brasil observer #27 - portuguese version

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BRASIL OBSERVER WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDON EDITION ISSN 2055-4826 #0027 MAY/2015 BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) PADRÃO MUNDIAL POR QUE UNIVERSIDADES BRASILEIRAS ESTÃO SE INTERNACIONALIZANDO TAKUMÃ KUIKURO Do Alto Xingu a Londres, a missão de um cineasta indígena FLAVIA COELHO Com mais batida, cantora brasileira apresenta novo álbum ALICIA BASTOS BERNARD BENANT

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Por que universidades brasileiras estão se internacionalizando

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B R A S I LO B S E R V E R

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 7MAY/2015BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

PADRÃO MUNDIAL POR QUE UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

ESTÃO SE INTERNACIONALIZANDO

TAKUMÃ KUIKURODo Alto Xingu a Londres, a missão de um cineasta indígena

FLAVIA COELHOCom mais batida, cantora brasileira apresenta novo álbum

ALICIA BASTOS BERNARD BENANT

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2 brasilobserver.co.uk | May 2015

SUMÁRIO4

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1416

10

2124262830

ANA TOLEDODiretora de Operações

[email protected]

GUILHERME REISDiretor de Redação

[email protected]

ROBERTA SCHWAMBACHDiretora Financeira

[email protected]

EDITORES EM INGLÊSKate Rintoul

[email protected] Shaun Cumming

[email protected]

DESIGN E DIAGRAMAÇÃOJean Peixe

[email protected]

COLABORADORESAlicia Bastos, Ana Beatriz Freccia Rosa, Aquiles Rique Reis, Átila Rique, Franko

Figueiredo, Gabriela Lobianco, Ítalo Moraes, Michael Landon, Raquel Britzke, Ricardo

Somera, Wagner de Alcântara Aragão

IMPRESSÃOSt Clements press (1988 ) Ltd,

Stratford, [email protected]

10.000 cópias

DISTRIBUIÇÃOEmblem Group Ltd.

PARA ANUNCIAR [email protected]

020 3015 5043

PARA [email protected]

PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR

[email protected]

ONLINEbrasilobserver.co.uk

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facebook.com/brasilobserver

twitter.com/brasilobserver

EM FOCO O papel do BRICS em um mundo em transição

CONEXÃO BR-UK British Council estreia programa de capacitação em São Paulo

PERFILTakumã Kuikuro e a preservação das tradições indígenas

CONECTANDOEm Marabá, um coletivo de jovens faz a diferença na comunidade

COLUNISTA CONVIDADO Atila Roque escreve sobre a redução da maioridade penal no Brasil

BRASILIANCEA pauta da terceirização avança no Congresso Nacional

BRASILIANCEDebate sobre reforma política tem dois projetos antagônicos

BRASIL GLOBALEspecialistas explicam o sentido da internacionalização do ensino superior

GUIAEntrevista exclusiva com a cantora brasileira Flavia Coelho

DICAS CULTURAISPara curtir Londres com um toque brasileiro

COLUNISTAS

BEM-ESTAR

VIAGEM

LONDON EDITION

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30

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

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3brasilobserver.co.uk | May 2015

Use o código MAMA15WRL

e envie dinheiro de GRAÇA

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Page 4: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

4 brasilobserver.co.uk | May 2015

E

EM FOCO

Evento organizado pelo Global Diploma-tic Forum reuniu em Londres, no final de abril, altos funcionários e um acadêmico para debaterem o papel evolutivo do BRI-CS (grupo formado por Brasil, Rússia, Ín-dia, China e África do Sul) em um cenário internacional em mutação.

Participaram Obed Mlaba, Alto Comis-sário da África do Sul em Londres; Virander Paul, Vice-Alto Comissário da Índia em Lon-dres; Alexander Kramarenko, Vice-Embaixa-dor da Rússia em Londres; Alexandre Parola, Ministro-Conselheiro da Embaixada do Bra-sil em Londres; e Jan Knoerich, Professor de Economia Chinesa no King’s College. Younes El-Ghazi, Executivo-Chefe do Global Diplo-matic Forum, conduziu a conversa com per-guntas e participação do público.

De forma geral, todos fizeram questão de salientar, logo no princípio, que o BRICS não é um grupo contra hegemônico. Ou seja, não é a intenção dos países membros criar meca-nismos que substituam o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional – instituições criadas após o chamado Acordo de Bretton Woods, que na prática deslocou o controle da economia mundial para os Estados Unidos, depois da Segunda Guerra. A ideia é criar formas complementares de governança glo-bal – principalmente com o Novo Banco de Desenvolvimento, ou simplesmente Banco do BRICS, criado no ano passado durante a sexta reunião de cúpula do grupo, no Brasil.

“Não somos uma aliança no significado tradicional da palavra. Não estamos em uma guerra contra outras nações. É uma questão de desenvolvimento econômico, de promover os interesses nacionais dos países membros”, afirmou Alexander Kramarenko. A mesma linha foi seguida por Alexandre Parola, que adicionou: “A imprensa geralmente nos retra-ta como um grupo contra hegemônico, mas não é verdade. Não somos contrários a nin-guém, somos a favor de nós mesmos”.

Mas e a China? Qual é o interesse chinês? Para Jan Knoerich, que, vale lembrar, não es-tava representando a posição oficial do país, o ponto central do interesse chinês é a alta demanda por investimentos em infraestrutu-ra nos países membros e nas regiões em que eles estão inseridos. “A China tem a expertise necessária e precisa do BRICS para aumen-tar sua influência em outros fóruns”, opinou

Knoerich. “Mas a ideia é suplementar, não substituir. É mais eficiente reformular a o sis-tema atual do que criar algo novo”, completou.

Nesse sentido, Obed Mlaba lembrou que o plano do Banco do BRICS não é financiar apenas projetos de infraestrutura dos paí-ses membros, mas também de outros países emergentes. “Há muitas oportunidades na África. De norte a sul, de leste a oeste, o con-tinente africano não está conectado. Há uma demanda enorme em infraestrutura, para que os países façam negócios entre si”, apontou.

Em seguida, os palestrantes ressaltaram que não há impedimentos para que um país membro feche acordos bilaterais com outras nações. Neste momento, ficou evidente que a percepção geral é de que o atual sistema glo-bal é insuficiente para promover os avanços necessários para as populações dos países emergentes. “A austeridade do Ocidente não traz desenvolvimento”, afirmou Alexander Kramarenko. Para Virander Paul, “o simples fato de o grupo do BRICS ter sido criado é a prova de que o mundo mudou”.

Perto do encerramento do debate, um membro da plateia perguntou se a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), entre os Estados Unidos e outros 11 países, inclu-sive o Japão, pode afetar as ambições econô-micas do BRICS. Diante do fato de que a tal parceria não foi ainda acordada, ninguém pareceu disposto a fazer suposições. Mas Alexandre Parola aproveitou o gancho para fazer uma reflexão que certamente resume o que está em jogo. Disse ele que o mundo do século 21 é pós-hegemônico, não mais cen-tralizado em uma ou duas super potências. A própria ideia de cooperação Sul-Sul nada mais é do que uma forma de quebrar a cen-tralização político-econômica, ou seja, não é preciso intermediários quando se trata de dois países da mesma região – ou com os mesmos desafios – fazendo acordos; é uma questão de decidir interesses em comum de forma soberana.

Nessa perspectiva, o papel do BRICS pa-rece ser contribuir para um mundo que ca-minha rumo a uma ordem multipolar, onde a atuação dos países não será mais em blocos, mas em redes interconectadas. Sairá na frente quem conseguir atuar e exercer influência no maior número de redes possível, nos mais va-riados temas de interesse.

O PAPEL DO

BRICSg Jantar de Gala e Prêmio Personalidade do Ano 2015

A Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha premia dois líderes – um brasileiro e um britâni-co – por suas conquistas recentes. Os vencedores são Marcos Molina e Sir Martin Sorrel. O ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, fará o discurso principal da noite.

Quando: 12 de maio (19:00)Onde: London Hilton – 22 Park Lane Entrada: Membro Individual: £215 Não Membro: £270Info: www.brazilianchamber.org.uk

g John Hemming apresenta ‘Naturalists in Paradise’Especialista sobre a região amazônica, John Hemming apresenta seu novo livro, que reúne as aventuras e conquistas de três naturalistas britânicos (Alfred Wallace, Henry Bates and Richard Spruce) na América do Sul na metade do século 19, recontando a expe-riência dos três e como suas pesquisas mudaram a concepção do mundo.

Quando: 12 de maio (18:30-20:00)Onde: Canning House – 14/15 Belgrave SquareEntrada: Gratuita, mas reserva é necessáriaInfo: www.canninghouse.org

g Brasil: O que aconteceu?O Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, retorna ao King’s College, em Londres, para discutir os recentes acontecimentos no país. Alex vai focar principalmente no porquê de o Brasil ter passado, aos olhos da comunidade internacional, de “potência emergente” para um país que parece atolado em crises política e econômica.

Quando: 13 de maio (18:00-21:00)Onde: King’s Building Strand CampusEntrada: Gratuita, mas reserva é necessáriaInfo: www.kcl.ac.uk

g O papel do Brasil Marcelo de Almeida Medeiros, da Universidade de Oxford, revisa os anseios do Brasil para se tornar um player global através da procura por novos parceiros; apresentando uma visão geral da história, cultura e política no país; e analisando a participação brasileira em duas grandes crises, a constitucional no Haiti e a nuclear no Irã.

Quando: 19 de maio (18:30-20:30)Onde: King’s Building Strand CampusEntrada: Gratuita, mas reserva é necessáriaInfo: www.kcl.ac.uk

g Memórias da Ditadura no Brasil A Canning House e o Instituto Cervantes estão apresentando uma série de palestras com foco nas ditaduras militares do século passado na América La-tina e suas consequências. Em maio é a vez do Brasil, cuja ditadura durou de 1964 a 1985. O palestrante será Anthony Pereira, Professor e Diretor do Instituto Brasil do King’s College.

Quando: 20 de maio (18:30-20:00)Onde: Instituto Cervantes, 102 Eaton SquareEntrada: Membros: £5 Não-membros: £10 Info: www.canninghouse.org

AGENDA

Page 5: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

5brasilobserver.co.uk | May 2015

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Page 6: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

6 brasilobserver.co.uk | May 2015

COLUNISTA CONVIDADO

Por Atila Roque g

DDesde a redemocratização, o Brasil vem avançando na aquisição e manutenção de direitos humanos. É verdadeiro di-zer que, muitas vezes, o progresso anda a passos lentos, porém firmes. No en-tanto, a eleição, no ano passado, do Congresso Nacional mais conservador desde a ditadura militar nos coloca diante de sérios riscos. A redução da maioridade penal talvez seja o mais es-candaloso dos exemplos.

É preciso desconstruir os estereótipos sobre quem são estes adolescentes de 16 a 18 anos e todos os argumentos que ma-nipulam demagogicamente o medo legí-timo existente na sociedade – um medo amplificado artificialmente que coloca nas costas dos jovens e adolescentes uma falsa responsabilidade pela violência. Afinal, estes jovens (16 a 18 anos) são responsáveis por menos de 1% dos cri-mes cometidos no Brasil. Jovens que, dia após dia, são relegados à margem da ci-dadania; cujos direitos humanos funda-mentais, como saúde, educação, cultura, moradia, esporte e mobilidade, são reite-radamente negados; e que, ainda assim, acabam sendo injustamente acusados de alçar o crime a altos patamares no Brasil.

A resposta das autoridades à crise da segurança pública não pode ser a redu-ção da maioridade penal. Estes jovens, geralmente negros, pobres e moradores de favelas, são as principais vítimas da violência.

Só em 2012 foram registrados 56 mil homicídios no Brasil. Em mais de 50% dos assassinatos (30 mil), as vítimas fo-ram jovens de 15 a 29 anos; 77% deles, negros. Dados do Índice de Homicídios na Adolescência mostram também que mais de 42 mil adolescentes de 12 a 18 anos poderão ser vítimas de homicídios no país até 2019. E a curva de crescimen-to continua ascendente. Nos últimos dez anos, por exemplo, a violência letal entre os jovens brancos caiu 32,3% e entre os jovens negros, aumentou 32,4%. Ou seja, os homicídios de jovens negros são um dos principais pilares que sustentam o aumento da violência letal. O outro pilar é a indiferença com a qual a sociedade e o Estado geralmente tratam essas mortes, como se já tivessem passado a fazer parte da paisagem natural de nossas cidades.

Alguns pensam: “O mundo é mes-mo um lugar violento”. Não. Violento mesmo, atualmente, é o Brasil. Somos responsáveis por mais de 10% dos ho-micídios do mundo. Como se essas mor-tes fossem destino. Não eram. Foram resultado das escolhas que fizemos ou deixamos de fazer. A criminalização da pobreza e o racismo operam reforçando-se mutuamente no discurso do ódio e do medo que colocam a classe média em uma posição contrária à defesa de direi-tos previamente conquistados. São eles os que mais temem a violência, apesar de não serem os que mais sofrem com ela.

CONTEXTO E CENÁRIOS

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos em 2015. A legis-lação brasileira se tornou uma referência internacional, entretanto ainda há hiatos na sua aplicação. O que já é realidade: o ECA prevê que a menor idade de responsabilida-de criminal é 12 anos. Os jovens com idade entre 12 e 18 anos devem ser atendidos por um sistema de justiça juvenil, que é adequa-do a seus direitos e características de desen-volvimento social e psicológico, inclusive com a privação de liberdade como último recurso. O crime deve ser punido, mas é preciso considerar as diferenças de desen-volvimento físico e psicológico dos adoles-centes em relação aos adultos.

Já o sistema prisional do Brasil é um dos mais violentos do mundo. Somos o quarto país em população carcerária, atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. E as condições são péssimas: alojamento, alimentação, justiça. Ali as pessoas são desumanizadas.

O sistema de justiça e segurança pú-blica no Brasil tem sido historicamente marcado por uma distribuição seletiva da justiça e da impunidade. Trata-se de um sistema altamente ineficaz no combate à criminalidade, profundamente marcado pela violência policial e prisões conhecidas por suas condições medievais. A redução da maioridade penal resultaria em maior encarceramento de jovens em um sistema prisional falido, superlotado, com claras evidências de maus tratos, condições de-sumanas e práticas de tortura.

Colocar os menores de 18 anos em privação de liberdade nas mesmas instala-ções dos adultos deixaria esses jovens vul-neráveis a abusos e aliciamento por parte de facções criminosas organizadas dentro das prisões, comprometendo dramatica-mente suas perspectivas de reabilitação. O índice de reincidência de egressos das pri-sões é muito maior do que de egressos do sistema socioeducativo.

Ao reduzir a maioridade penal, o Es-tado e a sociedade brasileira mandam um sinal de que estariam desistindo de uma parcela de suas crianças e adolescentes, abrindo mão de suas responsabilidades na educação e promoção de seus direitos. A juventude dos territórios periféricos e das favelas carece de oportunidades de acesso ao lazer, cultura e educação, condições es-senciais na construção de uma vida livre da violência. O potencial de criatividade e inteligência desses territórios precisa ser estimulado, com valorização das iniciati-vas já existentes e criação de novas. Deve-ria ser essa a prioridade.

Não se promove justiça e segurança pública às custas da redução dos direitos justamente daqueles que mais necessi-tam do apoio e da solidariedade da socie-dade: as crianças e adolescentes em situ-ação de risco. Isso seria um passo trágico em direção à barbárie.

A redução da maiori-dade penal de 18 para 16 anos no Brasil seria

um passo trágico em direção à barbárie

DO PROGRESSO AO RETROCESSO

g Atila Rique é Diretor Executivo da Anistia

Internacional no Brasil

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7brasilobserver.co.uk | May 2015

Desde que terminei o mestrado em Portugal, a ideia de dar con-tinuidade aos meus estudos no Reino Unido ronda minha mente, juntamente com inúmeras dúvidas sobre como realizar este plano. A primeira grande questão é quanto ao processo de entrada num PhD: quais documentos preciso tradu-zir ou escrever, e como apresen-tá-los? A escolha da universidade também é fator crucial, assim como o contato com tutores e os custos do processo e do próprio curso. Sentia-me sozinha, mas logo per-cebi que essas dúvidas se repetem na cabeça de inúmeros estudantes estrangeiros que tem esse mesmo sonho: estudar numa instituição de nível superior no Reino Unido.

A primeira luz chegou por e-mail: uma amiga me enviou um convite para a Feira de Universidades (Uni-versity Fair) promovida pela SI-UK. No convite, vi que várias univer-

sidades britâncas pelas quais eu já havia me interessado estariam presentes. Era a minha chance de conhecer mais de perto esse mun-do. Então eu fiz minha inscrição para a feira, gratuitamente, e recebi uma confirmação eletrônica.

Achei que bastava esperar o dia da feira chegar. No entanto, alguns dias depois recebi outro e-mail, no qual a equipe da SI-UK me convi-dava para uma orientação perso-nalizada. Como eu estava bastante confusa, resolvi aceitar. No email, eles me pediam que levasse uma série de documentos, entre eles Transcripts (Histórico Escolar), Gra-duation Certificate (Diploma), Let-ters of Reference (Cartas de Refe-rência), Personal Statement (Carta de Apresentação), CV e Passport. Eu não tinha esses documentos. Na verdade, alguns eu nem sabia o que eram. Então fui com a cara e a coragem.

Ao chegar ao escritório da SI-UK, em plena Oxford Street no centro de Londres, recebi todo o apoio e percebi que eu não pre-cisaria estar sozinha durante o processo de me candidatar ao PhD. A orientação foi oferecida em inglês, mas eu poderia ter op-tado pelo português. Em apenas uma hora eu já podia ver clara-mente quais seriam os próximos passos em direção ao meu curso. Recebi uma explicação minuciosa sobre como funciona o processo de admissão das universidades, além de orientação sobre a docu-mentação que eu deveria reunir. Entendi finalmente, então, qual documento era pra quê e como eu deveria redigí-lo (ou traduzí-lo, a partir dos originais), quais eram as universidades que ofere-ciam os cursos do meu interesse e como seria a escolha de um orientador para o PhD.

Quando finalmente o dia da feira chegou, me sentia pronta para olhar para o futuro. O salão estava repleto de mesas e cada uma delas com as respectivas lo-gomarcas, materiais e orientado-res de cada instituição de ensino. Não resisti e parei em para con-versar com uma universidade que eu não havia pré-selecionado. Sentei, perguntei sobre o proces-so de aplicação para uma vaga e constatei que já sabia quase tudo o que eles me disseram. Ter sido orientada pela SI-UK antes de participar da feira valeu a pena e me fez ganhar tempo.

Algumas mesas e muitas con-versas depois, confirmei alguns interesses que já tinha, descobri outros. Ainda não submeti a mi-nha aplicação para o doutorado. Mas já me sinto mais confortável. O caminho em direção ao meu sonho agora é muito mais promissor.

NO CAMINHO DE SEUS SONHOS

Sábado 16 de Maio de 2015

Registre-se agora para participar de forma gratuita.Conheça 90 universidades do Reino Unido todas reunidas em um só lugar.

Feira de Universidades Britânicas 2015

www.ukunifair.co.uk 020-7287-7040

Para Estudantes Internacionais

Lancaster London Hotel

De 12:00h às 17:00hLancaster Gate

Universidades presentes:

Agende uma consulta gratuita antes da feira e descubra como é fácil estudar em UK

University of BathBrunel University LondonUniversity of ExeterKing’s College London

University of LeedsUniversity of SouthamptonUniversity of SurreyUCL

University of York

+ Entre outras...University of Warwick

Por Roberta Schwambach

Por onde começar quando a vontade de estudar em uma universidade britânica não sai da sua cabeça?

Page 8: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

8 brasilobserver.co.uk | May 2015

PERFIL

LLondres pode ser uma cidade caótica para muitos de nós. Imagine, então, o que pode significar para um homem indígena que cresceu em uma aldeia na região do Alto Xingu, no Estado do Mato Grosso. “Quando cheguei a Lon-dres, a primeira coisa que pensei foi: não falo inglês, não posso ler, não sei o que dizer quando alguém se aproximar, nem como pegar um ônibus sozinho ou andar nas ruas”.

Takumã Kuikuro não estava sozinho, porém. Apoiado pelo Ministério da Cul-tura do Brasil e pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) em parceria com o programa Transform do British Cou-ncil, o índio brasileiro passou os meses de março e abril na capital britânica para a realização de uma residência artística, que teve ainda o suporte decisivo do Pe-ople’s Palace Projects, capitaneado por Paul Heritage.

“Estou aqui em Londres filmando e promovendo o meu trabalho, a nossa cultura indígena”, explica ele. Membro do povo Kuikuro, Takumã cresceu na aldeia de Ipatse e foi treinado pelo pro-jeto Vídeo Nas Aldeias, da ONG Centro de Trabalho Indigenista. Documentan-do os costumes e a cultura de seu povo, recebeu atenção internacional com seus filmes, entre eles os curtas-metragens ‘O Dia em que a Lua Menstruou’ (2004) e ‘Cheiro de Pequi’ (2006) e o longa ‘As Hi-per Mulheres’ (2011). Este último, aliás, foi apresentado em sessão especial rea-lizada na Embaixada do Brasil em Lon-dres em abril.

Mas como tudo começou, afinal? E o que motiva Takumã Kuikuro a deixar sua família em terras brasileiras para apresentar do outro lado do mundo sua visão tão particular em relação ao nosso planeta?

PAIXÃO PELAS IMAGENS

Takumã Kuikuro nasceu em 1983. Du-rante quase toda sua infância, na aldeia de Ipatse, não teve escola para frequentar. Até os oito anos de idade, nunca tinha ouvido outro idioma que não o de sua tribo.

Em 1992, porém, um líder indígena local foi ao Rio de Janeiro para a confe-rência ecológica ECO-92 e por lá acabou ficando para estudar. Quando retornou para a aldeia no Alto Xingu, mais ou menos um ano depois, decidiu organizar aulas para transmitir seus conhecimen-tos e ensinar aos jovens aquilo que havia aprendido na cidade grande.

“Ele trouxe alguns lápis e cadernos, mas não o suficiente para todos. Cos-tumávamos cortar os lápis em pedaços para que todos pudessem ter um; tam-bém os cadernos. Foi muito difícil para nós aprendermos, pois as pessoas mais velhas não podiam nos ajudar. Nós não tínhamos como procurar mais informa-ções”, relembra Takumã.

Em 1996, o Instituto Socioambiental (ISA) criou um curso de formação de professores indígenas, dando apoio à ini-ciativa educacional em Ipatse, com aulas de português e matemática.

Nos anos que se seguiram, outras organizações foram chegando à comu-nidade indígena, inclusive o projeto Ví-deo nas Aldeias (VNA), que desde 1986 promove o encontro dos povos nativos com suas imagens, ensinando modos de filmar, documentar e contar histórias.

“Desde a primeira oficina na aldeia, em 2002, me senti muito curioso. Quan-do comecei a filmar, não consegui mais parar. Foi Vincent Carelli quem me en-sinou como segurar uma câmera pela primeira vez”.

QUESTÃO DE IDENTIDADE

A paixão de Takumã pelas imagens continuou crescendo e ele sentiu que sua missão era ajudar a sua comunidade a manter a própria cultura. Não era uma missão qualquer. O próprio Cacique Kuikuro, chefe da comunidade, se preo-cupava, pois os jovens estavam perdendo o interesse pela cultura tradicional, pelos cantos e rituais.

“Meu papel é arquivar a cultura de nossa comunidade. Sou responsável pela documentação e por ensinar como documentar. Temos dois tipos de tra-balho: primeiro documentamos os ri-tuais, passo a passo, e depois fazemos uma sequência simples para editá-los. Nossos arquivos são então usados para ensinar nossos jovens. Para eles eu sou um exemplo, sou o primeiro que fez isso acontecer, então eles querem fazer como eu. Eles me veem fazendo esse trabalho e querem aprender, viajar também. Eles me veem representando a cultura Kuiku-ro, toda a cultura indígena brasileira”.

Takumã explica que os materiais do arquivo também são compartilhados com outros povos indígenas. Por outro lado, não compartilham nem vendem para as pessoas que não são indígenas, simplesmente porque o conteúdo não seria ser compreendido.

Do Alto Xingu para Londres, cineasta indígena traz a certeza de que povos

tradicionais do Brasil estão preservando e expandindo o

alcance de sua cultura

Por Alicia Bastos g

A MISSÃO DE TAKUMÃ KUIKURO

g Alicia Bastos é fundadora e diretora artística do Braziliarty

(www.braziliarty.org)

Page 9: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

9brasilobserver.co.uk | May 2015A

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Outro tipo de trabalho são os filmes que, além de serem mostrados nas co-munidades indígenas, rodam o mundo – contando fatos do cotidiano nas al-deias, apresentando a cultura tradicio-nal e os rituais.

“Quando viajamos pelo Rio Xingu para compartilhar nosso trabalho com outros povos indígenas, levamos tudo: gerador, equipamentos, todos os filmes. Quando chegamos às aldeias podemos ouvir os geradores ligados e o povo as-sistindo meus filmes. Isso é muito im-portante. É um processo muito profundo para os indígenas. Eles são mal influen-ciados pelos canais de televisão comer-ciais e perdem interesse pela sua própria cultura. Ver a nós mesmos na tela nos faz perceber coisas, nos faz aprender com nossas próprias imagens”.

Takumã comenta sobre as várias questões que a televisão traz, como a ide-alização de pessoas não indígenas, seus nomes e a tentação do estilo de vida con-sumista. Nomes indígenas começaram a se tornar raros e o medo da violência e do abuso começou a crescer. Consequen-temente, pela falta de informação e pelas experiências anteriores, os indígenas cri-ticavam o trabalho de Takumã no início.

“Foi muito difícil no começo. Acha-vam que eu ia vender tudo. Às vezes até quebravam minha câmera ou me colo-cavam para fora da aldeia. Alguns ainda têm a impressão de que eu estou receben-do um monte de dinheiro, porque eu via-jo muito, internacionalmente também. E eu preciso explicar que não se trata de ganhar dinheiro, mas sim de preservar e promover nossa cultura para o mundo, representar o povo Kuikuro e a cultura indígena. Muitos não sabem como é nos-sa vida diária e as coisas que acontecem na aldeia”.

CÂMERA COM ALMA

Takumã levou muitos anos para obter confiança. Ele explica que todos os gas-tos com viagens são pagos, mas que não ganha nada, nem vende seus filmes. Ao ensinar as pessoas nas aldeias, ele espera

que cada vez mais indígenas sejam capa-zes de experimentar o cinema de forma autêntica, pois entende que o ato cinema-tográfico não se trata apenas de uma pes-soa por trás da câmera, mas de um grupo trabalhando em conjunto, contando sua história para o mundo.

“Agora somos bem-vindos, eles [os indígenas] podem compreender melhor e confiar em mim. Eles nos convidam para documentar seus rituais e eu faço, ensinando como fazer. Eles me contam suas histórias e querem estar em meus filmes. Para explicar por que essas coisas acontecem, só posso dizer que deve ser um dom espiritual”.

De fato, Takumã alcançou algo ini-maginável para a maioria. “Aprendi ob-servando. Nunca tinha deixado a comu-nidade e, de repente, estava dentro de um avião, que era como um sonho, eu estava voando”.

O sonho continuou. Em Londres, durante sua residência artística, o índio cineasta brasileiro percorreu a cidade com uma câmera na mão para mostrar a capital britânica como uma aldeia, com seus diferentes povos e rituais. O resul-tado poderá ser visto em seminário do People’s Palace Project dia 10 de junho. Quando isso acontecer, porém, Takumã Kuikuro estará no Brasil, pois é lá que tem uma missão inadiável: documentar e dar vida eterna ao seu povo.

“Não precisamos de pessoas não indígenas vindo fazer seus filmes e vi-rando donas das nossas imagens. Pode-mos fazer nossos próprios filmes. Digo isso ao meu povo, para que possamos valorizar nosso trabalho de documen-tação e filmes indígenas. Mas para isso precisamos de patrocínio e equipa-mentos. Quando as pessoas querem vir e filmar, elas enviam uma proposta e nós dizemos o que queremos. Normal-mente são câmeras, cabos, microfones. Acreditamos que a câmera é alimen-tada com a alma das pessoas, ou seja, quando nós filmamos alguém, desde que os filmes sejam vistos, aquelas pes-soas filmadas viverão para sempre na comunidade”.

SAIBA MAISDesde o período colonial até as recen-tes batalhas no Congresso em Brasília, os direitos indígenas estão sob constante ameaça no Brasil. Para entender melhor a questão, acesse www.brasilobserver.co.uk

Page 10: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

10 brasilobserver.co.uk | May 2015

BRASIL GLOBAL

OO processo de internacionalização das universidades brasileiras está em alta. Mesmo que recente, é nítido o interesse das instituições de ensi-no superior do Brasil em alcançar o status de “universidade padrão mun-dial” (do inglês “world class univer-sity”). Ou seja, construir instituições capazes de fazer a diferença no de-senvolvimento científico, tecnológico e industrial em escala global.

Trata-se, afinal, de uma necessida-de que surge naturalmente à medida que os países se desenvolvem. Diante do imperativo de ampliar o alcance do ensino superior para uma parcela maior da população, aumentar a qua-lidade de produtos e serviços, a com-petitividade e o padrão de vida geral, a existência de pelo menos algumas instituições com esse perfil pode be-neficiar todo o sistema.

Nos dois primeiros dias de ju-nho, a conferência Going Global 2015, organizada pelo British Cou-ncil, vai debater exatamente essa questão. Por isso, o Brasil Observer conversou com representantes de universidades brasileiras que virão a Londres para o evento, além de es-pecialistas britânicos e um estudan-te do Ciência Sem Fronteiras, para entender o sentido dessa busca pela internacionalização, assim como os desafios que estão postos para esse processo no Brasil.

POR QUE INTERNACIONALIZAR

Para o professor de física e ex-di-retor de relações internacionais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Leandro Tessler, o maior benefício da internacionalização é a abertura do Brasil para o mundo. “O Brasil foi uma economia auto-refe-renciada por décadas. Isso teve con-sequências nefastas para o desenvol-vimento de nossa indústria e atingiu indiretamente o ensino superior. Nos-sas melhores universidades ficaram irrelevantes”. Na avaliação de Tessler, “formar gente conectada com o que acontece no mundo qualifica a forma-ção e permite integrar nossos forma-dos com o que há de mais avançado”.

Já Carlos Alexandre Netto, presi-dente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que a ciência é uma narrativa universal, portando as universidades não de-vem conhecer fronteiras. “O esforço de internacionalizar é extremamente benéfico, pois dá oportunidade ao Brasil de contribuir com a ciência. A real integração entre os povos – que é maior do que o relacionamento eco-nômico entre os países – depende da academia e da vivência de jovens, no caso, nossos estudantes. Eles são em-baixadores da cultura e criam condi-ções para o melhor entendimento e a aceitação mútua”.

Visão semelhante foi compartilhada por Maria Inês Gariglio, professora dos cursos de graduação e responsável pelas relações internacionais do Centro Fede-ral de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), para quem as uni-versidades brasileiras precisam aumen-tar o nível de internacionalização para se tornarem mais competitivas, além de gerarem bons frutos de seus inves-timentos em pesquisa. “A presença de trabalhadores, professores, pesquisa-dores e alunos internacionais propicia, em qualquer país, o desenvolvimento de competências interculturais, o que, em última instância, irá contribuir para a superação de preconceitos, para o aumento da tolerância. A sociedade só tem a ganhar com esses aprendizados”.

Os três salientaram ainda o valor es-tratégico do processo. “No passado, foi fomentada a formação de doutores em áreas de pesquisa relacionadas a óleo e gás, aeronáutica e agricultura; hoje o Brasil tem real protagonismo nesses campos. Os grandes desafios científi-cos e tecnológicos são locais e globais. Se pudermos construir as soluções em parceria, independentemente de língua e de fronteiras, muito melhor. A univer-sidade nada perde”, disse Carlos Ale-xandre Netto.

“Não acredito que haja tal conflito [entre a internacionalização e a defesa dos interesses nacionais], uma vez que o que se busca é uma relação de parceria e,

portanto, de igualdade. Em trabalho co-laborativo são as competências de cada um dos partícipes que definirão a rela-ção. Há, sim, um pensamento de uma relação colonizador/colonizado que precisa ser superada”, ponderou Maria Inês Gariglio. Para Leandro Tessler, “o país não vai realizar nenhum interes-se estratégico mantendo-se isolado do mundo acadêmico”.

PONTO-CHAVE: DINHEIRO

O que faz, então, uma universidade obter sucesso no processo de interna-cionalização? Phil Baty, editor da Times Higher Education (THE), revista bri-tânica dedicada à classificação de uni-versidades, afirmou ao Brasil Observer que haja talvez um único ponto-chave: dinheiro. “As universidades precisam de recursos para atrair e manter ta-lentos acadêmicos de ponta e oferecer infraestrutura adequada para pesquisa e treinamento. Não há saída para esse simples fato de que o dinheiro fala alto no sistema de ensino superior global”.

Phil Baty apontou, porém, outros elementos que, em sua avaliação, são essenciais. “Penso que as universidades precisam de autonomia, não podem ser excessivamente controladas pelo Esta-do, nem sufocadas pela burocracia. Pre-cisam ser dinâmicas para responder às mudanças globais, oferecendo soluções inovadoras rapidamente. E precisam

Especialistas ouvidos pelo Brasil Observer explicam o sentido dessa quase obsessão e os desafios a serem superados

Por Guilherme Reis

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REPRODUÇÃO

fomentar um espírito acadêmico de livre investigação”.

Sobre as universidades brasileiras, Phil Baty disse que elas ainda são muito introspectivas. “Os salários não são atra-entes o suficiente e é muito difícil para os acadêmicos internacionais construir carreiras no Brasil. O idioma inglês ainda não é amplamente falado. Mas pelo me-nos há um reconhecimento de que mais precisa ser feito”.

O desenvolvimento mais notável, se-gundo Phil Baty, foi a criação do progra-ma Ciência Sem Fronteiras, lançado pelo governo federal em 2011 com o objetivo de enviar mais de 100 mil estudantes de graduação e pós-graduação para cur-sos de intercâmbio no exterior. “Essa iniciativa não apenas ajuda os talentos brasileiros a ganharem experiência inter-nacional como ajuda as instituições de ensino a formarem parcerias duradouras em uma rede de colaboração global”.

PANORAMA HETEROGÊNEO

Os desafios das universidades bra-sileiras são consideráveis. E o processo está longe de ser uniforme, uma vez que as diferenças entre as instituições são grandes. Isso faz com que, entre outras coisas, não haja no Brasil um modelo na-cional para a internacionalização.

“A partir da autonomia institucio-nal, cada universidade busca estratégias e parcerias para atender às suas metas.

Há instituições que foram desenvolvidas com a vinda de professores de outros pa-íses, sobretudo da Europa e dos Estados Unidos: essas já nasceram internaciona-lizadas, lideram o processo e têm, cer-tamente, maior visibilidade no mundo. Outras, bem mais novas, estão a dar os primeiros passos e se apoiam principal-mente no Ciência Sem Fronteiras para iniciar seu percurso”, disse Carlos Ale-xandre Netto.

Leandro Tessler ponderou que, para muitas instituições, a internacionaliza-ção se resume a mandar estudantes para o estrangeiro. “Nesse sentido, o progra-ma Ciência sem Fronteiras é bastante original pelo tamanho e pelas intenções. Na prática, porém, ainda está tendo um impacto abaixo do que eu esperava sobre os programas de graduação em engenha-ria no Brasil”, comentou.

Questionado sobre quais eram essas expectativas, Leandro Tessler respondeu: “Como é possível, no Reino Unido ou nos Estados Unidos, formar um enge-nheiro mais capacitado que os brasilei-ros em menos tempo e mantendo-o em sala de aula não mais de 15 a 20 horas por semana? A formação de engenheiros no mundo desenvolvido é voltada para competências, enquanto aqui as pesso-as ainda se preocupam com conteúdos. Infelizmente a maioria dos coordena-dores resiste a entender isso e acaba não reconhecendo os créditos trazidos pelos estudantes que não sejam exatamente equivalentes aos que são oferecidos aqui. Ora, se é para fazer a mesma coisa, então para que gastar dinheiro mandando os alunos para o estrangeiro?”.

O professor da Unicamp afirmou ter esperança de que isso mude, principal-mente pela pressão dos estudantes que voltam do Ciência Sem Fronteiras. “For-mar engenheiros mais criativos, com consciência social e ambiental, é funda-mental para o país gerar riqueza”, disse.

Na avaliação de Maria Inês Gariglio, a maioria das universidades está traba-lhando para a construção de parcerias internacionais e não apenas ao intercâm-bio de alunos e professores, para a cons-trução de projetos conjuntos de pesquisa e para que a relação seja duradoura.

“Talvez possamos dizer que todas estão buscando a construção de um campus universitário multicultural e multilíngue. O esforço para a utiliza-ção do Inglês como Meio de Instrução (EMI) se tornou peça chave. Além da utilização do inglês, repensar currícu-los acadêmicos e novos formatos de cursos já são ações que se colocam na pauta da internacionalização das uni-versidades”, comentou a professora.

PARCERIAS INTERNACIONAIS

A relação do King’s College Lon-don com universidades brasileiras é um exemplo. A instituição, que tem mais de 8.650 alunos estrangeiros procedentes de 140 países (33% do total de seus estudan-tes), inclusive abriu um escritório no país no ano passado.

A vice-reitora para assuntos inter-nacionais, Joanna Newman, explicou

ao Brasil Observer que, antes de uma parceria, são considerados os rankin-gs e as avaliações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência de fomen-to à pesquisa ligada ao Ministério da Educação do Brasil. “Nossas parcerias são com as universidades melhor po-sicionadas nos rankings, como a Uni-versidade de São Paulo (USP), a Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”.

Joanna Newman contou que alguns acordos são amplos, enquanto outros são focados em áreas específicas. “Uma ten-dência recente tem sido o programa de PhD conjunto. Neste ano começa o pro-grama de PhD em parceria com o Insti-tuto de Relações Internacionais da USP, com a vinda de quatro pesquisadores brasileiros em setembro. Estudantes do King’s College devem cumprir o período de estudo na USP no ano que vem – e as aplicações para isso já estão abertas”.

Outras parcerias ainda estão sendo estudadas, segundo a vice-reitora. Uma delas seria um programa similar de PhD conjunto, com a mesma USP, na área de farmacologia. Já o departamento de estu-dos latino-americanos do King’s College está buscando um acordo com o depar-tamento correspondente na UFMG. “Es-ses programas não apenas promovem a mobilidade de estudantes, mas represen-tam grande potencial para parcerias de pesquisa”, disse Joanna Newman.

LÍDERES DO FUTURO

Bruno Belmonte Martinelli Gomes tem 21 anos e mora Uberaba, em Mi-nas Gerais. Atualmente cursando o sé-timo período do curso de Biomedicina na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, ele passou um ano no Reino Unido entre 2013 e 2014, fazendo parte de sua graduação na Durham University, pelo Ciência Sem Fronteiras.

Ao Brasil Observer, Bruno revelou que, ao voltar ao país, teve um “choque de realidade”. Tal situação, porém, não é necessariamente negativa. “Imagino, e acho que não sou o único com esse pen-samento, que o maior legado do Ciência Sem Fronteiras é o desejo de mudanças”, disse Bruno. “É encarar nossa realidade e querer mudá-la com as próprias mãos, seguindo os exemplos que tivemos no ex-terior. Há muito que podemos fazer e há muito mais que precisa ser feito. Quem vai tem a oportunidade de experimentar o que funciona e a obrigação de propagar essas mudanças por aqui”.

Como disse o presidente da UFRGS, Carlos Alexandre Netto, os grandes de-safios que se impõem à sociedade são locais e também globais. Fomentar um ambiente de ensino internacionalizado, portanto, é essencial para que, avaliando o que é feito ao redor do mundo, o Brasil seja capaz enfrentar de forma mais efi-ciente e estratégica as demandas nacio-nais, sendo consequentemente um player internacional mais relevante. Os futuros líderes globais certamente estão sendo formados em salas de aula globais.

Não há fórmula perfeita para o sucesso da internacionalização,

mas uma necessidade é inevitável: dinheiro

g Pelo segundo ano consecu-tivo, o Brasil não teve ne-nhuma universidade entre as 200 melhores do mundo no ranking internacional Times Higher Education (THE). Considerado um dos mais respeitáveis rankings de avaliação de produção acadêmica, o ranking mos-tra em sua mais recente edição (2014-2015) uma leve melhora da Universi-dade de São Paulo (USP), que subiu da faixa dos 226º a 250º lugares para a faixa de 201º a 225º lugares. A outra universidade brasilei-ra que aparece no ranking é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que repete a colocação do ranking anterior (301º a 350º lugares). A lista tem ao todo 400 universidades.

g De acordo com o Ranking Universitário Folha 2014, as cinco melhores universi-dades brasileiras no quesito internacionalização – que avalia as citações inter-nacionais por docente e a proporção de publicações em coautoria internacional – são, pela ordem: Funda-ção Universidade Federal do ABC (UFABC); Universi-dade São Francisco (USF); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Universidade Federal do Ceará (UFC).

g O total de bolsas imple-mentadas pelo programa Ciência Sem Fronteiras des-de 2011 já chegou à marca de 78.173. A grande maio-ria delas, 61.542, foi para a modalidade graduação san-duíche. Em segundo lugar está a modalidade douto-rado sanduíche, com 8.064 bolsas. Estados Unidos e Reino Unido são os dois destinos mais populares, com 22.064 e 9.115 bolsas implementadas, respecti-vamente. A principal área de estudo é “Engenharias e demais áreas tecnológicas”, com 34.545 bolsas.

DADOS E INFORMAÇÕES

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CONEXÃO BR-UK

WORLD VOICE ESTREIA EM SÃO PAULOPrograma

desenvolvido pelo British Council em mais de 12

países capacitou professores da rede

pública de ensino para o uso do canto

em sala de aula

DDesenvolvido pelo British Council em mais de 12 países, o programa de capacitação de pro-fessores para o uso do canto em sala de aula, World Voice, foi realizado pela primeira vez em São Paulo de 23 de março a 2 de abril. A edição foi promovida com a Secretaria Muni-cipal de Educação (SME) e com o Programa Guri Santa Marcelina.

Com o intuito de assegurar a crianças e jo-vens a oportunidade de usar o canto em sala de aula, o World Voice é um programa de efeito multiplicador. A professora britânica Sharon Durant promoveu workshops no Centro Edu-cacional Unificado (CEU) Caminho do Mar, com crianças do 2º e do 4º anos do Ensino Fundamental e com professores dos Ensinos Infantil e Fundamental da Rede Municipal.

Com o objetivo de mostrar como a me-todologia pode ser aplicada em sala de aula, a formação de professores iniciou com a ob-servação das atividades com as crianças para seguir com o ensino de exercícios e canções do programa. Participaram 32 alunos do 2º ano (crianças por volta dos 7 anos de idade) e 31 alunos do 4º ano (9 anos), em quatro dias de workshop (com carga horária total de 10 ho-ras). Na formação de professores, foram 54 participantes, divididos em duas turmas, com carga horária de 18 horas ao longo de seis dias de atividade. Esta ação pode atingir, indireta-mente, mais de 1.000 crianças.

Como parte dos preceitos do programa, o British Council buscou, em parceria com a SME, desenhar o mais indicado formato para a ação nessa primeira edição; e Sharon Durant, junto aos professores, buscou compreender as necessidades curriculares para melhor direcio-

nar a escolha das canções e jogos musicais. A partir das especificidades dos Ensinos Infantil e Fundamental, diferentes focos foram abor-dados, ensinando músicas e jogos brasileiros e ingleses, e também canções do Senegal, Argen-tina, África do Sul e Jordânia.

No sábado, 28 de março, o auditório do CEU Caminho do Mar foi palco de uma apre-sentação de coral dos alunos, que trouxe o re-sultado e parte do processo do workshop com as crianças. O evento contou com público de mais de 160 pessoas, entre pais e familiares.

Em entrevista ao portal da Secretaria Municipal da Educação, Cissa Carlini, co-ordenadora de Programas Especiais e CEUs, afirmou que que a música deve estar cada vez mais presente nas escolas. “Foi emocionante! A gente percebe que a arte abre uma janela da vida deles que nunca mais vai se fechar. Percebemos a alegria deles de mostrar, para as suas famílias, que estavam cantando; a ale-gria de ter convivido com essa regente e de fazer parte de um conjunto”.

“Os pais saíram emocionados”, destacou Viviane Oliveira Santos, coordenadora de projetos do núcleo de cultura do CEU Ca-minho do Mar, que acredita que “o projeto despertou o interesse de toda a comunidade – pais, alunos e professores. Para o professor Michel Rodrigues Curcho, foi muito gratifi-cante. “Gosto muito de música e, se eu pu-der usá-la a favor da aprendizagem do meu aluno, acho que vai mudar minha aula e mi-nha dinâmica. E para o aluno vai ser muito significativo”. Para a professora Ana Cristina da Silva, “a vontade é que não termine! Mas agora é nos aprofundarmos mais”.

A formação de multiplicadores (Master Trainers) foi realizada simultaneamente em parceria com o Programa Guri Santa Marce-lina. Ao longo de duas semanas, quatro pro-fessores do programa Guri – Luciana Elisa Hoerner, Valéria Zeidan Rodrigues, Lidiana Mincov Elbert e Alexandre de Oliveira Leite – participaram e ajudaram na condução dos workshops do World Voice com as crianças e os professores. Além dos professores do Guri, quatro jovens talentos do projeto (Young Le-aders) participaram do treinamento; são eles: João Júnior, Daniele de Almeida, Vanessa Al-bino e Lucas Borges.

Para Valeria Zeidan, coordenadora peda-gógica do Programa Guri e Master Trainer do World Voice, “é uma alegria a possibilida-de de ampliar o programa para outras cida-des e estados”. E ressaltou a importância da volta da música no currículo escolar depois de 30 anos de ausência. “Sabemos da neces-sidade de ensino de música nas escolas, bem como as limitações dos professores. Por isso, a importância de programas que levem mú-sica e ensino de qualidade”.

Valéria também destacou a rede que se forma a partir da atuação do British Council em diferentes países. “O World Voice procura aprender a cultura local e, quando viaja para outro país, leva essa cultura adiante. Ou seja, vai criando uma rede de repertório e de pesso-as interessadas em música, de sua cultura e de outros povos. Isso é muito especial. Músicas de cada um desses países fazem parte do banco de canções, que reúne gravações, letras, traduções e partituras das canções tradicionais ou repre-sentativas de cada lugar.”

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Por British Council

Apresentação World Voice Brasil 2015

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BRASILIANCE

TERCEIRIZAÇÃO AMPLA E IRRESTRITA BATE À PORTA

Manifestações devem se intensificar contra

projeto de lei aprovado na Câmara que libera

as empresas para contratarem mão de obra

terceirizada. Em nome da redução do “custo

Brasil”, país corre risco de precarizar relações

trabalhistas

Por Wagner de Alcântara Aragão

NNo mês em que se comemoram o Dia Internacional do Trabalho e a abolição da escravatura no Brasil, o país deve assistir a um duro embate em torno de uma proposta que tende a precarizar as relações entre trabalhadores e empre-sários. Está no Senado, depois de ter o texto final aprovado pela Câmara dos Deputados em 22 de abril, um projeto de lei que libera amplamente a terceiri-zação da mão de obra. A proposta tem acirrado a luta de classes na sociedade e servido também de instrumento de negociação entre os diversos interesses políticos-partidários no Congresso – e entre este e o Executivo.

A própria retirada do projeto da ga-veta denota oportunismo. O projeto de lei foi apresentado em 2004 pelo então deputado federal Sandro Mabel (PSDB-GO). Depois de dez anos passando por todos os trâmites, o projeto estava pa-rado na Mesa Diretora da Câmara des-de abril de 2014. Coincidência ou não, a proposta foi desarquivada e colocada em pauta pelo presidente da Casa, Edu-ardo Cunha (PMDB-RJ), exatamente no momento em que o governo precisa contar com o apoio maciço do Legislati-vo para aprovar medidas de ajuste fiscal. Cunha, em 2013 (quando ainda não era presidente da Câmara), tinha apresenta-do requerimento pedindo tramitação de urgência da matéria, mas só agora con-seguiu fazer a proposta andar – diante do enfraquecendo da base de apoio ao governo da presidenta Dilma Rousseff no Congresso, dominado por um PMDB “independente”.

Ficou implícito, ou quase explícito, um acordo que seguiu por este caminho: em troca da aprovação do ajuste, o go-verno não criaria maiores empecilhos à apreciação do projeto da terceirização. Se criasse, o ajuste estaria em risco. Por meio do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o governo chegou a acordar com os parlamentares que no texto não se in-cluísse nenhum item que representasse diminuição de recolhimento de tributos por parte da União. É verdade, por ou-tro lado, que o PT e outros aliados como o PCdoB, o Pros e, por úlitmo, o PDT, orientaram suas bancadas a rejeitarem o projeto na íntegra (mesma posição do Psol e do PSB). Não houve, porém, ne-nhum tipo de ação mais ofensiva da ban-cada governista nem do próprio governo para impedir a aprovação da medida.

A presidenta Dilma Rousseff não tem assumido um discurso de rechaço ao projeto. Nem durante reunião com representantes das centrais sindicais bra-sileiras, ocorrida no Palácio do Planato

na véspera do 1º de maio, Dilma deixou claro se vai vetar ou não a matéria, quan-do chegar em suas mãos. A presidenta criticou pontos do projeto aprovado pela Câmara, entretanto ressalvou que o país carece de uma regulamentação da ter-ceirização – em torno de 12 milhões de brasileiros atuam hoje como terceiriza-dos. “A regulamentação precisa manter, do nosso ponto de vista, a diferenciação entre atividades fim e meio nos mais di-versos ramos da atividade econômica. Para nós, é necessária [a diferenciação] para assegurar que o trabalhador tenha a garantia dos direitos conquistados nas negociações salariais. E também para proteger a Previdência Social da perda de recursos”, ponderou a presidenta.

O coro pelo veto, todavia, engrossa entre sindicalistas, parlamentares e mi-litantes de esquerda, movimentos sociais progressistas e defensores de causas tra-balhistas. Dada a goleada que marcou a aprovação do projeto na Câmara – 324 votos a favor, 137 contra e duas absten-ções – e ao perfil conservador do Sena-do, os trabalhadores calculam que, pelo Legislativo, vai ser muito difícil reverter a situação. Se nas últimas semanas ma-nifestações contra o projeto levaram milhares às ruas das maiores cidades do país, não deverá ser diferente agora que a matéria está entre os senadores.

‘CUSTO BRASIL’

Do lado da classe empresarial, os in-dustriais estão entre os defensores mais fervorosos da regulamentação e amplia-ção da terceirização. A Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) chegou a veicular na televisão, em ho-rário nobre, em meados de abril, peças publicitárias em que o presidente da en-tidade, Paulo Skaf, aparece pessoalmente enaltecendo e pedindo apoio ao projeto da terceirização da mão de obra. A Fede-ração das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), tão logo a proposta pas-sou pela Câmara, também comemorou publicamente o feito. A Fiesp, a Firjan e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre outras entidades empresa-riais, argumentam que a regulamentação da terceirização vai fomentar a geração de empregos e, além disso, assegurar aos terceirizados as garantias trabalhistas dos demais trabalhadores.

As manifestações dessas entidades não têm ressaltado, porém, o ponto que mais agrada o setor: a diminuição das despesas com encargos trabalhistas. Po-dendo, por lei, contratar um funcionário terceirizado inclusive para a atividade-

fim do negócio – o texto final aprovado pela Câmara dos Deputados prevê essa possibilidade – a empresa se vê livre a obrigação de gastar com recolhimento de previdência social e fundo de garantia, pagamento de salário educação e provi-sões de férias e 13º – isso tanto para fun-cionários fixos quanto para contratações para suprir férias ou afastamentos.

Os encargos trabalhistas são apontados pelos empresários como um dos principais componentes do chamado “custo Brasil”, isto é, um conjunto de despesas que enca-recem a produção e a prestação de serviços e que, dessa forma, travam a expansão de empreendimentos e o desenvolvimento econômico. De acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) – denominado “O impacto do ‘custo Brasil’ na competitividade da indústria brasileira de bens de capital” – neste setor os encar-gos trabalhistas respondem por até 20% da receita líquida de vendas. Ainda segundo o estudo, praticamente 4% dessas despesas se referem ao que o levantamento classifica de “tributos não recebíveis”, isto é, gastos sem qualquer tipo de retorno à atividade empresarial. O desenvolvimento do setor de bens de capital mecânicos é o balizador do desenvolvimento industrial de um país e, por consequência, da própria economia, assinala a Abimaq.

UMA CHINA

Ainda que a necessidade de reduzir o “custo Brasil” seja consenso entre tra-balhadores e empresários, entre progres-sistas e ortodoxos, o corte por meio da flexibilização trabalhista está longe de ser a saída apropriada, na avaliação de um representante do próprio governo Dilma, o ministro da Secretaria de As-suntos Estratégicos, Mangabeira Unger. Se a presidenta tem sido comedida em suas palavras, Mangabeira Unger não tem poupado críticas ao projeto de lei da terceirização do trabalho aprovado pela Câmara dos Deputados.

Um dia depois da sessão que chance-lou o texto base do projeto, publicamente o ministro condenou a medida. “Nós não podemos avançar apostando na precariza-ção do trabalho, no aviltamento do salário e na desqualificação do trabalhador. Não podemos prosperar no Brasil como uma China com menos gente”, declarou à im-prensa. Semanas depois, em entrevista ao jornalista Luís Nassif, na TV Brasil (emis-sora pública), Mangabeira Unger classifi-cou o projeto da terceirização como um “eufemismo neoliberal da flexibilidade”.

Para o ministro, ao mesmo tempo

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g PERMISSÕESAs empresas podem contratar trabalha-dores terceirizados em qualquer ramo de atividade para execução de qualquer ta-refa, seja em atividade-fim ou meio. Atu-almente, a terceirização só é permitida em atividades de suporte, como limpeza, segurança e conservação. A terceirização da atividade-fim é o ponto que gera mais polêmica, pois possibilita que uma empre-sa não tenha empregado nenhum, tercei-rizando todas as funções de sua atividade.

g RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIAA fornecedora de mão de obra terceiri-zada e a empresa contratante têm res-ponsabilidade solidária: ambas podem responder judicialmente por direitos não honrados.

g FISCALIZAÇÃOA contratante deve fiscalizar se a contra-tada está em dia com salário, férias, vale-transporte, FGTS e outros direitos.

g SINDICALIZAÇÃOQuando a terceirização for entre em-presas que pertençam à mesma cate-goria econômica, os empregados da contratada serão representados pelo mesmo sindicato que representa os em-pregados da contratante. Foi retirada do texto a necessidade de observar os res-pectivos acordos e convenções coleti-vas de trabalho. Esse aspecto fragiliza a relação trabalhador-empregador, o que leva à precarização do trabalho e põe em risco direitos trabalhistas.

g DIREITOSOs trabalhadores terceirizados têm direito às mesmas condições oferecidas aos em-pregados da contratante: alimentação em

refeitórios, serviços de transporte, atendi-mento médico ou ambulatorial, cursos e treinamento, quando necessários.

g SUBCONTRATAÇÃOA empresa que fornece mão de obra pode subcontratar trabalhadores de ou-tra empresa em casos de serviços técni-cos altamente especializados e se houver previsão contratual.

g DEFICIENTESAs empresas terão que contabilizar todos os empregados diretos e terceirizados para calcular a cota de funcionários com defici-ência a serem contratados, de 2% a 5%.

g PREVIDÊNCIAAs fornecedoras de mão de obra pagarão alíquota de 11% sobre a receita bruta para a Previdência Social.

g MULTASe as normas forem violadas, a empresa infratora estará sujeita a multa igual ao valor mínimo estipulado hoje para ins-crição na dívida ativa da União (mil reais) por trabalhador prejudicado.

g VEDAÇÃOA contratante não pode usar os trabalha-dores terceirizados para tarefas distintas das previstas em contrato.

g DOMÉSTICOSA lei não vale para trabalhadores domés-ticos. Emenda também vedou a aplicação para guardas portuários.

g TRIBUTOSA empresa que contrata terceirizados deve recolher antecipadamente parte dos tributos devidos pela contratada.

O QUE DIZ O PROJETO

GOVERNO TEME

PERDA DE ARRECADAÇÃO

Um aspecto que tem preocupado o governo federal no projeto de lei que regulamente a terceirização do trabalho no Brasil é o risco de a União perder em receitas com tributos. A presidenta Dilma Rousseff tem dado declarações nesse sentido e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em audiência pública na Câmara dos Deputados, admitiu ser esse um temor eminente. “O importante, do ponto de vista da Fazenda, é que a ter-ceirização só terá chance de sucesso se for tributariamente neutra. O projeto não pode servir de artifício para pagar menos imposto”, afirmou o ministro, se-gundo a Agência Brasil.

Para o ministro, o texto que saiu da Câmara não contempla as necessida-des do governo. “Fizemos proposta de simplificação fiscal, que é a retenção na fonte. Antes de pagar a empresa con-tratada, a contratante retém [os tribu-tos] na fonte. Isso reduz a exposição, a incerteza jurídica e simplifica o pro-cesso inteiro”, defendeu o ministro. De acordo com Levy, do jeito que está o

projeto vai provocar perda de receitas, o que não seria nada oportuno neste momento em que o governo se esmera para viabilizar o aperto fiscal.

Além de evitar perdas de receitas, o governo segue empenhado em passar a tesoura nas despesas, nem que isso acarrete em diminuir recursos que pos-sam prejudicar a prestação dos serviços públicos ou mesmo frear investimen-tos. Até 20 de maio, a presidenta Dilma Rousseff deve definir quais os cortes de verbas serão aplicados no Orçamento Geral da União de 2015, sancionado por ela em 20 de abril, depois de uma tensa tramitação no Congresso Nacio-nal.

Os cortes são a única saída do gover-no para cumprir a meta de superávit pri-mário de 1,2% do Produto Interno Bru-to em 2015. Superávit primário é o que governo economiza para pagar juros da dívida pública. Com os cortes no Orça-mento e as medidas adotadas até agora, a União deverá deixar de gastar até 80 bilhões de reais. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy

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em que a informalidade no mercado de trabalho caiu de 60% a 40% nos últimos anos, houve um aumento da precariza-ção, representada principalmente pelo processo de terceirização. Mangabeira Unger até defende um marco regulató-rio para isso, desde que esteja em con-sonância com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) brasileira, a qual fixa os direitos dos trabalhadores formais do país. “A questão é o seguinte: nós vamos permitir que a maioria dos trabalhadores brasileiros sejam jogados na insegurança econômica radicalmente, ou nós vamos resgatá-los, criando um novo regime de leis que protejam, representem e organi-zem esses trabalhadores organizados?”, questionou.

‘PEDALADA’

Seja por convicção ideológica seme-lhante à de Mangabeira Unger, ou pelo embate político-partidário com Eduardo Cunha e com o Executivo, o presiden-te do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem se posicionado contra o texto aprovado pela Câmara dos Deputados. Mais que isso: contrariando a vontade de Cunha, Renan Calheiros advertiu, assim que o projeto chegou ao Senado, que não tem pressa na apreciação da proposta. “Ter pressa nessa regulamentação signi-fica, em outras palavras, regulamentar a [terceirização da] atividade-fim, e isso é um retrocesso, uma pedalada no direito do trabalhador”, argumentou Calheiros à imprensa, assim que recebeu a matéria. Segundo ele, o projeto terá “tramitação normal” no Senado, e será amplamente debatido. Um primeiro grande debate envolvendo diversas entidades estava marcado para o dia 12 de maio.

Em 28 de abril último, Renan Calheiros manteve dois encontros com partes que di-vergem sobre o projeto da terceirização do trabalho. Primeiro, reuniu-se com o presi-dente da CNI, Róbson Braga de Andrade.

Depois, recebeu presidentes de centrais sindicais. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, saiu do encontro demonstrando otimismo quanto à possibilidade de correções no projeto que possam ser feitas no Senado. “[Renan Calheiros] colocou claramente que a desregularização é ruim para o Bra-sil. No momento em que o Brasil precisa de arrecadação e desenvolvimento econô-mico, rasgar a legislação trabalhista não trará nenhuma arrecadação nesse sentido”, disse Freitas à imprensa. “O Brasil tem al-guns valores importantes que a gente foi construindo ao longo da história. Getúlio Vargas deixou um legado, a carteira assi-nada e a CLT, que agora corremos risco de perder”, frisou.

Além de tema recorrente nas celebra-ções de 1º de maio, o projeto da tercei-rização do trabalho ainda promete ser pivô de embates nas próximas semanas. A própria CUT, por exemplo, não des-carta incluir entre as estratégias de resis-tência ao projeto a convocação de uma greve geral. A classe empresarial, com expertise em lobby no Congresso, parece também disposta a investir no conven-cimento da opinião pública, por meio, inclusive, de anúncios publicitários. É de se esperar que Senado e Câmara, ou mais precisamente Renan Calheiros e Eduar-do Cunha, também sejam colocados em choque, caso os senadores não tratem o projeto com a prioridade esperada pe-los deputados, ou promovam mudanças substanciais no texto.

Dependendo do resultado disso tudo, aí será a vez, então, de a presiden-ta Dilma Rousseff ser convocada a assu-mir uma posição definitiva: satisfazer o interesse econômico e tentar recuperar o apoio da classe empresarial ou fazer valer o compromisso de campanha – fundamental para sua vitória, diga-se de passagem – de não mexer nos di-reitos dos trabalhadores. Eis a questão posta à presidenta.

O projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados estabelece, entre outras, as seguintes regras para a terceirização do trabalho:

FONTE: AGÊNCIA SENADO

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16 brasilobserver.co.uk | May 2015

REFORMA POLÍTICA, SIM, MAS QUAL?Deve-se notar quão diferentes são os projetos em pauta: o de Eduardo Cunha, assentado no “financiamento privado” e no “voto facultativo”, e o da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, cuja lógica é o financiamento público e o empoderamento dos partidos e do cidadão comum

OPor Francisco Fonseca g

O atual sistema político do Brasil foi es-truturado no último governo militar (1979-1985), comandado pelo general João Baptista Figueiredo e articulado pelo general Golbery do Couto e Silva. O ob-jetivo era contemplar demandas demo-cráticas (caso do pluripartidarismo), mas fundamentalmente manter o status quo, o que implicou, por um lado, impedir pu-nições às barbáries impetradas pelos mili-tares e, por outro, vetar grandes reformas estruturais: políticas, sociais e econômi-cas. Deu-se a redemocratização, e a espi-nha dorsal do sistema político nacional não foi alterada, pois:

a) o pluripartidarismo foi levado às úl-timas consequências, a ponto de ter-mos hoje 28 partidos legais com par-ticipação no jogo político, dos quais grande parte é considerada “partido de balcão”;

b) o financiamento dos partidos polí-ticos se consolidou de forma mista (fundo partidário público e financia-mento privado legal), mas com uma terceira e decisiva forma de finan-ciamento, ilegal: o chamado caixa dois. As prioridades governamentais passam pela composição dos gover-nos (distribuição de nacos de po-der a grupos com interesses muito distintos) e pela lógica da chamada “governabilidade”, por meio de “ba-ses de apoio” amplíssimas, tornando o caixa dois uma verdadeira insti-tuição informal. Independentemen-te de partidos e governos, o que se vê, desde a redemocratização, é uma sucessão de escândalos, cuja lista é longa e perpassa todos os governos, e cuja raiz é o financiamento de par-tidos/campanhas tanto por meio de doações privadas legais – cuja lógi-ca é beneficiar-se após as eleições – como por meio do caixa dois;

c) a “governabilidade a qualquer custo”, anteriormente referida, aprofundou-se de tal forma que qualquer governo de coalizão paga um custo político alto – notadamente os partidos ideológi-cos, quando vencem eleições ao Exe-cutivo – para governar, a ponto de per-der sua identidade, construída quando de oposição (caso notório do PT).

d) distorções as mais distintas foram

ocorrendo: coligação nas eleições pro-porcionais, que implica que o eleitor vote num candidato e eleja outro, de outro partido; a lógica de que os par-tidos derrotados também governam, em razão da referida necessidade de maioria parlamentar a qualquer cus-to; a controversa desproporcionalida-de da representação na Câmara dos Deputados; entre outros;

e) os mecanismos institucionais/le-gais de fiscalização, embora tenham avançado, não foram capazes de des-fazer a lógica privatizante da vida pública, a ponto de “engavetadores-gerais da República” serem possí-veis, uma vez que, em boa medida, dependem do perfil de quem está no poder das instituições fiscalizatórias;

f) o papel despolitizante, simplificador ao extremo dos problemas nacionais e antidemocrático da grande mídia formou gerações e gerações de ci-dadãos manipulados e incapazes de minimamente refletir sobre os as-pectos basilares do processo político.

Em razão desse conjunto de proble-mas, tem havido intensos debates e pro-postas de reforma política desde a rede-mocratização. Dessa forma, duas grandes propostas se consolidaram, desde o ano passado, como projetos claramente an-tagônicos – e que devem ganhar atenção agora que o Congresso avalia uma série de medidas que podem em breve mudar as regras do jogo político no Brasil.

Do lado conservador, existe a Pro-posta de Emenda à Constituição (PEC) n. 352/2013, de autoria do ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e encam-pada pelo atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Tal pro-posta institucionaliza o financiamento privado por meio de um sistema de “es-colha” da forma de financiamento, isto é, se público, misto ou privado; institui o “voto facultativo”; e impede a reeleição a cargos executivos; entre outras medidas, mais ou menos conservadoras, mas de menor relevância, pois as duas primeiras são suficientes para derrogar toda a luta por reformas e institucionalizar o que há de pior na vida política do país.

A chamada “privatização da vida pública” tem no financiamento priva-do (legal e ilegal) verdadeiro pilar, uma vez que torna estratosférico o preço das

campanhas; impede que os pequenos partidos ideológicos tenham a mínima chance de concorrer com os grandes partidos que “jogam o jogo”; transfor-ma os poderes do Estado e boa parte de suas ações verdadeiros “balcões de negó-cios”; estimula a existência ao infinito de partidos e atrai políticos sem qualquer compromisso com a democracia e sem o mais tênue sentido de “esfera pública”; elitiza fortemente a política, dificultando estruturalmente reformas populares ao blindar as elites de qualquer possibilida-de de “reformas radicais democráticas”; desestimula a participação política do ci-dadão comum, abrindo caminho para os lobbies e toda forma de tráfico de influ-ência. Tudo isso amparado, coordenado e amplificado pelo aparato midiático, es-pécie de “intelectual orgânico” do capital e das classes médias gestoras deste.

Quanto ao voto facultativo, trata-se de verdadeira derrubada de qualquer vestígio popular de democracia, o que é um paradoxo. Afinal, num país em que historicamente se descrê, e de maneira vigorosa, das instituições estatais e do sistema político, o voto facultativo – cuja imagem é a ideia de que “direitos não se obrigam” – tenderia fortemente a excluir os pobres da vida política. A plutocracia fecharia o círculo: pela origem, via capi-tal privado, e pela dinâmica, por meio do voto das classes médias e dos ricos.

De maneira oposta, diversas organi-zações vêm se articulando em torno da Coalizão pela Reforma Política Demo-crática e Eleições Limpas, que reúne mais de uma centena de entidades, entre as quais a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bis-pos do Brasil (CNBB), centrais sindicais e inúmeras outras, das mais distintas natu-rezas, mas com um único propósito: re-formar o sistema político brasileiro numa perspectiva de fato democrática.

Os pilares da proposta, que necessi-ta de 1,5 milhão de assinaturas para ser apresentado ao Congresso, baseiam-se na proibição do financiamento empre-sarial a partidos e candidatos; o voto em lista em dois turnos para cargos legisla-tivos: no primeiro turno o eleitor vota em uma lista de candidatos apresentada pelo partido e, no segundo turno, em um candidato específico; fim das coligações proporcionais; paridade entre homens e mulheres nas listas partidárias; e fortale-

cimento dos mecanismos de democracia direta com a participação da sociedade em decisões nacionais importantes.

O projeto procura empoderar dois atores: primeiro, os partidos políticos, por meio do voto em lista preordenada, em que os partidos se tornam protagonistas, em vez de os candidatos como indivíduos.

Segundo, as mulheres são igual-mente empoderadas ao se estatuir pari-dade entre homens e mulheres na lista ofertada aos eleitores. O projeto consi-dera fundamental que as mulheres se-jam protagonistas na vida político/ins-titucional, uma vez que não apenas são maioria da população brasileira (51%, de acordo com o último Censo), como sua participação – nas três esferas do Estado – é historicamente diminuta. Apesar da lei dos 30% de vagas reserva-das às mulheres candidatas aos parla-mentos por partido, a participação fe-minina continua extremamente aquém de seu número e importância.

Quanto aos mecanismos de parti-cipação, procura-se equalizar a demo-cracia representativa (institucional) e a democracia direta (ou de base) de forma que se complementem. Não há incompatibilidade entre ambas, visto que conselhos gestores de políticas pú-blicas, conferências locais, regionais e nacional, formas diversas de participa-ção, incluindo-se as digitais, entre ou-tras, já fazem parte da dinâmica social brasileira, embora sem a formalização de uma lei, que seria o caso do decreto presidencial que os institucionalizaria.

Deve-se notar quão diferentes, isto é, opostos, são os projetos. Embora em am-bos haja outras questões, tal como proi-bição da reeleição, os pilares de ambos os projetos ancoram-se na forma de finan-ciamento, na obrigatoriedade ou não do voto e na formatação do sistema eleito-ral. São dois projetos de Brasil. A vitória de um ou de outro impactará gerações. Não é pouco o que está em jogo.

g Francisco Fonseca é mestre em Ciência Política e doutor em História, professor de Ciência Política na FGV-SP. Este artigo foi publicado originalmente no jornal Le Monde Diplomatique Brasil.

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17brasilobserver.co.uk | May 2015

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B R A S I LO B S E R V E R

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 6APRIL/2015GUILHERME ARANEGA / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

PEDALADAOS ESFORÇOS E DESAFIOS DE SÃO PAULO E LONDRES PARA

TRANSFORMAR A MOBILIDADE URBANA PELO USO DAS BICICLETAS

ECONOMIA ESTAGNADA Para voltar a crescer, Brasil precisa recuperar investimentos

EMICIDA EXCLUSIVORapper brasileiro vem a Londres e fala ao Brasil Observer

REPRODUÇÃO DIVULGAÇÃO

B R A S I LO B S E R V E R

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 4FEBRUARY/2015BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

ELEIÇÃOGERAL E O VOTO BRASILEIRONO REINO UNIDO

ARTE DE PERNAMBUCOEmbaixada do Brasil em Londres apresenta nova exposição

SAUDADES DO VERÃOUm tour pela praia de Jericoacoara para esquecer o frio

DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

B R A S I LO B S E R V E R

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ESTADO DA ARTE INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS VISITAM CENTRO AVANÇADO

DE PESQUISA NO REINO UNIDO E COGITAM PARCERIAS

QUEBRA-CABEÇA BRASILNas ruas, população reage ao ajuste fiscal e à corrupção

FUTEBOL MOLEQUEUma visão bem humorada para o jogo entre Brasil e Chile

ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL RAFAEL RIBEIRO/CBF

ESTADO DA ARTE

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18 brasilobserver.co.uk | May 2015

CONECTANDO

AUTOAFIRMAÇÃO COLETIVAComo um coletivo de jovens está mudando a história da comunidade

amazônica de Cabelo Seco, no Pará

Por Thiana Biondo – de Marabá, Pará g

Marabá

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19brasilobserver.co.uk | May 2015

EEm uma pequena cidade próxima a Serra dos Carajás, região amazônica onde está a maior jazida com ferro de qualidade do mundo, jo-vens do coletivo Rios de Encontro promovem arte e reflexão para preservar a cultura ribeiri-nha local. Esta reportagem foi visitá-los pes-soalmente em Cabelo Seco, comunidade onde atuam na cidade de Marabá, no Pará, para co-nhecer melhor seus projetos.

O coletivo, fundado pela arte-educadora e gestora cultural Manoela Souza e o pelo escritor e artista plástico Dan Baron, tem 14 microproje-tos em andamento, com o objetivo de dissemi-nar a ideia de que o desenvolvimento não preci-sa destruir rios e matas locais.

Entre esses projetos em curso, estão a banda Latinhas de Quintal, vencedora do premio na-cional da UNICEF em 2011, e a Companhia de Dança AfroMundi, vencedora do prêmio nacio-nal de Jovem Agente de Cultura (MinC 2012). Juntos, os dois projetos também conquistaram o prêmio anual da Organização Internacional de Ensino Cultural Creative Connections, em 2014, com o álbum musical Amazônia Nossa Terra e o espetáculo de dança Lágrimas Secas.

No dia 16 de abril, aliás, o grupo viajou para apresentar o espetáculo Lágrima Secas em Nova Iorque. Com apoio de Dan Baron, as coreografias foram elaboradas pela co-ordenadora jovem da companhia, Camylla Alves, de 19 anos. “O projeto mostrou isso, que a gente tem a capacidade de sonhar e realizar nossos sonhos. A gente pode dan-çar, cantar e ser livre. Lágrimas Secas dra-matiza os grandes rios do mundo secando e pegando fogo depois da construção das hidrelétricas e assassinatos das nascentes”, conta Camylla.

Em seu trabalho, a jovem coordenadora combina músicas e coreografias africanas com linguagens contemporâneas, refletindo a história do seu povo e suas próprias raízes. Assim como outros jovens coordenadores, ela ganhou uma bolsa do coletivo Rios de Encontro para realizar pesquisas artísticas, o que garante o seu sustento. Em uma cidade classificada como uma das dez mais violentas para jovens negros no Brasil, o Rios de En-contro fornece ferramentas de autoafirmação e autoestima para esta população.

“Hoje somos uma família, tudo a gente compartilha. A comunidade ainda tem fraque-zas, brigas e rixas, muita preocupação em casa e nas ruas, mas a gente tenta passar por cima disso”, diz Camylla.

Outro projeto é a Rádio Arraia, que ganhou uma das bolsas do Rising Voices Amazonia de 2014. A rádio funciona como uma grande di-fusora da produção artístico-cultural da turma. Jingles são feitos para espalhar a notícia sobre as apresentações ou trazer mais consciência sobre práticas ecológicas como o uso da energia solar. A ideia é contrapor o discurso oficial a favor da construção de hidrelétricas e debater alternati-vas sustentáveis de desenvolvimento.

Os encontros do coletivo acontecem em dois locais na comunidade de Cabelo Seco. Próximo à orla, onde os Rios Itacaiúnas e Tocantins se encontram, fica a Casinha de Cultura. Lá acon-tecem reuniões do grupo facilitadas pelos coor-denadores adultos Dan Baron e Manoela Sousa. É onde se fica sabendo de tudo que acontece na vizinhança. “A janela é nosso grande meio de co-municação”, brinca Manoela.

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Com 14 microprojetos em andamento, o objetivo do coletivo

Rios de Encontro é disseminar a ideia de que o desenvolvimento econômico não precisa destruir

rios e matas locais

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A 50 metros dali fica o outro ponto de en-contro: um barracão com área coberta, onde acontecem as apresentações artísticas. Elisa Dias, 18, e Caroline Valente, 18, também con-versaram com a reportagem.

Elisa coordena o Roupas ao Vento, proje-to dedicado às questões de gênero, e costu-ma aconselhar as garotas sobre como evitar violência em casa e nas ruas. Ela conta como Dan e Manoela foram marcantes na vida dela: “Quando engravidei, com 15 anos, recebi mui-to apoio de Dan e Manoela, o que não recebi em casa. Decidi ficar com o bebê (Pietro). Já estava acostumada a tomar conta dos meus ir-mãos. Eu cuidava dos meus irmãos enquanto minha mãe ia lavar roupa no rio”.

Já Caroline gosta de contar histórias e por isso se tornou a jornalista social do projeto. Ela chegou também a criar o projeto Nem um Pingo para documentar a vida dos moradores locais: “O Rios de Encontro fortaleceu mais o que que-ro pra mim. Criei o Nem um Pingo e foi bem legal. A gente filmava, documentava e apresen-tava para a comunidade toda. Escutava várias histórias diferentes e engraçadas”.

Camylla, Elisa e Caroline fazem parte do co-letivo Rios de Encontro há sete anos, desde que fundaram o grupo musical Latinhas de Quintal, formado por cinco meninas. Todas continuam juntas: Camylla e Caroline são as cantoras prin-cipais, equanto Elisa toca percussão.

MAIS ENVOLVIMENTO

Enquanto o trem da Vale do Rio Doce, uma grande empresa brasileira de mineração, cruza 892 quilômetros entre os estados do Pará e do Maranhão carregando mais de 120 milhões de toneladas de minério por ano, toda a movimen-tação artístico-cultural do Rios de Encontro busca reafirmar a memória amazônica em Ma-rabá e o modo de vida ribeirinho local. O foco é o desenvolvimento pessoal e a capacidade de construir vínculos saudáveis como grupo. “Que-remos mais envolvimento e não desenvolvimen-to”, diz Manoela Souza.

Além de lidar com os problemas causados pela construção de hidrelétricas em rios locais, a comunidade corre o risco de ser desfeita por-que muitos moradores estão indo morar em um bairro do Minha Casa, Minha Vida, projeto de habitação do Governo Federal.

Sem escola, hospital e muito menos um belo rio próximo, o bairro construído pelo go-verno tem o nome de Morada Nova. Distante 15 quilômetros de Cabelo Seco, para se deslo-car entre um local e outro, é preciso viajar até duas horas dentro do ônibus. Assim, irmãos, primos e até mesmo amigos começaram a con-viver cada vez menos.

Para o mestre da comunidade, Zequinha Sousa, Cabelo Seco corre o risco de virar ponto turístico: “Cabelo Seco é uma área perigosa, mas todo mundo quer. É um lugar privilegiado de beleza. As pessoas não têm consciência do lugar onde moram. Muitos foram e estão arrependi-dos, porque o rio deu vida à cidade. Eu fui pes-cador, meu pai foi pescador. Ele sofreu por causa da barragem, não tem mais aquela fartura, mas ainda é um lugar com um pôr do sol especial”.

gEste artigo foi publicado originalmente pelo Global Voices (www.globalvoicesonline.org), e editado pelo Brasil Observer

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B R A S I LO B S E R V E R

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BOOM BOOM

FLAVIA COELHO VOLTA COM

MAIS BATIDA >> PG. 22

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22 brasilobserver.co.uk | May 2015

GUIA

SIMPLES INTENSIDADECom disco novo,

Flavia Coelho canta em Londres

neste mês e fala ao Brasil Observer:

‘Quando fazemos as coisas

de coração, com vontade,

acabamos contaminando

as pessoas... O brasileiro contamina’

Por Gabriela Lobianco

A cantora brasileira Flavia Coelho, erradicada na França desde 2006, re-torna à Londres com a sua banda para o show de lançamento do seu segundo álbum, ‘Mundo Meu’, no dia 18 de Maio, no Rich Mix. O disco será oficialmen-te liberado na Inglaterra a partir do dia 11 de maio. Mas o primeiro single, ‘Por cima’, já é um sucesso no iTunes. “É uma música que escrevi pensando nesses amores impossíveis, essa parte feminina mais exagerada”, conta ao Brasil Obser-ver, por telefone, da sua casa em Paris. “Mas numa nota positiva já que essa mu-lher não destrói o muro, ela pula”, ri em tom meio sapeca e doce.

A carioca escreveu quase 90% das mú-sicas desse novo trabalho durante a turnê do seu primeiro disco, o ‘Bossa Muffin’ – que foi muito bem recebido pelo público europeu, inclusive britânico. “Precisava voltar à batida boom boom do baile funk, dos estilos de cantores americanos que escuto, e só percebi isso enquanto estava em turnê, compondo e experimentando”. Esse processo demorou dois anos e meio, tempo de duração do tour do projeto inaugural. ‘Mundo Meu’ se difere com-pletamente do disco anterior por-que a artista aumentou os sons elétricos e se concentrou mais em batidas frenéti-cas. “Precisava de coisas mais simples, porém intensas”, diz.

Flavia Coelho deixou o Brasil para se descobrir e encontrar seu estilo musical, ou seja, a vertente que gostaria de seguir. Basicamente, “me encontrar como mu-lher”, afirma. Mas bate no peito para dizer que é brasileira. Fala o tempo todo apaixo-nadamente sobre o país. E homenageia a terra natal misturando os ritmos, um mix de samba, bossa nova, rap, reggae e a in-confundível batida dos morros do Rio de Janeiro. “O meu coração pediu para eu dei-xar o meu país para poder descobrir a mi-nha herança musical. Mas eu amo o Brasil”.

Todavia, Flavia Coelho tem mui-ta gratidão pelo sucesso alcançado no exterior, como era de se esperar, afinal. “Meu primeiro CD rolou super certo em Londres e as pessoas começaram a acom-panhar. Fiz tour pela África, pela Nova Zelândia, fui tocando em vários lugares”.

Com orgulho, fala das parcerias, graças aos “encontros naturais da vida”. Além do produtor Victor Vagh, respon-sável pelos dois trabalhos em estúdio de

Flavia Coelho, o novo disco tem

participações de renome, como o cantor alemão natural de Serra Leoa Patrice, o rapper Speech, do grupo Arrested De-velopment, e o lendário baterista Tony Allen. Este, inclusive, flerta com mui-tos artistas contemporâneos brasileiros, como o trio paulista Metá Metá, que recentemente fez show em Londres. “O Tony Allen é um dos maiores artistas do mundo. Escutei tudo o que ele gravou e fiz muita pesquisa. Escrevi a canção com raiz afrobeat e meu produtor mostrou para ele, que foi super receptivo. Num processo natural, gravamos”.

Flavia Coelho, para arrematar, mos-tra convicção de que o brasileiro é um povo desenrolado, que brilha em qual-quer lugar. “Quando fazemos as coisas de coração, com vontade e paixão, aca-bamos contaminando as pessoas... O brasileiro contamina”. Revela ainda que precisa reverenciar os seus conterrâne-os e a sua nação cantando apenas na sua língua nativa. “Cresci nessa ebulição do Brasil e isso também se revela na minha linguagem. Tenho que cantar em Por-tuguês”. Contudo, fica reticente quando indagada sobre uma possível turnê no

país tropical: “Gostaria muito! Mas nada em vista. Até rolou comen-

tários no Twitter, Facebook, mas nada agendado. Acho

que tem um público bom. Vamos ver”, encerra es-

perançosa.

BERN

ARD

BEN

AN

T

FLAVIA COELHO

Quando: 18 de maio Onde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road)Entrada: £15Info: www.richmix.org.uk

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23brasilobserver.co.uk | May 2015

StoneCrabs Theatre Companyand Bots and Barrals Theatre presents

the award winning political thriller byGuillem Clua

FlamesSkin in

at Park TheatreFinsbury Park

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directed byFranko Figueiredo & Silvia Ayguadé

A school-girl.A civil war.

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30th MAY 7pm

Page 24: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

24 brasilobserver.co.uk | May 2015

DICAS CULTURAIS

CINEMA ARTE‘FUTURO BEACH’, COM WAGNER MOURA, ESTREIA NO REINO UNIDO

BLAU PROJECTS, MERCEDES VIEGAS E ZIPPER GALERIA EXPÕEM NA ART15

Estreia dia 8 de maio o filme ‘Fu-turo Beach’ (Praia do Futuro, em por-tuguês), dirigido por Karin Ainouz e estrelado por Wagner Moura (Dona-to), Clemens Schick (Konrad) e Jesui-ta Barbosa (Ayrton).

Com cenas gravadas no Brasil e na Alemanha, o longa-metragem foi apresentado em 2014 no Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale, e conta a história de uma relação florescente entre dois homens.

A espetacular e traiçoeira Praia do Futuro, em Fortaleza, serve de pano de fundo para o enredo. Quando um

salva-vidas brasileiro, Donato, salva o motociclista alemão Konrad de se afo-gar, o par desenvolve imediatamente uma forte atração. A paixão entre os dois se intensifica e Donato decide deixar para trás sua mãe e seu irmão mais novo, Ayrton, para começar uma nova vida ao lado de Konrad em Ber-lim. Anos depois Ayrton chega à ca-pital alemã em busca de respostas, e os três se veem forçados a confrontar o passado.

Para saber onde assistir ao filme acesse www.peccapics.com

A terceira edição da feira global de arte Art15, de 21 a 23 de maio, reúne 150 galerias de 40 países que vão expor em Londres trabalhos de mestres da arte moderna e novos artistas da cena contemporânea internacional. Duas galerias de São Paulo e uma do Rio de Janeiro estarão presentes no evento com obras de seis artistas ao todo.

A paulistana Zipper Galeria traz

obras de James Kudo. Também de São Paulo, a Blau Projects traz Maco-ne Moreria e Eder Oliveira (autor do mural na foto). Já com a carioca Mer-cedes Viegas Arte Contemporânea vem Robert Kelly, Marcia Thompson e Julio Viallni.

Para mais informações sobre a feira acesse www.artfairslondon.com

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25brasilobserver.co.uk | May 2015

MÚSICAAUTORAMASQuando: 17 de maioOnde: Made in Brasil (12 Inverness Street)Entrada: GratuitaInfo: www.madeinbrazil.co.uk

O RAPPA Quando: 11 de julhoOnde: Electric Brixton (Town Hall Parade) Entrada: £25 Info: www.electricbrixton.uk.com

CLELIA IRUZUNQuando: 20 de maioOnde: St. James Theatre (12 Palace Street) Entrada: A partir de £15 Info: www.stjamestheatre.co.uk

RODRIGO AMARANTEQuando: 22 de julhoOnde: Hoxton Square Bar & Kitchen (2-4 Hoxton Square) Entrada: £12 Info: www.hoxtonsquarebar.com

BROTHERS OF BRAZIL Quando: 21 de maio Onde: The Dome (2 Dartmouth Park Hill) Entrada: £13Info: www.dometufnellpark.co.uk

DONA ONETEQuando: 24 a 26 de julhoOnde: Womad Festival (Charlton Park, Malmesbury) Entrada: £165 para o fim de semana Info: www.womad.co.uk

CAETANO VELOSO & GILBERTO GILQuando: 1º de julhoOnde: Eventim Apollo (45 Queen Caroline Street) Entrada: £45.75 – £67.75Info: www.eventim.co.uk

MARCELO D2Quando: 22 de agosto Onde: Electric Brixton (Town Hall Parade) Entrada: £25Info: www.electricbrixton.uk.com

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26 brasilobserver.co.uk | May 2015

Como profissional do teatro estou constan-temente observando as nuances da voz: tom, ritmo, entonação. Nos ensaios medimos a trans-missão das palavras, ou seja, como as caracte-rísticas vocais afetam o significado do discurso apresentado; estudamos a dinâmica dos diálo-gos e as inúmeras possibilidades de construção dos mesmos. Para uma peça se tornar viva, cada ator deve reagir verdadeiramente àquilo que está ouvindo. No ato de ouvir, porém, é onde a maioria de nós falha. Normalmente se diz no teatro que “agir é reagir”; eu acrescentaria que “reagir é ouvir” – e ouvir bem o que o outro fala.

O ponto mais importante para a construção de um diálogo no palco ou na vida real é ser um bom ouvinte. Apesar de parecer fácil, ouvir é di-fícil. Zenão, um filosofo da Grécia Antiga, costu-mava dizer: “A natureza deu-nos duas orelhas e uma só boca para nos advertir de que se impõe mais ouvir do que falar”. Ouvir é decodificar não apenas o significado das palavras, mas também a intenção com que elas chegam pelo humor e pela bagagem social, política e cultural.

O diálogo de uma peça de teatro tenta se aproximar o máximo possível do diálogo da vida real. Não é comunicação perfeita – a comunica-ção falha é geralmente é o motor da trama. Em 2013, dirigi Clybourne Park, de Bruce Norris. A peça é uma sátira afiada que aborda questões de raça e imobiliárias num bairro fictício de Chi-cago. A história começa em 1959 quando uma família negra se muda para um bairro branco. O segundo ato nos leva de volta à mesma casa em 2009, quando a gentrificação se desenvolve e os papeis se invertem.

O diálogo é excelente. O segundo ato se de-senrola em torno de uma reunião entre o casal que está comprando a propriedade em Clybour-ne Park, seu advogado e outro casal que está se opondo à venda. O que parece começar como um encontro civilizado termina em guerra. Tudo porque os envolvidos não conseguem se comunicar, não conseguem ver o absurdo de suas ações e se mantêm imersos em suas visões preconceituosas. Os personagens pensam que estão tendo um diálogo, mas o objetivo real de cada casal é apenas provar um ponto e ganhar a argumentação. Eles não ouvem; pelo contrá-rio, gritam palavras abusivas ao outro, o que

leva para um briga de fato. A audiência podia ver o quão ridículo a discussão era. No fim, os personagens pareciam animais que se mordiam sem nada a ganhar. Eles deixaram de falar e ou-vir com honestidade porque falavam quando deviam estar fazendo perguntas, transmitindo ideias apenas a partir de pressuposições e pen-samentos rígidos, sem ouvir o outro.

Infelizmente, Clybourne Park reflete o que acontece no Brasil e no mundo: falta de diálogo aberto, generoso. Em vez de nos aproximar, nos-sas conversas têm nos dividido. A arrogância pre-valece. Pessoas arrogantes se sentem bem apenas quando afirmam sua superioridade em relação aos outros. Somos muito rápidos em julgar de nossos tronos de hipocrisia. Não paramos para pensar, queremos provar nosso ponto sem consi-derar se o outro tem algo válido a dizer.

William Isaacs, líder no estudo de diálogos, diz que um grande erro que a maioria de nós comete é que “frequentemente sabemos o que queremos dizer e esperamos nossa vez para fa-lar. Somos fechados para ouvir o inesperado dos outros, nos podando de trocas honestas que nos deixariam inspirados para tomar ações”. Dialo-gar é mais do que falar. Isaacs diz que dialogar “é absorver diferentes pontos de vista – literal-mente a arte de pensar junto”, e que “problemas entre empregados e patrões, cidadãos e políticos eleitos, e entre nações, normalmente nascem da incapacidade de se conduzir um diálogo”.

Para conduzir um diálogo de forma eficien-te, Isaacs diz que precisamos ouvir não apenas os outros, mas nós mesmos, rompendo nossas resistências; respeitando em vez de tentar mu-dar pessoas com visões diferentes; mudando de opinião e vendo com outros olhos distintas questões; encontrando nossa própria voz e au-toridade, sem a necessidade de exercer qualquer tipo de domínio sobre o outro.

Você pode pensar que isso é impossível. Mas penso que devemos ser vigilantes de nos-so próprio comportamento, praticando dia-riamente o exercício do diálogo até que ele se torne um hábito natural.

COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

DUAS ORELHAS PARA UMA BOCA

O ponto mais importante para a construção de um diálogo no palco ou na vida real é ser um bom

ouvinte. Apesar de parecer fácil, ouvir é difícil

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Cena de Clybourne Park, escrita por Bruce Norris

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs

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27brasilobserver.co.uk | May 2015

AQUILES RIQUE REIS

RICARDO SOMERA

O ENCANTADOR DE OUVIDOS

HÁ VIDA EM MEIO A CRISE

No mais recente disco do compositor e violonista Guinga, viaja-se como que sem hora para chegar

Casa Grande, de Fellipe Barbosa, escancara de forma direta, e bela, a desigualdade social do Brasil

O compositor e violonista Guinga lançou recentemente seu primeiro disco solo, Roen-dopinho. Gravado na Alemanha, pela Acous-tic Music Records, o álbum revela um músico que a maioria ainda desconhece, posto que não teve a ventura de ouvir suas composições to-cadas apenas por ele ao violão. Com este CD, Guinga despe a sua obra.

Parceiros inseparáveis, músico e violão agi-gantam-se pela confiança que um tem no ou-tro. Feito unha e carne, os dois tocam muito. E, de fato, Guinga e seu violão colocam as can-ções no osso. Nada nelas é excessivo, tudo é fruto do carinho do instrumentista pelo violão.

O que se ouve é uma obra grandiosa; o ex-trato de uma inspiração que vem à luz como um filho gerado pelo amor entre duas pessoas.

Espanta o fato de que ele nunca estudou música – Carlos Althier de Sousa Lemos, den-tista de profissão, mas para a música apenas Guinga, é autodidata. Exemplo de que aos di-ferenciados é dado o direito de tornar-se ge-nial. Gênio, sim, sem recear exceder o ponto.

Guinga é um encantador de ouvidos. Para ele, um compositor de obras de referência, não basta criar belas frases musicais, há que fazê-las soar como nunca se ouviu antes. Aí está a verdade.

Para Guinga, o violonista, não basta inver-ter belos acordes e dar-lhes ar de modernida-de, há que recriá-los com sonoridade compa-tível com o saber de seu criador; e assim ele toca. Guinga não busca o novo, ele é o novo. E é isso que encontramos em Roendopinho. Em suas quinze faixas, Guinga junta o verbo ao

substantivo, unindo-os feito uma metáfora que traduz as suas músicas para os ouvidos atentos.

Dessas quinze músicas, treze inéditas são só dele e apenas duas têm letra (muito em-bora na gravação Guinga prescinda dos ver-sos para tocá-las, enquanto apenas cantarola as melodias). As belas “Cambono” (Guinga e Thiago Amud) e “Lendas Brasileiras” (Guinga e Aldir Blanc) mostram o porquê das melodias de Guinga atraírem versos sempre especiais – beleza atrai beleza. Logo, provavelmente, as novas melodias desse CD também ganharão letras escritas por grandes compositores, pois Guinga ocupa hoje um lugar privilegiado na música brasileira, lugar que é seu por absoluto merecimento.

Requintado concerto para violão é o CD de Guinga. Solando músicas com um som límpi-do, elas ora resvalam no erudito, ora no po-pular.

Embora ele se veja como um músico “nada especial”, a audição do álbum, com músicas de gêneros tão variados quanto belos, indica que sua humildade parece não lhe autorizar ver o esplendor de sua obra. Mas ele segue, deixando boquiaberta uma legião de músicos, seus con-temporâneos, e de fãs que reconhecem a genia-lidade de suas composições: sinuosas, repleta de subidas e descidas, quase sempre inespera-das, mas com pequenas retas para repouso.

Em Roendopinho viaja-se pela genialidade musical de Guinga, como que sem hora para chegar a lugar algum, apenas indo, ouvindo...

A luta de classes existe desde que o mun-do é mundo – ou desde que Marx e Engels cunharam o termo. Como não poderia dei-xar de ser, tal questão vem sendo discutida há tempos por estudiosos, políticos, artistas e demais setores da sociedade. O tema é tam-bém frequente no cinema brasileiro, mas ra-ros são os momentos em que a desigualdade social do nosso país é transmitida de forma tão direta e bela como em Casa Grande, de Fellipe Barbosa, em cartaz no Brasil.

Para começar, não tem como ler o nome do filme e não se lembrar do clássico estudo de 1933, Casa-Grande & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre, sobre a importância das rela-ções entre a casa-grande e a senzala na forma-ção política e sociocultural do povo brasileiro.

No filme, Jean (Thales Cavalcanti), um adolescente branco e rico da classe média alta carioca, devido às circunstâncias descobre um novo mundo fora de seu carro blindado e de seu condomínio fechado. Por conta de uma crise financeira na família – causada por in-vestimentos em ações das empresas de Eike Batista – sua rotina é transformada e ampliada. Sai o motorista particular e entra o ponto de ônibus; saem baladas caras e garotas desinte-ressantes e entra o forró na Lapa.

Mas, além das transformações na vida de um jovem, o filme mostra como a sociedade brasilei-ra se vê e se comporta em 2015. Nem o premiado O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, foi tão claro ao escancarar o preconceito velado que

vivemos diariamente no Brasil.Cotas raciais, empregados domésticos tra-

tados “como se fossem da família”, o relacio-namento de um jovem branco com uma ne-gra e a cultura da aparência são algumas das questões retratadas com sutileza escancarada. Nada que não possa ser visto diariamente em ambientes de trabalho, bares, escolas e uni-versidades brasileiras.

Em seu estreante longa-metragem de fic-ção, Fellipe Barbosa nos presenteia com um dos grandes filmes brasileiros do ano, em que roteiro, direção e atuação dos atores nos im-pressionam do começo ao fim. Os atores são um espetáculo à parte com suas características únicas e com novos talentos latentes. Sai do cinema sem saber se estava mais apaixonado por Clarissa Pinheiro – cuja personagem Rita adora ter a poupa da bunda beijada – ou Bru-na Amaya, que interpreta Luiza e na primeira cena já te faz querer aprender forró e/ou mo-rar em São Conrado pra ver se a encontra na lotação.

Em tempos de multiplex lotado de Vingadores e Velozes e Furiosos, vale procurar um lugarzinho numa sala escura e relembrar que a vida, mesmo em crise, é uma grande e ótima descoberta.

g Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá-lo no Twitter @souricardo e no Instagram @outrosouricardo

g Aquiles Rique Reis é músico e vocalista do MPB4

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28 brasilobserver.co.uk | May 2015

BEM-ESTAR

LIVRE-SE DO MAU HÁLITO

CORTAR CARBOIDRATOS PARA EMAGRECER?

A maioria dos enxaguantes bucais só disfarça o cheiro desagradável. Fatores bucais e não bucais irão determinar se teremos hálito agradável ou não

Apesar da popularidade, dietas “low carb” não são melhores para a manutenção da perda de peso em pacientes obesos do que dietas balanceadas

Por Ítalo Moraes g

Fatores bucais e não bucais irão determinar se tere-mos hálito agradável ou se causaremos má impressão ao conversar com as pessoas mais de perto. Dentre os fatores bucais, a causa mais comum de mau hálito é a higiene oral deficiente – e a consequente formação de saburra lingual e placa bacteriana dentária.

É bastante comum pensar que higiene oral cor-reta significa limpar restos de alimentos. O mais importante, no entanto, é limpar as bactérias de todas as superfícies dentais. Caso não usarmos fio dental todos os dias para desorganizar essas bacté-rias nas superfícies interdentais, certamente tere-mos produção de mau cheiro.

O mau hálito matinal não é um problema, pois é fi-siológico. Acontece devido a leve hipoglicemia (redu-ção do nível de açúcar no sangue) e a redução do fluxo salivar durante o sono, além do aumento das espécies bacterianas mais patogênicas. Esses microrganismos atuam sobre a descamação natural da mucosa bucal e sobre proteínas da própria saliva, gerando componen-tes de cheiro desagradável.

Alimentos como alho e cebola também podem aumentar o problema. Fumar é uma das principais causas do mau hálito, juntamente com certas doen-ças, como as doenças gástricas. Também são fontes de mau cheiro as próteses mal adaptadas e as restaura-ções defeituosas, pois aumentam a retenção de placa bacteriana. A escovação e o uso do fio dental são mui-to importantes para manter o hálito fresco.

Mau hálito também pode ser causado por al-guns problemas médicos. Boca seca (xerostomia) é uma condição que afeta o fluxo de saliva. Isso faz com que as bactérias acumulem-se na boca levan-do ao mau hálito. Boca seca pode ser causada por medicamentos, problemas nas glândulas salivares

ou pela respiração continua pela boca. Outras con-dições médicas incluem infecções na garganta, na-riz ou pulmões, sinusite, bronquite, diabetes, pro-blemas no fígado ou nos rins.

Se você tem mau hálito, vai precisar de algumas mudanças na maneira de limpar e manter sua boca limpa e fresca. Procure seu dentista para que ele possa realizar uma avaliação, descobrir a causa do seu mau hálito, limpar as áreas que são difíceis de alcançar e lhe indicar o melhor caminho para man-ter sua boca limpa.

A maioria dos enxaguantes bucais só disfarça o mau hálito por um tempo curto. Alguns bochechos disponíveis são especialmente formulados para com-binar com os compostos voláteis de enxofre responsá-veis pelo mau hálito. Portanto, não tratam o proble-ma. As escovas interdentais podem ser usadas como alternativa ou complemento do fio dental para limpar entre os dentes.

Um dos sinais de alerta da doença gengival é que você sempre tem mau hálito ou gosto ruim na boca, normalmente associado a sangramento ao toque. Mais uma vez, seu dentista será capaz de diagnosticar e tratar o problema. Quanto mais cedo os problemas forem encontrados, mais eficaz será o tratamento.

Escove os dentes e gengivas efetivamente pelo menos duas vezes por dia com um creme dental com flúor. Não se esqueça de escovar a língua também. Use fio dental uma vez por dia para a limpeza da superfície interdental, em todas as áreas. Lembre-se que limpar entre os dentes significa limpar bactérias, não somente restos de comida.

Por Raquel Britzke g

Dietas com pouco ou quase nada de carboidratos são normalmente definidas como uma eficiente forma de reduzir os níveis de gordura corporal. Mas, afinal, quão boas são as evidências da eficácia dessas dietas? Além dis-so, existem quaisquer possíveis efeitos adversos?

Considerável discussão tem tomado lugar sobre a segu-rança de seguir uma dieta baixa em carboidratos para con-seguir emagrecer. O conselho de consumir pouca quanti-dade de carboidratos e dietas ricas em proteínas vem sendo dado por parte de alguns profissionais de saúde, pela mídia e por livros populares, apesar da falta de dados científicos sobre a segurança do consumo excessivo de proteínas.

Muitas reivindicações foram feitas em relação à supe-rioridade de uma dieta ou outra para induzir a perda de peso. Os estudos científicos não demonstram que dietas altamente ricas em proteínas, sem diminuição concomi-tante da ingestão calórica, ajudam na manutenção da per-da de peso ou melhoria da saúde. É importante notar que a perda de peso não é igual à manutenção de peso.

Dietas com baixos teores de carboidratos e ricas em proteínas parecem resultar na mais rápida perda de peso entre os primeiros 3-6 meses em indivíduos obesos, mas, posteriormente, o peso é geralmente recuperado. Inúme-ras estratégias de marketing têm sido usadas para vender produtos que levariam ao emagrecimento.

O termo “low carb” tornou-se popular e começou a ser usado até mesmo nos rótulos dos alimentos. Devido a esses fatores, existe um enorme equívoco por parte do pú-blico sobre a eficácia das dietas que restringem carboidra-tos. Mas por que a perda de peso parece ser mais rápida e eficaz em dietas “low carb”, como Dukan e Atkins? Um dos possíveis motivos é que dietas ricas em proteínas e pobres em carboidratos induzem a cetose metabólica – e esta é inicialmente atraente porque pode levar ao emagre-cimento mais rapidamente.

Outro aspecto que pode contribuir para essa inicial perda de peso pode ser atribuído, em parte, a efeitos diu-réticos da baixa ingestão de carboidratos, e seus efeitos sobre o sódio e a perda de água e depleção de glicogênio. Não podemos esquecer que a redução da carga glicêmica e a diminuição da secreção de insulina podem possivel-mente explicar os rápidos resultados deste tipo de dieta.

A insulina inibe a oxidação de gordura. Dietas “low carb” minimizam a secreção de insulina. Como resultado, a oxidação das gorduras é aumentada. A proteína extra, no entanto, não é utilizada de forma eficiente pelo corpo e pode sobrecarregar os rins e o fígado.

As dietas ricas em proteínas também podem ser as-sociadas com o aumento do risco de doenças cardíacas devido à ingestão de gordura saturada, colesterol e outros fatores dietéticos associados.

Apesar de sua popularidade, podemos concluir que as dietas “low carb” não são melhores para a manuten-ção da perda de peso em pacientes obesos do que dietas balanceadas, pois podem colocar o paciente em risco de desenvolver outros problemas de saúde.

g Raquel Britzke é Bacharel em Nutrição pela Universidade Estadual do Centro-Oeste; Pós-graduada em Nutrição Esportiva pelo Comitê Olímpico Internacional; Diretora e Nutricionista Esportiva na Britzke Nutrition Clinic, em Londres. Para mais informações, acesse: www.raquelbritzke.com

g Ítalo Moraes é dentista, registrado no Reino Unido desde 2008. Para mais informações, acesse www.smilepod.co.uk

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VIAGEM

ATRÁS DO ARRANHA-CÉUA Dubai que você não vê nas revistas tem mesquitas, casas antigas e mais gente vestida dos pés à cabeça do

que você pode imaginar – e muita areia, é claro

Por Ana Beatriz Freccia Rosa g

Ouvir a palavra Dubai já traz à mente a ideia de construções magníficas, arranha-céus e mo-dernidade por todos os lados. Não deixa de ser verdade. Mas, apesar de ser considerada a Euro-pa do Oriente Médio, Dubai ainda preserva for-temente a religião e a cultura.

Ao sair do aeroporto – que mais parece um shopping – e entrar na cidade, tem-se a impres-são que tudo é da mesma cor. Tudo é meio bege, e o que se vê são novas e antigas construções inter-caladas: casas, prédios e uma cidade em constru-ção. Aonde quer se vá, algo está sendo levantado. É uma agitação interminável, 24 horas por dia.

Muitos viajantes dizem que Dubai é uma cidade para se passar um dia, pois é um dos principais pontos de conexão entre longos voos vindos da América e da Europa com direção à Ásia – ou seja, um lugar ideal para relaxar ente um voo e outro. Mas esqueça! Um dia apenas é pouco – a não ser que você esteja acostuma-do a correr maratonas, ou é aquele viajante que gosta de conhecer somente as principais e mais famosas atrações. Dubai tem mais a oferecer e você consegue preencher facilmente uns quatro dias do seu calendário.

A “Cidade-Velha” tem construções bem pre-servadas (ou bem reformadas) e vale a pena passar por lá e ver o que era a cidade antes da dominação do petróleo. Comece sua visita pela Gold Souk em Deira, um dos mais tradicionais mercados árabes. Se você gosta de joias, é o lu-gar para fazer compras e barganhar, já que são mais de 300 lojas e muito ouro – se não gosta, vai ficar de olhos cheios mesmo assim. Visite também a loja Najmat Taiba, que possui o anel de ouro mais pesado do mundo, de acordo com o Guinness Book.

Ao sair da Gold Souk, caminhe em direção a Deira Grand Souk. Não preciso nem dizer como chegar lá, pois no caminho você consegue sentir o delicioso cheiro de temperos e especiarias. A Deira Grand Souk também é conhecida como a Spice Souk. Aproveite para provar as tâmaras, to-mar chá de menta e se deliciar com o café árabe.

Depois, uma boa opção é seguir ao Dubai Creek, uma espécie de riacho que conta parte da historia de Dubai. O riacho serviu por mui-to tempo como área de pescaria e um portão de entrada de produtos na cidade. Hoje é uma das áreas mais visitadas e o legal é que ainda mantém a característica da cidade antiga. Es-queça o transporte moderno e passeie de Abra

– um barquinho de madeira – observando os locais e as belas construções. O passeio é bem curtinho, mas é barato e você vai curtindo a paisagem enquanto atravessa até chegar ao Bur Dubai, um distrito histórico e uma das re-giões mais populares.

Chegando ao Bur Dubai, caminhe em direção ao Al Shindagha District. Dica: ande sempre ao longo do riacho e você estará no caminho certo! Passeie pela vila árabe que ainda preserva sua tra-dição e você entenderá a verdadeira história de Dubai, desde sua criação até se transformar em uma potência. Ali na vila ainda está intacta a casa que pertenceu ao Sheikh Saeed Al Maktoum’s, que governou a cidade até 1958, ficando no poder por mais de 40 anos. Prove a comida em uma das muitas barraquinhas de rua ou restaurantes. O Museu de Dubai fica perto, junto das mesquitas, e você certamente verá diversos pares de sapatos nas escadarias, já que há cinco horários em que os islâmicos rezam durante o dia.

Bastakiya Quarter hoje é a área mais mo-derna da cidade antiga – costumava ser o local onde ricos comerciantes moravam. Lá você ob-serva as mais ricas e lindas casas árabes, com maravilhosos jardins. Não deixe de provar o hambúrguer de camelo. Ou, caso esta opção não agrade ao seu paladar, passe a tarde pro-vando os deliciosos chás da Arabian Tea House, que é linda e vale uma visita.

Claro que Dubai não é Dubai sem as mag-níficas construções então se você tiver pouco tempo visite o Burj Khalifa, o prédio considera-do o mais alto do mundo construído totalmente pelas mãos do homem. Se você estiver em Dubai numa sexta ou num sábado, não deixe de assistir ao por do sol lá de cima. Ande no trenzinho de superfície que passa pelas principais atrações e termina no Palm Atlantis, um portal magnífi-co localizado na ilha de Palm Jumeirah. Se você gosta de aventura, faça o Safari pelo Deserto, as-sista a um espetáculo de dança do ventre e prove a deliciosa culinária oriental. A Global Village, uma feira gigante, fica um pouco mais afastada, mas em um só lugar reúne comidas e souvenires de todos os cantos do mundo.

Quem diz que um dia é suficiente para co-nhecer Dubai é porque não teve mais tempo para curtir e se apaixonar por essa incrível mistura.

DICASg O transporte oficial é o taxi. Não há ônibus e o

metro tem apenas duas linhas que não passam pela maioria das atrações.

g Em caso de conexão, há visto de transito de até 96 horas.

g Sexta-feira é feriado. A cidade só começa a “acordar” às 13h.

g Não há bares e bebida alcoólica é coisa rara; se quiser tomar umas, só conseguirá nos bares dos hotéis de 4 ou 5 estrelas.

g Há praias liberais e outras nem tanto, portanto tome cuidado aonde você vai levar o seu biquíni para passear.

g Ana Beatriz Freccia Rosa é jornalista e escreve suas histórias de viagens no blog ‘O mundo que eu vi’ (www.omundoqueeuvi.com)

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Um dia é pouco para conhecer Dubai: a parte velha da cidade tem construções

bem preservadas e vale a pena passar por lá para descobrir como era a vida

antes do petróleo

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Page 32: Brasil Observer #27 - Portuguese Version

32 brasilobserver.co.uk | May 2015

B R A S I LO B S E R V E RBRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

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33brasilobserver.co.uk | May 2015

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