataclásticas pode atuar como selante ou compartimentar reservatórios (de hidrocarbonetos

ou aqüíferos), gerando porções com propriedades permo-porosas notavelmente menores que o arenito

hospedeiro. Uma vez que as bandas de deformação são estruturas “não imageadas” em levantamentos

sísmico (e possivelmente até em alguns perfis de poço), devido seus rejeito e espessura reduzidos,

identificar e caracterizar as zonas de bandas de deformação, em arenitos porosos análogos aos

reservatórios, pode ajudar na prospecção e perfuração de poços (hidrocarbonetos ou água subterrânea),

caracterizando possíveis reservatórios compartimentados (figura 5.11). Ressalta-se que, a característica

Page 58: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

40 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

selante somente pode ser atribuída às bandas de deformação com caráter reológico essencialmente

cataclástico, pois estas apresentam matriz tectônica capaz de reduzir de modo efetivo (embora

localmente) as características petrofísicas de arenitos porosos.

Figura 5.11 - Situação hipotética ilustrando zona de dano de falha em sequências siliciclásticas com

potencial para armazenamento de fluidos. Nesse contexto o sistema „reservatório-selante‟ seria

constituído, respectivamente, por arenitos porosos e folhelhos impermeáveis. O primeiro poço (P1)

intercepta, abaixo da camada selante (S), o reservatório normal (RN), enquanto o poço P2, abaixo da

mesma camada S, atinge o reservatório cuja porosidade/permeabilidade é controlada por enxames de

bandas de deformação (RC). É esperado que a vazão/produção dos dois poços seja bem diferente, devido

à presença dessas estruturas. Como a situação de P1 seria invisível em levantamentos sísmicos, poderia,

de forma equivocada, atribuir-se essa diferença a fatores que não as bandas de deformação. O perfil de

raios-gama (RG), ao lado do perfil de poço, é esquemático e ilustra que, provavelmente, este não

detectaria as bandas de deformação, uma vez que elas apresentam a mesma composição mineralógica de

sua rocha hospedeira (arenito poroso). Essa situação elucida a compartimentação de reservatórios por

bandas de deformação, o que traria implicação na extração/recuperação de hidrocarboneto.

5.8 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES A análise meso e microscópica das bandas de deformação

estudadas permitiu classificá-las, do ponto de vista cinemático e reológico, como cisalhantes e

cataclásticas. Os critérios cinemáticos permitiram associar essas estruturas a falhas com cinemática

normal ou transcorrente. A análise dos critérios reológicos, no caso o grau de cataclase, revelou que os

arenitos estudados foram submetidos à deformação quando estavam em avançado estágio de litificação.

Esse fato é sugerido através do grau de cataclase (quantidade de matriz cataclástica) observado nas

bandas de deformação observadas. Dessa maneira, é possível afirmar que o grau de cataclase presente nas

bandas de deformação pode estar diretamente relacionado ao grau de litificação dos arenitos porosos

(durante a deformação), uma vez que a consolidação da rocha a torna cada vez mais coesa, favorecendo o

mecanismo de cataclase granular e, consequentemente, desenvolvendo bandas de deformação

cataclásticas. Em contraste, arenitos pobremente litificados, desenvolveriam, preferencialmente, bandas

não-cataclásticas (hidroplásticas ou hidrodúcteis). Segundo o comportamento hidrodinâmico dos dois

tipos de bandas citados (figura 5.12), as cataclásticas tendem a assumir um caráter barreira (devido à

matriz cataclástica), enquanto as hidroplásticas teriam característica conduto. Ressalta-se que os termos

conduto e barreira, aqui referidos, somente fazem alusão à propriedade ou capacidade das bandas de

deformação não influenciar ou dificultar a passagem/migração de fluidos respectivamente. Desse modo,

enquanto bandas cataclásticas oferecem resistência natural ao fluxo de fluidos, bandas hidroplásticas

não proporcionam qualquer influência hidrodinâmica a ele.

O estudo geométrico-espacial e cinemático das bandas de deformação permite correlacioná-las

aos falhamentos mais importantes da Bacia do Araripe, que são: NE-SW normais, NNE-SSW dextrais e

E-W sinistrais. Essa correlação indica que as bandas de deformação estudadas são aproximadamente

Page 59: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

41 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

contemporâneas ao estágio de distensão NW-SE proposto por diversos autores (Françolin & Szatmari

1987, Sénant & Popoff 1991, Matos 1992, 2000, Jardim de Sá et al. 2007; Cardoso et al. 2009) para a

evolução do estágio rifte das Bacias Interiores do Nordeste (figura 5.13). Dessa maneira, o estudo meso e

microscópico de bandas de deformação pode também fornecer subsídios para a evolução tectonoestrutural

das bacias sedimentares.

A determinação do comportamento barreira/conduto das bandas de deformação pode ter papel

importante na caracterização de reservatórios. E, nesse contexto, visando auxiliar a determinação desse

comportamento, o presente estudo sugere, pelo menos, três parâmetros básicos que podem ser relevantes

na discriminação do caráter barreira/conduto, independentemente de outros parâmetros já existentes na

literatura: (i) complexidade geométrico-espacial; (ii) grau de cataclase; e (iii) direção com o fluxo de

fluidos (figura 5.14). O primeiro parâmetro pode ser observado em afloramentos de zonas de dano de

falhas, onde quanto maior a complexidade geométrico-espacial das bandas de deformação (espessura,

comprimento, rejeito, espaçamento, disposição espacial, densidade de estruturas) mais tortuoso será o

caminho dos fluidos através delas, dificultando o fluxo de fluidos. O segundo parâmetro é relativo à

deformação cataclástica no núcleo da banda de deformação. Pois, quanto maior o grau de cataclase, maior

a quantidade de matriz cataclástica, acarretando decréscimo da porosidade, o que atribui um caráter

selante à estrutura (ver, por exemplo, figura 5.9). O terceiro, e último, parâmetro não foi objeto de

pesquisa desse trabalho, porém diversos estudos (Costa et al. 2003, Alves da Silva et al. 2005, Johansen

et al., 2005; Fossen & Bale, 2007) mostram que a permeabilidade em direção paralela a estruturas

deformacionais tabulares é consideravelmente maior que a permeabilidade em direção perpendicular.

Logo, a distribuição espacial das bandas de deformação pode influenciar na direção do fluxo de fluido.

Embora esses parâmetros possam ser independentes entre si, o objetivo aqui é tentar observá-los de forma

integrada, ou seja, se o comportamento “barreira” é dado pelos três fatores discriminados, o grau de

confiabilidade é grande para atribuir o caráter de resitência hidrodinâmica à banda de deformação. Da

mesma forma, a atribuição de “não-barreira” às bandas de deformação torna-se mais provável se todos os

atributos tiverem mesmo caráter, ou seja, não influenciarem o fluxo de fluidos.

Figura 5.12 - Representação esquemática da relação entre os mecanismos deformacionais atuantes na

banda de deformação e o estágio de litificação em que elas foram desenvolvidas. Arenitos porosos

pobremente litificados, submetidos à deformação, produziriam bandas não-cataclásticas, enquanto a

completa litificação acarretaria o desenvolvimento de bandas cataclásticas. Devido à presença ou

ausência de matriz cataclástica, as bandas não-cataclásticas não influenciariam a passagem de fluidos,

enquanto as bandas cataclásticas dificultariam essa passagem.

Page 60: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

42 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Figura 5.13 - Figura esquemática com as tectonossequências e redes estereográficas para os três

conjuntos principais de bandas de deformação da região estudada. Tectonossequências a) Paleozóica

(Maurití); b) Pré-rifte (Missão Velha); c) Sin-rifte (Abaiara). Cinemática: tendendo a N-S dextral; NE-

SW normal; tendendo a E-W sinistral. Esse arranjo cinemático é compatível com um evento tectônico de

distensão NW-SE para as bacias interiores do nordeste brasileiro.

Por tudo que foi exposto, este estudo reforça a importância de caracterizar as bandas deformação

e seus aspectos geométrico-espaciais e reológicos, tanto para o entendimento da evolução tectônica de

uma bacia sedimentar quanto para o reconhecimento de possíveis zonas que interfiram no fluxo de fluidos

em rochas reservatórios. Nesse segundo contexto, recomendam-se estudos que integrem análise meso e

microscópicas de bandas de deformação, métodos geofísicos de poço e testes hidrodinâmicos (porosidade

e permeabilidade) com o intuito de tentar identificar e caracterizar intervalos (reservatórios)

compartimentados por essas estruturas.

Page 61: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

43 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Figura 5.14 - Alguns parâmetros relevantes que podem determinar a influência das bandas de

deformação ao fluxo de fluidos. (i) Complexidade geométrico-espacial: a) baixa complexidade (pouca

influência); b) alta complexidade (resistência hidrodinâmica). (ii) Grau de cataclase, é diretamente

proporcional à quantidade de matriz cataclástica e inversamente proporcional à porosidade: c)

cataclase incipiente (pouca influência); d) intensa cataclase (resistência). (iii) Relação entre a direção

das bandas de deformação e o fluxo de fluidos: e) paralela (pouca influência); f) perpendicular

(resistência hidrodinâmica).

Agradecimentos Os autores agradecem a Capes, pela bolsa de iniciação científica, e aos projetos de

pesquisa pelo apoio financeiro.

Referências

Almeida C., Antunes A.F., Alves da Silva F.C. 2009. Estilos deformacionais nas minas de gesso na bacia

do Araripe (NE do Brasil). In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos/International

Symposium on Tectonics, 12/6, Resumos, p. 81.

Alves da Silva F.C., Ferreira T.S., Costa, P.R.C., Guedes I.M., Jardim de Sá E.F. 2005. Aspectos

microestruturais, geométricos e mecanismos de deformação de bandas de deformação e fraturas

em arenitos porosos da Bacia de Tucano (BA): Influência na circulação de fluidos. In: SBG,

Simpósio de Geologia do Nordeste, 21, Resumos, p. 194-198.

Alves da Silva F.C., Jardim de Sá E.F., Miranda, H.C.B., Medeiros W. E., Nascimento A., Ferreira T.S.,

Costa, P.R.C. 2007. What is the real role played by deformation bands in porous sandstones

during fluid flow? Insights from the Tucano basin, NE Brazil. In: SBG, Simpósio Nacional de

Estudos Tectônicos/International Symposium on Tectonics, 11/5, Resumos, p. 320.

Antonellin M. & Aydin A. 1994. Effect of faulting on fluid flow in porous sandstones: petrophysical

properties. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 78:355-377.

Antonellin M. & Aydin A. 1995. Effect of faulting on fluid flow in porous sandstones: geometry and

spatial distribution. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 79:642-671.

Page 62: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

44 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Antonellini M.A. & Pollard D.D. 1995. Distinct element modeling of deformation bands in sandstone.

Journal of Structural Geology, 17:1165-1182.

Antonellini M.A., Aydin A., Pollard D.D. 1994. Microstructure of deformation bands in porous

sandstones at Arches National Park, Utah. Journal of Structural Geology, 16:941-959.

Aquino M.M. 2009. A Formação Abaiara e o arcabouço tectonoestratigráfico da região de Abaiara-Brejo

Santo, Bacia do Araripe, NE do Brasil. Monografia (Relatório de Graduação), Departamento de

Geologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 103 p.

Araújo Netto J.M. & Alves da Silva F.C. 2009. Análise meso e microscópica de bandas de deformação na

Formação Maurití, Bacia do Araripe, NE do Brasil. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste,

23, 1 CD-ROM.

Araújo Netto J.M. & Alves da Silva F.C. 2011. Bandas de deformação cisalhantes paralelas ao

acamamento sedimentar: o exemplo na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. In: SBG, Simpósio

Nacional de Estudos Tectônicos/International Symposium. on Tectonics, 13/7, 1 CD-ROM.

Araújo Netto J.M. 2009. Análise meso e microscópica de bandas de deformação na Bacia do Araripe,

Nordeste do Brasil. Monografia (Relatório de Graduação), Departamento de Geologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 120 p.

Assine M.L. 1992. Análise estratigráfica da Bacia do Araripe. Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de

Geociências, 22:289-300.

Assine M.L. 2007. Bacia do Araripe. Boletim de Geociências da Petrobras, 15:371-389.

Aydin A. 1978. Small faults formed as deformation bands in sandstone. Pure and Applied Geophysics,

116:913-930.

Aydin A., Borja R.I., Eichhubl P. 2006. Geological and mathematical framework for failure modes in

granular rock. Journal of Structural Geology, 28:83-98.

Caine J.S., Evans J.P., Foster C.B. 1996. Fault zone archtecture and permeability structure. Geology,

24:1025-1028.

Cardoso F.M.C. 2010. O Graben de Palestina: contribuição à estratigrafia e estrutura do estágio rifte da

Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em

Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 107 p.

Cardoso F.M.C., Jardim de Sá E.F., Alves da Silva, F.C. Scherer C.M.S. 2009. O Graben Serrote das

Cacimbas-Palestina (Sub-bacia Cariri - Bacia do Araripe, NE do Brasil): Geometria e estilo

estrutural. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Cello G., Tondi E., Micarelli L., Invernizzi C. 2001. Fault zone fabrics and geofluid properties as

indicators of rock deformation modes. Journal of Geodynamics, 32:543-565.

Costa A.B.S. 2010. Diagênese e proveniência dos arenitos da tectonossequência Rifte na bacia do Rio do

Peixe Araripe, NE do Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em

Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 95 p.

Costa P.R.C., Jardim de Sá E.F., Guedes I.M.G., Alves da Silva F.C. 2003. Caracterização estrutural da

área da Serra do Letreiro, oeste da cidade de Jeremoabo (NE da Bahia). Revista de Geologia,

16:49-60.

Draganits E., Grasemann B., Hager C. 2005. Conjugate deformation band faults in the Lower Devonian

Muth Formation (Tethyan Zone, NW India): evidence for pre-Himalayan deformation structures.

Geological Magazine, 142:765-781.

Page 63: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

45 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Faulkner D.R, Jackson C.A.L., Lunn R.J., Schlische R.W., Shipton Z.K., Wibberley C.A.J. 2010. A

review of recent developments concerning the structure, mechanics and fluid flow of fault zones.

Journal of Structural Geology, 32:1557-1575.

Fossen H. & Bale A. 2007. Deformation bands and their influence on fluid flow. American Association of

Petroleum Geologists Bulletin, 91:1685-1700.

Fossen H., Schultz R.A., Shipton Z.K., Mair K. 2007. Deformation bands in sandstones: a review.

Journal of the Geological Society, 164:755-769.

Françolin J.B.L. & Szatmari P. 1987. Mecanismo de rifteamento da porção oriental da margem brasileira.

Revista Brasileira de Geociências, 17:196-207.

Hesthammer J., Johansen T.E.S., Watts L. 2000. Spacial relationship within fault damage zones in

sandstone. Marine and Petroleum Geology, 17:873-893.

Holcomb D., Rudnicki J.W., Issen K.A., Sternlof K. 2007. Compaction localization in the Earth and the

laboratory: state of the research and research directions. Acta Geotechnica, 2:1-15.

Jardim de Sá E.F., Sousa D.C., Aquino M.M., Scherer C.M.S., Córdoba V.C., Alves da Silva F.C. 2009.

A Tectonossequência Rifte da Bacia do Araripe, NE do Brasil. In: SBG, Simpósio de Geologia

do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Jardim de Sá E.F., Lins F.A.P.L., Alves da Silva F.C., Costa P.R.C., Medeiros W.E., Sena E.S., Antunes

A.F., Sousa D.C., Córdoba V.C., Sousa A.A.T., Santana F.L., Andrade P.R.O. 2007. As Bacias

Interiores do Nordeste: integração de dados estruturais e gravimétrico. In: SBG, Simpósio

Nacional de Estudos Tectônicos/International Symposium on Tectonics, 11/5, Resumos, p. 70.

Johansen T.E.S., Fossen H., Kluge R. 2005. The impact of syn-faulting porosity reduction on damage

zone archtecture in porous sandstone: an outcrop example from the Moab Fault, Utah. Journal of

Structural Geology, 27:1469-1485.

Kim Y.S., Peacock D.C.P., Sanderson D.J. 2003. Mesoscale strike-slip faults and damage zones at

Marsalforn, Gozo Island, Malta. Journal of Structural Geology, 25:793-812.

Kim Y.S., Peacock D.C.P., Sanderson D.J. 2004. Fault damage zones. Journal of Structural Geology,

26:503-517.

Mair K., Main I., Elphyck S. 2000. Sequential growth of deformation bands in laboratory. Journal of

Structural Geology, 22:25-42.

Matos R.M.D. 1992. The Northeast Brazilian Rift System. Tectonics, 11:766-791.

Matos R.M.D. 2000. Tectonic evolution of the Equatorial South Atlantic. In: Mohriak W. & Talwani M.

(eds.). Atlantic rifts and continental margins. Geophysical Monograph 115:331-354.

Medeiros W.E., do Nascimento A.F., Alves da Silva F.C., Destro N., Demétrio J.G.A. 2010. Evidence of

hydraulic connectivity across deformation bands from field pumping tests: Two examples from

Tucano Basin, NE Brazil. Journal of Structural Geology, 32:1783-1791.

Melo T.V.N. & Alves da Silva F.C. 2009. Contribuição à geologia das Bacias Interiores da Zona

Transversal (Betânia, Mirandiba e São José do Belmonte) do NE do Brasil. In: SBG, Simpósio de

Geologia do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Menéndez B., Zhu W., Wong T.F. 1996. Micromechanics of brittle faulting and cataclastic flow in Berea

sandstone. Journal of Structural Geology, 18:1-16.

Mollema P.N. & Antonellini M.A. 1996. Compaction bands: a structural analog for anti-mode I cracks

in aeolian sandstone. Tectonophysics, 267:209-228.

Page 64: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

46 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 5: Artigo Científico*

Ponte F.C. & Appi C.J. 1990. Proposta de revisão da coluna litoestratigráfica da Bacia do Araripe. In:

SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 36, Anais, p. 211-226.

Sénant J. & Popoff M. 1991. Early Creataceous Extension in Northest Brazil related to the South Atlantic

opening. Tectonophysics, 198:35-46.

Shipton K.Z. & Cowie P.A. 2003. A conceptual model for the origin of fault damage zone structures in

high-porosity sandstone. Journal of Structural Geology, 25:333-344.

Page 65: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 6 ARTIGO CIENTÍFICO**

Page 66: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

47 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

6 ARTIGO CIENTÍFICO**

Bandas de deformação cisalhantes paralelas ao acamamento sedimentar na Bacia

do Araripe, Nordeste do Brasil.

João Marculino de Araújo Netto¹; Fernando César Alves da Silva²; Emanuel Ferraz Jardim de Sá²

1:Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]; 2: Departamento de Geologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil,

[email protected]; [email protected]

Resumo As bandas de deformação, comuns em arenitos porosos têm sua disposição espacial

normalmente associada ao padrão Riedel e assim podem ocorrer sob a forma pares conjugados sintéticos-

antitéticos que cortam o acamamento sedimentar em ângulos diversos, podendo ser até mesmo

perpendicular. Trabalhos recentes têm mostrado a ocorrência de bandas de deformação dispostas (sub-)

paralelamente aos planos de acamamento (S0) sedimentar e são interpretadas como bandas puramente

contracionais que, eventualmente também podem ser produzidas por cisalhamento. Na Bacia do Araripe,

os arenitos das sequências pré e sinrifte exibem bandas de deformação sub- a paralelas ao acamamento e

que mostram características que relacionam sua origem à deformação cisalhante. As semelhanças

texturais e estruturais entre essas bandas de deformação e àquelas com grande obliquidade com o

acamamento sugere que elas sejam contemporâneas. A geração das bandas de deformação cisalhantes de

baixo ângulo é interpretada como produto da deformação cisalhante atuante em zonas paralelas ao

acamamento sedimentar. No caso estudado, esse cisalhamento foi desenvolvido tanto por deslizamento

inter-estratal como também pela interação entre o tensor de máxima compressão local e a disposição

geométrico-espacial dos planos de S0.

Palavras-chave: Bandas de deformação cisalhantes, bandas de deformação paralelas ao acamamento.

Abstract SHEAR BED-PARALLEL DEFORMATION BANDS ON THE ARARIPE BASIN, NORTHEAST

OF THE BRAZIL. Deformation bands, structures commonly found in porous sandstones, frequently have

their spacial arrangement corresponding following the Riedel model. Thus they can occur as synthetic-

antithetic conjugates pairs which cut the sedimentary bedding in high to moderate several angles. Recent

studies have shown bed parallel deformation bands which are interpreted as pure compaction bands.

However they can be generated by shear deformation as well. In the Araripe Basin sandstones of the pre

and synrift sequences exhibit deformation bands developed (sub-) to parallel arrangement to the

sedimentary bedding. Those deformation bands displays characteristics of shear-related origin. The

textural and structural similarities between the studied high and low angle (regarding to the sedimentary

bedding) sets of deformation bands suggest that they are synchronic. Genesis of the shear bed-parallel

deformation bands is interpreted here as product of the local-shearing on sedimentary bedding parallel

zones. In this case, was developed by both inter-stratal slip as well as the interaction between the

maximum compression local tensor and the geometric-spatial arrangement of the sedimentary bedding.

Keywords: Shear deformation band, bed-parallel deformation bands.

6.1 INTRODUÇÃO As bandas de deformação, descritas pioneiramente por Aydin (1978), são estruturas

tabulares (Aydin et al. 2006) que se desenvolvem notavelmente, por tensão localizada, em arenitos

porosos. O aumento de interesse nessas estruturas deve-se ao fato de sua possível influência na

movimentação de fluidos em rochas-reservatórios (Antonellini & Aydin 1994, Rawling et al. 2001,

Shipton et al. 2002, Johansen et al. 2005, Holcomb et al. 2007, Fossen & Bale 2007, Medeiros et al.

2010, Kolyukhin et al. 2010), além de auxiliar no entendimento do cenário geológico de determinadas

**

A ser submetido ao Journal of Structural Geology.

Page 67: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

48 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

regiões (Shipton & Cowie 2001, Tindall & Davis 2003, Parry et al. 2004, Draganits et al. 2005, Berg &

Skar 2005). De modo geral, os critérios cinemáticos relacionados descritos em diversos trabalhos

(Antonellini et al. 1994, Mollema & Antonellini 1996, Menéndez et al. 1996, Du Bernard et al. 2002,

Rawling & Goodwin 2003, Aydin et al. 2006, Fossen et al. 2007, Braathen et al. 2009) permitem

enquadrar as bandas de deformação três conjuntos principais: (i) bandas cisalhantes; (ii) bandas

contracionais; e (iii) bandas dilatacionais, entretanto estes podem se combinar para formar tipos híbridos.

Dentre esses três conjuntos, as bandas de deformação cisalhantes são as mais comuns apresentadas na

literatura, tanto em afloramento quanto em laboratório (Mair et al. 2000), e seu desenvolvimento está

associado à deformação por cisalhamento simples. Em contraste, os outros dois tipos estão ligados à

deformação por cisalhamento puro, ou seja, pelo menos em tese, se desenvolvem puramente por variação

volumétrica (contração ou dilatação). Na maioria dos estudos já publicados, o arranjo geométrico-espacial

(Hesthammer et al. 2000, Ahlgren 2001, Katz et al. 2004) das bandas de deformação pode ser observado

sob a forma de diversas estruturas planares a curviplanares com espessura e rejeitos milimétricos a

centimétricos associadas a zona de dano de falhas principais (McGrath & Davison 1995, Kim et al. 2003,

Kim et al. 2004) e, frequentemente, correlacionáveis ao padrão de estruturas de Riedel. Por estarem

associadas a falhas (inversas, normais ou transcorrentes), as bandas de deformação normalmente cortam o

acamamento em ângulos moderados a elevados (variando de 30º a 80º). Em alguns casos, entretanto, elas

podem aparecer em ângulos baixo com S0 (entre 0° e 15º). Como exemplo destas últimas, Aydin &

Ahmadov (2010) descrevem bandas de deformação no Arenito Aztec, dispostas paralelamente ao

acamamento sedimentar e as interpretadas como puramente contracionais, desenvolvidas

perpendicularmente ao eixo de máximo encurtamento principal (possivelmente relacionado à sobrecarga

sedimentar). Por sua vez, Eichhubl et al. (2010) mostraram outra interpretação para as bandas paralelas ao

acamamento, que seriam bandas “híbridas” e apresentariam quantidades semelhantes de deformação

contracional e cisalhante, geradas a partir de um eixo de máximo encurtamento principal disposto

obliquamente a tais estruturas. O presente estudo descreve os conjuntos de bandas de deformação, com

arranjo geométrico-espacial paralelo a subparalelo ao acamamento sedimentar, interpretadas como

cisalhantes, desenvolvidas nos arenitos da Bacia do Araripe e propõe um modelo para a sua evolução de

acordo com o contexto que elas se encontram. As bandas de deformação cisalhantes encontradas na Bacia

do Araripe foram estudadas em meso (afloramentos) e microescala enfocando aspectos

texturais/petrofísicos (granulometria, porosidade), comportamento reológico (grau de cataclase) e

critérios cinemáticos, com o intuito de distingui-las de bandas puramente contracionais. As bandas de

deformação paralelas ao acamamento foram comparadas (geométrica, cinemática, etc) com outras bandas

de deformação que interceptam o acamamento em ângulos moderados a fortes (oblíquos e

perpendiculares), visando observar possíveis relações geométrico-espaciais e genéticas entre elas.

6.2 CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLÓGICA A Bacia do Araripe, a mais extensa das bacias interiores

do Nordeste do Brasil, teve seu arcabouço tectono-estratigráfico estabelecido inicialmente por Ponte &

Appi (1990) e posteriormente discutido por diversos outros autores (Assine 1992, Assine 1994, Medeiros

et al. 2001, Arai 2006, Assine 2007, Almeida et al. 2009, Aquino 2009, Cardoso et al. 2009). O estudo de

bandas de deformação nessa bacia tem sido desenvolvido por Araújo Netto (2009) e Araújo Netto &

Alves da Silva (2009, 2011). De maneira geral, a pilha sedimentar dessa bacia é compartimentada em

quatro tectonossequências principais: Paleozóica (Formação Maurití, também denominada Formação

Cariri), Pré-rifte (formações Brejo Santo e Missão Velha), Sin-rifte (Formação Abaiara) e Pós-rifte

(Grupo Araripe que inclui as formações Rio da Batateira, Santana, Arajara e Exu). A área estudada

situada na porção leste da Bacia do Araripe (figura. 6.1), inserida no contexto geográfico do Vale de

Cariri, onde afloram, de modo representativo, as rochas pré e sincrônicas ao estágio rifte dessa bacia.

Simplificadamente, a evolução da Bacia do Araripe pode ser resumida em três estágios tectônicos: pré-

rifte, rifte e pós-rifte. No estágio pré-rifte a bacia comportava-se como uma sinéclise interior com dois

picos de sedimentação, um durante o Paleozóico e o outro durante o Mesozóico, quando foram

depositados os estratos da Formação Maurití e das formações Brejo Santo e Missão Velha

respectivamente. No estágio rifte, como muitas das bacias interiores do nordeste brasileiro (Françolin &

Szatmari 1987, Sénant & Popoff 1991. Matos 1992, Ponte Filho 1996, Silva Júnior 1997, Matos 2000,

Jardim de Sá et al. 2007, Cardoso et al. 2009), tem-se, de modo geral, a predominância de eventos

distensivos NW-SE e a reativação de estruturas pretéritas, relacionados à abertura do Oceano Atlântico,

Page 68: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

49 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

que produziram uma série de horts e grabens NE-SW assimétricos (Castro & Castelo Branco 1999), nos

quais foram depositadas as camadas da Formação Abaiara. Por fim, no estágio pós-rifte se depositaram os

estratos das formações Rio da Batateira, Santana, Arajara e Exu, em uma nova condição de sinéclise

interior, porém, dessa vez com influência marginal. Dentre as diversas formações citadas anteriormente,

somente Maurití e Abaiara serão apresentadas aqui, uma vez que elas possuem afloramentos que

hospedam bandas de deformação cisalhantes paralelas ao acamamento sedimentar. A Formação Maurití é

constituída por rochas siliciclásticas (orto e paraconglomerados, arcóseos e quartzoarenitos médios a

grossos) comumente com estratificações cruzadas tabulares e acanaladas de médio porte com sentido de

paleocorrente dominante para NW. A Formação Abaiara é composta por arenitos finos a médios e

conglomerados intercalados a pelitos (siltitos, argilitos e folhelhos) exibindo laminações plano-paralelas,

estratificações cruzadas tabular, gretas de contração, dobras de escorregamento e estruturas relacionadas a

processos de fluidilização. Os estratos dessas formações normalmente exibem mergulhos suaves (entre 2°

e 10°), contudo podem apresentar mergulhos da ordem de 45° quando fortemente basculados por falhas

normais bastante expressivas na bacia estudada. De modo geral, a compartimentação tectônica da Bacia

do Araripe é feita por conjuntos de falhas com três direções principais: NE-SW com cinemática

dominantemente normal (mais importante); E-W e NNE-SSW exibindo movimentos transcorrentes (ou

transcorrentes-normais), respectivamente sinsitrais e dextrais subordinados. Esses dados geométrico-

espaciais e cinemáticos também são exibidos pelas bandas de deformação estudadas permitindo uma

correlação entre estruturas de diferentes escalas.

Figura 6.1 - Mapas de localização e geológico simplificado da porção leste da Bacia do Araripe (Vale do

Cariri). Baseado em Ponte & Appi (1990) e Projeto Bacias Interiores do Nordeste Brasileiro

(UFRN/PETROBRAS/FUNPEC).

Page 69: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

50 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

6.3 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS BANDAS DE DEFORMAÇÃO

6.3.1 Atributos mesoscópicos Em mesoescala, as bandas de deformação estudadas, ocorrem de duas

formas: como bandas individuais e como aglomerados. As bandas individuais são estruturas retilíneas ou

curviplanares, com espessura entre 0,5 e 2,0 centímetros (figura 6.2a), podendo atingir até 2,5 metros de

comprimento, apresentando rejeito geralmente da ordem de alguns milímetros. A junção de várias bandas

individuais forma os aglomerados que pode exibir padrões geométricos retilíneos, curvos, anastomosados

ou escalonados, o que imprime uma geometria mais complexa a essas estruturas, que podem atingir mais

de duas dezenas de centímetros de espessura e, por vezes, ultrapassar 8 metros de comprimento. A

presença de superfícies de deslizamento (figura 6.2b) em sua porção interna pode envolver deslocamentos

da ordem de alguns centímetros a poucos metros.

A cinemática dessas estruturas foi definida observando-se o deslocamento de marcadores (figura

6.2c), padrões de escalonamentos, pares conjugados sintéticos-antitéticos, bem como o arranjo de feições

“tipo S/C” (aqui referidas como estruturas geometricamente semelhantes à foliação dúctil, figura 6.2d),

que se encontram mais bem definidos na porção interna de aglomerados de bandas. Alternativamente este

tipo de “arranjo S/C” pode ser visualizado como combinação geométrica entre fratura cisalhante principal

(Y) e sintética secundária (P) do arranjo de Riedel e, nesse caso, representariam, em adaptação, um

“arranjo P/Y”. Apesar de a distinção, caracterização ou gênese dessas estruturas peculiares não ter sido

ênfase desse trabalho, a disposição das feições S (ou P), tendendo ao paralelismo com as C (ou Y) leva-

nos a preferir a esse arranjo como análogo a “S/C” (desenvolvidas em cisalhamento dúctil).

Figura 6.2 - Aspectos gerais das bandas de deformação existentes na área estudada:a) bandas

individuais deslocando milimetricamente aglomerado de banda devido à movimentação dextral; b)

aglomerado de banda de deformação associado a superfícies de deslizamento. Critérios cinemáticos

observados em: c) deslocamento de marcadores, com pequeno rejeito de cinemática sinistral e d) feições

“tipo S/C” sugerindo deslocamento dextral.

Page 70: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

51 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

6.3.2 Atributos microscópicos A análise microscópica permitiu diferenciar texturalmente e

estruturalmente as bandas de deformação de suas respectivas rochas hospedeiras. A porção não

deformada dos arenitos apresenta porosidade relativamente boa, com grãos moderadamente selecionados

e arredondados, enquanto a porção deformada (que é a própria banda de deformação compartimentada em

zona externa e núcleo, figuras 6.3a) é mal selecionada no sentido de apresentar variações granulométricas,

com partículas angulosas, resultantes de grãos fraturados. Esses fragmentos são dispersos em uma matriz

cataclástica, produzida por intensos esmagamentos e cominuição granular. Isso indica que a cataclase

granular foi o mecanismo deformacional predominante durante o desenvolvimento das bandas de

deformação da área de estudos. Através de perfis perpendiculares às bandas de deformação, em seções

delgadas, foi possível observar a relação entre os parâmetros grau de cataclase, granulometria e

porosidade. Ao longo das zonas não-deformada, externa e núcleo, a seguinte relação foi identificada: o

aumento na intensidade da deformação cataclástica, com conseqüente aumento do quebramento dos

grãos, resulta na diminuição efetiva o tamanho da granulometria do arcabouço sedimentar; A redução

granulométrica (produção de matriz cataclástica), por sua vez, afeta diretamente a porosidade inicial do

arenito hospedeiro, formando uma estreita faixa com porosidades petrofísicas notavelmente diferentes do

“contexto litológico” que se encontra, sendo esta a banda de deformação propriamente dita. Diversas

microfeições indicativas de cisalhamento foram observadas (figura 6.3b), tais como fragmentos

granulares rotacionados e/ou deslocados, fabrics oblíquos (sigmoidais) marcados pelo alinhamento de

partículas (indiscriminadas) que compõem a matriz cataclástica (figura 6.3c), bem como a reorientação de

grãos sobreviventes incluídos nesta. Em alguns casos, a interação entre os grãos e seus fragmentos,

devido à deformação cisalhante, produziu feições análogas a grãos tipo-sigma (figura 6.3d), os quais

podem ser descritos por porfiroclastos com caudas constituídas por partículas/fragmentos orientados

segundo o fluxo cataclástico dominante. Dessa maneira, a análise microestrutural permitiu classificar as

bandas de deformação presentes nos arenitos das formações Maurití, Missão Velha e Abaiara em:

cisalhantes, segundo critérios cinemáticos, e em cataclásticas, segundo o mecanismo de deformação

dominante (ver Aydin et al. 2006 e Fossen et al. 2007 para mais detalhes a respeito dos critérios de

classificação de bandas de deformação em arenitos porosos).

6.4 ANÁLISE GEOMÉTRICO-ESPACIAL DAS BANDAS DE DEFORMAÇÃO As bandas de

deformação estudadas foram individualizadas, geométrica e espacialmente, de acordo com sua

intensidade de mergulho e consequente relação de corte (ângulos de interseção) com os planos de

acamamento. Dessa maneira, estas estruturas foram separadas em (figura 6.4a): (i) bandas em alto ângulo

(BAA, tendem a ser perpendicular) com o acamamento; (ii) bandas predominantemente oblíquas ao

acamamento (BAM, intersectando-o em ângulo moderado); e (iii) bandas (sub)paralelas ao acamamento,

(BPA, estas estruturas aparecem acompanhando paralelamente o acamamento sedimentar, ou ainda,

cortado-o em ângulo baixo. Os dois primeiros conjuntos de bandas de deformação são mais comuns e

foram identificados em todas as formações estudadas. O terceiro conjunto, todavia, foi identificado

somente nos arenitos Maurití e Abaiara. Este fato, entretanto, não implica na ausência de BPA no Arenito

Missão Velha, pois se tratam de estruturas extremamente particulares e, por isso, de ocorrência localizada

na área de estudo.

6.4.1 Bandas em alto ângulo com o acamamento (BAA) Essas bandas de deformação exibem mergulhos

subverticalizados (superiores a 75°), cortando assim o acamamento em alto ângulo. Apresentam-se em

dois conjuntos principais com direções E-W e NNE-SSW (figura 6.4b), que ocorrem sob a forma de

bandas solitárias ou agrupadas, normalmente com geometria retilínea. De modo geral, os agrupamentos

de bandas de deformação apresentam de 2,0 a 10,0 centímetros de espessura e podem ultrapassar os 10

metros de comprimento. Internamente, esses aglomerados podem exibir “feições S/C” e/ou superfícies de

deslizamento com estrias subhorizontais, evidenciando seu caráter cisalhante. Os critérios geométricos,

cinemáticos, orientação espacial e suas relações com a macro-estruturação da Bacia do Araripe,

permitiram interpretar os dois conjuntos de bandas de deformação como transcorrentes (E-W sinistral e

NNE-SSW dextral, por vezes com componente normal) representando um par conjugado sintético-

antitético condizente com o evento distensional NW-SE que afetou esta e outras bacias interiores do

nordeste do Brasil durante o Cretáceo.

Page 71: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

52 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

6.4.2 Bandas em ângulo moderado com o acamamento (BAM) As bandas de deformação assim

referidas cortam os planos de acamamento sedimentar em ângulos oblíquos. Considerando que o

acamamento está primordialmente horizontalizado, estas estruturas apresentam mergulhos da ordem de

45 a 60° e direção preferencial NE-SW (figura 6.4c), embora, dependendo do contexto regional, esses

ângulos possam ser relativamente maiores. Ocorrem sob a forma de bandas retilíneas, tanto individuais,

com espessura inferior a 1,5 centímetros, quanto agrupadas, com 2,0 a 4,0 centímetros de espessura. As

superfícies de deslizamento, associadas às bandas agrupadas, exibem estrias com caimento forte e

cinemática normal, sendo assim, sua disposição geométrico-espacial também é compatível a distensão

regional principal NW-SE.

6.4.3 Bandas (sub)paralelas ao acamamento (BPA) Este conjunto de bandas de deformação é geográfica

e numericamente subordinado, em relação aos demais. As BPA exibem orientação espacial paralela ao

acamamento (figura 6.4d e 6.4e), ou ainda cortando-o em baixo ângulo (inferior a 12°).

Hierarquicamente, estas bandas de deformação podem se apresentar como estruturas individuais

(milimétricas) ou agrupadas exibindo espessura centimétrica e, normalmente, mostram-se em geometria

planar a curviplanar. Do ponto de vista cinemático, essas estruturas foram classificadas como bandas

cisalhantes com base na observação de macro e microfeições indicativas de movimento, tais como

relações de corte com marcadores pretéritos, estrias em superfícies de deslizamento (mostrado adiante nas

figuras 6.7d, 6.8a e 6.8b), bem como fabric oblíquos marcados pela reorientação de clastos (fragmentos)

e/ou matriz cataclástica (como representado na figura 6.3b e fotomicrografias 6.6c e 6.8d).

Figura 6.3 - Aspectos microestruturais das bandas de deformação. a) Microzoneamento das bandas

cataclásticas: zona não-deformada (R), zona externa (Z) e núcleo (N). b) Critérios usados para

determinação da cinemática das bandas de deformação: c) „fabric‟ sigmoidal e d) grão tipo-„sigma‟

presentes na matriz cataclástica, ambos com cinemática dextral.

Page 72: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

53 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

A relação de corte com marcadores macroscópicos, estrias de deslizamento e dados das análises

microestrutural, permitiu identificar duas cinemáticas distintas para as BPA: normal e inversa. As bandas

de deformação com movimento normal foram reconhecidas em camadas do Arenito Abaiara

intensamente basculadas (aproximadamente 45°) por falhas (e bandas associadas) normais. As bandas

com cinemática inversa foram identificadas no Arenito Maurití, onde o acamamento mergulha entre 15° e

20° e é intensamente afetado por bandas de deformação com forte ângulo de mergulho (bandas

perpendiculares ao acamamento) e movimento predominantemente transcorrente.

Figura 6.4 - a) Esquematização dos três conjuntos de bandas de deformação e suas relações de

interseção com o acamamento (S0); b) Bandas de deformação de alto ângulo (BAA) conjugadas, sendo E-

W sinistrais e NNE-SSW dextrais; c) Bandas de deformação de ângulo moderado (BAM), em zona de dano

associada à superfície de deslizamento NE-SW normal; d) Afloramento contendo bandas de deformação

paralelas ao S0 (BPA); e) Detalhe da figura anterior mostrando a relação angular entre as BPA e o S0. Os

estereogramas mostram planos de bandas de deformação, estrias, cinemática e planos de acamamento.

Page 73: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

54 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

As relações geométrico-cinemáticas entre o conjunto de bandas paralelo ao acamamento

sedimentar e os outros dois conjuntos (BAA e BAM), bem como a relação geométrico-espacial com os

planos de acamamento sedimentar (S0) possibilitaram interpretar que as BPA foram desenvolvidas pela

interação entre a tensão local (derivações da tensão regional) e a disposição do S0. Tomando como

exemplo, afloramentos com estratos mergulhando para sul, apresentarão BPA com mesma orientação e

sentido de caimento, ou seja, a orientação espacial das BPA é ditada pelo S0. Sua movimentação (normal

ou inversa), entretanto, é diretamente dependente da interação entre a disposição espacial do acamamento

sedimentar e a direção do campo de tensão local. Nesse contexto, uma vez que a tensão local possa

produzir bandas de deformação por cisalhamento paralelo aos planos de S0, o caráter normal ou inverso

destas será definido pelo sentido de mergulho do acamamento perante á tensão cisalhante produzida pelo

campo de tensão local. Planos mergulhando (relativamente) a favor do cisalhamento principal serão

sintético-normais, enquanto, mergulhando contra, serão sintético-inversos (figura 6.5).

Figura 6.5 - Representação esquemática da interação entre o campo de tensão local (TL) e a disposição

espacial dos planos de acamamento (S0) que pode resultar em cisalhamentos: a) sintético-normais ou b)

sintético-inversos ao cisalhamento principal (s).

6.5 INTERPRETAÇÃO GENÉTICA DAS BANDAS PARALELAS AO ACAMAMENTO

6.5.1 Bandas de deformação cisalhantes no Arenito Abaiara Os afloramentos estudados pertencentes à

Formação Abaiara apresentam, de modo geral, bandas de deformação com movimento normal que estão

comumente associadas a falhas de mesma cinemática. Importantes falhas normais afetando arenitos

porosos geraram bandas de deformação (individuais e/ou agrupadas) como estruturas secundárias de

caráter sintético ou antitético. Em alguns afloramentos, as falhas causam forte rotação das camadas (~45°

para SE), por vezes, invertendo o critério cinemático das bandas de deformação presentes, tornando-as

aparentemente inversas (figuras 6.6a, 6.6b e 6.6c). A obtenção da cinemática original do conjunto de

bandas observado é obtida através da restauração do acamamento à posição original, ou seja,

horizontalizado (figura 6.6d) assumindo que inicialmente as camadas foram depositadas nessa condição.

A horizontalização do acamamento permitiu identificar dois conjuntos de bandas de deformação:

um de mergulho suave (inferiores a 12°, BPA), que é praticamente paralelo ao acamamento sedimentar

(figura 6.6e), e o outro de mergulho moderado (~60°, BAM). O segundo conjunto intersecta e desloca o

conjunto de baixo ângulo. Apesar dessa relação de deslocamento, ambas apresentam características

texturais e estruturais semelhantes, sugerindo que pertençam ao mesmo evento deformacional, ou seja,

são relativamente contemporâneas. As características estruturais a serem ressaltadas estão relacionadas às

microfeições observadas em seções delgadas, tais como deslocamento e rotação de grãos fragmentados,

bem como a presença de um fabric oblíquo na matriz cataclástica, que permitem reforçar o caráter

cisalhante tanto das BPA quanto das BAM.

Page 74: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

55 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Figura 6.6 - Bandas de deformação paralelas ao acamamento (BPA) associadas a bandas normais de

mergulho moderado (BAM): a) afloramento com forte basculamento para SE (a rede estereográfica

corresponde ao acamamento, S0); b) fotografia de detalhe de „a‟ (o estereograma mostra as BAM caindo

para NW e as BPA para SE acompanhando S0) e c) interpretação onde estão representados o acamamento

(S0, linha tracejada), as bandas de deformação paralelas ao acamamento (BPA) e as bandas

aparentemente inversas (BAM), contudo a cinemática (verdadeira) normal de BAM pode ser restabelecida

pela horizontalização do acamamento, como mostrado em „d‟. e) Fotografia de detalhe mostrando

paralelismo entre banda de deformação (BPA) e o acamamento sedimentar (S0).

A evolução sequencial desses conjuntos de bandas de deformação é apresentada na figura 6.7. O

desenvolvimento de uma tectônica de falhas normais rotaciona, por arrasto, progressivamente camadas de

arenitos (propícias à formação de bandas); e à medida que estas são rotacionadas, deslizam no sentido de

Page 75: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

56 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

mergulho do acamamento; isso gera um fluxo (deslizamento inter-estratal) efetivo o suficiente para

induzir e concentrar a tensão em determinadas faixas/zonas (paralelas ao S0) petrofisicamente mais

favoráveis à geração de bandas de deformação, produzindo assim as BPA com movimento sintético-

normal. A hipótese de a formação dessas bandas tenha sido induzida inicialmente por contração

(compactação mecânica?), ou seja, foram nucleadas sob a forma de bandas puramente contracionais

(quase) paralelas ao acamamento (assim como proposto por Aydin & Ahmadov 2009, para o Arenito

Aztec), e depois, basculadas devido à tectônica de falhas normais foi descartada, pela não detecção de

estruturas que marcassem essa superposição de eventos.

6.5.2 Bandas de deformação cisalhantes no Arenito Maurití De modo geral, os afloramentos

estudados do Arenito Maurití apresentam frequentemente conjuntos de bandas de deformação

aproximadamente verticais (BAA, figura 6.8c) as quais exibem superfícies de deslizamento com estrias

sub-horizontais, que permitem identificar pares conjugados transcorrentes (dextrais-sinistrais)

compatíveis à distensão NW-SE da área de estudo. Além dessas bandas de deformação, bandas paralelas

aos planos de acamamento sedimentar também se mostram presentes (BPA, figuras 6.8a, 6.8b e 6.9a),

inclusive, também, exibindo superfícies bem definidas (figuras 6.8d e 6.9b) com estrias de deslizamento

de alto rake (evidenciando cisalhamento nas mesmas). Análises geométrico-cinemáticas das superfícies

de deslizamento, aliadas a observações microestruturais (como fabric oblíquo em seções delgadas, figura

6.9d) do núcleo cataclástico das BPA demonstram a influência de deformação cisalhante na formação. Este

fato permitiu classificar, do ponto de vista cinemático, as BPA como cisalhantes, além disso, possibilitou a

identificação de movimentos relativamente sintético-inversos. As análises meso e microscópicas, como a

relação de corte e as características texturais semelhantes, indicam que esses conjuntos de bandas de

deformação são produto do mesmo evento deformacional, ou seja, são contemporâneos, embora as BPA

sejam subordinadas às bandas de deformação com mergulhos alto ângulo (BAA, praticamente

perpendicular).

A evolução estrutural dessas bandas de deformação é interpretada como regida pela interação

entre campo de tensão local e a disposição geométrico-espacial dos planos de S0 durante o evento

deformacional que afetou as camadas estudadas. O campo de tensão pode ser deduzido pela presença de

BAA conjugadas (sintética/dextral) a disposição do acamamento diante desse campo de tensão produziu

BPA com cinemática sintética-inversa. Dessa maneira, a interação entre o tensor de máxima compressão

local e o arranjo espacial do acamamento produziu as BPA cisalhantes e o desenvolvimento de sua

cinemática inversa (ver figura 6.9). Analisando a relação geométrico-espacial, concordância cinemática e

contemporaneidade entre os dois conjuntos de bandas de deformação (BAA e BPA), pode-se, por analogia,

compará-las ao estilo estrutural em “gaveta” onde as BAA transcorrentes seriam as bordas enquanto as BPA

cisalhantes inversas corresponderiam ao piso. Nesse caso, as bandas cisalhantes paralelas ao S0 podem ser

análogas a “superfícies de deslocamento basal” (detachment surfaces) uma vez que exibem

movimentação em baixo ângulo.

6.6 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES A disposição geométrica das bandas de deformação revela-se

cada vez mais complexa à medida que novos trabalhos são publicados sobre o tema. Têm-se estruturas

normais, inversas ou transcorrentes, obedecendo ao padrão de Riedel, e sistemas geométrico-espaciais

paralelas ao acamamento sedimentar (como apresentado por Aydin & Ahmadov 2009 e Eichhulbl et al.

2010). Nesse contexto, o presente estudo enfoca afloramentos na região do Vale do Cariri, porção leste da

Bacia do Araripe, que hospedam conjuntos de bandas de deformação dispostas paralelamente aos planos

de acamamento sedimentar. Os dados mostrados aqui sugerem que as BPA podem ser classificadas, do

ponto de vista cinemático, como bandas cisalhantes, devido à presença de macro e micro feições

indicativas de movimentação. Além disso, a presença de intensa cominuição granular no núcleo dessas

estruturas indica que o mecanismo deformacional atuante durante seu desenvolvimento foi o fluxo

cataclástico, sendo assim são também bandas cataclásticas.

Page 76: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

57 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Figura 6.7 - Evolução esquemática das bandas de deformação paralelas ao acamamento associadas a

movimentos normais: a) perfil esquemático, baseado em seção sísmica interpretada por Cardoso (2010),

mostrando falha normal (F) provocando o “arrasto” das camadas (S0) próximo a ela, gerando o

sinclinal na região do Graben de Serrote das Cacimbas-Palestina. O basculamento das camadas gera

um fluxo sedimentar/tectônico (deslizamento flexural) que induz a formação de bandas de deformação

paralelas ao acamamento (BPA). A cinemática sintética-normal (acompanhando o sentido de

deslizamento) é reforçada por c) “microfoliações” em seções delgadas. d) As BPA seriam as primeiras a

serem formadas, e posteriormente seriam cortadas por bandas sintéticas e antitéticas (BAM) à falha

principal como mostrado em „e‟. f) Finalmente, a contínua rotação do bloco baixo acarretaria em uma

falsa cinemática inversa às bandas normais sintéticas.

Page 77: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

58 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Figura 6.8 - Bandas de deformação paralelas ao acamamento (BPA) associadas a bandas transcorrentes

de alto ângulo (BAA): a) visão geral do afloramento e detalhes de b) BPA e c) BAA (predominantemente

sinistral). Fotografias mostrando: d) superfície de deslizamento (plano claro) das bandas paralelas ao

acamamento; e) paralelismo entre as bandas de deformação e o acamamento sedimentar (S0) em amostra

de mão.

Page 78: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

59 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Figura 6.9 - Evolução esquemática das bandas de deformação paralelas ao acamamento (BPA)

associadas a bandas de deformação com movimentos transcorrentes (BAA): a) Superfície de deslizamento

mergulhando para E exibindo b) lineação de estria (LE) de alto „rake‟. c) visão em perfil da BPA com

cinemática inversa (observada na fotomicrografia „d‟). A geração e o desenvolvimento das BPA sintética-

inversas se dá através da interação entre a direção de máxima compressão local (TL, inferida através da

movimentação sinistral das BAA) e a disposição geométrico-espacial do acamamento (S0). A

compatibilidade geométrico-cinemática entre as BAA e BPA com o estilo “gaveta” pode ser visualizado

sequencialmente em „e‟ e „f‟.

Page 79: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

60 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

As BPA cisalhantes, apresentadas nesse estudo, exibem duas cinemáticas distintas: normal e

inversa. O primeiro conjunto está relacionado ao deslizamento inter-estratal produzido arrasto de camadas

devido falhas normais enquanto o segundo conjunto está associado à interação entre a disposição dos

planos de S0 e a direção do eixo de máxima compressão local. Nesse contexto, foi possível mostrar que

BPA cisalhantes podem ser nucleadas, em arenitos porosos, por tensões (figura 6.10) que desenvolvam

cisalhamento localizado em zonas paralelas aos planos de acamamento sedimentar. Esse cisalhamento

pode ser produzido por diversos fatores geológicos, tais como deslizamento flexural,

basculamento/arrasto de camadas por falhas normais, interação entre campo de tensão local e mergulho

do acamamento, entre outros.

Figura 6.10 - Representação esquemática da formação de bandas de deformação cisalhantes paralelas

ao acamamento (S0): a) camadas de arenitos porosos não-deformadas com zonas

petrofisicamente/reologicamente favoráveis à geração de bandas de deformação (B); b) conjuntos de

bandas de deformação cisalhantes (Bs) paralelas a subparalelas ao acamamento com movimentação

sintética ao cisalhamento principal (s) que podem ser produzidas devido à tensão local (TL) derivado do

campo de tensão regional ou ocasionada por algum outro tipo de perturbação tectônica.

Uma vez que o desenvolvimento das bandas de deformação pode ser controlado por diversos

fatores, tais como granulometria, selecionamento, porosidade (Hadizadeh et al. 2010) e grau de litificação

(Ferreira & Alves da Silva 2005), além de serem desenvolvidas em diversos contextos tectônicos ou

atectônicos (Fossen et al., 2007), o presente trabalho adiciona a possível influência da disposição

geométrico-espacial do acamamento sedimentar na geometria e cinemática de bandas de deformação em

arenitos poroso. Apesar das interpretações lançadas sobre a nucleação de bandas cisalhantes paralelas ao

acamamento, não foi possível diagnosticar qual ou quais características petrofísicas/reológicas seriam

necessárias aos arenitos estudados para que determinadas zonas paralelas ou subparalelas ao seu

acamamento sejam mais propícias ao desenvolvimento desse tipo de estrutura, ficando para trabalhos

futuros pesquisar a respeito.

Embora não tenha sido quantificado neste trabalho, é possível deduzir que a trama

geometricamente complexa de bandas de deformação com diversos arranjos espaciais (mergulho forte,

moderado e suave) em um mesmo volume de rocha, aliado à perda de permo-porosidade (pelo grau de

cataclase), possa dificultar significativamente a movimentação de fluidos através dessas estruturas,

atuando como possíveis barreiras ou selos à migração de água e hidrocarbonetos. Nesse caso, as diversas

bandas de deformação cisalhantes com caráter cataclástico talvez funcionem como barreira hidrodinâmica

para a migração de fluidos em porções onde os arenitos das formações Maurití, Missão Velha e Abaiara

apresentam densos arranjos geométrico-espaciais dessas estruturas.

Page 80: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

61 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Agradecimentos Os autores agradecem a Capes, pela bolsa de iniciação científica, e aos projetos de

pesquisa pelo apoio financeiro.

Referências

Ahlgren S. G., 2001. The nucleation and evolution of Riedel shear zones as deformation bands in porous

sandstone. Journal of Structural Geology, 23:1203-1214.

Almeida C., Antunes A.F., Alves da Silva F.C. 2009. Estilos deformacionais nas minas de gesso na bacia

do Araripe (NE do Brasil). In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos/International

Symposium on Tectonics, 12/6, Resumos, p. 81.

Antonellin M. & Aydin A. 1994. Effect of faulting on fluid flow in porous sandstones: petrophysical

properties. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 78:355-377.

Antonellini M.A., Aydin A., Pollard D.D. 1994. Microstructure of deformation bands in porous

sandstones at Arches National Park, Utah. Journal of Structural Geology, 16:941-959.

Aquino M.M. 2009. A Formação Abaiara e o arcabouço tectonoestratigráfico da região de Abaiara-Brejo

Santo, Bacia do Araripe, NE do Brasil. Monografia (Relatório de Graduação), Departamento de

Geologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 103 p.

Arai M. 2006. Revisão estratigráfica do Cretáceo Inferior das bacias interiores do Nordeste do Brasil.

Revista Geociências, 25:7-15.

Araújo Netto J.M. & Alves da Silva F.C. 2009. Análise meso e microscópica de bandas de deformação na

Formação Maurití, Bacia do Araripe, NE do Brasil. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste,

23, 1 CD-ROM.

Araújo Netto J.M. & Alves da Silva F.C. 2011. Bandas de deformação cisalhantes paralelas ao

acamamento sedimentar: o exemplo na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. In: SBG, Simpósio

Nacional de Estudos Tectônicos/International Symposium. on Tectonics, 13/7, 1 CD-ROM.

Araújo Netto J.M. 2009. Análise meso e microscópica de bandas de deformação na Bacia do Araripe,

Nordeste do Brasil. Monografia (Relatório de Graduação), Departamento de Geologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 120 p.

Assine M.L. 1992. Análise estratigráfica da Bacia do Araripe. Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de

Geociências, 22:289-300.

Assine M.L. 1994. Paleocorrentes e Paleogeografia na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Revista

Brasileira de Geociências, 24:223-232.

Assine M.L. 2007. Bacia do Araripe. Boletim de Geociências da Petrobras, 15:371-389.

Aydin A. & Ahmadov R. 2009. Bed-parallel compaction bands in aeolian sandstone: Their

identification, characterization and implications. Tectonophysics, 479:277-284.

Aydin A. 1978. Small faults formed as deformation bands in sandstone. Pure and Applied Geophysics,

116:913-930.

Aydin A., Borja R.I., Eichhubl P. 2006. Geological and mathematical framework for failure modes in

granular rock. Journal of Structural Geology, 28:83-98.

Berg S.S. & Skar T. 2005. Controls on damage zone asymmetry of a normal fault zone: outcrop analyses

of a segment on the Moab Fault, SE Utah. Journal of Structural Geology, 27:1803-1822.

Page 81: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

62 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Braathen A., Tveranger J., Fossen H., Skar T., Cardozo N., Semshuang S.E., Bastesen E., Sverdrup E.

2009. Fault facies and its application to sandstone reservoirs. American Association of

Petroleum Geologists Bulletin, 93:891-917.

Cardoso F.M.C. 2010. O Graben de Palestina: contribuição à estratigrafia e estrutura do estágio rifte da

Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em

Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 107 p.

Cardoso F.M.C., Jardim de Sá E.F., Alves da Silva, F.C. Scherer C.M.S. 2009. O Graben Serrote das

Cacimbas-Palestina (Sub-bacia Cariri - Bacia do Araripe, NE do Brasil): Geometria e estilo

estrutural. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Castro D.L. & Castelo Branco R.M.G. 1999. Caracterização da arquitetura interna das bacias do Vale do

Cariri (NE do Brasil) com base em modelagem gravimétrica 3-D. Brazilian Journal of

Geophysics, 17:129-144.

Draganits E., Grasemann B., Hager C. 2005. Conjugate deformation band faults in the Lower Devonian

Muth Formation (Tethyan Zone, NW India): evidence for pre-Himalayan deformation structures.

Geological Magazine, 142:765-781.

Du Bernard X., Eichhubl P., Aydin A. 2002. Dilation bands: a new form of localized failure in granular

media. Geophysical Research Letters, 29:2176-2179.

Eichhulbl P., Hooker J.N., Laubach S.E. 2010. Pure and shear-enhanced compaction bands in Aztec

Sandstone. Journal of Structural Geology 32:1873-1886.

Ferreira T.S. & Alves da Silva F.C. 2005. Microstructural characterization of deformation bands:

Insights from sandstones of the Potiguar, Sergipe-Alagoas and Tucano Basins - Northeast of

Brazil. In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos/International Symposium on

Tectonics, 10/4, Anais, p. 530-532.

Fossen H. & Bale A. 2007. Deformation bands and their influence on fluid flow. American Association of

Petroleum Geologists Bulletin, 91:1685-1700.

Fossen H., Schultz R.A., Shipton Z.K., Mair K. 2007. Deformation bands in sandstones: a review.

Journal of the Geological Society, 164:755-769.

Françolin J.B.L. & Szatmari P. 1987. Mecanismo de rifteamento da porção oriental da margem brasileira.

Revista Brasileira de Geociências, 17:196-207.

Hadizadeh J., Sehhati R., Tullis T. 2010. Porosity and particle shape changes leading to shear

localization in small-displacement faults. Journal of Structural Geology, 32:1712-1720.

Hesthammer J., Johansen T.E.S., Watts L. 2000. Spacial relationship within fault damage zones in

sandstone. Marine and Petroleum Geology, 17:873-893.

Holcomb D., Rudnicki J.W., Issen K.A., Sternlof K. 2007. Compaction localization in the Earth and the

laboratory: state of the research and research directions. Acta Geotechnica, 2:1-15.

Jardim de Sá E.F., Lins F.A.P.L., Alves da Silva F.C., Costa P.R.C., Medeiros W.E., Sena E.S., Antunes

A.F., Sousa D.C., Córdoba V.C., Sousa A.A.T., Santana F.L., Andrade P.R.O. 2007. As Bacias

Interiores do Nordeste: integração de dados estruturais e gravimétrico. In: SBG, Simpósio

Nacional de Estudos Tectônicos/International Symposium on Tectonics, 11/5, Anais, p. 70.

Johansen T.E.S., Fossen H., Kluge R. 2005. The impact of syn-faulting porosity reduction on damage

zone archtecture in porous sandstone: an outcrop example from the Moab Fault, Utah. Journal of

Structural Geology, 27:1469-1485.

Page 82: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

63 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Katz Y., Ram W., Aydin A. 2004. Geometry and kinematic evolution of Riedel shear structures, Capitol

Reef National Park, Utah. Journal of Structural Geology, 26:491-501.

Kim Y.S., Peacock D.C.P., Sanderson D.J. 2003. Mesoscale strike-slip faults and damage zones at

Marsalforn, Gozo Island, Malta. Journal of Structural Geology, 25:793-812.

Kim Y.S., Peacock D.C.P., Sanderson D.J. 2004. Fault damage zones. Journal of Structural Geology,

26:503-517.

Kolyukhin D., Schueller S., Espedal M.S., Fossen H. 2010. Deformation band population in fault damage

zone-impact on fluid flow. Computational Geosciences, 14:231-248.

Mair K., Main I., Elphyck S. 2000. Sequential growth of deformation bands in laboratory. Journal of

Structural Geology, 22:25-42.

Matos R.M.D. 1992. The Northeast Brazilian Rift System. Tectonics, 11:766-791.

Matos R.M.D. 2000. Tectonic evolution of the Equatorial South Atlantic. In: Mohriak W. & Talwani M.

(eds.). Atlantic rifts and continental margins. Geophysical Monograph, 115:331-354.

McGrath A.G. & Davison I. 1995. Damage zone geometry around fault tips. Journal of Structural

Geology, 17:1011-1024.

Medeiros R.A., Ponte F.C., Ponte Filho F.C. 2001. Análise estratigráfica da Bacia do Araripe: Parte 1 -

Análise de sequências. In: Campos D.A., Viana M.S.S., Brito P.H., Beurlen G. (eds.). I e II

Simpósios sobre a Bacia do Araripe e Bacias Interiores do Nordeste - Coleção Chapada do

Araripe, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Universidade Regional do Cariri

(URCA), Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP), 1:83-92.

Medeiros W.E., do Nascimento A.F., Alves da Silva F.C., Destro N., Demétrio J.G.A. 2010. Evidence of

hydraulic connectivity across deformation bands from field pumping tests: Two examples from

Tucano Basin, NE Brazil. Journal of Structural Geology, 32:1783-1791.

Menéndez B., Zhu W., Wong T.F. 1996. Micromechanics of brittle faulting and cataclastic flow in Berea

sandstone. Journal of Structural Geology, 18:1-16.

Mollema P.N. & Antonellini M.A. 1996. Compaction bands: a structural analog for anti-mode I cracks

in aeolian sandstone. Tectonophysics, 267:209-228.

Parry W.T., Marjorie A.C., Beitler B. 2004. Chemical bleaching indicates episodes of fluid flow in

deformation bands in sandstones. American Association of Petroleum Geologists Bulletin,

88:175-191.

Ponte F.C. & Appi C.J. 1990. Proposta de revisão da coluna litoestratigráfica da Bacia do Araripe. In:

SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 36, Anais, p. 211-226.

Ponte Filho F.C. 1996. Análise estratigráfica e estrutural das bacias do Iguatu, Estado do Ceará. Tese de

Doutorado, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São

Paulo, 184 p.

Rawling G.C. & Goodwin L.B. 2003. Cataclasis and particulate flow in faulted, poorly lithified

sediments. Journal of Structural Geology, 25:317-331.

Rawling G.C., Goodwin L.B., Wilson J.L. 2001. Internal architecture, permeability structure, and

hydrologic significance of contrasting fault zone types. Geology, 29:43-46.

Sénant J. & Popoff M. 1991. Early Creataceous Extension in Northest Brazil related to the South Atlantic

opening. Tectonophysics, 198:35-46.

Page 83: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

64 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 6: Artigo Científico**

Shipton Z.K., & Cowie P.A. 2001. Damage zone and slip-surface evolution over µm to km scales in high-

porosity Navajo Sandstone, Utah. Journal of Structural Geology, 23:1825-1844.

Shipton Z.K., Evans J.P., Robeson K.R., Forster C.B., Snelgrove S. 2002. Structural heterogeneity and

permeability in eolian sandstone: implications for subsurface modeling of faults. American

Association of Petroleum Geologists Bulletin, 86:863-883.

Silva Júnior J.M.F. 1997. Um regime rúptil, Pós-Siluro-Devoniano no Domínio Transversal, Província

Borborema - Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em

Evolução Crustal e Recursos Naturais. Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 137 p.

Tindall S.E. & Davis G.H. 2003. Joint spacing and distribution in deformation band shear zones.

Geological Magazine, 140:1-9.

Page 84: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

CAPÍTULO 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 85: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

65 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 7: Considerações Finais

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos estudos exibidos na presente dissertação de mestrado foi possível

caracterizar as bandas de deformação desenvolvidas nos arenitos Maurití, Missão Velha

(Inferior, no sentido de Aquino 2009 e Jardim de Sá et al 2009) e Abaiara da Bacia do

Araripe como estruturas individuais ou agrupadas formadas por deformação cisalhante

devido mecanismos de fluxo cataclástico. A identificação e classificação dessas

estruturas foram feitas com base em observações hierárquica, cinemática e reológica, nas

escalas de afloramentos e seções delgadas. Desta forma e com respaldo dos dados obtidos

sugere-se que as bandas de deformação sejam abordadas da seguinte forma (figura 7.1):

(i) hierárquica, através de análises na escala macroscópica; (ii) cinemática, por meio de

observações de feições meso e microscópicas, tais como arranjos de Riedel, relações de

corte, escalonamentos, fabrics oblíquos e reorientação de grãos/fragmentos em matriz

cataclástica, grãos tipo-sigma, entre outras; e (iii) reológica, relacionada aos mecanismos

de deformação envolvidos durante o desenvolvimento das bandas de deformação, onde

na prática deve-se observar a presença ou ausência de cataclase dos grãos (e matriz

cataclástica), principalmente, em seções delgadas.

A nucleação das bandas de deformação está inteiramente relacionada aos

parâmetros intrínsecos dos arenitos porosos, tais como granulometria, selecionamento,

porosidade e grau de litificação/cimentação (Ferreira & Alves da Silva 2005, entre

outros). Dentre estes fatores, o grau de litificação determina a predominância dos

mecanismos deformacionais atuante durante o desenvolvimento das bandas de

deformação, uma vez que a coesão entre os grãos implicará diferentes respostas

geomecânicas à tensão aplicada. Nesse contexto, arenitos pouco/parcialmente litificados,

quando submetidos a esforços, deformam-se exclusivamente por fluxo

particular/granular, no qual os grãos se movimentam/rotacionam e deslizam entre si sem

haver quebramento efetivo dos mesmos. Entretanto, a litificação (e coesão granular) faz

com que os grãos concentrem a tensão em seus contatos dissipando-a sob a forma de

fraturamentos intergranulares, promovendo a cominuição granular e produzindo matriz

cataclástica, nesse caso por fluxo cataclático. Tais mecanismos deformacionais ocorrem

dentro do volume tabular da banda de deformação onde os grãos afetados deformam-se

Page 86: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

66 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 7: Considerações Finais

continuamente, ou seja, comportam-se como zonas de cisalhamentos que podem

apresentar regime “frágil-dúctil”, quando envolvem fluxo cataclástico, ou

essencialmente “dúctil”, quando a cataclase está ausente ou incipiente (fluxo granular).

|Figura 7.1| Quadro ilustrando a classificação de bandas de deformação em arenitos porosos e

suas principais características segundo critérios hierárquicos, cinemáticos e reológicos.

Apesar de não ter sido objetivo desta dissertação, a relação entre nucleação e

desenvolvimento de bandas de deformação e o processo de litificação de suas rochas

hospedeiras permite fazer algumas considerações a respeito da evolução genética dessas

estruturas, bem como discutir breves conceitos strain hardening-softening3 em rochas

porosas. Nesse contexto, a deformação de arenitos em estágio precoce de litificação

desenvolve bandas de deformação não-catalcásticas (“hidroplásticas”) e, à medida que a

rocha se consolida, a cataclase granular atua mais efetivamente, gerando matriz

cataclástica que, possivelmente, torna mais eficaz a consolidação/cimentação do

3 Strain hardening, quando um material adquire cada vez mais resistência e dificuldade de se deformar além do seu

limite elástico, em contraste, no strain softening, o material torna-se menos resistente e fácil de deformar a medida

que é submetido à esforços (Fossen 2011).

Page 87: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

67 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 7: Considerações Finais

arcabouço sedimentar deformado. À medida que o arenito vai se litificando, ele

experimenta condições de strain hardening, uma vez que adquire maior resistência

mecânica à deformação. Isso faz com que a tensão se propague, com maior facilidade, em

zonas relativamente menos consolidadas (ou ainda porosas), adjacentes ao volume de

rocha já deformado, favorecendo, cada vez mais, a nucleação de bandas de deformação

nestas. Quando a litificação/cimentação atinge determinado limite (crítico), a rocha

começa a adquirir um comportamento mecânico diferente, que facilita o desenvolvimento

de superfícies deslizantes discretas, descontínuas, que podem se conectar para formar

falha/fratura cisalhante (com rejeito considerável), promovendo o strain softening.

Apesar das idéias apresentadas, a passagem ou transição do strain hardening para o

strain softening ainda é pouco compreendida, necessitando assim de estudos

quantitativos, como experimentos e ensaios geomecânicos em amostras de arenitos

porosos.

A respeito do comportamento hidrodinâmico das bandas de deformação, é

necessário levar em consideração a quantidade de matriz cataclástica, além de parâmetros

como largura, comprimento e sua disposição espacial. Por exemplo, espessos

aglomerados de bandas de deformação teriam comportamento de barreira mais

expressivo se os mesmos possuíssem quantidades consideráveis de matriz cataclástica, o

que diminui a porosidade inicial do arenito hospedeiro. Desse modo, as bandas de

deformação com diferentes características petrofísicas e estruturais podem produzir

diversas anisotropias em arenitos, influenciando diretamente o fluxo de fluidos em escala

de reservatório, ou seja, podem compartimentar rochas-reservatório de água e

hidrocarbonetos.

Por meio do conhecimento petrofísico (granulometria, selecionamento e

porosidade) e geométrico-espacial das bandas de deformação estudadas na Bacia do

Araripe pode-se discutir sua capacidade de compartimentar arenitos potencialmente

reservatórios. Uma vez que essas estruturas apresentam caráter selante, devido à presença

de matriz cataclástica, a anisotropia ao fluxo de fluidos seria ditada pelo seu arranjo

espacial (direção e sentido mergulho). As bandas de deformação estão dispostas em três

conjuntos principais (figura 7.2), relacionadas à uma distensão NW-SE: (i) NE-SW

normal (ii) NNE-SSW dextral e (iii) E-W sinistral, sendo que o primeiro forma planos-

barreira para fluxos com direção NW-SE ou verticais (figura 7.2a), enquanto as outras

Page 88: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

68 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Capítulo 7: Considerações Finais

compõem barreiras para direções horizontais (figura 7.2b). Dessa forma, nota-se que

arenitos-reservatório afetados simultaneamente por estes três conjuntos de bandas de

deformação (presentes na bacia) dificultam ou impedem a migração de fluidos tanto em

direções horizontais quanto em verticais, ou seja, compõem barreiras para fluxos em

qualquer direção (figura 7.2c). Essas informações aqui expostas são baseadas nos dados

meso e microscópicos com finalidade mais geral, não específica ao fluxo de fluidos.

Recomenda-se, desta forma, outros estudos para confirmar esta hipótese, como por

exemplo, testes de bombeamento hidráulico para se estabelecer o comportamento

hidrodinâmico da região afetada pelas bandas de deformação.

|Figura 7.2| Figura esquemática mostrando a anisotropia causada pelos três principais conjuntos

de bandas de deformação cataclásticas presentes na área de estudo: a) NE-SW normais que

causam permeabilidade mínima (Kmin) na direção vertical, intermediária (Kint) na direção NW-

SE e máxima (Kmax) na direção NE-SW (paralela à direção da estrutura); b) NNE-SSW e E-W

acarretando em Kmax na direção vertical e Kmin na horizontal; e c) simultaneidade entre os três

conjuntos de bandas de deformação originando Kmin em qualquer direção. A rede estereográfica

corresponde aos conjuntos de estruturas considerados segundo uma distensão NW-SE.

Page 89: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

Page 90: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

69 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ahlgren S. G., 2001. The nucleation and evolution of Riedel shear zones as deformation

bands in porous sandstone. Journal of Structural Geology, 23:1203-1214.

Almeida C., Antunes A.F., Alves da Silva F.C. 2009. Estilos deformacionais nas minas

de gesso na bacia do Araripe (NE do Brasil). In: SBG, Simpósio Nacional de

Estudos Tectônicos/International Symposium on Tectonics, 12/6, Resumos, p. 81.

Alves da Silva F.C., Ferreira T.S., Costa, P.R.C., Guedes I.M., Jardim de Sá E.F. 2005.

Aspectos microestruturais, geométricos e mecanismos de deformação de bandas

de deformação e fraturas em arenitos porosos da Bacia de Tucano (BA): Influência

na circulação de fluidos. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, 21,

Resumos, p. 194-198.

Alves da Silva F.C., Jardim de Sá E.F., Miranda, H.C.B., Medeiros W. E., Nascimento

A., Ferreira T.S., Costa, P.R.C. 2007. What is the real role played by deformation

bands in porous sandstones during fluid flow? Insights from the Tucano basin, NE

Brazil. In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos/International

Symposium on Tectonics, 11/5, Resumos, p. 320.

Antonellin M. & Aydin A. 1994. Effect of faulting on fluid flow in porous sandstones:

petrophysical properties. American Association of Petroleum Geologists Bulletin,

78:355-377.

Antonellin M. & Aydin A. 1995. Effect of faulting on fluid flow in porous sandstones:

geometry and spatial distribution. American Association of Petroleum Geologists

Bulletin, 79:642-671.

Antonellini M.A. & Pollard D.D. 1995. Distinct element modeling of deformation bands

in sandstone. Journal of Structural Geology, 17:1165-1182.

Antonellini M.A., Aydin A., Pollard D.D. 1994. Microstructure of deformation bands in

porous sandstones at Arches National Park, Utah. Journal of Structural Geology,

16:941-959.

Aquino M.M. 2009. A Formação Abaiara e o arcabouço tectonoestratigráfico da região

de Abaiara-Brejo Santo, Bacia do Araripe, NE do Brasil. Monografia (Relatório de

Page 91: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

70 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Graduação), Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Natal, 103 p.

Arai M. 2006. Revisão estratigráfica do Cretáceo Inferior das bacias interiores do

Nordeste do Brasil. Revista Geociências, 25:7-15.

Araújo Netto J.M. & Alves da Silva F.C. 2009. Análise meso e microscópica de bandas

de deformação na Formação Maurití, Bacia do Araripe, NE do Brasil. In: SBG,

Simpósio de Geologia do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Araújo Netto J.M. & Alves da Silva F.C. 2011. Bandas de deformação cisalhantes

paralelas ao acamamento sedimentar: o exemplo na Bacia do Araripe, Nordeste do

Brasil. In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos/International

Symposium. on Tectonics, 13/7, 1 CD-ROM.

Araújo Netto, J.M. 2009. Análise meso e microscópica de bandas de deformação na

Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Monografia (Relatório de Graduação),

Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

120 p.

Assine M.L. 1992. Análise estratigráfica da Bacia do Araripe. Nordeste do Brasil. Revista

Brasileira de Geociências, 22:289-300.

Assine M.L. 1994. Paleocorrentes e Paleogeografia na Bacia do Araripe, Nordeste do

Brasil. Revista Brasileira de Geociências, 24:223-232.

Assine M.L. 2007. Bacia do Araripe. Boletim de Geociências da Petrobras, 15:371-389.

Aydin A. & Ahmadov R. 2009. Bed-parallel compaction bands in aeolian sandstone:

Their identification, characterization and implications. Tectonophysics, 479:277-

284.

Aydin A. & Johnson A.M. 1978. Development of faults as zones of deformation bands

and as slip surfaces in sandstones. Pure & Applied Geophysics, 116:931-942.

Aydin A. & Johnson A.M. 1983. Analysis of Faulting in porous sandstones. Journal of

Structural Geology, 5:19-31.

Aydin A. 1978. Small faults formed as deformation bands in sandstone. Pure and

Applied Geophysics, 116:913-930.

Aydin A., Borja R.I., Eichhubl P. 2006. Geological and mathematical framework for

failure modes in granular rock. Journal of Structural Geology, 28:83-98.

Page 92: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

71 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Beach A., Welborn A.I., Brockbank P., McCallum J.E. 1999. Reservoir damage around

faults: outcrop examples from the Suez rift. Petroleum Geoscience, 5:109-116.

Bense V.F., Van den Berg E.H., Van Balen R.T. 2003. Deformation mechanisms and

hydraulic properties of fault zones in unconsolidated sediments; the Roer Valley

Rift System, the Netherlands. Hydrogeology Journal, 11:319-332.

Berg S.S. & Skar T. 2005. Controls on damage zone asymmetry of a normal fault zone:

outcrop analyses of a segment on the Moab Fault, SE Utah. Journal of Structural

Geology, 27:1803-1822.

Blenkinsop T. 2002. Deformation microstructures and mechanisms in mineral and rocks.

New York, Kluwer Academic Publishers, 150 p.

Braathen A., Tveranger J., Fossen H., Skar T., Cardozo N., Semshuang S.E., Bastesen E.,

Sverdrup E. 2009. Fault facies and its application to sandstone reservoirs.

American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 93:891-917.

Caine J.S., Evans J.P., Foster C.B. 1996. Fault zone archtecture and permeability

structure. Geology, 24:1025-1028.

Cardoso F.M.C. 2010. O Graben de Palestina: contribuição à estratigrafia e estrutura do

estágio rifte da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado.

Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Natal, 107 p.

Cardoso F.M.C., Jardim de Sá E.F., Alves da Silva, F.C. Scherer C.M.S. 2009. O Graben

Serrote das Cacimbas-Palestina (Sub-bacia Cariri - Bacia do Araripe, NE do

Brasil): Geometria e estilo estrutural. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste,

23, 1 CD-ROM.

Castro D.L. & Castelo Branco R.M.G. 1999. Caracterização da arquitetura interna das

bacias do Vale do Cariri (NE do Brasil) com base em modelagem gravimétrica 3-

D. Brazilian Journal of Geophysics, 17:129-144.

Cello G., Tondi E., Micarelli L., Invernizzi C. 2001. Fault zone fabrics and geofluid

properties as indicators of rock deformation modes. Journal of Geodynamics,

32:543-565.

Chagas D.B. 2006. Litoestratigrafia da Bacia do Araripe: reavaliação e propostas para

revisão. Dissertação de Mestrado. Instituto de Geociências e Ciências Exatas,

Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 112 p.

Page 93: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

72 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Colares J.Q.S., Aguiar R.B., Veríssimo L.S., Brandão R.L., Castelo Branco R.M.G.,

Castro D.L., Pinéo T.R.G. 2007. Caracterização geológica e geométrica dos

aqüíferos (Meta B). In: Costa W.D. & Feitosa F.A.C. (coords.) Hidrogelogia da

porção oriental da Bacia Sedimentar do Araripe. Fortaleza, Serviço Geológico do

Brasil (CPRM), 129 p.

Costa A.B.S. 2010. Diagênese e proveniência dos arenitos da tectonossequência Rifte na

bacia do Rio do Peixe Araripe, NE do Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa

de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, Natal, 95 p.

Costa P.R.C., Jardim de Sá E.F., Guedes I.M.G., Alves da Silva F.C. 2003.

Caracterização estrutural da área da Serra do Letreiro, oeste da cidade de

Jeremoabo (NE da Bahia). Revista de Geologia, 16:49-60.

Davis G.H. & Reynolds S.J. 1996. Structural geology of rock and regions. 2.ed., New

York, John Wiley & Sons, 776 p.

Devatzes N.C. & Aydin A. 2003. Overprinting faulting mechanisms in high porosity

sandstones of SE Utah. Journal of Structural Geology, 25:1795-1813.

Draganits E., Grasemann B., Hager C. 2005. Conjugate, cataclastic deformation bands in

the Lower Devonian Muth Formation (Tethyan Zone, NW India): evidence for

pre-Himalayan deformation structures. Geological Magazine, 142:765-781.

Du Bernard X., Eichhulbl P., Aydin A. 2002. Dilation bands: a new form of localized

failure in granular media. Geophysical Research Letters, 29:2176-2179.

Eichhulbl P., Hooker J.N., Laubach S.E. 2010. Pure and shear-enhanced compaction

bands in Aztec Sandstone. Journal of Structural Geology 32:1873-1886.

Engelder T. 1974. Cataclasis and the generation of fault gouge. Geological Society of

America Bulletin, 85:1515-1522.

Faulkner D.R, Jackson C.A.L., Lunn R.J., Schlische R.W., Shipton Z.K., Wibberley

C.A.J. 2010. A review of recent developments concerning the structure, mechanics

and fluid flow of fault zones. Journal of Structural Geology, 32:1557-1575.

Faulkner D.R., Lewis A.C. Rutter, E.H. 2003. On the internal structure and mechanics of

large strike-slip fault zones: field observations of the Carboneras fault in

southeastem Spain. Tectonophysics, 367:235-251.

Page 94: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

73 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Ferreira T.S. & Alves da Silva F.C. 2005. Microstructural characterization of

deformation bands: Insights from sandstones of the Potiguar, Sergipe-Alagoas

and Tucano Basins - Northeast of Brazil. In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos

Tectônicos/International Symposium on Tectonics, 10/4, Anais, p. 530-532.

Ferrill D.A., Morris A.P., McGinnis R.N. 2009. Crossing normal faults in field exposures

and seismic data. Association of Petroleum Geologists Bulletin, 93:1471-1488.

Fisher Q.J. & Knipe R.J. 2001. The permeability of faults within siliciclastic petroleum

reservoirs of the North Sea and Norwegian continental shelf. Marine and

Petroleum Geology, 18:1063-1081.

Fossen H. & Bale A. 2007. Deformation bands and their influence on fluid flow.

American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 91:1685-1700.

Fossen H. 2011. Structural geology. 2.ed., Cambridge, Cambridge University Press, 480

p.

Fossen H., Johansen T.E.S., Hesthammer J., Rotevatn A. 2005. Fault interaction in

porous sandstone and implications for reservoir management: exemples from

southern Utah. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 89:1593-

1606.

Fossen H., Schultz R.A., Shipton Z.K., Mair K. 2007. Deformation bands in sandstones:

a review. Journal of the Geological Society, 164:755-769.

Fowles J. & Burley S. 1994. Textural and permeability characteristics of faulted, high

porosity sandstones. Marine and Petroleum Geology, 11:602-623.

Françolin J.B.L. & Szatmari P. 1987. Mecanismo de rifteamento da porção oriental da

margem brasileira. Revista Brasileira de Geociências, 17:196-207.

Garcia H.R.C. 2009. Arquitetura deposicional e evolução tectono-estratigráfica das

sequências Pré-Rifte e Rifte, na porção Central do Vale do Cariri, Bacia do

Araripe, NE do Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em

Geodinâmica e Geofísica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

107 p.

Gibson R.G. 1994. Fault-zone seals in siliciclastic strata of the Columbus Basin, offshore

Trinidad. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 78:1372-1385.

Page 95: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

74 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Hadizadeh J., Sehhati R., Tullis T. 2010. Porosity and particle shape changes leading to

shear localization in small-displacement faults. Journal of Structural Geology,

32:1712-1720.

Hesthammer J. & Fossen H. 2000. Uncertainties associated with fault sealing analysis.

Petroleum Geoscience, 6:37-45.

Hesthammer J., Johansen T.E.S., Watts L. 2000. Spacial relationship within fault damage

zones in sandstone. Marine and Petroleum Geology, 17:873-893.

Holcomb D., Rudnicki J.W., Issen K.A., Sternlof K. 2007. Compaction localization in

the Earth and the laboratory: state of the research and research directions. Acta

Geotechnica, 2:1-15.

House W.M. & Gray D. R. 1982. Cataclasites along the Salteville thrust U.S.A., and

their implications for thrust sheet emplacement. Journal of Structural Geology,

4:257-269.

Jamison W.R. & Stearns D.W. 1982. Tectonic Deformation of Wingate Sandstone,

Colorado National Monument. American Association of Petroleum Geologists

Bulletin, 66:2584-2608.

Jardim de Sá E.F., Lins F.A.P.L., Alves da Silva F.C., Costa P.R.C., Medeiros W.E.,

Sena E.S., Antunes A.F., Sousa D.C., Córdoba V.C., Sousa A.A.T., Santana F.L.,

Andrade P.R.O. 2007. As Bacias Interiores do Nordeste: integração de dados

estruturais e gravimétrico. In: SBG, Simpósio Nacional de Estudos

Tectônicos/International Symposium on Tectonics, 11/5, Anais, p. 70.

Jardim de Sá E.F., Sousa D.C., Aquino M.M., Scherer C.M.S., Córdoba V.C., Alves da

Silva F.C. 2009. A Tectonossequência Rifte da Bacia do Araripe, NE do Brasil.

In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Johansen T.E.S & Fossen H. 2008. Internal geometry of fault damage zones in

interbedded siliciclastic sediments. In: Wibberley C.A.J, Kurz W., Imber J.,

Holdsworth R.E., Collettini C. (eds.) The internal structure of fault zones:

implication for mechanical and fluid-flow properties. London, Geological

Society of London, p.35-56.

Johansen T.E.S., Fossen H., Kluge R. 2005. The impact of syn-faulting porosity reduction

on damage zone archtecture in porous sandstone: an outcrop example from the

Moab Fault, Utah. Journal of Structural Geology, 27:1469-1485.

Page 96: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

75 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Jourde H., Flodin E.A., Aydin A., Durlofsky L.J., Wen X.H. 2002. Computing

permeability of fault zones in eolian sandstones from outcrop measurements.

American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 86:1187-1200

Katz Y., Ram W., Aydin A. 2004. Geometry and kinematic evolution of Riedel shear

structures, Capitol Reef National Park, Utah. Journal of Structural Geology,

26:491-501.

Kim Y.S., Peacock D.C.P., Sanderson D.J. 2003. Mesoscale strike-slip faults and damage

zones at Marsalforn, Gozo Island, Malta. Journal of Structural Geology, 25:793-

812.

Kim Y.S., Peacock D.C.P., Sanderson D.J. 2004. Fault damage zones. Journal of

Structural Geology, 26:503-517.

Kolyukhin D., Schueller S., Espedal M.S., Fossen H. 2010. Deformation band population

in fault damage zone-impact on fluid flow. Computational Geosciences, 14:231-

248.

Labaume P. 2001. Fluid flow in cataclastic thrust fault zones in sandstones, Sub-Andean

Zone, southern Bolivia. Tectonophysics, 340:141-172.

Maggon L.B. & Dow W.G. 1994. The petroleum system. In: Maggon L.B., Dow W.G.

(eds.). The petroleum system - from source to trap. American Association of

Petroleum Geologists Memoir, 60:3-24.

Mair K., Main I., Elphyck S. 2000. Sequential growth of deformation bands in

laboratory. Journal of Structural Geology, 22:25-42.

Matos R.M.D. 1992. The Northeast Brazilian Rift System. Tectonics, 11:766-791.

Matos R.M.D. 2000. Tectonic evolution of the Equatorial South Atlantic. In: Mohriak W.

& Talwani M. (eds.). Atlantic rifts and continental margins. Geophysical

Monograph, 115:331-354.

McGrath A.G. & Davison I. 1995. Damage zone geometry around fault tips. Journal of

Structural Geology, 17:1011-1024.

Medeiros R.A., Ponte F.C., Ponte Filho F.C. 2001. Análise estratigráfica da Bacia do

Araripe: Parte 1 - Análise de sequências. In: Campos D.A., Viana M.S.S., Brito

P.H., Beurlen G. (eds.). I e II Simpósios sobre a Bacia do Araripe e Bacias

Interiores do Nordeste - Coleção Chapada do Araripe, Departamento Nacional de

Page 97: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

76 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Produção Mineral (DNPM), Universidade Regional do Cariri (URCA), Sociedade

Brasileira de Paleontologia (SBP), 1:83-92.

Medeiros R.A., Ponte F.C., Ponte Filho F.C. 2001b. Análise estratigráfica da Bacia do

Araripe: Parte 2 - Análise de fácies. In: Campos D.A., Viana M.S.S., Brito P.H.,

Beurlen G. (eds.). I e II Simpósios sobre a Bacia do Araripe e Bacias Interiores

do Nordeste - Coleção Chapada do Araripe. Departamento Nacional de Produção

Mineral (DNPM), Universidade Regional do Cariri (URCA), Sociedade

Brasileira de Paleontologia (SBP), 1:93-100.

Medeiros W.E., do Nascimento A.F., Alves da Silva F.C., Destro N., Demétrio J.G.A.

2010. Evidence of hydraulic connectivity across deformation bands from field

pumping tests: Two examples from Tucano Basin, NE Brazil. Journal of Structural

Geology, 32:1783-1791.

Melo T.V.N. & Alves da Silva F.C. 2009. Contribuição à geologia das Bacias Interiores

da Zona Transversal (Betânia, Mirandiba e São José do Belmonte) do NE do

Brasil. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, 23, 1 CD-ROM.

Menéndez B., Zhu W., Wong T.F. 1996. Micromechanics of brittle faulting and

cataclastic flow in Berea sandstone. Journal of Structural Geology, 18:1-16.

Milani E.J., Brandão J.A.S.L., Zalán P.V., Gamboa L.A.P. 2000. Petróleo na margem

continental brasileira: geologia, exploração, resultados e perspectivas. Brazilian

Journal of Geophysics, 18:351-395. Disponível no endereço eletrônico

<http://www.scielo.br/pdf/rbg/v18n3/a12v18n3.pdf>, acesso em: 19/11/2010.

Mollema P.N. & Antonellini M.A. 1996. Compaction bands: a structural analog for anti-

mode I cracks in aeolian sandstone. Tectonophysics, 267:209-228.

Odling N.E., Harris S.D., Knipe R.J. 2004. Permeability scaling properties of fault

damage zones in siliciclastic rocks. Journal of Structural Geology, 26:1727-

1747.

Ogilvie S.R. & Glover P.W.J. 2001. The petrophysical properties of deformation bands

in relation to their microstructure. Earth and Planetary Science Letters,

193:129-142.

Parnell J., Watt G.R., Middleton D., Kelly J., Baron. 2004. Deformation band control on

hydrocarbon migration. Journal of Sedimentary Research, 74:552-560.

Page 98: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

77 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Parry W.T., Chan M.A., Bitler B. 2003. Chemical bleaching indicates episodes of fluid

flow in deformation bands in sandstone. American Association of Petroleum

Geologists Bulletin, 88:175-191.

Parry W.T., Marjorie A.C., Beitler B. 2004. Chemical bleaching indicates episodes of

fluid flow in deformation bands in sandstones. American Association of Petroleum

Geologists Bulletin, 88:175-191.

Pluijm B.A.V.D. & Marshak S. (eds.) 2004. Earth structure - an introduction to

structural geology and tectonics. 2.ed., New York, W.W. Norton & Company,

656 p.

Ponte F.C. & Appi C.J. 1990. Proposta de revisão da coluna litoestratigráfica da Bacia do

Araripe. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 36, Anais, p. 211-226.

Ponte F.C. & Ponte Filho, F.C. 1996. Estrutura Geológica e Evolução Tectônica da Bacia

do Araripe. Recife, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), 68 p.

Ponte Filho F.C. 1996. Análise estratigráfica e estrutural das bacias do Iguatu, Estado do

Ceará. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências e Ciências Exatas,

Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 184 p.

Rawling G.C. & Goodwin L.B. 2003. Cataclasis and particulate flow in faulted, poorly

lithified sediments. Journal of Structural Geology, 25:317-331.

Rawling G.C., Goodwin L.B., Wilson J.L. 2001. Internal architecture, permeability

structure, and hydrologic significance of contrasting fault zone types. Geology,

29:43-46.

Reed-Hill R.E. 1982. Princípios de metalurgia física. 2.ed., Rio de Janeiro, Guanabara,

776 p.

Rotevatn A., Buckley S.J., Howell J.A., Fossen H. 2009. Overlapping faults and their

effect on fluid flow in different reservoir types: a LIDAR-based outcrop modeling

and flow simulation study. American Association of Petroleum Geologists

Bulletin, 93:407-427.

Schultz R.A., Okubo C.H., Fossen H. 2010. Porosity and grain size controls on

compaction band formation in Jurassic Navajo Sandstone. Geophysical Research

Letters, 37, doi:10.1029/2010GL044909. Disponível no endereço eletrônico

<http://folk.uib.no/nglhe/Papers/GRL%202010%20CBs%20Schultz%20Oboku%

20Fossen.pdf>, acesso em: 28/01/2011.

Page 99: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

78 Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

Referências Bibliográficas

Sénant J. & Popoff M. 1991. Early Creataceous Extension in Northest Brazil related to

the South Atlantic opening. Tectonophysics, 198:35-46.

Shipton K.Z. & Cowie P.A. 2003. A conceptual model for the origin of fault damage

zone structures in high-porosity sandstone. Journal of Structural Geology, 25:333-

344.

Shipton Z.K., & Cowie P.A. 2001. Damage zone and slip-surface evolution over µm to

km scales in high-porosity Navajo Sandstone, Utah. Journal of Structural

Geology, 23:1825-1844.

Shipton Z.K., Evans J.P., Robeson K.R., Forster C.B., Snelgrove S. 2002. Structural

heterogeneity and permeability in eolian sandstone: implications for subsurface

modeling of faults. American Association of Petroleum Geologists Bulletin,

86:863-883.

Silva Júnior J.M.F. 1997. Um regime rúptil, Pós-Siluro-Devoniano no Domínio

Transversal, Província Borborema - Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado.

Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais.

Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 137 p.

Tindall S.E. & Davis G.H. 2003. Joint spacing and distribution in deformation band

shear zones. Geological Magazine, 140:1-9.

Torabi A. & Fossen H. 2009. Spatial variation of microstructure and petrophysical

properties along deformation bands in reservoir sandstones. Association of

Petroleum Geologists Bulletin, 93:919-938.

Twiss R.J., & Moores E.M. 2007. Structural geology. 2.ed., New York, Freeman, 736 p

.

Page 100: CARACTERIZAÇÃO MULTI-ESCALAR DE BANDAS … · caracterizaÇÃo multi-escalar de bandas de deformaÇÃo nas tectonossequÊncias paleozÓica, prÉ- e sin-rifte da bacia do araripe,

Araújo Netto, J.M. Dissertação de Mestrado. PPGG/UFRN. 2011

RESUMO

As bandas de deformação são estruturas, desenvolvidas em arenitos porosos, que mostram pequenos

rejeitos e não são imageáveis em secções sísmica. As bandas de deformação dos arenitos pré e sinrifte da

Bacia do Araripe foram estudadas em escalas de afloramento, amostra de mão e seção delgada. As

características, tais como hierárquica, cinemática e geométrico-espacial, além dos mecanismos

deformacionais atuantes durante o seu desenvolvimento estrutural, foram estabelecidas. De modo geral, a

observação em escala mesoscópica permitiu diferenciar as bandas de deformação em estruturas

individuais ou agrupadas dispostas em três conjuntos principais: NNE-SSW dextrais; NE-SW normais

(por vezes com componente direcional); e E-W sinistrais; e um conjunto peculiar, de caráter local, (sub-)

paralelo aos planos de acamamento. A caracterização em micro-escala, por sua vez, possibilitou

reconhecer o caráter cataclástico dessas estruturas, bem como observar seus critérios cinemáticos. Através

do estudo multi-escalar realizado neste trabalho, verificou-se que as bandas de deformação

desenvolveram-se, preferencialmente em arenitos em avançado estágio de litificação. Inferiu-se também

que a complexidade geométrico-espacial das bandas, aliada à presença de matriz cataclástica, pode

dificultar a migração de fluidos em rochas-reservatório, levando à sua compartimentação. O estudo de

bandas de deformação pode subsidiar pesquisas sobre a evolução estrutural de bacias sedimentares, bem

como para compreender o comportamento hidrodinâmico de reservatórios compartimentados por essas

estruturas deformacionais.

ABSTRACT

Deformation bands are structures, developed in porous sandstones, that has small offsets and they are not

shown on seismic section. The deformation bands of the pre and synrift sandstones of Araripe Basin were

studied in outcrop, macroscopic and microscopic scales. The hierarchical, cinematic and spatial-

geometric characteristics, and also the deformational mechanisms acting during its structural evolution

were established too. In general, the mesoscopic scale observation allowed to discriminate deformation

bands as singles or clusters in three main sets: NNE-SSW dextral; NE-SW normal (sometimes with

strike-slip offset); and E-W sinistral; further a bed-parallel deformation bands as a local set. The

microscopic characterization allowed to recognize the shearing and cataclastic character of such

structures. Through the multi-scale study done in this work we verified that deformation bands analyzed

were preferentially developed when sandstones under advanced stage of lithification. We also infer that

the geometrical-spatial complexity of these bands, together with the presence of cataclastic matrix, can

difficult the migration of fluids in reservoir rocks, resulting on their compartmentalization. Therefore, the

study of deformation bands can aid researches about the structural evolution of sedimentary basin, as well

as collaborate to understand the hydrodynamic behavior of reservoirs compartmented by these

deformational structures.