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CAPÍTULO 2 - PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL, ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL Site: UNINORTE SICACED® - Sistema de Produção e Gerenciamento de Ensino Baseado em Internet Curso: ELM03S1 - HOMEM, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE Livro: CAPÍTULO 2 - PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL, ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL Impresso por: HARLEN DOS SANTOS PERREIRA Data: Monday, 18 March 2013, 12:32 Sumário 2.1 Contextualizando 2.2 Conhecendo a teoria - 2.2.1 A sustentabilidade econômica 2.2.2 A sustentabilidade social 2.2.3 A sustentabilidade ecológica 2.2.4 A sustentabilidade cultura 2.2.5 A sustentabilidade espacial 2.3 Aplicando a teoria na prática 2.4 Para saber mais

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Page 1: CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 2 - PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL,

ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL

Site:UNINORTE SICACED® - Sistema de Produção e Gerenciamento de Ensino Baseado em Internet

Curso: ELM03S1 - HOMEM, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

Livro:CAPÍTULO 2 - PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL, ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL

Impresso por:

HARLEN DOS SANTOS PERREIRA

Data: Monday, 18 March 2013, 12:32

Sumário

2.1 Contextualizando

2.2 Conhecendo a teoria - 2.2.1 A sustentabilidade econômica

2.2.2 A sustentabilidade social

2.2.3 A sustentabilidade ecológica

2.2.4 A sustentabilidade cultura

2.2.5 A sustentabilidade espacial

2.3 Aplicando a teoria na prática

2.4 Para saber mais

2.5 Relembrando

Onde encontrar

Page 2: CAPÍTULO 2

2.1 Contextualizando

No capítulo anterior, tivemos a dimensão do quanto às ações humanas são impactantes ao bom funcionamento do planeta Terra. Vimos também que essa situação é passível de ser minimizada, desde que cada um se comprometa em fazer sua parte para a promoção da justiça ecológica. Portanto, é imprescindível confirmar que esse processo diário de mudança de hábitos degradantes faz parte da reeducação do ser humano para uma cidadania planetária.

Neste capítulo, daremos continuidade à discussão da disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, apresentando os princípios e dimensões da sustentabilidade: econômica, social, ecológica, cultural e espacial. Com esse conteúdo, será possível verificar que falar de sustentabilidade implica em trazer o contexto multidisciplinar necessário para uma apreensão coerente da mesma, por meio dos cinco pilares aqui apresentados. Desse modo, sistematizar ações pautadas nos princípios e dimensões apresentados no presente capítulo será mais uma ferramenta para garantir o difundido desenvolvimento sustentável.

É importante que, ao final desse capítulo, você esteja apto a:

Descrever os princípios norteadores da sustentabilidade ambiental; Identificar a importância de cada princípio norteador da sustentabilidade ambiental, bem como sua

inter-relação. Descrever a dimensão dos princípios norteadores da sustentabilidade; Verificar a aplicabilidade de tais princípios no exercício profissional, adotando medidas mitigadoras e

de compensação ambiental.

Esperamos que você aproveite ao máximo os conteúdos discutidos neste capítulo e tenha um bom estudo!

2.2 Conhecendo a teoria - 2.2.1 A sustentabilidade econômica

Iniciamos nossa discussão trazendo à luz o princípio de maior conflito conceitual quando se fala em sustentabilidade, pois pensá-la atendendo aos interesses econômicos requer visualizá-la do ponto de vista da acumulação de riquezas de forma justa e igualitária. Quando se fala em economia, logo se remete a sua mola propulsora, o consumo, pois é ele quem a movimenta e alimenta seu crescimento.

Ao tratar dessa temática no capítulo anterior, ficou perceptível como a humanidade tem se comportado diante do consumo e como os apelos midiáticos têm se mostrado verdadeiramente sedutores, ao ponto de transformar os desejos em necessidades básicas à sobrevivência humana.

A esse respeito, Leff (2008, p.42-43) afirma que “a convulsão dos fundamentos que sustentam hoje a ordem econômica dominante nos coloca diante do desafio de transformar, a partir de suas bases, o paradigma insustentável da economia.”

Em outras palavras, Leff (2008) critica a forma como o consumo tem direcionado a economia, por meio da busca incessante pela acumulação do capital privado.

Isso se deve ao fato de que, ao longo de sua evolução, a humanidade passou a querer suprir mais do que sua necessidade de sobrevivência, pois, à medida que foram surgindo os avanços tecnológicos, outros objetivos passaram a ser perseguidos. Temas como espiritualidade longevidade, prazer, conforto, beleza e convivência são alvo das aspirações humanas.

Novamente vem à tona a dicotomia necessidade versus desejo. E é aí que entra em pauta o modelo econômico vigente, ou seja, o capitalismo, cujo crescimento está alicerçado nos pilares do consumo.

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Em linhas gerais, esta é a forma de organização das atividades produtivas (econômicas) da sociedade baseada no princípio de que os indivíduos podem exercer domínio sobre os recursos, com o intuito de transformá-los em bens e serviços, agregando sempre um novo valor. Essa ação se perpetua por meio de uma cadeia, cujo eixo norteador é o acúmulo privado de capital, justificado na máxima do crescimento econômico.

Essa forma de quantificação de crescimento (centrado na produção) gera uma necessidade que deve ser atendida por todos nós: achar um ponto de equilíbrio para tal, de modo que todos possam usufruir dos benefícios intrínsecos ao crescimento.

Boff (2004, p. 17) confronta esse condicionante quando afirma que “o projeto de crescimento material ilimitado, mundialmente integrado, sacrifica 2/3 da humanidade, extenua recursos da Terra e compromete o futuro das gerações vindouras.” Isto significa dizer que a prioridade está na apropriação dos indivíduos sobre todas as coisas detentoras de valor, para um posterior acúmulo de capital, seguindo os pressupostos do neoliberalismo.

Infelizmente, o objeto da apropriação humana é o Planeta Terra, e esta ocorre de forma desigual, ou seja, uns se tornam cada vez mais ricos em detrimento de outros cada vez mais pobres (Quadro 1). Essa máxima ainda ocorre em um sistema competitivo gerador de exclusão e individualismo.

CONSUMO (DO TOTAL OFERECIDO)

20% DA POPULAÇÃO MAIS RICA

20% DA POPULAÇÃO MAIS POBRE

• Carne e peixe 45% menos de 5%

• Energia 58% menos de 4%

• Linhas telefônicas 74% 1,5%

• Papel 84% 1,1%

• Veículos 87% menos de 1%

Quadro 1 - Balança de consumo entre ricos e pobres (PNUD, 2003)

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Os dados apresentados no quadro 1 elucidam o que estamos tentando abordar ao afirmar que o modelo econômico atual aponta para o crescimento e não para o desenvolvimento como premissa para o alcance da sustentabilidade. Neste caso, reforçamos a conceituação que vem sendo trabalhada desde o início deste livro texto de que sustentabilidade significa consumir hoje, sem comprometer os recursos para o amanhã.

Neste sentido, é importante destacar que, para atingir a sustentabilidade econômica, é imprescindível a igualdade na distribuição dos recursos. A esse respeito é válido mencionar alguns preceitos da Agenda 21, fruto da Rio-92 (citada no capítulo anterior), que traz como principais pontos a erradicação da pobreza, a proteção aos recursos naturais e mudança de modos de produção e hábitos de consumo.

Adotar esses pontos significa rever a estrutura econômica vigente, ou seja, uma sociedade onde todos os seus membros estivessem em situação de igualdade. Para isso ocorrer, seria necessário o estímulo e a cooperação entre os participantes da atividade econômica (SINGER, 2002).

Ao apresentar essa afirmativa, Singer evidencia o quanto é urgente para a humanidade pensar em um sistema econômico alternativo ao capitalismo, em função das desigualdades sociais que o mesmo gera, uma vez que o acúmulo de riqueza é a sua principal meta.

Apesar de iniciativas como a do Banco Palmas já se apresentarem como uma realidade na busca por alternativas tecnológicas sociais, a humanidade ainda não conseguiu implantar mecanismos dessa natureza de forma global. Isso tem estimulado as pressões populares para um reposicionamento de governos e empresas frente aos problemas ambientais.

Como reflexo disso, percebe-se um cuidado maior nas decisões tomadas, tendo em vista o fato de esta poder ser avaliada e divulgada pelo prisma da sustentabilidade, especialmente a partir dos mecanismos do Protocolo de Kyoto.

Conforme informação tratada no capítulo 1 deste livro-texto, você pôde verificar que o protocolo de Kyoto foi gerado a partir da preocupação da comunidade internacional como os rumos da intervenção humana no clima, especialmente com relação às emissões de gases poluentes. Neste sentido, criou-se o mercado de créditos de carbono ou redução simplificada dos gases que provocam o efeito estufa por meio da certificação. Para tal, a bolsa do clima foi criada nos Estados Unidos, com a finalidade de intermediar as negociações desse Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

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Fica evidente que essas ações são fruto da participação social ativa. Entretanto, tais avanços poderiam ser bem maiores, caso o controle e a participação social dos cidadãos ocorresse com maior expressividade nos países em desenvolvimento.

2.2.2 A sustentabilidade social

Retomando o capítulo anterior, trazemos a constatação de que vivemos em uma sociedade marcada por estereótipos e desejos de consumo implantados pela indústria cultural. Surge, assim, uma homogeneização dos desejos e atitudes nas relações sociais, marcada pelo estímulo ao individualismo seguido da competição desmedida, onde nem sempre se pode ter o que se quer.

Esses aspectos de homogeneização são marcantes para instauração do quadro de desigualdades sociais vigentes no planeta, oriundas da concentração de renda gerada pelo propósito da acumulação de capital. Essa retórica faz com que se criem verdadeiros bolsões de pobreza, onde reina a fome e a miséria absoluta de um lado e, do outro, acúmulo de riqueza gerando ostentação e luxo.

Para clarear seu entendimento, pense no catador de lixo que tem seu sustento a partir da colheita dos resíduos gerados por nós e depositados em um lixão. De repente, esse indivíduo se depara com a construção de um aterro sanitário (melhor forma de destinação final do lixo), que acabará com o lixão. Será que esse cidadão apresenta condições de discernir sobre a importância da obra?

Provavelmente, o caso não é apenas se é necessário que ele retire as sobras de um lixão para sobreviver, obviamente o sistema não favoreceu ao mesmo acesso à educação, garantindo-lhe empregabilidade. Ele significa ainda afirmar que, para o mesmo, é melhor que o lixo continue sendo destinado de forma errônea, pois, se não mais ali existir, seu sustento ficará comprometido.

Novamente, fica evidente a complexidade do termo sustentabilidade, bem como os encaminhamentos que ele suscita dada a sua característica multidisciplinar. Para ilustrar essa proposição, vamos mencionar a abordagem apresentada por Leff apud Leff (2008, p. 58), quando diz que:

Hoje o número de pobres é maior do que nunca antes na história da humanidade, e a pobreza extrema avassala mais de um bilhão de habitantes do planeta. Este estado de pobreza ampliada e generalizada não pode ser atribuído às taxas de fertilidade dos pobres, às suas

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formas irracionais de reprodução e à sua resistência a integrar-se ao desenvolvimento. Hoje, a pobreza é resultado de uma cadeia causal e de um círculo vicioso de desenvolvimento perverso-degradação ambiental-pobreza, induzido pelo caráter ecodestrutivo e excludente do sistema econômico dominante.

As informações tratadas até o momento demonstram que pensar em desenvolvimento sustentável implica considerar os aspectos que permitam a formatação de uma sociedade justa e igualitária.

Com essa visão voltada para a racionalidade social no ano 2000, 189 países se comprometeram com a Declaração do Milênio (veja o quadro 2), fato que demonstra a necessidade urgente de se alcançar a sustentabilidade social, ou seja, democratizar o acesso à informação e ao conhecimento como forma de promover a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, é fundamental a criação de mecanismos que possibilitem a participação e o controle social.

1 – erradicar a extrema pobreza e fome;

2 – atingir o ensino básico universal;

3 – promover a igualdade de gênero e a autonomia

das mulheres;

4 – reduzir a mortalidade infantil;

5 – melhorar a saúde materna; 6 – combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;

7 – garantir a sustentabilidade ambiental;

8 – estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento.

Quadro 2 - Metas da Declaração do Milênio (CAMARGO, 2010)

Isso somente será possível à medida que for incorporado um novo olhar para o sistema produtivo, por meio de propostas que contemplem o desenvolvimento social. Ele deve observar, em sua pauta, propostas que contemplem o aproveitamento total dos recursos como forma de fazer frente aos impactos gerados pelo desemprego. Tal premissa só será possível quando houver integração dos projetos produtivos das comunidades tradicionais, sejam elas rurais, indígenas ou urbanas. Os eixos norteadores dessa ação deverão ser a descentralização das tomadas de decisão a partir de uma política de incentivo a autogestão. (LEFF, 2008)

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Diante dessa explanação, a palavra de ordem se chama ‘planejamento’, ou seja, conhecer a realidade de cada localidade para propor estratégias de atuação com foco na resolução dos problemas.

Vale salientar que planejar o desenvolvimento social requer um olhar para os ecossistemas nos quais se está inserido, levando sempre em consideração o manejo das atividades produtivas

2.2.3 A sustentabilidade ecológica

Acreditamos que, com o avanço do conteúdo, você esteja percebendo que a sustentabilidade não é um tema que deva ser tratado apenas nas discussões teóricas ou restritas aos ambientalistas. Aliás, com os desdobramentos apresentados por essa temática, cada indivíduo deve ser um ambientalista nato, diante do propósito da conservação das espécies do planeta.

Diante disso, é importante ressaltar que falar em sustentabilidade significa pensar nela incluindo o ponto de vista ecológico. Para tal, é fundamental perceber como se processa a vida sob todos os aspectos, reconhecendo sua importância e o significado de cada ser, bem como nossa responsabilidade para a manutenção da mesma.

Para complementar seu entendimento da discussão que estamos iniciando, destacamos o posicionamento de Boff (2004, p. 133) ao mencionar a emergência do cuidado com o nosso único planeta:

Cuidado todo especial merece nosso planeta Terra. Temos unicamente ele para viver e morar. É um sistema de sistemas e superorganismo de complexo equilíbrio, urdido ao longo de milhões e milhões de anos. Por causa do assalto predador do processo industrialista dos últimos séculos este equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. Desde o começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais recursos naturais; somente a produção, baseada na exploração da natureza, cresceu mais de cem vezes. O agravamento deste quadro com a mundialização do acelerado processo produtivo faz aumentar a ameaça e, conseqüentemente, a necessidade de um cuidado especial com o futuro da Terra.

Será que estamos numa encruzilhada? O método atual de apropriação da natureza coloca em risco as condições físicas de vida no planeta? Perguntamos, ainda, como impor limites ao crescimento, atendendo todas as circunstâncias (energia, alimentos, moradia, água, etc.) que esta demanda implica?

Os questionamentos acima servem de alerta para a seguinte situação: estamos na era do conhecimento e o avanço tecnológico tem proporcionado a criação de mecanismos que contribuem para intervenções

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menos impactantes no ambiente, que são, em alguns momentos, negligenciadas em função dos custos de implantação ou manutenção, ou, até mesmo, por falha do sistema, quando as agências reguladoras não realizam a fiscalização necessária.

Isso significa reforçar o conteúdo visto no capítulo anterior dessa disciplina, pois toda a ação antrópica desencadeia um impacto no ambiente. A partir desse pressuposto, é necessário adotar medidas capazes de mitigá-lo. Para isso, é importante que, em cada intervenção, se verifique os cuidados necessários, bem como as formas de compensação para danos inevitáveis.

Assim, é preciso compreender os atributos e a definição de parâmetros de valoração dos impactos ambientais originados nas intervenções ambientais. Estes podem ser entendidos pelo disposto no quadro 3:

ATRIBUTOS PARÂMETROS DE VALORAÇÃO

• Caráter: expressa a alteração ou modificação gerada por uma ação.

Benéfico: quando for positivo Adverso: quando for negativo.

• Magnitude: extensão do impacto num dado componente do fator ambiental afetado.

Pequena, média, grande.

• Importância: o quanto cada impacto é relevante na sua relação de interferência com o meio ambiente ou quando comparado com outrosimpactos.

Não significativa, moderada, significativa.

• Duração: tempo de permanência do impacto depois da ação que o gerou

Curta, média, longa.

• Ordem: relação entre a ação e o impacto. Direta, indireta.

• Reversibilidade: delimita a possibilidade de retorno ou não ao estado original com o fim de determinada intervenção ambiental.

Reversível, irreversível.

• Temporalidade: interinidade da intervenção ambiental.

Temporário, cíclico, permanente.

• Escala: grandeza do impacto com relação à área de abrangência.

Local, regional.

Quadro 3 - Conceituação dos atributos e definição dos parâmetros de valoração dos impactos ambientais (TAVARES,   2008)

Estes elementos são indispensáveis para a definição de medidas mitigadoras e compensatórias, ou seja, de formas para atenuar e/ou minimizar os impactos da intervenção humana em determinado fator ambiental.

Um instrumento que deve ser levado em consideração no atendimento à valoração dos impactos ambientais é o documento Cuidado do planeta Terra (veja o quadro 4). Tal mecanismo é uma estratégia elaborada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNU-MA), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), cujos princípios fundamentam-se no cuidado. (BOFF, 2004).

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1 – Construir uma sociedade sustentável.

2 – Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos.

3 – Melhorar a qualidade da vida humana.

4 – Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra.

5 – Permanecer nos limites de capacidade de suporte do planeta Terra.

6 – Modificar atitudes e práticas pessoais.

7 – Permitir que as comunidades cuidem do seu próprio meio ambiente.

8 – Gerar uma estrutura nacional para integrar desenvolvimento e conservação.

9 – Construir uma aliança global.

Quadro 4 – Estratégias de cuidado com o planeta Terra (BOFF, 2004, p. 134)

Fica evidente que as estratégias estão postas à mesa, sendo preciso, portanto, compromisso político, uma tarefa extremamente complexa dada a necessidade de fixar limites em nível planetário. Incluir a política nesse diálogo traz a necessidade de pensar fator cultural de cada povo e sua influência em esfera global.

Esse pressuposto do cuidado sugere a adoção de estratégias de desenvolvimento, que priorizem os saberes tradicionais de manejo, ou seja, a valorização do local em detrimento do global. Surge, assim, a necessidade de valorização das identidades nacionais, por meio da afirmação de sua cultura e conhecimento acumulado ao longo da evolução humana.

Cabe ainda considerar, nesse aspecto, a sabedoria de povos tradicionais, como camponeses e indígenas, bem como o patrimônio cultural (material e imaterial) constituído na formação dos povos. Como exemplo de patrimônio material e imaterial, podemos citar a arquitetura e a gastronomia local, respectivamente.

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É válido destacar o raciocínio apresentado por Leff (2008, p.93), quando afirma que “a ética ambiental vincula a conservação da diversidade biológica do planeta ao respeito à heterogeneidade étnica e cultural da espécie humana.” Levantar essa questão implica no reconhecimento do espaço individual e coletivo e uma apropriação coerente do mesmo.

2.2.5 A sustentabilidade espacial

No decorrer deste capítulo trouxemos a discussão da sustentabilidade por meio dos princípios e dimensões que a cercam. Incluso neles, está à defesa da sustentabilidade espacial por aqueles que estudam e debatem o tema.

Falar em sustentabilidade espacial significa elencar fatos como concentração populacional, densidade demográfica, urbanização. A esse respeito Leff (2008, p. 340) diz que “o lugar é o locus das demandas e das reivindicações das pessoas pela degradação ambiental, assim como suas capacidades de reconstruir seus mundos de vida”.

Quando trazemos elementos que sugerem a reflexão sobre qualidade de vida para a discussão, temos a intenção de fazê-lo compreender o quanto a concentração populacional em torno das grandes cidades tem contribuído para o caos ambiental. Problemas como: poluição atmosférica, contaminação do lençol freático, consumo excessivo de água, geração de resíduos, precariedade dos assentamentos humanos, segregação socioespacial, entre outros, são mais acentuados nos centros urbanos.

Como forma de ilustrar esse discurso, apresentamos a verticalização de cidades litorâneas em função da especulação imobiliária, em alguns momentos, em outros, pelo déficit habitacional. Essas edificações têm ocasionado o surgimento de ilhas de calor, provocadas pelo aumento da temperatura.

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Além disso, podemos acrescentar ainda a ocorrência de sobrecarga nos sistemas de abastecimento de água e energia, bem como no esgotamento sanitário, como consequência da urbanização crescente nessas áreas, localizadas especialmente em regiões metropolitanas.

Imbuídas do desejo de melhores condições de vida, por meio do alcance do emprego ideal, as pessoas se inserem no contexto das grandes cidades, pois são elas que apresentam as melhores oportunidades. Entretanto, o que se observa são fatos como: o aumento da periferia nas regiões metropolitanas e o empobrecimento da população em função da oferta precária de trabalho.

Tratar dessas questões significa considerar que o processo de urbanização traz consigo a necessidade do planejamento para atender as demandas dos assentamentos humanos, que se instalam nas metrópoles e em seu entorno. “No mundo de hoje, cada vez mais pessoas se reúnem em áreas mais reduzidas, como se o hábitat humano minguasse. Isso permite experimentar, através do espaço, o fato da escassez.” (SANTOS, 2007, p. 80).

Dessa forma, é imprescindível mitigar os efeitos desse aglomerado populacional por meio de iniciativas que considerem aspectos como: possibilidades de fixação das comunidades tradicionais em suas regiões de origem, garantido a elas condições de sobrevivência; democratização do espaço para o assentamento humano, oferecendo condições necessárias de educação, moradia, mobilidade, transporte, saúde e segurança; tratamento adequado e técnico para abastecimento de água, energia, destinação dos resíduos sólidos, qualidade do ar, distribuição racional dos equipamentos públicos, acessibilidade e inúmeros outros, menos óbvios, porém não menos importantes.

Sendo assim, as informações apresentadas neste capítulo evidenciam a necessidade de pensar sobre a sustentabilidade de forma prática e em todas as dimensões da intervenção humana no ambiente.

Vale salientar que é imprescindível considerar os princípios norteadores para tal pressuposto: econômico, social, ecológico, cultural e espacial. Pensar e agir usando como fundamento essa premissa é uma maneira de garantir o alcance do desenvolvimento sustentável.

2.3 Aplicando a teoria na prática

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Diante da problemática apresentada, quais fatores nortearão essa produção audiovisual?

Para responder a esse questionamento, devem-se considerar os princípios e dimensões da sustentabilidade ambiental como fatores norteadores para a gravação do vídeo, requerendo dos profissionais envolvidos a adoção de uma consciência representada por ações práticas.

É sabido que toda intervenção no ambiente provoca impacto. Seguir o modelo apresentado no quadro 4, que trata do consumo de água virtual, ou seja, da quantidade de água utilizada direta ou indiretamente na produção de algo é uma ferramenta para mitigar o consumo de água na produção do vídeo

A equipe também pode aplicar esse modelo aos demais insumos utilizados no trabalho, como combustível, fitas de vídeo, bateria, entre outros. Os dados provenientes desse levantamento do consumo provocado podem ser utilizados para a realização de medidas mitigadoras do impacto causado.

O grupo atuante na execução da tarefa proposta deve considerar o seguinte discurso de Boff (2004, p. 95):

Pelo cuidado não vemos a natureza e tudo que nela existe como objetos. A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Experimentamos os seres como sujeitos, como valores, como símbolos que remetem a uma Realidade frontal. A natureza não é muda. Fala e evoca. Emite mensagens de grandeza, beleza, perplexidade e força. O ser humano pode escutar e interpretar esses sinais. Coloca-se ao pé das coisas, juntodelas e a elas sente-se unido. Não existe, co-existe com todos os outros. A relação não é de domínio sobre, mas de con-vivência. Não é pura intervenção, mas inter-ação e comunhão.

Dessa forma, todos os profissionais envolvidos no processo devem primar pela manutenção do equilíbrio, por meio de atitudes proativas de cuidado com a natureza, baseando-se na contabilidade ambiental que considera impacto x mitigação do impacto.

Cuidar das coisas implica ter intimidade, senti-las dentro, acolhê-las, respeitá-las, dar-lhes sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com, auscutar-lhes o ritmo e afinar-se com

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ele. A razão analítico-instrumental abre caminho para a razão cordial, o esprit de finesse, o espírito de delicadeza, o sentimento profundo. (BOFF, 2004, p. 96).

Sendo a atividade turística pautada no uso do patrimônio (natural e cultural) de uma localidade, além de incutir ações mitigadoras dos impactos causados na gravação do material publicitário, deve-se utilizá-lo para transmitir a mensagem da conservação dos recursos. Isso significa demonstrar, no clipe, atitudes estimulantes para a prática sustentável do turismo junto àqueles potenciais visitantes do destino.