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Ano 10 . nº 28 . Abril / Maio / Junho / 2015 Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. Guarda alternada X guarda compartilhada e a regulamentação da convivência Diana Geara A alternativa de pagamento de precatório via acordo direto é mantida pelo STF André Meerholz Relativização da independência de instâncias com fundamento no princípio da razoabilidade Ana Cristina Viana O novo crime de disponibilizar bebida alcoólica a criança ou adolescente Bruno Correia A garagem e a área privativa do imóvel: dever de informação Emilly Crepaldi “As manifestações populares transmitiram claras mensagens ao Congresso Nacional, que reúne Deputados e Senadores responsáveis, em função do voto, pelo exercício fiel dos mandatos que lhes são outorgados”. (Prof. René Ariel Dotti) René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero Luvizotto Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Emilly Crepaldi Bruno Correia . Ana Cristina Viana . Maria Vitoria Kaled Rafael Berzotti . Lorena Fadel . Fernanda Lovato

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Page 1: Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti · Conta bancária conjunta ... A Lei nº 13.097/2015 e a desnecessidade de intervenção judicial para extinção de contratos

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Ano 10 . nº 28 . Abril / Maio / Junho / 2015

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

Guarda alternada X guarda compartilhada

e a regulamentação da convivência

Diana Geara

A alternativa de pagamento de precatório

via acordo direto é mantida pelo STF

André Meerholz

Relativização da independência de instâncias

com fundamento no princípio da razoabilidade

Ana Cristina Viana

O novo crime de disponibilizar bebida alcoólica a criança ou

adolescente

Bruno Correia

A garagem e a área privativa do imóvel: dever de

informação

Emilly Crepaldi

“As manifestações populares transmitiram claras mensagens

ao Congresso Nacional, que reúne Deputados e Senadores

responsáveis, em função do voto, pelo exercício fiel dos mandatos

que lhes são outorgados”.(Prof. René Ariel Dotti)

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari

Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero LuvizottoLuis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães

Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Emilly CrepaldiBruno Correia . Ana Cristina Viana . Maria Vitoria Kaled

Rafael Berzotti . Lorena Fadel . Fernanda Lovato

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EDITORIAL

A revolução das redes sociais (final) (René Ariel Dotti) ............................................................................................................................................ 03

SEÇÃO INFORMATIVA

Comenda do Mérito Judiciário do Estado do Paraná .................................................................................................................................... 04Participação em eventos ......................................................................................................................................................................................... 04Participação em evento internacional ................................................................................................................................................................ 04Prêmio Mulher Destaque na Advocacia ............................................................................................................................................................. 04Projeto Direito ao Vivo ............................................................................................................................................................................................. 04Atividade docente ..................................................................................................................................................................................................... 05Curso sobre a Lei Anticorrupção .......................................................................................................................................................................... 05Curso da ESA ................................................................................................................................................................................................................ 05

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes ................................................................................................................................................................................................ 05

DIREITO ADMINISTRATIVO

Presidente da República e CGU regulamentam a Lei Anticorrupção (Francisco Zardo) .............................................................................. 06A alternativa de pagamento de precatório via acordo direto é mantida pelo STF (André Meerholz) ..................................................... 06Relativização da independência de instâncias com fundamento no princípio da razoabilidade (Ana Cristina Viana) ..................... 06ADIN nº 1923: a validade da prestação de serviços públicos não exclusivos por organizações sociais (Maria Vitoria Kaled) .......... 07

DIREITO CIVIL

Primeiras considerações sobre “compliance” (Julio Brotto) ................................................................................................................................. 07STJ decide que pretensão de cobrança de honorários advocatícios, entre advogados, é de 10 anos (Patrícia Nymberg) ............... 08Aspectos práticos da locação (José Roberto Trautwein) .............................................................................................................................................. 08Indenização por dano moral está livre de imposto de renda (Fernando Welter) ............................................................................................ 09Conta bancária conjunta (Vanessa Cani) .................................................................................................................................................................... 09Os sites de classificados gratuitos: é necessário controle prévio das ofertas? (Cícero Luvizotto) ............................................................. 09A responsabilidade do consumidor pela logística reversa (Laís Bergstein) ..................................................................................................... 10A garagem e a área privativa do imóvel: dever de informação (Emilly Crepaldi) ........................................................................................... 10Rede social é responsável por perfis que cria automaticamente (Rafael Berzoti) ......................................................................................... 11A Lei nº 13.097/2015 e a desnecessidade de intervenção judicial para extinção de contratos de compromisso de compra e venda de imóvel (Lorena Fadel) ........................................................................................................................................................... 11

DIREITO PROCESSUAL CIVILO novo CPC e a justiça do caso (Rogéria Dotti) .......................................................................................................................................................... 12

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Fim da audiência de ratificação nos divórcios consensuais (Fernanda Pederneiras) ....................................................................................... 12Namoro qualificado pela coabitação X união estável (Vanessa Scheremeta) .................................................................................................... 13Exclusão do sobrenome do marido falecido (Thais Guimarães) .......................................................................................................................... 13Guarda alternada X guarda compartilhada e a regulamentação da convivência (Diana Geara) ........................................................... 14

DIREITO CRIMINAL

Embriaguez ao volante: perigo constante? (Alexandre Knopfholz) .......................................................................................................................... 14Sonegação fiscal: qual valor pode ser visto como dano grave? (Gustavo Scandelari) .................................................................................... 15O crime e a violência relacionados ao futebol (Rafael de Melo) ........................................................................................................................... 15Superlotação carcerária e audiências de custódia (Luis Otávio Sales) ................................................................................................................ 16A omissão de socorro impossível (Guilherme Alonso) .............................................................................................................................................. 16O novo crime de disponibilizar bebida alcoólica a criança ou adolescente (Bruno Correia) ..................................................................... 17PLS 236/12: o projeto de um novo Código Penal (Fernanda Lovato) .................................................................................................................. 17

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

As figuras da parte “interessada” e “assistente de acusação” no Processo Penal (Vinícius Cim) ............................................................... 18Netiqueta e o direito à privacidade (David Edson da Silva dos Santos) ...................................................................................................................... 18Sancionado Estatuto da Pessoa com Deficiência no Paraná (Bianca Komar) ................................................................................................. 18O processo de impeachment (Willyam Guilherme Sandri Junior) ................................................................................................................................. 19Vítimas deverão fornecer URL’s de mensagens ofensivas (Francine Costa Pinto de Faria) ................................................................................. 19Condenados na AP 470 são impedidos de progredir de regime (Lincoln Machado Domingues) ................................................................... 19

ÍNDICE

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A REVOLUÇÃO DAS REDES SOCIAIS(final)

EDITORIAL

No editorial do último Boletim, eu comentei a revolução, entre os meios de comunicação, do fenômeno contemporâneo das redes sociais. Consta, do alu-dido texto, que “os historiadores atribuem ao pós-guerra (1939-1945) o desen-volvimento dos computadores eletrônicos, e nos dias correntes, a utilização da máquina inventada pelo americano HERMAN HOLLERITH produziu uma nova Revolução Industrial, agora em escala mundial. A geração de instrumentos, pro-dutos e programas que compõem os universos da informática e da cibernética caracterizou um novo paradigma das ciências sociais e humanas. Nasceu, en-tão, em tempos recentes, um dos mais poderosos meios de comunicação indi-vidual e coletiva: a rede social. Trata-se de uma estrutura integrada por pessoas e organizações conectadas por um ou vários tipos de relações que comparti-lham informações, opiniões, imagens e tudo o quanto possa ser abarcado pela palavra e pela estampa e pessoas e coisas”.

Pois bem. Os resultados extremamente positivos de 15 de março e 12 de abril deste ano, demonstraram o vigor desse novíssimo meio de interação pú-blica, incitando milhões de brasileiros individualmente, em grupos ou em famí-lias – e até com crianças – a deixarem a comodidade de suas casas, em dois do-mingos, para formarem, nas ruas de várias cidades brasileiras, extraordinárias marchas contra a corrupção e as mazelas do governo federal. E assim ocorreu, de maneira pacífica e na vibração cívica de inúmeras vozes, entoando o hino nacional e mãos e braços erguendo a bandeira do Brasil. O Editorial aplaude e homenageia todos quantos, em céu aberto, representaram os interesses funda-mentais da República, com destaque para os valores da cidadania e da dignida-de da pessoa humana em favor de uma sociedade justa e solidária.

As manifestações populares transmitiram claras mensagens ao Congresso Nacional, que reúne Deputados e Senadores responsáveis, em função do voto, pelo exercício fiel dos mandatos que lhes são outorgados. Na democracia re-presentativa, são eles que têm o dever de traduzir a vontade da mudança e implementar a esperança do eleitor nas exigências de ética política e de pro-gramas de transformação social e melhor qualidade de vida pessoal. Mas essa representação não constitui um monopólio dos parlamentares. Com efeito, a nossa lei fundamental proclama que “todo o poder emana do povo, que o exer-ce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Cons-tituição” (art. 1º, parág. ún.).

RENÉ ARIEL DOTTI

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SEÇÃO INFORMATIVA

Prêmio Mulher Destaque na Advocacia

Comenda do Mérito Judiciário do Estado do Paraná

Em 29/01/2014, o Professor RENÉ DOTTI foi agraciado com a Comenda do Mérito Judiciário do Paraná, em sessão do Tribunal Pleno do Tribunal de Justiça do Paraná.

A condecoração, instituída pela Resolução nº 19/2010 do Tribunal de Justiça do Paraná, tem por objetivo o reconhecimento público às pessoas físicas que tenham contribuído para o fortalecimento, valorização e dignidade do Poder Judiciário.

Na mesma data, foram igualmente agraciados com a Comenda o Desembar-gador Aposentado SÉRGIO ARENHART, os Ministros NÉFI CORDEIRO e SÉRGIO LUIZ KUKINA e o Professor LUIZ EDSON FACHIN.

No dia 24/03/2015, a Dra. ROGÉRIA DOTTI recebeu o Prêmio Mulher Destaque na Advocacia – 2014, em evento realizado no Shopping Novo Batel em parceria com o Conselho da Mulher Executiva da Associação Comercial do Paraná e a Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais - BPW.

No dia 24/03/2015, alunos do décimo período da Unibrasil participaram de um importante exercício de oratória e prática forense. O projeto Direito ao Vivo con-tou com a participação do Professor RENÉ DOTTI e dos Drs. LUIS OTÁVIO SALES e GUILHERME ALONSO.

Nos dias 24 e 27 de abril, o Dr. FRANCISCO ZARDO ministrou módulo sobre a Organização da Administra-ção Pública na Especialização em Direito Administrati-vo, coordenada pelo Professor FERNANDO MÂNICA, na Universidade Positivo.

Projeto Direito ao Vivo

Atividade docente

Participação em eventos Participação em evento internacional

No dia 24 de fevereiro, o Professor RENÉ DOTTI proferiu palestra no Centro Acadêmico Hugo Simas. O evento foi realizado no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ e o tema foi a carreira de docente.

Em março, a conferência foi no auditório da OAB/SP, com o tema “Deliberação Coletiva dos Jurados - Fim da incomunicabilidade e da de-cisão solidária”.

No mesmo mês, dia 31, os alunos da UNIBRASIL e convidados ou-viram a palestra sobre o livro “Ditadura – A Liberdade de não ter medo – Advocacia nos anos de Chumbo”.

Em abril, dia 10, esteve no Centro Acadêmico Ubaldino do Amaral, da UNIVERSIDADE POSITIVO, falando sobre a “Manifestação Popular nos regimes democráticos”. No dia 22, foi a vez do UNICURITIBA receber a conferência sobre o mesmo livro.

Em 11/02/2014, a Dra. LAÍS BERGSTEIN participou da “RLA Conference & Expo”, em Las Vegas/EUA, falando sobre a responsabili-dade do consumidor na realização da Logísti-ca Reversa no Brasil (“Consumer’s responsibility & participation on reverse logistics in Brazil”). Foi um evento promovido pela Reverse Lo-gistics Association, entidade que tem como missão educar e informar profissionais em todo o mundo sobre a importância ambiental e econômica da implementação de sistemas de logística reversa.

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LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado João Carlos de Almeida

Mudanças relevantes

» CRIANÇAS, ADOLESCENTES E BEBIDAS ALCOÓLICASLei nº 13.106, de 17/03/2015 (Publicada no DOU de 18/03/2015)Altera a Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) para tornar crime a conduta de “vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar bebida alcoólica a criança ou a adolescente” (art. 243), com pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além de introduzir a infração administrativa de descumprir a proibição de venda de bebidas a menor (art. 258-C), com pena de multa de 3 a 10 mil reais, interditando-se o estabelecimento comercial até o recolhimento do valor. 

» RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVADecreto nº 8.420, de 18/03/2015 (Publicado no DOU de 19/03/2015)Regulamenta a Lei no 12.846, de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências.Artigo Dr. Francisco Zardo – página 6.

» OBRIGATORIEDADE DE PRESTAR INFORMAÇÕES NA VENDA DE VEÍCULOSLei nº 13.111, de 25/03/2015 (Publicada no DOU de 26/03/2015)Dispõe sobre a obrigatoriedade de os empresários que comercializam veículos automotores informarem ao comprador o valor dos tributos incidentes sobre a venda e a situação de regularidade do veículo quanto a furto, multas, taxas anuais, débitos de impostos, alienação fiduciária ou quaisquer outros registros que limitem ou impeçam a circulação do veículo.

» IGUALDADE DE CONDIÇÕES AOS PAIS NO REGISTRO DE NASCIMENTO DO FILHOLei nº 13.112, de 30/03/2015 (Publicada no DOU de 31/03/2015)Altera a Lei dos Registros Públicos e autoriza a mulher a registrar nascimento do filho em igualdade de condições com o ho-mem. Ou seja, pai ou mãe, isoladamente ou em conjunto, devem proceder ao registro do filho no prazo de 15 dias.

» OBRIGATORIEDADE DE COMUNICAÇÃO DO FALECIMENTOLei nº 13.114, de 16/04/2015 (Publicada no DOU de 17/04/2015)Dispõe sobre a obrigatoriedade de os serviços de registros civis de pessoas naturais comunicarem à Receita Federal e à Secreta-ria de Segurança Pública os óbitos registrados.

Curso sobre a Lei Anticorrupção Curso da ESA

No dia 08/04/2014, os Drs. JULIO BROTTO e FRANCISCO ZARDO, jun-tamente com Dr. PAULO AFONSO DA MOTTA RIBEIRO, proferiram palestra no Curso sobre a Lei Anticorrupção, realizado pela Escola Superior de Ad-vocacia e Comissão dos Advogados Iniciantes da OAB/PR.

Nos dias 20, 21 e 22 de maio de 2015, a ESA promove-rá o curso “Temas Emergentes de Direito do Consumidor”, na OAB/PR. Serão abordados, ao longo de três encontros sucessivos, nove temas contemporâneos das relações de consumo, tais como a obsolescência programada, o ris-co do desenvolvimento, a logística reversa, os contratos bancários e a responsabilidade do fornecedor pelo tempo perdido. A Dra. LAÍS BERGSTEIN será uma das palestrantes.

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Presidente da República e CGU regulamentam a Lei Anticorrupção

Relativização da independência de instâncias com fundamento no princípio da razoabilidade

A alternativa de pagamento de precatório via acordo direto é mantida pelo STF

Em 19 de março de 2015 foi publica-do o Decreto nº 8.420, pelo qual a Presi-dente da República regulamentou a Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei Anticor-rupção, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela práti-ca de atos contra a administração pública.

Entre as virtudes do esperado Decre-to, destaca-se, primeiramente, a defini-ção de critérios objetivos para a fixação das multas, que, segundo a Lei, podem variar de 0,1% a 20% do faturamento bru-to ou de R$ 6.000,00 a R$ 60.000.000,00. Outro aspecto positivo foi o estabeleci-mento de parâmetros para a avaliação dos programas de integridade adotados pelas empresas, o chamado compliance, cuja efetividade pode atenuar significa-tivamente as sanções impostas.

Em 8 de abril, a Controladoria-Geral da União complementou o Decreto nº 8.420, mediante a publicação das se-guintes normas: a) Instrução Normativa nº 01/2015, que estabelece metodologia para apuração do faturamento bruto; b) Instrução Normativa nº 02/2015, que re-gula o cadastro nacional das empresas punidas; c) Portaria nº 909/2015, que dispõe sobre a avaliação dos programas de integridade; d) Portaria nº 910/2015, que define o procedimento para apura-ção da responsabilidade administrativa.

Estabelecido todo o arcabouço nor-mativo, espera-se que as empresas se adaptem a ele e que a Lei nº 12.846/2013 seja finalmente aplicada com vista à re-pressão dos atos considerados lesivos à administração pública.

FRANCISCO ZARDO

ANA CRISTINA VIANA

ANDRÉ MEERHOLZ

DIREITO ADMINISTRATIVO

No julgamento das ADI’s 4.357 e 4.425, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL reconhe-cera a inconstitucionalidade de alterações no regime de pagamento de precatórios introduzida pela Emenda Constitucional nº 62/2009. Não havia, contudo, posição quanto à modulação dos efeitos da de-cisão, o que tornava incerto aspectos de extrema relevância para a questão. Dentre eles, estava a validade do regime especial previsto pela emenda.

A questão foi solucionada pelo Ple-nário do STF, em sessão ocorrida em março de 2015. Entendeu a Corte por postergar em 5 (cinco) exercícios finan-ceiros a vigência do regime especial de pagamento, com início em 1º de janeiro de 2016. A posição mantém a obrigação de repasse pelos entes devedores de percentual mensal da receita corrente líquida para pagamento de precatórios, evitando que, no vácuo legislativo, hou-

vesse cessação no fluxo de recursos diri-gidos a este fim.

Uma vez assegurados os recursos para pagamento, a Corte deliberou também so-bre as operações de acordo direto (art. 97, §8º, III da ADCT). Quanto às já celebradas, entendeu: “3.1) consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à vista por ordem crescente de crédito previs-tos na Emenda Constitucional nº 62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir da qual não será possível a quitação de precatórios por tais modalidades. Ainda, manteve esta alternativa de pagamento de precatórios, limitando, todavia, a redução passível de ser aplicada sobre o crédito cons-tituído: 3.2) fica mantida a possibilidade de realização de acordos diretos, observada a ordem de preferência dos credores e de acor-do com lei própria da entidade devedora, com redução máxima de 40% do valor do crédito atualizado”.

De acordo com o art. 126 da Lei nº 8.112/1990, que rege o estatuto dos servidores públicos no âmbito da Ad-ministração Pública Federal, a respon-sabilidade administrativa do servidor público será afastada no caso de absol-vição criminal que nega a existência do fato ou sua autoria.

Em atenção a essa norma, tem sido pacífico o entendimento de que a ab-solvição na esfera criminal, no caso de inexistência de fato ou negativa de autoria enseja a absolvição também na esfera administrativa. Um entendi-mento que se estende a todos os âm-bitos da Administração Pública.

Afora essa situação, doutrina e ju-risprudência utilizam com frequência o art. 125 da citada Lei, para afirmar que há uma independência entre as instân-cias, e, em razão disso, o entendimento firmado em uma ação criminal nem sempre influencia a tomada de decisão da ação administrativa e vice-versa.

Mas, essa postura tem sido revista pelos Tribunais Superiores, que vêm, a cada dia, em suas deliberações, anali-sando casos em atenção às decisões de outras esferas. É o caso do Recurso em Habeas Corpus nº 33.827/RJ de relatoria do Ministro SEBASTIÃO REIS JUNIOR, julgado em 20/11/2014, no qual se des-tacou que, como o único fato que mo-tivou a penalidade administrativa resul-tou em absolvição no âmbito criminal, ainda que tenha sido por ausência de provas, a autonomia das esferas tem que ceder espaço à coerência que deve existir entre as decisões sancionatórias. O recurso foi, então, provido, demons-trando, assim, uma abertura de en-tendimento até então pacificado, com base no princípio da razoabilidade.

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ADIN nº 1923: a validade da prestação de serviços públicos não exclusivos por organizações sociais

Em 16 de abril de 2015, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL julgou parcialmente procedente a ADIn nº 1.923, para consi-derar constitucional a Lei nº 9.637/98 e o inciso XXIV do art. 24 da Lei de Licitações (8.666/93). De acordo com os autores da ação (PT e o PDT), a incompatibilidade das Organizações Sociais com o sistema constitucional se revela “pela inexistência de requisitos que atendam ao princípio da impessoalidade no processo de qualifica-ção”. Não obstante, o Tribunal, por maio-ria, acompanhou o voto condutor profe-rido pelo ministro LUIZ FUX, no sentido de que “o procedimento de qualificação

seja conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da Constituição Federal”.

Restou igualmente decidido que a celebração do contrato de gestão; a dis-pensa de licitação na forma do art. 24, inciso XXI, Lei nº 8.666/93; os contratos a serem celebrados com recursos públicos, bem como a seleção de pessoal pelas Organizações Sociais sejam todos con-duzidos de “forma pública, objetiva e im-pessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da Constituição Federal”.

Ademais, foi afastada qualquer in-terpretação que restrinja o controle da

aplicação de verbas públicas pelo Mi-nistério Público e pelo Tribunal de Con-tas. Em seu voto, FUX ressaltou que, “ao contrário do que ocorre com os serviços públicos privativos, o particular pode exer-cer tais atividades independentemente de qualquer ato negocial de delegação pelo poder público de que seriam exemplos os instrumentos da concessão e da permis-são mencionados no artigo 175, caput, da Constituição Federal”. A ministra CÁRMEN LÚCIA acrescentou a importância de um “ganho ao usuário do serviço público” prestado.

MARIA VITORIA KALED

Com o advento da nova Lei Anticor-rupção, ou Lei da Empresa Limpa, pare-ce ter sido inaugurada uma verdadeira corrida por parte de algumas empresas, no sentido de adotar mecanismos de compliance. Embora se trate de conceito há muito conhecido por multinacionais e grandes empresas, foi somente com a nova lei que a ideia passou a ser ampla-mente difundida no país.

Mas, o que é compliance?Trata-se de procedimento importado

do direito norte-americano, que visa as-segurar que as práticas da empresa este-jam de acordo ou em conformidade com as leis às quais essa empresa está sujeita.

Parece óbvio, mas a falta de aprofunda-mento sobre o tema por parte de alguns tem gerado distorções, sendo a mais comum aquela atrelada à ideia de que a adoção de um programa de compliance pode vir a “blindar” eventuais práticas ir-regulares da empresa.

Em realidade, a decisão pela adoção de um programa de compliance parte do amadurecimento da direção da empresa (“tone at the top”) que a leva a concluir que a companhia moderna não pode sobre-viver senão em regime de absoluto res-peito às normas. E para garantir que isso ocorra – e não para apresentar um papel, caso apanhada em um agir ilícito – é que o

programa pode e deve ser implementado. Outro equívoco comumente verifi-

cado reside na impressão de que a exis-tência de um programa de compliance garantiria o livramento da empresa en-volvida em alguma das condutas previs-tas na Lei 12.846/2013. O seu artigo 7°, inciso VIII, é claro ao dizer que a “existên-cia de mecanismos e procedimentos inter-nos de integridade” será levada em con-sideração na aplicação da sanção. Isto é, não se isenta a empresa de responsabili-dade; quando muito, atenua-se a pena a lhe ser aplicada.

Nos próximos boletins, voltaremos ao assunto.

Primeiras considerações sobre “compliance”

JULIO BROTTO

DIREITO CIVIL

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Inúmeras questões afetas ao térmi-no de um contrato de locação têm sido objeto de questionamentos no Poder Judiciário. Um dos primeiros pontos de divergência refere-se à forma do paga-mento do aluguel.

O art. 320 do Código Civil estabelece a necessidade de se obter um recibo de quitação, contendo a quantia entregue, a natureza da obrigação, os dados do credor e do devedor, assim como o local, tempo e a assinatura do recebedor.

Recentemente, a 12ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARA-NÁ, no julgamento da Apelação Cível nº 1.301.927-7, reconheceu a necessidade de se obter o recibo de quitação do alu-guel, já que a microfilmagem de cheques não poderia atingir tal finalidade.

Extrai-se do voto da eminente Desª IVANISE MARIA TRATZ MARTINS que “a quitação será válida desde que seus ter-mos ou circunstâncias resultar haver sido paga à dívida. Muito embora os Apelantes tenham apresentado (...) as microfilma-

gens dos cheques supostamente encami-nhados, via correio, ao credor, é incontes-tável que destas imagens não se verifica, indubitavelmente, a compensação dos valores, sequer especifica-se a finalidade do envio, quais seriam os débitos que se pretende quitar”.

Outra divergência verifica-se no de-ver do locatário proceder o pagamento das despesas de pintura do imóvel após a sua devolução.

O art. 23, III, da Lei nº 8.245/1991 obriga o locatário a restituir o imóvel, fin-da a locação, no estado em que o rece-beu, salvo as deteriorações decorrentes de seu uso normal.

No julgamento acima mencionado, entendeu-se que “É necessária a reali-zação de vistoria no imóvel, quando de sua devolução, a fim de se fazer prova da necessidade de realização de reparos e/ou pintura no imóvel. Não provada a ne-cessidade, não está o locatário obrigado a pintar o imóvel locado, sendo certo que é nula a cláusula do contrato de locação

que obriga o locatário a pintar o imóvel antes de devolvê-lo, sem prova de necessi-dade, por infringir o artigo 23, III, da Lei nº 8.245/1991”.

Daí a necessidade de ambas as par-tes estarem atentas a estes aspectos, evitando-se futuros aborrecimentos.

Aspectos práticos da locaçãoJOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

STJ decide que pretensão de cobrança de honorários advocatícios, entre advogados, é de 10 anos

PATRÍCIA NYMBERG

Conforme entendimento da 3ª Tur-ma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA, proferido no Recurso Especial nº 1.504.969-SP, relatado pelo Ministro RICARDO VILAS BÔAS CUEVA, o prazo prescricional aplicado em caso de rateio de honorários advocatícios é constante do art. 205, caput, do Código Civil, que é de dez anos.

O caso sob análise tratou de ação de arbitramento de honorários contratuais e de sucumbência recebidos em proces-so no qual houve prestação de serviço de advocacia em conjunto, isto é, de divisão

de verba honorária entre advogados au-tônomos que atuaram em colaboração.

Segundo o julgado, o prazo quinque-nal disposto no art. 25 do Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/1994) e no artigo 205, parágrafo 5º, inciso II do Código Civil aplica-se somente nas relações entre ad-vogado e cliente, não quando se trata de repartir honorários entre advogados. Para o ministro, a conclusão se verifica pela simples leitura dos referidos dispositivos, que mencionam, por várias vezes, os ter-mos “advogado”, “cliente”, “constituinte”, “acordo feito pelo cliente do advogado”,

“renúncia” e “revogação do mandato”.Quanto ao termo inicial, o acórdão res-

saltou que no sistema brasileiro a prescri-ção está submetida ao princípio da actio nata, consagrado no art. 189 do Código Ci-vil, segundo o qual o prazo se inicia com o nascimento da pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo. Ou seja, a pretensão para se buscar o percentual relativo aos honorários contratuais e de sucumbência inicia-se com o recebimento dos honorários pelo advogado.

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Indenização por dano moral está livre de imposto de renda

O ímpeto arrecadador do Estado, potencializado em períodos de difi-culdades econômicas, periodicamente volta a cobiçar as indenizações por da-nos morais. Não é incomum constatar descontos de imposto de renda sobre valores recebidos a esse título, apesar do entendimento já pacificado dos Tri-bunais Superiores.

Recentemente, uma cidadã flu-minense teve que recorrer ao Judici-ário para obter a restituição de valo-res indevidamente descontados pela União. Seu pleito foi acolhido por unanimidade pela Quinta Turma Es-pecializada do TRIBUNAL FEDERAL REGIONAL DA 2ª REGIÃO (autos nº 0005728-58.2007.4.02.5117).

O cerne da questão é definir se, na hi-pótese, há ou não acréscimo patrimonial a ensejar a incidência do imposto de ren-da. Nas indenizações por danos materiais a inexistência de aumento é facilmente verificável, já que se destina à mera re-composição de um patrimônio concreto que sofreu diminuição por um ilícito.

Nos danos morais, por sua própria natureza abstrata, tal conclusão não é tão evidente. É certo, porém, que a in-denização também se destina a recom-por um patrimônio – embora imaterial, composto por bens e valores ligados à personalidade humana. E o fato des-sa recomposição se dar sob forma de compensação pecuniária não autori-za a tributação do Estado, até mesmo porque a Constituição Federal garantiu, indistintamente, a plena e integral re-paração dos danos materiais e morais.

A conta bancária conjunta, que per-mite a mais de um titular o controle de operações, possui duas modalidades: a solidária e a simples. Enquanto a simples exige que as transações sejam aprova-das por todos os titulares para serem efetivadas, a solidária pode ser movi-mentada em conjunto ou isoladamente por um deles. Para esta espécie de conta conjunta, os titulares são solidários ativa e passivamente somente perante a insti-tuição financeira.

Esse entendimento ficou claro, quan-do do julgamento, pelo SUPERIOR TRI-BUNAL DE JUSTIÇA, do Recurso Especial nº 1.184.584, cuja situação fática tratada nos autos referia-se à penhora que re-caiu sobre o dinheiro que pertencia ex-clusivamente a um dos titulares da conta

conjunta, que não figurava como deve-dor perante terceiro em ação executiva proposta contra o outro titular.

De acordo com o voto condutor, da lavra do Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, “(...) quando existente prova de titularida-de exclusiva dos valores depositados por aquele que figura no polo passivo da execu-ção, é medida de rigor a desconstituição da constrição, mormente porque a solidarie-dade não se presume, devendo resultar da vontade da lei ou da manifestação de von-tade inequívoca das partes (art. 265 CC).

Assim, se um dos titulares da conta conjunta não for responsável por dívida contraída pelo outro, perante terceiros, não poderá ter seu capital atingido, sobretudo quando comprovar que o dinheiro existen-te em conta somente a ele pertence.

Conta bancária conjunta

VANESSA CANI

FERNANDO WELTER

Os sites de classificados gratuitos: é necessário controle prévio das ofertas?

Nos últimos anos, o comércio feito por meio da rede mundial de compu-tadores vem ganhando cada vez mais adeptos.

As justificativas para o crescimento desse modal são inúmeras. A possibili-dade de efetuar as compras a qualquer momento, a tranquilidade de comprar sem ter que enfrentar filas nas lojas e o aumento do acesso à rede mundial de computadores são alguns dos principais fatores para a expansão desse mercado.

Tanto é verdade que, nos últimos anos, surgiram inúmeros sites que con-vidam os consumidores a anunciar mer-cadorias das quais pretendam desape-gar-se, popularizando ainda mais essa modalidade de comércio.

Ocorre, todavia, que a falta de con-trole das informações apresentadas pe-los pretensos vendedores vem causando discussões no meio jurídico, na medida

em que existem notícias de vários casos de venda de produtos roubados, bem como situações nas quais os anúncios são fraudulentos.

Com relação a este último, existe recente decisão proferida pelo Juízo da 6ª Vara Cível de Goiânia, que entendeu que a empresa que oferta a plataforma para os anúncios não pode ser respon-sabilizada pelas informações indicadas pelos internautas, cabendo a ela apenas que exclua o conteúdo tão logo tenha conhecimento da fraude. No caso con-creto, um terceiro, valendo-se dos dados pessoais de outra pessoa, fez um anún-cio fraudulento que lhe ocasionou dis-sabores, já que por muito tempo, ficou recebendo ligações de interessados no produto ofertado.

O tema, ainda muito polêmico, cer-tamente terá diversos desdobramentos junto ao Poder Judiciário.

CÍCERO LUVIZOTTO

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Em Acórdão de relatoria do Ministro MARCO BUZZI, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA manteve decisão que havia concedido aos autores da ação a restitui-ção de valor referente à área privativa de imóvel não entregue. No caso em refe-rência (Recurso Especial nº 1139285/DF), a área total prometida pela Imobiliária vendedora se referia à soma da unidade habitacional e da vaga de garagem individual.

Embora o Juízo de primeiro grau tenha entendido que a vaga de garagem compreende “área real de uso comum”, determinan-do, então, a devolução do valor a ela referente, o STJ fez importan-te diferenciação.

Conforme entendeu a Corte Superior, “a vaga de garagem só deve ser considerada área comum de condomínio edilício quando

não se vincular a uma unidade residencial específica e, consequentemente, não se destinar ao uso exclusivo do proprietário dessa unidade, podendo ser usada, assim, por todos os condôminos”. Caso contrário, “a vaga de garagem pode (ii.a) constituir apenas um direito acessório ou (ii.b) con-figurar-se como unidade autônoma, caso

em que terá registro próprio em cartório.”No entanto, no caso concreto, con-

quanto se estivesse diante de vaga de garagem individualizada, pertencente, portanto, privativamente aos autores da ação, a condenação da imobiliária foi mantida. Isso porque os comprado-res do imóvel não foram devidamente

informados que a área privati-va referia-se à soma da vaga de garagem e da unidade habita-cional. Diante disso, houve clara violação ao princípio da trans-parência, que deve ser especial-mente respeitado nas relações de consumo. O STJ fez referên-cia, inclusive, à “praxe do merca-do imobiliário brasileiro”, no qual usualmente os informes publici-tários fazem sempre menção à área privativa do apartamento em si.

A garagem e a área privativa do imóvel: dever de informação

Como já disse o célebre ex-presi-dente norte-americano JOHN F. KEN-NEDY, em 1962, os consumidores, por definição, somos todos nós. A Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consu-midor) reconhece a vulnerabilidade do consumidor em face dos fornecedores de produtos ou serviços, assegurando--lhe direitos e garantias que visam ree-quilibrar essa relação.

A despeito dessa reconhecida vulne-rabilidade, a legislação civil lhe atribui, também, algumas responsabilidades. Um importante exemplo é a obrigatorie-dade da realização da logística reversa, imposta pela Lei nº 12.305/2010, que

institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e regulamentada pelo Decreto nº 7.404/2010.

Os consumidores são obrigados, sempre que estabelecido sistema de co-leta seletiva ou quando instituídos siste-mas de logística reversa, a acondicionar adequadamente e de forma diferencia-da os resíduos sólidos gerados e a dis-ponibilizar adequadamente os resíduos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução. Ou seja, somos responsáveis por contribuir com a correta destinação do lixo resultante do consumo.

As penalidades, em caso de inob-servância dessa norma, são previstas

na Lei nº 9.605/1998 e no Decreto nº 6.514/2008. O consumidor que não ob-servar a Lei estará sujeito a uma adver-tência formal e, em caso de reincidên-cia, à aplicação de multa, no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) até R$ 500,00 (quinhentos reais). Na cidade de São Pau-lo, por exemplo, as sacolinhas plásticas dos supermercados agora possuem duas cores diferentes (verde para material re-ciclável e cinza para o lixo comum) e a fiscalização do descarte adequado está sendo feita tanto por amostragem quan-to a partir de denúncias à prefeitura.

A responsabilidade do consumidor pela logística reversa

LAÍS BERGSTEIN

EMILLY CREPALDI

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Rede social é responsável por perfis que cria automaticamente

RAFAEL BERZOTI

A Lei nº 13.097/2015 e a desnecessidade de intervenção judicial para extinção de contratos de compromisso de compra e venda de imóvel

No mês de fevereiro do corrente ano entrou em vigor o disposto no art. 62 da Lei nº 13.097/2015, que altera a norma do art. 1º do Decreto-Lei nº 745/1969, o qual dispõe sobre os contratos de com-promisso de compra e venda e cessão de direitos de imóveis não loteados, acres-centando-o um novo parágrafo.

Na sua redação original, art. 1º do DL 745 determinava que, com relação aos contratos de compromisso de compra e venda de imóvel, mesmo que constasse cláusula resolutiva expressa, a constitui-ção em mora do promissário comprador dependeria de prévia interpelação, ju-

dicial ou extrajudicial, com pelo menos quinze dias de antecedência. Nada dis-punha sobre o reconhecimento da reso-lução, levando a crer que ela deveria ser realizada em juízo após a constituição em mora.

Entretanto, com a inserção do pará-grafo único ao art. 1º do DL 745, passou--se a permitir expressamente a extinção de pleno direito dos contratos de com-promisso compra e venda de  imóveis, isto é, sem necessidade de recorrer ao Poder Judiciário. Isso só será possível se houver cláusula resolutiva expressa, mantendo-se a necessidade de prévia

interpelação para a constituição em mora (“Nos contratos nos quais conste cláusula resolutiva expressa, a resolução por inadimplemento do promissário com-prador se operará de pleno direito (art. 474 do Código Civil), desde que decorrido o prazo previsto na interpelação referida no caput, sem purgação da mora” (Pará-grafo único do art. 1º do DL 745, incluído pelo art. 62 da Lei 13.097/2015”).

Esta alteração legislativa simplificará a retomada do imóvel pelo vendedor e reduzirá o número de demandas no Ju-diciário com esta finalidade.

LORENA FADEL

As ferramentas de check-in permi-tem aos usuários das redes tornarem públicas em seus perfis informações re-lativas a lugares frequentados. Quando um usuário faz check-in em certo esta-belecimento comercial, a rede cruza as informações que possui do usuário com as do estabelecimento.

Sucede que nem todas as empresas têm perfis ativos nas redes. É evidente: possuir um perfil, e.g., no Facebook, é uma faculdade do empresário; não um dever. E, se não há dever, não há direito correlato: a rede social não pode criar perfil de quem não o deseje possuir.

A despeito da obviedade da asser-ção, o Facebook, segundo parece, se re-serva a prerrogativa de criar perfis auto-maticamente, sem a permissão do titular do comércio. Se determinado usuário

faz check-in em um estabelecimento que não faz parte da rede, esta gera um perfil do estabelecimento “com base em as-suntos de interesse dos usuários.” E, ain-da que a rede deixe claro que a página “não é endossada por nenhuma pessoa associada ao tópico”, tirá-la do ar é tare-fa das mais difíceis. As exigências feitas pelo Facebook para excluir certo conteú-do não fazem inveja a nenhum balcão da burocracia estatal.

Não raro, perfis de empresas criados automaticamente confundem marcas e nomes empresariais, dando ensejo a questionamentos judiciais. Há casos em que se chega a cogitar mesmo de con-corrência desleal, com base na Lei nº 9.279/1996.

A questão que cabe é a seguinte: se o perfil foi criado de modo automático, a

quem atribuir o ilícito? E a única resposta aceitável é a que dirá da imputação ao Facebook. Redes sociais não podem criar perfis sem permissão. Se o fazem e daí advém dano, é de responsabilidade ob-jetiva pelo risco da atividade que se esta-rá a falar (art.927, p.u., do CCB).

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Em recente julgado (Recurso Especial nº 1.483.841/RS), o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA entendeu não mais se justi-ficar a realização de audiência de ratifi-cação nas Ações de Divórcio Consensual.

O recurso foi interposto pelo Minis-tério Público do Rio Grande do Sul bus-cando anular a sentença homologatória de divórcio consensual por ausência de realização de audiência de ratificação.

Para o Ministro Relator, MOURA RI-BEIRO, cujo voto foi acompanhado por unanimidade pelos demais Ministros da Terceira Turma, a Emenda Constitucional nº 66 de 14/07/2010, popularmente cha-

mada de PEC do divórcio, acabou com a discussão da culpa pelo fim da união e com a necessidade de lapso temporal para a dissolução completa do vínculo conjugal. Assim, segundo o acórdão, as legislações infraconstitucionais (Art. 40, §2º, da Lei nº 6.515/1977 – Lei do Divór-cio, e art. 1.122, §1º, §2º do Código de Processo Civil), que previam a realização de audiência de conciliação/ratificação para a averiguação dos motivos da sepa-ração e do transcurso de tempo para o divórcio, passaram a ter redação confli-tante com a nova redação constitucional (art. 226, §6º, CF/88).

Salientou o D. Relator que, nos casos de divórcio consensual, onde não há lide, caberá ao Estado uma mínima in-tervenção. E a intenção do legislador foi justamente simplificar a ruptura do vín-culo matrimonial. Portanto, os dispositi-vos infraconstitucionais devem ser inter-pretados em observância à nova ordem constitucional e a ela se adequar.

Como bem ponderou o Ministro “em razão de não mais haver que se apurar cau-sas da separação para fins de divórcio, não cabe a referida audiência, por se tornar le-tra morta”, porquanto tal ato teria cunho meramente formal, sem nada a produzir.

Fim da audiência de ratificação nos divórcios consensuais

O novo CPC e a justiça do caso

O novo Código de Processo Civil, ins-tituído pela Lei nº 13.105, de 16 de mar-ço de 2015, veio para resolver de uma vez o conflito de interesses, isto é, para asse-gurar a justiça do caso, na bela expressão cunhada por CARLOS ALBERTO ALVARO DE OLIVEIRA. Ele procura, assim, evitar decisões tipicamente processuais que ex-tinguem o processo por pequenas falhas processuais, sem julgar o mérito. Tais decisões, tão comuns no sistema atual, nada esclarecem a respeito do direito das partes. Geram, assim, insatisfação e descrédito. Afinal, para que serve o Po-der Judiciário senão para dizer quem tem razão?

Nesse sentido, a cooperação entre partes e magistrado constitui uma das metas do novo sistema. E, o objetivo, nos termos do art. 6º, é claramente obter uma decisão de mérito justa e efetiva. Vê--se, aqui, uma premissa para que o pro-cesso civil atinja seus objetivos (análise da questão de fundo, obtenção de justi-ça e efetividade).

Outra importante novidade é o combate à jurisprudência defensiva, isto é, aos critérios extremamente rígidos e não previstos em lei para a admissão dos recursos. Pressionados pelo excesso de trabalho, muitos tribunais passaram a entender que pequenas irregularida-

des impediriam o julgamento de mérito, criando, com isso, um triste cenário de denegação de justiça. Alterando esse contexto, a nova lei prioriza, agora, o exame do mérito e determina que os ví-cios processuais sejam sanados.

Trata-se de importante mudança de rumo. Afinal, para os jurisdicionados, o que importa é o julgamento do mérito, ou seja, o exame da justiça do caso (Ex-pressão empregada por CARLOS ALBER-TO ALVARO DE OLIVEIRA in Estudos de direito processual civil/ LUIZ GUILHERME MARINONI coordenador. São Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2005, p. 438).

ROGÉRIA DOTTI

FERNANDA PEDERNEIRAS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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A existência de namoro qualificado pela coabitação não é suficiente para o reconhecimento de união estável, con-forme decidiu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA no Recurso Especial nº 1.454.643/RJ. No caso, as partes namoravam e che-garam a morar juntas, fora do país, antes de noivarem. Ainda neste período, um deles adquiriu um imóvel que serviria de

residência do casal quando do casamen-to, celebrado posteriormente.

Após dois anos sobreveio a separa-ção e a ex-esposa pleiteou o reconheci-mento da união estável no período an-terior às núpcias, o que faria com que o apartamento anteriormente adquirido pelo ex-marido viesse a integrar a parti-lha de bens.

Como bem destacado pelo Relator, Ministro MARCO AU-RÉLIO BELLIZZE, na hipótese a coabitação deu-se por contin-gências e interesses individuais de cada um – ela, para estudo fora do país, e ele, a trabalho – sendo, inclusive, fato bastante comum hodiernamente.

Depois, o objetivo de cons-tituição de família deve ser

presente e imediato, o que ali não ocor-reu. A despeito de terem estreitado seu relacionamento através da convivência sob o mesmo teto, as partes projetavam para o futuro a intenção de constituir um núcleo familiar através do matrimônio. E, como consta do voto, para a caracte-rização da união estável “O propósito de constituir família (...) deve se afigurar pre-sente durante toda a convivência, a par-tir do efetivo compartilhamento de vidas, com irrestrito apoio moral e material entre os companheiros. É dizer: a família deve, de fato, restar constituída”.

Assim, nos termos do referido julga-do, apesar de a coabitação ser um indício relevante, não é suficiente de per si para a configuração da união estável, devendo haver a intenção presente de constitui-ção de família.

Namoro qualificado pela coabitação X união estável

VANESSA SCHEREMETA

No início deste ano, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS deu provi-mento ao recurso de uma viúva, que, após o falecimento do marido e com o término da sociedade conjugal, bus-cou em ação de retificação de registro civil a exclusão do patronímico (sobre-nome) do falecido (Apelação Cível nº 1.0433.12.007508-3/001). Os nomes e prenomes são imutáveis, eis que con-sistem em atributos intrínsecos à perso-nalidade das pessoas e essenciais à sua identificação.

Após evolução jurisprudencial, le-gislativa e doutrinária, a imutabilidade

do nome restou relativizada, eis que, conforme art. 57 da Lei nº 6.015/1973: “a alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audi-ência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e pu-blicando-se a alteração pela imprensa (...)”.

O Relator do Recurso, Desembarga-dor DÁRCIO LOPARDI MENDES, ao defe-rir o pedido da viúva de retornar a utili-zar seu nome de solteira, salientou que a alteração “deve ocorrer em casos excep-cionais, exigindo, para tanto, motivação suficiente, por força do princípio da inalte-

rabilidade do nome, que é atributo de or-dem pública, visto que inerente à própria personalidade, como sinal exterior pelo qual se designa ou individualiza a pessoa”. Ademais, “vê-se, pois, que, cessada a so-ciedade conjugal pela morte do ex-cônju-ge, nada impede que a viúva mantenha ou suprima, em seu nome, o patronímico do finado marido. Se judicialmente suprimido este, ocorre a óbvia consequência da volta ao uso, por ela, no nome de solteira. Toda-via, a supressão do sobrenome do falecido marido não influirá no estado civil dela, que continuará, a toda evidência, a ser o de viúva”.

THAIS GUIMARÃES

Exclusão do sobrenome do marido falecido

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Com as alterações implementadas pela Lei nº 13.058/2014, denominada “Lei da Guarda Compartilha”, muitas dis-cussões sobre o exercício da guarda e a regulamentação de convivência entre pais e filhos foram retomadas.

Neste sentido, diante das habituais confusões conceituais, é fundamental a distinção entre as modalidades de guar-da Alternada e Compartilhada.

A guarda alternada estabelece um re-vezamento dos filhos entre os genitores, por períodos determinados (semanas, meses, anos), visto que um dos genitores terá a guarda exclusiva dos filhos duran-

te tempos preestabelecidos, com a regu-lamentação de visitas em favor do outro.

Já na guarda compartilhada, há a ma-nutenção da cogestão da autoridade pa-rental, ou seja, os pais, mesmo separados, tomarão conjuntamente as decisões rela-tivas à vida dos filhos. Aliás, o Código Civil (com a redação da Lei nº 11.698/2008) prevê que, na guarda compartilhada, há a “responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernen-tes ao poder familiar dos filhos comuns”.

No que diz respeito à regulamenta-ção da convivência entre pais e filhos na

guarda compartilhada – a qual é extre-mamente necessária, a nova lei inovou ao inserir o termo “tempo de convívio” e ao delinear que este “deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos”.

Portanto, visto que o Código Civil dis-põe que a guarda compartilhada deverá ser em regra aplicada (com as exceções já pontuadas neste periódico de nº 27), também para a regulamentação do tem-po de convivência deverá ocorrer uma análise do caso concreto, vislumbrando sempre o melhor interesse do infante.

Guarda alternada X guarda compartilhada e a regulamentação da convivência

DIANA GEARA

O crime de embriaguez na condução de veículo automotor está previsto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro. Após algumas alterações legislativas, tal tipo penal tem atualmente a seguinte redação (Lei nº 12.760/2012): “Conduzir veículo au-tomotor com capacidade psicomotora alte-rada em razão da influência do álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência.” A pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e sus-pensão ou proibição de se obter a permis-são ou a habilitação para dirigir.

Da análise do texto legal, verificam-se duas características relevantes: a desne-cessidade de aferição de grau mínimo de alcoolemia para a configuração do crime e a necessidade de que a embriaguez altere a capacidade psicomotora do condutor. Em relação à primeira, muito se tem fala-do e, não raro, pessoas são consideradas embriagadas quando paradas em blitz

policiais apenas pelo odor etílico. Quanto à segunda, porém, pouco se comenta.

Ocorre que, pelo teor do tipo penal, o crime de embriaguez exige que a in-gestão de bebidas alcóolicas cause al-teração da capacidade psicomotora do motorista. Em outras palavras: é atípica – e, portanto, não criminosa – a condu-ta daquele que bebe mas não tem suas capacidades psicológica e motora alte-radas. Assim, diferentemente do que se imagina, a condução de veículos após ingestão de álcool, por si só, não é crime; será delituosa a conduta apenas se esse consumo cause alteração psicomotora.

Essa conclusão, antes exclusiva da doutrina, foi recentemente aceita pelo Poder Judiciário. Neste sentido, o TRI-BUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, no julgamento da Apelação Criminal nº 0001291-31.2013.8.26.0438 (Rel.: FIGUEI-REDO GONÇALVES) decidiu: “A lei pode

criminalizar a direção de veículo depois de ingestão de bebida alcoólica; contudo, se condiciona o ilícito-típico à alteração da capacidade psicomotora, não podendo presumi-la contra as regras da Medicina Legal, havendo de ser demonstrada em cada situação”. No caso, mesmo com tes-te de alcoolemia positivo (ingestão de 1,02 mg/l de álcool), o acusado – parado em uma blitz sem qualquer sinal de des-coordenação motora – foi absolvido.

Embriaguez ao volante: perigo constante? ALEXANDRE KNOPFHOLZ

DIREITO CRIMINAL

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Sonegação fiscal: qual valor pode ser visto como dano grave?

GUSTAVO SCANDELARI

Quando o juiz que preside uma causa criminal profere sentença condenatória, uma de suas atribuições é fixar a pena (dosimetria). Na primeira fase dessa ta-refa, ele deverá analisar as oito circuns-tâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal. Uma delas diz respeito às consequências do crime. Assim, se o dano do crime for mais grave do que o normal, a pena poderá ser aumentada; se for um dano comum ao crime em questão, não refletirá na pena. Mas, e quando o crime é de sonegação fiscal, qual valor não re-colhido pode ser considerado uma con-sequência grave? Depende.

Para o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAN-

TA CATARINA, em caso de sonegação de ICMS, o valor mínimo que configuraria um grave dano à coletividade (Lei nº 8.137/90, art. 12, I) seria de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) (Apelação Crimi-nal nº 2014.91285-6; Julgamento em 24/02/2015). Todavia, em caso de tribu-tos federais, a Portaria nº 320/2008, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, em seu art. 2º, I, considera “grandes deve-dores” aqueles cujos débitos tenham va-lor igual ou superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais); já no seu art. 14, determina que débitos em valor igual ou maior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) entrem em regime de acom-

panhamento especializado. O Superior Tribunal de Justiça, sobre isso, entende que representaria grave dano à socieda-de o tributo federal sonegado que ultra-passe esta última quantia (AgRg no REsp 1282542; DJe: 28/08/2014).

Mas o fato é que a lei não determi-na limite algum. Nesse cenário, a rigor, a análise necessariamente deve passar pelas condições patrimoniais da vítima, no caso, o ente público que receberia o tributo não pago. A comparação da dúvida com o valor devido pela maioria dos demais contribuintes/réus também pode ser um importante critério.

O crime e a violência relacionados ao futebol

RAFAEL DE MELO

Desde 2010, ano da mais expressiva alteração do Estatuto do Torcedor, que a violência e criminalidade têm sido com-batidas com mais energia.

Entretanto, nem a forma mais enérgi-ca está se demonstrando suficiente. Gra-ves episódios de violência continuam ocorrendo em todo o país.

É verdade que o aprimoramento le-gislativo sobre o tema, ainda se demons-tra insuficiente para reprimir e desestimu-lar práticas desta natureza, mas esta não é a causa da ineficiência no combate ao problema. A falta de real envolvimento das instituições relacionadas ao desporto é a principal razão da dificuldade em aca-bar com o quadro de violência.

O artigo 1°A da Lei nº 10.671/2003, conhecida como Estatuto do Torcedor, estabelece que “a prevenção da violên-cia nos esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federa-

ções, ligas, clubes, associações ou entida-des esportivas, entidades recreativas e as-sociações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daque-les que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos”.

Inobstante o texto legal, a realidade demonstra que o descumprimento do dispositivo ocorre abertamente. Não há união de esforços pelas instituições mencionadas. E quando há, não é eficaz.

O poder público, principal responsá-vel pela manutenção da segurança do cidadão, omite-se em nome da dificulda-de estrutural. As associações de torcedo-res assumem compromissos genéricos e superficiais, esquivando-se posterior-mente de participação em conflitos e beneficiando-se, por vezes, do anonima-to dos infratores.

Tal como estes exemplos, cada en-

tidade referida no artigo transcrito tem uma justificativa para escapar da respon-sabilização. Entretanto, cada vez mais, o verdadeiro torcedor e apreciador do es-petáculo não consegue escapar do dis-tanciamento do estádio, de sua paixão, do futebol.

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A omissão de socorro impossível

Superlotação carcerária e audiências de custódia

GUILHERME ALONSO

LUIS OTÁVIO SALES

Segundo o art. 17 do Código Penal e a jurisprudência, o crime impossível caracteriza-se quando o agente emprega meio absolutamente ineficaz ou objeto impróprio, “de modo que o bem juridica-mente tutelado não sofra qualquer lesão ou ameaça de lesão” (STF, HC 121945/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ 13/06/2014). Não se pode afirmar, portanto, que alguém que tente envenenar um inimigo com água, pensando se tratar de veneno, deva responder por tentativa de homicídio.

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, porém, em recente precedente, firmou entendimento quanto ao crime de omis-

são de socorro (e à sua aplicação, como causa de aumento de pena, no homicí-dio) que pode suplantar a definição aci-ma transcrita. No julgamento do Habeas Corpus nº 269.038/RS, relatado pelo Mi-nistro FELIX FISCHER, o STJ reconheceu que a omissão de socorro não pode ser afastada “ao argumento de que houve a morte instantânea da vítima”. De acordo com o julgamento, a conduta que se exi-ge “tem por fundamento a obrigação de o agente intentar esforços para minimizar as consequências de sua conduta culposa”, indicando que a razão da norma seria a “necessidade de observância da solidarie-

dade nas relações sociais”.O que se deve questionar no entendi-

mento é o fato de que o bem jurídico tu-telado nas figuras de omissão de socorro é a vida e não a solidariedade nas relações sociais. Assim, caso se aplique o entendi-mento do STJ em um acidente automobi-lístico de que tenha decorrido o incêndio do veículo da vítima sem a prestação de auxílio por motorista infrator que pudes-se fazê-lo, será possível a sua condenação por omissão de socorro de um cadáver, caso se comprove que o fogo por ele ig-norado não foi a causa do óbito.

O Brasil tem a quarta maior popula-ção carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (2,2 milhões), da Chi-na (1,6 milhões) e da Rússia (740.000). Es-tima-se que aproximadamente 574.000 pessoas estejam presas no país, dentre as quais 40% em caráter provisório. Se-gundo levantamento do Ministério da Justiça, em 21 anos (janeiro de 1992 a junho de 2013) o número de presos au-mentou 403,5%, enquanto a população cresceu 36%.

Felizmente, a superlotação carcerá-ria (perversa por suas condições sub--humanas e degradantes imanentes) tem recebido atenção cada vez maior do Poder Judiciário. O CONSELHO NA-CIONAL DE JUSTIÇA, em parceria com o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO e o MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, lançou em 6 de fevereiro passado um projeto intitulado “audiência de custódia” para garantir que presos em flagrante sejam apresentados

a um juiz no prazo máximo de 24 horas. Trata-se da criação de uma estrutura multidisciplinar nos Tribunais de Justiça que receberá presos em flagrante para uma primeira análise sobre o cabimento e a necessidade de manutenção dessa prisão ou a imposição de medidas alter-nativas ao cárcere. “O juiz decide vendo a pessoa à sua frente e não com base em um amontoado de papéis den-tro dos autos de um pro-cesso”, explicou o Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, atual presidente do STF e do CNJ.

A iniciativa é um im-portante passo para a humanização do sistema prisional, especialmente quanto aos presos provi-sórios, cuja culpa ainda se discute. O projeto será estendido aos demais Es-

tados, conforme acordo de cooperação técnica firmado em 08 de abril passado entre o CNJ e o Ministério da Justiça. Em março passado, o Presidente do TRIBU-NAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ anunciou a formação de uma comissão “para fazer um estudo mais profundo da viabilidade de implantação de um projeto piloto de Audiência de Custódia no Paraná”.

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O novo crime de disponibilizar bebida alcoólica a criança ou adolescente

FERNANDA LOVATO

BRUNO CORREIA

Desde a edição da Lei das Contraven-ções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941), a conduta de servir bebida alcoólica a menor de 18 anos era definida como contravenção penal – infração leve, nos termos do art. 61 da Lei nº 9.099/1995 (Juizados Especiais).

Com o advento do Estatuto da Criança e Adolescente (Lei nº 8.069/1990 – ECA), passou-se a criminalizar, com pena de 6 meses a 2 anos de prisão – posteriormen-te aumentada para 2 a 4 anos – a conduta de “vender, fornecer ainda que gratuita-mente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes pos-sam causar dependência física ou psíqui-ca, ainda que por utilização indevida” (art. 243), dentre os quais não se inclui o álco-ol, conforme regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

No último dia 18 de março, foi publi-cada a Lei nº 13.106/2015, que alterou o

art. 243 do ECA para inserir as bebidas alcóolicas na previsão legal do crime em questão. A alteração legislativa busca punir os infratores com mais rigor – pela quantidade da pena, são inaplicáveis os benefícios da Lei nº 9.099/95 – e, conse-quentemente, reduzir a incidência desse tipo de ilícito (de acordo com o Segun-do Levantamento Nacional de Álcool de

Drogas, realizado em 2012, 31% da po-pulação brasileira teve acesso a bebidas alcoólicas antes da maioridade).

Como as condutas previstas para configurar o delito foram mantidas, qualquer forma de disponibilização de bebidas a menores pode configurar o crime, desde a venda até o oferecimento gratuito de um único gole ou dose.

PLS 236/12: o Projeto de um novo Código Penal

Voltado a instituir um novo Código Penal e de autoria do Senador JOSÉ SAR-NEY, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 236/12 tramita há mais de dois anos e ca-minha rapidamente – em especial pelo contexto reformista atual – para apro-vação. O texto, diversas vezes revisado, foi para votação em 17 de dezembro de 2014. Como houve pedido de vista, es-tima-se que será novamente votado em 2015, motivo pelo qual se suscita, incan-savelmente, a viabilidade dessa reforma.

Por tratar-se de mudança normativa de tamanho significado, desde a apre-sentação do projeto original inúmeras críticas foram dirigidas à proposta. Con-

siderado um projeto de lei autoritário e pautado por marketing pela grande maioria dos cientistas do Direito, alega--se que o produto final que deve seguir para votação apresenta graves defeitos de técnica legislativa, sendo composto por uma Parte Geral altamente defeitu-osa. MIGUEL REALE JUNIOR, crítico tenaz do projeto, afirmou, em audiência públi-ca no Senado, que “O projeto passeia pelo absurdo. Este código traz um novo tipo de direito: o esotérico. É uma mescla de des-conhecimento político e jurídico”.

O texto, por um lado, eleva as penas de diversos crimes, amplia o rol de cri-mes hediondos, aumenta o tempo para

progressão de regime na execução da pena privativa de liberdade, “cria” no-vos crimes como o bullying e o stalking (perseguição persistente), enfim, endu-rece o ordenamento; por outro, traça linha liberal, com a “descriminalização” do consumo não ostensivo de drogas, a ampliação das hipóteses de aborto e a possibilidade de perdão judicial para a eutanásia.

O projeto do novo Código deverá ser debatido em audiências públicas até o fim deste semestre, sendo que o senador PEDRO TAQUES, atual relator, acredita que a nova votação ocorrerá até outubro de 2015.

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BIANCA KOMARAcadêmica do 2º ano da PUC-PR

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOSSancionado Estatuto da Pessoa com Deficiência no Paraná

Dados da ORGANIZAÇÃO DAS NA-ÇÕES UNIDAS estimam que uma em cada dez pessoas apresentam algum tipo de deficiência. Porém, a pessoa com deficiência, como qualquer cida-dão, tem direito a uma vida normal, com acesso à saúde, à educação, à in-formação, ao trabalho e ao lazer. Nota-damente, tais devem ser respeitados por todos e em qualquer situação.

A Lei nº 18.419/2015, que estabele-ce o Estatuto da Pessoa com Deficiência do Estado do Paraná, foi sancionada, para aumentar ainda mais a inclusão social e garantir plena cidadania às pes-soas com deficiência.

A legislação é composta por 277 ar-tigos que tendem a viabilizar uma série de direitos descritos na Convenção In-ternacional da Pessoa com Deficiência, adotada pela ONU em 2006. O texto foi elaborado com a participação de insti-tuições, pessoas com deficiência e fa-miliares e aborda diretrizes em diversas áreas, que proporcionam o bem-estar social e econômico das pessoas com deficiência.

O documento concentra leis fede-rais sobre os direitos da pessoa com deficiência e também alguns itens que não estavam protegidos. Um exemplo é a obrigatoriedade, para shopping centers e restaurantes, de designar 5% dos lugares acessíveis para refeição nas praças de alimentação para uso prefe-rencial das pessoas com deficiência, em rota acessível. Além disso, o artigo 155, do estatuto prevê que shoppings e es-tabelecimentos similares deverão, obri-gatoriamente, conceder cadeiras de ro-das para pessoas com deficiência física, devendo haver ao menos cinco unida-des disponíveis, em conformidade com as normas de acessibilidade em vigor.

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

As figuras da parte “interessada” e “assistente de acusação” no processo penal

Conforme o art. 24 do Código de Pro-cesso Penal, a titularidade da ação penal pública pertence ao Ministério Público. Verifica-se, contudo, que frequentemente é possível identificar uma vítima concreta do delito processado, principalmente em crimes patrimoniais ou contra a vida, por exemplo. Nesses casos, não é só interesse do Estado, representado pelo órgão mi-nisterial, o processamento da ação penal, mas sim da própria parte lesada.

A fim de melhor amparar a parte ofendida, criou-se, jurisprudencialmen-te, a figura do “interessado”, que, embora não prevista no CPP, possibilita o acesso e acompanhamento ostensivo do pro-cedimento criminal, bem como, even-tualmente, a participação nos seus atos, inclusive em sede de Inquérito Policial.

De forma mais ampla, o CPP prevê, em seus arts. 268 e seguintes, a possibi-lidade da vítima participar ativamente

do processo, uma vez habilitada como “assistente de acusação”. Em tal posição, é direito da parte atuar de forma ativa no processo, podendo produzir meios de prova, perguntar às testemunhas, for-mular pedidos de diligência, apresentar petições, inclusive alegações finais, assim como interpor recursos de maneira sub-sidiária ao titular da ação penal (o MP).

Dessa forma, a participação no pro-cesso na qualidade de assistente de acusação possibilita, também, o ressarci-mento e/ou a indenização de danos so-fridos em razão do delito, sendo, portan-to, uma posição mais vantajosa do que simplesmente a de interessado. Vale di-zer, toda vítima de crime pode, queren-do, por meio de advogado legalmente constituído, habilitar-se como assistente de acusação no processo, atuando em assistência à acusação para a persecução penal pretendida.

VINÍCIUS CIM | Acadêmico do 5º ano da PUC-PR

Netiqueta e o direito à privacidade

Com o advento das redes sociais as opiniões pessoais ganharam protago-nismo. Por vezes a ascensão da opinião pessoal excede o bom senso, a ponto de ofensas graves serem proferidas contra o sujeito que exerce seu direito de expres-são e manifesta sua ideologia política, sua crença, ou sua liberdade sexual.

A Netiqueta - que é o conjunto de boas maneiras e normas gerais de bom senso que proporcionam o uso da inter-net de forma mais amigável, eficiente e agradável - é esquecida, pois alguns usuários agem como se não houvesse responsabilidade civil pelos seus atos quando praticados online, ou seja, de forma não presencial.

Aliás, novas redes sociais e aplicati-vos surgem com o intuito de influenciar as pessoas para que aumentem sua ex-periência de superexposição, pergun-tando e respondendo questões de foro íntimo e com a possibilidade de praticar

estes atos de forma anônima, o que agra-va o problema. Os mais utilizados são se-cret, formspring, kiwi e Ask.fm. Nestes ca-sos o problema se inicia quando alguém se torna motivo de chacota e exposição, sem saber de onde vem o ataque.

Vale lembrar que a Constituição Fede-ral garante a livre manifestação do pen-samento, mas veda o anonimato (CF Art. 5º, inc. IV). E declara a intimidade como inviolável (CF Art. 5º, inc. X). O Código Civil também garante os direitos da per-sonalidade e alega que são passíveis de defesa judicial (CC Art. 12). Também exige que o poder judiciário atue, a pedido do interessado, para impedir ou fazer cessar a violação à vida privada (CC Art. 21).

A pessoa exposta pode entrar com ação cível, por dano moral, e/ou penal, por crime contra a honra. Os infratores podem ser identificados com a quebra de sigilo do aplicativo ou rede social e consequentemente, penalizados.

DAVID EDSON DA SILVA DOS SANTOS | Acadêmico do 3º ano da PUC-PR

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Vítimas deverão fornecer URL’s de mensagens ofensivas

FRANCINE COSTA PINTO DE FARIAAcadêmica do 4º ano da UNIBRASIL

A internet é uma rede mundial que possibilita a propagação rápida de infor-mações. Por isso, tornou-se ferramenta indispensável para a comunicação da sociedade, deixando nossas vidas mais dinâmicas. Além disso, acaba por ser um ambiente democrático onde as pes-soas - independentemente de sua ori-gem - podem livremente se expressar. No entanto, essa ferramenta traz alguns ônus: esta liberdade de expressão, so-mada à segurança do anonimato, pode corroborar para uma onda de ataques e manifestações contra pessoas e opiniões diferentes.

Foi o que ocorreu com o prefeito da cidade de Tapejaras, no Rio Grande do Sul, que ajuizou ação cautelar com pe-dido de liminar contra internautas que o ofenderam. O pedido feito era para que o Google fizesse o rastreio e a identifica-ção dos IP’s dos computadores de onde partiram as ofensas. O TRIBUNAL DE JUS-TIÇA DO RIO GRANDE DO SUL acolheu os pedidos, ainda estipulou multa diária caso houvesse descumprimento.

Diante disso, o Google recorreu ao STJ, que reformou a decisão. A terceira turma decidiu que, para haver a identifi-cação dos IP’s de onde partiram as ofen-sas, o ofendido deverá fornecer os ende-reços das páginas onde são encontrados os conteúdos (URL’s).

O Relator, Ministro JOÃO OTÁVIO NORONHA, em seu voto, ressaltou que os provedores de hospedagem devem manter um controle dos dados de seus usuários. Todavia, não há obrigatorieda-de em controlar o conteúdo dos posts. NORONHA destacou, ainda, que as de-clarações ofensivas são de caráter sub-jetivo. Desta forma, cabe ao ofendido pontuar quais foram os conteúdos que efetivamente atingiram sua honra subje-tiva e, para tanto, deve, inclusive, forne-cer as URL’s.

Condenados na AP 470 são impedidos de progredir de regime

LINCOLN MACHADO DOMINGUES | Acadêmico do 3º ano da PUC-PR

A ação penal nº 470 ganhou noto-riedade por ter sido o processo em que alguns dos envolvidos no chamado esquema do “mensalão” foram conde-nados. Ao total, ocorreram, à época, 24 condenações, com penas que abrange-ram o período de pouco mais de dois a trinta e sete anos e alguns meses.

Alguns dos condenados no caso, por questões inerentes a seus regimes de cumprimento de pena, não se en-contram presos, e sequer chegaram a ser recolhidos algum dia. Entretanto, tal sorte não é a de todos os sentenciados. Pois alguns, mais especificamente PE-DRO HENRY, ROGÉRIO LANZA TOLEN-TINO e PEDRO CORRÊA, ao pleitearem recentemente o benefício da progres-são de regime, não obtiveram decisão favorável por parte do STF. Isso porque o Supremo determinou que os mesmos permaneçam a cumprir pena sob o re-gime semiaberto, por não satisfazerem

todos os requisitos da almejada pro-gressão, mais precisamente o de não ter adimplido com a pena de multa.

Com efeito, o acórdão, que negou o pedido feito pelos condenados, foi proferido, por maioria de votos, pelo pleno do STF, que manteve a decisão monocrática anteriormente tomada pelo Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO. A fundamentação, em síntese, decor-re do art. 118, § 1°, da Lei de Execução Penal, que prevê que o condenado que “não pagar, podendo, a multa cumula-tivamente imposta” poderá regredir de regime. Ressalvadas, entretanto, as hi-póteses em que o sentenciado não pu-der, efetivamente, adimplir com a pena pecuniária a ele aplicada.

O único ministro que não acompa-nhou o entendimento dos demais foi Marco Aurélio, que afirmou que o inadim-plemento da multa não obsta a progres-são de regime de cumprimento de pena.

O processo de impeachmentWILLYAM GUILHERME SANDRI JUNIOR | Acadêmico do 3º ano da Universidade Positivo

O ano de 2015 está sendo marcado por mobilizações da massa brasileira contra o Governo Federal. A principal reivindicação dos brasileiros é o Impea-chment do Presidente da República. Ou-ve-se dos brasileiros diversas opiniões inconsistentes sobre o Impeachment. O presente artigo visa esclarecer em que consiste este instituto jurídico.

O Impeachment, previsto na Cons-tituição Federal e regulado pela Lei nº 1.079/1950, é um processo que visa à perda do cargo do Presidente, Ministros de Estados e do STF, Procurador-Geral da República, Governadores e Secre-tários Estaduais. O Presidente poderá sofrer a perda de seu cargo, caso aten-te contra: a existência da União; o livre exercício dos Poderes Legislativo, Judi-ciário e Constitucionais dos Estados; o exercício dos direitos políticos, indivi-duais e sociais; a segurança interna do país; a probidade na administração; a lei

orçamentária; a guarda e o legal empre-go dos dinheiros públicos; e o cumpri-mento das decisões judiciárias.

Qualquer cidadão poderá denun-ciar o Presidente, com a documenta-ção comprobatória, perante a CÂMARA DOS DEPUTADOS, órgão responsável pelo juízo de admissibilidade da de-núncia. Se decretada a acusação, o Pre-sidente será automaticamente afastado e o Vice-Presidente assumirá o cargo, a denúncia será encaminhada ao SENA-DO FEDERAL para julgamento, o qual será presidido pelo Presidente do STF.

Se o Vice-Presidente tiver sido cas-sado, o presidente da Câmara assumirá o cargo interinamente. Neste cenário, se impeachment ocorrer nos dois pri-meiros anos do mandato, o Congresso convocará eleição direta em noventa dias, caso ocorra na segunda metade do mandato, o Congresso elegerá o novo presidente em trinta dias.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Abril / Maio / Junho / 2015Ano 10 | Número 28

Tiragem: 2.000 exemplares Foto da capa: Guilherme Alonso

Impressão e acabamento: Maxi Gráfica

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.

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