brasil observer #36 - br

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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDRES ISSN 2055-4826 #0036 MARÇO/2016

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www.brasilobserver.co.ukloNDres issN 2055-4826 # 0 0 3 6MARÇO/2016

2 brasilobserver.co.uk | Março 2016

B R A S I LO B S E R V E R

FE D I T O R I A L

C O N T E Ú D O

Fácil cair naquele lugar comum: “ah, o Brasil não tem jeito mesmo, ainda bem que vim morar na In-glaterra”. Ou então: “você ainda se importa?”. Ou quem sabe: “político é tudo a mesma coisa, estão lá explorando a ignorância do povo”. Difícil é evitar afirmações simplistas como essas.

Vejamos o atual cenário nacional. Recessão eco-nômica pesada, inflação bem longe do lugar, desem-prego crescente, poder de compra em declínio. E com o que as mentes estão preocupadas? Com o sítio/trí-plex do Lula e com a ex-amante do FHC. Que impor-tância isso tem? Vamos agora atrás de saber de todos os mimos recebidos por políticos no país? Sério?

É óbvio que, diante de atos ilícitos, cabe aos pode-res competentes de uma democracia apurar os fatos e eventualmente punir os responsáveis. Mas a “caçada” ao Lula beira o ridículo. Como podem os conserva-dores temer tanto uma candidatura do ex-metalúrgi-co? O país vai mal, o desenvolvimentismo lulista se provou ineficaz, ou seja, basta uma proposta minima-mente coerente para conquistar o eleitorado exausto.

Do outro lado, que querem os progressistas que pensam defender Lula atacando o passado de FHC? Não seria mais inteligente reconhecer os erros e vi-rar a página, buscando um novo acúmulo de forças que supere o PT engessado e o “mito sagrado” Lula? Vai ser só poder pelo poder?

Este jornal não põe a mão no fogo nem por Lula muito menos por FHC. E nem precisaria, pois não interessa. O que importa é saber se Dilma Rousseff vai resolver governar ou não. Não apoiamos o im-peachment, pois não resolve os problemas do país, pelo contrário. Mas que diferença faz, ao fim e ao cabo, ter alguém como Dilma na presidência ou não ter ninguém? Perdoem-nos o ceticismo, mas aparentemente nenhuma.

“Ainda bem que moro na Inglaterra”. Será? Ve-jamos David Cameron. O Reino Unido tem hoje como principal questão a enfrentar a crescente desigualdade entre classes, regiões e gerações, enquanto a Europa tem como principal desafio, além dos problemas econômicos, o tema da imi-gração. E o que faz o primeiro-ministro? Inventa um referendo para decidir se os britânicos con-tinuarão ou não parte da União Europeia. Não precisamos nem nos estender: somos a favor da permanência, óbvio.

Tudo isso para dizer que, diante do circo da po-liticagem, nos restam poucas esperanças na políti-ca tradicional, sugada pelos interesses das grandes corporações e pelas ambições mesquinhas de po-líticos narcisistas. Continuaremos, porém, nos im-portando, e muito, com os destinos do Brasil. Pois podemos morar longe, mas lá é nossa casa.

Insensata polItIcagem

AnA ToledoDiretora de Operaçõ[email protected]

Guilherme reisDiretor de Redaçã[email protected]

roberTA schwAmbAchDiretora [email protected]

ediTor em inGlêsShaun Cumming [email protected]

desiGn e diAGrAmAçãoJean [email protected]

colAborAdoresAquiles Reis Franko FigueiredoGabriela LobiancoMárcio ApolinárioWagner de Alcântara Aragão

imPressãoSt Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, [email protected] cópias

disTribuiçãoEmblem Group Ltd.

PArA AnunciAr [email protected] 020 3015 5043

PArA [email protected]

PArA suGerir PAuTA e [email protected]

ONLINE brasilobserver.co.uk

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LONDON EDITION

É uma publicação mensal da aNaGu uk uN liMiTeD fundada por:

ser ou não ser europeu Enfim, o referendo sobre permanência do Reino Unido na UE

o petróleo é de quem? Diante de conjuntura adversa, Senado muda regra do pré-sal

mulheres, unI-vos! Entrevista com a publicitária Nana Lima sobre feminismo

camInhando e cantandoAnálise sobre protestos e polarização política no Brasil

no coração do BrasIlExposição revela novo olhar sobre a cultura indígena

psIcodelIa Relato sobre um festival que é um movimento

e maIs... Pg. 8 - Lenio Luiz Streck sobre a Operação Lava JatoPg. 26 - Franko Figueiredo sobre a dor dos outrosPg. 27 - Aquiles Reis sobre o novo álbum de Zélia Duncan

além dIsso... Pg. 4 - Observações relevantes sobre o que nos cercaPg. 24 - Dicas culturais para londrinos brasileirosPg. 28 - A cidade de Londres por Roberta CalabroPg. 30 - Jericoacoara: escondida o suficiente

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o Brasil Observer, publicação mensal da aNaGu uk MarkeTiNG e JorNais uN liMiTeD (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.

3brasilobserver.co.uk | Março 2016

Rodrigo Cardoso (29 anos), autodidata, encon-trou na arte urbana seu meio de expressão. É pioneiro na street art de chapecó/sc e desde 2003 participa de exposições e projetos além dos limites de santa catarina. seu trabalho e estilo têm como foco a cultura de rua, sendo o cotidiano, o surrealismo e seus dois filhos suas fontes principais de inspiração. Suas téc-nicas vão muito além do spray, não se limitan-do apenas aos muros, procurando por novos materiais, técnicas e cores. Suas criações apre-sentam proporção, equilíbrio, transcendência e técnica. Dos muros para as telas e das telas para os mosaicos construídos com restos de madeira, Digo, como é conhecido, mistura, cria e inova. Sua ideia de arte gira em torno da pos-sibilidade de fazer com que as pessoas se inspi-rem. E seu interesse de evoluir artisticamente vai além de galerias e exposições.

A capa desta edição foi produzida por Rodrigo Cardoso para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e com apoio da embaixada do brasil em londres. cada uma das 11 edições deste jornal em 2016 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados através de uma chamada pública. Em dezembro, os trabalhos serão expostos na sala brasil.

Circulando em Londresedição #35 - Fevereiro 2016

rodrigo cardosowww.flickr.com/photos/digo_cwww.instagram.com/digo_cardoso

APOIO:

arte da capa

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4 brasilobserver.co.uk | Março 2016

oBservaçÕes

Representantes de 14 startups bra-sileiras, selecionadas pelo Programa InovAtiva Brasil – UK Chapter, estive-ram em Manchester e em Londres, em fevereiro, para apresentar seus trabalhos para investidores britânicos. Foi o pri-meiro passo para o ingresso em merca-dos britânicos e europeus.

Criado em 2013, o InovAtiva Brasil é incentiva empreendedores que buscam atividades inovadoras globalmente, ofe-recendo capacitação e mentoria para o estabelecimento de novos negócios. Organizado pelo Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Ex-terior (MDIC), conta com a execução da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Ino-vadoras (Anpei) e parceria da Agência Brasileira de Promoção de Comércio e Investimentos (Apex-Brasil).

Em sua 4ª edição, o programa criou o capítulo UK Chapter em parceria com a Embaixada Britânica no Brasil e a Agên-cia de Comércio e Investimento do Reino Unido, a UK Trade & Investment (UKTI). A iniciativa foi financiada pelo governo britânico com o “Prosperity Fund”.

Durante a viagem de negócios, re-presentantes das 14 startups tiveram a oportunidade de conversar individual-mente, durante 30 minutos, com em-presas britânicas interessadas em dis-cutir negócios e parcerias. Já no “Demo Day”, que aconteceu na Embaixada do Brasil em Londres, sete startups se apre-sentaram durante cinco minutos para os investidores.

Um dos investidores presentes foi Ja-mes Downing, do Silicon Valley Bank. “Eventos assim são ótimas oportunidades para conhecermos empresas interessan-tes mostrando o que têm de melhor”. O investidor anjo Oliver Dowson, CEO do International Corporate Creations, disse que ficou tão impressionado com as apre-sentações que reorganizou sua agenda para acomodar reuniões com duas star-tups brasileiras, nas quais está interessa-do em investir. Já o empreendedor Joni Hoppen dos Santos, fundador da startup Aquarela Knowledge & Innovation, afir-mou que já estabeleceu duas parcerias para desenvolver o seu produto de big

data e testar o mercado britânico, a partir dos contatos feitos na missão.

Além da Aquarela, as outras star-tups brasileiras que vieram para a In-glaterra são: easySubsea, Forebrain, Inteletron, Mereo, Mogai, Ukkobox, ClapMe, Plurio, Liferank, Piipee, Soli-des, Tech4safe e Urbotip.

Além de momentos destinados a ne-tworking, os participantes também tive-ram a oportunidade de visitar importan-tes centros tecnológicos britânicos, como a joint venture MediaCityUK (foto), e as agências de investimento de Manchester, MIDAS, e de Londres, London & Partners.

Para o secretário de Inovação do MDIC, Marcos Vinícius de Souza, este tipo de iniciativa é crucial. “Precisamos aprender a negociar. As startups ainda focam apenas no mercado interno. É fun-damental mirar o mercado global desde o início, nascer global”, pontuou. Souza acredita também que essas experiências internacionais ajudam, principalmente, a mudar a mentalidade e a cultura dos empreendedores brasileiros. “É impressio-nante o efeito dessa experiência quando as startups voltam para o Brasil. No exterior, elas passam por treinamentos práticos com mentores de alto nível, preparam-se para outras realidades”, comentou.

O interesse por startups brasileiras, segundo a conselheira econômica da Embaixada Britânica no Brasil, Catheri-ne Barber, justifica-se pela possibilidade de diversificar o mercado britânico com produtos e serviços de alta qualidade. Além disso, ela aponta como ponto po-sitivo para a parceria a criatividade do empreendedor brasileiro, que gera bas-tante interesse nos britânicos, informou a assessoria de comunicação do MDIC.

O Reino Unido investiu 150 mil libras na iniciativa. Já o MDIC, embora não te-nha divulgado o valor investido exclusi-vamente no UK Chapter, informou que o aporte brasileiro até a terceira edição do Programa InovAtiva Brasil foi de R$ 7 milhões. Não foi a primeira vez que o Ino-vAtiva Brasil firmou uma parceria neste formato. Em outra edição do programa, 20 startups foram enviadas aos Estados Unidos para mentorias, treinamentos e networking com empresas e investidores.

em Busca de InvestIdores BrItânIcos

deBates BrasIleIros no KIng’s college e no Ilas

Dando sequência a sua série de se-minários, o Brazil Institute do King’s College London realiza em março três conferências, enquanto o Institute of Latin American Studies (Ilas) da Uni-versity of London promove, neste mês, curso de dois dias sobre as relações en-tre o Brasil e o Reino Unido.

No King’s College, dia 8 de março, o Professor Emérito de História Latino-a-mericana da University of London Les-lie Bethell ministra uma palestra cujo título é “The Failure of the Left: A Bra-zilian Tragedy”. O professor, segundo o programa, primeiro analisa o fracasso da esquerda – comunista, socialista, populista, castrista – entre 1920 e 1970. Em seguida, discorre sobre a formação do Partido dos Trabalhadores (PT) na década de 1980 e seu crescimento até a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência em 2002, a maior vitória da esquerda latino-americana desde a Re-volução Cubana e a eleição de Salvador Allende no Chile em 1970. Por fim, Les-lie Bethell avalia as administrações Lula (2003-10) e Dilma Rousseff (2011 até hoje), aparentemente fadadas ao fracas-so, e faz considerações sobre o futuro da esquerda no Brasil.

Já no dia 14 de março é a vez do Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis (foto), no posto desde julho de 2013, apresentar suas opiniões a respei-to do delicado momento político e eco-nômico do país sul-americano. E no dia 22, também no King’s College, o pesqui-sador Markus Fraundorfer, da Universi-dade de São Paulo, conduz uma pales-tra cujo tema é “Democratising Global Governance. Examining Brazil’s Poten-tial”. A questão principal: é possível uma democracia emergente, do hemisfério sul, contribuir para a democratização do sistema de governança global?

No Ilas, o título da conferência que acontece nos dias 10 e 11 de março na Senate House é “Britain and Brazil: Poli-tical, Economic, Social, Cultural and In-tellectual Relations, 1808 to the present”. Os organizadores do evento são o profes-sor Leslie Bethell, citado anteriormente, e Alan Charlton, que foi Embaixador do Reino Unido no Brasil entre 2008 e 2013.

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5brasilobserver.co.uk | Março 2016

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6 brasilobserver.co.uk | Março 2016

Em sua turnê pela América Latina, a banda inglesa Rolling Stones se apresentou no Brasil nas cidades do Rio de Janeiro (foto), São Paulo e Porto Alegre. Como não poderia deixar de ser, o grupo arrastou multidões. Antes, a banda tinha se apresentado no Chile, na Argentina e no Uruguai. Um show em Cuba estava marcado para 25 de março.

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Estreia neste mês a Rádio Brasil da Gente (RBG), através do site www.radior-bg.com e de um aplicativo para aparelhos móveis, o RBG Radio. Com a ambição de ser a “a rádio dos brasileiros no mundo”, como diz o próprio slogan, a RBG será lançada, primeiramente, na Inglaterra, mas pretende se expandir para outros pa-íses do continente europeu.

“Nossa equipe de jornalistas e profis-sionais de diferentes áreas e especialida-des é responsável pela produção de pro-

gramas personalizados, voltados para as necessidades dos brasileiros no exterior”, diz a página da rádio na internet. Na pro-gramação estarão programas voltados para a saúde, direitos dos imigrantes, em-preendedorismo, cultura e música.

Uma das atrações, chamada Novos Sons do Brasil, será conduzida pela jor-nalista e DJ Lívia Rangel, responsável pela revista digital Eleven Culture. O programa irá ao ar toda sexta-feira, às 8pm, na Rádio RBG.

A 18ª edição do jantar de gala organi-zado anualmente pela Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha acontecerá no dia 10 de maio, em Londres, no hotel Hilton da Park Lane. Na ocasião, será en-tregue o prêmio Personalidade do Ano, que tradicionalmente reconhece as reali-zações de dois líderes empresariais – um brasileiro e um britânico – que têm fo-mentado a aproximação comercial entre

Brasil e Reino Unido. Os vencedores do prêmio em 2016 são

Alexandre Grendene Bartelle, dono da fá-brica de calçados Grendene, e John Joseph Fallon, chefe-executivo da empresa de educação Pearson. Sobre a Grendene, vale dizer que uma de suas principais marcas de calçados, Melissa, recentemente abriu uma loja na prestigiada região de Covent Garden, em Londres.

rádIo onlIne para BrasIleIros estreIa em março

câmara BrasIleIra de comércIo na grã-Bretanha deFIne vencedores do prêmIo personalIdade do ano 2016

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g Lenio Luiz Streck é professor titular da UNISINOS-RS e

uNesa-rJ, Doutor em Direito Constitucional, advogado,

membro catedrático da academia brasileira de Direito Constitucional

A Operação Lava Jato, a investigar es-quema de corrupção na Petrobrás, é um verdadeiro paradoxo. É sua própria con-tradição. De um lado, na teoria, o sim-pático discurso do combate à corrupção e do fim da impunidade. De outro, na prática, os reiterados abusos no emprego da colaboração premiada (no jargão po-pular, “delação premiada”) e o constante abandono das garantias constitucionais.

Ora, como é possível que, em um passe de mágica, um total de 283 anos de penas aplicadas a 13 delatores se trans-formem em sete anos? O problema: não há fiscalização. Por exemplo, como é possível que uma pena de 13 anos se transforme em um ano? A resposta é muito simples. Como não existe a figura do ombudsman no Brasil, quem vai dizer que um acordo de delação é regular ou irregular? O delator delata o que quer. E como quer. O Ministério Público agrade-ce. E o juiz homologa.

Muitas pessoas não entendem o que há de errado no modo como se fazem os acordos de delação. Veja-se: ninguém é a favor da corrupção (a não ser o corrupto, é claro). Mas a questão é: podemos com-bater a impunidade pagando qualquer preço? Os que hoje torcem pela dimi-nuição de garantias – sim, é possível ver importantes formadores de opinião di-zendo coisas como “há que se enfrentar a corrupção com mecanismos de exceção” – são e serão os primeiros a reclamar na hora em que as garantias lhes faltarem.

Quanto queremos pagar no mercado da democracia? Estamos dispostos a “ven-der” a Constituição? “Ah, a Constitui-ção é ruim nesse ponto”. Pois é. Mas em outros é boa, não?

Sei que é antipático dizer isso, mas vivemos em tempos utilitaristas. Por isso queremos “vender” as garantias. E pode-remos chegar a um paradoxo: se todos os réus delatarem, o que restará? E como resolveremos as delações contraditórias?

Por mais que tenhamos violência ou corrupção no Brasil, nada disso quer dizer ou significar que podemos agir de uma forma consequencialista. Isto é, para combater a corrupção – que é en-dêmica no Brasil –, não podemos, obvia-mente, atropelar direitos. A justiça não pode ser utilitarista. Os fins não justifi-cam os meios.

Vamos dar um caso: decisão do Tri-bunal Regional Federal (TRF-4) de 30 de julho de 2015 negou Habeas Corpus para um acusado da Operação Lava Jato que estava, já naquele momento (continua até hoje, mais de seis meses depois), preso há mais de 500 dias. O caso obviamente já extrapolou o prazo razoável que a jurisprudência vem fi-xando, de cerca de 170 dias.

O TRF entendeu que o excesso do prazo estava justificado porque o Su-perior Tribunal de Justiça autorizava a continuidade da prisão preventiva nas hipóteses da ocorrência de “peque-no atraso na instrução do processo”.

Observemos até que ponto chega o consequencialismo/utilitarismo do Tri-bunal: mais de 500 dias são entendidos como um “pequeno atraso”. Será que, para combater a corrupção, podemos trocar o sentido das palavras? O que impressiona é a quase ausência de pro-testos na comunidade jurídica. O que muito se vê é o aplauso da mídia.

Alguns juristas – e cito o professor Joaquim Falcão, da Fundação Getúlio Vargas – dizem que há um novo direito no Brasil. Falcão diz que se trata de uma mudança geracional na magistratura, no Ministério Público, na Polícia Fe-deral: “Juízes, procuradores, delegados são mais jovens. Fizeram concurso mais cedo. Vivem na liberdade de imprensa, na decadência dos partidos e na indig-nante apropriação privada dos bens pú-blicos. E não têm passado a proteger ou a temer. Dão mais prioridade aos fatos que às doutrinas. Mais pragmatismo e menos bacharelismo. Mais a evidência dos autos – documentos, e-mails, planilhas, teste-munhos, registros – do que a lições de manuais estrangeiros ou relacionamento de advogados com tribunais”.

Quero acrescentar algo ao que disse Falcão. O problema, para mim, é cultural. Ocorre que essa nova geração faz a mes-ma coisa que a “geração anterior” já fazia. Eles acreditam no que chamo de Privilégio Cognitivo do Juiz. O juiz decide conforme a sua opinião sobre a lei e a sociedade e não a partir do que consta na Constituição.

lava Jato:

convIdado

Entre discursos e abusos, operação da Polícia

Federal é um verdadeiro paradoxo, argumenta

Lenio Luiz Streck

quando 283 anos vIram sete

9brasilobserver.co.uk | Março 2016

O lema do PCJ é: primeiro decido, depois busco um fundamento. Isso é o quê? Nada mais, nada menos, do que o consequen-cialismo que venho denunciando.

De todo modo: é uma nova magistra-tura, um novo Ministério Público e uma nova Polícia Federal. O futuro dirá se te-nho razão. E dirá se eles têm razão, uma vez que existe uma queixa na comunida-de de jurídica de que a Lava Jato atropela garantias, com excesso de prisões e o uso da delação como instrumento de pressão.

Nessa mudança de imaginário, que-ro dizer ainda que a maior derrotada no processo do chamado “mensalão” foi a dogmática jurídica. E também está sen-do a maior derrotada na Lava Jato. O di-reito está sendo o que o juiz diz que é.

Explico melhor: dos anos 1980 para cá ocorreu uma transição não muito bem feita. A falta de democracia originou uma espécie de aposta no protagonismo do Judiciário em face da estrutura auto-ritária da legislação e do Estado. Por isso floresceu, em determinado período, um espaço que foi ocupado por teses ativis-tas, como o realismo jurídico e teses que apostam na livre apreciação da lei e das provas pelo juiz. Entretanto, quando foi implantada a democracia e promulgada, logo depois, a Constituição, em 1988, a dogmática jurídica não se reciclou. Ali começou o problema.

De fato, é nesses hard cases da vida (real), como a Operação Lava Jato, que os juízes revelam suas convicções pesso-

ais sobre o direito, não esquecendo que também houve uma profunda renovação nos quadros da magistratura e do Mi-nistério Público. A questão é saber se o direito coincide com as convicções pes-soais dos juízes (e dos promotores).

Ou seja: vai tudo muito bem até que o direito (uma instituição fundante da de-mocracia) deixa de ser um direito, para ser aquilo-que-o-juiz-entende-por-direi-to. É, por exemplo, quando se prende e se solta com base no mesmo argumento. Pois é: se tudo é, nada é.

Tudo isso que eu disse anteriormente acaba de se concretizar com a decisão do Supremo Tribunal Federal que, de forma ativista e contra a Constituição, passou a permitir que pessoas condenadas em se-gundo grau possam ser presas antes do trânsito em julgado do processo. Ocor-re que o Código de Processo Penal (art. 283) e a Constituição dizem o contrário: dizem que existe a presunção da inocên-cia. Essa decisão confirma o que eu disse: o PCJ (Privilégio Cognitivo do Juiz) foi mais forte que a lei e a Constituição. Essa decisão tem reflexos imediatos. Já no dia seguinte, acusados que aguardavam o julgamento dos recursos em liberdade passaram a ser presos. E, é claro: essa de-cisão do Supremo Tribunal terá reflexos muito grandes na Operação Lava Jato. Evidentemente para os que não delata-ram. Os que delataram receberam o seu prêmio do establishment. Por isso, 283 anos viraram pó.

Em São Paulo, Polícia Federal chega a construtora Odebrecht

na 23ª fase da Operação Lava Jato, cuja deflagração ostensiva foi iniciada em 17 de março de

2014, tendo como objetivo apurar um esquema de lavagem de

dinheiro suspeito de movimentar mais de R$ 10 bilhões através

de contratos fraudulentos com a Petrobrás. Empresários e políticos

de diversos partidos foram beneficiados pelo esquema.

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10 brasilobserver.co.uk | Março 2016

oOs brasileiros têm um alto índice de en-gajamento nas redes sociais. Diversos assuntos são levantados o tempo todo e, entre eles, está o feminismo. Comentar sobre o tema deixou de ser novidade, o que por si só já pode ser considerado um avanço, pois a questão é tradicionalmente tratada como tabu no Brasil.

A mais recente “polêmica” feminista rendeu até tréplica. O debate começou a partir de um blog hospedado no site do jornal Folha de S. Paulo, onde foi publi-cado um artigo assinado pela atriz Fer-nanda Torres que em pouco tempo gerou grande repercussão na internet. Mulheres do país inteiro não pouparam caracteres para questionar alguns conceitos expos-tos pela atriz. O mesmo blog publicou em seguida uma resposta de Fernanda Tor-res, que pediu desculpas após reavaliar suas opiniões. A tréplica aconteceu mes-mo assim. Alguns aceitaram o mea culpa, enaltecendo a importância do diálogo e a capacidade da atriz em rever seus con-ceitos. Outros, porém, não aceitaram. De uma forma ou de outra, trata-se de uma mostra de como o movimento feminista no Brasil tem evoluído nos últimos anos e, obviamente, da importância da internet nesse processo.

Independente da opinião sobre o caso citado, é fato que desde 2013 diversas ini-ciativas foram criadas e outras, que já exis-tiam há mais tempo, tiveram divulgação ampliada a partir dos desdobramentos des-ses debates. É o caso da Think Olga, ONG

responsável pela campanha Chega de Fiu-Fiu e também pela centralização dos depoi-mentos da iniciativa #meuprimeiroassedio, que ganhou visibilidade internacional. Como consequência da Olga, nasceu a Think Eva, empresa de consultoria criada para marcas, agências, instituições, ONGs e órgãos públicos que queiram criar um di-álogo saudável com as mulheres.

Para falar sobre a experiência desses projetos, numa conjuntura na qual o tema tem ganhado repercussão voluntária na in-ternet através de diversas frentes, o Brasil Observer entrevistou a publicitária Nana Lima, uma das fundadoras da Think Eva e diretora de projetos da Think Olga. Em um papo descontraído, Nana mostrou sua sensibilidade pessoal em relação ao tema e como isso é um fator fundamental na esco-lha da linguagem que utilizam para fazer a mensagem ser efetiva através de mudanças práticas. Afinal, nem com a Eva, nem com a Olga, elas “pregam para convertidos”.

No dia das mulheres, rosa, só se for a Luxemburgo? Ainda temos um dia para ser comemorado?

O porquê desse dia é uma história mui-to triste e é horrível pensar que de lá pra cá muitas coisas não mudaram. As demandas são praticamente as mesmas: salários iguais, um mercado de trabalho que olhe para a mulher como ser humano, o entendimen-to de que temos necessidades diferentes dos homens. O porquê disso não é algo para ser

celebrado, pois estamos andando em passi-nhos de formigas e muitas vezes voltamos para trás. Mas eu acho que é interessante ter um mês, gerar debate. Tanto com a Eva quanto com a Olga recebemos muitos con-vites de empresas, escolas e universidades para palestras. E o que tentamos fazer é dar continuidade ao trabalho para além do mês de março. Eu tenho um mixed feeling com isso. Por um lado é muito interessante, mas por outro a data não pode ser banalizada. É um dia para a gente pensar que não mudou tanto quanto falam que mudou.

Entender o feminismo é como escolher entre a pílula azul ou vermelha do Matrix, você nunca poderá voltar atrás?

Acho que sim (risos). A gente até brinca que, quando você coloca a lente do feminis-mo, não consegue mais não se incomodar com certas coisas, nem assistir TV do mes-mo jeito, até as conversas mudam. Você en-tende que são comportamentos. Inclusive o fato de que, se você não falar nada, você está perpetuando o comportamento e isso volta três vezes pior para você. É isso que está acontecendo com essa geração. Não entra na cabeça das meninas mais novas que elas não têm os mesmos direitos que um menino, por exemplo; que talvez ela tivesse que não ir para a faculdade para ficar cuidando dos filhos; que ela vai ga-nhar menos que um menino que entrou na faculdade com ela; que mesmo sendo tão capaz quanto, terá salário diferente.

entrevIsta

Brasil Observer entrevista a publicitária

Nana Lima, uma das fundadoras da Think Eva e

diretora de projetos da Think Olga

Por Ana Toledo

Quando você coloca a lente do feminismo, não consegue não se incomodar com certas coisas

Quando você coloca a lente do feminismo, não consegue não se incomodar com certas coisas

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Nana Lima

11brasilobserver.co.uk | Março 2016

O movimento feminista no Brasil tem ocupado um espaço importante de debate, nas redes e nas ruas. Em longo prazo, como você enxerga o reflexo disso na sociedade?

Enquanto não acontecer mudan-ças estruturais – nas leis, nas empre-sas, na comunicação e no marketing – essa onda, essa “modinha”, não vai passar. As mulheres estão se conscien-tizando muito mais do papel delas, do direito delas, e estão se organizando muito mais para lutar por isso. Alguns jornais perguntam sobre esse “novo fe-minismo”, mas não é novo, é a mesma demanda das décadas de 1960 e 1970, mesma coisa que reivindicávamos nas décadas de 1920 e 1930. Agora com a internet temos o poder de organização, de reclamação, de mostrar a nossa in-satisfação. Às vezes você acha que está sozinha, que só você pensa uma coisa, então você posta na internet e percebe uma enxurrada de apoios. Enquanto essas mudanças não ocorrerem, como a descriminalização do aborto, a equi-dade de salários, a licença paternidade – para que as mulheres não sejam colo-cadas na geladeira antes ou depois da maternidade –, nada vai mudar.

Do ponto de vista do marketing, acho que essa comunicação “empoderadora” vai virar regra. Ainda estamos no início, mas acredito que isso será quase o mo-dus operandi das marcas. Estou sendo bastante otimista, mas eu acho que é isso que vai acontecer.

A maioria dos eleitores no Brasil é mulher, mas a representatividade feminina no Congresso ainda está bem baixa. Como você analisa esta conjuntura?

Ter mulheres no Congresso não sig-nifica que tudo vai melhorar, ou que as pautas do movimento vão estar melho-res. É preciso saber que tipo de mulher nós estamos colocando lá. Estamos co-locando diversidade? Você pode ter uma mulher, por exemplo, que só esteja inte-ressada na pauta da agricultura. Uma pessoa que não está pelas demandas do movimento. Temos que ter mais diversi-dade de mulheres, de olhares, para que isso seja transformado em diversidade de políticas públicas. Agora me parece que temos umas visões muito homogêneas de tudo. Um exemplo é a Dilma Rousseff, uma presidenta mulher que nos deu cor-tes nas políticas públicas para mulheres. Isso é um desafio do Brasil no sentido de como fazer a política ser algo sexy para jovens que queriam se aplicar à política. Esses dias eu estava numa reunião e nos questionamos por que nós mesmos não pensamos em nos candidatar? Nós temos um exemplo de como mulheres que ocu-pam cargos de poder são massacradas por serem mulheres. Elas sofrem tanto machismo que você de fora já diz que jamais ocuparia um cargo como aquele. Se tivermos mais mulheres lá, o machis-mo não vai ser tão declarado e aceito. E, talvez, desta forma, isso fique mais sexy para jovens se candidatarem.

O feminismo passa basicamente por duas questões: direitos no mercado de trabalho (luta ligada às reivindicações nas fábricas da Inglaterra vitoriana) e a sexualidade (a partir dos movimentos de 1968 na França). Como você entende essas duas frentes?

Agora a luta está muito mais intersec-cional. As mulheres estão entendendo que, por exemplo, eu, mulher branca, de classe média alta, altamente escolarizada, tenho uma luta. E não adianta eu chegar sozinha lá, pois tem mais um monte de mulheres, de diferentes experiências de vida, desde classe social, etnias, que sofrem outras formas de violência. Acho que isso é uma das coisas que faz o movimento ser mais coerente. A gente consegue avançar, mas ao mesmo tempo olha para o lado e vê que outras não conseguiram. E a internet cola-bora, pois conseguimos compartilhar mais experiências. Hoje eu consigo criar uma empatia com o que uma mulher negra so-fre na periferia. E isso faz o movimento ser muito mais coerente e muito mais interes-sante. É mais desafiador, pois é mais fácil pisar na bola em algumas visões. Mas, por outro lado, torna a coisa mais legal de tra-balhar, atingindo não apenas um grupo específico de mulheres.

A Think Eva tem outro papel nesse movimento, o de trazer a discussão de fora para dentro das empresas. Como é desenvolver esse trabalho?

Trabalhamos em três frentes com as empresas. Uma é a estratégia, que é traba-lhar dentro da comunicação da empresa, entrar no branding e também analisar a coerência da empresa da porta para den-tro. Você não pode falar que empodera mulheres e suas funcionárias ganharem menos. Outra parte é o conteúdo, tanto de comunicação interna quanto materiais externos, campanhas conjuntas. E a ter-ceira é a educação, com ações de forma-ção, workshops. Pode acontecer de uma empresa não estar no ponto de mudar ou começar a falar disso, mas querer começar esse debate lá dentro. E as três frentes, nor-malmente, se misturam. Com o tempo, o fato de uma empresa não ter uma política interna para mulheres será uma surpresa.

A nova geração tem surpreendido em diversas formas de movimento, como as ocupações das escolas em São Paulo no final do ano passado. Como você vê o feminismo vem sendo debatido entre as mais jovens?

As meninas estão dando um baile na nossa geração. Já tivemos a experiência de dar palestras para meninas entre 12 e 16 anos e é incrível a consciência que elas têm. A clareza de que precisam lutar para ter os mesmos direitos que os meninos já tem, dentro e fora da escola. Por elas te-rem acesso à internet, muito mais do que a gente teve, elas estão conseguindo se or-ganizar e se informar muito mais. As ocu-pações das escolas em São Paulo, o mo-vimento foi praticamente liderado pelas meninas. Acho que essa geração não vai dar passos, mas saltos.

Fiqueatento

Abril21 Cambridge The JuncTion22 Bristol The LanTern23 Leeds BeLgrave Music haLL24 London KoKo25 Brighton The haunT26 Manchester Band on The WaLL

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The Scalaquinta-feira 23 junho comono.co.uk

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De volta pela DemanDa

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12 brasilobserver.co.uk | Março 2016

polarIzação É crucial entender junho de 2013 como um momento de abertura societária no país, pois as mobilizações continuam

oO ano de 2016 começou no Brasil com novos protes-tos. Os motivos são diversos, mas continuam primando reivindicações relacionadas ao aumento das tarifas do transporte público, ao encarecimento do custo de vida e ao direito à cidade, de forma geral. Estas lutas auguram que as mobilizações iniciadas em junho de 2013 não se esgotaram. Ao contrário, inauguraram um novo ciclo político no país, produzindo uma abertura societária cujas consequências são visíveis hoje em várias esferas e não somente nas ruas. Desde então, emergiram novos espaços e atores que levaram a um aumento da conflitu-alidade no espaço público e a um questionamento dos códigos, atores e ações tradicionais que predominam no país desde a redemocratização política.

Embora com visões e projetos distintos (e, em geral, opostos) da sociedade brasileira, os indivíduos e cole-tividades à esquerda e à direita do governo mobiliza-dos desde 2013 até hoje são fruto desta mesma aber-tura sociopolítica. As formas de ação e de organização por eles adotadas – próprias de uma transformação das formas de ativismo e de engajamento militante no país e no mundo hoje – favoreceram um surgimento rápido, a midiatização e a capacidade de interpelação e expressividade, mas também provocaram várias ten-sões e ambivalências em sua própria constituição e nos resultados gerados.

Entre junho de 2013 e o início deste ano o país transitou por cenários diversos, marcados por uma maior radicalização e polarização política. O desen-lace ainda é incerto, mas vivemos um cenário de transição onde o “velho” não terminou de morrer e o “novo” ainda não floresceu totalmente. Neste pro-cesso de sedimentação, é fundamental entender os novos atores emergentes, os impactos imediatos dos protestos, os realinhamentos dos grupos políticos e suas construções políticas e discursivas.

aBertura socIetárIa

Participaram das mobilizações de 2013 indivíduos e grupos sociais diversos e com um amplo espectro ide-ológico. Ficou patente a indignação difusa, a ambiva-lência dos discursos, a heterogeneidade das demandas e a ausência de mediação de terceiros e de atores tradi-cionais, algo também notório em várias mobilizações contemporâneas, a exemplo das ocorridas em países como a Espanha e os Estados Unidos. A diferenciação dos ritmos, composições e olhares dos protestos nos vá-rios lugares onde ocorreram leva-nos à importância de situar as mobilizações em diferentes coordenadas espa-ço-temporais. Embora o lócus de ação das manifesta-ções fossem os territórios e espaços públicos (através da ocupação massiva de praças e ruas), havia uma conexão prática e simbólica com outras escalas de ação e signi-ficação, sejam elas nacionais ou globais, marcando uma ressonância de movimentos e de subjetividades, bem como dinâmicas de difusão e de retroalimentação.

É crucial entender junho de 2013 como um mo-mento de abertura societária no país. Uma vez aberto o espaço de protesto pelas mobilizações iniciais e pelos movimentos iniciadores (tais como o Movimento Pas-se Livre, em São Paulo), outros atores se uniram para

fazer suas próprias reivindicações, sem necessariamen-te manter os laços com os atores que as desencadearam e/ou repetir formas, cultura organizacional, referências ideológicas e repertórios de ação dos iniciadores essas mobilizações. Alonso e Mische captaram com bastante precisão a ambivalência dos repertórios presentes em junho dentro do que elas definiram como repertórios “socialista” (familiar na esquerda brasileira das últimas décadas), “autonomista” (afim a vários grupos libertá-rios e a propostas críticas do poder e do Estado) e “pa-triótico” (que usa um discurso nacionalista e as cores verde e amarela com um significado histórico e situa-cional bastante particular).

Ao emergir um novo ciclo de protestos, presenciou-se o que tenho definido como transbordamento socie-tário, isto é, um momento em que o protesto se difun-de dos setores mais mobilizados para outras partes da sociedade, transbordando os movimentos sociais que o iniciaram. No clímax desse processo, um amplo es-pectro da sociedade está mobilizado em torno de uma indignação difusa, portando diferentes perspectivas e reivindicações, que coexistiram no mesmo espaço físi-co e às vezes com um mesmo lema (contra a corrupção ou contra o governo), embora com construções e hori-zontes muito distanciados e em disputa.

Nesta fase catártica, que começou em junho de 2013 e durou alguns meses, a polarização ideológica já exis-tia (levando, por exemplo, a agressões a manifestantes que portavam bandeiras, camisetas e outros símbolos vinculados à esquerda), mas estava mais diluída na in-dignação em massa e na experimentação das ruas.

cenárIo pós-Junho

Após a heterogeneidade inicial, começa em 2014 uma fase de decantação, com algumas reivindicações principais dos indivíduos e grupos já diferenciadas no espaço e alinhadas mais claramente à esquerda e à di-reita. Neste momento, já não há manifestações massi-vas nas ruas e nas praças, mas seguem ocorrendo várias mobilizações mais pontuais, bem como uma reorgani-zação mais invisível dos indivíduos, das redes e dos co-letivos. A confluência no mesmo espaço público é pau-latinamente deslocada por convocatórias com objetivos e recortes mais definidos.

Embora boa parte destas ações não se dirigissem ao campo político-institucional e político-eleitoral, que possui lógicas e temporalidades diferentes do campo da mobilização social, o cenário pré-eleitoral de meados de 2014 rumo à contenda presidencial acabou abrin-do um novo momento de acirramento das polarizações que absorveu boa parte dos atores sociais e políticos ao longo de 2015.

A pesar das críticas formuladas ao Partido dos Tra-balhadores (PT) em particular e aos partidos políticos em geral, as eleições presidenciais de 2014 mobilizaram massivamente os brasileiros, inclusive para defender, em alguns casos, o partido no governo como “mal me-nor”. A vitória apertada de Dilma Rousseff gerou um clima de instabilidade que foi alimentado constante-mente por setores da oposição, buscando forjar o impe-achment da presidenta.

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Por Breno Bringel, no Open Democracy g

www.opendemocracy.net

g Breno Bingel é professor de

sociologia do iesP-uerJ no

rio de Janeiro. O artigo foi

editado pelo brasil observer.

13brasilobserver.co.uk | Março 2016

e protestosNo calor da disputa presidencial, muitos analis-

tas associaram a perda de votos do PT com as ma-nifestações de 2013. Embora possam haver, de fato, algumas relações entre protesto e voto, não se pode estabelecer uma ilação e uma causalidade direta. Além disso, o maior problema é que as leituras he-gemônicas sobre os impactos das manifestações de 2013 continuam restringindo os efeitos ao campo político-eleitoral e político-institucional.

Torna-se importante diferenciar as tentativas de apropriação de algumas das pautas das mani-festações por certos candidatos (caso de Mari-na da Silva e seu discurso de uma nova política recheada de velhas práticas) e partidos políti-cos descolados dos setores mobilizados daque-les processos nos quais há, de fato, uma relação histórica ou alianças táticas e estratégicas entre grupos sociais e políticos (caso do PT como par-tido e não como governo e de outros menores à esquerda).

Impacto dos protestos

Estas perspectivas político-institucionais e po-lítico-eleitorais restringem a visão da política e do político e ignoram outro tipo de resultados, impac-tos e cenários possíveis. Argumentamos, de maneira inversa, que um olhar ampliado e multidimensional para os impactos é fundamental, pois nem todos os desdobramentos das mobilizações de junho de 2013 são facilmente mensuráveis nestes termos. Ao me-nos outros dois tipos de impactos (os sociais e os culturais) devem ser considerados.

De entre os impactos sociais, podem-se destacar dois principais: a reconfiguração dos grupos sociais e a geração de novos enquadramentos sociopolí-ticos. No primeiro caso, as mobilizações recentes serviram para chacoalhar as posições, visões e cor-relações de forças entre partidos, sindicatos, movi-mentos sociais, ONGs e outras coletividades.

No segundo caso, incluem-se novos enquadra-mentos individuais e coletivos, relacionados hoje principalmente à qualidade de vida nas grandes ci-dades brasileiras, ao bloqueio midiático, à violência (inclusive a estatal, que afeta de forma particular as mulheres e os jovens negros pobres que vivem nas periferias urbanas) e ao machismo.

No âmbito cultural observam-se inovações nas lógicas de mobilização e nos mecanismos re-lacionais e interativos do ativismo. Marcada pela conflitualidade, pela difusão viral, por identida-des referenciais diversas e por uma expressividade do político mediada pela cultura, tanto militantes de primeira viagem como movimentos mais con-solidados colocam em xeque a cultura política da apatia. Embora em alguns casos haja um distancia-mento entre uma nova geração de ativistas e a mi-litância mais experimentada, em outros aparecem confluências criativas, como é o caso de algumas sinergias entre redes submersas e iniciativas artís-tico-culturais no engajamento político (algo mar-cante em cidades como Belo Horizonte).

movImentos e polarIzação

Torna-se importante compreender junho de 2013 não como um “evento” isolado, mas como um processo. Para isso, é fundamental associar sempre os movimen-tos sociais a movimentos societários mais abrangentes. Isso é central no atual momento de crise no Brasil, onde parece haver uma reconfiguração das formas de ativis-mo e dos sujeitos políticos. Nesse sentido, assim como se relacionou as mobilizações de massa dos anos 1970 e 1980 com um movimento societário de redefinição da democracia e dos direitos, as mobilizações recentes es-tão associadas a desenvolvimentos estruturais do país, que foram particularmente velozes na última década.

Numa sociedade tão desigual como a brasileira, estas mudanças afetaram de diferentes maneiras as classes sociais, levando a frustrações que embora, em alguns casos, convergissem, eram opostas ideologica-mente. Os ricos ficaram mais ricos, enquanto uma par-cela da população saiu da pobreza e passou a ter acesso a certos serviços, espaços e direitos que antes somente eram exercidos por uma classe media alta que viu seus “privilégios” e seu estilo de vida ameaçados.

Na atual situação de polarização, é possível identi-ficar claramente no Brasil dois polos radicalmente an-tagônicos, com uma diversidade de situações interme-diárias possíveis. Por um lado, um campo progressista e de radicalização da democracia que age orientado por valores como a igualdade, a justiça, a pluralidade, a diferença e o bem viver. Por outro lado, um campo reacionário, marcado pelo autoritarismo, certos traços fascistas e antidemocráticos e pela defesa dos privilé-gios de classe, da propriedade privada e de uma visão sempre evasiva da liberdade.

No primeiro caso, trata-se de uma camada diversa de jovens, coletividades, plataformas e movimentos que tem militado na denúncia (e na tentativa de eliminação) das hierarquias, da opressão e dos abusos do Estado e em rei-vindicação variadas, como a qualidade dos serviços públi-cos e por uma vida mais humana nas cidades. Entendem a democracia em um sentido ampliado, não como sinônimo de instituições, representação ou eleições, mas como uma criação sociopolítica e uma experiência subjetiva.

Já o segundo polo perpetua, nos seus discursos e na prática cotidiana, as estruturas de dominação e as formas de opressão. Aceita a alta desigualdade social existente no país baseado no discurso da inevitabilidade e/ou da meri-tocracia. Prega, em alguns casos, pelo retorno de um pas-sado melhor (a ditadura), para o qual não temem pedir a intervenção militar. Contam, em geral, com apoio e atuam em colusão com as elites econômicas e midiáticas. Costu-mam atuar nos bastidores da política, embora combinem agora estas estratégias com uma novidade: o recurso à mo-bilização nas ruas e à ação direta.

O leque de posturas que transcendem estas posições é amplo, mas a polarização existente na sociedade bra-sileira hoje acaba levando a que a maioria das interpre-tações reduzam o conflito realmente existente a estes campos, nublando o potencial das vozes mais transfor-madoras de junho de 2013. Nestes ensaios insurgentes e na rearticulação do campo popular concentram-se as esperanças de geração de alternativas ao atual cenário.

Manifestações a favor e contra o impeachment da presidente

Dilma Rousseff devem se repetir neste mês de março

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14 brasilobserver.co.uk | Março 2016

reportagem

JJá está na Câmara dos Deputados o projeto de lei aprovado pelo Sena-do que, na prática, abre a exploração e produção de petróleo da camada pré-sal para companhias estrangeiras. Além do questionável mérito da pro-posta – abrir mão de uma das maiores reservas do planeta do produto mais cobiçado do mundo –, chamou aten-ção também a forma como a matéria tramitou e foi aprovada. Entre as ine-vitáveis impressões, fica a de que a en-trega do pré-sal às multinacionais é a moeda de troca para livrar o pescoço de certas lideranças políticas – e do próprio governo.

Pela legislação atual (lei federal 12.351/2010, de autoria do Governo Lula e aprovada pelo Congresso), a União é dispensada de licitar campos de exploração de petróleo da camada pré-sal, permitindo que ela contra-te automaticamente a Petrobras. Ou, nos casos em que a União considerar conveniente licitar áreas para explo-ração, a lei estabelece que a Petrobras deve ter participação mínima de 30% no empreendimento. Com o novo pro-jeto aprovado, essa exclusividade e essa participação de 30% acabam. Um campo de pré-sal poderá ser explorado unicamente por corporações privadas, inclusive estrangeiras. O projeto preci-sa ainda ser aprovado pela Câmara; se passar, o mesmo dependerá de sanção ou veto da presidenta Dilma Rousseff.

Embora seja um tema de sobera-nia nacional, o projeto de lei, de auto-ria do senador José Serra (PSDB-SP), foi apreciado pelo plenário e aprova-do menos de um ano depois de ser apresentado. Protocolado em 19 de março de 2015, o projeto (de número 131/2015) não transitou pelas diversas comissões a que naturalmente estão sujeitas as proposições da Casa. Passou apenas pela Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (primeira etapa de qualquer projeto; nessa comissão se verifica a constitucionalidade da me-dida proposta) e, em junho, em plená-rio, o projeto foi objeto de pedido de urgência em sua tramitação.

Uma comissão especial foi institu-ída para discutir o projeto, mas, em outubro, quando se encerrou o pra-zo para que a comissão finalizasse seus trabalhos, sem um relatório final

petróleo coBIçado Diante de conjuntura desfavorável, Senado aprova projeto que elimina obrigação da Petrobras de explorar reservas do pré-sal

Por Wagner de Alcântara Aragão

Senadores pelo PSDB, Aécio Neves, Tasso Jereissati, Aloízio

Nunes e José Serra comemoram aprovação de projeto de lei

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15brasilobserver.co.uk | Março 2016

elaborado, o projeto retornou à pauta do plenário do Senado. A discussão da matéria foi adiada por mais de 30 ses-sões até voltar à pauta em fevereiro, no início do ano legislativo de 2016, de-pois das férias de janeiro. Na abertura do ano legislativo, em seu discurso o presidente do Senado, Renan Calhei-ros, adiantou a disposição em colocar o quanto antes a matéria em votação, fazendo questão de demonstrar seu apoio à proposta.

conJuntura

Para o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Siqueira, ficou subentendido nas palavras de Renan que a aprovação do projeto de lei de José Serra foi colo-cada como condição para preservar os principais parlamentares do cerco da Operação Lava Jato e salvar o governo de Dilma Rousseff do processo de impeach-ment. “Enfraquecidos por serem alvo da Lava Jato, os parlamentares se compro-meteram com o projeto. O Renan [Ca-lheiros] passou a defender o projeto do Serra. O [Eduardo] Cunha [presidente da Câmara dos Deputados] também de-fende e vai fazer de tudo para o projeto passar na Câmara. Até a Dilma entrou nessa”, declarou Siqueira, em entrevista ao Brasil Observer.

O representante da Aepet tem percorrido diversas regiões do Brasil participando de eventos que buscam mobilizar a sociedade na defesa da exclusividade da Petrobras como ex-ploradora e produtora do petróleo do pré-sal – prerrogativa que o projeto de lei de José Serra retira. No dia da aprovação do projeto pelo Senado, em 24 de fevereiro, Fernando Siqueira mi-nistrava uma palestra em Santos. O intuito das palestras promovidas pela Aepet é o demonstrar que a Petrobras tem, sim, saúde financeira e expertise tecnológica para manter a exclusivida-de no pré-sal.

Siqueira salienta que as dificulda-des enfrentadas pela Petrobras hoje são momentâneas e, boa parte delas, verificadas em todas as petroleiras do mundo, em razão da conjuntura atu-al do mercado de petróleo. “Um dos motivos dessas dificuldades é a queda do preço do petróleo, que já chegou a US$ 115 o barril e agora já baixou para US$ 30. A Petrobras [no seu plano de investimentos] considerou o barril do petróleo na faixa dos US$ 60.” Nada que inviabilize a companhia de con-tinuar a explorar e produzir petróleo do pré-sal, observou o vice-presidente da Aepet. “Além do que o petróleo do pré-sal é um ativo altamente valoriza-do; ele é estratégico. Só com o pré-sal a Petrobras tem reservas descobertas de 60 bilhões de barris e, com a expe-riência acumulada, tem condições de explorar essas reservas.”

Na avaliação do professor Elói Ro-tava, coordenador do curso de Enge-nharia de Petróleo da Universidade Católica de Santos (UniSantos), a cota-ção em baixa do barril de petróleo di-minui, mas não anula, a rentabilidade

da produção de petróleo do pré-sal. Assim, Rotava defende que a Petrobras deve continuar a produção do produ-to da camada pré-sal. “Pessoalmente, acredito que devemos continuar com os esforços para a produção e desen-volvimento da indústria do petróleo no Brasil – não só pela expectativa de valorização do barril nos próximos anos, mas também como forma de se aumentar a robustez da economia bra-sileira [frente] a oscilações do merca-do internacional”, afirmou em entre-vista ao Brasil Observer.

“Petróleo e gás são fundamentais na economia brasileira e mundial. A indústria do petróleo no Brasil tem uma longa historia de desenvolvimen-to tecnológico e aplicações de suces-so em produção offshore. Abandonar este conhecimento por uma oscilação no preço de venda internacional do produto é uma perda que pode levar muito tempo para ser reconquistada, numa eventual valorização do barril”, completou Rotava.

Opinião essa semelhante a do tam-bém professor Robson Dourado, um dos coordenadores da especialização em Engenharia de Petróleo e Gás da Universidade Santa Cecília (UniSan-ta), de Santos. Ao Brasil Observer, Dourado explicou que os dados oficiais da Petrobras deixam claro que há via-bilidade econômica para a companhia seguir sua atuação nos campos de pré-sal. “Todo o investimento neste seg-mento deve ser feito pautado sempre por análises de cenários não apenas no curto prazo, mas, sobretudo, em hori-zontes mais dilatados de tempo”, argu-mentou. “Como já foi noticiado pela empresa estatal, temos a manutenção da viabilidade econômica dos projetos de desenvolvimento da produção mes-mo com os valores atuais”, acrescentou Dourado.

pressa

Tanto Rotava quanto o colega Dou-rado referendam a avaliação de Siquei-ra, da Aepet: dificuldades financeiras estão a atingir todas as petroleiras do mundo, não só a Petrobras (embora a estatal brasileira tenha sua imagem prejudicada pelos escândalos de cor-rupção revelados pela Operação Lava Jato). Relatório recente da Agência In-ternacional de Energia (AIE) sustenta a análise dos três. De acordo com a AEI, “a persistência do baixo preço do petróleo fez com que os investimen-tos da indústria petroleira [mundial] sejam os menores em três décadas. E seguirão caindo este ano”.

Em síntese, o relatório diz que “o gasto de capital das empresas dedica-das a exploração e produção de pe-tróleo e gás se reduziu 24% no ano passado e deve diminuir 16% este ano. É a primeira vez desde 1986 que os investimentos caem por dois anos consecutivos”. Por outro lado, o mes-mo relatório aponta que o Brasil será, excetuando-se os integrantes da Or-ganização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o segundo país

com maior crescimento na produção de petróleo, até 2021. “A oferta de pe-tróleo do Brasil passará do patamar de 2,5 milhões de barris por dia em 2015 para 3,4 milhões em 2021. Parece que, ao menos até agora, as novas instala-ções mais que compensarão o declínio em alguns campos de produção.”

Exatamente pelo cenário interna-cional incerto e também pelo poder geopolítico do petróleo é que os opo-sitores da abertura do pré-sal para estrangeiras estranham a celeridade dos parlamentares em apreciar o pro-jeto de José Serra. “Por que o regime de urgência? Por que não tramitou em todas as comissões?”, questionou, por exemplo, o senador Cristovam Buar-que (PPS-DF). “Por que essa pressa em entregar o pré-sal às empresas inter-nacionais? O pré-sal pode ter até 273 bilhões de barris de reservas. A Petro-bras se tornaria a segunda maior pro-dutora do mundo. Querem entregar isso, nosso avanço, nossa tecnologia, de graça aos estrangeiros”, criticou o senador Telmário Mota (PDT-RR).

Pelo acerto feito entre a base de apoio ao governo e os defensores do projeto de José Serra, foi aprovado um substitutivo ao texto original do proje-to de lei, de modo a continuar dando à Petrobras a preferência pela explora-ção e produção dos campos de pré-sal. Essa preferência passa a ser oferecida pelo Conselho Nacional de Política Energética. Caso a estatal abra mão, aí sim a exploração fica aberta a outras petroleiras. “O que o projeto faz é tirar a obrigatoriedade de essa empresa ter que investir em cada poço do pré-sal. Tudo continua nas mãos do poder pú-blico, apenas a Petrobras não é obriga-da a investir. Apenas isso. Se ela quiser, em um mês, ela manifesta sua intenção e controlará o poço”, defendeu o sena-dor paulista.

O Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) conside-ra um avanço importante para o país e para setor de óleo e gás a aprovação do projeto. “A experiência demonstra que a diversidade de operadores, com di-ferentes estratégias e competências, fa-vorece o desenvolvimento tecnológico, estimula a indústria brasileira de bens e serviços, promove a competitividade e melhor potencializa o valor dos re-cursos naturais do país”, disse em nota o IBP, entidade sem fins lucrativos que representa empresas dos setores de pe-tróleo, gás e biocombustível no Brasil.

Há anos dividindo liberais e desen-volvimentistas, a questão do petróleo no Brasil deve continuar a gerar con-flitos políticos no país, em um mo-mento em que o governo da presidente Dilma Rousseff parece estar mais fra-co do que nunca, inclusive perdendo o apoio do próprio partido, o PT. À medida que o governo se enfraquece e a Petrobras perde protagonismo, deve aumentar o interesse de petrolíferas estrangeiras pelo petróleo brasileiro da camada pré-sal. O preço do produ-to está em baixa, mas nada indica que o mesmo deixará de ser cobiçado pelas principais potências do globo.

RAIO-X DA PETROBRAS

Vítima de corrupção há décadas, a Petrobras está com imagem arranhada. Os dados permitem contido otimismo. Confira:

g o mais recente balanço da companhia, referente ao acumulado nos três primeiros trimestres de 2015 (janeiro a setembro), mostra que no período a empresa registrou lucro líquido de R$ 2,1 bilhões, 58% inferior a igual período de 2014.

g Já o lucro operacional cresceu 149% no período, alcançando R$ 28,6 bilhões.

g o endividamento líquido somou US$ 101,2 bilhões, 5% inferior ao endividamento registrado ao final de 2014.

g O prazo médio da dívida aumentou de 6,10 anos em 2014 para 7,49 anos ao final do primeiro trimestre de 2015.

g No último ano a Petrobras produziu 2,128 milhões de barris por dia, alta de 4,6% em relação a 2014.

g A média anual da produção operada na camada pré-sal em 2015 também foi a maior da história da empresa, atingindo uma média de 767 mil barris por dia, superando a produção de 2014 em 56%.

fonte: Petrobras/fatos e dados

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16 brasilobserver.co.uk | Março 2016

oO primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que o referendo para consultar a opinião da população do Reino Unido sobre a permanência do país na União Europeia (UE) irá acon-tecer no dia 23 de junho. O anúncio foi feito um dia após os 28 países membros da UE aceitarem, em decisão unânime, as exigências feitas pelos britânicos para permanecerem no bloco. O acordo fir-mado em Bruxelas, na Bélgica, conce-deu ao Reino Unido um “status especial” dentro do bloco europeu. Será a segun-da vez que os britânicos votam sobre a permanência na UE. Em 1975, o “sim” venceu. Vale lembrar que, até hoje, ne-nhum país deixou o bloco – muitos ou-tros de fora, na realidade, vêm ajustando suas economias e sistemas de governan-ça para fazerem parte do grupo.

Para tentar evitar a saída do Reino Unido, os chefes de estado da UE acei-taram que os britânicos limitem alguns direitos trabalhistas concedidos aos imigrantes durante os próximos sete anos. Dessa forma, os estrangeiros que chegarem de outros países europeus terão que contribuir por quatro anos com a previdência antes de começarem a terem direito aos mesmos benefícios pagos a trabalhadores britânicos de baixa-renda. Além disso, o valor pago por filho menor de idade será baseado no custo de vida do país de origem. Se-gundo o acordo, as novas regras valerão imediatamente para as novas chegadas, e a partir de 2020 para os quase 35 mil requerentes já existentes.

O acordo também prevê um pacote de proteção à cidade de Londres, que passa-rá a ser blindada das regulamentações

financeiras do mercado europeu, e ga-rante que o Reino Unido fique de fora do projeto de “união sempre mais estreita” com a Europa, conceito fundador da UE. “A escolha é sobre o tipo de país que que-remos ser e sobre o futuro que queremos para os nossos filhos. Trata-se de como nos relacionaremos comercialmente com os países vizinhos para criar empregos, prosperidade e segurança financeira para nossas famílias”, afirmou David Cameron durante o anúncio da data do referendo.

Pesquisa Ipsus Morri, realizada em fevereiro, indicou que 51% eleitores que-rem que o Reino Unido permaneça no bloco europeu, enquanto 36% defendem a saída e 13% se mostraram indecisos.

Após a reunião, que durou quase dois dias, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, responsável por mediar as discussões em Bruxelas, afirmou que os chefes de estado concordaram em “sacri-ficar parte dos seus interesses pelo bem comum, para mostrar unidade do bloco”. O posicionamento deixou clara a sensa-ção de frustração de Tusk, após a queda de braço travada com o governo britâni-co. Isso porque as exceções concedidas ao Reino Unido abrem precedentes para que outros países da UE tentem barganhar acordos parecidos.

Não demorou muito para que co-meçassem a aparecer indícios de novos interessados em renegociar os acordos com o bloco europeu. Durante a reunião, o vice-presidente do partido francês de extrema direita Frente Nacional, Florian Philippot, afirmou que estava observan-do o que acontece com a Grã-Bretanha com “interesse e ansiedade”. Segundo ele, a renegociação das relações com a UE

é um processo que está sendo proposto pelo governo francês há muito tempo.

O governo Escocês tem sido um dos principais defensores da permanência do Reino Unido no grupo dos 28 países da UE. Logo após a reunião, a líder do Par-tido Nacional Escocês e do governo do país, Nicola Sturgeon, afirmou que tenta-rá um novo referendo sobre a indepen-dência do país caso o Reino Unido resol-va deixar a UE. Em referendo realizado em 2014, mais da metade (55%) dos es-coceses recusaram a independência. “Se chegarmos a essa situação, na qual a Es-cócia vota pela permanência e o resto do Reino Unido vota pela saída, as pessoas da Escócia terão muitos questionamentos e vão querer descobrir se o país deve ser independente”, afirmou.

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Líder das negociações com a UE, Da-vid Cameron vem defendendo publica-mente, inclusive em programas de tele-visão, a permanência do Reino Unido no bloco europeu. No dia 21 de fevereiro, o líder do Partido Conservador aproveitou uma entrevista à rede BBC para tentar conquistar o apoio do popular prefei-to de Londres, Boris Johnson, um dos principais defensores da saída do Reino Unido da UE. Durante a entrevista, ele afirmou que com o acordo firmado em Bruxelas, o Reino Unido será mais segu-ro e próspero dentro do bloco. Ele tam-bém afirmou que a saída do Reino Unido será um salto no vazio.

No dia seguinte, o primeiro-ministro britânico voltou a defender a permanên-cia no bloco, afirmando que o tratado em

o Jogo de davId cameron Primeiro-ministro britânico ne-gocia acordo com a UE e agenda referendo sobre a permanência do Reino Unido no bloco

Por Márcio Apolinário

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, reunidos em Bruxelas

17brasilobserver.co.uk | Março 2016

Bruxelas devolve poderes econômicos e de imigração ao Reino Unido. “Conse-guimos um status especial e há a opor-tunidade de seguir construindo sobre o que já temos, protegendo nossa gente e impulsionando nossa prosperidade. Essa é a opção que deveríamos eleger”.

Crítico explícito de vários aspectos da UE, o prefeito de Londres, Boris Johnson, aderiu à campanha pela saída do Reino Unido e acabou gerando um racha no Partido Conservador. John-son é conhecido pela sua franqueza e aparece como um dos mais cotados políticos a suceder David Cameron como líder do partido.

Segundo Johnson, sua decisão foi de enorme sofrimento, por ir contra Ca-meron e o Partido Conservador. Para ele, a UE está correndo o risco de per-der seu controle democrático.

Johnson chegou a parabenizar Cameron pelo acordo firmado em Bruxelas, mas colocou em dúvida a efetividade do mesmo. “Ele se saiu fan-tasticamente bem em um curto período de tempo... Mas não acho que alguém pode afirmar de forma realista que isso é uma reforma fundamental da União Europeia ou do relacionamento do Rei-no Unido com o bloco. A meu ver, te-mos a chance de fazer alguma coisa. Eu tenho a chance de fazer alguma coisa”.

Durante entrevista coletiva concedi-da na frente de sua residência no norte de Londres, o prefeito negou que sua decisão tenha a ver com suas ambições políticas. No entanto, com seu posicio-namento, o carismático político inglês acaba conquistando o apoio de muitos conservadores.

consequêncIas

A libra tem sofrido fortes variações, tendo registrado grandes oscilações negativas desde o dia 22 de fevereiro, quando vários ministros do governo britânico e o prefeito de Londres, Boris Johnson, confirmaram que apoiarão a saída do Reino Unido no referendo do dia 23 de junho.

Em comunicado feito ao merca-do na última semana de fevereiro, o banco britânico HSBC previu que a moeda deve sofrer uma desvalori-zação de até 20% caso os britânicos votem favoravelmente ao “Brexit”. Embora, em um primeiro momen-to, essa desvalorização da libra fa-voreça o turismo e as exportações, a entidade financeira alerta que isso afasta a possibilidade de o Banco da Inglaterra elevar as taxas de juros, o que pode causar um impacto direto na inflação do país.

Outro alerta, mais antigo, também foi dado em estudo publicado pela Open Europe, em março de 2015. No levantamento, a entidade afirma que todos os principais setores de expor-tação britânicos seriam inicialmente prejudicados e que o país pode perder até 2,2% de seu PIB até 2030. “Dos bens exportados pelo Reino Unido à UE, 35% estariam sujeitos a impostos superiores a 4%”, diz trecho da aná-lise, que foi baseada em pesquisas e entrevistas com empresários e asso-ciações de comerciantes.

Ainda em fevereiro, um grupo de 200 líderes empresariais do Rei-no Unido publicou um manifesto

no jornal The Times contra ao pos-sível Brexit. Juntos, eles representam um terço das cem maiores empresas britânicas. O abaixo-assinado defen-de que deixar o bloco europeu ame-açaria o nível de emprego na região e deixaria a economia local em peri-go. “O Reino Unido será mais forte, mais seguro e mais rico ficando como membro da UE”, afirmam os empre-sários e executivos.

Entre os líderes que assinaram o manifesto estão executivos de com-panhias britânicas como a petrolífera BP, a farmacêutica Astra Zeneca, a gi-gante da moda de luxo Burberry e o varejista Marks and Spencer. Grupos de outros países europeus, como a Airbus, também subscrevem o docu-mento. “Nós acreditamos que deixar a UE deteria investimentos, ameaça-ria postos de trabalho e colocaria a economia em perigo”.

O Fundo Monetário Internacio-nal (FMI) também se pronunciou sobre o assunto e afirmou que as in-certezas em relação à permanência ou não do Reino Unido pode pesar na perspectiva de crescimento da economia do bloco em 2016 e 2017. Segundo a entidade, estima-se que a economia deva crescer 2,2% neste ano e no próximo, quando compa-rada a 2015.

Para professor do Departamento de Relações Internacionais da PU-C-SP (Pontifícia Universidade Ca-tólica de São Paulo) Geraldo Nagib Zahran Filho, caso os britânicos optem pela saída do Reino Unido da UE, a decisão resultará em um

enfraquecimento político do bloco europeu. “Será um grande golpe para o projeto de integração regio-nal, que vem sendo criticado nas últimas décadas. Por outro lado, existe a possibilidade de que essa saída retire um dos freios para esse processo de integração”, explicou ao Brasil Observer.

“Na prática, pouca coisa deve mudar de fato, uma vez que o Rei-no Unido já não faz parte da União Monetária nem do acordo de frontei-ras (Schengen). Nesse sentido, nada muda. Mas existe um lado bom, já que representações diplomáticas que são coordenadas com a UE, como a Organização Mundial do Comércio, ganharão mais autonomia”.

Para ele, a possível saída não se-ria imediata. “O processo não é au-tomático. O Parlamento vai precisar aprovar as leis específicas para regu-lamentar a saída e a União Europeia precisa ser comunicada. A saída deve levar vários meses”.

O advogado especialista em imigração Marcelo Reale acredita que os brasileiros devem ser pou-co afetados com uma possível saí-da do Reino Unido. Isso porque as principais mudanças são referentes aos benefícios previdenciários. “Só afetaria os brasileiros que têm cida-dania europeia e seus familiares que desejam morar no Reino Unido. Os brasileiros que vivem aqui pela lei de imigração britânica como estu-dantes, cônjuges e cidadãos com vis-to para trabalho, por exemplo, não seriam afetados”.

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CONECTANDO é um projeto criado pelo Brasil Observer que busca fomentar experiências de comunicação ‘glocal’. Em parceria com universidades e movimentos sociais, nosso objetivo é fazer com que pautas locais atinjam uma audiência global. Para participar e/ou obter mais informações, escreva para [email protected]

Ao chegar à Fazenda Evaristo, região norte de Santa Catarina, a brisa quente anunciava um Carnaval festivo. A fila na entrada não tirava o sorriso do rosto dos que chegavam entusiasmados em viver novamente (ou pela primeira vez) as maravilhas daquele festival.

Uma das muitas voluntárias me re-cepcionou com um largo sorriso e logo perguntou quando havia sido a última vez em que eu estive no Psicodália. A resposta foi 2010, naquele mesmo lugar, quando a principal atração era a banda Os Mutantes. Tivesse ela me pergunta-do quando havia sido a primeira vez em que estive no Psicodália, minha memó-ria teria me levado muito mais longe,

de volta a 2002, em Antonina, no Pa-raná. Teria me feito viajar por lugares e bandas tão distintas e ao mesmo tempo tão iguais às que agora apareciam na lis-ta de programação.

O Psicodália surgiu da necessidade de seus idealizadores, eles próprios mú-sicos autorais, criarem espaços para que o público pudesse apreciar suas artes. Desde 2001, 19 edições do festival trou-xeram para o sul do país mais de 450 ar-tistas nacionais e internacionais.

O Psicodália é um dos poucos fes-tivais no Brasil no qual realmente nos sentimos em um festival. Milhares de barracas e tendas colorem as co-linas da fazenda. O clima amistoso

entre vizinhos de poucos dias se con-funde com a alegria intensa que se vê nos encontros entre amigos durante as caminhadas pelas diferentes atrações e espaços do festival.

Apesar de as atrações do Psicodália serem muitas – cinema, oficinas, tea-tro, circo –, a música é o grande car-ro chefe deste movimento e as bandas vêm de lugares tão distintos quanto o público que as assiste: curitibanos, ca-tarinenses, mineiros, recifenses...

Alguns nomes que fizeram esta edição valer a pena: Nação Zumbi, Terreno Baldio, Cidadão Instigado, Bandinha Di Dá Dó, Nômade Orques-tra, Trombone de Frutas, Confraria da

Costa, Terra Celta, Bombay Groovy, Apicultores Clandestinos, Banda Gen-tileza, Orquestra Friorenta, A Banda Mais Bonita da Cidade.

Elza Soares subiu ao palco na se-gunda-feira de Carnaval. Sentada, ao alto de uma estrutura de madeira e correntes de ferro, cantava seu novo disco. Toda a sua história rodeava aquele palco, a tonalidade de sua voz era vermelha, forte, vibrante. As mais de quatro mil pessoas que assistiam ao show não resistiam em dançar e cantar com ela os grandes novos su-cessos de sua carreira tão longa quan-to bem sucedida. O Psicodália deste ano deixou saudade.

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criarem espaços para que o público apreciasse suas artes

Por Roberta Schwambach

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Exposição de Sue Cunningham revela

nova perspectiva sobre comunidades indígenas do

Brasil e do mundo

Por Gabriela Lobianco

lentes no coração do

A Embaixada do Brasil em Londres abre ao público uma nova exposição da fotógrafa inglesa Sue Cunningham, de 4 a 24 de março, na Sala Brasil, em sua sede no Reino Unido. Com mais de 30 anos dedicados a fotografar a cultu-ra indígena, principalmente no Brasil e no Peru, Sue retorna ao tema que a consagrou, dando sequência à série In the Heart of Brazil.

Em 2007, ela e o marido, Patrick Cunningham, navegaram 2,5 mil quilô-metros pelo Rio Xingu para registrar a harmonia de um povo que respeita a na-tureza e vive em paz. Neste novo projeto, Sue eternizou com seus cliques a primei-ra edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, evento que aconteceu nos me-ses de outubro e novembro de 2015 em Palmas, no Tocantins, e reuniu mais de dois mil atletas de 30 países.

Dona do maior arquivo fotográfico sobre o Brasil fora do país, Sue Cunnin-gham conversou com o Brasil Obser-ver sobre sua nova exposição, passando pela ameaça que a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte representa para os povos indígenas da região e pelo trabalho do diretor de cinema Takumã Kuikuro, cujo documentário London as a Village foi recentemente apresentado ao público em Londres.

O que se pode esperar de sua nova exposição?

Uma explosão de cores. O público vai se surpreender com a diversidade de culturas indígenas de todas as par-tes do mundo, mas especialmente a va-riedade de etnias do Brasil. Vai poder ver a vibração dos povos tribais, suas tradições e heranças culturais. Espero que os visitantes brasileiros sintam que a força de sua herança indígena é algo do que se orgulhar.

Pode nos contar sobre o processo desse novo trabalho?

Passamos dez dias em Palmas, To-cantins, onde aconteceu o primeiro Jo-gos Mundiais dos Povos Indígenas. Fi-camos maravilhados em ver a alegria com que os mais de cinco mil espectado-res não-indígenas apoiaram os povos de vários lugares, especialmente do Brasil. Muitas das pessoas que eu fotografei me pediram para mostrar aquele momento para o mundo, então é isso que estou fa-zendo aqui em Londres.

Quando saímos de lá, dirigimos pelo estado do Tocantins em direção ao Pará e Mato Grosso, por uma estrada que pas-sa pela Reserva Indígena Megranoti, um

gigantesco território ocupado pelo povo Kayapó. Chegamos então ao Rio Xingu, um lugar que não visitávamos desde nossa expedição de seis meses em 2007. Foi uma experiência muito emocionante, como rever um grande amigo depois de muitos anos. De lá fomos visitar uma escola se-cundária indígena dentro da reserva, pois nos pediram para ajudar na reconstrução de uma acomodação estudantil – que é a atual prioridade da Tribes Alive, organi-zação que administramos.

Depois disso voltamos para o Reino Unido. Desde então estamos planejando e montando a exposição. É muito bom vê-la virar realidade.

Dada a sua experiência com os povos indígenas do Xingu, como você acha que será quando terminar a construção da usina de Belo Monte? Quais são as principais ameaças? Há alguma saída?

Parece que não há saída; o reserva-tório está sendo cheio neste exato mo-mento e a primeira turbina logo estará funcionando. O Brasil é capaz de apro-veitar fontes alternativas de energia – há tanto sol e vento; o Brasil deveria estar liderando o desenvolvimento dessas tec-nologias!

23brasilobserver.co.uk | Março 2016

Visitamos as comunidades tribais que estão na linha de frente à usina de Belo Monte. Elas já estão sob imensa pressão; seus territórios foram invadidos, seu rio já está poluído e logo se tornará intrans-ponível, e suas tradições e culturas estão sendo destruídas. O ecossistema que têm suportado esses povos por milênios foram revirados de cabeça para baixo, fazendo com eles dependam do dinheiro prove-niente do consórcio responsável pela usi-na, que eventualmente deixará de existir, deixando-os sem meios de se alimentar e se sustentar com dignidade.

A maior ameaça, porém, vem da cha-gada de 100 mil migrantes atraídos pela promessa de trabalho no projeto de cons-trução da usina. Quando a usina estiver finalizada, essas pessoas ficarão sem em-prego, sem alternativa a não ser encontrar um pedaço de terra onde plantar alimen-to para suas famílias. As ‘melhorias’ no transporte oferecem fácil acesso aos terri-tórios indígenas, então as invasões serão logo um grande problema.

O consórcio da usina e o governo pensam que é justo dar alguns milhares de reais em ‘compensação’, mas como compensar uma comunidade que sempre se alimentou e viveu da floresta, sobre-vivendo – de maneira próspera – sem a necessidade de dinheiro? Se você destrói a floresta e o rio, você destrói seus meios de subsistência, tira deles sua independência e varre suas tradições e culturas. Não há como compensar isso.

O que você achou do documentário de Takumã Kuikuro, London as a Village, recentemente apresentado na Embaixada do Brasil?

Visitamos a aldeia de Takumã du-rante nossa expedição pelo Rio Xingu e temos acompanhado sua carreira desde então. Ele é uma grande pessoa, com um olhar único. Sua visão de Londres tem um nível de sensibilidade que muitos podem achar surpreendente, principal-mente levando em consideração que ele só passou a falar português depois dos 18 anos, e que ele nunca havia saído de sua reserva indígena até os 12. Ele é um diretor de cinema talentoso, muito bata-lhador, com uma concepção muito cla-ra sobre o que ele pretende alcançar. De muitas formas ele é bastante global, mas só se sente realmente à vontade em sua aldeia no Xingu, fazendo filmes sobre seu povo, reforçando a importância de sua cultura. Takumã representa a inte-ligência e a espiritualidade de seu povo.

Enquanto ele estava filmando em Lon-dres, Takumã ficou impressionado com as similaridades dos problemas que encon-trou entre as pequenas comunidades da-qui – como as pessoas que vivem em bar-cos no Rio Tâmisa – com o que seu povo enfrenta no Brasil, as ameaças afetan-do comunidades indígenas e a luta para manter seus lares e futuros.

O que se pode aprender com a cultura indígena do Brasil?

Primeiramente esta pergunta preci-sa ser feita no plural. Com cerca de 120 línguas indígenas ainda existentes no país, cada uma com sua própria etnici-dade e cultura, há mais dinamismo cul-tural no Brasil do que aqui. O respeito pelos valores de outras populações seria um bom começo.

O que mais podemos aprender? O tempo que eu passei no Xingu me fez entender que nosso materialismo industrial é incompatí-vel com o futuro bem-estar da humanidade, pelo menos da forma como acontece hoje. Em uma aldeia indígena você não consegue dizer qual casa pertence ao chefe da famí-lia, pois não se tem vantagem material. As populações indígenas simplesmente não desperdiçam nada, e a pequena quantida-de de borracha que eles produzem para seu modo de vida tradicional é completamente degradável – embora isso tenha mudado à medida que eles começam a usar bens ma-nufaturados. Eles têm uma ligação espiritu-al com o meio ambiente, por isso eles não toleram tirar nada além do que eles preci-sam da floresta. Seria bom se fizéssemos o mesmo. Poderíamos deixar mais recursos naturais para as gerações futuras.

Em poucas palavras, poderíamos rea-prender com eles tudo aquilo que esquece-mos. Eles dizem “vivemos todos em uma terra, respiramos um ar e bebemos uma água; tentamos devolver o conhecimento de que estamos vivos, de que o planeta está vivo, porque vocês esqueceram”.

In the heart oF BrazIl

Quando: 4 a 24 de março (segunda a sexta, das 11am às 6pm)

Onde: sala brasil (14-16 cockspur street, london sw1Y 5bl)

Entrada: Gratuita

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Primeiro Jogos Mundiais dos Povos

Indígenas

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MARIO CRAVO NETO: ‘A SERENE EXPECTATION OF LIghT’

ROSâNgELA RENNó: ‘RIO-MONTEVIDEO’

CLAUDIO TOzzI: ‘NEw FIgURATION AND ThE RISE OF POP ART’

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COMIDA FEST

A cantora brasileira Céu estreou em Londres em 2005 logo após o lança-mento de seu primeiro álbum e agora retorna para a capital inglesa em uma rara apresentação, com disco novo. Tropix, seu quarto álbum de estúdio, estava com lançamento previsto para o dia 25 de março.

Misturando elementos do funk, jazz e samba, a Banda Black Rio, formada em 1976, é considerada um dos grupos mais importantes da música brasileira e tem influenciado gerações há décadas. Após o falec-imento do líder da banda, o saxofonista Oberdan Magalhães, em 1984, a mesma parou de se apresen-tar, voltando apenas nos anos 2000 quando o filho de Oberdan, William Magalhães, tomou a iniciativa de gravar um novo álbum. Desde então o grupo segue se apresentando com a mesma filosofia: celebrar a musicalidade brasileira através de variados ritmos.

O trabalho do fotógrafo brasileiro Mario Cravo Neto explora o pat-rimônio cultural da Bahia, como o Candomblé e suas raízes africanas. a exposição – a primeira em formato solo de cravo Neto em território britânico – compreende duas séries: ‘The Eternal Now’, em preto e branco, produzida nas décadas de 1980 e 1990, e ‘Laróyé’, colorida, produzida nos anos 2000, durante a última parte da carreira de Cravo Neto, que faleceu em 2009. A primeira combina seres humanos com objetos inanimados e animais, enquanto a segunda descreve a vida urbana em salvador.

A primeira exposição solo da artista brasileira Rosângela Rennó no Reino Unido apresenta imagens de arquivo do fotojornalista Aurelio Gonzales e usa 20 projetores análogos. Tiradas entre 1957 e 1973, as fotografias foram escondidas nas paredes da então redação do jornal comunista El Popular antes do golpe militar no Uruguai, e foram desc-obertas por acaso 30 anos depois. Rennó destaca as narrativas de um tempo de convulsão social naquele país e na América Latina, deba-tendo o fenômeno de amnésia nacional causada pela censura imposta pelos regimes militares.

a exposição foca o momento chave da carreira do pintor, desenhista e programador visual brasileiro Claudio Tozzi, entre 1967 e 1971, um dos períodos mais repressivos da ditadura militar brasileira (1964-1985). Para produzir arte que pudesse contornar a censura, e também evitar punições, Tozzi e outros foram forçados a adotar técnicas diferentes que normalmente acabavam polarizando artistas e curadores. O trabalho de Tozzi, com predominância de temas urbanos e conflitos sociais, joga uma luz particular na política da Pop Art brasileira daquela época.

O La Linea Festival já construiu uma respeitável reputação trazendo para Londres proeminentes nomes da música latina. E neste ano não será diferente. Em abril, se apresentam na capital inglesa o rapper Criolo, a cantora de fado portuguesa Ana Moura, a cantora cubana Daymé Aro-cena e a banda de cumbia chilena Chico Trujillo, entre outras atrações. Além de tocar em Londres, dia 24 de abril, na casa de shows Koko, Criolo também se apresentará em outras cidades inglesas: Cambridge (21/4), Bristol (22/4), Leeds (23/4), Brighton (25/4) e Manchester (26/4).

a companhia de teatro stonecrabs celebra os dez anos de seu programa de treinamento de novos di-retores (Young Directors) com uma noite de gala no dia 14 de março. A noite contará com peças curtas, filmes e música ao vivo, além de comes e bebes. No mesmo dia começa também o Festival Headways, que dura uma semana. o festival, que acontece no The albany, em Depford, apresenta o trabalho de oito novos diretores.

o evento comida Fest – latin american street Food Market fará sua estreia na icônica região de South-bank nos meses de abril, maio e junho, trazendo deleite para todos os sentidos: uma viagem sabo-rosa que vai cobrir a grande diversidade culinária desde o México até a Argentina, incluindo seus fa-mosos coquetéis. A atmosfera latina contará ainda com atrações musicais escolhidas pelo grupo lon-drino Movimientos.

Quando: 6 de abril Onde: The Forge, 3-7 Delancey Street, Londres NW1 7NLEntrada: £17,50 adiantado / £20 na portaInfo: www.forgevenue.org

Quando: 8 de abril Onde: Hideaway Jazz Club, 225 Streatham High Rd, Londres SW16 6ENEntrada: £20Info: www.hideawaylive.co.uk

Quando: 15 de janeiro a 2 de abril Onde: Autograph ABP, Rivington Place, londres ec2a 3baentrada: Gratuita Info: www.autograph-abp.co.uk

Quando: 22 de janeiro a 3 de abril Onde: The Photographers’ Gallery, 16-18 ramillies st, londres w1F 7lwentrada: Gratuita antes de 12pm; £2,50 antecipado; £3 na portaInfo: www.thephotographersgallery.org.uk

Quando: 23 de janeiro a 24 de março Onde: cecilia brunson Projects, bermondsey street, londres se1 3GDEntrada: GratuitaInfo: www.ceciliabrunsonprojects.com

Quando: 24 de abrilOnde: Koko, 1a Camden High St, Londres NW1 7JE Entrada: £22,25Info: www.comono.co.uk

Quando: 14 a 18 de março Onde: The Albany, Douglas Way, Londres SE8 4AGEntrada: £6 por peça ou £15 por noite (três peças)Info: www.thealbany.org.uk

Quando: 16-17 de abril, 21-22 de maio, 18-19 de junho Onde: Pátio da Oxo Tower Wharf, Londres SE1 9PHEntrada: GratuitaInfo: www.comidafest.com

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26 brasilobserver.co.uk | Março 2016

eFRANKO FIGUEIREDO

colunIstas

Estou dirigindo atualmente uma versão de Red Demon, de Hideki Noda, para a Regent’s University Film & Drama Scho-ol no Marylebone Theatre, em Londres. Red Demon é um velho conto japonês sobre como uma pequena comunidade trata um estrangeiro que de repente che-ga à praia local. Esta é uma peça que tem a xenofobia como tema principal, mas de forma tragicômica.

Produzida originalmente no Reino Unido em 2003, a peça ainda é apropria-da, principalmente se levarmos em con-sideração o atual debate sobre o número de refugiados que deveria ser aceito pela Grã-Bretanha e o resto da Europa.

Uma pesquisa recente encomendada pela BBC Local Radio sugere que houve uma queda, de 40% para 27%, na quan-tidade de britânicos que concordam que o Reino Unido deveria aceitar mais re-fugiados. O declínio acontece em com-paração com outra consulta, realizada no ano passado logo após a comoção internacional diante da imagem de uma criança síria morta em uma praia turca. Em apenas quatro meses, a população parece ter apagado a tragédia da memó-ria, reavaliado seus sentimentos em rela-ção aos refugiados e mudado de opinião.

Precisamos mesmo de imagens for-tes como as do garoto sírio para nos importarmos? Por que é tão difícil nos engajarmos com a dor daqueles que es-tão sofrendo ao redor do mundo como consequência de conflitos geralmente criados pelas potências internacionais? Por que só começamos a nos importar quando o “problema” bate à porta?

Em Red Demon, o “estrangeiro” é acu-sado de sequestrar bebês, comer pessoas, enviar mensagens secretas e planejar uma invasão. Eventualmente, é levado ao tribu-nal, condenado e sentenciado à morte.

Temas similares borbulham no novo filme de Luca Guadagnino, A Bigger Splash, que se passa em uma remota e exclusiva vila italiana, longe do cais de Pantelleria, onde um número crescente de refugiados está sendo mantido. Este é o retrato de uma burguesia egoísta total-mente desconectada do resto do mundo. Um dos principais protagonistas evita ser preso, enquanto refugiados pagam por um crime que não cometeram.

Red Demon é um espelho para o medo, a ganância e a falta de compai-xão dos moradores da vila. É preciso entender as fraquezas internas antes de ser capaz mudá-las. Saramago es-creveu “que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós...”.

Uma das falas de Red Demon simpli-fica a questão: “We dwelt there in perfect bliss. But then we were attacked. Our land had rich produces. Many sought the pro-duces. So they attacked us. They bombed our schools. They tore away our beliefs. They destroyed our cities. They decimated us. And like coconuts drifting away from the shore, we begin our wandering…”

O aumento do número de refugiados e requerentes de asilo é um preocupan-te resultado de um mundo em conflito. Embora o que a peça esteja nos dizen-do seja óbvio, nossos governantes e nós continuamos a ignorar os fatos: guerras

produzem refugiados. Essas pessoas de-sesperadas vêm de países em conflito, como Eritréia, Iraque, Sudão... Se pegar-mos apenas a corrente guerra civil na Síria, veremos que os países vizinhos (Turquia, Iraque, Jordânia, Líbano e Egito) estão to-mando a responsabilidade de abrigar 97% dos refugiados sírios. Poucos sabem, mas até o Brasil tem aceitado mais refugiados sírios do que qualquer outro país latino-americano. Todos nós precisamos fazer nossa parte, e o Reino Unido deve assumir responsabilidades também.

O líder budista-humanista Daisaku Ikeda enviou uma proposta de paz à ONU na qual ele expressa um comprometimen-to com a inclusão, com a determinação de proteger a dignidade de todas as pessoas sem exceção. São três pontos principais. O primeiro diz respeito à rehumanização da política e da economia, fazendo com que a principal motivação dos políticos seja o alívio do sofrimento das pessoas. O segundo está na ideia de que uma grande revolução de personalidade em um único indivíduo pode ajudar a mudar o destino de toda a humanidade. E o terceiro ponto é a expansão da amizade diante das dife-renças de modo que se construa um mun-do de coexistência pacífica entre os povos. Ou seja, expandir a solidariedade humana com base em uma ampla rede de amizade através do diálogo.

Tragédias poderiam ter sido evitadas em Red Demon se os moradores da vila tivessem mais compaixão e disposição para o diálogo. Mas, talvez, esta seja uma resposta simples demais, fácil demais para ser entendida.

Por que é tão difícil nos importarmos com

a dor dos outros?

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da companhia de Teatro stonecrabs

sImples demaIs para ser entendIdo

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Marylebone Theatre, 60 Paddington Street, London w1U 4hz

Quinta-feira 10/3 – 2:30pm & 7:30pm sexta-feira 11/3 – 7:30pm

Red deMON

27brasilobserver.co.uk | Março 2016

Desde que recebi Antes do Mundo Aca-bar (Biscoito Fino), o novo CD de Zélia Duncan, só com sambas, pus-me a matu-tar sobre sua trajetória. Quando ela topou integrar o grupo Os Mutantes, havia pas-sado a admirá-la pela coragem. Só mesmo uma mulher pronta para experimentações teria a sua humildade e sabedoria. Saiu mais forte do que quando entrou. E reto-mou a carreira solo.

Liguei-me então à sua carreira, como o musgo gruda na pedra. Pus-me a ouvir e curtir cada um de seus discos. Mais recentemente, passei a acompa-nhar sua verve de cronista no jornal O Globo. E posso concluir que, aprecian-do-a, eu torço por ela.

Produzido pela musicista Bia Paes Leme, o CD tem dez sambas com letras de Zélia compostas com diversos parceiros e quatro de outros autores. Assim, ela ousa dar novo salto no escuro – salto tão ousa-do quanto quando decidiu ser mutante.

Antes do Mundo Acabar traz uma intér-prete que se dá por inteiro a cada afazer de sua vida. Intensa, com voz grave, Zélia fez-se uma sambista apaixonante e sedutora. Seu jeitão de frasear as melodias, suingado e afinado, e com uma maturidade difícil de encontrar naqueles que pretendem ter o samba como ofício, são provas da minha declaração: Zélia está cantando às pampas!

“Destino Tem Razão”, uma das três parcerias de Zélia com Xande de Pilares (as outras duas destoam da concepção de samba do CD), abre o trabalho. As congas (Thiago da Serrinha) marcam o ritmo. Os violões (Marco Pereira e Webster San-tos) e o bandolim (Luis Barcelos) trazem a harmonia. O ritmo é intenso. A primeira

parte é cantada com vigor. As congas matam a pau. Na segunda parte, o ritmo acrescenta o repique de anel ao suingue... Meu Deus!

O bom samba “Dormiu Mas Acordou” (Arlindo Cruz e ZD) tem cavaquinho e tem pandeiro (Thiago da Serrinha). Tem ginga e um afinado coro misto, além de outra boa letra de Zélia.

O samba lento “Alameda de Sonho” (Ana Costa e ZD) inicia maciamente com dois violões e um ganzá. A cuíca dá o ar de sua graça. Um belo intermezzo de violão aumenta a beleza do samba.

“Por Que Você Não Me Convida Agora?” é um ótimo samba de roda de Riachão. Com tantã e violão de sete cor-das, a levada ganha picardia. Na repeti-ção, Zélia dobra o canto consigo mesma. O coro come.

“Antes do Mundo Acabar” (Zeca Balei-ro e ZD), samba lento que dá título ao disco, tem ótima letra de Zélia. Violão, bandolim e pandeiro iniciam. Zélia divide bem as fra-ses, o suingue agradece e cresce. Acrescido do afoxé, logo o ritmo está de volta. Fim.

“Por Água Abaixo” é samba dos bam-bas Pretinho da Serrinha, Leandro Fab e Fred Camacho.

Belo é o samba lento “Um Final” (Pe-dro Luis e ZD), e Zélia emocionando.

A gaita de Gabriel Grossi dá ainda mais graça para “Pintou Um Bode”, samba es-perto de Paulinho da Viola.

“Vida da Minha Vida”, belíssimo sam-ba de Moacyr Luz e Sereno, fecha a tampa. Final de um novo ponto de vista dado ao samba, idealizado e concretizado por Zé-lia Duncan, tão loucamente genial quanto mutante de carteirinha.

Zélia Duncan é uma mulher pronta para experimentações

AQUILES REIS

artIsta mutante

g Aquiles Reis é músico, vocalista da icônica banda MPB4

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28 brasilobserver.co.uk | Março 2016

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um caso de amor

Londres, mesmo sendo uma cidade que mantém suas características seculares, pode ser considerada umas das capitais da tecnologia e da inovação. Só ela é ca-paz de remeter ao passado e ao futuro ao mesmo tempo. Apesar de sua diversida-de e 300 nacionalidades, cada pessoa en-contrará sua própria Londres. Digo que é possível se mover e estar em muitos pa-íses dentro desta cidade, pois cada bair-ro-área tem uma característica diferente e, no fim, isso acaba definindo muito seu estilo de vida, hábitos e rotina.

Há três anos e alguns meses tive meu primeiro contato com o South West Lon-don, quando o black cab parou às 11h da manhã em frente ao luxuoso conjunto de edifícios envidraçados Battersea Reach, na beira do Rio Tâmisa, no bairro de Wa-ndsworth Town (lar de alguns jogadores do Chelsea, aliás). Cheguei dividindo o apartamento com outras cinco pessoas, por meio da empresa Cortisso Accom-modation. As vistas do apartamento, a tranquilidade e a beleza da área fizeram com que eu me apaixonasse por aqui. Minha vida está até os dias de hoje (mo-radia e trabalho) atrelada à esta área de Londres, assim como meus hábitos e cos-tumes. Já mudei três vezes de apartamen-to, todos eles com uma distância de cinco minutos caminhando um do outro.

Além de Wandsworth, os bairros de Victoria, Chelsea, Clapham, Earls Court, Fulham, South Kensington, Battersea, Barnes, Putney e Wimbledon fazem par-te do sudoeste de Londres. Segundo opi-niões dos próprios londrinos, a região é identificada como “chique”, “limpa” e “familiar”, ligada à alta sociedade e con-siderada “da moda”, mas “pretensiosa”. Considero-a intelectual, cosmopolita, cultural, trend, suburbana.

South Kensington e Chelsea são áre-as muito bonitas e uma das mais ricas e charmosas da cidade, onde alimento um pouco minha alma cultural em museus como Natural History, Science e Victoria & Albert. East Putney, Putney Bridge e Wandsworth Town são bairros bem tran-quilos e com diversas opções de bares, restaurantes e cafés, desde os elegantes e sofisticados aos mais “em conta”. Wim-bledon, por sua vez, tem muito mais do que quadras bem cuidadas para o tradi-cional torneio de tênis. Com tendências residenciais e elegantes, abriga pubs des-contraídos, teatros e parques. Clapham Junction e seu agito, repleto de bares e restaurantes, contrastam com a enor-me área verde de Clapham Common.

National history Museum

29brasilobserver.co.uk | Março 2016

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Roberta Calabro conta por que se apaixonou pelo sudoeste de Londres, região com muito verde, cultura e bom gosto

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A zona de Battersea é um antigo cais (com a Battersea Power Station) que agora abriga apartamentos, restaurantes e bares, além do incrível Battersea Park, um dos espaços verdes mais interessan-tes da cidade, ao lado de minha ponte preferida, a Albert Bridge, que durante a noite fica toda iluminada.

Wandsworth Town, nome da estação de trem operada pela South West Trains e cujo metrô mais próximo é Fulham Bro-adway, está a apenas 15 minutos de trem de Waterloo Station. Entre os meus pro-gramas favoritos, recomendo um brunch no pequeninho e delicioso Brew, ou uma “esticadinha” ao natural Planet Organic, ao lado do Southside Shopping (ideal para compras ou um cinema no bairro). Mas, se vieres para cá, não deixe de peda-lar pela orla do Rio Tâmisa, se deslocan-do tanto em direção a Chelsea (passando por Battersea Park) quanto em direção à Hammersmith Bridge. Aqui em fren-te tem o charmoso Waterfront. Saindo da ponte de Wandsworth Bridge e pe-dalando pela beira do rio no caminho de Putney, chega-se ao conhecido pub The Ship, que durante a primavera e o verão fica completamente lotado. O no-víssimo Riverside Quarter e suas casas flutuantes esbanjam bom gosto, e as ár-vores gigantes e lindas do Wandsworth Park se misturam com o clima familiar do passeio com crianças e cachorros, em meio aos jogos dos adolescentes. Antes de chegar à Putney Bridge, sem-pre pela beira do rio, gosto muito do bar espanhol chamado Alquimia, que tem excelentes paellas e gin tonics. A Putney High Street é um agito e cru-zando a ponte se chega a Parsons Green (caro e com bares e restaurantes de extre-mo bom gosto, como os da New King’s Road) e Fulham (dos famosos estádios de futebol do Fulham e do Chelsea, ou do conhecido bar The Slug). Pedalando mais um pouco pela beira rio em Putney se vê o ponto de partida da tradicional disputa de remo entre as universida-des inglesas Oxford e Cambridge. Mais adiante, é possível pedalar pelo corredor verde até Hammersmith Bridge (pas-sando pelo antigo depósito da Harrods) ou se estender até Barnes ou Richmond. Simplesmente amo.

Você escolhe seu bairro de acordo com sua personalidade ou cria a sua personalidade em torno do bairro que escolhe. Em uma capital cosmopolita e agitada como Londres, o sudoeste é meu refúgio de paz e tranquilidade.

Se vieres para cá, não deixe de pedalar pela orla do Rio Tâmisa

Battersea ParkAlbert Bridge

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JerIcoacoaraescondIda o suFIcIente

Depois de alguns dias neste paraíso do nordeste brasileiro, você vai pensar que a palavra

‘saudade’ foi criada aqui

Por Christian Taylor

eEscondida no nordeste brasileiro, mais pre-cisamente no estado do Ceará, a vila de Je-ricoacoara é um verdadeiro paraíso para os praticantes de kitesurf; um oásis vívido e cos-mopolita. Aqui as ruas são de areia e as águas, cristalinas. E o calor? Dura o ano inteiro!

Mas não ache que você precisa ser um entusiasta do kitesurfing para aproveitar os fortes ventos da região – uma caminhada até o topo das dunas de areia no final da tarde é uma experiência fantástica para to-dos que tenham pernas fortes. Daqui você pode sentir o vento contra o rosto, e a areia passando por debaixo dos pés. Essas dunas naturais estão perfeitamente localizadas entre a vila e o mar. Todo dia, centenas de pessoas sobem aqui para assistir ao sol mergulhar no horizonte: um ritual simples que propicia um rico momento de refle-xão. Costumes como esse, aliás, ajudam Jericoacoara a preservar sua autenticidade e o senso de comunidade da vila, apesar da crescente popularidade de suas praias como destino turístico.

Alguns podem dizer que a localização de Jericoacoara é tanto uma benção quanto uma maldição. Jeri, como é carinhosamen-te chamada, está a cinco horas de distância

de Fortaleza – sendo que a hora final é feita off-road, ou seja, requer um veículo 4x4 ou uma jardineira (espécie de ônibus aberto). Dependendo da época do ano e do tipo de veículo escolhido, pode ser uma viagem barulhenta e molhada, mas ainda assim empolgante. O suspense aumenta ao passo em que você cruza pequenas cidades e vilas até chegar à praia de Preá, onde as ondas do mar quase tocam as rodas do veículo. É o relativo isolamento, afinal, que protege Jeri de ser completamente engolida pelo turis-mo de massa – de alguma maneira a sensa-ção que fica é que o paraíso de Jericoacoara está suficientemente fora de alcance.

Passeios de buggy e quadricículo estão prontamente disponíveis na praça central da vila, de onde você pode sair para jor-nadas de um dia pelas dunas e lagoas da região. As ruas de areia dispensam tênis e sapatos – um par de chinelos será suficien-te. Se tiver chance, experimente o passeio pelas dunas a cavalo – eles são surpreen-dentemente eficientes na areia e a ausência do barulho de motor fará com que você se sinta literalmente no topo do mundo.

Durante o dia, Jeri é movimentada pe-las compras, pelos bares descontraídos e,

claro, pelos esportes aquáticos. À noite as ruas se transformam e se enchem de pes-soas. A ausência de luz dá ainda mais char-me à vila – o brilho dos bares, da lua e dos vaga-lumes te guiará pelo caminho. O som de samba e a brisa leve flutuam pelas ruas enquanto locais vendem artesanato, roupas ou churrasquinho.

Desfazer a linha entre ambientes fecha-dos e abertos é algo que o Brasil faz bem demais, e em Jeri não poderia ser diferente, pois a temperatura é ideal durante todo o ano. Em muitos bares e restaurantes, você irá se sentar debaixo de árvores ou das estrelas. Às vezes, o próprio chão do esta-belecimento é feito de areia, e uma árvore pode estar no meio do salão. Alguns des-ses lugares são Na Casa Dela, que oferece uma comida deliciosa em um colorido jar-dim; Sabor da Terra, restaurante que serve porções generosas de refeições saudáveis; Caravana, cuja especialidade são os pratos vegetarianos; e Naturalmente, que serve crepe e açaí na praia.

Criatividade, charme e atenção aos detalhes são as palavras de ordem em Jericoacoara, um lugar que deixa muita, muita saudade.

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VILA KALANgO RANChO DO PEIXE

vilakalango.com.brA partir de R$410 (£100) por noite, em quarto duplo com café da manhã e wi-fi inclusos.

ranchodopeixe.com.brA partir de R$350 (£86) por noite, em quarto duplo com café da manhã e wi-fi inclusos.

Vila Kalango tem o natural charme de Jericoacoara, mas com um toque de classe. Diferen-temente das concorrentes, a pousada oferece uma experiência cinco ES trelas enquanto mantém a autenticidade. Os bangalôs de madeira e palafitas com telhado de colmo são mo-destos, mas luxuosos, com pé-direito alto, ar-condicionado e detalhes artesanais. Pedaços de madeira ganham vida nova como prateleiras de banheiro que seguram macias toalhas brancas e sabonetes aromáticos, enquanto lampiões e almofadas completam o ambiente aconchegante. Do lado de fora, redes te esperam na sombra.No total são 24 quartos, construídos em volta de tranquilos jardins. A partir da área de re-cepção, um deck de madeira serpenteia a grama verde em torno de coqueiros e cajueiros, passando pelas salas de massagem e camas confortáveis até o bar ao ar livre de frente para a praia e a piscina. Daqui você pode aproveitar para relaxar debaixo de uma sombra e apro-veitar a vista espetacular do por do sol. O café da manhã é um começo glorioso: suco de frutas frescas, deliciosos bolos e pães, assim como ovos e crepes. O design aberto do restaurante permite que a brisa entre tran-quilamente, enquanto você observa o movimento de buggies, cavalos e pranchas na praia.

Localizado na praia de Preá, o Rancho do Peixe oferece uma acomodação mais privada e tranquila, pois não está no meio do vai e vem de Jeri. Com 22 bangalôs – 14 deles de frente por mar –, o complexo compartilha seus donos com a Vila Kalango e um pe-queno ônibus percorre o trajeto entre os dois estabelecimentos diversas vezes ao dia. Passar algum tempo nos dois hotéis te dá duas experiências totalmente diferentes e é altamente recomendável. Enquanto a Vila Kalango dá uma sensação mais íntima e aconchegante, o Rancho do Peixe oferece um agradável isolamento. O mar pode ser visto de praticamente qualquer canto do hotel; de um lado ou de outro, a areia e as árvores parecem se estender infinitamente. Os hóspedes podem relaxar no bar ou na piscina, em camas que ficam debaixo de árvores, ou caminhar até a praia. À noite, o bar vira uma pizzaria com preços razoáveis, e você pode ficar deitado nas espreguiçadeiras admirando o céu lindamente estrelado.Os bangalôs em si são charmosos e oferecem bastante privacidade, assim como camas grandes, decoração artesanal e frigobar. Os dois hotéis, de fato, combinam perfeitamente simplicidade e luxo, uma mistura que fará sua experiência por aqui valer cada segundo.

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B R A S I LO B S E R V E R

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LONDON EDITION ISSN 2055-4826

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