as reformas educacionais dos anos 90 empregabilidade e eqüidade social

25
AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social.

Upload: internet

Post on 22-Apr-2015

108 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90

Empregabilidade e eqüidade social.

Page 2: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Constata-se que os anos noventa foram marcados por reformas educacionais em todos os âmbitos do sistema de ensino, o que tem levado a inferir que esta década só seja comparável à década de 60 em termos das mudanças que ensejou.

As reformas educacionais dos anos 90 trazem como referencia a preocupação com a eqüidade social e educação para todos. Para melhor compreensão do desenvolvimento do ideário das reformas na educação nesta década é preciso proceder a uma distinção entre três períodos de importantes movimentações no campo educativo.

Page 3: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

1 – Educação e desenvolvimento (anos 40 até meados de 70).

Os anos sessenta refletiram no campo educativo as transformações que já vinham ocorrendo em décadas anteriores na vida econômica e social do país. Vários foram os eventos que marcaram essa época, entre eles: a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, a transformação dos Colégios Universitários em Faculdades de Educação no início da década e o Primeiro Simpósio Brasileiro da Associação dos Professores de Administração Escolar – ANPAE, também em 1961.

Page 4: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Este período foi marcado pela introdução das idéias Taylor-fordistas no Brasil. Isto resulta na criação do SENAI em 1942, tendo à sua frente o grande industrial Roberto Simonsen, árduo defensor da incorporação dos ensinamentos da “organização científica do trabalho” como forma de superação dos pesados ônus deixados pela Segunda Guerra Mundial.

Page 5: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

“Na moderna organização do trabalho, a antiga disciplina, a militar – que só se impunha pelo rigorismo dos feitores carrancudos – é substituída pela disciplina inteligente e consciente – oriunda do conhecimento exato que tem o operário da natureza do seu trabalho e da certeza do justo reconhecimento dos seus esforços.”(IN: Simonsen,1973:436)

Page 6: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

É nesse período que se assiste no Brasil a uma tentativa sem precedentes de modernização da economia através da industrialização, o que exigiu da classe trabalhadora melhores e maiores quesitos educacionais. Desde essa época, a relação entre formação e emprego passa a determinar as políticas educacionais.

Page 7: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

A influência exercida pelo pensamento econômico atribuía à educação formal o status de investimento seguro, o que mais tarde seria conhecido como Teoria do Capital Humano.

Por essas razões, será desenvolvido um modelo de êxito fundado na grande corporação, ou seja, a possibilidade de ascensão social para as classes trabalhadoras, no momento em questão, repousava na via da grande corporação, do emprego formal e regulamentado.

Page 8: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Foram esses anos que consolidaram o esgotamento da possibilidade de êxito através da pequena propriedade. Isto se deu a partir do desenvolvimento das grandes corporações, produto do capitalismo monopolista. A educação formal passa a ser considerada como um elevador social

Page 9: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

O vinculo direto entre escolaridade e trabalho, em decorrência da relação educação e desenvolvimento, é forjado a partir daí, o que pode ser percebido no texto da primeira LDB-EM n. 4024, de 1961. Tal relação intensifica-se durante o regime autoritário, que tem lugar no Brasil a partir de 1964, apresentando a educação como investimento produtivo, como ficou expresso na Lei 5692, de 1971.

Page 10: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

2 – Educação e Democracia (meados de 70 até final dos 80).

Em decorrência, justamente, da ampliação do direito à educação referida na Lei 5692/71, assiste-se no Brasil, na década de 70 e início dos anos 80, a um redimensionamento jamais visto na rede física de ensino público.

Page 11: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

O crescimento súbito da estrutura educacional no Brasil de maneira desordenada, pouco planejada e com todos os atropelos característicos das contradições do próprio regime autoritário, combinando elementos de descentralização administrativa previstos na reforma do Estado de 1967, através do decreto n. 200/67, com o planejamento centralizado.

Consolida-se, assim, a organização de um sistema nacional de educação com evidentes traços de autoritarismo e verticalismo na sua gestão. A administração da educação, no referido contexto, passa a ser entendida como atividade racional e burocrática, devendo ser completamente dissociada da política.

Page 12: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

A gestão da educação deveria assentar-se no planejamento elaborado por especialistas no assunto. O Instituto Latino-americano de Planejamento Econômico e Social – ILPES, criado no interior da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL, tinha como objetivo formar os planejadores e administradores escolares. A escola, assim como o sistema, também deveria se organizar dentro dos pressupostos da chamada “administração científica do trabalho”.

Page 13: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

No final da década de 70, com as manifestações políticas que deram origem ao processo de abertura no país e ao surgimento do novo sindicalismo, toma expressão o movimento em defesa da educação pública e gratuita. Esse movimento vai se contrapor à dissociação existente entre planejamento econômico e social. Os segmentos sociais organizados em defesa da escola pública e gratuita, extensiva a todos, vão denunciar o caráter centralizado dos planejamentos globais que refletem o padrão autoritário de política estatal.

Page 14: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Tal reivindicação será conhecida como a defesa do acesso e permanência na escola. Para tanto, seria necessário combater o caráter excludente da instituição escolar que além de muito restritiva no acesso (a inexistência de vagas para todos), ainda dificultava a permanência da maioria através do uso de formas autoritárias de ensino e avaliação. Essas formas, denominadas de cultura da repetência, impediam que muitos conseguissem concluir sua trajetória escolar.

Page 15: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Uma gestão democrática da educação, que reconhecesse a escola como espaço de política e trabalho, era buscada nos emblemas de autonomia administrativa, financeira e pedagógica; participação da comunidade nos desígnios da escola (elaboração dos projetos pedagógicos e definição dos calendários) e a criação de instâncias mais democráticas de gestão (eleição de diretores e constituição dos colegiados).

Page 16: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

A Constituição Federal de 1988 consolida muitas dessas conquistas à medida em que reconhece a necessidade de ampliação da educação básica, incluindo agora a educação infantil, ensino fundamental e médio, abarcando, ainda, a gestão democrática. Em relação aos direitos dos trabalhadores da educação pública, a Carta Magna de 1988 também dispõe sobre a liberdade dos mesmos se organizarem em sindicatos.

Page 17: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

A principal característica desse processo foi a discussão do direito a igualdade. Se a educação do ponto de vista econômico era imprescindível para o desenvolvimento do país, do ponto de vista social era reclamada como a possibilidade de acesso das classes populares a melhores condições de vida e trabalho. Essa dupla abordagem talvez tenha forjado a construção de uma nova orientação para as reformas educativas dos anos noventa.

Page 18: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

3 – Educação e eqüidade social (anos 90).

Em março de 1990 é realizada, em Jomtien, a Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, propondo maior eqüidade social nos países mais pobres e populosos do mundo. O Brasil, sendo signatário desta Conferência, procurou implementar reformas nos seus sistemas públicos de educação básica em consonância com os princípios da mesma. O Plano Decenal de Educação, assinado em dezembro de 1993, é a expressão primeira desse esforço. Alguns autores consideram que este nunca tenha saído do papel.

Page 19: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

O traço mais marcante dessa Conferência será a construção de um consenso em torno de uma educação para todos com eqüidade social. Tais orientações buscam mediar as duas referências anteriores: uma educação que responda às exigências do setor produtivo (gestão do trabalho) e outra que atenda às demandas da maioria (gestão da pobreza).

Page 20: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

O termo eqüidade refere-se à disposição de reconhecer o direito de cada um, mesmo que isso implique em não obedecer exatamente ao direito objetivo, pautando-se sempre pela busca de justiça e moderação. Esse entendimento do termo sempre esteve presente nas políticas educacionais brasileiras. Entretanto, não parece ser essa a conotação atribuída à eqüidade social no atual momento.

Page 21: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Este conceito, da forma como aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien, sugere a possibilidade de estender certos benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem contudo, ampliar na mesma proporção as despesas públicas para esse fim. Nesse sentido, educação com eqüidade implica o mínimo de instrução indispensável às populações para sua inserção na sociedade atual.

Page 22: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Essa concepção difere radicalmente das motivações da defesa pela educação contida nas referências anteriores. No alvorecer dos anos noventa, uma nova orientação será cunhada. A educação básica reveste-se de caráter profissional com as mudanças no processo produtivo. As exigências de perfil profissional mais flexível e adaptável recaem para uma formação calcada não mais em saberes específicos, mas em novos modelos de competência.

Page 23: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Por fim, as orientações para as reformas educacionais nos anos 90 resguardam a possibilidade de continuar a formar força de trabalho para as demandas do setor produtivo, e no lugar da igualdade de direitos oferecem a eqüidade social, entendida como a capacidade de estender para todos o que se gastava só com alguns. O Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF parece refletir exatamente esta lógica.

Page 24: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Finalmente, partindo da constatação de que o mercado de trabalho, na economias globalizadas , vem apresentando um aumento significativo do emprego precário, uma queda generalizada dos salários, um aumento do trabalho informal e uma crescente taxa de desemprego é necessário discutir o recente conceito de empregabilidade como um termo criado mais para encobrir que para explicar essa realidade.

Page 25: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90 Empregabilidade e eqüidade social

Esse conceito que refere-se mais à capacidade dos trabalhadores se manterem empregados ou encontrar novos empregos, quando demitidos, a partir de suas possibilidades de resposta às exigências de maiores requisitos de qualificação demandados pelas mudanças tecnológicas do processo produtivo. Necessita ser questionado pela raiz.