cap. 2-aquisição marinha

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2. AQUISIÇÃO SÍSMICA DE DADO MARINHO 2.1 Histórico / Prospecção Sísmica Marinha No início de 1900 começou a aquisição sísmica, quando Reginald Fessenden, responsável pela física da companhia Submarine Signaling Co. de Boston, usava ondas sonoras para medir a profundidade do mar e o tamanho de icebergs. Em 1913, os instrumentos sísmicos tornaram-se mais sofisticados e foi possível fazer a coleta de dados através do método de refração e reflexão de sinais (ondas sísmicas). Então, com o avanço da tecnologia, a sísmica passou por quatro grandes revoluções: -Uso de transistores, fitas tape e common-depth-point (CDP). -O início da sísmica digital, no começo dos anos 60. -No início dos anos 70, começa o uso da sísmica 3D e de computadores mais robustos desenvolvidos para coletar dados e elaborar gráficos digitais. -E a partir dos nos anos 80, começa o uso da sísmica 4D. A aquisição de dados sísmicos tem como finalidade adquirir informação do meio em subsuperfície, reconhecer e mapear as estruturas geológicas de subsuperfície do fundo do mar, baseados nas propriedades físicas das rochas. De acordo com o lugar onde ela é realizada ela se divide em aquisição terrestre, marinha ou de zona de transição. Figura 1 Experimentos sísmicos são geralmente divididos em levantamento terrestre, zona de transição e levantamento marinho (Fonte: Ikelle, 2005)

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Page 1: Cap. 2-Aquisição Marinha

2. AQUISIÇÃO SÍSMICA DE DADO MARINHO

2.1 Histórico / Prospecção Sísmica Marinha

No início de 1900 começou a aquisição sísmica, quando Reginald Fessenden,

responsável pela física da companhia Submarine Signaling Co. de Boston, usava

ondas sonoras para medir a profundidade do mar e o tamanho de icebergs. Em

1913, os instrumentos sísmicos tornaram-se mais sofisticados e foi possível fazer a

coleta de dados através do método de refração e reflexão de sinais (ondas

sísmicas). Então, com o avanço da tecnologia, a sísmica passou por quatro grandes

revoluções:

-Uso de transistores, fitas tape e common-depth-point (CDP).

-O início da sísmica digital, no começo dos anos 60.

-No início dos anos 70, começa o uso da sísmica 3D e de computadores mais

robustos desenvolvidos para coletar dados e elaborar gráficos digitais.

-E a partir dos nos anos 80, começa o uso da sísmica 4D.

A aquisição de dados sísmicos tem como finalidade adquirir informação do

meio em subsuperfície, reconhecer e mapear as estruturas geológicas de

subsuperfície do fundo do mar, baseados nas propriedades físicas das rochas. De

acordo com o lugar onde ela é realizada ela se divide em aquisição terrestre,

marinha ou de zona de transição.

Figura 1 – Experimentos sísmicos são geralmente divididos em levantamento terrestre, zona de transição e levantamento marinho

(Fonte: Ikelle, 2005)

Page 2: Cap. 2-Aquisição Marinha

Utilizada primordialmente pela indústria de petróleo e gás, a aquisição sísmica

marinha vem crescendo substancialmente devido o incremento de inovações. Com o

avanço da tecnologia, houve um aperfeiçoamento na aquisição de dados e,

consequentemente, no imageamento da subsuperfície, o que tem permitido

encontrar novas reservas.

Os dados de sísmica marinha são fundamentais para a identificação,

compreensão e localização de alvos exploratórios, como estruturas geológicas que

possam conter acumulações de óleo e/ou gás em condições e quantidades que

permitam o seu aproveitamento econômico e também maior precisão na perfuração

de poços.

2.1 Equipamentos

Na aquisição marinha são utilizados três tipos de instrumentos: o Navio

Sísmico, as Fontes Sísmicas e os Hidrofones (Receptores).

O Navio Sísmico deve possuir conveses e equipamentos a bordo apropriados

para aquisição sísmica, uma praça enorme de compressores e muitas garrafas para

ar comprimido, que são usados como fonte para coleta dos dados, através de

“explosões” programadas por “canhões de ar comprimido” enquanto navega. Para

coleta de dados, os navios sísmicos arrastam cabos com equipamentos e sensores

acoplados a eles (streamers), da qual possuem nomes técnicos apropriados, cada

navio possui uma configuração especifica, variando em razão da quantidade de

cabos que são arrastados no mar, podem ser para 6, 8, 10, 12, 14, 16 e até com 22

cabos e o comprimento também destes cabos varia de configuração para

configuração (Blog Mercante, 2012)1. Todo navio sísmico possui um ou dois barcos

de serviço transportados por ele e são usados às vezes, diariamente, para reparo

dos streamers na água ou inspeções, in loco, transferência de materiais entre

navios, ou passageiros.

1Disponível em: < http://www.blogmercante.com/2010/12/quer-trabalhar-no-offshore-navios-

sismicos/>

Page 3: Cap. 2-Aquisição Marinha

Figura 2 - Navio Sísmico

(Fonte: PGS)

As fontes sísmicas são acopladas ao navio sísmico e geram ondas mecânicas

em intervalos regulares. Atualmente, as fontes mais empregadas são as fontes

sísmicas não explosivas, à exemplo o canhão (cilindro metálico) de ar comprimido.

Responsável pela liberação do ar contido nos cilindros à alta pressão, gerando as

ondas sísmicas.

Page 4: Cap. 2-Aquisição Marinha

Figura 3 - Canhão de ar

Fonte: Oceanica - UFRJ2

Figura 4 - Fonte de explosão do Air Gun

(Fonte: Material de Processamento Sísmico – Ellen Gomes)

2 Disponível em:

<Fonte:http://www.oceanica.ufrj.br/deno/prod_academic/relatorios/2009/Bruna_Joseane/relat1/princip

al.htm>

Page 5: Cap. 2-Aquisição Marinha

Os Hidrofones são sensores piezoelétricos que captam a onda acústica

refletida e produzem um sinal elétrico, em suma, é um transdutor de som para

eletricidade que permite a escuta de sons debaixo de água. (Origem: Wikipédia, a

enciclopédia livre.)

Figura 5 - Hidrofone

Fontes: Horta - UAC3 / Material de Processamento Sísmico – Ellen Gomes

2.2 Levantamento Sísmico

A sísmica marinha se inicia com a geração de ondas acústicas a partir de

disparos de canhão de ar comprimido diretamente na água. Essas ondas se

propagam até atingir o fundo do mar. Quando encontram meios com

heterogeneidades diferentes (ou maiores que o comprimento de onda?), parte dessa

energia é refletida das rochas e volta à superfície, sendo esta captada pelos

hidrofones, parte é refratada e parte é transmitida para as camadas rochosas

subjacentes.

A energia captada pelos hidrofones dispostos em intervalos regulares ao

longo de cabos sismográficos é convertida em sinais elétricos, que são amplificados,

filtrados, digitalizados e gravados. Os dados sísmicos gravados passam por

processos computacionais digitais para produzir imagens de estruturas superficiais

da Terra. Esses dados sísmicos são então processados e interpretados, permitindo

determinar que tipo de rochas elas representam, verificar se tais rochas podem

3 Disponível em: <http://www.horta.uac.pt/intradop/index.php/80-notas/notas/1001-rede-de-hidrofones-

para-monitoriza-de-cetos>

Page 6: Cap. 2-Aquisição Marinha

conter recursos minerais importantes ou identificar se estruturas geológicas

(armadilhas) têm condições de possuir acumulações de hidrocarbonetos.

Figura 6 - Aquisição de dados sísmicos com cabos flutuantes

Fonte: IBAMA, 2003

A prospecção marinha é realizada através dos navios sísmicos em áreas

previamente selecionadas e demarcadas por linhas que definem o trajeto de uma ou

mais embarcações durante a atividade sísmica. Comumente, esses navios se

deslocam a uma velocidade média de 15km/h e são equipados com grupos de

canhões de ar e rebocam cabos sismográficos com comprimentos que variam entre

4km e 16km. Durante o período de aquisição a área ocupada pelos cabos esticados

pode chegar a 10 km².

Geralmente, a aquisição marinha é realizada durante as 24 horas do dia, com

disparos realizados de forma regular, dependendo das características do

levantamento.

Page 7: Cap. 2-Aquisição Marinha

2.3 Modalidades de Operação

Dependendo do posicionamento dos cabos sísmicos, duas modalidades de

operação podem ser empregadas: utilizando cabos flutuadores (streamers) ou

utilizando cabos de fundo (OBC – Ocean Botton Cabble)

2.3.1 Cabos flutuadores (streamers)

Os cabos sismográficos (streamers) são preenchidos com fluidos de baixa

densidade para facilitar a flutuação e são equipados com detectores de pressão

(hidrofones), dispostos em espaços regulares. Geralmente, são utilizados em

profundidades maiores que 20m. São os mais empregados devido à sua

simplicidade de operação, porém devido ao movimento provocado pelas correntes

marinhas (efeito pluma), ao utilizar estes cabos, deve-se compensar esse efeito

através de cálculos de correções.

Figura 7 – Streamer

Fonte: University of Alabama Department of Geological Sciences4

4 Disponível em: <http://www2.geo.ua.edu/mariana/WAP/lnk_7.jpg>

Page 8: Cap. 2-Aquisição Marinha

2.3.2 Cabos de fundo (OBC – Ocean Bottom Cable)

Os cabos sismográficos são instalados no fundo do mar, normalmente

amarrados a lastros de chumbo, sendo recolhidos após o registro da linha.

A fonte sísmica cria uma onda sonora que penetra nas diferentes camadas da

subsuperfície, refletindo sinais diferenciados que são identificados nos cabos e

armazenados por boias sinalizadoras e de registro existentes na extremidade de

cada cabo. Essa técnica é empregada em áreas de grande atividade produtora de

petróleo, onde há obstruções como plataformas e estações de bombeio, que não

permitem a operação de barcos sísmicos tradicionais rebocando quilômetros de

cabos.

No método de aquisição OBC, normalmente, são utilizados três navios: um

para registro dos dados; um navio fonte, que arrasta os conjuntos de canhões de ar;

e um navio que espalha e recolhe os cabos sismográficos, formando as linhas

operacionais. Como os cabos devem permanecer no fundo, eles são preenchidos

por um polímero.

Figura 8 - Aquisição OBC

Fonte: Peak Seismic Solutions5

5 Disponível em: <http://www.peakseismic.com/content/ocean-bottom-seismic.asp>

Page 9: Cap. 2-Aquisição Marinha

2.4 Técnicas de Aquisição de Dados Marinhos

De acordo com o estágio do processo exploratório e das condições

operacionais na área de prospecção de óleo e/ou gás, podem ser utilizadas as

técnicas descritas abaixo:

2.4.1 Técnica de levantamento 2D

Técnica utilizada na fase inicial de exploração. Geralmente, é usado um navio

sísmico com um sistema de fonte e um cabo sismográfico, seja a reboque (streamer)

ou colocado no fundo marinho (OBC). As linhas sísmicas são espaçadas, com o

objetivo de se obter um reconhecimento regional da geologia de subsuperfície.

2.4.2 Técnica de levantamento 3D

Essa técnica é utilizada quando já existe um conhecimento prévio da geologia

de subsuperfície da área. A técnica 3D exige uma malha sísmica bem ordenada com

linhas menos espaçadas do que na técnica 2D, o que ocasiona um número muito

maior de trajetórias da embarcação sísmica. Pode ser utilizado mais de um navio

fonte para a realização dos disparos e um número variável de cabos sismográficos,

sendo as embarcações mais modernas capazes de rebocar até 20 cabos

simultaneamente.

2.4.3 Técnica de levantamento 4D

Essa técnica está relacionada ao monitoramento dos campos de petróleo.

Consiste no levantamento de dados sísmicos 3D desses campos em fase de

desenvolvimento, em épocas distintas, de forma que os mesmos possam ser

monitorados, visando à otimização da produção existente.

2.4.4 Técnica de levantamento 4C

Utiliza cabos sismográficos posicionados no fundo oceânico, contendo

sensores que registram dados das ondas primárias (ondas P) e das ondas de

cisalhamento (ondas S), com o intuito de se adquirir um detalhamento da geologia

de subsuperfície. Os cabos de fundo são sólidos, não sendo preenchidos por fluidos

de flutuação. A configuração padrão abrange dois ou mais cabos sismográficos de

Page 10: Cap. 2-Aquisição Marinha

6km cada, e pelo menos dois navios: um para registros e manuseio, e outro para

disparos. Figura 9 - Técnica de levantamento 4C

Fonte: Peak Seismic Solutions6

2.5 DIFICULDADES NO LEVANTAMENTO MARINHO

As amplitudes do sinal sísmico possuem grande quantidade de ruído com

valores próximos às amplitudes naturais e, portanto, torna-se difícil a eliminação

desses eventos pelos métodos de supressão existentes na etapa de tratamento

destes dados.

Yilmaz (1987) descreve o sinal refletido sendo captado com dois tipos de

ruídos, os ruídos coerentes e os ruídos incoerentes.

Como tipos de ruídos coerentes temos as ondas diretas, groun-roll,

refratadas, guiadas, ruído difuso e ruído de cabo, eles têm sua fonte na

aparelhagem que é utilizada. Por exemplo: variação da fonte de energia e ruído do

cabo de transmissão após a captação. E o segundo é o ruído ambiental ou

incoerente, que é captado junto com o sinal sísmico. Este tipo tem fonte externa tais

como ventos e deslocamentos de microfones pelo movimento da água.

6 Disponível em: <http://www.peakseismic.com/images/OBSphoto1.jpg>

Page 11: Cap. 2-Aquisição Marinha

Para cada tipo de aquisição, esses ruídos são característicos ao ambiente

onde foi feito o levantamento. Por exemplo, para os ambientes marinhos, a presença

de múltiplas de superfície livre, estruturas fantasmas e pulso de bolha predominam

sobre o sinal sísmico. No caso das estruturas fantasmas, algumas ondas incidentes,

na etapa de aquisição, têm duplicidade na emissão o que resulta na geração de

estruturas duplicadas em tempos diferentes e em superfícies diferentes. Durante a

fase de tratamento, detectar esses efeitos fantasmas no sinal sísmico é um desafio.

Em aquisições marinhas com tower streamers os ruídos ocasionados pelos

efeitos ambientais sobre os cabos são muito comuns, o que causa problemas para o

Figura 9 - Ruído de cabo (cabel noise) – Nos levantamentos marinhos, esse ruído está relacionado à vibração do cabo flutuador.

Fonte: Material de Processamento Sísmico – Ellen Gomes

Figura 10 - Ruído difuso (side-scattered

noise) - Sinal retropropagado devido às

heterogeneidades na sub-superfície.

Page 12: Cap. 2-Aquisição Marinha

processamento do dado. A eliminação deste tipo de ruído incoerente é um processo

simples que se dá pela filtragem dos dados com um filtro de banda passante na

faixa de frequência que varia geralmente entre 10 Hz e 80 Hz.

Além dos ruídos, um problema encontrado na aquisição é em relação à

passagem do navio sísmico sobre o alvo que se deseja explorar. O alvo é

demarcado em passagens múltiplas ao longo de linhas retas (chamadas linhas do

navio) que estão espaçadas igualmente e paralelas entre si. As correntes marinhas

e outros fatores fazem com que as linhas do navio não sejam perfeitamente retas e

com que os cabos sismográficos rebocados pelo barco não sigam uma trajetória reta

atrás do barco. Esse deslocamento lateral dos cabos é chamado de deriva do cabo.

Outra dificuldade encontrada é em relação às plataformas ou outros

obstáculos que podem estar no trajeto da embarcação. Uma técnica chamada

under-shooting é empregada para evitar aberturas na área do levantamento bem

abaixo dos obstáculos, que estão acima do alvo de interesse. Essa técnica utiliza

dois barcos, um que carrega as fontes e o outro que reboca os cabos com os

hidrofones. Os dados gravados do under-shooting têm uma escala muito mais larga

do azimute ou um máximo muito mais deslocado, sendo que o azimute largo em

particular pode causar problemas durante o processamento.

Mais um problema é na interpretação do dado sísmico, por exemplo, múltiplas

de superfície livre podem ser confundidas com reflexões primárias. Isto se deve ao

fato de que o acentuado contraste de impedância acústica entre o ar e a água faz

com que as múltiplas de superfície livre geradas por essa interface possuam grande

energia, assim como a energia das reflexões primárias.