sistema de produÇÃo agroecolÓgica integrada e sustentÁvel...
TRANSCRIPT
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA INTEGRADA E SUSTENTÁVEL
(PAIS) EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE
DOURADOS-MS: UMA ANÁLISE SOCIOECONÔMICA
INTEGRATED AND SUSTAINABLE AGROECOLOGICAL PRODUCTION SYSTEM
(COUNTRY) IN SMALL RURAL PROPERTIES OF THE MUNICIPALITY OF DOURADOS-
MS: A SOCIOECONOMIC ANALYSIS
Autor(es): Madalena Maria Schlindwein¹; Machado, Edith Andréia Ensiso2; Martinelli,
Gabrielli do Carmo3.
Filiação: 1Professora do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, da Universidade
Federal da Grande Dourados – UFGD. [email protected] 2Bacharel em Ciências Econômicas, pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD.
[email protected] 3Mestre em Agronegócios, pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios – PPGA,
Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD. [email protected].
Grupo de Pesquisa: Questão Ambiental, Agroecologia e Sustentabilidade
Resumo
O PAIS é uma tecnologia social que foi inspirada pelo modelo de produção idealizado pelo
Engenheiro Agrônomo Senegalês Sr. Aly N’ diaye. Esse modelo de produção foi criado
mediante parcerias entre SEBRAE, Instituição financeira Banco do Brasil, Ministério da
Integração Nacional por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional. Dessa forma, a
Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – PAIS produz hortaliças por meio da
agroecologia, buscando aproximar os atores das comunidades. Este trabalho teve como
objetivo avaliar o modelo de produção PAIS, no município de Dourados-MS, no período de
março/2016 a setembro/2016, pontuando as limitações e potencialidades do Programa. A
metodologia utilizada foi a pesquisa de campo com aplicação de questionários para o total de
16 famílias, que utilizavam esse modo de produção. Posteriormente, as informações obtidas
foram tabuladas e processadas eletronicamente com a utilização do software STATA 13.
Após a tabulação foi realizada uma análise descritiva dos dados obtidos, os quais foram
apresentados na forma de tabelas e figuras para então serem analisadas. O Programa PAIS foi
implementado no ano de 2014 no município de Dourados, e os resultados demonstraram um
número significativo de produtores insatisfeitos com as diretrizes desse programa, apesar de
avanços quanto a segurança alimentar das famílias participantes e de conscientização
ambiental por não utilizar agrotóxicos. No entanto, ainda uma das principais causas da
insatisfação dos produtores refere-se a comercialização dos produtos pelas dificuldades no
momento da distribuição final, sendo uma restrição para o desenvolvimento do Programa.
Palavras-chave: Agroecologia, Políticas Públicas, Agricultura Familiar.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Abstract
The PAIS is a social technology that was inspired by the production model devised by the
Senegalese Agricultural Engineer Mr. Aly N 'diaye. This production model was created
through partnerships between SEBRAE, Banco do Brasil financial institution, and the
Ministry of National Integration through the Regional Development Secretariat. In this way,
Integrated and Sustainable Agroecological Production - PAIS produces vegetables through
agroecology, seeking to bring the actors closer to the communities. The objective of this study
was to evaluate the production model PAIS, in the municipality of Dourados-MS, from
March/2016 to September/2016, highlighting the limitations and potentialities of the
Program. The methodology used was the field research with application of questionnaires for
the total of 16 families, who used this mode of production. Later, the information obtained
was tabulated and processed electronically with the use of the STATA 13 software. After the
tabulation, a descriptive analysis of the data was performed, which were presented in the
form of tables and figures to be analyzed. The PAIS Program was implemented in the city of
Dourados in 2014, so the results showed a significant number of respondents dissatisfied with
the guidelines of this program, despite the fact that advances have been made regarding the
food security of the participating families, environmental awareness for not using pesticides.
However, it is still one of the main causes of producers' dissatisfaction with the
commercialization of products, since they are limiting in the final distribution, being a
restriction for the development of the Program.
Key words: Agroecology, Public Politic, Family Farming.
1. Introdução
Nas últimas décadas uma das maiores preocupações governamentais concentra-se em
promover segurança alimentar, minimizar as degradações ambientais causadas pela
intensificação do processo produtivo e gerar renda aos pequenos produtores rurais. O aumento
populacional, intensificado em países em desenvolvimento, gera um aumento da demanda por
alimentos e cria uma necessidade de estudos sobre o tema para poder melhorar e ampliar a
produção e ampliar o desenvolvimento socio-econômico no meio rural. Segundo dados da
Organização das Nações Unidas - ONU (2015), haverá 9 bilhões de pessoas no mundo em
2050, o que implica na necessidade de um grande aumento na oferta de alimentos para poder
atender às necessidades básicas da população, considerando o estilo de vida atual.
Ainda, a ONU (2015) destaca o papel importante da agricultura familiar pelo fato de
ser o sistema produtivo que mais emprega no mundo, promovendo meios de sustentação para
40% da população global atual. Com isso, reforça-se a necessidade de investimentos em
pequenos agricultores devido à importância para a segurança alimentar, principalmente para
os mais pobres, e também pela sua influência na geração de renda e no desenvolvimento nos
mercados locais e globais.
Na tentativa de fortalecer a agricultura familiar, a ONU oficializou 2014 como o ano
da Agricultura Familiar, de modo que esta fosse revista em termos de políticas públicas dos
países, tornando-se uma fonte de renda e transformação social. No contexto da América
Latina, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura,
FAO (2015a), há 60 milhões de pequenos agricultores que são responsáveis por 77% do
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
emprego agrícola. Destacando-se sua importância para o desenvolvimento regional dos
países, e a necessidade de políticas públicas voltadas para o segmento.
Uma publicação feita pela FAO (2015b), sobre o programa de compras públicas da
Agricultura Familiar na América Latina e Caribe, destaca o sucesso das ações de política
pública para a agricultura familiar. O Brasil e o Uruguai contam com leis de compras
públicas, enquanto que no Paraguai e Equador há decretos que regulamentam este tipo de
aquisição. No Brasil, em relação às compras públicas, oriundas deste tipo de agricultura,
destaca-se o Programa de Aquisição de Alimentos - PAA. O qual está vinculado com o
Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE, fornecendo alimentos para cerca de 65
milhões de pessoas.
Dados do Portal Brasil (2015), mostram que a produção familiar ocupa um espaço
importante na cadeia produtiva que abastece o mercado brasileiro, como a mandioca (87%),
feijão (70%), carne suína (59%), e carne de aves (50%), como muitos outros alimentos
presentes na produção da agricultura familiar brasileira. Esses percentuais mostram a
importância do setor e também da criação de novas políticas públicas direcionadas a ele, com
enfoque em um modo de produção sustentável socioeconomicamente.
Sendo assim, surge um debate, referente à soberania alimentar, que integra uma
capacidade de alimentar e a sustentabilidade, que se refere a um alimento seguro e que
respeite a natureza. Ou seja, que atenda a demanda e a oferta de alimentos por meio de
sistemas ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis (SANTOS; TONEZER;
RAMBO, 2009). Para poder realizar esta integração, verificou-se a necessidade de políticas
públicas eficientes tanto para a sustentabilidade ambiental quanto social.
2. O Modelo de Produção Integrada e Sustentável (PAIS)
O modelo de Produção Integrada e Sustentável – PAIS, é caracterizado como
tecnologia social (TS), que proporciona a possibilidade de produção sem o uso de
agrotóxicos, com a preocupação de um alimento seguro e que preserve a natureza (PAIS,
2013). A tecnologia social é uma forma de diminuir a exclusão social e também de minimizar
a degradação ambiental. Ela impulsiona a produção e o desenvolvimento através de técnicas e
produtos em interação com a comunidade. O PAIS é uma tecnologia social que foi inspirada
pelo modelo de produção idealizado pelo Engenheiro Agrônomo Senegalês Sr. Aly N’ diaye.
O modelo de produção foi criado mediante parcerias entre o SEBRAE, o Banco do Brasil e o
Ministério da Integração Nacional por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional
(CARTILHA DO PAIS, 2006).
Dessa forma, a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – PAIS se refere a um
produção de hortaliças por meio da agroecologia, buscando integrar os atores das
comunidades. No estudo da Chácara Quilombola Buriti de Campo Grande, comprovou-se que
o modo de produção PAIS pode ser considerado uma TS, porque reúne os requisitos
relacionados nos conceitos teóricos (CORDEIRO et al., 2010).
Sendo assim, é necessário o estudo dos indicadores que permitam avaliar os objetivos
e resultados dos tipos de produção, e que auxilie na solução dos problemas sociais e
econômicos levantados (ASSIS, 2006; MARZALL; ALMEIDA, 2000).
Diversos problemas podem ser destacados em relação a produção, comercialização e a
falta de informações acerca da agricultura familiar. No Estado de Mato Grosso do Sul, apesar
da grande concentração de terras, pode-se dizer que a agricultura familiar vem ganhando
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
espaço devido à criação de várias políticas públicas, auxiliando na geração de renda para o
sustento de várias famílias de agricultores (SANGALLI, 2013). Verificou-se o aumento
consecutivo da participação da agricultura familiar no PIB do estado, no entanto, a utilização
de agricultura orgânica ainda é baixa, devido à falta de incentivo e a carência de assistência
técnica aos produtores (PADUA; SCHLINDWEIN; GOMES, 2013).
Já em termos de políticas públicas, houve uma intensificação, no Brasil, a partir do
ano de 1990, com a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar,
o PRONAF, e a Lei da Agricultura Familiar, Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Lei essa
que regulamentaria as pequenas propriedades, e formas de exploração, incluindo as
microempresárias, como segmentos da Agricultura Familiar (RIBEIRO; DIAS, 2013). No
entanto, os autores concluem que ainda há divergência entre o objetivo que é proposto por
programas como o PAA e o Pronaf, e a forma como os agricultores percebem a implantação
destes programas.
No entanto, para Junqueira e Lima (2008) em relação ao Pronaf, não se pode dizer que
houve uma universalização do crédito. Dada à falta de informações por parte dos agricultores,
principalmente nas regiões Norte e Nordeste em que, muitas vezes, os pequenos produtores
não conseguem os documentos necessários para cumprir as exigências do programa.
Sendo assim, o PAIS aparece com o objetivo de viabilizar uma produção
agroecológica que consista na integração da agricultura com a natureza, a partir das culturas
de cada região e que possa gerar renda as famílias juntamente com uma alimentação segura
(PAIS, 2013).
A tecnologia social PAIS foi uma reaplicação que fora antes idealizada pelo
Engenheiro Agrônomo Senegalês, Sr. Aly N’ diayie, em 1999, inicialmente implantada para
pequenos produtores no Estado do Rio de Janeiro. A ideia foi de captar uma produção
sustentável, ou seja, sem o uso de agrotóxicos com a preocupação de conservar o meio
ambiente. A característica da horta é de modelo de anéis, inicialmente com três anéis de
cultivo, para que possa ao mesmo tempo gerar um excedente de produção para geração de
renda e também melhorar a alimentação da família atendida (PAIS, 2012).
A tecnologia social tem como característica a possibilidade de integração da
comunidade por meio da utilização de técnicas de produção elaboradas em conjunto pela
própria comunidade. Outro ponto, é a sustentabilidade na produção, um dos pontos do
objetivo do PAIS. Sendo assim, o PAIS pode ser considerado como tecnologia social
objetivando a integração da comunidade por meio da produção integrada (CORDEIRO et al.,
2010).
Os passos para a implantação da unidade PAIS são as seguintes: primeiramente, para
que uma família seja beneficiada com o programa, deverá possuir o local adequado para a
unidade do PAIS. Segundo a Cartilha (2013), geralmente é o SEBRAE que fica responsável
pela seleção das famílias. Podem participar do programa assentados, comunidades
quilombolas, entre outros.
De acordo com os idealizadores do projeto, o sucesso é resultado da integração da
comunidade. Sendo assim, o PAIS estimula a produção integrada para a troca de experiência
destes produtores. O associativismo deve ser um ponto presente na comunidade (SILVA;
CALEMAN, 2015; SANTANA et al., 2015).
Em relação às características do local da unidade do PAIS, este deverá conter: um
terreno com tamanho mínimo de 0,5 ha; presença de luz solar na maior parte do tempo,
devido a utilização para o plantio; fonte próxima de água limpa ao terreno. Todas estas
características deverão ser verificadas pelo técnico responsável pelo local. Bem como a
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
execução da unidade das hortas que são integradas ao galinheiro, e os piquetes. A integração
da produção vegetal e animal é um dos instrumentos utilizados pelo PAIS. A característica de
implantação do PAIS, é em forma circular, que reduz a erosão do solo (CARTILHA DO
PAIS, 2013).
Inicialmente o projeto é montado com um galinheiro instalado no centro do sistema,
logo são montados três canteiros destinados a produção de hortaliças, a distância entre os
canteiros deverá ser de 0,50m cada. Já o preparo do solo dos canteiros, deverá ser
enriquecido com compostagem. A construção do sistema deverá ser de acordo com as normas
agroecológicas e acompanhado de técnicos responsáveis para orientação (PAIS, 2006). No
entanto, as unidades PAIS evoluíram contando com vários canteiros para a produção de
hortaliças, sempre acompanhado de orientações técnicas com base na agroecologia (PAIS,
2012).
Além do mais, a irrigação utilizada pelo programa PAIS, é o método da irrigação por
gotejamento, que é o sistema que mais economiza água. Ele dificulta a erosão do solo, porque
utiliza o recurso natural onde é necessário, evitando desperdício. O produtor deverá receber
orientações do técnico sobre o manejo da irrigação por método de gotejamento.
Sobre a horta da unidade, os técnicos recomendam o rodízio na produção das culturas,
além de fortalecer a terra, evitar o aparecimento de pragas e doenças, ajudaria na
comercialização devido à variedade para venda. As culturas podem ser plantadas em sistema
de consórcio, na qual duas ou mais culturas são plantadas intercaladas ou ficam no mesmo
canteiro. Mais um motivo para a adoção do associativismo, onde as informações podem ser
trocadas entre os produtores para o melhor plantio, o uso da irrigação e a utilização dos
métodos orgânicos para a produção (CARTILHA DO PAIS, 2013).
De acordo com a cartilha, outra parte importante da unidade é a construção do quintal
agroecológico, que compreende o espaço não ocupado pelas aves e pela horta. O quintal serve
para o plantio de outras culturas como feijão, mandioca, as linhas frutíferas, abóbora, milho,
etc.
O modo de produção PAIS, além de levar em conta questões como a ausência de
produtos tóxicos, o correto uso do solo, o manuseio correto do espaço, se preocupa também
com o manuseio dos alimentos após a maturação da produção. Em relação à comercialização,
o programa PAIS tem um planejamento específico para esta etapa. Os produtos deverão ser
comercializados de acordo com o ciclo da produção, demanda da própria família e do
mercado em questão, como escolas, feiras e comunidades.
A Cartilha do PAIS (2013), destaca a importância do associativismo e da criação de
associação dos moradores ou produtores. O fato de o produtor pertencer a uma comunidade
associativa facilita na hora do enriquecimento de informações e no leque de oportunidades,
seja no plantio ou na comercialização. A existência do associativismo facilitará na discussão
sobre o que, e como deverá ser plantada, a comunidade poderá se organizar em forma de
reuniões entre produtores, ou mesmo com os técnicos responsáveis pela unidade tirando
dúvidas ou na contribuição de ideias como novos produtos e novas formas de produção,
ajudando assim na diminuição de custos. O planejamento de plantio deverá ter duas fases:
uma que será de forma coletiva, mediante a troca de informações com o restante da
comunidade, e outra individual que deverá levar em consideração a possibilidade do produtor
e a necessidade de geração de renda da família. Cabe ressaltar que o Projeto PAIS teve seu
início no país no ano de 2005.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Diante do contexto apresentado o objetivo deste trabalho foi o de avaliar o modelo de
produção PAIS, no município de Dourados-MS, no período de março a setembro de 2016,
pontuando as limitações e potencialidades do Programa.
3. Metodologia
A área de estudo foi o Município de Dourados, localizado no Centro Sul do estado de
Mato Grosso do Sul. O trabalho configura-se como pesquisa de campo, com abordagem
exploratória e descritiva e utilização do método quali-quantitativo. Os dados utilizados para a
realização deste trabalho foram de caráter primário e secundário. Com destaque para os dados
fornecidos pela Secretaria Municipal de Agricultura e Economia Solidária de Dourados
(SEMAFES), que disponibilizou uma lista com a relação dos beneficiários do projeto PAIS.
Sendo 14 famílias no distrito de Vila Vargas e 10 famílias beneficiadas no distrito de Itahum,
no Assentamento Lagoa Grande. Os responsáveis pelo projeto são o Banco do Brasil, o
SEBRAE e a Prefeitura de Dourados.
Foram realizados contatos telefônicos com os contemplados para marcar os dias da
entrevista. Cada entrevista durou em média 40 minutos, em que o pesquisador leu as
perguntas e as opções e anotou as respostas dos produtores. Durante o período de coleta dos
dados não foi possível aplicar os questionários com todos os contemplados com o PAIS. O
período das entrevistas foi de julho a agosto de 2016, no Assentamento Lagoa Grande foram
realizadas 7 (sete) entrevistas, e nas pequenas propriedades do distrito de Vila Vargas um
total de 9 (nove) entrevistas, totalizando ao todo 16 entrevistas com as famílias beneficiadas,
do total de 24 famílias beneficiadas com o Projeto. Os critérios utilizados para a inclusão dos
dados dos entrevistados foi de: (i) ser beneficiário do Projeto PAIS; (ii) estar com o sistema
PAIS instalado por pelo menos 01 ano antes das entrevistas; (iii) ter assinado o termo de
consentimento para a realização da entrevista. As unidades PAIS, em que não foram
encontrados o responsável após duas tentativas, foram excluídas do estudo, totalizando a
aplicação de 16 questionários.
Posteriormente, as informações obtidas foram tabuladas e processadas eletronicamente
com a utilização do software STATA 13. Após a tabulação, foi realizada uma análise
descritiva dos dados obtidos, os quais foram apresentados na forma de Tabelas e Figuras e
analisadas.
4. Resultados e discussão
Foram entrevistados 16 chefes de famílias residentes no assentamento Lagoa Grande e
no distrito de Vila Vargas, sendo 11 (68.75%) do sexo masculino e 5 (31.25%) do sexo
feminino. A idade dos entrevistados variou entre 36 e 75 anos, sendo em média 57 anos. Já
em relação ao estado civil destas pessoas a pesquisa mostra que 12.5% são solteiros, 56.25%
são casados, 18.75% viúvos e 12.50% disseram ter um companheiro. Já em relação à
escolaridade, verificou-se que a média de anos de estudo dos entrevistados é de 6 anos, em
que 12.5% disseram ser analfabetos ou não estudaram, 25% possuem o ensino médio
completo e 62.5% não completaram o ensino fundamental (Tabela 1).
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 1. Caracterização sociodemográfica dos produtores responsáveis pelo PAIS no
município de Dourados-MS
Característica Nº de famílias Percentual
Gênero Masculino
Feminino
11
5
68.75
31.25
Idade Entre 36 a 53
> 53
5
11
31.25
68.75
Estado Solteiro
Civil Casado
Viúvo
Amasiado
2
9
3
2
12.50
56.25
18.75
12.50
Escolaridade Analfabeto
Fundamental
Ensino Médio
2
10
4
12.50
62.50
25.00
Fonte: Elaboração própria
Verifica-se que a maioria destes entrevistados possui idade maior que 53 anos, que
representa quase 70% dos participantes. Ou seja, é necessário que os idealizadores do projeto
busquem também diversificar e tentar atrair uma população com idade variada. No entanto,
muitos destes agricultores responderam que somente são responsáveis pelo projeto via
contrato, mas são os filhos ou netos que trabalham ou cuidam da horta.
Em relação ao tamanho das propriedades, esta varia entre 3 a 28 hectares, sendo que
em média totalizam 14.8 hectares. Quanto aos anos em que os produtores moram no local, a
pesquisa mostra diferentes situações, alguns com poucos anos instalados e outros há bastante
tempo, os anos variam entre 3 a 66 anos. Os agricultores que se encontram na propriedade há
bastante tempo é por que algumas famílias sempre se dedicaram a atividades de plantio e
criação de animais, passando de geração a geração.
Quando foi perguntando sobre a atividade antes da compra ou ocupação do lote/sítio,
18.75% responderam que não faziam nenhuma atividade, 25% eram empregados em
fazendas, 6.25% eram arrendatários, 31.25% agricultores proprietários e 18.75% se
dedicavam a outras atividades. Ao comparar a função antes com a situação atual, 93.75%
responderam que a situação melhorou. De acordo com os respondentes, a situação melhorou,
pois agora podem trabalhar e garantir seu sustento, como os agricultores familiares são
assentados não é preciso desembolsar capital algum referente a terra. No que se refere à
participação nas organizações, responderam que 50% participam ativamente de igreja de sua
localidade, 81.25% de associações, 13.33% em sindicatos e nenhum associado em
cooperativa.
Já em relação à renda mensal da propriedade, de acordo com a Tabela 2, 12.5% tiram
menos de 1 salário mínimo (menos que R$ 880,00, valor do salário mínimo no período da
pesquisa), 37.5% 1 salário mínimo e 50% dos entrevistados recebem entre 1 a 2 salários
mínimos.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 2. Renda Média Mensal das propriedades dos produtores do PAIS, em Dourados-MS
Renda em Salário Mínimo Número de famílias Porcentagem
Menos de 1 SM
1 SM
1 a 2 SM
2
6
8
12.50
37.50
50.00
Fonte: Elaboração própria
De acordo com as prioridades para participar do projeto, o público-alvo do PAIS se
refere a produtores de baixa renda, ou seja, renda abaixo ou igual a 1 salário mínimo
(ROMAN, 2013). Ainda, um dos critérios para a escolha dos beneficiários incluem também
famílias que recebam uma transferência de renda, como destaca a Tabela 3, sobre a
complementação de renda das famílias, 80% das famílias não recebem qualquer tipo de
transferência de renda.
Tabela 3. Complementação de Renda das famílias contempladas com o PAIS em Dourados
Complementação de Renda Nº de famílias Porcentagem
Sim 3 20.0
Não 12 80.0
Fonte: Elaboração própria
A complementação de renda das famílias, neste caso, se refere a algum tipo de salário
mensal, aposentadoria, pensão ou alguma renda que receba fora da propriedade. Também está
incluso nesta parte, as bolsas que se configuram como transferência de renda. No caso dos
beneficiados pelo projeto, somente 20.0% possuem uma complementação de renda.
As famílias que possuem um tipo de complementação de renda, 8.3% recebem um
salário mensal, 41.67% recebem pensão e 50.0% recebem aposentaria. No caso específico de
transferência de renda, como as bolsas assistências, por exemplo, estes proprietários não a
recebem.
Já em relação às características das famílias dos entrevistados, a pesquisa mostra que
(52.39%) dos membros são do sexo feminino e (47.61%) são do sexo masculino. Como
composição média das famílias destaca-se que 26.18% são chefes de família ou cônjuges,
54.78% são filhos ou netos e 19.04 referem-se a outros - vizinho, acompanhante, nora e
cunhado/a (Tabela4).
Analisando os membros familiares, a pesquisa mostra que a escolaridade dessas
pessoas variam entre os ensinos: fundamental em andamento ou incompleto 63.64%, ensino
médio completo 18.18% e superior em andamento 18.18%. Estes dados refletem a dificuldade
de acesso ou inacessibilidade em poder concluir as modalidades de ensino incompletas.
Quando perguntado se essas pessoas trabalham fora da propriedade, 68.75% responderam que
não trabalham e 31.25% trabalham fora, como em atividades de serviços gerais, diarista ou
trabalho em frigoríficos. O número médio de pessoas residentes por propriedade incluindo o
proprietário é de quatro pessoas, 37.5% dos lotes possuem três pessoas morando no local.
O PAIS como dito anteriormente foi implantado no ano de 2014 no município de
Dourados, portanto, a questão de pessoas que moram nas propriedades podem ter mudado a
partir da implementação do programa, como filhos que saíram de casa desde então. No
entanto, é preciso deixar claro que o Programa prioriza famílias com no mínimo 5 pessoas por
propriedade.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 4. Caracterização das famílias dos produtores contemplados com o PAIS em
Dourados-MS
Característica Nº de famílias Percentual
Gênero Masculino
Feminino
20
22
47.61
52.39
Idade 0 a 10 anos
10 a 25 anos
25 a 45 anos
45 a 65 anos
5
12
8
17
11.9
28.57
19.04
40.49
Parentesco Pai ou Mãe
Esposa/o
Filhos/netos
Outro
2
9
23
8
4.76
21.42
54.78
19.04
Estuda Sim
Não
15
27
35.71
64.28
Escolaridade Ens. Fund.
Ens. Médio
Ens. Superior
21
6
6
63.64
18.18
18.18
Trabalha fora Sim
Não
5
11
31.25
68.75
Nº de membros 2 pessoas
na propriedade 3 pessoas
5 pessoas
6 pessoas
4
6
3
3
25.0
37.5
18.75
18.75
Fonte: Elaboração própria
A pesquisa mostra que em relação à implantação do PAIS nessas propriedades,
quando foi perguntado como os participantes ficaram sabendo do programa PAIS, 43.75%
responderam que souberam pela Prefeitura de Dourados, juntamente com a Secretaria de
Agricultura Familiar, 25.0% por outros agricultores ou vizinhos, 18.75% pelo pessoal do
SEBRAE, 12.5% por outros, como por exemplo nas redes sociais, ou pela propaganda do
Projeto nas mais diversas mídias. Outro dado da pesquisa mostra que 100% dos respondentes
conhecem os objetivos do PAIS. A Tabela 5 mostra os dados sobre os meios de divulgação e
seleção do programa.
Em relação à forma de seleção, um dado importante é que 75.0% dos respondentes
colocaram como a categoria outro, ou seja, foram selecionados por meio de sorteio, e também
relataram que se a família demonstrasse interesse em apreender sobre as técnicas de produção
agroecológicas já estava podendo participar do programa. De acordo com a Secretaria de
Agricultura Familiar, em um primeiro momento são selecionadas famílias que já estejam
familiarizados há bastante tempo com algum tipo de produção em pequenas propriedades e
que tenha vontade de produzir agro ecologicamente.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 5. Formas de divulgação e seleção do Programa no município de Dourados-MS.
Forma de divulgação Nº de famílias Percentual
Prefeitura 7 43.75
SEBRAE 3 18.75
Agricultores/Vizinhos 4 25.0
Outro 2 12.5
Como ocorreu a seleção Nº de famílias Percentual
Indicação da entidade gestora do
programa
1 6.25
Estudo socioeconômico 1 6.25
Entrou na vaga de outra pessoa 0 0
Sorteio 2 12.5
Outro (reunião, aptidão) 12 75.0
Fonte: Elaboração própria
Em relação aos motivos para participar do Programa, 100% dos respondentes se
mostraram interessados devido à oportunidade de aumentar a receita ou obter uma renda extra
com as hortas, ao mesmo tempo responderam que melhorar a alimentação e aprender novas
técnicas de produção estavam entre os principais motivos para a entrada no programa. Quanto
aos responsáveis pela montagem dos canteiros e do galinheiro, 81.25% responderam que os
técnicos do SEBRAE foram os responsáveis pela montagem da horta, 12.5% o próprio
agricultor e 6.25% outro. Em relação ao acompanhamento técnico, se houve e ainda há essa
assistência, 87.5% responderam que sim e 12.5% responderam que não.
De acordo com o manual de referência do PAIS, é indicado que os produtores tenham
essa assistência por pelo menos 24 meses desde o início do Projeto. De acordo com os dados,
o projeto se iniciou no ano de 2014, começando com 15 unidades do PAIS e logo em 2015
com mais 10 unidades, portanto a assistência técnica ainda se mostra presente nestas
localidades. O manual destaca também que o tamanho padrão seria de 0.5 hectares que devem
ser destinados a horta. A pesquisa mostra que em média são destinados 0.75 hectares para a
produção na horta. Já sobre o kit do PAIS, todos os respondentes afirmaram que este veio
completo, no entanto, em relação as dificuldades para a implantação da horta, 6.25% sentiram
dificuldade na parte de assistência técnica na hora da implantação da horta, 25.0% em
aspectos técnicos, como, por exemplo, a dificuldade de manejo de produtos agroecológicos, a
construção do galinheiro central, e 68.75% responderam que não tiveram nenhum tipo de
dificuldade.
Perguntados se essas hortas aumentaram de tamanho desde o projeto inicial, 56.25%
responderam que conseguiram aumentar o tamanho da horta. A proposta dos gestores do
Projeto PAIS Inicial tem como objetivo que os produtores venham a aumentar suas hortas,
neste caso um pouco mais da metade dos produtores alcançaram esse propósito.
Quanto ao nível de importância do projeto PAIS na vida dos agricultores, todos os
respondentes disseram que sim, o projeto é importante, no entanto a pesquisa mostra que
somente 18.75% se mostraram estar muito satisfeitos com o programa, como mostra a Figura
1, que destaca o nível de satisfação dos proprietários. Já em relação ao uso de tecnologias em
sua produção, 100% dos produtores do Lagoa Grande responderam que não utilizam nenhum
tipo de tecnologia, já no Distrito de Vila Vargas, 44.44% não utilizam tecnologia e o restante
usa tecnologia como, por exemplo, o trator da associação para uso na produção das hortas.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Figura 1. Nível de satisfação dos produtores do município de Dourados com o Programa
PAIS
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
A Figura 1 mostra que o nível de satisfação dos produtores é de 18.75% para muito
satisfeito, 37.5% satisfeito e 43.75% pouco satisfeito. Este resultado mostra que os produtores
não se mostram satisfeitos devido ao pouco excedente retirado da comercialização dos
produtos da horta, o problema estaria na parte de comercialização dos produtos. Os
produtores, em particular os assentados do Lagoa Grande, reclamam do custo para o
transporte dos produtos da horta e também relatam a desvantagem em relação aos produtos de
Vila Vargas, que tem mais facilidade e menor custeio para o transporte dos produtos.
A distância do assentamento até a cidade de Dourados, que é o principal ponto de
venda dos produtos, é de 60 km. Juntamente com a falta de infraestrutura para a
comercialização, além da distância, os produtores responderam que a comercialização é um
dos fatores limitantes do Programa.
No que se refere aos produtos que são produzidos no sítio/lote e/ou adquiridos no
mercado, a pesquisa mostra que 81.25% da carne que é consumida são produzidos na
propriedade e 18.75% são também adquiridos no mercado ou somente comprados no
mercado. No caso dos ovos, 87.50% são produzidos na propriedade e 18.75% são adquiridos
no mercado, o feijão é somente produzido por uma propriedade, que representa 6.25%, neste
caso a família também o adquire no mercado e no restante todos os demais adquirem o
produto no mercado, como pode-se observar na Tabela 6 que apresenta os alimentos que são
consumidos pela família.
43.75%
37.50%
18.75%
Pouco Satisfeito Satisfeito Muito Satisfeito
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 6. Alimentos consumidos pela família contemplada com o Programa PAIS no
município de Dourados-MS
Alimentos consumidos pela família Nº de produtores Percentual
Carne Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
13
3
81.25
18.75
Ovos Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
14
3
87.50
18.75
Feijão Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
1
16
6.25
100.0
Verduras Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
16
2
100.0
12.50
Leite Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
12
5
87.50
31.25
Mandioca Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
14
2
87.50
12.50
Frutas Produzidos no sítio/lote
Adquirido no mercado
16
5
100.0
31.25
Fonte: Elaboração própria
A Tabela 6 mostra os produtos que são produzidos e consumidos no sítio/lote, e
também os que são adquiridos no mercado pela família. Um dado interessante é sobre o
produto lácteo em que 87.50% do produto consumido é produzido nas propriedades.
Particularmente no Assentamento Lagoa Grande, segundo Sangalli (2013), a atividade leiteira
é a mais representativa como geração de renda nas propriedades. As verduras que são
provenientes da horta do PAIS são consumidas pelas famílias também, no entanto 12.50%
também os adquirem no mercado.
Sobre a alimentação ter melhorado após a implementação da horta do PAIS, 12.5%
responderam que melhorou muito, 18.75% disseram que melhorou pouco, e 68.75% dos
produtores afirmaram que a alimentação melhorou após aderirem ao projeto. Ou seja, com
estes dados pode-se afirmar que um dos objetivos do PAIS, que é o de melhorar a alimentação
da família, foi alcançado nestas propriedades, visto que mais da metade conseguiram
melhorar a sua alimentação com a horta.
Já na questão da comercialização dos produtos do lote, todas as propriedades
comercializam os produtos provenientes da horta, que são folhas, como alface, rúcula,
cebolinha, salsinha, as raízes, como cenoura, beterraba, mandioca. E as frutas como mamão,
abacaxi, melancia e outros. Demais produtos também são comercializados, como leite, ovos,
carne de porco, além disso algumas pessoas também fazem doces caseiros para a
comercialização. 6.25% dos produtores comercializam os produtos em Itahum, 18.75% em
Vila Vargas, 25.0% em outro local como, por exemplo, alguns responderam que
comercializam no seu próprio local e 50.0% comercializam em Dourados, nas feiras de
produtos agroecológicos.
As formas de escoação da produção são 26.7% por meio de veículo da associação,
neste caso é o veículo da Associação dos produtores de Vila Vargas, visto que no momento da
pesquisa os produtores do Lagoa Grande não possuíam veículo da associação para a
comercialização.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Quando perguntados se existem dificuldades para a comercialização dos produtos,
62.5% dos produtores afirmaram ter algum tipo de dificuldade para comercializar, como
mostra a Tabela 7.
Tabela 7. Comercialização e os fatores limitantes para a venda dos produtos do Programa
PAIS no Município de Dourados-MS
Existem dificuldades Nº de produtores Percentual
Sim 10 62.50
Não 6 37.50
Quais são as dificuldades Nº Percentual
Distância do local/custos
de transporte
7 70.0
Estradas ruins 1 10.0
Ausência de veículo para
comercialização
1 10.0
Pouco consumo/venda 1 10.0
Fonte: Elaboração própria
A Tabela 7 mostra que a principal dificuldade para a comercialização dos produtos
está na distância em relação ao local de venda, sendo agregados custos de transportes aos
produtos finais, pois sem este acréscimo fica inviável a comercialização na zona urbana.
Sendo esse um fator que precisa ser avaliado pelos gestores do Projeto, no intuito de melhorar
esta questão.
A pesquisa mostrou que a associação entre os produtores é muito importante, pois
75% fazem a venda em conjuntos com os outros agricultores do PAIS. Em 60.0% dos casos, a
comercialização é realizada de 2 a 3 vezes por semana. Quando perguntados se estão
satisfeitos com a renda obtida pela comercialização dos produtos, 62.50% estão satisfeitos e
37.50% afirmaram não estarem satisfeitos, destes, 50% afirmaram que o problema está no
consumo reduzido do público alvo e a distância para a comercialização, como mostrado
anteriormente na Tabela 7. E 50% têm outras dificuldades, como a logística (estradas ruins e a
ausência de veículos para transportar os produtos).
Um dos aspectos que se mostra limitador é a questão de controle de despesas e receitas
nas propriedades, em que 73.3% não fazem este controle. No entanto, a baixa escolaridade e
pouco conhecimento acerca dessa importância, faz com que isto seja ausente no dia a dia dos
proprietários. Os 26.7% o fazem normalmente mediante controle de gastos diários da casa,
custos com matéria prima, como ração, sementes para a horta, e quanto conseguem obter de
renda na comercialização dos produtos na feira.
Já quando perguntado sobre quais são as dificuldades atualmente enfrentadas na
propriedade, 12.5% apontam ser a falta de recursos e obtenção de crédito rural. Além disso, a
falta de assistência técnica por parte dos gestores também foi citada.
Quando perguntado se teriam algum comentário, crítica ou sugestão acerca do
Programa PAIS, 7.14% mencionaram necessitarem de recursos para investirem na
infraestrutura local, como melhores estradas e criação de um centro de entrega para
comercialização, 7.14% pediu apoio assistencial pública, e também 7.14% mencionou a
participação dos agricultores em reuniões e associação. Já 35.70% disseram não ter qualquer
comentário ou sugestão ao programa, no entanto 42.90% dos entrevistados insistem na
necessidade de melhorar o apoio na comercialização dos produtos.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
5. Considerações finais
O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o modelo de produção PAIS, no município
de Dourados-MS, no período de março a setembro de 2016, pontuando as limitações e
potencialidades do Programa. Em relação a caracterização do perfil dos produtores, a pesquisa
mostra a baixa escolaridade dos chefes de família, a maioria destes é casada e o número de
membros familiares por propriedade é baixo, comparando com o número médio de uma
família contemplada com o PAIS no país, que é de no mínimo cinco pessoas por propriedade,
e a renda média é de 1 a 2 salários mínimos.
O nível de satisfação dos produtores contemplados foi o de pouco satisfeito, no
entanto, verificou-se que a alimentação destas famílias melhorou e também a conscientização
sobre novas técnicas de produção que respeitem a saúde e a natureza. No entanto, o fato
limitador se refere à falta de controle em relação a termos de produção, custos e receitas, o
que é de suma importância para a continuação do projeto nos locais contemplados, assim
como a parte de comercialização dos produtos, que deve ser revisto e melhorado.
Como locais de comercialização para estes produtores destacam-se as feiras de
produtos orgânicos realizadas na cidade de Dourados. No entanto, o que pôde-se perceber é
que o Programa PAIS ainda não está totalmente integralizado com as Políticas Públicas como
o PAA ou o PNAE por exemplo, que seria um modo de abastecimento de produtos orgânicos
e uma forma de aumentar a comercialização dos mesmos. Outro fator a ser considerado é que
o Programa, na cidade de Dourados, está implantado apenas a 2 anos, ou seja, o PAIS ainda
está em fase de desenvolvimento e a parte da comercialização poderá ser revista para a
continuação do projeto no município.
Uma das limitações deste estudo foi entrar em contato com todos os produtores
contemplados pelo programa, em especial do Assentamento Lagoa Grande, também a falta de
informações sobre custos, produção e receita nas propriedades. No entanto, ficou claro que os
produtores sabem da importância destas informações para a viabilidade da produção de suas
propriedades. Uma sugestão de estudo seria a possibilidade de integralização do PAIS com
outras políticas públicas, como o PAA e o PNAE, no município de Dourados-MS.
Referências
ASSIS, R. L. Desenvolvimento rural sustentável no Brasil: perspectivas a partir da integração
de ações públicas e privadas com base na agroecologia. Economia. Aplicada, v.10, n.1, p.
75-89, 2006.
CORDEIRO, K. W. et al. A TECNOLOGIA SOCIAL E O MODO DE PRODUÇÃO DE
HORTALIÇAS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA CHÁCARA BURITI, EM CAMPO
GRANDE – MS. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E
SOCIOLOGIA RURAL, 48., 2010, Campo Grande. Anais... Campo Grande: SOBER, 2010.
p. 1 – 15
FAO. Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe. 2015. Disponível em:
<http://www.fao.org/americas/noticias/ver/es/c/293575/>. Acesso em: 20 mar. 2016.
Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
JUNQUEIRA, C.P.; LIMA, J.F. de. Políticas públicas para a agricultura familiar no
Brasil. Londrina. Semina: Ciências Sociais e Humanas, v.29, n.2, p.159-176, 2008.
MARZALL, K; ALMEIDA, J. Indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas: Estado
da arte, limites e potencialidades de uma nova ferramenta para avaliar o desenvolvimento
sustentável. Caderno de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 17, n. 1, p.41-59, 2000.
ONU. Principais fatos. 2015. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/principais-
fatos/>. Acesso em: 22 mar. 2016.
PADUA, J. B.; SCHLINDWEIN, M. M.; GOMES, E. P. Agricultura familiar e produção
orgânica: uma análise comparativa considerando os dados dos censos de 1996 e
2006. Interações, Campo Grande, v. 14, n. 2, p.225-235, 2013.
PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA INTEGRADA E SUSTENTÁVEL: CARTILHA 2013.
Disponível em: <http://universidade.sebrae.com.br/sites/default/files/institutional-
publication/pdf/cartilha_pais_2013.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2016.
RIBEIRO, D. D.; DIAS, M. S. Políticas públicas para a agricultura familiar: o PAA e o
PNPB. Mercator, Fortaleza, v. 12, n. 27, p.81-91, 1 abr. 2013.
SANGALLI, A. R. ASSENTAMENTO LAGOA GRANDE, EM DOURADOS, MS:
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS, LIMITAÇÕES E POTENCIALIDADES PARA O
SEU DESENVOLVIMENTO. 2013. 107 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Agronegócio,
Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2013.
SANTOS, F.; TONEZER, C.; RAMBO, A. G. AGROECOLOGIA E AGRICULTURA
FAMILIAR: UM CAMINHO PARA A SOBERANIA ALIMENTAR? In: SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 47, 2009,
Porto Alegre. Anais.
SANTANA, L.K.A.; MACIEL, P.B.; RODRIGUES, S.R.S.; LIRA, W.S. INDICADORES
SOCIAIS PARA AVALIAR A SUSTENTABILIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR
DA COMUNIDADE DO ARRASTO DO MUNICÍPIO DE QUEIMADAS- PB. Qualit@s
Revista Eletrônica, v. 17, n. 1, 2015.
SILVA, D. B.; CALEMAN, S.M.Q. PRODUÇÃO AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL: ANÁLISE
DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS EM MATO GROSSO DO SUL.
Qualit@s Revista Eletrônica, v.17, n. 1, 2015.