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CARACTERIZAÇÃO CONSTRUTIVA E LEVANTAMENTO DAS ANOMALIAS MAIS REPRESENTATIVAS EM PAREDES EXTERIORES NAS CONSTRUÇÕES DA NAZARÉ

Filomeno Pequicho

fipeng@gmail.com

RESUMO 1

2

Esta monografia pretende referenciar e caracterizar 3

algumas das anomalias mais representativas evidenciadas 4

em ambiente exterior em paredes nas construções da 5

Nazaré. Este trabalho decorre de um levantamento 6

fotográfico e termográfico elaborado aleatoriamente em 7

ambiente exterior onde para tal se percorreram a maioria 8

das ruas na Nazaré e no Sítio, tendo por base as evidências 9

patológicas visíveis nas paredes de fachada aos edifícios. 10

Pretende-se, utilizando o levantamento fotográfico 11

efectuado, caracterizar as ocorrências patológicas de maior 12

expressão tendo em consideração as condições ambientais 13

em que se inserem, a disposição urbanística existente e as 14

características da construção em cada caso levantado. 15

Este trabalho dará lugar á elaboração, para cada caso 16

levantado, de uma ficha de registo das anomalias 17

verificadas. 18

19

PALAVRAS-CHAVE 20

21

Patologias em paredes, Nazaré, Ambiente, Malha 22

Urbana. 23

24

ABSTRACT 25

26

This monograph intends to refer to and characterize some 27

of the deficiencies highlighted in the most representative 28

environment outside walls of buildings in Nazareth. This 29

paper derives from a photographic survey and 30

thermographic drawn at random to the outside 31

environment where this is most traveled streets in 32

Nazareth and the site, based on the pathological findings 33

visible on the walls of the buildings facade. 34

It is intended, using the photographic survey carried out to 35

characterize the pathological events of greater expression 36

taking into account the environmental conditions under 37

which they operate, the existing urban layout and the 38

characteristics of construction in each case up. 39

This work will lead to the elaboration, for each case 40

brought in a record sheet of malfunction. 41

42

KEYWORDS 43

44

Pathologies in exterior walls, Nazaré, Environment, 45

Urban Loop. 46

47

1 INTRODUÇÃO 48

49

A função das paredes que definem a envolvente exterior 50

dos edifícios é tanto mais eficaz quanto melhor 51

enquadrada estiver quer nos processos de construção 52

utilizados em cada caso, no meio ambiente em que se 53

insere. A eficácia destes elementos depende ainda da sua 54

boa execução, dos materiais utilizados, dos estudos que 55

devam ser feitos no decurso da elaboração dos projectos 56

bem como, e muito importante, dos cuidados de 57

manutenção durante o período de vida de todo o sistema. 58

59

Uma parede de um edifício e mais concretamente as que 60

definem a envolvente exterior, não é senão um sistema que 61

combina estética com materiais, exequibilidade e 62

adequabilidade. 63

64

A estética conjuga-se em fase de arquitectura, os materiais 65

determinam a sua resistência em vários aspectos, a 66

exequibilidade determina, entre outros, a possibilidade de 67

prolongamento da vida útil do sistema bem como o seu 68

aspecto económico, a adequabilidade é sobretudo função 69

directa da aceleração ou retardamento do aparecimento 70

das patologias. Qualquer um destes quatro aspectos que 71

caracterizam o sistema “parede” deve ser resolvido em 72

sede de projecto tendo em consideração factores tão 73

importantes como a envolvente onde se enquadra, a zona 74

onde se constrói, quem a constrói e o ambiente a que 75

estará sujeito. 76

77

A Nazaré é, por excelência, um aglomerado populacional 78

que desde o início da sua história sempre esteve ligada á 79

actividade piscatória. As primeiras referências que se têm 80

sobre esta vila datam do início do século XVII (cerca de 81

1640). 82

As primeiras construções implantaram-se dando logo 83

naquela época origem á actual malha urbana, 84

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Filomeno Pequicho

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designadamente na zona histórica e que consistia em 1

construir ao longo de ruas estreitas perpendiculares á linha 2

da água para que cada pescador pudesse avaliar as 3

condições do mar e decidir a sua faina piscatória. 4

5

No início do século XVII as construções eram executadas 6

em paredes de adobe em pedra e tijolo cerâmico maciço 7

cozido e pavimentos / coberturas em madeira, matérias 8

abundantes na região. 9

10

As casas, na sua maioria, não tinham mais que 5m de 11

frente e era frequente cada construção ter apenas uma 12

frente com acesso ao exterior. 13

14

2 CARACTERIZAÇÃO CONSTRUTIVA DAS 15

PAREDES EXTERIORES. 16

17

Actualmente, a maioria das construções na Nazaré é 18

executada com dois panos de alvenaria de tijolo cerâmico, 19

cintado com estrutura em betão armado, segundo os 20

actuais regulamentos nacionais. Refira-se que durante a 21

segunda metade do século passado se fabricava tijolo 22

cerâmico na Nazaré o que ajudou a desenvolver e 23

promover a construção de paredes, nomeadamente as 24

exteriores, conferindo-lhes carácter mais económico, 25

maior facilidade de execução, resistência estrutural 26

térmica e acústica bem como menor peso nas construções. 27

Este facto traz outras consequências. Os revestimentos das 28

paredes passam a ser executados com argamassas 29

tradicionais de reboco e posteriormente são pintadas com 30

tintas sobretudo de base aquosa embora exista igualmente 31

a utilização de tintas de borracha. 32

33

A realidade actual transforma a construção existente na 34

Nazaré, como em tantos outros lugares de Portugal, num 35

misto entre processos antigos e actuais. 36

37

Cada um destes dois processos apresenta patologias 38

diferentes como teremos oportunidade de desenvolver 39

mais adiante. 40

41

As construções antigas, em adobe de pedra ou tijolo 42

maciço raramente ultrapassam os dois pisos de construção, 43

têm espessuras de paredes que variam entre os 50 e 60cm, 44

apoiam em fundação corrida de pedra arrumada e muitas 45

vezes solta e são argamassadas quer nas juntas quer nos 46

rebocos com uma mistura de cal hidráulica e areia de Rio 47

Maior (areia de tom avermelhado) com características 48

quer resistentes quer higrométricas bastante fracas. 49

50

As construções recentes obedecem aos padrões actuais da 51

legislação nacional. 52

53

3 LEVANTAMENTO EFECTUADO. 54

55

O levantamento das anomalias em estudo foi efectuado 56

tendo por objectivo abranger construções antigas e actuais 57

quer na zona histórica da Nazaré quer fora desse perímetro 58

incluindo o Sítio tendo-se identificado, pelo seu aspecto 59

mais degradado, 23 construções e que simultaneamente 60

representam a grande maioria das patologias identificadas 61

no perímetro urbano da Nazaré e Sitio. É de salientar que 62

muitas outras construções com anomalias foram 63

identificadas apenas com tomada de nota sendo que estas 64

se inserem dentro das que mereceram maior atenção não 65

tendo merecido levantamento fotográfico pela menor 66

incidência dessas mesmas patologias. 67

68

Procurou-se identificar os aspectos patológicos que 69

pudessem, de forma global, compatibilizar quer com os 70

processos de construção, com o meio ambiente existente, 71

com o elevado grau de falta de manutenção destes 72

elementos da construção não esquecendo os erros 73

cometidos nomeadamente em projecto e durante a fase da 74

construção. 75

76

4 ANOMALIAS VERIFICADAS. 77

78

Das anomalias verificadas, dividem-se as que se 79

identificaram por maior grau de frequência e gravidade: 80

81

4.1 Frequência 82

83

• Mau comportamento térmico do sistema; 84

• Mau comportamento hidráulico dos revestimentos; 85

• Falta de aderência entre tinta e reboco; 86

• Má ligação entre panos de alvenaria e a estrutura; 87

• Má ligação entre elementos secundários (ex. 88

platibandas) e a estrutura; 89

• Aparecimento de humidades ascensionais por 90

capilaridade; 91

• Fendilhamento dos rebocos por retracção térmica; 92

• Infiltrações nas ligações com a cobertura; 93

• Reparações de revestimentos com materiais de 94

diferentes composições; 95

• Falta de manutenção. 96

• Eflorescências e cripto-eflorescências. 97

98

4.2 Gravidade 99

100

• Descasque dos revestimentos; 101

• Desgaste por erosão das alvenarias; 102

• Fenfilhamento na base por rotação do apoio; 103

• Fendilhamento por flecha excessiva em consolas; 104

• Pulverulência das alvenarias e revestimentos; 105

• Evidências de líquenes e vegetação; 106

• Falta de juntas entre edifícios; 107

• Assentamentos de fundações; 108

• Fugas nas canalizações. 109

110

Do levantamento efectuado, as construções antigas 111

evidenciam frequentemente: 112

113

• Descasque dos revestimentos; 114

• Erosão das alvenarias e revestimentos; 115

• Infiltrações nas ligações com coberturas; 116

• Transferência de humidade solo/parede; 117

• Pulverulência nas alvenarias e revestimentos; 118

• Fissurações por assentamentos diferenciais; 119

• Líquenes e vegetação. 120

121

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Filomeno Pequicho

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As construções mais recentes apresentam com maior 1

incidência. 2

3

• Mau desempenho térmico; 4

• Mau desempenho hidráulico por higrospicidade; 5

• Falta de manutenção; 6

• Descasque dos rebocos e pinturas; 7

• Eflorescências e cripto-eflorescências; 8

• Fissuração por retracção térmica dos rebocos; 9

• Bolores e vegetação. 10

11

Recorde-se que este estudo aborda apenas patologias em 12

paredes da envolvente exterior identificada pelo exterior 13

das construções, recorrendo apenas ao levantamento visual 14

não podendo aqui ser feita qualquer abordagem sobre 15

anomalias de carácter químico, bacteriológico ou 16

estrutural. 17

18

O levantamento termo-fotográfico efectuado bem como a 19

descrição caso a caso de cada um dos edifícios estudados, 20

constará das fichas de registo de anomalias que fará parte 21

do anexo desta monografia. 22

23

5 CAUSAS POSSÍVEIS. 24

25

Dentro das patologias referidas e verificadas, apontam-se 26

as causas mais prováveis para a sua ocorrência. 27

28

Assim e correlacionando cada uma das patologias com a 29

causa ou causas mais prováveis que lhes estão associadas, 30

referem-se as seguintes: 31

32

• Má execução de projecto, projecto deficientemente 33

pormenorizado incluindo má escolha de 34

materiais, má execução da obra ou má 35

preparação de quem a executou, nas situações de 36

i) mau comportamento térmico das paredes, ii) 37

mau comportamento hidráulico, iii) má ligação 38

das tintas ás argamassa de reboco, iv) descasque 39

dos materiais de revestimento, v) aparecimento 40

de bolores, líquenes ou vegetação, vi) 41

aparecimento de eflorescências ou cripto-42

eflorescências, vii) fissurações nas ligações com 43

a base, ligações com a estrutura ou flecha 44

excessiva em consolas, viii) fissuração entre 45

edifícios. 46

• Falta de manutenção ou incúria nas situações de i) 47

desgaste da pintura, ii) descasque dos 48

revestimentos, iii) transferência de humidades 49

através do solo, iv) aparecimento de líquenes e 50

vegetação, v) reparação de revestimentos com 51

matérias impróprios, vi) fuga nas canalizações, 52

vii) infiltrações pela cobertura por falta de 53

manutenção de algerozes ou caleiras. 54

• Ambientais nas situações de i) pulverulência dos 55

revestimentos, ii) erosão das alvenarias por 56

ampliação das acções do vento devido ao efeito 57

de “funil”, iii) eflorescências e cripto-58

eflorescências, iv) fissurações por pressões 59

dinâmicas exteriores elevadas devidas ás acções 60

de ventos fortes, v) humidades excessivas por 61

transporte de água do mar pelos ventos, vi) 62

excesso de humidade no solo por elevado nível 63

freático (água que contêm sais sobretudo de 64

cloro e sódio), 65

• Reologia e topografia do terreno em i) 66

assentamentos diferenciais das fundações por 67

arrastamento intersticial subterrâneo de 68

partículas devido à forte inclinação dos 69

arruamentos e á forte permeabilidade dos 70

pavimentos exteriores (sobretudo calçada 71

grossa). 72

73

74

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 75

76

As construções expostas a meios ambientais agressivos 77

estão mais vulneráveis à aceleração da sua degradação a 78

todos os níveis quer estruturais, quer funcionais. Alterando 79

a estrutura do sistema “parede” altera-se-lhe igualmente a 80

sua capacidade de desempenho inicialmente pretendida. 81

Os factores que mais contribuem para esta aceleração 82

foram anteriormente descritos. 83

As construções costeiras têm um nível de degradação mais 84

acelerado e com maior gravidade que as construções 85

protegidas deste meio agressivo. 86

Particularmente, a Nazaré, pela distribuição que têm da 87

sua malha urbana, encontra-se sujeita a uma forte 88

aceleração degradativa devido essencialmente á 89

potenciação da erosão por ampliação da pressão dos 90

ventos a Nascente ou NW (situação predominante) devido 91

ao efeito de “funil”. Esta acção, acompanhada do 92

transporte aéreo da água do mar, particularmente nociva 93

aos materiais normalmente utilizados na construção bem 94

como ao transporte de areias que provocam o efeito de 95

abrasão nas superfícies das paredes, requerem estratégias 96

diferentes no acto de abordar qualquer projecto de 97

construção. Estão particularmente em causa os processos 98

de construção, os materiais a utilizar e, fundamentalmente, 99

uma maior preocupação na periodicidade e qualidade da 100

manutenção quer preventiva quer de reparação das 101

anomalias ainda no seu estado inicial. 102

103

104

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para obtenção do grau de mestre em Engenharia de 39

Aeródromos – IST / Academia da Força Aérea 2009 40

(204 páginas) 41

42

43

44

DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE O autor desta monografia declara que o conteúdo da mesma é da sua autoria e não constitui cópia parcial ou integral de textos de outros autores.

(Assinatura do autor)