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Momento de comprovação da idade para fins de concurso público Ano 13 . nº 39 . Janeiro / Fevereiro / Março 2018 Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. Compliance para startups, pequenas e médias empresas? Ana Cristina Viana Plano de saúde e período de carência Giuliane Gabaldo A exigência de fundamentação concreta das decisões judiciais Bruno Correia STF: impossibilidade de condução coercitiva na fase de investigação Fernanda Lovato Fernanda Machado “A leitura é para a mente o que o exercício é para o corpo”. RICHARD STEELE (1672-1729) Político e dramaturgo irlandês René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter Gustavo Scandelari . Vanessa Cani . Cícero Luvizotto Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara Bruno Correia . Ana Cristina Viana . Fernanda Lovato Giuliane Gabaldo . Fernanda Machado

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Momento de comprovação da

idade para fins de concurso público

Ano 13 . nº 39 . Janeiro / Fevereiro / Março 2018

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

Compliance para startups, pequenas e

médias empresas?

Ana Cristina Viana

Plano de saúde e período de

carência

Giuliane Gabaldo

A exigência de fundamentação concreta

das decisões judiciais

Bruno Correia

STF: impossibilidade de condução

coercitiva na fase de investigação

Fernanda LovatoFernanda Machado

“A leitura é para a mente o que o exercício é

para o corpo”.

RICHARD STEELE (1672-1729) Político e dramaturgo irlandês

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter

Gustavo Scandelari . Vanessa Cani . Cícero LuvizottoLuis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães

Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara Bruno Correia . Ana Cristina Viana . Fernanda Lovato

Giuliane Gabaldo . Fernanda Machado

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EDITORIAL

Alguns males da leitura digital (René Ariel Dotti) ...................................................................................................................................................... 03

PENSAMENTO .............................................................................................................................................................................................................................. 03

SEÇÃO INFORMATIVA .................................................................................................................................................................................................................. 04

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes ............................................................................................................................................................................................... 05

DIREITO CIVIL

O STJ e os valores de indenização (Rogéria Dotti) ................................................................................................................................................... 06O seguro no âmbito do STJ (Julio Brotto) ................................................................................................................................................................... 06Prescrição para ação de cobrança não quita a dívida (Patrícia Nymberg e Fernando Welter) ............................................................................... 07Posso acionar diretamente a seguradora do causador do acidente de trânsito? (Vanessa Scheremeta) ................................................. 07Nova fase do BACEN JUD: efetividade (José Roberto Trautwein e Laís Bergstein) ....................................................................................................... 08A obrigação do fiador na prorrogação do contrato de aluguel (Patrícia Martinelli e Vanessa Cani) ................................................................. 08Ofensas na internet: quem pode ser responsabilizado (Cícero Luvizotto) ........................................................................................................ 09Plano de saúde e período de carência (Giuliane Gabaldo) ..................................................................................................................................... 09

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Separação obrigatória de bens e a incomunicabilidade dos aquestos (Fernanda Pederneiras) .................................................................. 10Partilha de bens construídos em imóvel de terceiros (Thais Guimarães) .......................................................................................................... 10Sinais exteriores de riqueza e a influência na fixação de alimentos (Diana Geara) ..................................................................................... 11

DIREITO ADMINISTRATIVO

A instituição do programa de conversão de multas ambientais (Francisco Zardo) ....................................................................................... 11A regulação das criptomoedas (André Meerholz) ..................................................................................................................................................... 12Compliance para startups, pequenas e médias empresas? (Ana Cristina Viana) ............................................................................................ 12Momento de comprovação da idade para fins de concurso público (Fernanda Machado) ......................................................................... 13

DIREITO CRIMINAL

O princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública (Alexandre Knopfholz) ............................................................ 13O indulto natalino (Gustavo Scandelari) ........................................................................................................................................................................ 14Quais infrações são cometidas quando se dirige sob o efeito do álcool? (Luis Otávio Sales)..................................................................... 14A legitimidade da polícia na colaboração premiada (Guilherme Alonso) .......................................................................................................... 15A exigência de fundamentação concreta das decisões judiciais (Bruno Correia) ......................................................................................... 15STF: impossibilidade de condução coercitiva na fase de investigação (Fernanda Lovato) ......................................................................... 15A Justiça Restaurativa na esfera criminal (Anna Ashley Delima) ............................................................................................................................. 16Autorizada abertura de investigação a partir de denúncia anônima (Eduardo Knesebeck) ......................................................................... 16

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

União pode decretar a indisponibilidade de bens sem autorização judicial (Alexsandro Ribeiro Martins) ................................................ 17A possibilidade de penhora de saldo de previdência privada (Aline Cristina Benção) .................................................................................... 17Medidas coercitivas atípicas em execução de alimentos (Lucas Davi Braz) ..................................................................................................... 18O voo atrasou. E agora? (Brenda Silveira) ..................................................................................................................................................................... 18A quebra de sigilo fiscal (Paulo Thiago Lechenakoski)................................................................................................................................................... 19O acesso do advogado ao Inquérito Policial (Rodrigo Ribeiro) ............................................................................................................................. 19

ÍNDICE

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ALGUNS MALES DA LEITURA DIGITAL

EDITORIAL

A leitura digital é realizada por meio de suportes tecnológicos, ou seja, mídias eletrônicas, redes sociais, blogs e outras plataformas. As vantagens desse novíssimo processo de interação humana alcançam as pessoas onde estiverem, perto ou distan-te. Ignorar essa realidade seria tapar o sol com a peneira. Seria desprezar os imensos benefícios gerados no cotidiano de milhões de indivíduos. Seria ignorar a primavera árabe caracterizada por protestos, revoltas e revoluções populares que derrubaram velhos governos autoritários no Oriente Médio e no Norte da África, sem os meios e instrumentos convencionais de guerra.

Diferentemente, os textos gravados em papel, revolucionaram o mundo a partir do Século XV, com JOHANNES GUTENBERG (1398 -1468) e a máquina de impressão em tipos móveis. É a leitura grafada num objeto material distinto do monitor onde se registram sinais e figuras.

Discute-se muito o futuro da leitura digital para substituir inteiramente a outra, ou seja, os exercícios de pensar e redigir, com texto próprio da imaginação, um livro, uma carta ou outra manifestação escrita. Obviamente é muito mais fácil mandar um e-mail do que usar o serviço convencional do correio, com selo no envelope. Mas quanto às imagens e textos científicos, artísticos e literários, a leitura no monitor é suficiente para fruir o conteúdo emocional das palavras, para admirar as cores da paisagem, para contemplar a figura de seres humanos e animais? Jamais.

A propósito, recomendo a leitura de um best seller: The shallows: What the Internet is doing to our brains (A geração superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros) do escritor americano e membro do conselho editorial de consultores da Enciclopédia Britânica, NICHOLAS CARR (1959-). Há edição em português pela AGIR (2011).

Reproduzo um lúcido trecho: “As dádivas são reais. Mas elas têm um preço. Como sugeriu McLuhan, os meios não são meramente canais de informação. For-necem o material para o pensamento, mas também moldam o processo do pen-samento. E o que a net parece estar fazendo é desbastar a minha capacidade de concentração e contemplação. Quer eu esteja on line quer não, a minha mente agora espera receber informação do modo como a net a distribui: um fluxo de par-tilhas em movimento veloz. Antigamente eu era um mergulhador em um mar de palavras. Agora deslizo sobre a superfície como um sujeito com um jet ski”. (P. 19. Negritos e itálicos meus).

Afinal, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. A Internet é um apoio, uma bengala para se andar com mais segurança e rapidez. Mas não passa de um equipamento inteligente de comunicação, informação e diálogo de perguntas e respostas. Não ofe-rece a chave para abrir a imaginação, que é a reserva indevassável da alma. Faça uma aposta consigo mesmo: pense em redigir uma carta de amor.

RENÉ ARIEL DOTTI

“A leitura é para a mente o que o exercício é para o corpo”.

RICHARD STEELE (1672-1729). Político e dramaturgo irlandês.

PENSAMENTO

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A revista “Análise Advocacia 500” publica, anualmente, a lista dos escri-tórios e os advogados mais admirados do Brasil com base em pesquisas feitas com mais de 1.800 grandes empresas.

A DOTTI E ADVOGADOS foi reco-nhecida em todas as edições da pes-quisa, sempre entre os 3 primeiros lu-gares nacionais.

A classificação dos escritórios e dos advogados é dividida em 3 cate-gorias de atuação: full service, abran-gente e especializado.

Em 2017, o ESCRITÓRIO PRO-FESSOR RENÉ DOTTI, com atuação abrangente, figura na 1ª colocação nacional na área de Direito Penal e na 1ª colocação dos escritórios mais admirados, categoria abrangente, no Estado do Paraná.

Individualmente, o Professor RENÉ ARIEL DOTTI figura em primeiro lu-gar como penalista mais admirado de 2017 na categoria abrangente nacio-nal e está, na mesma colocação, no Es-tado do Paraná.

O advogado GUSTAVO SCANDE-LARI figura individualmente em 1º lugar na categoria penal abrangente Nacional e em 2º lugar na categoria abrangente Estadual. O advogado ALEXANDRE KNOPFHOLZ figura em 3º lugar nas citadas categorias.

ANÁLISE ADVOCACIA 500 – 2017

SEÇÃO INFORMATIVA

Em 20/11/2017, o Professor RENÉ ARIEL DOTTI participou do lançamento do livro “O julgamento de Otelo, o Mouro de Veneza” e do I Seminário de Direito e Literatura, no Tribunal do Júri de Curitiba. Na ocasião, palestrou sobre “o encontro entre a ciência criminal e a arte do teatro”.

Em evento realizado no dia 24 de novembro, o TRIBUNAL REGIO-NAL ELEITORAL DO PARANÁ ou-torgou ao Professor RENÉ ARIEL DOTTI a Comenda do Mérito Elei-toral, em razão de sua atuação em prol do aperfeiçoamento da Justiça Eleitoral do Paraná, quan-do integrou a Corte no período de 23/09/1975 a 07/08/1980. No evento, proferiu palestra sobre “os desafios e a contribuição democráti-ca da Justiça Eleitoral”.

No dia 9 de novembro, o Professor RENÉ ARIEL DOTTI esteve em Teresina/PI, proferindo a palestra de abertura do 47º Encontro do Colégio de Corregedo-res dos Tribunais Regionais Eleitorais do Brasil, sobre o tema “Desafios e a contri-buição democrática da Justiça Eleitoral”. Na manhã do mesmo dia, a Assembleia

Legislativa do Piauí outorgou ao Profes-sor DOTTI a Medalha do Mérito Legisla-tivo pelos relevantes serviços prestados em defesa da democracia do Brasil. À noite, o Professor RENÉ ARIEL DOTTI foi agraciado com o Colar do Mérito Ju-diciário do Tribunal de Justiça do mesmo Estado.

No dia 1º de dezembro, o Profes-sor RENÉ ARIEL DOTTI palestrou no X Encontro do Colégio de Dirigentes das Escolas Judiciárias Eleitorais (CO-DEJE), realizado em Campo Grande/MS. O tema abordado foi “os desafios e a contribuição democrática da Justiça Eleitoral”.

O Encontro reuniu Magistrados e servidores de Tribunais Regionais Elei-torais de todo o país e debateu assun-tos para o desenvolvimento dos proje-tos executados pelas Escolas Eleitorais.

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LEGISLAÇÃOMudanças relevantes

Decreto nº 9.179, de 23/10/2017 (Publicado no DOU de 24/10/2017)

Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente e estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, para dispor sobre conversão de multas.Confira maiores informações no arti-

go do advogado FRANCISCO ZARDO.

Lei nº 13.505, de 08/11/2017(Publicada no DOU de 09/11/2017)

Altera a Lei Maria da Penha (nº 11340/2006), para “dispor sobre o direi-to da mulher em situação de violência doméstica e familiar de ter atendimento policial e pericial especializado, ininter-rupto e prestado, preferencialmente, por servidores do sexo feminino”.

Lei nº 13.546, de 19/12/2017 (Publicada no DOU de 20/12/2017)

Altera o Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9503/1997), para dispor sobre crimes cometidos na direção de veí-culos automotores.Confira maiores informações no arti-go do advogado LUIS OTÁVIO SALES.

O Professor RENÉ ARIEL DOTTI esteve, no dia 29/11/2017, na XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, realizada em São Paulo, e participou do even-to especial “Duelo de Ideias – Direito Penal”, como deba-tedor do primeiro painel, sobre audiência de custódia.

No dia 5 de dezembro, os advogados RENÉ ARIEL DOTTI e FRANCISCO ZARDO participaram da Compliance Week realizada pela empresa Votorantim S/A, palestrando sobre a Lei Anticor-rupção. O evento foi promovido pela empresa e contou com a participação de 400 jovens profissionais. Na imagem, os pales-trantes e o Diretor da empresa, LUIZ CARUSO.

A advogada ROGÉRIA DOTTI participou do III Colóquio Luso-Brasileiro de Direito Processu-al Civil, nos dias 2 e 3 de novembro, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Na ocasião, palestrou sobre “medidas atípicas na efetivação da tutela provisória”.

Em 10 de novembro, a advogada ROGÉRIA DOTTI proferiu pa-lestra sobre “tutela de evidência no novo CPC” no Congresso Nacio-nal do Novo CPC, Etapa Joinville.

O advogado GUSTAVO SCANDELARI ministrou, em 26 de janeiro, aula sobre Introdução à Teoria do Delito na Pós--Graduação em Direito Penal e Processual Penal do UNICURITIBA.

No dia 14 de novembro o advogado ANDRÉ MEERHOLZ esteve em São Paulo ministrando aula no módulo de Regulação de Infraestrutura da disciplina de Regulação Econômica, do curso de graduação da Fundação Getúlio Vargas – Direito SP.

O tema central foi a discussão do objeto de seu livro “Pré-Sal: O modelo regulatório e a neutralização da doen-ça holandesa”, passando pela delimitação de infraestru-tura, a relevância de sua regulação no processo de cres-cimento das economias, a técnica de regulação jurídica e econômica do really responsive risk-based regulation.

A advogada ANA CRISTINA VIANA conquistou, no últi-mo dia 27 de outubro, a 3ª colocação no Concurso de Artigos do XXXI Congresso Brasileiro de Direito Administrativo, reali-zado em Cuiabá/MT, com trabalho realizado sobre a temáti-ca de controle da corrupção e mecanismos de participação social. A coordenadora da Comissão do Concurso ressaltou a qualidade dos 30 trabalhos apresentados e que eles “pos-suem temática relevante e alto grau de profundidade”.

O concurso de artigos é promovido anualmente pelo Instituto Brasileiro de Direito Administrativo e o Congresso é considerado o maior da área no país.

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O STJ e os valores de indenização

O seguro no âmbito do STJ

O STJ não costuma rever os valores de indenização fixados pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais Estaduais. Há, nesse sentido, uma orien-tação jurisprudencial segundo a qual o reexame implicaria nova análise das provas constantes dos autos, o que é ve-dado pela Súmula 7 (A pretensão de sim-

ples reexame de prova não enseja recurso especial).

Contudo, no dia 28/11/2017, ao exa-minar o Recurso Especial nº 1.655.016, a 2ª Turma do STJ reconheceu que a in-denização de R$ 6.000,00 fixada pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO era ínfima e, portanto, comportava ma-

joração. Tratava-se de dano moral sofrido por uma adolescente que, equivoca-damente confundida com uma assaltante, fora condu-zida pela guarda municipal à delegacia, mediante o uso de algemas, na parte de trás de viatura policial, com ex-posição de sua imagem e maus tratos.

Diante da insignificância do valor e considerando as circunstâncias fáticas expostas na própria decisão recorrida, o STJ majorou a indenização para R$ 18.000,00 (dezoito mil reais). Em seu voto, o Relator Ministro HERMAN BEN-JAMIN justificou: “analisar qual seria o valor mais adequado no caso concreto de-manda reexame de fatos e provas, obsta-do pelo teor da Súmula 7/STJ. Entretanto, considero que a diminuição do valor rea-lizado pelo Tribunal gerou um quantum ínfimo, entendimento também esposado pelo Parecer do Ministério Público Federal”.

Tal decisão alinha-se com o correto entendimento de que a Corte Superior deve rever o montante das indenizações quando considerar que os valores são exorbitantes ou insignificantes.

ROGÉRIA DOTTI

JULIO BROTTO

DIREITO CIVIL

No final de 2017, a Secretaria de Ju-risprudência do STJ divulgou um resu-mo das principais teses debatidas em julgamentos diversos atinentes à maté-ria de seguros naquela Corte. Embora não constituam repositórios oficiais de jurisprudência, para o que não se presta-riam à configuração de dissídio jurispru-dencial, o trabalho constitui importante fonte de consulta para estudiosos e ope-radores do Direito, notadamente porque derivado de exaustiva pesquisa sobre os julgados junto às Turmas competentes.

Dentre as teses publicadas, os jul-gados relativos a seguros de vida me-receram especial atenção. Segundo essa jurisprudência compilada, a mera

inadimplência do beneficiário não auto-riza a automática negativa de cobertura. Para que a seguradora possa eximir-se do pagamento da indenização, é impres-cindível a prévia constituição do segura-do em mora, mediante a sua notificação ou interpelação.

Outra tese dissocia a aposentaria pelo INSS daquela contratada pelo se-gurado em hipóteses de indenizações de seguros privados. Conforme o STJ, as companhias seguradoras detêm a prerrogativa de realizar, por sua própria conta, o exame pericial do beneficiário, a fim de atestar a sua efetiva incapacidade a ensejar o benefício.

Há duas teses que versam sobre in-

denizações em matéria de trânsito. De acordo com julgador da Terceira e da Quarta Turmas do STJ, a embriaguez ao volante não constitui hipótese de isen-ção imediata da cobertura securitária salvo quando a companhia seguradora demonstrar que o agravamento do ris-co associado a essa embriaguez influiu determinantemente no sinistro. E as mesmas Turmas ainda se pronunciaram no sentido de que a ausência de habilita-ção de dirigir constitui simples infração administrativa, não se podendo, a partir disso, presumir o agravamento intencio-nal do risco pelo segurado, de modo a autorizar o afastamento da obrigação de indenizar.

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Quando fazemos o seguro de veí-culo, pensamos que o melhor mesmo é não precisar utilizá-lo. Torcemos, na verdade, para que não nos envolvamos em acidentes. Porém, eles podem acon-tecer e é importante manter o seguro para cobrir eventual indenização, den-tro dos limites da apólice. Mas contra quem aquele que se viu envolvido em um acidente deve se voltar para ser in-denizado?

O STJ já consagrou em sua Súmula 529 que a vítima do acidente de trânsi-to não pode ajuizar uma ação de inde-nização diretamente contra a segura-dora do culpado, pois ela não pode ser

compelida ao ressarcimento dos danos antes de apurada a responsabilidade do próprio segurado. Justamente por isso, geralmente a vítima demanda contra o causador do acidente e este, por sua vez, inclui sua seguradora na lide para que venha a ressarci-lo caso seja condenado.

Todavia, em recente decisão, proferi-da no Recurso Especial nº 1.584.970/MT, a mesma Corte entendeu que a segurado-ra poderá ser demandada diretamente pela vítima para complementação da in-denização quando já houver o reconhe-cimento da culpa do segurado na esfera administrativa. Isso ocorre quando, por exemplo, ele assume sua responsabili-

dade pelo acidente ao acionar o seguro ou firma um acordo extrajudicial com a vítima com a anuência da seguradora. Nesses casos, entende-se que a obriga-ção de indenizar do segurado é incon-troversa e que “não haverá (...) restrição ao direito de defesa da seguradora, por-quanto somente será feita a quantificação da indenização, já que o próprio segurado admitiu ser o causador do dano”.

Assim, nessa hipótese é possível ao prejudicado acionar diretamente a seguradora para que complemente a reparação civil que seria devida pelo segurado.

Prescrição para ação de cobrança não quita a dívida

A lei impõe prazos para que o titu-lar de um direito violado exerça judi-cialmente a pretensão à sua reparação. Transcorrido o prazo, ocorre a “prescri-ção”. No tocante à cobrança das dívidas líquidas – aquelas certas quanto ao valor –, uma vez expirado o prazo quinquenal estabelecido no art. 205, § 5º, inc I, do Código Civil, cessa para o credor o direito de cobrar judicialmente o devedor.

Entretanto, a prescrição para o ajui-zamento de ação de cobrança da dívida não extingue a existência do débito. A dívida continua a existir, embora apenas em seu estado natural, isto é, despida da possibilidade de cobrança judicial (pre-tensão). Nesse sentido, poderá o credor, mesmo prescrita a cobrança, exercer me-didas extrajudiciais, como a inscrição do

devedor nos cadastros de inadimplentes e até mesmo propor outras ações judi-ciais que não estejam prescritas.

Recentemente, o STJ reformou deci-são que extinguiu contrato de compra e venda de imóvel e quitou débito em razão do prazo prescricional (Recurso Es-pecial nº 1.694.322-SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe 13/11/2017).

O caso envolveu a compra de um apartamento, tendo a vendedora notifi-cado a compradora para a cobrança da dívida, após transcorrido o prazo de 5 anos da inadimplência. A compradora então ingressou com ação pedindo que fosse declarado prescrito o direito de co-brar as parcelas em aberto. A sentença declarou a prescrição, a inexistência do débito e a quitação do contrato, e ain-

da condenou a vendedora a outorgar a escritura definitiva da propriedade do imóvel. O TJSP manteve parcialmente a sentença, afastando apenas a outorga da escritura, porque o pedido não cons-tou na petição inicial.

A vendedora, então, recorreu ao STJ, sustentando que a prescrição da ação de cobrança não extingue a obri-gação em si e que poderá utilizar-se de meios processuais adequados para a rescisão contratual. E, foi justamente esse o entendimento do STJ, afastando o reconhecimento da inexistência do débito e extinção da obrigação, ten-do em vista que a prescrição atinge somente a pretensão de cobrança do valor inadimplido.

PATRÍCIA NYMBERG E FERNANDO WELTER

Posso acionar diretamente a seguradora do causador do acidente de trânsito?

VANESSA SCHEREMETA

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Nova fase do BACEN JUD: efetividade

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN E LAÍS BERGSTEIN

Em 2005, o Professor RENÉ DOTTI publicou uma série de artigos no jornal “O Estado do Paraná” aclamando o Con-vênio firmado entre o Banco Central e o Conselho da Justiça Federal para imple-mentação de um sistema integrado de bloqueio de recursos financeiros (Bacen Jud) e que enfrentava, à época, certa oposição (https://dotti.adv.br/penhora--on-line-final/).

Ao longo desses quase treze anos, o sistema de penhora online consolidou-se como um dos mais importantes e céleres mecanismos para a execução forçada de

obrigações de pagamento. Ampliado e aperfeiçoado, o sistema tornou-se obri-gatório (https://dotti.adv.br/obrigatorie-dade-do-sistema-bacen-jud/) e ganhou outras funcionalidades, como a possibi-lidade de consulta de endereços e dados cadastrais.

Em 22 de janeiro de 2018, inicia-se uma nova e importante fase do sistema Bacen Jud 2.0, que culminará na integra-ção das corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários e das socie-dades de crédito. Na primeira etapa de implementação os bloqueios passarão a

abranger cotas de fundos abertos com distribuição por conta e ordem; poste-riormente alcançarão ativos de renda fixa pública e privada até que alcancem a totalidade dos ativos sob administração dessas instituições.

Nas palavras do Professor DOTTI, “o direito constitucional da ‘razoável dura-ção do processo’ deve ter os ‘meios que ga-rantam a celeridade de sua tramitação’”; “a maior virtude” da adoção da penhora on line “é a concretização da tão esperada efetividade da prestação jurisdicional.”

A obrigação do fiador na prorrogação do contrato de aluguel

PATRÍCIA MARTINELLI E VANESSA CANI

Interessante questão foi julgada re-centemente pela 3ª Turma do STJ, que dirimiu qualquer dúvida ainda existente quanto a extensão da responsabilidade solidária dos fiadores pelos débitos loca-tícios, até a devolução das chaves.

A decisão foi proferida no julgamen-to do Recurso Especial nº 1.607.422/SP, no qual os fiadores alegaram que não seriam responsáveis pelo pagamento dos débitos locatícios (alugueres, contas de água e IPTU) em aberto, bem como a majoração de seu valor, por não terem participado da assinatura dos aditamen-tos contratuais celebrados exclusiva-mente entre locador e locatários.

Com amparo no art. 39 da Lei de Lo-cações, também conhecida como Lei do Inquilinato, que diz “salvo disposição em

contrário, qualquer das garantias da lo-cação se estende até a efetiva devolução do imóvel”, conjugado com o artigo 835 do Código Civil, o qual estabelece que “o fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante sessenta dias após a notificação do cre-dor”, manteve-se a condenação do fiador ao pagamento da dívida decorrente da inadimplência contratual.

Neste ponto, destacou o acórdão: “Destarte, ressoa nítido que o escopo da lei, ao resguardar a faculdade do fiador de exonerar-se da obrigação mediante a no-tificação resilitória, é, em verdade, admitir que a atitude de não mais responder pelos débitos locatícios deve partir do próprio fiador, nos termos do art. 835 do CC/02”.

Portanto, da análise conjunta desses dispositivos, concluiu o STJ que se não houver cláusula contratual eximindo o fia-dor da responsabilidade pelo pagamento dos alugueres e consectários até a devo-lução do imóvel, bem como a exoneração da fiança assegurada, nos termos do art. 835 do Código Civil, os fiadores permane-cerão responsáveis solidariamente pelos débitos locatícios até a efetiva devolução do imóvel pelo locatário.

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Ofensas na internet: quem pode ser responsabilizado

CÍCERO LUVIZOTTO

Plano de saúde e período de carência

Não se desconhece que as operado-ras de plano de saúde, amparadas pela legislação vigente, podem estipular em contrato que a utilização dos serviços pelo contratante ocorra apenas depois de transcorrido determinado lapso temporal. É o que se denomina período de carência.

Assim, para que o consumidor pos-sa iniciar o uso de seu plano, ele deve aguardar – após efetiva contratação – um intervalo de tempo, necessariamen-te previsto em contrato, que pode va-riar de acordo com o procedimento ou atendimento médico. Para a cobertura de parto a termo, por exemplo, é neces-

sário que a contratante tenha aderido ao plano de saúde 300 dias antes à sua ocorrência.

Especificamente quanto às situa-ções de urgência e emergência, a Lei nº 9.656/1998 prevê o período de carência de, no máximo, 24 horas. Ou seja, ainda que o contrato tenha estabelecido ca-rência maior para determinado serviço médico, não poderá a operadora negar a cobertura ao usuário, se este necessitar do atendimento em virtude de urgên-cia/emergência.

Sobre o assunto, a jurisprudência vinha se posicionando no sentido de que é abusiva a cláusula contratual que

estabelece prazo de carência para situa-ções de emergência, em que a vida do segurado se encontra em risco, especial-mente porque o valor da vida humana se sobrepõe a qualquer outro interesse.

Recentemente, consolidando referi-do entendimento, o STJ editou a Súmula de nº 597, consignando que a “cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emer-gência ou de urgência é considerada abu-siva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da contratação”.

GIULIANE GABALDO

Não é de hoje que vivemos a era da “pós-verdade”, das fake news, da banali-zação da mentira criada com o único in-teresse de prejudicar um terceiro.

Na década de 20, por exemplo, a eleição presidencial sofreu forte in-fluência por conta dos boatos que indicavam a existência de cartas en-caminhadas por ARTHUR BERNARDES criticando os militares e o Marechal HERMES DA FONSECA.

Contudo, com a facilidade de aces-so à informação, notadamente com a popularização das mídias sociais, as ex-pressões que abrem este artigo ganha-ram notoriedade, despertando a aten-ção do Legislador e do Judiciário para coibir excessos.

Passo importante foi dado com a criação do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), o qual disciplina “prin-

cípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil”.

Com base nisso, recentemente o STJ (Recurso Especial nº 15001603) reforçou o entendimento de que os provedores de internet possuem responsabilidade pe-las informações constantes em blogs por eles hospedados, notadamente quando deixam de cumprir a ordem judicial de retirada.

Segundo o voto da Ministra NANCY AN-DRIGHI “o provedor de aplicação torna-se res-ponsável solidariamen-te com aquele que gerou o conteúdo ofensivo se, ao tomar conhecimento da lesão que determina-da informação causa, não tomar as providên-

cias necessárias para a sua remoção”.Com isso, não restam dúvidas de que

coibir a proliferação de fake news tam-bém passa a ser dever dos provedores de internet que, após intimados da decisão judicial, devem realizar todo os esforços para exclusão da informação falsa, sem que isso possa caracterizar qualquer for-ma de censura.

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Em outubro de 2017, o STJ, no julga-mento do Recurso Especial nº 1.327.652/RS, decidiu que o convivente que cons-truiu imóvel em terreno de terceiro na constância de união estável tem direito a indenização, pelo que a edificação deverá ser incluída no rol de bens par-tilháveis quando da dissolução do rela-cionamento.

O principal fundamento do Relator, Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, foi o art. 1.255 do Código Civil, que assim deter-mina: “aquele que semeia, planta ou edifi-ca em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e cons-truções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização”.

Em seu voto, o Ministro ressaltou que, “em regra, não poderá haver a partilha do imóvel propriamente dito, não se constan-do direito real sobre o bem, pois a cons-trução incorpora-se ao terreno, passando a pertencer ao proprietário do imóvel (CC, art. 1.255), cabendo aos ex-companheiros, em ação própria, a pretensão indenizató-ria correspondente, evitando-se o enrique-cimento sem causa do titular do domínio”.

Nas palavras do Professor ROLF MA-DALENO, em comentário publicado no site do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Di-reito de Família), “estes casos são até co-muns, pois pais convidam filhos que se ca-sam a ocuparem terrenos ou imóveis dos pais, diante da falta de recursos dos filhos

que iniciam a vida matrimonial e profis-sional. Por vezes, fazem apenas benfeito-rias no imóvel dos pais, e depois, quando o filho ou filha se divorcia, o genro (ou nora) pede e ganha, como indenização, a meta-de do valor dessas benfeitorias”.

Nas referidas situações, é recomen-dável que os cônjuges e companheiros guardem documentos (recibos, notas fiscais e projetos) e fotografias que comprovem a situação do imóvel quan-do no início do relacionamento, assim como as benfeitorias realizadas na sua constância. Desta forma, em caso de dissolução da união estável ou divórcio, poderão comprovar e quantificar o va-lor a ser partilhado.

Partilha de bens construídos em imóvel de terceiros

Segundo o art. 1.641, II, do Código Ci-vil (CC/02), os nubentes com mais de 70 anos somente podem casar pelo regime da separação de bens (separação obri-gatória/legal). Tal restrição, já prevista no CC/1916 (60 anos), é muito questionada por limitar a autonomia de vontade da pessoa plenamente capaz para todos os atos da vida civil. Pretendeu o legislador, excepcionando a regra geral da livre con-tratação do regime de bens (art. 1.639, CC/02), proteger o idoso, partindo da premissa de que o casamento nessa ida-de estaria sempre atrelado a interesses financeiros.

Como forma de corrigir algumas in-justiças criadas pela imposição desse re-gime de bens e evitar o enriquecimento sem causa, em 1964 o STF editou a Sú-mula 377, que estabelece que no regime da separação obrigatória, comunicam-se

os bens adquiridos no decorrer do casa-mento. Em que pese os inúmeros debates doutrinários, o STJ firmou entendimento de que a referida súmula continua em vigor e que não é necessária a prova do esforço comum, transformando o regime da separação obrigatória em verdadeira comunhão parcial de bens.

Diante da impossibilidade de escolher seu regime de bens, e considerando o en-tendimento de que nesses casos haverá partilha dos bens adquiridos na constân-cia do casamento, a solução encontrada para os idosos que, independentemente da imposição legal, pretendem a separa-ção absoluta de bens é a disposição em pacto antenupcial para afastar os efeitos da súmula do STF.

A possibilidade de o pacto dispor contrariamente ao que estabelece a Sú-mula tem incitado inúmeros debates. Em

recente decisão, a Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça de São Paulo manifes-tou-se pela validação de pacto antenup-cial que previa a absoluta incomunicabi-lidade de bens no regime da separação obrigatória.

Citando grandes doutrinadores como ZENO VELOSO, FLAVIO TARTUCE, JOSÉ FERNANDO SIMÃO e MARIO DELGADO, o voto salienta que não se pode impedir a pactuação de regras que ampliem o cunho protetivo almejado pela lei.

Considerando tratar-se de matéria de ordem privada, o conteúdo da Súmula pode ser plenamente afastado por con-venção das partes, para o fim de garantir a incomunicabilidade total dos aquestos, isto é, dos bens que vierem a ser adquiri-dos na constância do casamento.

Separação obrigatória de bens e a incomunicabilidade dos aquestos

THAIS GUIMARÃES

FERNANDA PEDERNEIRAS

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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Sinais exteriores de riqueza e a influência na fixação de alimentos

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O Código Civil enuncia que a fixação da verba alimentar, tanto para cônju-ges/companheiros como para os filhos, deve ser pautada no binômio necessi-dade vs possibilidade. Na apuração da capacidade dos genitores em contribuir para o sustento dos filhos, a proporcio-nalidade dos rendimentos é, igualmen-te, ponderada.

Contudo, não apenas por haver ren-dimentos que se pautam em relações informais, mas, também, por serem recorrentes as tentativas de ocultação de renda por meio de estratégias irre-gulares, o Poder Judiciário tem levado

em conta os sinais exteriores de rique-za dos alimentantes quando da fixação dos alimentos.

Os sinais aparentes de riqueza con-siderados são aqueles que demons-tram discrepância com a renda decla-rada e/ou comprovada nos autos. Por exemplo, a renda que o alimentante afirma receber é incompatível (por ser baixa) com o carro de luxo que possui, ou ainda, com as atividades de lazer e consumo que realiza (viagens ao exte-rior, frequência em restaurantes reno-mados, aquisição de roupas e acessó-rios de grife, entre outras).

Aliás, as redes sociais têm auxiliado muito na exposição e, consequentemen-te, na comprovação dos sinais aparentes de riqueza.

Diante disso, em 2013 (quando o Código Civil completou dez anos de vi-gência) o Conselho da Justiça Federal aprovou, dentre outras diretrizes inter-pretativas da Lei Civil, o enunciado nº 573, consolidando a interpretação do art. 1.694, §1º, quanto à avaliação dos si-nais exteriores de riqueza, nos seguintes termos: “Na apuração da possibilidade do alimentante, observar-se-ão os sinais ex-teriores de riqueza.”

Em 23 de outubro de 2017, foi editado o Decreto Federal nº 9.179, que instituiu o Programa de Conversão de Multas Am-bientais aplicadas por órgãos da União. Por meio deste Programa, a autoridade competente para apuração da infração ambiental poderá converter a multa sim-ples em serviços de preservação, melho-ria e recuperação da qualidade do meio ambiente.

A conversão da multa poderá ser rea-lizada de duas formas. Na primeira, o pró-prio interessado realizará, por seus meios, a preservação do meio ambiente. Neste caso, a multa terá uma redução de 35%, cujo resultado corresponderá ao custo do serviço a ser executado. Caso o interessa-do opte por aderir a projetos previamen-te selecionados pelo órgão emissor da multa, o desconto será de 60%.

É importante destacar, que indepen-dentemente da conversão da multa, o autuado fica obrigado a reparar integral-mente o dano que tenha causado, sendo que os serviços decorrentes da conversão não poderão ser implementados na repa-ração da própria infração.

Para que a conversão seja realizada, o autuado deverá formular requerimento até o momento de suas alegações finais no processo administrativo de apuração da infração. Caso o pedido seja acolhido, será celebrado termo de compromisso. Se o pedido de conversão for negado, é possível a interposição de recurso.

O objetivo do Governo Federal é au-mentar a eficiência na arrecadação das multas, com a conversão de mais de R$ 4 bilhões em ações de reparação am-biental. Atualmente, o estoque de multas

ambientais é de aproximadamente R$ 35 bilhões. No entanto, apenas 5% das san-ções aplicadas são efetivamente pagas.

A instituição do programa de conversão de multas ambientais

DIANA GEARA

FRANCISCO ZARDO

DIREITO ADMINISTRATIVO

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“Prevenir é melhor que remediar” é um ditado popular que tem aplicação a incontáveis situações. Uma delas é a cor-rupção. Não é de hoje que organizações mundiais buscam como método de com-bate à corrupção mecanismos preventi-vos ao invés de reativos. No Brasil, a Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) partilha dessa ideia, ao estabelecer a possibilida-de de mitigação de sanções às empresas que possuírem programas de integrida-de, conhecidos como compliance.

O compliance já é uma realidade nas empresas multinacionais, as quais vêm inserindo programas desse tipo notadamente desde 2008, quando da crise mundial. No entanto, quando se trata de pequenas e médias empresas, seus proprietários são ainda receosos na

implementação desses mecanismos. Di-zem que são custosos e ineficientes. Ou, acreditam que corrupção só ocorre em empresas de grande porte.

Essa concepção, todavia, merece ser reavaliada. Startups, pequenas e médias empresas também precisam administrar seus investimentos em conformidade com as leis e regulamentos internos e externos. Além disso, toda empresa que se relaciona com o poder público está su-jeita às imposições da Lei Anticorrupção.

A implementação de um programa de integridade não exige gastos dispen-diosos. Em determinadas situações, a existência de um código de condutas e um programa de gestão de riscos é su-ficiente. Em outras, diretivas acerca de tratativas com o Estado são necessárias.

Já para as startups que buscam investi-mentos de multinacionais, o compliance é uma exigência de um programa de in-tegridade, já que essas se sujeitam à le-gislação americana sobre prática de cor-rupção no exterior. Em resumo: tudo vai depender da singularidade da empresa.

De todo modo, pensar que se está imune à corrupção por não ser uma empresa de grande porte é uma ilusão. Por isso, deve-se pensar nesse tipo de programa como um investimento. Com efeito, medidas preventivas podem eco-nomizar não só tempo, mas também di-nheiro. Além disso, a prevenção posicio-na a empresa de maneira competitiva à frente no mercado, pois, é muito melhor ser conhecido como exemplo de segu-rança do que de pagador de multas.

Compliance para startups, pequenas e médias empresas?

ANA CRISTINA VIANA

A regulação das criptomoedas

As criptomoedas se destacam como recente opção para investimentos. Em-bora remeta a noção de moeda, não se tratam de documentos físicos, como, por exemplo, uma cédula de dinheiro. Não obstante, é utilizada como meio de pagamento, do mesmo modo como uma moeda comum emitida e regulada por um Banco Central. A mais conheci-da é o bitcoin. Contudo, trata-se apenas de uma espécie dentro de um mercado em franca evolução na oferta de novas modalidades que, apesar de pequenas diferenças que possuam entre si, obser-vam uma lógica próxima de emissão e negociação.

Em paralelo ao crescimento das

criptomoedas está a preocupação com o comportamento dos preços destes ativos. Sobretudo se a espetacular valo-rização observada em curtos espaços de tempo for um indicativo de formação de bolhas financeiras. Então haveria o risco de que, em um futuro breve ou distan-te, o estouro dessas bolhas impacte no desempenho e na estabilidade da eco-nomia real.

Os órgãos nacionais de regulação têm atuado para estabelecer diretrizes em relação às criptomoedas dentro de suas esferas de atuação. A Comissão de Valores Mobiliários, no Ofício Circular n° 1/2018/CVM/SIN, deliberou que a “inter-pretação desta área técnica é a de que as

criptomoedas não podem ser qualificadas como ativos financeiros, para os efeitos do disposto no artigo 2º, V, da Instrução CVM nº 555/14, e por essa razão, sua aquisição direta pelos fundos de investimento ali regulados não é permitida.” Já o Banco Central, no Comunicado 31.379, alertou para o risco de guarda e negociação de moedas virtuais e o acompanhamento da evolução delas para fins de futura edição de medida regulatória. Cita-se, ainda, o Projeto de Lei nº 2.303/15, que pretende incluir as criptomoedas como arranjos de pagamento sob supervisão do BACEN.

ANDRÉ MEERHOLZ

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No final do último ano (20/11/2017), o STJ editou a Súmula n.º 599, segundo a qual “O princípio da insignificância é ina-plicável aos crimes contra a Administra-ção Pública.” O Relator da proposta foi o Ministro FÉLIX FISCHER, após reiteradas decisões em igual sentido.

Os Crimes contra a Administração Pú-blica estão elencados no Título XI do Có-digo Penal. Pode-se dizer, em linhas ge-rais, que os delitos ali constantes buscam reprimir condutas ofensivas ao prestígio e decoro em todos os setores em que se exerce o poder público. São infrações pe-nais dessa espécie, por exemplo, o pecu-lato (CP, art. 312), a prevaricação (CP, art. 319) e as corrupções passiva e ativa (CP, arts. 317 e 333).

O princípio da insignificância, por sua

vez, estabelece que inexiste infração penal quando é pequena a reprovabilidade da conduta do agente que não causa maiores danos sociais ou materiais. Apesar de não ter previsão legal, é comumente utilizado em crimes patrimoniais e tributários. É o caso, por exemplo, da absolvição de al-guém pelo furto de uma simples caneta ou de sonegação fiscal de valor ínfimo.

O entendimento sumulado é o de que, nos crimes contra a Administração Pública, ainda que o prejuízo material seja insignificante, deve haver sanção penal, uma vez que existe uma afronta à moralidade administrativa, que não possui valoração econômica. Assim, são igualmente reprováveis o pagamen-to de propina de R$ 1 (um real) ou R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), já

que em ambos os casos se ofendeu a probidade e o decoro da Administração Pública. No mesmo sentido, é indiferen-te à tipicidade penal a apropriação, pelo funcionário público em razão de seu car-go, de um lápis ou de um computador. Independentemente do valor do bem apropriado, foi atingida a incolumidade e o bom andamento do poder público.

A edição da referida Súmula trará in-teressante debate sobre a questão, uma vez que o STF já decidiu de forma con-trária, em julgados anteriores à consoli-dação do entendimento do STJ. Para a Corte Suprema, a prática de crime contra a Administração Pública não inviabiliza, só por si, a aplicação do princípio da in-significância, que deve ser analisado ca-suisticamente.

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Segundo a Constituição da Repúbli-ca de 1988, é assegurado acesso aos car-gos públicos desde que preenchidos os requisitos previstos em lei, conforme art. 37, inciso I. Assim, estabelecida na lei a exigência de um limite etário mínimo e/ou máximo, conforme a natureza e atri-buições do cargo público, o candidato deve comprovar sua idade para poder concorrer ao cargo.

O STJ sumulou seu entendimento de que a idade mínima deve ser compro-vada no momento da posse: “o diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na posse e não na

inscrição para o concurso público” (Súmu-la 266). No mesmo sentido: “A exigência de idade mínima para o ingresso em cargo público mediante concurso orienta-se no sentido de que o requisito etário deve ser aferido no momento da posse, e não no da inscrição para o provimento do cargo, por ser tal exigência relativa à atuação da função” (STJ, 2ª Turma, REsp 1462659/RS, Relator Ministro HERMAN BENJAMIN, publicado em DJe 04/02/2016).

Por sua vez, a idade máxima deve ser provada no ato de inscrição do concur-so público, sendo irrelevante eventual extrapolamento no momento do curso

de formação ou, ainda, na posse. Esse é o posicionamento do STF, veja-se: “Esta Corte possui entendimento no sentido de que o limite de idade, quando regularmen-te fixado em lei e no edital de determinado concurso público, há de ser comprovado no momento da inscrição do certame. Precedentes” (STF, 1ª Turma, ARE 918.410 AgR-ED, Rel. Min. Roberto Barroso, publi-cado em DJe 03/10/2016).

Portanto, varia o momento de com-provação da idade: sendo mínima, a pro-va se faz no momento da posse; sendo máxima, na inscrição do certame.

FERNANDA MACHADO

Momento de comprovação da idade para fins de concurso público

O princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

DIREITO CRIMINAL

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Quais infrações são cometidas quando se dirige sob o efeito do álcool?

LUIS OTÁVIO SALES

A embriaguez no volante (ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência) pode dar ensejo a infrações administra-tivas e criminais conjugadas. Adminis-trativamente, o condutor pode sofrer a sanção do art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro (dirigir sob influência de álcool ou substância análoga), que o sujeita à multa e à suspensão do direito de dirigir por 12 meses, além do recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, que só poderá sair do local se uma outra pessoa habilitada for buscá--lo. Pode, alternativamente, responder pela infração do art. 165-A do CTB, caso se negue a fazer “bafômetro” (etilôme-tro) ou se recuse a realizar procedimento para certificação da presença de álcool

ou outra substância psicoativa. A sanção desta segunda infração é idêntica à da primeira. Com isso, pretende-se compe-lir o condutor a se submeter a exame o que, porém, pode lhe custar a condição de réu em processo criminal, caso o re-sultado seja positivo.

Paralelamente, o infrator pode so-frer ainda a sanção criminal do art. 306 do CTB (conduzir veículo com capacidade psicomotora alterada), de detenção de 6 meses a 3 três anos, além de multa e sus-pensão ou proibição de obter habilitação para dirigir. A comprovação desse crime não requer necessariamente a utilização do etilômetro. São admissíveis outros meios probatórios, como exame clínico, perícia, vídeo e prova testemunhal. Não há uma infração criminal específica para

a recusa de realização do exame, o que impele a autoridade a comprovar o es-tado de embriaguez do condutor, ainda que de forma indireta. Nesse caso, o eti-lômetro seria interessante apenas como meio de defesa, ou seja, quando com ele se puder comprovar a ausência plena de embriaguez. E com as alterações promo-vidas pela recente Lei nº 13.546/2017, caso o condutor, sob a influência de substância psicoativa, pratique o crime do art. 302 do CTB (homicídio culposo no trânsito – ou seja, sem a intenção de ma-tar), se sujeitará à pena de reclusão de 5 a 8 anos, cujo regime inicial de cumpri-mento de pena é o semiaberto. Apesar do rigor, ainda assim é possível substitui-ção por restritiva de direitos, caso o con-dutor faça jus (CP, art. 44, I e 54).

O indulto natalino

Tradicionalmente, por volta do dia 22 de dezembro de cada ano, a Presidência da República concede o chamado indulto natalino ou indulto de natal – o que não é feito por lei, mas por decreto executivo.

Em 2016, o Decreto 8.940 continha a seguinte redação: “art. 1º O indulto será concedido às pessoas nacionais e estran-geiras condenadas a pena privativa de li-berdade, não substituída por restritivas de direitos ou por multa, que tenham, até 25 de dezembro de 2016, cumprido as condições previstas neste Decreto. § 1º Os requisitos para concessão de indulto serão diferencia-dos na hipótese de pessoas: I - gestantes; II - maiores de 70 anos de idade; III - que te-nham filho ou filha menor de doze anos ou com doença crônica grave ou com deficiên-cia que necessite de seus cuidados diretos; IV - que estejam cumprindo pena no regime semiaberto ou aberto ou estejam em livra-mento condicional e tenham frequentado, ou estejam frequentando curso de ensino fundamental, médio, superior, profissiona-lizante ou de requalificação profissional, na

forma do art. 126, caput, da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, ou exercido trabalho, no mínimo por doze meses nos três anos contados retroativamente a 25 de dezem-bro de 2016; V - com paraplegia, tetraple-gia ou cegueira, desde que tais condições não sejam anteriores à prática do delito e se comprovem por laudo médico oficial ou, na falta deste, por médico designado pelo juízo da execução; ou VI - acometidas de do-ença grave e permanente que apresentem grave limitação de atividade e restrição de participação ou exijam cuidados contínuos que não possam ser prestados no estabe-lecimento penal, desde que comprovada a hipótese por laudo médico oficial ou, na falta deste, por médico designado pelo juí-zo da execução, constando o histórico da doença, caso não haja oposição da pessoa condenada. § 2º A hipótese prevista no in-ciso III do § 1º, não alcança as pessoas con-denadas por crime praticado com violência ou grave ameaça contra o filho ou a filha ou por crimes de abuso sexual contra crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência.”

No art. 2º, o Decreto impedia que con-denados por crimes hediondos, militares e determinados crimes contra crianças e adolescentes fossem beneficiados pelo indulto. Há outras disposições relevantes texto normativo.

O fundamento dessa tradição é per-mitir que, com base em ato de clemência do poder público destinado às pessoas que atendam aos requisitos, mais famílias possam estar completas e, assim, superar, no período de festas e de comemorações religiosas ao fim do ano, as suas dificulda-des inerentes à condenação. O benefício implica a extinção da punibilidade (Lei de Execução Penal, art. 192), ou seja, o cida-dão não mais voltará ao estabelecimento penitenciário por conta daquela condena-ção – situação bastante distinta da saída temporária (prevista aos presos em regi-me semiaberto como mais um estágio do cumprimento da pena). Em hipótese algu-ma, portanto, pode se confundir com ins-trumento de impunidade, já que deve ser preservada a independência dos poderes.

GUSTAVO SCANDELARI

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A legitimidade da polícia na colabo-ração premiada

GUILHERME ALONSO

A Lei nº 12.850/2013, que disci-plina a colaboração premiada, clara-mente posiciona a autoridade policial como parte legítima, ao lado do Minis-tério Público, para negociar e celebrar acordos com investigados em crimes que envolvam organização criminosa.

Quando da promulgação da lei, porém, parcela importante da doutri-na afirmou que o texto legal, quando confere à polícia tal legitimidade, seria inconstitucional. A lógica é a seguinte: se a colaboração premiada é um meio de obtenção de prova e esta deve ser produzida em processo judicial, au-torizar a participação do delegado o converteria em parte no processo, o que violaria expressamente o texto constitucional.

Diante desse cenário, a Procura-doria Geral da República ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.508 para assegurar que apenas o Ministério Público possa celebrar os acordos. No dia 13/12/2017, o STF deu início ao julgamento, com o voto do relator, Ministro MARCO AURÉLIO, pela improcedência da ação. Outros 6 (seis) votos foram proferidos, tendo apenas o Ministro EDSON FACHIN se posicio-nado pela ilegitimidade da autoridade policial (ainda que tenha ressalvado a possibilidade de participação na pre-paração e orientação quanto ao acor-do). Todos os demais admitiram a pos-sibilidade de celebração do acordo pela polícia, com ressalvas apenas quanto à extensão dos benefícios cabíveis.

A prevalecer esse último posiciona-mento (que modula os benefícios que podem ser propostos por autoridade policial ou Ministério Público), ter-se--á a peculiar possibilidade de que dois tipos de acordos sejam celebrados em um mesmo processo. O da autoridade policial, com as eventuais limitações que o STF estabelecer; e o do Ministé-rio Público, com ampla liberdade.

A exigência de fundamentação concreta das decisões judiciais

BRUNO CORREIA

A Constituição Federal de 1988 de-termina a necessidade de fundamenta-ção de todos os julgamentos e decisões do Poder Judiciário (art. 93, IX). Ainda que a jurisprudência atual do STF valide o referido dispositivo quando “o acór-dão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determi-nar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas” (AI 800429, Min. ALEXANDRE DE MO-RAES, DJE 19/12/2017), recentes julga-dos apontam para a ilegalidade de atos padronizados, cuja fundamentação se repete para as mais diversas situações.

Foi assim que o STJ determinou que o recurso fosse novamente julga-do por tribunal estadual, por entender que o acordão “poderia ser utilizado em qualquer outro processo que tratasse de julgamento de júri popular” (HC 431026, Min. LAURITZA VAZ, decisão liminar

em 22.12.2017). Da mesma forma, em pedido de habeas corpus julgado pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, a Corte identificou o caráter genérico da decisão combatida (que aplicou medi-das protetivas da Lei Maria da Penha), por identificar outras 59 (cinquenta e nove) do mesmo Juízo, juntadas pelos impetrantes, que apresentavam idên-tica fundamentação (HC 1601907-1, Min. ANTONIO LOYOLA VIEIRA, DJE 30/11/2016).

Assim é que todas as decisões ju-diciais devem ser suficientemente mo-tivadas, com indicação de elementos concretos e próprios dos autos objeto de análise, sob pena de nulidade. A exi-gência é garantia processual das partes interessadas e fundamental para que se exerça com plenitude o contraditório e a ampla defesa.

STF: impossibilidade de condução coercitiva na fase de investigação

FERNANDA LOVATO

Em dezembro do ano passado, o Ministro GILMAR MENDES, do STF, con-cedeu medida liminar pleiteada pelo CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL para vedar a condução coercitiva de investigados para interrogatório (ADPF 444 MC/DF). O Conselho sustentou que o art. 260 do CPP – que permite conduzir o investiga-do à presença da autoridade para ser in-terrogado – não teria sido recepcionado pela Constituição, a qual garante o direi-to à não autoincriminação, decorrente da dignidade da pessoa humana.

Para o Ministro, as conduções coerci-tivas representariam uma restrição severa ao direito individual e não encontrariam respaldo no ordenamento jurídico. Ao enfrentar as alegadas violações à Cons-tituição, afirmou: “tendo em vista que a legislação consagra o direito de ausência ao interrogatório, a condução coercitiva

para tal ato viola os preceitos fundamen-tais previstos no art. 5º, caput, LIV e LVII. Em consequência, deve ser declarada a incompatibilidade da condução coerciti-va de investigado ou de réu para ato de in-terrogatório com a Constituição Federal.”

Com esse entendimento, vedou-se a condução coercitiva de investigados para interrogatório, sob pena de res-ponsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou autoridade, bem como de possível ilicitude das provas obtidas e responsabilidade civil do Estado.

A decisão, respeitosamente, é criti-cável, já que se trata de instituto com previsão legal expressa, em pleno vigor e que garante produção probatória efi-caz. É possível sua aplicação em atendi-mento ao interesse público e sem pre-juízo ao direito do investigado. De toda forma, o mérito da demanda ainda será julgado pelo Pleno do STF.

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Transitou em julgado, em 13/12/2017, o julgamento de Ação Direta de Incons-titucionalidade, proposta pelo Procura-dor-Geral de Justiça do Paraná (ADI nº 1.629.695-4, Rel. Des. CARLOS MANSUR ARIDA), em que se propôs a inconstitu-cionalidade parcial da Lei Estadual nº 15.790/08.

Pela Lei, no âmbito da Administração Pública paranaense, proibiu-se a instau-ração de procedimento administrativo “baseado em declarações, denúncias ou quaisquer outros expedientes anônimos […]” (art. 1º). Ou seja, estabelecia que a atividade persecutória do Estado (crimi-nal ou administrativa), estaria condicio-nada à identificação do noticiante da suposta irregularidade.

O MPPR, então, propôs a ADI, ao fun-damento de que é garantido o direito de petição aos Poderes Públicos (artigo

5º, XXXIV, CF/88), além de ser consectá-ria da Moralidade Administrativa (artigo 37, CF/88 e artigo 27, CE/89) a apuração de qualquer irregularidade de que se tome conhecimento. Em 02/10/2017, o Órgão Especial do TRIBUNAL DE JUSTI-ÇA DO PARANÁ, unanimemente, julgou procedente a ação, dando interpretação conforme ao art. 1º, estatuindo que a

vedação prevista na Lei deve ser prece-dida de prévia, cuidadosa e indispensável investigação preliminar para verificar se a denúncia anônima possui um mínimo de plausibilidade. Ainda, julgou inconstitu-cional o seu parágrafo único, que exigia a completa identificação do noticiante.

Assim, pode-se esperar aumento no número de procedimentos de apuração

administrativa, sobretu-do no âmbito fiscal (que podem gerar apuração criminal). Além disso, ficam legitimadas inves-tigações criminais inicia-das em notícias anôni-mas perante os órgãos administrativos do Esta-do do Paraná, inclusive Polícia Civil e Ministério Público.

Autorizada abertura de investigação a partir de denúncia anônima

EDUARDO KNESEBECK

A Justiça Restaurativa na esfera criminalANNA ASHLEY DELIMA

Em maio de 2016 o CONSELHO NA-CIONAL DE JUSTIÇA emitiu a Resolução nº 225/2016, dispondo sobre a imple-mentação da Política Nacional de Justiça Restaurativa. Mas o que isso significa?

A Justiça Restaurativa é um conjun-to de princípios, métodos e técnicas próprias que busca a conscientização e responsabilização por conflitos gera-dores de danos, trabalhando num con-texto social e relacional. Em outras pala-vras, a Justiça Restaurativa é uma forma não punitiva de solucionar conflitos, in-clusive criminais, que busca a responsa-bilização do ofensor e a reparação dos danos à vítima.

Esse sistema de justiça é orienta-

do pelos princípios da voluntariedade, consenso e confidencialidade, com a finalidade principal de restaurar as re-lações quebradas pelo conflito através do diálogo, conferindo maior partici-pação aos envolvidos diretamente no processo. Esse procedimento pode ser adotado em substituição ao procedi-mento tradicional, se esta for a vontade das partes e se houver concordância do Juízo, podendo ser aplicado simultane-amente àquele.

Através desse procedimento, inter-mediado por facilitadores habilitados, vítima e ofensor podem expor o seu lado do conflito, com a participação ou não da comunidade, buscando uma solução

mais justa e pacífica para o problema. Não se trata de permitir a impunidade dos delitos, mas de dar maior espaço à vítima para buscar uma solução em conjunto, dando-lhe a oportunidade de abordar não só os danos materiais sofridos, como também os emocionais, psicológicos e morais, o que não seria possível no procedimento tradicional.

Embora o procedimento ainda não seja adotado em todos os tribunais do país, sua aplicação vem crescendo e ob-tendo resultados promissores, em espe-cial nas varas de Infância e Juventude, segundo o CNJ.

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Recentemente, a Lei nº 10.522/2002, que dispõe sobre o Cadastro Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais, sofreu drástica altera-ção por meio da Lei nº 13.606/2018, que lhe acrescentou quatro artigos.

Com o acréscimo, o art. 20-B da Lei nº 10.522 passou a prever medida de in-disponibilidade de bens do devedor que, após ser inscrito na dívida ativa e notifi-cado, não realiza o pagamento do débi-to em cinco dias. O art. 20-B § 3º inciso II informa que a Fazenda Pública poderá “averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de re-gistro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis”. Tal providência, à primeira vista, parece de acordo com o ordenamento jurídico, porém, verifica-se que a medida confe-re poderes ilimitados ao Poder Público, uma vez que, para realizar a indisponibi-lidade de bens, a administração não ne-cessita de autorização judicial.

Há inconstitucionalidade da nor-

ma, vez que fere preceito fundamental previsto no art. 5º, LIV, da Constituição Federal, pois, “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Implicitamente, verifica--se que a autorização judicial é uma medida imprescindível para tornar um bem indisponível. Não obstante, a Carta Magna ainda prevê, em seu art. 5º, XXII e LV, que a todos é garantido o direito de propriedade, bem como o contraditório e a ampla defesa.

Especialistas afirmam com veemên-cia que a nova alteração legislativa fere a Constituição Federal e preveem que tão logo os bloqueios se iniciem, o Poder Judiciário receberá inúmeras demandas, cujo objetivo há de ser a declaração de inconstitucionalidade da recente norma.

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ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

União pode decretar a indisponibilidade de bens sem autorização judicialALEXSANDRO RIBEIRO MARTINS | Acadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

A possibilidade de penhora de saldo de previdência privada

ALINE CRISTINA BENÇÃO | Acadêmica do 4º ano da Universidade Positivo

O atual contexto econômico reper-cutiu no aumento de inadimplentes, inclusive perante o Poder Judiciário. Nesse aspecto, torna-se natural a busca de alternativas para satisfazer o interes-se do credor.

Visando garantir maior efetividade para a satisfação do crédito, a impenho-rabilidade do saldo disponível em fundo de previdência privada não é mais tida como regra absoluta, em razão de ser vista como um programa de investimento que permite o acúmulo de recursos, os quais podem ser resgatados posteriormente na forma de renda mensal ou pagamento

único. Desta forma, o plano não deve ser equiparado à aposentadoria, sendo exclu-ído, portanto, do rol de bens impenhorá-veis, disposto no art. 833 do CPC.

Recentemente, os Tribunais de Jus-tiça têm se pronunciado a favor da pe-nhorabilidade dos valores depositados em programas de previdência privada, determinando a expedição de ofício à CNSEG (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais), a fim de obter informações sobre a existência de eventuais planos  VGBL  (Vida Gerador de Benefícios Livres) e/ou PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) em nome

do devedor, para posterior penhora dos valores disponíveis.

O entendimento do STJ é no sen-tido de que  a mencionada impenho-rabilidade pode se tornar vulnerável de flexibilização, desde que constitua aplicação financeira de longo prazo, de relevante natureza de poupança previ-denciária, porém, suscetível de penho-ra por não ostentar nítido caráter ali-mentar (Recurso Especial nº 1121719).

Logo, o Judiciário objetiva dar efeti-vidade ao processo executivo, reduzindo as causas de impenhorabilidade com o intuito de satisfazer o crédito perseguido.

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Medidas coercitivas atípicas em execução de alimentos

No último semestre de 2017, a 11ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, ao julgar o re-curso nº. 1.634.787-0, deferiu a adoção de medidas atípicas com a finalidade de compelir o devedor de alimentos a pa-gar a dívida.

A ação que deu origem ao recurso é uma execução de alimentos, sob o rito de penhora de bens, que tramitou por quase seis anos, sem sucesso no recebi-mento das verbas alimentícias, mesmo após a realização das habituais diligên-cias, como: tentativas de penhora via BACENJUD e RENAJUD, busca de bens pelo INFOJUD, penhora do FGTS e de-

creto de prisão.Diante de tal cenário, a exequente

requereu a implementação de medidas pouco usuais em face do devedor, como a suspensão de sua carteira de motoris-ta, cancelamento dos cartões de crédito e apreensão do passaporte. Tais pedidos foram inicialmente negados pelo magis-trado de primeiro grau, sob o argumen-to de que se tratavam de “medidas drás-ticas e sem previsão legal”.

Os Desembargadores reformaram a decisão referida, pontuando, com base nas inovações do CPC/2015, que a: “in-satisfação do crédito por tão longo perí-odo tem levado à falta de efetividade das

medidas judiciais, falta essa que além de prejudicar em primeiro lugar a criança que depende dos alimentos para sobreviver, desprestigia sobremaneira o Poder Judi-ciário, o que autoriza, sem dúvida, o de-ferimento das medidas pretendidas pela Exequente, ao menos em parte.”

O acórdão ainda ressaltou que o can-celamento do cartão de crédito é medi-da que viola a proporcionalidade, deter-minando apenas o bloqueio dos cartões, assim como a suspensão da Carteira Na-cional de Habilitação e a apreensão do passaporte do devedor de alimentos.

O voo atrasou. E agora?

A Agência Nacional de Aviação Ci-vil (ANAC), por meio da resolução nº 400 de 2016, esclarece as obrigações da companhia aérea e os direitos dos passageiros em caso de atrasos de voos. É dever do transportador comu-nicar imediatamente que haverá atraso e indicar nova previsão de horário de partida. Caso solicitado pelo passagei-ro, deve explicar as razões por escrito.

Se o atraso for superior a uma hora, o transportador deve facilitar a comu-nicação (internet, telefone etc.). Se su-perior a duas horas, deve providenciar a alimentação do passageiro, de acor-do com o horário, por meio de refeição ou de voucher individual.

Se o atraso for por período superior

a quatro horas, o transportador deverá oferecer as alternativas de reacomo-dação em outro voo, reembolso dos valores pagos e execução do serviço por outro meio de transporte, a critério do passageiro. Pode-se exigir também

o serviço de hospedagem, em caso de pernoite, com traslado de ida e volta.

Caso o transportador saiba an-tecipadamente que o atraso irá ser superior ao período de quatro horas, deve de imediato oferecer as aludi-

das alternativas aos passageiros – não há necessidade de aguardar por esse período. A resolução deixou claro que fica inteiramente à cri-tério do passageiro qual alternativa ado-tar de acordo com o que lhe for mais van-tajoso.

BRENDA SILVEIRA | Acadêmica do 4º ano da Universidade Positivo

LUCAS DAVI BRAZ | Acadêmico do 5º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

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O acesso do advogado ao Inquérito Policial

RODRIGO RIBEIRO | Acadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

No ordenamento jurídico brasilei-ro prevalecem os princípios da ampla publicidade dos atos processuais, do contraditório e da ampla defesa, sen-do todas estas garantias e outras mais consolidadas com o advento da Cons-tituição Federal de 1988, conforme a dicção do seu artigo 5º, incisos XXXIII, LV e LXIII. Contudo, na fase de investi-gação preliminar, em especial quando se trata de Inquérito Policial que visa a coleta de elementos de autoria e mate-rialidade de infrações penais, em certas ocasiões é necessário resguardar o sigi-lo, nos termos do artigo 20 do CPP.

Então, como compatibilizar o even-

tual sigilo das diligências policiais e o direito previsto no Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94), o qual, seguindo o mesmo viés garantista constitucional, dispôs no artigo 7º, inciso XIV, em suma, que o advogado possui o direito de examinar em qualquer repartição responsável por conduzir as investigações, mesmo sem procuração, os autos de procedi-mento investigatório?

A prerrogativa de amplo acesso dos autos de investigação preliminar pelo advogado não detém caráter absoluto. Em razão desta controvérsia, foi edita-da pelo STF a Súmula Vinculante nº 14, estabelecendo resumidamente que é

direito do defensor ter acesso amplo aos elementos de prova já documen-tados em procedimento investigatório. Desta forma, a eventual ciência ao ad-vogado de diligências em andamento ou ainda não realizadas poderá preju-dicar a própria efetividade das investi-gações em curso.

Recentemente, o Estatuto da OAB sofreu algumas alterações por meio da Lei nº 13.245/2016 e, incluiu-se o § 11 do artigo 7º, trazendo a redação se-melhante à da Súmula Vinculante, limi-tando, portanto, o acesso do advogado em tais circunstâncias.

A quebra de sigilo fiscal

Entende-se que o sigilo fiscal é a pro-teção às informações inerentes a dívidas, patrimônios e rendimentos, informados pelas pessoas físicas ou jurídicas ao Go-verno. O sigilo é previsto constitucio-nalmente, entrando no rol de direitos fundamentais, uma vez que tem por objetivo proteger a intimidade e a vida privada do contribuinte. Desta forma, os órgãos fiscais não devem divulgar infor-mações sem determinação judicial.

Encontra-se regulamentação legal do Sigilo Fiscal na Lei nº 5.172/1666 (Có-digo Tributário Nacional). Apesar da pro-teção imposta pela Magna Carta e pelo CTN, existem casos em que, necessaria-

mente, os dados fiscais serão acessados. Essas situações normalmente aconte-cem no curso de investigações, em que os dados obtidos pelo fisco serão utiliza-dos e confrontados com as declarações dos investigados. Cruzando informa-ções, os órgãos investigativos podem buscar a verdade e levá-la ao processo.

Para que se determine a quebra do sigilo bancário são necessários alguns requisitos, como uma ordem judicial bem fundamentada, existência de fun-dados elementos de suspeita, individu-alização do investigado e do objeto da investigação, indispensável sigilo em relação às pessoas estranhas ao procedi-

mento investigatório e ainda a utilização dos dados obtidos somente para a inves-tigação que lhe deu causa.

É importante lembrar que a regra é o sigilo, e a quebra exceção, devendo sempre haver justa ponderação, uma vez que a violação do sigilo fiscal afronta uma garantia individual constitucional-mente estabelecida sob à luz do princí-pio da inviolabilidade da intimidade; por consequência, deve sempre ser antece-dida de autorização do Poder Judiciário, pois este órgão tem o dever de ser inse-parável da imparcialidade.

PAULO THIAGO LECHENAKOSKI | Acadêmico do 4º ano da Universidade Positivo

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Janeiro / Fevereiro / Março 2018Ano 13 | Número 39

Tiragem: 1.800 exemplares Foto da capa: Guilherme Alonso

Impressão e acabamento: Optagraf

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.

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