capítulo 01 neuropsicologia hoje

10
Vivian Maria Andrade Flavia Heloua DOd Santos r y s constructos responsaveis pela fundamentacao te6rica da ncuropsico- logia foram em grande parte constituidos a partir da convergencia de varias ciencias, para citar algumas: medicina (neurologia, neuroanato- mia e neuroqufmica), fisiologia e psicologia. Os paragrafos introdut6rios sobre 0 assunto, no entant, relatam mais freqiientemente os acontecimentos que fizerem parte das origens da neuropsicologia vistos pela 6tica das disciplinas medicas, estes relatos sao menos comuns do ponto de vista da psi ologia. Uma sfntese dos fatos nos mostra que, ap6s ter transcendido as origens fi- losohcas utilizando-se do experimentalismo - no sentido de submeter ahrmacoes te6ricas a testes pela observacao sistematica e controlada dos fatos (D'Olivei a, 1984) - a psicologia foi reconhecida como ciencia. A partir deste perfodo e du- rante todo 0seculo XX, suasdemais areas de pesquisa tambern solidificaram-se, permitindo ue' esta conjuncao de fatores e de conceitos psicologicos se somas- sem aos de outras ciencias e se constitufsse a neuropsicologia. PSICOLOGIA EXPERIMENTAL A tentativa de aprimoramento e uso do mit odo experiment al vi nh a oc or re nd o de forma r~dim ntar desde os seculos XVII e XVIII pela fisica e pela qufrnica, respectivamente. Enquanto a psicoffsica de H. Weber e G. Fechner no seculo XIX serviu de base para que W. Wundt utilizasse 0mesmo rnetodo em experi- mentos, envolvendo a mente e as sensacoes, surgindo destes principios aplicados, o primeiro laborat6rio de psicologia - psicologia experimental -, na Alemanha de 1879 (Vaisserc, 1938). Vale ressaltar que a psicologia, alem de urn metodo, buscava clarificar tambem seu objeto de estudo, resvalando entre mente e com- portamento e sobre as questoes pertinentes as inlluencias da hereditariedade e do meio (inato x aprendido) sobre estes fenomenos 1 (Morgan, 1977). A formacao de Wundt perpassava pela filosofia, Iisiologia e pela medicina, mas fo ie le 0precursor da primeira escola de psicologia - 0estruturalumo - in - a mente-cor po ; 0 e 0 er np ir is mo de J. Locke; 0 du ali smo oa rte sia uo mente-alma - marcaram. [o rt emente as questo e prirnord ia is da psi cologia eperm anecem subjacentes nos dias de .hoje .

Upload: catarina-costa

Post on 07-Apr-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 1/10

Vivian Maria Andrade

Flavia Heloua DOd Santos

s constructos responsaveis pela fundamentacao te6rica da ncuropsico-

logia foram em grande parte constituidos a partir da convergencia de

varias ciencias, para citar algumas: medicina (neurologia, neuroanato-

mia e neuroqufmica), fisiologia e psicologia. Os paragrafos introdut6rios sobre 0

assunto, no entanto, relatam mais freqiientemente os acontecimentos que fizerem

parte das origens da neuropsicologia vistos pela 6tica das disciplinas medicas,

estes relatos sao menos comuns do ponto de vista da psicologia.

Uma sfntese dos fatos nos mostra que, ap6s ter transcendido as origens fi-

losohcas utilizando-se do experimentalismo - no sentido de submeter ahrmacoes

te6ricas a testes pela observacao sistematica e controlada dos fatos (D'Oliveira,

1984) - a psicologia foi reconhecida como ciencia. A partir deste perfodo e du-

rante todo 0seculo XX, suasdemais areas de pesquisa tambern solidificaram-se,

permitindo que' esta conjuncao de fatores e de conceitos psicologicos se somas-

sem aos de outras ciencias e se constitufsse a neuropsicologia.

PSICOLOGIA EXPERIMENTAL

A tentativa de aprimoramento e uso do mitodo experimental vinha ocorrendo

de forma r~dimentar desde os seculos XVII e XVIII pela fisica e pela qufrnica,

respectivamente. Enquanto a psicoffsica de H. Weber e G. Fechner no seculo

XIX serviu de base para que W. Wundt utilizasse 0mesmo rnetodo em experi-

mentos, envolvendo a mente e as sensacoes, surgindo destes principios aplicados,

o primeiro laborat6rio de psicologia - psicologia experimental -, na Alemanha

de 1879 (Vaisserc, 1938). Vale ressaltar que a psicologia, alem de urn metodo,

buscava clarificar tambem seu objeto de estudo, resvalando entre mente e com-

portamento e sobre as questoes pertinentes as inlluencias da hereditariedade e

do meio (inato x aprendido) sobre estes fenomenos1 (Morgan, 1977).

A formacao de Wundt perpassava pela filosofia, Iisiologia e pela medicina,

mas foiele 0precursor da primeira escola de psicologia - 0estruturalumo - in-

a mente-cor po ; 0 e 0

ernpirismo de J. Locke; 0 dualismo oartesiauo mente-alma - marcaram. [ortemente as questoes prirnordiais da

psicologia e permanecem subjacentes nos dias de .hoje.

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 2/10

teressada em investigar a mente, utilizando para este hm, estudos controlados e

o metodo de analise introspectiva, semelhante ao experimental - a partir deste

marco, estava tracado urn caminho novo para a psicologia'' (Vaissiere, 1938).

Nos Estados Unidos do infcio do seculo XX surgiram outras correntes

de pensamento, entre elas ofuncionaiumo e 0comportamentalismo.iNe: 6tica fun-

cionalista de W. James et al., 0objeto de estudo ideal seria formado por mente

e comportamento (como funcionam, se relacionam e favorecem a adaptacao do

individuo ao meio). Mas, na visao coinportamentalista de J. Watson e demais

colaboradores, s6 0 comportamento observavel seria adequado como objeto

de investigacao cientihca. 0uso do metodo experimental - caracterizado como

rigoroso, capaz de mensuracao e descricao clara e precisa, de maneira que os ex-

perimentos pudessem ser replicados e os fenomenos a serem estudados pudessem

ser manipulados e controlados pelo experimentador - passou a ser utilizado nes-

tes trabalhos. A psicologia, entao, se estruturou como ciencia detinitivamente.

Estruturalistae e funcionalistas, interessados ainda na diade mente e com-

portamento, mas utilizando-se do metodo experimental em suas pesquisas, inspi-

raram 0surgimento da psicoloqia coqnttioa, responsavel por estudos relacionados

it percepcao, intelecto, memoria, originando outra forte vertente da psicologia

experimental, 0 coqnitivismo (Borkowski & Anderson, 1977).

As premissas comportamentais de J. Watson, B. Skinner, dentre outros

famosos DeiJavwridta, j , nao permitiam inserir em suas teorias estruturas ou pro-

cessos intern os para explicar 0comportamento. Pelo contrario, enfatizavam as

relacoes estabelecidas com 0meio ambiente e a utilizacao do paradigma S-R

(estfrnulo-resposta - importante para a' cxplicacaoxle uma serie de processos

psicologicos). Estas lacunas deixavam espa90 para outras ideias. As teorias pas-

saram a levar em conta a mediacao cerebral para 0 comportamento, bern como

a existencia rle celulas e hbras nervosas interagindo entre si e formando redes

complexas. Embora nesta epoca a compreensao destes fenomenos fosse dificil

e limitada, estes grupos mostravam-se cada vez mais engajados na busca de

respostas. Era0

caso dos psicologos que encaminharam suas pesquisas para apsicologia da forma, GedtaLt , salientando as leis e principios perceptuais; daqueles

que incrementaram a p e ic ol oq i a f itw ! .o g ic a3; e dos que passaram a utilizar metaforas

e rnodelos de caixas (6oxoLogia) para explicar 0funcionamento cognitive, solidili-

cando outras areas da psicoloqu: coqnitioa.

o funcionamento do computador e 0 uso de terminologia relacionada it

informatica (processamento de informacao, codificacao, decoditicacao, entre ou-

tros) levaram ao usa de analogias para a compreensao do cerebro, Modelos de

atencao e de memoria de curto prazo, respectivamente apresentados por Broadbent

: i""-"N~"-~ -~'qi i~'~:~~',~~---~~ t~:'~-~~~~t~ ~' ' ''~I~'~i~'--t~b~~ ' '' '' 't~~;-~~~ ~-' 'p~p'6~~'" ' '~' ' ;~;'p'~~ia';;t~~---\Vti"~~:b-~'~:g--J~;;---~-fJ;'~~--G~~-t~it

de Wer-theimer', K.5hler e Koftka, elas surgiram em reas;ao ao estrururalismo - utilizavam 0mctodo introspec-

tivo em seus experimentos. corf 0objetivo de analise de fenomenos mentais. No caso cia Gestalt, estavam mais

proximos do metoda experimental, Irente a invcstigacao Hsica cia percepcao (Morgan. 1977).

4JH~bb(1.949~~g;riua e~I;rt i~-~T ~-~f~""'~I~~ ~--~"~~ ~~l '~'~~';--~'~"~~~ f~-~'~~T6 gf~;; '~"'' '~'~'b) '~~~:~t~'~'- 'i ' '' '' ;p ';~;d~_~'~'g~'; ; ;.. .·~"""q~;·~i~originaram os conceitos de assembleiae de celulas e de sequencia de Eases.

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 3/10

(1958) e Atkinson & Shiffrin (1968), exemplificam as tendencias mencionadas.

A psicologia cognitiva passou a ser definida como urn ramo da psicologia que

busca explicar cientificamente0

processamento da atencao, da memoria, dasIuncoes vfsuo-motoras, da linguagem, 0pensamento, entre outras Iuncoes com-

plexas. Nesta area de pesquisa encontravam-se, alem dos psicologos cognitivos,

os cientistas cognitivos - dispostos a trabalhar conceitos matematicos, logicos e

estatisticos - ; e urn terceiro grupo - interessados em ocupar-se da localizacao do

substrato anat6mico destas funcoes cognitivas, a partir do desempenho observado

em individuos acometidos por danos cerebrais - os neuropsicologos,

, NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIENCIAS

Embora oriundos das mesmas rafzes Iilosoficas, ate por volta de 1970,

psicologos cognitivistas nao tinha ainda urn entrosamento com a neuropsicologia.

Eles continuavam utilizando modelos computacionais para explicar 0processa-

mento de inlormacoes cognitivas (incluindo nesta designacao tarnbern percepcao

e controle motor), embora com premente necessidade de ampliar sua metodo-

lagia em virtude do tempo cada vez maior para alcancar novas respostas. Alem

disso, estavam expostos tanto ao reconhecimento academico pelo corpo teorico

construfdo, quanto as crfticas por causa da "boxologia" e ausencia de urn mo-

delo humano. Entao, nao demorou para que a psicologia cognitiva Fosse levada

a unir seu modele computacional a investigacao da organizacao funcional das

habilidades cognitivas, por meio de elaboracao de testes em indivfduos normais,

no entanto, sem urn carater clfnico.

Talvez por ser 0resultado da convergcncia de varias ciencias, a neuropsi-

cologia tardou em oferecer Iormacao direcionada aos profissionais interessados,

bern como em reunir e organizar urn corpo teorico especfhco", Alias, a cons-

trucao de conceitos imprescindiveis a pratica clfnica foi enriquecida a partir do

desenvolvimento de pesquisas cientfficas. Por exernplo: a) agregando questoes

relacionadas as dissociacoes observadas entre pacientes com lesoes cerebrais

distintas; e 6) a partir da construcao de testes neuropsicologicos voltados a inves-

tigacao de pacientes com acometimentos rmijtiplos ou de pessoas provenientes

de diferentes culturas. Seguindo 0pressuposto de que processos psicologicos po-

dern ser investigados por exames nao-invasivos - testes, inventarios, questionarios

(procedimentos padronizados e capazes de descrever, com certa fidedignidade

como capacidades e habilidades mentais se-comportam apos algum tipo de [esao

cerebral), ou mesmo assessorando estudos comparativos transculturais.

Por outro lado, ao longo dos anos, a neuropsicologia esteve estruturada

sobre 0estudo de casos unicos (Leborgne de Broca; HM de Scoville e Milner;

KF de Warrington e Shalice), dependente de uma observacao cuidadosa do

comportamento exibido pelo paciente, e, muitas vezes, guiada pelas estruturas

provenientcs da psicologia cognitiva.

cursos

Iogista) , Benton (psicologo clfnico) e Geschwind (neurologista),5

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 4/10

I

I

Nos anos 80, tornou-se insustentavei que neuropsiclogia e psicologia

cognitiva se mantivessem distantes ealheias. 0encontro entre as duas areasproporcionou que se abrisse urn canal de comunicacao, como decorrencia sur-

giram eventos, publicacoes e' pesquisas em conjunto. Desde entao, a parceria

denominada Neuropsicoloqia Cognitiva tern incrementado a demanda de producoes

a partir das trocas de inforrnacoes, material te6rico e experiencia clfnica, Sem

perder 0pertil tradicionaL a neuropsicologia mantem-se estudando a localizacao

e organizacao funcionaL bern como a ac;:ao dinamica de seus componentes. A

psicologia cognitiva, mais do que 0 nfvel de analise teorica, ganhou maior clareza

e agilidade na comprovacao de suas hip6teses.

A formacao de grupos interdisciplinares parece ser uma tendencia viavel

para a ciencia do novo milenio, Por exemplo, as neurociencias englobam: 0

estudo da neuroanatomia; neurofisiologia; neuroqufmica e as ciencias do com-

portamento (psicofisica, psicologia cognitiva, antropologia, e lingufstica). Estas

areas de estudo tiveram urn perfodo de isolamento maior entre si, ate por volta

de 1970 (Kandel, Schwartz, .Iessel, 2000). Atualmente, poucas mudancas ocor-

reram em term os de objetos de estudo, contudo, os neurocientistas tern atuado

de forma mais sincronizada e harmoniosa, "monitorando" os resultados entre as

areas. Esta mudanca de atitude tern gerado maior rapidez e aumento do conhe-

cimento sobre 0cerebro e do controle que ele exerce sobre 0comportamento

(Beatty, 1995).

No livro Neurop<lychoLogy the neural bcuu of cognitive function (1992) foram

discutidos temas acerca das func;:oes cognitivas e suas desordens, sobre plastici-

dade neuronal, os avances da bioqufrnica, 0 desenvolvimento de novas drogas;

a ac;:aode neurotransmissores, alern de tecnicas de neuroimagem. Esta estrutu-

racao ilustra que a neuropsicologia tern colaborado amplamente para a evolucao

efeti,:,a das neurociencias, na medida em que instrumentaliza outras areas de

investigacao.

NEUROPSICOLOGIA HOJE

o livro Neuropsicoloqia Hoje buscou resgatar aspectos hist6ricos, te6ricos

e praticos acerca da neuropsicologia, tendo como uma das principais preocupa-

c;:oesapresentar estudos realizados por prohssionais que representem cerrtros de

excelencia voltados para 0avanco das neurociencias, no Brasil e no exterior.

A publicacao desta obra nao poderia ocorrer em momento mais oportuno,

pois culmina com urn grande marco da neuropsicologia brasileira?' A Resolucao

n° 002/2004 do Conselho Federal de -Psicologia. Esta _I'~_solE~Q__[~gu_@m~nta

a_praticasJ:ct_ ne~ro£sicologia - d_iil..gnQ~_tico,acompahhamefito,·r.e.i!_~i1it.'!.c;:iio_e

p~;q;~~':'_OITl()e.§_R~~i~li~~cl~_~lTI_p-sic;QlQgia_e.r.e..GQJ1_h~ce,traves deregistre-e

tiful~ao, .; pr~fission~~ ~s'p_e(Cia1izados~ne_ste_s_£''LIllPOsde-~t~9ii~.

-------.-c;;~-~)bT~ti;~-de--~essaltar semelhancas e diferenc;:as entre areas ahns,

aspectos te6ricos e hist6ricos da neuropsicologia sao tratados nos capitulos: "As-

6

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 5/10

Mesmo tendo seu t~il;balho prejudicado pelas parcas possibilidades da

epoca, 0 psic6logo Karl Spencer Lashley? passou muitos anos bus cando locali-

zar respostas motoras especfticas, a partir de lesfies no cerebro de animais, De

maneira frustrante, as centenas de experimentos nao foramcapazes de eviden-

ciar a existencia de locais especfhcos para mem6rias especfficas (por exemplo,

mem6ria para habitos) ..No entanto, seus esforcos estimularam e abriram espa<;o

para ·~l.lt:rospesquisadores com objetivos similares: 0 estudo da neuroanatomia

da mem6ria, 0 aperfeicoarnento dos procedimentos e tecnicas em animais de

laborat6rio, entre outros. Menos de uma decada se passou ate que 0 estudo de

caso do paciente HM - hm de 1950 - revelasse muito sobre 0modo como esta

fun<;ao depende do funcionamento ehciente de determinadas estruturas, tor-

nando dhiP~;np3? essencial para a compreensao do funcionamento de algunstipos de mem6ria. Os esforcos de neurocirurgices como Penfield" e Scoville e

da psic6loga Brenda Milner resultaram em urn novo marco para a evolucao dos

conceitos cerebrais. Os capftulos "Memoria e Amnesia" e "Epilepsia" tratam

exclusivamente destes assuntos, fatos historicos, alteracoes e tipos de memoria,

bern como trazem aspectos de neuroimagem e avaliacao neuropsicologica do

paciente epileptico,

As modihcacoes da mem6ria de acordo com a idade do individuo tambern

sao amplamente estudadas nos seguintes capitulos: "Memoria operacional e es-

Unguagem

pectos instrumentais e metodologicos da avaliaeao psicologica" e no presente

capitulo "Neuropsicologia hoje". 0 livro dedica capitulos para algumas funcoes

cognitivas especfficas:

Muito tempo se passou entre os relatos sobre a afasia na Grecia Antiga

e a compreensao de como se explicam e comprovam que determinadas areas

cerebrais estao de fato relacionadas com a fala. Alguns pesquisadores tiveram

participacfio decisiva nesse processo - medicos franceses e alernaes, tais como

Bouillaud, Marc Dax, Paul Broca e Carl Wernicke. Envolvidos tambern na

conceituacao da afasia, classificacao em diferentes tipos e no estudo das regioes

cerebrais relacionadas a linguagem e seus disturbios, 0 capitulo "Neuropsicolo-

gia da Linguagem" traz outros aspectos sobre esse assunto, alem do historico,

aborda achados da neuroimagem, quadro com principais baterias de testes para

avahacao desta fun<;ao e temas alins.

Memoria

uma

Fundamental para a paicologia cogrritiva (Eysenck & Keane, 1994; Sternberg, 2000 ).

G--.p~nfi~Id:-~;~~--d~ca(r~-S--d~---40--~--go~-·-est~n~;f~~---~1~t;~~~~~~'t 'e-cr{~~~;~-~---i~~~~---d-~--~6-rt~pre-cirurgicos na teutativa de localizar 0 foco epileptico. Seu trabalho foi util para mapear as areas motora e

sensorial,' e para demonsn-ar que certas memories podem ser pcrmanentes.7

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 6/10

, Intelecto

trategias de memoria na infancia," que aborda conceitos do desenvolvimento

humano, estruturas cerebrais envolvidas, testes para avaliar cada componente damem6ria operacional, e ainda as estrategias de memorizacao utilizadas pela crian-

<;;a,conforme sua idade: e "Envelhecimento e memoria", redigido de forma clara

e ilustrada, corn exemplos do cotidiano, discute 0que e esperado corn 0passar

dos anos ern relacao as funcoes mnemonicas,

As teoriase tecnicas provenientes da escola russa e seus expressivos inter-

locutores, tais como Vygotsky, Luria e seus colaboradores, tambem se mostraram--- . - - - ----

undamentais para a consolida_<;;1Loa n~I.9psicolog~n:l.ei_o_cientiflco.--Passa-

ramose anosatc que a avaliacao psicometrica de Cartel, Spearman, entre outros

(~seculo XIX e iniciodo ~~me.nte)_J dessem lugar a uma

avaliacao que a50rdasse tambern os aspectos qualitativos (Pasquali, 1999), De

modo mais sofisticado do que havia proposto a psicologia cognitiva, a avaliacao

realizada nos moldes de Luria privilegiou a iniluencia dos fatores socioculturais

sobre 0 desempenho e a analise dos erros; e desta maneira favoreceu 0 estudo e a

compreensao dos mecanismos e estrategias envolvidas na execucao 'da resposta, A

literatura proveniente dos achados deste neuropsicologo possibilitou ainda 0 reh-

namento da nocao de red«, "0 cerebro agindo ern concerto, dinamicamente",em

contraposicao as ideias de urn localizacionismo mai~-- ---

As unidades funcionais de Luria sao abordadas no capitulo: "Irrteli-

gencia: umconceito amplo", 0 qual retoma os mais variados conceitos de

inteligencia, por exemplo, de Piaget, Gardner, Wechsler; discute de forma crf-

tica 0 conceito de Quociente Intelectual (QI) e algumas baterias que avaliam

intcligencia. 0capitulo "Bases estruturais do sistema nervoso" cita tambern

a organizacao cortical proposta por Luria; mas trata especificamente da orga-

nizacao e das porcoes que constituern .o sistema nervoso de forma didatica e

ricamente ilustrada.

o capitulo "Atencao" traz urn visao crftica dos multiples conceitos, teorias

e modelos relacionados a esta Iuncao. No capitulo "Neurobiologia da atencao

visual", testes comportamentais e os paradigmas mais utilizados ern estudos corn

roedores, primatas e humanos sao discutidos;e, ainda, a interacao funcional com

outras habilidades cognitivas como a mem6ria operacional.

Atualmente muitos pesquisadores tern se interessado pela investigacao do

cortex pre-frontal, 0 qual estaria relacionado a habilidades como planejamento,

solucao de problemas, memoria operacional, entre outras, 0capitulo "Funcoes

Executivas" descreve a organizacao dos lobos frontais, ressaltando as sindromes

e prejufzos decorrentes de les6es em regi6es epecfficas, Conceitos teoricos, aspectos

comportamentais e neuroqufrnicos sao mencionados, bern como avaliacao e rea-

bilitacao neuropsicologica em sindromes disexecutivas,

8

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 7/10

NEUROIMAGEM

o merito como precursor da neuropsicologia poderia ser reclamado por

vririos cientistas desde os primordios do localizacionismo, ainda na Grecia. Este

conjunto de ideias, que teve em Franz Josef Gall urn de seus principais expoen-

tes - entre os seculos XVIII e XIX -, ainda hoje tern seus adeptos, embora mais

flexiveis e mais bern equipados.

A localizacao de regioes cerebrais e objeto de muitos estudos de neuroimagem,

utilizando tecnicas c~mo Tomografia por Emissao de Positron (PET scan) e

Imagem por Ressonancia Magnetica funcional (IRMf), as quais possuem magni-

tude de resolucao espacial suhcientemente alta para visualizar acao de massa

relacionada -a-fLm<;ao cerebral. Mas ainda nao possuem resolucao temporal e

ofere cern apenas limitada inlormacao quanta a dinamica da atividade cortical.

Por esta razao, alguns estudos complementam os dados de neuroimagem fun-

cional com outras tecnicas, por exemplo, Potencial Evocado e Eletrofisiologia

Cognitiva (Clark et al., 2001).

Em urn estudo classico com PET scan, Paulesu et al., (1993) mediram 0

fluxo sangufneo cerebral em voluntaries saudaveis em duas tarefas de ativacao e

suas respectivas 'condicoes-controle. Na primeira tarefa, os participantes foram

instrufdos a estudar os estfrnulos silenciosamente, apos cada sequencia, a con-

soante-alvo - letra B - aparecia e os participantes julgavam se a mesma estavapresente na sequencia prcviamcnte apresentada ou nao, A condicao controle

seguiu 0mesmo procedimento, mas com letras coreanas. Na segunda tarefa, era

solicitado aos participantes 0 julgamento de rimas de consoantes em relacao a

consoante-alvo. A condicao-controlc era a similaridade de formas entre letras

coreanas e a letra-alvo coreana. Os resultados deste estudo demonstraram pela

primeira vez a neuroanatomia do componente verbal da memoria operacional em

voluntaries sadios, isto e, como armazenador fonologico, 0giro supramarginal

esquerdo (lobo parietal), enquanto 0ensaio subvocal foi associado com a area

de Broca (lobo frontal).

~ Os neuropsicologos tern contribuido para avances no uso das .tecnicas

de neuroimagem funcional, desenvolvendo~ pel~~~

cognitivas como memoria, percepcao e controle inibitorio, entre outras, sao

investigadas. /

Uma vez que a { R i r r e uma tecnica de mapeamento cerebral nao-invasiva,

tern se mostrado aprop'nad'a ate para 0uso em criancas. Guardadas as restricoes

eticas e 0 controladas as variaveis comportamentais, a aplicacao da IRMf em

amostras pediatricas, recentemente, vern sendo empregada para localizacao de

func;;oes criticas (Logan, 1999), avaliacao de correlatos neurais da plasticidade

cerebral (Hertz-Pannier et al., 2000), bern como para examinar a relacao entre

funcao e estrutura no decorrer do desenvolvimento cognitivo cerebral (Nelson

et al., 2000).

9

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 8/10

Resultados mais aprofundados a partir da neuroimagem funcional foram

largamente discutida no capitulo "Reducao da assimetria hemisfer ica em adul-tos mais velhos: 0modelo HAROLD", neste capitulo uma serie de teorias fo-

ram abordadas com 0intuito de compreender as mudancas na atividade cerebral

decorrentes da idade.

~ A neuropsicologia tern como preocupacao constante se especializar cada

vez mais para atender as necessidades do organismo, mesmo mediante as altera-

<;oesoriginadas a partir do processo evolutivo.

DESORDENS NEUROPSICOL6GICAS INFANTIS

o estudo da crianca exige forma<;ao especial, levando-se em conta os pro-

cessos de crescimento e maturacao cerebral, 0desenvolvimento neuropsicomotor,

bern como as ~ariaveis criticas que determinam e interferem nestas habilidades,

tais como as ambientais. Portanto, abrange a cornprcensao do desenvolvimento

normal e a intervericao nas funcoes cognitivas alteradas. Assuntos referentes a

neuropsicologia infantil foram tratados por especialistas nos capftulos: "Neu-

ropsicologia do desenvolvimento", "Memoria operacional e estrategias de

memoria na infancia", e "Avaliacao neuropsicologica infantil".

DESORDENS NEUROPSICOL6GICAS EM ADULTOS

A adultez representa urn periodo em que as habilidades e capacidades

gerais do individuo devem estar mais definidas do que no perfodo infanto-ju-

venil. Desordens neuropsicologicas em adultos sao consideradas anormalidades

especfticas do comportamento apresentadas pelo individuo, anteriormente sadio,

enquanto um resultado de uma disfuncao (de natureza neuroanatomica, neu-

rohsiologica ou neuroquimica). Este assunto foi amplamente abordado por urn

conjunto de capitulos, os quais trataram. sobre a avaliacao neuropsicologica de

doencas especificas, tais como a "Epilepsia", "Aspectos cognitivos da esclerose

multipla", "Avaliacao neuropsicologica em traumatismo craniencefalico" e

"Doenca de Parkinson: aspectos neuropsicologicos. Alteracoes cognitivas em

consequencia do abuso de substancias foram abordadas no capitulo "Aspectos

neuropaicologicos associados ao uso de cocaina".

DESORDENS NEUROPSICOL6GICAS EM IDOSOS

Com 0 aumento da expectativa de vida das populacoes, 0 interesse e 0

nurnero de estudos geriatricos tern aumentado. 0 envelhecimento e urn processo

natural e incvitavel do ser vivo. Uma serie de fatores diminui a adaptacao dos

diferentes orgaos e como.conseqiiencia ocorrem modihcacoes mortologicas, fisio-

logicas e bioquimicas em uma casG.~t~.9g.>~yentosCOl hecidos eoutros ainda nao

B i b l i Q t e c a "Prof. Jose Sto ropeli "

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 9/10

desvendados pela ciencia. ~_!l_e\:l~()jlSi~~2giaestuda a:::~fl_1:l:~Il~i<1cd.e-.st!}S_R[~£ess_Qs

s~~o sist~I!l~_~~~oso -~r~1I~ljS'q.9Q~i:.:fuR~lQllais,,,@-teE1corp9 I?~valiill:___

ot';~;:~~en:fQ:C-.og~itiv~d~_·~~ deterrninaro tipo e 0g;;u d-~--incapacidade

funci;~~l (~e houver)--;;-~tabelecer urn programa de reabilitacao. Para tanto, os

capitulos "Envelhecimento e memoria"; "Avaliacao e reabilitacao rreuropaico-

logica no idoso"e "Reducao da assimetria hemisferica em adultos mais yew

lhos: 0modelo HAROLD" discutern 0funcionarnento cerebral na senescencia,

suas alteracoes e rnodelos te6ricos.

REABILlTA<;AO COGNITIVA

A reabilitacao neuropsicol6gica objetiva a adaptac,;ao do individuo ao seu

3m.hie.u.te. Tern urn carater "artesanal", no sentido de que cada paciente tern

prejuizos cognitivos especfficos e dernandas ambientais pr6prias, por exernplo re-

lacionadas a sua idade, prohssao, tipo de acornetirnento cerebral, vinculos e res-

ponsabilidades sociais. Modelos e estrategias para prograrn<)-s de (rej habilitacao

de Iuncoes cognitivas sao apresentados nos capitulos: "Reabifitacao cognitiva

pediatnica", "Reabi'litacao em lesao cerebral adquirida", "Reabilitacaor urn

modelo de atendimento interdisciplinar em esclerose rmilripla", e "Avaliacao

neuropsicologica e reabilitacao cognitiva no idoso".

o conjunto de inforrnacoes contidas em Neuropsicologia Hoje e atua-

lizado, porern, intencionalrnente reduzido, urna vez que nao tern a pretensao

de abranger todos os temas da area. Urn dos intuitos deste livro e incentivar a

investigacao cientihca, bern como contribuir para a Iormacao e a pratica clinica

de protissionais em neuropsicologia,. os quais escreverao futuros capitulos nas

Neurociencias.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

1. PARKIN AJ (1996) - Explorations in Cognitive Neuropsychology. B la ck we ll P u 6 !u h m .

2. ATKINSON RC & SHIFFRIN RM. The control ofshort-term memory. ScienceAmerican.

1971: 225:82-90.

3. BEATTY J (1995) - Principles of behavioral neuroscience. Brown e3 Benchmark.

4. BROADBENT DE (1957) - Amechanical model of human attention and immediate me-

mory. P.1ychologicaLReview, 64,205-15

5. CLARK D., et aL , (2001) - Cortical network dynamics during verbal working memory

function. I nt erna t iona L J ou rna l 0 / PdychophYdiology 42, 161-176.

6. CODE, C: WALLESCH, CW, JOANETTE, Y and LECOURS, RA (1996) - Pdychology

Pres».

7. D'OLIVElRA, M.M.H. (1984) - Ciencia e pesquisa emPsicologiauma introducao. Editora

Pedag6gica e Universitaria LTDA.

11

8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE

http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 10/10

12

8. EYSENCK, MW & KEANE MT. (1994) - Psicologia Cognitiva. Editora Arte.1 Me2u{ld.

9. FARAH, MJ & FEINBERG, TE (1997) - Behavioral Neurology and neuropsychology.M e

Graw-HiLL.10. Fidia Research Foundation (1992) - Neuropsychology theneural basis ofcognitive function.

Costa, E & Brocklehurst, K. - Preface - T hi em e M ed ic aL P u6 !u he rd .

11. HEBB DO (1949) - The organization of the behavior. NewYork: Wiley.

12. HERTZ-PANNIER L, CHIRON C, JAMBAQUE I, RENAUX-KIEFFER V, VAN DE

MOORTELE PF, DELALANDE 0, FOHLEN M, BRUNELLE F and LE BIHAN D

(2000) Late plasticity for language in child with non-dominant hemisphere. The pre- and

post-surgery fMRI study.

13. LOGAN WJ (1999) - Functional magnetic resonance imaging in children Seminars in

Pediatric Neurology 6, 78-86.

14. KANDEL E, SCHWARTZ JH and JESS ELL TM (2000) - Principles of neural science.

M e G ra w- H iL L.

15. MORGAN, CT (1977) - Introducao a Psicologia. McGraw - Hill.

16. NELSON CA, MONK CS, LIN J, CARVER W, THOMAS KM and TRUWIT CL

(2000) - Functional neuroanatomy of spatial working memory in children. Deoelopmentai

PdychoLogy 36 , 109-116.

17. PASQUALI L (1999) - Instrumentos Psicologicos:Manal Pratico deElaboracao. LabPAMI

IBAPP.

18. PAULESU E, FRITH CD, FRACKOWIAK RSJ (1993) - The neural correlates ofverbal

component ofworking memory. Nature 362,342-344.

19. STRNBERG RJ (2000) - PsicologiaCognitiva. Editora ArtesMedicas.

20. VAISSIERE J (1938) - Elementos de Psicologia Experimental. Editora Globo.