cap 1 - religião e neurologia
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Conferencia I
RELIGIÃO E NEUROLOGIA
Para o psicólogo, as tendências do homem são tão interessantes como qualquer outro
fator que pertence a sua constituição mental.
As questões principais de Willian James são: quais as propensões religiosas e qual
é a sua significação filosófica. Essas perguntas, segundo ele, são de ordens totalmente
diferentes da inquisição do sentido lógico, por isso irá falar um pouco mais desse ponto
de vista antes de entrar nas pesquisas documentais que fez.
Todo fenômeno religioso tem sua história e sua derivação de antecedentes naturais. O
que hoje se chama de crítica superior a bíblia não passa de um estudo do ponto de vista
existencial. Uma das principais questões a ser respondida é que utilidade a bíblia
pode ter para nós como guia de vida e como revelação. Porem para essa pergunta ser
respondida deve-se ter em mente alguma teoria geral sobre quais devem ser as
peculiaridades que dão a uma coisa valor de revelação e essa seria chamada de JUIZO
ESPIRITUAL. Temos em nossa natureza o JUIZO EXISTENCIAL. Combinando
os dois juízos podemos ter outras opiniões sobre a bíblia, podemos acreditar ou
não no que está escrito na bíblia.
Algumas manifestações psíquicas anormais são aceitas nas religiões. Muitos indivíduos
são “gênios” na esfera religiosa e eles, de um ponto de vista do materialismo medico,
estão mostrando manifestações psíquicas anormais, que podem ser classificadas, por
exemplo, como instabilidade nervosa. Momentos de transe, visões e ouvir vozes são
classificados como patológicos, são aceitos e geram autoridade e influencia no meio
religioso.
A comparação entre as necessidades fisiológicas e a religião faz com que a mesma
tenha o sentido de preciosidade diminua, ou até mesmo chegue a se extinguir. Talvez
a expressão mais comum da suposição que o valor espiritual se anula quando se afirma
a origem inferior, se encontre nos comentários que as pessoas não-sentimentais fazem
com tanta frequência a respeito dos seus conhecidos sentimentais. Ex: O prazer que
Elisa encontra na igreja é um sintoma de sua constituição histérica; Alfredo acredita na
mortalidade porque é muito sentimental. As macerações dos santos e a devoção dos
missionários são apenas manifestações de uma perversão do instinto paterno de
auto sacrifício.
James afirma que alguns fenômenos religiosos são indisfarçavelmente eróticos, mas que
nesse caso devemos levar em conta o ponto de vista de cada pessoa. Ex: divindades do
sexo; ritos obscenos do politeísmo.
O materialismo medico apela para um pensamento muito simplista desses fenômenos.
Ele explica diversos fatos históricos como patologias. Ex: Refere-se a Santa Teresa
como histérica; São Francisco de Assis como vítima de degenerescência hereditária.
A linguagem religiosa só pode se vestir com os símbolos que a nossa vida nos
proporciona, e todo o organismo responde com vibrações excessivas de comentários
todas as vezes que a mente é vigorosamente instigada à expressão. A linguagem
extraída do comer e beber é provavelmente tão comum na literatura religiosa quando a
extraída da vida sexual. Ex: fome e sede de justiça; encontrar um saber doce no Senhor.
A bíblia está cheia de linguagem de opressão respiratória. Ex: não escondas o ouvido do
meu respirar; meus gemidos não se escondem de ti. Em certos países não-cristãos o
fundamento de toda a disciplina religiosa consiste em regular a inspiração e a expiração.
A verdade simples é que, para interpretar a religião precisamos analisar o
conteúdo imediato da consciência religiosa. No momento que fizemos isso vemos
como está desassociada, em geral, do conteúdo da consciência sexual. Dessa forma o
materialismo médico julga bem sabotadamente a autoridade espiritual de todos os
exemplos citados acima.
De acordo com o postulado geral da psicologia não existe um só dos nossos estados de
espirito que não tenham envolvidos processos orgânicos. Assim não se pode associar o
estado de espirito religioso com uma questão orgânica, a não ser que se tenha
descoberto uma teoria psicofísica capaz de ligar os valões espirituais em geral a
determinados gêneros de mudança fisiológicas. Por outro lado nenhum dos nossos
pensamentos e sentimentos, nem mesmo as doutrinas cientificas, poderiam ter
algum valor como revelação da verdade, pois cada uma delas demanda do estado
do corpo do seu possuidor.
O materialismo médico não tem nenhuma teoria fisiológica que explique a
produção de estados de espirito, com isso associam vagamente aos nervos e ao
fígado, ligando-os a nomes que sugerem afecções corporais (Ex: epilepsias).
Por fim o que imediatamente nos parece “melhor” nem sempre é mais “verdadeiro”,
quando medido pelo veredito do resto da experiência. Os materialistas médicos torcem
os argumentos dos predecessores utilizando o critério da origem de modo destrutivo, em
vez de fazê-lo de modo construtivo, sendo somente eficazes com o seu discurso sobre a
origem patológica quando o outro lado reivindica a origem sobrenatural e só o
argumento derivado da origem está em discussão.