rené ariel dotti€¦ · em 16 de outubro, a advogada rogéria dotti recebeu uma homenagem da...

24
BOLETIM TRIMESTRAL DO ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI Ano 15 • Janeiro/Fevereiro/Março 2020 desde 1961 47 René Ariel Dotti • Rogéria Dotti • Julio Brotto • Patrícia Nymberg • Alexandre Knopfholz • Fernanda Pederneiras • Francisco Zardo • Vanessa Scheremeta • José Roberto Trautwein • Fernando Welter • Gustavo Scandelari • Vanessa Cani • Cícero Luvizotto • Luis Otávio Sales • Guilherme Alonso • Thais Guimarães • Laís Bergstein • André Meerholz • Diana Geara • Bruno Correia • Fernanda Lovato • Giuliane Gabaldo • Fernanda Machado • Eduardo Knesebeck • Fernanda Coelho • Ana Beatriz Rocha • Mauro Paciornik • Sebastião da Silva Junior• Victoria de Barros e Silva • Beatriz Bispo • Larissa Ross • Pedro Galloti EDIÇÃO ÁREAS DE ATUAÇÃO: DIREITO ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL, CIVIL, CONSTITUCIONAL, CRIMINAL, ELEITORAL, FAMÍLIA E SUCESSÕES. “A atuação do advogado é indispensável não somente no quadro da administração da Justiça como também no universo das relações sociais.” René Ariel Dotti O acordo nas ações de improbidade administrativa FERNANDA MACHADO Página 12 Novo dispositivo prevê perda do patrimônio incompatível com os rendimentos LUIS OTÁVIO SALES Página 8 Menos controvérsia na colaboração premiada GUILHERME ALONSO Página 8 A legítima defesa e o agente de segurança pública MAURO PACIORNIK Página 10 Juiz de garantias gera necessidade de mais magistrados? VICTORIA DE BARROS SILVA Página 10 A destinação de obras de arte confiscadas LARISSA ROSS Página 11 FERNANDA LOVATO E EDUARDO KNESEBECK Página 9 A criminalização das prerrogativas dos advogados Especial: Lei Anticrime em análise

Upload: others

Post on 22-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

BOLETIM TRIMESTRAL DO ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI

Ano 15 • Janeiro/Fevereiro/Março 2020

desde 1961 47

René Ariel Dotti • Rogéria Dotti • Julio Brotto • Patrícia Nymberg • Alexandre Knopfholz • Fernanda Pederneiras • Francisco Zardo • Vanessa Scheremeta • José Roberto Trautwein • Fernando Welter • Gustavo Scandelari • Vanessa Cani • Cícero Luvizotto • Luis Otávio Sales • Guilherme Alonso • Thais Guimarães • Laís

Bergstein • André Meerholz • Diana Geara • Bruno Correia • Fernanda Lovato • Giuliane Gabaldo • Fernanda Machado • Eduardo Knesebeck • Fernanda Coelho • Ana Beatriz Rocha • Mauro Paciornik • Sebastião da Silva Junior• Victoria de Barros e Silva • Beatriz Bispo • Larissa Ross • Pedro Galloti

EDIÇÃO

ÁREAS DE ATUAÇÃO: DIREITO ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL,

CIVIL, CONSTITUCIONAL, CRIMINAL, ELEITORAL, FAMÍLIA E SUCESSÕES.

“A atuação do advogado é indispensável não somente no quadro da administração da Justiça como também no universo das relações sociais.”René Ariel Dotti

O acordo nas ações de improbidade administrativa FERNANDA MACHADOPágina 12

Novo dispositivo prevê perda do patrimônio incompatível com os rendimentos LUIS OTÁVIO SALESPágina 8

Menos controvérsia na colaboração premiadaGUILHERME ALONSOPágina 8

A legítima defesa e o agente de segurança públicaMAURO PACIORNIKPágina 10

Juiz de garantias gera necessidade de mais magistrados?VICTORIA DE BARROS SILVAPágina 10

A destinação de obras de arte confiscadasLARISSA ROSSPágina 11

FERNANDA LOVATO E EDUARDO KNESEBECKPágina 9

A criminalização das prerrogativas dos advogados

Especial: Lei Anticrime em análise

Page 2: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

EDITORIAL 3SEÇÃO INFORMATIVA 4DIREITO CRIMINAL 7

O compartilhamento de dados da Receita Federal e do COAF sem autorização judicialAlexandre Knopfholz 7Não pagar tributo é crime?Gustavo Scandelari 7Lei Anticrime e a perda do patrimônio incompatível com os rendimentos lícitosLuis Otávio Sales 8A colaboração premiada na Lei AnticrimeGuilherme Alonso 8A investigação criminal defensiva pelo advogadoBruno Correia 9Violação de prerrogativas do advogado é crime – Parte 2Fernanda Lovato e Eduardo Knesebeck 9Legítima defesa e o agente de segurança públicaMauro Paciornik 10A figura do juiz de garantias exige a ampliação do quórum de magistrados?Victoria de Barros e Silva 10A Lei Anticrime e a destinação de obras de arte confiscadasLarissa Ross 11DIREITO ADMINISTRATIVO 11

Decreto regulamenta a Lei de Liberdade EconômicaFrancisco Zardon 11A isenção de imposto de renda para portadores de doença graveAndré Meerholz 12É permitido acordo nas ações de improbidade administrativaFernanda Machado 12Candidata em ampla concorrência é nomeada em vaga reservada a pessoa com deficiênciaSebastião Junior 13Juízes podem ter redes sociais?Pedro Galotti 13O Estado deve financiar transporte de mãe de pessoa com deficiência em tratamentoGustavo Bortot 14África nas escolas, 17 anos da Lei nº 10.639/2003.Alexsandro Ribeiro 14DIREITO CIVIL 15

A Responsabilidade do Banco por golpe em cliente dentro da agênciaRogéria Dotti 15

Atenção redobrada aos locadores de imóveisJulio Brotto 15 Os limites e as vantagens da permuta imobiliáriaFernando Welter e Patrícia Nymberg 16A Lei nº 13.146/2015 e a inclusão da pessoa com deficiênciaJosé Roberto Trautwein e Giuliane Gabaldo 16Reprodução assistidaVanessa Cani 17Acesso à Justiça – a tecnologia a favor do cidadãoCícero Luvizotto 17O Estado deve responder pelos danos causados por agente públicoAna Beatriz Rocha 18DIREITO DO CONSUMIDOR 18

Negociação online nos conflitos de consumo: aproxi-mação dos usuários de serviços públicos com o Poder PúblicoLaís Bergstein e Fernanda Coelho 18DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES 19

Doei um imóvel, posso revogar a doação?Fernanda Pederneiras 19Quando se inicia o prazo para pedir a partilha dos bens?Vanessa Scheremeta 19Facilitação do divórcio às vítimas de violência doméstica e familiarThais Guimarães 20Alimentos aos filhos: desde quando e até quando? (segundo o STJ)Diana Geara 20Incidência dos alimentos sobre o 13º salário e adicional de férias do devedorBeatriz Bispo 21ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS 22

Dono de animal morto durante o voo é indenizado por companhia aéreaGeovana Vidotti 22Execução fiscal administrativa e arbitragem tributária como alternativas fora do JudiciárioJoão Marcos Hodecker de Almeida 22Direito de propriedade não é absoluto em casos de condômino antissocialMariana Ramos 23Eletrificação dos veículos automotores: incentivos nacionais para a transiçãoMateus Sandmann Afonso 23LEGISLAÇÃO – MUDANÇAS RELEVANTES 24

2

Page 3: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

EDITORIAL

“Os advogados praticam cotidianamente, como os médicos, essa forma de solidariedade humana que consiste em fazer companhia a quem se encontra face a face com a dor”.

Piero Calamandrei (1889-1956), jurista, político, docente universitário e jornalista.

Ao regular a organização dos Poderes do Estado, a Constituição Federal trata “das funções essenciais da justiça” (arts. 127 a 135). Ao descrever a natureza e as funções da advocacia, a lei fundamental declara a existência de três espécies: a Advocacia Pública, a Advocacia (de modo geral) e a Defensoria Pública (arts.131 a 135). Há destaque para um dos artigos que dignifica a essência e os objetivos de uma classe profissional: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (art. 133).

Mas estaria exaurida, nessa declaração solene, a função social desse mandatário? Evidentemente, não.

Além de proclamar a importância de uma das profissões do Direito, a Constituição de 1988 eliminou certos projetos legais de discrimina-ção que pretendiam marginalizar o procurador da parte, dispensando a sua presença em algumas causas segundo a natureza e o valor. Uma das tentativas nesse sentido ocorreu, nos anos 1970, quando um ante-projeto de Lei Orgânica da Magistratura Nacional, elaborado por um ministro do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República, excluía o Advogado em determinados processos cíveis de menor repercussão financeira. A preconceituosa orientação tinha o deplorável fundamento de que, enquanto a causa estivesse na etapa de conciliação, o procurador poderia ser eficientemente substituído pela intervenção do Magistrado.

Sem prejuízo do respeito institucional e da admiração funcional que merecem os Juízes, é forçoso reconhecer que a proposta era absoluta-mente discriminatória e arrogante. Felizmente, o disegno di legge auto-ritário ficou perdido nos escaninhos da memória do regime militar.

Num Estado Democrático de Direito, a atuação do advogado é indispensável não somente no imenso quadro da administração da Justiça como também no universo dinâmico das relações sociais. É esse tipo de profissional que interpreta a vontade da parte a fim de condu-zi-la, pelos meios regulares, ao conhecimento dos poderes públicos e das pessoas físicas ou jurídicas que devem intervir na composição de um interesse ou na solução de um conflito.

Essa é uma das funções sociais da profissão.

RENÉ ARIEL DOTTI

Leia mais no blog do Professor René Ariel Dotti em: www.blogdodotti.com.br e acompanhe as redes sociais: facebook.com/blogdodotti e instagram.com/blogdodotti_.

A FUNÇÃO SOCIAL DO ADVOGADO

3

Page 4: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

▶ O Escritório Professor René Dotti está entre os mais admirados do país segundo o anuário “Análise Advocacia 500”, divulgado em novembro. Na edição de 2019, atingiu o 1º lugar nacional na categoria abrangente entre as bancas mais admiradas na área de Direito Penal. Dos advogados dessa especialidade, dois profissionais atingiram o primeiro lugar na categoria abrangente: o professor René Dotti e o advogado Alexandre Knopfholz.

SEÇÃO INFORMATIVA

A banca está classificada também como a 2ª mais admirada em todo o Paraná e figura em 4º lugar na área de Setor Econômico/Papel e Celulose.

Individualmente, o professor René Dotti ficou em destaque ainda em outras duas listas. Ele aparece em 2º lugar no ranking dos advogados mais admirados do Paraná. E, na área de Setor Econômico/Bancos, ele figura na 3ª posição entre os profissionais mais admirados.

▶ Em 31 de outubro, o professor René Dotti participou do evento “Fórum de Execução Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro”, que contou com uma homenagem ao desembargador Álvaro Mayrink da Costa. Em sua fala, o professor René defendeu as audiências de custódia e explicou que elas evitam que os presos de hoje sejam batizados pelas facções de crimes organizados, que se mantêm e se desenvolvem com a desorganização dos chamados sistemas de segurança pública.

▶ A advogada Rogéria Dotti palestrou, no dia 8 de outubro, durante o evento Direito por Vozes Femininas, organizado pela Comissão da Mulher Advogada (CMA) da OAB Paraná. A iniciativa, que tem como objetivo promover o debate jurídico com a participação de mulheres que são referência na área em pauta, teve como tema “Efetividade na Prestação Jurisdicional”.

Alexandre Knopfholz ficou em 2º lugar entre os mais lembrados no Setor Econômico/Papel e Celulose, e em 3º entre os advogados mais admirados do Paraná.

4

Page 5: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

▶ Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral da escola na gestão de 2013/2015, foi consagrada junto com outros professores que colaboraram por mais de dez anos com a ESA, ministrando aulas para a advocacia paranaense .

▶ No dia 6 de novembro, a advogada Rogéria Dotti proferiu palestra com o tema “O novo CPC nos Tribunais Superiores” no I Congresso de Processo Civil da Ordem dos Advogados do Brasil, realizado em Brasília.

▶ No dia 29 de novembro, a advogada Fernanda Pederneiras palestrou no Congresso de Direito de Família e das Sucessões da OAB São Paulo. Fernanda participou do painel que debateu o direito aos alimentos. O evento foi organizado pela Comissão de Direito de Família e Sucessões da OAB São Paulo, com o apoio do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam).

▶ A segunda edição do Curso de Processo Civil Completo, da editora Revista dos Tribunais, chegou às livrarias no dia 5 de dezembro. A obra foi escrita pela advogada Rogéria Dotti, em parceria com o promotor Eduardo Cambi e com os advogados Paulo Eduardo d’Arce Pinheiro, Sandro Gilbert Martins e Sandro Marcelo Kozikoski.

O livro traz uma abordagem prática sobre o Processo Civil, levando em consideração a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entre as principais atualizações estão as decisões mais recentes sobre os pontos polêmicos do Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015).

5

Page 6: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

SEÇÃO INFORMATIVA

▶ O advogado Francisco Zardo, participou, no dia 8 de novembro, do I Simpósio de Direito Público e do II Fórum da Advocacia Pública, realizado na OAB Londrina. Ele integrou o painel sobre “Responsabilidade do Advogado Público por atos de improbidade administrativa”.

▶ O advogado Francisco Zardo foi eleito Diretor Executivo Adjunto do Instituto Paranaense de Direito Administrativo, presidido pelo Advogado Edgar Guimarães, para o triênio 2019/2021.

▶ A Revista da Ordem, periódico mensal da OAB Paraná, trouxe, em sua 63ª edição, publicada em setembro de 2019, o artigo “Passando a limpo a gestão pública”, do advogado Francisco Zardo. O artigo aponta pontos positivos e negativos do robustecimento dos órgãos e mecanismos de controle.

▶ Em 25 de outubro, o advogado Francisco Zardo palestrou no IX Congresso Internacional de Direito e Sustentabilidade, realizado na sede da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) em Balneário Camboriú. Zardo integrou o grupo de palestrantes que discutiram inovações tecnológicas sustentáveis no século XXI.

▶ No dia 22 de novembro, o advogado Gustavo Scandelari ministrou palestra sobre “Como garantir a efetividade dos programas de compliance?”, durante o I Simpósio de Compliance & Tech Day, em Curitiba. Em sua fala, apresentou requisitos de idoneidade dos programas e comentou formas de avaliá-los objetivamente.

▶ O advogado Gustavo Scandelari publicou, na Espanha, artigo científico intitulado “La incorporación de los programas de cumplimiento (‘criminal compliance’) en la realidad jurídico-penal latino-americana”. A pesquisa, contida na coletânea “Tratado sobre compliance penal” (Ed. Tirant lo Blanch), tem o Prof. Dr. Paulo Busato como coautor e está disponível ao público desde dezembro de 2019.

▶ Em 15 de novembro, a advogada Laís Bergstein participou, na Universidade de Buenos Aires/Argentina, do VIII Agendas de Direito Civil-Constitucional. Ela abordou os critérios para compensação de danos morais no Brasil e as formas de superação de práticas abusivas no mercado, apresentando os resultados das pesquisas realizadas na UFRGS e no Centro de Estudos Europeus e Alemães.

▶ Em 22 de novembro, o advogado Pedro Gallotti recebeu o prêmio de 2º lugar no “1º Concurso de Artigos Direito e Literatura”, organizado pela Academia Paranaense de Letras Jurídicas (APLJ), em homenagem ao escritor argentino Jorge Luis Borges.

▶ A 660ª edição da revista Bonijuris, publicada em outubro de 2019, trouxe o artigo “Os direitos da família multiespécie”, da advogada Thais Guimarães. O texto discorreu sobre direito de família e custódia de animais de estimação.

▶ No dia 14 de janeiro, a advogada Thais Guimarães concedeu uma entrevista à Rádio Paraná Educativa e esclareceu dúvidas sobre pensão alimentícia, principalmente em casos de desemprego do alimentante.

▶ O advogado Gustavo Scandelari, participou, no dia 25 de novembro, do programa Justiça para Todos, da rádio da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar). Na oportunidade, comentou a proposta de inclusão do direito à legítima defesa na Constituição, abordando a previsão legal atual do instituto e a necessidade investigação detalhada que produza provas seguras para o Judiciário. 

6

Page 7: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

O compartilhamento de dados da Receita Federal e do COAF sem autorização judicial

Após várias sessões, o Plenário do STF concluiu o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.055.941, que trata do compartilhamento de dados financeiros pelos órgãos de controle com o Ministério Público e autoridades policiais sem prévia autorização judicial. Havia uma grande expectativa quanto ao posicionamento definitivo da Suprema Corte na matéria, sobre-tudo em razão de caso envolvendo familiar do presidente da República.

No último mês de julho o ministro relator do referido recurso, ministro Dias Toffoli, em caráter liminar, suspendeu todas as investigações que foram baseadas em dados fiscais

repassados diretamente à Polícia e ao Ministério Público pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) e pela Receita Federal.

Contudo, em dezembro, no julgamento do mérito do caso pelos 11 (onze) ministros, a liminar foi revogada, entendendo-se pela desnecessidade de autorização judicial para o fornecimento das informações. Concluiu-se ser constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira do COAF e da íntegra do procedimento de fiscalização da Receita Federal com as autoridades policiais e o Ministério Público sem a obrigatoriedade de autorização judicial prévia. A Ministra CARMEN LÚCIA, em seu voto, asseverou ser dever do agente público, ao se deparar com fatos criminosos, comunicar o Ministério Público, conforme expressa previsão legal. O colegiado decidiu, por fim, que tal compartilhamento deve ser feito por um sistema oficial de comunicação, garantindo-se o sigilo e instituindo mecanismos que permitam apurar desvios e eventuais abusos.

Trata-se de relevantíssima decisão, que influenciará centenas de investigações criminais e que demonstra a crescente preocupação do Poder Público na repressão de crimes diversos, tais como sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.

“Concluiu-se ser constitucional o comparti-lhamento dos relatórios do COAF com as auto-ridades policiais e o MP, sem autorização judicial prévia.”

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

Não pagar tributo é crime?

A resposta a essa pergunta sempre pareceu segura: o simples não pagamento, sem má-fé, gera uma dívida que pode ser cobrada pelo Estado, mas não é necessaria-mente crime. Agora, se o contri-buin te se utilizar de alguma fraude para se esquivar da cobrança ou sonegar deliberadamente, isso poderia ser considerado crime. Mas, recentemente, o STJ mani-festou entendimento bem dife-rente (especificamente quanto ao ICMS).

A partir do julgamento do HC 399109, em agosto de 2018, a corte firmou a orientação de que “o

final e a sua declaração ao Fisco, sem o respectivo recolhimento, não afastam a tipicidade do delito do art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90”. Em síntese, o não pagamento de ICMS, por si só, tornou-se muito mais próximo de ser visto como crime.

Provocado a decidir, o Plenário do STF concluiu, por maioria, que o não recolhimento de ICMS é, como regra, crime de sonegação f iscal . Considerando-se tal enten dimento, cabe à defesa sustentar (se possível for) que não havia a “consciência poten-cial” ou a “intenção” de deixar de recolher o tributo devido. A pre-sença desse elemento subje tivo é fundamental, caso con trário, q u a l q u e r i n a d i m p l e m e n t o negocial (não apenas em relação a tributo) poderá ser visto como apropriação indébita, estelionato ou outro tipo de delito.

elemento subjetivo especial, no crime de apropriação indébita tributária (art. 2.º, inciso II, da Lei n.º 8.137/90), é prescindível, sendo suficiente para a configuração do crime a consciência (ainda que potencial) de não recolher o valor do tributo devido” (AgRg no REsp 1767899, DJe de 18/10/19). O acusado argumentava que “a conduta de declarar o ICMS ao Fisco, mas não recolhê-lo [sic], corres ponde a mero inadim ple-men to, porquanto o que se cobra do consumidor é o preço da mercado ria e não o ICMS calculado sobre o preço”. Entendia a defesa que a conduta era atípica, isto é, não prevista como crime na lei. Todavia, a decisão lembrou que, “conforme recente julgado da 3ª Seção desta Corte, a cobrança de ICMS discriminado na nota fiscal de venda de produtos a consumidor

GUSTAVO SCANDELARI

DIREITO CRIMINAL

7

Page 8: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

A colaboração premiada na Lei Anticrime

Lei Anticrime e a perda do patrimônio incompatível com os rendimentos lícitos

Em 24 de dezembro de 2019, o pre-sidente da República sancionou a Lei nº 13.964, que introduziu uma série de aperfeiçoamentos na legislação penal e processual penal a partir do projeto “anticrime” do ministro da Justiça Sérgio Moro.

Especificamente em relação ao instituto da colaboração premiada, a lei é bastante rica ao alterar uma série de disposições de seu diploma introdutor (Lei nº 12.850/2013). Em primeiro lugar, formalizaram-se procedimentos que a prática da colaboração já impunha, como a celebração de termo de confidencialidade no início das negociações entre Ministério Público e potencial colaborador.

Também se esclareceram pontos controversos, como os l imites da colaboração; quanto a esse ponto, o novo art. 3º-C, §3º, deixa claro que o colaborador terá que narrar “todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados”, não se obrigando a tratar de outros episódios – antigos e sem correlação temática – como requisito à celebração de acordo. Outras soluções importantes, que atendem à jurisprudência recente, foram a expressa determinação de que os réus delatados terão, “em todas as fases do processo”, a oportunidade de se manifestar após o colaborador (art. 4º-A, §º7º-A) e a proibição de decretação de medidas cautelares, recebimento de denúncia e condenação exclusivamente com base nas palavras do colaborador.

Os diversos dispositivos introduzidos pela Lei nº 13.964/2019 trazem, ainda que permitindo discussões futuras, maior segurança à colaboração premiada, evidenciando uma clara evolução do instituto.

Dentre as novidades da Lei nº 13.964/2019, anteriormente alcunhada de “pacote anticrime” e com início de vigência em 23 de janeiro, consta a inclusão do art. 91-A no Código Penal. Por essa nova regra, o juiz poderá considerar como proveito ou produto do crime a parcela de patrimônio do acusado cuja origem lícita ele não conseguir comprovar, determinado o perdimento em favor do Estado. Mas isso somente em caso de crime com pena máxima superior a seis anos de reclusão e desde que o Ministério Público haja, antes, requerido expressamente esse efeito da conde nação na denúncia e justificado a dife rença apurada.

Antes, declarava-se produto ou pro-veito do crime apenas o patrimônio comprovadamente oriundo da prática delitiva debatida no processo. Agora, se o crime atribuído tiver pena máxima superior a 6 anos (p.ex.: corrupção passiva e peculato), o magistrado terá o poder de declarar como de origem ilícita o patrimônio que a acusação indicar como incompatível com os rendimentos do acusado, inde pendentemente de vínculo concreto com a infração penal. Caberá ao acusado, em uma inversão do ônus da prova, afastar essa presunção relativa, demonstrando a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio (p.ex.: doação, herança, venda etc.).

O novo dispositivo conceitua como “patrimônio do condenado” não apenas os bens de sua titularidade, mas aqueles sobre os quais, desde a prática da infração penal, “tenha o domínio e o benefício direto ou indireto” ou que tenham sido “transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória”.

GUILHERME ALONSO

LUIS OTÁVIO SALES

8

Page 9: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

A investigação criminal defensiva pelo advogado

Violação de prerrogativas do advogado é crime – Parte 2

Todos sabem que as investigações crimi-nais são – via de regra – conduzidas por autoridades públicas, geralmente as Polícias (Civil e Federal) ou pelo Ministério Público. Mas pode o advogado promover uma investigação própria, em favor do investigado ou da vítima?

O Código de Processo Penal estabelece que, durante o inquérito policial, “o ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade” (art. 14). Trata-se de uma decorrência lógica do direito constitucional de petição (CF, art. 5º XXIV, “a”), mas que passou a contar com um importante regramento: o Provimento nº 188/2018, editado pelo Conselho Federal da OAB em 11 de dezembro de 2018.

O provimento estabelece que o advogado poderá, por exemplo: colher depoimentos, determinar a elaboração de laudos e perícias, realizar reconstituições, pesquisar e obter dados disponíveis em órgãos públicos e privados. As atividades se destinam a instruir a defesa do cliente em qualquer fase da persecução penal ou mesmo para instruir um pedido de revisão criminal, quando não há mais possibilidade de recurso pelo condenado. O trabalho será juntado ao procedimento público oficial a critério do contratante e respeitados os direitos das pessoas envolvidas, como a privacidade e intimidade. 

Além da justa possibilidade de averiguar um evento que lhe gerou prejuízo sem depender do trâmite (por vezes moroso) das diligências policiais, a prática representa importante instrumento de defesa do investigado, que poderá produzir provas que os órgãos oficiais não estão aptos ou dispostos a realizar. A atuação do advogado e profissionais capacitados é fundamental para que o resultado seja do maior interesse do particular.

A Lei nº 13.869/2019, que criminaliza a violação de algumas prerrogativas da advocacia, entrou em vigor no dia 03/01/2020. As prerrogativas tuteladas são previstas nos incisos II a V do art. 7º do Estatuto da OAB: inviolabilidade do local de trabalho; comunicação pessoal e reservada com o cliente; presença de representante da OAB na prisão relacio nada ao exercício da profissão; ser rec olhido preso em sala de Estado Maior. A pena cominada é de detenção, de três meses a um ano, e multa.

Outra prerrogativa cujo resguardo é de singular importância, mas não foi objeto da tutela criminal pela lei em questão, é o acesso do advogado aos autos de apuração preliminar em curso. O importante direito de acesso aos elementos da investigação criminal, por outro lado, foi reforçado nas alterações advindas da Lei nº 13.964 de 24 de dezembro de 2019, que entra em vigor no dia 23 de janeiro deste ano. Foram estabelecidas as competências do juiz das garantias – responsável pelo controle da legalidade e por decidir questões incidentais na fase da investigação criminal – no art. 3º-B da referida Lei, determinando seu inciso XV “assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamen te, às diligências em andamento”.

Verifica-se, nessas e em outras alterações legislativas, a preocupação em zelar pela liberdade de atuação da advocacia na fase de i n ve s t i g a ç ã o c r i m i n a l p re l i m i n a r , reconhecendo-se o papel deste profissional, cuja atuação é indispensável à administração da Justiça, como expres samen te determinado no art. 133 da Constituição.

BRUNO CORREIA

FERNANDA LOVATO E EDUARDO KNESEBECK

9

Page 10: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Legítima defesa e o agente de segurança pública

A figura do juiz de garantias exige a ampliação do quórum de magistrados?

A Lei nº 13.964/2019, popularmente chamada de “pacote anticrime”, ampliou o conceito de legítima defesa como causa excludente da antijuridicidade penal (art. 23, CP). O art. 25, que já enquadrava no instituto aquele que, “usando mode-radamente dos meios necessários, repele justa agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”, agora conta com o parágrafo único, cuja redação é a seguinte: “Observados os requisitos do caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”.

A inovação legislativa é, contudo, de pouca valia. Embora justificada pela influência do discurso político e da pauta da segurança pública defendida pelo atual governo, ao conferir tal especificidade à legítima defesa o incremento operado acabou por restringir este conceito jurídico penal aberto, ao contrário do que provavelmente desejou o legislador. Isto porque, a situação contemplada pelo parágrafo único do art. 25 já encontrava guarida na redação do caput do mesmo artigo, afinal, o “agente de segurança pública” certamente pode figurar, e sempre figurou como “aquele que repele” a injusta agressão, assim como “a vítima mantida refém” deve ser entendida, e assim sempre se entendeu, como “outrem”.

Como efeito prático da criação de causa específica de exclusão da ilicitude penal, abriu-se margem para a discussão, por exemplo, se o agente civil que pratica fato aparentemente antijurídico em situação envolvendo reféns também estaria amparado pela normativa inédita, situação hipotética que, à luz da redação anterior, não exigia maiores digressões.

Uma das maiores mudanças elencadas na Lei nº 13.964/2019 é o juiz de garantias. Em resumo, seria a figura de um magistrado atuando na fase de investigação criminal até o momento do recebimento da denúncia; outro na instrução e julgamento da ação penal. A ideia é evitar a perda de parcialidade que poderia acometer o juiz que participou mais ativamente da apuração policial.

Isso gerou dúvida sobre a necessidade de mais juízes para dar conta dessa nova demanda. O cálculo simples seria: se uma causa agora precisa de dois magistrados, precisaríamos do dobro de juízes. Ocorre que esse problema, ao que parece, estaria superado a partir do momento em que os inquéritos que estão aos cuidados de um juiz na fase de inquérito passam a outro depois de recebida a denúncia e vice-versa. A demanda de trabalho, essencialmente, permanece a mesma. A questão passa a ser quais juízes atuarão em cada etapa.

Em cidades menores, o sistema previsto no parágrafo único do art. 3º-D da nova lei permite o rodízio de magistrados. A rotatividade entre os juízes das comarcas menores é comum: segundo o CNJ, 19% das unidades judiciárias funcionaram com um único magistrado no ano de 2018. Os processos costumam, portanto, passar por mais de um julgador antes da sentença. Hoje, com a facilidade trazida pelo processo eletrônico, uma logística de distribuição de acordo com a nova regra seria aparen-temente factível, sem a necessidade de abertura de novas vagas para juízes atuarem na recém-criada função.

Recentemente, a liminar do STF no bojo das ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305 suspendeu, em 22 de janeiro, a eficácia dos dispositivos que implementariam o juiz de garantias, sem estabelecer data para que passem a vigorar.

MAURO PACIORNIK

VICTORIA DE BARROS E SILVA

10

Page 11: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

DIREITO ADMINISTRATIVO

A Lei Anticrime e a destinação de obras de arte confiscadas

No crime de lavagem de dinheiro, após as fases de ocultação e de dissimulação dos bens e valores ilícitos, surge a necessidade de reinser ção desses na economia como se legítimos fossem. Historicamente, o branquea-mento de capitais tem sido realizado por meio de transações comerciais que envolvem itens de alto valor agregado.

Dentre as operações realizadas com o intuito de dar aparência lícita ao produto do crime, destaca-se o emblemático mercado de obras de arte. Normalmente, o investimento nesse ramo comercial que movimenta valores bilionários carece de transparência, porque subsiste o anonimato. Os métodos para ava-liação do valor monetário dos bens, geralmente, são arbitrários e especulativos, o que cria um contexto atrativo à consecução do crime de lavagem.

No que se refere ao perdimento de bens e valores apreendidos, a legislação vigente apre-senta a ressalva de que devem priorita riamente ser revertidos à vítima a fim de minimizar os injustos prejuízos sofridos, consoante disposição dos arts.7, I, da Lei nº 9.613/1998 e 91, II, do Código Penal.

Previamente à publicação da Lei nº 13.964/2019 – fruto do então chamado “pacote anticrime” – remanesciam dúvidas em relação à cor reta destinação das obras de arte confiscadas como objeto de crimes. Decretar o perdimento para indenizar a vítima ou destiná-las a museus devido ao alegado caráter sociocultural e interesse público em sua preservação?

A recente norma legal esclarece referida questão, uma vez que inclui o art.124-A no Código de Processo Penal, ressalvando expres-samente o direito de reparação da vítima de forma prioritária: “Na hipótese de decretação de perdimento de obras de arte ou de outros bens de relevante valor cultural ou artístico, se o crime não tiver vítima determinada, poderá haver destinação dos bens a museus públicos.”.

LARISSA ROSS

Decreto regulamenta a Lei de Liberdade Econômica

Em 18 de dezembro de 2019, foi editado o Decre to nº 10.178, que regu-la mentou a Lei nº 13.874/2019, conhe-cida como Lei de Liberdade Econômica. A lei estabelece que ativi dades de bai-xo risco podem ser reali zadas sem a necessidade de quaisquer atos pú -blicos de liberação. O decreto recém edi tado estabelece os critérios para a definição do nível de risco.

Os riscos são classificados em leve (I), moderado (II) e alto (III), considerando-se a probabilidade da atividade causar dano à sociedade. De acordo com o decreto, “o exercício de atividades econômicas enquadradas no nível de risco I dispensa a solicitação de qualquer ato público de liberação” (art. 8º). Atividades com risco moderado serão precedidas de proce-dimentos administrativos simplifica dos.

O decreto também regulamentou a aprovação tácita prevista em lei. A autoridade máxima do órgão responsável pela liberação fixará o prazo para resposta aos requerimentos. Decor rido o período fixado sem manifes tação, a atividade será considerada liberada.

Tais previsões relativas à aprovação tácita apl icam-se apenas aos requerimentos apre sentados após 19 de dezembro de 2020, data em que entrou em vigor o decreto.

Para os requerimentos apresentados até fevereiro de 2021, o prazo de resposta será de 120 dias. Para os requerimentos apresentados até fevereiro de 2022, o prazo máximo será de 90 dias. Para os requerimentos protocolados após esta data, o limite não poderá ser superior a 60 dias, salvo se houver justificativa em razão da complexidade, devendo ser observados os padrões internacionais sobre o assunto.

FRANCISCO ZARDO

11

Page 12: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

A isenção de imposto de renda para portadores de doença grave

É permitido acordo nas ações de improbidade administrativa

A Lei nº 7.713/1988 define, no inciso XIV do art. 6ª, a relação de patologias que caracterizam hipótese de isenção de imposto de renda sobre proventos de aposentadoria ou reforma. Conforme entendimento do STJ, “a isenção do imposto de renda, em favor dos inativos portadores de moléstia grave, tem como objetivo diminuir o sacrifício do aposentado, aliviando os encargos financeiros relativos ao tratamento médico” (STJ, 2ª Turma. AgInt no REsp 1598765/DF, rel. Min. HERMAN BENJAMIN. DJe 29/11/2016). Ou seja, a finalidade da norma é proteger aqueles que, em decorrência de uma doença grave, têm altos custos com tratamentos médicos.

No entanto, segundo redação literal da norma, a isenção tributária não alcança os trabalhadores da ativa. Em razão disto, pela Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6.025 se discute a constitucionalidade da limitação do direito apenas aos aposentados. Conforme pretensão formulada

Em 24 de dezembro de 2019 foi publicada a Lei nº 13.964, que aperfeiçoa a legislação penal e processual penal. Dentre as inovações, está a previsão de acordo em ações de improbidade administrativa.

Nesse sentido, após o período de vacância (trinta dias a contar da data de publicação, conforme art. 20), o art. 17, pará-grafo primeiro, da Lei nº 8.429/1992, terá a seguinte redação: “As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não persecução cível, nos termos desta Lei”.

Antes da modificação, o texto legal proibia a transação, acordo ou conciliação. Não obstante, no Estado do Paraná, o Ministério Público firmava acordos em ações de improbidade, com base na Resolução nº 01/2017, que “estabelece parâmetros procedimentais e materiais a serem observados para a celebração de composição, nas modalidades compromisso de ajustamento de conduta e acordo de leniência, envolvendo as sanções

na inicial, requer-se que, “no âmbito do art. 6.º–XIV da Lei n.º 7.713/1988, seja incluída a possibilidade de concessão do benefício fiscal aos trabalhadores com doença grave que permanecem em atividade”.

Em manifestação nos autos, a PGR opinou pela procedência do pedido, por entender que “não se trata de indevida extensão, criação ou ampliação de benefício fiscal, mas, sim, de mera compreensão do contexto em que a norma impugnada foi criada, do seu sentido inequívoco e de sua aplicação segundo a evolu-ção social, da medicina, da ciência e da tecnologia, e a especial proteção constitucional conferida às pessoas com deficiência pela Constituição e pela Convenção de Nova York”. O ministro Alexandre de Mores é o relator da ADI. O julgamento está pau tado para a sessão do dia 19/02/2020 do STF.

cominadas aos atos de improbidade administrativa, definidos na Lei 8.429, de 02.06.1992, e aos atos praticados contra a Administração Pública, definidos na Lei 12.846, de 01.08.2013, no âmbito do Ministério Público do Estado do Paraná”.

Agora, há expresso permissivo legal para elaboração de acordos nas ações de improbidade, fomentando-se a prática consensual na resolução de conflitos. Inclusive, segundo notícia veiculada no site do MPPR, a feitura de um acordo em outubro de 2019, ga -rantirá “a devolução de R$ 1.807.336,04 aos cofres públicos” (http://www.mppr.mp.br/2019/10/21954,10/Acordo-f i rmado -pelo -MPPR- ga rante-devolucao-de-R-18-milhao-ao-erario.html), demons trando-se a eficácia e agilidade propor cionadas pela avença nas ações de improbidade adminis-trativa, com resultado efetivo para a sociedade e ao erário.

ANDRÉ MEERHOLZ

FERNANDA MACHADO

12

Page 13: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Candidata em ampla concorrência é nomeada em vaga reservada a pessoa com deficiência

A 1º Turma do STJ, no julgamento do RMS nº 59.885/MG, por unanimidade, decidiu que, desde que haja previsão expressa em edital, as vagas destinadas a pessoas com deficiência poderão ser preenchidas por candidatos em ampla concorrência quando não houver aprovados suficientes para preencher a cota.

No caso em questão, a candidata impetrou mandado de segurança alegando ter sido aprovada em 6º lugar no concurso para Analista Executivo de Defesa Social, em Teófilo Otoni, Minas Gerais. Alegou, ainda, que o edital previa cinco vagas para ampla concorrência e uma vaga para candidatos com deficiência física, sendo esta não preenchida quando da homologação final do concurso, fazendo, então, jus à nomeação no certame.

Além disso, a candidata sustentou que havia cláusula expressa no edital, prevendo que as vagas não preenchidas por candidatos portadores de deficiência remanesceriam aos candidatos de ampla concorrência.

Todavia, o tribunal local negou a segurança por entender que a candidata foi aprovada fora do número de vagas normais, além da ausência de previsão expressa no edital sobre o assunto.

Para o relator, ministro Sérgio Kukina, ao contrário do que entendeu a corte local “há previsão específica no edital do certame, as vagas outrora reservadas para pessoas com deficiência devem ser revertidas à ampla concorrência, se não houver aprovados que preenchem a condição de pessoas com deficiência”.

Dessa forma, segundo o relator, “demons-trada a ausência de pessoas com deficiência aprovadas no certame, faz jus à vaga revertida à ampla concorrência o candidato aprovado e classificado, segundo a ordem classificatória final, nos termos do que expressamente dispõe o edital do concurso.”

SEBASTIÃO JUNIOR

Juízes podem ter redes sociais?

No dia 18/12/2019, o CNJ publicou a Reso-lução nº 305/2019, que estabelece os parâmetros para o uso das redes sociais pelos magistrados. Segundo o ministro Dias Toffoli, a medida “dará balizas e tranquilidade para a livre manifestação de pensamento e para a livre expressão dos magistrados nas redes”.

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou ADI no STF em face da resolução por entender que as recomendações são travestidas de normas proibitivas de conduta, o que violaria o art. 93 da Constituição. Isto é, restrições só poderiam ser dispostas na Loman.

Ainda não houve decisão na ADI, mas, até lá, é preciso atentar que a resolução está vigente e recomenda, dentre muitas condutas, a abstenção de uso pessoal da marca da instituição; evitar, mesmo sob pseudônimo, opiniões e comparti lhamento de informações que prejudiquem a independência, a integridade e a idoneidade do Judiciário; até evitar seguir pessoas e entidades sem a devida cautela quanto à sua segurança. Permite-se, contudo, manifestações sobre programas de governo, processo legislativo, e de interesse do Judiciário ou da carreira.

Note-se que as recomendações servem a todos os membros, incluindo os juízes em disponibilidade ou afastados. Na hipótese de causas midiáticas, de grande atenção da opinião pública, os tribunais deverão dispor de assessoria de imprensa para oferecer apoio técnico ao juiz responsável.

Para aqueles que já possuem páginas abertas nas redes, há exigência para adequá-las à resolução no prazo de até seis meses contados da publicação, ou seja, até 18/06/2020.

Por fim, para além da discussão sobre a inconstitucionalidade, a iniciativa do CNJ foi bem-vinda, pois estabeleceu balizas de interpretação e de defesa nas eventuais sanções disciplinares dos juízes quanto a suas manifestações nas redes sociais.

PEDRO GALOTTI

13

Page 14: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

O Estado deve financiar transporte de mãe de pessoa com deficiência em tratamento

África nas escolas, 17 anos da Lei nº 10.639/2003

De acordo com a Constituição Federal, “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (art. 196). E para a aplicação deste direito fundamental, é dever da União, estados e municípios agirem para que a norma não se transforme em letra morta.

A Constituição Estadual do Rio Grande do Sul assegura a gratuidade de transporte coletivo intermunicipal às pessoas com deficiência comprovadamente carentes (art. 262). Tal dispositivo deve ser interpretado em conjunto com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, bem como com a Lei Estadual nº 13.320/2009, que garante a essas pessoas a gratuidade nas linhas de modalidade comum de sistemas de transporte inter-

Há exatos 17 anos, publicava-se a Lei nº 10.639/2003, a qual, dentre outras providências, “estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’”.

Em um país que “se desenvolve” ignorando o racismo estrutural que insiste e persiste em se manter de pé, ensinar as crianças sobre a relevantíssima contribuição da Cultura Afro-Brasileira, bem como dos fortes impactos por ela gerados no passado e presente da sociedade, sem recair em eufemismos, mostra-se um importante sinal para a diminuição das desigualdades geradas por políticas que, infelizmente, pautam-se na cor da pele.

Lendo o Pequeno Manual Antirracista de autoria da ativista Djamila Ribeiro, extrai-se um brilhante conselho aos pais que se preocupam com a educação dos seus filhos, mais

municipal de passageiros, seja por ônibus, trem e/ou barco (art. 94).

Justamente por isso, o TJRS man-teve a condenação imposta ao Es tado do Rio Grande do Sul e ao município de Cachoeirinha, que foram obrigados a custear, de forma iguali tária, o transporte da mãe de menor incapaz com quadro de defi-ciência física e mental. A justificativa é que o jovem está internado em Por-to Alegre e a mãe reside em Cachoei-rinha, não havendo, portan to, con-dição finan ceira para manter os deslo camen tos.

A análise foi ampla, com o intuito de lhes garantir a efetividade. E por fim, o desembargador relator pontuou que a proteção à inviolabilidade do direito à vida deve prevalecer em relação a qualquer outro interesse do Estado, uma vez que sem ele, os demais interesses sociais não pos-suem significado.

precisamente na educação antirracista que, certamente, constrói o bom caráter do futuro da nação. A autora incentiva os pais a inserirem seus filhos em escolas que aplicam a Lei nº 10.639/2003, isto porque, nas suas palavras, “conhecer histórias africanas promove outra construção da subjeti-vidade de pessoas negras, além de romper com a visão hierarquizada que pessoas brancas têm da cultura negra, saindo do solipsismo branco, isto é, deixar de apenas ver humanidade en tre seus iguais. Mais ainda, são ações que diminuem desigualdades”.

Assim, cabe agora aos pais aproveitarem a volta às aulas para inserirem seus filhos em escolas que observam a aplicação da Lei nº 10.639/2003, pois, como diz Angela Davis: “numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.

GUSTAVO BORTOT

ALEXSANDRO RIBEIRO

14

Page 15: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

A responsabilidade do banco por golpe em cliente dentro da agência

Recentemente, o TJSP reconheceu a responsa bilidade de uma instituição bancária pelo golpe sofrido por correntista no interior da agência. A decisão foi proferida pela 13ª Câ mara de Direito Privado, nos autos nº 1001541-80.2018.8.26.0629 (notícia divulgada pelo Consultor Jurídico - https://www.conjur.com.br/2020-jan-16/banco-responsavel-cliente-abordado-golpista).

No caso examinado, a esposa do consumidor foi abordada por dois golpistas dentro da agência, os quais simularam problemas no caixa eletrônico e a convenceram a inserir o cartão e digitar a senha. Com isso, houve a clonagem do cartão e vários saques indevidos.

O Banco foi então condenado a ressarcir o correntista, além de pagar uma indenização pelo dano moral. O entendimento do tribunal ba seou-se no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, segundo o qual o fornecedor res-ponde, independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados a consu midores pelos defeitos relativos à prestação do serviço. A decisão teve por funda mento também a Súmula 479 do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”.

Note-se que foram afastadas as linhas de defesa relativas à culpa exclusiva de terceiro, bem como caso fortuito ou força maior. Isso porque o risco de fraudes no sistema bancário ou atuação de estelionatários e golpistas é inerente à própria atividade dos bancos. Logo, incumbe a estes adotar todas as cautelas para prevenir e impedir ações criminosas. O mesmo vale para aquelas situações muito comuns em que golpistas convencem o correntista a efetuar saques na boca do caixa ou a realizar transferências eletrônicas de alto valor. Justamente por isso, os bancos devem exigir que operações suspeitas sejam previamente autorizadas pelos gerentes da agência.

ROGÉRIA DOTTI

Atenção redobrada aos locadores de imóveis

A locação de imóveis, para muitos, ainda é uma das mais atraentes modalidades de investimentos, justamente pela sensação de concretude que a propriedade do bem costuma transmitir. Contudo, também pode haver dissabores, sejam relacionados à conservação pelo inquilino, sejam ao inadimplemento, para citar apenas dois dos exemplos mais comuns.

Recentemente, o STJ trouxe mais um fator a exigir a atenção de proprietários: a possibilidade de verem o seu imóvel penhorado por dívida de condomínio, mesmo não tendo participado da ação de cobrança. Na prática, isso pode fazer com que o conhecimento quanto à dívida somente ocorra quando já efetivada a constrição.

Considerando que as obrigações condominiais possuem natureza propter rem, isto é, própria da coisa, a 3ª Turma do STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 1829663, entendeu que elas se vinculam ao bem imóvel, e não à pessoa de seu proprietário. Com isso, concluiu ser possível que o imóvel locado venha a ser penhorado, ainda que o seu titular não tenha integrado a lide, mas tão somente o inquilino, justamente porque é o imóvel o gerador da despesa, e não necessariamente o seu titular.

A ministra Nancy Andrighi, relatora, ponderou que a regra do art. 472 do Código de Processo Civil de 1973, que estabelece que os efeitos da coisa julgada somente atingem aqueles que participaram do processo, comporta exceções, forte nos princípios da instrumentalidade das formas e da efetividade do processo. Segundo a ministra, deve-se utilizar a técnica processual “não como um entrave, mas como um instrumento para a realização do direito material.” Assim se deu nesse julgado, cujo proprietário do imóvel somente foi incluído no processo já quando do cumprimento da sentença.

Uma forma simples, mas eficaz, de se evitar problemas como esse é exigir a comprovação periódica do cumprimento das obrigações condominiais junto ao inquilino, ou mesmo acompanhar a situação financeira do imóvel perante o síndico ou a administradora.

JULIO BROTTO

DIREITO CIVIL

15

Page 16: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Os limites e as vantagens da permuta imobiliária

A Lei nº 13.146/2015 e a inclusão da pessoa com deficiência

O desaquecimento da economia nos últimos anos fez aumentar significativamente o número de operações imobiliárias de permuta entre pessoas físicas, prática já difundida entre as construtoras que ajustam com os proprietários de terreno a entrega de uma ou mais unidades a serem construídas no local.

Diversamente do que orienta o senso comum, a permuta não pressupõe necessariamente que os bens trocados tenham valor equivalente, o que inviabilizaria o alcance prático do instituto. É possível, assim, que os bens tenham valores diferentes, caso em que uma das partes pagará a diferença em dinheiro, à qual se dá o nome de torna.

Mas essa diferença não pode ser grande a ponto de exceder o valor do bem trocado. Exemplificando, a operação será possível no caso de uma permuta entre bens avaliados em R$ 400.000,00 (quatrocentos mil) e R$ 300.000,00 (trezentos mil), em que o proprietário do bem de menor valor pagará uma torna de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Se, porém, os bens forem de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) e R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), a torna nesse caso (R$ 250.000,00) supera o próprio valor do bem permutado, entendendo-se nessa hipótese que a operação fica descaracterizada para compra e venda com dação em pagamento.

Respeitados os limites de sua caracterização, a permuta é altamente aconselhável por oferecer vantagens tributárias em relação à compra e venda. Isso porque a operação de permuta entre unidades imobiliárias de igual valor, sem torna, está excluída da incidência de imposto de renda sobre ganho de capital, visto que inexiste acréscimo no patrimônio se alguém troca um bem de determinado valor ou outro de valor igual. Caso exista torna, o ganho de capital deve ser apurado apenas em relação ao valor da torna recebida.

Portanto, inúmeras situações de compra e venda com dação em pagamento poderiam ser juridicamente tratadas pelas partes como permuta com torna, com celebração de escritura pública específica repre sentativa de tal operação, necessária para a obtenção dos benefícios tributários.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo, promulgada pela ONU em 2007, representa impor tante instrumento para impedir a exclusão social e a desigualdade vivenciada por tais indi víduos, com o objetivo de lhes assegurar o exer cí cio de vida digna.

Não obstante a introdução dessa Convenção no sistema jurídico brasileiro com o status de norma constitucional, editou-se a Lei nº 13.146/2015, que se destina, nos termos de seu art. 1º, a “assegurar e a pro-mover, em condições de igualdade, o exer-cício dos direitos e das liberdades fun da-mentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”.

A referida lei já acarretou a manifestação dos tribunais superiores. É o que se extrai do julgamento da ADI nº 5.357, na qual o Supremo Tribunal Federal (STF) afirmou competir aos estabelecimentos de ensino privados a obrigação de promover a inserção das pessoas com deficiência no ensino regular, sem o correspondente repasse de qualquer encargo financeiro.

Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em processo que tramita em segredo judicial, reformou decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) para assegurar a presença de cuidador dentro da sala de aula para adolescente com paralisia cerebral. De acordo com o site do STJ, reconheceu-se que “a Lei 13.146/2015 assegura a plena inclusão da pessoa com deficiência, sem discriminação, violência ou negligência, com atendimento integral por profissional adequado às suas necessidades peda gógi-cas específicas”.

Trata-se, em síntese, da aplicação do entendimento do STF, no sentido de que a “Lei 13.146/2015 indica assumir o compromisso ético de acolhimento e pluralidade demo-crática adotados pela Constituição”.

FERNANDO WELTER E PATRÍCIA NYMBERG

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN E GIULIANE GABALDO

16

Page 17: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Reprodução assistida

Acesso à Justiça – a tecnologia a favor do cidadão

Questão ainda divergente em nossos tribunais diz respeito à obrigatoriedade das operadoras de planos de saúde custearem o tratamento para a reprodu-ção assistida, ou seja, aquela consistente na adoção de diferentes técnicas médicas para ajudar na geração de bebês, como a fertilização in vitro e a inseminação artificial. No tocante à inseminação artificial, a sua cobertura assistencial é excluída de forma expressa pelo art. 10, inciso III da Lei nº 9.656/1998.

De modo geral, as decisões contrárias à cobertura assistencial da fertilização in vitro dizem que impor o seu custeio pelas operadoras de planos de saúde acarreta desequilíbrio financeiro, na medida em que não haveria a correspondente contraprestação pecuniária pelos consumidores; alegam, ainda, que referidos tratamentos não estariam compreendidos dentro do planejamento familiar, o qual tem por finalidade a orientação da maternidade consciente por meio de métodos de contracepção.

Por sua vez, aquelas que são favorá-veis aos consumidores encontram seus fundamentos justamente nos dispositivos legais que tratam do planejamento familiar, a exemplo do art. 226, § 7º, da Constituição Federal e dos arts. 9º da Lei nº 9.263/1996 e 35-C, inciso III da Lei nº 9.656/1998.

Em razão dessa diferença de enten-dimentos, a questão da fertilização in vitro é objeto de discussão no Recurso Especial nº 1.794.629/SP, de relatoria do ministro Moura Ribeiro, que já proferiu voto no seguinte sentido: “A chamada lei de planejamento familiar diz que devem ser oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção.”

A Lei nº 9.090/1995 criou os juizados espe-ciais cíveis e criminais pautando-se nos prin-cípios da oralidade, simplicidade, infor-malidade, economia processual e celeridade com o objetivo de obter, sempre que possível, a con ciliação.

Contudo, apesar de ser um avanço extraor-dinário, alguns entraves impediam que ao final da ação, alcançasse-se a justiça.

Um dos pontos que sempre recebeu muitas críticas é a necessidade da presença pessoal do réu no juízo no qual tramita a ação, sob pena de serem reputadas verdadeiras todas as alegações apresentadas pelo autor. Essa obrigação pode impor severas dificuldades ao jurisdicionado.

Imagine-se o seguinte exemplo: Fulano, residente em Curitiba, é citado para comparecer em uma audiência no juízo de Belém/PA, na qual se pleiteia o pagamento dos danos ocasionados em razão de um acidente de trânsito que alcançaram R$ 1.000,00. Contudo, Fulano, que nunca esteve no Pará, verifica que o réu da ação é um homônimo. Certamente o custo das passagens aéreas para comparecer presen-cialmente à audiência superará o valor pedido.

Diante desse cenário, o Deputado Luiz Flávio Gomes apresentou o Projeto de Lei nº 1679/2019, propondo que a conciliação não seja obrigatoriamente presencial, mediante a utilização de “meios tecnológicos de transmissão de vídeo e som em tempo real”. Tal propositura, já aprovada na Câmara dos Deputados, está em fase de votação no Senado Federal.

Não se desconhece a importância da presença pessoal das partes, na medida em que a conversa “olho no olho” é a forma mais adequada para a composição dos interesses. Contudo, essa forma de condução do processo não pode ser rígida.

Evidente que ainda temos um longo caminho para que o acesso à Justiça seja um direito exercido por todos, mas devemos comemorar os avanços, pois, como vaticinou Santo Agostinho, “Nada estará perdido enquanto estivermos em busca”.

VANESSA CANI

CÍCERO LUVIZOTTO

17

Page 18: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

O Estado deve responder pelos danos causados por agente público

Negociação online nos conflitos de consumo: aproximação dos usuários de serviços públicos com o Poder Público

Em recente decisão no Recurso Extraor dinário nº 1.027.633/SP, o STF fixou a tese de que “A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente pú blico deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.

No caso, um funcionário público muni-ci pal, que ocupava o cargo de motorista e foi eleito vereador ajuizou ação de indeni-zação por danos morais e materiais contra a prefeita, sua opositora política, alegando que sofreu sanção administrativa sem observância do devido processo legal. Ainda, foi removido, sem justificativa, da Diretoria Municipal de Saúde em que serviu durante anos, tendo sido obrigado a trabalhar a 30 quilômetros de sua resi dên-cia, em contrariedade com uma lei municipal que veda a transferência de servidores ocupantes de cargos eletivos, caracteri zando perseguição política.

Ao julgar o caso, o relator, ministro Mar-co Aurélio, afirmou que o agente público, “ao praticar o ato administrativo, somente manifesta a vontade da Admi nistração, confundindo-se com o próprio Estado. A possibilidade de ser acionado apenas em ação regressiva evita inibir o agente no desempenho das funções do car go, resguardando a atividade admi nistrativa e o interesse público. À vítima da lesão – seja particular, seja servidor – não cabe escolher contra quem ajuizará a demanda. A ação de indenização deve ser proposta contra a pessoa jurídica de direito público ou a de direito privado prestadora de serviço público”. Somente em caso de dolo ou culpa é que possui o Estado o direito de acionar o servidor público regressivamente.

Os nossos leitores já conhecem a plataforma consumidor.gov.br, mantida pelo Ministério da Justiça para servir como um canal seguro de diálogo e negociação entre consumidores e fornecedores. Para eles, a adesão ao portal é, igualmente, uma sinalização ao mercado de que prezam pelo bom atendimento e por métodos adequados de prevenção e resolução de litígios.

A novidade que merece destaque é que, em 03/01/2020, foi publicado o Decreto nº 10.197/2020, que oficializa o consumidor.gov.br como plataforma digital da Administração Pública Federal para autocomposição em conflitos de consumo.

O Decreto entra em vigor em 01/03/2020 e representa uma oportunidade para os cidadãos solucionarem de forma mais rápida os conflitos de consumo com a Administração Pública Federal. Além disso, dentre outras vantagens, a plataforma constitui importante base de dados sobre a prestação de serviços públicos a ser utilizada pelos órgãos fiscalizadores, podendo inclusive servir como prova em ações judiciais e em inquéritos do Ministério Público.

Os órgãos e entidades da administração pública federal que atualmente possuam sites próprios com a mesma finalidade migrarão os seus serviços para o Consumidor.gov.br, o que deverá ocorrer até o dia 31 de dezembro de 2020. A manutenção de sites apartados somente será possível quando a escala e a especificidade dos atendimentos justificar, mas deverá haver uma integração de dados com o consumidor.gov.br para subsidiar as políticas do Sistema Nacional de Defesa dos Consumidores.

A medida está em consonância com o compromisso assumido pela Administração Pública Federal de diminuição de demandas judiciais e vem na esteira das recentes transformações que têm influenciado de forma intensa os rumos do Direito Administrativo no Brasil, cada vez mais preocupado com o consenso e com a eficiência na prestação dos serviços públicos. Vale lembrar que os direitos dos usuários dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela administração pública são previstos na Lei nº 13.460/2017 e, quando caracterizada a relação de consumo, também no Código de Defesa do Consumidor.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, por intermédio da Comissão Especial de Defesa dos Consumidores e da Comissão Nacional de Acesso à Justiça, está, desde o último ano, envidando os seus melhores esforços para facilitar a participação e a atuação dos advogados na plataforma, na defesa dos interesses de seus respectivos clientes.

ANA BEATRIZ ROCHA

LAÍS BERGSTEIN E FERNANDA COELHO

DIREITO DO CONSUMIDOR

18

Page 19: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Doei um imóvel, posso revogar a doação?

Quando se inicia o prazo para pedir a partilha dos bens?

A doação é um ato de libera lida-de por meio do qual o doador transfere voluntariamente uma parte de seu patrimônio, sem nenhuma contraprestação. É, portanto, um ato unilateral, cuja eficácia dependerá da aceitação daquele que recebe a doação (donatário). Efetivada a doação, o bem passa a integrar o patrimônio do donatário.

O Código Civil (CC/02) traz, no entanto, a possibilidade de o doa-dor revogar a doação por ingratidão do donatário (em relação a qualquer

Quando o casamento termina, o prazo para pedir a partilha dos bens inicia a partir da separação de fato (ou seja, da separação sem a formalização do fim do relacionamento) ou da sua decretação oficial?

O STJ respondeu a tal questão no julgamento do Recurso Especial nº 1.660.947/TO. No referido caso, as partes se separaram de fato em 1980. Dos três lotes que tinham, um ficou com a esposa e outro com o marido. Nada estabeleceram quanto ao terceiro, que seguiu sendo cuidado pelo homem.

Após 32 anos a mulher ajuizou ação buscando a decretação do divórcio e a partilha do bem restante. Em sua defesa, o ex-marido alegou a prescrição dessa última pretensão em razão do longo tempo decorrido desde a efetiva separação. Ela, por sua vez, argumentou que a prescrição não poderia correr enquanto não dissolvida a sociedade conjugal pela separação

pela ex-esposa (Apelação nº 70081928426). O acórdão, que manteve a decisão de primeiro grau, salientou que as ofensas comprovadas nos autos (proferidas quando já encerrado o processo de divórcio) “extrapolaram a hipótese de mero desentendimento conjugal”. Mesmo considerando que as discussões se deram em razão de divergências quanto à empresa objeto da partilha de bens, o Tribunal entendeu que as expressões ut i l izadas pela ex-esposa configuram o animus injuriandi, com o intuito claro de desqualificar o ex-marido, não só no âmbito privado, mas, também, perante terceiros. Assim, a Corte negou provimento ao apelo mantendo a sentença que revogou a doação do imóvel.

judicial ou pelo divórcio, conforme a interpretação conjunta dos arts. 197, I e 1571, III e IV, do Código Civil. Em sua visão, como ainda não havia sido decretado o divórcio, o prazo para a partilha sequer teria se iniciado.

Ao analisar o recurso da ex-esposa, o STJ manteve o acórdão do Tribunal estadual que reconheceu a prescrição. Como destacou, “a separação de fato comprovada por período razoável de tempo, ou seja, no mínimo 1 (um) ano, produz os mesmos efeitos da separação judicial, sendo, portanto, circuns-tância que enseja a dissolução do vínculo matrimonial e não impede o curso do prazo prescricional nas causas envolvendo direitos e deveres matrimoniais”. Portanto, o prazo para requerimento da partilha de bens – o qual atualmente é de 10 anos (art. 205 do CC) – inicia-se da separação de fato.

bem doado, não apenas imóveis). Trata-se de medida extrema, cabível apenas em casos excep-cionais, em que reste comprovada a prática de atos graves pelo donatário em face do doador. O art. 557 (CC/02) elenca as hipóteses da configuração da ingratidão: a) atentado contra a vida ou crime de homicídio doloso; b) ofensa física; c) injúria grave ou calúnia; c) recusa a prestar alimentos.

O doador tem o prazo de 1 ano para requerer judicialmente a revogação da doação, contado do dia em que tiver conhecimento do ato praticado pelo donatário (art. 559, CC/02).

Em julgamento recente, o TJRS entendeu cabível a revogação da doação feita pelo ex-marido em razão de injúria grave praticada

“Após 32 anos a mulher ajuizou ação buscando a decre-tação do divórcio e a partilha do bem restante.”

FERNANDA PEDERNEIRAS

VANESSA SCHEREMETA

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

19

Page 20: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Facilitação do divórcio às vítimas de violência doméstica e familiar

Alimentos aos filhos: desde quando e até quando? (segundo o STJ)

Em outubro de 2019 foi sancionada a Lei nº 13.894/2019, que trata da assistência judi ciária para as vítimas de violência doméstica e familiar.

Quando da publicação desta e de outras leis que alteraram a Lei Maria da Penha, o Presidente havia vetado alguns trechos, cujos vetos foram posteriormente derrubados pelo Congresso Nacional.

Sendo assim, em 11/12/2019 entrou em vigor a inclusão do art. 14-A na Lei nº 11.340/2006, anteriormente vetado, que permite que a ofendida proponha a ação de divórcio ou de dissolução de união estável diretamente no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

A exceção para esta escolha é a discussão relativa à partilha de bens, que deverá ser realizada na Vara de Família.

Caso a violência seja iniciada após o ajuizamento de ação de divórcio (ou dissolução de união estável), a competência será do juízo em que a demanda já esteja em trâmite, e não do Juizado.

Na opinião de Adélia Moreira Pessoa, Diretora do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), a alteração legislativa “tem como objetivo final proporcionar às mulheres que vivem em situação de violência doméstica e familiar o acesso à justiça formal e respostas céleres e integrais que colaborem para seu fortalecimento e para o exercício de seus direitos”.

A assistência jurídica às mulheres residentes em Curitiba e em situação de violência é unificada na Casa da Mulher Brasileira, localizada na Avenida Paraná, 870, com atendimento em período integral, local em que é realizado o serviço de acolhimento e apoio psicossocial (assistentes sociais e psicólogas). Ali estão presentes a Delegacia da Mulher, a Defensoria Pública, o Juizado de Violência Doméstica e Familiar, o Ministério Público e a Patrulha Maria da Penha.

São temas recorrentes no Poder Judi-ciário a delimitação não só do valor dos alimentos devidos pelos pais aos filhos, mas, também, os termos inicial e final da obrigação. O debate persiste, pois, em uma análise superficial e atécnica, é possível cogitar que a pensão é devida desde o nascimento da criança até a maioridade, já que estes são marcos temporais no delinear de outros direitos e obrigações dos cida-dãos.

Ocorre que o direito ao recebimento dos alimentos está atrelado a outras premissas, quais sejam: a dignidade da pessoa humana e a solidariedade familiar.

Desta forma, a obrigação alimentar pode começar na fase de gestação, ou seja, antes do nascimento com vida, pois a lei protege os direitos do nascituro por meio dos “alimentos gravídicos”. Além disso, como bem pontua o STJ, os alimentos gravídicos ”visam a auxiliar a mulher gestante nas despesas decorrentes da gravidez, da concepção ao parto”, resguardando-se os direitos do nascituro e, após o nascimento da criança, são “convertidos automa ticamente em pensão alimentícia em favor do recém-nascido” (Recurso Especial nº 1629423/SP).

Quanto ao lapso final, apesar de a maioridade extinguir o poder familiar e de não haver presunção de necessidade dos filhos adultos, “o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório (Súmula 358 do STJ). Isso porque, nem sempre, o ingresso na vida adulta coincide com a independência financeira dos filhos – que por muitas vezes só ingressam no mercado de trabalho após a graduação/curso técnico. Assim, não há um termo final certo e determinado quanto à obrigação alimentar, fazendo-se neces-sária uma análise da situação concreta dos pais e do filho e da capacidade deste prover sua própria vida após a maioridade.

THAIS GUIMARÃES

DIANA GEARA

20

Page 21: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Incidência dos alimentos sobre o 13º salário e adicional de férias do devedor

Ao julgar o Recurso Especial nº 1.106.654/RJ, submetido ao rito dos recursos repetitivos, a 2ª Seção do STJ decidiu, em 2009, que os alimentos devem incidir sobre o 13º salário e o adicional de férias do devedor da obrigação alimentar quando fixada em um percentual dos seus rendimentos. A decisão foi publicada no Informativo de nº 417 da Corte.

No ano de 2011, por ocasião do julgamento dos Embargos de Divergência em Recurso Especial nº 865.617, a 2ª Seção da Corte elucidou que o arbitramento da obrigação alimentar em um percentual da remuneração do devedor e a estipulação desta em um valor fixo se tratam de situações distintas e suscitou a necessidade de que haja referência expressa a “vencimentos”, “salários” ou “proventos” no título judicial/extrajudicial que fixa a obrigação para que tal incidência ocorra.

Acompanhou esse posicionamento em 2013 a 4ª Turma do STJ, quando do julgamento do Recurso Especial nº 1.091.095/RJ de relatoria do ministro Luis Felipe Salomão. Concluiu o relator que, salvo disposição em contrário na decisão que estipula os alimentos, quando a verba alimentar é imposta em valor fixo, significa que os proventos do devedor foram observados apenas para averiguar as suas possibilidades no pagamento da obrigação, sendo indiferentes as oscilações dos seus rendimentos (para mais ou para menos). Importa, apenas, que o valor fixado seja entregue ao credor de alimentos na exata periodicidade estabelecida – mesmo que o devedor não tenha recebido proventos na data estipulada para o pagamento.

De todo modo, os alimentos devem respeitar a proporção das necessidades do credor e os recursos do devedor, de forma equilibrada. A pensão alimentícia não deve ser necessariamente atrelada ao acréscimo dos rendimentos do devedor quando o valor fixado é suficiente para suprir as necessidades do credor. Por isso, a decisão que determina a incidência de alimentos sobre tais variáveis deve levar em conta o que isso representa no cômputo total da obrigação alimentar.

BEATRIZ BISPO

21

Page 22: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Execução fiscal administrativa e arbitragem tributária como alternativas fora do Judiciário

JOÃO MARCOS HODECKER DE ALMEIDA

Acadêmico do 3º ano da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Segundo o relatório Justiça em Números, do CNJ, havia cerca de 31,1 milhões de execuções fiscais pendentes de baixa no Brasil em 2018, e, destes, apenas 10% se extinguiram ao término do referido ano. Em virtude da morosidade e da alta quantidade de processos, o PL nº 4257/2019 – em trâmite pela CCJ – almeja modificar a Lei nº 6.830/1980 para possibilitar, em casos específicos, o uso da arbitragem tributária e da execução fiscal administrativa, afastando-se a presença da esfera judicial em certas execuções.

O juízo arbitral seria uma opção nos casos de embargos de execução que pudessem ser satisfeitos pelo contribuinte mediante depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia. Dessa forma, em sentença favorável à fazenda, esta poderia imediatamente levantar o valor e extinguir o processo, sem necessitar do trâmite de averiguar ou alienar os bens do executado

para assegu rar o pagamento. Além da celeri dade do processo, a arbitragem tributária caracteriza-se também por sua publicidade, em oposição ao característico sigilo da arbitragem empresarial.

Por outro lado, a execução fiscal administrativa afastaria a esfera judicial ao estabelecer que o procedimento da execução ocorra na esfera executiva nos casos envolvendo tributos devidos em razão de propriedades, como o IPTU, IPVA e ITR. Desse modo, com-provada a inadimplência, a fazenda poderia imediatamente executar a dívida, tendo como garantia de pagamento a proprie dade. Vale dizer que este procedimento já é regulado pelo CTB, de modo que o PL apenas garante tal direito ao fisco.

Dono de animal morto durante o voo é indenizado por companhia aérea

GEOVANA VIDOTTI

Acadêmica do 4º ano do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA)

Decisão da juíza do 5º Juizado Especial de Brasília/DF condenou uma companhia aérea a indenizar o dono de uma cadela que morreu durante o transporte com destino a Manaus.

Segundo o autor, ao chegar no destino foi informado por um amigo sobre a morte de seu animal de estimação. Afirmou que o supervisor operacional de Brasília lhe disse que seria amparado e informado das etapas do processo de necropsia do animal. Entretanto, passados 26 dias do ocorrido, a ré não o contatou.

Procurada, a companhia aérea somente lamentou o ocorrido e enviou ao autor instruções para o preenchimento de um formulário de solicitação de indenização, no qual, segundo o autor, a requerida se isenta de maiores responsabilidades.

Nos autos, a empresa afirma que não há compro-vação de boa saúde do animal, alegando culpa exclu-siva do autor. Este, por sua vez, alega que tinha conhe-cimento da documentação exigida (apresentação do

atestado de saúde válido – emitido há menos de 10 dias – e da carteira de vacinação do animal atualizada) e os apresentou à ré antes do voo.

Na decisão, a juíza pontuou a falha na prestação de serviços, já que o autor contratou transporte de animais vivos e recebeu o animal morto. Ainda, considerou que o autor provou ter recebido as instruções necessárias para que o animal pudesse embarcar: “Se o animal embarcou, incontroverso que os referidos documentos foram entregues à ré, razão pela qual a responsabilidade pela vida do animal passou a ser da ré, enquanto durasse o transporte, até a entrega do animal ao dono ou responsável no local de destino”.

A empresa foi condenada ao pagamento da quantia de R$ 1.076,06 a título de danos materiais e R$ 3 mil a título de danos morais pela morte do animal.

“Na decisão, a juíza pontuou a falha na prestação de serviços, já que o autor contratou transporte de animais vivos e recebeu o animal morto.”

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

22

Page 23: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

Direito de propriedade não é absoluto em casos de condômino antissocial

Eletrificação dos veículos automotores: incentivos nacionais para a transição

MARIANA RAMOS

Acadêmica do 4º ano da Universidade Positivo

Nenhum direito é absoluto. No entanto, quando assegurados pela Constituição, em alguns casos, determinados direitos acabam sobressaindo sobre outros. O Direito de propriedade é garantia fundamental do ser humano, protegido constitucionalmente (art. 5º, inciso XXII) e entendido como o direito de usar, gozar e dispor de forma correta de um bem, atendendo a sua função social.

Em recente decisão, bastante incomum, o TJRJ (ação nº 0183751-55.2018.8.19.0001) determinou o afastamento de morador de condomínio por entender a inviabilidade do direito de propriedade prevalecer nos casos em que venha a causar riscos. No caso, o morador realizava constantes barulhos, dia e noite, através de gritos ou por meio de objetos, praticava ameaças e agressão verbal contra os funcionários do local, além de permitir o acesso de “pessoas estranhas” nas dependências, pondo em perigo os demais moradores.

Diante disso, houve ponderação entre os direitos (direito de propriedade x direito de vizinhança), prevalecendo no caso concreto o de vizinhança, pois consiste em regras que limitam o direito de propriedade a fim de evitar conflitos e respeitar o convívio social nos casos de abuso. O art. 1.277 do Código Civil prevê que “o proprietário ou o possuidor de um prédio tem direito de fazer cessar suas interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha”.

Demonstrado o risco que o morador apresentava a integridade física dos outros e dos funcionários, expondo ser uma pessoa que não consegue conviver em sociedade de forma pacífica, foi determinado pelo juízo o seu afastamento, proibindo-o de entrar no prédio, sob pena de multa diária, embora sem perder o direito da propriedade.

Acadêmico do 3º ano da Universidade Positivo

Reduzir os índices de poluição e aumentar a sustentabilidade do planeta estão entre os temas de maior relevância no cenário atual. Em sintonia com isso, o desenvolvimento de veículos auto motores elétricos avança rapidamente e diversos países passaram a conceder incentivos para esse processo de eletrificação. Assim, tem-se uma transi ção que engloba não somente a finitude do petróleo, mas a preocupação em reduzir a emissão dos gases dissipados por veículos, em especial, o dióxido de carbono (CO2).

Na onda dessa verdadeira revolução, a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná sancionou a Lei nº 19.971/2019, responsável por isentar veículos “equi-pados unicamente com motor elétrico” da alíquota de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Auto motores) até 31 de dezembro de 2022.Vale ressaltar que a Lei municipal de Curitiba nº 14.826 já confere incentivos para a desoneração tributária, a reserva de vagas de estacionamento e a instalação de postos para recarga de veículos elétricos. Outros estados brasileiros também concedem a isenção de IPVA para veículos elétricos, além de medidas como a isenção do rodízio ou de estacionamentos públicos regulamen tados.

Nesse sentido, a BR-277 (Paranaguá-Foz do Iguaçu) já conta com postos de recarga, tecnologia que vem sendo implantada também em outras rodovias brasileiras. Projetos como carregamento sem fio entre o veículo e a rodovia também vêm ganhando espaço, de modo que será possível trafegar sem se preocupar com a recarga. Países como Noruega, Itália e França já estipularam prazos para proibir em definitivo a comercialização de veículos a combustão, confirmando a tendência global.

MATEUS SANDMANN AFONSO

23

Page 24: René Ariel Dotti€¦ · Em 16 de outubro, a advogada Rogéria Dotti recebeu uma homenagem da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB Paraná. Rogéria, que atuou na coordenação-geral

▶ Lei nº 13.878, de 3 de outubro de 2019 (DOU de 03/10/2019)

▶ Estabeleceu os limites de gastos de campanha para as eleições municipais.

▶ Lei Estadual (PR) n 19.971, de 22 de outubro de 2019 (DOE de 22/10/2019)

▶ Estabeleceu normas sobre o tratamento tributário pertinente ao IPVA.

▶ Mais informações no artigo de MATHEUS AFONSO.

▶ Lei nº 13.894, de 29 de outubro de 2019 (DOU de 30/10/2019)

▶ Fixou a competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para a ação de divórcio ou dissolução de união nos casos de violência e para tornar obrigatória a informação às vítimas acerca da possibilidade de os serviços de assistência judiciária ajuizarem as ações mencionadas.

▶ Mais informações no artigo de THAIS GUIMARÃES.

▶ Lei nº 13.964/2019, de 24 de dezembro de 2019 (DOU de 24/12/2019)

▶ Aperfeiçoou a legislação penal e processual penal. ▶ Mais informações nos artigos de FERNANDA

MACHADO, LUIS OTÁVIO SALES, GUILHERME ALONSO, FERNANDA LOVATO, EDUARDO KNESEBECK, MAURO PACIORNIK, VICTORIA DE BARROS E SILVA e LARISSA ROSS.

▶ Lei nº 13.886, de 17 de outubro de 2019 (DOU de 18/10/2019)

▶ Alterou o Código de Trânsito Brasileiro e outras leis, para acelerar a destinação de bens apreendidos ou sequestrados que tenham vinculação com o tráfico ilícito de drogas.

▶ Resolução nº 305, de 17 de dezembro de 2019, do CNJ ▶ Estabeleceu os parâmetros para o uso das redes

sociais pelos magistrados. ▶ Mais informações no artigo de PEDRO GALOTTI.

EXPEDIENTE

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.2020. Direitos autorais reservados para Dotti e Advogados.

BOLETIM TRIMESTRAL DO ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI

Rua Marechal Deodoro, 497 | 13º andar. CEP 80020 320 | Curitiba - PRTel. 41 3306 8000. www.dotti.adv.br | [email protected]/Fevereiro/Março 2020. Ano 15 | Número 47 Tiragem: 2.100 exemplares

Impressão e acabamento: Optagraf

Projeto gráfico e design: thapcom.com

Produção: Argumento Comunicaçã[email protected]

Jornalistas responsáveis: Joana NeitschMaria Sandra Gonçalves

LEGISLAÇÃO – MUDANÇAS RELEVANTES*

* Coluna sugerida pelo advogado João Carlos Almeida

▶ Decreto nº 10.178, de 18 de dezembro de 2019 (DOU de 19/12/2019)

▶ Dispôs sobre os critérios e os procedimentos para a classificação de risco de atividade econômica e para fixar o prazo para aprovação tácita

▶ Mais informações no artigo de FRANCISCO ZARDO.

▶ Lei nº 13.967, de 26 de dezembro de 2019 (DOU de 27/12/2019)

▶ Alterou o art. 18 do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, para extinguir a pena de prisão disciplinar para as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências.

▶ Lei nº 13.968, de 26 de dezembro de 2019 (DOU de 27/12/2019)

▶ Alterou o Código Penal, para modificar o crime de incitação ao suicídio e incluir as condutas de induzir ou instigar a automutilação, bem como a de prestar auxílio a quem a pratique.

▶ Decreto nº 10.197, de 2 de janeiro de 2020 (DOU de 03/01/2020)

▶ Estabeleceu o Consumidor.gov.br como plataforma oficial da administração pública federal direta, autárquica e fundacional para a autocomposição nas controvérsias em relações de consumo.

▶ Mais informações no artigo de LAÍS BERGSTEIN e FERNANDA COELHO.

▶ Decreto nº 10.198, de 3 de janeiro de 2020 (DOU de 03/01/2020)

▶ Alterou o Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente e estabelece o processo administrativo federal para apuração dessas infrações.