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Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: • Analisar a formação e a ação do educador na sociedade atual. • Esclarecer a atitude do educador diante das novas possibilidades educativas surgidas com os avanços tecnológicos. • Estudar a relação essencial entre teoria e prática, na formação e na ação do educador. • Analisar o papel político-social do educador diante da atual conjuntura socioeconômica. • Esclarecer o papel do educador no estabelecimento de uma reflexão sobre os valores éticos. O educador: formação e ação objetivos 1 AULA

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Filosofia da Educação

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  • Ao final desta aula, voc dever ser capaz de:

    Analisaraformaoeaaodoeducador nasociedadeatual.

    Esclareceraatitudedoeducadordiante dasnovaspossibilidadeseducativassurgidascomosavanostecnolgicos.

    Estudararelaoessencialentreteoriaeprtica,naformaoenaaodoeducador.

    Analisaropapelpoltico-socialdoeducadordiantedaatualconjunturasocioeconmica.

    Esclareceropapeldoeducador noestabelecimentodeumareflexo sobreosvaloresticos.

    O educador: formao e ao

    objet

    ivos1AULA

  • C E D E R J8

    Filosofia e Educao - UNIRIO | O educador: formao e ao

    A formao de educadores est passando por um momento de reviso

    substantiva e de crise em nosso pas. Muitos so os motivos que

    provocaram esta situao. (...) o questionamento do prprio papel

    exercido pela educao na sociedade, a falta de clareza sobre a funo

    do educador e a problemtica relativa redefinio do Curso de

    Pedagogia nas licenciaturas em geral (CANDAU, 2002, p. 49).

    Tm sido freqentes afirmaes de que a profisso de professor est

    fora de moda, de que ela perdeu seu lugar numa sociedade repleta

    de meios de comunicao e informao. Muitos pais j admitem que

    melhor escola a que ensina por meio de computadores. (...) Desse

    modo, no haveria mais lugar para a escola e para os professores. (...)

    Ser assim? (...) Ao contrrio, pois, do que alguns pensam, existe lugar

    para a escola na sociedade tecnolgica e da informao, porque ela

    tem um papel que nenhuma outra instncia cumpre. verdade que

    essa escola precisa ser repensada (LIBNEO, 2002, pp. 25-6).

    Caro discente, nessa aula vamos abordar uma questo de grande

    importncia para o seu futuro profissional. A partir de agora, vamos

    analisar o papel do professor: sua importncia social, seu proces-

    so de formao e as caractersticas de sua prtica na sala de aula.

    Em resumo, tentaremos analisar como deve desenvolver-se sua tarefa pro-

    fissional. Voc ter a oportunidade de refletir sobre sua prpria formao e

    prtica profissional. importante que voc analise como a sua preparao

    para tornar-se docente. Voc est satisfeito com o que aprendeu? Acha que a

    formao deveria ser diferente, na atualidade?

    Tambm esta uma oportunidade para refletir de que forma est se desenvol-

    vendo o trabalho profissional, como voc est agindo em sala de aula e fora

    dela; enfim, em tudo que compete vida de um professor. Alis, voc pode

    perguntar-se: que tipo de professor posso chegar a ser? Como est sendo

    minha formao? Estou acompanhando as mudanas atuais da sociedade e

    as novas necessidades que surgem na escola ou me mantenho aferrado a um

    comportamento tradicional?

    Caro aluno, para tentar esclarecer essas diversas questes que surgem em relao

    profisso docente, iniciamos nossa anlise aludindo a dois autores que esto

    pensando a situao do professor na atualidade: Candau e Libneo.

    INTRODUO

    Como est sendo a formao do professor nos nossos dias? O educador acompanha as mudanas da sociedade e o avano do conhecimento e das tecnologias? Qual a prtica do docente atual? Qual sua atitude na sala de aula, diante dos novos desafios da vida contempornea?

  • C E D E R J 9

    AU

    LA 1Nos dois primeiros pargrafos desta introduo, ambos os autores assinalam a

    existncia de uma crise da profisso docente. Candau afirma que est sendo

    repensado o lugar do professor e o prprio papel exercido pela educao

    na sociedade; assinala que vivemos uma poca em que est sendo profun-

    damente discutida a funo desempenhada pelo educador e pela educao

    na sociedade. J Libneo alude influncia que tm os grandes avanos tec-

    nolgicos na sociedade atual. Esses avanos que revolucionam a transmisso

    da informao, com especial destaque para o uso de computadores, j se

    tornaram fundamentais para os alunos. Cabe perguntar se essas tecnologias

    poderiam colocar em xeque uma funo to tradicional como a do professor.

    O autor levanta diversas questes: discute se numa sociedade de informao

    haveria ainda lugar para o docente. O ensino em sala de aula no seria uma

    modalidade antiquada, ultrapassada?

    Libneo responde que a funo docente ainda primordial para o

    desenvolvimento do indivduo e da sociedade, porm precisa se adaptar

    aos novos tempos, precisa ser reformulada.

    As primeiras consideraes que podemos tecer a partir dos comentrios de

    Candau e Libneo so que a profisso docente, assim como a sociedade em

    geral, est vivendo uma profunda crise e precisa de mudanas urgentes. A

    docncia uma atividade milenar; geraes aps geraes transmitiram, com

    bastante estabilidade, tcnicas de ensino-aprendizagem, vises de mundo,

    valores, atitudes e prticas. Essa estabilidade hoje no mais possvel, j que a

    maioria dos conceitos, atitudes e valores est sendo revista. Ento, importante

    esclarecer: quais seriam as principais causas dessas transformaes?

    1. A revoluo tecnolgica, principalmente as formas de comunicao virtual,

    que mudam totalmente o modo de lidar com o conhecimento.

    2. A globalizao, a internacionalizao dos mercados, o domnio universal dos

    capitais, que submete, cada vez mais, os denominados pases subdesenvolvidos.

    A revoluo tecnolgica e o domnio universal dos mercados, na poca da

    globalizao, tm profundos impactos em toda a sociedade e influenciam mar-

    cadamente a escola. Isso traz a exigncia de reciclar a educao, transformar

    as atividades docentes e a instituio escolar como um todo.

    As novas tecnologias e a globalizaco,

    entre outros fatores, mudaram a sociedade

    e tambm a criao e transmisso do

    conhecimento. A formao do

    educador e a instituio escolar

    esto acompanhando essas mudanas?

  • C E D E R J10

    Filosofia e Educao - UNIRIO | O educador: formao e ao

    Caro discente, neste novo milnio, cheio de mudanas sociais, polticas, econ-

    micas etc., o educador deve se perguntar: como devo agir? Diante desse quadro

    social e educacional indito, o docente e os que formam os educadores devem

    esclarecer as coisas que devem ser repensadas e reformuladas na prtica de

    ensino. Para tentar achar uma resposta, indicamos alguns pontos fundamentais:

    1. A relao do docente com as novas tcnicas.

    2. A importncia de o educador dominar, cada vez mais, bases terico-cient-

    ficas, articulando-as com as prticas concretas do ensino.

    3. A tomada de conscincia por parte do docente, de sua importncia como

    profissional crtico, ciente do seu papel poltico-social, diante do quadro

    neoliberal atual.

    4. A capacidade de o docente conviver com as diversidades, com os mltiplos

    segmentos sociais que freqentam a escola, numa prtica de tolerncia,

    fomentando prticas democrticas de incluso social e escolar e de recolocar

    em destaque valores fundamentais como justia, solidariedade e respeito aos

    direitos humanos.

    Caro discente, a seguir vamos tentar aprofundar quatro pontos para esclarecer

    qual seria o novo status do professor na atualidade. importante que voc reflita

    sobre qual tem sido a sua atitude diante dessas questes. Voc tem acompanhado

    as mudanas na sociedade e no ensino ou tem mantido uma conduta tradicional

    apegada a antigas formas de educar?

    DOCNCIA E NOVAS TCNICAS

    Pensar que as novas tecnologias que facilitam o conhecimento se

    opem prtica da docncia uma postura muito simplista, bastante

    superficial, at se poderia dizer preconceituosa. Algumas pessoas,

    principalmente as vinculadas a prticas de ensino mais tradicional, parecem

    acreditar que haveria uma contradio: Ensino tecnolgico vs. Ensino

    tradicional. Nesse sentido, Libneo levanta questes instigantes:

  • C E D E R J 11

    AU

    LA 1As questes de aprendizagem seriam resolvidas com a tecnologiza-

    o do ensino. (...) Numa sociedade sem escolas, os jovens apren-

    deriam em Centros de Informao por meio das novas tecnologias

    como televiso, vdeo, computadores. Ser assim? Ter chegado o

    tempo em que no sero mais necessrios os professores? (2002,

    p. 13).

    O autor vai ser enftico na sua resposta:

    as tecnologias chegaram, esto a, fazem parte

    do nosso dia-a-dia, so fundamentais para a pes-

    quisa e o ensino, no possvel prescindir desses recursos.

    Porm, estamos longe de assistir ao ocaso dos professo-

    res e da escola. Ao contrrio, a escola e os docentes devem preparar-se

    para usufruir desses novos meios, num papel mais crtico e reflexivo:

    A escola precisa deixar de ser meramente uma agncia transmis-

    sora de informao e transformar-se num lugar de anlises crticas

    e produo de informao, onde o conhecimento possibilita a

    atribuio de significado informao. Nessa escola, os alunos

    aprendem a buscar a informao (nas aulas, no livro didtico,

    na TV, no rdio, no jornal, nos vdeos, no computador etc.),

    e os elementos cognitivos para analis-la criticamente e darem a

    ela um significado pessoal. (...) Trata-se, assim, de capacitar os

    alunos a selecionar informaes mas, principalmente, a internali-

    zar instrumentos cognitivos (saber pensar de modo reflexivo) para

    aceder ao conhecimento. A escola far, assim, uma sntese entre

    a cultura formal (dos conhecimentos sistematizados) e a cultura

    experienciada (LIBNEO, 2002, pp. 26-27).

    Conforme aponta Libneo, o uso de meios tecnolgicos (vdeo,

    computador) e tradicionais (livro didtico, aulas) permitir ao docente

    estimular a capacidade crtica dos discentes. No se trata de uma oposi-

    o, mas de uma complementao. As tcnicas no cercearo, mas ajuda-

    ro o conhecimento. O educador atual, por sua vez, longe de estar acuado

    diante da tecnologia, far dela um instrumento fundamental de pesquisa

    e ensino: suas aulas sero mais ricas e instigantes! O fato de contar com

    instrumentos que no existiam na escola tradicional permitir facilitar a

    transmisso do conhecimento, abrindo espao maior para a tarefa criativa.

    Ao no despender tanta energia na captao dos saberes, professores e

    alunos tero mais tempo para refletir sobre esses saberes, gerando, assim,

    novos conhecimentos.

    !Os novos recursos tecno- lgicos (vdeo, compu- tador etc.) se torna- ram um auxlio precioso para o educador atual. A utilizao desse instru- mental, longe de tor- nar suprflua a tarefa do docente, colabora decisivamente para o ensino. Esses meios fa- cilitam a transmisso do conhecimento, possibi- litando a criao de no- vos saberes?

  • C E D E R J12

    Filosofia e Educao - UNIRIO | O educador: formao e ao

    DOCNCIA: TEORIA E PRTICA

    A teoria e a prtica educativa, neste enfoque, so consideradas o ncleo

    articulador da formao do educador, na medida em que os dois plos

    devem ser trabalhados simultaneamente, constituindo uma unidade

    indissolvel (CANDAU e LELIS, apud CANDAU 2002, p. 67).

    No item anterior, caro discente, mostramos que o docente no

    deve sentir seu trabalho ameaado pela tecnologia; ao contrrio, ela

    se torna um instrumento para aprimorar sua tarefa docente. Seguindo

    as reflexes de Libneo, constatamos que o professor deve estimular a

    criao de conhecimento, deve ajudar na reflexo. Assim, chegamos a

    uma das questes mais polmicas que envolvem a profisso docente. Em

    alguns posicionamentos, o docente considerado basicamente um pro-

    fissional da prtica, um trabalhador que se limita a divulgar ou difundir

    conhecimentos j pr-formados. Por isso, ele no deveria se envolver em

    tarefas de pesquisa ou em teorizaes abstratas. Destinado a agir na sala

    de aula, ele deveria, nesse espao concreto, transmitir conceitos, atitudes

    e condutas, previamente elaboradas. Ele no poderia dar-se ao luxo de

    especulaes nem de divagaes conceituais.

    Candau e Lelis denunciam que esse posicionamento surge de

    um velho preconceito que separa a teoria da prtica, no exerccio da

    docncia. Para elas, h uma unidade indissolvel entre a produo do

    conhecimento e a prtica educativa.

    Quais so os motivos da existncia dessa dicotomia? As causas so

    diversas. Uma delas a vinculao da docncia a tarefas femininas,

    maternais, uma espcie de prolongamento das atividades domsticas, que

    principalmente no ensino das primeiras sries seria exclusiva das mulheres.

    De longa data, o magistrio, sobretudo o primrio, vem fazendo apelo

    ao contingente feminino. Bastante compatvel com a natureza das

    funes femininas, tais como valorizadas em nossa sociedade ocidental

    (LUDKE, apud CANDAU, 2002, p. 81). Assim, o magistrio das primeiras

    sries foi atribudo s mulheres, invocando condies femininas e maternais,

    que prescindiam de uma slida formao, mas da natureza feminil, com

    o intuito de desvalorizar a profisso e, portanto, pagar pouco:

    Feminilizao do ensino Postura que considera o ensino, particu-larmente dos anos iniciais, prprio das mulheres devido s suas condies ou dons maternais.

  • C E D E R J 13

    AU

    LA 1no se podia exortar as professoras a serem ignorantes, mas se podia

    dizer que o saber no era tudo nem o principal. Exaltar qualidades

    como abnegao, dedicao, altrusmo e esprito de sacrifcio e

    pagar pouco: no foi por coincidncia que este discurso foi dirigido

    s mulheres (CATANI, 1997, pp. 28-29).

    De longa data, a desvalorizao da docncia,

    identificando-a a atividades maternais, domsticas,

    espontneas, naturais na mulher, levou a

    aprofundar esse suposto abismo que haveria

    entre a prtica docente principalmente das

    primeiras sries e a teoria. Para ensinar no era

    necessrio formao, pesquisa, apenas deveriam

    possuir dons femininos.

    Porm, a reduo da atividade docente a uma simples prtica sem

    elaborao terica tambm atinge os homens, num processo mais amplo

    de desvalorizao da profisso. No Brasil, particularmente, na sua situao

    dependente no s na economia, mas tambm na produo cientfica,

    negado o papel de criar o conhecimento. Os educadores no poderiam ser

    cientistas nem pesquisadores, apenas divulgadores de um conhecimento j

    construdo pelos grandes centros, como Estados Unidos e Europa. Como

    deveria agir o professor? Divulgando, transmitindo saberes j cristalizados;

    nunca poderia ousar criar. Por isso, a docncia seria apenas uma tarefa

    pragmtica, repetitiva do j conhecido. Linhares denuncia essa situao:

    No Brasil, os movimentos de professores esto em estado de alerta

    com as profundas alteraes que esto sendo impostas, tendendo

    a reduzir a formao de professores a um tipo de processo

    pragmtico, distanciado das pesquisas e da produo terica

    (LINHARES e LEAL, 2002, p. 114).

    Tanto a feminilizao do ensino, que reduz a docncia a um dom

    feminino sem muita elaborao terica, como a sua reduo a uma funo

    pragmtica, negam que a docncia deve articular a teoria com a prtica.

    Ensinar um fazer, mas que implica um conhecer criativo. O professor(a)

    no pode limitar-se reproduo do j sabido, do j consolidado.

    !Teoria e prtica so duas condies indispensveis, e inseparveis, para o exerccio da pro- fisso docente.

  • C E D E R J14

    Filosofia e Educao - UNIRIO | O educador: formao e ao

    O docente tem a misso de transmitir e de criar o conhecimento:

    (...) dependemos de nossa capacidade de interlocuo com os

    mais variados tipos de conhecimento para projetar os processos

    de aprendizagem e ensino escolares e, particularmente, de formao

    de professores altura dos desafios atuais (ibidem, p. 118).

    O PAPEL SOCIAL E POLTICO DO DOCENTE DIANTE DA GLOBALIZAO E DAS POLTICAS DE MERCADO

    (...) o novo educador aquele que reconhece o seu papel poltico,

    a dimenso poltica da educao, e a interioriza como profissional

    e como sujeito, refletindo-a atravs da sua prxis (PAULO apud

    CANDAU, p. 103).

    O educador atual, alm do seu conhecimento e utilizao das

    novas tecnologias, alm de reconhecer que a docncia implica a unio

    indissocivel de teoria e prtica, deve ter conscincia de seu papel social

    nas novas relaes institucionais, nas novas estruturas de poder vigentes.

    O fenmeno mundial de globalizao impe excluso, marginalizao

    de povos e grupos. No Brasil, particularmente, a dependncia das

    polticas impostas pelos centros hegemnicos levam ao sucateamento,

    desvalorizao da docncia:

    (...) o sucateamento das escolas tem componentes pouco

    mencionados que passam pelo engessamento do educativo,

    no espao escolar, que acabaram trancando a pedagogia num

    quartinho dos fundos, onde pouco se cogita a construo de

    conhecimentos (LINHARES, 2002, p. 118).

    Nossas escolas so afetadas pelas polticas internacionais: h

    um sucateamento das escolas, uma precarizao do seu funcionamen-

    to, um aviltamento das condies dos professores; resultam gritantes

    os baixssimos salrios, as pssimas condies de trabalho, a falta de

    todo tipo de materiais, at os indispensveis, como giz, apagadores etc.

    incluso social e escolar O educador atual deve fomentar a inclu-so social e escolar de todos os alunos, com suas diversidades e necessidades pecu-liares.

    !O educador deve ser crtico e ter clara conscincia do seu papel social e poltico, ao lidar com as novas geraes.

  • C E D E R J 15

    AU

    LA 1O educador atual deve, ento, ter conscincia crtica dessa situao,

    analis-la, coment-la e tentar fomentar as novas prticas democrti-

    cas, mesmo em condies precrias. Ele responsvel em formar uma

    conscincia crtica, nas novas geraes, permitindo que esse panorama

    econmico-social possa ser alterado. O professor deve estar comprome-

    tido com ideias de liberdade e emancipao, no com a manuteno do

    estado atual, em que alunos e professores vivem, estudam, trabalham

    em condies muito desfavorveis:

    O professor tem que estar em condies de poder sempre se atualizar

    e, ao mesmo tempo, saber acompanhar a trama dinmica da vida

    social (...) para formar estudantes e professores comprometidos com

    ideais emancipadores (LEAL apud LINHARES e LEAL, p. 153).

    DOCNCIA, DIVERSIDADE E PRTICAS DEMOCRTICAS

    Finalmente, o docente dos nossos dias, que emprega adequada-

    mente as novas tecnologias, que conjuga teoria e prtica e tem conscincia

    do seu papel social, tambm deve procurar acolher todos os alunos,

    com suas singularidades, com suas peculiaridades, assim como fomen-

    tar, na escola, todas as prticas democrticas. Em outras palavras, esse

    educador ter competncias terico-prticas, conscincia social, assim

    como dever cultuar valores que favoream a incluso social e o esprito

    democrtico. Nessa poca crtica, a humanidade parece ter perdido o

    rumo, parece carecer de valores e parmetros. O educador, justamente,

    tem uma funo tica fundamental:

    (...) diante da crise de princpios e valores, resultante da deificao

    do mercado e da tecnologia, do pragmatismo moral ou relativismo

    tico, preciso que a escola contribua para uma nova postura

    tico-valorativa de recolocar valores fundamentais como a justia,

    a solidariedade, a honestidade, o reconhecimento da diversidade e

    da diferena, o respeito vida e aos direitos humanos bsicos, como

    suportes de convivncia democrtica (LIBNEO, 2002, pp. 8-9).

  • C E D E R J16

    Filosofia e Educao - UNIRIO | O educador: formao e ao

    Libneo assinala que vivemos no pragmatismo moral ou relativismo

    tico. O que isso significa? Significa que, numa poca modelada pelo

    mercado, pela deificao do lucro, o que interessa o prtico. Pragmtico

    aquele que s visa a sua utilidade, em geral est motivado pelo ganho

    material. E o relativismo tico significa que, alm desse desejo de

    vantagens e ganhos individuais, todos os valores e convices parecem ser

    relativos, determinados pelas diversas circunstncias e/ou convenincias.

    Assim, o valor da sinceridade ou honestidade subordina-se, para quem quer

    ter sempre o maior lucro, a poder ser sacrificado, dependendo da ocasio,

    e do negcio a ser concretizado. Por isso, a sinceridade um valor relativo.

    Que quer dizer isso? Que nossos valores esto muito confusos, que so

    muito fracos, que podem ser trocados de um momento para outro.

    Mas o docente atual no se pode render a essa lgica egosta, indi-

    vidualista, anti-social, que provm da distoro que coloca o mercado e

    o lucro como os totens da tribo (isto , como falsas divindades). Como

    assinala Libneo, h outros valores: solidariedade, honestidade, respei-

    to vida. Ele tambm frisa o respeito que se deve ter diversidade e

    diferena. O educador dever, numa sociedade cujos valores fraquejam,

    refletir sobre a tica social e sobre os comportamentos na escola. Para

    alm do individualismo do mercado global, o professor pode refletir

    com seus alunos sobre a importncia de estabelecer relaes solidrias

    e cooperativas. O docente pode assinalar a possibilidade de construir

    coletivamente o conhecimento, assim como pensar numa sociedade com

    prticas democrticas. O papel tico do educador fundamental. Ele

    pode destacar a importncia de uma sociedade plural e inclusiva, que

    convoque ao dilogo aberto com todos os alunos.

    Numa sociedade mltipla, como a brasileira, convivem negros,

    brancos, pobres e ricos, gordos e magros, saudveis e portadores de neces-

    sidades especiais etc. preciso, como assinalamos acima, incluir todos.

    Como destaca Linhares:

    Importa destacar que esse movimento de enlaar escola e vida tem

    sido realizado como um esforo pela includncia de todas e todos no

    espao escolar, implicando uma maior abertura para os portadores

    de direitos especiais, como o so os surdos, os mudos, os deficientes

    mentais, motores, visuais etc. (LINHARES, 2002, pp. 120-121).

    prticas ticas, democrticas e inclusivas O professor atual deve refletir sobre valores como solida-riedade, cooperao etc., sobre aes democrticas e inclu-sivas, que convoquem todos os alunos. Sobre prticas e mecanismos de incluso.

    pragmatismo moral Postura que reconhece como moral ou valioso apenas aquilo que traz alguma utilidade ou benefcio prtico.

    relativismo tico Postura que considera que no h valores universais, no h uma tica geral. Os critrios ticos mudam nas diversas sociedades, grupos e indivduos; s vezes, um mesmo indivduo muda de valores conforme suas necessidades e sua convenincia; assim, a sua tica relativa sua situao e interesse pontual.

  • C E D E R J 17

    AU

    LA 1A tarefa de incluir os diferentes consiste na capacidade de tolerar

    at os que pensam e sentem diferentemente de ns, at aqueles que no

    concordam com nossos valores. O docente dever equacionar, atravs

    do dilogo, da discusso aberta e criteriosa, esses conflitos.

    Caro discente, acabamos de realizar um importante percurso no

    fascinante mundo da formao do novo profissional. Diante do pano-

    rama atual da nossa sociedade, em que a tecnologia transforma todo

    o campo de conhecimento, em que o domnio global dos mercados

    categrico, em que os valores tradicionais esto em crise, preciso pensar

    na formao de um novo profissional. Nesta aula, apresentamos alguns

    traos, alguns esboos desse profissional que est sendo redesenhado.

    Voc, ao desempenhar o papel de educador, ser um dos protagonistas

    dessa nova figura, desse novo papel, dessa nova funo.

    R E S U M O

    A formao do educador no panorama da sociedade atual, em que os avanos

    tecnolgicos revolucionam o conhecimento e os processos econmicos globais

    influenciam todas as atividades sociais, incluindo a escola. Refletimos sobre o papel do

    docente atual: como deve lidar com as tecnologias, assim como pode articular a teoria

    com a prtica. Esclarecemos a funo social e poltica do professor e sua importncia

    para refletir sobre os valores da sociedade. Analisamos seu papel relevante para

    estimular o dilogo entre os diversos alunos, fomentando prticas inclusivas e a troca

    democrtica. Destacamos que o professor deve estimular valores como solidariedade,

    cooperao, gerando um clima de integrao na sala de aula. Assinalamos, finalmente,

    que os currculos atuais de Pedagogia ainda no se atualizaram totalmente para

    permitir o surgimento do educador dos nossos dias, sendo esse uma tarefa que se

    encontra em construo.

  • C E D E R J18

    Filosofia e Educao - UNIRIO | O educador: formao e ao

    AUTOAVALIAO

    Voc entendeu as caractersticas do educador da atualidade, sugeridas nesta

    aula? Voc compreendeu a importncia da tecnologia para a atividade escolar?

    Voc enxerga a relao essencial entre teoria e prtica na formao do docente?

    Conseguiu assimilar a importncia que o professor tem para refletir sobre os valores

    da sociedade e para estimular prticas inclusivas e democrticas? Voc percebe

    a importncia que tem o docente para formar uma conscincia de cidadania dos

    alunos, para o entendimento do papel social e poltico da escola? Caro aluno, se

    voc respondeu positivamente a estas questes, v em frente. Caso contrrio,

    releia novamente esta aula, ou consulte o tutor no polo.

    EXERCCIOS

    1. Reflita sobre o uso de novas tecnologias na sua escola (vdeo, computador etc.).

    Voc acha importante o emprego desses instrumentos? Pensa que contriburam

    para melhorar a compreenso dos temas estudados?

    2. Voc acha que o professor deve dominar tanto a teoria quanto a prtica?

    3. Na escola ou nos ambitos onde voc atua, voc discute valores, analisa a situao

    social, debate as prticas democrticas? Voc entende o significado da noo de

    incluso escolar? Voc concorda com a importncia de adotar prticas inclusivas

    nas aulas?

    Encaminhe suas respostas a seu tutor, no polo.