causos populares

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Sesc - Serviço Social do Comércio Departamento Regional Tocantins www.sescto.com.br Sesc - Serviço Social do Comércio Departamento Regional Tocantins www.sescto.com.br SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO DEPARTAMENTO REGIONAL DO TOCANTINS / COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO CAUSOS POPULARES PARAÍSO DO TOCANTINS 2012

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Livro elaborado pelos alunos do EJA de Paraíso

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Page 1: Causos populares

Sesc - Serviço Social do ComércioDepartamento Regional Tocantins

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Sesc - Serviço Social do ComércioDepartamento Regional Tocantins

www.sescto.com.br

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIODEPARTAMENTO REGIONAL DO TOCANTINS / COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO

CAUSOS POPULARES

PARAÍSO DO TOCANTINS2012

Page 2: Causos populares

374 Causos populares / Sesc Tocantins, C312 Educação de Jovens e Adultos (EJA). -– Palmas: [s.n.], 2012. 20 p.: il.

Coletânea de textos e ilustrações elaboradas pelos alunos

Educação de Jovens e Adultos (EJA). Sesc Ler Paraiso, TO.

1. Educação de Jovens e Adultos (EJA). 2. Textos, histórias

populares (folclóricas). I. Sesc. Departamento Regional no Tocantins.

DIREITOS EXCLUSIVOS DESTA EDIÇÃO RESERVADOS AO Sesc-TO.

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO

Hugo de Carvalho – Presidente do Sistema Fecomércio Sesc / Senac / /IFPD - TO

Marco Antônio Monteiro – Diretor Regional Sesc - TO

Kelma Régia da S. Oliveira – Coordenadora de Educação Sesc - TO

Mônica Sousa Araújo – Analista em Educação

Paulo Cesar de Sousa Patrício –Supervisor Sesc LER de Paraíso/TO

Rejane Lima Sales – Bibliotecária Sesc LER de Paraíso/TO

ELABORAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PROJETO

Deusilene Costa Maciel da Silva – Orientadora Pedagógica

Maria Conceição Chaves da Silva – Professora da EJA

Wilmar Correia Libério Abreu – Professora da EJA

Gilvanete Neiva Rocha – Professora da EJA

Jaldinez - Professor da EJA

Comunicação: Renato Klein - Coordenador

Diagramação: Samuel Leumas

SUMÁRIOApresentação

A DadáTexto e Ilustração: Maria do Socorro Alves Pereira Araújo, 58 anos.

A Esperteza do Senhor JoséTexto e Ilustração: Maria de Melo Mourão, 51 anos.

A Festa do Leão.Texto e Ilustração: Domingos Pereira Campos, 57 anos.

A moça da Serra do AraripeTexto e Ilustração: Mariana de Sousa Lima, 50 anos

A Mulher MisteriosaTexto e Ilustração: Domingos Fernandes da Silva, 57 anos

A Onça e o MacacoTexto e Ilustração: Solimar Neres da Silva Araújo, 52 anos

A onçaTexto: Gilvan Paz do Nascimento, 62 anosIlustração: Devid Lopes de Souza, 16 anos

A Pepita de OuroTexto e Ilustração: Márcio de Jesus Santos, 31 anos.

Bode de OuroTexto e Ilustração: Adelcio Batista dos Santos, 61 anos

Negro D'ÁguaTexto e Ilustração: Onorina Batista Lira, 64 anos.

No Sertão NordestinoTexto e Ilustração: Teodosío Pereira de Araújo, 61 anos

O Cavaleiro FantasmaTexto e Ilustração: Flávio da Conceição Avelino, 36 anos.

O Contador de MentiraTexto e Ilustração: Juscelino Pereira Sobrinho, 53 anos

O FazendeiroTexto e Ilustração: Osvaldo Sousa Costa, 55 anos

O homem preguiçosoTexto e Ilustração: Antonio Pinto de Oliveira, 41 anos

O MentirosoTexto e Ilustração: Maria do Bonfim Alves Evangelista, 46 anos

O PapagaioTexto e Ilustração: Joaquim Carlos de Oliveira, 70 anosEscriba: Professora Wilmar Correia Libério Abreu

O Sertão TocantinenseLina da Mercês, 62 anos

Os amigos e a onçaTexto e Ilustração: Adão Fernandes dos Santos, 49 anos

São Berto LameuTexto e Ilustração: Naides Camilo da Silva, 60 anos

Uma Noite de ChuvaradaTexto e Ilustração: Absair dos Santos Duarte, 66 anos

Page 3: Causos populares

Nossos alunos vieram de uma época em que o costume era sentar à noitinha no terreiro da casa para

contar e ouvir histórias engraçadas de causos verdadeiros ou inventadas pelos próprios contadores,

contudo, eles possuem um repertório significativo de histórias populares que nos deu oportunidade de

desenvolver um projeto didático pedagógico cujo processo caminhou para a construção de um livro literário

de “causos populares”, produzido pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos - EJA, Ensino

Fundamental I do SESC LER de Paraíso do Tocantins.

Partindo das experiências dos alunos, o processo de ensino e aprendizagem se desenvolveu com

estratégias que permitiram explorar a leitura, escrita e oralidade através de várias histórias folclóricas

trazidas por eles e também trazidas nas referências bibliográficas usadas como Ricardo Azevedo, Elias

José e Dorival Santiago, um escritor de nossa terra.

Proporcionar conhecimentos relacionados às escritas e leituras advindas de histórias populares, piadas,

crendices e contos de causos tão familiares aos nossos alunos, foi o objetivo inicial do projeto que, aos

poucos foi dando desdobramentos e desafios maiores quanto ao avanço do desenvolvimento das

hipóteses de escrita, que quebram os padrões de uma grafia acadêmica por pertencer a um grupo de

linguagem própria da região e típica da literatura de cunho popular. Portanto, é mantido e respeitado no

texto a escrita tal qual a fala que usam quando contam os causos encontrados neste livro, além disso, a

linguagem visual por meio de desenhos inspirados nas histórias criadas e também nas ilustrações de

Ricardo Azevedo, fizeram parte desse processo de construção.

Acreditamos que é através de propostas que despertam o prazer pela leitura e escrita que podemos

incentivar mais ainda os alunos jovens e adultos em processo de alfabetização, a compreenderem a função

social da escrita de uma forma tão significativa como foi com nossos alunos. O resultado é que suas

histórias estão publicadas nesse livro para alegrar muita gente que gosta de contos que falam de

esperteza, de assombração, de encanto e magia imaginária que nos faz lembrar dos momentos

fascinantes em que ouvimos histórias contadas pelos nossos antepassados na varanda da típica casa da

cidade do interior onde nos sentimos parte integrante dessa literatura popular.

Apresentação

Equipe Pedagógica

0302

“(...) todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje (...).

Temos de saber o que fomos, para saber o que seremos”

Paulo Freire

Page 4: Causos populares

Um cara que viajava pelo mundo chegou numa casa, em fazenda.

Já era tardezinha pediu uma janta, o pessoal da casa deu a janta para ele.

Depois que ele jantou o pessoal da casa falou:

___ Moço é melhor você dormir porque daqui onde vai ter casa é

longe demais.

Na casa tinha uma moça muito bonita e ele não viu, com um terreiro

cheio de bode. Daí a “veia” perguntou pro “veio”: e onde ele vai dormir?

___ Ele vai dormir mais a Dada.

Só que ele pensou que Dada eram os bodes.

O veio falou para ele:

___ Você pode dormir lá mais a Dada.

O rapaz respondeu:

___ Não, eu durmo aqui mesmo.

Quando amanheceu o dia, que a Dada levantou,

ele perguntou para ela:

___ Como é seu nome?

Ela respondeu:

___ Meu nome é Dadá. E o seu nome qual é?

O rapaz respondeu:

___ Meu nome é babaca que não dormiu mais

a Dadá.

Maria do Socorro Alves Pereira Araújo - 58 anos

A DADÁ

04

Senhor José de Melo vivia com a família lá no sertão do Piauí, ele tinha 12

filhos e destes 6 eram mulheres, ele morria de ciúmes delas, tinha medo delas não

casarem, então ele contava uma história, que quem não casasse e fosse morar junto

com um rapaz, na sexta-feira da Paixão ele ia virar lobisomem. As filhas queriam saber

o que era lobisomem, e ele dizia que era um bicho preto peludo que andava de gibão e de

quatro. As filhas mesmo quando aparecia pretendentes elas já avisava que com elas só

casando, os que não queriam casar fugia logo.

Então verdade ou mentira o senhor José de Melo casou as 6 filhas, graças a história do

lobisomem.

Maria de Melo Mourão - 51 anos.

A ESPERTEZA DO SENHOR JOSÉ

05

Page 5: Causos populares

O leão convidou toda bicharada da floresta para uma festa.

Pediu a preguiça para ir buscar a pinga numa venda do outro

lado do rio. Isto era oito horas da manhã, quando foi cinco

horas da tarde ouviram barulho lá pelas bandas do rio.

O macaco todo feliz disse:

__ Eu vou logo pegar aquela pinga, estou com muita

vontade de tomar um gole.

O macaco ao avistar a preguiça, foi logo perguntando:

__ Amiga preguiça, cadê a pinga?

A preguiça respondeu:

__ Calma amigo macaco, estou saindo agora e volto já.

A FESTA DO LEÃO

Domingos Pereira Campos - 57 anos

06

Um certo homem, por nome de Vicente, teve que fazer uma longa viagem para dar um recado

urgente do outro lado da Serra do Araripe. Ele saiu antes do cair da noite, e o povo dizia que nessa serra

aparecia assombração, mas ele não acreditava. Quando anoiteceu ele estava no meio do caminho ainda,

não dava pra chegar na casa mais perto. Resolveu descansar e seguir viagem quando o dia tivesse

raiado. Tirou a sela da mula, deu água a ela e soltou-a para pastar. Armou a rede em umas árvores.

Acendeu uma fogueira e botou uma carne seca que levava no alforje para assar, para ele comer

com farinha de puba. Quando se abaixou para virar a carne de lado, ouviu uns galhos secos quebrando,

ele olhou pensando que fosse algum animal, mas era uma mulher muito bonita que se aproximava dele

sorrindo e falou:

_ Boa noite moço!

Ele respondeu a saudação e disse a ela:

_Sente ai na rede, e preste atenção nesta carne, enquanto vou ali olhar a mula que esta solta, viu?

E ele que até aquele dia não acreditava em assombração, pegou a mula, montou em pelo e saiu

em disparada deixando tudo para trás. A mulher agora com a cara de monstro, correu atrás dele gritando:

_ Ei Vicente! Tua carne tá assada, mais eu te como sempre!!!

Quanto mais ela gritava, mais ele corria.

Na escuridão, a mula desequilibrou e caiu na serra, e ele rolando foi para lá embaixo todo “borrado”!

A MOÇA DA SERRA DO ARARIPE

Mariana de Sousa Lima - 50 anos.

07

Page 6: Causos populares

Uma vez eu fui a uma fazenda no município de Cristalândia e caminhando

a pé pela estrada avistei uma mulher andando na minha frente, logo tentei

alcançá-la porque estava sozinho, mas não consegui por causa que ela andava

mais rápido do que eu, olhei no chão e não vi rastro de ninguém e fiquei

encabulado.

Então eu corri pra alcançar a mulher para saber quem era ela, de repente ela

sumiu da minha frente.

Depois atravessei uma gruta e mais na frente ela apareceu de novo,

chegando à fazenda eu a vi chegando primeiro do que eu. Quando cheguei por

último, procurei pela mulher para o pessoal da casa, eles falaram que ninguém

sabia e não tinham visto esta mulher.

Virou causo de anarquia porque as outras pessoas não viram. Fiquei

encabulado não tive coragem de voltar sozinho.

Então um dia depois o pessoal da fazenda arrumou um cavalo e foram me

deixar na cidade de Cristalândia.

Nunca tinha visto alma de pessoa ou coisa parecida e neste dia eu vi e

nunca mais andei sozinho.

Esta história ainda hoje é contada na cidade de Cristalândia.

A MULHER MISTERIOSA

Domingos Fernandes da Silva - 57 anos

08

A onça e o macaco eram muitos amigos um do outro. Um belo dia a onça convidou o macaco para ir a

casa dela. Ela muito esperta fez um moleque de cera para enganar o macaco. Colocou na estrada com um

cacho de bananas bem grande na mão. Quando o macaco ia passando avistou e foi para perto dele e falou:

__ Moleque me dá uma banana!

Mas ele não respondeu, o macaco bateu no moleque e apregou a mão. Chutou e grudou o pé.

A onça chegou e sorrindo disse:

__Te peguei macaco danado!

E levou ele para casa e fez uma bela fogueira para assa-lo e comer.

O macaco pediu a onça que abaixasse para soprar a fogueira para o fogo ficar bem alto. Quando a

onça abaixou ele passou o machado na cabeça dela e ela caiu dentro da fogueira. E ele foi embora pulando

feliz da vida.

Solimar Neres da Silva Araújo - 52 anos

A ONÇA E O MACACO

09

Page 7: Causos populares

Nisso a onça ficou pertinho de mim. Tinha uma árvore fina na minha frente, peguei o facão da cintura e cheguei perto da árvore. Pensei comigo mesmo, de qualquer maneira a onça pode me comer, mas dizer que eu dou uma estucada nela é certeza. Eu estava maneirinho que chegava a balançar. Nesta ocasião a bichona veio devagarzinho, devagarzinho quando chegou pertinho, sentou. Era uma monstra, o chambari da mão dela era enorme e grosso, se ela passasse uma mãozona daquela em uma pessoa fica só o rastro. Ela parou e ficou olhando dentro do meu olho, a bicha não olha pra outro lugar na gente, encara é no olho, e não pestaneja igual jacaré. Eu também morguei não, encarei a danada! Aqui é nós dois e acabou-se a conversa. Aqui acolá ela mostrava a presa enorme, e ficamos, ficamos. Aí me lembrei que os mais velhos de primeiro mentia pra gente, dizendo que “ se você gritar a onça corre”. Conversa deles, ela acha é bonito você gritar, eu gritei que fiquei roco e ela ficava animada com aquele olhão que pareciam limões cortados. Você olhar para o olho de uma onça bem de pertinho, tem que ter cuidado para não sujar as calças. Depois lembrei de Deus e disse:__ Senhor agora é a hora, tu não fala na tua palavra que o que a gente não der conta é para te entregar. Isso eu conversando, olhando para a cara da onça, não era só pensando não! Fiquei naquela pregação, aqui acolá eu passava o rabo de olho ao redor, cheio daquelas pedras soltas, pensei: se eu pular aqui e escorregar é só um tapa, ela me pega na hora. Continuei naquela oração e a onça começou a ficar triste, porque ela estava animada demais, a costelona dela estava seca, parece que fazia dias que ela não comia. Logo ela levantou-se baixou o focinho e saiu caminhando triste bem devagarzinho sumindo na mata. Vocês acreditam por essa luz que ilumina que depois disso passei por tanta água limpinha boa para beber e não senti um pingo de sede com toda aquela agonia.

Gilvan Paz do Nascimento - 62 anos.(Professora escriba)

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A ONÇA Esse acontecido foi ali pertinho daquela serra em Santa Rosa.

Assim que cheguei, a mulher e os meninos adoeceram de uma gripe, e meus irmãos me falaram que

encontraria mel para fazer o remédio lá em cima dessa serra.

Eu peguei uma “tramontina” enorme que veio comigo do Maranhão, coloquei na cintura, porque lá

no Maranhão é assim, quando você nasce já ganha uma faca das boas, tanto que se tiver uma reunião com

300 homens, cada um tem a sua “Tramontina” tão amolada que pegava até mosquito.

Eu peguei uma daquelas “Tramontina” coloquei na cintura e sai caçando aquelas abelhas. Era no

mês de setembro, calorão danado. Vocês acreditam que andei, andei até umas onze e meia da manhã e já

estava cego de sede em cima daquela serra, mas eu sabia que lá embaixo tinha água, então eu sai

agoniado não desviava de nada, os matos iam batendo no peito, desci então uma baixadinha, onde avistei

uma terra molhada com água, só para passarinho e abelha beber.

Avistei uma moitona alta de mato com a terra molhada e não marquei pelo meio da moita, era uma

moita fechada. Marquei assim de lado e fui rasgando tudo.

Veja que debaixo da moita tinha uma monstra de uma onça dormindo. Quando arrastei a moita ela se

assombrou, acordou e deu 2 pulos, olhou para traz e me encarou, a bicha ficou alegre e começou a dar uns

passos em minha direção. Ai eu disse:

__ Agora pronto! Correr eu não posso, se não ela me pega!

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Page 8: Causos populares

Certo dia sair para pescar sem o consentimento de meus pais, com uma amiga e o cunhado dela

que dizia más línguas ser seu “amancebado”, eu não sei, só sei que saíram para dar uma volta, fiquei

sozinha por muito tempo, estava cansada de esperar por eles e de tanto jogar o anzol tentando pegar

peixes, fiquei muito cansada que adormeci sem se quer me lembrar do que meus pais sempre diziam:

__ Minha filha, não queremos você e nem seus irmão andando por aí sozinhos, sabemos que gostam de

pescar, mas um dia desses o Negro D'Água ainda vai aparecer, dizem que o “talzinho” é malvado toma os

peixes e ainda leva as pessoas para serem comidas no fundo do rio.

Deitada sobre alguns galhos, tremendo de frio ouvi vozes, despertei pensando que o pessoal

estava voltando, pessoal que nada, eram dois Negros D'Água tentando me agarrar. Tive tanto medo que

não conseguir nem gritar, eles existem de verdade, pensei, a sorte é que acordei, pois dizem que eles não

pegam pessoas acordadas.

Um horror de se ver aquelas criaturas “Os Negros D'Água” de quase meio metro de altura, bem

negros costuma aparecer para pescadores e outras pessoas que estão em algum rio. Sua função é fazer

medo, o castigo varia, dependendo daquilo que a pessoa estiver fazendo.

Ainda bem que pularam na água e eu fui embora muito assustada e é lógico, não quis mais teimar

com meus pais.

NEGRO D'ÁGUA

Onorinda Batista Lira - 64 anos.

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Um velho conhecido, contava um causo ocorrido há muito tempo atrás, lá pras banda do Piauí,

ocorrido com uma humilde tribo indígena, conhecida como Guajajara.

Acontece que aquela tribo se destacava por sua coragem. O índio Uruá, que conhecia aquelas terras como

a palma de sua mão, certo dia quando pescava no rio bonito, avistou algo que brilhava no funda da água.

Logo se aproximou e viu que se tratava de uma pepita de ouro. Ficou animado, pois imaginou que aquela

era possivelmente uma pedra preciosa.

Então disse:

__Se levo essa pedra brilhante para a tribo, os homens brancos podem descobri-la e provavelmente vão

invadir nossas terras, estaremos correndo perigo. Para prevenir, decidiu esconder a pedra no oco de uma

árvore e avisar somente sua esposa, a índia Ialé. Como foi ingênuo o pobre Uruá sua esposa estava se

“amancebando” com o capitão, ela contou a ele sobre a preda.

O capitão muito esperto rapidamente foi até a árvore indicada, pegou a pepita e viu que a mesma valia

muito. Ele encantado pela bela índia, convidou-a para fugir com ele. Vejam só como foi tamanha a tragédia

do índio, perdeu sua mulher, seu ouro e também suas terras.

A PEPITA DE OURO

Márcio de Jesus Santos - 31 anos.

A bonita serra na qual se deu o início da ocupação do Tocantins, com a descoberta de uma mina de

ouro e com a fundação do primeiro povoado do estado, o Arraial de São Luiz (bem no topo da serra) no ano

de 1734. Na época, foram levados para lá cerca de quarenta mil escravos pelos desbravadores da região.

Depois de algum tempo, o ouro passou a ficar escasso no local e em 1770, os habitantes do arraial

desceram a serra e se instalaram onde hoje está situada a cidade de Natividade.

Em cima dessa serra está localizado um lago inclusive com pés de buriti, isso eu já vi, mas muitas

pessoas contam que é um lago assombrado. A assombração mais marcante é a de que existe um bode de

ouro que só é visto de longe, quando as pessoas se aproximam, ele pula dentro d'agua.

É certo que grande quantidade de ouro foi encontrada nessa região e os escravos sofriam muitos

maus-tratos, por isso, acredita-se que muitas aventuras tenham acontecido e que fortunas escondidas,

tenha gerado vivência como as assombrações daquele lago.

BODE DE OURO

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Adelcio Batista dos Santos - 61 anos

Page 9: Causos populares

Era uma vez um jovem que se apaixonou por uma moça que morava no interior de pé de serra, onde

os pais dela eram muito rígidos. O jovem não podia ter aproximação da donzela. Certo dia ele teve a

oportunidade de se encontrar com ela na casa de um vizinho e eles se apaixonaram um pelo outro.

Os pais dela não aceitavam o namoro. Eles resolveram fugir para outra cidade distante montado no

cavalo manga larga prateado. Chegando à madrugada, ao cantar do galo na fazenda Serra Branca no

interior de Pernambuco, foram recebidos pelo dono da fazenda, homem de grande riqueza. Se casaram e

tiveram um casal de filhos.

Depois de algum tempo, a donzela que era muito bonita, se apaixonou pelo dono da fazenda

secretamente. Se casaram e construíram uma grande família.

Quando o amor é verdadeiro nada se separa.

NO SERTÃO NORDESTINO

Teodosío Pereira de Araújo - 61 anos

Em uma fazenda no interior de Goiás Velho tem um morro na entrada com uma porteira de madeira

e pé de jatobá bem alto. Conta que ali todas as noites um cavaleiro abre a porteira, passa e deita debaixo da

árvore para descansar.

Quem passa pela porteira a noite diz que o cavaleiro pula na garupa do cavalo com um saco fazendo o

cavalo deitar de tanto peso. As pessoas saem correndo de medo, deixando para trás o seu cavalo.

No dia seguinte nada se via no local e o cavalo nunca mais aparecia. O povo dizia que o cavaleiro

ficava ali todas as noites vigiando um saco de ouro que ele tinha enterrado quando estava vivo.

O cavaleiro foi morto com uma facada no peito, quando tentava pegar um cavalo do fazendeiro para

fugir com o saco de ouro. O cavaleiro morreu sem contar onde tinha escondido o saco de ouro.

Todas as pessoas que passam pela porteira ficam arrepiadas de medo e os cavalos empinavam e

não saia do lugar.

O CAVALEIRO FANTASMA

Flávio da Conceição - 36 anos.

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João era o maior contador de mentira das bandas do grotão.

“Labregava” suas mentiras e queria que sua mulher Dona Mariana

confirmasse com ele. E quando não confirmava tomava uma surra.

Certo dia o compadre Mané foi visitá-lo e como não era de

surpresa ele começou “esbagaiá” a teimosa:

__Compadre Mané tu num é de ver que fiz uma pescada no açude do

compadre Toin que ficou na história. De uma só tarrafada peguei treze

pacu, doze piabanha, vinte cinco traíra e dois patos, não foi mesmo

mulher?

__Homem, tu está se esquecendo dos dois macacos!

__É mesmo compadre Mané ainda peguei dois macacos com a

mesma tarrafada.

__ Mas como foi isso compadre João?

__Compadre é que passava uma cerca dentro da represa e quando

eu lancei a tarrafa os macacos pularam e caíram na tarrafa.

__Pois muito bem compadre João foi mesmo uma proeza.

Quando o compadre foi embora João chegou para a mulher e

ameaçou:

__Mulher eu podia te dá outra surra tu não viu o trabalho que tive para

pegar estes macacos.

O CONTADOR DE MENTIRA

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Juscelino Pereira Sobrinho - 53 anos

Page 10: Causos populares

Certo homem ficava deitado na sua rede só balançando, pois ele

tinha muita preguiça.

O povo passava em frente sua casa e chamava ele todos os dias

para trabalhar. Ele dizia que não podia.

No dia seguinte as pessoas tornavam a passar e chamava ele

novamente. Assim era a peleja para ver se tirava ele do fundo da rede.

Quando foi um dia de segunda-feira, as pessoas passaram lá de

novo chamando o preguiçoso para trabalhar. E ele disse:

__Vou falar verdade para vocês, o negocio é o seguinte:

Segunda-feira vou pra feira.

Terça-feira eu chego lá.

Quarta-feira eu faço a feira.

Quinta-feira eu saio de lá.

Sexta-feira eu chego em casa.

E sábado não vou trabalhar.

Domingo é dia santo, dia da gente descansar.

Antonio Pinto de Oliveira - 41 anos

O HOMEM PREGUIÇOSO

Pedro era um pobre coitado que só sabia mentir. Certo dia

ele chegou à cidade contando que tinha pegado uma carona com

4 urubus. Todos ficaram encabulados com sua mentira e pediram

para que ele contasse como fez. Nada constrangido disse que

passava pela estrada e viu uma carniça de vaca, laçou 4 urubus

amarrou um de cada lado da carniça e subiu, bateu palmas e eles

começaram a voar carregando ele até a cidade. Para descer ia

soltando de um por um.

Ficou conhecido como Pedro mentira por causa dessa e

de outras história mentirosas que inventava.

O MENTIROSO

Maria do Bonfin Alves Evangelista - 46 anos

17

Um fazendeiro tinha uma mulher muito linda, quando ele saia para

cuidar da fazenda, o sedutor chegava para a mulher e dizia:

__A senhora tem “cafa”?

__Ela perguntava, o que é “cafa”?

Ele falava:

__Uma mulher tão bonita, não sabe o que é “cafa”? Eu digo “cafa”

é para não dizer café.

No dia seguinte o sedutor aparecia para a mulher novamente e

perguntava:

__A senhora tem “ciga”?

A mulher não sabia o que era “ciga”. Novamente dizia:

__ Uma mulher tão bonita não sabe o que é “ciga”? É cigarro

respondia o sedutor.

Aborrecida com isso a mulher conta tudo ao marido. No dia

seguinte o fazendeiro espera o sedutor em sua casa. Sem saber

que o marido da mulher estava em casa o sedutor chegou e

sentou-se, quando de repente o fazendeiro entra e diz:

__ Bom dia! Você sabe o que é “panca”?

Ele respondeu:

__ Não, eu não sei.

O fazendeiro diz:

__”Panca” é para não dizer pancada, hoje eu fiquei aqui lhe

esperando só para lhe dar essas pancadas.

O FAZENDEIRO

Osvaldo Sousa Costa - 55 anos

16

Page 11: Causos populares

O português chegou ao Brasil e foi na casa de seu amigo e lá encontrou um papagaio muito

bonito, ele cantava , falava e assobiava. O seu amigo interessou no papagaio e propôs a comprá-lo.

E o amigo disse:

_ O papagaio é da minha esposa, é de estimação e eu vou conversar com ela.

E sua esposa chegou;

_ Por que o senhor está interessado no papagaio?

_ Para mandar para o meu irmão em Portugal.

A esposa vendeu o papagaio. E ele mandou-o para seu irmão em Portugal. Passou-se 15 dias

ele ligou para seu irmão do Brasil. E seu irmão atendeu e perguntou:

_ O que você achou do papagaio?

Ele respondeu:

_ Muito esperto e bonito!

E seu irmão perguntou:

_Quer que eu lhe mande outro?

Ele respondeu:

_ Se você puder pode mandar, manda um que tenha carne, porque esse que você mandou só tinha

pena e conversa!

Joaquim Carlos de Oliveira - 70 anos(Professora escriba)

O PAPAGAIO

18

Duas irmãs de Natividade que moravam na fazenda Santa Helena, que ficava

no Estado de Goiás lugar de poucos vizinhos, moravam com seus pais e seus irmãos.

Seus pais eram pessoas humildes, trabalhava na roça, plantando arroz, feijão,

milho, mandioca para o sustento da família.

Como não tinha gente para vigiar a roça de arroz, seu pai ordenou que as duas

meninas mais velhas fossem olhar os bichos para não comer arroz e o milho.

Um dia estas meninas levaram uma carreira de um bicho no caminho da roça

que chegaram em casa assustadas.

Sonhavam em sair daquela situação o mais breve possível. Foi quando se

mudaram para a cidade de Natividade, mudando toda a história de sofrimento. Aí foi

melhorando a vida de toda a família.

O SERTÃO TOCANTINENSE

Lina da Mercês - 62 ano

19

Eram dois amigos que resolveram sair andando pelo mundo, e passavam pela floresta e acabaram

se perdendo um do outro. Um deles resolveu sair pela mata procurando o amigo, encontrou uma onça que

adormecia embaixo de uma árvore, em volta dela estava os pertences do seu amigo, logo ele concluiu que a

onça havia comido seu amigo e saiu na carreira antes que a onça acordasse.

Nessa carreira toda deparou com uma casa enorme e bonita, então resolveu pedir abrigo. Bateu

palmas e saiu uma jovem muito bonita, e disse que seu pai não estava e não aceitava que entrasse pessoas

estranhas na casa. Mas o rapaz insistiu, pois estava com fome, sede e frio. A moça com dó do rapaz permitiu

que ele entrasse, mas deveria ficar escondido em um quarto.

Quando seu pai chegou percebeu que tinha algo estranho. Mas a filha negou. Mas, o pai da moça

acabou achando o rapaz e foi aquele reboliço de briga, pai da moça muito bravo disse que iria matar o rapaz.

Depois de muita conversa resolveu que o rapaz seria seu escravo até o dia em que morresse. E

assim aconteceu o rapaz virou seu escravo, mas a moça que o acolheu acabou apaixonando por ele, o pai

não permitia o romance e assim a moça passava seus dias chorando de tristeza e seu amado labutando na

roça.

Berto Lameu era fazedor de rapadura. Um dia quando fazia suas rapaduras. Estava mexendo o

tacho, veio um carneiro e mais outros e pulou dentro do tacho. Berto apurou o melado junto com os carneiros

e fez as rapaduras e distribuiu na cidade e todo mundo comeu.

Esse dia ficou conhecido como o dia de São Berto Lameu.

OS AMIGOS E A ONÇA

Adão Fernandes dos Santos - 49 anos

SÃO BERTO LAMEU

Naides Camilo da Silva - 60 anos

Page 12: Causos populares

Certa noite uma família se arrumou toda para ir para uma festa, quando eles estavam chegando

perto do local onde ia acontecer a festa começou uma chuvarada muito forte, só que para chegar lá na

casa tinha um córrego para atravessar.

Quando eles se aproximaram do córrego perceberam que a “pinguela” tinha rodado, pois, o córrego estava

muito cheio e a correnteza carregou a “pinguela”.

Voltando para casa na estrada pediram agasalho para uma família que morava ali perto. Os donos da casa

deram roupas sequinhas para todos eles, dormiram ali mesmo, e no dia seguinte continuou a viagem para

a casa onde ia haver a festa só que, chegando ao córrego eles tiveram que atravessar com a água na

cintura, pois não tinha mais “pinguela” e o córrego ainda estava cheio.

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UMA NOITE DE CHUVARADA

Absair dos Santos Duarte - 66 anos

Gosta de história de trancoso? Assombração? De valente que botou onça para correr? Amores desfeito?

Pois bem, os alunos da EJA do SESC Ler de Paraíso do Tocantins preparam um Samburá de Causos, cheio

de criações que irão deixar sua imaginação viajarem e voltar nos tempos de contação de história em que se

sentava em uma roda e todos vivenciavam estes prazerosos momentos. Convido você a participar desta

roda de contação de causos...

Sesc - Serviço Social do ComércioDepartamento Regional Tocantins

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