financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

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FINANCIAMENTO DA AGRICULTURA BRASILEIRA: CENÁRIO ATUAL E PERSPECTIVAS Joacir Rufino de Aquino Economista (CORECON/RN) Mestre em Economia Rural e Regional (UFCG) Professor Adjunto do Dpto de Economia (UERN) PAINEL 4

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Fianciamento da Agricultura Brasileira: Cenário Atual e Perspectivas. Apresentação do Professor Joacir Aquino na SOBER 2013.

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Page 1: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

FINANCIAMENTO DA AGRICULTURABRASILEIRA: CENÁRIO ATUAL EPERSPECTIVAS

Joacir Rufino de AquinoEconomista (CORECON/RN)

Mestre em Economia Rural e Regional (UFCG)Professor Adjunto do Dpto de Economia (UERN)

PAINEL 4

Page 2: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

1 - INTRODUÇÃO

• O objetivo da presente exposição é analisar adinâmica da distribuição do financiamento rural noBrasil e, em seguida, discutir alguns aspectos doproblema do endividamento dos produtores;

• Após a discussão dos dados, pretende-seapresentar resumidamente algumas consideraçõessobre os desafios e perspectivas da política decrédito rural adotada no país no limiar do séculoXXI.

Page 3: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

2 – O PAPEL DO CRÉDITO NODESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E RURAL

• Schumpeter (1988): “O crédito é imprescindível ao

financiamento das inovações e, consequentemente, ao

processo de desenvolvimento econômico”.

• Sen (2000): “A disponibilidade de financiamento e o acesso a

ele pode ser um importante meio para ampliar as liberdades

das pessoas pobres”.

• Marx (1996): “O sistema crédito se transformou em um enorme

mecanismo social para a concentração e centralização de

capitais”.

• Van der Ploeg (2010): “O crédito rural pode contribuir para

promover a autonomia dos agricultores, mas também pode

ampliar a dependência e a exclusão social”.

Page 4: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

3 – BREVE HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DAPOLÍTICA DE CRÉDITO RURAL NO BRASIL

• O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) brasileiro,criado em 1965, apresenta uma trajetória marcada por 3fases (DELGADO, 2012):

1ª) Estruturação (1965-1986): oferta de crédito abundante ebarato para apoiar a modernização conservadora da agricultura;

2ª) Desestruturação (1987-1999): escassez de crédito, maiorseletividade e elevação das taxas de juros; e

3ª) Reestruturação (2000...): aumento da oferta de recursos,criação de novas linhas de investimento e redução da taxa dejuros para financiar insumos químicos, máquinas e equipamentosagrícolas.

Page 5: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 1 - Evolução do crédito rural contratado noBrasil – 1969 a 2012

161.071

126.853

23.426

36.121

114.710

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.0001

96

9

19

70

19

71

19

72

19

73

19

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19

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19

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19

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19

79

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19

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19

90

19

91

19

92

19

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19

94

19

95

19

96

19

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19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

Valores constantes (em milhões de R$ de 2012)

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural (BACEN, 2013).

Page 6: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

• A política de crédito rural no Brasil, notranscorrer do século XX, foi historicamentemarcada por um viés seletivo, setorial eprodutivista;

• PERGUNTA: na fase que se inicia nos anos2000, esses limites foram superados oupermanecem?

• Um balanço da política de financiamentorural no Brasil revela mudanças e apersistência de velhos problemas (pathdependence).

Page 7: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

4 – DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DO CRÉDITORURAL E CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA

• A política de financiamento rural brasileiramostra uma significativa expansão a partir dosanos 2000;

• Todavia, a dinâmica distributiva dos recursosainda permanece caracterizada por uma fortedesigualdade;

• A desigualdade se manifesta por região,produtor e produto.

Page 8: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 2 - Evolução do crédito rural contratado noBrasil (2002-2012)

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural (BACEN, 2013).

46.96253.004

63.006 61.687 63.25070.364

81.807

91.323 94.42299.751

114.710

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Valores constantes (em milhões de R$ de 2012)

Grande aumento do volume de

recursos contratados (+144%)

Page 9: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 3 - Distribuição do crédito rural contratadono Brasil por região – 2002 a 2012 (Em %)

3 5 5 4 4 4 4 3 3 3 46 6 7 9 10 9 8 8 8 8 8

29 26 2528

34 3633 35 33 32 29

42 42 4138

36 36 40 39 39 38 37

20 21 22 2116 15 15 15 17 19 21

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural (BACEN, 2013).

Page 10: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Tabela 1 - Distribuição do crédito rural no Brasil porfaixa de tamanho dos contratos – 2003 a 2012 (Em %)

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural (BACEN, 2013).Nota: O zero indica valores inferiores a unidade.

FAIXA/ANO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

De 0,00 a 60.000,00

96 96 97 97 95 92 92 90 89 88

De 60.000,01 a 150.000,00

2 2 2 2 3 5 6 6 6 7

De 150.000,01 a 300.000,00

1 1 1 1 1 1 2 2 3 3

Acima de 300.000,00

0 1 0 0 1 1 1 1 2 2

TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

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Gráfico 4 - Distribuição do crédito rural no Brasil porfaixa de valor dos contratos – 2003 a 2012 (Em %)

43 39 41 3832 27 25 23 21 20

1616 16

1619

19 1917

16 15

1112 10

1011

11 1214

15 15

30 33 33 36 39 43 44 46 49 51

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

De 0,00 a 60.000,00 De 60.000,01 a 150.000,00

De 150.000,01 a 300.000,00 Acima de 300.000,00

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural (BACEN, 2013).Nota: Por conta do arredondamento, nos anos de 2007, 2011 e 2012 os valores superam a marca de

100%.

Em 2012, os56.472contratosenquadradosna faixa acimade R$ 300 mil(2% do total)obtiveram 51%do valorfinanciadopelo SNCR.

Page 12: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 5 – Distribuição dos recursos do SNCR porproduto agrícola – 1999/2010 (Em %)

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural (BACEN, 2011).

Nota: Dados elaborados por Delgado, Leite e Wesz Jr. (2011).

Apenas 4 produtos

concentram praticamente

70% do crédito

ofertado.

Page 13: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

PRONAF

• É possível identificar 3 fases na trajetória dapolítica de crédito do PRONAF:

• O referido Programa também apresenta umaforte desigualdade na distribuição dos seusrecursos, a qual se manifesta por região,produtor e produto.

1ª Fase: Concentração (1996-2002)2ª Fase: Desconcentração (2003-2007)3ª Fase: Reconcentração (2008...)

Page 14: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Tabela 2 – Distribuição dos agricultoresfamiliares por região do Brasil - 2006

Região Nº de estabelecimentos %

Norte 412.666 9,45

Nordeste 2.187.131 50,09

Sudeste 699.755 16,03

Sul 849.693 19,46

Centro-Oeste 217.022 4,97

Total 4.366.267 100,00

Fonte: Censo Agropecuário 2006.Nota: Tabulação especial realizada pelo IBGE/MDA.

Page 15: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 6 – Distribuição regional do crédito doPRONAF de 1996 a 2008 (Valores correntes em R$ 1,00)

0,00

1.000.000.000,00

2.000.000.000,00

3.000.000.000,00

4.000.000.000,00

5.000.000.000,00

6.000.000.000,00

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

NO

NE

SE

SUL

CO

Fonte: IPEA (2007a, 2007b – Anexo Estatístico); MDA/SAF/PRONAF (2010b).

Page 16: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Tabela 3 – Estratificação da agricultura familiar noBrasil segundo as normas do PRONAF 2006/2007

Categorias Nº de estabelecimentos %

Grupo A 533.454 12,22

Grupo B 2.416.127 55,34

Grupo C 782.982 17,93

Grupo D 287.464 6,58

Grupo E 62.899 1,44

Familiar Não-PRONAF 283.341 6,49

Total 4.366.267 100,00

Fonte: Censo Agropecuário 2006.Nota: Tabulação especial realizada pelo IBGE/MDA.

67,56%

32,44%

Page 17: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 7 – Participação dos Grupos na distribuição do créditorural do PRONAF – 2000 a 2012 (Em %)

2116 18 15

9 9 7 4 4 6 6 5 3

12

44

7 7 86 5

7 96

15

78 82 78 81 85 84 8590 91 87 85 89

82

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Grupo A+A/C Grupo B Demais

Fonte: SAF/MDA (2013).Nota: Dados recebidos da SAF por solicitação.

Os AFs assentados estão praticamente

marginalizados dentro do PRONAF

O Grupo B, que engloba 55% dos AFs, obtêm

uma pequena parcela do crédito

Ao longo da série, em média 84% dos recursos foi aplicado em favor dos

agricultores mais capitalizados (32% dos

AFs), situação que tende a se agravar com a

ampliação recente do limite de renda de R$ 160

para R$ 360 mil.

Page 18: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 8 – Viés setorial das aplicações domicrocrédito do PRONAF/Agroamigo – 2005 a 2012

Fonte: http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/Produtos_e_Servicos/agroamigo/gerados/

agroamigo_relatorios_resultados.asp.

Page 19: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

ESTÁA DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DO CRÉDITO RURAL PODE ESTÁCONTRIBUINDO PARA ELEVAR A CONCENTRAÇÃO ECONÔMICANO CAMPO, A QUAL JÁ ATINGE NÍVEIS PREOCUPANTES!

• Alves e Rocha (2010): 8,19% dos estabelecimentos(423.689/5.175.489) produziram 85% VBP da agropecuárianacional em 2006.

• Guanziroli, Buainain e Sabbato (2012): em 2006, 10% dosagricultores familiares (452.750/4.551.855), classificados comoTIPO A, produziram 69,5% do VBP da agricultura familiar brasileira.Enquanto isso, o nº de agricultores familiares descapitalizados(TIPO D), saltou de 1,9 milhão para 2,6 milhões deestabelecimentos, entre 1996 e 2006.

• Belik (2013): soja e milho concentram praticamente 2/3 do volumeda produção de grãos, cereais e oleaginosas do Brasil (2005-2012),“o que denota uma enorme concentração e risco em termos degeração de renda e divisas a partir do campo”.

Page 20: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

5 – CONTRADIÇÕES ECONÔMICAS EAMBIENTAIS DO MODELO INCENTIVADOPELO CRÉDITO RURAL

• A maior parte dos recursos do financiamento rural no Brasil estãosendo utilizados para promover um modelo de produçãoagropecuária especializado em poucos produtos e dependente douso intensivo de recursos naturais renováveis e não-renováveis.

• O referido modelo é eficiente para produzir riqueza, mas a suacapacidade de gerar renda para o agricultor é altamente instável,oscilando ao sabor das variações do clima e dos preçosinternacionais (das commodities e dos insumos industriais cada vezmais caros).

• A estrutura operacional do SNCR parece ser bastante resistente àmudanças.

• As linhas de financiamento rural criadas para tentar disseminar umestilo de agricultura mais diversificado e equilibrado ambientalmente– Programa ABC e linhas alternativas do PRONAF (Agroecologia,Semiárido ...) - apresentam um desemprenho limitado.

Page 21: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Gráfico 9 – Recurso disponível e recurso utilizado peloPrograma ABC – Safras 2010/2011 e 2011/2012 (Embilhões de R$)

2,0

3,15

0,4

1,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

2010/2011 2011/2012

Recurso disponível Recurso utilizado

Fonte: Assad (2013).Nota: Estudo disponível no Observatório ABC (www.observatórioabc.com.br).

Page 22: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Tabela 4 – Número de contratos firmados nas linhas doPRONAF Verde – 2004/2005 a 2010/2011

Fonte: MDA.Nota: Dados elaborados por Sambuichi et al. (2012).

Safra Floresta Semiárido Agroecologia ECO

2004-2005 1.758 3.059 - -

2005-2006 3.339 10.141 59 -

2006-2007 5.356 10.300 260 -

2007-2008 2.248 7.773 191 204

2008-2009 1.307 4.105 393 1.386

2009-2010 919 2.742 76 1.436

2010-2011 1.491 3.677 2 242

TOTAL 16.418 41.797 981 3.268

Page 23: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

6 – ENDIVIDAMENTO RURAL EINADIMPLÊNCIA

• O problema das dívidas rurais é um tema central no debate sobre ofuturo da política de crédito rural no Brasil.

• Apesar da pujança dos indicadores econômicos, o setoragropecuário brasileiro tem apresentado recorrentes crises deendividamento, que, regra geral, tem sido acompanhadas pormedidas governamentais que envolvem a prorrogação de prazos, aconcessão de descontos especiais e, até mesmo, o abatimentocompleto dos débitos.

• Somente nos anos 1990, ocorreram dois grandes programas derenegociação (Securitização e PESA), repactuados e associados aoutras medidas nos anos 2000.

Page 24: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

• A distribuição desigual do crédito rural concentra osbenefícios das renegociações em um número reduzidode produtores que detém os maiores contratos(COELHO, 1999; ARAÚJO, 2000; LEITE, 2007;REZENDE e KRETER, 2007; GRAZIANO DA SILVA,DEL GROSSI e DEL PORTO, 2008).

• Entretanto, o problema engloba também os agricultoresfamiliares e assentados da reforma agrária (REZENDE1999; MAGALHÃES e ABRAMOVAY, 2006;ABRAMOVAY, 2008; SACCO DOS ANJOS et al., 2009;GRAZIANO DA SILVA, 2010; TEIXEIRA, 2011).

Page 25: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Tabela 5 – Situação da dívida rural e da inadimplênciano Brasil – 2010 (Em bilhões de R$)

Categoria Estoque da dívida (A)

% Em atraso ou prejuízo (B)

% (B/A)

Agricultura

Familiar 29,0 19,40 6,1 21,03

Agricultura Não-

Familiar 120,2 80,60 37,9 31,53

Total 149,2 100,00 44,0 29,49

Fonte: Teixeira (2011).Nota: Dados obtidos do Ministério da Fazenda (MF) mediante requerimento de informações daCâmara dos Deputados de iniciativa do Dep. Beto Faro (PT/PA).

Page 26: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

Tabela 6 – Pagamentos e dispêndios do Tesouro Nacional comprogramas e políticas agropecuárias – 2000 a 2006 (Em milhõesde R$ de 2006 – IGP-DI)

PROGRAMA / AÇÃO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2000-2006 %

Dívidas rurais 3.984 3.087 3.398 3.395 1.856 2.165 1.465 19.350 59

Equalização crédito rural

(investimento + custeio) 247 393 583 726 494 480 723 3.646 11

Política de preços agrícolas 285 381 265 57 92 387 989 2.455 8

PRONAF (equalização

custeio/investimento) 589 724 891 670 656 775 1.050 5.356 16

Proagro 51 99 233 35 22 851 463 1.753 5

Total 5.155 4.684 5.370 4.883 3.121 4.657 4.689 32.560 100

Fonte: INAGRO (2007).Nota: Dados organizados por Graziano da Silva (2010).

Page 27: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

As causas das crises de inadimplência nocrédito rural...

• Tem sido comum buscar associar o problema da inadimplência aqueda da renda dos agricultores causada por fatores climáticos(secas, enchentes...), pela redução periódica dos preçosinternacionais das commodities e pelo excessivo aumento dospreços dos insumos industriais;

• Esses e outros fatores associados a produção, porém, não sãosuficientes para explicar as recorrentes crises de endividamentorural registradas no Brasil no período recente.

• Na verdade, os problemas de inadimplência generalizadaverificados com frequência estão associados a uma cultura de nãopagamento de dívidas rurais alimentada pelo histórico desucessivas renegociações ocorridos no país, que criou umambiente institucional onde a noção de risco perde força entreos diferentes atores envolvidos na cadeia sistêmica dosfinanciamentos.

Page 28: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

• Sobre as questões do endividamento e da inadimplência no Brasil,Graziano da Silva (2010, p. 178 e 179) comenta que:

“A análise do histórico de pagamento das dívidas (...) demonstra que,mesmo nos anos ‘bons’ para a agricultura, verifica-se forteinadimplência. Os dados mostram que os devedores persistem nainadimplência, tanto nos anos de frustrações de safras como nos anosde excedentes e bons preços. Acostumados a sempre prorrogaremsuas dívidas em melhores condições, estes devedores habituaram-sesimplesmente a não pagar.

(...)

O quadro é preocupante, pois a União gasta volumes vultuosos comrenegociações de dívidas. Mais preocupante ainda é que um gruporelativamente pequeno de produtores, com grandes volumes decréditos renegociados, não liquide seus débitos atrasados, porqualquer motivo. O não pagamento vai aos poucos contaminandooutras carteiras de crédito rural, inviabilizando outros programas deapoio financeiro à agricultura.”

Page 29: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

7 – SUGESTÕES E DESAFIOS

• Quanto a distribuição mais equitativa do crédito...

- Ampliar a atuação de cooperativas de crédito rural solidário nos Territórios da

Cidadania de cada Unidade da Federação;

- Redirecionar os financiamentos para a unidade de produção e não apenas

para produtos específicos;

- Criar um novo modelo de crédito rural para os assentamentos de reforma

agrária;

- Estender a metodologia do AGROAMIGO para todas as regiões do país e

ampliar o quadro de assessores de crédito do programa conforme a demanda

potencial de cada território rural;

- Desenvolver um sistema de monitoramento do nível de concentração de

recursos no SNCR/PRONAF;

- Melhorar o sistema de informação e de acesso aos dados do financiamento

rural contratado nos diferentes níveis geográficos do país.

Page 30: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

• Quanto as questões econômicas e ambientais...

- Incrementar as análises sobre os problemas de implementação e envidar

esforços para ampliar a execução das linhas de financiamento verde;

- Utilizar os rebates e as taxas de juros especiais para estimular práticas

agrícolas voltadas para promover a diversificação produtiva e a transição

agroecológica;

- Condicionar a distribuição do crédito rural a adoção de um conjunto de

boas práticas agrícolas;

- Ampliar e melhorar a assistência técnica aos produtores para limitar a

padronização dos projetos.

Page 31: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

• Quanto a questão do endividamento...

- Concretizar a renegociação das dívidas dos agricultores pobres do

Nordeste, onde todo o esforço dos últimos 10 anos foi destruído

pela seca 2012/2013;

- Universalizar o seguro rural nas operações de crédito;

- Redirecionar gradualmente o financiamento rural para a adoção de

um estilo de agricultura mais diversificado e menos dependente de

insumos industriais, que consomem boa parte dos ganhos dos

produtores;

- Criar um “novo sistema de governança” das operações de crédito

rural, que envolva e responsabilize todos os atores envolvidos,

objetivando mudar gradualmente a “cultura do não-pagamento”.

Page 32: Financiamento agricultura brasileira prof joacir aquino sober 2013

OBRIGADO PELA ATENÇÃO!

[email protected]