brasil observer #23 - portuguese version

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BRASIL OBSERVER BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDON EDITION ISSN 2055-4826 #0023 DECEMBER|JANUARY ANO NOVO... ...E O QUE ESPERAR PARA O BRASIL DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO CRIOLO EM LONDRES Rapper brasileiro conversa com o Brasil Observer PARAÍSOS ESCONDIDOS Quem não tem sonhado com o calor do Brasil?

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O QUE ESPERAR PARA O BRASIL EM 2015

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Page 1: Brasil Observer #23 - Portuguese Version

B R A S I LO B S E R V E R

Bruno Dias / EstúDio rufus (www.rufus.art.Br)

www.brasilobserver.co.ukloNDoN eDiTioN issN 2055-4826 # 0 0 2 3DECEMBER|JANUARY

ANO NOVO......E O QUE ESPERAR PARA O BRASIL

Divulgação Divulgação

CRIOLO EM LONDRESRapper brasileiro conversa com o Brasil Observer

PARAÍSOS ESCONDIDOSQuem não tem sonhado com o calor do Brasil?

Page 2: Brasil Observer #23 - Portuguese Version

SUMÁRIO4

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8

18

6

16

10

21242630

AnA ToledoDiretora de Operações

[email protected]

Guilherme reisDiretor de Redação

[email protected]

roberTA schwAmbAchDiretora Financeira

[email protected]

ediTorA em inGlêsKate Rintoul

[email protected]

desiGn e diAGrAmAçãoJean Peixe

[email protected]

colAborAdoresAlec Herron, Bianca Brunow, Franko Figueiredo, Gabriela

Lobianco, Leticia Faddul, Marielle Machado, Michael

Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo

Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Tiago Lobo,

Wagner de Alcântara Aragão

impressãoIliffe Print Cambridge Ltd.

disTribuiçãoEmblem Group Ltd.

pArA AnunciAr [email protected]

020 3015 5043

pArA [email protected]

pArA suGerir pAuTA e colAborAr

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em Foco Agências de inovação fecham acordo em Londres

coneXão br-uK Brasileiros chegam ao Reino Unido para estudar turismo

perFilCaio Locke: metade inglês, metade brasileiro

conecTAndoEm Aracajú, ações coletivas movimentam a cultura local

colunisTA conVidAdo Joe Hewitt escreve sobre o projeto Street Child World Cup

brAsiliAnceO que o escândalo da Petrobras diz sobre o Brasil

brAsil em 2015Economia, Movimentos Sociais e Diretos Humanos

GuiACriolo se prepara para apresentação única em Londres

dicAs culTurAis

colunisTAs

ViAGem

london ediTion

6

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É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

Page 3: Brasil Observer #23 - Portuguese Version

B R A S I LO B S E R V E R

e

E D I T O R I A L

Então ficamos assim: depois da mais acirrada eleição presidencial do Brasil pós-redemocratização, falta capital político para que Dilma Rouseff (PT) coloque em prática, em seu segundo mandato, as ideias pelas quais recebeu a maioria dos votos nas urnas de outubro passado. É diante dessa realidade que des-ponta 2015. Vejamos.

Durante a campanha eleitoral, principalmente depois do primeiro turno, Dilma adotou o que muitos consideraram “uma linha mais à es-querda” para pontuar claramente as diferenças entre ela e seu adversário, Aécio Neves (PSDB). A este último, representante inequívoco da emissão conservadora, colou-se a pecha do projeto tucano que de 1994 a 2002 pouco produziu além da mal expli-cada estabilidade econômica (na re-alidade, estabilidade dos mais ricos). Com Aécio, afinal, o país seria traga-do pelos interesses do mercado, dos banqueiros, rumo a um cenário de arrocho salarial, perda de empregos, alta dos juros e desmantelamento das políticas sociais.

Dilma, por sua vez representante de um modelo neodesenvolvimentis-ta comprometido programaticamen-te com o crescimento da economia e com a redistribuição de renda, con-duziria o país rumo a um novo ciclo de desenvolvimento sem sucumbir às pressões neoliberais que levaram a economia mundial ao colapso.

Diante de difícil escolha, a maio-ria do eleitorado optou pelo projeto que permitia, no mínimo, pequena dose de esperança – por um gover-no soberano que acelerasse a redu-ção das desigualdades entre ricos e

pobres, pavimentando a construção de uma democracia social.

Vitoriosa nas urnas, Dilma age como se tivesse sido derrotada. Este jornal alertou, na edição de novem-bro, que na condução da política econômica do segundo mandato – claramente carente de novas di-retrizes – a presidenta enfrentaria o risco de adotar o discurso que combateu na campanha eleitoral, perdendo credibilidade dentro da correlação de forças nacionais. A escolha da equipe que comandará a economia a partir de 2015 confirma a hipótese (leia na página 10).

Não é estranho que a oposição continue agindo como se as elei-ções não tivessem terminado. Ao confirmar a guinada à direita na economia, Dilma passou a mensa-gem de que admitiu o erro. É natu-ral que seus adversários sintam-se mais confiantes diante disso.

Tal Consenso de Brasília, em verdade, nada tem de novo. O mes-mo foi feito pelo ex-presidente Lula quando assumiu seu primeiro man-dato em 2002. Na ocasião, compro-meteu-se com as diretrizes macro-econômicas herdadas de Fernando Henrique Cardoso assinando a fa-mosa Carta aos Brasileiros. A con-juntura, porém, não é a mesma.

Com Lula, o Brasil tinha diante de si um cenário internacional de expansão econômica, e o alto pre-ço das commodities garantia a ca-pacidade de acumular o excedente necessário para avançar em áreas sociais. Essa não é mais a situação do mundo, por isso a estratégia de “reconciliação” com o mercado pode não dar certo.

A resposta que Dilma espera é o aumento dos investimentos privados – e o consequente reaquecimento da economia –, mas isso não se assegu-ra apenas nomeando ministros que agradem a uma elite financeira. A re-ação positiva da mídia conservadora nacional e internacional é efêmera. A contrapartida, se vier, vai demorar a chegar e o preço cobrado será muito maior. Até onde Dilma está disposta a seguir o receituário das agências de classificação de risco?

Não se trata, obviamente, de demonizar o mercado como se es-tivéssemos no século passado. Mas de entender que a construção de um novo ciclo de desenvolvimento passa pela absorção das lições de experiências anteriores. E a prin-cipal delas é que o mercado sozi-nho não é suficiente para garantir o progresso ou a estabilidade dos sistemas econômicos, muito menos o bem estar dos cidadãos.

Como tornar o Brasil um país viável sem que se discuta o montan-te gasto com o pagamento dos juros da dívida pública? Como enfrentar de fato a desigualdade social sem debater uma reforma tributária que taxe mais as grandes fortunas do que os ganhos dos mais pobres? E como fazer isso com a participação da sociedade, ou seja, com mais de-mocracia? O ano de 2015 tem que ser rodeado por esses temas.

COMISSÃO DA VERDADE

No dia 10 de dezembro foi en-tregue o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que durante dois anos e sete meses investigou

os crimes contra a humanidade cometidos por agentes do Estado durante o regime militar no Brasil (1964 – 1985). Ao todo, 434 vítimas foram reconhecidas pela comissão, que apontou 377 pessoas como res-ponsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos durante o período – entre elas pre-sidentes, tenentes, generais, diplo-matas, médicos legistas, policiais militares e civis.

De um lado, criticam a comissão por não ter investigado os crimes cometidos por grupos guerrilheiros de esquerda – como se a resistência armada de “aparelhos” descentrali-zados fosse compatível com a po-lítica de Estado ilegal colocada em prática pela ditadura militar, que transformou perseguição política, tortura e assassinato de opositores em práticas sistemáticas de manu-tenção do poder. A Comissão da Verdade acertou ao focar nos cri-mes dos poderosos.

De outro, criticam a comissão por não ter caráter punitivo, ou seja, as investigações não levarão os responsáveis pelos crimes à justiça – como fizeram países vizinhos, no-tavelmente Argentina e Chile. Isso não tem a ver com a comissão em si, mas com o caráter conciliatório do Estado brasileiro. Ainda que crimes contra a humanidade não prescre-vam, o Supremo Tribunal Federal já negou a revisão da Lei da Anistia, que há 35 anos mantém impunes as violações do regime militar. Ain-da que o trabalho da Comissão da Verdade seja louvável, difícil medir quem saiu ganhando, a democracia ou a impunidade.

CONSeNSO De BRASÍLIA

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4 brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

Nos últimos dez anos, mais de 35 milhões de brasileiros saíram da pobreza e da pobreza extrema. Além disso, o Brasil tem sido o único país do BRIC a combinar crescimento econômico com redução da desigualdade. Com alta propensão ao consumo, a crescente demanda da classe média representa grande oportunidade para as empresas

A agência de inovação brasilei-ra Finep, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, firmou acordo com a Innovate UK, ór-gão análogo do governo britânico, no final do mês de novembro, em Londres. O objetivo da cooperação é fomentar o intercâmbio de expe-riências e a execução de iniciativas conjuntas para apoiar projetos co-operativos entre empresas brasilei-ras e britânicas.

A assinatura ocorreu na Embai-xada do Brasil na capital britânica, com as presenças do diretor de Ino-vação da Finep, Fernando Ribeiro, e do vice-diretor de Estratégias da Innovate UK, Simon Bennett.

A Innovate UK tem como prin-cipais metas apoiar pequenas e médias empresas inovadoras, iden-tificar e investir nos setores com potencial de inovação e ajudar as empresas a trabalharem com par-ceiros para que suas ideias possam ser desenvolvidas comercialmente.

Antes da cerimônia de assina-tura, Ribeiro foi recebido pelo Em-baixador do Brasil no Reino Uni-do, Roberto Jaguaribe, com quem discutiu os desdobramentos do documento, destacando as oportu-nidades para a promoção de inves-timentos em inovação.

No dia seguinte, em Bruxelas,

na Bélgica, o diretor Fernando Ri-beiro participou do fórum anual organizado pela Taftie, a Rede Eu-ropeia de Agências de Inovação, em que foi assinado outro memo-rando.

Como parceira internacional da Taftie, a Finep poderá integrar grupos de trabalho formados com o objetivo de discutir temas rela-tivos ao financiamento da ciência, tecnologia e inovação. Além disso, poderá se beneficiar de atividades de treinamento daquela associação.

No fórum, que teve como tema a medição da inovação, a Finep foi apresentada aos demais membros da rede e foram dis-cutidos desafios na construção de indicadores para políticas de inovação.

Por intermédio do diretor Fernando Ribeiro, a financiado-ra brasileira convidou a Innovate UK e a Taftie para participarem do Conselho Consultivo da Uni-Finep, o que foi aceito por ambas as instituições.

A ideia é que, dessa forma, a universidade corporativa se be-neficie de experiências consoli-dadas para a capacitação de seus empregados, inclusive no que se refere a intercâmbios e realização de estudos.

Finep e innovate UK Fecham acordo

Trecho do Overseas Business Risk - Brazil, documento elaborado pelo UK Trade & Investment para auxiliar empresas britânicas no país

g 16 de Janeiro A segunda edição da conferência anual CAF-LSE Global South tem como foco os desafios geopolíticos dos países do “sul do mundo”, passando pelos desa-fios da nova ordem emergente. O evento acontece na Shaw Library da Lon-don School of Economics e é aberto a todos os interessados, gratuito, mas exige registro prévio.

g 29 de Janeiro Ex-diplomatas britânicos reúnem-se para refletir sobre a experiência de ser-vir na América Latina. Evento organizado pela Canning House, em formato de entrevista em grupo, oferece a possibilidade de fomentar o debate sobre a diplomacia britânica na região latino-americana no século 21 – aberto ao público, gratuito.

g 3, 10 e 24 de Fevereiro Nessas datas serão realizados três diferentes seminários organizados pelo Brazil Institute do King’s College. O primeiro foca na operação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro; o segundo na ciência da co-lonização; e o terceiro no papel do Brasil na América Latina.

NA AGENDA

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5brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

Are you consideringdoing business in Brazil?

The world has finally discoveredthe potential of this great countryand how it plays a leading role inLatin America.

However, what does it take tosucceed in this complex market?How to deal with local challengeswhich can constitute realobstacles to companies?

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www.suriana.com.br

Page 6: Brasil Observer #23 - Portuguese Version

6 brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

E

ElEs ExistEmCrianças em situação de rua fazem parte de um fenômeno global. Governos, empresas, veículos de

comunicação, indivíduos e sociedade como um todo precisam dizer basta

Por Joe Hewitt

Em abril de 2014, mais de 200 crian-ças que haviam deixado de estar em situação de rua se reuniram aos pés do Cristo Redentor no Rio de Janei-ro para transmitir uma mensagem muito clara ao mundo: “I am some-body” – ou, em português, “Eu sou

alguém”. Tratava-se de um projeto que se chama Street Child World Cup, uma iniciativa inédita.

Pelo mundo, milhões de crian-ças vivem, trabalham ou estão em perigo nas ruas. Os números reais não são conhecidos, mas a UNI-

CEF estimou, em 2002, que o total pode chegar a 100 milhões. Esta é uma questão que claramente afeta não apenas nós aqui no Brasil – é de fato um fenômeno social global intrínseco às populações urbanas.

Antes de serem incorporadas

ao projeto, as crianças que vieram ao Brasil eram praticamente invi-síveis, pois viviam ou trabalhavam nas sombras das ruas, sobrevivendo à margem da sociedade. Meninas e meninos, entre 14 e 17 anos, que vie-ram de 19 países, entre eles Libéria,

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7brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

g Joe Hewitt é Diretor de Comunicações do projeto Street Child World Cup; acesse www.streetchildworldcup.org

Company formation Statutory auditing VAT (return & refunds) Bookkeeping Payroll bureau CIS (returns & refunds) Personal tax (self-assessment) Business consultancy & taxation IRPF - Brazil Accounting packages from £150 per month

020 8133 6525ascaccountants/asc.accountants/ASC_Accountantsascaccountants07852932083

ASC Accountants Headquarters:Unit 6 Penny Business Centre13a Newbury RoadHighams Park - London - E4 9JH

Consultation by appointment only:35, New Broad Street London - EC2M 1NH

Conference call by appointment only.

Indonésia, Estados Unidos, Argen-tina e Inglaterra. Com o torneio de futebol disputado no Rio de Janeiro, essas crianças passaram a represen-tar não apenas seus países de origem, mas também toda criança em situ-ação de rua que, se for incorporada à sociedade de maneira correta, terá um futuro digno pela frente.

O torneio Street Child World Cup foi organizado para acontecer antes da Copa do Mundo da FIFA por um motivo: o impacto de mega eventos esportivos pode ser devastador para as crianças, principalmente aquelas em situação de rua. Foi isso, aliás, que deu origem ao projeto. Às véspe-ras do Mundial de 2010 na África do Sul, a cidade-sede de Durban “reti-rou” as crianças de rua do município para que os turistas fizessem bom proveito do torneio futebolístico.

Tal medida alimenta a percepção de que crianças de rua são menos hu-manas, e que não merecem ter aten-didos seus direitos humanos. Além disso, atitudes como essa são baseadas na falsa crença de que crianças em si-tuação de rua não podem ser reabili-tadas, e que são apenas ameaças para a sociedade. Temos certeza que essa ideia não condiz com a realidade, por isso fizemos parcerias com organiza-ções de várias partes do mundo para provar, todos os dias, que estamos cer-tos. Com proteção e suporte, nenhu-ma criança viverá nas ruas.

Em 2014, nossa missão foi mos-trar ao mundo o potencial dessas crianças, e todas que participaram do projeto fizeram exatamente isso. Mas, infelizmente, todos nós conhe-cemos realidade do Brasil.

Tomemos como exemplo o jovem Rodrigo, capitão do Time Brasil. A equipe foi formada a partir do proje-to O Pequeno Nazareno, baseado em Fortaleza e em Recife. Rodrigo era o capitão porque exercia uma lide-rança natural, além de possuir muita habilidade com a bola no pé. Sema-nas antes do início da competição, no dia de seu aniversário de 14 anos, ele foi baleado fatalmente nas ruas da capital cearense. Embora Rodrigo es-tivesse no caminho de uma vida me-lhor, sofreu as consequências de um crime estúpido que havia cometido no passado, num ataque revanchista. Jamais esqueceremos Rodrigo e por isso ele inspira todos os envolvidos no projeto a fazerem cada vez mais pelas crianças de rua. Um mural foi pintado em sua homenagem e em memória a todas as crianças que per-deram suas vidas nas ruas.

Também focamos em histórias inspiradoras de crianças que sobre-viveram aos riscos das ruas. É o caso

de Owais, do Time Paquistão. Quan-do Owais tinha oito anos, fugiu de um ambiente doméstico abusivo em Karachi e foi viver nas ruas. Ele pas-sava o dia revirando o lixo à procura de qualquer coisa que pudesse ven-der. Owais é um exemplo de como muitas crianças acabam em situação de rua por acreditarem que estarão mais seguras do que em casa.

Felizmente, o jovem paquistanês teve sorte: foi encontrado pela or-ganização Aazad Foundation, que garantiu a ele um local para dormir e recomeçar a vida. Owais adora-va jogar futebol e isso o levou a ser escolhido para participar do Street Child World Cup no Brasil. Foi ele quem liderou a equipe e representou orgulhosamente os estimados dois milhões de paquistaneses que segui-ram o torneio.

Quando retornaram ao Paquis-tão, os jogadores do time se haviam se transformado em heróis nacio-nais. Owais e seus companheiros embarcaram em uma turnê por 13 cidades, o que culminou com a assi-natura de uma resolução de proteção dos direitos de 1,5 milhão de crian-ças paquistanesas em situação de rua. Uma mudança real.

As histórias de sucesso do Street Child World Cup conquistaram o apoio de figuras importantes, como o Papa Francisco, os ex-jogadores David Beckham, Zico e Bebeto a até os príncipes William e Harry.

Acreditamos nas crianças com as quais trabalhamos, crianças como Owais, e em projetos como o Azad Foundation. Mas acreditamos, acima de tudo, que nenhuma criança deve vi-ver em situação de rua. Não apoiamos apenas crianças que participaram do SCWC, e sim todas aquelas que estão recebendo suporte de nossos parceiros.

O fenômeno social que leva crianças a viveram em situação de rua é uma questão global. É preciso que governos, empresas, veículos de comunicação, indivíduos e socieda-de como um todo digam basta. Ou damos suporte a essas crianças em busca da verdadeira reabilitação ou elas continuarão nas sombras e se tornarão uma ameaça social.

Há muito mais a ser feito e por isso em 2016, anos dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, iremos realizar o Street Child Games. Mais uma vez, um mega evento esportivo servirá de plataforma para que os jovens com os quais traba-lhamos tenham voz, e assim possam mudar a vida daqueles que ainda vivem nas ruas. Você pode se juntar a nós! Trabalhamos todos os dias para que crianças em situação de rua possam ganhar deixar essa realidade para trás.

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8 brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

Realidade e fantasia traçadas em óleo e acrílico compõem o trabalho do artista plástico Caio Locke,

que conversou com o Brasil Observer na abertura de sua exposição em Londres

Por Rômulo Seitenfus

desenhista do próprio pensamento

CaioLoCke

É um processo misterioso, difícil de entender. Não é algo concreto, é bem abstrato. Há um mundo subjetivo e outro mundo real. Há uma mistura entre o filosófico e a matemática

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9brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

CCaio Locke é inglês, mas com pé no Brasil. Metade English, half brasileiro, o artista plástico mistura realidade com fantasia em pinturas que revelam cidades maravilhosas rodeadas de acontecimentos surreais. Um universo, no mínimo, misterioso.

É o que diz o próprio artista, que concedeu entrevista ao Brasil Observer na abertura de sua mais recente exposição em Londres, Pillars of Wisdom, aberta até janeiro na Oaktree & Tiger Gallery.

Trabalhadas basicamente em acrílico e óleo, as pinturas de Caio Locke instigam a imaginação com uma combinação entre precisão matemática e pensamento abstrato. Cores e formas tam-bém auxiliam o pintor em sua busca subjetiva pela expressão de dois mundos, o interior e o ex-terior. O resultado é abrangente e abre caminhos para uma interpretação tanto espiritual quanto intelectual de suas obras.

A partir dessa subjetividade intrínseca ao trabalho artístico, a entrevista abaixo busca com-preender as motivações e referências de Caio Locke, definitivamente alguém capaz de desenhar o que se passa nos próprios pensamentos. De qualquer maneira, vale conferir os quadros do artista para que a linha de raciocínio se complete.

Como você descreve seu passado entre Rio e Londres?

A família do meu pai existe no Brasil há mais de 100 anos, e minha mãe é inglesa. Pas-sei muito tempo no Brasil, cresci visitando o cenário carioca. Também tenho família em São Paulo, mas o Rio de Janeiro é o lugar das mais fortes lembranças. A topografia carioca é o que tenho de maior na minha memória. Lembro-me do cheiro da cidade, do barulho do Leblon. Na época, existiam galinhas nas ruas, fazíamos atividades na praia quebrando altas ondas em Copacabana. Sempre encontrei muita beleza entre o mar e as colinas. Lembro-me do baru-lho dos ônibus, dos túneis. Gostava de montar Lego... Meu favorito foi um foguete, depois pin-tei um trem que ia para outro planeta. Vivi no Leblon, em Copacabana e em Santa Tereza.

Você fala de uma combinação entre precisão matemática e imaginação abstrata como linha filosófica do seu trabalho...

É um processo misterioso, difícil de enten-der. Não é algo concreto, é bem abstrato. Há um mundo subjetivo e outro mundo real. Há uma mistura entre o filosófico e a matemática, entre o concreto e o subjetivo. É uma cópia, mas não real, do encontro entre o abstrato de cores, sem identificação de formas, como principal essência.

Suas reflexões estão expostas em suas obras, como a ideia de que a utopia serve de máscara para um falso otimismo...

Sim, porque não há possibilidade como hu-manos. Tentei entender o mundo interno e a percepção da civilização na existência como um reflexo do mundo externo e para onde está indo a civilização. Meu trabalho é o resultado des-se encontro. É a aspiração de nossos sonhos, é o otimismo como utopia sendo reflexo de tudo isso.

Quais artistas o inspiraram no início de sua carreira?

Na escola eu amava Goya. Muito escuro, mas imaginativo. Adoro Morandi, gosto do fu-turismo italiano, aprecio Escher e admiro Van

Gogh, porque ele expressa a realidade com sen-sibilidade. Arquitetos cósmicos também me ins-piram, como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Esse mistério que você expressa vem de alguma crença?

É algo mais voltado para o lado da filoso-fia ou espiritualidade. Sou aberto ao mundo e a tudo que vejo e sinto, com o que acontece ao redor das pessoas. Não quero ser especificamen-te de um lado. É mais do que religião. É outra coisa que não tem nada a ver com religião.

Você assina suas telas de forma escondida. Pode-se dizer que se trata de uma brincadeira de esconder e encontrar...

É mais de uma questão de prioridade e foco. Eu não quero destacar meu nome na composi-ção porque a imagem é mais importante que a minha assinatura. Mas é também uma brinca-deira divertida.

Quando você abriu sua imaginação para novas possibilidades artísticas? É possível citar algum período específico?

Quando comecei a frequentar o East Lon-don. De uma forma tridimensional, passei a imaginar novas possibilidades, reforçando o surreal. Aquilo realmente abriu a minha cabeça para pensar minha pintura, para ser um desig-ner dos meus pensamentos.

O Rio é um tema bem saliente em muitas de suas telas. Você mostra a cidade real, misturada com imagens surreais...

É algo acima do cotidiano, algo que mistura a realidade e o irreal. É a vida das pessoas e o cenário em que elas vivem, mas tudo misturado com algo que está fora do poder real.

Você ainda não expôs no Brasil. Tem interesse?

Quero muito expor no Brasil, e sei que em al-gum momento isso acontecerá, mas no momen-to estou focado com projetos em Londres. Mas, sim, adoraria levar minha exposição para lá.

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10 brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

DDepois de um longo ciclo de cresci-mento e relativa estabilidade monetária, a economia brasileira escancarou em 2014 sinais claros de desaceleração, com aumento da inflação e um quadro de re-cessão técnica – que começou a ganhar contornos já em 2008, ano de explosão da crise internacional. Para um ano que prometia certa calmaria no campo eco-nômico – principalmente por conta da eleição presidencial – a conjuntura foi a pior possível. O que deu errado?

Oficialmente, o governo aponta três principais explicações para o quadro de desaceleração. Em primeiro lugar, os efeitos da crise internacional, es-pecialmente sobre as economias dos Estados Unidos e da China, principais importadores de commodities brasi-leiras. Além disso, a própria queda no preço desses produtos, que reconheci-damente formam o principal eixo de exportação do país. Esses dois fatores provocaram uma queda no acúmulo de reservas nacionais, fundamental na manutenção da estabilidade cambial.

Em segundo lugar, a realização da Copa do Mundo. Ainda que se espe-rasse um aumento geral do consumo, os sucessivos feriados em dias de jogos tiveram efeitos nocivos para a produ-ção e o comércio.

Por fim, as eleições promoveram um ambiente de incerteza no mercado, o que levou à redução dos investimentos privados e ao adiamento de decisões até que houvesse uma posição clara do novo presidente da república a respeito da condução da política econômica.

A avaliação governamental reve-la-se até aqui excessivamente exógena, ou seja, aponta principalmente fatores externos – como se não houvesse equí-vocos na própria condução da política econômica nacional que explicassem diretamente o quadro de desaceleração.

Acima de todas essas razões aponta-das pelo governo está o esgotamento de um modelo de expansão do crescimento focado no aumento do consumo inter-no. Não há dúvidas de que há uma im-portância inconteste na política de ele-vação do salário mínimo, mantida desde o governo Lula, e nos programas sociais. O problema esteve, por exemplo, nos incentivos dados a determinados seto-res industriais, tal como o automobilís-tico, em detrimento de outros, sem que houvesse um planejamento regional e setorialmente articulado de promoção da indústria. Se durante muito tempo o crescimento do consumo conseguiu sustentar o crescimento econômico, agora chega ao seu limite. O governo, porém, demorou para reconhecer isso.

O resultado claro é o que temos: de-saceleração do crescimento e elevação da inflação, ainda que com manuten-ção do baixo desemprego e do nível de

renda da população. Não suficiente, o caso de corrupção da Petrobrás, maior empresa do Brasil, acabou por consoli-dar a noção de incerteza dos empresá-rios e investidores.

O que esperar para 2015

Em entrevista ao portal de notí-cias argentino Notas, o economista Marcelo Carcanholo, ao ser questio-nado sobre as diferenças entre os en-tão candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na condução da econômia, respondeu: “ganhe quem ganhar, o ajuste virá”. Tal ajuste é pro-vavelmente a única certeza para todos os brasileiros neste início de novo ciclo político-econômico no Brasil. Notícia seguramente ótima para alguns, e pro-blemática para outros.

Mas primeiro devemos reconhecer a estrutura de política econômica do Par-tido dos Trabalhadores. Rigorosamente, do ponto de vista de seu núcleo central, os governos de Lula e Dilma mantive-ram o mesmo esquema consolidado por Fernando Henrique Cardoso, presiden-te de 1994 a 2002 pelo PSDB. Trata-se do “tripé macroeconômico”: superávit primário (economia que o país faz para pagar os juros da dívida), câmbio flutu-ante e metas de inflação.

Fundamenta na ideologia neolibe-ral, ou ortodoxa, essa política promove uma série de amarras na condução da economia, sempre a favor dos interesses do mercado. Ou seja, todos os esforços se voltam à tentativa de manter um am-biente estável ao grande capital financei-ro, já que este é o responsável pelos in-vestimentos. Se a conjuntura econômica internacional é favorável – como foi durante os anos do governo Lula – pro-move-se avanço em outras áreas. Caso contrário, os esforços serão para a esta-bilidade, custe o que custar.

Ao indicar a nova equipe econô-mica, Dilma enviou exatamente esse recado: o mercado exige estabilidade, então vamos entrar em um ciclo de ajustes. Os próximos ministros da Fa-zenda e do Planejamento – Joaquim Levy e Nelson Barbosa, respectiva-mente – são típicos representantes do mercado e já enviaram a mensagem: os próximos três anos serão de aumento do superávit primário e redução do gasto público, ou seja, uma política fis-cal contracionista. Em relação aos de-mais aspectos econômicos e sociais da nação, deixaram o debate em aberto: o que for possível fazer, será feito.

Observando a escolha das duas pe-ças chaves do jogo econômico, é possível dizer que Dilma não só deu a resposta exigida pelo mercado, como deu uma forte guinada à direita. Não que o PT ainda possa ser considerado de fato um

GuinaDa à Direita na economia

Dilma Rousseff optou pela lógica dos mercados. A única certeza é o reajuste; demais itens permanecem obscuros

Por Pedro Henrique Evangelista Duarte

g Pedro Duarte é Professor da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Econômicas da Universidade Federal de Goiás; Doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Universidade Federal de Campinas

Page 11: Brasil Observer #23 - Portuguese Version

11brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

partido de esquerda. O ponto é a opção por nomes que pregam um tipo de po-lítica econômica oposta àquela prometi-da por Dilma e pelo próprio PT durante a campanha eleitoral.

Nesse sentido, o ajuste se efetiva como algo bom para os mercados: é a resposta da estabilização que eles pe-dem, ainda que não se tenha nenhuma garantia a respeito dos investimentos que podem vir a ser feitos. E esses in-vestimentos, sejamos claros, não de-vem ocorrer tão cedo: pensando que se trata de um período de ajuste, pri-meiro o mercado espera a efetivação do mesmo, para depois tomar suas de-cisões a respeito do incremento ou não da taxa de investimento.

Para retomar o crescimento, não há dúvidas que o fundamental seria a modificação da política econômica. De uma perspectiva crítica, porém, seriam dois os principais aspectos a serem ata-cados nessa modificação. Em primeiro lugar, o realização de uma auditoria da dívida pública que permitisse o fim do pagamento da dívida externa. A inter-rupção desse pagamento, considerado abusivo por parte dos atores sociais, representaria uma economia de mi-lhões de reais todos os anos, uma vez que se poria fim ao superávit primário (veja quadro). Em segundo lugar, a construção de uma política industrial que fosse setorial e regionalmente ar-ticulada, e que permitisse a elaboração de um projeto de desenvolvimento para todo o Brasil.

O governo, de todo o modo, optou pela lógica dos mercados. Por isso, a úni-ca coisa certa é o reajuste; os demais itens permanecem sob uma aura obscura. Não é possível saber o que irá acontecer.

Quem paga a conta

Em países como o Brasil, onde a dependência é a característica cen-tral das relações econômicas, não há dúvidas de que é a classe trabalhado-ra quem vai pagar a conta do aperto. Ajuste é sinônimo de redução dos gas-tos públicos, redução dos investimen-tos, estagnação e repressão da política salarial. Como diz o ditado popular, “a corda sempre arrebenta no lado mais fraco”. Não por acaso, a principal cen-tral sindical do Brasil, que mantém sua articulação política com o governo, apontou que uma solução para a crise seria a redução momentânea dos salá-rios. Reduzir os salários, é claro, por-que a redução das taxas de lucro nunca é colocada em ampla discussão.

O Brasil encontra-se, portanto, dian-te de um quadro de incerteza. Mediante as escolhas de Dilma, as expectativas não são as melhores possíveis. Se Deus é de fato brasileiro, ele que trate de nos salvar. g Com informações da associação Auditoria Cidadã da Dívida (www.auditoriacidada.org.br)

Orçamento 2015 A Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional aprovou no dia 10 de dezembro o relatório final da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015, que serve

de base para orientar a elaboração do Orçamento da União. Na ocasião, deputados e senadores da oposição e da base aliada fecharam um acordo para tentar votar o Orçamento de 2015 no plenário até o mês de janeiro.

Metas fiscais Seguindo projeções econômicas mais pessimistas, o re-latório reduz em 30,7 bilhões de reais a meta de supe-rávit primário a ser cumprida pelo governo federal – de 86 bilhões de reais para 55,3 bilhões de reais. Somando

a meta fiscal de 11 bilhões de reais para Estados e Muni-cípios, o superávit primário para o setor público consoli-dado de 66,3 bilhões de reais equivale a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), considerando expansão de 0,8% da economia brasileira em 2015.

Dívida pública O superávit primário corresponde à economia para pagamento de juros da dívida pública – que compre-ende empréstimos contraídos pelo Estado junto a instituições financeiras públicas ou privadas, no mer-cado financeiro interno ou externo, bem como junto

a empresas, organismos nacionais e internacionais, pessoas ou outros governos. De acordo com a asso-ciação Auditoria Cidadã da Dívida, a dívida externa bruta supera os 540 bilhões de dólares e a dívida in-terna em títulos emitidos pelo Tesouro Nacional pas-sa de 3 trilhões de reais.

‘Manobra’Um dia antes da aprovação do relatório final da LDO de 2015, o Congresso Nacional concluiu a votação do Projeto de Lei 36/14, que altera o cálculo do superávit primário a fim de permitir ao governo atingir a meta

de resultado fiscal do ano. O governo comunicou que pretende obter superávit primário de pelo menos 10,1 bilhões de reais em 2014. De janeiro a setembro, o re-sultado das contas públicas do governo registrou défi-cit de 15,7 bilhões de reais.

Teto de vidroA oposição, principalmente o PSDB, fez duras críticas ao que chamou de “manobra” do governo federal. A mu-dança na forma como o governo pode cumprir as metas de superávit primário, porém, não é novidade na legisla-

ção orçamentária. A primeira delas ocorreu em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Também houve mudanças no superávit em dois anos do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): em 2009 e 2010.

Queda na arrecadaçãoNos últimos 12 meses, uma série de concessões de be-nesses fiscais para bancos e grandes empresas, inclusi-ve multinacionais, foram as principais responsáveis pela queda na arrecadação tributária em 2014 – o que forçou

o governo federal a abandonar meta inicial de superávit primário, de 99 bilhões de reais. Contando apenas as desonerações fiscais para setores empresariais, as cifras superam 84 bilhões de reais em 2014; em 2013, ultrapas-sou 77 bilhões de reais.

Já os bancos...Tais benesses, aliadas ao baixo crescimento econômico, contribuíram para a deterioração da situação fiscal do Brasil. Adicionalmente, a emissão acelerada de títulos da dívida pública, com taxas de juros crescentes, tem pro-

vocado o aumento do estoque da dívida e da exigência de recursos para o pagamento dos juros. Mesmo neste cenário, o lucro dos bancos brasileiros deve fechar o ano com acréscimo sobre o lucro registrado em 2013: 73,5 bilhões de reais.

De volta ao orçamentoO Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2015 prevê um total de despesas de 2,8 trilhões de reais. Des-se montante, 1,3 trilhão de reais, ou 47%, destinam-se

ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Este valor representa 13 vezes mais que os recursos pre-vistos para a saúde, 13 vezes mais que os recursos para educação, ou 54 vezes os recursos para transporte.

Salário mínimoO Projeto de Lei Orçamentária prevê salário míni-mo de 788,06 reais em 2015. O valor representa um reajuste de 8,8% em relação aos atuais 724 reais. O impacto nas contas públicas será de 22 bilhões de re-ais. Mas, levando em consideração a determinação

constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o valor correto seria de 3 mil reais, se-gundo o Dieese.

América Latina e Caribe De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), o crescimento do PIB da região será de 1,1% em 2014, aumentando para 2,2% em 2015.

Para a Cepal, o Brasil crescerá 0,2% em 2014 e em 2015, 1,2%. A revista britânica The Economist, por sua vez, pre-vê crescimento de 2,8% para a América Latina em 2015, enquanto a projeção para o Brasil é de expansão de 1,8%.

Paraíso? Procurando seguir à risca a prescrição feita pelas ins-tituições financeiras e agências de classificação de risco, o Brasil figurará, pelo quinto ano consecutivo, entre os cinco países com maiores superávits primá-rios do mundo, segundo as estimativas disponíveis.

Acrescente-se a maior taxa de juros real do mundo, de 4,68% ao ano, após a alta da Selic (taxa básica de juros estipulada pelo Banco Central que baliza os de-mais bancos) para 11,75%, e se terá o que se pode chamar de paraíso para os detentores de títulos da dívida pública.

NOTAS E INFORMAÇÕES

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O ano de 2014 será lembrado, cer-tamente, pelas diversas lutas realiza-das pela juventude e pelos trabalhado-res diante do esgotamento econômico e político do Lulismo. Expressões cla-ras desse esgotamento: a estagnação da economia brasileira e a vitória apertada de Dilma Rousseff no segun-do turno da eleição presidencial.

O primeiro semestre de 2014 – vale lembrar – foi marcado por algu-mas greves importantes, como a dos garis no Rio de Janeiro; dos rodoviá-rios e trabalhadores da educação bá-sica em diversos Estados; dos profes-sores, estudantes e funcionários das universidades paulistas; das diversas categorias do funcionalismo federal; dos metroviários em São Paulo; e pe-las lutas do Movimento dos Traba-lhadores Sem-Teto (MTST) e outros movimentos populares por moradia. Além dessas lutas, foram realizadas diversas manifestações contra os gastos da Copa do Mundo em todas as cidades-sede.

A maioria dessas reivindicações, apesar de não terem sido unificadas, acabou sendo vitoriosa, explicitando a correlação de forças que foi estabe-lecida na sociedade a partir das jorna-das de junho de 2013. E revelaram o aspecto progressista das ações organi-zadas pela juventude e pelos trabalha-dores através de suas entidades e mo-vimentos representativos. Em muitos casos, as direções pelegas dos sindica-tos foram ultrapassadas pela base de suas categorias.

Já no segundo semestre, mesmo com a realização de outras greves também importantes – com desta-que para a dos trabalhadores dos correios, dos bancários e das três universidades públicas de São Paulo –, as eleições acabaram tendo maior atenção da população.

O resultado das eleições mostrou o aumento do descrédito da população em relação às instituições políticas. No segundo turno, mais de 44 milhões de pessoas deixaram de votar ou votaram em branco ou nulo. O grande respon-sável pelo aumento desse descrédito foram os 12 anos de governos do PT. Nesse período, Lula e Dilma deram sequência e aperfeiçoaram as políti-cas neoliberais, bem como os métodos corruptos dos tucanos que, no caso do PT, se expressaram no “mensalão” e, mais recentemente, no “petrolão”.

Apesar de um importante cres-cimento eleitoral do PSOL – mesmo sem uma frente de esquerda socialista –, é inegável que setor majoritário da população, principalmente a juventu-de, enxergou Marina Silva (PSB) e Aé-cio Neves (PSDB) como alternativas possíveis. Nem um nem outro, porém,

apresentou alguma diferença funda-mental em relação à política econômi-ca de Dilma Rousseff. Como se sabe, os tucanos, quando na presidência do país, colocaram em prática uma polí-tica de ataques expressa por privati-zações, contrarreformas neoliberais, arrocho salarial, corte de gastos nos setores sociais e repressão e crimina-lização de movimentos sociais.

Como havia mais semelhanças do que diferenças entre Dilma e Aécio, os marqueteiros foram obrigados a realizar, no segundo turno, uma cam-panha de “desconstrução” baseada em ataques pessoais. Mas, passado o segundo turno, em virtude do agra-vamento da situação econômica do país, Dilma deixa claro que vai adotar tudo aquilo que acusou Marina Silva e Aécio Neves de fazer caso fossem elei-tos. A primeira medida foi aumentar a taxa básica de juros e anunciar o novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicado pelos banqueiros.

A atual equipe econômica informou que alguns reajustes de tarifas e preços são necessários. Já houve aumento da gasolina e o próximo reajuste será das tarifas de energia. Mas as previsões de ataques não param por aí. Para 2015, o governo pretende aumentar o corte de gastos e retomar as privatizações de ro-dovias, portos e aeroportos, além das contrarreformas neoliberais trabalhis-tas e previdenciárias.

Não bastassem estes ataques, há uma crise hídrica atingindo Estados importantes, como é caso de São Pau-lo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No caso específico de São Paulo, mais de 75% da população já teve a sua vida prejudicada pela falta de água. O go-vernador Geraldo Alckmin (PSDB), apesar de negar que há racionamento, será obrigado a antecipar o término das aulas na rede estadual de ensino.

Diante dessa realidade, alguns se-tores industriais, como bebidas, têx-til e químico, informaram que serão obrigados a demitir trabalhadores. Apesar de vivermos uma das maiores estiagens da história de São de Paulo, o grande responsável por essa crise hídrica são os sucessivos governos tu-canos que em vinte anos não constru-íram um reservatório para a captação e tratamento de água.

Para garantir água para a popu-lação dos Estados do país em que há crise hídrica, bem como barrar os no-vos ataques do governo Dilma, é ne-cessário que ocorra, em 2015, o que faltou em 2013 e 2014: a construção de um espaço amplo e democrático que permita coordenar e unificar to-das essas lutas. Essa construção passa pela realização de um Encontro Na-cional dos Movimentos Sociais.

Terceiro Turno das

luTasEm 2015, é necessária a construção de um espaço amplo e

democrático para coordenar e unificar as demandas sociais

Por Miguel Leme

g Miguel Leme é membro da Central Sindical e Popular – CSP Conlutas e da tendência Liberdade, Socialismo e Revolução – LSR, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)

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Quais as expectativas para os di-reitos humanos no Brasil em 2015? As mobilizações sociais dos últimos anos e a mais recente campanha elei-toral levantaram diversas questões não resolvidas – e que estão no centro da vida cotidiana do país. Algumas delas estão a seguir.

O Brasil é o país com o maior nú-mero de homicídios do mundo: mais de 50 mil por ano. Mais da metade das vítimas são jovens entre 15 e 29 anos; destes, 77% são negros. Dian-te desse quadro alarmante, a Anistia Internacional lançou em novembro a campanha “Jovem Negro Vivo” para chamar a atenção da sociedade bra-sileira para a gravidade do tema e co-brar respostas das autoridades para seu enfrentamento.

Esse debate, aliás, é inseparável de outro: a reforma das forças de segu-rança, que atuam com extrema vio-lência. Em cinco anos, mataram pelo menos 11 mil pessoas – mais do que as polícias dos Estados Unidos em três décadas. Policiais foram acusa-dos da maioria das chacinas ocorri-das no Brasil, como a do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em junho de 2013, e a de Belém, em novembro de 2014. Parte do problema é vencer a tradição de impunidade, como pro-posto pelo projeto de lei 4471, que visa acabar com os “autos de resistên-cia”, que classificam vítimas de homi-cídios cometidos pela polícia como tendo resistido à autoridade, dificul-tando investigações.

Os seguidos episódios de violência policial nas operações de segurança e também na repressão aos protestos dos últimos anos reforçaram as mo-bilizações pela extinção das polícias militares estaduais, como consta na proposta de emenda constitucional 51, em debate no Congresso. A mi-litarização reforça a lógica de guerra, principalmente contra grupos sociais mais pobres e vulneráveis. Encerrá-la tem sido uma demanda dos movi-mentos sociais e também de relatores da ONU, tendo sido recomendada ao governo brasileiro por integrantes do Conselho de Direitos Humanos da organização.

Outro importante passo: em de-zembro de 2014, a Comissão Nacional da Verdade, que investigou durante quase três anos os crimes cometidos pela ditadura militar no país (1964 a 1985), publicou seu aguardado relató-rio final. Nos próximos meses haverá mobilizações para que o governo fe-deral cumpra suas 29 recomendações, como a de levar adiante processos contra agentes do Estado acusados de terem cometido crimes contra a hu-manidade e reformar currículos das

escolas civis e militares para lidar me-lhor com o tema ditadura.

Ao longo de 2015, as outras 100 comissões da verdade existentes no Brasil (no âmbito de Estados, mu-nicípios, universidades, sindicatos) também apresentarão suas conclu-sões. Essas informações ajudarão a compreender a abrangência das vio-lações de direitos humanos cometi-dos pelo regime militar e motivarão ativistas e movimentos sociais na busca pela justiça contra os que co-meteram esses crimes.

Os direitos sexuais e reprodutivos também têm impulsionado diversos debates no Brasil, com conquistas im-portantes em anos recentes, como o es-tabelecimento do casamento entre pes-soas do mesmo sexo. Contudo, ainda há muitos casos de violência homofó-bica, inclusive assassinatos – o Grupo Gay da Bahia estima 200 por ano.

Já os efeitos desastrosos de tra-tar o aborto como crime, em vez de questão de saúde pública, são exem-plificados por histórias como as de Jandira dos Santos Cruz e Elizânge-la Barbosa, mulheres que morreram após abortar em clínicas clandestinas no Rio de Janeiro. Seus cadáveres foram escondidos por funcionários dessas instalações. Líderes políticos e religiosos brasileiros com frequên-cia apoiam restrições e violações aos direitos sexuais e reprodutivos, ame-açando retrocesso nessas áreas cujas conquistas são frágeis.

Povos indígenas, quilombolas e outras populações tradicionais tam-bém continuarão em constante perigo no Brasil. Apesar de seus direitos fun-damentais estarem escritos na Consti-tuição de 1988, há grande dificuldade em cumpri-los. Conflitos por recur-sos naturais (terra e minérios, por exemplo) frequentemente terminam com ativistas assassinados, num qua-dro geral marcado pela impunidade.

Há projetos em discussão no Con-gresso que colocam em risco o marco jurídico de amparo a esses direitos, como o novo Código de Mineração e a PEC 215 – que transfere do Executivo para o Legislativo, com sua forte ban-cada ruralista, a responsabilidade por demarcar terras de povos indígenas. Também são sérios os impactos das grandes obras de infraestrutura, como usinas hidrelétricas, em particular pela ausência de uma lei que regule o dire-to à consulta prévia, livre e informada, como previsto nos tratados diplomáti-cos, como a Convenção 169 da Organi-zação Internacional do Trabalho.

Diante de tamanhos desafios e ameaças, é essencial tratar dos Direi-tos Humanos como fator primordial da agenda política de 2015.

Direitos humanos à frenteDo número de homicídios no país à proteção dos povos indígenas, Brasil segue com várias questões não resolvidas

Por Maurício Santoro

g Maurício Santoro é Assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional

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Bolsistas chegam ao Reino Unido paRa estUdaR tURismo

heatRic ganha contRato de £80 milhões no BRasil

Grupo de 52 brasileiros terá contato com disciplinas ligadas ao setor turístico por três meses

Empresa britânica teve apoio do UK Trade & Investment para fechar acordo de fornecimento de componentes à Petrobras

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Newcastle College está entre instituições parceiras

Betina Frantz tem 18 anos e está no quarto período do curso de Gastro-nomia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. No dia 14 de novembro, ela deixou o Brasil com destino ao Reino Uni-do, mais precisamente o campus do Newcastle College, onde Betina espera aprender novas formas de turismo gastronômico. “É muito importante o contato com a cultura local. Ainda mais em um país reco-nhecido mundialmente como refe-rência na qualidade dos serviços e hospitalidade”, disse.

A jovem faz parte de um grupo de 52 bolsistas brasileiros seleciona-dos para o Projeto de Qualificação Internacional em Turismo e Hospi-talidade no Reino Unido. Por três meses, os estudantes terão contato com disciplinas ligadas ao turismo, além de temas como liderança, hos-pitalidade, inovação, gestão da quali-dade e marketing.

“O mais longe que viajei foi para Foz do Iguaçu. É a primeira vez que terei uma experiência internacional”, afirmou Igor Mourão, 24, estudante do segundo semestre de Turismo na Universidade Estácio de Sá, no Rio. Ele também veio para estudar no Newcastle College.

Para Laís Gomes, de 20 anos, trata-se de “uma grande oportunidade para conhecer outra cultura e aplicar as práticas no Brasil”. Estudante do quar-to período de Turismo na Universida-de de Brasília, ela pretende trabalhar na área de gestão de eventos e hotela-ria. Também no exterior pela primeira vez, Laís está na Exeter College.

PARCERIA

A iniciativa é resultado de uma parceria firmada entre o Ministério do Turismo do Brasil, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Associa-tion of Colleges (AoC) de Londres.

As bolsas de estudo incluem auxílio seguro-saúde, ajuda para deslocamentos e taxas escolares. Os valores de ajuda de custo para o Reino Unido são de £ 400 mensais, mais £ 90 de seguro-saúde e US$ 1.706 de auxílio deslocamento. Os universitários se dividem em cinco instituições: Newcastle College, The Sheffield College, The Bournemou-th and Poole College, Exeter Colle-ge e Edinburgh College.

Além do Reino Unido, a ini-ciativa também fechou parceria com a Fundación Universidad, da Espanha. Mais 60 bolsistas tam-bém já embarcaram para território espanhol, onde se dividiram por três universidades: Alicante, Illes Balears e Málaga. A aula inaugural do projeto de qualificação no país ibérico estava prevista para 1º de dezembro. O projeto piloto do Mi-nistério do Turismo aconteceu em Portugal, no ano passado, com o envio de 50 bolsistas selecionados.

A companhia britânica Heatric fe-chou contrato de £80 milhões para for-necer Circuitos Impressos de Trocado-res de Calor (PCHEs - Printed Circuit Heat Exchangers) de alto desempenho para a Petrobras. Estes PCHEs serão utilizados pela estatal brasileira em unidades flutuantes de produção, ar-mazenamento e transferência (FPSOs) implantadas nos campos de petróleo do pré-sal afastados da costa do Brasil.

Uma delegação da Petrobras já ha-via visitado os escritórios da Heatric em Dorset como parte de sua missão de ne-gócios, a fim de participar de uma confe-rência do UKTI Brazil. A Heatric, que faz parte do Programa de Oportunidades de Alto Valor (HVO – High Value Oppor-tunities) do UKTI, aproveitou a ocasião para desenvolver um relacionamento com a empresa brasileira, o que acabou culminando com o estabelecimento do contrato no final do mês de outubro.

A equipe do UKTI no Rio deu supor-te à companhia com conselhos de merca-do. Assessores de Negócios Internacionais (ITAs – International Trade Advisors) do Reino Unido ofereceram apoios comer-ciais para alimentar a ampla estratégia de internacionalização da empresa.

Nick Johnston, Diretor de Vendas da Heatric, afirmou que “o UKTI con-tinua a identificar oportunidades para elevarmos o nosso perfil”. “Eles sabiam quem precisávamos contatar no Brasil e asseguraram que tivéssemos um tem-po frente a frente com eles”, completou.

ESTRATÉGIA

A Heatric havia se registrado na lista de fornecedores da Petrobras, Pe-tronect, um sistema que já se encontra disponível online. A companhia tam-bém encontrou parceiros locais para montar os trocadores de calor no Bra-sil, de modo a fornecer conteúdo local – o que é uma exigência da Agência Nacional de Petróleo do Brasil (ANP).

A Petrobras planeja dobrar sua pro-dução de 2 para 4 milhões de barris de petróleo por dia até 2020. A fim de atingir este objetivo, vão triplicar a frota de FPSOs e de navios equipados para o lançamento de linhas flexíveis, asse-gurando a continuidade de mais opor-tunidades comerciais para as empresas estrangeiras no Brasil.

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DDa Austrália, onde participava de reunião do G20, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que a Operação Lava Jato – que naquela semana tinha levado à prisão executivos das maiores empreiteiras do Brasil – representava um marco na história do país. A de-claração de Dilma não foi mera retó-rica, ou simples tentativa de capitali-zar para sua gestão o bônus de trazer à tona a quase sempre velada relação promíscua entre os poderes econômi-co e político. De fato, em que pesem alguns desvios, a Lava Jato está a dei-xar um legado ímpar.

É o que considera o presidente do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimen-to, Roberto Saturnino Braga. Autor de livros sobre política e economia, ex-ocupante de mandatos como os de Senador e Prefeito do Rio de Janeiro, Braga avalia que os resultados Ope-ração Lava Jato vão forçar mudanças na política nacional. Vão alterar, tam-bém, o comportamento dos grandes conglomerados econômicos em suas relações com o poder público.

A presidenta Dilma incluiu como prioridade para seu segundo man-dato a reforma política – tarefa, po-rém, que pouco cabe ao Executivo; é do Legislativo a maior incumbên-cia. Braga considera que, diante do escândalo da Lava Jato, deputados e senadores deverão ser forçados, pela opinião pública, a se mexerem, legis-lando por mudanças nas regras do jogo político. “A repercussão da Ope-ração Lava Jato vai obrigar o Con-gresso Nacional a se pronunciar. Ele tem se omitido historicamente dessa necessidade de reforma política, afi-nal, o modelo que está aí favorece os eleitos, os detentores de mandato. Mas agora, não. O Congresso vai ter de se manifestar”, comentou Braga em entrevista ao Brasil Observer.

Um tema que tem encontrado ressonância no debate político e ten-de a ganhar força depois das mazelas expostas pela Operação Lava Jato é o financiamento das campanhas. Prati-camente todos os partidos – ou pelo menos todas as grandes legendas – são contemplados com doações de recursos financeiros das empreiteiras pegas na operação da Polícia Federal. Depois da Lava Jato, avalia Braga, será muito difícil manter o modelo atual. “Acho que vai mudar a forma como as empresas privadas financia-rão campanhas. E as próprias empre-sas terão muito mais cautela [em par-ticipar de doações]”, afirmou.

Corrupto e Corruptor

Na avaliação do advogado Ro-drigo Gava, especialista em Direi-to Econômico, mestre em Direito e doutorando em Ciência Política, a Operação Lava Jato deixou mais claro para a sociedade que a cor-rupção só existe porque, se de um lado existe o corrupto (o detentor de cargo público ou mandato po-lítico), de outro existe o corruptor. E este, o corruptor, é representado pelo poder econômico.

“Parece que finalmente o Brasil escancara outro lado da moeda”, afirmou Gava em texto publicado em seu blog. “Hoje, se alguns polí-ticos e servidores públicos e as cú-pulas partidárias que estão ou esti-veram no poder afundam-se neste que talvez seja um bom momento da República, levam junto parte dos magnatas brasileiros que jamais honraram as calças do capitalismo que vestiam”, disse.

Mas não será cedo demais para ser otimista quanto à punição de “tubarões”, já que historicamente no Brasil as sanções se concentram nos “bagrinhos” ou, quando muito, em um bode expiatório? Ao mexer com gigantescos, poderosos e ar-raigados interesses econômicos a Lava Jato não corre o risco de ter o mesmo desfecho que Operação Sa-tiagraha, que há seis anos chegou a levar banqueiros para prisão, mas que acabou sendo desqualificada e resultando em impunidade?

Roberto Saturnino Braga diz acreditar que, dessa vez, a situação é diferente. “Não creio que haverá desqualificação da Lava Jato. Meu receio é muito mais com a desmo-ralização da Petrobrás. Há uma soma de interesses gigantescos con-tra a Petrobrás”, ressaltou.

As circunstâncias em que o país vive – com uma sociedade mais atenta e exigente – podem inibir ten-tativas de esmorecer a Lava Jato? Se a resposta é sim, mais do que capitali-zar o êxito da operação, a presidenta Dilma Rousseff deveria aproveitar a disposição coletiva e empreender ações que revelem outros desvios.

É o que defende o advogado Ro-drio Gava. “Tem muito, muito mais por aí e para além das já tradicio-nais empreiteiras. É hora de mexer no vespeiro do transporte público, dos serviços regulados e de outras tantas concessões que, nas mãos de síndicos ilegítimos da república, são

tão nefastas e contrárias ao interesse público. É hora de a presidenta Dil-ma aparecer em rede nacional, sema-nalmente, para mostrar o que faz e o que fará para mudar o país nesta matéria”.

petrobras

A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) promoveu em novembro, em frente à sede da empresa, no Rio de Janeiro, um ato em defesa da companhia pública brasileira de petróleo. Entidades como a Aepet, sindicatos e movi-mentos sociais têm demonstrado preocupação com o uso político da Operação Lava Jato com o intuito de desmoralizar e desqualificar a empresa, e assim criar um ambien-te favorável para que multinacio-nais explorem uma das maiores ri-quezas da nação hoje – as reservas de petróleo da camada pré-sal.

É o temor também do presidente do Centro Internacional Celso Fur-tado. “A Petrobras é nosso maior pa-trimônio. Principalmente depois da descoberta do pré-sal, ela virou alvo de interesses econômicos gigantes. É um movimento de desvalorização da empresa, de criação de dificuldades”, disse Roberto Saturnino Braga.

A preocupação encontra eco nas palavras da presidenta Dilma Rous-seff. À imprensa, Dilma tem adver-tido que é preciso tomar cuidado para que a sociedade brasileira não “condene” a Petrobras por atos de corrupção cometidos por alguns funcionários e dirigentes.

Na segunda semana de dezem-bro, a empresa de advocacia esta-dunidense Wolf Popper entrou com uma ação coletiva contra a Petrobras em uma corte de Nova York, em nome de investidores que compra-ram recibos que representam ações da estatal brasileira e são listados na Bolsa de Valores de Nova York. A ação alega que a Petrobras forneceu “material falso e comunicados en-ganosos” e não revelou uma “cultu-ra de corrupção” na empresa. Até o fechamento desta edição, a empresa brasileira não havia se pronunciado a respeito, dizendo apenas que “não foi intimada da ação judicial”.

Se a Operação Lava Jato terá o poder de mudar os rumos da polí-tica nacional, não se sabe. Mas, com as feridas abertas, é com grande ex-pectativa que boa parte da sociedade aguarda seu desfecho.

Veias abertas Da política brasileira A Operação Lava

Jato, ao levar para a prisão executivos

das maiores empreiteiras do

Brasil, expõe a histórica

promiscuidade entre o poder

econômico e o poder político

Por Wagner de Alcântara Aragão

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g O que é a Operação Lava Jato?É uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal a res-peito de uma organização criminosa formada por políticos, funcionários públicos, executivos de empreiteiras e doleiros. As empreiteiras distribuíam entre si contratos com órgãos públi-cos, em especial a Petrobras, median-te o pagamento de propina e desvio de dinheiro público, que era repassa-do a partidos políticos.

g Como funcionava o esquema?De acordo com o MPF, as empreiteiras reuniam-se e decidiam previamen-te quem executaria cada uma das obras oferecidas pelo poder público. Ao valor da oferta apresentada nas licitações era acrescentado um de-terminado porcentual, desviado para funcionários públicos e partidos polí-ticos. Essa verba era repassada pelas empreiteiras à quadrilha por meio de empresas de “consultoria” ligadas aos integrantes do esquema, “lavando” o dinheiro.

g Quem comandava a quadrilha? O doleiro Alberto Youssef era o opera-dor financeiro do esquema, enquan-to o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa era o operador político. Em depoimentos à Justiça, Costa afirmou que o esquema funcionava também em outras direto-rias da Petrobras, como Serviços, Gás e Energia, Produção e Internacional.

g Quais empreiteiras faziam parte da quadrilha?A Lava Jato já investigou executivos de nove empreiteiras: Camargo Corrêa, OAS, UTC/Constram, Odebrecht, Men-des Júnior, Engevix, Queiroz Galvão, Iesa Óleo & Gás e Galvão Engenharia.

g Quanto dinheiro o esquema desviou?O esquema de lavagem de dinheiro in-vestigado originalmente movimentou até 10 bilhões de reais. Não há, por enquanto, informações a respeito de quanto dinheiro público foi desviado. Em despacho divulgado em novem-bro, o juiz federal Sergio Moro, respon-sável pelo caso, afirmou que os danos sofridos apenas pela Petrobras “atin-gem milhões ou até mesmo bilhões de reais”. Em março, quando Youssef foi preso, a PF encontrou com ele uma lista de 750 obras que envolviam gran-des construtoras e obras públicas.

g Por que a maior parte das notícias en-volve só a Petrobras?Porque toda investigação precisa de

PERGUNTAS E RESPOSTAS

um foco e a apuração da PF e do MPF teve início com Alberto Youssef e Pau-lo Roberto Costa. Na medida em que mais informações forem obtidas por esses órgãos, a investigação deverá ser ampliada. Ainda que o foco esteja na Petrobras, outras empresas públi-cas já apareceram nas investigações, como a Companhia Energética de Mi-nas Gerais (Cemig), uma das principais concessionárias de energia elétrica do Brasil, que teria firmado contrato com uma empresa de fachada.

g Quem foi beneficiado pelo esquema?Depoimentos de Costa e Youssef indi-cam que o dinheiro repassado a parti-dos políticos serviu para irrigar os co-fres de integrantes do PT, PMDB e PP. Segundo declarações de Costa à Justi-ça Federal, no caso do PT quem rece-bia e distribuía o valor era o tesoureiro

do partido, João Vaccari Neto. No caso do PMDB, o operador seria Fernando Soares, conhecido como “Fernando Baiano”. Paulo Roberto Costa também afirmou que intermediou o pagamen-to de 20 milhões de reais para o caixa 2 da campanha do então candidato à reeleição ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em 2010. Ou-tro nome citado é o da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), cuja campanha ao Senado, segundo Costa, recebeu 1 mi-lhão de reais do esquema de desvios da estatal. Outro envolvido no esque-ma seria o ex-presidente do PSDB, Ser-gio Guerra, morto em março de 2014.

g Desde quando existe o esquema?O Ministério Público Federal afirma que o esquema de cartel das emprei-teiras em obras da Petrobras existe há pelo menos 15 anos. “Muito embora

não seja possível dimensionar o valor total do dano, pode-se afirmar que o esquema criminoso atuava há pelo menos 15 anos na Petrobras”, escre-veram os procuradores na petição em que pedem autorização para a defla-gração da sétima fase da operação.

g Qual é o futuro da Lava Jato?Os processos e investigações refe-rentes à Lava Jato seguirão em duas mesas distintas. Enquanto o juiz fe-deral Sergio Moro continua com suas diligências em Curitiba, a fim de pro-var o esquema criminoso envolvendo as empreiteiras, doleiros e empresas públicas, o procurador-geral da Repú-blica, Rodrigo Janot, debruça-se sobre as provas para, perante o Supremo Tribunal Federal (STF), conduzir a in-vestigação dos detentores de foro pri-vilegiado, os políticos.

Esquema de lavagem de dinheiro investigado originalmente movimentou até 10 bilhões de reais

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UUma ideia e vários desdobramen-tos formam a história do Zons, um movimento cultural de Aracaju, ca-pital de Sergipe, que já está em sua segunda edição e conta com várias produções paralelas.

Em 2012, a ideia do fotógrafo Victor Balde e do produtor cultural Edézio Aragão era simples: produzir um DVD que registrasse o repertó-rio musical de bandas sergipanas, divulgando o trabalho dos músicos e contextualizando as pessoas sobre a produção no Estado.

Essa ideia aparentemente sim-ples, porém, culminou no Movi-mento Zons - um ideário artístico e sustentável que reúne várias temáti-cas atuais, como meio ambiente, cul-tura local e projetos independentes.

Para transformar essa ideia em

realidade, nada mais contemporâneo do que coletivizar os esforços e bus-car financiamento junto ao próprio público por meio de plataformas de financiamento coletivo.

“Parte do projeto, como o lança-mento do filme com bandas locais e a produção de eventos, teve seu orçamento vindo do site de crown-funding Catarse, o que tornou o Zons o primeiro projeto sergipano contemplado pela plataforma cola-borativa”, conta Balde.

Na primeira empreitada de fi-nanciamento, os prêmios para quem colaborasse incluíam o próprio DVD produzido, camiseta com estampa exclusiva e um ingresso para partici-par do festival – que foi realizado por cerca de 30 produtores, com idade entre 25 e 30 anos.

EQUIPE ZONS

Entre cenógrafos, iluminadores, fotógrafos, produtores culturais, músicos, técnicos de som e outras importantes funções, está uma ge-ração hiperconectada que desperta rapidamente para novos valores, novas formas de construção do pensamento, que contribuem para a dispersão da filosofia do movi-mento. O Zons faz parte de um ide-al coletivo que busca aproximar e fortalecer ideias e conexões com o intuito de potencializar espaços fí-sicos e sociais – uma tendência que vem sendo beneficiada principal-mente pelas redes sociais.

A equipe, além de ser parte dessa nova geração hiperconectada, é tam-

bém integrante do universo comu-nicacional, sendo que boa parte dela já é envolvida com fotografia, publi-cidade, jornalismo, cinema. Com a produção dos eventos, a equipe de produção busca afirmar-se enquan-to profissionais junto a realização de projetos e iniciativas próprias – fo-mentando a cultura local com pro-duções de qualidade.

Aos poucos, com o amadureci-mento da equipe e da logística, o Zons enveredou sob a perspectiva de tornar a experiência dos eventos um denominador comum para seu público e pessoas que compartilham da mesma vontade. Além do festival, são realizados outros eventos me-nores, como o “Zons Kids” (evento realizado no Dia das Crianças com programação infantil), o “Zons em

CUltUra em movimentoAo coletivizar a produção do entretenimento, ampliam-se as plataformas que conectam comunidades

locais à construção de um ideário que transcende barreiras físicas e do tempo

Por Helen Brüseke – De Aracaju, Sergipe g

Aracaju, SE

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Casa” e o “Zons de Bolso” (pockets shows em diferentes lugares da cida-de), expandindo para outros tipos de público a experiência que vai além do entretenimento.

O movimento alia profissionais de diversas áreas na concretização do seu ideal e reúne talentos da gas-tronomia vegetariana, do teatro, das artes plásticas e da dança, tornando todo iniciativa mais dinâmica.

O FESTIVAL

O Rancho Por-do-Sol foi palco do primeiro Festival Zons, que reu-niu aproximadamente 500 pessoas em novembro de 2013 para um dia diferente, com shows de bandas lo-cais que têm produção autoral.

Por ser a menor capital do Bra-sil, Aracaju não é rota de grandes shows ou festivais – que quando passam pelo nordeste brasileiro, aportam em Salvador, Recife ou Fortaleza. Os grandes eventos lo-cais são em grande maioria mica-retas com axé ou forró eletrônico, mainstream do público em geral. Assim, produzir um festival com atrações locais e originais foi um marco para o contexto da cidade.

Aracaju vem sendo cada vez mais apresentada a novas opções de entretenimento, e diversas ou-tras ações que combinam filosofias diferentes e iniciativas que benefi-ciam as pessoas e a cidade ao mes-mo tempo. Não só o Movimento Zons revela para a cidade uma nova forma de interação, mas o contexto no qual Aracaju se encontra é bas-tante positivo, considerando que há cinco anos a capital segipana não tinha nenhum tipo de opção cultural neste formato.

Em parte todo esse fenômeno acontece de forma natural: pes-soas de diversos estados acabam fomentando a necessidade de se atentar para o lado cultural e tam-bém para as questões práticas do dia-a-dia, pensando em um públi-co mais exigente ou diferenciado. O comércio cresceu considera-velmente por conta dessa nova mentalidade que demanda novas iniciativas, abrindo o leque de ser-viços nos diversos setores da eco-nomia. Há alguns anos, não se ti-nha o número de bares que se tem hoje, nem o número de restau-rantes e cafés. Para experimentar o diferente, era necessário ir até capitais vizinhas, como Maceió, Salvador e Recife, centenárias re-ferências urbanas.

Uma ideia aparentemente simples culminou no Movimento Zons: um

ideário artístico e sustentável que reúne várias temáticas, meio ambiente, cultura

local e projetos independentes

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ZONS DVD

A ideia inicial de compilar um registro audivisual transformou-se em filme, no qual cinco bandas dividem suas experiências en-trecortadas com músicas autorais em espa-ços de gravação diferentes.

São elas: Máquina Blues, The Baggios, Elvis Boamorte e os Boasvidas, A Banda dos Corações Partidos e Ato Libertário – todos grupos locais com propostas e estilos musicais diferentes que já possuem uma identificação com o público local. O destaque entre as ban-das é do duo The Baggios, cujo repertório é ouvido para além das fronteiras sergipanas e já tem uma história no cenário nacional.

A evolução do projeto não passa des-percebida tanto por aqueles que convi-vem diariamente com as nuances do Zons, como para aqueles que são expectadores dos eventos. “O que temos percebido em questão de evolução é que inicialmente tí-nhamos como meta o registro do DVD, depois surgiu a ideia do festival e hoje em dia vemos o Zons como um movimento de ideias”, explica Victor Balde.

Na segunda edição do DVD, participam as bandas Coutto Orchestra, Renegades Of Punk, Alex Sant’Anna, Patrícia Polayne, Plástico Lunar e Reação – todos artistas ser-gipanos, produzindo música autoral.

O MOVIMENTO

Definir o que é realmente o Zons e qual seu objetivo em poucas e breves palavras é se ater apenas para seu aspecto prático, sem contar com as intenções que surgem no pro-cesso de maturação de todo ideário, o que não é pontual. “A proposta é ser um movimento, apresentar nossas possibilidades de se pro-duzir cultura de uma forma não restrita ao entretenimento. Uma relação mais real entre as pessoas, sem a comum hierarquização que separa público e artista. Pretendemos criar momentos horizontais em que cada alma é importante para que isso tudo aconteça de forma harmônica e possamos transcender o cotidiano da vida”, revela Balde.

O movimento se desdobra em ações menores, nas quais os participantes buscam colocar suas ideias em prática sempre que podem. “Em abril deste ano, doamos R$ 1.400 para o Instituto Canto Vivo, obtidos através do leilão de shapes de skates pinta-dos por artistas plásticos locais durante o

festival Zons de 2013. A doação foi usada para obtenção de mudas de plantas perten-centes à Mata Atlântica. Depois fomos para a cidade de Campo do Brito, no interior de Sergipe, ajudar no processo de refloresta-mento”, relata Balde.

O Movimento Zons contribui diretamen-te para as mudanças sociais, proporciona um novo olhar para a cidade e sensibiliza pesso-as a fazerem parte da transformação diária. Um exemplo disso é o uso da bicicleta como meio de transporte alternativo, que possui ações próprias de grupos de amigos, como no caso do “Pedal da Madruga” - passeios de bicicleta em Aracaju saindo às 4am, incenti-vado pelo próprio Victor Balde. A mobiliza-ção é diária por parte de muitas pessoas que querem ver uma cidade abraçando mudan-ças positivas.

PERSPECTIVAS

Muitos desafios ainda precisam ser supe-rados, principalmente quanto à logística do Zons. Espaços que se adequem a conjuntura dos eventos, gravação, escolha do repertório, artistas participantes, equipe, comunicação com o público, comunicação impressa, au-torizações e questões burocráticas formam uma série de detalhes que consomem tempo e energia de quem faz o Zons acontecer.

O amadurecimento tende a ser alinhado com a mentalidade do próprio público, que vem sendo apresentando ao dinamismo das ideias há pouco tempo – o que por sua vez exige maior entendimento quanto a plenitu-de do projeto, sejam suas falhas, propostas que não podem ser colocadas em prática, preços ou outras questões mil.

Para que obtenha êxito, é preciso que o projeto seja colocado em prática e que haja uma entrega total. O tempo atua como pro-tagonista, limitando ou dando margem para a maturação daquilo que se quer concreti-zar – um processo que leva seu próprio rit-mo. Todo esse movimento acaba inspirando outras pessoas a colocarem em prática suas próprias ideias, seja com temáticas parecidas ou propostas completamente diferentes. To-das elas acabam esbarrando na união de ap-tidões e forças para uma realização coletiva.

A segunda edição do festival Zons, mar-cada para 13 de dezembro, tinha expectativa de público 30% maior do que no ano ante-rior. Para saber mais sobre essa experiência acesse facebook.com/zonsprojeto.

Entre cenógrafos, iluminadores, fotógrafos, produtores culturais, músicos, técnicos de som e outras importantes funções, está uma

geração hiperconectada que desperta rapidamente para novas formas de construção do pensamento

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gEsta matéria foi produzida por Helen Brüseke, estudante do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe, em parceria com o Projeto CONECTANDO, desenvolvido pelo Brasil Observer junto a universidades brasileiras e europeias. Para participar e ter seu texto publicado neste jornal, escreva para [email protected]

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CRIOLO AO PALCO Cantor vem a Londres peLa terCeira vez >> pgs. 22 e 23

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Convoque seu Buda que Criolo vem a londres

Após lançar seu terceiro disco, rapper se prepara para apresentação única no Village Underground, dia 22 de janeiro, e diz ao Brasil Observer que ‘o bom é

saber que a música possibilita encontros e possibilidades infinitas’

Por Guilherme Reis

Três anos depois de chacoalhar a cena musical brasileira com o disco Nó Na Orelha, o rapper Criolo lan-çou no dia 3 de novembro um dos álbuns mais aguardados de 2014, Convoque Seu Buda, seu terceiro re-gistro de estúdio. Sem aviso prévio, muito menos pompa ou glamour, o material foi disponibilizado na ínte-gra para download gratuito no site do cantor. Direto e reto, como um bom rap deve ser.

Não se trata, porém, de um disco “apenas” de rap. É claro que o gênero original do cantor está lá representado, em cações como “Convoque Seu Buda”, “Esquiva da Esgrima”, “Plano de Voo” e “Duas de Cinco”. Mas há também espaço para outros estilos, como samba, reggae e forró, que formam o qua-dro geral de um álbum que abraça a versatilidade da música popular brasileira e do próprio cantor, que transita com leveza por esses cami-nhos aparentemente desconexos.

Toda essa diversidade poderá ser conferida de perto pela audiência bri-tânica – e pelos brasileiros que aqui estão, é claro! – no dia 22 de janeiro, quando Criolo faz apresentação úni-ca no Village Underground, em Lon-dres. Será a terceira vez que o cantor sobe ao palco na capital inglesa. Ele esteve por aqui pela primeira vez em 2012, durante o festival Back 2 Black, e retornou em 2013, quando se apre-sentou ao lado de Mulatu Astake no London Jazz Festival.

Sobre a expectativa de tocar por aqui, Criolo respondeu ao Brasil Ob-sever, por e-mail, que “esses convites são raros e especiais, e quando rola nem sempre é tão fácil se deslocar”. E continuou: “Já houve situações em que não pudemos ir. Então é sempre uma gratidão enorme quando dá tudo certo. Por isso tentamos apro-veitar ao máximo essas oportunida-des para tentar construir um novo público, mostrar nosso trabalho e ti-rar o melhor desse intercâmbio”.

À NOVA GERAÇÃO

Criolo não é nenhum menino. Com 39 anos de idade, carrega na bagagem uma longa trajetória dentro do rap e sabe bem as dificuldades do meio. O álbum Nó Na Orelha, aliás, era para ser um registro de despedida, mas acabou alçando o cantor a um pa-pel de protagonismo dentro da chama-da nova música popular brasileira.

Criolo provavelmente não espe-rava por isso. E provavelmente dis-corda da afirmação acima, do prota-gonismo que lhe dão. Mas é um fato comprovado pelo reconhecimento de grandes nomes do cenário na-cional, entre eles Caetano Veloso, Chico Buarque, Ney Matogrosso e Milton Nascimento, com os quais teve a oportunidade de colaborar. E, obviamente, pelo reconhecimento do público, principalmente de uma ge-ração mais nova que, por reverenciar os clássicos do passado, muitas vezes sente certo vazio criativo nas músicas contemporâneas.

O rapper preenche com muito ta-lento esse vazio falando diretamente para uma geração que cresceu e cresce em meio ao caos das grandes cidades; da desigualdade que salta aos olhos; do consumismo estúpido de bens ma-teriais e de drogas (lícitas ou ilícitas); da falta de amor ao próximo. O novo álbum conta com inúmeras referências às preocupações demonstradas duran-te as manifestações de 2013 no Brasil, como as desocupações violentas feitas pela polícia e os perigos vividos por quem está nas ruas por conta da ex-pansão imobiliária.

“Estamos vivendo um período ex-tremamente hostil, que não foi cria-do e muito menos alimentado por esta geração que quer uma sociedade melhor”, disse Criolo. “Não podemos perder a esperança no ser humano, pois como será a vida de nossos ne-tos?”, questionou.

“Todos somos capazes de cons-truir algo positivo, mas um ambien-

te que incentive e facilite este pro-cesso de construção está longe de ser democrático. Enquanto houver desigualdade vai existir sofrimen-to. Começamos a conversar sobre as possibilidades de como isso pode mudar, mas receber suporte para construir de fato essa mudança seria realmente bem melhor que conversar sobre”, completou.

PARA O MUNDO

Nascida no Grajaú, bairro da periferia de São Paulo, a música de Criolo fala para o mundo. Se todos os londrinos pudessem entender o por-tuguês, certamente se identificariam com as letras do rapper, pois do lado daqui se vive os apertos da máquina tanto quanto do lado de lá – ainda que de forma menos evidente. Nesse sentido, as canções de Criolo dão voz a sentimentos que ficam quase sem-pre reservados, guardados dentro da caixinha da ordem, da aceitação das coisas como elas são. De todo modo, essa é apenas uma interpretação.

Com isso Criolo parece concordar. “O desejo de sempre é o de poder se expressar, não importa a maneira. Não acredito em resultado final, não está em nossas mãos algo que se joga para o mundo. Mais que retorno de disco ou o que isso possa significar, o bom é sa-ber que a música possibilita encontros e possibilidades infinitas”, disse.

“Acredito que quando a música é feita com a mais pura sinceridade de seu coração, por mais elaborada ou inocente que seja, acaba alcançando outro coração e isso nutre o outro com esperança. A partir daí o que acontece foge do nosso controle”, comentou.

Então, afinal, devemos convocar nossos Budas? O que isso significa? “É a ideia de relembrar aos nossos jo-vens o quanto eles são especiais e car-regam uma energia que pode mudar o mundo. É isso e mais um tanto de coisas. O legal é que cada um desenhe a sua explicação”.

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Novo álbum está disponível em www.criolo.net

CRIOLOQuando: 22 de janeiro

Onde: Village UndergroundIngresso: £16.50

Informação: www.villageunderground.co.uk

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LIVROS

EXPOSIÇÕES

Ex CathedraMachado de Assis

Concret PoetryStephen Bann | Universidade de Cambridge até 15 de março

Quilombo dos PalmaresGlenn Alan Cheney

Machado de Assis é provavelmente o es-critor brasileiro mais reconhecido interna-cionalmente. Alguns críticos literários, como Harold Bloom e Susan Sontag, vão além: tra-ta-se do mais importante escritor latino-ame-ricano. De qualquer maneira, está no pata-mar de grandes nomes como Twain, Tolstoy, Flaubert, Sterne, entre outros.

Ex Cathedra é uma coleção que reúne 21 contos traduzidos – a maioria apresen-tada em inglês pela primeira vez. A edi-ção, que é bilíngue, traz a versão original em português de um lado e a tradução, do outro. Esse formato favorece bastantes os estudiosos dos dois idiomas que podem fazer comparações instantâneas.

Além deles, é claro, os amantes de lite-ratura podem apreciar cada história conta-da tanto com toques de realismo quanto de surrealismo. Nas palavras do ator britânico Nigel Planer sobre o livro, em artigo no The Guardian: “Contos inteligentes, subversivos e maravilhosamente construídos que nos re-metem ao início do século passado no Brasil”.

Está em exposição no Centro de Estu-dos Latino Americanos da Universidade de Cambridge trabalhos da coleção pessoal de Stephen Bann relacionada à troca de experi-ências que aconteceu entre poetas do Brasil e da cidade inglesa durante a década de 1960.

A exibição foi organizada para comemo-rar o aniversário de 50 anos da primeira ex-posição internacional de poesia concreta, que aconteceu em 1964 no St Catharine’s College, com curadoria do próprio Stephen Bann, Reg Gadney, Philip Steadman e Mike Weaver.

Na ocasião, entre os mais de 90 trabalhos

apresentados durante uma semana estavam poemas enviados do Brasil por Ronaldo Azere-do, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, José Lino Grunewald, Décio Pignatari, Edgard Braga, Luiz Angelo Pinto e Pedro Xisto.

Um seminário sobre a poesia concreta dos anos 1960, seu contexto e raízes será rea-lizado dia 14 de fevereiro de 2015 no Alison Richard Building. O programa conta com apresentações do professor Stephen Bann, Dr. Viviane Carvalho da Annunciação, Dr. Greg Thomas, da Universidade de Edinbur-gh, e Ann Noël Williams.

Por mais de um século, uma nação de fugitivos – africanos, índios, brancos e raças misturadas – lutou contra os mais poderosos impérios do mundo pela li-berdade. No desenrolar do século 17, o Quilombo dos Palmares agregou tantas culturas que desenvolveu idioma, religião, governo, valores e modos de vida próprios.

Sua população pode ter ultrapassado a marca de 20 mil indivíduos, e, ao que se sabe,

o líder era descendente de escravos. Ele era chamado Zumbi, e foi quem construiu a vila fortificada no topo de uma montanha no nor-deste brasileiro que serviu de base a Palmares.

A história é contada por Glenn Alan Che-ney de forma bastante abrangente, passando pelas origens da escravidão; pelas batalhas entre Palmares, Portugal e Holanda; pelo modo de vida na nação rebelde; e pelos moti-vos que levaram Palmares a desaparecer.

Quilombos – sociedades isoladas de es-cravos fugitivos – ainda existem no Brasil, e a luta por suas terras continua. Palmares e Zumbi tornaram-se mitos e símbolos de resistência ao racismo, à tirania e ao capi-talismo, pela construção de uma verdadei-ra identidade nacional. Cheney não deixa Palmares morrer em 1694. Em vez disso, lhe dá vida e significado diante do Brasil contemporâneo.

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ÁLBUNSRoad TripTony RocheEmbaixada do Brasil em Londres até 9 de janeiro

CabolcoPierre Aderne

Trabalhos CarnívorosGui Amabis

A Embaixada do Brasil, em parceria com a UpDown Gallery, recebe a exibição Road Trip, de Tony Roche. Admirador de longa data do tra-balho do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, Roche viajou o mundo para conhecer de perto as construções criadas por seu herói.

Uma das obras em exposição chama-se ‘Remembering Oscar Niemeyer’ e combina o estilo único de Roche com imagens de cons-truções de Niemeyer, criando uma experiên-cia hipnótica. Uma seleção de fotos tiradas por Roche durante a viagem também está em exibição, junto com outra obra que se chama ‘Memory Cabinet’.

Pierre Aderne pode ser um nome relativamente novo para o público britânico – e até para os brasileiros –, mas já se apresentou com Ben Harper e gravou com Madelei-ne Peyroux e Melody Gardot. Pierre também já escreveu canções para Seu Jorge e participou de turnê com Vinícius Cantuária. Seu novo álbum, Caboclo, foi gravado entre as cidades de Nova York, Rio de Janeiro, Paris e Lisboa.

Pierre cresceu ouvindo “Águas de Março”, de Tom Jobim, pela voz inconfundível de João Gilberto. E leva o Rio para onde quer que vá, coletando referên-cias culturais diversas por onde passa. Nascido na França, mas criado no Brasil, Pierre hoje mora em Portugal e constrói pontes entre diferentes mundos musicais com extrema facilidade.

Caboclo é seu primeiro álbum a ser lançado no Rei-no Unido (depois de lançamentos no Brasil, em Portugal e no Japão) e traz uma melodia gentil e charmosa, com

a qual Pierre constrói uma nova levada que deve colocá-lo definitivamente no mapa da música. O álbum tem ainda duetos com Melody Gardot e Tito Paris, uma canção escrita em parceria

com Madeleine Peyroux e colaborações de grandes músicos, como Philippe Baden Powell, Vinícius Cantuária, Kenny Wollesen, Dan Rieser, Chuck Staab e Eivind Opswik.

O compositor, produtor e multi-instrumentista Gui Amabis apresenta o álbum Trabalhos Carnívoros, com o qual pretende juntar, através de sua música, os pontos entre Darwinismo, sexo e amor.

Seu álbum anterior, Memórias Luso/Africanas, lançado pela Mais Um Discos, contava com as participações de Lu-cas Santanna, Criolo, Céu e Tulipa. Agora, com canções que abordam questões pessoais, Amabis assume a função: “Meu álbum anterior contou a história do Brasil e por isso preci-sava de vozes diferentes; em Trabalho as letras são baseadas em minha experiência, é como se eu buscasse dar um senti-do a minha própria vida”.

No momento em que gravava o álbum, Amabis ouvia regularmente a lenda brasileira Dorival Caymmi, o rock turco de Erkin Koray e o trovador escocês Donovan. Em Trabalhos Carnivoros Amabis absorve bem essas influên-cias com sua sonoridade introspectiva e intensa.

Assumir a função vocal foi uma atitude corajosa de Amabis, e sua melancolia melódica combina perfeitamente com o som do violão, ecoando uma sonoridade rítmica que ele e seus parceiros Regis Da-masceno, Dustan Gallas e Samuel Fraga construíram junto com as contribuições de Dengue e Pupillo, do grupo Nação Zumbi, e do saxofonista Thiago França, da banda Meta Meta.

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FRANKO FIGUEIREDO

AbRINDO A pORtA DA pERcEpçãO

A reeleição de Dilma Rousseff expôs o quanto o Brasil está atolado em má compreensão e precon-ceito. As estatísticas mostraram que a maioria dos eleitores da presidenta mora no Nordeste. Isso fez com que muitos residentes das regiões Sul e Sudeste do país, automaticamente, demonizassem e acusas-sem aqueles de estupidez.

Na mídia, particularmente nas mídias sociais, o abuso e o preconceito de classe foram propaga-dos abertamente. Imagens de um Brasil dividido ao meio circularam incansavelmente. Vídeos deplo-ráveis de pessoas indignadas pedindo intervenção foram postados nas redes.

Dilma foi reeleita com uma margem estrei-ta de votos, é verdade. Mas, ao não aceitarem o resultado de um processo democrático, tais manifestantes agiram como crianças mimadas que vomitam petulância ao não serem contem-pladas com aquilo que querem.

Alguns, aliás, chegaram a sair às ruas pedindo intervenção militar, defendendo uma nova ditadu-ra. Não chegou a ser uma demonstração em massa, devo admitir. De qualquer maneira, isso me intrigou.

Os mais de 20 anos de ditadura militar que to-mou conta do Brasil a partir de 1964 são menos conhecidos no exterior do que aqueles do Chile e da Argentina, mas ainda assim foram brutais. Cen-tenas de pessoas morreram e milhares foram presas e torturadas pelo regime.

Mesmo que os ditadores brasileiros tenham sido menos assassinos do que aqueles de outros pa-íses sul-americanos, nossa ditadura tornou-se mo-delo para uma mudança de regime ainda inacaba-da. A democracia foi reestabelecida em 1989, mas, 50 anos após o golpe militar, o legado de abusos aos direitos humanos permanece vivo.

Os primeiros 17 anos da minha vida se passa-ram durante a ditadura, liderada por militares como Emílio Médici e Ernesto Geisel, que exigiam a adap-tação de todos os brasileiros à nova ordem social.

Havia manipulação de todas as instituições, in-cluindo a mídia e o setor educacional. Muitos ma-teriais escolares eram usados para influenciar toda

uma geração política, econômica e socialmente. Muitos artistas e jornalistas, entre outros, tentaram quebrar essas barreiras impostas, mas geralmente eram suprimidos pelo regime.

Na década de 1980, a televisão se tornou – e continua a ser – uma forte ferramenta de marke-ting para aqueles que comandam o país. Assim, ao passo em que você se alimenta diariamente de tanta propaganda, fica cada vez mais difícil de balancear e interpretar criticamente o ambiente político e so-cial que permeia cada época.

Eu tive um doloroso despertar quando deixei o Brasil e me estabeleci na Inglaterra. Como produtor de teatro, passei a estudar diferentes argumentos políticos encontrados na dramaturgia britânica e espanhola. Esse exercício me fez entender que meu conhecimento de história era basicamente seletivo, preconceituoso e construído de acordo com os in-teresses políticos do país em que eu havia crescido.

Naquele tempo, eu não possuía qualquer capacidade de discernimento, mas carregava comigo um inexplicável senso de inquietação e preocupação. Lembro-me de um dia em que a professora de história não apareceu para dar aula; ela havia desaparecido por alguns dias, e voltou depois de ser hospitalizada.

Ninguém era permitido de debater o caso, em-bora suspeitássemos do que se tratava, afinal, a professora já havia sido alertada por conta de certa “tendência de esquerda”. Após um período no hos-pital, ela voltou à escola para seguir o currículo à risca. Mas, obviamente, ela não era mais a mesma pessoa, muito menos a mesma professora.

Também me lembro de uma reunião com os diretores da escola por conta de um poema que es-crevi para a competição anual: disseram-me que o conteúdo era muito comunista. Mesmo recebendo a maioria dos votos, meu poema foi desqualificado e cada cópia, destruída.

Esses são apenas alguns exemplos que podem parecer insignificantes, mas que para mim signifi-cam censura. Por isso, quando pessoas saem às ruas e pedem o retorno da ditadura militar, das duas,

uma: ou não fazem ideia ou fingem que não sabem o que é viver sob um regime de opressão. Os ves-tígios daquele regime permanecem: acabamos nos tornando nossos piores censores.

Tudo isso evidência o quão importante é conhe-cer a história de pessoas reais, muito mais do que a história que aqueles no poder querem que acredi-temos. Aqui está o significado de projetos de his-tória oral como o Brasiliance: capturar a realidade de pessoas comuns que, ao contarem suas versões sobre fatos cotidianos, nos ajudam a preencher as lacunas que faltam nos documentos oficiais.

Precisamos garantir que histórias diversas, de diferentes comunidades sejam contadas. Al-guns grupos são menos visíveis que outros, fa-zendo com que as pessoas ignorem a contribui-ção deles para a sociedade – o que, na maioria dos casos, leva ao preconceito.

A equipe que se dedicou ao Brasiliance gravou onze entrevistas com brasileiros que moram em Londres desde as décadas de 1960, 1970 e 1980. A ideia surgiu da necessidade de dar mais visibilidade à pequena, mas crescente minoria de brasileiros no Reino Unido, revelando suas histórias e contextua-lizando-as ao ambiente social em que se inserem. O material educacional produzido está sendo adota-do por escolas secundárias, além de estar disponí-vel em bibliotecas, como a British Library e o Insti-tute of Latin American Studies.

Essas histórias são particularmente importantes nos dias que correm. Temos visto como o gover-no britânico, apoiado por muitas mídias de direi-ta, tem tentado culpar os imigrantes pelo fracasso econômico do país – em vez de reconhecer que, na verdade, os imigrantes desempenham papel funda-mental na construção do Reino Unido.

O Brasil não precisa de uma nova intervenção militar. Precisa é de diretrizes governamentais que priorizem a educação, entendendo a identidade, o significado e o propósito da vida por meio de co-nexões com a comunidade, atividades culturais e o respeito pelo mundo natural e pelos valores huma-nitários de igualdade, compaixão e paz.

Histórias diversas, de diferentes comunidades precisam ser contadas. Muitos grupos são menos visíveis que outros, fazendo com que as pessoas ignorem a contribuição deles para a sociedade – o que acaba levando ao preconceito

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Cia de Teatro StoneCrabs

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g Bianca Brunow e Marielle Machado continuam esta coversa em www.musicaparavestir.com.br

BIANCA BRUNOW & MARIELLE MACHADO

NOssO jEItO DE UsAR

O conceito desta coluna é buscar inspiração em tudo, e reforçar a sen-sibilidade no olhar para transformar referências em realidade – mesmo que a gente não tenha dinheiro para comprar aquela Chanel.

Boa parte das publicações de moda é levada a sério demais, e cor-roboram para a criação de uma so-ciedade cada vez mais escrava – não de tendências, mas de produtos. Mu-lheres, em geral, não são as consumi-

doras mais conscientes do planeta; por isso criamos o desafio de repro-duzir nossas inspirações sem preci-sar correr pras lojas.

Cada uma reproduziu de um jei-to. Enquanto a Bia tentou se inspirar na ideia e nas cores, a Teka reprodu-ziu de uma forma mais literal – mos-trando que existem produtos equiva-lentes que não copiam, mas compõe tão bem como qualquer outro. Será que deu certo?

Minha inspiração veio do Instagram. Krystin Lee é a Ca-nadense por trás do

Suburban Faux Pas, e o desafio maior de tê-la

como inspiração é a di-ferença climática entre

nossos países (estou no Brasil!). Gosto dela

porque as referências são muito diversas – rola produção mais

clássica, casual, espor-tiva, romântica –, mas com personalidade. É

o tipo de ecletismo que eu desejo para mim.

Usei a mesma paleta de cores, mas de forma diferente. Uma saia floral, um

trench coat e sapatos clássicos formam a

base preta e branca. Para jogar pontos de

cor, usei borgonha nos lábios e na bolsa – já

que não tenho esse casaco maravilhoso da moça. Ficou diferente

do original, mas a ideia está aí. Eu consigo ver

a referência, e vocês?

Minha inspiração veio do site Asos Fashion Finder. Criei meu perfil há algum tempo e adoro buscar referên-cias por lá. Foi assim que eu achei a Victo-ria Villasana, do blog Style Marmalade. Ela é mexicana, mas mora aqui em Londres, e eu simplesmente adoro todas as combinações de cores e texturas que ela faz quando se veste. Essa foto em particular me fez lembrar uma saia que estava esque-cida nas profundezas do meu guarda-roupa. É uma saia midi (como eu poderia ter me esquecido dela quando a minha obsessão por saias midi só aumen-ta?), com um tecido bem fininho, ótima pra dias quentes. Coinci-dentemente, eu tinha acabado de comprar um moletom vermelho e estava pensando em maneiras legais de usar.

Para não ficarmos dependentes dos produtos dessa ou daquela

marca, a saída é reforçar a sensibilidade no olhar

O jEItO DE UsAR DA BIA O jEItO DE UsAR DA tEKA

Bia: “Cores sóbrias sem ficar chato” Teka: “Minha releitura literal”

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EVEROY JOHNSON

RICARDO SOMERA

TOCANDO O pRópRIO NEgóCIO

TRINTANDO NO CINEMA E NO CIRCO

O último verão não foi dos me-lhores para o Reino Unido, tanto em termos de condições climáticas quanto no que diz respeito a con-quistas esportivas. Mas, agora que o país já voltou a sua rotina normal com o fim das férias escolares e em-presariais, uma nuvem de expectati-vas em relação a novos empreendi-mentos paira sobre nós.

Estamos naquele período do ano em que muitas ideias de negócio es-tão sendo formuladas. Já vimos no passado que a chegada do Ano Novo estimula muitos empreendedores: é justamente agora que a maioria das pessoas que desejam começar novos investimentos está estruturando e planejando os próximos passos a se-rem tomados.

Aparentemente, o período de fé-

rias, relaxamento e lazer encoraja nos-so cérebro a pensar que podemos fa-zer mais do que atualmente fazemos. Por que continuar trabalhando para uma empresa ou um chefe com os quais não temos a liberdade necessá-ria para criar? Se você tem habilidade para tomar iniciativas próprias, acei-tar riscos e se aventurar, então eu digo que é hora de começar a planejar.

Mas há um ponto crucial aqui: se estamos pensando em tomar tal de-cisão, precisamos considerar todos os prós e contras milimetricamente, pois este pode ser o momento mais impor-tante ou desastroso de nossas vidas. Eu já trabalhei com muitas Start-Ups e sei exatamente quais sinais apontam para um futuro de sucesso.

A primeira e essencial constatação a se fazer a qualquer aspirante a em-

presário é que o planejamento é mais importante do que o próprio lança-mento do negócio. É nesta fase que precisamos avaliar eventualidades que talvez nunca se tornem realidade, mas que poderemos superar se acontece-rem. Ser parte de um time é magnífico, mas, quando se está por conta própria, a tarefa de tocar uma empresa pode ser bastante solitária, especialmente se você nunca esteve em posição seme-lhante em outro momento da vida.

Uma vez que você já sabe qual é seu potencial, ou seja, aquilo que você vai oferecer aos seus clientes, é chega-da a hora de fazer com que os mesmos saibam do que se trata. Abaixo seguem algumas questões básicas a serem con-sideradas antes do pontapé inicial:• Como você vai realizar essa tarefa?• Por que seus potenciais clientes de-

vem trocar o serviço que eles já têm por aquele que você está oferecendo a eles?

• Como ganhar investimento?• Como contratar empregados?• Onde seu empreendimento deve estar

localizado?• Você precisa de alguma licença para

atuar no setor?• Quais são as possibilidades de lucro?

E de perdas? • Qual sua avaliação sobre os riscos?

Todos esses pontos são extrema-mente importantes no momento de transformar uma ideia em possibili-dade real de negócio. Mais importante do que qualquer outra coisa, porém, deve ser sua própria avaliação pesso-al sobre o estilo de vida que você quer para o futuro.

Quem já passou pela fronteira dos trinta anos sabe: não é travessia simples. Vários questionamentos, muitas dúvidas e poucas certezas... E isso é bom! Aproveitei esse momento de mudança (que ótima desculpa!) e tirei um tempo para refletir a vida com cinema e música.

Como nada é por acaso, na mi-nha já tradicional “segunda no cine-ma” fui conferir o longa-metragem Trinta, do diretor Paulo Machline, sobre a vida do carnavalesco João Jorge Trinta, mais conhecido como Joãozinho Trinta. E numa viagem relâmpago ao Rio de Janeiro, fui ao Circo Voador conferir o último show da turnê de 30 anos de uma das mais importantes bandas brasi-leiras: Os Paralamas do Sucesso.

Para os amantes do carnaval e do samba, Trinta é um prato cheio de referências a um tempo que não volta mais. Um tempo em que ma-drinha de bateria de escola de samba tinha uma relação verdadeira com a comunidade – e que de fato era es-

colhida por votação. Um tempo em que a criatividade carnavalesca esta-va acima do patrocínio das grandes marcas, ainda que já carregasse a influência controversa dos bicheiros que tomavam conta das escolas.

Trinta conta, de maneira simples e emocionante, a trajetória de um dos maiores nomes da arte brasileira, Joãozinho Trinta. A história é guiada a partir do carnaval de 1974, quando Joãozinho estreou como carnavalesco do Salgueiro com o clássico samba-enredo Rei da França na Ilha da As-sombração. Entre flashbacks, vemos a trajetória do sambista desde São Luís do Maranhão até o Rio de Janeiro; da carreira de jornalista para a de bailari-no; e da desgraça à glória.

A emoção aumentava a cada som de tamborim e não consegui segurar as lágrimas até o carnaval chegar. Pra mim, o melhor filme brasileiro do ano, junto com A Des-pedida, de Marcelo Galvão.

Já na Cidade Maravilhosa, a pro-gramação estava intensa: Criolo na

Fundição Progresso; Metronomy no Circo Voador; Gang do Eletro no Clu-be Helenico (festa divertida com gente pelada); e Silva no Complex de Ipane-ma. Mas a decisão mais acertada foi o show de encerramento da turnê de 30 anos de Os Paralamas do Sucesso.

Confesso que nos últimos anos tenho acompanhado pouco essa tur-ma que fez parte tão intensamente da minha adolescência, mas isso não fez grande diferença já que o show foi um apanhado de todos os anos de estrada. Loirinha Bombril, A Novidade, Ócu-los, Alagados, entre outros clássicos do pop-rock nacional foram tocados.

Bi Ribeiro, Hebert Vianna e João Barone ainda conseguem fazer a gale-ra pular e cantar junto, independente-mente da idade. Foi épico e lindo! E me fez criar uma playlist no Spotify para eu lembrar de todos os dias em que “as meninas do Leblon não olham mais (sic) pra mim” e que, ainda em 2014, “a cidade que tem os braços abertos num cartão postal”, permanece “com os pu-nhos fechados na vida real”.

Estamos naquele período do ano em que muitas novas ideias estão sendo formuladas e planejadas, o que pode te levar ao passo mais importante de sua vida – ou ao mais desastroso

Chegar aos 30 anos é uma bela desculpa para continuar

fazendo tudo aquilo que se gosta – até um pouquinho mais

g Everoy Johnson é dono da Atex Business Solutions

g Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá-lo no Twitter

@souricardo e Instagram @outrosouricardo

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29brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

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A maior celebração das culturas latino-americana, espanhola e portuguesa no Reino Unido!

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13 de maio de 2015.

O LUKAS 2015 ESTA CHEGANDO‘

The latin uk awards

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30 brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

5 paraísos brasileiros para descobrir em 2015

barra Grande, piauí

barreirinhas e lençóis maranhenses, maranhão

“Barra Grande é hoje o que a praia de Jericoacoara era há 20 anos”, diz Alison. Essa simples vila de pescadores está ape-nas começando a ficar conhecida, graças às suas lindas pou-sadas, praias espetaculares e ótimas condições para a prática de kitesurf. “Não é o melhor lugar se você está à procura de vida noturna, mas o que você vai encontrar é um paraíso: céu azul, areia branca e cerveja gelada”.

Barra Grande fica à uma hora e meia de Parnaiba e não é o lugar mais fácil de chegar. Apesar disso, Alison descreve o tempo que passou lá como “extasiante” – acordando com o som das ondas do mar e passando as tardes em restaurantes à beira da praia, com direito a peixes para todos os gostos e paisagens deslumbrantes.

Para quem deseja conhecer outras atrações do Estado do Piauí, Alison recomenda o Parque Nacional Serra da Ca-pivara. “Lá você vai encontrar milhares de desenhos feitos nas pedras, alguns há mais de 30 mil anos. É absolutamente impressionante”, ela conta.

ONDE FICAR Terra Patris Atellier (terrapatris.com.br)

“Essa pousada é simplesmente linda. São apenas três banga-lôs com teto de palha, uma recepção circular, uma área de repouso e uma grande e convidativa piscina”, descreve Alison. “Há wi-fi disponível, excelente música e uma sensação de bem estar indescritível. Nathalia e seu marido Marco são os donos do local – dois paulistas super amigáveis que conseguiram escapar da vida corporativa da cidade”.

“Barreirinhas é uma cidade que se espalha pelas margens do Rio Preguiças, ponto de partida ideal para uma viagem aos Lençóis Maranheses”, indica Alison. “E se ficar do lado mais pacato do rio, o único barulho que irá escutar será das árvores e dos passarinhos”.

Alison recomenda chegar ao local por São Luís, capital do Maranhão, de onde você pode pegar uma condução que sai às 7h – direto da pousada ou do hotel em que você estiver hospedado. Dessa forma, é possível chegar a Barreirinhas por volta do meio dia, em tempo para almoçar e aproveitar o pas-seio pelas dunas que começa às 14h.

O melhor período do ano para conhecer os Lençóis Ma-ranhenses é entre julho e novembro – quando as lagoas ficam cheias. “Só não esqueça o chapéu, o protetor solar e o repe-lente”, alerta Alison.

ONDE FICAR Sossego do Cantinho (sossegodocantinho.com.br)“Esse é definitivamente o melhor lugar para ficar na região. Localizado na margem do rio, oferece um ambiente calmo e silencioso, ainda que fique a apenas 15 minutos a pé do centrinho da cidade, onde é possível encontrar restaurantes, bares e lojas”.A pousada tem apenas quatro bangalôs, mas são todos espaçosos, com camas confortáveis, ar condicionado, geladeira e TV a cabo.

icaraizinho de amontada, ceará

chapada diamantina, bahia

santana dos montes, minas Gerais

Divulgação

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31brasilobserver.co.uk | December 14/January 15

Por Christian Taylor

Com o inverno chegando rapidamente ao hemisfério norte, quem não tem sonhado com o calor do Brasil? Conversamos com Alison McGowan, dona do site HiddenPousadasBrazil.com, que indicou quais destinos escondidos do país devem estar no topo de sua lista de viagem para o novo ano que começa

“Com uma paisagem formada por praias, dunas, surfistas e lagoas, esse é um local onde tudo que você irá ouvir é o barulho do mar e do vento”, garante Ali-son. “Você provavelmente não vai encontrar Icaraizi-nho de Amontada na maioria dos mapas, mas o lugar fica na costa do Ceará, 198 km ao norte de Fortaleza”. A própria Alison, por sinal, descobriu a vila por aca-so, quando dirigia pelas praias desertas do Maranhão, Piauí e Ceará com uma caminhonete 4x4.

Alison descreve Icaraizinho como “um lugar onde todo mundo conhece todo mundo, com uma igreja, uma praça e um bar, perfeito para relaxar tomando uma cerveja logo depois de sair do mar”.

Quando você estivar suficientemente relaxado, ha-verá muitas coisas para fazer, como praticar kitesurf, passear de buggy pelas dunas durante o por do sol, saborear frutos do mar fresquinhos no restaurante do Zé e tomar caipirinhas com os pés no rio Aracatiassu.

Se você não tiver um carro, a pousada pode orga-nizar um transfer a partir do aeroporto de Fortaleza por R$ 350. Há também o ônibus FretCar que sai da capital cearense todos os dias às 14h.

ONDE FICAR Casa Zulu (casazulu.com)

“A pousada tem ao todo seis suítes, todas rodeadas por um jardim tropical”, diz Alison. Os hóspedes podem esperar conforto, ar condicionado, TV, camas confor-táveis e excelentes chuveiros.“O que eu mais gosto nessa pousada é que a praia fica à sua porta. Além disso, tem uma piscina deliciosa e está localizada no centro da vila. Há uma atmosfera internacional bastante amistosa”.

Não poderia faltar, é claro, destinos pelo interior do Brasil. A Chapada Diamantina, na Bahia, fica a cinco horas de Salvador e oferece belezas naturais abundantes, incluindo imensas cachoeiras e caver-nas para explorar. Para conhecer o parque nacional, há duas cidades que servem como ponto de partida: Lençóis e Palmeiras.

“Esse é um lugar extraordinário – o curioso é que as montanhas chapadas datam de bilhões de anos e já estiveram no fundo do oceano”, conta Alison. “O Vale do Capão tem mil metros de altitude e a temperatura lá é mais baixa do que a da costa da Bahia – média de 19º C durante praticamente todo o ano”.

ONDE FICAR Lagoa das Cores (lagoadascores.com.br)

“Esse lugar é mágico! Os donos, Marcos e Vania, tra-balham para combinar princípios ecológicos com estilo e conforto – tudo em um dos lugares mais bonitos do mundo rodeado por montanhas. Alguns quartos têm até lareiras para as noites mais frias”.

“Eis um excelente ponto de repouso para quem pretende visitar as cidades históricas de Tiradentes e Ouro Preto – mas você vai precisar de um carro”, aponta Alison. “Os visitantes podem nadar em cacho-eiras, piscinas naturais e lagoas, passear a cavalo ou de bicicleta e caminhar pelas montanhas”.

ONDE FICAR Fazenda Santa Marina (fazendasantamarina.com.br)

“Totalmente restaurada, essa fazenda do século 19 oferece aos visitantes um amplo e luxuoso espaço ro-deado por montanhas. A comida caseira é deliciosa e os hóspedes também podem aproveitar piscina, sauna e um spa. Não há internet nem conexão para celular – o que é na verdade uma vantagem para quem quer aproveitar a mágica do local”, revela Alison.

IcaraIzInho de amontada, ceará

chapada dIamantIna, BahIa

Santana doS monteS, mInaS GeraIS

g Christian Taylor escreve em www.ilikewords.co.uk e você também pode encontrá-lo no Twitter @xian_taylor

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BRASIL OBSERVERWISHES YOU A MERRY CHRISTMAS

AND A HAPPY NEW YEAR!

B R A S I LO B S E R V E R

Our next edition runs on February, but you can keep in touch with us online:

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