brasil observer #25 - portuguese version

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BRASIL OBSERVER WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDON EDITION ISSN 2055-4826 #0025 MARCH/2015 GUILHERME ARANEGA / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) ESTADO DA ARTE INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS VISITAM CENTRO AVANÇADO DE PESQUISA NO REINO UNIDO E COGITAM PARCERIAS QUEBRA-CABEÇA BRASIL Nas ruas, população reage ao ajuste fiscal e à corrupção FUTEBOL MOLEQUE Uma visão bem humorada para o jogo entre Brasil e Chile ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL RAFAEL RIBEIRO/CBF ESTADO DA ARTE

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Instituições brasileiras visitam centro avançado de pesquisa no UK e cogitam parcerias

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Page 1: Brasil Observer #25 - Portuguese Version

B R A S I LO B S E R V E R

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 5MARCH/2015GUILHERME ARANEGA / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

ESTADO DA ARTE INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS VISITAM CENTRO AVANÇADO

DE PESQUISA NO REINO UNIDO E COGITAM PARCERIAS

QUEBRA-CABEÇA BRASILNas ruas, população reage ao ajuste fiscal e à corrupção

FUTEBOL MOLEQUEUma visão bem humorada para o jogo entre Brasil e Chile

ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL RAFAEL RIBEIRO/CBF

ESTADO DA ARTE

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SUMÁRIO4

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16

10

21242630

ANA TOLEDODiretora de Operações

[email protected]

GUILHERME REISDiretor de Redação

[email protected]

ROBERTA SCHWAMBACHDiretora Financeira

[email protected]

EDITORES EM INGLÊSKate Rintoul

[email protected] Shaun Cumming

[email protected]

DESIGN E DIAGRAMAÇÃOJean Peixe

[email protected]

COLABORADORESCati Calixto, Francisco Denis, Franko

Figueiredo, Gabriela Lobianco, Juliana Resende, Leticia Faddul, Michael

Landon, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Vassiliki Constantinidou,

Wagner de Alcântara Aragão

IMPRESSÃOSt Clements press (1988 ) Ltd,

Stratford, [email protected]

10.000 cópias

DISTRIBUIÇÃOEmblem Group Ltd.

PARA ANUNCIAR [email protected]

020 3015 5043

PARA [email protected]

PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR

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ONLINEbrasilobserver.co.uk

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EM FOCO América Latina em questão

CONEXÃO BR-UK Filmes restaurados de Hitchcock são exibidos em São Paulo

PERFILSebastian Ramos e a passarela da London Fashion Week

CONECTANDODe Foz do Iguaçu, uma universidade que respira América Latina

COLUNISTA CONVIDADO Vassiliki Constantinidou sobre o Brasil e a Grécia

BRASILIANCEInsatisfação e inquietude: as peças do quebra-cabeça Brasil

BRASIL GLOBALUma nova ‘Revolução Industrial’ está em curso no Reino Unido

GUIASeleção Brasileira em campo: piada pronta

DICAS CULTURAIS

COLUNISTAS

VIAGEM

LONDON EDITION

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É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

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B R A S I LO B S E R V E R

E

E D I T O R I A L

Esta edição do Brasil Observer circula em Londres desde sexta-feira 13 de março. Dia de má sorte, lembrarão alguns. As atenções, porém, estavam mesmo no que poderia acon-tecer no domingo 15, dia para o qual estavam marcadas, em diversas cidades do país, ma-nifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT).

Difícil prever o que aconteceria. Em um país como o Brasil, onde a narrativa dos aconteci-mentos permanece na mão de poucos, os inte-resses políticos e econômicos de uma minoria normalmente se sobrepõem à realidade dos fa-tos – independentemente da posição ideológi-ca. Dessa forma, é seguro afirmar que enquanto alguns usarão as manifestações para desestabi-lizar o governo federal, outros tentarão deslegi-timar os protestos. Aqui, os dois lados falham.

O Brasil Observer considera o direito de manifestação e expressão um pilar fundamen-tal da democracia – por isso defendemos, em outras oportunidades e agora, uma reforma democrática da mídia, para que as concessões públicas de rádio e televisão atendam aos crité-rios previstos na Constituição de 1988. Acredi-tamos, portanto, que os protestos contra o atual governo – e qualquer outro – são legítimos.

Não nos furtamos de constatar, porém, que não há base jurídica para um pedido de im-peachment. O afastamento do presidente está previsto no artigo 85 da Constituição e pode acontecer em casos de crimes de responsabili-dade, entre os quais estão, por exemplo, crimes contra a existência da União, o exercício de di-reitos políticos, sociais e individuais e contra a probidade administrativa. Até que se prove o contrário, nada evidencia uma relação direta de Dilma Rousseff a alguma prática criminosa por dolo (quando há intenção).

Além disso, o Brasil não vive uma crise ins-titucional – a condução até aqui da Operação Lava Jato, que investiga irregularidades na Pe-trobras, comprova que as instituições funcio-nam. A turbulência política é causada princi-palmente pelo quadro de recessão econômica – além dos próprios escândalos de corrupção e da falta de habilidade de Dilma e sua equipe na relação com a base aliada no Congresso.

Após a reeleição de Dilma, o Brasil Obser-ver ressaltou que na definição da estratégia para a retomada do crescimento estava a principal armadilha para o governo. Como previsto, ao adotar as medidas que combateu durante a campanha eleitoral – ajuste fiscal – para ganhar credibilidade junto ao mercado e seus adversá-rios, Dilma perdeu capital político na correla-ção de forças nacional. Pior que isso, perdeu o

apoio daqueles que votaram nela. Foi ingênuo pensar que, ao fazer o que pregavam seus ad-versários, conseguiria apaziguar os ânimos dos que não lhe concederam o voto. Resultado: in-satisfação generalizada (leia a matéria de Wag-ner Aragão, na página 16).

Esse clima de instabilidade política é péssi-mo para o problema central e imediato do país: a estagnação econômica. Se o governo não con-segue articular no Congresso nem as medidas de ajuste fiscal que quase todos concordam ser necessárias, que dirá outras iniciativas funda-mentais para destravar o crescimento, como as reformas trabalhista e tributária, além do au-mento dos investimentos. Um impeachment agravaria ainda mais essa realidade, com con-sequências mais danosas às conquistas sociais da última década.

Sobre a corrupção, mal antigo e crônico no país, o Brasil Observer não esmorece: no po-der, o PT se mostra incapaz de seguir caminho diferente daquele adotado tradicionalmente por todos os outros partidos. O julgamento e a possível condenação de políticos e executivos de grandes empresas indiciados pela Operação Lava Jato enche o país de esperança. Por si só, porém, isso não é o bastante.

As empreiteiras investigadas por irregu-laridades em contratos com a Petrobras estão entre os maiores doadores para campanhas políticas. Quase todos os partidos recebem doações de empresas que, obviamente, visam com isso garantir benefícios futuros. Este é um dos maiores males de nosso jovem sis-tema democrático, pois deturpa o conceito básico de uma pessoa, um voto, e ainda gera possibilidades infinitas de corrupção. Para enfrentar seriamente o problema, é neces-sária uma reforma política que, no mínimo, proíba doações para campanhas políticas por parte de empresas privadas.

Por fim, vale dizer que o PT erra ao con-siderar os movimentos pelo impeachment de Dilma como manifestações de uma elite branca movida pelo ódio de classe. Isso de fato existe, é inegável, mas não explica to-talmente o desgaste do partido que está no poder desde 2002. Não é só a elite que está insatisfeita com o atual governo.

Os avanços sociais e econômicos da úl-tima década não vieram acompanhados de uma maior conscientização política e de-mocrática por parte dos cidadãos – nem por parte dos partidos. O reflexo disso é o que vemos hoje: um país atormentado que, me-ses depois das eleições, ainda não sabe o que o resultado das urnas quis dizer.

UM PAÍS ATORMENTADO

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H

EM FOCO

Em um país como o Brasil, onde a maioria da população, inclusive a mídia hegemônica, prefere o conforto da dependência, política externa ativa é vista como problema.

Por Guilherme Reis

Há quem argumente que a América Lati-na já não atrai mais tanta atenção inter-nacional quanto antes. Depois de uma década de crescimento econômico – ala-vancado principalmente pelo ‘boom’ do mercado de matérias-primas –, algumas economias da região encontram-se dian-te do risco da estagnação. Diante disso, os investidores internacionais se questio-nam: vale pena a empreitada?

Primeiro ponto, elementar, é saber de qual América Latina estamos falando. Pa-rece haver um consenso de que, em cada país da região, há pelos menos dois países diferentes. Isso não apenas por conta da di-versidade cultural, mas essencialmente pela desigualdade social que faz com que a rea-lidade possa ser muito boa ou muito ruim para a população local – e também para os investidores internacionais.

Fosse a América Latina uma região mais homogênea, integrada e com estratégias políticas e econômicas bem delimitadas, certamente a tarefa de entender e participar do desenvolvimento regional seria mais fá-cil. Mas, da mesma forma que, quando se cria uma atmosfera de animação, muitos problemas ficam escondidos, as oportuni-dades também se tornam mais difíceis de serem captadas e aproveitadas quando o ce-nário é de crise. Em um ambiente em que, muitas vezes, a percepção vale mais que a realidade, o que é real não se vê.

Nesse sentido, dois eventos realizados no mês de fevereiro em Londres, com abor-dagens completamente distintas, fomenta-ram um abrangente entendimento sobre o que se passa na América Latina.

O primeiro deles, realizado pelo Ins-tituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Londres, tratou de analisar os dez anos da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA), criada em 2004 pelos então presidentes Hugo Chávez, da Vene-zuela, e Fidel Castro, de Cuba. Hoje com 11 membros (o Brasil não é um deles), a or-ganização intergovernamental nasceu sob o ideal de construção de um Socialismo do Século 21, em oposição à Área de Livre Co-mércio das Américas (ALCA). Suas ações visam aumentar a integração econômica, política e social da região através dos con-ceitos de solidariedade, cooperação e com-plementaridade entre as nações.

Das experiências apresentadas na con-ferência, duas se destacaram. Uma em re-

lação ao Sucre, moeda virtual comum da ALBA, e a outra sobre as tentativas de cons-truir um Sistema Econômico Comunitário.

Para Stephanie Pearce, candidata a doutorado no Queen Mary College, da Universidade de Londres, apesar de a mo-eda complementar ter sido criada para diminuir a influência do dólar na região e eliminar os custos financeiros das transa-ções econômicas entre os países da ALBA, “o Sucre não atingiu seu pleno potencial”, sendo usado quase que exclusivamente entre Venezuela e Equador.

Já Helen Yaffe, da Universidade de Leicester, depois de apontar os aspectos positivos que testemunhou na Venezuela diante do funcionamento das Empresas de Produção Social e das Unidades de Produção Familiar, colocou em xeque a transição para o socialismo em um con-texto de dependência econômica. Para ela, “o governo bolivariano evitou o con-flito com a elite capitalista” e falhou na condução do gasto público por não di-versificar a produção nacional.

Tal ponto também foi enfatizado por José Manuel Ponte, da Universidade de Ox-ford, para quem a ALBA só vai continuar se desenvolvendo se não for mais dependente da Venezuela, que sempre foi a grande fi-nanciadora do grupo, mas que hoje enfren-ta uma séria crise econômica agravada pela queda do preço do petróleo.

O segundo evento também tratou do desenvolvimento econômico na América Latina, mas a partir de uma perspectiva mais liberal. Organizada pela London Bu-siness School, a décima edição do Latin American Business Forum girou em torno de dois painéis principais, um sobre com-petitividade e o outro, a respeito da polari-zação entre livre mercado e controle estatal – e qual seria o meio termo possível para que os países da região alcancem um cres-cimento equitativo.

De modo geral, todos pareceram con-cordar que os países latino-americanos precisam tornar os gastos públicos mais eficientes; diminuir a corrupção; aumentar o percentual de investimento em relação ao PIB; e focar em infraestrutura e formação educacional, de modo que haja um impacto relevante sobre a produtividade.

“A produtividade da América Latina era de 20% nas décadas de 1960 e 1970 em relação aos países desenvolvidos. Hoje é de 40% a 50%”, disse o Economista Chefe da Pátria Investimentos, Luis Fernando Lopes.

“Quanto mais o país cresce, mais produtivo ele é”, completou.

Leonardo Uehara, Diretor Associa-dos da Visagio, apontou para a necessi-dade de modernizar as leis trabalhistas no Brasil. “Hoje cada Estado tem sua própria regulamentação. Como uma em-presa vai expandir?”, questionou. Uehara comentou ainda que, “se o Brasil quer ser competitivo, deve ter empresas investin-do no exterior, deve se mostrar presen-te”. Para ele, as empresas brasileiras tem grande vantagem em outros mercados emergentes: “entendemos melhor”.

Já Wenceslao Bunge, Diretor Gerente do Credit Suisse, afirmou que “a única for-ma de ser competitivo exportando matéria-prima é reduzindo o custo de produção”, agregando valor com a aplicação de recur-sos tecnológicos. Sobre os efeitos da cor-rupção, Bunge argumentou que, “quando as instituições são mais importantes que as pessoas, o país tem os meios para alcançar o sucesso econômico”.

No segundo painel, falou-se bastante sobre o papel do setor privado na economia latino-americana. Alejandro Puente, Chefe de Relações Externas do Banco Comporta-mos, disse que na região “há muitas opor-tunidades porque há muitas necessidades”. E que “tratados de livre comércio são bons pontos de partida, mas não suficientes”.

Visão semelhante foi compartilhada por Francisco Pírez Gordillo, Embaixa-dor do Uruguai na Organização Mundial do Comércio, para quem “antes do acor-do, é preciso fazer a lição de casa”, pois do contrário a economia nacional pode ser fortemente prejudicada.

Antes do encerramento do fórum, discursou o ex-presidente do Uruguai, Luis Lacalle Herrera. Ele recordou a criação do Mercosul, no início dos anos 1990, e disse que não reconhecia mais a organização, pois a mesma perdeu o foco do livre comércio e passou a ter objeti-vos políticos. Lacalle disse que acha im-provável um acordo entre o Mercosul e a União Europeia, se mostrando mais sim-pático a um pacto entre países da Améri-ca Latina e os Estados Unidos.

Superar a pretensa dicotomia do “livre mercado X controle estatal” é o grande de-safio de praticamente todos os países lati-no-americanos. Algo tão ingênuo quanto acreditar que uma dessas ideologias, sozi-nha, poderá levar a América Latina ao ple-no desenvolvimento.

AMÉRICA LATINA EM QUESTÃO

Ex-Ministro da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, durante palestra concedida na London School of Economics

g 17 de MarçoDiante da queda do preço do pe-tróleo e do acordo entre Estados Unidos e China na área de mudan-ça climática, a Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha se-dia evento que vai analisar a nova geopolítica em torno dos recursos energéticos e as implicações para o Brasil. (“Energy Geopolitics and the New World Order – the impli-cations for Brazil”. Onde: Taylor Wessing, 5 New Street Square. Preço: £10 para membros / £30 para não-membros).

g 18 de MarçoO Instituto Brasil do King’s College e a Canning House recebem Leslie Be-thell para uma palestra sobre as rela-ções do Brasil com os Estados Unidos e a América Espanhola no período de 1889 – ano da Proclamação da República Brasileira – até a Primeira Guerra Mundial, através das ideias do Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco e Manoel de Oliveira Lima. (“The Americanization of Brazil Fo-reign Relations, 1889-1914”. Onde: S -1.06 Strand Building. Palestra aber-ta ao público; não há necessidade de registro prévio).

g 24 de MarçoConferência da Canning House ana-lisa o setor de energia renovável na América Latina, destacando as oportunidades para investidores britânicos e as possibilidades de diversificação da produção ener-gética na região. (“The Future of Energy in Latin America – bright prospects? Onde: Canning House, 14/15 Belgrave Square. Preço: £20 para membros / £40 para não-membros).

g 25 de MarçoCanning House antecipa debates em torno da Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre Drogas (UNGASS), marcada para os dias de 19 a 21 de abril, em Nova York. (“Drugs Policy in Latin America”. Onde: Canning House, 14/15 Belgrave Square. Preço: £10 para membros / £15 para não-membros).

NA AGENDA

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5brasilobserver.co.uk | March 2015

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6 brasilobserver.co.uk | March 2015

COLUNISTA CONVIDADO

Por Vassiliki Constantinidou g

EEmbora possa parecer estranho, vou contar um sonho sonhado numa noite recente. Estava andan-do numa rua cheia de gente: pes-soas indo e vindo mergulhadas em seus pensamentos, em suas certe-zas e dúvidas. O dia está claro e o sol brilhando. Mas, aos poucos, uma nuvem cinzenta toma conta do céu, tampando a luz solar, em-bora seja possível perceber lumi-nosidades ao redor de sua aureola.

Esse quadro ilustra bem o mo-mento em que estamos vivendo desde a crise de 2008. Quando meu pensamento voa para a Grécia, sei que as pessoas estão vendo os raios e a luminosidade que as sombras tentam esconder. É a luz da espe-rança que eles enxergam. Aqui no Brasil, se vê o mesmo sol, mas o que se enxerga são as sombras que se aproximam. Sombras de uma elite que destila ódio contra um partido e uma presidente, pois não suporta perder privilégios.

Aparentemente, os dois países estão trilhando caminhos opos-tos. A Grécia negocia com a União Europeia o caminho para o cres-cimento contra a depressão eco-nômica. O Brasil, que até o ano passado driblou a crise mantendo o nível de renda e emprego, realiza alguns ajustes, que de fato são me-didas de austeridade. Deixemos os meandros econômicos, porém, aos especialistas. Os mandatários dos dois países enfrentam hoje uma difícil batalha no campo econômi-co e social, mas vivem também um momento político muito delicado. Somente o apoio popular poderá dar respaldo às suas ações.

Tenho acompanhado e vivencia-do de perto a trajetória desses dois países que fazem parte da minha história de vida. Na Grécia estão minhas raízes ancestrais; no Brasil, a terra que me formou e acolheu a mim e meus pais imigrantes. Como dois países tão diferentes do ponto de vista econômico e histórico po-dem ter algo em comum?

Comecemos por lembrar que os dois governos, empossados neste ano, foram eleitos democraticamen-te, numa disputa acirrada entre for-ças conservadoras e progressistas. Estive na Grécia no ano passado, antes das eleições. O resultado das urnas confirmou o clima de basta a uma situação insustentável, que per-corria praças, lares e ruas de Atenas. A vitória do Syriza abriu novas pos-sibilidades para modificar o quadro de depressão que o país vive, provo-cado pela crise econômica iniciada em 2008. É também um alento para

os países do Velho Continente que vivem igual situação. Para auxiliá-lo nessa empreitada, há o apoio popu-lar e da maioria do Congresso.

A reeleição de Dilma Rousseff no Brasil foi uma resposta clara à necessidade de ampliação das con-quistas sociais que o governo do PT e seus aliados desenvolvem desde 2002, quando Lula foi eleito. Isso se traduz em programas de inclu-são social que servem de exemplo para todos os países em desen-volvimento. É também um sinal da urgência das reformas política e tributária para o país seguir no trilho do crescimento. No entanto, o acirramento das forças conser-vadoras e progressistas durante as eleições, assim como a eleição de um Congresso conservador, dificul-ta a realização dessas metas.

Em 2012, Alexis Tsipras e al-guns deputados do Syriza estive-ram no Brasil e em outros países da América do Sul. Participei de um encontro com ele, promovido pela comunidade grega de São Paulo. Houve uma série de outros encon-tros com representantes de vários partidos, um deles no Instituto Lula, com o ex-presidente. Tsipras e sua comitiva queriam conhecer as alternativas adotadas pelo Brasil para manter o nível de crescimento, apesar da crise que aumentava.

Na ocasião, numa conversa in-formal, Lula explicou que a econo-mia brasileira estava estruturada e as condições de conjuntura possibi-litaram, mesmo na crise, aumentar o salário mínimo, permitindo manter o nível de renda e dos salários, para não entrar em recessão. Humilde-mente, Lula afirmou que era o Brasil que deveria pedir alternativas à Eu-ropa na questão do bem estar social, pois aqui estávamos atrasados pelo menos 30 anos nessa questão.

O que teriam essas duas lide-ranças em comum? Provavelmente o resgate da dignidade de seu povo. Na Grécia, a eleição de Tsipras resgatou a dignidade grega, que durante esses anos de depressão esteve asfixiada pelo poder econô-mico, o que levou a população a uma situação de desesperança, hu-milhação e sofrimento. Lula, para o sociólogo Emir Sader, “foi quem resgatou a dignidade do povo bra-sileiro, de suas camadas mais po-bres, em particular do nordeste. Reconheceu seus direitos, desen-volveu políticas que favoreceram suas condições de vida e uma recu-peração espetacular da economia, das condições sociais e do sistema educacional do nordeste”.

Observando a certa distância ou vivenciando o dia-a-dia, percebe-se nos dois países um movimento, alimentado pela direita política, empresarial e religiosa, de desesta-bilização do governo. Na Grécia, a mídia tenta desqualificar Alexis Tsi-pras e seu partido detendo-se nos detalhes do aparente. Preocupam-se mais com a falta da gravata do que com os resultados das negociações com a União Europeia.

No Brasil, as grandes corpo-rações jornalísticas disseminam o ódio, manipulando e omitindo informações. O lixo que está sen-do tirado debaixo do tapete, com denúncias de corrupção em vários segmentos da sociedade brasileira, está trazendo à tona uma estrutura de Estado a serviço das classes pri-vilegiadas (empresariais e políticas). E isso só está sendo possível porque há um governo democrático com vontade política de modificar as estruturas vigentes, em defesa dos mais vulneráveis. Algo imperdoável para as elites brasileiras.

O desejo de justiça e de melhorar as condições dos menos favorecidos talvez seja o ponto em comum entre Tsipras e Dilma. Embora com histó-ricos diferentes, neste mundo onde o poder econômico dá as cartas, as sombras que investem na desesta-bilização dos dois governos são as mesmas. Sabe-se que, a cada nova crise do capitalismo, alguém tem que pagar a conta.

Normalmente o ônus recai so-bre as classes mais pobres da socie-dade. E é contra essa prática que os dois lutam, levando em conta a realidade, peculiaridades e carac-terísticas de seus países.

Nosso cotidiano está povoado de certezas sem conhecimento, sem memória; de manipulação e inconformismo das forças conser-vadoras que perderam as eleições; de um jornalismo hegemônico comprometido com as classes do-minantes, falho em informação histórica. Estamos perdendo a noção do outro, da tolerância e di-versidade. Há em curso uma “bo-çalidade do mal”, como escreveu Eliane Brum em sua coluna no El País (http://goo.gl/pOVv5C).

Lutar contra isso talvez seja na-dar contra a corrente, pois muitos dizem que “o mundo é assim” para justificar desigualdades e perpetu-ar privilégios. As urnas dos dois países mostraram a vontade de construir um mundo mais justo, fraterno e democrático. Se vive-mos de fato numa democracia, isso precisa ser respeitado.

O que têm em comum os governos atuais do Brasil e da Grécia? E a quem inte-

ressa desestabilizá-los?

ENTRE O APARENTE E O OCULTO

g Vassiliki Constantinidou é jornalista e autora de “Os

Guardiões das Lembranças – Memória e História dos

Imigrantes Gregos no Brasil”

Page 7: Brasil Observer #25 - Portuguese Version

7brasilobserver.co.uk | March 2015

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Arts Festival of the YearBRASILIANCE é um projeto de história oral desenvolvido pela companhia de teatro StoneCrabs, com apoio Heritage Lottery Found e parceria com King's College e University College London. Brasiliance tem foco na história oral de brasileiros que estão em Londres e imigraram entre 1960 a 1989. A equipe do Brasiliance realizou 11 entrevistas com brasileiros que vivem no Reino Unido, representando diferentes origens. Além das entrevistas, o projeto desenvolveu ao longo do ano de 2014 uma extensão programação que difundiu a história dos brasileiros em Londres através de diferentes formas artísticas. Mais informações: www.brasiliance.comVOTE >>> http://goo.gl/I9xZ65

Entrepreneur of the YearFRANCINE MENDONÇA vive em Londres há 18 anos, nasceu em uma pequena cidade no Sul do Brasil e começou a trabalhar como cleaner na capital inglesa, sempre em contato com os brasileiros durante esse período. Já com interesse sobre questões de vistos e imigração, começou a ajudar a comunidade brasileira muito cedo nesta área. Depois disso, trabalhou como editora de um jornal brasileiro (Brazilian News) e aumentou sua rede de contatos na comunidade. Em 2001 Francine fundou sua empresa, a LondonHelp4U para ajudar os brasileiros com visto e consultoria de imigração. Parra isso, especializou-se em Serviços de Imigração (O�ce of the Immigration Services Commissioner). Mais informações: www.londonhelp4u.co.ukVOTE >>> http://goo.gl/h95QlP

Community Worker of the YearALICIA BASTOS nascida e criada no Brasil, há 13 anos Alicia trabalha com a Indústria Criativa no Brasil, França, Estados Unidos e Londres. Após o desenvolvimento de importantes projetos, Alicia mudou o foco da sua carreira para criar eventos que contribuam para a conscientização social de questões globais e atuais. Enquanto estudava seu mestrado em Empresas e Gestão de Artes Criativas da Universidade de Artes de Londres, ela criou 'Braziliality', organização sem �ns lucrativos que visa a promoção de artistas brasileiros ou artistas inspirados pelo Brasil. Mais informações: www.braziliarty.orgVOTE >>> http://goo.gl/SSXpym

International Sports Personality of the YearMARTA DA SILVA mais conhecida como Marta. É jogadora de futebol brasileira que atua como atacante. Atualmente, joga pelo FC Rosengård, da Suécia. Marta já foi escolhida como a melhor jogadora de futebol do mundo por cinco vezes consecutivas, um recorde entre mulheres e homens. Foi considerada pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais in�uentes do ano de 2009. Após grandes exibições recentes e, principalmente, nos Jogos Pan-americanos de 2007, Marta chegou a ser comparada a Pelé, sendo chamada pelo mesmo de o "Pelé de Saias". Além disso, entrou na calçada da fama do Maracanã, sendo a primeira e, até agora, a única mulher a deixar a marca dos pés neste local.VOTE >>> http://goo.gl/T0Exz0

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PERFIL

AAmor vem um pouco da combinação entre roman-ce e sensualidade. Qual estilista poderia ter um tema como este a não ser Sebastian Ramos? O bra-sileiro, designer da marca Sebastian London, voltou à semana de moda de Londres no mês de fevereiro para apresentar sua nova coleção, mostrando que seu estilo faz jus ao mote da estação.

Em seu desfile, Sebastian apresentou transpa-rências, rendas e flores para inspirar as mulheres a esbanjar seu lado eternamente romântico, com um toque de sensualidade. Rendas francesas e tecidos em formato de flor foram combinados para repre-sentar essa dualidade sensual e romântica da esta-ção mais esperada do ano.

O designer se inspirou nos parques de Londres naqueles dias em que as flores estão nascendo e o cheiro de primavera está no ar. “Sou encantado pe-las flores de Londres e gosto de analisar cada deta-lhe. Esta coleção traz toda a minha inspiração flo-ral. As flores de Londres estão nos meus vestidos de forma sutil, como parte dos detalhes. Procurei reproduzir a delicadeza e a sofisticação dos botões e pétalas, em especial a Cherry Blossom”, contou Se-bastian ao Brasil Observer.

Sobre a escolha das cores, Sebastian salientou a importância do bem-estar ao vestir. Tons e tecidos apropriados devem ser lembrados no momento da criação. “As cores apresentam grande influência sobre a temperatura. Além disso, podem estimular o humor, o cotidiano de cada pessoa”, argumentou o designer. Os vestidos da coleção “Spring Feelings” podem ser definidos em três palavras: renda, bordado e transpa-rência. Apresentando vestidos longos e curtos, a paleta varia entre preto, marfim, vermelho e rosa suave.

Sebastian revelou os segredos de criação e disse se basear no caimento do vestido ao contato com a pele da modelo. “Busco sempre escolher tecidos que realcem o corte do vestido e o corpo das mulheres. Tenho andado pelo mundo estudando os tecidos que tenham o caimento perfeito, que acentuam a silhueta. O meu truque é sempre colocar o pano no corpo de uma modelo, antes mesmo de cortar. Des-ta forma o corte fica perfeito, e o feitio sofisticado”.

Para o estilista, cada etapa flui com naturalidade no processo de criação. “Depois da fase de inspi-ração e esboço de projetos com os croquis, tiro as medidas e em seguida faço os cortes. Vou criando a base de cada medida em cima da manequim e de-pois cubro a base com pedrarias e detalhes. O resul-tado é o que você vê na passarela”.

Questionado sobre a preparação que antecede à semana de moda de Londres, o designer disse traba-lhar em tempo integral para influenciar o bem vestir das mulheres. Ele entende que suas criações causam impacto no comportamento feminino e sabe lidar muito bem com isso. “A preparação para a London Fashion Week é intensa. São horas antecipadas de trabalho e dedicação. É a semana em que os desig-ners apresentam a dedicação de mais de meio ano de trabalho. A semana mostra que a moda está cada vez mais presente no cotidiano, especialmente nas ruas de Londres, onde as pessoas não se intimidam em usar o que está sendo lançado nas passarelas”.

Estilista brasileiro volta à London Fashion Week e apresenta coleção baseada no romance e na sensualidade da primavera

Por Rômulo Seitenfus

E A PASSARELA

MU

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SEBASTIAN RAMOS

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10 brasilobserver.co.uk | March 2015

BRASIL GLOBAL

DIV

ULG

ÃO

Entrada do AMRC (Advanced Manufacturing Research Centre)

UMA NOVA

REVOLUÇÃOINDUSTRIAL

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Embraer, ITA e SENAI cogitam parcerias com o AMRC, centro ‘state-of-the-art’ de pesquisa em manufatura avançada que a Universidade de Sheffield opera com a Boeing, visitado pela

reportagem durante a Open Innovation Week

g Por Juliana Resende, de Sheffield, especial para o Brasil Observer

QQuem associa Sheffield às cenas de-

soladoras e também divertidas dos meta-lúrgicos desempregados que viram stri-ppers no filme inglês Ou Tudo Ou Nada (The Full Monty, 1997) não está de todo errado. Trata-se de um passado não tão longínquo. Mas vestígios destes tempos de decadência da eterna Cidade do Aço, tão bem explorados no cult vencendor do Oscar, desintegram quando adentra-mos no admirável mundo novo que um dos mais modernos centros de inovação em pesquisa de manufatura avançada do mundo, o AMRC (sigla para Advanced Manufacturing Research Centre), mate-rializa. Somos uma delegação brasileira de primeira viagem ao local.

Integrada por representantes do SE-NAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), CNI-MEI (Mobilização Em-presarial pela Inovação da Confederação Nacional das Indústrias) e da Smyowl, startup da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), a delegação brasilei-ra visitou o AMRC a bordo da Open In-novation Week, evento promovido pela rede de Ciência e Inovação do UK Trade & Investiment (UKTI), órgão de fomen-to ao intercâmbio do governo britânico,

e ficou muito bem impressionada. Afinal, o AMRC é um modelo que pode ser ado-tado no Brasil.

Encravado no Parque de Manufatura Avançada, o AMRC é um complexo de alta tecnologia de 420 mil metros qua-drados – englobando cinco instituições pesquisando de composites para a indús-tria aeroespacial a próteses de materiais ultra-avançados para o corpo humano, passando por turbinas, drones e robôs.

É numa sessão de realidade virtual mostrando a montagem do tipo ‘next ge-neration’ de um motor que o engenheiro Alberto Xavier Pavim, Especialista em De-senvovimento Industrial do SENAI, mais se entretém. “Meus colegas Marcelo Prim e André Nascimento, também Especialis-tas em Desenvolvimento Industrial, lidera-vam a equipe do SENAI (que eu acompa-nhava) para visitar os potenciais parceiros internacionais britânicos. Nossa viagem visava identificar parceiros de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação que tivessem interesse de trabalho conjunto com os Ins-titutos SENAI de Inovação no Brasil, no escopo de uma chamada especial do Edi-tal de Inovação do SENAI em cooperação com o Newton Fund”, conta Pavim.

“O AMRC muito nos impressionou por sua dimensão e resultados de pesqui-sa. Observa-se, no local, o efeito positivo e impactante da ação colaborativa entre empresas, academia e demais atores do ecossistema de inovação britânico”, dizem os engenheiros do SENAI. “A infraestru-tura disponível no AMRC reflete o estado da arte nas áreas em que realiza pesquisa aplicada, bem como um claro comprome-timento das indústrias que integram este ambiente de inovação, via investimento na construção de edificações, plantas-piloto e na compra de equipamentos”, completam, lembrando que o centro conta ainda com iniciativas estratégicas governamentais para suportar seu financiamento.

“No local, pode-se observar, por exemplo, a ação integrada entre Boeing, Rolls Royce e Universidade de Sheffield. Os resultados obtidos neste ambiente de inovação são expressivos e impactam inclusive na atualização do próprio cur-rículo acadêmico da Universidade a que pertence, demonstrando que as ações dos atores do ecossistema resultam num benefício mútuo, com o fim de impactar, em última análise, a sociedade britânica em si”, ressalta o engenheiro Pavim.

REINDUSTRIALIZAÇÃO

Enquanto o resto da delegação segue imerso em realidade aumentada, uma pergunta não quer calar: por que Shef-field? Para começar, aquele lugar de céu de chumbo em que a fumaça das siderúr-gicas levou George Orwell a considerar que devesse pleitear o posto de “a cida-de mais feia do Velho Mundo”, em 1937, melhorou muito de vida ao se tornar uma das Core Cities, grupo das oito maiores cidades do Reino Unido fora Londres que se ajudam mutuamente, criado em 1995.

Fundada na Idade do Bronze, berço da Revolução Industrial, da banda Arctic Monkeys e do primeiro time de futebol do planeta, entre outras coisas, Sheffield ficou famosa pela qualidade das facas que produzia no século 14. Duzentos anos

mais tarde, a então vila saxã que virara um estratégico ponto comercial às mar-gens do rio Sheaf assumiu a liderança mundial na fabricação de talheres. No século 19, Sheffield entrou para a histó-ria quando deu ao mundo o processo de produção de aço. No século 20, revolu-cionou a siderurgia internacional com diversas inovações, como a invenção do aço inoxidável.

Com um passado assim cheio de gló-rias, é triste imaginar a velha Sheffield como um entreposto de privações, onde a classe proletária já teve seu trabalho nas fábricas comparado à condição de semiescravidão. Nos anos 70 e 80, dias ainda mais cinzentos com altos índices de desemprego assombraram a cidade, devido ao declínio da indústria tradicio-nal dependente do carvão, cujos minei-

ros protagonizaram greves que encheram Margaret Thatcher de cabelos brancos.

Mas eis que o final do século 20 uma Sheffield-Fênix emerge das cinzas à frente da inovação na área de manufatura avan-çada de alto valor agregado. Como? Devi-do a uma consistente política nacional de redesenvolvimento das principais cidades britânicas nos anos 90. A Sheffield dos mi-neiros-strippers viu, nos anos 2000, sua combalida economia crescer a uma média de 5% ao ano, num cenário em que parce-rias da indústria com as universidades de Sheffield e Hallam – da qual saiu a pesqui-sa fundamental na evolução dos modernos aços de baixa liga e alta resistência, tão es-senciais no século 21 – foram e continuam sendo fundamentais.

Richard Caborn e John Baragwanath conversam com delegação brasileira no AMRC

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MODELO EXEMPLAR

O AMRC é um exemplo de como o Reino Unido – que pulou de décimo para o segundo país mais inovador do mun-do, segundo o Global Innovation Index de 2014 – está se reindustrializando, apostando principalmente no potencial de regiões fora da Grande Londres. Esse modelo de descentralização dos centros de conhecimento e produção, unindo pesquisa (universidade) e aplicação no mercado (indústria) está sendo replicado em outras regiões e segue inspirando go-vernos, empresas e intuições de diversos países – entre eles o Brasil.

Construído no mesmo terreno que já foi parque de históricos conflitos entre os sindicatos e a polícia do governo linha dura do sucessor de Thatcher, o premiê conservador John Major, o AMRC é “a mais completa tradução de pesquisas de ponta em manufatura de alto valor”, de-

fine o vice-reitor da Universidade de Sheffield, Sir Keith Burnett. “O centro é como um ‘departamen-to independente’ da universidade”, ressalta. E pre-para, para o final de 2015, uma im-pressionante ex-pansão de sua ‘Fá-brica do Futuro’ (mais no BOX).

O AMRC foi apontado como a mola-propulsora da recuperação econômica britâ-nica e colocou a Universidade de Sheffield como principal citada

no relatório UniverCities: The Knowle-dge to Power UK como referência em fornecer componentes de “high value manufacturing” a multinacionais que, por sua vez, fomentam dois clusters de inovação no local: de Manufatura Avançada e Manufatura Nuclear. São as chamadas Catapultas, financiadas pelo governo britânico por meio da In-novate UK (agência governamental de promoção da inovação e nome de uma das maiores conferências de inovação do mundo que acontece em novembro, em Londres).

O AMRC abriga também um Cen-tro de Treinamento, líder na formação de aprendizes avançados para estudo de engenharia e metalurgia – duas áreas em que a Universidade de Sheffield, eleita a primeira em satisfação estudantil em 2014 pelo ranking Times Higher Edu-cation, é pioneira. Interessado em trocar experiências, o AMRC possui o Centro de Transferência de Conhecimento que, desde 2012, compartilha com afiliados e mantenedores descobertas e materiais inovadores que serão a base de uma nova revolução industrial.

Segundo os engenheiros do SENAI, “semelhante modelo de pesquisa aplicada

e cooperação para inovação” interessa à instituição brasileira, que foca atualmen-te numa estratégia de sustentabilidade para introduzir novos modelos de negó-cio de suporte à inovação no Brasil. “Na medida em que a organização está im-plementando 26 Institutos de Inovação inseridos em um ecossistema nacional de inovação em pleno desenvolvimento, al-meja-se construir tais parcerias estratégi-cas com indústria, universidades, comu-nidades empreendedoras e demais atores do ecossistema”.

O SENAI, por meio de seus Institutos, busca beneficiar a sociedade, contribuin-do para a necessária mudança de patamar tecnológico da economia brasileira. Cria-do em 1942, pelo então presidente Getú-lio Vargas, o SENAI surgiu para atender a uma necessidade premente: a formação de profissionais qualificados para a incipiente indústria de base. Já na ocasião, estava claro que sem educação profissional não haveria desenvolvimento industrial para o país.

‘AVIONICS’

O AMRC nasceu em 2001, fruto de colaborações entre o professor Keith Ri-dgway – Commander of the Most Excel-lent Order of the British Empire (CBE) e ainda hoje o pesquisador-chefe do centro – e o empresário local Adrian Allen, que começou a trabalhar com a Boeing para direcionar a pesquisa aplicada na Univer-sidade de Sheffield para novos materiais destinados à aviação. Foram investidos £15 milhões de libras (cerca de R$ 65.5 milhões), com apoio do Fundo Europeu para Desenvolvimento Regional. Em 2004, o complexo começou a expandir.

Hoje, são mais de 200 engenheiros e di-versos pesquisadores se revezando em pré-dios de arquitetura arrojada, prototipando e testando equipamentos de alta tecnologia para as indústrias aeroespacial, médicas e de manufatura de alto valor em geral. Para integrar esse expertise acadêmico com a indústria e a economia locais, foi criado o programa RISE – que engloba uma comis-são multidisciplinar para o crescimento de Sheffield (City Growth Commission) e da região (o condado de South Yorkshire) –, no qual a universidade trabalha junto à prefeitura da cidade na criação de empre-gos e na atração e retenção de cérebros (o campus abriga 26 mil estudantes e staff de 120 países, entre os quais ostenta cinco prêmios Nobel).

Não à toa, o AMRC está sendo aponta-do por catapultar literalmente a inovação no Reino Unido e sua transformação em negócios, numa cadeia alimentada pela parceria com empresas que têm na tec-nologia de ponta seu maior asset. Além da gigante aeroespacial Boeing, potências globais como Rolls-Royce, Unilever, As-traZeneca, Glaxo SmithKline, Siemens e Airbus estão entre as 30 empresas britâ-nicas e transnacionais, além de agências de governos estrangeiros e fundações, que contribuem com o centro.

“Aqui, somos extremamente privile-giados por colocar em prática um traba-lho visionário em manufatura avançada, unindo academia, governo e mercado, com abrangência não somente nacional,

mas como uma forma de manter a eco-nomia britânica competitiva num cená-rio global”, festeja Richard Wright, dire-tor-executivo da Câmara de Comércio de Sheffield.

O AMRC é parte de um esforço pú-blico e privado, em parceria com a aca-demia e a indústria, que o governo brasi-leiro pretende replicar por meio do Plano Inova Empresa, com investimento de R$ 32,9 bilhões nos próximos dois anos em inovação e cujo lançamento aconteceu em 2013, meio à reunião geral da Mobi-lização Empresarial pela Inovação (MEI). Para o economista Igor Siqueira Cortez, especialista em Desenvolvimento Indus-trial da CNI-MEI, um dos delegados da Open Innovation Week, “há um mundo de oportunidades aqui [no Reino Unido e no AMRC] a serem exploradas”.

RETOMADA DO CRESCIMENTO

No Brasil, a inovação foi apontada prioridade do governo Dilma Rousseff, visando o aumento da competitividade e unindo pesquisa e mercado na gera-ção de novos negócios nas áreas de saú-de, energia, sustentabilidade e indústria aeroespacial. Em outras palavras: a re-tomada do crescimento. Um dos pilares do programa de inovação brasileiro que recebeu mais elogios de Dilma em 2014 foi o Inova Aerodefesa. O programa tem o objetivo de incentivar a inovação em empresas dos segmentos de defesa, segu-rança, aeroespacial e materiais especiais por meio de editais administrados pela Finep (Financiadora de Estudos e Proje-tos), empresa pública vinculada ao Mi-nistério de Ciência e Tecnologia e criada para promover e financiar a inovação.

“O apoio que concedemos para ati-vidades inovadoras se justifica pelo fato de que o país precisa cada vez mais de inovação, tecnologia e conhecimento”, afirmou a presidente, na inauguração do hangar para fabricação do cargueiro KC-390 pela Embraer – que não é uma experiência isolada de sucesso, incluin-do geração de empregos diretos e in-diretos. No entanto, o caminho para o topo é longo, e depende de constância e comprometimento político, indepen-dente do partido que estiver no governo. O relatório da competitividade da CNI Competitividade Brasil mostrou o país em penúltimo lugar entre os 15 mais competitivos do mundo em 2014.

Há conversações entre o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Embraer para desenvolver um parque de pesquisa e produção tecnológico inspi-rado no AMRC. Familiarizado com ne-gociações com potenciais parceiros bra-sileiros, o deputado trabalhista Richard Carbon, membro do parlamento britâ-nico por Sheffield e consultor estratégi-co do AMRC, presente na comissão do centro que recebeu a delegação brasilei-ra, parecia ansioso para ir “straight down to business” (expressão que define bem a cultura dos ingleses, quando o assunto é “ir direto aos negócios”). “Por enquanto, sabe-se que com a seleção do ITA para formar a Unidade EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Indus-

Um mundo de oportunidades aqui a serem exploradasIgor Siqueira Cortez, economista especialista em Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria

JULIANA RESENDE

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trial) de Manufatura Aeronáutica para as Cadeias Produtivas de Aeronáutica de Defesa, as chances reais de parceria com o AMRC aumentam, com fundos de financiamento do governo brasileiro”, acredita Caborn – embora nada ainda es-teja oficialmente confirmado.

A UE-ITA proporcionará sinergia com as várias divisões da instituição, será uma unidade núcleo para iniciativas de Pesqui-sa, Desenvolvimento e Inovação com a efetiva participação das empresas e conta-rá com a coordenação técnica do Prof. Dr. Luís Gonzaga Trabasso. Para ele, “a UE-I-TA é uma oportunidade de incrementar a integração academia-empresa por meio de mecanismos ágeis de contratação, execu-ção e verificação de projetos de P&D (pes-quisa e desenvolvimento)”.

Ao compartilhar riscos de projetos com as empresas, a EMBRAPII, sendo um órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Ministério da Educação que atua por meio da co-operação com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou pri-vadas, tendo como foco as demandas empresariais, na fase pré-competitiva da inovação, tem o objetivo de estimu-lar o setor industrial a inovar mais e com maior intensidade para, assim, po-tencializar a força competitiva das em-presas tanto no mercado interno como no mercado internacional – exatamente o modelo do AMRC.

Vale lembrar que o ITA, assim como a Universidade de São Paulo (USP) já formalizaram intercâmbios de staff com a Universidade de Sheffield. Tim Cricks, diretor de Parcerias Internacionais da Universidade de Sheffield, aguarda “uma visita do vice-presidente da Embraer ao AMRC em breve”. Em seu discurso na Embraer, a presidente Dilma listou, na relação de prioridades alavancadas por incentivos à inovação, o sistema inte-grado de monitoramento das fronteiras terrestres brasileiras, a construção do sa-télite geoestacionário para comunicações estratégias e o programa de submarinos de propulsão convencional e nuclear.

A construção do submarino nucle-ar brasileiro, por exemplo, “sofre com a inconstância com que recebe verbas”, lembra o Prof. Dr. Tharcísio Bierrenba-ch de Souza Santos, professor do FAAP-MBA, responsável pelos cursos de Glo-balização e Competitividade, Cenários Econômicos, Governança Corporativa e Compliance e Gestão Estratégica de Crises, além de coordenador do curso da instituição específico para jornalis-tas, o Agenda Brasil. “É preciso foco”, alerta Santos. “E muito mais investi-mento em educação para que a inova-ção se desenvolva no Brasil”.

g A jjornalista Juliana Resende é editora-executiva da agência de PR e conteúdo BR Press, operando em São Paulo e Londres, e visitou o AMRC como gerente de comunicação interina do Consulado-Geral Britânico de São Paulo, a convite da rede brasileira de Ciência e Inovação do UKTI. Email: [email protected]

Construção da Factory 2050, a ‘Fábrica do Futuro’ e a projeção de como ficará o local

FÁBRICA DO FUTURO

O Advanced Manufacturing Research Centre (AMRC) cresce num ritmo acelera-do e prepara terreno para expandir a cha-mada “Fábrica do Futuro”, em operação desde 2010 e tendo a Rolls-Royce (que, segundo o Financial Times denunciou em pleno Carnaval, teria pago propina para fornecer equipamentos à Petrobras) como parceira-chave.A edição revista e ampliada da “Fábrica do Futuro” será a AMRC Factory 2050, “um grande laboratório de produção en-globando várias tecnologias e integrado com várias universidades”, explica o esco-cês John Baragwanath, ex-engenheiro de comunicações da Royal Air Force e Officer of the Most Excellent Order of the British Empire (OBE) que, como chefe da Unida-de de Inovação do condado de Yorkshire, teve um papel importante na fundação do AMRC, ao qual ele se juntou como di-retor de projetos em 2005.Na era dos biocomposites e de novos pa-radigmas industriais trazidos pela tecno-logia, o AMRC aposta na “convergência de todas as áreas”, conforme descreve Baragwanath, para reinventar-se com a

Factory 2050 – que ganhou as fundações em fevereiro e promete ficar pronto até o final de 2015. Será o primeiro prédio do novo Campus de Manufatura Avançada da Universidade de Sheffield, que dará ao antigo Sheffield City Airport um propósito inovadoramente revolucionário. Em março, o AMRC sedia uma convenção internacional sobre o projeto. A julgar pela maquete disponível em um vídeo de animação 3D, trata-se de uma construção de dimensões impressionantes, toda en-vidraçada, em forma de disco voador, que será a primeira fábrica do Reino Unido totalmente digital a produzir componen-tes de alto valor diferentes em períodos alternados: por exemplo, turbinas pela manhã, e motores à tarde – tudo de ma-neira totalmente automatizada, por meio de robótica e realidade virtual.Projeto de £43 milhões (cerca de R$ 170 milhões), a Factory 2050 será um marco na indústria de manufatura avançada e aposta no conceito de “fábrica reconfi-gurável”, o que propicia altos níveis de flexibilidade em relação ao que vai ser produzido. O objetivo é atender à cres-

cente demanda de possibilitar rápidas mudanças tanto no design do produto quanto no que está sendo efetivamen-te produzido. A “Fábrica do Futuro” foi projetada para permitir que máquinas e módulos operacionais se movam pelas suas instalações. Sofisticados sistemas de monitoramento vão catalogar todos os processos gerando um alto volume de informação, que será compilado e usado para maximizar resultados, mini-mizando o tempo de produção e man-tendo alta qualidade.Toda a operação será por meio de tec-nologia verde, sendo sua principal fonte de energia própria e renovável. Somen-te em sua fase da construção, a Factory 2050 gerou 160 empregos e estima-se a contratação de cerca de 75 técnicos para operá-la, após a finalização. Isso sem falar nos empregos e investimentos indiretos gerados por empresas que vão se instalar na região de Sheffield, trazendo uma es-timativa de £6.4 milhões (cerca de R$ 27 milhões) à economia local e contribuindo com cerca de £2 milhões, anualmente, em Geração de Valor Agregado (GVA).

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Construção da Factory 2050, a ‘Fábrica do Futuro’ e a projeção de como ficará o local

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CONEXÃO BR-UK

HITCHCOCK À MOSTRA EMBAIXADA DO BRASIL PROMOVE PRÊMIO ARTÍSTICO

CRESCE NÚMERO DE TURISTAS BRASILEIROS NO REINO UNIDO

Parceria entre British Council Brasil, British Film Institute, Festival do Rio e Sesc São Paulo oferece rara oportunidade para os amantes do cinema e os devotos de um dos mais importantes cineastas britânicos de todos os tempos

EEm 2012, o British Council Brasil, o British Film Institute (BFI) e o Fes-tival do Rio promoveram, pela pri-meira vez no Brasil, a exibição de um filme mudo de Alfred Hitchcock com trilha sonora ao vivo. Nos anos se-guintes, o público carioca pôde apre-ciar outros filmes mudos que mar-caram o início da carreira do eterno mestre do suspense.

Agora, em 2015, o Sesc São Pau-lo dá continuidade ao projeto com a mostra Hitchcock in Concert, ofere-cendo aos paulistanos a oportunidade de conhecer quatro obras: Chantagem e Confissão, A Mulher do Fazendeiro, Vida Fácil e Pobre Pete – todos exibi-dos no Sesc Santana nos dois primei-ros finais de semana de março.

Os filmes foram restaurados pelo BFI e integram o maior projeto de restauração do instituto britânico, que, além de abrigar as primeiras e mais importantes cópias existentes da obra do grande cineasta, recor-reu a diversos arquivos e tecnologias para revelar, camada por camada, no-vas texturas, facetas e sentidos ocul-tos em cada filme.

“A equipe do BFI examinou mais de 9 milhões de frames individuais para trazer esses filmes de volta à vida, utilizando material de sete arquivos em três continentes. O resultado é uma coleção fascinante e valiosa dos primeiros trabalhos de Hitchcock, que oferecem uma amostra dos primeiros

A Embaixada do Brasil em Lon-dres, em parceria com o Itaú BBA e o People’s Palace Projects (da Queen Mary University of London), está promovendo a primeira edição do prêmio Visual Arts Awards.

A edição inaugural está aberta para submissões e vale para todos os artistas baseados no Reino Unido. Neste ano, a premiação tem como foco as cidades de Londres e do Rio de Janeiro, sedes dos Jogos Olímpi-cos de 2012 e 2016, e as conexões temáticas entre as duas.

Serão aceitos trabalhos criativos em diferentes formatos, incluindo pintura, desenho, escultura, foto-grafia, cerâmica e gravura (excluin-do as instalações de vídeo). A data limite de envio é o dia 17 de abril.

Uma pré-seleção dos trabalhos escolhidos pelo júri será exibida en-tre os dias 4 e 22 de maio na Em-baixada do Brasil em Londres, para que o público tenha a chance de ver as obras e votar em suas peças favo-ritas. Prêmios em dinheiro, forneci-dos pelo Itaú BBA, serão dados aos três finalistas que serão anunciados no dia 22 de maio. O prêmio para o primeiro colocado é de 3 mil libras; para o segundo e para o terceiro co-locados, o prêmio é de 1 mil libras para cada um.

Para mais informações, acesse www.culturalbrazil.org

Cineasta britânico em alta no Brasil

sinas de sua futura maestria. O Bri-tish Council vem trabalhando com o BFI para fazer com que essas joias alcancem públicos ao redor do globo, apoiando exibições acompanhadas de música ao vivo”, explicou Will Massa, consultor de filmes do British Council em Londres, na ocasião do Festival do Rio no ano passado.

Com a parceria, que é um dos di-versos frutos do programa Transform

(www.transform.britishcouncil.org.br) de cooperação cultural e artísti-ca entre o Brasil e o Reino Unido que acontece entre 2012 e 2016 como par-te do legado Olímpico, o público tem a chance de acompanhar o nascimen-to de um estilo único, marcado pela perspicácia e pelos domínios artístico e técnico do jovem que se transfor-maria em um dos maiores nomes do cinema mundial.

A CEO do Visit Britain, Sally Balcombe (foto), divulgou em fe-vereiro, no Explore GB, dados pro-visórios de 2014. Segundo a diri-gente, o Reino Unido deve fechar 2014 com 34,8 milhões de visitantes estrangeiros, aumento de 6% sobre 2013, que gastaram 21,7 bilhões de libras, aumento de 3%. Ambos os resultados são recorde.

Em relação ao desempenho do Brasil, os números referem-se ao período de janeiro a setembro do ano passado, quando o país enviou 245 mil visitantes, crescimento de 15%, responsáveis por gastos de 215 milhões de libras. Neste último quesito, a queda foi de 8%.

Em números de visitantes, os principais mercados foram Fran-ça (3,93 milhões), Alemanha (3,1 milhões), Estados Unidos (2,7 mi-lhões) e Irlanda (2,3 milhões), de acordo com os dados provisórios.

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ISSUU.COM/BRASILOBSERVER

READ EVERY PAST ISSUE OF BRASIL OBSERVER AT

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BRASILIANCE

INSATISFAÇÃO E INQUIETUDEEstatísticas e projeções econômicas não justificam alarmismo dos pessimistas, mas freiam euforia dos otimistas.

Nas ruas, população reage às medidas de austeridade e às denúncias de corrupção. As peças do quebra-cabeça Brasil estão à mesa

Por Wagner de Alcântara Aragão

PPolítica e economicamente o Brasil enfrenta um dos momentos mais com-plexos do último decênio. Apesar do bombardeio diário de notícias e infor-mações sobre escândalos de corrupção e de projeções desfavoráveis de indica-dores econômicos, é exagero dizer que o país afunda em crise. Há também resultados satisfatórios em alguns se-tores da economia. E se as denúncias vêm à tona com mais frequência nos dias que correm isso não significa que os desvios sejam maiores do que antes; indica, aí sim, que más condutas cada vez menos passam despercebidas e es-tão mais sujeitas a punições.

Há, porém, uma sensação quase generalizada de que, em relação às re-centes conquistas sociais e econômicas, existem ameaças iminentes. O merca-do de trabalho se mantém aquecido e a renda do trabalhador segue em alta, mas o Produto Interno Bruto (PIB) pa-tina e pode retrair em 2015, com infla-ção maior (ver indicadores no box).

Além disso, segue em andamento uma série de medidas impopulares, to-madas em sua maior parte pelo governo federal, mas também por governos esta-duais e prefeituras. São aumentos de tri-butos a penalizar principalmente os tra-balhadores, com restrições a benefícios previdenciários, cortes em orçamentos de serviços públicos como saúde e edu-cação e reajuste de tarifas do transporte urbano, energia, água e combustíveis. Um conjunto de ações rotuladas de “ajus-te fiscal” que tem como objetivo garantir a meta governamental de superávit pri-mário (economia para pagar juros da dí-vida pública) em 2015, que é de 1,2% do PIB – cerca de R$ 110 bilhões. Na práti-ca, no entanto, contribuem para alimen-tar o clima de insatisfação, encurtando o caminho para se chegar à alarmada crise.

“O ajuste fiscal só aprofundará os problemas econômicos, sociais e po-líticos do Brasil. A chamada austeri-dade recairá, como sempre, sobre os trabalhadores, a classe média e o setor produtivo, reduzindo as margens de crescimento”, adverte o professor de Economia Luciano Wexell Severo, da Universidade Federal da Integração La-tino-Americana (Unila). “O ajuste e a suposta austeridade só servem para be-neficiar ainda mais o mercado financei-ro, que exige taxas de juros altas e o fiel pagamento da dívida pública. Os gastos cortados são com pessoal, com investi-mentos e com a infraestrutura social. As despesas reservadas para o pagamento da dívida são intocáveis”.

CORREÇÃO DE RUMO

A presidenta Dilma Rousseff (PT), nas raras aparições e declarações públi-cas desde que iniciou seu segundo man-dato, tem argumentado que o chamado ajuste fiscal é imprescindível para o país retomar o caminho do crescimento eco-nômico. “Estamos entrando agora numa nova fase de enfrentamento da crise in-ternacional, em que medidas serão ne-cessárias para uma nova trajetória para crescermos”, declarou no início do mês durante entrega de 1.472 moradias do Programa Minha Casa Minha Vida em Arauguaria, Minas Gerais. “Queremos melhorar ainda mais o que conquista-mos. Por isso, estamos fazendo correções e ajustes”, completou a governante.

Não é o entendimento dos brasilei-ros. Principalmente por conta dos au-mentos na conta de luz e na gasolina, há um descontentamento quase que ge-neralizado com o começo de segundo mandato de Dilma. A mais recente pes-quisa sobre a popularidade da presidenta disponível até o fechamento desta edição, feita pelo Datafolha e divulgada no início de fevereiro, mostrava que 44% dos en-trevistados consideram o governo ruim ou péssimo – quase o dobro do verifica-do meses antes, em dezembro, quando o percentual era de 24%. O índice dos que consideram a gestão ótima ou boa, por sua vez, despencou de 42% em dezembro para 23% no mês passado.

A queda na popularidade não é pri-vilégio apenas da presidenta Dilma. A mesma pesquisa Datafolha identificou insatisfação dos paulistas com o go-vernador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB) – o percentual dos que avaliam a administração dele como ruim ou pés-sima também quase dobrou, alcançando 24% –, e com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) – índice de 44% de ruim ou péssimo.

No dia 26 de fevereiro, Alckmin viu na porta do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual e residência oficial do governador, uma manifesta-ção encabeçada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) con-tra a falta de água no Estado. Milhares de pessoas participaram do ato (até 10 mil manifestantes).

LEVANTE NO PARANÁ

A maior demonstração de insatis-fação e inquietude contra medidas im-populares veio do Paraná. Em greve, servidores públicos estaduais – em sua

maioria professores e funcionários das escolas – promoveram praticamente um levante contra o corte de recursos para a educação básica e superior e contra um pacote de ajuste fiscal enviado pelo gover-nador Beto Richa (PSDB) à Assembleia Legislativa no começo de fevereiro. O pacote de medidas incluía eliminação do fundo previdenciário do funcionalismo, extinção de mecanismos de ascensão na carreira dos educadores e redução drás-tica em benefícios como adicional por tempo de serviço e auxílio transporte.

Em 10 de fevereiro, antevendo que as propostas enviadas pelo governador se-riam aprovadas pela maioria dos deputa-dos estaduais, os trabalhadores do serviço público ocuparam o plenário da Assem-bleia Legislativa, em Curitiba, interrom-pendo a sessão de apreciação do pacote. Os manifestantes permaneceram acam-pados por toda a noite e o dia seguinte, do lado de dentro e de fora do Legislati-vo, obrigando os deputados, no dia 11, a retomarem a apreciação numa sessão realizada no refeitório da Assembleia. No dia 12, quando ocorreria a sessão de vo-tação definitiva dos projetos do governa-dor, milhares de manifestantes cercaram a Assembleia para bloquear a entrada dos parlamentares e, assim, impedir a votação.

Transportados por um micro-ônibus blindado do batalhão de choque da Po-lícia Militar – uma espécie de camburão onde são levados detidos – e isolados por um cordão de policiais em solo, os de-putados conseguiram furar o cerco dos manifestantes, e entraram na Assembleia Legislativa por uma passagem improvi-sada. Subiram ao refeitório para inicia-rem a sessão, mas, tão logo os trabalhos foram abertos, do lado de fora, indigna-da e revoltada, a multidão conseguiu se sobrepor ao isolamento policial (que não impôs a resistência costumeira), derru-bar cercas e ocupar totalmente a Assem-bleia Legislativa. Acuados, temendo uma tragédia, os deputados, atendendo à rei-vindicação dos manifestantes, consegui-ram do governador Beto Richa a retirada do pacote de medidas da pauta.

O recuo do governador e dos depu-tados de sua base não bastou para por fim às manifestações. Os professores e funcionários tanto das escolas como das universidades estaduais mantiveram a greve, cobrando do Governo do Estado a retomada no repasse de recursos para a manutenção dos estabelecimentos de ensino e o cancelamento de medidas ad-ministrativas que vinham sendo tomadas pelo Estado desde o final de 2014. Os edu-cadores promoveram outras duas grandes

marchas por ruas centrais de Curitiba, no dia 25 de fevereiro (de 40 mil a 50 mil pes-soas) e no dia 4 de março (20 mil pessoas).

A insatisfação com a gestão de Beto Richa no Paraná não é só dos servidores públicos. Reeleito em outubro de 2014 no primeiro turno, com 56% dos votos válidos, o governador do PSDB viu sua popularidade despencar. Levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado neste mês de março aponta que 76% dos paranaenses entrevistados reprovam o segundo mandato de Beto Richa.

CAMINHONEIROS

Também no Paraná e em pelo me-nos mais dez Estados brasileiros a últi-ma semana de fevereiro e a primeira de março foram marcadas por protestos de caminhoneiros que bloquearam dezenas de rodovias federais e estaduais. Entre os motivos, dois principais: o recente aumento no preço do diesel e as eleva-das tarifas de pedágio. A paralisação dos caminhoneiros chegou a prejudicar o abastecimento de indústrias e supermer-cados e o escoamento da safra agrícola. O governo federal recebeu lideranças do movimento a fim de negociar um acordo – a sanção de uma lei de regulamentação da categoria, aprovada ano passado pelo Congresso Nacional, atendeu parte dos pleitos. A redução no preço dos combus-tíveis foi descartada.

Ainda para a primeira metade de março outras duas manifestações eram aguardadas com expectativa. Uma delas, agendada para 13 de março, prometia reunir em diversas cidades sindicalistas, integrantes de movimentos sociais e li-deranças políticas de esquerda. A mobili-zação teve convocação oficial de dezenas de entidades e contava com um aliado de peso – o ex-presidente Lula. A mobiliza-ção tem como bandeiras o apoio à Petro-bras (desgastada pela Operação Lava Jato) e o combate à corrupção, todavia “contra o viés golpista dado aos fatos pela direita e os setores conservadores da sociedade”.

Os atos de 13 de março surgiram como resposta a convocações feitas, principal-mente por redes sociais, para manifesta-ções marcadas para 15 de março, pedin-do o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Desde que perdeu as eleições presidenciais de outubro, setores da direi-ta esboçam movimentos com o intuito de destituir Dilma. Diante das medidas im-populares, de ajuste fiscal, tomadas pela presidenta depois de reeleita, os defensores do impedimento de Dilma apostam fichas na insatisfação popular para lograr êxito.

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g Produto Interno Bruto (PIB):O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta para 2015 um cres-cimento de 0,3% do PIB brasileiro. Internamente, o mercado prevê retração de até 0,5% para o país. O próprio ministro da Fazenda, Joa-quim Levy, admitiu a possibilidade de recuo. O PIB de 2014 será anun-ciado no dia 27 de março – no acu-mulado de 12 meses encerrados em setembro último, o crescimen-to foi de 0,7%.

g Indústria, comércio e serviços:Em 2014, a produção da indús-tria brasileira caiu 3,2% em re-lação a 2013. Já o comércio viu subir a receita, no mesmo pe-ríodo, em 8,5%; em volume de vendas, o crescimento foi de 2,2%. O setor de serviços ter-minou 2014 com crescimen-to nominal de 6% sobre 2013.

g Mercado de trabalho e renda:O desemprego nacional terminou 2014 com taxa média de 6,8%, me-nor que os 7,1% de 2013 e que os 7,4% de 2012. No ano passado, o mercado formal de trabalho gerou saldo positivo de 397 mil empre-gos, acréscimo de 1% sobre 2013. Na mesma comparação, o salá-rio médio subiu 7%, alcançado R$ 1.181,56/mês. O atual salário míni-mo (R$ 788/mês) tem o maior po-der aquisitivo desde 1965.

g Inflação:A inflação de 2014 foi de 6,1% e fi-cou dentro do teto da meta (6,5%) estipulada pelo Banco Central. No acumulado em 12 meses encerra-dos em fevereiro último, o índice está em 7,7%, puxado sobretudo pelas altas dos combustíveis, ener-gia elétrica e tarifas de ônibus dos dois primeiros meses de 2015.

INDICADORES

Fontes: IBGE, Ministério do Trabalho e Banco Central

AJUSTE FISCAL NÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO, AFIRMAM ECONOMISTAS

Para aprofundar o debate sobre retomada do cresci-mento brasileiro, o Brasil Observer consultou dois professores de economia:

Fernando Ferrari Filho, da Universidade Federal do

Rio Grande do Sul (UFR-GS), e Luciano Wexell

Severo, da Universidade Federal da Integração La-

tino-Americana (UNILA). Confira a seguir a opinião

dos dois a respeito do ajuste fiscal e das alternativas

existentes para o país.

Oajustefiscalvaireconduzir o Brasil ao crescimento?c FERRARI FILHO - O ajuste fiscal é necessá-

rio, mas não é o único caminho. Saímos de uma situação fiscal relativamente confortável antes da crise para uma situ-ação de déficit primário em 2014, mas a dívida pública não recrudesceu. Centrar atenções no ajuste parece ser desconsi-derar que o país tem problemas de de-sindustrialização, desequilíbrio externo, gargalos de infraestrutura, entre outros fatores que contribuem para a pífia dinâ-mica da economia brasileira.

c SEVERO - O ajuste é a alternativa mais custosa para os brasileiros e a mais co-varde para o governo. Durante o se-gundo governo de Lula, mesmo com medidas paliativas, houve impactos po-sitivos em uma economia que estava es-tancada. Prevaleceu uma preocupação com a volta da industrialização e com o fortalecimento do mercado interno. No entanto, depois de 2011, começou uma mudança de rumo e regrediu-se a uma política econômica de caráter liberal, or-todoxo e convencional que conspira con-tra o crescimento e o desenvolvimento.

Que outras medidas econômicas poderiam ser tomadas?c FERRARI FILHO - Políticas monetária e

cambial que induzam os investimentos privados; parcerias público-privadas que expandam a infraestrutura do país; política industrial e reformas tributária, previdenciária e trabalhista; essas e ou-

tras medidas devem estar na agenda do governo. Ademais, temos que torcer para que o cenário internacional melhore, pois, assim, não somente as exportações líquidas podem reverter o déficit comer-cial do país, como os investimentos inter-nacionais podem ser dinamizados. Se in-sistirmos somente no ajuste fiscal (como o alemão), não iremos muito longe.

c SEVERO - O ajuste neoliberal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não é a única opção. O problema é que a preocupa-ção central da coalizão governante não é com a economia nacional ou com o desenvolvimento das forças produtivas internas. Até agora, a proposta gover-namental expressava uma ideia vaga de crescimento com transferência de renda em que todos ganhassem. De fato, foi promovida a melhoria dos indicadores sociais e a ampliação das oportunidades dos mais pobres via ações paliativas de transferência de recursos oriundos de um crescente processo de desnaciona-lização. Mas esta estratégia é insusten-tável. Os financiamentos do BNDES po-deriam promover uma industrialização soberana, com empresas estatais ou de capital privado nacional de porte peque-no e médio.

Qualaposiçãodosinvestidoresestrangeiros nesse cenário?c FERRARI FILHO - Se houvesse um total

descontrole das contas públicas, com elevados déficits primário e nominal e recrudescimento da dívida pública – cuja

consequência é uma maior precificação da taxa de juros por parte dos deman-dantes de títulos públicos (e, portanto, do próprio mercado) –, com certeza a austeridade fiscal poderia resgatar a confiança dos investidores. Não estamos nesta situação, mas temos um proble-ma crítico: entre 2008 e 2014 acumula-mos um déficit em transações correntes da ordem de US$ 390 bilhões. Este é o ponto. Se não revertemos esta situação (e somente o setor de agronegócios não dá conta do recado), poderemos ter, em um futuro próximo ou distante, uma cri-se cambial. O que investidor quer é um ambiente institucional favorável.

c SEVERO - Afirmar que as medidas de ajuste resgatarão a confiança de inves-tidores equivale a uma chantagem fei-ta, sobretudo, pelo mercado financei-ro. O argumento da inevitabilidade do ajuste é falso e tem a finalidade de am-pliar a extorsão dos bancos, dos rentis-tas e de parcela dos exportadores sobre a sociedade brasileira. Os investidores estrangeiros devem vir para contribuir e não para estorvar. Contribuir significa investir, produzir, agregar valor, pagar impostos, gerar empregos, exportar e reinvestir capitais aqui. Tudo dentro da lei e das normas do Estado brasileiro, como ocorre nos países que exigem respeito. A retomada do crescimento depende de políticas anticíclicas. De-pende do Estado, do planejamento, do fomento à industrialização e da expan-são do mercado interno.

Impeachmentdequem?Atéagora,maiormanifestaçãoocorreuemCuritiba:50milafavor da greve dos professores e contra o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB)

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18 brasilobserver.co.uk | March 2015

CONECTANDO

UMA UNIVERSIDADE QUE RESPIRA AMÉRICA LATINA

Na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, UNILA é um polo para o desenvolvimento da integração latino-americana

Por Francisco Denis – de Foz do Iguaçu, Paraná g

HHolá, me chamo Francisco Denis, mais conhecido como Chico Denis. Sou um dos primeiros estudantes bra-sileiros a chegar à Universidade Fede-ral da Integração Latino-Americana (UNILA) para cursar a graduação em Relações Internacionais e Integração, no mês de agosto de 2010. Sou natu-ral da pequena cidade de Quixelo, no interior do Estado do Ceará. Filho de trabalhadores rurais, aceitei o desafio de participar da construção de uma universidade nova por causa de suas características que, desde o primeiro momento, me chamaram a atenção. Isso me fez cruzar mais de 5 mil qui-

lômetros até a cidade de Foz do Iguaçu para seguir a carreira que eu queria.

Como a UNILA é bastante jo-vem – apenas cinco anos – e não está localizada em um grande centro brasileiro, poucos conhecem suas características. Por que, então, essa universidade é tão especial?

Primeiro, ela não poderia estar em lugar melhor: em Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, na fronteira trina-cional entre Argentina, Brasil e Pa-raguai. Além de ser a fronteira mais expressiva em população, economia e importância estratégica para o con-tinente, conta com uma das maiores

belezas naturais da terra, as Cataratas do Iguaçu, que fazem da cidade o se-gundo destino turístico mais visitado no Brasil. O atrativo recebe, somente do lado brasileiro, mais de um milhão de visitantes por ano, sendo que, do lado argentino, a estimativa é quase a mesma. A região possui uma compo-sição étnica muito variada, abrigan-do mais de 72 nacionalidades – com atenção especial à comunidade árabe. A região assiste, nas últimas décadas, a um acelerado processo de integração econômica, cultural e demográfica, num fenômeno único no continente. Nesse novo cenário, o local ganha uma

importante relevância. Somam-se a isso suas assimetrias econômicas, sociais e políticas, que são um ver-dadeiro reflexo do que é a realidade latino-americana, fazendo com que essa área funcione como um ver-dadeiro laboratório no estudo e na formulação de políticas para a inte-gração regional.

O fato de a UNILA estar ali não é por acaso. Trata-se da primeira insti-tuição federal da região, o que mostra a grande importância desse processo de construção de novos conhecimentos e a aplicação destes no desenvolvimen-to local. Pelos diversos desafios que

Foz do Iguaçu

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envolvem a fronteira, a universida-de, por meio da produção e da coo-peração das diferentes áreas do co-nhecimento, tem o dever de atuar no desenvolvimento científico e tecnoló-gico das sociedades, levando a uma construção de uma verdadeira cida-dania regional.

Uma das características que mais me chamou a atenção ao iniciar meu estudos na universidade foi a interdis-ciplinariedade de seus cursos. A UNI-LA tem hoje 29 cursos de graduação em diversas áreas do conhecimento e implantará mais 12 novas carreiras no segundo semestre de 2015. Os cursos

têm caráter diferenciado em relação aos cursos tradicionais de outras uni-versidades, com ênfase nas socieda-des do continente latino-americano. A universidade oferta cursos como de Antropologia - Diversidade Cultu-ral Latino-Americana; Ciência Políti-ca e Sociologia - Sociedade, Estado e Política na América Latina; Ciências Biológicas - Ecologia e Biodiversida-de; Ciências da Natureza - Biologia, Física e Química; Ciências Econômi-cas - Economia, Integração e Desen-volvimento; Cinema e Audiovisual; Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar; Engenharia de Energias

Renováveis; Geografia - Território e Sociedade na América Latina; Histó-ria - América Latina; Música, Relações Internacionais e Integração; Medicina; Biotecnologia; Administração Pública e Políticas Públicas; entre outros.

Na pós-graduação lato sensu ofe-rece seis cursos de especialização e na scricto sensu oferta os mestrados em Integração Contemporânea da Amé-rica Latina e o Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos. Com o processo de expansão da universidade, ao final de 2015, a instituição conta-rá com 41 cursos de graduação. Essa quantidade de cursos em uma federal

que ainda não tem campus próprio preocupa as diferentes organizações de classe da universidade, sendo que a falta de infraestrutura é um dos princi-pais desafios enfrentados desde o iní-cio. A maior parte do movimento estu-dantil, bem como muitos professores e técnicos, foi contra a criação dos novos cursos por entender que essa expansão comprometeria a qualidade do ensino e da aprendizagem universitária. Tra-ta-se de um dos desafios mais impor-tantes que a UNILA terá que enfrentar nos próximos anos.

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UNILA tem estudantes de todos os cantos do Brasil e de outros 11 países da América Latina

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Entrei na UNILA pelo Sistema de Se-leção Unificada (SiSU) com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Esse é o sistema de seleção para alunos brasileiros. Para os demais estu-dantes de países latino-americanos e ca-ribenhos a seleção é feita em seu próprio país de origem pelo respectivo Ministério da Educação. Hoje a UNILA tem mais de 2.300 estudantes de todo o Brasil e de ou-tros 11 países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Haiti, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

A vinda de estudantes dos países vizinhos à UNILA é um desafio funda-mental. A maioria está em situação de vulnerabilidade social e não tem con-dições de permanecer no Brasil sem os auxílios estudantis (moradia, ali-mentação e transporte) ofertados pela universidade. Acontece que a oferta de benefícios é limitada, pois depende dos recursos destinados pelo Ministério da Educação. Nesse caso, nem todos os es-tudantes têm direito aos auxílios, e ter ou não bolsa é fator decisivo para es-colher a UNILA. No processo seletivo deste ano, o número de estudantes es-trangeiros diminuiu. Além dos fatores apresentados, há também os de ordem política dos próprios países, motivados por eleições e mudanças de quadros burocráticos. Esse desafio faz com que a instituição vá aos poucos perdendo sua característica latino-americana e a missão a que se propôs, tendo que bus-car uma estratégica de cooperação com instituições e organismos dos países vizinhos para financiar mais bolsas de estudo – tal como já faz o Paraguai por meio de um acordo entre a UNILA e a Usina de Itaipu, que concede bolsas de estudo para estudantes do país vizinho.

Outra importante característica que diferencia essa instituição de qualquer universidade latino-americana é o pro-cesso de democratização interno exis-tente a partir da conquista da parida-de universitária. Ainda quando eu era representante estudantil no Conselho Universitário, a organização dos estu-dantes foi fundamental para a conquis-ta da paridade universitária não só para eleições para reitor, mas também para o Conselho Universitário, maior ór-gão deliberativo da instituição. A pro-porcionalidade para as três categorias (estudantes, técnico-administrativos e professores) é uma vitória em nome da autonomia universitária e fruto de um processo que visa democratizar as universidades. O entendimento é de que UNILA tem de ser co-construída

entre todas as suas classes de forma democrática, com igualdade de voz e de voto. Após um ano de experiência de paridade, o resultado comprovou que nenhum assunto ou projeto foi prejudicado na universidade, tal como previam muitos daqueles que eram contrários à proposta. Ao contrário, a participação democrática aumentou, fazendo com que as categorias tives-sem mais engajamento e debatessem mais os rumos da instituição.

Posso afirmar que o bilinguismo na UNILA é também umas das principais características que a diferenciam das demais instituições de ensino supe-rior existentes. O português e o espa-nhol no dia a dia das salas de aulas e nas moradias estudantis se misturam com as línguas originárias faladas por estudantes de diversas regiões, como o Guarani (Paraguai), o Aymara e o Quéchua (Bolívia e Peru) e o Chaná

(Uruguai). Essa diversidade linguística mostra que a concepção de América Latina não se restringe a um continen-te nascido da colonização ibérica (Es-panha e Portugal), mas compreende todos os países do continente america-no que falam espanhol, português ou francês, bem como idiomas dos povos originários. O que se busca na UNILA é que todos respeitem essa riqueza e essa diversidade e considerem, prin-cipalmente, a interatividade das dife-rentes áreas do conhecimento como importante ferramenta do saber. O diferencial no ensino está no chamado Ciclo Comum de Estudos, que inclui línguas adicionais (português ou es-panhol), epistemologia e metodologia, além de fundamentos da América La-tina. São disciplinas obrigatórias a to-dos os estudantes de todos os cursos da instituição e oferecidas em módulos durante os quatro primeiros semes-

tres. A ideia é introduzir o estudante às principais questões relacionadas à região, colaborando na construção do conhecimento latino-americano.

No meu caso, convivi com um colega uruguaio por mais de dois anos na mes-ma moradia estudantil, onde tive meu primeiro contato com o espanhol e ele com o português. Essa experiência de conviver no mesmo espaço com jovens de outros países enriquece o aprendizado sobre a cultura e o modo de ver o mundo do outro, o que colabora para construir o respeito, assim como nos leva a compre-ender os problemas e soluções de cada sociedade em nosso continente.

A UNILA é a primeira instituição pública de ensino superior bilíngue da América Latina e tem muitos desafios, mas já começa a colher bons frutos de um projeto universitário que está revolu-cionando a educação superior pública e gratuita no continente latino-americano.

gEsta matéria foi produzida por Francisco Denis, recém-formado no curso de Relações Internacionais e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em parceria com o Projeto CONECTANDO, desenvolvido pelo Brasil Observer junto a universidades do Brasil, da Europa e da América Latina. Para participar e ter seu texto publicado neste jornal escreva para [email protected]

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Parque Tecnológico Itaipu, onde funcionam a maioria dos cursos oferecidos pela UNILA

Com português e espanhol no dia a dia das salas de aulas, bilinguismo é um diferencial

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B R A S I LO B S E R V E R

BRASIL X CHILEBRASIL X CHILESELEÇÕES SE ENFRENTAM DIA 29 DE MARÇO, EM LONDRES >> PGS. 22 E 23SELEÇÕES SE ENFRENTAM DIA 29 DE MARÇO, EM LONDRES >> PGS. 22 E 23

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GUIA PARA NÃO PERDER A PIADA NO JOGO DA SELEÇÃO BRASILEIRA CONTRA O CHILE

Depois do inesquecível 7 a 1, melhor não levar futebol a sério

Por Guilherme Reis

Chega a Londres neste mês de março a maior, mais vitoriosa, mais talentosa, mais es-petacular e dançante seleção de futebol de to-dos os tempos: ela, a temida, a amada S eleção Brasileira! Imagina na Copa!

Opa, espera aí, a Copa do Mundo já foi e ninguém parece empolgado com a seleção canarinho. Afinal, se aquela semifinal contra a Alemanha ainda estivesse rolando, o placar marcaria uns 700 mil a favor dos germânicos. Duvida? Melhor não, pois tem gente que até hoje ouve “Gol da Alemanha!”. Ah se o Neymar tivesse em campo...

Para quem não é muito fanático por fute-bol, pode parecer bobagem. Mas o fato é que, depois daquele fatídico jogo no Mineirão (lá-grimas escorrem do meu rosto... mentira), ficou mais difícil fazer amizades com os grin-gos. Afinal, quase sempre o primeiro papo era futebol: “Ah, você é brasileiro? Eu amo o fute-bol brasileiro!”. Quem em sã consciência fala isso hoje em dia? Está bem, ainda tem quem ame nosso futebol, mas antes isso era tão fácil quanto ganhar do Gabão.

Mas vamos ver pelo lado positivo... Depois daquela derrota (na verdade, depois dos 3 a 0 que tomamos contra a Holanda na disputa pelo terceiro lugar), o futebol brasileiro mudou para melhor! Em uma emocionante guinada de ousadia e alegria, assumiu o posto de téc-nico o inquestionável Dunga (qualquer piada relativa ao fato de ele ser um dos 7, eu disse 7 anões não será aceita pela audiência).

Não sejamos injustos, porém. Em sua se-gunda passagem pela Seleção Brasileira (já que o treinador comandou os selecionáveis de 2006 a 2010), Dunga acumula uma marca insuperável: 100% de aproveitamento. Fo-ram seis vitórias em seis jogos no ano pas-sado, contra Colômbia, Equador, Argentina, Japão, Turquia e Áustria.

Em 2015, as duas primeiras partidas amistosas do Brasil acontecem neste mês de março: primeiro contra a França (arrepios), em Paris, dia 26, e depois diante do Chile (moleza?), em Londres, dia 29.

Quem quiser assistir ao jogo precisa cor-rer para garantir um ingresso. A partida será realizada no estádio do Arsenal, o Emirates Stadium. Até o fechamento desta edição, ainda havia entradas disponíveis a partir de £35 no site oficial do clube www.arsenal.com.

Se você, caro leitor, já tiver comprado seu ingresso e estiver se preparado para encarar o jogo; ou se você já está dentro do estádio aguardando o hino nacional ser tocado; ou ainda se não tem o menor interesse em fu-tebol e, por algum motivo inexplicável, tiver chegado até aqui neste texto; tenho algumas dicas para você não perder a esportiva se alguma coisa sair errado nas quatro linhas – ou até antes do jogo, porque sempre tem um engraçadinho para lembrar que, sim, tomamos 7 a 1, com muito orguuulho, com muito amooor...

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REVANCHE

BRASILEIROS INGLESES

TRICAMPEÃO NO BANCO

DEPOIS DO CHILE, O CHILE

GOL DA ALEMANHA

NEGÓCIO DA CHINA

ALEXIS EM CASA

Antes do tal 7 a 1, o mundo era outro. Impeachment era uma palavra dos anos 1990, os moradores de São Paulo toma-vam banhos sem se preocupar e a torcida brasileira realmente acreditava que sería-mos campeões do mundo. Quem não se lembra daquela sofrida disputa de pênal-tis contra o Chile nas oitavas de final da Copa? Haja coração! Pois é, os chilenos devem lembrar mais da-quele dia do que a gente (afinal, temos outro muuuito melhor pra recordar, não é?). Então nada mais justo que, diante de qualquer men-ção infeliz àquele número dois pontos acima

do cinco, humilhemos nossos adversários imi-tando o Júlio César defendendo uma cobran-ça de penalidade. OK, não parece muito divertido. Mas, caso o Brasil perca o jogo, acho digno gritar “Quan-do valia mesmo vocês amarelaram!”. Ou não, porque o Brasil é amarelo e pode pegar mal. Vai que eles revidam com “7 a 1!”. Bom, paci-ência, melhor insistir no argumento “quando valia mesmo vocês tremeram” e repetir isso incessantemente. Afinal, para eles o jogo é uma revanche (risos), como disse o jogador chileno Charles Aránguiz: “Há uma espinha entalada com o Brasil”.

Ao todo cinco jogadores brasileiros convoca-dos para a partida atuam no futebol inglês: Filipe Luis, Oscar e William, do Chelsea, Fer-nandinho, do Manchester City, e Philippe

Coutinho, do Liverpool. E daí? E daí que podemos nos aliar aos ingle-ses torcedores dessas equipes para sacane-ar os chilenos - caso seja necessário, é claro.

Esta é minha favorita. E não tem a ver com goza-ção aos chilenos. Afinal, os chilenos são gente boa e não têm culpa pelo nosso desastroso desempe-nho na Copa que resolveram fazer no Brasil.Estará no banco de reservas, como auxiliar técnico especial, um monstro sagrado do futebol brasileiro: Jairzinho, o furacão do tri-campeonato mundial da Seleção Brasileira em 1970. O cara é até o hoje o único jogador

a marcar gol em todos os jogos disputados em uma mesma Copa do Mundo – foram sete tentos naquele Mundial.Jogos amistosos normalmente são mornos, cheios de toques para o lado, corridas pregui-çosas e torcedores sonolentos. Se isso aconte-cer, podemos pedir a entrada de Jairzinho em campo – se ele der uma corridinha lateral na área técnica já vai ser o melhor lance do jogo!

Depois de enfrentar o Chile, a Seleção Bra-sileira jogará, nos meses de junho e julho, a Copa América, que será disputada no Chile. Diante disso, vale a pena dar alguns conselhos aos nossos queridos hermanos sobre como é se-

diar um evento futebolístico. “Relaxa, cara, não é porque a competição é em casa que você tem que ganhar...”. Ou: “Fique tranquilo, a Alemanha não joga a Copa América...”. Ou ainda: “Posso ficar na casa da sua família durante o torneio?”.

Depois de tudo isso, se você não entrar no clima, não se preocupe. Pense que nada pode ser pior

do que já passou. E, afinal, estamos há quase um ano sem tomar um golzinho sequer da Alemanha!

Pela primeira vez na história da Seleção Brasi-leira, um jogador que atua na China foi convo-cado: Diego Tardelli, do Shadong Luneng. Caso Tardelli faça um gol, podemos trocar o

“R” das palavras pelo “L” e fazer piadinhas infames indicando que até chinês faz gol no Chile. “Chi, Chi, Chi... Rê, Rê, Rê... Toma ChiRê!”. Que tal? Péssimo...

Para isso, no entanto, temos que ter em men-te que o atacante chileno Alexis Sháncez joga pelo Arsenal, então não é tooodo torcedor in-glês que vai estar do nosso lado na zoeira sem limites. O jogador, aliás, está bem convidativo: “Daremos as boas-vindas à Seleção Brasileira

em nosso estádio”, disse ao site do Arsenal.Tudo bem, ele parece ser um cara legal. Mas, se Sanchéz começar a criar problemas pra nossa zaga, podemos organizar uma vaia com os torcedores das equipes rivais do Ar-senal. Será que algum inglês topa?

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DICAS CULTURAIS

CINEMA SHOWSReview: América Latina para inglês ver Por Gabriela Lobianco

EMICIDAQuando: 24 de abrilOnde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road) Ingresso: £15 | Info: www.comono.co.uk

FLÁVIA COELHOQuando: 18 de maioOnde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road) Ingresso: £15 | Info: www.richmix.org.uk

ELIANE ELIAS & ED MOTTA Quando: 4 de maioOnde: Barbican Hall Ingresso: £20–35 | Info: www.barbican.org.uk

CAETANO VELOSO & GILBERTO GILQuando: 1º de julhoOnde: Eventim Apollo (45 Queen Caroline Street) Ingresso: £45.75–£67.75 | Info: www.eventim.co.uk

Trash – A esperança vem do lixo revela a visão política de um britâ-nico sobre o Terceiro Mundo, seus governantes e sua pobreza. O Brasil de Stephen Daldry, porém, é fictí-cio – mesmo que o diretor tenha morado no país durante os últimos dois anos, para tocar o projeto de adaptação do livro homônimo de Andy Mulligan.

O best-seller foi baseado nas experiências do escritor ao ensinar inglês e teatro em quarto lugares: Índia, Filipinas, Vietnã e Brasil. Por questões de logística, Daldry e o ro-teirista Richard Curtis, em parceria com a O2 de Fernando Meirelles, optaram pelo cenário tupiniquim para narrar a saga dos amigos Rafa-el, Gardo e Rato para o cinema.

A história percorre as aventuras e desventuras de três garotos da favela que encontram uma carteira no li-xão em que trabalham, e que passam a se envolver numa trama de caça ao tesouro, com ações de uma polícia corrupta e a ajuda divina na forma de um padre gringo.

Como o diretor teve seus qua-tro filmes anteriores indicados ao Oscar (Billy Elliot, As Horas, O Lei-tor e Tão Forte e Tão Perto), houve grande expectativa sobre o projeto de rodar um filme no Brasil, falado em português e com a presença dos atores americanos Martin Sheen e

Rooney Mara no elenco. Mas o tiro saiu pela culatra.

Em Billy Elliot, as câmeras captam com sagacidade o desconforto desa-jeitado que o bailarino Billy tinha com o pai inglês – um incômodo inerente ao comportamento dos ingleses e sua cultura. É justamente essa perspectiva de quem faz parte e não de quem é es-pectador que falta no filme Trash – A esperança vem do lixo.

Stephen Daldry deixa a desejar por não ter bagagem cultural para mostrar em cenas um Brasil menos estereotipado. Falta-lhe convenci-mento, com desenvoltura e intimi-dade, para retratar a pobreza mar-ginalizada daqueles meninos que querem ser a esperança de um futuro melhor como alegoria àquele supos-to país cheio de policiais e políticos corruptos. Mesmo a competência de Sheen como ator fica insuficiente ao interpretar o padre Juilliard – seu esforço para falar português acaba por ser mecânico e o sentimento de indignação que o personagem exige, se perde na tela.

No fim, a mise-en-scène do fil-me se resume a uma mistura de ar-tigos sobre países emergentes como Quem quer ser milionário? ou o próprio Cidade de Deus, do Meirel-les. Apesar do alto orçamento, Trash – A esperança vem do lixo foi feito mesmo só para inglês ver.

Das batalhas de MC na periferia de São Paulo ao renomado festival Coachella, nos Estados Unidos, Emicida carrega na baga-gem uma relevante trajetória dentro músi-ca. Ao lado de Criolo, é hoje provavelmente a principal voz do rap brasileiro, misturan-do temas, ritmos e formando parcerias com diversos nomes da nova geração.

Em 2012, Emicida esteve em Londres para o festival Back2Black. No mês que vem, ele volta à capital britânica dentro do La Li-nea, festival organizado pelo Como No, de 21 a 30 de abril. Será uma excelente oportu-nidade para conferir o que de melhor o rap brasileiro produz, com espaço para outras batidas, como samba, funk, soul e maracatu.

Criada nas tradições do samba e da bossa nova, Flávia Coelho é uma cantora brasileira versátil que passeia com leveza por ritmos que misturam do reggae ao hip-hop. Fora do Bra-sil desde 2006, quando se mudou para Paris, Flávia encantou a crítica especializada com seu primeiro disco, ‘Bossa Muffin’, que lhe garantiu grande repercussão no Reino Unido, com di-

reito a participação no London Jazz Festival. Em 2015, Flávia Coelho volta a Londres para

abrir o festival Serious Space Shoreditch. A apre-sentação acontece uma semana depois do lança-mento de seu novo disco, ‘Mundo Meu’, produzi-do por Victor-Attila Vagh. O novo trabalho revela uma visão de mundo diversa, com a junção de ritmos como funk, afrobeat, forró e samba.

Duas faces da música contemporânea do Brasil se reúnem para apresentação única no Barbican, em Londres, no mês de maio. A pianista e vocalista de jazz Eliane Elias sobe ao palco ao lado do cantor, compositor e multi-instrumentista de soul Ed Motta.

O último álbum de Eliane, ‘I Thought About You’, foi um tributo ao seu amigo e

lenda do jazz Chet Baker. Já o último registro de Ed Motta foi ‘AOR’, gravado em duas ver-sões, em inglês e português.

O repertório do show conta com mú-sicas da longa carreira dos dois músicos, incluindo faixas do novo álbum de Eliane Elias, ‘Made in Brazil’, cujo lançamento es-tava marcado para o dia 31 de março.

Caetano Veloso e Gilberto Gil não preci-sam de apresentações: são nomes consagra-dos da Música Popular Brasileira. Em julho, os dois sobem ao palco em aparição raríssi-ma para o público de Londres.

A cidade, aliás, faz parte da trajetória pes-soal e artística dos dois. Na virada da década de 1960 para 1970, após o auge do movimen-

to musical que ficou conhecido como Tropi-cália, Caetano e Gil passaram um período de exílio na capital britânica – o Brasil vivia os anos mais difíceis da ditadura civil-militar. Daquela época, ambos guardam memórias que certamente serão lembradas em forma de relatos e canções. O público deve pedir que Caetano cante “London, London”.

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25brasilobserver.co.uk | March 2015

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EXPOSIÇÕESIRIS DELLA ROCA Quando: 14 a 21 de marçoOnde: The Little Black Gallery (13A Park Walk)Info: www.thelittleblackgallery.com

RAFAEL SILVEIRAQuando: 19 de março a 11 de abrilOnde: Atomica Gallery (7 Greens Court) Info: www.atomicagallery.com

ADVENTURES OF THE BLACK SQUAREQuando: Até 6 de abril Onde: Whitechapel GalleryInfo: www.whitechapelgallery.org

LUCAS SIMÕESQuando: Até 11 de abril Onde: Space in Between (8 Andrews Road)Info: www.spaceinbetween.co.uk

Em 2009, a fotógrafa Iris Della Rocca se mudou para o Rio de Janeiro e passou a viver na favela da Rocinha. Lá começou um proje-to em que crianças podiam expressar quem realmente eram posando para fotografias e revelando seus sonhos. Os retratos mostram o poder e orgulho dessas crianças e trazem vida nova ao ambiente ao redor.

Exposição Mind’s Eye Funfair revela as pinturas do artista brasileiro Rafael Silveira, de Curitiba, cujo trabalho imaginativo com-bina pintura figurativa clássica, imagens ins-piradas em histórias em quadrinhos e temas surreais. Suas pinturas convidam o especta-dor a abandonar os paradigmas cotidianos e abraçar o desconhecido.

A partir da pintura radical de Kazimir Malevich, esta exibição apresenta o traba-lho de mais de 100 artistas que seguiram seu legado, de Buenos Aires a Teerã, Londres a Berlin, Nova York a Tel Aviv. As pinturas, fo-tografias e esculturas simbolizam as utópicas aspirações do Modernismo, incluindo traba-lhos de Hélio Oiticica.

Perpetual Instability é a primeira exibi-ção solo de Lucas Simões em Londres. Nela, o artista brasileiro usa instalações de concre-to para responder à realidade da arquitetura brutalista. A mostra é a primeira parte de um projeto de intercâmbio que levará o ar-tista Simon Linington a expor suas obras em exibição solo em São Paulo.

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26 brasilobserver.co.uk | March 2015

COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

SOBRE O SUCESSO

Dinheiro, fama e posses oferecem satisfações fugazes, podem ajudá-lo a alcançar o

sucesso, mas não são tudo

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs

Sucesso, de acordo com o dicio-nário de língua inglesa de Oxford, é a realização de um objetivo ou pro-pósito, também visto como o alcance de fama, riqueza ou status social. No mais arcaico dos significados, sucesso define o resultado positivo ou negati-vo de uma empreitada.

O sucesso, a bem da verdade, é um tema muito subjetivo, mas uma coisa é certa: não significa necessa-riamente qualidade de vida. A forma como alcançamos e usamos o sucesso faz toda a diferença.

Durante o ano passado uma série de peças teatrais, tanto no circuito pe-riférico quanto no central, celebrou a falta de sucesso, levando-nos a olhar nossa própria humanidade na face. Na Royal Court, a peça How to hold your breath apresenta uma mulher em espi-ral descendente em direção a sua própria crise financeira pessoal. No festival Wri-te Now, que acontece no Brockley Jack em maio, serão abordados temas como a nova geração que, no mundo inteiro, se sente perdida e impotente, principal-mente por ter fracassado em suas em-preitadas e sonhos. O novo musical de Almodóvar, Women on a verge of a ner-vous breakdown, também é construído a partir do fracasso: o desespero, a rejeição, o desgosto que vem com o amor traído. Todos, porém, são na verdade tributos à capacidade de sobrevivência dos perso-nagens. Algumas pessoas têm a força de nunca desistir diante das adversidades, e daí nasce seu sucesso.

O teatro, como todas as formas de arte, está sempre tentando nos fazer pensar, questionar nossas ações, mos-trando num espelho nossas falhas, na esperança de provocar uma mudança positiva na sociedade. Pegue como exemplo o pedestal da Trafalgar Squa-re, onde agora fica o esqueleto de um cavalo que está sendo arrastado pelos arcos da bolsa de valores. É um sím-bolo das medidas de austeridade do atual governo. Espero que isso faça as pessoas pensarem sobre seus votos na

próxima eleição. A maioria da popu-lação foi deixada como aquele cavalo: esquelético e mal nutrido. Até Boris Johnson disse algo na linha de que a escultura representa a política eco-nômica de George Osborne. É uma peça corajosa de arte que nos provoca imensamente e mostra o que o suces-so pode fazer.

Em seu livro Seven Paths to Global Harmony, Daisaku Ikeda inclui um capítulo sobre autodomínio, diálogo, tolerância e o “Caminho da Cultura”, que fala sobre a revolução humana em termos de autodomínio. Simplificando, isso significa ganhar o controle sobre si mesmo, superando o “pequeno eu” que é dominado por interesses próprios e despertando o “eu maior”, que traba-lha para o bem de todos. Deste ponto de vista, um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de nós mes-mos é o modo de vida vinculado ao pequeno ego. A expansão do eu infe-rior ao maior é o caminho da revolução humana. Daisaku Ikeda afirma que “o sucesso não é uma questão de acumu-lar mais disso ou daquilo, não é medi-do em quantidade, significa mudar a qualidade de sua vida. Riqueza, poder, fama e conhecimento não farão você feliz, não importa o quanto você adqui-ra de tudo isso. Não se pode mantê-los após a morte. Mas, melhorando a qua-lidade de sua vida, você vai pelo menos se aproximar da verdadeira felicidade”.

Tais coisas como dinheiro, fama e posses materiais oferecem satisfações fugazes, podem ajudá-lo a alcançar o sucesso, mas não é o princípio nem o fim de tudo. Sucesso reside na busca da felicidade; não é uma rua de mão única. É uma viagem constante. Ao paramos de tentar, falhamos. Como Samuel Beckett escreveu: “Tudo de outrora. Nada mais nunca. Nunca tentado. Nunca falhado. Não importa. Tentar de novo. Falhar de novo. Falhar melhor”.

A maioria da população foi deixada como aquele cavalo no pedestal da Trafalgar Square: esquelético e mal nutrido

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7pm - Clube do Choro UK

Showcasing choro music in a traditional roda (circle)

Fusion between choro and Samba de Raiz

Midnight - Samba de Raiz

Finish the night in Brazilian samba style!

Lapa in London is supported by The BrazilianEmbassy, The Forge and Clube do Choro UK

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29brasilobserver.co.uk | March 2015

COLUNISTAS

RICARDO SOMERA

ENTRE DADOS E METADADOS“Não podemos deixar que o Estado

ou qualquer organismo mantenha dados, metadados, logs e registros de quem não é suspeito de um crime. Ao aceitarmos que eles possam guardar dados de todos nós porque em potencial podemos ser um pedófilo ou um terrorista, isso é um equi-voco, uma inversão da lógica de que todos nos somos inocentes. E eles inverteram isso, principalmente após o 11 de setem-bro. Numa sociedade em que passamos cada vez mais vezes em redes cibernéti-cas, ou seja, redes onde a interação é fei-ta a partir do controle, nós não podemos permitir que o controle técnico se torne o controle político, cultural, da nossa vida. E é por isso que é legal esse filme ter ga-nhado o Oscar. Temos que avançar, de-nunciar e aprender a criptografar pra falar com sua mãe, pois eles vão escanear essa mensagem, vão gastar uma grana pra po-der quebrar essa mensagem e essa mensa-gem vai estar escrito ‘oi mãe!’”.

Assim Sergio Amadeu, sociólogo e pesquisador de cibercultura e professor

da UFABC, começou no bairro do Bixiga, em São Paulo, o debate sobre o documen-tário vencedor do Oscar, Citizenfour (da diretora Laura Poitras), que documenta as primeiras revelações de Edward Snow-den ao jornalista Glenn Greenwald (The Guardian) sobre a espionagem realizada pelos Estados Unidos, através da NSA (Agência de Segurança Nacional Ameri-cana), de todos os cidadãos indiscrimina-damente com dados de empresas privadas como Google, Facebook e Verizon. O fil-me é um excelente documento e um pre-cioso registro para os hackers, ciberativis-tas e para toda a sociedade se inspirarem e se unirem em rede pelo mundo e não se acomodarem com um sistema pré-estabe-lecido, restritivo e desigual.

“A única forma de manter documen-tos sigilosos na rede, é a rede. É usando os sites espelhos”, comentou Sérgio Ama-deu. Ele exemplificou que quando ilegal-mente a Amazon foi pressionada a tirar o Wikileaks do ar mais de 800 sites no mundo tinham replicado o mesmo con-

teúdo em vários continentes diferentes. Só a rede pode proteger e distribuir as informações, de acordo com o sociólogo.

É difícil separar o filme do debate já que mais do que nunca a conexão cibernética é indispensável. O indicado ao prêmio No-bel da Paz chacoalhou o mundo com reve-lações como a da espionagem americana a chefes de Estado, entre eles a nossa presi-denta Dilma, que na ocasião cancelou uma visita diplomática aos Estados Unidos.

O que eu acho de mais interessante no documentário é a construção de um novo herói, de alguém que realmente deveria ser mais reconhecido pela sua coragem e senso de coletividade e colaboração.

Hoje Edward Snowden está exilado na Rússia e é acusado por vários crimes nos Estados Unidos, entre eles o de es-pionagem. Alguns grupos no Brasil já pediram para que a presidenta Dilma conceda asilo político a Snowden, mas isso dificilmente acontecerá nesta vida.

O filme já está disponível online: thoughtmaybe.com/citizenfour

Debate sobre o documentário ‘Citizenfour’ em São Paulo chama

atenção para a segurança e a privacidade na rede

g Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá-lo no Twitter

@souricardo e Instagram @outrosouricardo

ARTESANATO DE PÁSCOA1 dia £30.00 – material incluso

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30 brasilobserver.co.uk | March 2015

VIAGEM

BONITO FAZ JUS AO NOME Premiada na feira World Travel Market, em Londres, como melhor

destino de turismo responsável, cidade no Mato Grosso do Sul en-canta pelas belezas naturais e opções de lazer

Por Cati Calixto

A pessoa que criou aquele conhecido estereótipo segundo o qual o Brasil é um país onde todas as pessoas vivem em uma floresta paradisíaca; tomam banho em rios cristalinos; se alimentam de peixes e frutos regionais; e estão acostumadas a ver, com frequência, araras incrivelmen-te coloridas, tucanos e macacos deve ter visitado Bonito, no Mato Grosso do Sul, para tamanha inspiração.

Com quase 21 mil habitantes, a peque-na cidade localizada na Serra da Bodoque-na, na borda sudoeste do Pantanal, encan-ta pela beleza natural e se agiganta com a estrutura turística que oferece. Não é raro ver gringos circulando pela rua principal, entrando de loja em loja para comprar artesanatos, ou se esbaldando nos bares e restaurantes de primeira que existem por lá. Tudo em meio aos brasileiros de dife-rentes regiões do país que chegam com apenas um propósito: constatar que a ci-dade de Bonito, na verdade, é linda.

A quantidade de passeios disponíveis, todos voltados ao ecoturismo, é imensa. Por isso, para quem pretende visitar a re-gião pela primeira vez, vale a pena selecio-nar as atrações consideradas imperdíveis. A reserva desses passeios é feita de ma-neira bastante organizada, e é oferecida exclusivamente por agências devidamen-te regulamentadas de acordo com as leis de turismo e de preservação ambiental. Como a cidade é muito concorrida, é im-portante reservar tudo com antecedência, o que também vale para as diversas pou-sadas e hotéis.

ÁGUA CRISTALINA

Minha passagem por Bonito foi relati-vamente curta. Em uma manhã, visitei a inacreditável Gruta do Lago Azul, um dos cartões postais de da região. Os raios de sol por volta das 9h da manhã conseguem penetrar diretamente a entrada na gruta, iluminando o lago subterrâneo. A luz so-lar, combinada com a composição da água – rica em calcário e magnésio –, faz com que o lago brilhe em um tom de azul sim-plesmente indescritível. Até a vista “a olho nu” do lago nos faz acreditar que estamos diante de uma montagem de Photoshop.

Só é possível descer a gruta em grupos fechados e acompanhados, obrigatoriamen-te, por um guia. Além disso, o local disponi-biliza todos os equipamentos de segurança obrigatórios para realizar a descida. Exceto a trilha que utilizamos para descer até a beira do lago, todo o restante da gruta permanece praticamente intocado – apenas pesquisa-dores que estudam o local têm permissão para explorar outros pontos da caverna. O passeio é rápido, mas obrigatório.

No mesmo dia, visitei o Aquário Natu-ral Baía Bonita. Neste passeio, faz-se flutu-ação na nascente do principal rio de Bo-nito, o Formoso. Os equipamentos, como

trajes de banho e máscaras, são fornecidos e o passeio também é realizado em grupo, com acompanhamento de um guia. An-tes da flutuação no rio, é feito um curto treinamento em uma piscina, e tudo fica mais fácil. Durante a flutuação, é possível observar as mais de 30 espécies de peixes que são encontradas nos rios da região. A sensação é de pertencimento: os cardumes nadam pertinho de você e a vegetação su-baquática é de encher os olhos.

A água é tão cristalina que nos permite observar as plantas subaquáticas realizan-do fotossíntese (bolhinhas de ar saem das folhas verdíssimas). Além disso, ver o fun-do da nascente borbulhando, devido à água que sai dos lençóis freáticos, nos faz pensar como a natureza mantém tudo sempre no lugar. Para não contaminar a água da nas-cente, precisamos tomar uma ducha antes de iniciar a flutuação para retirar cloro, protetor solar, repelente ou qualquer outro produto químico que esteja no corpo. A beleza do lugar é tamanha que nem liguei de ser comida viva por mosquitos.

AVENTURA

Bonito, porém, não é só deslumbramen-to e belas paisagens. Dá para aproveitar a beleza natural da região com aventura – e muita, por sinal. O Eco Park Porto da Ilha oferece um “combo” de atividades que po-dem ser feita durante um dia inteiro, como passeio de duck, passeio de bote, boia-cross e stand up paddle. A estrutura do complexo banhado pelo Rio Formoso tem ainda área para banho, cachoeiras e espaço para des-canso – para relaxar um pouco, afinal.

O passeio de duck é feito em duplas em uma espécie de caiaque inflável. Os guias dão dicas de como remar e depois a gente se vira para descer alguns metros rio abaixo, incluindo a descida de algumas cachoeiras. O passeio de bote tem o mesmo propósito, a única diferença é que, além do percurso ser maior, em cada bote vai um grupo de apro-ximadamente 10 pessoas. Alguns ajudam a remar, juntamente com o guia, que vai sen-tado atrás direcionando o bote.

O boia-cross, apesar de ser rápido, é um passeio divertido. Vale pelos tombos que a gente leva ao descer três cachoeiras – difícil se manter em cima da boia em todas elas. Já o stand up paddle consiste na prá-tica de ficar em pé em uma prancha para remar. No começo, ficar em pé em cima da prancha é quase impossível, mas depois que você pega o jeito, a brincadeira fica di-vertida e até um pouco relaxante.

Quem vai à Bonito não pode deixar de fazer outra flutuação, desta vez no Rio Su-curi. O pequeno rio está entre vários que deságuam no Rio Formoso e sua água está entre as mais cristalinas do mundo. A água é muito fria, mas a sensação de ter a leve correnteza do rio te levando suavemente pelos 1,6 km de flutuação é maravilhosa.

DIV

ULG

ÃO

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31brasilobserver.co.uk | March 2015

QUANDO IR

COMO CHEGAR

ONDE FICAR

A melhor época para apreciar a paisagem é no período de chuvas - de dezembro a março -, quando a vegetação está verdinha, o nível dos rios mais alto e as cachoeiras, bastante caudalosas. No inverno, apesar de os campos ficarem secos e as queimadas serem constantes, as águas ficam mais claras, aumentando a visibilidade.

De avião. A empresa Azul (www.voeazul.com.br) faz voos de Campinas a Bonito, indo às quartas e voltando aos domingos. O aeroporto de Dou-rados, a 254 quilômetros de Bonito, também recebe voos da Azul, pro-venientes de Campinas, duas vezes por dia. Já o aeroporto de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, que opera voos de diversas com-panhias, fica a 310 quilômetros da cidade.De ônibus. As empresas Gontijo (www.gontijo.com.br), Motta (www.motta.com.br) e Andorinha (www.andorinha.com) têm ônibus partindo de diversas capitais do país com destino a Campo Grande. Já a viação Cruzeiro do Sul faz a linha de Campo Grande até Bonito.

Há diversas opções de hotéis e pousadas em Bonito, para diferentes gos-tos e orçamentos. Na baixa temporada – fora dos meses de verão e férias escolares – é possível encontrar diárias a partir de R$ 90.

g Para mais informações, acesse www.turismo.bonito.ms.gov.br

Na natureza selvagem, mas sob cuidados: Bonito é o principal destino do Brasil para os

praticantes de ecoturismo

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32 brasilobserver.co.uk | March 2015

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