boletim trimestral do escritório professor rené dotti · lei nº 13.432, de 11/04/2017 (publicada...

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1 Ano 12 - Boletim nº 36 . Abril / Maio / Junho 2017 Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. STF: aplica-se ao TCU a prescrição quinquenal regulada pela Lei nº 9.873/1999 Francisco Zardo Medidas coercitivas na execução de alimentos Fernanda Pederneiras O dano moral e o inadimplemento do contrato José Roberto Trautwein Cuidado com as ações revisionais Fernando Welter O prazo para troca de produtos com defeito Vanessa Scheremeta “A composição de interesses opostos é o melhor caminho: economiza tempo, dinheiro e evita ansiedade”. René Ariel Dotti René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero Luvizotto Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Bruno Correia Ana Cristina Viana . Fernanda Lovato

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Page 1: Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti · Lei nº 13.432, de 11/04/2017 (Publicada no DOU de 12/04/2017) Dispõe sobre o exercício da profi ssão de detetive particular,

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Ano 12 - Boletim nº 36 . Abril / Maio / Junho 2017

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

STF: aplica-se ao TCU a prescrição quinquenal

regulada pela Lei nº 9.873/1999Francisco Zardo

Medidas coercitivas na execução de alimentos

Fernanda Pederneiras

O dano moral e o inadimplemento do

contrato

José Roberto Trautwein

Cuidado com as ações revisionais

Fernando Welter

O prazo para troca de produtos com defeito

Vanessa Scheremeta

“A composição de interesses opostos é o melhor caminho: economiza tempo, dinheiro e evita ansiedade”.

René Ariel Dotti

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari

Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero LuvizottoLuis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães

Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Bruno Correia Ana Cristina Viana . Fernanda Lovato

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....................

EDITORIAL

O acordo como objetivo da justiça (René Ariel Dotti) ............................................................................................................................................ 03

SEÇÃO INFORMATIVA .................................................................................................................................................................................................................. 04

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes ............................................................................................................................................................................................... 05

DIREITO ADMINISTRATIVO

STF: aplica-se ao TCU a prescrição quinquenal regulada pela Lei nº 9.873/1999 (Francisco Zardo) ..................................................... 06A reforma da previdência (André Meerholz) ............................................................................................................................................................... 06Teste de reciclagem para juízes é validado pelo CNJ (Ana Cristina Viana)........................................................................................................ 07Será o fi m dos concursos para preenchimento do cadastro reserva? É o que pode ocorrer com a aprovação da PEC nº 29/2016 (Adriano Biancolini) .........................................................................................................................................................................................07Estabelecida a responsabilidade subsidiária da Administração Pública na terceirização de serviços (Fernanda Machado Lopes) .08

DIREITO CIVIL

Cabe indenização por fotografi a não autorizada publicada em jornal? A interpretação de precedentes do STJ (Rogéria Dotti) ....... 08A moderação no cumprimento de medidas judiciais (Julio Brotto) ................................................................................................................ 09Nova lei confere maior segurança jurídica e celeridade aos negócios imobiliários (Patrícia Nymberg)(Patrícia Nymberg)( .............................................. 09O dano moral e o inadimplemento do contrato (José Roberto Trautwein) (José Roberto Trautwein) ( ......................................................................................................... 10Cuidado com as ações revisionais (Fernando Welter) ............................................................................................................................................ 10Situação de urgência/emergência e o reembolso integral de despesas médicas (Vanessa Cani) ....................................................... 11Entregou algo diferente do que prometeu? Tem que indenizar! (Cícero Luvizotto) ..................................................................................... 11Dissolução da sociedade limitada e o momento da apuração de haveres (Giuliane Simionato Gabaldo) .................................................. 12Ofensas nas redes sociais: como resolver rapidamente (Frederico Augusto Gomes) ....................................................................................... 12

DIREITO DO CONSUMIDOR

O prazo para troca de produtos com defeito (Vanessa Scheremeta) ................................................................................................................... 13A segurança dos consumidores em shopping centers e hipermercados (Laís Bergstein) ......................................................................... 13

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Medidas coercitivas na execução de alimentos (Fernanda Pederneiras) .............................................................................................................. 14Indenização pelo uso exclusivo de imóvel ainda não partilhado (Thais Guimarães) .................................................................................. 14Separação judicial: o retorno (Diana Geara)(Diana Geara)(Diana Geara ........................................................................................................................................................... 15

DIREITO CRIMINAL

Condução coercitiva: abuso ou necessidade? (Alexandre Knopfholz) .................................................................................................................. 15Venda de produto vencido é crime? (Gustavo Scandelari) ..................................................................................................................................... 16Autorização para o porte de trânsito de arma de fogo municiada para praticantes de tiro desportivo (Luis Otávio Sales)(Luis Otávio Sales)(Luis Otávio Sales ........ 16O assédio da fi gurinista pelo ator famoso e a extensão do crime de estupro (Guilherme Alonso) ......................................................... 17Execução provisória da pena: o início da relativização jurisprudencial (Bruno Correia e Bruna Michelle da Silva) ...................................... 17Pais, fi lhos e a concessão de prisão domiciliar (Fernanda Lovato) ..................................................................................................................... 18

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Sancionadas novas leis de proteção às mulheres (Carolina Carone Martins)(Carolina Carone Martins)( .................................................................................................... 18É possível o reconhecimento de paternidade por meio do aplicativo WhatsApp? (Franciele Fernandes de Oliveira e Sabrina de Paula Nas-(Franciele Fernandes de Oliveira e Sabrina de Paula Nas-(

cimento) ............................................................................................................................................................................................................................. 18Ministério Público Federal não poderá cobrar dano moral em ação de improbidade administrativa (Gustavo Cezar Vieira)(Gustavo Cezar Vieira)( ....... 19Dois dias por semana caracteriza vínculo empregatício de faxineira (July Meirihelen Gonçalves) (July Meirihelen Gonçalves) ( ..............................................................19Audiência de Custódia: resultados dois anos após a sua regulamentação (Leonardo Mestre Negri) (Leonardo Mestre Negri) ( ........................................................19

ÍNDICE

Page 3: Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti · Lei nº 13.432, de 11/04/2017 (Publicada no DOU de 12/04/2017) Dispõe sobre o exercício da profi ssão de detetive particular,

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O ACORDO COMO OBJETIVO DA JUSTIÇA

EDITORIAL

Ao receber a visita do possível cliente com informações e documentos, o Advoga-

do inicia o processo intelectual do diagnóstico para aferir se existe fundamento legal

para abrir um processo e se a causa, pela sua natureza, pode ser aceita. Durante a

primeira entrevista não é preciso e nem prudente emitir uma opinião, salvo nos casos

urgentes que existem tanto na esfera criminal quanto na civil. Nessas situações, uma

vez aceito o mandato, o causídico não tem muito tempo para pensar sobre o que

deve fazer. Na rotina dos casos, quando há prazo razoável para contestar ou compa-

recer à audiência ou, ainda, se não existe litígio, o profissional deve avaliar minuciosa-

mente os fatos sob um rigoroso enfoque jurídico. Se houver chance de uma solução

amigável para a questão, tanto melhor. Os inconvenientes das demandas são notórios

e os colegas têm clara noção a respeito disso. Mas, falhando a tentativa de conciliação

extrajudicial, existem outras oportunidades para a composição dos interesses após

o ingresso da ação. O sistema legislativo brasileiro abre inúmeras possibilidades de

acordo. O recente Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, de 16/03/2015) determina:

“Art. 3º. (...) § 2º. O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual

dos conflitos. § 3º. A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consen-

sual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públi-

cos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”.

Como é evidente, o papel desempenhado pelo Juiz e outros trabalhadores foren-

ses é relevantíssimo. Quanto ao Advogado, o seu discernimento acerca das vantagens

e desvantagens da demanda é fundamental. Afinal, a composição de interesses opos-

tos é o melhor caminho: economiza tempo, dinheiro e evita ansiedade. O cliente deve

ser bem esclarecido quanto a isso. É leviana a promessa de bom êxito em um litígio

porque do outro lado também há o interesse na vitória e não é possível apostar na

convicção do Juiz, cuja independência é uma das garantias sociais do Estado Demo-

crático de Direito.

RENÉ ARIEL DOTTI

“Tenho a justiça do meu lado e perco a questão”.

Jean-Baptiste Poquelin (Molière, 1622-1673), O misantropo.

PENSAMENTO

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Nos dias 27 a 30 de março, o Partido Democrático Universitário promoveu um encontro no qual juristas, que escolheram a advocacia no âmbito do Direito Penal, expuseram suas experiências profi ssionais aos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. A aula inaugural da “Semana da Advocacia” foi proferida no dia 27 de março pelo Professor RENÉ DOTTI. Tam-bém participaram do evento ARTHUR MENDES LOBO, CELESTE MORO LANZUOLO, EDUARDO TALAMINI, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO DE NORONHA e LUIS FERNANDO CA-SAGRANDE PEREIRA.

O Professor RENÉ DOTTI foi convidado por CLEMEN-TE HUNGRIA, fi lho de NÉLSON HUNGRIA, para fazer a atu-alização dos comentários ao Código Penal escritos pelo jurista. O texto original é o da 4ª edição, de 1958. “Co-mentários ao Código Penal” é uma obra-prima da litera-mentários ao Código Penal” é uma obra-prima da litera-mentários ao Código Penal”tura jurídico-penal brasileira. Após a morte de HUNGRIA, HELENO CLAUDIO FRAGOSO fez a atualização do Tomo I em 1977 e do Tomo II em 1978. Em 2014, com o selo da Editora GZ, RENÉ DOTTI assumiu a honrosa tarefa de atualizar a parte geral – conteúdo dos Tomos I e II. Os livros foram divididos em duas partes, mantendo-se in-tacto, na primeira, o texto do mestre NÉLSON HUNGRIA.

Nos dias 17 e 18 de março, a Advogada ROGÉRIA DOTTI

proferiu aulas na Pós-Graduação em Direito Civil e Proces-sual Civil no UNICURITIBA, com o tema “Tutela de Urgência”.

Em 23/03/2017 proferiu palestra sobre “Decisão Parcial de Mérito” no III Congresso de Processo Civil de Florianópolis:

Em 7 de abril, palestrou sobre “Provas: aspectos polêmicos” no II Congresso Regional do IBDP, no Rio de Janeiro. No dia 11 do mesmo mês, abordou o tema “Normas fundamentais do Novo CPC” no II Curso de Processo Civil promovido pelo do Novo CPC” no II Curso de Processo Civil promovido pelo do Novo CPC”Instituto Paranaense de Processo Civil e pela ESA da OAB/PR.

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SEÇÃO INFORMATIVA

No dia 2 de março, a Advogada DIANA GEARA teve sua dissertação de mestrado aprovada no Centro Universitário Au-tônomo do Brasil – Unibrasil. O tema da dissertação é a análise itinerário das novas famílias no direito nacional, após o julga-mento pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL da ADPF nº 132/RJ e da ADI nº 4.277/DF, que, ao interpretar de acordo com a Constituição o art. 1.723 do Código Civil reconheceu o status familiar das uniões homoafetivas. O estudo aborda: a) o cená-rio nacional (histórico e constitucional) quando do julgamento paradigmático; b) os fundamentos do acórdão; c) a autonomia privada como premissa das relações familiares; d) os princípios e direitos fundamentais que embasaram a decisão do STF e legitimam as novas famílias conjugais.

O Advogado GUSTAVO SCANDELARI proferiu palestra, em 22 de março de 2017, no Seminário Brasil-Alemanha so-bre Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas, organiza-do pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da UFPR. O evento também contou com palestras dos renomados pro-fessores PAULO BUSATO, LUÍS GRECO, ALAOR LEITE, DÉCIO DAVID, TRACY REINALDET e RICARDO GLOECKNER.

A Advogada ANA CRISTINA VIANA recebeu, em 30/03/2017, o prêmio “Artigo do Ano” do Instituto Paranaense de Direito Administrativo, por ter logrado a primeira coloca-ção no Concurso de Artigos realizado no II Seminário Inter-nacional Efi ciência e Ética na Administração Pública. O artigo, cujo título é “Do moralismo ao controle democrático: a inefi -ciência dos instrumentos de participação social no combate a corrupção”, será publicado na íntegra no livro do evento.

O Advogado FRANCISCO ZARDO foi eleito, em 14/02/2017, Conselheiro do Instituto dos Advogados do Pa-raná (IAP) (biênio 2017/2018).

O Advogado FRANCISCO ZARDO concedeu entrevista à Revista Negócios Públicos. Na entrevista, o Advogado expli-cou a diferença entre estado de calamidade e situação emer-gencial dos Estados e sua repercussão nas contratações pú-blicas. Confi ra em nosso site a íntegra da entrevista (https://(https://dotti.adv.br/advogado-francisco-zardo-concede-entrevista-dotti.adv.br/advogado-francisco-zardo-concede-entrevista--revista-negocios-publicos/).-revista-negocios-publicos/).

Em janeiro deste ano, a Advogada LAÍS BERGSTEIN

assumiu a Coordenação Acadêmica da Especialização em Direito do Consumidor e Direitos Fundamentais da Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, a convite da Prof. Dra. CLAUDIA LIMA MARQUES, que exerce a Coordena-ção-Geral deste curso e do Programa de Pós-Graduação em Direito na mesma instituição.

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LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado JOÃO CARLOS DE ALMEIDA

Legislação - Mudanças relevantes

Lei nº 13.425, de 30/03/2017 (Publicada no DOU de 31/03/2017)

Estabelece diretrizes gerais sobre medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres em estabelecimentos, edifi cações e áreas de reunião de público. Chamada de “Lei da Kiss”, ela altera disposições tanto do Código Civil quanto do Código de Defesa do Consumidor e, dentre outras medidas, criminaliza a conduta do fornecedor que permite o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fi xado pela autoridade administrativa como máximo.

Lei nº 13.428, de 30/03/2017 (Publicada no DOU de 31/03/2017)

Altera a Lei nº 13.254, de 13 de janeiro de 2016, que “Dispõe sobre o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados incorretamente, remetidos, mantidos no exterior ou repa-triados por residentes ou domiciliados no País”.

Lei nº 13.432, de 11/04/2017 (Publicada no DOU de 12/04/2017)

Dispõe sobre o exercício da profi ssão de detetive particular, que é, para fi ns desta Lei, “o profi ssional que, habitualmente, por con-ta própria ou na forma de sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de natureza não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante”.

Lei nº 13.434, de 12/04/2017 (Publicada no DOU de 13/04/2017)

Acrescenta parágrafo único ao art. 292 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), para vedar o uso de algemas em mulheres grávidas durante o parto e em mulheres durante a fase de puerpério imediato.

No último dia 4 de abril, a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná rejeitou, por 36 votos contra 9, o Projeto de Lei nº 861/2015 que visava proibir as academias desportivas de cobrarem taxas dos personal trainers que prestam serviços particulares a alunos nestes estabelecimentos. Iniciativas semelhantes têm sido adotadas em outros Estados da Federa-ção. O ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI foi consultado pela Associação Brasileira de Academias – ACAD Brasil e por outras 30 academias sediadas em Curitiba e emitiu Parecer Jurídico sobre o tema, que pode ser consultado na íntegra no nosso site (https://dotti.adv.br/assembleia-parana-rejeita-pl-que-proibia-cobranca-de-taxa-adicional-para-personal-trai-ner-em-academias/). Segundo os autores do Parecer, os Advogados RENÉ DOTTI, ROGÉRIA DOTTI, FRANCISCO ZARDO

e LAÍS BERGSTEIN, o Projeto de Lei nº 861/2015 era formal e materialmente inconstitucional.

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STF: aplica-se ao TCU a prescrição quinquenal regulada pela Lei nº 9.873/1999

A reforma da previdência

Em 21 de março de 2017, a 1a. Turma do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL decidiu no Mandado de Segurança nº 32.201, que se aplica aos processos em trâmite no TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO o prazo prescricional de cinco anos, previsto na Lei nº 9.873/1999, que “estabelece prazo de prescrição para o exercício de ação pu-nitiva pela Administração Pública Federal, direta e indireta”.

A decisão é relevante porque a Lei Or-gânica do TCU (Lei nº 8.444/1992), ao pre-ver a competência do órgão para aplicar multa pela prática de infrações submeti-das à sua esfera de apuração, deixou de estabelecer prazo para exercício do po-

der punitivo. Entretanto, de acordo com o STF, “isso não signifi ca hipótese de impres-critibilidade” (Informativo 858).

Na ausência de previsão na Lei Orgâ-nica, o TCU vinha adotando o prazo de 10 anos, previsto no art. 205 do Código Ci-vil, o que não é adequado, quer porque o Código Civil destina-se a regular relações de direito privado, quer porque o prazo quinquenal é uma constante nas relações de direito público.

A aplicação integral da Lei nº 9.873/1999 aos processos em curso no TCU deve ser saudada, na medida em que a lei prevê com clareza e objetividade não só o prazo de prescrição, mas também

seus marcos iniciais e interruptivos, con-ferindo segurança jurídica a todos os inte-ressados. O Tribunal sabe, agora, o prazo que possui para iniciar e concluir o pro-cesso. E os gestores de recursos públicos têm ciência do período em que estarão sujeitos à ação punitiva do TCU.

FRANCISCO ZARDO

ANDRÉ MEERHOLZ

DIREITO ADMINISTRATIVO

O Poder Executivo encaminhou ao Congresso Nacional proposta de emen-da constitucional para alterações do regime previdenciário. Dentre elas, des-taca-se a fi xação de uma idade mínima para a aposentadoria. A regra já é obser-vada em todos os “países desenvolvidos”. O Brasil, no entanto, hoje, é uma exce-ção, pois permite a aposentação precoce de parcela relevante de sua população ativa. Pela proposta original, homens e mulheres poderão se aposentar apenas após completarem 65 anos, indepen-dentemente de estarem submetidos ao regime geral de previdência ou a regime público, o que converge para o padrão adotado pelos países da OCDE.

Relevante, ainda, o novo parâmetro de cálculo da aposentadoria. O valor

será obtido por 51% da média das con-tribuições, acrescidas de 1% para cada ano de contribuição. Considerando um tempo mínimo de 25 anos de contri-buição, a base corresponderá a 76% da média das contribuições. Para se obter o valor integral será necessário contribuir à previdência por 49 anos.

A despeito das adequações que a proposta mereça em determinados pon-tos, é forçoso reconhecer a urgência de sua aprovação. Trata-se de providência indispensável ao equilíbrio das contas públicas. Caso contrário, o aumento do número de idosos e a queda da popu-lação ativa sinalizam um cenário caóti-co para as contas públicas nacionais no médio prazo. Os gastos com seguridade social serão de tal monta que inviabili-

zarão as demais atividades do Estado, sobretudo os investimentos sociais e em infraestrutura. Justifi ca-se ainda pela ótica da justiça Inter geracional, a fi m de assegurar que as gerações futuras tam-bém possam contar com a proteção pre-videnciária.

Em síntese, a reforma signifi ca um presente de menos direitos para poucos, mas, certamente, um futuro de mais di-reitos para todos.

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Teste de reciclagem para juízes é validado pelo CNJ

A reintegração é recondução do agente público ao seu cargo. No caso de membros do Poder Judiciário, a reintegração se dá em caso de afastamento por disponibilidade, que é uma modalidade de sanção imposta àquele que comete infração administrativa. Essa pena implica o afastamento do cargo, com recebimento de vencimentos propor-cionais ao tempo de serviço. Após dois anos de disponibilidade, o Tribunal só poderá ne-gar o retorno do membro mediante justifi-cativas e de maneira expressa. No entanto, não são poucos os casos nos quais os ma-gistrados ficam por mais tempo afastados, alguns, por mais de década.

Em 2016, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO publicou a Portaria nº 9.341/2016, na qual estabelece um procedi-mento de avaliação de capacidade técnica e jurídica e condições de saúde para a rein-tegração de magistrado afastado. Trata-se de uma espécie de teste de reciclagem para avaliação das condições de retorno ao car-go destes agentes. O Tribunal explanou que o procedimento passou a ser adotado nos pedidos de reaproveitamento protocola-dos desde 2016.

Diante de questionamentos feitos por Autoridades Judiciárias que se viram limi-tados diante deste procedimento, o Con-

selho Nacional de Justiça foi instado a se manifestar. A Corte entendeu que os testes aplicados pelo TJSP são válidos. Aludiu-se à carência legislativa sobre o tema, bem como se firmou a convicção que a reava-liação dos membros da magistratura afas-tados por períodos longos é uma medida que atinge o interesse público, já que dá ao jurisdicionado e à comunidade uma certifi-cação de aptidão ao cargo do indivíduo que pretende retornar após longo período para desempenho de funções caras à sociedade.

No Estado do Paraná, ainda não existe procedimento semelhante.

ANA CRISTINA VIANA

Já aprovada pela Comissão de Cons-tituição, Justiça e Cidadania do Senado, a PEC nº 29/2016 está na iminência de ser pautada para votação. Entre os pontos mais relevantes da proposta está uma reinvindicação antiga, principalmente por parte daqueles que participam de inúmeros concursos públicos almejando a sonhada estabilidade de um cargo efe-tivo na Administração Pública: o fim dos certames exclusivos para preenchimen-to do cadastro reserva. Por esses concur-sos, a Administração se desincumbe de proceder a um planejamento mais pro-fundo de sua necessidade, não preven-do, assim, um número mínimo de vagas a serem preenchidas, não tendo o can-

didato qualquer garantia de que haverá sequer o provimento de vaga durante o prazo de validade do concurso. A deci-são pelo provimento ao cargo fica a cri-tério discricionário da autoridade públi-ca, caso haja efetiva abertura de vagas.

Pela proposta, o instituto do cadastro reserva continua a existir. No entanto, esse fica limitado a 20% dos cargos ou empregos públicos efetivamente dispo-níveis e que serão preenchidos pelo con-curso público.

A proposta vem em boa hora, mas há na doutrina diversos defensores da inconstitucionalidade desses concur-sos exclusivos para preenchimento de cadastro reserva, por sua incompatibili-

dade com a sistemática normativa atu-al. Entre os principais argumentos para defender a inconstitucionalidade desses certames, pode-se citar: a inexistência de motivo jurídico para instauração de concurso se não há vagas a serem efeti-vamente preenchidas; o dever de plane-jamento pela Administração, o qual de-mandaria conhecer minimamente qual a real possibilidade de se prover novos cargos públicos dentro do período de validade do concurso. Além disso, tais certames afrontariam princípios como da boa-fé da Administração e dignidade da pessoa humana, em especial em rela-ção aos potenciais candidatos, moralida-de e segurança jurídica.

Será o fim dos concursos para preenchimento do cadastro reserva? É o que pode ocorrer com a aprovação da PEC nº 29/2016

ADRIANO BIANCOLINI

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Cabe indenização por fotografi a não autorizada publicada em jornal? A interpretação de precedentes do STJ

ROGÉRIA DOTTI

Estabelecida a responsabilidade subsidiária da Administração Pública na terceirização de serviços

FERNANDA MACHADO LOPES

Segundo o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, em caso de terceirização dos serviços o Poder Público somente é res-ponsável pelo pagamento de encargos trabalhistas que não foram adimplidos pelas empresas prestadoras dos men-cionados serviços quando forem com-provadas falhas na fi scalização desem-penhada pela Administração Pública.

Em outras palavras, essa responsa-

bilidade não é automática, afi nal, deve ser comprovado que o Poder Público não fi scalizou, de forma correta, o pa-gamento das verbas trabalhistas pelas empresas terceirizadas. Portanto, quan-do não há o devido acompanhamento da execução do contrato dos serviços pelo Poder Público é que a Administra-ção Pública será chamada para promo-ver o pagamento dos valores devidos a

título de encargos trabalhistas.Esse posicionamento do STF ape-

nas reforça a disposição legal presente na Lei de Licitações (Lei n.º 8.666/1993, art. 71), no sentido que o contratado, no caso empresa prestadora dos serviços de limpeza e segurança pública, deve arcar com os encargos trabalhistas.

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTI-ÇA, no último dia 21 de março, negou provimento ao Recurso Especial inter-posto por um homem cuja imagem havia sido publicada no Jornal Zero Hora sem sua autorização. A Corte manteve, assim, a decisão do TRIBU-NAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL que negara o pedido de indeni-zação. A fotografia havia sido obtida em local público, durante a manifes-tação conhecida como a “Marcha das Vadias”.

Em seu voto, o Relator, Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, des-tacou que a imagem foi colhida du-rante manifestação em local público (Parque da Redenção em Porto Ale-gre) e que sua veiculação não teve a finalidade comercial, isto é, de gerar

vantagem financeira.Embora o Recorrente tivesse in-

vocado uma Súmula do STJ (ou seja, um enunciado que transmite uma orientação pacificada do tribunal), o Relator concluiu que a mesma não seria aplicável à hipótese dos autos. Com efeito, a Súmula nº 403 tem o seguinte teor: “independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. Como no caso a imagem não foi utili-zada para que o jornal auferisse maior lucro ou impulsionasse suas vendas, evidentemente não haveria a incidên-cia da súmula.

Observe-se que o SUPERIOR TRI-BUNAL DE JUSTIÇA, ao analisar esse novo recurso, interpretou a própria

Súmula 403, deixando claras as ra-zões pelas quais ela não autorizaria a indenização. Realizou, portanto, um trabalho de distinção entre os casos, o que é de extrema importância no sistema de decisões vinculantes do novo Código de Processo Civil.

DIREITO CIVIL

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A moderação no cumprimento de medidas judiciaisJULIO BROTTO

Nova lei confere maior segurança jurídica e celeridade aos negócios imobiliários

Em 20/02/2017 entrou em vigor o chamado “princípio da concentração dos atos nas matrículas”, instituído pela Lei nº 13.097/2015, que determina que todas as ocorrências relacionadas ao imóvel ou de seus titulares devem ser lançadas na matrícula.

Segundo a lei, o credor deverá pro-mover, na matrícula do imóvel, o regis-tro das informações de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias e a averbação das constrições judiciais, dos ajuizamentos de ações de execução ou de fase de cumprimento de sentença, das restrições administrativas ou con-vencionais ao gozo de direitos regis-trados e, mediante decisão judicial, da existência de outro tipo de ação cujos resultados ou responsabilidade patri-monial possam reduzir seu proprietário à insolvência.

O que não constar na matrícula não poderá recair sobre o comprador, que será considerado terceiro de boa-fé, in-

clusive para fi ns de evicção. A mudança aumenta a segurança

jurídica das transações imobiliárias, ins-tituindo a matrícula como o único do-cumento a ser analisado para apurar a situação jurídica do imóvel, dispensan-do diligências complementares, como, por exemplo, as certidões dos distribui-dores judiciais e extrajudiciais (protes-tos). Isso confere uma desburocratiza-ção e maior agilidade ao processo de aquisição de imóveis.

Contudo, a efetividade da lei depen-derá da interpretação do Poder Judiciá-rio, isto é, se efetivamente se entenderá pela boa-fé do terceiro adquirente tão somente pela análise da certidão da matrícula. Enquanto não ocorrer uma posição mais consolidada da jurispru-dência, convém manter as cautelas de praxe, fazendo uma extensiva verifi ca-ção de certidões do imóvel e do vende-dor.

PATRÍCIA NYMBERG

Em fevereiro deste ano, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA concedeu inde-nização por danos morais em favor de empresa que sofrera busca e apreensão em sua sede, ao argumento de que ela estaria comercializando produtos falsi-fi cados. Diante da não comprovação da falsifi cação, a empresa promoveu o pedi-do indenizatório.

A tese da autora da medida de bus-ca e apreensão, conhecida fabricante de materiais esportivos, no sentido de que teria agido de forma regular e mediante autorização judicial, não foi sufi ciente a afastar a confi guração do abuso, confor-me entendimento da Ministra NANCY ANDRIGHI, relatora do Recurso Especial nº 1428493. Para o STJ, ainda que o acór-

dão objeto do recurso especial tenha aferido a culpa da ré sob a vertente sub-jetiva, isto é, debruçando-se sobre a im-prudência da autora da ação de busca e apreensão, isso sequer seria necessário, na medida em que a parte responde ob-jetivamente pelos danos causados pelo cumprimento da liminar. Assim, restaria apenas a verifi cação de dois requisi-tos: a) a efetiva ocorrência de prejuízo (dano); b) a quantifi cação desse prejuízo.

No julgado em análise, entendeu-se presente o dano, tal qual referido pela moldura fática do acórdão objeto do re-curso especial, pelo fato de que o proce-dimento de busca e apreensão foi reali-zado “em pleno funcionamento da loja, na presença, inclusive, de clientes e funcioná-

rios”. Segundo o STJ, a forma pela qual se deu o cumprimento da ordem judicial, “afeta a reputação do empreendimento comercial, até mesmo pondo em dúvida acerca da qualidade dos produtos comer-cializados na loja.”

Fazendo-se o raciocínio inverso, po-de-se concluir que, tivesse sido a busca e apreensão realizada em outras circuns-tâncias, após o expediente comercial, por exemplo, provavelmente não esta-ria presente o dano, enquanto requisito imprescindível da responsabilidade civil extracontratual; consequentemente, o pedido seria improcedente. Tudo a servir como boa lição sobre a melhor forma de se exercer um direito.

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Nestes momentos difíceis da econo-mia nacional, com severos efeitos sobre o orçamento familiar, muitas pessoas são tentadas a buscar a revisão de obri-gações financeiras de longo prazo, nor-malmente financiamentos bancários contraídos para a aquisição de imóveis ou veículos.

Para esse fim, anunciam-se ao pú-blico escritórios de advocacia muitas vezes disfarçados de associações de defesa do consumidor, prometendo re-duções extraordinárias nas prestações contratuais. A convicção geral quanto

à abusividade dos encargos cobrados pelos bancos e ao provável êxito destas ações estimulam a sedutora ideia que, no entanto, pode transformar-se em um pesadelo diante da possível situa-ção de inadimplência provocada pela adoção inconsequente da iniciativa.

Além do extremo critério que deve nortear a decisão por um litígio revi-sional, especialmente no que se refere à apurada análise contábil e jurídica da situação a fim de se identificar com precisão se efetivamente existem e onde residem os encargos indevidos

ou excessivos, é hoje requisito legal das ações dessa natureza o depósito ju-dicial dos valores incontroversos, isto é, da quantia que se entende devida, re-sultante da exclusão dos encargos tidos por indevidos. Sem essa providência, a ação revisional não poderá sequer ser aceita.

Assim, devem ser descartadas solu-ções milagrosas que prometam a exo-neração ou suspensão total da dívida, ainda que sob o argumento de estar ela sendo discutida judicialmente.

Cuidado com as ações revisionais

O dano moral encontra-se previsto nos arts. 5º, X, da Constituição Fede-ral de 1988 e 186 do Código Civil. Para o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, “os danos morais dizem respeito a lesões a atributos da pessoa, enquanto ente ético e social que participa da vida em sociedade, estabelecendo relações intersubjetivas em uma ou mais comunidades, ou, em outras palavras, são atentados à parte afetiva e à parte social da personalidade” (Recurso Especial nº 1.426.710/RS).

A jurisprudência se pronuncia no sentido de que eles seriam incabíveis na hipótese de descumprimento con-tratual, notadamente quando surgem dúvidas na interpretação de cláusulas de contrato. Julgados recentes apontam a inexistência de dano moral na ilegal re-

cusa da cobertura securitária sob a ale-gação de doença pré-existente.

Porém, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA recentemente passou a adotar o entendimento de ser cabível a conde-nação da seguradora ao pagamento de indenização por danos morais “advindos da recusa da cobertura securitária, na medida em que a conduta agrava a situ-ação de aflição psicológica e de angústia no espírito do segurado, o qual, ao pedir a autorização da seguradora, já se encontra em condição de dor, de abalo psicológico e com a saúde debilitada” (AgInt no REsp 1.623.735).

Trata-se, em síntese, da alteração de entendimento que objetiva preservar a parte mais fraca e vulnerável na relação contratual.

O dano moral e o inadimplemento do contrato

FERNANDO WELTER

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

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Situação de urgência/emergência e o reembolso integral de despesas médicas

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O contrato de plano de saúde tem por finalidade assegurar aos seus be-neficiários, mediante o pagamento de uma contraprestação mensal, cujo valor corresponderá aos benefícios oferecidos ao consumidor, a cobertura de custos de tratamento e atendimento médico, assim como hospitalar e laboratorial perante profissionais e estabelecimen-tos de saúde devidamente credencia-dos pela operadora. Essa vinculação da cobertura aos médicos e aos hospitais da rede ou conveniados pelo plano de saúde é legal, não acarretando qualquer abuso.

Entretanto, em situações excepcio-nais, como nas hipóteses de urgência ou emergência, quando não for possí-vel a utilização de serviços médicos ou

hospitalares próprios ou credenciados, a prestadora do plano de saúde pode ser responsabilizada pela cobertura das despesas geradas com o tratamento de saúde do aderente ao plano.

Este é o entendimento do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: “Excepcionalmen-te, nos casos de urgência e emergência, em que não se afigurar possível a utiliza-ção dos serviços médicos, próprios, cre-denciados ou convencionados, a empresa de plano de saúde, mediante reembolso, responsabiliza-se pelos custos e despesas médicas expendidos pelo contratante em tais condições” (AgInt no AREsp 986.571/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLI-ZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/03/2017, DJe 16/03/2017).

Demonstrada a urgência ou emer-

gência do atendimento, a recusa de co-bertura das despesas é ilegal. Deve-se esclarecer, no entanto, que a responsabi-lidade das operadoras é limitada, ou seja, está atrelada às obrigações contratuais, conforme preceitua a Lei nº 9.656/1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde.

Segundo matéria publicada na re-vista Superinteressante no ano de 2011, a expressão “comprar gato por lebre” tem origem na Europa medieval onde “a carne era escassa e a malandragem era abundante”. Assim, uma das gran-des preocupações da época era impedir que a refeição entregue aos viajantes não refletisse o pedido.

Desde então, não é raro ouvirmos histórias de pessoas que são engana-das quando da aquisição de um bem ou serviço.

Felizmente, os tempos estão mu-dando, na medida em que o Legislador trouxe mecanismos de proteção ao ci-dadão, dentre eles o Código de Defesa do Consumidor e o novo Código de Processo Civil, que passaram a comba-ter esse tipo de prática.

Um exemplo clássico é obtido por meio da decisão proferida nos autos do Recurso Especial nº 1634751. Nesse re-curso, a Ministra NANCY ANDRIGHI re-conheceu a culpa de uma grande cons-trutora que, em absurdo desrespeito ao

cliente, entregou imóvel completamen-te diferente daquele que havia sido ad-quirido.

Dentre os problemas apresentados, ganham destaque a ausência de uma suíte e a prometida “vista para o mar”.

A decisão foi clara ao afirmar que “a entrega do imóvel em conformação dis-tinta da contratada ultrapassa o simples descumprimento contratual” e gera o dever de indenizar pelos danos morais suportados.

É de se esperar que a justa repri-menda sirva como estímulo ao cidadão que, muitas vezes descrente, busque o Judiciário para ver ressarcido o seu dano.

Entregou algo diferente do que prometeu? Tem que indenizar!

VANESSA CANI

CÍCERO LUVIZOTTO

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Tudo quanto é feito nas redes sociais pode ter sérias implicações na vida das pessoas e, se é certo que o conteúdo dis-seminado na internet pode trazer conse-quências jurídicas (por ex. o dever de in-denizar), também não há dúvidas de que o dano causado por uma postagem ofensiva pode tomar proporções difi cilmente com-pensadas com dinheiro.

Não raro, a retirada imediata do con-teúdo é mais relevante do que qualquer indenização, que, no fi m das contas, pode interessar muito pouco. É para esses casos que a estabilização da tutela antecipada, um instituto do novo Código de Processo civil, cai como uma luva.

Com essa novidade, passou a ser auto-rizado um pedido liminar autônomo, me-diante petição simplifi cada que não exige

o preenchimento de todos os requisitos de uma petição inicial. Pode-se solicitar muito rapidamente uma ordem judicial para que a ofensa seja retirada da rede e, caso o réu não recorra da medida conce-dida, o processo não seguirá em frente. Além disso, se a liminar não se estabilizar, haverá tempo para elaboração da petição inicial sem pressa e com todos os cuidados necessários.

O “pulo do gato” é a possibilidade de formular esse pedido apenas contra o mantenedor do domínio da rede social, que não terá interesse em discutir a ques-tão judicialmente, tornando provável a es-tabilização da tutela antecipada.

Resolve-se o problema rapidamente, com a possibilidade de, no futuro, ajuizar ação para pleitear indenização de quem

publicou o conteúdo. Para isso é importan-te a elaboração desde logo de ata notarial para provar o acontecimento, pois ele po-derá ser rapidamente excluído da internet.

Portanto, a estabilização da tutela an-tecipada é um ótimo instrumento para a proteção jurisdicional rápida e efetiva da imagem e da honra das redes sociais.

Ofensas nas redes sociais: como resolver rapidamente

Dissolução da sociedade limitada e o momento da apuração de haveres

O sócio poderá, a qualquer momen-to, desligar-se de uma sociedade limita-da, desde que seja esta constituída por prazo indeterminado. Esse direito (de-nominado direito de retirada, de reces-so ou de denúncia) poderá ser exercido independentemente da propositura de ação judicial, mas se exige que o sócio notifi que extrajudicialmente os demais, com uma antecedência mínima de 60 (sessenta) dias.

Para que o sócio retirante receba, então, a parte que lhe cabe do patrimô-nio social, determina a lei que a apura-ção de suas quotas seja feita levando-se em consideração a situação patrimonial da sociedade na data da resolução par-cial, ou seja, no dia em que o sócio efeti-

vamente deixou a empresa.A questão que se levantava era: em

qual momento há a resolução do con-trato societário no direito de retirada? Seria na data da notifi cação extrajudi-cial ou no dia em que houve a alteração do contrato social, com a exclusão do sócio (que, por questões burocráticas, pode acontecer muito depois da comu-nicação)?

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTI-ÇA entendeu que, havendo dissolução parcial da sociedade, a data-base para a apuração de haveres não pode ser nem o dia em que efetuada a notifi ca-ção extrajudicial, nem aquele em que ocorreu a alteração do contrato social, mas sim quando do término do prazo

de 60 (sessenta dias) previsto no artigo 1.029 do Código Civil (Recurso Especial nº 1.602.240/MG).

Ou seja, o sócio procede à comuni-cação formal de sua saída da empresa, com antecedência de 60 (sessenta) dias, e seus haveres serão contabilizados no termo fi nal desse prazo, ainda que no momento da alteração contratual a si-tuação econômica da sociedade seja outra. Isso porque é com o término des-se prazo que o contrato societário fi ca resolvido, de pleno direito.

Caso o sócio não concorde com a quantia apurada, poderá ir a Juízo para a discussão dos valores relativos à dis-solução.

GIULIANE SIMIONATO GABALDO

FREDERICO AUGUSTO GOMES

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Sempre que o consumidor compra algum produto tem a legítima expecta-tiva de que esteja em plenas condições de funcionamento. Não obstante, em alguns casos ele vem com algum de-feito que o torna total ou parcialmente impróprio para o uso. Nessas situações, o consumidor pode exigir imediatamente a troca por um produto novo?

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA recentemente enfrentou essa questão ao julgar o Recurso Especial nº 1.459.555/RJ. Tratava-se de uma ação proposta contra uma grande loja de varejo, a qual limitava o período de troca do produto defeituoso a 3 (três) dias, contados da

emissão da nota fiscal. Passado esse pe-ríodo, indicava a necessidade de encami-nhamento do produto à assistência téc-nica. O Ministério Público, autor da ação, entendia que o prazo para troca deveria ser aquele previsto para a reclamação (art. 26 do CDC), ou seja, de 30 e 90 dias, respectivamente, para produtos não du-ráveis e duráveis.

Como houve condenação, confirma-da em segundo grau, a loja interpôs Re-curso Especial, o qual foi provido. Como bem destacado pelo MM. Relator, Mi-nistro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, o prazo de 3 (três) dias para a substituição do produto tratava-se de “um plus ofere-

cido pela empresa, um benefício concedi-do ao consumidor diligente, que, porém, não é obrigatório”. Justamente por isso, o consumidor não tem o direito de substi-tuição do produto defeituoso por outro desde logo. Na verdade, constatado o defeito, o fornecedor dispõe do prazo de 30 dias para saná-lo. Apenas se isso não ocorrer é que o consumidor pode-rá valer-se das opções previstas pelo art. 18, § 1º do CDC, quais sejam: substituir o produto por outro da mesma espécie, ver restituído o valor da compra ou reali-zar o abatimento proporcional do preço.

O prazo para troca de produtos com defeito

VANESSA SCHEREMETA

Uma sucessão de assaltos a shopping centers e hipermercados de Curitiba tem chamado a atenção nos noticiários. Enquanto, de um lado, as autoridades policiais investigam as ocorrências, de outro, os consumidores se perguntam: qual a responsabilidade desses estabele-cimentos comerciais em relação à segu-rança das pessoas que os frequentam?

Em um julgado paradigmático so-bre esse tema, relatado pela Ministra NANCY ANDRIGHI em 2004, o SUPE-RIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA concluiu que a segurança aos bens e à integrida-de física dos consumidores é inerente à atividade desenvolvida pelos hipermer-cados e pelos shopping centers. Isso por-que tais estabelecimentos diferenciam--se dos centros comerciais tradicionais justamente pela criação de um ambien-te seguro e privilegiado para a realiza-ção de compras e afins, contexto que

induz e conduz o consumidor, de forma a incrementar o volume de vendas (Re-curso Especial nº 419.059/SP).

Esse entendimento consolidou-se no Tribunal. Em 2009, decidiu-se que a alegação de força maior não é suficiente para afastar o dever de shopping centers e hipermercados zelarem pela seguran-ça de seus ambientes, confirmando-se a responsabilidade civil decorrente de assaltos violentos (Recurso Especial nº 582.047/RS, Rel. Min. MASSAMI UYE-DA). Decisões recentes, de 2016 e 2017, também reconhecem o dever de tais estabelecimentos repararem os danos (materiais e/ou morais) causados em situações similares (AgRg no AREsp 841.921/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Julg. 05/05/2016; e AgInt no AREsp 790.302/RJ, Rel. Min. RAUL ARAÚ-JO, Julg. 16/02/2017).

O conforto e a segurança são os

principais atrativos aos consumido-res que frequentam shopping centers e hipermercados e o risco de assaltos é inerente à sua atividade econômica. Compete aos dirigentes desses estabe-lecimentos adotarem medidas de refor-ço da sua segurança interna, prevenin-do, com isso, danos aos seus clientes, e, simultaneamente, devem contribuir com o Poder Público para o sucesso das investigações.

LAÍS BERGSTEIN

A segurança dos consumidores em shopping centers e hipermercados

DIREITO DO CONSUMIDOR

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Apesar do caráter patrimonial, a ver-ba alimentar tem relação direta com di-reitos de personalidade do alimentando, sua dignidade e sobrevivência, o que permite a aplicação de medidas de cará-ter excepcional para garantir a satisfação do crédito.

A prisão do devedor de alimentos é a única previsão de coerção pessoal por dí-vida civil prevista em nosso ordenamen-to jurídico atual e a aplicação da pena deverá observar a conduta voluntária e inescusável do devedor. Por se tratar de medida drástica, não pode ser decretada quando comprovada a impossibilidade absoluta de pagamento.

A pena somente pode ser aplicada em caso de inadimplemento no máximo das 3 últimas prestações, mais as que se vencerem no decorrer da execução.

Assim, se o alimentando deixa passar mais de 3 meses para cobrar os alimen-tos considera-se que a verba mais anti-ga perde o caráter alimentar no sentido estrito, sendo vedada a prisão quanto ao período pretérito.

De forma a garantir maior celeridade e efetividade na execução de alimentos, o novo Código de Processo Civil trouxe expedientes inovadores em benefício do credor, como o desconto em folha de pagamento e a inclusão do devedor no cadastro de inadimplentes, além das medidas previstas para as execuções por quantia certa em geral, como a averba-ção da existência da execução no regis-tro de imóveis e de veículos para evitar a dissipação de bens passíveis de garantir o pagamento do débito.

A disposição do art. 139 do CPC/2015

estabelece de forma expressa, ainda que genérica, o dever do juiz de dar efetivi-dade às ordens judiciais, inclusive àque-las referentes à obrigação pecuniária, e tem sido vista como fundamento para a aplicação de técnicas de execução in-direta como a apreensão do passaporte e/ou carteira de habilitação do devedor, bloqueio de cartão de crédito, dentre outras.

Todavia, ainda que diante de um crédito de prioridade inquestionável (subsistência) é imprescindível a análise criteriosa do caso concreto para que as medidas executivas adotadas se mos-trem proporcionais aos valores em con-flito, em respeito aos direitos fundamen-tais dos envolvidos.

Medidas coercitivas na execução de alimentos

Indenização pelo uso exclusivo de imóvel ainda não partilhado

FERNANDA PEDERNEIRAS

Em julgamento realizado em fe-

vereiro do corrente ano, o SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA firmou entendi-

mento no que diz respeito à utilização

exclusiva de bem comum por um dos

cônjuges, antes de realizada a partilha.

Anteriormente, as duas Turmas do

STJ divergiam e a maioria dos Tribu-

nais entendia que era incabível o re-

cebimento de indenização em razão

do estado de mancomunhão dos bens

comuns. Tal estado de indivisibilidade

dos bens só seria alterado após a par-

tilha, quando seria instituído o condo-

mínio, com percentuais especificados

de cada condômino (ex-cônjuge).

Contudo, no Recurso Especial nº

1.250.362/RS, o Ministro Relator RAUL

ARAÚJO salientou que “admitir a inde-

nização antes da partilha tem o mérito

de evitar que a efetivação dessa seja

prorrogada por anos a fio, relegando

para um futuro incerto o fim do estado

de permanente litígio que pode haver

entre os ex-cônjuges, senão, até mesmo,

aprofundado esse conflito, com presu-

míveis consequências adversas para a

eventual prole”.

Ademais, para fundamentar que o

fato gerador da indenização é a posse

exclusiva do bem, destacou que “o que

importa no caso não é o modo de exer-

cício do direito de propriedade, se co-

mum ou exclusivo (‘mancomunhão’ ou

condomínio), mas sim a relação de pos-

se mantida com o bem, se comum do

casal ou exclusiva de um dos cônjuges”.

Acompanhando o Relator, a Mi-

nistra MARIA ISABEL GALOTTI, em seu

voto-vista, consignou que “a comu-

nhão de bens pressupõe que a ambos

os cônjuges seja dado o direito de de-

les usufruir, de modo que um deles não

pode pretender a exclusividade na sua

utilização”.

THAIS GUIMARÃES

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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Condução coercitiva: abuso ou necessidade?ALEXANDRE KNOPFHOLZ

O aumento de operações policiais nos últimos anos foi acompanhado pelo incre-mento de um instituto jurídico, no mínimo, controverso. Trata-se da tão falada condu-ção coercitiva de investigados. Não raro, a população acorda com a notícia de que es-tão sendo cumpridos mandados de prisão, de busca e apreensão e, em sua maioria, de condução coercitiva.

A chamada condução coercitiva é o en-caminhamento compulsório do suspeito, levando-o à presença de autoridades po-liciais ou judiciárias independentemente de sua vontade. Sua previsão legal encon-tra-se no art. 260 do Código de Processo

Penal, que dispõe que “Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, re-conhecimento ou qualquer ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.” Con-forme se infere da redação legal, para sua ocorrência é necessário o descumprimento de uma ordem judicial, isto é, a desobedi-ência injustificada de intimação prévia.

A condução coercitiva dos dias atuais, porém, não é essa. Ela é utilizada como uma medida cautelar híbrida, alternativa à prisão provisória. É dizer: a restrição ao di-reito de ir e vir é limitada à obrigatoriedade de depoimento perante a autoridade poli-cial. Ato contínuo, o conduzido é liberado. Embora não conste taxativamente no rol das medidas cautelares diversas da prisão constantes do Código de Processo Penal (art. 319), ela é utilizada com base no poder geral de cautela do Magistrado, previsto na legislação civil e aplicado analogicamente nos casos criminais.

Trata-se, sem dúvida, de mecanismo complexo: ao mesmo tempo que garante produção probatória eficaz (já que impe-de comunicação entre investigados, por exemplo), é medida de constitucionali-dade discutível, por possível violação aos princípios constitucionais da legalidade, da impossibilidade de autoincriminação e da inadmissibilidade de analogia in malam partem.

Não por outra razão a OAB ajuizou, no último mês de março, Arguição de Descum-primento de Preceito Fundamental (ADPF), para que o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL reconheça a não recepção, pela Constitui-ção Federal de 1988, da aplicação da con-dução coercitiva na fase de investigação. Alternativamente, pede-se que seja reco-nhecida, ao menos, a necessidade de des-cumprimento de intimação prévia para sua utilização. A ação, autuada sob nº 444, é de relatoria do Ministro GILMAR MENDES.

Separação judicial: o retornoDIANA GEARA

A Emenda nº 66/2010 alterou signi-ficativamente o texto da Constituição, encerrando as discussões sobre a culpa no fim dos relacionamentos conjugais e permitindo que o casal possa realizar de imediato o divórcio. Com a alteração, foi abolida a necessidade prévia de se-paração de fato (por dois anos) e judi-cial (por um ano).

No entanto, persistiram discussões doutrinárias e jurisprudenciais quanto à extinção da separação judicial do or-denamento jurídico nacional. O enten-dimento majoritário era de que o insti-tuto da separação havia sido extinto.

Contudo, houve recentemente o julgamento de um Recurso Especial de relatoria da Ministra MARIA ISABEL GA-

LOTTI, em que, segundo noticiado pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, foi decidido que a separação judicial per-manece como instituto jurídico à dispo-sição dos cônjuges. Diante disso, os ca-sais poderiam, então, optar por encerrar de forma definitiva o casamento (por meio do divórcio) ou apenas extinguir a sociedade conjugal, colocando fim aos deveres decorrentes do casamento, bem como ao regime de bens, mas dei-xando a possibilidade de restabelecer a sociedade conjugal a qualquer tempo (por meio da separação judicial).

Segundo a Ministra Relatora, o Esta-do deve respeitar a autonomia dos côn-juges sobre como findar decisivamente o casamento.

O assunto, sem dúvidas, merece re-flexões sob duas óticas: o exercício da autonomia existencial dos casais deve ser respeitado, tanto ao constituir famí-lia, como ao finalizar o relacionamento, ou seja, a intervenção do Estado deve ser mínima nas relações familiares; em contrapartida, o instituto da separação não deve reavivar as impertinentes dis-cussões quanto à culpa pela falência da sociedade conjugal.

DIREITO CRIMINAL

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Venda de produto vencido é crime?

Autorização para o porte de trânsito de arma de fogo municiada para praticantes de tiro desportivo

GUSTAVO SCANDELARI

LUIS OTÁVIO SALES

O Comando Logístico do Exército emi-tiu, em 14 de março passado, a Portaria nº 28 (COLOG) que autoriza praticantes de tiro desportivo a transportar “uma arma de porte, do acervo de tiro desportivo, municia-da, nos deslocamentos do local de guarda do acervo para os locais de competição e/ou treinamento” (art. 135-A). A previsão de transporte de uma arma com possibilidade de disparo imediato (municiada) é limitada, porém, aos atiradores desportivos, não se estende aos caçadores e colecionadores, para os quais ainda vige o parágrafo único do art. 32, do Decreto nº 5.123/04, segundo o qual somente se admite o porte de trânsi-to de armas desmuniciadas.

É importante não confundir porte de arma com porte de trânsito. O porte de trân-sito, concedido pelo Exército, é o que per-mite somente o deslocamento da arma de fogo (em regra desmuniciada) entre o local do acervo para o local da prática para atira-dores, caçadores e colecionadores, desde que com a correspondente Guia de Tráfe-go, cuja emissão compete ao Comando do Exército (Decreto nº 3.665/00). Por sua vez, a concessão de porte de arma, por meio do qual se autoriza excepcionalmente o por-te permanente, compete à Polícia Federal (Lei 10.826/2003, arts. 9º e 10 e Decreto nº 5.123/2004, art. 30, §1º).

A inobservância das condições para

ambos os portes (de trânsito ou de arma) pode confi gurar a prática dos crimes dos arts. 14 e 16, da Lei nº 10.826/2003 (na pri-meira hipótese, se a arma for de uso permi-tido; na segunda, se a arma for de uso restri-to), cujas penas são, respectivamente, de 2 a 4 anos de reclusão e multa, e de 3 a 6 anos de reclusão e multa.

Recente operação policial chamou a atenção dos veículos de comunicação bra-sileiros para a qualidade dos alimentos que são consumidos no país. É de conhecimento geral que a indústria e o comércio estão su-jeitos à fi scalização que deve tentar impedir a produção e a venda de produtos estraga-dos ou de má qualidade. Da mesma forma, sabe-se que o desrespeito aos procedimen-tos regulamentares constitui um ilícito que gera consequências aos responsáveis. Mas quando se pode afi rmar que a conduta do fabricante ou do vendedor, nesses casos, confi gura um crime?

A Lei nº 8.137/1990, art. 7º, prevê, em nove incisos, várias condutas que podem confi gurar os chamados crimes contra as re-lações de consumo. A maioria deles é punível com detenção de 2 (dois) a 5 (cinco) anos ou multa; se a conduta não for intencional, a pena privativa de liberdade poderá ser redu-zida em 1/3 e a multa em 1/5. Tais condutas são, p.ex.: “vender ou expor à venda mercado-ria cuja embalagem, tipo, especifi cação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classifi cação ofi cial”; “fraudar preços

por meio de alteração, sem modifi cação essen-cial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embala-gem, especifi cação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou ser-viço”; “vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo”. Quanto a esta últi-ma conduta, sua abrangência é ampla: con-templa não apenas a mercadoria que está na prateleira do estabelecimento – exposta ao consumidor fi nal – como também a que está em depósito inacessível ao consumidor, desde que destinada à venda. Por “condições impróprias ao consumo” pode-se entender não apenas o produto com data de valida-de vencida como também aquele que, por sinais característicos, aparente inadequação ao consumo.

Por um lado, o consumidor deve estar sempre atento, consultar a embalagem, a aparência do alimento e a data de validade – acionando os órgãos de controle se necessá-rio for; por outro lado, não poderá abusar da situação para tentar obter indevidamente al-guma vantagem do estabelecimento – o que

é, lamentavelmente, comum. O comerciante de má-fé que, para aumentar seu lucro, de-liberadamente expõe à venda produtos im-próprios ao consumo não pode ser compa-rado ao comerciante que emprega todas as melhores técnicas de fi scalização, investindo em cuidados e atendendo às exigências es-pecífi cas mas que, por infortúnio, acaba por manter em seu estabelecimento um produ-to vencido, p.ex. Não foi outra a conclusão do TJSC, no seguinte caso: “uma empresa que cresceu ao longo dos anos e hoje conta com quatro lojas (três em Balneário Camboriú e uma em Barra Velha) geradoras de emprego, mas nunca responderam a um processo crimi-nal (...). A empresa administrada pelos réus já foi fi scalizada centenas de vezes pelos órgãos municipais e estaduais competentes, sem que nada de relevante para o direito penal tenha sido encontrado pelos agentes públicos. (...) Os réus, embora dividissem a administração da empresa, não possuíram nenhuma gerência sobre o fato descrito na denúncia, pelo con-trário, adotaram todas as precauções e caute-las para que as normas fossem seguidas” (Ap. Crim. 0012206-03.2014.8.24.0005, Julgado em 9.2.17, Rel. Des. CINTHIA SCHAEFER).

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O assédio da fi gurinista pelo ator famoso e a extensão do crime de estupro

GUILHERME ALONSO

Até 2009, o estupro se confi gurava quando, mediante violência ou grave ameaça, o agente constrangia a vítima a ter conjunção carnal consigo. Quan-do praticados outros atos libidonosos, confi gurava-se o crime de atentado violento ao pudor, do art. 214 do Códi-go Penal. A Lei nº 12.015/2009 unifi cou os crimes. Ou seja, todo ato libidinoso praticado mediante violência ou grave ameaça é, agora, estupro.

Na primeira semana do mês de abril de 2017, foi divulgada situação de su-posto “abuso” entre famoso ator da te-levisão e fi gurinista funcionária da mes-ma emissora. Segundo a carta aberta encaminhada pela vítima a um blog de

jornal de grande circulação, o ator teria iniciado o assédio, em sentido genérico, há diversos meses, primeiro elogiando--a, depois utilizando-se de linguajar se-xualizado. Ao fi m, após as negativas da vítima, o ator tocou sua genitália sem consentimento.

Embora não se tenha notícia de for-malização da ocorrência à autoridade policial, questiona-se qual crime (ou contravenção) teria sido, em tese, co-metido.

Três possibilidades surgem de uma análise superfi cial. Em primeiro lugar, poderia se tratar do crime de assédio sexual, do art. 216-A, que criminaliza a conduta do superior hierárquico que,

por essa condição, busca obter alguma vantagem ou favorecimento sexual. Em segundo, há a possibilidade de confi gu-ração da contravenção penal do art. 61, do Decreto-lei nº 3.688/1941, que prevê a pena de multa para quem “importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor”.

No entanto, como teria havido a prática de ato libidinoso (toque na ge-nitália), não se pode descartar a prática, em tese, do crime de estupro. Para tan-to, porém, é preciso que se verifi que se a vítima sentiu-se constrangida por al-guma ameaça do agente que se possa reputar grave e, em razão disso, permi-tiu a prática do ato.

Execução provisória da pena: o início da relativização jurisprudencial

BRUNO CORREIA (Advogado) e BRUNA MICHELLE DA SILVA (Acadêmica do 8º período da Unibrasil)

Não é novidade que em 2016 o SU-PREMO TRIBUNAL FEDERAL decidiu ser possível a execução da pena antes do trânsito em julgado da sentença crimi-nal, bastando a confi rmação da conde-nação por órgão colegiado (HC 126292, ADCs 43 e 44 e ARE 946246). Embora não possua caráter vinculante, os Tribu-nais estaduais e federais têm seguido a orientação do STF e ordenado o início da pena antes do esgotamento dos recur-sos da defesa.

Pode, porém, o juízo perante o qual tramitou a ação em primeiro grau de-terminar, de ofício ou a requerimento, o cumprimento da pena quando penden-tes recursos sem efeito suspensivo? Re-centemente, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DO PARANÁ proferiu duas decisões em Habeas Corpus negando tal possibilida-de desde que, na sentença ou no acór-dão da apelação, haja a condição expres-sa do trânsito em julgado para o início do

cumprimento da pena.Assim, “em que pese o atual enten-

dimento acerca da possibilidade de terminação do imediato cumprimento da pena, verifi ca-se que na sentença e acórdão (...) inexiste tal determinação. De tal forma (...) entende-se que deveria o Juízo da Execução aguardar o trânsito em julgado para a defesa, para então determinar o cumprimento da pena” (HC 1661123-3, Rel. Des. LUÍS CARLOS XAVIER, DJE 29/03/2017). No outro caso: “no acórdão não restou determinada a execução provisória da pena ao pacien-te, somente ao corréu” (HC 1645500-0, Rel. Juiz Subst. 2º Grau MAURO BLEY PE-REIRA JUNIOR, DJE 23/02/2017). Ambas as ações de Habeas Corpus, que acom-panham a melhor interpretação possível da Constituição, foram impetradas por advogados da DOTTI E ADVOGADOS.

O entendimento relativiza a atual jurisprudência do STF sobre a execução

provisória da pena para que seu cumpri-mento somente tenha início por dispo-sição expressa da decisão condenatória nesse sentido; caso contrário, não cabe ao magistrado de primeira instância – a pedido ou de ofício – assim proceder, sob pena de indevida alteração do con-teúdo material da sentença ou acórdão. Cabe à acusação recorrer dessa condição do trânsito em julgado quando ela cons-tar da condenação. Se não o fi zer, exe-cução provisória será reformatio in pejus (ilegal mudança em prejuízo do réu).

As duas decisões do TJPR estão em concordância com a compreensão mais recomendada (considerando-se o atual entendimento do STF) dos princípios de presunção da inocência, da ampla defe-sa e do devido processo legal e represen-tam, indubitavelmente, um alvissareiro processo de superação de uma orienta-ção pretoriana que já surgiu retrógrada.

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Pais, filhos e a concessão de prisão domiciliar

Conforme o art. 318 do Código de Pro-cesso Penal, o juiz pode substituir a prisão preventiva por uma domiciliar, caso o acu-sado de cometimento do crime preencha alguns requisitos, como ser maior de 80 anos (inciso I), possuir doença grave (II) ou ser a providência imprescindível aos cuidados es-peciais de pessoa menor de 6 anos ou com deficiência (III).

Embora seja um rol meramente exem-plificativo, o Estatuto da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) incluiu três novos requisitos para a substituição: mulheres gestantes (inci-so IV), mulheres com filhos de até 12 anos de idade incompletos (V) e para homens, caso

sejam os únicos responsáveis pelos cuidados dos filhos de até 12 anos (VI).

Todavia, a presença de um dos pressu-postos indicados no art. 318 não assegura, isoladamente, ao acusado a conversão à prisão domiciliar: deve-se também analisar as circunstâncias do caso concreto e os re-quisitos que deram ensejo a prisão preven-tiva (garantia da ordem pública, assegurar a aplicação da lei penal e conveniência da instrução criminal). Conforme o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em notícia veicula-da em 02/041/2017, “a concessão da prisão domiciliar é analisada de acordo com as pe-culiaridades de cada caso, e isso normalmente

envolve aspectos como as circunstâncias indi-viduais da presa, a eventual impossibilidade de assistência aos filhos por outras pessoas e a situação econômica da família”. Ressalta-se, ademais, que devem ser apresentadas pro-vas concretas e idôneas do preenchimento dos requisitos para a concessão do benefício.

Desde o início da vigência do Estatuto (em março de 2016), com a consequente alteração do artigo supracitado, o STJ já pro-feriu 32 decisões colegiadas e 40 decisões liminares convertendo prisões preventivas em domiciliares com fundamento nos no-vos incisos.

FERNANDA LOVATO

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Sancionadas novas leis de proteção às mulheres

É possível o reconhecimento de paternidade por meio do aplicativo WhatsApp?

O Presidente MICHEL TEMER, no dia 12 de abril deste ano, sancionou projetos de lei que resultaram de uma série de propostas aprova-das que tramitavam no Congresso Nacional, em benefícios às mulheres brasileiras.

Umas das leis proíbe o uso de algemas em presas grávidas durante e após os atos médicos e hospitalares para a preparação do parto (Lei nº 13.434/2017).

As outras duas leis sancionadas visam a assegurar o exercício do direito à amamenta-ção. A Lei nº 13.435/2017 institui agosto como o mês do Aleitamento Materno, onde devem ser intensificadas ações de conscientização e esclarecimento sobre o tema. Já a Lei nº 13.436/2017 altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para garantir o direito ao acompanhamento e orientações à mãe com

relação à amamentação. Tendo em vista as normas, os hospitais e

demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, serão obrigados a acompanhar a prática do proces-so de amamentação, por meio do corpo téc-nico, e a prestar orientações à mãe quanto à técnica adequada enquanto ela permanecer na unidade hospitalar.

O Magistrado EDUARDO PEREZ, da Corregedoria-Geral de Justiça de Goiás, no Programa Pai Presente, permitiu o reconhe-cimento de paternidade por intermédio de uma videoconferência do WhatsApp. O pai, residente em Portugal, estava impossibi-litado de vir ao Brasil ou redigir e enviar um documento autenticado. O pedido de utiliza-ção do aplicativo foi sugerido pelo Conselho Tutelar, haja vista que, em caso semelhante, houve o reconhecimento da paternidade do filho que morava nos EUA, por meio do Skype.

Diante disso e com fundamento no art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direi-to Brasileiro, o qual dispõe que “na aplicação

da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”, o Magistrado permitiu o uso do aplicativo para efetivar o reconhecimento da paternidade e determinou a inclusão do nome do pai na certidão de nascimento .

Frisou, ainda, que a burocracia é um óbice para regularização de situações semelhantes. Ponderou que a aplicação legal e de forma rígida ocasionaria o reconhecimento apenas por expedição de carta rogatória (instrumen-to de cooperação entre dois países, cujo obje-tivo é o cumprimento de um ato judicial), um procedimento vagaroso, ou exigiria esperar o retorno do pai ao país. Argumenta que “a pa-

ternidade era real, espontânea e válida” impe-dindo “o gozo de um direito que não prejudica ninguém, cuja ausência causa transtornos ao menor e à sua família”.

O uso de aplicativos no sistema judici-ário vem sendo reconhecido de maneira frequente. A exemplo disso, nota-se que já houve casos em que o juiz intimou a parte por WhatsApp, ouviu testemunhas e realizou audiências por Skype. Na segunda hipótese, ocorreu a resolução de um caso relativo à guarda de um menor que perdurava por 5 anos, em uma audiência realizada via Skype.

CAROLINA CARONE MARTINS | Acadêmica do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

FRANCIELE FERNANDES DE OLIVEIRA | Acadêmica do 4º ano da PUC/PRSABRINA DE PAULA NASCIMENTO | Acadêmica do 3º ano da UFPR

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Dois dias por semana caracteriza vínculo empregatício de faxineira

Audiência de Custódia: resultados dois anos após a sua regulamentação

Ministério Público Federal não poderá cobrar dano moral em ação de improbidade administrativa

Em decisão do TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, publicada no final de março do corrente ano, a Terceira Turma reconheceu o vínculo empregatício de uma faxineira que prestava serviços em duas lojas de uma mes-ma rede, uma vez por semana em cada local, na cidade de Criciúma/SC.

O juiz singular da 4ª Vara do Trabalho con-siderou que a ausência de autonomia, a dura-ção da prestação de serviços por dois anos no estabelecimento comercial e o recebimento de salário e auxílio transporte possibilitam a caracterização do vínculo de emprego.

A empregadora recorreu da decisão ten-do como única alegação o fato da faxina ser

realizada apenas dois dias da semana, por tempo inferior a uma hora, para vários toma-dores, configurando o serviço de diarista de forma autônoma.

O relator do Recurso de Revista, Ministro ALEXANDRE AGRA BELMONTE, não conhe-ceu do recurso com o argumento de que a não eventualidade não pode ser inibida pela característica intermitente da prestação habi-tual. Desse modo, configuraram-se os requisi-tos de pessoalidade, proibindo o empregado de fazer-se substituir na prestação de serviços por um terceiro; subordinação, submissão às diretrizes do empregador; onerosidade, per-cebimento de remuneração; e não eventua-

lidade, continuidade na prestação de serviço, todos dispostos no art. 3º da CLT.

Curiosamente, em recente decisão de caso distinto, uma mulher que residiu duran-te mais de 43 anos na casa de uma senhora ajuizou reclamatória trabalhista em face do espólio, após o falecimento daquela, pedin-do o vínculo empregatício como doméstica. Nesse caso, a 5ª Turma do TRT/MG entendeu que “a relação estabelecida entre as partes era, na verdade, de cunho afetivo e familiar, não se configurando o vínculo de emprego”, por não receber salário e não pagar aluguel.

A audiência de custódia garante ao indi-víduo preso em flagrante a condução perante a autoridade judicial, no prazo de no máximo 24 horas, para que seja avaliada a legalidade e a necessidade da manutenção da prisão. Mesmo o Brasil sendo signatário do Pacto de São José da Costa Rica desde 1992, no qual a referida audiência encontra previsão, apenas em fevereiro de 2015 o CONSELHO NACIO-NAL DE JUSTIÇA (CNJ) lançou o projeto regu-lamentador para todo o país.

Conforme dados colhidos pelo CNJ, entre os meses de fevereiro de 2015 e 2017 foram realizadas 200,8 mil audiências, sendo que

em 45,6% delas houve colocação do custo-diado em liberdade, ou seja, foi considerada a desnecessidade da prisão, ao menos naquele momento, para aproximadamente 91 mil pessoas. Outro dado significativo: em aproxi-madamente 5% das audiências houve queixa de violência ou abuso policial no cumprimen-to da prisão.

Atualmente, todas as capitais brasileiras realizam a audiência de custódia e o próximo passo, de acordo com o CNJ, é estendê-la às ci-dades do interior. Passados mais de 2 anos da implementação do procedimento, é inegável a sua eficiência no combate à crise de super-

lotação carcerária, evitando que o indivíduo seja mantido sob cárcere enquanto outras medidas menos invasivas poderiam ser mais eficientes. Não se sustentam, portanto, muitas críticas por parte da população – e até mesmo por magistrados e promotores – no sentido de que a audiência de custódia implicaria im-punidade e riscos à segurança pública. Afinal, como já dizia o saudoso Ministro EVANDRO LINS E SILVA, “na realidade, quem está dese-jando punir demais, no fundo, no fundo, está querendo fazer o mal, se equipara um pouco ao próprio delinquente”.

Segundo os ensinamentos de MARÇAL JUSTEN FILHO, “a improbidade administrativa consiste na ação ou omissão violadora do de-ver constitucional de moralidade no exercício de função pública, que acarreta na imposição de sanções civis, administrativas e penais, de modo cumulativo”, as quais estão elencadas no art. 12 da Lei nº 8.429/1992, consistindo no ressarcimento integral do dano, perda de bens, suspensão dos direitos políticos, impe-dimento para contratar com o poder público e perda da função pública.

Recentemente, o TRIBUNAL REGIONAL

FEDERAL DA 4ª REGIÃO (TRF4) rejeitou o pedido de danos morais coletivos do Minis-tério Público Federal nos autos de Agravo de Instrumento nº 5003488 30.2017.4.04.0000/PR, sob o fundamento de que, nas ações de improbidade administrativa, aplicam-se as sanções previstas na Lei nº 8.429/1992, e por serem taxativas, entende-se que os pedidos de danos morais devem ser postulados em outras esferas.

Em primeira instância, o Juízo da 1ª Vara Federal de Curitiba decidiu que restringir o alcance da ação de improbidade é o melhor

caminho para dar celeridade ao combate a atos lesivos ao erário, em tese, tornando a ação mais eficaz e em consonância, aliás, com a garantia constitucional da razoável duração do processo. Ou seja, a decisão do TRF4 só corroborou este entendimento.

E, por não estar previsto no rol da Lei, dano moral não é considerado pena na ação de improbidade. Caso o Ministério Público Federal ainda queira pleitear a indenização por dano moral, deverá propor uma ação específica.

JULY MEIRIHELEN GONÇALVES | Acadêmica do 5º Ano da PUC/PR

LEONARDO MESTRE NEGRI | Acadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

GUSTAVO CEZAR VIEIRA | Acadêmico do 4º ano da FESP

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em

espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma,

nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de

qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da

naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo

tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob

todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os

indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito

a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a

tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos

fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem

direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos

e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso

presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe

sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno

ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12°

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e

reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e

escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar

ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser

invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1.

Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de

nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça,

nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e

pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1.

Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a

pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a

liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar,

receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de

reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na

direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso,

em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de

eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de

voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais

e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1.

Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos

têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que

lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a

pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao

repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um

nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à

assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou

noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a

assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à

educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e

profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve

visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância

e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da

paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte

livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à

protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a

que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente

Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2.

No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o

reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade

democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma

disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a

alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Abril / Maio / Junho 2017Ano 12 | Número 36

Tiragem: 1.800 exemplares Foto da capa: Henrique Borges

Impressão e acabamento: Comunicare

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.

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