cap. 144 - contos e causos de um advogado. dr. saulo ramos
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7/28/2019 Cap. 144 - Contos e Causos de Um Advogado. Dr. Saulo Ramos
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Cap. 144 - Contos e causos de um advogado...
Texto do captulo do livro: Cdigo de Vida, de Saulo Ramos,
advogado famoso, de longa e profcua vida nas lides jurdicas e
polticas.
De Brodowski, 08/06/1929 Ribeiro Preto, 28/04/2013, com83 anos.
Foi Ministro da Justia no governo Jos Sarney (1985-1990)...
Cdigo da Vida, um romance da vida, de memrias, de suspense
e da histria recente da vida poltica do nosso Brasil. Um pouco
de cada coisa, formando um todo de muito interesse, de interesse
inebriante, contagiante, que de qualquer modo, encanta, e nos
abduz a seguir, sem descanso, porm com prazer, na lida da
leitura.
Jos Carlos Ramires
Junho/2013, 1 dia
dvogado. Coisa estranha. No princpio, me senti meio padre, meio psiquiatra. As
pessoas contavam seus dramas, nem sempre fielmente; mas eu as ouvia com
ateno, para pinar, no meio da histria, algo que demonstrasse um ponto de
direito lesado, que, afinal, deveria ser o objeto da causa.
Depois, sozinho, estudava tudo. Ro1, meu chefe, ensinava: Primeiro, leia a lei
de regncia e verifique voc mesmo o que a norma lhe diz. Reflita e tire suas prprias
concluses. Jurisprudncia e doutrina ajudam, mas so subsdios que se agregam
depois.
Do ponto de vista jurdico, aprendi que a aflio humana causada por uma leso
de direito, por mais individual que seja sempre um fato social, porque resulta decostumes, da convivncia, de atritos, da cultura e da previso legislativa. Fato social.
Assim, fui entrando para os tribunais com o fato social s costas, enfiando-lhes
roupas antigas, costuradas por Vivante, Carnelutti, Clvis, Pontes, Ro, Mazeaud e
Mazeaud, Kelsen.2 De quando em vez, um remendo era meu. Roupa nova no fato social.
Sobretudo naquele atormentado pela dor na alma.
E comeou um no-acabar-mais. Clientes, clientes, clientes, grandes empresas,
gente famosa, gente pobre, gente rica, gente e mais gente.
Adeus, abacaxi de Brodowski; adeus, cafezais de Cravinhos; adeus, chope do
Pinguin; adeus, Ribeiro Preto; adeus, meu jornalismo de Santos. Agora, estou em So
Paulo, rodeado de gente e de fatos sociais, lendo leis, estudando direito, devorandolivros.
Sem perceber exatamente quando, transformei-me em advogado famoso,
considerando-se que a fama medida pela afluncia de clientes. Por mais que quisesse,
hora para consulta comeou a escassear. Novos clientes na fila, esperando meses, fato
que os fascinava e os mantinha espera quando no havia urgncia.
Fui um ganhador de causas. Venci quase todas. No sei como sabiam disso, pois
no fazia publicidade. Jamais permiti notcias sobre resultados de processos, at
porque, longe da imprensa, o litgio mais sereno para o cliente, para o advogado e
para o juiz.
Mas as pessoas ficavam sabendo e foravam a porta do escritrio, para alegria
das minhas secretrias, meus assistentes e meus colegas e para o meu cansao, embora,
ao aceitar uma causa, passasse a dar tudo de mim, como se fosse a nica.
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Claro que a privilegiada situao profissional rendeu dividendos. Nas
propores devidas, ganhei bem. A Vicente Ro, que sabia tudo de quase tudo,
consegui, depois de muito tempo, ensina uma nica coisa: cobrar honorrios.
No escritrio, porm, jamais deixei de atender a pessoas pobres, que nada
podiam pagar, quando o caso era de evidente justia.
Tive enorme prazer em atender a um paraplgico pobre e ganhar sua causadepois de longa demanda. O caso dele despertou-me para um problema: no Brasil, no
existia um nico texto legal em defesa do deficiente fsico. Dei-lhe at os honorrios de
sucumbncia, isto , pratiquei o assistencialismo, mas senti que o problema era mais
profundo e ficou me remoendo. Muitas pessoas sem recursos me provuravam por ouvir
dizer. Entre os ilustres clientes de graa, a UNE (Unio Nacional dos Estudantes), que
tinha como presidente Lindbergh Farias, hoje senador e pelo PT, eleito pelo Estado do
Rio de Janeiro. Sua maior qualidade, no entanto, era a simpatia e o sotaque de
paraibano. Ganhei para eles o direito de pagar meia-entrada em todos os espetculos
pblicos, a comear pelo cinema. Quando vinha o cliente pobre, a primeira frase era
comum a todos: No posso, doutor, para um advogado como o senhor, mas.... Depoisdesse mas, quase sempre um drama humano, a angstia, a dor, o pedido de socorro.
Se a causa fosse simples, encaminhava para advogados mais jovens e os
compensava com participao em outras, de boa remunerao. Se a questo de direito
fosse intrincada, eu mesmo ficava com o problema. E um pobre, pela simplicidade de
suas vidas e relaes, pode ter questo de direito complexa? Pode, e como!
Nada disso foi feito por demagogia ou por exibicionismo, mesmo porque, como
j disse, jamais fiz publicidade ou permiti noticirio sobre meus casos. H um
momento na vida de todo homem em que o exerccio da solidariedade, por ternura ou
amor ao prximo, no depende de remunerao. Creio que os advogados, quase todos,
cultivam esse sentimento. Enfim, esses auto-elogios esto sendo escritos num elegante
penso eu exerccio de cabotinismo3, para contar como fiquei sabendo da existncia
desse bicho chamado advogado.
...E aqui termina este captulo para comear outro recomeo. O do incio dos
primeiros contatos do dr. Saulo, quando criana, com a justia e com advogados... E
que talvez explique o seu despertar para a lide judiciria.
Aguarde o prximo captulo... O de n 145...
Jos Carlos Ramires
01/junho/2013
1Vicente Paulo Francisco Rao
1(So Paulo, 16 de junho de 1892 So Paulo, 19 de janeiro de 1978) foi
um advogado, jurista, professore poltico brasileiro. - http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao2
Todos advogados e jurista famosos3
substantivo masculinoDerivao: por extenso de sentido -Tendncia a atrair ou tentar atrair sobre si as atenes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao#cite_note-1http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao#cite_note-1http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao#cite_note-1http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_(cidade)http://pt.wikipedia.org/wiki/16_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1892http://pt.wikipedia.org/wiki/19_de_janeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1978http://pt.wikipedia.org/wiki/Advogadohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Professorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Raohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Raohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Professorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Advogadohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1978http://pt.wikipedia.org/wiki/19_de_janeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1892http://pt.wikipedia.org/wiki/16_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_(cidade)http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao#cite_note-1