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PUB Administrador José Rocha Dinis • Director Sérgio Terra • Nº 4655 • Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 10 PATACAS Pág. 9 Págs. 18 e 19 Marcha em defesa dos direitos das mulheres juntou mais de uma centena Os noventa anos de um protagonista maior da democracia portuguesa Literatura ocidental perdeu “brilho” O Nobel da Literatura chinês, Mo Yan, considera que a es- tabilidade política e material que se vive no Ocidente reti- rou à sua literatura o “brilho” que teve no passado. Pág. 13 Caos no trânsito em destaque na AL É um dos temas da actuali- dade da RAEM e não passou impune na reunião plenária da Assembleia Legislativa. O trânsito e a sua desordem fo- ram severamente criticados, mais uma vez. Pág. 11 Casa de Portugal e ATFPM com desejos de Natal A diminuição dos entraves à atribuição de residência é um dos desejos formulados pela presidente da Casa de Portu- gal, enquanto a ATFPM pede ao novo Governo a criação de um subsídio direccionado à população carenciada. Centrais Julius Maisei fez o bis na Maratona de Macau O Quénia colocou atletas nos oito primeiros lugares da “prova rainha”, que tal como em 2013 foi vencida por Julius Maisei. O português Daniel Pinheiro triunfou na Meia Ma- ratona. Pág. 16 RAEM na “máquina do tempo” Págs. 2 a 7 FOTO JTM 15 ANOS EM RETROSPECTIVA

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Administrador José Rocha Dinis • Director Sérgio Terra • Nº 4655 • Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 10 PATACAS

Pág. 9 Págs. 18 e 19

Marcha em defesa dos direitos das mulheresjuntou mais de uma centena

Os noventa anos de um protagonista maior da democracia portuguesa

Literatura ocidental perdeu “brilho”O Nobel da Literatura chinês, Mo Yan, considera que a es-tabilidade política e material que se vive no Ocidente reti-rou à sua literatura o “brilho” que teve no passado.

Pág. 13

Caos no trânsito em destaque na ALÉ um dos temas da actuali-dade da RAEM e não passou impune na reunião plenária da Assembleia Legislativa. O trânsito e a sua desordem fo-ram severamente criticados, mais uma vez.

Pág. 11

Casa de Portugal e ATFPMcom desejos de NatalA diminuição dos entraves à atribuição de residência é um dos desejos formulados pela presidente da Casa de Portu-gal, enquanto a ATFPM pede ao novo Governo a criação de um subsídio direccionado à população carenciada.

Centrais

Julius Maisei fez o bisna Maratona de MacauO Quénia colocou atletas nos oito primeiros lugares da “prova rainha”, que tal como em 2013 foi vencida por Julius Maisei. O português Daniel Pinheiro triunfou na Meia Ma-ratona.

Pág. 16

RAEM na “máquina do tempo”Págs. 2 a 7

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JTM

15 ANOS EM RETROSPECTIVA

02 JTM | LOCAL Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

JORNAL TRIBUNA DE MACAUPropriedade: Tribuna de Macau, Empresa Jor na lística e Editorial, S.A.R.L. • Administrador: José Rocha Dinis • Director: Sérgio Terra • Grande Repórter: Fátima Almeida • Redacção: André Jegundo e Pedro André Santos (Editores), Liane Ferreira e Viviana Chan • Correspondentes: Helder Almeida (Portugal), João Pimenta (Pequim) e Rogério P. D. Luz (Brasil) Colaboradores: Helder Fernando, Raquel Carvalho e Vitor Rebelo • Colunistas: Albano Martins, Carlos Frota, Daniel Carlier, Francisco José Leandro, João Botas, João Figueira, Jorge Rangel e Luíz de Oliveira Dias • Grafismo: Rita Cameselle e Suzana Tôrres • Serviços Administrativos e Publicidade: Joana Chói ([email protected]) • Agências: Serviços Noticiosos da Lusa, Xinhua e Rádio ONU • Impressão: Tipografia Welfare, Ltd • Administração, Direcção e Redacção: Calçada do Tronco Velho, Edifício Dr. Caetano Soares, Nos4, 4A, 4B - Macau • Caixa Postal (P.O. Box): 3003 • Telefone: (853) 28378057 • Fax: (853) 28337305 • Email: [email protected] (serviço geral)

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HONAndré Jegundo

MACAU NAS VÉSPERAS DA TRANSIÇÃO DE SOBERANIA

O dia em que a Lei Básica subiu ao altarEm Dezembro de 1999, enquanto o mundo debatia com angústia os perigos do “bug” do milénio, Macau cumpria a recta final do processo de transição. No Cineteatro estava em exibição “Os Dias do Fim”, uma película de Hollywood, protagonizada por Arnold Schwarzenegger, que procurava captar os prenúncios apocalípticos que pairavam sobre o fim do século XX. Nada que contaminasse os discursos oficiais sobre a transição de soberania, onde o optimismo predominava, apesar das incertezas mais silenciosas da comunidade macaense e portuguesa que tinha ficado. Nos dias que antecederam as cerimónias oficiais também houve episódios marcantes: um exemplar da Lei Básica foi levada ao altar da Sé Catedral e os documentos relacionados com o processo de transição foram enterrados numa cápsula do tempo

Às 23 horas, 57 minutos e 40 se-gundos de 19 de Dezembro, a bandeira portuguesa foi arriada

pela última vez em Macau nas cerimó-nias oficiais da transição de soberania. O cadete Saldanha Junqueiro foi o respon-sável pelo momento solene que disse en-carar com “honra e nostalgia”. Menos de uma hora e meia depois, Jorge Sampaio e Rocha Vieira abandonariam Macau em direcção a Banguecoque, concluindo, do lado português, a participação nas cerimónias oficiais. Nos últimos dias de Macau sob administração Portuguesa, o Governador multiplicou-se em inaugu-rações, homenagens e festas e o optimis-mo dominava os discursos oficiais. Nos relatos da época, apenas o momento da entrada das tropas chinesas no território suscitou algum atrito nos preparativos para as cerimónias de transição.

No dia 19 de Dezembro, na missa de Acção de Graças realizada pela Diocese na Sé Catedral, os fiéis foram convidados a trazer ao altar símbolos do que consi-deravam valores fundamentais de Ma-cau. Houve que tem tivesse levado uma vela para representar “a luz e a fé trazida pelos portugueses”, outros optaram por miniaturas das Ruínas de S. Paulo. A pre-sidente cessante da AL, Anabela Ritchie, escolheu um exemplar da Lei Básica, que entrava em vigor naquele dia.

Uma cápsula do tempo, contendo as versões em português, chinês e inglês da Declaração Conjunta Luso-Chinesa e da Lei Básica, foi enterrada pelo Presidente Jorge Sampaio junto aos jardins envol-ventes do edifício onde a bandeira por-tuguesa seria arriada. A pequena caixa de mental, enterrada a cerca de um metro de profundidade, continha também o pro-grama oficial da entrega da Administra-ção, a ementa do banquete oficial, entre outros documentos.

No último dia de Macau sob Admi-nistração Portuguesa uma chuva intensa

complicou o programa oficial de Rocha Vieira e Jorge Sampaio mas no dia se-guinte, pelas 12h00, seria debaixo de sol que os 200 soldados do Exército Popular de Libertação entrariam em Macau pela fronteira das Portas do Certo, em veículos blindados e camiões, percorrendo a zona da Areia Preta e da Avenida da Amizade onde foram recebidos por milhares de pessoas.

Apesar de tal não estar previsto em nenhum documento oficial, a China pre-tendia instalar uma guarnição do Exérci-to antes do dia 20 de Dezembro, opção a que Portugal se opunha. A entrada acaba-ria por ser adiada para o dia 20, embora elementos do exército chinês - à civil e desarmados - estivessem já no território a preparar a chegada das colunas militares. “Portugal considera que o entendimento encontrado é equilibrado”, dizia então

Santana Carlos, chefe da delegação por-tuguesa no Gabinete de Ligação Conjun-to.

Para receber as comitivas oficiais que seriam lideradas pelo presidente Jorge Sampaio e Jiang Zemin, as autoridades policiais estavam a preparar uma ope-ração de segurança sem precedentes. Os serviços apelavam aos moradores da zona do NAPE, onde iriam decorrer parte das cerimónias, para não se aproximarem das janelas com máquinas fotográficas sob pena de os agentes especiais destaca-dos poderem confundir os aparelhos com armas de fogo.

Longe dos piores dias da violência das seitas, a criminalidade ainda era ainda uma questão. No início do mês um casal de septuagenários havia sido assassina-do numa pensão que explorava na Rua Camilo Pessanha com golpes de arma

branca. Na mesma altura, um verdadeiro arsenal de guerra foi encontrado numa paralela à Avenida Coronel Mesquita: três Kalashnikov, sete pistolas, dois revól-veres, duas espingardas, uma granada, 19 catanas e dezenas de munições. Segundo testemunhas, as armas foram lançadas de um carro em andamento e a polícia dizia que se tratavam de membros das seitas receosos de serem apanhados armados.

O problema levava Edmund Ho a apontar a Segurança como a “prioridade entre as prioridades”, havendo alguns sectores que defendiam a presença do Exército de Libertação Popular para asse-gurar a segurança do território.

A economia em recessão e um desem-prego que atingia os 6,7% eram outros motivos de preocupação. Numa altura em que a Sociedade de Turismo e Diver-sões de Macau era detentora da licença

15 ANOS DA RAEMO JORNAL TRIBUNA DE MACAU começa hoje a publicar uma série de trabalhos alusivos ao 15º aniversário do estabelecimento da RAEM, incluindo reportagens, análises, testemunhos e memórias de uma Região com uma história ainda recente mas particularmente intensa. Embora cientes de que as páginas de um jornal serão sempre curtas para abarcar e espelhar na sua plenitude as profundas transformações sócio-económicas registadas na era da RAEM, e as diferentes perspectivas com que podem ser analisadas, pretendemos assim dar mais um contributo para a reflexão sobre o passado, presente e futuro de uma Região onde, não raras vezes, a memória colectiva revela sinais de fraqueza.

S.T.

Vista geral do Largo do Senado em 1999

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | LOCAL 03

15 ANOS DA RAEMexclusiva de Jogo, a companhia fundada por Stanley Ho registava uma queda de 50% nas receitas face ao ano anterior.

Ainda longe da explosão que estava para acontecer anos mais tarde, um di-rigente chinês, Wang Zhaoguo, alertava já para a excessiva dependência do terri-tório em relação ao Jogo, acrescentando que Pequim pretendia “promover outros sectores económicos depois da transfe-rência de soberania” .

Por essa altura, Stanley Ho inaugura-va a Pousada Marina Infante e compro-metia-se a fazer tudo o que estava ao seu alcance para obter em 2001 a prorrogação do contrato de concessão do Jogo. O mag-nata do Jogo alertava também que consi-derava não existirem condições para a li-beralização do sector, que por essa altura era considerada com uma séria possibili-dade por Edmund Ho.

Certezas e dúvidasda comunidade lusófona

Em relação ao futuro do território, Ed-mund Ho dizia acreditar que Macau iria manter a identidade e os valores, alertan-do para o desenvolvimento e abertura à China que se iriam verificar. “Creio que as mudanças nos próximos anos vão ser mínimas mas seria irrealista pensar que Macau daqui a 20 anos vai ser igual ao que é hoje, porque não só os valores hu-manos mudam mas também porque as condições se alteram, a pressão económi-ca e de visitantes será outra e as necessi-dades futuras também. Mas, estou certo que o território manterá uma identidade única, mesmo integrado na China”, afir-

mou.No JORNAL TRIBUNAL DE MA-

CAU, a pergunta da semana tentava perceber o espírito da comunidade por-tuguesa e macaense perante o momento histórico que se vivia: “Com que sen-timento vai assistir às cerimónias da transferência?” Jitendra Tulcidas, presi-dente do Centro Português de Negócios na Ásia, respondia: “Com uma certeza e uma esperança. Com a certeza de que há uma percepção muito clara dos fu-

turos dirigentes para a importância de que a RAEM se identifique com o Ma-cau de hoje, na sua singularidade e na sua diferença. E com a esperança de que se continue a proporcionar as condições necessárias à permanência da comunida-de portuguesa, valorizando-se, com essa presença, a singularidade e a diferença da futura RAEM”.

Noutra entrevista, o Padre Luís Se-queira contrapunha: “Não há que ter ilu-sões. É preciso estar consciente de que,

em última análise, quem vai mandar em Macau é quem manda na China Conti-nental”, alertava.

Em entrevista ao JORNAL TRIBU-NAL DE MACAU, o jornalista Harald Brunning considerava apesar de tudo que o processo de transição de Macau era um sucesso. “Se no princípio havia mui-tas dúvidas, agora parece-me claro que tudo acabará bem e que a transferência

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Milhares de bandeiras foram espalhadas pela cidade antes das cerimónias oficiais

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201404 JTM | LOCAL

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Em caso de falecimento de residente de Macau no es-trangeiro, os familiares do falecido devem declarar jun-to da DSI, apresentando os seguintes documentos:g Original do BIR do falecido;g Certidão de óbito passada pela autoridade

competente.➢ uando o falecimento ocorre no Interior da China,

deve apresentar um dos documentos seguintes:1. Certidão de óbito emitida pela Secretaria

Notarial da República Popular da China;2. Certidão de óbito emitida por Departamento

da Segurança Pública / Posto de Polícia3. Certidão médica devidamente carimbada

emitida por estabelecimento hospitalar.

Para informações mais detalhadas, queira ligar para a linha de informação da DSI: 28370777.

será um acontecimento alegre e um motivo de orgulho para todas as comunidades”.

A 9 de Dezembro eram inauguradas as instalações da nova Assembleia Legislativa que, frisava Rocha Viei-ra, iria continuar a desempenhar um papel “vital” na organização e na defesa das condições de modernização do território. No último discurso proferido na AL fez um apelo aos deputados para defenderem o “pluralismo democrático”. “Todas as sociedades modernas precisam do pluralismo politico e do respeito das garantias e dos direitos individuais”, afirmou.

Rocha Vieira despediu-se dos funcionários públicos num encontro realizado nas Ruínas de São Paulo, onde defendeu que os quadros da Administração Pública es-tavam preparados para entrar na nova fase da RAEM. Lídia da Liz, directora dos Serviços de Administração e Função Pública, elogiou o trabalho desenvolvido por Rocha Vieira e pelos Secretários. “Souberam conduzir esta pequena nau, que é Macau, ao porto certo e nas me-lhores condições possíveis”, apontou.

Nas páginas da mesma edição, porém, Albano Mar-tins chamava a atenção para o “mau bocado” que os portugueses integrados na Função Pública de Macau iriam passar. “Não porque a Administração da RAEM lhes vá fazer a vida difícil mas tão somente porque não estão convenientemente integrados”, alertava.

O Papa João Paulo II enviou uma carta ao Bispo de Macau, Domingos Lam, desejando que Macau conti-nuasse como a “porta da Igreja para a China”.

Em entrevista ao Diário de Notícias, o general Gar-cia Leandro, Governador de Macau entre 1974 e 1979, reflecte sobre a presença portuguesa no território, apon-tando a urbanização e a arquitectura, muito mais do que a língua, como as grandes marcas deixadas por Portu-gal. “A esmagadora maioria da população é chinesa e alfabetizada, de língua materna chinesa e para quem a língua útil é o Inglês”, apontava.

Festejos de Tiananmen a Nova Iorque

Dezembro foi também o mês em que se soube que Raimundo do Rosário, futuro Secretário para os Trans-portes e Obras Públicas da RAEM, seria o responsável pela Missão de Macau em Lisboa. Na altura com 43 anos e deputado da AL, Raimundo do Rosário seria nomea-do para o cargo pelo primeiro Chefe do Executivo, Ed-mund Ho.

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O regresso de Macau à administração chinesa foi o momento escolhido para Jiang Zemin para fazer um apelo à reunificação com Taiwan. “Macau regressará à Pátria dentro de alguns dias, o que será outro gran-de passo em frente para a grande causa da reunificação da China”. Nunca como em Dezembro de 1999 se falou tanto de Macau na China Continental. O território era as-sunto de primeira página nos principais jornais chineses e a CCTV produziu uma novela passada no território. Ao mesmo tempo a Academia Chinesa de Ciências So-ciais lançava o primeiro estudo sobre a história das rela-ções sino-portuguesas.

A 19 de Dezembro, um Domingo, exactamente 12 ho-ras antes do início da cerimónia oficial, aterrava em Ma-cau o Presidente da República Popular da China, Jiang Zemin, e o Primeiro-Ministro, Zhu Rongji, que passaram exactamente 24 horas no território.

Nesse dia, numa entrevista ao JORNAL TRIBUNAL DE MACAU, o então Presidente da República, Jorge Sampaio, classificava o processo de transição como um sucesso e manifestava optimismo em relação presença portuguesa no território. Parece óbvio constatar que a história de Macau é também a história de Portugal. En-quanto Macau existir, Portugal existirá em Macau.

Em Tiananmen, trinta mil pessoas concentravam-se para acompanhar a cerimónia de transferência de pode-

res. Na Chinatown de Nova Iorque soaram os tambores e centenas de balões foram lançados para a atmosfera.

O jantar oficial, no qual marcariam presença Jorge Sampaio e Jiang Zemin e outros 2.500 convidados, te-ria como prato principal peito de galinha recheado com cogumelos, acompanhados de vinhos tintos e brancos portugueses. Dez mil copos e oito mil pratos foram uti-lizados.

Fernando Sales Lopes compôs o hino da transferên-cia de soberania a que chamou de “celebração da paz” e que seria interpretado por Luís Represas e Dulce Pontes, acompanhados por 400 crianças portuguesas e chinesas. As inúmeras celebrações que iriam ser realizadas, orga-nizadas por associações, teriam um custo de 15 milhões de patacas.

Nos discursos oficiais, Jiang Zemin saudou os “com-patriotas de Macau no regresso à pátria” e prometeu um “futuro mais brilhante para o território”. Garantiu tam-bém que os interesses, costumes e tradições dos residen-tes de Macau de ascendência portuguesa serão protegi-dos e respeitados na RAEM.

Sampaio frisou que Portugal continuaria solidário com Macau e que “a democracia e a liberdade” seriam “realidades insubstituíveis” no território, marcado pela história e identidade portuguesa”. “É em tudo isto que Portugal, partindo, fica”, apontou.

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Jiang Zemin e Jorge Sampaio lideraram comitivas na cerimónia da transferencia

15 ANOS DA RAEM

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | LOCAL 05

15 ANOS DA RAEMGOVERNO DA RAEM VOOU EM PESO PARA INAUGURAR EXPOSIÇÃO QUE ASSINALA 15 ANOS

Mostrar o progresso através da imagemInúmeras personalidades acompanharam o Chefe do Executivo numa rápida viagem a Pequim para inaugurar uma exposição comemorativa do 15º aniversário da criação da RAEM e trocar elogios com o Governo Central. O certame ilustra, sobretudo através de imagens, as actividades que decorreram no território desde 1999 - não esquecendo inclusive a recente passagem dos Rolling Stones pelo território

Fátima Almeida*Em Pequim

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De manhã cedo alguns corpos ainda caminham encolhidos ou tentam esticar as mangas da ca-misola para arredar o frio que vai cortando a

pele, até pelo menos os raios de sol amolecerem lenta-mente os cinco graus negativos que o telemóvel aponta. Pequim acordou com o céu azul. No pátio do Centro de Exposições, a Flor de Lótus brilha, como que polida pelo clima. O nevoeiro que tem moído a vista dos habitantes da capital chinesa estava totalmente desfeito.

Logo à entrada daquele centro, não há dúvida da presença de Macau. A primeira porta mágica que se atravessa é a ilustração em ponto grande do Farol da Guia, que nos leva a uma série de imagens sobre eventos em Macau, uns mais tradicionais do que outros. A pri-meira fotografia é da banda “Rolling Stones”, que subiu ao palco do Venetian. Um pouco mais à frente surge o rosto do boxe, de um espectáculo sofrido que também tem tido lugar no mesmo palco. Corridas de bandeja, mas também, campeonatos de Barcos Dragão, na última imagem, ou ainda antes, a ternura de uma criança a re-criar o deus Na Cha.

Este é um dos corredores que se podem percorrer – com o piso a imitar as ondas em calçada portuguesa do Largo do Senado – para chegar à monumental entrada do Centro de Exposições, onde até ao próximo dia 28 se tenta contar a história dos 15 anos da RAEM, sobretudo através de imagens festivas, para celebrar o seu aniver-sário. “União de esforços em prol da prosperidade”, foi ontem inaugurada para dar a conhecer “aos compatrio-tas chineses”, como se cresce do lado de cá das Portas do Cerco desde 1999.

Cerca das 10 horas, o Chefe do Executivo subiu ao palco para falar sobre o regresso de Macau aos “braços da Pátria”, enquanto que as mulheres que seguravam cartazes durante longos minutos, como estátuas sor-ridentes - assinalando o espaço destinado à tipologia de cada convidado - desapareciam como que abafadas pela multidão. Pelas contas do Gabinete de Comunica-ção Social do Governo de Macau, cerca de 300 pessoas juntaram-se para assistir ao corte de fita. Só no avião fretado que partiu de Macau no domingo com o Che-fe do Executivo, além dos media, estavam deputados, Secretários, novos e actuais, arquitectos, dirigentes das operadoras de Jogo, membros de instituições locais, que foram recebidos em Pequim por representantes do Go-verno Central para ouvirem elogios sobre a prosperida-de do território (ver página 6).

Depois de Chui Sai On ter enfatizado a importância

do apoio do Governo Central para que Macau tenha atingido o “progresso e estabilidade”, a multidão come-ça a dispersar-se pelas imagens – pinturas de artistas de Macau, dados estatísticos, as paredes cobertas com um reflexo feliz dos últimos 15 anos. Os convidados princi-pais fizeram a curva iniciando a visita na primeira zona temática – Centro e Plataforma, Promoção da Diversifi-cação” – traduzindo o empenho de Macau em alcançar o objectivo de se posicionar como centro mundial de turis-mo e lazer e plataforma de serviços.

O certame está dividido em três partes, completan-do o cenário geral ainda a zona temática II – Mecanis-mos Eficientes de Longo Prazo, Atenção ao Bem Estar da População (“com a promessa de implementar um governo transparente e tomar decisões científicas) e III – Sentimentos da Família-Pátria, Amar o País e a Macau” (“a ligação sentimental da população de Macau com a Pátria). No final, a organização conclui que o conjunto “demonstra a felicidade e os sorrisos dos residentes, o apoio mútuo para se construir o doce lar e o desejo de concretizar o Sonho Chinês”.

A exposição que integra ainda um painel electróni-

co – e apesar de ser legendada em chinês distribui um panfleto também em Português à entrada - deverá atrair, no total, cerca de 10.000 visitantes. Estas são pelo menos as expectativas da chefe da delegação da RAEM em Pequim. Hong Hai disse que o espaço da exposição foi escolhido com atenção, sendo apenas possível conseguir uma vaga para expor nesta altura com o apoio do Governo Central, uma vez que havia vários períodos reservados.

Construído em 1954, o Centro de Exposições de Pe-quim, que tem um arquitectura com influências euro-peias, vai acolher a exposição de Macau no seu pavilhão I. A organização do certame, com cerca de 280 imagens, custou 6,5 milhões de patacas. “Esta exposição é essen-cialmente baseada em imagens e esses objectos têm a ver com o património intangível, por exemplo o dragão bê-bedo e outros. Num dos corredores também temos mui-tas pinturas de artistas de Macau. “Queremos aproveitar esta oportunidade para colocar em exposição obras de Macau para que mais pessoas as conheçam”, frisou a responsável.

*A jornalista do JTM viajou a convite do Governo da RAEM

RAEM no “China DailyA fotografia que o “China Daily” escolheu de Chui Sai On é pequena, mas os números são enormes. A propó-sito da deslocação do Chefe do Executivo a Pequim, o jornal oficial chinês dedicou um texto aos 15 anos da RAEM com o título “Macau alcança objectivos de cres-cimento”. Além de dados que destacam o crescimento do PIB de Macau, o “China Daily” frisa que, nos próxi-mos cinco anos, Chui Sai On vai concentrar-se em polí-ticas científicas e de longo prazo, bem como expandir a cooperação regional.

Bolo especial a bordoO avião que levou a comitiva de Macau para Pequim só levantou voo após Chui Sai On ter cum-primentado um a um todos os membros convidados, incluindo a comunicação social. A visou mostrar em Pequim o de-senvolvimento da RAEM, mas a delegação também pôde festejar antes de aterrar na capital chinesa. Isto porque no voo fretado foi servido um bolo de chocolate, decorado no topo com um 15 a dourado.

Ano Novo Chinês já “mexe”O próximo Ano Novo Chinês apenas começará em Fe-vereiro, mas a “China Railways” já começou a vender bi-lhetes para passageiros que vão regressar a casa para comemorar a importante data. De modo a evitar as “lutas” por bilhetes, numa época de pico, a companhia permite reservas com 60 dias de antecedência, ao in-vés dos actuais 20 dias. Desde domingo já é possível comprar bilhetes para 4 e 5 de Fevereiro, esperando--se que a época alta de viagens se mantenha até 16 de Março.

À MARGEM

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201406 JTM | LOCAL

Zhang Dejiang presidiu à cerimónia de aberturada exposição dos 15 anos da RAEM

15 ANOS DA RAEM

O presidente do Comité Permanente da Assem-bleia Nacional Popular (ANP) mostrou-se sa-tisfeito com “a mudança ocorrida em Macau”

nos últimos 15 anos, aproveitando o encontro com o Chefe do Executivo da RAEM, em Pequim, para agra-decer o contributo dos titulares dos principais cargos que agora se despedem das suas funções. “Os actuais líderes contribuíram muito para a estabilidade e de-senvolvimento de Macau. O Governo Central está satisfeito com os trabalhos desenvolvidos e quero, por isso, aproveitar esta oportunidade para expressar agradecimentos”, disse Zhang Dejiang durante um encontro com Chui Sai On.

Desde a criação da RAEM, o tempo “passou muito rápido”, mas permitiu a Macau operar transforma-ções, de que, segundo o Governo Central, a popula-ção se pode orgulhar. “Estes 15 anos passaram muito rapidamente e sentimo-nos muito contentes com a mudança de Macau”, afirmou o líder da ANP, ciente dos desafios que o Executivo encabeçado por Chui Sai On vai ter que enfrentar para fazer face à nova con-juntura.

O Chefe do Executivo de Macau retribuiu afirman-

Líder da ANP elogia “mudanças” na RAEMDesde a sua criação, a RAEM conseguiu criar riqueza e desenvolver-se, considerou o presidente do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular. Embora as “mudanças” ocorridas satisfaçam Pequim, o Governo Central continua a insistir na necessidade de promover a diversificação económica

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do publicamente, durante o seu discurso no cerimó-nia de inauguração da exposição, que “o progresso e

a estabilidade que a RAEM “hoje goza são indissociá-veis do desenvolvimento próspero do país e do forte apoio do Governo Central.”

No entanto, depois de ter crescido impulsionado pelas receitas do Jogo, Macau precisa de dar passos no sentido da diversificação, frisou, por sua vez, o di-rector do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, que também esteve presente na cerimónia de inauguração da exposição comemorativa do 15º ani-versário da RAEM, na capital chinesa. Li Gang referiu que incrementar as indústrias não ligadas ao Jogo “é uma exigência do Governo Central para Macau”.

Em declarações à agência noticiosa oficial chinesa, o mesmo responsável vincou ainda que o Governo Central pretende “apoiar Macau a criar os seus negó-cios no Interior da China”, por forma a desenvolver novas indústrias. Li Gang advertiu mesmo que se a RAEM não diversificar as suas fontes de receita pode-rá enfrentar problemas como o aumento da inflação, que decorre de um crescimento explosivo da econo-mia.

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O crescimento do Jogo é inegável e deixa os seus protagonistas orgulhosos pelo percurso próspero de Macau. Contudo, alguns líderes das operadoras esperam conseguir criar uma nova fase da era do entretenimento, nos próximos cinco anos, para oferecer também mais oportunidades aos jovens

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MApós a criação da RAEM, o Jogo foi o factor mais explosivo da economia

ajudando a projectar o território no mapa, acreditam alguns re-presentantes das operadoras que voaram até Pequim para marcar presença na abertura da exposi-ção comemorativa dos 15 anos da transferência de soberania. Pansy Ho, Francis Liu e Lawren-ce Ho, alguns dos protagonistas do sucesso do Jogo, mostraram--se satisfeitos com o “desenvolvi-mento bem sucedido” de Macau, expondo também os próximos desafios.

Diversificação é a palavra chave dos discursos numa altura em que o Turismo obriga a uma nova era. “Nos últimos 15 anos Macau passou por um cresci-mento tremendo, mas agora é o momento certo para consolidar as áreas de desenvolvimento”, afirmou Pansy Ho.

“Tenho sempre dito que é a nossa honra e também obrigação ajudar Macau a desenvolver-se no futuro, não apenas em termos de construir mais negócios. O mais importante é que saibamos como elevar toda a plataforma económica”, vincou.

A co-presidente da MGM China considera prioritária a construção de um mercado que ofereça diferentes opções de car-

reira. “Numa próxima fase deve-ríamos melhorar as capacidades dos trabalhadores, incluindo aju-dar na diversificação, para a nova geração desenvolver a sua pró-pria carreira de acordo com aqui-lo que gosta de fazer”, expressou Pansy Ho. “Neste momento as pessoas têm emprego, mas não há muitas escolhas”, acrescentou.

A filha do magnata do jogo Stanley Ho considera que é res-ponsabilidade das operadoras fazer face as novos desafios, mas reforça que será necessário tem-po para criar um mercado que, além de satisfazer as necessida-des dos turistas que procuram cada vez mais diversões extra--jogo, também garanta oportu-nidades de trabalho diversas aos residentes. “Estamos a construir mais infra-estruturas no COTAI, uma vez que sem elas não pode-mos criar oportunidades de tra-balho. Para ser franca é um ciclo e vai demorar pelo menos cinco anos até chegarmos à próxima fase”, estimou Pansy Ho, notan-do que todas as operadoras estão a injectar mais esforços nos novos projectos.

Embora não tenha “uma bola de cristal”, também o vice-presi-dente do Galaxy indica que, nos próximos anos, poderá começar a ser edificada uma nova era. “O que vejo de positivo é que toda

a população, o Governo, estão a convergir para perceber que, no futuro, o crescimento contínuo implica diversificar. Desde que haja consenso, o próximo passo é garantir que todos fazem a sua parte. E talvez seja possível nos próximos cinco anos”, referiu Francis Liu.

Assinalando que sente “orgu-lho” pelos feitos de Macau nos últimos 15 anos, o responsável da Galaxy está a tentar desenvolver as próximas fases daquele com-plexo integrando actividades fa-miliares e reforçando o sector das exposições e convenções. As res-trições em termos de recursos hu-manos também não desanimam Francis Liu, que considera que a escassez de talentos deve ser vis-ta como um desafio superável. “Quando vemos que a economia de Macau cresceu explosivamen-te de forma contínua temos que perceber e aceitar a escassez de recursos humanos e isso não nos pode parar, mas antes tentar fa-zer melhor”, afirmou.

Apesar da concorrência de outras regiões da Ásia, em que as operadoras sediadas em Macau também estão a apostar, Lawren-ce Ho acredita que a RAEM con-tinuará a ser um polo de atracção principal para o sul asiático, no-meadamente o mercado chinês, graças à qualidade e proximida-

de. Para o CEO da Melco Crown, a construção de novas infra--estruturas de ligação ao COTAI

irão permitir aumentar o número de visitantes naquela zona.

F.A.

Francis Liu e Lawrence Ho encaram futuro com optimismo

Diversificação é a palavra chave no Jogo

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | LOCAL 07

Mudanças “naturais” nos gabinetes dos Secretários

O Chefe do Executivo afirmou que os futuros Secretários - novos em todas as tutelas - já lhe reportaram os “trabalhos preparatórios sobre os gabinetes e a colocação de pessoal”. Chui Sai On considera que as mudanças são necessárias e naturais, uma vez que cada governante terá um posicionamento diferente em relação ao trabalho a desenvolver, mas garantiu não saber, para já, se tal restruturação vai exigir cortes no número de pessoal. “Todos devemos perceber que para um responsável que gere uma pasta com várias áreas, é natural que haja alterações e mudança de pessoal, mas quantos abrangem esta mudança? Essa é uma questão que ainda não sei responder”, referiu. “A Função Pública prevê várias formas de recrutamento, pelo que se ponderarmos a questão sobre esse ângulo acredito que sejam alterações naturais” .

Fátima Almeida

Um futuro com fundo de maneioApesar das quebras nas receitas do Jogo, o Chefe do Executivo afirma que Macau está preparado para enfrentar eventuais crises económicas, através das reservas financeiras que tem amealhado. Chui Sai On garantiu que as previsões orçamentais estão a ser feitas com prudencia e o erário público será aplicado para continuar a responder às necessidades da população mesmo que uma nuvem negra desabe sobre o território

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GCS

15 ANOS DA RAEM

Francis Tam dá voto de confiançaao novo GovernoO Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, manifestou “confiança” no novo elenco governativo e disse acreditar que será mantida a “prosperidade e estabi-lidade da sociedade e economia” da RAEM. De saída do Governo depois de 15 anos à frente da pasta da Economia e Finanças, Francis Tam, citado em nota oficial, salientou as qualidades do seu sucessor - Lionel Leong - que classificou de “amigo” de muitos anos e reconhecendo-lhe “capacidade” para liderar a pasta. Francis Tam, que falou à comunica-ção social depois de uma reunião plenária na Assembleia Legislativa, salientou que Lionel Leong conhece bem a “sociedade e situação económica de Macau”. O ainda governante lembrou que para a economia de Macau, e para o sector do jogo, são necessárias “novas ideias” de desenvolvimento e que os futuros governantes possuem a capacidade necessá-ria para esse trabalho. Apesar de abandonar o Executivo a 20 de Dezembro, Francis Tam prometeu ainda “continuar a apoiar o próxi-mo governo nos seus trabalhos e servir a so-ciedade como membro da Conferência Con-sultiva Política do Povo Chinês”, em Pequim.

Lau Si Io não volta ao IACMO Secretário Lau Si Io, que deixa este mes a liderança das pastas dos Transportes e Obras Públicas, revelou que vai continuar a trabalhar na mesma área da sua tutela. Lau Si Io referiu anteriormente que deveria regressar ao IACM, mas afinal parece pronto para abraçar um novo desafio

Ainda antes de ser confirmada a sua saída do cargo de Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io, tinha afirmado que regressaria ao Insti-

tuto para os Assuntos Cívicos e Municipais, cuja liderança deixou há oito anos para assumir aquela tutela - em subs-tituição de Ao Man Long acusado de corrupção - mas o futuro poderá ter mudado depois da oficialização do novo Governo. Questionado pelos jornalistas, Lau Si Io escusou--se a adiantar qual será o seu novo cargo na Função Pública, salientando no entanto que desempenhará funções ligadas à área que liderou nos últimos anos.

“Vou continuar na Função Pública e pretendo ficar na mesma pasta. A função vou divulgar assim que seja possí-vel”, referiu.

Lau Sio Io disse ainda que já se reuniu com o novo Se-cretário e pediu à população para confiar em Raimundo do Rosário, uma vez que, embora, tenha estado ausente de Ma-cau, durante 10 anos, para representar o território em Lis-boa, possui conhecimentos sobre esta área, uma das mais criticadas. “Peço à população que tenha confiança no novo Secretário, porque conhece bem Macau. Ele é um engenhei-

ro, pelo que tem conhecimentos sobre esta área e mesmo sobre Macau”, afirmou.

Para os próximos cinco anos, Lau Si Io acredita que as prioridades serão as mesmas já definidas pelos anteriores Governos. “Esta é uma área que, em tudo, está relaciona-da com a população e o seu bem estar, nomeadamente ao nível do trânsito, transportes, habitação, que aliás têm sido os trabalhos prioritários da nossa pasta. E sei perfeitamente que o novo Secretário tem conhecimento sobre isso”, disse, à margem da visita à exposição comemorativa dos 15 anos da RAEM.

O Secretário considera, contudo, que para muitos dos problemas que enfrentou, sobretudo aqueles que estão re-lacionados com o Metro Ligeiro, já foi encontrada uma so-lução. “A questão da rota na península de Macau está re-solvida, pelo menos desde a Estátua da Deusa Kun Iam até à sede do Governo. Em relação à paragem da Barra, esta já está em fase de abertura de concurso público. Muitos dos problemas com que nos deparámos têm vindo a ser ultra-passados”, considerou.

F.A.

Mais de 10 anos depois de Macau ter aberto as portas à era do Jogo os

sinais de quebra nas receitas des-ta indústria vieram mostrar que o território precisa de percorrer o caminho da diversificação, mas o Chefe do Executivo não se mos-trou surpreendido com o volte--face. Chui Sai On, que tomará posse como líder do 4º Governo da RAEM no dia 20, assegura que o novo elenco governativo está preparado para as eventuais situações de risco e continuar assim a garantir a qualidade de vida da população.

“O Governo já teve em consi-deração a redução das receitas de Jogo muito antes, tanto ao nível do estudo de políticas como das

previsões económicas do Secretá-rio para a Economia e Finanças. Estamos empenhados, pelo que no 3º Governo foi criado o siste-ma de reserva financeira”, disse Chui Sai On, no domingo antes de voar para Pequim, onde inau-gurou uma exposição comemo-rativa dos 15 anos da criação da RAEM (ver página 5).

O Chefe do Executivo vin-cou que o dinheiro que foi sendo amealhado, e resulta das apli-cações financeiras, constitui um grande fundo de maneio para ultrapassar eventuais adversi-dades económicas. “As nossas reservas cambiais são suficientes para manter o princípio de estar--se preparado nas alturas estáveis para eventuais temporadas de crise. Isto é, em caso de dificulda-des económicas, temos recursos suficientes para as despesas do

Governo e formas de dar garan-tias à população”, referiu.

Chui Sai On reconheceu que desde 2003 passou-se de uma licença de exploração de Jogo para a concessão de várias o que, “sem dúvida, acelerou o desen-volvimento da economia geral”, através de uma estratégia de in-clinação, que deu frutos. “Para desenvolver o Jogo, na altura, foram implementadas políticas inclinadas para esse sector, mas se fizermos uma retrospectiva e regressarmos a 1999, quando a economia local estava num nível muito baixo, verificamos que, com empenho e o melhoramento da economia e bem-estar da po-pulação, desde 2003 até hoje hou-ve um rápido desenvolvimento económico. Não podemos assim negar que o sector do jogo e das indústrias relacionadas contri-

buíram para a economia local, facto reflectido nos dados estatís-ticos”, afirmou o governando.

Porém, para os próximos cin-co anos a colheita nas mesas do Jogo poderá não ser tão abun-dante, pelo que Chui Sai On re-lembrou que as expectativas or-çamentais estão a ser feitas com prudência, ao recordar os núme-ros já apresentados pelo Secretá-rio para a Economia e Finanças, Francis Tam, que se prepara para deixar o cargo. “Acredito que va-mos entrar num período de ajus-tamento. Já me tinha referido a tal ajustamento e é um facto que te-mos que aceitar”, aferiu. “As re-ceitas de Jogo a nível mensal che-garam a atingir 36 mil milhões de patacas, mas de acordo com o Secretário, para 2015 as previsões mensais foram feitas tendo em conta o ajustamento de 27,5 mil

milhões de patacas mensais, este decréscimo já o tínhamos previs-to”, acrescentou.

Apesar da situação não ser tão optimista como no passado, Chui Sai On deixa uma garantia aos residentes. “Aproveito esta oportunidade para dizer à popu-lação que o 4º Governo, depois da tomada de posse, irá continuar a dar prioridade à salvaguarda de vida da população, criando um mecanismo a longo prazo, daí que as reservas financeiras sufi-cientes devem ser programadas para eventuais dificuldades fi-nanceiras”, sublinhou. “Estamos a aumentar a diversificação ade-quada da economia e o contínuo desenvolvimento regional para que tenhamos um desenvolvi-mento contínuo”, disse notando que o número de áreas extra-Jogo aumentou.

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201408 JTM | LOCAL

Comissão do Grande Prémio de Macau

Atribuição de subsídio a pilotos locais participantesnas corridas no exterior em 2015

Os interessados podem apresentar o requerimento, a partir do dia 9 de Dezembro de 2014 até ao dia 15 de Janeiro de 2015, na Comissão do Grande Prémio de Macau.

I. Requisitos do pedido e critérios de atribuição do subsídio que se passam a citar:1. O requerente, ao abrigo do n.º 1 do artigo 34.º do Decreto-Lei n.º 67/93/M, de 20 de

Dezembro, deve satisfazer uma das seguintes condições:1) Ser natural da Região Administrativa Especial de Macau (R.A.E.M);2) Ser de nacionalidade portuguesa ou chinesa e ter na R.A.E.M. a sua residência há

mais de 1 ano;3) Residir na R.A.E.M. há, pelo menos, 3 anos.

2. O requerente deve, ainda:a) Ser sócio da Associação Geral de Automóvel de Macau, China (AAMC), e ser

portador de todas as licenças legais e indispensáveis para a participação em corridas no exterior, bem como obter a representividade da AAMC;

b) Ter terminado e obtido classificação oficial nas corridas do Grande Prémio de Macau (GPM) realizado no ano de 2014.

3. A atribuição de subsídio em 2015 será limitada à participação em corridas homologadas pela Fédération Internationale de Motocyclisme (FIM) ou pela Fédération Internationale de l’Automobile (FIA), devendo estas competições no exterior ser do mesmo tipo e de nível equivalente ao da efectivamente participada pelo piloto requerente no GPM em 2014 (motos, carros de turismo ou fórmula 3). A atribuição está sujeita aos seguintes padrões de avaliação:

1) Classificação geral numa das corridas do Grande Prémio de Macau realizado no ano de 2014 (em comparação com o resultado dos primeiros 3 classificados na mesma corrida), analisando o nível de competição do requerente nestas corridas;

2) Classificação geral do requerente nas corridas realizadas no exterior (em comparação com o resultado dos primeiros 3 classificados da mesma corrida), analisando-se o nível de competição do requerente nestas corridas;

3) Potencialidade de desenvolvimento do requerente no desporto motorizado (incluindo idade, etc.);

4) Importância e popularidade da corrida em que irá participar, analisando-se o nível de competição do requerente em diferentes tipos de corridas, internacionais ou regionais;

5) Efeito promocional e divulgação de Macau.

4. A atribuição será calculada com base na percentagem correspondente à participação efectiva nas corridas declaradas pelo piloto no pedido de atribuição de subsídio no ano de 2014.

II. Documentos a apresentar com o formulário especial para a atribuição de subsídio a pilotos locais participantes nas corridas no exterior:

1) Carta de pedido, indicando obrigatoriamente o valor do subsídio requerido;2) Plano de actividades (incluíndo a designação, datas, locais e os nos. das corridas no

exterior da RAEM e respectivas mangas);3) Mapa pormenorizado das despesas previstas;4) Curriculum vitae do requerente;5) Cópia do B.I.R. do requerente;6) Cópia do cartão de sócio na Associação Geral de Automóvel de Macau, China;7) Cópia de todas as licenças legais e indispensáveis para a participação em corridas no

exterior da RAEM;8) Documento comprovativo da obtenção de representatividade da Associação Geral de

Automóvel de Macau, China;9) Prova de participação obrigatória e obtenção de resultados oficiais das corridas do

Grande Prémio de Macau no ano de 2014;10) Prova da classificação final e oficial do requerente obtida em corridas realizadas no

exterior da RAEM no ano de 2014.

III. Qualquer alteração às informações apresentadas deve ser comunicada dentro do prazo de 30 dias a contar da apresentação do pedido de subsídio, com declaração expressa do motivo justificativo, findo o qual, salvo comprovadas situações de cancelamento por parte da organização do evento ou motivos de força maior, o piloto terá necessariamente que concretizar as restantes corridas que no pedido de atribuição de subsídio declarou ter a intenção de participar, para lhe ser reconhecido o direito à sua percepção.

Atribuição dos subsídios em 2015 seja concedida na seguinte forma:l Após a análise do pedido, ser concedido 50% do subsídio autorizado sendo os restantes

50% concedidos após a conclusão da participação na corrida declarada (com partida efectuada) e apresentação do respectivo relatório. (O subsídio será calculado de acordo com a participação efectiva em cada evento)

l Caso se venha a confirmar que a corrida participada não foi a corrida declarada no pedido, os restantes 50% do subsídio não serão atribuídos e o montante já recebido, deve ser reembolsado.

Endereço da Comissão do Grande Prémio de Macau: N.º 207, Av da Amizade, Edif. do Grande Prémio de Macau. Telefone: (853) 87962200 ou 87962204.

DSAT ANUNCIA NOVAS CARREIRAS

Horário das fronteirasaltera autocarrosO alargamento dos horários dos postos fronteiriços, a partir de dia 18, vai levar a DSAT a introduzir alterações no sistema de transportes públicos, prevendo-se um aumento de mais de 200 partidas por dia. Entretanto, as obras no Parque Industrial Transfronteiriço chegaram ao fim e terão custado 15 milhões de yuans

As obras de renovação no Par-que Industrial Transfronteiriço entre Macau e Zhuhai foram

dadas por concluídas sendo que, de acordo com a imprensa chinesa, o Go-verno de Zhuhai investiu um total de 15 milhões de yuans para a mudança nas instalações dos postos fronteiri-ços. Entretanto, a Direcção dos Servi-ços para os Assuntos de Tráfego anun-ciou várias alterações ao serviço de autocarros públicos com o objectivo de adaptar o sistema aos novos horá-rios da fronteira que entram em vigor no dia 18.

Para servir o posto fronteiriço do COTAI serão ajustadas oito carreiras de autocarros. Para além disso, o ho-rário da partida do primeiro e último autocarro da carreira 25 será ajustado e várias carreiras (incluindo a carreira nocturna N3) farão escala na paragem.

As carreiras diurnas 15, 21A, 25, 26, 26A, 50 e MT4 e carreira nocturna N3, vão passar a fazer escala, em todo o período de operação, na paragem do posto fronteiriço da Flor de Lótus no COTAI. Ao mesmo tempo, a partida da carreira 25 será antecipada, saindo, às 05h35, da paragem “Praia Hác Sá” e, às 06h05, das Portas do Cerco.

Os postos fronteiriços da Flor de Lótus, no COTAI, e de Hengqin pas-sarão a funcionar 24 horas, a partir de 18 do corrente mês.

O funcionamento durante 24 horas dos postos fronteiriços é aplicável aos residentes de Macau, trabalhadores não residentes do Interior da China, es-tudantes e turistas, assim como os veí-culos ligeiros e pesados de passageiros com chapas de matrículas duplas.

Para articular a oferta de transpor-

tes públicos com o novo horário das fronteiras, a DSAT vai também ajustar o horário de 19 carreiras de autocarros em circulação de e para das Portas do Cerco.

As partidas dos primeiros autocar-ros ocorrerão sucessivamente a partir das 06h00 das Portas do Cerco e as carreiras que se dirigem dos outros terminais para as Portas do Cerco co-meçam por volta das 05h40. As parti-das dos últimos autocarros das Portas do Cerco para as diversas zonas de Macau terão lugar às 01h00, enquanto as carreiras que se dirigem das Ilhas ou das paragens de outras zonas de Macau para o terminal das Portas do Cerco partem sucessivamente por vol-ta das 00h35. No terminal das Portas do Cerco, serão destacados guardas de segurança e chefe de estação para manter a ordem, organizar as partidas e escoar os passageiros.

Em articulação com o presente ajustamento, a DSAT chama a aten-ção dos passageiros para a alteração do guia de itinerário das carreiras de autocarros, instrução dada aos passa-geiros, informações da página elec-trónica e sistema de pesquisa das car-reiras. Com a aplicação das referidas medidas, prevê-se um aumento de 210 partidas por dia.

Também a carreira nocturna N4 começa a funcionar nos meados de Dezembro para articular com o novo horário do Posto Fronteiriço do Par-que Industrial Transfronteiriço. A car-reira estabelece a ligação entre o Pos-to Fronteiriço do Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai-Macau da Ilha Verde e a Bacia Norte do Patane.

A.J./V.C.

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Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | LOCAL 09

Viviana Chan

O Centro do Bom Pastor organizou uma mar-cha, que contou com a participação de mais de 130 pessoas, para sensibilizar a popula-

ção para a protecção dos direitos das mulheres. Em declarações ao JORNAL TRIBUNA DE MACAU, a directora do Centro do Bom Pastor, Juliana Devoy, considerou, com as informações que são públicas até ao momento, que a proposta de lei contra a vio-lência doméstica que está a ser preparada não é su-ficientemente abrangente para proteger as vítimas do fenómeno.

Explicando que a proposta centra-se na seguran-ça dos membros de um agregado familiar, a irmã Juliana Devoy entende que também as emprega-das domésticas devem estar incluídas no âmbito da protecção, para além de alertar para o facto de a violência poder ser física, verbal ou sexual.

O Governo anunciou no mês passado que a vio-lência doméstica vai ser punida por crime público mas uma nota divulgada recentemente pela Di-recção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ) lançou algumas dúvidas em relação à definição de violência doméstica. O organismo referia que a de-finição de violência doméstica que constará da nova lei vai excluir as ofensas corporais e os maus-tratos psicológicos “leves”.

Segundo o organismo governamental, existem também sérias reservas quanto à proposta apresen-tada por alguns grupos que defendiam a inclusão de actos como “uso de palavrões ou injúrias, de for-ma oral ou através de telefone ou mensagem”, bem como “uma atitude indiferente ou com falta de res-

DIRECTORA DO CENTRO BOM PASTOR DEIXA REPARO

Lei contra violência doméstica deve ser “mais abrangente”A irmã Juliana Devoy, responsável pelo Centro do Bom Pastor, elogia os esforços do Governo e a disponibilidade para ouvir a sociedade no sentido de definir uma lei da violencia doméstica mas alerta que o diploma deve ser mais abrangente do que aquilo que é conhecido até ao momento. Cerca de 130 pessoas participaram ontem numa marcha em nome dos direitos das mulheres

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S JT

M peito perante os membros de família” como actos de violência doméstica.

Apesar dos reparos, Juliana Devoy elogiou o es-forço do Governo, cuja atitude em relação à maté-ria tem mudado muito desde 2011, altura em que se iniciou a discussão da legislação contra a violên-cia doméstica. Segundo a responsável do Centro do Bom Pastor, que tem reunido várias vezes com os representantes do Governo, no início os interlocu-tores do lado da Administração tinham uma atitude “muito dura”, tornando-se mais aberta no presente ano.

A responsável lembrou também que, desde Ju-nho, o Governo tem convidado várias instituições para fazer mais trabalhos de acompanhamento da proposta de lei. Durante o processo, segundo refe-riu, foi possível perceber as “preocupações de am-bas partes”.

Um dos pontos que parece suscitar preocupação junto do Governo, referiu Juliana Devoy, é a pos-sibilidade de uma definição demasiado abrangente de violência doméstica que penalize também actos com menor gravidade. A irmã que dirige o Centro Bom Pastor contrapõe que o foco principal do di-ploma deve ser a forma mais eficaz de proteger as mulheres e não tanto o conceito de violência ligeira uma vez que, defende, as pessoas saberão distin-guir a violência real de outro tipo de situações.

Nas mesmas declarações, a irmã elogiou também os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de combate à violência doméstica liderado pela académica Ce-cília Ho.

Depois da marcha, o Centro do Bom Pastor or-ganizou ainda uma actividade para ensinar às mu-lheres como é que se podem defender da violência doméstica.

Valor dos depósitos dos residentes aumentou 9,7% Os depósitos dos residentes de Macau aumentaram 9,7% em Outubro face ao mesmo mês de 2013 para um total de 479.209,8 milhões de pa-tacas. De acordo com dados oficiais da Autoridade Monetária de Ma-cau, os depósitos dos residentes eram constituídos em duas vertentes fundamentais: poupança com um valor de 131.867,4 milhões de pata-cas, ou mais 9% face a Outubro do ano passado, e a prazo com uma su-bida de 12,2% e a valerem 294.982,8 milhões de patacas. Já os depósitos dos não residentes cresceram 38,5% para 233.857,8 milhões de patacas, com a grande maioria do capital em depósitos a prazo, que totaliza-va 192.204,2 milhões de patacas e uma subida homóloga de 44,9%. O sector público tinha depósitos de 323.212,3 milhões de patacas, uma subida de 16,9% com 234.122,6 milhões de patacas, ou mais 11,3%, a cargo da Autoridade Monetária e 89.089,8 milhões de patacas, ou mais 35,1%, na banca local. No capítulo dos empréstimos, 331.376,1 milhões de patacas, ou mais 32,8%, estavam concedidos ao sector privado local e 348.189,4 milhões de patacas, ou mais 31,5%, feitos ao exterior.

Banco da China quer apostar nos países lusófonosO Chefe do Executivo Chui Sai On esteve reunido com o presidente do Conselho de Administração do Banco da China para uma troca de impressões sobre a estabilidade e segurança do mercado financeiro de Macau

No decorrer do encontro, Tian Guoli, presidente do Conselho de Admi-nistração do Banco da China, des-

tacou a vontade de explorar os serviços financeiros nos países da de língua portu-guesa, sendo esta “uma via para contribuir para que Macau entre no mercado financei-ro mundial”, refere uma nota do Executivo da RAEM.

Tian Guoli, que se deslocou ao territó-rio por ocasião de um fórum sobre o de-senvolvimento social e financeiro, organi-zado pela Universidade de Macau, bem como para a inauguração do edifício co-memorativo do 100º aniversário do Banco da China, referiu que “representa um ban-co centenário da China e também um dos maiores bancos em Macau”. O responsá-vel disse ainda que o desenvolvimento da

RAEM “é óbvio”, e que o Banco da China “deseja que possa impulsionar o desenvol-vimento do serviço financeiro em Macau”.

Por seu lado, Chui Sai On salientou a importância que o Banco da China tem tido no desenvolvimento do território, a par “das boas relações de cooperação” e ainda do “papel crucial” no sistema financeiro de Macau. “Estas premissas garantem o de-sempenho do desenvolvimento estável da economia e da sociedade e também na es-tabilidade e na segurança do sistema finan-ceiro do território”, acrescenta o Executivo.

No encontro estiveram ainda presentes a secretária-geral do Conselho Executivo, O Lam, o director-geral da sucursal de Ma-cau do Banco da China, Ye Yixin, o chefe do gabinete da sede do Banco da China, Mei Feiqi, entre outros.

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Terça-feira, 9 de Dezembro de 201410 JTM | LOCAL

DIPLOMA AVANÇA PARA A ESPECIALIDADE

Aprovado seguro obrigatório em dias de tufão 8

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GCS

Pereira Coutinho e Leong Veng Chai defendem cheques de 12 mil patacasJosé Pereira Coutinho e Leong Veng Chai criticaram o Governo por não aumentar o valor do cheque que todos os anos entrega à população, sugerindo que fosse elevado para 12.000 patacas. Os deputados disseram ser “lamentável” que o valor do chamado plano de comparticipação pecuniária não fosse au-mentado em 2014, mantendo-se igual a este ano, ou seja, 9.000 patacas para os residentes permanentes e 4.500 patacas para os não permanentes. “As 9.000 patacas não são suficientes para aliviar a pressão da vida quotidiana”, alertaram, lembrando que para 2015 se espera uma inflação superior a 6%. “O pla-no de comparticipação pecuniária tem conseguido aliviar, de certa forma, a pressão na população, no entanto o Governo não teve em conta a inflação para decidir sobre o aumento do valor em causa”, disseram. Para José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, é necessário “ajustar o valor da comparticipa-ção pecuniária para 12.000 patacas, face à elevada taxa de inflação, à valorização do yuan e à subida das rendas para níveis incomportáveis para os re-sidentes”. Os deputados exigiram também que seja criado um “mecanismo para a definição sistemática e científica do seu valor, sem se permitir que este seja determinado segundo a vontade do Governo e sem qualquer transparência e fundamento cien-tífico”.

JTM com Lusa

RELATÓRIO DA EXECUÇÃO ORÇAMENTAL

Gastos públicos motivam apelos à transparênciaO relatório de execução do orçamento de 2013 foi aprovado unanimemente, mas Mak Soi Kun e Ng Kuok Cheong não deixaram passar em branco aumentos superiores a 100% nos gastos com pessoal na Função Pública

Pedindo mais transparência e atenção aos gastos com pessoal e obras públicas, Mak Soi Kun e Ng Kuok Cheong deixaram algumas críticas na

aprovação do relatório de execução do Orçamento de 2013.

Ng Kuok Cheong frisou que o relatório diz respei-to a 2013, quando o território “crescia em flecha e as receitas eram boas”. Assim, e como algumas “obras públicas parecem não ter término e excedem o orça-mento”, o deputado defendeu um debate aberto e mais transparente na AL.

Para além disso, exortou o Governo a ter mais aten-ção às despesas dos serviços públicos, exemplificando com o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais e Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, que apresentaram respectivamente aumentos de 173% e 142% nos gastos com pessoal em 2013.

Ao mesmo tempo, defendeu a necessidade de um debate público sobre as despesas a longo prazo com novos serviços criados pelo Governo.

Questionando as discrepâncias entre as verbas ins-critas e concretizadas no Orçamento da RAEM, Mak Soi Kun declarou que “a baixa execução orçamental é uma questão interserviços”. Denunciando a existência de problemas nos concursos públicos, como a ausên-cia de critérios uniformes de avaliação, o deputado lamentou os atrasos e gastos extra nas obras públicas.

Mak Soi Kun instou ainda o Governo a seguir o exemplo das empresas privadas, que apresentam a execução do orçamento anual até ao final do semes-tre seguinte. “Só hoje, final de 2014, é que votamos o orçamento de 2013, porque é que o Governo não apre-senta logo contas?”.

L.F.

A proposta de alteração ao regime de danos emergentes dos acidentes de trabalho, que obrigará os empregadores a terem seguro para os dias de sinal 8, suscitou algumas dúvidas que, porém, não foram suficientes para evitar a sua aprovação por unanimidade

Liane Ferreira

A poucos dias de deixar o cargo de Secretário para a Economia e Fi-nanças participou, na sexta-feira,

na sessão plenária em que foi aprovado na generalidade o Regime de reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais. Tendo em conta as hesitações dos deputados, tanto o Secretário como o administrador da Autoridade (AMCM), Félix Pontes, admitiram que ainda há espaço para de-bate na especialidade.

Deputados como Lei Chen I e Lam Heong Sang consideraram que a defi-nição do conceito de “estabelecimentos de saúde”, dividido por hospitais, cen-tros de saúde e clínicas médicas, pode suscitar uma diminuição do espectro de aplicação da lei.

Para além disso, foi apontado que podem haver funcionários isentos de trabalhar em caso de tufão e logo sem seguro, mas chamados de emergência pela entidade empregadora. “No caso da cobertura em tufões, o melhor seria considerar todos os trabalhadores, mas questionamos os encargos das pequenas e médias empresas, por isso no caso de haver trabalhadores que não estão in-cluídos no seguro mas forem chamados a trabalhar, o empregador é o responsá-vel”, explicou Félix Pontes.

Lei Chen I e Zhen Anting sustenta-ram que as medidas sancionatórias são demasiado leves, pois se houver uma falha nos pagamentos das prestações quinzenais à vítima, a multa varia en-tre as 2.000 e 10.000 patacas. No caso

dos empregadores não terem seguros para os funcionários não dispensados em caso de tufão, a multa por infracção administrativa varia entre 1.000 a 5.000 patacas por trabalhador.

Em resposta às dúvidas de Kou Hoi In e Au Kam San quanto às consequên-cias na falha de pagamento das presta-ções, o Governo asseverou que, caso a entidade responsável pelo trabalhador não efectuem o pagamento, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) pode interpor um processo judi-cial.

A proposta de lei inclui acidentes ocorridos no percurso directo de ida e volta entre a residência e o local de tra-balho, no prazo de duas horas do início

ou depois do termo do tempo de traba-lho, e ainda os que se registem no mes-mo percurso num meio de transporte que não se integre na rede pública e que seja conduzido pelo empregador ou ou-tra pessoa.

Nesse sentido, alguns deputados consideraram que o período de efeito de duas horas para ir e para voltar do tra-balho poderá ser curto para quem vive em Zhuhai, principalmente em casos de mau tempo.

Sobre este ponto, o administrador da AMCM salientou que o limite temporal foi estabelecido em comparação com Hong Kong, que estipulou quatro horas. “Achamos que duas horas é bom, mas reconhecemos que hoje há muitos en-

garrafamentos e atrasos, no entanto, são aspectos que podem ser discutidos na especialidade”, disse Félix Pontes.

Tendo em conta as preocupações de alguns deputados, como Angela Leong, relativamente ao período de 24 horas para notificação de acidente à DSAL, a responsável deste organismo garantiu que até hoje não tem havido problemas nesse sentido, podendo ser feito por fax e e-mail, além de presencialmente, não sendo portanto afectado pelo horário de encerramento dos serviços.

Leong Veng Chai exortou o Governo a reforçar o regime de seguro das Forças de Segurança, sobretudo em casos de muito mau tempo e tufão, enquanto que Pereira Coutinho saiu em defesa dos tra-balhadores da Função Pública em geral acusando o Governo de não pensar ne-les em dias de tempestade, pois alguns departamentos não param de funcionar.

Pereira Coutinho questionou ainda o Governo sobre a inclusão de outros pon-tos ligados a danos causados a veículos, em caso de tufão. Porém, Félix Pontes notou que a proposta apenas se aplica a danos corporais e não materiais dos trabalhadores, tendo a representante da DSAL acrescentado que os funcionários públicos têm um regime próprio.

“A lei é importante para melhorar as garantias dos trabalhadores, mas não é de fácil implementação, tendo em conta os interesses envolvidos”, disse o admi-nistrador da AMCM, admitindo, por um lado, que a proposta “talvez não tenha a redacção perfeita”, mas asseverando que vai ao encontro da Concertação So-cial e pretende “responder a trabalhado-res que não recebiam compensação”.

JTM | LOCAL 11 Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

RENOVADOS APELOS AO REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO

Kwan Tsui Hang ataca “compadrio” e “nepotismo”Os deputados Kwan Tsui Hang, Si Ka Lon, Ho Ion Sang pediram ao Executivo para ouvir mais a população e os órgãos consultivos e implementar um regime de responsabilização para a classe política

DEPUTADOS NÃO “AFROUXAM” CRÍTICAS

Caos no trânsito de novo em destaque na ALÉ um dos temas da actualidade da RAEM e não passou impune na reunião plenária da Assembleia Legislativa. O trânsito e a sua desordem foram severamente criticados, mais uma vez

Melinda Chan pede aumentos para professores universitários

Melinda Chan pediu ao Governo que aumente as remunerações dos professores universitários, de modo a atrair os melhores docentes e, consequentemente, melhorar o ensino superior do território. “Ao compararmos as remunerações que os professores de categorias similares auferem em Macau e nas regiões vizinhas, verifica-se que as atribuídas em Macau (…) estão aquém das outras”, salientou. Concretamente, a deputada lembrou que um professor da Universidade de Macau pode receber, no máximo, 79.000 patacas, enquanto um docente da Universidade de Hong Kong ganha, no máximo, 98.500 dólares de Hong Kong. Melinda Chan criticou ainda a “falta de um mecanismo de garantia e de reforma dos docentes”, que prejudica a estabilidade dos profissionais e “dificulta que se atraiam académicos de classe mundial”.

Liane Ferreira

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O anúncio dos novos Secretários que vão acom-panhar Chui Sai On nos próximos cinco anos não passou ao lado da sessão plenária da As-

sembleia Legislativa, com alguns deputados a apela-rem à implementação de um sistema de responsabi-lização política.

Ao intervir no período de Antes da Ordem do Dia, Kwan Tsui Hang instou o Governo a “criar o quanto antes, o regime de responsabilização de dirigentes, a definir um mecanismo público de responsabilização

por hierarquia e a criar regimes de responsabilização adequada para os secretários, directores, chefes de departamento e de divisão e todos os funcionários”.

Para além disso, a deputada defendeu a criação de um regime de promoção e nomeação mais transpa-rentes a fim de resolver as culturas de “compadrio”, “nepotismo”, “aguardar instruções” e “não actuação da Função Pública”.

No mesmo sentido e devido à “baixa eficiência administrativa”, Kwan Tsui Hang espera que o novo

Governo “possa reforçar a cooperação e coordenação inter-serviços” para “pôr um fim aos problemas de falta de comunicação e coordenação”.

De uma forma mais simples, Si Ka Lon defendeu a criação do mesmo regime, no próximo mandato, instando o Governo a “ouvir sempre” os Conselhos Consultivos antes de tomar decisões, a reunir com peritos para avaliar riscos e vantagens e a “ponde-rar em atribuir ao Comissariado de Auditoria e ao Ministério Público a aferição da legalidade das po-líticas”.

Não esquecendo as expectativas para o novo Executivo, Kwan Tsui Hang afirmou que o Gover-no deve “adoptar medidas eficazes para responder à população e à reconversão económica” e auscultar mais a população.

Seguindo a mesma linha, Ho Ion Sang também defendeu a auscultação da opinião pública, “dando esperança à população quanto à resolução dos pro-blemas”. Assim, declarou que a “sociedade espera novos pensamentos, novas ideias e espírito inovador na Governação”.

L.F.

Antes do início da Or-dem do Dia, os deputa-dos aproveitaram para

lançar mais uma onda de críti-cas ao trânsito no território. Do Metro Ligeiro aos autocarros nenhum aspecto do “Quadro Geral da política de Trânsito e Transportes Terrestres em Ma-cau (2010-2020)” saiu ileso.

Condenado a “situação caótica do trânsito de Macau”, Chan Meng Kam advertiu que “a população não está a ver os resultados dos estudos reali-zados, nem qualquer efeito produzido pelas políticas” do quadro geral de transportes.

“Pode constatar-se que a chamada ‘introdução de con-corrência’ não obteve suces-so”, notou em relação às três companhias de autocarros, indicando que a introdução do novo modelo de transpor-tes extinguiu práticas flexí-veis, que permitiam aumentar a frequência de carreiras na hora de ponta. Aproveitando a temática, acrescentou que “há empresas suspeitas de es-tarem a violar as regras, alu-gando os autocarros às con-cessionárias de jogo”.

Apesar da Direcção dos Serviços dos Assuntos de Trá-fego (DSAT) ter frisado que essa prática não afecta o servi-ço público, o deputado ques-

tionou o Governo sobre a efi-cácia da fiscalização.

Classificando de “vício le-gal” o novo modelo de auto-carros, Si Ka Lon instou o Go-verno a “aperfeiçoar o quanto antes as políticas de maior im-portância” como os contratos de prestação do serviços dos autocarros.

Recordando palavras do próprio director da DSAT, Chan Meng Kam destacou que “se o aumento de veículos não for controlado, até 2020, a velocidade de condução na Avenida Horta e Costa será de 5,6 km/hora”.

Neste sentido, o deputado recomenda “cancelar a políti-ca de isenção de imposto na compra de ‘shuttle bus’ e re-forçar a gestão destes; acelerar o abate de veículos velhos; au-mentar o imposto e a inspec-ção obrigatória veicular para o controlo de veículos priva-dos”.

Quanto ao Metro, Chan Meng Kam nota que já pas-saram 14 anos desde a sua apresentação, no entanto “o trajecto não está definido, não há calendarização para a con-clusão e as ligações a Zhuhai não passam de palavras. As opiniões da população pode-rão ter tido alguma influência, mas o maior problema é a falta de sinergias no Governo e de este ter reduzido a velocidade dos seus trabalhos”.

Alegando que o Metro na Taipa vai contribuir para resol-ver os problemas de trânsito, Kou Hoi In exortou o Gover-no a “divulgar o quanto antes como vai ser o novo sistema de transportes incluindo no-vos itinerários dos autocarros, paragens de táxi” para que se adapte ao Metro.

Mudando a atenção para o tráfego nas pontes, reconheceu que o corredor para motos na Ponte Sai Van foi eficaz, ape-sar do aumento do número de acidentes com motociclos, no entanto frisou que a capacida-

de das três pontes está quase esgotada devido à “crescente intensidade e complexidade do trânsito entre Macau e Taipa”. Assim, exortou as autoridades a considerar “a construção o quanto antes de uma quarta li-gação, seja ela ponte ou túnel” para poder acompanhar o de-senvolvimento urbano.

No caso dos autocarros, Kou Hoi In defendeu o acelera-mento da redefinição das rotas para evitar que a mesma para-gem sirva mais de 10 carreiras diferentes.

Antevendo a conclusão

de novos casinos no COTAI, Tommy Lau salientou que a zona da Taipa “vai enfrentar fortes desafios a nível de trân-sito”, pelo que exortou o Go-verno a disponibilizar infra--estruturas para peões.

O mesmo deputado deu ên-fase à situação da Taipa, obser-vando que a melhoria do siste-ma rodoviário na ilha poderá ajudar ao desvio de um maior número de pessoas para o pos-to fronteiriço de Flor de Lótus, aliviando a pressão em Macau e, em particular, nas Portas do Cerco.

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201412 JTM | LOCAL

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MAIOR TRANSPARÊNCIA FINANCEIRA É O OBJECTIVO

Assinado acordo com EUAsobre informação fiscalO acordo intergovernamental agora firmado vai possibilitar que instituições financeiras da RAEM possam reportar informação financeira de contas de contribuintes americanos às autoridades fiscais americanas

• • • BREVES

História de Macau contada em versoA História de Macau, contada por José Maria Bártolo num poema de 10 cantos, acaba de ser publicada pelo Instituto In-ternacional de Macau sob o título “A Últi-ma Pérola - Macau”. “Lendo este poema, recordarão os gloriosos feitos dos nossos maiores”, escreveu Monsenhor Manuel Teixeira no prefácio que é datado de De-zembro de 1999. O trabalho, que levou mais de 20 anos a ser produzido, vai ser lançado na próxima sexta feira, pelas 18:30 horas, no IIM.

Melina Leong promovida para a Cotai FerryA partir de 1 de Janeiro de 2015, Melina Leong vai as-sumir as fun-ções de directo-ra de operações da Cotai Ferry, subsidiária da Sands China que opera a Cotai Water Jet. Até aqui Me-lina Leong era vice-presidente do Departamento de Re-lações Públicas da Sands China, empresa na qual já trabalha há 10 anos. O CEO da Sands China, Edward Tracy, destacou a promoção como um novo desafio na car-reira de Melina Leong, natural de Macau, e uma prova da aposta da empresa em quadros locais.

Macau e os Estados Unidos finalizaram as negociações quanto à celebração de um

acordo intergovernamental com o objectivo de promover maior trans-parência fiscal em relação aos activos financeiros que cidadãos norte-ameri-canos tenham em bancos da RAEM.

O acordo intergovernamental agora firmado entre autoridades pretende implementar os requisitos estabelecidos pela “Foreign Account Tax Compliance Act” (FATCA), um regime jurídico estabelecido pelos Estados Unidos da América contra a evasão fiscal e que pretende detectar os contribuintes norte-americanos que utilizam contas em instituições financeiras estrangeiras para ocultar rendimentos e activos da administra-ção fiscal americana.

“Pela FATCA exige-se que as ins-tituições financeiras fora dos Estados Unidos reportem informação financei-ra das contas de contribuintes ameri-canos à IRS. O incumprimento desta obrigação implicará, para as institui-ções em apreço, repercussões na forma de imposto com retenção na fonte im-posto pela IRS nos pagamentos efec-

tuados por aquelas”, explica a Autori-dade Monetária em comunicado.

Na sequência do acordo, as ins-tituições financeiras a operarem em Macau efectuaram já o seu registo na IRS e celebraram acordos individuais com essa entidade fiscal americana. Ao abrigo desse acordo, as instituições procurarão obter o consentimento dos seus titulares de contas que sejam con-tribuintes americanos para efeitos de reporte anual à IRS da informação.

Segundo a Autoridade Monetária, o acordo demonstra o “compromis-so assumido por Macau em elevar a transparência fiscal na arena interna-cional”, para além de permitir “re-duzir os custos para o sector finan-ceiro” e salvaguardar os “interesses das instituições financeiras e dos seus clientes”. Ao abrigo da FATCA, os requisitos de reporte de informações bancárias incidem apenas em deter-minados contribuintes americanos.

Autoridade Monetária negociou acordo com EUA

JTM | LOCAL 13 Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

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DOUTORAMENTOS “HONORIS CAUSA”

UM “honrou” cinco prémios NobelA Universidade de Macau atribuiu o prémio “Honoris Causa” a Lee Chack Fan, Robert Merton, Mo Yan, Siu Yin Wau e Cheng-Ning Yang, cinco laureados com o Prémio Nobel. Robert Merton, representante dos Doutores Honoris Causa mostrou-se “honrado” com a distinção

A Universidade de Ma-cau (UM) entregou no sábado diplomas aos

estudantes de pós-graduação, mestrados e doutoramentos, numa cerimónia onde cinco galardoados com o prémio Nobel receberam o doutora-mento “Honoris Causa”. Lee Chak Fan, Siu Yin Wai e Chen--Ning Yang foram agraciados na área das Ciências, Robert Merton recebeu o grau pelo seu trabalho no campo da Ges-tão de Empresas e Mo Yan, único autor chinês a conquis-tar o Prémio Nobel da Litera-tura, foi distinguido na verten-te das Letras.

Em declarações ao JOR-NAL TRIBUNA DE MACAU, Robert Merton, laureado com o Nobel da Economia em 1997, sublinhou que o doutoramen-

to Honoris Causa “é a maior honra que uma universidade pode oferecer”. O professor do “Massachussets Institute of Techology”, disse ainda estar “muito feliz” por se encontrar integrado num grupo de pes-soas que considera “exímias” nos respectivos âmbitos de trabalho.

Merton salientou ainda o facto de, na cerimónia de sá-bado, terem sido entregues os diplomas de pós-graduação, mestrado e doutoramento. “A Universidade representa o futuro. Vi aqueles estudantes a receber os seus diplomas e isso deixa-me feliz porque eles representam o futuro”.

O Nobel da economia foi porta-voz dos doutorados com o “Honoris Causa” e no final da cerimónia proferiu um

discurso em que salientou o papel das instituições de En-sino Superior enquanto pro-dutoras, armazém e difusoras de conhecimento e a função “muito relevante” que Macau tem enquanto território que mistura as culturas oriental e ocidental.

Mo Yan e Robert Merton fo-ram os protagonistas de duas palestras que tiveram lugar durante o fim-de-semana. O professor na área da gestão de empresas falou no sábado, pelas 14:30, sobre o papel das finanças e da inovação nos sistemas financeiros com o objectivo de atingir um maior desenvolvimento económico, temática que considerou “es-pecialmente importante” na China, um país que tem regis-tado um crescimento económi-

co “significativo” nos últimos anos. “Inovação é algo muito necessário na Ásia com o cres-cimento que as economias têm registado hoje”, sublinhou Ro-bert Merton.

Mo Yan regressou à UM no domingo, às 15:00, para uma palestra em que foi abordado o futuro da literatura chinesa.

I.A.

VENCEDOR DO NOBEL ELOGIA NOVA GERAÇÃO DE AUTORES CHINESES

Mo Yuan diz que literatura ocidental perdeu “brilho”A literatura chinesa é hoje mais “brilhante” do que a ocidental, que já não se debruça sobre o impacto dos movimentos sociais, considera Mo Yan, vencedor do Nobel em 2012

O Nobel da Literatura chinês, Mo Yan, considera que a estabili-dade política e material que se

vive no Ocidente retirou à sua litera-tura o “brilho” que teve no passado e que hoje emana mais intensamente da China.

“Acho que temos uma posição bri-lhante. Julgo que a literatura moder-na ocidental já não tem esse brilho. [O Ocidente] é estável, as pessoas vivem bem. [Os escritores] acabam por se fo-car mais em problemas emocionais por-que estão bem alimentados”, disse Mo Yan, perante a audiência que encheu o principal auditório da Universidade de Macau (UM) no domingo.

Para o Nobel da Literatura de 2012, o único conquistado por um autor chi-nês, os escritores ocidentais já não se debruçam sobre o impacto dos movi-mentos sociais. Por outro lado, a litera-tura chinesa - que durante a Revolução Cultural se tornou “estreita” e “limita-da” - fez emergir uma nova geração e ganhou “um lugar no mundo da litera-tura moderna”.

“Com base no que li, os outros [auto-res] não são muito melhores que os es-critores chineses. Nos últimos 30 anos, a nossa literatura conseguiu muito e não é, de forma alguma, inferior à literatura mundial”, disse Mo Yan, que no sábado recebeu da UM o doutoramento “hono-ris causa”.

O Nobel participou num debate, com outros três académicos, sobre “As conquistas da Literatura Chinesa e o seu Futuro”, em que defendeu a impor-tância de se estar “aberto ao mundo” e aprender com “a vida das pessoas co-muns”, salientando que os chineses, com toda a sua diversidade linguísti-

ca, étnica, religiosa e cultural, têm “um mundo interior muito complicado”.

Mo Yan falou ainda da importância da sua cidade-natal, Gaomi, para o tra-balho literário: “Quando fui para a uni-versidade li muita literatura ocidental e aprendi que existe algo chamado ‘cida-de-natal literária’”, uma entidade que, ainda que ficcional, é sempre alimenta-da pelos espaços e pessoas da infância.

“O escritor é como um ladrão que rouba tudo o que vê e leva para a sua cidade”, explicou.

Quanto ao futuro da literatura chi-nesa, está dependente da qualidade dos tradutores e do progressivo aumento dos falantes de chinês no mundo, disse.

Mo Yan sublinhou, no entanto, que é preciso não simplificar a escrita para fa-cilitar a vida a quem traduz. “Se pensar-mos que estamos a escrever para estran-

geiros, vamos achar que a linguagem é muito complicada para o tradutor e va-mos simplificá-la e retirar-lhe originali-dade”, comentou.

Aposta ganha...no casino Mo Yan mostrou-se bem disposto

e entusiasmado com a sua estadia em Macau, onde, no dia anterior, ganhou 540 patacas com uma aposta de 100 patacas num casino. “Se todos os dias ganhasse 500 patacas ficava em Macau para o resto da vida”, brincou.

Respondendo a uma questão do pú-blico, o escritor revelou ainda a inspira-ção para o seu livro “Republic of Wine”, que conta a história de uma cidade to-talmente dominada pelo consumo e produção de vinho.

Segundo Mo Yan, o romance foi mo-tivado pelos desafios que a bebida lhe

colocava. “Todas as pessoas na minha cidade queriam embebedar-me”, quei-xou-se.

Ao mesmo tempo, o escritor conhe-ceu um homem com uma enorme resis-tência à bebida. “Descobriu que tinha muito talento para beber e nunca se embriagava. Tornou-se uma pessoa cuja profissão era beber com os outros. Foi assim que surgiu o romance”, revelou.

Em 2012, a atribuição do Nobel da Literatura a Mo Yan suscitou duras crí-ticas devido à sua ligação ao Governo - é vice-presidente da Associação de Escritores da China, membro do Parti-do Comunista e chegou a escrever uma autocrítica ao romance “Peito grande, ancas largas”, mal aceite por ter algum conteúdo sexual.

JTM com Lusa

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Terça-feira, 9 de Dezembro de 201414 JTM | LOCAL

AMÉLIA ANTÓNIO QUER RESPOSTAS EM RELAÇÃO A PROJECTOS PENDENTES

Rendas são “problema para as instituições”O Jantar de Natal organizado pela Casa de Portugal incluiu actuações de vários grupos de artistas apoiados pela associação. À margem do evento, a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, fez um balanço das actividades do ano que está a terminar e partilhou alguns desejos para 2015

Decorreu na Torre de Macau, na sexta-feira, o jantar anual comemorativo da época natalí-cia organizado pela Casa de Portugal. Du-

rante o evento, actuaram vários colectivos de artistas apoiados pela instituição, como o coro e o grupo de artes performativas da Escola Portuguesa de Macau e a banda da Casa de Portugal.

A formação artística é algo em que a associação vai continuar a investir, esclareceu a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, que sublinhou o facto de existir hoje “uma actividade muito maior ao nível da música”, bem como “muitas aulas de dife-rentes instrumentos e outros projectos interessantes nos quais se está a trabalhar ao nível da escola”.

Em declarações ao JORNAL TRIBUNA DE MA-CAU, Amélia António fez um balanço do ano 2014 e revelou alguns desejos para 2015. “Este ano foi um ano de muito trabalho, com algumas dificuldades”, referiu, acrescentando que parte delas derivaram do facto de algumas pessoas a quem a associação precisava de recorrer terem “aquela dificuldade da residência em Macau”. Questionada sobre o papel do novo Executivo na diminuição dos entraves à residência no território, Amélia António referiu que “tudo é novo” e que “há pessoas que são muito ex-perientes, muito conhecedoras de Macau e que sem-pre tiveram muita força de vontade e interesse em trabalhar”.

Na opinião da mesma responsável, o maior en-trave ao desenvolvimento de novas actividades continua a ser a falta de espaços disponíveis para as albergar. “Não se pode fazer mais do que já se faz porque as instalações não chegam”, disse Amélia

António, acrescentando que o aumento das rendas no território é “um problema comprometedor para o futuro”, visto ter deixado de ser uma questão “de cada pessoa que tem dificuldade em encontrar uma casa para viver”, sendo agora também “um proble-ma para as instituições”. Ainda assim, a presidente da Casa de Portugal destacou que a equipa que coor-dena vai “tentando fazer o máximo que pode”.

Para 2015, a responsável espera “ter espaço capaz para desenvolver actividades formativas” e uma rá-pida decisão do Governo relativamente aos projectos que se encontram pendentes. “Nós empenhámo-nos o máximo a trabalhar no projecto Lvsitanvs que pre-tende dar a conhecer a cultura portuguesa e temos que perceber definitivamente o que pensa este Go-

verno, para sabermos se é para andar ou não”. Entre os projectos que se encontram suspensos

por falta de decisão do Executivo encontra-se o Mu-seu das Marionetas. “Não vale a pena andarmos com projectos na mão, falarmos deles durante anos segui-dos e haver investimento sem saber se é para avançar ou não”. Para Amélia António, em causa está a pre-servação “de um espólio que está fechado em caixo-tes e que se está a degradar”, levantando problemas para a sua proprietária.

Referindo-se aos Secretários recém-nomeados, Amélia António destacou Raimundo do Rosário e Alexis Tam como sendo capazes de realizar um bom trabalho na pasta que ocupam, sublinhando, porém, que existem pessoas que não conhece bem.

Ainda assim, mostrou-se “surpreendida” com a nomeação de Sónia Chan para a pasta da Adminis-tração e Justiça, considerando que André Cheong “é a pessoa com maior perfil para esse lugar”, sobretu-do tendo em conta a sua acção “ao nível das Conser-vatórias e dos Registos”.

O jantar de Natal da Casa de Portugal é uma ini-ciativa que tem lugar todos os anos desde que a as-sociação foi criada. A presidente Amélia António re-cordou na sexta-feira a primeira edição da iniciativa, em que “cada pessoa trouxe qualquer coisa de casa”, disse, falando da ementa do primeiro ano do even-to, que decorreu num espaço de menores dimensões que o Centro de Convenções da Torre de Macau.

I.A.

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | LOCAL 15

AMÉLIA ANTÓNIO QUER RESPOSTAS EM RELAÇÃO A PROJECTOS PENDENTES

Rendas são “problema para as instituições”O Jantar de Natal organizado pela Casa de Portugal incluiu actuações de vários grupos de artistas apoiados pela associação. À margem do evento, a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, fez um balanço das actividades do ano que está a terminar e partilhou alguns desejos para 2015

A Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) reuniu na Torre de Macau, no sábado, centenas de sócios para comemorar o Natal, os 27 anos da associação e o 15º

aniversário do estabelecimento da RAEM. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, não pôde estar presente mas fez-se representar por Florinda Chan nas celebrações.

A presidente da mesa da Assembleia Geral da ATFPM salien-tou que, além do convívio entre associados, o evento também foi um modo de angariar fundos, uma vez que a associação “tem um plano para visitar lares e famílias carenciadas”. Entre 2013 e 2014, a ATFPM visitou cerca de 60 famílias carenciadas e mais de 500 ido-sos, segundo dados da associação.

Em declarações ao JORNAL TRIBUNA DE MACAU, Rita San-tos salientou a intenção de “transmitir a mensagem ao Chefe do Executivo e principalmente aos novos Secretários de que a ATFPM vai continuar a servir de elo de ligação entre os associados e o Go-verno” com o objectivo de resolver problemas relacionados com a habitação, saúde, transportes e emprego. Adiantou também que, com o objectivo de ultrapassar esses obstáculos “do dia-a-dia”, a associação “vai dialogar com todos os Secretários assim que toma-rem posse”.

Para além do “aumento salarial de 6,8% prometido pelo Chefe do Executivo” aos trabalhadores da função pública, a mesma res-ponsável sublinhou que gostaria que em 2015 fosse possível resol-ver os problemas da população mais carenciada através, não só da

actualização dos vencimentos, como da implementação de um sub-sídio para o efeito.

A maior parte dos desafios que a função pública enfrenta em Macau, na opinião de Rita Santos, está relacionada com a habitação “porque as casas estão cada vez mais caras”.

Rita Santos considera ainda que é necessário resolver a questão dos aposentados que preferem receber as suas reformas em Portu-gal, aos quais foi retirado o direito ao subsídio de residência, avalia-do em cerca de 2.000 patacas e que “lhes faz muita falta porque as pensões são baixas e, como se sabe, em Portugal não existe actuali-zação das reformas neste momento”. “É uma questão de vontade política e espero que ela exista porque, de facto, basta uma medida legislativa para solucionar alguns problemas”, disse.

Fazendo um balanço das actividades de 2014, a mesma respon-sável salientou os seminários subordinados a temáticas ligadas à saúde em áreas como a diabetes ou a ginecologia. “Em cada seminá-rio que organizávamos conseguíamos ter uma boa assistência, entre 150 e 200 pessoas”.

“Tivemos um calendário muito preenchido este ano e o plano de actividades de 2015 também está bastante preenchido a par do atendimento aos sócios”, referiu, assegurando que as iniciativas re-creativas e culturais vão manter-se no próximo ano.

A ATFPM atendeu em 2014 mais de 10.000 dos seus 13.000 só-cios, o que, segundo Rita Santos, representou “um recorde”.

I.A.

Carenciados preocupam ATFPMA ATFPM garante empenho em resolver problemas relacionados com a habitação, saúde, transportes e emprego

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Ainda assim, mostrou-se “surpreendida” com a nomeação de Sónia Chan para a pasta da Adminis-tração e Justiça, considerando que André Cheong “é a pessoa com maior perfil para esse lugar”, sobretu-do tendo em conta a sua acção “ao nível das Conser-vatórias e dos Registos”.

O jantar de Natal da Casa de Portugal é uma ini-ciativa que tem lugar todos os anos desde que a as-sociação foi criada. A presidente Amélia António re-cordou na sexta-feira a primeira edição da iniciativa, em que “cada pessoa trouxe qualquer coisa de casa”, disse, falando da ementa do primeiro ano do even-to, que decorreu num espaço de menores dimensões que o Centro de Convenções da Torre de Macau.

I.A.

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Terça-feira, 9 de Dezembro de 201416 JTM | LOCAL

Vítor Rebelo

MARATONA INTERNACIONAL PODE MELHORAR PRÉMIOS NO FUTURO

Julius Maisei repete triunfoem prova com domínio quenianoQuénia colocou atletas nos oito primeiros lugares da “prova rainha”. Lusofonia deu nas vistas na Meia Maratona, com Daniel Pinheiro a ganhar. Prémios podem subir já na edição de 2015

A “armada queniana” confirmou as expectativas de uma corrida “a seu bel prazer”, superiorizando-

-se aos seus adversários do princípio ao fim nos dois sectores, masculino e femi-nino, da 33ª edição da Maratona Interna-cional de Macau.

Os últimos anos têm sido dominados pelos atletas africanos, como aliás acon-tece praticamente por todo o mundo onde se realizam provas do género, com vitórias repartidas para Quénia e Etiópia (com Zimbabué pelo meio…), mas desta feita houve uma supremacia esmagadora dos quenianos, liderados pelo vencedor de 2013, Julius Kiplimo Maisei.

Era quase certo que os tempos mag-níficos, registados no ano passado, não seriam batidos e isso confirmou-se, aten-dendo ao percurso que voltou a ser um pouco diferente, por culpa das muitas obras com que Macau se depara por cau-sa da construção do Metro Ligeiro.

Mesmo com a necessidade de colocar no itinerário duas passagens pela Ponte de Sai Van (na prática quatro travessias, ida e volta), a lista de inscritos contou com fundistas de bom nível, detentores de marcas bastante razoáveis, que acabaram por garantir uma corrida interessante.

Conhecedor do percurso

Julius Maisei regressou a um lugar onde foi feliz no ano passado, não só por aqui ter ganho, mas porque levou para casa um chorudo cheque de 35 mil dóla-res americanos, por ter quebrado o recor-de da Maratona de Macau, com 2 horas, 12 minutos e 43 segundos.

Maisei arrecadou desta feita 25 mil USD (20 mais 5 de bónus por ter feito menos do que 2.16) e já tinha referido na conferência de imprensa de apresentação dos atletas convidados que o percurso deste ano não iria certamente permitir grandes tempos.

O certo é que o queniano não deixou os seus créditos por mãos alheias e voltou a cortar a meta em primeiro lugar, conse-guindo um tempo interessante, 2.14.45.

E também como tinha afirmado, ha-via a seu lado outros seus compatriotas desejosos de chegarem à vitória, ambi-ções que se confirmaram, com os três primeiros classificados separados por somente três segundos, o que diz tudo sobre a competitividade da corrida deste ano.

Convidados na frente

A história não é complicada de con-tar, logo no arranque os atletas seguiram para a primeira passagem pela ponte e aí deu-se a primeira selecção de valores, com os quenianos, um etíope, um ucra-niano e dois chineses, a separarem-se ra-pidamente da concorrência.

Um grupo de cerca de 12 unidades passou então a controlar a prova, com alterações constantes na liderança, mas quase sempre através dos representantes

do Quénia.Com cerca de 30 quilómetros per-

corridos, Dominic Kimwetich e Duncan Cheruiyot Koech, tentaram descolar da “principal ameaça”, o seu compatriota Julius Maisei.

Conseguiram alguns metros, mas aos poucos o vencedor do ano passado, já conhecedor do trajecto e guardando-se para os derradeiros quilómetros, onde o desgaste seria maior, recolou ao grupo, gerindo a passada.

Aqueles três quenianos não desarma-ram praticamente até ao fim e só com a meta à vista é que Julius Maisei acelerou um pouco mais, o suficiente para triunfar pelo segundo ano consecutivo.

Maisei teve sempre na sombra os compatriotas e somente conseguiu dois segundos sobre Dominic Kimwetich e três em relação a Duncan Koech.

É caso para dizer que qualquer um de-les poderia ter ganho a corrida.

Ligeiramente mais para trás ficaram os outros quenianos, com o país a fazer história, colocando oito representantes nos oito primeiros postos.

O “top ten” só contou com dois não quenianos, Igor Olefirenko, da Ucrânia, em nono, e Edeo Mamo Telo, da Etiópia, em décimo.

Seguiram-se dois chineses, Gang Bi Chen e Tao Liu, enquanto que atrás deles terminava o primeiro de Macau, Chong Ip Chan (2.41.45).

No final da corrida as habituais curtas palavras de Julius Maisei, num rudimen-tar inglês: “Sinto-me muito feliz com esta nova vitória, embora não tenha conse-guido o recorde do percurso. Mas estou satisfeito por ter sido número um outra vez. O tempo estava bom, não choveu, ao contrário dos dias anteriores. Foram du-ras as subidas e descidas da ponte, mas consegui ganhar. Espero voltar no próxi-mo ano, mesmo que fique em décimo ou

vigésimo gosto de correr em Macau. Fui muito bem recebido, a organização esteve perfeita”.

A única a puxar

No sector feminino também foi o Qué-nia a vencer, mas sem a superioridade ve-rificada nos homens.

A mais rápida seria Flomena Chep-chirchir Chumba, averbando 2.33.24, onze segundos à frente da compatriota Hellen Wanjiku Mugo.

Foi igualmente ao pódio a chinesa Li Hua Gong (2.33.41), seguindo-se uma russa (Puchkova) e mais uma fundista da China (Lingling Jin).

A melhor de Macau, como sempre, foi a popular Hoi Long, em décimo da geral, com o tempo de 3.06.50.

“Estou contente pelo triunfo, o tempo estava ventoso quando subíamos a pon-te, dava de frente, o que criou problemas. Mesmo assim dei o meu melhor e ganhei, embora tivesse lutado bastante, porque era a única que puxava na frente da cor-rida. Comecei a acelerar a partir dos 29 quilómetros”, disse no final a atleta que-niana, que quer voltar a Macau…“Espero estar cá em 2015.”

Daniel Pinheiro, o melhor na MeiaA Maratona não contou, ao contrário

do que tem sido hábito, com qualquer re-presentante de Portugal, mas dois lusos estiveram na Meia Maratona, acompa-nhados por vários atletas da lusofonia.

E os resultados foram muito bons, com Portugal a ganhar nos homens, através de Daniel Pinheiro nos homens (1.07.43) e a terminar em segundo nas mulheres, gra-ças à também estreante Cláudia Pereira (1.22.49), só batida pela queniana Edinah Jeruto Koech (1.20.50).

A cabo-verdiana Crisolita Silva foi terceira e o seu compatriota Ruben Sanca fechou em segundo na prova masculina.

Noutros destaques lusófonos, Gil Quintas (São Tomé e Príncipe), termi-nou em quarto, à frente de Kuan Un Iao de Macau e Ribeiro Carvalho de Timor Leste, isto nos homens, enquanto que nas senhoras, a timorense Natércia Maia con-cluiu em quinto.

Voltando ao vencedor Daniel Pinheiro, que constituiu sem dúvida uma boa sur-presa, tratou-se de uma estreia em grande. “Foi uma corrida muito bem disputada, uma vez que o meu grande adversário an-dou comigo até quase aos dezanove qui-lómetros. Só depois é que consegui impor um ritmo um pouco mais forte. Adorei a estadia em Macau e se for convidado pro-meto voltar em 2015”, disse.

Repensar prémios monetários

A corrida da distância de pouco mais de 21 quilómetros vai progredindo de ano para ano, chamando cada vez mais atletas estrangeiros.

José Tavares, presidente do Instituto do Desporto, reforça a importância da Meia Maratona, até para reforçar os laços com a lusofonia.

“É bom ter os países lusófonos a parti-cipar em força, é sinal que estão a dar im-portância à nossa prova e nós queremos puxar o interesse a nível internacional”, salienta o homem forte do ID, que deu a entender uma melhoria dos prémios para um futuro próximo: “Podemos repensar os prémios em dinheiro.”

Assim tudo se conjuga para que, já em 2015, a Maratona Internacional de Macau aumente o valor dos cheques a atribuir aos melhores atletas, podendo até a orga-nização estabelecer um sistema de incen-tivos, para chamar mais gente à festa do atletismo de estrada do território.

Uma última referência para os ven-cedores da Mini Maratona (4,2 quilóme-tros): Minghui Xiao (13.21) no sector mas-culino e Ka Mei Sio (16.43) no feminino.

Julius Maisei acelerou para a vitória na parte final FO

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Quénia também triunfou no escalão feminino

Daniel Pinheiro venceu Meia Maratona

JTM | DESPORTO 17 Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

LIGA DOS CAMPEÕES

Benfica cumpre calendário a pensar no DragãoO Benfica recebe hoje o Bayer Leverkusen na partida que encerra a participação do campeão portugues nas competições europeias da presente temporada, e que surge em vésperas da deslocação ao Estádio do Dragão. Destaque nesta ronda para os duelos entre o Mónaco e o Zenit, do mesmo grupo dos encarnados, e ainda do confronto entre o Liverpool e o Basileia, em que os ingleses estão obrigados a vencer para seguir para a próxima fase

Pedro André Santos

Jornada ingrata para o Benfica que chega ao derradeiro desafio da fase de grupos já sem aspirações de po-

der continuar nas competições euro-peias, seja na Liga dos Campeões ou na Liga Europa, por via do terceiro lugar do grupo.

Na última jornada, na Rússia, um golo de Danny perto do final acabou por deitar por terra as aspirações da formação liderada por Jorge Jesus este ano na “Champions”, acabando relega-da para o último lugar do grupo devido à vitória do Mónaco na Alemanha, fren-te ao Bayer Leverkusen, o adversário de hoje do Benfica.

O técnico das “águias” poderá apro-veitar para rodar alguns jogadores, sa-bendo de antemão que Luisão é carta fora do baralho, já que o brasileiro foi expulso na Rússia. Apesar do prémio monetário em jogo, para além do pres-tígio, os campeões nacionais deverão apresentar-se em campo com algumas cautelas, até porque na próxima jor-nada da liga portuguesa há “dérbi” frente ao FC Porto, que deverá também

poupar alguns habituais dos titulares na equipa que se apresentará amanhã frente ao Shakhtar, pois os “oitavos” já estão garantidos.

No grupo dos encarnados há jogo de grande interesse, em França, com o Mó-naco a receber o Zenit naquele que será um duelo entre técnicos portugueses. No entanto, apenas um poderá seguir em frente, neste caso com Leonardo Jar-dim em vantagem, que precisa apenas de um empate frente à equipa de André Villas-Boas.

Ainda nos jogos de hoje destaque para o duelo entre o Liverpool e o Ba-sileia, em Inglaterra. Os suíços levam vantagem e precisam apenas de um empate para seguir para os “oitavos”, num grupo em que o Real Madrid pode alcançar um pleno de vitórias, caso vença no seu terreno o Ludogorets.

Com a passagem garantida, o Dort-mund recebe o Anderlecht, já sem hi-póteses de seguir em frente, no mesmo grupo em que o Arsenal, igualmente qualificado, joga no campo do Galata-saray. Por fim, nas partidas de hoje, o Olympiakos recebe o Malmo a sonhar com uma derrota da Juventus, em Itália, frente ao já apurado Atlético de Madrid

“Águias” perderam na Alemanha por 3-1 na primeira volta

Lionel Messi resolveu “dérbi” da Catalunha O génio de Lionel Messi resolveu o “dér-bi” da Catalunha a favor do Barcelona, que goleou em casa o Espanyol por 5-1, em en-contro da 14.ª jornada da Liga espanhola. O internacional argentino conseguiu um “hat-trick”, com golos aos 45+1, 50 e 81 minutos, passando a contar 13 golos na prova - aos quais junta oito assistências -, contra 23 de Cristiano Ronaldo (Real Madrid). Depois de Sergio Garcia dar vantagem ao Espanyol, aos 13 minutos, Messi virou o jogo com dois espetaculares remates de fora da área, um com cada pé. O central Piqué, aos 53 minutos, e Pedro Rodriguez, aos 77, apontaram os outros tentos dos catalães, que recuperaram o se-gundo lugar, mantendo-se a dois pontos do líder Real Madrid e com mais dois do que o campeão Atlético de Madrid. No sá-bado, os “merengues” receberam e bate-ram o Celta de Vigo por 3-0, com mais três tentos de Cristiano Ronaldo, enquanto o Atlético de Madrid ganhou em Elche por 2-0. No domingo, o Sevilha ganhou no re-duto do Rayo Vallecano por 1-0, graças a um golo do colombiano Carlos Bacca, aos oito minutos, enquanto o Valência empa-tou a uma bola no campo do Granada.

O Vitória de Guimarães partiu para o “dérbi” minho-to a dois pontos do FC Porto, segundo classificado à condição, mas o “nulo” verificado em Braga foi insu-

ficiente para os vimaranenses recuperarem o segundo posto.O Sporting de Braga também foi penalizado pelo empa-

te em casa frente aos vimaranenses, num jogo em que foram expulsos Bruno Gaspar e Hernâni, no Guimarães, e Salvador Agra, nos “arsenalistas”, já que caiu do quarto para o quinto lugar por troca com o Sporting.

Os encontros realizados domingo da 12.ª jornada foram ainda marcados pela derrota do Paços de Ferreira, em Mo-reira de Cónegos, e pelo triunfo do Penafiel em Arouca, e a consequente entrega da “lanterna vermelha” ao Gil Vicente.

O Paços de Ferreira falhou o 10.º jogo consecutivo sem perder na I Liga, ao sair derrotado por 2-0 no reduto do Mo-reirense, com golos de André Simões, na conversão de um penálti, aos 45+3 minutos, e do argentino Battaglia, aos 81.

Na “era” Paulo Fonseca, que treinou os pacenses em 2012/13 e voltou na presente temporada, depois de uma pas-sagem pelo FC Porto, o Paços de Ferreira só perdera com Ben-fica e FC Porto (os três jogos disputados com cada).

O Paços de Ferreira mantém, ainda assim, o sétimo lugar da I Liga, enquanto o Moreirense saltou, embora à condição, para o nono lugar, ficando à espera do resultado do “dérbi” madeirense entre o Nacional e o Marítimo, partida disputada já depois do fecho desta edição.

O Moreirense interrompeu desta forma um ciclo de maus resultados – dado que vinha de três derrotas consecutivas, in-cluindo uma em casa do Benfica (4-1), que ditou o afastamen-to da Taça de Portugal -, enquanto o Paços de Ferreira somou a primeira derrota ao fim de três meses, e que durava desde

LIGA PORTUGUESA

Empate no Minho deixa Porto em segundoO empate 0-0 entre Sporting de Braga e Vitória de Guimarães, em encontro da 12.ª jornada da I Liga de futebol, permitiu ao FC Porto agarrar o segundo lugar e reforçar a liderança do Benfica

que recebeu o FC Porto (1-0).O Penafiel somou o seu primeiro triunfo fora de casa, ao

vencer em Arouca com um golo “solitário” de Capela, logo aos 12 minutos, num jogo em que jogou reduzido a 10 elemen-tos nos últimos 21 minutos.

Com esta vitória, o Penafiel deixou a última posição da tabela, ocupando agora a 17.ª e penúltima posição, com sete pontos, enquanto o Arouca (15.º, com nove), somou o sétimo jogo sem vencer.

A “lanterna vermelha” ficou entregue ao Gil Vicente, que sábado foi a Vila do Conde empatar a 0-0 com o Rio Ave (8.º), e que soma cinco pontos nos 12 jogos realizados.

A 12.ª jornada, que principiou sexta-feira com a vitória do Sporting no Bessa, por 3-1, e que sábado registou os triunfos do Benfica e do FC Porto, por 3-0, frente a Belenenses e Acadé-mica, respectivamente. JTM/Lusa

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201418 JTM | ACTUAL

PORTUGAL

As 90 vidas do libertadorque veio da Boulevard GaribaldiNo dia em que faz 90 anos, regressa-se a uma memória do exílio para evocar a figura política que mais influenciou a vida política portuguesa nos 40 anos de democracia. Afinal, é o político que libertou o país do poder popular

A senhoria do apartamento parisiense onde Mário Soares viveu durante o exílio detes-tava portugueses. Não era por solidarieda-

de a Salazar ou a Caetano que a francesa estendera esse desagrado ao político socialista que contesta-va abertamente pelo mundo o regime em vigor em Portugal, antes porque a sua filha andava de cabeça perdida por um emigrante português e Mário Soa-res levava pela tabela. Só passou a ser bem consi-derado pela senhoria de maus modos no dia 25 de abril de 1974, quando viu juntarem-se à porta do número 14 da Boulevard Garibaldi dezenas de por-tugueses que, com o exilado, celebravam o fim do fascismo e ansiavam pelo seu regresso a Lisboa.

Ao recordar para o DN esta memória há poucos dias, mesmo sem querer Mário Soares confirmava como estava talhado desde muito jovem para o pro-tagonismo que logo três dias depois – ao desem-barcar na gare de Santa Apolónia no Comboio da Liberdade – o tornaria a principal figura política da história nacional nas últimas décadas do século XX. É que, como nenhum outro político português, des-de esse dia 28 de abril de 1974 Soares não parou até hoje de ser o político mais constante da vida política pós- Abril.

Para o historiador Rui Ramos, o ex-Presidente destaca- se das outras figuras políticas: “Temos Sá Carneiro, Ramalho Eanes, Cavaco Silva... Só que Soares é diferente.” Porquê? “Nenhum outro esteve na vida política com a mesma intensidade e entre-ga como ele. Ainda se pensou que se ‘reformaria’ quando acabou o segundo mandato presidencial, mas isso seria como pedir a Júlio Pomar que deixas-se de pintar!”

Por essa razão, o autor da última grande Histó-ria de Portugal afirma sobre a longevidade política de Soares: “Aos 90 anos percebe- se que nunca vai parar.” Tal como a reforma após ser Primeiro-Minis-tro acabou por nunca acontecer e o fogo da política manteve-se inalterado desde os tempos de juventu-de, quando os ideais republicanos do pai o influen-ciavam. Tal como as companhias, como o caso do jovem Álvaro Cunhal, seu professor a pedido do pai, e dos primeiros a mostrar- lhe a importância da tenacidade para a vitória na vida política. Situação que ficou bem consciente, pois até hoje Soares não deixou de defender os seus pensamentos, mesmo que contra a corrente.

Nascido numa família que contestava o regi-me de Salazar e depois de caetano, Soares ficou ao lado dos excluídos da participação política oficial tal como milhares de oposicionistas até à Revolução dos Cravos. Foi preso 12 vezes, defendeu como ad-vogado presos políticos e acusados pela polícia mi-litar, este exilado até que a Primavera Marcelista o trouxe de volta da ilha de São Tomé, numa manobra de falsa abertura do governo de Caetano.

João Céu e Silva Unir em Paris, dividir em LisboaSe o jovem Cunhal foi seu professor antes do

25 de Abril, a seguir foram rivais políticos duran-te vários anos e, principalmente, durante o Verão Quente de 1975 – aqui dir-se-ia inimigos de verda-de. Mesmo que poucas horas antes da revolução tivessem assinado um pacto em Paris de colabora-ção política para unir forças e derrubar a ditadura cada vez mais fragilizada pela Guerra Colonial de 13 anos, pelo apodrecimento da governação e por uma crise social devido à conjuntura económica in-ternacional.

Para Manuel Alegre, essa colaboração entre os partidos Socialista e Comunista vinha na cabeça de Mário Soares quando chegou a Portugal após o golpe militar do Movimento das Forças Armadas (MFA), mas pouco durou: “O acordo PS-PCP fora assinado nos dias anteriores, mas quando Álvaro Cunhal fez o seu primeiro discurso tudo mudou. É que desde logo apontou a aliança Povo-MFA como preferencial, sucedeu-se o apoio a Vasco Gonçalves e ficaram claras as ligações deste com as organiza-ções políticas e militares cujo objectivo era uma de-mocracia do poder popular”.

Manuel Alegre não tem dúvidas que é ao ver a orientação do discurso de Cunhal, que os caminhos políticos da revolução entre socialistas e comunis-tas se separam de vez: Mário Soares defende a de-mocracia pluralista e pluripartidária e exige a rea-lização de eleições para a Constituinte, situação em que não é acompanhado pelo PCP”.

Recorda que a liderança partidária de Soares também não era tão clara como precisaria para en-frentar os combates políticos que se desenharam logo no Verão de 1974 e até ao fim da mesma esta-ção em 1975: “No PS existiam várias orientações e logo no congresso foi necessário vencer a facção de Manuel Serra, que defendia o alinhamento com o PCP”.

É este momento do congresso que redefine a vida política de Mário Soares, pois entrega-lhe a lideran-ça partidária do PS até quando a desejou , mesmo que o soarismo tivesse sido torpedeado entretanto pelos outros “ismos” socialistas e, por exemplo, o slogan “Soares e Zenha, não há quem os detenha” tenha sucumbido por divergências políticas insaná-veis entre ambos.

Para Manuel Alegre tudo fica claro após o pri-meiro congresso do PS: “A linha de Mário Soares triunfou contra a de Manuel Serra e nós demos iní-cio às outras lutas, que se seguiam em catadupa.” É o caso da questão da Unicidade Sindical que, logo no início de 1975, desfez a derradeira esperança de entendimento entre os maiores partidos da esquer-da, porque, como sublinha Alegre, está em causa o confronto político entre a democracia popular e a pluripartidária.

A tentativa de impor a Unicidade Sindical pro-voca, relata Manuel Alegre, o grande momento ini-cial da implantação popular do Partido Socialista:

“Em resposta convocamos um comício, e é a pri-meira vez em que o PS se afirma pela grande for-ça popular presente dentro e fora do Pavilhão dos Desportos de Lisboa”.

Se Cunhal foi o grande rival do início, também Sá carneiro não se ficou atrás. Para o fundador do CDS, Freitas do Amaral, “não se pode comparar com Sá Carneiro porque este morre ao fim de um ano de governo, enquanto Mário Soares foi três ve-zes Primeiro-Ministro e esteve 10 anos em Belém”. Ressalva que “apesar da óbvia importância de Sá Carneiro antes e depois do 25 de Abril, sobre Soares há que dizer: ficará para a história como o patriarca da democracia”.

A actividade política entre o dia em que chegou do exílio e o golpe do 25 de Novembro de 1975 mar-ca definitivamente o nascimento do protagonista político em que se tornou Mário Soares. E Manuel Alegre não hesita em afirmar: “Teve o mérito histó-rico de fundar o PS no momento exacto e foi decisi-vo para instaurar a democracia.”

Uma luta política pós-25 de Abril que gerou re-percussões internacionais e que levou André Mal-raux a sintetizar o processo revolucionário portu-guês assim: “A vitória dos socialistas portugueses é a revanche histórica dos mencheviques.” Para o historiador Kenneth Maxwell, esta influência in-ternacional da Revolução de Abril fez-se sentir em todo o mundo.

Quanto à importância de Mário Soares para a história nacional, a avaliação está em curso. É o que afirma Rui Ramos: “Representa para o regime de-

Soares com o general Humberto Delgado durante a romagem do 5 de Outubro de 1958 ao Alto de S. João

Em 19 de Abril de 1973 participa no Congresso da Fundação do Partido Socialista em Bad Munstereifel

Em 12 de Junho de 1985, como Primeiro-Ministro, assina o tratado de adesão à CEE no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa

Numa visita a Macau enquanto Presidente da República

JTM | ACTUAL 19 Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

Soares elogiado como homem da liberdade e da democraciaUm homem da liberdade e um homem da democracia foram as expressões mais usadas por personalidades à esquerda e à direita, para definir Mário Soares, no almoço de aniversário do ex-presidente da República

Não esqueço e nenhum portu-guês deve esquecer que Má-rio Soares foi o político que

mais combateu a ditadura da direita antes do 25 de Abril e a ditadura de esquerda em 1975”, destacou Freitas do Amaral.

Recusando fazer comentários sobre a actualidade política, Frei-tas do Amaral optou por destacar o objectivo do convívio no Espaço Tejo, da antiga Feira das Indústrias de Lisboa, e considerou que “se um político tão destacado da história de Portugal nos últimos 40 anos não tivesse amigos fora do PS também não tinha feito tudo o que fez”.

O capitão de Abril e presiden-te da Associação 25 de Abril Vasco Lourenço afirmou que Mário Soares foi, acima de tudo, um “homem da liberdade, que “nunca aceitou as-sumir posições que colocassem em causa a liberdade”.

Em declarações aos jornalistas, à chegada ao almoço, o ex-coorde-nador do Bloco de Esquerda João Semedo considerou que Soares “fez coisas muito boas e também muito más” no passado mas, sobretudo, frisou, “quando se fala em liberda-de e democracia pensa-se em Mário Soares”.

“É com homens como Mário Soa-res que se defende mais a liberdade e a democracia. Não estão nunca suficientemente defendidas, todos os dias temos que as defender, os 90 anos de Mário Soares são uma ópti-ma oportunidade para isso”, disse.

Acompanhado pela filha, a de-putada do PS Isabel Moreira, o ex--ministro e ex-presidente do CDS--PP Adriano Moreira, referiu-se à

amizade por Mário Soares e à inter-venção política do ex-chefe de Esta-do. “A intervenção fundamental no momento da revolução, porque essa é que ajudou a parte civil a encami-nhar a organização constitucional do país. Acho que por vocação, e até hereditariamente, é sobretudo um estadista”, declarou.

O ex-Presidente Jorge Sampaio afirmou que Soares “é uma grande figura portuguesa e europeia e um homem com grande sentido estraté-gico que se bateu em circunstâncias difíceis por muitos momentos im-portantes da vida portuguesa”.

Também Leonor Beleza, presi-dente da Fundação Champalimaud e antiga ministra da Saúde do PSD, destacou Mário Soares como um “português que se distinguiu e se distingue pela defesa da democra-cia”. “Não tem a ver com esta ou aquela faceta política, tem a ver com aquilo que o nosso País é e aquilo que quer ser”, considerou.

Já o antigo Presidente da Repú-blica do Brasil Fernando Henrique Cardoso caraterizou Mário Soares como “um homem que acredita, tem energia e contagia”. Henrique Cardoso lembrou uma ocasião em que esteve num bairro de S. Paulo, num centro republicano português para comemorar o Dia de Portugal, em que Mário Soares “chegou com energia e optimismo e anunciou que a vitória [sobre a ditadura em Portu-gal] estava próxima”. “Logo depois veio o 25 de Abril. Esse é o Mário que acredita, que tem energia, que contagia e que, quando a gente pen-sa que não tem o que fazer, mostra que tem o que fazer”, disse.

mocrático uma figura de referencia, a que tem mais continuidade e grande influência ao longo das últimas quatro décadas. Afinal, esteve presente em todos os actos importantes: a desco-lonização, a fundação da democracia, a adesão à Comunidade Económica Europeia e até aos dois resgastes do FMI.”

Quanto ao retrato que fica para o futuro, o historiador não quer fazer previsões sobre quem mais represen-tará o século XX português e diz: “Em 2050, o Estado Novo de Salazar não terá o peso histórico que hoje possui. Soares, sendo o personagem colorido que é, gerará curiosidade.”

Sobre este desafio investigatório pode-se recordar o ensaio do pensador Eduardo Lourenço quando no seu tex-to “O Movimento das Forças Armadas e as Sereias” refere: “A cultura fascista não produziu um único livro de aná-lise séria global acerca da política que foi a do país durante mais de quatro décadas. Toda a literatura sociopolí-tica é de natureza apologética ou cin-zentamente tecnocrática, sem visão englobante do projecto histórico-polí-tico que a norteou.”

O mesmo não se passa em relação a Mário Soares no que respeita ao crivo da análise contemporânea, visto que, além do próprio legado bibliográfico que Mário Soares deixa – uma cente-na de livros -, vários investigadores avançam em múltiplos ensaios sobre o protagonista.

É o caso de Joaquim Vieira, que publicou uma ampla e profunda bio-grafia sobre o político e que considera sobre o definitivo do seu trabalho o seguinte: “Nenhuma biografia é de-finitiva, por isso haverá certamente capítulos da vida de Soares ainda por escrever ou reescrever, Mas entendo que a sua carreira política foi de tal maneira pública que o essencial está fixado – e nem precisa de ser escrito, pois encontra-se na memória colectiva dos portugueses.”

Segundo o investigador, que contou com mais de uma dezena de entrevis-tas com o biografado, poucos assun-tos não foram aflorados como queria no seu trabalho: “Naturalmente, foi muito esquivo e agreste nos temas que tiveram a ver com financiamentos par-tidários ou com tráfico de influências, mas nunca encontrei um político que gostasse de falar dessas coisas com al-guém exterior ao seu círculo” .

Quanto ao facto de a história de Portugal ser diferente sem Mário Soa-res, refere: “Estou convencido de que no ano de 1975 – que determinou a his-tória do País até à actualidade – seria diferente sem Mário Soares. Foi o polí-tico que saltou para a cabeça do touro, aceitando o confronto com poderosas forças adversas; que forjou as alianças necessárias com militares moderados, com a Igreja, com a sócia-democracia europeia, com a administração norte--americana, incluindo a CIA. É claro

que recebera do eleitorado um manda-to, mas outro fosse e poderia não ter tido a mesma coragem. Depois disso, o contributo histórico de Soares não foi tão determinante, já que a integra-ção europeia consistiu num desiderato nacional.’

Quanto a Soares estar sempre à frente do seu temo ou ser antes um po-lítico hábil, Vieira considera: “Foi um político sempre muito atento ao ‘ar do tempo’, instintivo e intuitivo, cap-tando o essencial das tendências que eram as adequadas para a carreira po-lítica que entendia seguir. Há momen-tos em que essa intuição foi tão certei-ra que se pode interpretá-la como uma notável capacidade de antecipação.”

Por isso, não hesita em descrevê--lo como “um político ambicioso, com grande sede de poder e que cumpriu todos os desígnios que fixou para ele mais os dois ou três que fixou para Portugal (descolonização, democra-tização e integração europeia). Pode não parecer, mas foi um programa co-lossal, que Soares executou na íntegra com determinação e com fleuma abso-lutamente extraordinárias.”

Também o jornalista e professor de Comunicação Mário Mesquita está a publicar um volume que exibe o pen-samento e a acção política desde 1972, através de seis entrevistas (1972-1993) um epílogo já deste ano. Questionado sobre se o mito Mário Soares está cons-truído ou se a história irá recentrá-lo Mário Mesquita é claro: “As mitolo-gias políticas contemporâneas estão em permanente construção. Na pers-pectiva da história contemporânea de Portugal, Soares já é uma referência centrista, ou, se preferirmos, mode-rada, embora exista, oscilações con-soante as conjunturas. A construção da personagem política é uma obra, por definição, inacabada. Soares faz o possível para que o seu rasto histórico seja sobretudo baseado no seu teste-munho, mas ninguém, consegue ser o único biógrafo de si próprio por mais sinais que deixe à sua volta”. Acres-centa: “Ninguém pode ser em abso-luta ‘o político que quis’. Há sempre as circunstâncias que condiciona, ou apontam em determinados sentidos”.

Tendo acompanhado a vida polí-tica de Mário Soares, ao pedir-se que o defina em poucas linhas, Mesqui-ta responde: “Um pragmático, fiel a certos princípios. O contrário de um ideólogo, seguiu sempre a sua intui-ção, procurando captar os sinais do tempo.”

Voltando ao princípio, à conver-sa em que Mário Soares recordava os maus modos da senhoria da Boule-vard Garibaldi, perguntou-se-lhe qual era a impressão mais forte destes 90 anos. Estranhamente, não lhe salta o 25 de Abril de imediato, antes fala dos pais... E faz uma afirmação que sabe ser-lhe impossível cumprir: “Para mim a política acabou.”

JTM/Diário de Notícias

Em 26 de Janeiro de 1986, passa a ser o primeiro Presidente da República civil eleito directamente

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201420 JTM | ACTUAL

CHINA - IUm tribunal chinês condenou ontem oito pessoas à pena de morte, pela autoria de dois “ataques terroristas” na região de maioria mu-çulmana de Xinjiang. Cinco outras pessoas foram condenadas a pena de prisão perpétua e quatro outras a diversas condenações em cárcere.

CHINA - IIA obtenção de órgãos de presos executados - sem a permissão dos mesmos - para trans-plantes, uma prática muito criticada por or-ganizações de direitos humanos, acabará em 2015 no Continente chinês. “A partir de 1 de Janeiro, a China acabará com a sua depen-dência de órgãos de prisioneiros executados para transplantes, o que significa que as doa-ções serão sua única fonte de órgãos”, garan-tiu o médico Huang Jiefu, director do Comité de Doação de Órgãos e Transplantes.

TAIWANO departamento de Educação de Taipé, o Centro de Inovação Americano e a empre-sa norte-americana Microsoft anunciaram um programa de formação de um milhão de programadores informáticos em Taiwan num prazo de um ano. O programa prevê que dentro de uma semana tenham início aulas com 1.400 turmas para um total de 43.200 estudantes em Taipé que irão sendo renova-das e ampliadas até atingirem um milhão de programadores, disse o representante da Mi-crosoft na campanha, Larry Nelson.

HONG KONGJoshua Wong, um dos rostos do movimento pró-democrático em Hong Kong, anunciou ontem que interrompeu a greve de fome que mantinha há quatro dias para forçar o gover-no a avançar com mais negociações para a reforma política. “Sob forte insistência do mé-dico, parei a greve de fome”, afirmou Wong, que não comia há 108 horas, nas redes sociais Facebook e Twitter.

COREIA DO SULUm em cada quatro sul-coreanos viveu em situação de pobreza nos últimos três anos, segundo dados revelados pelo Serviço de Estatística do Governo, os quais expõem a desigualdade na quarta economia da Ásia e 14.ª do mundo. Um total de 25,1% dos sul-co-reanos viveu em situação de pobreza durante pelo menos um ano no período compreendi-do entre 2011 e 2013, segundo uma sonda-gem realizada pelo Serviço de Estatística, com base numa amostra de 17.000 lares em todo o país.

AUSTRÁLIAUm avião da companhia Qantas efectuou on-tem uma aterragem de emergência na cidade australiana de Perth depois de, rapidamente, ter descido mais de 9.000 metros, aparente-mente devido a problemas com o ar-condi-cionado, revelaram meios de comunicação locais. O avião, que realizava um voo entre o Dubai e Sydney, desceu dos 11.895 metros para os 2.745 metros em poucos minutos. A manobra decorreu de forma segura.

MARROCOSO ministro de Estado do Marrocos, o islamita Abdelah Baha, morreu no domingo após ser atropelado por um comboio em Buznika, a 40 quilómetros da capital Rabat, informou o Mi-nistério do Interior. O Governo não deu mais detalhes sobre as circunstâncias da morte de Baha e ressaltou que a Gendarmaria Real abriu “uma investigação imediatamente para deter-minar as circunstâncias exactas do acidente”.

VOLTA AOMUND

CHINA/TAIWAN

Aviso musculado para TaipéA China quer resolver o quanto antes o problema de Taiwan e “não exclui” o recurso à força, afirmou um general chines depois da derrota eleitoral do partido taiwanes no poder, favorável a uma aproximação a Pequim

A campanha anti-corrupção na China deu um histórico passo em frente, com o anúncio da

prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang, considerado até há pouco tempo um dos homens mais poderosos do país. Zhou Yongkang, 72 anos, é o primeiro ex-membro do Comi-té Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC) preso por cor-rupção desde a fundação da República Popular da China, em 1949.

Em Julho passado, a Comissão Cen-tral de Disciplina do PCC anunciou que estava a investigar Zhou Yongkang, mas especulava-se sobre se a actual li-derança teria força para enviar o caso para as instâncias judiciais e processá-lo criminalmente.

“A Suprema Procuradoria Popular abriu uma investigação sobre os suspei-tos crimes de Zhou Yongkang e decidiu prendê-lo de acordo com a lei”, anun-ciou a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

O Comité Permanente do Politburo do PCC, composto apenas por sete ele-mentos e liderado pelo secretário-geral do partido, o cargo político mais impor-tante do país, é a cúpula do poder na China.

Durante os cinco anos em que fez parte daquele órgão, até novembro de 2012, Zhou Yongkang supervisionou o aparelho de Segurança da China, in-cluindo policia e tribunais. Diz-se que dispunha de um orçamento superior ao das Forças Armadas.

Zhou Yongkang aderiu ao PCC em 1964 e fez grande parte da sua carreira no sector petrolífero, um dos mais ricos monopólios estatais. Antes de chegar ao topo do poder, dirigiu a organização do Partido na província de Sichuan, no sudoeste da China, e foi ministro da Se-

gurança Pública.Dezenas de antigos colaboradores e

familiares de Zhou Yongkang, entre os quais um filho, Zhou Bin, foram presos ao longo deste ano.

Zhou Yongkang “abusou do seu po-der para ajudar familiares, amantes e amigos a obter grandes lucros em negó-cios que causaram graves prejuízos ao património do estado”, disse a Xinhua, citando conclusões da investigação feita pela Comissão Central de Disciplina do PCC.

O antigo líder é acusado de ter acei-tado “elevados subornos” e de “des-vendar segredos do Partido e do país”.

Como outros líderes afastados por corrupção e abuso do poder, Zhou Yon-gkang foi também acusado de ter “co-metido adultério com um certo número de mulheres” e de ter “trocado o poder por sexo e por dinheiro”.

O combate à corrupção, conside-rado “uma luta de vida ou de morte” para assegurar a credibilidade do PCC e a sua permanência no poder, tem sido uma prioridade desde que o actual Pre-sidente, Xi Jinping, assumiu a chefia do Partido, há dois anos.

Xi Jinping prometeu “combater tan-to as moscas como os tigres”, numa alu-são aos altos quadros do PCC que du-rante muito tempo pareciam agir com total impunidade.

Um ex-vice-presidente da Comissão Militar Central, o general Xu Caihuo, e dezenas de outros quadros dirigentes já foram presos. A actual liderança chine-sa insiste que “ninguém está acima da lei”, tentando contrair a generalizada ideia de que “o primado da lei” ainda não é a regra e que em muitos aspectos “a China é governada por homens e não pelas leis”.

Xi Jinping, entretanto, está a emergir

CHINA

Campanha anti-corrupção derruba “tigre” poderosoAs autoridades chinesas prenderam Zhou Yongkang, antigo chefe da Segurança, considerado até há pouco tempo um dos homens mais poderosos da República Popular

como um dos mais fortes líderes chi-neses das últimas décadas. Já lhe cha-maram “Imperador Xi” e “Presidente Imperial”.

Detidos 482 suspeitos que fugiram da China

Entretanto, o Ministério de Segu-rança Pública informou que 428 suspei-tos de corrupção que fugiram da China para outros países foram detidos numa operação levada a cabo entre Julho e Novembro pelo governo chinês com outras nações.

As detenções envolveram 60 países, sendo que 32 suspeitos estavam evadi-dos há mais de uma década e 231 en-tregaram-se voluntariamente às autori-dades no âmbito da operação, segundo a agência de notícias Xinhua. A Europa ocidental, o Pacífico sul e África foram as principais regiões que colaboraram com a polícia chinesa na busca de eva-didos.

JTM com Lusa

A questão de Taiwan não vai ficar muito tempo sem solução”, disse o general Liu Jingsong, segundo declarações publicadas pelo jornal Global Times

na sua página de Internet em chinês.Taiwan – a ilha onde se refugiou o governo da antiga

República da China quando o Partido Comunista Chinês (PCC) tomou o poder no continente, há 65 anos – é vista por Pequim como uma província chinesa e não uma enti-dade política soberana.

“Não vamos renunciar absolutamente ao uso da força, ao recurso legítimo a meios militares quando necessário, essa é uma opção”, acrescentou o general Liu, antigo chefe do Instituto chinês das ciências militares. “Esta situação embaraçosa não pode continuar”, apontou.

O general advertiu ainda no Global Times que a China “não deve ter medo da turbulência”. Para Liu “pouco im-porta qual é o poder político em Taiwan, só há um cami-nho possível (para a ilha): trabalhar no desenvolvimento das relações pacíficas (com a China) e finalmente concreti-

zar a reunificação”.As suas declarações surgem menos de uma semana de-

pois da derrota do partido Kuomintang (KMT), no poder em Taiwan, face ao DPP, partidário da independência, nas eleições locais realizadas no fim de semana passado na Formosa. Nas 22 autarquias em disputa, o KMT, favorável ao diálogo com o Pequim, conquistou apenas seis.

As relações Pequim-Taiwan agudizaram-se entre 2000-2008, quando o DPP governou a ilha, mas após o regresso ao poder do KMT, há seis anos, entrou num período de de-sanuviamento sem precedentes. Pela primeira vez desde o final da guerra civil chinesa foram restauradas as ligações aéreas directas entre o continente e a ilha.

Ao contrário do DDP, o KMT reconhece que “só há uma China” no mundo e oficialmente Taiwan continua a identificar-se como “República da China” (sem o adjectivo “Popular”, usado pelo governo de Pequim).

JTM com Lusa

Zhou Yongkang estava a ser investigadohá vários meses

JTM | ROTEIRO 21 Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

Número de Socorro 999Bombeiros 28 572 222PJ (Linha aberta) 993PJ (Piquete) 28 557 775PSP 28 573 333Serviços de Alfândega 28 559 944Hospital Conde S. Januário 28 313 731Hospital Kiang Wu 28 371 333CCAC 28 326 300IACM 28 387 333DST 28 882 184Aeroporto 88 982 873/74Táxi 28 283 283Táxi 28 939 939Água - Avarias 28 990 992Telecomunicações - Avarias 28 220 088Electricidade - Avarias 28 339 922Directel 28 517 520Rádio Macau 28 568 333Macau Cable 28 822 866

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TEL: 28715732/63018939ANIMA

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CLUBE MILITAR DE MACAUAvenida da Praia Grande, 975, Macau

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CINETEATROS1 The Hunger Games - MockingJay - part I 14:30 • 16:45 • 19:15 • 21:30

S3 Rise Of The Legend (3D) - 19:00

TORRE DE MACAUHorrible Bosses 2 - 14:30 • 16:30 • 21.30

GALAXYTHEATER VÁRIOSRise of the Legend (3D) - 20:40 • 23:05 • 01:15

THEATER VÁRIOSHector And The Search For Happiness - 19:00 • 21:05

THEATER 6Horrible Bosses 2 - 23:10

THEATER 6Grace of Monaco - 21:15

THEATER VÁRIOSInterstellar - 12:40 • 13:00 • 15:40 • 16:10 • 18: 4019:15 • 21:45 • 00:50

THEATER VÁRIOSThe Hunger Games: Mocking Jay Part 1- 13:20 • 15:45 • 16:10 • 18:10 • 20:30 • 22:50 • 01:10

THEATER VÁRIOSDumb and Dumber to- 16:10 • 17:00 • 01:10

THEATER VÁRIOSDon’t Go Breaking My Heart 2 - 14:40 • 16:50 • 18:10• 19:00 • 21:10 • 23:20

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51 NGC12:30 Invasion Earth 13:25 Demolition Dynasty 14:20 King Fishers 15:15 Real Time Disaster 16:10 Disaster Earth 17:05 24 Hours In A&E 18:00 World’s Toughest Fixes 19:00 Russia’s Mystery Files 20:00 Beyond Magic with DMC 21:00 Tsunami: The Day the Wave Struck 22:00 Disaster Earth 23:00 Drugged 00:00 Beyond Magic with DMC

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Counting Cars 17:00 The Innovators: The Men Who Built America 18:00 Kings Of Restoration 18:30 Pawn Stars 19:00 The Pickers 20:00 Storage Wars 20:30 Storage Wars: Canada 21:00 Storage Wars 22:00 Storage Wars: Canada 23:00 Counting Cars 00:00 Storage Wars

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Liverpool vs Basileia

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201422 JTM | OPINIÃO

CHOVER NO MOLHADOJoão Figueira*

Virtudes em público, vícios em privado

Qual a fronteira entre génio e trabalho? Dito de outro modo: o que separa a inspiração da transpiração? No mundo globalizado e su-

permediático que habitamos o génio e os predes-tinados são-nos servidos numa bandeja de pronto--a-comer, sempre felizes e sorridentes, por norma bem cuidados, como se o que fazem e em cuja acti-vidade se distinguem não fosse resultado de muito empenho, trabalho, sacrifício, até privações.

Claro que no mundo do lazer, da aprendizagem lúdica e sem esforço, mas, ao mesmo tempo, com-petitivo e exigente como nunca, custa acreditar que tudo se possa resumir a uma característica de ta-lento inato, não obstante ser essa a imagem que é frequentemente passada.

Num capítulo bem interessante do seu best-seller “Outliers”, Malcolm Gladwell desenvolve uma tese muito curiosa centrada na “Regra das dez mil ho-ras”. A ideia não é de hoje, o livro já tem seis anos, mas o tema permanece actual. Sinteticamente, aquilo que o autor britânico que cresceu no Canadá e reside há vários anos nos Estados Unidos defende é que os melhores “trabalham muitíssimo mais” que todos os outros. Não nega nem mitiga que possa haver pre-destinados e que há características inatas que nos tornam a todos diferentes, mas o que Gladwell sus-tenta é que sem o trabalho esforçado e empenhado

não há genialidade nem génio que floresça.Esgrime, a seu favor, um estudo realizado nos

anos 90 do século passado, sobre instrumentistas da Academia de Música de Berlim, o qual conclui que embora todos tenham começado a tocar ainda na infância, a qualidade que os distingue na idade adulta tem unicamente a ver com a diferença de ho-ras que cada um praticou.

Tal constatação ganha um suplemento de consis-tência com a opinião e os estudos do neurologista Daniel Livitin, também citado por Gladwell, e se-gundo o qual, de desportistas a músicos, passando por escritores e outro género de profissionais, as pessoas consideradas prodígios têm nos bastidores da sua acção e actividade mais trabalho e entrega que todos os outros. Não é esse trabalho invisível, afinal de contas, que também encontramos em Ro-naldo, quando se sabe que treina mais que os com-panheiros e todos os dias procura superar-se a si

próprio?Quanto tempo demorava Hemingway a aprimo-

rar cada frase, a secar um parágrafo? quanto livros, quanta leitura (mesmo quando já cego tinham de ser outros a ler para ele), quanto trabalho interior levava cada conto de Borges até à derradeira linha? Quantas horas, quantos dias, quanto esforço tem dentro de si cada prato que José Avilez cria, ape-sar de nos surgir invariavelmente sorridente, feliz e confiante? Porém, quantas horas de trabalho foram necessárias para ter chegado agora ao panteão das duas estrelas Michelin, no seu restaurante lisboeta, Belcanto?

É ao olhar para o sucesso que me ocorre sempre a ideia jornalística - infelizmente pouco praticada nos dias que correm - de conhecer, de procurar saber o esforço e o trabalho de que o êxito e a genialidade são feitos. Essa é, a meu ver, a pergunta que rara-mente se faz e cuja resposta nunca, por isso, nos é mostrada. Tudo se resume e circunscreve a uns sor-risos felizes, como se, também ela, a felicidade, não resultasse do trabalho, do empenho e da inteligência que cada um coloca na sua construção. E sendo tão visível, de que cor é a felicidade, agora que conhece-mos o manual de instruções para ser génio?

* Professor de Jornalismo na Universidade de Coimbra e ex-residente em Macau.

Manual de instruções para ser génio

CALHAUS ROLADOSAntónio Marques da Silva*

Um dia destes, algures em Ma-cau, cruzei-me na entrada de um elevador com uma jovem

chinesa tremendamente bela e, como uso fazer com qualquer senhora, in-dependentemente da beleza e da ida-de, cedi-lhe a passagem, segurando a porta.

Como contrapartida recebi dela um sorriso rasgado que a tornou ain-da mais bonita. E, sinceramente, tive vontade de a presentear com um “hou leng” ou “piao liang”, que aquela be-leza me parecia vinda do Norte. Claro que me contive.

Mas, este encontro imediato, deu--me o tema, o mote e a reflexão para este meu texto. Isto porque anda por aí na boca de alguns (mais do que era desejável), a reivindicação de que seja

criminalizado como crime público o “assédio sexual”, sem contudo dize-rem sequer o que entendem como tal!

Ora, por definição, assédio sexual é todo o comportamento indesejado de carácter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objectivo de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, de-gradante, humilhante ou desestabili-zador (www.cite.gov.pt).

Logo distinto de um inofensivo “piropo” do género: “Parabéns, você é uma mulher muito bonita”.

Assim sendo, no que se refere ao assédio sexual, o comportamento tem de ser indesejado, constrangedor ou capaz de afectar a dignidade da “ví-tima” e, como tal, só o destinatário pode aferir (nunca terceiros) se deter-minado comportamento é indesejado e (ou) afecta a sua dignidade. Consi-derar (sem sequer ser necessário tra-zer à colação o supremo interesse da vítima quanto à reserva da sua inti-midade) crime público todos os tipos de assédio sexual, pode levar ao extre-mo de, em plena rua, alguém elogiar educadamente a beleza de outrem, ser correspondido e, mesmo assim, um qualquer despeitado ou preterido,

apresentar queixa crime contra o ga-lante e este vir a ser incomodado pelo Ministério Público.

Por isso, é necessário ser muito cauteloso quando se legisla, sobretu-do em matéria criminal, porquanto criminalizar dever ser a última ratio. Mas, sobre esta questão da feitura das leis, escreverei na próxima semana.

Na verdade, o direito para ser rec-to e justo tem de ser, sobretudo, bom--senso. E, como disse há dias aqui em Macau um alto dirigente do Governo Central, as opiniões da população não têm de ser (todas) obrigatoriamente acolhidas pelo legislador. Até porque opinião pública não é a mesma coisa que opinião publicada.

*Jurista. Passa a escrever neste espaço às terças-feiras.

O medo da velhice é o de não se ser capaz de fazer tudo aquilo que se quer. Ilusão... O mais comum a acontecer é não ter mais desejo de o fazer.

Parabéns, Mário Soares, o velho, 90 anos, e dono do seu desejo. A vontade dos outros aplaudimo-la ou negamo-la, segundo formos amigos

ou adversários. Ora, ela é sempre vontade. É perseverança se for por uma boa ( a nossa)

causa; é teimosia se for por uma má causa. Mas sempre vontade – desejo, gana, empenho – qualidade rara que ainda mais raramente chega a velha.

Parabéns, Mário Soares, o velho que se empenha e quer. É legítimo criticar muita coisa em Soares, prudência, sabedoria, razão, até

nessa idade que se diz que as traz por arrasto. Sim, é legítimo ( nem sempre cer-to, mas não é isso que aqui me traz) considerar que lhe dá para ser desbocado.

Mas no velho Soares, mesmo quando embarca em exageros (“mil vezes os exageros a passar os dias com os netinhos e a ver novelas”, escreveu ontem Filipe Nunes Vicente, uma das nossas mais lúcidas escritas e que não é um des-lumbrado soarista), mesmo quando talvez diga o que não deve, só de o dizer

Mário Soares, o velho

UM PONTO É TUDOFerreira Fernandes

comove. Porque lhe podem escrutinar as incoerências, é fácil. Menos uma: nunca en-

colheu os ombros. A esquerda ( Portugal) deve-lhe a luta ao Estado Novo, a direita ( Portugal), a luta ao comunismo. Todos, hoje, lhe devemos o não morrer antes de morrer.

É fácil chegar a velho, basta morrer tarde. Difícil é estar vivo tanto tempo.

JTM/DN

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | OPINIÃO 23

ANA PEREZ NA AL:É PRECISO DAR MAIS À SAÚDEA secretária-adjunta, Ana Maria Pe-rez disse ontem que a “actuação dos serviços e organismos que operam na área social é, só por si, insuficien-te para resolver de forma satisfató-ria todos os problemas de natureza social da comunidade”. Ao intervir na Assembleia Legislativa duran-te a discussão das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 1995, a secretária-adjunta das Saúde e As-suntos Sociais referiu que o bem--estar “dos indivíduos e das famí-lias depende da acção conjugada de múltiplos factores”. Esses factores precisou – vão desde aspectos am-bientais aos socioeconómicos, dos estilos de vida à existência e funcio-namento de serviços e organismos especialmente preparados para a acção social”. A secretária-adjunta reafirmou que “somente uma actua-ção multi-sectorial, estrategicamen-te, apontada para a prossecução de bons níveis de qualidade de vida, se poderá atingir resultados satis-fatórios, porquanto ambiente, edu-cação, saúde, emprego, habitação e segurança social são, como se sabe, ingredientes vários com que se pro-duz o bem-estar social”. A respon-sável pela área da Saúde e Assuntos Sociais da Administração de Macau referiu também que “nesta fase final do período de transição é mais im-portante aprofundar e aperfeiçoar os sistemas instituídos do que neles introduzir profundas reformas - as reformas exigem tempo para serem assimiladas e o tempo escasseia”. No campo da saúde para 1995, Ana Perez defendeu que as Linhas de Acção Governativa pretendem pri-vilegiar as acções dirigidas à pre-venção da doença. “Perfilando o princípio de que, em matéria de saú-de, é prioritário evitar a doença, sem descurar, contudo, a existência dos recursos necessários ao seu trata-mento, julga-se dever ser esta a área da Saúde - a prevenção da doença e promoção da saúde - aquela a que deverá ser dada maior relevância no decorrer do próximo ano”, referiu. Para actuar na prevenção da doença, Ana Perez acha necessário colocar me prática um esforço de captação da população para os programas de saúde dos Centros de Saúde do ter-ritório, alem do desenvolvimento de novas acções de sensibilização para a população que se dirige aos Cen-tros.

O silêncio e suas mensagens

NOTAS SOLTASCarlos Frota*

Nelson Mandela morreu há um ano. E como todos os gigantes da História, só res-

tam as estátuas, eventualmente os feriados - e o ritual das comemora-ções anuais, evocando-se, a partir de agora, pelo brevíssimo tempo das cerimónias oficiais, a sua exis-tência, a sua mensagem, o seu pas-samento.

Mas a vida continua... Na perda sem remédio daqueles que foram muito maiores do que nós, sobres-sai a ideia de que tais contributos são únicos e portanto irrepetíveis.

Bem podem, pois, os seus su-cessores ou próceres, na África do Sul ou em qualquer outro país, fa-zer belos discursos de homenagem a Mandela. Se não tiverem a mesma grandeza de alma, a mesma entre-ga, a mesma generosidade, esva-ziam o herói, reduzindo-o à mera dimensão do ritual.

Um novo movimento dos direitos cívicos ?

28 de Agosto de 1963, no Lincoln Memorial.

Fotografias a preto e branco di-zem-nos que o tempo passou. E no entanto...

I have a dream! As palavras de Martin Luther King e o seu sonho de uma América justa. O discurso visionário do grande líder impres-siona sempre.

I have a dream! E a voz ressoa ain-da nas consciências, como as pala-vras de Mandela, noutro contexto histórico, mas pela mesma causa.

Sessenta anos depois, a América de Obama agita-se pela brutalida-de da polícia contra elementos da comunidade negra, presos ou mor-tos em circunstâncias que indiciam profundos preconceitos que não de-sapareceram.

Porque não é só falta de prepara-ção profissional que está em causa. É preconceito. Que em seis décadas se transmitiu a duas gerações de americanos, apesar dos discursos, das promessas eleitorais, apesar das leis. E apesar de ter sido eleito por duas vezes, ao mais alto cargo do Estado, o primeiro afro-americano.

A dois anos do fim do segundo e último mandato de Obama, a comu-nidade negra sai à rua para exigir uma mudança de comportamentos, o que o mesmo é dizer, uma mudan-ça de percepção de parte da Amé-rica, em relação a outra parte da América. Mas os preconceitos são os últimos a morrer...

Entretanto o poder político, sem-pre reactivo e pouco inovador, co-meça a mexer-se...E no Congresso levantam-se as vozes dos que pe-dem mudanças.

É, finalmente, um tomar nota do desassossego das ruas. Como a re-conhecer lentamente a vaga de fun-do que vem de há sessenta anos.

I have a dream! É, em grande par-te ainda, infelizmente, um discurso por cumprir.

Uma justiça frágil Os juízes do Tribunal Penal In-

ternacional deliberaram dar por extinta a investigação contra o pre-sidente queniano Uhru Kenyatta,

por incapacidade de produção de provas, suficientemente incrimina-tórias, por parte da acusação.

Perante o ultimato, por parte dos juízes, de que provasse a razoabili-dade da incriminação ou a abando-nasse de vez, alegou aquela a persis-tente obstrução à justiça, por parte das autoridades do Quénia, não dis-ponibilizando documentos pedidos e intimidando testemunhas.

Os analistas tiram já algumas conclusões sobre que importa reflec-tir.

Desde logo, a de que nada ficou provado, o que é diferente de poder dizer-se que a inocência foi reconhe-cida. E como condenar é impossível, com base em meras suspeitas, o pro-cesso foi extinto.

A segunda é que se partiu da pre-missa da colaboração com o Tribu-nal por parte das autoridades nacio-nais, contra o respectivo líder - uma suposição pelo menos ingénua, para não dizer mais.

A terceira é de que dificilmente se poderá produzir prova testemu-nhal em casos análogos, estando as testemunhas sujeitas à autoridade dos Estados de que são oriundas. Nem são elas imunes às pressões de toda a ordem nem, em situações limite, está garantida a sua própria segurança física.

Conclui-se assim que o Tribunal se estreia com um enorme falhanço, no que constituiu o primeiro proces-so iniciado contra um chefe de Esta-do, no exercício de funções. A comu-nidade internacional não avançou pois um milímetro. no que poderia constituir uma séria advertência à discricionariedade dos poderes na-cionais.

Persiste pois a ideia de que, por agora, só quem deixa o poder ou o perde fica sujeito à justiça. O que não pode deixar de continuar a ser considerada uma justiça dos fortes contra os fracos.

Em sentido inverso, de defesa daquele órgão supranacional, pode dizer-se que a acção penal só pode ser prosseguida com bases sólidas, o que é garantia dos indiciados em futuros casos... Bastará isto para sal-vaguardar a credibilidade do TPI? O futuro o dirá.

As estátuas gregas de Lord Elgin

Têm dois mil e quinhentos anos de idade e pertenceram ao Partenon.

Pertencem ao acervo do Museu Britânico e vão a caminho da Rússia, para serem exibidas ao público.

Eram de Lord Elgin (que só agora me é apresentado, o que só revela a minha ignorância) - que as comprou legitimamente na pátria helénica e as doou mais tarde à instituição.

O director do museu de Londres pensou que as autoridades gregas iam bater palmas de contentes, por alguém estar a fazer publicidade

gratuita ao seu riquíssimo patrimó-nio histórico.

Enganou-se totalmente o senhor director. O chefe do governo grego ficou furioso e fê-lo saber. Porque a Grécia, como qualquer outra grande civilização, continua a exigir, sem sucesso (como é o caso do Egipto, entre outros) o retorno das valiosís-simas peças de arte, levadas como troféus, dos seus museus e palácios, pelos invasores de todas as épocas, no que constitui uma disputa diplo-mática, insolúvel para todo o sem-pre, creio bem.

Os invasores e não só. Também os gatunos profissionais, com o seu comércio ilícito de peças de arte, classificadas como património ina-lienável dos países. Apesar de leis nacionais draconianas, a venda clandestina deste tipo de “mercado-ria” continua a prosperar.

Mas os sindicatos do crime não têm ainda, ao que se julga saber, re-presentações diplomáticas, junto de quem reclamar...

As opiniões do Dr. Kissinger

Confesso que na altura (Março deste ano) não dei a devida atenção a um artigo do antigo Secretário de Estado americano Henry Kissinger que, por ser totalmente a contra--corrente, merece voltar a ler-se.

Reportando-se às tensões en-tre os Estados Unidos e a Europa, por um lado, e a Federação Russa, por outro, a propósito da Ucrânia, Kissinger escreveu há tempos um artigo no Washington Post onde de-fende uma política externa dirigida a Moscovo que é fortemente inspi-rada nos ensinamentos que retirou da Guerra Fria.

Kissinger esteve muitos anos em contacto com os dirigentes do Kre-mlin, sobretudo através do embai-xador Anatoly Drobynin que serviu por duas décadas na capital ameri-cana.

O que nos diz fundamentalmen-te Kissinger?

Desde logo, que diabolizar Mos-covo não é ter uma política para com a Rússia, mas o reconhecimen-to de que essa política não existe.

Conclusão: é preciso formular os princípios orientadores de um novo pensamento político, nesta matéria, imposto pelas novas circunstâncias.

E em que deve repousar tal pen-samento?

No reconhecimento dos interes-ses da Federação Russa e na neces-sidade de criar pontes, em vez de focos de crispação.

Deve dizer-se, desde já, que as posições de Kissinger foram critica-das, pelas supostas cedências que o diplomata veterano faz àquilo que é maioritariamente considerado como violações claras do Direito por parte do Kremlin.

Mas Kissinger lembra a neces-sidade da Ucrânia não integrar a NATO e de lhe ser reservado um es-tatuto de alguma neutralidade, tipo Finlândia. Tarde demais?

* Primeiro Cônsul-Geral de Portugal em Macau. Docente

da Universidade de S. José.

• • • HÁ 20 ANOSIn “Jornal de Macau”

e “Tribuna de Macau” 9/12/1994

Dito

“[Os novos Secretários] sabem que vivemos cinco anos cruciais da RAEM e que o seu desempenho poderá moldar o futuro das novas gerações. Em tom de metáfora culinária, nunca tão pesadas pastas foram digeridas pelos Secretários em Macau. Esperemos que façam uma boa digestão”

Carlos Morais José, in “Hoje Macau”

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201424 JTM | OPINIÃO

NESTE LUGARHelder Fernando*

Limpar as ervas daninhas1. Está a chegar, aos 15 anos de

RAEM, o novo Governo de Ma-cau. As principais peças já andam

há algum tempo a trabalhar, garantem--me que sem horas e sem descanso, no sentido de recompor o que não batia certo e de limpar o que estava demasia-do sujo. As ervas daninhas.

Só podemos todos desejar a melhor sorte, a melhor inteligência e eficácia para combater a displicência contagio-sa, a boçalidade dominante, o oportu-nismo vassalo e viral.

2. Até se pode dizer que este é o dia de Florbela Espanca. Não é vulgar alguém ter nascido numa data,

neste caso a 8 de Dezembro, e ter como que decidido morrer precisamente na mesma data e na mesma hora anos de-pois. Aconteceu com esta poetisa alen-tejana nascida em Vila Viçosa no ano de 1894 - no tempo de muitas vergonhas de estado, incluindo o registo oficial de filhos ilegítimos, como foi o seu caso, filha de Antónia da Conceição, “cria-da de servir” e do respectivo “patrão e senhor” João Maria Espanca - fale-cendo precisamente 35 anos completos depois, vítima de edema pulmonar, na versão do óbito assinada, diz-se, por um carpinteiro, ou por mistura calcula-da de barbitúricos, o que para muitos é considerado um suicídio premedita-do. Relacionados com o nascimento de Flor Bela (nome de baptismo) e de seu único irmão, Apele Demóstenes, vítima de acidente aéreo em 1927, e da relação indestrutivelmente afectiva entre os ambos, existem imensos enredos, fan-tasiosas histórias.

Ciclo perfeito unindo a vida e a morte.

Há muitos anos fui destacado para prolongado trabalho de reportagem em

Évora, ainda no tempo em que se mos-travam enfeiadas muitas belas cidades de Portugal. Era a minha primeira vez naquela cidade, creio que em 1978. De-zembro frio, ventos venoso a entrar-nos pelo corpo, chuva, lama. Naquela épo-ca as ajudas de custo dos simples jorna-listas da rádio pública portuguesa não davam para refeições que fossem além de sandes de torresmos nem para um colchão de palha em vão de escada com imitação de casa de banho colectiva e imunda ao fim do corredor. Era assim e não nos passava pela cabeça que deves-se ser diferente para nós.

E se éramos, muitos de nós, reivin-dicativos!

Donde vem essa voz, ó mar amigo...... Talvez a voz do Portugal antigo,Chamando por Camões numa saudade!

Bastava olhar para os rostos, o cor-po e as mãos daqueles trabalhadores agrícolas, alentejanos e ribatejanos, das então UCP’s, Unidades Colectivas de Produção e Cooperativas, dar umas voltas de reconhecimento e ver onde e como viviam, o que auferiam, as horas e horas de cansaço diário, ouvir deles relatos de vidas, as mesmas explora-ções, amarguras, humilhações, deses-peros, perseguições, prisões e mortes, vindas de gerações e gerações anterio-res. O respeito, a profunda atenção com que, naquelas jornadas, ouviam falar e debatiam as questões relacionadas com

a estrutura de produção, diversificação das culturas, melhoramentos fundiá-rios e sociais, enfim do seu modo de vida. Praticamente ao ar livre, grande parte daquelas centenas de trabalha-dores rurais não cabia no abrigo de um improvisado barracão sem paredes, apenas a imperfeição de algumas colu-nas em madeira segurando um tecto de zinco.

Tinha sido um ano português re-cheado de instabilidades pouco pró-prias do espírito natalício. Era o ano que antecedia a vitória eleitoral da AD (coligação de direita, a mesma que hoje está no poder). 1978 assiste à formação e queda dum governo de iniciativa pre-sidencial de Eanes, chefiado por Nobre da Costa, com programa rejeitado no Parlamento, a que se seguiu o de Mota Pinto que alguns meses depois também não consegue apoio parlamentar, sendo demitido pelo Presidente da República. Segue-se Maria de Lurdes Pintassilgo que consegue levar o País até às eleições de 79 que dão a vitória à já aqui mencio-nada Aliança Democrática.

O ano de 1978 ferveu também lá fora. A eleição do sorridente Albino Lu-ciani como Papa João Paulo I, foi dife-rente de tudo até ali, começando logo pela recusa em ser coroado da forma pomposa tradicional, e logo de início prometendo mudanças profundas no Vaticano, incluindo a revisão da Cúria, protagonizar o papel das mulheres na igreja, varrer ditas negociatas internas, lavagens de dinheiro, principalmente as alegadamente feitas pelo IOR, o Ins-tituto para Obras Religiosas e o Banco Ambrosiano, declarado falido em 1982, um dos principais bancos privados ca-tólicos italiano, cujo principal parceiro era o Banco do Vaticano. Estes e outros desejos do novo Papa, João Paulo I, ter-

minaram abruptamente no instante da sua muito misteriosa morte 1 mês de-pois do início de funções.

3. Onde foi dar Évora e o Alentejo. Ou o tanto que podia ter trazido a esta crónica escrita ontem em

Macau, guiado pela poesia de Florbela Espanca, mesmo não sendo eu florbe-liano - por falta de competência. Admi-ravelmente diz a sua voz que “ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens, morder como quem beija”. À distância do tempo e do espaço, vejo aquele busto a Florbela (existe outro em Vila Viçosa), erguido num jardim públi-co, onde ela se sentava cismando talvez poema, talvez o sonho, utopia sempre. Foi nessa primeira metade dos anos 30, no meio de intensa polémica e ferozes ataques ao Grupo Pró-Évora, vindos do lado pior dos afirmados cristãos e ca-tólicos, que se destacou António Ferro, jornalista e repórter viajado – que entre-vistou Mussolini, Hitler, Primo de Rive-ra, e dois anos depois, em 1932, dirigiu o Secretariado da Propaganda Nacional - ao defender corajosamente a home-nagem póstuma a Florbela Espanca, dinamizando a subscrição pública que permitiu a construção da escultura sob projecto de Diogo de Macedo, somen-te possível de inaugurar em 1944. Fica a dever-se bastante a António Ferro a existência desse busto numa das capi-tais da quente terra do Cante, do cantar colectivo sem instrumentos, agora ofi-cialmente Património Cultural, Imate-rial da Humanidade. Há muito que o era.

Um símbolo real e identificador, uma enorme fonte de inspiração.

* Escreve neste espaço às 2as feiras, hoje excepcionalmente devido ao feriado.

O camarada Bodo Ramelow é desde há três dias ministro-presidente da Turíngia, um dos estados da Alemanha que até à reunificação

de 1990 pertenciam à RDA. É também o primeiro go-vernante comunista na nova Alemanha. E tudo gra-ças ao apoio dos sociais-democratas do SPD e de Os Verdes, o que quebra um tabu e deixa no ar a hipótese de um dia em Berlim haver alternativa de esquerda à democracia-cristã de Angela Merkel.

Quem não gostou nada desta aliança inédita foi a própria chanceler, criada na RDA; e ainda menos o presidente Joachim Gauck, que como pastor lutera-no foi opositor ao regime imposto pelos soviéticos na metade oriental da Alemanha ocupada em 1945.

A verdade é que a democracia alemã pode ganhar com esta aparente normalização do Partido da Es-querda 25 anos após a queda do Muro de Berlim. E Ramelow não só não tem culpa do que foi o regime de Walter Ulbricht e Erich Honecker, como pode re-lembrar que Karl Marx, além de ser alemão, foi um filósofo, não um ditador.

Se o Partido de Esquerda, o Die Linke, é ainda vis-to como o herdeiro do antigo partido SED da RDA, a verdade é que há uma década que integra dissidentes

Poderá a Alemanha voltar a ter comunistas no poder?

TRIBUNALeonídio Paulo Ferreira

do SPD, seguidores desse Oskar Lafontaine que foi ministro da Economia até bater com a porta irritado com as reformas pró-mercado do chanceler Gerhard Schroeder. Graças a essa fusão, começou a obter re-sultados no Ocidente, mesmo que continue a ser no Leste o grosso do apoio. Em legislativas chegou já a ter 11%, mas em 2013 ficou-se pelos 8%, o que lhe dá o estatuto de quarta força do Bundestag atrás dos cristãos-democratas da CDU e do SPD (coligados) e dos verdes.

O próprio Ramelow está longe de ser um antigo aparatchik ou mesmo um reformista do SED, como foi Gregor Gysi, o rosto mais célebre do Die Linke. Sindicalista no Hesse, mudou-se depois da queda do Muro para o Leste, movimento contra a maré. Na Tu-ríngia dedicou-se a organizar os sindicatos, ganhou protagonismo com uma greve contra o encerramento

de uma mina e acabou a militar no Partido de Esquer-da, que nas recentes reginais teve 27%, ultrapassando os democratas-cristãos.

Todos reconhecem a Ramelow, de 58 anos, capa-cidade para cativar o eleitor, oferecendo creches gra-tuitas ou diques contra as cheias. É também respei-tado pela coragem para enfrentar o próprio partido, como quando discordou de um programa demasiado crítico da região. Afinal, o currículo comunista não o impede de se apresentar como um cristão protestante capaz de citar a Bíblia em defesa dos pobres.

Diz o novo ministro-presidente que os três parti-dos de esquerda são 80% compatíveis. A nível regio-nal pode chegar, mas no plano nacional é pouco. Mais do que a herança da RDA, que o Die Linke já várias vezes condenou, é a política externa o problema. Como poderá um dia o SPD governar com um aliado que defenda a saída da NATO?

A política alemã tem, porém, mostrado que os ta-bus são para ser derrubados: afinal, Joschka Fischer era dirigente dos verdes, partido pacifista, mas foi com ele como ministro dos Negócios Estrangeiros que em 1999 a Alemanha bombardeou a Sérvia.

JTM/DN

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | OPINIÃO 25

Macau - do “1-2-3” ao 25 de Abril

FALAR DE NÓSJorge A. H. Rangel*

• • • CARTOON • • •

JTM/DN

“O tempo a todos vence, pela morte, pela mudança de gerações e pelo esquecimento, a menos que fiquem

registos dos conceitos, das intenções e dos factos”

General Garcia Leandro, na introdução a “Macau nos Anos

da Revolução Portuguesa (1974-1979)”

No artigo anterior, pudemos apreciar o re-lato de António Miranda da Rocha (“A Reserva Naval em Macau”, AORN, 2013)

sobre os incidentes que, nos primeiros dias de Dezembro de 1966, abalaram Macau. Seguiram--se fortíssimas pressões, também identificadas naquele relato.

Exigências formuladas

O autor resumiu desta forma as duras exigên-cias então apresentadas e satisfeitas:

“Mais tarde, ocorre a aceitação pelas Autoridades Portuguesas das condições impostas pelo Governo Provincial de Guangdong – através de O Cheng Peng – e por uma comissão de representantes localmente eleita, como única via realista para solucionar a crise (realce para: pagamento de cerca de dois milhões de patacas; exoneração de funções e regresso a Lisboa dos ‘principais culpados’, ou seja, do Comandante Mili-tar Mota Cerveira, do Comandante da P.S.P. Galvão de Figueiredo, do Segundo Comandante da P.S.P. Vaz Antunes e do Administrador interino do Concelho das Ilhas, Rui de Andrade; entrega à R.P.C. de sete agen-tes nacionalistas da Formosa capturados em águas territoriais pela Marinha Portuguesa, através da Po-lícia Marítima e Fiscal, em Junho de 1963, acusados de utilizarem Macau como base para incursões arma-das e sabotagens no interior da R.P.C.; encerramento da ‘Associação Geral dos Operários’ e da ‘Associação Geral dos Refugiados Chineses Residentes em Ma-cau’, organizações dos nacionalistas da Formosa e do Partido Kuomintang de Chiang Kai-Check). Tudo isto configura uma situação de visível debilidade do poder exercido pelo Estado Português e de consequente re-forço do papel desempenhado, directa e indirectamen-te, pelas instituições comunistas chinesas em Macau.

No entanto, o pragmatismo da posição portuguesa aliado à prudente paciência dos governantes e autori-dades de Macau fizeram com que a bandeira portugue-sa continuasse a flutuar no Território. Por fim, assina-le-se que a crise de 1966/67, dando origem a poderosas movimentações de massas e envolvendo a intervenção de instâncias governamentais chinesas, prolongar-se--ia muito para além do final da década de sessenta, com consequências em larga medida irreversíveis.”

Os acontecimentos na visão de Garcia Leandro

O General Garcia Leandro, que foi Governa-dor de 1974 a 1979, também nos proporcionou, no seu livro “Macau nos Anos da Revolução Por-tuguesa (1974-1979)”, publicado pela Gradiva em Fevereiro de 2011, a sua visão sobre aqueles acontecimentos e seus reflexos na gestão pública do território:

“As sucessivas revoluções internas que Mao foi desencadeando na China atingiram o seu zénite com a ‘Revolução Cultural’, com consequências graves e violentas em Hong Kong e Macau, em 1966 e 1967.

A 25 de Novembro de 1966, chegou a Macau o governador Nobre de Carvalho. Poucos dias depois, viu-se envolvido na crise do ‘1-2-3’, a mais grave que abalou Macau no século XX e que foi, sem dúvida, o maior levantamento social jamais vivido no Território.

Com o apoio político da China maoísta radical, os guardas vermelhos entraram em acção, manifestando--se contra a presença portuguesa e provocando distúr-bios públicos, recorrendo à violência física e tentando ocupar edifícios oficiais. Em Hong Kong aconteceu o mesmo.

O novo governador, sem qualquer responsabilidade no que se passara antes da sua chegada e no que veio a ocorrer, foi abandonado pelo Governo de Lisboa e teve de resolver sozinho a situação, tendo a Administração Portuguesa em Macau sido muito humilhada. De um modo que, hoje, é difícil de acreditar!

Em Lisboa, os jornais iam preparando a opinião pública para o pior, chegando mesmo a noticiar «gra-ves acontecimentos»... que não tinham ocorrido. Toda esta crise está bem explicada e detalhada no livro de José Pedro Castanheira ‘Os 58 Dias Que Abalaram Macau’.

A autoridade da Administração só se começou a recompor, de forma difícil e lenta, a partir de 1970. Nobre de Carvalho, que foi ganhando a confiança da população local, teve o seu poder sempre muito condi-cionado pelos incidentes do ‘1-2-3’, em consequência deste imbróglio, criado pela situação política local e pelas dificuldades de gestão em Lisboa.

Nobre de Carvalho viria a ser apoiado pelos em-presários locais e de Hong Kong e concentrou todas as suas capacidades na construção da primeira pon-

te Macau-Taipa, inaugurada em Outubro de 1974. É ainda durante a sua Administração que se concreti-zam dois grandes investimentos privados, com muito significado na época: o Hotel Lisboa, da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, em 1970, e o Palácio da Pelota Basca (Jai Alai), em 1974.

Quase no final do mandato de Nobre de Carvalho, no segundo semestre de 1973, viria a ocorrer o ruir brusco e descontrolado da Bolsa de Hong Kong e, em Outubro do mesmo ano, Macau e Hong Kong seriam profundamente abalados pela primeira grande crise mundial do petróleo. Em 1974, a situação agravou-se com a revolução portuguesa de 25 de Abril, que veio pôr, novamente, tudo em causa. Os responsáveis locais e a população foram apanhados de surpresa e o Go-verno de Macau só veio a reconhecer a nova situação política de Portugal a 29 de Abril...

Acontece que o Conselho Legislativo dera, em 22 de Abril, a sua concordância ao governador para ser enviada uma mensagem de apoio e confiança ao profes-sor Marcelo Caetano. Com os acontecimentos do dia 25, caiu-se num impasse, não sendo fácil dar apoio à nova situação que contrariava completamente a linha de orientação anterior. No entanto, no dia 29, seguiria novo telegrama de apoio à revolução, contra a opinião coerente da dra. Graciete Batalha. (Este episódio é ex-plicado num outro capítulo do livro).

Logo nos primeiros dias, sucederam-se os escânda-los, publicados diariamente na imprensa. A censura (nunca tinha existido para os jornais em língua chi-nesa) terminara para a comunicação social portugue-sa. E levantaram-se, naturalmente, muitas dúvidas quanto ao futuro de Macau.”

É indispensável a leitura do livro de Garcia Leandro para se conhecer a situação aqui vivida imediatamente antes e após o 25 de Abril de 1974, bem como os desafios enfrentados em circunstân-cias extremamente difíceis.

O General Nobre de Carvalho exerceu as al-tas funções de Governador ao longo de oito anos (1966-1974), entre duas revoluções cujos reflexos foram de todo inevitáveis no território: a “revo-lução cultural” na China e a revolução do 25 de Abril em Portugal. Nobre de Carvalho partiu após a inauguração da primeira ponte que ligou a cidade de Macau à ilha da Taipa, em Outubro de 1974, sendo escolhido para o substituir o jo-vem Major José Eduardo Garcia Leandro (1974-1979). Foi ele o primeiro dos seis governadores com quem trabalhei em Macau, ao longo dos úl-timos 25 anos da Administração Portuguesa.

* Presidente do Instituto Internacional de Macau.

Escreve neste espaço às 2.ªs feiras, hoje excepcionalmente devido ao feriado.

Terça-feira, 9 de Dezembro de 201426 JTM | PUBLICIDADE

Lei Kin – De mecânico de automóveis a investigador científicoCom perseverança tudo se alcança. Lei Kin, era de família pobre e devido à situação económica da família,

não conseguia ir à escola secundária e tinha de fazer trabalhos de torneiro numa garagem. No entanto, com base numa vontade indomável e na determinação em prosseguir os seus estudos, ele escreveu uma vida lendária e extraordinária. Dez anos depois de estudar, a tempo parcial na escola nocturna, terminou os cursos de ensinos secundário e superior, e mais tarde prosseguiu os seus estudos de mestrado e doutoramento na qualidade de estudante a tempo integral. Posteriormente, começou a trabalhar na área da investigação científica.

Voltou a estudar e começou em simultâneo uma vida de estudo e trabalho

Lei Kin nasceu numa família de classe média-baixa em Pequim, depois de acabar o ensino primário, emigrou para Macau, acompanhando a irmã, o irmão gémeo e os pais. Tendo em conta as dificuldades financeiras da família, tinha que trabalhar, embora na altura tivesse apenas treze anos. Quando era aprendiz de manutenção na garagem, todos os manuais dos carros importados eram escritos em inglês, estimulando a sua determinação de voltar a estudar. Portanto, inscreveu-se na Escola Seong Fan para aproveitar o tempo livre durante a noite.

Aos vinte anos, tornou-se então aluno do primeiro ano do ensino secundário geral. Saía do serviço às seis da tarde, ia rápido para casa de motocicleta, jantava qualquer coisa e saía logo, para chegar à escola às sete horas. Regressava a casa, já depois da meia-noite. Nem toda a gente conseguia viver assim. Ao fim de seis anos de estudo, apenas seis colegas da turma receberam o diploma de graduação, mas segundo os seus cálculos aproximados, foram quinhentos ou seiscentos os estudantes com quem tinha estudado. O seu esforço trouxe-lhe, entre outros, o Prémio Governador de Macau, a Bolsa de Ma Man Kei e a Bolsa da Associação dos Antigos Alunos da Escola Seong Fan.

Encontrou o seu orientador e entrou na área da investigação científicaFoi o único, dos seis que receberam o diploma de graduação do ensino secundário

complementar, que escolheu fazer o doutoramento e entrar na área da investigação científica. Embora estivesse determinado a estudar, as dificuldades financeiras da família, de novo, o impediam. A única saída para ele era “trabalhar para estudar”. Em 2002, tornou-se estudante do 2.º curso nocturno da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e frequentou o curso de Informação Electrónica. Obteve notas excelentes na universidade e foram-lhe atribuídos várias vezes o “Prémio de Estudante Excelente da Faculdade” e uma bolsa de estudo. Entretanto, o mais importante e precioso para ele não foram os prémios nem a fama obtidos, durante os quatro anos de licenciatura, mas o ter conhecido o professor Qi Dongxu que, posteriormente, se tornou seu orientador no mestrado. “Foi ele que estimulou o meu forte interesse pela Ciência, e este foi o começo do meu entusiasmo na busca do conhecimento”, disse Lei Kin.

Concentrou-se em estudar e alcançou o sucessoPara aproveitar o tempo e a energia para lutar pelos seus ideais

académicos, saiu da garagem, onde tinha trabalhado durante catorze anos. Embora tivesse passado no exame para funcionário público, no período da licenciatura, desistiu do trabalho e tornou-se estudante a tempo integral. Com intenção de incentivar o seu estudo e trabalho de investigação científica, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau atribuiu-lhe uma bolsa de estudo e reduziu para metade a sua propina do curso de doutoramento. Com o incentivo de professores e colegas, Lei Kin investigou durante muitos anos, no laboratório, fosse Inverno ou Verão, os algoritmos matemáticos para analisar os dados e resolver problemas. Nos últimos anos, tem colaborado com outros co-autores para publicar, como primeiro autor, mais de dez artigos científicos, e tem cooperado com o seu orientador para concluir uma monografia de Matemática. Além disso, com o novo método eficiente para o processamento de dados em massa, ganhou, em 2012, o 1.º Prémio de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico para Pós-Graduados de Macau e com outras quatro pessoas da equipa, o terceiro lugar do Prémio de Ciências da Natureza dos Prémios de Ciência e Tecnologia.

Explorou o seu próprio caminho de desenvolvimentoAgora, Lei Kin já recebeu o seu diploma de doutoramento. Há três anos, tornou-se

membro do programa “Lua Digital” subsidiado pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia, e era responsável pela computação inteligente e processamento automatizado dos dados recolhidos pela “Chang'e 1”, usando o método mais rápido e eficiente, para dar aos cientistas dados mais confiáveis para uma investigação mais aprofundada.

De técnico a investigador científico, seguiu com perseverância o seu caminhoDe técnico a investigador científico, os outros acham que foi uma mudança radical para

ele, mas Lei Kin não concorda: “Eu faço sempre o que gosto e esforço-me sem reservas.” Ele sugeriu aos jovens que tracem os seus objectivos de vida a curto e médio prazo, não percam tempo quando trabalham e um dia conseguirão explorar os seus próprios caminhos.

“NÃO TER MEDO DAS DIFICULDADES E PERSISTIR NO CAMINHO DOS ESTUDOS”

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 JTM | LAZER 27

Gente Gira Envie as suas fotos para: [email protected]

O que falta em Macau? por Kim Lam

O trânsito excessivo e a insufi-ciência de autocarros são os maiores problemas de Macau.

É muito difícil apanhar um transporte público. Se for nas horas de ponta ou em dias de chu-va chega mesmo a ser um cenário caótico! Também não

me sinto muito confortável com a ideia de ter uma in-dústria do jogo tão marcante na cidade, pois considero pouco saudável para a população. O valor das rendas das habitações também é um bom exemplo de um dos maiores problemas actuais e, embora ainda viva com os meus pais, a verdade é que tenho receio daquilo que me

aguarda no futuro. Por outro lado, penso que a arte é uma das coisas que deveria estar mais presente em Ma-cau, porque sou estudante de design gráfico e sinto falta de diversidade artística! E já que refiro este assunto, não seria má ideia se fossem criadas mais oportunidades de emprego nesta área.

Ilusões em Paris

Durante as suas férias, Fabrício Lima visitou

alguns sítios fantásticos, um dos quais Paris. Antes de ir para o Brasil, o país Natal, o jovem decidiu

passar pela capital romântica onde visitou a Torre Eiffel, monumento

que, segundo sublinhou, é absolutamente lindo.

Dança com profissionais

Diana Silva marcou presença no Salsa

Festival, em Boracay, nas Filipinas. Segundo

contou ao GENTE GIRA o festival reuniu

dançarinos profissionais de toda a parte do mundo. As novas

amizades, a convivência e a aprendizagem foram os aspectos que a jovem

mais destacou desta viagem incrível.

Selfies em dia de

casamentoDurante o casamento dos primos Rogério e Sakura, na Torre de Macau, Noe Sequeira e a namorada

Royla divertiram-se muito. O dia foi muito agradável

e, segundo contaram ao GENTE GIRA, estes

“pombinhos” passaram parte do tempo a tirar

“selfies” para mais tarde recordar este momento tão

bonito!Estátuas cinematográficas

Carlos Chiu e a Tânia voaram até ao Japão, onde foram pela primeira vez até à ilha de Shodoshima. Ali, passearam no parque onde foi filmado o famoso filme japonês “Vinte e Quatro Olhos” e Carlos confessou ao

GENTE GIRA que a experiência quase o fez voltar ao Período Showa. As estátuas presentes na fotografia são das personagens do filme.

28 JTM | ÚLTIMA Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014 • Fecho da Edição • 01:20 horas

Macau apoia portadores de deficiência do ContinenteA Fundação Macau vai atribuir 30 milhões de renminbis à Fundação para Deficientes da China para desenvolver, du-rante três anos, cinco séries de acções de interesse público para ajudar a desenvolver as aptidões de pessoas com defi-ciência nas áreas artística e cultural, desportiva, educativa e de reabilitação. A formação de pessoas na área do serviço so-cial e especializadas no apoio a pessoas deficientes é outras das vertentes do programa, que foi formalizado através da assinatura de um protocolo. Estiveram presentes na cerimó-nia de assinatura do protocolo, o Presidente da Fundação Macau, Wu Zhiliang, e a Presidente da Fundação para Deficientes da China Tang Xiaoquan. “O Governo da RAEM, através da cooperação entre a Fundação Macau e a Fundação para Deficientes da China, irá desenvolver todos os esforços ao seu alcance para apoiar o desenvolvimento integral das pessoas deficientes do Interior da China”, refere-se numa nota oficial.

Há 15 anos, ninguém imaginaria, decerto, que a RAEM seria aquilo que é hoje: um território vibrante que frequentemente é notícia do outro lado do plane-ta, que goza de uma saúde financeira capaz de fazer inveja a meio mundo mas também enfrenta proble-mas de natureza diversa, muitos deles derivados das dores de um galopante crescimento económico.

Numa altura em que se abre um novo ciclo go-vernativo, é inequívoco que persistem questões que muito afectam o quotidiano da população, desde o trânsito à habitação ou da saúde aos recursos huma-nos. Para esses problemas, os Secretários que agora se aprestam para passar o testemunho não foram capazes de encontrar os antídotos certos, numa fase inicial quiçá devido à sua inexperiência mas também por não poderem contar com o desafogo financeiro que hoje se regista e, posteriormente, por se verem ul-trapassados pela velocidade de acontecimentos que tiveram impacto para além do expectável.

Sendo certo que cometeram erros, como é próprio da condição humana, também é justo reconhecer a dedicação e empenho dos titulares dos principais cargos que, da primeira hora até hoje, procuraram cumprir da melhor forma possível a difícil missão de assegurar uma transição tranquila para uma nova realidade política, social e económica. Para muitos, foi uma longa marcha iniciada quase do zero e que, não obstante alguns percalços, não deixou de ficar marca-da por importantes conquistas e sucessos.

Independentemente das falhas apontadas pelo caminho, a RAEM e os seus sucessores não podem deixar de lhes estar gratos.

ENPASSANTSérgio Terra

“A longa marcha” da RAEM

Impulsionado ensino da língua chinesa no estrangeiroA China vai reforçar a aprendizagem da língua e cultura chinesas no estrangeiro com a formação de 30.000 pro-fessores no exterior para 2017, a criação de 100 escolas e ajudas financeiras para outras 200, revelaram fontes oficiais. “O ensino da língua e cultura chinesas devem ser melhorados para poderem jogar um papel mais im-portante na promoção da cultura chinesa e a amizade entre o povo chinês e outros países”, referiu o conse-lheiro de Estado Yang Jiechi na terceira conferência in-ternacional sobre cultura e língua chinesa. A melhoria do currículo dos professores, livros de textos mais mo-dernos e exames idênticos para todos os estudantes de mandarim são outros dos pontos estabelecidos na agen-da educativa do Governo, explicou o director de Assun-tos Externos do gabinete do Conselho de Estado, Qiu Yuanping. Desta forma, o Governo pretende abordar dois dos grandes problemas que afectam inúmeras es-colas de mandarim – mais de 20.000 em todo o mundo -: a falta de recursos económicos e de um guia educativo de aprendizagem adequada para os alunos. Segundo um comunicado publicado pela sede oficial do Instituto Confúcio na China, cerca de 100 milhões de pessoas es-tudam mandarim, um número quatro vezes superior ao apurado há 10 anos.

BESI vendido ao grupo Haitong por 379 milhões de eurosO Novo Banco informou ontem que vendeu o Banco Espírito Santo de Investimento à Haitong, empresa chinesa especializada em serviços financeiros, por 379 milhões de euros. Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o Novo Banco frisa que o negócio está agora “dependente das necessárias apro-vações, nomeadamente junto do Banco de Portugal, da Comissão Europeia, das autoridades da concorrência e de um conjunto de outras autoridades que exercem supervisão directa sobre a entidade compradora”. A 3 de agosto, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado banco mau (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas) e o banco de transição, que foi designado Novo Banco. O BESI, aquando da resolução do BES, transitou para o Novo Banco. O interesse da Haitong no BESI já tinha sido noticiado recentemente.

Sinólogo diz que contestação em Hong Kong “não ameaça” fórmula “um país, dois sistemas”A fórmula “um país, dois sistemas”, que garante à população de Hong Kong li-berdades de expressão desconhecidas no resto da China, “não está ameaçada”, apesar do persistente confronto político no território, considera Jean-Pierre Cabes-tan, sinólogo ocidental radicado na região. “Por razões práticas, Pequim também gosta de Hong Kong” e o estatuto de antiga colónia britânica “serve os interes-ses da sua elite”, disse o ex-director do Centro de Estudos francês sobre a China Contemporânea, num encontro com jornalistas estrangeiros realizado na capital chinesa. Para a referida elite, Hong Kong “ é um bom sítio para colocar o dinheiro e ter acesso a informação”, argumentou. Comparando com Macau, que tem também o estatuto de uma Re-gião Administrativa Especial, mas que segundo Cabestan, “é já dominada pelo Partido Comunista Chinês”, o sinólogo francês salienta que a antiga colónia britânica “tem uma sociedade civil muito mais forte e que per-manece bastante activa”. Jean-Pierre Cabestan viveu em Taiwan na década de 1990 e a seguir em Hong Kong, onde dirige hoje o Departamento de Estudos Internacionais e Governação da Hong Kong Baptist University.

RAE’s e Taiwan acolheram 70%dos turistas chineses em mês recordeO número de chineses que viajaram este ano para fora da China continen-tal atingiu o recorde de 100 milhões em Novembro, mas 70,6% ficaram--se por Macau, Hong Kong e Taiwan, segundo estatísticas oficiais. “É um marco no desenvolvimento da indústria de turismo da China. Em 1998, tínhamos apenas 8,43 milhões de turistas e agora ultrapassámos 100 mi-lhões”, disse um responsável da China National Tourism Administration (CNTA) citado pelo China Daily. O balanço dos primeiros 11 meses do ano excede o total registado em 2013 (98,19 milhões), mantendo um crescimento de dois dígitos. Pelas contas da CNTA, a Ásia atraiu 89,5% dos turistas chineses, seguindo-se a Europa (3,5%), África (3%), América (2,7%) e Oceânia (1,1%).

Hagupit causou pelo menos23 mortos nas FilipinasO tufão Hagupit provocou pelo menos 23 mortes e destruiu milhares de casas nas Filipinas, segundo os últimos balanços. A tempestade, baptizada pelas autoridades locais como Ruby, deslocava-se ontem em direcção à capital do país, Manila, onde foi decretado o alerta má-ximo. Apesar de os ventos do Hagupit terem perdido intensidade, o Conselho de Gestão e Redução de Risco de Desastres do país advertiu que a tempestade ainda representa uma grande ameaça.