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João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural AVALIAÇÃO DE UM PROJETO DE RECUPERAÇÃO DAS FONTES D'ÁGUA. EVALUATION OF A RECOVERY PROJECT OF WATER SOURCES. Renan Fermino Funguetto ([email protected]), Miguel Angelo Perondi ([email protected]) UTFPR. Grupo de Pesquisa: Grupo 6. Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Resumo Esse trabalho busca avaliar a qualidade da água resultante da implantação do projeto de proteção de fontes intitulado: “Água e Qualidade de Vida” no município de Itapejara d’Oeste na região Sudoeste do Paraná. Para tanto, foi pesquisado: o histórico do projeto, a percepção dos agentes locais e agricultores sobre sua eficácia, e, por fim, a análise físico-químico da água das nascentes ex-ante e ex-post ao projeto de proteção. Assim, do resgate histórico, apreendeu-se que o Projeto “Água e Qualidade de Vida” se tratou de uma bem sucedida experiência sindical que enfrentou o problema da falta de água de consumo nos períodos de seca de forma concreta para as famílias. Em relação a percepção dos agricultores beneficiados, percebeu-se que estão satisfeitos com o projeto, servindo-lhes de aprendizado sobre a luta pela qualidade de vida, sendo que todos afirmaram que participariam novamente do mesmo projeto. Em relação à análise laboratorial da água, os indicadores físico-químicos (pH, dureza total, cloretos, ferro, cálcio, magnésio, turbidez e sólidos totais) foram mantidos dentro da resolução 518 do Ministério da Saúde, somente os índices de alcalinidade total e cálcio foram levemente superiores devido ao contato da água com a nova estrutura de proteção. Dessas análises, pode-se afirmar que a proteção das fontes preservou a qualidade químico-física das águas. Palavras-chave: Meio Ambiente. Agricultura Familiar. Água Potável. Abstract This study sought to determine the quality of water resulting from implementation of the sources of protection project entitled "Water and Quality of Life" in the city of Itapejara d'Oeste in the Southwestern region of Paraná. Thus, it was researched: the history of the project, the perception of local staff and farmers on their effectiveness, and, finally, the physical-chemical analysis of water from the ex-ante and ex-post to the protection design springs. Thus, the historical rescue, seized that the project "Water and Quality of Life" this was a successful union experience that faced the problem of lack of water consumption in dry periods in a concrete way for families. Regarding the perception of the benefiting farmers, it was noted that they are satisfied with the project, serving them learning about the struggle for quality of life, and all said they would participate again in the same project. Regarding the laboratory analysis of water, physical-chemical indicators (pH, total hardness, chloride, iron,

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João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015

SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

AVALIAÇÃO DE UM PROJETO DE RECUPERAÇÃO DAS FONTES D'ÁGUA.

EVALUATION OF A RECOVERY PROJECT OF WATER SOURCES.

Renan Fermino Funguetto ([email protected]), Miguel Angelo Perondi

([email protected]) – UTFPR.

Grupo de Pesquisa: Grupo 6. Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável.

Resumo

Esse trabalho busca avaliar a qualidade da água resultante da implantação do projeto de

proteção de fontes intitulado: “Água e Qualidade de Vida” no município de Itapejara d’Oeste

na região Sudoeste do Paraná. Para tanto, foi pesquisado: o histórico do projeto, a percepção

dos agentes locais e agricultores sobre sua eficácia, e, por fim, a análise físico-químico da

água das nascentes ex-ante e ex-post ao projeto de proteção. Assim, do resgate histórico,

apreendeu-se que o Projeto “Água e Qualidade de Vida” se tratou de uma bem sucedida

experiência sindical que enfrentou o problema da falta de água de consumo nos períodos de

seca de forma concreta para as famílias. Em relação a percepção dos agricultores

beneficiados, percebeu-se que estão satisfeitos com o projeto, servindo-lhes de aprendizado

sobre a luta pela qualidade de vida, sendo que todos afirmaram que participariam novamente

do mesmo projeto. Em relação à análise laboratorial da água, os indicadores físico-químicos

(pH, dureza total, cloretos, ferro, cálcio, magnésio, turbidez e sólidos totais) foram mantidos

dentro da resolução 518 do Ministério da Saúde, somente os índices de alcalinidade total e

cálcio foram levemente superiores devido ao contato da água com a nova estrutura de

proteção. Dessas análises, pode-se afirmar que a proteção das fontes preservou a qualidade

químico-física das águas.

Palavras-chave: Meio Ambiente. Agricultura Familiar. Água Potável.

Abstract

This study sought to determine the quality of water resulting from implementation of the

sources of protection project entitled "Water and Quality of Life" in the city of Itapejara

d'Oeste in the Southwestern region of Paraná. Thus, it was researched: the history of the

project, the perception of local staff and farmers on their effectiveness, and, finally, the

physical-chemical analysis of water from the ex-ante and ex-post to the protection design

springs. Thus, the historical rescue, seized that the project "Water and Quality of Life" this

was a successful union experience that faced the problem of lack of water consumption in dry

periods in a concrete way for families. Regarding the perception of the benefiting farmers, it

was noted that they are satisfied with the project, serving them learning about the struggle for

quality of life, and all said they would participate again in the same project. Regarding the

laboratory analysis of water, physical-chemical indicators (pH, total hardness, chloride, iron,

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calcium, magnesium, turbidity and total solids) were kept within the resolution 518 of the

Ministry of Health, only the total alkalinity levels and calcium were slightly higher due to the

contact of water with the new protective structure. These analyzes, it can be stated that the

protection of sources preserved the chemical and physical quality of water.

Key words: Environment. Family Farm. Drink Water.

1. PROJETO ÁGUA E QUALIDADE DE VIDA

No Sul do Brasil, principalmente no meio rural, sempre houve uma crença de que a

água seria ilimitada, abastecida por chuvas regulares e abundantes, entretanto, de forma cada

vez mais recorrente, a diminuição da área de floresta, a intensificação da produção

agropecuária e o uso exacerbado de poços artesianos resultaram numa falta crescente de água

superficial para a agricultura nos últimos anos, fato que demandou, na estiagem de 2004 e

2005, o uso de caminhões pipas para abastecer os criadores de aves e leite (PERONDI et al.,

2009).

Em virtude da recorrente falta de água superficial para o abastecimento das

propriedades rurais, a ACESI buscou apoio em um edital da Petrobras Ambiental e elaborou o

projeto “Água e Qualidade de Vida”, visando melhorar a disponibilidade e a qualidade da

água das fontes rurais. A ideia consistiu em obter uma água de boa qualidade com fontes

protegidas com solo-cimento, um método simples de proteção introduzido na região pela

EMATER nos anos 1980, bem como, recuperar a mata nativa do entorno (PERONDI et al.,

2009).

O projeto teve duas edições, a primeira entre 2006 e 2007 quando estabeleceu a meta

de recuperar 700 fontes, porém alcançou a recuperação de 1.200 fontes, beneficiando mais de

3.000 famílias, e uma segunda edição, entre 2008 e 2009, com novas metas e orçamento

similar ao primeiro projeto (ACESI, 2009).

Sendo que este artigo procura avaliar o projeto “Água e Qualidade de Vida” de

proteção de fontes no município de Itapejara d’Oeste do ponto de vista da percepção dos seus

atores e da qualidade da água resultante dessa intervenção. Para tanto, foi realizada uma

pesquisa documental, entrevistas com os atores do projeto e análise físico-químico-biológica

da água das fontes ex-ante e ex-post ao projeto de proteção.

Descrevendo rapidamente o processo de intervenção do projeto, sabe-se que partia da

motivação das famílias em participar e do diagnóstico socioeconômico da família e da

nascente de água realizado pelo monitor. (ACESI, 2009).

A seguir, definia-se o material necessário para construir a estrutura de solo cimento e

para o cercamento da área protegida do entorno da fonte. Por fim, era definido o dia do

mutirão de preservação em que a família organiza os materiais (ferramentas, terra e pedra)

para o serviço. E no dia programado se efetuava:

(1) Limpeza da mina – limpeza e adequação do espaço para colocar o solo cimento;

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(2) Preparo do solo cimento – prepara o solo cimento misturando 20% de cimento em

80% de terra vermelha peneirada, que passa por um processo de mistura até se configurar uma

massa uniforme. Esta massa se tornará sólida poucas horas depois de colocada e, em contato

permanente com a umidade, não sofrerá rachaduras;

(3) Colocação do solo cimento com as pedras – as pedras são a base e sobre elas se faz

o reboco com o solo cimento, fixado em forma de concha, assim diminuindo a possibilidade

de entrada de matéria orgânica que pode contaminar a água. A fonte servirá de reservatório

para a coleta de água através do encanamento;

(4) Colocação dos canos de PVC para escoamento da água – utiliza um kit PVC, que

contém dois pedaços de cano de 25 mm de diâmetro por 50 cm de comprimento e um ou mais

pedaços de 40 mm de diâmetro do mesmo tamanho. O tubo de 25 mm serve para coleta e

respiro e o de 40 mm serve para a limpeza.

(5) Medição da vazão de água – possibilita o planejamento de consumo e garante que

parte da água continue jorrando no ambiente para manter a biodiversidade da área. A medição

é realizada com a utilização de um litro vazio. Ao iniciar o enchimento do recipiente, contam-

se quantos segundos demora a completá-lo, depois, calcula-se a quantidade por hora, por dia e

por mês.

(6) Isolamento com cerca – após a proteção com solo e cimento, inicia-se o isolamento

da área mínima a ser protegida, conforme orientação da proposta elaborada pelo monitor e

com apoio da família. No processo de isolamento são utilizados arame farpado e palanques de

eucalipto tratado;

(7) Replantio de espécies nativas – Na área cercada para preservação, a família

providencia o replantio de espécies nativas (ACESI, 2009).

Durante o processo de preservação da mina, a família beneficiada pelo projeto dedica

ainda dois dias para estudar o objetivo e método do projeto em atividades organizadas pelos

monitores (ACESI, 2009).

Além da proteção de fontes, o projeto “Água e Qualidade de Vida” desenvolveu ações

de sensibilização de estudantes nas escolas sobre o tema da água, o que permitiu debater o

assunto com a comunidade urbana (ACESI, 2009).

Os monitores trabalharam para que a proteção da fonte não seja uma ação isolada,

mas, uma atitude de consciência ambiental multiplicada pela vizinhança. Assim, apesar de ser

uma experiência recente e desamparada do Estado do Paraná, o projeto “Água e Qualidade de

Vida” já apresenta algumas inovações sócio-técnicas que permitem ampliá-lo, não só no

número de fontes protegidas ou de mudas plantadas, mas, na percepção dos agricultores sobre

a fragilidade do meio ambiente em que vivem e do seu papel transformador (PERONDI et al,

2009).

E para avaliar essa experiência de intervenção ambiental sob o controle e iniciativa da

sociedade civil organizada, o artigo segue apresentando sua metodologia de análise, a história

de construção social do projeto na região e no município em foco, avaliando a percepção dos

agricultores comparativamente com indicadores físico-químicos obtidos em laboratório e, por

fim, apresenta as considerações finais.

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2. METODOLOGIA DE PESQUISA

Este trabalho se divide em três momentos: 1 - entrevistas com os responsáveis pela

realização do projeto no Município de Itapejara d’Oeste, para a construção do histórico do

projeto no Município; 2- entrevistas com os agricultores beneficiados, para verificar qual era a

opinião e/ou percepção desses agricultores a respeito do projeto, sobre a melhoria da

qualidade da água das fontes e da melhoria da qualidade de vida, e; 3- avaliação da resposta

da qualidade da água com a proteção das fontes.

O município de Itapejara d’Oeste foi escolhido por ser o único município participante

do projeto que não foi um sindicato de trabalhadores rurais e sim uma associação sindical a

participar. Os cinco produtores selecionados para esse trabalho foram os mesmos

selecionados pelo Laboratório de Água e Alimentos (LAQUA) para a realização do

monitoramento da qualidade da água conforme o Termo de Cooperação Nº 01/2008 entre a

Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(Funtef-Pr) da UTFPR e a Associação do Centro de Educação Sindical (ACESI).

2.1 A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS

Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa surgiu com a antropologia e a

sociologia, e apresentam as seguintes características: 1- o ambiente natural é a fonte direta dos

dados, sendo o pesquisador o instrumento fundamental da pesquisa; 2- os trabalhos são de

caráter descritivo; 3- o investigador deve se preocupar com o significado que as pessoas dão

as coisas e para as suas vidas; 4- enfoque indutivo.

Neste caso, trata-se de um estudo de caso com o propósito fundamental de realizar

uma análise intensiva de uma dada unidade social de uma situação em particular (GODOY,

1995).

Fundamentado na abordagem de Godoy (1995), foram realizadas entrevistas com

cinco agricultores selecionados, sendo dois deles responsáveis pela realização do projeto no

Município de Itapejara d’Oeste, se optou em entrevistar os mesmos somente como

responsáveis pelo projeto, entrevistando-se, portanto, três agricultores beneficiados.

As entrevistas com os responsáveis pelo projeto no município de Itapejara d’Oeste se

basearam em um roteiro pré-estabelecido de questionamentos. Buscou-se com essas

entrevistas realizar um levantamento histórico do projeto (como aconteceu) no município,

dificuldades encontradas e a resposta dos agricultores participantes.

Por sua vez, as entrevistas com os agricultores beneficiados foram mais abertas,

permitindo-se que eles expressassem suas opiniões, buscava-se direcionar o relato dos

agricultores para descobrir como foi a participação deles no projeto e a percepção dos

mesmos a respeito da qualidade da água das fontes.

As entrevistas eram gravadas, sendo transcritas em seguida para uma posterior analise

e interpretação da opinião dos agricultores e responsáveis do projeto.

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2.2 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DAS NASCENTES

Para a avaliar a qualidade da água, adotou-se os mesmos parâmetros utilizados pelo

Laboratório de Qualidade Agroindustrial Análises de Alimentos e Água –LAQUA no

contrato de monitoramento da qualidade da água conforme o Termo de Cooperação Nº

01/2008, que foram: Alcalinidade Total, Dureza Total, Cloretos, Ferro, Cálcio, Magnésio,

Sólidos Dissolvidos Totais, Turbidez.

Em relação às coletas das amostras de água, foi coletada a água em uma garrafa

plástica com capacidade de 1 litro para as análises físico-químicas.

As coletas das amostras foram realizadas no momento da visita aos produtores

beneficiados para a realização das entrevistas. Sendo que essas amostras foram levadas até o

LAQUA, onde foram realizadas as análises pela metodologia STANDARD METHODS

(AMERICAN..., 2005).

3. HISTÓRIA DO PROJETO NO MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D’OESTE

No ano de 2004, um grupo de agricultores do Município de Itapejara d’Oeste se uniu e

criou a Associação da Agricultura Familiar (ASSINTRAF), sendo que, o Sr. Valdir Lazzaretti

foi o primeiro presidente dessa associação e um dos responsáveis pela realização do projeto

“Água e Qualidade de Vida” nesse município.

No mesmo ano, 2004, os membros dessa associação ficaram sabendo por intermédio

do Sr. Justino, que a ACESI estava elaborando um projeto com a finalidade da proteção e

preservação de fontes de água, para encaminhar a Petrobras, como uma proposta a um edital

da mesma.

Interessados na idéia, o Sr. Valdir Lazzaretti e o Sr. Benoni Portela (monitor do

projeto) foram até a cede da ACESI no Município de Francisco Beltrão e pediram para

participarem do projeto. Após uma reunião dos editores do projeto, foi aceita a entrada do

Município de Itapejara d’Oeste no projeto.

Todo mês havia três dias de reuniões. Nas reuniões, falava-se sobre o

meio ambiente, a conservação dos solos, a conservação dos rios. Os

monitores eram incubados de dar uma assistência para o agricultor em

relação a proteção das fontes.

(Benoni Portela – Monitor do Projeto).

No trecho acima da entrevista com o monitor do projeto, ele fala sobre as reuniões que

os monitores dos municípios participantes faziam, nessas reuniões, eram realizados cursos

sobre o meio ambiente e a proteção das fontes.

Para o Sr. Benoni Portela, a participação dele no projeto como monitor foi muito

gratificante, porque ele aprendeu bastante sobre o meio ambiente.

No início da realização do projeto, a ASSINTRAF ia até as comunidades do município

para falar sobre o projeto, após a divulgação do projeto, os interessados se inscreviam no

projeto. Antes da proteção da fonte, eram realizadas de duas a três visitas a propriedade dos

agricultores inscritos. Nas primeiras fontes protegidas era realizado um dia de campo, para

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que outros agricultores interessados pudessem ver como eram realizadas as proteções das

fontes.

O Sr. Benoni Portela relatou que no início do projeto, alguns agricultores não queriam

participar, porque entre os agricultores havia um boato de que eles teriam que pagar para

poder utilizar a água após a proteção da fonte e outros agricultores, “ficavam com o pé pra

trás”, como falou o Sr. Portela, em relação à área de preservação permanente (APP), que

considera as áreas ao entorno de fontes como APP, devendo destinar uma área de 50 metros

de diâmetro ao redor das fontes como APP. Aos poucos, os agricultores começaram a ir atrás

de informações com a prefeitura do município, com a Emater e até mesmo com a

ASSINTRAF, e deixando de lado esses temores, participavam do projeto.

Nós tínhamos que fazer uma reunião com todos os produtores

interessados aqui na cidade, fazer tipo um cursinho, e foi muito bem

participado, e os agricultores que eram escritos eles viam, eles

ficavam o dia todo, sentado prestando a atenção, e vinha um cara de

fora, um ambientalista ajudar a fazer as palestras e tudo, então foi

muito bem aceito pelo povo.

(Benoni Portela – Monitor do Projeto em Itapejara d’Oeste).

No trecho acima, se observa que os agricultores inscritos apresentavam um grande

interesse na participação do projeto, como fala o Sr. Benoni, todos compareciam nas reuniões

e cursos marcados, sempre prestando atenção e participando.

Sobre a proteção das fontes, o Sr. Benoni Portela relatou que para cada fonte era

estudada uma metodologia diferente de proteção, sendo que quando teria que se colocar uma

moto-bomba na fonte, era colocado um tubo de concreto na fonte, para essa moto-bomba ficar

dentro.

O Sr. Valdir Lazzaretti, falou que no início havia uma dificuldade em relação a falta

de recursos para a realização do projeto, que o que vinha da ACESI era muito pouco, e aos

poucos, outras entidades do município de Itapejara d’Oeste como a Cresol, a Emater e a

Prefeitura Municipal se interessaram na idéia, e começaram a ajudar no projeto, sendo que,

após o término do projeto, o município de Itapejara d’Oeste continua protegendo as suas

fontes, por intermédio dessas outra entidades, apresentando uma meta de todo ano protegerem

em torno de 100 fontes, esperando um dia, proteger todas as fontes do município.

4. O RELATO DOS PRODUTORES DE ÁGUA

Fizemos a proteção da fonte e tem dado resultado, eu já cerquei ao

redor, eu deixei uma preservação de mata que com certeza cada ano

vai melhorar a qualidade da água! (Produtor beneficiado 1).

No trecho acima, o agricultor beneficiado 1, expressa o que todos os outros

agricultores que participaram do projeto esperavam, de que com a proteção da fonte com solo-

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cimento e a recuperação da Área de Preservação Permanente (APP), melhore a qualidade da

água dessa fonte, que serve como fonte de água para todas as atividades desenvolvidas na

propriedade.

No trecho abaixo, o agricultor beneficiado 2 coloca que toda a família ficou feliz com

a proteção da fonte, mas no seu caso, na mesma época entrou um outro projeto em sua

propriedade, onde construíram um poço artesiano, que fornece água para mais de 40 família.

Por causa desse poço, acabou deixando de lado a fonte protegida, mas na sua visão, aquela

fonte fica como um patrimônio, protegendo a água.

Quando saiu esse projeto, nós ficamos contentes, porque não tínhamos

uma água protegida, era uma água sem proteção. Ficamos muito

faceiros com essa água ai, encanada, que é de qualidade, mas, entrou

um projeto de poço artesiano em minha propriedade, e acabamos

abandonando essa água, mas estamos cuidando dela, virou um

patrimônio. Preservando tudo essa água, então ela vai ficar e existir

sempre essa fonte de água.

(Produtor beneficiado 2).

Segundo o produtor beneficiando 1, “os outros produtores acharam fundamental a

participação no projeto” e que eles “participaria novamente do projeto”.

Mudo com certeza, com certeza mudo, porque antes na verdade eu

fazia lavoura até perto da vertente da água, até em cima, hoje eu

recolhi 50 metros mais ou menos de distância, que hoje eu não faço

mais nada lá.

(Produtor beneficiado 1).

O trecho acima, o produtor beneficiado 1 relata sobre como o projeto mudou o seu

conhecimento sobre o meio ambiente e a preservação desse meio ambiente. Antes da

participação no projeto, ele plantava até em cima da fonte e hoje ele recuperou a APP ao redor

dessa fonte.

Se o cara tiver uma propriedade sem água, ele pode abandonar, com o

pedacinho que o cara deixa, vai produzir o que, pouca coisa, e se o

cara tiver água, quanta coisa que ele vai produzir a mais, com uma

água.

(Produtor beneficiado 1).

No trecho acima, retirado da entrevista com o produtor beneficiado 1, observa-se qual

é o entendimento por parte dos agricultores em relação a importância da água para as suas

propriedades.

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5. ESTADO DAS FONTES

A fonte protegida do produtor beneficiado 1 (Figura 1), apresenta uma base feita

provavelmente com pedra e cimento, se encontrando ao centro um tubo de concreto, que serve

de reservatório e de onde é captada a água utilizada na propriedade.

Existe outra fonte protegida na propriedade do beneficiado 1, essa, ele protegeu por

conta própria após a proteção da primeira fonte pelo projeto. A área ao arredor das fontes foi

cercada respeitando a área de preservação permanente (APP), fato curioso, por das cinco

fontes em estudo, essa é a única que faz isso. A área da APP anteriormente a proteção da

fonte era utilizada para o cultivo e a criação de animais, agora com uma floresta em

recuperação.

Um detalhe que chama a atenção na fonte, é que para fechar o tubo de concreto, o Sr.

Arnaldo fez uma tampa de madeira, a qual não é muito adequada, pois permite a entrada de

impurezas e até mesmo animais silvestres dentro da fonte.

Figura 1- Fonte protegida do Produtor beneficiado 1 (a esquerda) e a fonte protegida do

Produtor beneficiado 3 (a direita).

A fonte do Produtor beneficiado 1 (Figura 1) se encontra dentro de um capão de mato,

a poucos metros de uma lavoura, sendo que essa área não foi cercada com arames de fio

farpado, se constatando que, os palanques de eucalipto tratados e os arames de fio farpado

estavam sendo utilizados para cercar uma área de pastagem, bem longe da fonte. Em relação

da fonte, se observou que ela foi totalmente fechada, provavelmente por uma cobertura em

solo-cimento, sendo visualizado somente um cano de PVC serve como dreno, deste não

parava de sair água, e um cano que levava a água para a casa da propriedade.

A fonte do Produtor beneficiado 4 (Figura 2) se encontra dentro do lote da casa, há

cerca de 10 metros da casa e aproximadamente dois metros acima da fonte, fica a entrada de

veículos na propriedade. A proteção da fonte foi realizada pela colocação de um tubo de

concreto na fonte, sendo esse tubo coberto por uma sacola plástica para evitar a entrada de

impurezas. Nessa propriedade foram realizadas duas visitas, sendo que na primeira visita ela

estava coberta pela sacola plástica e na segundo visita a sacola plástica já estava de um lado,

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conforme da Figura 2, e o Produtor beneficiado 4 relatou que acabou abandonando a fonte. Os

palanques e a arame de fio farpado foram utilizados para cercar o lote da casa nessa

propriedade.

Figura 2 - Fonte protegida do Produtor beneficiado 4.

A fonte protegida do Produtor beneficiado 2 (Figura 3) fica em uma área que era

destinada a criação de animais (área de pasto), que foi cercada para os animais não terem mais

acesso a fonte, aqui foi deixado em torno de 10 metros de raio a APP. A proteção da fonte foi

feita com uma estrutura provavelmente de solo-cimento, de onde saem dois canos, que

levavam água até a casa na propriedade, se notando também um cano de PVC a alguns metros

da fonte, que serve como ladrão, para retirar o excesso de água da fonte, no momento da

visita, não havia água saindo por esse ladrão. Nesse caso, o agricultor se mudou para a cidade,

vinda até a propriedade somente para trabalhar, sendo que relatou que junto com a proteção

da fonte, saiu um projeto de construção de um poço artesiano, que foi construído em sua

propriedade, e esse poço artesiano fornece água para mais de 40 famílias naquela localidade.

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Figura 3 - Fonte protegida do Produtor beneficiado 2.

A fonte do Produtor beneficiado 5 (Figura 4), se encontra próxima a moradia, em uma

área que era utilizada para a criação de animais, que foi cercada com os palanques de

eucalipto tratado e os arames de fio farpado, para evitar que os animais tivessem acesso até a

fonte, foi deixado nessa propriedade um raio de 10 metros de APP. Na APP haviam sido

plantadas algumas mudas de árvores nativas, porem essas acabaram morrendo. A proteção da

fonte foi feita pela colocação de um tubo grande de concreto, sendo esse tubo coberto por

duas folhas de telhado metálico.

Figura 4 - Fonte protegida do Produtor beneficiado 5.

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6. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DAS FONTES PROTEGIDAS

Segundo a resolução 518 do Ministério da Saúde, o pH da água potável deve ficar na

faixa de 6,0 a 9,5. Observa-se na Tabela 1 os valores relativos ao pH para as cinco fontes

analisadas, se observando que antes da proteção nenhuma fonte se enquadra na faixa de pH

estabelecido pelo Ministério da Saúde, já após a proteção, duas fontes estão de acordo com

essa faixa.

Tabela 1 - Valores de pH antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 5,04 5,85

Produtor beneficiado 4 4,96 6,13

Produtor beneficiado 1 5,23 6,21

Produtor beneficiado 5 5,32 5,96

Produtor beneficiado 2 5,32 5,67

Segundo Libânio (2010), o valor do pH da água de consumo não apresenta efeito

digno de nota sobre a saúde humana, sendo que valores significativamente mais baixos de pH

são usualmente ingeridas. O padrão de potabilidade nacional estabelece um amplo intervalo

para o pH da água tratada (6,0 a 9,5) objetivando minimizar os danos por corrosão no sistema

de abastecimento para valores baixos de pH ou danos por incrustações nas redes de

distribuição por um pH elevado.

Nas águas naturais às variações de pH são ocasionados geralmente pelo consumo e/ou

produção de dióxido de carbono (CO2), realizados pelos organismos fotossintetizadores e

pelos fenômenos de respiração / fermentação de todos os organismos presentes na massa de

água, produzindo ácidos orgânicos fracos (BRANCO, 1986 ).

Os valores de pH baixos (4 a 5) são explicados pelo depósito de matéria orgânica

próxima ou até mesmo na fonte, o que acaba reduzindo o pH da água pela decomposição da

matéria orgânica. O que está de acordo com Farias (2006), que fala que o pH é muito

influenciado pela quantidade de matéria morta a ser decomposta, sendo que quanto maior a

quantidade de matéria orgânica disponível, menor o pH, pois para haver decomposição de

materiais muito ácido são produzidos (como o ácido húmico).

Por sua vez, na Tabela 2 encontramos os valores para a Alcalinidade Total.

Tabela 2 - Valores de Alcalinidade Total em mg/L CaCO3 antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 2,0 20

Produtor beneficiado 4 2,0 14

Produtor beneficiado 1 2,0 18

Produtor beneficiado 5 2,0 24

Produtor beneficiado 2 2,0 22

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A alcalinidade não é um parâmetro de qualidade da água, sendo uma medida mais

importante para o controle do processo de potabilização da água. Observa-se valores baixos

de alcalinidade antes da proteção da fonte, isso se deve a essas coletas terem sido realizadas

após uma chuva.

Na Tabela 3, a seguir, temos os valores para a dureza total das cinco fontes.

Tabela 3 - Valores de Dureza Total em mg/L CaCO3 antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 20 18

Produtor beneficiado 4 18 20

Produtor beneficiado 1 30 24

Produtor beneficiado 5 30 24

Produtor beneficiado 2 28 22

Os valores da dureza total se mantiveram em um mesmo nível antes e após a proteção,

não havendo variações significativas. Todos os valores para a dureza total estão de acordo

com a resolução 518 do Ministério da Saúde, que estabelece como valor máximo permitido

para esse parâmetro 500 mg/L de CaCO3.

Na Tabela 4 encontramos os resultados do parâmetro cloretos, para as cinco fontes

analisadas.

Tabela 4 - Valores de Cloretos em mg/L Cl- antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 4,0 3,0

Produtor beneficiado 4 2,0 4,0

Produtor beneficiado 1 4,0 4,0

Produtor beneficiado 5 4,0 4,0

Produtor beneficiado 2 2,0 3,0

Os valores encontrados para a variável cloretos estão de acordo com a resolução 518

do Ministério da Saúde, que estabelece que o valor máximo permitido de cloretos na água

potável é de 250 mg/L de Cl-, sendo que os valores encontrados variam entre 2 a 4 mg/L de

Cl-.

Tabela 5 - Valores de Ferro em mg/L Fe antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 0,05 0,02

Produtor beneficiado 4 <0,05 0,01

Produtor beneficiado 1 0,06 0,0

Produtor beneficiado 5 <0,05 0,04

Produtor beneficiado 2 <0,05 0,02

Os valores encontrados para ferro (Tabela 5) estão dentro do padrão de potabilidade

do Ministério da Saúde, que estabelece que a água potável pode conter no máximo 0,3 mg/L

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de Fe. O ferro não é um elemento tóxico, o seu limite está em virtude do mau aspecto que ele

causa na água, por dar cor à água quando em grande concentração ou até mesmo por manchar

as roupas.

Tabela 6 - Valores de Cálcio em mg/L Ca antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 1,6 4,80

Produtor beneficiado 4 1,6 6,40

Produtor beneficiado 1 4,0 4,8

Produtor beneficiado 5 4,0 5,6

Produtor beneficiado 2 4,0 5,6

Os valores de cálcio (Tabela 6), antes da proteção são relativamente baixos (1,6 a 4),

se observando uma elevação desses valores com a proteção da fonte (4,8 a 6,4). Esse aumento

na concentração do cálcio pode ser explicado pela adoção de cimento na proteção das fontes,

que pode servir como fonte de cálcio para a água da fonte.

Tabela 7 - Valores de Magnésio em mg/L Mg antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 0,9 1,45

Produtor beneficiado 4 0,8 0,97

Produtor beneficiado 1 1,2 2,9

Produtor beneficiado 5 1,2 2,43

Produtor beneficiado 2 1,0 1,94

Para os valores de Magnésio (Tabela 7), não se pode observar uma grande variação

com a proteção, sendo esse elemento referente ao processo de intemperismo da bacia

hidrográfica, não sendo um indicador de contaminação de origem antrópica.

Tabela 8 - Valores de Turbidez em UNT antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 0,22 0,12

Produtor beneficiado 4 0,02 0,24

Produtor beneficiado 1 1,622 0,08

Produtor beneficiado 5 0,02 0,10

Produtor beneficiado 2 0,811 0,04

A turbidez (Tabela 8) está de acordo com os valores máximos permitido pela

resolução 518 do Ministério da Agricultura (5 UNT). Os valores encontrados são baixos,

variando de 0,02 a 1,622 UNT, o que representa que existe poucos materiais dissolvidos nessa

água, algo esperado para água oriundas de fontes.

Na tabela 9, encontramos os resultados para Sólidos Totais para as cinco fontes em

estudo.

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Tabela 9 - Valores de Sólidos Totais em mg/L antes e após a proteção das fontes.

Agricultores Antes Após

Produtor beneficiado 3 80,4 81,0

Produtor beneficiado 4 70,8 163,0

Produtor beneficiado 1 166,3 102

Produtor beneficiado 5 136,6 63,0

Produtor beneficiado 2 151 100,0

Os valores observados variam de 63 a 166,3 mg/L, valores baixos, o que confirma os

resultados observados pela turbidez, da existência de poucos sólidos dissolvidos na água das

fontes, o que já era esperado.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto “Água e Qualidade de Vida” foi uma experiência sindical bem sucedida que

enfrentou o problema da falta de água nos períodos de seca para os agricultores familiares,

sendo um projeto de ação concreta de proteção da qualidade da água que abastece o consumo

das famílias.

Pode-se concluir em relação à percepção dos agricultores beneficiados, que eles

ficaram satisfeitos em participar do projeto, que esse projeto serviu de aprendizado e que, na

percepção dos agricultores, realmente mudou a sua qualidade de vida e a qualidade da água,

todos participariam novamente de outros projetos parecidos.

Entretanto, os indicadores físico-químicos, biológicos e visuais, que resultam da

inspeção local não sinalizaram uma melhora significativa na qualidade da água. Do ponto de

vista da recuperação da Área de Preservação Permanente, houve melhoria em apenas uma

propriedade.

Em relação à avaliação da qualidade da água, pode-se concluir que não se constataram

mudanças significativas para os parâmetros pH, dureza total, cloretos, ferro, cálcio, magnésio,

turbidez e sólidos totais.

A alcalinidade total aumentou com a proteção da fonte, o que se pode explicar pelo

fato das coletas das amostras (antes da proteção) terem sido realizadas após chuvas.

Os teores de cálcio aumentaram com a proteção das fontes, o que se explica pela

adoção de cimento na proteção das fontes.

Constatou-se que havia apenas duas que realmente haviam sido protegidas conforme o

projeto (proteção das fontes em solo-cimento). Aqui pode estar um dos motivos da não

verificação de alterações significativas nos indicadores físico-químicos da água das fontes

protegidas. Seria interessante para trabalhos futuros, a comparação entre essas formas de

proteção para verificar se essa hipótese é procedente ou não.

Outro ponto interessante sobre a avaliação da qualidade da água das fontes, a

necessidade de outros estudos sobre a qualidade da água de fontes, para verificar quais são os

parâmetros que realmente traduzem a qualidade da água de uma fonte, pois existem muitos

trabalhos na literatura que falam sobre a qualidade da água de rios, e poucos ou quase nenhum

sobre a qualidade da água de fontes. E alguns parâmetros utilizados por este trabalho se

mostraram pouco significativos em relação a qualidade da água de fontes.

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REFERÊNCIAS

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Examination of Water and Wastewater, 21. Ed. APHA/AWWA/WEF. Washington DC.

ASSOCIAÇÃO DO CENTRO DE EDUCAÇÃO SINDICAL 2009. Publicação única do

Projeto “ÁGUA E QUALIDADE DE VIDA”, Francisco Beltrão: ACESI, 28p.

BRANCO, S. M. 1986. Hidrologia aplicada à engenharia sanitária, 3ª ed., São Paulo,

CETESB/ACATESB, 640p.

BRASIL 2005. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilânica em Saúde, Coordenação-Geral

de Vigilância em Saúde Ambiental, Portaria MS n.º 518/2004 / Ministério da Saúde,

Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação- Geral de Vigilância em Saúde Ambiental –

Brasília: Editora do Ministério da Saúde.

FARIAS, M. S. S. de 2006. Monitoramento da Qualidade da Água na Bacia Hidrografica

do Rio Cabelo, 152 f. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de

Campina Grande, Campina Grande, Paraíba.

GODOY, A. S. 1995. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais, In: Revista de

Administração de Empresas, EAESP/FGV, São Paulo, v. 35, n.3, p.20-29.

LIBÂNIO, M. 2010. Fundamentos de qualidade e tratamento de água, 3. ed. Campinas,

SP: Editora Átomo.

PERONDI, M. A., NUNES, S. P., KIYOTA, N., BENATO, A. J. 2009. GESTÃO SOCIAL

DA ÁGUA: A EXPERIÊNCIA SINDICAL DOS AGRICULTORES FAMILIARES DO

SUDOESTE DO PARANÁ, SOBER, Campo Grande.

PERONDI, M. A. 2010. RELATÓRIO FINAL SOBRE AS ATIVIDADES

REALIZADAS NO TERMO DE COOPERAÇÃO Nº 01/2008 ENTRE A FUNTEF-PR E

ACESI.