dissertação shimamoto - cap i

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GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: DISCURSOS DE TRANSFORMAÇÃO OU CONSERVAÇÃO? UBERLÂNDIA MG /2011 DISSERTAÇÃO: INTRODUÇÃO E CAPÍTULO I - GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: PARA ALÉM DA LEGITIMAÇÃO INSTRUMENTAL SIMONE VIEIRA DE MELO SHIMAMOTO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO DISCIPLINA ELETIVA ESTUDOS EM GESTÃO EDUCACIONAL PROF. DR. PAULO GOMES LIMA

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Page 1: Dissertação   shimamoto - cap i

GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: DISCURSOS DE TRANSFORMAÇÃO OU

CONSERVAÇÃO?

UBERLÂNDIA – MG /2011

DISSERTAÇÃO: INTRODUÇÃO E CAPÍTULO I - GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA:

PARA ALÉM DA LEGITIMAÇÃO INSTRUMENTAL

SIMONE VIEIRA DE MELO SHIMAMOTO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

DISCIPLINA ELETIVA – ESTUDOS EM GESTÃO EDUCACIONALPROF. DR. PAULO GOMES LIMA

Page 2: Dissertação   shimamoto - cap i

Apreciação teórica consistente, que descortine a diversidade conceitual sobre a/na gestão

escolar democrática e as propostas autointituladas transformadoras dentro das políticas

educacionais.

Gestão Democrática: a luz dos pilares descentralização e transparência e das

concepções basilares gestão e autonomia: a categoria participação.

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PREMISSAS DO TRABALHO

O processo de hominização se efetiva num campo objetivo em transformação e que este se

processa na complexidade das relações sócio-históricas e culturais que constituem o

homem enquanto sujeito.

O processo democrático, radicalmente concreto e transformador, desenvolve-se nas mais

diversas instâncias que compõem a sociedade.

A participação dos sujeitos nas decisões com vias ao bem comum é condição primeira, um

dos pilares da consciência política, o que evidencia que o exercício da democracia envolve

tensões e contradições saudáveis ao crescimento e aprimoramento político dos sujeitos.

O modelo societal posto – capitalista neoliberal – identifica-se na e pela relação

explorador/explorado e por um Estado que existe em favor da classe social exploradora: a

grande discrepância econômica e política restringindo o poder nas mãos de uma minoria.

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Reflexões

Gestão Escolar Democrática: imersa neste complexo processo de democratização que tem

por base as relações tensionadas entre sociedade e Estado, relações que acontecem num

verdadeiro “jogo de forças e interesses” (LIMA, 2004, p. 30), afetando as modalidades de

participação e as possibilidades de construção de autonomia.

Como forma de tensionar estas questões com vias à superação e transformação do contexto

instaurado, a participação nas decisões sociais quanto às prioridades e aos projetos mostra-se

necessidade primeira.

Tragtenberg : analisa que “rediscutir as prioridades significaria abrir o sistema político

brasileiro, em primeiro lugar, porque a discussão de prioridades antes de tudo é problema

político, é problema de relações de poder.”

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Autores escolhidos em função da(s)

Matriz teórica por cada um desenvolvida;

Propostas concebidas com vias à efetivação da GED na prática escolar;

Produções que possuem sobre as categorias inerentes à temática abordada e da

circulação destas em âmbito acadêmico.

Heloísa Lück, Moacir Gadotti e José Carlos Libâneo

Vitor Henrique Paro, Dermeval Saviani e Maurício Tragtenberg

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PROBLEMATIZANDO

• O contexto societal posto em relação às categorias basilares de efetivação da

gestão democrática – participação, autonomia, descentralização – partimos do

pressuposto que a GED é processo inexistente, apesar de situar-se legal e

discursivamente no contexto contemporâneo, sendo componente usualmente

empregado na criação de modelos para a prática gestora das instituições

escolares.

• Uma investigação, para ser coerente, deva ter como tessitura a realidade vivida, com

suas interconexões e processualidades, constituída dialeticamente em contexto sócio-

histórico e político. A proposta segue parâmetros que visam suplantar a leitura superficial

para realizar uma leitura crítica, que nos permita avançar qualitativamente.

Page 7: Dissertação   shimamoto - cap i

Análise crítica investigativa com perspectiva dialética, compreendendo a realidade

historicamente constituída na trama contraditória e conflitante das inter-relações estabelecidas

entre os sujeitos na construção de si mesmos e da realidade em que se inserem.

Exercício crítico na/sobre a/para a práxis entendida por nós como um processo

radicalmente dialético.

Investigação crítica no sentido de analisar o objeto de estudos de maneira contextualizada,

constituída historicamente, envolta em dialogias que, tecidas em meio às ações dos sujeitos

concretos, permitam o aprimoramento do nível de consciência destes sujeitos frente à sua

práxis.

Page 8: Dissertação   shimamoto - cap i

PROBLEMATIZAÇÕES

Existiriam hoje, substancialmente estruturados, fios teóricos que fundamentassem

e discutissem as condições concretas e as possibilidades de materialização de uma

política educacional escolar com raiz democrática?

Existe Gestão Escolar Democrática em contexto capitalista neoliberal? Como, no modelo

societal instalado, se concebe a Gestão Escolar Democrática, considerando-se as

matrizes conceituais e as políticas educacionais desenvolvidas? É possível identificar

uma teoria determinante nos processos de constituição da Gestão Escolar Democrática?

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DÉCADAS DE 1970 E 1980

Os sujeitos organizaram-se em coletivos sociais e, por meio de assembleias, debates, fóruns,

greves, manifestações públicas, obtiveram grande repercussão, tirando o país da quietude até

então asseverada pelas classes dominantes e conquistando mudanças no contexto social,

político e educacional.

As ações dos sujeitos envolvidos nos movimentos sociais demonstraram o engajamento de

diversos setores da sociedade e culminando na aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Base

da Educação no Congresso Nacional – Lei nº 9.394 de 20/12/1996.

No capitalismo a força da política econômica sobrepõe a força da política social, os objetivos

dos sujeitos não foram alcançados em sua totalidade.

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DÉCADA DE 1990

Frigotto (2003) : instala um novo desenho de ditadura baseado nas reformas neoliberais: a

ausência e uma política pública efetiva que assegurasse investimentos coerentes e

concepções pedagógicas de formação e qualificação humana emancipatória.

Propostas paliativas tomam corpo e desembocam na criação de pacotes que

intencionalmente desvinculam aprendizagem e formação humana dos processos sociais,

culturais, políticos e econômicos.

Educação brasileira marcada pelas tendências liberais, oscilantes entre os desenhos ora

conservador ora renovador presentes nas relações sociais e políticas: preparação de

indivíduos para o desempenho de papéis sociais no sentido de manter a estrutura da

sociedade de classes.

Democratização da escola reduz às decisões tomadas no interior da mesma, desconectando-a

e desconsiderando o sistema macro no qual se insere e com o qual estabelece uma relação

intrínseca e conflitante, em processo de mútua determinação.

Page 11: Dissertação   shimamoto - cap i

Concepções basilares gestão e autonomia

Categoria Participação

Pilares:Descentralização e

Transparência

Autores “Otimistas” em relação a Gestão Escolar Democrática: Luck, Gadotti e Libâneo

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TRÊS MOMENTOS POLÍTICOS BRASILEIROS NO ÚLTIMO SÉCULO

Vieira (1997): Foi fértil o terreno para receber a semente neoliberal:

O primeiro refere-se à ditadura de Getúlio Vargas que, pelo populismo nacionalista sustenta o

controle da política;

O segundo, mantendo a política de controle, perpassa o período de 1964 – ditadura militar – até o

final do período constituinte – 1988;

O terceiro, denominado pelo autor “política social sem direitos sociais”, iniciado em 1988,

prevalece nos dias atuais.

Percebe-se um contexto cujas características permitem e até possibilitam a implantação/imposição

de tal modelo societal e, assim, a crescente alienação dos sujeitos.

A práxis desenvolvida na educação escolar reproduz, em escala micro, as relações ideológicas e

hierárquicas de poder concretizadas no meio social.

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Gestão Escolar: contextos e transformações

Anos 1970 ditadura militar: prisões e perseguições políticas, arrocho salarial, tecnocracia

estatal no Planejamento estas dificuldades foram impulsionadoras de resistências,

subsidiando a construção de alicerces para a redemocratização cujas bases assentavam-se

na organização da sociedade civil em movimentos marcantes no processo pela

constituinte dos anos 1980. A educação (sobretudo a superior) acompanhou

ativamente tais processos delineando um cenário de lutas em prol da educação não-

formal, da educação formal e das associações docentes de todos os níveis. (Gohn, 2005).

Os anos de 1990 alteraram este movimento. Gohn (2005): alerta para o “clima de

descrença generalizado na política, nos políticos e nos organismos estatais”, focando a

propriedade das políticas neoliberais auxiliadas pelas forças internacionais na priorização

dos interesses do capital e do direcionamento conciliador, em detrimento das ações

críticas e ativas dos sujeitos sociais.

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Na década de 1980 a democratização da escola era fio

condutor das discussões e ações em busca da

universalização do acesso e da gestão democrática com

foco na formação do cidadão, culminando com o

período constituinte.

Na década de 1990: enfatizava a qualidade (produtividade)

desloca-se o eixo para a “busca de maior eficiência e eficácia

via autonomia da escola, controle de qualidade,descentralização

de responsabilidades e terceirização de serviços.”

Page 15: Dissertação   shimamoto - cap i

QUESTÃO NORTEADORA

Existiriam hoje, substancialmente estruturados, fios

teóricos e condições concretas que fundamentassem e

possibilitassem a materialização de uma política

educacional escolar com raiz democrática?

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HELOÍSA LückA escola deve passar por intensas e urgentes mudanças: garantir a formação competente

de seus alunos, assegurando-lhes à compreensão da vida, de si e da sociedade para ações

cidadãs, o desenvolvimento da criatividade, do empreendedorismo e do espírito crítico,

necessários aos enfrentamentos postos na atualidade.

A escola, além de assumir e constituir uma gestão inovadora, diferenciada, deve

contar necessariamente com a comunidade/sociedade.

A autora defende: a sociedade (e com ela a escola) altera sua concepção de educação,

escola e relação escola/sociedade, assumindo a gestão a responsabilidade de prover e

articular ações competentes, superando a antiga direção/administração hegemônica, de

consensos autocráticos e normativos e desenvolvendo ações participativas.

Page 17: Dissertação   shimamoto - cap i

Libâneo

Gestão e administração são terminologias sinônimas: atividades de mobilização e

efetivação de ações que visem ao alcance dos objetivos da organização escolar nos

aspectos gerenciais e técnico-administrativos, “processos intencionais e sistemáticos de se

chegar a uma decisão e de fazer a decisão funcionar”.

Concepções gestoras se embasam em dois enfoques: o científico-racional (concepção

técnico-científica) e o crítico, de cunho sócio- político (concepção autogestionária ou

democrático-participativa), que se constituem a partir das diferentes posições políticas e

percepções de homem e sociedade.

A concepção democrático-participativa: baseia-se na relação orgânica entre a direção e a

participação da equipe da escola, propondo a gestão com decisões coletivas e públicas

(não personalistas) para, a partir daí, cada trabalhador assumir seu papel na organização.

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REFLEXÕES

A escola reproduz em instâncias micro, as relações de trabalho estruturadas no

contexto social do qual participa.

Grande dificuldade de se realizar uma administração democrática em contextos ainda

autocráticos.

A descentralização enquanto conceito primordial na composição de relações de

poder com vias à participação e autonomia para materialização de políticas

democráticas parece esquecida quando a discussão coloca como foco quase único a

participação.

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Gadotti

Sugere que a comunidade deva assumir a gestão da escola para além do papel

fiscalizador ou meramente receptor dos serviços educacionais, os sujeitos

necessitam assumir sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola como

um todo.

A implantação de uma escola democrática deve-se a duas razões: formar para

a cidadania (escola enquanto espaço de aprendizado da democracia) e melhorar o

ensino, objetivo específico da escola.

Fortalece: a discussão da participação, autonomia e cidadania enquanto pilares

na construção da GED, considerando a autonomia e a gestão democrática partes

da própria natureza do ato pedagógico.

Page 20: Dissertação   shimamoto - cap i

Lück, Libâneo e Gadotti

Adotam concepções semelhantes no que tange à gestão democrática sendo

percebidas algumas divergências terminológicas quando o assunto é a

categoria gestão/administração.

Entretanto: a defesa da participação, autonomia e democratização enquanto

categorias chave é ponto comum entre eles, cujo modelo prático defendido e

direcionado é a gestão democrática, seja nos moldes da gestão compartilhada,

democrático-participativa ou da Escola Cidadã.

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PROBLEMATIZANDO: Lück, Libâneo e Gadotti

As teses de Lück, Libâneo e Gadotti : modelos de instrumentos para organização e

planejamento da escola. Em nenhum dos casos, apesar de mencionado e em certos

momentos questionado, propõe-se a reavaliação do papel do Estado no processo e

nem a modalidade das relações estabelecidas em nível macro – escola/instâncias da

sociedade civil e estatal.

Qual é o contexto? Quais seus sujeitos? A quem serve a educação efetivada?

Quais as conquistas? Quais os limites? Quais alcances estas propostas possibilitam?

Quais saberes negam ou camuflam? Quais concepções subentendem? Que

descentralização?

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REFLEXÃO Analítica

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Autonomia: um conceito em análise

A defesa da gestão democrática com o desenvolvimento de seus eixos

condutores é ponto comum entre Lück, Libâneo e Gadotti :

Comungam a negação da concepção técnico-científica, cujos processos

administrativos condizentes são administração clássica burocrática e, mais recentemente, a

gestão da qualidade total (GQT), com o desenvolvimento da administração empresarial nas

escolas. Ao negar aquela concepção, identificam-se com a concepção sócio-crítica

defendendo, entretanto, propostas práticas diferenciadas.

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PROXIMIDADES ENTRE AS CONCEPÇÕES EM ANÁLISE: O

contexto escolar como instrumento de apreciação

Lück : propõe a gestão compartilhada - trazendo em um de seus

títulos experiências na área.

Libâneo : propõe a gestão democrático-participativa, com foco no

desenvolvimento da cultura organizacional .

Gadotti: gestão democrática materializada

na proposta da Escola Cidadã.

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Lück, Libâneo e Gadotti: Gestão Escolar Democrática é uma condição quase natural

para o modelo democrático, trata-se de um modelo ideal.

Coutinho (1980) uma condição universal, o que faz com que o modelo de GED possa

ser efetivado, a partir de uma prescrição, como condição sine qua non para as

práticas transformadoras. Passo a passo, o sujeito se democratiza e efetiva a

participação.

Este movimento afasta condições que não estão sob o controle da organização, não

centra as contradições, opera a participação como condição ideal, e vê na autonomia

condição única para a efetivação da GED.