cap 2

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Cap 2 http://www.scarano.ecn.br/hpe2/Keynes.pdf Os postulados da teoria clássica discutidos por Keynes, no capítulo 2 da Teoria Geral (TG),e sua importância para o desenvolvimento do livro. Os dois postulados da teoria clássica discutidos por Keynes no segundo capítulo da Teoria Geral são os seguintes: I) o salário é igual ao produto marginal do trabalho; II) a utilidade do salário, quando se emprega determinado volume de trabalho, é igual à desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego. O primeiro, com o qual Keynes estava de acordo, expressa que o salário de um indivíduo empregado é igual ao valor que se perderia, na produção, caso se fosse reduzida uma unidade de emprego. Já o segundo postulado, do qual Keynes discordava, indica, segundo os autores clássicos 1 , que a mão-de-obra estaria sempre empregada, desde que se submetesse a trabalhar às taxas salariais de mercado, que eram determinadas de acordo com a oferta e procura de emprego. Este segundo postulado era compatível com os conceitos de desemprego friccinal (referente aos recursos não empregados, que estão em transição “entre um trabalho e outro”) e o de desemprego voluntário (relacionado à recusa ou incapacidade de aceitação de uma remuneração equivalente à sua produtividade marginal por parte de uma unidade de mão-de-obra). No entanto, esse postulado era incompatível com a possibilidade de desemprego involuntário, pois, como mostra Hansen, se o custo marginal das indústrias é crescente e se os assalariados insistem em reajustes dos salários monetários que compensem todos os aumentos de preços, um aumento na procura resulta unicamente em inflação de preços. Assim, conclui-se que caso tal postulado fosse verdadeiro, não seria possível aumentar o emprego

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Rsumo da teoria do Keynes

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Page 1: Cap 2

Cap 2 http://www.scarano.ecn.br/hpe2/Keynes.pdf

Os postulados da teoria clássica discutidos por Keynes, no capítulo 2 da Teoria Geral (TG),e sua importância para o desenvolvimento do livro.

Os dois postulados da teoria clássica discutidos por Keynes no segundo capítulo da Teoria

Geral são os seguintes: I) o salário é igual ao produto marginal do trabalho; II) a utilidade do

salário, quando se emprega determinado volume de trabalho, é igual à desutilidade marginal desse

mesmo volume de emprego. O primeiro, com o qual Keynes estava de acordo, expressa que o

salário de um indivíduo empregado é igual ao valor que se perderia, na produção, caso se fosse

reduzida uma unidade de emprego. Já o segundo postulado, do qual Keynes discordava, indica,

segundo os autores clássicos1, que a mão-de-obra estaria sempre empregada, desde que sesubmetesse a trabalhar às taxas salariais de mercado, que eram determinadas de

acordo com aoferta e procura de emprego. Este segundo postulado era compatível com os

conceitos dedesemprego friccinal (referente aos recursos não empregados, que estão em

transição “entre umtrabalho e outro”) e o de desemprego voluntário (relacionado à recusa ou

incapacidade deaceitação de uma remuneração equivalente à sua produtividade marginal por

parte de umaunidade de mão-de-obra). No entanto, esse postulado era incompatível com a

possibilidade dedesemprego involuntário, pois, como mostra Hansen, se o custo marginal das

indústrias écrescente e se os assalariados insistem em reajustes dos salários monetários que

compensemtodos os aumentos de preços, um aumento na procura resulta unicamente em

inflação de preços.Assim, conclui-se que caso tal postulado fosse verdadeiro, não seria possível

aumentar o empregopela elevação da Demanda Agregada. Portanto, a discussão travada por Keynes

no segundo

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capítulo do seu livro se tornaria fundamental para o desenvolvimento do mesmo, pois ao negar que

a utilidade do salário real corrente fosse exatamente igual à desutilidade marginal do trabalho,

abria caminho para a argumentação sobre a possibilidade de desemprego involuntário e portanto

de equilíbrio não a pleno emprego. Nas próprias palavras de Keynes:“(...) uma quantidade de mão-de-obra superior a atualmente empregada

encontra-se,normalmente, disponível ao salário nominal vigente, mesmo quando se verifica

uma alta no preçodos bens de consumo de assalariados e, conseqüentemente, decresce o salário

real. Sendo issoverdadeiro, os bens de consumo de assalariados equivalente ao salário nominal

vigente nãorepresentam a verdadeira medida da desutilidade marginal do trabalho e o

segundo postuladodeixa de ter validez.”Dessa maneira, concluía-se que os trabalhadores estariam dispostos a

empregar-se,aceitando a taxa salarial monetária vigente, mesmo que, dadas as condições de crescentes custos marginais, os aumentos no nível de emprego acarretassem preços mais altos, que concorreriam

para abaixar as taxas salariais reais. Por outro lado, Keynes argumentava que as reduções dos

salários nominais eram ineficientes para a busca do pleno emprego, pois a renda monetária dos

assalariados basicamente controlava a procura total de bens de consumo. Assim, se as taxas

salariais reais caíssem generalizadamente (pressionadas pela queda dos salários nominais, em

função da competição no mercado de trabalho), a procura monetária de bens e conseqüentemente

a procura de trabalho também cairia. Portanto, a solução apontada por Keynes para atingir-se o

equilíbrio a pleno emprego era a utilização de políticas de elevação da Demanda Agregada.

Comparação da lei de Say com o princípio da demanda efetiva de Keynes. O marco teórico

da teoria clássica e o avanço teórico da TG.A lei de Say, que se fundamentava na idéia de que toda oferta cria sua própria

demanda, étida como marco teórico da economia clássica. Sua longevidade, como mostra

Miglioli (1993: 11-2)

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ao citar Kalecki, se deve principalmente ao fato de representar os interesses da classe capitalista e

ser, aparentemente, confirmada pelas experiências individuais cotidianas, no trato das economias

pessoais dos indivíduos. Pasinetti (35-8) enfatiza a força do instrumental analítico desenvolvida

com bastante coerência pelos seguidores da lei de Say, que, embora muitas vezes incoerente com

a prática, mantinha-se praticamente incontestável analiticamente pelo estabilishment econômico.

De acordo com a lei de Say, um capitalista, ao vender sua mercadoria, recebe uma quantia de

dinheiro equivalente à necessária para comprá-la. Com este dinheiro o capitalista mantém em

atividade seu próprio negócio (paga salários, compra matérias-primas, arca com os demais custos

de produção e adquire meios de produção adicionais para ampliar sua atividade), bem como,

adquiri para si bens de consumo. Desse modo, a receita do capitalista é dividida em diversas

“compras” de valor igual a receita. Generalizando esse raciocínio, o conjunto da produção gera um

poder de compra suficiente para absorver toda a produção. Como Keynes (1985:26) aponta, a

aparente plausibilidade da lei de Say se dá “porque é difícil distinguir essa proposição de outra

análoga e incontestavelmente verdadeira, ou seja, a de que a renda obtida globalmente por todos

elementos da comunidade, que participam de uma atividade produtiva, tem necessariamente um

valor exatamente igual ao valor da produção.”Assim colocada a lei de Say, torna-se mais fácil ver porque a mesma era um

importantesuporte teórico para o capitalismo. Primeiramente, ao colocar que a oferta cria

a própria demanda,afastava a possibilidade de uma crise geral como fruto do próprio

desenvolvimento do capitalismo;“bastava produzir que os problemas econômicos se resolveriam”. Por tal lei as

únicas crisespossíveis eram aquelas de caráter setorial e passageiro, pois havendo excesso

de produção de umdeterminado bem, haveria, em contrapartida, uma deficiência de produção em

outro(s) setor(es).

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Assim, a demanda real era vista como limitada unicamente pela produção.Paulo Rogério - HPE-II 3

Por outro lado, pela Lei dos Mercados de Say, justificava-se o princípio de não interferência

do governo na economia, pois os gastos do governo eram vistos como uma transferência de

despesas do setor privado para o setor estatal, cujas atividades eram consideradas improdutivas.

Portanto seu tamanho deveria se restringir ao estritamente necessário para seu funcionamento, de

modo que seu financiamento não restringisse, através dos tributos, os recursos disponíveis para

investimento e, conseqüentemente para o crescimento econômico.A lei de Say implicava também que a única função da moeda era a de facilitar

as trocas,sendo a própria economia uma economia de trocas, onde o que não era gasto

por um determinadoagente era poupado e, por conseguinte, emprestado para que um outro pudesse

investir, pagando,ao primeiro, juros. Assim, a taxa de juros determinava o equilíbrio entre

poupança e investimento,inexistindo portanto entesouramento.O pleno emprego também estaria garantido como uma implicação da lei de

Say, comomostra o segundo postulado da economia clássica abordado por Keynes no

segundo capítulo daTeoria Geral:“A utilidade do salário, quando se emprega determinado volume de trabalho é

igual à desutilidademarginal desse mesmo volume de emprego.”Tal afirmação implicava que todos que desejassem trabalho, desde que se

submetessemàs taxas salariais de mercado, encontravam emprego.A lei de Say, desde os tempos de Malthus, já encontrava percalços quanto sua

aplicaçãoprática. Mas, como destaca Pasinetti (1979:38), cerca de um século decorreu

até que, à luz damaior crise econômica pela qual o capitalismo passou (conforme realça

Miglioli, (1993:12), viesse atona, pelas mãos de Keynes, um arcabouço teórico-analítico capaz de se

contrapor à “lei de Say”.Tratava-se do desenvolvimento do princípio da demanda efetiva por Keynes.

Por demanda efetiva

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entende-se o ponto em que a demanda agregada coincide com a oferta agregada. Neste único

ponto de equilíbrio a remuneração paga aos fatores produtivos pelo incremento marginal da

produção se traduz em demanda equivalente ao custo marginal de oferta. Além desse ponto a

demanda se tornaria insuficiente em relação ao custo de oferta, acarretando perdas para os

empresários. Vale ressaltar, como o fez Pasinetti (1979:38), que a capacidade produtiva não

significa produção, mas apenas produção potencial, que para converter-se em produção efetiva

precisa de uma demanda efetiva. Assim, quando os produtores esperam uma redução da

demanda, diminuem sua produção, independentemente de sua capacidade produtiva. Quando

esperam um aumento da demanda aumentam, também, sua produção até o limite da capacidade

produtiva, momento a partir do qual um aumento na demanda gera um movimento inflacionário.

Para Keynes (1985:31-2) quando o emprego aumenta a renda real aumenta também, aumentando,

conseqüentemente, o consumo da comunidade, porém em proporção menor que a renda. Assim

deveria existir um volume de investimento de tal monta que pudesse absorver o excesso dePaulo Rogério - HPE-II 4

produção total em relação ao desejo de consumo da comunidade de modo a justificar o volume de

emprego encontrado a tal nível. Mas, conforme Keynes, o montante de investimento depende da

eficiência marginal do capital e dos juros. Assim, dada a propensão da comunidade a consumir e a

taxa do novo investimento, haverá apenas um nível de emprego compatível com o equilíbrio

(quando a curva de demanda agregada intercepta a curva de oferta agregada), que é limitado pelo

pleno emprego dos recursos, mas não necessariamente igual ao mesmo. Para Keynes, a demanda

efetiva associada ao pleno emprego é um caso especial, uma relação ótima, que só ocorre por

desígnio ou acidente. Assim, o avanço teórico da TG é demonstrar, através de um arcabouço

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analítico, que pode haver um equilíbrio entre demanda agregada e oferta agregada (o ponto de

demanda efetiva) não a pleno emprego. Tal conclusão permitia justificar políticas corretivas no

curso da economia através da elevação da demanda agregada.O papel das expectativas e da tecnologia na determinação do nível de emprego.As expectativas assumem papel de destaque em Keynes, pois, normalmente,

existe umhiato de tempo entre o momento em que o produtor decide assumir os custos de

uma determinadaprodução e o momento da compra da produção pelo consumidor final.

Portanto, é necessário aoempresário estimar, da melhor maneira possível, o quanto os consumidores, ao

final do períodonecessário à produção, estarão dispostos a pagar-lhe por tal empreitada. Pode-

se classificar asexpectativas do empresário em expectativas a curto prazo e expectativas a

longo prazo. Asexpectativas a curto prazo são aquelas relacionadas com o preço que o

empresário espera obterpor sua produção acabada no momento em que decide iniciar o processo de

produção. Já asexpectativas a longo prazo são relacionadas às estimativas de ganhos futuros,

pelo empresário,caso sejam comprados ou produzidos novos produtos acabados para serem

adicionados a seuequipamento de capital. Para Keynes são essas diversas expectativas que

determinam o volumede emprego oferecido, sendo que a influência dos resultados efetivamente

realizados só se dá namedida em que contribuem para alterar as expectativas do período seguinte.

Keynes afirma que,embora o empresário leve em consideração seu equipamento de capital e seus

estoques, asdecisões cotidianas a respeito da quantidade a ser produzida serão tomadas

baseadas em suasexpectativas atuais a cerca de custos e de vendas futuras. Keynes (1985:45)

resume tal idéia daseguinte maneira:“Pode-se (...) dizer que o emprego de hoje é governado pelas expectativas de

hoje, consideradasjuntamente com o equipamento de capital de hoje.”

Page 7: Cap 2

No entanto, Keynes não deixa de considerar que tudo isso implica em um processo de

transição ininterrupto, em que as expectativas dos empresários estão sujeitas a variaçõesPaulo Rogério - HPE-II 5

constantes, sobrepondo-se umas às outras, muitas vezes antes mesmo que uma expectativa inicial

tenha produzido todo seu efeito. Mas, tais expectativas estão incorporadas no equipamento de

capital atual, diante do qual o empresário toma suas decisões, sendo que as expectativas

anteriores só influem sobre as atuais, ao passo que tenham sido incorporadas nessas últimas.

Já a tecnologia tende a influir na determinação do nível de emprego à medida em que

altere a curva de eficiência marginal do capital2. Quando se eleva a curva de eficiência marginal docapital, isto é, a demanda de investimentos, o emprego aumenta. Quando se

diminui a curva deeficiência marginal do capital o volume de emprego diminui. Vale destacar que

existe forte relaçãoentre o emprego e as expectativas de alterações tecnológicas, pois a produção

obtida com umequipamento fabricado hoje irá competir, enquanto este não estiver totalmente

depreciado (ouseja, enquanto estiver em condições de produzir), com outro, fabricado mais

tarde, que poderáoferecer melhor desempenho de produção e custos, com possíveis impactos

sobre o preço devenda da produção. Assim., o lucro do empresário poderá ser reduzido caso o

produto venha aser obtido de modo mais barato. À medida em que hajam expectativas a cerca

de taisdesenvolvimentos a eficiência marginal do capital produzido no presente tende

a cair.A importância do investimento e do consumo na determinação do nível de

emprego,enfatizando o papel do multiplicador.Keynes, em sua explanação sobre a relação existente entre o investimento, o

consumo e onível de emprego afirma que:“(...) o emprego só pode aumentar ‘pari passu’ com o investimento, a não ser

que haja uma

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mudança na propensão marginal a consumir.”Dessa afirmação, pode-se depreender algumas relações. A primeira é a de que

o empregoaumenta em função do investimento. A segunda é a de que existe algum ponto

relacionado aoconsumo que determina o quanto o emprego pode aumentar em função de um

determinadoinvestimento. Para se entender essa última relação, faz-se necessária uma

definição de propensãomarginal a consumir. Keynes (1985:32) traz uma definição a esse respeito:“A relação entre a renda de uma comunidade e o que se pode esperar que ela

gaste em consumo,designado por D1, dependerá das características psicológicas da comunidade, a

que chamaremosde propensão marginal a consumir.”Paulo Rogério - HPE-II 6Keynes diz ainda que o consumo depende da renda agregada e por conseguinte

do nívelde emprego, a menos que haja mudança na propensão a consumir. Por outro

lado, as variaçõesda renda e do consumo têm o mesmo sentido, porém não a mesma intensidade.

Assim, quando arenda da sociedade aumenta, o consumo também aumenta, embora menos.Voltemos, então, à relação entre consumo, emprego e investimento extraída da

afirmaçãode Keynes com a qual iniciou-se essa discussão. Mantidos os investimentos já

programados edado um novo investimento (por exemplo, obras públicas), observar-se-á que

somente na hipóteseda comunidade manter inalterado seu consumo, apesar do aumento de sua

renda real, em virtudedo novo investimento, é que o aumento do emprego ficará restrito ao emprego

primárioproporcionado pelas obras públicas. Numa hipótese normal, a medida em que a

renda aumenta, oconsumo também aumenta, embora em menores proporções, gerando,

conseqüentemente, umaumento no volume de emprego, pois o emprego primário estimula os

industriais que produzempara consumo, aumentando o emprego total. Assim a relação entre o fluxo de

investimento e osvolumes agregados de emprego e renda é dada pelo multiplicador. Desse

modo, se para Keynes:

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(1) Y = C + I e (2) C = f(Y) , onde Y = renda; C = consumo; I = investimento; f = propensão

marginal a consumir.Substituindo 2 em 1, teremos:Y = f(Y) + II = Y - f(Y)I = Y(1 - f)E, portanto:dY = (1/1 -f).dIOnde 1/1 -f é o multiplicador.O conceito do multiplicador é muito importante, pois um aumento do

investimento, emunidades de salário, só poderá ocorrer se o público estiver disposto a aumentar

sua poupança (nasmesmas unidades). No entanto, o público só aumentará sua poupança se sua

renda agregada (em unidades de salário) aumentar. Assim, com o consumo de parte da renda

adicional, estimula-sea produção até que se gere um nível de renda que proporcione poupança

suficiente paracorresponder ao maior investimento. O multiplicador mostra a proporção de

emprego que deve seraumentado para atingir esse nível de renda. 2 Vale destacar que a eficiência marginal do capital leva também em conta a

renda esperada docapital (e não apenas a renda corrente)Paulo Rogério - HPE-II 7Pode-se observar, a partir da fórmula do multiplicador, que quanto maior for a

propensãomarginal a consumir, maior será o aumento do volume de emprego gerado por

um investimento.No entanto, é válida a lembrança de que à medida que se aproxima do pleno

emprego apropensão marginal a consumir diminui. No pleno emprego o aumento do

investimento geraapenas inflação, qualquer que seja a propensão marginal a consumir. Até então,

a alta dos preçosserá acompanhada de aumento de renda agregada.Por último, vale relacionar alguns dos fatores citados por Keynes como

inibidores da

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manifestação plena dos efeitos do multiplicador, ressalvando, como faz o autor, que os três

primeiros fatores foram primeiramente apontados por R.F. Khan: (1) alta de preços, causada pelo

aumento do consumo, que eleva a taxa de juros, retardando investimentos em outros setores; (2)

aumento na preferência pela liquidez ou diminuição na eficiência marginal do capital; (3)

“exportação” de empregos, numa economia aberta, via aumento das importações; (4) propensão

marginal a consumir não é constante para qualquer nível de renda, tendendo a diminuir à medida

que esta se eleva; (5) aumento relativo da renda das classes altas com menor propensão marginal

a consumir; (5) existência prévia de camadas consideráveis da população vivendo de poupança

negativa.De todo modo, vale explicitar que a justificativa pela qual um investimento

pode gerarvariações no emprego e, conseqüentemente, na renda é dada pelo princípio

geral domultiplicador.As diferenças entre a teoria clássica e a Teoria Geral da taxa de juros.Para os clássicos a taxa de juros era o fato que equilibraria a demanda de

investimentoscom a oferta de poupança. Deve-se observar que quanto mais alta a taxa de

juros menor ademanda por investimentos, mas, maior a oferta de poupança (de acordo com a

lógica clássica).Seguindo esse raciocínio obteríamos que, quanto mais baixa a taxa de juros

maior a demanda porinvestimentos, ao passo que menor seria a oferta de poupança. Assim a taxa de

juros igualariainvestimento e poupança.Paulo Rogério - HPE-II 8E = Ponto onde S = IS = PoupançaI = InvestimentoU = Unidades Monetáriasi = Taxa de JurosA teoria clássica da taxa de juros estava de acordo com a sua lógica de que os

mercadosse auto regulariam, ao nível de pleno emprego. Assim, os capitalistas

empregavam até o ponto em

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que o produto marginal do trabalho fosse igual ao salário, maximizando seus lucros. Nessas

condições, o desemprego existente só era justificável porque os trabalhadores se recusavam a

aceitar cortes salariais para igualar seu salário ao produto marginal resultante, caso resolvessem

trabalhar. Portanto, não haveria desemprego involuntário. Toda renda seria, ou gasta, ou poupada.

Dessa maneira, o equilíbrio ocorreria sempre.Já para Keynes, a taxa de juros é formada pela relação existente entre a

preferência pelaliquidez e a oferta de moeda, determinada pela Autoridade Monetária. Para

Keynes haveria umsérie de motivos (motivo-transação, motivo-precaução, motivo-especulação)

que levariam osindivíduos a desejarem reter moeda a cada nível de taxa de juros. Tais motivos

podem sercolocados sucintamente da seguinte maneira: o motivo-transação justifica a

quantidade de moedaretida para as transações correntes a nível pessoal ou comercial; motivo-

precaução justifica aquantidade de moeda retida por segurança, como garantia contra infortúnios;

motivo-especulaçãojustifica a moeda retida com intuito de auferir-se maiores lucros futuros,

esperando que os outrosagentes tivessem expectativas erradas sobre o futuro das taxas de juros. A

preferência pelaliquidez - demanda de moeda - é inversamente relacionada com a taxa de

juros, e tende ao infinitoantes dessa chegar a zero (curva de preferência pela liquidez). Assim, a taxa de

juros seráPaulo Rogério - HPE-II 9determinada pela quantidade de moeda M emitida pela Autoridade Monetária

(ponto onde Mintercepta a curva de preferência pela liquidez L).Tal teoria vem de encontro com a necessidade de se mostrar a determinação

exógena dataxa de juros, em relação ao processo de geração de renda, para o princípio da

demanda efetiva,demonstrando as dificuldades do sistema em encontrar oportunidades de

investimento suficientespara compensar os níveis de poupança cada vez mais altos gerados em seu

interior, o que

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acabava por gerar um equilíbrio entre oferta e demanda agregada, porém com depressão e

desemprego generalizado.O conceito de eficiência marginal do capital e seu papel na determinação do

nível deemprego.A eficiência marginal do capital é definida por Keynes (1985:101) como “a

taxa dedesconto que tornava o valor presente do fluxo de anuidades das rendas

esperadas desse capital,durante toda sua existência, exatamente igual seu preço de oferta.” Cabe

indicar aqui que Keynesconsidera preço de oferta de um bem de capital o preço que bastava para

induzir o fabricantedesse bem a produzir uma unidade suplementar do mesmo, ou seja, seu custo

de reposição.Assim, pode-se concluir que a eficiência marginal do capital relaciona a renda

esperada (ou seja, ofluxo de rendas futuras que se espera obter como fruto de um investimento ou

de um bem decapital adquirido) com o custo de reposição daquele tipo de capital, Keynes

frisa que tal definiçãoconsidera a expectativa da renda (e não o resultado histórico obtido por um

investimentoobservado retrospectivamente) bem como o custo de reposição corrente.Paulo

Rogério - HPE-II 10Agregando-se as escalas que mostram a proporção em que aumentando o

investimentoem um dado capital durante um determinado período reduz-se para certo nível

sua eficiênciamarginal, obtêm-se uma escala que se chama curva de eficiência marginal do

capital (ou curva dedemanda por investimento), que relaciona a taxa de investimento agregado

com a respectivaeficiência marginal do capital em geral que aquela taxa de investimento

estabelecerá.Estabelecido o conceito de curva de eficiência marginal do capital (ou curva de

demandapor investimento), cabe apresentar, agora, o que determinará, na Teoria Geral

de Keynes, o nívelde investimento. Segundo o autor, o investimento irá variar até o ponto da

curva de demanda de

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investimento em que a eficiência marginal do capital em geral é igual a taxa de juros do mercado.

Conclui-se, portanto, que o investimento depende da curva de demanda por investimento e da taxa

de juros.Keynes demonstra que a eficiência marginal do capital tem marcante influência

nadeterminação do nível de emprego, pois, se determinado fator eleva a curva de

eficiência marginaldo capital, estimula-se um investimento, que por sua vez tende aumentar o

volume de emprego.Nesse sentido, as expectativas exercem grandes influências sobre a eficiência

marginal do capital.Por exemplo, a expectativa de uma baixa no valor da moeda tende a aumentar a

demanda porinvestimentos e, conseqüentemente o emprego. Já, a uma expectativa de alta

no valor da moeda,o efeito seria o inverso. Por outro lado, expectativas de reduções futuras no

custo de produção(quer por queda nas taxas de salários, quer por alterações tecnológicas) tendem

a reduzir a escalapresente de demanda por investimento e portanto a reduzir o volume de

emprego.Cabe uma observação final com relação eficiência marginal do capital. Maiores

taxas deinvestimento tendem a torná-la declinante por dois motivos: maior procura

pelos bens de capitaltende a elevar seu preço e, portanto, o custo de reposição; e o maior

investimento global implicaem menores retornos.Apreciação do artigo de HICKS (1937), Mr. Keynes and the classics: a

suggestedinterpretation.Observa-se no artigo de Hicks: “Mr. Keynes and the classics a suggested

interpretation”manipulações aparentemente inofensivas das relações da Teoria Geral de

Keynes, que terminampor alterar seu sentido original, como veremos a seguir.Da Teoria Geral de Keynes podemos extrair, como faz Pasinetti (1979:43-9),

as seguintesrelações:a) A demanda efetiva, que é geradora de renda, é formada pela soma da

demanda de bens de

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consumo (C) e da demanda de bens de investimento (I). Tal relação pode ser expressa da

seguinte maneira: Y = C + I (a)b) O consumo é função da renda (Y). Assim: C = ƒ(Y) (b)Paulo Rogério -

HPE-II 11c) O investimento na Teoria Geral de Keynes, é tido como não dependente da

renda, mas sim dalucratividade esperada de todos os possíveis projetos de investimento e da taxa

de juros que emsua teoria está inversamente relacionada com a demanda por moeda, que tende

ao infinito antesda taxa de juros chegar a zero - curva de preferência pela liquidez. Dessa

maneira: I = f(E, i)(c); onde I = investimento, E = lucratividade esperada e i = taxa de juros.d) A taxa de juros é determinada pela intersecção da curva de preferência pela

liquidez (L) com aquantidade de moeda determinada pela Autoridade Monetária (M).Desse modo: i = f(L,M) (d)Tomadas as relações acima, pode-se seguir analisando o artigo “Keynes and

the classics”.Hicks, primeiramente, nega que a teoria de Pigou seja um escrito típico da

teoria clássica.Literalmente: “(...) Keynes considera como “típicos da economia clássica” os últimos

escritos do Prof. Pigou,especialmente The Theory of Unemployment (...) que ainda não causou muita

impressão nosensinamentos normais de economia.” (Hicks, 1937). E segue afirmando: “Nessas circunstâncias, parece valer a pena tentar construir uma teoria

tipicamente clássica (...)Se pudermos construir tal teoria e mostrar que oferece resultados que, de fato,

têm sidocomumente aceitos, mas que não concordam com as conclusões de Keynes,

então teremos porfim uma base satisfatória de comparação.” Assim, Hicks constrói seu modelo de “economia clássica”, chegando ao

seguinte sistema deequações: (a) M = kY , (b) Ix = C(i) , (c) Ix = S(i, Y), que podemos traduzir

como:(a) a demanda por moeda está relacionada com a renda;(b) o investimento depende da taxa de juros

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(c) o investimento é igual a poupança, sendo que esta depende da taxa de juros e da renda.

A partir de então, Hicks passa comparar e manipular as equações de sua “teoria clássica”

com aquelas extraídas de Keynes, da seguinte maneira. Aceita a identidade Y = C + Y. Dá à

equação I = f(E, i) o caráter de produtividade marginal do capital. Afirma que a poupança (em vez

de afirmar consumo) é função da renda e introduz a taxa de juros nessa relação. Torna a demanda

por moeda função também da renda, além da dependência original da taxa de juros. Ao final,

obtém as seguintes equações: M = L(Y,i) ; I = C(Y,i) e I = S(Y,i).Dessa maneira, Hicks promove uma ruptura no encadeamento básico da

argumentação deKeynes, transformando, a revelia desse, suas relações num sistema de equações

simultâneas: oconhecido sistema IS-LM . A partir de suas manipulações transforma a Teoria

Geral do EmpregoPaulo Rogério - HPE-II 12de Keynes em uma Teoria especial de Keynes, um caso particular de uma

teoria geral maisortodoxa. Vejamos a seguir a teoria geral proposta por Hicks:• a uma dada quantidade de moeda a equação M = L(Y,i) oferece uma relação

entre a renda (Y)e a taxa de juros (i), que será representada pela curva (LL), que se inclinará

ascendentemente,visto que um aumento na renda tende a elevar a demanda por moeda e um

aumento na taxa dejuros tende diminuí-la;• as outras duas equações da teoria geral de Hicks [I = C(Y, i); I = S(Y,i)] são

tomadas emconjunto, apresentando outra relação entre renda e juros, a curva IS, que

mostrará a relaçãoentre os mesmos que manterá a igualdade entre poupança e investimento;• na intersecção das curvas IS e LL, o ponto P, são determinadas a renda e a

taxa de jurosdaquela economia;• observa-se que o gráfico é dividido em três áreas;• na primeira área temos o que Hicks chamou de “teoria especial de Keynes”,

pois nessa área umaumento na função eficiência marginal do capital não eleva a taxa de juros;• na terceira área, para Hicks, passa a valer uma aproximação da teoria clássica:

prevalece a

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elevação a taxa de juros se aumentar a propensão a investir;• na área intermediária ocorreria a situação mais normal: alterações nas

propensões a investir ouconsumir, bem como mudanças tanto na renda quanto na taxa de juros.A “remodelagem” de Hicks à análise de Keynes tenta eliminar a contribuição

do princípiode demanda efetiva desse último, em virtude do artifício utilizado pelo

primeiro de relacionar aspoupanças aos investimentos, regulando-os pela taxa de juros e resgatando,

assim, a lei de Say.Como Hicks não foi bem sucedido ao inserir a renda no artifício em relação à

preferência pelaliquidez, não retorna a velha teoria monetária. Porém, a teoria de preferência

pela liquidez da taxaPaulo Rogério - HPE-II 13de juro é “inofensiva” se tornada independente da teoria da demanda efetiva,

pois para essa últimaera apenas necessário que a taxa de juros fosse determinada exogenamente ao

processo degeração de renda, não importando quais fatos justificariam essa determinação

exógena. Assim,para Hicks, a obra de Keynes além de tratar de um caso especial, a Economia

da Depressão,deixaria como contribuição básica a teoria de preferência pela liquidez da taxa

de juros.Cabe, para concluir, referendar uma ressalva, muito apropriadamente levantada

porPasinetti (1979:57-8): são características dos modelos de troca pura serem

expressosprecisamente por um sistema de equações simultâneas, do qual os preços

emergem comosoluções, que, no entanto se distanciam das peculiaridades de uma sociedade

industrial. Análisesde deslocamento de curvas (do tipo IS-LM) esbarram na questão de que o

deslocamento de umacurva não é independente dos deslocamentos das outras. Diluir as inovações de

Keynes,remodelando sua análise de modo a aproximá-la da lei de Say, é um passo no

sentido ideológicode justificar a idéia simplista de que os mercados se auto-regulam, bastando,

para tanto,eliminarem-se as rigidezes da economia como se estas fossem causa e não

conseqüência dasociedade industrial.Paulo Rogério - HPE-II 14