cÁlculo mental na resoluÇÃo de problemas · mental nos problemas matemáticos constitui-se num...
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CÁLCULO MENTAL NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Autora: Maria Martinichen1
Orientador: Sebastião Romero Franco2
RESUMO
O presente trabalho constituiu uma pesquisa qualitativa referente ao uso do cálculo mental na resolução de problemas envolvendo as quatro operações básicas da Matemática: adição, subtração, multiplicação e divisão. Para o uso dessa ferramenta, o aluno utilizou estratégias já concebidas e outras sugeridas pela autora do projeto. Através do presente trabalho, observou-se que utilizar o cálculo mental no dia a dia é comum aos alunos, no entanto, a aprendizagem matemática para a maioria é considerada problema. A reflexão no desenvolvimento do trabalho esteve pautada na possibilidade da aproximação dos alunos com a resolução de problemas e uso de estratégias utilizadas para a solução. Neste trabalho foram sugeridos problemas para resolução e possíveis cálculos dentro das quatro operações, o que favoreceu a resolução de forma dinâmica, oralmente ou de forma escrita, possibilitando que trabalhassem em duplas e grupos, socializando o conhecimento, e o processo de resolução dos problemas. A partir da observação e análise realizada através da aplicação deste projeto, chegou-se a considerações de que, o cálculo mental nos problemas matemáticos constitui-se num importante aliado e que é uma ferramenta que poderia ser mais explorada para auxiliar no desempenho escolar dos alunos, independente da faixa etária que se encontrem.
Palavras-chave: Cálculo mental; operações básicas; resolução de problemas.
1. INTRODUÇÃO
Devido às dificuldades encontradas por parte dos alunos na aprendizagem
¹ Professora do ensino básico, Matemática, Col. Est. P. J. Orestes Preima, Prudentópolis-Pr. ² Professor Assistente da Universidade Estadual do Centro-Oeste-UNICENTRO.
da Matemática, especialmente na resolução de problemas envolvendo as quatro
operações básicas: adição, subtração, multiplicação e divisão, foi desenvolvido um
trabalho junto a uma turma de alunos do 6º ano, tendo como objetivo utilizar o
cálculo mental na resolução de problemas.
Na aprendizagem matemática, trabalhar com cálculo mental faz com que os
alunos desenvolvam a capacidade de reflexão, raciocínio lógico e a descoberta
pessoal de estratégias na resolução de problemas.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica para o ensino de Matemática,
Paraná (2008, p. 63) propõem que o professor deve:
Assegurar um espaço de discussão no qual os alunos pensem sobre os problemas que irão resolver, elaborem uma estratégia, apresentem suas hipóteses e façam o registro da solução encontrada ou de recursos que utilizaram para chegar ao resultado. Isso favorece a formação do pensamento matemático, livre do apego às regras.
Para auxiliar os alunos na aprendizagem dos conteúdos, trabalharam-se
algumas estratégias de cálculo mental na resolução de problemas, buscando
incentivar os alunos a elaborar seus próprios métodos para se chegar à solução.
Neste trabalho apresentou-se uma reflexão sobre a resolução de problemas
como uma possibilidade metodológica na aprendizagem da matemática, o
surgimento dessa metodologia e a sua importância na Educação Matemática.
A resolução de problemas através do cálculo mental condicionou aos alunos
selecionar ou construir procedimentos adequados para cada situação. Assim, o
cálculo mental constitui uma importante ferramenta que favorece o pensamento e o
raciocínio lógico. O aluno passa a estimular automaticamente o pensamento
matemático, tão importante para a resolução de problemas e questões básicas
relacionadas à disciplina em questão.
Neste trabalho considerou-se o cálculo mental como um saber matemático
adquirido a partir de situações que envolvem o sistema de numeração decimal e as
propriedades das operações.
2. APORTE TEÓRICO
Segundo o Programa de Matemática do Ensino Básico do Ministério da
Educação (2007), a Matemática é uma das ciências mais antigas. Nasceu da
necessidade de contar, medir e expressar em forma de símbolo uma linguagem.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná
(2008), a Matemática, como campo de conhecimento, surgiu nos séculos VI e V a.C.
com a civilização grega, a qual registrou os princípios lógicos e a exatidão de
resultados.
Com os Pitagóricos ocorreram discussões sobre a importância e papel da
Matemática no ensino e na formação das pessoas. Os platônicos buscavam pela
Matemática, um instrumento que instigaria o pensamento do homem. Já, as
primeiras propostas, de ensino baseadas em práticas pedagógicas, surgiram com os
sufistas em Atenas, no século V a.C. Sendo estes considerados profissionais do
ensino.
Posteriormente, o ensino da Matemática foi reduzido a contar os números
naturais, cardinais e ordinais, fundamentado na memorização e repetição.
Entre os séculos VIII e IX d.C., iniciou a organização dos sistemas de ensino
através do surgimento das primeiras escolas. Nessa época foi privilegiado o aspecto
empírico da Matemática. Após o século XV os conhecimentos matemáticos voltaram-
se às atividades práticas já que o contexto da época assim o exigia, pois se tratava
do período de grandes navegações, das descobertas e do mercantilismo baseado
na principal característica: o metalismo. O século seguinte foi o período denominado
de grandezas variáveis.
Em meados do século XVI a Matemática foi introduzida no Brasil como
disciplina nos currículos da escola. A partir do século XX, em meados de 1960, a
Matemática escolar brasileira sofreu profundas alterações com a difusão do
movimento internacional de modernização da mesma, iniciado na Europa e nos
Estados Unidos, conhecido como o movimento da Matemática Moderna. Com esse
movimento acreditava-se que o rigor e a precisão da linguagem matemática
facilitariam o seu ensino. A Matemática Moderna não produziu os resultados
pretendidos, as críticas se intensificaram e as discussões no campo da Educação
Matemática se fortaleceram.
Na década de 1970 destacou-se outro modo de conduzir as aulas, com
ênfase na participação dos alunos, visto que, até esta década as pesquisas em
Educação Matemática focalizavam os conteúdos e não o processo de ensino
utilizado para explicá-lo. Na década seguinte, surgem estudos sistemáticos sobre a
aprendizagem matemática.
Com essa análise realizada, observou-se que a Matemática passou por
diversas transformações ao longo do processo histórico. Segundo D’Ambrósio
(2001, p.16): “A sociedade está mudando, as crianças estão mudando, o
conhecimento está mudando. Não há como ser conservador com a educação
matemática”. Nesse sentido, fazem-se necessárias mudanças de paradigmas,
levando em consideração o contexto no qual o educando está inserido, sem
desconsiderar os acontecimentos adjacentes ao período analisado.
No ensino tradicional da matemática, este era centrado no professor.
Segundo D’Ambrósio (1989, p. 16):
Os professores em geral mostram a matemática como um corpo de conhecimentos acabado e polido. Ao aluno não é dado em nenhum momento a oportunidade ou gerada a necessidade de criar nada, nem mesmo uma solução mais interessante. O aluno assim passa a acreditar que na aula de matemática o seu papel é passivo e desinteressante.
Na busca por mudanças no ensino da matemática surgem práticas
inovadoras que, se destacam como metodologias fundamentadoras da ação
pedagógica em Educação Matemática. Entre elas estão: A Resolução de Problemas;
Modelagem Matemática; História da Matemática; Etnomatemática e Mídias
Tecnológicas. Estas metodologias são defendidas nas DCEs (Diretrizes Curriculares
Estaduais), e sugerem uma educação matemática concebida como uma atividade
humana em construção. Essas sugestões representam os resultados de pesquisas
relacionadas ao ensino e a aprendizagem da matemática, buscando favorecer os
alunos na construção do conhecimento.
Micotti (1999, p.158) destaca os objetivos dessas novas propostas de ensino
aprendizagem: “As atuais propostas pedagógicas, ao invés de transferência de
conteúdos prontos, acentuam a interação do aluno com o objeto de estudo, a
pesquisa, a construção dos conhecimentos para o acesso ao saber”.
A autora destaca as propostas pedagógicas atuais como condizentes com o
contexto da época atual. Uma época de tendência à democratização do saber e da
busca da interação, o que demonstra que o trabalho dos professores como
mediadores constitui relevada importância, já que, a matemática no dia a dia e o
saber escolar estão vinculados favorecendo o desenvolvimento de cada pessoa
independente da idade que se encontre. É pensando dessa maneira que se tornam
possíveis as mudanças na educação. No entanto, não se podem conceber as
mudanças somente na proposta e sim torná-las práticas no dia a dia escolar para
que se obtenha avanços no processo de ensino aprendizagem.
Dessa forma, a Educação Matemática pode ser caracterizada como área de
atenção que busca soluções alternativas e inovadoras do ensino da matemática,
colocando o aluno como centro do processo educacional.
A caracterização da Educação Matemática, em termos de Resolução de Problemas, reflete uma tendência de reação a caracterizações passadas, que a configuravam como um conjunto de fatos, como o domínio de procedimentos algorítmicos ou como um conhecimento a ser obtido por rotina ou por exercício mental. (ONUCHIC e ALLEVATO, 2005, p. 215).
Para a resolução de problemas, sugere-se a ferramenta denominada cálculo
mental, a qual aparece como reação à tendência conservadora que limitava a
atividade alternativa.
Pode-se considerar como um problema algo desconhecido, porém possuidor
de uma importância e relevância para quem o resolve. Portanto, um problema
matemático caracteriza-se por qualquer situação que, além de seu caráter
desafiador e relevante, necessite da matemática para solucioná-lo.
A resolução de problemas constitui um caminho para se ensinar matemática
e não se restringe apenas a isso, pois, segundo Onuchic (1999, p. 210): “Na
abordagem de Resolução de Problemas, como uma metodologia de ensino, o aluno
tanto aprende matemática resolvendo problemas como aprende matemática para
resolver problemas”.
Essa metodologia de aprendizagem coloca a ação do aluno como fator
importante na construção do seu conhecimento, sendo instigado a desenvolver
estratégias de resolução e interpretar os dados do problema, ou seja, proporciona
envolvimento direto do aluno com o conteúdo desenvolvido, e isso é condição
fundamental na aprendizagem. O ensino ministrado pelo professor de matemática e
iniciado pela resolução de problemas, permite ao aluno desenvolver sua própria
compreensão, visto que, ao compreender melhor, a sua habilidade de uso da
matemática para resolver problemas amplia consideravelmente.
Trabalhar com problemas em sala de aula não se resume à seleção de
questões escritas por extenso, mas em buscar no cotidiano dos alunos, situações
reais que possam utilizar a matemática como instrumento para encontrar soluções.
Desta forma, considera-se fundamental a proposição da investigação na sala
de aula para favorecer a construção do conhecimento matemático, possibilitando a
reflexão e a tomada de consciência dos processos utilizados.
Como afirma Dante (2005, p. 30), “Resolver problemas não é um mecanismo
direto de ensino, mas uma variedade de processos”.
Na resolução de problemas é possível aplicar diferentes procedimentos e
tipos de cálculos, os quais se relacionam e se complementam. Pode-se resolver um
cálculo por estimativa de resultados, usando a calculadora, fazendo o cálculo escrito
e o cálculo mental. Este último compreende uma infinidade de formas de soluções
de questões matemáticas que seriam difíceis de mensurar.
No entanto, Parra (1996, p.189) conceitua o cálculo mental como:
(...) o conjunto de procedimentos em que, uma vez analisados os dados a serem tratados, estes se articulam, sem recorrer a um algoritmo pré-estabelecidos para obter resultados exatos ou aproximados.
Mendonça & Lellis (1989, p. 51) salientam que: “A importância do cálculo
mental não se limita a sua utilidade no dia a dia. Ele pode dar notável contribuição à
aprendizagem de conceitos matemáticos, ao desenvolvimento do raciocínio e à
formação emocional do aluno”.
Dessa maneira, o cálculo mental auxilia o aluno na compreensão do sistema
decimal, pela decomposição dos números em centenas, dezenas e unidades;
vivenciando as propriedades associativa e comutativa. Assim, o aluno terá mais
facilidade na sua aplicação e autonomia de criar seus métodos, possibilitando o
desenvolvimento do raciocínio e desenvolvendo uma atitude positiva frente à
aprendizagem da matemática.
O Cálculo Mental está centrado no fato de que um mesmo cálculo pode ser
realizado de diferentes formas. Segundo Grando (2000 p. 47- 48):
(...) cada situação de Cálculo Mental se coloca como um problema em aberto, onde pode ser solucionada de diferentes maneiras, sendo necessário ao sujeito recorrer a procedimentos originais, construídos por ele mesmo, a fim de chegar ao resultado.
Assim, o cálculo mental ao contrário do cálculo exato é caracterizado por
uma diversidade de técnicas que se adaptam aos números e aos conhecimentos do
sujeito. Calcular mentalmente é um processo que exige domínio de certos conceitos
matemáticos e apropriação de estratégias que possam auxiliar o aluno na
aprendizagem. Portanto, para que o aluno adquira habilidade com cálculo mental é
preciso trabalhar esse tema ao longo de sua escolarização, permitir que o aluno
forneça respostas de forma autônoma, preparar o professor para mediar e articular
as situações matemáticas e propor alternativas de motivar o aprendizado satisfatório
e condizente com o currículo. Uma das formas de motivar o cálculo mental é fazer
uso de objetos concretos para subsidiar a prática da educação matemática.
O cálculo mental contribui para resolver rapidamente questões do dia a dia e
até mesmo a operar com números mais altos. Segundo Starepravo (1997 p. 55), não
existe uma forma para realizar cálculos, mas, inúmeras delas. “Isso é raciocínio
lógico matemático e quem faz cálculos mentais desenvolve várias relações
diferentes entre os números”. É possível fazer estimativas de quanto se pagará
quando se opta em realizar uma compra a prazo, por exemplo. E assim, se pode
concluir se obterá vantagem ou desvantagem, quanto à forma de pagamento.
Um dos mecanismos utilizados para trabalhar é o chamado “material base
dez” que condiciona melhorias no cálculo através da compreensão de sequências
distribuídas de dois em dois, de três em três, entre outras. Dessa maneira, o material
subsidia operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de forma que o
abstrato e o concreto estejam interligados na mediação do processo de ensino e
aprendizagem.
Um dos requisitos fundamentais é ouvir e estimular os alunos no uso do
cálculo mental, valorizando seus métodos de solução. Somente assim, deixa de
representar uma simples técnica e se converte em instrumento. Alguns
questionamentos são pertinentes. Conforme apontamentos realizados por
Mendonça & Lellis (1989, p.53):
(...) o trabalho com cálculo exige organização. Que tipo de cálculo apresentar primeiro? Quais problemas devem ser propostos para permitir ao aluno descobrir recursos de cálculo? Em que momento das aulas inserir o cálculo mental?
São estas as questões que precisam ser levadas em consideração para
obter respostas e preparar um roteiro de atividades a ser aplicadas em sala de aula.
3. METODOLOGIA
No desenvolvimento das ações realizou-se uma pesquisa de cunho
qualitativo com uma turma de alunos de 6º ano do Ensino Fundamental, em uma
escola da rede pública de ensino, localizada no município de Prudentópolis – Pr. A
implementação das atividades teve duração de 8 horas-aulas, sendo distribuídas em
8 semanas consecutivas. As atividades consistiram na resolução de problemas,
tendo o cálculo mental como uma ferramenta para sua resolução.
As questões foram resolvidas individualmente, em duplas e grupos. Nas
atividades envolvendo adição e subtração, os alunos utilizaram como apoio, cédulas
de dinheiro (sem valor comercial) e, nas atividades envolvendo multiplicação e
divisão, utilizaram Material Dourado ou Material Base Dez.
A avaliação da aprendizagem verificou-se através das observações
ocorridas durante o desenvolvimento das atividades, considerando a criatividade, o
envolvimento, os resultados obtidos, principalmente o processo de resolução das
questões.
4. DESENVOLIMENTO
No desenvolvimento das atividades trabalharam-se algumas técnicas de
cálculo mental para auxiliar os alunos a resolver problemas, sempre incentivando a
desenvolver suas próprias estratégias para se chegar à solução.
Segundo MEC (2007, p.12):
Existem diferentes estratégias de cálculo mental que devem constituir objetivos de aprendizagem na aula de Matemática, pois quanto maior for o desenvolvimento das estratégias de cálculo mental mais à vontade se sentirá o aluno no uso das estratégias de cálculos mais convencionais como os algoritmos das quatro operações.
Estas estratégias devem se tornar prioridade para que o professor garanta
ao aluno a possibilidade de fazer uso das possíveis e variadas formas de se resolver
problemas. Lellis & Mendonça (1989), apresentam vários processos interessantes e
vantajosos para o cálculo mental fazendo uso das quatro operações matemáticas e
que podem ser conferidas a seguir:
4.1 Adição
Apoia-se na parcela 10 e em uma associação conveniente das parcelas:
5 3 6 4 5
5 5 6 4 3
10 10 3
20 3
23
As parcelas são decompostas em unidades, dezenas, centenas e as
parcelas obtidas são associadas convenientemente:
325 123
300 20 5 100 20 3
300 100 20 20 5 3
400 40 8
448
4.2 Subtração
O subtraendo é decomposto em dezenas e unidades. A subtração é feita por
etapas:
72 35
72 30 5
42 5
37
A subtração é convertida em adição. Utiliza-se a ideia de “quanto falta”.
300 127
a) De 127 para 130, faltam 3;
b) De 130 para 200, faltam 70;
c) De 200 para 300, faltam 100;
d) 3 70 100 173
Logo, 300 127 173
4.3 Multiplicação
Um dos fatores é decomposto em dezenas e unidades (ou centenas,
dezenas e unidades). Utiliza-se a propriedade distributiva da multiplicação em
relação à adição:
5 13
5 10 3
5 10 5 3
50 15
65
O resultado pode ser encontrado a partir do resultado de uma multiplicação mais
simples:
30 15
Como 3 15 45
Então 30 15 450
O resultado é encontrado apoiando-se em outra multiplicação mais simples, mas o
raciocínio é mais sutil que o anterior:
9 17
Como 10 17 170
Então 9 17 170 17 153
4.4 Divisão
O dividendo é decomposto em parcelas. Utiliza-se a propriedade distributiva:
624 3
600 24 3
600 3 24 3
200 8
208
Divisões sucessivas:
2
2
2
2
2
2
4848 16
16
24
8
12
4
6
2
3
As ações propostas que seguem descritas foram realizadas pelos alunos de
forma oral e com o uso de giz e quadro negro. Através destas atividades, procurou-
se motivar os alunos sugerindo questões a ser resolvidas mentalmente. A seguir
encontram-se algumas das que foram sugeridas:
4.5 Problemas
Problema 1
Ao distribuir para os alunos cédulas (notas sem valor comercial) de 1 real, 2
reais, 5 reais, 10 reais, 20 reais, 50 reais e 100 reais, foram propostas as seguintes
situações:
a) Um aluno comprou uma bola por R$ 30,00. Com que notas ele poderá
pagar?
b) Pedrinho quer comprar uma bicicleta por R$ 287,00. Com que notas ele
poderá pagar a bicicleta?
c) Com que notas uma pessoa poderá pagar uma compra de R$ 473,00?
d) Some todo o teu dinheiro. Quanto tem?
e) Agora represente matematicamente esta soma:
No desenvolvimento desta atividade todos os alunos se envolveram, pois
representou uma novidade trabalhar com cédulas. Através deste exercício pode-se
observar que as pessoas calculam mentalmente com muita facilidade.
Problema 2
Um aluno comprou uma pasta por R$ 30,00, um caderno por R$ 18,00 e
uma caneta por R$ 2,00. Quanto pagou?
Resolução:
Aluno 1
30 10 8 2
30 10 8 2
40 10
50
Aluno 2
30 10 8 2
30 10 8 2
30 18 2
30 20
50
Problema 3
Durante o ano um time de futebol venceu 15 partidas, empatou 13 e perdeu
7.
a) Quantas partidas esse time disputou no ano?
b) Considerando que a vitória acrescenta ao time 3 pontos, o empate 1
ponto e a derrota 0, quantos pontos esse time adquiriu?
Resolução do item (a):
Aluno 1: Aluno 2:
15 13 7
10 5 13 7
10 13 7 5
10 20 5
35
15 13 7
15 13 7
15 20
35
Resolução do item (b):
Aluno 1: Aluno 2:
15 3 13 1 7 0
45 13 0
40 5 10 3
40 10 5 3
50 8
58
15 3 45
13 1 13
45 13 40 10 5 3
50 8
58
Nestas atividades, os alunos perceberam que um mesmo problema pode ser
resolvido de diferentes maneiras. Foram atividades centradas na ação do aluno,
onde o mesmo teve autonomia na forma de resolver os problemas. Eles trabalharam
concentrados, resolvendo a adição. Na resolução do Problema 3, sugeriu–se
também a multiplicação, a qual foi solucionada de forma satisfatória, onde os alunos
resolveram primeiramente as multiplicações para depois efetuarem as somas.
Na compreensão das estratégias de subtração, trabalhou-se novamente com
cédulas de dinheiro sem valor comercial. Entre os vários problemas propostos a
serem resolvidos mentalmente, segue o exemplo abaixo:
Problema 4
Um tênis custou R$ 280,00. Comprando a vista este tênis, o cliente obteve
um desconto de R$ 55,00. Quanto pagou?
Resolução:
280 55
280 50 5
230 5
225
Na resolução deste problema, a maioria dos alunos resolveu usando o
processo descrito acima, sem armar a conta, fazendo uso do cálculo mental e sem
anotações nos cadernos.
No trabalho com multiplicação, sugeriu-se que fossem resolvidas
mentalmente as atividades abaixo e depois representadas utilizando o Material
Dourado.
Problema 5
Iniciou-se o trabalho considerando a forma como as carteiras estavam
distribuídas na sala de aula:
Numa sala tem 4 fileiras com 7 carteiras em cada uma delas. Qual o número
máximo de alunos que poderiam estudar nessa sala?
Problema 6
Com o uso do Material Dourado, sugeriu-se que os alunos resolvessem em
duplas as operações:
a) Quanto é 5 12?
b) Quanto é 4 8 ?
c) Quanto é 7 8 ?
d) Quanto é 6 7 ?
e) Quanto é 5 10 ?
Esta atividade motivacional despertou interesse nos alunos em fazer uso de
materiais alternativos para a aprendizagem. Com o uso do material dourado se
observou que houve melhor compreensão na realização das operações.
Problema 7
No dia das mães, os filhos costumam homenageá-las com rosas. Numa
dessas ocasiões o dono da floricultura vendeu 25 dúzias de rosas. Quantas ele
vendeu?
25 12
25 10 2
25 10 25 2
250 50
300
Problema 8
Um quilo de bolo custa R$ 16,00. Para a festa de aniversário foi comprado
um bolo de 3 quilos. Quanto custou o bolo?
16 3
10 6 3
10 3 6 3
30 18
48
Na resolução destes problemas os alunos trabalharam com técnicas de
cálculo mental aplicado à realidade. Nas resoluções e discussões em grupo
surgiram outras possibilidades e estratégias de resoluções.
No cálculo envolvendo divisão, tem-se observado que as crianças
encontram maiores dificuldades. Nota-se que em geral os alunos optam por realizar
as divisões usando a calculadora. Diante desse desafio, foram propostas atividades
mais acessíveis como forma de motivação e em seguida outras com maior grau de
dificuldade:
Problema 9
Sugeriu-se que fossem realizadas divisões mentalmente e comentando com
o colega as formas utilizadas para se chegar ao resultado. Propuseram-se as
atividades que seguem:
a) 50 10
b) 200 4
c) 300 6
d) 268 2
e) 100 25
f) 200 60 8 2
As três primeiras divisões foram resolvidas colocando-se apenas o
resultado. Na questão “d”, decompôs-se o dividendo, representando também com
material Base Dez. Na questão “e”, procedeu-se fazendo as divisões sucessivas. No
entanto, na discussão em grupo, apareceu a possibilidade: 25 25 50 e
50 50 100
então em 100 “cabem” 4 vezes o 25. Logo o resultado é 4. Na questão
“f”, os alunos usaram a propriedade distributiva da soma com a divisão e chegaram
à solução.
Problema 10
Luís comprou uma bicicleta por R$ 360,00. Vai pagar em 12 parcelas fixas.
De quanto será cada parcela sendo que não terá acréscimo de juros?
Resolvendo pelo processo das divisões sucessivas:
2
2
2
2
360360 12
12
180
6
90
3
30
Problema 11
Uma pessoa gasta R$ 140,00 por dia durante a semana. No domingo, ela
gasta R$ 20,00 a mais que nos outros dias. Quanto gastará nessa semana?
(Aqui o aluno precisou saber quantos dias tem uma semana e fazer a operação da
forma que considerar mais interessante).
Resolução do aluno 1
100 7 700
40 7 280
700 280 20
700 300
1000
Resolução do aluno 2
100 100 100 100 100 100 100 700
40 7 280 20 300
700 300 1000
Cada aluno resolveu mentalmente os cálculos descrevendo o processo para
chegar ao resultado, fazendo primeiro o cálculo de quanto gastou durante os sete
dias e acrescentando apenas no final os R$ 20,00, gastos a mais no domingo.
Problema 12
Uma dona de casa foi ao mercado fazer compras com 5 notas de R$ 50,00.
Gastou nas compras R$ 152,00. Quais opções de notas que foram recebidas de
troco?
50 5 250
250 152 250 150 2
250 150 2
100 2
98
Opções de notas recebidas de troco:
a) 1 nota de 50; 2 notas de 20 e 4 notas de 2 reais.
b) 4 notas 20; 1 nota de 10; 1 nota de 5; 1 nota de 2 e 1 moeda de 1real.
c) 1 nota de 50; 4 notas de 10; 1 nota de 5, 1 nota de 2 e 1 moeda de 1real.
Para socializar os resultados com toda a turma, cada problema foi resolvido
no quadro de giz. Assim, os alunos puderam apresentar as diferentes maneiras de
cálculo utilizado para chegar à solução. Como afirma Parra (1996, p. 216), o
professor, no ensino do cálculo pode organizar: “(...) um trabalho coletivo, lento e
detalhado, de aprendizagem do cálculo mental pensado, que se apoia na
comparação de diversos procedimentos utilizados por diferentes alunos para tratar
do mesmo problema”. Essas estratégias quando levadas em consideração pelo
professor é que motivam o aluno no processo de ensino aprendizagem, pois, mesmo
com dificuldades, o aluno pode desenvolver uma forma própria de cálculo e que se
traduzirá em aprendizado contínuo e favorecedor de sua formação cidadã, uma vez
que, o uso do cálculo mental não se limita ao trabalho escolar.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando os resultados obtidos no desenvolvimento das atividades, a
implementação do projeto na escola e as discussões no grupo de trabalho em rede –
GTR pode-se afirmar que os objetivos propostos foram atingidos de forma
satisfatória.
A utilização de diferentes estratégias de cálculo mental na resolução dos
problemas favoreceu a realização de um trabalho centrado na atividade do aluno,
resultando numa aprendizagem significativa da matemática. Pela possibilidade de
ser trabalhada de maneira diferente, despertou nos alunos maior interesse de
estudar a matemática, favorecendo o interesse tanto dos alunos em estudar e
desenvolver a prática do cálculo mental no dia a dia, quanto do professor, em aplicar
esta estratégia para motivar e condicionar a socialização dos conhecimentos.
Ao utilizar o cálculo mental na resolução de problemas, verificou-se que a
sua prática estabelece uma relação positiva com a Matemática, pois, possibilita
aprender com compreensão e desenvolvimento do raciocínio. O cálculo mental é
uma ferramenta que auxilia na resolução de problemas e consequentemente na
aprendizagem da Matemática.
A discussão dos vários tipos de estratégias na resolução de problemas
desenvolvidas pelos alunos e pelo GTR, contribuiu na apropriação de novas
estratégias de cálculo mental e propiciou que houvesse maior interação entre eles.
Segundo MEC (2007): “Os alunos devem ser capazes de compreender
problemas em contextos matemáticos e não matemáticos e de resolvê-los utilizando
estratégias apropriadas”. Diante disso, verificou-se a importância do professor
trabalhar o cálculo mental na escola, pois essa prática permitiu aumentar a
capacidade de iniciativa dos alunos, fazendo com que estes com mais segurança e
rapidez explorassem diferentes formas de resolver situações problema, tanto na
escola como em seu ambiente de vivência. O cálculo mental favoreceu o
desenvolvimento do aluno nas habilidades: atenção, memória e a concentração tão
necessária na aprendizagem da matemática.
O trabalho também oportunizou aos alunos apropriar-se de técnicas de
calculo mental, desenvolver técnicas, comparar com os colegas os diversos
procedimentos utilizados para resolver um mesmo problema, e isso foi produtivo
porque houve interação e socialização do conhecimento.
Essa socialização trouxe consequências positivas tanto para o professor
quanto ao aluno. Quanto ao professor, este precisa aceitar o trabalho coletivo para
promover o cálculo mental, precisa ter paciência, pois, o processo é individual e
lento onde as descobertas são construídas pouco a pouco. Quanto ao aluno,
espera-se que este desenvolva certa flexibilidade mental que lhe permita pensar nos
números de diferentes formas: unidades, grupos de dezenas, grupos de centenas,
estimar os resultados, e pensar nas operações como estratégias para resolução de
problemas e não mais como um conjunto de regras impostas.
O cálculo mental é um processo e exige muita prática, raciocínio e
compreensão, pois é mais fácil aplicar mecanicamente fórmulas e regras em
exercícios e resolução de problemas do que raciocinar e fazer descobertas
pessoais. No entanto, ao propor ao aluno que busque meios de resolver, está se
promovendo um grande avanço, pois, dessa maneira, ele pensará com autonomia e
poderá pensar em formas criativas de solução. O professor como mediador
favorecerá seu desenvolvimento.
6. REFERÊNCIAS
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