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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE CACHAÇAS DO ESTADO DA BAHIA CARLOS ALEXSANDRO BORGES ITAPETINGA BAHIA - BRASIL 2011 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE CACHAÇAS DO ESTADO DA BAHIA

CARLOS ALEXSANDRO BORGES

ITAPETINGA BAHIA - BRASIL

2011

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS

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CARLOS ALEXSANDRO BORGES

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE CACHAÇAS DO ESTADO DA BAHIA

Orientador: Prof. DSc. Marcondes Viana da Silva Co-Orientador: DSc. Angélica Maria Lucchese

ITAPETINGA BAHIA - BRASIL

2011

Dissertação apresentada à Universidade Estadual

do Sudoeste da Bahia, como parte das exigências

do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em

Engenharia de Alimentos, Área de Concentração

Engenharia de Processos de Alimentos para

obtenção do título de Mestre em Engenharia de

Alimentos.

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663.16 B731a

Borges, Carlos Alexsandro. Avaliação da qualidade de cachaças do estado da Bahia. / Carlos

Alexsandro Borges. – Itapetinga, BA: UESB, 2011.

65 fl. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Campus de Itapetinga. Sob a orientação do Prof. DSc. Marcondes Viana Silva e co-orientação da Profa DSc. Angélica Maria Lucchesi.

1. Carbamato de etila (CG/EM/MSI) – Avaliação sensorial. 2. Carbamato de etila (CG/EM/MSI) – Cachaça – Perfil do consumidor. 3. Cachaça – Qualidade – Consumo. 4. Cachaça – Produção. I. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos, Campus de Itapetinga. II. Silva, Marcondes Viana. III. Lucchesi, Angélica Maria. IV. Título

CDD(21): 663.16

Catalogação na Fonte: Cláudia Aparecida de Souza – CRB 1014-5ª Região Bibliotecária – UESB – Campus de Itapetinga-BA

Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:

1. Carbamato de etila (CG/EM/MSI) – Avaliação sensorial 2. Carbamato de etila (CG/EM/MSI) – Cachaça – Perfil do consumidor. 3. Cachaça – Qualidade – Consumo. 4. Cachaça – Produção. 5. Aguardente de cana – Avaliação sensorial

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AGRADECIMENTOS

Acima de tudo e em primeiro lugar, agradeço a Deus por guiar meus passos e

pensamentos, me iluminando nos momentos de dificuldade;

Aos meus pais, Carlúcio e Anelita, por me proporcionarem a chance de realizar o

mestrado, e por todo o amor e apoio dedicados, não só durante esta etapa, como também por

todas as outras escolhas de minha vida;

A minha irmã Emanuelle pelo apoio e ajuda nos momentos difíceis e pelo exemplo de

persistência nos objetivos conquistados.

A toda a minha família, especialmente a minha vó Lia;

A minha namorada, Camila, pelo amor, companheirismo e compreensão desde o

princípio; A toda sua família pela credibilidade e incentivo;

Ao Prof. Dr. Marcondes Viana da Silva pela oportunidade, confiança e dedicação

durante toda esta caminhada;

Aos amigos de república, Macio, Calixto, e Wendell, pela amizade e acolhimento.

Aos novos colegas conquistados no decorrer do curso de mestrado: professores,

funcionários e alunos, pela grandiosa colaboração;

Aos velhos amigos, Willian Soares, Newton, pela cumplicidade, incentivo e apoio;

Aos julgadores do teste de aceitação pela importante contribuição;

Aos membros da banca examinadora pela valiosa participação;

A Universidade do Sudoeste da Bahia por proporcionar o universo de conhecimentos.

À CAPES, pela concessão da bolsa de mestrado;

E a todos aqueles que de uma forma ou de outra tornaram possível a realização deste

trabalho.

MUITO OBRIGADO!!!!

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“O que vemos é novidade, o que sabemos é

conhecimento, o que sentimos é opinião.”

Lester Markel

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BORGES, C.A. Avaliação da Qualidade de Cachaças do Estado da Bahia Itapetinga – BA: UESB, 2011. (Dissertação – Mestrado em Engenharia de Alimentos – Engenharia de Processos de Alimentos)*

RESUMO

Objetivou-se com o presente estudo avaliar o grau alcoólico, a acidez volátil, pH, cobre e a ocorrência de carbamato de etila em cachaças industriais de alambique de cobre do estado da Bahia registradas no Ministério da Agricultura e Abastecimento, bem como correlacionar os teores de carbamato de etila com os teores de cobre, pH e grau alcoólico. Realizou-se também análise sensorial quanto à aceitação das cachaças e investigou-se o perfil dos consumidores do município de Itapetinga. As análises de acidez volátil e grau alcoólico foram realizadas conforme metodologias recomendadas pelo MAPA. Os teores de cobre foram determinados conforme o procedimento da AOAC. O carbamato de etila foi quantificado pelo método de padronização externa em cromatógrafo de fase gasosa, acoplado a espectrometria de massas (CG/EM), utilizando o modo MSI. A análise sensorial das bebidas foi realizada em escala hedônica estruturada de 9 pontos e o perfil do consumidor foi realizado através de questionários contendo informações que permitiram avaliar este procedimento. O grau alcoólico variou de 37,06 a 46,4 °GL, sendo o valor médio de 42,71 °GL. Observou-se que apenas 9,1% das 11 amostras analisadas apresentaram o grau alcoólico abaixo de 38 ºGL, valor mínimo exigido pela legislação vigente. A acidez volátil variou entre 64,10 a 210,78 mg ácido acético.100mL-1álcool anidro, sendo o valor médio de 115,80 mg ácido acético.100mL-1álcool anidro. Dentre as amostras analisadas, 27,27% apresentaram acidez volátil superior a 150 mg ácido acético.100mL-1álcool anidro, limite máximo recomendado pela legislação vigente. Os valores para o pH variaram entre 4,0 a 5,3, sendo observado valor médio de 4,59. Os teores de cobre variaram de 0,20 a 6,96 mg.L-1, sendo valor médio de 2,47 mg.L-1. Das amostras analisadas, 18,2% apresentaram teores de cobre acima do permitido pelo MAPA (5 mg.L-1). Para o carbamato de etila os teores variaram entre 136,2 a 456,3 µg.L-1 nas 11 bebidas analisadas, apresentando teor médio de 299,71 µg.L-1. Das amostras analisadas 9,1 % apresentaram teores de carbamato de etila abaixo de 150 µg.L-1, valor máximo permitido pela Instrução Normativa nº 13/2005. As análises de correlação entre os teores de carbamato de etila, cobre, grau alcoólico e pH indicaram a não existência de correlação entre as variáveis estudadas. Os resultados da avaliação sensorial das bebidas analisadas revelaram não haver diferença significativa (p ≤ 0,05) conforme análise de variância ANOVA e o teste de Tukey entre as médias obtidas dos julgadores. Quanto ao perfil do consumidor, 83% dos 70 julgadores preferiram cachaças não registradas, 45% afirmaram consumir de vez em quando, 59% consomem duas doses de 100 mL, 34% revelaram consumir em vários ambientes e 39% tem preferência pela escolha da marca. Observou-se o maior consumo (43%) entre a faixa etária acima de 35 anos e 57% possuem nível médio de ensino. Considerando que até o momento os mecanismos de inibição da biossíntese do carbamato de etila em cachaças não estão elucidados, sugere-se, portanto, que estudos posteriores sejam conduzidos para investigação da cadeia produtiva da cachaça relativa a este contaminante, associado às boas práticas de fabricação dessa bebida.

Palavras-chave: Carbamato de etila, CG/MS/MSI, Avaliação sensorial, perfil do consumidor.

*Orientador: Marcondes Viana da Silva, DSc., UESB e Co-orientador: Angélica Maria Lucchese, DSc.

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BORGES, C.A. Characterization of Physical Chemistry, Sensory Evaluation and Consumer Profile of the State of Bahia Cachaças Itapetinga - BA: UESB, 2011. (Dissertation - Master in Food Engineering - Food Process Engineering).

ABSTRACT

The objective of this study to assess the degree of alcohol, volatile acidity, pH, copper and the occurrence of ethyl carbamate in industrial cachaça copper still the state of Bahia registered with the Ministry of Agriculture and Supply, as well as to correlate the levels of with ethyl carbamate levels of copper, pH and alcohol content. Was also conducted sensory analysis regarding the acceptance of cachaça and investigated the profile of consumers in the municipality of Itapetinga. Analysis of volatile acidity and alcohol content were performed according to methods recommended by the MAPA. The levels of copper were determined according to AOAC procedure. The ethyl carbamate was quantified by external standard method in gas chromatograph coupled to mass spectrometry (GC/MS) mode using MSI. Sensory analysis was performed on drinks hedonic scale of 9 points and the consumer profile was conducted using questionnaires containing information which allow us to evaluate this procedure. The alcohol content ranged from 37.06 to 46.4 °GL, and the average value of 42.71 °GL. It was observed that only 9.1% of 11 samples showed the alcohol content below 38 ºGL, minimum required by law. The volatile acidity ranged from 64.10 to 210.78 mg acetic acid.100mL-1 álcool anhydrous, and the average value of 115.80 mg acetic acid.100mL-1 álcool anhydrous. Among the samples, 27.27% had volatile acidity of more than 150 mg acetic acid.100mL-1 álcool anhydrous upper limit recommended by current legislation. Values for pH ranged from 4.0 to 5.3, and we observed average value of 4.59. The levels of copper ranged from 0.20 to 6.96 mg.L-1, with a mean value of 2.47 mg.L-1. Of the samples analyzed, 18.2% showed the copper content above the MAPA allowed by establishing a limit of 5 mg.L1. For ethyl carbamate levels ranged from 136.2 to 456.3 µg.L beverages analyzed, with an average grade of 299.71 µg.L-1. 9.1% of the samples showed levels of ethyl carbamate below 150 µg.L-1, the maximum permitted by Instruction nº 13/2005. Analyses of correlation between the levels of ethyl carbamate, copper, pH and alcohol content indicated that there is no correlation between the variables studied. The results of sensory evaluation of the beverages analyzed showed no significant difference (p ≤ 0.05) according to ANOVA and Tukey's test between the averages of the judges. The profile of the consumer, 83% of judges chose 70 cachaças unregistered, 45% said they consumed occasionally, 59% use two doses of 100 mL, 34% reported consuming in different environments and 39% have a preference for brand choice. There was a high intake (43%) between the age group above 35 years and 57% have high school level. Considering that so far the mechanisms of inhibition of the biosynthesis of ethyl carbamate in cachaças are not clear, it is suggested therefore that further studies be conducted to investigate the production chain of cachaça on this contaminant, coupled with good manufacturing practices this drink.

Keywords: Ethyl carbamate, CG/MS/SMI, sensory evaluation, the consumer profile.

*Advisor: Marcondes Viana da Silva, DSc., UESB e Co-advisor: Angélica Maria Lucchese, DSc., UEFS.

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LISTA DE FIGURAS PÁGINAS

Figura 1 Mercado Nacional de Bebidas em relação ao consumo 18

Figura 2 Principais mercados de destino da cachaça em relação ao valor. 19

Figura 3 Principais mercados de destino da cachaça em relação em volume 20

Figura 4 Processo ilustrativo do processo de produção de cachaças. 20

Figura 5 Reações que envolvem a formação do carbamato de etila, a partir do íon

cianeto na presença de cobre.

34

Figura 6 Mapa político do estado da Bahia com as macrorregiões 38

Figura 7 Valores de acidez volátil nas diferentes amostras analisadas 42

Figura 8 Valores do Grau Alcoólico nas diferentes amostras de cachaça analisadas 43

Figura 9 Valores de pH nas diferentes amostras de cachaças produzidas na Bahia. 44

Figura 10 Concentrações de cobre nas diferentes cachaças analisadas. 45

Figura 11 Teores de carbamato de etila nas diferentes amostras analisadas 46

Figura 12 Cromatograma do Espectro de massas do carbamato de etila 47

Figura 13 Cromatograma da Solução-padrão de carbamato de etila. 47

Figura 14 Cromatograma representativo de uma amostra de cachaças analisada. 47

Figura 15 Correlação entre o grau alcoólico e o teor de carbamato de etila em

amostras cachaças produzidas no estado da Bahia.

48

Figura 16 Correlação entre os valores de pH e os teores de carbamato de etila de

amostras cachaças produzidas no estado da Bahia.

48

Figura 17 Correlação entre os teores de cobre e os teores de carbamato de etila em

amostras cachaças produzidas no estado da Bahia.

48

Figura 18 Faixa etária de idade dos entrevistados do município de Itapetinga-BA 49

Figura 19 Nível de escolaridade dos entrevistados do município de Itapetinga-BA 49

Figura 20 Porcentagem semanal relativa da freqüência do consumo de cachaça dos

entrevistados do município de Itapetinga-BA

50

Figura 21 Volume do consumo semanal de cachaças dos entrevistados do município

de Itapetinga-BA

50

Figura 22 Locais onde a cachaça é consumida no município de Itapetinga-BA 51

Figura 23 Atributos observados no momento da compra dos entrevistados do

município de Itapetinga - BA.

51

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LISTAS DE TABELAS

PÁGINAS

Tabela 1 Padrões de identidade e qualidade de cachaça, regulamentada pela

Instrução Normativa Nº13, de 29 de junho de 2005.

28

Tabela 2 Resultados de acidez volátil, de grau alcoólico, pH, carbamato de etila e

cobre das cachaças analisadas.

42

Tabela 3 Avaliação dos atributos da aparência global, aroma, sabor e impressão

global baseados na avaliação de cachaças registradas produzidas no

Estado da Bahia.

52

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LISTA DE ABREVIATURAS

ºGL- Grau Gay-Lussac (%v.v-1 a 20°C).

MAPA- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

IBRAC-Instituto Brasileiro da Cachaça.

ABRABE-Associação Brasileira de Bebidas.

IWSR-International Wine and Spirit Record IWSR.

IAL-Instituto Adolfo Lutz,

IFNMG-Instituto Federal do Norte de Minas Gerais.

SEBRAE – BA - Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresa - Bahia.

ANOVA- Analise de Variância.

CG/MS/MSI - Croromatógrafo de fase gasosa/ espetrômetro de massas/Monitoramento

Seletivo de Íons

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SUMÁRIO

PÁGINAS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO 13

2. OBJETIVOS 15

3. REVISÃO DE LITERATURA 16

3.1. Aspectos históricos 16

3.1.1 A cachaça 16

3.2 O Mercado da Cachaça 18

3.3 O processo de produção da cachaça 20

3.3.1 Matéria-prima 21

3.3.2 Preparo do caldo 21

3.3.3 Fermentação 22

3.3.4 Destilação 23

3.3.5 Envelhecimento 26

3.4 Qualidade das cachaças 27

3.4.1 Aspectos legais 27

3.4.2 Acidez volátil 30

3.4.3 Contaminantes da cachaça 30

3.4.3.1 Cobre 30

3.4.3.2. Carbamato de etila 32

3.4.3.2.1. Formação de carbamato de etila a partir do cianeto 33

3.4.3.2.2. Formação de carbamato de etila a partir da uréia, seus derivados e outros 34

3.5 Análise sensorial em cachaça 35

4. MATERIAL E MÉTODOS 37

4.1. Obtenção da matéria-prima 37

4.2. Caracterizações físico-químicas da matéria-prima 38

4.2.1. Determinação do Grau Alcoólico 38

4.2.2. Determinação dos Teores de Cobre 38

4.2.3. Determinação do Carbamato de Etila 39

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4.2.3.1. Preparação das soluções padrão 39

4.2.4. Determinação da acidez volátil 39

4.2.5. Determinação de pH 40

4.3 Avaliação Sensorial 40

4.4. Perfil do consumidor de cachaça 40

4.5. Análises estatísticas 40

5. RESULTADOS E DISCURSAO 42

5.1 Caracterizações Físico-Químicas 42

5.1.1 Acidez Volátil 42

5.1.2 Grau Alcoólico 43

5.1.3. pH 44

5.2.1. Determinação espectrofotométrica de cobre 45

5.2.2. Analise Cromatográfica do Carbamato de etila (CG /MS/ MSI) 45

5.2.3. Correlação entre os teores de carbamato de etila e outros parâmetros de

qualidade da cachaça

47

5.3. Perfil do consumidor de cachaça 49

5.4. Teste de aceitação das amostras estudadas 52

6. CONCLUSÕES 53

7. PERSPECTIVAS 54

REFERÊNCIAS 55

ANEXOS 64

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13

1 INTRODUÇÃO

A Cachaça é uma denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no

Brasil, com graduação alcoólica de 38% a 48% em volume (20 °C), obtida pela destilação do

mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares,

podendo ser adicionada de açúcares até 6 g.L-1 expressos em sacarose (BRASIL, 2002). O

termo cachaça “produzida no Brasil” foi acrescentado à definição da cachaça em 2001, através

de um decreto presidencial, devido a problemas de ordem comercial, a fim de evitar conflitos

com os países produtores de rum. Técnicos norte-americanos do Bureau of Alcohol, Tobacco &

Firearms, com base nas legislações norte-americanas e brasileiras, classificaram a cachaça como

um tipo de rum, por não disporem de informações técnico-científicas sobre as diferenças

relacionadas com a fabricação e, principalmente, com a caracterização sensorial dessas bebidas.

Verificando o volume nacional de produção da cachaça, torna-se fácil entender sua importância

sócio-econômica (VERDI, 2006).

A cachaça é o destilado mais consumido no território nacional, ocupando o segundo lugar

entre as bebidas alcoólicas, embora a cerveja seja ainda a mais preferida . De acordo com o

Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC, 2011), e a ABRABE, (2011), cerca de 1,3 bilhões de

litros de cachaça são produzidos anualmente, volume que tem sido constante durante os últimos

anos. Entretanto somente 1% é exportado. A conquista de um espaço no mercado externo

depende, porém, do estabelecimento de padrões de qualidade para essa bebida, destacando

assim, os métodos analíticos apropriados que permitam garantir a manutenção desses padrões.

Na cadeia produtiva da cachaça existem contaminantes residuais orgânicos e inorgânicos.

Dos inorgânicos o cobre é o que mais se destaca sendo a contaminação por íons de cobre

considerados um entrave à exportação da bebida. A legislação brasileira limita o teor de cobre

em bebidas destiladas em 5,0 mg.L-1 , entretanto, a legislação de outros países não tolera mais

que 2,0 mg.L-1 de cobre nos destilados alcoólicos, embora nesta concentração o cobre não cause

nenhum problema à saúde do consumidor. A presença de cobre em bebidas destiladas tem sido

erroneamente citada como um problema de saúde pública (FARIA, 2000).

Outro contaminante orgânico amplamente estudado é o carbamato de etila. A presença deste

composto tem sido uma preocupação para os produtores por se tratar de uma substância

potencialmente carcinogênica encontrada na aguardente de cana e cachaça em concentrações

que superam o limite de 150 µg.L-1, estabelecido pela legislação internacional e adotado pela

legislação brasileira. Por outro lado, alguns estudos apontam para o possível envolvimento do

cobre nas reações de formação do carbamato de etila (RIFFKIN et al., 1989; ARESTA et al.,

2001 e BOSCOLO, 2001). O carbamato de etila constitui atualmente uma barreira técnica de

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14

maior relevância na exportação de cachaça. O limite máximo do carbamato do etila em cachaça

para consumo interno estava previsto para entrar em vigor em junho de 2010. Entretanto, era

assunto constante nas pautas de reuniões do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro da

Cachaça (IBRAC) e da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça. Considerando o seu

impacto no setor produtivo da cachaça, devido essas discussões foi criada a Instrução

Normativa 20, de 19 de Julho de 2010, que altera a Instrução Normativa 13/2005 e prorroga

para 2012 o prazo de entrada em vigor do limite máximo permitido para esta bebida.

Acreditamos que a prorrogação possibilitará uma melhor adequação do setor ao limite

estabelecido, além de permitir a realização de mais estudos sobre o assunto.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresa (SEBRAE) –

BA (2010), cerca de 90 % dos alambiques baianos não possuem registro no Ministério da

Agricultura. Embora, não se conheça outro levantamento, é razoável pensar que esta proporção é

semelhante nos outros estados brasileiros produtores de cachaça de alambique. No estado da

Bahia existem somente 14 marcas de cachaças registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (MAPA). Sendo assim, é importante pesquisar cachaças e aguardentes de cana

produzidas com registros, considerando a escassez de estudos relativos à quantificação de

contaminantes residuais como cobre e carbamato de etila das cachaças registradas produzidas e

consumidas no estado da Bahia.

Assim sendo, objetivou-se com o presente estudo, estabelecer a caracterização físico-

química das 11 cachaças do estado da Bahia registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) bem como avaliá-las sensorialmente quanto a sua aceitação, bem como

conhecer o perfil dos consumidores desse produto.

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15

2 OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Estabelecer a caracterização físico-química das cachaças do estado da Bahia registradas

no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e verificar a existência de

correlação entre os teores de carbamato de etila com parâmetros de qualidade e avaliá-las

sensorialmente quanto aos atributos de aceitação, bem como conhecer o perfil dos consumidores

desse produto.

2.3. Objetivos específicos

• Avaliar a acidez volátil, grau alcoólico, pH e teores de cobre e carbamato de etila em

cachaças de alambiques localizados em Municípios do Estado da Bahia, registradas no

Ministério da Agricultura;

• Verificar a correlação dos teores de carbamato de etila com os parâmetros de qualidade

analisados: teores de cobre, pH e grau alcoólico;

• Realizar análise sensorial de aceitação das cachaças, através de escala hedônica de 9

pontos;

• Avaliar o perfil do consumidor de cachaça do município de Itapetinga.

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16

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Aspectos históricos da cachaça

Historicamente atribuem-se aos egípcios os primeiros indícios da produção de bebidas

alcoólicas, as quais eram produzidas e utilizadas para a cura de doenças. O nome dado ao

produto fermentado era “água-da-vida”, acquavite em italiano, “eau-de-vie” em francês, “acqua

ardens” em grego e “uisgebeatha” em gaélico (PATARO et. al., 2002). Na Grécia, detectaram-

se registros da produção da “acqua ardens” (água ardente) no tratado da ciência escrito por

Plínio, o Velho (23 a 79 D.C.), que relata o modo de coletar o vapor da resina de cedro, do bico

de uma chaleira, com um pedaço de lã, dando origem ao “al kuhu” (ALMEIDA, 2011). Com a

expansão do Império Romano, a aguardente alcança o Oriente Médio, os Árabes desenvolvem

os primeiros equipamentos para a destilação, similares aos utilizados atualmente. O destilado

muda de nome (al kuhu) e passa a se chamar “al raga”, dando origem “ao arak”, bebida

resultante de uma mistura de licores de anis. Não há documentos escritos e informações precisas

sobre a origem da cachaça, mas sabe-se que na América do Sul, os índios brasileiros já

utilizavam bebidas alcoólicas antes da chegada dos portugueses. Sabe-se que os ameríndios

desconheciam o processo de destilação e que as bebidas por eles usadas eram produzidas por

fermentação de mostos de caju, mandioca, banana da terra, milho, ananás, batata, jenipapo e

mel de abelha. Tal processo foi utilizado na ativação ou iniciação do processo de fermentação,

consistindo, basicamente, na mastigação prévia dos frutos ou raízes usados como matéria-prima

(CASCUDO, 1983; IHDE, 1984).

3.1.1. A cachaça

Nos anos de 1533 e 1534, o colonizador português Martin Afonso de Souza e mais

quatro sócios construíram três engenhos em São Vicente: o Engenho de São Jorge dos Erasmos,

o Engenho da Madre de Deus e o Engenho de São João. Estes engenhos de açúcar teriam sido as

primeiras indústrias do Brasil (CÂMARA, 2004).

No entanto, não há registros sobre qual teria sido o primeiro Engenho a produzir açúcar.

Há afirmações pelas quais o São Jorge dos Erasmos foi o primeiro, mas, em outras informações,

este aparece como o segundo ou mesmo que teria sido o terceiro engenho, entretanto, mesmo

com tais conflitos de informação, é possível afirmar que desde as primeiras décadas a partir do

descobrimento do Brasil fabricava-se aqui aguardente de cana-de-açúcar (LIMA, 1999).

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Segundo Oshiro (2005), relata que naquela época era fato comum Senhores de Engenho

dar bebida alcoólica aos escravos junto à primeira refeição do dia, assim, garantiam mais

resistência no trabalho nos canaviais. Logo, a bebida se transformou em um insumo importante

nos engenhos, abrindo espaço para produção e consumo da aguardente. Ainda assim, pelas

informações existentes não é possível definir se a produção se deu de modo acidental, com a

fermentação de resíduos da elaboração do açúcar ou de uma batelada de melado, ou se foi feita

de modo racional.

De todo modo, logo os escravos começaram a destilar a bebida, batizada com o nome

“cagaça”. A partir daí a produção prosperou no litoral do Rio de Janeiro, tornou-se até moeda

corrente para a compra de escravos na África (GUIA OFICIAL DA CACHAÇA, 2005). Com o

passar do tempo e aprimoramento da produção, a cachaça ganhou adeptos, passando a fazer

parte da mesa do senhor de engenho e das casas dos colonizadores portugueses. Apesar da

“democratização” do consumo, o contexto da produção de cachaça pouco se alterou desde o

surgimento dos Engenhos até o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Um cenário

diferente do observado no caso do uísque, em particular a partir do século XIX, quando esta

bebida começou sua trajetória no cenário nacional, (COMERCIO EXTERIOR, 2000).

Neste período ocorreu um aumento no consumo da bebida, os produtores de uísque

ampliaram seu espaço no mercado mundial, e nesta época surgiram grandes destilarias, cuja

fama e produção persistem até os dias atuais. Segundo BATHGATE (2003) para entender o que

ocorreu neste momento com o uísque e relacionar com a produção de cachaça, passa a ser

importante conhecer as mudanças ocorridas neste período:

• alteração na legislação e tributação em 1823, que levou a uma drástica redução na

produção clandestina de uísque.

• surgimento do destilador contínuo (coluna de destilação) e da diferenciação entre o “uísque industrial” (grain whisky) e o “uísque artesanal” (malt whisky);

• origem do blend, mistura dos dois uísques, equilibrando preço e qualidade.

Durante este período áureo para o uísque, a produção e a comercialização de cachaça

eram realizadas por engenhos de pequena capacidade, empresas rurais e familiares. Somente a

partir da metade do século XX, se observa um aumento na produção de cachaça no Brasil, com

o crescimento das grandes destilarias e da expansão do mercado para a cachaça industrial,

(MUTTON; MUTTON, 2005)

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3.2. O Mercado da Cachaça

A cadeia produtiva da cachaça vem se firmando como um importante produto do

agronegócio brasileiro. Embora detenha ainda uma pequena participação, vem adquirindo

espaço crescente na pauta de exportação do país (VERDI, 2006). O Brasil produz

aproximadamente 1,3 bilhões de litros de cachaça por ano sendo que cerca de 75 % desse total é

proveniente da fabricação industrial e 25 %, da forma artesanal. Mesmo com a produção de 1,3

bilhões de litros, menos de 1 % da cachaça produzida anualmente é exportada. Essa baixa

participação das exportações revela que a bebida detém significativo potencial de mercado.

Atualmente, são aproximadamente 180 empresas exportadoras e a cachaça é exportada para

mais de 60 países (IBRAC, 2011b).

Atualmente, são mais de 40 mil produtores e 5 mil marcas de cachaças. As micro-

empresas correspondem a 99% do total de produtores e suas atividades agropecuárias incluem,

além da produção de cachaça, a produção de milho, feijão, café, e leite, entre outras. O setor da

cachaça é responsável pela geração de mais de 600 mil empregos, diretos e indiretos (IBRAC

2011a). Os estados brasileiros que mais se destaca na produção da cachaça são: São Paulo,

Pernambuco, Ceará, Minas Gerais e Paraíba.

Segundo a associação Brasileira de Bebidas (ABRABE) em 2010, baseados nos

levantamentos de mercado da International Wine and Spirit Record (IWSR), o mercado

nacional de bebidas, em relação ao volume, está proporcionalmente dividido entre cerveja e

cachaça representando 88,8 % e 6,6 %, respectivamente, sendo o restante, 4,6%, para as

demais bebidas (Figura 1).

Fonte: Nielsen e IWSR (2010).

Figura: 1- Mercado nacional de bebidas em relação ao consumo.

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A cachaça constitui a terceira bebida destilada mais consumida no planeta de acordo

com o ranking mundial do consumo de destilados publicado pelo Programa Brasileiro de

Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC). Tendo em vista este ranking, a cachaça perde somente

para: a vodca e o sochu (bebida obtida da destilação do mosto fermentado de arroz, adicionado

ou não de tubérculo, raiz amilácea e cereal, em conjunto ou separadamente), superando várias

bebidas destiladas bastante tradicionais como: rum, gim, uísque e conhaque (VERDI, 2006).

Um dos maiores entraves para o aumento da participação e sobrevivência dessas

empresas no mercado é a alta carga tributária de impostos a qual o setor está sujeito. Essa alta

carga tributária tem um impacto devastador para o setor, principalmente para as micro e

pequenas empresas e contribui para o aumento da informalidade (ALVES, 2009). Ainda

segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC (2011), em 2010 foram exportados 10,44

milhões de litros gerando uma receita de US$ 15,95 milhões. Dentre os principais mercados de

destino estão Alemanha, Estados Unidos, Portugal e França, dentre outros (Figuras 2 e 3).

Fonte: MDIC-ALICEWEB (2010). Figura 2 – Principais mercados de destino da cachaça em relação ao valor.

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Fonte: MDIC-ALICEWEB (2010). Figura 3 – Principais países de destino da cachaça em volume.

3.3. O processo de produção da cachaça

O fluxograma ilustrativo do processo para obtenção da cachaça está ilustrado na (Figura

4), está exemplificado o ilustrativo básico da produção de cachaça. O processo é simples e pode

ser resumido pelos seguintes estágios: preparo da matéria prima (corte da cana-de-açúcar,

limpeza com separação das folhas; transporte e armazenamento dos colmos); extração do caldo

da cana; fermentação do caldo; destilação do “vinho” fermentado e obtenção da cachaça. Este

produto pode ser ainda armazenado em tonéis de aço inox ou envelhecido em tonéis de madeira

(LIMA NETO; FRANCO, 1994).

Figura 4 – Fluxograma ilustrativo do processo de produção de cachaças.

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3.3.1. Matéria-prima

A cana de açúcar (Saccharum sp) é cultivada em todo o mundo, visando diferentes

aplicações. A cana é usada para a indústria, na produção de alimentos como o açúcar, o melado,

o álcool potável e a cachaça, bem como na produção de combustível, caso do etanol. Além

destas aplicações, a cana-de-açúcar é usada na alimentação animal. O Brasil é o maior produtor

de cana, com uma área plantada de aproximadamente cinco milhões de hectares. O estado de

São Paulo se destaca como o maior produtor de cana no Brasil (ANDRADE, 2001).

A relação entre matéria-prima e qualidade do produto é um ponto pouco estudado na

produção de cachaça. Porém, por analogia com bebidas como cerveja, vinho e uísque, é factível

pensar na existência de uma forte relação entre a qualidade da cana-de-açúcar e da cachaça.

Vários fatores são responsáveis pela melhoria da qualidade da matéria-prima, dentre eles: o

planejamento agrícola, controle de pragas e doenças, maturação, colheita, carregamento e

transporte (YOKOYA, 1995).

Esta relação entre a qualidade da matéria-prima e a do produto pode ainda incluir a

componente “processo de produção”. Além da maior qualidade do produto final, a qualidade da

matéria-prima está envolvida diretamente com o desempenho das operações de extração,

fermentação e destilação. Deste modo, matéria-prima de maior qualidade permitiria maiores

rendimentos industrial (STUPIELLO, 1992).

Para Clarke e Legendre (1999), em muitos sistemas de produção agrícola e industrial

existe um conflito entre quantidade e qualidade, pois a produtividade tem precedência sobre a

qualidade. Neste caso, destacam que a boa qualidade da matéria-prima favorece um processo

rápido, com alto rendimento de produto. Porém, a situação se inverte, quando o uso de matéria-

prima de baixa qualidade, não só reduz a velocidade de processamento e a quantidade de

produto, mas também afeta sensivelmente sua qualidade. Assim, no processo de produção da

cachaça é necessário lembrar que as características da cana afetam a qualidade da cachaça e é

essencial ter informações detalhadas sobre o cultivo da matéria-prima. Este tema não faz parte

da abordagem deste trabalho, mas é necessário destacar sua importância para a obtenção de

cachaça de qualidade.

3.3.2. Preparo do caldo

Após a colheita, a cana de açúcar é levada para a moagem, etapa onde se faz a extração

do caldo, com o auxílio das moendas. O caldo obtido, chamado por alguns de garapa, é

constituído de água (65-75 %), açúcares (11-18 %), pequenas quantidades de substâncias

nitrogenadas, ceras, lipídios, pectinas, materiais corantes e sais minerais. O pH é pouco ácido

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(4,8-6,0), o que favorece o desenvolvimento de micro-organismos (SCHWAN; CASTRO,

2001). Os compostos orgânicos não-açúcares são constituídos de substâncias nitrogenadas

(proteínas, aminoácidos, etc.), gorduras, ceras, pectinas, ácidos (málico, succínico e dentre

outros), além de matérias corantes (clorofila, sacaretina e antocianina). Os compostos

inorgânicos, representados pelas cinzas, têm como componentes principais: sílica, potássio,

fósforo, cálcio, sódio, magnésio, enxofre, ferro, alumínio, cloro e outros (STUPIELLO, 1987).

Após a moagem da cana, o caldo passa por um processo de limpeza, com o uso de sistemas de

filtração e decantação. Opcionalmente, a concentração de açúcares pode ser ajustada para um

maior controle do processo de fermentação. O caldo limpo e diluído passa a ser chamado de

mosto, estando pronto para a adição do fermento (LIMA, 2001).

3.3.3. Fermentação

A fermentação é a segunda etapa do processo, e tem papel fundamental na produção de

cachaça artesanal. A fermentação na produção de cachaça é um processo relativamente rápido,

se comparado com outras bebidas, como o vinho e a cerveja cujo tempo médio e de 15 e 4 dias

respectivamente. A duração média de um processo fermentativo é de 24 horas. Em geral, a

fermentação é conduzida pelo sistema de bateladas, com o aproveitamento do fermento nas

várias bateladas subseqüentes (PATARO et al., 2002). Nessa etapa, os açúcares presentes no

mosto são transformados em etanol, gás carbônico e água por microrganismos, os fermentos. Na

produção de cachaça, o fermento é constituído por leveduras, principalmente Saccharomyces

cerevisiae. Dentre os metabólitos secretados pelas leveduras, o etanol é o principal composto,

produzido em maior quantidade (SILVA, 2003). Além de álcool, é normal que uma parte dos

açúcares seja convertida em outros produtos, em menor quantidade, que por isto são

denominados componentes secundários. Estes incluem glicerol, ácidos orgânicos (como

succínico, acético, lático, butírico e dentre outros.), álcoois superiores (amílico, isoamílico,

butírico, isobutírico, propílico e isopropílico), aldeídos, ésteres, entre outros compostos voláteis

(JANZANTTI, 2004). Os componentes secundários são responsáveis tanto pela qualidade

quanto pelos defeitos do produto (NAGATO et al, 2001). A definição de quais componentes

secundários e das quantidades presentes depende da qualidade do mosto e da fermentação.

Assim, em uma boa fermentação, as leveduras transformam os açúcares do mosto, em álcool

etílico, gás carbônico e pequenas quantidades de glicerol e ácido succínico, entre outros

compostos. Porém, no caso de contaminação da fermentação, os açúcares podem gerar ácidos

carboxílicos (acético, butírico, fórmico e lático), aldeídos e ésteres indesejáveis (YOKOYA,

1995). Não só a presença de contaminantes, mas a própria condução do processo pode afetar a

qualidade da cachaça e o rendimento do processo.

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No caso da temperatura de fermentação, a faixa ótima encontra-se entre 25 e 30 ºC

(JONES; PAMMENT; GREENFIELD, 1981; WATSON, 1987). Temperaturas maiores

afetariam o processo, pois a reprodução de células pode ocorrer até 38 ºC e inibição da

multiplicação a 40 ºC e na presença de 8 a 9 % v/v de etanol, (STUPIELLO; HORII, 1981).

Entretanto, na produção de cachaça, Alves (1994) questiona tais valores, ressaltando que estes

não se aplicam às regiões tropicais, onde a temperatura no processo facilmente supera 40 ºC.

A composição química do mosto é outro aspecto importante na produção de cachaça.

Para Ribeiro et al. (1987), células de leveduras apresentam necessidades nutricionais

diferenciadas durante o processo de fermentação alcoólica. Assim, a disponibilidade de

nutrientes influenciaria a multiplicação e o crescimento celular, bem como a eficiência da

transformação de açúcar em álcool. O nitrogênio, devido à sua importância para as leveduras, é

considerado um elemento essencial para a multiplicação e crescimento do fermento. Este

nutriente é constituinte de várias substâncias orgânicas encontradas nas leveduras, como os

aminoácidos, proteínas, enzimas, pirimidinas, purinas, pigmentos respiratórios (citocromos),

lecitina, vitaminas e cefalina (WHITE, 1954).

A presença de nitrogênio no mosto pode ser associada à composição do caldo ou à

suplementação do mosto com compostos nitrogenados. No entanto, apesar da necessidade de

nitrogênio, quando uréia ou sulfato de amônio é adicionado diretamente ao mosto, a assimilação

pela levedura não é imediata (PINOTTI, 1991). A disponibilidade de nutrientes, bem como sua

assimilação pelo fermento é importante, pois, podem favorecer a multiplicação de micro-

organismos contaminantes ou levar a ocorrência de reações indesejadas, com a formação de

compostos prejudiciais à qualidade da cachaça, (NAGATO et al, 2001).

Este aspecto da composição do caldo e disponibilidade de nutrientes está diretamente

associado à formação de carbamato de etila. Estudos sobre a presença de compostos

nitrogenados na produção de bebidas destiladas, incluindo a cachaça, mostram que tais

compostos podem estar presentes até no produto final (POLASTRO et al., 2001). Tal

informação é relevante quando se considera a participação dos compostos nitrogenados na

formação do carbamato de etila, permitindo deduzir que a formação deste contaminante pode

ocorrer até mesmo no produto pronto para consumo.

3.3.4. Destilação

Após a fermentação, o mosto de cana passa a ser chamado “vinho”, que é composto de

água e álcool etílico, em maiores proporções, e dos compostos denominados “secundários”,

substâncias responsáveis pelo sabor e aroma das aguardentes (LIMA, 1983). A destilação é

realizada para concentrar o álcool e os compostos secundários, definindo em grande parte a

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composição química da cachaça, conferindo qualidade ao produto final (OSHIRO; MACCARI,

2005). Os vinhos são constituídos de etanol, água e congêneres, como ácidos, alcoóis, ésteres,

compostos carbonilos, acetais, fenóis, hidrocarbonetos, compostos nitrogenados, compostos

sulfurados e açúcar. Na destilação estes compostos serão concentrados, atingindo valores que

não só caracterizam a bebida, como ainda a qualificam (SUOMALAINEN; LEHTONEN,

1979).

Para Guymon (1974) a otimização das condições da operação de destilação é

fundamental na obtenção de bebida de boa qualidade, pois a destilação, além de separar,

selecionar e concentrar pelo uso do calor os componentes do vinho promove algumas reações

químicas induzidas pelo calor. Assim, a destilação pode aumentar ou diminuir a concentração

dos componentes voláteis do vinho e ainda originar novos componentes no destilado. A

destilação é um processo termodinâmico de separação de frações voláteis de uma solução. Para

tanto, tem como base a solubilidade e o ponto de ebulição, específicos dos componentes

minoritários voláteis nas frações majoritárias de vapor de água e etanol (LÉAUTÉ, 1990).

A destilação na produção de cachaça emprega basicamente dois tipos de equipamento,

de materiais diferentes, o alambique de cobre e a coluna de destilação de aço inox (processo

industrial) (STUPIELLO, 1992a). O efeito do material de constituição do destilador sobre a

qualidade da cachaça foi avaliado por Cardoso (2003), onde a destilação foi conduzida em

colunas de vidro recheadas com cobre, aço inox, alumínio e porcelana. Os resultados mostraram

que o material de composição do destilador alterou as características químicas e sensoriais do

destilado, sendo o aço inox o que mais se assemelha ao cobre. Porém, em estudo comparando a

destilação em destilador de aço inox com outro, de cobre, detectaram diferenças significativas

na concentração de compostos aromáticos, com maior qualidade para o produto obtido em

destilador de cobre, (NASCIMENTO et al., 1998).

Quanto ao tipo de equipamento, apesar de possuir limitações técnicas, o alambique de

cobre é mais usado do que a coluna de destilação. A coluna de destilação permite melhor

separação de compostos como água, álcool, aldeídos, ésteres, alcoóis superiores entre outros e

maior rendimento do processo. Entretanto, seu alto custo faz com que seja usada apenas em

grandes indústrias, sendo por isto responsável pela maior parte da cachaça industrial produzida

no Brasil. Entretanto, o alambique gera produtos de maior qualidade, sendo mais usado na

produção artesanal (STUPIELLO, 1992a).

Apesar de estar presente na maior parte das unidades produtoras e de gerar cachaça de

qualidade superior, o alambique de cobre exige cuidados para seu uso. A confecção do

equipamento em cobre pode gerar contaminação da bebida, por arraste de metal para a cachaça,

fenômeno já analisado, FARIA (1989); LIMA-NETO et al. (1994) e NASCIMENTO, et al.

(1998). Além dos riscos à saúde, a contaminação por cobre pode gerar outros problemas na

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cachaça, como a geração de carbamato de etila. O papel do cobre como catalisador da formação

de carbamato de etila é apontado por diversos estudos, como em ARESTA, BOSCOLO E

FRANCO (2001); ANDRADE-SOBRINHO et al. (2002); LELIS (2006). Entretanto, dados de

Barcelos et al. (2007) e Andrade-Sobrinho (2009) não mostram este mesmo comportamento.

Apesar de possuir menos recursos tecnológicos e do risco da contaminação, o

alambique de cobre é o mais usado não apenas pelos citados efeitos sobre qualidade da cachaça,

mas também pelo custo de aquisição e facilidade de operação. A forma de operação é um dos

pontos vitais no uso do equipamento, pois o alambique pode ser operado de modo a gerar

produtos de melhor qualidade, através da destilação lenta e do fracionamento ou corte do

destilado (NICOL, 2003). O fracionamento pode ser feito com base em diversos fatores, como

volume total da fração coletada, associado à concentração de álcool e às propriedades sensoriais

de cada fração. Estas frações são tradicionalmente denominadas de: cabeça, coração e cauda,

possuindo graduação alcoólica (% v/v) aproximada de 78 %, 57 % e 27 % de álcool,

respectivamente NASCIMENTO et al., 1998).

O fracionamento do destilado apresenta limitações, em virtude da complexidade da

destilação, associada à composição química do vinho e às características do processo. Yokoya

(1995) destaca que o comportamento dos componentes secundários durante a destilação

depende de suas propriedades termodinâmicas. Assim, os diversos compostos secundários no

vinho podem ser agrupados em três categorias:

a) compostos mais voláteis que o álcool, representados por ésteres e muitos aldeídos, são mais

freqüentes na fração “cabeça”;

b) compostos menos voláteis que o álcool, os compostos fenólicos e muitos ácidos orgânicos,

são mais abundantes na fração “cauda”;

c) compostos mais voláteis que o álcool nas soluções alcoólicas de baixa concentração e menos

voláteis nas soluções alcoólicas concentradas.

Deste modo, tem-se uma operação influenciada por inúmeros fatores e variáveis

operacionais. Isto confere particularidades a cada processo, unidade produtora e,

conseqüentemente, a cada produto, esta diversidade é potencializada por inovações. Este é o

caso da bidestilação ou dupla destilação. A bidestilação é aplicada em algumas unidades

produtoras de cachaça, as quais tomam o processo de produção do uísque como referência. Isto

foi ratificado por Bizelli et al. (2000), ao estudarem a influência da dupla destilação nos teores

de acidez total e cobre na cachaça. Na produção de uísque esta prática é padrão para o processo,

pois melhora a qualidade do produto. Bruno et al. (2007), ao estudar a influência do processo de

destilação e da composição do destilador na formação de carbamato de etila em aguardente de

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cana-de-açúcar, observou que existe relação entre a concentração do carbamato de etila, a

geometria do destilador e o processo de destilação.

3.3.5. Envelhecimento

A cachaça recém-destilada possui características sensoriais peculiares, sendo

considerada uma bebida agressiva. O armazenamento do produto, tanto em recipientes de

madeira, permite transformações que melhoram sua aceitação pelo consumidor (OSHIRO;

MACCARI, 2005). Nesta etapa, a cachaça adquire atributos de aroma e sabor, característicos de

bebida de maior qualidade (MOSEDALE; PUECH,1998; BOZA, 1999). A maturação

convencional de bebidas destiladas em barris ou tonéis de madeira envolve um sistema

complexo de transformações físicas, químicas e sensoriais. São reações complexas, como a

mistura e o equilíbrio das frações água-etanol com os compostos secundários da bebida; reações

químicas e interações físico-químicas entre os componentes da bebida e aqueles provenientes da

madeira; e trocas gasosas entre a bebida e o ambiente externo aos recipientes de

acondicionamento (NISHIMURA et al., 1989).

Estas características são originadas através de diversas reações que ocasionam

mudanças físicas, químicas e sensoriais do produto. Segundo Reazin (1981), durante a

maturação da bebida são formados “congêneres” responsáveis por tais mudanças. Esses

congêneres são originados de reações entre os constituintes do destilado; da interação entre o

etanol e a madeira e da extração de componentes da madeira. Ainda segundo os mesmos autores

as alterações químicas que ocorrem durante o envelhecimento consistem especialmente em

reações de esterificação e de oxidação, onde:

• Alcoóis reagindo com oxigênio formam aldeídos;

• Aldeídos em contato com oxigênio formam ácidos;

• Ácidos em contato com oxigênio originam ésteres.

Dentre estes compostos, os ésteres são responsáveis pelo aroma agradável da bebida. O

acetato de etila é o principal éster encontrado na bebida envelhecida, porém outros ésteres estão

presentes em concentrações que variam em função da extensão das reações de transesterificação

(NYKÄNEN; NYKÄNEN, 1983). Em estudo realizado por Cardello e Faria (2000), as amostras

de aguardente envelhecida tiveram melhor aceitação do que aquelas não envelhecidas. Além

disso, com o decorrer do tempo de envelhecimento, novas características sensoriais foram

desenvolvidas, como aroma e sabor de madeira, doçura, aroma de baunilha, coloração amarela e

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a diminuição significativa da agressividade e do aroma e sabor alcoólico (CARDELLO;

FARIA, 1998).

Muitas reações químicas ocorrem durante o envelhecimento da cachaça em madeira. A

oxidação e a esterificação de alcoóis geram aldeídos e ésteres, respectivamente. Para Reazin

(1981) e Litchev (1989), reações de oxidação de aldeídos a ácidos, assim como reações de

degradação da lignina por etanólise, geram produtos responsáveis por aroma e sabor agradáveis

e característicos. Durante este período de armazenamento não ocorrem somente reações

favoráveis. Lelis (2006) observou formação de carbamato de etila em cachaça quando

armazenada em tonéis de madeira. Estas reações ocorrem mesmo quando o destilado é

armazenado em garrafas de vidro, onde um processo fotoquímico está envolvido na formação

de carbamato de etila (BATTAGLIA; CONACHER; PAGE, 1990).

3.4. Qualidades das cachaças

3.4.1. Aspectos legais

Muitos são os termos utilizados para denominar a cachaça, alguns dizem aguardente ou

pinga entre outros. No entanto, no dia 29 de junho de 2005 foi regulamentada a Instrução

Normativa nº13 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sendo então aprovado

o “Regulamento Técnico para Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Aguardente

de Cana e para Cachaça” (BRASIL, 2005a). Este regulamento separa a bebida em duas

categorias: aguardente e cachaça:

• Aguardente: “É a bebida com graduação alcoólica de 38% vol. (trinta e oito por cento

em volume) a 54 % v.v-1. (cinqüenta e quatro por cento em volume) a 20 ºC (vinte graus

Celsius), obtida do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do

mosto fermentado de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até 6g.L-1

(seis gramas por litro), expressos em sacarose”;

• Cachaça: “É a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no

Brasil, com graduação alcoólica de 38 % v.v-1. (trinta e oito por cento em volume) a

48% vol. (quarenta e oito por cento em volume) a 20 oC (vinte graus Celsius), obtida

pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais

peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até 6g.L-1 (seis gramas por litro),

expressos em sacarose”.

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No âmbito legal, a qualidade da cachaça foi regulamentada pela Instrução Normativa

Nº13, de 29 de junho de 2005 (BRASIL, 2005a) (Tabela 1) e pelo Decreto no 6871, de

04/06/2009.

Tabela 1 – Padrões de identidade e qualidade de cachaça, regulamentada pela Instrução

Normativa Nº13, de 29 de junho de 2005.

Componentes Unidade Limite

Mínimo Máximo

Graduação alcoólica 338 0GL 48 0GL Acidez volátil expressa em acido acético mg.100-1mL de álcool anidro - 150 Ésteres totais, expressa em acetato de etila

mg.100-1mL de álcool anidro - 200

Aldeídos, em acetaldeido mg.100-1mL de álcool anidro - 30 Soma de fufural e hidrometifufural mg.100-1mL de álcool anidro - 5,0 Soma de alcoóis superiores mg.100-1mL de álcool anidro - 360 Coeficiente de congêneres mg.100-1mL de álcool anidro 200 650

Contaminantes Álcool metílico mg.100-1mL de álcool anidro - 20 Carbamato de etila µg.L-1 - 150 Acroleína (2-propenal) mg.100-1mL de álcool anidro - 5,0 Álcool sec-butílico (2-butanol) mg.100-1mL de álcool anidro - 10 Álcool n-butílico (1-butanol) mg.100-1mL de álcool anidro - 3,0 Cobre mg.L-1 - 5,0 Chumbo µg.L-1 - 200 Arsênio µg.L-1 - 200

Fonte: Adaptado de BRASIL (2005).

Nos últimos anos, baseado no aumento do consumo, o setor de produção de cachaça foi

um dos que mais investiu em controle de qualidade, marketing e prospecção de mercado

(nacional e internacional). Estas ações são desenvolvidas para minimizar o preconceito que há

em relação à bebida (ABRABE, 2010). Em relação ao citado Decreto nº. 2314, a Instrução

Normativa introduziu novos compostos entre os padrões de identidade e qualidade de cachaça.

São componentes considerados contaminantes na cachaça, como o carbamato de etila, o arsênio,

a acroleína, o álcool sec-butílico e o álcool n-butílico. O prazo máximo para adequação e

controle dos contaminantes da cachaça foi estipulado em três anos a partir da data de publicação

da Instrução Normativa Nº 13, com exceção do carbamato de etila, que foi de cinco anos. A

ampliação dos parâmetros legais segue uma tendência de maior exigência quanto à qualidade,

acompanhando o observando nos mercados interno e externo de bebidas. Porém, de acordo com

Cardello e Faria (1998), estudos sobre a qualidade da aguardente de cana-de-açúcar são

limitados, se comparados aos existentes para outras bebidas tradicionais. Esta situação pode ser

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29

explicada pelo preconceito vigente em relação à bebida, pelo caráter exclusivo da produção,

visto ser bebida típica do Brasil e pelo predomínio de pequenas empresas na produção, fato

observado até pouco tempo atrás. De acordo com Silva (2003), o controle de qualidade e a

própria qualidade da cachaça somente serão aprimorados se a indústria conhecer o processo e o

produto, sem mitos e crendices, ou seja, produzir com tecnologia, sobretudo com uma

consciência ampla de qualidade entre todos os membros do sistema de produção. Apesar de

haver legislação sobre o tema, parâmetros de qualidade para cachaça ainda são escassos, uma

vez que a legislação em vigor pouco rege sobre este atributo, impondo limites para garantia da

saúde pública, e que pouco ou nada se referem à qualidade global do produto (RIBEIRO;

HORII, 1998).

O carbamato de etila pode ser encontrado em vários alimentos e bebidas fermentadas,

como vinhos, saquê, uísques, aguardentes, pães, azeitonas, iogurtes, entre outros. A presença

deste composto é uma preocupação para os produtores na atualidade, pois é potencialmente

carcinogênico, (BOSCOLO, 2001).

No Brasil, a grande preocupação é com a cachaça e a aguardente de cana que, mediante

alguns estudos, evidenciaram teores de carbamato de etila acima do limite estabelecido pela

legislação vigente. Este fato pode representar uma barreira para as exportações do produto para

vários países, principalmente os localizados na Europa e América do Norte. Sendo assim, se faz

necessário aprofundar os estudos sobre a formação do carbamato de etila em cachaça e

aguardente de cana, uma vez que estes ainda se encontram insuficientes. A qualidade dessas

bebidas deve sempre ser monitorada, uma vez que a legislação e os consumidores estão cada vez

mais exigentes. Propriedades importantes da cachaça relacionadas à qualidade são, por exemplo,

a acidez volátil e o grau alcoólico (LELIS, 2006).

A primeira pode elucidar se a fermentação está ocorrendo sem contaminações

indesejadas, se o processo está sendo realizado de forma higiênica, entre outros. Enquanto que a

segunda propriedade mencionada pode indicar se o grau alcoólico da bebida está ou não em

conformidade com a legislação. Durante o processo de fermentação alcoólica os açúcares do

caldo de cana se desdobram e ocorre a formação de dois produtos principais: álcool etílico e

dióxido de carbono. Na produção de cachaça, a concentração de álcool aumenta com a

fermentação, enquanto isto, o gás carbônico é liberado para a atmosfera. Assim, o líquido

fermentado tende a ter maiores concentrações de água e de álcool (compostos principais ou

primários). Porém, há também formação de pequenas quantidades de outros componentes, os

quais recebem a denominação de produtos secundários da fermentação alcoólica ou congêneres

(BARCELOS et al., 2007; ANDRADE-SOBRINHO, 2009)

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30

3.4.2. Acidez Volátil

A alta acidez presente em aguardentes pode ser atribuída à contaminação da cana ou do

próprio mosto fermentado. Isto ocorre pela presença de bactérias acéticas e outras, seja na

estocagem da cana ou no próprio caldo de cana, fazendo com que parte do substrato sofra

fermentação acética, elevando a acidez e diminuindo o rendimento da produção de etanol

(CARDOSO, 2001).

Os ácidos orgânicos voláteis são os mais comuns em bebidas destiladas, sendo o ácido

acético o mais abundante (ROSE, 1977). RIBEIRO & PRADO-FILHO (1997) mostraram que

durante o decorrer da destilação as primeiras porções do destilado possuem acidez baixa,

voltando a se elevar na parte final, dados anteriormente relatados por BOZA (1996). Desta

forma, verifica-se a importância da acidez na qualidade da aguardente de cana devido ao seu

importante papel no sabor e no aroma da bebida.

3.4.3 Contaminantes orgânicos e inorgânicos da cachaça

Apesar de vários compostos considerados contaminantes serem detectados na cachaça

ou constarem na legislação sobre a bebida, é importante destacar como componentes o cobre e o

carbamato de etila. As condições de produção de cachaça e a relação entre estes dois

componentes químicos tornam importante seu estudo e sua determinação nas cachaças

comercializadas (CARDOSO, 2003).

3.4.3.1 Cobre

O cobre é um metal essencial para plantas e animais. Nos seres humanos, encontra-se

distribuído praticamente em todo organismo em diferentes concentrações, sendo que, uma das

principais atividades biológicas do cobre é a sua participação como co-fator de múltiplos

sistemas enzimáticos. Este micronutriente está relacionado às necessidades relativas ao

crescimento, mecanismos imunológicos de defesa, resistência óssea, maturação das células

vermelhas e brancas, transporte de ferro, metabolismo da glicose e colesterol, contratilidade

miocárdia e desenvolvimento cerebral (COZZOLINO, 2007).

Ainda segundo este mesmo autor, o conteúdo total de cobre no organismo de um adulto

saudável varia de 100 a 150 mg, a maior parte encontra-se no fígado, que junto com os

músculos e ossos contém de 50 a 75% do total do cobre corpóreo. Mesmo sendo um nutriente

importante em diversos sistemas enzimáticos vitais ao metabolismo humano, a quantidade

ingerida pode acarretar em sérios problemas de saúde. A mais conhecida enfermidade

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31

decorrente dos distúrbios do metabolismo do cobre é a degeneração hepato-lenticular ou doença

de Wilson que, à primeira vista parece tratar-se de um caso de hipercupremia. Os sintomas

apresentados são: peso do lado direito do corpo (dilatação da cápsula do fígado), dores ao correr

e andar (alterações musculares), mudança na cor da pele para amarela (alteração da função

bioquímica do fígado), e tremores fortes nos dedos (alterações nervosas) (SARGENTELLI et

al., 1996).

A intoxicação com cobre pode ainda ser associada à epilepsia, ao melanoma e à artrite

reumatóide, por exemplo, provocando alterações generalizadas e aumentando a concentração de

cobre no sangue, em casos que podem ser considerados como hipercupremia (SARGENTELLI

et al., 1996). A Instrução Normativa Nº13, de 29 de junho de 2005,considera o cobre um

contaminante da cachaça, definindo seu limite máximo, em 5 mg.L-1. Em outros países europeus

como alemanha a legislação não tolera mais que 2 mg.L-1 de cobre nos destilados alcoólicos

(CARDOSO et al., 2003). A presença de elevadas concentrações de cobre em bebidas pode ser

prejudicial à saúde humana (MOSHA et al., 1996). A presença do cobre na produção de

cachaça está associada ao processo de destilação, pois é o elemento de construção dos

alambiques. O cobre oxidado ou “azinhavre”, [CuCO3Cu(OH)2], forma depósito nas paredes

dos alambiques.

Durante a destilação, esse composto seria dissolvido e arrastado pelos vapores

alcoólicos ácidos, contaminando a cachaça (LIMA NETO et al., 1994). Boza e Horii (2000), ao

estudarem a influência do grau alcoólico e da acidez na qualidade da aguardente de cana

detectaram que a forma de condução da destilação tem grande participação na concentração de

cobre no produto final. Faria (1989); Lima-Neto et al., (1994); Nascimento, et al. (1998); estão

entre os diversos autores que estudaram a presença de cobre em cachaça, embora haja uma vasta

lista de trabalhos com dados da contaminação de cachaça por cobre. LIMA-NETO et al. (1994)

analisaram 73 amostras e encontraram teores que variaram de “não-detectado” a 14,3 mg.L-1

Trabalhando com um número muito maior de amostras (511), Vargas e Glória (1995)

concluíram que cerca de um terço das amostras (32,9%) não atendeu à legislação vigente, sendo

encontrado um teor máximo de cobre na ordem de 26 mg.L-1. Estudos como os de Aresta,

Boscolo, Franco (2001); Lelis (2006), entre outros, têm indicado que o cobre está relacionado à

formação do carbamato de etila, embora existam trabalhos que questionem tal relação

(BARCELOS et al., 2007; ANDRADE-SOBRINHO, 2009). De todo modo, considerando o

exposto, os teores de cobre devem ser minimizados na cachaça para garantir qualidade ao

produto, proteger o consumidor e prevenir a formação de outras substâncias indesejáveis.

Segundo Nascimento et al., (1998) e Cardoso (2000), a higiene do alambique no momento da

destilação é imprescindível para evitar contaminações com o metal. Cardoso (2001) recomenda

que a primeira destilação deva ser feita adicionando-se suco de limão à água (ácido cítrico), à

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base de 5 litros do suco para cada 100 litros de água. Assim, essa solução removerá o azinhavre

do alambique, principalmente aquele existente no interior da serpentina de condensação dos

vapores hidroalcoólicos.

Uma forma empírica de avaliar uma possível ocorrência de contaminação de cobre nas

aguardentes seria por meio do uso de filtro branco de algodão ou gaze para filtrar a aguardente.

Caso o filtro fique azul, denotaria a ocorrência de excesso de cobre. Um recurso utilizado por

alguns produtores de aguardente para minimizar essa contaminação é a filtragem das cachaças

por meio do uso de carvão vegetal, tomando-se o devido cuidado para que o carvão vegetal não

retire também os compostos que dão o sabor característico das aguardentes.

Segundo Bizelli et al., (2000), alternativas como a bidestilação das aguardentes podem

ser utilizadas permitindo a redução dos teores de cobre nas mesmas. De modo geral, o que se

observa é que uma assepsia criteriosa dos alambiques após o término diário do procedimento de

alambicagem, quando bem feito, tende a reduzir consideravelmente os problemas de presença

de cobre nas aguardentes (Sargentelli et al., 1996). Alguns procedimentos variam de produtor

para produtor, e alguns costumam manter os destiladores cheios de água no período de

entressafras; outros preferem manter os destiladores vazios nesse período e a cada início de

safra lavam com solução de bicarbonato. Lavagens diárias com água ao final do dia de trabalho

também são utilizadas. O excesso de cobre da cachaça pode ser eliminado ainda pelo uso de

colunas de resina de troca iônica, após a destilação (LIMA et al., 2006) CANTANHEDE et al.

(2005) pesquisou a utilização de matrizes organofuncionalizadas Si-Dia - sílica modificada com

aminopropiltrietóxisilano e Si-Ti-Dia sílica-titânia modificada com trimetóxisilil (propil)

etilenodiamanina, como agentes removedores de íons cobre (Cu++). Eles concluíram que estas

matrizes conseguem diminuir aproximadamente 80% os teores deste íon no destilado

3.4.3.2. Carbamato de etila

O carbamato de etila (uretana), é o éster do ácido carbâmico, tem fórmula molecular

H2NCOOC2H5, apresenta-se na forma de cristal incolor, inodoro, de sabor salino refrescante e

levemente amargo, tem ponto de fusão entre 48 e 50 o C, e ponto de ebulição entre 182 e 1840

°C, com peso molecular de 89,09 (MERCK, 2001). Em geral, o carbamato é produzido

industrialmente a partir do fosfogênio, da uréia ou da cianamida. A principal forma de produção

de carbamato de etila para fins comerciais é da reação entre a uréia e o etanol (ARESTA,

BOSCOLO, FRANCO, 2001).

O carbamato de etila é uma substância potencialmente carcinogênica encontrada em

certas bebidas fermento-destiladas, nas quais se incluem a aguardente de cana e a cachaça. O

Canadá foi o primeiro país a ter legislação específica sobre o assunto, tornando-se um

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referencial para os Estados Unidos e a União Européia. No Brasil, apesar de trabalhos como os

de Novaes (1996) sugerirem limites para a ingestão de carbamato de etila (0,3 µg.K.g-1de peso

corpóreo), o tema só foi transformado em lei no ano de 2005, mais de 20 anos depois de

levantado pelos canadenses (BOSCOLO, 2001).

A presença do carbamato de etila, em níveis traço (<10 ppb), é comum em diversos

alimentos e bebidas onde ocorrem processos fermentativos, como os vinhos, iogurtes, queijos e

cervejas. Sua ocorrência nesses produtos dificilmente ultrapassa 10-20 ppb. O mecanismo de

formação de carbamato de etila em bebidas alcoólicas ainda não é bem compreendido. Os

primeiros trabalhos sobre carbamato de etila em bebidas destiladas realizados no Brasil datam

dos anos 90, com um aumento sensível na pesquisa na década seguinte. Os estudos realizados

com cachaça tiveram como meta quantificar o carbamato de etila no produto e entender os seus

mecanismos de formação(NOVAES, 1997; RIFFKIN et al., 1989 citado por BRUNO, 2006).

Em vinhos, já são reconhecidos como precursores a uréia, o carbamilfosfato, a arginina

e a citrulina, compostos estes, formados durante as fermentações alcoólicas e malolática. Tais

compostos podem reagir com o etanol em pH ácido, formando assim o carbamato de etila,

reação que é favorecida pelo aumento da concentração dos reagentes, do tempo e da

temperatura (LAWRENCE et al., 1990 citado por LABANCA et al., 2008; ORDUNÃ et al.,

2000; UTHURRY et al., 2006). Em destilados a formação de carbamato de etila pode ocorrer

antes, durante e depois do processo de destilação (BOSCOLO, 2001), incluindo o

armazenamento da bebida, pela reação do etanol com alguns compostos nitrogenados

(NAGATO et al., 2003). Praticamente “todo” o carbamato de etila é formado entre 24 e 48h

após a destilação (ARESTA et al., 2001).

A formação antes da destilação ocorre pelas mesmas vias apresentadas no caso do

vinho. Entretanto, a contribuição do carbamato de etila, formado na etapa de fermentação, para

o produto final não é considerável, uma vez que o ponto de ebulição deste composto é 185 °C e

o processo de destilação o remove quase por completo (ARESTA et al., 2001). Por isso, os

níveis de carbamato de etila nesses produtos estão associados aos precursores nitrogenados que

aparecem antes e durante a destilação (MACKENZIE et al., 1990; BUJAKE, 1992 citado por

BRUNO, 2006; TAKI et al., 1992 citado por BRUNO, 2006; NOVAES, 1997; ARESTA et al.,

2001).

3.4.3.2.1. Formação de carbamato de etila a partir do cianeto

O precursor de maior importância para a formação do carbamato de etila em destilados

é o íon cianeto (CN-). Este pode ser formado pela decomposição térmica ou enzimática de

glicosídeos cianogênicos (MACKENZIE et al., 1990).

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34

Um dos mecanismos que envolvem a complexação do cianeto pelo Cu2+, seguida pela

oxidação a cianogênio e subseqüente transformação a cianato, estão demonstrados na (Figura

5). O cianato, por sua vez, pode reagir com o etanol e formar o carbamato de etila (BOSCOLO,

2001).

Fonte: Adaptado de BOLOSCO 2001.

Figura 5 – Reações que envolvem a formação do carbamato de etila, a partir do íon cianeto na

presença de cobre.

Outro mecanismo proposto envolve a auto-oxidação de compostos insaturados presentes

em bebidas alcoólicas pela ação da luz UV, gerando radicais livres (orgânicos ou

hidroperóxidos) que catalisam a oxidação do cianeto a cianato (ARESTA et al., 2001). Tendo o

cianeto como precursor, os fatores que influem na formação do carbamato de etila em bebidas

destiladas são: pH, conteúdo em etanol (RIFFKIN et al., 1989 citado por BRUNO, 2006;

ARESTA et al., 2001), temperatura, proximidade de grupos carbonila presentes em moléculas

orgânicas, concentração dos íons Cu2+ (ARESTA et al., 2001) e incidência de luz UV

(SCHEHL, 2005; LACHENMEIER et al., 2005).

Na produção de cachaça as medidas preventivas mais recomendadas para evitar a

interação do Cu2+ com precursores do carbamato de etila, especialmente o cianeto, consistem

em trocar as partes descendentes dos aparelhos de destilação, em cobre, por aço inoxidável

(ARESTA et al., 2001; BOSCOLO, 2001; ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002), e empacotar

a coluna de destilação dos alambiques com dispositivos em cobre, cujos orifícios estejam

fixados paralelamente à coluna, de modo a conferir um menor grau de retificação (ARESTA et

al., 2001).

3.4.3.2.2. Formação de carbamato de etila a partir da uréia, seus derivados e outros

Como fonte de nitrogênio para as leveduras, a uréia, no passado, era adicionada à dorna

de fermentação. Porém, atualmente sabe-se que não é aconselhável, pois este composto pode

reagir com o etanol produzindo o carbamato de etila, o qual é considerado carcinogênico. Sendo

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assim, ela não é mais utilizada (LABANCA, 2004). A uréia poderia contribuir para a formação

do carbamato de etila, mas que também, quando não adicionada, esta formação também ocorria

(POLASTRO, et al., 2001; BATTAGLIA et al., 1990). A uréia é um metabólito natural na rota

dos aminoácidos (ex.: arginina) e do ácido nucléico, e esta deve ser assumida estar presente,

embora em pequenas quantidades, na maioria dos processos fermentativos. Assim, há a

possibilidade de formação do carbamato de etila em todas as fermentações alcoólicas (NAGATO

et al., 2003; BATTAGLIA et al., 1990). Derivados naturais da uréia ou precursores como

alantoína, ácido ß - ureidopropiônico, citrulina (BATTAGLIA et al., 1990; MACKENZIE et al.,

1990) e vários N-carbamil a-aminoácidos têm sido mostrados como precursores do carbamato de

etila, mas somente em modelos experimentais (AYLOTT et al., 1990; BATTAGLIA et al.,

1990). Muitos destes compostos, como a uréia, o fosfato de carbamila, os N- carbamil

aminoácidos e a citrulina, são encontrados no vinho e podem reagir com o etanol em pH ácido,

formando o carbamato de etila (NAGATO et al., 2003). De fato, em estudos posteriores, a

formação de carbamato de etila em vinhos foi correlacionada com a concentração de uréia e a

produção aumentou substancialmente com o aumento da temperatura. A maioria da uréia

produzida no vinho vem da degradação da arginina via atividade catabólica da arginase. De

acordo com BATTAGLIA et al. (1990), a uréia, surgindo a partir da quebra da arginina, é

responsável por 40 a 50% do carbamato de etila formado durante a fermentação do suco de uva

“Chardonnay” Fosfato de carbamila (FC) produzido pelo fermento (Saccharomyces cerevisiae)

pode reagir com etanol para gerar carbamato de etila . FC vem da síntese da arginina catalisada

pela carbamil sintase envolvendo ATP, CO2 amônia (ARESTA et al., 2001; BATTAGLIA et al.,

1990).

3.5. Análise sensorial em cachaças

Análise Sensorial é a disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e

interpretar reações das características dos alimentos e materiais como são percebidos pelos

sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição. A análise sensorial é muitas vezes confundida

com degustação, que por sua vez, é considerada uma avaliação subjetiva sendo realizada por

consumidores. A degustação na maioria das vezes só reflete a sensação (boa ou ruim) que um

determinado produto desperta aos sentidos do provador, sem que haja coleta de informações ou

forma de sistematizá-las. Na análise sensorial propriamente dita, há um conjunto de termos,

conceitos e procedimentos, garantindo dados e informações criteriosas. Trabalhos como os de

Piggott (1995) e Ferreira et al. (2000) permitem a aplicação da análise sensorial em diferentes

tipos de produto, incluindo bebidas. Cabe destacar trabalhos como os de Furtado (1995),

buscando correlacionar parâmetros químicos e sensoriais em sua pesquisa com cachaça. Este

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contexto indica o estado incipiente do tema no setor. Como comparação, é possível avaliar o

estado da arte da análise sensorial do uísque, a qual possui inúmeros trabalhos publicados, com

descritores padronizados, inclusive, já associados a compostos químicos. Podem ser

considerados como clássicos os trabalho de Lee et al. (2001) e Aylott (2003), os quais listam

dezenas de descritores para aroma e sabor.

O aroma e o sabor da cachaça são determinados pela quantidade de produtos

secundários, originados na fermentação, que passam para o destilado. Dentre esses compostos

estão ésteres e aldeídos, compostos fenólicos e ácidos orgânicos e álcoois amílico, butílico,

propílico e outros. Estes compostos diferenciam a qualidade de bebidas destiladas, como o

uísque (AYLOTT, 2003). Apesar da falta de normas e procedimentos para a análise sensorial de

cachaça, muitos trabalhos usam testes sensoriais como ferramenta para avaliar os efeitos de

diferentes processos sobre a qualidade do produto. Como exemplo, cita-se os trabalhos de Faria

et al. (1995); Cardello e Faria (2000 e 1997) e Miranda et al. (2008), avaliando a qualidade

sensorial da cachaça no envelhecimento.

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37

4 MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido com o apoio dos laboratórios do Núcleo de Estudos

em Ciência de Alimentos – NECAL e no laboratório de Química Analítica de Jequié, ambos da

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, bem como nos laboratórios de físico-

química do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – IFNMG - Campus Salinas e no

Laboratório de Analise, Pesquisa e Consultoria em Alimentos – LABM, Belo Horizonte- Minas

Gerais.

Os reagentes utilizados foram de grau analítico. O carbamato de etila e o etanol foram

adquiridos da Sigma-Aldrich (Milwaukee, USA), o sulfato de cobre anidro PA da (VETEC) e

água ultra pura em sistema Milli-Q.

4.1. Obtenção da matéria-prima

No estado da Bahia de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas

Empresa (SEBRAE-BA, 2010), existem 14 marcas de cachaças registradas no Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) produzidas em sistemas de destilação em

alambique de cobre, destas 11 foram cedidas gentilmente pelos proprietários das destilarias para

condução do experimento. As cachaças analisadas foram produzidas na safra do ano de 2009 e

coletas no mês fevereiro de 2010. Todas as amostras foram provenientes de dois lotes de cada

marca comercial, sendo cada lote constituído de duas unidades com volume de 700 ml,

totalizando 44 unidades amostrais.

Previamente foi estabelecido um contato com os produtores de cachaças registradas do

estado da Bahia informando a importância e objetivos do trabalho. Posteriormente foi agendado

um roteiro com datas para a coleta das amostras.

As cachaças foram cedidas gentilmente pelos produtores estabelecidos nos baianos de

Ipiau, Rio de Contas, Santana, Amargosa, Ilhéus, Abaira, Livramento de Nossa Senhora,

Condeuba e Caculé. O mapa político do estado da Bahia apresentado na (Figura 6) ilustra as

macrorregiões e os municípios supracitados. No mapa, os pontos vermelhos indicam as regiões

onde as cachaças foram produzidas.

As amostras para análise foram envasadas pelos produtores em garrafas de vidro

transparente. No momento da coleta as amostras foram mantidas ao abrigo da luz, utilizando

papel alumínio para preservar os componentes fotossensíveis. Todas as amostras foram

identificadas em ordem alfanuméricas e conduzidas ao laboratório e mantidas a temperatura

ambiente (± 25ºC) até o momento das análises.

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Fonte: IBGE CENSO (2000). Figura 6 - Mapa político do estado da Bahia com as macrorregiões. 4.2 Caracterizações físico-químicas da matéria-prima

4.2.1 Determinação do Grau Alcoólico

O grau alcoólico foi determinado por picnometria de acordo com a metodologia

recomendada por (BRASIL, 2005b). Para determinação da densidade foi utilizado a seguinte

expressão: D20 = Pam – Pp/ PH2O – Pp. Onde: Pp = peso do picnômetro vazio, Pam = peso do

picnômetro com amostra e PH2O = peso do picnômeetro com água. Utilizou-se picnômetros de

vidro com capacidade para 5 mL previamente limpo e seco. A partir do cálculo da densidade,

determinou-se o grau alcoólico expresso em (% v/v), utilizando a tabela de conversão

recomendado por (BRASIL, 2005).

4.2.2. Determinação do Teor de Cobre

O teor de cobre foi determinado por leitura direta utilizando espectrômetro de absorção

atômica, segundo metodologia recomendada pela AOAC (1995). As determinações foram

realizadas em espectrômetro de absorção atômica da marca PERKIN ELMER modelo

ANALYST 200, utilizando chama de ar e aceliteno equipado com lâmpada de cátodo oco,

utilizando comprimento de onda 324,8 nm.

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39

Para obtenção das curvas analíticas lineares utilizou se uma solução padrão estoque de

sulfato de cobre pentahidratado PA 1,000 mg.L-1 (0,999 mg ± 0,066 mg.g-1) e posterior diluição

seqüencial, variando sua concentração de (0,016 a 0,839 mg.L-1).

A quantificação de cobre foram determinadas por meio de comparação das leituras

observadas nas amostras de cachaça, com valores das leituras referentes a curvas analíticas

lineares com coeficiente de correlação não inferior a 0,9813. Os valores obtidos foram

expressos em miligrama de cobre por litro de amostra.

4.2.3 Determinação do Carbamato de Etila

Para quantificação do carbamato de etila foi utilizado a metodologia proposta por

ANDRADE-SOBRINHO et al. (2002). As análises foram realizadas em croromatógrafo de fase

gasosa marca Shimadzu modelo GCMS-QP2010 (Tóquio, Japão), acoplado a um espetrômetro

de massas (MS), empregado o modo MSI (Monitoramento Seletivo de Íons - m/z 62, 74 e 89),

equipado com coluna capilar (polietilenoglicol esterificada) HP-FFAP (50 m x 0,20 mm x 0,33

µm espessura do filme). O gás hélio foi utilzado com gás de arraste com fluxo de 1,5 mL.min-1.

Foram injetados 2 µL de amostra utilizando o modo splitless.

As análises foram realizadas com programação de temperatura, iniciando a 90 ºC

(permanência: 2 minutos), elevada a uma taxa de 10 ºC/min até 150 ºC (permanência: 2

minutos), e então elevada a uma taxa de 25,0 °C/min até 220 ºC mantido por 4,20 min. A

temperatura da interface entre CG/EM foi de 220 ºC.

4.2.3.1. Preparação das soluções padrão

A partir de uma solução estoque de carbamato de etila 22,0 mg.L-1 em etanol/água

(40:60 v/v), foram preparadas as soluções-padrão para a construção da curva analítica (0,050–

12,0 mg.L-1). A quantificação foi realizada pela interpolação em curvas analíticas cujo

coeficiente de correlação não foi inferior a 0,99997.

4.2.4 Determinação da acidez volátil

Os ácidos voláteis foram quantificados de acordo com a metodologia proposta por

(BRASIL, 2005B). Utilizou-se um destilador digital OENOCHEMICAL ELETRONIC

DESTILLING UNIT, da marca GIBERTINI (Novate Milanese, Italia). Posteriormente a

separação dos componentes voláteis da amostra foi realizada através de destilação por arraste a

vapor. O destilado foi neutralização por titulometria, utilizada uma solução aquosa de hidróxido

de sódio 0,1N. Os resultados foram expresso em mg ácido acético.100 mL-1 álcool anidro.

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40

4.2.5 Determinação de pH

Determinou-se o pH por potenciometria, conforme metodologia recomendada pelas

Normas Analíticas do IAL (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2005). O pH foi determinado a

temperatura de à 25 ºC utilizado um pHmetro digital marca BEL ENGINEERING, modelo

W3B. As amostras foram submetidas à leitura direta no equipamento previamente calibrado.

4.3. Avaliação Sensorial

As 11 amostras de cachaças destiladas em alambiques de cobre foram submetidas a

teste de aceitação laboratorial. As análises foram realizadas no Laboratório de Análise Sensorial

do IFNMG – Campus, Salinas. Para a realização da avaliação sensorial foram utilizados 70

julgadores, consumidores do produto, sendo escolhidos aleatoriamente incluindo alunos,

maiores de 18 anos, professores e servidores do Campus do IFNMG.

As amostras foram servidas, de forma monádica e balanceadas, em cálices de cristal

transparentes, codificados com três dígitos. Todas as amostras foram avaliadas em cabinas

individuais. Os 70 julgadores avaliaram as onze amostras julgando os atributos aparência

global, aroma, sabor, impressão global. Assim sendo, foram apresentados a cada provador uma

ficha, vide anexo A, contendo uma escala estruturada de 9 pontos (9 = gostei extremamente; 1 =

desgostei extremamente) conforme recomendação de (STONE, 1992). Os resultados obtidos

foram avaliados por análise de variância (ANOVA) sendo as médias obtidas comparadas pelo

Tukey a 5% de significância.

4.4. Perfil do consumidor de cachaça

Para a condução do perfil do consumidor de cachaça, foram utilizados 70 questionários

contendo perguntas referentes a preferências do consumidor em relação à cachaça, conforme

apresentado no anexo B. Esta avaliação foi realizada no município de Itapetinga-BA, utilizando

pessoas escolhidas aleatoriamente. Os questionários foram aplicados em locais de maior

circulação de pessoas, como a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a praça central e o

mercado central municipal.

4.5. Análises estatísticas

Os resultados das análises físico-químicas, os dados obtidos foram tabulados e

analisados empregando planilhas eletrônicas no programa Microsoft Excel. Os resultados

obtidos da analise sensorial foram tabulados usado o programa Microsoft Excel, e as médias

obtidas comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância (PIMENTEL GOMES, 2000).

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41

Foram empregados planilhas eletrônicas no programa Microsoft Excel e o programa de análise

estatística SIRICHAI’S STATIST.

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42

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Caracterizações Físico-Químicas

Os resultados das determinações físico-químicas estão apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Resultados obtidos da acidez volátil, de grau alcoólico, pH, carbamato de etila e cobre

das cachaças analisadas.

Código da

amostra

Acidez volátil (mg ácido

acético.100 mL-1

álcool anidro)

Grau alcoólico

(ºGL) pH

Carbamato de Etila (µg.L-1)

Cobre (mg.L-1)

1 98,375 ± 0,1 43,1 ± 0,56 4,6±0,7 302,3± 0,46 * 2,35 ± 0,04

2 210,775 ± 0,8 * 45,9 ± 0,9 4,1±0,03 180,5± 0,28 * 6,86 ± 0,08 * 3 76 ± 1,04 37,06 ± 0,23 * 4,9 ± 0,12 406,8± 1,34 * 0,76 ± 0,03 4 105,325 ± 0,9 43,13 ± 1,2 4,3 ± 0,8 456,3± 0,57 * 2,58 ± 0,9 5 197,35 ± 0,4 * 41,02 ± 0,67 4 ± 0,4 136,2± 0,98 1,84 ± 0,6 6 107,9 ± 0,7 44,36 ± 0,5 4,5 ± 0,3 190,3± 0,47 * 6,96 ± 0,01 * 7 103,625 ± 0,9 43,22 ± 0,2 4,3 ± 0,8 380,8± 2,6 * 0,2 ± 0,8 8 88,85 ± 0,1 43,05 ± 0,2 5,1 ± 0,6 296,4± 0,79 * 1,2 ± 0,23 9 69,775 ± 0,34 41,27 ± 0,5 5,3 ± 0,9 365,3± 0,85 * 1,17 ± 0,11

10 64,1 ± 0,6 41,3 ± 0,8 5,2 ± 0,2 256,15± 0,45 * 1,53± 0,87 11 151,775 ± 0,8 * 46,4 ± 0,24 4,2 ± 0,5 325,8± 0,28 * 1,8 ± 0,34

Resultados seguidos de* se encontram fora dos padrões de identidade e qualidade de cachaça, regulamentada pela Instrução Normativa Nº13, de 29 de junho de 2005. 5.1.1 Acidez Volátil

Os resultados obtidos para acidez volátil das amostras analisadas expressos em mg de

ácido acético.100 mL-1 álcool anidro estão apresentadas na Figura 7.

Os valores médios da acidez volátil variaram entre e 64,1 e 210,775 mg de ácido

acético.100 mL-1 álcool anidro. Sendo observado o valor médio de 115,80 ± 49,68 mg de ácido

acético.100 mL-1 álcool anidro.

Figura 7 - Valores de acidez volátil nas diferentes amostras analisadas.

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43

Das amostras analisadas 27,27 % apresentaram acidez volátil superior a 150 mg de ácido

acético.100 mL-1 álcool anidro, limite oficial máximo recomendado pelo MAPA, (BRASIL,

2005a). Entretanto, PEREIRA et al (2003), analisaram 45 marcas de cachaças registradas do

estado de Minas Gerais e apenas 6,7 % apresentaram-se fora do padrão exigido pela legislação.

A acidez volátil das amostras analisadas com valores superiores aos recomendados pela

legislação pode ser causada por vários motivos que podem ser solucionados no momento da

produção. Após a extração do caldo da cana, as deteriorações que ocorrem no caldo antes da

fermentação, prejudicam a qualidade da bebida, podendo torná-la inadequada pelo excesso de

acidez volátil. É importante então que não haja longa espera do “vinho” sem ser destilado, a fim

de evitar fermentações secundárias, a exemplo da fermentação acética SILVA et al., 2003. Sendo

assim, para se evitar estes inconvenientes durante a fermentação são recomendados alguns

procedimentos: manutenção da temperatura adequada (26-35 ºC), uso do ambiente e

equipamentos em adequadas condições de higiene, a realização da destilação imediatamente após

o mosto atingir o grau zero (Brix), o cuidado de utilizar dornas de forma adequada para que não

transbordem o preparo do mosto com concentração adequada e a utilização de fermentos

apropriados e ativos (SILVA et al., 2003).

5.1.2 Grau Alcoólico

Os resultados obtidos para grau alcoólico das amostras analisadas expresso (em ºGL)

estão apresentados na Figura 8. Os valores variaram entre 37,06 e 46,4°GL. Sendo observado o

valor médio de 42,71 °GL ± 2,57.

Figura 8. Valores do grau alcoólico nas diferentes amostras de cachaças analisadas.

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44

Estes resultados indicaram uma variação menor, quando comparados aos estudos

realizados por LABANCA (2004), o qual obteve valores entre 29,2 e 57, 4 °GL. Observou-se

que somente uma amostra analisada de bebidas apresentou o grau alcoólico abaixo de 38 °GL

valor mínimo exigido pela legislação vigente (BRASIL, 2005a).

Uma das possíveis causas para uma cachaça ou aguardente com grau alcoólico abaixo do

limite permitido é a prática de longas esperas do mosto antes da destilação. Este procedimento

acarreta perdas por evaporação do álcool. Além disto, para cachaças obtidas por processos

artesanais, o alambiqueiro precisa ser bem treinado e se preocupar principalmente com a

execução da destilação. Isto se faz necessário para que as frações (cabeça, coração e cauda)

sejam obtidas conforme o padrão da bebida (SILVA et al., 2003).

5.1.3 pH

Os resultados obtidos para o pH das amostras analisadas estão apresentados na Figura 9.

Os valores variaram entre 4 a 5,3. Sendo observado o valor médio de 4,59±0,46.

Figura 9 - Valores de pH nas diferentes amostras de cachaças produzidas na Bahia.

Os resultados observados apresentaram variação semelhante aos encontrados por

CAVALCANTI (2009) em estudos realizados com cachaças do estado de São Paulo, que obteve

valores de pH entre 4,41 e 5,41 . Sobre o pH, a Instrução Normativa N° 13 de 29 de junho de

2005, não estabelece limites máximos nem mínimos para a cachaça.

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45

5.2.1. Determinação espectrofotométrica do teor de cobre

Os resultados obtidos para os teores de cobre nas amostras analisadas expresso em mg

por litro são apresentados na Figura 10. Os valores variaram entre 0,2 a 6,96 mg.L-1 sendo

observado o valor médio de 2,47 mg.L-1 ± 2,29.

Figura 10 – Concentrações de cobre nas diferentes cachaças analisadas.

Dentre os constituintes inorgânicos, o cobre assume grande importância na qualidade

final do produto. O teor máximo permitido é de 5 mg por litro de aguardente, conforme a

legislação do MAPA.

Foi constatada a contaminação de cobre em 2 amostras das 11 cachaças analisadas, as

quais apresentaram teores superiores ao permitido pelo Decreto Federal 2.314 de 4 de setembro

de 1997 do MAPA. Em um estudo similar realizado por AZEVEDO et al. (2003), sendo

observado teores de cobre acima do permitido em apenas 6,7% das amostras 23 cachaças

analisadas.

5.2.2 Analise cromatográfica do carbamato de etila (CG /MS/ MSI)

Os resultados obtidos por CG/MS/MSI para o carbamato de etila relativo as amostras

analisadas expresso em µg.L-1 apresentados na Figura 11. Os valores variaram entre 136,2 a

456,3 µg.L-1, sendo observado o valor médio de 299,71 µg.L-1± 101,18.

Das amostras analisadas 9,1 % apresentaram teores de carbamato de etila abaixo de 150

µg.L-1, valor máximo permitido pela Instrução Normativa N°13 de 21 de junho de 2005.

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46

Figura 11- Teores de carbamato de etila das amostras analisadas.

São limitados os dados disponíveis na literatura sobre os teores de carbamato de etila

em cachaças. Boscolo et al. (2002) e Andrade Sobrinho et al. (2002), observaram faixas

superiores de carbamato de etila (42 a 5689 µg.L-1 em 84 amostras e 13 a 5700 µg.L-1 obtidos

da análise de 127 amostras, respectivamente que as encontradas neste estudo. Labanca et al.

(2004) verificaram valores médio de 893 µg.L-1 de carbamato de etila em 71 aguardentes que

variaram de 30 a 2609 µg L-1. Junior et al. (2007) observou nas 22 amostras de cachaça

analisadas os valores de carbamato de etila variando entre 5 a 12376 µg.L-1 com valor médio de

1206 µg.L-1.

Bruno et al. (2007), Yonamine et al. (2000) e Lelis (2006) obtiveram teores (0 a 714

µg.L-1, 0 a 1500 µg.L-1 e 20 a 948 µg.L-1 respectivamente) em produtos recém destilados ou

disponíveis no mercado de diferentes cidades do Brasil. Em todos estes estudos supracitados,

um grande percentual de amostras não atenderia ao limite de 150 µg.L-1. Assim sendo, ressalta-

se a importância de investigar os mecanismos envolvidos na formação desta substância, para

que intervenções possam ser feitas no processamento de modo a minimizar os teores no produto

final.

Os cromatogramas representativos do espectro de massas do carbamato de etila, da

solução padrão na concentração de 0,8 mg.L-1mg do carbamato de etila, bem como de uma das

amostras de cachaça estão apresentados nas Figuras 12; 13 e 14, respectivamente.

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47

Figura 12- Cromatograma do espectro de massas para o carbamato de etila

Figura 13 -. Cromatograma da solução-padrão de carbamato de etila.

Figura 14 - Cromatograma representativo de uma amostra de cachaça analisada.

5.2.3 - Correlação entre os teores de carbamato de etila e os parâmetros de qualidade da

cachaça

As análises de correlação entre os teores de carbamato de etila, grau alcoólico, pH e de

cobre, determinados nas amostras (Figuras 15, 16 e 17 respectivamente), indicaram a não

existência de correlação significativa. Algumas variáveis não controladas neste estudo

provavelmente podem ter contribuído para os resultados desta análise, a exemplo das diferentes

condições de produção das cachaças, tempo de armazenamento e envelhecimento variados, e

dentre outras. Em estudos realizados por ANDRADE-SOBRINHO et al., 2009; LABANCA et

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48

al., 2008), não foram observadas correlações entre os teores de carbamato de etila e outros

parâmetros de qualidade com os teores de cobre.

Figura 15 - Correlação entre o grau alcoólico e o teor de carbamato de etila em amostras

cachaças produzidas no estado da Bahia.

Figura 16- Correlação entre os valores de pH e os teores de carbamato de etila de amostras

cachaças produzidas no estado da Bahia.

Figura 17 - Correlação entre os teores de cobre e os teores carbamato de etila em amostras

cachaças produzidas no estado da Bahia.

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49

5.3. Perfil do consumidor de cachaça

Os resultados obtidos da aplicação do questionário relativo ao perfil do consumidor de

cachaça do município de Itapetinga-BA, relacionados às características sensoriais e o

comportamento de consumo estão apresentados sequencialmente, baseado no questionário

respondido pelos entrevistados. Não foram encontrados na literatura dados a respeito do assunto

proposto para avaliação comparativa com os dados obtidos. Assim sendo, dos entrevistados 66

% foram do sexo masculino e 34 % do sexo feminino.

Nos valores encontrados para faixa etária (Figura 18), observa-se que a maior

porcentagem dos entrevistados apresentava idade acima dos 35 anos. Também foi observado

elevado consumo para consumidores na faixa etária entre 25 a 35 anos.

Figura 18 - Faixa etária dos entrevistados do município Itapetinga-BA

Os resultados obtidos relativos ao nível de escolaridade dos entrevistados estão

apresentados na Figura 19. Foi observado um maior numero de consumidores com nível médio

de escolaridade.

Figura 19 - Nível de escolaridade dos entrevistados município Itapetinga-BA

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50

Quanto aos dados relativos à escolha de preferência do consumo de cachaça envelhecida

e não envelhecida, foi observado que 80% dos entrevistados preferem cachaça envelhecida. Este

atributo pode estar relacionado às características do aroma e paladar refinados. Além disso, o

envelhecimento modifica a coloração da bebida deixando seu sabor mais suave, atenuando a

sensação desidratante do álcool.

Para os resultados relativos à frequência do consumo de cachaça, foi observado que 45

% dos entrevistados consomem de vez em quando esta bebida (Figura 20). Estes resultados

podem ser atribuídos ao comportamento típico dos consumidores considerando ser a cachaça

uma bebida com alta graduação de alcoólica, ou está ainda relacionado com a cultura do

consumo da população do município entrevistado.

Figura 20 – Porcentagem semanal relativa da freqüência do consumo de cachaça dos entrevistados do município de Itapetinga-BA.

Foi observado que 59 % dos entrevistados (Figura 21) consomem em media 100 ml de

cachaça por semana. Considerando que a cachaça é uma bebida de graduação que varia de 38 a

48 °GL, possui quantidade de álcool bem superior comparando com a cerveja que possui em

media 5 °GL.

Figura 21 - Volume do consumo semanal de cachaça dos entrevistados do município de

Itapetinga-BA

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51

.Quanto aos locais de consumo de cachaça, foram observados que a maioria dos

entrevistados consome em diversos lugares. Assim sendo, a cachaça deixa de ser uma bebida

consumida somente em botequins e passa a estar presentes em vários lugares como festas,

restaurantes e dentre outros (Figura 22).

Figura 22 - Locais onde a cachaça é consumida no município de Itapetinga-BA

Os resultados observados quanto aos atributos no momento da compra constatou que

27 entrevistados observam a marca da cachaça (Figura 23), sendo evidenciado que o marketing

de um produto é de fundamental importância no momento da compra pelo consumidor.

Quanto ao consumo de cachaças registradas e não registradas, foi observado 83% dos

consumidores preferem cachaças com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento – MAPA, e apenas 17 % dos entrevistados preferiram cachaça sem registro. O

estado da Bahia destaca-se na produção artesanal de cachaça, sendo o segundo maior produtor

do Brasil. Conforme dados do SEBRAE-BA (2010), o estado da Bahia possui apenas 14

cachaças registradas. Entretanto, observa-se uma preocupação dos consumidores em relação à

qualidade do produto visto que a cachaça registrada tem que atender os padrões de qualidade

exigidos pela legislação vigente

Figura 23 - Atributos observados no momento da compra dos entrevistados do município de Itapetinga - BA.

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Quanto à preferência da graduação alcoólica da cachaça, 64% dos entrevistados optaram

por uma bebida de 42° GL.

5.4. Teste de aceitação das amostras estudadas

Os dados de aceitação dos atributos relativos à aparência, aroma, sabor e impressão

global, realizados com julgadores do IFNMG - Campus Salinas estão apresentados na (Tabela

4). A análise de variância (ANOVA) e o Teste de Tukey não revelaram haver diferença

significativa (p ≤ 0,05) em relação aos atributos avaliados. A amostra identificada com o

(número 8) foi a que apresentou a maior aceitação em relação ao atributo aparência global. A

amostras identificada com o (número 9) obteve a maior aceitação em relação ao atributo aroma,

sabor e impressão global.

Tabela 3 – Avaliação dos atributos da aparência global, aroma, sabor e impressão global

baseados na avaliação de cachaças registradas produzidas no estado da Bahia.

Amostra Aparência global Aroma Sabor Impressão

Global 1 7 a 6,9 a 6,8 a 7,05 a 2 7,16 a 7,05 a 6,98 a 6,7 a 3 6,65 a 6,56 a 6,26 a 6,61 a 4 6,36 a 6,91 a 6,53 a 6,63 a 5 6,81 a 7,05 a 6,65 a 6,86 a 6 6,73 a 6,55 a 6,38 a 6,65 a 7 6,88 a 6,81 a 6,95 a 7,03 a 8 7,41 a 6,91 a 6,91 a 7,1 a 9 7,13 a 7,16 a 7 a 7,06 a

10 6,46 a 6,5 a 6,45 a 6,68 a 11 7,11 a 6,8 a 6,85 a 6,98 a

Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si significativamente no teste de Tukey (p ≤0,05). (1 = desgostei muitíssimo, 5 = nem gostei nem desgostei, 9 = gostei muitíssimo), n = 70.

Todas as amostras de cachaça apresentaram médias de aceitação acima de 6,0

correspondendo à (gostei ligeiramente) para a maioria dos atributos estudados. Constatou-se,

portanto, que as cachaças analisadas do estado da Bahia apresentaram boa aceitação pelos

provadores.

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6 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos nesse estudo constatou-se que as caracterizações

físico-químicas das 11 cachaças de alambique localizadas em municípios do estado da Bahia,

registradas no MAPA, estão em desacordo com os padrões de identidade e qualidade destas

bebidas, regulamentada pela Instrução Normativa Nº13, de 29 de junho de 2005.

As análises de correlação entre os teores de carbamato de etila, cobre, grau alcoólico e

pH indicaram a não existência de correlação entre as variáveis estudadas.

Os resultados da avaliação sensorial das bebidas analisadas, através de escala hedônica

de 9 pontos, revelaram não haver diferença significativa (p ≤ 0,05) após a análise de variância

ANOVA e o teste de Tukey entre as médias obtidas dos setenta julgadores.

Constatou-se que 17% dos 70 julgadores preferem cachaças não registradas no MAPA e

83% preferem cachaças registradas, de acordo com o perfil dos consumidores de cachaças do

município de Itapetinga.

Vale ressaltar que até o momento não se dispõe de mecanismos efetivos que iniba a

biossíntese do carbamato de etila em cachaças. Sugere-se, portanto, que estudos posteriores

sejam conduzidos para investigação sistemática da cadeia produtiva da cachaça relativa a este

contaminante, associado às boas práticas de fabricação dessa bebida.

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54

7 PERSPECTIVAS

Após a conclusão deste estudo, observa-se que se faz necessário estabelecer uma

investigação sistemática na cadeia produtiva da cachaça relativa à biosíntese de carbamato de

etila, associada às boas praticas de fabricação desta bebida monitorada por profissionais

qualificados juntamente com os produtores.

Destaca-se ainda a importância da criação de associação de produtores de cachaça, sendo

um incentivo para o pequeno produtor conseguir sair da informalidade de seu produto.

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ANEXOS

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Anexo A - Ficha de avaliação sensorial.

Nome: ______________________________ Data: _________Amostras nº:________ Você esta recebendo uma amostra de cachaça. Por favor, avalie os atributos usando a escala abaixo: 9. Gostei muitíssimo APARÊNCIA GLOBAL _______ 8. Gostei muito 7. Gostei moderadamente IMPRESSÃO GLOBAL_________ 6. Gostei ligeiramente 5. Nem gostei nem desgostei AROMA ___________ 4. Desgostei ligeiramente 3. Desgostei moderadamente SABOR__________ 2. Desgostei muito 1. Desgostei muitíssimo

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Anexo B - Questionário relativo ao perfil do consumo de cachaça por habitantes do município de Itapetinga - BA.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BÁSICOS E INSTRUMENTAIS – DEBI

NÚCLEO DE ESTUDOS EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS - NECAL

PERFIL DO CONSUMO DE CACHAÇA POR HABITANTES DO MUNICÍPIO DE ITAPETINGA-BA

QUESTIONÁRIO

Nome: ______________________________________________________________________________

1. SEXO:

( ) masculino ( ) feminino

7. COM QUE FREQÜÊNCIA VOCÊ CONSOME CACHAÇA?

( ) Diariamente

( ) 3 vezes por semana

( ) 1 vez por semana

( ) De vez em quando

2. IDADE:

( ) Até 11 anos ( ) 12 - 21 anos

( ) 22 - 39 anos ( ) Acima de 40 anos

8. QUE QUANTIDADE DE CACHAÇA VOCÊ INGERE DIARIAMENTE?

( ) Uma dose (50 mL)

( ) Duas dose ( 100 mL)

( ) Três dose ( 150 ml)

( ) Varias doses

3. QUAL SEU NÍVEL DE INSTRUÇÃO?

( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Básico

( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior

9. PREFERE CACHAÇA?

( ) Registrada ( ) Não registrada

4. VOCÊ CONSOME CACHAÇA?

( ) sim ( ) não

10. ONDE VOCÊ CONSOME CACHAÇA?

( ) Festa ( ) Bares e restaurante

( ) Casa ( ) Vários lugares

5. QUAL A CACHAÇA DE SUA PREFERÊNCIA?

( ) Envelhecida

( ) Não envelhecida

11. QUAL ATRIBUTO QUE VOCÊ VC CONSIDERA NO MOMENTO DA COMPRA DA CACHAÇA?

( ) Preço ( ) Marca ( ) graduação alcoólica

( ) Garrafa (embalagem) ( ) Outros

6. GERALMENTE CONSOME CACHAÇA NA FORMA DE:

( ) Coquetel de frutas

( ) Caipirinha

( ) Pura

12. PREFERE CACHAÇA COM GRADUAÇÃO ALCOÓLICA?

( ) 38% ( ) 40% ( ) 42% ( ) 45% ( ) 48%

Muito Obrigado!