14 Metodologia científica: a construção do conh .cimcnto

quadros-negros, folhas de papéis ou telas de computa 101' s. Ali, Jesapenas aparecem depois e seforem produzidos dentro duma ab ça.

Isso considerado, creio que este livro, embora LraL d umobjeto simples, propõe um objetivo pretensioso: ontribuir, dealguma forma, para a construção do hábito de d s nv Iverconhecimento pessoal e, quiçá, conhecimento un iversal.

Iniciamos com algumas reflexões sobre a teoria e a práti a, omo intuito de resgatar a grandeza da teoria. Na seqü n ia, t nta-seesclarecer terminologias com que se identificam as p sguisascientíficas e as diversas formas de apresentação cscri ta I seusresultados. Detemo-nos mais longamente nas fases do trabalho deinvestigação, com uma proposta de método para a construção doconhecimento científico, que ousamos propor como exer f io de duascompetências (produção do conhecimento e sua apr ntaçãoescrita), em três fases seqüentes (planejamento, execução eapresentação), das quais se extraem quatro grupos de resultados(projeto, coleta de dados, produção do texto escrito, apresentaçãográfica no final do texto). É nossa contribuição. Terminamosrepetindo as regras comuns necessárias à boa apresentação gráficados textos científicos, conforme as normas vigentes da ABNT.

Nunca foi nossa intenção fazer oposição ao método de alguém.Métodos são caminhos facilitadores, em geral complementares eraramente excludentes. Ao contrário, a intenção é expor e, aomesmo tempo, expor-nos. Este aliás, salvo melhor juízo, é um itemessencial do trabalho atual do professor. Críticas e sugestões sãooportunidades de reflexão, correção e aprimoramento. É a primeiraregra e condição de possibilidade para a construção doconhecimento, minha ambição e, espero, a sua.

Um grande abraço e boa leitura.OAutor

, I

CAPÍTULO 1

NATUREZA TEÓRICO-PRÁTICA

DA PESQUISA CIENTÍFICA

Pesquisa científica pode ser caracterizada como atividadeintelectual intencional que visa a responder às necessidades humanas.Há aqui dois conceitos a elucidar: o que se entende por necessidadeshumanas e o que se entende por atividade intelectual.

As necessidades humanas básicas, percebidas nos indivíduos--=- -- -- .....

corno sensação permanente de insatisfação com o estado atual em

que se encontram, são a mola propulsora da atividade humana.-- -

Por se perceber incompleto, o homem sente que precisa fazer algo

consigo mesmo. Éo encarregado primeiro de seu aprimoramento

e de sua realização. Terá, portanto, que agir para complementar-

se em três níveis básicos de carência: o biológico, o social e otranscendental.

Caracterizado como animal racional e naturalmente dotado

de vontade e razão, ao ser humano são possíveis duas esferas de

atividade: g,rá~a, oriunda de suas habilidades como animal, e

t~rica, a ser desenvolvida a partir de sua constituição racional.

Animais são capazes de dois mecanismos básicos, produtores

de respostas às suas necessidades: o mecanismo instintivo e omecanismo "rotineiro". O mecanismo instintivo funciona por meio

DP&A editora

16 Metodologia científica: a construção do conhecimento

do conjunto de impulsos naturais de que os animais são dotados.Animais comem, bebem, dormem, percebem o cio, à mais apto

etc., independentemente de aprendizado individual. "Aprendem",

além disso, um conjunto de rotinas delimitadas e adaptadas

segundo as possibilidades sugeri das pelo meio ambiente.

O animal humano é também capaz de desempenhar atividades

instintivas e rotineiras. Éo que constitui o nível existencial, prático

da vida humana. De fato, para o homem, a rotina é um conjuntobem-vindo de atividades, escolhidas no meio cultural. São

mantidas ou rejeitadas conforme o grau de eficiência/eficácia que

demonstram em relação às respostas a serem dadas às necessidadesconcretas da vida. Imagine-se, por exemplo, se o conjunto de

atividades desenvolvidas pela manhã, entre o acordar e o sair de

casa, tivesse que ser diariamente pensado.

Seres racionais, porém, são capazes de pensar; isto é, são

capazes d~ansformar necessidades sentidas em problemas, que

se manifestam como questões. Questões, por sua vez, pedem, I soluções. Levantar problem~ e-gerar soluções é o que se chama

/ atividade intelectual ou teórica. Teorizar é levantar um problema e

para ele gerar soluções possíveis. É desnecessário dizer que cadaproblema não tem uma solução, mas infinitas possibilidades de

solução.

O próximo passo é escolher, entre as várias soluções

possíveis, a mais adequada ao suprimento da necessidade, geradora inicial. Este é o conteúdo da técnica, a aplicação

prática dos resultados teóricos. De forma esquematizada, aatividade humana é assim:

Natureza teórico-prática da pesquisa científica 17

animal racional

! !sente pensa

! ~!1. necessidades 2. problemas

( )4. respostas 3. soluções

!~!ação instintiva/

rotineiraação intelectual

!nívelprático

!nível teórico

Como se percebe, ação teór~ca e ação prática são indissociáveis

no homem, da mesma forma que sua animalidade e sua- - -

raciónalidadé.Ná verdade, a função essencial da razão humana é

melhorar a vida; da teoria, aprimorar a prática; da racionalidade,

melhorar o animal humano. J: ~ayacidade de quest~onarintencionalmente é, pois, a marca maior~racion~idade. É o que

permite ao ser racional ir além das respostas naturais, únicas,para suas necessidades, impostas por instinto/ambiente/rotina,

e diversificar. A razão manifesta-se na diversidade das respostas.

Pesquisar é o exercício intencional da pura atividade intelectual,

visando a melhorar as condições práticas de existê ncia. Pinto(1979, p. 425) explica que

a prática, que é critério para a proposição de fmalidades e para averificação de verdades, não é cega, mecânica ou ocasional.Ao contrário, guia-se pela soma de toda a experiência anterior do

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18 Metodologia científica: a construção do conhecimento

indivíduo e da Humanidade, esta última absorvida na forma deherança cultural. A pesquis~ca não constitui uma atividadeacidental de procedimento humano .mas.unaaforma.de.ação gue~lhe é natural, porque realiza uma exigência de sua essência, a dese aperfeiçoar, a de progredir no desenvolvimento de suahumanização, jungindo as forças cegas da natureza aos seusdesígnios conscientes.

Daí por que nada é mais útil e prático para o animal racional

do ~a teoria. Resultado do esforço individual e coletivo~-----------------para dar significação à realidade, ~_~~IÜLé-ª-geraior~

organizadora da cultura e das suas ciências. Qualquer de nossas~ -----------0- -'"~:........_-----ciências compõe-se de um conjunto metodicamente organizado-- -----de soluções e problemas já levantados, ou atualmente em'---==~~==----~~----====~~---

desenvolvimento, relativos a uma dada necessidade humana. Isto==--- ..- - - --- ._---- _.-,--~

é, a teoria cie!Jtíjica é um instrumento avançado da prática existencial..•.. - - -. - - - - - -

Com efeito,

o homem não se dispõe a conhecer o mundo porque o percebecomo um enigma que lhe daria "gosto" resolver. Explicações queapelam para a "vontade de decifração de um mistério", de espantoem face das maravilhas da realidade (Platão), de vontade de poder(Nietzsche) são inteiramente ingênuas, situam-se fora de qualquerbase objetiva. A simples e prosaica afirmação de Aristóteles, nopreâmbulo da Metafísica, ao dizer que o homem é um animalnaturalmente desejoso de conhecer, tem a superioridade deconcordar com a situação de fato, embora falte explicar-nos porque isto acontece. A explicação aristotélica não funda aepistemologia da pesquisa científica porque serve apenas parareconhecer um fato inicial, não oferecendo a explicação dele, quedeveria ser o ponto de partida de todas as cogitações subseqüentes.Tal ponto de partida nós o encontramos, se não estamosequivocados, na teoria dialética da existência, ao considerar ohomem não um ser (no sentido aristotélico), um animal dotadode atributos invariáveis, mas um existente em processo de fazer-se

Natureza teórico-prática da pesquisa científica 19

a si mesmo, o que consegue pelo enfrentamento das obstruçõesque o meio natural lhe opõe e pela vitória sobre eles, graças aodescobrimento das forças que o hostilizam e dos modos de empregarumas para anular o efeito de outras, que o molestam, o destroem,o impedem de realizar seus propósitos. O homem não conhece,não investiga a natureza para satisfazer um desejo imotivado, maspara se realizar, na condição de ente humano (ibidem, p. 426-427).