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Goiânia - GO, 27 a 30 de julho de 2014 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural DETERMINANTES DA UTILIZAÇÃO DO MERCADO FUTURO E DE OPÇÕES PELOS PECUARISTAS DE BOVINOS DE CORTE DO ESTADO DE GOIÁS DETERMINANTS OF THE USE OF FUTURES AND OPTIONS MARKETS BY FARMERS OF BEEF CATTLE IN THE STATE OF GOIÁS Aline da Silva Moraes (UFG/PPAgro e Faculdade Araguaia) – [email protected] Reginaldo Santana Figueiredo (UFG/PPAgro) – [email protected] Odilon José de Oliveira Neto (UFU/FACIP) – [email protected] Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços. Resumo A pecuária é uma atividade bastante explorada no estado de Goiás, tanto que o estado atualmente possui o quarto maior rebanho bovino do Brasil e concentra o maior número de confinamentos no País. Em geral as atividades econômicas envolvem riscos de volatilidade de preços, o que não é diferente para a pecuária bovina de corte. Diante da problemática do gerenciamento de risco de preços surge a dúvida: quais os principais fatores que levam os pecuaristas de bovinos de corte do estado de Goiás a utilizarem o mercado futuro e o mercado de opções? Assim sendo, este estudo tem por objetivo analisar variáveis que influenciam no uso de instrumentos derivativos na gestão de risco de preços por parte dos pecuaristas do estado de Goiás. Para isso, foram coletados dados primários junto a 81 pecuaristas de bovinos de corte. Para avaliar os fatores que levam o pecuarista a participar dos mercados futuro e de opções foi aplicado um modelo de regressão logística. Verificou-se que as variáveis: escolaridade, atividades econômicas desenvolvidas fora da propriedade rural, intensidade tecnológica e o tamanho da propriedade rural são as influenciadoras do uso do mercado futuro e de opções. Palavras-chave: Gerenciamento de Risco, Pecuária Bovina de Corte, Estado de Goiás. Abstract The livestock is an activity quite explored in state of Goiás, the state currently has the fourth largest herd cattle of the country and possesses the largest number of confinement in Brazil. Every economic activity involves volatility risk price and this isn´t different for the cattle breeding. Thus, the problematic of management risk of price emerge the question: what the main factors to beef cattle farmers in the state of Goiás to use the future and options market? This study analyzes the variables that interfere in use of management risk price by beef cattle farmers in the state of Goiás. For this, primary data were collected of the 81 beef cattle farmers. To evaluate for what factors the beef cattle farmers go to future and option market was apply a regression logistic model. Checked that the variables: scholarity, activities out the rural property, technological intensity and the size of rural property influence the beef cattle farmer to participate of the futures and options market. Keywords: Risk Management, Beef Cattle, State of Goiás

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Goiânia - GO, 27 a 30 de julho de 2014 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

DETERMINANTES DA UTILIZAÇÃO DO MERCADO FUTURO E DE OPÇÕES PELOS PECUARISTAS DE BOVINOS DE CORTE DO ESTADO DE GOIÁS

DETERMINANTS OF THE USE OF FUTURES AND OPTIONS MARKETS BY FARMERS OF BEEF CATTLE IN THE STATE OF GOIÁS

Aline da Silva Moraes (UFG/PPAgro e Faculdade Araguaia) – [email protected] Reginaldo Santana Figueiredo (UFG/PPAgro) – [email protected] Odilon José de Oliveira Neto (UFU/FACIP) – [email protected]

Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços.

Resumo A pecuária é uma atividade bastante explorada no estado de Goiás, tanto que o estado atualmente possui o quarto maior rebanho bovino do Brasil e concentra o maior número de confinamentos no País. Em geral as atividades econômicas envolvem riscos de volatilidade de preços, o que não é diferente para a pecuária bovina de corte. Diante da problemática do gerenciamento de risco de preços surge a dúvida: quais os principais fatores que levam os pecuaristas de bovinos de corte do estado de Goiás a utilizarem o mercado futuro e o mercado de opções? Assim sendo, este estudo tem por objetivo analisar variáveis que influenciam no uso de instrumentos derivativos na gestão de risco de preços por parte dos pecuaristas do estado de Goiás. Para isso, foram coletados dados primários junto a 81 pecuaristas de bovinos de corte. Para avaliar os fatores que levam o pecuarista a participar dos mercados futuro e de opções foi aplicado um modelo de regressão logística. Verificou-se que as variáveis: escolaridade, atividades econômicas desenvolvidas fora da propriedade rural, intensidade tecnológica e o tamanho da propriedade rural são as influenciadoras do uso do mercado futuro e de opções. Palavras-chave: Gerenciamento de Risco, Pecuária Bovina de Corte, Estado de Goiás. Abstract The livestock is an activity quite explored in state of Goiás, the state currently has the fourth largest herd cattle of the country and possesses the largest number of confinement in Brazil. Every economic activity involves volatility risk price and this isn´t different for the cattle breeding. Thus, the problematic of management risk of price emerge the question: what the main factors to beef cattle farmers in the state of Goiás to use the future and options market? This study analyzes the variables that interfere in use of management risk price by beef cattle farmers in the state of Goiás. For this, primary data were collected of the 81 beef cattle farmers. To evaluate for what factors the beef cattle farmers go to future and option market was apply a regression logistic model. Checked that the variables: scholarity, activities out the rural property, technological intensity and the size of rural property influence the beef cattle farmer to participate of the futures and options market. Keywords: Risk Management, Beef Cattle, State of Goiás

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1. Introdução A bovinocultura de corte é presente em todo o território brasileiro, e se destaca pela

grande importância no agronegócio do país. No estado de Goiás esta é amplamente difundida, e em face disso atualmente o estado é o quarto maior produtor de bovinos do Brasil (IBGE, 2012a).

Apesar de ser uma atividade presente no Brasil desde sua colonização, somente a partir do século XX é que a pecuária passou a se desenvolver de forma mais efetiva no estado de Goiás, momento em que sua prática deixou o status tradicional de subsistência para uma atividade de caráter comercial.

Devido às recentes inovações tecnológicas na bovinocultura de corte, têm-se um avanço significativo no sistema de engorda. A criação extensiva, caracterizada pela alimentação à pasto (principalmente capim) do gado bovino foi significativamente transformada nas últimas três décadas. Os empresários rurais (ou simplesmente os pecuaristas) tem se preocupado de forma qualitativa a produzir mais com menos espaço. Diante disto, desenvolveram-se os sistemas de semi-intensivo (semi-confianamento) e intensivo (confinamento).

No sistema extensivo ou tradicional, se utiliza como alimento do rebanho bovino apenas a pastagem nativa e/ou cultivada. Já no sistema semi-intensivo (semi-confinamento), segundo Corrêa (1996) e IEPEC (2008), além da pastagem é utilizado também suplementos minerais, protéticos e energéticos, com maior frequência nos períodos de seca ou entressafra ou na terminação dos bovinos. E no sistema intensivo o gado é criado em lotes com área restrita (confinados), com alimentação e água fornecida em cochos (EMBRAPA, 2000).

Os pecuaristas do estado de Goiás têm se preocupado em adequar aos novos sistemas de engorda de modo a obterem com qualidade melhores retornos financeiros. Prova disso é que o estado possui mais de duzentos confinamentos ativos, sendo o estado destaque do Brasil de acordo com dados da Associação Nacional dos Confinadores - ASSOCON (2012).

O estado de Goiás possui uma população estimada de 6.003.788 milhões de habitantes divididos em 248 municípios e tem-se destacado na produção de bovinos com um efetivo de 21.744.650 milhões de cabeças (IBGE, 2012b).

Neste patamar, a bovinocultura de corte possui riscos diversos, e isso faz com que muitos pecuaristas do estado de Goiás fiquem presos as formas tradicionais tanto de produção como de comercialização com receio de perderem receitas, dado o caráter imprevisível dos preços futuros da arroba do boi gordo. Contudo, vale ressaltar que todos os agentes econômicos envolvidos em alguma etapa do processo produtivo ou comercialização de mercadorias estão sujeitos ao risco associado às flutuações de preços (BM&F, 2005).

No mercado físico ou a vista, o pecuarista pode se deparar com um preço incapaz de cobrir os custos operacionais. Da mesma forma, a pecuária de corte, o processamento e a comercialização de carne apresentam riscos substanciais de preços que podem ser minimizados nos mercados de derivativos.

Entre os mercados derivativos existem diversas formas de negociação que buscam minimizar os riscos de preços. Atualmente, destaca-se o mercado futuro e o mercado de opções, na qual são negociados acordos de compra e venda de um ativo em determinada data futura com preço previamente fixado, formalizado através de um contrato firmado junto a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA).

Neste sentido, questiona-se como problema da pesquisa quais as variáveis interferem na utilização ou uso de instrumentos de gestão de risco de preço na comercialização do boi gordo pelos produtores de gado de corte no estado de Goiás?

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Vale ressaltar que a pesquisa foi pautada sob a ótica do seguinte objetivo geral: Analisar os fatores determinantes para o uso dos mecanismos de gestão de risco de preço por parte dos produtores de bovino de corte do estado de Goiás.

Salienta-se que para a delimitação deste estudo foi utilizado o método survey, em que o número de componentes da amostra não foi definido antecipadamente, uma vez que a intenção era captar o maior número possível de entrevistas. Apesar da grande dificuldade em arregimentar pecuaristas que dispusessem de alguns minutos para a aplicação do questionário, somada à falta de incentivo financeiro que possibilitasse o comparecimento a eventos específicos em outros municípios do estado de Goiás, foi conseguido um número de entrevistas que permitiu a realização do trabalho e resposta a questão de pesquisa, conforme planejado. 2. Materiais e métodos

Com a finalidade de analisar e entender o uso de mecanismos de gestão de risco de

preço pelos produtores na comercialização de bovinos de corte, esse estudo se caracteriza como exploratório e descritivo. Buscou-se a priori entender os conceitos e as principais ferramentas dentro do mercado de derivativos, a partir de uma pesquisa bibliográfica, ou seja, utilizando material já publicado, como livros, artigos, periódicos e outros documentos bibliográficos, na qual segundo Assis (2008) requer do pesquisador, maior clareza quanto ao problema de pesquisa, aos fenômenos e aos contextos a serem investigados. Na coleta de dados foi utilizado um questionário (tratado aqui como sinônimo de formulário) direcionado aos produtores de bovinos de corte.

Os dados primários utilizados desta pesquisa foram coletados a partir da aplicação do questionário junto à 81 pecuaristas de bovinos de corte no estado de Goiás.

A coleta de dados foi feita principalmente via questionários e entrevistas pessoais in

loco. O levantamento foi realizado com questionário estruturado com 32 perguntas, formado principalmente por questões objetivas direcionadas pela escala de likert. O período de aplicação dos questionários esta compreendido entre abril e dezembro de 2012. E abrangeu 50 municípios do estado de Goiás que englobou todas as mesorregiões do estado de Goiás.

Nos questionários junto aos pecuaristas, foram abordadas questões relacionadas à comercialização de bovinos de corte no estado de Goiás, incluindo questões relativas ao mercado de derivativos. Além destas, também foi realizado um levantamento de informações pertinentes a caracterização do pecuarista e da propriedade rural, perfil da pecuária de corte e a da comercialização de bovinos.

A análise estatística e/ou econométrica apoiou-se no uso do software Statistical

Package for Social Sciences (SPSS), versão 17.0. A análise econométrica compreende a análise bivariada e a regressão logística. Na análise descritiva foram discriminadas e analisadas cada variável isoladamente. Em seguida, foi realizada uma análise bivariada cruzando a participação no mercado futuro e no mercado de opções com variáveis demográficas relacionadas às características da propriedade rural, do sistema de produção e comercialização da bovinocultura de corte. Essa análise bivariada foi obtida através do processo estatístico denominado crosstab (ou tabulação cruzada) (SURVEYMONEY, 2013).

Pela aplicação do modelo de regressão logística pôde-se verificar os fatores que levam o pecuarista de bovinos de corte do estado de Goiás a utilizar os mecanismos de gestão de risco de preços. Foram calculados os coeficientes ( β ), o p-valor ou significância estatística, e o Exp( β ) ou Odds ratio, que é a medida de associação calculada a partir do modelo logístico, e que segundo Venticinque et al (2007), é a razão de chances de ocorrer um determinado

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evento sob a probabilidade de em mesmas condições o evento não acontecer, de cada variável isolada e em conjunto. O nível estatístico definido como critério de significância foi de p

≤0,10. Para este estudo foram selecionados grupos de variáveis formados por faixa etária,

escolaridade, experiência na atividade pecuária, atividades financeiras desenvolvidas fora da propriedade, participação em redes políticas, tamanho da propriedade rural, tamanho do rebanho bovino, tipo de gestão financeira, sistema de engorda, e frequência de perdas financeiras.

3. Resultados e discussão 3.1 Descrição e caracterização da população

Dos pecuaristas entrevistados, 77% possuem menos de 50 anos de idade, 11,1% possuem menos de 5 anos de experiência na pecuária de corte e o restante concentram em mais de 11 anos de experiência.

Os produtores, em geral possuem alta formação, visto que somente 11% possuem no máximo o ensino fundamental e 21% o ensino médio, 54,3% é graduado e ainda 13,5% têm pós-graduação (especialização e/ou mestrado). Neste contexto, destaca-se que a educação com certeza é um importante fator para o desenvolvimento pessoal e regional.

Segundo Marques e Aguiar (2004) um elevado grau de escolaridade é um importante requisito para a adoção de estratégias no mercado de futuros. No estudo de Morais (2009) o grau de escolaridade dos produtores rurais do município de Rio Verde que predominou foi do ensino médio (44%). Em contrapartida outros estudos mostram que o baixo nível de escolaridade ainda é predominante em diversas regionais do país, como o de Ribeiro (2009) que afirma que a maioria das famílias na região da Campanha no Rio Grande do Sul não concluiu sequer o ensino fundamental de ensino. Castro (2007) também afirma que em Maringá, no estado do Paraná, os produtores em sua maioria possuem somente o primeiro grau completo (35,7%) e o antigo segundo grau completo (29%).

Diversificar tanto nas atividades exercidas na propriedade rural quanto em trabalho fora da propriedade tem sido apontado como determinantes para a utilização dos mercados futuros (MARQUES e AGUIAR, 2004). Neste quesito, verificou-se que quase a metade dos produtores (49,38%) não possuem nenhuma atividade fora da propriedade rural. Porém, os demais exercem algum tipo de serviço além dos desenvolvidos na propriedade, são: empresários da indústria e do comércio (17,28%), prestadores de serviços (8,6%), funcionários públicos (6,1%) e outros (18,5%). Este outros compreendem: bancário, corretor imobiliário, corretor de investimento, representante comercial, médico, advogado, etc.

Embora a maioria dos entrevistados participe de alguma ‘rede política’, como associação, sindicato ou cooperativa, é significativo o percentual, dos que não participam de nenhum destes (mais de 30%). De acordo com Baron (2007) e Hartog et al (2009) apud Carrer (2012) além da educação formal, participar de redes políticas junto a outros agentes da cadeia agroindustrial eleva o conhecimento, o acesso e o compartilhamento de informações importantes entre os produtores rurais.

Em relação ao tamanho da propriedade, verificou-se que a maioria das propriedades possui de 101 a 1000 alqueires goianos, ou melhor, 488,84 a 4840 hectares (50,6%). Somente 8,6% dos pecuaristas possuem uma vasta propriedade (acima de 1000 alqueires goianos). Pode-se verificar ainda que 64% das propriedades rurais dedicam exclusivamente à bovinocultura de corte. Somente 3,7% não tem a bovinocultura corte como exclusiva de, ou seja, utilizam no máximo 10% de sua área para essa atividade. Das propriedades que não

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dedicam exclusivamente à bovinocultura de corte, são desenvolvidas outras atividades como: atividade leiteira, 28,4%, algum tipo de agricultura (como milho, soja, algodão), 28,4%, e ainda outros 17,3%, desenvolvem outras atividades além destas em suas propriedades. É importante salientar que teoricamente, à diversificação da produção, é um atenuante do risco nas atividades agropecuárias.

Praticamente 99% das propriedades rurais, possuem apenas um proprietário. Foi verificado que 37% propriedades possuem gerentes, 46,9% contam com os serviços de veterinários e/ou zootecnistas, 41,9% possuem ao menos um encarregado geral, 29,6% dispõem de motoristas, 28,3% possuem capatazes e 11,1% propriedades possuem outros funcionários temporários. Além destes, o funcionário determinado vaqueiro é presente em quase todas as propriedades, a maioria inclusive (77,8%) possui mais de um em suas propriedades rurais.

As propriedades tradicionais geralmente caracterizavam-se pelo número reduzido de funcionários, visto que o pecuarista também atuava diretamente nas operações na propriedade rural. Normalmente as pequenas propriedades só possuíam um caseiro, que geralmente era responsável por todas as atividades na propriedade rural. Porém, atualmente vê-se um avanço na gestão das propriedades rurais, para um patamar de empresas rurais, o que delimita e especializa o trabalho na propriedade, e delega maior poder de decisão aos funcionários como: gerentes, veterinários, encarregados, etc.

Em relação a importância dada dentro da propriedade à a administração financeira verificou-se que 63% fazem algum tipo de gestão de custos e apenas 33,3% não fazem uso de nenhum controle financeiro. É bastante positivo o fato de grande parte dos pesquisados se dedicarem de alguma forma, a planejar, organizar e controlar as receitas e despesas, visto que com a utilização de procedimentos de gestão financeira, às perdas no negócio rural podem ser minimizadas.

Por terem a atividade de bovinos de corte como a principal atividade, a maioria (52,8%) possui um número de 501 a 5000 cabeças de bovinos de corte na propriedade. O menor grupo correspondeu aos pecuaristas que possuíam acima de 5000 cabeças (6,17%) e os que possuíam até 100 cabeças (14,81%).

As etapas da produção bovina são: cria, recria e engorda. A cria é a fase do nascimento do bezerro até a fase de desmama. Na fase de recria se encontram os animais desmamados até a época de engorda. E a fase de engorda é a final, onde se termina o bovino com a finalidade de encaminhá-lo para ser abatido entre 30 e 36 meses (novilho precoce) ou de modo tradicional de 42 a 48 meses (CORREA, 1996). Percebeu-se que a maioria dos componentes da amostra (35,8%) ‘trabalham’ com o ciclo completo, seguido de recria mais engorda (19,8%), cria mais recria (14,8%) e apenas cria (13,6%).

Entre os sistemas de engorda de bovinos, destacam-se o sistema extensivo ou tradicional, o sistema de semi-confinamento (ou semi-intensivo) e o de confinamento (ou intensivo).

Mais da metade dos produtores de bovinos de corte pesquisados (55%) se classificam como pecuaristas extensivos, ou seja, não detém intensidade tecnológica no sistema de produção. A opção outros correspondeu a 4,9% dos pecuaristas que se dizem não enquadrar no sistema de confinador, semi-confinador ou pecuarista extensivo, pois a maioria da sua atividade se enquadra como ‘pecuária de elite’, que tem o destino preferencialmente ao melhoramento genético. Apenas 1 pecuarista tem sua atividade destinada exclusivamente a criação de touros para eventos esportivos (rodeios).

A maioria dos pecuaristas vende seus animais sobre a forma de peso vivo (65%). No entanto, quase 50% nunca vendem de forma a obter rendimento por carcaça. A venda de um

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animal em peso vivo ocorre como o próprio nome já diz pesando o animal antes do abate. Já na forma de abate, o rendimento por carcaça, é definido pelo peso do animal após o abate, desconsiderando o peso do couro, cabeça, parte inferior dos membros e órgãos, e em geral essas partes retiradas correspondem a aproximadamente 50% do animal vivo.

Neste patamar, apenas 13,6% dos pecuaristas afirmam não sofrerem perdas financeiras ocasionadas por oscilações nos preços a vista ao vender o gado enquanto que, algo em torno de 40% dos pecuaristas, afirmam sofrerem perdas ao vender seu gado no mercado a vista.

Em relação aos agentes que intermediam a comercialização da produção pecuária de corte, apurou-se que os corretores fazem poucas intermediações nas comercializações dos bovinos, isto porque a maior parte da comercialização ocorre de forma direta (76,5%). A maioria dos respondentes (90,1%) nunca teve sua produção comercializada com a intermediação de cooperativas, associações e aliança mercadológica (ou acordo entre produtor/frigorífico/supermercado).

Após detalhar os agentes intermediários da comercialização do rebanho bovino, foram levantados os principais fatores que os pecuaristas levam em consideração na tomada de decisão de venda de seus animais. A maioria dos produtores de bovinos de corte (55,6%) nunca utiliza a relação de troca ou reposição (relação boi vendido por bezerro adquirido) como fator importante para vender seus animais, embora 19,8% sempre e 12,3% às vezes dão importância a este fator, nem o fator taxa de juros (91,4%), fidelidade ao comprador (79%) e forma de pagamento (66,7%) como fator importante para vender seu rebanho.

O fator mais importante na decisão de venda é o preço da arroba do boi. Notou-se ainda que 51,9% sempre, 9,9% frequentemente e 6,2% as vezes levam em conta o valor da arroba no momento da venda. Outros motivos são considerados irrelevantes para decidir se vende ou não os bovinos de corte (69,1%), dentre estes, estão: a rápida necessidade de capital; o alcance do peso esperado para o abate e falta de área/pasto para à continuidade da atividade.

Muitos pecuaristas, afirmaram não ser a forma de pagamento um importante fator para a tomada de decisão de venda. Mas normalmente como é a forma de pagamento? Verificou-se que 38,3% sempre recebem o pagamento a vista e 21% nunca recebem a vista. Em contrapartida, 30,9% nunca recebem o pagamento a prazo e 27,2% sempre recebem a prazo.

Quanto ao mercado futuro, 64% afirmaram conhecer, embora, destes, apenas 21% utilizam o mercado futuro como mecanismo de administração do preço alvo. Os motivos de mesmo conhecendo o mercado futuro não usá-lo, foram os seguintes: receio, muito arriscado, custo operacional alto, dificuldade de acesso, não conhece muito bem e outros, respondidos sobre a forma de escala likert (em 5 escalas, entre, concordo totalmente e discordo totalmente).

Dos produtores de bovinos de corte, que afirmaram conhecer, mas não utilizar a comercialização via mercado futuro (nem raramente), estes concordam que: não conhece muito bem o funcionamento desse tipo de comercialização (42%) e que o mercado futuro é muito arriscado (21%). Outros 38% listaram como outros motivos: não ter tempo disponível para acompanhar o mercado, acreditar que não enquadra no perfil dos participantes do mercado futuro, não possuir animais no ciclo final de produção, ter um rebanho muito pequeno, etc.

A comercialização via mercado de opções é outro instrumento de gestão de risco de preço importante e é conhecida por 54% dos entrevistados (número 10% menor dos que os que afirmam conhecer o mercado futuro). Todavia, destes, apenas 16% utilizam mesmo que raramente o mercado de opções boi gordo. Para os produtores de bovinos de corte de Goiás não é tanto o fator custo operacional ser alto nem o receio em utilizar as opções que os fazem não participarem desse mercado. A maioria não concorda e nem discorda que o custo

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operacional seja alto (93%), nem que possuam receio com esse mercado (88%) e nem que possuam dificuldade no acesso ao mercado de opções (81%).

O que os pecuaristas de bovinos de corte que conhecem, mas não usam o mercado de opções mais acreditam ser o fator que limita a utilização do mercado de opções do boi gordo, é não conhecer muito bem (40%) e ser esse tipo de mercado muito arriscado (24%), similarmente ao mercado futuro. Destes, 35% apresentaram outros motivos para não participarem do mercado de opções (assim como os levantados no mercado futuro), como: não possuir animais no ciclo final de produção, acreditar que não enquadra no perfil dos participantes de mercado de opções, não considerar vantajoso, não ter tempo disponível para acompanhar o mercado, não ter confiança nos contratos e ter um rebanho muito pequeno.

A maioria dos pecuaristas de corte de Goiás da amostra realmente não utiliza o mercado futuro nem o mercado de opções. Isso é um indicativo que os pecuaristas de bovinos de corte goianos ainda não se sentem confiantes em transferir o risco de preço para o mercado de derivativos. É sim, comum, diversificar a forma de comercialização visando obter uma maior rentabilidade. Todavia, segundo Cruz Junior (2009) a explicação para o baixo uso do mercado de derivativos pode ser o excesso de confiança que os produtores rurais normalmente possuem.

Foi verificado que a maioria dos pecuaristas se mostra indiferente ao custo operacional, o que pode ser um indicativo de que os produtores de bovinos de corte do estado de Goiás possuem excesso de confiança, contudo, de acordo com Andrade (2004) há muito que entender sobre os custos das transações em mercados futuros, eu seu estudo se percebe que existe uma excessiva carga tributária em mercados futuros, que inibem a entrada de agentes menos capacitados a qual poderia ser os mais beneficiados por este mecanismo de administração de risco.

3.2 Faixa etária X Utilização do mercado futuro e de opções

A faixa etária que mais utiliza o mercado futuro é a de 41 a 50 anos de idade (todavia este grupo representa 32% dos pesquisados). A faixa etária que menos utiliza o mercado futuro corresponde aos produtores de bovinos de corte entre 51 e 60 e acima de 60 anos. O que sugere que produtores com idade mais avançada são menos propensos a utilizarem esse mecanismo de proteção de preço.

Nenhum dos 10 produtores de bovinos de corte do estado de Goiás com idade superior à 60 anos utilizam o mercado de opções. O grupo que mais possui produtores que utilizam a comercialização via mercado de opções se encontra na faixa etária entre 41 e 50 anos (participam do mercado de opções menos da metade dos produtores deste grupo).

3.3 Escolaridade X Utilização do mercado futuro e de opções

Os pecuaristas que mais operam no mercado futuro e no mercado de opções são os que possuem nível superior. A maior participação dos produtores que possuem nível superior nestes mercados normalmente se dá pela difusão de conhecimento no ensino superior.

Notou-se que dos respondentes que possuem até o ensino fundamental nenhum utiliza o mercado futuro nem o mercado de opções como mecanismo de comercialização. Ou seja, o grau de escolaridade entre os produtores mostra-se como um requisito para a participação no mercado futuro e no mercado de opções.

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É possível notar ainda que a mesma quantidade de produtores que possuem nível superior e que utilizam o mercado futuro (9,8%) também utiliza o mercado de opções, o mesmo ocorre com os produtores que possuem o ensino médio.

A diferença para a utilização destes mercados no gerenciamento de risco de preços é mais perceptível para os que possuem especialização e mestrado, todavia são menos os que utilizam o mercado de opções do que os que usam o mercado futuro.

3.4 Tempo de experiência X Utilização do mercado futuro e de opções

Além da escolaridade, o tempo de experiência no ramo pecuário conta muito para definir as melhores medidas de gerenciamento de risco na propriedade rural. A tendência é que quanto maior o tempo de experiência pecuária maior é a participação no mercado futuro e de opções. Contudo, notou-se que os pecuaristas que mais negociam no mercado futuro e no mercado de opções está na atividade bovinocultura de corte entre 11 e 20 anos.

3.5 Atividades financeiras realizadas fora da propriedade rural X Utilização do mercado futuro e de opções

Como visto na análise descritiva, em torno da metade dos respondentes exercem alguma outra atividade econômica fora da propriedade rural. Os poucos produtores de bovinos de corte que são funcionários públicos não utilizam a comercialização via mercado futuro e nem via mercado de opções.

Os produtores que mais utilizam o mercado futuro estão no grupo dos que praticam outras atividades (seja ela: administração de empresas, ser prestador de serviços ou funcionário público) e ao grupo dos que não possuem nenhuma atividade fora da propriedade rural, 14,8% dos produtores. Tal fato é diferente para quem utiliza o mercado de opções, pois a maior parcela dos produtores que negociam neste mercado não possui nenhuma renda oriunda de outras atividades, representando quase a metade dos que utilizam o mercado de opções.

3.6 Participações em redes políticas X Utilização do mercado futuro e de opções

Acredita-se que além do conhecimento adquirido no ensino acadêmico muitos que se vinculam a associações, sindicatos e/ou cooperativas de seu ramo de atividade também recebem informações sobre formas de gerenciamento de risco, e etc.

A maioria dos produtores que participam de associações, cooperativas e/ou sindicatos relacionados à pecuária bovina não negociam no mercado futuro e ainda menos no mercado de opções, entretanto, é maior a quantidade dos produtores participantes destas associações que utilizam estes mercados do que os que não têm vínculo as mesmas. Tais participações podem ser consideradas adicionais à educação formal por aumentar o conhecimento e o relacionamento dos produtores rurais que visam os mesmos objetivos.

3.7 Tamanho da propriedade X Utilização do mercado futuro e de opções

Quando o pecuarista possui uma propriedade maior supõe-se que este busca mais formas de transferir o risco de suas atividades. Essa variável (e também tamanho do rebanho bovino) foi verificada nesta pesquisa partindo da hipótese de que quanto maior a propriedade se eleva a probabilidade de utilizar o mercado de derivativos, isto porque considera-se uma

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maior capacidade de fornecer garantias, não no sentido hipotecário, mas sim a partir dessa fonte de riqueza (terra), se conseguir outros meios de financiamento que possa cobrir custos eventuais.

Ao cruzar a variável tamanho da propriedade com utilização do mercado futuro e do mercado de opções se percebe que dos que possuem até 48,4 hectares nenhum utiliza o mercado futuro, nem tão pouco o mercado de opções. O destaque relacionado ao tamanho da propriedade e aos que utilizam o mercado futuro e o de opções está no grupo de produtores que possuem entre 488,84 a 4840 hectares, pois, representam mais de 50% do pesquisados que utilizam o mercado futuro e 77% dos produtores que negociam no mercado de opções.

3.8 Tamanho do rebanho bovino X Utilização do mercado futuro e de opções

Em relação ao tamanho do rebanho bovino, uma pequena parcela (2,5%) dos que possuem até 100 cabeças de gado negociam no mercado futuro. Os que possuem de 501 a 5000 cabeças (35,8% do total) são os que mais utilizam esse meio de comercialização de seu rebanho. O único grupo que não negocia contratos no mercado futuro possui entre 100 e 500 cabeças de bovinos de corte.

Por outro lado, 16% dos pecuaristas pesquisados com rebanho bovino entre 501 e 5000 cabeças utilizam o mercado de opções. Percebe-se que, mesmo representando 37% do total de respondentes, os grupos que possuem menos de 100 e entre 100 e 500 cabeças de gado não participam do mercado de opções.

Um detalhe importante e que sugere que quanto maior o rebanho maior a chance de se participar do mercado de derivativos é que a maioria dos integrantes da pesquisa que possuem um rebanho bovino com mais de 100 cabeças conhecem a comercialização via mercado futuro e de opções, e, dos que possuem um rebanho maior que 5000 cabeças, todos afirmam conhecer o mercado futuro, mesmo que como visto a maioria não o utilize.

3.9 Tipo de gestão financeira X Utilização do mercado futuro e de opções

Observou-se que os proprietários que investem em algum software de gestão financeira são os que mais utilizam o mercado futuro e de opções. A quantidade dos que usam algum tipo de software especializado no gerenciamento das atividades de bovinocultura de corte e utilizam o mercado futuro (9,9%) supera os que não utilizam o mercado futuro (7,1%). É interessante também verificar que a quantidade dos que utilizam uma gestão mais rudimentar (anotações por escrito), pelo software excel da Microsoft ou nenhuma (11,1%), é idêntica tanto para os que utilizam o mercado futuro quanto o de opções.

3.10 Sistema de engorda X Utilização do mercado futuro e de opções

Percebeu-se que o grupo que mais pratica o mercado futuro são os confinadores, sendo que (9,9% do total) utiliza esse mecanismo de comercialização (neste grupo, o número dos que praticam é igual ao dos que não praticam o mercado futuro), no entanto o mesmo não acontece com os semi-confinadores e muito menos com os pecuaristas extensivos (que representa 55,6% do total pesquisado).

Entre os pecuaristas que utilizam o mercado de opções, primeiro aparece os confinadores seguido dos semi-confinadores (que buscam mais transferir o risco de preço por terem ‘data certa’ para vender, ou seja, o boi engordou e é em seguida vendido), posteriormente os pecuaristas extensivos, que contemplam apenas 2,5% produtores

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participantes do mercado de opções e por fim outros com apenas 1% produtor operando no mercado de opções.

Um diferencial visualizado é o fato de existir entre os pesquisados, pecuaristas semi-confinadores que utilizam mais o mercado de opções do que o mercado futuro (mesmo que o volume de contratos neste mercado seja bem maior do que nos demais tipos de contratos dentro do mercado de derivativos da BM&FBOVESPA).

3.11 Frequência das perdas financeiras X Utilização do mercado futuro e de opções

No cruzamento entre as variáveis frequência das perdas financeiras e utilização do mercado futuro e de opções o intuito foi verificar se a participação nestes mercados se modificava de acordo com as perdas financeiras ocasionadas pela oscilação nos preços de venda do boi gordo.

Os produtores que mais buscam meios de proteger os preços de sua produção normalmente são os que sofrem frequentes perdas em suas transações comerciais devido às oscilações no preço de venda do boi gordo. Esperava-se assim que os que frequentemente e/ou sempre sofrem perdas financeiras nas transações comerciais seriam os líderes na participação do mercado futuro e de opções. No entanto, o grupo de pecuaristas que as vezes e/ou frequentemente perdem monetariamente na comercialização é maior do que os produtores que sempre sofrem perdas financeiras, tanto no mercado futuro como no de opções.

Com base nessa análise verifica-se que os pecuaristas do estado de Goiás que utilizam o mercado futuro geralmente tem escolaridade superior ou pós-graduação, tempo de experiência na atividade superior 10 anos e possuem outras atividades econômicas desenvolvidas fora da propriedade rural, além de ter participação em associações e/ou cooperativas e/ou sindicatos, possuir propriedade maior que 488,84 hectares e rebanho superior a 501 bovinos de corte. Nesta pesquisa, notou-se ainda que a frequência de perdas financeira é um fator que influencia o pecuarista a buscar meios alternativos como o mercado futuro e de opções para gerenciar o risco de preços.

Em relação aos fatores que levam o pecuarista a buscar o mercado de opções para gerenciar o risco de preço da sua atividade se destaca o tamanho da propriedade (maior que 101 alqueires goianos ou 488,84 hectares) e o tamanho do rebanho bovino (maior que 501 cabeças). Porém ressalta-se que estas conclusões baseiam-se em um percentual de 15% de produtores de bovinos de corte que utilizam o mercado futuro e o de opções.

3.12 Análise de regressão logística – utilização do mercado futuro

Pelo modelo de regressão logística pode-se com maior precisão avaliar os fatores que levam o pecuarista de bovinos de corte do estado de Goiás a utilizar os mecanismos de gestão de risco de preços.

Inicialmente se calculou o coeficiente β (Beta), o valor de significância estatística (p-

valor). e o Exp(β), que é o Odds ratio de cada variável, que representa a razão entre a chance de um evento acontecer em um grupo de ocorrências e a chance de acontecer em outro grupo. Assim sendo, a probabilidade de ocorrência deste fenômeno é dividida pela probabilidade da não ocorrência do mesmo fenômeno. Posteriormente foram feitas combinações conjuntas entre as variáveis que se mostraram significantes. O nível de significância definido no estudo foi de 10% (p≤0,10). Primeiro foi analisado a utilização do mercado futuro e posteriormente do mercado de opções.

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Verificou-se que os parâmetros das variáveis: Faixa Etária, Experiência, Participação em Redes Políticas, Gestão e Perdas Financeiras isoladamente não são significantes por terem significância maior que 10% (Tabela 1). Logo, as variáveis: Escolaridade, Atividades fora da Propriedade Rural, Tamanho da Propriedade Rural, Tamanho do Rebanho e o Sistema de Engorda separadamente são estatisticamente significantes em 10%.

Tabela 1: Resultados do Modelo Logistic – Variáveis isoladas para determinar fatores que impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado futuro

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Faixa Etária -0,119 0,566 0,888

Escolaridade 1,271 0,002 3,565

Experiência -0,213 0,304 0,808

Atividades Fora da Propriedade Rural -1,001 0,089 0,368

Participação em Redes Políticas -0,297 0,616 0,743

Tamanho da Propriedade Rural 1,021 0,017 2,777

Tamanho do Rebanho Bovino 0,590 0,028 1,805

Gestão -0,200 0,365 0,819

Sistema de Engorda -0,740 0,030 0,510

Perdas Financeiras 0,215 0,334 1,240 Fonte: Dados da pesquisa

Assim foi verificado se excluídas as variáveis do modelo que não se mostraram

significantes, as demais variáveis conjuntas continuariam se mostrando significantes. Notou-se que apenas escolaridade (p-valor=0,008), atividades fora (p-valor=0,021) e sistema de engorda (p-valor=0,050) quando analisadas conjuntamente se mostram estatisticamente significantes ao nível de 10% de significância.

Tabela 2: Resultado do Modelo Logistic – Variáveis que determinam os fatores que

impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado futuro

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Escolaridade 1,586 0,008 4,885

Atividades Fora da Propriedade Rural -1,819 0,021 0,162

Tamanho da Propriedade Rural 0,982 0,169 2,671

Tamanho do Rebanho Bovino 0,283 0,553 1,327

Sistema de Engorda -0,807 0,050 0,446

Fonte: Dados da pesquisa

Em seguida, essas variáveis (Escolaridade, Atividades Fora e Sistema de Engorda) que ainda permaneceram significantes foram novamente analisadas a fim de se examinar se eliminando as variáveis, Tamanho da propriedade rural e Tamanho do Rebanho Bovino as demais permaneceriam significantes. Verificou-se que o p-valor das variáveis Escolaridade (0,004), Atividades fora da Propriedade Rural (0,0006) e Sistema de Engorda (0,018) se mantiveram significantes estatisticamente, pois os valores destas variáveis perseveraram menor que 10% de significância (Tabela 3).

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Tabela 3: Resultado do Modelo Logistic – Variáveis que determinam os fatores que impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado futuro

(com a exclusão das variáveis, tamanho da propriedade rural e tamanho do rebanho)

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Escolaridade 1,394 0,004 4,033

Atividades Fora da Propriedade Rural -1,290 0,060 0,275

Sistema de Engorda -0,855 0,018 0,425

Fonte: Dados da pesquisa

A fim de se confirmar se as variáveis adjacentes que são estatisticamente significantes são apenas Escolaridade, Atividades Fora e Sistema de Engorda foram analisadas todas as variáveis. É possível visualizar pela Tabela 4 que seis variáveis não se apresentaram significância estatística (Faixa Etária, Experiência, Participa de redes políticas, Tamanho do Rebanho Bovino, Gestão e Perdas Financeiras).

Tabela 4: Resultados do Modelo Logistic – Variáveis conjuntas para determinar fatores que

impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado futuro

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Faixa Etária -0,428 0,297 0,652

Escolaridade 2,111 0,004 8,253

Experiência 0,144 0,722 1,154

Atividades Fora da Propriedade Rural -2,656 0,006 0,070

Participação em Redes Políticas 1,018 0,244 2,767

Tamanho da Propriedade Rural 1,716 0,076 5,563

Tamanho do Rebanho Bovino -0,031 0,958 0,970

Gestão -0,229 0,510 0,795

Sistema de Engorda -1,021 0,030 0,360

Perdas Financeiras 0,578 0,122 1,783 Fonte: Dados da pesquisa

Os parâmetros das variáveis: Escolaridade, Atividades Fora, Tamanho da Propriedade

e Sistema de Engorda são estatisticamente significantes, enquanto os coeficientes (β) de Escolaridade e Tamanho da Propriedade não se apresentam significantes ao nível de 10%. As variáveis: Escolaridade e Atividade Fora da Propriedade sofreram um aumento no Beta de 0,3% e 1,9% respectivamente, contudo a variável Tamanho da Propriedade e Sistema de Engorda sofreu redução, de 5% e 1% respectivamente (Tabela 5).

Tabela 5: Resultados do Modelo Logistic - Fatores determinantes para a utilização do

mercado futuro por pecuaristas de corte do estado de Goiás

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Escolaridade 1,591 0,007 4,910

Atividades Fora da Propriedade Rural -1,728 0,025 0,178

Tamanho da Propriedade Rural 1,250 0,026 3,489

Sistema de Engorda -0,900 0,020 0,407

Fonte: Dados da pesquisa

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As variáveis explicativas que foram associadas à participação no mercado futuro não

se limitam apenas a Escolaridade, Atividades Fora e Sistema de Engorda como nota-se pela Tabela 5, isto porque, ao incluir Tamanho da Propriedade Rural, todas variáveis permanecem estatisticamente significantes. Neste caso, as variáveis, Escolaridade e Tamanho da Propriedade Rural, apresentaram a razão de chances (Oddis ratio) maior que 300%, ou seja, ao se elevar a Escolaridade em um grau sobe para 491% a chance de o pecuarista participar do mercado futuro, da mesma forma, que ao aumentar o tamanho da propriedade, sobe para 348%, a chance do pecuarista participar deste mercado.

Assim das 10 variáveis explicativas utilizadas no modelo que são as que estatisticamente mais afetam na decisão de o pecuarista de corte do estado de Goiás utilizar o mercado futuro como mecanismo de gerenciamento de risco de preços foram: a escolaridade, o fato ter outra atividade financeira fora da propriedade rural, a intensidade de tecnologia ou o tipo de sistema de engorda e o tamanho da propriedade rural.

Os resultados encontrados corroboram os do estudo de Marques e Aguiar (2004), em que a escolaridade e a renda fora da propriedade rural representaram duas entre três variáveis influenciadoras no uso do mercado futuro. O mesmo pode-se dizer da pesquisa de Carrer (2012), cujos resultados mostraram que quando se eleva a intensidade tecnológica, medida pela adoção de confinamento, maior é a propensão de se usar mecanismos alternativos no gerenciamento de risco de preços. 3.13 Análise de regressão logística – utilização do mercado de opções

Como feito na análise dos fatores que determinam a utilização do mercado futuro, agora se analisa os fatores que impulsionam o pecuarista de corte do estado de Goiás a utilizar o mercado de opções no gerenciamento de risco de preços. Inicialmente se analisou as variáveis isoladamente com a finalidade verificar se estas são ou não estatisticamente significantes. Observa-se na Tabela 6 que a maioria das variáveis não são significantes. Neste caso, apenas as variáveis: Escolaridade, Tamanho da Propriedade, Tamanho do Rebanho e Sistema de Engorda, apresentaram valores abaixo do nível de 10% de significância estatística.

Tabela 6: Resultados do Modelo Logistic – Variáveis isoladas para determinar fatores que

impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado de opções

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Faixa Etária 0,063 0,783 1,065

Escolaridade 0,621 0,082 1,861

Experiência 0,008 0,973 1,008

Atividades Fora da Propriedade Rural -0,470 0,448 0,625

Participação em Redes Políticas 0,201 0,748 1,223

Tamanho da Propriedade Rural 1,175 0,018 3,239

Tamanho do Rebanho Bovino 0,950 0,007 2,586

Gestão -0,318 0,205 0,728

Sistema de Engorda -0,955 0,007 0,385

Perdas Financeiras 0,121 0,618 1,129 Fonte: Dados da pesquisa

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Posteriormente, as variáveis: Escolaridade, Tamanho da Propriedade, Tamanho do Rebanho e Sistema de Engorda foram analisadas conjuntamente. Constata-se que ao nível de significância estatística de 10%, somente os parâmetros da variável Sistema de Engorda (p=0,082) e seu coeficiente (β=-0,655) se mostram significantes (Tabela 7).

Tabela 7: Resultados do Modelo Logistic – Variáveis que determinam os fatores que impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado de opções

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Escolaridade 0,582 0,189 1,790 Tamanho da Propriedade Rural 0,553 0,455 1,738 Tamanho do Rebanho Bovino 0,536 0,281 1,709 Sistema de Engorda -0,655 0,082 0,519

Fonte: Dados da pesquisa

Com a finalidade de verificar se as variáveis analisadas conjuntamente permanecem

significantes ou se somente a variável Sistema de Engorda é representativa no modelo, uma proxy para a utilização do mercado de opções, foram avaliadas todas as variáveis. Observa-se na Tabela 8 que a maioria das variáveis não são estatisticamente significantes, neste caso, somente são significantes as variáveis: Atividades Fora e Sistema de Engorda.

Tabela 8: Resultados do Modelo Logistic – Variáveis conjuntas para determinar fatores que impulsionam pecuaristas de corte do Estado de Goiás a utilizar o mercado de opções

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Faixa Etária -0,055 0,895 0,946

Escolaridade 0,755 0,204 2,127

Experiência 0,383 0,353 1,467

Atividades Fora da Propriedade Rural -1,519 0,108 0,219

Participação em Redes Políticas 1,038 0,232 2,823

Tamanho da Propriedade Rural 0,698 0,437 2,010

Tamanho do Rebanho Bovino 0,665 0,273 1,944

Gestão -0,210 0,548 0,810

Sistema de Engorda -0,879 0,049 0,415

Perdas Financeiras 0,183 0,579 1,201

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 8, nota-se que em conjunto, os coeficientes (β) das variáveis: Atividades Fora e Sistema de Engorda, são significantes ao nível 10%, porém, percebe-se pela Tabela 9 que somente a variável Sistema de Engorda é estatisticamente significante como determinante para participação do pecuarista no mercado de opções. O valor da razão de chance (oddis

ratio = 0,371) demonstra que ao elevar a intensidade tecnológica no sistema de engorda dos bovinos em 1% aumenta-se em 37,1% a chance do pecuarista negociar no mercado de opções.

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Tabela 9: Resultados do Modelo Logistic - Fatores determinantes para a utilização do mercado de opções por pecuaristas de corte do estado de Goiás

Variáveis Coeficiente (β) p-valor Exp (β)

Atividades Fora da Propriedade Rural -0,735 0,268 0,480 Sistema de Engorda -0,993 0,005 0,371 Fonte: Dados da pesquisa

Entre 10 variáveis analisadas, a única variável que se mostrou determinante para os

pecuaristas de corte do estado de Goiás negociarem no mercado de opções com a finalidade de gerenciar o risco de preços, foi o sistema de engorda. Por este resultado, sugere-se que o pecuarista que investe mais no sistema de semi-confinamento e/ou confinamento, mais propenso o mesmo está a utilizar o mercado de opções como mecanismo de gerenciamento de risco de preços. 4. Conclusões

Considerando que a pesquisa teve como objetivo analisar os fatores determinantes para uso dos mecanismos de gestão de risco de preço do gado de corte, algumas variáveis foram elencadas no sentido de desvendar essa questão.

Inicialmente, verificou-se que a maior parte dos produtores de bovinos de corte possui entre 41 e 60 anos de idade. O estudo mostrou ainda que cerca de 2/3 (dois terços) dos pesquisados possui ensino superior, e mais da metade dos pecuaristas possuem outra fonte de renda.

Verificou-se também que em geral os pecuaristas compartilham conhecimento por intermédio de uma participação ativa em sindicatos rurais, associações e/ou cooperativas ligadas à bovinocultura. Muitos produtores (62,9%), normalmente, fazem em suas propriedades rurais algum tipo de gerenciamento financeiro, enquanto uma pequena parcela (cerca de 1/3) não sabe ou não faz nenhum tipo de gestão financeira.

Entre os produtores pesquisados, 59,2% possuem propriedades rurais com extensa área de terra (superior a 488,84 hectares). Na realidade muitos produtores rurais se preocupam em adquirir cada vez mais espaço, enquanto a infraestrutura fica a desejar. Foram obtidas respostas de produtores de todas as microrregiões do estado (abrangendo 50 municípios) para efeito deste estudo. As únicas microrregiões não coletadas foram a da Chapada dos Veadeiros e a de Iporá. No entanto, todas as mesorregiões foram contempladas por pelo menos um respondente, destacando a mesorregião do Sul Goiano, que foi a que teve o maior número de respondentes. Neste patamar, destaca-se que esta mesorregião possui o maior contingente efetivo de bovinos de acordo com o IBGE (2012a). Apesar de os produtores de gado de corte de Goiás não investirem tanto em tecnologia no sistema de engorda, e de não trabalharem com o ciclo completo, o número de bovinos em suas propriedades encontra-se entre 500 e 5000 cabeças.

Observou-se que a forma de comercialização é bem diversificada, contudo a predominância se dá em função da venda à vista e ainda sob a forma de peso vivo. Alguns fatores que os produtores de bovinos nem sempre analisam na pré-venda são, principalmente, a taxa de juros do mercado, a fidelidade ao comprador, a forma de pagamento e outros fatores pertinentes. Mesmo diversificando a comercialização, fatores como relação de troca (ou reposição do rebanho), e o preço da arroba do boi devem ser observados sob o risco de

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prejuízos. Neste sentido, foram poucos os produtores que nunca sofreram perdas financeiras por conta das oscilações nos preços da arroba do boi.

Constatou-se também que a comercialização no mercado de derivativos agropecuários não é utilizada habitualmente pelos pecuaristas do estado de Goiás, embora muitos conhecessem essa ferramenta de gestão, conforme salienta o trabalho de Morais (2009) em relação aos produtores de soja deste mesmo estado. Buscaram-se razões para a não utilização desses mecanismos de gerenciamento de risco e verificou-se que a falta de conhecimento desses mercados e o risco muito alto são alguns dos entraves para quem utiliza tanto o mercado futuro como o mercado de opções.

A partir da análise bivariada verificou-se que nem todas variáveis (faixa etária, escolaridade, experiência pecuária, atividades realizadas fora da propriedade, participação em redes políticas, tamanho da propriedade, tamanho do rebanho, tipo de gestão financeira, sistema de engorda e perdas financeiras) são determinantes para a utilização dos mecanismos de gerenciamento de risco de preço, mercado futuro e mercado de opções.

Evidenciou-se, porém, que as variáveis que se mostraram decisivas para a participação no mercado futuro foram a escolaridade, o tempo de experiência na atividade pecuária, o fato de ter outras atividades econômicas desenvolvidas fora da propriedade rural, a participação em associações, cooperativas e/ou sindicatos, o tamanho da propriedade, o tamanho do rebanho bovino e a frequência de perdas financeiras em suas comercializações. E os fatores que levaram o pecuarista a buscar meios de gerenciar o risco de preço no mercado de opções foram o tamanho da propriedade e o tamanho do rebanho bovino.

Ressaltou-se também que o modelo de regressão logística foi utilizado na pesquisa a fim de avaliar os fatores determinantes do uso do mercado futuro e de opções no gerenciamento de risco de preços por parte dos produtores de bovinos de corte do estado de Goiás. Constatou-se que, estatisticamente, o que mais afeta a utilização dos produtores no mercado futuro se resume ao nível de escolaridade, a adoção de outra fonte de renda fora da propriedade, a intensidade tecnológica aplicada ao sistema de produção e o tamanho da propriedade. Já no mercado de opções, o que afeta é exclusivamente a intensidade tecnológica aplicada ao sistema de produção.

Os resultados encontrados na pesquisa corroboram os de Morais (2009) com os produtores de soja de Rio Verde que a participação no mercado futuro não depende do nível de escolaridade nem da experiência no ramo. Para os produtores da referida cidade, o tamanho da área também independe, o que neste caso difere do estudo que ora se realiza.

Porém, ressalta-se também a proximidade dos resultados encontrados no estudo de Carrer et al (2013) que apontaram que os principais fatores que elevam a probabilidade dos produtores de bovinos de corte do estado de São Paulo a adotar mecanismos de gestão de risco de preços (mercado futuro e a termo) foram a maior receita da produção, maior intensidade em tecnologia no sistema de produção e menor alavancagem financeira (que se mostra similar a frequência das perdas financeiras utilizada nesta pesquisa). No estudo de Marques e Aguiar (2004) com os produtores de soja no município de Cascavel-Paraná as variáveis determinantes foram educação, a renda bruta e o trabalho fora da propriedade.

Neste estudo não foi utilizada a variável receita ou renda da propriedade rural em valores monetários, em virtude dos produtores de bovinos de corte do estado de Goiás se mostrarem conservadores, e considerarem, normalmente, essa informação sigilosa. Contudo a caracterização não probabilística da pesquisa se deve a dificuldade da obtenção de dados primários neste meio. Ademais, a restrição orçamentária para a pesquisa de campo e a inexistência de uma lista com os nomes de todos os pecuaristas de bovinos do estado de Goiás

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tornou-se inviável para obtenção de uma amostra probabilística dos produtores que utilizam e não utilizam o mercado de derivativos.

Observou-se que por mais que o tema em estudo fosse de extrema importância, não foi encontrada literatura específica para o estado de Goiás que envolvesse a temática. Todavia, as conclusões deste trabalho fortalecem a ideia de que a escolaridade, a renda fora da propriedade, a intensidade tecnológica aplicada ao sistema de produção e o tamanho da propriedade tem forte relação com o uso do mercado futuro e de opções para o gerenciamento do risco de preço pelos pecuaristas.

Deste modo, conclui-se que o pecuarista goiano que investe nos mercados futuros e de opções para o gerenciamento de risco de preços possui nível de escolaridade superior, outras atividades não rurais, produção intensiva (confinamento) ou semi-intensiva (ou semi-confinamento) e é proprietário de área rural extensa. Acredita-se, portanto, que esse seja o perfil de pecuarista que as corretoras e instituições formuladoras de contratos futuros devam focar em suas estratégias. O mesmo se aplica aos empenhos da BM&FBOVESPA referente à divulgação de seus mercados e ações educacionais junto às redes políticas de produtores para potencial utilização dos mesmos.

Desta forma, sugere-se esforços no contexto educacional por parte das associações, cooperativas e/ou sindicatos de produtores pecuários com a BM&FBOVESPA para instruir os pecuaristas do estado de Goiás, pois o fato de não utilizarem esses mecanismos pode estar diretamente ligado ao simples fato de verdadeiramente não conhecerem os instrumentos de gestão de risco de preços.

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