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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDRES ISSN 2055-4826 #0038 MAIO/2016

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C O N T E Ú D O

AnA ToledoDiretora de Operaçõ[email protected]

Guilherme reisDiretor [email protected]

roberTA schwAmbAchDiretora [email protected]

ediTor em inGlêsShaun Cumming [email protected]

desiGn e diAGrAmAçãoJean [email protected]

colAborAdoresAquiles Reis Franko FigueiredoGabriela LobiancoRosa BittencourtWagner de Alcântara Aragão

imPressãoSt Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, [email protected] cópias

disTribuiçãoEmblem Group Ltd.

PArA AnunciAr [email protected] 020 3015 5043

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OnLine 074 92 65 31 32

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LOnDOn eDiTiOn

É uma publicação mensal da aNaGu uk uN liMiTeD fundada por:8

OBSERVAÇÕESÀ mesa com Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista britânicoLondon eye se pinta nas cores verde, amarela e azul

10COLUNISTAS CONVIDADOSJames n. Green e Renan Quinalha sobre o jogo do impeachmentSérgio Amadeu da Silveira sobre liberdade e privacidade na internetGuilherme Johnson sobre a cidade do futuro, no Brasil e no Reino Unido

14ENTREVISTAAlan Charlton, ex-embaixador do Reino Unido no Brasil

16REPORTAGEMeconomia brasileira segue em dificuldade, mas há boas notícias

18RIO 2016 A menos de três meses dos Jogos, sentimentos estão divididos

20CONECTANDOConheça o projeto “Por Mais Turbantes nas Ruas”

22CULTO verão se aproxima, e com ele muitos shows brasileiros

24DICAS CULTURAISTeatro, fotografia, literatura...

26COLUNISTAS Franko Figueiredo sobre a cegueira nossa de cada diaAquiles Reis sobre dois relançamentos de ivan Lins

28LONDON BYHeloisa Righetto te leva passear pela região de Greenwich

30BR TRIPShaun Cumming explora o morro do Vidigal, no Rio

o Brasil Observer, publicação mensal da aNaGu uk MarkeTiNG e JorNais uN liMiTeD (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.

Como esses primitivos que carregam por toda parte omaxilar inferior de seus mortos,assim te levo comigo, tarde de maio,quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,surdamente lavrava sob meus traços cômicos,e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantese condenadas, no solo ardente, porções de minh’almanunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobrezasem fruto.

Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.Eu nada te peço a ti, tarde de maio,senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,sinal de derrota que se vai consumindo a ponto deconverter-se em sinal de beleza no rosto de alguémque, precisamente, volve o rosto e passa…Outono é a estação em que ocorrem tais crises,e em maio, tantas vezes, morremos.

Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,já então espectrais sob o aveludado da casca,trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebrescom que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carrofúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.

E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstitolutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.Nem houve testemunha.

Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?Se morro de amor, todos o ignorame negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;não está certo de ser amor, há tanto lavou a memóriadas impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,perdida no ar, por que melhor se conserve,uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.

TARDE DE MAIOCarlos Drummond de Andrade

carlos Drummond de andrade (itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado o mais influente poeta brasileiro do século 20.

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Rimon Guimarães nasceu em Curitiba em 1988. Autodidata, o artista desenvolve sua pesquisa no contexto das cidades em que trabalha. o estresse da metrópole e sua insatisfação com a situação atual do mundo o inspiram a fazer uma declaração contra a política de massas e a publicidade capitalista que promovem uma política gananciosa que não se preocupa com as pessoas. com sua arte, rimon quer levar as pessoas para longe de suas monótonas rotinas e provocá-las a ver a rua como um lugar onde se elas podem trocar experiências. o trabalho de Rimon Guimarães combina design, arte performática, vídeo e música.

a capa desta edição foi produzida por rimon Guimarães para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e com apoio da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2016 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados através de uma chamada pública. Em dezembro, os trabalhos serão expostos na Sala Brasil.

Rimon Guimarãeswww.rimondo.tumblr.com

APOIO:

ARTE DA CAPA

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OOBSERVAÇÕES

O líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, participou no dia 30 de abril de um evento da comunida-de latina em Londres, no restaurante el Vergel, na região de Southwark. Após um discurso de aproximadamente 25 minutos, ele conversou por quase meia hora com um gru-po de ativistas brasileiros que tem organizado, na capital inglesa, demonstrações contra o impeachment da presi-dente Dilma Rousseff.

O evento foi organizado pelo Momentum Latino, um dos 120 grupos Momentum criados no Reino Unido na esteira da campanha de Jeremy Corbyn à liderança do Partido Trabalhista, no ano passado. Além da par-ticipação de Corbyn, contou ainda com apresentações musicais e discursos de ativistas do Brasil, Colômbia, Chile, equador e Reino Unido.

em um ambiente bastante familiar e repleto de crianças (com workshops direcionados para elas), ficou bastante claro o carinho de todos que lá estavam por Je-remy Corbyn. O líder trabalhista é casado com uma mu-lher mexicana, Laura Alvarez, e arranha no espanhol. e sempre manteve laços com exilados latino-americanos, tendo inclusive participado ativamente do episódio que culminou na prisão do ex-ditador chileno Augusto Pi-nochet em Londres, no dia 16 de outubro de 1998.

no ponto alto de seu discurso, Jeremy Corbyn dis-se: “Quando se oferece às pessoas a oportunidade de se ter esperança, a oportunidade de se construir algo em conjunto, a oportunidade de se ter um mundo baseado em justiça em vez de desigualdade, elas es-quecem suas diferenças e se unem. Os tempos estão mudando. Quero nos próximos quatro anos trabalhar com o espírito do internacionalismo, com o espírito de reunir as pessoas em torno de um objetivo comum, com o espírito de solidariedade com aqueles ao redor do mundo que estão passando por momentos difíceis, seja na Venezuela, no Brasil, na Bolívia, no Chile, na Argentina ou em muitas partes da África. É assim que conseguimos fazer a diferença”.

em seguida, Corbyn elogiou a comunidade latino-a-mericana: “A comunidade latino-america trabalha duro, muitas vezes sendo explorada por patrões inescrupulosos, e sempre se mantém unida. É um exemplo”.

Após seu discurso, o líder do partido trabalhista sentou-se à mesa com um grupo de ativistas brasilei-ros para falar sobre o momento atual do Brasil. Victor Fraga comandou a conversa, ao lado de nara Filippon, Anna Maria Forsberg, Luciana Pontual, Michelle Por-tela e Carolina Paes.

Corbyn disse que não está por dentro de tudo que se passa no Brasil, mas que tem se preocupado com algumas questões que lê sobre o país. “Uma delas é que os níveis de injustiça e corrupção são contínuos. A outra é o poder da mídia e a forma como a presi-dente Dilma tem sido crucificada”.

Com uma caderneta na mão e anotando o que ou-via, Corbyn se comprometeu a fazer um pronuncia-mento sobre o processo de impeachment no Brasil depois que tivesse mais informações a respeito. Foi esse o principal pedido feito pelo grupo de ativistas brasileiros.

Durante a conversa, o líder trabalhista contou que a primeira vez que visitou o Brasil foi em 1969, em plena ditadura militar. “em São Paulo, quando os militares es-tavam fazendo manobras contra a população, eu estava lá nas manifestações, participei das marchas. eu sei o que estava acontecendo”. Aquela viagem pelo país, aliás, come-çou na capital do Pará. “Primeiro fui a Belém e de lá fui pela estrada até Brasília, depois Rio de Janeiro, São Paulo, Campo Grande até chegar ao Paraguai. Faz tempo, eu sei, mas o que mais me impressionou foi a beleza e a injustiça”.

Corbyn disse ainda que voltou ao Brasil outras vezes e que reconhece os problemas do país, inclusive as forças políticas que atuaram ao lado do regime militar – e que ainda hoje estão no meio político nacional.

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JEREMY CORBYN PARTICIPA DE EVENTO LATINO EM LONDRES E

CONVERSA COM GRUPO DE BRASILEIROS

Por Guilherme Reis

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No dia 27 de abril, a exatos cem dias da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, um dos cartões postais de Londres ficou verde, amarelo e azul. Uma garoa fina caía sobre a cidade, que ainda não se decidiu se abraça o verão ou se mantém geladinha, com cara de inverno. E pensar que, no Brasil, tem quem saia de cachecol na rua quando o termômetro marca 18 graus Celsius. Pode isso? Seja como for, esperamos que o a London Eye estilo tupiniquim traga um pouquinho de calor para a terra da Rainha.

LONDON EYE TUPINIQUIM

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g James N. Green é professor de História e Cultura Brasileira na Brown University e diretor da Brazil Initiative. Renan Quinalha é candidato a doutorado em Relações Internacionais na USP e possui graduação e mestrado em Direito pela mesma universidade.

Uma presidente eleita por 54 milhões de brasileiros, contra quem não pesa ne-nhuma acusação de corrupção, tornou-se alvo de processo de impeachment. As principais razões para seu julgamento são a abertura de créditos suplementares ao orçamento por decreto e os atrasos nos repasses federais a bancos públicos para manter programas sociais, um pro-cedimento conhecido como pedaladas fiscais. Os maiores conglomerados de mídia do país têm apoiado incansavel-mente a saída de Dilma Rousseff do car-go. Grandes interesses corporativos têm patrocinado manifestações contra o go-verno, agravando a crise política, em um esforço para transformar o impeachment em fato consumado.

ironicamente, eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados que deu abertura aos procedimentos de impedimento da presidente Dilma, está sendo acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Caso seja condenado, pode receber pena de 180 anos de prisão. Re-centemente, novas acusações foram le-vantadas contra ele. Cunha usou seu poder para obstruir investigações contra ele, incluindo a manipulação do Comitê de Ética da Câmara. Após mais de quatro meses, o Supremo Tribunal Federal ain-da não se posicionou sobre o pedido de afastamento de Cunha da presidência da Casa, nem o Comitê de Ética o julgou de-pois de considerar o caso por quase seis meses. Apesar de tudo isso, Cunha deu andamento ao processo de impeachment na Câmara em tempo recorde.

O vice-presidente Michel Temer, do mesmo partido de Cunha, está aber-tamente organizando um novo gover-no, mesmo antes de o impedimento de Dilma ser concretizado. ele já divulgou nomes de futuros ministros e sugeriu projetos de governo com a participação

de grupos de oposição derrotados na eleição de 2014. Dada a natureza dos governos de coalizão no Brasil, o vice-presidente é eleito junto ao presidente de acordo com o programa apresentado pelo líder da chapa. O vice-presidente não concorre com programa próprio. no entanto, em vez de colocar em prática o programa defendido em 2014, que foi re-gistrado no Superior Tribunal eleitoral, Temer pretende estabelecer uma nova agenda programática que prioriza as de-mandas dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Tais demandas incluem a redução das despesas obriga-tórias com programas sociais e educa-ção, o uso de forças militares em confli-tos rurais, o abrandamento do controle de armas, a aprovação de um estatuto da família conservador e outros projetos previamente engavetados por conta de oposição popular.

Muitos observadores consideram que essas medidas constituem um golpe par-lamentar contra um governo que perdeu a maioria no Congresso, enfrenta uma crise econômica e é muito impopular. O segundo mandato da presidente Dilma parece já ter acabado.

infelizmente, o que menos importa na discussão do impeachment hoje é a lei. impeachment é um julgamento polí-tico, não há dúvida quanto a isso, mas há um aspecto legal a ser considerado que está sendo deixado para trás. isso ficou claro no relatório apresentado na Câ-mara e nas justificativas pífias dos votos dos deputados algumas semanas atrás. Apesar de a acusação ser pela prática de pedaladas fiscais, os opositores de Dilma focaram na corrupção e na crise econô-mica. A base legal para o impedimento da presidente se tornou aspecto secundá-rio diante do conflito político que produ-ziu a crise atual.

O JOGO DO IMPEAChMENT

CONVIDADOS

Por James N. Green e Renan Quinalha g

Por que a presidente dilma rousseff perdeu todo seu apoio político e agora está sendo removida do cargo?

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Por que a presidente Dilma Rousse-ff perdeu todo seu apoio político e está sendo removida do cargo por meio de um impeachment conduzido por anti-gos aliados se ela tinha 59% de aprova-ção no primeiro mandato, índice maior até do que o de seu predecessor, Luiz inácio Lula da Silva?

no modelo brasileiro de presidencia-lismo de coalizão, com mais de 30 parti-dos políticos, o partido que elege o pre-sidente geralmente não tem maioria no Congresso para governar sozinho. Para aprovar medidas legislativas, precisa es-tabelecer acordos com outras legendas. O PT não escapou dessa regra. Quando Lula chegou ao poder, em 2003, teve que negociar o apoio de uma série de parti-dos pequenos. isso levou ao escândalo conhecido como mensalão. Para manter o apoio no Congresso, o PT então deci-diu formar uma aliança mais permanente com o PMDB, que indicou Michel Temer como vice-presidente na eleição de 2010.

Logo após tomar posse em 2011, Dilma começou seu primeiro mandato com uma faxina, após revelações de que membros de seu governo de coalizão estavam envol-vidos em corrupção. ela depôs o conselho de Furnas, uma empresa de energia con-trolada pelo governo, e desmantelou um esquema de corrupção dentro do Ministé-rio do Transporte. em poucos meses, sete ministros foram demitidos por conta de acusações de corrupção, sendo a maioria de partidos aliados.

Paralelamente, o governo Dilma en-corajou a criação de novos partidos pe-quenos e fomentou a divisão interna do PMDB para preservar a hegemonia do PT no Congresso. em 2011, por exem-plo, ajudou na criação do PSD, liderado por Gilberto Kassab, e em 2013 apoiou a criação do PROS, de Cid Gomes. em-bora Dilma tenha removido o senador

Romero Jucá da liderança do governo em 2012, ela não conseguiu derrotar Renan Calheiros e eduardo Cunha na disputa pelas presidências do Senado e da Câma-ra dos Deputados, respectivamente.

O estilo firme de governar de Dilma não se baseou no diálogo com os parcei-ros de coalizão. isso, somado a uma ten-dência de governar por decreto, aumen-tou o descontentamento entre membros do Congresso. estes demandaram mais posições no governo e verbas em troca de fidelidade. O vice-presidente Temer inclusive se tornou responsável pela co-ordenação política do governo.

O momento crucial que levou a pre-sidente a cair em desgraça, porém, não foi a eleição de 2014. Foram os protes-tos de junho de 2013. Começando com uma agenda contra o aumento das tarifas de ônibus e por melhores condições do transporte público, as manifestações se ampliaram e passaram a demandar direi-tos sociais, menos corrupção e mais par-ticipação política. Mais do que insatisfa-ção contra o governo ou contra o PT, as mobilizações se deram contra o sistema político como um todo e a falta de repre-sentação sentida por diferentes setores da sociedade brasileira. O governo não soube como reagir apropriadamente e fa-lhou ao não tirar vantagem da situação e iniciar reformas políticas. Após anunciar medidas tímidas, Dilma passou a se ren-der ainda mais às pressões do PMDB e a diminuir os protestos de junho de 2013 como movimentos “conservadores”.

na eleição de 2014, os sentimentos do ano anterior reapareceram. A cam-panha de Dilma tentou responder a essas demandas e alcançou uma vitória apertada precisamente por incorporar esses itens no programa de governo. Após ser reeleita, porém, falhou em cumprir suas promessas.

A oposição questionou os resultados da eleição e, sem sucesso, pediu a recon-tagem de votos. em seguida, uma queda brusca nos preços das commodities e o aumento das tarifas de eletricidade e gasolina fizeram crescer o descontenta-mento popular. A crise econômica pio-rou com o declínio do PiB, o aumento da inflação e a subida do desemprego. Um ajuste fiscal conservador exacerbou a situação. investigações sobre um es-quema de doleiros em Curitiba expôs um sistema corrupto de financiamento de campanhas eleitorais por meio da Pe-trobras. A operação Lava Jato tomou um claro viés antigoverno com uma série de excessos e procedimentos arbitrários que colocaram a justiça e a lei em perigo.

no dia 8 de março de 2015, enquanto Dilma falava na televisão em rede nacio-nal, manifestantes bateram panelas no primeiro panelaço. no dia 18 do mesmo mês, ocorreu a primeira mobilização de massa contra o governo, cujo índice de de-saprovação chegou aos 62%. Desde então, outros panelaços e manifestações aconte-ceram. A opinião pública, promovida pela mídia, por setores do empresariado e por vazamentos seletivos sobre casos de cor-rupção, passou a ver o impeachment de Dilma como solução mágica para a crise.

Sob pressão dos conservadores, Dilma continuou dando ainda mais espaço ao PMDB com sucessivas reformas ministe-riais. isso imobilizou o governo e sua po-pularidade despencou. O efeito colateral desse rearranjo, que à primeira vista pare-cia evitar o risco de impeachment, foi cla-ro: o governo ficou refém das forças con-servadoras. Tornou-se incapaz de engajar e mobilizar a base social que o elegeu e en-tregar as promessas de campanha. Apesar de seguir as regras do jogo, Dilma e o PT não podiam mais sustentar o poder. Sem conseguir dialogar e negociar com aliados,

e incapaz de abandonar as velhas práticas de clientelismo, a crise do governo se apro-fundou ainda mais.

está claro que o Lulismo, concei-to criado pelo cientista político André Singer, chegou ao fim. De acordo com Singer, Lulismo é um projeto político de caráter reformista que foi bem suce-dido graças em boa parte ao boom das commodities. Os elevados preços das matérias primas possibilitaram que pro-gramas sociais fossem criados, redistri-buindo modestamente a renda nacional. Políticas progressistas foram aprovadas, mas através das piores práticas do jogo político, com as quais Lula neutralizou muitos conflitos. Quando, em junho de 2013, as mobilizações desafiaram o siste-ma político, o governo preferiu se preser-var reafirmando as práticas de sempre.

De muitas maneiras, a crise do gover-no Dilma é consequência de uma crise mais ampla do sistema de democracia representativa do Brasil, incapaz de res-ponder às demandas da sociedade por mais direitos e participação política. O sistema brasileiro atual depende de abor-dagens conservadoras de governança, geralmente através de maiorias na Câ-mara e no Senado, e por meio de acordos escusos em troca de apoios.

Dessa forma, não é à toa que a popula-ção esteja cansada dos políticos e descren-te em relação às instituições políticas. De acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada em março de 2016, o mesmo percentual da população apoia tanto o impeachment de Dilma quanto de Temer: 60%. A população também não confia no Congresso. está claro, portanto, que o impeachment não vai solucionar os pro-blemas da atual crise brasileira. Vai ape-nas repetir uma velha tradição de golpes e rupturas institucionais contra a democra-cia e o império da lei.

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O pecado mora ao lado: Dilma Rousseff recebe a faixa presidencial na cerimônia de posse do segundo mandato, no dia 1º de janeiro de 2015; ao lado, o vice-presidente Michel Temer e sua esposa

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O Marco Civil da internet, lei que assegura os direitos e garantias para a utilização das redes digitais no Brasil, está correndo risco de ser profunda-mente alterado em consequência da CPi dos Crimes Cibernéticos, instalada pelo presidente da Câmara dos Depu-tados, eduardo Cunha. As propostas da comissão, apelidadas de Ai-5 Digital (em referência ao Ato institucional nº 5 da ditadura militar), visam aumentar a vigilância na internet e reduzir a lógi-ca de liberdade na rede. Ao todo foram apresentados oito projetos de lei para aprovação da Câmara.

Um deles buscava garantir a retira-da, sem ordem judicial, de conteúdos que supostamente atacassem a honra de alguém. Os sites, redes sociais e blo-gs seriam responsabilizados por con-teúdos postados por terceiros em suas páginas, caso não fossem retirados do ar em no máximo em 48 horas após notificação pelo ofendido. imagine a quantidade de denúncias vazias que se-riam promovidas por políticos ou em-presas para evitar críticas. Ao retirar a exigência de ordem judicial, perde-se o filtro de uma terceira parte capaz de analisar se uma crítica a um deputado, por exemplo, é ou não difamatória. Os deputados poderiam utilizar este dis-positivo para bloquear todos que os criticam, mesmo que uma postagem ou comentário não atente contra a honra. A enorme pressão da sociedade civil em defesa da liberdade de expressão levou o relator do projeto a retirar essa pro-posta da conclusão da CPi.

Outros projetos, porém, foram man-tidos no relatório final da comissão – e são extremamente preocupantes para a liberdade e a privacidade na rede. Um dos mais graves é o que pretende crimi-nalizar o acesso “indevido e não autori-zado” a um sistema informatizado. Pela definição do projeto de lei, esse sistema pode ser um site, uma rede ou até mes-mo um simples CD protegido por DRM (Digital Rights Management). A reda-ção demasiadamente ampla também permite a criminalização de usuários de

redes P2P que compartilham vídeos ou músicas copiadas de um DVD compra-do legalmente, mas que possuam meca-nismo de segurança proibindo cópias para “evitar o acesso de terceiro não legítimo”. A proposta feita no relatório final da CPi oferece elasticidade para a caracterização de delito incompatí-vel com a lei criminal. Poderiam estar enquadradas, por exemplo, atividades de empresas de segurança que desen-volvem ferramentas de testes de redes e sistemas computacionais.

Assim, a CPi dos Crimes Cibernéti-cos faz renascer propostas que preten-dem criminalizar práticas cotidianas de milhões de pessoas. A CPi desconside-ra que 51% dos brasileiros conectados baixam músicas na internet e que 67% deles compartilham conteúdos mul-timídia na rede, segundo pesquisa do Comitê Gestor da internet realizada em 2014 em 33 mil domicílios. Trans-formar milhões de pessoas em possíveis criminosos não parece ser uma contri-buição à segurança pública. Com tama-nha amplitude, a lei poderia ser aplica-da seletivamente, o que ofende o direito e os ideais de justiça.

entre os inúmeros pontos preocu-pantes, a CPi quer alterar o Marco Civil da internet para “possibilitar o bloqueio de conteúdos ou aplicações de internet por ordem judicial”. em um dos artigos dessa proposição, a CPi quer que “o ju-diciário brasileiro determine aos prove-dores de conexão medidas técnicas de bloqueio de tráfego”. Tal medida daria a um juiz o poder de barrar o acesso dos brasileiros a uma aplicação ou uma tec-nologia da internet, seja um Telegram, um WhatsApp ou um protocolo Bit-Torrent, por exemplo. impedir o uso de uma tecnologia da rede é o mesmo que criminalizar o futuro, a inovação e as pessoas que fazem uso legal da internet. É uma medida demasiadamente obscu-ra com consequências negativas para o desenvolvimento criativo da rede.

Para piorar a situação, enquanto a CPi se desenrola na Câmara, um proje-to no Senado quer ampliar o potencial

de vigilância na internet. O Projeto de Lei 730/2015, do senador Otto Alencar (PSD-BA), assegura que delegados de polícia ou membros do Ministério Pú-blico requisitem informações a prove-dores de internet, sem ordem judicial, em caso de suspeita de atos ilícitos na rede de computadores. O policial que alegar uma suspeita, com fundamento ou não, poderia ter acesso aos dados cadastrais vinculados a um endereço iP. Desse modo, os dados de navegação das pessoas na internet estariam disponí-veis sem que fosse cumprido o devido processo judicial. esse projeto destrói o mecanismo do Marco Civil da internet que dava ao cidadão as garantias míni-mas contra o abuso das autoridades es-tatais. Políticos e empresários que usam sua grande influência para obter benefí-cios das autoridades poderiam ter aces-so a dados sensíveis dos cidadãos. Tal medida equivale à entrada da polícia

em uma residência sem ordem judicial e sem que esteja ocorrendo um crime.

Com a eleição de um Congresso ul-tra conservador e com o crescimento das bancadas ligadas às forças policiais e aos grupos fundamentalistas religio-sos, o Brasil passa por uma onda de destruição de direitos fundamentais. A internet, rede distribuída e livre de comunicação, está sofrendo um ataque jamais visto no Brasil. A sociedade ci-vil precisa reagir diante desses ataques ou nossa sociedade viverá um perigoso período de autoritarismo. Jornalistas que denunciam grupos de extermínio terão seus e-mails vasculhados; ativistas ambientais que atuam com lideranças indígenas terão seus endereços iPs ma-peados; mulheres vítimas de violência sofrerão ainda mais nas mãos dos po-liciais amigos dos agressores. enfim, o autoritarismo destrói gradativamente a democracia.

g Sérgio Amadeu da Silveira é cientista político, professor da Universidade Federal do ABC e pesquisador de redes digitais

A INTERNET SOB ATAQUE NO BRASIL Propostas em debate no Congresso Nacional ferem direitos fundamentais de liberdade e privacidade na rede

Por Sérgio Amadeu da Silveira g

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13brasilobserver.co.uk | Maio 2016

g Guilherme Johnson é Diretor de Projetos e Parcerias internacionais

da agência Future Cities Catapult

O futuro é urbano. Quanto a isso não há dúvida. Pela primeira vez na história, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. As cidades são motores do crescimento econômico. elas também estão na vanguarda da luta contra as crises internacionais, como no combate às mu-danças climáticas. Com aproximadamente 85% de suas populações vivendo em cida-des, Brasil e Reino Unido enfrentam desa-fios semelhantes para fazer com que elas se transformem em lugares melhores para viver, trabalhar e promover inovação.

Com isso em mente, uma delegação de 11 empresas britânicas – principal-mente pequenas e médias – participou de uma missão ao Brasil no início de abril. A viagem foi organizada em parceria entre a UK Trade and investment (UKTi) e a Future Cities Catapult – agência de ino-vação urbana do Reino Unido. Sir David King, presidente do conselho da Future Cities Catapult e representante do gover-no britânico para mudanças climáticas, foi o líder da missão, apoiada pelo Prosperity Fund do Reino Unido, que visa promover o crescimento global sustentável. A Futu-re Cities Catapult está presente no Brasil desde o ano passado, apoiando a cidade de Belo Horizonte a desenvolver políticas de infraestruturas inteligentes, principal-mente em mobilidade urbana.

As empresas que participaram da mis-são vinham de uma variedade de setores relacionados a cidades inteligentes, como segurança, sistemas de transporte e infor-mação. Seis das empresas participantes eram pequenas e médias, e garantiram seus lugares depois de ganharem uma competição dirigida pela Future Cities Ca-tapult. Para a maioria dos representantes tratou-se da primeira viagem ao Brasil.

Os representantes tiveram, em pri-meiro lugar, a oportunidade de visitar Curitiba, cidade reconhecida internacio-nalmente por seu caráter progressista e, de muitas maneiras, sustentável. Curitiba

foi a primeira cidade do mundo a cons-truir um sistema de ônibus rápido (BRT), em 1974, quando priorizar o transporte público era considerado radical. Hoje em dia, mais de cem cidades ao redor do mundo, como Bogotá e Rio de Janeiro, seguem o exemplo de Curitiba. A cidade também é conhecida por suas políticas ambientais: foi pioneira em reciclagem no Brasil e atualmente recicla mais de 70% dos resíduos produzidos.

em Curitiba, os participantes tiveram a oportunidade de participar do congres-so Smart Cities Business Americas. O evento reuniu cerca de 900 representantes do setor público e privado de nove paí-ses diferentes. Foi um grande momento para a troca de informações e conheci-mentos com o setor brasileiro de cidades inteligentes, que, apesar da crise política e econômica, continua a produzir ideias muito interessantes e inovadoras. empre-sas brasileiras e britânicas se reuniram em sessões especiais “um a um”, e parcerias estão sendo estabelecidas a partir delas. especialidades britânicas, como o uso de tecnologias inteligentes pela polícia para prevenção de crimes, foram muito bem vistas pelos brasileiros. Por outro lado, os aplicativos criados por empresas brasilei-ras para engajar os cidadãos a relatar pro-blemas de infraestrutura da cidade para as autoridades locais foram igualmente vis-tos com muito interessante pelos visitantes do Reino Unido.

em Curitiba, Sir David King se reuniu com o prefeito Gustavo Fruet para discutir soluções inovadoras para desafios urba-nos e também com o ex-prefeito e reco-nhecido urbanista Jaime Lerner. Sir David e o ex-prefeito concordaram que a inova-ção desempenha um papel importante na melhoria da qualidade de vida nas cida-des. Além disso, a mudança de compor-tamento também é fundamental e deve ser promovida ao lado de políticas públi-cas corajosas, como o pedágio urbano de

Londres, que reduziu o número de carros no centro da cidade. De acordo com Jaime Lerner, “carros sempre pedem mais infra-estrutura”. ele acrescentou dizendo que “as pessoas devem ser incentivadas a viver mais perto do trabalho”. Para Sir David King, “as cidades europeias têm a vanta-gem de terem sido construídas em tempos medievais, quando todas as comodidades necessárias estavam a uma curta distância. neste momento, há um renascimento da ideia de viver em uma cidade compacta”.

Depois de passar três dias em Curiti-ba, os participantes da missão foram a São Paulo. Visitantes de primeira viagem, todos ficaram impressionados com a magnitude da cidade desde a aterrissagem no aeropor-to de Congonhas, no meio de uma floresta de arranha-céus. Maior e mais rica cidade do Brasil, São Paulo também é conhecida por ter desenvolvido recentemente políti-cas públicas inovadoras, como a abertura de seus dados de transporte para que de-signers de aplicativos móveis possam criar ferramentas que melhorem a experiência dos usuários de ônibus. Como resultado, os cidadãos podem agora usar seus celu-lares para ver exatamente quando o pró-ximo ônibus vai chegar. isso pode parecer normal para quem mora em Londres, mas em São Paulo as pessoas estão acostuma-das a ir até o ponto sem ter qualquer ideia de quando o próximo ônibus vai passar. A quantidade de tempo e esforço salvos por esta nova tecnologia é enorme.

em São Paulo, a delegação participou de um workshop no Consulado Geral do Reino Unido para interagir com represen-tantes dos governos local e estadual, e de outras cidades como Campinas e Soroca-ba. Com um grande número de indústrias de alta tecnologia e centros de pesquisa, a região de Campinas é muitas vezes referida como Vale do Silício do Brasil. Com uma visão clara de se tornar referência em ino-vação, e casa de um dos maiores parques tecnológicos do Brasil, Sorocaba é também

uma cidade muito aberta a testar tecnolo-gias inovadoras. Os delegados da missão ficaram novamente impressionados em ver quão abertas e avançadas essas cidades brasileiras são. Definitivamente, existem oportunidades a serem exploradas.

Um destaque importante da visita a São Paulo foi o encontro do Sir David King com o prefeito Fernando Haddad. Sob a administração de Haddad, a cida-de tem passado por grandes mudanças, como a criação de uma extensa rede de ciclovias e corredores exclusivos de ôni-bus. essas políticas têm sido fortemente criticadas pela elite local, que tem visto o transporte individual como único meio aceitável por anos.

De acordo com Haddad, “além de me-lhorar o transporte público e incentivar o uso de bicicletas, também é necessário mudar a mentalidade das pessoas que ain-da veem o transporte público como meio de transporte dos pobres”. O Reino Unido passou por uma situação semelhante com Margaret Thatcher, que em 1986 teria dito que um homem que anda de ônibus de-pois dos 26 anos poderia ser considerado um fracasso. no Reino Unido, embora o carro ainda tenha seus fãs, em cidades como Londres se tornou muito caro, o que tem contribuído para uma mudança de mentalidade.

Para as empresas que participaram da missão, o último dia foi dedicado a reuni-ões com possíveis parceiros locais e tam-bém outros departamentos da prefeitura e do governo de São Paulo. Ficou claro que o Brasil e o Reino Unido têm muitas similaridades em relação aos desafios que suas cidades enfrentam para se tornarem mais sustentáveis e inteligentes, e muito a aprender um com o outro.

COLABORAÇÕES PARA A CIDADE

DO fUTUROSetor brasileiro de

cidades inteligentes, apesar da crise,

continua a produzir ideias muito

interessantes e inovadoras

Por Guilherme Johnson g

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Cidade de São Paulo tem passado por grandes mudanças, como a criação de uma extensa rede de ciclovias

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ENTREVISTA

hISTóRIAS DE UM EMBAIxADOR

alan Charlton, que serviu no Brasil de 2008 a 2013, compartilha suas memórias em livro recém-lançado. O que ele diz sobre o país?

Por Ana Toledo

Pontualmente às 4pm de uma terça-feira de abril, avistei Alan Charlton, ex-embaixador britânico para o Brasil, entrando na Sainsbury Wing da na-tional Gallery, em Londres. Vestindo terno e de mochila nas costas, pare-ceu-me inconfundível – não o conhe-cia pessoalmente, por isso segui o que tinha visto em fotos e vídeos na inter-net. A certeza veio quando reparei em sua gravata, desenhada por Romero Britto. Charlton é fã de seus desenhos e faz questão de pontuar: aquela é ape-nas uma das peças de sua coleção de gravatas assinadas pelo prestigiado ar-tista brasileiro.

Gostos à parte, aquele foi um pe-queno indicativo da admiração de Charlton pelo Brasil, seu último posto antes de se aposentar, após 35 anos de carreira diplomática. Com quatro anos e meio morando em Brasília e viagens

por todo o país, Charlton soa como um brasileiro que marca as experiências de vida com base em partidas de futebol. “Sai do Brasil logo após a vitória do país sobre a espanha na final da Copa das Confederações, um ano antes da Copa do Mundo”. Sabe-se lá o que teria acon-tecido contra a Alemanha se ele tivesse permanecido no posto.

Com o chá inglês do earl Grey pos-to à mesa, demos início à entrevista, que teve como pontapé inicial o recém-lançado livro Shaking My Briefcase. A publicação traz um panorama geral da carreira de Charlton, reunindo histórias sobre sua passagem por Oriente Médio – onde aprendeu a língua árabe e esteve em diferentes zonas de conflitos –, Ale-manha – onde presenciou importantes momentos históricos, como a queda do muro de Berlim –, Londres, Washing-ton e, finalmente, Brasil.

“eu tinha guardado algumas ideias ao longo dos anos como diplomata. Anotei só para não esquecer. Quando saí do Brasil, em julho de 2013, pensei que era o momento de reuni-las, antes que eu esquecesse tudo”.

Dali surgiu a motivação de escrever um livro que pudesse atrair todas as pessoas, independentemente de serem ou não especialistas no assunto. “São histórias contadas separadamente, es-critas para pessoas que têm interesse em diplomacia e relações exteriores. Ou para quem apenas gosta de boas histórias. O livro não foi feito apenas para especialistas”.

A conversa sobre o livro se ateve ao último capítulo, referente ao perí-odo de atuação de Charlton no Brasil, entre 2008 e 2013. Como embaixador, Charlton foi responsável pela recep-ção de ilustres personalidades britâni-cas no Brasil, como o ex-primeiro-mi-nistro Gordon Brown e o atual, David Cameron, além de membros da famí-lia real, os príncipes Charles e Harry. “Tive a sorte de atuar durante um pe-ríodo em que houve um grande esfor-ço do governo britânico em estreitar relações com o Brasil”.

A primeira história contada no li-vro é sobre a visita do Príncipe Charles ao Brasil em 2009. “Por alguma razão o avião não estava autorizado a pousar e por isso atrasamos. Fomos cumprir agenda no Congresso e lá estavam cen-tenas de pessoas, então nos atrasamos ainda mais. eu estava muito preocu-pado, pois tínhamos uma recepção na embaixada Britânica e só teríamos dez minutos para ficar lá se não quisésse-mos atrasar a próxima reunião, que seria com o então presidente Lula. Já na embaixada, recebemos uma ligação pedindo para atrasar a reunião com Lula, pois alguma coisa tinha aconte-cido com a eletricidade do Palácio do Planalto. Fiquei tranquilo e tudo acon-teceu perfeitamente como deveria ser. Tivemos tempo suficiente na embaixa-da e fomos para a agenda com o pre-sidente. nossa programação foi salva pela falta de luz no palácio”.

naquela mesma viagem, o Príncipe Charles visitou Manaus, o que rendeu outras histórias para o livro. A certa al-tura, o apresentador de um evento no Teatro Amazonas disse que o príncipe não estava nada mal para um homem de 60 anos. Charlton preferiu não tra-duzir a frase para o príncipe.

Aproveitei para questionar qual tinha sido o momento mais difícil de sua passagem pelo Brasil, e Charlton destacou duas situações. Uma relacio-nada às ilhas Malvinas: “por um lado eu tinha que influenciar o governo brasileiro em questões que eram pe-quenas, mas eu entendia a relação com a Argentina e sabia que era um tema delicado; por outro, eu tinha que in-fluenciar o governo britânico para não exagerar na reação. não eram grandes questões, mas foi difícil na época”. e outra sobre o caso de extradição de Michael eugene Misick, ex-primei-ro-ministro das ilhas Turks e Caicos,

arquipélago britânico localizado no Caribe: “conseguimos a extradição e, para mim, foi um grande progresso”.

Como entramos no tópico Ar-gentina, levantei a questão do acor-do comercial entre União europeia e Mercosul, cujas negociações já duram mais de 20 anos. “Os outros países queiram o acordo, a União europeia estava interessada, mas a Argentina não queria. O Brasil optou por não ter um acordo isolado, pois fazia – e faz – parte do Mercosul. Com o novo presidente argentino [Mauricio Ma-cri] pode ser que fique mais fácil. no entanto, agora está mais complicado pelo lado da União europeia, pois existem outras pressões, como por exemplo a crise dos refugiados”.

Outro ponto da conversa foram os Jogos Olímpicos. Charlton estava no Brasil em 2012, por isso teve contato direto com a troca de experiências que se estabeleceu entre Londres e Rio de Janeiro. “A cooperação entre os países foi enorme. Os brasileiros estiveram em Londres e adquiriram experiência de como diversas áreas funcionaram e não funcionaram”. Charlton prosseguiu de forma otimista: “pela primeira vez os Jogos Olímpicos serão realizados na América do Sul. Vai ser excelente e o mundo vai assistir. É claro que a mídia vai falar sobre o problema da economia e a crise política, mas não acho que isso vai afetar os Jogos Olímpicos. existem alguns desafios ainda, em especial com transportes. Talvez nem tudo esteja 100% pronto, mas a maior parte sim. O Brasil está mostrando que pode organi-zar esses grandes eventos muito bem”.

Charlton comentou ainda o atual momento do Brasil. “escrevi meu li-vro no ano passado, quando estava fi-cando claro que o Brasil se movia em direção a um problema mais profun-do, tanto econômico quanto político. Mas sou otimista em relação ao futu-ro. Pode ser um passo longo ou não, pode ser alguns meses ou alguns anos, pode ser um grande e difícil problema. Mas em longo prazo, o Brasil será for-te. Sou muito confiante”.

Atualmente Alan Charlton traba-lha com consultoria estratégica para empresas de diferentes áreas. e como consultor continua acreditando no po-tencial do Brasil para investimentos. “Certamente é preciso pensar no ris-co, na situação difícil que o país se en-contra, mas também é preciso pensar que em poucos anos as coisas podem avançar novamente. eu tento encorajar as pessoas a continuar olhando para o Brasil. e tenho certeza que as empresas e investidores que estão interessados em um relacionamento de longo pra-zo continuam olhando neste sentido para o Brasil. A questão é sempre saber quando é a hora certa de investir”.

Após uma hora de conversa e com as xícaras vazias, nos despedimos e em di-reção à brisa ainda gélida de uma Lon-dres primaveril. Algum resquício de saudade do Brasil deve ter se apresen-tado após tantas memórias – se não em Alan Charlton, certamente em mim.

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Apesar de não existir um consenso que defina qual seria o número ideal de imigrantes na Inglaterra, não dá para negar que, provavelmente, metade dos habitantes ingleses acreditam que existam imigrantes demais na terra da Rainha. De acordo com o Migration Observatory da Universidade de Oxford, embora os ingleses sintam que “já deu” de imigrantes, os números mostram que a proporção de imigrantes na Grã-Bretanha é comparável com os de quinze outros países membros da Comunidade Europeia. Em termos de número de imigrantes, o Reino Unido possui o mesmo fluxo imigratório que a Alemanha. Seis países, entre eles Áustria, Irlanda e Suécia, têm ainda mais imigrantes do que no Reino Unido, enquanto Itália, Portugal e Finlândia têm proporcionalmente menos.

Um dos jeitos de pensar sobre imigração é avaliar seu impacto na economia. Em média, nos últimos cinco anos, chegaram trezentos mil novos imigrantes a cada ano (a população da Grã-Bretanha está beirando os 65 milhões, com pouco mais de oito milhões de estrangeiros). Com o aumento da população, cresce a demanda por infra-estrutura: serviços sociais, escolas, hospitais, habitação e transporte. Em algumas regiões a pressão é ainda maior. As administradoras regionais estão tendo que achar alternativas para manter os serviços (é preciso considerar os cortes de custos realizados pelo governo). Entretanto, o curioso é observar que, contrariando a premissa de que a imigração está estrangulando este país, a economia tem crescido. Uma afirmação que vai contra o maior argumento da direita: os imigrantes impulsionam a economia britânica Segundo o diretor executivo da multinacional Siemens, Juergen Maier, a Inglaterra vai precisar de um milhão e oitocentos mil engenheiros nos próximos dez anos. Um número que este país, provavelmente, não conseguirá produzir. Para ele, os imigrantes são fundamentais para manter o crescimento econômico do Reino Unido. Ele acrescenta que durante anos este país ignorou a questão do aumento da população e não fez seu “dever de casa”. O desafio é saber planejar e ter uma estratégia que integre os novos e antigos moradores da Inglaterra.

Mas nem entre os empresários o tema é consenso. Alguns enxergam a questão de uma forma diferente. Se este país está sempre olhando para fora para atender à demanda imediata de profissionais qualificados, ele acaba negligenciando a formação e o investimento em cidadãos britânicos. É preciso investir mais na “prata” da casa, empresários do ramo imigratório dizem.

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16 brasilobserver.co.uk | Maio 2016

REPORTAGEM

TESTE DE RESILIêNCIA NA

ECONOMIASaldo positivo da balança comercial e capacidade de atrair investimentos

estrangeiros trazem alento diante da recessão

Eem um período de intensa instabilidade pol ítica e eco-nômica, o Brasil tem mostrado que ainda é capaz de oferecer boas notícias. A capacidade de atrair investi-mentos estrangeiros e os resultados positivos da balan-ça comercial graças à desvalorização do real frente ao dólar mostram que há luz no fim do túnel para a reto-mada do crescimento econômico.

A entrada de investimento Direto estrangei-ro (iDe) no Brasil subiu de 13,1 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2015 para 17 bilhões de dólares no primeiro trimestre deste ano. Com isso, analistas de mercado começam a considerar no mínimo conserva-dora a estimativa do Banco Central de que o total de iDe para 2016 ficaria em torno de 60 bilhões de dólares – uma queda de 20% em relação ao ano passado.

De acordo com o Banco Central, nos 12 meses de abril de 2015 a março de 2016, a entrada de iDe no país somou 78,8 bilhões de dólares, mais que os 75,1 bilhões de dólares somados ao final de 2015.

em entrevista à imprensa, o chefe do Depar-tamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, afirmou que “o fluxo de investimento direto tem se mostrado muito resiliente a qualquer período de in-certeza”. Para ele, o tamanho do mercado consumidor brasileiro segue despertando interesse dos investidores

estrangeiros, mesmo em um período de recessão. “isso é um ponto relevante nessa análise de investimento di-reto. e a oscilação do câmbio e situação da atividade econômica têm tornado os ativos mais atraentes para o investidor estrangeiro.”

Dois exemplos vêm do segmento de painéis decorativos que atendem aos setores de móveis e deco-ração de ambientes. Duas multinacionais alemãs – in-terprint e Schattdecor – iniciaram o ano de 2016 atu-ando no Brasil com maior capacidade operacional. A interprint inaugurou no final de 2015 uma fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná, um empreendimento que custou cerca de 30 milhões de euros. Já a Schattde-cor, também em São José dos Pinhais, modernizou sua produção com a instalação de uma nova linha de im-pregnação. A unidade brasileira deve receber, em 2016, parte considerável dos 44 milhões de euros que a matriz pretende investir em suas filiais mundo afora.

BALANÇA COMERCIAL

Além de estimular a entrada de investimentos es-trangeiros, a desvalorização do real frente ao dólar aju-da a equilibrar a balança comercial, ao passo que esti-mula as exportações e reduz as importações.

O Brasil registrou saldo positivo recorde de 4,435 bilhões de dólares da balança comercial em março deste ano, maior resultado já registrado para o mês, de acor-do com dados do Ministério do Desenvolvimento, in-dústria e Comércio exterior. O resultado reflete 15,994 bilhões de dólares em exportações e 11,559 bilhões de dólares em importações.

nos três primeiros meses do ano, o país acumula superávit comercial de 8,4 bilhões de dólares, o maior para o período desde 2007. O bom desempenho deve-rá levar ao aumento da estimativa do governo de saldo positivo de 35 bilhões de dólares em 2016. em igual pe-ríodo do ano passado a balança registrava déficit de 5,5 bilhões de dólares.

Os destaques nas exportações foram as vendas no exte-rior de soja, milho, carnes, algodão, aviões, etanol, automó-veis e ouro. no ano, as exportações somam 40,6 bilhões de dólares. Já as importações estão em 32,2 bilhões de dólares com queda nas compras no exterior de combustíveis, ma-térias-primas, máquinas e equipamentos.

Com os investimentos estrangeiros diretos em pata-mares elevados e o superávit da balança comercial em as-censão, espera-se uma elevação das reservas internacio-nais do Brasil, o que mantém a credibilidade do país no mercado externo. Atualmente, as reservas estão acima

Por Wagner de Alcântara Aragão

Porto de Santos registrou recorde

de participação na balança comercial, com porcentual de

30,8% em março deste ano

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17brasilobserver.co.uk | Maio 2016

OS DESAfIOS A SEREM ENfRENTADOS

dos 370 bilhões de dólares. “Já há um forte ajuste das nossas contas externas. Saldo comercial subiu. nosso déficit em conta corrente caiu. O volume de investimen-to estrangeiro direto vai ser mais que suficiente para fi-nanciar nosso déficit”, afirmou o ministro da Fazenda, nelson Barbosa.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL

O dólar mais caro pode estar dando os primeiro re-sultados para a produção. na série livre de influências sazonais, a produção industrial cresceu 0,4% em janeiro deste ano em comparação a dezembro de 2015, inter-rompendo um período de sete meses de quedas, com perda acumulada de 8,7%. O número, porém, ainda é amargo em comparação a janeiro de 2015: queda de 13,8%, de acordo com dados do iBGe.

não se pode afirmar, ainda, que se trata de uma re-cuperação. É apenas o fim da trajetória de queda. Até porque as projeções para a economia em 2016 são bas-tante preocupantes: retração de quase 4%.

em entrevista à revista Carta Capital, Rafael Cagnin, economista-chefe do instituto de estudos para o Desen-volvimento industrial (iedi), reforçou que a melhora da produção industrial ainda é pontual. “existem pequenas

sutilezas de um mês para o outro que não indicam ten-dência. entretanto, se alguma tendência de reversão de estabilização da queda começar a aparecer, ela aparece primeiro nessas variações”.

em relação à balança comercial, os dados podem ser mais animadores, pois há queda das importações ao longo dos meses. O economista cita o setor de vestuário e calçados, penalizado ao longo da última década com a entrada de produtos importados a preços baixos.

“São setores menos complexos, com capacidade de produção, e a reação a essa nova taxa de câmbio pode vir mais rapidamente. São setores muito castigados por uma taxa de câmbio fora do lugar nos anos passados. Quando se tem um câmbio um pouquinho melhor já conseguem traçar estratégias de reconquista do mercado perdido.”

Quanto às exportações, se aposta muito na alta do dó-lar, mas não há previsões. “Tenho dúvidas a respeito disso porque não há milagre”, disse Cagnin. Para ele, a econo-mia brasileira ainda é relativamente fechada, com sua a produção voltada principalmente ao mercado interno. Ou seja, as exportações por si só não serão capazes de puxar a indústria brasileira inteira. “Sem uma recuperação da de-manda interna fica realmente muito difícil reverter o qua-dro atual”, pontuou. Pesa ainda o ritmo de crescimento da economia global abaixo do esperado.

independentemente do resultado do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o governo federal tem pela frente grandes desafios na área econô-mica. A meta é evitar que o país tenha, em 2017, o ter-ceiro ano seguido de recessão, e melhorar indicadores que afetam diretamente a população, como as taxas de desemprego e renda.

Uma das maiores urgências é reverter o rombo fis-cal, que pode chegar a R$ 120 bilhões no ano que vem. Com a arrecadação em baixa, o governo pretendia criar um novo (velho) tributo, a CPMF, para reduzir o déficit. Mas, apesar de o orçamento de 2016 prever a entrada de R$ 10 bilhões do imposto, não há apoio no Congresso para aprovar sua recriação.

Sem superávit para pagar os juros da dívida pública, a relação entre a dívida bruta e o PiB deverá manter a cur-va ascendente, subindo de 73,7% em 2015 para 91,7% em 2021, segundo dados divulgados pelo FMi. Houve um salto de 10,4 pontos percentuais entre 2014 e 2015.

Analistas concordam que o quadro fiscal é crítico e que a trajetória da dívida não é sustentável, mas as solu-ções propostas variam. De maneira geral, economistas liberais reclamam da rigidez orçamentária e do inchaço da máquina pública, defendendo medidas de austerida-de, enquanto desenvolvimentistas defendem uma refor-ma tributária que taxe os mais ricos e, em alguns casos, até a revisão da dívida pública, por meio de uma audito-ria, para que se verifique a legalidade das cobranças.

Há outras duas reformas consideradas urgentes, a da previdência – que despende mais da metade dos gastos públicos – e a trabalhista – para simplificar o sistema de tributos e aumentar a produtividade. no-vamente, há grande divergência de opiniões em rela-ção a esses dois tópicos.

Recuperar a confiança também é essencial para que a economia volte a crescer e a receber investimentos do se-tor privado. em 2015, o consumo das famílias diminuiu 4% e os investimentos das empresas, 14%. O índice de confiança do empresário industrial, medido pela Confe-deração nacional da indústria (Cni), caiu 1,2 ponto em abril deste ano em comparação ao mês anterior, atingin-do 36,2 pontos em um total de 100. Quanto mais próxi-mo de zero, maior é o pessimismo.

Outro desafio é reduzir a inflação para o centro da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5% por ano, e diminuir taxa de juros Selic, que está entre as maiores do mundo e torna ainda mais pesado o pagamento dos juros da dívida pública. O Índice nacional de Preços ao Consumidor Amplo (iPCA) nos 12 meses até março é de 9,39% e a taxa Selic, de 14,25%.

Como consequência da recessão econômica, as taxas de emprego, renda e formalização do trabalho são afe-tadas. A taxa de desemprego média no país, em 2015, atingiu 8,5% e foi a maior já registrada pela Pesquisa na-cional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), que começou a ser feita em 2012. A taxa média em 2014 foi de 6,8%. O rendimento médio real ficou em R$ 1.944 em 2015 – em 2014, foi de R$ 1.947. Já o número de traba-lhadores com carteira assinada caiu de 36,5 milhões do quarto trimestre de 2014 para 35,4 milhões no mesmo período de 2015.

em 2015, o PiB encolheu 3,8% – a maior recessão já registrada desde 1990, quando a economia caiu 4,35%. O Boletim Focus – pesquisa realizada semanalmente junto a instituições financeiras e economistas – prevê um recuo de 3,88% na economia em 2016. Já em 2017, há a expectativa, até agora, de uma leve melhora, com expansão de 0,3%.

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18 brasilobserver.co.uk | Maio 2016

ESPECIAL

Tudo ficará pronto para a primeira Olimpíada

na américa do Sul. Mas o clima da cidade

ainda não é dos melhores

Por Rosa Bittencourt - do Rio de Janeiro

AA menos de três meses dos Jogos Olímpi-cos, o Rio de Janeiro acerta os últimos deta-lhes para receber o maior evento esportivo da terra, que no dia 5 de agosto desembarca em território sul-americano pela primeira vez na história. O clima, porém, não é dos melhores. Quase todas as instalações es-portivas onde 15 mil atletas irão competir estão prontas, mas uma longa lista de pro-blemas, somada à instabilidade política e econômica do país, faz com que os senti-mentos estejam divididos.

As preocupações vão desde os riscos re-lacionados aos vírus zika até o trânsito caó-tico da cidade, passando ainda pela questão da segurança.

O Rio espera receber 800 mil turistas durante os Jogos Olímpicos (5 a 21 de agos-to) e Paralímpicos (7 a 18 de setembro). Com representantes de mais de 200 países, a capital fluminense pode ser alvo de aten-tados terroristas. A crise política e econô-mica também pode gerar protestos contra a realização dos Jogos. Para isso, mais de 67 mil policiais, incluindo quase todo o efeti-vo do estado, o Batalhão de Policiamento de Grandes eventos, a Polícia Federal e o exército, estarão de prontidão.

em relação à mobilidade urbana, dois grandes projetos ainda não foram entre-gues: o BRT Transolímpica e a linha 4 do metrô, que vai ligar a área turística da ci-dade à Barra da Tijuca, o principal palco das competições. Há muito trabalho a ser feito, mas tanto a prefeitura do Rio (res-ponsável pelo sistema rápido de ônibus) quanto o governo do estado (responsável pelo transporte subterrâneo) afirmam que os dois novos serviços estarão pron-tos a um mês dos jogos, em julho – o que preocupa os especialistas, pois haverá pouco tempo para a realização dos testes necessários.

Outro projeto inacabado é a tão so-nhada despoluição da Baía de Guanabara (palco das competições de vela) e da Lagoa Rodrigo de Freitas (remo). Uma frustração para ambientalistas, atletas, moradores e turistas, que esperavam pela despoluição como legado olímpico.

Além disso, dois episódios recentes joga-ram um balde de água fria nos ânimos olím-picos. Um trecho da mais famosa ciclovia do Rio, construída sobre o mar e promovida como parte do legado olímpico, desmoronou após o impacto de uma onda gigante. Pelo menos duas pessoas morreram, colocando em evidência a negligência de uma constru-tora que gerencia outras instalações olímpi-cas. Aliás, foi confirmado que nove pessoas já morreram durante a construção de obras para os Jogos – e a principal causa apontada pela Superintendência Regional do Trabalho é a pressa na execução dessas obras. Durante a Copa do Mundo, realizada em 12 cidades-sede, oito operários morreram, enquanto que durante a preparação dos Jogos Olímpicos de Londres não houve morte alguma.

As críticas às obras vão além. Remetem a uma política de gentrificação, como na área onde está o Porto Maravilha, que se transfor-mou num cartão postal depois das obras de revitalização do Museu do Amanhã e do Mu-seu de Arte do Rio. Por ali, muitos morado-res acabaram sendo removidos para regiões distantes do centro do Rio. O mesmo acon-teceu com moradores da Vila Autódromo, ao lado do Parque Olímpico.

NA hORA DA fESTA

A expectativa dos organizadores é de que, quando a chama olímpica for acesa, os problemas serão deixados que os cariocas, ao lado de turistas brasileiros e estrangei-ros, terão uma experiência inesquecível –

como aconteceu na Copa do Mundo, ape-sar dos 7 a 1. isso mesmo que, até agora, menos da metade dos ingressos tenha sido comercializada.

O turista que pisar no Rio de Janeiro du-rante os Jogos vai encontrar, com certeza, uma cidade que é um brinde para os olhos. As praias – algumas poluídas (Flamengo, Botafogo, Urca, São Conrado, Rocinha), outras isoladas, limpas e paradisíacas (Gru-mari, Prainha) – são de impressionar qual-quer mortal. e há muitas outras atrações turísticas obrigatórias: o Morro do Corco-vado, onde reina absoluto o Cristo Reden-tor de braços abertos sobre a Baía da Gua-nabara, o Pão de Açúcar, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jardim Botânico, o Morro Dois irmãos, a Floresta da Tijuca...

Quem quer ir além do roteiro básico, o centro do Rio oferece museus e espaços culturais em antigos casarões dos períodos colonial, imperial e republicano. Vale a pena dedicar de dois a cinco dias para conhecer a história da cidade, que no ano passado com-pletou 450 anos. É também na região central que está o VLT (veículo leve sobre trilhos), que vai transportar cariocas e turistas do Aeroporto Santos Dumont até a Rodoviária novo Rio, passando pela famosa Avenida Rio Branco, parcialmente transformada num cal-çadão com jardins, contornando o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio. e perto do centro, na Lapa, está a boemia da cidade. Lá tem um bar grudado no outro, onde mú-sicos e bailarinos fazem a alegria de turistas de todos os cantos do mundo.

É provável que, assim como aconteceu na Copa do Mundo de 2014, o mundo se encante com o Brasil durante os Jogos Rio 2016. Vale apostar que será um grande Car-naval, só que dessa vez olímpico. na quar-ta-feira de cinzas é que saberemos se foi tudo uma grande ilusão ou não.

rOBErTO

CaSTrO

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RIO EM CONTAGEM REGRESSIVA

Cerimônia de entrega da chama olímpica no estádio Panatenaiko, em Atenas, no dia 27 de abril, a cem dias dos Jogos

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CidadE OlíMPiCa/PCrJ

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BETH SaNTOS/PMrJ

Um dos aspectos mais interessantes dos Jogos Olímpicos são as casas dos países participantes, que funcionam como ponto de encontro para atletas e torcedores de todas as nacionalidades. Uma tradição nos Jogos, essas casas são o local onde os atletas comemoram suas vitórias, além de oferecerem diversas atrações culturais durante a competição. Em Londres 2012, o Brasil ocupou a Somerset House, que recebeu exposi-ções e diversos shows de música. Na Rio 2016, a Grã-Bretanha vai ocupar o Parque Lage, localizado aos pés do morro do Corcovado.Ao mesmo tempo em que a Casa Grã-Bretanha será um segundo lar para os atletas do Team GB, seus amigos e familiares, ela também irá promover o país como líder mundial em negócios e inovações, oferecendo um programa sobre esportes, cultura, educação e eventos B2B.

CASA GRã-BREtAnhA oCuPARá o PARquE LAGE

Centro Olímpico de Tênis

Centro Olímpico de Esportes Aquáticos

nova Praça Mauá, onde está o Museu do

Amanhã

Arena do Futuro, que receberá jogos de handball

Parque Lage

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Q

g Rita Santos Romão e Rouseanny Luiza dos Santos Bomfim são sócias, amigas e loucas por turbantes. Rita é graduanda em Publicidade e Propaganda na Universidade Federal de Sergipe. Rouseanny é formada em Sociologia pela mesma universidade.

TURBANTES QUE EMPODERAMProjeto ‘Por Mais Turbantes Nas

ruas’ gera reflexões sobre autoestima, valorização e identi-

dade da cultura negra

Por Rita Romão e Rouseanny Bomfimde Aracajú, Sergipe g

CONECTANDO

aracaJú, serGiPe

Quando vamos ao centro comprar tecidos, quando entramos no ôni-bus em direção às escolas ou quando chegamos para dar oficinas, é sempre uma mistura de expressões: “você é da Bahia? É da África? Posso topar no seu cabelo? O que é isso na sua cabeça? Vocês vieram fazer o que aqui?”. nós nos olhamos, rimos, respondemos às perguntas pacientemente e até deixa-mos topar no cabelo se for preciso. Fazemos tudo com muita alegria, com muito amor. nesses dois anos até ago-ra valeu a pena cada tempo que dis-pusemos em nosso projeto, ou como chamamos: nosso filho #PMTnR.

O #PorMaisTurbantesnasRuas sur-giu de forma muito natural. Éramos duas amigas que gostavam de falar de cabelo, que estavam assumindo suas madeixas e tinham aprendido a fazer

turbante em tutoriais no YouTube. Usávamos o acessório despretensio-samente até que um dia tudo mudou: apareceu uma professora que pensou em fazer algo diferente em sua sala de aula e nos convidou para falar de ca-belo e de autoestima para as meninas de sua turma. Até ali tudo bem. Mas o que uma aprendiz de publicitária e uma quase formada professora de so-ciologia poderiam oferecer de palavras inspiradoras para aquelas meninas da oitava série? Foi essa a pergunta que ecoou em nossas mentes e deixou nos-sos corações nervosos e ansiosos para a experiência que estava por vir.

Aceitamos o desafio. era meados de 2014. Juntamos nossos humildes tecidos, separamos vídeos e fotos e nos preparamos para aquela tarde que marcou o início de nossa história. Au-

ditório lotado, meninas empolgadas e a gente com vontade gigante de fazer aquilo tudo de novo. e foi o que acon-teceu, de novo, de novo, de novo e de novo, até a presente data.

entendemos o #PorMaisTurban-tesnasRuas como um projeto edu-cacional que promove reflexões a respeito de  autoestima, valorização e identidade da cultura negra, tendo como ponte de diálogo a oficina de turbantes que apenas apresenta-se como “parte prática” de todo o de-bate inicial.

Falar no ambiente escolar sobre a pluralidade e identidade negra do povo brasileiro é essencial, uma vez que este espaço deve levar o aluno a compreender a diversidade cultural e assim criar pontes para seu cres-cimento pessoal. Acreditamos que a

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CONECTANDO é um projeto criado pelo Brasil Observer que busca fomentar experiências de comunicação ‘glocal’. Em parceria com universidades e movimentos sociais, nosso objetivo é fazer com que pautas locais atinjam uma audiência global. Para participar e/ou obter mais informações, escreva para [email protected]

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escola é um espaço de sociabilidade, troca de valores, formação de iden-tidades e inserção social, e um dos grandes desafios existentes neste ambiente é a reprodução da desi-gualdade pautada na discriminação racial que é uma questão cultural in-visibilizada em nossa sociedade pela assimilação de uma cultura hegemô-nica e eurocêntrica.

Por isso o #PorMaisTurbantes-nasRuas pretende trazer uma pe-quena contribuição para intervenção dessa realidade fazendo com que seja instigado um novo e descolonizado olhar sobre a população e cultura ne-gra, aproximando a afro-brasilidade dos estudantes das escolas públicas e privadas de Sergipe. Assim, é pen-sando na construção da identidade negra que a escola deve promover

ações que busquem questionar e romper com ideias que corroboram pra atitudes racistas.

As visitas nas escolas são sempre marcantes e únicas, seja em unidades de ensino infantil ou de ensino médio, cada uma é uma experiência ímpar para nós e fazemos questão de guardá-las no coração. nossas oficinas não ficam só nas escolas, muitas vezes recebemos convites para eventos, encontros e ativi-dades em comunidades das quais, den-tro de nossa disponibilidade de tempo, sempre procuramos participar.

O #PorMaisTurbantesnasRuas já tem muita história para contar, mas ainda queremos fazer muito mais. Das lembranças que com certeza le-varemos para vida temos um dia com três oficinas e palestras corridas que aconteceram no mês da Cons-

ciência negra. nosso trabalho no projeto é voluntário, estávamos sem trabalhar e com grana quase zero para transporte, inclusive uma de nós não tinha o dinheiro para voltar para casa, mas mesmo assim fomos e demos a primeira oficina de manhã, comemos na rua e seguimos para a se-gunda oficina. Demos a palestra, con-seguimos o dinheiro da passagem com a venda do turbante e a coordenação da escola ainda ofereceu um lanchi-nho gostoso e uma carona até a ter-ceira oficina. Chegamos a nossas casas quase às 22h. Dia corrido, cansativo e apesar disso recompensador.

Sempre dizemos e gostamos de repetir: fazemos o #PorMaisTurban-tesnasRuas com muito amor. Um amor que é da família e dos amigos que sempre nos ajudam quando pre-

cisamos: Jonatas Damaceno (Jones/Jon), Rayanni Bomfim (Ray), Wa-nessa Barreto, edilma Oliveira, Ro-sineide Santos, Marilia Teles e Raabe noa; e também de nossos parceiros: Amanda Cardoso, Thaty Menezes, Rayanne Rocha e izabella Portella.

Fazemos e somos o #PorMaisTur-bantesnasRuas porque um bocado de gente acredita na gente e ama nosso projeto tanto quanto nos ama, e jun-to com esse povo todo temos quase seis mil pessoas que nos apoiam e nos acompanham nas redes sociais.

Caso queira conhecer mais a gente e tenha interesse em saber mais sobre amarrações e tecidos fale conosco na nossa fanpage (facebook.com/por-maisturbantesnasruas). Também so-mos uma lojinha de turbantes, vamos gostar bastante de conversar com você.

Rouseanny Bomfim(esquerda)

e Rita Romão

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O

VERÃO BRITâNICO COM SONS DO BRASIL

OK. De uma perspectiva brasileira, o verão britânico não é algo que realmente mereça ser chamado de ve-rão. Afinal, o verão por aqui é equivalente ao inverno no Brasil em algumas ocasiões. Quando temos sor-te, o verão britânico cai num domingo. Mas há outra verdade: quando os ventos gélidos do inverno come-çam a se dissipar e abrir espaço para a luz da prima-vera, nós brasileiros no Reino Unido sentimos como se Deus mandasse uma mensagem: “parabéns, meu filho, você passou no teste, agora vá aproveitar esses vastos campos verdes que te rodeiam”.

OK. Foi só uma piada ruim. Mas saiba que a tem-porada primavera-verão deste ano no Reino Unido será mais brasileira do que nunca! não pelas tempe-raturas elevadas, infelizmente, mas graças a artistas tupiniquins que estão chegando para aquecer nossos corações com boa música.

Tudo começou no mês passado, com grandes apresentações de Céu, Banda Black Rio e Criolo, que reuniram brasileiros e britânicos em uma atmosfera tropical em plena Londres. no dia 4 de maio, um dia antes desta edição ser enviada para a gráfica, Caeta-no Veloso e Gilberto Gil colocaram o Barbican de joelhos. então preste atenção: aqui você encontra a melhor lista de shows brasileiros vindo para o Reino Unido (que nós sabemos até agora, porque o verão britânico, como vocês bem sabem, pode ser tão im-previsível quanto a pontualidade brasileira).

Aliás, o show de Ana Carolina e Seu Jorge no Bar-bican, dia 23 de julho, já estava com os ingressos es-gotados antes do fechamento desta edição.

divulgaçãO

KARoL ConKA, A RAInhA Do hIP hoP

Prepare-se para curtir o som potente da rainha do hip hop brasi-leiro em pleno leste de Londres. Nascida em Curitiba, Karoline dos Santos de Oliveira, conhecida como Karol Conka, está rapidamente se tornando uma das vozes mais conhecidas da cena hip hop no Brasil. Karol ganhou reconhecimento nacional com a nomeação para o prêmio MTv awards de 2011, e projeção internacional com apresentações ao lado de Marcelo D2, além de lançar seu disco de estreia, Batuk Freak, pelo selo Mr Bongo.Em 2014, ela disse em uma entrevista ao Brasil Observer: “Minha ideologia é incentivar as pessoas a sorrir. Seja o que você quiser ser; diga ‘eu sou quem eu sou e você tem de me aceitar assim’”.

o RAPPA, PotEntES ACoRDES Do RAP-RoCK

Depois do enorme sucesso do show do ano passado na capital in-glesa, a O Rappa volta a Londres. A banda vai tocar músicas de seu mais recente álbum, Nunca Tem Fim. O show também contará com hits que definiram os 20 anos da banda: “Me Deixa”, “Pescador de Ilusões”, “Mar de Gente”, “Boa Noite Xangô” e outros. A banda também vai tocar quatro faixas inéditas do último DVD do grupo gravado ao vivo em 2015, em Recife.

quando: 13 de agostoOnde: Electric Brixton (Town Hall Parade, London SW2 1RJ)Entrada: £25Info: www.electricbrixton.uk.com

quando: 19 de maioOnde: Wringer + Mangle (london Fields, e8 3sD)Entrada: £5 primeiro lote, £8 segundo lote, £10 terceiro loteInfo: www.movimientos.org.uk

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OS MUTANTES, ROCK PSICODÉLICO

Aqueles que nunca ouviram a música de Os Mutantes, sem dúvida, já experi-mentaram sua influência. As colagens sonoras e a tendência à ironia cultural são hoje uma estética prevalente na música moderna. O som único de Os Mutantes foi forjado em uma época de turbulência política e social, a ditatura civil-militar (1964-1985). Dois adolescentes, Arnaldo Baptista e Rita Lee Jones, se uniram ao irmão de Arnaldo, Sérgio Dias, e formaram o que se tornaria Os Mutantes. Logo a banda, juntamente com outros artistas, estava participando de discussões que acabariam por evoluir para um movimento cultural definidor, a Tropicália.Na liderança está o cantor, compositor e guitarrista Sérgio Dias, único remanes-cente da formação original. Ele disse ao Brasil Observer no ano passado, antes de uma apresentação no Village Underground: “Cada show é imprevisível. O ele-mento principal é o público, então é de acordo com eles. As músicas são tão fortes que podemos começar o show com ‘Minha Menina’ e acabar com ‘Dia 36’ que daria maior pé!”.O show de Os Mutantes faz parte do Frontera Festival.

quando: 28 de maioOnde: Studio338 (North Greenwich Station, SE10 0PF)Entrada: £35Info: www.fronterafestival.com

BIXIGA 70, MÚSICA INSTRUMENTAL PARA DANÇAR

Depois de estrear no Reino Unido com ingressos esgotados no Rich Mix, em Ja-neiro passado, o Bixiga 70 volta a Londres com sua fusão de sons e ritmos africa-nos e sul-americanos. A banda de dez integrantes, formada em São Paulo, tem dominado a cena brasileira de música instrumental. com inspiração na banda de Fela Kuti, Afrika 70, o grupo paulistano traz uma tempestade rítmica de tirar o fôlego, com solos, harmonia e dinâmica alucinantes, tudo somado a improvisa-ções surpreendentes. O tecladista e guitarrista Mauricio Fleury definiu o som do Bixiga 70 ao Brasil Observer: “música brasileira instrumental dançante”.

Onde: 23 de junhoOnde: Scala (275 Pentonville Rd, London N1 9NL)Entrada: £15 antecipado Info: www.scala.co.uk

RoBERtA Sá, uMA BELA VoZ Do SAMBA

A cantora brasileira Roberta Sá traz do Rio de Janeiro sua bela voz, intérprete de muitos bons sambas. Seu álbum de estreia, Braseiro, contou com participações de Ney Matogrosso e MPB4. O álbum seguinte, Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria, de 2007, ganhou dois Latin Grammy Awards – melhor álbum e melhor artista revelação. Em 2010, ela se juntou ao Trio Madeira Brasil (Marcello Gonçal-ves, Zé Paulo Becker e Ronaldo do Bandolim) para gravar Quando o Canto é Reza, homenagem ao compositor baiano Roque Ferreira. No final de 2011, Roberta Sá superou a marca de 200 mil discos vendidos. Roberta venceu também o Prêmio da Música Brasileira como melhor cantora de MPB por seu álbum Segunda Pele. seu mais recente disco, Delírio, conta com participações de Chico Buarque, Mar-tinho da Vila e Antonio Zambujo. Show imperdível.

quando: 26 de junhoOnde: Under the Bridge (Fulham Road, London SW6 1HS)Entrada: £25Info: www.underthebridge.co.uk

MARtInho DA VILA, SAMBIStA DAS AntIGAS

Martinho da Vila e sua banda completa apresentam grandes clássicos do samba e suas fusões contemporâneas. Responsável por alguns dos sambas mais conhe-cidos do Brasil, Martinho incorpora em sua música o espírito brasileiro, desde sambas mais cadenciados até ritmos carnavalescos, abraçando influências sono-ras variadas que refletem a miscigenação nacional. Apelidado por conta de sua escola de samba do coração, a Vila Isabel, Martinho é um defensor da música e da história afro-brasileira, fazendo trabalhos humanitários no Brasil e na África.

quando: 28 de junhoOnde: Barbican Hall (Silk Street, London EC2Y 8DS)Entrada: £25-45Info: www.barbican.org.uk

ELIAnE ELIAS, JAZZ CoM RAÍZ BRASILEIRA

A pianista brasileira Eliane Elias toca na tradicional casa de jazz Ronnie Scott’s com a banda Steps Ahead, ao lado de Mike Mainieri (vibrafone), Donny McCaslin (saxofone), Marc Johnson (baixo) e billy kilson (bateria). O álbum de estreia da banda, chamado Smokin’ In The Pit, foi lançado em 1978 pela gravadora Nippon Columbia no Japão e se tornou “Gold” em três meses. Em 1980, houve uma reformulação e o lendário baterista Peter Erskine substi-tuiu Steve Gadd. Um ano depois, o Steps, renomeado Steps Ahead, lançou seu primeiro disco por uma grande gravadora, a Electra Records, e apresentou a in-crível pianista brasileira Eliane Elias, então com 21 anos. Os 35 anos seguintes consagraram ainda mais o grupo, que evolui sob a liderança de Mainieri num alto nível musical. eliane elias disse ao Brasil Observer na ocasião do lançamento do disco Made in Brasil, em 2015, antes de excelente apresentação no barbican: “Muitos dos meus discos incluem música brasileira. Nossa música é parte do meu DNA. Não importa onde, minhas raízes permanecem”.

quando: 4 a 6 de julhoOnde: Ronnie Scott’s Jazz Club (47 Frith Street, London W1D 4HT)Entrada: £35-55Info: www.ronniescotts.co.uk

hERMEto PASCoAL, CRIAtIVIDADE ALuCInAntE

O compositor multi-instrumentista e improvisador Hermeto Pascoal é uma figura gigante da música brasileira. Neste concerto, ele se apresenta com seu conjunto britânico conduzido por Jovino Santos Neto em celebração ao seus 80 anos de vida. Com enorme imaginação, ‘Hermetão’ não conhece barreiras musicais, pois passeia por música orquestral, jazz latino, ritmos brasileiros, rock e improvisa-ções – geralmente na mesma música! Ele também troca de instrumento com a mesma facilidade, tocando teclado, acordeão e saxofone. sua excentricidade musical, porém, não para por aí – em apresentações anteriores ele surpreendeu tocando objetos como uma chaleira, um copo de cerveja e um porco vivo.

quando: 9 de julhoOnde: Barbican Hall (Silk Street, London EC2Y 8DS)Entrada: £15-35 plus booking feeInfo: www.barbican.org.uk

DOM LA NENA, INTENSIDADE DELICADA

A cantora e compositora brasileira Dom La Nena tem ganhado a cena interna-cional com seu álbum Soyo, lançado no reino unido em 2015. com apenas 25 anos, Dom tem se mostrado uma musicista versátil, com melodias centradas em ritmos folclóricos e tons melancólicos, ainda que possa mergulhar no indie rock e formas de dança latina. O álbum é cantado em quatro idiomas: português, espanhol, francês e inglês.Ela disse em entrevista ao Brasil Observer: “Em comparação ao primeiro álbum, Soyo é um disco muito mais festivo. Eu tinha uma vontade muito grande de tra-balhar o ritmo, a sensação das músicas. É mais afirmativo, mais definido. O pri-meiro foi quase experimental”.O show de Dom La Nena acontece no Womad Festival (28 a 31 de julho).quando: A ser confirmadoOnde: Womad Festival, Charlton ParkEntrada: £175 para o fim de semanaInfo: www.womad.co.uk

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DICAS

TEATRO FOTOGRAFIA

LITERATURA

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GAëL LE CoRnEC APRESEntA ‘thE othER’ DE WEMBLEy PARA SOWETO PARA O BRASIL

‘thE LASt huntERS’, PoR DoMEnICo PuGLIESIuMA VISão SoBRE GARCÍA MáRquEZ E VARGAS LLoSA

a atriz, escritora e diretora franco-brasileira baseada em londres Gaël le cor-nec, vencedora do prêmio Argus Angel pela peça ‘Frida Kahlo Viva La Vida!’, retorna ao palco com um novo trabalho inspirado por histórias reais de re-fugiados em centros de remoção de imigrantes. Conheça a jovem Mana, do planeta Red-Yellow, afundado em guerra. Ela conseguirá sobreviver à perigo-sa jornada rumo ao belo planeta blue? Junte-se a ela neste suspense cheio de altos e baixos, poesia e criaturas sombrias.

quando: 21, 22, 28, 29 de maio Onde: The Marlborough Theatre (4 Princes Street, Brighton BN2 1RD)Entrada: £10/£8.5Info: www.marlboroughtheatre.org.uk

Em 2014, a organização Wembley to Soweto trabalhou com jovens moradores de favelas de são Paulo para documentar os efeitos da copa do Mundo em suas comunidades. Dois ex-aprendizes, um do curso de 2010 na África do Sul e outro de 2012 em Londres, viraram mentores.Em 2016, a instituição beneficente voltou ao Brasil para trabalhar com outro grupo de jovens, desta vez de favelas do Rio de Janeiro. Por uma semana, às vésperas dos Jogos Olímpicos, os jovens aprendizes aprenderam como fotografar durante o The Street Child Games – para o qual crianças do mundo inteiro foram reunidas no Rio para eventos esportivos, um festival de artes e um congresso sobre os direitos das crianças em situação de rua. Junto estava um ex-aprendiz de são Paulo.Esta exibição celebra o trabalho dos jovens fotógrafos de ambos os cursos e aguça o apetite das pessoas para o retorno à favela do Turano para o trabalho com um novo grupo de alunos nos Jogos Olímpicos de 2016.

quando: 6 a 13 de maio Onde: Embaixada do Brasil (14-16 Cockspur Street, London SW1Y 5BL)Entrada: GratuitaInfo: [email protected]

‘The Last Hunters’ documenta a vida do grupo indígena Awá-Guajá, primeira tribo nômade a ser encontrada vivendo na floresta amazônica brasileira. Projeto cultural, humanitário e ambiental, o trabalho de Domenico Pugliese funciona como um importante arquivo con-temporâneo.O objetivo do projeto fotográfico, que começou em 2008, é trazer à tona a vida e a cultura da última tribo de caçadores da Amazônia. Tendo sido acolhido pela comunidade para viver entre eles, Pugliese teve uma oportunidade única de capturar o modo de vida nômade dos Awá-Guajá – navegando através da selva e construindo assentamentos temporários, além de testemunhar o papel fundamental que cada membro da tribo desempenha. seu trabalho nos ilumina sobre a fragilidade da existência dessas pessoas, e ressalta a urgência de uma ação contra a extração ilegal de madeira que ameaça a floresta amazônica e seus habitantes.Domenico Pugliese é um fotojornalista italiano nascido em 1967 e atualmente baseado em Londres. Suas imagens já foram publicadas em diversos meios de comunicação britânicos e internacionais.

quando: 20 de maio a 14 de junho Onde: Embaixada do Brasil (14-16 Cockspur Street, London SW1Y 5BL)Entrada: GratuitaInfo: [email protected]

Gerald Martin inaugura o Canning House – Instituto Cervantes Cultural Ad-dress focando em dois dos mais renomados escritores da América Latina, Ga-briel García Márquez e Mario Vargas Llosa, a quem Martin biografou. Ambos García Márquez e Vargas Llosa foram grandes figuras do “boom latino-amer-icano” dos anos 60 e 70; obras notáveis de García Márquez são Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, e de Vargas Llosa Conversa na Catedral e Tia Júlia e o Escrevinhador.Gerald Martin é Professor Emérito de Línguas Modernas da Universidade de Pittsburgh. Ele é um crítico literário e historiador. Suas atividades favoritas são ler, escrever e viajar. Ele já visitou todos os países da América Latina e viveu no México, na Bolívia e na Colômbia.

quando: 26 de maioOnde: Canning House (14/15 Belgrave Square, London SW1X 8PS)Entrada: GratuitaInfo: www.canninghouse.org

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“O

FRANKO FIGUEIREDO

COLUNISTAS

“O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las”, escreve José Saramago no romance Ensaio Sobre a Cegueira, que conta a história de uma misteriosa praga que faz quase toda a população de uma cidade não identifi-cada ficar cega e as consequências que a epidemia acarreta.

espalhando-se rapidamente, essa cegueira coletiva começa a assustar as autoridades: um grande grupo de pes-soas cegas e infectadas é colocado em quarentena. As condições de vida pio-ram na medida em que a população isolada cresce. Pouco a pouco, vemos a desintegração de toda a sociedade. ex-crementos cobrem as ruas; cachorros comem corpos humanos; pessoas cegas morrem em supermercados após tenta-tivas frustradas de encontrar comida. Até os santos das igrejas estão cegos. O mundo é uma pintura sem vida; a vida não tem valor.

Mas do que se trata essa cegueira? Por que ela existe? Qual é sua natureza? O que deveríamos estar vendo? O que Saramago (um escritor que viveu perío-dos de ditadura e revolução) temia que não víssemos?

enquanto lia o livro fui levado de volta ao meu país, onde a mídia e os donos do poder estão se saindo muito bem em deixar boa parte da popula-ção cega. eles criaram a fácil divisão “nós contra eles”.

O Brasil é uma jovem democracia que ainda está aprendendo a deixar para trás os vestígios da ditadura civil-militar. Para termos uma democracia verdadeira, cidadãos e líderes políticos precisam tomar ações para criar uma sociedade harmoniosa, baseada em igualdade e respeito. não há religião nem filosofia que garanta harmonia se escolhemos agir desrespeitosamente. nenhuma igualdade será alcançada se decidirmos apenas receber e não dar nada em troca. Os cidadãos em uma democracia precisam trabalhar firme para defender valores éticos; só depois os líderes poderão se tornar reflexo dos princípios do país.

Semanas atrás eu estava ouvindo músicas brasileiras das décadas de 70 e 80. Se eu não soubesse, diria que aqueles artistas estavam cantando sobre ques-tões atuais. O Brasil só saiu da ditadu-ra no papel; na vida real, o militarismo

ainda está lá, impregnado nas ações diárias da população, deixando-a cega: cega diante do outro, cega diante de nosso verdadeiro eu. A cegueira sem-pre esteve lá, mas não a víamos porque não nos importávamos. Rendemos-nos ao medo, ao desprezo, à avidez, ao ego-ísmo e ao nosso amor pelo poder, pela posse e pelo dinheiro. não entendemos mais o significado de palavras como compaixão.

Sou um filho da ditadura. nasci no Brasil em 1967 e vim para o Reino Uni-do no final do regime civil-militar. eu não estava planejando ficar por aqui. Mas, quando cheguei, percebi que os britânicos eram mais tolerantes e res-peitosos, e que se esforçavam na busca pela igualdade.

Como um jovem gay no Reino Uni-do, não fui totalmente aceito, afinal eu era também um imigrante, mas minhas escolhas pessoais foram respeitadas. Cheguei à conclusão que, enquanto vivia no Brasil, estive sob constante censura de uma sociedade bastante intolerante que não respeitava minha individualidade, minha humanida-de. infelizmente, a atitude de muitos

brasileiros continua a mesma: a boca suja, os apelidos pejorativos, a segre-gação, o elitismo. e não é preciso ir às ruas para testemunhar isso, pois vemos tal atitude sendo descaradamente exi-bida no comportamento dos políticos no Congresso. Houve progresso – isso é verdade e é bom que se diga –, mas muitos de nós ainda estamos cegos.

Como em Ensaio Sobre a Cegueira, vejo no Brasil que tudo aquilo que nos faz humanos se perdeu. Vergonha e modés-tia se foram. O governo é inútil. A mo-ral parece obsoleta. A ética não existe. A empatia não dá as caras. O que aconteceu com a caridade? e a gentileza?

não há cinismo nem conclusão em Ensaio Sobre a Cegueira, apenas um aceno compassivo às coisas como elas são. esta é a grande sabedoria de Sara-mago. nas últimas páginas do livro, a cegueira finalmente retrocede e a mu-lher do médico, cujos olhos tiveram que suportar todo o fardo de testemu-nhar aquilo do qual os outros foram poupados, parece encontrar uma res-posta: “Acho que não ficamos cegos, acho que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem”.

Como em Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, vejo que no Brasil tudo aquilo que noz faz humanos se perdeu

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Os que conhecem ivan Lins, sejam seus fãs ou seus colegas de profissão, sabem que ele é criador de melodias e harmonias da mais fina qualidade e tratado como gênio por grandes no-mes da música internacional. Sarah Vaughan, Quincy Jones e ella Fitzge-rald, dentre outros, por exemplo, gra-varam músicas dele.

Músicos e admiradores, daqui e de lá, entendem ser ivan alguém que lida com a música com maestria. Uma grande pessoa, um dos mais festejados compositores contemporâneos.

Desde o início de sua carreira, lá por meados dos anos 1960, o carioca ivan brilhava nos festivais de música. Foi quando elis Regina gravou “Ma-dalena”, composição sua e de Ronal-do Monteiro de Souza. A canção logo virou um grande sucesso, que puxou outros: “Somos Todos iguais essa noite”, “Começar de novo”, “Dino-rah, Dinorah”, “Bandeira do Divino”, “Bilhete”, “Desesperar, Jamais”, “Car-tomante”, “Aos nossos Filhos”, “Lem-bra de mim”, “Depende de nós”, “novo Tempo” e muitos outros. na maioria das vezes ivan cria acompanhado por parceiros, desde o mais fiel, Vitor Martins, até outros, como Ronaldo Monteiro, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Celso Viáfora e Abel Silva.

em 1991, ivan fundou com Vitor Martins a gravadora Velas. Sendo um selo totalmente nacional e indepen-dente, a Velas marcou época na dis-cografia brasileira ao gravar discos importantes e lançar novos artistas, como Guinga, Chico César e Lenine.

em 2015, ivan comemorou 50 anos de carreira, 40 anos de parceria

com Vitor Martins e 70 anos de vida. e que vida! Que carreira! Que parce-ria! Benza Deus!

e para animar ainda mais a festa, a gravadora Kuarup remasterizou e re-lançou dois dos seus mais celebrados trabalhos. Assim, temos Modo livre (1974), o quarto disco de sua carreira, que tem arranjos de Arthur Verocai e começa com “Abre Alas”, sua primeira parceria com Vitor Martins, e Chama acesa (1975), seu quinto álbum, com arranjos do próprio ivan e da Modo Livre, sua banda na época.

Destaque grande para a competên-cia dos músicos que tocam em Modo livre, como Wagner Tiso, Robertinho Silva, Laércio de Freitas e Sidney Mat-tos, e os que arrasam em Chama ace-sa – Gilson Peranzzetta, João Cortês, Ricardo Ribeiro e Fred Barbosa.

O repertório dos dois álbuns é im-pactante. nele, ivan e seus parceiros criaram desde críticas sutis à ditadura até apaixonadas canções de amor. Pro-duzidos por Raimundo Bittencourt, os discos são uma visão do passado, uma atualização histórica. Ao ouvi-los, tem-se a impressão de que um véu está sendo puxado, desnudando a alma dos autores – o que traz saudade de tempos difíceis, quando algumas letras denunciavam desmandos de um tempo que não há de voltar.

Ao todo são 24 músicas nos dois CDs, que somam exatos 72 minutos e 33 segundos do mais puro deleite. Juro que, se eu tivesse como, daria aos amantes da MPB o direito de es-cutar mil vezes e se apaixonar nova-mente pelas antigas e ótimas músicas de ivan Lins.

remasterizados, discos Modo livre e Chama acesa trazem uma visão do passado, uma atualização histórica

AQUILES REIS

IVAN LINS PARA COLECIONADOR

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g Aquiles Reis é músico, vocalista da icônica banda MPB4

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28 brasilobserver.co.uk | Maio 2016

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LONDON BY

Heloisa Righetto mora em Londres (e em Greenwich!) desde 2008.

É autora do Guia de londres Para iniciantes e iniciados, que foi publicado de forma independente em seus blogs:

www.aprendizdeviajante.com www.helorighetto.com

O guia é enviado para todo o Brasil e mundo, e atende tanto aos turistas

de primeira viagem como aqueles que já conhecem Londres.

saiba mais e compre seu exemplar através do link bit.ly/guia-londres

(Instagram/Twitter: @helorighetto)

Heloisa Righetto escreve sobre as belezas

de greenwich

ALéM DO MERIDIANO

Você pode nunca ter ouvido falar de Greenwich, mas certamente sabe o que é o Meridiano de Greenwich – a linha imaginária que divide o mundo entre leste e oeste ganhou o nome do bairro de Londres onde começa. Gre-enwich, porém, é mais do que isso. É uma das regiões mais interessantes da cidade, com dezenas de atrações que vão muito além de colocar um pé no leste outro no oeste.

Cheguei a Greenwich por puro aca-so do destino. Precisava morar perto da área de Docklands e Greenwich apareceu como uma das opções. Um bairro bem conectado – possui estação de DLR, de trem, píer e diversas linhas de ônibus – com um centro bem movimentado e re-pleto de opções de lojas e restaurantes, mas também com ruazinhas afastadas que parecem saídas dos remotos vilarejos britânicos. e a cereja do bolo: o parque, um verdadeiro quintal para todos os mo-radores do bairro e também para os turis-tas que se dispõem a conhecer essa área no sudeste londrino.

Um dia ideal em Greenwich come-ça com um passeio de barco pelo Rio Tamisa. Utilize o serviço da empresa Thames Clipper e embarque a partir do píer de embankment, bem no centro da cidade. O trajeto até Greenwich leva 45 minutos, pois o barco faz algumas pa-radas no caminho e precisa respeitar um limite de velocidade. O ponto alto da viagem certamente é a passagem por baixo da Tower Bridge, oferecendo um ângulo completamente novo para foto-grafar esse ícone de Londres.

Ainda do barco você avistará uma das atrações mais recentes de Greenwich: o Cutty Sark, navio que transportou chá e lã

por todo o mundo e chegou a ser o mais rápido dos mares, mas que perdeu lugar com a ascensão dos navios a vapor. Hoje, o Cutty Sark está permanentemente an-corado em Greenwich e funciona como museu, contando a história não apenas dele mesmo (boa parte de sua estrutura original está preservada), mas também curiosidades sobre fabricação e transpor-te de chá. É uma excelente pedida para adultos e crianças, e oferece uma ótima vista de Canary Wharf (dica extra: o chá da tarde da lanchonete é muito gostoso!).

A poucos metros do Cutty Sark está o Greenwich Market, um mercado de ar-tesanato e gastronomia que recentemente foi reformado e ficou ainda melhor. esse mercado funciona diariamente, mas é apenas nos finais de semana que ele fica completo, com todas as barracas e lojas abertas. É um ótimo lugar para comprar um souvenir original feito por artesãos. e também um ótimo lugar pra almoçar. Dá para fazer uma volta ao mundo gastronô-mica nesse mercado. em um dia de sol, compre sua comida e leve para o parque ou para o gramado do Old Royal naval College (que fica logo ao lado) e tenha uma autêntica experiência londrina.

Aproveite que você está no Old Royal naval College e vá conhecer o Painted Hall, que é exatamente isso que o nome diz: uma sala inteiramente coberta de afrescos, todos pintados por Sir James Thornhill entre 1708 e 1727. eu costu-mo dizer que o Painted Hall está para Greenwich assim como a Capela Sistina está para o Vaticano. entrando lá você certamente irá compreender meus mo-tivos. O Painted Hall pode ser visitado gratuitamente, mas considere deixar uma doação, já que os afrescos precisam de

reparos urgentes. Com ajuda da popu-lação, essa obra prima ainda pode durar por muitos séculos e ser apreciada por muitas gerações.

O Old Royal naval College também é o lar da Universidade de Greenwich, e o curso de música é ministrado em um dos prédios próximos ao Painted Hall. então você pode ser surpreendi-do com um fundo musical delicioso. e, se der sorte, vai pegar um dia que estão ensaiando uma ópera.

A última parada do dia é o Greenwich Park, um dos oito Royal Parks de Lon-dres. É nele que está o Museu Marítimo e o Observatório, de onde se tem uma das vistas mais lindas do skyline londrino. É ali também que começa o Meridiano de Greenwich. Ao entrar no parque, siga para seu ponto mais alto – basta acom-panhar a multidão! – e aprecie essa área verde tão adorada pelos locais. Caso sua visita a Greenwich se estenda para a noi-te, você terá a chance de realmente ver o Meridiano. Um raio laser verde cruza o céu do bairro, marcando oficialmente a linha imaginária. esse é um dos segredos mais bem guardados da cidade, já que muitos londrinos não têm como hábito visitar Greenwich.

Antes de ir embora, vá conhecer um dos muitos pubs charmosos da vizinhan-ça. Minha dica: o pub Cutty Sark Tavern, na beira do rio. Fica a dez minutos de caminhada do centrinho, distante o sufi-ciente para que os turistas não o encon-trem. Caminhe pela beira do Rio Tamisa, passando em frente ao Old Royal naval College e da Greenwich Power Station. Peça sua pint de Meantime (cerveja local) e termine o dia ao ar livre, como os lon-drinos gostam!

Royal Naval College

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Vista do observatório Cutty Sark

Greenwich Market Painted hall

GreenwichPark

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BR TRIP

Shaun Alexander sobe o morro para conhecer uma das maiores e mais movimentadas favelas do rio de Janeiro

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DESCOBRINDO O VIDIGALSabe aqueles passeios pela favela com turistas de binóculos em cima de um jipe? Sempre dis-se que devem ser evitados. Concordo com os críticos que dizem que aquilo parece um safari humano, algo desrespeitoso com os moradores dessas comunidades.

no entanto, sempre tive muita curiosidade com as favelas. Queria conhecê-las, conversar com as pessoas sorridentes que vivem nelas, saborear suas comidas e apreciar suas vistas. em uma recente viagem ao Rio de Janeiro, tive uma oportunidade improvável.

estava eu na cidade olímpica com meus pais procurando um bom lugar para comer. Pedi ajuda no Twitter e recebi uma resposta de um amigo gringo: “Vá para o Vidigal e procure o Bar Lacubaco! É totalmente seguro, barato e a comida é ótima”.

Fiquei em dúvida. Apesar de minha curio-sidade, ainda estava um pouco inseguro. eu já me viro bem no Brasil, mas meus pais chamam atenção a um quilômetro de distância. em todo caso, eles concordaram em ir.

Primeiro problema: chegar lá. Cinco ou seis taxistas recusaram a corrida, citando o perigo de subir o morro. Pensei: sério? Talvez não fosse a melhor ideia, afinal. O sétimo motorista topou o corre, mas e aquilo que os outros haviam dito? Será que é realmente perigoso? “Bom, é uma fa-vela, não é?”, o taxista devolveu. “Coisas aconte-cem, mas alguns motoristas não gostam porque as ruas são estreitas e difíceis de dirigir”.

Se essa era a verdadeira razão, me sentia mais confiante.

Mais ou menos na metade da principal rua do Vidigal se encontra o Bar Lacubaco. Saí-mos do táxi, pagamos nossa tarifa e ficamos olhando ao redor por alguns minutos. Foi es-tranho, porque sempre passava pela entrada da favela e ficava me perguntando como era lá dentro. imediatamente, tive a sensação de que tinha deixado o Rio e entrado em outra cidade. O agito era enorme: bares, lojas de to-dos os tipos, um banco e um supermercado. Basicamente, tudo o que uma comunidade ne-cessita para sobreviver. As ruas estavam cheias de pessoas andando para cima e para baixo do morro íngreme. Crianças indo para a escola, trabalhadores reparando vias e cabos aéreos, centenas de moto-táxis circulando. A vista era espetacular, mas de onde estávamos não víamos o mar. Toda a favela estava radiante de grafites, que claramente são um importante aspecto do Vidigal. nunca tinha visto artes de rua tão impressionantes.

O Bar Lacubaco é um pequeno e colorido restaurante, com as paredes repletas de fotos de comentários positivos recebidos pelas prin-cipais revistas e jornais do Brasil. Decidimos comer o prato do dia: picanha com arroz de brócolis, feijão e batatas fritas. Foi incrível. Um prato simples, mas saboroso e muito bem ser-vido. Foi de longe a refeição mais barata que tivemos no Rio. Recomendo muitíssimo. Mas chegue cedo, pois na hora do almoço o local fica bastante movimentado.

Passamos a tarde na praia da Barra, que fica nas redondezas, mas algo estava incomodando todos nós: não tínhamos visto o suficiente. Decidimos voltar ao pôr do sol, mas desta vez para o topo do morro. Ficamos então sabendo do Bar da Laje. O caminho até lá foi uma experiência incrível. Tudo se tornava mais rústico na medida em que nos aproximávamos do ponto mais alto do Vidigal.

O Bar da Laje, porém, é meio que uma ar-madilha de gringo: um clube no topo da favela onde as celebridades se encontram. A vista é absolutamente espetacular. À esquerda está a praia de ipanema, a frente o Oceano Atlântico, atrás as montanhas e a floresta tropical. Foi sen-sacional. Tomamos umas e outras, admiramos a vista e conversamos com alguns moradores fora do bar. As crianças batiam bola, enquanto os homens mais velhos assistiam ao futebol nas televisões dos bares. A polícia patrulhava, con-versando com todos pelo caminho.

Um motorista local com quem conversáva-mos concordou em nos levar de volta à entrada da favela em seu carro. Já estava escuro e não estávamos dispostos a enfrentar a caminhada, que levaria uns 45 minutos. O lugar é enorme! ele então nos perguntou se queríamos um pe-queno passeio. Olhamos nervosamente entre nós e concordamos, partindo para o meio da favela a pé. O que se seguiu foi uma experiên-cia intimista com alguém que viveu no Vidigal a vida toda. A paixão de nosso guia por sua co-munidade brilhava através de seus olhos cheios de orgulho. ele explicou tudo sobre o lugar. Levou-nos à sua casa para nos mostrar a mara-vilhosa vista que tem; apresentou seus vizinhos (alguns dos quais também eram gringos) e fa-mília e nos mostrou alguns de seus bares favo-ritos. Falamos sobre os taxistas que haviam se recusado a nos levar para a favela. A resposta foi que grande parte da classe média do Brasil, incluindo motoristas de táxi, tem preconceitos em relação à favela e seus moradores. Aliás, a maioria das pessoas que visitam favelas é de gringos, porque os brasileiros simplesmente não gostam da ideia. ele acrescentou, porém, que isso está mudando lentamente.

O que mais me impressionou foi a história de pacificação da comunidade. O projeto de pacifi-cação das favelas tem sido amplamente criticado e com razão, mas não no Vidigal, ele nos disse. A polícia chegou lá de forma respeitosa, trabalhan-do com a comunidade para torná-la mais segura para todos. Agora, ele disse, qualquer um pode andar por ali durante o dia e a noite. Antes, não era permitido dirigir pela favela sem autorização do tráfico. Hoje, o Vidigal é uma favela segura e próspera, devidamente policiada.

Conheci uma comunidade forte onde as pes-soas olham umas pelas outras e estão felizes. em alguns sentidos, o Vidigal é vítima de seu pró-prio sucesso, porque a Copa do Mundo, os ru-mores de que David Beckham havia comprado uma casa no local e a compra de propriedades e negócios pelos gringos trouxeram uma rápida gentrificação. Mas, como disse nosso motorista, não se pode colocar um preço sobre o Vidigal.

g Mais histórias de shaun alexander em www.goneshaun.com

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