Download - capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 1/10
Vivian Maria Andrade
Flavia Heloua DOd Santos
s constructos responsaveis pela fundamentacao te6rica da ncuropsico-
logia foram em grande parte constituidos a partir da convergencia de
varias ciencias, para citar algumas: medicina (neurologia, neuroanato-
mia e neuroqufmica), fisiologia e psicologia. Os paragrafos introdut6rios sobre 0
assunto, no entanto, relatam mais freqiientemente os acontecimentos que fizerem
parte das origens da neuropsicologia vistos pela 6tica das disciplinas medicas,
estes relatos sao menos comuns do ponto de vista da psicologia.
Uma sfntese dos fatos nos mostra que, ap6s ter transcendido as origens fi-
losohcas utilizando-se do experimentalismo - no sentido de submeter ahrmacoes
te6ricas a testes pela observacao sistematica e controlada dos fatos (D'Oliveira,
1984) - a psicologia foi reconhecida como ciencia. A partir deste perfodo e du-
rante todo 0seculo XX, suasdemais areas de pesquisa tambern solidificaram-se,
permitindo que' esta conjuncao de fatores e de conceitos psicologicos se somas-
sem aos de outras ciencias e se constitufsse a neuropsicologia.
PSICOLOGIA EXPERIMENTAL
A tentativa de aprimoramento e uso do mitodo experimental vinha ocorrendo
de forma r~dimentar desde os seculos XVII e XVIII pela fisica e pela qufrnica,
respectivamente. Enquanto a psicoffsica de H. Weber e G. Fechner no seculo
XIX serviu de base para que W. Wundt utilizasse 0mesmo rnetodo em experi-
mentos, envolvendo a mente e as sensacoes, surgindo destes principios aplicados,
o primeiro laborat6rio de psicologia - psicologia experimental -, na Alemanha
de 1879 (Vaisserc, 1938). Vale ressaltar que a psicologia, alem de urn metodo,
buscava clarificar tambem seu objeto de estudo, resvalando entre mente e com-
portamento e sobre as questoes pertinentes as inlluencias da hereditariedade e
do meio (inato x aprendido) sobre estes fenomenos1 (Morgan, 1977).
A formacao de Wundt perpassava pela filosofia, Iisiologia e pela medicina,
mas foiele 0precursor da primeira escola de psicologia - 0estruturalumo - in-
a mente-cor po ; 0 e 0
ernpirismo de J. Locke; 0 dualismo oartesiauo mente-alma - marcaram. [ortemente as questoes prirnordiais da
psicologia e permanecem subjacentes nos dias de .hoje.
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 2/10
teressada em investigar a mente, utilizando para este hm, estudos controlados e
o metodo de analise introspectiva, semelhante ao experimental - a partir deste
marco, estava tracado urn caminho novo para a psicologia'' (Vaissiere, 1938).
Nos Estados Unidos do infcio do seculo XX surgiram outras correntes
de pensamento, entre elas ofuncionaiumo e 0comportamentalismo.iNe: 6tica fun-
cionalista de W. James et al., 0objeto de estudo ideal seria formado por mente
e comportamento (como funcionam, se relacionam e favorecem a adaptacao do
individuo ao meio). Mas, na visao coinportamentalista de J. Watson e demais
colaboradores, s6 0 comportamento observavel seria adequado como objeto
de investigacao cientihca. 0uso do metodo experimental - caracterizado como
rigoroso, capaz de mensuracao e descricao clara e precisa, de maneira que os ex-
perimentos pudessem ser replicados e os fenomenos a serem estudados pudessem
ser manipulados e controlados pelo experimentador - passou a ser utilizado nes-
tes trabalhos. A psicologia, entao, se estruturou como ciencia detinitivamente.
Estruturalistae e funcionalistas, interessados ainda na diade mente e com-
portamento, mas utilizando-se do metodo experimental em suas pesquisas, inspi-
raram 0surgimento da psicoloqia coqnttioa, responsavel por estudos relacionados
it percepcao, intelecto, memoria, originando outra forte vertente da psicologia
experimental, 0 coqnitivismo (Borkowski & Anderson, 1977).
As premissas comportamentais de J. Watson, B. Skinner, dentre outros
famosos DeiJavwridta, j , nao permitiam inserir em suas teorias estruturas ou pro-
cessos intern os para explicar 0comportamento. Pelo contrario, enfatizavam as
relacoes estabelecidas com 0meio ambiente e a utilizacao do paradigma S-R
(estfrnulo-resposta - importante para a' cxplicacaoxle uma serie de processos
psicologicos). Estas lacunas deixavam espa90 para outras ideias. As teorias pas-
saram a levar em conta a mediacao cerebral para 0 comportamento, bern como
a existencia rle celulas e hbras nervosas interagindo entre si e formando redes
complexas. Embora nesta epoca a compreensao destes fenomenos fosse dificil
e limitada, estes grupos mostravam-se cada vez mais engajados na busca de
respostas. Era0
caso dos psicologos que encaminharam suas pesquisas para apsicologia da forma, GedtaLt , salientando as leis e principios perceptuais; daqueles
que incrementaram a p e ic ol oq i a f itw ! .o g ic a3; e dos que passaram a utilizar metaforas
e rnodelos de caixas (6oxoLogia) para explicar 0funcionamento cognitive, solidili-
cando outras areas da psicoloqu: coqnitioa.
o funcionamento do computador e 0 uso de terminologia relacionada it
informatica (processamento de informacao, codificacao, decoditicacao, entre ou-
tros) levaram ao usa de analogias para a compreensao do cerebro, Modelos de
atencao e de memoria de curto prazo, respectivamente apresentados por Broadbent
: i""-"N~"-~ -~'qi i~'~:~~',~~---~~ t~:'~-~~~~t~ ~' ' ''~I~'~i~'--t~b~~ ' '' '' 't~~;-~~~ ~-' 'p~p'6~~'" ' '~' ' ;~;'p'~~ia';;t~~---\Vti"~~:b-~'~:g--J~;;---~-fJ;'~~--G~~-t~it
de Wer-theimer', K.5hler e Koftka, elas surgiram em reas;ao ao estrururalismo - utilizavam 0mctodo introspec-
tivo em seus experimentos. corf 0objetivo de analise de fenomenos mentais. No caso cia Gestalt, estavam mais
proximos do metoda experimental, Irente a invcstigacao Hsica cia percepcao (Morgan. 1977).
4JH~bb(1.949~~g;riua e~I;rt i~-~T ~-~f~""'~I~~ ~--~"~~ ~~l '~'~~';--~'~"~~~ f~-~'~~T6 gf~;; '~"'' '~'~'b) '~~~:~t~'~'- 'i ' '' '' ;p ';~;d~_~'~'g~'; ; ;.. .·~"""q~;·~i~originaram os conceitos de assembleiae de celulas e de sequencia de Eases.
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 3/10
(1958) e Atkinson & Shiffrin (1968), exemplificam as tendencias mencionadas.
A psicologia cognitiva passou a ser definida como urn ramo da psicologia que
busca explicar cientificamente0
processamento da atencao, da memoria, dasIuncoes vfsuo-motoras, da linguagem, 0pensamento, entre outras Iuncoes com-
plexas. Nesta area de pesquisa encontravam-se, alem dos psicologos cognitivos,
os cientistas cognitivos - dispostos a trabalhar conceitos matematicos, logicos e
estatisticos - ; e urn terceiro grupo - interessados em ocupar-se da localizacao do
substrato anat6mico destas funcoes cognitivas, a partir do desempenho observado
em individuos acometidos por danos cerebrais - os neuropsicologos,
, NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIENCIAS
Embora oriundos das mesmas rafzes Iilosoficas, ate por volta de 1970,
psicologos cognitivistas nao tinha ainda urn entrosamento com a neuropsicologia.
Eles continuavam utilizando modelos computacionais para explicar 0processa-
mento de inlormacoes cognitivas (incluindo nesta designacao tarnbern percepcao
e controle motor), embora com premente necessidade de ampliar sua metodo-
lagia em virtude do tempo cada vez maior para alcancar novas respostas. Alem
disso, estavam expostos tanto ao reconhecimento academico pelo corpo teorico
construfdo, quanto as crfticas por causa da "boxologia" e ausencia de urn mo-
delo humano. Entao, nao demorou para que a psicologia cognitiva Fosse levada
a unir seu modele computacional a investigacao da organizacao funcional das
habilidades cognitivas, por meio de elaboracao de testes em indivfduos normais,
no entanto, sem urn carater clfnico.
Talvez por ser 0resultado da convergcncia de varias ciencias, a neuropsi-
cologia tardou em oferecer Iormacao direcionada aos profissionais interessados,
bern como em reunir e organizar urn corpo teorico especfhco", Alias, a cons-
trucao de conceitos imprescindiveis a pratica clfnica foi enriquecida a partir do
desenvolvimento de pesquisas cientfficas. Por exernplo: a) agregando questoes
relacionadas as dissociacoes observadas entre pacientes com lesoes cerebrais
distintas; e 6) a partir da construcao de testes neuropsicologicos voltados a inves-
tigacao de pacientes com acometimentos rmijtiplos ou de pessoas provenientes
de diferentes culturas. Seguindo 0pressuposto de que processos psicologicos po-
dern ser investigados por exames nao-invasivos - testes, inventarios, questionarios
(procedimentos padronizados e capazes de descrever, com certa fidedignidade
como capacidades e habilidades mentais se-comportam apos algum tipo de [esao
cerebral), ou mesmo assessorando estudos comparativos transculturais.
Por outro lado, ao longo dos anos, a neuropsicologia esteve estruturada
sobre 0estudo de casos unicos (Leborgne de Broca; HM de Scoville e Milner;
KF de Warrington e Shalice), dependente de uma observacao cuidadosa do
comportamento exibido pelo paciente, e, muitas vezes, guiada pelas estruturas
provenientcs da psicologia cognitiva.
cursos
Iogista) , Benton (psicologo clfnico) e Geschwind (neurologista),5
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 4/10
I
I
Nos anos 80, tornou-se insustentavei que neuropsiclogia e psicologia
cognitiva se mantivessem distantes ealheias. 0encontro entre as duas areasproporcionou que se abrisse urn canal de comunicacao, como decorrencia sur-
giram eventos, publicacoes e' pesquisas em conjunto. Desde entao, a parceria
denominada Neuropsicoloqia Cognitiva tern incrementado a demanda de producoes
a partir das trocas de inforrnacoes, material te6rico e experiencia clfnica, Sem
perder 0pertil tradicionaL a neuropsicologia mantem-se estudando a localizacao
e organizacao funcionaL bern como a ac;:ao dinamica de seus componentes. A
psicologia cognitiva, mais do que 0 nfvel de analise teorica, ganhou maior clareza
e agilidade na comprovacao de suas hip6teses.
A formacao de grupos interdisciplinares parece ser uma tendencia viavel
para a ciencia do novo milenio, Por exemplo, as neurociencias englobam: 0
estudo da neuroanatomia; neurofisiologia; neuroqufmica e as ciencias do com-
portamento (psicofisica, psicologia cognitiva, antropologia, e lingufstica). Estas
areas de estudo tiveram urn perfodo de isolamento maior entre si, ate por volta
de 1970 (Kandel, Schwartz, .Iessel, 2000). Atualmente, poucas mudancas ocor-
reram em term os de objetos de estudo, contudo, os neurocientistas tern atuado
de forma mais sincronizada e harmoniosa, "monitorando" os resultados entre as
areas. Esta mudanca de atitude tern gerado maior rapidez e aumento do conhe-
cimento sobre 0cerebro e do controle que ele exerce sobre 0comportamento
(Beatty, 1995).
No livro Neurop<lychoLogy the neural bcuu of cognitive function (1992) foram
discutidos temas acerca das func;:oes cognitivas e suas desordens, sobre plastici-
dade neuronal, os avances da bioqufrnica, 0 desenvolvimento de novas drogas;
a ac;:aode neurotransmissores, alern de tecnicas de neuroimagem. Esta estrutu-
racao ilustra que a neuropsicologia tern colaborado amplamente para a evolucao
efeti,:,a das neurociencias, na medida em que instrumentaliza outras areas de
investigacao.
NEUROPSICOLOGIA HOJE
o livro Neuropsicoloqia Hoje buscou resgatar aspectos hist6ricos, te6ricos
e praticos acerca da neuropsicologia, tendo como uma das principais preocupa-
c;:oesapresentar estudos realizados por prohssionais que representem cerrtros de
excelencia voltados para 0avanco das neurociencias, no Brasil e no exterior.
A publicacao desta obra nao poderia ocorrer em momento mais oportuno,
pois culmina com urn grande marco da neuropsicologia brasileira?' A Resolucao
n° 002/2004 do Conselho Federal de -Psicologia. Esta _I'~_solE~Q__[~gu_@m~nta
a_praticasJ:ct_ ne~ro£sicologia - d_iil..gnQ~_tico,acompahhamefito,·r.e.i!_~i1it.'!.c;:iio_e
p~;q;~~':'_OITl()e.§_R~~i~li~~cl~_~lTI_p-sic;QlQgia_e.r.e..GQJ1_h~ce,traves deregistre-e
tiful~ao, .; pr~fission~~ ~s'p_e(Cia1izados~ne_ste_s_£''LIllPOsde-~t~9ii~.
-------.-c;;~-~)bT~ti;~-de--~essaltar semelhancas e diferenc;:as entre areas ahns,
aspectos te6ricos e hist6ricos da neuropsicologia sao tratados nos capitulos: "As-
6
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 5/10
Mesmo tendo seu t~il;balho prejudicado pelas parcas possibilidades da
epoca, 0 psic6logo Karl Spencer Lashley? passou muitos anos bus cando locali-
zar respostas motoras especfticas, a partir de lesfies no cerebro de animais, De
maneira frustrante, as centenas de experimentos nao foramcapazes de eviden-
ciar a existencia de locais especfhcos para mem6rias especfficas (por exemplo,
mem6ria para habitos) ..No entanto, seus esforcos estimularam e abriram espa<;o
para ·~l.lt:rospesquisadores com objetivos similares: 0 estudo da neuroanatomia
da mem6ria, 0 aperfeicoarnento dos procedimentos e tecnicas em animais de
laborat6rio, entre outros. Menos de uma decada se passou ate que 0 estudo de
caso do paciente HM - hm de 1950 - revelasse muito sobre 0modo como esta
fun<;ao depende do funcionamento ehciente de determinadas estruturas, tor-
nando dhiP~;np3? essencial para a compreensao do funcionamento de algunstipos de mem6ria. Os esforcos de neurocirurgices como Penfield" e Scoville e
da psic6loga Brenda Milner resultaram em urn novo marco para a evolucao dos
conceitos cerebrais. Os capftulos "Memoria e Amnesia" e "Epilepsia" tratam
exclusivamente destes assuntos, fatos historicos, alteracoes e tipos de memoria,
bern como trazem aspectos de neuroimagem e avaliacao neuropsicologica do
paciente epileptico,
As modihcacoes da mem6ria de acordo com a idade do individuo tambern
sao amplamente estudadas nos seguintes capitulos: "Memoria operacional e es-
Unguagem
pectos instrumentais e metodologicos da avaliaeao psicologica" e no presente
capitulo "Neuropsicologia hoje". 0 livro dedica capitulos para algumas funcoes
cognitivas especfficas:
Muito tempo se passou entre os relatos sobre a afasia na Grecia Antiga
e a compreensao de como se explicam e comprovam que determinadas areas
cerebrais estao de fato relacionadas com a fala. Alguns pesquisadores tiveram
participacfio decisiva nesse processo - medicos franceses e alernaes, tais como
Bouillaud, Marc Dax, Paul Broca e Carl Wernicke. Envolvidos tambern na
conceituacao da afasia, classificacao em diferentes tipos e no estudo das regioes
cerebrais relacionadas a linguagem e seus disturbios, 0 capitulo "Neuropsicolo-
gia da Linguagem" traz outros aspectos sobre esse assunto, alem do historico,
aborda achados da neuroimagem, quadro com principais baterias de testes para
avahacao desta fun<;ao e temas alins.
Memoria
uma
Fundamental para a paicologia cogrritiva (Eysenck & Keane, 1994; Sternberg, 2000 ).
G--.p~nfi~Id:-~;~~--d~ca(r~-S--d~---40--~--go~-·-est~n~;f~~---~1~t;~~~~~~'t 'e-cr{~~~;~-~---i~~~~---d-~--~6-rt~pre-cirurgicos na teutativa de localizar 0 foco epileptico. Seu trabalho foi util para mapear as areas motora e
sensorial,' e para demonsn-ar que certas memories podem ser pcrmanentes.7
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 6/10
, Intelecto
trategias de memoria na infancia," que aborda conceitos do desenvolvimento
humano, estruturas cerebrais envolvidas, testes para avaliar cada componente damem6ria operacional, e ainda as estrategias de memorizacao utilizadas pela crian-
<;;a,conforme sua idade: e "Envelhecimento e memoria", redigido de forma clara
e ilustrada, corn exemplos do cotidiano, discute 0que e esperado corn 0passar
dos anos ern relacao as funcoes mnemonicas,
As teoriase tecnicas provenientes da escola russa e seus expressivos inter-
locutores, tais como Vygotsky, Luria e seus colaboradores, tambem se mostraram--- . - - - ----
undamentais para a consolida_<;;1Loa n~I.9psicolog~n:l.ei_o_cientiflco.--Passa-
ramose anosatc que a avaliacao psicometrica de Cartel, Spearman, entre outros
(~seculo XIX e iniciodo ~~me.nte)_J dessem lugar a uma
avaliacao que a50rdasse tambern os aspectos qualitativos (Pasquali, 1999), De
modo mais sofisticado do que havia proposto a psicologia cognitiva, a avaliacao
realizada nos moldes de Luria privilegiou a iniluencia dos fatores socioculturais
sobre 0 desempenho e a analise dos erros; e desta maneira favoreceu 0 estudo e a
compreensao dos mecanismos e estrategias envolvidas na execucao 'da resposta, A
literatura proveniente dos achados deste neuropsicologo possibilitou ainda 0 reh-
namento da nocao de red«, "0 cerebro agindo ern concerto, dinamicamente",em
contraposicao as ideias de urn localizacionismo mai~-- ---
As unidades funcionais de Luria sao abordadas no capitulo: "Irrteli-
gencia: umconceito amplo", 0 qual retoma os mais variados conceitos de
inteligencia, por exemplo, de Piaget, Gardner, Wechsler; discute de forma crf-
tica 0 conceito de Quociente Intelectual (QI) e algumas baterias que avaliam
intcligencia. 0capitulo "Bases estruturais do sistema nervoso" cita tambern
a organizacao cortical proposta por Luria; mas trata especificamente da orga-
nizacao e das porcoes que constituern .o sistema nervoso de forma didatica e
ricamente ilustrada.
o capitulo "Atencao" traz urn visao crftica dos multiples conceitos, teorias
e modelos relacionados a esta Iuncao. No capitulo "Neurobiologia da atencao
visual", testes comportamentais e os paradigmas mais utilizados ern estudos corn
roedores, primatas e humanos sao discutidos;e, ainda, a interacao funcional com
outras habilidades cognitivas como a mem6ria operacional.
Atualmente muitos pesquisadores tern se interessado pela investigacao do
cortex pre-frontal, 0 qual estaria relacionado a habilidades como planejamento,
solucao de problemas, memoria operacional, entre outras, 0capitulo "Funcoes
Executivas" descreve a organizacao dos lobos frontais, ressaltando as sindromes
e prejufzos decorrentes de les6es em regi6es epecfficas, Conceitos teoricos, aspectos
comportamentais e neuroqufrnicos sao mencionados, bern como avaliacao e rea-
bilitacao neuropsicologica em sindromes disexecutivas,
8
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 7/10
NEUROIMAGEM
o merito como precursor da neuropsicologia poderia ser reclamado por
vririos cientistas desde os primordios do localizacionismo, ainda na Grecia. Este
conjunto de ideias, que teve em Franz Josef Gall urn de seus principais expoen-
tes - entre os seculos XVIII e XIX -, ainda hoje tern seus adeptos, embora mais
flexiveis e mais bern equipados.
A localizacao de regioes cerebrais e objeto de muitos estudos de neuroimagem,
utilizando tecnicas c~mo Tomografia por Emissao de Positron (PET scan) e
Imagem por Ressonancia Magnetica funcional (IRMf), as quais possuem magni-
tude de resolucao espacial suhcientemente alta para visualizar acao de massa
relacionada -a-fLm<;ao cerebral. Mas ainda nao possuem resolucao temporal e
ofere cern apenas limitada inlormacao quanta a dinamica da atividade cortical.
Por esta razao, alguns estudos complementam os dados de neuroimagem fun-
cional com outras tecnicas, por exemplo, Potencial Evocado e Eletrofisiologia
Cognitiva (Clark et al., 2001).
Em urn estudo classico com PET scan, Paulesu et al., (1993) mediram 0
fluxo sangufneo cerebral em voluntaries saudaveis em duas tarefas de ativacao e
suas respectivas 'condicoes-controle. Na primeira tarefa, os participantes foram
instrufdos a estudar os estfrnulos silenciosamente, apos cada sequencia, a con-
soante-alvo - letra B - aparecia e os participantes julgavam se a mesma estavapresente na sequencia prcviamcnte apresentada ou nao, A condicao controle
seguiu 0mesmo procedimento, mas com letras coreanas. Na segunda tarefa, era
solicitado aos participantes 0 julgamento de rimas de consoantes em relacao a
consoante-alvo. A condicao-controlc era a similaridade de formas entre letras
coreanas e a letra-alvo coreana. Os resultados deste estudo demonstraram pela
primeira vez a neuroanatomia do componente verbal da memoria operacional em
voluntaries sadios, isto e, como armazenador fonologico, 0giro supramarginal
esquerdo (lobo parietal), enquanto 0ensaio subvocal foi associado com a area
de Broca (lobo frontal).
~ Os neuropsicologos tern contribuido para avances no uso das .tecnicas
de neuroimagem funcional, desenvolvendo~ pel~~~
cognitivas como memoria, percepcao e controle inibitorio, entre outras, sao
investigadas. /
Uma vez que a { R i r r e uma tecnica de mapeamento cerebral nao-invasiva,
tern se mostrado aprop'nad'a ate para 0uso em criancas. Guardadas as restricoes
eticas e 0 controladas as variaveis comportamentais, a aplicacao da IRMf em
amostras pediatricas, recentemente, vern sendo empregada para localizacao de
func;;oes criticas (Logan, 1999), avaliacao de correlatos neurais da plasticidade
cerebral (Hertz-Pannier et al., 2000), bern como para examinar a relacao entre
funcao e estrutura no decorrer do desenvolvimento cognitivo cerebral (Nelson
et al., 2000).
9
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 8/10
Resultados mais aprofundados a partir da neuroimagem funcional foram
largamente discutida no capitulo "Reducao da assimetria hemisfer ica em adul-tos mais velhos: 0modelo HAROLD", neste capitulo uma serie de teorias fo-
ram abordadas com 0intuito de compreender as mudancas na atividade cerebral
decorrentes da idade.
~ A neuropsicologia tern como preocupacao constante se especializar cada
vez mais para atender as necessidades do organismo, mesmo mediante as altera-
<;oesoriginadas a partir do processo evolutivo.
DESORDENS NEUROPSICOL6GICAS INFANTIS
o estudo da crianca exige forma<;ao especial, levando-se em conta os pro-
cessos de crescimento e maturacao cerebral, 0desenvolvimento neuropsicomotor,
bern como as ~ariaveis criticas que determinam e interferem nestas habilidades,
tais como as ambientais. Portanto, abrange a cornprcensao do desenvolvimento
normal e a intervericao nas funcoes cognitivas alteradas. Assuntos referentes a
neuropsicologia infantil foram tratados por especialistas nos capftulos: "Neu-
ropsicologia do desenvolvimento", "Memoria operacional e estrategias de
memoria na infancia", e "Avaliacao neuropsicologica infantil".
DESORDENS NEUROPSICOL6GICAS EM ADULTOS
A adultez representa urn periodo em que as habilidades e capacidades
gerais do individuo devem estar mais definidas do que no perfodo infanto-ju-
venil. Desordens neuropsicologicas em adultos sao consideradas anormalidades
especfticas do comportamento apresentadas pelo individuo, anteriormente sadio,
enquanto um resultado de uma disfuncao (de natureza neuroanatomica, neu-
rohsiologica ou neuroquimica). Este assunto foi amplamente abordado por urn
conjunto de capitulos, os quais trataram. sobre a avaliacao neuropsicologica de
doencas especificas, tais como a "Epilepsia", "Aspectos cognitivos da esclerose
multipla", "Avaliacao neuropsicologica em traumatismo craniencefalico" e
"Doenca de Parkinson: aspectos neuropsicologicos. Alteracoes cognitivas em
consequencia do abuso de substancias foram abordadas no capitulo "Aspectos
neuropaicologicos associados ao uso de cocaina".
DESORDENS NEUROPSICOL6GICAS EM IDOSOS
Com 0 aumento da expectativa de vida das populacoes, 0 interesse e 0
nurnero de estudos geriatricos tern aumentado. 0 envelhecimento e urn processo
natural e incvitavel do ser vivo. Uma serie de fatores diminui a adaptacao dos
diferentes orgaos e como.conseqiiencia ocorrem modihcacoes mortologicas, fisio-
logicas e bioquimicas em uma casG.~t~.9g.>~yentosCOl hecidos eoutros ainda nao
B i b l i Q t e c a "Prof. Jose Sto ropeli "
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 9/10
desvendados pela ciencia. ~_!l_e\:l~()jlSi~~2giaestuda a:::~fl_1:l:~Il~i<1cd.e-.st!}S_R[~£ess_Qs
s~~o sist~I!l~_~~~oso -~r~1I~ljS'q.9Q~i:.:fuR~lQllais,,,@-teE1corp9 I?~valiill:___
ot';~;:~~en:fQ:C-.og~itiv~d~_·~~ deterrninaro tipo e 0g;;u d-~--incapacidade
funci;~~l (~e houver)--;;-~tabelecer urn programa de reabilitacao. Para tanto, os
capitulos "Envelhecimento e memoria"; "Avaliacao e reabilitacao rreuropaico-
logica no idoso"e "Reducao da assimetria hemisferica em adultos mais yew
lhos: 0modelo HAROLD" discutern 0funcionarnento cerebral na senescencia,
suas alteracoes e rnodelos te6ricos.
REABILlTA<;AO COGNITIVA
A reabilitacao neuropsicol6gica objetiva a adaptac,;ao do individuo ao seu
3m.hie.u.te. Tern urn carater "artesanal", no sentido de que cada paciente tern
prejuizos cognitivos especfficos e dernandas ambientais pr6prias, por exernplo re-
lacionadas a sua idade, prohssao, tipo de acornetirnento cerebral, vinculos e res-
ponsabilidades sociais. Modelos e estrategias para prograrn<)-s de (rej habilitacao
de Iuncoes cognitivas sao apresentados nos capitulos: "Reabifitacao cognitiva
pediatnica", "Reabi'litacao em lesao cerebral adquirida", "Reabilitacaor urn
modelo de atendimento interdisciplinar em esclerose rmilripla", e "Avaliacao
neuropsicologica e reabilitacao cognitiva no idoso".
o conjunto de inforrnacoes contidas em Neuropsicologia Hoje e atua-
lizado, porern, intencionalrnente reduzido, urna vez que nao tern a pretensao
de abranger todos os temas da area. Urn dos intuitos deste livro e incentivar a
investigacao cientihca, bern como contribuir para a Iormacao e a pratica clinica
de protissionais em neuropsicologia,. os quais escreverao futuros capitulos nas
Neurociencias.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
1. PARKIN AJ (1996) - Explorations in Cognitive Neuropsychology. B la ck we ll P u 6 !u h m .
2. ATKINSON RC & SHIFFRIN RM. The control ofshort-term memory. ScienceAmerican.
1971: 225:82-90.
3. BEATTY J (1995) - Principles of behavioral neuroscience. Brown e3 Benchmark.
4. BROADBENT DE (1957) - Amechanical model of human attention and immediate me-
mory. P.1ychologicaLReview, 64,205-15
5. CLARK D., et aL , (2001) - Cortical network dynamics during verbal working memory
function. I nt erna t iona L J ou rna l 0 / PdychophYdiology 42, 161-176.
6. CODE, C: WALLESCH, CW, JOANETTE, Y and LECOURS, RA (1996) - Pdychology
Pres».
7. D'OLIVElRA, M.M.H. (1984) - Ciencia e pesquisa emPsicologiauma introducao. Editora
Pedag6gica e Universitaria LTDA.
11
8/4/2019 capítulo 01 NEUROPSICOLOGIA HOJE
http://slidepdf.com/reader/full/capitulo-01-neuropsicologia-hoje 10/10
12
8. EYSENCK, MW & KEANE MT. (1994) - Psicologia Cognitiva. Editora Arte.1 Me2u{ld.
9. FARAH, MJ & FEINBERG, TE (1997) - Behavioral Neurology and neuropsychology.M e
Graw-HiLL.10. Fidia Research Foundation (1992) - Neuropsychology theneural basis ofcognitive function.
Costa, E & Brocklehurst, K. - Preface - T hi em e M ed ic aL P u6 !u he rd .
11. HEBB DO (1949) - The organization of the behavior. NewYork: Wiley.
12. HERTZ-PANNIER L, CHIRON C, JAMBAQUE I, RENAUX-KIEFFER V, VAN DE
MOORTELE PF, DELALANDE 0, FOHLEN M, BRUNELLE F and LE BIHAN D
(2000) Late plasticity for language in child with non-dominant hemisphere. The pre- and
post-surgery fMRI study.
13. LOGAN WJ (1999) - Functional magnetic resonance imaging in children Seminars in
Pediatric Neurology 6, 78-86.
14. KANDEL E, SCHWARTZ JH and JESS ELL TM (2000) - Principles of neural science.
M e G ra w- H iL L.
15. MORGAN, CT (1977) - Introducao a Psicologia. McGraw - Hill.
16. NELSON CA, MONK CS, LIN J, CARVER W, THOMAS KM and TRUWIT CL
(2000) - Functional neuroanatomy of spatial working memory in children. Deoelopmentai
PdychoLogy 36 , 109-116.
17. PASQUALI L (1999) - Instrumentos Psicologicos:Manal Pratico deElaboracao. LabPAMI
IBAPP.
18. PAULESU E, FRITH CD, FRACKOWIAK RSJ (1993) - The neural correlates ofverbal
component ofworking memory. Nature 362,342-344.
19. STRNBERG RJ (2000) - PsicologiaCognitiva. Editora ArtesMedicas.
20. VAISSIERE J (1938) - Elementos de Psicologia Experimental. Editora Globo.