causos de rh 3

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    2008

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    Distribuio

    Gratuita

    Comunidade de

    Recursos

    Humanos

    EDIO NATALINA

    2008

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    SUMRIO

    ATENTADO GRAMTICA ------------------------------------------------------------------- 04

    CAMPANHA DE COMBATE FOME E A MISRIA ----------------------------------- 05

    CIDADO CONSCIENTE ----------------------------------------------------------------------- 09

    EXAME MDICO PERIDICO ---------------------------------------------------------------- 13

    ME TUDO IGUAL, S MUDA O CPF --------------------------------------------------- 16

    MARQUINHOS ------------------------------------------------------------------------------------- 18

    MEA CULPA? -------------------------------------------------------------------------------------- 20

    O INFALVEL E O INACREDITVEL -------------------------------------------------------- 22

    O MENINO JOHN KENEDDY DA SILVA --------------------------------------------------- 28

    PAULO MENTIRA -------------------------------------------------------------------------------- 30

    PREMONIES ----------------------------------------------------------------------------------- 34

    REQUISITOS DE SELEO ------------------------------------------------------------------- 36

    TR AMIGOS -------------------------------------------------------------------------------------- 38

    TROTE ----------------------------------------------------------------------------------------------- 42

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    ATENTADO GRAMTICAEneida Valentim de Melo Bacharel em Letras Braslia/DF

    Uma das atribuies do pessoal do RH, durante determinado perodo

    consistia em secretariar o Conselho Deliberativo, que se reunia mensalmente. O

    Secretrio Executivo, que presidia as reunies, analisava todos os processos

    constantes da pauta dias antes de sua realizao.

    A fim de ganhar tempo na anlise de processos, havia uma norma

    estabelecendo a proibio de despachos nos quais constasse expresses como:

    "Ao Setor tal, para as devidas providncias, ou "Ao Setor tal, para as providncias

    cabveis". Cada servidor deveria analisar o processo a ele encaminhado, emitindo

    parecer conclusivo sobre a matria.

    Todo o material era colocado na sala de reunies e s entrvamos

    quando chamados.

    Um dia a campainha tocou com tanta fria que mais parecia uma sirene de

    bombeiros. O Chefe estava lvido, com um processo nas mos, indagando o que

    significava aquilo. Ao ler o contedo daquilo, que ele me entregou estava escrito

    pelo Tcnico de Contabilidade, o seguinte parecer: O meu despaxo est anexado

    na vice-versa desta folha". Sem comentrios.

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    CAMPANHA DE COMBATE FOME E A MISRIAEvandro Valentim de Melo Administrador Braslia/DF

    Naquele ano Herbert de Souza - o Betinho - lanava campanha nacional

    de combate fome e misria. Como sempre acontecia, o RH assumiu o papel de

    locomotiva, puxando as demais unidades, sensibilizando os colegas, para adeso.

    Desta vez, entretanto, no houve a menor resistncia dos empregados. Todos

    conheciam a campanha e, de forma at ento indita, 100% de todo o efetivo

    daquela instituio abraava uma causa, somando foras ao povo brasileiro, que

    nos demais estados da federao agia em nome de uma boa causa. Por todo o

    Pas doaes eram efetuadas e noticiadas intensivamente pela mdia.

    Na empresa o RH solicitou que cada empregado e empregada doasse,

    pelo menos um tquete do talo de auxlio alimentao para a campanha. Tocados

    pela onda de solidariedade as doaes, em mdia, atingiram dois tquetes por

    empregado. O valor arrecadado superou as mais otimistas previses, fato que

    proporcionou ao comit criado para aquela finalidade ampliar o alcance para outros

    pblicos carentes, alm dos orfanatos e asilos, inicialmente indicados como

    destinatrios dos donativos.

    O comit dividiu-se em duplas para realizar pesquisa de preos dos

    gneros a serem adquiridos. A estratgia foi exitosa, pois permitiu a aquisio de

    tudo que havia sido planejado e ainda outros produtos, como material escolar e

    brinquedos. Todo esse material foi separado ordenadamente, de acordo com as

    instituies demandantes: trs asilos, quatro orfanatos e um aglomerado

    populacional. Esse ltimo seria algo como um amontoado de famlias vindas para

    Braslia intentando melhores condies de vida, e que encontravam apenas

    frustraes e desiluso. Juntavam-se sob viadutos, rvores, ou ainda s margens

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    de algumas vias por alguns lugares da cidade. Seus lares eram construdos

    base de papelo e plstico.

    Chegado o momento da primeira entrega, os integrantes do comit

    estavam eltricos. Mais ainda quando souberam que o evento teria cobertura

    jornalstica de uma grande emissora de TV, para o jornal local. A comitiva se

    compunha de dois carros de passeio e duas Kombi abarrotadas de gneros.

    As visitas aos asilos e creches transcorreram com muita fluidez,

    agilidade e foram, acima de tudo, gratificantes. Os velhinhos, na verdade, estavam

    mais carentes de companhia, de algum que os escutasse, que conversasse com

    eles. As crianas, no outro extremo da vida, querendo, na maioria das vezes,

    dengo e colo.

    Seguindo adiante chegou a vez das famlias sob um viaduto que liga

    Taguatinga Samambaia, duas das cidades satlites de Braslia. Para os que no

    conhecem o Distrito Federal, assemelham-se a bairros.

    A emissora de TV, na verdade, foi cobrir apenas esta parte da entrega

    de doaes. Chegaram bem antes para fazer as imagens daquela comunidade.

    Registraram as condies do local. Por baixo do viaduto passava um riacho

    poludo e malcheiroso, por receber despejos de esgotos sem tratamento. Sob os

    pilares de sustentao do viaduto, como em cavernas, residiam aquelas pessoas.Crianas em grande quantidade brincavam; suficientemente jovens e inocentes,

    ignorando risco social e o futuro que provavelmente teriam.

    O reprter designado para a matria, bastante conhecido em Braslia,

    aproximou-se do grupo e perguntou quem era o presidente daquele comit.

    Curioso era que no houve designao formal para algum assumir este papel.

    Como se combinado, todos os olhares se dirigiram para os membros do comit

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    que eram do RH. Em seguida, para apenas um deles. O reprter forneceu algumas

    informaes de como seria a entrevista. A matria foi concluda e, por volta das

    16h daquele dia, cansados, mas com a sensao de misso cumprida voltaram

    para a empresa, s mesmo para registrar a freqncia no relgio de ponto.

    s 19h a matria foi ao ar e emocionou fortemente os integrantes do

    comit, seus familiares e todos os colegas da empresa. Cpia da matria foi

    encaminhada companhia e ilustrou evento promovido pela direo quando o

    superintendente agradeceu a adeso dos empregados, a promoo do nome da

    empresa e conclamou que a campanha continuasse.

    A segunda entrega de gneros foi em novembro. Como no era mais

    novidade, no houve escolta de nenhum rgo da imprensa. O itinerrio foi o

    mesmo. A trabalheira que precedeu a entrega dos donativos idem. Como tambm

    se manteve inalterado o trajeto, bem como as instituies e demais pessoas

    contempladas da primeira vez.

    Na entrega para as famlias sob o viaduto, entretanto, as pessoas do

    comit perceberam expectadores a certa distncia do local. Concluda a

    distribuio as viaturas retornaram empresa, exceo de uma. O motorista e

    membro do comit, desconfiado, retornou ao local, depois de 15 minutos e

    presenciou algo que chocou, revoltou e decepcionou todos os membros do comit.Ele assistiu troca dos gneros distribudos por bebidas alcolicas. Algumas

    daquelas pessoas que se mantiveram distantes observando a entrega das cestas

    bsicas eram, na verdade, testas de ferro de donos de pequenos mercados

    prximos comunidade. To logo o pessoal do comit se afastou os abutres se

    aproximaram dos chefes das famlias e no tiveram nenhuma dificuldade em

    trocar por pinga os alimentos.

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    No terceiro ms, dezembro, ainda houve uma tentativa de manter

    aquelas pessoas no rol de beneficiados. Um dia antes o comit foi ao local e

    buscou sensibilizar os integrantes daquela comunidade a no trocar os alimentos

    por bebidas. At fez uma ameaa: exclu-los caso algum de l trocasse alimentos

    por bebidas alcolicas. Uma pequena mudana de procedimento: os alimentos

    foram distribudos, mas sem as embalagens originais, a granel. Buscava-se

    dificultar a revenda pelos mercadinhos. Infelizmente, de nada adiantou. Nenhuma

    dessas aes foi capaz de demover o abuso da boa-f, a explorao da

    ingenuidade, da ignorncia, da fragilidade, do vcio daquelas pessoas por outras

    mal-intencionadas.

    Cabisbaixos, os membros do comit iniciaram a volta empresa, depois

    de mais um dia de trabalho. Refletiam sobre o grau de decadncia a que desceu a

    raa humana.

    No caminho as luzes da cidade j estavam acesas. As lojas com seus

    prespios, rvores brilhantes, faixas contendo promoes, liquidaes, ofertas...

    Em alguns dias chegaria o Natal.

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    CIDADO CONSCIENTEEvandro Valentim de Melo - Administrador Braslia/DF

    Adamastor de origem humilde. Famlia pobre, numerosa, daquelas

    que moravam em local ermo, distante muitos quilmetros de qualquer coisa.

    Mesmo assim, apesar dos obstculos, por exigncia dos pais, nenhum dos filhos

    deixou de freqentar a escola e cursar at 4 srie primria.

    Para se ter uma idia do rigor da educao e valores transmitidos pelos

    pais de Adamastor, basta ilustrar que jogar papel no cho e no no cesto de lixo,

    era considerado crime hediondo.

    O destino, sempre ele, mexeu seus pauzinhos e oportunizou quela

    famlia chance de migrar para Braslia. L nos anos iniciais dessa quase

    cinqentona cidade. O pai frente, como precursor. Os demais, pouco mais de

    ano e meio, vieram no vcuo.

    Adamastor concluiu o ensino fundamental, atingiu a maioridade, prestou

    servio militar e, em seguida, entrou para o servio pblico.

    Azar ou sorte? No se sabe, mas Adamastor foi lotado no Departamento

    Pessoal - DP. O nome Recursos Humanos ainda no chegara por essas bandas. O

    cargo era auxiliar de administrao. Nosso personagem foi apresentado s rotinas

    e tomou gosto pela coisa. Com o tempo, seguindo conselhos dos mais experientes,

    voltou escola e concluiu o ensino mdio. A carreira recebeu um up grade,

    decorrncia do diploma de segundo grau. A complexidade das atribuies cresceu

    na mesma proporo.

    Um salto no tempo e Adamastor dominava os processos de trabalho. No

    entanto, o que mais o atraa eram as lides trabalhistas. Quando qualquer processo

    administrativo chegava ao DP cujo objeto era demanda da rea jurdica, ele se

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    oferecia para ler aquele calhamao de papis e se inteirar a fundo da contenda.

    Debruava-se sobre a CLT e instrua a matria. O produto desse esforo prazeroso

    subsidiava de forma muito rica os procedimentos seqenciais a cargo da rea

    jurdica.

    Como no podia deixar de ser, Adamastor foi seduzido pelo Direito. A

    entrada na faculdade, entretanto, foi adiada at que ele pudesse custear o curso

    de seus sonhos. As leituras de temas jurdicos eram lazer para ele. A identificao

    era tanta, que at mudou o jeito de falar. Inclua jarges lidos nas inmeras

    peties e os inevitveis vocbulos e expresses em latim.

    Conservando a humildade e a camaradagem que lhe eram peculiares,

    Adamastor se ofereceu, vejam s, para comprar o vale transporte da empresa, em

    razo do empregado responsvel por essa atribuio se encontrar adoentado.

    Adamastor, a essa altura da vida, j era um quarento. Pois l foi ele. Chegou ao

    posto de venda e comeou a se arrepender. A fila era uma serpente gigantesca.

    poca vendia-se no mesmo posto tanto o vale transporte, quanto o passe

    estudantil. Fazer o qu? Na chuva para se molhar. Pacientemente aguardou a

    diminuio da fila. Quando faltavam cinco pessoas para ser atendido Adamastor

    percebeu a aproximao de um adolescente de bicicleta. Sem a menor cerimnia

    essa criatura ps a mo no bolso, retirou a cartela da escola atestando suafreqncia, algum dinheiro e entregou tudo para uma menina conhecida prestes a

    ser atendida. O corao de Adamastor acelerou. Os adolescentes conversam

    isentos de qualquer embarao.

    Adamastor perguntou pessoa que est entre ele e o casal de

    adolescentes se ela iria permitir que o jovem recm-chegado furasse a fila. Obteve

    como resposta um erguer de ombros de indiferena. Na seqncia Adamastor saiu

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    do lugar em que se encontrava e ultrapassou a pessoa sua frente e o casal de

    adolescentes. O furador da fila perguntou:

    - Qual tio?

    - No sou seu tio!

    - Por que passou na frente?

    - Engraado, gostaria de perguntar a mesma coisa a voc?

    - Ih... Fica frio, tio.

    - Fica frio coisa nenhuma! Acha que vou permitir que voc chegue e fure a fila

    desrespeitando todos ns que estamos aqui h quase duas horas?

    - Relaxa tio.

    - Seus pais no lhe deram educao?

    - Vai engrossar?

    Nesse momento Adamastor, no auge da indignao, beira de um

    colapso, retira o cinto que tem cintura, dobra-o e o mostra ao adolescente

    dizendo:

    - Se voc no der o fora daqui agora e no for l para o rabo da fila eu vou mostrar

    o que seus pais deveriam ter feito para te educar. E vocs diz Adamastor para o

    restante da fila deveriam ter vergonha. Com que ficam impassveis diante de

    uma afronta dessa?Ato contnuo, o jovem pede amiga que lhe devolva seus papis, monta

    a bicicleta e pe-se em movimento. As pessoas da fila aplaudem Adamastor e

    vaiam o jovem, que ergue o dedo mdio, aquele maior de todos, e parte.

    Adamastor chega ao guich, cumpre a misso que se auto-incumbiu e

    retorna com a alma lavada para o trabalho. Certamente imagina seu futuro diante

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    de jurados e juiz, argumentando seus ex tuncs, ex nuncs, iuris tantun, e coisas do

    gnero para inocentar ou acusar algum ru.

    Adentra ao DP assobiando o Hino Nacional brasileiro, empunhando a

    espada justiceira e vestindo a armadura de cidadania...

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    EXAME MDICO PERIDICOEvandro Valentim de Melo Administrador Braslia/DF

    A empresa zelava pela preveno e promoo da sade dos

    empregados. O exame mdico peridico era a menina dos olhos da equipe da

    Qualidade de Vida, um dos braos do RH. quase certo, que o total apoio

    institucional a esse trabalho decorra de, por meio dele, ter sido possvel diagnosticar,

    ainda em fases iniciais, em pessoas que ocupavam posies estratgicas na

    hierarquia da organizao, cnceres de mama e de prstata.

    Ambas as pessoas sofreram, como comum nesses casos, afastaram-se

    durante algum tempo para tratamento, mas, no caso deles, pelo diagnstico

    precoce, o mal foi extirpado.

    Voltaram ao trabalho renascidos e aproveitando cada minuto da vida

    muito mais intensamente do que antes. Quem viveu esse drama, ou conviveu com

    pessoas que passaram por experincia similar sabe avaliar o que isso significa.

    Pois bem, anualmente todos os empregados passavam por uma bateria

    de exames e posterior consulta com o mdico do trabalho.

    Domingas era uma dessas mulheres que no se descuidava. Era sempre

    a primeira a concluir os procedimentos no exame mdico. Se por um lado era

    precisa em seus cuidados com a sade, por outro era rotulada de mesquinha, mo-

    de-vaca, unha-de-fome, po-dura, sovina, pelos colegas de trabalho.

    Controlada ao extremo, nada desperdiava. Veio do interior da Bahia para

    Braslia aos 15 anos, a convite da irm mais velha, que j morava na cidade. A

    exemplo da irm comeou a trabalhar como empregada domstica. Estudou com

    afinco at concluir o ensino fundamental. Ficou nesta condio at os 18.

    Por ser uma cidade eminentemente administrativa, Braslia sempre

    ofereceu muitas oportunidades de emprego na rea pblica. Num desses concursos

    Domingas se inscreveu e, graas ao empenho na escola conseguiu ser aprovada.

    Passados menos de trs meses da divulgao do resultado, foi chamada para

    assumir o cargo: auxiliar administrativo.

    Encantara-se com aquele novo mundo. Tratavam-na com muito respeito.Seu salrio superou em muito aquele que at ento recebia como domstica. Alm

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    de tudo, contaria com planos de sade e odontolgico e muitas outras facilidades

    que a associao dos empregados oferecia, a exemplo de convnios com sales de

    beleza, butiques etc. que em pouco tempo fizeram-na mudar radicalmente a

    imagem.

    No se acomodou. Seguiu a vida estudantil. Concluiu o ensino mdio. Em

    seguida, o curso tcnico de secretariado.

    De patinho feio transformou-se num belo cisne. Ainda assim no

    conseguia esquecer a dureza de infncia. S mesmo disciplina e muita, muita

    determinao ajudaram-na a no sucumbir, como algumas de suas amigas que

    foram para Salvador viver sob os cuidados de cafetes.

    Quase 10 anos depois da admisso, Domingas ocupava a funo de

    secretria em um dos departamentos estratgicos da empresa. Era feliz.

    Uma vez mais chegou a poca do exame mdico peridico e o laboratrio

    encaminhou as comandas com a relao dos exames que os funcionrios deveriam

    fazer. Um pequeno seno: os exames das comandas foram assinalados mo, ao

    contrrio dos anos anteriores, em que eram feitos automaticamente, por um

    determinado programa de computador. Um pequeno problema que em nadainterferir nos exames, garantia o pessoal do laboratrio.

    Como sempre fazia, Domingas foi ao RH receber sua comanda para se

    submeter aos procedimentos do peridico. Leu-a e notou uma pequena diferena

    em relao s comandas dos anos anteriores. Havia sido assinalado o exame de

    fezes na modalidade MIF, em que se coletam amostras durante trs dias para um

    diagnstico mais preciso em relao ao que se deseja averiguar. Acho que estou

    envelhecendo pensou Domingas.

    No se conhece pessoa que realize este exame confortavelmente.

    desagradvel, asqueroso, enfim, terrvel sob todos os aspectos. Mas era uma

    questo de manuteno de status para Domingas. Coletaria as amostras e mais

    uma vez seria a primeira a concluir o peridico.

    O laboratrio agendou a quinta-feira para receber os materiais: fezes e

    urina e coletar sangue. Na manh desse dia uma pequena fila se formara no andar e

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    as pessoas, em jejum e um tanto sem graa portavam, cada uma, um pequeno

    pacote com os coletores. que ningum fica vontade segurando essas coisas.

    Domingas estava l, em primeiro lugar na fila Firme e forte. Entregou

    tudo, coletou a amostra de sangue e foi para o desjejum.

    Conversa vai, conversa vem, descobriu ter sido a nica a fazer o tal do

    MIF.

    Logo que foi para a sua mesa de trabalho, telefonou ao laboratrio e

    questionou o porqu desse exame.

    Recebeu como resposta que havia sido um engano da atendente que

    preencheu a comanda, mas que no haveria qualquer problema. O resultado seria

    at mais preciso.

    Domingas no gostou nada dessa conversa. Quando seu chefe chegou,

    pediu licena para se ausentar dizendo ter um problema para resolver. O chefe,

    conhecedor da dedicao de Domingas, no hesitou em liber-la. Esses pedidos

    vindos dela eram muito raros.

    Domingas entrou em seu automvel, luxo conquistado depois de muita

    economia, e foi ao laboratrio. Chegou l, pediu para falar com o responsvel.

    Relatou o fato e exigiu a devoluo do material de seu exame.

    O bioqumico estranhou e pediu que ela confirmasse o que ouviu.

    - Isso mesmo! Quero a amostra que entreguei! Meu exame deve ser igual ao de

    todo mundo.

    Perplexo, o bioqumico acionou o pessoal da retaguarda e, em pouco

    tempo, Domingas recebia um pequeno pacote com o coletor e seu contedo

    intactos.

    - Amanh trago pessoalmente outra amostra, disse Domingas. Esta aqui minha.

    No se sabe de que forma este episdio caiu em domnio pblico. Fato

    que a partir de ento, reforou a imagem de sovina associada Domingas.

    Comentava-se que ela no desperdiava nem mesmo coc. E c pra ns, h um

    fundo de verdade.

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    ME TUDO IGUAL, S MUDA O CPFHervcia Fernanda Fidlis de Oliveira - Pedagoga Braslia/DF

    Surto de febre amarela espraiava-se pela regio Centro-Oeste. O

    Governo Federal mobilizava-se em aes de combate e preveno doena.

    Campanhas intensivas clamavam comparecimento da populao aos postos de

    vacinao, que temerosa, atendia sem pestanejar.

    Em Braslia o quadro era o mesmo. Filas enormes durante todo o dia.

    Os profissionais da sade garantiam que as pessoas vacinadas h menos de dez

    anos estavam protegidas, no havendo necessidade de repetir o cuidado.

    Por meio de sucessivas entrevistas, durante toda a programao das

    emissoras de TV, estaes de rdio, bem como nas portas dos postos de

    atendimento, o Secretrio de Sade, os auxiliares de enfermagem, e at mesmo os

    vigilantes pediam calma populao, pois no faltariam vacinas para atendimento

    a todos.

    Na gerncia de recursos humanos daquela empresa pblica o assunto

    febre amarela e vacinao figurava diariamente na pauta de conversas.

    - Ontem, bem cedinho fui ao posto perto da minha casa e consegui me vacinar.

    Tambm acordei s 5 da manh.

    - T uma loucura! que pessoas das cidades prximas a Braslia tm vindo para

    c se vacinar. No lugar deles eu faria o mesmo. Esta doena no brinquedo no.

    - Eu me vacinei h cinco anos. Felizmente no vou precisar.

    - Eu e duas irms tomamos a vacina h oito anos. Mas minha me nos ordenou

    que nos vacinssemos de novo para garantir, afirmou cheia de razo, Maristela, a

    estagiria da gerncia.

    Os trs colegas, em unssono, condenaram a atitude.

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    - por isso que a estimativa de doses de vacina feita pelo governo foi superada.

    Pessoas que no precisariam se vacinar esto se vacinando desnecessariamente!

    - Que coisa feia, Maristela!

    - Os gastos pblicos ficam cada vez maiores. Se todos agissem assim, j imaginou

    quanto mais de dinheiro seria necessrio?

    - E os especialistas alertaram que podem ocorrer problemas com pessoas que

    tomam vacina em doses maiores do que o organismo pode suportar. Ouvi ontem,

    que uma pessoa morreu por fazer isso.

    Maristela, que mal completara 23 primaveras, inexperiente e cercada de

    coroas com mais de 40 anos de idade, encheu os olhos dgua pela reprimenda.

    Tentou justificar o injustificvel e, claro, no conseguiu. Para sorte dela, esse

    dilogo aconteceu muito prximo do trmino do expediente e o gongo soou,

    exatamente s 18h, poupando a estagiria dos sermes sobre cidadania que

    comeavam a ser pronunciados.

    Na tarde do dia seguinte Maristela, que estagiava apenas no turno

    vespertino, chegou ansiosa sala, com uma resposta na ponta da lngua para

    dizer aos colegas. Mal desejou boa-tarde pessoal e foi logo declarando:

    - Sa daqui ontem arrasada, sentindo-me a ltima das mulheres! Tanto

    que ao chegar a minha casa, todos notaram. Contei o sobre nossa conversa, quequase fui linchada por vocs, que vocs me fizeram um sermo...

    - Deixa disso, Maristela. Apenas comentamos que aquele tipo de atitude no

    uma atitude cidad. E no mesmo, voc no acha?

    - Eu at poderia concordar, mas sabe o que minha me disse?

    - No.

    - Ela pediu que eu dissesse a vocs, simplesmente, que ela me.

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    MARQUINHOS

    Emerson Aguiar Pontes Administrador Niteri/RJ

    Todo final de ano vem a to esperada confraternizao dos funcionriospara se comemorar mais um ano que passou. E como sempre, em toda festa,

    existe um personagem do passado que ser o motivo das risadas e um(a) ou

    outro(a) sempre quietinho(a), que revelar seu lado oculto.

    No foi diferente aonde eu trabalho. Marquinhos, rapaz de 26 anos, magro,

    boa aparncia, casado, acabara de ser pai. Era assessor da diretoria e controlava

    todas as passagens reas e hospedagens no mundo. Simptico, sempre

    sorridente, no bebia, no fumava e era evanglico. Sempre louvando a Deus por

    todas as suas conquistas (deixo claro que no tenho nenhum preconceito

    contra nenhuma religio). Uma caracterstica de Marquinhos era estar sempre ao

    telefone e constantemente sair por ltimo da empresa. Alegava ser em decorrncia

    da quantidade de servios.

    Entretanto, numa dessas comemoraes natalinas Marquinhos chegou um

    pouco alterado, com hlito de quem ingeriu bebida alcolica e, acreditem,

    danando funk. Surpresas parte continuamos nossa confraternizao e mais um

    fato inusitado aconteceu, Marquinhos e Bernadete numa rebolao e roao

    insinuando cenas sensuais na dana do Cru. Bernadete, mais conhecida como

    Dete, era a auxiliar de servios gerais, tinha por volta de 1,60 de altura e pesava

    uns 50 quilos. Imagine a cena dessas duas figuras danando Cru e, de repente,

    eles atracados se beijando.

    Passado o ano novo, vida nova pelo menos para Marquinhos porque as

    surpresas no pararam por a. Segundo a rdio peo, estourou uma notcia-

    bomba sobre o nosso colega. Um anncio no jornal na parte de garotos de

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    programa escrito Marquinhos Gogo Boy enlouquece voc num mega ambiente

    empresarial, garoto sarado e bem dotado que levar voc no topo da organizao

    com festinha particular na sala da presidncia atendo somente executivos. A

    grande surpresa foi o telefone do anncio que era o mesmo da empresa. Ou seja,

    a hora extra dele era levar fantasias a executivos depois do expediente e ganhar

    uma grana a mais no final do ms.

    Por fim, a maior surpresa ainda estava por vir. Numa investigao

    administrativa sobre Marquinhos ao achar os cadernos da contabilidade dele,

    adivinhe quem era a cliente VIP. Cru, Cru, Cruuu, Cruuu, Cruuu, velocidade

    cinco!

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    MEA CULPA?Sara Almeida Campos Administradora - Braslia/DF

    Suzana gerenciava o Setor de Pessoal de uma estatal, que naquele

    momento revisava seus processos de trabalho.

    O processo em questo era o recadastramento de dependentes para

    utilizao da rede credenciada para ajuda mdica.

    Aps exaustivos meses de anlise de documentao, pareceres,

    incluses, excluses de dependentes e/ou ascendentes, alm dos desgastes

    emocionais, Suzana se deparou com a situao descrita a seguir.

    Chegando empresa para mais uma jornada de trabalho, depois de

    enfrentar trnsito pesado para deixar os filhos na escola, foi abordada por um

    colega, que disse:

    - Gostaria de agendar horrio para agradecer-lhe.

    - No h necessidade de agendar, estou disposio.

    No decorrer desse dia o colega chegou ao balco de atendimento do

    Setor de Pessoal e, falou, em voz excessivamente alta, para que todos ouvissem:

    - Suzana vim agradecer-lhe por seu empenho no processo de incluso de minha

    me para a ajuda mdica.

    Suzana no entendeu e no se lembrava especificamente da situao

    desse colega, mas respondeu-lhe que no havia o que agradecer, pois no

    dependia dela a incluso, e sim de atendimento s exigncias normativas.

    O colega insistiu:

    - Quero agradecer sim, pois a minha me morreu e no foi aceita pela empresa

    como minha dependente.

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    Imaginem o constrangimento. Entretanto, por mais que tenha dodo

    ouvir aquelas palavras Suzana pensava em reparar a impresso e a amargura que

    ficaram naquele colega, transtornado a tal ponto de agir como agiu. No foi

    possvel.

    Anos depois, j fora daquela empresa, Suzana soube por uma amiga,

    que aquele colega havia se arrependido muito daquele episdio. Foi um blsamo

    para Suzana ouvir, da amiga, a reproduo do que ele disse:

    - Gostaria de reencontrar a Suzana e pedir-lhe desculpas. Fui injusto com ela em

    um momento difcil de minha vida. Atribu a ela a responsabilidade pela morte de

    minha me... E ela no merecia isso.

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    O INFALVEL E O INACREDITVELProfissional de RH atua tambm fora das empresas

    Armando Pastore Mendes Ribeiro Matemtico Curitiba/PR

    Conheci Dinho nos primeiros no primrio. No sabia por que o

    chamavam de Dinho. O nome era Joo. Ficamos amigos. Descendia de

    portugueses e sua av chamava-o de infante. Adorava provoc-lo chamando-o de

    Infante Dinho. Fazia-o quando queria irrit-lo. Estudamos juntos at o ltimo ano

    do segundo grau.

    Acostumei-me a ouvi-lo dizer a palavra infalvel. Sempre tinha algo que

    conhecia ou fazia que era infalvel. Desde uma brincadeira nos campinhos de

    futebol at coisas srias, como aquele mtodo de estudar que era infalvel para

    tirar nota dez. No conheo pessoalmente o criador do personagem Cebolinha

    Maurcio de Souza -, mas ele deveria conhecer o Dinho. Os planos infalveis do

    Cebolinha seriam multiplicados por mil.

    Enquanto ramos crianas nunca me preocupei com seus planos. Ao

    chegarmos adolescncia, entretanto, comecei prestar mais ateno aos infalveis

    mtodos de conquistar garotas. Ele olhava para a menina, pensava um pouco e

    partia para a ao. Invariavelmente era uma nova conquista. Andava todo

    orgulhoso de seu mtodo, mas no contava a ningum como funcionava. Certa

    vez, depois de tanta insistncia, resolveu abrir o jogo comigo. O mtodo de

    conquista era to complicado, com tantas variveis, que pedi para ele parar antes

    de chegar metade da explicao. Preferi continuar com meu jeito mesmo.

    No incio do segundo semestre daquele ano entrou na nossa classe uma

    nova aluna. Aos nossos olhos de adolescentes, um anjo que apareceu na terra e

    justamente na nossa frente. Morena, cabelos lisos, sedosas; corpo escultural;

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    delicada; rosto de anjo; educada. Resumindo: qualquer um, poca, juraria estar

    apaixonado. Dinho ficou sincera e perdidamente apaixonado por ela.

    Segundo seu mtodo infalvel, Dinho teria que observar muito bem cada

    coisa que ela fazia, como falava, olhava etc. Preparou-se para entrar em ao num

    dos bailes realizados aos sbados noite e... no funcionou. Inacreditvel, no

    funcionou! Dinho pela primeira vez tinha sido derrotado. A deusa estava

    interessada em outro. Dinho saiu antes do fim do baile. Quase reprovou. Andava

    s pelos cantos do colgio. No falava com seus amigos.

    Passamos de ano, cada um escolheu seu curso superior. Perdemos

    contato. Dinho sumiu. Ningum mais o viu ou. Mudou de casa e no deixou

    endereo.

    Dez anos depois no centro da cidade o encontrei. Reconhecemo-nos

    imediatamente. Uma grande alegria para ambos. Tnhamos uma dcada de coisaspor contar. Formou-se em advocacia e agora no era mais Dinho, era o Dr. Joo

    Martins. S eu, sua esposa e os familiares ainda chamavam-no Dinho. Naquele dia

    marcamos outro encontro para conversarmos. Eu precisava voltar ao trabalho. Ele

    iria ao Frum apresentar defesa para um caso que era palavras dele infalvel.

    Semanas depois o reencontrei no restaurante. Estava diferente, barba

    por fazer, roupas desalinhadas, como se atropelado por uma manada de elefantes.

    Perguntei-lhe o que tinha acontecido e ele relatou que tinha perdido uma causa

    muito importante para o escritrio no qual trabalhava. Pensei comigo ser que

    seu plano infalvel no deu certo ? Acertei na mosca.

    E no era s. Seu casamento estava no fim. Vivia em constante conflito

    com a esposa. Investiu as economias do casal na bolsa de valores em aes que

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    prometiam mundos e ao final ficou sem os fundos. Tinha um casal de filhos

    estudando num colgio carssimo e com seu salrio era impossvel pagar as

    mensalidades. Era tanta desgraa junta que passamos metade daquela tarde

    conversando sobre possveis sadas para a crise que atravessava. Tornei-me seu

    conselheiro financeiro e sentimental. Conheci sua esposa, a quem ele e toda a

    famlia chamavam de Dinha. Formavam um belo casal, mas eram s aparncias.

    Os planos infalveis chegaram todos ao fim. A primeira coisa que fiz foi

    proibi-lo de falar a palavra infalvel. Dinha dizia ser inacreditvel quantos planos deascenso e glria ele havia feito no curto tempo que viviam juntos. Muitos deles

    deram certo. Um chamava a ateno. Para os nossos padres de classe mdia

    baixa vivia num belo apartamento de quatro dormitrios, com 300 m2, numa das

    regies mais valorizadas da cidade. Mas no podia sustentar tanto luxo com seu

    salrio de advogado.

    Surpreendiam-me suas histrias. Os anos que passou estudando, as

    amizades que fez. Foi um aluno brilhante. Dos melhores da faculdade de direito.

    Os professores recomendavam-no aos melhores estgios. Quando se graduou

    passou com nota mxima no exame da OAB e foi disputado pelos melhores

    escritrios de advocacia da cidade. No entendia como um sujeito to brilhante

    chegara, em to pouco tempo, ao fundo do poo.

    Reatamos a amizade. Os encontros eram regulares e eu o ajudava

    sempre que podia. Acho que fui responsvel por muitas dicas e conselhos que o

    fizeram refletir sobre outro modo de vida.

    Dinho tinha tudo para ser famoso, rico e admirado, mas no era nada

    disso. Qual o segredo de tanta coisa ruim em sua vida?

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    Naqueles dias com ele novamente voltei a me imaginar um grande

    detetive. Sempre gostei de histrias do Conan Doyle, Sherlock Holmes e de Poirot.

    Estava diante de um caso para resolver e tirar o meu amigo de uma grande

    enrascada. Coloquei os sentidos e intuio a postos e iniciei as investigaes.

    Conversar com sua famlia. Pais e av ainda vivos foram contando

    detalhes da vida do garoto, do adolescente e do homem. Seus sonhos de ser

    senhor do universo. Nada de anormal aos meus olhos de leigo aparecia. Quem

    no sonhou em ser dono de fortunas e castelos? Quem no sonhou em serastronauta ? Queria ser eu ao invs de Gagarin no espao.

    A famlia o incentivava. Depositavam nele, esperanas de ser mais do

    que um simples agricultor, dono de botequim, ou vendedor ambulante, como seus

    antepassados. Haveria de ser Doutor.

    A grande pista foi a origem do apelido Dinho. Ningum lembrava bemcomo surgiu. Joo admite o diminutivo Joozinho, logo, Zinho. A av com quase

    cem anos lembrou, que quando ele dava os primeiros passos, depois dos

    inevitveis tombos, todos o acudiam com a palavra coitadinho. Foram muitos

    tombos e erros, pois de coitadinho, passou a ser Dinho.

    Na adolescncia era cobrado pelos pais a ser sempre o melhor, o mais

    inteligente, com melhores notas, a namorar as mais bonitas Quando no atingia os

    resultados, aparecia a frase destruidora: coitadinho do Dinho.

    Marcou a vida inteira esta obsesso pela vitria. Os planos infalveis

    sempre existiram para que ningum dissesse a ele coitadinho. Devia ser sempre

    o vencedor. Escolhera a profisso de advogado sob forte influncia de um primo de

    sua me. O sujeito chegava sempre antes do Natal para visitar a famlia, num carro

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    do ano, distribua bugigangas compradas em Paris ou Buenos Aires. Era admirado.

    No era um coitadinho.

    Decidiu um dia ser o heri da famlia.

    Fracasso aps fracasso, Dinho , ou melhor Joo, foi acabando com sua

    auto-estima. Lembrava ainda do dia em que no conseguiu conquistar a grande

    paixo da sua vida a deusa do colgio.

    Procurava nas mulheres com que se relacionou, as caractersticas

    fsicas dela. Certa vez a descreveu com tanta preciso, que eu consegui v-la em

    minha frente. Nesse dia chorou como criana. Lembrava cada fato ou ocasio

    onde sua deusa estava envolvida. De outras situaes pouco lembrava. Foram

    anos de sofrimento. Joo passou por uma grande limpeza. Abriu corao e mente

    e expurgou os infernos que guardara.

    Terminou o casamento, alis, Solange. Na separao no houve brigas.

    Ficou uma grande amizade. Solange, me de seus filhos passou a apoi-lo

    tornando-se minha aliada.

    Lembrou que sonhara, quando criana, ser um grande construtor. Vez

    em quando ainda pensava como seria bom ver uma casa construda tijolo aps

    tijolo. Largou a advocacia e cursou engenharia.

    No se preocupou em ser brilhante. Queria apenas ser feliz no que

    fazia. Estudava por gosto, no por obrigao. As notas baixas no indicativam

    fracasso, mas sinal que tinha de aprender mais.

    Dez anos depois comemoramos o final da construo de um prdio de

    trs andares que ele mesmo projetara, no subrbio da cidade. Foi uma das festas

    mais animadas que participei.

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    Os filhos orgulharam-se de ver o pai to feliz e admirado pelos que o

    cercavam. Sem planos infalveis, fazia coisas inacreditveis.

    A Deusa do colgio? Ele reencontrou num dia de chuva num Shopping.

    Conversaram. Ela ainda solteira. Marlia no tivera sorte com seus

    relacionamentos e encontrou Joo na hora certa. Dois anos depois casaram-se.

    Joo um engenheiro com alguma fama. Admirado pela sinceridade e

    capacidade de desenvolver projetos especiais. Voltou a praticar esportes. Trinta

    anos se passaram desde aquele baile no ultimo ano do segundo grau.

    Visitei-o outro dia para contar algumas idias da reforma que pretendo

    fazer na minha casa. Queria ouvir seus conselhos. Tinha muitas dvidas sobre

    como realiz-la. Algumas cervejas depois ele, com um ar solene, tinha

    desenvolvido um mtodo para reforma de residncias que era infalvel. Eu, minha

    esposa e Marlia ficamos paralisados. Ele riu e abraou-me com fora. Meu amigo inacreditvel.

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    O MENINO JOHN KENEDDY DA SILVAArmando Pastore Mendes Ribeiro Matemtico Curitiba/PR

    A nossa histria aconteceu l nos idos dos anos 80, em uma das grandes

    multinacionais americanas no Brasil. Eu trabalhava no Marketing e meu amigo no

    RH.

    A Diretoria precisava de um novo Controller e o Gerente de RH foi

    incumbido de selecionar nada menos do que o melhor profissional. Salrio, segundo

    o Diretor Financeiro, um cubano sempre mal humorado, no era problema, a

    situao naquela rea estava crtica.

    Meu amigo comeou a divulgao da vaga nas principais empresas de

    seleo de pessoal e atravs de anncios de jornal. Algumas exigncias para a

    poca limitavam realmente a quantidade de candidatos: formao em escola de

    primeira linha, fluncia no ingls, cursos de extenso na rea financeira e muita

    experincia.

    John Keneddy da Silva (errado assim), paulista de 32 anos, formado pela

    FGV, com vrios anos de experincia em empresas multinacionais, fluente em

    ingls, pois morou vrios anos nos EUA era o melhor candidato. O seu nome era

    uma homenagem que seu pai fez ao ilustre presidente dos EUA. Seus irmos,

    igualmente, tiveram nomes em homenagem a Jango, Yuri Gagarin, Golda Meir,

    Maria Esther Bueno, todos da Silva.

    Realizados todos os testes e formalidades chega o dia da apresentao

    de John ao Diretor Financeiro. John e meu amigo entram na sala de recepo da

    Diretoria. Quase trombam com o Diretor, que naquele dia estava mais mal humorado

    do que costumava. Ele havia acabado de chegar de uma viagem sede da empresa

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    nos EUA, estava cansado, estressado e antes que a secretria anunciasse o novo

    contratado olhou para John e falou: O que faz aqui? O que deseja?

    John educadamente sem levantar a voz disse-lhe que era o novo

    funcionrio e que estava ali para apresentar-se. O Diretor com aquela cara de: no

    gostei de voc. Emendou com uma frase rpida: Est apresentado, agora aproveite

    menino e v at a copa e traga-me um caf sem acar, e afastou-se em direo

    sala. A secretria, meu amigo e John ainda tentaram falar algo, mas o Diretor bateu

    a porta e grunhiu que no queria ser interrompido.

    Meu amigo no teve tempo de falar qualquer coisa, a secretria continuou

    com aquele olhar de espanto e de resignao. John decepcionado.

    Foi o trabalho mais curto de John. Entrou na empresa s 9 horas e pediu

    demisso s 9h45min.

    John Kennedy da Silva era negro.

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    PAULO MENTIRAAlexandre Tadeu Ferreira -Administrador e Mestre em RH - Pimenta Bueno/RO

    Barcelona/ES.

    Trabalhar no RH permite que conheamos muitas histrias. Esta a de

    Paulo, rapaz de 22 anos, com escolaridade suficiente para exercer funes de certa

    responsabilidade na empresa. Bem humorado, responsvel, tudo que faz resulta

    melhor que os demais. Pensa ser o cara. Com o passar do tempo, Paulo foi

    apelidado pelos colegas de Paulo Mentira. At ento eu desconhecia o porqu.

    No tinha tanto contato com ele, mas sempre ouvia colegas mencionando seu nomee rindo. Ao aproximar-me dessa grande figura percebi o quanto era hilrio.

    Paulo era de origem simples. Seus pais eram pequenos produtores rurais

    muito humildes. Por haver sido criado no campo ele mantinha em seu vocabulrio

    algumas palavras oriundas no sei de onde. Tudo bem, quem no incorporou uma

    ou outra palavra ensinada pelos avs, ou pessoas mais experientes ao longo dos

    anos?

    Certo dia meu j amigo Paulo comenta de seu primo, um jovem que em

    suas palavras tinha somente 4% do crebro, isso mesmo, 4%. Quem sou eu para

    duvidar? O problema foi acreditar nas habilidades do garoto...

    Seu primo, apesar da deficincia, vivia normalmente e era at mais

    inteligente que os demais jovens de sua idade. Esse mesmo primo foi convidado por

    Slvio Santos para tocar em um programa, pois se sobressaa na msica. No

    aceitou por motivos pessoais. Tambm havia descoberto um furo no sistema de uma

    operadora telefnica, em suas palavras, um pane no sistema, pane essa detectada

    em um determinado dia de cada ms. O garoto estava ganhando muito dinheiro com

    essa fantstica descoberta.

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    O jovem desprovido de massa ceflica tinha muitas outras habilidades e

    fez diversas descobertas. Paulo, com toda sua sabedoria, desconfiava que o garoto

    tivesse cncer; apenas desconfiava. Paulo dizia: meu primo tem a cincia, cara! Ele

    tem a cincia!!! A cincia!!!

    Infelizmente por falta de tempo e no estar preparado para a minha

    grande descoberta, no me lembro de todos os detalhes. Mas ao perceber uma

    fonte inesgotvel de causos um pouco duvidosos, a partir da comecei a anotar

    algumas prolas e formular um pequeno dicionrio do Paulo Mentira. No pormaldade. O fato que s vezes Paulo se superava no mesmo dia e era impossvel

    lembrar tudo.

    Em mais um de seus causos - assim que ele dizia literalmente, causos

    - Paulo comentou que estudava um projeto, dele mesmo: um motor com fonte

    renovvel de energia. No super motor de Paulo, assim ficou conhecido, o mais

    interessante era que no se utilizava nenhum tipo de combustvel ou fonte de

    alimentao, e que essa tecnologia por ele descoberta jamais seria revelada.

    Paulo, perspicaz como ningum, resolveu no patentear seu to valioso

    invento, pois no suportaria o assdio da imprensa. Impressionava em suas

    histrias a eloqncia e a seriedade de suas palavras.

    Em alguns casos tive de fazer esforo sobrenatural para no rir, diante

    das histrias fabulosas que Paulo nos presenteava. Combinamos no fazer

    comentrios desagradveis ou que colocassem em dvida as histrias, para que

    tivssemos Paulo sempre motivado a contar suas experincias.

    Uma que me chamou ateno foi quando ele concluiu algo sobre os

    homossexuais. Sua prima (alis, Paulo tinha uma centena de primos!) havia se

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    casado com um homossexual. Paulo defendia que os homossexuais tm mais

    clulas que as pessoas normais. Imagine como eu me portava diante de tal

    situao. s vezes ia ao banheiro s pra rir sem que ele visse. Isso acontecia em

    horrio de trabalho.

    Paulo havia sido proclamado um grande heri. Para todo grande heri,

    grandes conquistas: as mulheres mais desejadas. Nesse campo Paulo superava

    todos os outros grandes heris. Dizia-se gal nato, lindo. Mas, entediava-se. Todas

    as noites ficava com duas mulheres maravilhosas, j que ele no gostava dequalquer coisa. Um dia perguntei-lhe: Paulo voc no cansa? Respondeu: Claro

    que sim. Depois de dois meses seguidos, cansa um pouco, a eu descanso e

    recomeo. Virei f de Paulo. Mas ningum perfeito. Certa vez nosso heri

    confessou que uma mulher o cantou por trs meses e ele no percebeu.

    Outra histria: Paulo conhecia uma pessoa que conhecia outra pessoa,

    que por sua vez, fazia contrabando de diamantes, ao criminosa, inclusive

    condenada por ele. O fato curioso tinha um aspecto verossmil, se no fosse o

    desfecho da ao criminosa. O indivduo chegava a transportar at trinta diamantes

    na sola do sapato, andava de nibus para no chamar a ateno. Fiquei pasmo com

    aquilo. At pensei, que poderia ser verdade. Ento indaguei: Esse cara deve estar

    muito rico no mesmo Paulo? Ele disse: Que nada, ele s transporta. Movido

    pela curiosidade fiz outra pergunta: Quanto ele ganhava para fazer o transporte?

    Paulo respondeu: R$ 50,00 por transporte (cinqenta reais).

    Segundo Paulo: Um carro um corpo muito pesado, difcil de parar,

    essa fora se chama cinfita. Ele tambm era contra conferendo do

    desarmamento. Paulo tinha opinio formada, e opinava em tudo. Tudo mesmo! Uma

    prima com uma famlia enorme tinha um tio que possua uma carreta e fazia

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    transportes em rodovias por todo o Brasil. Esse tio, um senhor muito inteligente,

    segundo ele, claro, ficava sentado s observando a localizao de sua carreta

    atravs do sistema de extratos do satlite. Perguntado se no seria um GPS, ele

    respondeu acho que um tal de GPC mesmo.

    Ultimamente com o despreparo do governo e as condies climticas e

    fsicas propcias, temos presenciado inmeros casos de dengue em nosso pas.

    Paulo considera fatal a dengue hemonolgica. Tantas gafes e histrias estranhas

    no interferiam na sua imagem de boa pessoa, bom colega de trabalho. Tem umgrande corao, se sensibiliza com os demais ou com fatos que marcaram a

    Histria. Exemplo: ele odeia os narcizistas, pois mataram muita gente inocente.

    So tantas as histrias espetaculares desse personagem, que

    certamente daria alguns captulos, fora o dicionrio de Paulo. Tive o prazer, ou no,

    de ter presenciado todas essas e muitas outras. Vocs devem estar se perguntando

    como pode Paulo Mentira trabalhar nessa empresa? Muito simples, mas isso ele no

    conta pra ningum, descobrimos que ele primo de um primo dos proprietrios da

    empresa.

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    PREMONIESSara Almeida Campos Administradora - Braslia/DF

    noite, depois de uma semana de muito trabalho - relatrios, reunies,

    viagens, entrou em casa e desabafou com o cnjuge:

    - Sinto que uma grande mudana vai ocorrer em minha vida!

    Ele, preocupado, pois tambm trabalhava na mesma empresa e estava

    de licena mdica h trs meses, quis detalhes. Mas eram sensaes e intuies

    femininas, no tinha como sustentar o que pensava. Assim passaram aquele final de

    semana.

    Na segunda-feira, em seu posto de trabalho percebeu a chegada de

    algum. Ergueu a cabea e para sua surpresa, tinha diante de si o chefe, como era

    chamado por todos.

    Apesar dos cumprimentos costumeiros percebeu o semblante de

    apreenso no rosto dele. Perguntou-lhe se passava bem, ao que respondeu um

    tmido mais ou menos.

    Passaram aquela manh entre papis e reunies com outras reas, pois

    eram poucas as vezes que ele vinha Sede.

    Prximo ao trmino do primeiro expediente pediu que escolhesse um

    restaurante. Disse, ainda, que aquele almoo no seria estendido a toda equipe,

    como de costume.

    Cada vez mais as impresses se confirmavam mas, ele nada dizia sobre

    o que se julgava preparada para ouvir.

    Num sobressalto, decidido a dizer de uma vez o que viera adiando, ele se

    preparou para falar-lhe, quando ela o interrompeu:

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    - Chefe, no precisa se preocupar com o que voc tem para me dizer. Minha vida

    est organizada, dentro e fora da empresa. No ntimo sempre soube que esse dia

    chegaria. Assumi este papel vrias vezes e sei como voc est se sentindo. Eu

    estou bem!

    Terminaram o almoo e ao retornarem empresa, comunicou o fato ao

    RH, para as providncias de praxe.

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    REQUISITOS DE SELEOJuliana Cristina Siqueira Santos graduanda de Pedagogia Braslia/DF

    Naquela empresa fiz muitos amigos e aprendi bastante com todos. Mascultivei um carinho todo especial por meu chefe. Via nele um timo profissional, que

    verdadeiramente gostava de trabalhar e se empenhava em tudo que fazia. Era

    sempre gentil e paciente com todos, alm de muito engraado. No entanto, achava

    que j era hora de procurar um novo local para estagiar, pois sentia ter aproveitado

    o que era possvel naquela empresa.

    Depois de muitas entrevistas, consegui um novo estgio na rea de

    Recursos Humanos. Fiquei muito feliz por ser uma oportunidade que se encaixava

    naquilo que estava procurando. No entanto, sofria por ter de sair da atual empresa e

    deixar meus colegas de trabalho. Corao apertado, ainda mais quando pensava em

    comunicar a novidade para meu chefe, pois sabia que ele no esperava por isso.

    Adiei a novidade enquanto pude, mas contei a ele. Entristeceu, pediu para que

    ficasse, mas expliquei que no podia perder essa oportunidade. Ele, conformado,

    pediu-me ajuda para escolher minha substituta.

    Assim que os currculos chegaram, selecionei aqueles que considerei

    serem os melhores. Restaram apenas dois currculos. Duas jovens da mesma idade

    e que cursavam administrao. No encontrava nenhuma vantagem de uma em

    relao outra. O desempate seria mesmo na entrevista e no teste prtico.

    No dia da entrevista as duas candidatas chegaram pontualmente. Eu e

    meu chefe fomos para uma sala com as candidatas para que fosse iniciada a

    entrevista. As duas jovens demonstraram ser eficientes e com detentoras de b nos

    conhecimentos na rea. Ambas saram-se bem no teste prtico. Preferi uma que se

    enquadrava melhor ao perfil. Vestia trajes apropriados cultura da empresa e

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    somava caractersticas que me agradaram. Acreditava que meu chefe partilhava

    comigo essa preferncia.

    Terminada a entrevista, eu e meu chefe fomos conversar para definir a

    escolha. Falei das minhas impresses e meu chefe concordou em tudo comigo. No

    entanto, para a minha surpresa ele falou que achava melhor que a outra jovem fosse

    a contratada. Fiquei surpresa, se ele acreditava que a minha preferida era a mais

    competente, por que ento queria contratar a que visivelmente era menos

    competente? Perguntei isso a ele. E ele meio sem graa comeou a fazer algunsgestos com a mo, tentado me explicar algo que no conseguia entender.

    Percebendo que eu no entendia, ele disse sem meias palavras que a minha

    escolhida era cheinha demais.

    Meu espanto cresceu, fiquei sem palavras, nunca pensei que escutaria

    isso de algum que tanto admirava. Ainda mais de um chefe de Recursos Humanos.

    Em pensamento questionei se o motivo de ter sido selecionada para o cargo de

    estagiria era o mesmo que fazia da candidata magrinha a mais competente. Mas

    prefiro acreditar que no.

    Passada a perplexicidade inicial defendi a minha preferida com unhas e

    dentes, no podia aceitar aquele absurdo.

    Felizmente prevaleceu o bom senso. Meu chefe, agora ex-chefe, foi

    convencido de que o critrio de maior peso para eliminar uma das candidatas quela

    vaga no deveria ser quem tivesse maior massa corporal. Desculpem o gracejo.

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    TRS AMIGOSEvandro Valentim de Melo Administrador Braslia/DF

    Este um fragmento da histria de trs amigos, cuja amizade iniciou na

    rea de recursos humanos, de uma mesma instituio pblica. O local um dos

    edifcios na Esplanada dos Ministrios, talvez o carto postal mais conhecido de

    Braslia.

    Opes acadmicas levaram-nos a se afastar. As graduaes de nvel

    superior escolhidas foram: Direito, Educao Fsica e Administrao.

    O administrador caminhou bastante. Sua Carteira de Trabalho e

    Previdncia Social - CTPS contm oito registros diferentes, dois deles fora de sua

    cidade natal. Tem ainda, fora da CTPS um perodo de quatro anos como micro-

    empresrio. Atualmente labora em uma empresa pblica do Governo do Distrito

    Federal. Esta pgina da CTPS, por enquanto tem data apenas de admisso.

    O atleta, apesar de melhor preparado fisicamente, foi aquele que

    percorreu a menor quilometragem. Ao folhear sua CTPS verifica-se trs contratos de

    trabalho. O quarto e atual vnculo no est na CTPS. Sua relao empregatcia

    regulada pela Lei n 8112, em um rgo do Poder Judicirio, no Distrito Federal,

    onde sempre residiu. No utiliza mais a CTPS. Guarda-a para relembrar seu

    passado.

    O doutor, que atuou apenas dois anos como advogado, possui s uma

    pgina da CTPS preenchida. Justamente aquela em que trabalhou com os dois

    amigos. Atualmente usa toga e atua como magistrado em um tribunal numa unidade

    federativa prxima ao Distrito Federal. Por exigncia do cargo, no incio da carreira

    de juiz morou alguns anos bem longe de Braslia, perodo chamado por ele de exlio.

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    Mais de vinte anos se passaram desde a ltima vez que estiveram juntos,

    quando tinham idade aproximada de 22 ou 23 anos.

    Uma conspirao csmica, combinando acasos e foras ocultas, permitiu

    que, em uma mesma semana, o atleta encontrasse o doutor e, dias depois, o

    administrador. A ocasio, claro, no poderia ser desprestigiada. Servindo de elo, o

    atleta agendou um jantar aonde iriam apenas os trs, sem as respectivas famlias.

    Sim, pois os trs se casaram e tm filhos. Se precisar de um memorando pedindo

    autorizao s patroas, basta me dizer que eu encaminho disse o atleta.

    No foi preciso. Ao administrador coube escolher o local. No poderia ser

    um qualquer. Para aqueles que acreditam na inexistncia de esquinas em Braslia,

    lamenta-se informar, que se trata de lenda. Existem. E muitas. Em uma delas, situa-

    se o restaurante que os reuniu naquela noite.

    Dos trs, o nico abstmio o administrador. Porm, dada a lei seca

    que impera h algum tempo, a picanha argentina e seus igualmente deliciosos

    acompanhamentos foram acompanhados de sucos naturais.

    A noite transcorreu com muita conversa. Falou-se de tudo: mulheres,

    futebol, famlia, piadas, passado, presente, futuro, Brasil, trabalho, amigos comuns

    que no estavam ali...

    Os trs amigos cultivavam desde poca em que trabalhavam juntos orespeito coisa pblica. Apesar de a mdia quase sempre mostrar matrias que

    denigrem tanto o servio pblico como os servidores pblicos, h entre eles, muitos

    que honram a categoria, respeitam a sociedade e se orgulham disso. Claro que h,

    como em qualquer categoria profissional, aqueles que optam por caminhos

    tortuosos, e cometem crimes de todas as estaturas. H tambm, os acomodados

    que se acham intocveis e que convivem com gestores que esto de passagem,

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    indicados graas a conchavos poltico-partidrios e que no esto nem a para a

    Hora do Brasil. Infelizmente, ainda no foi encontrada a forma de evitar que essas

    indicaes aconteam, at mesmo por contarem com o apoio da Constituio

    Federal (as indicaes, no a acomodao e o descaso). Mas os trs personagens

    dessa histria permaneceram fiis e merecedores de se dizer servidores pblicos.

    Depois de quase quatro horas de conversa e comilana despediram-se

    sem saber se haveria outra conspirao csmica que permitisse um reencontro.

    No trajeto de volta ao lar, com trnsito absolutamente tranqilo, ao som

    do Boca Livre, grupo que fazia enorme sucesso l pela dcada de 80 e que foi

    propositalmente escolhido para a trilha sonora daquele momento, em homenagem

    ao reencontro, o administrador meditava. Por sua lembrana passam

    simultaneamente os filmes com as biografias dos dois amigos. exceo do juiz os

    outros dois continuam na rea de RH. Lidando com plano de cargos, carreiras e

    salrios, benefcios, folha de pagamento, treinamento, desenvolvimento e

    educao... E ambos em funes de gestores.

    Apiedou-se um pouco juiz. Mesmo supondo que o lquido do

    contracheque dele era, pelo menos, mais que o triplo da soma dos valores brutos

    dos contracheques dos outros dois, sua vida foi um tanto insossa. Foi de longe

    aquela que apresentou menos aventuras. Talvez decorrncia da intensidade dosestudos, do tempo necessrio preparao para ser juiz.

    Ser que vale pena se dedicar tanto para se chegar aonde o juiz

    chegou? Ser que a caminhada deve ser desconsiderada, menos valorizada em

    detrimento do objetivo final? No ser o caminho aquilo que realmente conta?

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    Lembrou-se das provocaes filosficas no livro de Mrio Sergio Cortella,

    cujo ttulo No espere pelo Epitfio. Vieram mente, tambm, a cano Epitfio,

    dos Tits e um ditado popular a gente s leva da vida a vida que a gente leva.

    Verdadeiramente importante no reencontro foi constatar, mesmo depois

    de tanto tempo, que permanecerem intactos os valores cultivados na juventude:

    tica, respeito, solidariedade... Nunca foi simples ou fcil manter as mos limpas em

    meio ao lamaal que os cerca.

    Bom saber que ainda h esperana de um Brasil melhor.

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    TROTESMarly Saliba Rebouas Pedagoga Braslia/DF

    Na estatal onde trabalhei por mais de 20 anos, o batismo dos iniciantes

    na empresa quela poca (1984) ocorria da seguinte forma: os mais antigos

    lembram que uma das exigncias na documentao para assinar o contrato de

    trabalho era apresentar raio X dos pulmes (rsrsrssss). Pois ! L na empresa havia

    a rea de microfilmagem e mquinas enormes, com cmaras escuras. O trote

    consistia no seguinte: quando a pessoa chegava, os futuros colegas diziam que

    tinham de refazer o tal raio X, pois o apresentado no valia. Um dos mais caras de

    pau chamava o novato e explicava que a empresa dispunha do aparelho para o

    exame e, como geralmente as pessoas nem sabiam que existia microfilmagem e

    muito menos conheciam as mquinas, acreditavam e iam para a tal sala, se

    preparavam e se posicionavam na sala de microfilmagem, na maior inocncia. Ai era

    a maior farra! A turma caa na gargalhada! Gente! Graas a Deus dessa eu escapei,

    mas soube de colegas que ficaram p da vida com o trote. Mas, depois, alguns

    passavam o trote frente, pegando outros novatos!

    Em outra oportunidade, estava eu prestando servio em um banco

    pblico. Trabalhava na coordenao de empregados terceirizados, que digitavam

    contratos de compra e venda de imveis. Ento, um belo dia, surgiu uma moa, uma

    figura, que mais parecia uma rvore de natal, de tantas bijuterias. A tal moa era

    muito lenta na digitao. E minha colega que trocava turno comigo, tambm

    coordenadora, contou-me essa preciosidade... Certo dia pediu moa que fosse

    mais gil, pois a mo dela era muito pesada. Sabe o que aconteceu?! A menina tirou

    as pulseiras do brao! Acreditem se quiser, mas foi isto mesmo que aconteceu. Ela

    pensou que as pulseiras que deixavam os dedos dela mais lentos. Foi uma piada!

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    Como era uma empresa de informtica, tinham os calouros da rea.

    Jovens cheios de teoria, mas nenhuma experincia, e como a informatizao ainda

    era uma coisa muito nova, os mais espertos pediam para os novatos irem

    Fitoteca rea onde eram armazenadas fitas de gravaes, buscarem os lotes de

    bits que haviam chegado! Pra quem no sabe, bit a unidade bsica de

    informao utilizada em computadores, podendo assumir apenas dois valores, 0 ou

    1, ou seja, no um objeto. O iniciante, nervoso, corria na fitoteca e dava o recado:

    vim buscar o lote de bit que chegou. A turma caa na risada.

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    Distribuio GratuitaNo autorizada a reproduo sem identificada autoria

    Este livro uma obra idealizada e elaborada pela Comunidade

    de Recursos Humanos.

    Voc poder fazer o download gratuitamente das edies

    anteriores nos links abaixo:

    CAUSOS DE RH VOLUME 1

    http://www.4shared.com/file/56237343/125670ae/Livro_de_RH.html

    CAUSOS DE RH VOLUME 2

    http://www.4shared.com/file/68599837/3ff5ee05/Causos_de_RH_2.html

    Participe da Comunidade de Recursos Humanos no Orkut:

    http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=71849