boletim trimestral do escritório professor rené dotti · 1 ano 11 . nº 34 . outubro / novembro /...

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Ano 11 . nº 34 . Outubro / Novembro / Dezembro / 2016 Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. A preservação da integralidade da prova Bruno Correia A multipropriedade imobiliária (time-sharing) Emilly Crepaldi Prescritibilidade das pretensões de ressarcimento por danos ao erário decorrentes de atos de improbidade administrativa Maria Vitoria Kaled Apreensão regular de celular permite acesso a dados contidos no aparelho Fernanda Lovato O programa de parcerias de investimentos André Meerholz e Ana Cristina Viana “É preciso superar três grandes malefícios da democracia representativa: o leilão da sigla, o aluguel da consciência e o intolerável número de partidos políticos (35)!”. (Prof. René Ariel Dotti) René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero Luvizotto Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Emilly Crepaldi Bruno Correia . Ana Cristina Viana . Maria Vitoria Kaled Fernanda Lovato . Vinícius Cim

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Ano 11 . nº 34 . Outubro / Novembro / Dezembro / 2016

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

A preservação da integralidade da

prova

Bruno Correia

A multipropriedade imobiliária

(time-sharing)

Emilly Crepaldi

Prescritibilidade das pretensões de ressarcimento por danos ao erário decorrentes de atos de improbidade administrativa

Maria Vitoria Kaled

Apreensão regular de celular permite

acesso a dados contidos no aparelho

Fernanda Lovato

O programa de parcerias de

investimentos

André Meerholz eAna Cristina Viana

“É preciso superar três grandes malefícios da democracia

representativa: o leilão da sigla, o aluguel da consciência e o intolerável

número de partidos políticos (35)!”.(Prof. René Ariel Dotti)

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari

Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero LuvizottoLuis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães

Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Emilly CrepaldiBruno Correia . Ana Cristina Viana . Maria Vitoria Kaled

Fernanda Lovato . Vinícius Cim

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EDITORIAL

Uma escola de cidadania política (René Ariel Dotti) ................................................................................................................................................. 03

PENSAMENTO .............................................................................................................................................................................................................................. 03

SEÇÃO INFORMATIVA .................................................................................................................................................................................................................. 04

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes ............................................................................................................................................................................................... 05

DIREITO CRIMINAL

A regulamentação do uso de algemas (Alexandre Knopfholz) ................................................................................................................................ 06STJ admite responsabilização criminal exclusiva da empresa (Gustavo Scandelari) ...................................................................................... 06Preservação da intimidade x interesse da coletividade (Rafael de Melo) ....................................................................................................... 07Peculato: utilização, por agente público, de servidor subordinado para a eventual prática de serviços particulares (Luis Otávio Sales) ......................................................................................................................................................................................... 07Os honorários de sucumbência na ação penal privada (Guilherme Alonso) ..................................................................................................... 08A preservação da integralidade da prova (Bruno Correia) .................................................................................................................................... 08Apreensão regular de celular permite acesso a dados contidos no aparelho (Fernanda Lovato) ............................................................ 09STJ edita Súmula sobre o momento consumativo do crime de roubo (Vinícius Cim) ................................................................................. 09

DIREITO ADMINISTRATIVO

Responsabilidade administrativa ambiental não é objetiva (Francisco Zardo) .............................................................................................. 10O programa de parcerias de investimentos (André Meerholz e Ana Cristina Viana) ................................................................................................. 10Prescritibilidade das pretensões de ressarcimento por danos ao erário decorrentes de atos de improbidade administrativa (Maria Vitoria Kaled) ..................................................................................................................................................... 11Impossibilidade do TCU decretar cautelarmente a indisponibilidade de bens de particulares (Adriano Biancolini) ......................... 11

DIREITO CIVIL

O STF e a vaquejada (Julio Brotto) ................................................................................................................................................................................ 12STJ decide que é válida a cláusula da corretagem de imóvel (Patrícia Nymberg) ........................................................................................... 12O prazo para reclamar as diferenças em razão do aumento abusivo do plano de saúde pela alteração da faixa etária (Vanessa Scheremeta) ..................................................................................................................................................................................... 13A continuidade do contrato e a teoria do adimplemento substancial (José Roberto Trautwein) ................................................................. 13A (i)legalidade do “desconto pontualidade” (Fernando Welter) ............................................................................................................................ 14Transporte gratuito - Responsabilidade civil (Vanessa Cani) ............................................................................................................................... 14A solução extrajudicial de conflitos (Parte II) (Cícero Luvizotto) ........................................................................................................................... 14A multipropriedade imobiliária (time-sharing) (Emilly Crepaldi) ....................................................................................................................... 15Lei paranaense sobre cobrança em estacionamentos é inconstitucional (Isabella Santiago de Jesus) ....................................................... 15

DIREITO DO CONSUMIDOR

A internet das coisas (Laís Bergstein) ............................................................................................................................................................................ 15

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Quebra de sigilo bancário da empresa em ação de divórcio de sócio (Rogéria Dotti) ................................................................................ 16Casamento e união estável: igualdade sucessória (Fernanda Pederneiras) ........................................................................................................ 16Alterações do Direito das Sucessões trazidas pelo Novo CPC (Parte III) (Thais Guimarães) ........................................................................ 17A dispensa de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça da sentença estrangeira de divórcio consensual (Diana Geara) .............................................................................................................................................................................. 17

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Crime de desacato x liberdade de expressão: o que prevalece? (David Edson dos Santos) ............................................................................ 18Defeitos na qualidade de veículo novo e incidência de danos morais ao consumidor (Franciele Fernandes de Oliveira) ........................ 18Centro de Mediação para Solução de Litígios no STJ (Gustavo Cezar Vieira) ..................................................................................................... 18Pensão civil: possibilidade de inclusão, entre os beneficiários, de menor sob guarda (July Meirihelen Gonçalves) ................................ 19Estupro e atentado violento ao pudor são crimes hediondos (Larissa Ross) ................................................................................................ 19TJ de São Paulo autoriza retificação de registro civil sem necessidade de cirurgia de transferência de sexo (Kevin Lucas Golinski Krauze) .................................................................................................................................................................................. 19

ÍNDICE

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UMA ESCOLA DE CIDADANIA POLÍTICA

EDITORIAL

JULIO MICHELET (1798-1874), ilustre historiador francês, indaga e, ao mesmo tem-po, responde: “Qual é a primeira parte da Política? A educação. A segunda? A educação. E a terceira? A educação”. Tinha toda razão o ilustre autor das obras clássicas História de França (1833-1846) e História da Revolução Francesa (1847-1853), que servem de roteiro para conhecer aspectos fundamentais da pátria de VICTOR HUGO (1802-1885).

O tempo das últimas eleições para vereadores e prefeitos municipais em todo o Brasil exige de todos os cidadãos uma reflexão acerca dos vícios do sistema eleitoral brasileiro, que é um viveiro de leis de ocasião e um terreno minado de incertezas.

É preciso superar três grandes malefícios da democracia representativa: o leilão da sigla, o aluguel da consciência e o intolerável número de partidos políticos (35)!

Recentemente foi criada, no âmbito do TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PA-RANÁ (TRE-PR), sob a presidência do Desembargador LUIZ FERNANDO TOMASIKEPPEN, a Escola de Cidadania Política (ECP), na qual são desenvolvidos projetos para aproximar os públicos infantil e adolescente do sistema eleitoral e democráti-co de nosso país. A ênfase da ECP é a conscientização política e a orientação sobre a importância social do sufrágio, sem conteúdos ideológicos ou partidários. O seu público-alvo são alunos do ensino fundamental (5º e 6º anos) e médio (1º ano).

A proposta nuclear dessa novíssima Escola é cumprir o dever cívico de estimular o exercício da cidadania sem os preconceitos que geralmente envolvem a ciência e a arte da organização, direção e administração dos poderes e órgãos públicos no inte-resse da comunidade. Obviamente as noções elementares de ética pública e dos va-lores do Estado Democrático de Direito são aspectos essenciais para a boa formação dos eleitores e líderes do amanhã.

O imortal escritor e Ministro da Justiça, JOSÉ DE ALENCAR (1829-1877), definiu bem o valor e a dignidade do voto popular. Em discurso na Câmara dos Deputados (sessão de 13/07/1871), acentuou a necessidade da “alforria do voto cativo do governo” e proclamou: “O voto não é, como pretendem muitos, um direito político; é mais que isso, é uma fracção da soberania popular. É o cidadão”.

A Escola de Cidadania Política OTO LUIZ SPONHOLZ traz o nome do saudoso desembargador (1941-2015) que foi líder estudantil, advogado defensor de persegui-dos políticos, magistrado de vocação humanista e ex-presidente do TRE-PR (1994). Essas e outras virtudes foram destacadas pelo Desembargador XISTO PEREIRA, em oração que marcou o evento de inauguração, com a palavra imersa nos sentimentos de amizade, admiração e saudade.

Os bons resultados projetados pela Escola e a excelente repercussão da iniciativa são colhidos pelo Desembargador TOMASI KEPPEN e servem de estímulo para o projeto ampliado que deverá levar a Brasília, na próxima reunião dos presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais.

RENÉ ARIEL DOTTI

“A Nação caminha pelos pés das crianças”.

Palavras do saudoso Desembargador FRANCISCO CUNHA PEREIRA (1896-1998), quando titular do Juizado Privativo de Menores de Curitiba.

PENSAMENTO

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A DOTTI E ADVOGADOS ASSOCIADOS comunica que neste ano o advogado RENÉ ARIEL DOTTI ob-teve, ao lado de MIGUEL REALE JUNIOR e JOSÉ CARLOS DIAS, o primeiro lugar no ranking da Chambers and Partners na categoria de crimes financeiros – Brasil.

A Chambers and Partners, sediada em Londres, é o maior e mais respeitado guia de Advogados do mundo e conta com uma equipe de 150 pesquisadores. Anualmente divulga um ranking internacional, sem qualquer contrapartida financeira.

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SEÇÃO INFORMATIVA

No dia 11 de agosto, o Professor RENÉ DOTTI proferiu palestra sobre “Violação às Prerrogativas dos Advogados”, na OAB/PR. No dia 13 de agosto, participou do Debate do Instituto Ciência e Fé, com o tema “liberdade de expressão”. Em 19 do mesmo mês participou do “IX Simpósio de Direito AASP”, na cidade de Londrina/PR, proferindo palestra sobre “A mídia e sua influência no processo do Júri”. No dia 1º de setembro esteve no Fórum Permanente de Execução Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, o tema abordado pelo Professor foi: “A execução provisória da pena de prisão: grave erro judiciário do Supremo Tribunal Federal”.

Em 5 de outubro proferiu palestra sobre “Retroatividade e Irretroatividade da Jurisprudência”, no Simpósio de Direito Penal, Direito Processual Penal e Criminologia, realizado na Universidade Positivo.

No mês de agosto, a Advogada ROGÉRIA DOTTI proferiu duas palestras na Escola Superior de Ad-vocacia, sendo a primeira no dia 4, com o tema “Tutela Provisória no Novo CPC”, na cidade de Cascavel e a segunda no dia 17, em Curitiba, sobre “Tutela de urgência e evidência”.

Em 2 de setembro, participou do II Congresso de Direito Processual Civil do IAP e IBDP, onde abor-dou o tema “Direito Material e o Novo Código de Processo Civil”. Em 15 de setembro proferiu palestra sobre “Aplicação do Novo CPC no Processo de Conhecimento”, nas XXV Jornadas Americanas e XI Brasi-leiras do Instituto Brasileiro de Direito Processual, em Porto de Galinhas, Pernambuco”.

O Advogado FRANCISCO ZARDO foi designado pelo Presidente da OAB/PR, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO DE NORONHA, como membro da “Comissão de Gestão Pública, Transparências e Controle da Administração” da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Paraná.

O Advogado GUSTAVO SCANDELARI foi designado pelo Presidente da OAB/PR, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO DE NORONHA, como membro da “Comissão da Advocacia Criminal”, da Ordem dos Advoga-dos do Brasil – Seção Paraná.

Foi lançada em São Paulo, no dia 15 de agosto, pela Editora Migalhas a obra “Repatriação de Recur-sos”. Trata-se de coletânea de textos de diversos juristas acerca da Lei n.º 13.254/2016, que versa sobre a regularização cambial e tributária de ativos no exterior não declarados às autoridades brasileiras. O Advogado ALEXANDRE KNOPFHOLZ é um dos autores com o artigo “Repatriação de valores e a IN 1.627: Como complicar o complicado”.

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LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado João Carlos de Almeida

Mudanças relevantes

Lei nº 13.334/2016, de 13/09/2016 (Publicada no DOU de 15/09/2016)Criou o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).Maiores informações no artigo dos Advogados ANDRÉ MEERHOLZ e ANA CRISTINA VIANA.

No dia 25 de agosto, o Advogado FRANCISCO ZARDO participou do XVII Congresso Paranaense de Direito Administrativo, organizado pelo Instituto Paranaense de Direito Administrativo, como me-diador do painel relativo à (In)eficiência da Administração Pública e a Gestão dos Contratos Adminis-trativos. Os debatedores foram os Professores FERNANDO VERNALHA GUIMARÃES, JOSÉ ANACLETO ABDUCH SANTOS e LUCIANO FERRAZ.

No dia 26 de agosto, durante o Congresso Paranaense de Direito Administrativo, ocorreu o lança-mento da obra “Direito Administrativo e suas transformações atuais”. Na obra, que conta com renoma-dos autores do Direito Administrativo, consta artigo da Advogada ANA CRISTINA VIANA, intitulado “A Constitucionalização do Direito Administrativo e os riscos da participação”. A publicação do artigo foi o prêmio recebido pela primeira colocação no respectivo Seminário.

No dia 2 de setembro, o Advogado GUSTAVO SCANDELARI proferiu palestra no Teatro Bom Jesus da FAE Business School, no I Simpósio de Direito Penal – Compliance, realizado pelo Centro Acadêmico Miguel Reale. O tema abordado foi “Introdução ao Compliance no Direito Penal”. O painel também contou com palestras dos Professores FLÁVIO ANTONIO DA CRUZ, RODRIGO SANCHEZ RÍOS, FABIO GUARAGNI e DECIO FRANCO DAVID. Em 5 de outubro, proferiu palestra sobre “Prevenção de crimes e intervenção mínima”, no II Simpósio de Direito Penal, Direito Processual Penal e Criminologia, organizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Criminais e realizado na Universidade Positivo. Tam-bém palestraram os Professores RENÉ DOTTI, FLÁVIO ANTONIO DA CRUZ e RUI DISSENHA.

A Advogada LAÍS BERGSTEIN conquistou o 2º lugar na categoria Profissional do Prêmio Clóvis Beviláqua, entregue durante o IV Congresso Internacional de Direito Civil Constitucional realizado no Rio de Janeiro, em outubro de 2016, pela Academia Brasilei-ra de Direito Civil - IBDCivil. O trabalho premiado foi apresentado durante o evento e é intitulado “Diálogos entre a Constituição e o Direito Privado: o fenômeno da descodificação e o novo Direito Privado Solidário.”

Na foto, LAÍS BERGSTEIN, à esquer-da, recebendo a placa da Professo-ra PAULA MOURA (IBDCivil).

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A regulamentação do uso de algemas

STJ admite responsabilização criminal exclusiva da empresa

No último dia 26 de setembro entrou em vigor o Decreto n.º 8.858, que regu-lamenta o emprego de algemas no pro-cesso penal, previsto no art. 199 da Lei nº 7.210/1984. Utilizando como diretriz a dignidade da pessoa humana, previs-ta na Constituição Federal, na Resolução nº 2010 da ONU e no Pacto de San José da Costa Rica, o texto normativo declara que o uso de algemas é permitido “ape-nas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física pró-pria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros, justifica-da a sua excepcionalidade por escrito” (art. 2º).

Especialmente preocupa-do com as mulheres encarce-radas, o Decreto ainda dispõe que “É vedado emprego de al-

gemas em mulheres presas em qualquer unidade do sistema penitenciário nacio-nal durante o trabalho de parto, no trajeto da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar e após o parto, du-rante o período em que se encontrar hos-pitalizada” (art. 3º).

A norma põe um freio na banaliza-ção do uso de algemas pelas autorida-des públicas. Como se sabe, não raro

pessoas são algemadas em procedimen-tos policiais, sem qualquer necessidade ou resistência. Torna-se cogente, assim, o já constante da Súmula Vinculante nº 11, do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que declara que “Só é lícito o uso de alge-mas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepciona-

lidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autori-dade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.” O uso de alge-mas é, portanto, excepcional e somente poderá ocorrer nas hi-póteses taxativamente previstas no Decreto.

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

GUSTAVO SCANDELARI

DIREITO CRIMINAL

Tradicionalmente, a literatura jurídica brasileira vem sustentando a impossibili-dade de que uma empresa seja respon-sabilizada pela prática de um crime. Os autores, em geral, indicam a incompati-bilidade total da ideia de um delito – que exige, dentre outros requisitos, ação hu-mana, consciência do que se faz, conhe-cimento da ilicitude de sua conduta e ca-pacidade de se sentir reprovado pelo fato – com os atos que são praticados pela pessoa jurídica. De fato, a empresa é uma entidade fictícia, gerida por homens.

Todavia, desde que a Constituição Federal (art. 225, §3º) passou a admitir a sujeição da pessoa jurídica a sanções pe-nais e a Lei nº 9.605/98 disciplinou os cri-mes ambientais – efetivamente prevendo condutas criminosas que podem ser atri-

buídas a empresas – a doutrina tem se dividido: de um lado, os que defendem a necessidade de punição criminal aos en-tes ficcionais (seriam, basicamente, mul-tas e restrições de direitos); de outro lado, os que pregam a impossibilidade lógica e teórica de se falar em crime praticado por uma criação abstrata do homem.

Paralelamente ao debate acadêmico, o fato é que a jurisprudência brasileira tem evoluído na questão. Se, há algum tempo, os tribunais hesitavam – ora não admitin-do a punição da empresa, ora admitindo (desde que em crime ambiental), mas sempre em conjunto com um ou mais de seus representantes legais – atualmente, a orientação majoritária é no sentido de que é, sim, possível a sanção penal da empresa.

A novidade, hoje, é a permissão de

condenação exclusivamente da empre-sa, mesmo que não se puna nenhuma pessoa física em conjunto. Foi o que de-cidiu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA no RMS 49721/PA, Rel. Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA. Em decisão unâ-nime, os Ministros da 5ª Turma assim concluíram: “é possível a responsabiliza-ção penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da res-ponsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Precedentes desta Corte. A personalidade fictícia atri-buída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática de condutas espú-rias por parte das pessoas naturais respon-sáveis pela sua condução”. A decisão, pu-blicada em 27/05/2016, cita precedente anterior do STF no mesmo sentido.

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Em agosto passado (9), a 2ª Turma do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL julgou que não comete o crime de peculato (CP, art. 312) o servidor público que se vale do trabalho de outro servidor para pres-tar, eventualmente, serviços particulares em seu favor. Trata-se de decisão tomada por maioria na Ação Penal nº 504/DF, Rel. orig. Min. CÁRMEN LÚCIA, red. p/ o acór-dão Min. DIAS TOFFOLI, por meio da qual se absolveu o Deputado Federal CELSO RUSSOMANNO (PRB-SP), acusado de ter contratado para o cargo de assessora parlamentar uma secretária particular.

Entendeu-se que a utilização de mão--de-obra de outro servidor público ape-nas em determinados momentos, sem que isso constitua conduta habitual, não implica a prática de peculato ou qual-quer outro crime. Assim, por exemplo, se um servidor público contador eventual-mente prestar serviços de contabilidade à empresa mantida pela família de seu superior hierárquico, não há delito. Situ-ação diferente, apta a configurar o crime de peculato, é a do servidor que utiliza a Administração Pública para pagar o salá-rio de um empregado que preste exclu-

sivamente serviços particulares (nesse sentido, STF, Plenário, Inq 2913 AgR). Há diferença, portanto, entre usar funcioná-rio público em atividade privada e usar a Administração Pública para pagar salário de empregado particular.

Vale notar, porém, que esse recente entendimento ainda não é pacífico e que não se aplica em caso de Prefeito, hipó-tese em que incide o crime do art. 1º, II, do DL 201/67 (utilizar-se, indevidamen-te, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos).

Preservação da intimidade x interesse da coletividade

Recente decisão do SUPERIOR TRIBU-NAL DE JUSTIÇA renovou a discussão so-bre a prevalência do interesse público na publicidade de informações de processo criminal, em detrimento do direito indi-vidual de preservação da imagem e inti-midade do acusado. Não será abordado neste momento o direito de preservação da intimidade da vítima, pacificamente reconhecido.

O autor do Recurso em Mandado de Segurança n° 49.920-SP pretendia o re-conhecimento do direito à preservação de sua identidade em processo criminal em que figurava como réu.

No julgamento, entendeu a Quinta Turma do STJ que a Constituição Federal, em seus arts. 5°, inciso XXXIII, e 93, inciso IX, estabelecem como direito coletivo a publicidade dos julgamentos pelo Poder

Judiciário, bem como o acesso a infor-mação de processos que tratem de inte-resse coletivo.

A corte serviu-se da previsão consti-tucional para reafirmar a importância da publicidade dos processos criminais, no sentido de desmotivar a prática de cri-mes e permitir a fiscalização social sobre o Poder Judiciário e sua responsabilida-de de não deixar o fato criminoso sem

resposta penal, bem como na demons-tração de que o estado cumpre seu de-ver de aplicar a justiça.

Aprofundando a discussão, o julga-mento reafirmou que a publicidade da informação deve atentar ao critério tem-poral da duração da causa. O interesse social e a vida útil daquela informação criminal cessam com o término da rela-ção entre o indivíduo acusado e o estado naquele processo.

Extinta a punibilidade do infrator, seja pela sua absolvição, ou pelo cum-primento da pena, resta deslegitimada a manutenção da publicidade do fato, já que cessado o interesse coletivo na informação, sob pena de submeter o acusado a uma condição subalterna e estigmatizante. A partir daí, o direito é ao esquecimento.

RAFAEL DE MELO

Peculato: utilização, por agente público, de servidor subordinado para a eventual prática de serviços particulares

LUIS OTÁVIO SALES

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Os honorários de sucumbência na ação penal privada

GUILHERME ALONSO

O processo penal não prevê textu-almente a sucumbência na ação penal privada. Seguindo apenas o Código de Processo Penal, a parte vencida em ação instaurada por queixa-crime, em que as duas partes são particulares (por exem-plo, para a apuração de crime contra a honra), não teria que pagar as custas processuais e os honorários advocatícios da vencedora.

Na década passada, porém, o SUPE-RIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA reconheceu a possibilidade de aplicação analógica (por força do art. 3º, CPP) do art. 20 do antigo Código de Processo Civil, que previa as verbas sucumbenciais (nos moldes do que prevê o art. 85 do novo CPC), por força de um “princípio geral

da sucumbência”. Os poucos preceden-tes existentes sobre o tema, porém, não eram precisos quanto à extensão da incidência do referido dispositivo: em 2004 e 2010, a 5ª Turma estabeleceu o descabimento em ação penal privada sem análise de mérito (REsp 612.893/RS e AgRg no REsp 1041644/SE); em 2013, a 6ª Turma aplicou o art. 20, CPC, de for-ma ampla, independentemente do jul-gamento de mérito.

O tema foi resolvido recentemente pela 3ª Seção do STJ no julgamento dos Embargos de Divergência em Recurso Es-pecial nº 1.218.726/RJ, nos quais o Minis-tro Relator FELIX FISCHER concluiu que “não há como aplicar de forma restritiva o Código de Processo Civil, devendo respon-

der por custas e honorários advocatícios a parte que deu causa ao ajuizamento da demanda, mesmo quando não enfrenta-do o mérito, pois se assim não fosse, não haveria condenação da parte em toda sentença que não enfrentasse o mérito no Código de Processo Civil, o que não ocorre. O regime de fixação de honorários advoca-tícios em sede de ação penal privada deve seguir a mesma lógica do processo civil.”

A preservação da integralidade da prova

BRUNO CORREIA

De acordo com o princípio da comu-nhão das provas, a prova não se desti-na às partes que a produziram, mas ao processo como um todo. Em matéria de investigação criminal, o SUPREMO TRI-BUNAL FEDERAL já definiu que ela “não pertence a ninguém, mas integra os autos do respectivo inquérito, constituindo, des-se modo, acervo plenamente acessível a todos quantos sofram, em referida inves-tigação sigilosa, atos de persecução penal por parte do Estado” (HC 87825, Min. CEL-SO DE MELLO).

O procedimento das interceptações telefônicas prevê a inutilização das gra-vações de conversas que não interes-

sem à prova dos autos (art. 9º da Lei nº 9.296/96), que se dará por decisão ju-dicial após requerimento do Ministério Público ou da parte interessada, em in-cidente que será assistido pelo parquet, facultando-se a presença do acusado ou de seu defensor.

Como a definição sobre o interesse da prova não compete a nenhuma das partes, a sua supressão somente se legi-tima com a anuência de todas, sob pena de nulidade processual. Foi esse o en-tendimento do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ao anular as provas produzidas nas interceptações telefônicas colhidas em investigação que não preservou a

integralidade do material. De acordo com a Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, “é certo que a prova produzida durante a interceptação não pode servir apenas aos interesses do órgão acusador, sendo im-prescindível, por tal razão, a preservação da sua integralidade, sem a qual se mostra inviabilizado o exercício da ampla defesa, tendo em vista a impossibilidade da efe-tiva refutação da tese acusatória, dada a perda da unidade da prova” (HC 160662).

Assim, na fase de investigação ou ju-dicial, a preservação de todas as provas é obrigatória para que se garanta aos sujeitos processuais o irrestrito exercício do contraditório.

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Apreensão regular de celular permite acesso a dados contidos no aparelho

FERNANDA LOVATO

STJ edita Súmula sobre o momento consumativo do crime de roubo

A Terceira Seção do SUPERIOR TRIBU-NAL DE JUSTIÇA aprovou, recentemente, a Súmula nº 582, relatada pelo Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR. Segundo o enunciado aprovado, “consuma-se o cri-me de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pací-fica ou desvigiada”.

Trata-se da consolidação do enten-dimento do momento consumativo do delito, que sofreu divergências interpre-

tativas desde a década de 1980. A partir do julgamento do Recurso Extraordinário nº 102.490-0/SP, de 1987, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL pacificou o enten-dimento de que o roubo é consumado no instante em que o agente se torna possuidor da coisa alheia subtraída me-diante grave ameaça ou violência, sendo desnecessário, portanto, que o objeto saia da esfera de vigilância do antigo possuidor.

Contudo, restou o problema de quando se consuma tal ação. Ou seja, a partir de qual momento a coisa pode ser considerada subtraída? Nesse sen-

tido, entendeu a Terceira Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 1.499.050, precedente da Súmula nº 582, que basta a inversão do domínio da coi-sa, ainda que por curto espaço de tempo, para que se consume o crime de roubo, sendo desnecessário, portanto, a posse pacífica do bem ou o fim da violência sobre a vítima. Desse modo, ainda que a coisa permaneça sob a esfera de vigilân-cia de terceiro ou o agente encontre-se em perseguição policial, o delito do art. 157, do Código Penal, resta consumado, não podendo ser considerado tentativa.

VINÍCIUS CIM

Em recente julgado, o SUPERIOR TRI-BUNAL DE JUSTIÇA confirmou o enten-dimento de que a autorização de busca e apreensão de celulares permite a co-leta de mensagens de texto neles conti-das. Assim, na apreensão regular de um aparelho celular ou smartphone, estaria pressuposta a legalidade na obtenção dos dados nele existentes.

Segundo o relator do Recurso em Habeas Corpus nº 75.800/PR, Ministro FELIX FISCHER, o acesso a conteúdo armazenado em telefones celulares – quando sua busca e apreensão é deter-minada judicialmente – não infringiria a proteção ao sigilo telefônico contida no art. 5º, XII da Constituição da República ou os ditames da Lei 9.296/96 (referente à interceptação das comunicações tele-fônicas), já que estas disposições seriam relativas “à interceptação telefônica ou

telemática propriamente dita, ou seja, é da comunicação de dados, e não dos da-dos em si mesmos”.

Dessa forma, receberiam proteção jurídica distinta a comunicação tele-fônica e os registros telefônicos: para acesso aos dados contidos no celular, como mensagens de textos, seria sufi-ciente o mandado de busca e apre-ensão do aparelho devidamente fundamentado.

Ademais, ressaltou o Ministro relator que o celular por si só não po-deria ser utilizado como prova, “dado que o aparelho desprovido de conteúdo simplesmente não ostenta virtualidade de ser utilizado como prova criminal”, inexis-tindo justificativa para o pedido de apre-ensão deste se não fosse para analisar os dados nele armazenados.

Com base nesses fundamentos e

citando precedente do SUPREMO TRI-BUNAL FEDERAL (Habeas Corpus nº 91.867), a 5ª Turma do STJ negou pro-vimento ao RHC, que suscitava ilicitude de prova na quebra de sigilo telefônico devido ao exame de mensagens de ce-lular apreendido.

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Foi sancionada, em 13 de setembro de 2016, a Lei n.º 13.334/2016 que cria o Programa de Parceria de Investimentos (PPI). Nos termos do art. 1º, o PPI destina--se “à ampliação e fortalecimento da inte-ração entre o Estado e a iniciativa privada por meio da celebração de contratos de parceria para a execução de empreendi-mentos públicos de infraestrutura e de ou-tras medidas de desestatização”.

Na prática, o programa visa atrair investidores (nacionais e estrangeiros) para compra de empresas estatais, bem como executar empreendimentos de infraestrutura de grande porte no país. Podem integrar o PPI os empreendimen-tos públicos de infraestrutura em execu-ção ou a serem executados por meio de contratos de parceria celebrados entre a Administração direta e indireta da União, (art. 1º, I), os que por delegação ou com o fomento da União, sejam executados pela Administração direta e indireta dos Estados, do Distrito Federal ou dos

Municípios (art.1º, II), assim como as de-mais medidas do Programa Nacional de Desestatização a que se refere a Lei n.º 9.491/1997.

Em atenção ao art. 4º da citada Lei, foram publicadas seis Resoluções nos dias 14 e 15 de setembro, as quais dis-põem, em síntese, sobre: regras gerais e estratégicas a serem adotadas no pro-cesso de contratação por meio do PPI; inclusão da concessão de operação e exploração de quatro aeroportos inter-nacionais; inclusão do PPI empreendi-mentos portuários, além de proporem a continuidade do processo de desestati-zação de empresas.

A escolha por investimentos em in-fraestrutura tem seus pontos positivos tanto no que se refere a curto quanto a longo prazo. A realização de obras de porte relevante significará o ingresso de recursos no setor produtivo da eco-nomia, dinamizando a demanda sobre setores fundamentais como, por exem-

plo, a construção civil. O investimento tende a gerar externalidades sobre toda a economia, gerando um ciclo positivo sobre a produção e o emprego interno para o curto prazo. Já no longo prazo, a expansão da infraestrutura permite o barateamento de custos, como frete e ar-mazenamento, o que tornará a produção nacional mais dinâmica e competitiva no mercado interno e externo.

De todo modo, é importante esclare-cer que os recursos que serão colocados à disposição dos interessados para viabilizar o empreendimento (uma estimativa de R$30 bilhões) serão distribuídos entre o BNDES, FI-FGTS e CEF, o que pode sobre-carregar os custos do Tesouro Nacional.

Ao todo, foram anunciados 34 em-preendimentos de desestatização, dos quais se incluem aeroportos, portos, fer-rovias, mineração e petróleo. Os editais serão lançados no quarto trimestre do corrente ano.

O programa de parcerias de investimentos

Em acórdão publicado no mês de se-tembro de 2016, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu, no Recurso Especial nº 1.401.500/PR, que a responsabilida-de administrativa ambiental é subjetiva, exigindo a demonstração da existência de culpa para que seja cabível a aplica-ção de multa administrativa.

Em 2004, empresa de produtos quí-micos importou metanol. O produto foi transportado pelo navio Vicuña até o Por-to de Paranaguá. Por ocasião do desem-barque, explosões provocaram o derra-mamento de óleo na Baía de Paranaguá. Em razão disso, o Instituto Ambiental do Paraná multou a empresa importado-ra em quantia superior a R$ 12 milhões. Esta, por sua vez, alegou que somente teria responsabilidade pela carga após a entrega, não podendo responder por aci-dente havido no transporte. Ainda assim, o Tribunal de Justiça do Paraná manteve

a autuação, sob o fundamento de que “a responsabilidade do poluidor por danos ao meio ambiente é objetiva e decorre do ris-co gerado pela atividade potencialmente nociva ao bem ambiental. Nesses termos, tal responsabilidade independe de culpa, admitindo-se como responsável mesmo aquele que aufere indiretamente lucro com o risco criado”.

Porém, o STJ acolheu o recurso da empresa e determinou o retorno do processo ao TJPR para que examine a existência ou não de culpa da importa-dora. De acordo com o relator, Ministro HERMAN BENJAMIN, há uma distinção entre a responsabilidade civil ambien-tal e a responsabilidade administrativa ambiental. “A responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qua-lificação jurídica do degradador, público ou privado, proprietário ou administrador da área degradada, é de natureza objetiva,

solidária e ilimitada”. Portanto, pela repa-ração do dano ambiental a empresa res-ponde objetivamente e solidariamente, independente de culpa pelo acidente.

O mesmo não se dá em relação ao pagamento de multa ambiental, que não se confunde com a reparação do dano. Nesta hipótese, de responsabiliza-ção administrativa ambiental, a respon-sabilidade é de natureza subjetiva, exi-gindo a demonstração de dolo ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia). Isso, porque, segundo o STJ, “a aplicação de penalidades administrativas não obe-dece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemá-tica da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano”.

Responsabilidade administrativa ambiental não é objetiva

ANDRÉ MEERHOLZ e ANA CRISTINA VIANA

FRANCISCO ZARDO

DIREITO ADMINISTRATIVO

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Prescritibilidade das pretensões de ressarcimento por danos ao erário decorrentes de atos de improbidade administrativa

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Em maio deste ano (2016), o SUPRE-MO TRIBUNAL FEDERAL reconheceu repercussão geral no Recurso Extraordi-nário (RE) nº 852.475, que trata das pre-tensões de ressarcimento decorrentes de atos de improbidade administrativa.

Com isso, o STF pretende enfrentar se a regra sobre prescrição estabelecida no §5º do art. 37 da CF/1988 também alcança os danos decorrentes de atos ti-pificados como ilícitos de improbidade administrativa ou se é restrita a danos decorrentes de ilícito civil, como anterior-mente já reconheceu no julgamento do RE nº 669.069 (Tema 666).

O instituto da prescrição existe exata-mente para a estabilização das relações jurídicas, daí porque da importância de que sejam fixados marcos temporais limitados que assegurem aos jurisdicio-nados uma certeza sobre o que pode ou

não ser submetido a Juízo também no âmbito das ações que versem sobre atos de improbidade administrativa.

Diante dessa temática, diversas ações de improbidade em todo país foram sus-pensas aguardando o posicionamento do STF. O novo CPC (art. 1.035, §9º, Lei nº 13.105/2015) diz que o RE 852.475 terá preferência sobre os demais feitos. Toda-via, considerando a supressão do §10 do art. 1.035 do texto final do CPC, segundo o qual “não ocorrendo o julgamento no prazo

de 1 (um) ano a contar do reconhecimento da repercussão geral, cessa, em todo o território nacional, a suspensão dos processos, que re-tomarão seu curso normal”, é possível que a discussão se alongue por mais tempo.

Tendo em vista as garantias constitu-cionais da razoável duração do processo e devido processo legal (art. 5º, incisos LXXVIII e LIV, CF/1988), para além da in-segurança jurídica, é imprescindível que a Suprema Corte se manifeste em tempo razoável sobre a questão, sobretudo reco-nhecendo a posição de absoluta desvan-tagem a que ficam sujeitos os jurisdicio-nados que pretendem produzir provas em seu favor em data muito posterior à suposta prática de um ato ímprobo, o que, aliás, reforça a necessidade de que seja reconhecida a prescritibilidade tam-bém nas hipóteses da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992).

O Ministro MARCO AURÉLIO, do SU-PREMO TRIBUNAL FEDERAL, decidiu limi-narmente, no âmbito do Mandado de Se-gurança nº 34392, – seguindo na mesma linha de decisão anteriormente proferida pelo Ministro no MS nº 34357 – que o TRI-BUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, como ór-gão administrativo, auxiliar do Congresso Nacional, não detém condições jurídicas de impor a indisponibilidade cautelar de bens em desfavor de particular. Com isso, demarca-se limite ao poder geral de cau-tela do TCU, afastando-se a autorização para “bloquear, por ato próprio, dotado de autoexecutoriedade, os bens de parti-culares contratantes com a Administração Pública”.

A decretação de indisponibilidade de bens pelo TCU encontra amparo no § 2º do art. 44 da Lei nº 8443/1992 (Lei Orgânica), por prazo não superior a um ano, a fim de garantir o ressarcimento dos danos em apuração. No entanto, o Ministro aponta impropriedade técnica em se utilizar de tal fundamento para restrição de bens de particulares, já que tal dispositivo se restringe a medidas aplicáveis ao agente público responsá-vel pelo contrato.

A leitura da decisão leva a concluir que medida como a da decretação de indisponibilidade de bens de particular só pode ser levada a efeito por via judi-cial, excedendo, portanto, os poderes do

TCU como órgão integrante e auxiliar do Poder Legislativo, bem como por ausên-cia de previsão legal, visto que o referido art. 44, § 2º, se aplica somente a servidor público.

Vale destacar que tal decisão liminar torna viva discussão sobre a possibilida-de ou não da decretação de indisponi-bilidade cautelar de bens de particula-res, que já foi anteriormente objeto de análise em situação semelhante no MS nº 33092, de Relatoria do MinistroGILMAR MENDES. Nessa ocasião, o STF entendeu que o bloqueio de bens se co-adunava com o poder geral de cautela conferido ao TCU.

Impossibilidade do TCU decretar cautelarmente a indisponibilidade de bens de particulares

MARIA VITORIA KALED

ADRIANO BIANCOLINI

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DIREITO CIVIL

Ao julgar o Recurso Especial nº 1.599.511/SP, a Segunda Sessão do SU-PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, por una-nimidade, decidiu que é válida a cláusula contratual que transfere ao consumidor a obrigação de pagar comissão de corre-tagem na venda de imóveis, desde que o adquirente seja prévia e explicitamente informado do valor do encargo.

Ao analisar a questão, o Ministro Re-lator PAULO DE TARSO SANSEVERINO considerou que a transferência do en-cargo não causa prejuízo econômico aos consumidores, pois o valor estaria em-butido no preço, caso as incorporadoras permaneçam com a responsabilidade pelo pagamento. O Ministro ponderou

que “o Direito do Consumidor, apesar de seu marcado caráter protetivo, não chega ao ponto de subverter a natureza onero-sa das relações negociais no mercado de consumo, exigindo apenas transparência no seu conteúdo.”

Portanto, a incorporadora tem o dever de informar ao consumidor, até o momen-to da celebração do contrato de promessa de compra e venda, o preço total da aquisi-ção da unidade imobiliária, especificando o valor da corretagem, ainda que esta ve-nha a ser paga destacadamente.

A conclusão foi acertada. Em que pese a legislação civil determinar que, em regra, a remuneração do corretor deverá ser arcada por quem contrata,

como se trata de questão privada e em vista aplicação do princípio da relativi-dade dos contratos, pode haver a trans-ferência de encargo, mediante cláusula expressa no contrato principal, à outra parte interessada no negócio jurídico.

Aqui no Paraná, a Turma Recursal seguia entendimento contrário, enten-dendo pela abusividade da cobrança e, por vezes, condenava as incorpora-doras à devolução em dobro do valor (0005577-52.2015.8.16.0182). Depois de transitada em julgado a tese pelo STJ, ela servirá para orientar a solução de todas as demais causas, sendo inad-mitidos novos recursos que sustenta-rem posição contrária.

STJ decide que é válida a cláusula da corretagem de imóvel

PATRÍCIA NYMBERG

O STF e a vaquejada

“Chegará o dia em que todo homem conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será considera-do um crime contra a própria humanidade.”

Mais de quinhentos anos após a cé-lebre frase de um dos maiores gênios da ciência e das artes que o mundo conhe-ceu – LEONARDO DA VINCI – o SUPRE-MO TRIBUNAL FEDERAL debruçou-se

sobre a análise da constitucionalidade da vaquejada – prática que consiste na derrubada de um boi pela cauda e que impõe sofrimento ao animal, na visão

de seis, dos onze Ministros da Suprema Corte (ADI 4.983).

O próprio debate travado no âmbito do STF sequer deveria ter existido, na visão de alguns. Segundo eles, a Corte perde a oportunidade de se concentrar em matérias de maior relevância, como se a revisão de práticas cruéis, com rou-pagem de eventos tradicionais, não fosse

igualmente merecedo-ra de atenção.

A posição do STF atende a dois aspec-tos. Um de natureza social, compatível com a crescente atenção dispensada ao direito dos animais. A esse respeito, parece irre-

versível o movimento da sociedade mo-derna no sentido de exigir das autorida-des constituídas – das quais o Judiciário não é exceção – uma tomada de posição

revisionista. E isso foi muito bem sinte-tizado nas lúcidas palavras da Ministra CÁRMEM LÚCIA: “Sempre haverá os que defendem que vem de longo tempo, que se encravou na cultura do nosso povo. Mas cultura também se muda e muitas foram levadas nessa condição até que se houves-se outro modo de ver a vida e não só a do ser humano.”

Nessa mesma linha, as touradas es-panholas vêm sendo gradualmente re-duzidas. Em 2010 a Catalunha tornou-se a segunda região da Espanha a proibi--las. Experimentos com animais pela in-dústria médico-farmacêutica caminham para o banimento em todo o mundo.

Sob o aspecto normativo, entendeu--se que a vaquejada constitui violação ao meio ambiente, a ensejar a intervenção da Corte Constitucional. A decisão servi-rá de parâmetro para todo o país e deve incentivar a propositura de ações sobre prática semelhantes.

JULIO BROTTO

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O Código Civil de 2002 alterou a vida das pessoas em sociedade. Dentre as mo-dificações, tem-se a possibilidade de res-trição da incidência do art. 475 do Código Civil, que assegura a parte lesada pedir a resolução do contrato, pela aplicação da teoria do adimplemento substancial.

De origem inglesa, essa teoria foi aplicada pela primeira vez no SUPE-RIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, por ocasião do julgamento do Recurso Especial nº 76.362/MT, em processo no qual se dis-cutia a exigência de cobertura securitá-ria quando o segurado não havia pago a última parcela do prêmio.

O STJ entendeu que a seguradora não poderia extinguir o contrato de se-

guro por sempre ter recebido as parcelas em atraso, como também que o segura-do teria adimplido substancialmente a obrigação. Além disso, concluiu pela ne-cessidade de ser requerida a resolução contratual em juízo, para que o Judiciário pudesse analisar se o inadimplemento é suficiente para a extinção do negócio.

Em recente julgamento (Recurso Especial nº 1.581.505/SC), a Corte con-siderou que as peculiaridades de cada caso deveriam ser ponderadas para a incidência da teoria, observando-se não apenas os critérios quantitativos, mas também qualitativos. Além disso, con-cluiu que o instituto não poderia inver-ter a ordem lógico-jurídico que consiste

no cumprimento integral das obrigações assumidas e estabeleceu os seguintes requisitos para a sua aplicação: (a) a exis-tência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes; (b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do negócio; (c) deve ser possível a conservação da efi-cácia do negócio sem prejuízo ao direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.

Trata-se, assim, de instrumento hábil para se averiguar o exercício da liberda-de de contratar, sem prejuízo do respeito à justiça e a conservação da eficácia dos contratos.

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Os planos de saúde geralmente pre-veem um aumento da mensalidade em razão da alteração da faixa etária do usu-ário, o qual, muitas vezes, sentindo-se prejudicado, ingressa com ação visando a nulidade dessa disposição e a devolu-ção do que foi pago em excesso.

Em razão da profusão de demandas desse tipo e especialmente das dúvidas em relação ao prazo para seu ajuizamen-to, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA pa-cificou a questão no julgamento dos Re-cursos Especiais Repetitivos nº 1.360.969/RS e 1.361.182/RS, cujos acórdãos foram publicados em setembro.

Como ali explicado, é assente naque-la Corte que tal cláusula de reajuste por si só, não é ilegal, mas a sua aplicação pode se afastar dos princípios da boa-fé objetiva e equidade, quando, por exem-plo o valor da mensalidade duplica uni-camente pela alteração da idade.

Analisando essa particular situação,

entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que a reclamação do usuário se baseia essencialmente no caráter abusivo da cláusula contratual e, assim, o prazo prescricional será aquele do art. 206, § 3º, IV do atual Có-digo Civil, referente a pre-tensão de ressarcimento por enriquecimento sem causa, a qual atualmente é de 3 (três) anos.

Essa pretensão pode-rá ser exercida a qualquer tempo enquanto o con-trato estiver em vigência, pois se trata de uma rela-ção continuada, na qual a lesão se repete mês a mês. Assim, ajuizada a ação, o usuário poderá co-brar as diferenças havidas dos últimos três anos. No caso de o contrato ter sido

encerrado, o interessado terá 2 (dois) anos (art. 179 do CC) para ajuizar a de-manda, podendo pleitear as diferenças havidas nos 3 (três) anos imediatamen-te anteriores.

VANESSA SCHEREMETA

O prazo para reclamar as diferenças em razão do aumento abusivo do plano de saúde pela alteração da faixa etária

A continuidade do contrato e a teoria do adimplemento substancial

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

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A solução extrajudicial de conflitos – Parte II

CÍCERO LUVIZOTTO

No boletim anterior a este foi no-ticiada a realização da I Jornada sobre Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios. O evento, coordenado pelo E. Ministro OG FERNANDES, já começa a gerar frutos que certamente auxiliarão na boa prestação jurisdicional.

Como resultado das discussões havidas na ocasião, foram editados 87 enunciados que servirão como baliza-dores da atuação dos jurisdicionados na solução de litígios.

Além de trazer valiosas contribui-ções para a melhor compreensão da mediação e da arbitragem, a Comissão debruçou-se sobre outras formas que podem servir como abreviadores de conflitos.

O destaque dado a medidas pré-vias à judicialização na área da saúde (enunciado 48), no campo tributário (enunciado 53) e a busca de auxílio junto ao Poder Público, o qual deverá, por exemplo, “estimular a criação, no

âmbito das procuradorias municipais e estaduais, de centros de solução de con-flitos, voltados à solução de litígios entre a Administração Pública e os cidadãos” (enunciado 84) mostram a preocupa-ção com a nova realidade do processo.

Contudo, nenhum outro enuncia-do traz maior esperança do que aquele que orienta a “atualização das matrizes curriculares dos cursos de direito, bem como a criação de programas de forma-ção continuada aos docentes do ensino superior jurídico, em ênfase na temática da prevenção e solução extrajudicial de litígios e na busca pelo consenso” (enun-ciado 66).

Tal iniciativa deve ser louvada, pois a melhor formação dos profissionais por meio da implementação de cadeiras destinadas à compreensão da matéria, mostrará que a quebra do paradigma da litigiosidade excessiva é o único ca-minho para que o cidadão tenha acesso à justiça de maneira célere e efetiva.

Transporte gratuito - Responsabilidade civil

VANESSA CANI

No transporte desinteressado, ou seja, de simples cortesia, não remune-rado, por não haver um contrato de transporte, o transportador tem relati-vizada a sua culpa na hipótese de ocor-rer um acidente e danos a pessoa que pega carona. De acordo com balizada doutrina, no caso incidem as regras da responsabilidade extracontratual, com a possibilidade de se reconhecer a responsabilidade do transportador se comprovada a existência de dolo ou culpa grave. Esse também é o sentido da Súmula 145 do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Assim, no que diz respeito à pre-sença do elemento culpa grave, apto a ensejar a responsabilidade civil, extraem-se dos precedentes dos nos-

sos Tribunais algumas condutas pra-ticadas por condutor de veículo que, no caso concreto, teriam contribuído decisivamente para a ocorrência de um acidente: dirigir sob o efeito de drogas; trafegar em excesso de veloci-dade; transportar passageiro de forma irregular, como em carroceria aberta de caminhão; avançar sinal de parada obrigatória, entre outras.

Ademais do dolo ou da culpa grave do condutor do veículo necessitarem estar sobejamente comprovados, de-verão também estar presentes o nexo causal e o dano sofrido. Não existindo um desses requisitos, não se mostrará viável a pretensão para o ressarcimen-to de eventuais danos sofridos pelo transportado (carona).

A (i)legalidade do “desconto pontualidade”

É comum observar, nas obrigações financeiras periódicas (taxa de con-domínio, aluguéis etc.), a existência do chamado “desconto pontualidade”, também denominado “sanção pre-mial”. A ideia é estimular o pagamento até certa data, após a qual deixa de ser concedido o desconto previsto (de 10%, 20% ou até mais) e a obrigação somente poderá ser adimplida pelo valor integral.

A legalidade do desconto pontuali-dade dependerá das circunstâncias, es-pecialmente a natureza da obrigação e o montante do desconto oferecido. É que, na prática, o desconto pontuali-dade pode representar a cobrança de uma multa disfarçada, em patamar su-perior ao limite legal.

Nas obrigações em geral não há limitação legal expressa para a multa (cláusula penal ou multa moratória), que apenas não prevalece se for supe-rior ao valor da própria obrigação. Po-rém, em algumas relações específicas a pena convencional está sujeita a limites legalmente fixados. É o caso das obri-gações condominiais e daquelas decor-rentes de relação de consumo, em que a lei limita a multa ao percentual de 2%.

Assim, e independentemente do nome que se dê a esse benefício, o des-conto, por exemplo, de 10% para qui-tação de taxa condominial até a data do vencimento significa que o atraso no pagamento será punido acima do que permite a lei. Nessa situação, ha-verá a prejudicial – e, portanto, ilegal – cobrança de uma multa às avessas.

FERNANDO WELTER

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A multipropriedade imobiliária (time-sharing)

EMILLY CREPALDI

Em termos simplificados, no sistema de time-sharing, ou multipropriedade imobiliária, inúmeras pessoas comparti-lham entre si o uso de um bem imóvel, normalmente para fins de lazer. Fruem, portanto, do referido bem por período predeterminado de tempo, dividindo os custos de manutenção do imóvel, con-forme prévia estipulação contratual. A dúvida que se levanta é quanto à nature-za dos direitos decorrentes deste institu-to. Seriam eles obrigacionais ou reais (ou seja, sobre a coisa)?

O STJ se deparou com essa situação em Recurso Especial recentemente jul-gado (nº 1.546.165/SP). A discussão que foi levada àquela Corte dizia respeito à penhora de imóvel compartilhado (time--sharing), registrado em nome de uma incorporadora, devedora em ação judi-cial. O imóvel era dividido em 52 frações ideais, que correspondiam às semanas do ano que seriam usufruídas por seus

titulares. Diante da penhora, a titular de 2/52 do imóvel opôs embargos de tercei-ro para afastar a constrição de sua fração ideal, pretensão essa que foi acolhida pelo STJ. Por maioria de votos, decidiu a Terceira Turma que “a natureza jurídica da multipropriedade imobiliária bem mais se compatibiliza com a de um direito real”, apesar de não prevista expressamente no rol desses direitos. No voto vencedor, da lavra do Ministro JOÃO OTÁVIO DE NO-RONHA, ressaltou-se a necessidade de um aprofundamento sobre os “aspectos inerentes à multipropriedade imobiliária, que, embora tenha recebido há décadas uma boa aceitação no Brasil, submete-se a elevado grau de incertezas acerca dos direi-tos e prerrogativas dos multiproprietários, em especial, diante do inconcebível descui-do regulador de sua disciplina jurídica pela via institucional própria, o que, certamente, tem proporcionado insegurança jurídica na formatação dessa nova figura.”

Lei paranaense sobre cobrança em estacionamentos é inconstitucional

ISABELLA SANTIAGO DE JESUS

A lei paranaense n.º 16.785, de 11/01/2011, estipulou um parâmetro para o cômputo do valor do serviço de estacionamentos. A legislação preten-deu instituir uma cobrança proporcional (fração de hora) ao período efetivamente usufruído pelo consumidor para a guar-da de seu veículo. Além disso, determi-nou, como punição para a hipótese de descumprimento dos seus dispositivos, a aplicação de multa diária e até mesmo a possibilidade de cassação do alvará de funcionamento do local, em caso de reincidência. No entanto, por meio do julgamento da Ação Direta de Inconsti-tucionalidade nº 4862, com decisão pu-blicada em 20/09/2016, o SUPREMO TRI-BUNAL FEDERAL, por maioria de votos, declarou a inconstitucionalidade da lei estadual. Alguns dos ministros vislum-braram essa inconstitucionalidade em

razão de um vício formal (porque a lei estadual violaria competência privativa da União para legislar sobre a matéria – Direito Civil). Outros a apontaram em virtude de vício material (a norma in-terferiria na fixação dos preços e, assim, afrontaria o princípio constitucional da livre iniciativa). O Ministro EDSON FA-CHIN votou pela improcedência da ADI, ao entender que a norma estadual tra-taria de Direito do Consumidor e, dessa forma, estaria inserida entre as hipóteses de competência legislativa concorrente entre União e poder local. Portanto, não haveria sequer vício formal, na percep-ção do magistrado. Ao final, os minis-tros, preponderantemente, votaram pela procedência da ação, decidindo que a norma paranaense desrespeitou a livre iniciativa e a propriedade privada.

A internet das coisas

LAÍS BERGSTEIN

O nosso leitor possivelmente já percebeu que quando ele “compra” um livro eletrônico (um e-book), geralmen-te não consegue emprestá-lo ou doá--lo a ninguém depois de ler. Que pro-priedade estranha é essa que não se permite dispor? Na verdade, o contrato celebrado na maioria dos casos não é de compra e venda: estamos falando de direitos de propriedade intelectual.

Sutilezas como esta são comuns quando se fala em internet das coisas, ou seja, a rede de dispositivos e ob-jetos do cotidiano incorporados com tecnologia, conectados à internet. À JOHN DEERE, maior fabricante de má-quinas agrícolas do mundo, causou co-moção a ideia de que os seus clientes possuiriam apenas uma “licença implí-cita para operar o veículo durante a vida útil do veículo”.

O Direito tende a acompanhar as mudanças sociais, mas a passos mais lentos. Avança nesse contexto a União Europeia, que emitiu no final do ano passado duas propostas de Diretivas para assegurar os direitos dos consu-midores de conteúdo digital. Uma pre-visão importante, por exemplo, é a que assegura o direito de obter os arquivos pessoais salvos “na nuvem” na hipóte-se de rescisão do contrato. Propõe-se, igualmente, a regulamentação do prin-cípio da responsabilidade do fornece-dor de conteúdos digitais por danos causados aos equipamentos ou progra-mas informáticos dos consumidores.

“A Internet das coisas vai mudar tudo – inclusive nós mesmos.” DAVE EVANS.

DIREITO DO CONSUMIDOR

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No último mês de setembro, o SU-PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA acolheu pedido de quebra de sigilo bancário de pessoa jurídica, formulado pela ex--cônjuge de um dos sócios (a notícia é di-vulgada no site do STJ, com a omissão do número do recurso e dos nomes das partes em virtude do sigilo judicial).

A decisão, adotada pela una-nimidade dos Ministros da Ter-ceira Turma, tem enorme impor-tância e demonstra a orientação da Corte em permitir o amplo acesso às informações societá-rias para fins de partilha. Segun-do a Relatora, Ministra NANCY ANDRIGHI, “não é desarrazoado o pedido de acesso aos extratos das contas correntes da sociedade

empresarial, porquanto ele se caracteriza como comedida e limitada salvaguarda da recorrente quanto ao efetivo patrimô-nio representado pelas cotas sociais do ex-casal”.

No julgamento, ficou igualmente decidido que “o fato de a ex-esposa obter um retrato das transações econômicas da

sociedade empresária em nada prejudica-ria o patrimônio dos sócios, nem os pro-jetos da organização, mas seria medida necessária ao resguardo do patrimônio partilhado”.

Sem dúvida, tal decisão poderá carac-terizar um relevante precedente a orien-tar julgamentos futuros. Isto porque o

Poder Judiciário aprofundou um debate sobre questão afeta ao Di-reito de Família e que pode vir a se repetir em inúmeros outros casos.

Além dessa ex-esposa, saem vencedores desse julgamento todos aqueles que lutam contra a fraude, o desvio patrimonial e a sonegação de informações ne-cessárias para uma partilha justa e igualitária.

Quebra de sigilo bancário da empresa em ação de divórcio de sócio

ROGÉRIA DOTTI

Casamento e união estável: igualdade sucessória

No último dia 31 de agosto, o SU-PREMO TRIBUNAL FEDERAL iniciou julgamento sobre a validade do trata-mento sucessório desigual dado à união estável. Após o reconhecimento da re-percussão geral, o Recurso Extraordinário nº 878694/MG foi levado para análise do mérito pelo Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO. Entendeu o Relator ser in-constitucional o art. 1.790 do CC/02, que distingue os direitos sucessórios dos companheiros e dos cônjuges.

O recurso foi interposto pela compa-nheira do falecido em face de acórdão do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAIS GERAIS, que, aplicando o disposto no art. 1.790, III, do CC/02, concedeu à companhei-ra direito à herança sobre um terço dos bens adquiridos onerosamente durante

a união estável. O restante foi destinado aos irmãos do de cujus, haja vista a inexis-tência de ascendentes e descendentes. Se casada com o falecido, a companheira receberia a totalidade dos bens.

Em fundamentado voto, o Ministro BARROSO salientou que, estando o di-reito sucessório vinculado ao conceito de família e de continuidade patrimo-nial como fator de proteção, mostra-se inadmissível qualquer distinção entre as diversas formas de famílias, equiparadas pela CF/88, sob pena de afronta aos prin-cípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. O relator ressaltou, ainda, que o regime sucessório atual viola os princípios da proporcionalidade como vedação à proteção estatal insuficiente e da vedação ao retrocesso, na medida em

que até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, cônjuges e companheiros ocupavam a mesma posição na ordem de vocação hereditária.

O voto do Relator, acompanhado por 6 Ministros, afastou o art. 1.790 do CC/02 e determinou a aplicação do mesmo regime sucessório aos cônjuges e com-panheiros, nos termos do art. 1829. Em observância à segurança jurídica, Bar-roso propôs a aplicação dos efeitos da decisão apenas aos processos judiciais em que não tenha havido o trânsito em julgado da sentença de partilha e aos inventários extrajudiciais nos quais não tenha sido lavrada a escritura pública. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vista do Ministro DIAS TOFFOLI e ainda não tem previsão para sua continuidade.

FERNANDA PEDERNEIRAS

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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Alterações do Direito das Sucessões trazidas pelo Novo CPC (Parte III)

THAIS GUIMARÃES

Dando continuidade às considera-ções sobre as alterações do procedimen-to de inventário e partilha no Novo Códi-go de Processo Civil, em vigor desde 18 de março de 2016, cumpre destacar os ritos de arrolamento comum e sumário.

Quando a herança for de pequeno valor (em novo limite agora estabele-cido, qual seja, igual ou inferior a 1.000 salários mínimos), o inventário proceder--se-á sob o rito do arrolamento comum (arts. 664, 665 e 667).

Inovou a legislação ao consagrar a efetividade do processo e possibilitar que, ainda que haja interesse de inca-

paz, tal procedimento será adotado ex-cepcionalmente, desde que as partes e o Ministério Público estejam de acordo com a partilha (art. 665).

Contudo, para o arrolamento su-mário (independente de valoração), não pode haver conflito e todas as par-tes envolvidas devem ser capazes (art. 659). A inovação trazida pelo art. 659 é que, agora, somente neste caso de ar-rolamento sumário, a partilha amigável será homologada (ou os bens adjudica-dos ao único herdeiro) anteriormente ao recolhimento do imposto de trans-missão causa mortis. Após a expedição

do formal de partilha ou da carta de adjudicação, a Fazenda Pública será in-timada para providenciar o lançamento administrativo do imposto, fora do pro-cesso. Tal regra excepcionou o art. 192 do Código Tributário Nacional (“nenhu-ma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação será proferida sem prova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas”), mas manteve a regra de que o Fisco não ficará adstrito aos valores atribuidos aos bens no Inventário, conforme destacado no art. 662, § 2º.

A dispensa de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça da sentença estrangeira de divórcio consensual

DIANA GEARA

O CPC/2015 otimizou os processos litigiosos e também inovou ao introdu-zir dinâmicas de implementação das soluções consensuais de conflitos. Além disso, a legislação valorizou as possibili-dades de resoluções de demandas por meio de serviços extrajudiciais, desafo-gando a atividade do Poder Judiciário.

Um exemplo da referida desburocra-tização é a dispensa da necessidade de homologação de sentença estrangeira de divórcio consensual. A competência para a “validação” das sentenças estran-geiras, até março do corrente ano, era do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

A atividade do STJ nos referidos pro-cedimentos era de simplesmente dar reconhecimento/eficácia jurídica a uma sentença já proferida por um juiz com-petente no exterior.

Neste sentido, o § 5º do Novo Código de Processo Civil, em atenção à globali-zação das relações familiares, simplifica

a averbação do divórcio sem litígio ocor-rido no exterior dos casais que tenham casado no Brasil ou até em outros países, mas tenham trasladado o casamento para o Brasil.

A dispensa da homologação aplica--se, inclusive, para os processos que já estavam em tramitação perante o STJ, em atenção à regra de transição disposta no art. 1.046 do CPC/2015, a qual estipu-la que suas disposições serão imediata-mente aplicadas aos processos penden-tes de julgamento.

Para os demais casos de divórcios que são litigiosos, continua sendo obri-gatória a homologação das sentenças estrangeiras pelo STJ.

Além disso, vale destacar que é per-mitida a realização de divórcios con-sensuais diretamente nos Consulados Brasileiros (Lei 12.874/2013), por escri-tura pública, tal como ocorre nos Tabe-lionatos de Notas em território nacional (quando há consenso entre os cônjuges e inexistirem filhos nascituros, menores de idade ou incapazes).

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ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Crime de desacato x liberdade de expressão: o que prevalece?

Ao ingressar em fóruns, secretarias, ou qualquer órgão público, é comum nos de-pararmos com vários dizeres, documentos e editais fixados à parede. Normalmente, um ganha destaque: “Art. 331 do Código Penal - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.”. A maioria das repartições públicas possui um desse, que é um importante lembrete.

Porém, decisões judiciais brasileiras de-clararam que o crime de desacato afronta o art. 13 do pacto de San Jose da Costa Rica, que trata da liberdade de expressão. Em suma, as decisões dizem que punir o desa-cato a autoridades é um meio de silenciar ideias e opiniões, reprimindo o debate de-mocrático e estabelecendo relação vertical entre o indivíduo e o Estado.

Diante da controvérsia de opiniões, o MI-NISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL quer que o SU-PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA se manifeste

sobre a aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos em casos que envol-vam a conduta do desacato a autoridade.

O caso específico é o Agravo em Recurso Especial (AREsp nº 850.170/SP). Neste caso, o cidadão sustenta que a decisão do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO deve ser anulada, por não ter enfrentado a questão do desaca-to. O parecer do MPF é favorável ao posicio-namento do recorrente, pela descriminaliza-ção do desacato. Para o MPF, a “Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expres-são” da Convenção Interamericana de Direi-tos Humanos estabelece o mesmo tratamen-to para funcionários públicos e a sociedade. “Mesmo com as reiteradas manifestações da CIDH, permanece em vigor no Código Penal o crime de desacato que, para este órgão minis-terial, configura omissão legislativa”.

O relator do caso mencionado é o Mi-nistro RIBEIRO DANTAS, que poderá levar a julgamento nos próximos meses.

DAVID EDSON DOS SANTOS | Acadêmico do 4º ano da PUC/PR

Defeitos na qualidade de veículo novo e incidência de danos morais ao consumidor

Em razão dos transtornos causados aos consumidores no que tange à aquisição de veículos novos e que lhe causam aborreci-mentos incomuns, os Tribunais Superiores estão proferindo decisões no sentindo de que os danos morais, dependendo dos fatos narrados, devem incidir em favor do con-sumidor que teve o pleno uso de seu bem impedido.

Nesse sentido, cita-se o Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial nº 824.874-SP (2015/0301370-8), relatado pelo Ministro RI-CARDO VILLAS BÔAS CUEVA, em que a irresig-nação do recorrente residia na existência dos danos morais fixados, aduzindo que o único direito presente era o de reparação do veículo de seu cliente, no prazo de 30 (trinta) dias.

O prosseguimento do aludido recurso foi negado, vez que para a análise acerca da ausência do referido dano deveria examinar o conjunto probatório, o qual encontra óbice

em virtude da súmula 7 do SUPERIOR TRIBU-NAL DE JUSTIÇA.

Apesar disso, é possível vislumbrar, no voto do Ministro relator, que a aplicação dos danos morais ocorreu por diversos fatores, dentre os quais se destaca a realização da via-gem em família a outro estado, assim como ao abalo no que tange à expectativa acerca da utilização de veículo zero quilômetro.

Além desses aborrecimentos com poten-cialidade lesiva, o Ministro RICARDO CUEVA mencionou que sobreveio a frustração da expectativa de segurança e ausência de de-feitos, posto que tais fatos são inesperados quando se adquire um veículo novo.

Com isso, verifica-se a pacificação do en-tendimento de que há incidência de danos morais em benefício ao consumidor que se encontra lesado quando compra veículo novo e o mesmo extrapola a irresignação rotineira.

FRANCIELE FERNANDES DE OLIVEIRA | Acadêmica do 3º ano da PUC/PR

Centro de Mediação para Solução de Litígios no STJ

O Plenário do SUPERIOR TRIBU-

NAL DE JUSTIÇA aprovou a criação

de um Centro de Mediação para So-

luções Extrajudiciais dos Conflitos

que são levados à Corte. Ainda, foi

aprovada uma emenda ao Regimen-

to Interno do Tribunal, com o intuito

de criar o programa.

A coordenação deste Centro fica-

rá sob a responsabilidade de um dos

Ministros, a ser indicado pela Minis-

tra LAURITA VAZ, presidente do STJ.

Já se sabe que o objetivo é treinar

mediadores e viabilizar as soluções

consensuais extrajudiciais. O envio

dos recursos poderá ser realizado

pelo relator, caso haja uma discor-

dância entre as partes o procedimen-

to não será realizado.

Os processos que poderão ser

enviados para o centro a fim de apli-

car a mediação são todos aqueles

que possibilitem transação e acor-

do, isto é, automaticamente não se

permitem litígios que versem sobre

direitos indisponíveis, como ações

tributárias ou de improbidade admi-

nistrativa.

Tem-se a decisão como uma con-

quista histórica para o Tribunal, e que

deve ser levada aos demais Tribunais

do país. A criação nada mais é do a

aplicação atual Código de Processo

Civil, eis que indica as formas de so-

luções de conflitos referindo-se em

direitos disponíveis e sua aplicação,

com o intuito de obter uma pacifi-

cação social e a melhora do Poder

Judiciário.

GUSTAVO CEZAR VIEIRA | Acadêmico do 3º ano da Faculdade da Indústria (IEL)

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Pensão civil: possibilidade de inclusão, entre os beneficiários, de menor sob guarda

Em recente decisão do SUPREMO TRI-BUNAL FEDERAL, o Ministro LUIZ EDSON FACHIN concedeu, definitivamente, o Man-dado de Segurança nº 33022 para assegu-rar a uma menor púbere (entre dezesseis e dezoito anos) o recebimento de pensão temporária em razão do falecimento de seu avô, ex-servidor da Superintendência Federal de Agricultura em Salvador (BA), até que complete 21 anos de idade. No caso em questão, a menor púbere que, em razão da idade não alcançou a capacidade jurídica plena para o exercício de sua vida civil, permaneceu quase dois anos sob a guarda, posse e responsabilidade de seu avô paterno, ex-servidor público federal, até o falecimento deste último.

A recorrente impetrou Mandado de Se-gurança contra acórdão do TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO que havia considera-da ilegal a pensão temporária, haja vista que o benefício de pensão ao enteado e o menor tutelado equiparados a filho, mediante declaração do servidor e desde

que comprovada dependência econômi-ca, teria sido revogado pelo art. 5º da Lei 9.717/1998 (estabeleceu que os regimes da Previdência Social não poderiam con-ceder benefícios distintos dos previstos no Regulamento Geral).

Em sua acertada decisão, o Ministro FA-CHIN citou um excerto de decisão proferida pelo Ministro LUIZ FUX em caso análogo, acerca da necessidade da proteção à crian-ça, conforme estabelecido pela Constituição Federal em seu artigo 227, § 3º, II: “É dever da família, da sociedade, do Estado assegurar a criança e ao adolescente (...) garantias de di-reitos previdenciários e trabalhistas”.

Diante disto o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, ante a demonstração de “sub-sistência da guarda da Impetrante em favor do servidor público, bem como a existência de enquadramento legal dessa classe de dependente”, concedeu a ordem manda-mental e manteve incólume a liminar que deferiu a concessão da pensão temporária à menor púbere.

JULY MEIRIHELEN GONÇALVES | Acadêmica do 4º ano da PUC/PR

TJ de São Paulo autoriza retificação de registro civil sem necessidade de cirurgia de transferência de sexo

KEVIN LUCAS GOLINSKI KRAUZE | Acadêmico do 2º ano da Unibrasil

Ocorreu no TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO o julgamento de um caso de retificação do registro civil de um transexu-al. O pleiteante buscava mudar em seu do-cumento o sexo para “masculino”, alegan-do que, devido a sua aparência e como é visto, causava-lhe constrangimentos cons-tar o seu gênero de nascença. A sentença julgou improcedente o pedido, afirmando ser “prematuro o pedido de retificação de registro civil, visto que não bastam mudan-ças na aparência, é necessária completa transformação, através de procedimento ci-rúrgico para a certeza da orientação sexual”. Houve recurso.

A decisão, em segunda instân-cia, na Apelação Cível nº 1027203-86.2015.8.16.0100, reformou a sentença,

com robusta argumentação, considerando a farta comprovação do direito, citando, inclusive, depoimentos de amigos e fa-miliares, os quais afirmaram que o autor era tratado como homem desde a adoles-cência, além de relatório médico atestan-do disforia de gênero com transtorno de identidade sexual. Citou, também, que os documentos do autor já haviam sido alte-rados, com a procedência de anterior ação de retificação de prenome.

Com base no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e pre-cedentes no mesmo sentido, o TJSP deu provimento ao recurso, determinando a retificação do sexo, para constar “mascu-lino”, sem necessidade do procedimento cirúrgico.

Estupro e atentado violento ao pudor são crimes hediondos

LARISSA ROSS | Acadêmica do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

Eventuais divergências de entendi-

mentos  restam superadas a partir do re-

cente julgamento realizado pela 1ª Turma

do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, divul-

gado no DJE de 24/08/2016, nos autos do

Habeas Corpus nº 100.612, em que foram

declarados crimes hediondos o estupro

e o atentado violento ao pudor, indepen-

dentemente do resultado que produzam,

sejam: lesões leves, graves ou até mesmo

os que resultam em morte.

Ao redigir o acórdão do julgamento do

caso em questão, a Ministra CÁRMEN LÚ-

CIA consignou:  “Filio-me à jurisprudência

consolidada deste Supremo no sentido

de que os crimes de estupro e atentado

violento ao pudor, mesmo que praticados

na forma simples, têm caráter hediondo”, a

teor da Lei 12.015/2009. A legislação ante-

rior, Lei 8.072/1990, entendia que os refe-

ridos crimes teriam caráter hediondo tão

somente quando qualificados, ou seja, se-

guidos de grave lesão ou morte da vítima.

A Lei de Crimes Hediondos instituiu

no Brasil o mais rigoroso regime-jurídico

penal com o propósito de condenar de for-

ma mais severa as pessoas que praticaram

qualquer um dos delitos considerados de

extremo potencial ofensivo, expressamen-

te dispostos no referido texto normativo,

dentre eles o estupro e o atentado violen-

to ao pudor. Esta norma tem sido criticada

por especialistas, afirmando que ela reduz

demasiado a amplitude do direito funda-

mental da liberdade individual.

É importante ressaltar que os crimes

em questão não só atentam contra a in-

tegridade física e mental da vítima, mas

também contra sua liberdade sexual. Por-

tanto, para a caracterização do crime como

hediondo não devem ser consideradas

apenas as consequências físicas, uma vez

que as sequelas psíquicas e emocionais

resultantes invariavelmente deixam graves

vestígios e traumas para a vítima.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Tel. 41 3306 8000 | Fax 41 3306 8008 www.dotti.adv.br | [email protected] / Novembro / Dezembro / 2016

Ano 11 | Número 34Tiragem: 1.800 exemplares

Foto da capa: Vanessa KosopImpressão e acabamento: CORGRAF

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

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De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.

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